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Full text of "Portugal e os estrangeiros"

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•     • 


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9 


í 


PORTUGAL 

ESTRANGEIROS 


Tl 


ESTCSÇeSS 

MAGOEI.  BKRNAIIIIES  BRANCO 


Obra  MrtunuidM  tlp  ooic  rMrniuK 


TOMO  L" 


LISBOA 

LiriMKU  UK  A.  M.  reflCIUA— HDnOK 
OS— Au  li^U  — Sá 


} 


PORTUGUL  [  OS  [STRÍNGEiS 


PORTUGAL 


£  OS 


ESTRANGEIROS 


n 


OBRA  DIVIDIDA  EM  QUATRO  PARTES 

CONTENDO  OS  SEGUINTES  ASSUMPTOS 

I  —  Dicrionario  dos  escriptorcs  estrangeiros, 

qae  escreveram  obras  consagradas  a  Portugal  ou  a  assump'os  portu^uczes, 

com  a  tradoc^io  dos  trechos  mais  notareis  d'essas  obras 

n  —  Diccionario  das  obras  portuguezas  vertidas  em  linguas  estrangeiras 

in  —  Soticia  dos  portuguezes  que  no  estrangeiro  se  distinguiram  nas  Icttras, 
e  resenha  das  obras  portujuezas  reimpressas  nos  piizes  estrangeiros 

IV — Solicia  das  recordações  e  monumentos  eiistcntes 
em  di>er$as  partes  do  mundo,  construídos  por  portuguezes,  ou  eiigidos  em  honra  d*elies. 

ADORNADA  DE  NOVE  RETRATOS         * 


•  ■   I 


ESTUDOS  DE 
MANOEL  BERNARDES  BRANCO 

DA  ACADEMIA  REAL  DAS  8CIEHCIAS  DB  LISBOA 


5% 


TOMO  i 


■•I    <    •    •        • 


LIVRARIA  DE  A.  M.  PEREIRA— EDITOR 
50 -RUA  AUGUSTA  — 5i 

1879 


J.5P. 


Â^ 


A  SUA  MAGESTADE  EL-REI 


DOM  LUIZ  I 


o.  D.  C. 


ílcal  SenT}or! 


'O  meu  trahall^o —  Tortugal  e  os  Estrangeiros  — no 
qual  já  consumi  uns  dez  annos,  vai  provar,  até  á  evi- 
dencia, que  é  glorioso  o  ser  portuguez;  julguei  por  isso 
que  só  ao  digno  ^l/efe  doeste  povo,  ^b^fe,  que  também 
sahe  perfeitamente  avaliar  a  importância  doestes  traba- 
lhos, devia  ser  dedicada  a  obra,  composta  por  aquelle 
que  tem  a  l^onra  de  ser  de 


Vossa  Magestade 


o   MAIOR   ADMIRADOR  E  RESPEITADOR 


Q^^anoéi   SBtinaiiieò    Sõíaneo. 


PROLOGO 


Rien  ne  peut  arréter  dans  leuri  projeU  noureaax 
Ces  Portagais  ardens  qai  Tolent  sar  les  eaux. 
Oh  combicD  de  heros  gaidèrent  lear  audaeei 
Qae  de  faito  ímmorteis  ont  signaló  lear  trace! 

EsMEitABDE. — Ghant.  t. 

«Ninguém  deie  negar  qae  a  lingaa  portogueza  foi 
qaasi  a  lingua  aniversal  de  todos  os  povos  marítimos ; 
ningaem  deve  negar  que  os  maiores  potentados  da  Ásia 
disputavam  a  preferencia  de  serem  nossos  vassallos.» 

YisGORDK  BK  Sáktabem. — Quodro  DipUmaiico,  tom.  i. 

Portugal;  um  dos  mais  pequenos  paizeS;  e  situado  na  parte 
mais  meridional  da  Europa,  encravado  entre  o  oceano  e  um  esta- 
do potentíssimo,  parecia  pela  sua  posiçllo  votado  ao  esquecimento; 
não  sendo  de  presumir  que  houvesse  pelos  seus  feitos  de  conquis- 
tar muitas  paginas  na  historia;  por  \mi  século  dar  leis  a  uma  por- 
ção de  território  superior  áquelle  em  que  os  romanos  dominaram; 
apresentar  um  grande  numero  de  homens  distinctos  em  todo  o 
género  de  conhecimentos^;  e  dar  religião  e  idioma  culto  a  um 
grande  numero  de  povos,  de  maneira  tal  que,  se  em  virtude  das 
vicissitudes  humanas  um  dia  Portugal  perder  sua  autonomia,  e 
escravisado  pelo  direito  do  mais  forte,  for  convertido  n^uma  obscura 

1  «Encontram- se  nomes  portugnezes  nas  listas  das  corporações  litterarias 
de  Berlim,  Bordeauz,  Edimburgo,  Philadelphia,  Florença,  Leão,  Liège,  Lon- 
dres,  Madrid,  Marselha,  Paris,  Sazonia,  Stockholm,  Toscana  e  Turim.»  José 
Maria  Dantas  Pereira,  Memorias  da  Academia  Real  das  Seiendoê  de  Liêboa^ 
vol.  X. 


VIII 


província  de  qualquer  outro  paiz,  ainda  assim  nem  ha  de  deixar 
de  cultivar  a  lingua  de  seus  maiores^  c  na  qual  suas  glorias  foram 
oscriptas,  nem  os  povos  civilisados  deixarão  de  estudar  o  idioma 
de  Fernão  Lopes,  João  de  Barros,  Mendes  Pinto,  Thomó  de  Je- 
sus, Amador  Ârraes,  Luiz  de  Sousa,  Herculano,  Camões,  Bocage, 
Philinto  Elysio,  Nicolau  Tolentino,  João  de  Lemos,  Gonzaga,  Gar- 
rett, Castilho,  Júlio  Diniz,  Thomás  Ribeiro  e  tantod  outros^;  nem  os 
commerciantes  hão  de  despresar  o  estudo  de  um  idioma,  do  qual 
tantos  milhões  de  individues  se  servem  nas  suas  transacções  commer- 
ciaes,  pois  que  a  lingua  portugueza  não  é  só  cultivada  em  Portugal, 
suas  numerosas  possessões  e  Brazil.  Â  nossa  lingua,  forrando-me  ao 


1  «Parece  que  os  hespunhoes  ecmpre  se  acharam  convencidos  que  nunca 
podiam  attín^ir  a  ternura  romântica  dos  portuguezes.  Uma  certa  simplicida- 
de e  intensidade  na  expressão  dos  sentimentos  ternos,  aos  quaes  a  lingua  de 
Portugal  é  particularmente  favorável,  tem  sido  em  todos  os  tempos  uma  das 
feições  características  da  poesia  portugueza  desde  o  xv  secule  até  aos  pre- 
sentes tempos.»  Frcderick  Boutcrwck,  Hisiory  of  Spanish  and  Portugutat 
Litlerature,  vol.  ii,  pag.  17. 

«O  numero  preponderante  dos  escriptores  poéticos  de  Portugal,  compara- 
do com  os  de  Hespanha  durante  o  século  xv,  é  uma  òircumstancia  merecedora 
de  especial  noticia,  por  isso  que  prova  que  o  solo  de  Portugal  era  então,  bem 
como  em  epochas  de  maior  antiguidade,  mais  fértil  do  que  a  Hespanha  em 
génio  poético.»  Frederick  Bouterwck,  History  of  Spanish  aiid  Fortuguese 
Litíerature,  vol.  ii,  pag.  19. 

«No  glorioso  reinado  de  D.  Manuel  nenhum  poeta  hespanhol  tinha  alcan- 
çado tanta  celebridade,  como  aquella  de  que  gosaya  o  portugucz  Bernardim 
Ribeiro.  A  litteratura  hespanhola  n'aqueile  tempo  n&o  podia  ter  orgulho 
d*alguma  obra  cscripta  n*um  cstylo  tào  culto.»  Frederick  Bouterwek,  History 
of  Spanish  and  Portugiese  Litte.rature,  pag.  38. 

«Portugal  pode  ser  considerado  como  a  verdadeira  pátria  da  poesia  ro- 
mântica pastoril,  a  qual,  todavia,  pelo  mesmo  período  florescia  na  Itália,  onde 
assumiu  formas  mais  cultas,  particularmente  depois  que  Sannazaro  escreveu; 
porém  propriamente  nacional  só  o  foi  em  Portugal.»  Frederick  Bouterwek, 
Hiêtory  of  Spanish  and  Porlugucse  LtUeraturCf  pag.  43. 

♦     ♦ 

«Nenhuma  nação  nos  séculos  zv  e  xvi  mostrou  maior  audácia,  emprehendeu 
ou  assombrou  mais  os  homens  com  proezas  maiores  do  que  o  fazia  um  estado  tao 
pequeno.  Descobriram  e  frequentaram  os  portuguezes,  commerciaimenteou  com 
guerra  cinco  mil  léguas  de  costa;  conquistaram  Goa,  Malaca,  Ormuz,  Ceylao, 
fundaram  Macau,  subjugaram  parte  da  índia,  por  toda  a  parte  precederam 
os  inglezes:  mas  perco-me  n^estas  conquistas!...  £  é  depois  do  desenvolvi- 
mento da  grandeza  portugueza  na  índia,  que  o  génio  da  naçào  se  manifesta: 
encontrar-se*hia  nas  cartas  de  Albuquerque,  como  nos  versos  de  Camões; 
nas  versões  de  alguns  missionários,  como  nas  paginsis  eloquentes  do  historia- 
dor Barros.  Os  homens  d'acçao  foram  n*aquelle  tempo  homens  de  lettras,  e  o 
talento  de  escrever  recebeu  d*es(a  alliança  uma  valentia  particular  no  xvi 
século.  Portugal  é  um  paiz  encantador !  Em  nossos  dias,  «juando  um  grande 
poeta,  fatigado  pelos  prazeres,  tendo  o  spleen  da  saciedade  e  ò  do  génio,  dei- 
xou melancolicamente  sua  nebulosa  pátria  com  o  iim  de  se  desenfastiar,  ape- 
nas tocou  Portugal,  sentiu  «se  reuascer  á  vista  doeste  bello  clima,  e  d'esta 
terra  outr*ora  gloriosa,  e  sempre  fértil.»  Ferdinand  Denis,  H.  de  la  LiU.  Fort. 


IX 


trabalho  de  dizer  em  que  si  tios  da  Africa  se  faz  uso  d'ella;  é  fallada  por 
alguns  milhSes  de  individues  tanto  noParaguay,  como  em  varias  loca- 
lidades- da  America  do  sul;  é  lingua  ainda  conhecidissima  em  vários 
pontos  do  globo.  A  lingua  portugueza  (segundo  nos  assevera  pes- 
soa muito  competente,  o  sr.  Joaquim  Heliodoro  da  Cunha  Rivara, 
no  seu  prologo  (pag.  xxvi)  á  Grammatica  da  lingua  Concani)  — 
cFalla-se,  e  é  vulgar  desde  o  Guzarate  até  o  Cabo  Comorim.  Não 
é  desconhecida  na  costa  de  Coromandel  até  Bengala.  É  commum, 
com  maior  ou  menor  pureza,  em  Ceylao,  no  archipelago  Malaio  e 
na  China.  Entende -se  em  Sião,  e  em  vários  grupos  dos  archipela- 
gos  oceânicos,  etc.  Não  duvidamos  de  que  seja  o  inglez  a  lingua 
em  que  no  dia  de  hoje  um  natural  bem  educadoy  chegando  da  ín- 
dia superior,  de  Bengala  ou  de  Madrasta,  se  faça  entender  de  ou- 
tro natural  bem  educado  em  Bombaim;  que  seja  o  inglez  a  única 
lingua  que  o  mesmo  natural  bem  educado  use  para  escrever  a  seus 
amigos  Bengali  de  Calcuttá  ou  Tamil  de  Madrasta;  mas  é  ao  mes- 
mo tempo  certo,  que  em  todas  as  classes  da  população,  não  só  do 
continente  indiano,  mas  dos  archipelagos  e  territórios  acima  men- 
cionados, ainda  mesmo  n'aqueilas  classes,  que  não  passam  por  mais 
illustradas,  haverá  quem  saiba  comprehender  e  exprimir  o  portu- 
guez;  c  sem  duvida  uma  carta  escripta  em  portuguez  será  enten- 
dida no  logar  do  seu  destino  em  todas  aquellas  vastas  regiões.» 

Foi  talvez  pela  celebridade  que  Portugal  adquiriu  pelos  seus 
feitos,  pelas  suas  descobertas  mormente,  pela  extensão  de  seu 
eommereío,  que  ainda  no  fím  do  século  passado,  segundo  a  expres- 
são do  um  celebre  escriptor  francez,  era  prodigioso,  e  por  suas 
glorias  litterarias  em  todos  os  ramos  de  conhecimentos,  e  até  mesmo 
pelo  estudo  das  linguas  orientaes,  (chegando  F.  Dinis  a  dizer  que 
n'este  género  não  se  deve  mais  aos  inglezes  do  que  aos  portugue- 
zes),  que  um  extraordinário  numero  de  escriptores  se  occupou  de 
nossas  cousas,  já  escrevendo  um  incalculável  numero  de  livros  so- 
bre assumptos  portuguezes,  havidos  não  poucos  d'estes  como  obras 
primas  na  litteratura,  já  traduzindo  os  escriptos  mais  notáveis  ou 
úteis  que  pelos  nossos  foram  compostos;  já  finalmente  fazendo  edi- 
çSes  sobre  ediç3es  em  um  extraordinário  numero  de  cidades  es- 
trangeiras dos  livros  que  saiam  dos  nossos  prelos  em  Portugal'. 

A  historia  dos  primeiros  tempos  da  monarchia  portugueza  pôde 
ser  estudada,   quanto  possivel,  nas  antigas  chronicas,  compostas 


1  «NiiO  88  julgue  que  a  lingua  portugueza  é  unicamente  restringida  ao 
povo,  que  a  falia.  Ella  é  ainda  a  lingua  do  commorcio  asiático:  está  derra- 
mada desde  o  cabo  Nâo  até  ás  ilhas  do  Japão,  e  desde  a  ilha  da  Madeira  até 
o  Brazil.  Além  d*isto  esta  lingua  é  bella,  sonora,  harmoniosa,  livre  d^essa  as- 

fiiraçAo  gutural,  que  censuramos  á  hcspanhola:  tem  toda  a  doçura,  e  flexibí- 
idade  da  italiana,  a  gravidade  e  o  colorido  da  latina.  Uma  outra  qualidade 


tanto  por  nacionaes  como  por  hespanhoes.  De  D.  JoSoI  por  diante 
servem  também  de  subsidio  os  chronistas  francezes,  o  celebre 
Froissart  consagra  mais  de  mna  pagina  aos  gloriosos  feitos  dos 
heroes  de  ÁH  abarrota  e  o  mesmo  pratica  Filippe  de  Commines  a 
respeito  de  D.  Áffonso  V.  Tendo,  porém,  o  mestre  d'Ayiz  por  um 


â'e8te  idioma  é,  que  ainda  uSo  enyelhecea:  é  sempre  a  mesma  ha  tresentos 
amios.» — Sane,  Poesie  Lfpiq*  Pori. 

*    * 

No  século  passado  o  celebre  viajante  inglez  Bmce,  com  o  fim  de  examinar 
as  nascentes  ao  Nilo  tinha  chegado  a  Jiddah.  N*e8te  porto  tratava  de  obter 
passagem  n*um  nayio.  O  capitão  inglez  Thomill  fatiando  com  Bmce  servia^se 
da  lingna  inglesa,  e  fallando  com  seu  próprio  filho  usava  do  português,  pen- 
sando que  Bmce  nSo  entendia  o  que  elle  disia.  Bruce  porém  gaba-se  em  seus 
escriptos  de  saber  perfeitamente  o  português,  mostrando  nMsso  certo  orgulho, 
e  ria-se  interiormente  do  engano  em  que  Thomill  se  achava. — James  Bruce, 
Voyaaeê  aux  êourees  du  NU  en  Nvbit  et  en  Abysnnit  en  1768  à  1772,  tom.  u, 
pag.  206. 

«Em  muitos  reinos  da  Ásia,  principalmente  nos  portos  marítimos,  se  falia 
nm  dialecto  português,  como  linguagem  commum  entre  aquelles  povos,  qnasi 
da  mesma  maneira  que  na  Europa  nos  servimos  do  francês.  O  capitSo  inglez 
King  refere  que  na  primeira  visita  que  fes  á  ilha  Melville,  na  costa  do  norte 
da  Austrália,  os  naturaes  que  sairam  á  praia  o  chamavam  disendo:  Vem  acá, 
6  que  bem  mostra  que  conheciam  os  portugueses  e  d^elles  tinham  aprendido 
estas  e  por  ventura  outras  palavras.» — Panorama  de  1842,  pag.  56. 

«La  lingua  portoghese,  ai  pari  deiritaliana,  francese  e  spagnaola,  é  filia 
delia  latina,  ed  é  assai  ricca,  armoniosa,  adattata  alia  poesia,  à  tntti  generí 
di  letteratura,  ed  in  nulla  inferiore  alie  sue  sorclle.» 

« Questa  bella  lingua  non  é  ristretta  ai  solo  regno  di  Portogallo  e  alie  sue 
isole  neirEuropa;  ma  é  la  lingua  di  cui  si  serve  il  commercio  asiático,  e  corre 
per  tutta  la  costa  occidentale  e  meridionale  deli* Africa  e  deli' Ásia:  ed  é  per 
consequensa  una  lingua  cbe  si  parla,  o  s*intende  in  tútte  le  quattro  parti  dei 
mundo.» — D.  Vittore  Felicíssimo  Francesco,  ChrammaUca  PoHogheãe  ad  uto 
dtgVIteliani^  Parigi,  1869. 

«Em  Siam  ha  um  grande  numero  de  descendentes  portugueses,  fallando  a 
nossa  lingua,  e  tendo  nomes  portugueses.  Entre  estes  distingue-se  Paschoal 
Bibeiro  de  Albergaria,  mandarim  e  general  de  artilhería  de  Siam.» — Archivo 
PiUoresco  de  1863,  pag.  344. 

4r     m 

«Em  1833  tendo* se  feito  um  tratado  de  commercio  entre  o  rei  de  Siam  e 
o  governo  dos  Estados-Unidos  da  America,  apesar  de  ser  escripto  em  inglez 
e  siamês  Juntou-se-lhe  uma  traducçâo  em  português  para  testemunho  do  seu 
contendo.» — Ârchivo  PiUoresco  de  1863. 

E  em  1872  mandou  o  governo  doesta  mesma  republica  publicar  um  Me- 
morandum  acerca  da  celebre  questão  do  navio  Alabama,  pela  qual  esteve  im- 


XI 

lado  conquistado  Ceuta,  e  por  outro  o  infante  D.  Henrique  dado 
começo  á  ntiaravilhosas  descobertas,  que  tomaram  immorredouro 
o  nome  lusitano,  Portugal,  este  cantinho  da  peninsula,  saiu  da  ob- 
scuridade, e  desde  então  fez  com  que  todos  os  povos  civilisados  ti- 
vessem os  olhos  fitos  n*um  paiz,  que  diariamente  pelo  espaço  de 

minente  uma  guerra  entre  os  Estados-Unidos  e  a  Inglaterra,  escripto  em  três 
idiomas  francez,  inglez  e  portuguez,  o  que  um  jornal  considera  uma  grande 
honra  para  o  nosso  paiz. 

Mr.  George  Harrison,  cidadão  americano,  na  Pensilvânia  mandou  erigir 
no  sen  jardim  em  honra  de  Philinto  Elysio  um  monumento,  no  qual  fez  gra* 
yar  alguns  versos  da  sua  famosa  Odo  á  Liberdade  Americana. — Sr.  José  Ma- 
ria de  Sousa  Monteiro,  Historia  de  Portugal,  vol.  ii,  pag.  463. 

Nos  Estados- Unidos  a  língua  portugueza  deve  ter  um  grande  numero  de 
cultores,  servindo  de  prova  os  magníficos  jornaes  illustrados  que  n'este  idioma 
86  publicam  n^aquelle  paiz. 

Ha  pouco  tempo  publicou  na  Hespanha,  para  ensino  de  portuguez  aos 
hespanhoes,  uma  grammatica  D.  Agostinho  Blasco,  parocho  de  Criptana, 
doutor  em  direito  e  philosophia,  e  membro  de  varias  sociedades  scientifícas 
e  litterarias. 

Como  se  verá  n'este  trabalho  é  extenso  o  numero  de  grammaticas  coor- 
denadas para  uso  dos  estrangeiros,  que  querem  aprender  a  língua  portugue- 
sa. A  de  António  Vieira  contava  já  em  1869  treze  edições,  como  se  vê  do  seu 
titulo:  A.  Vieira.  Â  Grammar  of  the  Portugutse  language,  13'i^  edition.  Care- 
follj  revised,  corrected  and  improved  by  M.  G.  Henriquez,  London. 

*    ♦ 

«Na  edade  média  esta  mesma  impressão  dos  logares,  esta  natureza  suave 
e  rica,  este  bello  céu  sem  nuvens  dispunham  a  alma  dos  portuguezes  para 
cantares  táo  maviosos,  quanto  sua  vida  era  trabalhosa  e  aguerrida.  Sim:  alem 
dos  mares,  em  Macau,  em  Goa,  em  Ceylilo,  o  portuguez  era  indomável,  duro, 
intolerante  até  á  ferocidade:  mas  o  portuguez  nas  margens  do  Tejo,  quando 
nào  era  inflamado  pelo  ardor  do  comoate,  e  pela  rapacidade  da  conquista,  pa- 
recia um  povo  pacifico  occupado  na  lavoura,  e  gostando  de  cantar  seus  doces 
folgares.  Suas  poesias  teem  alguma  coisa  de  distincto  entre  os  cantos  meri- 
dionaes.  Ignoro  a  causa  que  approxímou  a  lítteratura  portugueza  d'esse  ca- 
racter de  meditação  e  de  melancolia,  que  se  attribue  principalmente  aos  po- 
Tos  do  norte.  Vem -me  n'este  instante  ao  pensamento  esta  expressão  de  Ca- 
mões n'um  de  seus  sonetos,  Camões,  cuja  lyra  sonorosa  será  mais  afamada 
mie  ditosa.  Este  encanto  da  tristeza  não  se  pôde  definir.  £ncontra-se  debaixo 
de  mil  formas  nos  poetas  precursores  de  Camões,  e  offuscados  pela  sua  glo- 
ria. Não  é  entre  os  portuguezes  esse  jubilo  susurraute,  essa  louca  alegria  dos 
provençaes;  também  não  é  a  g^vidade  austera  dos  hespanhoes,  e  essa  alti- 
Tez,  que  deseja  enternecer- se,  e  essa  imaginação  pomposa  que  exagera  e  ca- 
rece de  sentimento*  Não:  é  uma  emoção  ao  mesmo  tempo  viva  e  reflectida, 
que  se  deleita  com  as  imagens  do  amor  e  dos  campos.  D'ahi  nasceu  entre  os 
portuguezes  a  poesia  pastoril .  Essas  poesias  ao  mesmo  tempo  ideaes  e  natu- 
raes,  esses  versos  bucólicos,  que  foram  inspirados  aos  portuguezes  pelo  seu 
bello  clima  e  génio  scismador.» 

«Quando  no  século  xv  um  portuguez,  de  alma  viva  e  apaixonada,  errante 
•obre  as  margens  floridas  do  Tejo,  sobre  as  bordas  do  Mondego,  perto  d'esse 
rio,  onde  D.  Fedro  ia  ter  com  Ignez,  quando  um  portuguez,  penetrado  d*essas 
lembran^,  então  reeentes,  cantava  éclogas  em  sua  lingua  harmoniosa 
que  facia  contar  a  seus  pastores  a  vida  aprasivel  doestes,  suas  laranjeiras 


xn 


um  século,  enriquecia  aa  sciencias  com  descobertas  novaS;  e  prin- 
cipalmente a  geographia,  cujos  verdadeiros  progressos  só  datam 
d'aquella  epocha,  verdade  reconhecida  pelos  próprios  inglezes,  que 
n?[o  duvidam  confessar  que  mesmo  todas  as  descobertas,  que 
d*aqui  por  diante  se  fizerem  n'este  ramo,  sSU)  devidas  á  iniciativa 


suas  ceifHS  quasi  sem  amanho  da  terra,  diividaes  ?Ó8  do  encanto  d'aquella 
poesia?  Nilo  devia  esta  ser  inais  simples  ainda  que  a  de  Virgílio,  cujas  éclo- 
gas sáo,  para  melhor  dizer,  imitações  de  Theocrito,  aue  dos  campos? 

«Os  portugnezes  deviam  possuir  em  grau  extraordinário  o  talento  descri- 
ptlvo.  O  paiz  os  inspirava,  e  as  emprezas  longiquas  o  desenvolviam  também. 
Deixavam  as  margens  do  Tejo  para  percorrerem  as  florestas  da  ilha  de  Cej- 
lâo,  o  litoral  de  Moçambique,  a  península  do  Ganges.  £m  as  narrações  de 
seus  historiadores  scintillam  todos  os  thesouros,  todas  as  maravilhas  d*aquel* 
las  ricas  regiões.  Camões  com  a  imaginação  dominada  pela  poesia  antiga  des- 
presou  as  scenas  da  natureza  oriental  patenteadas  a  seus  olhos.» — Villemain, 
Coura  de  LitUr<Uufe^  pag.  695  e  seguintes. 

♦    ♦ 
«Náo  admira,  pois,  que  o  conhecimento  da  lingua  portugueza  se  propagasse 
tanto,  lembremo-nos  do  que  disse  o  famoso  Baynal:  «Sem  a  descoberta  de 
Vasco  da  Gama  a  luz  da  liberdade  apagava-se  de  novo,  e  talvez  para  sempre. 
«Os  turcos  iam  substituir  essas  nações  ferozes,  que  das  extremidades  da 
terra  vieram  substituir  os  romanos,  para  se  tomarem  como  estes  o  flagello 
do  género  humano,  e  nossas  barbaras  instituições  teriam  sido  substituídas 
por  um  jugo  ainda  mais  pesado.  Este  resultado  éra  inevitável,  se  os  ferozes 
vencedores  do  Egypto  não  tivessem  sido  repellidos  pelos  portugaezcs  nas 
differentes  expedições  tentadas  por  aquelles  nas  índias.» 
«As  riquezas  da  Ásia  lhes  asseguravam  as  da  Europa. 
«Senhores  de  todo  o  commerclo  do  globo,  teriam  tido  necessariamente  a 
mais  formidável  marinha,  que  em  tempo  algum  se  viu  no  mundo.  Que  obstá- 
culos teriam  podido  conter  este  povo,  que  era  conquistador  pela  índole  de 
sua  religião  e  de  sua  politica?» 

«Se  nos  devemos  assombrar  do  numero  das  victorias  dos  portugueses  e  da 
rapidez  de  suas  conquistas,  que  direito  não  teem  á  nossa  admiração  seus  ho- 
mens intrépidos?  Tinha-se  visto  até  então  um  povo  com  tão  pouco  poder  fazer 
tão  grandes  coisas?  Não  havia  quarenta  mil  portugueses  em  armas,  e  comtudo 
faziam  tremer  o  império  de  Marrocos,  todos  os  bárbaros  da  Africa,  os  mame- 
lucos, os  árabes,  o  oriente  inteiro  desde  a  ilha  de  Ormuz  até  á  China. 
Eram  um  contra  cem;  e  atacavam  tropas,  que  muitas  vezes  com  armas  eguaes 
disputavam  seus  bens  e  sua  vida  até  ao  ultimo  arranco.  Que  homens  deviam 
então  ser  os  portuguezes,  que  macbinismo  extraordinário  tinha  formado  d*elles 
um  povo  de  heroes!...  Raynal^  Histoirt  Fhiloêophique  et  Politique  des  étabUsêe- 
mente  et  du  eommerce  dea  Europienê  dons  le$  deux  Indeã,  Geneve,  1781,  vol.  i, 
pag.  170. 

«Mesmo  em  epochas  muito  roais  próximas  de  nós  Portugal  pesava  alguma 
coisa  na  balança  da  Europa,  «Em  20  de  janeiro  de  1770  representava-se  ao 
governo  francez  n*uma  memoria,  que  no  caso  de  guerra  das  forças  hespa- 
nholas  e  francezas  contra  Portugal  era  mister  reflectir:   Que  a  conquista  de 
um  reino  na  Europa  era  materta  que  requeria  maduras  reflexões;  e  que  para 
avassalar  Portugal  seriam  necessários  exércitos  de  sessenta  mil  homens  cada 
«m.»— Visconde  de  Santarém,  Quadro  elementar  das  rdações  politicM  e  di- 
plomáticas de  Portugal  com  as  ditiersoM  potencias  do  mvndoyiúm,  vn,  pag.  894. 
«Apenas  o  gabinete  inglês  declarou  gaerra  a  Lais  AIY,  mandou  a  Lis* 


XIU 

doe  nossos.  Os  maiores  nomes  na  historia  das  navegaçSes  figura- 
vam entilo  a  bordo  das  frotas  portuguezas,  nas  quaes  Colombo, 
Américo  Vespucci,  Cadamosto  e  outros  muitos  se  habilitaram  para 
adquirirem  um  nome  immortal.  Um  paiz  n'estas  condições,  fossem 
quaes  fossem  os  destinos  que  lhe  estivessem  reservados,  não  podia 


boa  em  missão  extraordinária  o  chanceller  de  Irlanda,  o  cavalheiro  Methwea, 
o  aual  propoz  a  el-rei  D.  Pedro  em  nome  do  sou  governo,  bem  como  do  de 
Hollanda,  que  se  Portugal  se  quizesse  declarar  em  favor  doestas  potencias, 
de  lhe  darem  o  numero  de  navios,  que  o  mesmo  monarcha  pedisse,  vinte  mil 
homens  de  tropas,  e  alem  d'is80  de  garantirem  as  conquistas,  que  as  armas 
portuguezas  podessem  fazer  aos  hespanhoes  e  finalmente  de  nos  auxiliar  em 
qualquer  tempo,  e  em  todas  as  circumstancias  em  que  fossemos  atacados 
pela  Fnmça  oo  pela  Europa,  e  de  darem  por  saldadas  as  reclamações  pecu- 
niárias, e  outras  que  a  Inglaterra  e  a  Hollanda  tinham  contra  Portugal. 

«Com  effeito  D.  Pedro  veiu  a  seguir  a  politica  ingleza,  e  por  isso  dizia 
o  embaixador  francez  que  (segundo  as  noticias  de  Inglaterra)  constava  que  em 
Londres  se  tinham  feito  grandes  regosijos  por  se  ter  concluído  o  tratado.» 

«Em  1733,  por  occasião  da  eleição  do  novo  rei  da  Polónia  foi  a  nossa  ai* 
liança,  ou  antes  a  nossa  neutralidade  buscada  á  porfia,  como  em  todos  os 
tempos  aconteceu,  pelas  grandes  potencias  belligcrantes.  Ao  passo  que  a 
França  e  a  Hespanha  tratavam  de  conseguir  abraçar-se,  o  nosso  gabinete,  o 
partíao  da  neutralidade,  as  cortes  de  Vienna  e  de  Londres,  e  o  eleitor  de 
Saxonia  não  cessavam  de  negociar  para  alcançarem  egual  resultado,  chegan- 
do o  imperador  a  offerecer  a  Portugal  a  Sicilia  e  a  Córsega  para  o  infante 
D.  Manuel,  caso  que  com  elle  fizéssemos  causa  commum,  e  acenando-nos  a 
Inglaterra  com  o  augmento  do  território,  se  por  ventura  nos  declarássemos 
por  ella  contra  a  Hespanha,  obrigando-se  o  monarcha  iuglez  a  assegurar-nos 
na  paz  geral  a  dita  posse  e  senhorio. 

«Em  1753  officiava  o  conde  de  Baschi  ao  ministro  de  França,  que  Portu- 
gal estava  bem  longe  de  se  considerar  debaixo  do  jugo  dos  inglezes,  os  quaes 
esperava  pelo  contrario  que  fossem  seus  tributários. 

«N'outro  officio:  Que  o  ministro  Carvalho  lhe  havia  expedido  os  passa- 
portes, servindo-se  dos  termos  mais  lisonjeiros  para  com  a  França,  mas  sem- 
pre afectando  de  pôr  o  nome  de  Portugal  em  primeiro  logar,  como  faziam 
as  grandes  coroas,  que  queriam  hombrear  com  a  de  França;  que  elle  embai- 
xador se  lhe  inandara  queixar  por  terceira  pessoa,  e  viera  a  saber  que  fora 
el-rei  seu  amo,  que  assim  lh*o  ordenara,  porém  que  depois  de  vários  debates 
consentira  em  que  se  pozesse  Âs  ducu  Coroas,  em  logar  de  Portugal  e  França. 
D*Í8to  tomava  o  embaixador  pretexto  para  animar  contra  nós  o  seu  governo, 
disendo  que  elle  nos  havia  estragado  com  mimos. 

«No  anno  seguinte  officiava  o  mesmo  Bachi:  Quefxando-se  amargamente 
da  pouca  contemplação  que  a  nossa  corte  tinha  com  os  representantes  das 
potencias  estrangeiras,  dando  por  prova  o  modo  como  fora  tratado  o  duque  de 
botomajor,  que  no  seu  tempo  estivera  para  arrebentar  de  paixão;  que  ver- 
dade era  que  n'aquella  mesma  occasião  o  embaixador  de  Hespanha  e  o  mi- 
nistro de  Hespanha  eram  tratados  com  distincção  e  agrado,  mas  que  a^uillo 
era  momentâneo  e  fingido,  e  que  no  meio  d*aquellas  mostras  de  cordealidade 
transpirava  a  soberba  portugueza,  e  o  aborrecimento  que  aquella  nação  tinha 
aos  estrangeiros. 

«9  de  maio  de  1769.  Officio  do  cavalheiro  de  Clermont  para  o  duque  de 
Choiseul  participando:  Que  lhe  era  forçoso  dar  conta  da  seusivel  diflFereuça, 
qne  observara  entre  as  tropas  hespanholas  e  portuguezas,  sendo  estas  ultimas 
a  todos  os  respeitos  superiores  ás  primeiras,  tanto  no  pessoal  das  praças,  eo- 


XIV 

d'ahi  por  diante  deixar  de  interessar  aos  estrangeiros,  e  com  effeito 
muitos,  quer  arrastados  pela  sede  do  oiro,  quer  aguilhoados  pelo 
amor  da  sciencia,  de  remotas  regiSes  se  encaminhavam  a  Lisboa 
com  o  fím  de  observarem  as  frotas  carregadas  de  riquezas  entran- 
do a  foz  do  delicioso  Tejo,  e  de  estudarem  aquellas  drogas  e  espe- 


mo  no  aceio,  disciplina  e  conhecimento  das  manobras:  que  a  comparaç&o  de 
Elvas  com  Badajoz  ofiferecia  a  maior  disparidade,  não  havendo  n^esta  ultima 
praça  uma  só  peça  de  artilheria  com  reparo  nos  baluartes,  nem  nos  arma- 
zéns, nem  um  só  jornaleiro  no  arsenal,  assim  que  o  serviço  da  praça  estava 
posto  de  parte,  de  sorte  que  era  uma  dôr  de  eoraç&o,  e  o  que  mais  a  augmen- 
tava  era  ver  a  conâança  em  aue  estava  a  este  respeito  o  ministério  nespa- 
nhol,  e  o  despreso  com  que  olhava  para  o  seu  inimigo  natural:  que  era  opi- 
niáo  sua  que  a  Hespanha  só  poderia  levar  a  melhor  de  Portugal  abrindo  a 
campanha  com  tropas  francezas,  e  com  commandantes  da  mesma  naç2o  á 
frente  das  suas;  mas  se  o  ministro  hespanhol  persuadido  da  fraqueza  do  ini- 
migo fosse  o  primeiro  a  atacai -o,  desfallecido  de  tudo  quanto  elle  acabava  de 
mencionar,  n*esse  caso  era  para  temer  que  fizessem  os  portuguezes  em  Hes- 
panha taes  progressos,  que  apenas  os  poderiam  reparar  os  esforços  de  mui- 
tas campanhas  bem  succedidas. 

«Em  21  de  janeiro  o  embaixador  francez  avisava  sua  corte  da  continua- 
ção de  nossos  armamentos  militares,  dizendo  que  a  mão  que  os  dirigia,  mos- 
trava uma  habilidade  consummada,  e  que  era  mister  que  a  Hespanha  fosse 
mui  hábil  para  poder  escapar  aos  perigos  de  que  a  ameaçávamos.  Todo  o 
Rio  Grande  na  America  ficará  nas  mãos  dos  portuguezes,  e  ver-se-ha  que 
este  acontecimento  tornará  immortal  o  marquez  de  Pombal.»  Visconde  de 
Santarém,  Qwidro  Diplomático, 

*     4r 

«Ainda  aue  a  nação  portugueza  se  sustentou  gloriosamente  por  séculos, 
nada  bom  tudo  a  faz  mais  recommendavel  que  o  que  obrou  n'estes  últimos 
tempos  por  suas  descobertas  e  conquistas  no  mundo  novo.  Ha  nada  mais  il- 
lustre  que  o  ter  levado  nossa  religião  até  ás  extremidades  da  terra,  e  o  ter 
feito  com  aue  uma  infinidade  de  nações  mergulhadas  nas  trevas  do  mahome- 
tismo  ou  idolatria  abrisse  os  olhos  á  luz?  Ha  nada  mais  famoso  que  ter  leva- 
do a  todos  os  povos  da  Europa  a  facilidade  do commercío  de  que  gosamhoje, 
abrindo- lhes  um  caminho  até  então  desconhecido  para  reunir  no  seio  d^elles 
08  thesouros  e  riouezas  dos  paizes  mais  longiquos? 

«Mesmo  senão  pouco  assombrados  com  estas  grandes  vantagens  deve- 
mos sentir  que  lhe  devemos  nosso  reconhecimento  por  nol-as  terem  grangea- 
do,  especialmente  se  attendermos  a  que  são  o  fructo  de  duzentos  annos  de 
trabalnos  e  de  fadigas  immensas. 

«Durante  este  longo  periodo  de  tempo  vé-se  esta  nação  no  decurso  de 
uma  historia  continuada  e  sempre  interessante,  vencer  os  obstáculos  mais  in- 
yenciveis  por  meio  do  uma  paciência  e  coragem  a  toda  a  prova,  apresentar 
grandes  homens  em  todos  os  géneros,  terem  a  superioridade,  apesar  dp  seu 
pequeno  numero  em  toda  a  parte,  aue  se  apresentam;  estabelecer  sua  repu- 
tação e  seu  domínio  sobre  a  mina  aos  impérios,  forçar  de  alguma  sorte  a  tor- 
tuna  a  auxilial-os  sempre  por  meio  de  prósperos  successos. 

«Deve  isto  ainda  parecer  mais  digno  de  admiração,  quando  considerarmos 
que  Portugal  é  um  remo  muito  pequeno,  e  encerrado  em  limites  muito  es- 
treitos, e  que  por  isso  não  era  natural  presumir  que  podesse  encontrar  em  si 
mesmo  tantos  recursos,  formar  tão  vastas  emprezas,  abranger  uma  tão  gran- 
de extensão  de  paizes,  poder  com  tão  grandes  despezas,  subjugar  tão  diversos 


ciarias,  que  pela  primeira  vez  appareciam  nos  mercados  europeus, 
e  das  quaes  Amador  Ârraes  eloquentemente  falia  em  seus  diálogos. 
Veneza,  a  orgulhosa  Veneza,  estava  abatida,  e  a  Europa  salva  da 
ferocidade  dos  turcos!  E  eram  só  quarenta  mil  portuguezes,  excla- 
ma o  abbade  Sajnal,  cheio  de  assombro!  E  os  Uvros  portuguezes 
eram  então  anciosamente  procurados  pelos  outros  povos,  lidos  com 
avidez  e  immediatamente  traduzidos  em  todas  as  Unguas  euro- 
peas! 

poros,  e  pôr  em  acção  um  tão  glande  numero  de  indivíduos  capazes  de  fazer 
com  tão  grande  eloria  terem  seus  projectos  tão  bom  êxito.» 

«Não  teem  faltado  á  nação  portugueza  escriptorcs  para  celebrar  a  gloria 
de  suas  conquistas  em  linguas  differentes  da  nossa,  e  talvez  que  o  mérito 
d'e88e8  escriptores  tenha  desanimado  aquelles  d'entre  nós  que  tivessem  que- 
rido emprehendel-a. — Lafítau,  Hiatoirt  dta  découveríe$  et  conquêtes  des  Por- 
tugaiê  aanê  U  nouveau  monde.  Prefacio. 

«Não  é  o  próprio  Portugal  que  entregou  alternadamente  a  Península  a 
Richelien  e  á  Inglaterra,  e  que  mais  recentemente  na  presença  da  Europa 
abatida  inaugurou  a  lamentável  decadência  da  França  imperial? 

«Por  maior  tristeza  que  possa  inspirar  a  situação  actual  de  Portugal,  a 
historia  doeste  pequeno  reino  não  fica  por  isso  menos  uma  das  mais  dramáti- 
cas e  maravilhosas.  O  imperador  tinha  tido  o  cuidado  de  recommendar  o  es- 
tudo d^ella  nos  Ivceus.  Encontrava  n'ella  com  rasão  uma  excellente  escola  de 
enthusiasmo  e  ae  heroísmo  para  essas  jovens  gerações,  que  elle  arrastava 
após  si  para  todas  as  capitães  da  Europa. 

«Qne  aoge  de  gloria  e  de  grandeza! 

«Apenas  Portugal  tocou  seus  limites  naturaes,  repelliu  os  infiéis,  con- 
fondia  o  orgulho  castelhano,  e  fundou  sua  constituição  intei^ior,  que  não  quer 
contentar-se  somente  com  o  ser  livre.  Falta-lhe  immediatamente  o  ar  nós 
seus  estreitos  limites,  e  impaciente  de  derramar  fora  do  paiz  sua  actividade, 
soa  coragem  e  seu  zelo,  eil-o  que  se  apressa  em  levar  á  Africa  a  guerra,  que 
de  lá  tinha  vindo  tantas  vezes.  D'ahi  todos  esses  prodigiop,  que  illnstraram 
o  seeolo  seguinte,  as  fecundas  meditações  do  infante  D.  Henrique,  todas  as 
costas  da  Africa  reconhecidas,  a  America  descoberta  como  uma  magnifica  re- 
compensa conferida  pelo  acaso  á  audácia  portugueza,  o  grande  Oceano  impu- 
nemente atravessado,  as  índias  descobertas,  a  Ásia  avassalada,  todo  o  com- 
mercio  do  mundo  mudado,  o  homem  entrando  finalmente  na  posse  de  toda  a 
soa  resideocial  Que  repentina  revolução,  e  que  nação  poderosa  levou  jamais 
ao  cabo  empreza  mais  iinportante?»  Auguste  Bouchot,  HUtoire  de  Portugal 
mm»  la  direetion  de  mr.  Duruy, 

«A  nação  portugueza  em  particular,  pôde  revindicar  a  gloria  da  iniciativa 
dai  viagens  longiquas  sobre  o  Atlântico,  e  das  grandes  explorações  dirigidas 
para  oeste  e  sul.  8ua  missão  foi  a  de  estabelecer  as  primeiras  relações  dire- 
ctas da  Europa  com  a  índia  por  meio  do  oceano.  Não  é  isto  ainda  tudo:  a 
oolooisação  de  metade  da  America  do  Sul  è  obra  sua. 

«Um  povo  que  se  apresenta  perante  a  posteridade  com  egual  titulo,  está 
psgiiro  que  quaesquer  revezes  que  tenha  depois  experimentado,  de  conservar 
na  historia  nm  lc«par  honroso,  que  ninguém  lhe  poderá  contestar  sem  ingrati- 
dio.»— Charles  Yoge!,  Le  Portugal  et  »m  eolomet. 


Que  illusão  a  de  alguns,  que  julgam  terem  apenas  as  poesias 
de  CamSes  sido  traduzidas !  As  obras  do  nosso  padre  Vieira  não  con- 
tam menor  numero  de  versSes  do  que  as  do  nosso  poeta;  as  Pere- 
grinciçZes  de  Fernão  Mendes  Pinto,  ainda  hoje  são  traduzidas  em 
vários  paizes,  o  Hissope  acaba  agora  mesmo  de  encontrar  um  novo 
traductor,  e  n'uma  palavra  difficilmente  se  encontrará  um  bom  livro 
composto  pelos  nossos,  aos  quaes  os  estrangeiros  não  tenham  tribu- 
tado esta  honra,  que  ainda  não  ha  muitos  annos  a  douta  AUemanha 
mais  uma  vez  prestou  ás  Décadas  do  nosso  Barros.  Não  admira,  po- 
rém, que  os  estranhos  pagassem  um  tal  tributo  de  admiração  aos 
escriptos  de  nossos  maiores,  narravam  aquelles,  feitos  nunca  prati- 
cados, e  hoje  diJBScilmente  cridos,  se  não  foram  comprovados  por 
monumentos  de  mais  de  uma  espécie.  Ao  mesmo  tempo  combatiam 
em  Marrocos  contra  os  moiros,  sustentavam  cercos  apertadíssimos, 
ganhavam  batalhas  campaes,  descobriam  paizes  nem  sequer  sonha- 
dos pelos  antigos,  e  não  só  isto,  opulentavam  as  sciencias  e  aperfei- 
çoavam as  artes.  Apresentavam  o  primeiro  poema  épico  moderno, 
e  a  segunda  tragedia,  e  na  poesia  bucólica  tomavam  o  primeiro 
logar,  davam  a  conhecer  á  Europa  as  plantas  asiáticas  e  america- 
nas, enriqueciam  as  sciencias  mathematicas  e  naturaes,  escreviam 
um  numero  extraordinário  de  obras  sobre  as  linguas  da  Ásia, 
America  e  Africa,  e  Deus  sabe  até  onde  chegariam,  se  a  inquisição 
e  os  jesuítas  não  lhes  tivessem  atalhado  voos  tão  arrojados!... 

Desde  então  as  coisas  mudaram  completamente;  em  Portugal  já 
não  era  possivel  escrever  senão  o  que  fosse  grato,  ou  a  tão  detestá- 
vel tribunal,  ou  ao  governo  sopeado  pelos  jesuítas  e  frades,  e  o  jugo 
era  tal  que  qualquer  escriptor  tinha  de  declarar  mui  positivamente 
que  não  acreditava  nos  deuses  do  paganismo !  Não  procureis  d^aqui 
por  diante  a  historia  de  Portugal  nos  escriptores  portuguezes,  a  ver- 
dade só  a  encontrareis  nos  escriptos  estrangeiros.  Innumeraveis  são 
as  obras  publicadas  em  todos  os  paizes  a  respeito  da  catastrophe  de 
Alcácer  Quibir,  da  deposição  de  D.  Affonso  VI,  da  administração 
do  marquez  de  Pombal,  n*ellas  podereis  encontrar  a  narração  dos 
factos  taes  quaes  se  passaram;  mas,  se  os  procurásseis  conhecer 
com  toda  a  exactidão  nos  escriptos  nacionaes,  darieis  prova  de  que 
éreis  pouco  sabedores  do  modo  de  viver  d^aquella  epocha. 

O  conhecimento,  pois,  das  obras  publicadas  por  estrangeiros 
em  tantos  e  tão  vários  paizes  tornasse  indispensável  para  aquelle, 
que  desejar  conscienciosamente  escrever  acerca  de  nossas  coisas. 
Não  havia,  porém,  um  guia.  Que  obras  ler  relativas  á  acclama- 
ção  de  D.  João  IV,  ou  á  nossa  heróica  lucta  contra  Napoleão  I? 
Sabia*se  apenas  que  existiam  muitas.  Havia  conhecimento  d'uma 
ou  outra.  Mas  o  presente  trabalho  vae  mostrar  que  ha  dezenas. 
Vae  declarar  o  titulo  exacto  de  cada  uma,  sempre  que  seja  possi- 
vel, o  nome  por  extenso  do  author,  e  até  mesmo  fazer  extractos 


d'aquelles  trechos  que  mais  directamente  nos  interessam^  respei- 
tando com  tudo  os  limites  próprios  d'este  trabalho. 

O  leitor  vae  ficar  talvez  um  pouco  surprehendido  ao  ver  a  gran- 
de aureola  de  gloria  que  cinge  o  nome  Portugal  entre  os  estranhos. 
Escríptores  de  primeira  ordem  consagram-lhe  paginas  repassadas  da 
maior  admiração  e  respeitO;  e  acerca  de  nossas  coisas  escrevem  obras 
tSo  importantes,  que  não  podem  deixar  de  ter  um  logar  distincto  nas 
primeiras  bibliothecas  do  mundo.  O  prussiano  conde  de  Hoffinansegg 
emprega  perto  de  cincoenta  contos  de  réis  na  publicação  da  sua 
Flora  Portugueza^  e  p8e  em  perigo  sua  vida  nos  pincaros  da  Serra 
da  Estrella.  Seu   companheiro   de  iornada,   o   celebre   botânico 
Link,  escreve  sua  viagem  a  Portugal  e  n'ella  tece  òs  mais  pom- 
posos elogios  ao  nosso  paiz.  A  marqueza  de  Abrantes  fica  absorta 
ao  contemplar  as  bellezas  do  TeiO;  e  não  cessa  de  gabar  as  mara- 
vilhas que  encontra  em  Portugal,  maravilhas  cantadas  por  poetas 
e  poetizas  em  todas  as  linguas.  Murphy  escreve  sobre  as  bellezas 
da  Batalha  uma  obra  verdadeiramente  monumental,  o  mais  bello 
trabalho  que  a  respeito  d'ella  existe.  O  architecto  firancez  Taylor 
na  sua  magnifica  obra  nada  encontra  comparável  ás  columnas  de 
Belém.  O  prussiano  conde  de  Rackzynski  é  o  primeiro  que  em  dois 
volumes  dá  esclarecimentos  relativos  ao  nosso  legendário  Orão 
Vasco.  Poucos  annos  depois  vae  da  Inglaterra  expressamente  a 
Vizeu  o  inglez  Robertson  com  o  fim  de  estudar  o  mesmo  assum- 
pto. Adamson  escreve  uma  biographia  de  Camões,  verdadeira- 
mente digna  de  «preço,  e  Henry  Major  ainda  bem  não  acaba  de 
dar  á  luz  a  Vida  do  infante  D.  Henriguej  logo  pega  na  penna  para 
trabalhar  n'outra  obra  relativa  ás  nossas  navegações.  Lamartine, 
n'uma  soberba  ode,  immortalisa  o  nosso  Philinto  Elysio.  E  o  leitor 
encontrará  elogios  de  Chateaubriand,  Racine,  Boileau,  Quiaet  e 
outros  aos  nossos  escríptores.  Em  remate  as  melhores  historias  da 
litteratura  portugueza  são  escríptas  por  estrangeiros,  e  muitos  sa- 
bem as  obrigaçSes  em  que  estamos  para  com  Ferdinand  Diniz, 
Stanley,  Smith^  Ruscala,  Schaeffer,  e  muitos  outros.  ^ 

1  £m  26  de  janho  de  1876,  o  rei  de  Dahomej,  em  guerra  com  os  ingleses, 
ranette  ama  carta  escrípta  na  língua  portugueza^  ao  commodoro  britannico 
Hewett,  pedindo  qoe  este  lhe  enviasse  um  parlamentarío  para  tratar  d*nm 
aeoordo. 

«Amo  e  venero  a  ];iobilÍ88Íma  nação  portugueza  (diz  o  celebre  hespanhol 
Feijóo  no  seu  Theairo  Critico)  pelas  rasoes  que  a  fazem  gloriosa  em  todo  o 
orbe.  O  nascimento  me  fez  seu  visinho,  e  o  conhecimento  apaixonado.  Os  que 
sabem  a  primeira  coisa  estranharão  a  segunda,  porque  entre  povos  limitro- 
pbes  sujeitos  a  diversas  coroas,  costuma  reinar  certa  espécie  de  emulação 
que  os  toma  mal  avindos.  Porém  como  o  céo  me  deu  um  espirito  desembara- 
çado d'estas  preoocopaçÒes  vulgares,  estimo  o  mérito  om  qualquer  parte  que 
o  eneontre. 

TOMO  I.  #  # 


XVIII 

Quereis  conhecer  o  importante  papel  que  na  política  europeia 
representou  o  celebre  D.  António  Prior  do  Crato?  Nâo  o  procureis 
nos  livros  nacionaes;  pois  ai  d^aquelle  que  tivesse  o  arrojo  de  dizer  a 
verdade  em  Portugal  n^aquelle  tempo,  mas  procurae-a  no  grande  nu- 
mero d^elles;  que  por  então  se  publicaram  em  muitos  paizes.  Quereis 
ter  informações  sobre  a  maneira  como  a  inquisição  tratava  seus  pre- 
sos no  reinado  de  ÁíFonso  VI?  Só  as  podereis  obter  lendo-as  na 
obra  que  Dellon  escreveu  a  tal  respeito.  Quereis  ver  nossos  monu- 
mentos? Vel-os-heis  também  no  Portugal  Ulustratedy  de  Kinsey, 
e  em  muitas  outras  obras  especialmente  dedicadas  a  este  objecto. 

Não  trata;  porém,  o  presente  trabalho  somente  dos  livros  com- 
postos por  estrangeiros  relativos  a  assumptos  portuguezes,  e  dos 
traductores  que  verteram  em  linguas  estranhas  obras  compostas 
pelos  nossos  patrícios:  darei  também  noticia  resumida  de  muitas 
obras  escriptas  pelos  nossos,  quer  em  portuguez  quer  n^outros  idio- 
mas, reimpressas  firequentes  vezes  em  paizes  estrangeiros;  e  ter- 
minarei dando  uma  succinta  noticia,  extrahida  em  geral  de  traba- 
lhos estrangeiros,  de  vários  monumentos  que  pelos  nossos  foram 
erigidos  em  vários  paizes. 

nNem  o  paíz  onde  o  sugeito  nasce,  nem  o  partido  que  segne,  ajuntam  um 
8Ó  grão  de  peso  na  balança  em  que  examino  o  que  vale. 

«Torno  pois  a  dizer  que  venero  a  nação  portugueza  por  suas  muitas  qua- 
lidades relevantes  que  conciliam  o  meu  respeito.  Brazões  são  que  ornam  a 
sua  gloria  militar,  continuada  até  hoje  desde  os  mais  remotos  séculos;  o  seu 
ardente  zelo  pela  conservação  da  fé,  a  sua  alteza  nas  letras,  e  a  sua  fecundi- 
dade em  proauzir  excellentes  engenhos.» 

♦  « 
£  tinha  rasão  Feijóo:  não  foram  só  as  navegações,  guerras  e  descober- 
tas que  tomaram  Portugal  conhecido  dos  estrangeiros;  em  todos  os  ramos  de 
conhecimentos  humanos  Portugal  contou  sempre  grandes  engenhos:  Pereira, 
auctor  do  methodo  de  ensinar  os  mudo-surdos,  que  recebia  uma  pensão  de 
Luiz  XIV;  Constantino,  o  Aei  dos  floristas,  estabelecido  em  Paris;  Sequeira, 
que  no  Louvre  cxpoz  o  admirável  quadro  de  Camões  moribundo.  Coelho,  cu- 
jas telas  ornam  o  Escurial;  Moura,  tão  conhecido  em  Londres  pelas  suas  pin* 
turas;  Fr.  Francisco  de  Santo  Agostinho,  em  Roma  e  Pádua  disputando  de 
omni  scibili  com  os  maiores  sábios  da  Europa;  Arthur  Napoleão,  em  tenra 
edade,  despertando  a  admiração  do  mundo  musical  com  seus  concertos  nas 
primeiras  capitães  da  Europa;  Bomtempo,  pianista  tão  conhecido  em  Londres 
e  em  toda  a  Europa;  Marcos  de  Portugal,  cujas  operas  eram  cantadas  nos  thea- 
tros  de  primeira  ordem;  Todi,  recebendo  applausos  pela  maestria  do  seu  canto 
em  S.Petersbourg  e  n^outras  capitães;  António  Vieira,  pregando  em  Romana 
presença  de  Christina,  rainha  da  Sueeia,  onde  então  se  achavam  oradores  dos 
mais  distinctos.  Canonistas  e  theologos  da  maior  reputação,  que  no  concilio 
de  Trento  attrahiam  as  attençoes  d*aaue11e  illustrado  congresso;  o  Visconde 
de  Santarém,  cujos  trabalhos  geographicos  hão  de  ser  em  todas  «s  epochas 
de  primeira  ordem;  Casado  Giraldes  que  n^esia  sciencia  egualniente  me  faz 
distincta  companhia;  António  Vieira  Transtagano,  professor  de  linguas  orien- 
taes  em  Londres;  P.  Manuel  Alvares,  por  cuja  grammatica  (segundo  declara 
a  edição  impressa  em  Lucca)  se  aprendia  o  latim  em  quasi  toda  a  Europa. 


XIX 

Notará  o  leitor  quo  alguns  artigos  sSo  longos,  ao  passo  que 
outros  apparecem  muito  succintos.  Provem  a  causa  ou  de  o  auctor 
possuir  o  livro  mencionado,  ou  do  o  ter  á  sua  disposição,  ou  de 
apenas  poder  momentaneamente  lançar  sobre  elle  um  relance  de 
olhos,  ou  vel-o  tao  somente  mencionado  n'um  catalogo,  ou  citado 
em  qualquer  livro. 

Qualquer  leitor  conhecerá  de  quão  grande  difficuldade  é  escre- 
ver uma  obra  a  respeito  de  assumpto  tao  espinhoso.  No  entanto 
trabalhei  por  alguns  annos,  e  fíz  quanto  pude,  n^  mo  poupando  ao 
trabalho.  De  muitas  obras,  apesar  das  maiores  diligencias,  nunca 
me  foi  possível  obter  um  exemplar,  entre  as  quaes  a  de  Ebeling. 
Como  seria  possível  a  qualquer  individuo  ver  tantas  obfas  com^ 
postas  em  tantos  idiomas  e  localidades  tSLo  differentes,  sendo  n'ou- 
tro  tempo  a  entrada  de  muitas  rigorosamente  prohibida  em  Portu- 
gal, escriptas  por  pessoas  que  nSo  respeitavam  a  inquisiç^  nem 
as  ceremonias  religiosas  dos  portuguezes?^  Outro  tanto  succede  na 


D.  Francisco  de  Mello,  o  author  da  celeberrima  Historia  dos  movimentos  de 
CaUdunha,  uma  das  mais  notáveis  obras  da  litteratura  hespanhola.  Também 
mn  portaguez  foi  medico  de  Catharina  II,  imperatriz  da  Rússia^  e  n'esta 
sciencia  contamos  actualmente  varões  muito  abalisados,  entre  os  quaes  brilha 
o  nome  do  sr.  Alvarenga. 

£m  1806  a  academia  de  Copenhague  offereceu  um  premio  ao  melhor  li- 
▼ro  sobre  a  composição  das  forças,  e  o  professor  de  hydraulica  na  universi- 
dade de  Coimbra,  Manuel  Pedro  de  Mello,  foi  quem  o  ganhou. 

Ab  obras  do  abbade  Correia  da  Serra  acham-se  impressas  nas  PhilosO' 
phical  Transactions,  de  Londres,  e  nos  Ânnaes  do  Miueu  de  Paris, 

Nas  actas  da  academia  de  Munich  estão  publicados  trabalhos  do  nosso 
José  António  Monteiro,  e  o  Catalogo  dos  Manuscriptos  da  Bibliotheca  d'Al- 
cobaça,  por  Fr.  Fortunato  de  S.  Boaventura  recebeu  elogios  de  Mal  e  d'ou- 
tros  sábios.  O  nosso  João  Pedro  Ribeiro  disputava  com  o  celebre  auctor  da 
Eipeâía  Sagrada^  o  P.  Florez,  e  censurava  passagens  das  suas  obras.  Brotero 
era  am  botânico  distincto,  e  a  Flora  da  CoMnchina,  do  nosso  padre  Loureiro, 
era  reimpressa  e  accrescentada  na  Allemanha,  a  qual  tantas  reimpressões  e 
tniducções  está  fazendo  das  obras  portuguezas.  £  em  remate,  como  o  leitor 
ba  de  ver^  os  trabalhos  dos  nossos  patrícios  sobre  os  idiomas  chinez  e  japoncz 
estam  sendo  ou  reimpressos,  ou  extractados  em  Roma,  Paris  e  n*outras  partes. 
As  obras  do  nosso  arabista  Fr.  João  de  Sousa  são  conhecidas  em  toda  a  par- 
te, e  o  celebre  professor  de  línguas  orientaes  em  Paris,  mr.  Dubeux,  fez  seus 
primeiros  estnaos  em  Lisboa.  Qual  será  o  sábio  estrangeiro  que  não  conheça 
as  obras  do  nosso  Silvestre  ii^inheiro  Ferreira,  e  o  diplomata  que  não  aprecie 
o  merecimento  do  nosso  fallecido  Duque  de  Palmella?  Se  o  nome  dç  Silvestre 
Pinheiro  Ferreira  é  conhecido  pelos  seus  livros  phtlosophicos,  também  os  tra- 
balhos publicados  em  diversas  epochas  pela  universidade  de  Coimbra  com- 
mentando  as  obras  de  Aristóteles  são  de  grande  apreço  (segundo  dizem  es- 
trangeiros competentes)  e  a  Lógica  de  Verney  não  só  foi  bem  acceite  na  Itá- 
lia, mas  até  mesmo  recebeu  grandes  elogios  no  Journal  des  Savanf^. 

^  Apenas  chegava  um  navio  estrangeiro  a  qualquer  porto  portuguez,  era 
a  embarcação  visitada  pelos  padres  de  S.  Domingos,  ou  indivíduos  da  Inqui- 
sição, que  apprehendiam  todos  os  livros  que  dissessem  mal  dos  costumes  re- 
ligiosos dos  portugueses. 


França.  N^aquelle  paÍ2  sSo  rarissimas;  segundo  diz  o  sr.  F.  Diniz, 
as  primeiras  traducçSes  que  se  fizeram  das  obras  portuguezas  rela- 
tivas ás  nossas  primeiras  viagena  e  descobertas.  £  em  Portugal 
quantas  pessoas  se  podem  gabar  de  ter  visto  um  Garcia  da  Horta 
em  francez;  ou  um  F.  Mendes  Pinto  em  hollandez? 

Divide-se  pois  este  trabalho  em  quatro  partes,  tratando  cada 
uma  d'ellas  do  seguinte  assumpto: 

I  —  Diccionario  de  todos  os  escriptores  estrangeiros  que  escre- 
veram obras  expressamente  consagradas  a  Portugal  ou  a  assum» 
ptos  portuguezes,  acompanhado  da  traducção  dos  trechos  mais  no- 
táveis que  provam  á  evidencia  o  alto  apreço  que  os  maiores  sábios 
estrangiirJfizeram  dos  portugaezes. 

U  —  Diccionario  dos  traductores  estrangeiros  que  verteram 
para  os  seus  idiomas,  obras  portuguezas,  trabalho  digno  de  ser  lido 
por  aquelles  que  julgam  que  os  estrangeiros  ou  nSo  conhecem  a 
nossa  litteratura,  ou  não  lhe  dão  o  devido  apreço. 

III —  Resenha  das  obras  compostas  por  portuguezes,  impressas 
em  Portugal  e  reimpressas  repetidas  vezes  em  paizes  estrangeiros 
pelo  grande  credito  que  n'elles  obtiveram. 

IV  —  Noticia  dos  monumentos  existentes  em  varias  cidades  do 
mundo,  construídos  por  portuguezes  ou  erigidos  em  honra  dos  nos- 
sos compatriotas. 

Termina  o  2.®  volume  em  um  indice  remissivo,  o  qual  com  & 
maior  facilidade  indica  as  obras  que  podemos  consultar  a  respeito 
de  qualquer  assumpto. 

E  tempo  de  terminar,  mas  cumpre-me  dar  agradecimentos 
áquellas  pessoas  que  me  obsequiaram,  já  dando-me  algumas  noti- 
cias, já  mvorecendo-me  com  o  empréstimo  de  algumas  obras,  com 
o  fim  d'ellas  eu  poder  fazer  extractos.  Serei  por  conseguinte  sem- 
pre grato  aos  obséquios  recebidos  dos  ill."®*  e  ex.""*  srs. 

Angelo  Carrero 

António  Henrique  Leal 

António  Maria  Pereira  Júnior 

António  Rodrigues 

António  da  Silva  Tullio 

Cassassa,  e  vários  empregados  da  Bibliotheca  publica  de 

Lisboa 
Conde  de  Geraz  de  Lima 
Francisco  Arthur  da  Silva 
Francisco  Marques  de  Sousa  Viterbo 
Manuel  José  Ferreira 
Marquez  de  Sousa  Holstein. 


XZI 

• 

Declaro  francamente  que  ao  ex.^^  sr.  Silva  Tullio  devo  o  ter- 
mo dado  conhecimento  de  algumas  obras  existentes  naBibliotheca 
Publica  de  Lisboa,  sem  o  qual  eu  as  não  mencionaria,  pois  eram 
para  mim  completamente  desconhecidas. 

Não  sendo  mfelizmente  versado  no  conhecimento  do  idioma  alle- 
m2o,  tive  de  recorrer  aos  ex."^*"*  srs.  Alfredo  Keil,  e  Sophia  Boeder 
nas  traducçSes  que  indispensavelmente  tive  de  apresentar  de  vários 
trechos  de  obras  escriptas  n'esta  lingua. 

Ainda  mais  uma  vez  repito:  lutei  com  muitas  difficuldades, 
mas  subiram  ellas  de  ponto  principalmente  na  2.^  parte  d'este  tra- 
balho, quando  trato  das  versSes  dos  escriptos  portuguezes  para 
idiomas  estrangeiros. 

Se,  porém,  este  meu  trabalho  for  bem  recebido  pelos  meus  con- 
terrâneos, dar-me.hei  por  bem  pago  de  todas  as  minhas  fadigas  e 
vigilias,  e  com  muitos  outros,  exclamarei: 

£a  d*e8ta  gloria  só  fico  contente 

Qae  a  minha  pátria  amei  e  a  minha  gente ! 


PARTE  I 


n 


iPÍORES  MNGEI 


QEE  ESCREVERll  OBRAS 
CONSAGRADAS  A  PORTUGAL  OU  A  ASSUMPTOS  PORTUGUEZES 

COM  A  TRADUCÇÃO 

DOS  TRECHOS  MAIS  NOTÁVEIS  D'ESSAS  OBRAS 


«Lusitânia  1 
Regnorum  Regina  potens,  quam  Solís  ab  ortu 
SolÍ8  ad  occasus  Orbis  utcrqac  colit.w 

LoBEOf^lTZ* 


l 


PORTUGAL  E  OS  ESTRANGEIROS 


A 


I)  ABBEVILLE  (OLEMENT  FOULLON  OLAUDE  D')  —  Missioná- 
rio 6  escriptor  francez  da  ordem  dos  Capuchos,  nascido  em  Paris  no  anno  de 
1632. 1 

E.  —  Histoire  de  la  míssion  des  PP,  Capucins  à  Vile  de  Maragnon  et  íerres 
circonvoisines,  oit  il  est  traité  des  singularités  admirables  et  des  tnoeurs  mer^ 
veilleuses  des  Indiens,  Paris,  1614. 

(Historia  da  missão  dos  padres  capuchinhos  na  ilha  do  Maranhão,  etc.) 

í)    ABBTS  (THOMAS). 

E.  —  Fragment  der  Portugiesischen  Geschichte.  Berlin  et  Stellin,  i78i,  8.» 

(Resumo  dos  feitos  dos  portuguezes,  etc.) 

3)    ABLANOOURT  (Monsieur  d'). 

E.  —  Memoires  de—  Envoyé  de  sa  Majesté  Trés-Chréi  'mne Louis  XIV  en 
Portugal,  contenant  VHistoire  de  Portugal,  depuis  le  TraUé  des  Pyrenées  de 
4659  jusqu'à  1668.  Avec  les  Revolutions  arrivées  pendant  ce  temps-là  à  la  Cour 
de  lÂsbonne,  et  un  détail  des  batailles  données  et  des  Sieges  formes  50us  les  or- 
ares et  le  commandement  du  Duc  de  Schomberg^  avec  le  Traité  de  Paix,  fait 
entre  les  Róis  d^Espagne  et  de  Portugal,  et  celui  de  la  Ligue  offensive  et  defen^ 
sive,  conclú  entre  Sa  Majesté  Très-Chretienne  et  cette  Couronne,  A  la  Haye, 
Chez  Abraham  de  Hondt,  Marchand  Libraire,  prés  de  la  Porte  de  la  Príson. 
1701,  8.%  382  pag. 

(Memorias  de  mr.  d'AbIancourt  desde  í6d9  até  1668.) 

Esta  obra  tem  sido  consultada,  e  ha  de  sel-o  em  todos  os  tempos  por  aquel* 
les,  que  quizcrem  escrever  circumstanciadamente  a  historia  dos  reinados  de 
D.  João  IV  e  D.  Affonso  VI.  Fremont  d*Ablancourt,  segundo  nos  diz  o  viscon- 

*  Firmiu  Didot  ~  Nouvelle  Biographie  Générole^  vol.  10.®,  pag.  69o. 


2  AB 

de  de  Santarém^  ^  era  indívídao  algum  tanto  enfatuado,  e  mal  acceito  aos  por- 
tugaezes.  O  aactor  d'estas  Memorias  faz  ama  horrível  descripçao  da  índole  de 
Affonso  VI;  elogia  extraordinariamente  os  feitos  de  Schomberg,  apesar  de  ser 
quasi  sempre  contrariado  pelos  portaguezes,  e  lamenta  o  poaco  desejo,  que  os 
nossos  tinham  de  augmentar  seu  território,  pois  que  toda  a  Galliza  até  à  Co- 
runha deveria  pertencer  a  Portugal,  no  dizer  d'este  escriptor. 

4)  ABRANTES  (LAUHE  PEHMON,  Duchessb  d')  —  Mulher  do  ge- 
neral Junot,  commandante  da  primeira  invasão  franceza  em  Portugal. 

Nasceu  em  Montpellier  a  6  de  novembro  do  anno  de  1784,  e  falleceu  em 
Paris  a  7  de  junho  de  1834.  ^  Viveu  sempre  com  tào  excessivo  luxo  e  ostenta- 
ção, que  se  arruinou  completamente  a  ponto  de  por  fim  ter  de  viver  com  o 
producto  de  seus  escriptos.  Alem  de  muitas  outras  obras,  escreveu  também : 

Souvenirs  d*une  amhassade  et  d^un  sejour  en  Espaçne  et  en  Portugal,  de 
1808  a  1811.Bruxelles,  Société  Belge  de  Librairie,  de  Hauman,  Gattoir  et  Comp.% 
1838, 12.»  gr.,  289,  imprimerie  de  P.  Marz. 

O  tomo  2.'»  tem  exactamente  o  titulo  do  1.%  mas  com  o  accrescentamento 
das  seguintes  palavras:  Leipzig.  L.  Míchelsen.  326  pag.^ 

A  viagem  em  Portugal  começa  a  pag.  113  d'este  2.»  vol. 

cQu^m  não  tem  visto  ÍÃsboa,  não  tem  visto  cousa  boat^  Estas  palavras  ad- 
mirativas, que  o  orgulho  nacional  inspira  sempre  a  qualquer  portuguez  habi- 
tante de  Lisboa,  serão  reconhecidas  como  verdadeiras  por  aqueiles,  que  tive- 
rem tido  a  ventura  de  viver  sobre  as  margens  encantadas  do  Tejol...  Ck)m  ef- 
feito,  nada  mais  bello,  que  a  vista  de  Lisboa,  chegando  ao  rio,  ou  por  Aldeia 
Gallega,  ou  por  Cacilhas,  ou  pela  Moita.  — Tenho  percorrido  toda  a  Europa, 
e,  exceptuando  Nápoles^  nada  vi  que  me  tenha  penetrado  de  admiração  como 
esta  cidade,  levantando-se  em  forma  de  amphitheatro  na  margem  da  immensa 
planície  de  agua  do  Tejo.  É  especialmente  ao  vir  de  Aldeia  Gallega  que  seu 
aspecto  é  o  mais  magestosamente  imponente.  No  primeiro  plano  do  quadro  o 
Tejo,  cuja  largura  n'este  sitio  é  de  mais  de  duas  léguas  francezas,  está  cober- 
to de  milhares  de  embarcações,  cujos  mastros  empavezados  annunciam,  que 
toda  a  marinha  do  mundo  pôde  vir  demandar  asylo  á  bahia  de  Lisboa.  É  do 
seio  d'este  lago,  ou  antes  d'este  mar,  que  se  levantam  como  amphitheatro  as 
coliinas,  sobre  que  assenta  Lisboa.  Á  medida  que  o  barco  se  desvia  da  mar- 
gem do  Alemtejo,  descobre-se  uma  nova  belleza  no  quadro,  que  se  tem  diante 

^  Quadro  elemenlar  das  relações  politicas  e  diplomáticas  de  Portugal  com  as  diver- 
sas potencias  do  mundo,  yo\.  4.«,  parte  2.*,  pag.  145. 

2  Firmin  Didol—  Nouvelle  Biographie  Universelle,  toI.  S7.«,  pag.  Í5I. 

3  Ha  outra  edição  de  1837,  feita  em  Paris,  e  mencionada  na  mesma  pag.  do  vol.  27.* 
da  Biographie  Vnicerselle  de  Firmin  Didot. 

*  «No  vayas  á  creer,  leclor  amigo,  que  es  dei  todo  cierto  el  axioma  portugaox  de 
quo  quien  non  veu  Lisboa,  non  veu  cosa  boa».  G.  Calvo  Asensio.  Lisboa  em  1870,  pag. 
SG  R'  um  dos  livros  mais  recbeiados  de  falsidades  que  teom  saido  dos  prelos  estran- 
gciroí. 


UAUHr.  rEHíiCh 


LAURE  PERMON 


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dos  olhos.  A  cidade  estende-se  sobre  as  collinas^  qae  limitam  o  rio,  e  se  vos 
apresenta  com  seus  zimbórios,  seus  conventos,  palácios,  jardins,  campos  cul- 
tivados, que  separam  um  palácio  de  um  mosteiro,  uma  praça  publica  de 
um  cemitério,  e  lhe  dão  assim  parecença  com  uma  cidade  oriental;  e  de- 
pois #esenrolam-se  ao  longe  esses  jardins  embalsamados^  essas  quintas,  que 
estio  em  roda  de  Lisboa,  como  um  rico  e  suave  cinto.  Sobre  um  plano  mais 
longínquo,  as  rochas  de  Cintra  formam  o  fundo  d'esse  rico  quadro,  phantastico 
de  l)elleza...  Eis  o  conjuncto,  que  se  vos  offerece,  quando,  ao  sahirdes  de  Al- 
deia Gallega,  depois  de  terdes  atravessado  a  árida  e  areienta  província  do 
Alemtejo,  embarcaes  no  rio  d'este  nome  n'um  escaler  dirigido  por  vinte  re- 
níadores,  e  avançaes  rapidamente  para  a  cidade  maravilhosa,  sobre  esse  rio 
coberto  de  navios  de  todas  as  nações...  cada  impulso  do  remo  descobre  uma 
parte  d'essa  rica  decoração,  que  se  torna  cada  vez  mais  visivel.  É  principal- 
mente pela  manhã,  ao  nascer  do  sol,  que  devemos  ver  dourar  com  seus  raios, 
(antes  que  sejam  mais  ardentes),  suas  novas  ruas,  a  bella  Praça  do  Commer- 
cio,  o  Arsenal,  o  Terreiro  de  Trigo,  e  Belém  com  sua  quinta  e  sua  egreja  go- 
thica,!  Ajuda  e  seus  pomares  de  laranjas  e  limoeiros...  ao  passo  que  o  rio  mais 
rápido  e  mais  profundo  e  stà  apertado  entre  as  serras  de  Almada,  e  se  preci- 
pita para  o  mar,  onde  se  lança  entre  coUinas,  que  limitam  o  lado  do  sul.  Não 
somente  o  aspecto  de  Lisbo  a  offerece  uma  prespectiva  tão  rara,  como  nota- 
velmente bella;  mas  uma  vez  na  cidade,  a  estranheza  da  direcção  de  suas 
ruas,  de  suas  praças,  a  m  aneira  caprichosa  como  seus  próprios  defeitos  se 
apresentam  á  curiosidade  do  estrangeiro,  suas  bellezas,  que  não  são  communs 
a  nenhuma  outra  cidade  europe  a,  tudo  a  toma  uma  cidade  á  parte  entre  as 
mais  extraordinárias,  e  dà  o  desejo  de  voltar  para  ella,  quando  já  se  habitou 
uma  vez. 

íA  pretenção  de  todas  as  cidades  fundadas  sobre  montes  é  de  ter  sete,  á 
maneira  de  Roma.  Lisboa  faz  como  as  outras,  e  os  portuguezes  sustentam  que 
tem  sete  montes. 

«Porém  uma  particularidade  notável  é  que  em  1806,  cincoenta  annos  de- 
pois da  catastrophe,  viam-se  ainda  nas  ruas  de  Lisboa  não  somente  signaes 
do  terremoto  de  i755,  mas  até  os  entulhos,  taes  como  os  deixara  aquelle  anno 
maldlcto.  Varias  ruas  de  Lisboa,  pequenas  praças  continham  ainda  esses  res- 
tos da  cólera  de  céu.  Immundicies,  esqueletos  de  cães,  cabras,  jumentos,  até 
de  machos,  jaziam  por  cima  das  minas,  e  a  cidade  ameaçada  de  peste  pelas 
exhalações  mephiticas  d'esses  montões  de  matérias  algumas  vezes  em  putre- 
facção,  não  devia  sua  salvação  mais  que  ao  ar  activo  e  salubre,  que  purifica 
com  seu  sopro,  e  dá  saúde  a  uma  cidade,  que  deveria,  como  se  vé,  perecer 
com  a  morte  commum  aos  povos  do  oriente. 

«Via  frequentemente  em  Lisboa  uma  senhora  encantadora,  para  quem 
minha  amizade  se  tomou  dentro  em  pouco  muito  forte,  a  duqueza  de  Cada- 
val, irmã  do  duque  de  Luxemburg.  Era  mulher,  a  quem  tanto  eu,  como  toda 
a  gente  achávamos  bella;  mas  depois  de  produzida  esta  impressão,  tinha  cau- 

^  Aliás  de  estylo  manuelino  ou  porlaguez. 


4  AB 

sado  uma  oatra  em  mim  com  soa  alma,  e  todo  encanto,  de  que  era  dotada; 
indulgente  para  com  tudo,  que  podia  tomal-a  sev«^  tema,  Ona  e  espirituosa 
ao  mesmo  tempo,  joTial  com  uma  agradável  facilidade  de  se  divertir,  e  uma 
necessidade  de  ver  os  outros  alegres,  nâo  se  achava  feliz  senão  com  as  pes- 
soas, a  quem  elU  amava,  bem  certa  de  que  nenhuma  d'ellas  tinha  pezar  no 
coração,  nem  sequer  uma  contrariedade.  ^  Quantas  noites  passámos  juntas  a 
conversar  a  respeito  d'e5sa  França,  cujo  nome  só  bastava  para  a  fazer  chorar ! 
Quanto  era  donairosa,  bella  até,  quando  entrava  n'um  festim  com  sua  rica  e 
elegante  Ogura  ornada  com  a  fita  azul  de  Maria  Luiza,  e  de  côr  de  rosa  e 
branco  de  Santa  Isabel  1  Tinha  o  porte  tão  magestoso,  como  de  quem  mais  o 
tivesse  no  mundo,  apezar  de  o  ter  algum  tanto  curvado.  Não  vi  este  mesmo 
porte  gracioso  de  cabeça,  e:»te  andar  altivo  e  flexível,  com  uma  gentileza  pe- 
regrina, senão  a  uma  outra  senhora,  a  duqueza  de  Montmorency. 

«A  duqueza  de  Cadaval  era  uma  senhora,  cujo  grande  encanto  principal- 
mente consistia  em  senão  modelar  por  ninguém;  seu  modelo  eraella  própria, 
6  a  naturalidade  era  encantadora.  Pelo  que  diz  respeito  a  seu  marido,  era 
coisa  bem  dífferente,  e  principalmente  uma  outra  natureza.  Era  bello,  pelo 
menos  assim  o  pretendiam  em  Lisboa.  Eu,  porém,  em  tempo  algum  o  pude 
achar  tak  Era  alto,  bem  apessoado,  semsaborão,  no  género  do  Príncipe  da  Paz, 
e  além  d*isto  ignorava  as  qualidades  e  os  encantos  de  sua  mulher,  como  se  fora 
cego,  e  lhe  tivessem  explicado  tudo  em  hebreu.  Tinha  tomado  uma  regra  de 
proceder  bem  singular.  Assim,  por  exemplo,  era  elle  em  Portugal,  o  que  o  du- 
que de  Orleans  fora  na  França,  o  primeiro  príncipe  de  sangue.  Então  fazia 
opposição  sem  saber  o  que  era.  Começava  as  hostilidades  com  o  príncipe,  seu 
real  primo,  o  que  não  era  difficil,  porque,  como  todos  os  estúpidos,  arrufava-se 
por  ninharias,  e  somente  d'isto  se  occapava,  e  também  de  arremedar  o  re- 
gente e  o  duque  de  Orleans,  morto  na  revolução.  Sobre  tudo  tinha  a  mania 
de  contrahir  dividas,  e  fazer  corte  ás  mulheres,  porque  o  regente  tinha  ar- 
ruinado a  França,  e  fora  dissoluto. 

«Ora,  como  tinha  a  pretenção  de  parecer-se  com  o  regente,  copiava*o  cm 
todos  os  seus  defeitos,  mas  a  duqueza,  que  se  não  modelava  por  ninguém, 
senão  por  si  mesma,  que  era  um  anjo  de  perfeição,  disselhe  um  dia,  que 
quería  saber  o  estado  de  sua  casa.  Pobre  senhora!  Que  conhecimento  tão 
triste !  N'esse  mesmo  dia  soube  que  podia  ter  saudades  do  exilio,  e  dos  des- 
gostos da  emigração...  Conteve  se  comtudo,  e  quiz  pôr  em  ordem  sua  casa. 

«Entre  as  dividas  mysteriosas,  que  tinha  o  duque,  existia  uma  principal- 
mente, a  de  seu  cosinheiro,  a  qual  era  de  nove  contos  de  réis.  Como  tinha  o 
duque  deixado  chegar  as  cousas  a  tal  ponto  ?  Eis  o  que  a  duqueza  perguntou 
sem  obter  resposta.  Comtudo  dispoz  as  cousas,  e  pagou  por  inteiro  ao  rei  da 
cassarola.  Disse-o  ao  duque  no  mesmo  dia,  recommendando-ihe,  que  nunca 
mais  contrahisse  dívidas  d'oste  género.— Mas  hei  de  pôr  minha  casa  em  ordem, 
disse  ella !  Ao  saber  que  os  neve  contos  tinham  sido  pagos  integralmente,  o 
duque  ficou  furioso. 

1  Souvenirs  d*une  ambassadij  vol.  2  %  pag.  1Í5, 


AB 

cQae  é  isso?  Vai  pagar  a  um  homem,  qae  talvez  me  roubou  cinco  contos 
D'e9sa  quantia  de  nove  t 

«É  minha  opinião,  replicou  a  duqueza,  que,  visto  o  criado  do  du.jue  se  ter 
tomado  seu  credor,  o  dnquf  está  abaixo  d'elie,  porque  lhe  deve.  Esta  posição 
falsa  não  é  conveniente  I  Eu  devia  fazel-a  cessar,  fosse  qual  fosse  o  sacrifício. 
Agora  ella  é  o  que  deve  ser.  O  duque  acha-se  livre  para  o  despedir,  se  quizer: 
mas  creio  que  continuará  a  tel-o  em  seu  serviço  I... 

«O  duque  passeiava  d'nm  lado  para  outro,  sem  saber  como  exprimir  seu 
descontentamento. 

«Pagar  àqnelle  homem t  exclamava  elle,  pagar  àquelle  homem!... 

«A  duqueza  não  lhe  prestou  attenção,  e  poz-se  a  trabalhar. 

«N'essa  epocha  achava-me  eu  em  Lisboa,  e  visitava  a  duqueza  muito  a 
miúdo.  Tive  noticia  d'este  caso  quasi  logo,  que  se  passou:  porém  o  duque  re- 
senrava-nos  um  desenlace,  que  nós  estávamos  bem  longe  de  esperar. 

«Alguns  dias  depois  da  explicação,  que  tivera  com  a  duqueza,  entrou  em 
casa  pulando,  dansando,  cantando,  pozse  de  joelhos  diante  d'ella,  beijando- 
lhe  as  mãos  e  dizendo-lhe  mil  sandices.  A  duqueza  fícou  assustada,  pois  tudo 
isto  era  opposto  ao  seu  génio  habitualmente  macambúzio.  Mas  seu  espanto 
depois  ainda  veiu  a  ser  maior. 

«Sabe  duqueza  a  minha  felicidade? 

«Esta  abanou  a  cabeça. 

«Lembra-se  dos  nove  contos  de  réis,  que  pagou  ao  maroto  do  cosinheiro. 
Pois  é  verdade:  eu  não  dormia  nem  comia  depois  de  saber  que  uma  tão  bella 
quantia  se  achava  nas  mãos  d'elle:  era  indispensável  que  ella  para  cá  tornasse! 

«Santo  Deus,  misericórdia,  exclamou  a  duqueza  1  Então  foi  pedir-lhos  em- 
prestados? E  suas  faces  ficaram  como  purpura. 

«Não,  não;  disse  o  duque  ás  gargalhadas,  a  ponto  de  cair  por  cima  d'um 
camapé.  Não,  por  t)eus:  não  era  eu  tão  estúpido.  Elle  joga:  propuzlhe  uma 
partida,  ganhei,  disse  elle,  erguendo-se,  e  esfregando  as  mãos ! 

«A  duqueza  fícou  como  anniquilada;  julgou  ao  principio  ser  gracejo.  Não, 
o  facto  era  bem  verdadeiro.  Com  eíTeito  o  duque  tinha  apanhado  os  nove 
contos. 

«Que  acção  tão  nobre  I  ^ 

«Encontrei  em  Lisboa  quem  tinha  mudado  o  aspecto  d'esta  cidade,  o  conde 
de  Novion.  Antes  d'elle  as  ruas  d  esta  capital  apenas  eram  illuminadas  por 
pequenas  lanternas,  suspensas  diante  das  imagens  de  Nossa  Senhora,  que  es- 
tão quasi  a  cada  canto;  porém  esta  luz  baça  guiava  o  assassino,  mostrando- 
Ihe  a  victima,  e  não  era  de  nenhum  soccorro;  por  isso  é  que  as  ruas  de  Lisboa 
eram  mais  perigosas  para  se  andar  por  ellas  a  pé  em  1797  por  exemplo,  que 
por  qualquer  de  nossas  estradas.  Á  meia  noite  ninguém  ousava  sair  sem  ir 
armado,  e  as  próprias  armas  quasi  sempre  eram  inúteis,  porque  os  bandos  de 
ladrões  eram  tão  numerosos,  que  mal  se  lhes  podia  resistir.  Teemse  visto 
pessoas  presas  pelos  bandidos,  serem  completamente  roubadas,  e  obterem  d'el- 

*  Súuvenirs  d'un€  ambanade  en  Portugal,  vol.  i/,  pag.  1!K). 


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les  am  saLvo-condacto  para  não  serem  atacadas  seganda  vez.  Pelo  que  toca 
aos  assassinatos,  era  costume  ir  a  certas  egrejas,  onde  se  encontravam  homens 
que  faziam  justiça  prompta  e  sanguinolenta,  conforme  a  vingança  que  Ih  a 
pedia.  Aquelies  homens  viviam  aii,n'aquelie  logar  santo,  como  n'um  logar  de 
refugio,  onde  a  própria  Inquisição  não  os  podia  ir  arrancar;  e  além  d'isto  as 
egrejas  quasi  todas  estão  contíguas  a  conventos  de  homens,  ou  de  mulheres, 
e  o  assassino  estava  certo  da  impunidade,  se  trabalhasse^  como  dizia,  para  o 
abbade  ou  abbadessa  do  convento.  Eis  um  caso  acontecido  na  própria  Lisboa 
em  i798. 

<0  cônsul  d'nma  nação  estrangeira  teve  uma  questão  com  o  parente  d'um 
outro  cônsul.  Poderia  vingar-se  com  sua  espada,  mas  preferiu  ir  procurar 
n'uma  d'essas  egrejas  pessoa,  que  trazia  sempre  escondido  um  punhal  prestes 
a  ferir.  Encontrou  a  quem  desejava;  fez  seu  ajuste,  deu  metade  da  somma 
exigida,  que  foi  (creio  que  attendendo  à  qualidade  da  victima)  24^000  réis- 
Devia  receber  a  outra  metade  depois  do  assassinato. 

«O  sicário,  depois  de  ter  tomado  todas  as  informações  possíveis,  despe- 
diu seu  freguez,  porque  tinha  outro  negocio  entre  mãos. 

cMas  o  freguez  não  era  cruel;  sentiu  depois  acalmar  essa  agitação  febril , 
que  dá  o  furor  d*uma  offensa  a  uma  alma  nobremente  nascida.  Bem  depressa 
sentiu  uma  outra  tempestade  levantar-se  em  logar  d^aquella,  que  se  extinguia, 
e  esta  tornou-se  terrível,  e  bem  ameaçadora,  porque  era  contra  elle,  e  elle 
tinha  andado  mal.  Finalmente  os  remorsos  tornam  se  insuportáveis. 

«Eram  apenas  nove  horas;  a  cidade  estava  ainda  animada  e  susurrante. 

«Embrulhou-se  em  seu  capote,  poz  seu  chapéu  baixo,  e  com  passos  rapí- 
dos  dirigiu-se  para  casa  do  homem,  que  por  um  pouco  de  ouro  devia  tomar 
a  desforra.  ^  N'este  momento  a  torre  de  Belem  soou  as  dez  horas,  o  grande 
sino  vibrava  no  ar,  levando  para  longe  o  som  argentino,  e  por  isso  solemne  do 
suas  badaladas.  O  individuo  estremeceu. 

«Ia  finalmente  descer,  quando  ouviu  barulho  no  quarto  do  homem,  bara- 
lho que  se  parecia  com  o  ranger  d'um  leito,  quando  alguém  se  vira.  O  indi- 
viduo bateu  com  força,  e  d'esta  vez  uma  voz  lhe  respondeu:  era  a  do  scele- 
rado.  Abriu  sua  porta  ao  reconhecer  o  som  da  voz  de  F... 

«Oht  já  vós  por  aqui,  disse  elle  bocejando,  e  estendendo  os  braços.  Por 
Santa  Mana  da  Gloria,  que  bem  apressado  sois.  Julgava  que  só  nós,  que  vive- 
mos ao  ardor  do  sol,  elevávamos  a  vingança  a  tal  ponto  1  Mas  parece... 

«Oht  Não,  interrompeu  o  outro,  pelo  contrario  venho  dizer-vos  que  já  não 
quere  a  morte  d^aquelle,  a  quem  eu  tínha  condemnado. 

«Aht  exclamou  o  assassmo  com  um  espanto  de  que  estava  possuído  pela 
primeira  vez,  isso  é  indifferente;  porém  é  tarde  de  mais. 

«Já  o  mataste,  miserável f 

«E  que  outra  cousa  me  tínheis  vós  dito  que  fizesse  senão  que  o  assassi- 

^  Obra  ultimamente  citada,  pag.  139.  E'  possível  ser  yerdadei  ro  este  facto:  a  bas 
tantes  pessoas  ouyi  dizer  que  nas  egrejas  é  que  se  procuravam  os  assassinos,  os  qoaes 
n'ellas  se  fingiam  beatos  os  mais  fervorosos. 


AB  7 

nasse?  Quem  poderia  esperar  qae,  depois  de  terdes  condemnado  vosso  inimigo 
DO  tribanal  de  vosso  ódio,  vós  o  fosseis  absolver  n'esse  mesmo  tribunal,  uma 
hora  depois? 

cNósnâo  procedemos  assim  em  nossa  terra.  Pelo  que  me  toca,  disse  elle, 
com  uma  expressão  de  demónio,  a  única  pena  que  tenho  do  meu  inimigo,  é 
nio  estar  elle  ainda  em  estado  de  sentir  meu  punhal. 

•F.  estava  abatido.  N'este  momento  o  clarão  da  lua  reflectia  perfeitamente 
por  cima  do  pequeno  terraço,  que  âcava  ao  lado  da  parta  do  homem.  O  clarão 
caiu  direito  sobre  este,  e  fez  ver  uma  longa  mancha  de  sangue  na  manga  e  na 
mão  do  assassino.  F.  não  poude  conter  um  grito,  e  deitou  a  fugir  pela  escada 
abaixo;  mas  foi  agarrado  por  esta  mesma  mão  ensanguentada. 

•Mais  um  momento^  um  momento,  senhor  I  Tenho  pena,  apezar  de  tudo, 
que  e  nosso  negocio  andasse  tão  depressa;  mas  julguei  que  fazia  bem,  e  de- 
ve-se-me  a  minha  paga.  Dae-ma  então,  e  que  não  haja  mais  questão  entre  nós: 
bem  vos  conheço,  e  eu  sabia  bem  procurar*vos,  se  me  não  quiz&«seis  pagar 
meu  trabalho. 

cF.  atirou-lhe  com  a  bolsa,  sem  querer  tocar  n*aquella  mão  manchada  de 
sangue.  O  malvado  apanhou  a  bolsa,  e  contou  o  dinheiro,  que  continha. 

«Está  aqui  mais  do  que  é  preciso,  disse  elle  ao  separar  sua  paga  do  resto 
do  dinheiro.  Aqui  está  isto  que  vos  pertence. 

«Ficae  com  tudo,  respondeu  F. 

«Então  ficarei  com  elle,  visto  estardes  penalisado  da  morte  d^aquelle  ho« 
mem,  que  todavia  era  um  homem  valente,  e  não  vos  disse  isso  por  ser  inútil 
para  o  nosso  fim.  Defendeu-se  como  um  diabo,  e  vi-me  obrigado  a  chamar 
em  minha  ajuda  um  dos  meus  homens,  um  dos  meus  ajudantes,  porque  mui- 
tas vezes  o  negocio  é  custoso,  e  corre  seus  riscos.  Um  de  nossos  collegas,  Se- 
bastião, bem  novo  ainda  no  offlcio,  foi  morto  por  um  inglez,  a  quem  não  ata- 
cava, e  do  qual  somente  queria  a  bolsa.  Sua  mulher  ficou  sem  nada,  e  nós 
vjmo-nos  na  necessidade  de  lhe  fornecermos  uma  pequena  mezada,  contri- 
buindo cada  um  de  nós  com  sua  quota.  Se  quizerdes,  senhor,  as  três  peças, 
que  sobram,  serão  para  a  viuva  de  Sebastião,  e  para  mandar  dizer  missas  por 
ahna  do  rapaz,  por  cuja  morte  estaes  mortificado.  Ouvi  então;  a  culpa  não  foi 
minha;  disseste-me  ás  onze  horas...  o  rapaz  passou  porém  em  occasião  favo- 
rável para  a  ponta  do  meu  punhal...  ás  oito  horas  e  meia...  a  occasião  era 
excellente...  ahl  palavra  de  honra^  caiu,  mas  levantou-se  ainda... 

«Esta  historia,  que  me  foi  narrada  por  aquelle  mesmo^  que  d'ella  foi  o 
heroe,  pôde  fazer  conhecer  os  costumes  de  Portugal  no  fim  do  ultimo  século 
somente. 

•      • 

«A  festa  do  Corpo  de  Deus  em  Lisboa  ó  uma  solemnidade  desconhecida 
em  qualquer  outro  paiz.  ^  É  uma  theoria  pagã;  é  uma  céremonía  fabulosa;  é 
phantastica  de  riqueza  e  de  maravilhas. 

*  Souvenirs  d'une  ambassadCf  tomo  â.*,  pag.  158. 


8  AB 

•        • 

«O  monte  ao  Este  de  Lisboa  é  o  mais  bem  situado  para  morada.  Moitas 
vezes  o  subi  para  contemplar  o  painel  magniOco,  que  se  ostenta  como  um 
panorama  phantastico  causado  pelas  impressões  d'um  sonho,  no  qual  vós  ti- 
vésseis sonhado  um  paiz  encantado,  debaixo  d*um  ceo  puro  e  azul,  onde  um 
sol  de  ouro  luz  sempre  sem  nuvens.  Doesta  altura  domina-se  todo  o  valle  de 
S.  Bento. 

•Á  esquerda,  conventos,  egrejas,  jardins,  quintas,  pomares  de  larangeiras, 
onde  os  áureos  pomos  brilham  ao  lado  das  flores  embalsamadas.  Em  frente, 
a  Íngreme  altura,  sobre  que  está  construído  o  castello,  que  defende  a  cidade. 
à  direita  o  Tejo,  coberto  de  navios  com  pavilhões  de  mil  cores,  ao  passo  que 
ao  longe,  e  de  todas  as  partes,  se  descobrem  campos,  prados,  flores  por  todos 
os  lados,  e  por  todos  os  sitios  um  ar  doce  e  embalsamado,  que  vos  enfeitiça, 
que  vos  penetra  com  seu  encanto,  e  por  cima  de  tudo  isto  dardeja  um  sol  puro  1 
Tudo  em  volta  de  vós  respira  uma  duplicada  alegria;  tudo,  até  os  edifícios, 
que  parecem  cobertos  d'um  veo  de  varias  cores,  dando  ares  d'um  docel 
lançado  por  cima  de  suas  grimpas.  N'este  paiz  a  natureza  está  sempre  em  fes- 
tival. Nunca  lhe  pedi  uma  distracção,  uma  consolação,  que  me  nào  respon- 
desse concedendo -m^as  com  profusão.  Não  ha  soíTrimento  da  alma,  não  ha  dôr 
de  corpo,  que  me  não  tenham  sido  mitigadas  com  a  vista  d*este  paraizo.  Du- 
rante minha  residência  em  Portugal,  vi  chegarem  áquelle  paiz  doentes  con- 
demnados  a  morrer,  o  todavia  prendiam  se  á  vida  I  Muitos  desmentiram  a 
sentença,  e  aquelles  que  a  padeceram,  não  sofTriam  pelo  menos  o  aguilbão 
ardente  da  morte.  Sem  duvida,  n'este  paiz  morre-se,  chora-se,  soffre-se  como 
em  todas  as  outras  partes;  a  dôr  é  uma  lei  de  nossa  natureza,  a  que  não  po- 
demos fugir :  mas,  assim  como  o  ópio  adormenta  os  padecimentos  do  corpo,  a 
vista  d'este  paiz  lhe  mitiga  os  soíTrimentos. 

«Na  margem  do  Tejo  fica  a  bella  Praça  do  Gommercío.  Nada  temos  em 
Paris,  mesmo  actualmente,  tão  bello  como  os  cães,  que  terminam  este  lado  da 
praia. 

«Muito  tenho  viajado;  ^  percorri  o  norte  e  o  meio-dia  da  Europa,  e  nunca 
se  patenteou  a  meus  olhos  uma  cidade  tão  extraordinária,  e  ao  mesmo  tempo 
tão  notável  e  tão  formosa,  como  Lisboa.  Nunca  um  céu  mais  bello  espargiu 
sua  luz  sobre  uma  cidade  rodeada  d'uma  natureza^  que  a  cinge  com  suas 
maravilhas :  mas  ao  mesmo  tempo  em  logar  nenhum  eu  vi  tantos  dons  de 
Deus  tão  mal  conhecidos  e  inntilisados. 

«É  nos  arrabaldes  de  Lisboa  que  se  torna  necessário  aprender  a  conhecer 
este  paiz,  que  se  pôde  descrever,  mas  nunca  pintar.  Estas  circumvisinhanças 
parecem  ser  formadas  para  fazerem  uma  decoração  à  maneira  de  vestíbulo,  e 
de  entrada  a  este  valle  de  Cintra,  cantado  pelo  amor  com  sua  voz  de  cisne 
em  Camões,  e  celebrado  por  lord  Byron  em  Child  Harold,  e  admirado  por 
quantos  o  percorreram,  a  ponto  de  não  o  quererem  deixar. 

'  SoHvenirs  (Vune  ambaníade,  pag.  165. 


AB  .        9 

«Entre  os  emigrados  fraacezes,  residentes  em  Lisboa,  distinguiase  tam- 
bém o  conde  de  Artaize,  da  casa  de  Roqaefeaille.  O  conde  de  Artaize  estava 
na  legião  estrangeira  do  marquez  d'Alprna,  e  tinha  mesmo  um  esquadrão  co- 
mo propriedade  n'esta  legião.  Era  amigo  e  ajudante  de  campo  do  referido 
marquez.  Conheceu,  ha  algum  tempo,  que  nós  não  possuíamos  traducção  de 
Gamões,  e  verteu  em  verso  o  beilo  episodio  de  Iguez  de  Castro.  Leu-me  a 
versão  ha  poucos  dias,  e  fiquei  não  somente  encantada  da  Gdelidade  bem 
guardada  das  pinturas  e  das  descrípções,  cousa  tão  rara  n'uma  traducção  em 
verso  d*uma  obra  também  escripta  em  verso;  mas  fui  agradavelmente  surpre- 
hendída  achando  n'élla  o  sainete  primitivo  do  poeta  portuguez,  tão  insolente- 
mente mutilado  por  La  Harpe,  que  julgou  poder-se  fazer  uma  traducção  pe- 
gando n'uma  grammatica  e  n'um  díccionario.  Não  é  d'um  homem  tal  que 
Carlos  Y  disse :  Um  homem  que  sabe  quatro  linguas,  vale  por  quatro  ho- 
mens. 

•Fiquei  pois  encantada  d'esta  traducção  de  Camões;  lamento  que  seja  ape- 
nas d'um  episodio.  A  fidelidade,  com  que  o  conde  de  Artaize  tratou  este  episo- 
dio, serve  de  fiadora,  que  empregaria  para  nos  apresentar  a  passagem  do  Cabo 
da  Boa  Esperançai  O  gcnio  das  tempestades  erguendo-se  em  frente  de  Vasco 
da  Gama,  e  predizendo-lhe  o  futuro!  Todas  as  vezes  que  leio  em  Camões  esta 
passagem  admirável,  fico  cheia  de  respeito  á  vista  d'esta  elevação  do  espirito 
humano,  que  approxima  da  divindade  o  homem ! 

«O  nome  de  Ignez  de  Castro  quasi  que  é  magico  para  evocar  tudo  quanto 
se  refere  á  sua  bella  pátria,  ^  a  essas  margens  encantadoras  do  Mondego,  a 
esses  maravilhosos  arrabaldes  de  Coimbra,  cuja  belleza  pôde  rivalisar  com 
tudo,  quanto  a  Hespanha  podo  por  sua  vez  oíTerecer  ao  estrangeiro,  que  per- 
corre aquelle  paiz.  Posso  mesmo  accrescentar  que  a  universidade  de  Coimbra 
levava  muita  vantagem  a  todas  as  outras  de  Hespanha.  Ai !  Que  dôr  ao  ver 
aquellas  bellas  margens  do  Mondego  manchadas  pelo  sangue,  e  assoladas  pelo 
ferro  e  fogo!  Nada  pôde  dar  uma  idéa  dos  arredores  de  Coimbra!  Apesar  de 
montanhosos  são  bem  cultivados,  e  todos  os  montes  estão  coroados  de  peque- 
nos bosques  de  bellos  pinheiros  de  topo  elegante,  e  d'esses  magníficos  carva- 
lhos de  França,  cuja  sombra  secular  redobra  do  bcUeza,  maior  em  cada  anno, 
que  passa  por  cima  d'elles. 

«São  os  valles  cortados  pelos  ribeiros,  que  conservam  não  somente  uma 
grande  frescura,  mas  até  uma  fertilidade  desconhecida  em  nossos  paizes  do 
Meio -dia;  elegantes  casas  de  campo,  quintas,  mosteiros,  fabricas  mesmo,  cer- 
cadas de  pomares  de  laranjas,  de  oliveiras,  do  bello  arbusto,  cujo  porte  ele- 
gante é  realçado  ainda  por  sua  bclla  verdura,  e  pelo  rubor  de  seus  fructos,  o 
medronheiro.  O  bello  cypreste  de  Portugal,  todas  as  arvores  da  Europa,  e  até 
aquellas,  que  admiramos  nás  bellas  florestas  da  Baixa  Saxe,  formam  nas  cir- 
cumvisinhanças  de  Coimbra  retiros  encantados,  e  bordam  o  bello  rio  Monde- 
go, que  banha  as  muralhas  da  cidade,  e  gyra  no  estreito,  mas  fértil  valle,  on- 
de Coimbra  está  fundada.  Ao  longe  enxerga- se  no  horisonte  a  alta  serra  da 

^  Engano  da  dcqaoza  dAbrantes:  Ignei  de  Castro  era  bespanbola. 


10  AB 

• 

Loazãy  e  ainda  mais  longe  a  do  Bussaco,  em  cajo  pincare  está  constraldo  a 
famoso  mosteiro  dos  Carmelitas,  afamado  por  suas  relíquias.  Á  fronte  asso- 
cioa<lhe  Massena  depois  mna  oatra  celebridade. 

«Foi  n'esta  serra  do  Bussack)  que  se  feriu  aquella  cruenta  e  funesta  pe- 
leja, em  que  seis  mil  francezes  foram  exterminados  pela  loucura  de  um  chefe 
que  fora  hábil,  mas  n*outro  tempo.  O  marechal  Ney,  o  duque  de  Abrantes, 
bem  como  o  general  Reynier,  todos  três  primeiros  chefes  dos  três  corpos  de 
exercito,  que  formavam  o  de  Portugal,  foram  todos  de  opinião  contraria.  O 
príncipe  de  Essling  a  nada  quiz  attender;  foi  atacar  esta  serra,  que  era  a  pico, 
e  cujo  alto  estava  coroado  pelas  tropas  inglezas  e  portuguezas,  que  atira- 
vam contra  os  francezes  como  sobre  caça,  que  tivessem  cercado  com  o  fim  de 
a  levarem  para  sustento  do  exercito.  Oh  que  recordação  a  d'aquelles  desgra- 
çados, mortos  quasi  sem  defesa,  pelo  ferro  de  um  inglez,  cahindo  debaixo  da 
baila  certeira  de  um  portuguez,  ao  passo  que  este  mesmo  exercito  anglo- 
luso,  forte  de  mais  de  quarenta  mil  homens,  formava  dois  annos  antes  uma 
ponte  de  oiro  a  quinze  mil  francezes  para  os  verem  afastar-se  de  Portugal! 

«Defronte  de  Coimbra  fica  a  quinta  das  Lagrimas.  M.  de  Forbin,  encan- 
tado da  belleza  do  assumpto,  fez  um  quadro  representando  a  coroação  de 
Ignez.  Este  quadro  tem  merecimento,  como  todos  que  elle  pintava  então.  Sa- 
be-se  que  Forbin  não  é  hábil  na  pintura  de^  figuras.  Mostrou  um  outro  gé- 
nero de  habilidade  i^o  painel  de  Ignez,  cujo  belio  colorido,  transparência  e 
pureza  das  aguas,  são  admiráveis;  mas  não  se  encontra  n'elle  um  só  rosto. 
O  de  Ignez  fica  de  tal  sorte  na  sombra,  que  se  não  vé,  e  alem  d'ísto  as  fei- 
ções estão  desbotadas  de  propósito.  D.  Pedro  tem,  segundo  creio,  a  vizeira 
baixa;  o  fidalgo  de  Portugal,  que  rende  homenagem,  está  iniclinado,  com  a 
cabeça  cabida.  O  príor  do  mosteiro  tem  seu  capuz  muito  puchado  para  dian- 
te. Emquanto  aos  outros  personagens  estão  na  sombra,  ou  teem  seu  capuz  ou 
vizeira  cabidos  na  frente. 

«O  quadro  de  Saint-Evre,  que  o  duque  de  Orleans  deu  a  Victor  Hugo,  e  que 
representa  o  mesmo  assumpto,  foi  pintado  talvez  d'um  modo  mais  intellígente. 
Ignez  está  assentada  no  seu  throno,  debaixo  do  docel,  e  seu  esqueleto  coberto 
com  um  lençol,  deixa-se  ver  atravez  das  pregas,  que  deixam  contemplar  a  forma 
horrível  e  óssea  do  esqueleto.  Os  braços  principalmente  pendentes,  deslocados 
e  cobertos  de  luvas  brancas,  mettem  pavor  na  verdade.  É  um  bello  painel. 

«É  pois  sobre  as  margens  do  Mondego  que  Luiz  de  Camões  imaginou  seu 
terceiro  canto  dos  Lusíadas,  esse  terceiro  canto,  que  bastaria  só  para  fazer  es- 
quecer as  imperfeições  do  grande  poeta;  esse  terceiro  canto,  no  qual  a  dita 
de  Ignez  é  pintada  por  um  modo  tão  mavioso.  [Nossa  língua  não  pôde  tra- 
duzir aqueUes  versos  admiráveis.  Nada  tenho  encontrado  tão  harmoniosamente 
poético  em  Tasso,  e  em  Dante,  como  estes  dois  versos : 

De  noite  em  doces  sonhos,  que  mentião, 
De  dia  em  pensamentos,  que  voavão.  ^ 

^  Souvenin  d'une  embas$ade^  tomoS.*,  pag.  249. 


AB  n 

«O  qae  muito  contribue  para  a  belleza  do  paiz  n^eata  parte  de  Portugal, 
é  um  ornato  da  natureza,  que  ella  n'esta  terra  produz  profusamente,  e  que 
lhe  dá  um  caracter  particular  de  belleza  — é  o  cypreste  de  Portugal  {cu- 
pressus  Lusitanw  de  Lhéritier).  Não  é  bello  senão  nas  margens  do  Mondego, 
e  perto  da  serra  do  Bussaco,  para  onde  foi  primeiramente  levado  de  Goa  por 
um  frade. 

«Alii  se  acham  os  bellos  loureiros  da  índia  vindos  d'esta  ultima  cidade 
aquellas  bellas  arvores  tomadas  indigenas,  e  trazidas  da  ilha  da  Madeira, 
aquellas  larangeiras,  aquelles  limoeiros.  Oh)  Em  logar  nenhum  se  pôde  ver 
um  paiz  mais  favorecido  do  céu)  Granada,  sem  duvida;  mas  Granada  é  única 
no  mundo;  é  a  ramha  das  cidades;  com  tudo  Coimbra  é  sua  nobre  e  encan- 
tadora irmã!» 

Eis  algumas  das  passagens  mais  notáveis,  que  dizem  respeito  a  Por- 
tugal. O  que  porém  mais  se  distingue  n'este  livro,  é  a  descripção  da  fa- 
mília real  portugueza,  da  nossa  aristocracia,  e  do  corpo  diplomático  estran- 
geiro, residente  em  Lisboa,  no  qual  fazia  uma  figura  tão  sahente  o  manhoso 
núncio  italiano.  O  que  ella  também  faz  com  mais  desenvolvimento  na  obra  tão 
conhecida  Memoires,  a  começar  do  vol.  I.""  por  diante. 

A  duqueza  de  Abrantes  tinha  emprehendido  com  Alexandre  de  Laborde, 
Charles  Nodier  e  o  marquez  de  Custine,  uma  obra  intitulada  La  Péninsuley  ta- 
bleau  pUtoresque  de  fEspagne  et  du  Portugal,  obra  de  que,  segundo  diz  a 
N.  B,  Universelle,  apenas  appareceu  um  fasciculo  publicado  em  Paris  no  anno 
de  1835.  y.  Laborde. 

5)  ABREGÉ  CHRONOLOGIQUE  de  Vhistoire  d^Espagne  et  de  Por- 
tugalf  avec  des  remarques  particulieres  à  la  fin  de  choque  periode,  Paris^ 
1765,  2  vol. 

(Resumo  da  Historia  de  Hespanha  e  de  Portugal.) 

«O  Novo  Dic€ionario  Histórico  por  uma  sociedade  de  gente  de  letras,  em 
firancez,  hoje  9  vol.  em  d."»,  diz  que  o  seu  auctor  é  Filippe  Malquer,  na- 
tural de  Paris,  advogado  do  parlamento.  Chega  até  parte  do  reinado  de 
D.  José  L>  1 

6)  ABREGÉ  SUCCINCT  d'une  infinité  de  maux  lamentables  et  de  dé- 
gaU  déplorables  que  la  violence  et  la  conjuration  des  quatre  élements  ont  fait 
éprouver  à  la  grande  ville  et  à  la  cour  de  Ldsbonne,  le  i"  novembre  de  cette 
année  1755.  Traduction  litttrale  de  IHmprimé  espagnol,  Orleans,  1756,  folheto. 

(Resumo  dos  estragos  causados  pelo  terremoto  de  1755  à  cidade  de  Lis- 
boa.) 

Vem  mencionada  esta  obra  no  catalogo  manuscripto  dos  livros  portugue- 
zes,  e  escriptos  em  varias  linguas,  mas  relativos  a  Portugal,  que  existem  na 
Bibliotheca  Imperial  de  Paris,  catalogo  de  que  existe  uma  copia  na  Bibliothe- 

*  Bibliolhtca  histórica  de  Portugal  e  seus  dominios  ultramarinos,  pag.  389. 


12  AD 

ca  Publica  de  Lisboa,  e  do  qual  tive  conhecimento  por  indicações  do  ex."*'  sr. 
Silva  Tollio. 

7)  ACCOUNT  (AN)  of  the  Court  of  Portugal  urider  the  reign  of  the  pre- 
sent  king  D.  Peter  the  second.  London,  1700.  ^ 

(Notícias  da  corte  de  Portugal  no  reinado  de  D.  Pedro  ÍI.) 

8)  ACCOUNT  of  the  discovery  of  the  Madeira  Island.  Letter  to  a  friend 
on  ditto. 

Vi  mencionada  esta  obra  n'um  catalogo  de  livros  antigos,  e  não  me  acho 
habilitado  para  dar  mais  pormenores  a  respeito  d'ella. 

9)  ACCOUNT  ofthe  most  remarcable  places  and  curiosUies  in  Spain 
and  Portugal.  LoAdon,  1749. 

(Noticia  dos  legares  e  causas  mais  notáveis  de  Hespanha  e  Portugal.) 

10)  ADAMS. 

E.  —  A  Guide  to  Madeira  with  an  account  of  the  climate,  London,  1801. 
(Guia  da  Madeira,  etc.) 

11)  ADAMSON  (JOHN). 

John  Adamson  descendia  de  uma  familia  respeitável  do  condado  de  Dur- 
ham.  Foi  o  ultimo  filho  do  tenente  da  armada  real  Gutberth  Adamson,  e  nas- 
ceu em  Gateshead  a  13  de  setembro  de  1787.  Sendo  muito  novo  foi  mandado 
para  Lisboa,  onde  seu  irmão  mais  velho  se  achava  estabelecido,  porém  viu- 
se  obrigado  a  regressar  á  sua  pátria  na  occasião  da  invasão  dos  francezes. 
Falleceu  a  27  de  setembro  de  1855.  ^ 

Conservou  sempre  uma  agradável  impressão  do  paiz,  em  que  tinha  residi- 
do, ao  qual  tinha  particular  affeição,  bem  como  á  sua  litteratura,  que  cultivou 
toda  a  sua  vida.  Possuia  a  mais  completa  collecção  das  edições  e  obras  de 
Gamões,  a  qual  constava  de  uns  cento  e  vinte  volumes,  e  uma  collecção  ico- 
nographiea  composta  de  uns  tresentos  desenhos,  gravuras,  retratos,  meda- 
lhas do  barão  de  Dillon,  morgado  Matheus,  correspondências,  etc. 

E.  —  Memoii$  of  the  life  and  writings  of  Luis  de  Camoens,  by.  —  F.  S.  A. 
London,  Edinburg^  and  New-Gastle  upon  Tyne.  London.  Printed  for  Long- 
man,  Hurst,  Rees,  Orme  and  Brown,  1820.  Gom  o  retrato  do  poeta. 

(Memorias  da  vida  e  escriptos  de  Gamões.) 

8.<>,  310  pag.  e  com  uma  vinheta  representando  a  gruta  de  Gamões  em 
Macau. 

0  vol.  2.'',  composto  de  392  pag.  é  adornado  com  um  supposto  retrato  de 
D.  Ignez  de  Gastro,  com  o  de  Manuel  de  Faria  e  Sousa,  de  Luiz  de  Gamões, 

1  Vem  mencionada  etlà  obra  no  catalogo  manoscripto  da  livraria  do  conde  de  La- 
vradiOf  catalogo  que  apenas  ligeiraraenle  pude  consultar. 

'  í5r.  ^Uconde  de  Juroracnha  —  Obras  de  Camões^  vol.  1.*,  p;ig   279. 


AD  a 

D.  Francisco  de  Almeida,  e  de  D.  G.  de  Noronha,  conforme  a  edição  de  Ma* 
nuel  Correia. 

Esta  obra  é  dedicada  a  Tbomás  Davidson,  Esqaíre,  Glerk  of  the  Peace  for 
the  Goontry  of  Nortbumberland. 

A  dedicatória  segaese  am  soneto  de  J.  X.  de  Mattos  em  bonra  de  Gamões, 
e  traduzida  para  inglez  pelo  dr.  J.  Leyden. 

Gomeça  o  prefacio,  no  qual  nos  diz  Adamson  que  o  fim  do  seu  traba^bo 
é  dar  aquellas  informações  a  respeito  da  vida  e  escriptos  de  Luiz  de  Gamões 
que  possam  ser  colligidas  dos  pormenores  deixados  por  seus  primeiros  bio - 
grapbos,  ajudados  com  a  leitura  das  obras  do  poeta,  e  com  uma  diligente  in- 
vestigação entre  os  artigos,  que  apenas  se  encontram  uma  ou  outra  vez.  A  este 
prefacio,  no  qual  agradece  a  varias  pessoas  que  lhe  prestaram  serviços  na 
composição  doesta  obra,  seguem-se  immediatamente  as  memorias  da  vida  de 
Camões. 

«A  apparição  dos  Luziadas^  ^  o  primeiro  poema  épico  moderno,  foi  saudada 
como  uma  era  nova  na  poesia.  O  sol  da  fortuna  nunca  brilbou  sobre  este  poe- 
ta, nem  este  participou  de  algum  de  seus  favores.  Os  séculos,  não  influidos 
pela  ingratidão  do  seu  paiz,  nem  pelo  despreso  dos  pobres,  deram  a  immor- 
talidade  a  seu  nome,  ao  passo  que  sua  lyra,  mais  perdurável  que  um  monu- 
mento de  pedra  será  escutada  por  todo  o  mundo  babitavel.^ 

cO  dr.  Black  em  uma  nota  á  sua  vida  de  Tasso,  depois  de  comparar  a  sorte 
de  Gamões  com  a  do  poeta  italiano,  escreve:  Ambos  os  poetas,  todavia,  se  To- 
ram  infelizes  durante  a  vida,  teem  pelo  menos  alcançado  aq  uella  gloria,  pela 
qual  suspiravam;  e  é  uma  reflexão  agradável,  que,  em  quanto  os  grandes,  so- 
berbos e  titulares,  que  despresavam  o  bard  o  lusitano,  são  despresados,  o  nome 
do  poeta  é  pronunciado  com  respeito,  mesmo  no  meio  dos  ultrajes  da  violên- 
cia, e  das  tempestades  da  guerra.  A  instrucção  publica  (diz  Junot  na  sua  pro- 
clamação aos  babitantes  de  Portugal  no  i.*"  de  fevereiro  de  1808)  a  instrucção 
publica,  a  única  fonte  da  civilisação  das  nações,  será  diffundida  pelas  diffe- 
rentes  províncias,  e  o  Algarve  e  Beira- Alta  possuirão  seu  Gamões.  A  traduc- 
ção  dos  Lusíadas  em  todas  as  linguas  cultas  da  Europa  dá  testemunho  da 
estima,  em  que  sempre  foram  tidos,  ao  passo  que  numerosos  tributos  a  sen 
génio  e  talento,  que  poetas  e  escriptores  sem  interrupção  lhe  teem  prestado^ 
attestam  sufDcientemente  o  sentimento  de  admiração,  que  despertavam  seus 
enthusiasmos.  Seria  impossível  referir  todas  as  variadas  opiniões  formadas  a 
respeito  das  composições  de  poeta,  ou  noticiar  os  graus  empregados  para  elo- 
giar o  auctor. 

«Lope  de  Vega  era  um  ardente  admirador  das  composições  de  Gamões,  e 
varias  passagens  de  suas  obras  testiflcam  a  estimação,  em  que  elle  tinha  o 
poeta  portuguez.  Faria  e  Sousa,  que  era  amigo  intimo  de  Lope^  escreve  te- 
remlhe  dito  que  este  illustre  bespanhol  appellava  usualmente  para  as  obras 
de  Gamões  com  o  fim  de  dissiparem  a  tristeza,  com  que  sua  alma  estava  so- 

^  Jobn  Adamson  —  Life  and  Wrilings  of  L  de  Cawceiw,  vol.  1.*,  pag.  29Í. 
l  Idem,  pag.  213. 


14  AD 

brecarregada  por  causa  de  algom  desgosto  casual  ou  infortanio.  No  seu  Lau- 
rel d'Appollo  encontra-se  este  elegante  tributo  a  Gamões: 

Llegando  pues  la  Fama 

A  la  mayor  cindad  que  Espana  aclama 

Por  justas  causas  despertar  no  quiso 

(I  fue  discreto  aviso) 

Al  gran  Sá  de  Miranda, 

Qoe  le  dexe  Melpomene  le  manda: 

Y  ai  divino  Gamões 
En  Indianos  aloés 

Que  riega  el  Ganges,  y  produzo  Hidaspes, 
Durmiendo  en  bronze,  poríidos  y  jaspes 
(Fortuna  estrana  que  ai  ingenio  aplico 
La  vida  pobre,  y  el  sepulcro  rico), 
Porque  se  despertaran, 

Y  a  las  Gortes,  Pamasides  llevaran; 
Docto  Gorte  Real,  tu  nombre  solo, 
Aun  no  que  dava  con  el  suyo  Apolo. 
Gomo  lo  muestran  oy  vuestras  Lusíadas 
Postrando  Eneydas,  y  venciendo  Iliadas. 
Que  triste  sucrte,  que  notables  penas. 
Acabada  la  vida  bailar  Mecenas; 

Mas  no  por  esso  puede 

Dexar  de  ser  gloriosa  vuestra  fama, 

Si  bien  claro  Luis  la  tuya  excede 

Por  quanta  luz  derrama 

El  farol  Didimco 

Y  mas  quando  te  veo 

Danar  pluma  de  Fénix  tinta  de  oro, 
Dizíendo  com  decoro 
I  magestad  sonora. 

Por  la  lealdad,  que  núca  el  tiempo  olvida 
Que  mais  anos  servira  se  non  fora 
Para  tan  largo  amor  tan  curta  a  vida. 
(Silva  Tercera,  pag.  26.  Edic.  de  Madrid  de  1630.) 

«A  Inglaterra  também  nâo  se  deixou  fícáir  atraz  em  tributos  a  Camões:  Mr. 
Hayley  no  seu  Essay  on  Epic  Poetry,  assim  caracterisa  o  poeta  e  suas  com* 
posições: 

Tbo'  fiercest  tribes  her  galling  fetters  drag, 

Proud  Spain  must  strike  to  Lusitania^s  ílag, 

Wbose  ampler  folds,  in  conscious  triumpb  sprcad, 

Wave  o'er  her  Naval  Poers  laureate  head. 

Ye  Nymphs  of  Tagus,  firom  your  golden  cell, 


AD  15 

That  caoght  th6  echo  of  his  tonefal  shell. 

Bise,  and  to  deck  yoar  darling's  shrine  provido 

The  richest  treasures  that  the  deep  may  hide: 

Froin  every  land  let  grateful  Gommerce  shower 

Her  tribute  to  the  Bard  who  sung  her  power; 

As  those  rich  gales,  from  whence  his  Gama  caoght 

A  pleasing  eamest  of  the  príze  he  soaght, 

The  balmy  Cragrance  of  the  East  dispense, 

So  steals  his  song  on  the  delighted  sense, 

Astonishíng  with  sweets  unknown  before. 

Those  who  ne'er  tasted  but  of  classíc  lore. 

Immortai  Bard  I  thy  name  with  Gama  viés, 

Thou,  like  thy  Hero,  with  propitious  skies 

The  sail  of  boid  adventore  hast  onforrd, 

And  ín  the  Epic  Ocean  found  a  world. 

Twas  thine  to  blend  the  Eagle  and  the  Dove, 

At  once  the  Bard  of  Glory  and  of  iove: 

Thy  thankless  coontry  heard  thy  varying  lyre 

To  Petrarch's  softness  melt,  and  swell  to  Homer's  íire  t 

Boast  and  lamenta  ongratful  Land,  a  name 

In  lífe,  in  death,  thy  glory  and  thy  shame. 

Terminam  estas  memorias  da  vida  de  Gamões,  com  uma  comparação  bio  - 
graphíca  entre  o  nosso  poeta  e  Gervantes,  composição  d'um  escriptor  hespa- 
nhol,  a  qual  occupa  perto  de  três  laudas. 

A  pag.  239  começa  uma  noticia  das  Rimas  de  Camões.  «Porque  a  fama  de 
Camões  não  provém  tão  somente  do  seu  poema  épico:  tal  era  a  versatibilida- 
de  de  seu  génio,  que  compunha  em  todos  os  metros  usados  n'aquella  época, 
e  foi  bem  succedido  na  maior  parte  d'elles.» 

O  %''  volume  principia  por  uma  traducção  para  inglez  da  obra  do  Morgado 
Eatheus  intitulada  Ensaios  sobre  os  Luziadas  de  Camões j  que  occupa  58  pag. 

A  esta  traducção  segue  uma  noticia  das  versões  dos  Luziadas,  com  infor- 
mações a  respeito  dos  traductores. 

Esta  noticia  é  interessante,  se  bem  que  a  do  sr.  visconde  de  Juromenha  no 
i.""  volume  das  suas  obras  de  Gamões  é  muito  mais  ampla,  posto  que  ainda 
difiiciente.  O  nome  de  Camões  tem  soado  por  toda  a  parte  do  mundo^  e  em 
todos  os  legares  da  terra  tem  havido  admiradores  do  nosso  poeta,  que  escre- 
veram acerca  d'elle.  E  este  numero  vae  já  sendo  tão  grande,  que  não  admira 
que  o  mais  diligente  indagador  não  possa  ter  conhecimento  de  quanto  se  tem 
escrípto,  e  vae  escrevendo  em  pontos  tão  diíTerentes  do  globo.  Ainda  não  ha 
muito  tempo  que  o  sr.  Yamhaguen  nos  dava  noticia  d'uma  traducção  dos 
Luztadas,  em  língua  húngara,  da  qual  ninguém  ainda  nos  tinha  fallado. 

As  noticias  doestas  versões  em  Adamson  occupam  as  pag.  6i  até  252,  ap- 
presentando  o  episodio  da  morte  de  D.  Ignez  de  Castro,  em  varias  linguas, 
para  conhecimento  da  habilidade  dos  traductores. 


16  AD 

Vem  em  terceiro  logar  uma  resenha  das  dififerentes  edições  das  obras  do 
nosso  poeta. 

£  termina  finalmente  este  volume  com  uma  lista  dos  commentadores  e 
apologistas  de  Gamões. 

O  exemplar  de  que  me  servi  para  a  composição  d'este  artigo,  foi-me  em- 
prestado pelo  ex."»  sr.  conde  de  Geraz  de  Lima. 

Oatra  obra  notável  devida  á  penna  de  John  Adamson,  é  Lusitânia  illus' 
trata:  Notices  on  the  History,  Antiquities,  Utterature,  of  Portugal.  Litterary 
Department.  Parte  1.*  Selection  of  Sonnets,  unth  biographical  sketches  of  the 
Authors  by.  Newcastle  1842,  8.»  de  XII,  100  pag. 

Lusitânia  tllustrata  etc.  Parte  2.*  Ibi.,  1846,  8.»  d;  XVII,  54  pag. 

D'estas  obras  se  dará  mais  ampla  noticia  na  parte  d'este  trabalho  destina- 
da para  os  traductores  de  obras  portuguezas. 

A  respeito  d'este  benemérito  escríptor  díz-nos  o  sr.  Innocencio  a  pag.  88 
do  volume  16.°  do  Panorama.  Da  sua  particular  predilecção  pela  litterAtnra 
clássica  portugueza,  e  das  riquezas,  que  n'este  género  possuia,  é  prova  sobeja 
o  volume  que  imprimiu  e  distribuiu  particularmente  aos  seus  amigos  com  o 
titulo:  Bibliotheca  Lusitana  or  Catalogue  of  Books  and  Tracts,  relaíing  to  the 
History,  Litterature  and  Poetry  of  Portugal;  formitêf  part  of  the  Library  of 
John  Adamson,  Newcastle  on  Tyne  1836, 8.°  de  115  pag.  Ahi  se  comprehende 
a  mais  aunpla  collecção,  que  até  áquelle  tempo  se  havia  reunido  das  obras  e 
edições  de  Camões,  passante  de  120  volumes. 

12)  ADLERHOLD  (GERltANUS). 

E.  —  Die  Nacht  des  Portugiesischen  scepters.  etc,  Frankforl,  1703,  8.» 
(Poder  do  sceptro  porluguez,  ou  descripção  circumstanciada  do  reino  de 
Portugal,  suas  riquezas  naturaes,  seus  antigos  habitantes,  reis,  decadência  du- 
rante o  domínio  hespanhol,  sua  restauração  o  seu  governo  até  o  rei  actual.) 

13)  ADmNISTRATION  (L')  de  Sébastien  Joseph  de  Carvalho  et  Méllo^ 
vomte  de  OeyraSy  marquis  de  Pombal,  sécretaire  d'état,  etc,  Prémier  ministre 
du  rol  de  Portugal,  Joseph  L  A  Amsterdam,  1786,  4  vol.,  4.° 

«Quando  se  reflecte  com  alienção  sobre  as  revoluções  de  Portugal,  vé-se 
que  teve  um  destino  único.  Desde  seu  nascimento  experimenta  vicissitudes, 
que  não  são  vulgares.  No  século  xv  faz  a  conquista  das  índias.  A  Ásia  inteira 
passa  para  debaixo  de  seu  dorainio.  Desde  então  a  fortuna  de  Portugal  é  pro- 
digiosa! Não  diz  a  historia  que  nenhuma  outra  nação  se  tenha  elevado  com 
um  vôo  mais  rápido  ao  cnme  das  grandezas.  A  própria  Roma,  no  auge  da  sua 
gloria  cm  tempo  nenhum  conquistou  tantos  estados,  ou  dominou  sobre  tantos 
povos,  ou  se  apossou  de  tantos  sceptros,  ou  lançou  ferros  a  tantos  reis.  É  um 
espectáculo  o  ver  o  mais  p<»quono  ostado  da  Europa  tornar-sc  a  primeira  po- 
tí^nria  do  mundo! 


AG  17 

«A  descoberta  do  cabo  da  Boa  Esperança  pelos  portuguezes  transfigurou  a 
sorte  da  republica  geral.  Vemos  grandes  impérios  converterem-se  em  peque- 
nos estados,  e  estados  medíocres  elevarem-se  á  ordem  das  grandes  potencias. 
O  commercío  é  quem  produz  esta  mudança.  Então  começa  esta  celebre  revo- 
lação,  coja  influencia  se  estende  por  todas  as  partes  do  globo. 

«O  mundo  antigo  e  novo  não  forma  senão  um  theatro  de  riquezas. 

«Até  então  a  Ásia  somente  constituo  um  empório  de  ricas  producçues,  das 
qaaes  os  portuguezes  são  os  únicos  possuidores.  Mas  dentro  em  pouco  a  am- 
bição, ou' a  avareza  das  outras  nações,  procura  attrahilas  para  si.  A  Ilolian- 
da,  a  Inglaterra,  a  França,  a  Suécia,  querem  ter  parte  dos  thesouros  da  índia, 
procurando  eslabelecer-se  n'ella. 

«Por  esta  época  começaram  guerras,  das  quaes  se  não  acha  nenhum  exem- 
plo Tios  antigos  annaes  militares.  Os  combates,  que  se  dão  n'este  novo  campo 
de  batalha,  são  tanto  mais  sanguinolentos^  quanto  o  inimigo  vencido  não  tem 
abrigo. 

«A  descoberta  do  Brasil  dá  um  novo  esplendor  a  Portugal.  Além  da  gloria 
pessoal  de  accrescentar  um  novo  mundo  ao  antigo,  suas  pi;oducções  bastam 
ellassós  para  elevar  sua  potencia  acima  de  todas  as  potencias». 

Esta  obra  attribuida  a  um  certo  Desoteux  ó  favorável  ao  nosso  marquez, 
e  censura  muitas  das  passagens,  que  se  encontram  nas  Memoim  da  Marquis 
de  Pombal.  * 

14)  ADVENTURES  ÔF  A  TOUNG  RIFLEMAN  in  the  French  and 
English  armies,  during  the  war  in  Spain  and  Portugal,  from  1806  to  1816. 

(Aventuras  d'um  soldado  atirador,  nos  exércitos  francezes  e  Inglezes,  du- 
rante a  guerra  de  Hespanha  e  Portugal.) 

15)  AQUILERA  (D.  VENTURA  RUIZ). 

E.  —  I.  Camino  de  Portugal,  Drama  en  un  acto,  original  y  en  verso  por 
— ,  representado  con  gran  aplauso  en  el  teatro  de  la  Cruz,  el  ano  de  1849.  Ma- 
drid, 3.'  edicion.  1860. 

11.  Ecos  Nacionales  y  cantares  con  traduciones  ai  Português,  Aleman.  Ita- 
liano, Catalan,  Gallego,  Polaco  y  ProvenzaL  Madrid,  8.°,  416  pag. 

Uma  das  mais  notáveis  poesias  d'esta  collecção  é  a  seguinte 

BALADA  DE  IBÉRIA 

Dicen  que  va  con  Espaiia 
Á  casarse  Portugal; 
Si  mucho  vale  la  novia 
No  vale  poço  el  galan. 


*  Publicnu-?e  uma  Iraducfào  d'05le  livro  cm  Lisboa  no  anno  rlc  1841. 

TOMO   I  2 


18 


AG 

• 

El  mismo  sol  los  alombra, 
La  mjsma  tierra  feraz 
Hínde  á  sas  pies,  generosa, 
Ricos  tesoros  sin  par. 

£1  mar  que  sus  costas  bana, 
Tiene  en  los  dos  nombre  igual; 
£n  los  propios  claros  rios 
Los  dos  contemplan  su  faz. 

Una  es  su  lingua  armoniosa, 
Una  su  historia  inmortal: 
En  los  siglos  venideros 
Uno  el  destino  %tTn 

Hello  fruto  de  estas  bodas 
ibéria  ai  orbe  ha  de  dar 
Envidia  por  su  grandeza, 

Y  por  sus  virtudes,  más 

Guando  ese  dia 
Guando  vendrá? 
Quien  no  lo  ânsia  ? 
Quien  lo  verá  "f 

Los  dos  cruzaron  valienles 
Las  soledades  de  un  mar, 
Donde  sonado  no  habia 
La  voz  humana  jamás. 

Oro  dicen  que  trajerou 
De  su  expedicíon  audaz; 
No  cuenta  quien  los  acusa 
Lo  que  dejaron  allá 

Sangre,  industria,  cicocia  y  arte, 

Y  entrada  en  la  humanidad 
Dieron  á  razas  dormidas 
En  hondo  sueno  fatal. 

Y  entonces  alli  brotaron 
(Flores  de  su  inroenso  afani 
Ciudades,  lalleres,  tempo, 
Maravillas  que  admirar. 


AG 

Ojalá  unidos  por  siempn; 
Desde  entonces,  ojalá, 
Hubieran  los  dos  estado 
Con  vinculo  fraternal! 

Ctiando  ese  dia,  ele. 

Todo  el  mundo  conocidu 
Resueltos  los  vió  pasar 
A  vencer  los  que  imposibleb 
Juzgaba  la  antiguedad: 

Con  el  leon  de  Castilla, 
Las  quinas  de  Portugal; 
Las  barras  aragonesas 
Con  el  blason  catalan. 

Fueries  con  sus  liberlades 

Y  su  poder  colosal, 

En  sus  empresas  llegaron 
Donde  nadíe  Uegará. 

Ellos  derrocan  impérios, 
EUos  los  saben  fundar, 

Y  uncen  monarcas  altivos 
Á  su  carroza  triunfal. 

Hoy  con  receio  se  miran, 
Yno  se  conocerán, 
Hasta  que  luzca  la  aurora 
Que  tantos  esperan  ya. 

(juando  (\se  diu,  Hr. 

El  tiempo  se  acerca;  un  trono 
Ha  barrido  el  huracan, 
Sobre  el  desplomando  íien» 
Una  oleada  dei  mar. 

Dinastias  extranjcra> 
llollaron  su  dignidad: 
Si  Espana  ticnc  memoria, 
Ya  nunca  lo  occuparãn 


19 


20  A(i 

Lázaro  ha  roto  su  luinba: 
lia  tiniebla  huyendo  va ; 
El  muerto  resuscitado 
Saluda  á  ia  Libertad. 

En  esta  sagrada  via^ 
Sin  volver  an  paso  atrá.<, 
GoQ  el  Paeblo  Lusitano 
Espana  se  encontrará. 

Y  olvidando  sus  querelias, 
Su  allianza  sellarán, 
Fiel,  sincera,  indisolublo, 
Con  un  ósculo  de  paz 

Cíumdu  r,sr  din.  rir. 

Ibéria !  >o  te  estoy  viendo, 
Bella,  joven,  celestial; 
Como  en  sus  ensuenos  pudo 
El  poeta  ambicionar. 

Ibéria!  yo  te  estoy  vicndo 
Vestida  de  majestad, 
Presentarte  á  las  nacionci 
Con  aplauso  universal. 

Ibéria !  yo  te  estoy  viendo 
En  el  senado  brillar 
De  todos  los  pueblos  libres. 
Tan  alta  como  el  que  más. 

Ibéria!  yo  te  estoy  viendo 
Serenamente  marchar 
AI  porvenir  que  adivina 
La  musa  de  nuestra  edad. 

Ibéria,  yo  te  estoy  viendo ; 
Ibéria !  tu  nacerás, 
Puas  han  de  hacerse  ias  boda.^ 
De  Espana  con  Portugal. 

Kse  grav  dia 
So  faltará: 
(Juien  no  lo  amio  ? 
Quien  lo  vn'á  f 
Janeiro,  186í^. 


AL  „ 

16)  AGUIRRE  (MICHAEL  AB). 

E.  —  De  successione  Regni  Portugalliae  pro  Philippo  Hispaniae  Rege, 
(Da  SQCcessào  do  reino  de  Portugal.  Obra  em  favor  de  Phílippe  rei  de  Hes- 
panha.) 

17)  A...  J... 

E. — A  Compleat  Account  ofthe  Portugueze  Language,  Being  a  copious 
Dictionary  of  English  with  Portugueze,  and  Portugueze  with  Engltsh,  Lon- 
don.  Printed  by  R.  Janeway,  1701,  foi.,  300  pag. 

(Diccionarío  inglez-portuguez  e  portuguez-inglcz.) 

18)  ATiAUX  (G.  D'). 

E.  —  Portugal  (Le)  en  1850  et  le  ConUe  de  Thomar,  12.°,  46  pag.  Paris,  im- 
prímerie  de  6.  Stapleaux. 

O  auctor  pretende  provar  que  Portugal  encerra  muitos  elementos  de  pros- 
peridade latentes,  mas  que  o  conde  de  Thomar  é  o  predestinado  para  se  apro- 
veitar d'elles,  e  elevar  assim  o  seu  paiz  ao  maior  auge  de  grandeza,  por  isso 
que  a  bahia  do  Tejo  ainda  não  seccou,  e  os  camponezes  de  Portugal  sâo  ao 
mesmo  tempo  a  raça  mais  enérgica  e  mais  disciplinavel  da  peninsula. 

19)  ALDENBUKGK. 

E.  —  Relação  da  tomada  da  Bahia  pelos  Hollandezes,  e  sua  restauração , 
obra  impressa  em  Coburgo  no  anno  de  1627,  e  da  qual  nos  falia  o  sr.  Var- 
ahagen  na  sua  Historia  das  lutas  com  os  Hollandezes  no  Brazil  (pag.  xxi). 

20)  ALEMANIO  FINI. 

E.  —  Descrittiòne  delV  Isola  delia  Madera  scritta  nella  lingua  latina  dei 
Conte  Giulio  Landi.  Piacenza.  1574. 

(Descripçâo  da  ilha  da  Madeira.) 

Vi  esta  obra  mencionada  n'um  catalogo  de  livros  antigos,  e  nada  mais 
posso  dizer  a  respeito  d*ella. 

21 )  ALEMAN  (MATTEO)— Auctor  do  celebre  romance  Guzman  d' Alfa  • 
rache, 

E.  —  Panegyrico  de  Santo  António  de  Padova,  Sevilha,  1604. 

22)  ALEWIN  (ABRAHAM)  —  (Parece  ser  flamengo). 

E.  —  Vocabulário  das  duas  Línguas  Portugueza  e  Flam^iga,  Em  que  se 
explicão  Com  a  possível  clareza  e  brevidade  As  palavras,  termos  &  phrases 
mais  necessárias.  Para  ouso  destas  Línguas.  Amslerdam,  1718.  (Tem  933  pag., 
8.*  grande). 

Além  d*esle  titulo  portugucz  tem  n'outra  folha  o  seguinte  em  hollandez : 
Woordenschat  Der  Taalen  Portugeesch,  en  Nederduitsch  Waar  in  de  beteeke- 
nissen  der  Portugeesch  Woorden,  volgens  de  Rykheid  van  de  Nederduitsche 
Taalkunde,  omstandig  aangeweesen  worden;  Een  werhstuk,  dat  *t  algemeen 
Vúor  alie  Ui*(  hehbcrs  der  hciâe  Taalen  by^ionderbfjk  de  leeraars  en  lenlimjen 


22  AM 

derzelve  ten  hoogsten  dienstig  t.s  Door  M'  Abraham  Alewyn  en  Joatmes  Collé 
Tot  Amsterdam  By  Pieter  vanden  Berge^  op  de  Heylige  Weg,  in  de  Groene 
Berg  1714.  (sic)  * 

Traz  um  extenso  prefacio  em  hollandez. 

23)  ALEXANDER  (JAMES  EDWARD). 

E.—Sketches  in  Portugal  duríng  the  Civil  War  of  1834.  London,  1835. 
(Esboços  sobre  Portagal  âurante  a  guerra  civil  de  1834.) 
Vem  mencionada  esta  obra  no  catalogo  manuscripto  da  livraria  do  conde 
de  Lavradio. 

24)  ALLIOT  —  Professor  de  nação  franceza,  que  residiu  por  algum  tem- 
po na  cidade  do  Porto,  ensinando  a  sua  lingua. 

E.  —  Grammaire  Française  à  Vnsage  des  PortugcUs.  Porto,  8.»,  1859? 

25)  AUffiÈS  (DR.  LUOIEN  PAPILLAUD  HENRI). ' 

E.  —  Dti  traitement  de  la  Fiêvre  tiphoide  par  les  reconstituaiús, 

(Tratamento  da  febre  typhoide.) 

Appareceu  publicado  este  trabalho  na  parte  2.*  do  tomo  4.<>  das  Memorias 
da  Academia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa,  classe  de  sciencias  mathematicas 
ele.  Nova  série. 

26)  ALVIELLA  (E.  GK)BLET  D)  —  Docteur en  sciences  politiques  et 
administratives. 

E,—Létablissefnent  des  Cobourg  en  Portugal.  Étude  sur  les  débuts  d*une 
monarchie  Constitutionelle.  Écrit  sous  les  yeux  du  Lt.  General  ConUe  Goblet 
d^Alviella  ancien  envoyé  de  Belgique  à  Lisbonne.  Bruxelles,  8.°  gr.,  399  pag. 

Não  é  para  admirar  que  o  sr.  Visconde  de  Sá  da  Bandeira  ^  tivesse  que  pe- 
gar na  penna  para  refutar  algumas  passagens  d'esta  obra,  quando  seu  author 
logo  no  principio  d*ella  diz  que  a  mulher  de  D.  João  VI  tinha  o  nome  de  Ma- 
ria! (pag.  22).  No  emtanto  o  livro  é  muito  interessante  relativamente  às  luctas 
civis,  que  tanto  aííligiram  o  paiz  durante  o  reinado  de  D.  Maria  II,  e  para  vér 
como  Leopoldo  I,  rei  da  Bélgica,  se  intrometlia  nos  negócios  de  Portugal. 

27)  AMADE  (H.) — Ancien  commissaire  des  guerres  adjoint. 

E.  —  Voyage  en  Espagne  ou  Lettres  Philosophiques,  contenant  Vhistoire  gé- 
nérale  des  demieres  guerres  de  la  Pémnsule.  Paris,  1822. 

(Cartas  philosophicas  sobre  a  historia  das  ultimas  guerras  na  Península.) 

<  O  exemplar  examinado  existe  na  Bibliotbeca  Publica  de  Lisboa.  Para  mais  amplos 
esclarecimentos  veja-se  o  vol.  8.*  do  Diccionario  Bibliographico  do  sr.  Innocencio,  a 

pag.  4. 

2  Lctlrc  adrcsséc  au  Comlc  Goblel  d'Alviella  par  le  Marquis  de  Sá  da  Bandeira  sur 


'ouvrage  L*élablissemenl  des  Cobourg  en  Portugal,  acompagnee  d'une  tiotice  surtes  ète- 
irmrníx  qui  onf  ^u  lint  danx  ce  jmyfi  dcpuis  18íl0jM.<fí/»íVn  1837.  Lisbonne^  1870. 


/ 
nr 


AN 

Í8)  AMBASCIARA  (L')  Dl  DAVID  RE  DELL'  ETIÓPIA  ai  A.  S. 
Clemente  VII  ad  Emanuel  re  de  Portugaly  et  a  Gioatíe  re  de  Portugal  alcune 
cose  dei  regno  de  Etiopta  e  dei  populo  et  de  lor  costumi.  Bdiogna,  1533. 

Em  latim*  Bononiae,  1538. 

(Embaixada  de  David,  rei  da  Ethiopia  ao  papa  Clemente,  a  D.  Manuela  a 
D.  João  III  reis  de  Portugal). 

Vi  esta  obra  citada  ii'um  catalogo  de  livros  raros. 

29)  AMBIVERI  (D.  ALBERTO  MARIA). 

Nasceu  d^uma  familia  illustre,  em  Bergamo,  a  16  de  julho  do  anno  de 
1618.  Na  mesma  cidade  vestiu  o  habito  dos  clérigos  regulares  em  1634,  sen- 
do d'a]li  enviado  para  a  casa,  que  a  ordem  tinha  em  Cremona,  com  o  fím  de 
n'e11a  passar  o  tempo  do  noviciado.  Mais  tarde  desejando  sua  ordem  enviar 
missionários  á  índia,  como  tinha  por  costume,  Ambiveri  foi  um  dos  que  pa- 
ra tal  mister  se  offereceram.  ^  Foi  por  isso  mandado  a  Lisboa,  para  n'esta 
cidade  embarcar  como  missionário  para  o  reino  de  Golconda,  misbâo  que 
não  chegou  a  cumprir,  por  ter  sido  detido  aqui  pela  rainha  D.  Luiza  de 
Gusmão. 

Chegado  a  Lisboa  em  25  de  fevereiro  de  1650,  e  não  tendo  a  ordem  dos 
clérigos  regulares  a  esse  tempo  casa  n'esta  capital,  a  convite  dos  respectivos 
frades  foi  hospedar-se  no  convento  dos  eremitas  de  Santo  Agostinho,  á  Graça. 
Tratou  immediatamente  de  aprender  a  língua  portugucza,  e  com  tanto  dísvelo 
se  applicou  a  este  estudo,  que  segundo  nos  diz  o  historiador,  a  quem  vou 
seguindo,  passados  dois  mezes  n'ella  pregava  nas  egrejas  de  Lisboa.  Não  poude 
conseguir  retirar-se  para  a  missão  de  Golconda,  enfesta  capital  veiu  a  morrer 
com  fama  de  santidade  em  6  de  agosto  de  1651. 

Seu  corpo,  por  devoção  do  duque  de  Aveiro,  foi  depositado  na  egreja  da 
Luz,  da  ordem  de  Christo,  e  em  1653  trasladado  para  a  de  Nossa  Senhora  da 
Divina  Providencia,  em  Lisboa.  Foi  retratado  em  Bergamo,  com  a  seguinte 
ÍDScripção: — V.  P.  D.  Albertus  Maria  Ambiverus  fidemira  operans  obiit  Ulys- 
sipone  die  6  augusti,  anno  1651,  cum  opinione  sanctítatis. 

Ambiveri  tinha  escripto  na  lingua  italiana  um  Compendio  da  vida  do  beato 
Caetano,  impresso  pela  primeira  vez  em  Pádua,  no  anno  de  1649,  e  iraduziu-a 
na  lingua  portugueza  cem  accrescentamentos,  mandando-a  imprimir  em 
Lisboa. 

30)  ANCHIETA  (JOSÉ  DE)— Celebre  missionário  no  Brazil. 
Nasceu  no  anno  de  1533  na  ilha  de  TeneriCe,  ^  e  morreu  na  aldeia  de  Be- 

ritigbá,  no  Brazil,  em  1597. 

E.  —  Arte  da  grammatica  da  lingua  mais  usada  na  costa  do  Brazil.  Feyta 

*  D.  Thomaz  Caetano  do  Bem  —  Vida  do  venerável  padre  D.  Alberto  Maria  Ambi- 
Wfi,  cUrigo  regular.  Lisboa,  1782,  vol.  1.",  pag.  70. 

*  Padre  Simam  de  Vasconcelios—  Vida  do  venerarei  padre  Joseph  de  Anr.hiela, 
pag.  2. 


24  AN 

pelo  padre  —  da  côpanhia  de  Jem,  Coimbra,  por  António  do  Mariz,  4595, 
8.»,  58  pag. 

31)  ANDERSON  (WILLIAM  AND  JAMES  E.  TUGMAN). 

E.  —  Mercantile  Córrespondence  containing  a  coUection  of  commerctcU  lei» 
ters  in  Portugwse  and  English  with  their  translation  in  opposite  pages,  Lon- 
(ion,  1867. 

(Correspondência  Mercantil.) 

O  auctor  do  prefacio  d'esU  obra  diz  que  o  estado  da  lingua  portugaeza 
se  toma  indispensável  para  os  commerciantes,  qae  teem  relações  com  os  por- 
tuguezes  e  brazileiros,  sendo  mui  vastos  os  territórios  em  que  se  falia  este 
idioma. 

32)  ANDRÉ  (CHARLES). 

Nasceu  em  Langres  no  anno  de  1722,  e  tinha  a  profissão  de  cabelleireiro, 
em  Paris. 

E.  —  Tremblemeíit  de  terre  de  Ldsbonne.  Tragedie  en  cinq  actes  et  en  ver$ 
par  — ,  perruquier  privilegie,  demeurant  à  Paris,  me  de  Vannerie,  prés  la 
Greve;  imprime  à  Amsterdam,  et  se  vend  chez  Fauteur,  1756. 

A  respeito  d'esta  obra  veja-se  Nouvelle  Biographie  Umverselle. 

.33)    ANDRY(M.). 

Este  medico  publicou  em  Paris  a  seguinte  obra  do  nosso  Sanches: 

Observathm  sur  les  maladies  veneriennes,  par  feu  M.  ArUoine  Nunes  Ri* 
heiro  Sanchhs.  Publiées  par—.  A  Paris,  Chez  Theophile  Barrois  le  Jeune,  1785. 
S."  Com  o  retrato  de  Sanches. 

(Observações  sobre  as  doenças  venéreas.) 

A  respeito  do  nosso  portuguez  acham- se  as  seguintes  passagens  a  pag.  255 
do  voL  43."  da  Nouvelle  Biographie  Générale  de  Firmin  DidoU 

«Sua  paixão  pelo  estudo  impclliu  Sanches  a  procurar  fora  da  pátria  o  meio 
de  lhe  satisfazer.  Visitou  successivamente  Génova,  Londres,  Montpellier,  Paris 
e  Leyde,  onde  adoptou  com  uma  sorte  de  enthusiasmo  as  doutrinas  de  B«^er» 
haave.  Tendo*se  a  imperatriz  Anna  dirigido  a  este  ultimo  com  o  fim  de  obter 
trrs  médicos  de  sua  escola,  a  quem  destinava  empregos  eminentes  na  Rússia, 
f(»i  Sanches  indigitado,  e  veiu  a  ser  successivamente  primeiro  medico  de  Mos- 
( ou,  medico  de  Petersbourg  em  1733,  medico  dos  exércitos  em  1735,  do  cor- 
\\o  de  cadetes,  da  corte  em  1740,  e  do  czar  Ivan. 

«Durante  sua  residência  na  Rússia  prestou  muitos  serviços  á  scicncia,  não 
somente  com  suas  observações  de  todas  as  sortes,  mas  por  suas  remessas  de 
productos  naluraes,  e  por  sua  activa  correspondência. 

«Foi  com  Euler  um  dos  que  contribuíram  para  a  celebridade  da  acade- 
mia de  Petersbourg,  á  qual  pertencia.  Sua  obra  Disserlalion  sur  Vórigine  de 
la  maladie  Venerienne,  foi  impressa  em  Paris  em  1750,  e  reimpressa  em  1753, 
l/Go,  1772:  «m  Leyde  no  anno  1777:  tradarida  cm  inglez  em  LSol,  e  cm  ai- 


AN  ,5 

lemào.  O  seu  Exarnen  historique  sur  Vapparition  de  la  modadie  Veneiienne, 
foi  reimpresso  em  Leyde  no  anno  de  1777,  e  suas  Observations  sur  les  mala- 
dies  Veneriennes  traduzidas  em  allemão.» 

Mas  tornaudo  á  obra  publicada  por  M.  Andry  Les  observations  sur  les  ma- 
ladies  Veneriennes^  este  livro  é  dedicado  ao  embaixador  porluguez  D.  Vicente 
de  Sousa  Coutinho,  e  precedido  dos  juizos  dos  sábios  a  respeito  do  mereci- 
mento d'elle. 

O  primeiro  é  do  professor  Gaubius:  «Estou  persuadido  (diz  este)  de 
que  vossas  idéas  deduzidas  de  vossas  observações  sâo  justas,  interessantissi- 
mas  para  os  médicos,  e  para  toda  a  humanidade,  tanto  para  o  século  presente, 
como  para  o  tempo  futuro,  e  que  por  isso  seria  de  grande  utilidade  que  fos- 
sem publicadas.» 

É  o  segundo  juizo  critico  o  dos  doctores  regentes  da  faculdade  de  medi* 
cina  de  Paris,  Maigret,  Lepreux  e  Guenet. 

€  A  obra  —  dizem  estes  —  honrando  a  memoria  do  doutor  Sanches,  des- 
pertara a  recordação  doestes  dois  médicos  (Andry  e  Sanches),  que,  tendo-se 
estimado  toda  a  sua  vida,  encontraram,  n'aquelles  que  os  conheciam  os  mes- 
mos sentimentos,  que  tinham  um  para  com  o  outro.» 

É  finalmente  o  terceiro  juizo  critico  extrahido  dos  registros  da  Sociedade 
Real  de  Medicina,  apresentado  por  Poissonnier,  Geoffroy,  Desperrieres,  Yicq- 
d'Azyr,  Thouret  e  Defourcroy : 

«O  doutor  Sanches,  cujos  grandes  trabalhos  e  zelo  para  com  o  adianta* 
mento  da  arte  de  curar  são  conhecidos  de  todos  os  sábios,  passou  a  maior 
parte  de  seu  retiro  a  recolher  os  materiaes,  que  uma  longa  pratica  lhe  forne- 
cera, e  a  delinear  varias  obras  importantes,  das  quaes  suas  observações  nume- 
rosas faziam  o  fundo  principal.  O  auctor,  tendo  observado  um  grande  nume- 
ro de  afifecções  chronicas,  cujo  caracter  era  muito  dííficil  de  conhecer,  e  tendo 
visto  um  grande  numero  de  autopsias  e  lesões,  que  não  tinham  sido  descrip- 
tas  por  Bonnet,  e  outros  observadores,  suspeitou  que  tinham  uma  causa  oc- 
eulta,  e  que  eram  devidas  a  um  virus  venéreo  degenerado.  Questões  multi . 
plicadas,  investigações  escrupulosas  confirmaram  bem  depressa  esta  descon- 
fiança. O  doutor  Sanches  entregou-se  por  isso  a  seguir  a  marcha  da  doença 
venérea,  a  reconhecer  seus  efíeitos  sobre  as  pessoas,  que  d'ella  estavam  infec- 
cionadas, havia  muito  tempo.  Notou  que  deixava  vestígios,  que  ficavam  escon- 
didos, e  como  sepultados  durante  alguns  annos,  e  que  os  meninos  recebiam 
também  a  punição  das  faltas  de  seus  pães,  e  que  a  velhice  em  seu  começo 
não  era  apoquentada  por  enfermidades  mais  ou  menos  graves,  senão  por  cau- 
sa das  consequências  d'este  virus  contrahido  na  mocidade.  Estas  observações 
levaram  o  auctor  a  adoptar  um  sentimento  muito  opposto  ao  dos  médicos, 
que  pensam  que  as  doenças  venéreas  perdem  sua  força  diariamente,  e  que  se 
aniquilarão  pouco  a  pouco,  como  a  lepra  dos  antigos.  Julga  pelo  contrario 
que  são  mais  perigosas  do  que  nunca,  porque  atacam  o  interior  das  visceras 
sem  se  manifestarem  no  exterior,  e  que  infiuem  sobre  todas  as  gerações,  etc. 
Reeonhece-se  por  toda  aparte  um  observador  exacto,  um  pratico  esclarecido. 


ao  AN 

o  que  deve  fazer  com  que  se  deposite  maior  conflança  no  auctor  são  qua- 
renta annos  de  observações. 

«Ã  vista  doeste  relatório  lido  no  Louvre  a  24  de  dezembro  de  1784,  a  So- 
ciedade Real  de  Medicina  adoptou  as  conclusões  da  obra,  e  julgou-a  digníssi- 
ma de  sua  approvaçâo.  Yicq  d'Azyr.  Secretario  perpetuo.  Paris,  28  de  dezem- 
bro de  1784.» 

34)  ANECDOTES  du  Ministère  de  Sebastien  Joseph  de  Carvalho  e  Mel- 
lo, comte  de  Oeyras»  Varsovie  1783. 

(Anecdotas  do  ministério  do  marquoz  de  Pomba!.) 
Não  ponde  encontrar  um  exemplar  d'esta  obra. 

35)  ANECDOTES  Espagnoles  et  Portugaises  depuis  Vorigine  de  la  na' 
tionjusqu*a  nos  jours,  A  Paris.  Chez  Vincent.  1773,  2  vol.,  8.»,  1.*»  com  648 
pag.,  2.'»  com  700. 

É  uma  espécie  de  Selecta,  por  ordem  chronologica,  dos  factos  mais  notá- 
veis e  chistosos  da  historia  de  Hespanha  e  de  Portugal. 

«Em  1641  começa  a  guerra  entre  os  portuguezes  e  hespanhoes.  Estes  são 
os  primeiros  a  entrar  em  campanha,  assolam  o  paiz,  saqueiam  egrejas,  fazem 
prisioneiros,  e  retiram-se  sem  ordem,  tocando  instrumentos.  Vós  cantaP/S  cedo 
de  mais,  dizia-lhes  o  commandante:  nunca  ha  certeza  da  victoria,  em  quanto 
se  está  nas  terras  dos  inimigos.  D*ahí  apouco,  avistando  os  portuguezes:  Lar- 
gae  vossas  guitarras  e  flautas:  não  se  trata  agora  de  cantar,  é  necessário  com- 
bater: mostrae-vos  bravos  e  animosos.  Não  tarda  em  serem  atacados,  derro- 
tados e  postos  em  debandada;  e  para  occultarem  sua  vergonha  cortando  as 
orelhas  aos  soldados,  que  tinham  perdido,  mostram-n'as  asseverando  serem 
as  dos  portuguezes,  aos  quaes  acabavam  de  punir.  Um  cónego  de  Badajoz  diz- 
Ibes:  Era  melhor  trazer  as  armas  de  vossos  inimigos,  do  que  suas  orelhas: 
pois  não  é  possível  diíTerençal-as  das  dos  castelhanos.» 


•      • 


«Immediatamente  depois  da  conclusão  da  paz  com  a  França,  Filippe  IV  ti- 
nha fixado  toda  a  sua  attenção  sobre  Portugal;  mas  as  forças  reunidas  da  Hes- 
panha não  eram  sufflcientes  para  executar  o  que  se  chamava  castigo  de  um 
corpo  de  rebeldes.  Uma  batalha  só  parecia  dever  decidir  da  sorte  dos  portu- 
guezes: deu-se  a  8  de  junho.  Os  castelhanos  perderam  a  victoria,  depois  de  se 
terem  batido  de  lado  a  lado  com  uma  fúria  quasi  incrível.  Doze  mil  homens 
foram  mortos  ou  prisioneiros,  e  seis  grandes  de  Hespanha  levados  como  tro- 
pheus  para  Lisboa.  Este  desastre  acabou  de  alterar  a  saúde  do  rei  de  Hespa- 
nha, a  quem  o  receio  de  um  triste  futuro  para  seus  povos  assustava  sobre  mo- 
do. Mas  novas  derrotas  causadas  pelos  portuguezes,  que  em  vez  de  se  conser- 


AN    ,  j7 

▼arem  aa  defensiva,  accommettiam  á  força  de  armas  e  de  intrigas  secretas, 
novos  sustos  e  doenças  agudas  conduziram  Filippe  lY  ao  tumulo.» 

36)  ANEDDOTI  dei  mirUstero  di  Sebastiano  Giuseppe  Carvalho,  Conte  di 
OeyrM,  Marchese  di  Pombal,  sotto  il  regno  di  Gtuseppo  I  Re  di  Portogallo,  Per 
servir e  di  suppletnento  alia  Vita  dei  Medesimo.  1787,  sem  logar  de  impressão» 
8.<»,  tomo  i.«  297  pag.,  2.»  251  pag. 

(Anedoctas  do  ministério  do  marquez  de  Pombal.) 

37)  ANGLO-LUSITANIAN  Discourse  conceming  the  complaints  of  the 
Brttish  factors  resident  in  the  City  of  Lisbon,  By  a  senous  and  impartial  well- 
wisher  to  the  prosperity  ofboth  Nations.  Lisbon,  1771. 

(Discurso  a  respeito  das  queixas  dos  feitores  inglezes.) 

Esta  obra  é  a  refutação  de  outra  intitulada  Memoriais  of  the  British  Côn- 
sul and  Factory  at  Lisbon.  É  uma  analyse  das  cinco  memorias  especificadas 
n'esta  ultima  obra,  em  que  se  attribue  a  origem  d^ella  a  machinaçòes  dos 
jesuítas.  (V.  Bibliotheca  Histórica,  Supplemento,  pag.  8.) 

38)  ANNALS  OF  THE  PENINSULAR  OAMPAIGNS  from  1808  to 
1814.  Edinburg.  3  vol.  1829. 

(Annaes  das  campanhas  peninsulares.) 

39)  ANNUAIRE  DES  VOYAGES  et  de  la  Geographie  pour  Vannée 
1847  par  une  réunion  de  geographes  et  de  voyageurs  sous  la  direction  de  M, 
Fréderic  Lacroix, 

(Annuario  de  viagens  e  de  geographia.) 

Vem  nVste  livro  um  extenso  artigo  sobre  os  trabalhos  geographicos  do 
nosso  illustre  visconde  de  Santarém,  que  por  tantos  annos  honrou  o  nome 
português  com  seus  escriptos,  indispensáveis  para  qualquer  bibliotheca  de 
primeira  ordem. 

40)  ANSTETT  (PH.)  —  Parece  ser  professor  de  allemão  em  Lisboa. 
E.  —  Grammatica  da  língua  allemã,  approvada  pelo  Conselho  Superior  de 

Instrucção  Publica,  offerecida  á  mocidade  estudiosa  de  Portugal  e  Brazil.  Lis- 
boa, typographia  da  Sociedade  Typographica  Franco-Portugueza,  1863,  297 
pag.,  8.» 

41)  ANTILLON  (D.  ISIDORO  DE)  —  Professor  de  astronomia,  giío- 
graphia  e  historia,  no  Seminário  Real  dos  Nobres  em  Madrid.  Nasceu  em 
Santa  Eulália,  aldeia  de  Aragão  no  anuo  de  1760,  e  morreu  em  1820.  ^ 

E.  —  Elementos  de  la  Geografia  Astronómica,  natural  y  politica  de  Espana 
y  Portugal.  Tercera  edicion.  Madrid,  en  la  Imprenta  de  D.  Leon  Araarila, 
1824,  8.«,  440  pag.  com  alguns  mappas. 

*  Firmin  Didot  —  iVouccWe  Biogrijihie  UniversellCy  vol.  S»,  pag.  783. 


28  AP 

A  primeira  edição  é  de  Bíadrid  em  i8i5.  Foi  traduzida  em  francez  com  o 
titalo  seguinte :  Geographie  physique  et  politique  de  VE$pagne  et  iu  Portugal. 
Paris,  1823.  E  em  inglez  por  William  Smitb. 

Esta  obra  de  Antillon  é  digna  de  apreço;  e  seu  auctor  não  só  faz  elogios 
aos  portugaezes,  mas  até  pretende  refatar  algumas  accusações,  que  nos  faziam 
eseriptores  estrangeiros. 

42)  ANTOINE,  ROY  DE  PORTUGAL,  $e$  Psaumes  ou  le  P,echeur  con- 
fesse ses  fautes  4$  implore  la  grace  de  Dieu,  Suivant  Ia  copie  imprimée  à  Paris. 

(Psalmos  de  D.  António,  rei  de  Portugal.) 

A  respeito  d*esta  obra  veja-se  a  parte^,  que  trata  das  traducções. 

43)  APERQU  NOUVEAU  sur  les  campagnes  des  Français  en  Porhigal, 
en  1807,  1808, 1809,  1810  et  1811;  contenant  des  observations  sur  les  écrits  de 
MM.  le  baron  ThiebatjUy  lieutenarUjgénéral;  Naylies,  ofjkier  supérieur  des  gardes 
du  corps  de  Monsieur;  Gingret,  chef  de  bataillon  en  démiactivité,  A  Paris, 
Cbez  Delaunay,  1808, 8.»,  228  pag. 

(Sobre  as  campanhas  dos  francezes  em  Portugal.) 
É  bostil  esta  obra  à  politica  de  Napoleão  invadindo  Portugal,  e  no  prefa- 
cio, entre  outras  passagens  notáveis,  traz  a  seguinte : 

<As  tentativas  infructuosas  dos  exércitos  francezes  para  se  apoderarem  de 
Portugal,  formam  o  mais  Interessante  episodio  da  guerra  peninsular.  A  pri« 
meira,  que  sem  motivo  arrogou  a  si  o  título  de  expedição,  conduzida  e  con- 
summada  pela  perfídia^  e  não  pela  força  de  armas,  teve  um  começo  prospero» 
que  dentro  em  pouco  se  desvaneceu.  As  duas  outras,  tentadas  de  mão  arma- 
da por  dois  generaes  celebres,  à  frente  das  mais  bellas  tropas  do  exercito 
francez,  falharam  completamente.  A  falta  de  bom  resultado  doestas  operações 
imprudentes  contribuiu  poderosamente  para  o  livramento  de  Hespanha,  se  é 
que  não  foi  ella  a  única  causa  efficaz,  porém  até  mesmo  attrahiu  mais  tarde 
-o  exercito  anglo-hispano-portuguez  às  províncias  meridíonaes  da  França, 
precisamente  no  momento  critico  da  invasão  das  províncias  do  este  e  norte 
doeste  império  pelas  potencias  allíadas;  circumstancia,  cujo  concurso  simultâ- 
neo trouxe  a  queda  do  terrível  colosso  do  poder  imperial,  que,  alguns  mezes 
antes  dava  a  lei  à  maior  parte  da  Europa,  e  ameaçava  a  liberdade  de  todas 
as  nações.» 

Este  livro  é  destinado  a  refutar  os  erros,  que  se  encontram  nas  obras  ci- 
tadas acima,  e  por  isso  pergunta  como  é  que  se  escreve  que  Junot  se  apossou 
da  Capital,  do  exercito,  e  do  reino  de  Portugal,  quando  não  sómeote  a  cidade 
lhe  abriu  suas  portas,  mas  até  o  próprio  general  Junot  foi  convidado  a  entrar 
n*ella?  (Pag.  39.) 

44)  APOLOGÉTICO  contra  el  tirano  y  rebelde  Verganza  y  conjurados, 
nrzobispo  de  Lisboa  y  sus  parciales,  en  respuesta  á  los  doze  fundamentou  dei 
padre  }íascarenas.  Zaragoza,  10i2,  4.<» 


AR  29 

Foi  seu  aactor  D.  Juan  Adam  de  la  Parra,  inquisidor  ordinário  de  Madrid, 
segando  declara  uma  nota  manuscripta. 
C.  M.  B.  I.  P. 
(Contra  a  conspiração  de  D.  João  IV,  segundo  parece.) 

45)  APOLOGIE  OU  DEFFENSE  de  Monsieur  A7ithoyne  roy  de  Por- 
tugal contre  Philippe  roy  d^Espagne,  usurpateur  du  dict  royaume  de  Portu- 
gal &c.  Ensemble  les  tyrannies  et  cniautez  qu'tl  exerce  Twuvellement  sur  sos 
propres  subjects.  Traduit  d'Espagnol  eu  Français.  (Sem  logar  de  impressão), 
1582,  folheto. 

46)  AHAGO  (JACQUES). 

E.  —  Le  Duc  d' Almeida.  Paris,  1855,  foi. 

É  um  romance,  parte  de  cuja  acção  imagina-so  representada  em  Portugal, 
no  tempo  da  invasão  franceza.  Não  merece  especial  menção. 

47)  ARANA  (DIEGO  BARROS). 

E.  —  Vida  y  viajes  de  Hemando  de  Magallanes,  Santiago  de  Chile,  1864. 

48)  AROONVILLE  (MARIE  GENEVIEVE  OHARLOTTE  DAR- 
LUS  THIROUX  D')  —  Lilterata  franceza. 

Nasceu  no  anno  de  1720,  e  falleceu  em  1805.  ^ 

E.  —  Dona  Gratia  d'Ataide,  ConUesse  de  Menezes.  Histoire  Portugaise,  Pa- 
ris, 1770.  Haye,  1770. 

49)  ARDIZONE  (ANTÓNIO  MARTA  SPÍNOLA). 

Nasceu  em  Nápoles  no  anno  de  1609.  Vestiu  a  roupeta  de  S.  Caetano  na 
casa  de  S.  Paulo,  d^aquella  cidade,  ^  e  chegou  em  1640  a  Goa  com  o  Qm  de 
missionar  na  índia.  Morreu  em  outubro  de  1697  na  mesma  cidade,  em  que 
naftcera. 

E.  —  Gemidos  dos  Christãos,  Bremanes  e  Canarins  e  de  outras  muilas 
Castas,  e  Nações  do  Estado  da  índia,  por  não  commungarem  em  nenhum  tem' 
po  da  vida,  nem  ainda  na  Páscoa,  e  perigo  de  morte,  conforme  Deus,  e  a  Santa 
Madre  Igreja  determina. 

Além  d'este  publicou  vários  outros  livros  mysticos,  cujo  titulo  se  pôde  ver 
na  obra  abaixo  mencionoda. 

50)  ARLINGTON  (BENNET  COMTE  D'). 

Nasceu  no  anno  de  1618  em  Arlington^  no  condado  de  Middlesex,  e  fal- 
leceu em  julho  de  1685.  ^ 

<  FirroÍQ  Didot  —  Nouvelle  Biographie  Universelley  vol.  3.<> 
^  D.  Tboroax  Caetano  do  Bem— Memorias  Históricas  dos  Clérigos  Regularei,  tomo 
l.*,pag.  «71. 

*  Firmin  Didot  —  Nowelle  Biographie  UniveneUe,  vol.  5.*,  pag.  367. 


30  AS 

E.  —  Lettres  aux  comtes  de  Sandwich  ei  de  Sundeiiand  et  aux  chevaliers 
Fanshaw,  Godolphim,  et  Southwell  deptUs  Vannée  íGQijusques  en  Van  1674. 
Ulrechl,  1706,  2  vol. 

Estas  cartas  são  importantes  para  a  historia  do  reinado  de  AfTonso  VI. 

5i)    ARNAULT  (LUCIEK  EMILE)  —  Dramaturgo  francez. 
Nasceu  em  Yersaílles  no  anno  de  1787.  < 
E.  —  Pierre  de  Portugal.  Tragedie, 

52  ARS  GRAJOiATICiE  PRO  LINGVA  LUSITANA  addiscenda  La- 
tino Idiomate  proponitur,  in  hoc  libello,  velut  in  quadam  academiola  diuisa  in 
quinque  classes,  insiructas  subselliis,  recto  ordine  dispertilis,  vt  ab  otnnibus 
tum  domesticis,  tum  exteris  frequentari  possint.  Ad  finem  pmiitur  Ortogra- 
phia,  ars  rectè  scribendi,  vt  sictU  prior  docet  rectè  loqui,  ita  posterior  doceat 
rectê  scribere  linguam  Lusitanam.  In  gratiam  Italorum  conjugationibus  Ltm- 
tanis  ItalíB  corresprndent.  Authore  P.  Doct.  Benedicto  Pereira,  Societ,  lesv, 
Portugallensi  Borbano,  In  Supremo  Lusitanice  S,  Inquisitionis  Tribunali  Cen- 
sore  Qualificatore,  &  modo  Romw  pro  assistentia  Lusitana  Revisore.  Lvgdvni. 
Sumptibus  Lavrentii  Ânisson,  1672,  8.<>,  323  pag. 

Nâo  obstante  ser  esta  grammatica  composição  d'um  portnguez,  faz-se  men- 
ção d'ella,  não  só  por  ser  impressa  n'um  paiz  estrangeiro,  e  pela  sua  rarida- 
de, mas  principalmente  para  que  se  saiba  qual  a  arte  por  onde  os  italianos  e 
muitos  estrangeiros  aprendiam  o  nosso  idioma,  fora  de  Portugal. 

Bento  Pereira  diz  no  prefacio,  que  o  motivo  que  o  ímpelliu  a  compor  esta 
grammatica,  foi  ver  que  commerciando  os  portuguezes  com  todas  as  nações 
do  mundo,  não  tinham  no  entanto  os  estrangeiros  um  compendio,  pelo  qual 
podessem  aprender  a  nossa  lingua. 

53)  ARTECHE  (D.  JOSÉ  GOMES  DE). 

E.  —  Geographia  historico-militar  de  Espana  y  Portugal.  Madrid,  1859. 

54)  ASOHBACH  (DR.  JOSEPH)  —  Historiador  allemão. 

Nasceu  *  em  Hoechst  (ducado  de  Nassau)  no  anno  de  1801.  Teve  em  Franc- 
fort  uma  cadeira  de  historia,  e  foi  depois  chamado  para  a  universidade  de 
Bonn. 

E.  —  Geschichte  Spaniens  und  PortugaVs  zur  Zeit  der  Herrschaft  der  Al- 
moraviden  und  Almahaden  Francfort.  1833-1837,  2  vol.,  8.° 

(Historia  de  Hespanha  e  de  Portugal  no  tempo  dos  almoravides  e  almo- 
hades.) 

55)  ASENSIO  (G.  CALVO)  —  Jornalista  hespanhol,  3  por  algum  tem- 

*  Firmin  líláoi  —  Nouvelle  geographie  Universelte,  vol.  3.",  pag.  295. 
-  Vapereau—  Dictionnaire  des  contemporains,  pag.  63,  edição  de  1870. 
3  Modesto  Fernandes  y  Gonsalcz—  Retraias  y  Scmblamas,  pag.  181. 


AS  31 

po  secretario  da  Legação  Hespanhola  em  Portugal,  e  fundador  do  diário  li- 
beral La  Ibéria, 

E.  —  Lisboa  en  1870.  Costumbres,  litteratura  y  artes  dei  vecino  reino, 
por  — .  Madrid,  imprenta  de  los  senores  Rojas,  1870,  8.°,  147  pag. 

Poucas  vezes  se  tem  escriplo  uma  obra  tão  insullanle  e  calumniadora  dos 
portuguezes,  como  esta,  e  isto  devido  a  um  escriptor  que  entre  nós  residiu,  e 
entre  nós  viveu. 

A  traducção  dos  seguintes  trechos  farão  ver  as  amabilidades  e  finezas,  que 
devemos  ao  sr.  Asensio : 

«Lisboa  não  é  uma  cidade,  qae  brilhe  pela  belleza,  correcção  de  linhas, 
pureza  de  contornos,  proporção  nas  partes,  e  harmonia  em  seu  conjuncto:  não 
t^n  numerosas  ruas  tiradas  a  cordel,  planas,  bem  calçadas,  com  passeios  lim- 
pos, e  com  espaço  bastante  para  conter  a  par  grande  numero  de  carroagens. 
Não  possuo  passeios  frondosos  e  bem  symetricamente  distribuídos,  povoados 
de  arvores,  aformoseado3  com  jardins,  bem  debuxados,  com  ruas  largas,  nas 
quaes,  ao  lado  da  natuzeza,  se  descubra  e  surprehenda  agradavelmente  a  arte. 
Não  conta  praças,  nem  com  profusão  monumentos  notáveis,  magníficos,  e  edi- 
ficios  públicos,  que  despertem  a  admiração  geral.  Não  ha  n'ella  arredores 
pittorescosj  ^  onde  a  mão  da  cultura  apresente  obras  primorosas  e  recreati- 
?as  em  extremo,  que  predisponham  em  favor  da  capital  o  animo  do  viajante. 
Não  se  levantam  dentro  da  cidade  grandes  e  sumptuosos  theatros,  verdadeiros 
templos  da  arte,  onde  se  lhe  possa  render  um  verdadeiro  culto.  Nada  d'isto : 
não  vás  pois  crer,  amigo  leitor,  que  é  de  todo  certo  o  axioma  portuguez:  Que 
quem  não  viu  Lisboa,  não  viu  coisa  boa, 

«Apenas  ha  um  passeio,  que  mereça  tal  nome,  e  quasi  nada  d'aquíIlo,  a 
que  temos  alludido.  Que  rio  tão  formoso,  e  que  porto  tão  mesquinho  t  Que 
bellissima  perspectiva,  e  que  porto  tão  pouco  esmerado )  Que  riqueza  poética 
no  conjuncto,  e  que  pobreza  nos  diversos  pormenores  t  Imagine  o  leitor  um 
porto  ainda  não  terminado,  sem  mais  que  alguns  quarteirões  de  casas,  nem 
todas  bellas,  nem  explendidas,  com  um  caminho  em  meio,  e  em  declive,  falto 
de  embarcações,  o  que  lhe  dá  uma  apparencia  de  deserto,  ^  e  ter-se-ha  for- 
mado uma  idéa  approximada,  do  que  é  o  Atterro.  Grandes  são  as  reformas, 
que  a  municipalidade  deve  emprebender  se  quer  que  o  porto  seja  inteira- 

*  A  respeito  dos  arrabaldes  de  Lisboa,  Dao  tinha  a  mesma  opinião  o  bespanhol  Ur- 
cullu.  V.  o  S.*  tomo  do  Tratado  da  sua  geographia. 

^  Sendo  infelixmente  certo  que  o  porto  de  Lisboa  nSo  é  frequentado  poraquello  nume- 
ro de  embarcações,  que  empara  desejar,  em  ? ísta  da  sua  excellencia e  posição  geograpbi- 
ca,  tem  todavia  ainda  um  movimento  de  perto  de  8:000  navios,  entre  entrados  e  saldos» 
não  faltando  n'um  extraordinário  numero  de  barcos  de  pesca,  e  n'uma  immensidade  d'em- 
barcações  de  navegação  fluvial.  Que  numero  de  navios  seria  necessário  para  que  pare. 
cesse  bem  cheio  d'enes  um  rio,  que  em  partes  parece  um  mar?  No  anno  pretérito  de  1871 
entraram  pela  foz  do  Tejo  2:266  navios  de  vellae  1:286  a  yapor,  não  fallando  dos  barcos 
de  pesca.  Em  1860  navegavam  continuamente  entre  Lisboa  e  yarios  pontos  banhados  pelo 
Tejo  1:143  barcos  de  diversos  tamanhos  e  feitios.  (V.  Archivo  Pi(<ore<co,yol.  3.«  pag.  381.) 


32  AS 

mente  digno  de  orna  cidade  de  primeira  ordem,  como  deve  ser  a  hoje  desat- 
tendida  e  pobre  capital  do  reino  lositano. 

«A  estataa  eqnestre  de  D.  José  I  é  péssima  por  soas  disformes  proporções 
e  por  saa  nenhnma  belleza  de  formas. 

tTodas  as  roas,  a  Aorea,  da  Prata,  Aagnsta  e  da  Rainha,  não  se  distinguem 
pela  limpeza,  porqae  este  ramo  de  policia  é  bem  descarado. 

<0  parseio  da  Estrella,  além  de  ser  irregalar,  e  não  de  mai  grandes  di- 
mensões, causa  lastima  e  nojo  pela  falta  de  aceio,  em  que  se  encontra.  ^ 

«Um  tanque  com  agua  corrupta,  uma  montanha  russa  cheia  de  abrolhos, 
e  de  diíOcil  accesso,  as  ruas  immundas.  E  este  é  o  espectáculo  que  offerece  o 
passeio  da  Estrella,  tendo  condições  para  ser  excellente. 

«O  theatro  de  S.  Carlos  é  velho,  de  mau  gosto,  e  pesado. 

«Em  quanto  a  templos  nenhum  ha,  que  por  sua  belleza  architectonica  me- 
reça fixar  nossa  attenção. 

«É  lastima  que  a  subida  para  o  real  palácio  da  Ajuda  seja  asquerosamen- 
te immunda. 

«A  estatua  de  Luiz  de  Camões  não  tem  bellas  proporções,  e  com  tão  má 
ventura  se  ideou  a  allegoría,  que  o  poeta  apparece  com  a  espada  na  mão,  e 
com  os  livros  de  sua  epopeia  aos  pés,  como  se  o  guerreiro  poderá  eclipsar 
nem  n'um  ponto  ao  divino  filho  de  Apollo. 

«Não  ha  nenhuma  estatua  erigida  em  honra  de  Viriato,  o  verdadeiro  fun- 
dador  da  nacionalidade. 

«Em  quanto  a  edifícios  públicos  (exceptuando  os  da  Praça  do  Commercio), 
não  ha  em  Lisboa  nenhum  outro.  O  Governo  Civil  é  um  casebre  velho  e  sujo, 
a  Imprensa  Nacional  está  albergada  n*nm  mesquinho  convento.  Só  é  heUo  e  de 
gosto  severo  o  destinado  para  Escola  Polytechnica. 

«Contraste  grande  é  o  que  apresentam  os  dois  povos  peninsulares  em  sua 
vida  e  costumes!  Qaão  diversos  e  variados  matizes  accentuam  suas  dlffèren- 
ças,  e  como  nas  miudezas  se  marcam  os  vestígios  de  parentesco,  que  os  por- 
tuguezes  eontrahiram  desde  o  tempo  de  D.  Manuel,  e  em  seguida  dos  desco- 
brimentos de  seus  grandes  navegantes  com  a  molle  e  apoltronada  raça  6ra- 
zileira. 

«Como  o  hespanhol  o  portuguez  é  imaginativo,  poeta,  poltrão,  muito  amigo 
de  passar  tempo,  pouco  industrial  e  commerciante,  nada  emprehendedor, 
amantíssimo  de  insignificâncias,  abundantíssimo  de  palavreado,  fanfarrão,  e 
excessivamente  cuidadoso  de  exagerar  as  glorias  nacionaes;  mas,  alem  de 
tudo  isto,  o  sangue  romano  e  árabe,  que  por  suas  veias  corre,  modificado  e 
misturado  com  o  brazileiro,  de  tal  modo  ha  debilitado  a  energia  do  caracter 
meridional,  que  mais  parece  pertencer  àquella  fleugmatica  raça  de  flamen- 
gos, que  tao  admiravelmente  retratados  estão  pelo  pincel  de  Van  Dick,  em 
cujos  largos  e  avolumado?  rostos,  coloridos  por  não  sei  que  tinta  alcoólica  se 
reflecte  completamente  uma  mansidão  natural. 

«Não  ha  mais  que  duas  coisas,  que  façam  sair  de  suas  casas  á  um  bom 

*  Poucas  falsidades  í^e  proferiram  jamais:  d'uin  tal  calibre. 


AS  33 

portaguez:  sua  autonomia  e  uma  andaluza.  Apenas  se  falia  de  seu  Portugal, 
levanta  a  voz,  arranca-a  do  fundo  do  peito,  põe-se  nos  bicos  dos  pés,  e  com 
dicção  campanuda  e  estylo  grandiloco  Montes  Claros,  Aljubarrota  e  1640 
saem  de  seus  lábios  como  bombas,  que  atroam,  derribam,  e  intontecem.  Mas 
se  por  este  motivo  o  socego  proverbial  do  lusitano  se  altera,  é  para  ver  como 
brilham  seus  olhos,  sorriem  seus  lábios,  quando  com  cicio  encantador  al- 
guma andaluza  lhe  dirige  palavras  adocicadas.  Exceptuando  estes  casos  o 
portuguez  é  impassível,  severo,  grave  até  à  exaggeração :  na  sua  vida  intima, 
no  pouco  amor  a  passeios  e  theatros,  e  a  espectáculos  que  o  affastem  de  sua 
casa,  na  pouca  disposição,  com  que  se  acha  sempre  para  receber  os  adventí- 
cios, 1  e  na  hesitação  em  conceder  sua  amizade,  mais  parece  um  filho  da  so- 
berba Albion,  do  que  um  latino;  mais  um  habitante  do  norte,  do  que  um  mo- 
rador nas  regiões  do  sul. 

tNao  quer  isto  dizer  que  no  povo  portuguez  se  tenham  perdido  completa- 
mente as  tradições  latinas,  tanto  mais  que  todos  seus  defeitos  vieram  a  ser 
augmentados  e  correctos  com  os  peculiares  á  samnolenta  e  ridkula  raça 
braztieira, 

tO  Chiado  é  o  centro  de  murmuração,  passatempo  dos  ociosos,  martyrio 
cruel  de  todas  as  reputações,  templo  consagrado  a  desejos  levianos,  escola  de 
mentira  e  de  vicio,  livro  aberto  a  todos  os  epigrammas  mais  repulsivos,  e  re- 
fugio hospitaleiro  de  intrigantes  e  caloteiros.^  No  Chiado  os  que  geralmente 
pullulam,  mentem  e  diíTamam;  sao  os  rapazes  mal  educados  e  aristocráticos : 
06  velhos  lascivos  e  repugnantes,  que  apenas  se  occupam  em  deshonrar  mu- 
IhereSy  e  discutir  acaloradamente  sobre  o  jogo  e  modas.  Seus  constantes  fre- 
quoitadores  sâo  os  janotas,  enxerto  de  reptil  e  de  homem,  nascidos  para  o 
vicio,  e  educados  na  maledicência,  para  quem  a  vida  é  um  festim,  e  cujo  úni- 
co pensamento  é  o  prazer. 

«Yivem  formando  uma  sociedade  de  seguros  sobre  a  deshonra,  não  sabem 
oecopar-se  de  outra  coisa  senão  de  cavallos,  jogo,  mulheres ;  não  sabem  ler, 
nem  escrever,  mas  em  compensação  cantam  o  fado  com  acompanhamento  de 
viola.  Não  possuem  outra  instrucção  mais  que  a  adquirida  em  alguns  lupana- 
res iomiundos,  onde  aprendem  mal  o  hespanhol,  mas  perfeitamente  as  torpes 
artes  da  crápula  e  do  cynismo,  e,  se  não  respeitam,  nem  comprehendem  nada, 
que  seja  serio,  como  indemnisação  contendem  com  quantos  se  applicam  ao 
estudo,  e  se  esforçam  por  serem  úteis  à  pátria.  Esta  é  sem  exaggeração  a  raça 
empestada,  que  frequenta  o  Chiado,  sem  contar  as  nullidades  invejosas  em 
poltiica,  e  ridículas  em  litteratura,  que  com  ella  se  agrupam,  e  com  ella  for- 
mam coro  desaccorde,  e  nada  agradável. 

tNas  reuniões,  ou  bailes  aristocráticos  ha  uma  seriedade,  uma  compostura 
tão  epicamente  ridículas  e  incommodas,  que  para  qualquer  homem,  que  o,  que 
leve  sobre  os  hombros,  seja  uma  cabeça,  são  horrorosos  tormentos,  mais  tre- 
mendos que  os  imaginados  por  Dante  em  seu  famoso  Infeino. 

>  Bem  faz;  para  que  lhe  não  aconteça  dar  en Irada  em  sua  casa  a  outro  Calvo  AseD^io 
'  Ma^  como  é  rcfugioV  Que  e^criplOI•  tão  inlcrcssanle  I 

TOMO  I  '^ 


34  AS 

«N'elles  a  conversação  é  um  continuado  chorrilho  de  tolices,  quando  nao 
sejam  injurias:  a  dama  de  alto  cothurno  entretem-se  innocentemente  em  des- 
acreditar quantas  senhoras  e  meninas,  impellidas  pelo  redemoinho  da  walsa 
passam  arquejantes  ao  seu  lado:  o  dandy  occupa-se  por  sua  vez  em  murmu- 
rar, e  dizer  sandices  ás  meninas,  por  mais  que  na  linguagem  official  dos  sa- 
lões recebam  o  nome  de  galanterias,  os  tesos  e  magestosos  diplomáticos,  cujas 
reuniões  se  confundem  com  as  de  nobreza  de  sangue,  por  serem  idênticas  fal- 
iam pouco  e  dançam  menos :  por  toda  a  parte  ouvem-se  agudezas  offensivas, 
que,  se  não  possuem  muito  de  sensatez,  em  troca  teem  bastante  de  insultante, 
sandices  offensivas,  das  quaes  só  riem  os  que  as  dizem;  porém  nada  de  finos 
epigrammas,  ditos  engenhosos;  tudo  isto  é  moeda  falsa,  que  não  tem  curso 
nos  salões  aristocráticos,  e  que  está  reservado  para  esses  desditosos  políticos, 
escriptores,  jornalistas  e  homens  de  sciencia,  que  os  não  costumam  frequen- 
tar, e  aos  quaes  separa  do  seus  olympícos  habitadores  um  cordão  sanitário. 

«Fora  d'isto  e  da  grande  profusão  de  luzes,  vestidos  de  gaze^  gravatas, 
luvas  brancas,  fraques  pretos  ou  azues,  gelados,  walsas,  contradanças  e  lan- 
ceiros,  nada  existe  n'esses  tão  decantados  bailes,  que  attraia  e  que  fascine. 
Não  se  encontra  n'elles  essa  conversação  picante,  incisiva,  epigrammatica,  que 
os  escriptores  francezes  em  tanta  abundância  empregam  em  seus  romances, 
quando  descrevem  saraus  sumptuosos,  não  existe  desgraçadamente  (ainda  que 
as  excepções,  que  não  são  poucas,  merecem  na  verdade  admirar-se)  figuras 
elegantes  e  formosas,  nas  quaes  a  par  do  luxo  ^  brilhe  a  belleza  fascinadora; 
a  raça  brazileira  tem  contaminado  com  seus  perfis  as  antigas  feições  escul- 
pturaes,  as  quaes  tão  celebradas  fizeram  as  damas  portuguezas. 

«Não  ha  mais  do  que  essa  discorde  e  desharmonica  confusão  produzida 
pela  reunião  de  muitas  pessoas,  que  correm,  bailam,  suam,  agitam-se,  faliam, 
riem,  fazem  cortezias  e  murmuram,  quando  se  não  entreteem  docemente  com 
um  gelado,  ou  temperam  a  acritude  de  suas  palavras  com  alguma  delicada 
golozeima. 

«Emquanto  á  nobreza  do  oiro,  essa  que  se  adquire  por  outra  grande  in- 
justiça social,  similhante  á  recebida  pela  herança  legendaria,  é  particularíssi- 
ma, e  tem  um  sainete  tão  especial,  que  com  nenhuma  outra  se  pôde  confon* 
dir.  Não  a  compõem  esses  ricos  commerciantes,  esses  riquíssimos  proprietá- 
rios^ esses  celebres  banqueiros,  que  em  todas  as  sociedades  deslumbram  por 
seu  fausto,  e  enchem  os  salões  com  seu  numero:  na  sociedade  lisbonense  não 
se  podem  contar  esses  Júpiteres  olympicos  da  banca  e  do  credito,  esses  mo- 
dernos Mercurios,  porque  não  ha  commercio,  não  ha  fortes  casas  bancarias,  a 
raça  dos  contos  e  dos  patacos  pertence  de  facto  e  direito  aos  brazileiros,  que 
são  nossos  antigos  indianos,  cujo  typo  é  salientissímo. 

«O  brazileiro  geralmente  adquire  suas  riquezas  por  meio  do  iniquo  trafico 
da  escravatura,  e  feita  uma  vez  sua  fortuna,  vem  para  Lisboa,  edifica  umpa* 
lado,  2  relaciona-se  com  a  nobreza,  cuja  benevolência,  visto  despresal-o  por 

«  Pag.  57. 

'  Quantos  palácios  ba  cm  Lisboa  mandados  levantar  por  brazileiros?  Que  escriptor 
(âo  consciencioso! 


AS  35 

cansa  de  saa  origem,  trata  de  captar  com  seu  capital,  e  quando  tem  adquirido 
certa  posição,  com  o  fim  de  alcançar  um  titulo,  dá  explendidos  bailes,  para  os 
quaes  convida  todo  o  munde  oíflcial,  até  lograr  seu  desejo.  N'estes  bailes,  de 
um  sainete  um  tanto  grutesco,  nos  quaes  tudo  é  luxo  sem  gosto,  e  abundân- 
cia sem  arte,  confundem-se  todas  as  classes  da  sociedade,  o  jornalista  com  o 
ministro,  o  diplomático  com  os  fidalgos,  os  indivíduos  da  classe  media  com  a 
alta  not)reza,  e  no  meio  da  confusão  de  tão  diversos  typos,  ostenta-se  accen- 
tuada  com  enérgicos  caracteres  cómicos  a  figura  do  protogonista,  que  veste  o 
fraque  estudadamente,  que  falia  o  francez  com  a  mesma  difQeil  imperfeição» 
que  o  portuguez,  que  se  empenha  em  ser  delicadamente  fino  com  a  affecta- 
ção  de  um  Juan  Peraizules,  que  dança  como  que  ostentando  as  elegantes  ma- 
neiras de  um  dandy  exaggerado,  provocando  por  esse  motivo  aqui  o  riso,  alli 
o  desprezo,  e  em  todas  as  partes  a  satyra  e  o  epigramma.  ^ 

•N*estes  bailes,  para  diflferença  dos  aristocráticos,  riem-se  com  estrondo, 
faliam  ruidosamente,  tragam  com  anciã  os  doces,  gelados  e  bebidas  em  abun- 
dância, e,  oh  segredo  poderoso  e  magico  de  bom  tom  I  ceiam  com  um  appe- 
tite  voraz,  e  que  não  é  permittido  ter  nos  palácios  dos  descendentes  dos  se- 
nhores de  faca  e  cutello,  nos  quaes,  sem  duvida  para  não  causarem  indiges- 
tões, acautelam-se  muito  de  apresentarem  outra  coisa  mais  que  chá  e  bolos,  e 
quando  muito,  alguns  queijinhos  mal  feitos,  com  os  quaes  despertam  a  sede 
d'aquelles  que  os  comeram,  deixando-os  retirar  para  suas  casas  já  de  madru- 
gada, C4)m  bellas  recordaçíies  da  distincção  e  amabilidade  dos  novos  pares,  e, 
com  uma  fome  espantosa,  e  nada  edificante.  Felizes  brazileizos,  tomados  ricos 
á  custa  da  carne  dos  negros,  dos  quaes  todos  mofam,  e  a  cujos  saraus  todos 
acodem  promptamente  procurando  a  ceial 

«Nao  fallarei  mais  de  bailes:  os  do  palácio  real  são,  como  todos  os  da  cor- 
te, amaneirados  pela  adulação,  e  monótonos  pela  ridícula  seriedade  mal  fingi- 
da, e  nada  apresentam  de  nacional  ou  local,  que  mereça  estudar-se. 

«As  pateadas  são  sempre  certas  tratando-se  de  hespanholas  feias:  é  regra 
iofallivel.  Não  ha  em  geral  grandes  bellezas  no  theatro  portuguez:  não  se  ad- 
miram rostos  deslumbrantes  de  formosura  na  scena  lisbonense:  entre  suas  ce- 
lebridades artísticas  não  está  o  publico  certamente  acostumado  a  contemplar 
continuamente  a  graça,  o  encanto,  a  correcção  de  linhas  e  a  pureza  de  con- 
tornos, e  este  é  o  motivo  por  que  se  não  com  prebendem  á  primeira  vista  as 
rasões  para  exigências  estheticas  de  tanto  rigor  por  parte  dos  portuguezes, 
quando  se  trata  de  actrizes  estrangeiras. 

«Aqui  não  ha  progressistas,  nem  moderados,  whigs  nem  torys,  radicaes 
nem  reaccionários ;  aqui  não  ha  partido  conservador,  nem  partido  reformista; 
aqui  as  situações  politicas,  que  se  seguem  umas  ás  outras,  nem  apresentam 
programma  distincto  dos  que  as  precederam,  nem  se  formam  pela  necessida- 
de de  realisar  uma  idéa,  ou  de  reformar  uma  instituição  para  o  que  se  ache 
habilitada  uma  fracção  ou  uma  eschola;  aqui  não  ha  mais  que  individualida- 
des, que  aspiram  ao  poder  sem  princípios,  sem  idéas,  sem  systema  definido  e 

«  Pag.  :j9. 


.•16  AV 

accentnado/e  que  o  obteem  ou  perdem  por  intrigas  pessoaes,  ou  indífTereB* 
ças  e  animosidades,  qne  muitas  vezes  nada  teem  qne  ver  com  a  administração 
dos  negócios  públicos,  todas  liberaes,  segundo  dizem  de  si  mesmas,  confundi- 
das, amalgamadas  e  separadas  ou  reunidas,  inimigas  ou'  amigas  segundo  a 
subida  e  descida  das  antípathias  ou  sympathias,  antes  particulares,  que  politi- 
cas, que  decidem  n'este  paiz  da  opposiçao  ou  da  conformidade  com  os  actos 
de  um  ministério.  Esta  ó  a  triste  situação  politica  de  um  paiz  acostumado  ao 
regimen  representativo,  e  hoje  indifferente  aos  negócios  públicos.» 

Muito  mais  poderíamos  traduzir,  mas  isto  basta  para  conhecer  o  escriptor. 
Pelo  dedo  se  conhece  o  gigante. 

Consta  que  actualmente  o  sr.  Ascencio  está  escrevendo  uma  biographia  de 
(^amops,  mas  sejam  quaes  forem  as  causas,  o  auctor  não  possuc  o  condão  da 
neípssaria  imparcialidade  para  tratar  de  nossas  cousas. 

56)    ASHE. 

E.  —  History  of  the  Azoirs.  London,  1813. 

(Historia  dos  Açores.) 

Nunca  vi  esta  obra. 

57}    ASSARINI  (LUCAS). 

E.—  Vita  e  miracolt  di  S.  António  di  Padova,  Gcnova,  164G. 

• 

58)  ATKINS  (JOHN). 

E.--A  voyage  to  Guimay  Brazil,  aud  the  West  Indies,  Madeira,  Cape  de 
Verds,  etc.  London,  1737. 
(Viagem  a  — .) 

59)  AUGOYAT. 

E.  —  Précis  de  Vexpcdition  de  D.  Pedro  en  Portugal,  Paris,  1839. 
(Resumo  da  expedição  de  D.  Pedro.) 

60)  AUS  DEM  LEBEN  Portugiesischen  Israeliten  Dr.  Caprodose.  Tra- 
duit  du  Français  par  G.  St.  Slrasbourg,  1839,  folheto. 

(Tratado  da  vida  do  doutor  Caprodoso  (?  talvez  Cardoso)  israelita  porlu- 
guez.)  C.  M.  B.  I.  P. 

61)  AUTHENTIO  MEMOmS  ofthe  Portuguese  Inquisition. 
(Sobre  a  inquisição.) 

Nada  mais  posso  dizer  acerca  d*esta  obra,  que  vi  citada,  mas  da  qual  não 
pude  encontrar  nenhum  exemplar. 

62)  AVANTURES  ADMIRABLES  ou  discours  des  succès  du  roi  de 
Portvgal  D.  Sebastien  deptiis  son  voyaged^Afriqfw  en  iiilSjHsquen  1601  avec 
la  suite.  1603. 

íSi)l)ro  D.  Sebastião.) 


AV  37 

Vi  citado  d'6sla  maneira  o  mencionado  livro,  sem  d'elle  poder  dar  mais 
esclarecimentos. 

63)  AVEZAC  (M.  DE)  —  Garde  des  Archives  de  la  Marine  et  des  Golo- 
níes,  des  Societés  Geographíqaes  de  Paris,  Londres,  Francfort  etfiombay;  des 
Societés  Asiatíques,  Syro-Egyptíenne  et  Afrícaíne  de  Londres;  des  Societés 
Ethnologiques  de  Paris,  et  de  New  York,  des  Societés  Archéologiqnes  d'An- 
gleterre  et  d^Espagne,  de  la  Societé  Orientale,  ctc.  etc. 

E.  —  L  Notice  des  découvertes  faites  au  moyen-age  dans  VOcéan  Atlantu 
que  antérieumient  aux  grandes  explorations  Portugaises  du  quinziéme  siêcle, 
lue  à  VAcademie  Royale  des  Inscriptians  et  Belles  Lettres  de  1'InstUut  dans 
ses  séances  du  14  Novembre  et  5  Décembre  1845  et  du  6  Mars  1846  par  — . 
Paris,  imprimerie  de  Faín  et  Thonot,  1845,  S."»  gr.  X,  86  pag. 

(Sobre  nossas  descobertas.) 

n.  Note  sur  la  premère  expedition  de  Béthencourt  aux  Canaries,  et  sur 
le  degré  d^habilité  nautique  des  Portugais  à  cette  epoque.  Paris,  1846>  8."* 

(Sobre  a  expedição  de  Bethencoort  ás  Canárias.) 

Na  primeira  d'estas  obras,  diz  o  autbor  o  seguinte : 

«Estas  paginas  não  são  inspiradas  por  um  espirito  de  ciúme  e  de  destrui- 
ção a  respeito  d'um  povo,  do  qual  temos  gosto  em  proclamar  a  gloria  immor- 
redoura,  e  cujas  susceptibilidades  nacionaes  sabemos  r(%peitar  presentemente 
da  mesma  maneira,  que  admiramos  suas  proesas  no  passado. 

«Declaramol-o  em  voz  alta  antecipadamente,  não  vimos  contestar  ne- 
nhum dos  títulos  reaes  da  nação  portugueza  a  uma  celebridade  justamente 
adquirida  na  carreira  das  descobertas  gcograph^as. 

«Ah!  Quem  quereria  pois  fechar  os  olhos  ao  espectáculo  dos  maravilhosos 
desenvolvimentos  doesta  potencia  nos  séculos  xv  e  xvi? 

«Quem  fechará  os  ouvidos  aos  cantos  do  grande  poeta,  que  d'ella  escreveu 
a  magnifica  epopea?  Longe  de  nós  o  pensamento  de  attenuar  esse  património 
de  gloria,  do  qual  os  filhos  dos  Luziadas  teem  tão  justamente  o  direito  de  se- 
rem orgulhosos,  e  que  elles  conservam  com  um  piedoso  fervor,  digno  de  res- 
peito em  seus  principies,  de  indulgência  em  seus  desvarios,  e  que  nunca  dei- 
xoa  de  ter  todas  as  nossas  sympathias. 

«As  grandes  explorações  portuguezas  do  século  xv,  no  oceano  Atlântico, 
tiveram  o  immenso  resultado  de  abrirem  o  caminho  das  índias  pelo  cabo  da 
Boa  Esperança,  de  elevarem  repentinamente  á  primeira  ordem  das  potencias 
enropeas  uma  nação  até  então  sem  importância,  de  assegurarem  uma  immor- 
tal  celebridade  aos  príncipes,  que  tinham  sabido  conceber  e  executar  qsta  no- 
bre empreza.  Nada  pode  a  este  respeito  causar  detrimento  ao  seu  direito  á 
admiração  da  posteridade. 

«Mas  esta  grande  obra^  que  tiveram  a  gloria  de  levarem  ao  cabo,  foram 
elles  os  únicos,  foram  os  primeiros  a  concebel-a  e  tental-a?  A  prevenção  na- 
cional pôde  pretendel-o,  e  inspirar  obras  sabias  para  o  sustentar:  os  testemu- 
nhos históricos  o  desmentem.» 


38  AY 

Avczac  sustenlava  polemica  principalmente  cem  o  visconde  de  Santarém, 
que  pretendia  serem  os  portugaezes  os  primeiroe  povos,  que  fizeram  des- 
cobertas na  Africa. 

Na  obra  Univers  PUtoresque,  vol.  4.»  de  pag.  36  a  82  vem  uma  disaossào 
sobre  a  descoberta  dos  Açores  pelos  portugaezes. 

64)  AVISI  DIVERSI  partkulari  dairindie  di  Portugallo  ricevuiti  dal- 
Vanno  1551  fino  ai  1558  dalli  Rev.  P.  delia  Camp.  de  Giesu.  Vinegia,  15o8. 

(Sobre  a  índia  portugueza.) 

Na  Bibliotheca  Africana  e  Asiática  de  Temaux  Campans,  encontram>se 
ainda  citadas  as  seguintes  obras  do  mesmo  género: 

Damiano  de  Góes.  Avisi  delle  cose  fatte  da  Portuguesi  nel  índia  di  ^[ita 
dei  Gange»  Vcnegia,  1539. 

Avisi  delle  cose  fatte  da  Poriuguesi  nel  índia  di  qua  dei  Gange  nelTanno 
1538  scritti  in  língua  Latina  da  Damiano  de  Góes  et  tradí^ti  en  Toscano,  Ye- 
nezia,  1539. 

Avisi  particolari  delle  Indie  di  Portogallo  ricevuti  in  quaestt  anni  de  1551 
et  1552  de  li  reverendi  padri  dei  Compagnia  de  Jesu*  Roma,  1552. 

Ntiovi  avisi  dei  Indie  di  Portugália  tradotti  delia  lingua  Spagnuola  neWIta» 
liana.  1559. 

Diversi  avisi  particolari  ricevuti  deWIndie  di  Portogallo.  Venezia,  1562- 
1565,  4  vol. 

Diversi  avisi,  etc,  Yenezia,  1568,  2  vol. 

Nuovi  avisi,  etc,  Roma,  1570. 

Nuovi  avisi,  etc.  Brescia,  1571. 

65)  AYALA  (D.  JOSÉ  DE  ALDANA)  —  Ingeniero  gefe  de  2.*  classe 
dei  Cuerpo  de  Minas,  etc  etc. 

E.  —  I.  Noticias  Geologico-núneras  dei  Reyno  de  Portugal,  No  1.°  vol.  da 
Revista  Peninsular, 

II.  Compendio  Geografico-estadistico  de  Portugal  y  sus  posesiones  tUtrama* 
rinas  por  —,  Madrid,  imprenta  de  la  Viuda  de  D.  António  Yenes,  1855,  8.<>  gr. 
639  pag. 

O  auctor  veiu  a  Portugal  formando  parte  d'uma  commissão  de  engenhei- 
ros bespanhoes  e  portugaezes,  nomeada  para  marcarem  na  fronteira  de  ambos 
os  estados  peninsulares  o  ponto  de  juncção  da  via  férrea  de  Lisboa  a  Madrid. 

«Conhecem-se  melhor  em  Hespanha  e  Portugal  os  povos,  que  occapam  os 
abrazados  areaes  da  Africa  e  da  Arábia,  as  costas  do  mar  Glacial,  as  regiões 
Asiáticas,  e  ir.esmo  a  China,  do  que  os  dois  povos  peninsulares. 

«Em  Lisboa  encontram -se  e  conhecem  se  as  obras  scientiôcas  e  litterarías 
mais  importantes,  que  saem  dos  prelos  da  culta  Europa,  e  os  portugaezes 
acbam-se  familiarísados  com  a  litteratura  franceza,  ingleza  e  allemã,  e  até  com 
a  antiga  hespanhola,  porém  ignoram  completamente  a  contemporânea. 

«É  nossa  intenção  dar  a  conhecer  o  estado  presente  da  monarchia  portu- 


AZ  39 

guesa,  os  grandes  elementos  de  engrandecimento  e  de  riqneza,  qne  em  si 
própria  contém,  os  progressos,  que  tem  feito  no  caminho  da  civilisaçào,  col- 
locando-se,  senão  ao  nivel,  ao  menos  mui  próximo  d'outras  nações,  que  pas- 
sam por  mais  adiantadas,  e  desvanecendo  por  conseguinte  os  preconceitos,  que 
a  generalidade  das  pessoas  do  nosso  paiz  conservam  a  respeito  d'essa  bella 
porção  do  occidente  da  peninsula.» 

66)  AYALA  (PEDRO  LOPES  DE)  —  Ghronista  hespanhol. 
Nasceu  no  reino  de  Murcia,  no  anno  de  1332,  e  falleceu  em  Calaborra  em 

i407. 1 

E.  —  Crónicas  de  los  Reyes  de  Castilla  Don  Pedro,  Don  Enrique  11,  Don 
Juan  I,  y  I>.  Enrique  Hl,  por  —,  Chanciller  Mayor  de  Castilla:  Con  las  en- 
miendas  dei  Secretario  Geronimo  Zurita:  Y  las  correcciones  y  notas  anadidas 
por  Don  Eugénio  de  Llaguno  Amirola,  Caballero  de  la  Orden  de  Santiago,  de 
la  Real  Academia  de  la  Historia.  Madrid,  1780,  3  voL 

Como  todos  sabem,  lia  varias  edições  d'esta  celebre  Chronica,  parecendo 
qoe  a  primeira  foi  impressa  em  Sevilha,  no  anno  de  1493.  ^ 

Ayala,  um  dos  mais  famosos  escriptores  europeus,  assistiu  á  celebre  bata- 
lha de  Aljubarrota,  na  qual  tendo  sido  prisioneiro,  ficou  depois  por  muito 
tempo  preso  no  castello  de  Óbidos.  Gomo  tal  foi  obrigado  a  residir  por  algum 
tempo  n'este  paiz,  e  o  que  observou  com  seus  próprios  olhos  na  lucta  heróica 
travada  por  causa  da  independência  de  Portugal,  deixou-o  escripto  na  sua 
estimadíssima  Chronica,  da  qual  não  pôde  prescindir  o  escriptor,  que  desejar 
escrever  minuciosamente  as  occurrencias  d^aquelles  tempos  varonis.  N'aquella 
época  o  nosso  Fernão  Lopes,  o  castelhano  Ayala,  e  o  francez  Froissart,  eram 
talvez  os  primeiros  historiadores,  que  a  Europa  com  orgulho  podia  appre- 
sentar. 

67)  AZPILCUETA  (MARTIN  DE). 

Natural  de  Yarazoin,  perto  de  Pamplona,  fallecido  em  Roma  no  anno  de 
1586.  Foi  lente  na  Universidade  de  Coimbra,  na  época  que  n'ella  ensinavam 
litteratos  estrangeiros  de  primeira  ordem,  entre  os  quaes  se  distinguiu  o  cele- 
bre Fabrício. ' 

E. — Manual  de  Confessores  e  penitentes,  que  clara  e  breve  contem  a  uni' 
versai  decisam  de  quasi  todas  as  duvidas  que  em  as  confissões  soem  occorrer 
dos  peccados,  absolvições,  restituyções  e  irregularidades.  Composto  pelo  ho 
nmyto  resoluto  e  celebre  Doutor  . . .  Pela  ordem  de  hum  pequeno  que  fez  hum 
Padre  Portuguez,  da  Provinda  da  Piedade,  Acrecentado  agora  por  ho  mesmo 
Doutor  . . .  Com  seu  repertório  copiosissimo.  Coimbra,  por  João  de  Barreira 
1560. 


*  Firroin  Diáoi  —  Nouvelle  Biographie  UniverselU,  vol.  :).*»,  pag.  894. 
%  C.  Ximenes  do  Sandoval  —  Batalha  de  Aljubanota,  pag.  331. 

*  Pedro  de  Mariz  —  IHahgos  de  Vana  Historia. 


B 


68)  BACCIA  (DoTOR  LUÍS  DE)  —  Capellan  dei  rey  nuoslro  senor  on  su 
real  Capilla  de  Granada. 

E.  —  Historia  de  la  union  dei  reino  de  Portugal  á  la  corona  de  Castilla: 
de  Jerónimo  de  Franchi  Conestagio,  caballero  genovez.  Traduzida  da  lingua 
italiana  en  nuestra  vulgar,  por  el  — .  Barcelona,  1610, 124  pag. 

69)  BADCOOK  (LIENT.  COL-LOVELL). 

E.  —  Rough  leaves  from  a  Journal  kept  tn  Spain  and  Portugal  during  the 
years  1832,  1833  e  1834.  London,  Ricbard  Bentley,  1835,  4.»  XI,  407  pag. 

O  auctor  fora  mandado  a  Portugal  na  companhia  de  lord  Willíam  Russell 
e  do  coronel  Hare  para  procurar  renovar  com  o  governo  portuguez  aquellas 
antigas  relações,  que  tinham  sido  interrompidas.  Conta  minuciosamente  o  cer- 
co do  Porto,  e  as  luclas  d'aquellc  tempo. 

70)  BAHLDUR  (ROJAH  KALOE-KRIEHNA). 

E.  —  Vidwun-Moda-Taranginee,  Or  Fountain  of  pleasare  to  the  leamed. 
Translated  inglié  by  —  Second  edition.  The  text  of  the  original  in  Deva-nagara 
letters;  and  the  versiou  with  improvements.  Galcutta,  printed  at  the  Scohlia- 
Bazar  Press,  1834,  8.° 

Obra  sanskrita  e  ingleza.  O  original  é  extrahido  d'uma  obra  composta  por 
Chirunjecri,  pandit  de  Gwõra. 

(Todas  estas  palavras  são  copiadas  do  catalogo  manuscripto  dos  livros 
portuguezes  e  relativos  a  Portugal,  existentes  na  Biblíotheca  Imperial  de  Pa- 
ris, manuscripto  que  se  guarda  na  Bibliotheca  Publica  de  Lisboa,  não  poden- 
do eu  comtudo  asseverar  que  esta  obra  seja  eíTectivamente  relativa  ao  nosso 
paiz.) 

71)  BAILLET  (ADRIEN)  —  Erudito  francez. 

Nasceu  no  anno  de  1649  na  aldeia  de  Neuville,  e  falleceu  era  1706.  ^ 

í  Firmin  Didot  —  NouvclU  Biogrnphic  Unirenelle,  tomo  I  ^,  pag.  183 


BA  4i 

E.  —  Jugements  des  savarUs  sur  les  principaitx  ouvrages  des  auteurs^  1685 
a  1689.  9  vol. 

Esta  obra  foi  reimpressa  (de  cuja  edição  me  sirvo)  e  accrescentada  com  o 
seguinte  titulo: 

Jugemens  des  Savans  sur  les  principaux  ouvrages  des  auteurs  par  — ,  r«- 
rtis,  currigés  et  augmentés  par  M,  de  la  Monnoye,  de  VAcademie  Française.  Pa- 
ris, 1732,  ^.^  gr.,  7  vol.;  aos  qaaes  se  accrescenta  mais  um  com  o  titulo  de 
Aníi-Baillet  ou  Critique  du  livre  de  Mr,  Baillet, 

No  tomo  4.'',  em  a  lista  dos  poetas  latinos  modernos  encontram*se  as  bío- 
graphias  de: 

Pag.  304,  Henrique  Caiado.  Por  esta  pequena  biographia  vé-se  que  Eras- 
mo lhe  tecia  elogios,  o  que  tinha  reputação  entre  os  estrangeiros. 

Pag.  331,  Árias  Barbosa,  a  quem  chama  um  dos  principaes  restauradores 
das  letras  na  Hespanha,  com  António  de  Lebrixa  e  André  de  Resende.  «André 
Schott  diz  que  era  feliz  na  construcção  dos  versos,  e  que  para  isso  tinha  uma 
vantagem  particular,  o  ter  nascido  musico,  pois  os  portuguezes  (assim  diz)  so* 
bresaem  em  geral  n'esta  profissão:  para  a  qual  parecia  ter  uma  harmonia  e 
cadencia  particular.  EfTectivamente  D.  Nicolau  António  assevera  que  era  su- 
perior a  Nebrissa  na  poesia.» 

Pag.  410,  Jorge  de  Montemaior. 

Pag.  434,  André  de  Resende.  «Glenard  achava  em  seus  versos  muita  ma- 
gestade,  força  e  invenção,  de  maneira  que  se  tivesse  querido  continuar  e  aper- 
feiçoar-se,  teria  emparelhado  com  Lucano.» 

Pag.  440,  Luiz  de  Camões.  «O  Camões  passa  no  mundo,  pelo  Marcial,  pelo 
Ovidio,  pelo  Horácio^  c  pelo  Virgílio  dos  portuguezes.  Poderiam  tel*o  tomado 
também  pelo  Planto  do  paiz,  se  para  isso  bastasse  apenas  ter  composto  co- 
medias. 

•Mas  não  o  consideraremos  aqui  senão  como  um  poeta  heróico,  e  como  o 
verdadeiro  Virgílio,  por  causa  de  seu  celebre  poema  Os  Luziadas. 

•Apesar  de  me  desviar  algum  tanto  do  meu  desígnio,  direi  algumas  pala- 
vras sobre  a  fortuna  do  poema,  e  biographia  do  poeta,  para  não  ser  insensí- 
vel ao  gosto  d'aquelles  de  meus  leitores,  que  desejariam  praticasse  eu  o  mes- 
mo a  respeito  de  todos. 

«Camões  ao  sair  do  collegio  foi  fazer  a  guerra  na  Africa,  onde  perdeu  um 
olho  luctando  contra  os  moiros,  deixou  a  guarnição  de  Ceuta,  no  estreito  da 
Gibraltar,  para  ir  para  a  índia.  N'aquelles  longínquos  paizes  corapoz  a  maior 
parte  de  suas  poesias,  que  \\xe  valeram  a  benevolência  de  seu  capitão  e  de  al- 
guns portuguezes,  que  tinham  alguma  tintura  das  bellas  letras. 

«Mas  tendo  ofTendido  com  versos  satyricos  e  licenciosos  algumas  auctorí- 
dades,  que  não  reconhecem  o  privilegio  dos  poetas,  foi  obrigado  a  salvar-se 
na  China,  até  seus  amigos  terem  pacificado  a  desintelligencia.  Quando  regres- 
sava para  Goa  naufragou  snrprehendido  por  uma  tempestade,  que  lhe  fez 
perder  quanto  p^ssuia.  Não  perdeu  com  tudo  o  tino,  e  teve  presença  de  espi- 
rito sufflciente  para  salvar  seu  poema  Os  Luziadas» 

«Nosso  Camões  querendo  se  aproveitar  de  sua  boa  fortuna,  obteve  licença 


42  BA 

para  voltar  a  Portagal,  com  o  desigaio  de  offerecer  sen  poema  ao  joven  rei 
D.  Sebastião.  Mas  o  mérito,  que  tinha  adquirido  trabalhando  assim  para  a 
gloria  de  seu  príncipe  e  de  sua  nação,  não  foi  capaz  de  o  pôr  ao  abrígo  dos 
insultos  e  dos  maus  tratos  da  madrasta  commum  dos  poetas,  quero  dizer  da 
desdita,  que  sempre  o  acompanhou  até  á  sepultura,  e  que  não  contente  com 
reduzil-o  a  pedir  esmola,  não  lhe  deixou  o  goso  e  a  posse  pacifica  de  soa  re- 
putação, senão  depois  de  sua  morte. 

«Se  esta  madrasta  não  gostava  d'elle,  não  era  tanto  porque  este  fosse  rai- 
vo e  zarolho,  por  ter  um  nariz  comprido,  arredondado  em  forma  de  globo  na 
extremidade^  quanto  porque  ella  não  pôde  tolerar  aquelles  poetas,  que  se 
querem  distinguir,  e  sair  da  vulgaridade  dos  outros. 

«Com  effeito  Gamões  tinha  um  génio  bem  extraordinário:  nascera  poeta: 
tinha  •  espirito  vivo,  sublime,  claro,  abundante,  fácil,  e  prompto  para  quanto 
queria.  D.  Nicolau  António,  que  nos  informa  de  todas  estas  particularídades,  diz 
que  elle  saia-se  perfeitamente  nos  assumptos  heróicos  e  galantes,  do  que  não 
somente  os  conhecedores  do  paiz,  mas  ainda  todas  as  pessoas  de  bom  gosto 
espalhadas  pelo  mundo  lhe  prestaram  testemunho.  Accrescenta  que  este  poeta 
tinha  um  talento  particular  para  fazer  descripções  de  legares  e  pinturas  das 
pessoas,  e  que  é  tão  exacto  e  tão  perfeito,  que  sua  arte  quasi  que  iguala  a  na- 
tureza. Suas  comparações  são  ricas,  ^  seus  episódios  muito  agradáveis  e  varia- 
dos, apesar  de  não  desviarem  o  leitor  do  assumpto  principal  de  seu  poema. 
Por  toda  a  parte  dá  mostras  de  muita  erudição,  mas  não  affectada,  e  acha-se 
que  tem  o  sabor  dos  antigos,  que  é  todo  o  fructo  que  um  poeta  pôde  preten- 
der tirar  do  conhecimento  da  antiguidade. 

•Eis-aqui  os  defeitos,  que  e  padre  Rapin  notou  nos  Lusíadas.  Diz  na  1.* 
parte  de  suas  Reflexões,  que  por  mais  divino  que  o  Gamões  seja  no  pensar 
dos  portuguezes,  não  deixa  de  ser  censurável  por  serem  seus  versos  tão  obscu- 
ros, que  poderiam  passar  por  mysterios.  E  na  2.*  parte  pretende  que  o  dese- 
nho d'este  poema  é  vasto  de  mais,  sem  proporção,  sem  rigor  de  expressão,  e 
que  é  um  muito  mau  modelo  para  o  poema  épico.  Accrescenta  n'outros  lega- 
res que  este  poeta  é  soberbo,  fastoso  na  sua  composição,  que  não  tem  juizo, 
e  que  falia  sem  discrição  de  Yenus,  de  Baccho,  e  das  outras  divindades  pro- 
fanas n'um  poema  christão:  e  que  mesmo  tem  pouco  discernimento,  e  boa  di- 
recção em  tudo  mais. 

«Apesar  d'estes  defeitos,  é  bom  que  se  saiba  que  o  publico  se  obstinou  em 
conservar-se  na  estima  e  amor,  que  testemunhou  ao  poema  dos  Lusíadas.  É 
o  que  o  tem  feito  passar  muitas  vezes  pelo  prelo  dos  impressores.  Tradozi- 
ram-n'o  em  francez,  ha  coisa  de  cem  annos.  Appareceram  duas  versões  italia- 
nas, a  primeira  por  um  anonymo,  a  segunda  por  Garlos  António  Paggi,  de  Gé- 
nova, a  qual  appareceu  em  1659,  dedicada  ao  papa  Alexandre  VIL  Publica- 
ram-se  quatro  traducções  bespanholas^  isto  é,  do  portuguez  para  o  castelhano. 
A  primeira  de  Benito  Galdera;  a  segunda  de  Luiz  Gomes  Tapia,  que  lhe  ajun- 
tou notas  e  observações:  a  terceira  de  Henrique  Garcez:  porém  D.  Nicolau  An- 
tónio não  nos  refere  o  nome  do  quarto  traductor.  Finalmente  foi  passado  para 
latim  por  um  carmelita,  chamado  Thomé  de  Paria,  bispo  de  Targa,  na  Africa. 


BA  43 

«Entre  os  que  fizeram  commentarios  a  este  poema,  além  do  tal  Gomes  de 
Tapia,  conta-se  Manuel  Correia,  Pedro  de  Maris,  Luiz  da  Silva  Brito.  Porém  o 
mais  considerável  é  incontestaveliyente  Manuel  de  Faria  e  Sousa.» 

Tomo  5.^  pag.  28,  Manuel  Pimenta. 

Idem,  pag.  29,  Luiz  da  Cruz.  «Além  do  Psalterio  de  David,  que  este  padre 
poz  em  verso,  e  que  foi  impresso  em  Ingolstadt,  Nápoles,  Milão,  Leon,  e  n'ou- 
tras  partes,  ha  d'elle  ainda  diversas  comedias  e  tragedias,  que  Cardou  impri- 
miu em  Leon  no  anno  de  1605,  etc.» 

Idem,  pag.  74,  Pedro  Lopez  ou  Lobo.  Este  auctor  publicou  Poesia  FhUõ' 
saphica  á  imitação  de  Lucrécio,  cujos  versos  são  muito  elegantes  no  pensar 
de  D.  Nicolau  António.  Borricbeo  diz  que  seu  estylo  não  é  muito  culto,  mas 
que  não  deixa  de  ter  cadencia  e  numero,  que  o  sustenta,  e  lhe  dá  graça,  n'um 
assumpto  que  a  não  tem  por  sua  natureza. 

Idem^  pag.  141,  André  Bayão. 

Idem,  pag.  S14  Manuel  de  Faria  e  Sousa. 

Tomo  7.^  pag.  253,  Caramuel.  «O  famoso  Caramuel  era  um  dos  mais  ze- 
losos partidários  da  coroa  de  Castella;  e  não  causará  isto  admiração  ao  con* 
siderarmos  qual  era  seu  temperamento,  quaes  os  seus  compromissos  por  nas- 
cimento e  obrigação.  Desde  o  começo  dos  movimentos,  que  se  Qzeram  em 
Portugal  para  sacudir  o  jugo  do  dominio  hespanhol,  pegou  na  penna  para  fa- 
zer valer  os  direitos,  ou  as  pretenções  do  rei  Pbilippe  II  a  favor  de  seu  neto* 
E  mandou  imprimir  em  Anvers  um  volumoso  livro  escripto  em  latim  com  o 
titulo  de  PhilippíAS  Prudens,  ^ 

«Esta  obra  appareceu  em  1638,  era  no  próprio  anno  da  morte  de  D.  Ma- 
nuel, que  fallecera  a  22  de  junho. 

«Este  D.  Manuel  era  filho  de  D.  António  de  Portugal,  que  tendo  tomado  o 
titulo  de  rei  em  1580,  depois  da  morte  de  seu  tio  o  cardeal  Henrique,  suc- 
cessor  de  D.  Sebastião  á  coroa,  fora  derrotado  na  batalha  de  Alcântara  pelo 
exercito  de  Pbilippe  II  debaixo  do  commando  do  duque  de  Alba,  e  tinha  mor- 
rido em  Paris  no  anno  1595. 

«D.  António  era  filho  legitimo  (no  que  concorda  toda  a  gente)  ^  de  Luiz,  du- 
que de  Beja,  tio  de  D.  Sebastião,  e  irmão  ^o  cardeal  D.  Henrique. 

«D.  Luiz,  duque  de  Beja,  era  filho  de  D.  Manuel,  rei  de  Portugal.  De  ma- 
neira que,  se  D.  Manuel  de  Portugal  era  filho  do  rei  D.  António,  refugiado  na 
França,  podia  com  justiça  gritar  contra  a  dominação  hespanhola,  e  protestar 
de  novo  contra  a  usurpação  de  Pbilippe  U. 

«Com  tudo  é  d'este  D.  Manuel,  que  Caramuel  pretendeu  publicaras  me- 
naorías  que  escreveu  contra  a  casa  de  Portugal  a  favor  de  Pbilippe  II  e  de 
seus  successores.  Parece  até  que  D.  Manuel  tomou  grande  parte  na  com- 
posição do  livro  Philippus  Prudens.  Se  dermos  credito  a  Caramuel,  e  a  D.  Ni- 
colau António  depois  d'elie,  D.  Manuel  recebera  de  seu  pae  D.  António  de 
Portugal  este  grande  numero  de  papeis  e  de  memorias  manuscriptas,  que  ser- 

*  V.  LobkowiU. 

*  Jia5  nao  os  historiadores  portaguezes,  que  bem  sabem  que  era  illegitimo. 


44  BA 

viam  para  destrair  saas  preteoções,  e  estabelecer  os  direitos  da  casa  d*AuS' 
tria.  Mas,  como  D.  Manuel  tinha  deixado,  quando  morreu,  todos  estes  papeis 
em  legado  a  Garamuel,  como  um  penhor  áfi  sua  amizade,  a  auctoridade  e 
valor  de  todos  elles  nâo  se  poude  basear  mais,  que  sobre  a  boa  ou  má  fé  de 
Caramuel,  isto  é,  um  dos  grandes  habladores  y  burladores  d'entre  os  sábios  de 
seu  tempo. 

cNao  fizeram  grande  caso  de  seu  livro  na  França,  e  foi  bem  notório  que  em 
Portugal  também  lhe  não  prestavam  grande  attenção,  quando  se  publicou 
um  manifesto  em  nome  de  todo  o  reino,  para  fazer  valer  o  direito  da  casa  reah 
e  restituir  a  coroa  a  D.  João  IV. 

«Caramuel  não  deixou  de  responder  ao  manifesto.  Mas  como  esta  composi- 
ção era  em  lingua  vulgar,  não  julgou  conveniente  responder  em  latim. 

•Esta  segunda  obra  foi  impressa  no  anuo  de  1642^  em  i.*",  na  mesma  cidade 
de  Anvers,  debaixo  do  titulo  de  Respuesta  ai  Manifesto  dei  Reino  de  Portugal; 
e  reimpresso  vinte  annos  depois  em  Saint- Angelo,  onde  Caramuel  sustentava 
uma  imprensa  à  sua  custa,  qualificada  de  Imprensa  Episcopal,  para  a  impres- 
são de  suas  próprias  obras.  Mas  como  o  livro  não  podia  servir  ao^  que  ignora* 
vam  o  hespanhol,  um  dos  discípulos  ou  amigos  de  Caramuel,  chamado  Lean- 
dro Bandtius  o  verteu  em  latim,  e  publicou  sua  traducção  em  Lovain  no  anno 
de  1643  debaixo  do  titulo  Joannes  Brigantinus  Lusitanice,  AlgarbicB,  índice  et 
BrasilcB  illegitimus  Rex  demonstratus» 

•Contra  esta  resposta  appareceu  o  Anti-Caramuel  para  defeza  do  manifesto 
do  reino  de  Portugal,  o  qual  teve  por  auctor  um  portuguez,  por  nome  Manuel 
Fernandes  de  Villa  Real.  Este  auctor  era  cônsul  da  nação  portugueza  em 
Rouen,  na  Normandia,  quando  compoz  a  obra,  mas  só  a  publicou  em  Paris  no 
anno  1643  com  o  titulo  de  Anti  Caramuel,  ò  Defença  dei  Manifesto  de  Portu- 
gal à  la  Respuesta  que  escrive  Don  Juan  Caramuel  Lohkowitz,  Abbad  de  Me- 
brosa. 

«Teve  o  tino  de  prever  que  o  titulo  de  Anti  Caramuel  poderia  surprehen- 
der  seus  leitores,  e  julgo- o  mais  desculpável  que  a  maior  parte  dos  outros 
auctores  de  Anti,  que  nem  se  dignaram  fazer-nos  ver  que  tinham  razão  para 
empregar  o  titulo. 

«Ha  também  uma  outra  obra  com  o  titulo  de  Anti  Caramuel,  composição 
de  Humanus  Erdemannus,  a  qual  vem  analysada  no  primeiro  mez  da  obra 
Nouvelles  de  la  Republique  des  Lettres,* 

72)    BAILLIE   (MAHIANNE). 

E.  —  lÂsbon  in  the  years  1821,  1822  and  1823.  London,  1824,  2  vol.,  8.«, 
o  1.*  de  219  pag.  e  o  2.<»  de  2oO.  Offerecida  ao  conde  de  Chichoster. 

(Lisboa  nos  annos  de...  ete.) 

A  primeira  carta  é  datada  d'um  hotel  em  Buenos-Ayres  (Lisboa)  de  27  de 
junho  de  1821,  e  realmente  não  é  muito  lisongeira  para  os  portuguezes,  pois 
n'ella  se  queixa  de  pouco  aceio,  de  falta  de  arvoredo,  immensidade  de  cães. 
Gosta  da  vista  do  Tejo,  mas  temos  gosado  de  vistas  de  estylo  similliante  muito 
superiores  em  differentes  partes  do  continente.  Acha  o  the^tro  de  S.  Carlos 


BA  4» 

indigno  da  attenção  dos  estrangeiros.  A  quinta  parte  dos  habitantes  de  Lisboa 
são  pretos  ou  mulatos. 

Assevera  que  não  existe  uroa  nnica  boa  edição  portugueza  dos  Luziadas. 

SufiToca-se  a  gente  n^esta  cidade  com  os  maus  cheiros  e  outros  horrores. 
Os  mosquitos  são  numerosos  de  modo  que  por  maior  numero  que  se  conceba 
na  idéa,  ainda  este  é  limitado.  Não  poude  encontrar  boas  frutas,  pois  as  ce- 
rejas geralmente  eram  azedas,  e  os  morangos  muito  raros.  A  propensão  dos 
portugaezes  é  para  as  construcções  marítimas,  alguns  modelos  de  naval  arcbi- 
tectnra  estavam  então  fluctuando  no  Tejo,  mas  são  tão  ignorantes  na  arte  de  os 
dirigir,  que  o  melhor  d'elles  seria  facilmente  posto  em  silencio  por  uma  fragata 
ingleza  no  espaço  de  meia  hora.  Seu  fílho  mal  se  podia  conhecer  por  causa  das 
incessantes  ferroadas  dos  mosquitos.  As  velhas  portuguezas  parecem-lhe  ser  in- 
variavelmente horrendas.  Não  se  atreveu  a  lançar  a  vista  para  os  costumes  de 
uma  eosinha  portugueza,  porque  as  noticias  que  lhe  deram  a  tal  respeito  são 
aterradoras.  A  carne  vendida  em  Lisboa  é  repugnantemente  preparada,  por* 
que  os  carniceiros  portuguezes  ignoram  o  methodo  de  matar  os  bois.  Um  epi- 
curista suicidar-se-hia,  se  fosse  obrigado  a  passar  um  mez  em  Lisboa  no  caso 
de  não  ser  amigo  de  peixe.  Os  médicos  portuguezes  parecem  ter  feilo  muito 
poucos  progressos  desde  o  tempo  do  dr.  Sangrado.  Os  portuguezes  não  fazem 
a  mais  leve  idéa  de  uma  illuminação,  a  não  ser  por  meio  de  lanternas.  Sua 
lavadeira  em  Cintra  era  moira  e  a  primeira  vez  que  fadou  a  esta  tão  verda* 
deira  escriptora,  beijou-lhe  a  mão,  e  disse-lhe  em  bom  inglez,  que  tinha  muito 
prazer  em  a  servir.  ^ 

N'uma  palavra  a  nossa  escriptora  piegas,  tudo,  sem  excepção,  acha  detestá- 
vel; mas  vae  para  Cintra  e  tudo  sem  excepção  acha  bom,  óptimo,  e  até  algu- 
mas coisas  superiores  ás  inglezas. 

As  cartas  d*esta  delambida  são  realmente  uma  obra  sem  merecimento,  na 
qual  as  mentiras  formigam  a  cada  passo,  como  entre  outras:  Que  o  aqueducto 
das  aguas  livres  foi  mandado  construir  pelo  marquez  de  Pombal:  Que  os  fi- 
dalgos comem  diariamente  uma  grande  porção  de  açorda  com  alhos,  e  que  por 
isso  o  mais  ligeiro  segredar  do  mais  bem  educado  fidalgo  não  differe  no  chei- 
ro, do  mais  grosseiro  camponez:  a  gente  de  Lisboa  tem  falta  de  forças  por 
causa  do  constante  e  excessivo  emprego  do  azeite,  junto  aos  relaxantes  effei- 
tos  da  indolência  e  do  clima:  não  havia  um  único  cabelleireiro  n*esta  cidade 
que  soubesse  cortar  o  cabello  convenientemente:  o  palácio  do  Ramalbão  tinha 
exteriormente  a  apparencia  d'uma  prisão  sórdida,  melancólica  e  arruinada: 
as  caras  das  damas  de  Lisboa  eram  desengraçadas  e  grosseiras  a  ponto  de  lho 
parecer  impossível  como  podiam  passar  por  bonitas:  civilidade  ou  hospitali- 
dade para  com  os  estrangeiros  pareciam  virtudes  desconhecidas  dos  portu- 
guezes: que  o  Campo  Grande  estava  duas  léguas  distante  de  Lisboa:  os  mer- 
cadores em  Lisboa  eram  uns  grosseirões,  pensando  que  faziam  um  grande  fa* 
vor  em  mostrarem  o  que  tinham  para  vender,  costume  que  provinha  do  tem- 
po dos  Moiros:  os  padres  rapinantes  d'este  paiz  supersticioso  nada  faziam,  sem 

»  Yol.  \.\  pag.  67. 


46  BA 

que  se  lhes  pagasse:  o  theatro  de  S.  Carlos  achava-se  excessivamente  imman- 
do,  e  os  oavintes  completamente  não  entendedores  de  musica,  pois  applaa- 
diam  exactamente  o  que  nao  o  devia  ser:  a  immundicie  em  Lisboa  não  era  uma 
porcaria  vulgar:  a  execução  do  pianista  portuguez  Bomtempo  era  milagrosa, 
porém  não  a  sensibilisava  no  mais  pequeno  grau,  pois  seus  defeitos  pareciam 
proceder  de  falta  de  sensibilidade,  e  nunca  existe  um  verdadeiro  génio  sem 
ella,  motivo  porque  não  podia  concordar  em  considerar  Bomtempo  como  um 
verdadeiro  mestre  na  sua  arte:  se  lhe  dessem  ouvidos  a  ella  escriptora  nenhum 
doente  do  peito  iria  para  Lisboa,  pela  total  carência  de  confortos  n'esta  cida- 
de «As  ceremonias  da  Semana  Santa  chegaram  n*este  paiz  a  um  tal  extremo 
de  farça  ímpia  e  absurda,  que  sem  se  ver,  toma-se  impossível  de  acreditar, 
pois  até  nas  ruas  enforcavam  Judas,  e  faziam  procissões  em  que  um  homem 
representava  de  Abraham!» 

Jà  por  isto  se  faz  uma  perfeita  idéa  do  resto.  O  livro  do  Maríanne  ó  digno 
de  estar  ao  lado  do  de  Ascensio  Calvo. 

73)  BAKER  (M.  A.) 

E.  —  A  complete  History  of  the  Inquisition  in  Portugal,  Spam,  Italy,  the 
East  and  West  Indies  in  ali  its  branches,  from  the  origin  of  it  in  the  year 
1163  to  its  present  State.  Tllmtrated  with  many  Genuine  and  curious  cases  of 
unhappy  Persons  imprison*d  in  that  Holy  (aliaz  diabolical)  Office.  Particu» 
larly  of  Isaac  Martin,  an  Englishman.  Collected  from  the  most  authentick  and 
impartial  Writers,  Popish,  and  Protestant  and  from  original  papers  of  Gm- 
tlemen  that  have  resided  many  years  in  those  countries,  by  the  Reverend  Mr- 
— .  The  whole  imbellished  with  several  plates  representing  their  manner  of 
punishment,  etc.  etc-  etc.  Westminster,  1736,  4.*»,  VIII,  532  pag. 

(Historia  completa  da  inquisição  de  Portugal ...  e  da  prisão  do  inglez  Isaac 
Martin.) 

A  estampa  do  rosto  representa  o  tribunal  da  Inquisição  de  Granada,  e  v 
auctor  trata  também  da  prisão  de  Dellon,  na  Inquisição  de  Goa. 

D*esta  obra  ha  um  exemplar  na  Bibliotheca  Publica  do  Lisboa. 

74)  BALBI  (ADRIEN)  —  Ancien  professeur  de  géographie,  de  physi- 
que  et  de  mathematiques,  membro  correspondant  de  TAthénée  de  Trevíse, 
etc.  etc.  Geographo  celebre. 

Nasceu  em  Veneza  no  anno  de  1782,  e  falleceu  em  março  de  1848. 

E.  —  I.  Essai  Statistique  sur  le  royaume  de  Portugal  et  d' Algarve,  compa- 
re aux  avires  États  de  VEurope,  et  suivi  d*un  coup  d'(BÍl  sur  Vétat  actuei  des 
Sciences,  des  lettres  et  des  beaux  arts  parmi  les  Portugais  des  deux  Hémis- 
pheres.  Dedié  a  Sa  Majesté  Trcs-Fidéle  par  — .  Paris,  Chez  Rey  et  Gravier, 
1822,  2  vol.  8.*»  gr.,  o  1.»  de  480  e  o  2.»  de  272  pag.  alem  de  cccxlviii  de  in- 
troducção. 

(Ensaio  estatístico  sobre  o  reino  de  Portugal.) 

II.  Varietés  politíco-statistiques  sur  la  Monarchie  Portugaise,  didiées  a  M. 
le  Bm'fyu  Alexandre  de  Ihmboldt,  Associe  étranger  de  rinstihit  Rogai  de  Fran- 


BA  47 

ce^  Membre  de  VAcadémie  Boyale  des  Sciences  de  Berlm,  de  la  Societé  Boyale 
de  Londres,  etc.  etc.  Paris,  1822,  Chez  Rey  et  Gravier,  8.<»  gr.  232  pag. 
(Este  Tolame  trata  do  commercio,  industria  e  estatística  de  Portugal.) 
O  Ensaio  Statistico  de  Baibi,  apezar  do  decurso  de  taotos  annos,  ainda 
hoje  é  o  melhor,  que  n*este  género  existe  a  nosso  respeito,  quer  escripto  por 
estrangeiros,  quer  por  nacionaes.  É  obra  que,  apezar  de  algumas  inexactidões 
censuradas  pelo  cónego  Yillela,  creou  fama  bem  merecida  para  seu  auctor,  o 
qual  teve  a  fortuna  de  conseguir  do  nosso  governo,  que  lhe  mandasse  paten- 
tear os  documentos,  que  estavam  guardados  em  nossos  archivos  e  secretarias. 
Balbi  mostron-se  agradecido,  e  na  sua  obra  pretendeu  mostrar  que  Portugal 
não  estava  em  tão  grande  atrazo  na  civilisaçâo,  como  pretendiam  alguns  es- 
eriptores  estrange;jros,  pouco  amantes  das  coisas  portuguezas,  ás  quaes  o  es- 
eriptor  genovez  em  muitas  partes  tece  os  maiores  elogios. 

«Os  portuguezes  distinguem-se  entre  todos  os  outros  povos  por  seus  dis- 
veUos  para  com  os  estrangeiros,  e  fazem  reviver  aquelia  hospitalidade,  que  os 
povos  antigos  punham  em  o  numero  dos  deveres  e  virtudes  mais  subli- 
mes.» 

É  curioso  comparar  esta  passagem  com  o  que  a  nosso  respeito,  pouco 
mais  ou  menos  pelo  mesmo  tempo,  dizia  a  ingleza  Marianne  Bailiie. 

«Póde-se  dizer  sem  sermos  accusados  de  exaggeraçào,  que  não  ha  talvez 
om  só  paiz  na  Europa,  que  conte  mn  maior  numero  de  más  descripçoes  feitas 
por  estrangeiros,  e  sobre  o  qual  a  ignorância  ou  a  maledicência  tenham  es- 
palhado mais  inexactidões  e  falsidades.  Qual  nâo  foi  o  nosso  espanto  ao  achar- 
mos n'am  paiz,  que  nos  tinham  pintado  como  mais  atrazado  do  que  a  Tur- 
quia, nm  balanço  geral  do  commercio  feito  annualmente  desde  1755  até  á 
actualidade  por  Maurício  Teixeira  Moraes,  por  um  plano  e  com  uma  exactidão 
que  dlfficilmente  se  encontra  nos  paizes  mais  civilisados  da  Europa?  Quesur- 
preza  nâo  foi  a  nossa  ao  acharmos  espalhados  em  differentes  secretarias  uma 
grande  parte  dos  materiaes  necessários  para  a  redacção  d'uma  statistica»  e 
alguns  ensaios  muitos  felizes  feitos  já  sobre  a  provinda  do  Minho,  sobre  a  de 
Traz-os-Montes,  sobre  o  Algarve^  e  a  respeito  de  algumas  comarcas  da  Extre- 
madura  e  Alemtejo?  Não  ficámos  menos  pasmados,  quando  soubemos  que  al- 
guns portuguezes,  dirigidos  pelo  seu  compatriota,  o  hábil  astrónomo  Ciera, 
tinham  desde  1793  até  1802  medido  duas  grandes  bases  na  Extremadura  com 
todo  o  rigor  da  geodesia  moderna,  para  determinarem  com  exactidão  o  com- 
primento d*um  grau  do  meridiano,  e  tinham  feito  a  triangulação  da  maior 
parte  de  Portugal;  que  alguns  sábios  portuguezes  tinham  viajado  por  toda  a 
Europa  á  custa  de  seu  governo  com  o  fim  de  examinarem  os  estabelecimen- 
tos litteraríos  mais  importantes,  e  de  se  aperfeiçoarem  no  estudo  das  scíencias 
natnraes;  que  alguns  tinham  percorrido  em  differentes  direcções  seus  vastos 
estabelecimentos  na  America  e  na  Africa  meridionaes,  e  tinham  feito  recuar 
as  balizas  da  mineralogia,  da  botânica  e  da  zoologia  por  causa  das  novas  es- 


48  B*"^ 

pecies  que  alli  tinham  descoberto:  que  algons  governadores  instruídos  haviam 
redigido  memorias  mais  ou  menos  sabias  a  respeito  das  capitanias  geraes  de 
Gabo  Verde,  Angola,  Moçambique,  e  possessões  portuguezas  na  índia,  China, 
Oceania?  Que  o  valor  só  dos  productos  das  fabricas  e  manufacturas  portu- 
guezas,  exportados  para  além  mar,  se  tinha  elevado  annualmente  de  1795  a 
1807  até  oito  e  dez  milhões  de  cruzados?  Que  esta  nação  possuía  jomaes  com 
artigos  tao  interessantes,  e  escriptos  com  tanta  eloquência^  que  daria  honra 
aos  Malte-Brun,  Gentz,  Etienne,  Benjamin  Gonstant,  e  aos  mais  celebres  pu- 
blicistas da  Europa. 

•Todos  quantos  fallaram  relativamente  a  Portugal  até  este  dia,  escreve- 
ram muito,  e  citaram  poucos  factos.  É  verdade  que  escrevendo  n*uma  época 
em  que  a  nação  é  bem  differente  do  que  era  outr'ora,  por  causa  das  circum- 
stancias  politicas  em  que  se  tem  achado,  ha  annos  para  cá,  o  quadro  que 
apresentamos  deve  só  por  este  motivo  dífferir  muito  d'aquelles  traçados  por 
Dumouriez,  Châtelet,  Bourgoing,  Garrère,  Robert  Southey,  Murphy,  Link, 
Gostigan,  Ruders  e  Ebeling.  As  três  invasões  dos  francezes  em  Portugal,  a 
longa  residência  das  tropas  inglezas  e  o  grande  numero  de  offlciaes  d'esta 
nação  amalgamados  no  seu  exercito,  as  ligações  intimas  e  multiplicadas  does- 
tas duas  nações  entre  si,  o  grande  numero  de  jomaes  políticos  e  litteraríos, 
publicados  desde  1807  em  Hespanha  e  Portugal,  e  principalmente  alguns  jor- 
naes  políticos  e  litterarios,  dados  á  luz  em  portuguez  fora  do  paiz,  bem  como 
os  sábios  trabalhos  da  Academia  Real  das  Sciencias,  os  dos  professores  da 
Universidade  de  Coimbra,  e  de  algumas  escolas  espcciaes,  instituídas  ultima^ 
mente  em  Lisboa  e  Porto,  contribuíram  muito  para  dar  aos  portuguezes  o 
desenvolvimento  manifestado  nos  últimos  acontecimentos.  Qualquer  naçãa 
pôde  ter  grandes  falladores,  porque  .basta  só  a  natureza  para  os  formar,  mas 
é  mister  uma  longa  instrucção  para  ter  oradores.  Os  que  brilham  actualmente 
nas  Cortes  por  sua  eloquência  e  profundo  saber  nas  mais  altas  theorías  da 
economia  politica,  e  nos  mais  complicados  ramos  da  administração,  demons- 
tram victoriosamente  aos  detractores  da  nação  portugueza  que  esta  possuía 
muitas  pessoas,  que  se  preparavam  no  silencio,  e  cujo  mérito  só  aguardava 
a  occasião  para  se  patentear. 

«Concedendo  aos  escriptores  que  nos  precederam  que  falta  ainda  muito 
aos  portuguezes  para  estarem  ao  nível  dos  francezes,  inglezes,  allemães,  dina- 
marquezes,  italianos  ou  suecos,  em  tudo  que  diz  respeito  ás  fabricas,  manu- 
facturas, commercio,  navegação,  agricultura,  sciencias,  artes,  e  dififerentes  ra. 
mos  de  administração,  não  hesitamos  em  dizer  que  teem  sido  injustamente 
calumniados,  e  que  estão  muito  mais  adiantados  n'este  ramo,  do  que  o  esta- 
vam ha  40  annos.  Em  appoio  d*esta  asserção  bastaria  citar  os  eloquentes  dis- 
cursos pronunciados  no  Congresso,  todos  tendentes  a  fazerem  renascer  o  cre- 
dito publico,  introduzindo  a  mais  severa  economia,  e  a  maior  ordem  nas  fi- 
nanças; a  reorganisar  a  marinha  militar,  a  animar  a  marinha  mercante,  a 
multiplicar  os  institutos  litterarios  e  de  instrucção  publica,  a  dar  melhor  me- 
thodo  ao  ensino,  e  a  dirigir  a  educação  moral  da  mocidade,  a  animar  a  agri- 
cultura, o  commercio,  as  pescarias,  a  navegação  c  a  induslria. 


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•      • 

•Nós  não  hesitamos  em  dizer,  ^  sem  receio  âe  sermos  accusados  de  par- 
cíalidâde,  que  as  sciencias  mathematicas,  em  toda  sna  extensão,  e  em  todo 
sea  aperfeiçoamento  actuaes  são  perfeitamente  conhecidas  dos  portngnezes,  e 
moíto  mais  do  que  seriamos  inclinados  a  acreditar  á  vista  do  pequeno  nu- 
mero de  obras  publicadas  sobre  este  assumpto  ha  38  annos. 

«Todavia,  se  alguma  coisa  mais  positiva  fosse  necessária  para  convencer 
os  incrédulos,  pedir-lhe-iamos  tão  somente  que  quizessem  considerar  que  to- 
dos os  mathematicos,  que  fazem  o  orgulho  e  a  gloria  dos  portuguezes,  se  for- 
maram no  paiz:  que  os  6  volumes  das  Memorias  de  Mathematica  e  Physica  da 
Academia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa  conteem  algumas  memorias,  que  pro- 
vam, até  á  evidencia,  os  profundos  conhecimentos  dos  mathematicos  portu- 
gueses; e  que  as  Ephemerides  Astronómicas  para  uso  do  observatório  da  Uni- 
versidade de  Coimbra,  e  para  o  da  navegação  portugueza  d*isso  dão  outra 
prova.  Estas  ephemerides,  que  se  publicam  todos  os  annos  desde  1804,  bem 
longe  de  serem  (como  diz  certo  viajante)  uma  reducção,  ou  uma  copia  do  Al- 
manack  do  Observatório  de  Greenwich,  são  pelo  contrario  calculadas  imme- 
diatamente  sobre  as  taboas  astronómicas.  A  distribuição  engenhosa  de  seus 
numerosos  artigos,  os  novos  methodos,  que  apresentam  para  o  calculo  das 
longitudes  sobre  o  mar,  c  para  o  dos  eclipses,  bem  como  vários  outros  me- 
fhodos  particulares  para  a  formação  e  verificação  de  alguns  assumptos  astro- 
nómicos, deram  a  esta  obra  uma  justa  superioridade  sobre  a  maior  parte  das 
do  mesmo  género,  e  mereceram  para  seus  sábios  auctores  a  estima  dos  ma- 
thematicos mais  distinctos  da  Europa,  que  tiveram  occasião  de  a  verem  e 
examinarem.» 

«Se  bem  que  os  portuguezes  foram  ^  uma  das  ultimas  nações,  que  se  en* 
tregaram  ao  estudo  das  sciencias  naturaes,  não  se  deve  por  isso  acreditar  que 
ellas  tenham  sido,  ou  sejam  ainda  inteiramente  desprezadas  por  elles.  Ao  con- 
siderarmos quão  pouco  o  governo  as  tem  animado,  e  a  carência  total  de  mo- 
tivos individuaes  próprios  a  attrahir  os  homens  de  génio  a  entregarem-se  a 
pesquizas  longas  e  penosas,  que  não  deviam  conduzil*os  quer  às  honras,  quer 
aos  empregos  lucrativos,  ha  logar  para  nos  admirarmos  do  numero  conside- 
rável de  portuguezes,  que,  sem  mais  estímulo  que  o  amor  da  sciencía,  se  ele- 
varam a  uma  classe  distincta  entre  os  naturalistas  da  Europa.  É  verdade  que 
à  excepção  de  Manuel  Ferreira  da  Gamara  Bettencourt,  de  João  António  Mon- 
teiro, de  José  Bonifácio  de  Andrade,  de  Félix  Avellar  Brotero,  de  José  Corrêa 
da  Serra,  póde-se  dizer  quo  Portugal  não  conta  quasi  nenhum  outro  natura- 
lista, a  quem  se  possa  dar  o  nome  d'um  grande  pratico,  apezar  de  possuir 


'  Adripn  Balbi  —  E^sai  SlatUtiqur^  vol.  2/,  pag.  xxxi\. 
2  Idem,  pag.  xLvii. 

TOMO  1 


so  BA 

alguns,  qao  conhecem  perfeitamente  a  parte  theorica,  na  qual  podem  sustoa- 
tar  comparação  com  os  grandes  homens  das  outras  nações. 

«Não  fiquei  pouco  surprehendido  ao  saber  que  o  sábio  Brotero,  o  illustre 
Corrêa  da  Serra,  Magalhães  (physico  distincto,  fallecido  em  Inglaterra  na  se- 
gunda metade  do  ultimo  século),  o  celebre  medico  Sanches,  o  padre  Loureiro 
(auctor  da  Flora  Cochinchinensis)  só  deveram  a  seus  próprios  esforços  os  co- 
nhecimentos profundos,  que  adquiriram  ou  em  sua  pátria,  ou  no  estrangeiro. 

•        • 

«Ainda  que  Portugal  ^  produziu  alguns  médicos,  que  adquiriram  uma 
reputação  distincta,  taes  como  Amato  Lusitano,  Zacuto,  Rodrigo  de  Castro, 
Ribeiro  Sanches,  e  vários  outros,  é  preciso  comtudo  confessar  que  antes  dat 
grande  reforma  da  Universidade  de  Coimbra,  o  plano  de  estudos  em  medicina 
era  muito  irregular  e  defeituoso  para  formar  bons  médicos.  Desde  essa  ópoca, 
celebre  na  litteratura  d'este  paiz,  a  arte  de  curar,  graças  ao  plano  do  curso 
de  estudo^,  que  devem  seguir  todos,  que  para  clles  se  destinam,  tem  sido 
exercido,  e  ainda  o  ó  por  alguns  individues,  que  podem  figurar  ao  lado  dos 
maiores  médicos  da  Europa. 

•     • 

«A  imparcialidade  severa,  á  qual  nos  temos  restringido,  obriga-nos  a  con- 
fessar que  os  portugueses  estão  longe  de  terem  feito  nas  sciencias  geogra- 
phícas  os  progressos  notáveis,  pelos  quaes  se  abalisaram  os  outros  povos  civi- 
iisados;  facto  tanto  mais  assombroso,  quanto  nos  séculos  xv  e  xvi  esta  nação 
possuía  um  grande  numero  de  navegadores  celebres,  cujas  descobertas  im< 
portantes  lhes  mereceram  um  logar  distincto  na  lista  dos  grandes  navegantes 
no  Annuaire  des  Longitudes.  Mas,  se  não  so  applícaram  os  conhecimentos 
physicos  e  mathematicos  á  geographía  d'este  paiz  e  de  suas  vastas  colónias  na 
Chorographia  poi  tugueza  da  Europa  e  na  do  Brazil,  estas  duas  obras  não  são 
comtudo  inferiores  em  coisa  alguma  às  obras  estrangeiras  contemporâneas  do 
mesmo  género,  principalmente  o  Roteiro  ou  arte  de  navegar,  do  çosmographo 
Pimentel,  e  outra  mais  moderna  de  Melitão,  onde  os  hydrographos  inglezes  e 
francezes  beberam  tantas  noções  exactas  sobre  todos  os  paizes  percorridos  e 
explorados  pelos  portuguezes.  As  geographias  de  Busching,  Pinkerton,  Gu- 
thrie,  e  Lacroix  não  conteriam  tantos  erros,  a  respeito  de  Portugal  e  suas  pos- 
sessões, se  seus  auctores  tivessem  estudado  as  obras  portuguezas,  como  o  fi- 
zeram Ebeiing  e  Malte-Brun. 


«Nunca  povo  algum,  apertado  por  limites  tão  estreitos,  estendeu  n'um  mais 
curto  espaço  de  tempo  seu  dominio  por  paizes  tão  vastos  e  tão  distantes.  Desde 
a  gloriosa  conquista  de  Ceuta  (1415)  até  á  atrevida  expedição  de  Barreto  c 

*  Àdrieii  Balhi  —  Essai  Slalhliqvc^  vol.  2.",  pa^.  lxii. 


BA  51 

Homem  (1573)  ás  minas  de  oiro  de  Manica  e  de  Botaa  no  Monomotapa,  este 
povo,  animado  d'ama  actividade  sem  exemplo,  descobre  Madeira,  Açores,  Ca- 
nárias, ilhas  de  Gabo  Verde,  e  as  do  golfo  de  Guiné,  e  n'aquellas  paragens  se 
estabeleceu.  Explora  e  assenta  numerosas  feitorias  ao  longo  da  costa  Occiden- 
tal d' Africa.  Dobra  o  terr.vel  cabo  das  Tormentas,  e  submette  a  seu  domínio, 
OU  faz  tributários  os  príncipes  mouros  da  costa  oriental  d*Africa.  Arranca  das 
mãos  dos  árabes  a  navegação  e  o  commercio  da  índia  e  do  mar  Vermelho, 
em  poder  d'elle3  havia  séculos.  E  assombrando  os  povos  orientaes  com  pro- 
dígios de  audácia  e  de  valor,  conseguiu  estabelecer-se  em  Ormaz,  Die,  Damão, 
Goa,  Bombaim,  Gochim,  Ceilão^  Meliapor,  Malaca;  e  d'aqui  rompe  um  cami- 
nho atravez  do  vasto  archipelago  das  índias  para  Java,  Borneo,  Timor,  Molu- 
eas,  China,  Japão,  ao  passo  que  outros  navegantes  tão  intrépidos  como  babeis 
descobrem  a  Nova  Hollanda,  Nova  Guiné,  ilha  Mindaiiao  e  outras  terras,  que 
formam  o  que  se  chama  actualmente  Oceania. 

75)  BANDINI  (ANG.  M.) 

E.  —  Vespucci,  Vita  e  lettere  racolte  e  illustrate  da  — .  Firenza,  1745. 
(Vida  de  Americco  Vespucci.) 

76)  BANDT  (LEANDRO  VANDER). 

E.  —  Joannes  Bragantinus  LusitanUs  illegitimus  Rex  demonstratm  a  D, 
Joanne  Caramuel  Lobkowitz  Dunensi  Religioso,,  Melrosensi  Abbate  et  Cister- 
tientis  Ordinis  pei*  Angliarrij  Scotiam,  Hiberniamque  Progenerali  translatus  in 
idioma  LcUinum  a  D.  — .  Lovanii,  typis  Everardi  de  Wilte,  anno  de  1642,  4.", 
220  pag.  além  de  16  folhas  não  numeradas,  ás  quaes  se  segue  a  versão  em 
latim  do  manifesto  do  reino  de  Portugal. 

Este  livro  é  ornado  com  o  retrato  de  D.  Francisco  de  Mello,  marquez  de 
Tor  de  Laguna,  governador  da  Bélgica. 

Como  é  fácil  de  ver,  esta  obra  não  só  é  contraria  á  independência  de  Por- 
tugal, mas  até  insultante  para  os  portuguezes. 

77)  BARCA  (PEDRO  CALDERON  DE  LA)  —  Famoso  poeta  hes- 
panhol. 

Nasceu  em  Madríd  no  anno  do  1601,  e  falleceu  em  maio  de  1687.  i 
Na  coUecção  de  suas  obras  vem  uma  notável  comedia  íntitQlada  El  Prín- 
cipe Constante,  da  qual  o  nosso  infante  santo  D.  Fernando,  filho  de  D.  João  I 
é  o  protogonista.  Entram  em  scena  D.  Fernando,  D.  Henrique,  c  D.  João,  além 
d^outros  personagens. 

Eis  o  que  a  respeito  d*esta  notável  peça,  uma  das  mais  famosas  de  Calde- 
ron,  nos  diz  Bouterweck :  2 

«É  n*esta  comedia  de  D.  Fernando  que  o  auctor  ostenta  todo  o  seu  génio. 

'  Firniin  Didol — Nouvellc  liiographie  Généralc,  vol.  H^,  p«ig   170. 
2  liistoire  de  la  LiUnalurr  Espagnole,  vol.  2/',  pa?.  lUi.  (Paris  181^). 


32  BA 

<Se  n'ella  a  anidade  de  tompo  e  de  logar  é  poaco  respeitada,  esqaecemo* 
nos  d'isso  em  favor  da  anidade  de  acção,  d'uma  acção  heróica»  em  qae  Cal- 
deron  soube  empregar  o  pathetico  mais  verdadeiro,  sem  todavia  se  desviar 
do  estylo  da  comedia  nacional.  D.  Fernando,  príncipe  de  Portugal  é  o  heroe 
d'esta  peça,  á  qual  também  se  poderia  dar  o  título  de  Regulo  Partuçuez.  Des* 
embarca  na  costa  d'Africa  á  frente.  d'um  exercito  acompanhado  por  seu  ir- 
mão D.  Henrique.  Ataca  os  estados  do  rei  de  Marrocos,  e  fica  vencedor  na  pri- 
meira batalha,  na  qual  faz  prisioneiro  um  heroe  africano,  chamada  Muley. 

tEsto  Muley,  que  está  enamorado  da  filha  do  rei  de  Marrocos,  conta  sua 
historia  ao  príncipe,  e  este,  cuja  generosidade  se  commove  por  esta  narração, 
dá  liberdade  ao  seu  captivo.  Muley  mal  teve  tempo  de  exprimir  sua  surpresa 
o  reconhecimento,  quando  reforços  chegados  ao  exercito  inimigo  o  põem  em 
estado  de  dar  nova  batalha,  na  qual  D.  Fernando  é  derrotado  e  levado  capti- 
vo por  sua  vez.  Começam  aqui  as  scenas  trágicas,  que  são  preparadas  poir 
lances  enternecedorea  d'uma  outra  espécie.  O  rei  de  Marrocos  offerece*se  a 
dar  a  liberdade  ao  seu  prisioneiro  em  troca  da  fortaleza  de  Ceuta,  que  os  por- 
tuguezes  possuem  na  costa  d*aquelle  paíz.  O  príncipe  declara  que  prefere  mor- 
rer no  mais  cruel  captíveiro  ae  ver  uma  cidade  christã  entregue  aos  infiéis 
por  causa  d'elle.  O  rei  envia  uma  embaixada  a  Portugal  para  apresentar  esta 
proposta,  e  calcula  de  tal  modo  que  será  acceíte,  que  trata  seu  captivo  com  a 
maior  distincção  até  ao  regresso  de  seus  embaixadores.  A  resposta  dos  por- 
tuguczes  é  como  elle  a  deseja,  mas  D.  Fernando  recusa  ser  resgatado  por  este 
preço.  Tentam  inutilmente  vencer  sua  resistência  á  força  de  tormentos.  Sup- 
porta  os  sem  murmurar  e  com  uma  religiosa  constância,  mas  seu  corpo  sue- 
cumbe  finalmente,  e  morre  inabalável.  Os  sofTrimentos  e  o  heroísmo  do  prínci- 
pe, a  lucta  da  religião  e  do  reconhecimento  no  coração  de  Muley,  que  faz  inúteis 
esforços  para  libertar  seu  bemfeitor,  o  amor  doeste  mesmo  Muley  áprínceza 
de  Marrocos,  que  está  promettida  a  um  príncipe  mouro,  e  o  amor  mais  interes- 
sante ua  sua  exaltação  melancólica  d'esta  princeza  a  Muley,  tudo  isto  forma 
um  todo  tão  commevedor,  tão  verdadeiramente  poético,  que  os  defeitos  que  se 
encontram  n'esta  peça,  e  para  os  quaes  não  pode  haver  dissimulação,  são  mui- 
to pouco  notáveis  para  serem  mencionados  n*uma  obra  tão  resumida  como 
esta  nossa.  A  acção  parece  terminada  com  a  morte  do  príncipe,  mas  um  novo 
exercito  chega  de  Portugal,  e  o  espirito  de  D.  Fernando  com  um  archote  na 
mão,  se  poe  á  sua  frente,  e  o  conduz  á  víctoria.  A  impressão  causada  por  es- 
ta apparição  leva  a  seu  auge  o  efTeito  pathetico  das  scenas  precedentes.» 

78)     BARCLAY  (WILLIAM). 

E.  —  Ije  Portugal  piltoresque  et  architectural  dessiné  (Taprès  naiure.  Pa- 
ris, 1846. 

(Porlupal  Piltorrsco,  ctc.) 
Nunca  vi  <'sta  obra. 

7U)  BARET  (E.)  —  Ancien  élcve  de  TÉcole  Xormalc,  professeur  agregé 
au  Lvcôe  «io  Poitirr?. 


BA  33 

E.  —  Éttuies  sur  la  Rédaction  Espagnole  de  UÁmadis  de  Gaule  de  Garcia 
Ordohez  de  Montalvo.  Paris,  Augaste  Darand,  1853, 8.»  gr.,  203  pag. 

Obra  consagrada  à  memoria  de  Mr.  Ch.  M.  de  Feletz,  de  rAcademie 
Française. 

(Estudos  3obre  a  redacção  hespanhola  do  Amadis  de  Gaula.) 

Esta  obra  é  destíDada  para  provar  que  o  celebre  romance  de  cavallaria 
Amadis  de  Gaula  é  de  origem  hespanhola,  e  não  portogaeza: 

•Tasso  não  parece  suspeitar  nem  da  versão  de  Lobeira,  ^  nem  das  preten- 


<  «Foi  na  iQzida  corte  do  mestre  d'Aviz,  onde  achou  a  cavallaria  de  toda  a  Euro- 
pa o  seu  flomero,  em  Vasco  de  Lobeira.  Como  antes  d'aquelle  houve  poetas,  assim  an- 
tes d'este  houve  romancistas;  como  llomcro  cclypsou  a  memoria  dos  cantos  de  seus  an- 
tecessores, assim  Lobeira  fez  esquecer  as  mal  tecidas  invenções  dos  mais  antigos  novel- 
leiros,  e  o  AmadU  de  Gaula  é  a  primeira  e  principal  novella  no  extensíssimo  catalogo 
dos  coDtus  de  cavallaria. 

•Poucas  memorias  nos  restam  acerca  de  Vasco  de  Lobeira.  Sabe-se  que  foi  natural 
do  Porto,  e  armado  cavalleiro  por  D.  João  I,  antes  de  começar  a  batalha  de  Aljubai- 
rota.  Viveu  a  maior  parte  da  sua  vida  em  Elvas,  c  morreu  cm  1403. 

•  Escrípto  muito  antes  da  invençAo  da  imprensa,  o  Amadis  correu  manuscripte  até 
o  tempo  de  D.  João  Y,  porque  os  nossos  antepassados  nunca  tiveram  a  curiosidade  de 
o  imprimir.  Foram  assim  escasseando  as  copias  d'eilc,  e  nos  últimos  tempos  se  havia 
tomado  tão  raro,  que  apenas  se  lhes  conhecia  um  ou  dois  exemplares. 

«O  conde  da  Ericeira,  testemunha  acima  de  toda  a  excepção,  o  viu,  e  o  abbade  Bar- 
bosa diz  que  o  próprio  original  estava  na  livraria  dos  duques  de  Aveiro.  O  fatal  terra- 
moto de  1755  fez  desapparecer  este  monumento  precioso  da  nossa  liltcratura,  e  tudo 
nos  incita  boje  a  crer  que  se  perdeu  para  sempre. 

*0  theatro,  em  que  se  passam  as  aventuras  de  Amadis  de  Gaula,  é  um  theatro  quasi 
tamanho  como  o  mundo  conhecido  no  tempo  de  D.  João  I.  O  heroe  e  os  roais  cavallei- 
ros  seus  contemporâneos  cruzavam  mares  extensos,  peregrinavam  centenares  de  léguas 
ecMD  a  mesma  rapidez  e  facilidade,  com  que  nós  fazemos  visitas  dentro  de  Lisboa;  esta 
cemmodidade  aproveitaram-na  todos  os  novelieiros,  que  vieram  depois  de  Lobeira;  e 
l^ra  as  distancias,  qu^  seria  incrível  fazer  correr  em  curtíssimo  praso  a  um  cavalleiro, 
lá  estavam  as  magas  ou  encantadoras,  espécie  de  espada  de  Alexandre,  que  o  escriptor 
sempre  tinha  á  mão  para  cortar  todos  os  nós  gordios,  que  embaraçavam  as  suas  narra- 
ções. 

•A  época  escolhida  pelos  romancistas  de  cavallarias  para  n*ella  collocarem  os  seus 
heroes  fabulosos  é  indeterminada  em  todas  as  novellas.  A  do  Amadis,  ainda  que  bastante 
ineerta,  é  menos  vaga.  O  beroe  viveu  muito  antes  do  celebre  Artbur  ou  Arthus,  rei  do 
Inglaterra;  mas  já  quando  este  paiz  e  o  de  Fiança  eram  chrisláos.  Segundo  isto,  que  se 
lé  no  1  *  capítulo  do  Amadis,  este  guerreiro  floresceu  no  vi  ou  vii  século;  e,  como  a 
maior  parte  dos  romances  de  cavallaria,  que  ainda  existem,  versam  sobre  a  vida  dos 
sens  imaginários  descendentes,  podemos  também  para  elles  estabelecer,  ainda  que  im- 
perfeitamente, nma  espécie  de  chronologia.»  (Panorama  de  1838,  pag.  124.  Artigo  at- 
tribaido  ao  sr.  Alexandre  Herculano). 

•Todas  as  três  nações  portugueza,  hespanhola  e  franceza,  pretendem  para  si  esta 
novella;  e  na  contenda  os  portuguezes  parecem  estar  peíor  que  os  seus  adversários,  visto 


54  BA 

ções  dos  portQgaezcs;  é  à  Hcspanha  que  deve  pertencer  a  honra  de  ter  erea- 
do  sobre  um  thema  antigo  uma  composição  original. 

«É  certo  ter  existido  uma  versão  portngueza  do  Amadis  de  Gaula.  A  pro- 
va resulta  d'um  conjuncto  de  testemunhos  formaes.  !.<"  Gomes  Eannes  de 
Azurara  na  Chronka  do  conde  D.  Pedro.  2.<>  Diogo  Barbosa  Machado  na  Bi- 

bliotheca  Lusitana.  3.°  Uma  poesia  de  António  Ferreira.  4.°  Garcia  d<B  Resen- 
de, no  Cancioneiro. 

•Eis  os  únicos  testemunhos  authcntícos  allegados  em  favor  da  origem 
portngueza  do  Amadis  de  Gaula.  D'esta  fonte  dimanam  todas  as  opiniões  dos 
críticos  modernos  favoráveis  a  esta  origem. 

«Não  é  sem  espanto  que  se  vô  em  1550  mesmo  a  corte  de  Portugal  bem 
pouco  firme  a  respeito  da  origem  d'este  romance,  para  attribiiir  a  composi- 
ção d'elle,  não  já  a  Lobeira,  mas  a  um  príncipe  de  sangue  real. 

•Ouçamos  a  narração  de  D.  Luiz  Zapata,  embaixador  de  Hespanha  em 


já  n&o  existir  o  original.  Mas  ao  cabo  s2o  ellcs  que  teem  razão,  segundo  nosio  entender; 
e  por  isso  ndo  duvidámos  ds  aUribuir  o  Amadh  a  Vasco  de  Lobeira. 

•O  rei  Perion  reinava  na  Gaula  (França);  o  rei  Garínter  na  pequena  Bretanha,  boje 
a  província  de  França  d*esle  nome.  Levado  pelo  desejo  de  conhecer  Garinler  intenta  Po- 
rion  uma  longa  viagem;  c  com  effeito  o  encontra  n'uma  caçada;  dSo-se  a  conhecer  um  ao 
outio,  e  Perion  é  conduzido  á  corte  do  seu  novo  amigo.  Tinha  esle  uma  filha  chamada 
Elisena,  que  se  namora  de  Perion,  o  qual  dahi  a  pouco  parto  para  a  Gaula,  deixando-a 
gravida.  EUa  para  esquivar-se  á  infâmia  entrega  o  fruclo  dos  seus  amores  á  mcrcé  das 
ondas,  encerrado  em  uma  caixa.  Foi  esto  Amadii.  Encontrado  por  uma  barca,  em  que  ia 
Gandales,  cavalleiro  escocez,  este  o  salva,  e  cria  com  seu  filho  Gandalim,  depois  escu- 
deiro de  Amudis.  Os  dois  moços  sào  levados  á  côrle  de  Languines,  rei  de  Escócia.  Aqoi 
viu  a  Amadis  cl-rei  Lisuartc,  que  de  Dinamarca  vinha  reinar  em  Inglaterra,  o  qual  dei- 
xou na  corte  de  Languines  a  sua  filha  Oriana.  Foi  cnUlo  que  começaram  os  amores 
d'c8ta  princeza  com  Amadis,  que  são  o  principal  objecto  da  novclla.  Amadis  ó  reconbo- 
eido  por  seu  pae  Perion^  já  casado  com  a  filha  de  Garinter;  o  cro.^ce  em  poder  o  renome. 
Mil  difficuldades  se  levantam  para  ellc  chegar  a  possuir  Oriana,  as  quaes  vcnco  com  re- 
petidos actos  de  generosidade  e  valentia.  Emfim  o  romance  ac«iba  de  um  modo  incom- 
pleto coro  os  trabalhos,  que  nos  últimos  annos  cercaram  a  cl-rei  Lisuaile. 

•É  esta,  em  summa,  a  matéria  que  enche  o  volumoso  romance  de  Amadis,  novella 
cheia  de  muitas  paginas  fastidiosas,  mas  tambcni  de  muitas,  que  grandemente  excitam 
a  curiosidade.  O  cstylo  era  que  está  oscripto,  é  o  do  uma  velha  chronica  do  xv  socolo,  o 
notámos  n'elle  uma  grande  similhança  cora  os  escriptos  do  pae  da  nossa  historia,  o  síd- 
gello  chronista  de  D.  João  I,  Fernáo  Lopes,  que  tantas  vozes  se  mostra  mais  poeta,  que 
muitos,  que  se  arrogam  esle  ti4ulo. 

•Traçando  um  levo  esboço  da  novella  de  Amadis  de  Gaula,  scguc-se  o  tratar  a  ques- 
tão de  saber  se  a  devemos  attribuir  a  um  escriptor  portuguez. 

«Primeiro  que  tudo  ó  de  notar  que  a  tradição  constante  em  Portugal  foi  sempre  que 
o  Amadis  fora  composto  por  Lobeira. 

«Pretendem  os  francezes  (não  todos  os  que  na  matéria  teem  escripto)  que  esta  no- 
vella fora  traduzida  em  bespanhol  do  idioma  Picardo,  e  Herberay  diz  a  vira  n^esta  lín- 
gua; mas  isto  nada  prova.  Quem  impedia  que  os  francezes  traduzissem  o  original  de  Lo- 
beira? A  outra  objecção  contra  nós  é  ter  feito  o  aurlor  os  seus  heroos  francezes  e  ingie- 


BA  S5 

Lisboa,  por  aquella  época:  (Miscellanea  onginal,  na  Bibliotheca  Real,  códice 
citado  por  D.  Juan  Pellicier).  Entre  outros  grandes  personagens,  qae  se  teem 
distingaido  como  escriptores,  mencionarei,  diz  elle,  D.  Fernando,  segando 
dnque  de  Bragança,  auctor  do  Amadis  de  Gaula.  É  a  opinião  assente  na  fa- 
mília real  portugneza,  e  eu  mesmo  a  ouvi  da  bocca  da  sr.*  D.  Gatharina.  E 
bem  me  parecia  que  uma  obra  tão  alta  e  tão  nobre  devia  ter  saido  d'ama 
raça  illustre,  e  não  podia  pertencer  a  um  homem  vulgar. 

iO  licenciado  Jorge  Cardoso  afflrma  que  Pedro  de  Lobeira  traduziu  do 
francez  a  historia  de  Amadis,  por  ordem  do  infante  D.  Pedro,  filho  do  rei 
D.  João  I. 

«É  verdade  que  Barbosa  não  cita  a  opinião  d'este  auctor,  senão  para  a 
taxar  de  errónea.  Este  facto  não  testemunha  menos  a  incerteza  dos  portu- 
guezes,  e  prova  que  no  tempo  de  Cardoso  (i650)  existia  uma  opinião,  que  at- 
tribuía  à  França  a  composição  do  Amadis. 


tes:  mas  isto  lambem  nada  prova;  porque  prova  de  mais.  Os  inglezes  teriam  aíoda  mais 
razão  para  pedirem  a  gloria  d'esta  obra,  visto  que,  apesar  de  ser  franceza  a  persona- 
gem principal,  a  maier  parte  dos  acontecimentos  põe-os  o  auctor  na  Inglaterra,  e  quasi 
todos  os  ravalleíros  notáveis  são  d'este  paiz,  á  excepção  de  Amadis  e  seu  irmão  Galaor. 

•O  certo  é  que  Lobeira  tendo  vivido  no  tempo  d'el-rei  D.  Fernando  I  e  de  D.João  I 
tinha  visto  as  proezas,  que  em  Portugal  obraram  os  cavalleiros  inglezes.  Devia  elle  fazer 
portanto  alta  idéa  da  cavallaria  d'aquella  nação.  Nada  havia  mais  natural  do  que  fazer 
dâ  Inglaterra  o  theatro  das  façanhas  dos  seus  imaginários  heroes.  Como  porém  o  agente 
principal  de  todos  os  successos  devia  ser  o  amor,  naturalissimo  era  que  o  auctor  buscasse 
am  principe  estrangeiro,  que  viesse  tornar  brilhante  a  corte  ingleza,  com  seus  amores 
pela  dama  principal,  a  filha  de  Lisuarte,  que  não  poderia  aliás  corresponder  á  alfeição 
d'Qm  sobdito  de  seu  pae.  Eis  a  razão  obvia,  porque  Amadis  é  francez. 

•Além  d'e8tas  observações  ha  uma  principal,  o  examinar  em  si  a  novella  para  vér 
se  das  soas  próprias  entranhas  se  podia  arrancar  a  certeza  da  sua  origem. 

•  GarcíordoDei  diz  —  emendara  os  três  livros  de  Amadis^  que  andavam  mui  vicia- 
dos, e  trasladara  o  quarto;  —aqui  o  verbo  trasladar ^  é  claro,  que  não  pôde  significar 
senão  traduzir,  o  que  mostra  a  olhos  desapaixonados  que  a  obra  não  era  originalmente 
bespanbola. 

«Seria  franceza?  Dizemos  sem  duvida  alguma  que  não.  Perion  encontrando  Garínler 
diz-lhe  que  viera  de  mui  remotas  terras  para  o  vér.  Era  possível  acaso  que  um  escriptor 
francez  fizesse  o  rei  da  Pequena  Bretanha  desconhecido  do  da  França,  e  pozesse  na  bocca 
d'este  mn  tão  descompassado  erro  geographico?  Além  d'isto  Perion  e  Lisuarte  reúnem 
cortes,  nos  casos  difficeis  e  circumstancias  importantes:  n'estas  cortes  apparecem  não  os 
barões  das  antigas  assembléas  feudaes  da  Inglaterra  e  França,  mas  os  ricos  homense  ho- 
mens bifns  nas  cortes  portuguezas.  Emfim  o  anctor  descreve  a  passagem  do  canal  de  In- 
glaterra como  nma  viagem  de  nove  dias  com  vento  favorável.  As  frequentes  relaeOes  de 
gaerra  «  de  paz  entre  a  Grã  Bretanha  e  a  França  permittiam  por  ventura  que  ignorasse 
um  escriptor  francez  a  distancia  de  um  a  outro  paiz?»  (PanorarM  de  1838,  pag.  110.) 

A  pag.  6  do  roe:»mo  jornal  de  1840,  confirma  o  sr.  Alexandre  Herculano  quanto  lia- 
via  dito  acerca  do  Amadis  de  Gaula,  e  accresceota  um  trecho  da  Chronica  do  Conde  D.  Pe' 
dro  composta  por  Gomes  Eannes  d'Azurara.  (Gap.  63  ) 


«Do  todos  03163  factos  reanidos  qual  a  conclusão  legitima,  que  se  pôde 
tirar?  A  existência  pelos  fins  do  século  xiv  diurna  versão  portugueza  do  Ama- 
dis  de  Gaula,  acerca  de  cuja  origem  e  auctor  os  próprios  portugueses  não 
estão  concordes,  mas  que  se  pôde  todavia  altribuir  com  mais  probabilidade  a 
Tasco  de  Lobeira.  Hoje  esta  versão,  que  parece  nunca  ter  sido  impressa,  des- 
appareceu.  Resta  pois  a  importante  questão  de  saber  até  que  ponto  ella  servia 
ou  não,  de  modelo  á  versão  de  Montalvo,  a  mais  antiga,  que  subsiste  hoje. 
Esta  questão  será  implicitamente  resolvida,  se  nós  provarmos  que  anterior- 
mente a  Vasco  de  Lobeira  circulava  já  na  Uespanha  um  romance  de  Âmadis. 

«A  antiga  Litteratura  Castilhana  contém  duas  allusões  importantes  áhis^ 
toria  de  Amadis.  Acha-so  a  primeira  n'um  poema  de  Pedro  Lopez  de  Ayala, 
auctor  estimado  da  Chronica  de  quatro  reiímdos.  Feito  prisioneiro  em  1^7, 
na  celebre  batalha  de  Najera,  na  qual  empunhava  o  estandarte  da  ordem  da 
Banda,  e  levado  para  Inglaterra,  Ayala  compoz  durante  seu  captiveiro  uma 
espécie  de  poema  moral  intitulado:  El  rimado  palacto,  O  poeta  lamentando 
os  erros  de  sua  mocidade,  exprime-se  assim  na  estancia  162. 

Plegomi  otrost  oir  muchas  vogadas 
Libros  de  devaneos  o  mentiras  probadas, 
Amadis  o  Lanzarote^  o  burlas  a  sacadas, 
En  que  perdi  mi  tiempo  a  mui  malas  jornadas. 

«Depois  de  se  ter  involvido  muito  activamente  nos  acontecimentos  d'este 
século  tão  fcrtil  em  agitações,  o  chanceller  Ayala  morreu  em  Calahorra  em 
i407^  na  edade  de  75  annos,  o  que  faz  descer  até  i342  o  anno  do  seu  nas- 
cimento. Ayala  tinha  pois  25  annos  na  época  da  batalha  de  Najera.  Tomando 
paite  no  partido  de  Henrique  de  Transtamara,  o  qual  desde  1359  estava  em 
lucta  com  seu  irmão  Pedro,  o  Cruel,  quasi  que  nos  não  podemos  enganar, 
suppondo  que  este  chanceller,  que  escreveu  com  tão  grande  exactidão  a  narra- 
tiva d'esta  lucta  fraticida,  esteve  bem  occupado  desde  o  princípio  para  não  de- 
signar o  espaço  de  1359  a  1367  como  um  tempo  de  ociosidade,  occupado  uni- 
camente de  leituras  frívolas. 

«A  época  em  que  elle  se  entretinha  a  ler  Lancelot  e  Amadis,  foi  sem  du- 
vida a  da  sua  adolescência,  quando,  simples  pagem  ou  escudeiro,  bebia  n'es- 
tes  romances,  ^  como  todos  os  nobres  d'aquelle  tempo,  as  idéas  dos  deveres 


^  Amadis  de  Gaula,  Este  romance,  cujas  quatro  primeiras  partes  principalmeate 
teem  grande  merecimento,  tiveram  no  século  xvi  uma  aceitação  prodigiosa,  e  que  não 
excede  talvez  aqnella,  que  em  nossois  dias  coroou  as  producções  justamente  celebres  do 
fecundo  e  admirável  auctor  do  Waverley.  Publicados  primeiramente  em  Uespanha,  e  por 
diversos  escriptores,  que  se  não  nomearam,  os  Amadis  não  transpozeram  facilmente  os 
limites  da  península,  e  foi  até  necessária  a  residência,  que  fez  n'este  paiz  o  illustre  pri- 
sioneiro de  Pavia,  para  nos  fazer  conhecer  este  romance,  cheio  de  attractivos.  Mas  desde 
que  a  pedido  do  monarcha  francez  tornado  livre,  o  senhor  des  Essarts  transportou  para 
a  nos^a  língua  a  engenhosa  ficção  Ibérica,  a  obra  passou  bem  depressa  para  ItalUi,  Al- 


BA  ifí 

d'iun  gentil  cavaileiro.  É  pois  permittido  concluir  que  uma  versão  do  Amadis 
que  desde  1360,  pelo  menos  circulava  na  Uespanha  conjunctamente  com  o 
Lancdot,  devia  necessariamente  ser  redigida  n'este  paiz  muito  tempo  antes, 
provavelmente  desde  o  começo  do  século  xiv,  talvez  mesmo  desde  o  xiii. 

«Dar*se-ba  o  caso,  vista  a  extrema  analogia  dos  idiomas  portuguez  e  hes- 
paphol  n'aquella  época,  que  Ayala  designe,  sem  a  nomear,  a  versão  de  Lo- 
beira?  De  nenhum  modo:  eis  aqui  as  razões. 

«Machado,  concordando  n'isto  com  as  cbronícas  portuguezas  refere  que 
Vasco  de  Lobeira  foi  armado  cavalleiro  na  occasiào  da  batalha  de  Aljubarrota 
pela  própria  mão  do  rei  João  I.  No  tempo,  em  que  as  leis  da.cavallaria  esta- 


lemaoba,  Inglaterra,  e  até  mesmo  para  a  Hollanda,  e  apparecea  successivamentn  no 
idioma  próprio  de  cada  um  doestes  paizes,  mas  com  dilTerença^  e  continuações. 

O  primeiro  auctor  d'este  celebre  romance,  aquelle,  a  quem  somos  devedores  dos  qua- 
tro primeiros  livros,  não  é  bem  conhecido.  Segundo  António,  que  adopta  a  este  respeito 
as  tradicções  conservadas  em  Portugal,  seria  um  portuguez  chamado  Ya«co  de  Lobeira. 
É  esta  a  opinião  seguida  mais  geralmente,  não  obstante  o  testemunho  contrario  de  Ni- 
colau de  Herberay,  senhor  des  Essarts,  que  no  começo  do  prologo  collocado  por  elle  em 
frente  da  sua  traducção  do  primeiro  livro  de  Amadis^  exprime-se  d'esta  sorte:  «È  bem 
certo  que  elle  esteve  primeiro  em  nossa  lingua  franceza,  sendo  Amadis  francez,  e  não 
hespanhol.  £  de  que  assim  fora,  encontrei  ainda  alguns  restos  d'um  velho  livro  escripto 
á  mão  em  linguagem  Picarda,  pelo  qual  julgo  que  os  hespanhoes  fizeram  uma  traducção.* 
Esta  asserção  do  senhor  des  Essarts  pareceu  concludente  a  Mr.  de  Tressan;  mas  não  é 
admittida  pelos  bons  crilicos,  que  em  nenhuma  parte  encontraram  o  menor  vestígio  d'esse 
original  em  lingua  Picarda,  citado  pelo  traductor.  A  opinião  favorável  a  Lobeira  foi  sus- 
tentada acaloradamente  no  Journal  de  Paris,  no  anno  de  1779  e  no  Esprit  des  Journaux 
em  setembro  de  1779,  por  Cocbu,  litterato  fallecido  no  principio  do  corrente  século. 

EDIÇOE»  EM  HE8PAMHOI« 

Salamanca,  1519.  Desconfia-se  porém  haver  uma  edição  anterior,  de  1510,  impressa 
oa  mesma  cidade. 
Saragoça,  1521. 
Sevilha,  15i6 
Sevilha,  1531. 
Veneta,  1533. 
Sevilha,  1535. 
Sevilha,  1539. 
Medina  dei  Campo,  1515. 
Sevilha,  1517. 
Lovaín,  1551. 
Sevilha,  1552. 
Burgos,  1563. 
Burgos,  1587. 
Salamanca,  1575. 
Sevilha,  1575. 
Alcala  de  Benares,  1580. 
Sevilha,  1580. 
Madrid,  1888. 
Barcellona,  1847. 


»8  BA 

vam  cm  pleno  vigor,  ningaem  podia  ser  armado  cavalleiro  antes  da  edade  de 
21  annos  completos.  Mas  na  decadência  da  instituição  foi-se  pouco  severo  para 
com  este  principio.  Na  véspera  d'um  cerco,  d*uma  batalha,  quer  para  augmen- 
tar  o  numero  dos  combatentes,  quer  para  estimular  o  ardor  dos  escudeiros, 
ou  em  algumas  occasiões  solemnes,  taes  como  as  de  coroações,  casamentos, 
viu-se  conferir  o  titulo  de  cavalleiro  a  mancebos,  que  não  tinham  passado  por 
todas  as  provas  da  ordem.  Esta  circumstancia  da  occasião  mesma  da  batalha 
— ao  estar  para  dar-se  batalha  faz  nascer  uma  forte  presumpção  de  que  em 
1385  Vasco  de  Lobeira,  que  se  distinguiu  cedo  como  cavalleiro,  tinha  talvez 
menos  de  20  annos.  Gomo  admittir  então  que  possa  ser  o  auctor  d'um  livro, 

La  Scrgas  dei  virtuoso  cavallero  Esplandiano^  hijo  d'Amadis  de  Gaula.  Toledo,  1521. 

O  mesmo  liyro.  Salamanca,  1525. 

O  mesmo  livro.  Burgos,  1526. 

O  mesmo  livro.  Sevilha,  1526. 

O  mesmo  livro.  Caragoça,  1587. 

O  mesmo  livro.  Burgos,  1587- 

O  mesmo  livro.  Alcalá,  1588. 

Sexto  libro  de  Amadis  de  Gaula,  en  que  se  cuenlan  los  grandes  fechos  de  Florisando, 
Salamanca,  1510. 

O  mesmo  livro.  Salamanca,  1526. 

El  septimo  libro  de  ÂmadiSj  en  el  qual  se  trata  de  los  grandes  fechos  cn  arma  de  Li- 
suarte  de  Greda  fijo  de  Esplandian  y  de  ferion  de  Gaula.  Sevilha,  1525. 

O  mesmo  livro.  Toledo,  1539. 

O  mesmo  livro.  Sevilha,  1548. 

O  mesmo  livro.  Lisboa,  1587. 

O  mesmo  livro.  Tarragona,  1587. 

El  oitavo  de  Amadis^  que  trata  de  las  estranas  aventuras  y  grandes  proezas  de  su 
nieto  Lisuarte,  y  dela  muerte  dei  Rey  Amadis.  Sevilha,  1526. 

El  noveno  libro...  que  es  la  chronica  dei  muy  valiente  y  efforçado  príncipe  y  caval- 
lero de  la  Ardiente  espada  Amadis  de  Grécia.  Burgos,  15o5. 

O  mesmo  livro.  Sevilha,  15i2. 

O  mesmo  livro.  Medina  dei  Campo,  1564. 

O  mesmo  livro.  Valência,  1582. 

O  mesmo  livro.  Lisboa,  1596. 

Don  Florisel  de  Niquea.  La  Crênica  de  los  muy  valienles  y  esforçados  y  invencibles 
cavaUeros  dõ  Florisel  de  Niquea  y  el  fuerie  Anaxarles:  hijos  dei  muy  excelente  príncipe 
Amadis  de  Greda.  Valladolid,  1532. 

O  mesmo  livro.  Sevilha,  1546. 

O  mesmo  livro.  Taragona,  1584. 

O  mesmo  livro.  Caragoça,  1584. 

Parte  tercera  de  la  coronica  dei  muy  cxcMenle  príncipe  don  Florisel  de  Niquea,  tlc, 
Sevilha,  1546. 

O  mesmo  livro.  Évora. 

Don  Florisel  de  Niquea,  La  primera  parte  de  la  quarta  de  la  chronica  dei  cxcelen* 
ti ssimo  príncipe  don  Florisel  de  Niquea.  Salamanca.  1551. 

O  mesmo  livro.  Çáragoça,  1568 

Libro  segundo  de  la  quarta  parte.  Salamanca,  1551. 


BA  B9 

qno  Ayala,  o  qaal  também  assLstiu  a  esta  batalha  do  Aljubarrota,  e  D'ella  feito 
prisioneiro  pela  segunda  vez^  declara  ter  lido  antes  de  1360  ? 

«Púde-se  chegar  á  mesma  conclusão  por  uma  outra  maneira.  Tomando 
sempre  como  data  certa  a  existência  d'um  Amadis  no  anno  de  1360,  suppo- 
nho  qne  Vasco  de  Lobeira  fosse  auctor  d'este  romance,  o  que  o  tivesse  aca- 
bado na  edade  de  25  annos.  Tinha  então  pelo  menos  âo  annos  desde  1300, 
o  que  levaria  a  1335  a  data  do  seu  nascimento,  que  é  desconhecida.  Ora,  por 
conGssão  dos  portuguezes,  só  em  1385  é  que  foi  armado  cavalleiro.  !Nào  teria 
â  vista  d'isto  recebido  este  titulo,  scnuo  em  a  edade  de  50  annos,  o  que  vero- 
similmente nao  poderíamos  admitlir. 

<É  pois  permittido  asseverar  que  existia  na  Hespanha  uma  traducçao  do 


O  mesmo  livro.  Çaragoça,  15G8 

Tercera  parte  de  la  quarla.  Salamanca,  157)1. 

Dozena  parte  dei  invincible  cavallero  Amadis  de  Gaula,  Sevilha,  1516. 

O  mesmo  livro.  Sevilha,  1549. 

EDIÇÔEH  EM  FRANCEZ 

Us  livres  I  à  XII  dWmadis  de  Gaule,  Paris,  1510-1556.  Reimpressos  de  l'>i3  .i 
t559 

Os  mesmos  livros.  Paris,  1518  a  1500. 

O XIII  livro.  Paiis,  1571. 

O  XIV  livro.  Paris,  1574. 

Livros  I  a  XII.  Paris,  1557,  12  vol. 

Ltoro  XII.  Avignon,  1557. 

Ltrroí  J  a  XII.  Anvers,  1501. 

Os  mesmos  livros.  Anvers,  1572. 

Litro  XIII,  Anvers,  1572. 

Livro  XIV.  Anvers,  1574. 

Livro  XV.  Anvers,  1577. 

Livros  I  a  XII.  Lyon,  1575,  12  vol. 

Os  mesmos  livros.  Lyon,  1577. 

Livro  XV.  Lyon,  1577. 

Livros  XVJ,  XVII,  XVIII,  XIX,  XX,  XXI.  Lyon,  1577-1582    C  vol.   varias  vezes 
reimpressos. 

Livros  XXII,  IXIII,  XXIV.  Paris,  1615,  3  vol. 

Tresor  de  tous  les  livres  d^Amadis.  Lyon,  1582,  3  vol.,  1605,  e  1606.  E  varias  outras 
cdicde». 

Os  mesmos  livros.  Anvers,  1574.- 

EDlÇAo  EM   IT%UAlliO 

Yinelia,  1546  a  1591. 

BDIÇAO  EM  ALLBMÂO 

Francfort  am  May  o,  1583. 

EDlçAo  EM  HOLUtliDEZ 

Utrecht  e  Dordrecht,  1619  a  16H,  6  vol. 

EDIÇÕES  EH  I.VttLES 

London,  1619. 

Traducçao  de  Robert  Southey.  London,  1803,  iiQl.--  Extradado  do  Manuel  du 
Libraire,  par  Brunet.  Edição  de  1866. 


60  BA 

Amadis  de  Gatda,  anterior  á  versão  portagneza.  Uma  curiosa  passagem  do 
texto  hespanbol  acabará  de  dar  o  caracter  da  certeza. 

«O  personagem  de  Amadis  distingue-se  entre  tantos  heroes  cavalheirescos 
por  nma  lealdade  a  toda  a  prova,  e  pela  mais  escrupulosa  fidelidade. 

«As  aventuras  de  sua  vida  errante  levam-no  a  restabelecer  sobre  othrono 
de  seus  pães  uma  joven  princeza  por  nomeBríolania,  a  qual  muito  encantada 
da  belleza  e  valentia  de  Amadis,  namora-se  do  cavalleíro  com  uma  viva  pai- 
xão, e  não  aspira  a  mais  do  que  pol-o  de  posse  de  seu  reino  e  de  sua  pessoa. 
Mas  todas  as  coroas  do  mundo  não  poderiam  distrahir  Amadis  do  pensa- 
mento da  sua  querida  Oriana.  Os  votos  de  Briolania  não  Toram  escutados. 

«Tal  era,  segundo  parece,  a  respeito  d'6ste  ponto  delicado  a  lição  cons* 
tante  da  velha  historia. 

«No  emtanto  o  infante  D.  Affonso  de  Portugal,  filho  natural  de  D.  João  I, 
príncipe  instruído,  de  génio  cortez  e  galanteador,  fez-se  o  campeão  da  triste 
Briolania.  Indignado  com  a  insensibilidade  de  Amadis,  exigiu  que  liobeira, 
de  quem  era  protector,  modificasse  esta  passagem  do  velho  romance,  e  resti- 
tuísse a  felicidade  á  bella  princeza,  á  custa  da  infidelidade  de  Amadis. 

«Esta  interpolação  da  versão  portugueza  é  notada  por  Montalvo,  e  censu- 
rada com  tanta  gravidade,  como  se  se  tratasse  da  historia  mais  importante,  e 
authentica  —  Amadis  dió  enteramente  á  conocer  que  las  angustias  e  dolores 
eon  las  muchas  lágrimas  derramadas  por  su  senora  Oriana,  no  sin  gran  leal- 
tad  las  passava;  aunque  el  senor  infante  Alfonso  de  Portugal,  aviendo  pietad 
d*esta  hermosa  donzella,  de  otra  guisa  lo  mandasse  poner,  en  esto  hizó  lo 
que  su  merced  fué,  mas  no  aquello  que  en  efecto  de  sus  amores  se  escrivia. 
De  outra  guisa  se  cuentam  estes  amores,  que  con  razon  a  ellos  dar  fé  se  deve. 

«Mais  longe  o  escrupuloso  auctor  depois  de  ter  acabado  a  narração  d'esta 
aventura,  cré  dever  ainda  accrescentar:  —Todo  lo  que  mas  desto  en  este  li- 
bro primero  se  dize  de  los  amores  de  Amadis  e  doesta  hermosa  reyna  fué 
acrecentado,  como  ya  se  os  dixo,  etc. 

«Esta  passagem  decisiva  não  carece  de  commentarios.  Attraiu  e  devia  at* 
trair  a  attenção  dos  melhores  críticos.  O  mais  judicioso  e  authorisado  de  todos 
sir  Walter  Scott  d'ahi  concluiu  a  existência  certa  d'um  oríginal  hespanhol, 
muito  anteríor  á  versão  de  Lobeira  —  Parece  nos  evidente  por  esta  passagem 
notável,  que  a  obra,  de  que  se  occupava  Lobeira,  debaixo  dos  auspícios  do 
infante  D.  AíTonso,  seu  protector,  deveu  ser  necessariamente  uma  traducção 
mais  ou  menos  livre  de  alguma  obra  antiga.  Se  o  Amadis  tivesse  sido  parto 
próprio  da  imaginação  de  Lobeira,  teria  este  auctor  certamente  experimentado 
repu^ancia  em  prejudicar  a  imagem  da  perfeição  ideal,  que  traçara  no  seu 
horotí,  em  coRsideração  da  compaixão  exquisila  de  seu  protector  para  com  a 
bella  Briolania;  mas  não  fazia  nenhum  sentido  dizer  que  fizera  uma  interpo- 
lação no  texto  verdadeiro  (allusão  ao  dito  Montalvo  aqtiello  que  en  efecto  se 
escrevia)  se  não  houvesse  tirado  sua  historia  de  algumas  narrações  indepen- 
dentes dos  recursos  de  sua  própria  imaginação. 

«Encontram-se  também  no  Cancionero  fie  Baena  algumas  allusões  a  uma 
antiga  versão  do  Amadis.  A  mais  importante  é  contida  n'uma  peça  de  Perro 


BA  6i 

Fen^z  dirigida  a  Lopes  de  Âyala  exhortando-o  a  proseguir  na  gloria  das 
armas,  sem  receíar  nem  fadigas  nem  perigos.» 

Eis  o  qne  diz  Baret.  Parece  porém  qne  o  assnmpto  é  de  origem  franceza, 
e  mnito  antigo,  mas  que  o  romance  formado  sobre  este  assumpto  é  de  origem 
portugneza,  embora  se  tivesse  perdido  o  original.  Quem  ignora  que  ainda  te- 
mos hoje  em  Portugal  e  nas  bibliotheças  estrangeiras  um  grande  numero  de 
manuscriptos  ímportantissimos,  que  nunca  foram  impressos,  e  também  em  ris- 
co de  se  perderem  para  sempre?  Quem  não  sabe  que  o  Cancioneiro  d'el-rei 
D.  Diniz  ainda  existe  quasi  todo  inédito  na  Bibliotheca  do  Vaticano,  e  que  na 
de  Évora  existe  o  Esmeraldo  de  Duarte  Pacheco  Pereira,  para  não  fallar  de 
muitos  e  muitos  outros  inéditos  importantíssimos? 

80)  BARETTI  (JOSEPH)  —  Secrelary  for  foreign  Correspondence  to 
the  royal  Academy  of  PaintiDg,  Sculpture  and  Architecture. 

E. — A  Joumey  from  London  to  Génova  through  England;  Portugal,  Spain 
and  France,  by  — .  la  four  volumes.  London,  1780,  8.» 

(Viagem  de  Londres  a  Génova,  atravez  da  Inglaterra,  Portugal,  etc.) 

O  auctor  esteve  em  Portugal  no  anno  de  i760.  Diz  que  os  portuguezes 
sâo  muito  ricos  de  dinheiro  e  jóias  (L  pag.  97):  que  as  manufacturas  são  in- 
signiflcantes,  e  as  únicas  coisas,  que  o  paiz  produz  em  abundância,  são  limões, 
laranjas  e  vinho.  Dá  noticias  muito  circumstanciadas  das  ruinas  do  terramoto 
em  Lisboa. 

Baretti  encontrou  uma  vez  o  patriarcha  na  rua,  e  eis  como  elle  nos  des- 
creve o  seu  séquito: 

tAbriam  a  marcha  dois  coches  cheios  de  padres;  seguiam-se  cincoenta 
creados  de  libré,  caminhando  a  dois  e  dois  (pag.  i53).  Ui&  padre  a  cavallo 
levava  a  cruz.  Seguiam-se  sete  coches.  Os  dois  primeiros  conduziam  offi- 
ciaes  ecclesiasticos,  e  no  terceiro  ia  o  patriarcha  com  seu  mestre  de  cerimo- 
nias. De  cada  lado  marchava  um  padre  a  pé,  levando  uma  espécie  de  umbel- 
la.  Seguia-se  o  coche  doestado  vasio,  tão  rico,  que  a  rainha  Semiramis  não  o 
julgaria  indigno  de  ir  n'elle.  Atraz  iam  aiuda  três  coches  cheios  de  oíficiaes. 

<E  que  sentia  o  patriarcha?  Conforme  as  palavras  de  Petrarcha  —  Stavasi 
tiUto  umile  in  tanta  gloria.* 

81)  6AHLAEI  (GASPARIS)  —  Poeta,  theologo  e  medico. 
Seu  nome  sem  estar  alatiuado  é  Gaspar  vau  Baerle. 

Nasceu  em  Anvers  no  anno  de  1584,  e  falleceu  em  Amsterdam  no  mez  de 
janeiro  de  1648.  i 

E.  —  Rerum  per  octennium  in  Brasilia  et  alibi  nuper  gestarum  sub  Prae- 
fectura  Ulustrissimi  Comitis  L.  Mauritii,  Nassoviae  d&c.  Comitis,  nunc  Vesa- 
liae  Gubematoris  et  Equitatus  Fcsderatorum  Belgii  Ordd.  sub  Auriaco  Dueto- 
ris  Historia,  Amslaelodami.  Ex  Typographeio  Joannis  Blaev.  1647.  foi.  max. 

»  Firmin  Didol  —  Nontelle  Biograpliie  Uniteneilej  vol   4.",  p'ag.  Uíí. 


62  BA 

340  pag.  com  grande  numero  de  estampas.  2.*  edição,  8.°  Clóvis  ex  Offieina 
Tobiae  Silberling,  664. 

(Historia  dos  saccessos  occorridos  pelo  espaço  de  oito  annos  no  Brazil,  de- 
baixo do  governo  do  conde  S.  Maurício  de  Nassau,  etc. 

De  cada  uma  d'estas  edições  existe  um  exemplar  na  Bibliotheca  Publtea  de 
Lisboa,  onde  servem  de  pasto  à  traça,  tão  numerosa  n*aquelle  estabelecimento 
que  julgo  já  impossível  exterminal-a. 

cComo  escríptor  de  mentos  superiores  se  nos  apresenta  ^  nos  dois  annos 
de  1637  e  i638,  e  nos  seis  seguintes  até  1644  o  bollandez  Gaspar  van  Baerle, 
mais  conbecido  com  o  nome  de  Barlaeus,  na  bistoría  qne  escreveu  da  admi- 
nistração e  feitos  de  Nassau  em  Pernambuco.  Preclaríssimo  poeta,  assim  na 
lingua  bollandeza  como  latina,  cujos  primorosos  versos,  comparados  aos  me- 
Ibores  da  antiguidade,  lhe  grangearam  muita  nomeada,  agudo  theologo  pro- 
testante, penetrante  philosopho,  e  distincto  doutor  em  medicina,  consagrou 
Barleus  os  seus  últimos  annos  a  essa  historia,  que  publicou  em  Âmsterdam 
em  1647. 

«Â  Latiníssima  Historia  dos  oito  annos  do  governo  de  Nassau,  por  mais  que 
corram  os  séculos,  será  sempre  um  livro  importante  e  digno  de  consultar-se. 
Só  depois  que  tivemos  occasião  de  folhear  detidamente  a  correspondência  of- 
ficial  do  mesmo  Nassau^  é  que  nos  convencemos  que  Barleus  a  tivera  egual* 
mente  presente,  e  se  aproveitara  d*ella  com  o  devido  critério;  sendo  que,  co- 
mo panegyrista  d*esses  oito  annos  pouco  se  lhe  poderá  acrescentar.  Para  ser 
porém  considerado  como  historiador  imparcial  d*esse  período,  faltou-lhe  obe- 
decer ao  preceito  —  audietur  altera  pars. 

«E  o  mais  é  que  o  haver  o  auctor  deixado  de  consultar  alguns  documentos 
ou  auctoridades  do  lado  dos  nossos  foi  causa  das  muitas  incorrecnocs,  que  a 
obra  contém  nos  nomes  próprios  e  geographicos  portuguezes  c  do  Brazil.» 

82)  BARNARD  (LIEUT). 

E.  —  Three  years  Cruise  in  the  Mozambiquc  Channcl. 
(Três  annos  no  cruzeiro  do  canal  de  Moçambique.) 
Não  tive  occasião  do  ver  este  livro. 

83)  BARROW  (JOHN)  —  Compilador. 

Nasceu  cm  Inglaterra,  e  falleceu  no  fim  do  xviii  século.  2 

Escreveu  uma  obra  em  inglez,  que  foi  vertida  para  francez  com  o  titulo 

seguinte: 

Ahregé  Chronologique  ou  Histoirc  des  découvertcs  faites  par  les  Européem 

dans  les  diferentes  parties  du  Monde,  extrait  des  rélations  Ics  plus  exactes  et 

des  voyageurs  les  plus  veiidiques.  Traduit  de  VAnglais  par  Targe.  Paris,  1766, 

12  vol,  8/^ 

'  Sr.  Varnbagen  —  Historia  das  lulas  com  oshollandc:es  no  íirazV,  pop    xii. 
-  Firmin  Didol  —  ^ouvdlc  fíint/raphif  VniterscUc,  vnl.  I.",  pap.  :íÍ»í). 


BA  63 

(Resumo  cbronologico  das  descobertas  feitas  pelos  europeus,  nas  diversas 
partes  do  mundo. 

Se  bem  que  esta  obra  não  trata  exclusivamente  das  viagens  feitas  pelos  por- 
tugnezes,  todavia  merece  ser  mencionada,  pois  n'esta  collecção  apparecem  com 
minuciosidade  as  gloriosas  descobertas,  viagens  e  peregrinações  dos  nossos. 

O  volume  i.°  começa  pela  viagem  de  Colombo,  e  de  suas  relações  com  os 
portuguezes,  viagem  que  se  estende  de  pag.  i  até  242,  onde  começa  a  de  Vas- 
co da  Gama,  baseada  no  que  escreve  Jeronymo  Osório,  terminando  esta  a  pag. 
294,  onde  principia  a  de  Pedro  Alvares  Cabral,  para  findar  a  pag.  329. 

Tomo  3,"  Viagem  de  Fernão  de  Magalhães,  de  pag.  318  a  373. 

O  tomo  4.<'  não  contém  nenhuma  viagem  feita  por  algum  portogucz:  traz 
as  dos  estrangeiros  Drake,  Raleigh,  Cavendish^  Van  Noort,  Spilbergen,  Schou- 
ten,  Lemaire,  Rowe,  mas  em  compensação  rara  é  a  passagem,  em  quo  se  não 
faj;  menção  dos  portuguezes.  Por  toda  a  parte  estes  appareciam  para  porem 
estorvos  áquelles  que  nos  queriam  roubar  o  sceptro  do  mar! 

No  emtanto  as  forças  portuguezas  não  podiam  chegar  para  tudo,  e  o  odío 
que  08  indígenas  nos  tinham  era  grande,  e  a  passagem  seguinte  bem  o  com- 
prova: 

<  A  24  de  novembro  os  inglezes  commandados  por  Drake  chegaram  ás 
Molucas,  com  o  fim  de  irem  a  Tidore:  mas  foram  desviados  d'este  seu  desí- 
gnio pelo  vice-rei  de  Temate,  que  veiu  ousadamente  a  bordo  para  lhes  dizer, 
que  o  rei  d*esta  ilha  queria  commerciar  livre  e  cordealmente  com  elles,  e 
tornar-se  seu  amigo,  comtanto  que  não  fossem  a  Tidore,  porque  residiam  alii 
os  portuguezes:  que  os  odiava  de  morte,  e  não  se  podia  resolver  a  ter  com 
elles  algum  commercio,  ou  com  áquelles  que  se  ligassem  com  elles.»  ^ 

Tomo  S."»  Historia  da  descoberta  e  das  guerras  do  Brazíl  por  Mr.  Jean  Ni- 
Inhoff,  de  pag.  222  até  434.  É  a  historia  da  derrota  dos  hollandezes  n*este 
paiz,  e  de  como  os  portuguezes  os  expulsaram  de  vez. 

Se  no  tomo  4."*  quasi  que  se  não  encontrava  uma  folha,  em  que  se  não  tra- 
tasse de  portuguezes,  no  G.*"  quasi  que  se  não  encontra  uma  linha^  em  que  os 
nossos  não  entrem  em  scena.  Contém  este  tomo  os  segumtes  assumptos. 

I.  Descripção  das  índias  orientaes,  por  Mr.  NienhoíT  de  pag.  i  a  210. 

II.  Viagem  do  capitão  Abel  Tasman,  em  descoberta  dos  paizes  banhados 
pelo  mar  do  Sul,  de  pag.  211  a  238. 

III.  Descripção  das  costas  de  Malabar  e  de  Coromandel  por  mr.  Baldaeus.  ^ 
N'e8ta  viagem  de,  pag.  239  a  333,  vem  uma  descripção  da  cidade  de  Goa, 

a  respeito  da  qual,  entre  outras, coisas  se  diz  o  seguinte: 

«Goa  foi  conquistada  por  Afi^onso  d' Albuquerque,  cujo  nome  é  bem  conhe- 

<  Barrow  —  Histoire  des  découvertes,  vol.  4.^  pag.  2. 

^  Pbilippo  Baideud,  missionário  hoUandez,  vivia  na  segunda  rocladc  do  scculo  xvii. 
Hrmin  Didot—  Noucclh  Hiographie  Universelle^  vol.  4.*,  pag  254. 


64  BA 

eido  n'esta  parte  do  mundo.  A  policia  é  muito  boa  e  bem  desempenhada.  Ua 
um  hospital,  que  aquelles,  que  o  viram  e  comparavam,  consideram  o  mais 
bello  existente  no  mundo.  As  egrejas  de  Goa  são  soberbamente  ornadas :  *  o 
porto  é  muito  bello,  e  póde-se  comparar  com  Constantinopla  e  Toulon,  julga- 
dos os  melhores  do  mundo. 

«A  vice-realeza  de  Goa  ó  uma  das  mais  consideráveis,  que  existem  no 
universo.  E  aquelle,  que  exerce  este  cargo,  tem  à  sua  disposição  os  governo; 
de  Moçambique  na  Africa,  o  de  Moscate  na  Arábia,  o  de  Ormuz  na  Pérsia,  o 
de  Ceilão  perto  do  Cabo  de  Comorin,  o  das  Molucas  á  entrada  do  golpho  da 
índia,  cada  um  dos  quaes  é  tão  lucrativo,  como  o  melhor  que  houver  na  Eu- 
ropa. É  certo  apezar  de  Goa  já  não  render  tanto  depois  que  os  inglezes  ehol- 
landezes  fundaram  estabelecimentos  sólidos  na  índia,  produzir  comtudo  sempre 
grandes  riquezas  para  a  coroa  de  Portugal.  Os  Portuguezes  em  gerai  são  in- 
dolentes: entregam-se  á  sensualidade  e  aos  prazeres,  e  deixam  o  cuidado  de 
seus  negócios  nas  mãos  de  seus  escravos.  A  devassidão  é  n'esta  cidade  mais 
vulgar,  que  em  nenhum  outro  paiz  do  mundo;  e  os  prazeres  camaes  e  o  adul- 
tério passam  por  galanterias.  Os  homens  um  pouco  acima  do  vulgar,  são 
precedidos  de  dois  pagens  um  para  lhes  levar  a  espada  e  o  outro  o  guarda 
sol,  etc.  etc.» 

IV.  Descripção  da  ilha  de  Ceilão,  e  resumo  das  disputas  que  alli  se  sus- 
citaram entre  os  portuguezes  e  hoUandezes,  por  Philippe  Baldaeus,  de  pag . 
334  a  427,  e  vae  acabar  na  pag.  57  do  o  tomo  seguinte. 

84)  BAUMÈS  (J.). 

E.  —  De  la  limite  des  Possessions  Poríugaises  au  sud  de  rEquatew.  Ex- 
trait  de  la  Revue  Coloniale  (Mars  185%).  Paris,  1858. 

(Limites  das  possessões  portuguezas  ao  sul  do  Equador,  etc.) 

85)  BAVOUX  (EVARISTE). 

E.  —  A,  B,  da  Costa  Cabral,  Comte  de  Thomar.  Notes  historiques  sur  sa 
carrière  politique  et  son  ministère,  Extrait  de  Vouvrage  publié  a  Lisbomie  sous 
te  titre  —  Apontamentos  Histoiicos,  Paris,  Amyot-Libraire,  1846,  8.«,  275  pag. 

(Notas  históricas  sobre  a  carreira  politica  e  ministério  de  A.  B.  da  (Mtii 
Cabral.) 

António  Bernardo  da  Costa  Cabral  por  causa  dos  feitos  notáveis,  que  se 
passaram  em  Portugal  durante  o  seu  ministério,  foi  um  dos  ministros  portu- 
guezes mais  fallados  n  estes  últimos  tempos.  Não  c  por  isso  para  admirar  que 
ainda  tenha  de  mencionar  vários  outros  escriptos  estrangeiros  relativos  ao  seu 
ministério.  Evaristo  Bavoux  mostra-se  muito  aíTeiçoado  à  sua  administração. 

«É  um  assumpto  interessante  para  a  observação  a  lucta  encarniçada  e 
confusa  ainda  do  principio  constitucional  ás  bulhas  com  a  exaltação  meridio- 

'  Barrow  —  Hislnirr.  ilcs  dcrouvcrlcs,  vol.  4.",  pap.  2tíi 


BA  65 

nal,  e  com  a  infância  das  paixões  politicas.  Estas  paixões  envenenam  a  dis- 
cussão» ccigam  o  joizo.  O  exame  d'esta  situação  ganha  muito  em  imparcia- 
lidáfTô  sendo  transportado  para  um  terreno  neutro.  Tal  é  a  mira  d*esta  pu-* 
blicaçâo. 

«Úma  coisa  nos  maravilhou  e  seduziu,  alli,  como  em  qualquer  outra  parte 
qne  a  encontramos:  a  elevação  d'um  homem  por  meio  de  suas  próprias  forças 
aes  mais  altos  empregos  do  Estado.  Filho  d'um  honrado  proprietário  da  Bei- 
ra, Costa  Cabral  elevou-se  por  seu  próprio  mérito  d'uma  posição  modesta  ao 
ministério,  e  ao  senado,  esforço  do  verdadeiro  talento,  que  tem  jus  a  nossas 
homenagens.  Em  certos  respeitos,  e  talvez  com  mais  energia  ainda,  faz-nos 
lembrar  Casimir  Perier,  lactando  contra  os  motins  em  nome  da  ordem,  pro- 
nunciando a  dissolução  do  corpo  de  artilharia  da  guarda  nacional,  a  destitui- 
ção de  seus  oíBciaes,  o  desarmamento  das  companhias,  exposto  em  sua  pró- 
pria carroagem  ao  tumulto  das  ruas  insurgidas,  arrostando  corajosamente  o 
perigo,  as  ameaças,  a  morte,  luctando  corpo  a  corpo,  e  combatendo  essa  co- 
ragem, que  revela  uma  convicção,  e  até  jusliflea  o  erro,  porque  então  parece 
emanar  d*uma  alma  nobre,  d'um  principio  elevado. 

«O  homem  eminente,  de  quem  esta  noticia  tem  por  íim  dar  a  conhecer  a 
administração,  prestou  ao  seu  paiz  immensos  serviços.  A  realisação  de  seus 
grandes  e  honrosos  trabalhos,  a  construcção  das  estradas,  a  circulação  dos 
capitães  e  das  idéas,  a  reorganisação  social,  de  que  é  auctor,  testemunham 
bem  altamente  a  força  e  grandeza  de  suas  concepções;  mas  não  é  menor  no 
ponto  de  vista  politico  um  certo  aspecto,  que  me  commove,  e  a  respeito  do 
qual  não  posso  fechar  os  olhos,  rendendo  ao  mesmo  tempo  com  imparcialida- 
de homenagem  a  seu  génio  notável,  à  potente  energia  do  moderno  marquez 
de  Pombal. 

«Costa  Cabral  é  um  homem  d'estado,  para  quem  está  reservado  um  logar 
distincto  na  histeria  contemporânea  do  seu  paiz.  As  raraB  qualidades  que  o 
teem  mantido  no  poder  ha  seis  annos,  provocaram  a  admiração  de  quantos 
DÃO  são  dominados  pelas  paixões  e  espirito  partidário,  e  que  julgam  o  minis- 
tro conforme  os  resultados  de  bua  política,  conforme  a  unidade  de  seu  pensa- 
mento administrativo,  conforme  a  resolução  enérgica,  e  prudência  de  seu  pro- 
cedimento nas  mais  difficeis  circumstancias.  Se  mais  alguma  coisa  é  necessá- 
ria para  provar  isto,  bastará  lembrar  que  o  ódio  implacável  de  seus  inimigos, 
incessantemente  alimentado  pela  inveja,  e  excitado  pelo  despeito,  é  um  teste- 
munho mais  que  sufficiente  de  seu  mérito  e  de  suas  qualidades. 

«Assignalados  por  intrigas  e  difficuldades  sem  numero,  por  insurreições 
de  mão  armada,  por  combates  encarniçados  quer  nat  tribuna,  quer  nas  pra- 
ças publicas  de  Lisboa,  os  seis  annos  do  ministério  de  Costa  Cabral  provaram 
toda  sua  coragem  e  sua  energia.  Outro  qualquer  que  não  fosse  elle,  mesmo 
dos  mais  fortes,  que  fosse,  teria  já  infallivelmente  succumbído.  Esta  situação 
não  foi  obra  de  Costa  Cabral;  achou-a  toda  feita,  viu-se  obrigado  a  dommal-a 
com  vontade  de  ferro,  e  de  a  mudar  com  sua  audácia  pouco  commum.  Quan- 
tas vezes  achando-se  na  véspera  cheios  de  esperanças  de  obterem  sobre  elle 
nmsL  victoria  completa,  náo  adormeceram  seus  inimigos  para  receberem, 

TOMO  l  O 


60  BA 

quando  acordassem,  o  golpe  decisivo  qae  os  devia  humilhar.  É  assim  que 
pela  rapidez  e  certeza  de  seus  olhares  o  ministro  snrprehende  seus  adversá- 
rios, e  anima  seus  amigos.  N'um  instante  aprecia,  e  sabe  vencer  os  perigos 
e  difiQculdades,  e  depois  por  uma  resolução,  que  parece  filha  do  acaso  para 
aquelles,  que  o  não  conhecem,  decide  em  favor  de  si  problemas,  cuja  solução 
parecia  impossível.  Tudo  se  pôde  esperar  dos  recursos  de  seu  génio :  e  nos 
momentos  arriscados  deve-se  vér  como  seus  amigos  se  agrupam  em  volto 
d'elle,  rodeiam-no  de  todas  as  partes,  ao  passo  que  tranqnillo  no  meio  das 
tempestades  mais  terríveis,  sustentando  o  leme  com  mão  firme,  dirige  a  nau 
do  estado,  e  a  leva  a  porto  de  salvação.  Entre  o  resolver  e  o  obrar,  entre  o 
pensamento,  que  concebe,  e  a  vontade,  que  executa,  não  conhece  hesitação 
alguma:  apenas  tomou  sua  resolução,  põe-a  em  obra,  sempre  com  aquella 
energia,  que  lhe  é  peculiar.  Póde-se  altamente  asseverar  que  todos  os  esfor- 
ços dos  inimigos  do  ministro,  todos  os  meios  extremos,  que  teem  empregado 
para  o  derrubar,  não  tem  produzido  outro  resultado,  senão  o  de  elevar  o  pe- 
destal de  seu  monumento;  pois  Gosta  Cabral  deve  quasi  outro  tanto  a  este 
respeito  a  seus  inimigos,  que  pôde  dever  a  si  mesmo. 

«Em  sua  vida  privada,  ás  virtudes  domesticas  Gosta  Gabral  reúne  ma- 
neiras fáceis  e  agradáveis,  que  fazem  sobresair  a  franqueza  natural  de  seu  ca- 
racter. Pertence  ao  numero  de  estadistas  do  seu  paíz,  que  adoptam  as  ídéas 
sans  do  século,  que  comprehendem  as  necessidades  da  época,  que  teem  a 
firme  vontade  de  satisfazer  a  ellas,  e  a  capacidade  de  achar  os  meios  para  isso.t 

Em  poucas  palavras:  n'cste  livro  Gosta  Cabral  é  o  grande  homem,  o  ho« 
niem  sem  defeitos,  um  verdadeiro  heroe:  todos  os  outros  são  pigmeus. 

Mousinho  d'Albuquerque  em  vinte  annos  não  passaria  d*um  soffrivel  bo^ 
ticario.  Rodrigo  da  Fonseca  Magalliães  principalmente  é  um  homem  dotado 
dos  maiores  defeitos.  Almeida  Garrett  era  poeta  na  política,  e  em  suas  utti* 
mas  obras  mau  politico  em  prosa  e  verso.  O  visconde  de  Sá  da  Bandeira  um 
visionário  incoherente.  Porém  José  Bernardo  da  Silva  Gabral,  irmão  do  conde 
de  Thomar,  era  homem  de  talento  superior,  o  solido,  d' uma  grande  capaci- 
dade na  administração,  fértil  em  expedientes  e  de  infatigável  auctoridade. 

Nós  porém,  os  portuguezes,  juizes  talvez  mais  competentes  que  Evaristo 
Bavoux,  seremos  todos  da  sua  opinião? 

86)  BAXTER  (WILLIAM  EDWARD). 

E.—  The  Taçus  and  the  Tiber,  or  notes  of  travei  in  Portugal,  SpainoMd 
Italy  ín  1850-1851,  by  —.In  two  volumes.  London,  Richard  Bentley,  1852, 
8.°,  o  1.»  de  302  pag.  e  o  2.»  de  299. 

(O  Tejo  e  o  Tibre,  ou  notas  de  viagem  era  Portugal,  ele.) 
A  viagem  a  Portugal  vem  no  1.*»  volume,  e  termina  a  pag.  68.  Nada  apre- 
senta digno  de  especial  menção. 

87)  BAZONCOURT  (Uauon  de). 

E.—  Le  mariaye  ou  lUnruir  de  Portugal.  Parií^,  Í8tí2. 


BE  67 

(O  casamento  ou  o  futuro  de  Portugal.) 

Não  encontrei  esta  obra;  e  por  isso  nada  mais  posso  dizer.  Mas  é  da  sup- 
por  qofi  veirse  8obre  o  casamento  do  nosso  rei  D.  Luiz, 

88)    BEARN  (Le  Gomte  Stéphen  de). 

E. — La  Dyíiastii  de  Bragance  et  Vavemr  du  Portugal  par  — -.  Paris,  1865, 
4.*9  59  pag. 

(A  dynastia  de  Bragança  e  o  futuro  de  Portugal.) 

tFelizes,  disse  Fenelon,  os  povos,  cuja  historia  n^o  é  interessante.  Se  a 
máxima  formulada  pelo  illustre  arcebispo  de  Cambrai  fosse  uma  sentença  sem 
appeliação,  seria  mister  tirar  d'e]la  por  consequência  que  a  nação  portugueza 
foi  desgraçada  entre  todas,  por  apresentarem  seus  annaes  o  espectáculo  não 
interrompido  de  scenas  dramáticas,  e  de  peripécias  enternecedoras. 

«Lançar  um  olhar  para  traz  pela  historia  de  Portuga],  vér  no  decurso  dos 
séculos  sair  victorioso  este  estado  de  todas  as  luctas,  avançar  inabalável  è 
forte  pela  scena  do  mundo,  e  apresentar  o  especlaculo  de  varias  gerações  de 
heroes,  todos  animados  por  um  mesmo  ardor  para  a  independência,  gloria  e 
prosperidade  de  seu  paiz,  não  é  isto  um  exemplo  e  uma  lição  digna  de  fixar 
a  attenção  da  historia?» 


cE  que  possante  vitalidade!  Que  exuberante  energia  em  um  povo  moder- 
BO.  Para  este  não  basta  repellir  os  mussulmanos,  ter  abatido  a  altiva  Gastella, 
haver  conquistado  a  liberdade;  dirige  suas  vistas  ambiciosas  além  dos  limites, 
que  a  natureza  lhe  traçou;  e  situado  em  frente  do  oceano,  pensa  já  em  sub- 
mettd-o  ao  seu  dominio.  Christão,  deita  suas  vistas  rancorosas  para  Africa,  e 
suspira  por  levar  às  suas  praias  a  invasão,  que  a  si  própria  por  tanto  tempo 
assolou.  Ávida  do  bem  estar  e  de  riquezas,  segue  com  olhos  invejosos  a  rá- 
pida fortuna  de  Veneza,  e  sonha  nos  meios  de  abrir  para  si  um  caminho  até 
ás  opulentas  regiões  da  índia. 

«Que  novos  prodígios  vão  apparecer  aos  olhos  do  mundo  estupefacto!  E 
que  não  devemos  nós  esperar  (1'este  valente  povo? 

«Favorecidos,  animados  por  um  príncipe  esclarecido,  D.  Henrique,  arro- 
jados mareantes  se  lançam  á  procura  do  incógnito;  para  elles  nada  de  obstá- 
culos invenciveis,  nada  de  fadigas,  que  não  sejam  supportadas  com  perseve- 
rança, nada  de  perigos,  que  não  sejam  arrostados  corajosamente. 

«Dentro  em  pouco  as  costas  africanas  são  exploradas  desde  o  Gabo  Boja- 
dor até  o  Cabo  da  Boa  Esperança,  desde  o  Gabo  da  Boa  Esperança  até  ao  de 
Guardafui:  a  índia  é  patenteada,  a  America  descoberta,  poderosos  reinos  des- 
truídos por  um  punhado  de  homens;  por  mar  e  por  terra  um  combate  contra 
cem,  e  a  victoria  é  sempre  fiel  aos  portuguezes;  colónias  florescentes  se  esta- 
l)elecem.  Lisboa  toma  se  o  empório  do  commercio  do  mundo. 

«Os  grandes  conquistadores  da  antiguidade  e  da  edade  média  apenas  dei- 
xaram vcstigios  infecundos  de  sua  paisagem:  seus  feitos  tornaram-se  niais 


68  BE 

nocivos,  qae  úteis  à  bamanidade;  porém  os  immortaes  trabalhos  de  Bartholo- 
meu  Dias,  qae  reconheceu  o  liltoral  africano,  de  Vasco  da  Gama,  que  dobrou 
o  Gabo  das  Tormentas,  e  achou  o  caminho  para  as  índias,  por  tanto  tempo 
procurado,  de  Alvares  Gabral,  de  Almeida,  de  Albuquerque,  que  fundaram  na 
Africa  e  na  Ásia  o  império  portuguez:  aqitelles  immortaes  trabalhos,  díga- 
mol-o,  foram  para  o  mundo  inteiro  uma  fonte  inesgotável  de  prosperidade  e 
de  gloria. 

«Ao  lado  d'esses  nomes  illustres  a  posteridade  reconhecida  eollocon  o  de 
Pêro  da  Covilhã  e  de  Affonso  de  Paiva:  este  ultimo  pagou  com  sua  vida  seu 
amor  à  sciencia  e  sua  dedicação  à  pátria.  As  empresas  doestes  ousados  expio- 
radores,  fizeram  conhecer  o  mappa  das  costas  africanas,  e  contribuiram  ocmi 
as  de  Bartholomeu  Dias  para  abrirem  à  Europa  um  novo  caminho,  que  os 
devia  conduzir  às  índias,  sonho  de  todas  as  ambições. 

«O  génio  de  seus  filhos,  as  descobertas  marítimas,  a  immensa  extensão  do 
commercio,  que  d'ellas  foi  a  consequência,  tudo  concorreu  para  dar  a  Por- 
tugal a  maior  somma  de  grandeza,  à  qual  um  povo  pôde  aspirar. 

«As  consequências  politicas  emanadas  das  felizes  explorações  dos  porta- 
guczes,  são  de  uma  ordem  de  tal  sorte  elevada,  que  à  primeira  vista  a  intel- 
ligencia  não  conhece,  senão  mui  fracamente  todo  o  alcance;  não  as  podemos 
comparar  senão  à  invenção  de  Guttemberg  no  xv  século,  ou  á  mais  recente, 
do  vapor. 

«Não  o  esqueçamos;  é  somente  a  partir  doesta  época,  que  se  começou  a 
coroprehender  o  papel  importante  da  marinha  no  futuro  das  nações,  e  que 
fonte  de  prosperidades  o  império  do  mar  pôde  conceder  aos  povos. 

»Foi  Portugal  que  primeiro  teve  a  gloria  de  revelar  às  nações  civílisadas, 
que  não  é  somente  em  3eu  território,  que  devem  procurar  sua  fortuna;  mas 
que  também  a  podem  tirar  com  seus  navios  dos  pontos  mais  remotos  do  globo. 

«Porém  Portugal  não  devia  gozar  por  muito  tempo  de  seus  triumphos,  e 
seu  explendor  devia  ser  de  curta  duração.  Arrastado  por  uma  corrente  irre- 
sistível, tinha-se  arrojado  a  uma  empreza  superior  às  suas  forças:  não  dando 
ouvidos  mais  que  à  sua  coragem,  sonhava  ao  mesmo  tempo  no  domínio  das 
Índias,  do  Brazil,  da  Africa  Occidental,  sonho  d*um  povo  de  gigantes,  ao  qual 
devia  fatalmente  succumbir,  mas  ao  qual,  façamos-lhe  ao  menos  esta  justiça, 
succumbiu  gloriosamente. 

«Faltaram  os  recursos  a  Portugal  para  sustentar  seu  dominio  nas  nume- 
rosas c  longiquas  colónias,  qae  semeara  no  iittoral  da  Africa  e  da  Ásia,  e 
quando  a  Europa,  invejosa  de  seu  poderio,  se  ligou  contra  elle,  trahido  por 
suas  próprias  forças,  esgotado  em  exforços  generosos,  mas  impotentes,  ficou 
incapaz  de  resistir,  c  succumbiu,  no  apogeu  de  sua  gloria,  abandonando  aos 
outros  povos  os  caminhos  do  extremo  do  Occidente,  depois  de  por  muito  tem- 
po ter  sido  o  senhor  temido  d'elle. 

«Tinha  morrido  Albuquerque !  Heroe  illuslre,  cuja  gloriosa  ambição  e  gé- 
nio aventureiro  foram  uma  das  glorias  do  seu  paiz,  ao  mesmo  tempo  que  fo- 
ram uma  das  causas  da  sua  ruina !  Seus  successores,  incapazes,  ávidos  ou 
i-orruplos,  não  lizeram  senão  precipitar  esta  queda,  c  a  decadência  do  Portu- 


BE  ^  09 

pi  d*alii  por  diante  tornoa-sc  completa.  Bem  depressa  o  déspota  Phílíppe  II, 
esse  terrível  destruidor  dos  thronos,  veia  pôr  o  cumulo  aos  males  da  nação 
portagueza,  e  n'um  mez  lhe  arranca  com  seu  rei  a  independência  o  liber- 
dade.» 

O  resto  d'este  livro  è  uma  série  nâo  interrompida  de  elogios  feitos  a  Por- 
tugal por  causa  dos  seus  melhoramentos  de  todos  os  géneros,  operados  n*es- 
tes  últimos  annos. 

89)  BEAUOHAMP  (M.  ALFONSE  DE)  —  Lilterato  e  auctor  de  L7íi5. 
Udre  de  la  guerre  de  la  Vendée,  etc. 

Nasceu  em  Mónaco  no  anno  de  1767,  o  falleceu  era  1832.  i 

E.  —  I.  Vindependence  de  Vempire  du  Brésil  presentée  aux  momirches  Eu- 
ropéetis.  Paris,  1824. 

(Independência  do  Brazil.) 

n.  Estoire  du  Brésil,  depuis  sa  découverte  m  1500  jusqu^en  1810,  cante- 
nant  ^origine  de  la  monarchie  portugaise;  le  tableau  du  rêgne  de  ses  róis,  et 
des  conquêtes  des  Portugais  dans  l* Afrique  et  dans  Vinde;  la  découverte  et 
la  description  du  Brésil;  le  dénombrement,  la  position  et  les  nueurs  des  peu" 
plades  Bresiliennes;  Vorigine  et  les  progrès  des  établissements  portugais;  le  ta- 
bleau des  guerres  successives,  soU  entre  les  naturels  et  les  Portugais,  soit  en» 
ire  ces  demiers,  et  les  di/férentes  nations  de  VEurope  qui  ont  clierché  à  s^eta- 
bltír  au  Brésil;  enfin  Vhistoire  civile,  politique  et  commerciaie,  les  révolutions 
H  Vétat  actuei  de  cette  vaste  contrée  par — .  Omé  d^une  nouvelle  Carte  de  VAmé- 
rique  Portugaise  et  de  deux  belles  gravures.  Paris,  1815,  8.<* 

(Historia  do  Brazil.) 

Gompoe-se  esta  obra  de  3  volumes,  dos  quaes  o  l.<>  consta  de  388  pag.,  a 
%,•  de  800>  e  o  S.*"  de  516.  A  estampa  do  l.**  representa  a  chegada  de  D.  Tho- 
mó  de  Sousa,  primeiro  governador  geral  do  Brazil;  a  do  2."*  o  acto  de  se  ar- 
rojar ao  mar  o  almirante  hollandez  Patry  por  vér  o  seu  navio  perdido;  e  íl- 
naimente  a  do  3.»  é  um  mappa  do  Brazil. 

HL  Histoire  de  la  guerre  d^Espa^gne  et  de  Portugal,  pmdant  les  années 
1807  à  1813,  plus  la  Campagne  de  1814  dans  le  nUdi  de  la  France,  par  le  co- 
limei nr  John  Jones,  avec  des  notes  et  des  commentaires,  par  — .  Ornée  de  la 
Carte  du  théaire  de  la  guerre  d*Espagne  et  de  Portugal.  Paris,  1812,  2  vol.,  8.<> 
o  i.»  de  380  pag.  e  o  2.o  de  384. 

(Historia  da  guerra  de  Hespanha  e  de  Portugal.) 

Esta  obra  é  contraria  á  politica  de  Napoleão.  Beauchamp  assevera  n'ella 
que  na  guerra  da  Península  morreram  um  milhão  de  homens. 

•Ezempto  de  qualquer  sentimento  de  parcialidade  o  auctor  esforçou-se, 
secando  suas  próprias  observações  ^  e  a  correspondência  de  officiaes  sensatos. 

^  Firmín  Didot  —  iVoutwUe  Biographie  UniveneUef  fol.  I.",  pag.  90€. 
*  No  prefacio,  pag.  xiz. 


70  BE 

o  intelUgentes,  a  traçar  uma  narração  militar,  liei  e  imparcial  da  ultima  guer- 
ra, que  se  travou  cm  Hespanha,  Portugal  e  meio  dia  da  França. 

«O  tratado  do  Fontainebleau  apresentava  uma  tal  infracção  das  leis  da 
honra  e  da  boa  fé,  que  punha  todos  os  contractantes  no  mesmo  nivel,  e  ob* 
tendo  vantagens  incalculáveis  para  aquclle,  que  o  tinha  concebido  para  cum- 
primento de  seus  pérfidos  projectos,  obstava  a  qualquer  appello  à  piedade  da 
Europa  em  favor  do  velho  monarcha,  victima  de  sua  credulidade  e  fraqueza. 
(I  pag.  5.) 

«Junot,  vendo  que  os  portuguczes  não  podiam  ser  enganados  por  mais 
tempo  com  promessas,  e  que  alguns  motins  parciaes  despertavam  outros  mais 
perigosos,  decretou  que  qualquer  cidade  ou  villa,  que  se  oppozesse  aos  flran- 
cezes^  havia  de  ser  entregue  ao  saque:  que  os  habitantes  haviam  de  ser  pas- 
sados ao  fio  da  espada,  o  as  casas  arrasadas.  Além  d'isto  qualquer  individuo 
encontrado  com  armas  na  mão,  fosse  debaixo  de  qualquer  pretexto  que  fosse, 
seria  fuzilado  acto  continuo.  Adquiriram  estas  medidas  nova  força  pela  seve- 
ridade terrível,  que  empregou  em  Leiria  o  general  Margaron.  Mas  o  nome 
para  sempre  famoso  do  agente  mais  activo  d'estas  atrocidades  é  o  de  Loíson: 
os  cidadãos  de  Évora  e  da  Guarda  hão  de  conservar  uma  eterna  lembrança 
d'cllas. 

cNa  primeira  d'estas  povoações  os  meios  de  defeza  foram  organfsados 
pelo  general  Leite  com  um  corpo  de  tropas  bespanholas,  e  por  conseguinte  a 
resistência  foi  antes  uma  defeza  regular,  do  que  um  motim  popular.  Todavia 
Loíson  na  occasião  da  tomada  da  cidade,  a  29  de  julho,  a  entregou  ao  saque, 
e  em  vez  de  reprimir  as  atrocidades  da  soldadesca,  animou-as.  Os  que  foram 
poupados,  estremecem  ainda  com  a  lembrança  dos  actos  d'uma  crueldade  re- 
flectida e  insultante,  ás  quaes  se  entregaram  durante  um  dia  inteiro.  Uma  im- 
mensidade  de  mulheres  e  de  creanças,  mas  principalmente  de  padres,  foram 
tirados  de  seu  refugio  e  maltratados  ou  mortos.  Testemunhas  dignas  de  fé  as- 
severam que  alguns  milhares  de  pessoas  foram  assassinadas  durante  o  saque 
da  Guarda:  doze  mil  mortos  foram  contados  no  terreno.  Ignoram-se  as  mi- 
nuciosidades  dos  excessos  eommettidos  por  Loison  na  Atalaia,  outra  scena  di- 
gna de  suas  façanhas.  Gomo  os  habitantes  eram  cm  pequeno  numero  é  bem 
de  perceber  que  não  perdoou  a  ninguém,  com  o  fim  de  melhor  causar  terror. 
Similhantes  crueldades  foram  praticadas  n'outros  legares.  Contribuições  ex- 
cessivas eram  exigidas  rigorosamente,  e  a  impossibilidade  de  as  pagar  servia 
de  pretexto  para  a  pilhagem  illimitada. 

«Estas  vexações  e  horrores  deram  consistência  aos  movimentos;  e  ao  passo 
que  o  general  Freire  se  esforçava  para  organisar  a  insurreição  ao  norte,  nu- 
merosas guerrilhas  sem  disciplina  às  ordens  do  conde  Castro  Marim  se  espa- 
lhavam no  Alemtejo. 

«Assim  o  fogo  da  revolta  envolvia  o  paiz  occupado  pelos  francezes.  Toda- 
via eram  senhores  das  fortalezas  de  Almeida,  Elvas,  Peniche  e  diíTerentes  ou- 
tras posições  como  Setúbal,  Palmella,  S.  Julião,  Bugio,  etc.  Tal  era  a  situação 
de  Portugal,  quando  os  inglezes  vieram  em  seu  soccorro.  (I  pag.  36.) 

«Os  porluguezes  são  um  povo  eminentemente  apto  para  os  combates:  os 


BE  71 

soldados  tirados  das  classes  inferiores,  são  em  geral  robustos,  pacientes  e  do- 
ceiSy  ao  passo  que  os  militares,  que  receberam  educação,  conservam  a  lem- 
brança das  proezas  de  seus  maiores,  e  amam  as  emoções  violentas,  que  faz 
experimentar  o  orgulbo  das  armas.  Todavia  muito  tempo  se  tinha  passado 
sem  estas  qualidades  se  terem  desenvolvido.  O  governo,  cônscio  da  fraqueza 
de  seus  recursos  e  contando  com  a  amizade  e  poder  de  Inglaterra,  tinha  sem- 
pre recorrido  a  ella  na  hora  do  perigo.  N*esta  crise,  sempre  movido  pelos 
mesmos  sentimentos,  entregou-lhe  com  confíança  e  sem  restricçoes  o  cuidado 
de  guiar  os  seus  exércitos.  O  general  Beresford,  escolhido  pelo  ministério  in- 
glez  foi,  em  fevereiro,  nomeado  marechal  e  commandante  em  chefe  do  exer- 
cita portuguez;  e  ao  mesmo  tempo  oíliciaes  inglezes  foram  nomeados  para  os 
postos  superiores  de  cada  batalhão.  Estas  medidas  introduziram  prompta- 
mente  um  systema  geral  de  disciplina  e  de  subordinação,  mudança  tão  neces- 
sária para  tomar  o  exercito  formidável.  (I  pag.  92.) 

«Ás  tropas  portuguezas,  que  tomaram  parte  na  batalha  do  Bussaco,  por- 
taram-se  com  valor,  e  desde  então  poude-se  contar  com  o  appoio  de  suas 
armas,  as  quaes  cada  combate  havia  de  tornar  mais  formidáveis.  (I  pag. 
184.) 

«Na  guerra  Peninsular  depois  da  tomada  de  Tarragona  e  Valência  a  Hes- 
panha  sem  exercito  regular  foi  reduzida  por  algum  tempo  a  potencia  auxiliar, 
e  o  cuidado  da  guerra  foi  inteiramente  confiado  aos  portuguezes  e  inglezes. 
(I  pag.  313.) 

«É  com  sentimento  d'uma  grande  satisfação  que  se  pôde  asseverar  que  na 
época  em  que  Ciudad  Rodrigo  e  Badajoz  foram  tornadas  a  tomar,  Bonaparte 
acbava-se  no  auge  da  gloria  e  do  poder.  Estendia-se  seu  império  desde  o  Elba 
até  aos  Pyreneos,  e  desde  as  costas  do  mar  do  Norte  até  às  aguas  do  mar 
Adriático,  ao  passo  que  em  toda  a  Europa  continental  reconhecia-se  e  temia- 
96  sua  superioridade  militar.  Para  prova  da  ultima  asserção  não  temos  outra 
necessidade  senão  de  recordar  os  differentes  decretos  arbitrários  que,  na  ar- 
rogância d'uma  auctoridade  sem  freio,  fazia  apparecer  para  estorvar  e  res- 
tringir a  industria  do  mundo.  Obedecia-se-lhe  sem  nenhum  movimento  hos- 
til: o  poderoso  e  o  fraco  conformavam-se  com  isso  plenamente,  ainda  que 
contra  vontade,  a  Rússia  duplamente  ao  abrigo  de  sua  intervenção  por  causa 
de  sua  immensa  extensão,  e  por  sua  posição  afastada,  julgou  prudente  sub- 
metter-se-lhe,  até  que  finalmente  sendo  ameaçada  a  propriedade  de  seu  im- 
pério com  uma  adhesão  mais  longa,  esforçou-se  por  meio  de  representaçdf;S 
amigáveis  a  obter  uma  exempção.  Não  tendo  podido  conseguir  coisa  algupia, 
a  discussão  tomou  por  este  tempo  a  forma  de  reprehcnsão  áspera,  precursora 
ordinária  da  guerra.  Mas  como  uma  longa  série  de  acções  tyranicas  e  de  re- 
plicas insultantes  não  a  tinham  feito  abraçar  uma  resistência  aberta,  não  se 
podia  duvidar  que  estava  nas  mãos  de  Bonaparte  conservar  seu  alliado  por 
meio  de  attenções  conciliadoras  e  amigáveis.  Nada  tinha  pois  que  receiar  do 
exterior,  que  pudesse  desviar  sua  attcnção  dos  negócios  de  Hespanha,  e  o  his- 
toriador imparcial,  seja  de  que  paiz  fôr.  é  obrigado  a  recordar  que  esses 
iriumphos  brilhantes,  que  os  portuguezes  e  inglezes  obtiveram  sobre  os  exèr- 


72  BE 

eitos  franceses,  foram  ganhos  no  momento,  em  que  Bonaparte  estava  em  ami- 
zade com  todo  o  resto  do  mmido,  e  que  seu  império  militar  estava  no  zenilh 
de  sua  força  e  gloria.  (II  pag.  41.) 

«As  forças  francezas  além  dos  Pyrencos,  em  maio  de  1812,  excediam  a 
cento  e  setenta  mil  homens,  quasi  todos  soldados  velhos,  e  commandados  por 
officiaes  distinctos.  Soult  tinha  ás  suas  ordens  cincoenta  e  oito  mil  homens  na 
Andaluzia;  Marmont  cincoenta  e  cineo  em  Leon;  Sonham  dez  mil  (o  exercito 
do  Norte)  na  Gastella  Velha;  Suchet  quarenta  mil  em  Aragão  e  nas  provín- 
cias do  Este;  e  Jourdan  podia  dispor  de  quinze  mil  homens,  chamados  o 
exercito  do  centro  para  segurança  de  Joseph  e  tranquillidade  de  Madrid.  E 
a  capitulação  de  Valência  tinha  privado  a  Hespanha  de  quasi  todas  suas  tro- 
pas, que  tinham  adquirido  alguma  experiência  em  seus  numerosos  e  desgra- 
çados esforços.  O  governo  não  tinha  dinheiro  para  apromptar  outras  forças, 
quando  mesmo  es  hespanhoes  se  resolvessem  a  secundal-o,  os  quaes  fatiga- 
dos d'uma  guerra  que  parecia  interminável,  abalados  pelos  revezes  continuos, 
tinha  caido  n'um  estado  de  turpor  e  de  desalento.  Até  o  próprio  systema  de 
guerrilhas  perdia  todos  os  dias  sua  influencia  geral.  (II  pag.  43.) 

«Os  exércitos,  porém,  inglez  e  portuguez  tinham  chegado  a  uma  grande 
perfeição,  e  seu  general  não  querendo  permittir  que  o  repouso  dos  hespanhoes 
degenerasse  em  apathia,  decidiu-se  a  tomar  a  offensiva,  livrando  as  províncias 
do  Sul.  (II  pag.  46.) 

«E  pouco  depois  os  portuguezes  tomaram  setecentos  prisioneiros  perto  de 
Salamanca,  e  poucos  dias  mais  tarde  Marmont  foi  completamente  derrotado 
Jamais  arme  ne  fut  en  déroute  plus  complete.  (II  pag.  65.)  • 

90)  BEAUVAIS  (Pere). 

E.  —  Lavie  du  Vénérable  Pere  Jean  de  Britto  de  la  Compagnte  de  Jesus, 
mis  à  mort  aux  Indes  dans  le  Madure.  Paris,  1746. 

(Vida  do  padre  João  de  Brito.) 

Vem  annunciada  a  apparição  d'esta  obra  a  pag.  318  do  Journal  des  Sça* 
vantSy  do  referido  anno. 

91)  BEAUVOISIN  (Cuevalier  OALMET). 

E.  —  Notice  sur  les  nouvelles  Cartes  d^Espagne  et  de  Portugal.  Paris. 

92)  BEAVER  (Capitain  PHILIP). 

E.  —  African  memoranda  relative  to  an  attempt  to  establish  a  settlement 
on  the  Island  of  Bolama,  on  the  Western  coast  of  Afnca  in  the  year  i7dt. 
London,  1805. 

(Sobre  a  posse  da  ilha  de  Bolama,  que  os  inglezes  diziam  pertencer-lhes.) 

93)  BEAVES  (The  late  WYNDHAM). 

E.  —  Civil,  cmnmercial,  politicai  and  htterary  Hisfory  of  Spain  and  Por- 
tugal. London,  1793, 2  vol. 

(Historia  de  Hespanha  .o  de  Portugal.) 


BE  73 

Vé-se  esta  obra  citada  no  catalogo  manuscripto  da  livraria  do  conde  de 
Lavradio. 

94)    BEBRINSAEZ  (ANASTASIO  FRANCO  Y). 

(Anagramma  de  Sebastian  Sancbez  Sobrino.) 

E.  —  Viage  topographica  desde  Granada  até  Lisboa.  Granada,  1774. 

iFoi  elle  que  nos  deixou  informações  acerca  da  primeira  collecçao  de  ins- 
eripções  feita  em  Lisboa  por  Cenáculo,  e  que  jantamente  com  Salgado  come- 
çou o  catalogo  do  monetário  então  ainda  pequeno  do  dito  bispo.»  > 

95)^   BEGKFORD  (WILLIAM). 

E.  —  L  Recollections  of  an  excursion  to  the  monasteries  of  Alcobaça  and 
Batalha  by  the  author  of  Vathec.  London,  Richard  Bentley,  1835,  S,''  gr.  com 
o  retrato  do  auctor,  228  pag. 

D'esta  obra,  que  pinta  admiravelmente  os  costumes  e  a  phisionomia  da 
sociedade  portuguesa  no  ultimo  quartel  do  século  xvnr,  serviu-se  Rebello  da 
Silva  para  a  formação  da  parte  histórica  do  seu  romance  Lagrimas  e  The» 

SOUTOS, 

II.  —  Italy  with  sketches  of  Spain  and  Portugal. 

Além  d'estas  duas  obras  escreveu  uma  collecçao  de  cartas  relativas  a  Por- 
tugal, das  quaes  ainda  não  pude  encontrar  um  único  exemplar,  mas  de  que 
apparecem  extractos  na  obra  abaixo  mencionada  com  o  titulo  de  Memoirs. 
De  algumas  das  referidas  cartas  appareceu  uma  traducçáo  poblicada  no  vo- 
lume xn  do  Panorama^  e  por  ella  se  vé  descreverem  os  costumes  e  corte  de 
Portugal  interessantissimamente,  no  reinado  de  D.  Maria  I,  motivo  pelo  qual 
passo  a  transcrever  algumas  passagens. 

«Beckford  era  filho  d^aquelle  espirituoso  William  Beckford,  que  sendo  lord 
maire  em  Londres,  ^  com  resolução  rara  dirigiu  a  Jorge  III  em  1770  as  seve- 
ras queixas  do  povo  contra  o  seu  governo.  Este  acto  de  valor  levou  os  cida- 
dãos da  capital  a  perpetuarem  a  boa  memoria  do  magistrado,  erguendo*]he 
na  casa  da  camará  a  audaciosa  estatua,  que  sustenta  no  braço  erguido  a  fa- 
mosa falia,  origem  da  sua  popularidade.  ^ 

«Grandes  riquezas,  e  a  importância  que  ellas  quasi  sempre  dão,  unidas  a 
um  caracter  vigoroso  e  respeitável,  tinham  determinado  a  eleição  de  William; 
e  parece  que  o  conceito  publico,  nunca  desmentido,  o  acompanhou  até  á  se- 
pultura, à  qual  desceu  em  edade  pouco  adiantada,  deixando  por  universal 
h^deiro  de  seus  immensos  bens,  reputados  em  cem  mil  libras  estrelinas  de 


^  flQbner  —  Noticias  Archeologicas  de  Portugal,  pag.  G. 

'  Loíi  Aagusto  Rebello  da  Silva  — Panorama,  voi.  1S.<>,  pag.  S66. 

^  Â  biograpbia  c  bistoria  de  suas  viagens  vem  na  obra  intitulada  Memoirs  of  Wil- 
liam Beckford  of  Fontkilly  author  of  Vatkek.  In  two  volumes,  London,  Gbarles  J.  Skeet, 
Poblisber  1859,  o  1."  vol.  de  3Sâ  pag.  e  o  i.»  de  40^  A  descripçSo  das  viagens  do  Beck- 
ford em  Portugal,  começa  a  pag.  ^11  do  1."*  vol. 


74  BE 

rendimento  annoal,  a  sea  filho  onico,  ainda  menor^  qae  é  o  mesmo  qne  veia 
a  Portugal  em  1787,  e  veremos  estimado  dos  fidalgos,  e  bemquisto  até  dos 
plebeus^  graças  ao  condão,  que  possuía  de  saber  insinuar-se. 

tConcluidos  os  seus  estudos,  o  mancebo^  notável  pela  magnificência  do 
seu  trato,  e  pelos  grandes  talentos,  com  que  a  realçava,  foi  olhado  como  um 
dos  cavalheiros  mais  distinctos  da  Grà-Bretanha,  e  a  sua  alliança  invejada 
pelos  orgulhosos  fidalgos  da  antiga  e  poderosa  aristocracia. 

cA  sua  escolha  não  se  demorou.  Em  5  de  maio  de  i783  Beckford  ligava 
a  sua  sorte,  e  offerecia  os  seus  thesouros  á  formosa  e  seductora  Margarida 
Gordon,  filha  do  conde  Aboyne,  par  de  Escócia,  e  n'este  doce  enlace  abençoa- 
do por  todas  as  venturas  cifrava  o  jubilo  e  a  esperança  da  sua  mocidade. 

«Bfas  os  mais  felizes  e  opulentos  estão  expostos,  como  os  pobres  e  humil- 
des, aos  mesmos  rigores  da  fortuna. 

cPassados  três  annos,  quando  os  laços  do  amor  conjugal,  se  é  possível, 
estavam  mais  apertados,  a  esposa  de  Beckford  foi  arrancada  de  repente  aos 
extremos  de  seu  marido,  e  sepultou  comsigo  no  tumulo  todas  as  alegrias,  que 
o  ditoso  consorcio  havia  feito  nascer. 

«Dando  á  luz  o  segundo  fructo  da  sua  união,  Suzana  Eufemia,  depois  du- 
queza  de  Hamilton  na  Escócia,  de  Brandon  em  Inglaterra,  e  de  Chatellerant 
em  França,  lady  Margarida  não  poude  resistir  aos  effeitos  de  um  parto  desas- 
troso, e  expirou  nos  braços  de  seu  marido.  A  magua  d*este  foi  sincera  e  lon- 
ga; e  a  vista  dos  legares,  que  lhe  recordavam  os  serenos  dias,  tão  curtos  1  do 
seu  amor  tranquillo  tomou-se-lhe  insupportavel.  Para  não  ceder  à  mtima  e 
desesperada  tristeza,  que  o  consumia,  separou-se  pois  de  suas  filhas,  e  deixou 
a  Inglaterra,  procurando  o  allivio  d'ella  nas  variadas  sensações  d'uma  viagem 
extensa.  Executou  o  projecto  em  i787,  e  começando  pelo  reino  de  Portugal, 
aportou  a  Lisboa,  seguindo  directamente  de  Falmouth. 

«Apezar  do  tempo  e  da  inquietação,  com  que  de  propósito  queria  sobre- 
saltar-se,  a  sombra  querida  da  esposa  não  se  lhe  apagava  da  alma,  e  até  no 
meio  dos  prazeres  e  regozijos  o  vemos  de  repente  desviar-se  para  enchugar  as 
lagrimas,  que  lhe  arranca  a  suave  imagem,  sempre  viva  no  fundo  do  seu  peito. 

«A  carta  xxm  é  uma  prova  do  que  dizemos. 

« Admittído  a  beijar  a  mão  da  rainha,  e  a  assistir  com  a  corte  a  um  festejo, 
o  observador  interrompe-se  de  súbito  para  nos  descobrir  a  nódoa  indelével, 
que  lhe  pizava  o  coração. 

«A  similhança  casual,  que  se  lhe  figurou  achar  entre  o  rosto  da  condessa 
de  Lumiares  e  o  da  esposa,  que  chorava,  foi  quanto  bastou  para  logo  se  com- 
mover  e  arrebatar !  Por  mais  que  tente  conter-se,  foge-lhe  dos  lábios  a  ver- 
dade; e  por  fim  nem  elle  mesmo  lucta  já  para  a  esconder. 

«Ouçamol  o :  O  conde  de  Sampaio,  camarista  de  semana,  ajoelhou  e  oíTe- 
receu  assim  o  chá  á  raiuha.  Depois  d'esta  cerimonia,  porque  tudo  é  cerimo- 
nioso n'esta  corto  cheia  de  ostentação,  annunciouse  o  fogo  de  artifício,  e  as 
reaes  victimas  acompanhadas  das  suas  victiraas  entraram  em  outra  sala.  A 
marqueza  de  Marialva,  suas  filhas  e  a  condessa  moça  de  Lumiares,  vieram 
para  o  aposento,  aonde  eu  me  achava,  e  apossaram-se  das  janellas.  Sete  ou 


BE  75 

oito  rodas  de  fogo,  e  outros  tantos  valverdes  collossaes  começaram  a  arder, 
lançando  admiráveis  foguetes  por  todos  os  lados,  com  grande  alegria  da  con- 
dessa de  Lnmiares,  que  não  conta  ainda  mais  que  dezeseis  annos,  e  já  é  ca  - 
sada  ha  quatro.  A  sua  jovialidade  quasi  infantil,  e  as  loiras  madeixas  que  se 
atmelavaro,  emmoldurando  as  faces  risonhas  e  vivas  de  côr,  flzeram-me  lem- 
brar tanto  da  pobre  Margarida,  que  a  sua  vista  me  infundia  a  mais  tema  me- 
lanc6lia.  O  estado  interessante  em  que  se  achava^  ainda  augmentou  a  illusào; 
e  cmquanto  ella  sentada,  me  apparecia  por  vezes  envolta  no  clarão  azulado 
dos  foguetes,  que  subiam  silvando,  e  estalavam  no  ar,  eu  estremecia  como  se 
um  espectro  surgisse  de  repente,  e  dava  por  mim  com  os  olhos  banhados  em 
lagrimas. 

«Nos  fins  de  1787  Beckford  passou  a  Hespanha^  e  escreveu  acerca  dVsta 
segunda  viagem  outra  collecção  de  curiosas  cartas. 

«Depois  reeolhcu-se  à  pátria,  e  lá  residiu,  ora  em  Londres,  ora  na  sump- 
tuosa abbadia  de  Fontill,  morada  de  príncipes,  que  a  sua  inclinação  ás  novi- 
dades e  ao  explendor  o  decidiram  a  enriquecer  de  magnificas  obras  no  es- 
tylo  gothico  da  renascença. 

«Em  1794  uma  accusação  grave,  que  se  julga  provada,  obrigon-o  a  sair 
precipitadamente  da  Grã-Bretanha,  refugiando-se  em  Portugal,  para  onde  o 
attraiam  os  laços  da  convivência  anterior  e  as  sympathias  pessoaes. 

«Então  é  que  edificou  em  Cintra,  n'um  dos  pontos  mais  pittorescos,  a  casa 
de  recreio  de  Monserrate,  sumptuoso  capricho  d'uroa  imaginação,  que  sabia 
crear  e  desejar. 

«O  marquez  de  Marialva  estimava  o  opulento  inglez,  e  em  casa  d'este  fi- 
dalgo, tao  distincto  pelo  sangue  e  pela  cortezia,  é  que  elle  avaliara  o  conche- 
gé  amável  e  a  benevolência  intima  da  hospitalidade  portugneza. 

«Sabedor  da  causa  que  forçara  o  amigo  a  expatriar-se,  e  do  processo  que 
o  ameaçava  na  sua  terra,  o  marquez  não  poupou  diligencias  com  o  príncipe 
D.  João  para  o  resolver  a  interpor  a  sua  protecção,  recommendando  a  Jorge  III 
o  negocio  de  Beckford,  e  aleançando,  como  a  final  obteve  do  governo  britan- 
níeo,  a  promessa  do  mais  completo  esquecimento. 

«Em  testemunho  da  sua  gratidão  o  estrangeiro  pediu  licença  para  oíTerecer 
à  rainha  quatro  soberbos  lustres  de  filagranna  de  oiro  destinados  a  ornarem 
a  capella  real :  mas  a  soberana  recusou,  entendendo  que  não  ficava  airosa  a 
sua  coroa,  acceitando  de  um  particular  presente  de  tanta  valia.  Beckford,  ten- 
do vivido  alguns  annos  em  Portugal,  requereu  o  titulo  de  visconde^  e  pediu 
a  mão  de  uma  filha  natural  da  casa  de  Marialva,  segundo  se  cré;  porém  a  sua 
qualidade  de  estrangeiro,  e  a  religião  protestante,  que  professava^  não  lhe 
permittiam  obter  nem  uma,  nem  outra  coisa. 

«O  fausto  oriental  do  seu  trato  pessoal  eclipsava  jà  a  grandeza  do  throno, 
e  conselheiros  menos  prudentes  insinuaram  a  necessidade  de  o  constranger 
a  abreviar  a  sua  residência. 

«Seguiuse  esta  perniciosa  opinião,  e  o  opulento  proprietário,  contra  von- 
tade, e  muito  a  sen  pezar,  teve  de  deixar  o  paiz,  que  desejara  adoptar  para 
patría,  transportando  para  elle  as  suas  immensas  riquezas. 


76  BE 

«Voltando  para  França  e  Itália,  e  assignalando  por  toda  a  parte  a  soa  pas- 
sagem,  Beckford  recolhea-se  a  Inglaterra;  e  em  Fontill,  onde  morava  quasi 
todo  o  anno,  ostentoa  as  posses  da  magniflcencia,  e  o  gosto  delicado,  com 
que  sabia  utilisar  os  seus  thesouros. 

«Bekford,  antes  de  cerrar  os  olhos,  ainda  teve  a  satisfação  de  receber  em 
sua  casa  a  neta  de  D.  João  YI,  a  rainha  D.  Maria  II,  quando  veiu  a  Londres 
aguardar  que  a  espada  dos  portuguezes  fieis  à  sua  causa,  lhe  restituíssem  a 
coroa  dos  seus  reinos  usurpados 

«A  abbadia  de  Fontill,  depois  da  morte  do  proprietário,  veodeu-se  em  haa* 
ta  publica;  e  um  capitalista,  M.  Farquhar,  foi  quem  a  arrematou  por  trezen- 
tas e  quarenta  mil  libras  esterlinas. 

«No  meio  dos  primores  d'arte,  que  ennobreciam  o  seu  palácio,  os  objectos 
que  recordavam  a  sua  longa  residência  em  Portugal  occupavam  o  primeiro 
logar;  e  na  sua  instructiva  conversação  eram  frequentes  as  saudades,  com  que 
o  faustuoso  inglez  confessava  ter  sido  constrangido  a  separar-se  do  nosso 
brando  cUma,  e  dos  lindos  olhos,  que  o  levariam  a  esquecer  a  pátria,  se  mes- 
quinhas invejas  lhe  não  cortassem  os  desejos,  e  não  o  afastassem  para  sem- 
pre.» * 

GARTA  I 

PaSSBIO    a    PAI.BAYA 

30  de  maio  de  1787. 

«Home  induziu*me,  bem  contra  minha  vontade,  a  acompanhal-o  na  sui 
sege  portugueza  à  residência  dos  filhos  bastardos  de  D.  João  V,  em  Palbavi, 
em  vez  de  proseguir  as  minhas  costumadas  excurções  pela  beiramar.  É  de- 
testável a  estrada  até  aquelle  magnifico  jardim,  nem  conheço  outra  mais  in- 
festada de  mendigos,  cães,  moscas  e  mosquitos.  A  quinta  pertencente  ao  mar- 
quez  de  Louriçal  fica  n*uma  cova,  e  o  basto  arvoredo,  que  a  cerca  nem  pas- 
sagem deixa  á  viração  do  ar;  por  isso  eu  abafava  á  sua  sombra. 

«Um  grande  espaço  plano  da  banda  da  frontaria  da  casa  de  campo  está 
eccupado  com  tristonhos  labyrintos  de  murta  tosquiada;  de  que  surgem  altas 
pyramides,  no  desprezível  estyio  hollandez  do,  que  foi  plantado  pelo  rei  Gui- 
lherme em  Kensington,  e  arrancado  ha  annos  pelo  rei  Jorge  III.  Para  lá  does- 
ta brenha  intrincada  ha  extensos  carreiros  de  perenne  verdura  sombria,  litte- 
ralmente,  e  com  grande  propriedade  denominados  ruas,  mais  apertadas,  com 
maior  formalidade,  e  não  menos  pulverulentas  do  que  High-Holbom.  Tomei 
d'ahi  para  uns  canteiros  de  hortaliças  e  plantas  aromáticas  de  regadio,  fedia- 
das  por  uns  caniçados  muito  limpos,  que  engrinaldavam  mui  perfeitas  e  vi- 
rentes rosas,  do  todo  livres  de  insectos  epolilha,  dignas  de  se  espargirem  nos 
leitos,  ou  metter  no  seio  de  Lais,  Aspasia  ou  lady...  Bem  sei  eu  o  enthusiasmo» 
com  que  toda  a  pessoa  de  bom  gosto  se  deleita  n'estas  amáveis  flores:  e  qnan- 

*  VfúWam  Beckford  foi  viajante  instroido,  observador  penetrante,  e  escriptor  nata- 
ralissimo  edesaifectado.  Luii  Augasto  Rebello  da  Silva,  Lagrimas  e  Thesouros,  p&g.  i?. 
Nanca  pude  vér  o  Vathec,  tudo  porém,  até  mesmo  algumas  palavras  de  lord  Byron  m» 
inclioam  a  acreditar  ser  nm  romance. 


BE  77 

to  a  miado  e  em  versos  harmoniosos  foram  pelo  Ariosto  celebradas.  E  não 
tem  lady...  um  camarim  pintado  todo  de  rosas?  Por  ventara  não  as  esfolha 
no  sen  banho,  e  de  nenhuma^  outras  flores  enfeita  os  seus  ídolos  ? 

«Quem  lhe  contestará  esse  direito? 

«Em  quanto  eu  estava  poeticamente  embevecido  nas  rosas,  Home  travou 
conversação  com  um  tal  mestre  de  picaria  anglo-portuguez,  da  casa  de  suas 
altecas  bastardas,  o  qual  trazia  sua  cabelleira  mui  composta  e  bem  polvilhas 
da,  lustroso  espadim  de  punho  de  prata,  toda  a  andaina  do  fato  de  côr  car- 
mezim,  e  era  dotado  de  uma  guapa  e  bojuda  pança. 

«Com  a  mão  direita  na  abertura  do  colete,  e  a  outra  em  acção  de  tomar  a 
pitada,  encarecia  a  piedade,  temperança  e  pureza  de  vida  de  seus  augustos 
amos,  que  viviam  retirados  do  mundo,  em  perfeito  estado  de  socego,  aborre- 
cendo companhias  profanas,  nem  sequer  olhando  para  as  mulheres. 

«Curioso  de  vér  a  vivenda  d'estes  sisudos  régios  enxertos,  entrei  no  palá- 
cio: nem  um  insecto  se  bolia,  nem  se  ouvia  o  mais  leve  susurro.  Os  aposentos 
príncipaes  consistiam  n'uma  série  de  salas  de  tectos  altos,  magestosas,  e  for- 
radas uniformemente  de  damasco  carmezim  escuro:  o  topo  de  cada  uma  era 
coberto  por  um  pezado  docel  de  velado  lavrado:  da  direita  e  esquerda  esta- 
vam enfileiradas  immensas  poltronas  dos  mesmos  materiaes:  nada  de  espe- 
lhos, de  pintaras,  doirados,  ou  decoração,  nada  mais  do  que  monótona  tape- 
çaria: até  as  mezas  tapavam  pannos  de  veludo  franjados,  no  gosto  d'aquelles 
qoe  as  nossas  viuvas  ricas  usavam  antigamente  para  arreiarem  seu  tocador. 
Basta  a  vista  das  mezas  assim  tapadas  para  fazer  suar  a  gente;  e  não  posso 
atinar  como  o  diabo  tentou  os  portuguezes  a  buscar  moda  tão  sediça. 

«Este  gosto  de  vestir  saias  ás  commodas  e  bancas  é  geralmente  havido 
aqui  por  bonito,  ao  menos  nos  aposentos  reaes.  Em  Queluz  nenhuma  mesa 
de  jogo  ou  de  jantar  escapou;  e  suspeito  que  não  poucos  vestidos  velhos  da 
corte  foram  desmanchados  para  fornecerem  aquelles  atavios;  ha  de  todas  as 
cores,  lisos  ou  floreados,  com  ramagens  campezinas,  ou  esplendidamente  re- 
camados. Não  assim  em  Palhavã,  onde  só  predomina  o  carmezim,  tingindo 
sem  rival  todos  os  objectos  com  a  sua  regia  côr  opaca.  Arrumadas  à  parede 
entre  duas  das  sobreditas  mezas,  estão  duas  poltronas  para  suas  altezas,  e  de- 
Ihinte  uma  ordem  de  cadeiras  para  os  reverendos  em  Cbristo,  que  de  tempo 
a  tempo  tem  a  honra  da  admissão. 

«Quanto  pôde  a  força  da  educação !  Que  exforços  não  demandaria  da  parte 
das  aias,  escudeiros  e  camaristas  abafar  todas  as  vividas  e  generosas  sensa- 
ções no  animo  dos  príncipes,  que  educavam,  violentar  a  natureza  humana, 
SQjeitando-a  aos  hábitos  d'uma  realeza  sem  poder!  A  magestade  sem  dominio 
é  de  todas  a  carga  mais  pezada.  Um  soberano  achará  em  que  se  occupe;  tem 
a  escolha  do  bem  ou  do  mal;  porém,  priucipes  como  os  Palhavã,  sem  mando, 
nem  influencia,  que  nada  mais  tem  a  manter  do  que  uma  imaginaria  gran- 
deza, bocejarão  com  o  espirito  hebetado,  e  no  andar  do  tempo  se  mostrarão 
tio  cerimoniosos  e  inanimados  como  as  pyramides  de  buxo  enfezado  em  seus 
jardins.  Quanto  mais  felizes  foram  os  rapazes,  que  o  rei  João  entendeu,  que 
não  devia  reconhecer,  e  que  não  são  pouco  numerosos,  porque  o  piedoso  mo* 


78  BE 

narcha  «largo  como  os  seus  domínios,  espalhava  a  imagem  e  simiihanca  do 
seu  creador  peia  terra.*  Talvez  que  esses^  emquauto  seus  irmãos  bocejam 
inertes  debaixo  de  enferrujados  dóceis,  passem  a  vida  zangarreando  em  suas 
violas  nos  ranchos  vadios  e  descuidadosos  passeios  ao  luar,  ou  saracoleando- 
se  no  alegre  fandango,  ou  gozando  do  profundo  somno,  das  iguarias  cam- 
pestres, e  das  galhofas,  revestidos  do  caracter  de  curas  d'alguma  festiva  po- 
voação rural. 

«Folguei  de  vér-me  fora  do  palácio:  o  silencio,  a  luz  fraca  desalentavam- 
me,  e  n'uma  atmosphera  restricta,  impregnada  do  cheiro  de  alfazema  quei- 
mada, quasi  desfallecia.  Estou  sequioso  de  ar.  Nem  é  coisa  que  mova  espanto; 
pôde  uma  pessoa  achar-se  tão  bem  na  cama  com  um  esquentador,  como  den- 
tro d'uma  sego  portugueza  com  o  corpulento  Home,  que  ostenta  a  volumosa 
barriga,  ataviada  n'esta  estação  com  um  colete  de  brilhantes  lantejoulas.  For- 
çoso me  é  partir  para  Cintra,  ou  morrer  abafado.» 

CARTA  II 

SAmmUÊ.  BOTAMICO  —  AÇArATAS   BO   PAÇO 

31  de  maio  de  1787. 

«Debalde  chamo  pelas  nuvens,  que  me  cubram,  e  por  nevoeiros,  que  me 
envolvam.  Não  podeis  formar  adequada  idéa  do  continuo  deslumbramento» 
que  nos  offusca  a  vista,  n'este  afamado  clima.  Lisboa  é  de  todo  o  mundo  o 
sitio  mais  apto  para- se  exclamar:  — Abriga-me  da  pomposa  claridade  do  dial 
Mas  achar  o  abrigo  não  é  coisa  fácil.  Nem  aqui  ha  mattinhas  de  pinheiros» 
como  nas  clássicas  quintas  italianas,  nem  os  trémulos  choupos  efolhudos  cas- 
tanheiros^ que  cobrem  as  planícies  da  Lombardia.  O  arvoredo  nos  arredores 
mais  próximos  d'esta  capital,  consta,  com  bem  poucas  excepç(5es,  de  larangeí- 
ras  :inãs  e  cinzentas  oliveiras. 

«Estava  eu  determinado  a  não  bolir  pé  fora  da  sombra  do  meu  toldo;  mas 
de  tarde,  tendo  afrouxado  algum  tanto  o  extremo  ardor  do  sol,  o  velho  Home 
(que  parece  que  ainda  Jhe  não  nasceu  o  dente  do  siso)  conseguiu  mover-me 
a  passeiar  no  Jardim  Botânico,  onde  não  é  raro  encontrar  certos  animaes  de 
pouca  edade,  e  do  género  feminino,  chamados  em  portuguez  açafatas,  especM 
entre  a  camareira  e  a  dama  de  honor.  A  rainha  fizera  o  favor  de  levar  com- 
sigo  para  as  Caldas,  as  mais  feias;  e  as  que  ficaram  tem  rasgados  olhos  pre- 
tos, em  que  scintíUam  amorosas  tendências,  uma  exuberante  trança  de  ca- 
bello  azevichado,  e  beicinhos  da  côr  das  rosas.  Tudo  isto  não  constituo  uma 
belleza  perfeita,  nem  eu  quero  dizer  isso,  só  quero  que  fiqueis  sabendo  que 
as  nymphas  de  que  fallo,  são  as  flores  do  rancho  da  rainha,  e  que  ella  tem  na 
sua  comitiva,  pelo  menos,  quatro  ou  cinco  dúzias  mais  d'essas  damas  dota- 
das de  boccas  grandes,  olhinhos  franzidos  e  tez  morena. 

«Não  me  achando  assaz  habilitado  para  florear  cumprimentos  em  língua 
portugueza,  dirigi  principalmente  a  conversação  a  uma  irlaodcza  de  olhos 
azues,  amável  rapariga  de  quinze  a  dezeseis  annos,  recem-casada  com  um  of- 
fícial  das  alfandegas  de  sua  magcstade.  O  marido  foi  a  uma  romaria  a  Nossa 
Senhora  do  Cabo,  o  a  senhorita  espaneja-se  no  Jardim  Botânico  com  as  da- 


BE  79 

• 

mas  do  paço  e  mn  rancho  de  sopranos,  qoe  Ibe  ensinam  a  gargantear  &  a 
fallar  italiano;  bem  digna  é  de  se  lhe  ensinar  o  que  cada  mn  sabe:  o  sea  ca- 
belJo  d'ama  mimosa  côr  de  castanha  e  as  suas  bellas  feições  e  formas  gre- 
gas, fazem  notável  contraste  com  a  pelie  morena  e  madeixas  pretas  das  suas 
companheiras;  parece  um  ente  sobrenatural,  que  se  evade  ao  longo  das  ala- 
medas, deixando  muito  atraz  os  bojudos  sopranos,  e  as  mal  amanhadas  aça- 
fatas em  pasmaceira  á  vista  da  sua  agilidade. 

«O  jardim  é  bastante  agradável,  situado  n*uma  eminência,  cheio  de  arvo- 
res frondosas  carregadas  de  flores;  acima  das  suas  mais  altas  copas  eleva-se 
um  soberbo  e  espaçoso  terraço  com  balaustradas  de  mármore  de  lustrosa  al- 
vora e  d'am  singular  molde  oriental. 

«N'este  paiz  desenham  sem  escolha,  mas  o  lavor  da  obra  é  mui  puro  e  per- 
feito. Nunca  vi  balaustres  melhor  cinzelados  do  que  os  da  escadaria  que  con- 
duz ao  terraço  grande. 

«Esta  ampla  superOcie  é  dividida  em  repartimentos  oblongos  de  mármore 
contendo  variedades,  em  pouca  abundância,  de  heliotropios,  aloés,  gerânios, 
rosas  da  China,  e  de  plantas  mais  communs  das  nossas  estufas:  tão  pezadas 
divisões  produzem  desagradável  elTeíto ;  fazem  lembrar  um  cemitério,  e  cau- 
saram-me  uma  impressão  como  se  os  habitantes  defuntos  do  palácio  adjacente 
brotassem  do  chão  na  forma  de  espinheiros,  figueiras  da  índia,  iouçâos  aze- 
vinhos e  pimenteiras. 

•O  terraço  terá  mil  e  quinhentos  passos  de  comprido;  três  copiosas  fontes 
lhe  dão  um  ar  de  frescura  bastante  augmentado  pela  ondulação  de  grandes 
acácias,  expostas  em  virtude  da  sua  situação  elevada  a  toda  a  brisa,  que  so- 
(ura  da  foz  do  Tejo,  cujas  bellas  aguas  azuladas  se  descobrem  com  um  bom 
efièito  atravez  da  movediça  ramagem. 

«A  senhorita  ingleza  e  o  vosso  íiel  correspondente  correram  como  creanças 
ao  longo  do  terraço,  e,  quando  fatigados,  repousaram  á  sombra  d'um  grupo  de 
gigantes  aloés  brazilicos,  junto  d'uma  das  fontes.  A  porção  fusca  da  compa- 
nhia de  passeantes  separou-se  do  seu  principal  guarda,  um  guapo  clérigo 
moço,  para  observarem  todas  as  excursões  e  descanços  de  nós  outros  gente 
branca. 

•Era  já  tarde,  e  havia  alguns  minutos  que  se  tinha  posto  o  sol,  quando  me 
despedi.  Os  olhos  pretos  e  os  olhos  azues  parecem-me  horrivelmente  ciosos 
uns  dos  outros.  Receio  que  a  minha  juvenil  e  espirituosa  companheira  tenha 
sefliido  alguma  coisa  por  ter  sido  mais  esperta  que  as  açafatas,  e  que  a  belis- 
cassem com  alguns  remoques,  quando  a  companhia  se  recolhesse  pelos  escu- 
ros e  intrincados  passadiços,  que  dão  serventia  do  paço  d' Ajuda  para  os  jar- 
dins. Ruim  lembrança  deixar  assim  uma  bella  e  jovem  creatura  em  mãos  de 
altivas  6  despóticas  mulheres,  que  tão  inferiores  lhe  são  na  polidez  e  em  for- 
mosura Aposto  que  teriam  o  especial  cuidado  de  encher  os  ouvidos  do  ma- 
rido com  suspeitas  menos  caridosas,  do  que  as  inspirações  da  Senhora  do 
Gabo.* 


80 


BE 


CARTA  IIÍ 
Knpo  BO  JktJíiAm\m  —  Abcos  wilb  A«uiks  IjIvbiuí  —  Mabqui<*  ■*■£  Mabialva 

3  de  junfid  de  1787. 

t  Fomos  por  especial  convite  ao  real  convento  das  Necessidades,  perten- 
cente aos  congregados,  vér  a  cerimonia  da  sagraçao  do  bispo  do  Algarve,  pa- 
dre d'esta  casa;  estivemos  collocados  defronte  do  altar  n'ama  tribona  ata- 
lhada de  figaròes  de  lustrosos  trajos,  pessoas  relacionadas  com  o  novo  pre- 
lado. O  pavimento  estava  alcatifado  com  ricos  tapetes  e  cochins  de  velado, 
onde  se  podia  ajoelhar  muito  bem;  mas,  nao  obstante  esta  commodidade  pen- 
sei que  a  cerimonia  nunca  acabava.  Havia  um  excessivo  explendor  de  crozes, 
thuribulo?,  mitras  e  báculos  em  continuo  movimento,  porque  vários  bispos 
assistiam  com  toda  a  sua  pompa. 

«A  musica,  que  era  extremamente  simples  e  pathetica,  parecia  conunover 
profundamente  os  Gdalgos,  que  ficaram  ao  pé  de  mim.,  pois  que  mostravam 
seoiblantes  compungidos  e  batiam  nos  peitos,  como  quem  se  considerava  que 
a  maior  parte  d'e]les  são  miseráveis  peccadores.  Sentindo-me  opprimido  pelo 
calor  e  pelo  sermão,  effectuei  a  minha  retirada  da  explendida  tribuna  sorra- 
teira e  caladamente,  e  passei  para  o  jardim  por  alguns  corredores  estreitos, 
tão  quentes  como  tubos  de  chaminé.  Mas  isto  era  somente  mudar  de  uma 
scena  de  formalidades  para  me  encerrar  em  outra.  Eu  almejava  por  ar,  e  á 
fim  de  gozar  d'este  benefício  evadi*me  por  uma  portinha  para  o  silvestre  e 
despejado  valle  de  Alcântara.  Tudo  ahi  estava  solitário,  ouvindo-se  o  zumbido 
das  abelhas,  e  as  frescas  virações  sopravam  da  entrada  do  Tejo  por  cima  das 
copadas  larangeiras  dos  pomares.  O  susurro  refrigerante  da  agua  nas  azenhas 
parecia  dar^me  vida  nova. 

t  Arrostei  com  o  ardor,  e  encaminhei-me  para  aquella  parte  do  valle,  que 
atravessa  o  enorme  aqueducto,  qae  tantas  vezes  tendes  ouvido  mencionar  co- 
mo o  edifício  mais  colossal  do  seu  género  na  Europa.  Tem  uma  só  ordem  de 
arcos  ponteagudos,  e  o  principal,  galgando  um  rápido  ribeiro,  mede  quasi 
250  pés  do  altura. 

tMas  n*este  aqueducto  é  a  vastidão,  e  n'uma  fieira  de  arcos,  que  infdnde 
assombro.  Sentei-me  no  fragmento  d'um  penedo  debaixo  do  arco  grande,  e 
olhei  para  aquella  abobada  là  tanto  acima  de  mim  com  certa  impressão  de 
respeito  não  de  todo  desacompanhada  de  temor,  como  se  o  edifício,  que  ea 
contemplava  fosse  obra  d*um  ente  incommensuravel  dotado  de  força  gigante, 
a  quem  desse  a  teneta  de  andar  saracoteando  n'essa  manhã  por  cima  da  sua 
construcção,  e  por  capricho  bruto  me  reduzisse  a  impalpáveis  átomos.  ^ 

«Perto  do  sitio,  onde  me  sentei,  havia  alguns  cerrados  cheios  de  cannas 
da  altura  de  onze  ou  doze  pés,  cujas  folhas  viçosas,  agitadas  pela  viração,  fa- 
ziam perenne  susurro;  gostei  d'este  murmúrio,  que  me  acalentava  n'um  es- 

^  Na  Historia  da  Academia  das  Sciencias  de  Paris ^  anno  de  177â,  S.*^  parte,  vem  o 
plaoo  do  Aqueducto  ddS  Aguas  Livres.  Exisle  um  oulro  plano  levantado  pelo  engenheiro 
hydraulico  Josoph  Thcrcse  Michelolli. 


BE  81 

Udo  de  repouso  bem  necessário  depois  das  fadigas  de  trepar  por  alcantis  e 
precipicios. 

«Logo  que  recolhi  do  passeio,  Home  levon-me  a  jantar  com  elle,  e  depois 
ao  palácio  de  Marialva  afim  de  pagar  uma  visita  ao  grão-prior.  O  pateo  cheio 
de  mesquinhas  seges,  recordou-me  a  entrada  d'uma  casa  de  posta  em  Fran- 
ça; lembrança  que  não  foi  desvanecida  pelo  aspecto  de  volumosos  montes  de 
estrume,  por  entre  os  quaes  não  andamos  pequeno  espaço  até  à  escadaria 
prmcipal,  tendo  empeçado  n'uma  porca  que  alli  retouçava  com  uma  numero- 
sa progénie  fugindo  por  entre  as  nossas  pernas,  com  queixosos  grunhidos. 

«Esta  bulha  annunciou  a  nossa  chegada,  vindo  receber-nos  o  grao-prior, 
e  seu  sobrinho,  o  abbade  velho,  e  um  tropel  de  criados;  todas  as  principaes 
famílias  portuguezas  são  infestadas  de  bandos  d'estes,  em  geral,  desfavoreci- 
dos dependentes,  e  ninguém  mais  que  os  Marialvas,  que  distribuem  diaria- 
mente trezentas  rações,  pelo  menos,  de  arroz  e  outros  comestíveis  a  tão  ávi- 
dos devoradores. 

«O  grão-prior  desataviado  de  seus  hábitos  prelaticios  fez  as  honras  da  casa, 
e  nos  conduziu  promptamente  a  todos  os  aposentos,  e  ao  picadeiro,  onde  o 
marqnez  velho,  seu  irmão,  posto  que  de  edade  bastante  avançada,  ostenta  os 
primores  da  mais  consummada  picaria.  Parece  ter  decidido  gosto  pelos  reló- 
gios de  parede,  bússolas  e  pêndulas;  contei  nada  menos  de  dez  no  seu  quarto 
de  cama,  quatro  ou  cinco  em  plena  oscillação  dando  estrondosos  assobios; 
tocavam  e  davam  horas,  porque  eram  as  seis  em  ponto,  quando  eu  seguia  o 
meu  conductor  subindo  e  descendo  meia  dúzia  de  lanços  de  escada  até  uma 
sala  forrada  de  damasco  desbotado. 

«No  centro  d'este  antiquado  aposento  havia  uma  mesa  atulhada  de  rari- 
dades postas  alli  por  ostentação;  curiosas  obras  de  conchas,  crucifixos  de 
marfim,  modelos  de  navios,  xairéis  bordados  de  pennas,  e  Deus  sabe  quantas 
coisas  mais,  tudo  recendendo  a  camphora  d'um  modo  capaz  de  tombar  um 
homem. 

«Quando  nós  olhávamos  com  grande  applicação  tapando  o  nariz  com  os 
lenços,  appareceu  o  conde  V...  vice-rei  do  Algarve,  de  grande  uniforme  verde 
e  agaloado,  e  de  pernas  largas  fazendo  tregeítos,  como  a  quem  tinha  aconte- 
cido algum  accidente  desagradável. 

«Comtudo  estava  na  melhor  disposição,  e  era  o  novo  bispo,  que  com  muita 
complacência  recebeu,  assim  que  se  fez  conhecer,  os  nossos  cumprimentos. 

«A  conversação  sustentou-se  coxeando  intercalada  de  variedade  de  idio- 
mas, hespanhol,  italiano,  portuguez,  francez  e  ingiez,  todos  por  seu  turno  em 
rápida  suecessão.  Os  assumptos  doesta  salgaihada  polyglota  foram  as  magni- 
ficências e  piedade  do  rei  D.  João  V,  o  pezar  peU  extincção  dos  jesuítas,  e  o 
inverso  pela  morte  do  marquez  de  Pombal,  á  memoria  do  qual  o  bispo  con- 
sagra pouco  menos  que  a  execração.  Este  fluxo  de  eloquência  era  acompa<- 
nhado  pelas  mais  extravagantes  e  ridículas  visagens,  que  eu  tenho  observado, 
com  uma  chuva  de  perdigotos,  porque  o  vice-rei  tendo  continua  humidade  de 
bocca  baba-se  a  cada  syllaba.  Comtudo  não  se  deve  decidir  de  salto  pelas  ap- 
parencias  exteriores.  Este  personagem  babão  e  manhoso  é  um  distincto  esta- 

TOMO  I  6 


Si  BE 

dista  e  hábil  empregado,  preeminente  entro  os  poucos,  que  toem  prestado 
serviços  e  dado  provas  de  vigor  e  capacidade. 

«Para  evadir-me  ás  enfadonhas  narrações,  que  me  escandeciam  os  ouvi- 
dos, refugiei-mo  ao  pó  â'um  cravo,  ao  qual  cantava,  fazendo  ao  mesmo  tempo 
acompanhamento  o  Polycarpo,  um  dos  primeiros  tenores  da  real  capella.  Meio 
corridas  as  cortinas  da  porta  d'um  escuro  quarto  contiguo,  deixaram-me  en- 
trever um  transitório  vislumbre  da  pessoa  de  D.  Henriqueta  de  L...,  Irma  de 
D.  Pedro,  adiantando*se  n'um  momento,  e  retirando-se  logo  no  outro,  dese- 
josa de  approximar-se  e  examinar  as  nossas  figuras  estranhas,  porém  não  se 
aventurando  a  entrar  na  sala  na  ausência  de  sua  mãe;  pareceu-me  uma  inte- 
ressante menina  com  olhos  d'uma  languidez  feiticeira;  do  que  oiço  dizer  a  seu 
respeito  só  divisei  uma  figura  pallida,  evaporavel  como  as  que  a  phantasia 
nos  finge  ás  vezes  em  sonhos.  Um  grupo  de  amáveis  creanças,  suas  irmãs, 
creio  eu,  sentavam-so  no  chão  a  seus  pós,  similhando  génios  occultos  parcial- 
mento  nas  dobras  dos  cortinados  n^alguns  bellos  quadros  allegoricos  de  Ru- 
bens ou  do  Paulo  Veronense. 

«Aproximada  a  noite  brilharam  as  luzes  nas  torrinhas,  terrados,  e  por  toda 
a  parto  da  singular  mistura,  de  que  ó  composto  este  palácio  com  parecenças 
de  mourisco;  metade  da  familia  occnpava-se  a  rezar  a  ladainha,  outra  metade 
com  venetas  e  brincos,  talvez  de  natureza  pouco  edificante;  as  monótonas  vi- 
brações da  guitarra  acompanhadas  do  ameno  e  brando  susurro  das  vozes  fe- 
mininas entoando  modinhas,  também  formavam  uma  extraordinária,  posto 
que  uão  desagradável  combinação  do  sons.  Escutava  eu  com  avidez,  quando 
o  darão  de  archotes  o  a  bulha  d'agua  batida  dos  remos  nos  attrairam  ás  va* 
randas  a  tempo  do  prcsencear  uma  procissão,  que  de  maravilha  se  terá  visto 
desde  o  tempo  do  Noé;  duvido  que  a  sua  arca  abrangesse  uma  coUecção  de 
animacs  mais  hotcrogenca  do  quo  saiu  d'um  escaler  do  cincoenta  remos, 
d'onde  desembarcaram  o  velho  marquez  de  M...  o  seu  filho  D.  Josó,  acompa- 
nhados d'um  enxame  de  músicos,  pootas,  toireiros,  lacaios,  frades,  anões  e  ra- 
pazes de  ambos  os  sexos,  phantasiosamcnte  vestidos. 

«Parece  que  todo  o  rancho  voltava  d'uma  romaria  a  certo  Santo  da  outra 
banda  do  Tejo. 

«Primeiro  saltou  um  anão  corcovado,  assoprando  uma  pequena  e  chíadora 
trombeta,  logo  em  seguida  um  par  de  capitães  de  guias  apparentemente  com- 
mandados  por  um  personagem  fanfarrão,  velho  e  burlesco,  de  uniforme  ap- 
paratoso,  e  que  mo  disseram  ter  representado  a  parto  d*uma  espécie  de  bri- 
gadeiro geral  n'uDia  casta  de  ilha:  se  fosse  a  Barataria,  Sancho  o  teria  cedo 
despojado  de  cargo,  porque,  a  acreditar  a  chronica  escandalosa  de  Lisboa,  de 
raro  apparece  um  truão  mais  impudente,  parasita  e  ratoneíro. 

«Logo  nos  calcanhares  d'eslcs  vinham  com  aíToclada  gravidade  um  frado 
de  aspecto  selvagem,  alto  como  Sansão,  e  mais  dois  capuchinhos  pezadamento 
carregados,  ignoro  com  quo  previsões;  apoz  dos  frades  um  boticário  muito 
magro  e  descorado,  lodo  vestido  de  preto,  completamento  correspondendo  em 
gestos  e  trajo  á  íigura,  que  cada  um  imagina  do  sr.  Apunlador  no  Gil  Braz; 
seguia-o  um  oralc  improvisador,  que  nos  disparava  um  esguicho  de  versos  ao 


BE  83 

passar  debaixo  das  sacadas,  a  que  estávamos  encostados.  Difflcultosamente 
se  podia  onvir  no  confoso  tumulto  de  aguadeiros  e  criados  de  servir  com 
gaiolas  de  pássaros,  lanternas,  cabazes  de  flores,  caminhando  aos  saltos,  com 
grande  deleite  d'um  bando  de  rapazes,  que  para  melhor  arremedarem  os  ha- 
bitantes dos  céus  traziam  azas  resplandecentes  e  ondeantes  pegadas  aos  hom- 
bros  rozados.  Alguns  d'estes  anginhos  de  comedia,  eram  extremamente  lindos 
e  tinham  o  cabello  encaracolado  com  muita  elegância. 

«O  marquez  velho  é  loucamente  amigo  d'elles:  com  elle  estão  noite  e  dia, 
e  assim  participa  de  todas  as  vantagens,  que  uma  constituição  physíca  deca- 
dente pôde  tirar  do  fôlego  juvenil  e  ínnoxio;  o  patriarcha  dos  Marialvas  tem 
segoido  este  regimen  ha  muitos  annos,  e  também  alguns  outros,  que  serão 
custosos  de  acreditar.  Tendo  uma  facilidade  mais  que  romana  para  eugulír 
immensa  profusão  de  golodices,  e  dando  sempre  campo  a  novo  provimento,  é 
enorme  a  comida,  que  eu  vi  estendida  na  mesa  para  elle.  Niuguem  me  acre- 
ditaria em  Inglaterra,  se  pelo  miúdo  a  referisse;  dé-se  largas  á  imaginação 
sobretudo  o  que  pôde  conceber-se  em  matéria  de  gula,  e  nenhuma  hypothese 
excederá  a  realidade. 

«Logo  que  todo  o  conteúdo,  quer  do  reino  animal,  quer  do  vegetal,  exis- 
tente no  escaler  principal,  e  em  mais  três  ou  quatro  lanchas  da  comitiva,  foi 
depositado  nas  respectivas  tocas,  cantos  e  poleiros,  recebi  convite  do  velho 
marqaez  para  participar  d'uma  merenda  no  seu  aposento.  Estou  bem  certo 
que  nada  menos  de  emcoenta  criados  faziam  o  serviço  da  meza;  e  além  de 
meia  dúzia  de  tochas,  que  eram  levadas  por  estado  adiante  de  nós,  para  mais 
de  cem  vellas  de  cera  estavam  accesas  ao  longo  das  camarás,  de  mistura  com 
perfomadores  e  caçoilas,  que  diffundiam  mui  agradável  aroma. 

«Achei  o  dono  de  toda  esta  magnificência  mui  cortez,  lhano  e  affavel.  Ha 
uma  arbanidade  e  génio  alegre  expresso  no  seu  olhar^  voz  e  gestos,  que  im- 
mediatamente  predispõe  a  seu  favor,  o  justifica  a  geral  popularidade  de  que 
goza,  e  o  affectuoso  nome  de  pae,  com  que  a  rainha  e  real  família  frequente- 
mente o  tratam.  Todas  as  graças  da  coroa  se  tem  accumulado  na  sua  pessoa, 
tanto  pelo  actual,  como  pelos  precedentes  soberanos,  fluxo  de  prosperidade 
nao  interrompido  nem  mesmo  durante  o  grande  visiriaio  do  marquez  de  Pom- 
bal. «Procedei,  como  julgardes  mais  acertado  com  toda  a  outra  nobreza  (cos- 
«tomava  dizer  o  rei  D.  José  ao  seu  formidável  ministro)  mas  livrae-vos  de  in- 
«trometter-vos  com  o  marquez  de  Marialva.» 

«Èm  consequência  doesta  decidida  predilecção  o  palácio  de  Marialva  veíu 
a  ser  em  muitos  casos  uma  espécie  de  ponto  de  reunião,  um  asylo  para  os 
opprimidos,  e  seu  dono  em  mais  d'uma  occasião  um  escudo  contra  os  raios 
de  tão  poderoso  ministro.  As  recordações  doesse  tempo  parece  estarem  ainda 
vivas,  porquanto  o  cordeal  respeito  e  filial  affecto,  que  eu  vi  tributar  ao  velho 
marquez,  são  na  verdade  notáveis:  os  seus  mais  leves  movimentos  de  olhos 
eram  obedecidos,  aquelles,  a  quem  se  dirigiam,  mostravam* se  gratos  c  anima- 
doá;  seus  filhos,  o  marquez  de  Tancos  e  D.  José  do  Menezes,  nunca  se  chega- 
ram a  ofTcrecer-lhe  alguma  coisa  sem  ajoclliarem;  o  condo  do  Vilia  Verde, 
herdeiro  da  grande  casa  de  Angeja,  c  o  vice- rei  do  Algarve,  ambos  de  pé  no 


84  BE 

circujo,  qae  se  formara  à  roda  d'elle,  recebiam  uma  palavra  saa  benigna  oa 
afTavel  com  o  mesmo  fervoroso  agradecimento  dos  cortezaos,  que  dependem 
dos  sorrisos  e  favor  de  seas  soberanos.  Por  muito  tempo  me  lembrarão  as 
gratas  sensações,  de  que  me  penetrou  esta  scena  de  reciproca  benevolência; 
aOgurouse-me  um  escambo  de  amigáveis  sentimentos,  benevolência  dispen- 
sada sem  artificio  nem  affectação,  e  protecção  recebida  sem  maligna  ou  ab- 
jecta vileza. 

«Quão  preferível  é  um  governo  patriarcbal  doesta  natureza  às  deslavadas 
theorías,  que  sophistas  pedantes  desejariam  estabelecer,  e  que,  se  fossem  avan- 
te os  seus  interesseiros  e  atheistas  delírios,  solapariam  os  melhores  e  mais  se- 
guros esteios  da  sociedade !  Quando  os  pães  deaarem  de  ser  venerados  por 
seus  filhos,  e  se  não  conhecerem  os  sentimentos  de  agradecida  subordinação 
n'aquelles  de  edade  ou  condição,  que  carecem  de  amparo  e  auxilio,  em  breve 
os  reis  cessarão  de  reinar,  e  as  republicas  de  ser  governadas  pelos  conselhos 
da  experiência;  a  anarchia,  a  rapina,  a  camagem  percorrerão  a  superficie  da 
terra,  e  a  morada  dos  demónios  será  transferida  do  inferno  para  o  nosso  des- 
venturado planeta.  1 

CARTA  IV 
PbocissIo  bo  Corpo  db  Dbijs  ba  PAimiABCHAi. 

7  de  junho  de  Í7S1. 

«Atroadores  repiques  de  sinos,  bellicoso  arruido  de  tambores,  e  agudos 
toques  de  trombeta  me  puzeram  fora  da  cama  ao  alvorecer  o  dia.  Segundo  o 
grau  de  devoção,  que  possuis,  acho  que  não  ignoreis  que  é  hoje  o  dia  da  festa 
do  Corpo  de  Deus.  Estava  meio  disposto  a  ficar  em  casa  folheando  uma  cu- 
riosa collecção  de  Chromcas  Portfiguezas,  que  o  grão-prior  d'Aviz  me  man- 
dara; porém  tinha  ouvido  maravilhas  taes  da  esperada  procissão,  que  não 
pude  resistir  a  tomar  algum  incommodo  afim  de  presenceal-a. 

«Todos  se  haviam  posto  em  movimento,  antes  que  eu  saisse,  e  as  ruas  do 
subúrbio,  onde  habito,  bem  como  as  da  cidade,  que  segui  encaminhando-me 
á  Só  patriarchal,  estão  inteiramente  desertas;  parece  que  passou  um  ramo  de 
peslo  pela  grande  Praça  do  Commercio  e  os  estabelecimentos  mercantis  e  fis- 
cacs  da  Bolsa  e  Casa  da  índia,  porque  até  os  vadios,  os  varredores  das  ruas, 
c  mesmo  os  mendigos  na  ultima  phase  da  decrepitude  abalaram  manquejando 
para  o  logar  da  scena.  Só  ficaram  nas  ruas  desamparadas  uns  poucos  de  mi- 
seráveis cães  vagabundos  e  estropiados,  e  não  vi  nas  janellas  individoos  hu- 
manos, á  excepção  de  meia  dúzia  de  creanças  tinhosas  choramingando,  por- 
que as  deixaram  cm  casa. 

«O  borborinho  da  multidão  apinhoada  á  roda  da  patriarchal,  ouvia-se 
muito  antes  do  lá  chegar,  avançando  difflcultosamente  entre  as  fileiras  dos 
soldados  formados  em  ordem  de  batalha.  Ao  voltar  um  angulo  escurecido  pe- 
la sombra  dos  altos  edificios  do  Seminário  contíguo  á  Patriarchal  descobrimos 
as  casas,  lojas  e  palácios,  convertido  tudo  em  pavilhões,  forrados  d'alto  abaixo 
de  damasco  encarnado,  tapeçarias,  cobertores  de  seda,  e  colxas  de  franjas  re- 
luzindo em  oiro.  Julguei  acliar-me  no  meio  do  acampamento  do  grão-mogol, 
tão  poin[)osameute  dcscripto  por  Bernier.  £m  especial  a  frontaria  do  templo 


BE  8S 

psUva  armada  com  toda  a  sumptuosidade;  esta  fachada  levanta-se  d'um  es- 
paçoso adro  de  lanços  de  escadaria,  que  estava  coberta  de  archeiros  da  guar- 
da real  com  suas  ricas  fardas  multicôresi  e  d' uma  infinidade  de  padres  tra- 
zendo luzidas  e  diversas  bandeiras  de  seda  pintada;  rebanhos  de  frades  ma- 
cilentos, de  hábitos  brancos,  pardos  e  pretos,  vinham  saindo  de  envolta  e  sue- 
cessivamente,  como  bandos  de  penis  levados  ao  mercado. 

^  tDemorando-se  fastidiosamente  esta  parte  do  espectáculo  religioso,  abor- 
reci-me,  e  deixando  o  balcão,  onde  estávamos  mais  à  vontade,  entrei  na  egreja. 
Gelebrou-se  missa  pontifical  com  pompa  magestosa;  subiam  ao  ar  nuvens  (le 
incenso,  numerosos  cirios  faziam  rutilar  mais  os  diamantes  da  custodia  ele- 
vada pelas  tremulas  e  devotas  mãos  do  patriarcha. 

«Antes  de  acabada  a  ceremonia  ganhei  a  minha  janella  para  gozar  da  ple- 
na vista  da  procissão  do  Sacramento.  Tudo  era  espectação  e  silencio  no  povo. 

«A  guarda  real  se  enfileirou  de  ambos  os  lados  do  adro  em  frente  da  poria 
da  egreja;  e  por  fim  um  choveiro  de  ftôres  annunciou  que  se  aproximava  o 
patriarcha  trazendo  a  custodia  debaixo  d'um  rico  palio  cercado  dos  grandes 
da  corte,  e  precedido  por  uma  longa  serie  de  personagens  mitrados,  de  mãos 
postas  em  acto  de  adoração,  com  suas  vestes  purpúreas  roçando  pela  terra, 
trazendo  os  seus  assistentes  os  báculos,  e  outras  insígnias  da  dignidade  prela- 
ticia. 

«A  procissão  desceu  vagarosamente  os  degraus  do  adro  ao  som  dos  cânti- 
cos e  do  rebombo  distante  das  salvas  d'artilheria,  sumíu-se  n'uma  larga  rua,  to- 
da decorada  de  luzidas  armações,  e  deixou-me  os  sentidos  enleíados,  e  os  olhos 
offnscados,  como  se  acabasse  de  despertar  de  uma  visão  de  esplendor  celes- 
tial. N'este  momento  tenho  a  cabeça  azoinada,  e  os  ouvidos  a  zunir  com  a  bulha 
confusa  dos  sons,  sinos,  vozes,  echos  dos  tiros  de  canhão  prolongados  pelos 
montes  e  diffundidos  pela  superfície  do  Tejo.» 

CARTA  V 

•asa  »B  campo  B  BAXQCKTK  DK  affn.  S  #    #  #  — .%  D0XXBL1.A  TRACilCA 

11  de  junho  de  1787. 

«Hoje  fomos  convidados  a  jantar  no  campo,  na  quinta  d'um  cavalheiro, que 
tem  uma  carga  de  nomes,  os  quaes  pronunciados  com  o  mau  accento  portu- 
guês soam  como  uma  expectoração. 

«O  nosso  agazalhador  hospedeiro  é  irlandez  de  origem;  gaba-se  de  uma  es- 
tatura de  72  poUegadas,  proporcioaal  largura  de  costado,  rosto  vermelho,  per- 
nas hercúleas,  e  todos  os  attributes  exteriores,  pelo  menos,  d'aquella  raça  em- 
prehendedora,  que  não  poucas  vezes  alcança  a  fortuna  de  cazar  com  a  rique- 
za. Haverá  um  anno  ou  dois  que  se  arranjou  com  uma  opulenta  herdeira  bra- 
ziliense,  e  acha-se  agora  senhor  de  vastas  propriedades,  e  de  uma  nedla  e  aca- 
çapada mulher  com  uma  cabeça,  que  arremeda  a  de  Holophemes  das  tapeça- 
rias antigas,  e  uns  hombros  que  representam  muito  bem  a  figura  de  grandes 
pratos.  Pobre  creatura!  Para  maior  certeza  de  que  não  é  nenhuma  Yenus  nem 
Hebe,  tem  beiços  grossos  e  voz  de  machacaz,  e  notei-lhe  algumas  disposições 
para  bydropica;  com  tudo  os  seus  risos  são  frequentes  e  esperdiçados;  ainda 
agrada  ao  marido  com  a  maior  perseverança. 


86  BE 

<Mr.  *«#  é  um  caracter  singular,  não  acceita  emprego  civil  ou  militar,  c 
blazona  de  certa  franqueza  mordaz,  que  segundo  eu  penso  hade  desagradar 
muito  n*este  paiz,  onde  a  independência,  quer  de  bens  da  fortuna,  quer  de  opi- 
nião, ó  raras  vezes  ou  nunca  tolerada.  Este  cavalheiro  gosta  de  ostenta^  na 
mesa;  sessenta  pratos  se  me  afigurou  que  seriam  pelo  menos,  oito  d'elles  de 
fumegantes  assados,  alem  de  toda  a  casta  de  guizados  á  franceza,  á  ingleza,  e 
à  portugueza.  A  sobremeza  apresentava-se  como  um  modelo  de  fortificação;  a 
principal  eropada-torro  afoito-me  a  dizer  que  tinha  três  pés  d'altura  perpendi- 
cular. A  companhia  não  correspondia  nem  no  numero,  nem  na  consideração 
ao  esplendor  do  banquete.  Senão  tivesse  ficado  ao  pè  de  mim, por  felicidade, 
miss  Still  e  Bezerra,  eu  teria  morrido  de  enfadamento. 

«Uma  sisuda  donzelia  com  portentosas  sobrancelhas  e  olhar,  que  exprobava 
à  porção  masculina  da  assembléa  a  sua  desattenção,  era  a  única  dama  do  paço, 
que  Mr.  S  *##  havia  convidado. 

«Eu  esperava  achar-me  com  todo  o  rancho  do  meu  conhecimento  tomado 
no  Jardim  Botânico,  e  acompanhal-o  pelas  vinhas  e  pomares  d'esta  casa  de 
campo;  mas  ai  de  mim,  que  não  estava  fadado  para  tão  recreativa  excursão! 
A  trágica  donzelia,  que  me  constou  ter  sido  infeliz  nas  suas  temas  inclinações, 
aproveitou-so  do  meu  braço,  o  nunca  o  desamparou  em  um  longo  passeio  pe- 
las extensas  fazendas  de  Mr.  S  *##  Conversámos  em  italiano,  e  dissemos  aos 
pássaros  que  cantavam,  aos  regatos  que  susurravam,  lindíssimas  coisas  n'uma 
prosa  estonteada,  rapsódia  de  trechos  de  operas  e  cantatas,  do  AmhUas  de 
Tasso,  e  do  Adónis  de  Maríni. 

«O  sol  acabava  de  dourar  com  seus  últimos  raios  os  distantes  rochedos  de 
Cintra;  o  ar  tomava^se  balsâmico;  nas  veredas  por  entre  as  vinhas  medrava 
a  herva  viçosa,  e  miiliares  de  flores  reanimavam-se  com  o  rocio  da  tarde.  Dei- 
xando á  senhora  o  trilho  estreito,  que  dá  serventia  pelo  meio  d'estes  domínios 
ruraes,  caminhei  a  seu  lado  por  uma  regueira  bem  guarnecida  de  ortigas, 
acanlhos,  e  pileíras  anãs,  arranhando-me  o  esfolando-me  a  cada  passo.  Esta 
penitencia,  e  a  lograçào,  que  eu  sentia  mais  vivamente,  tiraram-me  um  tanto 
do  meu  génio  jovial;  pezava-me  ter  passado  uma  tardo  deliciosa  em  tão  mes- 
quinha sociedade,  o  ter  lacerado  as  minhas  pernas  para  tão  pouco  resultado. 
Quanto  eu  teria  gozado  passeando  com  a  joven  irlandeza  por  estes  odoríferos 
atalhos  entre  festões  de  folhagem  veccjante,  e  de  vides  pampinosas,  não  pre- 
zas a  ramos  esgalhados,  ou  a  tanchões  como  em  França  e  na  Suissa,  mas  tre- 
pando por  leves  cannas  a  oito  e  a  dez  pés  de  altura.» 

CARTA  VI 

CO^ÍVKXTO    DK  BlSl^KII  —  NOITE  DA   VBSPBR.%  DK  lífA^TO  AXTO^O 

i2  de  junho  1787. 
«Passámos  o  dia  em  Bclem  inteiramente  como  em  reunião  de  família  com 
toda  a  legião  dos  Marialvas.  Alguns  reverendos  padres^  não  sei  de  que  com- 
munidade,  lhes  tinham  mandado  uma  immensa  quantidade  de  sopa  muito  es- 
pessa, glutinoza  e  azeitada,  porção  da  qual,  segundo  parece,  costumam  os  de- 
votos engulir  na  véspera  de  Santo  António. 


BE  87 

«Depois  do  uma  refeição,  qac  foi  servida  debaixo  de  am  toldo  estendido  so- 
bre nm  dos  terraços,  logo  qae  o  pude  fazer  airosamente,  escapuli -me  da  roda 
dos  fidalgos  e  senhoras,  dos  anões,  frades,  bobos,  toureiros,  o  capellàes,  para 
visitar  o  próximo  mosteiro.  Subi  os  grandes  lanços  construídos  a  expensas  da 
infanta  D.  Catharína,  rainha  viuva  de  Carlos  II,  e  tendo  percorrido  os  claus* 
tros  de  D.  Manuel  examinei  a  livraria,  que  está  longe  de  achar-se  na  melhor 
ordem  e  aceío.  ^ 

«Os  espaçosos  e  altos  claustros  apresentam  uma  notável  extensão  de  arca- 
das, que,  postq  não  sejam  do  mais  puro  estylo,  attrahem  a  vista  pelos  seus  or- 
natos d'arabescos  delicadamente  lavrados,  e  pela  phantastica  côr  arruivada  da 

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pedra.  O  dormitório,  para  o  qual  tem  serventia  uma  linha  quasi  interminável 
de  eellas,  mede  em  comprimento  500  pés  folgados.  Cada  janella  tem  seu  com- 
modo  descanso,  onde  os  monges  se  encostam  á  vontade,  e  desfructam  a  vista 
do  rio. 

«N'uma  piequena  e  escura  casa  dethesouro,  que  por  uma  escada  de  caracol 
communica  com  aparte  do  edifício,  que  a  tradição  designa  como  habitação  do 
rei  D.  Manuel,  quando  em  certas  épocas  religiosas  do  anno  se  retirava  a  es- 
te recinto,  mostraram-me  à  luz  de  velas  algumas  alfaias  extremamente  curio^- 
sas,  e  em  especial  uma  custodia  feita  em  1506  do  mais  puro  ouro  de  Quiloa; 
nio  ha  coisa  mais  bella  como  specimen  do  bem  trabalhado  lavor  gothíco  do 
que  esta  complicada  peça  esmaltada,  e  com  mui  leves  esteios  e  pináculos  cin- 
zelados, tendo  os  doze  apóstolos  em  seus  nichos  debaixo  de  pavilhões,  forma- 
dos por  milhares  de  voltas  e  ramificações. 

«Doeste  sombrio  recanto  fui  conduzido  á  egreja,  uma  das  maiores  de  Por- 
tugal, vasta,  magestosa  e  phantastica  como  o  interior  do  templo  de  Jerusalém, 
segundo  o  tenho  visto  representado  n'algumas  antigas  Biblias  allemâs.  Com- 
tudo  pouco  havia  nos  altares,  ou  monumentos  digno  de  minha  investigação. 
«Já  era  escuro,  quando  sai  da  grande  portada,  e  achei  o  terreiro  em  frente 
alumiado  com  a  luz  coruscante  de  um  renque  de  fogueiras  á  beira  do  Tejo. 
A  custo  alcancei  a  minha  carruagem  sem  ser  chamuscado  por  buscapés  o 
bombas,  e  desejei  ver-me  fora  no  momento,  em  que  entrara,  por  quanto  estou- 
rou nm  foguete  mesmo  debaixo  dos  focinhos  dos  meus  machos,  que  os  espan- 
tou terrivelmente. 

« Se  por  milagre  me  não  acalentasse  Santo  António,  esperava  não  pregar  olho 
em  toda  a  noite,  tamanho  era  o  estrondo  do  fogo  artificial,  das  lavaredas  es- 
tridentes das  fogueiras,  das  gaitadas  das  bozinas  em  louvor  da  festa  d^áma- 
nhã,  SSS.^"  anniversario  do  memorável  dia,  em  que  o  santo  querido  de  Lisboa 
passou  em  plácido  transito  aos  gosos  do  paraizo;  vi  a  sua  imagem  á  porta  de 
quasi  todas  as  casas,  e  até  das  barracas  d'csta  populosa  capital,  collocada  em 
:dtar,  6  adereçada  com  profusão  de  velas  de  cera  e  de  flores.» 


*  Se  os  frades  no«^  salvaram  muitos  livras  o  manuscriplos,  lambem  nos  deram  cabo 
de  mailos.  E  isto,  cjue  diz  Guiníruenô  na  sua  Historia  lia  Liltrrntura  Ifnliana,  6.  a  pura 
verdade. 


86  Blj 

CAUTA  VII 


EfiMRJA  »■  0ANTO  Airr«MM  —  •■»■*•  »■  Fm  .  J«A*  jACIlVTtt  — 

i3  de  junho  de  1787. 
«Dormi  melhor  do  que  esperava,  o  santo  foi  propicio;  alta  noite  entibíoa  o 
ardor  de  sens  devotos»  e  as  chammas  de  suas  fogueiras  um  chuvisco  vemal, 
que  rumorejava  agradavelmente  esta  manhã  por  entre  as  parreiras  do  meu 
quintal  As  nuv^is  dispersaram-se  pelas  oito  horas,  e  ás  nove,  quando  eu  sa- 
bia as  escadas  da  adro  da  nova  egreja,  ediâcada  no  próprio  local  da  casa,  em 
que  Santo  António  nascera,  resplandecia  o  sol  com  todo  o  seu  brilho. 

<Naò  posso  dizer  bem  se  este  ediAcio  me  recordou  o  magniâeo  santuá- 
rio de  Pádua,  que  ha  cinco  asnos  n'este  mesmo  dia  fez  na  minha  imagina- 
ção uma  impressão  tão  viva.»  Aqui  não  ha  constellações  de  alampadas  áureas 
suspensas  do  ferro  lavrado  da  mysieriosa  abobada  em  lustrosas  correntes, 
nem  arcarias  de  alabastro,  nem  mármores  esculpidos.  A  egreja  estriba-se  em 
duas  fieiras  de  pilastras,  de  cantaria^  bem  lavrada,  mas  de  mesquinhas  propor- 
ções. Sobre  o  altar  mór,  onde  estava  a  venerada  imagem  no  meio  de  brilhan- 
tes luzes,  avultava  um  docel  de  veludo  bordado.  Esta  armação  com  ricas  Araa- 
jas  6  borlas  marca  o  logar  onde  foi  o  quarto  do  santo;  e  recebe  uma  suave 
claridade  de  uma  serie  de  janellas  altas  com  ricas,  guarnições  de  douradura 
húmida. 

«Muitas  caras  largas  sobresaiam  petulantes  d'entre  a  turba  do  vulgo  pro- 
fano no  portal  do  templo;  e  todos  dirigiam  os  olhos  para  o  seu  enthusiastieo 
patrício;  mas  não  era  para  ser  mirado  assim  o  seu  sisudo  semblante. 

«A  ceremonia  foi  extremamente  pomposa.  Um  prelado  da  prhneira  jerar- 
chia  oflQciava  com  um  troço  considerável  de  padres  da  real  capella  ao  som  de 
buliçosas  contradanças  e  minuetes,  mais  proprías  para  excitar  uma  dança  de 
patuscos  na  copa  dos  banhos  thermaes,  do  que  para  dirigir  os  movimentos  de 
um  pontifico  e  seus  assistentes. 

«Depois  de  muita  musica  medíocre,  vocal  e  instrumental,  executada  a  ga- 
lope no  mais  rápido  alegro,  subiu  ao  púlpito  Fr.  João  Jacinto,  famoso  prega- 
dor, elevou  as  mãos  e  os  olhos,  e  despediu  uma  torrente  de  phrases  sonoras 
em  louvor  de  Santo  António.  O  que  não  daria  eu  por  uma  tal  voz!  Alcança- 
ria de  uns  aos  outros  confins  da  terra  de  Israel. 

«O  padre  indubitavelmente  era  dotado  de  grande  vigor  de  elocução,  anão 
tinha  aquellc  accento  nasal,  lamentoso  e  hypocríta,  tão  commum  na  recita  dos 
sermões  dos  frades.  Tratou  os  reis,  tetrarchas  e  conquistadores  com  indizível 
desprezo,  reduziu  a  pó  os  seus  palácios  e  fortalezas,  os  seus  exércitos  a  for- 
migas, as  suas  vestes  imperiaes  a  teias  d^aranha,  e  incutiu  em  todo  o  auditó- 
rio, excepto  os  maliciosos  herejes  da  porta,  perfeita  convicção  da  superíorída- 
do  Santo  António  sobre  todos  «aquellrs  objectos  de  uma  errónea  e  impia  ad- 
miração. 

•Felizes  (exclamou  o  pregador)  eram  esses  tempos  gothicos,  falsamente 
denominados  tompos  de  barbárie  e  ignorância,  em  que  os  corações  dos  ho- 
mens, não  corrompidos  pola  alluciíiadora  bobiila  da  phiio^opfua;  se  abriam  ás 


BE  .89 

palavras  de  verdade,  qae  manavam,  como  o  mel,  das  bocas  dos  santos  e  con- 
fessores, taes  como  as  que  dístillavam  os  lábios  de  António. 

«Acabado  o  sermão,  começaram  a  chiar  novamente  as  rebecas  com  redobra- 
do vigor,  e  eu  aborrecido  de  tão  intempestiva  leveza,  retirei-me  agastado  para 
casa.  Esta  ténue  nuvem  de  enfadamento  dissipou-se  em  breve  pela  amável 
presença  do  bom  prior  de  Aviz,  como  o  qual  não  existe  talvez  no  mundo  um 
caracter  mais  benigno  e  evangélico,  que  gloriâque  Deus  com  menos  osten- 
ta^, e  tenha  uma  benevolência  mais  sincera  para  com  o  próximo.  Este  ex- 
cellente  prelado  tinha  5?asto  a  manhã,  não  em  assistir  a  ceremonias  pomposas, 
mas  em  consolar  os  enfermos,  e  remediar  os  indigentes,  subindo  aos  seus  mi- 
seráveis aposentos  a  ministrar  soccorros  em  louvor  do  santo,  cuja  festa  se  ce- 
lebrava, e  cnja  reputação  da  pratica  de  toda  a  casta  de  actos  de  caridade  se 
tem  transmittido  de  pães  a  filhos  entre  os  habitantes  da  cidade  por  uma  longa 
serie  de  gerações. 

«A  nossa  conversação  não  foi  de  natureza  tal  que  me  inclinasse  a  aban- 
donar pompas  e  vaidades.  Hesitei  se  veria  a  procissão,  que  se  esperava  que 
passasse  pelas  prineipaes  ruas  da  cidade,  e  acompanhado  do  meu  reverendís- 
simo amigo  fui  gosar  da  serenidade  da  tarde  na  praia  de  Belém.  Fiz  alto  ao 
passar  pelo  palácio  de  Marialva,  e  levámos  comnosco  D.  Pedro  e  seu  aio,  o 
velho  abbade,  que  propoz  uma  visita  ao  Convento  da  Cartuxa  de  Laveiras. 

«Em  meia  hora  quasi  estávamos  sentados  á  vista  da  egreja,  que  faz  fren- 
te para  os  jardins  e  quinta  real  de  Caxias:  fomos  introduzidos  n'um  vasto  e 
silencioso  quadrangulo:  alguns  espectros  d'aquella  ordem  monacal  se  escoam 
pelos  claustros,  que  se  ramificam  d'este  pateo.  No  meio  ha  uma  lonte  de  már- 
more, sombreada  por  pyramides  de  buxo  tosqueado,  e  em  redor  sete  ou  oito 
pequenas  capellas,  uma  das  quaes  contem  a  imagem  incarnada  do  Salvador 
Dl  mais  tremenda  agonia  de  sua  Paixão,  a  qual  se  figura  coberta  de  contu- 
sões e  sangue  coalhado. 

«Quando  nos  occnpavamos  a  examinar  esta  imagem  tão  própria,  alguns 
monges  por  ordem  do  seu  superior  se  juntaram  ao  pé  de  nós;  um  d'elles  in- 
teressante e  bem  apessoado,  altrahiu  a  minha  attenção  pela  profunda  melan- 
colia retratada  nas  suas  feições.  Tendo-me  informado  soube  que  apenas  con- 
tava vinte  e  dois  annos  d'idade,  que  era  de  illustre  ascendência,  e  doudo  de 
viveza  e  talento;  mas  a  causa  immediata  de  ter  procurado  esta  morada  de  quie- 
tação e  de  austeridades  repugnava  ao  grão  prior  o  communical-a. 

«NIo  pude  deixar  de  observar,  tendo  diante  de  mim  a  victima  novel,  e 
contemplando  a  luz  vespertina,  que  coava  pelas  arcadas  do  quadrangulo,  quan- 
tos oecasos  do  sol  verosimilmente  elle  teria  de  ver  desperdiçar  seus  luzeiros 
sobre  estas  paredes,  e  quão  enfadosa  serie  d*annos  essa,  a  que  se  sacrificou, 
eonfomida  com  toda  a  probabilidade  dentro  d'este  recinto.  Os  olhos  do  bondoso 
prior  hamedeoeram-se  de  lagrimas,  Verdeil  estremeceu  de  horror,  e  o  abba- 
de, olvidando  o  supersticioso  papel,  que  geralmente  representa  nos  legares 
saatíficados,  prorompen  em  vehementes  exclamações  contra  a  tolerância  dos 
sacrificios  humanos,  e  de  permittir  que  renunciem  o  mundo  mancebos  ainda 
incapazes  de  fazerem  devida  apreciação  de  suas  magoas  ou  vantagens.  Quanto 


90  BE 

a  D.  Pedro  a  sua  compleição  meiancolica  recebeu  nm  supplemento  do  triste- 
za á  vista  dos  objectos,  que  o  rodeavam.  O  vento  frio,  que  soprava  de  nma 
casa  de  abobada,  onde  os  padres  os  enterram,  e  cujo  pavimento  dá  um  sóm 
cavo,  quando  se  anda,  lhe  incutiu  terror.  Era  a  primeira  vez  que  entrava  n'nm 
convento  Cartuxo,  e,  com  admiração  minha,  mostrava  ignorar  as  austerida- 
des  da  ordem. 

«Tinha-se  posto  o  sol  antes  de  voltarmos  à  nossa  carruagem,  e  na  conver- 
sação em  todo  o  caminho  até  casa  ressumbravam  as  impressOes,  que  nos  ins- 
pirara a  scena,  que  presenciámos.» 

CARTA  vm 

ClTKMMiAfl   TMITAS  —  PADBB  TRIODOBO  D'Al.imDA  —  MBX^AeiCli   »■   FBBmAfl 
—  TBBATA«   »A   KCA   dou  OOMBBS  —  AMCBBI0PO   DB  THBBSAIiOinCA  —  ■•»!• 

NHAB  Bmabilbimab  —  Phautabiab. 

i4  de  junho  de  1787. 

tCoube-me  hoje  a  sorte  de  receber  uma  curiosa  serie  de  visitas.  O  primei- 
ro foi  Pombal,  que  parecia  gasto  por  excesso  de  prazeres  e  pelas  noitadas,  mas 
que  se  apresenta  com  um  agrado  e  modos  elegantes,  não  muito  communs  n'es- 
te  paiz.  1  Posto  que  seja  um  dos  mais  ricos  proprietários  de  fazendas  no  rei- 
no, de  rendimento  de  cento  e  vinte  mil  cruzados  por  anno,  quiz  metter-mo 
na  cabeça  que  seu  defunto  pae,  o  açoito  e  terror  das  casas  mais  nobres  de  Por- 
tugal, o  único  administrador  do  real  erário  por  muitos  annos,  não  obstante 
isso  fallecera  em  circumstancias  apuradas,  carregado  de  dividas,  que  contrairá 
para  manter  a  dignidade  de  seu  cargo. 

«O  immediato  que,  me  honrou  com  a  sua  visita  foi  o  juiz  da  conservatória 
ingleza,  João  Telles,  ramo,  não  sei  bom  se  legitimo,  se  espúrio,  da  casa  dos  Pe- 
nalvas;  este  sujeito,  que  ascendeu  a  um  dos  mais  eminentes  legares  da  magis- 
tratura só  pela  força  de  sua  capacidade,  ó  dotado  de  um  estylo  de  expressão 
original  e  nervoso,  que  me  trouxe  à  ídéa  Lord  Tburlow;  mas  a  todo  o  seu  vi- 
gor de  caracter  e  de  dicção  reúne  a  flexibilidade  e  ardileza  de  serpente;  e 
aquelles,  que  não  pôde  levar  d'assalto,  está  certo  de  vencel-os  cora  algumas 
astuciosas  descargas  de  lisonjas  e  blandícias. 

«Logo  que  elle  se  retirou,  veiu  um  par  de  frades  com  um  cestinho  de  do- 
ces  mettidos  em  papel  de  lavores,  dadiva  de  uma  abbadessa  fidalga,  snppli- 
cando-me  o  dote  para  duas  lindas  donzellas,  que  iam  ser  esposas  de  Christo 
n'um  convento  dos  subúrbios. 

«Apenas  os  tinha  despedido,  entrou  o  padre  Theodoro  d'Almeida  com  ou- 
tro de  seus  confrades:  qnasi  que  só  se  lhe  viam  as  alvas  dos  olhos;  nem  o  ori- 
ginal doutor  vesgo  do  Foote  era  capaz  de  os  revirar  com  maior  sciencia. 

«Prestei  a  máxima  attenção  ao  seraphico  discurso  do  padre  Theodoro,  não 
sendo  para  desprezar  tao  excellente  opportunidade  de  ouvir  um  specimen,  de 
primeiro  lote,  de  geringonça  hy^ocríta.  Inda  bem  os  frades  não  tinham  sido 
conduzidos  ao  patamar  da  escada  com  a  devida  cerimonia,  annuncíou-se  a  che- 

1  Panorama  de  1855,  pag.  317. 


^     BE  9i 

gada  de  monsenhor  Aguílar,  um  dos  prelados  da  Sé  Patriarchal;  o  qual  me 
GonOrmoQ  na  opinião,  qae  eu  tinha  formado  do  padre  Theodoro.  Ninguém  po- 
derá accusar  de  hypocrisia  o  monsenhor  Aguilar:  ao  contrario  é  de  rasgada 
franqueza,  e  trata  a  egreja,  d'onde  lho  provém  pingue  mantença,  não  como  pa- 
troa^ mas  como  humilde  companheira,  assumpto  e  alvo  constante  dos  seus  sar- 
casmos. Em  Portugal,  ainda  no  corrente  anno  de  i787,  tal  proceder  é  doudi- 
ce,  e  receio-lhe  qualquer  dia  severa  perseguição. 

•Ao  tomar  pacificamente  uma  chávena  de  cháfez-nos  erguer  uma  estron- 
dosa bulha  na  rua,  e  correndo  á  sacada  achámos  apinhada  a  sórdida  relê  de 
velhas  fúrias,  rapazes  e  maltrapilhos,  tendo  á  frente  meia  dúzia  de  tambores, 
e  uns  poucos  de  pretos  de  vestias  escarlates  assoprondo  trombetas  com  ex- 
traordinária vehemencia,  e  apontando-as  directamente  para  a  casa.  Maravi- 
Ibou-me  este  modo  de  assediar  uma  porta  como  as  muralhas  de  Jerichó;  e  re- 
cuando um  pouco  para  não  ser  chamuscado  por  um  foguete,  que  zuniu  obra 
de  uma  pollegada  adiante  do  meu  nariz,  vi  entrar  um  criado  trazendo  em  sal- 
va de  prata  um  crucifixo,  e  uma  delicadíssima  mensagem  das  freiras  do  mos- 
teiro do  Sacramento,  que  mandavam  a  sua  musica  com  pandeiros  e  fogo  do 
ar  convidar-nos  para  rasgada  funcção  no  seu  convento  em  honra  á  festividade 
do  Coração  de  Jesus.  Na  verdade  que  estas  funcçòes  de  egreja  começavam  a 
perder  para  mim  o  attractivo,  que  lhes  dera  a  novidade:  estava  já  um  tanto 
farto  de  motetes  e  de  kyrie  eleisons,  de  incenso,  bandejas  de  doces  e  de  ser- 
mões. 

«Aquelle  herético  Verdeil,  para  quem  valeria  quasi  tanto  estar  no  inferno, 
como  n'este  ceu  empachado,  não  descançou,  emquanto  não  deu  commigo  no 
theatro  da  Rua  dos  Condes  afim  de  dissipar  com  um  pouco  de  ar  profano  os 
vapores  de  tamanha  santidade.  O  drama  causou-me  mais  enfado,  que  diverti- 
mento. O  theatro  é  baixo  e  acanhado,  e  os  actores,  porque  não  ha  actrizes, 
sao  inferiores  a  todo  o  critério. 

•Tendo  as  ordens  absolutas  da  rainha  afastado  do  palco  scenico  as  mu- 
lheres, os  papeis  attinentes  a  estas  são  representados  por  mancebos.  Julgae 
que  agradável  eíTeito  esta  metamorphose  produzirá,  especialmente  nos  baila- 
rinos. Alli  se  vé  uma  robusta  pastora  trajando  as  cândidas  vestes  virginaes, 
de  macia  barba  azulada  e  proeminente  clavícula,  colher  flores  com  um  punho 
capaz  de  derrubar  o  gigante  Goliath,  e  um  rancho  de  leiteiras,  seguindo  as 
suas  enormes  pegadas,  aos  pontapés  ás  saias  a  cada  passo.  Taes  meneios  e 
saltos  desconcertados,  taes  tregeitos  de  olhos  nunca  eu  tinha  visto,  nem  espe- 
ro tomar  a  vér  na  minha  vida. 

«Estávamos  cordealmente  enfastiados  do  espectáculo,  inda  bem  não  che- 
gava ao  meio  da  peça;  e  como  a  noite  era  serena  e  agradável  tentou-nos  a 
dar  um  passeio  até  à  grande  praça  do  palácio,  que  recebia  a  frouxa  claridade 
das  luzes  nos  aposentos  reaes,  abertas  todas  as  janellas  para  entrar  a  viração. 
O  arcebispo  confessor  de  sua  magestade  ostentava  n'uma  das  sacadas  o  seu 
volumoso  vulto:  da  classe  de  homens  rústicos  este  personagem,  agora  muito 
importante,  veiu  a  ser  soldado  raso^  d'ahi  passou  a  cabo  d'esquadra,  de  cabo 
d'esquadra  a  frade,  e  n*esta  ultima  profissão  deu  tantas  provas  de  tolerância 


92  BE 

e  bom  génio,  qae  o  marquez  do  Pombal,  topando  com  elle  por  ama  das  ca- 
sualidades,  que  se  esquivam  a  todos  os  cálculos,  julgou-o  sufficientemente  as- 
tuto, jovial,  e  Ignorante  para  fazel-o  innoxio  e  acommodado  confessor  de  sua 
magestade,  então  princeza  do  Brazil :  pela  accessao  d'esta  senbora  ao  throno 
foi  despachado  arcebispo  in  partibuSy  e  inquisidor-mór;  é  a  primeira  mola  do 
actual  governo  portuguez.  Nunca  vi  um  sujeito  mais  obstinado  e  obtuso:  pa- 
rece ungir-se  com  o  óleo  do  contentamento  (banbar-se  em  agua  de  rosas), 
folgar  e  engordar  a  despeito  da  critica  situação  dos  negócios  n'este  reino. 

tlTuma  janella,  immediatamente  por  cima  da  luzida  testa  de  sua  revoren- 
dissima,  divisámos  as  duas  formosas  irmãs  Lacerdas,  damas  de  honor  da  rai- 
nha, acenando-nos  com  as  mãos  a  convidar-nos:  era  incentivo  bastante  para 
galgarmos  vastos  lanços  de  escadas  até  o  seu  aposento,  que  se  achava  atu- 
lhado de  sobrinhos,  sobrinhas,  e  primos,  apinhando-se  em  tomo  de  duas  jo- 
vens mui  elegantes,  as  quaes  acompanhadas  de  seu  mestre  de  canto,  um  frade 
baixo  e  quadrado  e  de  olhos  verdes,  garganteavam  modinhas  brazileiras. 

«Quem  nunca  ouviu  este  original  género  de  musica,  ignorará  para  sem- 
pre as  mais  feiticeiras  melodias,  que  tem  existido  desde  o  tempo  dos  sybari- 
tas.  Consistem  em  languidos  e  interrompidos  compassos,  como  se  faltasse  o 
fôlego  por  excesso  de  enlevo,  e  a  alma  anhelasse  unir-se  a  outra  alma  iden* 
tica  de  algum  objecto  querido.  Com  infantil  desleixo  insinuam-se  no  coração 
antes  de  haver  tempo  de  o  fortificar  contra  a  sua  voluptuosa  influencia;  ima- 
ginaes  saborear  leite,  e  o  veneno  da  sensualidade  vae  calando  no  mais  intiuK) 
da  existência:  pelo  menos  assim  succede  áquelles,  que  sentem  o  poder  dos 
sons  harmoniosos:  porém  não  respondo  n*este  caso  pelos  animaes  do  norte 
fleugmaticos  e  duros  de  ouvido. 

«Uma  ou  duas  horas  correram  quasi  imperceptivelmente  no  deleitoso  de- 
lírio, que  aquellas  notas  de  sereia  inspiravam,  e  não  foi  sem  magua,  que  eu 
vi  a  companhia  dispersa,  e  o  encanto  desfeito.  As  donas  do  aposento  tendo 
recebido  aviso  para  assistirem  á  ceia  de  sua  magestade,  ílzeram-me  uma  me- 
sura com  o  maior  donaire  e  desappareceram. 

«De  caminho  para  nossa  casa  encontramos  o  Yiatico,  acompanhado  de  vi- 
vidas luzes,  levado  em  procissão  a  fazer  a  algum  enfermo  a  visita  de  despe- 
dida; o  esperançoso  fidalgo,  moço  conde  de  Villa  Nova  (depois  marquez  de 
Abrantes)  precedia  a  umbella,  de  capa  encarnada,  e  tangendo  upaa  campai- 
nha de  prata.  Nunca  falha  a  estes  acompanhamentos,  e  passa  a  flor  da  moci- 
dade n'este  singular  beaterio;  ainda  não  houve  amante  mais  cioso  da  sua  na» 
morada,  do  que  este  ingénuo  mancebo  o  é  da  sua  campainha;  não  lhe  sofDre 
o  animo  que  as  vibrações  doesta  sejam  obra  d'outra  pessoa;  os  mezarios  paro- 
chiaes  do  extenso  e  populoso  bairro  onde  está  situado  o  seu  palácio,  consen- 
tem n'este  capricho,  por  attenção  ao  seu  nascimento  e  opulência;  e  de  certo 
não  podiam  escolher  mais  assiduo  porta-campainha.  A  toda  a  hora^  e  faça  o 
tempo,  que  fizer,  está  prompto  a  desempenhar  este  bento  ministério;  e  nas  tre- 
vas de  alta  noite,  no  mais  intenso  calor  do  dia,  ou  subindo  ou  descendo,  quer 
a  uma  espelunca,  quer  a  um  sótão,  lá  vae  onde  se  requer  um  auxilio  espiri- 
tual d'esta  natureza. 


BE  98 

«Por  vezes  se  tem  observado  que  taes  coisas  não  se  hip  de  ievar  á  conta 
de  manias;  cada  pessoa  tem  a  sua  tineta,  que  segue,  como  pôde,  e  que  prefere 
a  tudo.  As  delicias  do  velho  marquez  de  Marialva  consistem  em  jantar  entre 
08  seus  dois  aparadores  de  prata:  as  do  marquez  seu  íilho  em  esperar  muito 
tempo  pela  rainha:  e  as  do  conde  de  Villa  Nova  em  annunciar  com  a  sua 
campainha  a  todos  os  fieis  crentes  a  aproximação  da  celeste  magestade.  A 
actual  tineta  do  rabiscador  doestas  extravagâncias  são  as  modinhas  brazilei- 
ras,  e  sob  a  sua  influencia  acha-se  muito  tentado  a  dar  á  vela  para  o  Brazil, 
terra  natal  d'aquellas  feiticeiras  composições,  a  viver  em  choças,  taes  como  as 
descreve  Parny.» 

CARTA  IX 


Mmrwmm  mu  vbaa*  —  ITbspkma  db  0.  Pbda*  —  Palac»*  da  ca«a  »b  Aucibja  — 

COIf VENTO  DAS  0ALB«IAS  —  BlADAinC  0CAMEJàTl 

29  de  junho  de  Í7S7. 

<0  sol  resplandecente,  com  que  os  últimos  dias  nos  brindaram,  apezar  do 
seu  explendor  começa  a  enfastiar-me.  Vinte  vezes  no  dia  debalde  cubico  estl- 
rar-me  ao  comprido  na  fresca  relva  de  algum  frondifero  valle  inglez,  onde  as 
fadas  dançam  ás  horas  do  crepúsculo  estivo,  e  segredam  a  seus  somnolentos 
amigos  as  boas  ou  más  sinas,  que  os  aguardam.  Em  Portugal  o  calor  é  de- 
masiado para  esses  vaporosos  entes  fatídicos;  não  ha,  pois,  que  esperar  as 
suas  inspirações:  prouvera  ao  ceu  que  alguma  revelação,  d'esta  ou  d'outra 
natureza,  a  tempo  me  tivesse  avisado  da  poeira  de  cegar,  e  da  excessiva  calma 
de  Lisboa  e  seus  subúrbios.  Que  tolice  de  quem  está  bem  e  refrigerado  em 
casa,  vadiar  por  fora  na  fútil  esperança  de  melhorar  no  que  já  de  si  é  óptimo! 
Capacitae-vos  do  que  vos  digo,  ha  mais  delicias  de  primavera,  e  mais  goso 
em  nossas  verdejantes  collínas  e  bosques  do  que  em  todos  estes  enfezados  oli- 
vedos  e  crestados  promontórios. 

«Temos  um  rifão  que  diz :  —  É  peçonha  para  uns,  o  que  para  outros  é 
manjar — não  ha  coisa  mais  certa.  Estes  dias  e  noites  de  temperatura  arden- 
te, que  me  opprimem  sem  allivio,  são  o  deleite  e  ufania  dos  habitantes  d'esta 
capital.  O  calor  não  somente  parece  ter  avenenado  os  ferrões  das  moscas  e 
mosquitos,  mas  também  arrojou  para  a  rua,  por  noites  inteiras,  todos  os  abe- 
Ibões  humanos,  que  pulam  e  bailam  e  arranham  bandurras  desde  o  sol  posto 
até  à  alvorada.  Junte-se-lhes  os  cães  em  abundância,  latindo  e  uivando  sem  in- 
t^rrnpção;  a  vozearia  das  ladainhas,  dos  terços;  os  estalidos  do  fogo  de  arti- 
ficio, que  os  devotos  deitam  sem  cessar  em  louvor'  de  algum  membro  da  ce- 
lestial jerarchia;  a  bulha  suja  da  vadiagem  insolente,  que  percorre  as  ruas 
em  busca  de  aventuras;  ver-se-ha  que  não  ha  pilhar  uma  piscadella  de  somno, 
ainda  quando  o  suão  o  permittisse. 

«Quanto  ás  mansas  convivências  nocturnas,  onde  ingénuos  mancebos  re- 
pousam as  cabeças,  não  em  o  regaço  da  mãe  terra,  mas  de  suas  amasias  que 
pacificamente  se  empregam  em  livrar  d'uma  copiosa  população  as  madeixas 
azevichadas  de  seus  affeiçoados,  nada  tenho  a  dizer  contra  ellas;  nem  me  per- 
turbam es  sons  das  caldeiradas  jorrantes  das  janeUas;  porém  os  uivos  caninos 


94  Í^E 

de  que  acin:a  fallci^xcedem  todo  o  incommodo,  que  n'esto  género  tenho  sop- 
portado,  o  fornecem  não  pequena  noção  previa  das  regiões  ínfernacs. 

«Gomo  em  a  presente  estação  só  se  cuida  em  folias  e  algazarras,  e  a  cele- 
bração da  festa  do  S.  Pedro  com  o  maior  barulho  e  dispêndio,  que  fòr  possi- 
vel,  não  é  tanto  uma  inclinação  profana,  como  um  pio  dever,  o  tal  bolonio 
conde  de  Villa  Nova  abriu  os  seus  jardins  a  noite  passada  a  toda  a  fidalguia 
e  maltezia  de  Lisboa;  fez  uma  insipida  illuminação  de  balões  4e  papel,  e  armou 
uma  casa  de  pavilhão  para  dansa,  achavascadamente  consiruido,  sob  o  qual 
as  mais  elegantes  costureiras  francezas  e  inglezas  e  capellistas  da  metrópole 
figuravam  nos  cotilhões  com  o  duque  de  Cadaval  e  outros  moços  da  principal 
nobreza,  os  quaes,  como  muitos  da  nossa  capital,  e  também  de  boas  esperan- 
ças, só  estão  á  sua  vontade  em  humilde  companhia.  Dois  ou  trcs  dos  meus 
criados  acompanharam  o  meu  alfaiate  á  festa,  e  vieram  extasiados  dos  modos 
jocundos  das  capellistas  estrangeiras  e  da  nobreza  nacional. 

«Dei-me  por  satisfeito  de  íicar  em  casa  a  coberto  dos  meus  transparentes 
verdes,  ouvindo  por  mera  preguiça,  qualquer  destempero  que  aprouvesse  a 
alguém  dizer-me.  Mas  tínhamos  ha  muito  sido  convidado  a  jantar  com  D.  Diogo 
de  Noronha  no  palácio  de  Angeja.  Chegando  ao  nosso  destino,  achámos  o 
herdeiro  da  casa  rodeado  de  padres  e  pedagogos,  doutrinando-se  em  mirar  à 
jancUa,  precípua  occupação  da  vida  d'um  fidalgo  portuguez.  Oh  que  preciosa 
coUecção  de  contos  eu  ouvi  n^este  banquete  attico.  Aconteceu  acbar-se  na 
companhia  um  estúpido  padre  ainda  moço,  não  me  lembra  de  que  universi- 
dade (espero  que  não  fosse  a  de  Coimbra)  que  nos  regalou  durante  o  jantar 
com  estupendas  narrações,  laes  como  de  uma  pérola  da  rainha  defunta,  e  de 
inestimável  valor,  moída  para  se  engulír  em  beberagcns  medícinaes;  outra 
acerca  de  umas  freiras  do  convento  do  Sacramento,  que  tendo  seus  namori- 
cos com  o  próprio  Belzcbuth  cm  pessoa,  foram  mettidas  na  inquisição,  eaja- 
uella  por  onde  sua  magestade  infernal  entrara,  depois  d'esta  proeza  de  galan- 
teio, foi  entaipada,  e  toda  pintada  da  cruzes  vermelhas;  accrescentou  que  a 
mesma  decoração  preventiva  foi  distribuída  por  todas  as  frestas  da  frontaria, 
para  que  nenhum  demónio,  ainda  o  mais  ateado  em  desejos,  podesse  repetir 
o  feito.  Também  nos  quíz  embutir  que  uma  mulher  mui  guapa,  engordando 
a  olhos  vistos,  com  os  peitos  sempre  arrebentando  de  leite,  que  tomava  crean- 
ças  de  mama,  mais  barato  do  que  outra  qualquer  ama,  e  que  de  ordinário  as 
sumia,  lá  jazia  agora  nos  cárceres  do  santo  officio  accusada  de  ter  feito  em 
picado  para  cima  de  vinte  innocentes ! 

«Deus  me  livre  de  relatar  outras  mais  particularidades  da  nossa  conver- 
sação á  meza;  se  o  fizesse,  ficaríeis  aceiadamente  empazínado. 

«Depois  de  jantar  a  companhia  dispersou- se,  uns  para  os  seus  encostos  da 
sesta,  alguns  para  ouvirem  uma  tocata  de  saltério  acompanhada  na  harpa  he- 
brea,  por  um  par  de  anões;  o  herdeiro  presumplivo  para  a  sua  querida  janella; 
e  Verdeil  e  eu  tomamos  para  o  convento  de  freiras  saboyanas  em  Bolem,  o 
mais  fresco  e  limpo  retiro  d*estas  cercanias,  e  ainda  por  cima  d'isto  abençoa- 
do pelo  especial  patrocínio  e  direcção  do  padre  Theodoro  d'Aimeida.  Parece 
que  sua  reverondissima  foi  o  principal  instrumento,  abaixo  da  Providencia,  da 


BE  95 

transplantação  doestas  bemdítas  vergonteas  de  santidade  do  convento  da  Visi- 
tação em  Annecy  para  o  ardente  clima  de  Portugal. 

«Como  eu  tinha  acabado  de  receber  uma  assucarada  epistola  d'este  exem- 
plar de  piedade,  recommendando  o  seu  prezado  estabelecimento  n'algumas  pa- 
ginas de  fervoroso  panegyrico,  elle  não  poude  deixar  de  sair  do  interior  de 
seu  ninho;  e  fez-nos  bom  gazalhado  com  um  semblante  rebuçado  de  brandos 
sorrisos,  posto  que  ouso  dizer  que,  pela  nossa  invasão,  desejaria  esfolar-nos. 

«Pobres  creaturas!  (nos  disse  fallando  das  educandas  d'esta  capoeira)  fa- 
zemos quanto  em  nós  cabe  para  aperfeiçoar  seus  tenros  entendimentos  e  suas 
castas  linguas  nos  idiomas  estrangeiros.  Soror  Thereza  tem  singular  pericia  pa- 
ra ensinar  arithmetica,  a  nossa  venerável  madre  é  bastante  profunda  em  gram- 
matíca,  e  soror  Francisca  Salesia,  que  eu  tive  a  dita  de  trazer  de  Lyon,  não 
só  é  mui  persuasiva  moralista,  como  também  geralmente  reconhecida  por  uma 
das  eminentes  mestras  de  costura  em  toda  a  christandade;  estamos  soffrivel- 
mente  quanto  a  bordados.  Em  musica  não  ha  grandes  proficiências;  não  per- 
mittimos  modinhas,  nem  árias  de  opera;  e  o  que  n'este  ramo  podeis  esperar 
é  apenas  o  canto  singelo;  em  summa  não  estamos  bem  preparados  para  rece- 
ber tão  distinctos  hospedes,  e  nada  possuímos  do  que  o  mundo  chama  interes- 
sante, que  nos  recommende;  mas,  em  compensação,  eu,  seu  indigno  confessor, 
devo  declarar  que  tanta  docilidade,  e  tão  puras  consciências  como  tenho  acha- 
do n*este  asylo  são  thesouros  muito  acima  de  quantos  as  índias  nos  possam 
fornecer. 

«Yerdeil  e  eu,  cônscios  da  nossa  pequeneza,  ficámos  de  todo  o  ponto  hu- 
milhados por  esta  sublime  declamação,  despejada  de  braços  cruzados  sobre  o 
peito,  e  olhos  postos  no  tecto,  como  algumas  Imagens,  que  tenho  visto  de  S. 
Francisco  Xavier.  Um  minuto  pelo  menos  esteve  sua  reverencia  sem  mudar 
d'esta  attltude;  d'ahi  a  pouco  correu  uma  cortina,  tendo  a  condescendência  de 
admittir-nos  n'um  espaçoso  locutório  deliciosamente  fresco,  perfumado  de 
jasmins,  e  povoado  de  pombinhas  brazileiras,  papagaios,  e  canários;  arrulhos 
e  chilros  taes  nunca  se  ouviram  em  maior  auge  de  perfeição,  excepto  no  pa- 
raizo  de  Mafoma;  nem  faltavam  as  huris,  por  quanto  n'um  esconderijo,,  que 
se  dilatava  para  dentro  da  clausura,  detraz  d'uma  rotula  soffrívelmente  larga 
estava  sentada  uma  fileira  das  mais  amáveis  donzellas,  que  eu  tenho  visto;  seus 
olhos  de  feiticeira  meiguice  parecia  adquirirem  nova  fascinação  n*aquella  mys- 
teriosa  espécie  de  crepúsculo,  luzindo  atravez  do  duplicado  ralo  d'arame. 

«De  quando  em  quando  os  pássaros,  de  nenhum  modo  intimidados  pelos 
predatórios  relances  d'olhos  do  padre  Theodoro,  violavam  o  santuário,  e  pou- 
savam nos  eólios  alabastrinos,  sendo  recebidos  com  milhares  de  caricias  pelos 
anjos  doeste  pequeno  e  retirado  Éden,  que  tão  refrigerante  parecia,  e  que  pelo 
sen  religioso  socego  formava  notável  contraste  com  o  turbulento  mundo  cá 
fora  e  sua  rutilante  atmosphera;  de  maneira  que  não  pude  reprimir-me,  e  ex- 
clamei: Oh  quem  me  dera  azas  como  a  pomba,  que  voasse  atravez  d'essas  gra- 
des, e  lá  repousasse  para  sempre ! 

•Desnecessário  ó  referir- vos  que  passamos  meia  hora  deliciosa  fallando  de 
musica,  tlores  e  devoçlo  com  as  meninas;  quasi  nos  ia  esquecendo  a  premes- 


96  BE 

sa  de  ouvir  canUtr  Scarlati,  cajo  pae  de  origem  italiana,  antigo  capitão  do  ca- 
vailaria»  reside  não  muito  longe  do  convento  da  Visitação;  por  isso  não  tive- 
mos tempo  de  experimentar  no  transito  a  penosa  differença  entre  o  fresco  lo- 
cutório das  freiras  e  o  abafador  ar  externo. 

tNumeroso  grupo  de  parentes  das  senhoritas  achava-se  à  porta  da  casa 
com  a  hospitaleira  cortezía,  que  tão  notavelmente  distingue  os  portugnezes, 
para  introduzir-nos  no  andar  superior  em  uma  galeria  adereçada  de  pannos 
de  raz  e  de  placas,  na  apparencia  mais  d'uma  ostaria  italiana,  do  que  de  pa- 
lácio de  cavalleiro;  para  nos  conflrmar  nas  idéas  das  casas  de  posta,  aspira- 
mos ao  subir,  os  fortes  effluvios  da  estrebaria,  e  ouvimos  as  patadas  e  rinchos, 
como  se  um  bando  de  monteadores  viesse  tomar  parte  no  concerto. 

tMuitas  caras  singulares  c  indígenas  de  ambos  os  sexos  estavam  alli  reu- 
nidas, collecção  disparatada  e  extraordinária,  segundo  conjecturo;  dispenso-me 
de  individual -as.  A  dona  da  casa,  senhora  ainda  moça,  encantou-me  à  primei- 
ra vista  pelas  suas  maneiras  engraçadas  e  modestas;  porém,  quando  cantou 
algumas  árias  da  composição  do  famoso  Peres,  não  só  me  deleitou,  fez-me  pas- 
mar; a  sua  voz  modula-so  em  uma  negligencia  desafectada  nos  tons  mais  pa- 
theticos.  Posto  que  tenha  adoptado  o  estylo  magistral  e  scientiflco  de  Ferra- 
ruti,  um  dos  primeiros  cantores  da  rainha,  dá  uma  simplicidade  de  expfeasão 
aos  trechos  mais  difflceis,  similhando  as  cfTusões  d'alma  d'uma  heroina  de  no- 
vella  trinando  solitária  no  recôndito  das  florestas. 

«Sentei-me  n'um  canto  obscuro,  sem  dar  fé  nem  do  que  se  passava  no  apo- 
sento, nem  das  extravagantes  physionomias  dos  que  entravam  ou  saiam;  as 
vistas  attentas,  o  cochichar,  os  movimentos  e  mexericos  da  assembléa  eram  pa- 
ra mim  cousas  perdidas;  não  fui  senhor  do  proferir  uma  syllaba,  e  bastante 
me  ailligiu  que  uma  despótica  tia  velha  insistisse  em  que  não  se  cantasse  mais, 
e  propozesse  uma  partida  e  dança.» 

CARTA  X 

ALTIM  K  BAIXOM  DB  I.1SBOA— ^VIIVTA  do  DU^K  DB  IíAvSbB — •  JBBVITA  •tlABTB 
B  VM  MBDIGO  BIDICULO  —  0«   PBNALVAB  —  COXCBBTB  IWPBBTURB 

30  de  junho  de  i787. 

«Depois  de  jantar  puzemo-nos  na  rua  para  pagar  visitas.  ^  Nunca  vi  cm 
minha  vida  tão  amaldiçoados  altos  e  baixos,  tão  abruptas  ladeiras,  tão  Íngre- 
mes subidas,  como  se  topam  a  cada  passo  caminhando  por  Lisboa;  cincoenta 
vezes  me  julguei  a  ponto  de  despenhar-me  no  Tejo,  ou  de  tombar  em  valias 
areientas  entre  chinellos  velhos,  gatos  mortos,  ciganas  fuscas;  que  se  acoutam 
n'essas  espeluncas  e  esconderijos  para  ler  a  buena  dicha,  ou  vender  amuletos 
contra  febres  e  quebrantos. 

•A  inquisição  muito  a  miúdo  pilha  estas  miseráveis  sibyllas,  e  as  vexa 
abominavelmente;  ao  passar  pelas  minas  d'um  palácio,  que  o  ten*amoto  de- 
molira, vi  uma  d'essas  mulheres,  que  arrastavam  à  claridade;  se  a  filava  nas 
garras  algum  familiar  do  santo  oílicio,  ou  se  lhe  tomava  contas  algum  rufião 

>  Panorama  de  18íiU,  vol.  xii,  pag.  :{51. 


BE  97 

burlado,  é  o  que  não  pretendo,  nem  posso  afiSrmar.  Gomo  quer  que  fosse,  tíve 
a  fortmia  de  se  arredar  da  vista  áqaelle  hediondo  vulto,  cujas  contorsões  e 
uivos  eram  na  verdade  horríveis. 

«Quanto  mais  conhecemos  Lisboa,  menos  corresponde  à  expectativa  suscí<^ 
tada  por  sua  magnifica  apparencia  do  lado  do  rio.  Se  um  viajante  pudesse  ser 
transportado  subitamente,  sem  prevenção  nem  apparato  a  differentes  partes, 
rasoavelmente  podia  conjecturar  que  tinha  atravessado  uma  seríe  de  povoa- 
ções ligadas  desconcertadamente,  e  ficando-lhes  sobranceiros  massiços  con- 
ventos. Os  templos  em  geral  são  d*um  pezado  gosto  de  architectura,  o  es- 
tylo  de  Barromini,  com  empenas  arrugadas,  cornijas  e  torrinhas  com  folhoSy 
algumas  à  maneira  das  caixas  de  relógio  da  antiga  moda  franceza,  como  Bou- 
cher  as  desenha,  com  muitos  arrebiques  e  floreados,  para  adornarem  as  salas 
de  madame  de  Pompadour. 

«Esta  tarde  atravessámos  a  cidade  em  todo  o  seu  comprímento,  dirígindo- 
nos  ao  palácio  de  campo  do  duque  de  Alafões,  e  fornecemos  a  um  copioso  nu- 
mero  dos  mais  fieis  súbditos  da  rainha  a  opportunidade  de  admirarem  na  al- 
tura da  caixa  da  carruagem  o  gibão  curto  do  cocheiro,  e  outros  inglezismos 
da  equipagem.  O  duque  tinha  sido  chamado  a  um  conselho  d'estado;  só  acha- 
mos o  marquez  de  Marialva,  que  nos  andou  mostrando  todos  os  aposentos  da 
casa  de  campo,  que  nada  tem  notável,  excepto  uma  ou  duas  vastas  salas  de 
bellas  e  assombrosas  proporções. 

•Propoz-nos  em  seguida  acompanhar-nos  obra  de  meia  milha  mais  adiante 
á  quinta  de  Marvilla,  propriedade  de  seu  pae.  Esto  sitio  tem  grandes  bellezas 
pittorescas.  As  arvores  são  antigas  e  de  forma  caprichosas,  curvando*  se  por  ci- 
ma de  fontes  destruídas  e  estatuas  de  guerreiros  mutiladas,  que  o  lapso  dos 
annos  serapintou  de  innumeraveis  tintas  de  vermelho,  verde  e  amarello.  No 
centro  de  quasi  impenetráveis  balsas  de  louro  e  buxo  alteiam-se  extravagantes 
pyramides  de  pedra  lavrada,  que  rodeiam  leões  de  mármore,  de  catadura  ma- 
gica e  symbolica.  O  marquez  tem  o  sentimento  delicado  de  respeitar  estes  ru- 
des monumentos  de  uma  época,  em  que  seus  ascendentes  praticaram  muitos 
feitos  heróicos;  e  francamente  me  prometten  nunca  as  sacrificar,  nem  as  ve- 
nerandas sombras,  que  abarcam  as  ruas,  ao  gosto  ligeiro  e  loução  da  moder- 
na jardinagem  portugueza. 

•Voltamos  de  passeio  para  casa  por  um  luar  sereno  da  lua  cheia,  que  des- 
pontava detraz  dos  montes,  na  opposta  margem  do  Tejo,  o  qual  n'esta  extre- 
midade da  metrópole  tem  quasi  nove  milhas  de  largo.  Lisboa,  que  poucas  ho- 
ras havia  me  parecera  tao  desinteressante,  assumiu  mui  diverso  aspecto  sob 
aquelle  suave  clarão.  Os  átrios,  eirados,  capellas  e  portadas  de  vários  conven- 
tos e  palácios  à  borda  do  rio  luziam  como  edificios  de^armore  branco,  ao 
passo  que  as  escabrosas  ribanceiras  e  os  mesquinhos  telhados  sobre  ellas  er- 
guidos quasi  jaziam  submersos  em  sombras  espessas.  O  terreiro  do  paço,  por 
onde  seguimos  caminho,  estava  cheio  de  ociosos  de  todas  as  classes  e  sexos, 
pasmados  para  as  vidraças  illamínadas  do  palácio,  na  esperança  de  ver  n'nm 
relance  a  sombra  momentânea  de  sua  magestade,  do  príncipe,  do  confessor,  ou 
das  damas,  escoando*  se  d'um  para  outro  aposento,  e  sendo  alvo  espaçoso  de 

TOMO  I  7 


98  BE 

vãs  conjecturas.  Disseram- me  que  o  confessor,  ainda  que  um  tanto  adiantado 
na  carreira  dos  annos,  está  longe  de  ser  insensivel  aos  engodos  da  beileza,  e 
segue  de  janella  em  janella  as  nymphas  moças  do  paço  com  juvenil  alacri- 
dade. 

tDavam  as  nove,  quando  entramos  em  casa,  e  ainda  bem  não  tinha  re{Kia- 
sado  do  passeio,  e  posto  em  ordem  algumas  plantas  colhidas  nas  montas  de 
Marvilla,  três  distinctas  badaladas  da  campainha  na  minha  porta  annunciaram 
a  chegada  de  algum  personagem  distincto;  não  me  achei  burlado,  porque  era 
o  velho  marqnez  de  Penalva,  e  seu  filho,  que  apenas  haverá  um  anuo,  antes 
de  lhe  conceder  a  rainha  o  mesmo  titulo  do  pae,  chamava-se  Conde  de  Tarouca. 
cTereis  ouvido  fallar  muito  n'aquelle  nome,  que  o  avô  do  marquez  velho 
assaz  illustrou  em  diversas  e  bem  succedidas  embaixadas;  as  suas  brilhantes 
conferencias  no  congresso  de  Utrecht  vem  largamente  descriptas  na  obra  de 
madame  de  Noyers,  e  em  vários  livros  de  memorias. 

cOs  Penalvas  traziam  em  sua  companhia  n'esta  tarde  um  celebre  jesuíta, 
padre  Duarte,  que  o  marquez  de  Pombal  julgou  tão  importante,  que  por  de- 
zoito annos  esteve  encarcerado;  e  vinha  também  um  medico  alto,  de  joelhos 
desengonçados  e  faceira  rubicunda,  vestido  de  uma  andaina  magnifica  de  se- 
tim  lustroso,  um  dos  mais  desastrados  e  presumidos  professores  da  arte  de 
matar,  que  eu  tenho  topado.  Entre  o  jesuita  e  o  doutor  não  fiz  pequeno  esfor- 
ço para  manter-me  commedido  e  serio;  pairaram  incessantemente,  com  preten- 
ções  de  mui  implícita  admiração  por  tudo  quanto  vinha  d'Inglaterra»  quer  em 
matéria  de  moveis,  quer  de  bellas-artes,  e  confundindo  nomes,  datas  e  indiví- 
duos n'uma  indigesta  mixordia,  perguntaram  se  não  era  sir  Peter  Lely  o  actual 
presidente  da  nossa  academia  real,  e  espraiaram-se  em  vivos  encómios  ao  meu 
compatrício  Hans  Hobbeim.  Pedi  licença  para  certificar  a  estes  complacentes 
sábios,  que  o  ultimo  dos  mencionados  artistas  nascera  em  Basilea;  e  que  sir 
Peter  Lely  tinha  morrido  ha  um  século.  Assombraram-se  algum  tanto  com 
esta  informação;  apesar  d'isso  continuaram  na  cantilena  á  solta,  disparando 
uma  bateria  de  cumprimentos  empolados  acerca  do  nosso  progresso  nacional 
cm  pintura,  relojoaria,  fabrico  de  meias  etc.  a  tempo  que  entrou  o  general 
Forbes,  e  operou  uma  diversão  a  meu  favor.  Conversámos  um  pouco  sobre  o 
estado  presente  de  Portugal,  e  os  riscos  que  corre  de  ser  absorvido  pelas  ne- 
gociações, não  pelas  armas  dUespanha,  no  lapso  de  poucos  annos. 

cO  nosso  discurso  foi  interrompido  pela  vinda  de  um  rabequista,  um  pa- 
dre e  um  musico  italiano,  humildes  criados  e  commensaes  aduladores  de  mi- 
nhas illustres  visitas;  deram  rijas  taponas  no  meu  pobre  piano  forte,  e  toca- 
ram symphonías  quer  eu  quízesse,  quer  não.  Bem  sabeis  quão  pouco  sou  apai- 
xonado de  sonatas,  ^  que  certos  meios  tons  e  guinchos  de  rebeca,  quando  o 
musico  revira  as  alvas  dos  olhos,  torce  o  besuntado  queixo,  e  aífecta  extasis, 
fazem-me  embotar  os  dentes  na  bocca;  a  crispatura  do  doutor  já  era  de  so- 
bejo para  produzir  o  effeito  sem  o  reforço  de  seus  companheiros  parasitas,  o 
padre  e  o  musico.  O  jesuita,  ao  que  parecia,  via-os  com  tão  bons  olhos  como 
eu;  o  general  Forbes  fez  uma  prudente  retirada;  e  o  marquez  velho,  inspirado 
por  um  palheiico  adagio,  percorreu  do  súbito  a  sala  u*um  passo,  que  eu  lo- 


BE  99 

mei  peU  abertnra  de  am  bailado  heróico,  e  que  porém  desandou  n*Qm  mi- 
nuete á  moda  portuguesa  com  todos  os  pinotes  e  requebros,  ao  qual  foi  con- 
vidada parceira  Miss'  S.  #••  que  viera  ao  cbá,  e  que  accedeu  muito  contra  seu 
gosto.  Inda  bem  não  tinham  concluido,  o  doutor  alardeou  a  sua  lúgubre  e  es- 
guia pessoa  n'um  arreatado  minuete  anguloso,  que  não  tenho  expressdes  para 
descrevd-o;  de  forma  que  entre  as  artes  irmãs,  a  musica  e  a  dança  fize- 
rani-me  passar  uma  deleitavel  noite !  > 

GARTA  XI 

0.  SrnrnÚ  »■  RiBAMAB  —  HlMPlTAJLIBADB  P^ATVOVBSA  -»  •  AlJt^Ç»  — 

•imiA  Vim  •  BiMPO  Ml  AMMAmwm 

2  de  julho  de  1787. 

«Accordon-me  de  noite  o  hórrido  alarido  dos  cães;  nem  aquella  infemisdí 
matilha,  que  Dryden  nos  descreve  em  seu  divino  conto  de  Theodoro  e  Hono- 
ria  acompanhando  em  todas  as  sextas  feiras  um  phantasma  uivava  mais  es- 
pantosamente; Lisboa  é  infestada,  como  nenhuma  das  capitães,  que  tenho  ha- 
bftado,  por  bandos  d'aquelles  animaes  semí-famelicos,  que  com  tudo  são  d*al- 
gnma  Iniportancia  e  utilidade,  limpando  as  ruas  d*alguma  parte,  ao  menos,  de 
seus  fétidos  entulhos. 

«Yerdeil,  que  dormiu  tanto  como  eu,  por  causa  d'uma  furiosa  batalha,  lon- 
gamente protrahida  entre  dois  troços  dos  taes  cerberos,  persuadiu-me  a  erguer- 
me  com  o  sol,  e  passeiar  a  cavallo  pelas  praias  de  Belém,  que  appareciam  em 
todo  o  seu  esplendor  matutino;  era  bello  ver  a  côr  variegada  do  firmamento 
coin  as  nuvens  radiantes  de  purpura  orladas  d'oiro,  e  o  mar  coalhado  de  in- 
numeiaveis  embarcações  de  diíTerentes  portes,  fazendo  espadanar  a  espuma 
emtodas  as  dhrecções,  ao  passo  que  as  vagas  à  foz  do  porto  se  agitavam  vio- 
teolas. 

cPara  variar  um  tanto  a  nossa  excursão  nos  afastámos  do  transito  com- 
mum,  e  visitamos  o  convento  de  S.  José  de  Ribamar.  O  edificio  é  irregular  e 
plttoresco,  levantado  n'uma  eminência  Íngreme,  tendo  nas  costas  a  sua  ma- 
tinha d'olmo8,  louros  e  olaias.  Fomos  recebidos  pelos  frades  risonhos  e  sim- 
ples, n^mi  pequeno  pateo  dos  claustros  sustentados  em  pezadas  columnas  tos- 
eanas.  No  meio  d'um  repuxo^  borrifando  a  profusão  das  flores,  dava  um  as- 
pecto oriental  a  esta  pequena  claustra,  que  excessivamente  me  agradou;  os 
frades  pareciam  cônscios  de  seu  merecimento,  porque  a  conservavam  soffri- 
vdmente  limpa,  que  é  o  mais  que  posso  dizer  do  seu  jardim. 

«Trepadeiras  e  aloés  anões  quasi  impediam  a  passagem  para  a  mata,  deli- 
cioso retiro,  refugio  e  conforto  de  metade  dos  pássaros  d*aqnelles  contornos 
graças  â  preguiça  fradesca,  os  arbustos  estão  por  tosquiar,  e  invadem  á  von- 
tade as  ruas,  que  ficam  sobranceiras  ao  mar  de  um  modo  assaz  romântico. 

«Os  frades  quizeram  mostrar-nos  o  seu  jardim,  que  é  um  bonito  terra- 
ço, bem  calçado  de  tijolo,  entremeado  de  lavores  n'um  estylo,  que  eu  conje- 
cturo tão  antigo  como  o  domínio  dos  mouros  em  Portugal;  limoeiros  e  laran- 
geiras  em  latadas  forram  os  muros,  e  tcem  quasi  tomada  a  melhor  parte  de 
um  lustroso  embrexado,  em  que  os  incrastára  um  reverendo  padre  ha  dez  ou 


102  BE 

«Achei  o  jardim  em  excellente  ordem,  e  florescentes  em  quantidade  as 
plantas,  vegetando  entre  os  renqaes  de  larangeiras  e  limoeiros.  Tal  ó  inflaen- 
cia  do  clima  que  as  gardenias  e  plantas  do  Gabo,  que  eu  trouxe  de  Inglaterra 
ainda  com  troncos  despidos,  estão  cobertos  de  lindas  flores.  Os  malvaisoos  e 
algumas  variedades  de  milho,  semeiadas  pelo  meu  jardineiro  inglez,  cresce- 
ram a  extraordinária  altura,  e  começam  já  a  formar  avenidas  sombrias  e  sel- 
vas, onde  os  rapazes  podem  á  sua  vontade  jogar  às  escondidas. 

«Tendo  consumido  meia  hora  na  observação  doestas  coisas,  metti*me  na 
carruagem  com  o  marquez,  e  partimos  para  a  sua  quinta,  creação  nova,  que 
lhe  tem  custado  muitas  mil  libras  sterluias:  ainda  ha  cinco  annos  era  um  ca- 
beço maninho,  alastrado  de  sdbes  e  fragmentos  de  penedos.  Ao  presente 
achaes  um  elegante  pavilhão  desenhado  por  Pillement,  e  adereçado  com  ele- 
gância, um  jardim  com  estatuas  e  fontes,  ruas  densamente  guarnecidas  de 
loiro,  buxo  e  cedro,  cascatas,  arvoredo,  o  buxo  tosqueado  de  diflerentes  feitios, 
e  todos  os  ornamentos,  que  se  podem  apetecer  no  gosto  da  jardinagem  portu- 
guesa, 

«Jantámos  n'uma  aceiada  e  commoda  hospedaria,  situada  ao  meio  da  po- 
voação de  Cintra.  A  rauiha  tinha  ultimamente  doado  ao  marquez  aqoeUa  casa 
e  a  grande  porção  de  terreno  adjacente.  Das  suas  janeUas  contemplaes  {pro- 
fundos algares  e  empinadas  encostas  de  matos  e  florestas,  variegados  com 
pedras  musgosas  e  caducos  castanheiros. 

«Assim  que  o  sol  declinou,  fomos  para  Gollares,  e  passeiamos  no  eirado 
pertencente  a  Mr.  la  Boche,  negociante  francez,  que  mostrou  alguns  visos  de 
gosto  no  arranjo  da  sua  quinta. 

«As  matas  de  pinhaes  e  castanheiros  elevando-se  das  fendas  da  penedia, 
crescendo  umas  em  sucalcos  acima  das  outras  até  considerável  altura,  dão  a 
Gollares  o  aspecto  d'uma  aldeia  dos  Alpes.  Innumeraveis  arroios,  sobre  os 
quaes  se  debruçam  sobreiros  e  esgalhados  limoeiros,  rompem  pelos  arruina- 
dos muros  da  banda  da  estrada,  e  espadanam  em  tanques  de  mármore.  Um 
valido  do  defunto  rei,  que  tem  n'estes  subúrbios  uma  vasta  fazenda,  nos  con- 
vidou com  muita  attenção  e  urbanidade  para  o  seu  jardim;  imaginei  que  en- 
trava nos  vergéis  de  Alcinoo;  os  ramos  curvavam-se  ao  peso  dos  pomos,  o 
mais  leve  aba!o  alastrava  o  chão  de  ameixas,  damascos  e  laranjas. 

«Esta  quinta  ufana-se  d'uma  grande  cascata  artificial  com  tritões  e  gol- 
phínhos  vomitando  torrentes  d'agua,  mas  não  lhe  prestei  metade  da  attenção, 
que  o  proprietário  esperava,  e  acolhendo-me  á  sombra  das  arvores  fruotiferas 
regalei«me  de  doiradas  maçãs  e  purpúreas  ameixas,  que  em  tanta  proftisâo 
caiam  ao  redor  de  mim:  o  marquez,  que  participa  com  a  maior  parte  dos  por- 
tuguezes  da  extremada  predilecção  pelas  flores,  atulhou  de  cravos  e  jasmins 
a  carruagem.  Nunca  vi  plantas  tão  assignaladas  em  crescimento  e  vigor  como 
as  que  tiveram  a  boa  sorte  de  ser  semeadas  n'este  afortunado  torrão,  c^ja  ex- 
posição é  notavehnente  propicia,  abrigada  por  oiteiros  declives,  e  defendida 
com  o  espaço  de  algumas  milhas  de  matas  e  pomares.  Não  sentia  a  menor 
vontade  de  largar  um  sítio  tão  favorecido  da  natureza,  e  M.  ###  se  jacta  de 
que  eu  me  tentasse  a  comprar  esta  fazenda. 


BE  103 

tO  tento  tornoQ-se  incommodo,  qaando  sabíamos  a  eminência  coroada 
pelaqninta  de  Marialva;  a  atmosphera  estava  crístallina,  e  o  sol  declinava  ra- 
diante. O  convento  de  Mafra  ao  longe  scintilkmdo  com  vivo  fulgor,  similbava 
o  palácio  ^cantado  d'um  gigante,  e  o  terreno  circumvisinho  desbotado  e  es- 
téril, era  como  se  o  monstro  o  tivesse  devastado. 

tPara  descançarmos  um  pouco  do  nosso  veloz  passeio  entrámos  no  paví- 
Ihio,  que  eu  jà  disse  ter  sido  delineado  por  Pillement:  representa  uma  rua  de 
pliantaslieas  arvores  Indicas,  que  entrelaçando  os  ramos  superiores  conver- 
gentes formam  arcos  abaulados,  descobrindo-se  pelas  roturas  dos  intervallos 
o  eea  d'Qm  tempo  estivo;  da  bocca  d*um  dragão  volante  pende  um  magnifico 
lostre  para  cincoenta  lumes,  ornado  de  festões  de  cristal,  que  rutilam  como 
eoUares  de  diamantes.  Detivemo-nos  n'esta  sala  do  mirante  até  o  cair  das 
sombras. 

«Os  pagens  cavalgavam  adiante  levando  archotes,  e  o  vento  nos  atirava  à 
eara  com  o  fumo  e  fagulhas;  de  modo  que  eu  vinha  atordoado,  embruxado, 
experimentando  taes  sensações,  como  as  d'um  noviço  em  feitiçaria  montado 
p^  primeira  vez  á  garupa  d'uma  bruxa  a  correr  por  matagaes.  Em  menos 
d'ama  hora  tínhamos  galgado  ruidosamente  doze  milhas  de  áspera  e  des* 
egnal  calçada,  trepando  e  descendo  Íngremes  cabeços  n'um  galope  convulsivo, 
ma  que  eu  esperava  por  momentos  estirar-me  de  nariz  no  chão:  mas  feliz- 
mente as  muares  eram  escolhidas  d'entre  um  cento,  e  nunca  tropeçaram. 

«Nos  altos  d' Ajuda  s^ti  o  ar  muito  fino  e  penetrante.» 

OARTAXm 

WãMJkom  mmêMs  •■  CwtrrmAj  m  gapbixa  bbal  —  •  cMUfrai.  moããJkmmmm 

CSmnLvMnsTsm 

24  de  julho  de  1787. 

«Yadllei  por  alguns  momentos  se  encaminhasse  os  passos  do  meu  cavallo 
para  o  Penedo  dos  Ovos,  i  ou  para  o  outro  lado  da  montanha  até  á  Peninha, 
Conventinho  dos  Jeronymos,  e  dependência  da  sua  principal  acolheita.  Penha 
Longa;  porém  Marialva,  que  encontrei  com  toda  a  sua  comitiva  de  cavalhari- 
Qoe  e  picadores  saindo  da  quinta,  resolveu-me  a  deixar  caminhos  de  cabras, 
e  a  acompanhal*o  ao  paço,  que  eu  ainda  não  tinha  visitado  interiormente. 

«O  próprio  Alhambra  de  raro  será  mais  serraceno  em^matería  de  archl- 
leetiira  do  que  esta  confusa  molle,  que  parece  brotar  do  cimo  da  rocha,  em 
que  assenta,  desabrochando  n'uma  variedade  de  recantos  e  projecções.  De 
mfflares  de  misérias  foram  testemunhas  estas  venerandas  paredes,  fechadas 
por  «na  ordem  de  seguras  arcadas,  e  que  repartem  uma  extremidade  da  ca- 
ia srande  em  dois  ou  três  aposentos  medianos,  como  guarda-roupas  d'um 
Qieatro.  As  frestas,  n'um  phantastico  estylo  oriental,  em  recortes  deseguaes  e 
laiçirias  sustentadas  em  (pilares  espiraes  e  de  mármore  liso,  sao  maravilhosas 
•  campeiam  sobre  vistas  românticas  dos  fraguedos  e  da  povoação  de  Cintra. 
Algons  pateos  irregulares  e  lojas,  formados  pelos  ângulos  quadrados  dostor- 

*  Panorama  de  1856  (im),  pag.  G. 


104  BE 

reões,  aviventam-se  com  fontes  de  mármore  e  de  bronze  doirado,  que  despe- 
jam de  eentiBQo  copiosos  jorros  d'agua  mui  pura. 

«Uma  espécie  de  deposito  de  comprimento  tal,  que  se  pôde  qoasi  denomi* 
nar  canal,  continuado  em  toda  a  extensão  da  casa  grande,  é  como  um  paraizo 
de  cardumes  dos  maiores  e  mais  brilhantes  peixes  doirados  e  prateados,  em 
que  tenho  posto  a  vista.  O  susurro  dos  repuxos,  que  resaltam  d'este  c%nal,  os 
borbotões  deslisando  por  degraus,  e  em  bacias  de  mármore  polido,  o  brilho  e 
o  giro  veloz  dos  peixinhos,  o  admirável  contraste  da  luz  e  da  sombra  proda- 
zido  pelo  intrincado  labyrinto  de  arcarias  e  columnas  combinam-se  para  for- 
mar uma  scena  magica,  como  as  que  ás  vezes  senos  figuram  em  sonhos,  mas 
que  mal  presumimos  realisaveis.  Reina  uma  sobriedade  de  matiz  nos  manna« 
res,  um  mysterio  nos  aposentos  opacos  e  recônditos  vistos  em  perspectiva;  é 
tao  solemne  a  côr  das  aguas  quasi  próxima  da  negrídão  na  parte,  a  que  fa- 
zem sombra  os  altos  do  edifício,  que  eu  não  posso  deixar  de  achar-lhes  supe- 
rioridade a  todo  o  esplendor  e  labyrinto  das  mais  afamadas  construcç5es  mou- 
riscas de  Granada  e  de  Sevilha. 

«A  sumidade  rasa  d'um  dos  mais  altos  eirados,  nada  menos  de  cento  e 
cineoenta  pés  acima  do  nivel  do  chão,  está  preparada  como  um  elegante  jar- 
dim, que  se  estende  á  similhança  d'uma  alcatifa  bordada  diante  do  portai  de 
um  inmienso  torreão  quadrado,  que  é  quasi  todo  occupado  por  uma  sala,  cujo 
remate  é  uma  cúpula  das  mais  singulares;  entre  as  volutas  dos  arabescos, 
que  a  enfeitam,  apparecem  os  brazões  das  principaes  casas  nobres  portugue- 
zas:  a  divisa  da  desventurada  familia  Távora  foi  apagada,  e  o  vão,  que  occu- 
pava,  está  em  branco.  Subimos  ao  terrado  e  ao  torreão  por  uma  d'essas  esca- 
darias empinadas,  e  em  volta  de  caracol,  que  abundam  no  palácio,  e  prendem 
com  passagens  de  abobada  por  um  modo  secreto  e  suspeitoso. 

«O  marquez  indicou-me  o  pavimento  ladrilhado  d'um  pequeno  quarto, 
poido  e[gasto  pelos  passos  de  D.  Affonso  VI,  que  em  tão  estreito  espago  esteve 
recluso  muitos  annos. 

«Descendo  d'alli  vimos  o  interior  da  capella,  não  menos  singular  na  forma 
c  construcção  do  que  o  restante  do  edificio.  O  tecto  baixo  e  chato,  bem  como 
as  intersecções  dos  arcos,  aproximam-se  muito  do  estylo  das  mesquitas:  mas 
a  barbarica  profusão  de  oiro«  e  ainda  mais  barbaras  pinturas,  de  que  estão 
cheios  todos  os  apainelados,  quasi  pôde  suppôr-se  obra  de  artistas  chingalezes 
ou  indostanicos,  e  trazem -me  á  idéa  os  subterrâneos  pagodes,  onde  sua  ma- 
gestade  diabólica  recebe  homenagens  sob  a  forma  de  Shiva  ou  de  Budha. 

«O  brilho  original  de  toda  esta  extravagante  capella  acha* se  grandemente 
amortecido  pelo  fumo  dos  lampadários,  que  ardem  ha  séculos  em  frente  do 
altar,  mysterioso  composto  de  obra  de  talha  e  de  estatuária  em  perfeita  con- 
sonância, no  que  toca  a  estylo  carregado  e  inculto,  com  todos  os  objectos  alli 
existentes.  Diz- se  que  estando  ajoelhado  ante  este  mesmo  altar  o  joven,  impe- 
tuoso e  cavalleiro  D.  Sebastião,  recebera  aviso  sobrenatural  para  desistir  da 
fatal  expedição  d'Africa,  que  lhe  custou  a  coroa  c  a  vida,  e  que  um  espirito 
heróico  tem  em  mais  elevada  estimação,  do  que  a  fama  ip  mortal,  que  segue 
as  emprezas  bem  succedídas. 


BE  m 

tUma  coisa,  qae  dífficii  me  seria  descrever,  certa  melancolia  oppressiva 
parece  impendente  sobre  esta  capella,  qne,  segando  imagino,  jaz  ainda  pelo 
mesmo  gosto,  em  que  a  deixou  o  malfadado  D.  Sebastião.  A  falta  da  livre  cir- 
enlaçao  do  ar,  a  nuvem  pezada  de  incenso,  atacam-me  os  músculos  da  cabeça 
tio  desagradavelmente,  que  muito  me  apraz  abalar  e  seguir  o  marquez  aos 
quartos  preparados  para  a  rainha  e  infantas.  Estes  sao  agradáveis  e  bem  ven* 
tilados;  em  vez  de  os  guarnecer  de  ricos  pannos  de  raz^  representando  aven- 
turas de  cavalleiros  e  heroes,  os  armadores  da  casa  real  andavam  azafamados 
a  forrar  as  fortes  paredes  com  esplendidas  sedas  e  setins  das  mais  brandas  e 
mimosas  cores.  Não  vi  moveis  dignos  de  menção,  nem  uma  pintura,  nem  um 
traste  rico  de  gabinete;  e  não  havendo  que  vér,  pequena  foi  a  nossa  demora. 

«Assim  que  o  marquez  deu  algumas  ordens,  que  lhe  encarregara  a  sua 
real  ama,  voltámos  ao  Ramalhão,  onde  nos  esperavam  Home  e  o  cônsul  bol- 
landez,  altercando  acerca  de  seguros,  percentagens,  commissões  e  outras  es- 
peculações commerciaes.  Eu  tinha  persuadido  o  marquez  a  acompanhar-me 
amanhã  a  casa  do  cônsul,  M.  Guildemeester;  é  o  dia  dos  annos  d*este  velhote, 
e  elle  inaugura  a  sua  casa  nova  com  baile  e  ceia.  Teremos  uma  bonita  amos- 
tra de  senhoras  de  negociantes,  escreventes  e  caixeiros,  alguns  agentes  do 
corpo  diplomático,  e  sabe  Deus  quantas  mil  libras  de  pezo  de  gordos  merca- 
dores hollandezes.» 

CARTA  XIV 

WftA  •■  QAMJk.  —  PlTHCÇÃe  DB  AlVIvea  ••  chifrai.  CSCILDniBMITBB  — 


25  de  junho  de  1787. 

«Grande  gala,  a  que  o  marquez  vae  assistir;  este  abençoado  dia  não  só 
deu  nascimento  a  Guildemeester,  mas  também  à  princeza  da  Beira.  Vamos 
jantar  com  a  marqueza.  Uma  banda  de  musica  regimental  de  caminho  para 
casa  de  Guildemeester,  começou  a  tocar  no  pateo,  e  fez  sair  um  d'esses  curio- 
sos enxames  de  gente  de  todos  os  sexos,  edades  e  cores,  que  esta  bemfazeja 
família  tai^  gosta  de  agasalhar.  D.  Henriqueta  está  sentada  nos  degraus,  que 
sobem  para  o  grande  mirante,  cochichando  com  algumas  das  suas  criadas 
validas,  que  à  maneira  do  coro  na  antiga  tragedia  grega,  de  contínuo  davam 
a  ana  opinião  sobre  o  que  vmha  apparecendo. 

«No  momento,  que  D.  Pedro  e  eu  nos  dispúnhamos  a  partir  para  o  baile 
dado  pelo  velho  cônsul,  agradavelmente  nos  tomou  de  súbito  a  chegada  do 
marquez,  que  se  tinha  safado  do  paço  muito  mais  cedo  do  que  esperava.  Con* 
duzm-o  na  minha  carruagem  á  residência  de  Home,  onde  tomámos  chá  no 
terraço,  do  qual  se  descortina  a  vista  mais  romântica  de  Cintra,  a  vastidão 
éascnnas  dt  arvoredo  com  variada  folhagem,  marachões  seguros  pelas  raízes 
enleiadas,  troncos  de  enormes  castanheiros  de  mistura  com  os  salgueiros,  cho- 
rOes  da  mais  viçosa  verdura,  e  limoeiros  vergando  com  o  fructo.  Muito  acima 
d'esta  scena  silvestre  alteam-se  três  fendidos  pináculos  de  rocha,  distinguin- 
do-ae  o  do  meio  pelas  torrinhas  e  recinto  de  Nossa  S^ihora  da  Penha,  con- 
vento de  Jeronymos^  ííreqoentemente  escondido  nas  nuvens.  Encosto-me  a  um 
sobreiro,  que  dilata  os  ramos  cobrindo  quasi  toda  a  varanda,  afim  .de  gozar 


106  BE) 

d^aqaelli  vista,  e  de  observar  no  mea  remanso  as  exqtiisitas  flgnras  hoUao- 
desas,  inf^eKas  e  portagaezas,  que  passavam  para  casa  de  Goildemeester.  Este 
carreiro  de  pessoas  era  bastante  variado  para  me  entreter  por  algom  tempo. 

«M.  •••  não  se  impacientava,  nem  se  incommodava  por  coisa  aígmôa. 
Tendo  dado  entrada  sen  canhado  S.  •»*  Y.  •»*  a  quem  elle  professa  mor- 
tal  aversio»  as  forças  da  loz  e  da  sombra,  se  fossem  personificadas,  não  eihi- 
biriam  mais  saliente  contraste  do  que  estes  dois  personagens;  M.  **#  todo 
elle  incolcando  benignidade,  e  S.  ••#  Y.  ••#  todo  malevolencia.  E  de  cerlo 
se  metade  das  atrocidades,  que  a  vo2  publica  attríbue  a  este  fidalgo  são  ver- 
dadeiras, não  maravilhará  o  negrume  de  vingança  e  tyrannia  tão  profunda- 
mente assignalado  em  cada  linha  da  sna  physionomia. 

tAproveitando  a  primeira  opportonidade  atravessámos  becces  eseoros  e 
medonhos,  admiravelmente  adequados  a  proezas  como  aquellas,  a  que  adma 
aUudimos,  e  corremos  o  risco  de  saltar  a  pés  Juntos  uma  regueira,  quando 
estávamos  quasi  batendo  á  porta  do  velho  cônsul:  o  terreiro  defr(mte  d'e6ta 
casa  nova  está  na  peior  desordem,  o  edificio  pouco  mais  tem  do  que  as  pare- 
des nuas,  e  achava-se  muito  mal  alumiado. 

tPelo  que  toca  á  companhia,  achei-a  exactamente  como  a  esperava.  Mada- 
me 6  ••  •  que  é  soihora  de  penetração  e  discernimento,  fez  as  honras  de 
casa  com  desembaraçada  affabilídade,  e  prestou  a  suas  príncipaes  visitas  as 
mais  distinctas  attenções:  ha  uma  certa  agudeza  original  em  todas  as  suas  ob- 
servações, que  me  agradou  muito:  não  pertencendo  á  laia  dos  indulgentes, 
reforçou  Yerdeil  em  cortar  pela  pelle  da  gente  mercantil.  M  •  •  #  deu-lhe  o 
braço,  quando  fomos  á  ceia;  e  esta  parte  da  funcção  foi  magnifica;  havia  uma 
brilhsoite  illummação,  immensa  profusão  de  iguarias  n'uma  mesa  tão  vasta, 
as  mais  delicadas,  que  se  podiam  obter,  e  um  apparato  de  dessér  de  (K)  ou  tt> 
pés  de  comprimento,  todo  lustroso  de  figuras  bumidas  e  vasos  argentinos  de 
flores.» 

GARTA   XV 

A  HUnGA  WA  CAFBIXA  WUÊMMs  —  •  AKCBBIWP*  MIUMime  —  PmOPMTA 

pm  JOBKADA  A  MArWLA 

26  de  agaste  de  1787. 

<A  musica  de  capella  da  rainha  de  Portugal  é  por  certo  a  primeira  da 
Europa  quanto  a  excellencias  vocaes  e  íostrumentaes:  nenhum  outro  corpo 
similhante,  nem  a  capella  pontificia,  apresenta  uma  tal  reunião  de  admiráveis 
músicos.  Para  onde  quer  que  sua  magestade  vae  estar,  elles  acompanham-a, 
ou  á  caça  d'altaneria  em  Salvaterra,  ou  à  busca  de  saúde  nos  banhos  das  Cal- 
das; até  para  o  meio  d'estas  agrestes  fragas  e  montanhas  vem  cercada  d'um 
coro  de  mimosos  cantores,  que  engordam  como  codomizes,  e  gorgeiam  com 
tanta  melodia  como  rouxinoes.  Os  rebecas  o  rebecões  de  sua  magestade  dei- 
xam a  perder  de  vista  todos  os  de  primeira  ordem,  e  o  seu  viveiro  de  tocado- 
res de  oboés  e  flautas  não  tem  rival. 

tO  marquez  de  M.*«*  na  qualidade  de  primeiro  camarista  e  estribeiro- 
mór,  e  também  como  primeiro  valido  entre  os  nobres,  goza  decisiva  influencia 
sobre  todo  aquelle  império  de  vozes  harmoniosas;  e  teve  para  comigo  tanta 


BE  107 

iKNidade,  qne  me  faeilitoa  participar  d'essas  bemavebturaDças  miísicacs,  sondo 
permiltído  desfiractar,  onde  me  aprouvesse,  uma  banda  escolhida  de  tão  estu- 
pendos executantes.  Exactamente  na  manha  de  hoje,  e  para  minha  vergonha 
o  eaosigno,  passei  qnasi  horas  e  horas  no  meu  pavilhão  de  novo  composto, 
sem  ler  uma  palavra,  escrever  uma  linha,  ou  entrar  em  conversação,  absor- 
vidas todas  as  minhas  potmcias  d'alma  na  harmonia  dos  instrumentos  de 
vento,  postados  os  instrumentistas  a  distancia  n'um  macisso  de  larangeiras  e 
loureiros,  não  por  falta  de  propósito  ás  vezes  de  me  esquivar  á  magia  dos  tons; 
mas  tantas  vezes  voltava,  quantas  forcejei  por  evadir-me.  Se  eu  consultasse 
sãmente  o  meu  entendimento,  despediria  os  músicos;  os  seus  insinuantes  tons 
maviosos  despertaram-me  longa  série  de  melancólicas  lembranças,  e  pela  força 
das  idéas  associadas  prostraram-me  em  estado  de  abatimento  e  tristeza. 

«O  meu  excellente  amigo  o  prior  d'Aviz  praticou  um  verdadeiro  acto  de 
amizade  tirando-me  quasí  á  força  do  meu  retiro,  e  stibtrahindo-me  aos  meus 
devaneios:  insiste  que  o  acompanhe  a  casa  do  arcebispo,  onde  vae  fazer-se  o 
ensaio  d'um  conselho,  que  devia  celebrarse  perante  a  rainha,  e  para  isso  es- 
tão reunidos  os  ministros  d'estado  com  os  seus  sub-secretarios.  Taes  congre- 
gações são  novas  para  o  bom  do  velho  confessor,  que  acaba  de  ser  investido 
da  suprema  direcção  do  gabinete  muito  contra  sua  vontade:  bem  conhece 
quanto  valem  a  commodldade  e  o  socego  para  deixar  de  lamentar  tão  violento 
desvio  dos  seus  ordinários  hábitos  de  viver.  Achamol-o,  por  tanto,  como  era 
de  e^rar,  inquieto  e  irritado,  rubro  até  á  raiz  do  cabello,  côr  qne  muito  e 
muito  contrastava  com  seus  largos  vestidos  de  flanella  branca,  que  elle  a  miú- 
do sacudia  e  amarrotava,  batendo  mais  de  uma  vez  com  vehemencia  na  volu- 
mosa barriga,  que,  não  obstante  declarar  elle  ter  esperado  uma  hora  fora  do 
costume  para  sua  completa  repleção,  de  nenhum  modo  soava  como  tonel  va- 
zio. Gomtudo  t  rifão  velho  — pança  gorda,  cabeça  ouça  — não  lhe  pôde  ser 
applicavel:  foi  tão  benigno  e  confidencial,  que  me  expoz  ao  summario  o  que 
lhe  haviam  representado  as  differentes  repartições  publicas,  e  fel-o  com  muita 
clareza  e  tino.  Não  obstante  o  interesse,  que  devia  excitar  esta  singular  com- 
municação,  não  lhe  prestei  metade  da  attenção  que  merecia;  ainda  me  domi- 
navam as  impressões,  que  de  manhã  me  ficaram  da  musica  de  Haydn  e  Jo- 
rneUi.  O  grao-prior  conhecendo  que  a  politica  não  as  dissiparia,  foi  consultar 
o  seu  sobrinho^  que  aconteceu  achar-se  ratão  no  aposento  da  rainha,  e  vol- 
tou com  a  proposta  de  que  tendo  eu  ha  muito  expressado  o  desejo  de  vér 
Mafra,  se  pozesse  em  execução  amanhã  este  intento;  assim  o  ajustámos.» 

GARTA  XVI 

BXCI7R«Âe  A  MAWWUk 

27  de  agosto  de  1787. 
«Mettemo-nos  na  carruagem  ás  9  horas,  apezar  do  vento,  que  nos  açoitava 
a  cara.  ^  A  distancia  da  quinta,  onde  eu  habito,  a  este  convento,  é  de  qnasi 
gnatorze  milhas  inglezas,  e  a  estrada,  que  por  fortuna  nossa  tinha  sido  con- 

«  Panorama  de  1856,  pag.  286. 


m  BE 

certada,  atravessa  am  território  descoberto  e  tostado,  por  onde  se  vdem  espa- 
lhados escassamente  algans  moinhos  e  logarejos.  O  retrospecto  para  os  silvei- 
três  declives  e  ponteagndas  rochas  de  Cintra  é  bastante  agradável;  mas,  qaan- 
do  olhávamos  para  diante  nao  pôde  conceber-se  coisa  mais  árida  e  descolo- 
rida. Graças  ás  mudas  de  cavalgaduras  progredimos  rapidamente,  e  em  me- 
nos de  cinco  quartos  de  hora  nos  achámos  junto  à  grossa  parede,  que  abraça 
os  oiteiros,  o  fecha  a  tapada  de  Mafra. 

«Então  descobrimos  num  relance  de  olhos  as  torres  marmóreas  e  o  zim- 
bório do  convento,  realçado  pelo  espaço  azul  celeste  do  oceano,  assoberbando 
as  sommidades  das  eminências  matagosas,  e  variando  a  scena  aqoi  e  acolá  as 
copas  fechadas  dos  pinheiros,  e  as  verticaes  pyramides  dos  cyprestes.  Ainda 
se  nâo  viam  os  tectos  do  edifício,  e  continuámos  por  algum  tempo  a  costear 
as  ondulosas  ladeiras  da  tapada  primeiro  que  as  descobrissemos.  Um  piquete 
de  leigos  esperavam  para  abrir  as  portas  da  real  cerca,  tristemente  ennegrecida 
pelo  fogo,  que  haverá  um  mez  consumio  grande  parte  da  mata  e  verdura.  A 
nossa  chegada  deu  terrível  rebate  aos  bandos  de  corças^  que  pacificamente 
pasciam' n'uma  encosta  mais  viçosa,  que  as  circumvisinhas:  fugiam  a  toda  a 
pressa,  e  refugiaram-se  n*uma  brenha  de  pinheiros  meio  queimados. 

«Tendo  rodeadç  a  muralha  do  jardim  grande,  torneámos  de  subílo  o  an« 
guio,  e  se  nos  descobriu  uma  das  vastas  fachadas  do  convento,  similhando 
nma  rua  de  palácios.  Nao  pretendo  que  o  estylo  do  edifício  seja  digno  da  in- 
teira approvaçao  do  conhecedor  da  genuína  architectura  grega:  as  portas  e 
janellas  são  na  maior  parte  do  formas  caprichosas,  mas  pelo  menos  bem  pro- 
porcionadas. Admirava  eu  a  ampla  fíleira  d*ellas  á  proporção  que  ia  passando 
rapidamente,  quando  ao  virar  do  soberbo  pavilhão  quadrado,  que  flanqueia  o 
edifício,  a  principal  frente  se  patenteou  á  minha  vista  na  extensão  de  oitocen- 
tos pés.  O  centro  é  formado  pelos  pórticos  da  egrcja,  ricamente  adornados  de 
columnas,  nichos  e  baixos  relevos  de  mármore.  De  cada  lado  duas  torres,  al- 
gum tanto  similhantcs  às  de  S.  Paulo  em  Londres,  elevam-se  á  altura  de  quasi 
duzentos  pés,  e  juntando-se  a  este  enorme  corpo,  o  terminam  á  direita  e  á 
esquerda,  com  seus  magestosos  pavilhões.  As  torres  são  esbeltas,  graciosas, 
carregadas  de  pilastras  notavelmente  bellas;  mas  a  sua  fígura  em  geral  atira 
muito  para  o  estylo  de  pagode,  carece  de  solemnídade :  contem  muitos  sinos 
das  maiores  dimensões  éo  famoso  carrilhão,  que  custou  alguns  centos  de  mil 
cruzados,  e  tocava  na  occasião,  em  que  se  participou  a  nossa  chegada. 

«O  adro  e  o  lanço  de  escada  em  frente  dos  pórticos  do  templo  são  admi- 
ravelmente espaçosos;  e  o  zimbório,  que  arrogante  campeia  acima  do  remate 
do  frontispício,  merece  gabos  pelo  que  tem  de  ligeiro  e  elegante. 

«Alonguei  a  vista  pela  extensão  ampla  do  palácio  para  ambos  os  lados 
até  fatigar-se,  folgando  depois  de  retiral-a  do  esplendor  deslumbrante  do  már- 
more e  da  confusão  dos  ornatos  de  esculptura,  pondo  os  olhos  na  azulada  vas- 
tidão do  oceano  distante.  Defronte  d'esta  colossal  fabrica  estende-se  um  grau- 
de  terreiro  nivelado,  na  extrema  do  qual  se  v()ein  dispersas  algumas  casas 
caiadas.  Posto  que  estas  de  nenhum  modo  sejam  mesquinhas,  parecem,  em 
contraste  com  a  immensa  mole,  que  lhe  fíca  próxima,  como  as  barracas  das 


BE  109 

trabalhadores»  pelas  qnaes  as  tomei  à  primeira  vista,  e  nao  poueo  me  admirei 
quando  ao  chegar  mais  ao  perto  conheci  as  soas  verdadeiras  dimensões. 

«Poucos  objectos  fazem  interessante  a  vista  do  terreiro  de  Mafra:  vedes  os 
talhados  de  uma  vilia  de  pouca  monta,  e  as  encostas  areientas,  além  das  quaes 
se  divisa  o  mar  sem  limites:  á  esquerda  fecham  o  horisonte  as  alcantiladas 
serranias  de  Cintra,  e  somente  á  direita  um  pinhal  na  dilatada  fazenda  do  vis- 
conde de  Ponte  de  Lima,  dá  algum  pequeno  refresco  aos  olhos. 

«Para  nos  abrigarmos  do  sol,  que  dardejava  com  forga  sobre  nossas  cabe- 
ças» entramos  na  egreja,  passando  por  debaixo  d'aqaelle  sumptuoso  pórtico, 
o  qual  nao  poucas  lembranças  me  dá  da  basílica  de  S.  Pedro,  sendo  povoado 
de  estatuas  de  santos,  cinzeladas  com  extremo  primor  e  delicadeza. 

^A  primeira  vista  da  egreja  é  magestosa.  Dá  logo  nos  olhos  o  altar-mór 
com  duas  magnificas  columnas  de  mármore  vermelho  e  variegado,  ambas  in- 
teiriças, e  de  trinta  pés  d'altura.  Trevisani  pintou  magistralmente  o  retábulo, 
que  representa  Santo  António  no  extasi  de  tomar  nos  braços  o  Menino  Jesus, 
baixando  á  sua  eella  cercado  da  refulgencia  da  gloria. 

«Por  ser  amanha  festa  de  Santo  Agostinho,  cuja  ordem  religiosa  está 
actualmente  de  posse  d*este  mosteiro,  appareceram  todos  os  candelabros  áu- 
reos e  cirios  accesos.  Tendo-nos  demorado  poucos  minutos  no  meio  d'esta  es- 
plendida illaminaçao,  visitámos  as  capellas  collateraes,  emiquecidas  de  per- 
feitíssimos baixos  relevos,  e  com  soberbos  arcos  de  mármore  preto  e  amarello, 
de  ricos  veios,  e  tao  perfeitamente  polido,  que  reflecte  os  objectos  como  espe- 
lho. Nunca  observei  um  conjuncto  de  formosos  mármores  como  o  que  res- 
plandecia por  cima,  abaixo  e  em  redor  de  nós;  o  pavimento,  a  abobada,  a  cú- 
pula e  até  o  lantemim  do  remate  são  forrados  dos  mesmos  preciosos  e  durá- 
veis materiaes,  rosas  e  grinaldas  de  palmas  de  marmorei  mui  primorosamente 
lavradas  enriquecem  todas  as  partes  do  edifício.  Nunca  vi  capiteis  corinthíos 
melhor  modelados,  nem  esculpidos  com  a  maior  precisão  e  engenho,  do  que 
os  das  columnas,  que  sustentam  a  nave. 

«Satisfeita  a  nossa  curiosidade  pelo  exame  de  vários  ornamentos  dos  alta- 
res, seguimos  o  nosso  conductor  por  um  extenso  corredor  coberto  á  sacristia, 
casa  magnifica  de  abobada,  apainelada  com  almofadas  de  algumas  varieda- 
des mui  bellas  de  alabastro  e  porfido,  e  alcatifada  como  a  capella  adjacente 
com  grande  fausto.  Passámos  por  mais  alguns  repartimentos  e  capellas,  ador- 
nado tudo  com  egual  pompa,  até  que  nos  achámos  cansados  e  desgarrados  co- 
mo eavalleiros  andantes  no  labyrintho  d'um  palácio  encantado. 

«Começava  a  persuadir-me  que  não  tinham  fim  aquellas  espaçosas  casas. 
O  frade,  que  nos  precedia,  homem  de  bom  génio  e  velho  baboso,  tendo  para 
si  que  nós  não  percebíamos  palavra  da  sua  língua,  tentava  expliear-nos  os  ob- 
jectos por  signaes,  e  quasi  que  nao  dava  credito  aos  próprios  ouvidos  pergun- 
tando-lhe  eu  em  bom  portuguez,  quando  acabaríamos  de  ver  capellas  e  sacris- 
tias. O  velho  parecia  muito  agradado  dos  meninos,  como  elle  nos  chamava  a 
mim  e  a  D.  Pedro,  e  para  nes  dar  occasião  de  estendermos  as  pernas,  cami- 
nhava com  tal  desembaraço,  que  o  marquez  e  Verdeil  lhe  desejavam  por  pre- 
mio o  purgatório:  é  cerlo  que  avançámos  em  tão  veloz  escala,  que  n'um  ou 


iio  BE 

dois  minatos  galgáramos  de  cabo  a  cabo  am  donnitorío  de  seiscentos  pés  de 
comprímento.  Estes  vastos  corredores  e  as  eellas,  que  com  eUes  commimicam 
em  nimiero  de  trezentas  são  todas  como  arcadas,  e  de  constmc^  samptnosa 
e  solida;  cada  cella,  ou  antes  camará,  pois  que  sendo  bastante  espaçosas,  da 
bom  pé  direito  e  com  moita  claridade  merecem  tal  denominação,  é  goameci- 
da  de  mesas  e  contadores  de  madeira  do  Brazíl. 

«Exactamente  ao  entrarmos  na  livraria,  o  abbade  revestido  das  vestes  de 
soa  dignidade  veia  dar-nos  as  boas  vindas,  e  convidar-nos  a  jantar  com  elle 
no  refeitório  amanba,  dia  de  Santo  Agostinho,  o  que  parece  ser  am  rasgado 
obseqaio.  Gomtado  julgámos  conveniente  recusar  esta  honra,  receiosos  de  qae 
para  gosal-a  perdêssemos  pelo  menos  duas  horas,  e  flcassemos  meio  cosidos 
pelo  vapor  de  enormes  vitellas,  perus  e  leitões,  de  antemão  engordados  para 
esta  solemne  occasião. 

«A  livraria  é  de  prodigiosa  extensão,  nada  menos  de  trez«itos  pés,  o  tecto 
de  abobada  d*nma  forma  agradável,  bellamente  estucado,  e  o  pavhnenlo  de 
mármore  branco  e  vermelho:  não  pôde  dizer-se  o  mesmo  a  respeito  das  es- 
tantes dos  livros;  são  d*um  desenho  vulgar,  toscamente  executadas,  e  escure- 
cidas por  uma  galeria,  que  corre  toda  a  sala  d'um  modo  desengraçado.  A  eol- 
lecção,  que  consta  de  perto  de  sessenta  mil  volumes,  aeha-se  ao  presente  afer- 
rolhada n'uma  serie  de  quartos,  que  tem  serventia  para  a  bibliotheca.  Alga* 
mas  das  primeiras  edições  dos  clássicos  gregos  e  romanos,  muito  bem  conser- 
vadas, e  ricamente  illuminadas  me  apresentou  o  padre  bibliotheeario;  maso 
nosso  lesto  conductor  não  me  deu  tempo  d*examínal-as. 

«O  nosso  conductor  partiu  de  carreira,  e  subindo  uma  escada  de  caracol 
nos  conduziu  ao  terraço,  largo  e  plano,  fechado  por  uma  balaustrada  magnifica, 
desembaraçado  de  chaminés,  d*onde  se  vêem  d'a]to  a  baixo  os  pateos,  o  jar- 
dim, a  horta  K 

«D'osta  elevação  toda  a  planta  do  edifício  se  comprehende  n'um  relance  de 
vista.  No  centro  avulta  o  zimbório,  como  um  formoso  templo  d'entre  os  espa- 
çosos muros  d'uma  quinta  real.  É  infínitamente  superior,  no  que  toca  ao  de- 
senho, ao  resto  do  edifício,  e  pôde  de  certo  ser  reputado  como  o  mais  esbelto, 
mais  proporcionado  dos  que  ha  na  Europa.  D.  Pedro  e  mr.  Verdeil  propoze- 
ram  subir  uma  escada,  que  vae  ao  lantemim  ou  clarabóia;  mas  eu  pedi  des- 
culpa de  os  não  acompanhar,  e  diverti-me  durante  a  sua  ausência  andando  de 
uma  banda  para  a  outra,  profundando  de  vez  em  quando  avista  nos  objectos, 
que  estavam  lá  tão  em  baixo,  e  frequentemente  contemplando  as  torres,  que 
resplandeciam  com  o  brilho  do  sol,  e  o  azul  ferrete  do  mar  ao  longe.  Uma  vi- 
ração fresca  e  balsâmica,  emanada  dos  pomares  de  laranja  o  limão  me  re- 
creava ao  parar  nos  degraus  do  zimbório,  e  modificava  o  ardor  da  calma  es* 
tiva. 

«Breve  me  tirou  d'esta  pacifica  e  desassombrada  situaçiio  a  confusa  mati- 
nada  de  todos  os  sinos,  seguindo-se-lhe  uma  complicada  sonata,  tangida  com 
grande  proficiência.  O  marquez,  que  também  subira  coronosco,  do  propósito 

1  Panorama  de  185G,  pu^>.  315. 


BE  iii 

para  no  próprio  mananeial  gozar  d*esta  catadupa  de  sons^  que  algomas  pes- 
soas ehamam  melodiosos,  quiz  que  eu  me  aproximasse  para  ATAmínar  o  me- 
ebanismo;  fiquei  meio  atordoado:  sou  na  verdade  pouco  entendedor  de  car- 
rilb9es  e  sinos,  e  não  tenho  pena  da  perda  d'mn  divertimento  de  campanário; 
porém  o  meu  amigo,  que  herdou  uma  natural  inclinação  mechanica  de  seu 
pae,  fámigo^do  patrono  dos  sinos  e  relógios,  investigou  cada  roda  com  muita 
atlaiçio.  Acabada  a  sua  revista,  descemos  innumeraveis  escadas,  e  recolhe- 
mos a  casa  do  capitão-mór,  cuja  jnrisdícçao  se  estende  á  tapada  e  ao  districto 
de  Mafra;  tmn  sete  ou  oito  mil  cruzados  por  anno,  e  a  sua  habitação  manifesta 
todas  as  apparencias  de  commodidade  e  abastança;  o  soalho  é  coberto  de  es- 
teiras fluas,  e  as  portas  e  janellas  armadas  com  cortinas  de  damasco  verme- 
lho. As  nossas  camas,  novas  à  estreia,  estavam  alastradas  de  cobertores  de  seda 
com  ricas  bordaduras  e  franjas:  serviram-nos  uma  comida  opipara,  e  muito 
melhor  sobremesa,  do  que  os  próprios  frades  nos  poderiam  ministrar,  toman- 
do o  capitão-mór  os  pratos  das  mãos  da  longa  serie  de  seus  criados,  e  pon- 
do-os  eUe  diante  dos  convidados,  inteiramente  ao  modo  feudal. 

«Tomado  o  café  apressamo-nos  a  ouvir  as  vésperas  na  egreja  do  convento; 
caminhando  entre  as  ordens  de  capellas  illuminadas  fomos  occupar  assentos 
na  real  tríbuoa;  e  logo  entraram  os  frades  processionalmente,  precedendo  o 
abbaâe,  que  subiu  à  cadeira  prelaticia,  com  uma  fileira  de  sacristãs  a  seus  pés, 
e  de  cónegos  á  mão  direita;  as  vestes  e  paramentos  eram  de  brocado  d'oiro. 
Ganioa-se  o  officio  com  summa  solemnidade  ao  fcurmidavel  som  dos  órgãos, 
pois  que  ha  na  egreja  nada  menos  de  seis,  e  todos  de  tamanho  desmesurado. 
Acabado  este,  e  novamente  guiados  pelo  activo  leigo,  fomos  conduzidos  por 
uma  escadaria  magnifica  ao  palácio.  Os  aposentos  occupam  o  espaço  de  sete 
centos  on  oito  centos  pés;  e  a  quasi  interminável  successão  de  portas  magestosas> 
vista  em  perspectiva,  causa  assombro;  em  pouco  tempo  cansados  de  meramen- 
te admirar  concordámos  em  que  eram  as  casas  mais  enfadonhas  e  menos  com- 
modas,  que  temos  visto;  não  ha  variedade  na  forma,  e  pouca  nas  dimensões. 
Estando  agora  guardadas  em  Lisboa  todas  as  colgaduras  predominava  geral 
nudez;  nem  um  nicho,  nem  uma  moldura  interrompe  a  tediosa  uniformidade 
das  despidas  paredes  brancas. 

«Folguei  da  volta  ao  convento,  e  de  refrigerar  os  olhos  com  a  vista  das  pi- 
lastras  de  mármore,  e  os  pés  pisando  alcatifas  da  Pérsia.  Por  onde  quer  que 
andávamos,  em  cada  cella,  passagem,  capella,  sacristia  ou  sala,  seguia*nos 
uma  extraordinária  mistura  de  frades  curiosos,  sacristães,  leigos,  indivíduos 
da  justiça  e  de  clerezia,  e  casquilhos  da  terra  com  seus  espadins  e  rabichos. 
Se  acontecia  fazermos  alguma  pergunta,  meia  dúzia  d'elles  todos  a  um  tempo 
afinavam  o  gasnete  para  dar  resposta.  O  marquez  completamente  molestado 
de  andar  de  batida  e  com  tanto  tumulto,  tentou  por  varias  vezes  esquivar-se 
à  torba,  dando  voltas  rápidas  ora  para  uma,  ora  para  outra  parte:  mas  elles 
atrelados  aos  nossos  calcanhares  baldavam-lhe  as  diligencias,  e  engrossava  o 
tropel  a  tal  ponto,  que  parecia  estar  varrido  de  seus  moradores  todo  o  con- 
vento e  a  povoação,  para  andarem  atraz  de  nós  por  uma  das  sobrenaturaes 
attracçoes,  que  lemos  nos  contos  e  romances. 


ii2  ÔE 

«Por  fim  peroebeodo  ama  larga  porta  aberta  para  o  jardim,  saímos  por  allí 
de  sabito;  embrenbando-nos  em  mn  labyrintho  de  mortas  e  loureiros,  assim 
nos  desembaraçámos  dos  nossos  perseguidores.  A  cerca,  que  terá  obra  de  mi- 
lha e  meia  de  circumferencía,  cgpiprehende  além  de  matas  de  pinheiro  bra* 
vo  e  de  loíreiros.  alguns  pomares  de  limão  e  laranja,  e  dois  ou  três  taboleiros 
de  jardim  mais  cheios  de  hervas,  que  de  flores:  muito  me  desagradou  achar 
esto  formoso  recinto  despresado  tão  miseravelmente,  e  suas  viçosas  plantas 
mirrando-se  à  falta  de  serem  convenientemente  regadas. 

«Podereis  suppor  que  ajuntando  um  passeio  nas  príncipaes  ruas  do  jardim 
ás  outras  nossas  peregrinações  começamos  a  sentir-nos  algum  tanto  fatigados, 
e  não  desgostámos  de  descançar  no  aposento  do  abbade,  até  que  de  novo  fo- 
mos convidados  para  a  tribuna  a  ouvir  cantar  matinas.  Gerrava-se  a  noite;  e 
os  innumeraveis  brandões  accesos  nos  altares,  e  por  toda  a  egreja  diffundiam 
já  uma  luz  mysteriosa.  Outra  vez  os  órgãos  tocavam  em  cheio,  e  as  longas  fi- 
leiras de  frades  e  noviços  vinham  entrando  a  passos  lentos  e  graves,  o  abba- 
de reassumiu  o  seu  throno  com  egual  pompa  á  das  vésperas:  o  marquez  res- 
montava  as  suas  orações,  o  grão  prior  rezava  pelo  breviário,  e  eu  embebi-me 
em  vagos  pensamentos  por  tanto  tempo,  quanto  durou  o  ofQcio,  isto  é,  qoasi 
duas  horas.  Verdeii  semi -morto  de  enfadamento,  não  poude  aturar  o  calor  da 
tribuna,  nem  a  nuvem  de  incenso,  que  toldava  o  coro  baixo,  e  foi  respirar 
ninis  livre  ar  no  corpo  da  egreja  e  capellas  adjacentes. 

«Era  perto  das  nove  quando  os  frades,  tendo  cantado  um  solemnissimo  e 
roui  sonoro  hymno  em  louvor  do  seu  venerando  patriarcha  Santo  Agostinho, 
largaram  o  curo:  acompanhámos  a  sua  procissão  pelas  altas  capellas  e  area- 
das dos  claustros,  os  quaes  com  luz  fraca  parecia  não  terem  tecto  nem  fim,  até 
entrarmos  n'nm  octogono  de  quarenta  pés  do  diâmetro,  com  fontes  nos  quatro 
principacs  ângulos,  dispersando -se  a  lavar  as  mãos  n'estas,  os  monges  orde- 
naramse  outra  vez  em  préstito,  e  passaram  a  dois  e  dois  por  um  portal  do 
trinta  pés  de  altura  para  uma  espaçosa  casa,  que  communica  com  o  seu  re- 
feitório por  outra  portada  das  mesmas  elevadas  diuiensõos;  ahi  foz  uma  pausa 
a  procissão,  por  ser  logar  dedicado  á  recordação  dos  finados,  e  por  isso  se 
chama  á  casa  De  profundis.  Antes  de  cada  comida  usam  os  monges  estarem 
de  pé  cm  sisudas  fileiras  em  volta  do  refeitório,  silenciosos  passando  pela  idca 
quão  precária  é  a  nossa  frágil  existência,  e  deprecando  pela  salvação  das  al- 
mas dos  seus  predecessores. 

«Não  pude  deixar  do  ponetrar-me  do  reverencia  vendo  á  lu^  scintillante 
dos  lampadários  tantos  vultos  veneráveis,  com  seus  hábitos  pretos  e  brancos, 
de  olhos  inclinados  para  o  chão  absortos  na  meditação  mais  espiritual  e  me- 
lancólica. 

«Findo  o  momento  destinado  a  esta  solemne  rogativa  cada  um  tomou  seu 
logar  nas  compridas  mesas  do  refeitório,  feitas  de  madeira  do  BrazíL  e  cober- 
tas com  alvíssimas  toalhas.  Cada  religioso  tinha  sua  garrafa  de  agua  e  vinho, 
seu  prato  de  maçãs,  e  salada  postas  diante  de  si;  não  havia  manjar  do  peixe 
ou  do  carne,  porque  a  vl{;ilia  do  Santo  Agostinho  guardava-so  com  o  mais  ri- 
goroso jojuiii. 


BE  413 

«Para  gosarmos  n'um  lanço  geral  d'olhos  este  singular  e  magestoso  espe- 
ctacolo,  retirámos  para  o  vestíbulo  anterior  ao  octagono,  e  alongámos  a  vista 
por  todas  as  portadas  e  os  renques  de  candelabros  até  dentro  do  refeitório, 
que  em  razão  de  seu  grande  comprimento,  nada  menos  de  duzentos  pés,  si- 
mulava rematar  em  ponta.  Demorando-nos  alguns  minutos  a  desfructar  esta 
perspectiva,  vieram  depois  quatro  frades  com  tochas  alumiar-nos  até  fora  do 
convento,  dando-nos  as  boas  noites  com  muitas  reverencias  e  genuflexões. 

«A  nossa  ceia  em  casa  do  capitão-mór  foi  assaz  divertida,  boa  parte  da 
noite,  nao  obstante  o  nosso  cansaço,  estendemos  a  conversa  acerca  da  varie- 
dade de  objectos,  que  nos  passaram  pelos  olhos  em  tão  curto  espaço  de  horas, 
o  reboliço  das  brutescas  figuras  quasi  ins^araveis  dos  nossos  calcanhares  por 
tanto  tempo,  e  tão  de  perto,  e  a  vivacidade  achavascada  do  frade  leigo.» 

CARTA  xvu 
Bbcbbsso  a  Ci^rriftA  — Dhlbitb  do  dbacanho  depoiii  da  jobkada 

28  de  agosto  de  1787. 

«Meio  dormente,  meio  acordado,  retiniu-me  nos  ouvidos  o  sonoroso  carri- 
lhão do  convento;  as  vozes  do  marquez  e  D.  Pedro  em  porfiosa  conversação 
com  o  capitão-mór  no  quarto  contíguo,  completamente  me  despertaram.  ^  En- 
golimos o  café  á  pressa;  o  grão-prior  largou  com  reluctancia  o  travesseiro,  e 
acompanhou-nos  á  missa  conventual.  Os  frades  redobraram  os  esforços  para 
nos  reduzirem  a  jantar  com  elles;  continuámos,  porém,  inflexíveis,  a  fim  de 
evitar  novas  importunações  e  partimos  açodados,  finda  a  missa,  para  a  quinta 
do  visconde  de  Ponte  de  Lima,  onde  a  fechada  sombra  dos  loireiros  e  azevi- 
nhos nos  abrigava  do  excessivo  ardor  do  sol. 

«O  marquez,  sentando-se  a  meu  lado  ao  pé  d'ama  das  límpidas  e  copiosas 
fontes,  que  refrescam  e  aviventam  o  magnifico  jardim  á  italiana,  encetou  um 
discurso  mui  serio  e  semi-official  sobre  a  minha  estada  em  Portugal,  e  os  meios, 
que  se  projectavam  em  mui  alia  região,  para  que  fosse  não  só  agradável  para 
mim,  mas  também  de  alguma  valia  para  outros  muitos.  Alliviou-me  a  presen- 
ça de  D.  Pedro  e  de  seu  tio,  que  tendo  passeado  até  o  fim  d*uma  avenida  de 
pinheiros  longamente  extensa,  vieram  mudar  a  conversação,  que  já  se  me  tor- 
nava pesada;  voltámos  todos  á  poisada  do  capitão-mór,  e  achámos  o  jantar 
prompto. 

«D.  Pedro  e  eu  tínhamos  pena  de  deixar  Mafra;  nem  poríamos  objecção  a 
outra  corrida  pelos  claustros  e  dormitórios  com  o  frade  leigo.  A  tarde  estava 
brilhante  e  limpa,  e  a  côr  azul  do  mar  distante  indísivelmente  agradável. 
Fomos  levados  com  tumultuaria  velocidade  pelas  escabrosas  estradas,  de  ma- 
neira que  mal  podíamos  o  marquez  e  eu  dar  palavra  um  ao  outro.  D.  Pedro 
ia  montado  no  seu  cavallo,  e  Verdeíl,  que  nos  precedia  no  carrinho,  parecia- 
nos  ir  desafiando  o  vento:  o  seu  macho,  um  dos  mais  arrogantes  e  corpulen- 
tos d'esta  casa,  incitado  pelas  chicotadas  e  exclamações  d'um  esgalgado  pos- 
tilhão portuguez  empoleirado  atraz  do  vehiculo,  galopava  desencabrestada- 


i 


Panorama  do  1856,  pag-  315. 


o 


TOMO  1  O 


ii4  BE 

mente,  e  a  obra  d'ama  légua  das  rochas  de  Cintra,  assentou  de  arrojar  seus 
conductores  para  o  meio  d'umas  moitas  no  fondo  d^am  fojo  qoasi  perpendi- 
cular, onde  ainda  esperneava,  quando  nós  passávamos. 

«Yerdeil  vein  para  nós  manquejando,  e  apontando  para  o  carrinho  caido 
no  barranco;  excepto  a  leve  contusão  n'um  joelho,  nao  teve  outro  detrimento; 
exclamou  immediatamente  que  escapara  por  milagre,  e  que  sem  duvida  Santo 
António  tivera  mâo  n'elle.  O  meu  amigo,  que  traz  sempre  os  horrores  da  he- 
resia diante  dos  olhos,  cochichou-me  ao  ouvido  que  doesta  vez  o  diabo  o  ti- 
nha salvado,  mas  que  talvez  d*outra  não  estivesse  tão  bem  disposto. 

cAinda  não  eram  cinco  e  meia,  quando  chegámos  a  Cintra;  a  marqueza» 
o  abbade  e  os  meninos  nos  esperavam.  Andando-me  a  cabeça  á  roda,  e  as  idéas 
tão  abaladas  e  confusas^  como  tinha  o  corpo,  recolhi-me  a  casa  logo  ao  cair 
das  sombras,  a  íim  de  gosar  umas  poucas  de  horas  de  não  interrompido  des- 
canço;  o  apparalo  da  minha  ampla  sala,  a  sua  solidão  e  silencio  infundiam  mo- 
mentânea tranquilidade  no  animo  agitado.  A  macia  e  bem  lisa  esteira,  fabri- 
cada do  melhor  e  mais  lustroso  junco,  assumia  à  luz  das  bugias  uma  cor  de- 
liciosa, suave  e  acorde;  vi- a  tão  fresca  e  brilhante,  que  me  estendi  n*ella,  e 
alii  me  deixei  estar  de  papo  para  o  ar,  contemplando  o  cristalino  e  sereno  céo 
de  verão,  e  a  lua,  que  vinha  nascendo  vagarosa  detraz  da  coroa  de  um  outei- 
ro matagoso;  uma  frouxa  viração  afastando  as  cortinas  descobria  os  topes  das 
arvores  silvestres  do  jardim,  e  ao  longe  extenso  tracto  de  paisagem,  terminada 
pela  superGcie  do  mar,  e  os  ennevoados  promontórios.» 

CARTA  XVIII 
iSalÂo  oniBi«TAi«  —  D.  João  W  b  Odivillas 

—   COliVUlSÂO  DB    UMA  MGLBKA    ¥BLHA  —  SbD   BIITBIUIO 

29  de  agosto  de  1787. 

«Achava-me  desmedidamente  encalmado;  desperdicei  toda  a  manlià  no 
meu  mirante,  cercado  de  fidalgos  com  seus  chambres  mui  garridos,  e  de  mú- 
sicos vestidos  de  roxo,  com  largos  chapéus  de  palha  á  similhança  de  bonzos, 
ou  talapões,  parecendo  tão  queimados  do  sol,  ociosos  e  ne^fligentes,  como  os 
habitantes  de  Ormuz  ou  Bengala,  de  forma  que  a  minha  companhia  assim  co- 
mo o  aposento  oíTeVecia  a  mais  decidida  apparencia  oriental;  por  exemplo,  o 
divan  levantando-sc  poucas  polegadas  acima  do  soalho,  as  gelozías  doiradas 
das  frestas,  as  cristalinas  regueiras  manando  d'um  tanque  logo  debaixo  dV 
quellas,  e  que  constantes  supprcm  as  fontes  da  rocha  nativa. 

«Agradável  variedade  predomina  na  minha  sala  asiática;  metade  das  cor- 
tinas ostentam  as  mais  ricas  dobras;  outra  metade  são  transparentes,  e  der- 
ramam jucunda  claridade  sobre  a  esteira  c  sophás;  grandes  e  luzidos  espelhos 
multiplicam  a  profusão  das  armações;  alguns  dos  meus  hospedes  não  se  en- 
fastiavam de  andar  de  canto  para  canto  observando  os  diííerentes  grupos  de 
objeclos  reflectidos  por  todos  os  lados  nas  direcções  menos  esperadas,  como 
se  pliantasiassem  ser  admitlidos  por  encauto  a  espreitar  por  um  labyrinlho  de 
camarins  inagioos. 

•  Um  individuo  da  socicdado,  maiioiuso  velho,  italiano  o  clérigo,  que  linha 


BE  115 

saído  da  soa  terra  natal  aotes  que  o  celeberrimo  terremoto  derrubasse  pelos 
alicerces  mais  de  metade  de  Lisboa,  disse-me  qae  se  recordava  d'um  aposen- 
to,  boa  amostra  n'esle  mesmo  gosto;  isto  é,  adornado  de  espelbos  e  cortinas, 
uma  espécie  de  palácio  de  fadas,  que  communicava  Qom  o  convento  de  freiras 
de  Odivelias,  tão  famigerado  pelo  piedoso  retiro  d'aquelle  exemplar  de  ma- 
gnificência e  santidade,  o  rei  D.  João  Y.  Deleitosos  dias  abí  passou  o  monar- 
cba,  e  os  favorecidos  companheiros  das  suas  devoções. 

cDe  que  serve  (accrescentou  mui  judiciosamente  o  padre  mestre)  a  gaiola 
mais  formosa  sem  pássaros,  que  a  aviventem  ?  Se  tivésseis  ouvido  a  celestial 
harmonia  das  reclusas  do  rei  João  Y,  nunca  vos  terieis  contentado  no  vosso 
primoroso  pavilhão  com  o  esganiçamento  dos  sopranos  e  os  roncos  dos  rabe- 
cões. A  suavidade,  refiro* mo  áqueilas  puras  vozes,  saindo  do  sagrado  asylo 
recôndito,  onde  não  é  dado  penetrar  ente  humane  masculino,  á  excepção  do 
monarcha,  produzia  um  cfTeito,  de  que  ainda  me  lembro  extasiado,  posto  que 
jà  lá  vão  bastantes  annos.  Quatro  dos  nossos  mais  abalisados  cantores,  dois 
de  Yeneza  e  dois  de  Nápoles,  attraidos  pela  liberalidade  verdadeiramente  ré- 
gia, accrescentaram  tudo  quanto  o  gosto  consumado  e  a  scíencia  podia  pres- 
tar às  mais  excellentes  vozes  de  Portugal:  o  resultado  foi  a  perfeição. 

«Exactamente  ao  levantar-nos  de  jantar  para  a  mesa  do  desserj  posta  no 
terraço  fronteiro  á  rua  principal  do  jardim,  entrava  o  abbade  Xavier  apre- 
goando a  admirável  historia  da  conversão  diurna  inj^Ieza  phtysica,  e  nada 
creança,  que  acbando-se  em  vésperas  de  despedir-so  do  mundo,  ao  que  pa- 
rece, requereu  um  padre  para  confessar-se  o  abjurar  seus  erros  de  toda  a 
casta. 

«Acontecendo  alojar-se  na  hospedaria  de  Cintra,  de  que  era  dono  um  dos 
mais  fervorosos  catholicos  irlandezes,  os  louváveis  desejos  da  senhora  foram 
expeditamente  satisfeitos,  e  Mascarenhas  e  Acciaoli,  e  mais  dois  ou  três  pa- 
dres e  monsenhores  chamados  para  ajudarem  a  esta  boa  obra.  ^ 

«Grande  tem  sido  (exclamou  o  abbade)  o  nosso  regosijo  por  este  motivo. 
N'esta  mesma  tarde  o  ditoso  anjinho  será  sepultado  em  triumpho;  Marialva,  S. 
Lonrenço,  Asseca  e  outros  muitos  da  principal  nobreza  concorrem  para  tor- 
nar mais  apparatoso  o  acto;  creio  que  víreis  comigo,  e  acompanhareis  o  prés- 
tito? 

«Com  a  melhor  vontade  (respondi),  e  ainda  que  não  gosto  de  funeraes,  co- 
mo esse  de  que  fallaes,  é  tão  festivo,  posso  fazer  uma  excepção. 

«Partimos,  transportados  tão  velozmente,  quanto  o  podiam  as  parelhas  de 
excellentes  machos,  para  que  não  chegássemos  tarde  á  função;  muita  concorrên- 
cia de  povo  havia  diante  da  porta;  n*uma  das  janellas  estava  o  grão-prior  re- 
zando o  breviário,  e  em  ar  contemplativo,  como  quem  desejava  ver-se  d'allí 
cem  léguas.  Subi  as  escadas,  e  immediatamente  me  Ozeram  roda  o  velho  con- 
de de  S.  Lourenço  e  outros  devotos,  innundando-me  de  congratulações.  Mas- 
carenhas, um  dos  mais  conspícuos  membros  da  Sè  Patriarchal,  chapado  hy- 
poerita  e  doutor  ascético,  foi-me  apresentado.  Acciaoli,  de  quem  eu  era  já  co- 

«1  Panorama  úv.  18^iG,  pag  o.il. 


H6  BE 

Dhecido,  aos  palinhos  pela  casa  esfregava  de  contentamento  as  mãos,  e  com 
olhar  surrateiro  e  risinho  velhaco  espraiado  no  semblante  jovial  dava  trincos 
com  os  dedos  para  Satanaz,  como  quem  dizia: 

«Figas,  demónio  í  Ao  menos  tiramos-te  nma  das  garras,  já  está  agora  li- 
vre do  ten  caldeirão. 

«Havia  tal  azáfama  no  quarto  interior,  onde  o  mirrado  cadáver  estava  de- 
positado, tal  cantarola  e  reza,  porque  nenhuma  língua  estava  ociosa,  que  a  ca- 
beça andava-mc  á  roda,  c  fui  refugiar-me  ao  pé  do  grão-prior;  bem  se  via  que 
nào  lhe  era  agradável  a  assembléa;  mas  encolhendo  os  hombros  dizia  que  ^ a 
muito  edificante,  por  certo  muito,  e  que  monsenhor  Âcciaoli  fora  em  extremo 
vigilante,  em  extremo  activo,  e  merecia  subido  louvor,  salvo  o  pod^-se  ter 
poupado  simílhante  bulhaça. 

«Por  algumas  indicações,  que  escaparam,  não  quero  dizer  a  quem,  vim  a 
descobrir  que  o  innocente  aujo,  agora  na  estrada  real  da  felicidade  eterna,  não 
quizera  passar  por  este  mundo  sem  provar  da  taça  do  prazer,  e  vivera  mui- 
tos annos  folgadamente^  não  só  com  um  galhardo  moço  solteiro  da  sua  na^o, 
mas  com  outros  indivíduos,  casados,  e  não  casados,  do  seu  particular  conhe- 
cimento. Gomtudo  ella  virou  súbito  de  bordo  achando-se  levada  velozmente 
pela  maré  de  uma  rápida  phtysica,  e  foi  rebocada  para  o  porto  pelos  coiyun* 
tos  esforços  do  estalajadeiro  irlandez^  e  dos  membros  acima  nomeados. 

«Oh!  três  vezes  feliz  ingleza  (exclamou  M—a),  que  fortuna  é a  tua!  No  ou* 
tro  mundo  a  immediata  admissão  ao  paraizo,  e  n'este,  teu  corpo  gozará  a  in- 
signe honra  de  ser  conduzida  á  sepultura  por  pessoas  da  mais  alta  jerarchíal 
Viu  se  jamais  tanta  ventura? 

«A  chegada  d'uma  multidão  de  padres  e  sacristães,  de  tochas  accesas  e 
cruz  alçada  nos  chamava  á  scena  d' acção.  Mettido  em  ordem  o  acompanha^ 
mento  foi  conduzido  o  corpo,  vestido  de  branco,  n'um  caixão  forrado  de  côr 
de  rosa  com  seis  argolas  prateadas,  a  fim  de  se  levar  á  mão.  M.  que  detesta  a 
vista  d'um  cadáver,  fazia-se  vermelho  até  ús  orelhas,  e  daria  uma  quantia  pa- 
ra fazer  uma  retirada  honrosa;  mas  já  nenhuma  retirada  era  compatível  com 
a  piedade  christã,  e  viu -se  obrigado  a  vencer  a  sua  repugnância,  e  pegar  a 
nma  das  argolas  do  caixão,  outra  foi  encaixada  na  mão  do  notório  S.  Vicente, 
outra  coube  ao  velho  fanhoso  conde  de  S.  Lourenço,  a  quarta  ao  visconde 
dAsseca,  exccllente  cavalheiro,  mancebo  d^exterior  sincero,  e  a  quinta  e  a 
sexta  tocaram  ao  capitão-mór  de  Cintra  c  ao  juiz,  sujeito  de  desagradável  as- 
pecto. 

«Assim  que  o  grão-prior  pilhou  fora  da  vista  o  lívido  semblante  da  defunta» 
que  era  levada  pela  escada  abaixo  fez  uma  tentativa  para  abalar,  e  preceder 
em  vez  de  seguir  o  acompanhamento;  porém  AccíaoIi,que  fazia  de  mestre  de 
cerimonias,  não  o  deixou  safar-se  tão  facilmente,  distribuindo-lheologar  mais 
honroso,  logo  adiante  do  caixão,  collocando-se-Ihc  á  esquerda,  dando  a  direi- 
ta a  Mascarenhas. 

«Todos  os  sinos  de  Cintra  repicavam,  e  á  sua  alegre  toada  íamos  nós  ca- 
minhando á  pressa  por  meio  d' uma  densa  nuvem  de  pó,  com  uma  canalha  de 
rapazes  a  rclouçarem  por  ambos  os  lados,  e  as  avós  manquejando  atraz,  re* 


BE  ,„ 

zando  pelas  contas,  e  de  vez  cm  quando  arreganhando  o  resto  da  carcomida 
dentaça,  e  a  cochicharem  ao  ouvido  umas  das  outras  sobre  o  seu  triumpho 
contra  o  príncipe  das  trevas. 

•Felizmente  o  caminho  para  a  egreja  não  era  comprido,  aliás  a  poeira  nos 
sufiòcaria;  o  grão-prior  conservando  fechada  a  bocca,  nâo  recebia  uma  partí- 
cula d'ella;  mas  Acciaoli  e  seu  collega  estavam  de  tal  modo  enfatuados  com 
a  sua  afortunada  empreza,  que  nâo  cessavam  de  pahrar. 

•O  pobre  velho  S.  Lourenço,  gordo,  acaçapado,  e  asthmatíco,  querendo* 
tomar  fôlego  parava  de  vez  em  quando  a  descançar  da  jornada.  Marialva,  a 
quem  a  natural  aversão  a  estes  actos  ainda  mais  lhe  fazia  pesada  a  carga,  tam- 
bém não  se  lhe  dava  doestas  pausas. 

«Achámos  todos  os  altares  da  egreja  scintillantes  com  lumes,  aberta  a  cova 
para  receber  o  seu  purificado  habitante,  e  uma  numerosa  cohone  de  padre- 
cas  saindo-lhe  ao  encontro.  Á  entrada  cantaram  muitíssimas  vozes  juvenis  de 
coristas,  o  que  o  ritual  prescreve  no  enterro  das  creanças  de  mama,  ou  de 
pouca  idade,  o  incenso  elevava-se  em  rolos  ao  ar,  e  brilhava  alegria  e  con- 
tentamento em  toda  a  congregação. 

«Susurrou  outra  vez  o  borborinbo  de  applausos  e  congratulações  recebi- 
dos por  aquelles,  a  quem  mais  cabiam  com  toda  a  affabilídade,  e  até  denguice. 
O  ancião  S.  Lourenço  atracando  o  grão-prior,  erguerdo-o  ao  ar  nos  braços,  e 
borrifando-o  de  tabaco,  pregou-lhe  um  forte  espirro.  O  S.  Vicente,  assim  que 
desceu  á  cova  a  defunta  com  as  suas  vestes  cândidas  da  innocencia,  retirou  se 
com  malícia,  porque  nunca  estava  bem  na  presença  de  seu  cunhado  Marialva. 
Quanto  ao  outro  zeloso  fidalgo  a  exaltação  e  triumpho  lhe  faziam  ultrapassar 
os  limites  do  decoro;  escarneceu  dos  hereges  com  acrimonia,  pintou  com  vi- 
vas cores  a  felicidade  da  convertida,  e  quando  saiamos  da  egreja  gritou  tão 
alto,  que  o  podessemos  ouvir — Ella  agoira  está  c para  nós  todos, 

•Concluída  sua  pia  tarefa,  os  dois  monsenhores  nos  acompanharam  aos  al- 
tos de  Penha  Verde  a  respirarmos  a  frescura  do  ar  á  sombra  dos  resinosos  e 
odoríferos  pinheiros;  e  d'ahi  voltando  em  nossa  companhia  ao  Ramalhão  par- 
ticiparam da  merenda  de  gelados  e  doces,  e  fechou-se  a  tarde  com  discursos 
jucundos  acerca  da  scena,  que  tínhamos  presenciado.» 

CARTA  XIX 

AVKCMrrjUI  M»  COlfSB  9B  0.  liOITKBlfÇO  —  •  COltSUI.  HOI.LA5IDBS  —  CbIA  MJOVBltB 

«Os  princípaes  personagens,  que  tão  piamente  se  distinguiram  hontem,  jan- 
taram comigo  n'esta  abençoada  tarde.  O  velho  S.  Lourenço  tem  prodigiosa  me- 
moríá,  e  a  imaginação  escandecida,  ainda  mais  exaltada  por  um  leve  toque 
de  loucura.  Apresenta-se  perfeitamente  conhecedor  da  política  geral  da  Eu- 
ropa, e,  posto  que  nunca  desse  um  passo  fora  de  Portugal,  narra  tão  circums- 
tanciada  e  plausivelmeúte  os  modernos  successos,  e  a  parte,  que  elle  próprio 
desempenhou  no  congresso  d'Aix-la-Chapelle,  que  eu  cai  no  logro,  e  acredi- 
tei, ^n  quanto  não  me  informaram  do  segredo,  que  elle  efíectivamente  presen- 
ceára,  o  que  só  tinha  sonhado.  Não  obstante  a  subida  graça,  em  que  estava 
para  com  o  infante  D.  Pedro,  o  marqnez  de  Pombal  o  havia  encarcerado  com 


418  BK 

outras  viclimas  da  conspiração  do  duque  d'Avciro,  c  por  dezoito  trístissimos 
annos  achou-se  a  sua  idéa  activa  reduzida  a  se  alimentar  dos  seus  próprios 
recursos. 

«Pela  exaltação  Ma  rainha  actual  saiu  solto,  e  encontrou  participante  do 
throno  S.  A.  R.  seu  intimo  amigo;  porém  vendo-se  recebido  friamente,  e  posto 
de  banda  com  vilania,  arrojou  a  chave  de  camarista,  que  lhe  haviam  man« 
dado  a  um  logar  pouco  limpo  e  decoroso,  e  recolheu- se  k  casa  religiosa  das 
Necessidades.  Gertifícaram-me  que  não  houve  meios  que  o  rei  não  tentasse  pa- 
ra o  afagar  e  lisonjear;  mas  todos  foram  infructiferos.  Desde  esse  período,  pos-t 
to  que  largasse  o  convento,  nunca  appareceu  na  corte,  e  recusou  todo  o  em- 
prego. Agora  só  a  devoção  lhe  absorve  a  alma.  Excepto  quando  lhe  tocam  na 
corda  da  prisão,  e  do  marquez  de  Pombal,  acham-no  plácido  e  rasoavel,  como 
hoje  o  achei  extremamente,  e  com  carradas  de  mui  instructivas  e  divertidas 
anecdotas. 

«Tomado  o  café,  a  minha  companhia  estirou-se  toda  ao  comprido,  e  do  mo- 
do mais  commodo,  uns  na  esteira,  outros  nos  sophàs,  para  realentar  o  espirito, 
supponho  eu,  depois  das  piedosas  lidas  e  enthusiasmado  préstito  do  dia  ante- 
cedente,  venci  do  Marialva  que  me  acompanhasse  a  casa  de  Guildmeester,  com 
quem  fomos  dar  n'um  vasto,  mas  desencademado  salão.  Serviu-nos  exeellente 
chá,  alambazadas  fatias  de  pão  de  mistura,  e  manteiga,  fresquinha  d^aquelle 
dia,  e  manipulada  segundo  o  genuino  e  invariável  modo  hollandez. 

«D.  Genoveva  é  uma  velha  do  feitio  d'um  poial,  com  uma  cabeça  de  pião, 
e  um  par  de  beiços  grossos,  plácida,  risonha,  e  benévola:  miss  Coster  havia  de 
ter  sido  bonita  ha  uns  poucos  d'annos,  faz  o  chá  com  todo  o  decoro,  fecha  as 
portas,  o  abre  as  janellas  com  scicncia,  c  já  tem  bastante  que  allegar,  quando 
pôde  repotrear-so  na  sua  cadeira. 

«Apenas  tinharaos  começado  a  comprimentar  a  dona  da  casa  acerca  do 
completo  resultado  da  sua  creaçao  de  vaccas,  veiu  o  cônsul  e  sua  velha  mu- 
lher com  muitas  mesuras  c  saudações  trazendo  uma  gamelia  envernisada,  onde 
brilhava  com  profusão  um  copioso  thesouro  de  diamantes,  tanto  brutos,  como 
lapidados,  fruclo  de  seu  famoso  e  mui  lucrativo  contracto  no  tempo  do  Pom- 
bal; alguns  dos  maiores  fazia  elle  empenho,  em  que  Marialva  os  recommen- 
dassc  á  rainha,  e  disse-me  ao  ouvido,  que  lambem  csliraaría  que  eu  desse  al- 
gumas palavras  a  seu  respeito. 

«Fiquei  estupefacto,  o  o  mnrqucz  deslumbrado  cora  aquelle  esplendor  e  ri- 
queza; voltou  para  o  seu  gabinete  interior  sem  lhe  reviverem  as  esperanças,  e 
nós  saimos. 

«Adiantava-se  a  tarde,  e  um  nevoeiro  com  seus  borrifos  toldava  os  pínca- 
ros penhascosos  da  serra  de  Cintra;  isto  porém  não  nos  impediu  de  ir  a  casa 
de  rar.  Horne.  Pas?âmos  por  debaixo  de  arcadas  de  ulmos  e  castanheu*os,  cuja 
ramagem  humedecida  exhalava  o  cheiro  refrigerante  das  matas.  Dissipados 
os  vapores  exactamente,  quando  desembocávamos  da  sombria  avenida,  appa- 
recia  a  torrinha  do  Convento  da  Pena,  debilmente  tinta  com  os  últimos  raios 
do  sol,  e  afigurando-se-nos,  como  a  arca  no  monte  Ararat,  n'um  mar  de  nu- 
vens ondeantes. 


BE  419 

«Em  casa  de  Horne,  Aguilar,  Bezerra  e  a  companhia  do  costume  acha- 
vam-se  reunidos.  O  roarquez  assim  que  desempenhou  as  suas  complacentes  o 
alcatrusadas  cortezías  para  a  direita  e  para  a  esquerda  retirou-se  á  sua  quinta; 
eu  tomei  Horne  na  minha  carruagem  até  à  residência  da  senhora  Staits,  pes- 
soa baixinha,  de  cintura  delgada  e  esbelta,  de  olhar  damninho,  porém  nada 
desagradável,  nem  de  coração  deshumano;  fazia  annos  n'esse  dia,  e  havia  con- 
gregado a  maior  parte  dos  inglezes,  que  estavam  em  Cintra,  n'um  jardim  hú- 
mido de  setenta  pós  de  comprido  por  trinta  e  dois  de  largo,  illuminado  com 
trinta  ou  quarenta  lampiões.  A  dama  Guildermeester  ahi  estava  coberta  do  dia- 
mantes, reluzente  como  uma  estrella  no  meio  da  sua  obscura  atmospliera.  Ti< 
vemos  uma  fúnebre  ceia  fria  debaixo  d'uma  barraca  á  imitação  de  gruta. 

•O  marido  de  miss  Staits,  bem  disposto  e  de  boa  feição,  dcu-me  logar  junto 
de  mrs.  Guildermeester,  que  se  divertiu  sofTrivelmenteá  custa  do  festim.  A  ap- 
parencia  subterrânea  da  barraca,  a  luz  desmaiada  dos  escassos  lampiões,  e  a 
fragrância  d'am  prato  de  camarões  grandes,  e  7nais  do  que  maduros,  me  sug- 
geriram  a  idéa  de  estar  morto  e  enterrado.  «Ait  (disse  para  a  minha  amável 
visinha)  foise  tudo  para  nós!  Eis  o  nosso  primeiro  banquete  nas  infernaes  re- 
giões; todos  somos  eguaes,  e  aqui  confundidos.  Alli  está  a  piedosa  presbyte- 
ríana  miss  Tussock  com  a  empertigada  rapariga  sua  irmã,  e  logo  ao  pé  o  ca- 
sal de  adúlteros  pombinhos,  mr...  e  a  sua  sultana;  eu,  miserável  peccador,  íleo 
defronte  do  vosso  honesto  e  pacifico  esposo,  e  pouco  mais  abaixo  o  nosso  be- 
nigno hospedador,  modelo  de  brandura  e  resignação  conjugal.  Escutael  Não 
ouvis  a  bulha  de  coisas,  que  caem,  e  se  amontoam?  Estão  despejando  uma  car- 
regação de  mortos! 

«N'este  estylo  continuámos,  até  que  o  assumpto  se  esgotou,  e  chegou  o  tem- 
po de  cada  um  retirar-se  ás  suas  poisadas.» 

CARTA  XX 

BlIPBBAWiB   A  KAI2IIIA  BM  ClIVTKA  —  OCQUB  BE  IíAPSbA  —  FBIKA   BA   PbNIIA 

I4OKGA  —  Passeio  liocruitito 

40  de  Setembro  de  1787. 

«Adeus  tranquillidade  de  Cintra,  em  breve  só  haverá  confusão  e  bulha ! 
Está  para  chegar  a  rainha  com  todas  as  suas  damas  de  honor,  secretários  de 
estado,  anões,  negrinhas  e  cavallos  brancos,  pretos  e  malhados.  Metade  das 
qnintas  d'estes  contornos  ficarão  seccas,  tomando -se  posse  militarmente  dos 
aqueductos,  e  derivando-se  as  suas  aguas  por  novos  canaes  para  uso  do  ar- 
raial. 

«Passeava  eu  debaixo  de  longas  latadas  de  limoeiros  dispostas  em  arco, 
quando  me  appareceu  ao  cabo  da  avenida  M...  acompanhado  do  duque  de  La« 
fões,  o  mesmíssimo  personagem  bem  conhecido  em  toda  a  Europa  pela  deno- 
minação de  duque  de  Bragança,  posto  que  não  tenha  direito  a  este  illustre  ti- 
tulo, que  anda  unido  á  coroa.  Chamasse-se  eile  duqucza  viuva,  não  seria  ou 
quem  lhe  disputasse  a  propriedade  do  titulo,  conhecendo-o  por  uma  espécie 
do  camareira  velha,  com  eguaes  ninharias  e  melindres;  põe  ainda  cor  e  si- 
gnaes,  e  posto  que  já  tenha  setenta  invernos,  ainda  procura  fazer  rodopio  so- 


120  BE 

brc  os  calcanhares,  e  mexer-se  com  javenil  agilidade;  muito  me  abysmoa  a 
facilidade  do  seos  movimentos,  por  quanto  me  haviam  dito  que  era  martyrde 
gota.  Depois  de  cecear  em  francez  com  a  mais  requintada  accentuaçao  quei- 
xas contra  o  sol,  e  as  estrelas,  o  o  estado  de  architectura,  abalou  (graças  a 
Deus)  para  ir  marcar  o  sitio  do  acampamento  da  cavallaria  que  hade  guardar 
a  sagrada  pessoa  da  rainha  durante  a  sua  residência  n'estas  montanhas.  M^. 
tinha  obrigação  de  acompanhal-o;  porém  deixou  seu  filho,  e  seus  sobrinhos,  os 
herdeiros  da  casa  de  Tancos  para  jantarem  comigo. 

tÁ  tarde  Yerdeil  enfastiado  de  andar  d' uma  banda  para  a  outra  nas  va- 
randas, propoz  uma  cavalgata  à  próxima  povoação,  onde  havia  feira;  elle  e  D. 
Pedro  montaram  nos  seus  cavallos,  precedendo-me  e  aos  mancebos  Tancos, 
que  Íamos  em  carrinhos  puxados  por  valentes  machos.  As  estradas  são  abo- 
mináveis, e  correm  ao  longo  da  falda  ladeirenta  das  montanhas  de  Cintra,  que 
na  primavera  são,  não  ha  duvida,  soíTrivelmente  vestidas  de  verdura;  porém 
na  estacão  actual  qualquer  fevera  de  relva  está  resequida  e  mirrada.  As 
rodas  da  nossa  carruagem,  resvalando  de  esguelha  por  aquelles  escorre* 
gadios  declives,  faziam  exhalar  cheiro  muitas  hervas  aromáticas  meio  pulve- 
risadas. 

«Não  sabia  da  cabeça,  quando  chegámos  á  feira,  que  se  faz  n'um  rocio, li- 
mitada d'um  lado  pelos  pittorescos  ediOcios  de  um  convento  de  Jeronymos,  e 
pelo  outro  por  eminências  penhascosas,  quebradas  em  grande  variedade  de 
formas  extravagantes;  um  penedo  especialmente,  que  chamam  dos  Ovos,  co- 
roado por  uma  cruz,  remata  tquella  aggregação^  e  exhibe  exquisita  apparen* 
cia  brutesca.  Detraz  do  convento,  densa  mala  de  oliveiras^  e  os  pomares  oc- 
cupam  um  valle  curto  e  refrigerado  pelas  fontes,  cujas  límpidas  aguas  são  en- 
caminhadas para  os  diíTerentes  claustros  e  cerca  por  um  aqueducto  de  már- 
more ordinário,  que  sustentam  arcos  chanfrados  ao  gosto  mourisco. 

«Os  camponezes,  que  concorreram  á  feira,  andavam  espalhados  pelo  ter- 
reiro, conversando  alguns  com  os  frades,  outros  meio  vínolentos  cambaleando, 
e  estendendo-se  no  chào^  outros  comprando  coifas  de  seda  e  arrecadas  ^'oiro 
falso  para  presentear  as  namoradas.  Os  monges,  que  andavam  azafamados  em 
administrar  toda  a  casta  de  consolações,  tanto  espirítuaes,  como  temporaes, 
conforme  as  suas  respectivas  idades  e  vocações,  felizmente  não  deram  por  nós, 
e  assim  escapámos  de  sermos  empanturrados  com  doces,  e  perseguidos  de  com- 
primentos. 

«Ao  sol  posto  voltámos  ao  Ramalhão,  e  tomámos  chá  na  sala  mirante,  em 
que  ha  nada  menos  de  onze  portas  envidraçadas,  e  janellas  de  vastas  dimen- 
sões. O  vento  estava  socegado,  o  ar  balsâmico,  e  o  céo  d'um  azul  tão  suave, 
que  não  nos  soíTreu  o  animo  ficar  engaiolados,  e  tomámos  outra  vez  os  nossos 
vehiculos,  indo  até  á  nova  casa  do  cônsul  hollandez,  á  luz  confusa  de  innume- 
raveis  estrellas. 

«Passava  das  dez,  (luando  recolhemos  á  quinta  do  Marialva,  e  antes  de  che- 
garmos, ouvimos  as  toadas  sentidas  de  vozes  e  instrumentos  de  vento,  que  saiam 
do  arvoredo,  á  borda  do  tanque  principal  sentavam -se  a  marqueza  e  D.  Hen- 
riqueta, e  um  numeroso  grupo  de  criadas,  algumas  bem  engraçadas  creatu- 


BE  I» 

ras,  escnUndo  com  todo  o  erobevecímento  d'aliDa  o  ensaio  da  musica  deliciosa, 
que  havia  de  ser  executada  D*uma  serenata  a  sua  magestade  d'ahi  a  dias. 

«Era  orna  das  serenas  noites  encantadoras,  em  que  a  musica  adquire  du- 
plicado attractivo,  e  abre  o  coração  a  impressões  maviosas,  posto  que  meian- 
colicafiT:  nem  uma  foJha  susurrava,  nem  um  leve  sopro  de  vento  perturbava  a 
clara  chamma  das  luzes  coUocadas  junto  das  fontes,  e  que  exactamente  ser- 
viam para  tomal-as  visíveis;  as  aguas  correndo  para  as  caldeiras  cavadas  em 
redor  dos  pés  dos  limoeiros  formavam  um  murmúrio  brando;  e  nas  pausas 
do  concerto  nenhum  som  se  escutava,  excepto  o  de  phrases  imperceptíveis  di- 
tas baixinho  ao  ouvido;  de  modo  que  os  encantos  do  clima,  da  musica  e  do 
mysterio  me  enlevaram  n'um  extasi,  de  que  saí  com  pena  e  Aluctancia.* 

CARTA  XXI 

Am BCDOTA0  —  JaIVTAH   DO  ARCEBISPO  COMPRSMOK 

12  de  setembro  de  1787. 

«Apenas  estava  levantado  vieram  annunciar-me  o  grão-prior  e  mr.  Street; 
este  vituperando  reis,  rainhas  e  príncipes,  com  toda  a  sua  força,  e  bramando 
por  liberdade  e  independência:  o  primeiro  queixandose  dos  nevoeiros  e  hu- 
midades. 

«Assim  que  saiu  o  advogado  do  republicanismo,  fomos,  como  havíamos 
concertado,  a  casa  do  arcebispo  confessor,  e  ahi  immediatamente  nos  admltti- 
nm  ao  seu  sancta  janc^on4m,^agasalhado  aposento,  communicando  por  uma 
escada  de  caracol  com  o  da  rainha,  e  adereçado  de  lustrosa  tapeçaria/de  vivas 
cores.  Um  frade  leigo,  rochunchudo  e  chocarreiro,  completamente  tosco  e  vul- 
gar como  qualquer  carreiro,  ou  almocreve,  nos  entreteve  com  divertidasj-posto 
que  nao  mui  decentes  historias  palacianas,  até  que  seu  patrão  nos  appareceu. 

«Quem  esperar  ver  no  inquisidor-mór  de  Portugal  cara  chupada,  e  tristo- 
nha com  olhos  de  impropério  e  maldição,  acha-se  enganado;  raras  vezes  temos 
o  gosto  de  encontrar  uma  presença  tão  jovial  e  sincera  como  aquella,  de  que 
o  céo  o  dotou;  recebeu-me  do  modo  mais  franco  e  cordeal,  e  tenho  razão  de 
capaeitar-me  que  lhe  cai  muito  em  graça.  ^ 

«Conversámos  sobre  serem  casados  os  arcebispos  em  Inglaterra.  «Com  ef- 
íèito  (dizia  o  prelado)  os  vossos  arcebispos  são  singulares  sujeitos,  sagrados 
nas  vendas  de  cerveja,  e  bons  consócios  de  botelha!  Contaram-me  que  aquelle 
estouvado  Lord  Tyrav^ley  era  arcebispo  lá  na  sua  terra.»  Imaginae  quanto 
ea  riria  d'este  incomprehensível  despreposito;  e  ainda  que  não  possa  dizer  de 
80â  reverendíssima  que  as  verdades  divinas  saem  melhoradas  da  sua  bocca, 
8ija-me  licito  declarar,  que  o  absurdo  se  toma  mais  notavelmente  ridículo  vin- 
do de  origem  tão  auctorisada. 

«Quando  chegámos  ás  janellas  da  sala  para  ouvir  a  banda  de  musica  mar- 
cial, vimos  João  António  de  Castro,  hábil  engenheiro,  que  inventou  o  actual 
syttema  da  illuminação  de  Lisboa,  dois  ou  três  graves  dominicanos,  e  o  famoso 
tmào  D.  João  da  Falperra,  mascarado  com  falsas  condecorações  das  ordens, 

<  Panorama  de  1856,  pag.  413. 


IÍ2  BE 

sabiodo  todos  elles  os  degraus,  que  conduzem  á  grande  sala  da  audiência.— 
«Sim,  simi  (disse  o  leigo,  que  é  uma  creatura  petulante  e  cómica).  Eis  ahi  o 
fiel  retrato  dos  nossos  freguezes:  três  castas  de  pessoas  acham  mais  fácil  en- 
trada n'este  palácio,  homens  de  superior  talento,  bobos  e  santos;  os  primeiros 
cedo  se  desgostam  da  habilidade  que  possuem,  os  santos  vem  a  ser  martyres, 
e  só  bobos  prosperam. 

«A  tudo  isto  o  arcebispo  prestou  o  seu  ingénuo  assentimento  por  um  si* 
gniflcativo  meneio  de  cabeça;  e  achando-se  na  mais  graciosa  e  commanica« 
tiva  disposição  não  me  permittiu  que  saísse,  quando  me  levantei  para  despe* 
dir-me.  «Não,  não  penseis  em  deixar-me  tão  depressa:  vamos  á  sala  dos  cys* 
nes,  e  peço  que*depois  me  digaes  que  idéa  fazeis  dos  nossos  primeiros  fidal- 
gos. 

«Tomando-me  pelas  pontas  dos  dedos  conduziu-me  por  muitos  quartos 
sombrios  e  passagens  escuras  a  uma  porta  secreta,  que  dá  serventia  da  sala 
de  visitas  da  rainha  para  outra  muito  espaçosa,  atulhada  então  por  metade  das 
dignidades  do  reino;  alli  estavam  bispos,  prelados  das  ordens,  secretários  does- 
tado, generaes,  camaristas,  cortezãos  do  todas  as  denominações,  bizarros  e 
ílammantes  com  suas  fardas  bordadas,  estrellas,  veneras  de  hábitos,  e  chaves 
doiradas. 

«Era  visivel  o  assombro  d'este  grupo  à  nossa  súbita  apparição;  apresentá- 
mo-nos  ao  começar  um  minuete:  o  apessoado  arcebispo  com  seu  vestido  mo- 
nacal  como  um  peru  increspado,  e  eu  avançando  a  passo  grave,  deslumbrado 
da  súbita  transição  das  trevas  para  a  luz,  como  a  coruja  que  o  sol  apanhou 
fora  do  ninho.  Ajoelhavam  muitos  mettendo  á  cara  memoriaes  e  petições,  re- 
querendo a  maior  parte  legares  e  promoções,  c  alguns  solicitando  bênçãos  de 
que  o  meu  reverendo  guia  não  era  avaro.  Afigurou-se-me  que  tratava  as  pres- 
surosas demonstrações  de  servilismo  com  um  certo  modo  de  pouco  caso  sem 
insulto.  A  audiência  foi  interrompida  por  uma  ordem  da  rainha,  que  chama- 
va immediatamente  o  arcebispo;  porém  este,  antes  de  retirar-se,  tocou-me  no 
bombro,  e  disse -me:  apenas  me  demoro  meia  hora,  e  jantareis  comigo. — Este 
convite  excitou  nos  cortezãos  grande  inveja.  Em  mim  o  effeito  era  o  contra- 
rio, porque  tinha  função  ajustada  para  Penha  Verde,  o  mais  fresco  e  român- 
tico sitio  d'esia  poética  comarca,  e  não  me  queria  encaixar  n*um  aposento  chei- 
rando a  verniz.  Mas,  emôm,  não  tinha  remédio,  porque  todos  os  figurões  da  cor- 
te, obedecem  a  sua  reverendíssima.  A  meia  hora  assignada  pelo  arcebispo  deitou 
quasi  a  uma.  O  marquez  de...  foi  encarregado  de  me  conduzir  àquelle  inve- 
jado jantar,  e  dísse-me  que  era  a  primeira  vez  que  tinha  a  honra  de  assistir  à 
meza  do  arcebispo.  Batemos  á  porta  reservada,  e  seguindo  pelos  quartos  já 
conhecidos  fomos  dar  a  um  pequeno  aposento,  com  frente  para  uma  horlasi- 
nha,  onde  o  frade  leigo  com  as  mangas  arregaçadas  até  aos  hombros  nos  fez 
hospitaleira  recepção;  na  casa  das  tapeçarias  estava  a  mesa  com  três  talheresi 
e  n*um  dos  ângulos  em  cima  d'um  sophá  o  omnipotente  prelado  coberto  com 
uma  capa  parda  cheia  de  remendes. 

«Vem  cá  (disse  ao  leigo  batendo  as  palmas  ao  modo  oriental)  serve  a  me^, 
e  tpnhamos  algum  prazer.  Que  praga  é  aturar  essas  mulheres  lá  de  escada 


BE  123 

aeímal  Quem  melhor  deqaevó?,  marquez,  conheceis  quantos  enigmas  ha  que 
desembrulhar?  Atrevo  me  a  dizer  que  os  arcebispos  inglezes  não  se  voem  abar- 
bados  com  metade  dos  embaraços,  em  que  me  vejo  enleado.  Olá!  vamos  a  sa- 
ber o  que  nos  dão  para  coiner. 

«Entrou  o  leigo  com  três  leitões  assados  n*uma  bandeja  enorme  de  prata, 
e  com  uma  torta  de  correspondentes  dimensões;  estes  pratos  nunca  variam: 
til  é  sempre  o  jantar  do  arcebispo,  salvo  nos  dias  de  magro.  Porém  a  simpli- 
cidade da  primeira  coberta  foi  resgatada  pela  profusão  das  sobremesas,  que 
em  variedades  de  frutas  e  doces  nada  podia  egualar.  Em  vinhos,  não  fallemos; 
eram  delicados  e  escolhidos,  tributo  de  todos  os  domínios  portuguezes  á  mesa 
de  sua  reverendíssima:  a  companhia  do  Porto,  que  então  solicitava  a  renova- 
ção do  seu  privilegio,  contribuía  com  a  flor  das  suas  colheitas;  de  tão  boa  qua- 
lidade, que  o  meu  obsequiador  hospede  prometteu-me,  e  logo  no  outro  dia 
mandou  pôr  em  minha  casa  alguns  barris  d'este  licor  genuino. 

«Passou-se  alegremente  o  jantar,  e  mais  duraria  a  palestra  inter -porula 
se  o  marquez  aomo  estribeiro,  e  o  arcebispo  na  sua  especial  missão,  não  ti- 
vessem de  ir  ao  paço.  Por  outro  labyrintho  de  passagens,  mais  intrincado  do 
que  aquelle,  por  onde  entrara,  me  conduziu  á  rua  o  leigo  faceto  e  anecdotico.* 

CARTA  XXII 
WmwTA  AOM  coifVBirroff  da  Sbrka — Scrmas  da  costa  marítima 

19  de  setembro  de  1787. 

«Nunca  tive  um  dia  mais  formoso,  nem  vi  um  céo  de  azul  mais  aprazível. 
Os  marquezes  já  estavam  comigo  ás  seis  horas  e  meia,  e  divagámos  por  ou- 
teiros incultos,  sobranceiros  a  uma  grande  extensão  de  paiz  apparentemente 
deserto,  porque  os  logarejos,  onde  os  ha,  estão  escondidos  nas  quebradas  e 
covas  da  serra. 

«Intentando  explorar  as  montanhas  de  Cintra  d'um  a  outro  extremo  da 
cordilheira,  coUocámos  mudas  em  differentes  estações.  O  nosso  primeiro  ob- 
jecto foi  o  convento  de  Nossa  Senhora  da  Pena,  pequeno  e  romântico  conjun- 
eto  de  edifícios  branqueados,  que  eu  tinha  visto  brilhar  de  longe  a  primeira 
vez  que  naveguei  pela  costa  de  Lisboa.  Doesta  pyramidal  altura  o  horisonte  é 
infinito;  vedes,  logo  immediatamente  abaixo  immensa  expansão  de  mar,  o 
vasto,  illimitado  Atlântico.  Uma  longa  série  de  nuvens  soltas,  de  alvura  des- 
lumbrante, também  abaixo  de  nós  suspensas  sobre  as  ondas  produzem  eííeito 
magico,  e  nos  tempos  do  paganismo  pareceriam  sem  esforço  algum  da  phan- 
tasia,  os  carros  das  deidades  marítimas,  que  viessem  surgindo  da  profundeza 
do  seu  elemento. 

«Não  havia  coisa  verdadeiramente  interessante  nos  objectos,  que  proxi- 
mamente nos  cercavam.  As  relíquias  mouriscas  das  circumvisinhanças  do 
convento  apenas  merecem  menção,  e  de  facto  mostram  não  pertencerem  a  edi- 
flcio  algum  considerável;  foram  provavelmente  fabricadas  com  as  delapida- 
ções feitas  a  um  templo  romano,  cujos  constructores  talvez  que  também  se 
tivessem  aproveitado  de  algum  fanum  púnico  ou  lyrio  erecto  n'esle  sitio  ele- 
vado, e  denegrido  pelo  fumo  de  sacrifícios  horríveis. 


124  BE 

tPor  entre  as  rachas  dos  muros  esbroados  e  particularmente  na  abobada 
d'uma  cisterna,  que  indica  ter  servido  tanto  para  deposito,  como  para  banho, 
descobri  algumas  plantas  capillares  e  polypodios  de  estremada  delicadeza,  e 
n'uma  pequena  châ  defronte  do  convento  numerosa  tribu  de  cravos,  gencia* 
nas  e  outras  plantas  alpinas,  agitadas  e  robustecidas  pelo  ar  puro  das  mon- 
tanhas. Estas  brisas  refrigerantes,  impregnadas  do  perfume  de  innumeras  her- 
vas  aromáticas  e  flores,  parece  que  me  infundiam  nas  veias  nova  vida,  mo- 
vendo-me  por  um  impulso  quasi  irresistível  a  prostrar-me  e  adorar  n'este  vasto 
templo  da  natureza  a  fonte  e  a  causa  da  existência. 

«Como  estivemos  largo  espaço  em  contemplação,  não  pude  passar  metade 
do  tempo,  que  eu  desejava  n'esta  aeria  e  solitária  sumidade.  Baixando  por  om 
caminho  sofTrivelmente  commodo,  que  serpeia  entre  as  rochas  em  muitas  e 
irregulares  curvas,  seguimos  por  algumas  milhas  em  trilho  estreito  sobre  os 
cumes  de  eminências  marinhas  e  agrestes  até  ao  convento  de  cortiça,  que 
corresponde  exactamente,  no  primeiro  relance  d'olhos,  à  pintura  que  se  pôde 
imaginar  da  vivenda  de  Robinson  Crusoé.  Da  banda  de  fora  da  entrada,  que 
formam  dois  enormes  rochedos  proeminentes,  que  se  tocam  pêlos  cimos,  es- 
tende-se  um  macio  terreirinho  de  relva  tosada  pelo  gado,  cujos  tintinnabulos 
me  recordam  antigos  dias  decorridos  em  meio  da  rústica  pai7agem  dos  Alpes. 
O  eremitério  e  suas  cellas,  a  capella,  o  refeitório,  tudo  é  cavado  no  mármore 
nativo,  e  guarnecido  de  cortiça  de  sobreiro;  em  muitas  partes  não  ó  só  o  forro 
do  tecto,  mas  também  o  soalho  recamado  do  mesmo  material,  extremamente 
macio  e  agradável  ao  piso.  Os  arbustos  e  as  plantas  de  jardinagem  dispersos 
entre  as  rochas  musgosas,  que  jazem  na  mais  silvestre  desordem,  são  coisa 
deleitosa,  e  muito  gostei  de  explorar  aquelles  recantos  e  voltas  seguindo  o 
curso  d'um  regato  transparente  e  rumorejante,  que  é  conduzido  por  um  ca- 
nal rústico  atravez  de  moitas  de  alfazema  e  alecrim  do  verde  mais  mimoso. 

«O  guardião  d'este  romântico  retiro  é  apresentado  pelos  Marialvas,  e  n'este 
dia  era  a  sua  posse,  de  modo  que  tão  instados  fomos  para  o  jantar,  que  não 
pudemos  desculpar-nos;  como  era  ainda  muito  cedo,  cavalgamos  com  o  intuita 
de  vér  a  famosa  arriba  marítima,  chamada  Pedra  de  Alvidrar,  que  é  um  dos 
objectos  mais  notáveis  d*este  famigerado  promontório.  Levava-nos  o  nosso  ca- 
minho pelas  beiras  dos  arvoredos  próximos  da  deleitosa  villa  de  CoUares  até 
outra  ordem  de  escalvadas  eminências,  que  se  dilatam  ate  á  costa  brava  do 
mar.  Cheguei  mesmo  ao  pino  do  rochedo,  que  é  de  grandíssima  altura,  e 
quasi  perpendicular.  Seguia-nos  uma  tropa  de  rapazes  alcançando  os  cavai- 
los;  e  cinco  dos  mais  taludos  desceram  com  todo  o  desembaraço  pelo  temero- 
so precipício;  um  d'elles^  especialmente,  baixava  de  braços  abertos,  e  como 
individuo  de  ordem  superior  aos  mais  e  á  natureza. 

«A  costa  marítima  é  o  que  se  pôde  chamar  pittoresco  consistindo  de  boja- 
mentos  muito  arrojados^  que  se  entremeiam  com  penedos  pyramidaes  uns 
apoz  outros  cm  perspectiva  theatral,  avístando-se  os  mais  remotos  coroados 
por  uma  torre  muito  alta,  que  serve  de  pharol. 

«Não  ha  termos  que  expliquem  a  suavidade  da  atmosphera  c  a  luz  pra- 
teada, que  o  mar  reflecte.  Da  orla  do  abysmo,  aonde  nos  demorámos  alguns- 


BE  425 

minatos  como  por  encantamento,  descemos  uma  ladeira  tortuosa,  obra  de 
meia  milha  até  á  praia.  Acbámo-nos  fechados  por  penedias  desordenadas  e 
varias  gratas,  amphitheatro  imaginoso,  que  não  havia  nenhum  mais  próprio 
para  suppor  os  brinquedos  das  nymphas  neptuninas.  Nunca  vi  angras  como 
estas,  tão  fundes  e  interceptados  esconderijos,  um  jogo  assim  da  linha  geral 
de  perfil,  e  também  nunca  ouvi  tão  valente  mugido  das  aguas,  que  investem 
com  acosta. 

•Não  admira  que  a  escandecida  e  susceptivel  imaginação  da  antiguidade 
(mthusiasmada  pela  paizagem  da  localidade,  os  persuadisse  a  que  tinham  visto 
as  conchas  dos  tritões  resoando  ao  entrar  nas  cavernas  marítimas;  e  por  isso 
alguns  dos  mais  auctorisados  e  antigos  luzitanos  positivo  declaram  que  não 
só  os  tinham  ouvido,  mas  também  visto,  e  despacharam  um  mensageiro  ao 
imperador  Tibério,  annunciando-Ihe  osuccesso  e  congratulando-o  por  tão  evi- 
dente e  auspiciosa  manifestação  da  divindade. 

«A  maré  começava  a  vasar,  e  deu-nos  licença  para  entrar,  não  sem  algum 
risco,  n'uma  caverna  de  pasmosa  altura,  cujos  lados  estavam  encrustados  de 
bellos  mariscos  e  de  uma  variedade  de  conchinhas  em  vários  grapos.  Contra 
algui»  ásperos  e  porosos  fragmentos,  não  distante  da  bocca,  por  onde  tínha- 
mos engatinhado,  as  ondas  empolavam-se  violentas,  arremettiam  para  o  ar, 
formavam  instantâneos  dóceis  de  espuma,  e  depois  escorriam  em  milhares  de 
regueiros  côr  de  prata.  As  vacillantes  espadanadas  da  luz  pelas  irregulares 
arcadas  batendo  nas  mais  sombrias  e  recônditas  cavernas,  o  crepúsculo  mys- 
terioso  e  húmido,  os  murmúrios  resonantes  e  quasi  todos  os  tons  musicaes, 
occasionados  pelo  embate  dos  ventos  e  das  aguas,  o  cheiro  activo  da  atmos- 
phera  impregnada  de  partículas  salinas  produzem  tal  desvario  dos  sentidos, 
que  eu  não  duvido  que  um  génio  poético  se  inclinasse  alli  á  crença  das  ap- 
paríções  sobrenaturaes.  Nã^  me  espanta,  por  isso,  a  credulidade  dos  antigos, 
e  só  me  maravilha  que  a  minha  imaginação  não  me  illudisse  similhantemente. 
Se  a  solidão  excitasse  as  nereidas  a  certifícarem-me  da  sua  existência  por  uma 
apparição,  não  faltaria  esta,  porque  todos  os  meus  companheiros  se  haviam 
trasmalhado,  deixando-me  inteiramente  só;  por  uma  hora  estive  recluso  do 
mundo  animado;  a  única  creatura  viva,  que  pude  depois  descortinar  foi  um 
arisco  corvo  marinho,  empoleirado  n'uma  rocha,  insulada  a  cincoenta  passos 
da  abertura  da  caverna. 

«Os  sons  complicados  e  susurros,  que  me  entraram  pelos  ouvidos,  atordoa- 
vam-me  a  ponto,  que  estive  alguns  momentos  sem  poder  distinguir  as  vozes 
de  Verdeil  e  D.  Pedro,  os  quaes  voltavam  d'uma  colheita  de  algas  e  con- 
chas, chamando-me  estrondosamente  para  montar  a  cavallo  e  reunir-nos  ao 
marquez  e  sua  comitiva,  que  todos  tinham  ido  à  missa  ao  conventlnho  da 
Serra. 

«Felizmente  as  pequenas  nuvens  soltas,  que  tínhamos  visto  do  cume  altis* 
simo  da  Pena,  em  vez  de  se  fundirem  no  firmamento  azul  haviam-se  conden- 
sado, e  nos  protegiam  contra  o  calor  do  sol.  Foi,  portanto,  deliciosa  a  caval- 
gata;  assim  que  nos  apeámos,  appareceu-nos  o  abbade  velho,  que  chegava  na 
occasião  com  Luiz  de  Miranda,  coronel  do  regimento  de  Gascaes,  cercado  de 


126  BE 

todo  o  synodo  de  frades,  piUorescos  quanto  podiam  tornal-os  as  cabeças  cal- 
vas e  as  barbas  venerandas. 

«Logo  que  o  marqnez  findou  as  suas  devoções,  serviu-se  o  jantar  no  gosto 
do  que  se  pôde  esperar  cm  Mequinez  ou  Marrocos;  cuscús  e  similhantes  mas- 
sas, saborosas  codornizes  e  pyramides,  de  arroz  coradas  de  açafrão.  A  nossa 
sobremesa,  emquanto  a  fructas  e  doces,  foi  mais  opípara;  nem  a  própria  Po- 
niona  se  envergonharia  de  trazer  no  regaço  pecegos  e  abrunhos,  como  os  que 
rolavam  com  profusão  por  cima  da  mesa. 

«O  abbade  parecia  animado  depois  do  jantar  pelo  espirito  de  contradicção, 
o  não  queria  conceder  que  o  marquez  ou  Luiz  de  Miranda  soubessem  mais 
da  corte  de  D.  João  V  do  que  da  de  Pharaó,  rei  do  Egypto.  Para  não  ensur- 
decermos aos  berros  da  disputa,  em  que  dois  ou  três  frades  com  vozes  de 
stentor  começaram  a  metter-se  com  vehemencia,  galgámos  D.  Pedro,  Verdeii 
e  eu  pelas  empinadas  moitas  de  medronheiros  e  murtas  até  um  terreirinho, 
alapctado  de  mimosa  relva,  que  á  mais  leve  pressão  recendia  com  perfumes 
suaves.  Alli  nos  sentámos,  acalentados  pelo  borborinho  das  ondas  distantes, 
(fue  rebentavam  na  penedia  da  praia,  que  de  manhã  tinhamos  visitado;  as  nu- 
vens passavam  vagarosamente  por  cima  dos  outeiros.  Os  meus  companheiros 
partiam  as  pinhas  e  davam-me  os  pinhões,  que  teem  agradável  sabor  de 
amêndoa. 

«A  tarde  ia  muito  adiantada,  quando  deixámos  este  pacifico  retiro,  e  fo- 
mos ter  com  o  marquez,  que  não  fora  capaz  de  accommodar  o  abbade;  o  ve- 
lho vozeador  appcUou  tantas  vezes  para  o  guardião  do  convento  em  defesa 
das  suas  opiniões,  que  eu  pensei  que  nunca  d'alli  nos  despregaríamos.  Afinal 
partimos,  c  divagando  entre  névoas  e  trevas  espaço  de  duas  horas,  chegámos 
exactamente  ás  dez  a  Cintra.» 

CARTA  XXllI 

PKHHA    %'BIIDK  —  CAnACTEREii    DA    VA^UTK  —  FESTAS 

22  de  seteinbro  de  4787. 

« Quando  me  levantei,  a  névoa  encobria  os  cabeços,  e  o  mar  distante  apre- 
sentava o  seu  azul  esplendido. 

«Não  obstante  esperar  algumas  visitas  de  consideraçiío,  procedentes  de 
Lisboa,  a  manhã  convidava  tanto  que  não  pude  resistir  a  montar  a  cavallo, 
depois  de  almoço,  correndo  o  risco  de  não  estar  presente  á  sua  chegada. 

«Tomei  a  estrada  deCollares.  O  ar  estava  deliciosamente  sereno  e  fragran- 
te, algum  chuvisco,  que  havia  pouco  cairá,  refrescou  toda  a  superfície  do  ter- 
reno, e  coloria  os  alcantis  para  Já  da  Penha  Verde  de  purpura  e  esmeralda;  a 
numerosa  tribu  das  urzes  começava  a  florescer;  e  os  pequenos  plainos  irre- 
gulares, sobre  os  quaes  pendem  tortuosos  sobreiros,  o  que  Ião  frequentemente 
se  encontram  por  aquelle  caminho,  viam-se  cobertos  agora  de  avantajados  ly- 
rios  brancos  raiados  de  carmezim. 

«Penha  Verde  é  de  per  si  um  sitio  agradável.  A  casa  de  campo  com  seus 
lecíos  baixos  e  chatos,  e  um  corpo  saliente  n'unia  extremidade,  assimilha-se 
exactamente  aos  edilicios  das  paizagens  de  Gaspar  Poussin,  diante  d'uma  das 


BE  427 

fronteiras  ha  um  jardim  quadrado  com  sua  fonte  no  meio,  e  nas  paredes  ni- 
chos occupados  por  bustos  antigos.  Acima  d'essas  paredes  variedade  do  arvo- 
res sobem  a  grande  altura,  e  compõem  uma  condensação  da  mais  rica  folba- 
gem.  Os  pinheiros,  que  pelo  seu  lustroso  verde  deram  o  epitheto  a  este  roche- 
do ponteagodo  sao  tão  pittorescos,  como  os  que  eu  costumava  admirar  tanto 
no  jardim  Negroni  em  Roma,  e  de  certo  tão  antigos  ou  talvez  mais:  a  tradic- 
çào  refere  que  foram  plantados  pelo  afamado  D.  João  de  Castro,  cujo  coração 
repousa  n'uma  capella  de  mármore  á  sua  sombra. 

«Quantas  vezes  aquelle  coração  heróico,  cmquanto  bateu  dentro  do  me- 
lhor e  mais  magnânimo  seio  humano,  se  ailligiu  depois  no  seu  socegado  re- 
tiro! Aqui  pelo  menos  aguardou  aquelle  repouso,  que  tão  cruelmente  lhe  ne- 
gava a  cega  perversidade  de  seus  mgratos  concidadãos  i 

«Estas  paisagens,  posto  que  ainda  encantadoras,  provavelmente  soíTreram 
grandes  mudanças  desde  o  tempo  do  heroe. 

«Temos  lido  que  os  fechados  bosques  desapparcceram,  e  com  elles  mui- 
tas das  nascentes,  que  alimentavam.  Fontes  archítectonicas,  alinhados  terra- 
ços, e  talhões  regulares  plantados  de  larangeiras  usurparam  o  logar  d'aquel- 
les  vergéis  silvestres  e  borbulhantes  ribeirinhos,  os  quaes  bem  podemos  sup- 
por  que  a  phantasia  lhe  representava  em  sonhos,  quando  distante  milhares  de 
léguas  do  seu  torrão  pátrio.  Essas  coisas  mudaram;  mas  os  homens  são  os 
mesmos,  que  os  do  tempo  d'elle,  egualmente  inseasiveís  á  voz  fervorosa  do 
puro  patriotismo,  e  egualmente  dispostos  a  vergar  de  rastos  sob  a  vara  da  cor- 
rompida tyrannia. 

«Impressionado  com  todas  as  recordações,  que  este  ioteressantissimo  sitio 
não  deixa  de  inspirar,  custava-me  separar-me  d'elle.  Uma  e  outra  vez  segui  os 
musgosos  trilhos,  que  vão  em  voltas  por  entre  sombrios  penedos  até  á  peque- 
na assentada  da  capella  funerária,  acima  da  qual  se  agitam  com  stridor  as 
copas  dos  pinheiros. 

«Não  vos  admirará  pois  que  eu  viesse  preoccupado  em  todo  o  camiaho 
para  casa,  d'aquelles  mysteriosos  susurros,  e  que  em  tal  disposição  não  me 
agradasse  ver  uma  procissão  de  seges,  e  uma  caravana  de  burros  encamluban- 
do-se  para  o  portão  da  minha  quinta.  É  certo  que  eu  estava  preparado  para 
esperar  considerável  alQuencia  de  visitas;  mas  aquillo  era  uma  inaundação. 

«Não  vos  envio  a  lista  da  companhia,  porque  vos  enfadaria  tal  individua- 
ção, como  a  mim,  uma  similhante  invasão  em  massa. 

«Basta  nomear-vos  dois  dos  principaes  caracteres,  o  piedoso  ancião,  conde 
de  S.  Lourenço,  e  o  prior  de  S.  Julião,  um  dos  principaes  validos  do  arcebis- 
po confessor,  e  pessoa  de  muito  respeito.  Acontecendo  estar  sobre  a  mesa  a 
biblia  hoUandeza  de  Mortier,  folhearam-na  de  um  modo  muito  grosseiro.  Eu 
que  aborreço  ver  os  livros  enxovalhados,  e  as  estampas  com  as  nódoas  da 
pega  de  um  pollegar  besuntado,  ralhei  ao  conde  velho,  e  lancei  um  olhar  se- 
vero ao  prior,  que  debruçava  todo  o  seu  peso  clerical  sobre  o  volume,  e  do- 
brava os  cantos  das  paginas.» 


128  BE 

CARTA  XXIV 

•Não  posso  abonar  a  eradição  do  prior,  mesmo  em  matérias  ecclesiast}* 
cas,  ^  pois  que  elle  positivamente  afiirmava  ter  sido  o  próprio  Henrique  YIII 
que  flzera  saltar  os  miolos  de  S.  Thomaz  Becket  (ou  de  Gantuaria),  e  que  na 
besta  do  Apocalypse  era  Luthero  claramente  designado.  Aborreço  altercações, 
e  se  não  tivessem  besuntado  as  minhas  estampas,  eu  nunca  contradiria  sua 
reverencia,  mas,  como  me  achava  um  tanto  fora  da  minha  pachorra,  rdsaixeio 
me  um  pouco  em  a  opinião  do  conde  acertando  a  verdadeira  data  do  assassí- 
nio de  S.  Thomaz,  e  com  argumentos  soíTrivelmente  especiosos  arredando  de 
Luthero  os  comos  da  besta,  e  pespegando-os  muito  tesos...  em  quem  pensaes 
que  seria?..  Em  Ecolampadio.  Um  nome  tão  comprido,  e  que  elles  provavel- 
mente nunca  tinham  ouvido  pronunciar  em  sua  vida,  dando  outro  exemplo 
do  triumpho  do  som  sobre  a  intellígencia,  abafou  a  disputa. 

«Éramos  ao  todo  uns  trinta  ao  jantar,  e  apenas  começava  a  sobremesa  ^eiu 
Berti  dizer-me  que  a  senhora  Arriaga  e  um  rancho  de  doozellas  do  paço  cor- 
riam a  quinta  a  cavallo  em  galizianos  burros;  apressei-me.a  ir  encontral-as; 
eram  D.  Maria  do  Carmo  e  D.  Maria  da  Penha,  com  seus  cabellos  fluctuando 
sobre  os  hombros  e  os  grandes  e  bellos  olhos  tão  espertos  e  desmquietos  co- 
mo os  de  uma  antílope.  Mandei  apromptar  o  cavallo,  e  galopámos  pelas  lame- 
das,  roçando  por  folhas,  fructos  e  flores;  cada  sopro  da  viração  nos  conduzia 
os  sons  dos  oboés  e  trompas  da  musica  da  sala.  As  senhoras  mostravam  de- 
leitar-se  infínito  com  a  novidade  e  isenção  d'esta  sortida,  e  pesava-lbes  que 
tão  pouco  durasse,  porquanto  ás  sete  eram  obrigadas  a  voltar  ao  imprescrepti- 
vel  serviço  da  rainha,  e  sendo  a  pena  da  desobediência  algum  extravagante 
conto  de  fadas,  mctamorphosc  em  abóbora  ou  pepino,  era  forte  o  seu  cuidado 
e  anciã,  quando  bateu  a  fatal  hora  das  sete;  felizmente  não  tinham  de  ir  lon- 
ge, porque  sua  magestadc  e  a  real  familia  estava  tudo  reunido  na  quinta  de 
Marialva  a  participarem  de  uma  esplendida  merenda,  c  verem  o  fogo  d'artífl- 
cio  n'um  conchegado  camarim,  que  tem  vista  para  o  grande  pavilhão,  cuja 
festiva  c  phantasiosa  scena  ganhava  realce  pelas  luzes  de  innumeraveis  velas 
de  cera,  que  dos  lustres  de  crystal  para  todos  os  lados  reflectiam.  A  peque- 
nina infanta  D.  Carlota  estava  empoleirada  n'um  sophá  conversando  com  a 
marqueza  e  D.  lienriqucta,  que  ao  modo  oriental  se  haviam  sentado  no  chão 
de  pernas  encruzilhadas;  uma  ranchada  de  damas  de  honor  commandada  pela 
condessa  de  Lumíarcs  íicava  a  pouca  distancia  na  mesma  postura;  a  negrinha 
anã  e  valida,  que  chamam  D.  Rosa,  vestida  de  escarlate  mui  vivo,  não  tão  fol- 
gazã como  eu  tive  o  gosto  de  a  ver  no  seu  aposento  de  fada,  estava  agora  mais 
sentimental  encostada  á  porta,  fazendo  gaifonas  a  um  esbelto  moiro  da  casa  do 
luarquez. 

«Então  a  rainha,  seguida  do  sua  irmã  e  nora,  a  princcza  do  firazil,  levan- 
tou-se  da  merenda,  c  tomou  logar  em  frente  da  gelozia,  por  detraz  da  qual  eu 
oíilava  collocado;  as  suas  manoiras  me  fizeram  impressão  por  serem  caracte- 

í  PanBrama,  vol.  xiv,  pag.  io8. 


BE  i29 

riaUeas  de  magestade  e  agrado;  parece  nascida  para  mandar,  mas,  ao  mesmo 
tempo,  para  fazer  aqaella  samma  aactoridade  mais  querida  qae  temida.  A 
justiça  e  clemência,  mote  ou  divisa  tào  enormemente  mal  applicada  na  ban- 
deira da  detestável  inquisição,  pode  ser  ti*ansferida  com  a  mais  restricta  ver- 
dade para  esta  boa  princeza.  Durante  a  fatal  contenda  entre  a  Inglaterra  eas 
colónias,  a  prudente  neutralidade,  em  que  ella  perseverou,  foi  do  mais  vital 
beneficio  para  os  seus  dominios,  e  até  agora  o  commercio  nacional  portuguez 
tem-se  elevado  sob  os  benignos  auspícios  da  rainha  a  um  gráo  de  prospera 
4ade,  que  nao  tem  precedentes.  Nada  excede  o  profundo  respeito  e  corteza- 
nia,  que  a  sua  presença  inspira.  O  conde  de  Sampaio  e  o  visconde  de  Ponte 
de  Lima  ajoelharam  perante  as  augustas  personagens  com  veneração  nada  in- 
ferior, cuido  eu,  á  dos  mahometanos  ante  o  tumulo  do  seu  propheta,  ou  os  tar- 
faros  acatando  o  DalaíLama;  só  o  Marialva,  que  tomou  o  seu  logar  do  lado 
opposto  a  sua  magestade,  parecia  conservar-se  no  seu  usual  desembaraço  e 
modo  alegre.  O  príncipe  do  Brazil  e  D.  João  figuravam  estar  enfastiados,  por- 
que estavam  encolhidos,  com  as  mãos  mettidas  nas  algibeiras,  as  boccas  em 
perpetuo  bocejo,  e  os  olhos  vagueando  de  objecto  para  objecto  na  pasmaceira 
de  regia  ociosidade. 

«A  etiqueta  mais  rigorosa  encerra  os  infantes  de  Portugal  dentro  dos  seus 
palácios,  e  raro  se  oncontram,  mesmo  de  incógnito,  misturados  com  a  socieda- 
de geral;  por  isso  aquelles  seus  lisongeiros  sorrisos  ou  os  coníidenciaes  boce- 
jos não  se  desperdiçam  em  observadores  vulgares.  Este  modo  de  embalsamar 
príncipes  na  vida  não  é  por  iim  de  tudo  má  politica;  reveste-os  d'uma  appa- 
rencia  sagrada;  concentra  a  sua  real  essência,  mui  fácil  de  evaporar-se  pela 
franca  exposição  ao  ar  livre. 

«Deitadas  as  ultimas  peças  de  fogo  partiram  a  rainha  e  infantes.  A  mar- 
queza  e  as  outras  senhoras  desceram  ao  pavilhão,  onde  tomámos  uma  refei- 
ção magnifica  e  verdadeiramente  real.  D.  Maria  e  sua  irmã  pequena,  anima- 
das pela  illuminação  deslumbrante  tropeçavam  nos  leves  vertidos  de  caça  com 
toda  a  folgança  e  brinquedo  d'umas  fadas,  taes  como  cu  as  supponho  desci- 
das das  nuvens  iluctuantes,  que  Piiiement  representou  tão  excellentemente 
nas  suas  pinturas  a  fresco.» 

CARTA  XXIV 

A  HÉ  —  O  €0?í«l£JfTO  DOM  CaETA^OS — O  POKTA  BOCAQK 

8  de  novembro  de  1787. 

«Verdcil  e  eu  ralhávamos  das  calçada;»  desconjuntadas  indo  esta  manhã 
no  meu  coche  tosco  de  viagem  com  o  objecto  de  fazer  exercício;  o  pretexto 
da  nossa  digressão  era  vermes  uma  notável  capella  embutida  de  jaspe  e  lápis 
lazuli  na  egreja  de  S.  Roque;  mas,  quando  chegámos,  celebravam-se  três  ou 
quatro  missas,  e  não  havia  uma  creatura  assaz  desoccupada  para  correr  a  cor- 
tina, que  cobre  o  altar,  de  maneira  que  voltámos  com  cara  de  parvos. 

«Não  tendo  ainda  visto  a  Sé  nos  encaminhámos  para  aquellebairro.  É  um 
edificio  de  dimensões  nada  maravilhosas,  estreito  e  sombrio,  sem  comtudo  ser 
respeitável.  O  terremoto  reduziu  a  pó  as  suas  magoiiiceucias,  se  é  que  as  teve 
Toaio  i  9 


130  BE 

e  Ião  e^MwiUiifamfme  despedaçoQ  as  capdlas,  de  que  está  iacnisUdo,  que 
mui  lenoes  Testigíos  se  podem  perceber  de  terem  Idlo  parle  d'ama  mes- 
quiU. 

«Posto  qoe  não  foase  movido  de  esperança  alguma  de  grandes  coisas»  ape- 
sar das  descrípções  das  Tíafcos  e  obras  topo|;r4ilika6,  qoe,  cmbo  os  lí^^ 
pariatOy  e  de  linhagem,  tem  affèctoosa  índínaçio  para  figomem  ser  aigoma 
coisa,  o  que  na  realidade  está  próximo  do  nada,  indaguei,  segondo  fu  o  via- 
jante  diligente,  pintaras  e  ornatos  de  aMares,e  os  tamaio5,eiiâo  posso  biaa»- 
nar  de  descoberta  aigoma.  Certo  nâo  dispenderiamos  moito  tempo  eom  o 
que  por  aUi  harâ;  mas  os  padres  e  sacristães  pegaram  de  nós  «^itàMift  qas 
de  noTO  examinasseosos  o  recanto  do  vão  d'ama  escada,  onde  estio  para  ao 
beijarem  e  yenerarem  os  signaes  dos  dedos  de  Santo  Antónia.  Parece  qae  o 
santo  veodo-se  apertado  pdo  pae  da  moitira  e  origem  do  mal,  gravou  o  aí- 
gnal  da  croz  n^oma  parede  do  mais  duro  mármore,  e  assim  poc  pomo  ã  Uê^ 
tacão. 

«Tkido  isto  era  assombroso;  porém  nada  em  comparação  com  algumas  bíi- 
lorias  relativas  a  certos  corvos  sagrados.  «Existem  os  mesmos  pasBaros»  Abo 
om  sacristão.  «O  qoe!  (retroqaei-lbe)  os  próprios,  qae  acompanharam  S.  Yí« 
cente?  «Exactamente  não,  (foi  a  resposta  segredada  ao  oavidoX  mas  os  aeos 
mimediatos  descendentes*  «Muito  bem  (lhe  disse),  ainda  n'esta  tarde,  quom- 
do  Deos,  virei  fazer-Ibe  os  meus  comprimentos,  e  em  boa  companhia;  por 
agora  adeos.» 

«O  ponto,  onde  em  segoida  nos  dirigimos,  foi  ao  convento  dos  llieatiaos. 
Demos  orna  vista  d*olbos  á  livraria,  qoe  ainda  jaz  na  mesou  confono,  em 
qae  a  deixoa  o  terreoMto,  metade  dos  livros  tonibados  aos  sobre  os  ootros 
montões  pulverulentos.  Um  frade  esperto  e  activo,  qae  me  disseram  ter 
pto  uma  historia  da  Casa  de  Bragança,  ainda  não  impressa,  goioo  os  nossos 
passos  n*estc  cabos  de  liUenUura,  c  depois  de  procorar  meia  hora  algmnas 
viagens  curiosas,  que  desejava  mostrar-nos,  levon-nos  á  soa  cella,  e  chamoo 
a  nossa  attenção  para  um  gabinete  de  medalhas,  que  com  soa  diligfB&da,  e 
alguma  despeza  havia  coUigido. 

«Não  sentindo  em  mim  vocação  para  iovesligaçòes  numismáticas,  deixei 
Vcrdeil  com  o  frade  abarbados  com  algumas  legendas  duvidosas,  e  foi  reero* 
tar  de  improviso  quem  me  acompanhasse  a  vér  os  corvos  sagrados.  Encon- 
trei primeiro  o  abbade  Xavier,  depois  o  Cimoso  missionário  pregador  da  Boa 
Morte,  logo  o  grâo-prior  e  por  ultimo  o  marquez  de  Marialva.  D.  Pedro  pedia 
que  não  o  deixassem  ficar  de  fora,  de  maneira  que  fomos  com  o  coche  todo 
cheio,  e  eu  conduzi  toda  a  carrada  a  jantar  em  minha  casa. 

<  Vordeil  já  estava  de  volta  acompanhado  do  reverendo  antiquário  das  me- 
dalhas, e  lambem  tinha  arrebanhado  o  governador  de  Goa,  D.  Frederico  ds 
Sousa  Calbariz,  e  o  seu  constante  companheiro,  um  fanfarrão  saboyano,  oa 
piemontez,  por  nome  Lucatelli,  o  tambom  um  mancebo  pallido,  de  compké^ 
fraca,  de  olhar  e  modos  excontricos,  o  sr.  Manuel  Maria,  a  mais  fora  dk>  com- 
mum,  mas  talvez  a  mais  original  da^  creaturas  poéticas  formadas  por  Deus. 
Succedeu  achar-sp  n'uma  d'aqii»41a5  dis|>osiçõe:'  do  e>pirilo,  de  enlhasiasmo  e 


BE  131 

de  ^exaltação,  que  á  similhança  do  sol  no  pino  do  inverno,  brilham  quando 
menos  se  espera;  milhares  de  ditos  agados,  de  expansões  de  alegria  zombe- 
teiray  de  repetes  satyricos,  disparava-os  de  chofre,  de  modo  qae  todos  andá- 
vamos a  tombos  com  riso;  mas,  quando  começou  a  recitar  algumas  das  suas 
composições,  nas  quaes  a  profundeza  de  pensamento  se  mistura  com  os  ras- 
gos mais  patheticos,  senti-me  abalado,  commovido.  Em  verdade,  pôde  dizer-se 
que  este  caracter  extravagante  e  versátil  possue  a  verdadeira  varinha  de  con- 
dão, com  que,  a  seu  bel  prazer,  anima  ou  petrifica. 

«Percebendo  o  quanto  me  altrahia,  disse-me: 

«Não  esperava  que  um  cavalheiro  inglez  se  dignasse  prestar  alguma  atten- 
(^  a  um  versejador,  moço,  obscuro  e  moderno.  Vós  outros  julgaes  que  nao 
temos  outro  poeta  senão  o  Camões,  e  que  o  Camões  não  escreveu  coisa  digna 
de  memoria  senão  os  Lusíadas.  E  tem  um  soneto  que  vale  metade  dos  Lusía- 
das. Nenhuma  imagem  de  belleza  campestre  escapou  ao  nosso  divino  poeta; 
e  qoão  sensivehnente  se  transportam  da  paizagem  para  o  coração!  Que  en- 
cantadora melancolia,  como  os  derradeiros  raios  do  sol  no  occaso,  se  diffun- 
de  em  toda  aquella  composição!  Se  eu  valho  alguma  coisa,  fez-me  este  so- 
neto o  que  sou;  mas  que  sou  eu  comparativamente  com  Monteiro?  Julgae, 
continuou  elle  entregando-me  alguns  versos  manuscriptos  d'este  auctor,  de 
que  os  portuguezes  são  vehementes  partidários;  posto  que  façam  impressão 
e  sejam  sonoros,  devo  confessar  que  o  soneto  de  Camões,  e  muitos  dos  pró- 
prios versos  do  sr.  Manuel  Maria  me  agradaram  infinitamente  mais;  todavia 
é  certo  que  eu  não  estou  bastante  iniciado  na  força  e  formas  da  linguagem 
*  portngneza  para  ser  juiz  competente. 

«O  nosso  jantar  foi  alegre  e  do  bons  convivas;  á  sobremesa  o  abbade  apre- 
sentou uma  immensa  bandeja  de  fructas  seccas  e  doces,  que  um  dos  seus 
esmo  e  clncoenta  protegidos  lhe  mandou,  não  me  lembra  de  que  exótica  re- 
filo. Todas  estas  iguarias  elle  reservava  para  nos  mandar,  querendo  quasi 
empurral-as  por  nossa  goela  abaixo,  como  se  fossemos  perus,  e  elle  gallinheiro 
eojo  modo  de  vida  dependesse  de  nos  cevar  bem.— t  Já  vistes  (disse  eUe)  em 
parte  alguma  tão  admiráveis  producções?  A  nossa  rainha  tem  milhares  de  lé- 
guas de  pomares,  e  rochas  de  oiro  e  diamantes^  as  riquezas  o  fertilidade  de 
seus  domínios  não  tem  limites,  e  também  o  mar,  o  próprio  mar  deve  perten- 
eer-Dos,  se  vos  apraz,  pois  que  temos  immensos  meios  para  construcçào  naval, 
mastros  de  duzentos  pés  d'a]tura,  madeiras  incorruptivcis,  corajosos  marinhei- 
ros. D.  Frederico  vos  pôde  contar  as  proezas  d'alguns  do  nossos  hcroes  ainda 
nio  ha  muito  tempo,  contra  os  gentios  em  Gou;  os  vossos  John  Bulis  não  são 
metiide  tão  activos,  nem  metade  tão  valorosos. 

«E  assim  por  diante  blazonando  e  ensurdeccudu-uos.  Em  patrióticas  ja- 
ctâncias e  gabos  nenhuma  nação  leva  a  melhor  aos  portuguezes,  e  nenhum 
portagaez  ao  abbade. 

«Afinal  evaporados  estes  louvores  e  gozos,  partimos  equilibrados  nas  azas 
da  santidade  a  satisfazer  nossa  obrigação  para  com  os  corvos  bentos.  Desde 
tempo  immemorial  está  consignada  certa  quantia  para  mantença  de  dois  pás- 
saros d'aqueila  oppccie,  c  os  achámos  commodaraontc  aquartelados  n'um  es- 


132  BE 

conderijo  da  claostra  adjacente  á  cathedral,  bem  nutridos,  e  de  certo  mui  de- 
votamente venerados. 

t  Jà  era  tarde,  quando  nós  chegámos,  e  os  plumosos  santiOcados  se  tinham 
empoleirado  tranquíllamente;  mas  os  sacristães  à  espreita  de  que  chegássemos, 
assim  que  nos  viram,  offlciosamente  os  âzeram  levantar.  Gomo  estavam  na* 
tridos,  nédios  e  lustrosos!  A  minha  admiração  por  seu  tamanho,  plumagem  e 
retumbantes  grasnidos  receio  eu  que  me  fez  passar  os  limites  do  sagrado  de- 
coro; quando  estendia  a  mão  para  afagar-lhes  as  pennas,  o  missionário  re- 
primiu-me  com  um  solemne  olhar  prohibitivo.  Os  mais  da  companhia,  sabe- 
dores  do  cerimonial  próprio,  guardavam  respeitosa  distancia,  em  quanto  o  sa- 
cristão e  um  padre  desdentado,  curvo  pelos  annos,  enflavam  um  rosário  de 
milagrosas  anédoctas  concernentes  aos  actuaes  corvos  bentos,  os  seus  imme- 
diatos  antecessores,  e  outros  que  em  tempos  remotos  os  precederam. 

CÁ  todas  estas  sobrenaturaes  narrações  parecia  o  missionário  estar  attento 
com  implicita  fé,  e  nunca  abriu  os  beiços,  emquanto  nos  demorámos  na  claos- 
tra senão  para  fortalecer  a  nossa  veneração^  e  exclamar  com  pia  compostura 
—honrado  corvo!  Creio  que  estaríamos  até  á  meia  noite,  se  não  viesse  um  pa- 
gem de  sua  magestade  chamar  o  marquez  de  **#  e  o  seu  capellão. 

c  Satisfeita  a  minha  curiosidade  peio  que  tocava  aos  corvos  bentos,  facil- 
mente me  persuadiu  o  grãoprior  a  retirar-me  e  passear  as  ruas  princípaes 
para  vôr  as  luminárias,  por  festejo  do  parto  da  infanta  consorte  de  D.  Gabriel 
de  Hespanha,  que  deu  á  luz  um  príncipe.  Era  grande  a  multidão  de  ociosos, 
que  vagueavam  pelos  mesmos  sitios,  ^  por  isso  andávamos  com  difflculdade, 
e  por  pouco  esteve  que  não  saltassem  fora  as  rodas  da  nossa  carruagem,  quan- 
do tentou  abrir  caminho  um  anaehronico  e  arrevezado  coche,  pertencente  a 
uma  dignidade  da  sé  patriarchai.  Nào  tenho  de  que  espraiarme  em  louvores 
a  respeito  das  iliuminaçõos,  mas  alguns  foguetes  deitados  do  Terreiro  do  Paço 
causaram-me  admirarlio  pela  altura  a  que  subiram,  e  o  extraordinário  numero 
de  transparentes  estreilas  azues,  que  espargiam.  Os  porluguezes  primam  nos 
fogos  de  artificio,  tendo  gasto  muito  e  muito  dinheiro  em  levar  à  perfeição 
esta  arte  o  fallecido,  baboso  e  beato  monarcha. 

t  Do  Terreiro  do  Paço  fomos  agrando  praça,  onde  está  o  palácio  da  inqui- 
sição; ahi  achámos  immensa  multidão,  á  qual  três  ou  quatro  pregadores  ca- 
puchos apregoavam  as  glorias  e  illuminaçòes  do  outro  c  melhor  mundo.  Teria 
prestado  alguma  attcnção  aos  seus  discursos,  que  pelas  amostras,  que  conheço 
seriam  repassados  de  fogo  e  phrcnesi,  se  o  grào-prior  com  seu  perpetuo  medo 
de  rheumatismo  se  nào  queixasse  do  ar  da  noite;  e  por  isso  recolhemos  a  ca- 
sa. Todos  os  aposentos  estavam  mornos  com  a  evaporação  das  luzes  de  cera, 
que  em  boa  fé  se  poderiam  chamar  lavarcdas;  enfadado  sacudi  a  fumaça,  e 
abri  as  jancllas.  Saindo  o  grào-prior,  veiu  Polycarpo,  o  famoso  tenor,  que  no* 
entreteve  com  algumas  árias  de  vigor  c  pasmosa  volubilidade  antes  da  ceia,  a 
durante  cila  em  estylo  egualmenle  profcssional  com  muitas  anecdotas  particu- 
lares da  alta  nobreza, c dos  principacs  empregados, que  decerto  não  lhe  crao3 
avoravcis.» 


BE 


133 


CARTA  XXV 

DiTAQAÇÃO  no  YALLB  BB  COU.ARR0  —  CAMINHADA  AO  ALTO  DA  SBBKA 

19  de  novembi'0  de  1787. 

<Â  minha  saade  melhora  ^  de  dia  para  dia;  o  tempo  sereno  e  jucando, 
qne  vamos  disfractando  esperta  a  sensação  da  existência;  ando  a  cavallo,  pas- 
seio, subo  ladeiras,  quando  e  por  onde  me  apraz,  sem  me  fatigar;  o  valle  de 
Gollares  ministra-me  objectos  de  perenne  recreio;  tenho  descoberto  variedade 
de  trilhos,  que  por  entre  castanheiros  decotados  e  pomares  conduzem  a  pe- 
quenos rocios  de  formas  irregulares  c  relvosos,  e  ahi  loireiros  nascediços  e 
balsas  de  limoeiros  bracejam  livremente  acima  da  beira  pedregosa  d'um  re- 
gato, lai^ando  flor  e  fructo  na  corrente  d'agua.  Podeis  andar  milhas  pelas 
margens  doeste  arroio  deleitoso,  aproveitando  intermináveis  perspectivas  de 
moitas  floridas  nos  espaços,  que  deixam  os  choupos  e  castanheiros.  A  paisa- 
gem é  de  certo  a  dos  Campos  Elysios,  e  tal  qual  os  poetas  designam  para  re- 
pouso das  almas  bemaventuradas. 

«Os  musgosos  fragmentos  de  penedia,  os  brutescos  toros  de  arvores  e  pon- 
tes rústicas,  que  encontraes  a  cada  passo,  traçam  na  imaginação  a  Saboya  e 
a  Soissa;  porém  a  apparencia  exótica  da  vegetação,  o  verde  lustroso  dos  li- 
moeiros, os  doirados  pomos  da  laranjeira,  os  palmitos  da  murta,  a  rica  fra- 
gaoda  dos  torrões  guarnecidos  de  cores  as  mais  brilhantes  e  das  mais  aromá- 
ticas flores,  levavam-me  a  acreditar  sem  violento  esforço  da  phantasia,  que 
me  achava  nos  jardins  das  Hespérides,  e  esperava  ver  surdir  um  dragão  de- 
baixo de  cada  arvore.  Não  me  passava  pelo  pensamento  abandonar  estes  riso- 
nhos sitios,  e  vinte  vezes  n'este  dia  estive  para  revogar  as  ordens,  que  dera 
para  a  minha  jornada. 

«Quaesquer  que  fossem  as  objecções,  que  eu  pozesse  à  demora  em  Portu- 
gal, desvaneciam-se,  quando  resolvia  deixal-o;  porque  é  tal  a  depravação  da 
natureza  humana,  que  as  coisas  nos  parecem  mais  estimáveis  precisamente 
na  oceasião  em  que  vamos  perdel-as. 

«Havia  esta  manhã  um  brando  luzeiro  dos  raios  do  sol,  e  uma  balsâmica 
saudade  do  ar,  que  idfundiam  o  voluptuoso  desleixo,  o  desejo  de  ficar  en- 
deusado n*um  logar  deleitavel,  como  em  as  ficções  clássicas  se  presume  tor- 
narem-se  deslembrados  da  pátria,  dos  amigos  o  de  todas  as  obrigações,  os 
que  provaram  o  lótus.  O  que  eu  sentia,  não  era  dissimilhante,  repugnava-me 
a  idéa  de  retirar-me  d'alli. 

«Não  obstante  haver-mc  embrenliado  n'estes  formosos  pomares  pouco  de- 
pois de  nascer  o  sol,  os  campanários  de  algumas  egrejas  distantes  bateram 
horas  apoz  horas,  primeiro  que  eu  me  vencesse,  e  decidisse  largar  os  odori- 
ficos  6  ramosos  loireiros,  debaixo  dos  quacs  me  recostava. 

«Se  as  sombras  frescas  e  fragrantes  assim  convidam  a  repousar,  devo  tam- 
bém dizer  que  não  ha  veredas  mais  azadas  para  tentar  a  passeio  os  individues 
ainda  os  mais  mandriões,  do  que  os  caminhos,  que  d^aqui  abrem  para  todos 

>  Panorama  de  18o7  (xiv),  png.  338. 


134  BE 

os  lados,  e  são  compostos  (i'ttma  areia  macia  e  onxuta,  tão  ligada  e  compacta, 
que  forma  ama  soperOcíe  dura  como  cascalho. 

«Estes  trilhos  plalnos  vão  em  voltas  por  entre  um  labyrintho  de^Bsbeltis  e 
viçosas  arvores  fructiferas,  amcRdoeiras,  abrunheiros  e  gingeiras,  lembrando 
as  lamedas  de  Tonga-taboo,  como  as  vemos  descriptas  nas  viagens  de  Gook;  e 
para  angmento  de  símilhança,  tapumes  bem  compostos  de  canavial  e  telheiros 
baixos  colmados  de  caniços,  que  se  descortinam  por  intervallos,  quebrando 
as  linhas  horisontaes  das  perspectivas. 

iDilatei-me  e  vadiei  muito  a  meu  sabor  quasi  toda  a  manhã;  mas,  posto 
que  a  minha  illusão  me  afigurasse  como  um  habitante  dos  Elysios,  quanto  o 
podia  auctorisar  a  paisagem,  e  o  clima  inspirar,  não  podia  consíderar-me  in- 
dividuo tão  ethereo,  que  existisse  sem  alimento;  para  fallar  claro  a^chei-me  es- 
fomeado; e  as  peras,  marmelos  e  laranjas  baloiçadas  sobre  a  nunha,  eabega 
não  eram  tão  succosas  e  gratas  ao  paladar,  como  se  esperaria  da  sua  promel- 
tedora  apparencia. 

«Estando  embrenhado  mais  d'nma  milha  na  floresta  sem  guia,  nem  lem- 
brança do  caminho,  por  onde  me  safasse,  demorei-me  meia  hora  pelo  menos 
a  cogitar,  por  onde  voltaria.  Os  telheiros  e  cercados,  que  mencionei,  estavam 
feitos  com  diligencia  e  até  primor;  porém  mostravam  não  ter  outros  moradOf 
res  senão  uns  bandos  de  gallinhas  de  Java,  pavoneando-se,  e  destruindo  os 
ovos  e  as  esperanças  de  muitas  familias  de  insectos.  Estas  aves  lustrosas  go« 
mo  as  suas  eguaes,  descriptas  nas  viagens  de  Anson,  que  animam  as  proAia- 
das  solidões  da  ilha  de  Tinian,  parece  não  terem  dono. 

«Porfim,  quando  eu  começava  a  desejar-me  com  todas  as  veras  n'ama  re- 
gião menos  romântica,  ouvi  os  sons  grossos,  porém  não  desentoados  d'ama 
forte  voz  feminina,  retumbando  pelas  ruas  cobertas  de  vecejantes  arcadas;  a 
esse  tempo  vinha  saindo  um  mancebo  camponez,  robusto  e  corado,  mui  pitto- 
rescamente  vestido  de  pardo  e  escarlate,  tangendo  uma  besta  muar,  carregada 
com  dois  enormes  cestos  d'uvas.  Pedir  um  quinhão  da  sua  preciosa  carga  e 
cumprimentar  o  garrido  conductor,  foi  acto  instantâneo  da  minha  parte,  mas 
baldado.  Respondeu-me  piscando  os  olhos  de  matreiro :— Pertencemos  ao  sr. 
José  Dias,  que  tem  a  quinta  d'aqui  meia  legua;  se  o  senhor  quizer  vir  por  este 
caminho,  indo  sempre  seguido  sem  desgarrar-se,  nem  para  a  direita  nem  para 
a  esquerda,  lá  chegará  breve;  e  afoito-me  a  dizer-lhe  que  o  feitor  terá  gosto 
em  lhe  dar  quantos  cachos  appeteça,  Deus  lhe  dé  bons  dias;  que  vou  tratar 
da  minha  vida. 

«E  assentando-se  entre  os  cubiçosos  cestos  partiu  n'um  instante.  Eu  tíve 
a  boa  fortuna  de  ir  parar  direito  ao  portal  d'um  muro  de  pedra  secca,  que 
torneava  de  alto  a  baixo  irregular  e  rusticamente  alguns  oiteiros  matagosos; 
porém,  se  o  exterior  do  cercado  era  desabrido,  e  não  promettia  coisa  boa;  da 
banda  de  dentro  apresentava-se  o  mais  aprazivel  painel  de  opulência  rural, 
vendo-se  ordenhar  as  vaccas  e  as  cabras  em  quantidade,  os  fomos  d*onde  s6 
estavam  tirando  grandes  e  gostosos  pães  e  bolos,  fileiras  de  colmeias  e  uns 
como  alpendres  sobre  pilares,  todos  forrados  de  cachos  purpurinos  e  do  loiro 
moscatel,  meio  passados,  dispostos  em  pendura  para  seccar. 


BE  135 

<Um  jovial  6  clássico  magistei-  pecm^um,  maioral,  seguido  por  tluis  càes 
bem  eosinados,  inda  que  de  olhar  bravio,  e  que  um  teve  aceno  de  seu  dooo 
nao  deixava  ladrar,  saudou-me  cordealmente,  e  com  sincera  hospitalidade  nâo 
só  me  franqueou  a  sua  fazenda,  mas  até  aodou  mostrando  o  melhor  d'ella.  Á 
porfia  dois  ou  três  rapazes  bochechudos,  de  cabelloemmaranhado,  contendiam 
a  qual  primeiro  havia  de  trazer-me  nozes  recem-descascadas,  taças  de  leite,  e 
queijos  frescos,  fabricados  pelo  melhor  modo,  isto  é,  ao  uso  do  Alemtejo. 

tSenti-me  tão  abstracto  do  mundo,  n'este  retiro,  tão  perfeitamente  trans- 
portado aos  primitivos  tempos  patriarchaes,  que  não  me  recordo  de  ter  jamais 
gosado  umas  poucas  de  horas  de  placidez  mais  deleitosa.-— Aqui  (disse  para 
edmmigo)  estou  livre  do  reboliço  das  cortes,  dos  cerimoniaes,  dos  ciunpri- 
meotos  e  visitas  da  tabeliã,  e  das  palraçòes  de  golhilheiros.  Mas  ah  t  quanto  o 
qoe  pensamos  e  dizemos  para  comnosco,  falha  noventa  e  nove  vezes  em  cada 
eentot 

Qaando  bemdizia  a  minha  estrella  por  esta  trégua  no  molesto  tumulto  da 
vida,  qne  tenho  levado,  desde  que  sua  magestade  chegou  a  Cintra,  súbito  me 
sâtteoa  do  socegado  recanto,  em  que  entrara,  e  dissipou  todas  as  mmhas  iiln- 
sões  ama  estrondosa  vozeria  acompanhada  de  esteiros  dos  látegos  e  do  estre* 
pito  dos  cavallos.  Luiz  de  Miranda,  coronel  do  regimento  de  Gascaes,  confi- 
dente e  mui  valido  do  príncipe  do  Brazil,  investiu-me  com  um  sem  numero 
da  corteses  queixas  por  eu  ter  desamparado  o  Ramalhão  na  própria  manbã 
era  que  elle  vinha  com  tenção  de  jantar  commigo,  e  propor  para  depois  da 
comida  um  passeio  a  cavallo  até  um  especial  ponto  da  serra,  sobranceiro,  pelo 
qoe  me  assegurou,  a  uma  vista  como  eu  ainda  não  tivera  a  fortuna  de  desco- 
brir em  Portugal. 

•Ainda  não  é  muito  tarde;  (disse),  trouxe  os  nossos  cavallos,  que  achei  im- 
padentes  e  pateando  debaixo  da  sombra  d'uma  grande  arvore,  á  entrada 
doestas  mesquinhas  azinhagas.  Venha:  e  por  Deus  faça-me  favor  de  pôr  pé  no 
estribe,  que  eu  fico  que  se  dará  por  bem  compensado  com  a  paizagem,  que 
voa  patentear-lhe. 

«Como  era  destino  meu  ser  perturbado  e  empurrado  para  fora  do  elysio, 
em  qae  me  embrenhara  nas  ultimas  sete  ou  oito  horas^  não  importava,  em 
qae  postara,  se  a  pé,  se  a  cavallo,  annui  por  isso,  e  logo  mettemos  a  trote.  Os 
cavallos  eram  seguros  e  firmes  de  cascos,  senão,  bem  creio  que  rolaríamos 
pelos  precipícios  abaixo;  o  nosso  caminho,  se  pôde  dar-se  o  nome  de  cami- 
nho, onde  nenhum  ha,  levou-nos  por  zigs-zags  e  atalhos  em  subidas  Íngremes 
cosia  acima  por  espaço  de  três  ou  quatro  léguas,  até  chegarmos  a  um  ermo, 
em  qae  só  crescem  orzes,  onde  ama  cruz  solitária,  sobresaindo  d'entre  os 
matos  açoitados  pelos  temporaes  marca  o  mais  elevado  ponto  d'ésta  agreste 
emineiicia;  am  dos  mais  dilatados  conspectos  de  mar,  campos  e  montanhas 
distantes  desenrolou-se  repentinamente  aos  nossos  olhos  admirados,  toman- 
do-se  ainda  mais  vasto,  aéreo,  incommensuravel  em  razão  do  illusivo  e  ma- 
gico vapor,  qae  cercava  o  sol  no  occaso. 

«Tendo  gosado  por  alguns  momentos  o  effeito  geral,  comecei  a  distinguir 
08  principaes  objectos,  quanto  podiam  desenhar-se  atravez  da  névoa  deslum- 


136  BE 

brante,  encadeada  com  os  raios  derradeiros  do  asiro  laminoso.  Segui  o  curso 
do  Tejo  desde  a  sua  foz  até  ondo  se  derrama  em  esteiros  apaulados  para  além 
de  Lisboa;  por  outro  lado  avistei  Cascaes  com  os  seus  lanços  de  muralha  e 
quartéis  á  prova  de  bomba,  similhando  uma  cidade  mourisca,  e  com  auxilio 
d'um  bom  óculo  divisei  uma  crescida  palmeira  campeando  sobre  uma  pi- 
nhota  de  casas  caiadas. 

cMuito  bem  (disse  ao  meu  guia)  este  painel  tem  de  certo  bellezas  dignas 
de  serem  contempladas;  porém  não  tanto  que  me  faça  esquecer  de  que  é 
roais  que  tempo  de  voltar  a  casa  e  refrescarmos. 

«Nem  tanta  pressa  (foi  a  resposta);  ainda  temos  muito  para  vér. 

«Tendo  adquirido,  nem  posso  dizer  porque,  nem  como,  um  habito  á  moda 
dos  carneiros  de  ir  por  onde  vào  os  outros,  dei  de  esporas  atraz  d'elle  por 
uma  áspera  ladeira  abaixo,  juncada  de  bastos  seixos  e  calhaus  soltos:  ao  cabo 
d'esta  descida  se  estende  para  todas  as  bandas  um  chão  raso,  medonho,  quei- 
mado do  sol.  Desmontando  o  fazendo  alto  por  alguns  minutos  para  dar  respiro 
aos  cavallos,  não  pude  eximir-me  de  observar  que  tudo,  que  estávamos  ven- 
do, muito  mal  pagava  o  risco  de  partirmos  a  cabeça,  baixando  a  cavallo  por 
tão  rápidos  declives.  Elle  sorriu-se,  e  perguntou-mc  se  não  divisava  coisa  In* 
teressante. 

«Agora  sim  (lhe  tomei)  percebo  a  distancia  quasi  d'um  quarto  de  milha 
uma  espécie  de  caravana,  objecto  que  não  deixa  de  ser  curioso;  aquelles  ran- 
chos de  gente  vestida  de  côr  encarnada,  com  suas  armas  lustrosas,  e  azemolas 
carregadas,  e  aquelles  toldos  listrados,  esticados  e  seguros  nos  muros  velhos, 
oíTerecem  exactamente  uma  pintura  do  que  se  poderia  vér  nos  arredores  do 
Cairo. 

«Venha  cá  (me  disse)  é  tempo  de  lhe  aclarar  o  mysterio,  e  explicar-lho 
porque  nos  demos  ao  trabalho  de  tão  longa  e  fadigosa  cavalgada.  A  carava- 
na, que  se  lhe  afigura  tão  pittoresca,  compõe* se  dos  creados  da  comitiva  do 
príncipe  do  Brazil,  que  foi  passar  todo  o  dia  n*uma  caçada,  e  é  agora  o  mo- 
mento de  descançar  alguma  coisa  à  sombra  dos  toldos,  que  acolá  estão.  Foi 
por  desejo  do  príncipe,  que  vos  conduzi  aqui,  tendo-me  incumbido  de  vos  ma- 
nifestar o  gosto  que  teria  de  meia  hora  de  conversação  vossa,  sem  ser  obser- 
vado, inantendo-se  rigorosamente  incógnito.  Paòseae,  como  se  andásseis  co- 
lhendo plantas,  ou  tirando  esboços  do  paisagem;  assim  se  fará  saber  a  sua 
alteza  real,  c  encontral-o-heis  como  por  acaso  e  sem  formalidade  alguma; 
ninguém  se  chegará  tão  perto,  que  oiça  uma  só  palavra  do  que  ambos  disser- 
des, porque  eu  me  postarei  a  distancia  pelo  menos  do  cem  passos,  c  afastarei 
todos  os  espreitadores  o  intromeitidos.» 

Terminam  aqui  as  viagens  do  Bcckford  traduzidas  no  Panorama^  nem 
posso  dar  ulterior  informarão  a  rospoito  do  rosto,  pelo  motivo,  que  disse  no 
principio  dVslc  artigo— o  nunca  ter  deparado  com  um  exemplar  inglez. 

Emquaulo  poróni  â  outra  obra  do  mesmo  auctor  Jornadas  a  Alcobaça  e 
Batalha,  d'ella  existe  um  o.xemplar  na  Bibliothoca  Publica  de  Lisboa.  É  livro 
muito  inleressanto,ed'ello  (como  lambem  disso)  se  serviu  o  nosso  romancis- 


BE  137 

U  Rebello  da  Silva  para  composição  do  seu  lindo  romance  Lagrimas  e  The- 
90uro$,  cnjo  taeroe  é  Beckford. 

Bedíford,  depois  de  vér  todas  as  preciosidades  guardadas  em  Alcobaça, 
desejava  dar  nm  passeio  para  ver  os  campos  próximos,  embora  o  calor  esti- 
vesse na  saa  maior  força.  «Quereis  vós  então  vér  nossas  colheitas,  lhe  per- 
gunta o  frade,  que  lhe  servia  de  guia,  enfadado:  olhae  porém  que  os  coelhos 
agora  estão  todos  a  dormir,  e  que  é  crueldade  ir  acordal-os.  (Pag.  5i).  Beck- 
ford insistiu,  e  depois  de  o  frade  o  ter  acompanhado  por  algum  tempo,  dei- 
xou-o  sosinho,  e  foi-se  deitar  debaixo  d'uma  arvore. 

O  viajante  inglez  diz  que  um  dos  portaes  da  Batalha  lhe  trouxe  á  memoria 
WíUiam  of  Wydeham,  e  a  nave  lhe  fez  recordar  Winchester  e  Amiens. 

Como  já  se  disse,  esta  viagem  é  muito  mteressante,  e  bem  digna  de  ser  tra- 
dozida  em  portuguez. 

Rebello  da  Silva  serviu-se  também  d'esta  ultima  obra  para  a  composição 
do  seu  já  mencionado  romance.  ' 

96)  BEGIN  (EMILE). 

E.  —  Voyage  Pittoresque  en  Espagne  et  en  Portugal  par  — .  Auteur  du 
Voyage  Pittoresque  en  Suisse,  Illustrations  de  Mrs,  Rouargue  Frères.  Paris, 
Belin-Leprieur  et  Morizot,  editours,  4.<',  556  pag.  com  um  grande  numero  de 
estampas  sobre  assumptos  hespanhoes. 

(Viagem  pittoresca  em  Hespanha  e  Portugal.) 

A  viagem  a  Portugal  é  descripta  desde  pag.  537  d'este  volume  até  549, 
acompanhada  d'uma  estampa,  que  diz  representar  Lisboa.  Nada  porém  nos 
apresenta  este  livro,  que  seja  digno  de  especial  menção. 

Paliando  de  Lisboa  diz-nos:  «Que  nenhum  local  podia  ser  melhor  es- 
colhido, que  o  d*esta  cidade  para  o  desenvolvimento  magestoso  d'uma  capi- 
tal: abraça  sete  coliinas,  tendo  cada  uma  seu  valle  intermediário.  O  Tejo  oíTe- 
reee  alli  duas  milhas  inglezas  de  largura  na  sua  parte  mais  estreita,  e  até  nove 
na  mais  espraiada.  Uma  bahia  tão  bem  situada  poderia  tomar  Lisboa  a  metró- 
pole commercial  de  meio  dia  da  Europa,  se  alli  se  encontrasse  um  milhão  de 
liabitantes  em  logar  de  tresentos  mil.» 

«Que  homem  de  génio  n'este  paiz  se  resolverá  a  entrar  n'uma  carreira  de 
abnegação,  para  ser  calumníado,  perseguido,  como  o  infante  D.  Henrique  pa- 
ra acabar  miserável  como  o  almirante  Pacheco,  como  Gamões:  ou  para  vege- 
tar esquecido  como  o  pintor  Glama,  reduzido  a  fazer  taboletas  de  tavernas; 
como  o  esculptor  Machado  de  Castro,  e  como  o  fundidor  Costa,  auctores  d'uma 
estatua  equestre  de  Joseph  I,  digna  de  rivalisar  com  as  mais  bellas  obras  do 
ultimo  século?*  (Pag.  539.) 

97)  BEKE  (CHARLES  TILSTONE)  -  Viajante  inglez. 
Nasceu  no  anuo  de  1810.  ^ 

E.  --  Mémoire  justificaiif  eii  faveur  des  pères  Paéz  e  Lobo.  Paris,  1848. 

^  Vapereatt  —  Dietionnaire  des  contemporainSf  paf^.  ISO- 


138  BE 

(£  uma  (lefeza  da  opinião  (l'estes  padres  a  respeito  das  nascentes  do  Nilo.) 
«Em  tempo  de  Felippe  11  de  Portugal  ^  se  descoMa  o  occollo  e  nota?^ 
nascimeoto  do  rio  Nilo  em  12  gráos  da  linha  Equinocial,  da  parte  do  norte  na 
AlMtssia  por  diligencia  e  observação  dos  padres  da  Companhia  de  Jíesos, 
coisa  de  qoe  não  havia  até  os  nossos  tempos  noticia  certa,  e  qae  orrava  toda 
a  oosmographia,  que  tratava  do  nascimento  d*este  grande  rio;  porém  depois 
que  o  patriarcha  de  Ethiopa,  D.  Âflònso  Mendes,  e  outros  padres  doutos^  que 
n'aquellas  partes  assistiram,  fizeram  observação,  se  soube  a  certexa,  de  que  fi- 
zeram a  este  reino  relações  fidedignas,  dando  noticias  do  nascimento  do  rio 
Nilo,  de  suas  catadupas,  e  da  grande  lagoa  Dambea,  e  de  outras  coisas  notá- 
veis, do  que  já  tem  saido  livros  em  mais  dilatado  estylo.» 


98) 

E.—  Viriath  nnd  die  iMitanier.  Âitona,  1826. 

(Viriato  e  os  Luzitanos.) 

99)  BELCHER  (SIR  EDWARD). 

E.  ^  Directian  for  the  river  Douro,  London,  1835. 
(Direcção  para  o  rio  Douro.) 

100)  BELL  (JOÃO)  —  Negociante  inglez,  residente  em  Lisboa. 

£.  —  Taboa  mostrando  o  vcUor  da  moeda  de  oiro  e  prata  do  remo  de 
Portugal^  desde  o  remado  do  Senhor  Rei  D.  Dnarie  até  o  anno  de  1806. 

São  uns  cinco  mappas,  que  vêem  na  2.*  parte  do  vol.  3.»  das  Memorias  da 
Academia  Real  das  Sctendas  de  lishoa.  (Âono  de  1812.) 

A  respeito  doeste  trabalho  diz  Manuel  Bernardo  Lopes  Fernandes:  «O  nego- 
ciante inglez  João  Bell  publicou  umas  taboas  com  os  nomes,  pezos,  e  valorei 
exactos  das  moedas  portuguezas,  somente  do  reino,  desde  tempo  do  senhor 
D.  Duarte  até  o  anno  de  1806,  e  parece  que  o  não  fez  dos  reinados  anteriorea 
talvez  faltando-lhe  os  necessários  esclarecimentos;  mas  apczar  d^algumas  opi- 
niões pouco  exaclas  dos  auctores,  que  elle  seguiu,  e  a  falta  de  conheeúnento 
de  bastantes  leis,  que  deveria  notar,  é  sem  duvida  a  obra  mais  regular,  que 
n'este  género  possuímos.  ^ 

101)  BELLERMAN  (CHRÊTIEN  FRÈDERIC)  -  LiUerato  allemão. 
Nasceu  em  Erfurth  em  julho  do  anno  de  1793. 

De  1818  a  1825  foi  pastor  da  egreja  evangélica  allemã,  em  Lisboa.  3    - 
E.  —  L  Die  alten  Liederbucher  der  Portngiesen,  Berlín,  1840. 
(Velhas  canções  portuguezas.)  ^ 

1  P.  de  Mariz  —  Diálogos^  pag.  1.32.  (Supplemenlo) . 

'  Memoria  das  moedas  correntes  cm  Portugal  desde  o  tempo  dos  umanos  até  o  anno 
de  1856,  pag.  22 

*  Yapereau  —  Dictionaire  des  Contemporains^  pag.  155. 

*  «Interesiianle e  conscienciosa  memoria.»  GarreU  ^Romanceiro,  vol.  1.*,  pag.  xxi- 


BE  ^^^ 

II.  Erinnerungen  aus  Súdeuropa.  Berlin,  185i. 
(Recordações  do  sul  da  Earopa.) 
IH.  Die  Rómische  allerthumei'  in  Portugal,  Beriín,  1851. 
.  (Aotiguidades  romanas  em  Portugal.) 

102)  BELLEBAT  (DE). 

E.  —  Relation  du  voyage  de  Monseigneur  André  de  Mello  de  Castra  à  la 
Caur  de  Rome  en  qualité  d'envoyé  extraordinaire  du  Roy  de  Portug,  i>.  /. 
V.  auprés  de  Sa  S,  Clément  XL  Paris,  1709,  foi. 

(Viagem  de  André  de  Mello  c  Castro  à  corte  de  Roma.) 

103)  BELLOY  PIERRE. 

E.  —  Declaratíon  des  droits  de  succession  legitime  sur  le  royaume  de 
Portugal,  appartenant  à  la  reine  mére  du  roi  três  chretien  Catherine  de 
Médids.  Montanban,  1581.  Anvers,  1582. 

(Declaração  do  direito  de  Gatharina  de  Medicis  á  coroa  de  Portugal.) 

104)  BELHAS  (J.)  —  Chef  de  Bataillon  du  Génie. 

E.  —  Joumaux  des  siéges  faits  ou  soulenw  par  les  Français  dam  la  Pe- 
nmsule  de  1807  à  1814,  rediges  d'apres  les  ordres  du  Gouvemement  sur  les 
documents  existant  aux  archives  de  la  guerre  et  au  depot  des  forti/ications. 
Paris,  Chez  F.  Didot,  4  vol.,  8.*»  gr.,  1836. 

(Cercos  postos  ou  sustentados  na  Peninsula  pelos  francezes.) 

105)  BEMBO  (PIERRE  DE). 

E.  —  Uhistoire  du  nouveau  monde  découvert  par  les  Portugallois,  Paris, 
1556. 

(Historia  do  Novo  Mundo  descoberto  pelos  portugnezes.) 

106)  BENDOCCI,  ou  BINDOCCI  (ANTÓNIO)  -  Advogado  e  poeta, 
natural  de  Síena,  na  Toscana,  i 

E. —  Carolo  Alberto  in  Oporto.  Poema. 
((Carlos  Alberto  no  Porto.) 

107)  BENEDICT  (JULES). 
E.  —  /  Portoghese  a  Goa. 

(Os  portaguezes  em  Goa.)  —  É  uma  composição  tbeatral. 

108)  BENTHAM  (JEREMIE)  —  Moralista  e  legislador. 

Nasceu  em  Londres  no  anno  de  1747,  e  falleceu  na  mesma  cidade  em 
1832.2 

E.  —  Essai  sur  la  situation  politiqfie  de  VRspagne,  sur  la  constitution  et 

1  Revista  Populary  vol  5.**,  pag.  S95. 

'  Firmin  Didol  —  Nouvelle  Bioçraphie  (Inivenelley  vol    5.",  pag.  40H. 


140  BE 

sur  le  nouveau  Code  Espaçnol,  sur  la  ConstittUion  de  Portugal  Sc.  Sc.  TrO' 
duU  de  l'Anglais,  precedes  d'observations  sur  la  rétxduHon  de  la  PeninsiUe 
et  sur  Vhistoire  du  gouvemement  représeníatif  en  Europe,  et  suivis  d'ume 
traductum  nouvelle  de  la  cansttíutwn  des  Cartes.  Paris,  1823,  8.»  XXXI^  S63 
pag.  6  mais  um  Supplemento  com  100  pag. 

(Sobre  a  sitoação  politica  do  Hespanha  e  constituição  de  Portugal.)  . 

É  uma  serie  de  cartas  dirigidas  ao  conde  de  Tereno  a  respeito  do  Código 
Hespanhol  e  da  política  de  Hespanha.  Bentham  censura  o  rigor  das  leis. 

«Lançae  os  olhos  para  Portugal.  Esta  nação  magnânima,  regenerada  hoje 
acaba  de  atirar  para  longe  de  si  o  duplicado  jugo  d'um  despotismo  domestico, 
6  d'um  despotismo  estrangeiro.  Fazendo-se  independente,  fez-se  livre.  P^sse-se 
na  extrema  apathia,  no  extremo  aviltamento  dos  opprimidos,  no  seu  silencio, 
na  sua  paciência,  na  sua  miséria;  pergunte-se-lhe  se  tanta  vergonha  e  lagrimas 
foram  pagas  com  uma  só  vingança.  EUa  responderá:  Não.» 

A  pag.  241  começa  a  carta  á  nação  portugueza.  Sou  fim  é  aconselhar  os 
portuguezes,  a  que  adoptem  para  seu  governo  a  constituição  baseada  na  repre- 
sentação nacional. 

109)  BERESFORD  (Lord  Viscouirr  G.  C.  B.)  —Genial  inglez. 
Nasceu  no  anno  de  1770. 

E.  —  I.  Strictures  on  c^ertain  passages  of  L.  Col.  Napier*s  Histary  of  Pe- 
ninsular War, 

(Reparos  sobre  certas  passagens  da  historia  da  guerra  peninsular  de  Na- 
pier.) 

II.  Further  structures. 

(Novos  reparos.) 

in.  Refutation  of  Col.  Napier's  Jusíi/icaiion.  London,  1831-1834,  3  voL, 
8.»  gr. 

(Refutação  da  justificação  de  Napier.) 

IV.  JMler  to  Charles  Edward  Long,  Esq.  on  the  extracts  recenlby  jm- 
blished  from  the  manuscript  Journal  and  private  correspondence  of  the  late 
lieut.  Gen.  R.  B.  Long.  London,  John  Murray,  1833, 8.",  61  pag. 

(Carta  sobre  o  diário  e  correspondência  de  Long.) 

Y.  A  second  letter  to  Charles  Edward  Long  Esq.  on  the  Ms.  Journal 
and  private  correspondente  ofthe  late  Lieut.  Gen.  R.  B.  Long.  London,  John 
Murray,  1834, 113  pag. 

(Segunda  caria,  etc.) 

110)  BERQERON  (LOUIS)  —  Jornalista  francez. 
Nasceu  em  Cliauny,  no  anno  de  1811.  ^ 

E.  na  fíibliotheque  Poimlaire,  impressa  era  Paris,  a  obra  seguinte: 

'  Firmin  Diílol  —  Nouvelle  fíiographie  Universellej  vol.  li.",  pag.  Íi08. 


BE  141 

tampa^nes  d*Espaçne  et  de  Portugal  sons  VEtnpire.  Paris,  1833. 
(Ê  nm  interessante  resomo  de  nossas  lactas  na  guerra  peninsolar.) 
«IVes  tentativas  desgraçadas  (diz  Bergeron)  bastaram  a  Napoleão :  parou 

na  presença  d'uma  fortuna  invencivel,  e  não  expõe  mais  suas  águias  ás  aíliron- 

las  no  território  portuguez.«  ^ 

• 

ili  BERJUMERA.  (D.  NICOLAU  DIAZ  DE)  —  Litterato  hespanhoh 
Escreveu  um  extenso  e  assaz  desenvolvido  trabalho  offerecido  á  Acadenna 
Real  das  Sciencias  de  Lisboa^  no  qual  examina,  e  discute  contra  D.  Paschoal 
de  Gayangos  (que  pretende  ser  o  celebre  romance  Palmeirim  de  Inglaterra^ 
de  origem  hespanhola),  a  questão  sob  todos  os  aspectos,  procurando  não  dei- 
xar de  pé  alguma  das  objecções  propostas  pelo  seu  iilustre  patrício.  Entre  as 
provas  que  apresenta,  não  é  talvez  a  de  menor  peso  a  que  resulta  da  confron- 
ta^ minuciosa,  que  fez  das  edições  portugueza  e  castelhana,  mostrando  com 
repetidos  exemplos  de  legares  parallelos,  que  a  segunda  não  passa  de  traduc- 
ção  pouco  esmerada,  e  por  vezes  menos  fiel  da  primeira.  2 

Em  1826  no  catalogo  dos  livros  hespanhoes  e  portuguezes  impresso  em 
Londres  por  D.  Vicente  Salva,  attríbue-se  a  paternidade  do  referido  romance 
ora  a  Miguel  Ferrer,  ora  a  Luiz  Hurtado:  o  que  se  lé  na  pag.  163  da  1.'  parte 
e  nas  156  e  157  da  2.*  Funda  se  para  arrancar  aos  portuguezes  a  palma  de 
Inglaterra,  conforme  a  expressão  do  immprtal  Cervantes,  em  sair  á  luz  o  livro 
hespanhol  em  1547,  e  o  portuguez  só  em  1567,  edição  de  Évora  por  André  de 
Burgos.  3 

A  edição  hespanhola  é  precedida  d'um  acróstico,  que  significa — Luiz  Hur- 
tado autor  ai  lector  dá  sadud.  E  d'aqui  tirou  por  consequência  também  Salva 
que  Luiz  Hurtado  era  o  auctor  do  romance,  sendo  elle  tão  somente  auctor  do 
acróstico,  no  qual  não  ha  belleza  de  estylo,  nem  coisa  que  cheire  a  poesia,  na 
qiiníão  de  Odorico  Mendes. 

Para  refutar  Salva  tomou  a  penna  o  escriptor  brazileiro,  e,  n'um  bem  ela- 
borado opúsculo  de  79  pag.  provou,  quanto  era  possível,  que  o  Palmeirim^  um 
dos  romances  mais  notáveis  devidos  á  penna  dos  portuguezes  fora  composição 
de  Francisco  de  Moraes,  e  que  Luiz  Hurtado  havia  sido  traductor  do  romance 
e  auctor  do  acróstico. 

D.  Paschoal  Gayangos  pesaroso  de  ver  a  litteratura  do  seu  paiz  privada 


<  «Napoleão  qaix  fazer  um  terceiro  e  ultimo  esforço  para  se  apoderar  de  Portugal, 
e  expulsar  d'elle  a  Wellington.  Mas  que  chefe  assaz  invencível  se  poderia  dar  a  esta  no- 
▼a  eipediçio?  Em  que  giande  general  repousavam  bastantes  esperanças  para  que  se  lhes 
podesse  pedir  uma  victoria  n'aquclle  paiz,  onde  Soult  e  Junot  tinham  Ceado  mal.  Este 
grande  general,  este  chefe  invencível  foi  Masscni,  a  primeira  gloria  do  exercito  francez 
abaixo  do  Napoleão,  o  filho  querido  da  victoria,  c  que  por  garantia  do  futuro  levava  com- 
sigo  suas  campanhas  da  Itália,  o  uma  reputação  militar  e  sem  mancha.»  (Pag.  95.) 

«  Sr.  Innocencio  Francisco  da  Silva— Dicctonario  BibliographicOy  vol.  9.%  pag.  360. 

s  Manuel  Odorico  í&euáQá  —  Opúsculo  acerca  do  Palmeirim  de  Inglaterra  e  de  seu 
auctor,  pag.  1. 


i42  BE 

d'ama  tão  befla  joía,  pobiicoa  em  1862  alguns  artigos  em  os  nomeros  2  e  3 
da  Revista  Espcnuda  âe  Madrid,  pretendeado  demonstrar:  i.<>  Que  vinte  an- 
no6  antes  que  em  Portugal  fosse  conhecido  o  Palmeirim,  saíra  este  á  luz  «m 
Toledo,  e  era  pouco  depois  traduzido  em  Trancez  e  italiano,  com  a  particula- 
ridade de  se  dizerem  ambas  as  versões  feitas  sobre  o  original  castelhano.  %.** 
Que  da  dita  obra  se  declarou  anctòr,  sem  que  ninguém  se  lhe  oppozesse,  um 
escriptor  toledano  (Luiz  Hurtado).  3."  Que  antes  de  1567  não  se  imprimiu 
aqueilaobra  em  Portugal,  e  na  primeira  edição  de  Évora  nem  sequer  se  lhe 
nomea  o  auctor.  4.*  Que  só  passados  vinte  annos,  e  quando  Moraes  já  era  fal- 
iecido,  foi  que  nm  livreiro  de  Lisboa  se  lembrou  de  reimprimir  o  Palmeirim 
fazendo-o  preceder  de  uma  dedicatória  de  Moraes  à  infanta  D.  Maria,  na  qual 
se  diz  por  modo  terminante  e  decisivo,  que  elle  e  não  outro  fora  o  auctor  do 
livro  em  questão. 

Todos  estes  argumentos  foram  pulverisados  pelo  sr.  D.  Nicolau  Diaz  de 
Beijumera,  e  parabéns  lhe  devem  os  amantes  da  litteratura  portngueza.  De  mo* 
do  que  Amadis,  uma  das  nossas  maiores  glorias,  é  attribuido  aos  hespanhoes, 
com  o  Palmeirim  succede  o  mesmo,  e  Dianna  deMontemayor  n'aquelle  idio- 
ma é  escripto.  E  não  será  lícito  dizer  que  nossos  antepassados  eram  desleixa- 
dos, e  negligentíssimos  em  legarem  a  seus  Olhos  aquellas  glorias,  que  de  di- 
reito lhes  pertenciam? 

E  de  nós  que  direi?  Tão  importantes  polemicas  litterarias  travadas  só  por 
estrangeiros,  e  em  que  os  portuguezes,  a  quem  cumpria  mais  do  que  a  nin- 
guém tomar  parte  n*e]las,  não  comparecem,  faliam  cloquentíssimamente  a 
nosso  respeito. 

112  BERMUDES  (FR.  JERONTMO)  —  Natural  de  Galliza  o  profes- 
sor eni  Salamanca. 

E.  —  I.  Nise  lacrimosa. 

(Tragedia,  cujo  ^umpto  é  a  morte  de  D.  Ignez  de  Castro.) 

n.  Nise  laureata, 

(Coroação  de  D.  Ignez  de  Castro.) 

Suscitou-se  uma  questão  Htteraria  muito  importante:  Se  a  tragedia  Iffnez 
de  Castro,  do  nosso  António  Ferreira  era  uma  traducção  ou  imitação  da  de 
Bermudes,  ou  se  a  d'este  era  copiada  ou  imitada  da  do  nosso  poeta. 

Martínez  da  La  Rosa,  porém,  sentenciou  o  pleito  a  favor  do  nosso  compa- 
triota, no  que  não  devia  ter  escrúpulos,  pois  António  Ferreira  em  vida  dava 
como  sua  a  Castro,  que  por  isso  lhe  valou  os  louvores  de  Diogo  Bernardes. 

Quem  desejar  tomar  conhecimento  d'esta  grave  questão  mais  a  fundo,  veja 
Diccionarto  Bibliographico,  vol.  l.M)ap.  HO  c  iil,  o  vol.  2.«,  pag.  143  a  146. 

113)  BERTELLETI  (DAVIDE). 

E.  —  Ignez  de  Castro.  Tragedia.  Milano,  1826. 

114)  BERTHOUD  (S.  HENRI). 

E.  —  Camoens  moarant.  ((iamòcs  moribundo  ) 


BI  143 

Pequeno  romance  acompanhado  d'ama  estampa,  qae  se  poblícoa  no  i.<* 
vol.  do  jornal  francez  Musée  des  Famiíles,  anno  de  1833. 

115)    BERTOLOTTI  (DAVIDE). 

E.  •—  Storia  di  Portogallo  tratía  dal  La  Clede,  dal  Vertot,  dal  DurdetU, 
dal  Batíri  e  da  altri  autori  per —cura  di  — .  In  continuazione  delia  Storia  Uni- 
neriale  scriUa  dagli  Autori  ipiu  distinti  conramie  carte  geografiche,  Nella 
sUmperia  di  Pio  Cipicchia,  3  vol.,  12,  Roma,  1833. 

(Historia  de  Portagal.) 

Existe  um  exemplar  d'esta  obra  na  Bibliotheca  Publica  de  Lisboa. 

ii6)    BERTOLOTTI. 

E.  —  Descrizione  delV  ornato  di  piítura  che  se  ammira  nella  capella  di 
S.  António  di  Padova,  nella  chieza  di  5.  Perónio,  Bolognia,  1662. 

(Descripção  dos  ornatos  das  pinturas,  que  se  admiram  na  capella  de  Santo 
António  de  Pádua,  na  egreja  de  S.  Petronio.) 

117)  BERTUCH  (FREDERIG  JUSTIN). 

E.--Magasin  der  Spanischen  wnd  Portugiestschen  litteratur,  herausge^ 
geben.  Weimar,  1780-1782,  3  vol. 

(Deposito  de  litteratura  hespanhola  e  portugueza.) 

118)  BES-CHRYVIN  van  Spanien  en  Portngat,  etc,  (Em  boUandez.) 
(Descripção  de  Hespanba  e  Portugal  contendo  os  pormenores  de  tudo 

quanto  seu  estado  passado  e  presente  oflereco  de  mais  interessante.  Leyde, 
1707,  foi. 

119)  BETENDORF  (P.  JOÃO  FILIPPE)  —  Antigo  missionário  do 
Brazil. 

E.  —  Compendio  da  Doutrina  Christã  na  lingua  Portugueza  e  Brasilica. 
Composto  pelo  P,  —  e  reimpresso  de  ordem  de  Sím  Alteza  Reat  o  Príncipe 
Regente  N,  S.,  por  Fr.  José  Marianno  da  Conceição  Vellozo.  Lisboa,  1800. 
Offlcina  de  Simão  Thaddes  Ferreira,  131  pag.,  12.« 

120)  BIANCARDI  (MIGUEL  ANDRÉ)  —  Padre  da  congregação  dà 
Missão  em  Portugal. 

Nasceu  em  S.  Martinho  de  Noagli,  no  arcebispado  de  Génova,  no  anno  de 
1772,  e  falleceu  cm  Lisboa,  cm  1842. 

Na  vida  d'este  missionário,  cscripta  pelo  padre  Jo:^  Cuelbo  da  Silva,  e  im- 
pressa em  1848  n'esta  cidade  de  Lisboa,  encontraram -se  algumas  poesias  mys- 
tycas,  compostas  na  lingua  portugueza,  pelo  padre  Biancardi. 

121)  BLA.NOHI  (FRANCISCO). 

E.  —  D.  Ignez  de  Castro,  Opera,  Londrcá,  1797. 


i44  BI 

i22)    BIELFELD  (DE). 

E. — Instiluciones  poíUicas,  obra  en  que  se  trata  de  los  reynos  de  PoT' 
tugal  y  Espana,  de  su  situación  local,  de  sus  posesiones,  de  sus  vecinos  y 
limites,  de  su  clima...  de  la  nobleza,  de  la  forma,  de  su  gobiemo,  de  sus  de- 
partamentos, dei  Soberano  y  de  sus  titulos,  de  la  sucesion  ai  trono,  de  sus 
exércitos  &c.  Aumentada  de  muchas  notas  por  D.  VcUentin  de  Forenda. 
Bordéus,  1781, 4.« 

(Descripção  de  Portugal  e  Hespanha.) 

i23)    BIERING  (CHRISTIAN  HENRI). 

E.  —  Poetiske  Tauher  over  Ldssabons  Undergang.  Copenhague,  1756. 

(Pensamentos  poéticos  sobre  a  destruição  de  Lisboa.) 

124)  BIGOT  (STANISLAS)  —  Ingénieur  eiva.      '^ 

£.  —  Pont  suspendu  de  Porto.  Détails  des  travaux,  smvi  de  trais  pian- 
ches  explicatives.  Lisboa,  na  typographia  de  Morando,  1843,  4.^  23  pag. 

(Ponte  pênsil  do  Douro.) 

Por  este  relatório  se  vé  que  a  solemnidade  para  o  começo  dos  traballuM 
foi  celebcada  a  2  de  maio  de  1841,  com  assistência  das  auctoridades  do  Porto 
e  que  a  ponte  (cujo  comprimento  é  de  ITO^jU)  assenta  sobre  quatro  obeliscos 
de  18"  de  altura,  ligados  dois  a  dois  na  sua  parte  mais  alta  por  tlranles  de 
ferro.  O  rio  Douro  por  debaixo  d'eila  tem  a  largura  de  155*°.  Abriu-se  á  cir- 
culação publica  em  fevereiro  de  1843,  e  foi  concessionário  doesta  empresa  o 
conde  de  Giaranges  Lucotte,  e  engenheiros  Staniislas  Bigot  o  Amódée  Car- 
ruelte. 

125)  BIOTA  (D.  ANTÓNIO    DE  FUERTES  Y). 

E.  —  Anti-nmnifestio  6  verdadera  declaracion  dei  derecho  de  los  Senores 
reyes  de  Castilla  a  Portugal.  A  la  Sacra  y  Real  Magestad  dei  rey  D.  Phi» 
lippe  IV.  Escrivelo  —.Bvuyàs  de  Flandres,  lGi3,4." 

(Direito  dos  reis  de  Castclia  á  coroa  de  Portugal.) 

126)  BIRAGO  (GIO:  BAT)  -  Jurisconsulto  italiano,  que  vivia  na  pri- 
meira metade  do  século  xvi.  * 

E.  —  Historia  delle  revolutione  di  Porfogallo  per  la  quali  la  corona  é  trans- 
ferita  dei  re  di  Castiylia  ai  dura  di  Uraganza  Giovanni  IV.  Génova  1646> 
Leone  1646. 

(Historia  das  revoluções  de  Portugal.) 

Ha  uma  edição  que  apparece  mencionada  com  o  seguinte  titulo:  Historia 
delia  desunione  dei  regno  di  Portwjallo  dalla  corona  di  Castiglia.  Amster- 
dam,  1646. 

No  catalogo  manuscriplo  da  livraria  do  condo  de  Lavradio  apparece  men- 


'  Firmin  l)i«lol  —  j>out;W/f  liioijraphir  rníiYn.7'V,  \ol.  í.".  piic.    115. 


cionada  oatra  edição  d'esta  ultima  obra,  impressa  em  Âmsterdam  no  anno 
de  I6i6. 

Encontrei  ainda  uma  outra  dada  por  impressa  em  Lugduni,  1644. 

117)    BIBAOV&&. 

E.  —  Responsio  Juridicopolitica  ad  librum  inscriptum  Jura  Joannis  IV, 
PofiugaUiae  Regis  á  a  livio  Giotta  á  in  qua  jfrimo  rejiciuntur  praeten- 
ikmes  inhantium  corona  Portugalliae,  Âugustae  Vindelicomm,  1644,  4.*.  Em 
latmi  e  italiano. 

(Resposta  juridicopolitica  contra  o  livro  intitulado  Jura  Joannis  IV  Por- 
tugaUiae  Regis.) 

128)  BLAIRIE  (OLLIVIER  DE  LA). 

E.  —  Usbonne  et  les  Portugais,  par  — .  Paris,  1820. 
(Lisboa  e  os  portuguezes.) 

129)  BLANOHINO  VERONENSI  (JOSEPHO)  —  Presbytero  Con- 
gregationis  Oratoríi  Sancti  Philippi  Nerii  de  Urbe.) 

E.  —  Evangeliarium  quadruplex  Latinae  Versionis  antiquae  seu  Veteris 
Italicae  nwnc  primum  in  lucem  editum  ex  Codicibus  manuscriptis  oureis, 
argenteis,  purpureis  aliisque  plus  quam  millenariae  antiquUaíis  sub  aus- 
picOs  Joannis  V  Regis  Fidelisstmi  Lusitaniae,  Algarbiarum  &c,  a — .  Rom», 
1748,  4  Yol.  foi. 

Dá  noticia  doesta  obra  o  Journal  des  Sçavants  de  1750  a  pag.  308.  É  uma 
impressão  dos  Evangelhos  feita  sobre  manuscriptos  antiquíssimos,  debaixo 
dos  auspícios  do  nosso  D.  João  V. 

130)  BLANO  (SIEUR  VINCENT  LE  — ). 

E.  —  L^  voyages  du  —  dans  la  plupart  des  pays  de  fAsie  et  dans  des 
Indes  Orientales. 

(Viagem  na  maior  parte  dos  paizes  da  Ásia,  e  das  ^ndias  orientaes.) 

Esta  obra  apparece  citada  na  Vida  de  Camões,  quS  precede  a  traducçào 
dos  Luziadas  por  Ortaire  Foumier  et  Desaules  (pag  xxxvi). 

Trata  da  índia  portugueza. 

131)  BLANEY  (Lobd). 

E.  —  Narrative  of  a  forced  Joumey  through  Spain  and  Portugal,  3  vol. 
(Descripção  de  marcbas  forçadas  atravez  de  Hespanha  e  Portugal.) 

132)  BLAZE  (HENHI). 
E.  — Don  Sebastian, 

Romance  publicado  no  Muséc  des  Familles  (anno  de  184i,  vol.  li.»)  acom- 
panhado de  duas  estampas. 

133)  BLONDXN  (J.  N.)  —  Sccrétaire- interprete  á  Ia  Bíbliotheque  du 

TOMO  1  10 


146  BL 

Roi,  aiUeur  de  dl  verses  grammaires  dediées  á  S.  M.  Louis  XYlll;  d'uu  Ma- 
noel de  Ia  pureté  da  langage,  adopte  comme  classique  dans  le  CoUégo  Royai 
de  la  MariDc,  etc. 

E.  —  Grammaire  Polyglotte,  Franraise,  Latine,  Italiennc,  Espaçnole,  Por- 
higaise  et  Anglaise;  Dam  laquelle  ces  diverses  langues  sont  consíderées  tous 
le  rapport  du  mécanisme  et  de  Vanalogie  propões  à  chacune  d*elles.  De- 
diée  au  BoL  Seconde  edition.  Paris,  Gbez  Brianchoo,  líbrairo,  i826,  4.% 

ill  pag. 

(GraiDinatica  Polyglotta-latinaportugueza.) 

134)  BLOUNT  (EDWARD). 

E.  —  The  historie  of  thc  uniting  of  the  kingdom  of  Portugal  to  lhe  crown 
of  Castile.  LondoD,  1610. 

(Historia  da  união  do  reino  do  Portugal  á  coroa  de  Castella.) 

135)  BLUTEAU  (D.  RAPHAEL). 

Nascea  em  Londres  a  4  de  dezembro  de  1640,  ^  e  faiieccu  em  Lisboa  a 
13  de  fevereiro  de  1734,  sendo  então  Propósito  dos  regulares  de  S.  Caetano, 
n'esta  cidade. 

Apezar  de  estrangeiro  foi  elle  quem  compoz  o  primeiro  diccionario  com- 
pleto do  nosso  idioma  com  o  seguinte  titulo: 

L  Vocabulário  Portuguez  e  Latino,  AulicOj  Anatómico,  Architeciamco, 
Bellico,  Botânico,  BrazUico,  Cómico,  Critico,  Chimco,  Dogmático,  Dialéctico, 
Dendrplogico,  Ecclesiastico,  Etymologico,  Económico,  Florifero,  Forense,  Fru- 
ctifero,  Geographico,  Geometnco,  Gnomonico,  Uydrographico,  Homonymio,  Hie- 
rologico,  Ichtyologico,  Indico,  Isagogico,  Laco7tíco,  Ltturgico,  Uthologico,  Me- 
dico, Musico,  Meteorológico,  Náutico,  Numérico,  Neoteiico,  Ortliographico, 
Óptico,  Ornithologico,  Poético,  Philologico,  Phamiaceutico,  Quiddidativo,  Qua- 
litativo, Quantitativo,  Bhetorico,  Rústico,  Romano,  Synibolico,  Synonimico, 
Syllabico,  Theologico,  Terapêutico,  Technologico,  UramlogicOy  Xenophonico, 
Zoológico,  auctorisado  com  exemplos  dos  melhores  eseriptoí'es  portuguezes  e 
latinos,  e  offerecido  ael-rei  de  Portugal  D.João  F.  Tomo  1.*»,  Coimbra  1712, 
8  vol.  O  ultimo  tomo  fpi  impresso  em  1721,  foi. 

II.  Supplemento  ao  Vocabulário  Poitugucz  e  LiUino,  que  acabou  de  sair 
á  luz.  Amw  de  1721.  Lisboa,  1727,  2  tomos. 

Todos  estes  dez  volumes  custaram  dez  annos  de  trabalho  ao  seu  auctor. 

III.  Primiàas  Evangélicas  ou  sennões  e  panegyiicos  do  P.  D,  Raphael 
Bluteau.  Offeiecido  á  seienissima  alteza  de  Cosmo  Terceiro  duque  de  Tos- 
cana, Lisboa,  1676,  parte  2.»  1085,  parle  3.%  Paris  1698,  4." 

IV.  Sci-mõcs  panegyricoíí  c  dontrinacs,  Tomo  1.°,  Lisboa  1732,  louio  2.* 
1733.  foi. 

•  Xrchuo  PillorcòrOf  vol.  '^:\  pag.  201.  Porem  o  bi.  lnii(»(;niuio  diz  que  nascera  cm 
1638.  V.  Diccionario  Bihliograplnm,  >nl.  7.",  pa^;.  41  bfm  (omo  lambem  discrepH  em 
quanto  ao  dia  do  faliorinionlo 


BO  147 

V.  Prosíis  portuguezas,  recitadas  em  differentcs  canffi'essos  academcoi. 
Parle  !.•,  Lisboa  1718,  parle  2."  17Í8,  foi. 

VI.  Institicrão  sobre  a  cultura  da  atnoreira.  Coimbra,  1769. 

136)  BOA  (DARTIN  DE). 

E.  —  Fios  sanctorum:  fiestas  y  santos  de  Andalucta,  Castilla  y  Portu- 
çal^  Sevilha,  1615.  (Feslas  dos  sanlos  de  — .) 

137)  BOCAGE  (BARBIÉ  DU). 

Publicou  em  o  n.""  195  do  Moniteur  de  1807  uma  memoria,  lida  em  3  de 
junho  do  mesmo  anuo  em  sessão  publica  do  Inslíluio,  na  qual  pretende  pro- 
var que  a  costa  orieolal  da  Nova  Hollanda  foi  visitada  pelos  portuguezes  em 
1525,  muitos  annos  antes  que  o  capilào  C9ok  allí  abordasse  em  1770.  * 

138)  BOCANDÊ  (BERTRAND)  —  Naluralisla  e  viajante  francez. 
Nasceu  em  Nantes,  no  anno  de  1800.  Estabeleceu-se  em  Guiné,  e  escreveu.  ^ 
Noies  sur  la  Guinée  ou  Sénégambie  meridionale:  E  diversas  memorias  jm- 

blicadas  no  —  BuUetin  de  la  Societé  Geographique,  en  1849. 
(Notas  sobre  a  Guiné  portugueza.) 

139)  BOCANEGRA  —  (111.»»  Scnr.  D.  Francisco,  entonces  arcediano  de 
aquella  iglesia,  y  hoy  obispo  de  Guadix  y  Baza). 

E. —  Oracion  fúnebre  que  en  las  suntuosas  lumras  que  á  la  perpetua, 
digna,  bien  merecida  memoria  de  la  Senora  Dona  Maria  Anna  de  Áustria, 
rema  viuda  de  Portugal,  consagro  la  M.  N.  M.  L.  ciudad  de  Almeria,  con 
asistencia  dei  III/^  Cabildo  eclesiástico  de  ella,  en  los  dias  4  2^  5  noviembre 
dd  a«k>  1754,  dijo  et  — .  Con  licencia,  Madrid,  1770,  imprenta  de  F.  X.  Garcia. 

(Oração  fúnebre  de  D.  Maria  Anna  de  Áustria.) 

140)  BODIN  (HENRI  SOULANGE). 

E.  —  Histoire  de  Portugal  depuis  sa  separation  de  la  Castille  jusqu*à 
nos  jours,  par  Henri  Schaeffer  Professeur  d' Histoire  à  rUnivei'sité  de  Gie- 
zen.  Traduit,par  — .  Avec  une  note  sur  la  Chronique  inedUe  de  la  Conquêíe* 
de  Guinée  donnée  par  le  Vicomte  de  Santarém  de  VAcademie  Royale  des 
Sciences  de  Usbonne,  et  Membre  Coirespondant  de  l' Instituí  de  France,  Pa- 
Ti8,  Adolphe  Delabays,  libraire-editeur,  1858,  4.%  662  pag. 

A  traducçao  franceza  do  original  allemão  não  ficou  terminada. 

r 

«A  pesar  nosso  o  dever  e  a  justiça  requerem  acres  e  merecidas  censuras 
ao  traductor  francez.  Com  eíTeito,  se  pelo  dedo  se  conhece  o  gigante,  avaliare- 
mos logo  a  consciência  com  que  tal  versão  (antes  inversão)  se  perpetrou,  lendo 
na  capa  em  letras,  que  arremetlem  com  os  olhos  a  clausula  de  ser  feita  a  tra- 

I  BáWíí  —  Essai  Statislique,  vol.  1.*,  pag.  19. 

'  Vapcrcaii  —  Dirfionaire  des  ConUmporainSy  pa;;.  217. 


148  BO 

docção— avec  des  notes  de  M.  le  vicomte  de  Santarém,  e  logo  no  rosto  a  se- 
guinte limitação  contradictoria :  avec  une  note  sur  la  chronique  de  Ia  conquôte 
de  Gninée,  donnée  par  M.  le  vicomte  de  Santarém— avultando  este  ultimo 
nome  em  letra  maiúscula.  E  realmente  só  uma  nota,  ou  antes  espécie  de  an- 
nuncio,  ou  prospecto  da  nova  publicação  de  Azurara,  é  que  ahi  apparece  da 
penna  do  sr.  Santarém. 

«Vistes  nunca  mais  dourada  taboleta  de  vendedor  de  cominhos?  Factos 
d*estes,  que  parecem  de  importância  nuUa,  são  graves  injurias  contra  todo  o 
género  humano,  que  sabe  ler;  são  crimes  litterarios,  que  a  todos  os  que  pe- 
gam na  penna  cumpre  punir.  Servir-se  de  um  nome  accreditado  na  critica  dá 
historia  portugucza  como  de  isca  para  pescar  assignantes  e  compradores  á 
obra,  é  próprio  de  traficantes  de  letras,  >  e  não  de  litteratos. 

«A  traducçâo  nada  contém  de  mais,  e  tem  muito  de  menos  do  que  o  ori- 
ginal, e  pouco  satisfeito  ficaria  o  sr.  ScbaeíTer,  quando  viu  o  seu  filho  querido 
e  legitimo  proclamado  bastardo  em  nação  estranha,  e  por  juizes  sem  provas. 

«O  sentido  do  author,  quando  não  adulterado,  é  saltado  aos  pés  juntos  pelo 
empenho  de  poupar  escripta.  A  doutrina  é  apresentada,  quando  o  é,  com  di- 
visões  de  outra  forma.  As  notas,  em  que  o  sr.  Schaeffer  poz  tanto  esmero,  prin- 
cipalmente as  que  são  escriptas  em  portuguez,  vem  ás  vezes  tão  desfiguradas 
que  se  não  podem  ler.  Em  citações  não  fallemos,  que  nem  julgamos  valer  a 
pena  de  nos  darmos  a  esses  escrúpulos  de  algarismos,  quando  temos  tio  no- 
táveis pontos  de  censura.  Por  derradeiro  nem  vem  o  reinado  do  sr.  D.  João  11, 
que  já  no  allemão  se  publicou. 

«No  demais  c  um  livro  excellente — isto  é  no  papel  e  uo  typo.»  ^ 

141)  BOILEAU  —  Um  dos  mais  celebres  poetas  fraucezes  do  tempo  de 
Luiz  XIV. 

E.  —  Resposta  d  Carta,  que  S.  E.  o  Conde  da  Ericeira  me  escreveu  de 
Lisboaj  remettcndo-me  a  traducrão  da  minha  —  Arte  Poética  —  feita  por 
elle  em  verso  portuguez,  1697. 

«Apesar  de  minhas  obras  terem  dado  que  fallar  pelo  mundo,  não  concebi 
todavia  de  mim  uma  opinião  excessivamente  alta;  e,  se  os  louvores,  que  me 
deram,  me  iisoujearam  bem  agradavelmeuto,  uão  me  cegaram  com  tudo.  Mas 
confesso  que  a  iraducçào,  que  v.  ex.»  se  dignou  fazer  da  minha  Arte  Poética, 
e  os  elogios,  com  que  a  accompanhou  ao  remettcr-m'a,  produziram  em  mim 
um  verdadeiro  orgulho.  Desde  então  não  me  foi  possível  julgar-me  um  homem 
vulgar,  vendo-me  tão  extraordinariamente  honrado;  e  pareceu-me  que  o  ter 
um  traductor  com  a  vossa  intciligencia  e  jerarchia  era  para  mim  um  titulo  de 
mérito,  que  me  distinguia  de  todos  os  escriptores  do  nosso  século.  Apenas 

*  Este  facto  traz  ã  memoria  a  reimpressão  da  Grammalica  Ingleza^  de  UrcuUo,  era 
Paris,  como  sendo  composição  do  dr.  Constâncio. 

5  Sr.  Francisco  Adoipho  Vainbagen  na  Revida  Universal  Lisbonense j  vol.  !.•,  pag. 
U,  anno  do  1824. 


BO  ,49 

possuo  um  imperfeitíssimo  conbecimeDto  de  vosso  idioma,  e  nenhum  estudo 
particular  flz  d'elle.  Com  tudo  comprehendi  muito  bem  a  vossa  traducçlo,  a 
ponto  de  n'ella  me  admirar  a  mim  mesmo,  e  de  me  julgar  um  escriptor  muito 
maia  hábil  em  portuguez,  do  que  em  francez.  Realmente  enriqueceis  todos 
meus  pensamentos,  quando  os  exprimis.  Tudo  quanto  manejaes,  converte-se  em 
coro,  e  os  próprios  seixos,  se  a  expressão  é  permittida,  nas  vossas  mãos  trans- 
formam-se  em  pedras  preciosas.  Ã  vista  do  exposto  juigae,  se  deveis  exigir  de 
mim,  que  vos  note  as  passagens,  onde  podereis  ter-vos  um  pouco  desviado  do 
meu  sentido. 

«Quando,  em  logar  dos  meus  pensamentos,  me  tivésseis,  sem  n'isso  reflec- 
tir, emprestado  alguns  dos  vossos,  bem  longe  de  os  fazer  desapparecer,  pen- 
saria em  me  approveitar  do  vosso  descuido,  e  adoptal-os-hia  para  com  elles 
me  honrar :  porém  vós  em  nenhuma  parte  me  fazeis  passar  por  uma  tal  prova. 
Tudo  é  egualmente  justo,  exacto,  fiel  em  vossa  traducção :  e,  se  bem  que  me 
tendes  muito  embellezado,  não  deixo  eu  de  me  reconhecer  em  toda  a  parte 
d'ella. 

«Não  torneis,  pois,  a  dizer,  senhor,  que  receiaes  não  me  terdes  entendido 
bem.  Dizei-me  antes  o  que  fizestes  para  me  entenderdes  tão  bem,  e  para  per- 
ceberdes na  minha  obra  até  mesmo  subtilezas,  que  eu  julgava  não  podeí^m 
ser  sentidas  senão  por  pessoas  nascidas  na  França,  e  educadas  na  corte  db 
Luiz,  o  Grande.  Vejo  claramente  que  não  sois  estrangeiro  em  nenhum  paiz,  e 
que,  pela  extenção  de  vossos  conhecimentos,  sois  de  todas  as  cortes,  e  de  to- 
das as  nações.  Disto  dão  testemunho  a  carta  e  os  versos  francezes,  que  me  fi- 
zestes a  honra  de  escrever.  N*elles  apenas  se  encontra  de  estrangeiro  o  vosso 
nome,  e  não  existe  na  França  um  homem  de  bom  gosto,  que  não  desejasse 
tel-os  feito.  Mostrei-os  a  alguns  de  nossos  melhores  escriptores.  Nenhum  hou- 
ve, que  d^elles  nao  ficasse  extremamente  encantado,  e  que  não  me  desse  a  en- 
tender que,  se  de  vós  tivesse  recebido  eguaes  louvores,  ter-vos-hia  já  tornado 
a  eserever  volumes  de  prosa  e  verso.  Que  pensareis  vós  então  de  mim,  tendo- 
me  eu  contentado  com  o  vos  responder  por  meio  d*uma  carta  de  cumprimen- 
tos? Não  me  accusareis  então  de  ser  ou  incivil,  ou  grosseiro?  Não,  meu  se- 
nhor: nem  uma,  nem  outra  cousa  eu  sou:  mas,  com  franqueza,  eu  não  faço 
versos,  nem  mesmo  prosa»  quando  quero.  ApoIIo  é  para  mim  um  deus  caprl- 
cho80>  que  não  me  dá  a  mim,  como  dá  a  vós,  audiência  a  todas  as  horas.  É  mis- 
ter que  eu  aguarde  os  momentos  próprios.  £  d'elles  terei  cuidado  de  lançar 
não,  quando  os  encontrar:  e  serei  bem  infeliz,  se  morrer  ficando-vos  em  di- 
vida d'nma  parte  de  vossos  encómios.  O  que  desde  já  vos  posso  dizer,  é  que 
na  primeira  edição  de  minhas  obras,  não  deixarei  d'introduzir  n*ella  vossa 
venão,  e  que  não  perderei  nenhuma  occasião  de  fazer  saber  a  todo  o  mundo, 
que  das  extremidades  de  vosso  continente,  e  de  tão  longe,  como  as  colnmnas 
de  Hercules,  me  vieram  os  louvores,  df»  qne  eu  me  pago  mais,  e  a  obra  com 
a  qual  me  sinto  mais  honrado  t.  < 


*  Oeuvres  de  Boilenu   Paris,  1864,  toI    2  ",  pag.  406. 


i50 


BO 


i4S)    BOIS  (DU). 

E.  _  Vayages  faits  par  le  sieur  D.  B.  aux  !les  Dauphines  m  Madagás- 
car et  Bourbon  ou  Mascarenne,  és  années  1669-70-71-72  dans  lesqueh  il 
est  curieusement  traité  du  Cap  Vert  &c,  &c.  Paris,  1674. 

(Viagens  feitas  a  —  nas  quaes  se  traia  curiosamente  de  Cabo  Verde.) 

14^   BOLAFFIO  (JOSÉ  VITA)  —  Mestre  de  Arithmetica  em  Trieste. 

£.  —  Números  certos  para  formar  as  combinações  de  cambio  entre  a  pra- 
ça de  Lisboa,  e  diversas  outras  praças  da  Europa,  que  tem  cambio  estabe- 
tecido  com  a  mesma.  Compostos  por  — .  Vienna,  na  oíllcina  de  Mathias  André 
Scbmidt,  1803,  4.^  com  nm  mappa. 

(Esta  obra  é  dedicada  a  António  Maria  Galvet,  cônsul  geral* de  Portugal 
em  Trieste. 

144)  BONDE  (GUILLELHUS). 

E.  —  Ad  Serenissimum  Dominum  Joannem  V  PortugcUliae  regem  de  JuUi 
CtovU  clari  admodum  pictoris  operibus,  sive  sermones  três,  Londioi»  1733. 

Esta  obra,  que  vi  citada  pelas  palavras  referidas,  parece  ser  um  discurso 
offerecido  ao  nosso  rei  D.  João  V,  a  respeito  das  obras  do  celeberrimo  pintor 
em  miniatura  D.  Giulio  Clovio. 

145)  BON  (LE)  ADVIS  MESPRISÉ,  ou  la  lettre  de  Monsr.  Trista» 
de  Mendosse^  Jadis  Ambassadeur  pour  lenouveau  Eletto  DonJoanel  Quarto: 
par  grace  de  trahison  Roy  de  Portugal,  escrite  à  sou  successeur  V Ambassa- 
deur de  Portugal.  Francisco  de  Sousa  Cotinlio:  presente  a  la  Haye.  161k9, 4 
folha<a,  4,o 

Este  folheto  é  relativo  á  restauração  de  Portugal,  a  qual  vitupera;  e  faz 
parte  d'uma  bella  collecção  de  opúsculos,  concernentes  ao  mesmo  assumpto, 
e  á  lucta  contra  os  hollandezes  no  Brazil,  a  qual  pertence  ao  ex."*»  sr.  mar- 
quez  de  Sousa,  e  que  este  senbor  teve  a  bondade  de  pôr  â  disposição  do 
auetor  d'este  trabalho,  para  d'ella  tirar  os  apontamentos  que  fossem  conve- 
nientes.  ^ 

146)  BONNET  (CHARLES)  —  Engenheiro. 

Escreveu  a  Memoria  sobre  o  Algarve,  abaixo  citada,  que  é  o  fructo  das 
suas  viagens  feitas  nesta  provincia  nos  annos  de  1846-47. 

Mémoire  sur  le  royaume  de  V Algarve  contenant  la  description  des  moi^ 
tagnes,  des  sources,  des  cours  d^eau,  des  villes  etc,  du  climat,  de  la  vége- 
tation,  des  animaux,  de  Vinduslrie,  du  commei  ce,  etc,  ainsi  qu'une  esquisse 
historique  de  cette  contrée,  (Nas  Memorias  da  Academia  Real  das  Sciencias 
de  Lisboa,  2.*  série,  tomo  2.^  parte  2.*,  de  pag.  1  até  176.) 

No  vol.  9.<>  (pag.  230  e  seguintes)  da  Revista  Universal  Lisbonense  vem 

<  Sempre  que  daqui  por  diante  apparecerem  estas  lellras  M.  S.  é  porque  a  obra  re- 
ferida Tem  na  collecção  do  ex."^"  sr.  marquez  de  Sousa. 


uma  noticia  de  M.  M.  Franzlni  acerca  dos  trabalhos  da  commissão  geológica 
dirigida  por  mr.  Charles  Bonnet  nas  suas  explorações  á  província  do  Alem- 
tejo,  em  1849. 

i47)  BONNEVAL  (RENÉ  D£). 

E.  —  Repouses  ati.r   paradoxes  de  VAbbé  Desfontaines  contre  ígnez  de 
Castro.  I7Í3. 

(Resposta  aos  paradoxos  do  abbade  Desfontaines  contra  Ignez  de  Castro.) 

148)    BONUCOI  (ANTÓNIO  MARIA,  Della  Compagnu  di  Gibsu)* 
E.  —  I.  Orazione  nelle  solenni  esequie  Della  Maestá  dei  Ré  de  Portogallo 
scritta  in  italiano  e  in  portoghese  da  —  E  detta  nel  primo  linguaggio  dal 
medesimo  nella  Chieza  Nazionale  di  S.  AntorUo  in  Roma.  In  Roma»  nella 
stampería  di  António  di  Rossi,  alia  Piazza  di  Ceri,  1707.  Con  lícenza  dé  Sa- 
periori,  S.**,  61  pag. 
(Esta  oração  fúnebre  de  D.  Pedro  II  é  offerecida  ao  rei  de  Portugal  D.  João  V.) 
II.  Isíoria  della  vita  ed  eroiche  azioni  de  D.  Affonso  HenriqueSy  primo 
te  de  Portogallo.  Veneza  1719. 

(Historia  da  vida  e  acções  heróicas  de  D.  AfTonso  Henriques.) 
Creio  que  este  livro  foi  composto  por  occasião  de  se  tratar  da  canonisaçao 
do  nosso  primeiro  rei,  ardentemente  desejada  por  D.  João  V. 

i49)    BORDIGNÊ  (Conte  DE). 

E.  —  Legitimité  Portugaise.  Paris. 

Nada  mais  posso  dizer  a  respeito  d'esta  obra^  que  vi  citada. 

itSO)    BORELLO  (CAMILLO). 

E.—  Theatrum  Regiam  sive  Regam  Portugalliae  a  --.  Bruxellas,  1628. 

(Ttieatro  régio,  ou  dos  reis  de  Portugal.) 

Parece  ser  uma  biographia  dos  nossos  reis. 

151)  BÕSCHE  (EDUARDO  THEODORO). 

E.  —  l.  Novo  IHcdonario  geral  das  lingttas  Portugueza  e  Allemã,  com 
particular  menção  dos  termos  das  sciencias,  artes,  industria,  commercio,  e 
navegação.  Hamburgo,  em  casa  do  edítorproprietario  Roberto  Kíttler,  o  tomo 
l.*de847pag.eo2.<>  de  808. 

Vi  também  n*um  catalogo  de  livros  esta  obra  como  impressa  em  Leipsig. 

II.  Diálogos  Poi^tuguezes  e  Allemães.  Hamburgo,  1836. 

itSíi)    BOS8IO  (MATTHEUS). 

Diz  o  sr.  Innoeencio  a  pag.  164  do  4.*'  tomo  do  Diccionario  BibliograpMco, 
qa»  este  eserlptor  lhe  parecia  ser  de  nação  italiano,  que  fora  secretario  da 
embaixada  de  Sabóia,  n^e^ta  corte,  e  que  traduziu  do  italiano  para  portnguez 
o  seguinte  livro: 

Compendio  genealógico  da  real  casa  de  Sabmfa,  cam  um  appendice  em 


m  BO 

que  se  dá  mcnnia  noticia  dos  estados,  rendas^  forças  e  títulos  que  tem  esta 
augustiseima  casa»  0/ferecida  á  Sereníssima  Infanta  de  Portugal  pelo  conde 
D.  Jeronymo  Marcello  de  Gubematis,  presidente  no  Supremo  Senado  de  Nixa^^ 
enviado  extraordinário  de  S.  A.  R.  de  Saboya,  n'esta  corte,  etc,  Lisboa»  por 
Miguel  Deslandes,  1682,  4.%  38  pag. 

153)  BOTERO  (GIOVANNI— BENESE)>-Escriptor  italiano  celebra. 
E.—Delle  Relatione  Universali  di — .  Parte  prima,  Nella  quale  si  da  ra- 

guaglío  de  Continenti,  e  deW Isole  sino  ai  presente  scoverte.  Revista  daWAu- 
tore,  e  di  nuovo  arrichita  in  infiniti  luogki  di  cose  memorabíli  e  curiose.  In 
Roma,  1595,  foi.  1.'  parte  403  pag.  2.*  289. 

Trata  esta  obra  amplamente  das  descobertas  e  conquistas  dos  portugaetei, 
de  cujos  feitos  era  grande  admirador,  e  aos  quaes  considera  como  om  dM 
primeiros  povos  do  universo. 

«Má  nissuna  natione  si  mostro  mai  piu  vehemente,  e  che  partecipassa  pia 
delia  terríbilitá  dei  furore,  che  i  Portoghesí:  le  cui  navigationi  oitre  ai.  capo  di 
Bonasperanza,  e  oltre  alio  streto  di  Sincapura,  e  gli  acquisti  di  Ormuz,  di  Goa 
e  di  Malacca,  e  le  difese  di  Gocin  e  di  Diu,  e  di  Gau  C^ic)  e  di  Goa,  hannopia 
dei  vero,  ebe  dei  verisimile. 

«Lisbonna  á  giuditio  universale,  la  piu  popolosa  Citta  delle  Cbristíanitá^se 
tu  ne  eccetui  Parigi.  Questa  Gittá  vai  quasi  tutto  il  resto  dei  regno;  perebe  fk 
popolo  grandíssimo,  e  vi  capita  tutta  la  mercantia,  e  tutto  il  trafica  dell'Etbio- 
pia,  dei  Prasil,  delia  Madera,  e  deiraltre  Isole,  e  di  tutto  Settentríooe.* 

154)  BOUOHOT  (AUGUSTE)  —  Professeur  dHisloire au Lycée  Napo- 
leon. 

E.  —  Histoire  de  Portugal  et  de  ses  colonies  par  — .  Paris,  libraíre  de  L. 
Hachelte,  1854,  8.°,  470. 

Esta  historia  de  Portugal  faz  parte  da  coilecçâo  de  compêndios  de  bistoria, 
compostos  por  uma  sociedade  de  professores  e  de  litteratos,  debaixo  da  direc- 
ção de  M.  Duruy.  Seu  auctor  mostra-se  um  enthusiasmado  admirador  dos  feitos 
dos  portuguezes,  e  diz  que  Napoleão  I  tinha  tido  muita  razão  em  mandar  es- 
tudar a  historia  de  Portugal  nos  lyceus  de  França. 

155)  BOULLIAU  (ISMAEL). 

E.  —  Pro  ecclesiis  Luzitanicis  ad  clenim  Gallícanum  libri  duo.  Stras- 
bourg,  1656.  Paris,  1657,  Argentinae,  1670 

(Dois  livros  dirigidos  ao  clero  francez  em  prol  das  egrejas  lusitanas.) 
Todos  sabem  que  depois  da  restauração  de  Portugal,  o  papa,  acérrimo  par- 
tidário de  Gastella,  tinha-se  obstinadamente  recusado  a  confirmar  bispos  pan 
o  nosso  paiz,  d'onde  resultou  virem  as  dioceses  portugupzas  a  ficar  sem  pas- 
toras e  o  escreverem -se  alguns  livros  a  este  respeito, 


BO  153 

im    BOURCHIER  (JOHAN). 

£.  —  The  Cronicleit  of  Englandey  Fraunce,  Spayne,  PortyngcUe,  ác.  Traiu- 
iaíeâ  omi  of  Frenche  Mo  our  mateniall  englmhe  tangue,  London,  1523-25, 
4  vol  (Chronicas  de  Inglaterra,  França,  liespanha,  Portugal,  etc. 

É  a  traducçâo  das  celebres  Chronicas  de  Froissart,  em  que  este  famoso 
eaeriptor  falia  circurnstanciadamente  da  nossa  batalha  de  Aljubarrota,  e  dos 
f^tos  dos  portugueses  por  aquelles  tempos. 

157)  BOURDIEO  (MIGUEL  IiE).—Francez. 

EL —  I.  Nova  grammatica  da  língua  franceza,  por  Lhomond,  traduzida  e 
accrescentada  da  conjugação  por  extenso  dos  verbos  irregulares  e  defeituo- 
MS.  Lisboa,  1823. 

n.  Grammatica  ingleza  de  Siret,  traduzida  e  posta  em  nova  ordem,  por 
um  methodo  mais  claro  e  fácil  dos  que  tem  havido  até  ao  presente.  Lisboa, 
1813. 

IIL  Elementos  da  grammatica  latina,  exposta  em  nova  ordem.  Lisboa, 
1816. 

rV.  Historia  da  conjurasão  de  Catilina  e  da  guerra  de  Jugurtha,  por 
Saihutio,  traduzida  em  vulgar  com  o  texto  latino  em  frente,  e  notas  criti- 
cas e  históricas  para  a  intelligeíicia  do  auctor.  Lisboa,  1820. 

V.  Jesu  Christo  por  ma  tolerância  modelo  dos  legisladores,  traduzido  do 
francez.  Lisboa,  1821. 

158)  BOURGOING  (JEAN  FRANQOIS,  Baron  de)  —  Escriptor  e  ce- 
lebre diplomata. 

JKascen  em  Nevers  no  anno  de  1748,  e  falleceu  em  julho  de  1811.  ^ 

Residiu  pelo  espaço  de  sete  annos  em  Hespanha,  como  secretario  d'embai- 
xada,  e  durante  este  tempo  recolheu  os  apontamentos  necessários  para  a  sua 
obra  Quadro  da  Hespanha  moderna,  obra  estimada,  da  qual  existem  quatro 
edições,  e  que  foi  traduzida  em  dinamarquez,  inglez  e  allemão. 

Porém  d'este  auctor  o  que  mais  nos  interessa  é  a  Voyage  do  Duc  deCha- 
teltt  É»  Portugal. 

Eis  o  que  Bonrgoing  ncs  diz  a  respeito  da  referida  obra : 

«Portugal,  um  dos  paízes,  com  os  quaes  temos,  ou  pelo  menos  podíamos 
ter  mais  relações  commerciaes,  uma  das  potencias  de  segunda  ordem,  que  mais 
nos  interessam  relativamente  á  politica,  Portugal  é  muito  pouco  conhecido,  es- 
pecialmente pelos  francezes.  Até  agora  somente  appareceram  descripções 
ou  falsas,  ou  incompletas  d'esta  porção  da  Europa,  outrora  tão  fl(»resc«ite,  na 
aeUiâiidade  tâo  degenerada.  Algumas  obras  foram  consagradas  a  appresentar 
cerUs  epochas  de  sua  historia;  outras  a  narrar  as  conquistas  e  a  gloria  dos 
antigos  portuguezes,-  e  a  pel-os  em  parallelo  com  a  escravidão  e  nullidade  dos 
nossos  dias.  Um  inglez  James  Murphy  publicou  recentemente  uni  volume 

1  Firmio  Didot  —  NouwUe  Biographie  Universelle,  vol.  7.',  pag.  90. 


«4  BO 

sobre  o  estado  de  Portugal,  mas  qaasi  que  n'eUe  se  limitou  a  observações  re- 
lativas à  sua  profissão  de  architecto...  O  anctor  do  Tableau  de  Lisbonneestre' 
veQ  particularidades  curiosas ;  porém  limitou-  se  quasi  unicamente  â  descalpçio 
doesta  capital.  Faltava,  pois,  mostrac  ainda  P  ortugal  debaixo  de  diversas  fiíees, 
descrever  suas  províncias  da  Europa,  e  suas  colónias,  costumes,  habitantes, 
população,  progressos  nas  scieneias  e  artes,  sua  politica  etc.  e  o  duque  deGia- 
telet,  cuja  obra  publicamos,  achou-se  no  caso  de  poder  desempenhar  esta  ta- 
refa. Consultou  as  pessoas  mais  instruídas  do  paiz  percorrido  por  elle  com 
maior  cuidado,  que  pelo  trivial  dos  viajantes.  Vio  de  perto  o  marques  de  Pom- 
bal em  seu  retiro;  d'elle  recebeu  diversas  informações  tão  curiosas,  cemo  aa- 
thentieas,  cuja  exactidão  verifícon  nos  mesmos  legares. 

«Seu  manuscripto,  que  nos  foi  confiado,  continha  algumas  imperfeições.  Di- 
ligenciamos rectifical-as,  e  substituir  algumas  lacunas.  O  auetor  não  tivera  va- 
gar para  limar  seu  trabalho.  O  estylo  achava-se  por  vezes  mcorreeto.  Tomá- 
mos^ pois,  a  liberdade  de  fazer  desapparecer  estas  ligeiras  manchas,  sem  alte- 
rar nem  seu  plano,  nem  suas  idéas.  Póde-se,  por  tanto,  considerar  o  texto  eomo 
pertencendo-lhe  exclusivamente. 

«Porém,  como  ha  alguns  annos  que  Chatelet  viajou  em  Portuga],  muito  hn- 
perfeitamente  ofTereceria  sua  obra  a  descripção  doeste  reino,  se  lhe  nao  tivés- 
semos ajuntado  algumas  notas,  e  até  alguns  supplementos,  que  farão  comple- 
tamente conhecer  os  portuguezes  dos  tempos  actuaes.  Para  esse  fim  procurámos 
o  auxilio  dos  escriptos  mais  recentes,  e  esclarecimentos  fornecidos  por  pessoas 
que  residiram  n  aquelle  paiz... 

«Algumas  attenções  politicas  tinham  impedido  no  tempo  de  nosso  antigo 
regimen  a  impressão  d*este  manuscripto.  O  auctor  e  editor  procuraram  egoal- 
mente  evitar  quanto  podosse  ofTender  os  portuguezes.  Fazem-lhes  por  vezes 
algumas  censuras  assas  graves,  dão-lhes  lições  algum  tanto  ásperas;  porém 
abstíveram-se  tanto  um  como  outro  d'aquelle  azedume,  que  ofTende,  e  não 
corrige.  Ha,  todavia,  portuguezes  illustrados,  que  gemem  sobre  a  situação  de 
seu  paiz  tanto,  quanto  o  podem  fazer  os  mais  severos  estrangeiros. 

«Conhecem  as  causas  de  sua  degeneração,  e  os  remédios,  que  curavam  os 
males,  que  estão  padecendo.  Se  o  duplo  terror,  religioso  e  politico,  que  os  con- 
tem, obsta  a  que  se  expliquem  com  franqueza,  hão  de  perdoar,  e  agradecer 
talvez  a  estrangeiros  mais  independentes  o  pintarem  as  desordens,  de  que  seu 
paiz  é  presa,  o  despertar  em  seus  compatriotas  a  lembrança  de  sua  antiga 
grandeza,  o  chamar  para  o  meio  d'elles  a  sabedoria,  e  a  energia  em  appoio 
das  antecipações  da  natureza.  E  que  paiz  na  Europa  foi  roais  bem  tratado  por 
ella,  que  Portugal?  Rivaliza  com  todos  pelo  que  diz  respeito  á  bondade  do 
clima,  e  à  variedade  das  producções,  que  podem  prosperar  sobre  seu  terreno. 
Possue  tantas  costas,  quantas  comporta  a  extensão  de  seu  solo.  Tem  valles 
férteis  e  risonhos,  montanhas  repartidas  de  maneira  a  fazerem  manar  em  to- 
das as  direcções  de  seu  centro  e  alturas  as  aguas  vivificantes,  que  tomam  as 
irrigações  fáceis,  e  suavisam  os  inconvenientes  das  séccas  debaixo  d'um  céo 
ardente;  algumas,  que  para  clle  são  uma  trincheira  quasi  inexpugnável  con- 
tra o  imico  inimigo,  que  lêem  a  temor  por  terra :  vários  rins,  qne  podem  ser 


BO  155 

navegáveis;  um,  especialmente,  cQja  embocadura  lhes  dá  um  dos  bellos  portos 
da  Europa :  habitantes  natoralmeute  espirituosos,  e  nos  quaes  o  valor  esci^u 
ao  torpor  quasi  universal»  que  se  apoderou  de  todas  suas  outras  faculdades : 
habitantes,  que  teem  provado  poderem  ter  a  coragem  e  actividade  necessárias 
para  as  grandes  empresas,  e  manejar  com  prospero  resultado  todos  os  instm- 
mentos  da  prosperidade. 

«Porém  ha  mais  d'um  século  que  má  administração,  falsos  cálculos,  instí- 
tuições  viciosas,  o  dominio  dos  frades  e  dos  inglezes  reduziram  a  quasi  nada 
todias  estas  brilhantes  vantagens.  A  philosophia  allumia  a  maior  parte  da  Ea- 
Topa,  6  Portugal  ainda  jaz  nas  trevas.  Tem  nas  suas  producç5es,  e  nas  de  suas 
vastas  colónias  os  elementos  do  mais  variado  commercío,  e  desamparado  em 
mãos  perfidamente  obsequiadoras,  que  o  condemnam  á  ociosidade  e  á  misé- 
ria. Reina  em  Moçambique  e  Macao,  e  obedece  servilmente  em  Lisboa  e  Porto.» 
V.  Chatelet  (duc  de). 

159)  BOURNISIEU  (BERTHE  DE). 

E.  —  D.  Pedro  à  D,  Ignez  de  Castro,  Heroide.  Paris,  1788. 

160)  BOUTERWEK  (FREDERICK)  —  Celebre  philosopho,  poeta  e 
crítico  allemão. 

liaseen  em  Okar  no  anno  de  1766,  e  faileceu  em  G(»ltingue  em  setembro 
de  1828. 1 

«A  obra  capital  que  assegura  ao  nome  de  Bouterwek  uma  longa  duração 
é  a  sua  íUstoria  da  poesia  e  da  eloquência  dos  povos  modernos. * 

E.  —  History  of  Spanish  and  Portugueze  lÀterature  by—,  Tramslated 
from  ike  original  German  by  Thomasina  Ross,  London,  18^. 

V.  Aoss  (Thomasina). 

161)  BOWDIOH  (THOHAS  EDWARD).  —  Viajante  inglez. 
Nasceu  em  Bristol  no  anno  de  1790,  e  faileceu  em  1824.  ^ 

£.  — I.  An  Account  oflhe  discoveries  of  the  Portuguese  tn  th€  interior  of 
Angola  and  Mozambique,  London,  1824. 

(Narração  das  descobertas  dos  portuguezes  no  interior  de  Angola  e  Mo- 
çambique.) 

Vem  mencionada  esta  obra  no  catalogo  manuscrípto  da  livraría  do  conde 
d»  Lavradio. 

fi. — Exonrsions  in  Madeira  and  Porto  Santo,  during  the  autumn  cf  18S3. 
London,  1824. 

(Digressões  pela  Madeira  e  Porto  Santo.) 

N*esta  obra  vem  Observações  sobre  Cabo  Verde, 

162)  BOWLES  (W.  L.)  —  Poeta  inglez. 

<  Finnin  Didot  —  iVouvelie  Biographie  Générale,  vol.  7  ^,  pag.  127. 
»  FirmiB  Didol—  Nouvelle  Biogi-aphie  Vniversêlle,  Tdl.  7.*,  pa^.  151. 


106  BR 

Nasceu  em  KiDgis  HittoD  no  anno  de  1762,  e  falleceu  em  1800.  < 

E.  —  ÍÃUt  S(mg  of  Camoéns.  LoDdon,  1809.  (Ultimo  canto  de  Gamdea.) 

163)  BOYD  (Captain). 

E.  —  A  description  of  the  Azares  or  Western  Mands.  London,  1836. 

(Descripção  dos  Açores  on  ilhas  occidentaes.) 

«Esta  relação  rescende  ao  caracter  britânico,  que  raras  vezes  pecca  pela 
indulgência  para  com  as  outras  nações:  acham-se  n^ella  comtudo  moitas  no- 
ticias importantes  para  o  conhecimento  physico  do  archipelago.*  ^ 

Vem  uma  pequena  analyse  d'esta  obra  em  o  n.«  1  do  Diário  do  Governo^ 
de  1835. 

164)  BRADFORD  (WILUAM). 

E,^Sketches  in  the  country,  character  and  costume  in  Portugal  and 
Spain.  London. 

(Esboços  do  paiz,  caracter  e  costumes  de  Portugal  e  Hespanha.) 
Traz  ao  lado  uma  traducçao  franceza. 

165)  BRADSHAWS. 

E.  —  lUustrated  Hand-Book  to  Spain  and  Portugal:  a  complêt  gmàe  for 
travéllers  in  the  Península,  WUh  nuips,  town  plans,  and  steel  illustraikms. 
Londres,  12.«  largo. 

(Guia  illnstrada  de  Hespanha  e  Portugal.) 

166)  BRANDANO  (ALESSANDRO).  —  Natural  de  Roma. 

E.  —  Historia  delia  guerre  de  Portugallo  stuxedute  per  roccasione  delia 
seperazione  di  quel  regno  delia  Corona  Cattolica.  Yenezia,  1689,  2  tomos, 
4.*,  o  1.»  de  5i5  pag.  e  o  2.*»  de  432. 

Chega  até  o  reinado  de  D.  João  IV.— V.  Brandano  (Francisco). 

(Historia  das  guerras  de  Portugal  succedidas  por  causa  da  separação 
d'aquelle  reino  da  coroa  de  Gastella). 

167)  BRANDANO  (FRANCESCO)  —  Sobrinho  de  Alexandre  Bran- 
dano. 

Continuou  a  historia  começada  por  seu  tio. 

Dell'  Istoria  deite  guerre  di  Portogallo  che  continua  quella  di  Alessan- 
dro  Brandano.  Parte  seconda,  nella  quaJe  si  contengono  gli  Avvenimenti  ac- 
caduti  nel  tempo  delia  Regina  Ludovica.  Roma,  1716,  4.^',  451  pag. 

(Historia  das  guerras  de  Portugal  continuada  — .) 

168)  BRANDT  IN  BRAZILIEN  Gedruct  in't  Jaer  om  Heeren.  1648, 
9  pag.,  8.» 

»  Firrain  Didot  —  JVouríí/c  Biographif  rnivnseUe,  vo!   7.»,  pag.  157 
*  Morelét  —  Us  Açores,  pag   15. 


BR  m 

Diz  respeito  ás  lucus  entre  os  portugaezes  e  hollaodezes  por  caosa  do 
BrtziL-M.  S. 

169)  BRASILSGHE  OORLOGHS  OVERWEGING  Gedruckt  m7 
JoiT,  I648y  4  folhas  sem  numeração. 

Diz  também  respeito  à  lacta  dos  nossos  com  os  hollandezes.— M.  S. 

■ 

170)  BRASILSGHE  GELT-SACK  WAEK  m  dat  claerlijik  vertootU 
wordí  waer  dat  de  Participanten  van  de  West  Indtsche  Comp.  haet  Celt 
f^Meven  is  Gedruct  in  Brasilien  op't  Reciff,  Anno  de  i647,  15  folhas  sem 
numeração.— M.  S. 

171)  BRASYLS  SCHUYT  Praeiien  ghehouden  tusschen  enn  Offker 
een  Domine,  en  een  Coopman,  noopend  den  Staet  van  Brasyl:  Mede  hoe  de 
Offideren  en  Soldaten  tegenwoordich  aldaer  ghetracteer  t  werden,  en  hoe  men 
placht  te  leven  ten  tyde  doen  de  Portogysen  noch  onder  het  onverdraeglUijck 
lock  der  HoUanderen  saten  Ghedruckt  inde  West  Indische  Kamer  by  Maa*- 
ter,  Doer  het  gelt  soolustich  klinckt  alsser  zijn  Aes-stae^ten,  li  folhas. 

Trata  dos  negócios  do  Brazil  no  tempo  em  que  os  boliandezes  se  queriam 
apossar  d'aquelle  paiz.  <  — M.  S. 

172)  BRAT  (Mb.) 

E. —  Talha  or  the  Moor  of  Portugal,  A  romance.  iVew  York,  1831. 
(Talha,  ou  o  Mouro  de  Portugal.  Romance. 

173)  BRAT  (Mrs.  ANNA  ELIZA). 

E.  —  Von  Dr.  E,  N.  Barmann  Der  Talba  vvn  Portugal;  oder  schidfale 
der  Ignez  de  Castro,  Kiel,  1835,  3  vol. 

Parece-me  ser  um  romance  haseado  na  historia  de  D.  Ignez  de  Castro. 

174)  BRESIL  et  Portugal,  Paris,  íBVk,  Imprensa  de  Plassan,  8,*»,  folheto. 

175    BRETON. 

E.  —  LEspagne  et  le  Portugal  ou  tneurs,  usages  et  costumes  des  habitam 
de  ces  royaumes.  Precede  d*un  préds  histwique  par  — .  Ouwage  omé  de  dn- 
guante  quatre  planches  repi'ésentant  douze  vues  et  plus  de  soixatUe  costu- 
mes différents  la  plupart  d^après  des  dessins  executes  en  1809  et  1810.  Pa- 
ris, 6  tomos,  1815,  l^.*" 

(A  Hespanha  e  Portugal,  ou  costumes,  usos,  trajos  d'este  paiz  etc.) 


I  O  auclor  deate  trabalho  nfto  p05)»ue  conhecimeotos  ãufficieotei  da  lingua  hollan- 
deia  para  poder  fazer  a  traducção  do8  titulob  das  obras  cst-riplas  neste  idioma,  nen 
conhece  pessoa  a  quem  possa  consultar. 


158  BR 

Aló  agora  ainda  não  encontrei  exemplar  algum  com  as  referidas  estampas' 
apesar  de  não  ser  esta  obra  das  raras,  e  qae  qâo  passa  d' ama  compilação. 

O  volame  sexto  é  o  destinado  para  tractar  de  Portagal. 

O  compilador  servíu-se  para  este  trabalho  das  obras  de  Twiss,  Raynal» 
Morphy,  e  de  duas  ou  três  outras. 

«Para  formar  uma  idéa  do  aspecto  encantador,  que  olTerece  a  cidade  de 
Lisboa,  é  necessário  imaginar  um  rio  magnifico,  com  mais  de  três  lagoas  de 
largura»  e  cujo  vasto  porto  está  continuamente  coberto  d'uma  multidão  de 
navios. 

«Ao  longe  ergue-se  em  amphitheatro  a  cidade  sobre  soberbas  collinas. 

«Os  próprios  arrabaldes  estão  de  tal  maneira  semeados  de  casas  de  recreia 
e  de  conventos,  que  toda  a  extensão  das  margens  do  Tejo,  até  se  perder  de 
vista,  parece  não  formar  mais  que  uma  só  cidade,  e  custa  a  diíTerençar  o  que 
pertence  exclusivamente  a  esta  bella  povoação.  Com  eíTeito,  ainda  que  a  propríi 
cidade  occupe  sobre  a  margem  do  rio^  um  espaço  de  duas  léguas,  as  povoa* ' 
ções  de  Pedrouços,  Belém  e  algumas  outras  são  o  prolongamento,  como  Ghail- 
lot,  Passy  e  Auteuil  o  são  da  parte  occidental  de  Paris  na  margem  direita  do 
Sena. 

«Não  se  poderia  imaginar  na  Europa  cidade  marítima  mais  favoravelmente 
situada  para  o  commercio  de  todas  as  partes  do  mundo,  principalmente  da 
Ameríca.  Lisboa  é  o  principal  mercado  de  todo  o  commercio  do  reino  com 
suas  colónias,  e  com  os  paizes  mais  ricos  do  universo.  Sua  riqueza  e  a  de  todo 
o  Portugal  seriam  immensas,  se  os  habitantes  fossem  mais  industriosos,  senão 
importassem  da  Inglaterra  a  maior  parte  dos  objectos  de  consumo. 

«Os  negociantes  portuguezes  são  fallados  por  sua  probidade  severa,  e  pelo 
seu  zelo  escrupuloso  no  cumprimento  do  seus  deveres. 

«A  ignorância,  e  a  superstição  em  geral  são  os  maiores  defeitos,  de  que  os 
habitantes  de  Portugal  podem  ser  acrusados,  mas  estes  defeitos  não  os  arras* 
tani  a  excessos  criminosos.* 

i76)  BREVIS  ASSERTIO  eí  apologia  avclamationis  et  juslUia:^  Sere- 
nissinU  et  Potentissimi  Portugalliae  Regis  Joajinis  inter  veros  et  legitmos 
ÍAisUaniae  Reges  nmnine  (hiarti^  opposita  altqtUhm  tmúrariis.  impudenti- 
bus  et  temcrariis  scripíaribíis,  9  folhas  sem  data  nem  iogar  de  impressão. 

(Breve  vindicaç^o  e  apologia  da  acclamação  e  justiça  do  sereníssimo  e  po- 
tentíssimo rei  de  Portuga!  João,  o  quarto  em  quanto  ao  nome  entro  os  reis 
verdadeiros  e  legítimos  de  Portugal,  contra  alguns  escriptores  contrários,  des- 
carados e  temerários). 

Faz  parte  da  collecção  de  opúsculos  formando  um  volume,  e  relativos  àac- 
clamação  de  D.  Joilo  IV,  pertencente  ao  ex."*'  sr.  marquez  de  Sousa. 

177)  BREVIS  ET  FIDA  nar ratio  et  roníinuatio  rerum  onííiium  a 
Drako  et  Norreijsio  (post  felirem  ex  occidetUalihns  insalis  rcditum)  im  sua 
ea;peditione  Poríngaltcn^i  singnlis  diebus  gestnrum.  iTancofurli,  1590,  *.",  fo- 
lheto. 


BR  i59 

(Narração  breve,  e  fiel  continuação  de  todos  os  suecessos  de  Drake  e  Nor- 
rys  (depois  do  sen  feliz  regresso  dos  Açores)  acontecidos  diariamente  na  sna 
expedição  a  Portugal. 

178)  BREVIS  REPETITIO  omnium  que,  Excellentissimus  D.  Legaim 
ParÈugaUiae  ad  componendas  res  BrasUicanas  proposuit  vel  egii  a  die  t3^ 
MaU  usque  ad  1  Novembris  hujus  anni  1647.  ExhibUa  Celsis  PrepotmUibus 
D.  D.  Ordinibus  GenercUibus  harum  Confcederatarum  Provinciarum  ad.  28. 
diem  ejusdem  mensis.  Hagae-Comitís.  Kxcudebat  Ludolpbus  Breeckeveit  Ty- 
pographas.  Anno  1647.  8  Tolhas.— M.  S. 

(Breve  recapitolação  de  tudo,  quanto  o  ex."<*  sr.  Legado  de  Portugal  pro- 
poaoa  praticou  com  o  fim  de  pacificar  os  negócios  do  Brazil  desde  o  dia  23 
de  maio  até  1  de  novembro  doeste  anno  de  1647.  Apresentada  aos  potentíssi- 
mos Senhores  Estados  Geraes  d'estas  províncias  confederadas  até  o  dia  28  do 
mesmo  raez.) 

i79)    BRIAND  (P.  CÉSAR). 

£. — Les  petits  voyageurs  en  Espagne  et  en  Portugal,  Paris,  1835. 

(Os  pequenos  viajantes  em  Hespanha  e  Portugal.) 

180  BRIEFVE  ET  SOWÍLÂIRE description  de  la  vie  et,mort  de  Dam 
Antome  premier  du  nom,  et  dix-huictiesme  Roi  de  Portugal,  Avec  plusieurs 
LfUirei  servantes  à  VHistoire  du  Temps.  A  Paris.  Chcz  Gervais  Ãlliot,  au 
Palais  prés  la  Chapelle  sainct  Michel.  iii>cxxix.  Avcc  Privilege  du  Roy. 

Traz  um  magnifico  retrato  de  D.  Christovào,  filho  de  D.  António,  em  volta 
do  qual  estão  os  seguintes  dizeres : 

No  alto  —  Ckristophorus  +  Dei-\-  Gralia  +  Pnnceps  +  Portugalliae  + 
Por  baixo  —  Fí/fíM  Z>.  Antonii  XVllL  Pmtugalliae  Regis, 
Á  esquerda  d'estas  ultimaâ  palavras . 

D. 

Dumonstier 

Pinxit.  9.*  Septemlnc 

1632. 

Do  lado  oppusto: 

laspar 
ísac  Fecit » » 
E  no  baixo  da  folha: 

Hic  wultu.  et.  íneritis  Priticeps  de  Sanguine  Hegnum 
Quo  nuigis  atteiitur,  tatUo  virtute  rcsurgit 
Renaíus  de  la  Rachemaillet. 
Começa  esta  obra  por  uma  dedicatória  ao  rei,  feita  por  D.  Christovão,  fi- 
lho de  D.  António,  e  auctor  d'este  livro. 

Segue  uma  advertência  ao  leitor,  e  copia  da  apptovaçào  de  dois  doutorea 
em  theologia.  datada  esta  ultima  de  26  de  janeiro  de  1629. 


i«o  BR 

«D.  ÂntoDio,  primeiro  do  nome,  e  decimo  oitavo  rei  de  Portugal,  desces-' 
dente  em  linha  varonil  dos  reis  de  França,  Hagoes  Gapet,  e  Roberto  sen  âlbo 
pelo  ramo  dos  primeiros  daques  de  Borgonha  era  ilibo  legitimo  de  D.  Laitr 
segundo  filho  do  rei  D.  Manuel  de  boa  memoria;  o  que  se  viu  clarameole 
tanto  pelo  testamento  do  referido  infante  seu  pae,  como  pelo  tratamento  e  re- 
cepção que  lhe  fez  o  rei  D.  João  III,  seu  tio,  depois  da  morte  de  seu  pae,  dei« 
xando-lhe  usar  do  timbre  de  suas  armas,  sem  n'ellas  haver  signal  de  bastar- 
dia, e  também  pela  estima,  que  d'elle  fez  o  rei  D.  Sebastião,  quando  pela  piv 
meira  vez  foi  á  Africa,  em  Tanger,  dando-lhe  o  cargo  de  condestavel  na  pre- 
sença de  D.  Duarte,  seu  primo,  que  n'elle  estava  provido. 

«Foi  proclamado  e  reconhecido  como  verdadeiro  rei,  primeiramente  em 
Santarém,  e  depois  em  Lisboa,  dia  de  S.  João,  24  de  junho  de  1580,  e  irnme- 
diatamente  depois  em  Setúbal  pelo  corpo  dos  três  estados  do  reino,  que  allt 
estavam  congregados,  tendo  fugido  os  cinco  governadores,  dos  quaes  três  para 
Hespanha,  e  tendo  ficado  dois  em  Portugal;  e  em  seguida,  depois  de  reooohe- 
eido  pela  Universidade  de  Coimbra,  e  por  todas  as  outras  cidades  de  Portu- 
gal, e  possessões  da  coroa  fora  do  dito  reino. 

«D'alli  voltou  a  Lisboa  para  se  preparar  contra  as  forças  do  rei  de  Hespa- 
nha Philippe  II,  commandadas  pelo  duque  d' Alba,  que  começavam  a  entrar» 
dizendo  pertencer-lhe  o  dito  reino  por  ser  alho  da  infanta  D.  Izabel  sua  miot 
ftandando-se  antes  em  3uas  forças,  que  no  direito  por  oUe  pretendido,  sabendo 
as  leis  do  reino,  que  d'elle  excluem  as  filhas,  como  a  lei  Salica  na  França;  re« 
conhecendo  também  a  fraqueza  do  reino  por  causa  da  perda  do  rei  D.  Selias* 
tião  na  Africa;  e  fiando-se  em  um  grande  numero  d^aquelies,  que  tinham  sido 
subornados  com  grandes  promessas  pelo  duque  de  Ossuoa  e  D.  Christovào 
de  Moura,  seus  embaixadores. 

«Isto  foi  o  que  o  resolveu  a  esta  conquista,  a  qual  se  fez,  como  se  segue: 

«A  saber:— Ao  duque  de  Medina  foram  recommendadas  as  terras  situadas 
ao  longo  do  rio  Guadiana  até  Moura  e  o  reino  do  Algarve:  ao  marquez  de 
Saraval  a  fronteira  de  Castellobranco  até  Pinhel  e  extremo  da  Beira:  ao  conde 
d'Alba  e  de  Lista,  senhor  de  Samora  foi  designada  a  cidade  de  Miranda  até 
Torre  de  Moncorvo  e  Freixo  d'£spada  á  Cinta:  ao  conde  de  Benavente  foi 
recommendada  a  conquista  de  Bragança:  ao  conde  do  Monterei  a  da  terra  de 
Chaves,  Vinhaes,  e  Mirandelia;  e  ao  conde  de  Lemos  a  província  d'£ntre  Douro 
e  Minho.  A  cada  um  dos  quaes  foram  assignado%  dois  mil  homens  de  pé,  e  du- 
zentos de  cavallo,  nào  fallando  no  exercito  do  duque  de  Alba. 

«O  rei  D.  António,  ainda  que  carecendo  de  forças,  o  esperava  com  grande 
coragem,  e  o  referido  duque  de  Alba  tendo  desembarcado  na  entrada  do  rio 
Tejo,  tomou  Cascaes,  e  o  castello  de  S.  Julião,  por  causa  da  traição  do  go- 
vernador, que  estava  dentro,  chamado  Tristão  Vaz  da  Veiga,  e  approximon-se 
de  Lisboa.  O  dito  rei  com  as  poucas  tropas,  que  tinha,  o  aguardou  na  ponte  de 
Alcântara,  e  tendo  allí  combatido  por  alguns  dias,  vendo-sc  abandonado  dos 
soldados,  foi  constrangido  a  deixar  a  ponte,  e  retirando -se  para  a  cidade,  achou 
que  um  dos  seus  servidores  familiares  eslava  cercado  pelos  inimigos,  e  querea- 
doo  livrar,  como  o  foz  valorosamente  foi  l<íridn  na  cabeça,  c  assim  passou  atra- 


BR  i61 

Vtt  de  Lisboa  mandando  abrir  as  prisões  da  cidade,  e  foi  fazer-se  traclar  a  três 
léguas  da  referida  povoação,  perlo  de  Santo  António  do  Tojal,  e  depois  em 
Santarém,  <Hide  começou  a  reunir  algum  resto  da  nobreza  e  dos  fidalgos  que 
o  seguiam. 

«D*abi  foi  a  Aveiro,  e  vendo  que  Ibe  não  queriam  abrir  a  porta,  fez  tomar 
áe  assalto  a  cidade  em  pleno  dia,  e  entregou-a  aos  soldados  para  a  saquea- 
rem. Em  seguida  marcbou  para  o  Porto,  onde  os  da  cidade  receiosos  de  se- 
riai também  saqueados  e  maltratados  lhe  mandaram  por  dois  religiosos  pe- 
dir misericórdia,  a  qual  sendo  lhes  concedida,  o  rei  entrou  na  cidade,  e  d*ella 
mandou  ao  rei  de  França  Henrique  III,  e  á  rainha  sua  mãe;  um  embaixador 
eiiamado  António  de  Brito  Pimentel  pedindo  lhes  soccorro,  e  fazendo-lhes  sa- 
ber o  estado,  em  que  se  achava,  dos  quaes  foi  bem  recebido  e  honrado. 

cF(Nrtíficando-se  o  rei,  e  congregando  suas  forças  na  mencionada  cidade 
approximaram-se  os  hespanhoes,  e  quizeram  passar  o  rio  Douro  para  o  apa- 
nliarem,  emquanto  elle  lhes  resistia  por  um  lado;  os  habitantes  da  cidade  lhes 
deram  entrada  por  um  outro,  de  modo  que  foi  obrigado  a  retirar-se  para  um 
porto  de  mar  chamado  Vianna,  para  d'alii  se  embarcar,  e  ir  á  França,  mas  não 
Oi  podado  fazer,  retirou-se  para  os  montes,  donde  deu  aviso  para  França,  por 
meio  d'nm  portuguez  chamado  Jeronymo  da  Silva,  de  quanto  lhe  acontecera; 
60  rei  Ghristianissimo  e  a  rainha  sua  mãe  enviaram  um  navio,  no  qual  estava 
om  chamado  Pierre  d'Or  para  procurar  salval-o,  o  que  não  podendo  por  então 
láier,  mandou  embora  o  navio,  e  o  rei  D.  António  se  conservou  escondido  em 
Portugal  todo  o  resto  do  anuo  de  i580  até  6  de  janeiro  de  1581,  em  que  se 
embarcou  em  um  navio  de  Enebuse,  cujo  capitão  se  chamava  Cornelius 
d'Egmond. 

«Deve-se  aqui  notar  que  se  embarcou  à  tardinha  do  dia  de  Reis,  e  come- 
çando a  viajar,  viram-se  três  bellas  estrellas  no  Céo,  o  que  admirou  a  todos 
for  lâo  estarem  no  costume  de  serem  vistas:  o  navio,  no  qual  estava,  chama- 
va-se  três  Reis:  um  gsjieão  de  guerra,  que  fazia  guarda  para  reconhecer  os 
BiTios,  que  passavam,  e  observar  se  elle  estava  dentro  d'elle,  perto  do  qual 
piss&Ta,  tinham  também  o  nome  de  Três  Reis,  e  chegando  a  Calais  na  França, 
a  primeira  hospedaria,  em  que  entrou  tinha  por  insígnia  Três  Reis. 

iDe  Calais  passou  á  Inglaterra,  para  dispor  a  rainha  Izabel  a  juntar  suas 
forças  com  as  de  França,  das  quaes  estava  seguro;  e  voltou  promptamente  a 
Dicq[)pe,  onde  o  esperavam  o  senhor  de  Atrozze  com  vários  senhores  france- 
zes;  o  condestavei  de  Portugal,  e  o  embaixador  António  de  Brito;  e  d'alli  foi 
eondmido  a  Paris,  onde  foi  bem  recebido  tanto  do  rei,  como  da  rainha  sua 
mie,  pela  qual  foi  também  muito  visitado,  e  pela  rainha  então  reinante,  e  pela 
rainha  de  Navarra,  e  por  todos  os  senhores,  que  então  estavam  na  corte,  e  hos- 
pedoa-se  no  palácio  da  rainha  mãe,  onde  se  conservou  alguns  dias:  depois 
passou  para  o  castello  de  Plessis  Picquet,  perto  de  Paris,  e  d'ahi  para  Tours, 
onde  86  descobriu  um  portuguez,  que  tinha  sido  mandado  para  o  matar,  e  d*allí 
fot  para  Nantes  para  se  embarcar  na  armada  do  senhor  de  Slrozze,  a  qual  se 
lhe  {«reparava,  e  estando  em  Belle  Islo  á  espera  de  tempo,  o  senhor  de  Saincte 
Sdeine  foi  comprado  por  um  hespanhol  chamado  o  capitão  António  por  ses- 

TOMO  1  11 


162  BR 

scota  mil  escudus  pagáveis  cm  Génova,  o  <iue  foi  a  causa  principal  da  perda 
d'aquclla  armada;  e  embaraço  á  restauração  de  Portugal. 

«O  lei  retiron-se  para  a  liba  Terceira,  onde  mandou  cortar  a  cabeça  a  am, 
que  viera  para  o  matar,  e  d'alli  voltou  à  França,  donde  se  mandou  o  commen* 
dador  de  Cbastes  com  alguma  tropas  para  o  guardarem,  e  defenderem  a  dita 
ilha,  a  qual  sendo  assaltada  pelo  marquez  do  Santa  Cruz,  foi  tomada  peia  com* 
binação,  que  este  marquez  âzera  com  um  sargento  mestre  chamado  João  Ba- 
ptista  Samiche,  o  que  foi  a  causa,  porque  o  dito  commendador  voltou  para 
França. 

«O  rei  de  Portugal  estava  então  em  Rueil,  perto  de  Paris,  onde  vieram  qua- 
tro para  e  assassinarem,  e  d'allí  se  retirou  para  Bretagne  para  um  castello, 
que  a  dita  rainha  mãe  lhe  dera  para  seu  retiro,  chamado  Sussignon,  e  depois 
de  n'elle  residir  alguns  mczes  começou  a  liga  na  França,  e  sabendo  queMon- 
tigny,  capitão  do  dito  castello,  o  queria  entregar  ao  duque  do  Mercuenr,d'eUe 
saiu,  e  se  retirou  para  perto  d'Auray  para  casa  d*um  nobre  e  generoso  gea- 
tilhomem  chamado  Le  Plessis  Duquer;  e  alguns  niezes  depois  veiu  a  Poicloo 
para  o  castello  de  Beauvoir  sobre  mar,  onde  a  dama  de  la  Ganache,  dnqoeza 
de  Ludunois  lhe  pedira  que  Ocasse;  e  algum  tempo  depois  o  duque  de  Mer* 
eneur  tendo  suas  tropas  reunidas,  e  a  dita  dama  sendo  avisada  de  que  eUe 
queria  mandar  prender  o  referido  rei,  e  pol-o  nas  mãos  d'um  pagador  geral 
por  nome  D.  João  de  Heredia,  por  outro  nome  Moreau,  para  o  levar  á  Eespà" 
nha,  lhe  enviou  seu  mordomo  com  outras  pessoas,  cavallos  o  dinheiro  (saben? 
do  que  o  dito  rei  estava  muito  falto  d'elle)  e  lhe  pediu  se  deixasse  acompaohar 
por  cUes  para  um  logar  seguro;  o  que  o  rei  fez,  levando  unicamente  o  prin* 
cipe  D.  Manuel  seu  filho,  um  Gdalgo,  seu  primeiro  camarista,  deixando  aili  o 
príncipe  D.  Christovão,  seu  outro  Glho,  com  todos  os  outros  seus  gentishomens, 
o  qual  disfarçado  no  trajo  de  lacaio  veiu  ter  com  o  rei  seu  pae  á  Rochella. 

«D'alli  o  dito  rei  passou  á  Inglaterra,  tendo  sido  para  alli  chamado,  e  con- 
vidado pela  rainha  l7abel,  a  Om  de  o  fazer  escapar  do  perigo,  em  que  podia 
incorrer  por  causa  da  liga;  o  indo  de  Plymouth  a  Londres,  a  rainha  lhe  man- 
dou fazer  uma  magnifica  recepção  por  alguns  gentis-homens  disfarçados  em 
pastores  sobre  a  montanha  de  Salisbery,  dizendo-ihc  que  elle  era  o  bem  vin- 
do, e  assegurando  o  da  parte  do  grande  pastor  do  paiz  de  sua  benevolência, 
com  promessas  de  lhe  dar  todo  o  soccorro.  E  por  todas  as  povoações,  pelas 
quaes  passava,  os  governadores  d'ellas,  o  vinham  receber  ás  portas,  apresen- 
tando-lhe  as  chaves,  o  mandando  tocar  os  sinos,  como  o  faziam  a  seus  reis: 

•O  rei  estando  em  Londres  enviou  desde  25  de  outubro  de  1588  o  prindpe 
D.  Christovão,  seu  filho  ao  imperador  de  Marrocos  i)ara  servir  de  reféns  de 
cem  mil  miticacs,  equivalentes  a  quatro  centos  mil  francos,  que  o  dito  impe- 
rador lhe  promettera,  e  tendo  alli  estado  mais  de  três  annos  bem  tratado,  e 
honrosamente  servido,  enviou-o  ao  rei  seu  pae,  som  nada  ter  cumprido  de  soa 
promessa,  tendo  ouvido  que  eslava  no  caminho  um  dos  quatro  principaes 
chaoux  do  grão  senhor  para  o  sollicitar  a  cumprir  a  palavra,  ou  a  remetter  o 
dito  priucipe  para  Conslaulinopla,  e  este  chaoux  tinha  ordeiii  de  tomar  todas 
as  galc-i  c  gcnlos  do  guerra  ucco^sarias  para  accomi»:inharem  o  dito  príncipe. 


BR  163 

iNo  principio  do  anno  de  1583  a  rainha  dlnglatcrra  deu  um  soccorro  ao 
dito  rei  de  doze  mil  homens  para  saltarem  em  terra,  commandados  por  sir 
FyaLQcis  Drak  no  mar,  e  pelo  general  Norris  em  terra,  e  estando  prestes  a  fa- 
zerem-se  de  vela,  o  thesoureiro  d'Inglaterra,  milord  Borlé  propoz  ao  conselho, 
qae  seria  bom,  achando-se  a  armada  tão  forte,  que  procurassem  na  passagem 
tomar  Coronha  na  Galliza;  e  effectivamente  se  mandou  um  postilhão  para  dar 
ordem  aos  generaes  de  effectuarem  isto;  o  que  foi  causa  de  não  terem  liber- 
tado Portugal,  e  de  tal  sorte  que  sem  tomarem  a  cidade  de  Corunha,  se  reti- 
raram com  perda  de  muita  gente,  e  separação  de  navios.  O  que  vendo  o  rei 
protestou  contra  os  generaes  não  querendo  passar  adiante :  mas  dizendo  estes 
que  tinbam  ainda  bastante  gente  continuaram  sua  viagem,  e  chegando  a  Peniche, 
o  capitão,  que  estava  dentro,  entregou  o  castello,  e  ali  se  aprisionou  o  resto 
dos  soldados,  que  tinham  ficado,  em  numero  próximo  a  cinco  mil  homens, 
com  os  quaes  o  rei  marchou  para  Lisboa,  distante  quatro  léguas,  e  pelo  cami- 
nho não  se  encontravam  mais  que  festejos  dos  portuguezes  aos  inglezes  com 
abraços,  bom  agasalho  e  tratamento,  dizendo-lhes  que  eram  bem  vindos,  pois 
qae  lhes  traziam  seu  rei;  e  assim  chegaram  aos  arrabaldes  de  Santa  Catharina 
de  Lisboa  sem  nenhum  obstáculo :  estando  alojado  n'aquelle  sitio,  o  rei  era  a 
toda  a  hora  avisado  da  boa  vontade  dos  coronéis  e  principaes  commandantes 
das  tropas  da  cidade,  e  que  appresentando-se,  se  lhe  abririam  as  portas. 

«EUe  eommunicou  isto  ao  general  Norris  a  íim  de  o  persuadir  a  accompa- 
nhal-o,  6  entrar  com  suas  tropas;  ao  que  Norris  respondeu,  que  não  tinha  pól- 
vora, nem  balas,  e  que  era  mister  ila  buscar  a  Cascaes,  aonde  Drak  tinha 
clief^o.  O  rei  replicou-lhe  dizendo:  Que  depois  de  o  ter  levado  até  à  porta 
de  soa  casa,  não  o  fizesse  apartar  d'ella;  e  lhe  disse,  que  para  o  confirmar  a 
respeito  dos  offerecimentos,  que,  lhe  faziam  de  o  receberem,  elle  iria  a  trezen* 
tos  passos  na  frente  com  seus  portuguezes,  e  no  caso  que  lhe  faltassem,  e  que 
dle  fosse  trahido,  poder-se-hía  facilmente  retirar  com  todas  suas  tropas  para 
Gaseaes.  Ao  que  o  general  Norris  não  querendo  annuir,  o  rei  viu  se  na  neces- 
sidade de  voltar  a  Cascaes,  e  ali  foi  constrangido  a  embarcar-se  na  esquadra, 
a  qual  aehando-se  desprovida  de  viveres,  e  infectada  da  peste,  em  que  se  tinha 
contaminado  na  Corunha,  voltou  em  desordem  para  Inglaterra,  aonde,  logo 
qod  o  rd  chegou,  não  perdeu  tempo  em  participar  á  rainha,  e  descobrir- lhe  a 
UMã,  pela  qual  nada  se  tinha  feito  em  Portugal,  soilicitando-a  de  novo  a  que 
o  soccorresse,  e  lhe  desse  novas  forças  para  lá  tomar. 

*  «A  isto  a  rainha  respondeu:  Que  em  quanto  ás  despezas  com  os  navios 
e  munições  de  bocca  e  de  guerra,  ella  as  faria;  mas  que  procurasse  n'outra 
parte  o  dinheiro,  que  era  necessário  para  pagar  aos  soldados.  O  que  vendo  o 
rei,  e  sabendo  que  o  rei  Henrique  o  Grande  estava  em  Díeppe  no  anno  1590, 
foi  ler  com  elle,  e  lhe  pediu  auxilio  e  soccorro.  A  isto  lhe  deu  o  rei  em  res- 
posta: Que  com  grande  sentimento  seu  n'aquclla  occasião  não  o  podia  pres- 
tar, mas  que,  quando  se  visse  mais  firmo  em  seu  estado,  o  faria  com  todo  o 

prazer. 

<D'aii  voltou  o  rei  D.  António  para  Londres^  onde  estava  então  o  embaixa- 
dor de  Franca,  o  senhor  de  Beauvoií<  la  Nucle,  a  (|uom  deu  relação  do  olTure- 


164  BR 

cimento  generoso,  que  o  rei  lhe  Qzera,  pedindo-lbe  que  o  avisasse  das  noticias 
de  prosperidade  de  sua  magestade;  e  d'ali  por  diante  se  communicavam  e  fre- 
quentavam até  ao  anno  de  1594,  em  que  o  dito  sr.  embaixador  o  avisou  de 
que  podia  então  vir  à  França;  o  que  fez:  e  por  este  tempo  foi  descoberta  a 
traição  de  três,  que  conspiravam  contra  sua  vida,  e  contra  a  da  rainha  de  In- 
glaterra; os  quaes  foram  executados  em  Londres.  E  veiu  ter  com  o  rei  em 
Chartres,  onde  foi  bem  recebido,  e  assegurado  pelo  sr.  marechal  do  Matignoa 
de  parte  de  sua  magestade,  que  teria  toda  a  satisfação;  o  qual  sr.  marechal 
lhe  disse  que,  se  elle  quizesse  assistir  á  sagração  do  rei,  fosse  adiante,  que  te- 
ria cuidado  de  lhe  ministrar  o  que  lhe  fosse  necessário.  O  que  o  rei  de  Portu- 
gal não  poude  effectuar  por  causa  de  sufficação,  que  não  o  deixava  descançar 
uma  hora:  e  d*allí  veiu  a  Paris,  onde  estando  e  rei,  começou  a  sollicítal-o 
para  que  lhe  desse  soccorro,  e  para  este  effeito  que  lhe  emprestasse  cento  o 
vinte  mil  escudos:  o  que  o  rei  lhe  concedeu,  e  não  lhes  podendo  fomec(^  em 
metal  sonante,  deu-lhe  uma  carta  patente  assignada  por  sua  mão,  e  referen- 
dada por  Neufville,  e  sellada  com  o  grande  sello  na  data  de  22  de  abril  de 
i595,  com  o  Om  de  embolsar  no  anno  seguinte  a  dita  somma  âquelles,  que 
lh'a  adiantavam;  e  lhe  concedeu  entre  vários  outros  senhores  o  senhor  de 
Clermont  d'Amboise  para  ser  general  dos  francczes,  que  deviam  ir  a  Portu- 
gal; e  o  rei  D.  António  procurando  quem  lhe  adiantasse  esta  somma,  foi  ac- 
commettido  d'uma  doença,  de  modo  que  a  26  do  agosto  no  dito  anno  falleeea 
na  edade  de  64  annos,  tendo  alguns  dias  antes  feito  seu  testamento,  e  díspoeí- 
sição  de  sua  ultima  vontade,  o  deixando  três  cartas,  uma  para  o  rei  Christíanis- 
mo,  outra  para  a  rainha  dlnglaterra,  e  a  terceira  para  os  senhores  estados  de 
Hollabda,  pcdindo-Ihes  que  tivessem  a  bondado  de  proteger  seus  fllhos  e  fâ- 
mulos. E  o  príncipe  D.  Ghristovão,  seu  filho,  participou  por  um  gentil  homem 
mandado  expressamente  a  sua  magestade,  (que  estava  n'aquelle  tempo  em 
Leão,)  a  morte  do  rei,  seu  pae,  e  lhe  remetteu  a  mencionada  carta,  ao  qual,  e 
aos  executores  testamentários  d'aquelle  rei,  sua  magestade  referida  respondeu 
e  participou  ao  senhor  príncipe  de  Conty,  c  ao  cardeal  de  Gonday  a  ordem, 
que  deviam  observar  a  respeito  do  corpo  do  defuncto,  os  quaes  o  mandaram, 
embalsamar,  e  estando  n'um  caixão  de  chumbo,  queriam-n'o  depositar  na  ca- 
pella  da  defuncta  rainha  mãe  com  uma  capclla  ardente,  o  que  os  referidos 
executores  não  quizeram  permittir,  dizendo  que  isso  fazia  uma  dcspeza  exces* 
siva,  e  enviarauí  seu  coração  para  a  ogreja  da  Ave  Maria,  o  seu  corpo  para  o 
convento  dos  Franciscanos  de  Paris  por  um  dos  mestres  de  ccremonias,  o  ^l 
fez  armar  de  preto  com  as  armas  de  Portugal  a  capella,  que  fica  por  traz  do 
altar  mór  da  egreja,  onde  foi  depositado,  o  ainda  agora  repousa  na  dita  cgreja, 
n2  primeira  capella  da  nave. 

•O  rei  D.  António  era  dotado  de  todas  as  perfeições  reacs,  e  dignas  d'um 
grande  principe,  sendo  misericordioso  e  compassivo,  inimigo  dos  mentirosos» 
dos  calumniadorcs,  dos  delractares,  dos  juradores,  dos  blasphcmos,  repel- 
lindo  pessoas  lacs  do  sua  presença,  e  dizendo  que  uns  c  outros  eram  iudigno^^ 
de  estarem  enlre  as  pessoas  de  bem,  visto  (|ue  aíiueilc,  ([uc  se  fiasse  n'elles  9 
por  lim  seria  trahido,  sendo  lacs  que  nâo  pensavam  senào  no  seu  próprio  iia- 


BU  163 

leresse.  Sua  piedade  e  virtude  se  patenleia  claramente  nos  psalmos  peniten- 
ciaes,  que  deixou  por  sua  morte.  Era  muito  liberal,  de  maneira  tal  que  não  havia 
ninguém,  quer  fosse  nacional,  quer  estrangeiro,  de  qualquer  qualidade,  que 
tendo  recorrido  a  elle,  nâo  fosse  ajudado  liberalmente.  E  com  efTeito  ninguém 
saía  de  soa  presença  que  não  tivesse  bom  resultado  em  seus  pedidos,  até 
seus  inimigos,  herdatido  isto  do  infante  D.  Luiz  seu  pae,  que  no  seu  tempo  era 
cognominado  pae  dos  estrangeiros,  e  da  nobreza  por  aconselhar  à  obediência, 
fidelidade,  e  amor,  que  devia  ter  ao  rei  D.  João  III,  sendo  inimigo  de  todos 
aquelles,  que  se  esqueciam  de  tal  dever,  dizendo  que  não  eram  dignos  do  ti- 
tulo de  nobreza. 

«O  dito  rei  foi  tão  zeloso  da  liberdade  de  seu  reino,  que  nada  omittiu,  nem 
deixou  pedra,  em  que  não  bulisse,  para  o  fim  do  livramento  e  restauração  de 
Portugal,  como  se  verá  nas  cartas  seguintes,  que  d'isto  fazem  prova,  e  que 
tcstímunham  a  verdadeira  justiça  de  sua  causa.  Deixou  dois  filhos,  o  príncipe 
D.  Manuel  (que  na  HoUanda  se  casou  com  a  irmã  do  fallecido  príncipe  de 
Orange  Maurício  de  Nassau,  da  qual  teve  dois  filhos,  e  seis  filhas,  e  no  fim  de 
dois  annos,  que  alli  residiu,  quer  fosse  pela  viagem,  que  se  fez  ao  Brazil  sem 
lh*o  participarem,  ou  por  qualquer  outra  causa,  elle  se  passou  para  o  partido 
de  Hespanha,  com  seus  dois  filhos  no  anno  de  1626  (em  abril),  e  indo-o  visitar 
o  príncipe  D.  Christovão,  a  quem  o  rei  seu  pae  apresentou  ao  rei  Henrique,  o 
Grandey  no  dia  seguinte  áquelle,  em  que  voltou  a  Paris,  depois  da  tomada  de 
Laon  na  Picardia,  no  fim  de  dezembro  de  1594. 

«O  referido  príncipe  assistiu  á  morte  do  rei,  seu  pae,  que  lhe  deu  sua  ben- 
ção, de  quem  é  actualmente  verdadeiro  e  único  herdeiro  e  successor  de  todos 
08  direitos,  que  lhe  pertenciam;  e  tendo  ficado  debaixo  da  protecção  do  falle- 
cido rei  Henrique  o  Grande^  e  actualmente  debaixo  da  do  grande  tríumphador 
Luiz  XIH,  o  JustOf  acha-se  sempre  desejoso,  como  o  dever  o  obriga,  de  achar, 
se  íôr  iK)ssivel,  o  meio  de  restituir  Portugal  á  sua  liberdade,  tanto  para  alli 
mandar  enterrar  o  corpo  do  fallecido  rei,  seu  pae,  como  ordena  em  seu  testa- 
mento, ao  que  é  obrigado  como  seu  filho,  como  para  com  Deus  com  todas  as 
.sortes  de  serviços  e  submissões,  como  deseja  generosamente  ser  reconhecido 
á  magestade  do  rei  Christianismo,  que  o  protege :  e  segundo  a  grandeza  de 
seu  valor,  nada  lhe  será  mais  custoso  que  o  morrer  sem  effectuar  o  que  seu 
régio  coração  pretende,  apesar  de  se  achar  sobrecarregado  de  maguas  e  de 
angustias.» 
'Depois  d'esta  biographia  seguem-se  as  cartas: 

I  Cartas  patentes  do  rei  Henrique  III,  a  respeito  da  tomada  dos  navios 

portuQuezes  emprestados  ao  rei  D.  António.  Em  francez,  pag.  29. 
n  Cartas  patentes  de  commissão  para  informar  e  proceder  contra 
aquelles,  que  se  tinliam  esforçado  para  tomar  o  dito  rei  de  Portu- 
gal.  Em  francoz,  pag.  39-44. 

ni  Carta  do  rei  ao  duque  Merctieur  relativa  ao  mesmo  assumpto.  Em 
francez,  pag.  45-48. 

IV  Cartas  patentes  de  salva  guarda  passadas  pelo  rei  Henrique  III  ao 
rei  de  Portugal.  Em  francez,  48-53. 


ICC  BR 

V  Carla  do  rei  a  respeito  das  .<iol)redita$  cartas  patentes  de  commssõo 

e  salva  guarda  am  maioros  e  almotaceis  da  cidade  de  Nantes.  Em 
francez,  pag.  5.')-r)G. 

VI  Carta  em  hespanhol  do  conde  de  Leycester  ao  rei  de  Pwtugal  D.  An- 

tónio, Pag.  57-58. 
Tradocção  da  mesma  carta  em  francez,  pag.  59-60*. 
Vil  Carta  da  rainha  mãe  do  rei  Henrique  III,  escripla  ao  rei  de  Par* 

tugaly  quando  estava  na  Inglaterra,  Em  francez,  pag  61-64. 
VIII  Carta  do  imperador  de  Marrocm  ao  rei  de  Portugal,  traduzida  do 
árabe  em  latim  pelo  senhor  Gabriel  Sionita,  professor  régio  da  lín- 
gua arábica  em  Paris.  Em  latim,  pag.  6i-69. 
IX  Carta  da  rainlia  de  Inglaterra  Isabel,  escripta  ao  imperador  de 
Marrocos,  na  occasião  em  que  o  rei  de  Portugal  lhe  enviou  o  prhi' 
cipe  D.  Christovão,  seu  filho.  Em  hespanhol,  pag.  69-74. 
Tradacção  da  mesma  carta  de  hespanhol  cm  francez,  pag.  74-77. 
X  Carta  de  Sir  Francis  Drak  ao  rei  D.  António,  Em  francez,  pag. 
78-82. 

XI  Carta  da  referida  rainlia,  escripta  em  latim  ao  grande  senkor  sul- 

tão Murad  Cham  a  respeito  do  referido  rei  de  PortugtU.  Em  latim, 
pag.  82-86. 
Traducçào  da  referida  carta  cm  francez,  pag*  86-91. 

XII  Carta  em  hespanhol  da  referida  rainha  escripta  ao  imperador  de 

Marrocos,  a  respeito  do  dito  rei,  Pag.  91-96. 
Tradiicção  da  mesma  carta  em  francez,  pag.  98-102. 

XIII  Carta  em  italiano  da  dieta  rainha  escripta  ao  rei  de  Portugal  Pâg. 

102-107. 
Traducçrio  da  mesma  caria  de  italiano  em  francez,  pag.  107-112. 

XIV  Cartas  patentes  do  rei  Henrique  o  Grande,  em  favor  do  dito  rei  de 

Portugal,  Em  francez,  pag.  112-116. 
XV  Caria  do  rei  de  Portugal,  escripta  em  portuguez,  pouco  antet  de 
sua  morlc  ao  rei  Henrique  o  Grande.  Pag.  116-120.  , 

Traducção  da  mesma  carta  em  francez,  pag.  121-125. 
XVI  Extracto  d*um  artigo  do  testamento  do  rei  de  Portugal,  feito  em  Pa- 
ria a  \?t  de  juUio  de  irífío.  Traduzido  do  portuguez  em  francez,  pag. 
125-128. 
Vem  em  seguida  esta  advertência: 

«O  rei  Henrique  o  Grande,  escreveu  de  Lyon  ao  príncipe  de  Por- 
tugal D.  (Christovão  uma  carta,  depois  da  morte  do  dito  rei  de  Porta- 
gai,  a  qual  tendo-sí»  perdido  durante  as  guorras,  nào  ponde  ser  in- 
cluida  aqui,  mas  apresentam-sc  as  duíis  seguintes,  que  o  rei  escre- 
veu a  Diogo  Botelho,  «  Scipião  de  Figueiredo.» 
XVII  Caria  escripta  ao  smbor  Diogo  Botelho.  Em  francez,  pag.  128-130. 
XVUI  Caria  esrripia  ao  sifvhor  Scipião  Figueiredo.  Em  francez,  pag.  130- 
132. 
XIX  Caria  (pie  D.  António  1  deste  nome,  e  decimo  oitavo  rei  de  Portu» 


BK  161 

gal  escrevija  nu  siuUUsivw  padre  u  papa  Gregório  A7//,  nn  Rueil 

no  anm  de  4o83.  Em  francoz,  pag.  133-261. 
XX  Segunda  carta  escripta  da  Roch^lla  pelo  rei  D,  António  ao  nosso  santo 

padre  o  papa  Sixto  V.  Em  francez,  pag.  261-275. 
XXI  Terceira  carta  escripta  de  Inglaterra  pelo  mesmo  rei  ao  papa  Sixto  V. 

Em  francez,  pag.  276-282. 
XXII  Qfiarta  carta  do  dito  rei  ao  papa  Sixto  F,  escripta  de  Inglaterra. 

Ep  francez,  pag.  282-287. 

XXIII  Quinta  carta  do  dito  rei  ao  papa  Clemente  VIII.  Pag.  287-291. 

XXIV  Sexta  carta  do  lUto  rei  ao  papa  Clemente  VIIL  Em  francez,  pag. 

292-300. 
O  referido  livro  da  vida  de  D.  António  é  d'ama  raridade  extraordinária. 
O  único  exemplar,  que  lenho  visto,  ó  o  que  obsequiosamente  me  emprestou  o 
ex"*  sr.  conde  de  (ieraz  do  Lima  pjira  d*elle  me  servir  nVste  irabaliio. 

i8i)    BRIGNOLI  (Da.) 

E.  —  In  morte  di  Sua  Alteza  hnperiale  La  Principessa  Amélia.  Ode. 
Foi  publicada  e^la  sentida  poesin  no  vol.  12."  da  Revista  Universal  Lis- 
bonense. (1853). 

182)  BRTTiTiAC  (Maoemoiselle  S.  B.  D£) 

E.  —  Agnes  de  Castro.  Nouvelle  Portugavte.  Amsterdam,  1710. 
(Ignez  de  Castro,  novelia.) 

183)  BROOKWELL  (C.) 

E.  —  Naiural  and  politicai  hhtary  of  Portugal  during  the  rngn  of  John 
V.  LondoD,  1726,  8." 
,  (Historia  natural  e  politica  de  Portugal  durante  o  reinado  de  D.  João  V.) 

É  livro  raríssimo,  diz  o  visconde  de  Santarém  a  pag.  cccxxxii  do  tomo 
6.®  do  Quadro  elementar  das  relações  politicas  de  Portugal  com  as  diversas 
potencias  do  mundo. 

A  um  escriptor  do  mesmo  nome  vejo  attribuida  na  Historia  de  Portugal 
do  sr.  João  Félix  (Lisboa,  1848,  vol.  1."  pag.  60)  uma  obra  com  o  seguinte  ti- 
tulo: Tke  natural  and  politicai  history  o f  Portugal  to  which  is  added  the  history 
of  Brasil,  and  o  ther  dominions  subjert  to  the  crown  of  Portugal  in  Asia^ 
Africa  and  America.  182o. 

Nio  vi  nem  uma  nem  outra,  o  por  isso  não  posso  dizer  se  ambas  são  uma 
e  a  mesma  obra,  ou  se  efíectivamente  são  duas  differentes. 

184)  BKOME  (JAOQUES). 

E.—  Traveis  through  Portugal^  Spain  and  Ualy,  London,  1712. 
(Viagens  em  Portugal,  etc.) 

185)  BROOK  (T.  H.) 

K.  —  i4  history  of  the  Island  of  St,  Helena,  from   its  disco^)erg  by  the 


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BR  169 

189)    BRUGE  (JAMES).  —  Celebre  viajanle  íoglez. 

Nascea  em  Kíanaírd  no  anno  de  1730  e  fallecea  em  1794.  > 

E. "  Voyage  aux  sources  du  NU  en  Nubie  et  en  Abyssinie  pendant  les 
annés  1768, 69,  70,  71,  et  72.  Traduit  deVAnglm  par  /.  H,  .Castera.  Londres, 
4701, 13  vol. 

Ha  varias  ontras  tradacções  d*esta  obra  em  diflferentes  idiomas. 

Se  bem  que  este  trabalho  não  foi  escripto  para  tratar  exclusivamente  de 
assamptos  portuguezes,  é  todavia  um  d^aquelles,  em  que  a  cada  passo  se  está 
fatiando  das  acções  de  nossos  antepassados. 

Y^amos  algumas  das  passagens  mais  notáveis  d*esta  obra. 

Tomo  4."  pag.  142  e  seguintes:  «Joào  I  rei  de  Portugal,  depois  de  ter  ven- 
cido os  mouros  em  varias  batalhas,  constrange-os  a  tornarem  a  passar  o  mar^ 
e  a  regressarem  à  sua  pátria.  ^  Suas  victorias  apagaram  a  vergonha  da  alcu- 
nha, que  lhe  tinham  posto;  e  João  o  Bastardo  não  foi  depois  designado  s^não 
pelo  nome  glorioso  de  João  o  Vingador,  Não  era  porém  isto  ainda  bastante 
para  sua  grande  alma.  Ajudado  por  alguns  marinheiros  inglezes,  fez  uma  des- 
cida ás  costas  da  Barbaria,  poz  cerco  a  Ceuta,  e  tornou-se  promptamente  se- 
ahor  d'esta  grande  cidade.  As  ligações  doeste  príncipe  com  os  inglezes  eram 
uma  consequência  de  seu  casamento  com  Filippa  de  Lancastcr,  irmã  d'Henri- 
que  IV,  rei  dlnglaterra.  João,  o  Vingador  teve  d*este  consorcio  cinco  filhos, 
todos  bravos,  todos  guerreiros  na  tomada  de  Ceuta,  e  em  estado  de  comman- 
darem  exércitos.  Henrique,  o  mais  novo  d'estes  príncipes,  tinha  então  apenas 
vinte  annos,  mas  foi  o  prímeiro  a  subir  à  brecha  debaixo  das  vistas  de  seu 
•pae,  que  o  nomeou  immediatamente  mestre  da  ordem  de  Christo. 

«Apesar  de  todas  as  felicidades,  que  teve  o  rei  João  I  na  guerra  d*Afríca, 
o  príncipe  Henrique  conheceu  bem  depressa  que  Portugal  era  excessivamente 
limitado  para  luctar  sosinho  contra  o  enorme  poder  dos  mahometanos,  cujo 
dominio  se  estendia  sobre  as  roais  ricas  partes  do  mundo  conhecido.  O  en- 
grandecimento repentino  de  Veneza  feriu  ao  mesmo  tempo  os  olhos  d'este  prín- 
cipe. Veneza  devia  só  ao  seu  commercio  a  vantagem  de  poder  resistir  a  seus 
formidáveis  inimigos.  Portugal  de  per  si  era  mais  importante  que  Veneza;  mas 
reinavam  em  seu  seio  a  pobreza,  a  ignorância,  o  orgulho,  e  a  preguiça:  desde 
a  expulsão  dos  mouros  ate  a  agricultura  n'este  paiz  estava  em  despreso. 

.  «Desde  sua  mais  tenra  juventude  o  príncipe  Henríque  '  amara  apaixona- 
damente as  mathematicas,  e  cultivara  cuidadosamente  a  astronomia.  Generoso 
e  valente  era  inimigo  da  superstição,  da  vaidade  e  da  ira.  Tratava  com  a  maior 
bondade  os  judeus  e  os  árabes,  únicos,  que  podiam  secundar  o. ardor,  que  ti- 
nha de  se  instruir.  Em  .vão,  indubitavelmente,  teria  elle  tentado  tomar  Portu- 
gal ríval  do  commercio  do  Mediterrâneo,  do  qual  Veneza  estava  de  posse.  Po- 
rém restava-lhe  um  outro  meio  d'ir  procurar  as  mercadorias  á  índia:  era  mis- 

1  Firroin  Viioi  —  NouveUe  Biogriaphie  UniverseUct  tomo  7.<>,  pag.  562. 

'  Bruce  dSo  eslava,  como  se  yé,  perfeitamente  conhecedor  da  historia  de  Portugal. 

>  James  Bruce— Voyagff  aux  sources  du  iVti,  Tol.  é.^,  pag.  143. 


170  BK 

ter  atravessar  o  Oceano  Atlântico,  dobrar  o  famoso  Cabo,  ao  qaal  cntào  sp 
dava  o  nome  de  Promontório  das  tormentas,  e  penetrar  no  mar  da  Asia.  Esti- 
mulado por  esta  idéa  o  príncipe  Henrique  rctirouse  para  ama  casa  de  campo 
solitária,  aflm  de  poder  consagrar  todo  seu  tempo  ao  estado  e  á  meditação  da* 
seos  grandes  projectos.  A  ignorância  o  os  preconceitos  de  seu  secaio  enm 
contra  elle.  Nào  se  conhecia  então  oatra  goographia  mais  qao  a  dos  poetas. 
Os  portagaezes  imaginavam  que  todas  as  terras  semeadas  entre  os  trópi- 
cos nâo  podiam  ter  habitantes,  sendo  abrazadas  por  am  sol,  ci^o  ardor  nada 
havia  qoe  refrigerasbO,  e  banhadas  por  um  mar  ardente.  Por  isso  acredita- 
vam que  qualquer  empreza  para  descobrir  aqucllas  regiões  era  nâo  somente 
ama  loucura,  mas  até  am  excesso  d'audacia,  um  attentado  contra  a  Provi- 
dencia. 

«Com  tudo  se  o  príncipe  Henrique  teve  que  combater  os  preconceitos  de 
sua  nação,  achou  por  outro  lado  poderosos  motivos  d'animação.  A  historia 
grc^a,  que  elle  estudava  cuidadosamente,  lhe  provoa  que  a  viagem,  na  qual 
pensava,  tinha  sido  já  executada  duas  vezes:  primeiramente  pelos  Phenieíos, 
darante  o  reinado  de  Necho  no  Egypto,  e  depois  por  Eudoxo,  no  reinado  d'am 
oatro  rei  do  Egypto  muito  menos  antigo,  em  tempo  de  Ptolomeu  Lathyni& 
Endoxo  dobrou  a  ponta  mais  meridional  d'Africa,  e  chegou  a  Cadix.  Uannoa 
tinha  ainda  feito  mais:  partira  de  Carthago,  e  depois  de  ter  passado  o  estreí* 
to,  tinha  avançado  para  o  Oceano  Atlântico,  até  25°  de  latitude  Norte. 

«Mas  am  exemplo  mais  recente  é  o  de  Macham,  navegador  mglez,  o  qoal 
no  século  xiv,  voltando  da  costa  occidental  d^Africa,  naufragou,  e  se  salvot 
na  ilha  da  Madeira,  então  deshabitada,  com  uma  mulher,  a  quem  elle  amava 
ternamente  Pouco  depois  Macham  teve  a  desgraça  de  perder  soa  companheira, 
e  não  podendo  supportar  por  mais  tempo  a  solidão  completa,  em  que  se  acha- 
va, 1  construía  uma  canoa,  com  a  qual  ganhou  o  continente,  onde  os  habitan- 
tes se  apoderaram  de  sua  pessoa,  e  o  apresentaram  ao  califa  como  um  obje- 
cto de  curiosidade.  Finalmente  em  136^  os  Normandos  de  Dieppe  tiveram  uma 
companhia,  que  ia  commorcíar  até  Serra  Leoa,  que  não  está  mais  que  a  7<^  da 
linha. 

t  A  doçura,  com  que  o  príncipe  de  Portugal,  tratava  os  prisioneiros  mouros, 
foi  recompensada  peias  instrucções,  que  recebeu  d^elles.  Participaram-lhe  que 
alguns  de  seus  compatriotas  do  reino  de  Suz  tinliam  penetrado  muito  pelo 
deserto  dentro,  montados  em  camellos,  levando  comsigo  agua  e  provisões;  qae 
depois  de  alguns  dias  de  marcha  tinham  encontrado  minas  de  sal;  que  tinham 
tomado  um  carregamento  extrahido  d'ellas,  e  depois  tinham  ido  alem  dos  li- 
mites das  chQvas  do  trópico,  onde  acharam  grandes  cidades  habitadas  por  ho- 
mens negros  e  de  cabello  revolto.  Estes  homens  haviam  recebido  muito  bem 
os  viajantes  mercadores,  e  lhes  tinham  ensinado  que  havia  ainda  alem  de  sen 
paiz  um  grande  numero  de  tribus  bem  povoadas  e  guerreiras.  Por  fim  D.  Pe- 
dro, irmão  do  príncipe  Henrique,  trouxe  na  sua  vinda  de  Veneza  um  mappa- 
mundi,  no  qual  toda  a  costa  do  Oceano  Atlântico  estava  distínctamente  tra- 

*  James  Br\\c€í  -Voyaqr.  nur  xourcpi;  du  Ml.  vol.  í.».  pag    146. 


BR  171 

cada,  e  estava  figarado  na  extremidade  meridional  d' Africa  um  cabo  rodeiado 
d'am  mar,  qae  conimunicava  com  o  Oceano  Indico. 

«Apenas  o  príncipe  se  jnlgou  segnro  de  haver  ama  passagem  para  as  In- 
'dias,  dando  a  volta  d*Afríca,  que  se  occapou  em  mandar  constmir  quanto  era 
necessário  para  esta  navegação.  Corrigiu  as  tábuas  solaras  dos  árabes,  fez  ai- 
gumas  aheraçoes  no  astrolábio,  porque  o  quarto  do  circulo  ainda  não  era  co- 
nhecido em  Portugal. 

tllenrique  pela  sua  beneficência  e  liberalidade  tinha  attrahido  para  seu  lado 
03  mais  babeis  pilotos  de  seu  tempo,  e  os  mais  sábios  mathematicos,  e  lhes 
propoz  de  pôr  sua  theoria  em  pratica.  Havia  já  dez  annos  que  fazia  partir  na- 
vios para  tentarem  executar  seus  projectos  sem  ter  ainda  podido  determinar 
os  marinheiros,  que  os  tripulavam^  a  passarem  o  Cabo  Nan,  isto  é,  avança- 
rem trinta  léguas  mais  até  ao  Cabo  Bojador.  Sua  coragem  só  se  limitava  a  isto, 
e  a  idóa  d'um  Oceano  tempestuoso  lhes  fazia  uma  tal  impressão,  que  voltavam 
successivamente  satisfeitos  de  sua  audácia  e  de  sua  sciencia.  Mas  o  princípe 
pensava  muito  differentemente.  Dissimulando  comtndo  a  opinião  desvantajosa, 
que  elles  lhe  davam  de  seu  talento,  continuou  a  demonstrar-lhes  a  possibili- 
dade, que  havia,  d'executar  seu  projecto,  e  a  premetter-lhes  recompensas.  En- 
6o  emprehenderam  novas  viagens,  e  bem  depressa  voltaram  tendo  adiantado 
tão  pouco  como  da  primeira  vez.  Ha  até  probabilidades  de  que  estes  ensaios 
inúteis  teriam  durado  ainda  muito  tempo,  se  um  acaso,  ou  antes  a  providen- 
jeia,  não  tivesse  vindo  em  sua  ajuda. 

« Juão  Gonçalves  e  Tristam  Vaz,  ambos  da  casa  do  infante  D.  Henrique  na 
qualidade  de  gentishomens  de  sua  camará,  vendo  a  impressão,  que  a  incapa- 
cidade de  seus  pilotos  fazia  n'elle,  obtiveram  d'eàte  príncipe  o  commando  d'uma 
pequena  embarcação,  e  resolveram  dobrar  o  Cabo  Bojador,  e  descobrir  a  costa, 
que  se  prolonga  alem.  Foram  surprehendidos  por  uma  tempestade  violenta,  e 
depois  de  terem  estado  por  alguns  dias  em  perigo  de  morte,  abordaram  a  uma 
pequena  ilha,  a  que  deram  o  nome  de  Porto  Santo.  João  Gonçalves  e  Tristam 
Vaz  estavam  animados  d'um  verdadeiro  espiríto  de  descobertas.  Longe  de  se 
julgarem  perdidos  em  um  novo  mundo,  e  de  se  contentarem  com  o  que  ti- 
nham feito,  occuparamse  em  examinar  bem  o  local,  aonde  o  acaso  os  tinha 
arrojado.  Emquanto  os  dois  viajantes  percorriam  esta  ilha,  que  era  estéril»  e 
pouco  valia,  observaram  no  horísonte  um  ponto  negro,  que  nem  mudava  de 
sitio,  nem  de  figura,  e  convencidos  de  que  era  uma  terra,  voltaram  a  Lisboa 
•para  darem  parte  ao  infante  D.  Henrique  de  sua  duplicada  descoberta. 

«Immediatamente  este  fez  preparar  três  navios,  dos  quaes  dois  foram  ecm- 
fiados  a  Vaz  e  a  Zarco,  e  o  terceiro  a  Bartholomeu  Perestrello,  goitilhomeai 
da  camará  do  príncipe  D.  João,  irmão  de  Henrique.  Estes  navegantes  não  eu- 
ganaram  as  esperanças  de  quem  os  enviara.  Ganharam  primeiro  Porto  Santo, 
e  depois  avançaram  até  o  ponto  negro,  visto  por  seus  predecessores,  que  iiã9 
era  outra  coisa  senão  a  ilha  da  Madeira,  então  completamente  coberta  de  ar- 
voredo. No  tempo  doesta  descoberta  tinha  cessado  de  viver  João  I,  e  D.  Duarte 
subira  ao  throno.  Porém  não  impediu  isto  a  Henrique  de  continuar  o  curso 
de  seus  projectos. 


172  BR 

tGil  Eannes  estimulado  pela  ventura  dos  últimos  viajantes  partiu  com  a 
intenção  de  dobrar  o  cabo  Bojador,  sem  se  desviar  da  costa,  de  maneira  a  po' 
der  encontrar  terras  desconhecidas.  Os  ventos  e  o  mar  favoreceram  n^ò.  Do- 
brou facilmente  o  cabo,  e  depois  de  se  ter  adiantado  algumas  léguas  para  a 
bahia,  que  fica  ao  sul,  veiu  felizmente  contar  para  Portugal  que  tinha  achado 
um  mar  não  menos  navegável  além,  que  àquem  do  cabo  Bojador,  e  que  as 
diíficuldades,  os  perigos  d*cste  oceano,  que  tinham  até  então  espantado  os  ma-' 
rinheiros,  eram  sem  nenhum  fundamento. 

«A  passagem  do  cabo  Bojador  foi  dentro  cm  pouco  conhecida  na  Europa,  e 
despertou  no  espirito  de  todos  os  navegantes  o  desejo  de  tentarem  aventaras. 
Os  mais  ousados  vieram  depressa  ter  com  o  infante  D.  Henrique;  e  esta  emu- 
lação augmentou  ainda  a  coragem  dos  portuguezes,  já  orgulhosos  com  suas 
prosperidades.  Mas  ha  sempre  homens,  que  incapazes  de  produzirem  alguma 
cousa  grandiosa,  passam  seu  tempo  a  criticar  as  emprezas  dos  outros.  Estes 
homens  censuravam  o  infante  de  ter  escolhido  o  momento,  em  que  a  guerra 
dos  Mouros  acabava  de  custar  muita  gente  e  dinheiro  a  Portugal,  para  fazei; 
novas  despêzas  procurando  descobrir  paizes,  que  elles  consideravam  como  inú- 
teis e  perdidos  no  oceano.  Apesar  de  se  não  atreverem  a  avançar  como  ou- 
tr'ora  que  este  oceano  fervia  continuamente  à  roda  doestas  terras  ardentesi, 
sustentavam  ainda  que  estas  terras  estavam  de  tal  sorte  abrazadas  pelo  soj^ 
que  todos  os  homens,  que  as  habitavam,  deviam  tomar-se  pretos,  e  que  n'el- 
las  não  podia  haver  alguma  vegetação  ^  Raciocínios  taes  teriam  com  tudo 
sido  sufficíentes  para  transtornar  todos  os  desígnios  do  infante  Henrique,  se  o 
rei  de  Portugal  tivesse  pensado,  como  a  maior  parte  de  seus  vassallos.  Porém 
Portugal  estava  destinado  a  chegar  dentro  em  pouco  ao  mais  alto  ponto  de 
heroísmo  e  de  gloria,  graças  á  longa  serie  de  príncipes  sábios  e  valentes,  que 
o  governaram. 

•O  rei  Duarte  em  logar  de  responder  aos  detractores  das  novas  emprezas, 
testemunhou  mais  respeito  e  confiança  a  seu  irmão  2.  Querendo  mesmo  exeí- 
tal-o  a  levar  ainda  mais  longe  seus  projectos  deu-lhe  por  toda  sua  vida  a  so- 
berania da  Madeira  e  Porto  Santo,  e  de  quantos  paizes  podesse  mandar  desco- 
brir sobre  a  costa  d'Africa,  e  submetteu  para  sempre  a  jurisdicção  espiritual 
da  Madeira  á  ordem  de  Clirísto,  do  qual  o  infante  era  grão-mestre. 

■As  viagens  continuaram  então  debaixo  dos  auspícios  de  Henrique.  Nano 
Tristão  dobrou  o  cabo  Branco,  e  chegou  até  um  pequeno  rio,  em  cujas  mar- 
gens encontrou  habitantes,  que  possuíam  ouro,  pelo  que  este  rio  se  ficou  cha- 
mando rio  do  Ouro,  o  construíram  alli  um  forte,  a  que  pozeram  o  nome  de 
Arguim.  No  anno  1445  Diniz  Fernandes  foi  o  primeiro,  que  descobriu  o  rio 
Senegal,  cuja  margem  sepientrional  é  habitada  por  mouros  asenagi,  de  côr 
baça,  e  a  margem  meridional  pelos  Jalofs,  negros  que  recolhem,  e  vendem  a 
gomma  arábica. 

'  James  Bruce— Fof/aj/c  aux  sources  du  NU,  vol.  4.*,  pag.  152. 
5  Bruce  chamalhe  tio  (pag.  152).  Como  já  disse  esto  auctor  commelle  muitas  ine- 
xactidões na  historia  de  Portugal. 


BR  i73 

«Depois  o  navegador  portaguez  avançando  além  do  rio  avistou  Gabo  Ver- 
de, 6  foi  não  menos  encantado,  que  sorprehendído  do  espectáculo,  que  se  lhe 
offèrecia  no  meio  da  zona  tórrida,  quando  achou  uma  região  regada  por  gran* 
des  rios,  e  ornada  da  mais  brilhante  verdura.  A  guerra  civil  assolava  o  povo 
dos  JaloGs.  Bemoi,  um  de  seus  príncipes  reinava  pela  astúcia  de  sua  mãe,  que 
linha  conseguido  collocal-o  sobre  o  tbrono  n'um  tempo  de  menoridade  com 
prejuízo  de  seus  três  outros  irmãos^  que  eram  os  herdeiros  legítimos.  O  mais 
velho  doestes  príncipes  conservava  uma  sombra  de  poder,  e  parecia  favorecer 
o  usurpador.  Durante  aquelle  tempo  Bemoi  se  ligou  estreitamente  com  os  por- 
tugnezes.  Prometteulhes  tudo  quanto  elles  quizeram,  e  principalmente  de  lhes 
conceder  um  terreno  para  construírem  um  forte  sobre  o  continente,  e  até  d*elle 
mesmo  se  converter  ao  christianismo,  o  que  parecia  mesmo  desejar  arden- 
temente. O  irmão  roais  velho  de  Bemoi  não  tardou  que  morresse,  e  os  outros 
dois  irmãos  attacaram  Bemoi;  porém  foi  defendido  pelos  portuguezes,  de  quem 
elle  tinha  recebido  por  empréstimo  grossas  sommas  de  dinheiro.  Depois  hesi- 
tou em  se  converter,  e  deu  ordem  aos  portuguezes  de  sairem  d'aqueile  paiz,  e 
de  o  deixarem  sosinho  sustentar  sua  fortuna.  Com  tudo  tendo  perdido  uma 
batalha  contra  seus  irmãos,  foi  bem  depressa  reduzido  á  necessidade  de  fugir 
atravez  do  deserto  até  Arguim,  e  d'alii  embarcou  para  Lisboa  com  um  grande 
numero  d'aquelles,  que  lhe  eram  aíTeiçoados.  Foi  acolhido  pelo  rei  de  Porlu- 
gial  com  todas  as  honras  devidas  a  um  soberano,  e  recebeu  o  baptismo  sendo 
j^resentado  na  egreja  pelo  rei  e  rainha.  Fizeram-se  muitas  festas  na  occasião 
d*esta  conversão. 

«O  rei  de  Portugal  appressou  os  preparativos,  que  deviam  servir  a  tornar 
a  pôr  seu  alliado  no  throno :  e  logo  que  os  festejos  acabaram,  estava  prompta 
para  partir  uma  frota  e  um  exercito  considerável.  Porém  infelizmente  para 
Bemoi  o  commando  d'esta  expedição  foi  dado  a  Tristão  da  Cunha,  guerreiro 
bravo  e  experimentado,  mas  d'um  caracter  tão  orgulhoso  e  cruel,  que  seus 
compatriotas  lhe  tinham  posto  a  alcunha  de  Biragudo. 

«A  frota  não  tardou  em  chegar  á  Africa.  Desembarcaram  as  tropas,  e  seu 
numero  e  valor  não  lhes  deixando  receiar  alguma  opposição,  o  general  portu- 
goez  começou  a  construir  um  forte,  sem  se  importar  se  o  logar,  em  que  lan- 
çava os  alicerces,  era  doentio.  Era  um  logar  baixo  e  pantanoso,  e  por  isso  as 
febres  começaram  immediatamente  a  causar  estragos  entre  os  portuguezes,  e 
a  fazer  perder  de  vista  o  fim  da  expedição. 

«Ck)m  tudo  os  murmúrios  do  exercito  e  o  receio  de  íicar  sosinho  para  com- 
mandar  seu  forte  desesperavam  Cunha.  Um  dia,  que  elle  estava  a  divertir-se  a 
bordo  de  seu  navio,  tendo  tido  alguma  altercação  com  Bemoi,  trespassou-ihe 
o  coração  com  uma  punhalada,  e  o  estendeu  morto  a  seus  pés,  sem  que  o 
desgraçado  rei  tivesse  tempo  de  dizer  uma  só  palavra.  Immediatamente  o  forte 
foi  abandonado,  e  o  exercito  voltou  para  Portugal,  depois  de  ter  feito  maiores 
despezas,  que  todas  as  descobertas  do  principe  Henrique. 

«Porém  o  ccu  recompensou  a  sabedoria  do  rei  de  Portugal  com  uma  des- 
coberta, que  o  indcmnisou  amplamente.  O  principal  Qm  das  expedições  do 
principe  Henrique  era  achar  uma  passagem  para  as  índias  oricntaes,  dobrando 


174  BR 

a  ponta  meridional  d' Africa,  coisa  qae  se  julgava  então  impossível.  >  Para  ob- 
viar aos  inconvenientes,  qae  podessem  sobrevir  nas  viagens  por  mar,  empre- 
hendea-se  uma  outra  por  terra.  No  commercio  da  índia  atravessava-se  a 
AfHca  em  toda  sua  largura,  d'oriente  para  occidente.  O  príncipe  Henríque  ti- 
nha  tido  desígnio  de  fazer  seguir  um  caminho  parallelo  para  ir  ao  meio  dia, 
passando  por  paizes,  onde  dominava  o  chrístianismo;  por  quanto  alguns  cbrís- 
taos  vindo  da  Palestina  tinham  referido,  havia  muito  tempo,  que  existia  em ' 
Jerusalém  um  convento  de  monjes,  súbditos  d'um  príncipe  chrístão,  que  ha- 
bitava no  coração  d'Afirica,  e  cujo  imperío  se  estendia  das  costas  do  mar  Ver- 
melho até  à  do  Atlântico.  Accresceniavam  ainda,  que  alguns  d'aquclles  mon- 
jes vinham  frequentemente  a  Alexandria,  cujo  patriarcha  era  o  único,  que  ti- 
nha o  privilegio  de  enviar  um  bispo  ao  paiz  d'elles.  Marco  Paolo,  viajante  Ve- 
neziano, tinha  derramado  muita  confusão  sobre  toda  esta  historia,  dizendo  quo 
encontrara  nas  suas  viagens  na  Tartaria  este  príncipe  christao,  que  se  chama- 
va o  Prestes  João. 

«Com  tudo  o  rei  de  Portugal  escolheu  para  seus  embaixadores  junto  doeste 
príncipe  a  Pedro  da  Covilhã  o  AfTonso  de  Paiva.  Covilhã  era  um  homem  muito 
capaz  de  desempenhar  uma  tal  missão.  Empregado  algumas  vezes  pelo  ultimo 
rei  em  negócios  mui  delicados,  tinha  mostrado  muita  sagacidade  e  prudência. 
Além  d'isso  estava  ainda  em  todo  o  vigor  da  edade,  corajoso,  activo,  dextro 
para  manejar  toda  a  qualidade  d'armas,  modesto  e  jovial  na  conversação;  e  o 
que  coroava  tantas  qualidades  brilhantes,  era  quo  tinha  a  feliz  vantagem  de  ad- 
quirir promptamcnto  o  conhecimento  das  línguas,  e  de  poder  bem  depressa 
explicar-se  por  toda  a  parte  sem  interprete. 

•Foi  na  corte  de  Bcmoi  quo  se  teve  a  primeira  cortesã,  que  existia  um 
príncipe  christao  no  interior  d' Africa.  Os  habitantes  das  costas  do  mar  Atlân- 
tico contavam,  quo  penetrando  no  paiz  para  este,  cncoutravam*sc  algumas  na- 
ções poderosas,  habitando  em  cidades  e  governadas  por  príncipes  independen- 
tes uns  dos  outros;  o  que  mais  longe,  ao  oriente  d'es3as  naçòes,  estava  um 
soberano,  cujos  vassalos  nem  eram  pagãos,  nem  idolatras;  mas  meio  judeus  e 
meio  christãos. 

•Parece  que  estes  pormenores  deveram  ser  levados  ao  Senegal  pelas  cara- 
vanas. Certamente  a  linguagem  dos  negros  não  foi  na  origem  mais  que  um 
dialecto  do  abyssinio. 

•No  Benim,  outro  paiz  da  Negricía,  tiveram  os  portuguezes  uma  nova  prova 


*  Nilo  admira  que  Bruce  usasse  de  expressões  lào  ciilbusíasticus:  a  Historia  l/nè- 
iTi'5a/ composta  por  uma  sociedade  litteraría,  c  traduzida  cm  francez  diz  a  pag.  433  do 
tomo  23.**— Les  portugais  furcnt  los  Tuiidatcurs  <iu  commcrce.  cl  de  la  marine  des  curo- 
péens. 

•O  primeiro  unicórnio,  ou  rhinoceronle  da  Ásia,  du  q  uai  se  publicou  a  gravura,  foi 
pintado  por  Alberl  Durer  no  principiu  do  século  wi,  cunformc  um  animal  vivo,  que  os 
portuguezes  trouxeram  da  índia.  Durer  piutou-o  .superiormente:  c  todavia  õ  coriforroc 
este  quadro  que  se  tccm  empalhado  por  todas  a.»  partes  do  niuntlb  lautas  copias  informes 
e  monstruosas.»  (Brucf)  Voifnqr  mu  ^ourra  dv  ^i'  \*<\.  l.T",  pa;;-  110. 


BR  i75 

de  qae  existia  am  príncipe  christào  do  centro  d' Africa,  e  ao  sudoeste  d'este 
paiz. 

«Os  habitantes  referiam,  que  era  um  principe  muito  poderoso,  o  qual  sa 
chamava  Ogané,  e  que  seu  reino  ficava  a  perto  de  duzentas  e  dncoenta  lé- 
guas de  distancia  de  Bením.  Accrescentavam  que  na  sua  eleva^  ao  throno 
08  reis  de  Benim  recebiam  d'este  principe  uma  cruz  de  cobre,  e  um  bastão 
ewo. 

•Parece  que  esta  palavra  Ogané  é  uma  corrupção  de  João  ou  de  Jeanoy 
tituk),  que  os  christaos  orientaes  deram  aos  reis  d'Abysslnia.  Mas  é  bem  diffl- 
cil  de  se  acreditar  que  houvesse  relações  entro  o  império  de  Abyssinia  e  o  Be- 
nim, não  somente  por  causa  da  distancia,  mas  porque  o  intervallo,  que  os  se- 
para, é  habitado  pelos  povos  os  mais  selvagens  do  mundo,  os  gallas  e  os  shan- 
gailas. 

«Com  effeito  a  corte  da  Abyssinia  residia  n'aquelle  tempo  em  Shoa,  pro- 
vinda (tonteira  do  sudoeste,  e  seria  possivei  que  tivesse  estendido  sua  poten-* 
cia  peio  paiz  de  seus  bárbaros  visinbos  até  perto  de  Benim,  que  está  nas  mar- 
gens do  mar  Atlântico. 

«O  rei  de  Portugal  estava  resolvido  a  não  demorar  por  mais  tempo  a  des- 
cdberta  dos  legares,  que  produziam  especiarias  na  índia,  e  d'uma  passagem 
para  se  dirigirem  por  terra  para  a  costa  oriental  d' Africa.  Covilhã  e  Paiva  fo- 
ram pois  encarregados  d*esta  missão,  e  munidos  de  credenciaes  se  dirigiram 
a  Alexandria.  ^  Deu  se-lhes  ao  mesaio  tempo  uma  carta  redigida  debaixo  da 
4ireeção  do  príncipe  Henrique,  e  se  lhos  recommendou  que  a  verificassem,  e  a 
corrigissem  conforme  o  que  vissem.  Deviam  informar-se  onde  se  faziam  os 
principaes  mercados  de  especiarias,  principalmente  de  pimenta;  quaes  os  ca- 
minhos por  onde  se  enviavam  estas  mercadorias  á  Europa,  d'onde  vinham  o 
ouro  e  prata:  e  finalmente  o  rei  lhes  tinha  recommendado  que  se  informas- 
sem, se  era  possivei  dirigirem-se  á  índia  dobrando  o  promontório  meridional 
da  costa  d'Aflrica. 

«De  Alexandria  os  viajantes  portuguezes  se  encaminharam  para  o  Cairo,  e 
depois  para  Suez,  na  extremidade  do  mar  Vermelho;  e  tendo-se  aggregado  a 
uma  caravana  de  mouros,  caminharam  por  Aden,  cidade  rica  e  commercial 
áqnem  do  estreito  de  Babelmandeb.  Alii  separaram-se.  Covilhã  singrou  para  a 
índia,  e  Paiva  se  fez  de  vela  para  Suakem,  ilha  pequena,  e  de  pouco  commer- 
cio,  situada  sobre  a  costa  de  Berbéria.  De  Paiva  apenas  sabemos,  que  queren- 
do ir  mais  longe,  perdeu  a  vida,  e  nunca  mais  se  ouviu  fallar  n'elle. ' 

«Covilhã  mais  feliz  chegou  a  Calicut  e  a  Goa.  D^alli  atravessando  o  oceano 
indico,  foi  ver  as  minas  de  Sofala. '  Depois  tomou  para  Aden  e  Cairo,  onde,  em 


<  A  esta  missão  se  referiu,  ba  pottco«  dias,  Lesscps  n*uiii  discurso  na  Sociedade  Geo- 
giaphica  de  Paris,  a  respeilo  da  descoberta  da  Austrália,  pelo  português  Heredia. 

'  Bruce~-Foy<i(/(u  aux  sourccs  du  NU.  vol.  4.*,  pag.  168. 

*  «Um  dia  fallei  ao  principe  de  Shoa  a  respeilo  da  historia,  que  se  contou  aos  por- 
tuguezes na  occasi(iC  da  dcscoherta  de  Benin.  Perguotei-lhe  se  era  verdade,  como  a  tal 
historia  o  referia,  que  os  negros  de  Benin  tivessem  relaroes  com  um  estado  cbristio, 


176  Bí^. 

vez  de  encontrar,  como  esperava,  seu  companheiro  Paiva,  recebeu  a  noticia  de 
sua  morte.  Foi  encontrado  no  Cairo  por  dois  judeus,  chamados  Abraham  e  Jo- 
aepb,  que  lhe  traziam  cartas  do  rei  d'Abyssinia.  Então  entregando  a  Âbrahani 
suas  respostas,  conservou  Joseph  comsigo,  e  tomando  a  tomar  o  caminho  de 
Aden,  dirigiu- se  a  Ormuz  no  golpho  Pérsico.  Alli  Covilhã  separou-se  do  judeu 
Josepb^que  se  aproveitou  d' uma  caravana,  que  atravessava  o  deserto  para  ir  a 
Alepo.  Covilhã  não  tendo  outro  projecto  mais  que  visitar  a  Abyssinia»  volloa 
ainda  a  Aden,  e  passando  o  estreito  de  Babelmandeb,  desembarcou  finalmente 
nos  estados  do  rei  d^Abyssmia. 


situado  DO  interior  d'Afrlca,  que  elles  reconheciam  como  soberano,  e  de  quem  recebianl 
a  iofestidura  de  suas  províncias?  Se  existiam  taes  relações  com  o  Shoa,  ou  alguos  vestí- 
gios de  que  tivessem  existido  outr*ora?  E  se  havia  finalmente  algum  outro  estado  christao 
ou  judeu  na  vísinhança  do  logar,  ao  qual  o  que  se  diz  dos  negros  de  Benin,  podesse  ap- 
plícar-se?  Amba  lassus  me  respondeu:  Que  em  Sboa  nSo  se  conhecia  Bem*D;  que  até  nlisea 
ouvira  pronunciar  este  nome,  nem  citar  algum  costume  similhante  áquelle,  de  que  Calla; 
quenão  conhecia  nenhum  outro  estado  christão  mais  para  o  interior  ao  sul  seofto  o  reino 
de  Narea,  do  qual  uma  grande  parte  estava  conquistado  pelos  Gallas,  nacSo  pagã.  Ac- 
crescenlou  que  os  negros  visinhos  de  Shoa  eram  excessivamente  ferozes,  cruéis,  mais 
perigosos  que  os  Gallas,  e  eguaes  aos  Shangallas  d'Âbyssinia.  Os  outroé  povos,  toraoa 
elle,  eram  em  parte  Mahometanos,  e  quasi  todos  da  naçSo  dos  Gallas,  poique  alguas 
doestes  abraçam  a  religião  de  Mobomet.  Porém  não  fazem  trafico  algum  com  o  Oceano 
apezar  de  conhecerem  o  commercío  do  Oceano  lúdico,  por  ficar  mais  perto  d*elles,  e  pnr 
lhes  levarem  os  negociantes  mouros  mercadorias  da  índia.  Porém  os  Gallas  iuTadiímni 
quasi  todos  os  paizes,  que  separam  estas  nações  da  costa  do  mar,  e  fazem  com  que  o 
caminho  das  caravanas  seja  muito  perigoso.»  (Bruce  —  Voyages  aux  sourcet  du  NU,  vol. 
10.S  pag.  161. 

«Foi  em  Gondar  que  os  jesuitas  portuguozes  coostruiram  sua  primeira  e  mais  ma- 
gnifica casa,  quando  emprebenderam  a  conversão  do  rei  daÂbyssínia.  Socinios,  que  rei- 
nava então  deu-lheso  terreno,  e  forncceu-lhes  o  dinheiro.  Fizeram  o  convento  e  a  egreja 
com  suas  próprias  mãos,  c  a  obra  de  talha  em  cedro  muito  bem  feita.  O  monarcha  zeloso 
da  egreja  catbolica,  quiz  depois  ter  uma  casa  de  prazer  no  mesmo  sitio.  Fizcram-lha  os 
jesuitas  e  elle  recompensou-os  magnificamente.  É  um  dos  mais  bcllos  sitios  do  mando.  Na 
frente  prolonga-se  o  vasto  lago  Trana.  As  planicies  ricas  e  ferieis  do  Dembea,  do  Gojam, 
do  Maits>ba  o  rod(iam,  e  as  vistas  não  são  alli  embaraçadas  senão  pelas  altas  montanhas 
de  Begander  s  de  Woggira.»  (Idem,  idem,  vol.  9.o  pag.  17.) 

«Nenhum  dos  primeiros  portuguezos  (vol.  9.o  pag.  201)  quo  chegaram  á  Abys8inia, 
nem  Covilhã,  nem  Rodrigues  de  Lima,  nem  Ghrislovam  da  Gama,  nem  mesmo  o  pa- 
triarcha  Afl^onso  Mendes  viram  as  nascentes  do  Nilo,  nem  disseram  lel-as  visto.  Pedro 
Paes  veio  depois,  no  reinado  de  Denghel,  e  a  elle  é  quo  se  attribuc  Cí^ta  honra.  You 
considerar  por  um  momento  »e  eslas  pertensões  iião  bem  fundadas. 

«Paes  deixou  uma  historia  manu^criplii  da  missão  dos  jesuilai-,  c  das  coisas  mai;» 
notáveis,  que  no  seu  tempo  se  passaram  na  Abyssinia.» 

•Esta  historia  está  escripta  em  dois  grossos  volumes  em  oitavo  n'um  eslylo  simples  e 
natural.  Espalharam-se  copias  por  todos  os  coUegios  e  seminários  dos  jesuítas;  e  na  oc^ 
casião  da  suppressão  de  sua  ordem  cncontraram-i^e  copias  cm  todas  as  suas  bibliolbecas. 

•Atbanasio  Kírcher,  jesuíta,  que  se  tornou  celebcrrimo  pela  variedade  de  seus  co- 
nhocimcolos,  pelo  numero  de  ^eus  escriplo.v  c  muilo  mai^*  pelo  arrojo  <.'om  que  assevera 


BR  177 

«>0  príncipe  chamado  Alexandre  estava  então  á  frente  de  suas  tropas  para 
obrigar  vassallos  rebeldes  a  pagarem  Ibe  o  tributo,  que  lhes  tinha  imposto. 

«Recebeu  Covilhã  com  bondade:  porém  a  curiosidade,  mais  que  o  proveito 
que  podia  tirar  d'uma  tal  embaixada  o  interessou  em  favor  dos  portuguezes, 
e  levou-o  comsigo  para  Shoa,  onde  a  corte  então  residia. 

iGomtudo  Covilhã  não  tornou  mais  á  Europa.  Uma  politica  cruel  não  per< 
mitte  que  os  estrangeiros,  que  poseram  o  pó  na  Abyssinia,  possam  d'alli  sair 
Covilhã  alli  casou;  e  conservando  seu  favor  no  reinado  de  difíferentes  principesi 
chegou  aos  primeiros  empregos,  que  desempenhou  sem  duvida  com  a  su- 


factos  infcrosimeis,  e  contrários  a  todas  as  noções,  que  temos  em  bisloria  natural;  Atha- 
nasio  Kircher  é  o  primeiro,  que  publicou  uma  dcsciipc^odas  nascentes  do  Nilo,  que  diz 
ter  tirado  do  Diário  ou  Historia  do  Paes. 

•Com  tudo  devo  observar  que  lai  não  acbet  nas  Ires  copias  da  Uisloríade  Paes,  que 
Tl  na  Itália,  no  roeu  regresso  da  Abyssinia-  A  primeira,  que  vi  estava  em  Milão,  onde 
por  intervenção  d^alguns  amidos  obtive  a  facilidade  de  a  examinar  com  todo  o  descanço. 
Yi  uma  outra  em  Bolonha;  e  a  terceira  vetu-mo  ás  mãos  em  Roma.  Percorri-as  rapida- 
mente, e  depressa  me  dirigi  ao  sitio,  em  que  julgava  dever  estar  a  descripção,  que  pro* 
cnrava,  porém  não  a  encontrei.  Todavia  não  me  arriscarei  a  dizer  minha  opinião  por 
este  anico  exame  Appresentarei  outras  provas  em  confirmação  de  meu  parecer,  e  demons- 
trarei que  o  missionário  Paes  não  falia  da  descoberta,  da  qual  lhe  querem  dar  a  honra, 
em  nenhuma  de  suas  obras,  excepto  n'aquella,  que  passou  pelas  mãos  de  Kircber.  Af- 
foBso  Mendes  chegou  á  Abyssinia  cousa  d'um  anno  depois  da  morte  de  Paes.  Masapezar 
de^que  a  descoberta  das  nascentes  do  Nilo  seria  muito  lisongetra  para  elie,  para  o  Papa 
e  para  o  rei  de  Hespanba,  e  para  todos  seus  grandes  patronos  d 'Itália  e  de  Portugal; 
ainda  que  escreveu  a  historia  de  seu  paiz,  e  de  quanto  dizia  respeito  á  sua  missão,  d'uma 
maneira  muito  circumstanciada,  e  com  muita  sensatez,  nunca  disse  coisa  alguma  da  pre- 
«endlda  viajem  de  Paes  às  nascentes  do  Nilo:  e  todavia  serviram-se  da  aoctorídade  mesmo 
d*Aironso  Mendes  para  espalhar  esta  historia  em  Roma,  e  em  Portugal.  Balthazar  Telles, 
Jesnita  muito  sábio*  escreveu  a  respeito  da  Abyssinia  dois  volumes  em  folio,  nos  qoaes 
te  encontra  muita  ingenuidade  e  imparcialidade,  attendendo  ao  espirito  d*aquelle  tempo. 
Bedara  que  soa  obra  é  feita  conforme  as  memorias  do  patríarcha  AflTonáo  Mendes,  e  os 
dois  volumes  de  Paes,  assim  como  conforme  as  relações  e  as  carias  d 'alguns  outros  jesui- 
tas,  que  lodos  tinham  estado  em  differenles  sítios.  Telles  tinha  tido  uma  plena  communíca- 
çâo  de  todos  estes  oscriptos.  Principalmente  não  despreza  as  relações  annuads  de  Paes 
desde  1598  até  1622.  £  com  tudo  não  fez  nenhuma  menção  das  nascentes  do  Nilo,  apezar 
de  não  deixar  de  se  espraiar  com  complacência  sobre  o  mérito  e  os  trabalhos  de  alguns 
missionários,  durante  o  longo  reinado  do  sultão  Segued,  que  occupava  metade  da  sua  obra. 

«Km  seguida  ao  que  acabo  de  observar  para  provar  que  Paes  nunca  foi  ás  nascentes 
do  Nilo,  nem  pretendeu  ler  la  ido,  quero  transcrever  a  relação,  que  Paes  faz  d'esta  via- 
gem imaginaria,  ou  antes  a  relação  que  o  padre  Kircher  lhe  empresta.  Se  houver  um 
anico  de  meus  leitores,  que  possa  accreditar  que  um  homem  de  (^enio,  tal  como  Paes,  trans- 
portado por  acaso  junto  d'essas  nascentes,  pulando  de  prazer,  e  sentindo  luda  a  impor- 
tância de  sua  descoberta,  como  elle  parece  seotil-a,  possa  ter  feito  a  descripção,  que  se 
lhe  atlribue,  consinto  em  ser  considerado  sómeute  como  o  segundo  depois  d 'este  missio- 
nário. 

•  Porem,  antes  de  copiar  esta  descri|>ção,  resta-me  fazei  uma  obicrvaçao  a  respeito  d  as 
datas  da  viagem.  O  dia  memorável,  que  a€  marcou  para  o  da  descoberta,  e  Sldabnl  de 

TOMO   I  i2 


178  BR 

perioridade,  qoe  um  homem,  coja  edusaçào  tinha  sido  esmerada»  devia  ler 
sobre  om  povo  ignorante  e  bárbaro.  Escreveu  amiudadas  vezes  ao  rei  de  Por- 
tugal, que  por  sua  parte  nada  poupou  para  continuar  uma  correspondência 
sem  interrupção.  No  diário,  que  Covilhã  enviou  ao  monarcha,  descreveu  cuida* 
dosamente  os  difTerentes  portos  da  índia,  que  tinha  visto,  a  situação  e  a  rique- 
za das  minas  de  Sofala.  Disse  que  este  paiz  era  mui  povoado,  e  cheio  de  cida- 
des opulentas.  Exhortou  o  rei  a  proseguir  a  descoberta  d'uma  passagem  pelo 
sul  d'Africa,  passagem,  que  elle  sustentou  ser  sem  perigo.  Asseverou,  ser  o  ca- 
bo conhecido  na  índia,  e  finalmente  remetteu  um  mappa,  de  que  um  moiro 


1SI8.  N'ei(ta  época  as  chuvas  começaram  já  a  cahir;  e  a  estação  sendo  doentia,  não  se 
põem  exércitos  em  campanha  sem  uma  extrema  urgência.  E*  só  depois  do  mex  de  Sep. 
lembro  até  fevereiro  que  os  abyssinios  se  afastam  de  seus  lares,  e  vão  para  a  guerra. 

«Ha  na  Abyssinia  duas  nações  d*Agows;  uma  éados  Agows  de  Damot.  que  habitan 
09  arredores  das  nascentes  do  Nilo;  a  segunda  é  a  dos  Agows,  conhecidos  debaixo  do 
Tcheratz-Agows,  que  vivem  perto  das  nascentes  do  Tacaizé.  Vemos  na  historia  do 
nado  de  Socinios,  qne  elle  marchou  dilTerentes  vezes  contra  os  Agows.  A  primeira  vez  foi 
em  1608,  no  primeiro  anuo  de  seu  reinado;  eos  ann^s  Ethiopios  dizem  que  fora  coalra 
Tcberatz -Agows.  Em  1611  Sosinío»  foi  combater  ainda  os  mesmos  Agows  de  Lasta;  de 
sorte  que,  se  Paes  tivesse  sido  morto  com  este  principe,  não  teria  podido  ver  outras 
nascentes,  senão  a  do  Tacazzé.  A  terceira  expediçile  do  rei  foi  em  1625,  dirigida  coatra 
Sacala,  Geesb  e  Ashoa.  Os  Gallas  fizeram  uma  invasão  no  Gojam;  mas  retiraram-se, 
porque  o  exercito  real  marchou  contra  elles,  e  tornaram  a  passar  o  Nilo,  defronte  do  paia 
d'ellet.  Socinios  avançou  então  contra  os  Agows  de  Damot,  e  deu  batalha  aos  habitaates 
de  Sacala,  d'Asboa,  e  de  Geesh,  que  viviam  cm  volta  das  nascentes  do  Nilo.  Foi  então 
i|ue  Paes,  ou  outro  qualquer,  que  estivesse  na  comitiva  do  imperador,  teria  podido  ver 
n»tas  nascentes  com  segurança,  pois  que  o  exercito  real  estava  acampado  não  longo 
d'aquelle  sitio,  talvez  mesmo  ao  lado  das  na:^centes,  pois  o  logar  seria  perfeitamente  ooa- 
veniente  para  um  acampamento.  Porem  Socinios  achava-se  alli  em  1625,  e  Paes  tinha 
morrido  em  1622. 

«Agora  vou  copiar  a  descripção  que  Kircher  fez  das  nascentes  do  Nilo,  diseodo  qne  a 
tinha  tomado  de  Paes,  e  submetto-a  a  todas  as  pessoas  sensatas  para  julgarem  se  ella 
parece  ter  sido  traçada  por  uma  testemunha  ocular;  se  ella  não  pode  applicar-se  á  nas- 
cente de  qualquer  rio,  ou  de  qualquer  ribeiro,  como  o  Nilo  se  finalmente  não  é  eice»» 
sivamente  vaga  para  dar  uma  idca  clara  do  que  se  quiz  fazer  conhecer. 

«Os  Ethiopios  dão  hoje  ao  Nilo  o  nomo  de  Abaoy.  Tem  nascimento  no  reino  de  Gojanz 
e  no  districto  de  Sabala,  cujos  habitantes  se  chamam  Agows.  O  nascimento  do  Nilo  ficji 
na  parte  Occidental  do  Gojam,  e  no  sitio  o  mais  elevado  d'um  valle,  que  se  parece  com 
uma  grande  campina  cercada  do  altas  montanhas.  Achando-me  n^esta  terra  a  21  d'Abril 
de  1618  com  o  rei,  e  exercito,  subi  até  o  sitio,  onde  está  a  nascente,  e  observei  tudo  coa 
muita  altenç^o.  Descobri  primeiramente  duas  fontes  redondas,  tendo  cada  uma  um  diâ- 
metro de  coisa  de  quatro  vezes  a  largura  de  minha  mão;  e  contemplei  com  um  prazer 
extremo  o  que  nem  Cyro,  rei  dos  Persas,  nem  Cambyses,  nem  Alexandre  o  grande,  nom 
o  famoso  Júlio  César  poderam  descobrir.  Estas  fontes  não  correm  na  esplanada,  que  está 
no  cume  da  montanha;  mas  a  agua  nasce  no  pcdes^ta  montanha.  Estam  a  coisa  d'umtiro 
(ie  pedia  de  di^lincia  uma  da  outra.  Discm  oa  habitantes  estar  toda  a  montanha  cbeia 
dagua,  u  accrc^ccntam  que  toda  a  planicio  dos  arrabaldes  fluctua  continuamente,  prova 
•jcrlaquc  tia  muita  a?uu  por  debaixo.  EVíla  a  razão,  pela  ({iiul  em  vez  de  transbordar 


BR  179 

lhe  tinha  feito  presente  nó  qual  o  promontório  estava  bera  marcado,  assim  como 
todas  as  cidades,  que  bordavam  a  costa  visinha. 

iCom  estas  iustrucções  o  rei  de  Portugal  mandou  armar  três  navios,  cujo 
commando  deu  a  Bartholameu  Dias,  recomendando-lhe  que  se  informasse  bem 
do  rei  da  Abyssinia,  quando  se  achasse  nas  costas  ocidentaes  d'Africa.  Dias 
foi  até  ãl"»  e  meio  de  latitude  sul,  e  depois  de  alh'  ter  posto  um  padrão,  tomou 
posse  d'aque]le  paiz  em  nome  d'este  príncipe.  Fez-se  de  vela,  e  entrou  na  Bahia 
dos  Pastores,  nome  que  deu  a  este  logar  por  causa  da  multidão  de  bois,  que 
vio  em  terra.  Não  sabendo  muito  bem  para  onde  dirigia  sua  navegação^  Dias 


pelo  alto  da  montanha,  a  agua  abre  com  Tíolencia  uma  passagem  por  baixo.  O  povo  do 
paii,  bem  como  o  imperador,  que  estava  alli  á  frente  do  seu  exercito,  disseram  que  n'esle 
aoDO  a  terra  tremia  menos  em  volta  d'estas  fontes,  por  causa  da  secca,  mas  que  nos  annos 
antecedentes  tremia  a  ponto  que  era  muito  perigoso  approximar-se  d'ella.  A  esplanada, 
qoe  fica  DO  alto  da  montanha,  tem  coisa  d'nm  tiro  de  funda  de  largura.  Os  naturaes  ha- 
bitam DO  pé  da  montanha,  do  lado  do  occidente,  a  uma  Icgua  da  fonto. 

«Este  sitio  cbama-se  Geesb;  e  a  fonte  parece  estar  distante  de  tieesh  um  tiro  de  peça 
d^artilheria.  Finalmente  a  planície,  onde  a  fonte  está  situada,  é  d'um  accesso  difficiliimo 
de  todos  08  lados,  menos  do  norte  por  onde  se  pode  la  subir  facilmente. 

•Tomarei  a  liberdade  de  fazer  algumas  reflexões,  mas  que  bastarão  para  provar  que 
esta  descrípção  nfto  pode  ser  de  Paes,  nem  de  nenhuma  outra  pessoa,  que  tenha  viajado 
pela  AbyseiDÍa.  Em  primeiro  logar  não  ha  por  estes  sítios  logar  algum  conhecido  peio 
nome  de  Sabala,  mas  sim  um  que  tem  o  nome  de  Sacaia.  Sacala  em  Imgua  Ethiopica 
significa  terra  muito  alta,  d'onde  a  agua  corre  de  todos  os  lados,  tanto  a  este,  como  a 
oeste,  a  norte  e  a  »al.  Assim  os  telhados  das  casas  em  forma  de  cone  são  chamados  8a- 
Gtlftj  por^oe  na  occasião  de  chover,  corre  a  agua  egualroente  de  ambos  os  lados.  Assim 
eorre  doe  piocaros  das  montanhas.  Assim  se  vé  em  Sacala  o  Nilo  correndo  para  o  norte 
ao  ^tseo  qoe  varias  outras  nascentes  formam  o  lago  e  ribeira  de  Temsi,  e  precipt- 
tam-ee  para  o  sal  na  planície  de  Ashoa,  trezentos  pés  acima  do  nível  da  montanha  de 
Geesb. 

•Nem  Sacala  nem  Geesh  estão  a  oeste  do  Gojam,  nem  se  approxímam  d*e3ta  direc- 
ção. Para  ir  de  Sacala  ao  Gojam  é  necessário  primeiramente  atravessar  as  altas  monta- 
nhas de  Litcbambara,  depois  as  de  Amid-Amíd;  descendo-se  de  Amid-Aroid  entra-se  na 
província  de  Damot,  e  depois  de  se  ter  atravessado  era  toda  sua  largura,  cbega-se  ás 
IroBteiras  occfdentaes  do  Gojam.  Os  erros,  que  se  encontram  na  descrfpção  attribuida 
a  Paes,  s&o  de  tal  forma,  qae  é  impossível  terem  escapado  a  am  homem,  que  tivesse  es- 
tado n'aqaelles  togares,  e  fazendo  parle  d'om  exercito,  no  qual  cada  officíal,  cada  sol- 
dado o  eonheciam  cdmo  o  favorito  do  monarcha,  e  se  teriam  apressado  a  ministrar  lhe 
informações  seguras.  Não  havia  até  ninguém  n'aquello  exercito,  que  não  tivef>se  oonsi- 
derado  como  nma  bonra  tel^  Paes  somente  empregado  a  ir-lho  buscar  ama  palba  no 
mais  elevado  píncaro  das  montanhas  d'Amid'-Amid. 

«Todo  é  inteiramente  falso  na  descrípção  de  que  acabo  de  fallar,  tanto  em  relação 
ao  aomero  e  á  posição  das  nascentes,  como  á  sitoação  da  montanha,  e  da  aldeia  de  Geesb. 
Tialia  nas  mãos  a  pretendida  descrípção  dê  Paes,  quando  fiz  o  exame  das  nascentes  do 
Nilo,  •  dos  togares  adjacentes.  Medi  todas  as  distancias,  e  achei-as  todas  imaginarias. 

•Não  é  faeil  conceber  porque  Paes  observa:  «Que  a  agua,  que  acha  ama  saída  no 
pé  da  ioiontanba,  não  corre  do  alto.»  Seria  bem  pura  extranhar  quo  fos50  d'oatra  sorte; 
e  não  duvido  que  uma  montanha  fazendo  c^gui('>bur  a  a^^ua  prlo  «cu  cume;  quando  nAn 


180  BR 

chegou  ao  rio  do  Infante,  depois  de  ter  alcançado  aqacUe  formidável  cabo,  ter* 
ino  dos  desejos  de  todos  os  portugnezes.  AUi  querendo  approximar-se  da  terra, 
foi  por  um  mar  tempestaoso,  e  contrariado  pelos  ventos;  porém  obstinoa-se 
em  descobrir  a  costa,  e  cbegon  Onalmente  á  vista  do  cabo,  a  que  dea  o  nome 
de  Promontório  das  Tempestades,  por  cansa  de  tudo  quanto  seu  navio  tinba  ti- 
do que  soíTrer  para  alli  chegar. 

«O  grande  Gm  d'esta  viagem  estava  em  summa  realisado.  IMas  c  seus  com- 
panheiros tinham  passado  por  muitos  perigos;  c  por  isso  na  sua  volta  não  se 
deixou  de  fazer  jastiça  «â  sua  intrepidez,  e  constância.  Estes  navegantes  tínbam 


agua  tinha  uma  saida  lirre  pelo  pé  da  montanha,  fosse  a  coisa  mais  curiosa,  que  os  doi» 
jesuítas  tivessem  podido  vér  em  sua  viagem. 

«Hlas  de  qual  montanha  falia  o  missionário?  NSo  a  nomeou:  disse  pelo  contrarfo, 
que  as  nascentes  do  Nilo  estavam  situadas  na  parte  mais  alta  d*uma  planície.  Se  issin 
era,  esta  maneira  de  descrever  as  coisas  dSo  poderia  ser  entendida  sem  um  ioterprete. 
Paes  diz  depois  que  a  montanha  está  cheia  d'agua,  e  estremece;  e  que  ha  uma  aldeia  al- 
guma coisa  abaíio  do  cume.  Emquanto  a  mim  nada  vi  de  tudo  isso.  Qualquer  que  seja 
a  montanha,  da  qual  Paes  quer  fallar,  pôde  realmente  haver  alli  terrenos  frios  e  homi- 
dos:  mas  se  é  a  respeito  da  montanha  de  Geesh,  posso  assegurar  que  não  exista  aldeia 
a  mais  d'um  quarto  do  légua  de  seu  âmbito.  A  aldeia  de.Gee»h  está  a  meia  subida  d'am 
rochedo,  d'onde  se  desce  para  a  planície  d'Asha.  O  pé  d'este  rochedo,  isto  é,  a  ptauicie 
está  a  trezentos  pés  abaixo  da  base  da  montanha  de  Geesh,  e  do  sitio  d*onde  brõuni  as 
nascentes  do  Nilo. 

•Paes diz  em  seguida  que  ha  Ires  milhas  da  aldeia  de  Geesh  ás  nascentes.  Meu  quarto 
de  circulo  estava  cm  minha  tenda,  posto  perto  da  aldeia:  por  isso  era-me  nccessarío  me- 
dir a  distancia  afim  de  poder  fazer  a  compensação,  c  calcular  minhas  observaçi^es,  como 
se  tivc>sem  sido  feitas  nas  próprias  nascentes.  Eu  caminhei  desde  a  margem  do  cume  do 
rochedo  ale  ao  centro  da  esplanada  verdejante,  d*ondc  brota  a  principal  nascente,  e  achei 
1760;  e  é  a  isso  que  Paes  chama  uma  légua,  ou  o  maior  alcance  d 'uma  bomba.  Pelo  que 
me  toca,  creio  que  é  impossível  que  alguém  tendo  estado  nos  legares,  commettesse  taes 
erros,  ou  então  a  narração  devia  ser  considerada  como  não  tendo  exactidão. 

•Terminarei  por  uma  obi^ervação,  que  prova,  creio  o  invencivclmente,  que  Paes  neo- 
ca  viu  as  nascentes  do  Nilo.  Elle  diz  que  u  campo,  no  qual  estão  situadas  estas  naccee- 
los,  é  d*um  accesso  diflScil,  c  que  a  subida  c  muito  íngreme,  excepto  do  lado  do  norte. 

•Mas  se  se  reflecte  nas  primeiras  palavras  d>sla  descripção,  achar-ee-ba  que  é  a 
descida  e  não  a  subida,  que  deve  ser  custosa;  pois  as  nascentes  do  Nilo  flcam  n*um  Talle, 
e  desce-se  antes  para  um  valle,  do  que  se  sobe  para  elle. 

«Todavia,  suppondo  que  seja  um  valle,  e  que  n'este  valle  haja  um  campo,  e  que 
no  meio  do  campo  se  erga  uma  montanha,  equo  sobre  a  montanha  brotam  as  nascentes, 
direi  ainda,  que,  se  estes  togares  são  inaccessíveis,  é  principalmente  do  lado  do  norte, 
por  onde  se  sobe  para  alli  pelas  planícies  de  Gontto.  Quando  vimos  do  este,  sobe-seper 
Sacala,  e  pelo  valle  de  Litcbambara;  e  quando  se  sae  da  planície  d'Ashoa  para  o  meio 
dia,  tem-sc  o  rochedo  perpendicular  c  escarpado  de  Geesh,  coberto  de  arbustos  esptnbe- 
sos,  de  arvores,  e  de  bambus,  que  occultam  a  entrada  de  cavernas  medonhas.  Ao  norte 
temos  as 'montanhas  do  Aforroasha,  cobertas  egualmente  de  todas  as  espécies  de  arvores, 
de  plantas  armadas  de  espinhos,  o  principalmcnic  de  kantulTaíi.  Estes  logares  estão  além 
d'i><o  cheios  de  feras,  c  de  grande  numero  de  enormes  macacos  de  cabcllo  comprido,  que 
muitas  vc/e>  andam  em  pé  como  homens.  N'estas  montanha*^  cscarpadat)  nlo  se  enron- 


experimentado  lanlas  icmposiados;  earro.^lado  com  tantos  perigos,  que  duran- 
te o  resto  da  vida  do  rd  Joào,  nào  so  cossou  de  failar  d*este  terrivel  cabo.  Com 
tado  b  rei  trocou  o  nome  do  Promontório  daâ-  Tormentas,  que  Bartbolomeu 
Ibe  tinha  posto,  e  quiz  que  se  chamasse  Gabo  de  Boa  Esperança. 

•Todavia  apezar  de  se  achar  descoberta  a  passagem  do  cabo,  não  faltaram 
poderosos  na  corte,  que  queriam  que  se  renunciasse  à  empreza. 

«Uma  das  razoes,  de  que  se  serviam  em  appoio  de  sua  opinião  é  verda- 
deiramente curiosa;  e,  se  os  portuguezes  não  tivessem  depois  mostrado  o 
maior  heroísmo,  teriamos  direito  a  crer  que  não  existindo  o  príncipe  Henrique, 


ftram  mais  que  sendas  muito  estreitas,  que  parecem  ler  sido  feitas  para  cabras,  e  outros 
anímaes  selvagens;  quando  se  caminha  por  estas  sendas  ellas  conduzem  muitas  vezos  á 
borda  de  precipícios,  e  somos  obrigados  a  retrogradar  para  achar  um  melhor  caminho. 
Emfim  Tíndo  de  este,  dos  arredores  de  Zeegam,  e  da  planície,  onde  o  rio  faz  tantas  vol- 
tas e  zig-zags,  acha-se  o  caminho  menos  custoso,  e  comtudo  os  que  sobem  ás  nascentes 
do  Nilo  por  aquelle  lado,  não  acham  ainda  que  seja  muito  fácil. 

«Nfto  me  resta  mais  que  uma  coisa  a  notar;  é  que  nenhum  dos  jesuítas,  quer  seja 
Paes,  quer  seja  algum  outro  missionário,  faz  uso  d'esta  descoberta  na  geographia,  nem 
•  applicou  a  fixar  a  latitude,  nem  a  longitude  de  nenhum  logar. 

•Os  historiadores  doesta  sociedade  litlerata  não  julgaram  mesmo  a  propósito  appro- 
veilarem-se  dos  documentos,  que  lhe  tinham  apresentado  para  fazerem  menção  da  via- 
gem de  Paes;  porque  não  teria  sido  fácil  sem  duvida  sustentar  só  com  a  auctoridade  de 
Kircber,  que  escrevia  em  Roma,  a  realidade  d'uma  descoberta,  que  elle  attribue  a  Paes, 
e  qve  não  se  acha  nos  escriptos  do  próprio  Paes.  Se  esta  viagem  fosse  verdadeira,  ter- 
8»-hia  pelo  menos  publicado  o  itinerário;  e  a  maior  parte  dos  iesuítas  eram  assaz  ins- 
troidos  para  determinarem,  ou  bem  ou  mal,  a  latitude  e  a  longitude  de  alguns  legares 
«toados  n*e6tes  paizes,  onde  elles  residiram  perto  de  cem  annos  Accrescentemos  que  ne- 
nhum membro  d'esta  sociedade  disse  em  tempo  algum  palavra  a  respeito  da  idolatria, 
que  reina  nas  cercanias  das  nascentes  do  Nilo;  e  no  emtanto  parece  que  quanto  diz  res- 
peito á  religião,  não  lhes  poderia  ter  escapado. 

•Se  os  jesuítas  tivessem  querido  ir  ás  nascentes  do  Nilo,  teriam  podido  partir  de 
DaDCOKj-epor  meio  d'uma  bússola,  cujo  uso  era  onlão  bem  conhecido  dos  portuguezes, 
ter-lbos-hia  sido  fácil  encaminbarem-se  para  alli,  e  traçarem  exactamente  sua  marcha. 
Qoaodo  habitaram  seu  convento  de  Gorgora,  não  estavam  a  cmcoenta  milhas  de  Geesh. 
Eogaoaram-se  comtudo  dez  milhas,  dizendo  que  havia  mais  de  sessenta  milhas  de  dis- 
tapeia  entre  estes  dois  legares;  porém  este  erro  provém  de  accreditarem  que  as  nascen- 
tes do  Nilo  estavam  na  província  doGojam,  e  que  do  Gojam  «  Gorgora  ha  effectívamenle 
sessenta  milhas. 

«Quando,  depois  de  ter  bem  determinado  a  latitude  e  a  longitude  de  Gondar,  eu 
parti  para  me  encaminhar  ás  nascentes  do  Nilo,  pensei  que  o  conhecimento  geographico 
dos  togares  era  o  ucico  fructo,  que  a  posteridade  poderia  tirar  de  minha  viagem,  e  que 
valia  mais  traçar  um  simples  itinerário,  que  descripções  mais  agradáveis,  mas  menos 
oteis.  Em  conformidade  com  isto  marquei  diariamente  a  duração  da  minha  marcha  com 
o  relógio  na  mão,  e  regulei  a  direcção  d*elles  com  uma  bússola.  Tomei  a  altura  do  sol  e 
dasostrellas  em  Dmgleber,  nas  margens  do  Belti,  e  cm  Goutt;  e  finalmente  determinei 
a  latitude  das  nascentes  do  Nilo  por  meio  de  vai  ias  pbservaçOes,  e  sua  longitude  por 
uma  observação  única,  e  mui  favorável.  Retirei-me  das  nascentes  do  Nilo  por  um  cami- 
nbo  dífferenfe  d'uquelle,  que  tinha  tomado,  quando  para  lá  me  dirigi.  Segui  a  margem 


^«2  BR 

o  zdo  peU  religião  e  o  espirito  de  conquista  úalkx  cfnaliwíme  affroQxado 
n'esfa  naçio. 

cOs  detractores  das  descobertas  diziam  pois,  qoe  a  passagem  a  ladia  peto 
Cabo  de  Boa  Esperança  privando  os  estados  Maorilanos  do  commertio  das  as- 
pectarias  induziria  estes  povos  a  rennirem-se  para  exterminar  os  portngnens. 
Porém  o  tirar-lhes  este  coramerciofdra  com  efleito  a  ambição  do  piincipeHeB- 
riqae.  Qoería  a  mina  dos  moiros,  como  chefe  da  ordem  de  Chrislo,  ordem 
estabelecida  contra  os  infiéis,  e  mais  particnlarmente  contra  os  sectários  de 
Mabomet 


•pposta  do  no  e  obserrei  a  altura  do  mI  lio  loo^e  do  coiTcoto  de  Welled-AMo,  ia 
própria  casa  do  Sbalaba  Welled  Amlac.  Xanfoei  taakea  na  aiaba  caria  todas  as  aldeias, 
^oe  e«  tioba  atraTCásado,  ob  Yisto  a  poaca  dbtaocia  do  camiako,  beai  coso  o  gtaade 
■aoiero  do  rios,  qie  me  foi  nocossarío  paisar.  Qfttm  laB(ar  os  olbos  para  a  MÍaba  pe- 
qQcna  carta,  aio  podorá  fomar  mais  qoe  asa  idéa  imperfeita  dos  iaconmodos  «|»ooBi 
me  CQStOQ.  Todavia  jolgoei-me  amplameote  recompensado  de  meãs  tnbattnwr,  ^«aado 
comparei  cm  Goiídar  o  calculo  da  minha  jornada,  conforme  a  bnssola,  com  aqatllo  qae 
me  de? ia  dar  segundo  minhas  ebserraçSes  astronómicas.  Achei  que  nio  me  tiaba  eaga- 
nado  $eo2o  em  coisa  de  noTe  milhas  sobre  a  lalitnde,  e  sete  milhas  sabre  a  loagítida, 
erro  de  mui  pouca  monta  n*uma  grande  carta,  e  quasi  imperceptÍYcl  o^oma  eirta  rada* 
lida.  Certamente  nem  Pedro  Paes,  nem  algum  outro  homem,  que  oase  aspirar  a  ama  des- 
coberta por  tanto  tempo,  e  tio  ardentemente  desejada,  teria  podido  tuer  o  qae  m  ia; 
de  sorte,  qoe  partindo  de  Goni^ora  ha  metade  menos  de  caminho,  do  que  partíado  de 
Gondar.  Mas  quando  fosse  verdade  qoe  Paes  emprebeodeu  a  descoberta,  da  qual  Kirther 
lhe  dá  a  honra,  não  era  menos  verdade,  qoe  linha  deixado  o  mondo  na  mesma  ignora»- 
cia,  em  que  o  tinha  achado,  pois  teria  viajado  como  um  ladrão,  que  uescobriado  as  nas- 
centes occultas  do  Nilo,  para  eilas  teria  olhado,  e  de  repente  teria  deixado  cair  •  vea  so- 
bre ellas,  como  se  tivesse  receio  de  as  vér. 

«LodoUe  Yossio  divertiram-se  muito  coma  historia  d*esta  descoberta;  acreditam q«e 
Kircber  a  fez  paia  Paes,  do  qual  não  citam  o  nome,  mas  a  quem  chamam  o  descobndor 
dos  rios. 

«Dizem  ser  muito  ridículo  ima.;:inar  que  o  imperador  dWbyssinia  fiiesse  vir  um  jo- 
suita  da  Europa,  para  ser  o  antiquário  do  seu  paiz,  para  lhe  ensinar  que  as  nascestes 
do  Nilo  estavam  nos  seus  estados,  e  moslrar-lhe  o  Ingar  d'onde  ellas  brotam.  Ma^  a  cri- 
tica (Je  Vos>io  é  despropositada.  Nem  Paes  nem  Kircher,  nem  quem  quer  que  foi  o  aac- 
tor  d 'este  livro,  onde  se  falia  d  e<ta  descoberta,  nunca  pretendeu  que  tivesse  havido  no- 
cessidadc  de  ensinar  ao  imperador  d^Âbjssioia  o  logar,  em  que  estavam  as  nascentes. 
Conta  somente  que  os  Agows  de  Geesh  lhe  disseram  que  a  montanha  tremia  no  tempo 
da  secca,  e  que  mesmo  tinha  tremido  naquelle  anno,  e  que  o  imperador,  que  estava  pre- 
sente ao  dito  dos  Agows.  o  tinha  conGrmadu  cora  seu  próprio  testimunho.  Não  é  iste  di- 
zer que  Paes  ensinou  o  imperador,  cujo  exercito  e>tava  acampado  perto  de  Geesb,  qae 
as  nascentes  do  Nilo  estavam  em  seus  estados,  o  que  eram  aquellas  mesmas,  que  elle 
estavá  vendo.  í James  hrwce —Voijage  anx  sourcfi  du  .Yi7,  vol.  9.»,  pag.  201  a  StiO.) 

•  <>»nla-se  que  o  celebre  Affonso  dAIbuquerque,  vicc-rei  das  índias,  escreveu  muitas 
vezes  ao  rei  de  Porlu^'al,  I)  Manuel,  para  lhe  mandar  alguns  habitantes  da  Madeira, 
homens  co>tumados  a  nivelar  aterra,  para  prepararem  plantaçOes  de  canna  de  assucar. 
Albuquerque  queria  servír-se  dellcs  para  executar  a  empreza  que  formara  de  lançar  o 
Nilo  pura  o  mar  Vermelho,  cuni  o  Gm  de  esfomear  o  Eíiypto.  O  filho  de  ^Albuquerque 


BR  183 

<D.  Manoel,  que  occupava  entào  o  reino  de  Portugal  desviando-sc  de  erros 
vãos,  resolveu  seguir  o  projecto,  o  mais  nobre  e  o  mais  arrojado,  que  uma  na- 
ção poude  jamais  emprebender,  e  que,  apezar  de  ter  custado  já  muito  tempo  e 
dinheiro,  tinha  também  já  começado  a  apresentar  bellos  resultados,  superiores 
a  qnanto  se  esperava.  Não  teve  necessidade  de  andar  a  procurar  muito  tempo 
jjMura  iançar  as  vistas  sobre  Vasco  da  Gama,  homem  distincto  pela  sua  coragem 
e  por  uma  grande  presença  d'espirito.  Escolheu-o  para  commandar  esta  fro- 
ta, e  entregou-lhe  na  sua  partida  o  diário,  e  o  mappa  da  índia  por  Pedro  da 


refere  este  caso  inverosimil,  e  accrescenta  que  nio  duvida  que  seu  pae  se  tivesse  saldo 
)»ein,  porque  elle  sabia  d'ummodoÍDCODtestavel,  que,  quando  os  árabes  do  alto  Egypto  es- 
taTam  em  guerra  com  o  sultão,  ioterrompiam  o  curso  do  caqal,  que  está  entre  Bonna, 
no  Egypto,  e  Cosseir  sobre  o  mar  Vermelho. 

«Telles  e  Le  Graud  ao  referirem  as  opiniões  de  Albuquerque  e  de  seu  filho,  fazem 
«laitos  elogios  ao  filho  á  custa  do  pae,  mas  sem  duvida  nao  teem  razão. 

•Em  primeiro  logar  vimos  na  historia  d'Abyssinia,  que  tudo  quanto  D.  Manuel 
ponde  fazer,  foi  enviar  quatrocentos  homens  em  soccorro  do  rei  d'Abyssinia,  cijos  esta- 
úoè  estavam  eotSo  quan  totalmente  invadidos  pelos  turcos  e  pelos  moiros.  Não  é  pois 
da  lodia  que  se  podia  esperar  a  execução  d'oma  empreza  tão  grandiosa  e  tão  difficil, 
como  a  de  desviar  o  curso  do  Nilo.  Depois  o  joven  Albuquerque  eogana-se  evidentemente 
BO  facto  que  assevera. 

«Nunca  houve  canal  entre  Cosseir  e  Cana.  As  mercadorias  que  vêem  pelo  mar  Ver- 
nelho  foram  sempre  transportadas  por  caravanas.  (Idem,  idem,  vol.  9.®,  pag.  355. 

•Diz-se  nos  escriptos  dos  jesuitas  que  os  Agows  adoram  as  caonas*  Yeja-se  a  nota- 
rei carta  que  o  ras  Sela  Cbristos  dirigiu  ao  imperador  Socinios,  e  que  está  inseria  em 
Baltbazar  Telles;  tomo  %.<>,  pag.  I9G.  Porem  eu  nunca  observei  n'este  povo  algum  vestí- 
gio de  tal  culto.  (Pag.  100.) 

«A  infanteria  abyssinia  tem  estandartes  pintados  de  duas  cores  differentes,  e  com  ti- 
ras, qae  se  cruzam  em  amarelio  e  branco,  ou  em  vermelho  e  verde;  porém  os  estandar- 
tes 4a  cavallaria  teem  um  leão  vermelho,  verde  ou  branco.  A  primeira  invenção  dMslo  c 
attribuida  aos  portuguezes.  (Idem,  idem,  vol.  8.%  pag.  104.) 

«Vou  agora  contar  a  relação  que  faz  do  baptismo  annual  dos  abyssioios  Alvarez, 
capellão  do  embaixador  portuguez  D.  Rodrigo  de  Lima. 

«O  rei  d'Abyssinía  linha  convidado  D.  Rodrigo  de  Lima  a  assistir  á  celebração  da 

Epiphania.  Os  portuguezes  encaminharam-se  a  milha  e  meia  do  acampamento,  para  a 

borda  d'um  lago  desiinado  para  a  cerimonia.  Alvarez  diz  que  todos  aquelles,  que  encon- 

.travam  do  caminho,  lhes  perguntavam  se  se  iam  baptisar,  ao  que  este  capellão  respon- 

liia  que  oão,  porque  tinham  sido  baplisados  á  nascença. 

«De  noite,  diz  elle,  reuni u-se  um  grande  'numero  de  padres,  que  se  pozeram  a  can- 
lar,  ou  para  melhor  dizer  a  mugir  com  a  intenção  de  abençoarem  a  agua.  Depois  da  meia 
noite  começou  o  baptismo.  O  abuna  Marcos,  o  rei  e  a  rainha  foram  os  primeiros  a  en- 
.trarem  no  lago.  Tinham  cada  um  d'elles  uma  porção  de  panno  de  algodão  em  volta  da 
ciaUira;  porém  o  povo  não  eslava  tão  coberto.  Ao  romper  do  sol  a  cerimonia  estava  quasi 
«ícabada,  e  quando  Alvarez  chegou  ao  lago,  viu  que  estava  cheio  d*agua  benta,  e  que  se 
tiaba  deitado  D'elle  muito  azeite. 

«Parece,  segundo  esta  passagem,  que  o  capellão  portuguez  não  estava  ainda  no  la- 
,  go,  quando  a  cerimonia  estava  mais  de  metade  feita,  e  que  elle  não  foi  testemunha  nem 
.  da  Jbeoção  da  agua,  nem  da  ímmersão  do  rei,  da  rainha  c  do  abuna.  Emquanto  ao  azeite 


m  BR 

Oivilliã,  com  cartas  para  todos  príncipes  indíaoos,  úm  qna<^  tinha  oaviílo 
fallar. 

«Porém,  o  que  Vasco  da  Gama  fez  na  soa  partida,  nào  annonciava  nem  om 
guerreiro,  nem  um  grande  homem;  suas  procissões,  seos  votos,  soas  momiee», 
soa  devoção  apparatosa  e  digna  d*iim  verdadeiro  supersticioso,  todo  sea  pro- 
cedimento finalmente  parecia  mais  dirigido  a  desanimar  seus  soldados,  do  que 
a  os  animar  a  servir  valentemente  soa  pátria. 

«Lembrou-lhes  muito  inconvenientemente  as  tempestades,  que  Dias  tínha 
sofl^do  perto  d'aqaeUe  terrível  cabo  que  iam  dobrar,  e  não  fez  mais  que  per- 


deitado  na  agoa,  não  qoero  contradiíer  pofitÍTamente  Àharef,  porqoe,  ainda  qae  eu  li- 
Tesse  chegado  cedo,  qaando  fui  ? ér  o  baptismo  d'Adowa  e  o  de  Habha,  seria  posrifel 
que  se  tívesie  praticado  a  mesma  coisa,  e  que  a  obscuridade  me  tÍTesse  impedido  de  vér. 
Comtudo,  nunca  ou? í  díier  na  Abyssinia  que  se  empregasse  o  azeite  para  esta  cerimo- 
nia. Continuemos  a  narracAo  da  Alfares: 

«Tinha-se  erguido  um  ampbitbeatro,  onde  o  rei  estafa  assentado,  de  maneira  qee 
linha  a  face  voltada  para  o  lago.  O  rosto  do  monarcba  estava  coberto  com  om  ?e«  4e 
tafetá  atui;  e  um  velbo,  que  era  o  aio  doeste  príncipe,  tinha-se  metlido  na  agoa  até  aos 
bombros,  nú  como  a  mão,  e  meio  morto  de  frio,  pois  tinha  caído  muito  gelo  doraaie  a 
noite. 

«Este  felbo  pegava  na  cabeça  de  todos  aquelles,  que  se  aproximavam  d'eBe,  e  os 
mergulhava  na  agua,  dizendo-lbesem  língua  abyssinia:  Eu  te  baptiso  em  nome  do  Padre, 
do  Filho  e  do  Espirito  Santo. 

•  4  província  de  Shoa,  onde  o  rei  d'Aby89Ínia  estava  então,  achando-se  aos  8*  de  la- 
titude norte,  e  o  sol  if  sul  de  soa  decli nação  meridional,  avançando  para  o  norte,  este 
astro  de¥Ía  estar  no  dia  da  Epiphanía  a  menos  de  ÍU)''  do  zenilh  do  lago,  onde  se  fazia  o 
baptismo.  N*e?ta  estação  o  tbermometro  de  Farenheít  sobe  em  Goadar  a  68*,  e  em  Sboa 
não  pódc  plevar-se  a  menos  de  70*;  porque  Gondar  fica  pelos  \^  de  latitude  norte,  isto 
é,  a  4°  mais  ao  norte.  Ora  é  iroposisivel  que  a  agua  gele  em  Shoa,  e  posso  asseverar  q«e 
nunca  vi  gelo  em  algum  sitio  da  Abyssinia,  mesmo  nas  mais  frias  montanhas.  E  além 
d'Í8S0  n  este  paiz  o  roez  de  janeiro  é  um  dos  mais  quentes  do  anno. 

«O  baptismo,  diz  Alvarez,  começou  á  meia  noite,  e  o  velbo  que  presidiai  corímo- 
nia,  mergulhava  na  agua  a  cabeça  dos  neophitos,  dizendo-ihes:  Eu  te  baptiso  em  uome 
do  Padre,  do  Filho  e  do  Espirito  Santo. 

«Ao  romper  do  sol  a  multidão  augmentou,  e  só  ás  nove  horas  é  que  tudo  foi  acabado. 
É  mister  convir  que  o  tempo  deveu  parecer  bem  longo  a  um  velbo,  que  estava  mettido 
atéaoB  hombros  na  agua  gelada. 

Mas  o  numero  dos  baptisados  não  foi  menos  de  quarenta  mil,  porque  as  mulheres 
estavam  misturadas  confusamente  com  os  homens;  e  póde-se  julgar  que  o  baptisador  ge- 
ral teve  bastante  occupação  para  não  ter  frio,  se  é  verdade  que  passaram  pelas  suas 
mãos  no  espaço  de  nove  horas,  quarenta  mil  pessoas. 

•As  mulher*^,  conforme  o  capellão  portuguez,  estavam  na  presença  dos  homens  sem 
terem  nada  no  corpo,  que  as  pudesse  cobrir.  O  abuna.  o  rei  e  a  rainha  foram  os  primei- 
ros baptisados,  e  não  tinham  outro  vestuário  senão  um  panno  de  algodão  em  volta  dos 
rins^  mas  eu  atrevo  ne  a  afiírmar  que  nunca  se  contou  coisa  alguma  mais  opposta  aos 
costumes  d'um  paiz.  O  rei  d* Abyssinia  anda  todo  coberto,  e  a  única  parte  do  corpo,  que 
se  lhe  pôde  vér  são  o<  olhos. 

»A  rainha  e  todas  as  outras  mulheres,  quer  em  publico,  quer  em  particular,  estio 


BR  f85 

ím.idirlhps  por  ostíi  manoira.  quonsla  vingam  lhes  oITt^rPcia  maiores  perigos, 
qac  gloria. 

«Com  tudo  a  44  de  julho  do  1497  (}ama  partia  de  Lisboa  com  sua  pequena 
frota;  e  como  a  arte  da  navegação  tinha  já  feito  grandes  progressos,  singrou  no 
alto  mar  em  direitura  ás  Ilhas  Canárias,  e  depois  ás  de  Cabo  Verde,  onde  lan- 
çou ferro,  e  onde  tomou  agua  e  mantimentos.  Tendo-se  feito  de  vella,  foi  contra- 
riado quatro  vezes  pelos  ventos  e  mau  tempo,  e  opprimido  de  fadiga  viu-se  obri- 
gado a  entrar  na  grande  bahia  de  Santa  Helena.  Vasco  viu  que  os  habitantes 
d*esta  bahia  eram  baixos,  negros,  e  fallavam  uma  linguagem  desconhecida,  lin- 
guagem que  se  vio  depois  ser  a  mesma,  que  a  do  Cabo  de  Boa  Esperança. 

«Os  portuguezes  não  tinham  ainda  conhecimento  dos  ventos  geraes  o  das 

egaalmente  cobertas  até  á  barba.  Teem  por  vergonha  deixar  um  estranho  v£r-lbes  a  ponta 
do  pé,  e  teem  grande  cuidado  cm  terem  asmUos  cobertas  até  á  extremidade  das  unhas. 

«O  velho  aio,  que  estava  no  lago,  pronunciava  cm  abyssinio  a  formula:  Eu  te  bap- 
tiso  em  nome  do  Padre,  do  Filho  e  do  Espírito  Santo.  É  certo  que  Alvares  nSo  percebia 
am4  nnica  palavra  d'c.sla  língua,  mas  o  que  é  mais  para  admirar  é  que  o  capellão  por- 
tiiguex  fallou  em  latim  ao  rei,  que  o  entendeu  muito  bem,  e  que  lhe  perguntou  se  se  tinha 
doatorado  em  Sarbonne.  Qui  crediderit,  et  baptisatus  fuerit,  salvws  erit,  disse  ainda  Al- 
Tare«. 

•Tendes  razfto  emquanto  ao  baptismo,  responde  o  rei;  cstds  palavras  82o  do  nosso 
Sêlvad«r;  porém  a  cerimonia,  que  acabamos  de  praticar,  foi  inventada  por  um  de  meus 
avós,  em  favor  dos  abyssinios,  que  se  tinham  feito  mahometanos,  e  que  desejavam  regres- 
sar ao  chrístianismo. 

•Alvares,  querendo  persuadir-nos  que  esta  cerimonia  era  realmente  um  baptismo, 
diz  que  antes  da  sua  chegada  ao  lago,  tinha-se  deitado  azeite  na  agua.  Não  se  atreve 
poii  a  afBrmar  que  o  vio  fazer,  porque  é  uma  falsidade;  mas  sabe  que  era  um  dos  ritos 
das  egrejas  do  Oriente,  é  por  isso  que  falia  d'elle. 

•O  capeUâo  de  D.  Rodrigo  de  Lima  teria  devido  ver,  que  não  somente  os  homens 
e  as  mulheres  se  lavavam  no  lago,  mas  que  faziam  banhar  alli  os  cavallos,  vacaS)  mulas, 
e  ama  quantidade  immensa  de  burros. 

•Não  terei  por  conseguinte  escrúpulos  em  dizer,  que  tudo  quanto  Alvares  diz  n'esta 
relaçãO)  não  passa  d'uma  mentira  grosseira,  porque  os  abyssinios  nunca  olharam  como 
nm  baptismo  a  cerimonia,  que  praticam  no  dia  da  Epiphania.  (Voyages  aux  sources  du 
NU,  vol.  8. ',  pag.  138  ] 

•A  calaracta  d'Atala,  no  rio  Nilo  offereceu  á  minha  vista  um  dos  mais  bellos  espec- 
táculos, que  tenho  visto.  O  jesuíta  Jeronymo  Lobo  pretende  que  se  poz  debaixo  do  arco 
que  forma  o  Nilo,  precipitando-se.  Conta  que  não  somente  allí  se  assentou  com  traaquil- 
lifkule,  mas  que,  olhando  atravez  da  massa  d'agua  que  cala,  viu  a  luz  dividida  como  por 
vm  prisma,  n*uma  iafinidade  de  circnlos  malisados  como  o  do  arco  íris.  Porém  eu  ouso 
sem  hesitar  dizer  que  é  uma  mentira.  A  bacia  que  recebe  a  cascata  é  muito  profunda,  e 
a  agua  está  alli  extremamente  agitada.  Mas  suppondo  mesmo  que  houvesse  do  meto  does- 
ta bacia  uma  elevação,  onde  se  podcsse  sentar,  seria  impossível  a  um  homem  chegar 
âlfi.  (Idem,  idem,  pag.  28i.» 

Bruce  a  todos  os  escriptores  porluguezes  tinha,  como  se  tem  visto,  na  conta  de 
falsarios  e  mentirosos.  De  egual  modo  procederam  para  com  elle  os  escriptores  euro- 
peus, que  chegaram  a  duvidar  que  Bruce  tivesse  estado  na  Aby  ssinia. 


186  BR 

moQçoes,  qoe  reinam  n'estes  mares;  e  Gama  tinha  partido  para  a  índia  na  es- 
taçao  mais  desfavorável.  A  16  de  novembro  fez-se  de  vela  para  o  Cabo  com 
vento  de  sudoeste:  porém  no  mesmo  dia  o  maa  tempo  se  declarou,  e  os  por- 
tugueses foram  de  tal  maneira  acossados  pelo  temporal,  que  a  i8,  tendo  final- 
mente descoberto  o  Cabo,  nào  se  atreveram  a  dobral-o..  Viu-se  então  quanto 
as  impressões,  que  lhes  tinha  deixado  a  viagem  de  Dias,  eram  mais  fortes,  que 
os  deveres,  obediência  e  resignação,  que  tinham  tão  solemnemente  jurado  na 
capella  da  ermida,  aonde  Vasco  os  tinha  levado  em  procissão.  Toda  a  equipa- 
gem se  revoltou,  e  se  recuzou  a  ir  mais  longe,  estando  os  pilotos,  e  contrames- 
tres mesmo  á  frente  dos  amotinados.  Porém  Vasco,  bem  convencido  que  ne* 
nhum  perigo  extraordinário  os  esperava  alem  do  Cabo,  persistiu  em  querel-o 
dobrar,  e  os  offlciaes  animados  do  mesmo  ardor,  que  seu  commandante  apo- 
deraram-se  dos  chefes  amotinados^  e  pozeram-nos  a  ferros  no  porão. 

<0  próprio  Vasco  tomou  na  mão  o  leme  de  seu  navio,  e  se  desviou  da  torra, 
com  grande  espanto  de  seus  mais  bravos  companheiros.  O  temporal  durou 
ainda  dois  dias,  mas  elle  não  poude  abalar  a  constância  do  almirante,  que  a 
20  teve  finalmente  a  honra  de  dobrar  o  cabo.  N'este  momento  de  triumpbo  as 
trombetas  e  tambores  fizeram-se  ouvir,  e  Vasco  permittiu  a  seus  companheiros 
toda  a  sorte  de  regosijos,  a  fim  de  banir  a  lembrança  de  seus  receios,  fazel-os 
concordar  com  elle  em  que  este  cabo  tinha  sido  mui  justamente  chamado  o  Cabo 
de  Boa  Esperança. 

«A  25  os  portuguezes  ancoraram  n'um  pequeno  porto,  a  que  deram  o  no- 
me de  S.  Braz.  Pouco  depois  viram  um  grande  numere  de  habitantes,  corre- 
rem à  praia,  e  aos  montes  próximos.  O  almirante  temendo  alguma  surpreza, 
fez  desembarcar  gente  armada.  Porém  antes  d'isso  mandou  que  atirassem  para 
a  praia  guisos  de  metal,  e  outras  bagatelias.  Os  indígenas  apoderaram-se  d'ellas 
precipitadamente,  e  avcnluraram-se  mesmo  a  chegar  tão  perto,  que  um  d*eiles 
tomou  alguma  coisa  mesmo  da  mão  do  almirante.  Logo  que  Vasco  desceu  á 
terra,  os  selvagens  acolheram-no  cantando  e  tocando  flauta;  e  elle  mandou  aos 
portuguezes,  que  tocassem  trombeta,  e  dançassem  á  roda  dos  selvagens. 

«De  S.  Braz  até  sessenta  léguas  mais  longe,  a  costa  pareceu  aos  portugue- 
zes coberta  de  arvoredo,  e  d'uma  verdura  extremamente  agradável.  Em  dia 
de  Natal  approximaram-se  da  terra,  e  entraram  n'um  rio,  ao  qual  deram  o 
nome  de  rio  dos  Reis.  Chamaram  também  toda  a  que  se  extende  de  S.  Braz  a 
este  rio— Terra  do  Natal.  O  tempo  tinha-se  tornado  muito  bello;  os  portugue- 
ses deitaram  todas  suas  lanchas  no  mar  para  descerem  a  terra,  e  viram  a  praia 
juncada  de  homens  e  de  mulheres  de  grande  estatura,  mas  que  não  tinham  naa- 
neiras  affaveis  e  agradáveis.  O  almirante  mandou  desembarcar  Martim  Affonso, 
que  fallava  varias  linguas  dos  negros.  Este  fez-se  muito  bem  entender,  e  foi 
agradavelmente  acolhido  pelo  chefe,  ou  rei,  a  quem  o  almirante  mandou  de 
presente  algumas  bagatelias,  e  que  em  compensação  ofifereceu  quanto  produ- 
zia seu  paiz.  Tanto  estava  encantado  dos  portuguezes! 

«A  io  de  janeiro  de  1498,  tendo  renovado  sua  provisão  d'agua,  que  os  pró- 
prios negros  ajudaram  os  marinheiros  a  metterem  a  bordo,  Gama  deixou  este 
povo  aíTavel  c  generoso,  e  adianlou-se  alé  ao  Cabo,  a  que  deu  o  nome  de  Gabo 


BR  187 

tias  Correntes.  Alli  termina  a  Costa  do  Natal,  e  começa  a  de  Sofala  ao  norte 
do  Gabo.  Gama,  vindo  do  meio  dia  ao  Cabo  das  Correntes,  chegou  exacta- 
mente ao  mesmo  sitio,  aonde  Covilhã  tinha  ido  ao  vir  do  Norte,  de  maneira 
qae  estes  dois  portaguezes  tinham  feito  elles  sós  a  volta  inteira  d' Africa. 

«Subiu  ao  throno  d'Abyssinia  Iscander,  e  os  portugnezes  derramaram  uma 
grande  confusão  sobre  uma  parte  da  historia  d'este  paiz,  Iscander  subiu  ao 
throno  em  1475.  Morreu,  diz-se,  em  1490,  o  que  é  confirmado  por  Ludolf;  e 
todavia  todo  o  mundo  sabe,  que  não  devia  ter  morrido,  senão  em  1492.  A  maio- 
ria dos  portuguezes  confessa  além  d'isso  que  Covilhã  viu  Iscander,  e  convw- 
8on  com  eUe  algum  tempo  antes  da  sua  morte:  o  que  deve  efíectivamente  ser 
verdade,  se  este  príncipe  viveu  até  1492;  porque  Pedro  da  Covilhã  entrou  ef- 
íectivamente na  Abyssinia  em  1490,  assim  como  nol-o  conta  Galvão  nas  me- 
morias de  seu  pae.  Mas  por  outra  parte  Telles  diz-nos  que  Iscander  tinha  mor- 
rido seis  mezes  antes  da  chegada  de  Covilhã.  Que  acreditar?  Se  Covilhã  não 
chegou  effectivamente  á  Abyssinia  senão  seis  mezes  depois  do  assassinato  d'l6- 
cander^  foi  então  no  fim  do  reinado  de  Amdo-Sion,  menino,  que  não  occupou 
o  throno  mais  qae  sete  mezes.  Nem  Alvarez,  nem  Telles  fazem  menção  d'estc 
joven  rei,  e  ambos  commetteram  uma  serie  d'erros,  o  que  prova  que  os  his- 
toriadores portuguezes  prestam  pouca  attenção  á  Ghronología  Abyssinia.  Di- 
zem que  Iscander  era  pae  de  Naod,  quando  era  seu  irmão.  Paliando  depois  a 
respeito  de  Helena  apresentam-na  como  mãe  de  David;  e  todavia  Helena,  de- 
clarada Iteghé,  durante  a  menoridade  de  David  III,  não  era  senão  avó,  ou  para 
melhor  dizer  esposa  do  avô  d'este  príncipe,  e  ella  nunca  teve  filho. 

«Achei  perto  de  quatro  annos  de  differença  entre  meu  calculo,  e  o  dos  au- 
ctores,  que  acabo  de  citar.  Mas  julguei  não  dever  servilmente  renunciar  á  mi- 
nba-opinião,  para  seguir  a  de  estrangeiros,  que  entendiam  muito  mal  a  lingua, 
e  quasi  que  não  conheciam  a  maneira  de  contar  do  paiz,  do  qual  escreviam  a 
historia.  Meu  calculo  aliás  é  apoiado  por  um  eclipse  de  sol  succedido  em  1553, 
no  decimo  terceiro  anno  do  reinado  de  Cláudio.  Partindo  d'esta  epocha  até  o 
instante,  em  que  puz  os  pés  nas  terras  d'Abyssinia;  e  remontando  depois  ao 
tempo  dlscander,  parece  que  este  príncipe  subiu  ao  throno  em  1478,  e  que 
reinando  17  annos,  deveu  viver  até  o  anno  de  1495.  D'esta  sorte  poude  ver  Pe- 
dro do  Covilhã,  e  conversar  com  elle,  se  Covilhã  effectivamente  foi  á  Abyssi- 
nia em  1490. 

«Depois  do  assassinato  dlscander  os  abyssinios  offereceram  a  coroa  a  Naod, 
irmão  dlscander,  e  morrendo  depois  d'um  reinado  de  treze  annos,  succedeu- 
Ihe  David.  ^ 

«Por  este  tempo  os  turcos,  que  até  então  tinham  sido  julgados  como  nada 
valendo  no  meio  dia  da  Africa  e  da  Ásia  se  mostraram  de  repente  debaixo 
d'um  aspecto,  que  fez  tremer  todos  estes  estados. 

«Selim,  imperador  de  Constantinopla,  venceu  Canso  El  Guari,  Sultão  do 
^líyp^o,  que  morreu  no  combate.  Algum  tempo  depois  tendo  dado  uma  se- 
gunda batalha,  Selim  ainda  vencedor  se  apossou  do  Cairo,  e  debaixo  do  espe- 

*  James  Bruce— Km/ojyg  aug:  sources  du  NU,  vol  4.",  p«g.  18f. 


188  BR 

cioso  pretexto  que  Tomam-Bcy,  successor  de  Canso,  tinha  mandado  matar  c^ 
embaixadores  turcos,  mandou  enforcar  o  desgraçado  Sultão  na  porta  principal 
de  sua  capital,  e  com  esta  execução  sanguinolenta  destruiu  a  raç^i  dos  Mame* 
lukos.  Sinan-Becha,  primeiro  ministro  e  general  de  Selim;  conquistou  bem  de 
pressa  toda  a  península  da  Arábia  até  ás  margens  do  Oceano  Indico. 

«O  povo  por  multo  tempo  acostumado  a  combater,  e  a  quem  Mahomet  ti- 
nha inspirado  seu  enthusiasmo,  conquistou  o  Oriente.  Mas  o  luxo  o  desarmou 
bem  de  pressa,  e  o  reduziu  á  mesma  situação,  em  que  elle  estava,  logo  que 
Augusto  quiz  submettel-o.  Sínan-Pacba  não  teve,  pois,  necessidade  mais  que 
d'um  punhado  de  guerreiros  para  exterminar  os  soberanos  legítimos  d*estas 
regiões.  Uns  foram  vencidos  pela  força,  outros  pela  perfídia,  e  Sínan  os  subs- 
tituiu em  cada  cidade  principal  por  officiaes  de  confiança,  com  guarnições  de 
janisaros,  que  não  conheciam  outras  leis  mais  que  as  militares. 

«A  guerra  comtudo  tinha  mudado  de  forma  debaixo  d'estes  novos  con- 
quistadores. As  espingardas,  a  artilheria  estavam  empregadas  contra  os  dar- 
dos, lanças,  frechas,  únicas  armas  usadas  na  Arábia  e  na  Abyssínia.  Uma  frota 
carregada  de  soldados,  e  de  instrumentos  de  guerra,  cujos  nomes  eram  tão  des- 
conhecidos aos  povos  doestas  regiões,  como  seus  effeitos  destruidores,  foi  des- 
tinada pelos  turcos  a  conquistar  a  índia;  e  ainda  que  o  valor  português  veia 
em  ajuda  dos  índios,  e  repellisse  gloriosamente  os  othomanos,  estes  fortifica- 
ram sem  cessar  os  diversos  postos,  que  tinham  na  Arábia,  e  com  os  soceorros 
dos  quaes  contavam,  se  um  inimigo  quizesso  detel-os,  se  a  tempestade,  on 
qualquer  outro  obstáculo  tivesse  podido  oppôr-se  ao  regresso  d'elles. 

«Pôde  se  dizer  que  estas  guarnições  de  janisaros  devoravam  as  entranhas 
do  commercio  debaixo  do  pretexto  de  o  proteger.  Seu  commandante  tinha  pois 
estabelecido  alfandegas  em  alguns  portos.  Mas  viu  se  bem  depressa  quo  o  ver- 
dadeiro motivo  era  o  de  conhecer  melhor  as  pessoas,  ás  quaes  podiam  extor- 
quir mais  dinheiro.  Jidda,.  Zibid,  Moka,  cidades  commerciantes  c  visinhas  de 
Abyssínia,  ainda  que  situadas  sobre  a  costa  di*Arabia;  Suakem,  ilha  na  costa 
d'Africa,  ás  portas  dos  abyssinios,  e  no  caminho  das  caravanas,  que  vão  da 
Abyssínia  ao  Cairo,  estavam  todas  debaixo  do  commando  d*um  bachá  turco, 
e  tinham  guarnições  turcas  enviadas  pelo  imperador  Selim,  e  por  Solimão,  seu 
successor. 

«Os  mercadores  árabes  não  gostando  senão  da  paz,  e  tendo  aquella  boa  fé, 
que  um  commercio  prospero  inspira,  fugiram  sem  demora  para  longe  da  vio- 
lência, e  da  injustiça  dos  turcos,  e  levaram  suas  riquezas  para  as  costas  do 
reino  d'Adel.  O  commercio  da  índia,  querendo  escapar  aos  mesmos  tyrannos, 
foi  também  para  Adel  refugiar-se  entre  seus  amigos,  e  alli  foi  que  os  mouros 
o  cultivaram  durante  todo  o  tempo,  que  durou  a  impolitica  e  barbara  oppres- 
são  dos  turcos. 

«Zeyla  é  uma  ilhota,  situada  na  costa  d^Adel,  opposta  à  Arábia  Feliz,  na 
entrada  do  Oceano  Indico.  Os  turcos  estabelecidos  na  Arábia,  apesar  de  não 
advinharem  a  verdadeira  causa  da  fugida  do  commercio,  ficaram  muito  qui- 
zilados  de  o  verem  refluir  para  o  reino  d'Adel.  Apoderaram-se  de  Zeyla,  e  es- 
tabeleceram alii  uma  alfandega,  e  por  meio  d'estc  posto,  enlas  galeras,  que  en- 


BR  i89 

viavam  em  cruzeiro  para  os  estreitos,  submetteram  o  commercio,  que  o  reino 
d*Adel  fazia  com  a  índia,  ás  contribuições,  que  podiam  d'alguma  sorte  in- 
demnísal-os  da  deserção,  que  suas  injustiças  e  violências  tinham  occasionado 
na  Arábia. 

«Este  novo  estabelecimento  dos  turcos  ameaçou  destruir  ao  mesmo  tempo 
o  reino  d*Adel,  e  o  império  d'Abyssinía.  Considerando  a  disciplina  firme  e  se- 
vera do  governo  dos  turcos,  e  a  politica  fraca,  os  prejuisos  dos  adelios  e  dos 
abyssinios,  parece  mais  que  provável,  que  estes*  dois  últimos  povos  teriam 
sido  submettidos,  se  a  índia  nao  tivesse  sido  o  principal  alvo  da  ambição  dos 
turcos» e  se  não  tivessem  allí  encontrado  os  portuguezes  solidamente  estabeleci- 
dos. Os  portuguezes  foram  governados  por  uma  successão  de  reis,  que  não  ti- 
veram talvez  outros,  que  os  egualassem;  e  seus  offlciaes  o  soldados  eram  su- 
periores emquanto  á  disciplina,  à  coragem,  ao  amor  da  pátria,  a  todos  os  exér- 
citos, dos  quaes  a  historia  nos  offerece  o  exemplo. 

«A  imperatriz  Helena  informada  então  dos  progressos  do  poder  portuguez 
na  índia  conheceu  que  o  soccorro  desta  nação  era  o  único,  que  podia  salvar 
Adel  e  a  Abyssinia. 

«O  portuguez  Pedro  da  Covilhã  vindo  como  embaixador  á  corte  d'Abys- 
sinia,  alii  tinha  residido  durante  dois  reinados,  sem  que  quizessem  de  modo 
algum  deixal-o  ir  embora.  Tínha-se  d'alguma  sorte  tornado  antes  um  objecto 
de  curiosidade,  que  de  utilidade.  Além  da  liberdade  nada  Ibe  faltava.  A  im- 
peratriz tinha-o  casado  com  uma  mulher  de  alta  jerarcbia,  e  accumnlado  de 
riquezas  e  de  honras.  Comtudo,  na  época  em  que  havia  a  recciar  as  conquis- 
tas dos  turcos,  esta  prínceza  começou  a  perceber  de  que  importância  podia 
ser  para  ella  um  homem,  que  lhe  fornecesse  meios  seguros  de  correspondên- 
cia com  a  índia  e  Portugal;  pois  as  pessoas,  a  quem  ella  tinha  resolvido  diri- 
gir-se,  não  lhe  eram  menos  desconhecidas,  que  as  linguas  d'ellas. 

«Ilavia  então  na  corte  d'Abyssinia  um  mercador  chamado  Matheus,  ^  ho- 
mem intelligente,  honrado,  e  havia  muito  tempo  acostumado  a  percorrer  os 
estados  do  Oriente  para  as  necessidades  mercantis  do  rei  e  dos  grandes  da 
Aby59inia.  Estivera  no  Cairo,  Jerusalém,  Ormuz,  Ispaham,  nas  índias  Orientacs, 
e  na  costa  de  Malabar,  tanto  nos  logares  conquistados  pelos  portuguezes,  como 
nos  que  tinham  ficado  debaixo  do  dominio  de  seus  príncipes  legitimos.  Era 
floalmcnte  um  d'esses  agentes  que  eram  empregados  pelos  monarchas  e  abyssi- 
nios ricos  a  irem  vender  ou  trocar  as  mercadorias,  que  lhes  são  pagas  em  gé- 
neros. Em  summa  Matheus  foi  escolhido  pela  imperatriz  Helena  para  ser  seu 
embaixador  juuto  do  rei  de  Portugal:  ella  o  mandou  acompanhar  por  um  jo- 
ven  abyssioio,  que  morreu  na  viajem.  As  cartas,  que  Helena  dirigiu  n'esta 
occasião  ao  monarcha  europeu,  são  muito  extensas,  e  conteem  mais  ficções  e 
vaidade,  que  coisas  verdadeiras. 

«Na  primeira  metade  da  carta,  metade  que  se  suppòe  dictada  por  Covi- 
lhã, a  iniporatriz  diz  que  o  que  ella  pede  ao  rei,  lho  será  explicado  por  Ma- 
theus, seu  embaixador,  a  quem  cila  qualifica  com  o  titulo  de  confidente,  e 

*  JaDie^  Brucc— Voiiflfjifs  aux  sources  du  NU,  vol.  i  ",  i)*6-  ^^^- 


190  BR 

de  homem  informado  de  seas  roais  secretos  desígnios.  Pede  ao  raonareha,  qae 
dé  credito  a  quanto  este  embaixador  lhe  disser  em  particular»  ^  como  se  ella 
mesma  lhe  fallasse.  Tanta  prudência  annuncia  sem  duvida  tudo  que  se  devia 
esperar  d*um  homem  por  muito  tempo  acostumado  a  negociações  secretas. 

tMas  o  fmal  d'estes  mesmos  despachos  divulga  todo  o  segredo  da  embaixa- 
da, e  este  flnal  é  dictado,  segundo  se  pôde  crer,  pelos  ministros  da  Abyssinia. 

cPede-se  ao  rei  de  Portugal  que  envie  forças  suficientes  para  libertar 
Meca  e  Medina;  que  arme  uma  esquadra  para  defender  as  costas  d^Abyssinia, 
c  atacar  o  poder  dos  turcos  por  mar,  ao  passo  que  os  abyssinios  extermina- 
riam por  terra  todos  os  mahometanos.  Finalmente  prodigalisam-se  aos  maho- 
metanos  turcos  e  moiros  os  epithetos  mais  injuriosos. 

«Â  primeira  parte  d'esta  missiva  não  podia  impedir  Matheus  de  passar, 
nem  causarlhe  algum  desgosto,  mas  comtudo  se  Matheus  tivesse  sido  preso, 
o  seus  despachos  interceptados,  sua  embaixada  teria  sido  recompensada  com 
a  perda  da  vida. 

«Quando  o  jovcn  monarcha  d' Abyssinia  esteve  em  edade  de  reinar,  longe 
de  approvar  a  missão  de  Matheus,  obstinou-se  em  ser  contra  ella. 

«Matheus  chegou  felizmente  até  Dabul,  mas  o  governador  tomando-o  por 
um  espião  mandou  prendei- o.  Foi  salvo  das  mãos  doeste  governador  por  AÍToq- 
so  d'Albuquerque,  que  tinha  já  suas  vistas  sobre  a  Abyssinia. 

«Albuquerque,  antes  que  Matheus  desembarcasse,  quíz  tractar  partícolar- 
mente  com  elle,  aflm  de  o  persuadir  a  que  lhe  mostrasse  seus  despachos.  Mas 
Matheus  recusou-se  absolutamente  a  isso.  Este  procedimento  foi  prejudicial  ao 
embaixador,  pois  Albuquerque  desde  este  momento  pareceu  disposto,  bem 
como  todos  seus  oíliciaes,  a  fazerem  pouco  caso  d'elle,  quando  desembarcasse. 
Porém  Matheus  sabendo  bem  que  o  caracter,  do  que  estava  revestido,  tomava 
sagrada  sua  pessoa,  não  quiz  ser  tractado  como  um  simples  particular.  Mandou 
advertir  o  vice-rei,  o  bispo,  c  todo  o  clero  que  independentemente  de  seu  titu- 
lo de  embaixador,  que  exigia  o  respeitassem,  clle  era  portador  d'um  pedaço 
da  verdadeira  cruz,  que  a  imperatriz  enviava  ao  rei  de  Portugal;  e  lhes  man- 
dou dizer  que  a  não  ser  que  quizessem  ser  arguidos  de  sacrílegos,  deviam  tes- 
temunhar a  maior  veneração  a  esta  relíquia  preciosa,  e  celebrar  sua  chegada 
com  uma  festa  solemnc.  Não  foi  preciso  mais.  Todas  as  ruas  de  Gôa  foram  cheias 
de  procissões.  -  O  vice-rei  e  os  primeiros  oíliciaes  foram  receber  Matheus,  quan- 
do descia  da  chalupa,  e  o  acompanharam  ao  palácio,  onde  foi  alojado  e  tra- 
tado com  magnificência.  Mas,  apesar  d' isto,  só  passados  três  annos  de  residên- 
cia na  índia  é  que  teve  licença,  em  1513,  de  continuar  sua  viagem  para  Por- 
tugal. 

«O  historiador  Damião  de  Góes,  homem  cheio  de  bom  sonso  e  de  candura 
não  pode  comprehender,  porque  se  enviava  como  embaixador  um  arménio,  e 
não  um  dos  primeiros  nobres  da  Abyssinia.  Mas  é  provável  que  ninguém  fosse 
mais  capaz  que  clle,  para  desempenhar  as  inteuçues  da  imperatriz. 

'  James  Brucc— Ií'»/'*'/''  mu  soimcs  dv  Ai/,  vol.  5.".  pnp.  200. 


BR  i9i 

«A  desgraça,  que  tinha  acompanhado  Mathens  á  índia,  o  acompanhou  até 
Portogai.  Os  capitães  dos  navios  pareciam  disputar  entre  elies  sobre  qaem  o 
trataria  peor.  Mas  finalmente  chegou  a  Lisboa.  O  rei,  apenas  foi  informado  da 
maneira  indigna  como  seus  offlciaes  tinham  procedido  com  Mathens,  man- 
dou*os  carregar  de  ferros,  e  provavelmente  teriam  ficado  presos  o  resto  da 
vida,  se  o  próprio  arménio  não  tivesse  tido  a  generosidade  de  pedir  o  perdão 
d'elles. 

«David  não  tinha  mais  que  doze  annos,  quando  subio  ao  throno,  e  durante 
sua  menoridade  Helena  concluirá  um  tratado  de  paz  com  o  rei  de  Adel.  Mas 
os  turcos  continuavam  suas  hostilidades,  e  David  não  tendo  ainda  16  annos 
tomou  repentinamente  o  partido  de  reunir  um  exercito,  e  de  o  commaudar  em 
pessoa.  Deu*se  a  batalha  n'um  valle  entre  a  província  montanhosa  de  Fatigar 
e  as  planícies  de  Adel.Diz-se  que  ficaram  no  campo  de  batalha  doze  mil  mussul- 
manos,  e  que  os  abyssinios  pouca  gente  perderam.  O  estandarte  verde  de  Ma- 
bomet  foi  tomado,  bem  como  a  tenda  de  veludo  preto  bordada  a  ouro,  que 
o  rei  deu  depois  ao  embaixador  de  Portugal,  para  servir  para  a  celebração  da 
missa.  Esta  victoria  foi  alcançada  no  mez  de  julho  de  1516,  e  no  mesmo  dia 
uma  esquadra  portugueza,  debaixo  do  commando  de  Lopo  Soares  de  Alber- 
garia se  apoderou  da  ilha  de  Zeyla  na  entrada  do  mar  Roxo,  e  queimou  os 
estabelecimentos  d'ella.  ^ 

«Ê  certo  que  nem  as  suspeitas  que  tinha  havido  na  índia  a  respeito  do  ar- 
ménio Matheus,  nem  o  nascimento  obscuro  doeste  embaixador  fizeram  impres« 
são  no  rei  de  Portugal.  Este  príncipe  prestou-lhe  as  maiores  honras  á  sua  che- 
gada, e  não  lhe  testemunhou  menos  apreço  para  com  os  objectos  de  sua  missão, 
que  consideração  para  seu  amo.  Emquanto  Matheus  esteve  em  Lisboa  foi  alo- 
jado e  tratado  magnificamente. 

«O  rei  D.  Manoel  considerando  de  quanta  utilidade  podia  ser  para  os  por- 
tugueses um  amigo  tão  poderoso  nas  costas  do  mar  Vermelho,  onde  suas  es- 
quadras achavam  toda  a  sorte  de  provisões  e  de  soccorros,  quando  perseguis- 
sem as  esquadras  turcas,  mandou  preparar  uma  embaixada,  e  ao  mesmo  tem- 
po enviou  Matheus  na  frota  de  Albergaria.  E  Duarte  Galvão  homem  de  gran- 
de capacidade,  foi  nomeado  para  ir  como  embaixador  á  Abyssinia. 

«Com  tudo  a  esquadra  de  Soares  entrou  no  mar  Vermelho,  e  parou  na  ilha 
baixa  de  Gamarão,  sobre  a.costa  d^Arabia  Feliz.  ^  Era  o  logar  mais  doentio,  que 
o  almirante  podia  escolher.  Por  isso  Duarte  Galvão  alli  morreu.  Com  tudo  Soa- 
res resolveu  passar  o  inverno  n'aquelle  sitio,  e  levou  ao  cabo  sua  resolução. 

«Quando  o  ignorante  Soares  voltou  à  índia,  foi  substituído  por  Lopes  Se- 
queira. Saiu  de  Goa  com  uma  frota  considerável,  entrou  no  mar  Vermelho, 
fez-se  de  vela  para  a  ilha  de  Masuah,  aonde  chegou  a  16  d'abril  de  1520,  le- 
vando comsigo  o  embaixador  Matheus.  Á  primeira  vista  da  esquadra  todos  os 
habitantes  de  Massuah  abandonaram  a  ilha,  fugiram  para  o  continente,  para 
Arkééko.  Sequeira  tendo-se  conservado  alguns  dias  em  frente  de  Bfassuah,  sem 

*  James  Brucc— Vo»/«7c.s  aux  sources  du  Nilf  vol.  4.',  pag.  Í15. 
2  Idem,  idem,  pag.  %!G. 


192  BR 

deixar  praticar  o  menor  acto  de  hostilidade,  am  christào  e  am  moaro  vieram 
ter  com  elle,  e  lhe  participaram  que  a  costa  fronteira  fazia  parte  de  império 
da  Abyssinia,  e  era  governada  por  um  oíficial  abyssínio,  revestido  com  o  car- 
go de  Baharnagash.  Disseram-lhe  que  os  habitantes  de  Massuah  haviam  fugido, 
porque  os  turcos  tinham  pur  costume  desembarcar  na  ilha,  e  saqueal-a,  mas 
que  todos  os  habitantes  eram  christâos.  O  commandante  portuguez  ficou  encan- 
tado com  taes  novas,  e  vendo  que  Matheus  só  tinha  dito  a  verdade,  entrou  a 
tratal-o  com  muito  maiores  attenções.  Louvou  os  habitantes  por  terem  fugido 
para  Arkééko>  antes  do  que  exporemse  aos  insultos  dos  turcos,  e  disso-lhes 
que  eram  christâos  os  portuguezes,  e  que  tinham  vindo  para  aqueUas  paragens 
em  seviço  ao  rei  da  Abyssinia. 

«No  dia  seguinte  o  governador  d'Ârkééko  veiu  á  praia,  acompanhado  de 
trinta  homens  a  cavallo,  e  de  duzentos  a  pé.  A  conversação  entre  esto  gover- 
nador e  Sequeira  foi  franca  e  amigável.  O  abyssinio  convidou  o  portuguez  a 
vir  a  terra,  affirmando  lhe  que  o  Baharnagash  estava  já  informado  da  chega- 
da da  esquadra. 

«Sequeira  fcz-lhe  varias  perguntas  relativas  á  religiilo  do  paiz;  o  gover- 
nador indicando -lhe  com  o  dedo  uma  montanha,  que  estava  a  cousa  de  vinte 
milhas  de  distancia,  lho  disse  haver  allí  um  convento,  que  se  chamava  o  mos- 
teiro de  Dissan,  cujos  monges  informados  de  sua  chegada  tinham  mandado 
sete  d*entre  elles  para  irem  ao  seu  encontro.  Com  eíTeito  os  sete  monges  nao  tar- 
daram em  appresentar-se  e  o  general  portuguez  recebeu  os  mui  aíTectuosamcn- 
to.  Matheus  tinha  muitas  vezes  fallado  a  Sequeira  a  respeito  do  mosteiro  de 
Bissau. 

«Os  monges,  apenas  viram  Malheus,  derramando  lagrimas  d'alegria  felici- 
taram-no  pela  sua  vinda,  depois  d'uma  tão  longa  ausência.  O  general  portu- 
guez convidou  csies  monges  para  virem  abordo,  dcu-llies  um  ban(iucte,c pre- 
sentes convenientes.  Depois  escolheu  sete  portuguezes,  á  frente  dos  quaes  es- 
tava Pedro  Gomes  Teixeira,  auditor  das  índias  Onentaes,  a  quem  a  língua 
árabe  era  muito  familiar,  para  irem  pagar  a  visita  ao  mosteiro  do  Bassan. Tei- 
xeira trouxe  do  mosteiro  um  manuscripto  om  pergaminho,  de  que  os  monges 
lhe  fizeram  presente  para  o  rei  de  Portugal. 

«A  24  d'abril  o  Baharnagash  veiu  a  Arkécko.  Este  começou  dizendo  ao 
portuguez  que,  por  certas  prophecias,  havia  muito  tempo,  que  eram  esperados 
no  paiz;  e  que  clle  c  os  outros  empregados  abyssinios  estavam  promptos  a 
prestrar-lhes  todos  os  serviços,  que  estivessem  nas  suas  mãos.  Depois  que  o 
general  portuguez  lhes  agradeceu,  os  padres  e  monges  terminaram  sua  con- 
versação por  alguns  actos  religiosos,  e  deram  i)rescntcs  uns  aos  outros. 

«N'esta  entrevista  todas  as  suspeitas,  que  tinha  havido  a  respeito  de  Ma- 
theus, cessaram,  e  foi  reconhecido  como  um  verdadeiro  embaixador.  Todos  os 
portuguezes  se  agruparam  entào  cm  volta  de  Sequeira  desejando  cada  um  ser 
escolhido  para  acompanhar  o  Arménio  á  curte.  Nomeou  então  para  embaixa- 
dor a  D.  Rodrigo  de  Lima,  cm  logar  do  fallecido  Cialvào,  c  escolheu  para  o 
acompanharem  a  Jorire  d'Abreu,  L(»ih'z  da  (íama.  Joàu  Scol.ire  era  o  secre- 
tario; João  Gunealvez  sru  IVilor  c  inler|iiele:  Manuel  de  Mara.  seu  url;ani^ta,e 


BR  i93 

mestre  João,  seu  medico.  Havia  aioda  na  sua  comitiva  mais  três  portuguezes. 
Os  capellies  eram  João  Fernandes,  Pedro  AfTonso  Mendes,  e  Francisco  Alva- 
res. ÍSL  também  Matbeus,  e  levava  comsígo  Ires  portuguezes,  Magalhães,  Alva- 
renga e  Diogo  Fernandes.  O  rei,  que  andava  em  guerra  com  os  turcos,  tinha 
marchado  para  o  oriente,  até  ás  fronteiras  de  Fatogar,  e  alli  se  tinha  deixado 
íkar,  achando-se  exactamente  ao  meio  dia  de  seus  estados.  O  embaixador  por- 
tagaez  tinha  desembarcado  ao  Norte  da  Abyssinia,  de  maneira  que  para  ir  ter 
eom  o  monarcba  foi  preciso  atravessar  quasi  todo  o  império,  caminhando  por 
florestas,  sobre  serras  inteiramente  difTerentes  das  da  Europa,  cheias  de  feras, 
e  de  homens  ainda  mais  selvagens,  que  as  próprias  feras,  e  separadas  por  gran- 
des rios,  que  as  chuvas  do  trópico  fazem  muitas  vezes  transbordar.  Além  d'isto 
eneontram-se  muitas  vezes  por  este  caminho  desertos,  que  realmente  não  são 
muito  extensos,  mas  onde  nem  homens,  nem  animaes  podem  encontrar  ali- 
mento, ou  soccorro  algum.  Comtudo  este  pequeno  bando  de  portugueses,  foi 
tão  bravo  que  não  hesitou  um  só  momento.  Nada  do  que  podia  contribuir  pa- 
ra a  gloria  de  seu  príncipe,  honra  de  seu  paiz  lhes  pareceu  difflcil.  ^ 

•Depois  de  muitos  trabalhos  encontraram  os  portuguezes  uns  monges  do 
convento  de  S.  Miguel,  que  lhes  deram  uma  vacca.  Aqui  Matbeus  separou  sua 
bagagem  da  dos  outros  viajantes,  e  a  pôz  debaixo  da  guarda  dos  monges. 
Trazia  sem  duvida  dinheiro  de  Portugal;  e  desconfiando  da  recepção  do  rei, 
teve  a  prudência  de  pôr  o,  que  lhe  pertencia,  ao  abrigo  do  perigo:  mas  foi-lhe 
inútil  esta  precaução,  porque  oito  dias  depois  uma  febre  fez  morrer  este  armé- 
nio. Pouco  depois  o  criado  de  D.  Rodrigo  foi  victima  da  mesma  doença. 

•Comtudo  a  morte  de  Matheus  não  deixava  meios  aos  portuguezes  de  se 
explicarem  com  o  rei  a  respeito  d'uma  promessa^  que  elle,  ou  a  imperatriz  mãe 
tinham  feito  de  lhes  ceder  um  terço  do  reino  como  paga  dos  soccorroa,  que 
dessem  aos  abyssinios.  Temiam  além  d'isso  a  epidemia,  à  qual  Matbeus  aca- 
bava de  succumbir. 

«Vou  deixar  agora  D.  Rodrígo  continuar  sua  viagem,  cuja  relação  escri- 
pt»  por  seu  capellão  Alvares  não  achou  grande  credito  nos  historiadores  do 
seu  paiz.  É  verdade  que  ha,  principalmente  no  tocante  á  religião,  um  grande 
numero  de  coisas  mui  dííliceis  de  se  acreditarem,  e  que,  segundo  creio,  são 
obra  dos  jesuítas:  Alguns  annos  depois  de  Alvares  deixar  a  Abyssinia,  Telles, 
contemporâneo  de  Alvares,  o  accusou  de  falsidades,  e  Damião  de  Góes,  um  dos 
primeiros  historiadores  portuguezes  diz  que  viu  debaixo  do  nome  de  Alvares 
um  diário  muito  diíTerente  d'aquelle,  que  se  publicou.  Emquanto  a  mim  con- 
fesso que  o,  q  e  se  contou  da  primeira  audiência  concedida  pelo  rei,  me  pa- 
rece ser,  bem  como  outras  muitas  coisas  mencionadas  depois,  obra  de  pessoas, 
qae  nunca  estiveram  na  Abyssinia.  Se  minha  opinião  é  justa,  Francisco  Alva- 
res não  deve  ser  accusado  das  interpolações  mentirosas,  das  quaes  não  foi 
anctor.  Não  posso  conceber  como  os  catholicos  poderam  ser  tão  bem  e  tão  ge- 

*  James  Bruce  —  Voyage  aux  sourees  du  NU,  vol.  4.**  pa^?.  22i.  £  muito  curiosa  a 
def^ripção  da  viagem,  e  gloriosa  para  os  portuguezes,  mas  nâo  se  traduz,  as.^im  como  se 
teoi  jà  feito  a  outras  pad^agens  iuleressanlcs  por  e:»lc  artigo  ir  já  excessivamente  lon;o. 

TOMO  1  1-1 


!94  BR 

ncrosamcnte  recebidos,  como  nos  diz  Alvares.  O  sangae,  que  se  derramoa 
pouco  depois,  nos  prova  que,  se  os  abyssíDios  sentiram  com  effeito  alguma 
inclinação  em  si  para  a  egreja  Romana,  esta  inclinação  foi  passageira.  Em- 
quanto  ao  resto  da  relação  entrego-a  ao  juiso  do  publico,  como  uma  obra  bem 
pouco  digna  de  fé. 

«lia  na  relação  de  Alvares  duas  coisas,  que  me  surprebenderam  muito.  A 
primeira  é  o  perigo  contínuo,  que  correram  os  viajantes  de  serem  devorados 
pelos  tigres,  que  se  approxiroavam  até  ao  alcance  d'uma  lança;  ^  e  a  segonda 
é  o  campo  de  favas,  por  meio  do  qual  passaram.  Confesso  que  nunca  vi  fa- 
vas na  Abyssinia. 

«D.  Rodrigo  de  Lima  tinha  desembarcado  na  Abyssinia  a  16  d'abril  de 
1520,  e  nâo  chegou  à  vista  do  acampamento  do  rei,  senão  a  16  d*outubro  do 
mesmo  anno.  E  depois  d'uma  viagem  tão  penosa,  que  acabava  de  fazer,  esperava 
ter  sem  dií&culdade  uma  audiência  d'este  príncipe,  mas  enganava-se.  Em  vet 
de  o  mandar  vir  á  sua  presença,  o  rei  mandou-lhe  ordem  pelo  commandan- 
te  dos  burros  para  assentar  sua  tenda  a  três  milhas  mais  longe  do  acampa- 
mento. 

«O  embaixador  portuguez  nem  por  isso  foi  muito  bem  acolhido  por  David, 
o  parece  mesmo  que  as  intenções  d'este  príncipe  eram  não  o  deixar  regressar 
ao  reino,  o  que  era  costume  na  Abyssinia,  mas,  depois  de  o  ter  demorado  cnico 
annos,  como  resolveu  enviar  uma  embaixada  a  Portugal,  era  necessário  dei- 
xar partir  D.  Rodrigo,  todavia  reteve  á  força  o  secretario  da  embaixada,  o  mes- 
tre João,  e  o  pintor  Lazaro  d*Andreas,  e  D.  Rodrigo  foi  obrigado  a  retirar-se 
sem  elles. 

«Zaga-Zaab,  monge  abyssinio,  que  tinha  aprendido  a  língua  portugueza 
durante  a  residência  de  D.  Rodrigo  na  corte  d' Abyssinia,  foi  escolhido  para 
embaixador.  Os  portuguezes,  e  clle  partiram  bem  Tornecidos  de  tudo,  que  lhes 
era  necessário  para  a  viagem,  e  chegaram  felizmente  a  Massuah,  onde  eocoii- 
traram  uma  esquadra  commandada  pelo  governador  do  índia  Heitor  da  Sil- 
veira, que  estava  esperando  D.  Rodrigo.  Mas  ou  o  imperador  d'Abyssinia  ti- 
vesse mudado  de  parecer,  ou  não,  a  27  d'abril  de  1526  quatro  mensageiros 
chrgaram  da  corte,  trazendo  ordem  para  D.  Rodrigo  voltar  para  traz,  e  levar 
Heitor  comsigo.  Os  portuguezes  recusaram  obedecer,  e  contentaram-se  com 
que  Zaga-Zaab  fizesse  o  que  quízesse.  O  abyssinio  declarou  que  se  fosse  apa- 
nhado, talvez  fosse  lançado  n'uraa  cova  de  leões,  e  por  isso  apressou-se  a  em- 
barcar na  esquadra,  que  saiu  de  Massuah  no  dia  seguinte. 

«As  viagens  frequentes  dos  portuguezes  causaram  sérios  sustos  aos  turcos; 
mas  nem  o  rei  d' Abyssinia,  nem  os  portuguezes  tinham  tirado  alguma  vanta- 
gem doestas  viagens.  E  ha  muitas  apparencias  de  que  as  diversas  esquadras, 
í]ue  se  diri^^íam  a  Massuah,  não  tinham  outro  fim  senão  procurar  o  embaixa- 
dor D.  Rodrigo.  Os  seis  annos  perdidos  em  questões  e  em  puerilidades  entro 
o  rei  d* Abyssinia  e  o  embaixador  de  Portugal  tinham  tido  ar  do  formar  liga- 
ções serias  entre  as  duas  nações;  c  o  que  inquietava  ainda  mais  os  mouros, 

*  Jiiiiie.»  Brucc— roi/ar/r  auj  snnrrca  ihi  Ml,  vol.  í.".  pap.  2IJI. 


KR  193 

era  qae  oaida  transpirava.  >  Mas,  porque  nào  titiha  nada  transpirado?  Porque 
não  86  tínbam  fixado  em  nenhum  piano  determinado,  porque  uào  se  tinham 
feito  mais  que  propostas  vãs  e  ociosas,  que  não  havia  nem  poder,  nem  von- 
tade d*execatar.  Tal  era  por  exemplo  o  projecto  de  reunir  dois  exércitos  para 
conquistar  a  Arábia  até  Jerusalém. 

•Dq[)Ois  da  chegada  de  Covilhã  á  Abyssinia  as  coisas  estavam  bem  mu- 
dadas. Os  portuguezes  tinham  primeiramente  desejado  a  amisade  dos  abyssi- 
nios  para  poderem  por  meio  d'e5tes  communicar  com  a  índia.  Porém  depois 
podiam  prescindir  d'am  tal  soccorro,  pois  que  tinham  achado  á  útil  passagem 
do  Cabo  da  Boa  Esperança.  Por  outro  lado  David,  livre  de  receio  dos  mouros 
d*Adel,a  quem  elle  vencera,  vendo  que  o  poder  formidável  dos  turcos,  depois 
de  terem  conquistado  o  Egypto,  era  constantemente  repellido  na  índia  pelos 
portQgoezes,  e  descontente  finalmente  do  procedimento  pouco  aíTavel  do  em- 
baixador D.  Rodrigo,  e  das  promessas  exorbitantes,  que  a  imperatriz  Helena 
tinha  feito,  sem  elle  saber,  por  meio  do  arménio  Matbcus,  não  desejou  aper- 
tar mais  com  os  portuguezes  laços,  dos  quaes  não  previa  a  utilidade. 

«A  c<mquista  da  índia  era  o  principal  objecto  da  ambição  de  Selim;  mas 
eneontroQ  tantos  obstáculos,  que  renunciou  a  isso,  e  tendo  já  submettido  a 
Arábia,  que  se  estende  sobre  um  lado  do  mar  Vermelho,  resolveu  levar  seu 
domínio  para  a  margem  opposta.  Três  rasões  o  determinavam  a  este  projecto: 
a  primeira,  que  a  cidade  sancta  de  Meca  estaria  então  em  muito  maior  segu- 
rança, caso  que  uma  esquadra  portugueza  viesse  unir  suas  forças  a  um  exer- 
cito abyssinio;  segunda  que  as  galeras  turcas  não  haviam  de  navegar  tran- 
quilamente na  extremidade  do  golpho  arábico,  emquanto  os  abyssinios  fos- 
sem senhores  de  conceder  aos  portuguezes  uma  ilha,  ou  um  porto  de  mar, 
para  alli  se  estabelecerem  e  fortifical-o.  A  terceira,  finalmente,  porque  sendo 
o  imperador  da  Abyssinia,  segundo  se  dizia,  um  príncipe,  do  qual  o  propheta 
tinha  honrado  um  predecessor  com  uma  correspondência,  julgava  Selim  de 
seo  dever  convertel-o  e  a  seu  reino  ao  islamismo  por  meio  da  espada. 

•Os  turcos  eram  babeis  no  manejo  da  espingarda,  e  munidos  d' uma  pode- 
rosa artilheria,  e  ajudados  por  numerosas  esquadras,  que  apesar  de  continua- 
mente vencidas  na  índia  pelos  portuguezes,  contra  os  quaes  eram  destinadas, 
nao  tínbam  comtudo  cessado  jamais  de  cruzarem  no  mar  Vermelho,  e  de  re- 
forçarem os  portos  turcos  com  guarnições  novas. 

cA  imperatriz  Helena  morreu  em  1525,  um  anno  antes  que  D.  Rodrigo  dei- 
xasse a  Abyssinia.  Pouco  depois  da  morte  d'esta  rainha  David  se  preparou  a 
começar  de  novo  a  guerra  contra  os  mouros.  ^  Depois  do  rei  da  Abyssinia  ter 
ganho  uma  batalha,  avançeu  para  perseguir  os  mouros,  e  deu  um  combate 
em  Sbimbra-Coré,  em  que  os  abyssinios  ficaram  completamente  derrotados,  e 
.os  mouros  continuando  a  guerra  iam  assolando  quanto  encontravam,  e  redu- 
alam  ao  captiveiro  os  habitantes  poupados  pela  espada.  No  primeiro  de  maio 
de  i528  deuse  ainda  outra  batalha,  e  o  monarcha  abyssinio  foi  outra  vez 

'  James  Bruce— Voi/agc  aux  sources  du  A'i7,  vol.  4  *>  pag.  i40. 
s  Idem,  idem,  pag.  ?i5. 


i%  BR 

vencido,  e  nos  aonos  seguintes  os  mouros  iam  sempre  invadindo  os  territorioSp 
assolando  tudo,  o  queimando  as  egrejas.  A  6  de  fevereiro  de  I53i  foi  onín  vei 
David  derrotado  em  Dalukus,  nas  margens  do  Nilo,  e  os  mooros,  julgando  ea- 
tào  não  sor  necessário  estarem  unidos,  se  dividiram  em  dois  corpos;  um  m» 
parando-se  para  ir  queimar  Axum,  e  o  outro  flcando  em  Amhara,  e  continiiaii- 
do  de  victoria  em  victoria  obrigaram  o  reii  para  salvar  a  vida,  a  refogiar-se 
nas  montanhas. 

«Havia  doze  annos  que  D.  Rodrigo  de  Lima  tinha  partido  de  Massoah  para 
regressar  a  Portugal,  levando  comsigo  a  Zaga-Zaab,  embaixador  do  rei  da 
Abyssinia.  Este  embaixador  chegou  felizmente  a  Lisboa,  e  foi  recebido  com 
muita  magniGcencia  pelo  rei  João.  Mas,  como  na  sua  saida  Zaga,  tinha  dttxado 
a  Abyssinia  prospera,  e  como  provavelmente  a  vida,  que  passava  em  Porta- 
gai,  era  mais  agradável  para  elle,  que  a  de  seu  paiz,  não  se  appn^soa  a  pôr 
(Im  á  sua  embaixada.  Além  d'ísso  os  estabelecimentos  portugueses  na  índia 
tinham  chegado  a  tal  ponto  de  grandesa,  e  de  prosperidade,  que  não  lhes  dd* 
xavam  tempo  para  cuidar  d'um  alliado  tal  como  o  rei  da  Abyssinia.  E  no  de* 
curso  de  doze  annos  as  cousas  estavam  tão  mudadas,  que  não  tinha  ficado  ao 
rol  da  Abyssinia  mais  que  o  titulo  de  rei,  e  uma  vida  tão  aventurosa,  e  âo 
perigosa,  que  um  só  dia  não  podia  contar  com  o  dia  seguinte. 

«David  tinha  retido  na  Abyssinia  dois  portuguezes,  que  D.  Rodrigo  troa* 
xera  das  índias,  um  chamado  mestre  João,  e  o  outro  Lazaro  d'Andrade.  O 
abuna  Marcos^  velho,  e  enfermo,  já  não  tendo  relações  com  o  Cairo  desde  a 
conquista  dos  turcos,  tinha-se  tornado  muito  indifTerente  para  com  a  egr^t 
grega.  Algum  tempo  antes  de  sua  morte  designou  a  pedido  do  rei  para  sen 
successor  ao  portuguez  João;  e  por  conseguinte  sagrou*o  abuna,  depois  de 
lhe  ter  dado  as  ordens  inferiores  todas  d'uma  vez;  porque  João  não  era  mais 
que  um  secular  estudante  de  medicina,  muito  simples  e  muito  snpersticiosOb 
Chamar- Ihe-hemos  d'aqui  por  diante  Joào  Berumdes.  i 

«Este  João  consentiu  promplainente  em  acceitar  a  prelatura,  ^  com  a  con* 
dição  todavia  que  o  papa  a  approvaria;  e  partiu  para  Roma,  não  pelo  caminho 
ordinário  da  índia,  mas  atravessando  a  Arábia  e  o  Egypto.  O  novo  bispo  che- 
gou sem  accidente  à  Itália;  e  Paulo  111,  então,  papa  lhe  confirmou  não  somente 
o  patriarchado  d' Abyssinia,  mas  deu-Ihe  tambcm  o  de  Alexandria.  A  estes 
empregos  Bermudes  ajuntou  ainda  um  outro.  Foi  nomeado  embaixador  de 
David  na  corte  de  Portugal;  e  certamente  era  digno  de  desempenhar  este  car- 
go, quaesquer  que  fossem  seus  talentos  militares.  Tinha  residido  doze  annos 
na  Abyssinia,  conhecia  perfeitamente  o  paiz,  e  fora  testemunha  d^umaalluvião 
de  desastres,  que  pozeram  esto  império  na  ruina.  As  desgraças  de  David  esta- 
vam então  no  seu  cumulo,  e  este  priíicipe  morreu  cm  1540. 

«Pela  morte  de  David  subiu  Cláudio  ao  throno.  Todos  os  chefes  mabome-. 
tanos  se  apressaram  a  formar  uma  liga  contra  clle,  mas  Cláudio  caia  sobra 
aquelles  de  siibito,  o  compl»^tampnlo  ns  ílorroton.  Depois  seguindo  de  victoria 

>  Este  famoo  Juilo  Bfrmiide»  jaz  na  e^ioja  ()t<  S.  Sebastião  da  Pedreira,  em  Li»l>oa. 
^  James  Bni<  e — Vmfn'ie  'lux  sonnes  hi  \H.  pa;;.  Íj8. 


BR  197 

em  victoria  poz  seu  estado  em  posiçíio  bem  difTorentc  d'aqaella,  em  que  o  ti- 
nha deixado  seu  pae. 

«Em  quanto  as  cousas  se  mudavam  tão  favoravelmente  na  Abyssinía,  o 
embaixador  João  Bermudes  dirigiu -se  de  Roma  a  Lisboa,  onde  o  rei  de  Por- 
tuga] o  reconheceu  por  patriarcha  d'AIexandria  e  d'Abyssinia.  A  primeira 
consây  que  fez,  foi  dar  um  exemplo  de  disciplina  abyssinia  pondo  em  ferros 
Zaga  Zaab  por  ter  perdido  tanto  tempo  em  cumprir  o  objecto  de  sua  missão. 
Mas  o  rei  de  Portugal  obteve  poucos  dias  depois  que  Zaga  Zaab  fosse  solto. 
Bermudes  occupou-se  então  com  zelo  do  motivo  de  sua  viagem.  Fez  um  qua- 
dro tão  sombrio  dos  desastres  da  Abyssinia,  tanto  intrigou  junto  do  rei  e  doa 
grandes,  que  obteve  uma  ordem  do  monarcba  para  que  D.  Garcia  de  Noronha» 
que  ia  exercer  o  cargo  de  vice  rei  das  índias,  enviasse  quatro  centos  soldados 
portnguezes  a  Massuah  para  soccorrerem  a  Abyssinia. 

«João  Bermudes  querendo  ainda  melhor  certifícar-se  doeste  soccorro,  re- 
solveu embarcar  na  frota,  que  levava  D.  Garcia  de  Noronha;  mas  foi  repenti- 
namente accommettido  d'uma  doença,  a  qual  elle  attribuiu  a  veneno,  que  lhe 
dera  Zaga  Zaab,  e  adiou  sua  partida.  Achando-se  restabelecido  no  fim  d*um 
anno  chegou  felizmente  á  índia.  Mas  D.  Garcia  de  Noronha  tinha  jà  morrido, 
e  sea  successor  D.  Estevão  da  Gama  não  seguiu  o  projecto  de  soccorrer  a 
Abyssinia  com  tanto  ardor,  como  Bermudes  o  teria  desejado. 

«Com  tudo,  depois  d'algumas  delongas,  D.  Estevão  da  Gama  emprehendeu 
passar  o  estreito  de  Babelmandeb,  e  ir  queimar  as  galés  turcas,  que  estavam 
em  Soez.  Mas  o  general  portuguez  não  conseguiu  seu  (im,  pois  tendo  sido  des- 
coberto seu  projecto,  as  galés  estavam  todas  varadas  em  terra.  De  Suez  diri- 
gía-se  para  Massuah,  onde  a  esquadra  tinha  necessidade  de  fazer  aguada.  Por 
coDsegainte  mandou  suas  barcaças  a  Arkééko,  onde  a  agua  é  muito  boa.  Mas 
08  turcos  e  os  moiros  de  Zeyla  e  d'Adel,  então  senhores  de  Arkééko  se  apo- 
deraram d'uns  mil  fardos  d'algodão,  que  tinham  sido  mandados  em  troca  da 
agua  e  mantimentos,  e  mandaram  dizer  ao  general  portuguez :  Que  o  rei  de 
Adel,  seu  senhor,  era  d*aqui  por  diante  senhor  de  toda  a  Ethiopia,  e  não  que- 
ria que  se  continuasse  a  regosijar  com  seus  vassallos;  com  tudo,  se  o  com- 
maadante  da  esquadra  quízesse  fazer  paz  com  elle,  restituir-lhe-ia  seus  mil 
fiurdos  d'algodão,  fomecer-lhe-ia  mantimentos  com  abundância,  e  lhe  daria  as 
satisfações  necessárias  por  causa  d'uns  sessenta  portnguezes,  que  tinham  sido 
mortos  junto  de  Zeyla. 

•D.  Estevão  viu  facilmente  o  laço,  que  lhe  armavam  os  mouros,  e  queren- 
do pagar  lhes  na  mesma  moeda,  lhes  mandou  dizer:  Que  estava  disposto  a 
tratar  com  o  offlcial  mouro,  que  não  pedia  a  restituição  dos  mil  fardos  d'algo- 
daoy  em  quanto  aos  portuguezes  mortos,  que  mereciam  a  morte  como  traido- 
res a  desertores;  que  remettia  ainda  mil  fardos  d'algodão  para  que  lhe  désso 
agua  e  mantimentos,  principalmente  gado  vivo;  que  finalmente,  como  era  tem- 
po de  festa,  queria  celebrar  paz  com  os  habitantes,  e  que  elle  mesmo  traria 
soas  mercadorias  a  terra,  apenas  o  dia  de  paschoa  tivesse  passado. 

«Tendo  sido  acceites  estas  convenções  com  má  fé  reciproca,  D.  Estevão 
tendo  obtido  os  fornecimentos,  do  que  tinha  precisão,  prohibíu  expressamente 


198  BR 

aos  portuguezcs  irem  a  terra.  Depois  escolheu  seiscentos  homens,  dos  qaacs 
dea  o  commando  a  Martim  Corrêa,  que  ejnbarcou  em  barcos  ligeiros,  desem- 
barcou às  escondidas  junto  de  Arkééko,  apoderouse  da  povoação,  e  passou 
todos  os  habitantes  ao  íio  de  espada.  Nur,  que  commandava  na  provinda  pelo 
rei  d'Adel  fugiu,  mas  foi  morto  com  um  tiro  de  espingarda  por  Martim  Cinírea, 
que  lhe  cortou  a  cabeça,  e  a  mandou  de  presente  á  rainha  Sabei  Wengel,  que 
a  recebeu  com  grandes  signaes  de  alegria. 

•Com  tudo  D.  Estevão  da  Gama  escolheu  os  pertuguezes,  que  destinava 
para  ajudar  Cláudio.  O  desgraçado  resultado  d*esta  campanha,  em  que  os  por- 
tuguezcs ficaram  completamente  derrotados,  e  seu  general  D.  Chrístovão  da 
Gama  morto,  pode  ver-se  em  Diogo  de  Couto. 

«Cláudio  mostrou  o  maior  pesar  pela  morte  de  D.  Christovão;  ^  prantean- 
doo  por  três  dias;  depois  mandou  três  mil  onças  para  serem  repartidas  pelos 
pertuguezes,  que  para  o  logar  de  D.  Christovão  tinham  nomeado  por  general 
AÍTonso  Caldeira.  Estes  bravos  soldados  appressaram-se  então  em  ir  ter  com 
(Cláudio,  e  lhe  pediram  fervorosamente  que  os  levasse  ao  combate,  a  fim  de 
poderem  vingar  a  morte  de  D.  Christovão.  Pouco  depois  morreu  Affonso  Cal- 
deira, e  foi  para  seu  logar  Árias  Dias,  que  veiu  a  ser  um  dos  favoritos  do 
rei.  Os  portuguczes  eíTectívamente  foram  levados  ao  combate,  os  inimigos  fo- 
ram derrotados,  e  seu  general  morto  pelo  portuguez  Pedro  Leão. 

«Cláudio,  depois  de  ter  destruído  completamente  os  inimigos  do  sea  paiz, 
applicou-se  aos  negócios  da  religião.  Tinha  mandado  pedir  ao  Cairo  um  aba- 
na para  succcssor  do  abuna  Marcos,  e  já  este  successor  vinha  no  caminlio, 
quando  Bermudas,  não  podendo  supportnr  esto  golpe,  declarou  publicamente 
ao  rei,  que  tendo  sido  embaixador  do  David  em  lioma,  o  tendo  feito  homena- 
gem do  reino  o  do  rei  ao  soberano  poniilicc,  esperava  que  Cláudio  cumpriria 
.as  obrigações  de  seu  pae  abraçando  a  religião  romana.  Poróm  o  rei  recusou. 
Até  cntào  os  abyssiaios  tiuham  assistido  com  respeito  á  missa  dos  portugue- 
zcs, e  estos  iam  ás  egrejas  dos  abyssinios,  e  casavam  com  mulheres  abyssinias, 
o  parece  que  as  crcanças  eram  baptisadas  indifTerentemente  nas  egrejas  dos 
dois  povos.  Cláudio  dizia  que  não  tinha  feito  promessa  alguma,  e  que  Berma- 
des  não  era  verdadeiro  abuna,  e  que  não  o  considerava  senão  como  abuna 
dos  Francos,  Bermudes  porém  declarou- lho  que  eslava  maldito  e  excommun- 
gado,  e  que  ia  reunir  todos  os  pertuguezes,  e  rctirar-se  para  a  índia.  Ao  que 
o  rei  deu  em  resposta  que  desejava  até  que  Bermudes  se  retirasse;  mas  que 
em  quanto  aos  poituguezes  não  podiam  sair  do  reino  sem  licença  sua.  As  dis- 
putas theologicas,  o  por  llm  as  injurias  c  desordens  continuavam  sempre,  e 
ciiegaram  as  cousas  a  ponto,  que  n'uma  noite  os  portuguczes  assaltaram  a  ten- 
da do  rei,  c  mataram  alguns  de  seus  creados.  Bermudes  foi  mandado  então 
para  o  paiz  dos  gafats,  onde  residiu  sete  mezes,  c,  quando  voltou  á  corte,  achou 
já  Árias  Dias  morto,  c  os  pertuguezes  muito  aíTeiçoados  ao  monarcha.  Bermu- 
des quiz  então  intrigar,  mas  Cláudio  desterrou-o  para  as  montanhas  pelo  resto 
(lo  sua  vida. 

í  James  B ruce— Tí/j/í/ f/c  aux  scurccs  dv  Ml,  vol.  4  ",  pag.  288. 


BR  199 

«o'  novo  general  doa  porluguczos  era  Gaspar  de  Sousa,  *  homem  egiial- 
mente  amado  do  sua  nação  c  do  rei  da  Abyssinia.  Suas  sollícítaçòes  c  as  de 
Kasmatí  Robel  foram  a  causa  de  se  efTectuar  o  desterro  de  Bermudes,  mas  ac- 
eonselbaram-Ihe  secretamente  que  embarcasse  para  a  índia,  em  quanto  ainda 
era  tempo.  Por  conseguinte  dírigiu-se  a  Dobarwa,  onde  parece  que  se  dcmo- 
roa  dois  annos  tranquillo  e  esquecido  da  corte,  dizendo  todos  os  dias  missa  a 
dez  portuguezes,  ^  que  se  tinham  estabelecido  n'esta  cidade,  depois  da  derrota 
de  D.  Christovào.  Depois  foi  a  Massuáh,  e  approveitando  se  d'uma  monção  fa- 
vorável embarcou  n'um  navio  portuguez,  levando  comsigo  seus  dez  compa- 
triotas, que  persuadira  a  deixarem  Dobarwa,  e  que  chegaram  felizmente  a 
Goa.  Ignacio,  fundador  da  ordem  dos  Jesuítas,  estava  então  em  Roma,  e  aca- 
bava de  lançar  os  alicerces  do  poder,  a  que  se  elevaram  seus  discípulos.  A 
conversão  da  Abyssinia  pareceu  importante  ao  Santo,  e  nomeou  um  jesuíta  pa- 
triarcha  da  Abyssinia  sem  se  importar  de  Bermudes.  O  novo  patriarcba  cha- 
mava-se  Nunes  Barreto.  Ignacio  entregou-lbe  para  Cláudio  uma  carta,  e  com 
ella,  e  accompanhado  de  grande  numero  de  padres,  Barreto  se  dirigiu  para 
Goa.  Porém,  sendo  informado  ao  alli  chegar  da  aversão  de  Cláudio  á  egreja 
catholíca,  julgou  que,  em  logar  de  comprometter  a  dignidade  d*um  patriarcha, 
valia  mais  enviar  André  Oviedo,  bispo  d'Ueliopolis,  Melchior  Caneyro,  bispo 
de  Nicea,  e  alguns  outros  padres  como  embaixadores  do  vice  rei  das  índias 
junto  de  Cláudio,  e  fomecel-os  das  necessárias  cartas  de  crença.  Estes  envia- 
dos chegaram  a  Massuah  em  i^8.  Quando  Cláudio  foi  informado  da  sua  che- 
gada, ficou  contente  por  julgar  ser  um  reforço,  mas  vendo  que  eram  padres 
mudou  de  sentimento  e  disse :  Que  muito  se  admirava  de  que  o  rei  de  Portu- 
gal se  envolvesse  em  seus  negócios;  que  elle  e  seus  predecessores  não  tinham 
prestado  homenagem  senão  á  cadeira  de  S.  Marcos,  e  reconhecido  outro  patriar- 
cba senão  o  de  Alexandria.  Todavia  mandou-os  admittir  á  sua  presença. 

«Nunes  Barreto  morreu  na  índia,  e  Oviedo  herdou  o  titulo  de  patriarcba 
d'Alexandria,  como  o  papa  tinha  ordenado. 

«Pela  morte  de  Cláudio,  n'uma  batalha  contra  os  mouros  em  Í5d9,  subiu 
ao  throno  seu  irmão  Menas. 

«D.  Sebastião,  rei  de  Portugal,  informado  do  mau  estado  da  religião  na 
Abyssinia,  pediu  ao  papa  que  encarregasse  todos  os  missionários,  que  alli  es- 
tavam já,  que  fossem  pregar  o  Evangelho  ao  Japão.  Mas  Oviedo  deu  ao  papa 
uma  resposta,  em  que  appresentou  tao  boas  rasoes,  que  sua  missão  na  Ethio- 
pia  foi  confirmada. 

«Na  sua  elevação  ao  throno  Menas  tinha  recebido  com  complacência  as  fc- 
líeitações  do  patriarcba  portuguez  Oviedo.  Mas,  sabendo  depois  que  elle  pre- 
gava, e  que  suas  pregações  semeavam  a  discórdia  e  a  animosidade  entre  seus 
vassallos,  mandon-o  vir  à  sua  presença,  e  lhe  impoz  um  silencio  absoluto.  ^ 
Oviedo  recusou  obedecer;  e  então  o  rei  perdendo  a  paciência,  deitou-se  a  elle^ 

<  James  Bruce— Fayage  aux  sources  du  NU,  vol.  i  <>.  pag.  301. 
3  Idem,  idem,  pag.  302. 
*  Idem,  idem,  pag.  3iS0. 


íoo  BR 

bntca-lhc  indignamente,  arrancou-lbc  a  barba,  rasgoa-lhe  o  fato,  tiroa-lhe  o 
cálix  a  flm  de  o  impedir  de  dizer  missa.  Depois  desterroao,  bem  como  a  Praa- 
cisco  Lopes  para  uma  montanha  deserta,  onde  estes  dois  padres  passaram  por 
toda  a  sorte  de  sofTrimentos  durante  os  sete  mezes,  que  alli  estiveram. 

iMenas  fez  ainda  publicar  varias  ordens  rigorosas  contra  os  portogoezes* 
Não  qaiz  consentir  que  elles  casassem  com  mulheres  abyssinias,e  mandou  ás 
abyssinias,  que  estavam  casadas  com  elles,  que  fossem  para  as  egrejas  catbo- 
licas.  Depois  d'ísto,  tendo  mandado  chamar  o  patriarcha  do  logar  do  desterro, 
prohibíu  o  de  ficar  no  reino  debaixo  de  pena  de  morte.  Mas  Oviedo  recnson 
obedecer,  o  o  rei  pucbando  pela  espada  o  mataria,  se  não  fosse  contido  pelas 
supplicas  da  rainha,  e  das  pessoas,  que  o  cercavam. 

«Depois  de  terem  batido  muito  em  Oviedo  foi  outra  vez  mandado  para  a 
montanha;  e  d'esta  vez  a  ordem  de  seu  banimento  comprehendia  o  de  todos 
õs  portuguezes,  que  se  achassem  na  Âbyssinía,  mas  o  patriarcha  em  logar  de 
cumprir  esta  ordem,  juntou-se  a  seus  compatriotas,  e  todos  se  passaram  para 
o  Baharnagash,  que  era  inimigo  do  rei;  e  acabava  de  concluir  um  traetado 
com  Selim.  Os  portuguezes,  como  este  mostrava  desejos  de  abraçar  a  religião 
chrístà,  lhe  asseguravam  que  receberia  promptamente  da  índia  todos  os  soe- 
corros,  de  que  tivesse  necessidade. 

«N'esta  esperança  pastou-se  o  mais  vantajosamente,  que  lhe  foi  possível, 
evitando  a  batalha,  e  poz  sua  esperança  nos  auxilies  portuguezes,  cuja  chegada 
o  rei  muito  receiava,  mas  tendose  passado  a  estação  da  chegada  de  navios  da 
índia  sem  que  nenhum  apparecesse,  resolveu  dar  combate  ao  rei,  mas  foi  der- 
rotado por  Mcnas  a  20  d'abril  de  lo62. 

«O  comportaponto  dos  catholicos  no  reinado  antecedente  tinha-lhe  causado 
horror.  Que  se  imagine  um  rei  tal  como  Cláudio  sentado  no  seu  throno,  no 
meio  de  seus  cortezàos,  maldito,  anathcmatísado  e  chamado  na  sua  face  hereje 
c  mentiroso  por  um  padre  ignorante  e  grosseiro  como  Jeão  Bermudes,  atacado 
de  noite,  e  obrigado  a  fugir  para  salvar  a  vida  do  furor  d*um  bando  de  estran- 
geiros, aos  qua<'s  sustentava  com  seu  pâo.  Depois  considere  a  Menas  pedindo 
a  Oviedo  que  não  pregasse  uma  religião  nociva  â  tranquillidade  de  seu  paiz, 
e  o  fanático  Oviedo  declarando,  não  querer  obedecer  ás  ordens  do  rei?  Que 
teria  acontecido  na  França,  na  Hcspanha,  em  Portugal  a  estrangeiros,  que  ti- 
vessem procedido  de  forma  egual? 

•  Accrescenlomos  ainda  que  desde  o  primeiro  portuguez  até  o  ultimo  todos 
combateram  no  exercito  de  Baharnagash,  que  lho  queria  tirar  a  coroa. 

•Pela  morte  d(í  Menas  snccodou  no  throno  Serlza-Denghel,  que  tomou  o 
noun*-  dl»  M«'li'c  Srguoii.  ^ 

OvitMio  e  os  outros  porlii^Miozos  nào  lhe  appnroctTani  na  corte.  O  rei  não 
impedia  conítiulo  i\w  os  padres  catholiros  l)aplisa^s^MI),  pregassem,  e  desem- 
penhassem outras  fuiirnus  do  s(mi  minislorio.  Faltava  íiuiitas  vezes  com  elogio 
de  sua  moral,  d«»  sua  parioiícia  e  da  pureza  de  seus  costuinos;  mas  condem- 
nava  altamente  seu?  priuri()ii)s  relij^Mu^rOS. 

*  James  UiUi'*i—Vo\jn(je  aux  sourccs  du  Ml,  |»;ig.  328. 


BR  aoi 

tO  reinado  d*este  príncipe  foi  passado  quasi  todo  em  guerras,  e  sempre 
muito  affeiçoado  á  cgreja  de  Alexandria.  Morreu  em  Í5d5. 

«Succedeulhe  Z^  Denghel. 

«A  religião  romana  achava-se  sem  appoio.^  Todos  os  padres  d*esSa  reli- 
gião, que  tinham  ficado  na  Abyssinia,  alli  tinham  morrido,  e  a  entrada  no  reino 
ficara  fechada  aos  outros  por  causa  da  violenta  animosidade  dos  turcos^edas 
eroeldades,  que  exerciam  sobre  os  missionários,  que  caiam  nas  soas  mãos 
Comtudo  Melchior  Silvano,  indio,  vigário  da  egreja  de  Santa  Anna  em  Goafoi 
julgado  próprio  para  ir  levar  alguns  soccorros  ao  pequeno  numero  de  catho- 
licos,  que  a  Abyssinia  contava  ainda.  Dirigiu  se  a  Massuah  em  i597,  e  penetrou 
na  Abyssinia,  sem  que  se  suspeitasse  quem  elle  era. 

«Em  1600  Pedro  Paes,  o  mais  estimável  de  quantos  missionários  apparece- 
ram  na  Abyssinia,  e  aquelle,  que  melhores  resultados  colheu,  chegou  a  Mas- 
suah. Tinha  estado  preso  por  muito  tempo,  e  soíTrido  muito,  antes  de  poder 
chegar  a  esta  ilha,  mas  finalmente  poude  conseguir  tomar  a  direcção  d'um 
pequeno  rebanho  catholico. 

«Paes  nào  se  appressou  a  appresentar-se  na  corte,  como  tinham  feito  seus 
antecessores,  mas  conservando*se  fechado  no  convento  de  Tremona,  na  pro- 
víncia de  Tigre,  começou  a  aprender  sem  descanço  a  língua  geez,  e  adquiria 
um  conhecimento  d'ella  tal,  que  a  sabia  muito  melhor,  que  os  naturaes  do  paiz. 
Applicou-se  á  instrucçâo  da  mocidade,  e  recebia  na  sua  escola  tanto  os  rapa- 
zes abyssinios,  como  portuguezes.  Os  grandes  progressos  dos  discípulos  leva- 
ram bem  depressa  longe  a  reputação  do  mestre.  João  Gabriel,  um  dos  offlciaes 
portuguezes  mais  dístinctos  foi  o  primeiro,  que  fallou  d'elle  ao  rei,  o  qual  dea 
ordem  para  que  Paes  fosse  à  sua  presença. 

«Em  abril  de  1601  Paes  accompanhado  de  dois  de  seus  jovens  discípulos 
80  apresentou  ao  monarcha,  que  tinha  entào  sua  corte  em  Dancan,  ^  e  que  o 
recebeu  com  as  mesmas  honras,  que  se  concedem  às  pessoas  de  primeira  ca- 
Ihegoría.  Uma  tal  distincçâo  nào  deixou  de  desagradar  aos  monges  abyssinios, 
que  previram  brevemente  que  o  abatimento  d'elle8  se  seguiria  à  elevação  de 
Paes  no  que  se  não  enganaram.  N'uma  disputa,  a  que  se  procedeu  na  pre- 
sença do  rei  no  dia  seguinte  ao  da  chegada  de  Paes,  este  portuguez  quiz  que 
seus  dois  jovens  discípulos  sustentassem  sua  causa  contra  todos  os  theologos 
abyssinios.  Uma  victoria  a  mais  fácil  e  a  mais  completa  ficou  do  lado  dos  es- 
tudantes. 

«Então  disse-se  a  missa  conforme  o  rito  da  egreja  romana,  e  Paes  recitou 
em  seguida  um  sermão,  que  apesar  de  ser  o  primeiro  pregado  na  Abyssinia, 
excedeu  tanto  em  elegância  e  pureza  do  dicção  tudo,  quanto  se  conhecia  na 
lingua  sábia,  no  Geez,  que  os  ouvintes  o  consideraram  como  um  primeiro  mi- 
lagre do  pregador. 

«O  rei  ficou  tão  encantado  da  belleza  d'este  sermão,  que  desde  este  ins- 
tante não  somente  tomou  a  resolução  de  abraçar  a  religião  catholíca;  mas  até 

*  James  Bruce— Koyaj/e  aux  sources  du  NU,  vol.  5.',  pag.  12. 
'  Idem,  idem,  pag.  II. 


SOS  BR 

deu  parte  d'i8So  a  Paes,  obrígando-o  todavia  a  jurar  que  havia  de  guardar  se- 
gredo por  um  certo  tempo. 

•Todavia  este  juramento  exigido  foi  imprudentemente  violado  pelo  próprio 
rei,  que  prohibiu  d'ahi  por  diante  festejar  o  sabbado  dos  judeus.  Escreveu  ao 
mesmo  tempo  a  Phllippe  III  rei  de  Hespanha  e  de  Portugal  pedindo-lhe  jesuí- 
tas para  a  pregação  da  fé. 

«Estas  medidas  promptas  de  mais  foram  bem  depressa  divulgadas,  e  cada 
descontente,  que  trazia  em  seu  coração  os  principies  de  revolta,  não  deixou  de 
asseverar  que  seu  descontentamento  provinha  de  seu  zelo  em  prol  da  verda* 
deira  religião. 

«A  maior  parte  dos  cortezãos  seguiram  o  exemplo  do  rei.  Alguns  trabalha- 
vam como  cortezãos  para  merecerem  o  favor  do  príncipe^  e  propunham-se  a 
seguir  a  religião  catholíca,  só  em  quanto  fosse  moda,  e  em  quanto  os  não  ex- 
pozesse  a  perigo.  Outros  conformavam-se  com  o  sentimento  do  rei  peia  verda- 
deira affeição,  que  a  este  tinham. 

«Entre  as  pessoas  da  corte  mais  aíTectas  ao  rei  distinguiu-se  Laeca  liariam, 
o  companheiro  inseparável  de  sua  boa  e  má  fortuna.  Foi  este  homem  um  dos 
que  abraçaram  a  religião  catholica  no  mesmo  dia,  que  o  príncipe.  Mas  esta 
conversão  tomou-se  bem  depressa  o  pretexto,  de  que  se  serviram  seus  inimi- 
gos para  assassinarem  a  ambos. 

«Za-Selassé  irritado  começou  a  formar  conventiculos  com  os  monges,  aos 
quaes  fez  crer  que  o  procedimento  do  rei  annunciava  diariamente,  que  a  egreja 
de  Alexandria  ia  ser  totalmente  reprovada,  e  que  nenhuma  outra  religião  se- 
ria tolerada  na  Abyssinia,  senão  o  romana. 

«A  província  de  Gojam  sempre  opposta  ao,  que  apresentava  a  menor  ap- 
parencia  d'inclinaçâo  para  a  egreja  Romana,  declarou-se  contra  o  rei.  ^  Za  Se- 
lasse teve  uma  conferencia  com  o  abuna  Petros,  e  lhe  propoz  de  absolver  os 
soldados,  e  todos  os  vassallos  do  rei  de  seu  juramento  de  fidelidade.  E  o  abuna 
depois  d'alguma  hesitação  desligou  todos  os  abyssinios  da  fldelidade,  que  ti- 
nham jurado  a  Za  Denghel,  declarando  o  rei  maldíeto  e  excommungado,  bem 
como  todos  aquelles,  que  defendessem  e  favorecessem  sua  causa.  Za  Selasse 
poz-se  á  frente  do  exercito  dos  rebeldes  reunidos  cm  Gojam,  e  o  rei  estava 
prompto  a  partir  de  Dancaz  para  marchar  ao  encontro  do  traidor. 

«Za  Denghel  avançou  repentinamente  para  a  planície  de  Bartcho.  Emquanto 
ia  no  caminho  foi  desamparado  pelo  ras  Athanasius,  e  depois  por  uma  grande 
parte  de  suas  tropas.  Esta  deserção  mostrou-lhe  os  primeiros  eíTeitos  da  ex- 
conmiunhão  lançada  pelo  abuna;  e  as  coisas  chegaram  a  ponto  que  João  Ga* 
briel,  official  portuguez  de  primeira  distincção,  aconselhou  ao  rei  o  evitar  uma 
batalha,  e  retirar-se,  em  quanto  ainda  era  tempo,  para  algum  logar  fortiOcado, 
com  o  âm  de  passar  alli  o  resto  do  anno,  e  esperar  que  o  erro  de  seus  vassallos 
se  dissipasse.  Mas  este  príncipe  julgando-se  deshonrado  se  desse  ares  de  fugir 
na  frente  d'um  rebelde,  resolveu  combater  Za  Selasse. 

<A  13  d'outubro  de  1604,  tendo  o  rei  formado  seu  exercito  para  a  batalha, 

*  James  B ruce— Koyayíf  aux  sourccs  du  A't7,  ¥ol.  (í.**,  pag.  Í0. 


BR  Í03 

estando  á  direita  o  próprio  rei  com  200  portaguezes,  e  um  grande  numero  de 
abyssinios,  mandou  chamar  Paes  para  lhe  deitar  a  absolvição»  mas  este  jesuíta 
estava  então  muito  longe,  na  provincia  de  Tigre. 

«Deu-se  a  batalha,  e  depois  d'uma  lucta  porfiada  as  forças  do  rei  achan- 
do-se  envolvidas  pelo  exercito  inteiro  de  Za  Selasse,  e  seu  numero  dimmuindo 
a  cada  instante  não  poderam  resistir  por  muito  tempo.  O  próprio  rei  foi  morto, 
e  com  elle  acabou  a  batalha. 

«O  resto  d*este  anno  e  o  seguinte  foram  passados  em  terríveis  lactas  entre 
Jacob  o  Socinios,  aspirando  ambos  a  subirem  ao  throno.  Feriu-se  finalmente 
uma  grande  batalha  entre  os  dois,  na  qual  Jacob  foi  derrotado,  e  perdeu  a  vida. 
Os  jesuítas  dizem  que  a  perseguição  dos  vencidos  entrou  pela  noite  dentro, 
que  um  corpo  de  cavallaria,  no  qual  havia  muitos  portuguezes^  e  que  fugia 
diante  dos  vencedores,  caiu  n'um  precipício  muito  profundo,  que  a  obscuri- 
dade não  deixava  ver.  Que  o  portuguez  Manuel  Gonçalves  sentindo  que  o  seu 
cavallo  faltava  debaixo  de  si,  se  agarrou  a  uma  arvore,  onde  passou  a  noite 
com  grande  medo,  e  sem  saber  onde  se  achava;  mas  que  o  dia  lhe  augmen- 
tou  o  susto,  descobrindo-lhe  seus  companheiros  esmagados,  bem  como  os  ca- 
vallos,  no  valle  profundo,  que  estava  por  baixe  d^elle.  ^ 

«Socinios  achando-se  sem  competidor  começou  a  reinar  em  i605. 

«Os  portuguezes,  que  restavam  do  exercito  vindo  á  Abyssinía  debaixo  do 
commando  de  Christovão  da  Gama,  tinham-se  excessivamente  multiplicado,  e 
haviam  sempre  acostumado  seus  filhos  ao  uso  das  armas  de  fogo.  Formavam 
então  um  corpo  particular  commandado  por  João  Gabriel,  antigo  offlcial,  que 
se  conservou  sempre  junto  do  rei,  se  bem  que  depois  do  reinado  de  Cláudio 
a  maior  parte  dos  soldados  seguia  a  fortuna,  qae  mais  lhes  convinha. 

«Menas  não  estimava  muito  os  portuguezes,  para  os  conservar  no  seu  exer- 
cito, com  receio  das  falias  sediciosas  de  seus  padres,  sempre  promptos  a  dize- 
rem mal  da  religião  e  do  governo  do  rei.  Expulsou-os  pois  a  todos  de  seu  remo; 
porém  em  vez  d'obedecerem,  reuniram*se  ao  Baharnagash  Isaac,  então  ligado 
com  os  turcos,  e  revoltados  contra  seu  amo.  Não  parece  que  Sertza  Denghel 
fizesse  mais  caso  dos  portuguezes,  que  Menas,  nem  que  os  empregasse  muito 
durante  seu  reinado.  Mas,  quando  o  rei  menino  Jacob  subiu  ao  throno  aggre- 
garam-se-lhe  todos;  e,  depois  do  desterro  de  Jacob,  alguns  d*elles  se^iram  o 
partido  de  Za  Denghel,  e  combateram  com  a  maior  coragem  na  batalha  do 
Bartcho. 

«Quando  Jacob  tomou  a  tomar  posse  da  coroa,  os  portuguezes  voltaram 
para  elle,  e  foram  vencidos  com  este  príncipe  no  combate  de  Lebart,  onde  se 
tinham  reunido  todos  contra  Socinios.  Ve-se  pois  que  para  qualquer  parte,  que 
se  declaravam,  eram  batidos  por  causa  da  cobardia  dos  abyssinios,  com  os 
quaes  se  achavam  ligados.  Comtudo,  apesar  dos  multiplicados  revezes  dos  par- 
tidos, que  abraçavam,  perdendo  sempre  pouca  gente,  fosse  qual  fosse  a  sorte 
do  resto  do  exercito,  as  tropas  do  paiz  nunca  ousavam  fazer-lhe  frente,  e  se 
retiravam  com  a  mesma  segurança,  que  se  tivessem  alcançado  victoria,  pois 

*  James  Brucc— Voyaye  aux  sources  du  Nil^  toI.  5.'',  pag.  39. 


SM  BR 

08  vencedores  tinham  interesse  em  não  os  atacarem,  estando  qoasi  sempre  cer* 
tos  de  que  não  podiam  resistir  a  soas  armas. 

«Socinios  procedia  d'am  modo  inteiramente  contrario  ao  de  Menas.  Resol- 
veu attrair  a  si  os  portagaezes,  e  pol-os  era  estado  tal  qne  podesse  perfeita* 
mente  contar  com  elles.  Por  isso  começou  a  fazer  grandes  favores  a  seus  pa* 
dres.  €bamon  o  jesuita  Paes  para  a  corte,  onde,  depois  das  costumadas  dispu- 
ta sobre  a  supremacia  do  papa,  e  as  duas  naturezas  de  Gbrísto,  foi  celebra- 
da  uma  missa,  e  pregado  um  sermão  com  o  mesmo  resultado,  que  no  tempo 
de  Za  Dengbei,  e  com  não  menor  descontentamento  do  clero.  ^ 

«A  província  de  Dembea  estendendo-se  em  roda  do  lago  Trana,  é  a  mais 
fértil,  ea  melbor  cultivada  de  todafAbyssinia.  Sobre  a  borda  meridional  d'e8te 
lago  ergue-se,  mas  não  a  grande  altura,  um  rochedo,  formando  uma  espécie 
de  promontório,  e  avançando  muito  para  o  lago.  Não  ha  talvez  no  mundo  si- 
tio mais  bello,e  pittoresco  do  que  este,  regado  d'aguas  por  todos  os  lados,  me- 
nos pelo  sul.  O  clima  é  alli  delicioso,  e  a  febre  não  faz  estragos.  Paes  pediu 
este  promontório,  e  o  rei  lhe  concedeu  a  posse  para  sempre»  Depois  ficaram 
os  abyssinios  cheios  de  pasmo  ao  contemplarem  um  convento  construído  de 
pedra  e  cal,  coisa,  de  que  até  então  não  tinham  a  menor  idéa.  Mas  ficaram  ain- 
da muito  mais  maravilhados,  quando  Paes  emprehendeu  construir  da  mesma 
um  palácio,  que  o  rei  lhe  tinha  pedido.  Este  palácio  está  na  extremidade  mais 
meridional  da  península,  n'um  sitio  chamado  Gorgora.  Os  abyssinios  experi- 
mentavam uma  admiração  misturada  com  terror  ao  verem  uma  casa  erguer-se 
sobre  outra  casa,  pois  assim  é  que  chamam  a  uma  casa,  que  tem  mais  d'um 
andar.  Paes  desenvolveu  n'esta  occasião  toda  sua  industria,  e  a  extensão  de 
seus  talentos.  Foi  ao  mesmo  tempo  architecto,  pedreiro,  carpinteiro,  ferreiro, 
e  se  serviu  com  muita  destreza  das  variadas  ferramentas,  das  quaes  se  faz  uso 
n*estes  oífícios. 

«Como  Socinios  se  proponha  então  a  atacar  os  Agows  de  Damot,  que  se 
tinham  revoltado,  e  reprimir  as  incursões,  que  faziam  os  Gallas  na  província 
de  Gojam,  viu  com  a  maior  satisfação  um  ediQcio  commodo,  collocado  na  parte 
de  seus  estados,  em  que  contava  fazer  sua  principal  residência.  Seus  desejos 
mais  ardentes  eram  mandar  vir  para  seu  reino  um  certo  numero  de  portu- 
guezes,  que  juntos  aos,  que  lá  estavam  já,  e  aos  neophitos,  que  elle  se  lison- 
jeava de  ter,  quando  abraçasse  a  religião  Catholica,  podessem  ajudal-o  a  ex- 
tirpar esse  espirito  de  rebellião,  que  parecia  ter-se  apoderado  geralmente  do 
coração  de  seus  vassallos,  e  principalmente  do  clero,  ensinado  havia  pouco  a 
servir-se  do  perigoso  privilegio  de  amaldiçoar  e  excommungar  os  reis.  Este 
príncipe  não  tinha  visto  em  Paes  e  seus  companheiros,  nada  senão  a  submis- 
são e  um  grande  amor  á  monarchia.  Seu  procedimento  e  costumes  eram  ver- 
dadeiramente apostólicos. 

«Quando  Paos  construiu  o  palácio  de  Gorgora,  desenvolveu  génio  e  talento 
universaes,  que  lhe  mereceram  a  admiração  de  todo  o  império  d'Abyssinia. 


*  James  hruce—Voyage  aux  sources  du  NU^  vol  6.',  pag.  45. 


BR  X» 

Mas  se  empregou  zelo  e  actividade  n*esta  obra»  não  foi  remisso  n'iim  outra 
mais  importante  a  seus  olhos,  o  da  conversão  d'aquelle  paiz.  i 

«O  próprio  ras  Sela  Christos  tinhase  convertido  estando  próximo  a  ir  a  Go. 
jam  para  ir  combater  os  Gallas,  e  desejou  muito  fazer  uma  abjuração  authen- 
tica  na  presença  de  Paes;  mas  como  este  trabalhava  então  no  palácio  e  mos- 
teiro de  Gorgora,  Sela  Christos  foi  obrigado  a  contentar*se  com  um  outro  Je- 
suíta chamado  Francisco  António  de  Angelis.  Depois,  tendo  regressado  vence- 
dor dos  Gallas,  deu  á  companhia  um  terreno  e  dinheiro  para  fondar  em  Gol- 
lela  um  convento,  que  foi  o  terceiro,  que  os  jesuítas  tiveram  na  Abyssinia. 

«Comtudo,  apesar  de  convertido  no  fondo  do  coração,  não  tinha  ainda  So- 
cinios  dado  um  passo,  que  podesse  chamar  a  conversão  dos  outros.  Assistia 
frequentemente  ás  disputas  theologicas  entre  os  missionários  e  os  monges  abys- 
sinios,  disputas,  que  versavam  quasi  todas  sobre  a  questão  muito  tempo  agi- 
tada das  duas  naturezas  de  Ghristo;  mas  ainda  que  a  victoria  ficasse  do  lado 
dos  jesuítas,  não  conseguiram  comtudo  convencer  seus  adversários.  O  abona 
Simão  acabou  por  se  queixar  mesmo  ao  rei  de  que  se  tivesse  disputado  sobre 
artigos  de  fé  sem  o  convidarem  a  ajudar  o  clero  nas  suas  controvérsias. 

«O  rei,  que  não  pensava  que  o  saber  e  eloquência  do  abona  podessem  ser 
d*am  grande  peso  n'estas  disputas,  mandou  que  fossem  renovadas  na  presença 
do  pontífice.  Porém  a  ignorância  do  abuna  ainda  foi  mais  nociva  á  sua  egreja; 
e  o  rei  olhando  desde  este  momento  a  questão  como  decidida,  declarou  publi- 
camente pela  primeira  vez,  que  havia  duas  naturezas,  uma  divina,  outra  hu- 
mana, absolutamente  distinctas  entre  si,  mas  reunidas  n'uma  só  pessoa,  que  é 
Ghristo. 

«N'aquelle  tempo  o  rei  recebeu  por  via  das  índias  cartas  de  Philippe  n,  de 
Madrid  em  1609,  e  do  Papa  Paulo  V  com  data  de  1611.  Mas  estas  cartas  nada 
continham  senão  exhortações  empoladas  para  induzir  a  Socinios,  que  perse- 
verasse na  religião  Gatholica,  e  para  o  assegurar  do  soqporro  do  Espirito  Santo, 
em  vez  do  soccorro  dos  portaguezes,  que  elle  pedira.  Todavia  a  conversão  de 
Socinios  estava  combinada  entre  o  rei  e  Paes,  e  foi  decidido  que  faria  primei- 
ramente uma  abjuração  publica,  e  depois  se  contaria  com  o  rei  e  com  o  papa 
para  lhe  enviarem  soldados. 

«Era  necessário  que  o  monarcha  abyssinio  escrevesse  ao  papa  para  lhe  dar 
parte  de  sua  submissão  á  Sé  de  Roma.  Mas  pensou-se  que  cartas  sobre  um  tal 
assumpto  eram  importantes  de  mais  para  se  enviarem  como  seus  primeiros 
despachos  para  a  Europa,  sem  as  mandar  acompanhar  por  pessoas,  que  po- 
dessem em  occasião  conveniente  tomar  o  caracter  d'embaixadory  e  dar  as  ex- 
plicações e  seguranças  necessárias.  ^ 

«Gonsiderou-se  primeiramete  que  o  caminho  de  Massuah  estava  sugeito  a 
muitos  perigos,  e  que  talvez  as  cartas  não  chegassem  à  Europa,  por  causa  do 
estado  de  rebellíão,  em  que  aquella  provinda  se  achava,  e  então  escolheu- 
se  o  mais  longo  por  ser  o  mais  seguro.  Havia  de  se  passar  por  Narea,  e  pelas 

^  James  Bruce^Voyages  aux  sources  du  NU,  vol.  S.<>,  pag.  110. 
'  Idéffl,  idem,  pa^.  113. 


206  BR 

provinciaB  meridionaes  para  irem  a  Meliade,  nas  costas  do  Oceano  ladico,  onde 
ellas  por  mar  poderiam  8er  enviadas  para  Goa. 

•Os  missionários  tiraram  á  sorte  qoal  d'eHes  emprehendería  esta  longa  e 
perigosa  viagem;  e  a  sorte  cahio  em  António  Fernandes,  homem  moito  praden- 
te,  e  estimado  do  rei,  e  por  confls^ão  geral  o  mais  próprio  para  levar  ao  cabo 
uma  tal  empresa.  Depois  Fernandes  escolheu  para  seu  companheiro,  e  embai- 
xador janto  ao  papa,  e  ao  rei  de  Hespanha  a  Fecur  Egrié,  um  dos  primeiros 
Abyssinios  convertidos  á  religião  Catholica,  na  qual  persistio  até  á  morte. 

«No  principio  de  março  de  1613  António  Fernandes  partiu  para  a  provin- 
da de  Gojam,  onde  encontrou  o  ras  Sela  Christos.  Fecur  Egrió  tinha  partido 
adiante  para  poder  dispor  seus  negócios  domésticos,  levando  comsigo  dez  por- 
tuguezes,  dos  quaes  seis  só  o  deviam  accompanhar  até  Narea,  e  os  quatro  de- 
viam embarcar  com  elle  para  a  índia.  Sela  Christos  procurou  guias  entre  os 
Shats  e  os  Gallas,  povos  bárbaros,  fazendo-os  dar  reféns,  e  pagando-lhes  muito 
bem  para  ensinarem  o  caminho  aos  portuguezes. 

«A  i6  de  abril  os  viajantes  deixarem  Umbarma,  onde  estava  acampado 
Sela  Christos,  que  também  os  tinha  feito  accompanhar  do  quarenta  homens, 
armados  de  escudos  e  dardos.  Dirigiram  se  para  o  occidente,  e  no  fim  de  dois 
dias  chegaram  a  Senassé,  villa  principal  dos  Gongas.  Fernandes  vendo  que  estes 
povos  estavam  dispostes  a  tratarem  mal  os  portuguezes,  foi  com  um  doestes  a 
Sela  Christos,  que  immediatamente  mandou  partir  três  officiaes  e  um  corpo  de 
tropas  para  castigar  os  Gongas,  e  accompanharam  a  caravana  até  fora  do  seu 
território  e  alcance.  Mas  os  Gongas  sabendo  o  que  se  passava  appressaram-se 
em  dar  ao  embaixador  uma  guarda,  que  o  accompanhou  ate  Mine  junto  d'um 
vau  do  Nilo.  Um  dia  depois  de  atravessarem  o  Nilo,  entraram  no  reino  de  Bi- 
zamo,  habitado  pelos  Gallas.  No  dia  seguinte  entraram  num  bosque,  do  qual 
tiveram  muito  trabalho  para  sair,  e  era  quasi  meia  noite,  quando  chegaram  à 
margem  do  rio  Meleg.  Ao  outro  dia  acharam  o  vau,  e  passaram-no  sem  dif- 
ficuldade.  Atravessaram  depois  uma  serra,  o  chegaram  a  Gonea,  onde  encontra- 
ram tropas  commandadas  pelos  principaes  officiaes  d'este  reino,  que  os  rece- 
beram com  muita  hoora. 

«Seis  dias  depois  de  terem  deixado  Ganea  os  Socinios  chegaram  á  corte 
de  Bonero.  Este  rei  recebeu  os  com  civilidade,  mas  com  um  ar  de  constran- 
gimento e  de  friesa;  eos  viajantes  souberam  que  provinha  isto  de  ter  um  monje 
persuadido  ao  rei  que  o  fim  d'aquella  viajem  era  conduzirem  para  Abyssinia 
tropas  portuguezas  por  aquelie  caminho,  as  quaes  mais  cedo  ou  mais  tardo 
haviam  de  destruir  Narea.  Por  tanto  os  conselheiros  de  Bonero  fizeram  com 
que  elles  fossem  desviados  do  caminho  direito,  e  tivessem  que  passar  no  reino 
de  Bali  por  um  caminho  mais  comprido  e  mais  perigoso,  dando-lhes  com  tudo 
cincoenta  cruzado  em  ouro  como  indemnisaçào,  e  recommendando-os  a  um 
embaixador  do  rei  de  Gingiro,  por  onde  os  portuguezes  tinham  que  passar. 

«Fecur  Egrié  e  sua  comitiva  partiram  da  corte  de  Narea  com  este  embaixa- 
dor,  e  caminharam  directamente  para  Oriente.  Ao  quinto  dia  chegaram  a  um 
posto  dos  narccnses,  no  qual  o  olíicial  eslava  encarreirado  de  lhes  dar  uma  guar- 
da até  ás  fronteiras. 


BR  S07 

tTendo  marchado  quatro  dias  seguidos  nnm  paíz  inteiramente  devastado 
pelos  Gallas,  sempre  com  receio  de  serem  encontrados  por  estes  povos,  tiveram 
de  se  esconder  até  ár  noite  nnm  i)osqae,  para  não  serem  vistos  pelo  Galas,  que 
andavam  guardando  seus  rebanhos  na  planície;  e  só  de  noite  poderam  conti- 
noar  sen  caminho.  Chegaram  depois  à  margem  d'um  rio  que  os  portognezes 
chamavam  Zebée.  A  passagem  d*este  rio,  foi  medonha  para  os  viajantes.  Ti- 
nham*se  amarrado  arvores  da  praia  ao  primeiro  rochedo;  depois  d'este  roche* 
do,  a  um  outro,  e  assim  sem  interrupção  até  á  margem. 

cEram  tâo  elásticas  estas  arvores,  que  o  peso  d'uma  só  pessoa  as  fazia  vergar. 
A  corrente  rápida  e  escumante  do  rio  formava  um  abysmo  táo  profundo,  que 
perturbava  a  cabeça  d'aquelles,  que  passavam  por  cima  d'esta  ponte  oscilante, 
presa  á  ponta  das  rochas.  Com  grande  susto  passaram  poisa  ponte,  e  foi  então 
necessário  informar  o  rei  de  Gingiro  da  chegada  d'esta  caravana,  e  pedir-lhe 
a  honra  d'uma  audiência.  Mas  só  passados  oito  dias  é  que  foram  admittidos  á 
sua  presença.  Levavam  uma  carta  do  imperador  d'Abyssinia  para  este  rei,  o 
qual  depois  de  a  ter  lido  disse  que  a  única  coisa  que  Socinios  n'el]a  pedia  era 
de  os  proteger,  e  de  lhes  dar  uma  boa  guarda,  em  quanto  estivessem  em  seus 
estados,  e  de  os  mandar  acompanhar  mais  longe:  o  que  faria  com  o  maior  pra- 
zer. ♦ 

cO  embaixador  e  o  jesuita  deixando  o  reino  de  Gingiro,  marcharam  direc- 
tamente para  Oriente,  e  entraram  no  reino  de  Cambat,  independente  do  im- 
pério d'Abyssinia.  Pararam  em  Sangara,  capital  do  paiz,  onde  residia  um  mou- 
ro, que  era  o  governador.  Passados  dois  dias  tiveram  querepellir  umaaggres- 
sao  dos  povos  Guragués,  tribu  visinho,  os  quaes  ficaram  derrotados. 

«Ao  sairein  do  reino  de  Cambat  ^  os  viajantes  entraram  no  pequeno  terri- 
tório d'Alaba,  independente  do  rei  d'Abyssinia,  cujo  governador  era  mouro, 
e  se  chamava  Aliko. 

«Este  crendo  que  o  fim  da  viagem  do  jesuita  era  fazer  vir  por  este  ca- 
minho os  portuguezes  da  índia,  para  trabalharem  na  destruição  da  reUgião 
mahometana,  como  o  tinham  feito  outr*ora,  entrou  n  uma  tal  cólera,  que  che- 
gou a  ameaçar  o  jesuita  de  o  mandar  matar,  bem  como  a  quantos  o  accompa- 
nhavam;  e  teria  immediatamente  posto  em  execução  sua  ameaça,  a  não  ser  a 
segurança,  que  Baharo  lhe  deu  da  autenticidade  das  cartas  do  rei,  e  a  não  ser 
o  respeito  para  com  o  direito  das  gentes,  que  lhe  inspirava  o  titulo  de  embai- 
xador, de  que  Fecur  Egrié  estava  revestido.  Com  tudo  mandou  fechar  toda  a 
caravana  n'uma  estreita  prisão,  onde  alguns  portuguezes  morreram.  Depois 
reuniu  um  conselho,  no  qual  houve  quem  desse  o  voto  de  se  matarem  todos; 
mas  um  homem  d*um  caracter  distincto  disse  que  bastava  contentarem«se  com 
o  mandarem  os  estrangeiros  para  Ameknal,  de  cuja  casa  vinham,  e  esta  opi- 
nião prevaleceu. 

•Recuaram  pois  para  o  reino  de  Cambat,  e  d'allí  para  a  corte  de  Socinios, 
sem  nenhuma  vantagem  para  elles. 

•Ainda  que  Socinios  não  tinha  declarado  abertamente  a  resolução,  que  hou- 

« 

*  James»  Bruce— Vot/ai/es  aux  sources  du  NUy  vol.  5.*,  pag.  141. 


908  BR 

• 

vem  formado,  de  abraçar  a  religião  catholica,  com  tudo  significoa  que  sua  von- 
tade era  qae  d*aqai  por  diante  ninguém  negasse  que  havia  duas  naturezas  em 
Christo,  e  quem  se  atrevesse  a  negal-o,  ou  pol-o  em  duvida,  seria  desterrado 
por  sete  annos. 

cilas  o  abuna,  orgultioso  com  a  protecção  d'Bmana  Ghristos,  um  dos  ir- 
mãos  uterinos  do  rei,  pronunciou  uma  sentença  de  excommunhão,  que  man- 
dou affixar  n'uma  das  portas  da  egreja  do  palácio,  declarando  amaldiçoados 
quantos  sustentassem  que  havia  duas  naturezas  em  Christo. 

•O  rei  tinha  marchado  contra  os  agows,  mas  ao  saber  a  audácia  do  abona, 
marchou  promptamente  para  Gorgora,  e  mandou-lhe  dizer  que,  se  immedia* 
tamente  não  levantava  a  excommunhào,  lhe  mandava  cortar  a  cabeça.  O  abana 
receioso  obedeceu.  Com  tudo  formaram-se  depois  varias  conjurações  umas, 
atraz  das  outras  contra  o  rei,  mas  foram  debejladas,  n'uma  das  quaes  os  por* 
tuguezes  prestaram  grande  auxilio  ao  rei. 

•Foi  em  1620,  anno,  em  que  Socinios  marchou  contra  um  revoltoso  cha- 
mado Janael,  que  Paes  empregara  na  construcção  da  egreja  de  Gorgora. 
Ao  voltar  para  Dancaz  o  imperador  encontrou  Paes  em  Gorgora  pela  primeira 
vez,  e  alli  esteve  até  3  d*outubro,  em  que  lhe  trouxeram  na  presença  de  Paes 
a  noticia  da^victoría  de  Sela  Ghristos  sobre  os  rebeldes  de  Damot.  ^ 

•Depois  da  derrota  de  Jonael  o  rei  tinha  resolvido  deitar  fora  a  mascarada 
professar  abertamente  a  religião  catholica,  e  as  prosperidades  do  Sela  Ghris- 
tos o  confirmaram  n'esta  opinião.  Bfandou  ir  á  sua  presença  Paes  com  o  fim 
de  fazer  uma  profissão  publica  do  cathoiicismo.  e  depois  de  lhe  ter  declarado 
suas  idéas,  disse-lhe  que  para  prova  da  sinceridade  de  sua  conversão,  não  fi- 
cava senão  com  sua  primeira  mulher,  e  que  tinha  mandado  embora  todas  as 
outras. 

Paes,  depois  de  ter  recebido  a  conGssão  do  imperador,  e  a  abjuração  pu* 
blica  da  religião  grega,  voltou  para  Gorgora,  cantando  o  cântico  de  Simeão 
Nunc  dimittis,  como  se  sua  missão  estivera  acabada.  Não  se  enganou,  pois 
sendo  atacado  d'uma  febre  violenta,  morreu  em  maio  de  i623,  com  grandes 
signaes  de  piedade  e  resignação,  e  uma  firme  convicção  de  ter  cumprido  seus 
deveres  durante  o  curso  d*uma  vida  pura,  activa  e  bem  empregada.  Tinha  es- 
tado sete  annos  captivo  entre  os  mouros  d'Arabia,  e  dezenove  annos  missioná- 
rio na  Abyssinia,  durante  os  mais  difficeis  tempos,  e  sempre  saíra  das  situações 
perigosas  com  honra  sua,  e  vantagem  para  a  religião.  Era  extremamente  ma- 
gro por  causa  de  sua  abstinência  e  trabalhos  continues.  Gonhecia  perfeita- 
mente a  theologia  escbolastica,  e  todos  os  livros,  que  diziam  respeito  á  sua  pro- 
fissão. Intendia  muito  bem  o  latim,  o  grego  e  o  árabe,  e  trabalhava  continua- 
mente com  suas  mãos,  mostrando-se  tão  bom  obreiro  como  architecto.  Ti- 
nha-se  feito  pintor,  esculplor,  pedreiro,  carpinteiro,  ferreiro,  ferrador  e  carrei- 
ro: estava  em  estado  de  erigir  conventos,  palácios,  omal-os,  mobilal-os,  sem 
ter  necessidade  da  ajuda  d'uma  só  pessoa.  Assim  é  quo  fez  o  mosteiro  de  Gol- 
leia,  e  o  ronvenlo  o  palácio  de  Gorgora.  Porém  o  seu  dole  mais  distincto  ersL 

'  Jame>  Drucc— rov(/'/('ò  aux  umrres  du  Mil,  vol.  ii.",  píig.  I6G. 


BR  m 

a  paciência  e  o  ze!o,  que  tinha  na  instruccào  da  mocidade.  N*ama  palavra  era 
elie  na  Abyssinia  o  sustentáculo  da  religião.  Na  sua  chegada  havia  cem  an- 
noSy  que  as  sementes  do  catholícismo  tinham  sido  lançadas  no  paiz,  mas  só 
mui  pouco  fructo  tinham  produzido.  Dezenove  annos  de  trabalho  d'este  mis- 
sionário mudaram  de  tal  sorte  as  cousas,  que  a  religião  romana  foi  abraçada 
publicamente  pelo  monarcha,  e  seis  annos  depois  da  morte  de  Paes  caiu  n'este 
paiz  a  religião,  apesar  de  defendida  vigorosamente  por  um  príncipe,  por  um 
palríarcha  enviado  de  Roma,  e  por  mais  de  vinte  missionários  muito  zelosos. 

«A  abjuração  que  fez  Socinios  da  religião  grega,  foi  seguida  por  um  vio- 
lento manifesto,  em  que  começa  por  estabelecer  a  supremacia  da  egreja  de 
Roma  e  da  cadeira  de  S.  Pedro.  Insiste  muito  sobre  as  duas  naturezas  de 
Ghristo,  e  accusava  em  geral  o  clero  abyssinio  de  mau  procedimento. 

•Mas  nem  o  exemplo  do  rei,  nem  seu  manifesto,  tiveram  o  effeito  que  se 
desejava.  ^  Um  rebelde  se  declarou  contra  o  rei  na  província  de  Ambara,  e  foi 
necessário  o  emprego  d'armas  paia  o  anniquilar. 

•A  alegria  da  victoria  foi  augmentada  com  a  da  chegada  d'um  patriarcha. 
Era  este  o  jesuita  portuguez  AfTonso  Mendes,  sagrado  em  Lisboa  a  25  de  maio 
de  1624,  e  homem  de  muito  saber,  o  qual  depois  de  muitos  trabalhos  na  via- 
gem chegou  à  Abyssinia,  e  teve  a  primeira  audiência  do  imperador  a  ii  de  fe- 
vereiro de  1626,  e  foi  decidido  que  Socinios  prestaria  juramento  de  obediência 
á  cadeira  de  Roma. 

«Celebrou-se  esta  ceremonia  com  toda  a  pompa.  O  patriarcha  para  mos- 
trar sua  superioridade  sobre  os  abunas,  pregou  um  sermão  em  hngua  portu- 
guês, no  qual  provava  a  supremacia  da  cadeira  de  S.  Pedro.  O  imperador,  o 
príncipe  real  Facilidas  prestaram  o  juramento,  mas  a  corte  estava  cheia  de 
descontentes.  Pronunciou-se  uma  excommunhão  solemne  contra  as  pessoafi, 
que  traissem  seu  juramento,  e  que  todos  aquelles,  que  estavam  a  ponto  de  re- 
ceber ordens  sacras,  deviam  primeiramente  abraçar  a  religião  cathollca,  de- 
baixo de  pena  de  morte  no  caso  de  desobediência,  que  todos  os  abyssinios  em 
geral  deviam  celebrar  a  paschoa,  e  guardar  a  quaresma  conforme  os  ritos  da 
egreja  de  Roma,  com  risco  de  serem  egualmente  mortos,  se  a  isso  faltassem. 

«Ainda  que  o  patriarcha  tinha  chegado  á  Abyssinia,  não  succedia  o  mesmo 
aquelles,  que  deviam  ajudar  a  missão.  O  rei  deu  ordem  para  se  mandarem 
cartas  de  protecção  a  Francisco  Machado  e  a  Bernôrdo  Pereira,  dois  jesuítas, 
que  estavam  na  índia,  para  chegarem  com  segurança  a  Bilur,  no  reino  de 
Dancali;  mas  o  secretario  do  monarcha  poz  por  malícia,  ou  descuido  Zeyla,  em 
vez  de  Bilur,  e  n*aquella  ilha  pertencente  ao  rei  de  Adel  havia  o  maior  ódio  á 
religião  catholica,  e  o  sheík  de  Zeyla  mandou-os  matar.  Além  d'isto  escreven- 
se  uma  carta  a  Socinios,  na  qual  o  tratavam  de  apóstata  e  d'outros  nomes 
odiosos  por  ter  desamparado  a  religião  de  seus  pães. 

«Tecla  Georgis,  genro  de  Socinios,  governador  então  na  província  de  Tígré 
resolvido  a  revoltar-se,  associou-se  aos  homens  mais  distinctos  e  mais  pode- 
rosos da  província,  e  particularmente  a  Guebra  Maríam  e  a  João  Akayo,  a  quem 


'  James  HTikCQ—Voyaijex  aux  soutces  du  A'i7,  vol.  5.*>,  p^g.  171. 
TOMO  I 


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ÍIO  BR 

declarou  nào  poder  supportar  por  mais  tempo  a  religião  romana,  e  querer  de- 
fender a  antiga  egreja  de  Alexandria.  £  para  melhor  convencer  osabyBsiniot 
de  sna  sinceridade,  qaeimon  todos  os  crucifixos,  todas  as  imagens  de  santos 
e  todos  os  paramentos  das  egrejasi  e  mandando  vir  o  abbade  Jacob»  seu  capei- 
Ião  catholico,  o  matou  por  sna  própria  mão. 

•Á  primeira  noticia  da  traição  de  seu  genro  Socinios  deu  ordem  a  Keba 
Ghristos  de  marchar  contra  os  rebeldes  com  as  tropas,  que  tinha  comsigo.  < 
Este  cumpriu  as  ordens,  e  derrotou  completamente  as  forças  de  Tecla  Geórgia, 
e  foi  apanhado  e  enforcado.  Revoltaram-se  depois  es  agows  de  Lasta,  e  der- 
rotaram as  tropas  do  imperador,  o  qual  no  princípio  de  fevereiro  de  i6S9 
marchou  contra  elles,  mas  íicou  mal,  e  os  adversários  creando  brios  marcha- 
ram para  a  capital:  foram  todavia  derrotados  pelas  forças  do  rei. 

•N'aquelle  tempo  o  príncipe  Facilidas  começou  a  attrair  as  attenções  de 
todos  os  abyssinios.  Tinha  mostrado  grande  valor  na  guerra,  e  julgavam-n'o 
inimigo  da  religião  catholica.  Comtudo  vivia  com  os  jesuítas  de  maneira,  qno 
não  sabiam  se  era  amigo,  ou  inimigo  d^elles. 

•Este  príncipe  recebeu  do  papa  Urbano  VIII  uma  mensagem  muito  llson- 
geira,  á  qual  não  respondeu. 

•Outra  grande  perda  para  os  catholícos  foi  a  morte  de  Fecur  Egrié,  um 
dos  primeiros  sustentáculos  da  religião  catholica.  Tinha  a  mesmo  abraçado 
antes  do  rei,  e  de  Sela  Ghristos,  e  foi  o  principal  author  da  versão  dos  Hvroe 
portuguezes  em  lingua  ethiopica,  versão  em  que  foi  muito  ajudado  pelo  jeeuita 
António  do  Angelis.  Entraram  logo  os  catholicos  a  serem  perseguidos  pelos 
revoltosos,  c  o  rei  vendo  o  descontentamento  geral,  que  havia  no  seu  reíno^ 
foi  permittindo  a  pouco  e  pouco  algumas  das  ceremonías  da  egreja  grega.  O 
imperador  partiu  então  para  a  guerra  de  Sasta  á  frente  d'um  grande  exerdto, 
do  qual  um  dos  principaes  corpos  era  formado  por  filhos  de  portugueses.  De- 
pois de  se  ter  assenhoreado  de  duas  montanhas,  chegou  a  uma  terceira  tio 
excessivamente  alta  e  d'um  accesso  tão  díílieil,  que  os  assaltantes  cheios  de 
terror  perderam  logo  as  esperanças  de  se  fazerem  senhores  d'ella.  Todavia  o 
príncipe  perdeu  alli  muito  menos  gente,  porque  foi  ajudado  pelos  portugue- 
zes, que  interceptando  por  baixo  toda  a  commuDicaçao,  ílzeram  com  que  a 
guarnição  d'uma  montanha  não  podessc  soccorrer  a  da  outra;  fizeram-se  se- 
nhores d'eila,  e  um  capiláo  porluguez  tomou  a  cadeira,  que  servia  de  throno 
ao  rebelde  Melcha  Chrístos,  que  teve  de  fugir  s<»  com  dez  cavalleiros. 

«Quiz  depois  o  imperador  entrar  em  segunda  companha  contra  os  habitan 
tes  de  Lasta,  mas  então  as  tropas  recusaram  obedecer,  mandando- lhe  dizer 
Que  ellas  não  podiam  dizer  se  a  religião  romana  era  má,  porque  a  não  conb 
ciam,  nem  a  desejavam  conhecer :  que  ninguém  podia  pretender  professam? 
religião,  que  se  nào  podia  comprehender,  nem  acreditar:  quefmalmenteef 
vam  prompias  a  combater,  e  a  perder  a  vida  pelo  imperador,  mas  comac 
dição,  que  lhes  restituiria  a  sua  antiga  religião;  sem  o  que  não  podiam  to 
parte  nas  suas  guerras,  nem  deiíí-jareiíi  sor  victoriosas. 

*  JaniCí  Bruí.c— Voí/«(/cs  aux  yources  du  :Vi7,  vol.  .'».'.  piij;.  200 


BK  m 

tO  rei  mandou  então  responder  qae  restabeleceria  a  religião,  se  voltasse 
▼ietoríoso  de  Lasta.  ^ 

tTendo  com  effeito  regressado  vencedor  teve  uma  conferencia  com  o  pa- 
triareha  Affonso  Mendes,  que  lhe  censurou  muito  ter  abandonado  a  fé  catho- 
Kca  no  mesmo  tempo,  em  que  a  victoria  obtida  pelas  orações  dos  padres  doesta 
religião  lhe  forneciam  uma  occasião  de  melhor  a  consolidar.  O  rei  respondeu 
tom  am  modo  de  grande  indiíTerença :  Que  tinha  feito  todos  os  esforços  pos- 
síveis para  a  defender :  Que  se  tinham  já  derramado  torrentes  de  sangue,  sendo 
ainda  necessário  vir  a  derramar  outro  tanto,  e  que  com  tudo  era  incerto  se 
iiso  viria  a  produzir  algum  effeito :  mas  que  pensaria^  e  no  dia  seguinte  daria 

resposta. 

cCom  eíTeito  no  dia  seguinte  Socinios  remetteu  uma  declaração  ao  patriar- 

eha  por  meio  de  Za-Mariam:  Quando  abraçamos  a  religião  romana,  sustenta- 
mol-a  com  zelo;  mas  o  povo  não  lhe  mostrou  nenhuma  aíTeição.  Júlio  revol- 
tou-ae  por  causa  do  odiO;  que  tinha  a  Selas  Ghristos,  mas  servindo-se  do  pre- 
texto de  defender  a  fé  de  seus  pães,  e  morreu  com  um  grande  numero  de  seus 
partidários.  Gabriel  imitou-o  depois,  e  teve  a  mesma  sorte.  Tecla  Gorgoris  for- 
mou também  uma  liga  a  favor  da  egreja  de  Alexandria,  e  arrastou  á  ruina  uma 
immensa  multidão  de  bravos  guerreiros.  Tal  foi,  não  ha  mais  que  um  anno>  o 
motivo  da  rebellião  de  Serca  Christos;  e  agora  mesmo  ò  isto  o  que  põe  as  armas 
na  mão  aos  montanhezes  de  Lasta.  A  religião  romana  não  tem  nada  de  mau;  mas 
06  habitantes  d*este  paiz  não  a  comprehendem.  Que  aquelles,  que  são  affeiçoa- 
dos  a  esta  religião,  continuem  a  seguíl-a,  como  fizeram  os  portuguezes  em 
tempo  de  Azenaf  Segued;  porém  que  comam  e  bebam  com  os  abyssinios,  e  ca- 
sem com  suas  filhas.  Mas  também  que  aquelles,  que  não  gostam  da  religião  de 
Roma,  sigam  aqnella,  que  antigamente  receberam  da  egreja  da  Alexandria. 

cO  patriarcha  perguntou  a  Za  Mariam  se  esta  declaração  vinha  do  mesmo 
rei,  ao  que  respondeu  que  sim.  E  o  patriarcha  tendo  reflectido  por  um  mo- 
mento, encarregou  Manuel  de  Almeida  de  levar  ao  rei  esta  resposta :  Que  o 
patriarcha  acabava  de  ser  informado  que  o  exercício  das  duas  religiões  seria 
tivre  no  reino,  e  que  os  sectários  da  egreja  da  Alexandria  obteriam  quanto  se 
lhes  podesse  conceder,  sem  violar  a  pureza  da  fé  catholica,  que  effectivamente 
nio  havia  difficuldade  em  conceder  aos  habitantes  de  Lasta  a  religião  de  seus 
antepassados,  tal  como  era,  pois  não  tinham  abraçado  outra.  Mas  que  em 
quanto  aquelles,  que  tinham  promettido  ser  fieis  á  egreja  catholica,  e  que  ti- 
nham commungado  n'esta  egreja,  não  se  podia,  sem  commetter  um  grande 
peecado,  permittir-lhes  renunciar  uma  religião,  na  qual  tinham  entrado  com 
o  juramento  de  viver  e  crer  n'ella.  ^ 

•O  rei  ouviu  com  attenção  esta  resposta,  a  qual  bem  esperava,  e  replicou 
somente:  Que  posso  eu  fazer?  Não  me  é  possível  governar  por  mais  tempo 
meu  reino t  E  immediatamente  deu  ordem. para  se  fazer  a  seguinte  proclama- 
ção feita  a  14  de  junho  de  1632 :  Ouvi !  Ouvi !  Ouvi  I  Nós  o  primeiro  vos  demos 

*  James  Bruce— Voyaflfcs  auj-  soutres  du  .Yi7,  vol.  'i.",  p.ig.  2ii>. 
S  Idem,  idem,  pag.  Í50. 


112  BR 

a  religião  romana,  julgando -a  boa:  mas  varias  pessoas  morreram  combatendo 
contra  esta  religião,  entre  oatras  Júlio,  Gabriel,  Tecla  Gorgoris,  Serca  Cbris-- 
tos,  e  ultimamente  ainda  os  selvagens  camponezes  de  Lasta.  Nós  vos  restítai- 
mos  pois  a  fé  de  vossos  pães. 

«Que  os  padres  digam  suas  missas  em  suas  próprias  egrejas.  Que  o  povo 
volte  a  seus  primeiros  altares,  à  sua  primeira  liturgia,  e  que  seja  feliz.  Em 
quanto  a  mim,  já  velho  pela  edade,  e  pela  guerra,  e  opprimido  de  enfermida- 
des, já  me  não  sinto  com  forças  para  governar;  e  nomeio  meu  filho  Facilídas 
para  reinar  em  meu  logar. 

•Assim  foi  destruída  n'um  só  dia  a  egreja  catholica,  e  a  jerarchia  de  Roma 
na  Abyssinia.  Foi  destruída  pelos  esforços,  que  o  governo  civil  fez  para  se  de- 
fender das  usurpações  dos  padres,  e  da  tyrannia  ecclesiastica,  que  sem  duvida 
não  tinham  outro  alvo  mais  que  anniquilar  a  constituição  da  Abyssinia,  e  de 
submetter  este  império  ao  governo  portuguoz,  como  já  o  tinham  experimen- 
tado vários  reinos  da  índia. 

«O  rei  morreu  a  7  de  setembro  de  1632,  tendo  professado  a  religião  ro- 
mana até  o  ultimo  momento  de  sua  vida. 

«Facilidas  escreveu  ao  patriarcha:  Que  a  religião  grega  achando-se  resta- 
belecida, tomava-so  indispensável  que  todos  os  padres  catholícos  deixassem  a 
Abyssinia :  que  acabava  de  saber  que  um  abuna  pedido  do  Cairo  pelo  impe- 
rador seu  pae,  e  por  elle  mesmo,  estava  a  caminho,  e  só  esperava  para  entrar 
no  império  o  ver  sair  todos  os  missionários  romanos :  que  lhes  ordenava  que 
deixassem  seus  conventos,  e  se  reunissem  em  Frcmona,  e  esperassem  alli  suas 
ordens. 

•  Chegaram  pois  o  patriarcha  e  seus  companheiros  a  Fremona  no  fim  de 
abril  de  1633,  tendo  sido  maltratados  no  caminho,  e  resolveram  fazer  partir 
para  a  índia  e  para  Hespanha  Jeronymo  Lobo,  o  mais  fanático  d'aquelle  gru- 
po, com  o  fim  de  fazer  vir  um  exercito,  que  podesse  assolar,  e  submetter  a 
Abyssinia. 

«Mas  Facilidas  estava  informado  de  tudo.  Vendo  que  o  patriarcha  só  pro- 
curava ganhar  tempo,  e  sabendo  que  elle  e  seus  missionários  tinham  um  gran- 
de montão  de  armas  de  fogo,  deu  ordem  a  um  de  seus  ofiiciaes  para  ir  a  Fre- 
mona pedir  aquelias  armas,  e  todas  as  munições  de  guerra,  que  tinham;  <  e 
os  mandou  prevenir  ao  mesmo  tempo  que  estivessem  promptos  para  partir 
para  Massuah.  O  patriarcha  recusou  primeiramente  obedecer,  e  Facilidas,  em 
logar  de  o  punir  se  contentou  do  lhe  mandar  representar  com  doçura,  a  im- 
prudência e  inutilidade  de  sua  recusa,  e  as  más  consequências,  que  podia  ter 
para  ello.  Então  o  patriarcha  entregou  as  armas.  Mas  era  logar  de  conduzir 
seus  missionários  para  Massuah,  tinha  intenções  bem  diíTerenles  das  do  rei  da 
Abyssinia.  Concebeu  o  projecto  de  deixar  seus  padres,  e  de  os  fazer  dispersar 
por  todas  as  províncias  do  império,  se  fosí^e  obrigado  a  embarcar  para  Mas- 
suah, bem  resolvido  a  nào  o  fazer  senão  em  ultima  extremidade. 

•  Com  este  desiguio  Iraclou  de  se  pòr  d(  l)aixo  da  protecção  do  Baharna- 

1  Jamc^  Bru(e-  Voynqe^  aux  ^ovrcrb  •'"  !\i!.  vn|   j;.",  \>^-'   •^«3. 


BR  2!3 

gash  João  Akay,  qae  estava  então  revoltado  contra  seu  soberano;  e  elle  reu- 
niu um  grupo  de  homens  armados  para  irem  buscar  os  missionários  perto  de 
Fremona,  e  pol-os  fora  do  alcance  do  governador  de  Tigre.  Este  projecto  au- 
daz teve  o  melhor  resultado.  Akay  prometteu  sua  protecção;  e  o  patriarcha  e 
seus  companheiros  tendo  fugido  de  noite  á  vigilância  dos  guardas,  a  quem  o 
rei  os  tinha  confiado,  encontraram-se  com  os  soldados  do  Baharnagash,  com- 
maodados  por  Tecla  Emanuel,  e  se  refugiaram  em  Adicota.  O  Baharnagash 
recebeu  muito  affectuosamente  o  patriarcha  e  os  missionários. 

cPorém  algum  tempo  depois  receberam  os  padres  ordem  de  sair  de  Adi- 
cota, e  o  Akay  continuou  a  transferil-os  d'um  logar  doentio  para  outro,  até  que 
lhes  estragou  a  saúde. 

«Com  tudo  Facilidas  mandou  dizer  ao  Baharnagash,  que  lhe  perdoaria 
tudo  quanto  se  tinha  passado,  com  a  condição  de  lhe  entregar  o  patriarcha  e 
seus  companheiros :  mas  João  Akay  recusou.  Para  não  faltar  à  sua  palavra  não 
qniz  entregar  os  jesuítas  ao  rei,  mas  consentiu  em  os  vender  aos  turcos.  Por 
isso  estes  padres  foram  entregues  por  uma  somma  de  dinheiro  ao  bacha  de 
Massuah,  que  os  acolheu  muito  bem. 

«Dois  jesuítas  ficaram  em  Adicota  de  combinação  com  Akay,  sem  que  Fa- 
cilidas o  soubesse.  Esperavam  occasião  de  soíTrerem  o  martyrio,  e  ella  chegou. 
Todos  qu6^  ficaram  na  Abyssinia  morreram  de  morte  violenta,  por  ordem  do 
monarcha,  e  a  maior  parte  foram  enforcados,  sendo  o  ultimo  Bernardo  No- 
gueira. 

«Facilidas  irritado  com  a  obstinação  dos  missionários,  e  principalmente 
com  o  boato,  que  espalharam,  que  o  vice  rei  das  índias  não  tardaria  em  en- 
viar um  exercito  á  Abyssinia,  concluiu  um  tratado  com  os  bachas  de  Massuah 
e  de  Suakem  para  fecharem  seus  portos  aos  portuguezes,  não  deixando  nenhum 
d*elles  penetrar  na  Abyssinia. 

«Com  eíTeito,  quantos  padres  europeus  poder am  conseguir  entrar  na  Abys- 
sinia durante  este  reinado  e  o  seguinte  foram  todos  mortos. 

«Depois  da  morte  do  ultimo  missionário  Bernardo  Nogueira  nada  mais 
se  soube  do  que  se  passava  na  Abyssinia,  senão  por  meio  d*alguns  mercado- 
res ethiopes,  que  iam  commerciar  com  os  hollandezes  da  Batavia.  Foi  alli  que 
o  engenhoso  Ludolf,  muito  occupado  com  a  historia  Abyssinia,  e  não  se  pou- 
pando a  algum  trabalho  para  conservar  correspondência  com  aquelle  paiz, 
soube  que  Facilidas  depois  d*um  longo  e  prospero  reinado  tmha  morrido  e 
deixado  a  coroa  a  seu  filho  Hannés,  primeiro. 

«Este  mandou  ajuntar  todos  os  livros,  que  os  jesuítas  tinham  traduzido  em 
lingna  ethiopica,  e  fel  os  queimar.  Morreu  em  1680,  e  succedeu-lhe  seu  filho 
Jasous  I.» 

Realmente  este  artigo  tem  sido  excessivamente  longo,  mas  a  penna  recusa- 
se  a  parar,  quando  vé  a  cada  passo  nomes  e  recordações  portuguezas  n'aquelle 
celebre  paiz,  conhecido  antigamente  pelo  nome  de  império  do  Preste  João  das 
índias.  Sendo  a  obra  de  Bruce  composta  de  treze  volumes,  se  d'e]Ia  extrabisse 
só  o  que  no^  diz  respoilo,  teria  traduzido  um  terço  de  toda  ella. 


214  BR 

•DuraDte  o  aDDo  de  1835  e  1836  Maurício  Tarnísier  e  Edmando  Gombes 
viajaram  na  Abyssinia,  e  imprimiram  a  relação  no  Boletim  da  Sociedade  6eo* 
graphica  de  Paris  nos  mezes  de  jmíbo  e  julho  de  1837.  Esta  viajem  ânrao 
quinze  mezes,  e  tiveram  a  felicidade  de  percorrer  e  estadar  paizes  ainda  poueo 
conhecidos,  e  encontrar  os  vestigios  deixados  pelos  portogaezes»  ^ 

«Ás  dez  horas  atravessei  o  Tadda,  ^  uma  das  aldeias  mais  risonhas  e  pitto- 
reseas  da  província:  passo  o  Moghetch  por  mna  ponte  levantada  pelos  porta- 
gaezes,  bellissima  constmcçào,  sem  a  qual  as  commonicações  estariam  inter- 
rompidas darante  cinco  mezes  do  anno  entre  Gondar  e  as  províncias  do  sol.» 

190)  BRUCKER  (MIGUEL  RATMOND). 

E.  —  La  chapelle  des  crânes  dans  Víle  de  Jfa<ierf .— (Capella  dos  craiieus 
na  ilha  da  Madeira.) 

E'  uma  extensa  descripçâo  acompanhada  d'uma  estampa,  que  pnblieoa  a 
pag.  19  e  seguintes  do  Musée  des  Famlles^  do  anno  de  1834. 

191)  BRT  E  MERIANI  (De  Fbanckfort). 

E. —  Colleciiones  Peregriíiationum  in  Indiatn  Orientalem  et  tn  InOam 
Occidentalem. 

•De  vinte  e  cinco  partes, '  memorias  de  differentes  escriptos  en  diversas 
épocas,  e  originalmente  em  idiomas  vários,  se  compõe  a  Colleccão,  que  é  entre 
os  amadores  conhecida  pelo  titulo  convencional  de  grandes  e  pequenas  viagens» 
deinominação,  que  lhe  nasce  de  formato  menor  e  maior  das  duas  séries,  em 
que  parece  estar  dividida. 

«A  primeira  série,  em  folio  ordinário^  comprehende  doze  partes,  em  cinco 
volumes,  e  consta  toda  de  escriptos  relativos  ás  índias  Oríentaes.  A  segunda 
série  (Grandes  viagens)  em  folio  maior,  abrange  treze  partes,  em  três  volumes, 
respeitantes  às  Índias  Occidentaes,  sob  o  titulo  de  Historia  da  America  ou  do 
novo  mundo, 

«Paciência  e  trabalho  aturado  tirariam  d'esta  grande  collecção  de  viagens 
muitas  noções  da  nossa  historia;  algumas  importantes,  outras  de  pequena  trans- 
cendência, inda  que  assim  mesmo  úteis  talvez  um  dia  á  controvérsia;  e  todas 
perdidas  em  velhos  livros,  por  cujos  titules  se  não  denunciam. 

«Oitava  entre  as  partes,  que  compõem  a  primeira  série  da  Collecção  é  o 
itinerário  do  hollandez  João  Hugo  Linlschoten  às  Índias  portuguezas,  ou  Oríen- 
taes: volume  único,  impresso  a  duas  columnas.  que  abre  com  a  viagem  de 
Lisboa  para  a  Índia  começada  em  8  d'abril  1583. 

•Muitas  são  as  edições  e  traducções,  que  este  livro  tem  tido.  Escripto  ori- 
ginalmente em  hollandez,  saio  em  1596;  depois  em  latim  em  1599;  em  franeez 
em  1610;  em  allemão  em  1614  etc.» 

*  Urcullu— ^fí)(/rflp/ita,  vol.  3.*,  pag.  160. 

'  Guillaume  Le']eàn—Voya(je  en  Abyssinie  en  186í  a  18G3.  No  Tour  lin  Monde  át 
186ÍJ,  pa^.  ii6. 

^  }ú->t'  áv  Toneá  —  Pauuratna,  vol.  13.",  pag.  39í. 


BU  m 

Pane  doesta  viagem  foi  traduzida  sobre  o  latim  pelo  sr.  José  de  Torres,  e 
publicada  no  vel.  i3.°  e  i4.<*  do  jornal  lltterario  O  Panorama^  iippresso  em 
Lisboa.  Vide  Lintschoten. 

192)    BUCHANAN  (CLÁUDIO). 

No  4.«»  volume  do  Investigador  Portuçuez  em  Inglaterra  encontra-se  a  Ira- 
dacção  d'uma  curiosa  viagem  feita  por  este  escriptor  inglez  a  Goa  com  muitas 
notícias  da  nossa  inquisição  n^esta  cidade. 

•A  magnífícencía  das  egrejas  de  Gôa  excedeu  toda  a  idéa,  que  formava  de 
prévias  descripções.  Gôa  be  propriamente  a  cidade  das  egrejas,  e  parece  que 
a  riqueza  das  províncias  se  tem  gasto  na  sua  erecção.  As  amostras  de  arcbi- 
tectura  antiga  n'este  logar  excedem  tudo  o  que  se  tem  feito  de  semilhante  na 
eutras  partes  do  Oriente,  em  tempos  modernos,  tanto  em  grandeza,  como  em 
gosto.  A  capella  do  Palácio  é  edificada  segundo  o  plano  de  S..Pedro  em  Roma, 
e  diz-se  ser  um  exacto  modello  d'aquella  incomparável  architectura.  A  egreja 
de  S.  Domingos,  fundador  da  inquisição  é  decorada  com  pinturas  dos  mestres 
da  Itália.  S.  Francisco  Xavier  jàz  encerrado  em  um  bello  monumento  de  arte, 
6  o  seu  caixão  é  marchetado  de  prata  e  pedras  preciosas.  A  Cathedral  de  Gôa 
é  digna  de  uma  das  principaes  cidades  da  Europa !  e  a  egreja  e  Convento  dos 
•Agostinbos  be  um  nobre  edifício  situado  sobre  uma  eminência»  e  faz  de  longe 
uma  vista  magnifica.  (Pag.  27.)— Sobre  Goa  Velha.  Vide  Pyrard. 

i93)    BULLAR  (JOSEPH). 

E.  —  A  vDhUer  in  the  Azores^  and  a  summer  at  baths  of  the  Fumas, 
Londres,  184i,  2  vol.  com  estampas.  —  (Um  inverno  nos  Açores,  e  um  verão 
nos  banhos  da  Fumas.) 

•Obra  consagrada  principalmente  á  descrípção  pittoresca  do  paiz^  e  dos 
usos,  contém  informações  úteis  acerca  do  clima,  aguas  e  doenças  do  archipe- 
lago.»  1 

194)  BULUALDI  (ISM.) 

E.  —  Pro  Ecclesiis  LuziíarUcis  libelli  dw)  fmense  decembri  1649,  mense 
martio  1651J  Parissiis.  £x  officina  Gramosiana,  1653.  —  (Dois  opúsculos  a  fa- 
vor das  egrejas  de  Portugal.) 

M^cionado  no  catalogo  manuscripto  dos  livros  portaguezes  e  relativos  a 
Portogal  existentes  na  Bibliotheca  Imperial  de  Paris. 

195)  BURGE  (QUTTiT.AUME  VANDEN). 

E.  —  Niewe  Uistorische  en  geographische  Reisbeschryvinge, 
(Novo  Itinerário  histórico  e  geograpbico  de  Hespanha  e  de  Portugal.  Con- 
tendo uma  descrípção  exacta  doestes  reinos  e  dos  paizes  e  cidades  submettidas 
a  seu  dominio  tanto  na  Europa^  como  nos  outros  continentes.  Com  uma  expo- 


*  Morelet  —  Us  Açortíy  pag.  i5. 


216  RU 

siçào  clara  de  suas  divisões  antigas  e  modernas,  de  sua  situação.  Tudo  em  f(Nr- 
roa  de  cartas  por  — .  Haia,  1705,  4.») 

196)    BURGO  (THOMAS  DE). 

E.  —  il  Cathechism  moral  and  contraversial  proper  for  such  as  are  ai- 
ready  advanced  to  some  knowledge  of  the  Christian  Doctrme  to  whieh  is 
annexed  by  loay  of  an  appendix  a  practical  method  of  preparing  for  Sã' 
cramental  Confession,  dedicated  to  kis  Eminence  Cardinal  Manad,  Li^n, 
1752, 8.«,  446  pag. 

Este  catbecismo  é  destinado  para  as  educandas  e  freiras  irlandeias  do  oon- 
vento  dominicano  do  Bom  Snccesso  (próximo  de  Lisboa)  fundado  em  1639  por 
D.  Ir^a  de  Brito,  condessa  da  Atalaia.  ^ 

É  de  suppôr  que  Thomaz  de  Burgo  fosse  algum  padre  irlandez,  capdlão 
doeste  convento. 

197)  BURY  (DE). 

E.  —  Lettre  au  sujet  de  la  découverte  de  la  Conjuration  formée  amíre 
le  roy  de  Portugal,  —  (Carta  a  respeito  da  descoberta  da  conjuração  formada 
contra  o  rei  de  Portugal.) 

« 

198)  BURKBARDT. 

E.  —  Methodo  de  Ahn  em  Portuguez,  Leipsig,  1868, 1  vol.  8.<* 
Yi  esta  obra  citada  em  catálogos,  e  d'ella  nada  mais  posso  dizer.   • 

199)  BURNETT. 

E. —  Views  of  Cintra.  London. — (Vistas  de  Cintra.) 
É  apenas  uma  coUecçâo  de  estampas,  da  qual  só  tenho  visto  um  exem- 
plar. 

200)  BURTON  (RIOHARD  FRANCIS)  —  Viajante  o  orientalisU  ce- 
lebre. 

Nasceu  no  condado  de  Norfolk,  em  1820.  ^ 

E.  —  Goa  and  the  blue  Mountains,  S."*  —  (Goa  e  as  montanhas  azues.) 

201)  BUSSIÈRE  (VICENTE  TH.  DE). 

E.  —  Histoire  du  Schisme  Portugais  dam  le$  Indes,  par—.  Paris,  1854. 
—  (Historia  do  scísma  portuguez  na  índia.) 

202)  BUSCA  (GABRIELLO). 

E.  —  Delia  espugnaiione  et  difesa  delle  Portuguezze.  Turino,  1598.  —  At- 
taque  e  defeza  dos  portuguezes.) 

*  Fr.  Lucas  de  Santa  Catbarina  —  Qnarta  parle  da  Historia  de  S.  IhniingoSf  eap. 
IS."  e  seguintes. 

*  Vapêreaa —  Didionairt  des  Contempurains,  pag.  .108. 


BY  «7 

203)  BTRON  (Lobd)«  ~  Um  dos  imais  famosos  poetas  inglezes  dos  tem- 
pos  modernos. 

Nasceu  em  Londres  no  anno  de  i788,  e  falleceu  em  Missolonghi  (na  Gré- 
cia) a  19  de  abril  do  anno  de  1824.  ^ 

Por  algum  tempo  a  leitura  favorita  do  grande  poeta  britânico  foi  a  tra- 
dueção  das  poesias  do  nosso  Camões,  vertidas  em  inglez  por  lord  Strangford. 

Lord  Byron  escreveu  a  seguinte  poesia,  na  qual  lamenta  as  amarguras  do 
poeta,  recommenda  a  uma  dama  a  leitura  de  suas  obras,  e  deseja  a  esta  que 
não  passe  pelas  mesmas  desventuras,  que  tornaram  a  vida  de  Camões  tio 
amargurada 

STANZAQ  TO  A  L.ADY 
WITH   THE    POEMS    OF    CAUOENS 

Tbis  votíve  pledge  of  fond  esteem, 
Perhaps,  dear  giri!  for  me  tbou'  It  prize; 
It  sings  of  Love's  enchanting  dream, 
A  theme  we  never  can  despise. 

Who  blamcs  it  but  thu  envious  foul, 
The  old  and  disappointed  maid, 
Or  pupil  of  the  prudish  school, 
In  sitigle  sorrow  doom'd  to  fade? 

Then  read,  dear  gírl,  with  feeling  read, 
For  thou  will  ne'er  be  one  of  those; 
To  tbee  in  vain  I  shall  not  plead. 
In  pity  for  the  poefs  woes. 

He  was  in  sooth  a  genuíno  bard; 
His  was  no  faint,  fictitious  flame: 
Like  his,  may  love  be  thy  reward, 
But  not  thy  hapless  fate  the  samo. 

CINTRA 
XVIH 

Lo  f  Cintra^s  glorious  Éden  intervenes  ^ 
In  variagated  maze  of  mount  and  glen. 
Ah,  mo !  what  hand  can  pencil  guide,  or  pen. 


^  John  Galt  —  Lord  Byrony  complete  Works  and  Life.  Paris,  18S7. 

'  Para  fugir  da  immuodicie  de  Lisboa,  e  de  seas  ainda  mais  immundos  habitantes, 
a  villa  de  Cintra^  a  amas  quinze  milhas  da  capital,  é  tahex  a  todos  os  respeitos  a  mais 
deliciosa  da  Europa.  Contém  bellezas  de  todo  o  género,  nalnraes  e  artificiass,  palácios  e 
jardins  «aindo  do  meio  das  rochas,  catarartas,  despenhadeiros  conventos  sobre  alturas  es- 


218  BY 

To  foUow  hair  in  which  the  eye  dilates, 
Tbrough  vicws  more  dazzling  unto  mortal  ken 
Tban  those  whereef  sach  things  the  bard  relates, 
Who  to  the  awe  strak  world  unlock^d  Elysium^s  gates? 

XIX 

The  borrid  crags,  by  toppling  convent  crown'd, 

The  cork-trees  boar  tbat  clothe  the  shaggy  steep, 

The  moQDtain-moss  by  schorging  skies  imbrowD'd, 

The  suoken  glen,  whose  simless  shrabs  must  weep, 

The  tender  aznre  of  the  unruffled  deep, 

The  orange  tints  tbat  gild  tbe  greenest  bough, 

The  torrents  tbat  from  clifT  to  valley  leap, 

The  vine  on  bigh,  the  wjllow  branch  below, 

Mix'd  in  one  mighty  scene,  wíth  varied  beauty  glow. 

XX 

Then  sjowly  climb  the  many-winding  way, 
And  frequent  torn  to  linger  as  yoa  go, 
From  loftier  rocks  new  loveliness  survey, 
And  rest  ye  at  «Our  Lady*s  boose  of  woe;» 
Wbere  frugal  monks  their  little  relics  show, 
And  sundry  legends  to  the  stranger  teli : 
Here  impious  men  bave  punlsh'd  been,  and  lo ! 
Deep  in  yon  cave  Honorius  long  did  dwell, 
In  hope  lo  merit  Heavon  by  making  earlh  a  Hell. 

XXI 

And  here  and  there,  as  up  the  crags  you  spring, 

Mark  many  rude-carved  crosses  near  the  palh : 

Yet  dêem  not  these  devotion's  offering 

These  are  memoriais  frail  of  murderous  wralh  : 

For  wheresoe*er  the  sbrieking  victim  hath 

Pour'd  forth  bis  blood  beneath  the  assassinas  knife, 

Some  hand  erects  a  cross  of  mouldering  lath; 

And  grove  and  glen  wíth  thousand  such  are  rife 

Throughout  ihis  purple  land,  wbere  law  secures  not  life. 


pantosas,  uma  distanle  vista  do  mar  c  do  Tejo  o  alem  d'isto  c  noiavel  (se  bera  quede 
consideração  secundaria)  como  scena  da  convençilo  de  8ir  liew  Dalrymple.  Une  em  fli 
mesmo  toda  a  rusticidade  das  serranias  com  a  verdura  do  sul  da  França  — Byrons  cuni' 
pleie  Works  pag.  86 

No  3.^  vol.  do  Investigador  Portuijuez  (pag.  449  e  seg.)  vem -uma  IraducçSo  em  prosa 
destes  versos  do  Childe  Baroid  e  uma  censura  a  Lord  Byron. 


BY 

XXII 

On  sloping  mounds,  or  íd  the  vale  beneath, 

Are  domes  where  wbilome  kings  did  make  repair; 

Bat  now  the  wild  flowers  roand  tbem  ooly  breathe; 

let  raiQ'd  splendour  stili  is  liogering  there 

And  yonder  towers  the  Prince's  palace  faír : 

There  thou  too,  Vathek !  England's  wealthiest  son, 

Once  rorni'd  thy  Paradise,  as  not  aware, 

When  wanton  Wealth  her  migbtiest  deeds  hath  done, 

Meek  Peace  volnpluous  lures  was  ever  wont  lo  shun. 

XXIII 

Here  didst  thou  dweil,  here  schemes  of  pleasare  plan, 
Beneath  yon  mountaJn's  ever  beauteous  brow : 
But  now,  as  if  a  tbing  unblest  by  Man, 
Thy  fairy  dweiling  is  as  lone  as  thou ! 
Here  giant  weeds  a  passage  scarce  allow 
To  halls  deserted,  portais  gaping  wide; 
Fresh  lessons  to  the  thinking  bosom,  how 
Vain  are  the  pleasaunces  on  eartb  supplied ; 
Swepl  into  wreks  anon  by  Times's  ungentle  tíde ! 

XXIV 

Behold  the  hall  where  chieis  were  late  convened ! 

Oh  I  dome  díspleasing  unto  British  eye ! 

With  díadem  hight  foolscap,  lo !  a  flend, 

A  little  fíend  that  scofTs  incessantly, 

There  sits  in  parchment  robe  array'd,  and  by 

His  side  is  hung  a  seal  and  sable  scroll, 

>\l)cre  blazon'd  glare  names  known  to  chivalry, 

And  sundry  signatures  adom  the  roll, 

Whereat  the  Urchin  points  and  laughs  with  ali  his  soul. 

XXIX 

Yet  Mafra  shali  one  moment  claim  delay, 
Where  dwelt  of  yore  the  Lusian's  luckless  queen ; 
And  church  and  court  did  mingle  their  array, 
And  mass  and  revel  were  alternate  seen; 
Lordlings  and  freres-ill-sorted  fry  1  ween ! 
But  here  the  Babylonian  whore  hath  bailt 
A  dome  where  flaunts  she  in  such  glorioas  sheen, 
That  men  forget  the  blood  which  she  hath  spilt» 
And  how  the  knee  to  Pomp  that  leves  to  vamish  gait. 


Si9 


220  BY 

XXX 

0'er  vales  that  teem  wítb  fraits,  romantíc  bílis, 
(Oh,  that  sacb  hills  upheld  a  freeborn  race  I) 
Whereon  to  gaze  the  eye  wilh  joyaunce  fills, 
Ghilde  Harold  wends  through  maoy  a  pleasant  place. 
Though  slnggards  dêem  it  but  a  foolish  cbase, 
And  marvel  men  sboold  qait  theír  easy  chair, 
The  toilsome  way,  and  long  leagne  to  trace. 
Oh  t  there  is  sweetness  ín  the  monntain  air, 
And  Hfe,  that  bloated  Ease  can  never  hope  to  share. 

XXXI 

More  bleak  to  view  the  hills  at  length  recede, 

And,  less  luxaríant  smoother  vales  extend ; 

Immense  borizon-boonded  plains  succeed  t 

Far  as  the  eye  discerns,  withoaten  end, 

Spaín's  realms  appear,  whereon  ber  sbepberds  tend 

Flocks,  whose  rích  íleeee  right  well  the  trader  knows 

Now  mast  the  pastor's  arm  bis  lambs  defend : 

For  Spain  is  compass'd  by  unyíelding  foes. 

And  ali  most  sbield  tbeir  ali,  or  share  Subjection's  woes. 

xxxn 

Where  Lusitânia  and  ber  Sister  meet, 

Dêem  ye  what  bounds  the  rival  realms  divide  ? 

Or  ere  the  jealous  queens  of  nations  greet, 

Dotb  Tayo  interpose  bis  migbty  tide? 

Or  dark  sierras  rise  ín  craggy  pride? 

Or  fence  of  art,  like  China's  vasty  wall? 

Ne  barrier  wall,  ne  river  deep  and  ride, 

Ne  borrid  crags,  nor  mountaíns  dark  and  tall, 

Rise  like  the  rocks  that  part  Hispania's  land  from  Gaul 

XXXIII 

Bnt  these  between  a  silver  streamlet  glides, 
And  scarce  a  name  distinguisbeth  the  brook, 
Though  rival  kíngdoms  press  its  verdant  sides. 
Here  leans  the  idie  shepherd  on  bis  crook, 
And  vacant  on  the  rippling  waves  dotb  look, 
That  peaceful  still  'twixt  bitterest  foemen  flow; 
For  proud  each  peasant  as  the  noblest  duke . 
Well  dotb  the  Spanish  hind  the  difference  know 
Twixt  bim  and  Lusian  slave,  lhe  lowest  of  the  low. 


c 


204)  CABANES  (D.  FHANCISCO  XAVIER  DE)  -  Brigadero  de  in- 
raateria  de  los  reales  ejercitos.) 

E.—  Memoria  que  tiene  por  objeto  manifestar  la  posibUidad  y  facUidad 
de  hacer  navegable  el  no  Tajo  desde  Aranjuez  hasta  el  Atlântico,  las  van* 
tajaSf  de  esta  Empresa,  y  las  concesiones  hechas  à  la  misma  para  realizar 
la  navegaáon,  Por^.  Piiblicase  de  real  Orden.  Madrid  Imprenta  de  D.  Miguel 
de  Burgos.  Ano  de  1829.  foi.  210  pag. 

«Durante  a  guerra  de  Hespanha  contra  as  tropas  de  Napoleão  meus  diver- 
sos empregos  nos  exércitos  me  subministraram  meios  de  observar  em  diffe- 
reotes  occasiões  o  curso  e  propriedades  do  rio  Tejo  desde  Aranjuez  e  Toledo 
até  Lisboa.  Surprebendia-me  que  um  rio  tão  caudaloso/ que  atravessa  de  le- 
vante a  poente  duas  terças  partes  da  Península,  e  que  em  seus  extremos  tem 
dois  mercados  tão  concorridos,  como  Madrid  e  Lisboa,  não  tivesse  fixado  a  at- 
tenção  das  gerações  passadas,  nem  merecido  ao  menos  um  ensaio  pratico,  se 
podia,  ou  não  ser  navegável;  mas  o  que  mais  contribuiu  para  excitar  mínba 
sarpreza  foi  a  navegação  pelo  mesmo  rio  desde  Abrantes  até  Yilla  Velha,  pro- 
movida e  executada  pelo  engenheiro  portuguez  Anastácio,  e  que  tão  útil  foi  ao 
governo  portuguez  n^aquella  época.  Dizia  então  commigo:  Porque  motivo  não 
se  ha  pensado  em  prolongar  esta  obra  do  Tejo  até  Alcântara,  Talavera,  Toledo 
o  Aranjuez?  Quando  via  em  algumas  antigas  relações,  que  n'outro  tempo  se 
transportavam  cereacs,  e  outras  mercadorias  desde  Córdova  a  Sevilha,  não  po- 
dia deixar  d'exclamar:porque  nào  imitamos  este  exemplo?  Não  cessei  de  pensar 
nos  meios  de  formar  uma  planta  da  navegação  do  Tejo,  que  na  minha  opinião 
é  a  obra  mais  fácil  de  executar  de  todas  d'esta  classe,  e  a  mais  própria  para 
dar  áquelles,  que  a  tentarem,  uma  lucrativa  e  proporcionada  recompensa  de 
sua  decisão,  trabalhos  e  riscos. 

«Convencido  da  exactidão  e  verdade,  com  que  está  escripto  o  projecto  de 
navegação  geral  da  Península,  formado  pelos  fins  do  século  xvi  por  João  Bau- 


ns  í^A 

tisUAiitoiieUi,e  inserto  n'iundos  tomos  dos  Elementos  de  Mathematicsi  (tom.  a) 
por  D.  Benito  Bails,  dei  come^  á  tarefo  de  colligir  apontamentos,  e  de  em- 
prehender  diligentes  investigações,  qne  me  podessem  elocidar  acerca  de  quanto 
diz  respeito  ao  rio  Tejo,  do  qoal  somente  se  tinham  idéas  mui  confusas.  Na 
continua^  do  Almocem  de  frutas  Itierarios,  publicada  no  anno  de  1818,  oi- 
contrei  aJgnmas  noticias  relativas  ao  mea  projecto,  mas  poaco  claras,  e  ainda 
menos  segaras  para  pod^  formar  joizo  acerca  do  conjancto  e  dos  p^Hmeno- 
res  da  operação.  Por  ultimo  as  relações,  que  tive  com  algumas  pessoas  curio- 
sas e  instmidãs,  me  proporcionaram  Tariosconhecímentos  applicaTeis  ao  mesmo 
desígnio,  de  sorte  qne  chegaei  a  saber  qoe  o  rio  Tejo  bavia  sido  objecto  de 
grandes  considerações  em  tempo  de  Filippe  II,  e  qne  soa  nav^açào  havia  sido 
intentada  com  tal  actividade,  e  praticada  com  tão  bom  êxito,  que  o  engenheiro 
AntoneUi,  chegou  n'am  barco  desde  o  Oceano  até  Aranjoez,  e  logo  por  Jarama 
e  Manzanares  até  mais  alem  da  ponte  de  Segóvia,  e  sitio,  que  chamavam  «í 
moUno  quemado,  coisa  que  pareceria  incrível,  se  não  convencessem  de  sna  ver- 
dade os  documentos  authasticos,  em  que  o  facto  está  consignado,  e  que  ainda 
se  conservam.  Abandonou-se  depois  por  varias  causas,  sendo  uma  d'ellis  a 
separa^  de  Portugal,  um  plano,  que  havia  já  fdto  tantos  progressos;  mas 
sempre  ficou  assegurada  a  idéa  de  sua  possibilidade. 

cEm  1887  tive  occasião  de  observar  tanto  na  França,  como  na  Ingialerra 
e  Paizes  Baixos  a  applicação  do  vapor  por  meios  mais  adequados  ao  meu  pro- 
jecto do  Tejo,  do  que  os,  que  me  haviam  suggerído  os  trabalhos  feitos  pda 
companhia  do  Guadalqnibir  para  as  obras  d'aquelle  río.  Também  rectifiquei 
então  minhas  idéas  em  geral;  porém  coDtirmaQdo-me  cada  vez  mais  de  qne  era 
possível  a  navegação  do  Tejo,  mediante  o  conveaienUí  indireitamento  de  suas 
margens,  pois  d'este  modo  tomava-se  mui  fácil  praticar-se  n'ella  uma  via  cons- 
tante de  aguas  de  três  pés  e  meio  a  quatro  de  4)rofiindidade,  e  de  vinte  e  cin- 
co de  largura,  que  é  de  quanto  se  necessita  para  a  navegação  a  vapor. 

«Antes  das  investigações  ultimamente  feitas  somente  se  conheciam  alguns 
pormenores  acerca  da  navegação  do  Tejo.  contidos  nas  Memorías  de  Garíbay, 
bem  como  n'uma  relação  do  passeio,  que  pelas  aguas  dos  rios  Jarama  e  Tejo 
deu  embarcado  o  rei  D.  Filippe  11,  e  aquelles  de  que  se  faz  menção  n'uma  carta 
do  padre  Burriel,  e  no  informe  de  Savedra  sobre  vários  pontos  de  navegação 
interior.  Parte  doestas  noticias  estavam  inéditas.  Por  noticias  de  tal  qualidade, 
tão  minuciosas  e  authenticas  fica  provado  até  á  evidencia  ser  mui  possivol  na- 
vegar pelo  Tejo. 

«João  Bautista  Antonellí  era  um  engenheiro  distincto,e  mui  acreditado,  que 
havia  servido  com  applauso  e  bom  êxito  em  muitas  commissões  importantes, 
auxiliando  D.  Filippe  II  e  o  duque  d'Alba  na  expedição  de  Portugal  no  anno 
1580.  O  plano  geral  de  navegação  interíor,  que  propoz  da  Península  Hespa- 
nica  podia  reputar- se  para  aquelles  tempos  como  grandioso,  extraordinário, 
de  muita  novidade  e  mento,  superior  ás  producções  contemporâneas.  Filippe  II, 
que  adoptou  a  proposta  de  Antonellí,  tríbutou-lbe  uma  solemne  homenagem 
navegando  pessoalmente  acompanhado  de  sua  família  pelos  rios  Jarama  e  Tejo 
desde  Vaciamadrid  até  mais  abaixo  de  Accca. 


GA  m 

«Os  procuradores  do  reino  reunidos  em  Madrid  em  1583  approvaram  o  pro- 
jecto de  navegação  interior  apresentado  por  Antoneili^  e  votaram  para  sua  exe- 
cução cem  mil  ducados,  que  se  não  deviam  appiicar  para  outro  fim;  e  o  fa- 
moso architecto  do  Escurial,  Uerrera,  era  o  conselheiro  de  Filippe  II  n'esta 
empreza. 

«No  tempo  de  Filippe  lY  os  engenheiros  Carduchi  e  Martelli  procederam 
a  um  novo  reconhecimento  no  rio. 

«Também  se  pôde  contar  em  o  numero  dos  monarchas  hespanhoes,  que 
hão  favorecido  esta  idéa,  D.  Fernando  YI,  que  a  poz  debaixo  de  sua  protecção 
para  que  se  realisasset  Por  isso  seu  ministro  D.  Ricardo  Wall  ouviu  os  infor- 
mes, e  examinou  os  planos  e  propostas,  que  lhe  appresentou  o  alcaide  D.  Car- 
los de  Simon  Pontero,  que  abundava  nas  mesmas  idéas  de  Antonelli  e  Cardu- 
chi, e  a  cujo  dictame  se  aggregaram  varias  pessoas  iilustradas,  e  com  especia- 
lidade os  engenheiros  Briz  e  Simó  Gil.» 

Os  documentos  relativos  a  esta  importante  empreza  estavam  guardados  nos 
archivos  de  Simancas  e  de  Toledo,  e  bom  serviço  prestou  o  hespanhol  Cabanos 
pnblícando-os  por  meio  da  imprensa,  pois  doesta  forma  podemos  conhecer  com 
a  maior  minuciosídade  quanto  se  passou  relativamente  a  este  assumpto. 

Dá-nos,  pois,  o  auctor  ^  todas  as  noticias  seguintes : 

«Desde  Aranjuez  até  Toledo  (dez  léguas)  ú  mui  regular  o  curso  do  Tejo,  e 
em  geral  tem  todas  as  apparencias  d'um  canal  sem  corrente  excessiva. 

«Nas  immediações  de  Toledo  ha  muitos  obstáculos,  mas  evitar-se-hiam  na 
maior  parte  «om  o  canal,  que  estava  projectado. 

«Desde  Toledo  até  Puente  dei  Arzobispo  (vinte  e  seis  léguas)  offerece  o  Tejo 
as  mais  formosas  e  fáceis  ribeiras  para  a  navegação,  como  o  declara  o  enge- 
nheiro Antonelli,  a  ponto  de  as  comparar  com  as  do  Pó,  e  outras  da  Lom- 
bardia. 

«Desde  Puente  dei  Arzobispo  até  Herrera  (quarenta  léguas)  ha  lanços  de 
mais  difficuldade,  que  os  já  citados:  porém  também  é  maior  o  numero  das 
obras  a  que  se  deve  proceder,  com  que  ficariam  notavelmente  acommodados 
6  dispostos  para  a  navegação. 

«De  Herrera  até  Abrantes  (dezesete  léguas)  torna  o  Tejo  a  ser  mais  fá- 
cil para  se  navegar  por  elle,  de  maneira  que  a  maior  parte  doeste  districto,  ou 
pelo  menos  desde  Yílla  Yelba  até  Abrantes  se  navegou  sem  interrupção  em 
1812  e  1813,  e  actualmente  por  elle  se  navega  também. 

«Desde  Abrantes  até  Santarém  (onze  léguas)  está  sempre  aberta  a  navega- 
ção, a  qual  é  muito  fácil  de  Santarém  até  Lisboa,  por  espaço  de  quatorze  lé- 
guas. 

«Tanto  as  obras  necessárias  para  passagem  das  represas  e  pontes,  como  as, 
que  exigem  as  limpezas  e  encanamentos,  longo  do  serem  d'um  custo  muito 
grande,  podem  rcalisar-sc  por  uma  quantia  bastantemente  módica  em  compa- 

i  Pag.  \li. 


124  CA 

raçao  das  vantagens,  que  devem  proporcionar.  ^  Galcalaram-se  as  despesas 
soperíormente  ao  que  hão  de  ser  effectivamente,  e  vé-se  qae  a  somma  total 
d'elias  não  excede  a  somma  de  11.600:000  reales  de  velon. 

cHa  mui  exactos  dados,  qae  asseguram  nao  estarem  errados  estes  calca- 
los.  Em  primeiro  logar  as  vinte  e  quatro  léguas,  que  ha  de  rio  desde  Abran- 
tes a  Alcântara,  custaram,  incluindo  o  caminho  de  sirga  418:000  reales  velon. 
Ha  noticia  do  importe  do  encanamento  da  navegação  desde  Taiavera  la  Yieja  a 
Toledo,  vinte  e  cinco  léguas,  que  importou  em  14.742:995  maravedis,  que  são 
433:617  reales  de  velon.  Comparando  o  valor  do  dinheiro  da  Península  do  sé- 
culo XVI  com  o  que  tem  actualmente  equivaleria  ao  seguinte  calculo: 

Obras  Imporlaram  Corresponde 

ao  dinheiro  actaal 

De  Abrantes  a  Alcântara 418:000  r.  v.       1.672:000 

De  Alcanura  a  Taiavera  la  Yieja. . .    343:095  1.372:38! 

De  Taiavera  la  Vieja  a  Toledo 433:617  1734:470 

Somma 1.194:712  4.778:85! 

«£  como  nenhuma  d*estas  obras  exige  muitos  mezes  para  sua  conclnsio, 
bastará  um  só  verão  para  tornar  navegável  o  Tejo. 

«É  preciso  confessar  em  boa  fé,  que  a  respeito  d'esta  empreza  se  tem  pro- 
cedido em  todos  os  tempos  com  bastante  injustiça,  e  mesquinhez  ImplacaveL 
Em  primeiro  logar,  porque  desde  o  reinado  de  Filippe  II  em  nenhum  tempo 
quizeram  examinar  lealmente,  nem  mesmo  ouvir  as  razões,  que  a  favor  d'ella 
apresentavam  pessoas  de  merecimento,  que  d'ella  trataram;  e  em  segundo,  por- 
que sempre  foram  mesquinhos  com  fundos  para  um  objecto  tão  grandioso,  e 
de  tão  incalculáveis  vantagens,  quando  pelo  contrario  se  teem  applicado  im- 
mensas  quantias  para  obras  inteiramente  improductivas,  e  de  cuja  utilidade, 
mesmo  considerada  debaixo  do  aspecto  de  ornato,  se  duvida  não  poucas  vezes. 

«Como  se  responderá  á  accusação,  que  a  respeito  de  nossa  incúria  nos  poda 
fazer  a  posteridade,  sabendo  que  até  ao  anno  de  1829  nada  de  positivo  se  sa- 
bia emquanto  á  navegação  do  rio  Tejo,  ao  passo  que  em  Simancas,  e  u'outrus 
archivos  existiam  os  documentos  preciosos,  que  agora  pela  primeira  vez  saem 
á  luz?  Como  se  responderá  á  accusação,  que  a  mesma  posteridade  nos  poderá 
fazer  de  não  havermos  tirado  partido  do  rio  Tejo  para  exportar  nossas  amon- 
toadas colheitas,  em  tempo,  que  nos  sobrava  o  oiro  e  a  prata,  que  empregáva- 
mos inconvenientemente  em  objectos  contrários  a  nossos  interesses? 

•As  causas  priucipaes,  porém,  que  teem  obstado  á  canaiisação  do  rio  são 
as  seguintes:  !.■  O  serem  despovoadas  as  margens  do  Tejo,  e  os  terrenos  adja- 
centes a  ellas.  2.*  A  escacez  de  conhecimentos  relativos  ao  curso  d*este  rio,  e 
aos  terrenos  visinhos.  3.*  A  desconfiança  dos  proprietários  das  obras  construí- 
das no  Tejo,  c  a  falta  de  direitos  para  a  existência  de  algumas  d'ella8.  4.*  A 
upce^sidad»^  de  caminhos  de  sirga.  5.»  A  constante  escassez  da  falta  de  nume- 

'   FílLV    li 


CA  22S 

rario.  6.*  A  separação  de  Portugal.  7.*  A  preferencia,  que  se  dá  aos  canaes  de 
derivação,  por  causa  da  dupla  utilidade  de  navegação  e  rega,  que  propor- 
eionam. 

É  incrível  a  falta  de  povoação^  que  se  nota  nas  margens  d'este  rio,  pelo 
menos  desde  Talavera  até  Abrantes. 

O  Tejo  partindo  de  Aranjuez  corre  na  Hespanha  as  provindas  de  Toledo  e 
Extremadnra,  e  em  Portugal  as  do  Alemtejo  e  Extremadura  portugucza.  Na 
provincia  de  Toledo  está  deserto  o  dístricto  de  Aranjuez  a  Toledo,  e  regular- 
mente povoado  o  que  corre  desde  este  ponto,  até  Talavera.  Continua  logo  o 
Tejo  atravessando  o  districto  mais  deserto  da  Extremadura  hespanhola,  a  qual 
provincia  é  a  mais  despovoada  de  Hespanha.  Entra  em  seguida  na  do  Alemtejo, 
que  das  de  Portugal  é  a  menos  povoada,  e  só  desde  Abrantes,  onde  começa  a 
Extremadura  portugueza,  entram  a  encontrar-se  povoações  importantes,  como 
%  mesma  villa  de  Abrantes,  Constância,  Tancos,  Santarém,  Yiila  Franca  e  ou* 
Iras.  Por  isso  o  viajante,  que  sem  grandes  conhecimentos  da  Península,  per- 
corre pela  primeira  vez  as  margens  do  Tejo,  não  pode  deixar  de  admirarse 
como  margens  de  tanta  celebridade  se  encontram  em  tão  incrível  desamparo* 

«Garibay  nas  suas  memorias  manifesta  claramente  a  opposição  dos  tolede- 
tanos  à  navegação,  e  além  d'isso  sabe-se  que  os  procuradores  do  reino,  reuni- 
dos em  Madrid  no  anno  de  1583  adoptaram  com  gosto  a  proposta  d'esta  em- 
preza,  não  estando  situadas  nas  margens  do  Tejo  as  cidades  ou  villas,  que  re- 
presentavam :  e  somente  se  oppozeram,  mas  mui  fortemente,  os  procuradores 
de  Toledo,  que  representavam  e  pertenciam  a  uma  cidade  situada  na  margem 
d'aquelle  rio.  E  não  é  possível  explicar  o  fundamento  doesta  opposição,  senão 
attribaindo-o  ao  errado  conceito,  que  d*ella  formaram,  com  respeito  a  seus  in- 
teresses^ os  proprietários  das  obras  praticadas  no  rio. 

«Outra  difíiculdade  eram  os  caminhos  de  sirga,  pois  se  tratava  nada  menos 
que  de  praticar  uma  linha  de  communicação  pelo  espaço  de  cento  e  vinte  seis 
^goas,  com  seis  palmos  de  largo,  conforme  exigia  Antonellí,.o  que  não  podia 
deixar  de  custar  sommas  immensas. 

<  AntonelU,  o  dr.  Guillen,  e  varias  outras  pessoas  ^  empregadas  nas  obras  do 
Tejo  durante  o  reinado  de  Filippe  II  se  queixaram  constantemente  da  escassez 
de  numerário  para  as  mesmas.  Yô-se  pelos  documentos,  que  o  dinheiro  se  des- 
viava d'estes  trabalhos  para  outras  obras. 

«Nos  dois  reinados,  que  se  seguiram,  a  falta  de  numerário  foi  cada  vez 
maior,  a  ponto  de  acconselhar  ao  rei  o  conselho  doestado  a  que  mandasse  pa- 
rar as  obras  por  causa  da  falta  de  meios.  Na  ultima  metade  do  século  xvu  era 
quasi  impossível  pensar  em  similhante  negocio,  pois  as  hostilidades  dos  dois 
povos  duraram  pelo  espaço  de  vinte  e  oito  annos  desde  i640.  Depois  de  reco- 
nhecida a  independência  de  Portugal  pelo  governo  hespanhol,  D.  Pedro,  que 
governava  então  Portugal,  achou- se  em  circumstancias  tão  dífficeis,  que  estas 
o  obrigaram  a  pensar  em  assumptos  bem  diíTerentes,  ao  passo  quo  na  Hespanha 
a  complicação  dos  negócios  não  era  menos  lastimosa.  ' 

*  Pag.  20, 

TOMO  I  i5 


226  GA 

• 

«Um  canal  de  derivação,  qae  se  praticasse  desde  Aranjaez  até  ao  Atlântico 
ii'Qm  calcnlo  moderado  importaria  em  quinhentos  milhões  de  reales:  masnio 
daria  resultados,  que  compensassem  tão  enorme  despeza.  Porém  a  navegado 
do  Tejo  é  de  tal  importância,  que  não  é  possível  prescindir  de  indicar  suas  van- 
tagens, e  para  isso  se  partirá  sempre  da  hypothese,  que  veriGcando-se  a  passa- 
gem de  barcos  de  Lisboa  até  Toledo  e  Aranjuez,  se  continuem  os  trabalhos  em 
termos,  que  depois  não  haja  dífficuldades,  em  que  prosigam  até  Madrid. 

«Pelo  espaço  d'umas  quarenta  léguas  desde  a  fronteira  de  Portugal  ^  até  ao 
Atlântico  appresenta  o  curso  e  estado  do  rio  diferenças  notáveis,  que  dão  mar- 
gem a  varias  reflexões  não  faltas  de  importância.  Para  examinar  este  distríeto 
convenientemente  considerar-se-ha  dividido  em  três  partes,  a  saber :  desde  YiUa 
Velha,  ou  portas  de  Rodas  até  Abrantes :  desde  Abrantes  até  Santarém,  e  desde 
Santarém  até  Lisboa. 

«Pelo  primeiro  lanço,  perto  de  quinze  léguas  de  comprimento,  se  navegoa 
pelos  annos  de  18ii,  Í8i2  e  1813  pelo  systema  do  engenheiro  portuguez  Anas- 
tácio, em  barcos  chatos  de  capacidade  de  cento  até  centoe  cincoentaquíntaes 
os  quaes  barcos  tripulados  por  três  ou  quatro  homens  faziam  sua  viajem  de  su- 
bida por  meio  de  remos  e  sirga,  e  raras  vezes  à  vela,  n'uns  oito  dias  só.  Com 
estes  barcos  se  levavam  a  Yilla  Velha  os  viveres,  de  que  necessitava  o  exereito 
anglo-luso. 

«Pelo  segundo  lanço,  desde  Abrantes  até  Santarém,  doze  léguas,  navega-se 
actualmente  sem  interrupção  em  barcos  chatos  da  capacidade  de  duzentos 
quintaes. 

«Pelo  terceiro  lanço  até  Villa  Franca  navegam  barcos  de  seiscentos  até  sete 
■centos  quintaes. 

«Por  agora  só  diremos  que  o  rio  Jarama  oíTerece  meios  segares  de  estabe- 
lecer uma  navegação  activa  entre  Aranjuez  e  Vaciamadrid  durante  oito  mezes  do 
anno,  e  que  as  combinações,  de  que  é  susccplivel  o  real  encanamento  de  Ja- 
rama com  os  recursos,  que  hão-de  augmentar  as  aguas  de  Madrid  e  do  Manza- 
nares,  estabelecerão  uma  commoda  e  rápida  coramunicação  por  agua  entre  as 
respectivas  capitães  dos  dois  reinos,  que  formam  a  Península  Ibérica. 

«Em  nosso  modo  de  intender  a  navegação  do  Tejo  deve  assegurar  aos  qu« 
a  verificarem  meios  de  transportar  annualmente  acima  de  dois  milhões  e  seis 
centos  mil  quintaes,  a  saber:  milhão  e  meio  em  direcção  desde  o  Atlântico  até 
Aranjuez,  e  acima  de  milhão  e  cem  mil  quintaes  em  direcção  desde  Aranjuez 
até  ao  Atlântico.  Para  chegar  a  este  fim  parece-nos  que  serão  suíficientes  qua- 
renta barcos  a  vapor,  e  outros  quarenta  de  transporte  sem  machina,  trinta  e 
seis  dos  quaes  estarão  em  continuo  serviço,  e  os  quatro  restantes  em  reserva, 
tendo  cada  um  setenta  pés  de  largo,  e  dezeseis  de  comprimento,  de  quinze  to- 
neladas, e  da  força  de  vinte  cavalios,  e  calculando-se  cada  viagem  entre  ida  e 
volta  desde  Aranjuez  até  Lisboa  em  doze  dias. 

€  Depois  de  concedido  pelo  governo  hespanhol  o  privilegio  da  navegação  no 
Tejo  ao  auclor  d'cstas  memorias,  era  necessário,  além  do  privilegio,  que  o  go- 

1  Pag.  à9. 


GA  227 

verno  de  Portagal  permittissc  a  passagem  dos  barcos  até  ao  Atlanlico;  diri- 
l^u-se  por  isso  ao  governo  porluguez,  que  despachou,  depois  d'um  detido 
exame,  d'um  modo  favorável  ao  interesse  dos  dois  paizes.  ^  As  pessoas,  que  mais 
coDtribuiram  para  esta  concessão,  além  dos  ministros,  foram  o  duque  de  Ca- 
diYal,  visconde  de  Santarém,  o  conde  da  Figueira,  Joaquim  Severino  Gomes  e 
D.  Joaquim  Acosta  y  Montealegre,  ministro  plenipotenciário  de  Hespanha. 

« O  calculo  dos  gastos  do  estabelecimento  da  empreza  chegará  tao  somente  à 
importância  de  vinte  milhões  do  reales.  Constam  estes  gastos  de  três  partes: 
1/  Obras  avaliadas  em  11:600:000  reales:  2.«  barcos  8:000:000  reales:  3.«  gas- 
tos imprevistos  400:000  reales. 

Os  rendimentos  annuaes  devem  orçar  por 17:620:000  reales 

Despezas  annuaes 10:500:000 

Differença  a  favor  da  empreza 7:120:000 

•Regosijemo-nos,  pois,  hespanhoes  e  portuguezes,  com  a  celebração  d'este 
trs^do,  e  consideremol-o,  como  o  pacto  de  família  peninsular,  que  unirá  as 
duas  nações  com  um  vinculo  tão  intimo,  como  é  evidente  signal  da  concórdia 
e  harmonia,  que  reina  entre  as  esclarecidas  e  augustas  dynastias  de  Borbon 
de  Hespanha  e  de  Bragança  de  Portugal.  ^ 

•Sendo  necessário  examinar  a  fundo  a  corrente  do  rio,  a  8  de  abril  de  1829 
embarcou  em  Aranjuez  n'um  barco,  a  que  se  poz  o  nome  do  Antonellí,  o  ín- 
genheiro  Marco  Artu,  e  com  uma  viagem  de  quarenta  dias  chegou  a  Lisboa, 
durante  os  quaes  só  navegou  vinte  e  seis,  sendo  os  outros  destinados  para  ob- 
servar todos  os  pormenores  e  incidentes  dignos  de  se  notarem.  A  admiração, 
que  isto  causou  aos  habitantes  das  margens  do  Tejo,  foi  extraordinária,  e  inex- 
primivel,  pois  por  nenhum  modo  julgavam  que  um  barco  procedente  de  Aran- 
juez podesse  descer  pelo  rio,  sem  ser  arrebatado  pelas  correntes,  ou  sem  se  des- 
pedaçar contra  os  penedos.  Porém,  onde  a  admiração  chegou  ao  cumulo,  foi  em 
Lisboa,  em  cujas  aguas,  ainda  que  frequentadas  por  navios  de  todo  o  universo. 
não  se  tinha  visto  nenhum,  que  procedesse  do  centro  da  Peninsul^i  desde  o  sé- 
culo XVI,  em  que  o  immortal  Antonelli  levou  ao  cabo  egual  operação  debaixo 
dos  auspicies  de  Filippe  II.  A  viagem  de  regresso  durou  138  dias,  dos  qu<ies 
somente  se  navegou  por  112,  sendo  os  restantes  empregados  em  estudos  e  re- 
conhecimentos.» 

.     205)    CABINET  (THE)  Cyclopedia.  London,  1832. 

Apparece  n'esta  collecção  uma  Historia  de  Portugal  e  de  Hespanha  era  1 
vol«  obra  de  que  vi  um  exemplar  em  poder  do  sr.  Francisco  Arthur  da  Silva. 

«  Pag.  43. 

'  Pag.  51.  Se  bem  que  toda  esta  Memoria  é  mui  interessante  não  se  fazem  roais  ex- 
tractos, porque  a  via  férrea  fez  dispensável  a  navegação  pelo  Tejo,  como  a  propunha 
Cabanos.  Diz  o  sr.  Ribeiro  de  Saraiva  em  o  n.<*  4:749  do  Jomaí  do  Commcrcio  de  Lisboa 
que  as  diligencias  para  a  oavegaçâo  do  Tejo  foram  suspendidas  e  frustradas  pela  revoliu 
çao  fraoceza  de  1830,  e  pela  invasão  de  Ucspanba  por  Mina,  sob  auspicies  francezes. 


228  CA 

206)  CABRERA  (LUÍS  DE  CÓRDOBA)  —  Cbronista  hespanhol. 
Fallecea  em  1655.  * 

E*.  —  Crónica  de  Fdippe  II  re  d^ Espana.  Madrid,  i619. 

A  historia  de  Hespanha  está  tao  intimamente  entrelaçada  com  a  de  Porta- 
gal,  que  difflciimente  se  encontrará  livro  histórico  hespanhol,  no  qoal  se  não 
tope  com  passagens,  qae  nos  digam  respeito.  No  entanto  (por  causa  da  brevi- 
dade) só  mencionarei  nm  on  oolro. 

207)  GAGELADA  (JUAN  LOPES). 

E.  —  Profecia  politica  verificada  en  lo  que  está  succidiendo  a  los  portu» 
gueses  por  su  ciega  afidon  a  los  inglezes^  hecha  luego  despues  dei  terremoto 
de  1755.  México,  1806.— (Y.  Profecia  poUtíca.) 

208)  GAILLEIÍER  (E.) 

E.  —  I.  Ant.  Goveani  ad  DD.  titfdum  ad  senatusconsullum  Trebellianum 
commentariolum  quae  supersunt  juxta  fidem  GratianopoUtani  Codicis  edidit. 
—  Paris,  1865,  8.» 

É  ama  nova  edição  da  obra  aqui  citada  do  nosso  tão  famigerado  joriscon- 
sQlto  António  de  Goavea,  que,  apesar  de  ser  om  dos  maiores  vultos  litteranos, 
que  mais  honra  dão  ao  nosso  paiz,  ainda  não  teve  um  portuguez  que  condi- 
gnamente  lhe  escrevesse  a  biographia. 

II.  Ântoine  de  Govea  fut  il  conseUler  au  parlement  de  Grenoblef  Paris, 
1865. 

III.  Etude  sur  Anioine  de  Govea  (1505-1366),  Paris,  1864,  8.»  46  pag. 

209)  CALANDRELLI  (JOSEPH)  —  Sócio  correspondente  da  Acade- 
mia Real  das  Sciencias  de  Lisboa,  a  qual  lhe  publicou  no  2.°  volume  das  Me- 
morias 2  o  seguinte  artigo: 

Observatio  Eclipsis  Lunaris  habita  die  3  januarii  anno  1787,  m  Colle* 
gU)  Bomano.— (Observação  do  eclypse  lunar  no  Collegio  Romano). 

210)  CALDERON. 

E.  —  Memoria  sobre  el  estado  de  la  industria  minera  de  Partugal. 
Vem  no  Bulletin  de  la  societé  geologique  de  France,  2.*  serie,  tom.  7.» 

211)  CAMMARANO. 

E.  —  Ines  de  Castro.  A  Lyric  Tragedg,  in  three  acts»  Poetry  by  Signor 
Salvador  Cammarano,  The  Music  by  Signor  Perstani,  As  rcpresented  at  her 
Majesty's  theatre.  Haymarket,  1840.  London,  1840,  8.»  81  pag.  Em  inglez  e 
italiano. 

Os  cantores,  que  desempenharam  esta  opera,  foram  os  seguintes: 


*  Firinin  Didot  —  Nouvtlle  Biographie  Universelle,  voi.  8,*>,  pag.  43. 
'  Pag.  39  do  mencionado  volume. 


CA  229 


nOMEKS 


D.  AfToDso,  rei  de  Portugal,  Lablache,—  !).  Pedro,  /íuòtnt.— Gonçalves,  fi- 
dalgo hespanhol,  Morelli.—  Rodrigo,  capitão  de  archeiros,  GtUli. 

DAMAS 

D.  Branca,  Mademoiselle  E.  Gfmi.—  Ignez  de  Castro,  Madame  Persiani. — 
Elvira,  Madame  BellinL 

Ha  mais  daas  edições  d*esta  opera  publicadas  ambas  no  anno  de  1839,  uma 
em  Londres,  e  outra  em  Firenze. 

212)    GAMPADELLI  (F.) 

Publicou  no  tomo  13  do  Panorama  uma  ode  em  louvor  do  grande  florista 
portuguez  Constantino,  então  residente  em  Paris. 

ODE  A  MONSIEUB  CONSTANTIN 

L'art  sous  ses  mille  aspects  est  d'essence  divine; 
Son  horizon  sans  borne  est  Tespace  vermeil; 
En  tous  lieux  il  rayonne,  il  brille,  11  illumine : 

Cest  le  disque  d'or  du  soleil. 
II  revét  à  Tenvi  cent  formes  saisissantes. 
lei,  sous  les  couleurs  qu'animent  les  pinceaux, 
II  étale  à  nos  yeux  des  toiles  ravissantes 

Et  de  magnifiques  tableaux. 
Lá,  d'instruments  sans  nombre  aux  gammes  infinies. 
Et  de  la  voix  humaine  aux  magiques  ressorts, 
L*art  créateur  enfante  un  monde  d'harmonies 

Dans  les  plus  merveillenx  accords. 
En  mille  objets  divers  il  s'étale  et  s'exprime 
A  Touie,  à  la  vue,  à  tous  les  sens  humains; 
Sous  sa  main  qui  le  guide  et  Tesprit  qui  Tanime. 

II  a  des  charmes  sonverains. 
Constantin,  vous,  artiste,  aux  rives  embaumées, 
An  ciei  des  doux  parfums,  aux  régions  des  fleurs, 
Vous  avez  apporté  d'autres  fleurs  animées, 

D*autres  parfums,  d*autres  senteurs. 
Dans  ce  mond  attrayant  de  graces  merveilleuses. 
De  múltiplos  couleurs,  de  beautés,  de  rayons, 
Vous  semez  à  Tenvi  sous  nos  mains  curieuses 

Vos  charmantes  créations. 
Sur  vos  habiles  doigts^  dans  vos  ardentes  veilles, 
La  nature  à  vous  seul  explique  ses  secrets; 
Eile  ouvre  à  votre  esprit  ses  plus  riches  merveilles^ 

Qu^elle  cache  aux  yeux  indiscrets. 


230  CA 

Votre  arl,  c'est  ia  natarc,  et  les  ílears  sont  vos  oeuvres; 
Fleurs  des  champs  ou  des  monts,  des  jardins  ou  des  bois, 
Qa*on  le  doive  au  soleil  comme  aux  soins  des  manoeuvres, 

Se  multiplient  sous  vos  doigts. 
A  ces  créations,  frnils  de  votre  génie, 
Ríen  ne  manque,  i'óclat,  la  fraicbeur,  la  bontc ; 
ToQi  fait  bríllant  cortège  à  la  grace  iníinie. 

Cest  Ia  nature  eo  vérité  t 
Oní,  vous  étes  artiste,  et  le  premier  sans  doute 
Quí  jamais  ait  traduít,  à  notre  étonnement, 
Les  ouvrages  de  Dieu  semés  sur  votre  route 

Avec  autant  de  sentiment. 
Car  vous  trompez  nos  sens,  Táme,  rintelligence, 
Hesitent  á  marquer,  dans  mille  fleurs  au  choix, 
Celles  que  nous  devons  á  la  Toute-Puíssance 

Ou  qui  sont  Tceuvre  de  vos  doigts. 

213)  CAMPAGNE  DE  SIX  MÓIS  dans  le  Royaume  des  Algarves  en 
Portugal.  Bruxelles,  J.  de  Mat,  imprimeur  llbraire,  i834,  4.<'  54  pag.  com  um 
mappa  do  Algarve. 

Esta  obra  é  o  diário  do  corpo  de  atiradores  belgas  commandado  pelo  te- 
nente coronel  Lecharlier  no  serviço  de  Portugal. 

Em  23  de  janeiro  de  1834  o  corpo  belga^  contractado  por  Mendizabal,  acba- 
va-se  reunido  em  Falmouth,  donde  saiu  com  destino  a  Portugal  em  dois  va- 
pores Royal  Wílliam  e  City  of  Edimburg.  Foi  este  corpo  enviado  para  o  Al- 
garve com  o  Dm  de  combater  as  guerrilhas,  prmcipalmentc  a  de  Remechido, 
tanto  n'esta  província,  como  na  do  Alemtejo.  Celebrada  a  convenção  de  Évora 
Monte  regressaram  os  belgas  immedíatamente  ao  seu  paíz. 

214)  CAMPAGNE  (LA)  DE  PORTUGAL,  en  1810  et  1811.  Ouvra- 
ge  imprime  á  Londres,  qu'il  était  defenda  de  laisser  penetrer  en  France  sous 
peine  de  mort;  dans  leguei  les  jactances  de  Buonaparte  sont  aprédées,  ses 
mensonges  dévoilés,  son  caractere  peint  au  naturel,  et  sa  chute  prophetisée, 
Seconde  édition.  Paris,  1814,  8.°,  67  pag.— (Campanha  de  Portugal. — Obra 
impressa  em  Londres,  c  prohibida  de  entrar  na  França  debaixo  de  penna  de 
morte,  etc  ele) 

2 lo)  CAMÇAIGNS  OF  THE  BRITISH  ARMY  IN  PORTUGAL, 
under  the  cammand  of  gf urrai  tJic  cari  of  WeVlnijtmi  li.  B.  commandei'  in 
chicf,  etr.  etc.  Dcdiratrd  hij  prriui.^sion  lo  ///.<  Lurd^ínp.  London,  Prinled  by 
W.  Dulm>T  and  Co.  1811  — («'ainpanhas  do  cxiToito  ingl<;z  em  Portugal  etr.) 

Folio  máximo  («;  a  poiíío  do  stir  iurommodu,)  com  inv.e  magnlGcas  estam- 
pas, e  (iiialoize  paginas  de  Icxlo. 

As  ('^lampas  Iraelam  dos  seguinlcs  assumptos : 

J.*  Desembarque  do  exercito  iiiglez  na  Bahia  do  Mondego.— 2.*  Ataque 


CA  231 

dos  corpos  francczes  commãndados  pelo  general  Laborde,  a  i7  de  agosto  de 
1808. —  3.»  Batalha  do  Vimeiro.—  4.«  Embarque  do  general  Jonot  no  cães  de 
Sodré,  depois  da  convenção  de  Cintra.—  5.*  Ataque  da  forte  posição  de  Grijó, 
a  il  de  maio  de  1809.—  6.*  Passagem  do  Douro  pela  divisão  do  commando 
do  tenente  general  Edward  Paget.—  7.*  Passagem  do  Douro  pela  divisão  do 
tenente  general  Sir  John  Murray.—  8.<>  Ponte  de  Nodin,  em  que  se  representa 
os  francezes  a  deitarem  ao  rio  Ave  a  ultima  de  suas  peças  de  artilheria. —  9.* 
Ataque  de  retaguarda  dos  francezes  em  Salamonde.— 10.*  Ponte  de  Saltador, 
onde  terminou  a  perseguição  depois  do  successo  de  Salamonde.—  11.*  Vista  da 
Ponte  de  Miserere,  a  umas  três  léguas  de  Salamonde,  onde  os  francezes  fati- 
gados estão  em  preparativos  de  se  retirarem  para  a  fronteira  de  Hespanha.— 
12.*  Batalha  de  Talavera.— 13.*  Batalha  do  Bussaco. 

216)  OAMPOMANES  (D.  PEDRO  RODRIGUES). 

E. — Noticia  geográfica  dei  reyno  y  caminos  de  Portugal,  Madrid,  1762. 

• 

217)  OANDAU  (M.  L.)  -  Ancien  chef  d'institution. 

E. —  I.  Expéditions  portugaises  aux  Indes  Orientales  par— .Tours,  1857, 
8."^,  140  pag.  com  uma  estampa,  que  diz  representar  Mendes  Pinto  visitando 
o  rei  d*UDQi  paiz  da  índia.  Esta  obra  faz  parte  da  Bibliotheqne  des  Ecoles  Chre- 
tiennes  approuveé  par  VEvêque  de  Nevers.  Ha  outra  edição  de  1858,  e  ainda 
outra  de  1860. 

Este  pequeno  trabalho  não  é  mais  do  que  um  resumo  das  viagens  de 
Fernão  Mendes  Pinto. 

II.  Mendes  Pinto  par  — .  Tours,  1847,  Idem,  1851. 

218)  CANETE  (D.  MANUEL). 

Escreveu  um  artigo  em  o  numero  15  da  Revista  Litteraria  Hespanhola, 
em  elogio  da  Harpa  do  Crente  do  sr.  Alexandre  Herculano.  < 

219)  CANNECATIM  (FR.  BERNARDO  MARTA  DE)  —  Capuchinho 
italiano  da  província  de  Palermo,  missionário  apostólico,  ex-prefeito  das  mis- 
sões de  Angola  e  Congo,  e  superior  actual  do  hospício  dos  missionários  capu- 
chinhos italianos  de  Lisboa. 

E.  Collecção  de  observações  grammaticaes  sobre  a  língua  bunda  ou  an^ 
goknse,  compostas  por  — .  Lisboa,  na  impressão  régia.  Anno  mdcccv,  por  or- 
dem superior,  4.<>,  218  pag.  É  dedicada  a  João  VI. 

Esta  obra  é  precedida  d'um  interessante  prefacio,  no  qual  apresenta  a 
historia  da  lingua  bunda,  e  a  utilidade  do  conhecimento  d'este  idioma. 

Diccionario  da  lingua  bunda  ou  angolense,  explicada  na  portugueza  e  la* 
tina.  Lisboa,  impressão  régia^  1804,  4.°,  720  pag. 

220)  OARAYON  (PÈRE  AUGUSTE)  —  Jesuita  c  historiador  francez. 

^  Revista  Universal  Lisbonense^  vol.  5.",  pag.  lIíG- 


232  GA 

Nasceu  no  anno  de  1813. 

E.  — I.  Prisons  du  marquis  de  Pombal,  mnislre  du  Portugal  ^-^  Journal 
de  1759  à  1777.  Paris,  1865, 8.»  —  (Prisões  do  marquez  de  Pombal.) 

II.  Lettres  inédites  sur  le  réIablissemeiU  des  jéswies  en  Portugal,  du  pe- 
re  Joseph  Delvaux»  Paris,  1866, 8.°  —  (Cartas  inéditas  acerca  do  restabeleci- 
mento dos  jesuitas  em  Portugal.) 

221)  GABDON  (EMILE). 

E.  —  Études  sur  VEspagne,  le  Portugal,  et  leurs  colonies,  Lettres  sur  l\Ex' 
posUion  Universelle  de  1862  par—.  Paris.  Revue  du  Monde  Colonial,  1865, 8.», 
75  pag.  —  (Estudos  sobre  a  —  e  suas  colónias.) 

Faz  uma  pequena  descripção  de  Portugal  e  suas  colónias,  apresenta  um 
pequeno  catalogo  dos  productos  portaguezes,  e  prova  que  o  paiz  havia  pros- 
perado ultimamente,  apezar  das  calamidades,  que  o  teem  ferido. 

222)  OARBL  (AUGUSTE). 

E.  —  Preás  historique  de  la  guerre  d'Espagne  et  de  PoiHugal  depuis  1808 
jusqu*à  1814.  Paris,  1815.  —  (Resumo  histórico  da  guerra—.) 

223)  OARLISLE  (Sm  ANTHONYJ— Presidente  do  Collegio  dos  Cirur- 
giões da  Cidade  de  Londres. 

Em  1835  presenteou  a  Escola  Medico-Cirurgica  de  Lisboa  com  uma  bella 
collecção  de  livros  escolhidos. 

Vide  Diário  do  Governo  de  1835,  n.«  297 . 

224)  CARLOS  (D.)  E  D.  MIGUEL,  Oui  et  non,  est-il  de  Vintérêt  des 
puissances  legitimes  et  monarchiques  de  laisser périr  dam  la  Péninsule  lama- 
narchie  et  la  légitimité  ?  Paris,  1823,  4.°,  Idem  1838.  —  (Sobre  a  guerra  civil 
entre  D.  Pedro  e  D.  Miguel. 

225}    CARNARVON  (Conde  de). 
V.  Portugal  and  Gallicia. 

226)  CARNE. 

E.  —  Le  Portugal  au  XLY*"*  siêcle.  (Na  Revue  des  deux  Mondes,) 

227)  OARNOTA  (Conde  de). 
V.  Smith  (John). 

228)  CARRERE  (PEDRO). 

V.  Voyagc  en  Portugal,  particuliérement  à  Lisbonne. 

229)  CARRILLO  (Fr.  JUAN). 

E.  —  Historia  de  Santa  Isabely  infanta  de  Aragon  y  reina  de  Portugal.  Za- 
ragoça,  i615. 


CA  Í33 

230)  CARRILHO  (Fr.JUAN). 

E.  —  Relacion  histórica  de  la  real  fundacion  dei  Monasterio  de  las  Des» 
calzas  de  S.  Clara  de  la  villa  de  Madrid.  En  las  vidas  de  la  princeza  de 
Portugal  D.  Juana  y  de  la  Emperat.  Maria  su  hermana,  Madrid,  i616,  4.*' 

O  único  exemplar,  que  teabo  visto  d'esta  obra,  foi  em  outubro  de  i873  em 
um  leilão  de  livros. 

231)  CARTA  DUM  INGLEZ  a  respeito  do  mathematico  José  Anas- 
tácio. 

Appareceu  a  traducçâo  no  4.*'  vol.  do  Investigador  Porluguez^  pag.  3i. 

232)  CASAUS  (D.  PEDRO  FERRER  Y). 

E.  —  Descripcion  estadística  y  geográfica  de  Espana  y  Portugal,  Escrita 
en  ingleZy  tradudda  y  aumentada  com  notas  por  ~.  Madrid,  Í8i7. 

233)  CASIOVAI  (STANISLAS). 

E.  L  —  Monumenti  relativi  ai  giodizio  pronunciato  delV  Academia  Etrusca 
di  Cortona  di  un  elogio  éPAmerigo  Vespucci.  Florença,  i780. 

II.  Elogio  dAmerigo  Vespucci,  che  ha  riportato  il  premio  daUa  nobUe  Aca^ 
denda  Etrusca  di  Cortona.  Florença,  i788. 

III.  Dissertazione  sopra  il  primo  viaggio  d^Amerigo  Vespucci  alie  Indie  Oc- 
ddentali,  Florença,  i809. 

lY.  Exame  critico  dei  primo  viaggio  d^Amerigo  Vespucci.  Florença,  i8ii. 

Américo  Vespucci,  como  todos  sabem^  andou  servindo  na  marinha  portu- 
gueza,  e  tudo,  quanto  se  escrever  acerca  d'este  celebre  navegador,  interessa 
âquelle,  que  estudar  nossas  antigas  descobertas. 

234)  CASTRO  (FRANCISCO  DE). 

E.  —  Miraculosa  vida  y  santas  obras  dei  beato  Juan  de  Dios.  Granada,  1588. 
tt).  Í6i3,  Burgos,  1621. 

Gomo  todos  sabem  este  sancto  é  portuguez,  natural  de  Extremoz. 

235)  CASTRO  G^COLAU  FERNANDES). 

E.  —  Portugal  convencido  con  la  razon  para  ser  vencido  con  las  Católicas 
potentíssimas  armas  de  D.  Philippe  IV.  Milan,  1648. 

236)  CATALANO  (JOSEPHO). 

E.^De  vita  venerabUis  servi  Dei  Bartholomcei  de  Quental.  Romae,  1734. 

237)  CATALDO  (AQUILA  SICULO).  —  Natural  da  Sicilia,  estudou 
em  Bolonha. 

Desejando  el-rei  D.  Joáo  II,  escolher  um  mestre  hábil  para  seu  fllho  natu- 
ral D.  George,  havido  de  D.  Anna  de  Mendonça,  escreveu  a  João  de  Azevedo, 
então  residente  n'aquella  cidade  pedindo- lhe  inculcasse  pessoa  idónea  para 
o  fim  desejado. 


234  CA 

Foi  Cataldo  o  indigitado,  veia  para  Portugal.  >  Dirigiu-se  para  Aveiro,  on* 
de  então  se  achava  o  discípulo  entregue  aos  cuidados  da  princeza  Santa 

Joanna.  ^ 

D'ahi  a  dez  annos  passou  este  príncipe  para  casa  do  Conde  de  Abrantes, 
para  onde  também  Cataldo  foi  viver.  Pela  morte  de  D.  Joào  II,  ficou  o  nosso 
escriptor  ao  serviço  d'elrei  D.  Manuel,  com  o  fím  de  lhe  escrever  cartas  em 
latim,  e  ao  mesmo  tempo  occupava*se  na  educação  litteraria  dos  filhos  das 
pessoas  mais  distinctas  da  corte.  Morreu  em  Lisboa  com  52  annos  de 
edade. 

Em  relação  á  sua  época  possuía  Cataldo  bastante  instrucção,  e  vé-se  pelas 
suas  obras  ter  sido  eminente  no  conhecimento  da  língua  latina,  na  qual  todas 
são  escriptas.  O  único  exemplar  doestas,  que  actualmente  me  consta  existir 
em  Portugal,  acha-se  na  Bibliotbeca  Publica  do  Porto,  havendo  também  na 
da  Academia  Real  das  Sciencías  algumas  folhas  d'um  outro  exemplar.  Um  ou- 
tro ainda  se  sabe  existir  em  Paris  em  poder  do  sr.  Ferdinand  Denis.  O  exem- 
plar da  Biblíotheca  do  Porto  está  falto  de  rosto,  e  de  algumas  folhas  no 
fim. 

Na  primeira  folha  lô -se  o  seguinte  titulo:  Cataldi  aqiuleprimus  ad  Ema' 
nuelem  phUosophantissimum  portugaliae  regem  ethiopie  maritime  et  indie. 

Esta  obra  (da  qual  já  o  sr.  Alexandre  Herculano  fez  menção  no  primeiro 
volume  do  Panorama)  é  em  folio:  os  caracteres  são  gothicos,  os  próprios  da 
época. 

Diz-se  na  primeira  folha,  em  letra  de  mão,  que  este  livro  pertencera  á  li- 
vraria do  mosteiro  de  Santa  Cruz  de  Coimbra,  e  no  Om  da  obra  tão  bem  se 
acha  escrípto  na  mesma  forma  de  letra— Impressum  Uliissipone  anno  a  parta 
Virginis  MD  mcnsis  Februarií  die  xxi. 

Além  de  se  tornar  este  livro  muito  apreciável  pela  sua  extrema  raridade, ' 
faz-se  também  muito  digno  de  estimação  como  documento  do  progresso  da 
arte  typographíca  em  Portugal.  Segundo  nos  diz  o  Panorama^  foi  seu  impres- 
sor Valentim  de  Moravia. 

E'  muito  interessante  uma  carta  de  Cataldo  ao  rabi  de  Nápoles  procurando 
tanto  a  conversão  d' este  como  de  seus  correligionários.  Porém  para  melhor 
intelligencía  d'ella  é  mister  saber  que  tendo  os  reis  catholicos  expulsado  de 
seus  estados  os  judeus  n'elles  residentes,  e  querendo  D.  Manuel  rei  de  Portu- 
gal casar  com  D.  Isabel,  filha  dos  referidos  reis,  viu-se  por  isso  obrigado  a  an- 
nuir  ás  exigências  fanáticas  d'aquelles  de  expulsar  também  doeste  reino  os  ju« 

*  N*e8te  resumo  biograpbico,  exirahido  do  que  precede  a  coUecçao  das  obras  de  Ca- 
taldo publicadas  no  vol.  6.°  das  Provas  da  Historia  Genealógica^  composto  em  latim  por 
Antooio  de  Castro,  nada  se  vô  que  nos  possa,  levar  a  crer  que  Calaido,  por  so  ver  des- 
presado  na  sua  pátria,  viesse  cstabelecer-se  em  Portugal,  como  se  diz  no  !.•  vol.  do  Pa- 
norama^ a  pag.  165. 

2  Devia  ser  nnles  de  maio  de  1490,  epocha  da  morto  da  Princeza  Santa  Joanna. — 
V.  Fr.  Luiz  de  Sousa,  Historia  de  S.  Domingos^  liv.  3.%  cap.  10. 

'  António  Ribeiro  dos  Santos  teve  conhecimento  de  ires  exemplares,  ainda  existentes 
em  ícu  tempo.  Memorias  de  Litlcratura  da  Academia^  vol.  8.",  pag.  97. 


CA  235 

deas  aqai  residentes.  Foi  um  passo  bem  impoiitico  o  fmiestissimo  para  este 
paiz,  mas  o  caso  é  que  de  poucas  perseguições  tào  cruéis  nos  faz  menção  a 
bistoria,  como  da,  que  se  fez  aos  judeus  d*este  paiz  em  i496.  Entre  outras 
cruezas  praticadas  contra  este  infeliz  povo  mandou  D.  Manoel  tirar-lbes  todos 
os  filbos  e  filhas  de  quatorze  annos  para  baixo,  e  distribuil-os  pelas  villas  e 
logares  do  reino,  onde  á  sua  própria  custa  mandava  que  os  creassem  e  dou  • 
trinassem  na  Fó  de  Cbristo.  £sta  crueldade  encheu  os  judeus  d'um  tal  furor 
que  muitos  d'elles  mataram  os  filhos,  afogando -os  e  lançando-os  em  poços 
ô  rios,  atirando  até  mesmo  com  elles  á  parede,  e  querendo  antes  vel-os  acabar 
d'esta  maneira,  que  apartal-os  de  si,  sem  esperança  de  os  tornarem  a  ver' 
chegando  muitos  no  auge  de  seu  furor  até  a  matarem-se  a  si  mesmos.  ^ 

Nao  só  em  Portugal  e  Castella  eram  os  judeus  opprimidos  e  detestados, 
6ram'no  egualmente  em  outros  paizes,  e  daqui  infere  Cataldo  que  deveriam 
deixar  sua  religião,  e  seguir  a  de  Christo,  sendo  também  argumentos  condes- 
centes  para  o  mesmo  fim  o  cheirarem  mal,  e  alguns  outros  de  egual  valor. 
Eis  a  traducção  da  carta  curiosa,  como  lhe  chama  o  sr.  A.  Herculano.  ^ 

CARTA  DE  CATALDO 

Cataldo  ao  venturoso  rabi  de  Nápoles,  afim  de  o  converter  á  verdade. 

•  Accorda,  accorda  depressa:  ergue  finalmente  a  cabeça:  até  agora  bastan- 
te, e  de  mais  tens  dormido. 

«£*  chegado  o  tempo  de  despertares.  Porque  hesitas  ainda,  e  nâo  vais  lavar 
todo  esse  corpo  com  agua  sacratíssima,  verdadeiramente  salutifera? 

«Obriga-me  a  escrever-te  o  amor  da  pátria.  E'  mais  perdoável. o  crime 
saindo-se  cedo  do  erro,  que  permanecendo  n'elle.  Se  me  fora  possível  da  me- 
lhor vontade  fallaria  pessoalmente  comtigo. 

«Nao  vês  claramente  todo  o  mundo  n'uma  inundação  contra  os  judeus? 
Arder  em  fogo  todo  o  mundo  contra  elles  ?  Vós  estaes  já  reduzidos  a  nada; 


*  Damião  de  Góes  —  Chronica  d^el-rei  D.  Manuel^  parle  1.',  cap.  20. 

'  Quando  António  de  Castro  publicou  as  obras  de  Cataldo  eslava  persuadido  de  qua 
úoda  se  achavam  inéditas.  «Yenerant  forle  ic  manus  nostras,  Sereníssima  Princeps, 
Cataldí  quscumque  cxlabant  opera,  qu»,  cum  studio  quam  maiimo  potuimds,  illuslrata, 
a  tenebris  in  lucem  edere,  victus  amicorum  precibus  statuissem :  le  polissimum  elígi,  cui 
Sículum  ipsom  una  cum  lucubratiunculís  nostris,  lícet  non  fallaci  ingeoio,  nostra  tamen 
mediocritate  appositís :  nunc  primum  edilum  consecrarem. 

N'outra  parle.  «Seio  ego,  fore  quamplures,  bumanissime  Lector,  qui  cum  primum  b»c. 
Cataldi  opera  in  lucem  veoerínl  (ut  sunt  hominum  ingenia)  nostiam  quantumlacumque 
in  bis  fuit,  operam  si  non  palam,  saltem  clanculum  rcmordeant;  et  génio  indulgentes  li- 
bere insectentur. . . .  Forte  in  bíbliotheca  quadam  inter  qusdam  nondum  eicussa  cum 
piara  evolvo  volumioa,  librum  capite  censum  lacerum  seroissum  conspicio:  et  qui  (ut 
ita  dicam)  jam  pene  cum  blattis,  et  tincis  rixabat,  quem  cum  lego,  coepi  continuo  heroici 
carmÍDÍs  majestale  moverí.»  Provas  da  Historia  Genealógica  da  Real  Casa  Portvgueza^ 
Tol.  6.«,  pag  391  e  393. 

É  porém  esta  edição  muito  menos  digua  de  apreço  que  a  de  1500,  até  mesmo  po'' 
Dão  trazer  os  escriptos  em  prosa. 


«6  CA 

tendes  sido  expulsos  da  Allemaohaf  Inglaterra,  Hespanha,  França  e  Sidlia: 
n*ania  palavra  de  toda  a  Eoropa  para  a  casa  da  perdição.  Não  tendes  onde 
reclinar  a  cabeça,  ou  para  failar  com  mais  precisão,  onde  ponhais  nm  onieo 
pé! 

«Como  é  grande  vossa  cegueira  I  Não  reconheeeis  vir  todo  isto  de  Deosf 
Não  qneiras  pois  ser,  rogo-te^  tão  intrépido  soldado  para  perdi^  de  tea  corpo 
e  de  toa  alma.  Deos  clementíssimo  pelo  espaço  de  mil  e  quinhentos  annos  soa- 
vissimamente  vos  chamou,  e  vos  nntrio:  e  agora  mesmo,  apezar  de  toda  vossa 
dureza,  não  cessa  de  vos  chamar:  actuahnente  porem  insta  muito  mais,  e  esta 
será  a  ultima  admoestação. 

«Com  effeito,  Hanoel  ministro  de  Deus  Santíssimo,  vos  acconselha,  como 
a  filhos  caríssimos,  e  dirige  para  o  caminho  da  verdade.  Não  me  admira  qoe 
jovens  e  ignorantes  se  conservem  pertinazes;  porém  admiro-me  que  velhos  e 
peritos  versados  em  tantos  e  tão  excellentes  livros  permaneçam  emperrados. 

«Se  recusas  crer  em  tantos  milagres  não  so  manifestados,  mas  até  evidea- 
tissimos  depois  do  nascimento  de  nosso  Redemptor  dá  credito  a  teus  numero- 
sos e  grandes  prophetas  cantando  por  diversas  maneiras^  como  músicos  em 
coro,  a  concepção  de  nosso  Salvador,  seu  nascimento,  humanidade  immaca- 
latíssima,  vida,  paixão  e  resurreição. 

«Todas  essas  bellas  prophecias,  todas  tendentes  ao  mesmo  fim,  foram  já 
plenamente  cumpridas.  E  senão  foras  instruído  n*eUas,  de  bom  grado  t^as  re- 
petiria uma  por  uma;  N'essas  prophecias  muitas  vezes  os  prophetas  fállando 
dos  tempos  passados  referiamse  comtudo  ao  futuro.  —  Como  filhos  os  creei  e 
excUteiy  porém  elles  me  despresaram. — Conheceu  o  boi  seu  dono,  e  o  jumento  a 
estrebaria,  que  lhe  dava  seu  dono;  porém  Israel  me  não  conheceu, — E  elle  foi 
levado  corno  um  cordeiro  á  morte. — Sublevaram-se  os  reis  da  terra,  e  os  prín- 
cipes se  congregaram  contra  o  Senhor  e  r/mlra  seu  Christo:  e  outras  muitas, 
que  tu  bem  sabes,  e  cujo  sentido  tu  embaraçado  invertes  e  depravas  com  ro- 
deios e  subterfúgios. 

«Mas  dizes,  (como  também  os  outros  teem  por  costume),  se  Deus  estava  pos- 
suído de  tão  ardente  desejo  de  reparar  o  género  humano,  não  o  poderia  fazer 
com  o  mínimo  aceno,  conforme  aquellas  palavras— O  mesmo  foliou,  e  tudo  se 
fez;  o  mesmo  mandou,  e  tudo  foi  creado  ? 

«Ó  miscrrimo  entre  os  miseráveis!  Sequioso  no  meio  de  crystallinas  e  abun- 
dantes fontes,  não  vés  a  agua,  e  esfomeado  no  meio  das  mais  delicadas  igua- 
rias recusas  a  comida  ?  Visto  estares  a  ponto  de  perecer  uma  só  te  ofTerecerei, 
mas  delicadíssima,  a  qual  se  bem  comeres  e  digerires,  nunca  morrerás:  Deus 
é  a  summa  bondade,  e  pertence  á  summa  bondade  o  repartir  de  si  alguma  coisa 
com  todos.  Para  nos  fazer  participantes  de  seus  dons  foi  mister  encarnar  o  Ver- 
bo de  Deusy  e  viver  entre  nós  para  nos  ensinar.  Finalmente  para  exemplo  da 
humanidade  não  recusou  padecer  uma  morte, pela  qual  se  havia  de  viver  éter- 
namente.*  Ora  pois,  amigo,  dissipa  de  tua  alma  as  trevas;  arreda  a  escuridão 
dos  olhos  da  inteliígencia,  e  dirige  sem  constraugimento  teus  passos  para  a 
direita,  que  c  estrada  real,  pois  o  caminho  da  esquerda  nunca  é  bom. 

«Chamei*te  amigo  na  qualidade  de  homem;  mas  na  de  judeu  tenho-te  por 


CA  537 

inimicissifflo.  PermitUsse  Deus,  que  como  tal  nem  te  conhecesse,  nem  te  expe- 
rimentasse. Muito  melhor  é  começar  mal,  e  acabar  bem,  que  fazer  o  contra- 
rio. 

«PSe  diante  dos  teus  olhos  a  Paulo  e  a  Judas:  Judas  começando  bem,  aca- 
bou mal:  com  Paulo  deu-se  o  contrario.  Faze  por  ser  antes  Paulo,  que  Judas. 
Este,  desesperando,  inforcou-se,  e  matando-se  deu  cabo  d'um  homem  scele- 
rado.  Aquelle,  emendando  seu  erro,  veiu  a  ser  o  mestre  das  nações.  O  pri- 
meiro está  vivendo  com  o  Diabo,  o  segundo  com  Deus.  Está  na  tua  mão  se- 
guires a  um,  ou  a  outro. 

«Se  por  acaso  cem  famosos  médicos,  entre  os  quaes  Hippocrates,  Chiron 
e  Esculápio,  ou  Apollo  em  pessoa,  viessem  Juntos  para  curar  um  doente,  se  o 
doente  não  quizesse  tratar-se,  debalde  empregariam  seus  artiflciosos  poderes 
contra  vontade  do  enfermo. 

tDeixa,  deixa  por  algum  tempo  examinar  tuas  feridas:  não  vae  nisso  nem 
perigo  de  vida,  nem  terás  alguma  dôr  ou  incommodo.  Responde-me:  d*onde 
procede  que  nem  um  só  judeu,  posto  que  perfumado  com  bons  aromas,  e  ves- 
tido com  preciosas  roupas,  deixa  de  cheirar  mal;  fede,  e  causa  náusea  aos  cir- 
curastantes:  e  apenas  recebe  o  sagrado  e  santo  baptismo,  já  não  exhala,  como 
anteriormente,  fetido,  parecendo  ter  vindo  das  immundicies;  mas  pelo  contra- 
rio, como  se  tivesse  saido  d'um  rosal,  ou  d'um  logar  cheio  de  deliciosos  aro- 
mas, não  sei  a  que  suave  e  odorífero  cheiro  rescende,  por  um  repentino  mila- 
gre de  Deus. 

^Mas  asseveras  que  n*esta  tão  grande  assolação,  destruição  e  carnificina  os 
judeus  são  martyres  á  maneira  dos  discípulos  de  Jesus  Chrísto,  que  com  grande 
promptidão  sofifreram  variadíssimos  tormentos  em  diversos  legares  pelo  seu 
prediiectissimo  mestre ! 

«Em  tudo  devemos  oppôr  exemplo  a  exemplo.  Teriam  esses  ladrões  sofiGri- 
do  tantos  trabalhos  e  afflicções,  tão  crudelissimas  mortes  corpóreas  com  o  mes- 
mo espirito  com  que  aquelles  ditosíssimos  varões  as  padeceram  ?  O  martyrio 
€onvertia-se  para  os  christãos,  quando  estavam  no  meio  das  torturas,  em  de- 
licias, alegria  e  admirável  jubilo:  as  brazas  convertiam-se  em  rosas,  que  fa- 
cihnente  os  reanimavam  quasí  moribundos.  Quem  os  invocava,  e  cria  n'elles 
promptamente,  era  livre  de  doenças  e  padecimentos.  Peço-te  ainda  que  me 
digas:  qual  é  a  lei,  que  ordena  que  aquelle  que  se  infor6a,  se  apunhala,  ou  se 
deita  ao  mar,  seja  havido  por  martyr?  Será  martyr,  mas  de  Satanaz. 

tOht  Quantos  vimos  nós  n'este  mesmo  anno  coroados  com  um  tal  marty- 
rio? Muitos  valentes  e  magnânimos  cireumcidados  com  o  fim  de  não  possuí- 
rem a  gloria  eterna,  para  cuja  posse  deveriam  praticar  isso  mesmo,  primeira- 
mente degollavam  sua  mulher  e  filhos,  e  em  seguida  á  degollação,  para  que 
elles  não  fossem  sem  companhia,  apertado  o  pescoço  com  uma  corda,  ficavam 
dq)endurados  como  lindíssimo  espectáculo !  Ó  cavalleiros  dignos  de  eterna  me^ 
moriat 

tTu,  porém,  manhoso,  no  meio  de  misérias  taes,  como  da  seita  de  Platão, 
e  também  para  pareceres  outro  Platão,  ris,  e  finges-te  contente,  emquanto  os 
outros  pelos  seus  merecimentos  vão  caminhando  para  o  inferno. 


23»  CA 

t Andas  bem:  exhorta-os  nas  synagogas  com  taas  arengas  a  que  se  mos- 
trem fortes  alliados  de  Satanaz. 

•Dizei-me,ó  filhos  e  perfeitíssimos  imitadores  de  Jadas:  porqae  jalgaes  vó» 
qne  o  ser  christãos  é  ser  uma  coisa  vil,  abominável  e  horrenda:  vós  que,  ape- 
sar de  não  serdes  christãos,  ousaes  commetter  acções  tão  infames?  Quando  o 
piedosíssimo  Manuel,  depois  de  muitas  supplicas,  exhortações  e  carinhos,  à  ma- 
neira d'um  óptimo  pac,  vos  chamava  (não  se  passou  ainda  muito  tempo)  para^ 
a  fé  catholica,  fé  própria  de  homens  de  intelligencia,  obriga-vos  por  acaso  a 
vos  transformardes  em  serpentes,  sapos,  morcegos,  e  percevejos?  * 

tÓ  geração  não  de  homens,  mas  de  malvados  brutos !  O  benigníssimo  rei 
acolheu-vos,  e  não  se  despresou  de  tomar-se  vosso  pae  junto  da  fonte  sagrada, 
6  também  de  dar  seu  nome  áquelles,  que  não  o  mereciam. 

•Vós,  os  mais  perdidos  de  todos  os  anímaes,  obraes  como  mulas.  Tratadas 
bem  por  seus  donos,  que  em  signal  de  amisade  e  carinho  as  aíTagavam,  pas- 
sando-lhes  levemente  a  mão  por  cima  do  espinhaço,  recalcitram,  e  ou  lhes  fer- 
ram os  dentes,  ou  lhes  atiram  um  couce  ao  peito,  ou  ao  estômago,  d^onde  lhes 
provém  muitas  vezes  uma  horribilissima  morte. 

•Ó  víboras,  ó  basiliscos  mais  perniciosos,  que  as  próprias  víboras,  e  os  pró- 
prios basiliscos !  O  justíssimo  rei  não  poderia,  em  minha  opinião,  ofTerecer  um 
mais  agradável  presente  ao  rei  celeste,  que  esfollar  a  todos  os  príncipes  da  sy- 
nagoga,  e,  depois  de  esfollados,  arrojal-os  a  um  rio,  onde  houvesse  bastantes 
penedos:  rio,  que,  ha  tanto  tempo,  desejam  ir  vér,  e  onde,  (conforme  elles  pró- 
prios dizem)  ha  abundância  de  judeus  reinando  e  triumphando;  e  as  pelles 
d*elles  cheias  de  palha,  collocal-as  nas  summidades  das  torres.  Ignoras  porven- 
tura, que  n'este  mesmo  anno,  em  que  nos  achamos,  os  Davids,  teus  parentes 
(cujo  numero  era  infinito)  foram  todos  mortos  na  Panooia,  e  piissiinamente  es- 
trangulados pelo  povo  ?  Ó  habitantes  da  Panonia,  vossos  excellentes  manjares 
constam  de  óptimas  carnes  1  Julgando  ter  um  lirio,  senti  um  espinho, 

«Mas  voltemos  ao  motivo,  pelo  qual  se  escreveu  esta  carta. 

«Se  eu  visse,  que  tão  excellentes  pessoas  (toma  bem  sentido  no,  que  vou 
dizer-te),  quaes  sào  os  ponliflces,  imperadores,  reis,  duques  e  condes  eram  ju- 
deus, e  não  christãos:  ou  que  os  vilissimos  judeus  faziam  ao  menos  um  pe- 
quenino milagre  d'aquellcs  prodigalisados  pelos  apóstolos,  tão  pobres,  eu  re- 
negaria a  crença,  qu^  hoje  tenho  por  inabalável,  e  me  faria  um  immundo  cir- 
cumcidado.  Mas  como  observo  perfeitamente  o  contrario,  sou  mais  duro,  que 
diamante,  e  até  mesmo  nem  o  sangue  de  bode  me  amoileceria.  -  Fazc-me  a 
mercê  de  me  provares  que  na  lei  de  Christo  existe  alguma  coisa,  de  que  se 
deva  fugir. 

^  Estes  e  ainda  maiores  impropérios  eram  usados  trivialmente  nas  arjíumenlações 
d'aquella  epora-  Para  prova  Iciam-^e  os  escriplos  do  nosso  thcologo  Diogo  Paiva  de  An- 
drade conlra  o  luthcrano  lúímnilz,  c  \ice  versa. 

*  Era  opinião  de  nossos  antepassados  (|uc  os  diamantes  amolleciam  facilmenie  coro 
o  sangue  de  bode.  V.  Vr.  Amador  Arraes — Dial.  iv  da  (iloria  c  Iriumpho  dos  ludlanos^ 
cap.  23  foi.  130.  (Ed.  de  iGOí;. 


CA  239 

«Ora,  pois,  o  premio  do  paraizo,  apesar  de  haver  de  ser  muito  grande,  não 
o  teriam  as  boas  acções;  e  as  más  não  teriam  o  do  inferno,  sendo  digníssimas 
d'elle?  Na  necessária  lei  de  viver,  que  melhor  coisa  e  mais  conveniente  se  pode 
descobrir  para  a  conservação  do  corpo  e  da  honestidade  da  vida?  Converte-te 
depressa  ao  caminho  da  verdade,  e  não  qaeiras  esperar  os  males.  Deos,  de  to- 
dos os  bens  é  o  bem  mais  perfeito,  e  tem  os  braços  e  o  peito  muito  abertos 
para  os  peccadores,  e  não  para  os  justos.  O  Espirito  Santo  te  illumine.» 

•     • 
Na  referida  collecção  das  obras  de  Cataldo,  impressas  em  1500  apparece 
em  primeiro  logar  um  poema  em  quatro  cantos  sobre  o  fallecimento  do  prín- 
cipe D.  Affonso,  dedicado  a  el-rei  D.  Manuel,  e  o  qual  começa  do  seguinte 
modo: 

1  Mesta  ^  viris:  jocõda  deo:  superaque  catervis 

2  Cu  gemitu:  íletuque  cano:  reditúque  per  auras 

3  Alphonsi  in  patriam:  falsoque  cetera  lugent 

4  Extinctum:  eterno  cum  multis  vere  fruentem 

5  Cam  patris  matrisque  graves  in  gaudia  luctas 

6  Tum  varii  populi:  pro  re  pro  tempore  versos 

7  Sacrosque  cum  ludis  ebure  festosque  hymeneos: 

8  Jura  diem  diem  fancti  successít  avunculus  heres 

9  Emmanuel:  summo  regnis  electus  olympo: 

10  Pace  pins:  belloque  ferox:  mirandas  utroque 

11  Mox  letus  dominum  (trinum  veneratus)  et  unum 

12  Omnia  victuro  cantabo  secula  plecto. 

13  Tu  mibi  meccenas:  tu  sis  octavius:  et  tu 

14  Rex  divine  (precor)  faveas  quodcunque  canenti: 

15  In  mea  tu  spira  foturum  viscera  numen 

16  Ipse  licet  nostri  pars  sis  non  parva  laboris.  Etc. 

Este  mesmo  poema  (mas  com  bastantes  variantes)  apparece  reimpresso  no 
jà  referido  volume  das  Provas  da  Historia  Genealógica.  ^  Segne-se  outro  poema, 
a  que  seu  auctor  deu  o  nome  de  Arzitinge,  ofTerecido  a  0.  João  II,  rei  de  Por- 
tugal, e  nó  qual  canta  a  conquista  de  Arzilla  e  Tangere  occupadas  por  D.  Af- 
fonso V. 

Vem  depois  o  Líber  de  perfecto  homine,  obra  composta  por  ordem  do  rei 
D.  João.  Na  dedicatória  queixa-se  o  auctor  das  difficuldades,  que  teve  para 
escrevel-a,  pois  necessitando  consultar  para  a  composição  d'ella  varías  obras, 
o  não  poude  fazer  por  serem  então  em  Portugal  os  livros  muitos  raros,  e  es- 

1  Como  sabem  os  versados  nos  livros  antigos  esta  é  a  orthographia  do  século  xti. 

'  Omnia  Cataldi  Âquíl»  Sicnli,  quas  eitant,  opera  per  Ântonium  de  Castro,  deouo 
correcta,  ac  nunc  primum  in  lucem  edita,  quorum  Catalogom  sequens  pagella  indicabit. 
Appositis  in  margine  adnotaliunculís,  qose  brevis  commenlarii  vice  esse  possnnt. 


J40  CA 

ses  poacosy  que  possuía,  tínha-os  trazido  de  Itália,  sendo  em  geral  obras  de 
jorispradeacia. 

Segaem-se  varias  outras  composições,  até  que  se  encontra  a  ora^  reci- 
tada por  Cataldo  em  Évora  na  occasiao  de  chegar  alli  a  princeza  D.  IzabeL 
N'esta  composição  engrandece  os  portugaezes  o  mais  possivel,  fazendo-nos  os 
mais  pomposos  elogios. 

Segue-se  soa  correspondência  com  pessoas  das  mais  distinctas,  tanto  na- 
cionaes,  como  estrangeiras. 

Creio  ser  este  o  livro  mais  antigo  impresso  em  Portugal,  no  qoal  se  en- 
contram caracteres  gregos. 

António  Ribeiro  dos  Santos  diz  que  em  1509  se  fizera  oma  segonda  edi- 
ção das  obras  de  Cataldo:  isto  parece*me  engano:  nao  conheço  [outra  edição 
senão  a  de  Affonso  de  Castro,  (e  esta  só  das  obras  poéticas)  e  impressa  no  vi  voL 
das  Provas  da  Historia  Genealoçica  da  Real  Casa  Portugueza,  a  começar  n^ 
pag.  389  doeste  vol,  até  571 

Era  Cataldo  respeitado  pelos  sábios  estrangeiros,  e  muitas  vezes  consul- 
tado em  vários  assumptos,  principalmente  no,  que  dizia  respeito  à  pureza  das 
palavras  latinas,  de  que  temos  um  exemplo  na  carta,  que  lhe  escreveu  o  Sici- 
lianno  Marco  Ennensi. 

Também  Cataldo  (como  jà  notou  o  sr.  Alexandre  Herculano)  ^  sempre 
que  designa  em  latim  as  palavras  portuguez  e  Portugal  emprega  os  termos 
LusUani  e  Lusitânia,  contra  o  que  estava  em  uso  pouco  antes,  que  era  dizer-se 
n'aquella  lingua  Portucalenses  e  Portucale. 

Para  se  ver  como  os  estrangeiros  muitas  vezes  andam  levianamente  na 
composição  de  suas  obras  basta  dizer  que  consultando  eu  vários  livros  para 
me  informar  do  que  dizem  acerca  de  Aquila  (este  escriptor  é  assim  conhecido 
entre  os  estrangeiros)  copiando -se  todos  uns  aos  outros;  apenas  dizem  ser  na- 
tural da  Sicilia,  e  ter-se  vindo  estabelecer  em  Portugal  em  1509,  onde  compo- 
zera  varias  obras! !  Já  vimos, que  se  devia  achar  entre  nós  antes  de  1490. 

238)  CAUSES  DE  L^ÉVÉNEMENT  DE  PORTUGAL.  Ouvrage  de- 
dié  à  totite  puissance  seculiêre  et  temporelle.  1759.  Sem  logar  de  impressão. 

239)  OAVAZZI   (P.    GIO :   ANTÓNIO  — DA   MONTECUCOOLO). 
Falleceu  em  Génova,  no  anno  de  1692.  ^ 

E.  —  Istorica  Descrizione  de*  tre  regni  Congo,  Modamba,  et  Angola  situati 
nelV  Etiópia  inferiore  Ocàdentale  e  delle  Missioni  Apostoliche  esercitatem  da 
Religiosi  Cappucini,  accuratamente  compilata  dal  —  Sacerdote  Cappucino  U 
quale  vi  fu'  Prefeito  e  nel  presente  slile  ridotta  dal  P,  Fortunato  Almandinida 
Bologna  Predicatore  d^irislcsso  Ordine  alV  illmlrissimo  Signor  Conte  Giacomo 
Isolani.  In  Bologna  1687,  per  Giacomo  Monti,  foi.  933  pag.  Com  esUimpas  no 
texto  representando  feras,  aves,  e  usos  dos  povos  mencionados. 

*  Historia  de  Portufinl.  Inirodncrâo  pag.  9. 

-  Firmin  Didol  —  Munvrltc  Bvxjraphie  rnivcrseUe^  vol.  9.*,  pag.  iS7. 


CE  241 

P.  Didot  falIa-DOs  d*uma  outra  edição  feita  cm  Milão,  do  anno  de  i690. 

240)  OENNI  STORICI  E  CANONICI  dei  patronato  portughese  nelle 
Indie  (hientali.  Parigi,  1834,  folheto.  —  (Sobre  o  padroado  portugaez  no 
oriente.) 

241)  OENSORINO  (VICTORIANO). 

E.  —  Furfur  Logicae  Vemeyanae.  Pampelunae,  1752,  4.*» 
Este  opúsculo  foi  escrípto  impugnando  o  Novo  Methodo  de  estudar  do  nos- 
so celebre  Luiz  António  Verney.  * 


^  «Luiz  ÂDtonio  Yeniey,  auctor  do  verdadeiro  metbodo  de  estudar.  A  acceitaçSo, 
que  esta  obra  grangeou,  e  com  justa  rasao  na  republica  litloraria,  deu  o  ultimo  teste- 
munho ao  merecimento  do  seu  auctor,  sendo  logo  traduzida  por  vai  ias  nações  estrangei- 
ras, e  adoptada  nas  escolas  da  mesma  Itália.  É  digno  de  ler-se  o  elogio,  que  moderna- 
rocDte  Ibe  consagrou  Degerando,  correspondente  do  Instituto  Nacional  de  França  e  das 
academias  de  Turim,  Leão  e  da  sociedade  das  artes  de  Génova,  oa  sua  historia  compa- 
rativa dos  systemas  de  phílosophia  relativos  aos  principies  dos  conhecimentos  humanos, 
tomo  1.",  png.  102,  onde  diz:  Que  Luiz  António  Yeruey,  escriplor  tão  animoso  em  suas 
tentativas,  como  sábio  cm  suas  máximas  Gzera,  apesar  de  tudo,  no  século  passado  admi. 
raveis  esforços  para  que  brilhasse  na  Hespanba  c  em  Portugal  a  luz  que  íllustrava  o 
rosto  da  Europa.» 

Para  completar  este  trabalho  e  pôr  em  pratica  as  regras,  que  prescrevia  em  seu 
methodo  compoz  uma  grammalica  philosophíca  da  língua  latina,  que  será  sempre  louva- 
da o  estimada  entre  os  litleratos;  obra  de  apurado  gosto  e  do  tanta  utilidade  para  todas 
AS  nações,  que  mereceu  logo  ser  adoptada  nas  escolas  lie  Itália,  no  coUegio  real  de  Ná- 
poles» no  ephebeo  régio,  e  em  outros  diversos  seminários  na  Apúlia,  e  em  muitos  mais 
fora  do  Itália.  Compoz  também  a  sua  Lógica  em  G  livro:<,  que  imprimiu  em  Roma,  e  de- 
dicou ao  rei  D.  José  I,  o  qual  convencido  do  seu  merecimento,  creando  então  as  escolas 
menores  d'esle  reino,  a  mandou  lo^o  adoptar  para  uso  d*ellas.  Não  foi  só  aquelle  grande 
rei,   também  as  nações  estrangeiras  a  adoptaram,  convencidas  de  sua  utilidade,  e  de 
quanto  eram  bem  merecidos  os  elogios  que  lhe  faziam,  no  Journal  des  Scavants^  os  quaes 
analysando-a  com  toda  a  imparcialidade,  lhe  deram  a  preferencia  a  todas,  quantas  até 
eotfio  tinham  apparecido  dizendo  que  Verney  peia  firmeza  de  seu  caracter  e  espírito,  pela 
attençâo  com  que  evitava  os  enganos  dos  sentidos,  e  pela  louvável  perseverança  com 
que  regeitava  todas  as  preoccupaçOes  que  o  habito,  e  costumo  e  as  diversas  paiiOes  tem 
introduzido  no  mundo,  era  o  único  bomem'que  julgavam  mais  próprio  para  tratar  di- 
gnamente a  Lógica.  Asiim,  e  pelo  mesmo  systema,  publicou  em  1753  quatro  livros  de 
metaphysica,  que  lambem  imprimiu  em  Roma,  e  tiveram  egual  estima  em  toda  a  Itália, 
que  então  era  o  berço  das  sciencias.  No  Jornal  dos  Litleratos  de  Roma  para  os  annos  de 
175%  e  1753  se  dão  a  esta  obra  os  títulos  de  bellissima  e  eruditíssima  por  illustrar  mara- 
TÍlhosamenle  aquelia  matéria.  Escreveu  outra  obra  intitulada  Apparatus  ad  Philosophia 
et  Theelogiam^  que  lhe  grangeou  muito  credito,  e  os  elogios  dos  sábios  auctores  do  reTo- 
rido  jornal,  os  quaes  disseram  que  a  historia  d'estas  sciencias  escrípta  com  gosto  e  intel- 
ligencia  fdra  bebida  pelo  seu  aactor  nas  mais  puras  fontes,  o  que  eile  mostrava  uma 
equidade  o  moderação  tal,  que  era  pouco  commum,  e  que  fazia  tanta  honra  aos  verda- 
deiros sábios. 

Retratos  e  elogios  dos  varOes  e  donas^  por  Pedro  Joscde  Figueiredo. 

TOMO  I  16 


242  CE 

S42)    GENTELLAS  (JOACmM  DE). 

E.  —  Voyages  et  conquestes  des  roys  de  Portugal  ès  Indes  de  Orient,  Ethw- 
pie,  Mauritanie  d' Afrique  et  Europe.  Le  tout  recuelly  de  fideles  tesnunngs  et 
mémoires  du  Sieur.  Paris,  1578,  8.*» 

243)  OERUTI  (D.  JAOIMTO). 

Parece  ter  sido  sócio  correspondente  da  Academia  Real  das  Sciencias  de 
Lisbba,  por  isso  qae  no  l.*"  vol.  das  Memorias  d'esta  illostre  corporação  qi- 
parece  um  pequeno  artigo  com  o  seguinte  titulo:  ^ 

Observadon  de  la  total  Emersion  ò  fin  dei  eclipse  de  sol  dei  dia  i7  de  oe» 
tóbre  de  1781,  ai  Observatório  de  la  Academia  Real  de  los  Cavalleros  Guar* 
dias  Marmas  de  Cartagena  por—,  Primer  Professor  de  Mathematieas  y  direcUfr 
de  los  Estúdios,  y  D.  Joseph  Gonzales  alferes  de  navio  y  segundo  professor  d$ 
mathematieas  de  la  referida  Academia. 

244)  CERVANTES. 

O  celebre  auctor  do  D,  Quixote,  uma  das  maiores  glorias  de  Hespanlu, 
mostrava-se  muito  affeiçoado  às  coisas  portuguezas.  O  sr.  Carlos  Barroso  es- 
creveu e  publicou  em  Lisboa  no  anno  de  1872  um  opúsculo  no  qual  mencio- 
na os  diiTerentes  legares,  em  que  Cervantes  se  occupa  de  Portugal. 

•Cervantes  veio  a  Lisboa  com  Phelippe  II  em  1581,  onde  se  namorou  se- 
cretamente de  certa  dama  incógnita,  e  de  quem  teve  uma  âlha,  cujo  nome 
foi  Isabel  de  Saavedra.  Suppôe-se  que  seus  amores  na  corte  Lusitana  lhe  ins- 
piraram a  linda  novelia  pastoril  da  Galatea,  onde  o  auctor  figura  disfarçado 
no  pegureiro  Lauso,  que  suspira  pela  formosa  pastora  Silena.  O  escriptor  de 
tâo  bello  idyllio  assistiu  à  tomada  da  Ilha  Terceira  pelo  Marquez  de  Santa 
Cruz. 

«No  D.  Qaijote  dedica  Cervantes  um  merecido  elogio  ao  famoso  rio  Tejo, 
que  beija  as  praias  da  inclyta  cidade  de  Ulysses,  e  cujas  areias  consta  da  tra- 
dição serem  de  ouro. 

«Entre  os  livros,  que  adornavam  a  bíbliotheca  do  engenhoso  Gdalgo,  encon- 
traram alem  de  outros  de  auctores  portuguezes,  o  Palmeirim  de  Inglaterra,  e 
a  Dianna  de  Jorge  de  Montemayor. 

Qaando  exalta  a  imaginaria  jerarchia  de  D.  Dalcinea  dei  Toboso,  afflrma 
que  não  ó  oriunda  de  outras  famílias  celeberrimas  de  Hespanba,  que  menciona, 
nem  mesmo  dos  Alemcastros,  Palias  e  Menezes  de  Portugal. 

Era  do  exccllentissimo  Camões  uma  das  éclogas,  que  haviam  de  representar 
as  pastoras,  em  cujas  rede^  se  embaraçou  o  pensativo  escravo  de  Dulcinea. 

No  Licenciado  Vidraça  observa- se  a  anecdota  do  porluguez,  que  pintava 
as  barbas  de  negro,  o  qual  altercando  com  um  castelhano  disse-lhe  por  estas 
barbas,  que  tenho  no  rosto,  a  quem  redarguio  o  licenciado:  Nào  digaes  tenho, 
dizei  Tino  (palavra  hespanhola,  que  em  porluguez  equivale  a  Tinjo.) 

Em  língua  portugueza  canta  o  namorado  Manuel  de  Sousa  Coutinho  seus 

'  E>la  Observação  occupa  «is  pag.  I>26  e  527  do  referido  volume. 


CE  t43 

amores,  cuja  Darraçao  occupa  todo  o  cap.  x  do  liv.  I  do3  Trabalhos  de  Persiles 
e  Segismonda. 

Na  interessantíssima  parte  terceira  dos  mesmos  presenceamos  a  chegada 
a  Portugal,  e  desembarque  dos  viajantes  na  praia  de  Belém,  donde  se  dirigem 
á  famosa  Lisboa,  cujos  ricos  templos  e  hospitaes  sào  celebrados.— Aqui  ei  amor 
y  la  honestidad  se  dan  las  manos,  y  se  pasean  junto:  la  cortesia  no  deja  que 
se  llegue  la  arrogância,  y  la  braveza  no  consiente  que  se  le  acerque  la  cobardia: 
todos  seus  moradores  son  agradables^  son  cortezes,  son  liberales,  y  enamora- 
dos, porque  son  discretos:  la  ciudad  es  la  mayor  de  Europa,  y  la  de  mayores 
tratos:  em  ella  se  descargan  las  riquezas  dei  Oriente  y  desde  ella  se  reparten 
por  el  universo;  su  puerto  es  capaz  no  solo  de  naves,  que  se  poedan  reducir  á 
numero,  sino  de  selvas  movibles  de  árboles  que  los  de  las  naves  forman:  la 
hermosura  de  las  mujeres  admira  y  enamora,  la  bisarreria  de  los  hombres  pas- 
ma» como  ellos  dicen;  finalmente  esta  es  la  tierra  que  da  ai  cielo  santo  y  co- 
píosismo  tributo.» 

Ao  (aliar  Cervantes  de  Valência  e  de  suas  lindas  mulheres,  diz  que  é  gra- 
cioso o  dialecto  valenciano,  e  que  só  com  o  idioma  portuguez— puede  competir 
eu  ser  dulce  y  agradable. 

Na  Viagem  do  Parnaso,  canto  iv  encontram-se  os  hcguintes  versos: 

Asi  como  las  naves  que  cargadas. 
Llegan  de  ia  oriental  índia  à  Lisboa, 
Que  son  por  las  mayores  estimadas; 
Esta  llegó  desde  la  popa  à  proa 
Cubierta  de  poetas,  mercancia 
De  quien  hay  saca  en  Calicut  y  en  Goa. 
De  la  alta  cumbre  dei  famoso  Findo 
Bajaron  três  bizarros  lusitanos, 
A  quien  mis  alabanzas  todas  rindo 
Con  prestos  pies  y  con  valientes  manos 
Con  Fernando  Corrêa  de  la  Cerda 
Piso  Radrigues  Lobo  monte  yllanos. 

Y  porque  Febo  su  razon  no  pierda, 
£1  grande  Don  António  de  Ataíde 
Llegó  con  fúria  alborotada  y  cuerda. 

Paliando  de  Bento  Caldcra  traductor  dos  Luziadas  diz  o  seguinte: 

Tu  que  de  luso  el  singular  tesoro 
Irigiste  en  nueva  forma  à  la  ribera 
Dei  fértil  rio,  a  quien  el  lecho  de  oro 
Tan  famoso  le  hace  adonde  qulera; 
Con  el  devido  aplauso,  y  el  decoro 
Devido  á  ti,  Benito  de  Galdera, 

Y  á  tu  ingenio  sin  par  prometo  honrarle 

Y  de  lauro,  y  de  hicdra  coronarte. 


244  CH 

245)  OHAPELLE  (J.  DE  LA). 

E.  —  Vingtroisiêènie  lettre  du  Suisse  contenant  un  examen  du  Manifeste 
Latin  de  Portugal  Basle.  1704,  4.*»  —  (Vigessima  terceira  carta  do  Suisso,  con- 
tendo um  exame  do  manifesto  latino  do  Portugal.) 

246)  OHARTE  DU  PORTUGAL  comparée  à  la  Charle  Francatse  et  à 
la  ConstitiUion  du  BrésiL  1826. 

247)  CHASTE. 

E.  —  Voyage  à  Vlle  Terceira  des  Azores.  Paris,  1706. 

248)  CHASTE  (Comuendàdor  de) 

«A  esquadra  de  D.  António  ^  que  em  julho  de  1582  chegou  à  ilha  de  S. 
Miguel,  c  n'ella  entrou,  mal  poude  gozar  da  rapidez  do  triumpho,  que  egaal,  oa 
maior  poder  do  marquez  de  Santa  Cruz  corria  sobre  ella.  Doze  dias  depois,  nas 
aguas  de  Villa  Franca  do  Campo,  oppunham  armada  a  armada,  e,  em  ordem 
de  batalha,  terrível  era  o  aspecto  de  ambas  as  forças.  Combatiam,  d'uma parte 
o  desespero  d'uma  causa  quasi  perdida;  da  outra,  o  receio  de  um  rovez,  qae 
podia  díílícultar,  comprometter  mesmo  a  posição,  e  o  poder  do  soberano  do 
Castella.  Eram  dois  tremendos  competidores  rivaes  empenhados  em  lucta  de 
morte!  Ao  mais  infeliz,  que  succumbisse,  ignóbil  sepultura;  ao  vencedor,  a  posse 
da  belleza,  que  na  lucta  ambos  iam  jogar  uma  coroa,  objectos  entào  de  tantas 
ambições  e  complacência;  hoje,  ornarto  espinhoso,  talisman  impotente,  coja 
fronte  miraculosa  estancou  para  sempre! 

«Depois  de  tão  amarga  provação  só  as  ilhas  Terceira  e  Fayal  continuaram 
a  resistência  ao  vencedor  até  o  anno  seguinte  (1583),  em  que  novo  e  maior 
poder  de  nova  armada,  comraandada  pelo  mesmo  marquez  chegou  a  vencel-asa 
despeito  mesmo  do  recente  soccorro,  que  tinham  recebido  de  França  na  expe- 
di(;ão  commandada  por  mr.  de  Ghaste. 

•E'  d'esta  ultima  expedição  Franceza  e  dos  maus  successos,  com  que  o 
partido  de  D.  António  desfaileceu  de  todo  ante  o  iriumplio,  que  rematou  a 
conquista  dos  Açores  pelos  hespanhoes,  que  trata  a  relação  que  agora,  e  em 
continuação  damos  pela  primeira  vez  em  lingua  vulgar,  como  valioso  subsidio 
para  a  nossu  historia. 

«  A  viagem  foita  á  ilha  Terceira  dos  Açores  pelo  commendador  de  Cbaste 
foi  original  e  contemporaneamente  cscripta  em  francez.  Que  o  auctor  foi  teste- 
munha ocular  dos  successos,  que  narra,  parece  proval-o  o  que  elle  próprio  diz 
quando  no  fim  da  viagem  falia  da  barbaridade  dos  biscainhos,  cujos  navios 
faziam  também  parte  da  armada  lie^panhola.  Seria  auctor  da  viajem  o  próprio 
commendador  de  Chaste  ? 

«No  fim  d'ella  se  diz  que  clle  entregara  nas  mãos  da  rainha  de  França — 
un  ahregé  de  ce  discotirs—a  mais  abai.xo  na  allocução,  que  por  essa  occasiâo 
lhe  dirige,  confessa  que  o  discurso  summario  fora  csciipto  por  elle  «vous  ver- 

*  Panorama  de  ISJiC,  vnl.  13. ',  pn;?.  37. 


CH  245 

rez  s*il  vous  plalsl,  ce  que  la  veriló  m'  a/W//  ecrire  cn  ce  papier.f  ?íao  nos  pa- 
rece pois  mní  arriscado  a  erro  suppor  que  a  viagem  seja  escripta  pelo  próprio 
commendador. 

«Melchisedec  Thevenot  foi,  que  nós  saibamos,  o  primeiro,  que  d*ella  fallou, 
e  que  a  promettcu  dar  nas  suas  Relations  de  divers  voyages  curieu^c;  masnâo 
appareceu  na  primeira  edição,  que  fez,  e  só  depois  da  sua  morte  vem  na  4." 

parte  do  tomo  â.^"  da  nova  edição;  Paris  1696,  comprehendendo  18  pag.  em 
folio. 

•O  titulo  da  obra  é  o  seguinte: 

•Viagem  feita  á  ilha  Terceira  pelo  sr.  Commendador  de  Chaste,  gentil  ho- 
mem ordinário  da  camará  d'el-rei  (de  França)  e  governador  por  sua  magostade 
da  cidade  e  castelio  de  Dieppe  e  Arques.»  ^ 

E'  narração  mui  interessante  e  digna  de  ser  lida. 

2W)    OHATEAUBRIAND  (FRANÇOIS  RENÉ). 

Nasceu  em  Saint  Maló  em  setembro  do  anno  de  1768,  ^  e  falleceu  a  4  de 
jalho  de  1848. 

Fugindo  em  1791  aos  furores  da  revolução  franceza  com  destino  á  Ameri- 
ca, passou  o  immortal  auctor  do  Génio  do  Christianismo  pelas  nossas  ilhas  dos 
Açores,  e  desembarcou  na  Graciosa,  onde  foi  muito  bem  acolhido  pelos  frades 
d'am  convento,  que  ali  havia.  N'esta  mesma  ilha  esteve  em  perigo  de  vida  por 
se  virar  a  lancha,  quando  ia  a  desembarcar.  Admirou  então  Chateaubriand, 
segundo  nos  diz  o  escriptor  de  sua  vida,  as  riaas  collinas  cobertas  de  cepas,  o 
aeeio  das  casas,  a  apparencia  vigorosa  dos  camponezes  queimados  pelo  sol,  c 
quasí  nus,  a  vivacidade  das  mulheres  baixas  e  morenas,  mas  bem  apessoadas 
e  vivas. 

Ao  chegar  à  Graciosa  o  navio,  em  que  Chateaubriand  ia  encharcado,  os  ha- 

1  A  rainha  mãe  do  rei,  resolve  oppor-se  aos  esforços  qae  o  rei  de  Hespanha  teotara 
para  redazii  á  sua  auctorídade  as  ilbiis  Terceira  e  Fayal,  resto  do  roioo  de  Portugal,  que 
j4  possuia,  havia  cinco  ou  seis  annos,  sob  titulo  de  vizinho  forte  e  esperto,  segundo  creio» 
para  cujo  Gm  desde  muito  preparava,  tanto  em  Lisboa  coroo  nos  demais  portos  do  seu 
domioio,  uma  grande  armada.  O  senhor  D.  António,  acciamado  rei  do  dito  reino  depois 
da  morte  de  seu  predecessor  el-rei  D.  Sebastião,  tendo  por  muito  tempo  implorado  auxi- 
lio da  dita  rainha  na  extremidade  de  seus  negócios,  e  para  isso  seguido  e  andado  larga- 
mente na  corte  do  rei  de  França  por  boas  considerações,  prometteu  Sua  Magestade  assis- 
tir-lbe,  dando  ao  sr.  commendador  de  Chaste  o  commando  de  nove  companhias  de  pé.» 
Pag.  38. 

•  Depois  do  dito  commendador  agradecer  a  Sua  Magestade  lhe  supplicou  mui  bumil- 
démenle  considerasse  a  importância  d'este  plano  e  d'este  embarque,  a  que  iião  dava  con- 
sideração pela  perda  da  sua  vida,  com  tanto  que  podesse  dar  alguma  satisfaçilo  a  Sua 
Magestade  o  que  julgava  mui  diilicil  precipitando  a  viagem  por  causa  das  proposições  de 
um  pobre  rei  apaixonado  e  desesperado  de  poder  sor  jamais  restabelecido  no  seu  reino 
de  Portugal,  de  qae  lhe  n<lo  restavam  senito  as  ditas  ilhas,  que  se  propunha  conservar 
a  expensas  da  honra  e  da  vida  de  outrem,  sem  ter  mesmo  a  menor  experiência  em  cou- 
sas de  armas.»  Idem. 

*  Ancelot,  il»^  rA''a!jL*mie  F!an';;aiic  —  Vie  de  Chateaubriand^  pag'.  4. 


246  CH 

bitantes  d*aqaella  ilha,  desconfíando  de  que  fosse  algam  navio  argelino,  por 
nào  conhecerem  a  bandeira  tricolor,  que  ainda  não  tinham  visto,  correram  to- 
dos à  praia  e  perguntavam  em  portuguez  e  em  varias  outras  lingoas,  quem 
eram,  e  qne  queriam,  e  os  do  navio  também  lhes  respondiam  em  portuguez^ 
e  em  outras  linguas. 

O  illustre  auctor  dos  Martyres  e  do  Itinerário  de  Paris  a  Jertisalem,  obras 
em  que  por  vezes  também  apparece  o  nome  de  Portugal,  conhecia  bem  quanto 
valia  o  nosso  primeiro  épico,  pois  fallando  d'elle,  diz : 

•Finalmente  os  portuguezcs  perseguiam  na  Africa  os  mouros  já  expulsos 
das  margens  do  Tejo :  eram  necessários  navios  para  sustentarem  e  accompa- 
nharem  os  combatentes  ao  longo  das  costas.  O  cabo  Nunes  deteve  por  muito 
tempo  os  pilotos;  Gil  Eannes  o  dobrou  em  1433;  a  Madeira  foi  descoberta,  oa 
para  melhor  dizer  tornada  a  descobrir :  os  Açores  sairam  do  seio  das  ondas;  ^ 
e  como  se  estava  sempre  persuadido,  segundo  Ptolomeu,  que  a  Ásia  se  appro- 
ximava  da  Africa,  tomaram  os  Açores  pelas  ilhas,  que,  na  opinião  de  Marco 
Paolo  limitavam  a  Ásia  no  mar  das  índias.  Pretendeu-se,  que  uma  estatua 
equestre,  mostrando  o  occidente  com  o  dedo  se  erguia  na  praia  da  ilha  do 
Corvo :  algumas  medalhas  phenícias  foram  também  trazidas  d*esta  ilha. 

De  Gabo  Nunes  os  portuguezes  surgiram  no  Senegal :  costearam  saceesst- 
vãmente  as  ilhas  de  Gabo  Verde,  Gosta  de  Guiné,  o  Gabo  Mesurado  ao  meio 
dia  da  Serra  Leoa,  o  Benin  e  o  Gongo.  Bartholomeu  Dias  tocou  em  1486  o  fa- 
moso Gabo  das  Tormentas,  ao  qual  deram  dentro  em  pouco  um  nome  mab 
auspicioso. 

Assim  foi  reconhecida  esla  extremidade  meridional  da  Africa,  que,  no  sen- 
tir dos  geographos  gregos  e  romanos,  devia  ligar-sc  â  Ásia.  Alli  se  abriam  as 
regiões  mysleriosas,  onde  não  se  tinha  entrado  alô  eniào  senão  por  este  mar 
de  prodígios,  que  viu  Deus  e  desappareceu  —  3/flrí'  vidit  et  fugit. 

Um  espectro  immenso,  medonho  ergue-sc  em  fronte  de  nós :  sua  attitade 
é  ameaçadora:  seu  aspecto  feroz;  sua  tez  pallida;  sua  barba  espessa e esquá- 
lida :  seu  cabello  carregado  de  terra  e  lodo;  seus  lábios  são  negros;  seus  den- 
tes amarellos :  seus  olhos  scintiilam  chamejantes 

Elle  falia :  sua  voz  formidável  parece  sair  dos  abysmos  de  Neptuno. 

Eu  sou  o  génio  das  tempestades,  diz  elle,  domino  este  vasto  promontório 
que  nem  Ptolomeu,  nem  Slrabo,  nem  Plinio,  nem  Pomponio,  nem  nenhum  de 
vós  conheceu.  Eu  ponho  aqui  balizas  á  terra  africana,  a  este  píncaro,  que  olha 
para  o  polo  antárctico,  e  que  até  hoje,  escondido  aos  olhos  dos  mortaes»  se  in- 
digna u'esle  momento  com  a  vossa  audácia. 

De  minha  carne  secea,  de  meus  ossos  convertidos  sem  rochedos,  os  deu- 
ses, os  inflexíveis  deuses,  formaram  o  vasto  promontório,  que  domina  estas 
vastas  ondas. 

A  estas  palavras  deixou  cair  un)a  correnl(í  do  lagrimas,  c  desappareceu. 
Com  ollo  extinguiu- se  a  nuvem  tenebrosa,  e  o  mar  pareceu  lançar  um  longo 
gemido. 

1  Voijmjc  cn  Améritiuc,  pag.  28. 


CH  Í47 

Vasco  da  Gama  termioando  uma  navegação  de  memoria  eterna,  chegou  em 
1478  a  Calicat,  na  costa  do  Malabar. 

Tudo  muda  então  no  globo ;  o  mundo  dos  antigos  está  destruído.  O  mar 
das  índias  já  não  é  um  mar  interior,  um  lago  rodeado  pelas  costas  da  Ásia  e 
da  Africa :  é  um  oceano,  que  d'um  lado  se  junta  ao  Atlântico,  do  outro  aos 
mares  da  China,  e  a  um  mar  do  Este,  mais  vasto  ainda.  Cem  reinos  civilisa- 
dos,  árabes  ou  indíos,  mahometanos  ou  idolatras,  ilhas  embalsamadas  por  aro- 
mas preciosos,  são  patenteadas  aos  povos  do  occidente.  Apparece  uma  natu- 
reza completamento  nova;  o  véo,  que  desde  milhares  de  séculos  occultava 
uma  parte  do  mundo,  levanta-se :  descobre-se  a  pátria  do  sol,  o  logar  d'onde 
elle  sabe  todas  as  manhãs  para  distribuir  sua  luz :  vé-se  a  descoberto  esse  sá- 
bio e  brilhante  Oriente,  cuja  historia  se  misturava  para  nós  ás  viagens  de  Py- 
tbagoras,  ás  conquistas  de  Alexandre,  ás  lembranças  das  crusadas,  e  cujos 
perfumes  nos  chegavam  atravez  dos  campos  da  Arábia  e  dos  mares  da  Gré- 
cia. A  Europa  lhe  enviou  um  poeta  para  o  saudar,  cantar  e  descrever :  nobre 
embaixador,  cujo  génio  e  fortuna  pareciam  ter  uma  sympathia  secreta  com  as 
regiões  e  destinos  dos  povos  da  índia !  O  poeta  do  Tejo  fez  ouvir  sua  triste  e 
bella  voz  nas  margens  do  Ganges :  pediu-lhes  por  empréstimo  seu  brilho,  sua 
(juna  e  suas  desgraças,  não  lhes  deixou  mais  que  suas  riquezas. 

E  é  um  pequeno  povo  encerrado  n*um  circulo  de  montanhas  na  extremi- 
dade  oriental  da  Europa  que  abriu  caminho  para  a  parte  mais  pomposa  da 
residência  do  homem  1 

Em  quanto  os  portuguezes  costeam  os  reinos  de  Quiteve,  de  Sedanda,  de 
Moçambique,  de  Melinde;  que  elles  iiâpõem  tributos  aos  reis  mouros ;  que  pe- 
neiram no  mar  Vermelho;  que  terminam  a  volta  da  Africa;  que  visitam  o 
golfo  Pérsico,  e  as  duas  penínsulas  das  índias;  que  sulcam  os  mares  da  Chi- 
na; que  tocam  no  Cantão,  reconhecem  o  Japão,  as  ilhas  das  Esp^iarias,  e  até 
as  costas  da  Nova  HoUanda,  multidão  de  navegadores  seguem  o  caminho  tra- 
çado pelas  velas  de  Colombo. 

Os  portuguezes  exploravam  então  as  costas  da  índia  e  da  China;  os  com- 
panheiros de  Vasco  da  Gama  e  de  Christovão  Colombo  saudavam-se  das  duas 
costas  do  mar  desconhecido,  que  as  separava :  uns  tinham  encontrado  um 
mondo  antigo,  os  outros  descoberto  um  mundo  novo;  das  praias  da  America 
ás  praias  da  Ásia  os  cantos  de  Camões  respondiam  aos  cantos  de  Ercilla  atra- 
vez das  solidões  do  Oceano  Pacífico.» 

tEra  ahida  um  rico  assumpto  o  dos  Lusíadas  K  Custa  a  conceber  como  um 
bomem  do  génio  de  Camões  não  soube  tirar  d'elle  maior  proveito.  Mas  convém 
notar  que  esse  poeta  foi  o  primeiro  poeta  épico  moderno,  que  vivia  n*um  se- 
eala  bárbaro;  que  ha  passagens  patheticas  e  algumas  vezes  sublimes  nos  seus 
versos,  e  muito  para  notar-se  é  que  foi  o  mais  desgraçado  dos  homens.  É  so- 

*  Génio  do  ChrisHanismOj  lomo  l."*,  pag.  21S. 


248  CH 

phisma  digno  da  crneldade  do  nosso  socalo  aíiirmar  qac  os  bons  escríptos  9ia 
inspirados  na  dosgraça.  É  falso  qnc  se  possa  escrever  quando  se  soífre.  Os  ho- 
mens coasagrados  ao  cnito  das  mnsas  saccnmbem  mais  depressa  à  dôr  que  os 
espíritos  vulgares.  Um  genío  forte  depressa  quebranta  o  corpo  que  o  encerra : 
as  grandes  almas,  como  os  grandes  rios,  assolam  as  suas  margens.» 

• 

Carta  de  mr.  de  Chatcaubriand,  aurtor  dos  Martyres  ao  sr.  Francisco  Ma- 
nuel do  Nascimento,  tradnctor  da  mesma  obra. 

5  de  setembro  de  1812.  Senhor: 

Se  tivesse  recebido  as  cartas,  que  teve  a  bondade  de  enviar-me,  terme-bia 
apressado  a  responder-Ihes.  Ignorava  totalmente  a  honra,  que  me  fez,  tradu- 
zindo os,  Martyres  na  lingua  de  Camões.  Acceite,  por  tanto.  Senhor,  todos  os 
agradecimentos,  que  lhe  devo.  Tenho  um  ardentíssimo  desejo  de  ver  minha 
fraca  obra  ataviada  com  todas  as  graças,  que  o  Senhor  lhe  soube  dar.  Estou 
desde  já  convencido  que  Eudoro  e  Cymodocea  hào  de  parecer  bem  mais  no- 
bres e  bém  mais  enternccedores  trajando  os  vestuários  de  Gama  e  de  Ignet. 
Tenho  a  honra  de  sor  com  uma  alta  consideração, 

Senhor, 
Sen  mui  humilde  e  mui  obediente  servo. 
Cliateaubriand. 

250)  CHATELET  (DUKE   DE). 

E.—  Traveis  m  Portugal.  London,  1809,  2  vol. 
(Viagens  cm—). 

251)  CHATELET  (Duc.  du). 

E.  —Voyage  en  Portugal,  ou  se  tronvent.des  details  iníéressants  sur  ceRo- 
yaumc,  ses  habitants,  ses  colonies ;  sur  la  Cour  et  M.  de  Pombal,  sur  te  treni- 
blement  de  terre  de  Lisbonne,  ctc.  Revu,  corrige  sur  le  Manuscrit,  et  augmé^nté 
de  notes  sur  la  situotion  actuelle  de  re  royaume  et  de  ses  colonies,  par  J.  Fr 
Bourgoing,  ci-devant  Ministre  plcnipotentiaire  de  la  Republique  franraise  eti 
Espagne,  Membre  associe  de  rinslitut  National,  etc.Avec  la  Carte  du  Portugal, 
et  la  Vue  de  la  Baie  de  Lisbonne,  Seconde  edition.  Tome  1.  A  Paris  Cliez  F, 
Buissim.  Imp.  Lib.  rue  Ilaule  Fcuillo,  n."  20. 

An  9."  (1801)  208  pag.  8.°  gr.  ^  Com  uma  estampa  representando  a  torre 
de  Bf  lera  e  bahia  de  Lisboa :  o  com  uma  carta  geographica  de  Portugal :  am- 
bas as  cousas  gravadas  por  Tardiou,  Tainé. 

O  duque  de  Chalelot  achava-so  cm  Londres,  quando  concobou  o  desejo  de 
visitar  Portugal.  Embarrou  em  Falmouth,  a  8  de  uiaio  de  1777.  a  bordo  do 
Embden.  Dt^pois  d'uuia  viagem  de  seis  dias  chegou  a  Lisboa. 

«Na  i^poca  de  minha  cli»'gada  arhava-so  Lisboa  era  agitarão  impossível  de 

*  A  yourclle  fíiogrnphic  rnivcrscllr  de  Firmin  Diiiol;   loino  '.",  paj,'.  90,   menciona 
outra  eá\-òo  de  1808. — V.  Bnurgolng. 


CH  ^%g 

descrever.  Era  véspera  da  celebração  da  coroação  da  rainha.  O  povo  corria 
por  aqai  e  por  acolá  cantando  e  dançando  a  foffa,  espécie  de  dança  nacional 
qae  se  executa  aos  pares  com  accompanhamento  d^uma  guitarra  e  d'outro 
qnalquer  instrumento :  dança  lasciva  a  tal  ponto,  que  o  pudor  cora  ao  ser  tes- 
temunha d'ella,  e  não  ousaria  cu  emprehender  descrevel-a.  Atravessei  pela  mul- 
tidão, e  fui  alojar-me  n'uma  hospedaria  ingleza,  situada  |em  Buenos  Ayres : 
sítio  agradável,  e  ao  abrigo  de  cheiros  fétidos,  com  os  quaes  a  cidade  está  infe- 
ctada durante  o  estio,  e  das  chuvas,  de  que  está  innundada  durante  o  inverno. 

tTinham  escolhido  a  praça  do  Commercio,  como  o  logar  mais  appropriado 
à  ceremonia  da  coroação.  Fez  se  esta  com  grande  magnificência,  ao  som  da 
artilheria,  e  das  acclamações  d'um  povo  immenso,  que  concorrera  de  todas  as 
partes  para  assistir  a  ella.  Só  a  rainha  pareceu  não  participar  do  jubilo  geral. 
Aehava-se  dolorosamente  affectada.  Os  principaes  senhores  da  corte  tinham  re- 
solvido mandar- lhe  pedir  pelo  povo  a  cabeça  de  Pombal:  a  rainha  achava-se 
informada  do  desígnio  d^aqueUe,  e  receiava  o  pjsrigo  d'uma  recusa;  porém, 
apesar  de  não  gostar  do  marquez,  respeitava-o  como  amigo  de  seu  pai. 

tEu  estava  egualmente  informado  de  quanto  se  tramava :  quíz  ser  de  perto 
testemunha  da  agitação,  que  d'isto  havia  de  resultar.  Percorri  as  ruas  com  um 
ílrancez  versado  na  língua  portugueza,  e  introduzi-me  na  multidão.  Por  toda 
a  parte  nada  mais  se  ouvia,  que  o  nome  de  Pombal:  os  espíritos  azedavam - 
se:  o  motim  estava  prestes  a  romper,  quando  de  repente  sobreveiu  uma  pa- 
trulha de  cavallaria,  com  um  officíal  á  frente,  o  qual  dirigindo -se  ás  pessoas, 
que  formavam  este  grupo,  prohibiu-lhes  debaixo  das  mais  rigorosas  penas  de 
fallarem  no  marquez  de  Pombal.  ^  Dentro  em  pouco  dispersou  a  multidão;  as 
roas  acharam-se  n'um  instante  cheias  de  soldados  a  pé  e  a  cavallo;  e  com 
tanta  constância  se  entretiveram  na  dispersão  dos  grupos  na  occasião  em  que 
parecia  forroarem-sc,  que  o  povo  se  dirigiu  para  a  praça  antes  de  ter  podido 
decidir  alguma  cousa. 

•Todos  os  fidalgos  pareciam  muito  espantados,  e  no  extremo  da  agitação. 
Vlamol-os  ir,  vir,  mandar  emissários  do  alto  da  galeria,  onde  se  achavam,  lan- 
çar para  o  povo  olhares,  nos  quaes  se  pintavam  a  cólera  e  a  impaciência.  Ti- 
nha havido  a  prudente  cautella  de  dividir  este  povo,  mandando  constrair  na 
praça  uma  estacada  de  distancia  a  distancia,  de  fórma  que  se  achou  separado» 
e  por  assim  dizer  preso  sem  ter  dado  pór  isso.  Percebeu-se  todavia  uma  espé- 
cie de  rumor,  e  sete  ou  oito  vozes  gritaram  :  Pombal.  Pombal,  porém  foram  no 
mesmo  instante  abafadas  pelos  gritos  de  Viva  a  rainha,  que  os  partidários  do 
marquez  levantaram.  Uma  grande  quantidade  de  espectadores  se  tinha  intro- 
duzido no  interior  da  galeria  depois  de  ter  derribado  os  guardas,  a  rainha  man- 
dou que  os  deixassem  alli  estar.  Não  se  podendo  as  carruagens  approximar, 
ella  mesma  se  viu  obrigada  a  passar  por  entre  a  multidão  com  o  fim  de  se  di- 
rigir para  seu  coche :  foi  este  para  ella  o  mais  doce  momento  de  sua  vida : 
nns  deitavam-se  a  seus  pés,  outros  beijavam-Ihe  a  ponta  do  vestido,  e  com  isto 
se  enterneceu  a  ponto  de  lhe  marejarem  os  olhos. 

'  Duc  de  Chalelet  —  Yoyage  en  Portugal,  lomo  1 .%  pag.  6. 


S50  CH 

«Foram  brilhantes  as  illominaçoes :  a  ceremonía  celebroa-se  com  tanto  de 
pompa,  qaanto  de  tranquillidade :  a  colónia  ingleza  dea  á  noite  um  samptuoso 
baile  aos  principaes  habitantes  da  cidade,  sem  duvida  em  testemunho  de  sen 
reconhecimento,  porque  era  ella  naçào  ingleza  a  verdadeira  soberana  de  Portu- 
gal que  tinha  sido  coroada  na  pessoa  da  rainha.  No  dia  seguinte  tomaram  ou- 
tra vez  o  lucto,  que  na  véspera  se  tinha  largado.  No  meio  da  alegria  geral 
produzido  pela  queda  de  Pombal,  tudo  tornou  a  tomar  um  aspecto  lúgubre,  e 
saíram  do  baile  para  correrem  para  as  egrejas. 

«^  rainha  assignalou  sua  elevação  ao  throno  por  actos  de  bondade  e  de- 
mência. Mandou  abrir  as  prisões,  e  soltar  todos  os  desgraçados,  que  alli  esta- 
vam detidos,  alguns  havia  mais  de  vinte  annos.  Yi  duas  raparigas,  que  para 
alli  tinham  entrado  ainda  de  mama  na  companhia  de  seus  pães  e  mães :  teem 
uma  dezenove  annos,  e  a  outra  vinte,  e  parecem  ter  quarenta.  São  as  fi- 
lhas do  desditoso  conde  de  Alemã,  compromettido  na  conspiração.  Seu  onioo 
crime  era  o  ter  emprestado,  pela  manhã  do  dia  do  assassinato^  uma  espingar- 
da ao  joven  Aveiro,  um  dos  conjurados,  que  lh'a  pediu  para  ir  á  caça :  pagou 
este  favor,  bem  como  sua  mulher  e  alhos  com  vinte  e  um  annos  de  prisão.  É 
verdade  que  o  marquez  de  Pombal  tinha  lançado  mão  da  conjuração  pari 
abater  a  arrogância  dos  fidalgos  portuguezes,  e  reprimu*  as  atrocidades  até 
então  impunes,  das  quaes  se  tornavam  culpados  frequentemente.  Tinha-se  visto 
alguns  d*elles  matar  um  seu  criado,  ou  um  particular  d*uma  classe  inferior, 
quando  tinha  a  desgraça  de  lhes  cair  em  desagrado,  ou  praticar  alguma  falta. 
A  severidade  de  Pombal  tinha  posto  freio  a  excessos  tão  terríveis.  ^ 

tN*uma  das  digressões,  que  fiz  em  Portugal  com  o  fim  de  visitar  o  interior 
d'este  reino,  fui  ver  o  marquez  de  Pombal.  Eu  lhe  era  recommendado  d*um 
modo  particular,  motivo  pelo  qual  me  recebeu  com  todas  as  at^enções  possí- 
veis. Conhecia  este  ministro  de  fama,  e  não  se  podia  exprimir  o  desejo,  que  eu 
tinha  de  conhecel-o  pessoalmente.  Cheguei  pois  á  vílla  de  seu  nome,  e,  da  mi- 
nha hospedaria  lhe  escrevi  com  o  fim  de  saber  a  hora,  em  que  lhe  poderia 
entregar  as  cartas,  que  tinha  para  elle.  Alli  me  dirigi  pelas  dez  horas  da  ma- 

*  A  nobreza  era  tão  insolente,  tão  desenfreada,  que  era  para  temer  nio  somente  de 
noite,  mas  até  mesmo  de  dia.  Eis  o  que  se  passou  em  Lisboa  ba  algum  tempo.  Dois  fidal- 
gos Vflo  em  sua  carruagem,  e  encontram  um  corregedor,  que  ia  também  na  d'el!e:  erm 
um  vellio  de  vista  muito  curta,  que  não  conheceu  os  Gdalgos,  e  passou  sem  os  cumpri- 
mtntar.  Estes  offonderaro  se  d'isso,  desceram  da  carruagem  -  para  maltratar  o  velho,  e 
depois  de  algumas  representações,  que  este  julgou  poder-lhes  fazer,  um  d'enes  o  atra? es- 
sou  com  sua  espada.  Fugiram  para  casa  do  embaixador  de  França,  que  os  fez  embarcar, 
mas  passado  pouco  tempo  tornaram  aapparecer,  tendo  facilmente  obtido  seu  perdão.  Du- 
rante o  ministério  do  marquez  de  Pombal  teriam  sido  punidos  severamente,  fla  seis  an- 
nos um  senbor  matou  om  de  seus  criados  n'um  accesso  de  cólera :  conseguiu  escapar-se, 
porém  voltou  para  Portugal  logo  depois  do  exílio  d'e8te  ministro.» 

•N'aquella  epocba  o  gosto  da  maior  parte  dos  nobres  era  ir  de  noite  atacar  as  pa- 
trulhas, que  percorriam  a  cidade.  Tinham  á  sua  frente  o  irmão  do  rei,  homem  feros  e 
cruel.  Todas  as  noites  eram  assignaiadas  por  encontros  sanguinolentos  entre  estes  es. 
treinas  e  as  patrulhas,  e  quasi  sempre  d'eilc8  resultavam  assassinios.»  Tomo  1.%  pag.  129- 


CH  m 

nhã,  e  fui  introdozido  na  babitaçaS  d'este  grande  homem.  Actualmente  está 
algom  tanto  melhor  alojado,  mas  na  época,  em  qae  o  vi,  estava  n'ama  pobrís- 
sima casa,  e  dormia  n'um  quarto,  cujas  paredes  tinham  sido  estucadas  de 
novo. 

•As  maneiras  do  marquez  de  Pombal  são  agradáveis  e  attenciosas  em  ex- 
tremo. Fez-me  mil  perguntas;  affectou  ignorar  completamente  o  que  se  pas- 
sava pela  Europa.  Pediu-me  que  o  informasse  dos  acontecimentos.  Até  me  fez 
perguntas  relativas  a  Portugal,  e  sobre  o  estado  em  que  se  achava  Lisboa. 
Quiz  saber  que  motivo,  ou  acaso  me  conduzia  áquelle  logar  táo  affastado. — 
Costumado,  lhe  disse  eu,  a  viajar  desde  minha  mocidade,  visito  sempre  o  in- 
t^or  dos  paizes,  que  percorro,  nao  me  limitando  ás  cidades  principaes,  e  por- 
tos de  mar,  nos  quaes  nada  ha  de  novo  a  estudar.  Mas  além  d^isto  desejava 
conhecer  quem  tanto  tinha  beneficiado  seu  paiz.  Entramos  pouco  a  pouco  em 
conversa :  convidou -me  a  passar  com  elle  oito  dias,  e  fez-me  ficar  para  jantar 
e  ceiar  n'aqaelle  dia.  Exprimilhe  meu  espanto  sobre  o  astado,  em  que  tinha 
achado  Lisboa,  attendendo  ao  pouco  tempo  decorrido  depois  de  sua  catastro* 
phe.  Respondeu-me  que  presentemente  não  cuidava  em  nada  d*isso;  achava-se 
velho,  e  pensava  em  descansar;  porém  qae,  se  a  providencia  lhe  tivesse  con- 
servado seu  amo  por  mais  tempo,  ter-se-hia  esforçado  em  continuar  com  o 
mesmo  zelo  a  empreza,  cuja  execução  apenas  pudera  esboçar;  e  que,  sem  du- 
vida, teria  lançado  os  alicerces  d'um  palácio  para  o  rei.  Patenteou-me  o  ma- 
gnifico plano,  que  tinha  adoptado  para  este  edifício.  Situado  n'uma  pequena 
eminência,  perto  de  Belém,  teria  dominado  o  mar  e  a  cidade,  seria  construído 
no  centro  d'um  grande  jardim,  cercado  de  altos  muros,  aos  quaes  estariam  de 
distancia  em  distancia  contíguos  os  palácios  dos  principaes  senhores  da  corte, 
e  aposentadas  as  pessoas,  qae  n'elles  fossem  obrigadas  a  residir  por  causa  de 
seus  cargos. 

tO  marquez  de  Pombal  trouxe  comsigo  muitos  livros :  ou  lé,  ou  manda  ler 
continuamente :  os  livros  são  todos  francezes.  Falia  nossa  língua  tão  facilmen- 
te, como  nós  mesmos :  sabe  egualmente  bem  o  allemão,  inglez,  e  italiano.  Não 
pronunciava  sem  grande  ternura  o  nome  de  seu  respeitável  amo.  tHonrava- 
mct  dizia  elle,  com  sua  confiança.  Perder  seu  rei  e  seu  amigo  I  É  uma  prova 
forte  de  mais  para  eu  poder  resistir  a  ella !  Por  isso  o  sol  para  mim  perdeu  o 
brilho  de  seus  raios !  Nada,  nada  me  pôde  indemnisar  da  perda,  que  padeci  l> 
A  isto  algumas  lagrimas  cabiam  de  seus  olhos.  Em  vão  procurava  eu  desviar 
a  conversa  para  um  outro  assumpto,  para  este  me  levava  sempre.— «Ao  me- 
nos, continuava  elle,  aqui  serei  feliz.  Vedes  esta  choupana?  Não  é  minha :  to« 
mo-a  de  aluguer.  Aquelle  homem  accusado  de  não  ter  pensado  mais  que  em 
si,  nem  mesmo  na  sua  terra  mandou  construir  um  aposento»— ^  Depois  mos- 
trando-me  um  grande  edificio  novo.  «É  um  armazém  pertencente  ávilla.  Man- 
,deí-o  construir  para  n^elie  se  guardarem  os  cereaes,  dos  quaes  está  cheio.  Em 

*  Gré-se  geralmente  ler  sido  Lisboa  sua  pátria.  «Sebastião  José  de  Carfalbo  e  Mello 
nasceu  em  Lisboa,  na  bella  casa  da  rua  Formosa.  Francisco  Luiz  Gomes,  Le  Marquis 
de  Pombal,  pag.i9.— Panorama,  1839,  pag.  138. 


252  CH 

fim,  à  maneira  de  Sally,  viverei  mais  aforíanado  em  meu  retiro,  que  no  meio 
dos  grandes  e  da  corte.  Dt^ixaram-me  trazer  meus  livros,  e  por  isso  pouco  me 
resta  a  desejar. 

«Acabava,  quando  a  marqueza  de  Pombal,  sua  mulher,  cbegou :  teve  a 
bondade  de  me  appresentar  a  ella.  Conserva  ainda  uma  parte  de  seus  dotes 
pessoaes;  e  veste-se  com  muita  arte  e  gosto.  É  discreta,  sem  duvida;  porém 
não  possue  a  força,  nem  o  valor  de  seu  marido  para  tolerar  sua  situação.  N» 
tempo  da  prosperidade  do  marquez  de  Pombal  tinha  a  seus  pés  os  grandes  e 
o  povo :  sua  casa  era  uma  espécie  de  corte.  Quando  os  homens  a  iam  visitar, 
punham-se  de  joelhos  para  lhe  beijarem  a  mão,  segundo  o  costume  do  paiz. 

tSua  vaidade  lisonjeada  por  tantas  adulações  não  se  pôde  acostumar  ao 
isolamento,  a  que  foi  condemnada  pela  desgraça  de  seu  marido.     - 

•Desamparada  de  toda  a  gente,  solitária,  n'uma  villa  desviada  de  povoa* 
çôes,  a  única  satisfação  que  tem,  é  de  ver  seus  filhos,  que  algumas  vezes  vão 
passar  com  ella  quinze  dias.  Nascida  allemã  tem  o  orgulho  das  grandes  fámi- 
lias  de  sua  nação,  e,  depois  de  ter  tido  tanto  de  que  lisonjear-se,  geme  em  se- 
gredo sua  expiação. 

tTentou  disfarçar  suas  magnas,  mas  não  o  poude  conseguir  por  muito 
tempo.  Passados  dez  minutos  de  conversação,  achavam-se  seus  olhos  arraza- 
dos  de  lagrimas.  «Aquillo  é  próprio  de  seu  sexo,  me  dizia  o  marquez;  conso- 
lal-a  é  para  mim  uma  outra  occupação,  mas  seguindo  meu  exemplo,  bem  de- 
pressa apprenderá  a  supportar  nosso  infortúnio.»  Um  instante  depois  vieram 
participar,  que  o  jantar  estava  na  mesa.  «Vinde  disse-me  elle,  tomar  parte  na 
comida  frugal  d'um  eremita.»  Em  vez  de  comida  frugal,  que  me  annunciava, 
encontrei  uma  mesa  bem  servida,  e  na  qual  nada  se  resentia  de  sua  desven- 
tura, nem  mostrava  o  salneto  da  desgraça.  Ao  todo  não  passávamos  de  três.  A 
conversa  foi  muito  longa.  Entrei  a  fallar  com  a  marqueza  a  respeito  de  AUe- 
manha,  e  por  algum  tempo  falíamos  na  sua  lingua.Foi  breve  o  jantar,  ou  pelo 
menos  assim  me  pareceu :  o  calor  era  excessivo.» 

«Depois  de  nos  levantarmos  da  mesa,  cada  um  foi  descançar  por  alguns 
momentos.  Approveilci  mo  d'esle  tempo  para  ir  percorrer  o  logar  habitado 
pelo  iilustre  par.  Não  é  tão  desagradável,  como  cm  Lisboa  m'o  tinham  pinta- 
do. N*uma  altura  estão  as  ruínas  d'um  velho  caslello,  oíferecendo  uma  vista 
bastante  pittoresca;  as  aguas  são  excellentes. 

«Ao  sair  de  casa  do  marquez  encontrei  à  sua  porta  mais  de  duzentas 
pessoas,  a  quem  se  distribuía  pão  e  caldo.  D'esle  modo  é  que  elle  tem  adqui- 
rido um  grande  numero  do  partidários,  que  o  exaltam  mesmo  com  sua  des- 
graça: pareceu-me  ser  bem  quisto  de  todos  habitantes  do  logar.  Finalmente 
depois  d'um  pa?s(MO  de  cerca  de  duas  horas,  voltei  para  casa  do  marquez,  a 
quem  encontrei  no  meio  de  seus  livros.  Continuámos  a  conversa.  Perguntou- 
me  se  tinha  vislo  a  (vremouia  da  coroai^ào  da  rainha.  Advinhel  onde  queria 
chegar,  re.pomlillie  que  sim,  e  (\\h*  me  paneia  ler-se  celebrado  com  muita 
pompa  e  uiagestade. 

tQiiiz  saber  Si^  eu  tinha  reparado  em  todos  os  iucommodos,  a  que  seus  ini- 
migos se  tinham  entregado  para  o  perderem:  e  até  me  pediu  alguns  pormeno- 


CH  253 

Qaiz  saber  a  maneira  como  o  povo  tinha  procedido.  Disse-lhe  qoanto  sa- 
bia, e  accrescentei  que  esta  circamstancia  era  mais  um  triumpho  para  elle, 
porque  demonstrava  não  só  a  impotência  de  seus  adversários,  mas  até  sua  ani- 
mosidade. A  estas  palavras  disse-me  com  a  maior  vivacidade,  a  qual  lhe  fica 
muito  bem.  t  Avançam  um  paradoxo,  fazendo-se  interpretes  do  povo  :  mandam- 
ibe  dizer  que  me  deteste!  Mas  isso  é  impossível :  minhas  acções,  meu  proce- 
dimento, tudo  me  assegura  do  contrario.  O  povo  portuguez  não  me  pôde  odiar, 
6  vós  ides  ouvir  a  rasão.  Que  é  o  portuguez  hoje  ?  Que  era  elle  ha  quarenta  an- 
nos?  Não  o  puz  eu  em  estado  de  já  não  ter  necessidade  de  seus  visinhos?  Não 
estabeleci  eu  por  toda  a  parte  as  artes,  as  officinas,  o  ensino?  Não  fiz  além 
d'isso  reedificar  um  terço  da  cidade  de  Lisboa?  Não  propaguei  a  actividade, 
e  não  derramei  o  bem  estar  por  entre  os  operários?  Por  todos  os  direitos, 
que  eu  creio  ter  ao  reconhecimento  d'esse  povo,  tenho-o  por  assaz  justo,  para 
me  querer  devorar :  e  até  não  o  fez.You  dizer- vos  quaes  os  auctores  de  quanto 
podereis  ter  ouvido  e  percebido  no  tempo  da  coroaçlo.  Os  fidalgos,  que  se  obs- 
tinavam em  suas  insolentes  pretensões,  as  quaes  eu  quiz  anniquilar,  emprega- 
ram todos  os  meios  possíveis  para  me  perderem.  Elles  não  podiam  decente- 
mente mostrar-se  à  frente  do  partido  perseguidor.  Que  fizeram?  Escolheram 
algumas  de  suas  creaturas^  que  disfarçadas  em  barbeiros,  cosinheiros,  mari- 
nheiros, ete.  divagavam  pelos  logares  públicos,  desacreditando-me  e  pintando- 
me  com  as  mais  horríveis  cores.  O  povo,  que  facilmente  é  seduzido,  secundou 
um  resentí  mento,  ao  qual  lhe  faziam  crer  ser  um  dever  associar-se.  Aborre - 
cia-mc,  porque  lhe  diziam  q  le  assim  era  mister.  Varias  pessoas,  que  vós  co- 
nheceis, accrescentou  elle,  com  o  fim  de  malquistar-me,  andaram  por  alguns 
dias  debaixo  d' um  tal  disfarce,  confundiram-se  com  a  ralé,  e  inventaram  ca- 
lumnias,  que  lhe  appresentaram  como  verdades  incontestáveis.  Finalmente 
quanto  obrei,  foi  por  ordem  de  meu  amo,  e  nada  tenho  de  que  arrepender-me. 
Accusam-me  principalmente  de  ter  sido  cruel;  mas  obrigaram-me  a  ser  rigo- 
roso. Quando  eu  annunciava  as  ordens  do  rei,  e  não  faziam  caso  d'ellas,  era 
indispensável  recorrer  á  força :  as  prisões  e  os  cárceres  foram  os  únicos  meios, 
que  encontrei  para  domar  esse  povo  cego  e  ignorante. 

c Doesta  forma  passei  em  casa  d'este  ministro  cinco  dias  nas  conversas  as 
mais  interessantes.  Teve  a  bondade  de  communicar-me  a  respeito  de  Portugal 
varias  noçêes  e  reflexões,  de  que  fiz  uso  no  decurso  de  minha  obra. 

iO  ±°  volume  das  Viagens  de  Chatelet  (que  nada  appresenta  digno  de  es- 
pecial menção)  termina  com  um  Supplemento  composto  por  Bourgoing,  no  qual 
se  corrigem  algumas  inexactidões  inseridas  n'esta  obra. 

«O  duque  de  Chatelet,  de  quem  nos  temos  occupado  n*este  artigo,  parece 
ter  sido  filho  da  celebre  marqueza  de  Chatelet,  amante  de  Voltaire,  e  o  qual 
morreu  no  cadafalso  revolucionário,  em  1794  depois  de  ter  sido  embaixador 
na  Áustria  e  em  Portugal,  e  coronel  do  regimento  das  guardas  francezas  em 
i722  e  1729.  * 

«Veja-se  Bourgoing. 

<  FirmÍD  Didot  —  NouvelU  Biographie  UnieerselUj  tomo  14.* 


264  CH 

tPorém  o  que  no  daqae  de  Ghatelet  nada  tem  de  ^adavel  é  a  pintara^ 
que  nos  faz  do  caracter  dos  portuguezes  no  tempo  do  marquez  de  Pombal. 

•O  povo  portuguez  é  naturalmente  orgulhoso,  soberbo  e  animoso,  e  detesta 
em  geral  qualquer  outro  povo :  cré  sinceramente  que  não  existe  no  universo 
nação  mais  esclarecida  e  perfeita,  que  a  sua.  Seu  ódio  contra  os  hespanhoes  é 
inexprimível :  até  mesmo  tem  aversão  aos  inglezes,  aos  quaes  olham  como  seus 
mais  temiv^  inimigos.  Não  sei  se  é  prevenção  nacional,  mas  julguei  desco- 
brir em  Lisboa  que  ali  não  se  viam  os  francezes  com  maus  olhos. 

•Seus  habitantes  nos  consideram  como  intrépidos :  estimam  nossos  milita- 
res, dos  quaes  concebem  a  mais  elevada  idéa :  além  d*isto,  nossa  vivacidade 
sympathisa  com  a  d'elles.  São  (o  que  todavia  custa  a  accreditar)  propensos  aM 
prazeres,  e  entregam-se  a  eiles,  quando  o  podem  fazer  commodamente.  Ha, 
segundo  julgo,  poucos  povos  mais  feios,  que  os  portuguezes.  São  baixos,  mo- 
renos, mad  conformados :  o  interior  corresponde  bastante,  em  geral,  a  este  re- 
pugnante invólucro,  principalmente  em  Lisboa,  onde  os  homens  parecem  ag- 
glomerar  todos  os  vicies  da  alma  e  do  corpo  K  Ha,  todavia,  entre  a  capitai  e  o 
norte  d'este  reino  uma  differença  notável.  Nas  províncias  septentriooaes  os  ho- 
mens não  são  tão  trigueiros^  nem  tão  feios;  são  mais  francos,  mais  tratáveis  na 
sociedade,  muito  mais  valfntes,  e  mais  laboriosos;  porém,  se  é  possível  ainda 
mais  escravisados  pelos  preconceitos.  Esta  differença  dáse  egualmente  nas 
mulheres :  são  muito  mais  brancas,  que  as  do  sul. 

tOs  portuguezes  considerados  no  geral  são  vingativos,  vis,  soberbos,  escar- 
necedores, presumpçosos  excessivamente,  ciosos  e  ignorantes.  Depois  de  ter 
descripto  os  vícios,  que  julgo  descobrir  n'elies,  seria  injusto  calando  suas  boas 
qualidades.  São  affeiçoados  a  sua  pátria,  amigos  generosos,  Icaes,  sóbrios  e  ca- 
ritativos. Seriam  bons  christãos,  se  não  estivessem  cegos  pelo  fanatismo.  Acham- 
se  tão  acostumados  ás  praticas  religiosas,  que  são  mais  supersticiosos,  que  de- 
votos. Os  fidalgos  ou  grandes  de  Portugal  teem  uma  educação  muito  escassa; 
orgulhosos  e  insolentes,  vivendo  na  mais  crassa  ignorância,  quasi  nunca  saem 
de  sen  paiz  para  verem  outros  povos.  A  família  do  marquez  de  Pombal,  a  qaal 
frequentei  muito,  é  quasi  a  única  onde  encontrei  instrucção,  e  um  conheci 
mento  não  superficial  dos  outros  povos :  fala  nossa  liogua,  o  inglez  o  o  italía 
no  com  facilidade;  e  o  que  n'6lla  me  agradou  infinitamente,  foi  o  ver  que  peo 
sava  a  respeito  de  seu  próprio  paiz  mui  sensatamente,  e  sem  nenhuma  preoc 
cupação :  cousa  rara,  mesmo  nos  povos  os  mais  instruídos  e  cívilísados.  Se  ai 
gum  fidalgo  portuguez  vir  o  que  escrevo,  ganharei  títulos  a  seu  rancor,  por 
que  votou  ódio  a  quanto  diz  respeito  ao  nome  de  Pombal.  Algumas  outras 
casas  se  acham,  mas  em  bem  pequeno  numero,  nas  quaes  existem  livrarias 
porém  mesmo  essas  casas  e  livrarias  estão  fechadas  para  os  estranhos. 

•Podemos,  sem  exaggeração,  gabar  os  encantos  das  porlaguezas.  Não  ha 
europeas,  que  tenham  melhor  carnação.  Teem  muito  espirito,  e  talvez  ainda 
mais  vivacidade  qut;  as  francezas.  Em  quanto  ao  galanteio  excedera  todas  as 
mulheres  da  Europa :  toem  na  expressão  essa  ternura  seduclora,  que  desperta 


'  Chalelel  —  Voijages,  loino  l.«,  pag.  70. 


CH 

«  promette  prazer :  mas  se  este  é  facíl,  é  miúto  perigoso  obtel-o,  porque  os  ma- 
ridos e  parentes  conhecendo  a  extrema  fraqueza  de  suas  mulheres,  nunca  as 
desamparam»  espionando  quantos  rodeiam  a  casa,  e  se  por  acaso  sae  ou  entra 
alguém,  que  desperta  suas  suspeitas,  cravam-lhe  no  coração  um  punhal,  de 
que  andam  sempre  munidos.  As  damas  de  classe  superior  vestem-se  á  france- 
sa, exceptuando  a  cabeça,  que  enfeitam  à  moda  do  paiz  com  flores  e  diaman- 
tes coUoeados  com  muita  garridice  e  arte.  Todas  ellas  teem  lindos  olhos  pretos 
multo  expressivos.» 

252)    OHAUVAIN  (LÉONOE  — DE  OETTE). 

E.  —  Histoire  de  Portugal  et  de  la  Maison  de  Bragance  par  —  Chez  TAu- 
teur,  a  Gette.  1871, 8.°,  232.  (Historia  de  Portugal  e  da  casa  de  Bragança). 

É  dedicada  a  D.  Luiz,  rei  de  Portugal. 

Esta  obra  não  passa  d'um  não  interrompido  panegyrieo  dos  portuguezes. 

•É  no  livro  d'um  dos  maiores  poetas  do  mundo, do  maior  poeta  portuguez, 
é  nos  Laziadas  de  Camões,  que  se  encontra  a  primeira  historia  de  Portugal. 
Camões  foi  o  historiador  épico  de  seu  paiz  à  maneira  do  immortal  Yirgilio,  e 
€6  lÂLsiadas  é  um  poema  nacional  como  a  Eneida. 

■O  que  os  outros  historiadores  portuguezes,  João  de  Barros,  Diogo  do  Cou- 
to, Lopes  de  Castanheda  contaram  eloquentemente  em  prosa,  Camões  o  con- 
sagrou melodiosamente  em  verso.  Na  poesia  épica  moderna  Camões  é  em  Por- 
tugal o  que  Tasso  é  na  Itália,  e  Milton  na  Inglaterra.  Não  lhes  procuremos 
equivalentes  na  França :  o  próprio  Voltaire,  sem  embargo  da  sua  Henríada 
asseverou  que  os  francezes  não  tinham  cabeça  épica :  outro  tanto  é  mister  di- 
zer da  Allemanha.  A  França  tem  grandes  poetas,  taes  como  ComeiUe  e  Raci- 
ne; a  Allemanha  tem  Goethe  e  Schiller;  mas  nenhuma  das  duas  possue  um 
Camões,  um  Yirgilio,  e  um  Homero. 

«O  assumpto  dos  Lusíadas  não  é  nem  uma  guerra  fabulosa,  nem  uma  al- 
tercação de  heities,  nem  o  mundo  em  guerra  por  causa  de  uma  Helena,  como 
na  Ilíada;  não  são  as  aventuras  d'um  Ulysses,  como  na  Odyssea.  E  no  em- 
tanto  é  um  poema  inteiramente  homérico.  A  base  dos  Lusíadas  é  uma  nova 
espécie  de  epopea,  que  celebra  a  descoberta  heróica  e  maravilhosa  d'um  paiz 
por  meio  da  navegação  portugueza.  O  poeta  dirige  a  frota  para  a  embocadura 
do  Ganges^  descreve-o  ao  passar  as  costas  occidentaes  do  meio  dia  e  do  oriente 
da  Africa,  e  os  dífferentes  povos,  que  vivem  n'essas  regiões  até  então  desco- 
nhecidas. 

«As  descobertas,  expedições  e  conquisV»  dos  portuguezes  enchem  bellas 
paginas  na  historia.  Esta  nação  pouco  ampla  na  geographia  da  Europa,  é  to- 
davia muito  vasta  em  todas  as  partes  do  mundo. 

«São  os  portuguezes  soldados  honestos  e  excellentes.  Quando  se  levantaram 
em  massa  para  a  defeza  de  seu  paiz,  mostraram-se  certamente  superiores  aos 
bespanboes,  pois  não  deshourarara  seu  patriotismo  com  horríveis  guerrilhas : 
e  os  francezes,  ao  combaterem  contra  Portugal,  acharam  n'elle  inimigos,  mas 
não  aventureiros.  Todas  as  tropas  portuguezas  foram  encontradas  com  honra 
no  campo  de  batalha,  entre  os  soldados  francezes  e  inglezes. 


256  CH 

•£m  seguida  á  França  de  1789  foram  os  portagaezes  os  primeiros»  qii9 
adoptaram  uma  constituição,  quo  mais  se  approxima  da  franceza^eque  já  ser- 
viu, ou  ha  de  servir  um  dia  de  modelo  a  muitos  governos  europeus.  Por  este 
meio  o  reino  de  Portugal  alcançou,  ha  muito  tempo,  maiores  proveitos  para  a 
humanidade,  do  que  tantos  outros  colossos  ou  impérios. 

253)  OHEMNITinS  (M.) 

De  Lusitanorum  in  Indiam  Orietitalem  navigatione  Cármen,  Lipsiae,  4.% 
1580.  (Poesia  à  navegação  dos  portuguezes  às  índias  Orientaes). 
Ternaux  Compans.,  pag.  63. 

254)  GHERINGTON. 

E.  —  Memoirs  of  the  right  honorable  Lord  Viscount  Cherington  comaining 
a  gentUne  description  of  the  govermncnt,  and  mannet^s  of  lhe  preserU  PortU' 
guese.  London,  1782,  2  vol.  8.<*—  (Memorias  de  —  contendo  uma  verdadeira 
descripção  do  governo  e  costumes  actuaes  dos  portuguezes). 

255)  OHERUBINI  (LUIGI  OARLO  ZANOBI  SALVATORE  KA 
RIA). 

E.  —  Lhotellerie  Portugaise,  Opera,  1798. 

256)  OHEVALIER  (MIOHEL).—  Economista  francez  notável,  que  tem 
escripto  muitos  artigos  em  diversos  jornaes  a  respeito  de  nossas  cousas,  mas 
principalmente  na  Revue  des  deux  mondeSj  e  que  sempre  se  tem  mostrado  muito 
afíeiçoado  aos  portuguezes. 

Tendo  recebido  o  diploma  de  sócio  estrangeiro  enviado  pela  nossa  Acade- 
mia das  Sciencias,  na  caria  do  agradecimento,  que  remetteu,  entre  outras  coi- 
sas, diz  as  seguintes : 

«Quando  a  navegação  aperfeiçoada  e  auxiliada  pela  sciencía  abria  um  ca- 
minho inesperado  á  actividade  commercial,  industrial  e  scientiOca  da  Europa 
nos  íins  do  século  xv,  e  principies  do  xvi,  Portugal  compartiu  com  a  Hespa- 
nha  a  gloria  das  descobertas  admiráveis,  que  caracterisaram  e  immortalisaram 
essa  época. 

«Se  depois  a  fortuna  de  Portugal  se  eclipsou,  hoje  póde-se  aíTirmar  sem  li- 
sonja, que  esse  accidente,  que  aliás  experimentaram  todas  as  naçues  da  terra 
em  diíTerentes  épocas,  cada  uma  por  seu  turno,  está  passado. 

«O  espirito  novo  reanima  os  portuguezes,  e  represenla-os  principalmente 
um  soberano,  a  cujo  respeito  em  toda  a  Europa  só  ha  um  parcícer :  represen 
ta-o  uma  plêiade  de  estadistas  afamades,  de  sábios  escriptores,  cujo  sabe 
eguala  o  patriotismo,  muitos  dos  quaes  me  felicito  de  haver  encontrado  i 
theatro  das  exposições  univtTsacs  de  Londres  e  de  Paris,  e  de  cuja  amisa 
me  lisonjeio.  * 

«Portugal  é  o  paiz  fadado,  mais  que  quahiuer  outro,  para  auferir  as  m 

»  Ánnmirio  do  Árchico  Pitlorcsco,  (IStílij,  pag.  loG. 


('I  257 

rea  vantagens  doí*  invoíilos,  qup  distinguem  a  nossa  época,  o  particularmente 
das  camintios  de  ferro  e  da  navegação  a  vapor. 

«A  liberdade  do  conimercio,  esta  forma  aspecial  do  principio  da  liberdade 
geral,  e  de  que  a  civilisaç^o  moderna  tao  namorada  é,  e  com  rasâo,  promette 
a  este  paiz  uma  inexhaurivel  fonte  de  prosperidade. 

«Pela  sua  peculiar  situarão  topographica,  Portugal  está  fadado  para  ser  um 
dos  agentes  mais  úteis  da  grandeza,  e  da  riqueza .collectiva  de  toda  a  Europa.» 

Um  dos  trabalhos  de  Míchel  Clievalier  é  o  seu  estudo  sobre  o  marquez  de 
Pombal,  publicado  no  jornal  acima  mencionado,  em  setembro  de  4870. 

257)  OHIUMAZERO  E  CARRILLO  (GIOANNI). 

E.  —  A  sa  Saltita,  Per  —  omhnscintorp  di  S.  M.  C,  contra  ht  'pretpmh- 
ne.  dei  Vescovo  di  Lameqo. 
C.  M.  B.  LP. 

258)  OHONSKI  (DE). 

E.  —  Etablissemetit  Portugais  de  Marão,  par  —  Paris,  185(),  8." 

259)  OHRETIEN  (NICOLAS). 

E.  —  Les  Portugais  infortunes.  Tragedie,  4608. 

260)  OIBRARIO  (LUIGI)  —  Senatore  dei  regno,  ministro  da  fazenda 
da  Sardenha  e  successor  de  Cavour. 

E.  —  Ricordi  d'una  missione  in  Portogallo  ai  re  Cario  Alberto  per  — .  Awo- 
va  edizUme  accresciuta,  Torino,  Dalla  Stamperia  Reate,  4850,  8.°,  378  pag. 

Carlos  Alberto,  rei  da  Sardenha,  havendo  sido  derrotado  pelos  austnacos  na 
batalha  de  Novara  e  tendo  em  seguida  abdicado,  demandara  um  asylo  na 
cidade  do  Porto.  Aqui  o  foi  procurar  uma  deputação  composta  do  três  mem- 
bros Gesare  Alfíeri,  Gíacinto  di  Callegno  e  Luigi  Cíbrario.  Os  dois  primeiros 
regressaram  para  o  seu  paiz,  e  o  ultimo  accompanhou  o  monarcha  até  â  sua 
morte,  acontecida  em  28  de  julho  de  48i9.  Publicou  depois  em  Turim  o  livro 
mencionado,  no  qual  dá  uma  descripção  de  Portugal,  e  trácia  extensamente 
da  doença,  morte,  e  enterro  do  rei  Carlos  Alberto. 

«Não  tem  Portugal  algum  lago  digno  de  ser  mencionado,  e  só  o  Tejo  for- 
ma um,  o  mais  incantavel,  e  o  mais  bello  porto  do  mundo.* 

•Em  quanto  a  livros  de  miniaturas  Portugal  possue  um  thesouro,  com  o 
qual  nenhum  outro  pode  ser  comparado.  Yi  a  preciosa  collecção  do  rei  de 
Wurlemberg,  vi  os  livros  com  miniaturas  de  Vienna,  Paris,  Turim,  Milão,  Siene 
Roma,  Nápoles,  Monte  Cassino,  o  La  Cava,  mas  não  encontrei  cousa,  que  se 
podesse  comparar  com  a  Bíblia  em  7  volumes  dada  de  presente  a  el-rei  D. 
Manoel  pelo  papa  Júlio  III.» 

tQuer  pela  via  terrestre  cheguemos  *  da  deliciosa  província  da  Beira  ás  mar- 

^  A  traducção  dVsla  pn!;<apem  foi  publirada  no  Panorama  de  18n2. 

TOMO  I  47 


1S8  Cl 

geDs,  do  Doaro,  quer,  dôixando  o  Oceana,  vencidos  os  bancos  de  areia,  que 
obstruem  a  foz,  remontemos  breve  espaço  do  curso  do  rio,  summamente  mages- 
tosa  e  pitoresca  ó  a  vista  da  cidade  do  Porto,  a  qual  campeia  sobre  duas  altas 
collinas,  cobre  com  seus  variados  edifícios  todo  o  declive  até  vir  banhar  quasi 
n'agua  a  extrema  casaria. 

•Por  isso,  coQtemplando-se  do  meio  do  Douro  i  veemse  umas  casas  surgin- 
do de  traz  d'outras  até  mais  a  cima  dos  dois  montes  coroados  pela  Sé,  o  pa- 
lácio do  bispo,  a  porta  do  Sol  e  a  Torre  dos  Clérigos,  que  serve  de  balisa  aos 
navegantes. 

«Em  certos  logares,  onde  mais  Íngreme  é  o  declive,  os  edifícios,  que  se  le- 
vantam a  varias  alturas,  uns  acima  dos  outros,  parece  formarem  um  corpo  só, 
de  proporções  desmesuradas,  de  altura  gigante.  Junte-se  alisto  um  rio  caudal, 
entalado  nas  margens,  e  fundo,  sulcado  de  navios  e  barcos  de  todas  as  nações, 
atravessado  pela  ponte  pênsil,  que  liga  a  cidade  á  povoação  de  Yilia  Nova  de 
Gaya,  aggreguem-se-lhe  as  quintas  espalhadas  pelas  encostas  de  ambas  as 
margens  em  meio  das  mais  excellentes  e  robustas  arvores,  que  bano  mundo; 
o  convento  da  Serra,  que  se  eleva  solitário  à  esquerda  do  Douro;  o  ceo,  ora 
avivado  pelos  esplendores  do  sol  meridional,  ora  offuscado  pelos  nevoeiros  do 
oceano,  os  quaes,  quando  não  se  condensam  muito,  não  tolhem  a  formosura 
das  scenas  da  natureza,  revestindo-as  de  tintas  melancólicas,  ora  esfumando 
lentamente  as  ladeiras  dos  montes,  ora  afogando  os  pinheiraes  solitários,  em 
parte  occultando,  em  parte  escurecendo  apenas  os  objectos,  multiplicam  os 
painéis,  que  a  vista  procura,  e  em  que  se  compraz  a  imaginação,  principai- 
mente  quando  pensamentos  tristes  e  íntimos,  fructos  de  amargos  desenganos 
6  previsões  sinistras  agitam  a  mente,  e,  parece  que  a  magoa  se  mitiga,  se  acha 
correspondência  no  melancólico  aspecto  da  natureza.  • 

O  auctor  descreve  era  seguida  os  principaes  estabelecimentos,  mas  isto 
pouco  interesse  oíTerece  para  um  portuguez,  dando-se  a  circumstancia  de  ha- 
ver hoje  outros  muito  mais  modernos,  e  também  muito  notáveis.  O  Porto  é 
uma  das  povoações  do  nosso  paiz,  que  mais  tem  progredido.  É  realmente 
uma  grande  e  sumptuosa  cidade,  cheia  de  vida  e  de  animação. 

Desde  pag.  184  até  ao  fim  traia  o  livro  da  biographia,  residência  no  Porto 
e  morte  de  Carlos  Alberto,  a  quem  a  nossa  cidade  prestou  as  maiores  home- 
nagens. D'aqui  proveiu  serem  os  habitantes  do  Porto  considerados  como  ci- 
dadãos da  cidade  de  Turim. 

•  A  cidade  do  Porto,  que  foi  a  primeira  que  em  Portugal  levantou  o  es- 
tandarte da  liberdade,  não  teve  nem  terá  outro  hospede  egual.  Povo  piedoso 

'  Cibrario  c  um  do?  mais  «Jislinclos  csrriplores  (Ja  Sardenha,  e  é  geralmente  consi- 
derado como  um  dos  primeiros  escriplores  d.i  litlcralura  contemporânea  em  Ilalia.  É  au- 
rlc  de  uma  Historia  da  ram  (Ip  Sahoya,  bem  conhecida  e  bem  apreciada  pelos  sábios  da 
Europa.  Foi  outrora  ronsclbeiro  do  tribunal  de  contas,  e  por  algum  tempo  chefe  d'uma 
repartição  no  ministério  dn  fa/enda.—  RerUta  f^nirenal  Ushonensc,  vol.  10. •,  pag.  546. 


CL  359 

e  cortez,  que  comprehendes  os  grandes  pensamentos,  e  te  compadeceste  dos 
infortúnios  dos  italianos,  Deas  te  dé  os  agradecimentos  das  homenagens  que 
prestaste  ás  virtudes  de  Carlos  Alberto,  Deus  te  conceda  gozares  por  muito 
tempo  d'uma  verdadeira  liberdade  c  d'uma  verdadeira  paz!* 

261)  OIERA  (MIGUEL  ANTÓNIO).  Natural  do  Piemonte,  e  profes- 
sor de  mathematica  no  collegio  dos  nobres,  e  depois  na  universidade  de  Coim- 
bra. 

E.  —  Os  ires  livros  de  Cicero  sobre  as  obrigações  civis,  traduzidos  em  lín- 
gua Portugueza,  para  uso  do  Real  CoUegio  dos  Nobres.  Lisboa,  offícina  de  Mi- 
guel Manescal  da  Costa,  4766, 46." 

Ha  outras  duas  edíçuos  mais  modernas. 

262)  CINCO  UBROS  DE  LA  HISTORIA  DE  PORTUGAL,  y 
conquista  de  las  Islãs  de  los  Açores  en  los  afias  de  i582  y  4583.  Madrid,  4594 

263)  CIRCOURT  (Mr.  ADOLF). 

E.  —  Catherine  d'Atayde.  Tire  de  la  Bibliotheque  Universelle  de  Genève. 
Juillet,  4853.  Geneve  Imprimerie  Ferd.  Hamboz,  4853. 

264) .  CIVIL  (THE)  WAR  IN  PORTUGAL,  and  the  siege  of  Opor- 
to.  By  a  British  Officer  of  Hussars,  who  served  in  the  Portuguese  army  during 
ihê  Peninsular  War.  London,  Edward  Moxon,  4836,  S.'»,  286  pag.  (Guerra  ci- 
vil em  Portugal.) 

Esta  obra  começa  na  conspiração  de  (jomcs  Freire,  e  termina  na  morte  de 
D.  Pedro.  Seu  author,  que  dizem  ser  o  coronel  inglez  Owen,  mostra-se  muito 
sentido  pelo  fallecimento  doeste  soberano,  e  acérrimo  partidário  de  sua  po- 
litica. 

Parece-me  ser  esta  já  uma  segunda  edição :  da  primeira  nunca  pude  en- 
contrar o  original  inglez,  mas  ha  uma  traducção  em  mào  portuguez  com  o  se- 
guinte titulo :  A  guerra  civil  em  Portugal,  o  sitio  do  Porto  e  a  morte  de  D.  Pe- 
dro, Por  um  estrangeiro.  Impresso  em  Londres  em  4836. 

265)  OLAIRE  (SAINTE-DEVILLE),  geólogo  francez,  socío  do  Insti- 
tuto; 

Nasceu  nas  Antilhas  no  anuo  de  1844.  ^ 

E.  —Voyage  géologique  aux  Antilles  et  aux  iles  Ténériffe  et  de  Fogo.  Paris, 
1856-4864. 

266)  CLARAHOND  (PRIVAT  JOSEPH),  Comte  de  la  Pelet  de  la 
Lozere. 

E.  I  —  Coup  dceil  militaire  sur  le  Portugal. 

II  Relations  de  la  Campagne  de  Portugal  en  4840-4841. 

*  Vapereau-    Dirtinnnire  des  Contfmporainx,  pag.  1611 


2(50  CL 

Conservam -se  estes  trabalhos  inéditos,  segundo  diz  a  Nmvelle  Biographie 
Vniverselle  de  F.  Didot. 

267)  OLARETA  (6AR0NE  GAUDENZIO). 

E.  — Notizie  storiche  intomo  delia  vita  ed  ai  tempi  di  Beatrice  dt  Porto- 
gallo  duchessa  di  Savoia.  Torioo,  1863.  (Noticias  históricas  acerca  da  vida  e 
tempos  de  Beatriz  de  Portugal,  duqueza  de  Sabóia). 

268)  OLEDE  (N.  DE  LA),  historiador  francez. 
Nasceu  no  anno  de  4736. 

E.  —  Bistoire  générale  de  Portugal, 

Tome  première  contenant  Vorigine,  les  rrumrs,  et  les  guerres  des  andens  Lu- 
sitaniens,  leur  etat  sotis  la  Domination  des  Romains,  Vinvaston  des  Gots  et  celle 
des  Maures,  Vérection  du  Portugal  en  Royaume  et  les  fiegnès  de  Henry  et  d'Ah 
fonse  jusqu'à  celui  de  Dom  Jean  Illinclusivement.  Paris,  Chez  CoUin,  Fils.  1735» 
4.»  gr.  783  pag. 

Tome  secundième  contenant  les  regnês  de  Sebastien,de  Philippe  II  etcjus- 
qu*à  celui  du  rol  Jean  á  present  regnant.  Paris,  Chez  Collini,  Fils.  844  pag. 

Ha  outra  edição  do  mesmo  anno  em  8  vol.  in~8.°,  em  Paris  em  casa  de 
Theodore  le  Gras. 

A  respeito  doeste  trabalho  litterario  diz  o  sr.  Fcrdinand  Diniz.  ^  «As  fontes 
consultadas  foram  Marianna,  Faria,  Brandão,  Bírago,  Barros,  Ericeira,  e  o  con- 
de de  Alegrete.  Os  chronistas  do  xv  e  do  xm  séculos  lhe  são  desconhecidos 
completamente :  Fernão  Lopes,  Ruy  de  Pina,  Azurara,  Rezende  nunca  por  elle 
foram  citados,  e  até  mesmo  não  conhece  a  compilação  de  Duarte  Nunes  de 
Leão.» 

A  traducção  de  algumas  passagens  dó  prologo  d'esla  obra  fará  conhecer  o 
mtuito  d'ella : 

«Como  possuímos  em  nossa  lingua  a  historia  geral  da  maior  parte  das  mo- 
narchias  da  Europa,  julguei  ser  conveniente  termos  a  historia  completa  d' um 
reino,  que,  apezar  de  pouco  considerável  em  extensão,  o  é  todavia  muito  por 
sua  vantajosa  posição,  fertilidade,  industria  e  riqueza  de  seus  habitantes,  pelas 
gloriosas  victorias,  que  os  portuguezes  obtiveram  sobre  seus  inimigos  na  Eu- 
ropa, e  pelas  úteis  conquistas,  que  fizeram  em  o  novo  mundo.» 

A  Historia  de  Portugal  por  La  Clede  era  out*rora  muito  apreciada;  hoje 
as  tendências  históricas  são  mui  diversas  e  pódese  asseverar  que  os  leitores 
d'esla  obra  são  actualmente  bem  pouco  numerosos.  Quem  terá  hoje  paciência 
para  ler  um  escriplor,  que  narre  a  historia  dos  antigos  lusitanos,  seguindo  as 
pisadas  de  Frei  Bernardo  de  Brito? 

D'esla  obra  se  publicou  em  178i  uma  traducção  portugueza  em  16  volumes, 
illustrada  com  muilas  notas  históricas,  geográficas  e  criticas;  e  com  algumas 
dissertações  singulares. 

»  Firinin   Didol  —  Snuvcílr  r/iof/rtipUir  r,h\à'nle,  voi.  '^^^,  paj;   .">35. 


CL  261 

269)  CLENARTZ,  KLEINARTZ,  ou  á  latina  OLENARDUS  (NIOO- 
LAUS)  —  Philologo  celebre,  natural  de  Diest,  no  Brabante. 

Nasceu  no  anno  de  1495. 

Depois  de  ensinar  por  alguns  annos  as  línguas  grega  e  hebraica  em  Lou- 
vain,  veiu  para  Portugal^  convidado  por  el-rei  D.  João  III  com  o  fim  de  ser 
mestre  de  D.  Henrique,  depois  cardeal  e  rei.  Mais  tarde  estabeleceu  aula  de  la- 
tim em  Braga.  • 

E.  —  I  Institutiones  Grammaticae  Latinae, 

II  Comiti^  Palatiniy  Ducis  Bavariae,  S.  R.  Imperii  Electoris  etc,  ubi  de  di' 
versoriis  Hispanicis.  Hanoviae,  Typis  Wecheliants  apud  Claud  Mammm  et  hc' 
redes  Joan.  Aubrii,  1606,  8.»,  340  pag. 

III  Institutiones  Grammaticae  Graecae,  Bracharae,  etc.  Doestes  dois  com- 
pêndios ha  um  numero  extraordinário  de  edições. 

rV  Nicolai  Clenardi  Epistolaram  libii  duo,  His  accedunt  excerpta  Huberti 
Thomae  Leodii  Annalibus  de  vita  Friderici. 

Na  Bibliotheca  Publica  de  Lisboa  existe  um  exemplar  d'esta  obra,  que  é 
rara,  e  que  mereceria  ser  traduzida  em  vernáculo,  se  na  época  actual  houvesse 
entre  nós  leitores  para  tal  género  de  livros. 

São  estas  cartas  escriptas  em  estylo  faceto,  e  d'ellas  parte  foram  dirigidas 
a  Jacob  Latòmo,  mestre  de  Clenartz,  e  parte  a  vários  outros  litteratos. 

Logo  na  primeira  dirigida  a  seu  mestre  narra  como  a  convite  do  rei 
de  Portugal  se  dirigira  de  Salamanca  para  Coimbra,  e  dá  conta  da  sua  via- 
gem. 

Diz  que  são  tantos  oâ  mouros  e  etbiopes  empregados  na  qualidade  de  cria- 
dos de  servir  em  Portugal,  que  lhe  parece  maior  o  numero  de  escravos,  que 
o  de  pessoas  livres  n'este  paiz. 

Vamos  agora  ver  como  Clenartz  aprecia  alguns  dos  litteratos  portuguezcs 
d'aquel]e  tempo,  e  o  estado  dos  estudos  n'este  paiz. 

«Est  Conimbricae  apud  Lusitanos  jam  praelum  ^  non  solum  Latinarum,  sed 
otiam  Graecarum  literarum,  vide  num  consiiium  aliqnod  reperire  possis,  ut 
ÍDde  semper  Graecorum  librorum  numcrum  justum  consequaris :  id  quod  fa- 
cile  liat,  si  cum  Vincentio  Fabrício  per  epistolas  aliquando  confabulerís,  qui 
iilic  Graece  docet. 

«Resendius  prjmas  partes  obtinet,  poeta  cum  veterlbus  comparandus,  cuí 
si  juge  studium  staret  poeticum,  non  minus  nobilitarei  suam  Eboram,  quam 
Lucanus  Cordobam.  , 

«Georgii  Coelii  viri  praeter  Graecarum  literarum  peritíam,  sic  et  prosa  et 
carmine  celebris,  ut  dubites  utrb  magis  polleat.  Míhi  semper  ob  id  probata  est 
oratio  ejus  soluta,  quod  nescíam  an  hodic  sint  qui  tam  prope  accedant  ad  il- 
lam  Komanam  eloquentiam.  Scrmo  est  purus,  concinnus,  cl  eleganti  munditíe, 
nec  quicquam  tamen  prao  se  fert  afTectatum.  Vidcorquc  inihi  non  immeritu 
Resondium  inter  poetas,  Coelium  inter  oralores  coiiocasse,  ut  in  bcllo,  quod 

*  Carla  a  João  Vasco j  paj;.  177. 


26i  CO 

spíro  contra  Machometum,  Ccelius  orare  meiius,  Resendius  canerc  possít  sodo« 
rius.  Toter  Theologos  aatem  quem,  quaeso,  praeferam  Joanni  Parvo?... 

«Ceteras  dotes  et  viri  probitatem  hinc  collígiie,  qnod  cum  multís  egregie 
doctis  spectataeque  vitae  non  careat  Lusitânia,  Pariam  tamen  nuper  Rex  in- 
ciytQS,  caeteris  postbabitis,  sua  sponte  designavit  Episcopum. 

«Erat  etiam  non  postremae  notae  D.  Franciscus  Melionius,  genere  ac  lite- 
ris  adeo  praeditus,  ut  et  inter  aulicos  próceres  dignitaftem,  et  inter  eruditos  cia- 
ram famam  teneret. 

«Nec  silentio  praetereundus  est  Franciscus  Geraites  egregius  medicus,  atra- 
que língua  bene  percultus,  et  vir  acerrimi  judicií,  qui  tametsi  inter  amicos  non 
infimum  locum  occupavít,  partim  eruditione  commendatus,  partim  in  me  col- 
lato  beneficio. 

«Missos  faciam  reliquos,  ut  properem  ad  Antonium  Pbílippum,  tam  dedi- 
tum  Medico  Arábico,  quam  devotus  esset  Geraites  Graeco.  Est  hic,  Antoníus 
inter  Eborenses  summi  nomlnis,  et  quod  me  titillabat  libris  Arabicis  instruc- 
tus  quamplurimis. 

•      • 

cQmitto  reliqua  quo  properemus  Conimbrícam,  ubi  rex  novam  tum  molíe- 
batur  Academiam.  Hic  qnid  opus  est  multis  laudibus,  quando  se  ipsa  in  dies 
magis  ac  magis  commendat?  Erant  vacationes,  et  in  ceteris  professioníbus  i  fe* 
riae.  Nec  judicium  ferre  possum  nisi  de  auditório  Graeco,  quod  novo  miraculo 
reddit  attonitura.  Vincentius  Fabricius  enarrabat  Homerum,  non  ul  Graeca  ver- 
terei latine,  sed  quasi  agerel  in  ipsis  Athenis;  et  nihilo  segnius  discipuii  prae- 
ceplorem  iinitabantur,  ferme  in  totum  usi  et  ipsi  sermone  Graecanico.  E  qui- 
bus  auspiciis  si  fas  est  divinare,  florentissima  eril  Gonimbrica  linguarum  stndiis* 

•De  Theoiogia  speciorn  praebuerunt  três  monachi,  qui  cum  paucis  mensi- 
bus  in  ea  palaestra  fuissenl  versati,  de  themate  propósito  disputaverunl  argu- 
tíssimo, et  reipsa  testaii  sunt  quam  eruditis  viris  iilic  darent  operam.  Quod  si 
honos  olit  artcsj  quid  manet  Conimbricam,  nisi  ut  ipsam  aliquand^  vincat  Sal- 
manticam?  Neque  enim  Rex  parcit  uliis  sumplibus,ut  tam  opimis  proventibus  do- 
nat  Cathedras,  ut  in  universa  Hispânia  non  sit  Professoribus  fruclus  uberior.» 

270)  CLUSn  (CAROLI). 

E.  —  Aliqiwl  notae  in  Garria  aromatnm  historiam  ejusque  descriptiones 
nonnullarum  stirpinm  et  aliarum  exoticarum  rerum  quae  a  generoso  tiro  F. 
Drake  ohservatae  in  lanya  nuvigationc.  Plantio,  1582.  T.  Compans,  pag.  62. 
(Algumas  annotaçòes  ao  livro  do  Garcia  da  Horta  sobre  as  drogas  do  oriente.) 

271)  COCIO  (D.  MARGARIDA  IRIARTE  E  SOMALLO  AYME- 
RIK  BIOSLADA   DE). 

Nasceu  em  Buenos  Ayres  (Ani(.Tica)  no  auao  de  1801,  c  depois  condessa  do 

'  Epislola  ad  ('hristianos  de  profcsaionc  .\)«6í>a,  militiaiiuc  innalitucnda  adrcnui 
Machomefum. 


GO  263 

Casal,  por  ter  casado  com  José  de  Barros  e  Abreu  Sousa  e  Alvim,  conde  do 
mesmo  titulo). 

£.  —  I  Poema  épico,  dedicado  á  nação  porlugueza.  Porto,  Typographia  de 
Sebastião  José  Pereira,  1849. 

II  Branca,  Drama  em  quatro  actos  e  oito  quadros.  Producção  e  engenho  da 
condessa  do  Casal.  Porto,  Typographia  de  Sebastião  José  Pereira,  1847. 

272)  OOOKBURNE  (Miss.  OATHERINE). 
E.  —  Agnes  de  Castro.  A.  Tragedy.  London,  1697. 

273)  COISSARD  (MIOHEL). 

E.  —  La  vie  du  bienheureux  Franrois  Xavier^  mise  en  (rançais  sur  le  la- 
tiu d'Uorace  Tursellini.  Lyon,  1612,  8.»  (Vida  de  S.  Francisco  Xavier.) 

274)  OOLBATCH  (Dr.) 

E.  —  An  examination  of  the  late  Archdeacon  Echard's  account  of  mariage' 
treaty  between  King  Charles  the  second  and  queen  Catherine  infama  of  Portu» 
gal.  Cambridge,  1733:  (Exame  do  tratado  de  casamento  do  rei  Carlos,  com  a 
infante  D.  Catbarina.) 

Apparece  esta  obra  mencionada  no  catalogo  manuscripto  da  livraria  do 
conde  de  Lavradio. 

27o)  COLLECTION  of  general  voyages,  from  the  commencement  of  the 
Partuguese  discoveries  to  the  present  time.  London. —  (Coilecção  de,  viagens.) 

276)  COLLOQUIA  et  Dictionariolum  octo  linguarum :  Latinae,  Gallicae 
Belgicae,  Teutonicae,  Hispanicae,  Italicae,  Anglicae  et  Portugallicae.  Uber  om» 
nibus  Linguarum  studiosis  domi  ac  foris  apprime  necessarius.—  Colloques  ou 
Dialogues  avec  un  Dictianaire  en  huict  languages  Latin,  Flamen,  François, 
Allemany  Espagnol,  Italien,  Anglois  et  Portuguez :  Nouvellement  revues,  corri- 
géz  et  augmentéz  de  quatre  dialogues,  três  pro/itables  et  utiles,  tant  au  faict 
de  marchandise,  qu'aux  voyages  et  autres  trafiques.  Londiní.  Excusa  typis  E. 
G.  impensis  Michaelis  Spark  Junioris,  1639,  362  pag. 

277)  OOLMENAR  (DON  JUAN  ALVAREZ  DE)-Escriptor  hespa- 
nhol,  que  vivia  na  primeira  metade  do  século  xviii  i. 

E.  — I.  Les  Delices  de  VEspagne  et  du  Portugal^  oía  Von  voit  une  descrip- 
tion  exacte  des  Antiquitez,  et  des  Provinces,  des  montagnes,  des  villes,  des  Ri- 
vieres,  des  Ports  de  mer,  des  Fortei^esses^  Eglises,  Academies,  Pulais,  BcUns  etc. 
De  la  Réligioti,  des  mceurs  des  habitants,  de  leurs  fites,  et  généralement  de  tout 
cr  qu'il  y  a  deplus  considerable  à  remarquer,  Le  tout  enrichi  de  figures  en  taiUe 
douce,  dessinées  sur  les  lieux  mêmes,  par  — A.  Leide.  Chez  Pierre  Vander, 


Firolin  Didot  —  Aoutc//c  Bioyraphic  Univcrsdlc,  voi  II.",  pag.  356. 


264  GO 

1707»  5  vol.  8.**  CoD)  grande  namero  de  estampas.  Leyde,  1715  em  6  vol.  Esta 
obra  foi  traduzida  em  Flamengo. 

O  vol.  4.*  é  o  que  trata  especialmente  do  Portugal,  se  bem  que  nos  outros 
também  se  enconira  alguma  coisa  a  este  respeito.  Diz  que  Portugal  é  um  paiz 
muito  bom,  rico,  fértil,  e  abundante  de  tudo,  quanto  se  pôde  desejar  para  as 
necessidades  e  delicias  da  vida. 

E8T.V1IPA8 

!.■  Vista  de  Villa  Nova  e  forte  da  Conceição  (da  Cerveira?)  —  2.»  Vista  de 
Braga.— -3.»  Vista  do  Coimbra.— -  4.*  Vista  de  Lisboa  — 5.*  Vista  do  Terreiro 
do  Paço.—  6.*  Palácio  do  rei  em  Lisboa.—  7."  Vista  d'um  palácio,  que  o  rei  de 
Portugal  comprou.—  8.*  Vista  de  Cascaes  e  Belém.—-  9.*  Vista  da  barra  de  Lis- 
boa e  egreja  do  Belera.—  IO.*  Vista  da  Egreja  de  Belém.—  H.*  Vista  de  Setú- 
bal.— 12.*  VisUa  de  Évora.— 13.*  Vista  de  Estremoz.—  14.*  Vista  de  Eivai».— 
lo.*  Vista  do  Arronches.—  16.*  Vista  de  Olivença.—  17.*  Vista  de  Villa  Viçosa* 
—  18.*  Vista  de  Ferreira. 

No  2.°  vol.— Vista  d'uma  corrida  de  touros  em  Lisboa. 

No  6.**  vol.— 1.*  Embarque  da  princesa  de  Portugal,  Catharina,  esposa  de 
(Carlos  II,  rei  dlnglatorra.— 2.*  Vestuário  dos  cavalleiros  de  Portugal. 

n.  Ânnales  d'Espagne  et  de  Portugal,  contenant  tout  ce  qui  s^est  passe  de 
plíis  important  dans  ces  deux  royaumes  et  dam  les  autres  parties  de  VEurope^ 
de  inème  que  dans  les  Indes  Onentales  et  Occidentales^  depuis  Vetablissement  de 
ces  deux  monarchies  jtisquW  present.  Avec  la  description  de  tout  ce  qu^U  y 
a  de  pltís  remarquahle  en  Espagne  et  en  Portugal.  Leur  etat  presente  leurs 
inlerets,  la  forine  du  Gonveniement^  Vetendue  de  leur  commerce  etc,  par  — 
L(í  loiíl  cnrichi  do  Caries  Geographiques  et  de  tròs  belles  figures  en  taille  doa- 
(•(\  A  Amstenlam.  Chez  François  Lllonoré  et  Fils,  1741,  4  vol.  4.*»  gr. 

Alj^^nmas  das  estampas  relativas  a  Portugal,  que  enriquecem  esta  obra,  fa- 
zem dilTeronra,  da^í  que  apparccoram  na  outra  já  mencionada  —  L<?5  Delices, 

HIH)     COLMEIRO(D.   MIGUEL). 

K.  —  La  Botânica  //  los  Botânicos  de  la  Penituiula  Hispano- Lm^itana,  Es* 
índios  bibliographicos  y  biograpJncos.  Madrid,  18.')8. 

279)  COLOMEZ  (JUAN). 

E.  —  Jgnez  de  Cí7.ç/ro.  Tragedia.  Livoriiu,  1781. 

280)  COLVOCORESSES  (LIEUT.  GEO.  M.  —  U.  S.)—  Navy  and  uf- 

ficicr  of  lho  oxpodilion. 

K.  —  Fíif(r  years  in  thc  govcrnvicnt  (wploving  c.rpcdilion  coinmanded  by 
(fíplain  Charles  Willces  to  Uw  ísfand  of  Madeira^  Cope  Verd  IslandSy  Brazii, 
C.oasl  nf  VdlammiUy  Chiliy  Peru,  Pnnmnto  (Ivonpy  Solclg  IslandSy  Navigatmr 
gronp.  Anslralia,  Anfarlich  Continente  Me/r  Zraland,  Frirndly  Islands,  Fejre 
(iroup,  Sandwich  Islands.  iXorlhwest  Coasi  of  Amcricaj  Oregon,  Califórnia, 
Kasl  Indcs,  St.  Uclena,  ctr.  etc.  Scrond  edilion.  Now-York,  It.  T.  loung  Publis- 
lior,  18'j8,  8.",  :]71  [)ag.  Com  aljíuinai?  oilanipa^. 


CO  265 

^81)  COMEDIA  FAMOSA:  El  falso  núncio  de  Portugal,  Barcelona, 
1769. 

282)  COMEDIA  FAMOSA  dos  successos  de  Jahacob  e  EssaVy  composta 
por  um  auctor  celebrq,  estampada  á  custa  de  Abraham  Ramires  e  Ishac  Cas- 
tellOy  em  cujo  poder  se  acham  a  vender,  Delft.  Anno  5459.  (Corresponde  a  1699.) 

Falia  d'esta  obra  o  sr.  Innocencio  Francisco  da  Silva  a  pag.  92  do  S.^"  vol. 
do  seu  Diccionario, 

283)  COMELLA  (D.  LUCIANO  FRANCISCO). 

E.  —  I.  Dona  Inês  de  Castro.  Escena  tragico-lirica  por  — .  Valência,  1815. 
II.  El  mayor  rival  de  Roma^  Viriato.  Drama  trágico.  Gadix. 

284)  COMPARETTI  (ANDREA)  —  Medico  iUliano. 

Nasceu  em  Fríoiil  no  anno  de  1746  e  falleceu  em  Pádua  no  de  1801.  i 
E.  —  Osservazioni  sulla  proprieta  delia  China  dei  Brasile,  Pádua,  1794, 
8.»  —  (Observações  sobre  a  quina  do  Brazil.) 

285)  COMPENDIO  DE  LA  HISTORIA  DE  PORTUGAL  desde  el 
principio  de  su  monarquia  hasta  el  ano  de  1823  por  Alfonso  Rabhe...  traduci* 
do  ai  Castellano.  Paris,  1827,  2  vol.  12.<» 

286)  CONCERT  VAN  REGLEMENT  op  Brasil  Ghenoment  by  haere 
Ho.  Do.  de  Heeren  Staeten  General  der  Hereenighde  Nederdanden  ende  de  Te- 
mindl-Hesboren  der  Teoctroveerde  West^Iudische  Compagnie,  1648,  8.*,  foi. 
sem  pag.  —  M.  S. 

287)  CONDER  (JOSIAH). 

E.  —  Spain  and  Portugal.  London,  1831,  2  vol. 

288)  CONESTAGIO  (JERÓNIMO  DE  FRANCHI-GENTILHUO- 
MO  GENOVESE). 

Nasceu  em  Toledo  no  anno  de  1528,  e  ahi  morreu  em  1601. 
E.  —  Del  unione  dei  regno  di  Portugallo  alio  Corona  di  CastigUa.  Istaria 
dei  Sig.—  In  Génova.  Appresso  Girolamo  Bartoli,  1589,  4.°  peq.,  412  pag. 

•Tenciono  escrever  as  coisas  do  reino  de  Portugal,  desde  o  tempo  que  el- 
rei  D.  Sebastião  I  com  uma  numerosa  armada  passou  á  Africa  para  fazer  guer- 
ra  aos  mouros  da  Mauritânia  Tingitana,  até  que  (depois  de  vários  trabalhos) 
o  referido  reino  em  tempo  de  Philippe  II  rei  de  Castella  se  uniu  aos  outros  de 
Hespanha.» 

Eis  o  começo  d'uma  obra  bem  conhecida  em  toda  a  Europa,  e  da  qual 
existem  varias  traducçues  o  edições,  mas  que  em  Portugal  fez  levantar  altos 

1  Firrnin  Didol  —  ^'ouvelU  Biographie  Univcrsellc,  vol.  II.*,  pag.  36S. 


Í66  CO 

brados  de  indíguaçào  contra  seu  auctor,  ^  por  se  julgarem  os  portuguezes  n'ella 
calumniados  por  um  portuguez,  2  por  isso  que  se  accredilou  que  o  tal  Fran- 
chi  Gonestagíonada  mais  era  de  que  um  pseudonymo,  sendo  o  verdadeiro  nome 
do  auctor  D.  Joào  da  Silva,  conde  de  Portalegre.  Realmente  passagens  como 
estas,  e  outras  muitas  do  mesmo  calibre  não  eram  muito  4)ara  lisonjear  nossos 
antepassados : 

•As  delicias  da  índia,  e  a  abundância  do  commercio  tendo  os  corrompido, 
não  pensaram  mais  que  em  gosar  do  que  ganharam,  sem  pensarem  em  Deas. 
Caíram  n'uma  ociosidade  cheia  de  orgulho  e  de  presumpção.  Era  impossive) 
retirar  um  povo  tão  corrupto  do  desregramento  em  que  estava.  É  a  nação  a 
mais  orgulhosa  do  mundo.  D.  Sebastião  educado  no  meio  de  mulheres  e  de 
frades,  sustentado  nos  prazer&s  e  nas  delicias,  tinha  tão  grande  paixão  peia 
guerra,  comu  se  tivesse  nascido  e  sido  educado  no  meio  do  exercito. 

«Entre  todos  aquelles  preparativos  não  se  via  aquella  ordem,  e  aquellaín- 
telligencia  tão  necessária  a  todas  as  coisas  da  guerra :  tudo  era  embaraça  e 
confusão;  nenhuma  exactidão  nas  revistas,  nenhuma  fídelidade  no  pagamen- 
to, uma  extrema  abundância  de  coisas  inúteis,  e  uma  grande  carência  do  que 
era  mais  necessário.  Toda  a  nobresa  por  um  requinte  extraordinário  vestía-se 
á  hespanhola,  não  se  lhe  viam  nem  armas,  nem  couraças,  nem  as  provisões 
necessárias  de  agua  e  biscouto  para  embarcarem.  Tudo  eram  bordados,  eas- 
quilbismo  de  estofos  magniGcos,  doces  e  licores.  Somente  se  via  baixella  de 
prata,  tendas  forradas  com  fazendas  de  seda,  e  por  toda  a  parte  equipagens 
de  príncipes,  ao  passo  que  os  soldados  morriam  á  fome.» 

Realmente  estas  expressões  parecem  d' uma  audácia  inaudita  attendendo 
aos  tempos,  em  que  se  escreviam;  mas  os  seguintes  trechos  deviam  encher 
os  portuguezes  d*uma  cólera  inexprimivel. 

Trata-sc  da  batalha  de  Alcácer  Quibir — «Os  portuguezes  dispararam  sua 
artilharia  com  tão  pouca  ordem  e  intelligencia,  que  se  tornou  quasi  inútil;  mas 
á  segunda  carga  dos  mouros,  mal  viam  o  fogo,  deitavam-se  immediatamente 
no  chão.  Na  terceira  linha  os  portuguezes,  deitando  fora,  as  armas  punham-se 
de  joelhos  diante  dos  mouros,  o  lhes  pediam  a  vida.  Os  mouros  preferem  os 
prisioneiros  portuguezes  aos  de  todas  as  outras  nações,  pois  sendo  excessiva- 

1  £  fama  publica  que  o  verdadeiro  auctor  da  referida  obra  é  D.  Joito  da  Silva,  hes- 
panhol,  conde  de  Portalegre,  bem  acceito  ao  sobredito  Pbilippe  II.  O  erudito  e  judicioso 
D.  Francisco  Manuel  de  Mello  na  sua  Epanaphora  2  *  faz  da  sobredita  Historia  o  do  S6U 
auctor  em  summa  o  seguinte  juízo:  Que  elle  se  roubou  a  si  mesmo,  mais  que  a  dós.  Pois 
apesar  das  imposturas  com  que  quíz  esenrecer  a  nossa  fama,  os  portuguezes  ficaram  re- 
putados por  gente  valerosa  no  mundo,  e  clle  por  auctor  fabuloso  do  tempo.»  Bibliolheca 
Histórica  de  Portugal,  pag.  337. »>  Jeronymo  de  Mendonça  diz  porém  mui  positivamente 
que  o  auctor  era  genovez,  c  occupado  na  feitoria  da  alfandega  de  Lisboa. 

'  Escreveu  obras  mencionadas  por  Barbosa,  que  allribuindo-lhc  a  qualidade  de  por- 
tuguez por  sua  mae,  lhe  deu  por  ií?o  logar  nu  Bibliothcra  Lusitana.»  Sr.  Innocencio. 
Picc  lorao  i.",  pag.  3u. 


CO  íí  67 

ineote  eíTeminados  para  soíTrerem  os  iDcommodos  do  captiveiro,  sacríOcam  fa- 
cilmente grandes  sommas  para  se  resgatarem. 

«Meara,  foi  quem  n'esta  conjunctara  fez  progredir  mais  os  interesses  de 
sen  ame,  mas  de  todos  os  meios,  que  empregou,  o  dinheiro  e  as  promessas  fo- 
ram os  mais  eíTicazes  para  associar  os  nobres  ao  partido  de  Philíppe  II. 

«O  calor  do  clima,  a  immundicie  da  cidade  de  Lisboa,  o  mau  sustento  do 
povo^  que  em  geral  só  vive  de  peixe,  o  pouco  cuidado  dos  magistrados  em 
separar  os  empestados  dos  que  não  o  estavam,  seu  desleixo  em  tudo  mais  con- 
tribuiu muito  para  augmentar  a  epidemia  de  1580. 

«A  confusão,  em  que  se  achava  o  reino,  lançou  os  frades  n  uma  extraordi- 
nária relaxação.  Nada  mais  se  via  que  devassidão  e  escândalo  derramado  por 
toda  a  ordem  ecclesiastíca. 

«A  desordem  não  Qra  menor  no  governo  ecclesiastico,  do  que  no  temporal. 
Todos  os  religiosos,  á  excepção  dos  jesuitas,  renunciando  à  sua  profissão,  e  a 
seu  caracter,  do  qual  nada  mais  guardavam  senão  o  habito  e  o  nome,  passa- 
vam uma  vida  de  soldados,  todas  suas  funcções  eram  uma  continua  profana- 
ção de  seu  ministério.  Parecia  que  para  elles  não  havia  Deus,  e  D.  António,  o 
prior  do  Crato,  no  meio  de  suas  desgraças,  continuava  sempre  ama  vida  de 
devassidão.  As  mulheres  mais  honestas  mal  se  podiam  livrar  de  suas  violên- 
cias. Violou  até  religiosas,  entre  as  quaes  a  luxuria  c  o  escândalo  se  tinham 
introduzido  como  entre  os  homens. 

•      • 

Yé-se  pois  que  inevitavelmente  os  portuguezes  se  deviam  julgar  escanda- 
lísados  com  estes  e  vários  outros  trechos,  e  por  isso  Jeronymo  de  Mendonça 
poblicou  em  1607  a  sua  jornada  de  Africa,  em  a  qual  responde  a  Jeronymo 
Franqni :  «Veado  o  modo  com  que  alguns  estrangeiros  como  Jeronymo  Fran- 
cbi,  e  frei  António  de  S.  Romão,  tratam  d'eila,  accrescentando  ás  faltas  e  mi- 
sérias outras  muito  maiores,  como  senão  bastaram  as  que  na  verdade  aconte- 
ceram, e  que  nosso  descuido  podia  acreditar  seus  erros,  vendo  os  que  depois 
vieram,  que  ninguém  os  contradisse,  sendo  tão  manifestos;  me  pareceu  rasao 
não  passar  em  silencio  cousa  alguma,  porque  se  saiba  em  todo  o  tempo  o  que 
aconteceu  na  verdade,  apontando  alguns  lugares  nos  quaes  se  verá  claramente 
aquillo  de  que  estes  auctores  deviam  ter  errada  informação. 

«Assi  que  está  manifesto  não  poder  Jeronymo  Franqui  escrever  dos  portu- 
guezes, nem  é  rasão  se  lhe  dé  algum  credito,  pois  não  se  achou  presente  em 
qoanto  diz :  errando  o  nome  aos  homens,  e  muitas  vezes  e  offlcio,  e  quasi  sem. 
pre  os  successos,  além  de  ser  suspeito  claramente,  tanto  que  frei  António  de 
S.  Romão  diz  que  a  nação  portugueza  se  pôde  chamar  offendida,  e  que  as 
obras  de  Franqui  arguem  vingança  contra  os  portuguezes,  o  que  devia  nas- 
cer de  algumas  paixões  particulares.» 

Seja  como  for,  o  que  é  certo  é  que  das  obras  relativas  a  assumptos  por- 
tuguezes, a  mencionada  de  Franqui  é  uma  das  mais  conhecidas  na  Europa, 
sendo  uma  leitura  muito  amena. 


268  CO 

1.*  edição  do  original  italiano.  Génova,  1585. 

2.*  edição  Génova.  Âppresso  Girolamo  Bartolí,  1589.  Traz  uma  dedicatória 
ao  governador  da  republica  de  Génova,  onde  o  anctor  se  defende  de  varias 
accusaçoes,  que  flzeram  à  sua  obra. 

3."  edição,  Venetia,  1692.  Outra  em  1642.  Firenza,  1642. 

O  sr.  Innocencio  menciona  edições  de  Milão,  1616,  e  Verona,  1642.  Foi  tra- 
duzido em  hespanhol,  por  Luiz  Bavia,  Barcelona,  1610,  4.<'  Em  francez,  por 
Th.  Nardin,  Besançon,  1596,  2.«  edição,  1600,  3.»  1601, 1613.  Nova  tradacçáo 
em  2  vol.  Paris,  1680^  c  reimpresso  em  1695.  E  em  latim  com  o  seguinte  ti- 
tulo :  De  Portugalliae  conjunctione  cum  regno  Castellae  historia^  ex  itaiico 
semume  tn  Latinum  conversa.  Francofurti,  1602. 

289)  OONFUTATIO  NUGARUM  NONH  LEONIS,  Júris  Consulti 
LusUani,  nonnullorumqite  ejusce  farinae  interpolatorum,  qui  linguOy  calanuh 
que  vencUes,  ex  vafris  mendaciis,  atqm  scurrilitate  quaestum  sibi  paraiU^ 
molierUeSt  Portugalliae  regnum  Philippo  Austríaco,  Castellae  Regi,  jure  kae- 
reditario  óbvenisse,  ignaris  priscorutn  Portugallensium  mqrum  m  suis  Regi* 
bus  eligendiSy  inaugurandisque  falso  persuadere^  et  Serenissimi  Principis  DO' 
mini  Antonii,  veri  legtíimiq;  Portugalliae  etc,  Algarbiorum  Regis  jus  veh 

licare : 

Excerpta  ex  incorruptis  rerum  Portugallensium  monimenis,  sed  ex  erudi- 
tissimi  R'  P.  F.  Joseph  Texerae,  Ord,  Praed.  Sacr,  Theol.  Magistri  ad  Inqui- 
sitores  Portugalliae  Anticrisi,  cujus  pars  magna  Lugduni  Galliae  anno  1589 
typis  mandata  fuit.  Ticini,  Ad  insigne  perscquentis  iníquos  et  mendaces,  an- 
no 1594,  8.",  123  pag.  além  d'um  longo  prefacio  não  paginado. 

Dois  fins  tom  este  livro :  1."  Refutar  a  gí^nealogia  dos  reis  de  Portugal,  com- 
posta por  Duarte  Nunes  de  Leão,  não  deixando  passar  occasião  favorável  para 
dirigir  insultos  a  este  auctor.  2.°  Provar  que  D.  António,  prior  do  Crato,  é  o 
legitimo  rei  de  Portugal.  Que  pena,  o  não  possuirmos  um  trabalho  perfeito 
acerca  da  biographía  d'este  varão,  um  dos  vultos  europeus  mais  notáveis  do 
seu  tempo ! 

290)  CONQUISTA  DE  LA  ISLÃ  DE  LA  TERCERA  y  de  las  de- 
mas  islãs  de  los  Açores  que  hizo  D.  Álvaro  Bazan,  marques  de  Santa  Cruz, 
1583. 

«Le-se  no  fim  d'este  opúsculo:  Fecha  cn  la  Ciudad  de  Angra  a  onze  de 
agosto  de  mil  y  quinientos  ochenta  y  três.  M.  Cotton  no  seu  Typographical  ga- 
zetteer  infere  que  este  volume  foi  impresso  em  Angra.  Porém  eu  creio  que  é 
erro,  e  que  esta  data  se  refere  ao  logar  em  que  a  carta  foi  escripta,  c  não  ao 
logar  da  impressão.»  F.  Compans,  pag.  65. 

291)  CONSTANTINI  (EMAN). 

E.  —  Historia  de  orígine  aíque  vita  rcguin  Limtaniac.  Homae,  1601.  (Ori- 
gem c  vida  dos  reis  de  Portugal). 


CO  J69 

292)  CONTRERAS  (FRANCISCO). 

E.  —  Nave  trágica  de  la  índia  de  Portugal,  Madrid,  1624.  T.  Compans, 
pag.  i48. 

293)  OOOLEY  AND  QUEEN. 

E.  —  Africa,  A  memoir  of  the  civilization  of  tlie  tribes  inhabiting  the  high- 
lands  near  Delagoa  Bay,  LoDdon,  1833. 

294)  COPIA  DETiTiA  REPLICA  fatta  di  ordine  de  S,S,  dal  nuntio  di 
Spagna  ai  Ré  Catholico  interno  la  lega  diffensiva  e  pace  con  Portogallo, 

Sem  áaXSL,  nem  logar  de  impressão.—  C.  M.  B.  I.  P. 

295)  COPIA  DI  SCRITTURA  informativa  concernente  le  presente  ver- 
tenze  di  Portogallo  con  li  P.P,  Gesuitiy  secondo  le  notizie  trasmesse  in  Roma  di 
monsignor  nunzio  alia  Segretaria  di  StatOy  o  distribuite  alie  signori  Cardinali 
dei  SanfOffizio,  unitamente  col  memoriale  presentato  da  Padre  Genercde  di 
JestUtiil  die  31  Luglio  1758  alia  Sanlita  di  Clemente  viii. 

Sem  data,  nem  logar  de  impressão.—  C.  M.  B.  I.  P. 

296)  COPPOLIiA.—  Maestro  italiano. 

Compoz  uma  opera,  intitulada  —  Ignez  de  Castro,  a  qual  foi  representada 
no  anno  de  1841,  no  theatro  de  S.  Carlos  em  Lisboa;  mas  o  êxito  não  foi  pros- 
pero, segundo  diz  a  Revista  Universal  Lisbonense  a  pag.  169  do  1.»  vo- 
lume. 

297)  COPYE  VAN  DE  RESOLUTIE  van  de  Heeren  Burgemeesteis 
ende  Raden  tot  Amsterdam.  OpH  stuck  vande  West-Indische  compagnie,  Geno- 
men  in  August  1649,  8  pag.  sem  numeração. 

298)  CORDUSA  (P.  JULES  CÉSAR). 

E.  —  //  buon  Raciocinio  dimostrato  in  dm  scrittt,  ossia  saggi  apologetici 
sul  famoso  processo  e  trágico  fine  dd  fu  P,  Gabr.  Malagrida,  Venezia,  1782. 
Ibid.  1784. 

299)  CORNER  (Miss.) 

E.  —  The  histories  of  Spain  and  Portugal  from  the  earliest  period  to  the 
present  time,  adapted  for  yotUh,  schools  and  families  by,^  London,  S.*",  176 
pag.  Com  uma  estampa  na  frente  representando  D.  Ignez  pedindo  a  vida  ao 
rei  de  Portugal. 

300)  CORNIDE  (D.  JOSÉ). 

E.  —  I  Estado  de  Portugal  em  1800.  Obra  manuscripta,  que  se  conserva  na 
Real  Academia  de  Historia,  em  Madrid. 

II  Descripcíon  geographira  e  histórica  de  los  pueblos  mais  notahles  dei  reino 
de  Portugal,  « 


570  GO 

<D.  José  Gornide  demoroa-se  em  Portagal  durante  os  annos  de  i794  e  9& 
encarregado  pela  Academia  Hespanhola,  de  estudar  as  antiguidades  de  Por- 
tugal. A  maior  parte  dos  seus  papeis  encontram -se  em  Madrid;  de  alguns  po- 
rém existem  copias  na  Bibliotheca  Nacional  de  Lisboa.»  ^ 

301)  OORONAOION  DE  LA  MAGESTAD  DEL  HEY  DON  F£- 
LIPPE  m  nuestro  senor.  Juramento  dei  serenisimo  príncipe  de  Espana,  tu 
hijo.  Celebrado  todo  en  el  salon  de  palácio  de  la  ciudad  de  Lisboa,  Dose  qaenta 
de  la  forma  y  ceremonia  con  que  se  celebran  estes  solemnes  actos,  assistindo 
su  magestad  y  alteza,  companados  de  los  grandes,  títulos,  senores,  prelados  y 
procuradores  de  las  ciudades  de  aquel  reino.  Quien  tomo  el  juramento  à  S.  M. 
y  la  forma  y  palabras  dei  etc.  Sasímismo  se  díce  que  dia  començaron  las  Cor- 
tes, quien  hizo  por  S.  M.  la  proposicíon  delias,  donde  se  hacen  ai  presente,  y 
quantos  dias  han  de  durar.  Yla  grandeza  que  su  magestad  kizo  con  la  fu- 
queza  de  Acero  etc.  Sevilla,  Í6i9. 

302)  CORPORAL  KNIGHT. 

E.  — -  Battalion  at  Oporto  wíth  adventures,  anecdotes  and  exploits  in  Hol- 
land  at  Waterloo,  and  ín  the  expedítion  to  Portugal. 

303)  OORREA  (NIGOLAS  CASTOR  DE  CAUNEDO  SUAREZ  Y). 
E.  —  Arvore  genealógica  dos  Reis  de  Portugal. 

Pnblicou-se  este  trabalho  no  iv  vol.  da  Revista  Popular. 

304)  CORRESPONDENCE  relating  to  the  affairs  ef  Porttigal.  LoD- 
don,  1847. 

305)  CORTADA  (JUAN). 

E.  —  Historia  de  Portugal  desde  los  tiempos  mas  remotos  hasta  1839 
escrita  por.—  Barcelona,  1844,  8.» 

306)  OOSTANZO  (SALVADOR). 

E. — Juicio  critico  sobre  la  obra  dei  sr.  Alejandro  Herculano,  titulada 
•Da  origem  e  estabelecimento  da  inquisição  em  Portugal.*  Tentativa  historira. 
Lisboa,  1854  e  1855. 

307)  GOSTE  (OLIVIER  DE). 

E.—Vita  Sanctae  Elizabethae  Lusitaniae  Reginae.  Parisiis,  1625.  Aix 
1639. 

308)  COTARELO  (JUAN). 

E.  —  Guia  dei  militar  en  mai  cha,  ò  itinerário  geiíeral  de  Espafia  y  Por- 
tugnly  dividido  en  distritos  militares  por  el  Capitan.  Madrid,  1843. 

'  Hubner.  ^ntirias  Arrhçohgicas,  pag.  7.  • 


CO  ,71 

309)  COSTIGAN  (ARTHÚR  WILLIAM  — )  Esq.  late  a  captain  of  the 
Irísh  brígade  íd  the  servíce  of  Spain. 

E.  —  Sketches  of  Society  and  manners  in  Portíigal  in  a  series  of  letters 
from  —  to  his  brother  in  Landon.  In  two  volumes.  London,  Prínted  for  F. 
Vernor,  Birchi-laDe  Cornhiil.  (Esboço  da  sociedade  e  costumes  de  Portugal). 

i.«»  vol.  8.«  gr.,  424  pag. 

%'*  vol.  8.»  gr.,  424  pag. 

A  primeira  carta  de  Arthur  WíUiam  Costigan  a  seu  irmão  Charles  Arthur 
Costigan  é  datada  de  Cadiz  do  anno  de  1778,  e  n'ella  faz  scíente  a  Charles  de 
que  deixara  o  serviço  no  exercito  hespaahol,  e  que  achando-se  resolvido  a  re- 
tirar-se  da  vida  publica  para  a  particular  na  companhia  doeste  seu  irmão  n? 
Irlanda,  approveita  a  occasiào  da  sabida  d'um  barco  de  pesca  de  Cadiz  para 
Faro,  embarcando  n'elle  para  fugir  das  horríveis  pousadas  hespanhelas. 

•A  segunda  é  datada  já  de  Faro.  Aqui  o  auctor  resolveu-se  a  visitar  minu- 
ciosamente o  paiz,  para  se  achar  habilitado  a  asseverar  com  conhecimento 
próprio  se  os  portuguezes  eram  ou  não  um  povo  tão  despresivel  como  os  hes- 
panhoes  lh'o  representavam,  ^  e  para  melhor  se  entender  com  o  povo  toma 
para  sua  companhia  um  joven  padre,  que  era  um  perfeito  mestre,  tanto  de 
portuguez  como  de  inglez.  Acha  esta  cidade  agradavelmente  situada  com  lin- 
dos campos  em  volta,  empinando  se  graduaitnente  até  formar  uma  alta  cordi- 
lheira de  montanhas.  O  principal  commercio  consistia  em  figos,  e  outros  ob- 
jectos monopoiisados  por  três  ou  quatro  casas  inglezas  alli  estabelecidas,  as 
quaes  auferiam  lucros  exorbitantes,  comprando  aquelles  artigos  por  quantias 
insignificantes. 

«Foi  escripta  a  terceira  carta  em  Mertola.  D'esta  povoação  dirigiu-se  para 
Tavira,  onde  encontrou  ao  entrar  o  povo  na  rua  cantando  o  Terço,  do  qual 
faz  a  descripção.  ^ 

N'esta  povoação  foi  que  o  auctor  nos  refere  ter  observado  o  seguinte  caso. 
Achava-se  na  companhia  de  mr.  Bagot,  e  este  fallava  acerca  da  livraria  d'um 
fidalgo  de  Tavira,  o  qual  passava  por  ser  muito  instruído,  e  por  ter  uma  ex- 
cellente  bibliotbeca.  Mas  examinae  sua  livraria,  dizia  mr.  Bagot,  e  se  vós  en- 
contraós  n'ella  mais  de  três  mil  volumes,  não  encontraes  todavia  três  livros  mi- 
litares, ou  algum  outro  digno  de  se  abrir,  á  excepção  d'uma  Bibiia  em  inglez, 
língua  da  qual  nada  entende. 

«Quando  mr.  Bagot  fallou  da  Biblía,  um  joven  padre  que  alli  se  achava, 
mostrou  um  grande  desejo  de  a  ler,  pois,  dizia  elle,  era  livro  que  nunca  tinha 
visto! 

«A  pag.  73  e  seguintes  d'este  volume  ^  também  se  encontra  a  seguinte  ane- 
dota, que  pinta  bem  o  estado  de  superstição,  em  que  então  nos  achávamos : 


<  Vol.  !.•,  pag.  13. 

2  Acba-se  na  I.'  carta,  datada  de  Beja,  pag.  43. 

'  «CoDsta-nos  lambem  que  o  marquei  de  Pombal  fizera  encarcerar  o  joii  por  lhe  ter 
mostrado  os  incon?en lentes  da  fundaçilo  de  Villa  Real  de  Santo  António,  no  local  em  que 
o  marquez  a  fundou.»  Pag.  57. 


«72  CO 

«VÓS  Sabeis  maíto  bem  qae  Dão  se  encontra  nos  paizes  catholicos,  especial- 
mente na  Hespanba,  e  em  Portugal,  uma  provinda,  cidade»  freguezia,  ou  mes- 
mo  individuo  que  não  tenha  como  tutelar  seu  Santo,  ou  Anjo,  a  quem  se  re- 
commenda  a  si  e  a  seus  negócios.  Por  conseguinte  nâo  ha  um  regimento  n'este 
paus,  que  se  nâo  tenha  posto  ha  muito  tempo  debaixo  da  protecção  d'algum 
Santo  particular»  segundo  lhe  dieta  sua  devoção,  ou  aíTeição;  e  um  d*elles 
tomou  Santo  António  de  Lisboa  por  seu  patrono,  ou  protector,  o  qual  cedo  de- 
pois recebeu  o  posto  de  capitão  do  mesmo  regimento,  e  soldo  regular  d'ahi  por 
diante,  o  qual,  bem  como  dois  vinténs  pagos  regularmente  por  cada  pessoa  do 
mesmo  corpo  se  empregam  n'um  determinado  numero  de  missas  pelas  almas 
d'aquelles,  que  morrem,  em  fazer  a  festa  ao  Santo,  em  sustentar  os  capellães, 
em  enfeitar  a  capella,  e  em  pagar  vários  encargos  eventuaes  debaixo  da  ins- 
pecção d'um  official  do  regimento  nomeado  para  esse  fim.  Este  encargo  de  su- 
perintendente de  Santo  António  foi  desempenhado  por  um  major  do  dito  regi- 
mento, fidalgo  e  estúpido,  por  muitos  annos  com  grande  zelo  e  devoção,  e 
nunca  depois  cessou  de  importunar  a  corte  com  memoriaes  e  certificados  de 
serviços  em  favor  de  Santo  António,  com  o  fim  de  ser  promovido  ao  posto  d<; 
major  adjunto  ao  regimento.  O  ultimo  ministro  riase  grandemente  de  taes 
memoriaes,  lançava-os  para  os  papeis  velhos  declarando  que  era  apenas  um 
outro  meio  de  roubar  o  rei  n'aquelle  dinheiro  empregado  mensalmente  em 
sustentar  padres  ociosos,  procissões  e  superstições.  Porém  a  rainha  D.  Maria  I 
6  seus  ministros  tomaram  o  caso  a  serio,  e  promoveram  Santo  António  para 
animar  a  superstição. 

«Entre  os  milagres  mencionados  nos  referidos  certificados  havia  os  seguin- 
tes :  Ter  restituido  á  mulher  do  major  um  cão  de  regaço  muito  estimado,  que 
lhe  tinham  furtado,  e  ao  qual  linha  perdido  as  esperanças  de  tornar  a  ver  ou- 
tra vez,  até  que  seu  padre  director  a  acconselhou  a  importunar  Santo  Antó- 
nio, o  que  ella  apenas  fizera  por  dois  dias  lhe  levaram  o  cãosinho.  Ter 
salvado  também  um  pobre  soldado,  ^  que  o  invocou  estando  a  ponto  de  afo* 
gar-se  ao  passar  um  profundo  rio,  atirando-lhe  milagrosamente  com  uma  cor- 
da. Ter  um  outro  escapado  das  bexigas  agradecendo  a  Santo  António,  e  isto 
depois  de  ter  o  estertor  na  garganta,  e  de  ter  sido  abandonado  pelo  cirurgião 
do  regimento.  Finalmente  uma  outra  certidão  assevera  que  estando  um  tam- 
bor do  regimento  chamado  João  Ivo  Alegre,  na  cama  com  sua  mulher,  e  um 
filhinho  dormindo  no  meio  d'elles,  quando  se  levantou  de  manhã,  encontrou 
uma  grande  cobra  (a  qual  se  introduzira  por  debaixo  da  porta  de  sua  barra- 
ca) na  cama  com  estes,  mamando  no  peito  de  sua  mulher,  em  quanto  ella  es- 
tava profundamente  adormecida,  com  a  cauda  na  bocca  do  menino,  que  a  es- 
tava chupando  com  muito  contentamento.  A  vista  de  tão  extraordinária  appa- 
rencia  o  tambor  immedialamente  invocou  Santo  António,  que  lhe  inspirou 
presença  de  espirito  e  valor  suíDcientes  para  agarrar  ao  mesmo  tempo  pela  ca- 
beça e  rabo  da  serpente,  agora  empanturrada  com  a  grande  quantidade  de 
leite,  que  linha  mamado,  <*  pondo  cada  um  do  seus  pós  por  cima  d' estas  par- 

1  Vol    1.%  pag.  76 


GO  Í73 

teSy  segnrou-a  para  não  lhes  fazer  algum  mal,  em  quanto  com  sua  faca  de 
matto,  que  estava  à  cabeceira  da  cama,  cortou  a  cabeça  do  animal,  e  fel-a  em 
bocados,  como  se  para  prevenir  que  Ibe  causasse  mal. 

cD'esta  forma  o  homem,  mulher  e  menino  tiveram  uma  salvação  míra- 
eulosali 

O  attestado  para  provar  que  o  caracter  de  Santo  António  era  o  de  um 
homem  honrado,  e  d'um  bom  soldado  era  na  forma  seguinte : 

cD.  Hercules  António  Carlos  Luiz  Joseph  Maria  de  Albuquerque  e  Araújo 
de  Magalhães  Homem,  moço  fldalgo  de  Saa  Magestade,  cavalleiro  da  sagrada 
ordem  de  S.  João  de  Jerusalém,  e  da  illustrissima  ordem  militar  de  Cbristo, 
senhor  do  distrícto  e  villas  de  Moncarapacho  e  Farragudo,  alcaide  mór  here. 
ditario  da  cidade  de  Faro,  e  major  do  regimento  de  infanteria  da  cidade  de 
Lagos  n'este  reino  do  Algarve  por  S.  M.  F.  a  quem  Deus  guarde  por  longos 
annos. 

cAttesto  e  certifico  a  quantos  virem  estas  presentes,  escriptas  por  minha 
tndem,  e  assignadas  no  fim  com  meu  sello  manual,  com  o  grande  sello  de  mi- 
nhas armas,  fechado  pela  minha  dita  assignatura,  e  um  pouco  á  esquerda  d*el- 
la,  que  o  Senhor  Santo  António,  por  outro  nome  o  grande  Santo  António  de 
Lisboa  (commum  e  falsamente  chamado  de  Pádua)  foi  alistado,  e  teve  praça 
n'este  regimento  sempre  desde  2i  de  janeiro  do  anno  de  Nosso  Senhor  Jesus 
Christo  i668,  como  se  evidenciará  mais  particularmente  abaixo :  attesto  mais 
que  os  cincoenta  e  nove  inclusos  certificados,  contando  desde  o  numero  i  até 
89,  e  com  a  firma  de  meu  nome  posta  junto  de  cada  nome,  conteem  e  compre- 
hendem  uma  verdadeira  e  fiel  relação  dos  milagres  e  outros  serviços  eminen- 
tes que  o  referido  Santo  António  tem  em  épocas  differentes  feito  e  praticado 
n'este  regimento  pelo  motivo  de  ter  praça  n*elle,  dos  quaes,  além  d'outras  mui- 
tas incontestáveis  evidencias,  eu  sou  confirmado  por  ter  conversado  com  mui- 
tas das  pessoas  agora  vivas,  que  receberam  estes  serviços  do  dito  Santo :  Pelo 
que  duvidar  da  veracidade  doestes  milagres  é  um  atroz  crime  contra  o  Espi- 
rito Santo,  bem  como  o  duvidar  de  qualquer  dos  dogmas  de  nossa  Santa  Fé, 
ou  dos  milagres  do  próprio  Cbristo,  cujas  evidencias  não  são  tão  fortes  e  con- 
vjocentesy  como  estas  no  presente  caso  diante  de  nós,  e  pelas  quaes  as  pro- 
IMrias  palavras  de  nosso  bemdito  Salvador  são  cumpridas;  quando  disse  a  seus 
discípulos,  que— Depois  de  mim  virá  quem  bade  fazer  obras  maiores,  que 
aqnellas,  que  eu  tenho  feito— a  qual  prophecia  claramentõ  diz  respeito  ao 
nosso  grande  Santo  António. 

c  Certifico  outro  sim  por  minha  palavra  de  honra,  como  nobre,  como  ca- 
valleiro, e  christão  catholico  (como  sou  pela  graça  de  Deus)  o  que  abaixo  se 
segue:  ^ 

cQue  tendo  lido  e  observado  attentamente  todos  os  papeis  de  notas,  livros 
e  registros  de  nosso  regimento,  desde  o  principio  de  sua  instituição,  e  tendo 
cuidadosamente  copiado  dos  referidos  papeis  todas  as  cousas  relativas  ao  aci- 
ma mencionado  Santo  António,  ê  de  verbo  ad  verbum  como  so  segue  aqui :  por 

•  Vol.  I.»,  pag-81 

TOMO   I  *  18 


Í74  CO 

cuja  veracidade  me  reporto  aoã  ditos  livros  e  papeis,  guardados  nos  arcliivos 
de  nosso  regimento. 

•Que  a  24  de  janeiro  de  1688,  por  ordem  de  S.  M.  D.  Pedro  II  (que  Deas 
tem  na  gloria)  então  principe  regente  do  reino  de  Portugal,  dirigida  ao  viça- 
rei doeste  reino  do  Algarve,  foi  Santo  António  alistado  como  soldado  raso  n*est6 
regimento  de  infanteria  de  Lagos»  logo  no  principio  que  se  formou  por  ordem 
do  mesmo  principe;  e  de  tal  entrada  no  serviço  militar  se  formou  um  registro» 
que  agora  existe  no  primeiro  volume  do  livro  de  registros  do  regimento,  foi. 
i43  vers.  e  onde  deu  por  seu  fiador  a  Rainha  dos  Anjos  ^  que  se  tomou  res- 
ponsável em  como  nào  havia  de  desertar  do  seu  regimento,  mas  pelo  contra^ 
rio  se  conservaria  sempre  como  um  bom  soldado  nas  suas  bandeiras;  e  assim 
o  santo  continuou  a  servir  e  a  fazer  serviço  na  qualidade  de  soldado  raso  no 
regimento  até  12  de  setembro  de  1683,  no  qual  dia  o  mesmo  principe  regente 
foi  elevado  a  rei  do  Portugal,  pelo  fallecimento  de  seu  irmão  D.  Afronsoyi;e 
n'esse  mesmo  dia  S.  M.  promoveu  Santo  António  ao  posto  de  capitão  no  regi- 
mento, por  se  ter  pouco  tempo  antes  posto  corajosamente  á  frente  d'um  des- 
tacamento do  regimento,  que  estava  marchando  de  Jorumenha  para  a  guarni- 
ção de  Olivença,  ambas  na  província  do  Alemtejo,  e  poz  em  fuga  um  forte 
corpo  de  castelhanos,  em  numero  quatro  vezes  maior  que  a  gente  do  referido 
destacamento,  o  qual  corpo  tinha  sido  posto  em  emboscada  contra  o  destaca- 
mento^ com  a  intenção  de  o  levar  todo  prisioneiro  para  Badajoz,  tendo  o  ini- 
migo por  meio  de  espiões  obtido  esclarecimentos  a  respeito  de  sua  marcha. 

•Outro  sim  certifico  que  em  todos  os  papeis  e  registros  acima  mencionados 
não  existe  alguma  nota  de  Santo  Antooio,  de  mau  comportamento  ou  irrega- 
larídade  praticada  por  elle;  nem  de  ter  sido  em  tempo  algum  açoutado,  pre- 
so, ou  de  qualquer  modo  punido  durante  o  tempo,  que  serviu  como  soldado 
raso  no  regimento :  Que  durante  lodo  o  tempo,  era  que  tem  sido  capitão,  vae 
quasi  para  cem  aunos,  constantemente  cumprio  seu  dever  com  o  maior  prazer 
á  frente  de  sua  companhia,  em  todas  as  occasiões,  em  paz  e  em  guerra,  e  tal 
que  tem  sido  visto  por  seus  soldados  vezes  sem  numero,  como  elles  todos  es- 
tão promptos  para  testemunhar :  e  em  tudo  o  mais  tem-se  comportado  sempre 
como  fidalgo  e  official :  e  por  todos  estes  motivos  acima  referidos  considero-o 
muito  digno  e  merecedor  do  posto  de  major  aggregado  ao  nosso  regimento,  e 
de  quaesquer  outras  honras,  graças  ou  favores  que  approuver  a  S.  M.  conferir- 
Ihe.  Em  testemunho  do  que  assignei  meu  nome,  hoje  23  de  março  do  anno  de 
N.  S.  J.  C.  1777. 

Maoalhabns  Hombm. 

o  livro  das  viagens  de  Coslingan  è  sempre  interessante,  e  ignoro  o  motivo 

poríjue,  o  não  vi^jo  ciíado  pelos  escriptores,  que  narram  os  feitos  do  reinado 

• 

'  Cada  dislricto  é  obrigado  a  fornecer  um  certo  numero  de  reciutas,  os  qoaes  de- 
vem >er  filhos  de  mercadores,  negociante^,  campooezes,  lavradores,  ele,  habitantes  do 
districlo;  e  o  pae,  irm.lo.  aljrum  parente,  ou  outra  pessoa  idónea  fica  responsável  pelo 
Imm  romporUmeiílo  de  rnda  recruta,  e  í-c  o  recruta  desertar,  é  obrigado  a  apresentar 
nutra,  pela  qual  lainl»em  (ira  responsável.  Ê  o  motivo  porque  Santo  António  dá  aqui  por 
-cu  tiador  a  Virgrm  Maiia.»  Vo!    1.".  po;:   Sfl 


CO  275 

de  D.  Joseph  e  D.  Maria  I.  Os  livros  de  viagens  escriptos  por  estrangeiros  teem 
moita  cousa  approveitavel  para  a  historia. 

A  5.*  carta  é  ainda  escripta  em  Beja,  a  6.*  em  Évora,  a  7.*  em  Villa  Viço- 
sa, e  a  8.*  em  Jorumenha,  e  n'esta  ultima^  conta  como  encontroa  em  Évora  um 
padre  irlandez,  que  lhe  deu  minuciosas  informações  acerca  do  estado  do  paiz, 
e  do  reinado  de  D.  João  V.  A  respeito  d'este  rei  disse  o  irlandez  (que  era  ho- 
mem ÍDStruido)  o  seguinte : 

«D.  João  V  1  gastou  seu  tempo  na  companhia  ou  de  padres  ou  de  mulhe- 
res, elevou  a  egreja  de  Lisboa  a  patriarchal,  deixou  reduzir  seu  exercito  ana- 
da»  animou  a  superstição,  a  inquisição,  e  a  nobreza.  Na  velhice  para  se  tornar 
mais  próprio  paia  a  companhia  de  mulheres,  fazia  uso  de  cantharídas,  cujos 
eflfeitos  o  debilitaram  a  ponto  que  o  puzeram  n*uma  continua  desordem;  e,  de- 
pois de  ter  vivido  como  um  sultão  no  goso  de  seu  favorito  prazer,  teve  não  só 
tempo,  mas  também  todos  os  meios  de  conversão,  e  de  reconciliação  com  o 
céo,  o  qual  padres  velhacos  e  lisongeiros  lhe  podiam  conceder  para  morrer 
como  santo :  de  sorte  que  seus  vassallos  diziam  d'elle  —Viveu,  como  quiz,  e 
morreu,  como  quiz. 

•A  administração  d'este  paiz  durante  o  ultimo  reinado  foi  marcada  por  fei- 
ções muito  differentes :  um  ministro  resoluto  e  atropellador  do  direito,  centra- 
lisou  em  si  todos  os  canaes  de  poder  e  auctoridadc :  um  rei  fraco  e  pusillani- 
me,  tendo-se  tornado  desconQado  por  causa  da  deslealdade  de  sua  própria  no- 
breza, !ançou-se  inteiramente  nos  braços  de  seu  ministro,  como  sendo  a  única 
pessoa,  àa  qual  podia  confiar,  e  o  ministro  cônscio  de  que  era  odiado  ou  des- 
picado pela  nobreza,  não  perdeu  nenhuma  opportunidade,  que  a  loucura  ou 
imprudência  d'ella  lhe  conferia  para  curvar  sua  insolência,  e  abater  seu  pode- 
rio. Uma  questão  pessoal,  que  o  ministro  tivera  com  um  jesuita,  o  confessor 
do  rei,  no  principio  de  sua  administração,  addicionada  a  outras  causas  pre- 
existentes, tomaram  n'o  séria  e  cordealmente  resolvido  a  dispor  de  todo  o  ma- 
quinismo  para  trabalhar  para  destruição  dos  jesuítas,  o  que  finalmente  conse- 
guiu. O  terremoto  de  1755  serviu  apenas  para  confirmar  sua  auctoridade,  e 
tomal-a  mais  absoluta,  e  foi  então  que  se  tornou  dictador  perpetuo.  A  guerra 
CMitra  Hespanha,  que  se  seguiu  alguns  annos  depois,  com  a  introducção  de 
trôpas  estrangeiras  no  reino,  e  d'um  numero  de  oõiciaes  estrangeiros  nos  re- 
gimentos nacionaes,  habilitouo  a  pôr  seu  pó  eíTectivamente  em  cima  do  pes- 
coço do  clero,  de  sorte  que  desde  aquelle  tempo  até  ao  fim  de  sua  administra- 
ção, nunca  o  clero  ousou  levantar  a  cabeça.  Fez  muito  bem,  e  egualmente 
muito  mal,  derivando  se  tudo  antes  de  motivos  pessoaes,  e  de  interesse  pró- 
prio, do  que  de  alguma  consideração  pelo  bem  de  seu  paiz.  Diminuiu  o  nu- 
mero das  casas  religiosas,  e  desanimou  ou  supprimiu  o  furor  de  se  enterrarem 
na  vida  monástica.  Arruinou  ou  empobreceu  a  parte  mercantil  de  seus  súbdi- 
tos, lançando  o  commercio  (ao  qual  aíTectou  animar  muito)  nas  mãos  de  com- 
panhias exclusivas,  compostas  de  alguns  indivíduos  favoritos,  que  foram  os 

»  Yol.  I.^  pap.  137. 


276  GO 

uDícos  a  lacrar,  em  quanto  o  grande  corpo  d*aqaelles>  cuja  subdisteacia  de- 
pendia do  commercio,  ficaram  pobres. 

«Depois  da  guerra,  poderia  ter  formado  um  exercito  completo,  e  menos  mal 
armado,  que  efTectivamente  incutiria  desconflança,  em  todas  as  forças  de  temi 
que  a  Hespanha  podesso  trazer  contra  elle,  e  para  fazer  isto  tinha  a  coopera- 
ção d'um  general  muito  hábil,  bem  conhecido  na  Europa  pela  soa  capacidade» 
e  pela  de  alguns  generaes  experimentados:  mas  em  vez  de  assim  praticar,  des- 
presou  o  exercito,  e  jnlgouo  excessivamente  dispendioso.  Comportou  se  para 
com  o  conde  de  Lippe  da  maneira  mais  velhaca  e  desagradável,  e  tratoa  a 
maior  parte  dos  oíQciaes  estrangeiros  com  insolência  ou  despreso,  de  sorte  qoe 
seus  melhores  amigos  cotísideravam  seu  procedimento  a  este  respeito  como 
um  paradoxo;  e  ficavam  perplexos,  quando  se  tratava  de  o  desculparem  do 
seu  desprezo  para  com  o  exercito,  que  fora  o  melhor  dos  meios  para  conso- 
lidar  sua  auctoridade,  e  seria  seu  único  recurso,  se  aquella  auctoridade  n'al- 
gum  tempo  houvesse  mister  de  defesa. 

«O  ultimo  acto  de  seu  governo,  e  quando  o  rei  seu  amo  estava  já  no  leito 
da  morte,  foi  casar  o  herdeiro  presumptivo  da  coroa,  rapaz  de  dezeseis  annos 
de  edade  com  sua  própria  tia,  mulher  de  trinta  e  um  annos  feitos,  e  foi  este 
acto  uma  digna  conclusão  de  sua  tempestuosa  administração. 

c  A  morte  de  D.  José  I  foi  o  signal  da  desgraça  de  seu  ministro,  e  verdades  e 
mentiras  industriosamente  se  espalharam  contra  elLe  por  um  numero  sa- 
perior  a  oito  ccntas  pessoaes  de  todas  as  jerarchias,  as  quaes  elle  tínha  eoi^ 
sorvado  nas  prisões,  e  que  agora  soltas  augmentavam  e  inflammavam  o  popu- 
lar rugido  de  clamor  e  insultos,  que  o  accompanharam  ao  seu  degredo,  para 
o  qual  se  retirou  com  toda  a  magnanimidade  d'um  antigo  atheniense,  exi- 
lado pelo  ostracismo. 

«Foi  substituido,  como  é  usual  em  casos  taes,  por  um  de  seus  maiores  an- 
tagonistas, que  durante  a  precedente  administração  fora  obrigado  a  conser- 
var-se  muito  quieto,  e  a  pôr  em  acção  toda  a  vil  astúcia,  de  que  era  dotado 
para  o  deixarem  viver  em  paz :  pois  é  geralmente  reconhecido  que  possue  to- 
das as  más  qualidades  do  antecessor  no  governo,  e  isto  talvez  em  mais  emi* 
nente  grau,  ao  passo  que  juizes  imparciaes,  e  os  menos  affeiçoados  ao  scepti- 
cisroo  duvidam  que  seja  herdeiro  d'alguma  das  virtudes  de  seu  predecessor. 

«Segundo  uma  observação  commum  o  tempo  e  governo  presentes  são  sa- 
grados, e  ninguém  por  isso  se  deve  involver  com  elles.  O  confessor  da  rainha 
intromette-se  excessivamente  nos  negócios  temporaes  :  o  confessor  do  rei  es- 
creve ensaios,  que  o  expõem  ao  ridiculo  publico:  a  rainha  permittiu  que  a  in- 
quisição rcasumisse  sua  auctoridade  abdicada  por  muito  tempo;  e  esta  cir- 
cumstancia  fará  com  que  a  Europa  em  peso  exclame  —Vergonha  sobre  uma 
tal  rainha  e  um  lai  governo.  ' 

•Chagámos  a  Elva<:  2  ao  approximar-nos  da  porta  uma  sentinclla  pergun- 

1  Vol.  !••,  pag   ni. 

-  r.arla  IX  dalada  de  Ca^tííllo  Bíant:».  pag.  \'oi.  Lord  licemaii  andava  «ctualfflenU 
viajando  na  companhia  de  Coflm^an. 


CO  277 

tuo  em  alta  voz  quem  éramos,  e  que  queríamos?  Respondemos  qoe  vínhamos 
de  Estremoz,  e  trazíamos  cartas  para  s.ex*  o  governador.  A  sentinelia  então 
appresentoa-nos  ao  officíal  commandante  da  guarda,  e  este  nos  mandou  com 
um  soldado,  armado  segurando  no  freio  dos  dois  cavallos,  á  presença  do  go- 
vernador: n'esta  situação  nos  conservámos  á  sua  porta  na  rua.  Depois  de  s.ex.* 
acabar  de  ouvir  missa,  niandou-nos  admittir  á  sua  presença,  e  lord  Freeman 
appresentou-Ibe  uma  carta  que  para  elie  trazia.  Depois  de  ler,  disse  nos  o  gover- 
nador que  elle  era  muito  feliz  por  ter  a  honra  de  nos  conhecer,  que  sua  casa, 
o  regimento  de  seu  commando,  os  fortes  adjacentes  de  Santa  Luiza  e  de 
Lippe,  até  mesmo  toda  a  província  do  Alerotejo  estavam  às  nossas  ordens  para 
dispormos  d*elles  como  julgássemos  conveniente:  que  nos  pedia  o  obsequio  da 
nossa  companhia  ao  jantar,  que  era  á  uma  hora  em  ponto. 

Chegames  a  tempo,  e  servio-se  o  jantar.  A  esposa  do  governador  era  a 
única  senhora  que  estava  à  mesa.  O  governador  tomou  seu  logar  à  direita  da 
mulher,  pedindo  a  Mr.  de  Valeré  que  se  sentasse  á  esquerda.  Lord  Freeman  sen- 
ton-se  em  seguida  a  Yalere^  e  um  homem  prodigiosamente  gordo,  com  o  far- 
damento de  ofiQcial,  e  a  cruz  de  Malta  ao  peito,  sentou-se  em  seguida  ao  gover- 
nador. Seu  nome  era  D.  João,  e  a  companhia  dava- lhe  o  tratamento  de  ex- 
cellencia.  Não  disse  uma  palavra  durante  todo  o  tempo  do  jantar,  mas  comia 
e  bebia  mui  regaladamente,  e  apparentemente  com  grande  prazer,  e  ria  com 
descomedimento,  quando  o  governador  e  sua  mulher  diziam  por  acaso  alguma 
coisa  que  estes  desejavam  que  fosse  tomada  por  engraçada.  Em  occasiões 
(aes  seus  olhos  desappareciam  completamente,  e  sua  proeminente  barriga  au- 
gmentava  de  volume,  e  era  affectada  de  movimentes  fortes  e  convulsivos.  O 
resto  da  companhia,  que  era  numerosa,  occupava  seus  logares  segundo  suas 
Jerarchias:  o  cavalleiro  trinchante  na  extremidade  da  mesa  servia  os  con- 
vidados em  roda,  os  quaes  estavam  quietos  e  cerimoniosos:  recorria  se  à  aju- 
da do  copo  animador  para  alegrar  os  hospedes,  mas  parecia  que  a  agua,  da 
qual  tomavam  grandes  golos,  produzia  o  mesmo  effeito:  s.  ex.*  D.  João  em 
particular  despejou  três  copos  de  quartilho,  cheios  do  chrystalino  licor,  cada 
nm  n*um  trago,  o  que  fazia  arripiar  lord  Freeman.  Por  flm  o  governador  man- 
dou vir  nm  copo  de  vinho,  no  qual  deitou  coisa  d*um  dedal  doeste  liquido,  e 
bebeu  à  nossa  saúde.  Nós  approveitámo<nos  do  ensejo,  bem  como  mr.  de  Va- 
leré, para  correspondermos  ao  cumprimento,  mas  tínhamos  nossos  copos  mais 
bem  cheios,  e  repetimos  isto  duas  vezes  ainda  à  saúde  da  senhora  e  de  D.  João. 
Um  dos  padres,  que  parecia  ser  divertido,  pedia  vinho  repetidas  vezes,  pelo  que 
a  senhora  entrou  a  motejalo  dizendo  lhe  que  parecia  beber  como  um  almo- 
creve ou  um  inglez.  Então  o  governador  pedindo  uma  outra  gota  de  vinho, 
bebeu  á  saúde  do  rei  de  Inglaterra,  chegando  o  copo  aos  beiços,  mas  de  ne- 
nhuma vez  bebeu  o  vinho.  O  padre  bebeu  de  novo,  conversava,  e  dentro  em 
pouco  se  tornou  o  mais  folgasão  da  companhia;  a  senhora  sorria-se,  e  D.  João 
continuava  a  dar  gargalhadas  com  todas  as  suas  forças.  Apenas  acabou  o  jantar 
abriu-se  uma  porta,  que  estava  fechada  por  detraz  da  senhora,  e  a  companhia 
passou  para  a  sala  contigua,  onde  a  sobremesa,  consistindo  de  doces  e  fruc- 
tas,  estava  posta  n'uma  mesa  mais  pequena;  os  convidados  tomaram  scas  as- 


i-H  CO 

sentos,  e  nào  estavam  apertados,  pois  mais  do  metade  d  elles  se  tinham  re- 
tirado. 1 

«O  luxo  principal  dos  jantares  portuguezes  consiste  na  sobremesa.  Cada  um 

dos  convidados  toma  uma,  ou  mais  colheres  de  sopa  cheias  de  doce  liquido,  e 
quanto  mais  está  carregado  de  assucar,  tanto  roais  é  reputado  por  saboroso. 
Um  criado  está  em  pé  atraz  de  cada  cadeira  com  um  largo  copo  de  quartilho, 
cheio  de  agua  muito  fria,  a  qual  bebem  logo  em  seguida  aos  doces.  Seus  epi- 
curístas,  ou  requintados  no  prazer  da  comida  (taes  como  D.  João)  bebiam  a 
agua  muito  vagarosamente,  com  o  fim  de  prolongarem  a  deliciosa  seosa^, 
que  a  agua  fria  causa  no  paladar,  quando  misturada  com  a  doçura,  da  qual 
n'esse  me^mo  instante  acaba  de  ser  tão  fortemente  impressionado,  e  asseve- 
ram que  a  agua  n*essa  occasião  excede  muito  o  sabor  do  mais  delicioso  vinho, 
que  se  possa  beber.  É  verdade  que  os  bebedores  de  agua  na  Hespanha  e  em 
Portugal,  principalmente  entre  as  classes  mais  elevadas,  distinguem  com  ma- 
ravilhosa exacção  todas  as  graduações  de  diíTerença  entre  as  respectivas  aguas, 
das  quaes  provam,  o  que  seria  totalmente  imperceptível  para  nós  por  termos 
o  nosso  sentido  do  gosto  comparativamente  grosseiro  e  embotado  pelo  fre- 
quente uso  de  vinho  e  d'oulros  licores  embriagantes. 

«Os  convidados,  depois  de  terem  comido  de  diíTerentes  fructas,  beberam  om 
cálix  de  vinho  da  Madeira,  o  qual  eslava  em  cima  da  mesa  em  garrafiohasde 
meio  quartilho,  com  copinhos  dourados  nas  cercaduras.  Nós  porém  não  bebe- 
mos d'este  vinho. por  ser  excessivamente  adocicado  a  ponto  de  enfastiar.  De- 
pois de  muita  conversa  sobre  ninharias,  appareceu  o  café,  e  lord  Freeman  ap- 
proveilouse  da  occasião  para  pedir  ao  governador  licença  para  visitar  o  forte 
de  Lippe.  Valero  -  puchou-lhe  pela  manga  (mas  já  muito  tarde)  para  evitar 
ouvir  uma  recusa.  O  governador  immedialamenle  reportou-se  ao  próprio  Va- 
leré  para  servir  de  lesieiniinha  das  ordens  positivas,  que  elles  tinham  da  corte, 
de  se  nào  deixar  ver  a  pessoa  nenhuma,  fosse  quem  fosse,  á  excepção  dos  of- 
ficiaes,  que  estavam  em  serviro.  O  governador  exprimiu  seu  muito  pezar  por 
lhe  não  ser  possivel  condescender  com  os  nossos  desejos;  porém  que  podía- 
mos visitar  toda  a  guarniíjão  e  forte  de  Santa  Luzia  na  companhia  de  Valeré. 
•Mr.  de  Valeré  oíTereceu  se  para  nos  appresenlar  ás  freiras  de  Santa  Clara, 
o  que  aqui  se  considera  como  uir.  cumprimento ;  mas  lord  Freeman  não  ac- 
ceitou,  annuindo  todavia  a  accompanhal-o  á  noite  ao  palácio  do  bispo,  onde 
ha  uma  sorle  de,  asseinbléa,  c  onde  podiamos  jogar  uma  partida  de  whist  Mas 
dizei -me,  perguntou  lorJ  Freeman  a  Valeré,. (luem  era  aquelle  oílicial  mons- 
truosamente gordo,  (lue  estava  sentado  ao  jantar  junto  do  governador?  Uma 
besta,  respondeu  este,  um  animal,  um  verdadeiro  emblema  e  epitome  da  fidal- 
guia portugueza.  Mas  não  penseis  que  é  a  matéria  (pie  pense,  ou,  se  aquelle 
possue  o  dom  de  pensar,  não  o  emprega  mais  que  no  comer,  no  beber,  e  em 

procurar  rapazes K  um  de  quatro  irmãos  d'uma  antiga  familia.  Éo 

mais  velho  d'rlles,  n  casou  com  uma  íillia  do  uiiimo  ministro,  ao  qual  odiava 

'  Voi.  1  •'.  pu   i:;'). 


t]0  279 

e  ddspresava;  mas  deram-se  occarrencias  taes,  que  fazendo  aso  de  sua  rasào 
pela  oníca  vez  na  sua  vida,  descubríu  que  era  melhor  estar  preso  pelo  casa- 
mento, que  por  quatro  fortes  muros  de  pedra.  Estes  irmãos,  cujo  nome  de  fa- 
mília, é  Vilhena,  hão  de  vos  beber  qualquer  porção  de  víftho  com  os  inglezes, 
on  de  agua  com  seus  compatriotas  sem  sentirem  o  mais  leve  incommodo  com 
qualquer  doestas  bebidas.  Durante  a  campanha  de  1762,  e  mesmo  por  alguns 
annos  depois,  quando  ainda  havia  muitos  officiaes  inglezes  n'este  serviço, 
faziam  repetidos  ataques  sobre  estes  irmãos,  com  o  íim  de  beberem  vinho» 
poncb,  ou  qualquer  outra  bebida  forte,  mas  eram  constantemente  derrotados, 
postos  fora  de  campo,  ao  passo  que  os  irmãos  ilcavám  triumphantes.  N^elles  ha 
reahnente  verdadeira  vida  animal,  sem  percepção,  ou  instrucção  de  qualquer 
espécie,  corpos  sem  almas;  comer,  beber  e  dormir  é  a  priocipal  occupação  da 
íámilia  dos  Vilhenas.  Todavia  seria  bem  para  desejar  que  todos  os  irmãos  no- 
bres fossem  tão  innocentes  e  inoffensivos  como  estes.  O  fidalgo,  que  vos  vis- 
tes, é  o  irmão  mais  novo,  é  coronel  do  regimento  de  cavallaria  d'esta  guar- 
ní^;  mas  ha  cinco  ou  seis  annos,  que  não  monta  a  cavallo,  por  não  ter  sido 
possível  encontrar  um  capaz  de  resistir  ao  seu  peso :  de  forma  que  suppo- 
nho  que  depois  de  engordar  um  pouco  mais^  ha  de  ser  nomeado,  como  seus 
irmãos  o  foram  successivamente,  quando  inhabílitados  para  qualquer  outra  oc- 
cupação, governadores  nominaes  de  algum  velho  castello  ou  forte,  para  lhes 
darem  o  privilegio  de  usarem  d'um  colete  encarnado  com  um  grande  laçarote 
por  cima  d'eile,  e  de  se  menearem  até  á  corte  aos  dias  santos  para  beijarem  a 
mão  de  sua  magestade. 

•Lord  Freeman  perguntou  então  porque  um  tão  grande  numero  dos  con- 
vidados se  tinham  retirado  depois  do  jantar  sem  terem  participado  da  sobre 
mesa.  A  isto  respondeu  mr.  de  Valeré  que  havia  um  livro  intitulado  o  Per- 
feito capitão  portuguez,  approvado  peio  santo  oíQcio,  e  por  muitos  frades  de 
differentes  ordens,  o  qual  nada  continha  relativamente  aos  deveres  militares 
dos  officiaes,  mas  que  era  o  espelho  da  polidez  e  decoro,  o  qual  ensinava  o 
numero  de  pregas,  que  devia  haver  na  camisa,  como  se  havia  de  encrespar  o 
rabicho,  a  largura  do  laço  sobre  o  colete,  como  se  devia  curvar  e  ajoelhar  ao 
entrar  n*ama  sala,  a  natureza  dos  sacramentos,  e  como  se  deviam  receber,  e 
entre  outras  muitas  coisas,  que  todos  os  officiaes  se  deviam  retirar,  acabado  o 
jantar,  e  quando  o  general  ia  comer  a  sobremesa.  ^ 

•Lord  Freeman  perguntou  ainda  qual  a  causa  d'uma  tão  humilhante  dis- 
tíncçao  para  com  os  subalternos  do  exercito?  A  isto  respondeu  Valeré  que  a 
oansa  provmha  de  serem  em  geral  os  criados  dos  fidalgos,  os  que  eram  nomea- 
dos para  officiaes  dos  regimentos.» 

Acaba  n'este  logar  a  carta  9.*,  e  a  10.*  datada  também  de  Castello  Bran- 
co começa  por  estas  palavras:  «Que  delicioso  paiz  se  poderia  fazer  d'aqui  den- 
tro em  pouco,  se  estivesse  nas  mãos  dos  inglezes,  francezes  ou  irlandezes,  em 
vez  de  estar  nas  d' uns  taes  porcalhòes !  e  logo  continua  a  narração  da  for- 
ma seguinte : 

«  Vol.  1.%  pag.  1C7. 


280  CO 

•Em  nossos  passeios  matutinos  por  aqui  aconteceu-nos  passar  pelo  eonvenU 
dos  frades  capuchos :  com  efíeito  nossa  attenção  foi  para  alli  chamada  pelos 
guinchos  de  mulheres,  os  quaes  puviamos  ao  passar  junto  da  porta  da  egreja. 
Ao  entrar  vimos  doís^os  frades  revestidos  de  sobrepelizes  e  estolas  em  pé  diante 
do  altar  mór  lendo  os  exorcismos  contra  os  endemoninhados.  Diante  d'elles  ja- 
ziam sobre  o  chão  três  mulheres.  Duas  d*estas  uivavam  piedosamente,  e  a  en- 
tra estava  guinchando  e  puchando  pelo  cabello,  fazendo  as  mais  estranhas  con* 
torsões  com  suas  feições.  Pela  minha  parte  tenho  visto  e  ouvido  tantas  cousas 
a  respeito  d'aquellas  miseráveis  velhacadas,  que  me  retirei,  e  lord  Freenun 
observou  que  na  sua  opinião  aquelles  frades  eram  bem  próprios  para  exorcis- 
mar as  mulheres.  Depois  disseram-me  que  aquelles  dois  eram  no  convento  os 
únicos  peritos  nos  exorcismos. 

«Á  noite  fomos  para  casa  do  bispo.  Pelo  caminho  nos  foi  dizendo  Itr.  de  Ya. 
leré  que  este  bispo  certamente  nos  obsequiaria  muito,  mas  emquanto  ao  cara- 
cter era  o  padre  mais  intrigante  e  malvado,  que  tinha  conhecido.  Sua  oecopa- 
çao  era  propagar  accusações  e  informações  falsas  pela  guarnição  contra  o  go- 
vernador que  se  nomeasse;  que  se  indispozera  com  um  governador  inglez  para 
alli  nomeado  durante  a  guerra,  debaixo  do  piedoso  pretexto  que  uma  pessoa 
do  bello  sexo  viera  de  Lisboa  para  o  visitar,  o  que  escandalizou  a  pretendida 
severidade  do  bispo,  ao  passo  que  elle  mesmo  bispo  mantinha  em  casa  um  par 
de  amantes  debaixo  da  denominação  de  sobrinhas,  com  as  quaes  nós  prova- 
velmente íamos  jogar  as  cartas  n'aquella  noite. 

«Dirígimo-nos  pois  para  o  palácio.  Algum  tempo  depois  apparecen  o  bispo 
precedido  par  três  jovens  ecclesíasticos,  e  acompanhado  das  duas  sobrinhas. 
Fomos  apresentados  e  recebidos  com  grande  cordialidade.  Depois  de  muito 
ceremoníal  e  tempo,  salvas  de  bolos  e  copos  d'agua  foram  offerecidos  à  socie- 
dade, e  em  seguida  veio  chà  e  café.  Pozeram-se  depois  as  banquinhas  para  o 
jogo  de  cartas.  O  bispo  pediu  a  lord  Freeman  que  jogasse  uma  partida  com- 
posta do  governador  c  de  sua  sobrinha  mais  nova.  Ao  tirar  parceiros,  a 
sobrinha  coube  a  lord  Freeman,  com  o  que  a  menina  pareceu  muito  satis- 
feita. Lord  Freeman  julgou  ser  tempo  de  corresponder  a  alguns  delicados  to- 
ques, que  tinha  sentido  repetidamente  nos  dedos  dos  pés,  durante  o  jogo : 
porém  não  se  aventurou  a  fazer  o  mais  leve  movimento  até  se  certificar  de 
que  as  pisadellas  provinham  da  menina,  e  não  casualmente  de  algum  dos 
parceiros  da  direita  ou  esquerda.  Porém,  quando  começou  a  segunda  par- 
tida, viu  os  pés  da  menina  muito  bem  estendidos  para  o  seu,  e  não  lhe  restou 
a  este  respeito  a  mais  pequena  duvida,  e  então  começou  o  jogo  tanto  em  cima 
como  debaixo  da  mesa.  O  mesmo  me  succedeu  na  mesa,  em  que  eu  jogava. 

«Era  tempo  de  nos  retirarmos.  O  bispo  parecia  muito  satisfeito,  eas  meni- 
nas mostravam-se  muito  felizes.» 

As  três  cartas  seguintes,  escriplas  todas  em  Castcllo  Branco,  conteem  a 
biographia  de  Mr.  Valeré,  biographia  que  realmente  mais  parece  um  romance, 
ou  conto  da  carochinha,  que  vida  de  um  militar  *.  Porém  a  carta  14.«  é  já  data- 

f  Isto  é  confirmado  pela  obra  FJogio  de  Mr.  de  Vnleré,  publicada  em  Paris  por  sua  filha. 


CO 


281 


da  do  Porto.  Esta-oeeupa-se  da  biographia  de  alguns  officiaes  ioglezes  Q'a- 
qaelle  tempo  ao  serviço  de  Portugal,  e  de  pouco  mais.  Nas  cartas  seguintes 
narram-se  factos  tão  aviltantes  praticados  por  portuguezes,  que  realmente»  se 
nossos  avós  no  flm  do  século  passado  eram  taes  como  noi-os  descreve  Gostin- 
gan,  tinha  Byron  rasão  quando  disse : 

Poor,  pallry  slavesl  yet  bom!  midst  noblest  scene 
Wby,  Nature,  waste  tby  wonders  on  such  meo!  ^ 

No  emtanlo  as  viagens  de  Costingan  fazem-nos  lembrar  as  Chronicas  mo- 
násticas :  n'estas  todos  os  frades  eram  santos,  apesar  de  serem  de  carne  e  osso 
como  quaesquer  outros  peccadores;  n'aqucllas  todos  os  ofilciaes  ingiezes  são 
excellentes,  e  todos  os  portuguezes  vis  e  miseráveis  í 

•Os  frades  em  vez  de  reprimirem  o  progresso  do  vicio  nas  familias  ^  nas  quaes 
eram  recebidos,  ou  com  as  quaes  estavam  relacionados,  servem  de  príneípaes 
alcoviteiros  do  grande  vicio  da  nação :  de  sorte  que  por  meio  d'elles  o  incesto 
e  o  adultério  eram  quasi  universaes,  e  toda  a  sua  habilidade  consistia  em  con- 
servar as  mais  rígidas  apparencias  exteriores  de  decoro;  de  forma  que  debaixo 
d'este  elles  revelavam  cada  espécie  de  desordem,  a  que  aquella  paixão  li- 
vre de  qualquer  constrangimento  pôde  levar;  e  de  todas  as  enormidades,  de 
que  os  penitentes  se  accusavam,  o  peccado  da  carne  era  aquelle  que  encon- 
trava mais  prompta  e  mais  ampla  indulgência,  da  cadeira  da  penitencia;  e 
por  isso  mui  provavelmente  se  originou  d'aqui  um  provérbio  que  diz:  tSe 
Deus  castigar  a  luxuria,  pode  ticar  só  no  céo.t 

Poremos  ponto  aos  extractos  das  viagens  de  Costingan  com  o  seguinte  caso, 
o  qual  mostra  como  a  inquisição  ainda  era  formidável  no  tempo  de  D.  Ma- 
ria L* 

•Sou  natural  da  província  de  Entre-Douro  e  Minho.  Meu  pae  possuia  belias 
fazendas  na  margem  do  Lima,  a  duas  léguas  de  distancia  de  Yianna,  que  é 
perto  do  mar.  Por  ser  herdeiro  de  seus  bens,  tive  uma  educação  acommodada 
á  vida  de  fidalgo  de  província;  ia  frequentemente  á  cidade  do  Porto,  onde  ti- 
nha algumas  relações,  e  conhecia  muitos  dos  feitores  e  negociantes  ingiezes 
d'aili,  a  um  dos  quaes  meu  pae  vendia  annualmente  de  cem  a  cento  e  cincoenta 
pipas  de  vinho.  Meu  pae  também  semeava  uma  considerável  porção  de  trigo 
6  de  milho,  a  qual  vendia  vantajosamente  em  Lisboa;  de  sorte  que  nós  tí- 
nhamos uma  boa  carroagem,  onde  a  minha  familia  costumava  ir  a  Yianna  as- 
sistir ás  funcções.  Ha  n'aquella  cidade  um  convento  de  frades  capuchos,  do 
qoal  minha  familia  é  padroeira.  Meu  pae  tinha  sido  sempre  muito  liberal  para 
com  estes  frades,  e  um  d'elles  geralmente  dizia  missa  em  minha  casa  aos  do- 
mingos e  dias  santos. 

•Eu  vivia  muito  satisfeito,  mas  aconteceu  que  n'uma  manhã  muito  cedo 
navegando  nós  pelo  rio  abaixo,  dentro  do  nosso  pequeno  barco,  para  irmos  a 

<  Cbilde  Hareids  Pilgrímage.  Canl.  1—^. 

'Vol.íA  pag.  W 
»  Yol.  !•,  pag.  178. 


382  GO 

uns  navios  que  estávamos  carregando  de  cereaes  para  Lisboa,  ao  passarmos 
pelo  castello,  qae  está  na  barra  deVianna,  vimos  aporta,  que  deita  para  o  mar, 
aberta,  e  alguns  homens  tirando  fazendas  de  dentro  de  um  barco,  e  levando-as 
para  dentro  do  castello :  esta  circumstancia  maravilhou-nos  por  sabermos  que 
aquella  porta  estivera  tapada  com  pedra  e  cal  por  muitos  annos,  e  que  ainda 
assim  estava,  havia  poucos  dias;  todavia,  como  isso  nos  não  importava,  conti- 
nuámos o  nosso  caminho. 

«Algum  tempo  depois  o  intendente  geral  das  alfandegas  veiu  á  nossa  pro- 
víncia para  devassar  se  alguém  tinha  transgredido  as  leis  e  ordenações,  pas- 
sando fazendas  por  contrabando;  meu  pae  foi  citado  para  comparecer  em  Yian- 
na  perante  elle,  e  alli,  depois  de  ter  jurado  aos  santos  evangelhos  de  respon- 
der com  verdade  ás  perguntas  que  lhe  fossem  feitas,  foi  interrogado  se  em  tal 
manhã  tinha  visto  aberta  a  porta  do  castello,  que  deita  para  o  mar,  e  um  barco 
diante  d'eile  descarregando  fazendas?  Ao  que  obrigado  em  consciência  res- 
pondeu affirmativamente;  porém  como  não  estava  obrigado  ao  segredo,  foi 
immediatamente  procurar  o  commandante  do  castello,  fldalgo,  e  seu  amigo 
intimo,  para  o  informar  do  que  se  passava.  Este  abraçou-o  cordialmente,  co- 
mo de  costume,  agradeceu-lhe  sua  participação,  e  disse  que  este  caso  de  mbr 
nhum  modo  tinha  relação  com  elle,  e  que  meu  pae  obrara  como  devia,  depon- 
do a  real  verdade  do  que  tinha  observado. 

•Coisa  de  dois  mezes  depois  mandaram- nos  dizer  deVianna  que  o  ditu  com- 
mandante do  castello  tinha  sido  expulso  do  exercito  pelo  crime  de  contraban- 
do; e  também  nos  iijformaram  de  que  isto  proviera  principalmente  do  depoi- 
mento de  meu  pae  contra  elle. 

«A  esta  noticia,  meu  pae,  que  estava  então  em  casa  doente  da  garganta, 
mandou-me  a  Viaana  para  lhe  dar  os  sentimentospela  sua  infelicidade,  e  asse- 
gurar-lhe  quanto  estava  mortificado  por  essa  causa.  O  major  respondeu:  Que 
nenhuma  censura  fazia  a  meu  pae,  que  era  um  juizo  de  Deus  contra  elle  mes- 
mo, por  seus  peccados,  do  qual  faria  o  conveniente  uso,  segundo  esperava  co- 
mo bom  catholico. 

«Era  o  dia  12  de  dezembro  seguinte  (dia  que  nunca  me  ha  de  esquecer) 
um  pouco  antes  da  meia  noite,  quando  toda  a  nossa  familía  estava  deitada,  e 
a  maior  parte  acordada,  pensei  ouvir  um  forte  e  desusado  sussurro  e  barulho 
da  parte  de  fora.  Corri  á  janelia,  e  vi  que  a  nossa  casa  estava  cercada  por 
uma  companhia  de  soldados  armados.  Estava  para  perguntar  que  queriam  alli, 
quando  fui  prevenido  por  uma  bulha  como  de  trovão  á  porta  principal.  Man- 
dei fora  saber  o  que  queriam?  Em  resposta  mandaram  me  immediatamente 
abrir  a  porta  da  parte  d^el-rei,  e  do  santo  ofíicio.  Obedeci  sem  demora, 
sabendo  perfeitamente  que  não  havia  outro  remédio,  e  alli  passeiava  na  pri- 
meira fileira  dos  mosqueteiros  seguidos  por  Constantino  Rodrigues  Calvo  Men- 
dragão,  um  velho  commissario  da  inquisição,  a  quem  cu  tinha  conhecido  em 
Braga,  cora  seu  notário  e  alcaides  ecclesiasiicos.  Disse  ter  vindo  por  ordem  do 
santo  ofncio  de  Coimbra  para  levarem  preso  meu  pae  para  alli>  para  respon- 
der aos  artigos  de  accusação  que  tinham  recebido  contra  elle,  e  que  se  aprom- 
ptasse  para  ir  n'uma  liteira,  que  estava  prompta  á  porta  para  o  transportar. 


^.'0  283 

Nào  podia  haver  resistência.  Toda  a  familía  rompeu  em  clioros  e  prantos;  os 
próprios  soldados  estavam  compadecidos,  todos,  á  excepção  do  endurecido  ve- 
iho  padre,  bem  costumado  a  taes  scenas. 

•Por  fim  meu  pae  foi  mettído  na  liteira,  e  eu  pedi  para  a  acompanhar,  mas 
foi  grosseiramente  repellido.  Muitos  dos  soldados  o  seguiram,  e  somente  um 
goarda  foi  posto  em  nossa  casa,  a  respeito  da  qual  o  notário,  que  também  fi- 
C0D9  me  notificou  que  estava  confiscada  para  o  santo  officio,  com  todas  as 
terras,  moveis  e  immoveis :  e  que  tinha  ordem  de  fazer  um  exacto  inventaria 
de  todas  as  coisas,  e  intimou  nossa  familia  para  se  retirar  no  dia  seguinte. 

«Era  por  este  mesmo  tempo  que  um  fidalgo  de  Barcellos  estava  para  ca. 
sar  com  minha  irmã.  Escrevi-lhe  participando-Ihe  o  que  se  passava,  e  elle 
poz-se  a  caminho  apenas  recebeu  o  recado.  Chegou,  mas  minha  irmã  impres- 
sionada com  a  prisão  do  pae,  tinha  adoecido,  e  morreu  no  mesmo  dia  em  que 
estava  para  casar. 

«Não  tendo  onde  residir,  fomos  para  Vianna  com  o  fim  de  alugarmos  uma 
casa,  mas  nem  uma  pessoa  n'aquella  terra  nol-a  quíz  ceder,  sendo  unanimes 
em  nos  terem  por  abomináveis,  visto  ter  sido  indispensável  o  santo  officio  apo- 
dêrar-se  da  pessoa  de  meu  pae.  Foi  então  um  inglez  meu  amigo  o  único  que 
nos  soccorreu,  levando  híos  para  o  Porto. 

«Com  dinheiro  emprestado  pelo  inglez  dirigi-me  a  Lisboa  ver  se  podia  fa- 
zer soltar  meu  pae :  mas  dinheiro,  um  anno  inteiro  e  todas  as  minhas  diligen- 
cias foram  baldadas,  até  que  passados  oito  annos,  recebi  uma  carta  do  filho 
do  referido  major  de  Vianna  informando-me  que  seu  pae,  em  perigo  de  vida, 
muito  anciosamente  pedia  para  me  vér  antes  da  morte.  Para  aili  me  dirigi, 
onde  o  encontrei  tendo  já  recebido  todos  os  Sacramentos,  e  indo-se  começar 
missas  por  sua  alma,  e  estando  os  frades  de  S.  Domingos  a  ajudal-o  a  mor- 
rer.  Á  minha  vista  declarou  que  tinha  subornado  falsas  testemunhas  para  irem 
denunciar  à  inquisição  meu  pae  de  ter  batido  e  cuspido  n'uma  cruz,  que  es- 
tava  n'um  caminho,  com  o  fim  de  se  vingar  de  ter  perdido  seu  emprego  por 
causa  de  seu  depoimento,  de  ter  elle  major  passado  contrabando;  masque 
agora  declarava  publicamente  que  elle  estava  innocente,  e  pedia  perdão  a 
Deus  e  a  todos  bons  catholicos,  que  alli  se  achavam  presentes.  Ditas  estas  pa- 
lavras, expirou.  Eu  tive  cuidado  de  mandar  lavrar  uma  certidão  de  quanto  se 
passou  alli,  e  de  a  fazer  assignar  por  quantos  se  achavam  presentes,  para  com 
ella  requerer  a  soltura  de  meu  pae.  No  emtanto  era  isto  exactamente  na  occa- 
sião  da  morte  do  rei  D.  José,  e  nos  principies  do  reinado  seguinte  nada  mais 
havia  que  desordem  e  confusão.  Promettia-se-me  todavia  depois  de  muitas  ins- 
tancias que  meu  pae  seria  solto  pela  occasião  do  primeiro  auto  de  fé. 

«Passado  coisa  de  anno  e  meio  celebrou*se  o  auto  de  fé.  Fui  dos  primeiros 
a  dirigir-me  para  a  grande  sala  da  inquisição.  Appareceram  muitas  pessoas 
de  differentes  trajos :  alguns  até  eram  militares,  e  seus  differentes  crimes  e 
sentenças  foram  lidas  pelo  secretario  do  tribunal.  A  sala  estava  prodigiosa- 
mente cheia,  ^  e  nào  era  possível  mecher-me  no  meu  logar;  porém  alongava 

*  Coítingan.  Sketchfx  of  Socieiy  and  Manners,  vol.  2.  pag.  203. 


284  GO 

meus  olhos  para  descobrir,  se  fosse  possível,  a  face  de  mea  pae  eotre  os  oa- 
tros  presos,  o  qae  era  realmente  muito  difficil  por  causa  dos  horríveis  vestuá- 
rios que  elles  traziam,  com  as  cabeças  rapadas,  ou  com  o  cabelio  cortado  à 
escovinha,  e  as  horrendas  carapuças  nas  cabeças.  Todos  os  presos  foram  por 
suas  sentenças  condemnados  a  soffrerem  uma  ou  outra  sorte  de  castigo,  exce- 
ptuando unicamente  meu  pae,  cujo  nomo  o  secretario  pronunciou  por  fim,  e 
mencionou  os  motivos  pelos  quaes  fora  preso,  por  denuncias  falsas,  mas  or- 
denava-se  que  sua  honra  fosse  reintegrada  e  restaurada,  e  posto  outra  vez  em 
posse  de  seus  bens,  dos  quaes  o  santo  officio  tomara  apenas  administraçio. 

•Apenas  os  presos  foram  removidos,  eu  dirigi-me  ao  secretario  dizendo-lhe 
ser  o  único  Olho  da  pessoa  ultimamente  mencionada  na  lista  do  auto  de  fé,  e 
pedia-lhe  que  dissesse  se  estava  já  fora  da  prisão,  e  onde  o  poderia  encontrarf 
O  secretario  entregou-me  então  com  a  maior  indifferença  um  papel  dizendo-me 
que  o  levasse.  Santo  Deus  1  Porque  [sobrevivi  eu  um  instante  depois  d'aquella 
terrível  leitura  t  Este  papel  era  uma  certidão  assignada  pelo  próprio  inquisi- 
dor geral  certificando  que  meu  pobre  e  innocente  pae  tinha  morrido  de  rheo- 
matico,  havia  três  annos,  nos  cárceres  da  inquisição,  pedindo  ardentemente  a 
Deus  que  perdoasse  a  seus  inimigos.  Passados  alguns  dias  depois  d'esta  noti- 
cia, logo  que  meu  estado  de  saúde  o  permittin,  transmitti  a  nova  do  falieeí- 
mento  de  meu  pae  a  minha  mãe^  a  qual  depois  de  a  ouvir  deu  um  alto  grito 
e  morreu. 

«Tratou  depois  o  Olho  de  haver  a  restituição  de  seus  bens  em  virtude  da 
sentença  dada  pela  inquisição;  mas  os  memoriaes  apresentados  ao  inquisidor 
geral  eram  por  elle  enviados  ao  secretario  doestado,  e  este  mandava-os  outra 
vez  para  o  inquisidor,  e  n*estas  voltas  se  passaram  annos.» 

Eis  por  extracto  a  traducção  d*algumas  das  passagens  mais  notáveis  da 
obra  attribuida  a  Costingan.  Mas  será  verdade  quanto  nos  refere?  Para  apurar- 
mos alguma  coisa  a  este  respeito  temos  um  auxiliar.  Costingan  no  primeiro  vo- 
lume traz  uma  biographia  (não  muito  crível)  de  Valeré :  ora  a  filha  d'este  ge- 
neral francez  mandou  publicar  também  o  elogio-bistorico  do  seu  pae;  vejamos 
pois'se  estão  de  accordo. 

Mas  eis  o  que  nos  diz  a  biographia  de  Vallerè :  «Na  Bibliotheca  Britan- 
nica,  tomo  ô.''  pag.  213  e  327,  vem  insertos  os  extractos  de  algumas  das  car- 
tas sobre  a  sociedade  e  os  costumes  em  Portugal  por  Arthur  Willíam  Costingan, 
e  impressas  em  Londres  depois  de  passados  dez  annos.  Os  francezes,  que  teem 
feito  da  litteratnra  um  ramo  de  commercio,  e  que  por  isso  se  não  teem  des* 
cuidado  de  traduzir  tudo  quanto  tem  apparecido  mau  e  bom  sobre  Portugal 
e  Hespanha,  não  as  traduziram  até  agora,  <  o  que  prova  a  pouca  estimação  que 
ellas  merecem.  Ninguém  hoje  ignora  que  o  brigadeiro  F.  é  o  verdadeiro  au- 
ctor  das  sobreditas  cartas,  o  qual  pelo  seu  mau  caracter  moral,  e  opiniões  re- 
ligiosas foi  constrangido  a  largar  o  commaudo  do  regimento  de  artilharia  do 
Minho,  e  a  sahir  de  Portugal  no  primeiro  anno  do  reinado  de  S.  M.  que  D.  G* 

*  O  elogio  de  Valeré,  í*  edição,  foi  impresso  em  Paris  em  1808. 


CR  285 

•Este  homem,  para  exhalar  o  veneno,  que  lhe  roía  o  coração  contra  o  go- 
verno e  a  nação  portugaeza,  dos  quaes  se  considerava  offendido,  servia-se  de 
um  nome  sopposto  para  merecer  mais  crença,  e  soltar  livremente  as  rédeas  à 
sua  maledicência,  escrevendo  am  amontoado  de  calumnias  e  vitaperios  contra 
a  nação  em  geral,  e  em  particular  contra  aqaeiles,  qae  tiveram  a  desgraça  de 
serem  d'elle  conhecidos. 

«Finge  pois  dois  inglezes  de  distincçao  viajando  em  Portugal,  e  nas  con- 
versações, que  os  faz  ter  com  diversas  pessoas,  nâo  hesita  um  só  momento  em 
eomprometter  nomes  respeitáveis,  com  tanto  que  satisfaça  a  sua  raiva  e  o  de- 
sejo insaciável  que  tem  de  dizer  mal,  tendo  a  baixesa  e  infâmia  de  attribuir 
ás  pessoas,  com  quem  suppõe  fallar,  o  que  somente  escreveu  a  sua  penna, 
saggerido  pela  sua  imaginação.  Uma  d*estas  foi  meu  pae,  e  por  esta  rasâo  mo 
propuz  mostrar  a  falsidade  de  tudo  o  que  elle  disser. 

«Lembro-me  muito  bem  do  brigadeiro  F...  ter  estado  em  Elvas,  e  ser  ahi 
hospedado  por  meu  pae,  que  o  recebeu  com  aquella  afTabilidade  e  franquesa, 
qne  lhes  eram  naturaes,  e  com  que  recebia  todas  as  pessoas;  duvido  porém 
muito  que  elle  lhe  contasse  alguns  dos  successos  da  sua  vida,  e  se  o  fez,  o  bri- 
gadeiro os  alterou  de  maneira  que  posso  afHrmar  não  haver  uma  só  verda- 
de em  toda  a  sua  narração ! !« 

Yé  se,  pois,  que  o  livro  publicado  debaixo  do  pseudonymo  de  Costingan  não 
merece  grande  confiança :  os  insultos  dirigidos  aosportuguezes  não  podem  ser  - 
maiores...  no  emtanto  creio  que  alli  ha  também  muitas  verdades;  os  viajantes 
contemporâneos,  e  os  factos  históricos  são  concordes  com  muitas  das  asser- 
ções do  Esboço  da  sociedade  e  costumes  de  Portugal. 

Marianne  de  Bailiie  diz  nos  na  sua  descripção  de  Lisboa  (tomo  S.^"  pag.  2) 
qne  a  obra  attribuida  a  Costingan  fora  tão  mal  recebida  em  Poiítugal,  que  se 
arriscava  a  ser  punido  pela  inquisição  quem  a  tivesse  em  sua  casa. 

É  porém  engano  dizer  que  esta  obra  não  foi  vertida  em  francez :  pelo  me- 
nos o  primeiro  volume  foi  traduzido  n'este  idioma  com  o  seguinte  titnlo:  —  Ar- 
thur  William  Costigan  —  L^íírw  sur  le  gouvemement,  les  mceurs  et  les  usages 
en  Portugal,  Paris,  1810. 

310)  GOUCHE  (FRANÇOIS.) 

E.  —  Relations  veritabiles  et  curieuses  de  VHe  de  Madagáscar  et  du  Era- 
êU,  etc.  Paris,  16SI. 

311)  OOUSTOS. 

E.  —  Sufferings  for  Freemasonry  etc,  in  the  InqtUsition  at  Usbon*  London, 
1746.— (SofTrimentos  de  um  pedreiro  livre). 

312)  CHOKER  (R.) 

E.—  Traveis  trmigh  Spain  ad  Poitugal,  1799. 


286  CU 

2i3)  OROSSE  (H.) 

E. — Faunula  malacoloqique  terrestre  de  Vile  SairU-Thotnepar  — .  (No  /otir- 
nal  de  Conchyliologie,  vol.  8.<>,  4868,  pag.  125). 

É  uma  lista  de  9  espécies  determinadas  por  este  hábil  coocbviíologista  á  vista 
de  exemplares  authenticos,  parte  dos  quaes  havíamos  sabmettido  ao  sea  exa- 
me, por  occasiao  da  nossa  ultima  viagem  a  Paris.  > 

214)  CRUZ  (O.  DE  LA  — )  —  Professeur  de  trançais,  mathématiques, 
dessin  d*architecture,  auteur  de  la  Metbode  unique  de  prooonciation  françai- 
se,  approuvée  par  le  conseil  general  dMnstruction  publique.  Natural  de  Mála- 
ga. Ensinou  francez  por  algum  tempo  em  Lisboa,  e  d'aqui  passou  para  Me- 
sao  Frio,  e  actualmente  é  professor  no  Porto. 

E.  —  I.  Grammaire  Française  á  Vusage  des  Porttígais,  approuvée  par  le  co»- 
le  conseil  de  Yinstruction  publique,  par  — .  Lísbonne.  8.*,  298  pag. 

II.  Diccionaire  des  Verbes  irreguUers  défectifs  et  impersoneles  de  la  Lan* 
gue  Française,  intièremenfconjuguées  dans  leurs  temps  simples,  contenant  leur 
pronondatian  figurée,  leur  signification  en  portugais  d^après  les  meilleurs  di" 
ctionnaires,  et  la  solution  analytique  des  difficultés  auxquelles  ils  peuvent  dcm" 
ner  lieu,par^,  Lisboa,  1866.  8.",  143  pag. 

215)  OUDENA  (PEDRO). 

Escreveu  uma  descripçào  do  Brasil,  do  qual  se  fez  uma  traducçãa  em  ai- 
lemão,  que  foi  impressa  em  Brunswich  no  anoo  de  1780. 

216)  CUSANI  (Marquez  FRANCESCO). 

E.  —  Don  Duarte  de  Braganza,  pngionero  nel  rastello  di  Milano,  episoáv) 
storico  dei  século  xvn.  (D.  Duarte  de  Portupal  preso  no  casteilo  de  Milão). 

Traz  o  fac-simile  do  prmcipo  e  a  gravura  da  chave  do  caixão  em  que  fo- 
ram encerrados  os  resios  morlaos  de  D.  I)uarlt\ 

Ksta  obra  apparocou  niencionada  no  Jornal  da  Noite:  mas  d'ella  ainda  não 
pude  ver  nenhum  exemplar. 


'  Jornal  -i':  Sdrunn    )ínih<*mnlvn:s  rir.,  \n\.  '}.'   |»an.  IÍ»S. 


D 


217)  DAL  (NICOLAU).— Parece  ser  dinamíirquez.  Era  missionário  pro- 
testante, e  morrea  em  1747  em  Trangambar,  na  índia  Oriental. 

E.—  I.  Piimeira  parte  da  Grammatica  Portugueza  para  uso  da  escola  por- 
tugueza  de  Trangambar.  Trangambar,  na  officina  da  Real  Missão  da  Dinamar- 
ca. 1725,  8.» 

II.  Segunda  parte  da  &vammatica  Portugueza  para  vão  da  mesma  escola 
Ibíd.  1726. 

2i8)  DALHUNTY  (MARCUS). 

Nasceu  em  Belfast  no  aono  de  1816,  e  actualmente  residente  em  Lisboa. 

£.— I.  Grammatica  Ingleza.  Lisboa.  Imprensa  Nacional,  1855,  8.<',  275  pag. 

II.  Explicações  de  mathematica  theoiica  e  pratica  para  ensino  poptUar. 
Lisboa.  Imprensa  Nacional,  1859.  193  pag. 

III.  Explicações  de  Arithmetica  superior,  em  seguimento  ás  da  elementar. 
Lisboa.  Imprensa  Nacional,  1862. 

Escreveu  no  Panorama  alguns  artigos  sobre  coincidências  notáveis  de  al- 
garismos com  factos  da  historia  de  Portugal.  £  na  Revista  Popular  (2.<'  anno, 
1849)  alguns  artigos  sobre  o  ensino  das  linguas. 

219)  DALLA  BELLA  (JOÃO  ANTÓNIO). 

Nasceu  em  Pádua,  e  para  aquella  cidade  se  retirou  pelos  annos  de  1818  a 
1820.  Foi  lente  da  Universidade  de  Coimbra,  para  a  qual  veio  reger  uma  ca- 
deira de  phiiosophia,  convidado  pelo  marquez  de  Pombal. 

E.—  Memoria  1.*  sobre  a  força  magnética  (Memorias  da  Academia  das 
Sciencias  de  Lisboa,  tomo  1.°,  de  pag.  85  a  116. 

Memoria  2.*  sobre  a  força  magnética  (Id.  id.,  de  pag.  116  a  199). 

II.  Noticias  históricas  e  praticas  acerca  do  modo  de  defender  dos  raios,  Lis- 
boa, 1783.  f 

ÍII.  Memorias  softre  o  modo  de  aperfeiçoar  a  manufactura  do  azeite  em 
Portugaly  remetlidas  á  Academia  Real  das  Sciencias.  Coimbra,  1784. 


288  DA 

IV.  Memoria  sobre  a  ctdtura  das  oliveiras  em  Portugal.  Coimbra,  1786. 
2.*  edição  accrescentada  com  um  appendice,  por  Sebastião  Francisco  Mendo 
Trigoso.  Ibid.  1818. 

320)  DALLAS  (ALEXANDER  R.  G.  —  Esq). 

E. — Félix  Alvares  or  manners  in  Spain:  corUaining  descriptiv  accountsof 
some  of  ihe  prominerU  events  of  tfie  late  Peninsular  War;  and  autkentic  anec- 
dotes  illustratives  of  the  Spanish  characer;  interspersed  with  poetryy  original, 
and  from  the  Spanish  —  hy  —  Three  volumes  in  íwo.  New  York.  Published  hy 
J.  Eastbum  and  Co.  1818.  (Costumes  dcHespanha,  contendo  alguns  snccessos 
da  guerra  peninsular,  etc.) 

O  segundo  volume  é  o  que  mais  interessa  aos  portuguezes. 

321)  DALRYMPLE  (Gbneral  Sm  HEW  —  Bart.) 

E. — Memovr  written  by  of  his  proceeding  a^  connected  with  the  affairs  of 
Spain  and  the  commencemenf  of  the  Peninsular  War.  London—  Thomíis  and 
Willian  Boone.  1830,  8.»  longo,  317  pag. 

Esta  obra  trata  miudamente  dos  feitos  dos  portuguezes  durante  a  guerra 
peninsular. 

322)  DARD  (JEAN). 

E.  —  Uistoire  de  ce  qui  s'est  passe  en  Ethiopie,  Malabar,  Bresil  et  ces  Indes 
OrientaleSy  traduit  de  VItálien.  Paris,  1628. 

323)  DARWIN. 

E.  —  Journal  of  researches  into  the  various  couniries  visited  by  Beagle, 
Londoo,  ISiO.  (Diário  das  investigações  geológicas  de  vários  paizes. 

*  M.  Darwin  contava  com  infinita  graça  suas  excursões  geológicas  na  ilha 
Terceira,  onde  as  aves  e  os  insectos,  que  observou,  lhe  trouxeram  á  idéa  as 
de  Inglaterra.  Infelizmente  o  navio  em  que  os  trazia,  o  Beagle,  perdeuse. 

324)  DAUNCEY  (JOHN). 

E.—  A  compendious  Chroniclc  of  the  kingdom  of  Portugal  from  Alphonso 
the  1.'  to  AlpJionso  the  sixth.  London,  1661.  (Chronica  resumida  dos  reis  de 
Portugal). 

325)  DAUX  (A.  A.)  —  Francez  residente  em  Paris. 

Trata  actualmente  (1875)  de  imprimir  na  referida  cidade  uma  Historia  de 
Portugal,  escripta  por  elle  em  linguagem  portugueza. 

O  auctor  esteve  por  algum  tempo  em  Lisboa,  onde  ensinava  seu  idioma. 

326)  DAVILLE  (FRANÇOIS). 

K,—Déclaratíon  sammairc  des  ilrgi^mcs  itsurpalions  des  roiaumes  dePartu- 


DE  M9 

galy  Navarre  et  autres  pays,  tendes  et  seigneuries  faictes  par  le  roy  de  Castille 
et  ^es  prédecesseurs  sur  les  roys  et  princes  de  la  Chretienté.  Extretrait  d'un 
escript  de^estant  à  Seville  adressé  à  frêre  Luys  de  Grenada^  estant  lor$  en 
Portugal.  (C.  M.  B.  I.  P.) 

327)  DAWS  LETTERS  ON  LITTERATURE. 

Foi  n'esta  obra  que  pela  primeira  vez  apparocea  estampada  aquella  cele- 
bre descripçào  do  terremoto  de  Lisboa  em  1755,  a  qaal  o  Penny  Magazine  (de 
Londres)  pablicoa  acompanhada  de  estampas  no  seu  i.^"  voiame  (anno  de 
1832;,  e  foi  reproduzida  tanto  em  inglez,  como  em  traducções  n'uma  infinida- 
de  selectas  e  jomaes  litterarios. 

328)  DAZA  (FR.  ANTÓNIO). 

E.  —  Quarta  parte  de  las  Ckromcas  de  la  Qrden  de  S.  Francisco,  sive  con- 
tinuatio  Historia  Minorum  a  Marco  Ulyssiponensi.  1559.  Yalladolid,  161  i.  foi. 

329)  DE  BRASILSCHE  BREED. E-bilofte TSanaen Spraek, Tusschen 
hees  Jansz.  Schott,  zomende  uyt  Brasil^  en  Jan  Maet,  Koopmans  —  knecht, 
hebbende  voor  desen  oek  in  Brasil  geweest  Over  den  verlop  in  Brasil,  In*t  Jaer 
onses  Heeren,  1647.  8.«,  36  pag.  (M.  S.) 

330)  DECANDOLE. 

Na  theoria  Elementar  de  Botânica  de  Decandole,  que  foi  o  maior  botânico 
da  Europa,  vem  o  seguinte  elogio  ao  nosso  sábio  abbade  José  Corrêa  da 
Serra: 

•O  termo  Symitria,  foi  empregado  pela  primeira  vez  por  Linneo,  e  o  seu 
emprego  indica  que  elle  tinha  ídéas  muito  justas  sobre  o  methedo  natural. 
Porém  Corrêa  da  Serra  foi  o  primeiro  que  nas  Memorias  da  Sociedade  Un- 
neana  desinvolveu  realmente  sobre  esta  matéria  considerações  novas  e  fecun- 
das, e  de  que  eu  tenho  feito  muitas  vezes  uso  n'esta  discussão.»  ^(Bemta 
Universal  lisbonense,  vol.  S.'',  pag.  565). 

331)  DECISIONES  ANONIMI  JURISGONSULTI.  Augusta  Taurino^ 
rum.  1646,  foi.  (Tracta  da  prisão  de  D.  Duarte,  infante  de  Portugal). 

332)  DÉCLARATION  DES  EMBASSADEURS  D'ESPAIGNE, 
touchant  une  treve  pour  Portugal. 

No  fim  —  Fatct  á  Munster  ce  14  Aoust,  1647,  7  pag.  (M.  S.) 

333)  DEOLARATIONUM  (NOVARUM)  ET  VARIARUM  LEOTIO- 
NUM,  resolutionumque  Júris  libri  XXII  diversorum  Jurisconsultorum^  scili- 
cet:  Vaconii  à  Vacuna,  Ant.  Goveani,  Ant.  Contii,  Jac.  Raevardi,  Rain,  Corsit 
Nic.  Belloni.  Coloniae  Agrippae,  1575,  foi. 

334)  DEFENSE  (THE)  against  the  petitions  of  some  English  Factores  at 

TOMO  I  i9 


290 


DE 


Oporto^  by  tke  carrespondents  of  the  Royal  Wine  Campany  for  the  AgricuUwre 

of  the  Wines  do  Alto  Douro,  LondoQ,  1813.  (Defesa  contra  os  i>edidos  de  algons 
feitores  ínglezes  no  Porto.) 

335)  DE  JURE  SUCCESSIONIS  REGLS  LUSITÂNIA,  deque 
legitima  regis  Antonii  successione,  Middelbergi,  4596,  (Do  direito  da  regia  sac- 

%     cessão  de  PortugaL  e  da  legitima  successão  do  rei  D.  António). 

336)  DELLE  COSE  DEL  PORTOGALLO,  rapporte  à  p.  p.  Gesmtu 
Lagano,  1760-62. 

337)  DELLON.  í 

E.  —  I.  Voyage  avec  sa  relation  de  Vinquisition  de  Goa.  Cologne.  1711. 

II.  Relation  de  l^inqusition  de  Goa,  revue,  conigée  et  augmentée.  A  Cologne 
chez  les  heretiers  de  Pierre  Marteau,  17U.  Segue  se  o  3.«  vol. :  HUtoire  áet 
Dieux,  qu^adorent  les  gentils  des  índes,  avec  une  addition  de  IHnqtúsition  de 
Goa,  etc, — ^Todos  em  8.**  Kste  volume  è  obra  d'am  Mi^isiona^io  Portaguez. 

Esta  obra  é  rara,  princípaimeute  em  Portugal,  onde  até  hoje  apenas  tenho 
visto  três  exemplares. 

Creio  haver  uma  edição  anterior,  feita  em  1709,  mas  a  qual  ainda  não  tL 

Foram  estas  viagens  vertidas  em  portugaez  por  Miguel  Vicente  d^Abreo,  e 
impressas  em  Nova  Goa  no  anno  de  1866. 

Dellon,  impellido  peio  ardente  desejo  de  vér  o  mundo,  embarcoa  em 
PortLouis,  na  Bretanha  a  20  de  março  de  1668,  na  qualidade  de  cirurgião  de 
um  navio  pertencente  á  Compagnie  Royai  des  lades.  A  30  de  abril  achava-se 
em  Cabo  Verde.  A  3  de  setembro  ancorou  seu  navio  na  ilha  de  Bourbon  (cha- 
mada anteriormente  de  Mascarenhas).  A  30  doeste  mez  entrou  em  Madagáscar 
(por  outro  nome  S.  Lourenço).  D'esta  ilha  foi  mandado  em  um  navio  a  serviço 
da  Companhia  das  índias  Francezas  a  varias  povoações  com  o  fim  de  receber 
o  pessoal  das  feitorias,  que  a  Companhia  abandonava,  por  lhe  darem  prejnlso; 
e  a  12  de  agosto  do  seguinte  anno  (1669)  de  Madagáscar  navegou  para  a  ín- 
dia. A  21  de  setembro  achava-se  em  Surrate,  onde  permaneceu  até  o  princi- 
pjo  do  anno  seguinte.  Saiu  d'esta  povoação  a  6  d'este  ultimo  mez  em  direcção 
a  Mirzeou,  no  reino  de  Visapur,  d'onde  saiu  a  19.  Foi  depois  para  Tissery  tra- 
tar de  negócios  da  referida  companhia,  em  cujo  serviço  percorreu  muitas  ter- 
ras. A  31  de  janeiro  de  1673  ancorou  dentro  da  barra  de  Goa. 

«Haverá  difliculdade  em  acreditar  que  uma  cidade  (Goa),  cujos  arrabaldes 
sào  tào  soberbos,  contCDha  em  seu  âmbito  com  que  causar  admiração  aos  que 
a  vêem.  Com  eíTeito,  apesar  de  seus  dominadores  se  acharem  em  decadência 
pelos  prejiiisos  solTridos,  superiores  á  comprehensào,  e  do  negocio  já  não  ser 
nem  a  sombra  do  que  foi  n  outro  tempo,  Goa  ainda  é  uma  das  mais  bellas,  e 
mais  sumptuosas  cidades  do  Oriente.»  V.  Pyrard. 

«A  6  de  fevereiro  saliiu  Dellon  de  Goa  com  destino  a  Rajapour.  Em  outu- 
hro  aoh:iva-se  já  em  viaííein  para  a  Pérsia,  com  desliuo  aBandar  Abassi  para 
com  seu  navio  comboiar  um  outro,  que  se  dirigia  a  Surrale.  A  6  de  janeiro 


DE  291 

de  1673  pairava  em  frente  de  Dia,  e  a  12  entrava  em  Bombaim.  Resolvea  de- 
pois fazer  uma  digressão  ás  possessões  portoguezas  na  costa  de  Coromandei. 
Passou  a  Damão,  a  que  chama  ama  das  praças  mais  fortes  de  todo  o  Oriente. 
Aceitando  as  vantajosas  propostas  qae  lhe  fez  o  governador  d'esta  cidade,  dei- 
xoa-se  ficar  n*ella,  na  qualidade  de  cirurgião.  Durante  sua  residência  em  Da- 
mão, fez  uma  digressão  a  Tarapour,  villa  pertencente  aos  portuguezes. 

«Havia  n'esta  povoação  uma  egreja  parochial,  uma  da  Misericórdia,  e  um 
convento  de  Dominicos,  a  cuja  egreja  foi  Dellon  ouvir  o  sermão  de  sexta 
feira  santa. 

•Quando  atravessava  o  claustro  com  destino  a  uma  tribuna,  em  que  lhe 
tinham  reservado  um  'logar,  viu  alguns  penitentes  com  a  cara  tapada,  e 
hombros  mis,  ferindo-se  tão  cruelmente  com  disciplinas  guarnecidas  de  aço, 
qae  o  sangue  esguichava  com  bocados  de  carne.  Pelo  receio  de  que  com  o  san- 
gue lhe  sujassem  o  fato,  pediulhes  que  se  afastassem  alguma  coisa  para  o 
deixarem  passar;  íÍ7eram-n'o,  e  depois  continuaram  a  disciplinar-se. 

•Um  momento  depois  de  ter  entrado  na  tribuna,  appareceu  o  pregador.  ^ 
Notei,  que  durante  seu  sermão  fez  muitas  pausas  para  dar  tempo  a  que  seus 
ouvintes  observassem  os  diíTerentes  mysterios  da  Paixão,  que  estavam  sendo 
representados  n'um  theatro,  como  uma  tragedia  dividida  em  vários  actos.  O 
tal  theatro  estava  tapado  com  um  panno,  que  se  levantava  a  cada  pausa^  que  o 
pregador  fazia.  Da  minha  tribuna  via  quanto  se  passava  no  corpo  da  egreja, 
na  qual  os  homens  estão  separados  das  mulheres  por  uma  teia,  onde  ellas  so 
acham :  corre  ao  longo  d'esta  uma  cortina,  para  não  poderem  ser  vistas  pe- 
los homens. 

•Mas,  não  obstante  não  se  verem,  teem  grandes  desejos  de  se  fazerem  ou- 
vir, soltando  gritos  agudos,  dão  tão  grandes  pancadas  no  peito  e  na  cara,  e 
até  arrancam  os  cabellos  todas  as  vezes  que  o  pregador  diz  alguma  coisa, 
qae  desperta  a  compaixão  dos  ouvintes.  O  pranto  das  mulheres  portuguezas, 
suas  exclamações,  a  dôr  de  que  parecem  estar  penetradas,  não  obsta  a  que 
muitas  abusem  da  liberdade,  que  teem,  de  sair  n*estes  santos  dias.  £speram- 
n'os  algumas  vezes  com  a  maior  impaciência  durante  todo  o  anno,  para  os 
empregarem  em  usos  bem  differentes  d'aquelles  para  que  taes  dias  foram 
instituídos,  e  este  tempo  sagrado  serve  frequentemente  para  ultimar  aventu- 
ras, nas  quaes  a  prudência  não  toma  parte. 

•Acabado  o  sermão,  representou-se  a  descida  da  Cruz,  e  pozeram  n'um  es- 
quife a  imagem  de  nosso  Senhor,  que  n^aquella  occasião  desprenderam.  Á 
vista  d'este  novo  espectáculo  redobraram  os  gritos  e  alaridos.  Começou  no  en- 
tretanto, a  procissão  a  satr;  os  penitentes,  em  mui  grande  numero,  marcha- 
vam na  frente  com  o  rosto  coberto,  e  batiam  nos  hombros  com  tal  violência, 
que  arrancavam  ao  mesmo  tempo  horror  e  piedade.  Eram  seguidos  pelos  ha- 
bitantes mais  distinctos  da  terra,  caminhando  dois  a  dois,  levando  na  mão  uma 
vella  accesa.  Vinham  em  seguida  os  frades,  e  depois  d'elles  trazia-se  a  ima- 
gem do  Senhor  deitada  n'um  esquife  armado  de  preto,  e  descoberto.  Rodea- 

í  Yol.  í.o,  pag.  4S5. 


295  DE 

vam-n'o  uns  víate  pretos  mascarados,  e  armados  de  lanças,  espadas  e  dardos. 
Tinham  à  sua  frente  um  officíal,  que  de  vez  em  quando  voltava  atraz  para 
ver  o  esquife,  como  receioso  que  lhe  tivessem  roubado  o  corpo.  Toda  esta  co- 
mitiva  era  precedida  de  tambores  e  clarins,  que  produziam  um  som  perfeita- 
mente lúgubre  e  fúnebre.  A  procissão  d'esta  forma  disposta  deu  volta  pela  po- 
voação. Depois  de  entrar  na  egreja  pozeram  o  esquife  com  a  imagem,  que  es- 
tava dentro,  n'um  sepulchro  muito  decentemente  preparado.  Acompanhei  esta 
procissão  até  parte  da  volta  que  deu.  As  ceremonias,  ou  antes  as  caretas,  que 
faziam  os  guardas  pretos  à  roda  do  esquife,  e  seu  oflicial  inspiravam  devoro 
e  arrancavam  lagrimas  a  todos  os  portuguezes.  Mas  confesso  que  isto  produ- 
ziu em  mim  um  effeito  differente,  porque  fui  obrigado  a  parar,  quando  pas- 
sava por  diante  da  casa  de  D.  Petronilla,  e  de  ficar  allí,  não  podendo  por  mais 
tempo  reprimir  a  vontade  que  tinha  de  rir,  o  que  para  mim  seria  bem  peri- 
goso, se  se  viesse  a  conhecer. 

«No  dia  seguinte,  sabbado  santo,  assisti  ainda  ao  oíBcio,  onde  nada  obser- 
vei de  notável;  porém  no  domingo  de  paschoa,  tendo-me  dirigido,  com  os 
mais,  muito  cedo  para  a  egreja  dos  Dominicos,  acompanhei  o  Santíssimo,  que 
levavam  em  procissão  com  muita  pompa  e  respeito  d'alli  para  a  parochia. 

«Esta  procissão  começa  ao  despontar  do  dia,  e  acaba  ao  pôr  do  sol.É  ins- 
tituída para  honrar  e  recordar  a  resurreiçào  de  nosso  Senhor  Jesus  Ghristo, 
que,  na  opinião  de  muitos,  saiu  vivo  e  glorioso  do  seu  tumulo  ao  nascer  do 
sol.  Pareceume  muito  edificante,  muito  convenientemente  disposta,  e  a  mais 
bella  das  ceremonias  peculiares  das  egrejas  de  Portugal.  Tendo  o  Santíssi- 
mo entrado  na  egreja,  deu-se  benção  ao  povo,  e  fechou-se  depois  no  taberná- 
culo. Immediatamente  o  mesmo,  que  pregara  na  quaresma,  e  na  sexta  feira, 
subiu  ao  púlpito,  e  recitou  não  um  sermão,  mas  sim  um  discurso  jovial.  A 
insliluição  d'esle  ridículo  discurso  foi,  segundo  se  diz,  para  recrear  os  ouvin- 
tes e  fazei -os  rir,  e  para  mitigar  algum  tanto  a  tristeza  de  que  podessem  ter 
sido  aíTectados  durante  a  quaresma. 

«Confesso  que  esta  oração  me  pareceu  tão  extravagante,  e  tão  pouco  em 
harmonia  com  a  solemnidade  da  paschoa,  que  julguei  a  propósito  referil-a 
succintamente. 

•Tendo  o  pregador  feito  o  signal  da  cruz,  disse:  Sabeis,  senhores,  que  este 
sermão  foi  instituído  por  três  rasòes.  A  primeira  para  dar  as  boas  festas  aos 
ouvintes.  Para  satisfazer,  senhores,  a  esta  obrigai;ào,  desejo  vos  a  todos  n*es- 
tes  santos  dias  todas  as  sortes  de  bens  e  de  prosperidades.  O  segundo  motivo 
d'esta  pregação  é  para  pedir  os  ovos  da  paschoa,  ou,  por  outras  palavras,  os 
presentes,  que  é  costume  mandar  ao  pregador  no  íim  da  quaresma.  Em  quanto 
a  este  artigo,  exhorto-vos  a  cumprir,  o  melhor,  o  mais  depressa,  e  o  mais  ge- 
nerosamente possível ;  e  declaro-vos  que  receberei  tanto  mais  gostosamente 
vossos  presentes  quanto  mais  valiosos  forem.  Finalmente,  meus  senhores,  a 
terceira  rasão  para  se  pregar  n'este  dia,  é,  como  sabeis,  a  de  fazer  rir  algu- 
ma coisa  os  ouvintes,  que  talvez  estejam  abatidos  e  aíTliclos  do  mais  com  as 
austeridad»^s  o  niortilicaçoes  praticadas  durante  a  quaresma.  Com  o  fim  de 
tentar  coiiscguil-o,  dir-vus-hoi,  que  hontein  pela  nianlifi,  ao  sair  do  meu  cou- 


DE  S93 

vento,  encontrei  o  [tansudo  do  Gregório,  que  julguei  já  nâo  estar  em  jejum,  e 
dísse-Ihe:  Falia,  ladrão,  has  de  tu  fazer  sempre  de  Pilatos  na  paixão?  Estas 
poacas  palavras  foram  proferidas  em  um  tom  gracioso  e  chocarreiro  de  modo 
tal,  que  toda  a  assembiéa  rompeu  em  gargalhadas.  Depois  o  orador,  que  tam- 
bém se  estava  rindo,  desceu  vagarosamente  do  púlpito,  sem  dizer  mais  pala- 
vra, e  sem  ter  deitado  a  benção,  deixando  cada  um  na  liberdade  de  rir  quanto 
qnizesse,  e  de  se  retirar  depois  do  rir  á  vontade. 

Tendo  Dellon  fixado  a  sua  residência  em  Damão,  e  vivendo  com  a  maior 
satisfação  n  esta  cidade,  foi  denunciado  à  inquisição  por  um  vísiuho,  e  preso 
a  24  de  agosto  de  4673,  época  em  que  contava  24  annos  de  edade.  As  causas 
apparentes  da  prisão  parece  terem  sido  o  dar  a  perceber  em  algumas  conver- 
sas, que  duvidava  da  validade  do  baptismo  do  fogo:  o  não  beijar  as  imagens 
das  santos,  que  alguns  pedintes  traziam  ao  pescoço  em  oratoriosinhos,  ^  obsti- 
nar-se  em  não  querer  trazer  o  rosário  ao  pescoço,  e  não  acreditar  que  o  Es- 
pirito Santo  assistisse  ás  sentenças  dos  inquisidores,  etc,  mas  a  verdadeira 
diz  o  auctor  ter  sido  o  desejo  que  o  governador  da  cidade  tinha  de  o  ver  re- 
movido para  longe,  cheio  de  ciúmes  com  a  affeição  que  nosso  viajante  mos- 
trava a  uma  joven  dama,  á  qual  o  governador  fazia  corte. 

«O  denunciante  fora  um  dia  a  casa  de  Dellon,  e  vendo  um  crucifixo  á  ca- 
beceira do  leito,  disse- lhe :  Não  se  esqueça,  senhor,  de  tapar  aquella  imagem 
se  por  àcaso  vier  a  sua  casa  alguma  mulher,  quando  com  ella  estiver  entre- 
tido. Pois  que,  disse-lhe  eu,  acredita  que  nos  possamos  assim  esconder  aos 
olhos  de  Deus?  Cré,  como  as  mulheres  devassas,  que  depois  de  tapar  a  cabe- 
ceíra  do  leito,  as  relíquias  e  rosários,  que  geralmente  trazem  comsigo,  possam 
então  entregar-se  a  toda  a  sorto  de  excessos?  Vá-se  embora,  tenha  sentimen- 
tos mais  nobres  a  respeito  da  Divindade,  e  não  creia  que  um  bocado  de  trapo 
possa  occuUar  nossos  peccados  aos  olhos  de  Deus,  que  vé  o  que  existe  no  fun- 
do dos  corações:  e  demais  aquelle  crucifixo  é  apenas  um  pedaço  de  marfim. 

«Meu  vísinho  foi-se  embora,  e  tratou  de  cumprir  seu  dever  denunciando- 
me  á  inquisição,  pois  é  bom  saber  que  todas  as  pessoas  vivendo  em  paizes  su- 
jeitos á  jurisdicçáo  do  santo  officio,  são  obrigadas,  debaixo  de  excommunhão 
maior  reservada  ao  inquisido-mór,  a  declararem  no  espaço  de  30  dias  tudo 
quanto  virem  ou  ouvirem  dizer  relativo  aos  assumptos  de  que  este  tribunal 
toma  conhecimento.  E  aquelles  que  faltarem  a  esta  declaração  dentro  do  re- 
ferido praso,  são  reputados  criminosos,  e  depois  castigados  como  se  tivessem 
eommettido  aquelles  delictos,  que  não  forem  delatar.  É  este  o  motivo  por  que 
os  amigos  atraiçoam  os  amigos,  os  país  seus  filhos,  os  filhos  por  um  zelo  in- 
discreto esquecem -se  do  respeito  a  que  os  obrigam  Deus  e  a  natureza. 

«Dellon  teve  desconfianças  de  que  seu  visioho  o  fora  denunciar,  e  para  vér 
se  desviava  a  tempestade,  que  se  estava  armando  por  cima  da  sua  cabeça» 
resolveu-se  ir  ter  com  o  commissario  do  santo  officio,  conlar-lhe  como  as  coi- 
sas realmente  se  tinham  passado,  e  pedir  lhe  a  sua  protecção,  ^  e  que  lhe  in- 

*  Tomo  2.%  pag  10. 

*  Idem,  pag.  18. 


m  DE 

sJDiusse  di;  qae  maonira  se  devia  portar  para  o  rutaro,  declarando-lhe  esur 
prompto  a  rctrã«;tar-se  do  que  tinha  dito,  se  o  julgasse  conveaientc 

'Reapoadea  o  padre  que  meu  proceder  tinha  escandalisado  a  bastantes 
pessoas,  que  oitava  persuadido  não  terem  sido  mjis  as  minhas  iateações,  a 
quo  cm  tudo  quanto  cu  tinha  dilo  nada  havia,  que  em  rigor  Tosse  crimíaoso; 
mas  que  me  dava  o  conselho  de  me  accommodaralgam  tanto  aos  aso9  do  poTO, 
e  de  nào  faltar  tão  livremente  n'aqaelles  assumptos.-  Que  mui  e!^>ecialiDeote 
devia  ser  mab  reservado,  quando  [aliasse  das  imagens,  não  diiendo  qae  não 
devem  ser  adoradas,  e  procuraudo  proval-o  com  citações  da  EscripUra-  Qae 
o  povo  realmente  vivia  em  certos  erros  passageiros,  que  se  tinham  como  ver- 
dadeira devoção,  porém  que  ninguém  me  tinha  encarregado  de  o  corrigir  e 
reformar. 

•Agradeci  ao  commissarío  os  bons  conselhos,  que  me  tinha  dado,  e  retirei- 
me  da  presença  dclle  muito  alliviado  por  saber  que  tendo-me  coafessado  es- 
pontaneamente antes  da  prisão,  já  me  não  podiam  prender,  segando  os  esta- 
tutos da  inquisição. 

•  Has  apesar  disto  o  governador,  sempre  Terido  de  cíamea,  e  sempre  mos- 
trando-se  meu  amigo,  recebendo-me  obsequiosamente  em  soa  casa,  soUtcitava 
vivamente  o  commissario  a  que  escrevesse  para  Goa  íDrormando  os  inquiudo- 
res  a  respeito  das  otpressijes  proferidas.  Este,  apertado  pelo  governador,  e  por 
um  padre  secretario  do  santo  ofHcio,  lambem  inimigo  de  Dellon,  e  que  tam- 
bém estava  apaixonado  pela  mesma  dama,  escreveu  para  Goa,  e  d'alli  raee- 
bea  ordem  para  mandar  prender  o  francez. 

,>A  prisão  de  D.imào  liça  mais  baixa  que  o  rÍo,que  d'elU  fica  perto,  e  o  qoal  a 
tornahumida,  cos  muros  são  muito  cspesí^os.  Consiste  esta  triste  habitação  em 
duas  grandi.<s  salas  baixas,  c  uma  superior  próximo  da  qual  6ca  o  aposento  do 
governador.  O'  homens  (icaiu  por  baixo,  e  as  jnulheres  no  andar  superior.  A 
maior  parte  das  duas  salas  baixas  te>^m  uns  quarenta  pés  de  comprimento  so- 
bre quinze  de  larjiura,  a  outra  põJc  ter  dois  teri,-os  desta  extensão.  Vieste  es- 
paço estávamos  umas  quarentas  pe.^soas,  e  nào  havia  logar  para  satisfazer  as 
nossas  necessidades  senão  aquelle.  Os  presos  urinavam  no  meio  d'esia  sala, 
e  o  ajuntamento  d'eslas  urinas  estagnadas  formava  uma  espécie  de  pântano. 
Também  as  mulheres  nào  tinham  outra  qualidade  de  latrina,  e  havia  somente 
entre  ellas  e  mis  esta  difforença :  suas  urinas  corriam  de  sua  sala  alta,  e  caiam 
por  entre  o  sobrado  cm  a  nossa,  na  quai  lodos  estes  líquidos  se  agglomera- 
vam.  Para  os  outros  excreiuvntos  somente  havia  uma  grande  celha,  que  ape- 
nas se  despejava  uma  vez  na  semana,  de  maneira  que  dalli  se  gerava  ama 
multidão  innumeravel  de  bicho»,  que  cobriam  o  sobrado,  e  vinham  até  nossas 
camas.  O  fedor,  apesar  do  cuidado  qU';  tinha  de  lavar  o  sobrado,  era  insap- 
poruvel 

•Hão  bavia  comida  determinada  para  os  pre-^os :  os  magistrados  descança- 
vain  na  caridade  das  pessoas,  qu<-  a*  queriam  soccerrer,  e  como  apenas  havia 
duas  pessoas  na  cidade,  que  lhes  rcmvtiiam  comida  regularmente  duas  veies 
nào  recebiam  na  maior  parte  dos  dias  nenhuma  coisa,  viam-se 

luiidús  a  ama  miséria  digna  de  piedade.  Alguns  dos  que  viviam  na  sala  pe- 


DE  295 

qaeDa,  chegayam*a  ponto  de  procdrar  subsistência  em  seus  próprios  excremen- 
tos. Gontaram-me  que  alguns  annos  antes,  tendo  sido  aprisionados  50  corsá- 
rios malabares  e  encerrados  n'esta  mesma  prisão,  passaram  tào  grande  fome, 
qae  uns  quarenta  cheios  de  furor  se  estrangularam  com  os  seus  próprios  tur- 
bantes. 

cTinba-me  accusado  o  padre  commíssario  de  herege  dogmatísantc.  Ter-me- 
hia  podido  remelter  para  a  inquisição  de  Goa  logo  immediatamente  depois  de 
minha  prisão;  e  se  assim  tivesse  praticado,  poderia  ter  saido  da  prisão  três 
mezes  depois,  no  auto  de  fé  celebrado  em  dezembro,  mas  não  era  o  desejo  de^ 
meus  rivaes  que  eu  fosse  posto  em  liberdade.  Por  isso  o  commissario  em  vez 
de  fazer  que  eu  saisse  de  Damão,  elle  mesmo  é  que  tinha  saido  d'esta  cidade 
para  não  ouvir  minhas  supplicas;  e,  apenas  deu  ordem  para  me  prenderem,  re- 
tirou-se  para  Goa,  d'onde  não  voltou  senão  acabado  o  auto  de  fé,  isto  é,  no  6m 
de  dezembro;  e  creio  até  que  empregou  os  quatro  mezes,  que  me  fez  jazer  nas 
prisões  de  Damão,  em  me  recommendar  ao  inquisidor  como  homem  muito  cri- 
minoso e  perigoso^  a  quem  era  indispensável  afastar  da  índia,  no  caso  de  não 
julgar  conveniente  mandar-me  matar  n'ella. 

«Voltou  o  commissario  para  Damão  em  20  de  dezembro,  e  mandou-me 
preparar  para  partir  para  Cambaia.  No  dia  ultimo  de  dezembro  mandou  o 
commissario  ferros  e  grilhões  para  pôr  nos  pés  de  quantos  deviam  ser  condu- 
zidos para  Goa.  Prendiam-se  os  pretos  a  dois  e  dois,  á  excepção  de  alguns  que 
se  achavam  tão  extenuados  pela  fome,  que  houve  necessidade  de  lhes  deixar 
a  liberdade  dos  pés,  da  qual  já  não  podiam  fazer  uso.  Em  quanto  aos  portu- 
gaezes  e  a  mim  Gzeram-nos  a  honra  de  nos  pôr  ferros  a  cada  um  em  s^a- 
rado. 

«Salmos,  pois,  do  rio,  no  dia  1  de  janeiro  de  1674  com  o  fim  de  esperar  o 
resto  da  frota  em  Baçaim,  ^  onde  chegámos  no  dia  seguinte.  Levaram-nos  lo- 
go para  a  cadeia,  onde  nos  conservaram  até  7  de  mesmo  mez,  em  que  nos 
embarcámos,  e  a  14  chegámos  á  barra  de  Goa,  e  no  dia  seguinte  fui  remet- 
tido  para  o  Aljube.  Esta  prisão  é  a  mais  immunda,  mais  escura  e  horrível  de 
quantas  tenho  visto,  e  duvido  até  que  se  possa  imaginar  coisa  alguma  mais 
aseorosa  e  horrenda.  É  uma  espécie  de  cova,  onde  se  não  vé  a  claridade  se- 
não atravez  d'uma  pequena  abertura,  em  que  os  raios  do  sol,  mesmo  os  mais 
subtis,  não  penetram :  o  fedor  é  extremo;  não  ha  outro  logar  para  as  immun- 
dicies  senão  uma  espécie  de  cisterna,  aonde  nem  mesmo  ea  ousaria  approxi- 
mar-me. 

«Tendo  chegado  a  noite  não  me  pude  resolver  a  deitar-me,  tanto  por  causa 
dos  bichos,  de  que  a  prisão  estava  cheia,  como  das  immundicies  espalhadas 
por  toda  a  parte.  Vi  me  pois  obrigado  a  passal  a  assentado  e  encostado  ao 
muro.  Comtudo  apesar  de  ser  horrível  esta  prisão,  tel-a-hia  preferido  ás  cellas 
aceiadas  e  claras  da  inquisição,  porque  no  Aljube  havia  companhia  e  conver- 
sa, e  nas  prisões  do  santo  ofíicio  não. 

^  «N^esla  cidade  existe  o  mais  samptuoso  c  magnidco  templo  de  quantos  os  poria- 
gaexM  erigiram  ao  verdadeiro  Deus  no  Oriente.»  Tomo  ^ .^  pag.  38. 


296  DE 

•A  16  da  janeiro,  pelas  8  horas  da  manhã,  yeiu  am  official  da  inquisição 
com  ordem  de  nos  acompanhar  a  todos  para  o  santo  officio.» 

N'e8ta  prisão  foi  retido  Deilon  até  janeiro  de  1676.  Chegou  a  tal  aage  sea- 
desespero  qae  por  vezes  tentoa  saicidar-se,  o  qae  não  ponde  realisar  por  cansa 
da  incessante  vigilância  qne  havia  sobre  os  presos.  Saia  por  fim,  depois  de 
horríveis  soffrimentos,  no  auto  de  fé  celebrado  em  Goa  em  12  de  janeiro  de 
1676,  tendo  sido  condemnado  na  confiscação  de  todos  os  bens,  a  ser  expolso 
da  índia,  e  a  servir  nas  galés  de  Portugal  por  espaço  de  cinco  annos. 

Embarcaramn'o  portanto  com  ferros  aos  pés,  a  27  de  janeiro  em  mn  na- 
vio com  destino  a  Portugal.  A  20  de  março  viu-seo  navio  obrigado  a  arríbar  á 
Bahia,  da  qual  saiu  a  3  de  setembro  n*uma  embarcação,  que  fazia  parte  de  uma 
(irotade30  navios,  que  se  destinava  a  Lisboa,  aonde  chegou  a;i5  de  dezembro. 

Do  navio  foi  remettido  para  a  prisão  das  galés.  N'esta  cidade  esteve  por 
algum  tempo  obrigado  a  trabalhar  na  Ribeira  das  Naus,  até  que  por  influencia 
de  Mr.  Fabre,  francez  e  medico  da  rainha,  a  inquisição  perdoou  o  resto  dos 
cinco  annos  de  trabalhos  públicos,  com  a  condição  de  se  retirar  para  França, 
para  onde  embarcou,  tendo  perdido  toda  sua  fortuna,  confiscada  pelo  infame 
tríbunal,  que  tão  horrenda  nódoa  lança  nas  bellas  paginas  da  historia  de  Por- 
tugal. A  Nouvelle  Biographie  Universelle  de  Firmin  Didot  t  diz-nos  que  Deilon 
na  sua  volta  para  a  França  exercera  a  medicina  com  muita  distincção,  e  que 
desde  1685  nada  mais  se  sabe  a  respeito  d'elle. 

A  leitura  das  viagens  de  Deilon  deve  ser  recommendada  áquelles  que  teem 
a  mania  de  só  elogiarem  os  tempos  passados,  e  de  nada  acharem  bom  na  ac- 
tua4[dade.  Taes  pessoas  só  podem  revelar  muita  ignorância  ou  muito  má  fé. 
Ao  mesmo  tempo  dà-nos  noticias  muito  aproveitáveis  para  quem  escrever  so- 
bre os  usos  e  costumes  d'aquella  época. 

tNas  festas  mais  solemnes,  depois  de  acabar  o  serviço  divino,  fazem  vir 
para  dentro  da  egreja  as  mulheres  ricamente  enfeitadas,  as  quaes,  na  presen- 
ça do  Santíssimo  Sacramento,  que  íica  exposto,  dançam  ao  som  de  guitarras 
e  de  castanholas,  cantam  modinhas  profanas,  tomam  mil  posturas  indecen- 
tes e  impudicas,  que  mais  conviriam  para  logares  públicos,  que  para  egrejas 
que  são  casa  de  oração.» 

Não  se  passaram  ainda  muitos  annos  que  taes  danças  impudicas  e  lasci- 
vas foram  prohibidas  dentro  da  sé  do  Porto,  por  occasiào  da  festa  de  S.  Gon- 
çalo, chamada  a  festa  das  regateiras.  E  quem  ignora  o  que  ainda  se  pratica 
nos  cirios  e  romarias? 

O  terceiro  volume  das  obras  de  Deilon  comprehende  a  historia  dos  deu- 
ses adorados  pelos  gentios.  Não  foi  composta  por  Deilon,  mas  sim  traduzida 
por  elle  de  mn  manascriplo  portuguoz,  composto  por  um  frade  nosso,  que  o 
deixou  por  sua  morte  ao  escriptor  francez.  Contém  19  capitules,  e  de  pag. 
103  até  276  traz  um  curiosíssimo  supplemenlo  á  historia  da  Inquisição. 

A  leitura  d'esla  obra  foi  prohibida  pelo  edital  da  mesa  censória  de  12  de 
dezembro  de  1769.  Foi  traduzida  rom  o  titulo:  Deilon s  acconnt  of  the  m- 

Tomo  \?r.  jnp   i8'i 


DE  »7 

« 

quisitioH  of  Goa.  Translated  from  the  French,  With  an  appendix  containmg  an 
accourU  ofthe  escape  of  Archibald  Bover  (one  ofthe  inqitísUors)  from  the  m- 
quisitian  at  Macerata  in  Italy.  London,  Í8i2. 

338)  DEMERSAT  (ALFRED  — )  De  la  commission  centrale  de  cette 
Societé,  de  rinstitat  Historique  et  Géograpbíqae  da  Brésil,  de  la  Societé  Ar- 
cbéologique  de  L^Orléannais,  Doctear  en  Medecine,  etc.  etc. 

E.  —  Une  tnissíon  Géographique  dam  les  Archives  d'Espagne  et  de  Portu- 
gal. iS&t' iS&3,  Fragments  lus  à  la  Societé  de  Géographie  dans  la  séance  gé* 
nérale  du  15  avril  i86i  par  —  Paris.  Librairie  de  L.  Hacbette  et  compagnie 
4.»,  45  pag. 

«As  doas  nações  peninsulares  maito  mal  conhecidas,  frequentemente  mal 
appreciadas,  merecem  as  mais  vivas  sympatbias  da  França.  Gonteem  elemen- 
tos de  prosperidade  moral  e  material  ainda  cobertos  do  pó  dos  tempos  passa- 
dos, mas  fecundados  pouco  a  pouco  pelo  sopro  vivificante  d'uma  sábia  li- 
berdade. 

«É  principalmente  quando  se  trata  da  geographía  e  da  historia  do  Novo 
Mundo  que  os  documentos  affluem  na  península,  e  que  experimentamos  mui 
seriamente  o  embaraço  das  riquezas.  Se  a  Hespanha  descobriu  a  America,  al- 
gum tanto  contra  vontade  d'aquella,  é  mister  que  se  diga  que  a  arrojada  na- 
ção portugueza  a  tinha  precedido  na  carreira  das  descobertas,  a  qual  coroa  tão 
gloriosamente  o  fim  do  século  xv :  ella  não  tardou  em  achar-se  de  costas  a  cos- 
tas com  sua  rival;  e  em  o  novo  bem  como  em  o  antigo  continente  uma  anti- 
pathia  desrasoavel  continuou  a  dividir  dois  povos  para  os  quaes,  segundo  a 
bella  expressão  de  Montesquieu,  parecia  que  o  mundo  se  alargava. 

«Foi  na  America  do  sul,  entre  as  províncias  do  Rio  da  Prata  e  o  vasto  im- 
pério do  Brazil,  cuja  extensão  excede  doze  vezes  a  da  França,  que  a  lucta  se 
empenhou  viva  e  encarniçada,  ao  mesmo  tempo  que  no  arcbipelago  das  Mo- 
Incas,  nos  antípodas  da  velha  Europa.  Será  necessário  recordar  aqui  esses  tra- 
tados numerosos,  sellados  com  promessas  solemnes,  muitas  vezes  sancciona- 
das  pelo  poder  então  incontestado  do  chefe  da  egreja,  mas  ainda  mais  frequen* 
temente  ficando  no  estado  de  lettra  morta?  Que  pareciam  não  ter  por  alvo  mais 
que  conseguir  tréguas,  durante  as  quaes  cada  potencia  procurava  engrande- 
cer-se,  adjudicar  a  si  mesma  províncias  grandes  como  reinos,  e  arruinar  com 
nm  contrabando  desenfreado  o  commercio  de  sua  rival? 

«Ha  muito  tempo,  que  o  homem  de  estado,  que  nos  preside,  se  tinha  con- 
vencido do  interesse  que  havia  em  propor  uma  exploração  nos  archivos  penin- 
sulares; e  chegando  a  ministro  me  confiou  o  cuidado  de  procurar  na  Hespanha 
e  Portugal  documentos  relativos  á  historia  da  geographia  Sul -Americana,  e  á 
da  dominação  dos  dois  povos  além  do  oceano.  No  mez  de  novembro  de  1862, 
dirigi-me  a  Toulon,  d'aqui  a  Marseille,  donde  parti  para  Barcelona,  de  Barce- 
lona a  Madrid,  a  d'esta  capital  para  Lisboa. 

«Atravessemos  pois  o  nobre  Tejo,  tantas  vezes  celebrado  pelos  poetas,  e  en- 
tremos em  Lisboa,  n'esta  bella  cidade,  cujo  solo  appresenta  ainda  vestígios  da 
eatastrophe  que  em  1755  enguliu  quarenta  mil  de  seus  habitantes. 


298  DE 

«Portagal  conta  entre  seus  Glhos  algons  homons  applíeados  ao  estado  das 
sciencias  geographieas  e  das  associações  sabias,  com  as  qnaes  nossa  sociedade 
está  em  relações  incessantes  e  regalares.  Recebi  â'elles  o  acolbimento  mais 
favoratel,  e  posso  dizer  qne  desde  o  homilde  empregado  das  bibliotheeas  até 
o  joven  soberano,  qne  preside  aos  destinos  d'este  bello  paiz,  todos  procararam 
coadjavar-me  no  camprímento  da  tarefa,  qne  me  fora  confiada. 

<0s  estabelecimentos  scientifícos,  qae  me  promettiam  mais  ampla  colheita, 
eram: 

«Archivos  do  reino.  (Torre  do  Tombo.) 

«Bibliotheca  pablíca. 

«Bibliotbeca  da  Academia  das  Sciencias. 

«Arcbivo  do  Ultramar. 

«Seriam  necessários  maitos  velames  para  faz^  ama  enam^raçao,  mesmo 
sammana,  das  riquezas,  qae  conteem  os  archivos  celebres  da  Torre  do  Tombo. 

«A  este  immenso  deposito  de  papeis  do  estado  relativos  a  todos  os  ramos 
de  administração  se  vieram  ajuntar  em  1835  os  archivos  dos  conventos  snpprí- 
midos,  os  das  corporações  religiosas  e  de  certos  tribonaes  excepcionaes  aboli- 
dos, entre  os  qaaes  citarei  a  Mesa  de  Consciência  e  Ordens. 

«Esta  collecção,  qae  aagmenta  continuamente,  abrange  hoje  mais  de  vinte 
mil  maços,  compondo-se  cada  maço  d*algamas  centenas  de  documentos. 

«Só  a  inquisição  fomecea  quarenta  mil  processos. 

«Algumas  obras  manuscríptas  teem  um  grande  valor  biblíographico  ou 
histórico:  tal  é  o  Atlas  de  Fernão  Vaz  Dourado;  tal  é  a  Bíblia  celebre  do  con- 
vento de  Balem,  que  Junot  levara  para  França,  e  que  foi  restituida  a  Portugal 
na  época  de  nossos  desastres. 

«Quando  o  marquez  de  Pombal  decidiu  a  suppressão  da  ordem  dos  Jesuí- 
tas, mandou  reunir  n'estes  archivos  os  documentos  pertencentes  á  Companhia, 
porém  mais  tarde  desappareceram  alguns,  que  mais  a  compromettiam.  Inves- 
tiguei comtudo  03  que  ainda  restam,  e  este  trabalho  não  foi  infructuoso. 

«A  Bibliotheca  Publica  continha  em  outubro  de  1853, 13^:000  volumes,  sem 
contar  as  obras  dos  conventos  supprimidos.  E  entre  os  seus  dez  mil  volumes 
escolhi  dois  para  d'elles  fazer  analyse.  Papeis  relativos  à  entrega  da  colónia  do 
SS.  Sacramento,  onde  encontrei  documentos  do  mais  alto  interesse  para  a  his- 
toria da  guerra  hispano-portugueza  causada  pela  fundação  da  colónia  em  fren- 
te da  cidade  de  Buenos  Ayres. 

«Outro  volume  contem  o  diário  da  segunda  marcha,  que  fizemos  com  o 
nosso  exercito  poríuguez  auxiliando  o  de  sua  magestade  cathoUca  para  a  eva^ 
cuação  das  sete  missões  N'cste  acha  se  uma  narração  muito  circumstanciada 
da  campanha  de  175o  a  1756.  Esclarece  com  uma  luz  muito  viva  uma  multi- 
dão de  pontos,  que  tinham  ficado  obscuros  na  historia  d' esta  longa  expedição. 
Mandei  copiar  as  passagens  mais  notáveis  d'este  manuscripto  para  as  offere- 
cer  á  Bibliotheca  Imperial. 

«A  Bibliotheca  da  Academia  das  Sciencias  possue  cerca  d'uns  50:000  vo- 
lumes e  833  manuscriplos. 

O  Archivo  do  Ultramar  contém  papeis  relativos  ás  colónias.  Encontram-se 


DE  299 

alli  reunidos  com  ordem  os  officios  dos  vice-reis,  relatórios  dos  governadores 
das  províncias  dirigidos  ao  sen  chefe  immediato,  on  ao  primeiro  ministro,  as 
propostas  relativas  ás  operações  militares,  aos  reconhecimentos  dos  rios,  ás 
obras  publicas,  etc. 

•A  parte  politica  doestes  relatoríos(só  fallo  dos  concernentes  á  America)  mos- 
tra a  cada  instante  usurpações  de  territórios  commettidas  pelos  bespanhoes. 
Mostra,  por  assim  dizer,  dia  por  dia,  a  historia  das  relações  do  Brasil  com  seus 
visinhos.  Consultei  com  fructo  a  correspondência  dos  governadores  da  pro- 
víncia de  S.  Paulo,  cujas  dependências  se  estendem  até  aos  confins  do  Para- 
guay.  Sabe-se  a  guerra  encarniçada  que  durante  mais  de  um  século  os  pau- 
listas, debaixo  do  nome  de  mamelukos,  fizeram  aos  estabelecimentos  dos  je- 
suítas, cujos  habitantes  estes  vinham  roubar  para  os  fazer  trabalhar  nas  mi- 
nas, ou  vender  como  escravos  nos  mercados  do  Rio  e  da  Bahia. 

«Nem  todos  os  documentos  relativos  á  historia  das  possessões  transoceâni- 
cas de  Portugal  estào  encerrados  nas  ricas  collecções  da  capital,  bom  numero 
dos  mais  interessantes  fazem  parte  da  Bíblíotheca  de  Évora.  É  n'esta  biblio- 

theca  que  se  euarda  o  celebre  esmalte  de  Limoges,  o  qual  pertenceu  a  Fran- 
cisco I,  e  lhe  foi  tomado  na  batalha  de  Pavia.  ^ 

339)  DE  PORTOGYSEN  GOEDEN  BVYRMAN  QHETROOHEN 
uzt  de  Registers  van  syu  goet  Gebuers  van  syn  goet  Gebuerschap  gehouden  m 
Ussabona,  Manngan  Coep  Sint  AugusHn,  Sint  Paulo  de  Loando,  en  Sant  Thomé. 

Gheduckt  tot  Lisbon,  inde  groote  Druck  sael  Doer  uzt  hangh  her  Verra- 
âich  Portegael.  Ânno  i649,  den  24  Decembei\  8  folhas  sem  paginação.  (M.  S.) 

340)  DEPPING. 

E.  —  Vocubulaire  geographique  de  VEspagne  et  du  Portugal,  smvt  d'un  iti- 
néraire  de  ces  deux  royaumes,  traduit  de  Vespagnol;  revu  et  augmenté  d'un 
Aperçu  historique  et  geographique  de  VEspagne  et  du  Portugal,  par  — .  Paris, 
i823,  8.*  longo,  iii  pag. 

É  um  resumido  Diccíonario  geographíco  de  Hespanha  e  Portugal. 

34i)  DER  NEUSTE  STAAT  DES  KONIGREICKS  PORTAGAL. 
(Situação  actual  do  reino  de  Portugal,  e  de  suas  possessões  na  Europa,  e  em 
todas  as  outras  partes  do  mundo,  descripta  conforme  os  escriptores  antigos  e 
modernos  mais  dignos  de  credito.)  Halle,  1714,  2  vol.  S.** 

342)  DESORIPTIO  URBIUM  TOTIUS   ORBIS.  Foi. 

«N'esta  obra  2  impressa  no-meiado  do  século  xvi  vem  não  só  a  vista  de 
Lisboa  em  referencia  ao  anno  1500,  mas  também  a  de  Gascaes,  e  outras,  Goa, 
Diu,  Damão,  Gochim  etc.  com  a  descripção  de  cada  uma  d'ellas. 

^  Sobre  as  bibltothecas  de  He^panba  pôde  Ter-se  um  artigo  mui  curioso,  que  vom  do 
n.*  100  do  Diário  do  Governo  de  1835. 

s  Reviila  Universal  Lisbonense,  toI.  5.*,  pag.  64. 


300  DE 

343)  DESORIPnON  DE  LA  VILLE  DE  LISBONNE  oò  PontraUe 
de  la  cour  de  Portugaly  de  la  langtte  portugaise,  et  des  mcBurs  des  habitanit; 
du  gouvemement,  des  revenus  du  roi,  et  de  ses  forces  par  mer  et  par  terre, 
des  coUmes  portugaises  et  du  commerce  de  cette  capitale.  A  Paris,  chez  Pierre 
Praolt,  1738.  8  %  268  pag. 

«Sendo  Lisboa  uma  das  mais  celebres  cidades  da  Europa,  tanto  por  saa 
grandesa,  como  pela  vantagem  que  tem  de  ser  a  residência  dos  reis  de  Porta- 
gal,  e  até  pela  extensão  de  seu  commercio,  julgoa-se  qae  o  poblico  receberia 
com  algum  prazer  a  descripção  d'esta  capital 

«Esta  grande  cidade  está  situada  sobre  sete  montes,  na  margem  do  Tejo, 
a  três  léguas  do  Oceano. 

«Avançando  coisa  de  duas  léguas,  encontramse*algumas  povoações;  a  ul- 
tima,  que  tem  o  nome  de  Balem,  dá  á  margem  um  ar  muito  risonho,  por  ha- 
ver alli  bellas  quintas  e  magníficos  conventos,  entre  os  quaes  um  é  da  ordem 
de  S.  Jeronymo,  de  grandesa  prodigiosa,  e  magnificamente  construído,  onde 
se  vêem  os  túmulos  de  alguns  reis  de  Portugal.  Ha  n'esta  povoação  uma  torre 
grande  e  forte,  edificada  sobre  uma  lingua  de  terra  que  entra  pelo  mar  dentro. 

«Ao  passo  que  se  continua  a  subir  pelo  rio,  este  alarga-se,  e  acba-se  defen- 
dido  por  diversos  fortes  de  distancia  a  distancia  ató  ás  approximações  da  ci- 
dade, e  do  primeiro  logar  destinado  para  ancoradouro  dos  navios.  D'alli  des- 
cobre-se  Lisboa,  que  ostentando-se  como  um  soberbo  amphitheatro,  offerece  á 
vista,  por  sua  elevação,  por  sua  extensão,  e  por  uma  espécie  de  symetría  na- 
tural um  dos  mais  bellos  aspectos  do  mundo.  O  Tejo  forma  também  em  frente 
d'esta  capital  um  porto  muito  considerável,  quo  tem  três  léguas  de  largura,  e 
está  sempre  cheio  de  grande  numero  de  navios. 

«As  ruas  próximas  do  rio  sào  Íngremes,  estão  bem  calçadas,  e  são  de  lar- 
gura variável,  mas  muito  immundas,  não  as  varrendo  senão  de  três  em  três, 
ou  de  quatro  em  quatro  dias.  Enconlram-se  alguns  bellos  palácios,  e  em  ge- 
ral as  casas  são  bem  bonitas.  A  pedra  é  muito  vulgar,  mas  não  produzindo  o 
paiz  quasi  nenhuma  madeira,  véem-se  obrigados  a  servirem-se  de  pinho,  que 
se  manda  vir  do  norte. 

«O  palácio  do  rei  fica  no  meio  da  cidade,  na  margem  esquerda  do  Tejo,  so- 
bre uma  praça  chamada  Terreiro  do  Paço.  Sua  fâce  principal  reina  sobre  to- 
da a  largura  doesta  praça,  e  termina  n'um  magnifico  pavilhão,  em  cuja  frente 
ancoram  os  navios,  d'onde  o  rei  tem  o  praser  de  vêr  quantos  entram  ou  saem 
do  porto,  e  mesmo  de  olhar  para  o  mar  até  ao  mais  longe  que  a  vista  pôde 
alcançar.  A  área  d'este  palácio  é  considerável,  as  salas  muito  grandes  e  mui 
ricamente  mobiladas.  Prolonga-se  de  um  lado  ao  comprimento  do  rio,  e  do 
outro  para  as  ruas  visinhas.  Contém  ura  pateo  cercado  por  um  edifício  qua- 
drado, sustentado  por  arcadas,  debaixo  das  quaes  numerosos  mercadores  apre- 
sentam á  venda  tudo  o  que  o  coramercio  pôde  fornecer  de  mais  raro  em  mer- 
cadorias. 

«Entre  outras  praças  as  mais  consideráveis  são  aquelias  onde  está  situado 
o  palácio  real,  e  a  que  se  chama  o  Rocio.  A  primeira  tem  uns  quatrocentos 
passos  de  comprido  sobre  duzentos  de  largo.  Além  do  palácio  real,  ella  é  ter- 


DE  301 

minada  pela  alfandega,  qae  é  maito  vasta,  pelo  tribanal  de  contas,  e  oatros 
tribanaes,  e  por  varias  casas  pertencentes  a  particulares,  porém  estes  differen- 
tes  edifícios  não  teem  nenhuma  conformidade  uns  com  os  outros,  e  a  vista 
d'esta  praça  é  além  d'isto  am  pouco  repugnante  por  algumas  barracas,  que 
servem  de  açougues.  A  praça  do  Rocio  também  não  é  mais  regular,  nem  tão 
grande  como  a  primeira.  Tem  d'um  lado  arcadas,  onde  quantidade  de  peque- 
nos vendilhões  armam  suas  barracas,  no  meio  um  chafariz  sem  agua  quasí 
sempre.  N'esta  praça  estão  o  palácio  da  Inquisição,  o  grande  convento  dos  Do- 
minicanos e  o  hospital  de  todos  os  Santos. 

«A  Sé  patriarchal  está  estabelecida  na  capella  do  palácio  do  rei.  Sua  archi- 
tectura  e  pintura  nada  tem  senão  de  muito  vulgar,  mas  é  muito  vasta.  Conta 
além  do  altar  do  coro,  doze  capellas  especiaes,  que  estão  soberbamente  orna- 
das. Vé-se  alli  uma  grande  tribuna,  d'onde  o  rei  e  a  rainha  ouvem  ordinaria- 
mente missa.  Officia  n'ella  o  patriarcha  regularmente  todos  os  domingos  e 
dias  de  festa :  dezoito  cónegos  o  acompanham  no  altar,  e  ojajudam  todos  com 
mitra.  O  coro  composto  de  perto  de  trinta  ou  quarenta  beneficiados  é  acom- 
panhado de  musica  á  romana,  isto  é,  sem  orchestra,  mas  entre  o  grande  nu- 
mero de  vozes  que  alli  ha,  são  excellentes  algumas. 

«Quando  o  patriarcha  sae  á  rua,  caminha  na  forma  seguinte :  Vé-se  pri- 
meiramente a  cruz  patriarchal  levada  por  um  homem  a  cavallo;  logo  em  se- 
guida vae  o  patriarcha  levado  n'um  rico  coche  ladeado  de  vinte  lacaios  a  pé; 
a  isto  seguem-se  quatro  coches  de  um  gosto  e  uma  grandesa  extraordinária, 
cada  um  puxado  por  seis  mulas.  O  primeiro  coche,  que  é  o  de  honra  vae  va- 
sio,  e  os  outros  três  contéem  os  officiaes  de  seu  séquito.  Os  cónegos  andam 
quasi  sempre  de  trem,  seguidos  de  seis  criados  a  pé. 

«A  casa  da  camará  é  contigua  á  egreja  de  Santo  António.  Nenhuma  bellesa 
ou  particularidade  encerra. 

«Expõem  algumas  egrejas,  particularmente  em  quinta  feira  d'Ascenção 
canários  em  gaiolas  muito  aceiadamente  enfeitadas  com  flores  e  fitas,  de  sorte 
que  estes  passarinhos  animados  pelo  cantar  dos  padres,  não  interrompem  seu 
canto,  e  formam  um  concerto  e  um  espectáculo  assaz  novo  para  os  estran- 
geiros. 

«Além  do  convento  dos  Capuchinhos  italianos  existe  à  porta  de  Santa  Ca- 
tharina  uma  egreja  d*esta  nação  muito  grande  e  muito  rica,  e  que  tem  um  ór- 
gão o  mais  bello  de  Lisboa.  Tem  capellãomór,  vinte  capellães,  oito  clérigos, 
dois  sacristãei>,  e  outros  empregados  que  recitam  diariamente  o  officio  di- 
vino. 

«Encontra-se  na  parte  occidental,  á  borda  do  Tejo,  uma  casa  da  moeda, 
onde  se  fabrica  dinheiro,  tão  bem,  pelo  menos,  como  em  França.  Perto  vé-se 
o  Arsenal,  que  é  muito  bello. 

«O  estaleiro  para  os  navios  de  guerra  quasi  que  toca  no  palácio. 

«Vé-se  na  extremidade  da  cidade  occidental  uma  casa  chamada  das  ga- 
lés. Tomou  este  nome  do  uso,  em  que  se  está  de  prender  n'ella  os  condemna- 
dos  ás  galés,  que  pela  maior  parte  procedem  das  assaltadas  que  osportugue- 
zes  fazem  de  vez  em  quando  sobre  os  mouros,  com  os  quaes  estão  continua- 


30Í  DE 

mente  em  gaerra.  Esta  sorte  de  escravos  está  empregada  durante  o  dia  nos 

navios  de  gaerra,  oa  a  acarretar  lenba  e  agaa  para  uso  dos  principaes  oífi- 
ciaes  de  marinha,  e  de  noite  levam-nos  para  a  prisão. 

«A  cidade  tem  algmis  hospitaes  perfeitamente  administrados. 

«Lisboa  nao  tem  nenham  passeio  publico,  nem  outro  divertimento  roais  que 
um  mau  tbeatro  bespanhol.  Os  grandes  e  fidalgos  frequentam  muito,  comta- 
do,  este  espectáculo;  e  quando  saem  d*elle  vão  passar  o  resto  do  dia  a  passeia- 
rem  dentro  de  seus  trens  na  praça  do  Rocio,  onde  conversam  uns  com  os  ou- 
tros até  à  noite,  sem  sairem  de  suas  carruagens.  Vôem-se  muito  poucas  car- 
ruagens, por  serem  as  ruas  muito  más.  / 

«Ha  muita  caça,  presuntos  de  Lamego,  que  são  melhores  que  os  deBayona 
e  de  Magence.  Os  alugueis  das  casas  são  muito  elevados. 

«O  açougue  principal,  que  fica  na  praça  do  palácio,  é  notável  tanto  por 
sua  extensão  e  aceio,  como  pela  boa  policia,  que  alli  se  observa.  Todas  as  pa- 
redes pela  parte  interior  estão  revestidas  de  quadradinhos  de  azulejo  e  cober- 
tas de  uma  quantidade  prodigiosa  de  carnes,  expostas  na  altura  de  seis  pés  e 
mais:  os  compradores  indicam  as  peças  de  carne  que  desejam,  e  immediata- 
mente  os  cortadores,  que  estão  em  cima  de  estrados  muito  aceiados,  á  manei- 
ra de  theatro,  lh'as  entregam  ao  longo  d'uma  taboa  posta  muito  conveniente- 
mente para  esse  fim.  No  meio  doeste  recinto  está  um  assento  para  um  empre- 
gado, com  balanças;  e  este  empregado  está  sempre  presente,  a  fim  de  se  op- 
pôr  á  desordem,  e  de  administrar  justiça  promptamente  áquelles  que  forem  le- 
zados. 

«Pouco  adiante  fica  uma  praça  para  a  veada  de  peixe,  que  ó  das  mais  bem 
fornecidas,  que  existem  em  todo  o  mundo.  O  peixe  é  em  quantidade  prodigio- 
sa, e  muitíssimo  barato.  É  trazido  em  duzentas  ou  trezentas  caravellas  e  mu. 
letas  que  diariamente  o  transportam.  As  peixeiras  distinguem-se  pelo  seu  aceio 
e  ricos  ornatos,  consistindo  era  braceletes  de  oiro,  que  trazem  nos  braços 
cordões,  anéis,  cruzes,  brincos,  de  sorte  que  se  vêem  algumas  trazendo  em 
cima  de  si  até  um  marco  d'e$te  metal. 

»N'esta  cidade  não  ha  mais  que  três  chafarizes  com  agua  de  beber;  trazem- 
na  em  cima  de  burros,  e  vendera-na  a  quatro  soldos  a  carga.  Ha  o  inconve- 
niente de  ficarem  todos  no  mesmo  bairro,  e  de  se  estar  exposto  a  ser  engana- 
do pelos  vendedores,  que  para  pouparem  a  caminhada,  vendem  algumas  vezes 
agua  d'uma  quarta  fonte  muito  perto  das  outras,  que  não  é  boa  senão  para 
cavalgaduras,  o  que  faz  cora  que  as  pessoas  ricas  a  mandem  buscar  por  seus 
próprios  criados. 

«Acha-se  ao  lado  da  praça  do  palácio  ^  uma  rua  onde  estão  os  confeitei- 
ros, rua  que  tem  a  particularidade  de,  apesar  de  ficar  sua  área  no  mesmo 
nivel  que  o  rio,  o  qual  esUi  sempre  salgado,  c  do  nào  estar  distante  mais  de 
trezentos  passos,  terem  as  casas  poços  de  agua  doce  excellente.  As  pessoas  que 
vão  àquclla  rua  regalar-se  com  doces,  segundo  o  costume  do  paiz,  não  põem 
duvida  em  bobel-a,  e  os  quo  alli  moram  não  bobem  d'oulra.» 

a 

*  Dcscriplion  de  Lisbonno,  pag.  4í. 


DE  ao3 

«Apesar  de  serem  os  viveres  maito  baratos,  as  boas  hospedarias  qaasi  to- 
das francezas,  inglezas  e  bollandezas  são  muito  caras.  Na  melhor,  que  é  fran- 
ceza,  situada  na  margem  do  Tejo,  n'uma  pequena  praça  chamada  Romuiares, 
o  preço  é  seis  francos  por  dia,  e  as  inferiores,  onde  pessoas  decentes  se  pos- 
sam accomodar,  varia  o  preço  de  48  soldos  a  3  libras.  Tanto  n'uma  como  n*ou- 
tra,  fica  a  gente  mal  hospedada,  mas  come  soffrivelmente.  A  causa  doesta  ca- 
restia procede  do  pequeno  numero  de  pessoas  que  vão  hospedar-se  n'ellas,  e 
faz  com  que  a  maior  parte  dos  viajantas,  que  teem  de  se  demorar  na  capitai, 
vão  hospedar-se  em  casa  de  amigos,  eu  aluguem  quartos. 

«As  pessoas  que  tomam  este  ultimo  partido,  contentam-se  ordinariamente 
com  muito  pouca  mobília  e  da  mais  medíocre;  apenas  uma  mesa  com  seis  ca- 
deiras de  palha^  alguma  loiça  de  barro  e  camas,  muito  em  voga  no  paiz,  isto 
é^  sem  leito  nem  cortinas,  consistindo  apenas  n*uma  enxerga  e  dois  colchões, 
que  se  estendem  de  noite  por  cima  de  esteiras,  ou  tecidos  de  junco  muito 
aceiados.  Gomtudo,  como  as  casas  estão  sempre  muito  caiadas,  e  teem  por 
toda  a  parte  até  certa  altura  um  revestimento  de  azulejo  e  são  muito  risonhas, 
prescindimos  facilmente  de  cortinados.  Por  esta  forma  poupa-se  consideravel- 
mente, e  achâmo-nos  alojados  muito  commodamente  em  comparação  d*aquel- 
les,  que  estão  em  casas  térreas,  e  pela  maior  parte  nos  sitios  mais  ordinários  K 

«Aífirmam  que  o  rei  tenciona  augmentar  a  cidade,  construindo  em  linha 
recta  de  uma  extremidade  à  outra  um  cães,  que  deve  entrar  pelo  Tejo  dentro 
nmas  cincoenta  toezas,  o  que  se  pôde  fazer  facilmente,  porque  o  rio  quasi  que 
não  tem  profundidade  até  ao  sitio,  a  que  as  obras  devem  chegar.  E  no  local 
chamado  a  Boa  Vista  deve  o  rei  mandar  abrir  uma  doka  para  n*ella  se  aco- 
lherem os  navios  de  guerra  em  occasiões  de  mau  tempo. 

«Em  1724  appareceu  em  Lisboa  o  cavalheiro  Porta,  gentilhomem  de  Lau- 
sanna  na  Suissa,  para  um  negocio  particular,  que  era  reclamar  os  bens  de 
D.  António,  que  foi  antigamente  proclamado  rei  de  Portugal,  de  quem  a  es- 
posa d'este  gentilhomem  descende  em  linha  recta.  Houve  por  esta  causa  diversas 
audiências  do  rei,  que  o  recebeu  honrosamente,  e  que  nomeou  duas  juntas  ou 
conselhos  para  a  decisão  de  seu  negocio.  Porém  os  letrados  opinaram  que 
este  gentilhomem  não  tinha  nenhum  direito  legitimo,  pois  D.  António  fora 
proscripto  por  Filippe  II  como  traidor  à  pátria,  e  seus  bens  justamente  confis- 
cados em  proveito  da  coroa.  Depois  doesta  decisão  o  gentil  homem  despediu-se 
do  rei,  e  este  lhe  mandou  dar  um  presente. 

«A  corte  de  Lisboa  é  muito  triste.  Ordinariamente  não  se  encontra  muita 
nobreza  junta.  O  rei  come  sosinho,  raras  vezes  com  a  rainha,  e  nunca  em  pu- 
blico: sáe  muito  pouco,  e  apezar  de  ter  uma  casa  de  recreio  em  Salvaterra,  a 
dez  léguas  de  Lisboa,  rodeada  de  vastos  terrenos  para  caça,  passa  annos  in- 
teiros sem  ir  lá.  Nada  é  mais  simples  do  que  sua  saída  ordinária;  véem-no 
n'uma  carruagem  puchada  por  seis  cavallos,  na  companhia  do  infante  D.  An- 
tónio seu  irmão,  o  duque  D.  Jaime,  seu  escudeiro  mór,  e  gentil  homem  de  se- 
mana. Sua  comitiva  não  passa  de  cinco  ou  seis  pessoas  a  cavallo. 

*  Description  de  la  tiiUe  de  LisbonnCj  pag.  48. 


m  DE 

«A  rainha  sae  também  muito  poucas  vozes.  Vae  todos  os  sabbados,  depois 
do  jantar,  por  devoção  a  imi  convento  que  flca  no  fim  da  cidade  de  Lis- 
boa,  acompanhada  do  príncipe  do  Brazíl,  das  príncezas  sua  filha  e  canhada, 
da  condessa  de  Unhão  sua  primeira  camarista.  Sua  saída  é  sempre  annoncia- 
da  de  manha  por  um  tambor  e  um  pífaro,  que  andam  a  tocar  pela  cidade  com 
o  fim  de  que  a  este  signal  todos  os  archeiros,  que  não  estão  de  guarda  se  di- 
rijam para  o  palácio.  A  carruagem  da  rainha  vae  rodeada  de  alguns  pagens 
a  pé,  e  precedida  por  todos  estes  archeiros  sem  chapeo,  commandados  por 
nm  capitão  e  por  um  tenente  a  cavallo.  O  resto  da  sua  comitiva  consiste  em 
quatro  carruagens,  em  três  das  qnaes  vão  doze  damas  de  honra. 

•Antigamente  os  dias  de  grande  gala  eram  festejados  com  corridas  de  toi- 
ros,  que  duravam  alguns  dias;  foram  porém  supprimidas  no  fim  do  ultimo 
reinado  pela  influencia  da  rainha.  Como  o  rei  D.  Pedro,  seu  marido,  que  ti- 
nha uma  força  extraordmaria,  gostava  immenso  de  ir  n'estas  occasiões  agar- 
rar um  toiro  à  unha,  a  rainha  receíando  com  razão  que  lhe  acontecesse  algu- 
ma desgraça^  tanto  trabalhou  que  obteve  d'elle  a  suppressão  doestas  corridas, 
e  contentaram-se  depois  com  o  dal  as  por  occasião  do  nascimento  de  prínci- 
pes e  princezas. 

«Os  portuguezes  são  ciumentos  no  ultimo  grau,  dissimulados,  vingativos, 
escarnecedores,  vãos  e  presumpçosos  sem  motivo,  não  tendo,  com  excepção  da 
nobreza,  senão  uma  educação  muito  medíocre,  não  estando  acostumados  á 
leitura,  e  quasi  que  não  viajando  para  outra  parte  mais  que  para  o  Brasil, 
Africa  e  índias  Orientaes.  São  porém  estes  defeitos  contrabalançados  por  ou- 
tras qualidades  estimáveis.  Teem  muita  vivacidade  e  penetração,  uma  affeição 
extraordinária  a  seu  príncipe,  são  muito  guardadores  de  segredos,  amigos 
fieis,  generosos,  caritativos  para  com  seus  parentes,  sóbrios  na  comida:  quasi 
que  só  comem  peixe^  arroz,  aletria,  legumes,  bolos,  e  não  bebem  ordinaria- 
mente senão  agua. 

« Yé-se  andarem  os  homens  pela  rua  trazendo  uma  espada  comprida,  a  maior 
parte  do  tempo  debaixo  do  braço,  e  um  rosário  na  mão,  fallando  acerca  de 
negócios  e  de  seus  divertimentos,  mas  não  deixando  de  resar,  ou  pelo  monos 
de  o  fmgir,  particularmente  quando  estão  uns  com  os  outros.  Sua  maior  pai- 
xão no  exterior  consiste  n'uma  devoção  apparente,  capaz  de  enganar  aqueUes 
que  não  tiverem  alguma  pratica  d'este  paiz. 

<  A  gente  ordinária  ajunta-se  em  ranchos  nas  ruas  em  frente  de  nichos,  onde 
rezam  e  dão  bofetadas  em  si  mesmos.  Nas  procissões  de  Quaresma  azorragam- 
se  a  si  próprios  horrivelmente,  ou  arrastam  ao  andarem  cadeias  presas  às  per- 
nas, trazem  barras  de  ferro  com  os  braços  em  cruz  e  outras  penitencias  simi- 
Ihantes.  Com  tudo  n'estas  mesmas  occasiões  alguns  trazem  uma  fita  no  hom- 
bro  para  serem  reconhecidos  de  suas  namoradas.  Outros  namoram  por  signaes 
na  egreja,  e  isto  diariamente,  entregam  cartinhas  de  namoro  com  multa  dex- 
treza.  Estão  mesmo  tão  acostumados  a  verem  todas  estas  coisas,  que  as  pes- 
soas do  paiz  as  mais  morigeradas  não  se  escandalisam  por  observarem  isto. 
A  bondade  do  clima  e  a  doçura  da  vida  tornam-os  preguiçosos,  fazem  com 
que  trabalhem  pouco,  e  se  contentem  cora  uma  fortuna  medíocre. 


DE  305 

«Os  jadens  são  maito  mais  laboriosos,  o  qae  provém  de  sua  paixão  ordiná- 
ria para  ajuntar  riquezas,  e  do  desejo  de  se  verem  em  estado  de  deixar  um 
paiz,  onde  a  Inquisição  lhes  faz  uma  guerra  cruel.  De  vez  em  quando  alguns, 
depois  de  terem  adquirido  fortuna,  embarcam  secretamente  e  passam  para  In- 
glaterra, Hollanda  e  outros  paizes,  em  que  podem  exercer  livremente  sua  re- 
ligião. Sua  vida  em  Portugal  está  cbeia  de  contrariedades  e  inquietações.  Fa- 
zem exteriormente  todos  os  exercícios  da  nossa  religião  com  a  maior  pontua- 
lidade para  que  não  desconfiem  que  são  judeus. 

«Os  que  se  convertem  egualmente  passam  por  muitos  desgostos.  São  des- 
prezados e  marcados  para  sempre  com  o  epítheto  infamante  de  Christão  novo, 
que  08  exclue  a  elles  e  a  seus  descendentes,  a  não  ser  por  um  extremo  favor, 
da  maior  parte  dos  cargos  seculares,  e  Ibes  tira  para  sempre  a  esperança  de 
se  poderem  alliar  com  os  christãQS  velboa.  Fazem-se  estas  allianças  algumas 
vezes,  mas  só  por  occasião  de  alguma  aventura  amorosa,  ou  quando  christãos 
novos,  sendo  ricos,  fazem  a  fortuna  de  raparigas  pobres.  Mas  os  filhos  prove- 
nientes doestes  casamentos  são  chamados  meio  christãos  novos^  e  successiva. 
mente  à  proporção.  Finalmente  quando  se  perdeu  a  memoria  do  grau  de  soa 
origem  judaica,  chamam- lhes  parte  de  christão  novo^  de  sorte  que  esta  espécie 
de  infâmia  não  se  extingue  quasi  nunca.  ^ 

«Dizem  que  as  mulheres  por  Índole  são  muito  aífeiçoadas  a  seus  maridos  * 
e  que  é  raro  encontrar  alguma  que  lhes  seja  infiel.  É  comtudo  necessário  con- 
fessar que  o  excessivo  ciúme  dos  maridos,  e  as  precauções  extraordinárias  que 
tomam,  poderiam  fazer  julgar  que  ellas  são  de  uma  compleição  bem  diffe- 
rente.  Seja  como  fôr,  o  que  é  certo  é  que  sua  sorte  ó  bem  triste.  Teem^nas 
quasi  sempre  fechadas,  e  véem-se  até  mesmo  simples  commerciantes  terem  em 
soa  casa  capellas,  em  que  mandam  dizer  missa  para  tirarem  a  suas  mulheres 
e  filhas  qualquer  pretexto  para  saída. 

Não  podem  ellas  fallar  senão  aos  padres  e  aos  frades:  estão  privadas  abso- 
lutaúiente  de  todo  o  commercio  com  oi  outros  homens,  e  não  teem  mais  re- 
creação que  de  dentro  das  gelosias  olharem  para  quem  passa. 

Apenas  se  podem  ver  na  egreja  quando  lá  vão:  collocam-se  na  téa  separa- 
das dos  homens,  mas  isto  não  obsta  a  que  por  signaes  e  linguagem  de  dedos 
substituam  a  palavra.  Accrescentarei  ainda  que  estes  signaes  se  fazem  de 
uma  e  outra  parte  d'uma  maneira  tão  subtil  e  tão  prudentemente  dirigida  que 
nm  estrangeiro,  que  não  estivesse  prevenido  d'este  uso,  juraria  que  elles  não 
disseram  uma  unlca  palavra. 

Esperam  com  grande  impaciência  as  procissões  de  Quaresma,  porque  se 
lhes  permitte  então  saírem  para  irem  ver  as  ceremonias,  e  porque  aquellas  que 
teem  desejo  de  fazer  outro  uso  da  liberdade  d'aquelle  tempo,  o  podem  fazer 
sem  perigo,  não  sendo  quasi  possível  expial-as  por  causa  da  quantidade  de 
mulheres,  que  se  vêem  n'estas  occasiões,  e  da  conformidade  de  seus  vestuá- 
rios. Vão  também  na  noite  de  Quinta-feira  Santa  visitar  as  egrejas,  e  em  quanto 

*  Description  d$  la  vUle  de  LUbonn$i  paç.  99. 
'  Idem^  pag.  110. 

TOMO     I  20 


306  DE 

os  maridos  dormem  tranquillamente  por  causa  do  preconceito  gorai  que  não  Ibes 
pérmitte  resistirem  à  devoção  verdadeira  ou  fingida  de  ^uas  mulheres,  diz-se 
que  ha  então  muitas,  que  se  indemnisam  do  tempo  que  passaram  no  constran- 
gimento. 

«Os  médicos  portnguezes  passam  no  espirito  da  nação  por  muito  hábeis: 
odaviasão  extremamente  pródigos  de  sangue,  e  quasi  que  não  conhecem  ou- 
tro remédio  senão  a  sangria.  Nas  doenças  ordinárias  começam  por  applicar 
meia  dúzia  de  sangrias;  e,  quando  o  mal  é  teimoso,  elevam  a  receita  até  quinze 
ou  vinte,  de  forma  que  o  que  de  melhor  pôde  acontecer  ao  doente  é  ficar  li- 
vre  da  moléstia  por  meio  de  uma  debilidade  de  que  com  muita  difflculdade  se 
restabelecerá.  Finalmente  se  seus  remédios  não  aproveitam,  e  o  doente  cae 
n'um  estado  desesperado,  receitam-lhe  Agua  do  FranceZy  e  experimenta-se  que 
muitas  vezes  os  doentes  recuperam  súa  saúde  com  o  uso  d'esta  agua.  O  firan- 
cez,  que  a  vende,  é  um  provençal  por  nome  Estíenne,  estabelecido  em  Lisboa, 
ha  muitos  annos^  o  qual  sem  ser  medico  ou  cirurgião  applica  a  toda  a  qualidade 
de  doenças  esta  tisana,  cajá  composição  diz  ter  aprendido  de  um  turco.  Apre- 
senta certidões  de  uma  infinidade  de  pessoas,  a  quem  curou  perfeitamente;  e 
bem  que  mostrando  o  credito  de  sua  tisana  ou  suas  curas  maravilhosas,  tenha 
grande  cuidado  de  guardar  silencio  a  respeito  das  occasiões  em  que  ella  pro- 
duziu effeito  contrario;  é  todavia  certo  que  tem  ajuntado  grossos  cabedaes,  e 
conservado  sempre  sua  reputação  com  o  mesmo  vigor. 

cObserva-se  que  a  maior  parte  dos  médicos  e  dos  advogados  são  de  raça 
judia:  os  cirurgiões,  apezar  de  serem  ignorantes,  acham  o  sangrar  muito 
abaixo  de  sua  dignidade:  são  os  barbeiros  os  que  se  prestam  a  este  mister. 

«Os  homens  e  mulheres  tecm  grande  devoção  a  S.  Bento,  cujas  relíquias 
repousam  n'uma  grande  egreja  de  seu  nome.  Vé-se  a  21  de  março,  dia  da 
festa  doeste  santo,  um  concurso  extraordinário  de  povo,  que  batendo  á  porta 
d'esta  egreja  pede  ao  Santo  que  não  lhe  deixe  faltar  o  pão:  e  pelo  anno  adiante 
as  raparigas  mandam  ali  dizer  missas  para  encontrarem  bons  maridos. 

«Os  velhos  e  pessoas  achacadas  teem  egualmenle  uma  singular  devoção  a 
S.  Gonçalo,  porlugucz  de  nação,  que  está  no  convento  dos  dominicanos,  na 
praça  do  Rocio.  No  dia  de  sua  festa  fazem  ali  suas  danças  bailando  e  cantando: 

Quem  com  o  santo  quizer  sarar. 
Ao  santo  ha  de  bailar. 

«Comtudo  as  ceremonías  mais  respeitáveis  de  nossa  religião  fazem -se  n'este 
paiz  de  uma  maneira  pomposa.  Leva*se  o  corpo  de  Nosso  Senhor  aos  doentes 
com  muita  magestade.  O  padre  vae  debaixo  de  um  pailio  sustentado  por  seis 
pessoas,  caminha  vagarosatnente,  precedido  por  varias  espécies  de  trombetas, 
e  seguido  de  uns  vinte  irmãos  de  capas  encarnadas,  uniformes,  levando  cada 
um  uma  vela  na  mão  e  as  coisas  necessárias  para  administração  do  Sacra* 
mento. 

«A  procissão  do  Corpo  de  Deus  faz -se  desde  alguns  annos  com  uma  pompa 
c  solemnidade,  que  excede  tudo  o  que  se  pratica  nos  outros  paizes  da  chris- 


DE  307 

Undade.  As  roas  por  onde  passa  a  procissão,  estão  juncadas  de  verdora  e  de 
flores,  e  gaamecídas  de  tropas:  estão  tapadas  pelo  telhado  das  casas  de  um 
lado  a  outro  com  um  toldo  de  damasco  carmesim:  véem-se  alli  grandes  lus- 
tres de  distancia  a  distancia  e  magnificos  altares.  Ha  n'aqueile  dia,  na  praça 
do  palácio  e  na  do  Rocio,  uma  fileira  de  columnatas  de  madeira  em  arcadas 
muito  largas  e  altas,  em  forma  de  arcos  de  triumpho  envernizados  e  enriqueci- 
dos de  bellas  pinturas,  debaixo  dos  qnaes  passa  a  procissão,  como  em  todo  o 
resto  do  caminho  a  coberto  das  injurias  do  tempo. 

«As  casas  estão  armadas  com  sedas;  vôem-se  ás  janellas  as  mulheres  mui 
ricamente  ornadas^  e  é  prohibido  aos  homens  apparecerem  n*ellas. 

«O  rei  assiste  á  ceremonia  acompanhado  de  todos  os  grandes  de  sua  corte, 
e  precedido  de  todas  as  irmandades,  cavalleiros  de  Christo,  de  Aviz,  de 
S.  Tfaiago,  de  todas  as  ordens  ecclesiasticas,  do  patriarcha  com  seu  cortejo, 
ao  qual  os  cónegos  mitrados  dão  grande  esplendor  K 

«A  rainha  dirige-se  n'esta  occasião  para  a  residência  do  ministro,  cuja  casa 
está  situada  de  modo  que  S.  M.  tem  o  prazer  de  se  ver  alli  no  meio  da  Pro- 
cissão; porque  ella  descobre-a  ao  longe  vindo  da  sua  esquerda,  d'onde  se  es- 
tende depois  para  a  grande  rua  dos  ourives  de  oiro,  que  fica  na  frente  das 
janellas  que  ella  occupa,  vé-a  ainda  voltar  pela  rua  dos  mercadores,  que  fica 
á  sua  direita. 

«Esta  procissão  contém  tanta  gente,  que  grande  parte  está  já  de  volta  antes 
que  a  outra  tenha  acabado  de  passar  por  este  sitio:  de  maneira  que  a  rainha 
avistando  a  procissão  de  princípio  a  fim  a  egual  distancia  da  janella  de  saca- 
da  que  occupa,  a  vé  então  em  forma  de  cruz,  e  a  vista  é  soberba. 

.  Tanto  os  portuguezes  são  económicos  em  suas  casas,  tanto  são  gastadores 
na  celebração  de  seus  casamentos,  e  nas  ceremonias  publicas.  Para  sustenta- 
rem o  explendor  e  despeza  pedem  emprestado  sobre  penhor,  e  alienam  seus 
rendimentos;  de  maneira  que  ha  poucas  casas,  que  não  estejam  muito  indivi- 
dadas.  Algumas  d'ellas  qualificam-se  de  puritanas,  o  que  quer  dizer,  que  não 
houve  em  suas  famílias  alguma  mistura  com  o  sangue  dos  moiros  ou  dos 
christãos  novos,  e  d'isto  se  ufanam  a  ponto  de  não  quererem  alliar-se  com  as 
que  não  o  são,  e  por  esta  razão  é  que  se  vé  mui  commummente  os  portuguezes 
casarem-se  com  suas  parentas,  apesar  de  lhe  custarem  muito  dinheiro  as  dis- 
pensas em  Roma.  Véem-se  ainda  casas  de  tal  forma  enfatuadas  de  sua  nobre- 
sa,  que  ellas  preferem  anniquilar-se  a  alliarem-se  com  outras  menos  illus- 
ires  do  que  as  suas. 

jA  lei  permitte  todavia  ás  filhas  casarem-se  conforme  a  sua  inclinação,  de 
maneira  mesmo  que  um  homem  do  commercio,  a  quem  uma  menina  de  pri- 
meira nobresa  tivesse  promettido  casamento,  poderia  desposal-o  apesar  da  re- 
sistência dos  pães,  com  tanto  que  a  menina  não  se  retractasse :  comtudo  isto 
qnasi  nunca  acontece,  porque  o  pretendente  seria  infallivelmente  assassinado, 
porém  estes  exemplos  são  vulgares  na  nobresa  ordinária,  e  entre  os  mecâni- 
cos. Eis  a  maneira  como  os  pretendentes  se  comportam  n^estas  occasiões:  ex- 

^  Deter ijUion  de  la  villc  de  Lisbonnef  pag.  Hli. 


308  DE 

paem  seos  direitos  ao  vigário  geral,  qae  ordena  ímmediatameDte  qae  a  me* 
iiiaa  compareça  na  soa  presença.  Feito  isto,  este  ministro  a  interroga,  e  se  as 
respostas  se  acham  conformes  á  exposição  do  cavalheiro,  dà-lhes  immediata- 
mente  licença  para  irem  casar-se. 

«Esta  lei  dá  occasião  a  aventuras  maito  divertidas,  das  qoaes  referirei  ama 
(|ue  aconteceu  à  filha  de  um  bom  commerciante.  Tendo-se  esta  pessoa  enamo- 
rado de  um  particular,  apesar  de  sua  figura  muito  medíocre,  o  qual  morava 
defronte  d*ella^  o  amante  não  perdeu  tempo  em  ir  ter  com  o  vigário  geral; 
não  procedeu  todavia  com  tanto  segredo,  que  o  pae  da  noiva  não  fosse  pouco 
tempo  depois  informado  de  suas  pretenções  e  diligencias;  mas  como  quasi  que 
não  ha  remédio  para  contrariar  taes  golpes,  este  pobre  homem  contentava-se 
com  deplorar  sua  sorte,  não  podendo  principalmente  consolar-se  por  ser  seu 
{)retendido  genro,  qae  apenas  tinha  uma  fortuna  muito  medíocre,  de  raça  ju- 
dia, raça  detestada  por  aquelles  que  não  pertencem  a  ella.  Em  quanto  derra- 
mava lagrimas  na  sua  loja,  passou  um  de  seus  amigos,  que  vendo-o  n'aqaelle 
(*stado,  lhe  perguntou  a  causa,  ao  que  tendo-o  o  pae  satisfeito,  o  amigo  o  con- 
solou dizendo-Ihe  que  elle  se  gabava  de  o  tirar  da  difflcu Idade  n*aquelle  mes- 
mo dia.  Acrescentou  que,  como  o  ponto  principal  consistia  em  fazer  desdizer 
sua  filha,  era  necessário  para  o  conseguir  prometter-lhe  satisfazel-a  immedia- 
tamente  no  desejo  que  mostrava  em  casar-se.  Que  lhe  aflãrmasse  que  conhe- 
cia intimamente  um  mancebo,  bello,  bem  apessoado,  muito  próprio  a  fazel-a 
feliz :  que  este  mancebo  tinha  na  verdade  pequena  fortuna,  mas  que  não  lhe 
faltava  talento,  sendo  principalmente  chrístão  de  raça.  O  pae  encantado  do 
expediente,  concordou  em  que,  era  quanto  seu  amigo  ia  trabalhar  para  lhe 
íílcançar  um  novo  genro,  elle  previniria  sua  lilha,  e  nada  esqueceria  para 
lhe  fazer  um  retrato  do  cavalheiro  capaz  de  a  lisonjear.  A  esta  nova  achon-se 
a  menina  muito  embaraçada;  comtudo  sua  inquietação  não  durou,  pois  o  ca- 
valheiro sensivel  às  vantagens,  que  se  lho  oíTereciam,  tendo-se  dirigido  com  o 
amigo  a  casa  da  menina,  esta  o  achou  de  tal  forma  á  sua  vontade,  que  n'um 
instante  se  lhe  agarrou  ao  pescoço,  dizendo  :  Este  é  meu  marido ;  não  quero 
uutro. 

«Tendo  as  coisas  chegado  a  este  estado,  e  depois  d'ama  aíTeição  tão  rápi- 
da, da  qual  a  família  tinha  interesse  em  obstar  ao  esfriamento,  em  nada  mais 
so  pensou  do  que  em  tomar  todas  as  medidas  necessárias  para  consummar  o 
casamento  antes  do  dia  seguinte,  o  que  foi  executado  com  tanta  diligencia  e 
felicidade,  que  a  bella  foi  dormir  n'aquella  mesma  noite  com  seu  marido.  O 
antigo  pretendente  nào  doixou  dt3  se  apresentar  pela  manhã  muito  cedo  de 
si»ge,  acompanhado  por  doze  de  seus  amigos,  e  munido  com  a  ordem  do 
vigário  geral;  mas  íicoii  bem  depressa  espantado,  quando  lhe  disseram  que 
a  pessoa  que  elle  pedia  em  casamento,  se  linha  recebido  com  fulano,  morador 
•MU  tal  rua.  Alli  voou  immeJiatamenle  com  o  seu  cortejo,  e  o  marido  in- 
ijrmado  do  motivo  que  alli  o  levava,  c  bem  seguro  de  que  a  scena  finda- 
;ia  pela  confusão  do  outro,  tomou  o  prazer  de  reunir  promplamenle  um 
numero  de  amigos  seus  egual  ao  que  tinha  este  rival,  para  acompanhar  sua 
i.uilhcr  com  mais  luzluieuio  a  oa^a  do  vigário.  Tendo  a  coisa  sido  assim  exe- 


DE  :!0,> 

catada,  ella  declarou  a  este  juiz,  na  presença  de  todo  este  numeroso  cortej«». 
por  seu  marido  aquelle  que  a  tinha  acompanhado.  D'está  sorte  terminou  esi<' 
processo  com  grande  regosijo  do  pae  e  do  esposo,  ç  o  í Iludido  pretendem ' 
voltou  para  sua  casa,  passando  por  milhares  de  apupos,  e  acabrunhado  de  dôr 
e  de  confusão. 

«Quando  um  fidalgo  tem  seu  casamento  justo  com  al(7uma  das  damas 
do  paço,  deve  trazer  na  abetoadura  uma  fita,  que  ó  um  dos  signaes  de  sua 
promessa;  além  d'isto  é  obrigado  pelo  espaço  de  sois  mezes  a  apresentar-si*. 
DO  palácio  todas  as  vezes  quc  as  damas  saem  ou  entram  com  a  rainha,  e  a  so 
guil  as  de  longe  sem  que  lhe  seja  permiltido  faliar  á  sua  namorada  senão  por 
meio  de  signaes  até  ao  dia  da  consummaçao  do  casamento. 

«A  mulher  ennobrece  o  marido :  os  engeitados  sào  nobres  pela  supposi  • 
çao  de  que  podem  ter  fidalgos  por  seus  pães. 

«Os  portuguezes  ordinariamente  fazem  frades  a  seus  filhos  segundos,  ao 
que  estes  raramente  resistem,  pois  este  estado  é  muito  asado  para  a  devas- 
sidão. A  vista  dos  pães  com  isto  é  de  tornar  ricos  os  primogénitos,  e  procede 
também  da  impossibilidade  em  que  se  acham  de  dar  aos  primeiros  um  em- 
prego honesto,  não  havendo  alli  nenhuma  arte  liberal,  e  o  commercío  sendo 
muito  limitado.  Além  dMsto,  quando  teem  um  filho  padre  ou  frade,  conside- 
ram-no  como  uma  grande  honra,  e  ninguém  pode  ignorar  que  ficam  isentos 
de  judaísmo,  pois  aquelles,  que  teem  uma  tal  mancha,  por  muito  leve  que  se- 
ja, estão  excluídos  do  sacerdócio  para  sempre. 

«Os  pães  empregam  o  mesmo  constrangimento  para  com  as  filhas,  met- 
tem-nas  a  quasi  todas  freiras,  quer  seja  por  falta  de  meios  de  lhes  dar  um 
dote  para  terem  um  mando,  seja  pelo  perigo  em  que  incorrem  por  causa  da 
liberdade  que  a  lei  concede  ás  raparigas  de  se  casarem  á  sua  vontade.  Os  pães 
de  condição  mediocre  obrigam-nas  a  tomar  este  partido  ainda  por  outro  mo- 
tivo, que  é  a  honra  de  terem  uma  filha  freira.  Estas  victimas  da  vaidade  renun- 
ciavam além  d^isto  ao  mundo  tanto  mais  voluntariamente,  quanto  lhes  parecia 
que  deixando-o  ellas  entravam  n*elle  em  vez  de  sair,  pois  sendo  em  casa  d'el- 
las  extrema  a  prisão,  e  achando  nos  conventos  a  liberdade  de  verem  homens 
e  de  poderem  conversar  com  elles  quasi  todo  o  dia,  sua  sorte  parece-lhes  mais 
agradável. 

34i)  DESORDPTION  du  três  humain,  vertueux  et  invectissime  roy  de 
Portugal.  Envoyé  à  nostre  sainct  pere  le  pape,  des  gestes  faictz  en  la  mer  rou- 
ge.  Et  de  la  paix,  paction,  convenance  commençée  par  lui  avec  prebistre  Je- 
han  roy  de  Ethiopie.  Lisbonne,  1521. 

Apparece  citada  esta  obra  n'um  catalogo  de  livros  raros. 

345)  DESORIPTION  geográfica,  histórica  de  el  reyno  de  Portugal.  Ma- 
drid (sem  data),  folheto. 

346)  DESE  MAOHTEGUE  EN  GROT  STATE  ÂDE  GENOEMT 
diegelege  es  int  comncrye  va  persê  indem  wech  va  mecha  was  bestomU  en 


310  Dl 

heuochtê  va  Alfonso  d'AUmkerque  capUein  generael  vandê  bogê  en  machtege 
edele  ame  va  portegael  heer  Emanuel  mr.  drieduist  vyfhodert  volchx  voch  te 
drie  urê  lac  tregê  die  ide  stat  warê  dese  bataelge  gesciede  up  dê  beiigêy  ete. 
Anvers,  Í5i3. 

Trata  esta  obra  da  tomada  de  Adem  porAUonsod^Albaqaerqae,  no  reina- 
do de  el-rei  D.  Manael,  e  vi-a  citada  n'am  catalogo  de  livros  raros  para 
venda. 

347)  DESFONTANES  (ABBÉ  QUYOT). 

E.— I.  Histoire  de  D.  Juan,  fUs  de  D.  Pedro  et  de  D.  Igms  de  Castro.  Pa- 
ris, i724. 

U.—Inez  de  Castro  ou  histoire  de  Pierre  de  Portugal.  Paris,  i72í. 

348)  DE  ZEEUSOHE  VERHE-KYKER. 

Ghedrucht  tot  Ulissingen  in  7  Groene  Wout.  i649.  8  folhas  sem  numera- 
ção. (M.  S.) 

349)  DIAS  (PEDRO). 

E.SpistolcB  de  52  Jesuitis  iiúerfectis  in  Brasilia,  Antaerpiae,  i605. 

350)  DIOTIONAKIUM    MALAICO  LATINUM  et  Latino  Malaicum 

cum  aliis  quamplurimis  quae  quarta  pagina  edocebit.  Opera  et  studio  David 

Haex.  Romae.  Typis  et  impensis  Soe.  Cong.  de  Propag.  Fide.  i63!.  Superiorum 
pemUssu. 

No  fim  doeste  Diccionario  Malaico  Latino  ajuntaram-se  alguns  termos  por- 
tugaezes,  que  são  muito  communs  entre  os  vocábulos  roalaicos,  e  usados  nas 
ilhas  de  Amboyno,  Banda,  Java  e  Molucas.  A  lista  das  palavras  portaguezas 
usadas  por  estes  povos  contéem  143  vocábulos. 

O  exemplar  por  mim  consultado  em  1861  existia  na  Bibliotheca  do  Porto. 

351)  DIDOT   (M.  FIRMIN). 

Nasceu  em  Paris  no  anno  de  1764,  e  falleceu  no  de  1836.  ^ 
E. —  La  reine  de  Portugal.  ^  Tragedie  en  cinq  actespar  — .  Representée  pour 
la  première  fois,  sur  le  second  theatre  FrançaiSj  le  20  octobre  1823.  Paris.  De 
la  Typographie  de  Tauteur,  1824,  4.°,  88  pag. 

Pessoas,  que  entraram  em  scena :  AÍTonso  de  Portugal,  Mr.  Lafangue. — 
Branca,  esposa  d'Aíronso,  M.*'»'*'  Gros.— D.  Pedro,  Mr.  David.— Constança,  filha 
de  Branca,  M*"'  Falcoz.— Ignez,  dama  de  Constança,  M*^"*  Dupont.— Castro,  con- 
destavel,  irmão  de  Ignez,  Mr.  Delaunay.— Alvares,  juiz,  Mr.  Auguste.— Maria, 
dama  de  Ignez,  M""'  Alcx.  Perroud. 

'  Firmin  Didot —  Nouvelk  Biographie  Vniverselley  vol.  H.",  pag.  115. 

*  Perçonno  n'a  pu  s'interesser  aux  amours  dEdouard  et  d'Eugénie,  composilion  de 
(iresscl,  an  licu  quon  ^'interesse  bcaucoup  a  ceux  d'ínés  et  D.  Pierre.  —  La  Harpe  — 
Cour^  de  Lill^rnfurc  /,  pap.  841. 


FERDINAND  DINIZ 


Dl  311 

3^2)  DIEZE  (JEAN  ANDRÉ). 

E.— flts/oirf  d^Espagne  et  de  Pcyrtugal.  Leipzig.  1774. 

353)    DINIS  (FERDINAND). 

Nascea  em  Paris  bo  dia  13  de  agosto  de  1798,  onde  recebeu  saa  edacaçào. 
Sendo  mui  moço  residia  por  espaço  de  três  aonos  e  meio  no  Brazil.  Foi  pri- 
meiro nomeado  bibliothecarío  do  ministério  de  instrucção  publica,  e  passou 
depois  na  qualidade  de  conservador  para  a  Bibliotheca  de  Santa  Genoveva.  < 

E.  —  I  Htstoire  Géographique  du  Brésil.  Paris,  1833, 107  pag.  Faz  parle  da 
Bibliotheqiie  Populaire.  Traz  uma  larga  introducção,  na  qual  faz  uma  resenha 
dos  escriptores  que  escreveram  sobre  o  Brazil. 

Estes  escriptores  são:  Jean  de  Lery,  francez.  1578— André  Thevet,  franccz, 
1558— Hans  Staden,  1556  — Claude  d*Abbeville,  francez,  1614— Pisou  et  Mar- 
graff,  1648 — Barioeus,  1647  —  Roulox  Baro,  1651—  Staunton,  1797  ^  Barrow, 
1807— Lindley,  1804 —Mawe,  1812  — Langsdorff— Koster,  1816  —  Neu- 
wied,  1819  — Spix— Martins. 

II.  Le  Bresil.  Na  conhecida  collecçâo  do  Univers  Pittoresque  editado  em 
Paris  por  Firmin  Didot.  E*  o  primeiro  volume  da  collecçâo  relativa  à  Ameri- 
ca. Esta  obra  foi  traduzida  em  portuguez,  e  impressa  em  Lisboa  no  anuo  d^ 
1844,  formando  dois  volumes. 

III.  Resume  de  VBistoire  littieraire  du  Portugal  suivi  du  resume  de  VHis- 
toire  Utteraire  du  Brésil.  Paris,  Lecointe  et  Durey^  libraires,  in-8.*,  625  pag. 

cPara  bem  analysar  os  Lusíadas,  (pag.  76),  para  fazer  conceber  suas  belle- 
zas,  seria  mister  ser  transportado  por  um  momento  ao  cume  d*essa  coUina  á 
qual  o  Gama  é  conduzido  por  uma  divindade,  que  lhe  faz  contemplar  os  glo- 
riosos destinos  de  Portugal. 

cExaminando  esta  vasta  concepção,  veem-se  desenrolar  todos  os  aconteci- 
mentos, que  tomaram  tâo  poderosa  uma  nação  fraca  ao  principio,  e  dentro  em 
pouco  superior  a  todas  as  outras,  porque  reuniu  a  constância  ao  valor.  O  que 
ha  de  mais  admirável,  é  que  as  bellezas  doesta  epopea  brilhante  appresentam- 
se  sem  mostrar  os  esforços  da  arte;  é  o  poeta  viajante,  o  soldado,  que  canta 
navegantes  e  guerreiros. 

cDeu-lhe  a  natureza  um  profundo  sentimento  da  harmonia;  pertence  ao 
numero  d'aquelles,  que  fixam  uma  lingua  pelo  encanto  de  seu  estylo,  perten- 
ce também  ao  numero  d^aquelles,  que  animam  um  povo  inteiro  com  um  gran- 
de pensamento. 

cO  mais  bello  privilegio  d*um  poema  épico  é  enobrecer  uma  nação  a  seus 
próprios  olhos,  é  fixar  nos  corações  as  lições  dadas  pela  coragem  e  pela  hon- 
ra; enternecer  sobre  os  erros,  inspirar  horror  aos  crimes.  Camões  não  mere- 
ceu grandes  censuras  no  decurso  de  sua  composição,  mas  desempenhou  o  ver- 
dadeiro fim  a  que  se  deve  propor  um  poeta  nacional. 

cO  acontecimento,  que  acabava  de  elevar  sua  nação  acima  dos  outros  po- 
vos, era  o  que  naturalmente  elle  devia  escolher:  Gama  foi  seu  heroe. 

^  Visconde  de  Joramenba.— Oòro;  de  Luiz  de  Camões^  to).  1.*,  pag.  2li. 


m  Dl 

cUm  de  nossos  poetas  modernos,  capaz  de  bem  comprehender  o  auctor  dos 
Lusíadas,  e  de  o  fazer  sentir,  mostrou- nos  a  forma  adoptada  por  elle  desde  o 
principio— «O  começo  dos  Lusíadas,  diz  Raynouard,  é  origina],  nobre,  poéti- 
co, tem  uma  forma  magestosa,  porque  indica,  agrupa  e  accumula  os  factos, 
que  devem  ser  reproduzidos  no  poema;  e  somente  quando  este  quadro  feria  a» 
imaginação  do  leitor,  é  que  annuncia,  que  cantando-o  ha  de  espalhar  a  fama 
pelo  universo  K 

cJá  que  vemos  apparecerem  aqui  os  deuses  do  Paganismo  n'um  assumpto 
no  qual  em  nossos  dias  só  os  poderes  da  religião  cbrista  se  fariam  intervir, 
lembremos  que  é  necessário  julgar  os  homens  segundo  os  tempos,  e  não  nos 
mostremos  severos  de  mais,  quando  se  nos  offerecem  grandes  bellezas.  Talvez 
não  seja  fora  de  propósito  recordar  aqui  a  maneira  como  madame  de  Stael 
explica  o  emprego  do  maravilhoso  mythologico,  associado  ao  que  era  indica- 
do  pela  religião  christã;  provavelmente  que  o  pensamento  do  poeta  está  todo 
inteiro  n'esta  phrase,  principalmente  applícando-a  á  época,  em  que  morreu 
Camões.  cGensuram-n'o  por  esta  alliança,  mas  não  nos  parece  quenosLtcsta- 
das  produza  uma  impressão  discordante.  Sente-se  alli  muito  bem  que  o  chris- 
tíanismo  é  a  realidade  da  vida,  e  o  paganismo  o  adorno  dos  festins.» 

cNa  primeira  descrípção  (pag.  81)  da  attitude  e  dos  costumes  d'um  povo 
estrangeiro  Camões  mostra-nos  qual  a  exactidão,  qual  a  tinta  local  que  deve 
conservar  nas  numerosas  pinturas  dos  paizes  longínquos. 

cNinguem  melhor,  que  Camões  (pag.  87)  sabe  variar  todos  os  movimentos 
d*uma  poesia  brilhante;  se  no  principio  nos  revelou  as  pompas  do  Olympo, 
agora  ostenta  a  nossos  olhos  todo  o  luxo  da  Europa  e  dos  paizes  visinhos  da 
Ásia:  suas  pinturas  são  preciosas  para  o  nosso  século,  e  variou-as  sem  cessar. 

«Ao  ler  o  entemecedor  episodio  de  Ignez  de  Castro,  onde  vemos  agglome- 
rados  todos  os  géneros  de  merecimento,  quem  se  não  sentirá  commovido?  (pag. 
91.)  O  próprio  Voltaire  proclamou-o  uma  obra  primorosa,  apesar  de  muitas  ve- 
zes não  fazer  justiça  ás  outras  bellezas  do  poema.  Parece,  e  tanta  melancolia 
existe  n'este  canto  lastimoso,  que  é  um  ultimo  grito  de  dor  escapado  ao  infe- 
liz D.  Pedro,  que  sua  constância  fez  sobreviver  ao  desespero.  Camões  recolhe 
tudo  quanto  pôde  despertar  uma  nobre  tristeza;  não  se  esforça  em  augmentar 
a  dor,  recorda  o  que  fez  já  tantas  vezes  custar  lagrimas. 

«Os  navios  de  Gama  estão  promptos  para  irem  á  descoberta.  Comprehen- 
de-se  que  o  poeta  deixou  sua  pátria,  e  que  também  elle  viu  mães  abraçarem 
seus  filhos,  mulheres  soluçarem  nos  braços  de  seus  maridos.  Camões,  dotado  da 
mais  bella  alma,  representando  sempre  o  que  sentiu,  Camões  n'isso  ainda  é 
admirável.  Se  pinta  o  poder  dos  laços  da  natureza,  pinta  também  a  ambição» 
o  as  desgraças  que  ella  pôde  causar:  fal-as  annuncíar  por  um  velho,  qae  se 
dirige  aos  navegantes;  e  este  velho,  a  quem  o  prestígio  das  conquistas  não 
pôde  seduzir,  é  sublime  em  suas  expressões,  como  em  seus  pensamentos. 

«Os  viajantes  costeam  a  Africa,  e  dentro  em  pouco  vão  passar  a  linha.  As 
pinturas  do  poeta  vão  ser  novas.  Para  descrever  uma  tromba  maritima,  não 

1  Journal  det  Sarants^  julho  de  18^. 


Dl  m 

podia  achar  cores  nos  antigos.  Saa  profunda  observação  Ih^as  forneceu.  Ea 
mesmo  fui  testemunha»  ha  alguns  annos,  d'este  espectáculo,  que  causa  aos  via- 
jantes tanta  admiração  e  susto.  Tomei  a  ler  Gamões,  e  conheci  que  elle  era  um 
dos  maiores  pintores  dos  phenomenos  da  natureza. 

tMontesqnieu  disse,  que  este  poema  continha  bellezas  dignas  da  Eneida  e 
da  Odyssea.  Mas  é  na  apparíçao  do  gigante  Adamastor,  que  se  sente  a  ver- 
dade d'esta  reflexão  (pag.  103.)  E  como  o  estylo  se  modiQcal  Como  este  gigante 
vae  fazer  sentir  todo  o  amor  em  quç  se  inflammou  para  com  a  esposa  de  Pe- 
leo!  Como  elle  faz  compréhender  todo  seu  furor,  pintando  a  maneira  como 
foi  enganado!  Não  ajuntarei  nenhuma  reflexão  a  esta  mais  bella  passagem  dos 
Lusíadas,  e  contentar-me-hei  em  dizer  com  Parseval  de  Grandmaison  na  sua 
obra— 2^5  amours  epiques  —  que  é  talvez  a  mais  primorosa  da  epopea. 

«Nada  ha  mais  animado  que  o  episodio  dos  doze  de  Inglaterra,  nada  mais 
cavalheiresco  do  que  a  pintura  dos  torneios,  e  das  festas.» 

•     • 

«No  começo  do  século  xvn  bastantes  épicos  se  appresentam  a  nossos  olhos, 
todos  dotados  d*um.  verdadeiro  talento.  Possuiam-nos  os  portuguezes  n'uma 
época,  em  que  nós  os  francezes  apenas  tinhamos  informes  ensaios.  Corte  Real, 
Quevedo,  Pereira  de  Castro  e  Menezes  escreviam  n'uma  lingua  já  elevada  ao 
sea  mais  alto  grau  de  perfeição. 

«Em  quanto  Camões  se  entregava  á  solidão,  depois  de  ter  percorrido  os  to- 
gares, que  cantava  em  seu  poema,  um  homem  celebre  ia  procurar  em  paizes 
estrangeiros  estas  cores  brilhantes,  com  as  quaes  queria  ornar  sua  poesia.  Corte- 
Real  percorreu  a  índia  e  Africa,  assistiu  mesmo  á  celebre  batalha  de  Alcacer- 
Quibir.  Na  volta  para  sua  infeliz  pátria  entregou-se  á  solidão,  e  resolveu  con- 
sagrar seus  últimos  descanços  a  celebrar  a  gloria  de  Portugal.  Em  seu  poema 
o  Naufrágio  de  Sepúlveda,  as  maiores  bellezas  brilham  ao  lado  dos  defeitos. 
Poema,  do  qual  a  maior  parte  nos  deve  commover  profundamente,  pois  ofTe- 
rece  sentimentos  os  mais  temos,  e  acontecimentos  os  mais  pungentes.  Este 
poema  não  podia  ser  concebido  senão  por  uma  alma  ardente  e  sensível.  De» 
sembaraçado  das  ficções  mythologicas,  Corte  Real  seria  o  primeiro  depois  de 
Camões  K* 

lY.  Um  grande  numero  de  artigos  relativos  aos  grandes  homens,  que  Por- 
tugal tem  produzido,  publicados  na  Biographie  Universelle  de  Firmin  Didot, 
em  46  volumes.  Estes  artigos  distinguem-se  em  geral  pelo  seu  desenvolvimento 
e  exactidão.  Tanto  n'estes  artigos,  como  em  todas  suas  obras,  Ferdinand  De- 
nis  mostra-se  muito  affeiçoado  aos  portuguezes. 

Y.  Uue  Fête  BrésUienne  celebrée  a  Rauen  en  1550  suivie  d^un  fraçment  du 

*  F.  Denis  analysa  também  vários  outros  poemas,  como  Affonso  Africano,  a  Ulyssea, 
Malaca  CoDqQistada.Viríato  trágico,  o  Hyssope,  o  que  uâo  6zeram  nem  Boulerweck,  nem 
Sismoodi,  DOS  qaaes,  bem  como  no  escriptor  francês  citado,  se  encontram  muitas  paginas 
de  nossos  escriptores  trad oxidas. 


314  Dl 

VXI*  Sitde  fmUant  $ur  la  Théogonie  des  anciens  peuples  du  BrézU  et  des  pqe- 
8ies  en  langue  Tupique  de  Christovam  Valente.  Paris,  J.  Techeoer,  i85i,  in-4.* 
104  pag.  Com  uma  estampa  representando  a  lacta  simolada  dos  brasileiros. 

É  a  reimpressão  d*ama  obra  publicada  em  Roaen  no  anno  de  1551,  e  qae 
se  tinba  tomado  da  maior  raridade.  O  titalo  da  edição  antiga  era  o  seguinte: 

Cest  la  dedu- 
ction  du  sumptueux  ordre  plaisantz  spe- 
ctacles  et  magnifiques  theatres 
dresses  et  exhibes  par  les  cUoi- 
ens  de  Rouen  ville  Metropolitaine  du  pays  de  Normandie,  A  la 
sacre  Maiesté  du  Treschristian  Boy  de  France,  Henry  secõd 
leur  souverain  Seigneur,  Et  à  Tresillustre  dame,  ma  Dome 
Katharme  de  Medids,  La  Royne  son  espouze,  lors  de 
leur  triumphant  ioyeux  et  nouvel  advenement  en 
icelle  ville,  Qui  fut  es  iours  de  Mercredy  et  ieu- 
dy  premier  et  secõd  iours  d^octóbre^  MU 
cinq  cens  cinquante,  Et  pour  plus  ex- 
presse intelligence  de  ce  tant  ex-  • 
cellent  triumphe,  les  figu- 
res et  pourtraicts  des 
principaulx  aome- 
mentz  d^iceluy 
y  sont  apposez  chastun  en  son  lieu  comme  l'on  pourra  veoir 

par  le  discours  de  Vliistoire. 

Avec  privilege  du  Roy, 

On  les  vend  à  rouen  chez  Robert  le  Hay  Robert  et  Jean  dictiz- 

du  Gord  tenantz  leur  boutique,  Au  portail  des  libraires, 

1551 

«Meio  século  se  tinha  apenas  passado  desde  a  descoberta  do  Brazil,  e  coisa 
de  cincoenta  indios  completamente  nus,  pertencentes  à  raça  dos  tupinambas 
reunidos  a  250  marinheiros  normandos,  vinham  simular  seus  combates  nas 
margens  do  Sena,  na  presença  de  Catharina  de  Medicis.  Facto  que  não  deve 
admirar,  se  considerarmos  por  um  momento  quanto  eram  activas  as  relações 
de  Rouen,  Dieppe  Honfleur  com  a  America  meridional.  A  este  espectáculo  as- 
sistiram o  núncio  do  papa,  os  embaixadores  de  Hespanha,  Allemanha,  Vene- 
za, Inglaterra,  Portugal,  e  d'outras  nações  estrangeiras.» 

A  edição  moderna  é  acompanhada  de  grande  numero  de  notas  interes- 
santíssimas. 

VI.  Ckroniques  Chevalercsques  (le  VEspagnc  et  du  Portugal  smvies  du 
Tisserand  de  Segovic,  dratnc  du  AT//'  Siècley  pubUées—Pàris,  Ledoyen,  Li- 
braire  editeur,  8.»  gr.  1839, 1."  IV,  382  pag.  2.«  492  pag. 

Traz  as  seguintes  lendas  e  episódios  portuguezes:  I  Tomada  de  Évora,  por 
Giraldo  Sem -Pavor,  conforme  Fr.  Bernardo  de  Briito.  Tomo  1.*»  pag.  45.— 


Dl  315 

O  mau  rei  e  o  bom  vassallo.  Historia  de  Martim  de  Freitas,  conforme  Duar- 
te Nunes  de  Leão.  Pag.  ò^íi,^  Historia  de  D.  Constança  Manuel,  conforme  Buy 
de  Pina.  Pag.  83. —  Chronka  de  Ignez  de  Castro.  Pag.  105. 

«Seria  obra  para  um  laborioso  bibliographo  o  recordar  mesmo  sammaria- 
mente  tudo  quanto  tem  sido  escripto  a  respeito  de  Ignez  de  Castro.  Poemas, 
romances,  novellas,  dramas,  tragedias,  e  ató  coplas  de  romance  popular,  todas 
as  formas  litterarias  e  poéticas  teem  sido  esgotadas  a  respeito  d'esta  grande 
eatastrophe,  que  completa  actualmente  em  todas  as  nações  a  historia  cavalhei- 
resca da  edade  média.» 

A  Garça  de  Portugal.  Narração  verdadeira,  onde  se  refere  a  historia  la- 
mentável de  D.  Ignez  de  Castro.  Romance  hespanhol.  Pag.  i^.— Poesias  do 
Rei  D.  Pedro  a  uma  dama.— Os  amores  d'um  filho  de  D,  Ignez  de  Castro. 
Pag.  167. —  O  primeiro  dia  do  trafico  da  escravatura  em  Lagos.  Tomo  2.* 
pag.  41. —  O  naufrágio  de  Sepúlveda.  Pag.  78. 

NU.  Luiz  de  Sousa,  par— Paris,  Librairie  de  Charles  Josselin,  1835,  8.* 
gr.,  1.°  vol.  351  pag.,  2.»  336  pag. 

E'  um  romance  baseado  na  vida  do  nosso  grande  escriptor.  O  rei  D.  Se- 
bastião dirige-se  ao  mosteiro  da  Batalha  com  o  Om  de  ver  os  corpos  dos  reis 
e  príncipes  alli  sepultados,  e  de  pedir  orações  a  favor  de  sua  próxima  expe- 
dição a  Africa.  Luiz  de  Sousa,  D.  Magdalena  e  o  marquez  de  Kleist,  parente  do 
imperador  de  Ailemanha  n'aquella  occasíão  achavam-se  na  egreja.  Luiz  de 
Sousa  é  chamado  para  fazer  ao  rei  um  breve  elogio  das  pessoas,  cujos  corpos 
D.  Sebastião  ia  visitando.  £m  quanto  falia,  D.  Magdalena  de  Vilhena,  mulher 
de  D.  João  de  Portugal  conserva-se  extasiada  para  o  orador,  a  ponto  de  se  tor- 
nar reparada.  D.  Magdalena  casara  violentada,  e  nutrira  sempre  uma  grande 
paixão  por  Luiz  de  Sousa,  e  este  é  o  motivo  porque  n'uma  entrevista  nocturna 
com  este,  insta  e  alcança  a  promessa  de  não  ir  para  Africa,  pois  lhe  tinha  ob- 
tido do  rei  o  emprego  de  governador  do  castello  de  Belém.  Tendo  encontrado, 
porém,  na  retirada  o  marquez  de  Kleist,  que  também  estava  apaixonado  de 
Magdalena,  e  que  cheio  de  ciúmes  andava  espreitando  Luiz  de  Sousa,  chega 
à  falia  com  este,  provoca-o,  e  ha  um  desaOo  entre  ambos -flcando  o  marquez 
gravemente  ferido.  Achando-se  Luiz  de  Sousa  comprommettido  acompanha  o 
rei  para  Africa,  fica  captivo,  e  consegue  d'alli  fugir  por  intervenção  d' uma  es- 
crava moura,  que  D.  Magdalena  alli  mandara  expressamente.  Casam,  e  passa- 
dos poucos  dias  encontram  na  egreja  de  Belém  um  peregrino,  que  lhes  dá  no- 
ticia de  que  D.  João  de  Portugal  ainda  é  vivo.  Cheios  de  escrúpulos  separam- 
86,  e  cada  um  vae  professar  em  conventos  da  ordem  de  S.  Domingos. 

«Quem  não  viu  a  embocadura  do  Tejo  com  suas  bellas  collinas  cobertas  de 
palácios  e  de  mosteiros,  suas  larangeiras  cobertas  de  flor,  seus  limoeiros,  que 
se  miram  no  Tejo,  nada  tem  visto.  Os  portuguezes  possuem  um  velho  provér- 
bio, que  o  diz,  e  repetem  com  mais  justa  rasão  talvez  de  que  os  enfatuados 
habitantes  de  Sevilha.  No  século  xvi  Lisboa  era  a  maravilha  do  universo;  era 
a  maior  cidade  da  christandade.  No  tempo  de  D.  João  III  era  já  como  Roma  a 
cidade  dos  sete  montes,  a  cidade  guerreira,  e  de  immensos  conventos.  De  Be- 
lém ate  S.  Bento  de  Enxobregas  tinha  perto  de  seis  milhas:  Paris  não  cpntava 


316  Dl 

então  outras  tantas.  Era  maravilhoso  o  contemplar  esta  cidade  de  soldados  e 
de  padres,  formando  om  semicircolo  de  palácios.» 

YUI.  Scènes  de  la  Naiure  sous  les  Tropiques  et  de  leur  influence  sur  lapoe- 
sie;  núvies  de  Camoens  et  José  índio;  par — A.  Paris,  Ghez  Louis  Janet,  8.*  lY. 
514  pag.  6  uma  estampa  representando  os  últimos  momentos  de  Camões  no 
liospital.  O  José  índio  ó  um  romance,  no  qaal  Ferdinand  Dinis  conta  a  vida  de 
Gamões.  Termina  este  livro  com  a  belia  ode  de  Raynouard  em  honra  do  nosso 
poeta. 

IX.  Hippolite  Taunay  et  Ferdinand  Dinis. — Le  Brésil  ou  mceurs  et  couiu- 
mes  des  habiiants  de  ce  royaume.  Paris,  1822,  6  vol.  iQ-12.<» 

X.  Analyse  das  viagens  de  A.  Sainte  Hilaire  ao  Brasil,  Na  Revue  des  deux 
Mondes,  vol.  l.<*,  pag.  405  e  seg.  (Ânno  1831). 

XI.  Atlas  de  la  Utlerature  Portugaise.  Paris^  1831. 

Xn.  Voyage  dons  le  Nofd  du  Brésil  fait  durant  les  années  1613  f^  1614 
par  le  P.  Ives  d'Evreux,  Publié  d*api'és  VexemplcUre  unique  conserve  à  la  Bi' 
blUaheque  imperiale  de  Paris  avec  une  introduction  et  des  notes.  Paris,  1864, 
456  pag. 

XII.  Tableaux  Chronologiques  de  Utterature  Portugaise  dans  les  Atlas  des 
lUteratures  de  mr.  Janny  de  Moncey, 

«Consta-nos  que  ha  dias  mr  F.  Denís  enviara  a  S.  M.  F.  um  exemplar  da 
sua  obra  —  Chroniques  Chevaleresques. 

cE'  este  livro,  como  quasi  todos  os  que  saem  da  inexgotavei  e  deliciosa 
penna  de  seu  auctor,  uma  brilhante  manifestação  de  quanto  elle  conhece,  e  de 
quanto  por  isso  mesmo,  ama  o  nosso  Portugal.  Quem  não  leu  uma  e  muitas 
vezes  a  sua  Novella  histórica  de  Camões,  e  José  índio,  o  seu  Resumo  da  HistO' 
ria  Litteraria  de  Portugal,  a  sua  iraducção  da  Flor  do  Theatro  Porluguez  e 
o  seu  Prefacio  a  uma  nova  traducção  dos  Lusíadas?  Quem  ao  reler  todos  os 
seus  outros  escríptos,  mormente  as  Scenas  da  Natureza  sob  os  Trópicos,  não 
julgou  estar  ouvindo  o  mais  zeloso,  o  mais  ardente  portuguez?  E  que  se  em 
linguagem  franceza  se  exprimia,  era  só  pela  anciã  de  tomar  mais  geralmente 
eomprehendidos  por  esse  mundo  os  nossos  louvores  E  qual  será  o  portuguez 
deveras,  a  quem,  n'esta  época  de  nosso  quasi  universal  desamparo  não  faça 
muita  força  este  amor  d'um  estrangeiro  illustre,  que  nada  nos  deve,  e  só  nos 
conhece  pelos  retratos,  que  de  nós  lhe  hão  dado  os  livros?  Por  nós  confessamos 
que  ao  pronunciarmos  ou  ouvirmos  pronunciar  seu  nomo,  dois  aíTectos  se  nos 
levantam  sempre  na  alma,  ambos  justos,  ambos  nobres,  ambos  vehementes,  o 
primeiro  a  altíveza  de  havermos  nascido  na  riquíssima  pobreza  d'este  ninho:  o 
segundo  respeito  e  gratidão  para  com  o  talento  peregrino,  que  tão  gratuita  e 
generosamente  dispende  o  seu  cabedal  poético  em  coroas  e  incensos,  com  que 
atavie  o  nosso  tumulo,  com  que  divinise  as  nossas  até  já  quasi  por  nós  mes- 
mos, tão  apesinhadissimas  relíquias.»  Á.  F.  de  Castilho,  Revista  Universal  Us- 
honense,  vol.  1.%  pag.  544.  * 

*  Veja-se  o  mesmo  cscriptor  no  2.»  ?ol. 


DR  317 

354)  DISCOURS  DE  LA  PAIX  OONTRE  (iic)  PORTUQÂIS.- 
i5pag. 

355)  DISCX>UHS£  OF  THAT  WHIOH  HAPPENED  IN  BATTLE 
fougtU  between  the  two  navies  of  Spaine  and  Portugal  cUthe  Islands  ofAzores, 
anno  1582  by  D.  Álvaro  Bazan,  of  Santa  Cruz.  Loadon,  iS.«  1582.  (Discurso 
do  que  aconteceu  na  batalha  pelejada  entre  as  doas  frotas  de  Hespanha  e  Por- 
tugal nas  ilhas  dos  Açores,  etc.) 

356)  DISSERTATIO  DE  TRIBUS  IN  LUSITANOS  JESUS  Sócios 
publicis  juditiis.  Norimbergae,  1792. 

357)  DIX  (JOHN  A) 

E. — A  Winter  in  Madeira  and  a  Summer  in  Spam  and  Florence.  (Um  in- 
verno na  Madeira  e  um  verão  em  etc.) 

358)  DOMINIQUE  (PIEKRE  FRANÇOIS  BIANCOLLEU). 
E.—VAgnes  de  Chaillot,  parodie  de  Vlnes  de  Castro  de  Lamoí^f,  Paris,  1723. 

359)  DONIZETTI  (GAETAN)  —  Celebre  compositor  italiano. 
Nasceu  em  Bergamo  no  anno  de  1798,  e  ahi  fallecen  em  1840.  ^ 
E.  —  D.  SebastianOf  re  di  Portugallo.  Opera.  Paris,  1843. 

Diz-se  que  o  trabalho  assidno  a  que  se  entregou  pelo  espaço  de  dois  me- 
xes na  composição  d*esta  opera  fora  uma  das  causas  da  sua  morte. 

360)  DOUVILLE  (JEAN  BAPTISTE). 

E.  —  Voyage  au  Congo  et  dans  V Afrique  Equinoxiale.  Paris,  1832.  4  vol. 
Esta  obra  foi  considerada  como  um  acervo  de  falsidades,  e  o  auctor  vlu-se 
obrigado  a  escrever  um  livro  em  sua  justificação. 

361)  DRIVER  (JOHN). 

Letters  from  Madeira  in  1834,  with  en  appendix  illustrative  of  the  history 
of  the  Islandy  climate,  wines,  and  other  informatum  up  to  the  yar  1838.  By. 
London,  1838. 

362)  DROUET  (HENRI).—  Naturalista  francez. 

Nasceu  em  Troyes,  em  novembro  do  anno  de  1829.  Em  1857  eíTeituou  na 
companhia  de  Ârthur  Morelet,  de  Dijon,  uma  viagem  scieotifica  em  Portugal 
6  nos  Açores.  * 

E.— I.  Rapport  à  S.  If.  le  roi  de  Portugal  sur  un  voyage  d^exptoraUon 
scientifique  aux  Açores.  Paris,  1858,  4.^',  2.*  edição. 

11.— Mollusques  marins  des  lies  Açores,  1859,  4.* 

1  homWei.—Diclionnaire  Unitersel  d'histoire  et  ytfograpAíe.^Supplemento,  ptg.  40. 

2  Yapereau  —  Dictionnaire  des  Contemporains,  pag.  592. 


318  DU 

III.—  Cleopteres  Açoreens,  1859,  4.* 
IV.—Elérnents  de  la  Faune  Açoreense,  1860,  4.« 

V.  ■—  Lettres  Açoreenes.  Poitiers,  1862. 

VI.  —  CatcUoçue  de  la  Flore  des  iles  Açores,  procede  de  VUmeraire  d^tme 
voyage  dans  cet  archipel.  Paris,  1866. 

Foi  este  trabalho  publicado  primeiramente  nas  Memorias  de  la  Sodeté  Aca* 
demique  de  VAube. 

363)  DUBEUX  (LOUIS). 

Nascea  em  Lisboa,  de  pães  francezes,  em  2  de  setembro  de  1778,  e  falle- 
cea  em  Paris  a  4  de  outubro  de  1863.  Seu  pae  era  armador  de  navios.  A  sua 
primeira  educação  foi  inteiramente  portugueza,  e  então  é  que  elie  se  inidoa 
no  estudo  da  lingua  hebraica. 

Tendo  20  annos,  a  familía  passou  a  residir  em  Paris.  Continuou  alli  os  es- 
tudos orientaes,  que,  no  tempo  de  Luiz  Philippe,  lhe  deram  posse  da  cadeira 
de  turco  na  escola  de  linguas  vivas,  e  em  1858  asuccessão  provisória  de  Qua- 
tremère  na  cadeira  da  mesma  lingua  no  CoUegio  de  França.  Seus  trabalhos, 
dos  quaes  grande  parte  foi  publicada  no  Nouvean  Journal  Asialique  perten- 
cem á  litteratura  da  Ásia;  ligam-se  à  historia  e  á  geographia  pela  traduc^ 
da  Chronica  de  Tabari,  emprehendída  por  conta  da  sociedade  das  traducções 
de  Londres,  cuja  1.*  parte  apenas  saiu  a  lume  (Londres,  1836,  em  4.'')  e  por 
2  volumes  escriptos  para  o  UrUvers  Pittoresque  da  livraria  Didot,  a  Pérsia 
1840;  e  o  Afghanistan  (em  collaboração  com  Valmont),  1848.  ^ 

Annotou  a  traducção  que  dos  Lusíadas  fez  J.  B.  J.  Millié,  e  estampou  em  Pa- 
ris no  anno  de  1862,  de  que  foi  editor  Charpentier. 

364)  DUBLIN  (THE)  Univei^sity  Magasine. 

Em  o  n.*»  156  (vol.  26.°),  1845,  traz  uma  curiosa  viagem  feita  em  Portugal. 

tTanto  se  tem  dito  a  respeito  de  viajar  no  interior  de  Portugal  e  Hespanhá, 
que  poucas  pessoas  teem  desejos  de  emprehenderem  tão  aventurosas  jornada  s 
porém  um  conhecimento  mais  bem  fundado  da  condição  social  da  Peninsula 
prhicipalmente  de  Portugal,  dentro  em  pouco  dissipará  taes  receios,  ou  pelo 
menos  mostrará  que  são  excessivamente  exagerados. 

tQuaesquer  que  tenham  sido  os  perigos  de  viajar  em  Portugal  outr^ora, 
elles  actualmente  não  são  para  temer,  e  não  devem  assustar  o  mais  timido.» 

Noa  Carvalhos  teve  o  viajante  occasiào  para  notar  o  conforto  dos  portugue- 
zes  comparado  com  a  miséria  dos  homens  do  campo  irlandezes. 

Passou  por  Alcobaça  e  viu  que  a  descripção  Ja  cosinha  do  mosteiro,  feita 
por  Beckford,  não  ó  exagerada. 

Nada  mais  podia  fazer  que  admirar  o  bello  mosteiro  da  Batalha,  cujas  bel- 
lesas  archítectonicas  eram  o  seu  menor  encanto,  pois  considerava  aquelle  mo- 
numento como  pertencente  a  um  periodo  dos  mais  gloriosos  da  historia  por- 
tugueza. Lastima  os  estragos  feitos  pelos  francezes,  e  diz  que  as  atrocidades 

'  Yivicn  (ic  Sainl  Marlin.— Anncc  íiCovra/^/iJí/ue,  2  aiméc,  pag.  i;]l. 


DU  319 

de  Massena,  Loison  e  Kellennaon  estavam  poaco  em  harmonia  com  o  proce- 
dimento dos  oflSciaes  francezes,  pois  mna  tal  maneira  de  guerrear  só  era  pró- 
pria de  turcos  e  selvagens.  ^^ 

«Na  universidade  de  Coimbra,  quando  um  estrangeiro  entra  na  casa  da  au- 
la, é  recebido  com  a  usual  polidez  portugueza;  o  professor  pára,  comprimen- 
ta,  e  os  estudantes  levantam-se.  Ha  também  nos  portuguezes  um  outro  carac- 
terístico não  menos  amável.  Estão  alli  muitos  mancebos  de  Goa,  Brasil  e  co- 
lónias portuguezas,  cuja  côr  os  excluiria  das  aulas,  entre  os  democratas  dos 
Estados-Unidos,  amantes  da  egualdade,  mas  em  Coimbra  prevalece  o  senti- 
mento mais  christão;  nenhuma  pessoa  é  despresada  por  causa  da  côr  da  pelle, 
ou  pelo  crespo  do  cabello.  É  agradável  fallar  da  boa  ordem  e  respeito  que 
reina  durante  a  lição. 

«A  faculdade  de  direito  é  considerada  como  a  mais  importante  por  causa 
de  seu  grande  numero  de  estudantes.  Nas  disciplinas  ensinadas  inclue*se  câ- 
nones, direito  romano,  legislação  portugueza,  economia  politica,  medicina  le- 
gal etc,  de  maneira  que,  se  os  diversos  ramos  da  jurisprudência  fossem  bem 
ensinados,  os  lettrados  portuguezes  deveriam  ser  os  mais  instruídos  dos  juris- 
consultos europeus. 

«Esta  universidade  está  muito  superior  a  qualquer  universidade  hespa- 
nhola.  Mr.  Kinsey,  que  visitou  em  1826  o  museu  de  Coimbra,  queixa-se  da  im- 
perfeição da  collecção  geológica,  especialmente  dos  ossos  fosseis.  Porém  n*a- 
quelle  mesmo  período  é  que  o  estudo  estava  principiando  atomar-se  popular, 
e  talvez,  exceptuando  Londres  e  Paris,  em  nenhuma  outra  parte  se  poderiam 
encontrar  collecções  geológicas  importantes.» 

365)  DUBLIN  (THE)  UniversUy  Magazine,  n.»  160— February,  1847.— 
Historia  de  Portugal  do  sr.  A.  Herculano.^ 

«A  historia  de  Portugal,  se  inferior  em  lustre  à  de  Hespanha,  é  comtudo 
somente  a  segunda  no  que  toca  á  importância;  e  com  quanto  menos  poética, 
offerece  maior  matéria  de  interesse  ao  philosopho  que  pensar  n*ella.  Portugal, 
mais  que  nenhuma  outra  nação  da  Europa,  nos  espanta  pela  energia  do  seu 
povo,  e  pelo  contraste  entre  a  pequenez  e  fraquesa  de  seus  meios,  e  a  grande» 
sa  dos  resultados  e  feitos  que  obrou.  Os  descobrimentos  marítimos  do  illustre 
infante  D.  Henríque  formaram  a  escola  que  impelliu  Colombo  e  Magalhães  ás 
empresas  atrevidas,  que  executaram  em  serviço  de  Hespanha:  sendo  que  Por- 
tugal, por  consequência,  tem  parte  indirectamente  na  gloría  do  descobrimento 
do  novo  mundo,  bem  como  lhe  compete  a  honra  indisputável  de  haver  desco- 
berto o  caminho  da  índia,  abrindo  assim  á  navegação  e  commercio  da  Europa 
as  mais  ricas  regiões  do  Oriente.  Por  virtude  d'aquella  sua  maravilhosa  ener- 
gia achamos  que  em  pouco  menos  de  um  século  os  portuguezes  estabelece- 
ram o  seu  dominioiio  longo  das  costas  de  Africa,  desde  Ceuta  até  ás  costas 
do  mar  Vermelho.  Na  Ásia  estenderam  suas  conquistas  desde  o  Golfo  Pérsico- 
até  aos  varíos  empórios  da  índia  e  Ceilão,  e  d'ahi  até  Malaca  e  Cantão  e  ilhas- 

<  Revista  Universal  Lúòonenfe,  ?ol.  7.*,  pag.  173. 


3»  DU 

de  Ifalaco  no  mais  remoto  Oriente.  Dorante  este  glorioso  periodo,  seas  nave- 
gantes visitaram  o  Japão,  descobriram  as  ilhas  de  Loo-Choo,  eJiJoriram  o  ca- 
minho para  Austrália  e  archipelago  de  Tal)|ti.  N^aqaella  época  de  energia  e 
frenesi  de  empresas  e  navegações  não  se  deram  comtudo  por  satisfeitos  os 
portaguezes  com  o  senhorio  do  Oriente,  e  preciosidades  da  Ásia.  Fundaram  o 
império  do  Brasil,  e  sem  embargo  da  opposição  de  França  e  obstinados  esfor- 
ços em  contrario  dos  hoUandezes,  conseguiram  dominar  nas  mais  extensas  e 
férteis  regiões  da  America  do  Sul.  O  portuguez  patriota,  que  lamenta  a  deca- 
dência da  sua  pátria,  pôde  ainda  ao  menos  consolar-se  com  a  idéa  de  que  a 
lingua  de  Camões,  logo  depois  da  de  Milton,  haja  de  ser  a  mais  extensamente 
fallada  no  continente  americano.  Era  pois  com  vangloria  desculpável  que  os 
antigos  historiadores  portugueses  costumavam  dividir  as  suas  obras  pelas  qua- 
tro partes  do  mundo. 

«Além  da  grande  energia  que  os  portuguezes  desenvolveram  no  secolo  XVI 
cujas  vastas  consequências  deram  em  resultado  tomarem-seos  annaesâènm pe- 
quenino reino  um  importante  capitulo  da  historia  do  mundos  progresso  da ci vi- 
lisação,  ha  também  n'isto  uma!especie  de  interesâe  domestico  para  os  inglezes. 

«E  com  efTeito,  não  só  é  Portugal  o  nosso  mais  antigo  e  mais  seguro  al- 
liado,  mas  desde  a  fundação  da  sua  monarchía,  amigáveis  relações  teem  sub- 
sistido entre  os  dois  reinos.  Na  edade  media  os  cruzados  dos  Paízes  Baixos  e 
da  Inglaterra  ajudaram,  mais  de  uma  vez,  os  portuguezes  nas  suas  guerras 
com  os  mouros,  tendo  sido  com  similhante  auxilio  conquistada  Lisboa  aos 
serracenos.  O  primeiro  bispo  de  Lisboa  era  inglez,  e  alguns  séculos  mais  tar- 
de a  batalha  de  Aljubarrota,  que  estabeleceu  a  independência  do  reino,  (oi 
ganha  aos  hespanhoes  e  francezes  pelas  forças  alliadas  de  Inglaterra  e  Portu- 
gal. O  casamento  de  D.João  I  de  Portugal  com  D.  Filippa,  Olha  do  nosso  João 
de  Gaunt,  cimentou  a  amisado  dos  dois  paizes.  Quando  depois  de  sessenta  an- 
nos  de  oppressão  hespanhola,  Portugal  em  1640  recobrou  a  sua  independência, 
os  inglezes,  seus  alliados,  segunda  vez  o  ajudaram  n'aquelle  empenho,  e  fize- 
ram bom  serviço  nas  batalhas  do  Ameixial  e  Montes  Claros.  Foi  desde  aquella 
época  que  se  estabeleceu  intima  alliança  entre  Portugal  e  Inglaterra.  Carlos  II 
casou  com  uma  princesa  de  Portugal,  e  o  celebre  duque  de  Schomberg  com- 
mandou  os  inglezes  auxiliares,  a  cujos  esforços  se  attribue  principalmente  a 
derrota  dos  hespanhoes. 

«Não  obstante  o  interesse  da  historia  de  Portugal,  suas  antigas  relações 
com  a  Inglaterra,  o  facto  de  sermos  nós  seus  successores  no  império  do  Oriente, 
e  mais  que  tudo  o  ser  eila  um  campo  novo  e  inexhausto,  ó  notável  que  tenha 
sido  Ião  completamente  despresada  pelos  escriplores  inglezes.  A  excepção  de 
Soulhey  *  ninguém  mais  ousou  entrar  no  campo  da  historia  de  Portugal,  e 
Mickle  e  Adamson  são  os  únicos  escriplores  do  algum  tomo  na  quasi  ainda 
não  explorada  mina  da  litteratura  portugueza.  A  despeito  d*e$ta  incúria  ha 
bellissimos  themas  de  reserva  para  os  estudiosos  que  se  derem  a  historiar  as 
coisas  de  Portugal.  A  historia  do  engrandecimento  e  decadência  do  império 


*  Este  nosso  trabalho  prova  exactamente  o  contrario. 


DU  321 

portnguez  no  Oriente  não  pôde  deixar  de  interessar  o  leitor  inglez,  e  a  vida 
do  infante  D/Henriqae,  o  pae  da  navegação  moderna,  é  apenas  a  segunda  em 
pontos  de  interesse  depois  da  de  Colombo,  cujo  foi  precursor.  N'estes  interes- 
santes tópicos  e  matérias,  a  litteratura  do  continente  é  menos  estéril  do  que  a 
nossa,  e  difTerentes  locubrações  teem  apparecido  com  o  flm  de  dar  uma  histo- 
ria a  Portugal,  ou  de  illustrar  o  seu  estado  presente.  A  historia  de  Portugal 
em  allemào,  por  Schaefifer,  nào  a  vimos;  mas  emquanto  às  obras  francezas 
de  Balbi  e  Ferdinand  Denis,  merecem  que  d*ellas  demos  uma  breve  noticia. 
À  obra  de  Balbi  é  dedicada  quasi  exclusivamente  á  estatística  de  Portugal,  e 
pôde  dizer-se  que  é  uma  obra  indispensável  a  quem  desejar  ter  conhecimento 
do  estado  d*este  reino,  anterior  a  1834. 

«A  historia  de  Portugal  por  Mr.  Denis  é  uma  das  da  serie  de  obras  histo- 
cas,  que  vem  na  coUecçao  chamada  O  Universo.  O  anctor  mostra  conhecer 
muito  a  fundo  a  linguagem  e  litteratura  d*este  paiz,  easua  situação  comobi- 
bliothecario  tem-lhe  dado  a  vantagem  de  consultar  muitas  obras  novas  e  até 
inanuscríptos.  A  Mr.  Denis  falta-lhe  todavia  inteiramente  o  talento  da  historia, 
é  o  melhor,  que  podemos  dizer  da  sua  obra,  é  que  ella  é  uma  espécie  de  sele- 
cta de  escolar,  ou  livro  de  legares  communs,  contendo  mui  raras  e  curiosas 
informações.  Mas,  completamente  ignorante  dos  mais  simples  elementos  de  eco- 
nomia politica  ou  philosophia  da  historia,  não  achamos  n'elle  nenhumas  d'a- 
quellas  discussões  philqsophicas,  a  que  o  commercio  portuguez  da  Ásia  ou  a 
colonisaçao  do  Brasil  em  tanta  copia  dão  margem  a  quem  tiver  a  mínima  apti- 
dão para  estudos  especulativos.  Se  a  nossa  censura  podesse  parar  aqui,  dese= 
járamos  nSo  ter  dado  noticia  da  obra;  porém  F.  Denis  é  cúmplice  em  com- 
mum  com  muitos  de  seus  compatriotas  de  faltas  mais  graves— e  não  sô  de 
defeitos  intellectuaes,  senão  ^também  de  culpas  de  vontade.  A  anti-anglo^marda 
de  que  tanto  são  iscados  os  francezes  pôde  ordinariamente  ser  objecto  de 
compaixão  ou  despreso;  mas  quando  levada  até  para  o  campo  da  historia  da 
Europa  na  edade  media,  ou  adulterando  os  factos,  ou  sem  ter  conta  com  el- 
les,  e  isto  por  parte  de  um  escriptor,  que  aliás  conhece  a  fundo  a  verda- 
de, rasão  é  para  que  o  publico  se  acautele  de  dar  o  mais  pequeno  credito  á 
sua  obra.  Antes  porém  de  apresentar  prova  alguma  de  exacção  das  nossas  ob- 
servações, não  deixaremos  passar  por  alto  outra  falta,  que  é  commum  a  am- 
bos, Mr.  Denis  e  Mr.  Balbi,  a  que  immediatamente  alludiremos.— Falíamos  do 
espirito  com  que  ambas  as  obras  são  escriptas:  cada  uma  ó  ahí  pintada  e  co- 
lorida, como  se  existisse  em  Portugal  o  systema  do  optimismo,  e  como  se  não 
houvesse  um  meio  termo  entre  um  louvar  exagerado  e  um  censurar  desme- 
dido. Se  este  modo  de  escrever  procede  de  brandura  e  timidez  de  caracter, 
pôde-se  porventura  admittir  desculpa  da  nossa  parte,  mas  combinado  com  ob- 
servações malignas  e  narrativas  falsas  a  respeito  da  legislação^  não  faz  senão 
redobrar  o  nosso  desgosto. 

«Apontaremos  agora  alguns  exemplos  do  modo  como  escreve  a  historia. 
Em  1147  Lisboa  foi  reconquistada  com  a  ajuda  de  um  corpo  de  cruzados,  que 
visitaram  os  portos  de  Portugal  na  sua  jornada  para  a  Palestina.  Mr.  Denis 
cunta-nos  como  ainda  subsistem  algups  costumes  origínadoíi  d'aquella  época, 

TOMO  1  21 


322  DU 

que  atlestam  a  influencia  franceza  n'aquelle  remoto  período.  Ora  tal  coisa  não 
attcstam,  nem  podem  attestar,  porque  o  exercito  dos  cruzados  vinha  do  norte 
da  Allemauba,  Flandres  e  Inglaterra.  Diz  que  recordará  o  nome  dos  porta- 
guczes  que  se  distinguiram  no  cerco,  e  omitte  os  homens  que  estabeleceram  a 
influencia  franceza :  mas  ellcs  ainda  se  conservam  nos  antigos  archivos,  e  tem 
um  sabor  maravilhoso  ao  hollandez  e  ao  inglez.  No  fim  do  século  xiv  a  famí- 
lia real  portugueza  se  extinguiu,  seguindo-se  um  longo  período  de  discórdia 
similhante  ao  que  houve  enire  a  Inglaterra  e  a  Escócia  durante  o  reinado  de 
Duarte  I.  A  desavença  portugueza,  bem  como  a  escoceza,  findou  por  uma  vi- 
ctoria  decisiva.  Durante  a  contenda  os  portuguezes  foram  ajudados  por  expe- 
dições de  Inglaterra :  uma  d'estas  é  descripta  o  mais  miúda  e  prolixamente 
possível,  6  as  crueldades  do  exercito  capitaneado  pelo  duque  de  Cambridge, 
pintadas  com  cores  bastante  negras.  Poucos  annos  depois  deu-se  a  celebre  ba- 
talha de  Aljubarrota.  Os  invasores  hcspanhoes  foram  ajudados  por  um  pode- 
roso corpo  de  auxiliares  do  França,  e  do  oulro  lado  um  pequeno  exercito  in- 
glez dava  soccorro  aos  portuguezes.  Durante  este  combate  os  inglezes  derro- 
taram os  francezes^  e  depois  juntando-se  aos  portuguezes,  os  ajudaram  a  ven- 
cer os  hespanhoes.  Tudo  isto,  com  quanto  se  ache  na  obra  de  Froissart,  é  omi- 
tido pelo  nosso  historiador,  cujos  leitores  ficarão  ignorando  inteiramente  esta 
clrcumstancia  essencial  do  combate.  Federamos,  se  preciso  fosse,  alargar-nos 
sobre  este  objecto,  a  que  meramente  alludimos  como  prova  de  quo  pontos  e 
questões,  que  todos  os  homens  de  tino  reputam  meras  curiosidades  históri- 
cas, podem  ser  torcidas  por  aquelles  cujos  fervidos  sentimentos  levam  o  fana- 
tismo áiijQvcn  França  ale  ás  rccordaçòes  dos  tempos  feadaes.» 

«Passando  agoni  a  considerar  a  valiosa  obra  do  sr.  Herculano,  achamos  nas 
suas  pagi:ias  proíando  saber  unido  á  maior  candura,  uma  liberdade  de  lin- 
guagiMii,  e  não  sujeição  a  preeoneoilos  nacionaes,  que  o  elevam  á  categoria 
dos  mais  eminentes  historiadores  modernos.  Quando  reílectimos  que  é  somente 
ha  poucos  aimos  que  existo  em  Portugal  alguma  coisa  que  se  assimilhe  á  li- 
berdade do  faliar,  ou  do  escrever,  o  apparecimento  de  uma  obra  tal  como  a 
do  sr.  Herculano,  é  uma  prova  da  aptidão  dos  seus  compatriotas  para  tomar 
parle  uo  ijrogresso  litlerario  c  scientiíico  da  moderna  Europa,  e  que,  não  obs- 
tante a  tarefa  e  êxito  até  hoje  infeliz  das  suas  instituições  liberaes,  o  são  juiso 
e  as  opiriiues  illustradas  vão  fazendo  progressos.  Nas  honestas  paginas  do  sr. 
Herculano  não  ha  ver  adulação  servil  ás  preoccupações  nacionaes;  as  fabulas 
(honradas  pelo  tempo)  dos  annacs  portuguezes,  acham-se  expostas  com  seve- 
ríssima critica,  o  removidas  da  historia  auihentica  para  a  epopea  de  Camões, 
onde  tem  graça  e  logar  próprio.  Os  que  sabem  quanto  é  intensa  a  nacionali- 
dade dos  portuguezes,  e  com  que  tenacidade  adhcrem  a  lendas  tão  absurdas 
como  as  Cx  Heitor  Boecio,  ou  GeoíTrey  de  Monmouth,  melhor  poderão  apreciar 
a  coragem  com  que  o  historiador  dissipa  ou  faz  esvaecer  a  illusão  dos  contos 
de  fadas  da  antiga  Lusitânia.  Ha  outra,  e  não  menos  importante  espécie  de 
mérito,  que  pertence  ao  sr.  Herculano,  é  o  haver  elle  estudado  a  fundo  o  seu 
assumpto,  o  ter  intimo,  e  podemos  até  dizer  familiar  conhecimento  com  a  histo- 
ria portugueza,  durante  o  periodo  feudal  no  meio  de  um  vasto  cahos  de  sue- 


DU  383 

cessos,  composto  de  dissensões  intestinas  e  conspirações,  desavenças  com  Cas- 
tella  por  via  de  independência  nacional,  e  incessantes  guerras  de  aj?gres$ào 
contra  vários  régulos  e  dynaslias  mouriscas.  A  narrativa  é  ciara,  límpida  e 
corrente,  e  nós  vemol  os  e  sentimol-os,  como  se  o  auctor  fosse  contemporâ- 
neo, os  acontecimentos  que  relata.  Mas  nào  pára  aqui  o  elogio  devido  ao  his- 
toriador, elle  aponta  a  um  alvo  de  maior  utilidade,  e  o  systema  social  do  sca 
paiz,  no  decurso  da  edade  media  occupa  sua  altenção  principalmente,  mostra 
bem  que  conhece  a  natureza  da  instituição  municipal,  a  influencia  do  clero  e 
as  relações  em  que  a  aristocracia  se  achava  com  a  realeza  e  com  o  povo;  n'u- 
ma  palavra,  não  é  a  historia  dos  reis  de  Portugal,  que  elie  descreve,  mas  sim 
a  dos  progressos  da  naçào  portugueza.  Talvez  seja  a  historia  de  Escócia,  de 
Tytler,  aquella  com  que  a  obra  do  sr.  Herculano  tenha  mais  pontos  de  simi- 
Ihança,  tanto  pelo  que  respeita  ao  plano  e  extensa  escala  em  que  sào  conce- 
bidos, como  pelo  que  pertence  ao  numero  de  investigações  oríginaes  a  que  em 
ambas  se  procede.  Ha  todavia  uma  diíTerença  e  individualidade  de  caraeteres 
e  gostos  que  distingue  os  dois  historiadores.  Herculano  é  inferior  a  Tytier  nas 
descripções,  e  mostra  gostar  bem  pouco  do  estylo  de  Froissart  no  tocante  a 
historiar  por  miúdo  os  brilhantes  feitos  d'armas;  mas  por  outro  lado  é  mais 
profundo  antiquário,  e  tem  mais  philosophia  politica,  a  structura  da  sociedade 
e  as  renootas  causas  dos  eventos  e  successos  sào  para  elle  assumptos  caseiros, 
com  que,  por  assim  dizer,  está  em  tracto  familiar.  Criticar  o  estylo  d'um  es- 
criptor  portuguez  será  porventura  em  nós  presumpçào  arriscada ;  todavia  en- 
tendemos que,  com  quanto  simples  e  claro,  parece  ás  vezes  falto  de  animação, 
o  que  certamente  ó  devido  a  entrar  em  mais  miudesas  do  que  parece  fora  mis- 
ter :  ou  por  outra,  a  que  parte  da  matéria  introduzida  no  texto  poderia  talvez 
com  vantagem  da  narrativa  ser  transferida  para  as  notas. 

«Como  nós  reputamos  o  sr.  Herculano  inquestionavelmente  o  primeiro  dos 
historiadores  portuguezes,  não  esquecendo  nunca  do  que  é  inferior  a  Barros 
em  energia  e  eloquência,  e  até  talvez  lhe  não  seja  superior  em  profundidade 
de  saber,  seremos  brevíssimos  nas  nossas  observações  a  respeito  dos  escrip- 
tores  antecedentes.  Durante  o  período  que  abrangtf  a  edade  media  em  Portu- 
gal abundou  em  monges,  hagiologos  e  chrouistas  que  recordavam  muitos  ex- 
cessos contemporâneos,  e  por  vezes  deixaram  brilhantes  pinturas  do  caracter 
dos  personagens,  ou  do  estado  social  da  época.  No  curto  período  em  que  as 
lettras  floresceram  em  Portugal,  mais  extensas  historias  se  escreveram,  que 
podem  dividír-se  em  duas  classes,  umas  compostas  segundo  o  ipodelo  dos 
clássicos,  e  outras  que  bem  podem  chamar-se  uma  ramihcaç^o,  e  as  mais  das 
vezes  corrupção  das  cbromcas  antigas. 

«Ora  na  ultima  sorte  de  compiladores,  a  maior  parte  ecciesiasticos,  po- 
demos mencionar  Brito,  com  quanto  não  seja  o  mais  respeitável,  pois  que  apre- 
senta da  maneira  mais  frisanle  os  defeitos  e  absurdos  dos  da  sua  classe.  Á  si- 
milhança  de  Heitor  Boecio  e  do  nosso  GeoíTrey  Keating,  principia  pela  crea- 
ção  do  mundo.  Entretanto  os  annaes  do  reino  acham-se  escriptos  por  Fa- 
ria,.Sousa  e  Brandão,  homens  que,  supposto  bastante  crédulos,  eram  com  tudo 
mui  superiores  a  fr.  Bernardo  de  Brito. 


314  DU 

c  Ao  tempo  em  que  eetei  escreverami  ÈWt^n  ahi  oatra  dasse  de  histtNrií- 
dores»  homem»  de  eiuraeter  enérgico,  qoe  batendo  recebido  em  Coimlffi  edoe»- 
çio  ciassiea,  entnram  pan  a  vida  publica»  Já  no  mister  da  milida,  Já  no 
da  magislratora.  Estes  eseriptores»  homens  experimentados,  e  de  Joiso  solido, 
por  terem  servido  nas  armadas  e  estabelecimentos  portogaezes  da  Africa  a 
dá  índia,  tinham,  alóm  do  qoe  i4)renderam  e  estudaram,  qnanto  á  theoria, 
um  conhecimento  intimo  das  coisas  e  dos  logares.  No  nmnero  d'e8tes  aneto- 
res  podemos  nós  incloir  JoSo  de  Barros,  o  mais  eloquente  dos  historiadores 
portngnezesy  e  qne  servia  em  Africa;  Castanheda,  que  visitou  a  índia  com  o 
fim  de  habilitar-se  para  o  miatw  de  historiador,  etc  etc 

•A  decadência  de  Portugal  foi  mais  rápida  que  a  de  Hespanha.  No  anno 
de  1588  a  sua  dynastia  real  extinguiu-se,  e  dle  definhou  por  sessenta  annos 
debaixo  do  mau  governo  hespanhoL  A  litteratura  também  Jaxeu  em  abati* 
mento,  e  todos  os  estabelecimentos  de  educação  no  reino  ficaram  prostrados 
debaixo  do  govâmo  e  influencia  dos  Jesuítas.  A  universidade  de  Coimbra  vio» 
se  redmida  a  um  estado  de  degradação  que  mal  pôde  imaginar*se;  e  uma 
das  acQ9es  melhores  e  mais  louváveis  do  marquez  de  Pombal  foi  a  reforaUt 
que  lhe  fet,  e  o  transferir  para  mãos  mais  dignas  o  cuidado  da  educaçiOi 
Quanto,  porém,  de  independência  intellectnal  poude  escapar  aos  Jesuítas  de 
Coimbra,  foi  effectivamente  encadeado  e  reduzido  ao  silencio  pela  tnqulst^: 
de  modo  que  de  então  até  aos  nossos  dias  difflcultosamente  houve  homem  de 
lettras,  que  mais  ou  menos  não  sofljresse  por  via  de  tão  detestável  instituto. 
Em  taes  circumstanclas  mal  poderia  florecer  o  estudo  da  historia;  e  afaida 
que  Portugal  reconquistou  a  independência  politica  sob  a  dynastia  deBragan- 
ça,  não  aconteceu  o  mesmo  com  a  inteliectual,  que  continuou  a  jazer  em  le- 
thargo. 

«Durante  os  últimos  doze  annos  e  que  alguma  coisa  parecida  com  o  livre 
exercido  do  entendimento  ha  revivido  em  Portugal.  Apraz-nos  reconhecer  que 
desde  o  indicado  periodo  as  lucubraçõe^  históricas  tem  excitado  progressiva* 
mente  a  attenção,  contribuindo  muito  para  isso,  e  do  modo  mais  efflcaz,  tanto 
os  esforços  particulares,  como  o  patriotismo  do  governo.  O  visconde  de  San- 
tarém com  auxilio  do  governo  tem  feito  publicações  de  grande  monta.  Publi- 
cou a  Chronica  de  Azurara,  a  mais  antiga  e  mais  authentica  relação  das  ex- 
pedições marítimas,  que  o  infante  D.  Henrique  despachou,  enviando-as  a  ex- 
plorar a  costa  d'Arrica.  O  visconde  publicou  também  uma  explendida  e  inapre- 
ciável obra  original  sobre  os  descobrimentos  portuguezes  na  Africa,  em  que 
se  vindicam  as  antigas  glorias  do  paiz,  e  se  prova  que  ainda  ha  n'elie  talentos 
actualmente  capazes  de  o  defender.  Este  infatigável  fidalgo  emprehendeu  ul- 
timamente, também  sob  os  auspícios  do  governo,  publicar  uma  volumosa  e 
inapreciável  compilação  com  o  titulo  de  Quadro  elementar,  etc,  collecção  de 
vários  tratados  entre  Portugal  e  as  outras  nações.  A  valia  de  uma  tal  collec- 
ção ó  evidente,  e  a  forma,  porque  ó  publicada,  merece  também  grande  louvor. 
O  governo  inglez  publicaria  uma  obra  d*esta  natureza  no  formato  de  explen- 
dido  o  custoso  in-folio  só  próprio  de  livrarias  publicas  c  collccções  particula- 
res dos  que  raramente  as  consultam.  As  coUecçòos  porluguczas  porem  são  fei- 


DU  325 

tas  no  modesto  formato  de  oitavo,  c  por  consequência  ao  alcance,  em  rasúo 
do  módico  preço,  dos  estudiosos  mais  pobres.  Com  o  mesmo  espirito  liberal  e 
judicioso  o  governo  portugucz  tem  auxiliado  a  publicação  de  uma  serie  de 
opúsculos  intitulados  Ensaios  sobre  a  Estatística  das  possessões  porttiguezas 
no  Ultramar.  É  na  verdade  lisonjeiro  e  agradável  mencionar  empresas  taes 
como  estas.» 

366)  DUBOIS  (ABBÊ)  Emigrado  francez,  empregado  no  ministério 
da  guerra. 

E.—Grammaire  Portuguaise,  Paris.— A  primeira  edição  foi  impressa  em 
Âgen,  mas  d'ella  ainda  não  encontrei  nenhum  exemplar. 

367)  DUBOIS  (PIERRE). 

Escreveu  no  jornal  francez— La  Pa/n>— n.»  25,  de  abril  de  l852  um  ex- 
tenso artigo  acerca  áo— Ensaio  sobre  a  Historia  da  Cosmographia  e  da  Car- 
tograpkia  durante  a  edade  media— -pelo  nosso  visconde  de  Santarém. 

«O  sabío  auctor  do  Ensaio  sobre  a  Cosmographia  e  Cartographia  tomou 
sobre  si  uma  tarefa  das  mais  árduas;  porém  superou  mui  felizmente  todas  as 
dífQculdades,  e  nisso  deu  prova  nâo  somente  da  sua  erudição,  mas  também  da 
sua  profunda  sollicitude  por  uma  sciencia,  que  no  dizer  de  Strabão  é  das  mais 
dignas  das  meditações  do  philosopbo. 

« Julgar-se-ha  da  vastidão  dos  trabalhos  do  visconde  de  Santarém,  sabendo-so 
que  este  sábio  membro  do  Instituto,  antes  de  poder  traçar  o  plano  da  sua  obra, 
devia  ter  conhecimento  dos  livros  d*uma  multidão  de  auctores,  verdadeira- 
mente prodigiosa,  que  desde  Moysés  até  à  nossa  época  escreveram  sobre  a  geo- 
graphia,  a  cosmographia,  e  cartographia.  CoUigiu  todas  as  cartas  que  reputou 
necessárias  para  a  sua  historia;  fel-as  gravar  e  cobrir  com  extremo  cuidado, 
e  formou  d'ellas  um  atlas  de  inapreciável  importância.  N^esse  atlas,  o  auxilia- 
do pelo  texto  que  o  acompanha,  poderá  o  leitor  perceber  todas  as  transforma- 
ções geológicas,  que  successivamente  soiTreram  as  differentes  regiões  do  glo- 
bo desde  os  tempos  mais  remotos  até  nossos  dias.  Yer-se-ha  até  que  época  as 
cidades  e  localidades  se  conservaram  nas  cartas  em  logares  que  lhes  não  per- 
tenciam; e  também  a  época  posterior  em  que  essas  cidade^  e  localidades,  em 
virtude  de  viagens,  de  observações  astronómicas  etc.  foram  coUocadas  exacta- 
mente nos  mappas  modernos. 

«Finalmente,  c  é  este  um  ponto  bem  importante  para  a  historia  o  geogra- 
phia,  consultando  o  livro  e  o  atlas  do  visconde  de  Santarém,  poderá  marcar-se 
com  certeza  as  cidades,  que  desappareceram  da  superGcie  do  globo,  cedendo 
o  campo  a  cidades  novas,  conhecer- so-hão  as  vicissitudes,  que  padeceram  no 
correr  dos  séculos  outras  cidades  grandes  e  florescentes  n*outras  eras,  e  que 
não  se  encontram  já  nos  mappas  modernos,  ou  estão  convertidas  em  aldeias 
sem  consideração;  também  as  causas  humanas  ou  physicas,  que  anniquilaram 
certas  povoações  marítimas  out'rora  commerciantes  e  ricas;  e  a  rasão,  porque 
outras  sendo  na  edade  media  portos  de  mar  insignificantes,  progressivamente 
se  engrandeceram,  e  se  fizeram  cidades  marítimas  de  primeira  ordem. 


m  .  ^        DU 

.    «PorUBto\>vi8coiiâedeSaiitarempi^Umiun8erf^«toii^^ 

pbli;  e  o  sen  ensaio  histórico  durará  eonlo  uma  da$  naia  «Boottealea 

/Bciaiitificas  da  época.  Nlo  se  rcprodozirio  aa  cartas  do  sg»  a^il»  ii>iit  wfi 

airiudo  o  preço  da  gravara;  mas  de  certo  as  pnmorosa8*paj^8ai;iVMt«iar0iOK 

aerSo  reproduzidas  frequentem^te.  Os  fataros  geograpiíos  tomáiio  dMo  !(• 

tro  mai  interessantes  docamentos.  Os  commentadores  proconnrao  lalrci  ima- 

lidar  algomas  asserções  do  auctor;  seiio  porem  baldados  os  estereia  semeabr- 

,'90É.& visconde  com  a  sua  elevada  e  severa  imp»tialidade,«daraadeo.cabQa 

qae  reinava  na  cartographia  da  edade  media,  só  boscoa  a  verdado^dim  i 

noom  independência.  Além  d'isto  pelas  citações  dos  geograpbos,  4oa  iUtoo- 

phos»  dos  historiadores»  dos  poetas  que  escreveram  sobre  geograpiíia»  f«pii|ir 

sindo  o  texto  é  qae  demonstrou  os  erros  d'elles  e  provou  sua  iguorancbu 

•O  visconde  ainda  nao  publicou  senão  os  dois  primetas  votumea 
obra»  que  deve  constar  de  quatro.  Aeildiremos  adiur  conta  doa  doia  fOilSd- 
iam»  logo  que  estejam  publicados,  porquo  desde  Já  estamoe  certos  dn  ante 
n'elles  íáctos  interessantíssimos  relativos  á  historia  e  4  edencin  geogralMca»» 

368}  DUOKETT  (Da.  RicBARn.)— Missionário  irlandos^  realdanin  no  aa- 
sninario  inglês  de  S.  Pedro  e  S.  Paulo  em  Lisboa. 

Prega  frequentemente  na  capital  em  nossa  lingoa»  e  com  fidKdade^  e|i'ail5 
mesmo  idioma  compôs  e  mandou  imprimir  um  SermSo  itíbtn  o  MyilMio  da 
iGcooeiçlo. 

369)  DUFOND  (JOÃO  ROBERTO).— Italiano. 

E.  —  I  il  Maquina  Aerostattca:  Poema  épico  dedicado  a  si  mesmo.  Lisboa. 
Officina  de  Lino  da  Silva  Godinho,  1787,  S/*  52  pag. 

II  O  Novo  Phebo  em  Lysta.  Lisboa.  Na  Offlcina  de  António  Rodrigues  Ga- 
lhardo, 1788,  4.0  13  pag. 

III  D.  Elvira  ou  a  noiva  de  st  mesma.  Comedia  extrahida  das  historias  de 
Aragão,  e  adaptada  ao  theatro  nacionai.  Lisboa,  1800. 

IV  Os  voluntários  do  Tejo:  composição  dramática  composta  em  as  duas 
línguas,  portugueza  e  italiana.  Lisboa.  Offlcina  de  Simão  Tbadeu  Ferreira»  1783 
8.*  71  pag. 

370)  DUJARDAY  (M."«  H.) 

E.  —  Resume  des  voyages,  découvertes  et  conquétes  des  Portugais  en  Âfri- 
quêf  et  en  Asie  aux  XF"*  et  XF/"«  siecles,  par  — Paris.  H.  Foumier  Jeune, 
1839,  tom.  1.»  400  pag.  2.°  321,  8.» 

37  i)  DULAO  (ANTÓNIO  MAXIMIANO).— Era  francci,  e  naturalisoo- 
se  portuguez  em  Í79J  K 

Falleceu  em  Lisboa  a  5  de  janeiro  de  1819^. 

*  Diccionario  Bibliographico,  ibmo.  l.«,  pag.  20S. 
2  Retista  Universal  Lisbonense^  vol .  9.»,  pag.  1S5. 


e 


DU  3Í7 

£screvea  varias  obras  em  líogua  portugueza,  mas  a  segaínte  é  a  mais  no- 
tável, e  ao  mesmo  tempo  muito  vulgar. 

Vozes  dos  le<ies  Portuguezes,  ou  fiel  ecco  de  suas  acclamações  á  Religião, 
a  El-Rei  e  ás  Cortes  doestes  reinos,  Lisboa,  1820,  2  tomos. 

372)  DUMAND  (JOSEPH.) 

E.  —  Lettre  historique  et  critique  dam  laquelle  on  prouve  que  Henri  de 
Portugal  rCest  pas  de  la  maison  de  Bourgogne  duche,  mais  de  celle  des  con- 
tes de  Bourgogne,  1758. 

373)  DUMAS  (ALEXANDRE).— Um  dos  mais  celebres  romancistas 
francezes  contemporâneos,  e  ha  poucos  annos  fallecido. 

E.  —  Martim  de  Freitas,  romance. 

Alexandre  Dumas  era  também  um  grande  admirador  de  Luiz  de  Gamões. 

374)  DUMAS  (LOUIS  CÉSAR).— Professeur  de  Langue  Française  à 
Lisbonne. 

E.— Vasco  da  Gama,  Lisbonne.  Imprim.  Nationale,  1871,  8.*'  35  pag. 
E'  um  poemeto  em  louvor  do  nosso  famoso  navegador. 

375)  DUMESNIL  (M.  M.  VICTOR  PIERROT  ET  ARMAND). 

E.  —  Camoens.  Drame  en  cinq  actes  et  en  prose  par  —  represente  pour 
la  premiére  fois  à  Paris  sur  le  théatre  royal  de  rOdeon  (Second  theatre  Fran* 
cais)  le  29  AvrU  18i5.  Paris,  Beek  edileur,  1845. 

376)  DUMOURIEZ  (CHARLES  FRANÇOIS).— General  Francez. 

Nasceu  em  Gambrai  no  anno  de  1739,  e  falleceu  em  Turville  Pare  no  anno 

de  18231. 

E.  —  I  État  present  du  royaume  de  Portugal  en  Vannée  1766  A,  Lausanne 

Chez  François  Grasset,  1775,  2.*  edição  correcta  e  augmentada,  Hamburgo, 

1796,  4.'» 

II  Campagnes  du  marechal  Schomberçf  en  Portugal,  de  1662  á  1668,  tra- 
duites  de  rAllemand  de  /.  F.  Aug.  Hagner,  avec  des  notes  importantes.  Lon- 
dres, 1807,  12.° 

Este  escríptor  não  se  mostra  nada  aíTeiçoado  aos  portuguezes;  mas  uma  das 
passagens,  que  mais  desafia  a  gargalhada,  é  a  seguinte:  Os  portuguezes  em  to- 
dos os  tempos  foram  péssimos  navegadores!  ^ 

377)  DUNBAR(Lady  — OF  NORTHEIELD.) 

E.  —  A  family  tour  round  the  coasts  of  Spain  and  Portugal  during  the 

winter  of  1860-1861.  Edinburgh  and  London,  William  Blackwood,  1862,  8.« 

E'  obra  insignificante;  chama  ao  nosso  Vasco  da  Gama— Fo^ca  de  Gamos. 

*  Firmin  Didol  —  Nouvelle  Biographie  Universelle,  vol.  15.»,  pag.  223. 
'  Elat  présenl  de  Portugal^  pag.  60. 


3J8  DU.  , 

378}    DUiraAM. 

E.^The Histary  of  Spain  and  PortugaL  Londoo. 

379)    DUNKSB  (0.) 

E.  — Jfiiea?  moUusconim  9111M  m  Umere  ad  Guineam  mferiorem  coUegii  Q. 
Tams,  auctore.  Cassei,  1883. 

'  «Em  quanto  á  zooio£[ía  dos  Açores,  niugoeiti  ainda  se  o6capoad'eiIa  aaio 
81^  o  dr.  Tams,  qoe  toeoa  aeeidentalmenie  no  Fayai  em  |8U,  e  o  dr«  AIbm# 
(joe  ao  voltar  da  Madeira,  dez  annos  mais  tarde  fez  uma  re^denela  de  três  di^ 
em  S.  Migaell  Estes  dois  naturalistas  trooxeram  de  soa  viagem  nm  peqoeoo 
nnmero  de  moUoscos  terrestres  e  marítimos,  oe  primeiros  qoe  lònpi  reeolhi- 
dos  d*aqtieUas  paragens  1. » 

m)    DUAB7X0NT.  ', 

Ú.^Fw3ifa  vUlaco.  Cetí  à  dire  la  Uberti  áU  Portugk.  Auquel  êemtmkt 
kdroU  ehen^  et  prai$  moffeng  de  riiitíer  à  Velfart  lin  CàstíUoii,  tno^fftlft 
tfme  de  ses  desseins,  abaisser  san  orgueU  et  rvmer  lapuissmuse.^  Tfoétíi^ 
lanffiie  (kift^aiiiteen  langue  Françme  par  ^.  iUi.  1 

C*  M*  B*  L  P.      ,  * 


a 


*  % 


*  Mordei—  Lcs  Açores^  pag.  14. 


E 


38i)    EBELING. 

£'  indubitável  qne  am  escriptor  d*e8te  nome  compoz  ama  obra  a  respeito 
de  Portugal,  qae  julgo  ser  uma  cborographia  do  nosso  paiz,  mas  como  nunca 
pude  ver  um  exemplar  d'ella,  é  o  motivo,  porque  nâo  me  acho  habilitado  para 
dizer  mais  alguma  coisa  a  este  respeito. 

382)  EEN  SOHOON  HARANGUE  AEN  DE  KONINOKLIOHE 
MAJESTEYT  PORTUGAEL  DOM  ALPHONSO  DEN  VI.  Op  Dagh 
van  Krooninge  geprononchieert,  door  den  Peer  António  de  Sousa  Macedo,  haet 
in't  Parlement  van  Lisbona,  in  den  naem  vande  drie  Slaten  des  Portugael, 
Schen  Rijchx.  UlyVt  Porrugees  vertaelL  In  s'Graven,  Hage.  1657,  4  foi.  M.  S. 

383)  ELIOT  (WILUAM  GRANVILLE).  -  Gaptain  ín  the  royal  regi- 
ment  of  artillery. 

E.— i4  ireatue  on  the  defense  of  Portugal  with  a  milUary  map  ofthe  coun- 
try;  totchich  is  added  a  sketch  of  the  manners  and  customs  of  the  inhabitants, 
and  principal  events  of  the  campaigns  under  lord  Wellington,  By—,  The  second 
edition^  with  considerable  additions,  London.  Prínted  for  T.  Egerton,  military  li' 
òrary. Whitheall,  i8ii.  4.<*,  304  pag.  Com  alguns  mappas,  representando: 

i.<*  Novo  mappa  militar  do  reino  de  Portugal.— 2.<>  Esboço  do  ataque  con- 
tra as  posições  francezas  em  Zambueira,  nas  alturas  da  Roliça.— 3.'*  Esboço 
da  acção  entre  as  forças  britânicas  e  francezas  no  Vimeiro.— 4.<*  Plano  gerai 
das  marchas  dos  exércitos,  antes  e  depois^ da  batalha  de  Talavera,  1809.— 
S.^"  Plano  da  batalha  do  Bussaco  a  27  de  setembro  de  1810.— 6.<*  Vista  dos  ar- 
rabaldes de  Lisboa,  com  as  Unhas  de  lord  Wellington. 

Esta  obra  trata  principalmente  dos  obstáculos  e  defesa  que  Portugal  podia 
n'aquelle  tempo  apresentar  contra  uma  invasão  estrangeira :  nota  alguns  er- 
ros  ao  general  Dumouriez  no  seu  livro  sobre  o  nosso  paíz,  e  faz  egualmente 
os  maiores  elogios  às  tropas  portuguezas : 

«O  exercito  português,  depois  da  chegada  do  marechal  Beresford,  avan- 


330  BIM 

çou  rapidamente  ^  a  om  estado  de  disciplina  moitê  além  do  que  se  poderia 
esperar.  Bem  armado,  pago  e  alimentado  (o  qae  não  acontecia  anteriormen- 
te) agora  rivalisa  na  apparencia  com  as  melhores  tropas  do  continente;  e  se 
en  posso  julgar  por  uma  brigada  que  vi  marchar  para  om  campo  de  batalha 
em  setembro  de  1809,  não  tardará  qae  em  pontos  de  disciplina  se  coUoqao 
em  egnaldade  com  a  maior  parte  d'ellas.  £  estas  mesmas  tropas  se  mostra- 
ram dignas  de  combater  nas  fileiras  Juntamente  com  os  soldados  inglezes. 

•Os  camponeses  de  Portugal  possuem  doas  das  mais  estimáveis  qualida- 
de exigidas  para  formarem  nm  bom  soldado,  sobriedade  e  obediência  passiva 
ás  ordens  de  seus  superiores ;  e  as  oeoorrencias  posteriores  são  saí&cieDies 
para  removerem  todas  as  duvidas  nos  espirites  dos  mais  incrédulos  com  res- 
peito á  bravura  do  soldado  portuguez,  quando  convenientemente  disciplinado. 
Em  prova  disto  basta* nos  apenas  referir  a  valente  defesa  da  ponte  de  Alcân- 
tara pelo  primeiro  batalhão  da  Leal  Lusitana  Legião,  as  proezas  do  segando 
batalhão  d'aquelle  corpo  em  Carvalho  d'Este,  e  a  magnifica  maneira  como 
lord  Wellington  em  seus  despachos  menciona  um  regimento  portugoei  na  to- 
mada do  Porto.  Se  precisássemos  de  mais  alguma  prova  daenei^a  do  soldado 
portuguez,  quando  disciplinado  convenientemente,  bastava-nos  olhar  para  o 
mappa  da  Península,  >  e  ficaríamos  absortos  como  um  povo  tão  pequeno  teve  a 
possibilidade  de  manter  sua  independência,  estando  completamente  fechado 
pela  Hespanha  ao  norte  e  ao  nascente. 

•A  que  se  deve  então  attríboir  senão  ao  valor  próprio  do  pais  e  ao  pa- 
triótico ardor  de  seus  habitantes?  Sem  este  ultimo  nenhum  paiz  é  forte,  por 
mais  bem  disciplinado  que  seja  seu  exercito.  Rios,  desfiladeiros,  serras,  ba* 
luartes,  todo  isto  para  nada  serve :  defendidos  porém  por  verdadeiros  patrio- 
tas tomam-se  completamente  inexpugnáveis.» 

384)  ELOI  (JOSEPH).— Barão  de  Munch  Bellingausen. 
E.  —  Camões,  tragedia.  1837. 

385)  ELWES  (ALFRED). 

E.— i4.  Portugtiese  Grammar  in  a  simple  andpracticcU  form,  wUh  a  Ccur- 
se  of  Exercises.  By  •—.  Louáoiiy  1874. 

386)  EMPOLI  (GIOVANNI). 

E.—  Navigazione  degli  Indie  sotto  la  autorita  dei  signori  Affonso  di  ÂlbU' 
qtierque.  Vem  na  coliecção  de  Ramusío. 

387)  EMPRUNT  ROYAL  PE  PORTUGAL.  Réclamation  des  porteurs 

«  Pag.  110. 

*  fd.  id.  pag.  113.  Paliando  o  nosso  escriptor  do  Iheitro  de  S.  Carlos,  diz  que  é  dirí- 
gido  por  Marcos  de  Portugal,  compositor  da  bella  opera  SemyramiSf  bem  conhecido  na 
Inglaterra,  e  cajos  tolenlos  sOo  bem  notórios  e  altamente  apreoiados.  Pag.  185. 


ER  331 

(rançais  de  cet  emprunt.  Mémorandum  (iOjuillet  i852).  Pârís  1852.  (Emprés- 
timo real  de  Portugal,  etc.) 

388)  ENQELMAN  (W.  H.). 

E.—  Glossário  das  palavras  hespanfiolas  e  portuguezas  derivadas  do  ara- 
be.  Leyde,  i86i. 

Não  me  foi  possível  encontrar  esta  obra,  mas  creio  qae  foi  escripta  em  al- 
lemão. 

389)  EPISODE  DE  LA.  GUERRE  D'AFFRA.NGHISSEMENT  DE 
PORTUGAL.  1830-1836.  Paris,  1873,  4.°  gr.,  47  pag. 

Achando-se  na  Bélgica,  e  em  o  Norte  de  França,  am  grande  numero  de 
emigrados  portuguezes  fugidos  à  perseguição,  que  Ibes  fazia*  D.  Miguel,  M.  6. 
Halo,  habitante  de  Dunkerque  oíTereceu-se  em  1831  a  transportar  n*um  na- 
vio de  200  toneladas  os  emigrados  portuguezes  para  o  seu  paiz,  com  o  fim  de 
tratarem  de  desthronar  D.  Miguel.  Porém  D.  Pedro  preparando  então  sua  ex- 
pedição para  Portugal,  Maio  forneceu  mais  outro  navio;  com  outro  seu  irmão 
tomou  parte  na  expedição,  poz-se  ao  serviço  do  governo  portuguez,  e  foi  de 
grande  proveito  á  causa  liberal,  prestando  os  maiores  serviços  durante  o  cerco 
do  Porto. 

Em  16  de  maio  de  1834,  pedindo  uma  indemnisação,  lembrava  o  seguinte: 
«Não  se  deve  esquecer  que  tomámos  parte  nos  perigos  durante  o  espaço  de 
um  annO)  que  dois  dos  nossos  navios  foram  empregados  no  Porto  activamente 
pelo  espaço  de  9  mezes,  tendo  então  duas  tripulações  inteiramente  ao  nosso 
soldo,  e  que  todas  as  despesas  sem  excepção  foram  pagas  por  nós :  além  de 
que  os  navios  foram  retidos  em  Dunkerque  por  mais  de  seis  mezes,  esperan- 
do todos  os  dias  que  nos  dessem  ordem  de  partida,  o  que  o  imperador  bem 
sabia,  e  até  nos  disse  que  estava  informado  de  que  havia  dezoito  mezes  está- 
vamos a  seu  serviço. . . » 

Os  dois  irmãos  estiveram  igualmente  servindo  durante  o  tempo  do  cerco, 
6  um  d'elles  até  recebeu  uma  bala  na  garganta,  da  qual  esteve  à  morte. 

A  recompensa  porém  que  lhes  deram  faz  lembrar  a  que  teve  o  conde  de 
Farrobo :  depois  de  os  entreterem  por  muito  tempo,  nenhuma  indemnisação 
pagamento  ou  agradecimento  tiveram  do  governo  portuguez. 

390)  EROILLA  (ALONZO  DE).— Poeta  hespanhol  celebre. 
Nasceu  em  Bermeu  na  Biscaia,  e  falleceu  no  anno  de  1600.  ^ 

E. —  Primera,  segunda  y  tercera  partes  de  la  Araucana^  Cadiz,  1626. 
Ha  varias  outras  edições. 

N^este  poema  canta  também  seu  auctor  as  glorias  de  Philippe  II  na  con- 
quista de  Portugal.  ^ 

*■  Booillet. —Dtchonnaire  d'HistQire  et  de  Geo^aphie, 

*  É  verdade  qae,  se  Alonio  n*am  só  legar  é  inferior  a  Homero,  em  todo  o  resto  Ica 
abaixo  do  menor  dos  poetas.  Ficámos.assombrados  de  o  vercabirtão  baixo  depois  de  ter 


■ife  -• 


>3»  M 

.  4M)  SBNAiniT.-- Este  frftiicez  iM^tendâa  ser  o  ati^  meâioddiè 
eBBiiiar  a  foliar  aos  modos  e  surdos.  Vejamos  porém  mi  interessante  artig», 
que  a  este  respeito  ^^^[Mtreee  a  pag.  i05  do  L*  yoI.  da  BmMa  Vmoenai  U§* 
kmense: 

•  ;  «Os  llraiieezes  con^deram  come  inTeator  do  methodo  de  «shar  «  fidlar 
os  snrdos-mados  o  abiiade  L'Epée.  Não  ó  para  admirar  que  a  Portui^  Êèftn-* 
loBàa  roubar  a  gloria  de  um  tal  infento/ quando  isso  Mie  tem  aeonfiMMo  já 
por  mais  de  uma  tos;  e  sirva  de  exemplo  o  nónio,  o  sinomergolhadory-oslin- 
lSes  aerostaticos,  etc.,  o  qae  ó  para  estranhar  6  qne  os  próprios  portngoeiss 
lliidem  a  rimilhante  roobo,  p(4s  em  ves  de  revindlearem  a  gloria  naflienl 
por  etíà  forma  oltrajadayixmtentam-se  emrepefr  «om  osflraneeies  qoe  oai^ 
kide  L^E^  f<^  o  invmitor,  qoando  realmente  o  veréaéMro  anctor  élaeifclli* 
dWgoes  Pereira,  natoral  de  Penielie,  qoe  liatendo  posto  por  obra  o  seaMdÉiM 
do  eín  Cadix,  Rochelle  e  Paris,  foi  premiado  e  elogiado  pela  AeideoUa  Ml 
das  Seloieias  doesta  ddadé,  e  reeeben  de  hnk  XV  em  i7líi  orna  pênsil  att^ 
naal  de  ÍVWOO  réis,  além  de  outras  honras,  eom  qoe  depois  M  ágíMMi^ 
O  sen  a^^idwto  manoal,  a  qoe  diamoa  dac^óia(^,  qoe  oooqKii  para  se  M* 
lar  aos  sordos-modos,  qoe  ainda  nao  intendiam  o  qoe  se  lhes  dfidá,  peia  rift"- 
1^  movimento  dos  lábios,  e  a  moi  engenhosa  nutchioa  qòè  iaventàft  pMiiÉ^ 
iítaiar  arithmetiea  a  seos  discípulos,  eram  matéria  bastante  para  lhe  grángiar 
oreeoDhedmento  de  todos  os  homens  philaiítropos;  porém  8iiceedeíai4hé  o 
mesmo  que  aeoBleee  à  mâkNr  parte  des  homens  de  mérito  e  inireMrei.  IH* 
qoanto  animado  pelos  desejos  éò  apwfeiçoar  soa  obra,  e  a  qoe  havfo  «ifriMa 
estimulado  pela  mencionada  academia  (que  tinha  reconhecido  jâ  a  bondade  do 
seu  metbodo  pelas  provas  publicas  quo  em  algumas  das  suas  sessões  haviam 
dado  vários  discipalos  do  nosso  Pereira)  trabalhava  no  melhoramento  doeste 
tão  engenhoso  methodo,  um  talErnault  quíz  arrogar  a  si  a  honra  de  auctor  de 
uma  Cão  preciosa  descoberta,  apresentando  á  mesma  Academia  um  opúsculo 
sobre  este  assumpto,  do  que  se  seguiu  grande  emulação  entre  os  dois  rivaes; 
mas  este  não  poude  gosar  as  honras  de  inventor^  porque  documentos  irrelira- 
gaveis  comprovam  a  prioridade  da  descoberta  do  nosso  português,  como  se 
pôde  ver  na  historia  da  Academia  Real  das  Sciencías  de  Paris,  annos  de  i740 

e  1750,  00  Journal  des  Savants,  dezembro  de  1777,  Biagraphie  Univer- 
selle  ancienne  et  modeme.  Paris,  1823;  BufTon  na  parte  das  suas  obras 

que  trata  da  historia  natural  do  homem,  etc.  Foi  d'ísto  que  o  abbade  de  L*E- 
pée  imaginou  os  signaes  methodicos  para  ensinar  os  surdos-mudos,  contra 
cujos  princípios  o  nosso  patrício  escreveu  uma  carta,  que  se  imprimiu  em  Pa- 
ris em  1777  na  folha  intitulada  Avis  divers  de  fl  e  26  de  julho. 

«A  pag.  32  do  tomo  20  da  Bistoire  Naturelle  genercUe  et  particuUère^  por 
Buffon,  (edição  de  Sonniní)  quando  aquelie  eximio  pintor  da  naturesa,  que 

tomado  um  tôo  Uo  alto.  Ha  sem  duvida  muito  fogo  em  suas  batalhas,  porém  nenhuma 
m? ençSo,  nenhum  plano,  nada  de  farledade  nas  descripções,  nada  de  unidade  em  a  nar- 
ração. Este  poema  é  mais  seWagem  do  que  as  nações  qtted'ello  fazem  o  assumpto.— Vol- 
taire. Eisai  tur  la  poesie  epique. 


ES  333 

tantos  encantos  sonbe  espalhar  no  estado  da  historia  natural,  falia  do  sentido 
do  ouvido,  por  occasiào  de  contar  a  historia  de  um  surdo-mudo  de  nascença, 
por  nome  Azy  d'Etavignyi  a  quem  o  nosso  Pereira  havia  ensinado  a  fallar, 
)er,  escrever  etc.  exprimese  assim  a  respeito  do  nosso  portuguez :  Rodrigues 
Pereira,  portuguez,  havendo  diligenciado  achar  meios  fáceis  de  fazer  fallar 
os  surdos  mudos  de  nascença,  tem-se  dado  de  ha  muito  ao  exercício  d'esta 
arte  singular,  a  ílm  de  a  levar  ao  máximo  grau  de  perfeição. 

tNa  historia  da  Academia  Real  das  Sciencias  de  Paris,  do  anno  de  1740,  a 
pag.  184,  tratando-se  das  machinas  e  invenções  approvadas  pela  Academia 
n'esse  anno,  depois  de  se  mencionarem  os  resultados  espantosos,  que  pelo  seu 
methodo  havia  Pereira  conseguido  em  dois  surdos-mudos  de  nascença,  que 
foram  apresentados  áquella  respeitável  corporação,  e  que  muitos  gabos  lhe 
mereceram,  remata-se  o  curto  artigo,  que  a  este  respeito  alli  vem,  com  o  se- 
gumte  trecho :  «Gomo  os  progressos  dos  discípulos  de  Pereira  demonstram  a 
bondade  do  seu  methodo  (cujo  segredo  elle  tem  reservado  para  si),  a  Acade- 
mia  julgou  do  seu  dever  animalo  com  todas  as  suas  forças  a  cultivar  uma 
arte,  que  pôde  restituir  á  sociedade  considerável  numero  de  individues,  que 
sem  o  seu  soccorro  lhe  serião  inúteis;  pois  d'algum  modo  os  tira,  por  uma  fe- 
liz metamorphose,  do  estado  de  simples  animaes  para  os  fazer  homens.» 

«Na  mesma  obra  do  anno  de  1750,  a  pag.  160,  se  encontra  uma  pequena 
noticia  sobre  a  machina  que  o  nosso  Pereira  inventou  para  ensinar  arithme- 
tica  aos  surdos-mudos,  e  que  ó  do  theor  seguinte :  Uma  machina  arithmetica 
de  Pereira,  já  conhecido  pelo  seu  methodo  de  ensinar  a  fallar  surdos-mudos 
de  nascença,  que  não  faliam  por  não  ouvirem.  Esta  machina  pareceu  reunir 
á  simplicidade  do  Abacorabdolegico  de  Perrault  a  facilidade  de  operar  das  de 
L'Epine  e  Boistissandeau,  e  ter  demais  sobre  uma  e  outra  a  vantagem  de  ser 
mui  pouco  volumosa.  Sobretudo  a  maneira  de  fazer  com  que  cada  roda  diu- 
rna divisão  se  adiante,  quando  a  precedente  tem  corrido  dez  das  suas,  pare- 
ceu simples  e  engenhosa,  e  julgou-se  que  esta  machina  poderia  ser  de  uso  fá- 
cil 6  commodo. 

392)  ESGALANTE  (Licenciado  BERNARDINO  DE). 

E.—  Discurso  de  la  navegacion  que  los  portugueses  hazen  a  los  reynos  y 
provindas  dei  Oriente,  y  delas  grandesas  dei  reyno  de  la  China  (ó  sea  au^ 
ter  Frey  Gaspar  de  la  Cruz,  religioso  português  de  la  orden  de  St.*"  Domn» 
gò.)  Sevilha,  1577. 

393)  ESGHWEGE  (GUILHERME,  Babío  de)  -  Allemão. 

Falleceu  em  o  l."*  do  mez  de  fevereiro  de  1855,  em  Welsfsanger,  no  elei- 
torado de  Esse.  ^  Estudou  mineralogia  na  Allemanha,  e  applicou-se  aos  tra- 
balhos doeste  género  nas  explorações  do  Hartz  no  Hanover.  Veiu  para  Portu- 
gal em  1805,  sendo  a  sua  primeira  praça  no  exercito  em  24  de  junho  de  1807, 

1  Revista  Militar,  lomo  S.%  abril  de  1853,  pag.  187.  O  barão  de  Eschwege  loí  um 
dos  fundadores  d'este  jornal.  Tíoha  nascido  no  anno  de  1788. 


3M  ES 

togo  en  eá|iMto»  e  afgr^gate  âtíoo^iMUiliiâ  deuil&A»  4oiirlilMtfoi«gkiÉiíi»** 
d»  artlllittriâ.  Dursnte  a  iovam  írmcmã,  áasBiai^htía  mtiutomaMSm^ 
qse  fdra  encarregado  pelo  goiranio  portngiun.  Foi  iuenniliido  darito  i8M  ia 
diree^  das  obras  do  palácio  da  Pena  em  Gtmra.  Era  sooio  da  Aeadettia  do 
&  Pacer^org  e  de  irarias  sociedades  mineralógicas  de  Fratiça  e  doAHeaMiMu 

E.--4.  ifeiNona  so6fv  a  dèoaiencia  dai  mktíu  de  oiro  da^pUmia  êg  Jftiii 
Oeroêãf  e  solMre  varíoi  miros  o{|;>i;tos  montontito»  (vol.  4.*  das  Jlsi^ 
ikodMè.  Parte  S.%  úe  pag.  65  a  76).  V 

JkNéUmi  e  r^ftesBèa  eikdisHotts  aresp^dapronineimdêMimÊBfkrQm 
(Memorias  da  Aeademia,Y<À.  9.S  parte  i.%  de  pag.  i  a  ST). 

IIL  Memoria  GeognoeUcot  om  fcUpede  vista  do  perfií  dasesiral^kaçSeeâuÊ 
difjiereniee  rochas  de  que  é  compoiío  ojíerreao  drn^  aSerra  dgCmêm^saM^ 
wka  de  Noroetíe  a  Sudoesíe  até  iÀsboa^aíravessaado0T$íoaU  á  Serra  da  áíft^ 
fohida^  e  sobre  a  soa  edade  rekdiva.  (Id.  voL  il»*,  parte  i.%  de  pãgé  S^  gir 
t80,  com  am  additam^ito  por  Alexandre  YaadellL) 

.  IV.  XaMoría  sobre  o  mMoramento  das  prooideadas  para  ofaíkatos  j»> 
eeadioSt  e  para  o  augmento  d^affoa  em  Usboa.  (Id.  toL  HI.%  paiie  iJ}^Q  Hê^ 
coada  de  YHIarinho  de  S.  Romão  eserevea  mnas  RâBesÕes  a  esta  Hemoiiayis 
qoaes  no  referido  volame  yeem  como  Appendice. 

V*  Jfemarta  Qeopiosíica.  Frosp&sto  geognostíco  dos  arredores  de  SeêabaL 
(Hssmo  volame). 

VL  ãíemoria  sobre  as  difpeuídades  das  fundiçôa  e  r^ínaçSes  aos  feMem 
de  ferro.  {Memorias  Económicas  da  A,  R.  das  Sdendas  de  IMoa^  tomo  4.*) 

VIL  Relatório  abreviado  sobre  o  estado  actual  da  administração  das  minas 
em  Portugal.  Lisboa,  1826. 

YUI.  Memoria  sobre  a  Historia  Moderna  da  administração  das  minas  em 
Portugal. 

IX.  AsphaltOj  particularmente  o  asphalto  artificial  portuguez :  reflexões 
dirigidas  aos  engenheiros  e  architectos, 

X.  Odologia  dos  engenheiros  constructores,  ou  guia  para  a  construcção  e 
conservação  das  estradas  em  Portugal  e  Brasil.  2.'  edição  com  additamen* 
tos.  Lisboa,  i843.  4.»,  53  pag. 

XI.  Portugal— EinStaats^und—Sittengemaelde  in  Skivren  und  Bildem 
nach  dreissyaehrígen,  Beobachtungen  und  Erfahrungen,  Hamburg,  1837.  Bei 
Heffman  und  Campe  3i2  pag,  8.<*  Erster  Theil  (Qaadros  estatistieo-moraes. 
Scenas.—  Bosquejos  extrahidos  das  observações  e  tracto  de  30  aonos.  Tomo  i."*) 

Esta  obra  nunca  se  completou. 

Trata  este  volume  dos  seguintes  assumptos :  Situação  moral  o  politica  de- 
pois da  queda  de  D.  Miguel.— Modo  de  alcançar  os  cargos  públicos. — Ratonei- 
ros,  salteadores,  barbaridades^  prisões. — Estabelecimentos  para  a  civilisaçao 
do  povo  e  educação  da  mocidade.  —  Administração  policial.  — Guerra  civil— 
Vida  do  príncipe  de  Leuchtenberg  em  Portugal  e  sua  morte. 

XII.  Sobre  os  poços  artezianos  (Panorama  de  4838,  de  pag.  393  a  396). 
XIIL  Caminhos  de  ferro.  Artigo  inserto  a  pag.  367  ádí  Revista  Universal 

UsboTiense  do  anno  de  1842. 


EX  335 

XIV.  Sitios  em  que  se  encontra  azouque  em  Pmiugal.  Remta  Universal 
lÀsbonense.  Anno  de  1843,  pag.  166. 

XV.  Sobre  estradas.  Id.  id.  pag.  358. 

XVI.  Sobre  estradas  e  carros  em  Portugal.  Id.  vol.  3.«»,  pag.  199. 

XVII.  Maneira  de  abastecer  de  agua  a  cidade  de  Lisboa.  Id.  vol.  4.*  pag.  49. 
N'est6  mesmo  volume  principia  a  publicação  de  alguns  artigos  sobre  as 

minas  em  Portugal. 

XVIII.  Sobre  o  systema  métrico  na  Allemanha.  Id.  vol.  9.°  pag.  265. 

XIX.  Abreviada  exposição  do  estado  da  fabrica  de  ferro  da  Foz  d^Algez. 
{Diário  do  Governo  de  1837,  n.*»  86.) 

394)  ESSAI  mSTORlQUE  SUR  LA  OOLONIE  DE  SURINAN, 
sa  fondation,  ses  revolutions,  ses  progrès  depuis  son  origine  jusqu*à  nos  jours. 
Avec  Vhistoire  de  la  nation  jmve  portugaise  et  allemande  y  etablie  etc.  Le  tout 
redige  sur  des  piéces  autheiítiques  y  jointes,  et  mis  en  ordre  par  les  régens  et 
representants  de  la  dite  nation  juive  portugaise.  A  Paramaribo,  1788.  8  *» 

Creio  ser  uma  das  obras  mais  raras  entre  aquellas  que  nos  dizem  respei- 
to^ pois  d'ella  um  só  exemplar  tenho  visto,  o  qual  appareceu  á  venda  no  lei- 
lão de  livros  do  sr.  Arlhur  da  Silva,  om  outubro  de  1873. 

395)  ESSAI  SUR  LES  ÊVÉNEMENTS  DE  PORTUGAL.  Paris, 
1833;  folheto.  (C  M.  B.  I.  P.) 

396)  ÉTAT  ACTUEL  DE  LA  MONARCHIE  PORTUGAISE.  Paris, 
1829. 

397)  ETIENNE   (CHARLES   GUILLAUME). 

E.—  Isabelle  de  Portugal  ou  riieritage.ComeáiQ  historique.  Paris,  1804. 

398)  EXAMEN  DE  LA  BROCHURE  intitiúé  ^  Vn  mot  sur  la  crise 
de  Portugal.  Paris,  1827,  folheto.  (C.  M.  B.  I.  P.) 

399)  EXAMEN  vande  valscke  resolutie  vande  Heren  Burgemeesters  ende 
Raden  tot  Amsterdam  op*t  stuck  vande  West  Indirch  Compagnie.  Amsterdam. 
1649.  8.«,  36  pag.  (M.  S.) 

400)  EXCELLENT  ET  UBRE  DISCOURS  (iu  droit  de  la  succes- 
sion  royale  au  royaume  de  Portugal  et  la  legitime  succession  du  roy  Dom  An- 
thoine.  Avec  plusieurs  lettres  curieuses  de  papes,  róis,  princes  et  monarques 
de  la  Chrestienté  sur  la  recognoissance  du  dit  Dom  Antlioyne  roy  de  Portugal, 
Utile  et  necessaire  aux  amateurs  de  justice  et  equité.  A  Paris.  Cher  Jean  Mi- 
card  tenant  sa  boutique  au  Palais,  en  ia  galerie  allant  à  la  Chancêllerie.  1607. 
12.»,  395  pag.  numeradas,  acabado  de  imprimir  em  4  de  janeiro  de  1607. 

O  sr.  José  de  Torres  publicou  no  volume  9*  do  Archivo  Pittoresco  *  ama 

*  A  pag.  378  c  seg. 


Olnamitanciada  snaiyse  d'este  livro,  paio  qn&l  se  prova  a  cxiateacia  de  aJ- 
gomu  úrUs  eacriptas  por  D.  Anionio  em  língua  portu^eza. 

401)  EXFLANATIO  ven  ac  legitmi  jiiris  quo  serenissimuê  Lvsitani<F  rex 
<<ltfffifyt  ejus  nominig  pritnui  niíiíur  ad  bellutn  Philtppt)  regi  Castalli^  pro  rr-> 
md  neuperatione  inferendum.  Lugdani  Batavorum,  1585.  Colónia;  Aggrippi- 
DB,  16iã. 

pectaração  do  direito  que  assisto  a  D.  António  etc.  para  Tazer  guerra  a 
D.  Fhflippe  com  o  flm  de  recopcrar  Portugal  etc.)- 

40S)  EXPLANATION  (THE)  of  lhe  frwe  lawful  right  and  tytU  of  tkt 
moãt  KKelíent  Prince  Aitthmie,  the  first  of  IhiU  name  auaittst  the  king  of  Cai- 
tis  and  against  his  íubjecls  and  adherents  for  the  recoveries  ofhis  Kingdmo. 
Bk  Ok  commanãment  and  ordir  of  the  superiors.  Leyden,  1SS5. 

È  1  traducfão  para  inglez  da  obra  mencionada  em  o  q.°  U)l 

403)  EXPLIGATION  DE  L'ESTA]ffPE  DE  Li  VILLE  DE  UB-  . 
BONHll  avec  une  descriplion  snccitUe  des  curiositéi  et  écinement  memoraJita 
dt  eettí  ville. 

.  Nio  tem  declaração  do  logar,  nem  do  anuo  da  impressão.  Julga-se  que  lul 
eoaqwita  peios  fins  do  anno  de  175i,  ou  nos  princípios  do  aono  de  175S. 
t  om  caderno  de  20  folhas. 

404)  ^eXTRàXJT  mde  Copye  vau  vers-eheyde  Brieven  m  schriflen,  Belox- 
gende  de  Rebellie  der  Paepsch  Porlwgeíen  van  desen  Staet  m  Brasilieri.  Tot 
bewijs  Dat  de  Koon  can  Portugael  icInUdich  is  aen  de  telve. 

Ghedraclct  in't  laer  oqs  Heeren,  1646.  8.°,  31  pag. 

405)  EXTRAOT  ttyt  den  Brief  mnd  PolUicque  Kaedm  ín  BrasU,  aende 
ete.  In  's  Graven-Haghe.  Anno  1639. 2  foi.  sempag.  Sobre  o  Brasil.  (H.  Sonsa). 

406)  EXTRACT  uyt  seecker  Mittione  gheschzeven  #A  getendm  aen  Siim 
Exceli:  âen  Hetr  Ambauadeur  van  Portvgael,  etc.  In  's  Gravea-Hage.  Anno 
1642.  4  folhas.  (H.  &.) 

407)  EXTBAOT  ttyt  de  MiísUme  vanden  Preeident  aende  H.  Mo.  Beeren 
Staten  Generaet  op't  Recif  den  22,  Ãpiil  1648.  In  's  Graven-Uage.  By  Ludolph 
BreeckevelL  Anno  1648. 4  Tolhas. 

408)  E^TRACrr  van  leeckeren  brief  gheichreven  uyt  Loando,  St.-Paulo 
m  Angola,  van  wegen  de  groote  victorie  die  de  onse  verkregen  h^ibentegen  de 
Portugesen.  S'graveohag6. 1648, 4.° 

(Extracto  de  algumas  cartas  escriptas  de  Loanda  e  de  S.  Paulo  de  Angola 
relativas  á  grande  vicloria,  <iue  os  nossoa  alcançaram  dos  portuguozes).  T. 
Compans,  pag.  308. 


EY  337 

409)  2YE-WrrN£SS  (AN). 

E.—Historical  vietv  of  the  revolutums  of  Portugal  since  the  dose  of  the  Pe» 
ninsular  War  exhibiting  a  ftUl  accaunt  ofthe  events  which  have  led  to  the  pre* 
sent  State  of  tat  Country,  London,  1827.  (Historia  das  guerras  qae  em  Porta- 
gal  se  seguiram  á  campanha  da  Península,  etc,  por  uma  testemunha  de  vista.) 

4i0)  EYKIÊS  (JEAN  BAPTISTE  BENOIT). 

E.—  I.  Voyage  datis  Vinterieur  du  Bresil  en  1809  et  1810,  traduit  de  VAn» 
glais.  Paris,  1816. 

II.  Tradtiction  du  voyage  au  Bresil  par  Maximilien,  prince  de  Wied.  Nea- 
wied,  1821-1823.  3  vol. 


TOMO  I  ^^ 


F 


411)  FABER  (JEAN  ERNEST). 

E.—  Nachreehten  von  dem  Porlugiesischen  Ilofe  und  dei'  Staatsverwaliung 
des  Grafm  von  Geyras.  Francfort.  1768. 

412)  FAMIN  (PIERRE   NOEL). 

E. — I.  Histoire  monetaire  du  PortugaL—ll.  Expeditions  maritimes  des  PoT' 
tugais, —  III.  Essai  sur  Vindustrie  agricole  au  Portugal, 

Todas  estas  obras  se  conservam  inéditas,  e  d*ellas  nos  dá  noticia  osr.  Fer- 
dinand  Denis  no  vol.  17.'»  da  Nouvelle  Biographie  Universelle  de  Firmin  Dídot. 

Parece  que  este  mesmo  escriplor  residiu  em  Lisboa,  onde  se  tornou  fallado 
p  )r  causa  da  grande  collecçào  de  medalhas  e  moedas  portuguezas,  que  che- 
gou a  juntar,  e  das  quaes  vem  noticia  a  pag.  273  do  vol.  7.°  da  Revista  Uni- 
versal Lisbonense. 

41;;)  FANSHAW  (SiR   RICHARD). 
?\Iorreu  em  Madrid  a  16  de  junho  de  1666.  i 

E.—  Original  Letters  during  his  atnbassies  in  Spain  and  Portugal.  Lon- 
don,  1702,  in-8.»2 

41 'í)  FAU  (PEDRO  DU).  Francez.— Cirurgião  chamado  para  regera 
cadeira  de  anat)mia  do  hospital  real  de  Todos  os  Santos. 

V..— Exposição  de  Aiiatotuia,  pelo  (^uj  respeita  aos  ossos  c  músculos.  Lis- 
boa, 1764. 

4 Io)  FAUCHER   (PAUL). 

1'].  —  D.  Sébastien  de  Portugal. 

Villemain  dá-nos  noticia  d'este  drama  2  apresentado  á  Academia  de  Paris 

'  Rebello  (la  Silva. — Quadro  Elementar  dasrelarões  de  Portugal  com  diversas  po- 
tencias, \ol.  18.0,  pn;:.  ií. 

-  nUcoius  ri  M.Uuujci  liUcraircs.  Taiis,  1835,  pag.  393. 


FE  3:59 

em  184o,  e  faz  acerca  d*elle  o  seguinte  jaiso  critico :  «Pareceu  este  drama  pe- 
dir menção  publica,  e  como  um  penhor  do  interesse  que  se  ligava  a  fragmen- 
tos da  epopea  christã,  apresentado  no  theatro  por  uma  imaginação  estudiosa 
e  viva.  Offerecendo  grandes  desegualdades,  mas  sustentado  por  fortes  inten- 
ções, e  algumas  scenas  felizes,  este  drama  é  menos  uma  obra  completa,  do 
qu6  uma  esperança.  Mostra  um  novo  caminho,  o  da  exaltação  poética  unindo- 
do-se  ao  drama  familiar  n'um  assumpto  moderno.» 

416)  FAURE  (H.) 

E. — De  maritima  navigcUione  veterum  Hispânia  a  Sacro  Promontório  ad 
Pyrifupos  usque  montes,  Molinis,  1870,  8.»  (Da  navegação  dos  antigos  desde  o 
cabo  de  S.  Vicente  até  os  montes  Pírynéos). 

417)  F.  O. 

E.—  AnonimoiLS  poems.  Imitations  front  Camoens.  London,  18í>0. 

418)  FEITH  (RHYNVIS).  Poeta  hoUandez. 
E.—Inez  de  Castro^  tragedia.  Amsterdam,  1793. 

419)  FENGER  (J.  FERD). 

E.—History  of  the  Tranquebar  Mission.  Tranquebar,  1863.  (Historia  da 
Missão  de  Tranquebar). 

420)  FENZL  (Db.  ED.) 

E.—Bericht  uber  cinige  der  wichtigsten  Ergebnisse  der  Bercisung  der  Por- 
tugiesischen  Colonie  von  Angola  in  West  Africa  in  den  Jahren  1833-60  durch 
Hen^n  Dr,  Fried  Wolwistch.  (No  Sitzungsberichte  der  Kaiserl  AcadenUe  der 
Wissensthaft.  48.  Band.  pag.  104). 

421)  FERAUD. 

E. —  Vocabular y  and  Dialogues  in  the  three  languages  English  Spaniss  and 
Portuguese,  on  subjects  adapted  to  general  use,  as  well  as  to  militarij  and 
naval  affairs.  Lonáoíiy  1812. 

422)  FEURSTEN  (ALBERT). 

Eis  a  versão  liiteral  do  titulo  de  uma  obra  allemã.  ^ 

Historia  dos  reinos  hespanliol,  portuguez  e  africano  :  a  saber —  em  qual 
época  particularmente  Portugal  love  começo,  c  por  quem  foi  elevado  a  reino, 
quaes  guerras,  qual  coramercio  por  mar  ou  por  terra,  tambora  osla  má  guerra 
ordenada  peio  rei  Sebastião  o:n  Africa,  e  na  qual  guerra  foi  tão  infeliz,  tam- 
bém dois  reis  mouros  e  dozoito  mil  homens  foram  mortos,  e  por  ella  privou 
seu  reino  de  herança,  forian;i  e  iiKílhor  nobrosa,  e  cntào  vários  reinos  foram 
tirados  a  Portugal.  Como  D.  Autonio,  que  esperava  ser  rei  de  Portugal,  saindo 

*  Nio  se  transcreve  o  liluio  tm  aileiíílo  por  ^cr  e\('^í5^Iv;lP.l(•^lu  (.'\tun>"0. 


340  '  FI 

da  prisão  em  Africa,  esperava  ser  eleito  rei  de  Portagal,  6  do  perigo  em  qoe 
incorreu,  e  por  qae  meio  escapou  das  mãos  dos  hespanhoes,  e  como  o  reino 
de  Portugal  voltou  para  a  coroa  de  Hespanha,  etc  Traduzido  do  italiano  por — , 

E  no  fim  do  livro :  Impresso  na  capital  deManich,  em  casa  de  Adam  Berg. 
em  dia  de  Santa  Anna,  no  mesmo  dia  em  que  no  anno  82  os  hespanhoes,  D. 
António  e  os  francezes  Inctaram,  e  este  livro  foi  acabado  em  aliemao  a  26  de 
julho  de  1589.» 

Esta  obra  in-foiio  compòe-se  de  i82  folhas,  e  é  ornada  de  duas  bellas  es* 
tampas  representando  a  primeira  a  batalha  de  Alcacerquibir,  e  a  segunda  ama 
batalha  naval  nas  proximidades  da  ilha  de  S.  Miguel. 

423)  FEVAL  (PAUL  HENRI  OORENTIN).— Romancisto  francez. 
Nasceu  em  Renncs  no  anno  de  1817.  * 

E.—Les  fanfarrons  dti  Roy  par  — .  Nouvelle  édition.  Paris.  Michei  Levy, 
1869,  8.%  286  pag. 

O  auetor  pretende  descrever  n'este  íomance  a  corte  de  AíTonso  VI,  a  lou- 
cura c  extravagâncias  do  rei,  e  muitas  outras  coisas  da  invenção  do  roman- 
cista. 

Será  um  oxccllente  romance  para  os  estrangeiros,  mas  paranmportngaez» 
que  saiba  a  biographia  do  desditoso  monarcha,  deve  ser  bem  insnpportavel  a 
leitura  de  lantos  descoachavos.  Entre  outras  coisas  diz-nos  que  D.  Pedro  e 
sua  mulher  a  rainha  estiveram  presos  no  Limoeiro. 

424)  FIELDING  (HENRY)  Celebre  romancista  eauctor  dramático inglez. 
Nasceu  em  Sliarpham-Park  em  abril  do  anno  de  1707,  e  falleceu  em  Lis- 
boa efn  outubro  de  1754.  Jaz  no  cemitério  inglez  dos  Cyprestes  em  Lisboa.  > 

Alétn  do  Joseph  Andrews  e  Tom  JoneSy  romances  que  immortalisaram  sen 
nome,  escreveu  a  segumte  obra : 

Journal  of  a  voyage  to  Usbon  by  the  late  Henry  Fielding.  London,  1755. 

Foi  passada  para  francez  com  o  seguinte  titulo : 

Jonrnal  d'un  voyage  de  Londres  à  Lisbonne  par  Henri  Fielding  Écuyer,  ou- 
teur  de  Vhistoire  de  Joseph  Andrews,  de  Jonathan  Wtld,  de  Tom  Jones^  des 
Aventures  de  Huderic  Randon,  d^Amèlie^et  debeaucoup  d'autres  livres,  Ony  a 
joint  un  abregé  de  la  vie  de  Cauteur  et  le  catalogue  raisonné  de  tons  ses  ovra- 
ges,  A  Lausannc,  1883,  8.°,  72,  225. 

Ninguém  espere  encontrar  n'este  livro  a  descripçào  de  Lisboa;  não  trata 
ollo  mais  do  quo  dos  incommodos  que  o  auetor  padeceu  na  sua  viagem  para 
Portugal  em  procura  de  allivios  para  seus  horríveis  padecimentos 

O  tumulo  do  Fielding  no  cemitério  inglez  em  Lisboa  tem  o  seguinte  epi- 
taphio,  de  cuja  copia  sou  devedor  ao  sr.  Angelo  Carrero  : 

Ucnrici  Fialdínj  a  Snmeríienfcmihus  apud  Glastonem  oriundi  viri  snmmo  m- 
fjnúOj  eu  (jiiac  restant  stt/lo  qno  mn  alias  unqnam  qni  potuit  cordis  reserrarc 

'  Vaiicreaii.  hiríiiinuirr  ilr^  (jnitcmpomins. 

'^  l'iiini!i  hidol  —  .Xovnil!''  liio.irnpliir  l'nh'cr'cllCj  vol    17.",  pag.  647. 


FL  m 

mores  hominum  excolendo  suscepil  virtuti  dec&rem  vitio  fwditatem  suwn  cui- 
que  tribuens  non  quin  ipse  subinde  irretiretur  evitandiSj  ardem  in  hniciiia,  in 
miséria  sublevanda  effasusy  kilaris^  urbanus  et  conjtix  et  frater  adamatus 

aliis  non  sibi  vixit :  sed  mortem  victricem  vincit  dum  natura  durai < 

dum  saecula  currunt,  natura  prolem  scriptis  pnc  se  ferens  suam  et  suce  gen- 
tis extenderet  famam. 

Perto  <l'este  tumulo  fica  o  de  Phílipp  Duddrídgo,  fallecido  em  25  de  ouCa- 
bro  de  1751,  que  se  diz  ter  sido  muito  sábio,  e  amigo  de  Fieldíng. 

425)  FIGUEROA  (C.  MOSQUERA). 

E. — Cammentario  de  disciplina  militar,  en  que  se  escrtve  la  jornada  de 
las  Islãs  de  los  Açores  por  — .  Madrid,  1596. 

426)  FLAUGERGUES  (M«"«  PAULINE  DE) 
E.—Au  bord  du  Tage.  Gollecçâo  de  poesias.  PariS;  184  L 

N'esta  collecção  de  poesias  appareeem  algumas  cujos  assumptos  são  por- 
taguezes. 

«Mademoiselle  Flaugergues  é  enérgica,  e  muitas  vezes  sublime  como  mada- 
me Emilie  Girardin,  graciosa  e  ao  mesmo  tempo  sabia  como  madame  Amable 
Tastu;  lyrica  e  florida  como  madame  Desbordes  Valmore;  melancólica  e  apai- 
xonada como  madame  Dufresnay,  Mademoiselle  FJaugergues,  pelo  rumo  que 
sua  própria  índole,  suas  reflexões  ou  suas  penas  tem  dado  ao  seu  poetar,  en* 
tre  eiias  apparece  como  o  auctor  das  Meditações  entre  os  extraordinários  poe* 
tas  seus  contemporâneos :  é  ella  o  Lamartine  do  seu  século.»  ^ 

427)  FLEURIAU  (BERTRAND  GABRIEL).  ' 

E. —  Relation  des  conquêtes  faites  dans  les  Indes  par  D.  P.  M.  d^  Almeida 
marquis  de  Castel  Nuevo,  conte  d*Assumar.  Paris,  1749. 

428)  FLOREZ  (EL  P.  M.  FR.  HENRIQUE  -)  dei  orden  de  San 
Angustin,  rector  que  ha  sido  una  y  outra  vez  dei  Heal  Colégio  de  Alcalá,  do- 
etor  theologo  de  dicha  universidad,  y  consultado  à  sus  cathedras  de  theología 
por  el  supremo  consejo  de  Castilla,  etc. 

E. — Espana  Sagrada,  Theatro  geographico  histórico  de  la  Eglesia  de  Espa- 
na. Origen,  divisiones  y  términos  de  todas  sus  provindas.  Antiguedad,  trasla- 
eUmêS  y  estado  antiguo  y  presente  de  sus  villa^y  en  todos  los  dotninios  de  lUs- 
pana  y  Portugal.  Con  varias  dissertaciones  criticas  para  ilustrar  la  histoi'ia 
eclesiástica  de  Espana.  Madrid.  Por  Don  Miguel  Francisco  Rodrigues,  1747. 

Obra  verdadeiramente  monumental,  na  qual  o  padre  Florez  com  uma  crí- 
tica quasi  sempre  judiciosa,  e  baseada  em  documentos  autbenticos  trata  das 
antiguidades  sagradas  o  profanas  da  Peninsula  Ibérica.  Sào  numerosíssimas 
as  estampas  disseminadas  por  lodos  os  volumes,  n^prcsentando  já  folhas  de 

'  Não  te  percebe  aqui  uma  palavra. 

*  A.  F.  de  Castillio.— /{«rtWa  Universal  Lishonenae. 


a42  FO 

códices  antiquíssimos,  já  medalhas  e  moedas,  já  inscripções  e  monumentos 
romanos,  godos,  mozarabes. 

Esta  obra  tem  sido  e  ha  de  ser  em  todos  os  tempos  consultada  pelos  nos- 
sos escriptores,  que  minuciosa  e  seguramente  quizerem  fallar  de  nossos  feitos 
em  épocas  tão  remotas.  É  porém  do  tomo  13.°  por  diante  que  este  trabalho  inte- 
ressa mais  aos  porluguezes.  E  bem  se  vò  que  dVile  se  aproveitaram  António 
Pereira  de  Figueiredo,  A.  Herculano  e  muitos  outros,  o  que  não  podiam  dei- 
xar de  fazer,  pois  n'esta  obra  é  que  pela  primeira  vez  se  imprimiu  a  Historia 
CoTíiposiellana  (no  tomo  20.*^),  onde  se  referem  os  factos  mais  notáveis  aconte- 
cidos em  Galliza  e  Portugal  durante  o  governo  de  D.  Theresa. 

É  pois  a  Espagna  Sagrada  livTO  de  primeira  necessidade  para  quera  tratar 
de  escrever  a  respeito  de  nossas  antigas  coisas. 

429)  FOLQMAN  (CARLOS).— Clérigo  presbytero  do  habito  de  S.  Pe- 
dro, e  Capellão  mor  de  S.  Bartholomeu  dos  allemães. 

E.—  Grammatica  Hollandeza  ou  Arte  Compendiosa  para  um  portUQuez 
aprender  a  língua  Hollandeza.  Com  uma  Nomenclatura  copiosa,  vários  dialO' 
goSy  e  uma  Collecrão  dos  mais  selectos  Provérbios  de  ambas  as  lingtmSf  pelo— 
Lisboa.  Impressão  regia,  1804,  8.«,  118  pag.  Ha  outra  edição. 

430)  FONDEYRE  (POUROET  DE). 

E.  —  Lisbonne  et  le  Portugal.  Paris,  1846,  8.° 

Segundo  diz  o  Atheneu  (vol.  1.°,  pag.  228)  este  escriplor  publicou  ura 

trabalho  a  respeito  de  Portugal,  onde,  cnlre  outras  coisas :  Que  viu  barcos 
navegando  em  Cintra,  um  tal  rei  Joào  mostrando  uma  perna  de  fura  do  tumu- 
lo aos  viandantes  em  S.  Vicente  de  Fora,  c  outras  gentilezas  peores  ainda. 

431)  FONSECA  (ANT.  EDM.  WOLLHEIM  DA). 

E.  —  Dicrionavio  portátil  das  li  aguas  portugucza  c  allemã.  Leipzig. 

432)  FOR  FORTUGUESE  SAILORS,  London,  1874. 

Dizem  ser  uma  collecção  de  contos  moraes  em  portuguez  e  apropriados 
para  a  leitura  dos  marinheiros  portuguezes. 

433)  FORRESTER  (JOSÉ  JAJVIES).— Barão  de  Forrester,  membro 
correspondente  da  Academia  Real  das  Sciencias  de  Turim,  das  reaes  socieda- 
des antiquaria,  geológica,  geograpliica  e  zoológica  da  Gran  Bretanha;  das  so- 
ciedades geographicas  de  Paris  e  Berlin,  etc.  etc,  e  um  dos  estrangeiros  que 
mais  siTviro^  prestaram  a  Portugal,  e  que  em  todo  o  tempo  se  mostrou  aíTei- 
çoado  aos  porluguezes. 

Nasceu  na  Kscocia  em  maio  do  anno  de  1809  *,  e  falleceu  afogado  no  rio 
Douro,  no  ponto  do  Cachão,  em  12  de  maio  de  1801,  não  tendo  sido  possível 
encontrar  seu  cadáver. 

*  .\rrii!n,  V.ii  ,ie  ro,  vol.  iv.  ].•.•-.  IiHí». 


FO  343 

Escreveu  muito  este  homem,  darei  porém  noticia  do  que  julgar  mais  im- 
portante. 

I.  Vindicarão  de— contra  as  imputações  a  elle  feitas  no  parecer  da  direcção 
da  Associação  Çommercml  do  Porto  de  i^  de  maio  de  1845,  e  observações  sobre 
o  que  no  dito  parecer  se  assevera  a  respeito  ao  vinho  do  Porto.  Com  um  Post- 
Scriptum  sobre  o  folheto  intitulado  *A  questão  dos  Vinhos  do  Douro,  conside- 
rada politicamente.  Porto.  Typographía  Coramercial,  1845,  folheto  de  16  pag. 

Forrester  sustentava  que  o  vinho  do  Porto  devia  ser  puro  e  bem  fermen- 
tado, e  sem  mistura  de  qualidade  alguma.  (Folheto  citado,  pag.  6.) 

II.  Paiz  vinhateiro  do  Alto  Douro.  <  É  um  precioso  mappa  do  paiz  vinico- 
la,  dedicado  á  rainha  D.  Maria  II, publicado  em portuguezeinglez,  tendo  uma 
nova  edição  em  I/mdres,  por  ordem,  e  á  custa  da  Camará  dos  Communs, 

tO  Douro  Portuguez  e  o  paiz  adjacente,  grande  mappa,  que  pela  portaria 
de  1  de  abril  de  1848  foi  adoptado  como  nacional,  e  premiado  depois  pelos 
monarchas  de  Hespanha,  Sardenha',  França,  Prússia,  Áustria,  Rússia,  Pio  IX, 
e  incorporado  no  Blue  Book  da  Gamara  dos  Communs  em  Inglaterra,  sendo 
sem  contestação  o  seu  mais  completo  e  valioso  trabalho,  em  cuja  composição 
e  aperfeiçoamento  gastou  mais  de  doze  annos,  e  valiosas  quantias.  N  este  bello 
e  interessante  mappa  não  ha  um  claro  por  encher,  nem  o  mais  pequeno  espaço 
que  não  fosse  aproveitado  com  critério.  O  Porto,  e  a  ponte  pênsil,  a  Regoa, 
um  barco  do  Alto  Douro,  um  escaler  do  Porto,  as  pednas  das  Âncoras,  os  pon- 
tos do  Cachão,  salto  da  Sardinha  e  outros,  são  delicadas  e  lindíssimas  illustra- 
ções,  que  embellezam  t^ste  minucioso,  apreciável  e  instructivo  trabalho  ^» 

III.  Prize  Essai  on  Portugal,  or  Portugal  and  its  capabilittes. 

Esta  obra  foi  premiada  com  uma  especial  e  honrosa  medalha  de  oiro. 
Além  d'estas  escreveu  varias  outras  obras,  todas  úteis  e  interessantes,  que 
se  podem  ver  mencionadas  a  pag.  331  do  4.'*  vol.  do  Archivo  Pittoresco. 

434)  FORTUNATUS. 

E.  —  Historia  de  missionibus  Angolae,  Congi  et  aliorum  regnorum  Africae 
et  Indiarum  cum  mmihus  illarum  r^gionum.  Bononiae,  1687,  foi. 

435)  FORTIS  (LEONE). 

O  sr.  José  da  Silva  Mendes  Leal  traduziu  em  verso  um  poema  dramático, 
composto  em  italiano  pelo  referido  escriptor,  'natural  de  Veneza,  e  poema  que 
a  celebre  trágica  Rístori  representou  em  Lisboa. 

«O  auctor  do  poema  inculca  imaginação  fogosa  frequentemente  desregrada. 
A  verdadeira  sensibilidade  não  abunda.  A  imitação  de  affectos  convencionaes 
predomina.  É  antes  um  reflexo  brilhante  do  que  uma  concepção  feliz.  O  que 

^  O  dito  mappa  é  exactíssimo  pelo  que  respeita  ás  viilas  e  freguezias,  ás  quintas  e 
principaes  fazendas  viobateiras.  aos  rios  e  regatos,  estradas,  pontes  e  até  caminhos^  tra- 
vessos, e  creio  que  também  o  será,  quanto  é  possível,  acerca  da  posição  geographica  das 
IMYoaçOes  e  montanhas.»  Visconde  de  Villarínbo  de  S.  Romão.  Revista  Univeúal  LisbO' 
nense,  toI.  iir,  pag.  1i5. 


344  FO 

mais  nataralmente  respira  é  a  impaciência  e  o  ódio  á  dominação  estran- 
geira. 

Quanto  pôde  a  fraternidade  intellectual!  Qaem  diria,  ha  três  secnlos,  qae 
a  orgulhosa  Veneza,  desapossada  pelo  Gama  do  império  do  Oriente,  cantaria 
hoje  o  cantor  do  grande  almirante.» 

436)  FOUOHER  (PAUL  HENRI). 
Nasceu  em  Paris  no  mez  de  abril  de  1810  K 

E.  —  D.  Sebastien  de  Portugal^  tragedie  en  5  actes.  Paris,  1839. 

437)  FOURNIER  (EDOUARD).— Anctor  dramático  e  romancista 
francez.  Nasceu  em  1809. 

E.—  Un  prétendant  Portugais  au  xvi  siêcle.  Lettre  adressêe  aM.iL  Dan* 
tas,  sécretaire  de  la  legation  de  S.  M.  TF.  à  Paris,  sur  D.  António,  prieur  de 
Crato,  suivie  d'études  sur  un  predicateur  portugais  à  Paris  en  1610;  la  Rasa- 
linda  et  l'origine  portugaise  de  la  fiancée  du  roi  de  Garbe.  Paris.  Imprimerie  de 
Mouide  et  Renou,  1851,  141  pag.  ^. 

438)  FOURRIER  (ORTAIRE  — )  Gbanceller  da  legação  firanceza  em 
List>oa. 

£.—  Reme  Lusitanienne.  1  tomos,  Lisbonne,  1852. 

É  um  }omal  lilterario,  onde  se  encontram  alguns  artigos  importantes. 

N'elle  reproduziu  Fourrier  a  sua  traducção  do  Naufrágio  de  Sepúlveda, 
(mas  com  alterações),  a  qual  já  tinha  sido  publicada  em  Paris  no  anno  de  1844. 
E  também  uma  versão  também  na  linguagem  franceza  da  Sobrinha  do  Mar- 
quez, do  nosso  Garrett.  E  além  d'estas  traducções  um  romance  intitulado  La 
Reine  de  Mohaxoks,  ele.  ele. 

«Do  iodas  as  liltcraluras  modernas  a  menos  conhecida  talvez  é  a  lilteratura 
porlugueza,  e  sem  os^sabios  trabalhos  do  visconde  de  Santarém,  Ch.  Magnin, 
Dubeux,  Ferdiuand  Dcnis,  Prineepo  Liknowski,  poetas  e  escriptoresd'esta  na- 
ção, com  algumas  gloriosas  excepções,  seriam  para  o  mundo  lilterario,  como 
se  nunca  tivessem  existido.  Ha  principalmente  um  contemporâneo  do  immor- 
tal  auclor  dos  Lusíadas,  o  que  talvez  occupa  immediatamenle  logar  depois 
d'ello  no  antigo  Parnaso,  Jeronymo  Corte  Real,  que  mais  que  nenhum,  padeceu 
este  infeliz  destino.  E  todavia  Corte  Real  é  uma  d'essas  inlelligencias  extraor- 
dinárias, das  quaes  o  céo  é  avaro,  um  d'esses  sublimes  encantadores,  cuja  voz 
harmoniosa  evoca  todos  os  poderes  creadores  do  pensamento,  cuja  imaginação 
rica  e  fecunda  abro  um  largo  rego  no  magnifico  campo  da  poesia,  e  faz  pro- 
duzir magnificas  searas. 

«Sim,  a  obra  de  Corto  Roal  ó  uma  obra  de  génio,  e  pouco  falta  para  que 

^  Vaporeau —  Dictionairc  dcs  ContcmporainSj  pag.  694. 

2  Founiier  é  um  dos  esrriplorrs  írancezes  mais  antigos  c  entendidos  da  nossa  his- 
toria e  litteralura.  Traduziu  em  fruncez  a  bailada  lioaalinda» .  (\  Semana^  vol.  ii, 
pag.  i33./ 


FO  345 

elle  ihe  tenha  merecido  uma  d'essas  coroas,  que  consagraram  para  sempre  o 
nome  de  Camões  e  o  de  Tasso.» 

439)  FOWLER  (REGINALD  — )  Esq.  Barrister-at-law. 

E.—  Hither  and  thither,  or,  sketches  of  travei  on  both  sides  of  the  ÂtlaniiCt 
contaiiimg  notes  of  a  visite  to  Madeira,  Lisbon,  GibraUar^  Cadiz,  Malta,  Bo- 
nu^  Neto  York,  Canadá,  Ktngston,  the  falis  ofNiagara,  Bay  of  QtAiníé  and 
Montreal.  By.— London.  (Áqai  e  acolá,  esboços  de  viagens  em  Portugal,  etc) 

440)  FOY  (GáN^RAL). 

E.  —  Bistory  of  the  war  in  the  Península  under  Napoleon,  transUUed  from 
the  french,  LondoUi  1827, 3  vol.  (Historia  da  guerra  na  Península  etc) 

441)  FOY  (Lb  G^NáRAL.  MAXIMILIEN.SEBASTIEN). 

Nasceu  em  Ham  no  anno  de  1775,  e  falleceu  a  28  de  novembro  de  I8i5. 

Passou  de  Constantinopla  para  Portugal,  distinguíu-se  na  batalha  de  Vi- 
meiro, esteve  a  ponto  de  ser  assassinado  no  Porto»  recebeu  uma  ferida  no  Bus- 
8aco,e  foi  escolhido  por  Massena  para  ir  á  França  avisar  Napoleão  do  estado 
em  que  se  achava  o  exercito  francez  em  Portugal.  Chegou  á  França  quasi  nu» 
tendo  escapado  como  por  milagre,  das  guerrilhas  K 

E. —  Ifístoire  de  la  guerre  d*Espagne  et  du  Portugal  sous  Napolion,  prece- 
dée  d^un  tableau  politique  et  nulitaire  des  puissances  belligér antes,  par  —  jpu- 
bliés  par  M.*  La  Comtesse  Foy.  Paris  Baudoin  Frères,  1829, 4  vol.  in-12.<'Esta 
edição,  creio  ser  a  2.*,  pois  tenho  visto  exemplares  d'outra  m-8.<'  impressa  em 
Paris  no  anno  de  1827,  com  Atlas  á  parte.  Ha  outra  edição.  Paris,  1834,  %.•  gr. 

O  general  Foy  nem  teve  tempo  de  concluir  nem  de  limar  esta  historia,  a 
qual  apenas  chega  á  retirada  dos  francezes  de  Portugal,  depois  da  convenção 
de  Cintra. 

«Não  conhecemos  na  Península  monumento  algum  notável  da  industria  de 
nossos  mimigos  inglezv^^s,  mais  do  que  as  linhas  construídas  em  1810  para  de- 
fesa  de  Lisboa,  mas  d'ellas  deve-se  conceder  a  hbnVa  em  grande  parte  aos  en- 
genheiros de  Portugal,  que  communicaram  aos  ingleses,  quer  emquanto  á  con- 
cepção do  projecto,  quer  emquanto  á  execução  dos  trabalhos,  idéas  luminosas 
e  dados  exactos  recolhidos  havia  muito  tempo.»  1,  pag.  197. 

«Portugal  cobriu  o  Oceano  com  suas  esquadras,  submetteu  a  suas  leis  o  li- 
toral da  índia  e  as  mais  bellas  porções  da  America  meridional.  Lisboa  tomou 
no  meio  do  mundo  engrandecido  por  Colombo  e  por  Vasco  da  Gama  o  logar 
que  Constantinopla  occupára  no  antigo  continente.  E  como  todas  as  faculda- 
des do  espirito  humano  caminham  a  par,  pouco  tempo  depois  que  um  peque- 
no povo  europeu  fez  adoptar  sua  lingua  aos  habitantes  dos  paizes  onde  para- 
ram as  conquistas  de  Alexandre,  esta  lingua  ennobrecida  pela  victoria  produ- 
ziu um  poema  épico  antigo  na  sua  forma,  e  nacional  em  seu  assumpto.  Ca- 
mões é  o  poeta  da  pátria  e  da  gloria.  Seus  Lusiadas  fazem  sentir  á  alma  com 

^  F.  Didot.  Biographie  Universellej  (om.  xviii,  pag,  414. 


346  FO 

a  magnifícencia  da  Illiada  alguma  coisa  dos  encantos  da  Odyssea.»  i."",  pag. 
267. 

€Âs  tropas  portuguezas  partiram  em  namero  de  8  a  9  mil  homens.  Mais 
de  4  mil,  e  entre  estes  algans  officiaes,  fugiram  ao  atravessarem  a  Hespanha, 
e  tornaram  para  o  seu  paiz.  Quinhentos  on  seiscentos  ficaram  nos  hospitaes. 
Alguns  foram  mortos  no  primeiro  cerco  de  Saragoça.  Só  3240  soldados  che- 
garam a  Bayonna.  Napoleão  passou-lhes  revista,  e  disse  ao  príncipe  Wolkooski^ 
ajudante  de  campo  do  imperador  ú^  Rússia,  que  então  se  achava  ao  seu  lado: 
iSão  homens  do  meio  dia:  teem  paixão,  hei  de  fazer  d'elles  umaexcellentein- 
fanteria.»  Com  as  tropas  portuguezas  formou-se  uma  legião.  O  general  Jonot 
receheu  ordem  de  apanhar  os  desertores,  e-de  enviar  soldados  do  paiz  para 
completal-a.  Esta  ordem  não  poude  ser  pofta  em  execução.  Na  falta  de  nacio- 
naes  completou-se  a  legião  nos  deposito  de  prisioneiros  hespanhoes.  Passoa 
por  diversas  organisações  até  ao  mez  de  novembro  de  Í8i3,  em  que  um  de- 
creto imperial  ordenou  o  desarmamento  de  todas  as  tropas  estrangeiras,  qae 
se  achassem  no  grande  exercito,  com  excepção  dos  polacos. 

•A  legião  portugueza  nunca  foi  empregada  na  sua  totalidade  d*uma  só  vez; 
mas  serviu  por  destacamentos.  Dois  batalhões  cobriram-se  de  gloría  na  bata- 
lha de  Wagram,  no  corpo  de  exercito  commandado  por  Oudinot.  Um  regimento 
distinguiuse  na  batalha  de  Smolensko.  Os  habitantes  das  serras  ardentes  do 
Alemtejo  e  da  Estremadura  estavam  em  bom  numero  entre  os  desgraçados  qae 
morreram  gelados  nos  gelos  dé  Moscou.  Estes  estrangeiros  conduzidos  pelo 
acaso  debaixo  dús  bandeiras  de  Napoleão,  tinham  tomado  por  divisa: 

Vadimus  immixti  Danais,  haud  numine  nostro. 
Mereceram  com  tudo  em  todos  os  logares  a  estima  de  seus  companheiros  de 
armas.  O  imperador  teve  bera  cuidado  era  não  os  tornar  a  mandar  para  a 
Peninsula.  2.°,  pag.  27. 

«M.  de  Pradt,  que  era  1808  era  bispo  de  Poiliers  e  esraoler  do  imperador 
Napoleão,  assistiu  á  audiência  dada  por  este  príncipe  á  deputação  portugueza. 
Elle  faz  conhecer  nas  suas  Mémoircs  historiques  sur  la  revolution  d*Espagne 
algumas  particularidades,  que  devem  ler  aqui  seu  logar : 

•A  deputação  portugueza  esperava  o  imperador  em  Bayona,  e  lhe  foi  apre- 
sentada algumas  horas  depois  da  sua  chegada.  Achava-se  á  sua  frente  o  conde 
de  Lima,  a  quem  tinham  visto  como  embaixador  de  Portugal  em  Paris,  o  qual 
©slava  muito  relacionado  na  sociedade.  Napoleão  não  esperou  que  este  presi- 
dente pronunciasse  seu  discurso,  como  era  de  estilo  em  eguaes  circumstan- 
cias :  mas  quer  fosse  demora  do  conde  de  Lima  em  dizer  o  que  tinha  prepa- 
rado, quer  impaciência  natural  da  parte  de  Napoleão,  abriu  a  conferencia  de 
uma  maneira  muito  singular.  Depois  de  algumas  formulas  de  polidez,  disse 
dirigindo-se  aos  deputados  :  «Não  sei  o  que  hei  de  fazer  de  vós,  pois  isso  de- 
penderá do  que  se  passar  no  Meio-dia.  Eslaes  vós  comtudo  no  caso  de  formar 
um  povo?  Tendes  o  volume  necessário  para  isto?  Vós  estaes  desamparados 
de  vosso  príncipe :  deixou-se  encaminhar  pelos  inglezes  para  o  Brasil.  Fez 
n'isso  uma  grande  tolice;  ha  de  arrepender-se  d'ella.»  Depois  voltando -se  para 
mim  accrescentou  com  um  ar  muito  satisfeito  :  «Os  príncipes  teem  a  mesma 


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obrigação  que  os  bispos;  é  necessário  que  residam.»  Dirigindo-se  em  seguida 
ao  conde  de  Lima,  perguntou-lhe  por  quantos  homens  era  Portugal  povoado; 
8  juntando  immedíatamente  resposta  á  pergunta,  coisa  que  Ibe  acontecia  mui- 
tas vezes  fazer,  e  que  succede  ás  pessoas  que  respondem  ás  suas  idéas :  «Dois 
milhões?— Mais  de  três,  respondeu  o  conde.— Ah!  Náo  sabia,  replicou  Napo- 
leão. £  Lisboa,  cento  e  cincoenta  mil  almas?— Mais  do  dobro,  respondeu  o 
conde  de  Lima.— Ah I  não  o  sabia,  respondeu  de  novo  Napoleão.»  Outras  per- 
guntas e  respostas  foram  trocadas  com  esta  mesma  differença  de  opiniões  e 
de  avaliações,  e  de  >não  sabia,  e  não  sabia,  succedeu  perguntar  ao  conde  de 
Lima:  «Que  quereis  vós  outros,  portuguezes?  Quereis  serhespanhoes?»  A  es- 
tas palavras  vi  o  conde  de  Lima,  crescendo  dez  pós,  empertigando-se  na  sua 
posição,  levando  a  mão  aos  copos  da  espada,  e  com  uma  voz  que  retumbou 
pelas  abobadas  da  sala,  responde :  «Não  !>  Os  antigos  heroes  portuguezes  não 
teriam  dito  melhor.»  —  â.*",  pag.  33. 

442)  FOZIO  (JOSEPH). 

E. —  Informatio  pro  venerabili  servo  Dei  Ignaíio  Azebedo  et  socús  in  odium 
fidei  interfectis  ab  haereticis.  Romae,  1662.  (Informação  a  favor  do  venerável 
Ignacio  de  Azevedo,  e  de  seus  companheiros  mortos  em  ódio  á  fé.) 

443)  FRAMPTON(J.) 

E. —  Discourse  of  the  navigation  tohich  the  Portuguese  doe  tnake  to  the^ 
recãms  and  provinces  ofthe  east  parties  of  the  world,  and  ofthe  knowledge  that 
growes  by  them  of  the  greal  things  which  are  in  the  dominkms  of  China,  Writ- 
ten  by  Bemardine  of  Escalanta,  of  the  realme  of  Galisia,  Priest*  Translated 
mU  of  spanish  into  english  by  —  London,  F.  Dawson,  1579.  (Discurso  sobre  a 
navegação,  que  os  portuguezes  fazem  nos  reinos  e  províncias  orientaes,  etc.) 

444)  FRANCAN. 

E.  —  Itinerarium  Portugallensium  e  Lusitânia  in  Indiam.  1508.  (Itinerário 
dos  portuguezes  de  Portugal  para  a  índia) 

445)  FRANCESCO  (P.)—  Carmelitano. 

E.  -'Viaggi  alV  Indie  Oriéntali.  Roma,  1672,  foi. 

446)  FRANCISCI    XAVIERI    (SANCTI). 

E.  —  Epistolarum  libin  V.  Pragae,  1667,  8.*»  (Estas  cartas  relatam  por 
miado  os  feitos  dos  portuguezes  na  índia.) 

447)  FRANCIS  MARIA.— Episcopus  Portuensis. 

E.  —  De  vita,  sanctitate,  canonisatione  et  miraculis  Sancti  Frandsci  Xa* 
viéri.  Dillingae,  1622. 

448)  FRANOKENSTEIN  (JACQUES  AUGUSTE). 

E.—  Das  historische  Theatrum  von  PortugcUl,  Engelland  und  der  Seyweitz, 
Halberstadt,  1823.  (Theatro  histórico  de  Portugal,  Inglaterra  c  Suissa.) 


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449)  FRANÇOIS  OOUGHE  ET  ROULOX  BARRO. 

£.  —Voyage  du  Madagáscar  et  du  Bresil.  Paris,  1658. 

450)  FRASGARELLio  (A  Prbsbttero  caietanO).-  Era  empre* 
gado  na  Nunciatura  em  Lisboa,  e  capelião  do  duque  de  Saldanha.) 

Natione  ítalo,  Domo  Asculo,  Picentiam  a  Secretis  Legationis  Apostolícae. 

E.  I. —  Inscriptiones  Regum  Lusitanorutn  —  Apud  Reginam  FideUsumam 
exaratae.  Ulyssipone.  Ex  OfiBcina  Typograpbica  Natíonali,  1850. 

II.  Inscrizumi  Portoghesi  che  existono  tn  diversi  luoghi  di  Roma  per  —  Ro* 
ma,  1862. 

451)  FRASSO. 

E.—De  régio  patronatu  ItuUarum,  Madrid,  1677,  2  vol.  foi. 

452)  FRAZER  (Sm  A.  S.) 

E.—  Letters  of  Colonel,  commandmg  the  rogai  horse  artíUery  in  the  army 
under  the  Peninsular  War,  and  Waterloo  campaigns»  LoudoD,  1859,  m-8.<» 

453)  FRIRION  (FRANÇOIS  NICOLAS,  Barok  db) 

E.—  Journal  historique  de  la  campagne  de  Portugal  entrepriu par  le$  fVoíi* 
cais  sous  les  ordres  du  marechal  Massena,  prince  dEsling^  áiu  15  sepUmkre 
1817  au  2  mai  1811.  Paris,  1841. 

434)    FRISON. 

E.  —Xaverius  Thaumaturgus.  Burdigalae,  1684. 

455)  FRITZ  (SAMUEL). 

E. —  El  gran  rio  Maranon  ó  Amazonas  con  la  mission  de  la  CompafUa  de 
Jesus  geographi carne íite  dcleneado.  Quilo,  1707.  (Os  Jesuilas  eram  os  soberanos 
verdadeiros  do  Paraguay.  Voltaire,  vol.  ix,  pag.  489.) 

456)  FROGER  (FRANÇOIS). 

E.—  Relation  d'un  voyage  fait  en  1695-1697  aux  cotes  d^Afrique^  déíroit  de 
Magellan  *  Brésil,  Cayenne,  etc.  Paris,  1698,  ib.  1700.  Amsterdam,  1699,  ib. 
1702,  ib.  1715. 

*  Tu  Magaglíanes,  ti  rendili  ai  Mondo 

iicl  tuo  Nome  immortal  con  chíaro  v^nto; 
dcl  Sol  mentre  immitasti  11  corso  londo 
degno  distoria,  e  dalto  Aonio  canto: 
d'un  generoso  ardír  nel  cor  secondo 
tu  si  carpisti  il  tuo  camin;  ma  quanto 
o  himc!  soíTristí  dallaversa  sorte 
cbe  s'uppoo  qual  Ncmica  ali  Iluo  cbe  forte 

Girolamo  Barlolomci  Gia  Smcducci  —  LWmcricaj  c.  xxvi  est.  8.* 


FU  349 

457)  FROISSART  (MESSIRE  JEHAN).— Chronista  celeberrimo. 
Nasceu  em  Yalencíeimes  no  anno  de  1337,  e  faUecea,  segando  parece,  no 

principio  do  século  seguinte.  Viajou  muito  pela  França,  Itália,  Inglaterra  e 

Escócia. 

E,—  Histoire  et  Chronique  mémoràble  de^Revue  et  corrigée  $ur  divers 
exemjplaires  et  suivant  les  bons  auteurs,  par  Denis  Sauvage  de  Fantenailles-ens 
Brie,  historiographe  du  três  chrestien  roy  Henri  deuxiesnie  de  ce  nom,  A  Paris, 
chez  Jeban  Rueile,  1574,  foi.  A  primeira  edição  foi  impressa  também  em  Pa- 
ris  no  anno  de  1498. 

Froissart  na  sua  Chronica  conta  muitos  dos  successos  de  Portugal  occorrí- 
dos  por  aqueile  tempo.  Mas  mereceu-lbe  especial  attençào  a  nossa  batalha  de 
Aljubarrota,  á  qual  não  assistiu  como  Ayala,  mas  teve  particular  cuidado  de 
pedir  esclarecimentos  minuciosos  a  cavalleiros,  que  n'ella  se  tinham  achado.  É 
pois  a  sua  famosa  Chronica  um  como  subsidio  para  a  historia  da  nossa  he- 
róica lucta. 

458)  FULIGATI  (JACQUES). 

E. — Vita  di  Santa  Elisabetha^  régina  di  Portogallo,  Roma,  1625. 

459)  FURIEUSE  ET  SANGLANTE  BATAILLE,  dmnée  entre  les 
Portugais  et  les  Hollandois  aupres  de  Malacca  en  la  quelle  a  paru  la  valeur 
de  quatre  seigneurs  Prançois  descripte  par  le  Capitaine  Marque  d^Or,  Proven- 
çal present  en  icelle.  Paris,  1621|  in-d.*" 


G 


460)  GALARDI  (Mr.  de) 

E.—Raisons  d^Estat  et  reflexions  politiques  sur  Vhistaire  et  vie$  des  ray$ 
de  Portugal  A  Liege.  Chez  Pierre  da  Cbamps,  i670.  i2.«.  370  pag.  Offeredda 
à  rainha  da  Grã-Bretanha. 

E'  uma  Historia  de  Portugal,  que  chega  até  ao  reinado  do  cardeal-rei  ]>. 
Henrique.  O  auctor  promette  um  segando  volume;  ignoro  se  cumpriu  soa  pro- 
messa. 

461  GALERIE  (LA)  AGRÉABLE  DU  MONDE, 

O  primeiro  tomo  d'eslaobra  *  dedicado  ael-rei  de  Portugal  D.  JoàoV,com- 
prehende  Portugal  e  Hespanha  etraz  os  mappas  de  Lisboa,  Gascaes,  Évora,  Be- 
lém, Estremoz,  Elvas  com  a  planta  da  fortincaçào,  e  assim  Olivença,  Villa  No- 
va, Arronches,  Villa  Viçosa,  Ferreira,  Setúbal,  Braga,  Coimbra,  além  de  mui- 
tas gravuras  e  vistas. 

462)  GALIANO  (D.  ANTÓNIO  ALCALA,  mjo.) 

E. —  Portiujaly  su  passado  ij  su  preseiite.  Lecciones  pronunciadas  en  el  Ate- 
neo  cientifico  y  literário  de  Madrid.  Por—.  Madrid,  1873.  8.°,  24  pag. 

Só  vi  o  1."  folheio,  e  ignoro  se  o  auctor  publicou  os  restantes  que  pro- 
metteu. 

463)  GAMOND  (M.  A.  THOMÉ  DE).  Engenheiro  Civil. 

E. —  Méinoire  siir  le projet  dagrandissement  de  la  ville  de  Lisbonne  com- 
preuant  rétdl^Iissnnriit  duu  grand  port  maritime :  la  création  de  quartiers 
nouveauXy  et  Ir  chemiu  de  fer  de  Colhires.  Ouvrtige  pnblié  dans  les  trois  lan^ 
guês  frannuse,  port(ftinaise  et  anglaise  avec  le  plan  general  et  particulier  des 
travaux prujetés  par—.  Paris.  Dunond,  editeur.  1870,  foi. 

Esta  obra  ó  dedicada  ao  duque  de  Saldanha. 

*  Recicla  r/íírrrva/  Lid>oncn^L\  \ol.  li.^.  |i:iç*.  5i. 


GE  351 

464)  GARCIA  (F.) 

E.—  Vida  de  S.  Francisco  Xavier,  apostolo  de  las  índias.  Toledo,  1673.  Ma- 
drid, 1676. 

465)  GAUTHIER  (MADAME). 

E.— Les  amours  de  Camoens  et  de  Catherine  d'Mhaide,  Paris,  1827.  2  vol.  8.° 
<Náo  foram  só  os  Lusiadas  qae  etemisaram  o  nome  de  Camões,  a  collec* 
ção  de  soas  poesias  o  piizeram  a  par  dos  maiores  lyricos :  tanto  se  podia  mo* 
díOcar  aqaelle  génio!  Bastantes  vezes  tenho  tido  pena,  ao  desenhar  o  quadro 
de  seos  amores  e  de  suas  desgraças,  de  não  saber  bem  a  fundo  a  iingaa  por- 
tagueza,  para  me  arriscar  a  dar  a  meus  leitores  algumas  imitações  de  seus 
cânticos.  Esta  impossibilidade  me  reduziu  a  pôr  na  bocca  do  meu  heroe  ver- 
sos da  minha  composição,  que  se  não  podem  de  maneira  alguma  comparar 
com  os  que  legou  á  posteridade,  e  que  devem  ser  considerados,  conforme  a 
sua  situação,  como  um  impulso  d^uma  alma  victima  de  seus  pesares,  que  es- 
quece um  instante  depois  as  queixas  escapadas  à  sua  dôr,  e  que  não  lhe  dà 
importância  alguma  poética. 

Os  infortúnios  de  Gamões  e  seu  amor  por  Gatharina  d'Atbaide  não  a  base 
sobre  que  fundei  a  obra  que  offereço  agora  ao  publico.» 

466)  GAZZERA  (CONSTÂNCIO).— Secretario  da  Academia  de  Turim. 
Publicou  um  manuscrípto  antiquíssimo  e  muito  importante  para  a  historia 

de  Portugal,  com  o  seguinte  título : 

De  itinere  navali,  de  eventibus  de  que  rebus  a  peregrinis  Hierosolymam  pe» 
tentibus  1189  fortiter  gestis  narratio,  Turim,  1840. 

E'  a  historia  da  derrota  e  aventuras  de  uma  armada  de  cruzados,  que  des- 
aferrou do  Escalda  em  o  anno  de  1189  com  destino  de  arrancar  a  Terra  San- 
ta do  poder  dos  infiéis.  Encerra  a  mencionada  relação  uma  parte  mui  interes- 
sante da  nossa  historia  nos  tempos  primitivos  da  monarchia  portugueza,  tal 
como  o  cerco  e  tomada  de  Silves  por  el-rei  D.  Sancho  I.  ^ 

467)  GABAEURS  (GEORGE  CHRISTIAN). 
E. — Portugisiche  Geschichte,  etc, 

Traducção  do  titulo  da  obra : 

Historia  Portugueza  desde  os  tempos  mais  remotos,  em  que  se  acham  ves- 
tígios doeste  povo  até  ao  presente,  acompanhada  de  tabeliãs  genealógicas  e 
muitas  annotações.  Para  conhecimento  e  comprovação  dos  verdadeiros  factos 
históricos.  Leipzig,  1759.-4.%  2  tomos  n'um  vol.  O  l.**  238  pag.,  o  2.<>  222.  pag. 

468)  GEDDES  (MICHEL). 

E. — I.  The  history  ofthe  Church  of  Malabar,  by  — .  London,  1694.  8.* 
U.  Church  History  of  JSthiopia.  London,  1696.  8.» 

1  Jo2o  Baptista  da  Silva  Lopes — Relação  da  derrota  naval^  façanhas^  succeaos  dos 
cruzados,  que  pari  iram  do  Escalda  para  a  Terra  Santa  no  anno  de  1189. 


352  GE 

469)  GEDINKS  ERIFTEN  VAN  DEN  MARQUIS  DE  POMBAL. 
Te  Amsterdân,  1784. 

470)  GEIBEL  (EMMANUEL)  —Poeta  lyrieo  allemâo  celebre. 
Nasceu  em  oatabro  de  1815  em  Lobech.  ^ 

E.'~Spanish  Volk$Uedec. 

Um  Yolame  de  cantos  populares  e  romances  de  Hespanha,  seguido  de  dois 
outros  volumes  de  poesias  hespanholas  e  portuguezas.  Stuttgard,  1862. 

471)  GENITZ  (H.  B.). 

E,—Ânalyse  da  obra  de  B.  A.  Gomes  —  Flora  fossU  do  terreno  carbonífero 
dai  visinhanças  do  Porto,  Serra  do  Bussaco  e  Moinho  d* Ordem,  próximo  a  Al' 
eacer  do  Sal. 

(No  Neues  Jahrbuch  fur  Mineralogie,  Geologie  and  Palueontologie^  1867 
n.*  3).» 

472)  GÊNEHAL  (A)  collections  of  voyages  and  discoveries  made  by  tke 
Portuguese  tn  the  fifteenth  and  sixteenth  century.  London,  1789. 

473)  GENERAL  ORDERS  OF  THE  DUKE  OF  WELLINGTON 
IN  PORTUGAL,  SPAIN  AND  FRANGE.  London.  1832.  ' 

^  Yapereaa  —  Didionnaire  det  Contemporaint,  pag.  745. 

'  Jornal  de  Sciencias  Mathematicat,  da  Academia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa,  toI. 
«.•,  pag.  7. 

>  S.  ei.*  o  sr.  marechal  comraandante  em  chefe  do  exercito  portagnex  tem  qoe  cum- 
prir o  agradável  dever  para  com  as  tropas  de  S.  A.  R.  que  estiveram  na  batalha  do  Bof- 
saco,  de  lhes  assegurar  a  soa  plena  satisfaçfto  pela  brilhante  maneira  com  que  se  hoa- 
veram,  a  qual  adquiriu  a  estima,  admiração  e  confiança  de  seos  companheiros  de  armas 
do  exercito  inglez.  S.  ex.*  viu  factos  no  combate,  e  uma  conducta  nas  tropas  portugue- 
zas, de  fazer  honra  ás  tropas  mais  aguerridas,  e  não  faltará  a  dar  a  saber  a  S.  A.  R.  o 
roereoimento  distiocto  das  suas  tropas,  e  em  particular  dos  corpos  e  indivíduos  que  mais 
se  assignalaram,  e  não  tem  que  limilar-M  senão  a  respeito  d*aquelles  quejtiveram  a  for- 
tuna de  combater  com  o  inimigo,  todos  estes  cumpriram  como  deviam,  e  o  inimigo  o  pôde 
melhor  dizer  pelo  que  experimentou.» 

•A  conducta  do  regimento  n.*  8  foi  extremamente  brilhante  pelo  ataque  de  bayoneta 
que  fez  ao  inimigo  com  os  regimentos  inglezes.  A  conducta  da  brigada  que  commanda  o 
sr.  brigadeiro  Pack,  foi  excellente. O  batalhão  de  caçadores  n.»  I,  pela  dístincta  coragem 
e  constância  com  que  atacou  o  inimigo  e  soíTreu  o  seu  fogo  durante  todo  o  dia,  merece 
também  os  maiores  elogios,  e  o  tenente  coronel  Luiz  do  Rego  Rarreto  e  seus  bravos  offi- 
ciaes  e  soldados  receberam  approvação  de  s.  ex.*  O  sr.  brigadeiro  CoUeman  e  os  srs.  co- 
ronéis Luiz  Ignacio  Xavier  Palmeirim  e  José  Cardoso  de  Menezes  Souto  Maior  receberam 
a  segurança  da  satisfação  Je  s.  ex.*  pela  sua  conducta.  A  boa  carga  que  deram  cinco 
companhias  do  regimento  n.*  19,  debaixo  das  ordens  immediatas  do  tenente  coronel  M. 
Bean  mereceu  ser  particularizada,  e  foi  admirada  de  todo  o  exercito.  O  batalhão  de  ca- 
çadores n.*  ?,  commandado  pelo  tenente  coronel  Nixon,  mereceu  approvação  de  s.  ex.*  O 
batalhão  de  caçadores  n.°  1,  commandado  peio  tenente  coronel  Jorge  d'Avílez  compor- 


GE  35;{ 

474)  GENERAL  VIEW  OF  THE  STATE  OF  PORTUGAL  con- 
taining  a  topographical  description  thei^eof,  (Descripção  topographica  de,  etc.) 
LondoD^  1799. 

475)  GENIGE  ADVYSEN  ende  verklaringhen  uzt  BrasUien.  In  dato 
den  19  Mez  Í648.  Van  7  gepasseerde.  Tot  Amslcrdam.  By  Philips  van  Macedo- 
nien.  Anno  1648,  4  foi.  sem  numeração.  (M.  S.) 

476)  GENLIS  (Comtesse  de). 

E. — I.  Les  tableaux  de  M.  le  Comte  de  Forbin,  oíl  la  mort  de  Pline  Vancien 
et  dines  de  Castro.  Nonvellífs  historiques  Paris,  1817. 

11.  Inês  de  Castro,  suivie  de  la  mort  de  Pline  Vancien.  Paris,  1826.^ 

477)  GENLIS  (M.»*  dk). 

E. —  Tlie  companion  for  conversai ion  as  occur  most  frequently  in  travei- 
ling  in  English,  Frendi,  liaiian,  Spanish,  Portuguese.  Bremen,  1818.  (É  uma 
collecçào  de  diálogos  em,  etc.) 

iou-se  eitromamente  bem,  e  contentou  perfeltamcote  a  s.  cx.«,  o  o  tenente  coronel  accei- 
tará  seus  agradecimentos.  O  batalhão  de  caçadoro.^  n.**  3,  e  o  tenente  coronel  Elder  tem 
qae  accreáceutar  a  brilhante  conducta  n'csse  dia  á  sua  reputação  já  tAo  justamente  ad- 
quirida: este  batalhão  tem  sempre  sido,  c  contínua  a  ser  admirado  polo  exercito  e  por 
8.  ex.'  O  brigadeiro  Campbell  deu  a  nclhor  informaçào  do  modo  com  que  so  hou?e  o 
batalbSo  de  caçadores  n.**  C,  commandado  pelo  tenente  coronel  Sebastino  Pinto  d'Araujo 
Corrêa.  A  conducta  das  brigadu^  de  artilbcrid  de  9  e  G,  commandadas  pelo  major  Arens- 
tcbild,  as  quaes  soffreram  todo  o  dia  o  fogo  de  quatorze  peças  do  inimigo,  é  digna  de 
grandes  elogios.  O  sr.  general  Picton  informou  a  respeito  d'ellas  o  melhor  pussivcl.  As 
brigadas  de  artilbciia  3  c  de  montanha  conduziram-se  muito  bem,  c  s.  ex.*^  dá  os  seus 
agradecimentos  a  todas  estas  brigadas  e  aos  respectivos  commandantes. 

«S.  ex.*  deseja  que  todos  os  srs.  brigadeiros  o  commandantes  dos  sobreditos  corpos 
deero  aos  oíGciaes  e  soldados  a  sua  plena  approvaçào  o  agradecimento  pela  sua  conducta 
da  qual  ello  mesmo  foi  testemunha;  e  os  srs.  commandantes  eoTÍarào  ao  ajudante  gene- 
ral os  nomes  d*aquelles  ofriciacs,  oflTiciaes  inferiores  e  soldados  que  se  distinguiram,  a  Gm 
de  que  S.  A.  R.  os  recompense  como  elles  merecem.  S.  ex.*  viu  era  todas  as  mais  tropas 
o  desejo  e  boa  disposição  com  que  se  achavam  para  atacar  o  inimigo,  c  desejou  que  este 
lhes  desse  occasião  de  egualarem  os  seus  companheiros,  c  de  vingarem  as  ofTensas  que 
sua  pátria  tom  recebido;  mas  esta  occasiSo  não  está  distante,  e  chegará  quando  o  inimi- 
go quUer,  e  será  outro  dia  de  gloria  para  o  exercito  portugucz,  pois  que  o  exercito  deve 
estar  seguro,  que  ainda  que  o  inimigo  nfio  se  atrevendo  a  tornar  a  atacar  a  frente  por 
oovas  tentativas,  tem  influido  em  s.  cx.'  o  sr.  marechal  general  lord  Wellington  para 
deixar  uma  posição,  da  qual  todas  as  forras  e  esforços  do  inimigo  não  podiam dcsalojal-o, 
jamais  com  um  exercito  do  soldados  taes  como  os  iníçlezcs  e  porluguezes,  elle  poderá 
preencher  as  suas  vistas  contra  a  liberdade  e  felicidade  do  paiz;  c  quanto  mais  avançar,  tanto 
mais  caro  pagará  a  sua  temeridade,  a  sua  cubica,  e  sua  injusta  ambição.  Vós  sois  por- 
luguezes, e  está  aqui  o  exercito  inglez.  e  ambos  os  exércitos  conduzidos  e  dirigidos  por 
aquclle  que  tem  vencido  tantas  vezes  o  inimigo  na  causa  de  Portugal;  o  com  taes  exerci- 
dos, e  debaixo  das  ordens  de  s.  ex.*  o  sr  nvircchul  general  lord  Wellington,  c>tá  segura 
a  victoria.— Ajudante  general,  Mousinho.— Ordem  do  dia.— Quartel  general  do  Bussaco, 
S8  de  setembro  de  IStO.» 

TOMO  I  i3 


178)  GEJXTLESULS, 

E.—A  picinre  of  Lisbon.  Londoo,  1809.  (Pintura  de  Lisboa). 

479)  GEORGS  ANDBIBSR. 

EL—  Reyzen  doar  Oort.  Shuiy  etc.  (Viagem  às  índias  Orientaes,  China,  Tar- 
taria.  Pérsia,  Tarqnia,  etc.)  Amsterdam,  1670.  8.* 

480)  GEORGE  (MR.  DE   SAINT). 

E. — Vesdave  de  Camoens,  opera  comiqae  en  on  acta,  par—,  musique  de 
Fletaw.  Paris,  1843. 

481)  GESTA  PROXIME  PER  PORTUGALENSES  m  Indm,  Ae- 
thiopta,  et  aliis  orienialibus  terris,  Petri  Âlfonsi  Malhereo  iiídustria  et  corre' 
ctione  impressa.  (Feitos  obrados  recentemente  pelos  portagnezes  na  índia,  ete.) 
RomíP,  1506.  J.  Besicmeok,  4.*'  Coloniae  Agripinae,  1507. 

482)  GHILLANT   (FRÊDERIG   GUILLAUME).— Escriptor  allemio. 
Nascea  em  Erlangen,  no  anno  de  1807.  i 

E.—  Geichickte  des  Seefahrers  Mart.  Bahein.  Leipsick,  1853.  Nnrb^g.  I8S3. 
ííiistoria  do  navegador  Martin  Bebaim). 

483)  GIL  (ANTÓNIO). 

E. — Don  Pedro  de  Portugal,  tragedia  en  5  actoSf  escrita  en  francês  por 
Mr.  Lnrien  Arnanlt  y  traducida  libremente  ai  castellano  por  — .  Madrid,  1829. 

^^^}  GIO:   GIOSEPPE  Dl   S.    TERESA  (Carmelitano  scALZo). 

Nasroii  em  Lisboa,  Marianno,  chamado  no  século  João  de  Noronha  Freire.  ^ 

E. — Istoria  delle  guerre  dei  reyno  dei  Br  asile  accadute  tra  la  corona  de 
Portugalo,  e  la  republica  di  Olanda,  composta  ed  offerta  alia  sagra  reale 
Maexía  di  Piefro  secando  re  di  Portogallo,  etc.  Roma,  1698;  foi.  com  grande 
numero  de  mappas  de  cidades  do  Brasil;  e  com  os  retratos  deD.  PedcoUe  de 
1>.  Joào  IV.  1.»  parte  232  pag.;  2.»  211  pag. 

Como  única  excepçiio  á  regra  por  mim  estabelecida  de  não  tratar  senão 
de  obras  compostas  por  estrangeiros,  menciono  esta :  1.»  por  ser  escripta  em 
língua  estranha;  2."  por  ser  impressa  em  paiz  estrangeiro;  e  3.»  por  ser  obra 
muilo  conhecida  e  cilada  pelos  escriptores  estranhos,  e  na  actaaUdade  não 
fácil  de  ser  encontrada. 

'iH:í)  GIOIA. 

K.~Vit(i  dei  P.  Carafja  da  Gaela,  rapmino  e  in  Affrica  missionário  após- 
fdhrif,  il  qnnlp  movi  in  Loanda  di  Angola,  Vanno  d£  1662.  Napoli,  1669.  4.» 

•  VaiM-riMii.  lUrlionairc  des  Contem j/orains,  pag.  7JÍ8. 
"  Hihliolhrrn  Hislorica  de  forlníjal ,  pag.  ISf». 


GO  355 

486)  GLAZEMAKER. 

E.—Sheepvaart  der  Frantschen  naar  Oost-Indien^  etc.  (Viagem  dos  fran- 
cezes  ás  índias  Orientaes  com  tres  navios  da  Normandia  por  Beaulieaa,  e  tra- 
duzido por—).  Amsterdam,  1669,  4° 

487)  GLEIG  (Q.  R.) 

E.— I.  The  litissar.  Scenes  in  Spain  and  Portugal.  Lonáon,  (Scenas  em  Hes- 
panha  e  Portugal.) 

n.  The  light  dragoon.  Peninsular  War.  London,  1850.  (Sobre  a  guerra  pe- 
ninsular.) 

488)  GLUOK. 

E,—Parid  ed  Elena,  Dramma  per  musica  dedicato  a  sua  alteza  el  signor 
duca^Don  Giovanni  de  Braganza.  Yienna.  Nella  estamparia  de  Giovanni  To- 
maso,  1770.  V.  Dibliographia  Critica  de  Historia  e  Litteratura,  pag.  110. 

489)  QODEFROY  (DENIS  THEODORE). 

E. —  De  r origine  des  roys  de  Portugal^  issus  in  ligne  directe  masculine  de 
la  maison  de  France,  Paris,  1610.  Ibid.  16t2.  Ibid.  1614.  Ibíd.  1616.  Ibid.  1624. 

490)  GODIGNI  (N.) 

E. — Vita  patris  Gonzali  SUverim  in  urbe  Monotapa  martyrium  passL  Lug- 
âani,  1612.  8.o 

(Vida  do  P.  G,  da  Silveira,  que  padeceu  o  martyrio  em,  etc.) 

491)  QODMAN  (F.  DU  GANE). 

,  E. — Notes  on  the  birds  of  the  Azores,  (Notas  a  respeito  dos  pássaros  dos 
Açores).  No  jornal  /6Í5,  janeiro  de  1868,  pag.  88.  V.  Morelet, 

492)  GÓES  (FERNANDO  DE). 

E. — Breve  summa  y  relacion  de  las  vidas  y  hechos  de  los  reys  de  Portugal 
y  cosas  succedidas  en  aquel  reyno  desde  su  principio  hasta  el  anno  de  1595. 
MaBtua,  1596. 

493)  GK)EZ£  (EDMOND).—- Jardineiro  allcmào,  chamado  a  Portugal  com 
o  fim  de  dirigir  os  melhoramentos  do  jardim  botânico  de  Coimbra,  o  actual- 
mente encarregado  de  formar  o  jardim  botânico  da  escola  poiytechnica  de 
Lisboa. 

£.— I.  Sur  la  variabilité  des  espêces,  Examen  de  la  doctrine  de  la  varia- 
tion  des  espêces  dans  le  règne  vegetal  de  M,  Herdei,  (No  Jornal  de  Scieticias 
Mathematicas  etc.  da  Academia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa,  vol.  l."*,  pag. 
209  e  seg.) 

11.  Bibliographie  Botanique.  Idem,  vol.  2.«,  pag.  70. 

E  vários  artigos  sobre  ass  umptos  bolan  icos  Jornal  do  Porto. 


356  GO 

494)  GODfPY  (Coute  FRANQOIS  LOUIS  EDHONDE  GA6RI£I« 
DE  MAITZ  DE—) 

E. —  I.  Compte  rendu  au  roi  de  Portugal  des  operatians  ashvnomiques  et 
geographiques  faites  sur  le$  cotes  de  ce  pays. 

lí.  Observatiojis  faites  à  Aveiro  et  à  Funchal.  (Manuscriplos  inéditos  guar- 
dados na  Academia  da  Marinha  cm  Paris). 

495)  GOLDSOHMIDT  (BERTOLD). 

S. — Noções  praticas  da  litujiM  allemã,  Leii)zig,  18o9. 

496)  QOLLUT  (LOUIS). 

E. —  Mémoires  historiques  dela  republique  Sequanoise  et  des  pr  inces  des 
catholiques  róis  de  Castille  et  de  Portugal,  et  de  la  maison  desdicts  princes  de 
Bourgogne.  Dole,  1592,  foi. 

497)  GONDAR  (ANGE). 

K. — Discaurs  politique  sur  le  comrnerce  des  anglais  en  Portugal,  Paris, 
1756. 

498)  GONZALEZ  (D.  JUAN). 

E.—Nueva  corografia.  Descricion  de  todas  las  provindas,  viilas  e  bispa- 
dos, arzobispados,  pnentes,  fortalezas  y  constderables  lugares  dei  reino  de  Por» 
tugaly  en  que  se  imiestra  cl  modo  de  hallar  estes  lugares  en  sus  respectivas  príh 
vindas  j  con  los  principal  es  rios^  bahias,  mares,  montanas,  llanuras,  sierras  y 
collados,  sobre  que  estan  sif nadas,  ctc.  Su  aiiior— .  Sevilia,  iraprenta  de  J.  Pa- 
dal.  100  pag.  Sem  data.  ^ 

499)  GONZALES  (MODESTO  FERNANDEZ)  De  ia  Sociedad  do  65- 
íTítores  V  arlistas,  auxiliar  dei  ministério  de  hacienda. 

K.—  I.  Pastellero  de  Madrigal.  Homance. 

II.—  Retratos  y  Semblanzas  por — .  Madrid.  Imprcnta  doía  Biblioteca  de 
instruccion  y  recreo.  8.°,  238  pag. 

IV  uma  collecçào  de  pequenas  biographias  de  escriptores  portugaezes  ohes- 
panhoe?.  Os  porluguozcs  biographados  sào :  Theophilo  Braga  —  Eduardo  Coe- 
lho —Luiz  de  Campos —  Miguel  Lobo  de  Bulhões— A.  A.  Teixeira  de  Vascon- 
cellos  — J.  Cosia  Goodolphim  —  A.  Pereira  Marecos  —  António  Rodrigues  Sam- 
paio —José  Maria  Latiuo  Coelho. 

IIL— Portugal  Contemporâneo.  De  Madrid  d  Oporto  posando  por  Lisboa, 
(Diário  de  nu  camiwmte).  Madrid.  Irnprerila  de  Manuel  Tcllo,  1874.  8.°  256  pag. 

«Portugal  tem  historia  própria,  ostenta  galharda  litteratura,  o  oíTercce 
a  naeionaes  e  estrangeiros  os  ])roduclos  do  trabalho,  do  saber  c  do  génio  hu- 
mano. 

«Xao  póilií  renegar  d(»  sua  origem  neinlradi(jues.  Irmãos  temos  sido  c  con- 

'  ílrvr  -rr  d'»  .ume  <li;  I7í:2.  Ili(|.»lg'j.  — A^/c/tm  I!il>'i()iira;"i'->  /isy"n"/t>/,  lonio  o.* 


GO  357 

tianaremos  a  ser,  sem  cada  paíz  pendor  sua  necessária  ínJopendcacia.  Não' 
obsta  porém  isto  a  que  Portugal  reúna  condições  próprias  para  viver  sem  au- 
xilio estranho,  já  pelos  esforços  dos  naluracs,  já  pelas  riquesas  de  sou  solo. 

•A  natureza  o  tem  favorecido  com  rios  navegáveis,  altas  serras»  valles  fér- 
teis 6  pittorescos,  campinas  deliciosas,  lindas  collinas,  costas  dilatadas  com 
babias  abrigadas  dos  ventos,  mineraes  abundantes,  e  com  as  margens  do  Dou- 
rO|  Minho,  Mondego  e  Tejo,  base  da  agricultura  nacional. 

«O  trabalho,  o  desinteresse  e  a  piedade  dos  homens  lhe  deram  templos 
sumptuosos,  hospitaes  magniílcos,  monumentos  desejados,  cidades  bellissimas, 
caminhos  de  ferro  e  estradas  com  abundância,  formosas  estatuas,  castcllos  o 
muralhas  sem  conto,  productos  do  solo  cxcelientes,  praças  de  guerra  em  esta- 
do de  defesa,  bíbliothecas  escolhidas,  innumeraveis  asylos  de  ensino,  manu- 
seriptos  valiosos^  palácios,  amphitcairos,  museus,  quartéis,  portos,  diques, 
aqueductos  :  em  summa,  tudo  de  quanto  ha  mister  uma  nação  na  sua  vida 
interna  e  manifestações  exteriores.»  Pag.  84. 

«Poucas  povoações  europeas  ostentam  arrabaldes  tão  pittorescos  e  uma  ve- 
getação tão  exuberante  como  a  cidade  de  .Lisboa.  Belém,  Bemílca,  Queluz, 
Campo  Grande,  Paço  d*Arcos,  Oeiras,  Nova  Cintra,  Cacilhas,  CoUares  e  Mafra 
comprovam  que  a  capital  do  reino  lusitano  não  tem  que  invejar  ás  mais  afa- 
madas do  mundo  civilisado.  A  profusão  de  casas  de  campo,  a  abundância  de 
arvoredo,  o  esmero  nos  jardins  e  a  mimosa  côr  das  flores  predispõem  o  via- 
jante para  novas  visitas  e  prolongadas  demoras.  Começa,  pois,  nossa  peregri- 
nação pelas  profundas  e  risonhas  quintas  de  Lisboa,  o  cm  primeiro  logar  por 
aqueilã  de  que  disso  o  poeta  Campoamor : 

Lo  tengo  bicn  presente; 

La  quinta  de  Pombal,  honra  dei  Tajo, 

Se  encuentra  rio  abajo,  rio  abajo,  v 

Saliendo  do  Lisboa  hácia  el  Poniente. 

En  Portugal  los  suenos  son  pasione<; 

Y  en  el  bello  jardin  que  os  ha  nombrado, 

Hecho  por  algun  sábio  enamorado  • 

Del  arte  de  avivar  las  tcnlacionos, 

Um  dia,  el  más  hermoso  de  mi  vida, 

Ninas  bellas  y  jóvenes  rendidos, 

Jogamos  a  escondemos  y  en  seguida  * 

A  volvemos  á  hallar  bien  escondidos.    Pag.  :]97. 
IV.  Los  Companeros  de  Vasco  da  Gama.  Madrid,  1S75.  Foi  esto  romance 
vertido  em  vernáculo  pelo  sr.  Cândido  de  Figueiredo. 

500)  QOTOQRIDI. 

E.— Índio?  OrierUalis  Historia.  Francofurti,  1C28,  foi. 

501)  GOULAHD  (SIMON). 

E.-^IUstoire  de  Portugal  depuis  Van  141)íj  jusqu\m  1578  sous  Emanuel  íí 
Jean  IH  et  Scbastien  I  en  vingt  livres,  áml  les  })reniiers  sont  traduits  du  Latin 


358  GR 

de  Jerome  Osoiíías,  et  les  hmt  suivants  pris  de  Lopez  de  Castagnede  et  (Toií- 
tres  historiens.  Saínt  Cervais,  1588. 

502)  QOURLAY  (Dr.  WILLIAM).  • 

£.—  Observatians  on  the  natural  History,  climate  and  deseases  of  Madeira 
during  aperiode  of  eighteen  years.  London,  i8ii.  (Observações  sobre  a  historia 
natural,  clima  e  eDÍermidades  da  Madeira,  darante  um  período  de  dezoito 
ânuos). 

503)  GOURNÉ  (PIERRE  MATHIAS). 

E.-^Description  géographique  de$  royaumes  WEspagne  et  de  PortugaL-- 
i743. 

504)  GRAHAM  (MARIA). 

E.-'Journal  of  a  voyage  to  Brasil,  and  residence  there  during  part  of  the 
yars,  Í8Í1-22-23.  Londou,  1824. 

505)  GRAMTVTATICA  (NOVO  E  FACILIMMO  METHODO  DE)  Fran- 

ceza  e  Portugtieza,  recopilada  dos  melhores  auctores  que  escreveram  Arfes  e 
Orthographia,  de  la  Rue,  Restaut^  e  Gelmace,  de  la  Touche,  DesmaraiSt  ete. 
Feito  por  ordem  do  ex."^  cardeal  de  Rohan,  ordenado  por  um  génio  amante 
dos  progressos  dos  estudiosos  doeste  idioma.  Treveux.  Na  officina  de  António 
Ginião,  1776.  8.°,  342  pag. 

506)  GRAMMATICA  PORTUGUEZA.  Vocabulário  emportuguez  e  ma- 
labar. Tranquebar,  1733. 

507)  GRAMMATIK  PORTUGUESISCHE.' Franr/brí,   by   Cari  GO' 

ttlieb.  Elrauss,  1778. 

•  508)  GRANADA  (Fr.  LUIZ  DE).— Celebre  escriplor  ascético,  frade  da 
ordem  do  S.  Domingos. 

Nasceu  em  Granada  *  no  anno  de  1504,  e  falleccu  em  Lisboa  no  de  1587. 

Jaz  ao  entrar  a  porta  travessa  em  S.  Domingos  de  Lisboa. 

E.— L  Compendio  da  doutrina  christã,  recopilado  de  diversos  auctores,  que 
d'es(a  matéria  escreveram,  pelo  R.  P.  F.  Luiz  de — ,  provincial  da  ordem  de  S. 
Do^w? /í í/as'.— Accrescon taram -se  ao  cabo  treze  sermões  das  principaes  festas  do 
anno  polo  mesmo  aiictor.  Foi  impresso  em  Lisboa,  em  casa  de  Joannes  Biavio 
de  Agripina  í^ulonia.  Anno  íooí).  i.",  174  foi. 

oOtíj  GRANDPERE  (LOUIS  M.VRIE   JOSEPH  OLIVIER). 

E,—  V^O!j(ige  à  la  cute  OcciíliibUc  dAfriqu",  rontenant  la  description  des 
nueurSy  usagc^,  luis,  ijonccrnaneiU,  cl  commerce  des  états  du  Congo,  etc,  et  une 

í  Fr.  L".i/.  'lo  Sou-!     íh-h-.,  [n.  ./.•  >    Do-mnífo-.,  Iiv.  .'J «,  «-ap.  12." 


6R  359 

áiscussion  ou  Von  examine  si  ies  anciens  avaient  doublé  lepromontoire  dn  Cap  ' 
de  Banne  Esperance  avant  Ies  Portugais.  Paris,  Í80i.  2  vol. 

5iO)  GRANT. 

E,'~Histary  of  Brasil,  comprising  a  geograpkical  Account  of  the  Country 
a  narrative  of  remarkable  events.  (Historia  do  Brasil).  , 

5(1)  QRAVIO  (GADABALE). 

E.—De  Ichthyotyrannide.  JJb.  in  lusitanorum  regum  gratiam  et  commen' 
datíonem.  Coioniae  Agripinae.  1563.  (Da  tyranaia  dos  peixes.  Livro  em  obse- 
quio e  loavor  dos  reis  de  Portugal). 

Nâo  pade  encontrar  este  livro,  por  isso  nada  poáso  mais  dizer.  Talvez  seja 
alguma  obra  graciosa. 

5i2)  GRENAILLE  (O^STONNIERES  DE) 

E,—Mercure  Portugais,  ou  relations  politiques  de  la  fameuse  révoluticn 
d^Etat  arrivée  en  Portugal  depuis  la  mort  de  D,  Sebastienjusqu*au  couronne- 
meni  de  D.  Jean  IV  à  présent  régnant.  Paris,  1643.  8.» 

513)  QREVILLE  (Lord  GEORGE). 

E. — Portugal,  A  põem,  in  two  cantos.  London,  i812. 

514)  GRYSLEY  )GABRIEL).~Allemào  qae  veiu  estabclecer-se  em  Lis- 
boa no  reinado  de  D.  João  IV. 

E.— Desengano  para  a  Medicina,  ou  botica  para  todo  o  pae  de  familias. 
Consiste  na  declaração  das  qualidades  e  virtudes  de  260  hervas,  com  o  uso 
deltas:  também  de  60  aguas  estiladas,  com  as  regras  da  arte  da  estilaçõo.  Di- 
rigido ao  illm,"*  senado  da  camará  de  Lisboa,  por  Henrique  Valente  de  Olivei- 
ra, 1656.  8.%  182  folhas. 

U.  Viridarium  Lusitanicum  Ulysipone.  1661. 

Id.  nomimlms  Linneants  illustratum  a  Dondnico  Vandelli.  Olyssipooe^  1789. 

515)  GROGNARD  (Sisua  P.  GHAPELAIN  DE  M.  R.) 

E. — La  couronne  du  Portugal  ou  la  perfaite  connoissance  de  ses  royanmes, 
conquêteSy  loix,  míájeimes,  vnterets,  etat  presant  etc.  Avec  un  abregé  de  san  hiS'  ^ 
UÂre,  et  un  traUé  curieux  de  la  marine:  du  change  de  Portugal  et  du  mariage 
de  S,  A.  R.  Le  tout  recueilli  en  abregé  pour  servir  d'instiiiction  à  ceux  qui 
auront  Vhonneur  d^être  à  son  servtce.  Par  le  — .  A  Turin,  1682.  Chez  Barthe- 
lemy  Zappate.  Avec  permission.  12.<»|  254  pag. 

Ê  dedicada  esta  obra  a  D.  Diogo  de  Carvalho  Cerqueira,  enviado  extraor- 
dinário de  Portugal  a  sua  alteza  real. 

Faz  o  auctor  os  maiores  elogios  a  Portugal  chamando-lhe  um  dos]mais  bel- 
los  paizes  do  Universo,  e  á  cidade  de  Lisboa  um  dos  mais  bellos  theatros  d» 
mundo.  A  fertilidade  das  margens  do  Tejo  parece  incrível.  Palmella  é  um  le- 
gar de  delicias  e  pode-se  dizer  que  é  um  logar  encantado  (pag.  56.)  A  provi»- 


360  GR 

cia  d'Entre  Douro  c  Minho  é  um  pequeno  paraíso  terreal.  Sao  n'ella  os  ali- 
mentos tão  bons,  (|ue  ali  se  vive  muito  tempo.  N'uma  palavra  a  Portugal  nada 
falta,  seja  o  que  for. 

«Não  custa  a  conhecer  a  nação  portugueza,  se  se  reparar  na  historia  de  soas 
emprezas,  nas  suas  victorias,  gloria  e  conquistas. 

«Sào  os  portuguezes  ordinariamente  roais  propensos  á  naveg[açao,  ao  com- 
mercio,  à  guerra,  do  que  às  heilas  lettras^  apesar  de  serem  elles  dotados  d'um 
espirito  subtil.  O  que  para  isso  mais  contribue,  é  o  exemplo  de  seus  avós,  que 
por  aquelles  meios  estabeleceram  suas  casas  e  serviram  ao  rei  para  augmen- 
tar  a  gloria  e  forças  do  estado.  Tem-se  visto  que  souberam  fazer  para  as  con- 
solidar e  conservar  tào  bellas  conquistas  nas  costas  d'Africa,  Asía  e  em  o  Novo 
mundo.  Commerceiam  com  todos  os  povos  do  septentrião  e  enriquecem-se  em 
pouco  tempo.»  (Pag.  63.) 

•Sào  mais  cortezes  que  os  castelhanos,  cujo  orgulho  lhes  pareceu  sempre 
intolerável.  Sào  também  homens  muito  expertos,  civis  e  próprios  para  tudo. 

«As  conquistas  d'este  reino  estendemse  a  mais  de  cinco  mil  léguas  de  cos- 
ta, e  como  os  portuguezes  teem  querido  tornar-se  por  toda  a  parte  senhores 
do  commercio,  todas  suas  praças  estào  à  borda  do  mar,  onde  seu  principe,  qne 
ó  conhecido  em  todas  as  quatro  partes  do  mundo,  tem  vários  reis  por  vassa- 
los o  tributários  com  a  commodidade  de  fazer  vir  para  a  Europa  as  mais  ra- 
ras c  preciosas  mercadorias  do  Oriente» 

Desde  pag.  66  até  88  é  a  lista  das  possessões  porluguczas  nas  differentes 
partes  do  mundo.  «Póde-se  dizer,  exclama  o  auctor,  que  nào  ha  nação  na  Eu- 
ropa que  5  'ja  tào  poderosa,  tào  rica  c  tào  estimada  como  o  é  a  portugueza  nas 
índias  orientaes,  quer  isto  proveuha  da  pesca  das  pérolas,  e  das  conquistas  que 
soube  ganhar  c  conservar  tão  gloriosamente,  quer  de  sua  maneira  de  proce- 
der, mais  alTâv(^i  que  a  dcs  hespanhoes,  c  do  sua  habilidade  admirável  em  to- 
das as  coisas. 

«Caslclla  deve  sua  liberdade  aos  reis  do  Portugal  (pag.  181),  cujas  armas 
maio  conliilmirain  do  que  as  d'ella  a  expulsar  os  mouros  dos  reinos  de  Gra- 
nada e  dl.'  Andaluzia,  e  a  desviar  as  conquistas  que  seus  miramolins  poderiam 
ernprclhudiT,  se  os  portuguezes  iiào  se  tivessem  opi)OSto  a  seu  furor,  etc. 

«O  reino  c  muito  povoado,  e  lodos  os  porta.u^uezes  aij^uerridos.  D'aqui  saí- 
ram grandes  exércitos,  e  a  naçào  povoou  colónias  nuiiio  notáveis,  mesmo  an- 
tes da  conquista  da  índia,  e  apezar  de  ter  sido  Portugal  em  lodos  os  séculos 
um  campo  de  hatallKis  ou  do  revoluções.  Seus  rei^  sustentaram  só  com  as  for- 
ças  do  paiz  guerras  contra  os  mouros  e  castelhanos,  e  outros  visinhos  que  ti- 
nham um  numero  quasi  infinito  de  soldados.  Ampliaram  os  limites  do  paiz,  e 
levaram  au  caJto  i-mprezas,  (|ue  uma  parte  da  KuropaníMU  mesmo  teria  ousado 
enjpreÍH  nder.  Vt>v!;aram  as  cosias  d 'Africa,  as  índias  Orientacs,  o  Hrazil,  e 

para  alli  eonliniLim  a  mandar  annualuieute  mais  de  seis  mil  homens » 

Em  (luanio  a  marinha  Portugal  é  a  primeira  naçào  do  Univt;rso  (pag.  198).  Os 
navios  sà(»  lào  \m\\  construídos,  e  a  habilidade  dos  marinhtííros  ajuda  tào  bem 
a  «'vjragem  im»?  íioMados  e  os  projectos  dos  generaí's,  que  com  justa  rasào  a  es- 
quadra Je  Portugal  é  o  terror  das  índias,  o  por  isso  alli  conserva  praças  afãs- 


GU  361 

tadas  amas  das  outras,  e  do  meio  de  tantos  reis  inimigos.  A  cansa  d*isto  é  qne 
o  numero  dos  navios  em  serviço  da  coroa  é  extraordinário;  e  se  todas  estas  en- 
quadras se  unissem  á  frota  que  anda  a  crusar  por  aqueiles  mares  ás  ordens 
de  S.  M.  Portuguesa  seria  uma  frota  capaz  de  fazer  tremer  uma  infinidade  de 
povos.  • 

516)  aUAliTIEIil  (G.) 

£. — Relazione  delia  ventUa  de  gli  ambasciatori  Giaponesi  à  Eoma,  fino  alia 
partUa  de  Idsbona,  Con  una  descrizione  dei  loro  paesi  e  costum  e  conle  aceíh 
glienze  falte  loro  da  tutti  i  principi  Christiani  per  dove  sono  passati.  Yene- 
zia,  1586. 

617)  GUATTANI  (G.  A.) 

E. — Pompa  fúnebre  par  le  solemni  exequie  di  Maria  Isabella  di  Braganza^ 
regina  delle  Spagne  et  delle  Indie,  fatie  celebrare  in  Roma  da  S.  M.  C.  Vau» 
gusta  consorte  Fei-dinando  VIL  Roma,  1820,  foi.  max.  Com  magi\|fícas  es- 
tampas. Existe  um  exemplar  na  fiibliottieca  Publica  de  Lisboa. 

518)  GUATTINI  E  OARLO. 

E.-^Viaggio  nel  regno  dei  Congo,  Venezia,  1679,  Reggio,  1672*  Bologna, 
1678.  Em  francez.  Lyon,  i680. 

519)  GUÉNÊE  (ABBÉE). 

E.—Lettres  de  quelques  juifs  portugais,  allemands  et  polonais  aM.de  Vol- 
taire, avec  un  petit  Commentaire,  extrait  d'%i,n  plus  grand,  à  Vusage  de  ceux 
qm  liseni  ses  ceuvres:  suivies  des  Memoires  sur  la  fertilité  de  la  Judée  par  —. 
Dixihne  édxtion  revue^  corrigée  d'aprés  les  mantAScrits  de  Vautèur,  et  augnien- 
tée  d^une  table  alphabétique  et  raisonnée  des  matiêres  et  des  notes  qui  mettent 
cet  ouvrage  en  rapport  avéc  les  (euvres  de  M.  de  Voltairey  imprimées  à  Kiel, 
ou  leurs  réimpressions,  Lyon,  1819.  3  vol.  8.» 

As  cartas  de  alguns  judeus  portuguezes  são  obra  do  Isaac  Pinto,  judeu 
portuguez.  Estas  cartas  foram  muito  apreciadas,  e  teem  por  fim  corrigir  os 
erros  que  formigam  nas  obras  de  Voltaire,  sempre  que  falia  da  religião  ju- 
daica. Seguem-se  depois  as  cartas  dos  judeus  allemãôs  e  polacos,  dirigidas 
ao  mesmo  fim.  Veja-se  a  Biograpbia  de  Guenné,  que  precede  esta  edição. 

520)  GUERRA  (LA)  DELLA  PENISOLA  solto  il  suo  vero  punto  di 
vista  ossia  lettera  ai  Sig.  Abbate  F....  riguardo  alia  storia  deWultima  guerra 
pubUcata  recentemente  in  Firenze,  Con  un  Appendice,  ed  una  Tavola  Crono* 
lógica  degli  Avenimenti  piu  memorabili  dalVanno  1803  ai  1814.  4.'»,  253  pag. 
Itália,  1816. 

O  auctor  pretende  mostrar  por  occasião  de  censurar  alguns  erros  que  se 
encontram  na  historia  da  referida  campanha  escripta  por  Du  Pradt,  que  os 
serviços  prestados  pelos  portuguezes  foram  muito  mais  importantes,  e  coatri- 
buiram  muito  mais  não  só  para  a  independência  da  Península,  mas  até  para  a 
queda  de  Napoleão,  do  que  os  dos  hespanhoes.  Todo  o  continente  Europeu 


chêfffm  a  estar  debaixo  do  domínio  do  imperador  dos  frasicexes  á  excepção  de 
Portugal. 

«As  tropas  portagoexas  foram  am  modelo  4e  firmeza»  regularidade  e  rapi- 
dez de  movimentos,  todas  as  vezes  que  se  viram  em  frente  das  tropas  frince- 
zas.i  Pag.  9. 

«Napoleão  resolvea  mandar  em  iSiOpara  Portugal  om  exerdto  de  115.000 
homens  sob  o  commando  de  Massena.  E  se  elle  poude  destacar  áqndle  Dnmero 
de  soldados  para  fazer  a  conqoista  de  Portugal,  se  durante  os  dez  meses  d'a- 
quella  invasão  não  houve  algum  outro  acontecimento  notável  na  Península, 
nem  os  hespanhoes  fizeram  algum  movimento  para  se  approveitarem  da  di- 
versão do  marechal  Massena  e  da  de  Soult,  que  tinha  recebido  ordem  de  se 
apossar  de  Badajoz  e  occupar  a  parte  meridional  do  Tejo  em  Portugal,  era  evi- 
dente ser  Napoleão  senhor  da  Hespanha  nos  annos  de  Í809-Í8i0-Í8íl,  como 
o  era  do  resto  do  continente.  Por  isso  em  vez  de  considerar  debaixo  d'um 
ponto  de  vista  secundário  os  acontecimentos  de  Portugal,  e  dar  toda  Importân- 
cia aos  movimentos  da  Allemanha,  devia  o  auctor  considerar  n'aqndla  época 
a  causa  de  Portugal,  como  a  causa  do  continente  inteiro. 

«Por  occasião  da  batalha  de  Barrosa,  dada  perto  de  Cadix  a  5  de  março  de 
1811  desenganaram-se  os  inglezesda  possibilidade  de  formar  um  exercito  hís- 
pano-inglez.  D^aquelia  época  por  diante  não  pensaram  mais  os  inglezes  em  en- 
trarem sosinhos  na  Hespanha,  e  depois  da  retirada  de  Massena  em  maio  de 
1811  só  houve  o  exercito  Anglo  Luso,  que  figurasse  no  referido  paíz.  A  este 
de  longe  a  longe  se  uniu  algum  pequeno  e  insignificante  corpo  hespanhol,  mas 
em  geral  os  hespanhoes  operavam  somente  como  guerrilhas;  e  depois  de  1809 
pode-se  dizer  que  mui  pequena  parte  tiveram  nos  brilhantes  successos  da  guer- 
ra. Nenhuma,  por  exemplo^  na  batalha  do  Bussaco  a  27  de  setembro  de  1810, 
e  em  todo  o  tempo  da  invasão  de  Massena. 

«Nenhuma  nos  assaltos  de  Ciudad-Rodrigo,  e  de  Badajoz  no  anno  de  1811. 

«Muito  pouca  o  debíl  na  batalha  de  Albuera  a  16  de  maio  de  1811. 

«Quasi  que  nenhuma  na  de  Salamanca  a  21  de  julho  de  1812. 

«Muito  pouca  na  de  Víctoria  a  21  de  julho  de  1813. 

«Nenhuma  no  assalto  de  S.  Sebastião. 

«Pouquíssima  cm  diversas  batalhas  de  Pamplona  e  dos  Pyrineos. 

«Muito  pouca  em  difTer entes  refregas  em  torno  de  Bayona. 

«Muito  pouco  na  batalha  de  Orthez  a  13  de  fevereiro  de  1814. 

'Pouca  na  de  Tolosa  a  10  de  abril  de  1814. 

«Por  conseguinte  o  auctor  da  Historia  reprosenta-a  debaixo  de  falsas  cores 
quaudo  omilte  faliar  dos  triumphos  de  lord  Wellington  em  Portugal,  e  dos  es- 
forços dos  portuguezes,  que  foram  o  primeiro  passo  decisivo  para  o  livramento 
do  continente.  Quando  faz  figurar  uni  exercito  anglo-hispano,  que  nunca  exis- 
tiu, e  passa  em  claro  o  exercito  anglo -luso. 

«Lord  Wellington,  quando  chegou  a  Portugal,  escreveu  aos  ministros  in- 
glezes, dizendolhcs  que  lhe  parecia  surprehendente  a  insurreição  de  Portugal, 
pois  aos  hespanhoes  ainda  restavam  algumas  tropas  e  todos  seus  arsenaes^  ao 
passo  que  aos  portuguezes  nada  que  tal  nome  merecesse. 


GD  363 

«A  Historia  de  Portugal  em  qaanto  a  este  ponto  desafla  o  calculo  e  a  saga- 
cidade dos  mais  hábeis  políticos.  Esta  nação  em  todos  os  tempos  se  moetroa 
bellicosa  e  propensa  a  defender  sua  pátria,  e  todas  as  vezes  qae  tem  sido  bem 
dirigida,  tem  obrado  prodígios  na  gaerra;  daas  vezes  esteve  sem  offerecer  re- 
sistencia  em  1580  e  1807,  e  daas  vezes  se  insurgia  contra  o  inimigo  que  a  mo- 
lestava, e  em  ambas  foi  bem  succedida.i  (Pag.  65.) 

Depois  de  impresso  o  presente  artigo  vim  no  conhecimento  de  qae  este  li- 
vro é  trabalho  de  um  general  portuguez. 

521)  GUERRA  (Padre  JOSEPH). 

E. —  Padre  Retter.  Vida  y  virtudes  de  la  Senora  D.  Maria  Anna^  reyna 
de  PortugcU,  traduzida  por  — .  Madrid,  1757. 

522)  QUEVARA  (LUIZ  VELEZ). 

E. — Comedia  Famosa,— Reyna  depues  de  morir.  Inez  de  Castro.  Bareelo- 
looa,  1768, 

523)  GUIA  DE  GARRERAS  DE  CABALLOS  en  AndeUucia  y  Por- 
tugal, 1874.  Málaga,  imprenta  de  Ramon  Párraga,  8.» 

524)  GUINGRET  (M.— )  Chef  de  bataiilon  en  demi-activité,  et  officier 
de  Tordre  royal  de  la  Legion  d'Honneur. 

E. — Relation  historique  et  militaire  de  la  compagne  de  Portugal  sous  le 
ikaréchal  Massena,  prince  d*Essling,  ContenatU  les  opérations  militaires  qui  se 
raipportent  à  Vexpedition  de  Massena^  et  les  divers  faUs  de  Varmée  de  Portu- 
g(U,jusqu'à  la  fin  de  la  guerre  d'Espagne,  Par—,  Limoges.  Mai,  1817, 8.<>  gr. 
27ipag. 

<É  Portugal  um  dos  paizes  mais  montanhosos  e  mais  pittorescos;  regado 
e  fecundado  por  algans  rios  magestosos,  ornado  de  bosques  e  florestas,  sendo 
também  cortado  por  pequenos  ribeiros  e  Torrentes,  que  engrossam  prodigiosa- 
mente com  as  menores  chuvas.  N'elle  se  vêem  legares  os  mais  pittorescos  e  ri- 
sonhos junto  de  vistas  da  maior  aridez.! 

•Apesar  da  antiga  reputação  de  bravura  dos  hespanhoes,  e  de  nos  terem 
por  bastante  tempo  causado  muito  mal,  todavia  não  mostraram  contra  nós  uma 
coragem  tão  activa,  como  a  dos  portagaezcs.  Nos  últimos  tempos  as  tropas 
d'estes  rivalisavaro  em  valor  com  a  melhor  infanteria  ingleza.i 

«Citarei  o  sangue  frio  de  alguns  artilheiros  portuguezes  no  cerco  de  Al- 
meida, que  tendo  tido  a  felicidade  milagrosa  de  sobreviverem  à  explosão,  con- 
tinuaram a  disparar  suas  peças,  em  quanto  os  destroços  da  praça  ainda  voa- 
vam, e  ameaçavam  esmigalhai- os.  Gostamos  de  admirar  a  coragem,  mesmo  em 
nossos  inimigos.» 

«Em  geral  todos  os  chefes  inimigos  qae  commandaram  praças  na  Hespa- 
nha,  oa  em  Portugal,  adquiriram  muita  gloria.  Quasi  todos  desenvolveram 
grande  coragem,  mostraram  uma  dedicação  rara,  e  deram  provas  do  mais  no- 
bre desinteresse  durante  suas  defezas.  Parecia  que  quanto  menos  esperavam 


364  GU 

soccorro,  Unto  maior  pertinácia  mostravam.  Um  comportamento  militar  tio 
bello  em  nossos  inimigos,  realça  a  gloria  dos  chefes  franceses  qoe  foram  en- 
carregados de  lhes  tomar  as  praças.! 

«Passámos  por  Mangualde,  peqaena,  mas  bonita  povoação.  As  plantas  e  ar- 
vores índigenas,  qae  embellezam  este  logar,  concorrem  a  tonial*o  maia  deli- 
cioso aos  olhos  do  estrangeiro.  Começamos  aqui  a  encontrar  monomeotos  de 
utilidade  publica,  monumentos  muito  raros  na  Hespanba,  onde  ainda  menos 
existiam  antes  do  reinado  de  Carlos  III. 

«Além  dos  monumentos  de  utilidade  publica,  as  diversas  fabricas,  e  as  boas 
livrarias  que  se  acham  tão  frequentemente  nas  cidades,  e  até  nas  villas,  onde 
06  principaes  habitantes  teem  sempre  porção  de  excellentes  obras  em  varias 
linguas;  os  instrumentos  de  mathematica,  physica,  astronomia,  marinha,  qoe 
vemos  frequentemente  em  Portugal,  e  cuja  forma  se  ignora  mesmo  na  Hespa- 
nba, tudo  isto  parece  attestar  que  a  nação  portugueza  está  muito  mais  adku- 
tada  que  a  hespanhola.  Pode  provir  esta  differença  em  parte  por  exercer  a  in- 
quisição um  despotismo  menos  fanático  em  Lisboa,  do  que  em  Madrid,  fim 
toda  a  parte  onde  os  padres  reinam  exclusivamente,  o  erro  tem  seus  altares,  e 
a  verdade  encontra  barreiras  inexpugnáveis.!  Pag.  44. 

«Massena  e  Wellington  attrahíram  as  attençoes  da  Europa  inteira:  um  veia 
macular  em  Portugal  uma  reputação  brilhante  adquirida  por  vúite  annos  de 
victorias;  o  outro  na  mesma  campanha  começou  a  aureola  d'um  nome  tomado 
depois  illustre  na  guerra,  mas  ao  qual  a  lisonja,  espírito  de  partido  e  viUea 
de  alguns  escriptores  assalariados  quizeram  coUocar  n*uma  altura  excessiva- 
mente elevada  pondo-o  a  par  com  os  maiores  capitães.  O  vulgo  enthusiasta  # 
ignorante  exagerou  egualmentc  as  qualidades  e  defeitos  doestes  dois  homens 
celebres.»  Pag.  68. 

«Durante  o  inverno  tinha  cu  supportado  noites  bem  terríveis  na  Allemanha 
e  na  Polónia,  roas  aquclla,  em  que  deixámos  a  posição  do  Bussaco  é  uma  das 
épocas  de  minha  vida,  em  que  fui  mais  penosamente  affectado.  A  marcha  lenta 
e  grave  de  nosso  exercito  occupada  em  transportar  seus  numerosos  feridos  em 
macas,  offerecía  o  aspecto  d'uma  longa  fileira  de  accompanhamentos  fúnebres. 
O  silencio  melancólico  da  obscuridade  era  perturbado  pelo  ranger  surdo  e  lú- 
gubre das  carretas  de  artilheria.  Alguns  infelizes  soldados  esforçavam-se  em 
vão  para  reprimir  a  expressão  de  seus  soíTriraentos:  os  grilos  entemecedores, 
meio  comprimidos  pelos  esforços  da  coragem,  fugiam  de  vez  em  quando,  do 
íundo  de  suas  entranhas,  e  faziam  estremecer  compassivamente  o  coração  me- 
nos sensível.  Os  cadáveres  d'aquclles,  cuja  morte  terminava  os  males  no  meio 
d*esta  marcha  lúgubre,  lançados  para  a  borda  das  covas,  serviam  para  fazer 
reconhecer  o  caminho  alravez  da  obscuridade  ás  tropas,  que  nos  seguiam.  Os 
gritos  agudos  das  aves  de  rapina,  que  fugiam  de  seus  esconderijos,  e  abando- 
navam seus  ninhos  á  medida  que  avançávamos,  e  das  quaes  algumas  acompa- 
nhavam atrevidamente  o  exercito  por  appelecerem  sua  presa,  accrescentavam 
alguma  coisa  de  sinistro  a  esta  scena.»  Pag.  79. 

«Avistámos  então  o  convento  do  Bussaco,  do  qual  tínhamos  distinguido  uma 
parte  da  torre  no  dia  da  acção.  Os  religiosos  d'este  mosteiro  tinham  recolhido 


GU  365 

e  tratado  eom  a  maior  hamanidade  os  feridos  do  nosso  exercito  qae  tinham  fi- 
cado no  campo  de  batalha,  a  distancia  fora  do  alcance  do  soccorro,  que  nós 
lhes  tivéssemos  desejado  dar.  Em  muitos  legares  de  Hespanha  os  frades  tel-os- 
hiam  matado  em  vez  de  diligenciarem  sua  conservação.!  Pag.  70. 

«Uma  circumstancia  bem  particular  d'esta  guerra,  e  da  qual  nunca  se  fal- 
lon,  é  que  chegou  a  relaxação  até  ao  ponto  de  vender  mulheres!  Trocavam-se 
até  por  viveres  e  por  cavallos:  jogou-se  ás  cartas  uma  rapariga  contra  um  ob- 
jecto de  luxo.  Até  um  empregado  do  commissariado  me  sollicitou  mui  seria- 
mente de  lhe  ceder  por  duas  onças  de  ouro  a  propriedade  de  uma  mulher,  que 
se  tinha  refugiado  na  villa  do  meu  commando.»  Pag.  127. 

«Tinham-se  descoberto  tantos  esconderijos,  que  se  não  encontravam  mais 
nenhuns;  ou  pelo  menos  os  que  ainda  existiam  tinham  sido  feitos  com  um  cui- 
dado tal,  que  era  quasi  impossível  dar  com  ellcs.  O  tacto,  que  nossos  soldados 
tinham  adquirido  pelo  habito,  falhava  cada  vez  mais:  e  as  necessidades  aug- 
mentavam  gradualmente  de  maneira  horrível.  A  penúria  era  tão  grande  que. 
tornava  nossos  soldados  insensíveis  o  cruéis,  tentaram  torturar  os  habitantes 
obstinados,  que  podiam  apanhar  com  o  flm  de  lhes  fazer  declarar  os  esconde- 
rijos de  que  tinham  conhecimento.  Este  meio,  d'uma  barbaridade  inaudita, 
aproveítou-lhes,  e  o  exercito  inteiro  viveu  algum  tempo  das  confissões  arran- 
cadas por  meio  da  tortura!  Soldados,  que  nas  circumstancias  anteriores  tinham 
mostrado  sentimentos  generosos,  contavam  então  a  sangue  frio  estas  abomi- 
nações.» 

«Se  a  historia  fallar  um  dia  a  respeito  doestas  atrocidades,  lembre-se  que 
só  restava  ao  exercito  de  Portugal  commandado  pelo  príncipe  de  Esseling 
(Massena)  este  único  e  ultimo  meio  para  não  succumbir  às  agonias  da  fome, 
e  isto  ao  passo  que  o  exercito  anglo-luso  vivia  na  abundância.» 

«É  com  injustiça  que  se  attribue  a  expulsão  dos  francezes  da  Hespanha  aos 
hespanhoes:  devem  principalmente  o  livramento  de  sua  pátria  ás  forças  de  In- 
glaterra, e  ás  de  Portugal. 

«Estavam  os  hespanhoes  mergulhados  n'um  somno  apathico,  quando  uma 
perfídia  inaudita  lhes  roubou  Fernando  VIL  O  despertamento  foi  terrível.  A 
indignação  traásformou  de  repente  na  península  o  espirito  de  fanatismo  em 
furor  guerreiro.  Numerosos  exércitos  se  formaram;  fortlQcaram-se  á  pressa 
muitas  cidades  e  conventos,  por  toda  a  parte  ouviram-se  cânticos  patrióticos, 
roisturavam-se  com  os  hymnos  consagrados  á  Divindade.  Com  o  sentimento 
profundo  da  justiça  de  sua  causa  todos  os  hespanhoes  levavam  no  coração  a 
confiança  da  victoria.  Ne  emtanto  não  poderam  resistir  à  superioridade,  que 
o  habito  de  vencer  tinha  dado  a  nossos  soldados.  Os  exércitos  hespanhoes  ven- 
cidos logo  que  eram  atacados;  desapparecíam  diante  de  nós  como  areias  asso- 
pradas pelo  vento.  Sanguinolentas  derrotas,  a  queda  de  Saragoça  affrouxaram 
os  enérgicos  esforços  dos  povos  de  Hespanha.  Esta  nação  vilipendiada  renun- 
ciou então  era  parto  ao  plano  do  defeza  activa  que  tinha  abraçado  ao  princi- 
pio, e  oppoz  sua  inércia  natural  á  invencibilidade  dos  francezes.»  ^ 

«No  emtanto  os  destroços  dos  exércitos  hespanhoes,  numerosos  corpos  mi- 
licianos cominandados  por  gpneraes  patriotas;  bandos  do  í^uerrilhas,  á  frente 


366  GU 

das  quaes  se  achavam  contrabandistas,  aventureiros  e  mesmo  antigos  cliefes 
de  salteadores  conseguiram  manter  continuamente  a  maior  parte  das  provín- 
cias n*um  estado  de  guerra  vantajoso  à  causa  da  nação.  Os  hespanhoesteem 
coragem,  porém  exagerou-se  muito  o  valor  que  mostraram  na  ultima  guerra. 
Os  elogios  excessivos  que  lhes  prodigalisaram  não  são  devidos  mais  que  à  sua 
perseverança,  virtude  inherente  à  sua  vaidade.» 

525)  GUIZOT  (Mb.).  Escriptor  francez  contemporâneo  muito  conhecido. 
E. — Du  gouvemement  de  la  France  depuis  la  restauration  et  du  tmnistère 

actuei  par  — .  Quatrième  editwriyrevuey  corrigée  etaugmentée  d'un  avatU  propôs 
et  d'une  note  sur  les  revolutions  d'Espagne,  de  Nápoles  et  de  Portugal.  Paris- 

526)  GUHIEL  (PABLO  — .)  Natural  do  Guenca. 

E.— La  mctoria  que  tuvo  Don  Mvaro  Baçan,  marques  de  Santa  Cruz  com- 
tre  Felipe  Stvoço-en  la  islã  de  San  Miguel  a  26  d^  julio  de  1582. 
É  obra  muito  rara. 

527)  QUTHNIOK,  HOOHSTER  E   GIQAX. 

E. — Uebersicht  der  Flora  dei^  Azcrischen  insel  —  no  Wiegmanns  Ârchiv. 
fur.  naturg.  1843  K 

Vid.  Seubert  (Mauritius), 

528)  aUTHRIE  (G.  J.) 

.  E,—Commentaries  on  the  surgcnj  of  lhe  war  in  Portugal,  Spain,  etc,  Lon- 
don,  1853.  (Commentarios  a  respeito  da  cirurgia  militar,  etc.) 

529)  QUTIERREZ  (aAROIA).— Dramaturgo  hespanhol. 
E. —  Afectos  de  ódio  y  amoi\ 

D'esla  obra  dà-nos  noticia  o  sr.  Pinheiro  Chagas  a  pag.  79  do  seu  livro  in- 
titulado Madrid, 

t  A  scena  passa-se  em  Portugal  em  1580.  D.  Diogo  de  Távora  é  um  porlu- 
guez,  que  vive  em  Évora  com  uma  filha  o  uma  pupilla,  ígncz  e  Theodora. 
Cada  uma  d'ella8  está  occuItaracDle  apaixonada  por  um  capitão  hespanhol  dos 
terços  do  duque  d' Alba.  Entra  o  seu  terço  em  Évora,  e  ambas  reconhecem 
que  o  seu  namorado  é  o  mesmo.  D'aqui  resultam  ciúmes  entre  as  duas,  e  na 
pátria  nenhuma  d'ellas  pensa,  nem  sequer  ao  menos  para  sentir  no  fundo  do 
coração  um  ligeiríssimo  remorso.  Pelo  contrario  Theodora  chama  insolente  ao 
povo  portuguez,  que  accusa  de  atrocidades  os  castelhanos,  e  araba?  desejam 
que  o  prior  de  Crato  se  aíTunde  por  uma  voz  no  Douro,  e  que  essa  guerra 
acabe  com  a  vicloria  de  Philippc  II.  Accompanlia-as  n'osse  desejo  a  suacrca- 
da  Beatriz,  que  também  traz  amores  com  o  camarada  do  capitão  cm  confor- 
midade com  os  velhos  imbróglios,  a  que  o  thcatro  hespanhol  é  mais  fiel  do  que 
seria  para  desejar 

'  Morelet. —  Lca  Açores y  pag.  11. 


GO  367 

«Não  censuramos  o  sr.  Garcia  Gntíerrez  pelo  altivo  escameo,  com  que  trata 
a  froaxa  resistência  do  povo  portaguez  a  Philippe  II:  o  nosso  orgalho  não  sa 
revolta,  oa  pelo  menos  não  se  qaeixa.  Em  questões  de  arte  não  fazemos  inter- 
vir um  patriotismo  deslocado;  mas  o  que  nos  impressiona,  revelando-nos  mais 
uma  vez  o  defeito  característico  do  theatro  hespanhoi,  é  a  negligencia  no  es- 
tudo das  paixões,  na  investigação  psychologica;  é  esse  castelhanismo  declama- 
tório, que  substitue  a  linguagem  da  verdade  e  do  sentimento,  pelo  pomposo  e 
muitas  vezes  admirável  lyrísmo  das  apotheoses  da  honra  hespanhola,  e  da 
grandeza  de  Castella.  Amor^  honor  y  poder  é  o  titulo  de  uma  peça  de  Calde- 
ron,  e  pode  também  ser  o  eterno  moto  glosado  pelo  theatro  hespanhol.» 

530)  GUYON  (JEAN  LOUIS  QENEVIÉRE).  Cirurgião  francef 
Nasceu  em  abril  do  anno  de  1794,  em  Albert  (Somme). 
E.— l/n  mot  sur  la  fievre  jaum  de  Lisbonne  en  1857.  * 


*  Vapnrcau—  DiiUunúire  des  Coniempúraimy  pag.  840. 


H 


531)  HADFIELD  (WILLIAM). 

£.— BraziY,  the  River  Plate  and  the  Falkland  Irland  etc.^  including  noti- 
^$  of  LisboUy  Madeira  etc,  London,  1854,  S.'* 

532)  HADET  (MARIE  ADELAIDE  RICHAKD). 

E.—La  vierge  de  1'Indoustan  ou  le  partugais  au  Malabar.  Paris,  1816- 
1821.  4  Yol. 

II.  Les  porluguais  proscrits  ou  le  dominican  ambUieux.  Paris,  1821-1823. 

Não  vi  as  mencionadas  obras,  mas  creio  serem  romances. 

533)  HAEBERLIN  (CHARLES  LOUIS). 

E. —  Romantische  Erzachlungen  aus  Portugal  Geschicht,  Franchforl^  1834. 
(Contos  românticos  cxtrahidos  da  Historia  de  Portugal). 

534)  HAERLEMS  SCHUYT  PRAETIEN  op't  Reders  vande  West- 
Indische  Compagnie.  Gedruet  op't  Jan\  1649.  12  folhas. 

535)  HAQEMEIER  (JOACHIM). 

E. — Epistolae  IX  de.  stalu  Uhpaniac  d  Portiujalliae.  (Novo  cartas  a  res- 
peito de  Ilespanha  c  de  Portugal). 

Nào  vi  esta  obra,  c  nada  mais  posso  dizer  a  respeito  d'ella. 

536)  HALLER  (CHARLES  LOUIS). 

E. — Eludes  kístoriqucs  sur  Ics  rcvolaíions  d'Esp(Ujnc  cl  de  Portugal,  Varis, 
1840.  2  vol. 

O  proceder  de  D.  Mijíuel  e  d«;  sua  mfie  encontra  um  egrégio  apologista  em 
Carlos  Haller. 

537)  IIALLIDAY  (ANDIIEW,  l)i;.  M). 

K — J.  (Ht.^crvaliuns  ou  lhe  presnit  .s/í/f*'  o/  Ihr  l\ntufinc>^-'  Armn  n:;  urgn- 


HA  369 

nised  by  lieutenant  general  in  W,  Carr  Beresford  H.  fí.London,  1811.  (Obser- 
vações a  respeito  do  estado  actual  do  exercito  portuguez.) 

Eis  o  conceito  que  a  respeito  d'esta  obra,  tão  failada  entre  nós  do  princi- 
pio do  corrente  século,  forma  o  Joj^nal  de  Coimbra  (tomo  1.**,  pag.  33). 

«Temos  á  vista  esta  obra,  c  também  a  sua  analyse  escripta  em  reino  estra- 
nho em  dois  jomaes  diíTerentes.  Um,  pertencente  ao  mez  d'outubro,  compre- 
hende-a  em  ^  paginas;  não  duvida  da  exactidão  das  observações  e  factos,  que 
Halliday  refere  sobre  o  commissariado  e  a  repartição  dos  bospitaes  do  exer- 
cito portuguez;  deixa  aos  médicos  porluguezes  o  defender-se  da  proposição 
de  Halliday  —  Em  Portugal  os  médicos  parecem  em  pratica  de  sua  profissão 
estar  um  século  atrasados  do  resto  da  Europa. —  O  oulro  jornal,  Investigador 
portuguez  em  Inglaterra^  pertencente  ao  mez  de  dezembro,  comprehendea  em 
50  paginas,  das  quaes  só  ao  departamento  medico-mililar  pertencem  42  e  as 
8  restantes  abrangem  tudo  o  mais. 

«A  obra,  que  temos  á  vista,  foi  escripta  nos  poucos  momentos  que  os  doen- 
tes e  feridos  deixavam  a  seu  auctor;  foi  escripta  no  campo  da  batalha;  foi  im- 
pressa era  uma  mui  curta  licença,  que  elle  obteve;  e  com  tanta  precipitação, 
que  muitas  folhas  elle  as  reviu  já  para  Portugal.  Similbantes  circumstancias 
não  podiam  deixar  de  dar  de  si  muita  imperfeição  á  presente  obra;  e  seria 
talvez  por  isso,  que  Halliday  acha  necessário  publical-a  segunda  vez. 

tO  nome  de  Halliday  nunca  se  ouviu  entre  oslitteratos.  Médicos  portugue- 
zes,  só  os  da  Figueira  e  Abrantes  (não  sei  se  algum  mais)  tiveram  com  Halli- 
day relações,  que  por  caridade,  que  elle  todavia  não  merece,  devem  occullar- 
se.  A  obra  de  Halliday  não  seria  conhecida  em  Portugal  senão  na  capa,  c  só 
das  pessoas  que  por  civilidade  lha  aeceitassem,  se  o  Investigador  Portuguez 
lhe  não  desse  um  vulto  tão  grande;  se  não  repetisse  suas  opiniões;  se  se  não 
encarregasse  de  as  refutar  tão  fundamental  e  extensamente,  etc.  Se  na  obra 
de  Halliday  ha  verdadeiros  insultos  a  Portuguezes,  o  Investigador  é  o  culpado 
na  sua  leitura,  na  sua  publicação  em  Portugal,  e  talvez  na  Inglaterra. 

«Faltou  a  Halliday  o  tempo,  cromos  nós,  para  se  informar  das  coisas  por- 
tuguczas  mais  triviaes,  de  factos  que  ninguém  ignora.  Diz  Halliday  que  foi  em 
.1802  a  nossa  ultima  campanha  cora  a  Hespanha;  e  ella  foi  em  1801 :  a  paz  do 
Badajoz  assignou-se,  acho,  que  cm  6  de  julho  d'aquelle  anno.  Chama  D.  Af- 
fonso  ao  duque  marechal  general  n'aquella  campanha  :  era  o  sr.  D.João  Car- 
los de  Bragança,  duque  de  Lafões,  e  não  ha  almanach  que  o  não  diga;  não 
ha  soldado,  não  ha  portuguezes  que  o  não  saibam.— Julga  o  conselho  de  guer- 
ra composto  de  ofllciaes  generaes  com  um  ou  dois  desembargadores :  talvez 
que  Halliday  quizesse  dizer  conselho  de  justiça;  e  então  só  havia  a  emendar 
que  os  desembargadores  são  agora  quatro,  algumas  vezes  tem  sido  cinco;  me- 
nos que  nós  saibamos,  nunca  o  mesmo  almanach  o  mostra.  Persuade-se  que 
o  conde  Lippe  foi  desterrado  de  Portugal,  entretanto  que  S.  A.  sahia  d'este 
reino  em  tão  boa  amisade  que  em  suas  retiradas  ia  de  caminho  visitando  re- 
gimentos e  praças,  voltou  de  seus  estados  aqui,  foz  o  campo  de  Instrucção  nos 
Olhos  d'Agua,  e  voltara  mais  vezes,  se  tão  cedo  não  morresse;  sendo  tão  cons- 
tante a  boa  amisade,  que  aquelle  homem  grande  nos  conservou  sempre,  que  em 

TOMO  I  Tk 


370  HA 

seas  estados,  díz-se,  até  celebrava  o  anoiversario  natalício  do  senhor  rei  D.  Jo- 
sé, mesmo  de  uniforme  portuguez,  e  salvando  das  janellas  de  seu  palácio  eom 
peças  de  artilheria  e  construcção  e  mimos  portuguezes,  etc. 

Este  mesmo  vol.  do  Jornal  de  Coimbra,  a  pag.  402,  nos  dá  a  noticia  de 
que  Halliday  fizera  uma  declaração  no  Times  de  25  de  abril  de  1812  confes- 
sando: Que  ha  muitos  erros  na  sua  obra,  os  quaes  elle  se  propõe  corrigir  na 
2.*  edição,  que  vae  dar  da  mesma  obra :  que  sente  muito  ter,  por  falta  de 
advertência,  publicado  opiniões  não  só  injustas  e  mal  fundadas,  mas  oíTensi- 
vas  á  religião  estabelecida  e  ao  governo  de  S.  A.  R.  o  príncipe  regente,  ele. 

Fez-se  a  promettida  segunda  edição  da  obra  de  Halliday,  e  ainda  nos  diz 
o  Jmmal  de  Coimbra  ^ :  «Interpretámos  pela  sua  obra  o  espirito  e  o  caracter 
do  Halliday,  e  os  factos  nos  tem  mostrado  que  não  foi  mau  o  retrato  que  de 
Halliday  fizemos,»  Foi  esta  obra  egualmente  censurada  no  5/*  vol.  áo  Investi- 
gador Portuguez^  2  e  parece  que  por  algum  tempo  o  nome  de  Halliday  se  con- 
siderou entre  nós  como  synonymo  de  charlatão  e  de  mentiroso. 

A  nova  edição  tem  o  titulo  seguinte : 

The  present  state  of  Portugal,  and  of  the  Portuguese  Army,  With  an  epito- 
me  of  the  ancient  historg  of  that  Kingâom,  a  sketch  of  the  campaigns  ofthe 
marqnis  of  Wellington  for  the  last  four  years;  and  observations  on  the  man- 
ners  and  custoíns  ef  the  People,  agriculture,  commerce,  aí  ts,  Science^  and  lite- 
ral are.  By—.  M.  D.  late  assLstant  inspector  of  hospitais  with  the  portuguese 
forces,  Edimburf?,  1812.  4.'* 

As  inexactidões  d'esta  nova  edição  também  vêem  censuradas  n*ura  opús- 
culo (>  P.  J.  A.  de  Macedo,  intitulado--//a///V/í///. 

O  Miesnio  aactor  escreveu  ainda  o  seguinte  livro : 

An  historiral  view  ofthe  revolufions  of  Portugal  since  the  dose  of  the  pe- 
ninsular War,  hg  an  et/c  tvitness.  1827. 

:>38)  HALLIWELL  (JAMES  ORCHARD).  Liltcrato  inglez. 

Nasceu  em  junho  de  1820  3. 

E. —  Torrent  de  Portugal.  London,  1812. 

IgHoro  sobre  que  assumpto  verse. 

ryM)}  HALM'S  (FRIEDERICH) 

E. —  Cainvcns,  Dramaticlies  Godicht,  Wieu,  1838.* 

540)  HAMONIERE  (G). 

E. — I.  Hecucil  de  7norccaux  de  prose  en  portugais  et  en  fruneais.  Pari^ 
1818. 

*  Tomo  I].*   paj:.  107  c  scguinles. 
2  De  pag.  190  a  iU. 

^  Vap(""eau  —  Dirtinnnaire  des  Conlrmporains,  \}ã^.  S*)l. 

*  An  cxtcnsive  anil  nnújnv  rnllcclinn  rf  variou^  ciliíions  of  Uie  liinias,  Obras  and 
iusiadas  in  thr  nrifjinal  pnr(>iiiu.c5C  avd  ofhcr  lai^rjuarjcs;  biograyhics  of  lhe  Voei  uni  criii' 
cisme,  Loiuloii,  1875,  pag.  12. 


HA  371 

II.  Grammaire  Portugaise  divisée  en  quatre  parties,  doni  lapremière  traite 
de  la  pronunciation,  la  seconde  des  dlfférentes  especes  de  mots;  la  troisieme  de 
la  syntaxe,  et  la  quatrirme  de  forthographie,  et  de  la  poncluation,  et  de  la 
prosodie.  Avec  un  appendice  coníenant  des  remarques  diverses  ;  suivie  d'un 
cours  de  themes,  et  dun  traité  de  versification.  Par  — .  Seconde  édition,  corri- 
gée  et  augmentée.  Paris.  Bebée  el  Hingray,  1829.  8.°,  397  pag. 

tO  estudo  (la  lingua  de  Camões,  d'os38  cantor  immorlal  das  proezas  de 
seus  compatriotas,  não  pôde  deixar  de  ter  encantos  p  ara  um  litterato.  Possua 
ainda  esta  lingua  poetas  e  prosadores  de  um  talento  notável,  cujos  nomes 
quasi  ignorados  na  França,  mereciam  ser  mais  conhecidos.  Em  quanto  a  rela- 
ções coramerciaes  ó  incontestável  a  utilidade  da  lingua  portugueza.  Este  idio- 
ma dos  primeiros  conquistadores  da  índia  é  senhor  de  um  vasto  domínio  nos 
dois  hemispherios.  Falla-se  em  Portugal,  nas  costas  orientaes  da  Africa,  n*al- 
gumas  partes  do  continente  da  índia,  na  maior  parte  das  ilhas  do  Oceano  In- 
dico, e  do  mar  da  Africa,  na  Madeira,  Açores  e  Brasil.  O  estabelecimento  de 
uma  monarchia  independente  n^este  beilo  paiz,  que  por  sua  amplitude,  posi- 
ção, salubridade  de  sou  clima  e  riquesas  variadas  de  seu  solo,  deve  aspirar  a 
um  crescimento  rápido  de  população,  e  a  brilhantes  destinos,  não  pôde  deixar 
de  dar  ainda  á  lingua  portugueza  nova  importância. 

«Tendo  o  estudo  da  lingua  portugueza  sido  até  ao  presente  pouco  propa- 
gado na  França,  sô  duas  grammaticas  d'csta  lingua  foram  publicadas;  uma 
pelo  abbade  Dubois,  e  a  outra  por  Sano.  A  primeira  contém  noções  exactas 
sobre  algumas  partes  da  gramraatica,  porém  o  auctor  despresou  outras.  A  se- 
gunda não  passa  de  uma  traducção  da  grammatica  portugueza  escripta  em 
ínglez  por  Vieyra ;  contém  princípios  muitas  vezes  inexactos,  expostos  sem 
ordem  nem  claresa,  e  é  extremamente  incompleta.» 

^41)  HANS  STADEN  DE  HOMBERG,  EN  HESSE. 

E. — Veritable  Histoire  et  description  d'nn  pays  habite  par  deshommes  sau» 
vages  nuSy  fcroces  et  anthropophages,  situes  dans  le  nouveaux  monde  nommé 
Amériquey  inconnu  dans  le  pags  de  Hcsse,  avaut  et  depuis  la  imssance  de  Jé" 
s\iS-ChrUt,jasqàVannée  dernière.  llans  Sianden  de  Ilomberg,  en  Hesse,  Ta 
connu  par  sa  propre  expérience  et  le  faií  connailre  actuelment  par  le  moyen 
de  Vimpressxon.  Marbourg,  chez  André  Ilolben.  15o7. 

Vem  reproduzida  esta  curiosa  viagem  no  2."  vol.  da  coUecção  de  Henri 
Ternaux.  Sogundo  diz  esle  compilador  appareceu  ella  pela  primeira  vez  escri- 
pta em  allemão,  em  Marbourg,  no  anno  de  loo7.  Foi  traduzida  em  latim  por 
De  Bry,  e  inserta  na  terceira  parte  da  CoUecção  das  grandes  viagens. 

A  passagem  seguinte  que  se  encontra  a  pag.  29  da  traducção  franceza 
mostra  quão  grande  era  n'aquelle  tempo  a  navegação  portugueza : 

t Encontrámos  depois  cinco  navios  que  pertenciam  ao  rei  de  Portugal:  ti- 
nham ordem  de  esperarem  junto  das  ilhas  os  navios  que  voltavam  daslndiasj 
para  os  comboiarem  para  Portugal.  Ficámos  com  elles,  e  os  ajudámos  a  com- 
boiar um  navio  que  chegava  da  Índia,  até  uma  ilha  chamada  Terceira.  Ura 
grande  numero  do  navios,  procedemos  todoi  do  novo  mundo,  se  tinham  re- 


372  HA 

unido  n^esta  ilha.  Uns  dirigiram-sc  para  Hespanha,  oatros  para  Portugal.  Dei- 
xamos poi9  a  Terceira  em  companhia  de  perto  de  cem  navios,  e  cheguei  a 
Lisboa  a  8  de  outubro  de  1548,  depois  d'uma  ausência  de  dezeseis  mezes. 

542)  HAROOURT  (EDWARD  VERNON). 

E»— Madeira,  A  Sketch  of  —  contairúng  information  for  the  travellers  or  in- 
valid  Visitor,  London,  i85i. 

543)  HARDUNG  (VICTOR  EUGENE). 

E.  ^Cancioneiro  d^ Évora  publié  d'aprés  le  manuscrit  original  et  accompa' 
gné  d*une  notice  litteraire-historiqtie  par  — .  Lisboa.  Imprensa  Nacional,  1875. 
8.»  gr.  77  pag. 

tA  memoria,  ou  folhas  volantes  foram  ao  principio  os  únicos  ar  chivos  nos 
quaes  os  trovadores,  os  menestréis  e  os  minnesingers  allemâes  conservavam 
suas  poesias  e  melodias.  Quando  o  numero  sempre  crescente  jà  não  permittia 
reter  a  memoria  d^elJas  d'esta  sorte,  e  que  alguns  espirites  esclarecidos  en- 
contravam bastante  interesse  em  ler  e  estudar  as  producções  doestes  cantores 
populares,  começaram  a  recolher  os  textos  dispersos,  e  organisatam  collecções 
mais  ou  menos  vastas. 

«Assim  se  formaram,  em  quanto  á  poesia  provençal,  as  celebres  collecções 
do  Vaticano,  cod.  3206  e  6232,  os  manuscriptos  7226,  7614,  7693,  7698  da  Bi- 
bliotheca  Nacional  de  Paris,  e  o  cod.  42  da  Bibliotheca  Laurenziana  em  Flo- 
rença. Os  cancioneiros  de  Ileidelberg,  de  Benedictbeuren,  de  Wemgarten  e 
do  cavalleiro  Manessi,  que  transmittiram  á  posteridade  grande  numero  de 
canròes  dos  minnesingers,  deveram  sua  origem  á  mesma  necessidade. 

•  Em  Portugal,  estas  collocí^òes  de  poesias,  a  que  dào  o  nome  de  cancio- 
neiros sào  mais  numerosas  do  que  em  nenhuma  outra  naçào,  e  possuem  uma 
importância  fundamental  para  a  historia  litteraria  d'este  paiz. 

«A  poesia  lyrica  começou  em  Portugal, por  onde  ella  terminou  nos  outros 
paizes,  por  uma  poesia  auiica,  vinda  do  estrangeiro.  E  no  reinado  de  D.  Diniz 
chegou  a  formar  uma  escola  independente. 

«O  Cancioneiro  d' Évora  pertence  ao  fim  do  século  xvi,  e  foi  provavelmente 
composto  entre  1590  e  1600.» 

tiU)  HARLEY  (Captain). 

E.—  Veteran  or  forty  ycars  in  the  Brifish  service  in  Egtjpf,  Spain,  Portu- 
gal. 2  vol.  (Quarenta  annos  de  serviço  em  Portugal,  Hespanha,  etc.) 

ri't:i)  HARTNACK   (DANIEL). 

K,— Sanches  aliquid  sciens.  Stettin,  16G5.  (Sanches  sabendo  alguma  coisa.) 

«Francisco  Sanches,  medico  portuguez,  failecido  em  Toulouse  no  anno  de 

1632,  era  lilho  de  um  medico,  judeu  de  religião,  que  o  levou  para  Bordeaux 

ainda  de  pouca  edade.^  Destinando-se  para  a  mesma  profissrio,  visitou  parte 

í  V.  Diilot.  Hioiíraphic  CnivcrscUc,  M)I.  ilJ,  pag.  'loL 


HA  373 

da  Itália,  e  tomou  seus  graus  cm  Montpollior.  A  fim  de  viver  separado  das 
questões  religiosas,  que  agitavam  esta  cidade,  estabeleceu  se  em  Toulouse, 
onde  professou  a  philosophia,  e  em  seguida  a  medicina,  e  dirigiu  por  espaço 
de  trinta  annos  n'aquella  cidade  o  Hotel  de  Dieu.  Bayle  disse  d*elle :  É  um 
grande  pyrrhonico,  o  qual  o  avaliou  ligeiramente,  e  só  pelo  titulo  do  seu  pri- 
meiro traclado  de  phiiosophia  — D^  multum  nobili  et  prima  universali  scientia 
quod  rúhil  scitur.  Leão,  1581.  Francfurl,  1621.  (Da  muito  nobre  e  primeira 
sciencia  —  que  nada  se  sabe). 

«Em  vez  de  coilocar  Sanches  ao  lado  de  Montaigne  e  de  Charron,  convém 
mais  fazer  d'elle  um  precursor  de  Descartes.  tMeu  projecto,  disse  elle,  é  o  fun- 
dar uma  sciencia  solida  o  fácil,  purificada  d*essas  chimeras  sem  base,  que  se 
reúnem  com  o  fim  nào  de  nos  instruírem,  mas  de  nos  mostrarem  o  espirito  do 
auctor.»  Porém  coptentou-se  com  lavrar  contra  a  philosophia  e  methodo  de 
argumentação  umlíbellodeaccusação  em  regra,  e  as  objecções,  que  apresenta 
antecipadamente,  encontram-se  mais  tarde,  e  com  mais  força  em  Bacon.  De- 
finiu a  sciencia  retperfecta  cognitio.  Seu  livro  é  de  uma  leitura  agradável,  es- 
cripto  n'um  estylo  variado  e  animado;  lamcnta-se  que  não  tivesse  acabado  sua 
tarefa  fazendo  conhecer  as  verdadeiras  bases  da  sciencia  e  do  methodo,  e  que 
os  relâmpagos  do  seu  espirito,  conforme  a  expressão  de  Tenneman,  em  vez  de 
dissiparem  as  trevas,  nào  tivessem  servido  mais  do  que  a  tornal-as  visíveis.  Ul- 
ric  Wild  tentou  refutar  o  pretendido  scepticlsmo  de  Sanches  na  these  intitu- 
lada Quod  aliquid  scitur  (Que  também  se  sabe  alguma  coisa).  Leípsick  1664, 
6  foi  por  sua  vez  refutado  por  Daniel  Hartnack  na  obra  acima  referida.» 

546)  HARTUNG  (QEORGE). 

E. — Die  Azoren  in  ihrer  atissem  Erscheinung  nnd  nach  ihrer  geognostis- 
chen.  Natur  geschildert.  Nebst  einen  Atlas.  Leipzik,  1860.  8." 

547)  HASSENSTEIN  UND  AUGUSTUS  PETERMAN. 
E.^Geographische  Keunstniss  vou  Kongo  und  Angola  in  JaUre,  1862.  (No- 

Ções  geographicas  sobre  o  Congo  e  Angola  no  anno  de  1862). 

Appareceu  esta  publicação  no  Mitthcilungen  de  Peterman  n.*  12  com  um 
mappa  do  Congo. 

548)  HAUTFORD  (OH.  V.  D*). 

E. — Coup  d*ceil  sur  Lisbonne  et  Madrid  en  1814,  suivi  d'un  Memoire  poli- 
tique concernant  la  Constitulion  promulgure  par  les  cortes  d  Cadix,  et  d'une 
notice  sur  Ictat  moderne  des  sciences  matliéinatiques  et  physiques  en  Espagne. 
Ouvrage  dedié  ao  roi.  Paris,  1820.  8.°,  439  pag. 

«O  espectáculo  de  Lisboa,  elevando -se  em  fúrma  de  amphitheatro  na  di- 
reita do  Tejo,  oíTerece  os  mais  bellos  lypos  ao  pincel  dos  Vernet,  e  ao  buril 
dos  Woolett.  A  bahia,  que  se  abre  abaixo  de  Lisboa,  ancoradouro  excellente 
para  todas  as  sortes  de  embarcações,  é  formada  pelas  aguas  do  Tejo,  que  n*es- 
te  sitio  conta  três  léguas  de  largura.  A  multidão  de  navios  alh  ancorados,  o 
aspecto  variado  dos  edifícios,  que  se  desenhavam  a  meus  olhos,  os  diversos  ac« 


374  HA. 

cidentos  d'este  quadro,  produzidos  pela  natureza  e  pelas  artes,  cobertos  por 
uma  incommeusuravel  cortina  do  mais  bello  azul,  mergulharam  minha  alma 
n*um  d'esses  exlasis,  cuja  força  creadora  tem  produzido  as  primorosas  lélas 
dos  Vandeo-Velde,  Vroora,  Borzoni  e  Salvalor-Rosa  admirados  pela  Europa 
em  suas  galerias.  •  Pag.  6. 

«Merece  especial  menção  a  maneira  como  em  Portugal  trabalham  na  pe- 
dra produzida  n'este  paiz.  Nenhum  outro  possue  melhores  materiaes  para  as 
construcçòes.  Esta  pedra  é  calcarea,  e  o  mármore  nobile  de  Linneo.  A  perí- 
cia dos  habitantes  para  a  lavrarem  é  pouco  vulgar,  e  as  obras  que  sahem  de 
suas  mãos,  são  de  uma  perfeição  admirável. •  Pag.  i3. 

«No  centro  da  praça  do  Commercio  admira-se  a  estatua  equestre  em  bron- 
ze, de  Joseph  I,  obra  de  Joaquim  Machado  de  Castro,  e  que  assegura  a  este 
esculptor  uma  reputação  iaimortal.  Trophous  e  grupos  emblemáticos,  colloca- 
dos  aos  lados  do  pedestal,  executados  pelo  mesmo  artista  dão  a  este  monumento 
um  ar  de  grandeza  que  eu  não  observei  nas  estatuas  equestres  dos  grandes  du- 
ques Cosme  e  Fernando,  que  vemos  em  Florença  nas  praças  do  Palácio  velho, 
e  da  cgreja  da  Annunciada,  pertencentes  ambas  ao  cinzel  de  João  Bologna.» 

«Barthplomeu  da  Costa  é  o  nome  d'aquelle  que  fundiu  a  estatua  de  um  só 
jacto,  operação  que  merece  elogios,  atlendendo  á  dimensão  da  Ggura  do  rei  e 
do  cavallo.  As  proporções  d'esta  estatua  equestre  são  as  mesmas  que  as  da 
estatua  de  Luiz  XIV  na  praç^a  Vendome;  mas  a  fígura  do  rei  Joseph  é  de  onze 
poUegadas  mais,  o  que  provém  do  capacete. 

Não  tendo  podido  ver  o  mosteiro  de  Bolem,  nada  posso  fazer  para  satisfa- 
ção de  meus  leitores  senão  reportar- me  ao  elogio,  que  d*elle  fazem  Fregier  e 
Aviler:  o  primeiro  na  sua  obra  de  Stereotoinia  (tomo  3.°,  livro  4.'^,  parle 
2.",  pag.  28);  c  o  segundo  no  seu  Diccionario  de  Architectura,  na  palavra 
Ilaedi. » 

«Hauleforl  teve  o  talento  raro  de  descrever  melhor  Lisboa  depois  de  uma 
rcsidoncia  somente  de  duas  semanas,  do  que  o  hzeram  outros  viajantes  de- 
pois de  a  terem  habitado  por  muito  tempo.».— Balbi.  Essai  Síatistique,  vol.  i.*, 
pag.  32. 

:Vi9)  HAY  (SiR  ANDRÉ W  LEITH). 

K.—A  Harrativí'  of  the  l\ml)isiflar  War,  %  — .  Edimburg,  1831.  London, 
1831).  8.",  ihirJ  oJiliuii.  (Xiirrarào  da  guerra  peninsular.) 

íkíO)  H.   (COMES  DE   SOLMS-LAFBACH).  Philos.  doctor.  socio  ad 

0.  íioíiiienilum  a^isuniplo,  Kniplin{j^,  stud.,  etc. 

]'].-  'Ti'ttlfuii<'ii  liVijo-ifroífvaphinc  AJ{inyv'nv'  rcrju)  í.n^itani provincinc.  Com- 
mt')í/(iti  >,  qiiniih  con^ruí^H  et  (lurtoritate  ninnli^simi  philu.^ophonun  ordinis  in 
Arddcmift  Fri(lri'''rian(i  llibii^^i  nun  VUrbenjcn  runsoriata  pro  Vtnia  legendi 
rife  i)nprli(nidfi  dii'  10  mnii  I8GS,  hora  1:2.  in  auditório  máximo  una  cnm  the- 
sibus  puljlicc  d>'fcndit.  llaUs.  Tyi)is  Orplrmoíroplioi. 

Trata  esta  obra  das  plantas  do  Alg.irve.  e  principalmente  das  cryptoga- 
meas. 


HE  375 

S51)  HEATHER  (W.) 

E.— A  nieto  and  complete  pilot  containing  sailing  directions  for  the  Bay  of 
Biscayy  coast  of  France,  Spain  and  Portugal,  London,  180i. 

5o2)  HEBBE. 

E,—Relaíion  sur  Vile  du  Faijal  Stockolrti,  1804. 

«O  auctor,  oílicial  da  marinha  sueca,  c  o  mais  aniig^o  viajante,  que  forne- 
ceu informações  circumstanciadas  e  dignas  de  interesse  acerca  de  paragens 
tão  pouco  frequentadas  na  época  em  que  as  visitou.^ 

553)  HEERINGEN  GUSTAVE  DE). 

^.—Meine  Reise  nach  Portugal,  etc.  (Viagem  em  Portugal  no  principio  de 
1836  por  — .)  Leipzig,  1838.  .2  voi.  8.*' 

554)  HEMAN  (Mistress). 

Escreveu  uma  linda  poesia  intitulada  The  Caronation  of  Inez  de  Castro,  a 
qual  anda  na  coliecçào  de  suas  obras  poéticas. 

Dá-nos  esta  noticia  M."*  U.  Dujarday  na  sua  obrdL—Résumé  des  voyages 
des  Portugais,  Tomo  !.•  pag.  365. 

555)  HEMSO  (JACOB  G-ROBERQ  DE).  Cônsul  da  Suécia  em  Tan- 
ger e  correspondente  da  Academia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa.^Em  maio  do 
1838  achava- se  em  Florença,  segundo  se  vé  do  estado  do  pessoal  da  Acade- 
mia n'este  anno. 

E.— Indagações  sobre  a  língua  dos  Bárbaros,  (Memorias  da  Academia  das 
Sciencias,  Tomo  5.<»,  parte  2.»,  pag.  49  a  56.) 

556)  HÉNAULT  (CHARLES  JEAN  FRANÇOIS). 

E,—Abregé  Chronologique  de  VHistoire  d'E$pagne  et  de  Portugal.  PariSi 
1759. 1765.  2  vol. 

557)  HENDERSON  (J.) 

E. — A  history  of  the  Brasil,  comprising  its  geography,  commerce,  coUmi* 
sation,  ttborigenal  inhabitants.  London,  1821. 

558)  HENNEQUIN  (PIERRE). 

E. — Cours  de  Litter ature  ancienne  et  modeme,  contenant  un  traité  com- 
plet  de  poetique  extrait  des  meilleurs  critiques  et  commentateurs:  enrichi  de 
sept  cents  notices  sur  les  poetes  les  plus  celebres  de  tous  les  temps  et  de 

1  Morelet.— Lei  Açores,  pag.  15. 

«  Memorias  da  Academia^  tomo  5.»,  parle  í.',  pag.  i%.— -Memoria  interessante  sobre 
a  língua  dos  Bárbaros^  vulgarmente  chamados  Berberes  e  ChiUoheSf  que  habitam  as  serra* 
nias  do  Atlas,  e  faliam  dialectos  di/ferentes  da  mesma  língua,  M.  A.  Tomo  4.^  parle  1.*, 
pag.  IG. 


:{76  HE 

toiUes  les  nations :  ouvrage  orne  de  citations  et  de  traductions  de  differents 
poetes  en  français,  en  Min,  en  grec^  en  nisse,  en  anglais,  en  allemand,  en 
italieuy  en  espagnol  et  en  portugais.  Moscoa,  1821.  4  vol. 

559)  HENRY  (WILLIAM  JOHN  CHARLES).  Commendador  da  or- 
dem de  Christo. 

Nasceu  em  Londres  a  27  de  março  do  anno  1846. Veiu  para  Portugal  como 
secretario  do  sr.  conde  da  Carnota.  Reside  em  Alemquer. 

E. —  Alemquer  e  seu  concelho.  Lisboa. 

Traduziu  para  inglez  um  folheto  composto  pelo  duque  de  Saldanha  com  o 
titulo  de  Verdade.  Londres,  1872. 

Acha-se  actualmente  compondo  em  portuguez  um  Guia  do  Viajante  na 
Europa. 

56^3)  HERNOUX  (Gontre-amiral). 

E.—Notice  historíque  sur  le  Portugal.  Paris,  1851,  8.** 

561)  HEROS  (D.  MARTIN  DE  LOS). 

Leu  á  Academia  do  Historia  de  liespanha  uma  dissertação  intitulada :  — 
Examen  histórico  critico  d€  la  supuesta  aclamacion  dei  primer  rey  de  Portu- 
gal en  el  campo  de  Orique,  y  falsedad  de  las  cortes  de  Lamego. 

Dá-nos  esta  noticia  G.  Ximenes  deSandoval  na  sua  obra  intitulada :  Bata- 
lha de  Aljuharruta,  pag.  7. 

:m\í)  herport  (albercht). 

E. —  ()<(/' ndiainsche  R('iscbcsrhri'ihuíifj,{\"['Ag^im  ás  índias  Orientaes.)  Schles- 
wig,  iOGO,  foi.  Anistcrdam,  1070,  4.'^ 

503}  HERHERA  (ANTÓNIO). 

E.—  Cinco  hhnm  de  la  Ilislorid  ih'  Portufjaf  y  conquistas  de  las  islãs  de 
los  Arorcs  en  los  ai(os  dr  i*)8í  //  Í5S3.  Madrid,  loDl. 

:;(iV)  hí:kre:ía  (d.  bernardino). 

E. — M('/iiirifi<  /'/,^7()^/V7/^  d>-  !().<  drspitsnrios,  vifijcSf  cntreqas  y  respectivas 
funcrod-y,  d''  Ins  rrafr.t  i),)d<!:<  d-  ',''s  .sí /••'W',s*.s/.'/"rs  srihiras  infantas  de  Espana 
y  d'-  l'i>r!ii{i-ii,  !a  srn-oa  I).  (^  ninfa  Jnaqiiina  Mariana  Victoria  en  el  ano  dt' 
178o,  esrriías  /•/>  f^,ufuintr  dr  17<>r>  //->/•  — .  MaJriíl,  1787.  Imprensa  de  Sanch»»<! 
2oO,  pag.  S/ 

.■ji').))  HERRERA  (I ERDINAND).  lin  dos  mais  notáveis  poetas  hespa- 
nhoȒs,  cngnomiiiiaio  [uir  soas  ('oiUem|)orancos  o  Divino. 

Nasceu  cm  S.-vilha  no  anno  d(!  i:j;{t,  o  fallecoii  oin  lo97. 

Suay  duas  mais  nolavcis  oilrs  Icom  í»or  assumpto  a  batalha  do  Lopanlo  e 
a  morto  do  ici  1).  Scijasliào  na  desasírosa  batalha  de  Alcac«T-iOuibir.  A  tra- 


i 


HE  377 

ducçào  franceza  d'esta  ullima,  que  appareceu  no  Magasin  Pittoresque,  é  da 
maneira  seguinte  ^. 

Donnez-moi  une  voix  de  douleur,  un  chant  de  plalnte, 

Un  esprit  de  terreur  et  de  colère, 

Pour  eterniser  le  cruel  souvenir 

De  ce  jour  faial,  abhorré, 

Oii  la  malheureuse  Lusilanie  pleure 

Sa  valeur  trompéc  el  sa  gloire  eclipíêe 

Que  les  larmes  de  Tliistoire 

Couvrenl  à  jamais  de  irislesse et  dliorrcur 

Les  terres  funestes  qui  8'ctendent  depuis  le  pied  brulant  de  TAtlas 

Jusqu'aux  lieux  ou  la  mer  a  elé  rougie  par  le  sang, 

Et  oú  les  ardentes  barrières  de  TOrient 

Et  ses  nations  féroces  onl  vu  reeuler  les  ctandards  du  Christí 

Qui  sonl  ils  devenus  ceux  qui,  confiauts  en  Icur  chevaux 

Et  en  la  mullilude  de  leurs  chars 

Pénétrérent  dans  tes  deseris,  ó  Lybie? 

Comptant  sur  leurs  forces  et  sur  icur  conrage, 

lis  n'ont  pas  mis  leur  espoir  dans  relerní^lle  justice; 

Leur  orgueil  assuré 

N'a  attendu  que  de  soi  une  victoire  incorlaine; 

Et  sans  élever  les  yeux  vers  le  ciei, 

La  tête  haute,  le  cceur  enflé, 

Ils  n'ont  considere  que  les  depouilles; 

Et  le  Dieu  dTsrael  a  ouvert  sa  main 

Et  les  a  laissés  allcr,  et  tout  est  tonibé  dans  TabimC; 

Le  char,  le  cheval  et  le  cavalier. 

II  est  venu  le  jour  aíTreux,  le  jour  plein 

DMndignation,  de  colère  et  de  rage,  qui  a  precipite 

Dans  la  solitude  et  dans  les  gómissements 

Tout  un  royaume  desherité  désormais  de  ses  enfants  et  de  sa  joie. 

Le  ciei  est  demeuré  obscur;  le  soleil 

A  voilé  sa  face  pour  présager  un  si  grand  malheur. 

Entouré  de  ses  épouvantes, 

Le  Seigneur  a  visite  les  orgueilleux 

Pour  les  frapper  et  pour  les  humiliey; 

Et  il  a  preté  main  forte  aux  Barbares, 

Qui,  etonnés  de  voir  la  pariie  egale, 

Du  moins  n'ont  pas  mis  leur  courage 

A  conquerir  de  Tor,  mais  avec  le  fer  rápido 

Ont  tire  la  vengeance  du  ciei  et  onl  puni  ses  fils  ingrats. 

Les  infidí'los,  pleins  d*uno  aveugle  rage, 

Ont  liré  leurs  opérs  inflammées 

i  Magoiin  Pitloresque  de  18i3,  pag.  274. 


378  HE 

Pour  obscurcir  Téclat  sans  tache 

De  ta  gloire  et  de  ta  valeur;  et  non  contents 

De  favoir  donné  Ia  mort,  ils  ont  voula  ôter  ta  gloire, 

O  Lusitanie,  désormais  condamnée  aa  malheur ! 

D'im  front  assuré, 

Ils  ont  brisé  sans  craiote,  avec  un  affreux  carnage, 

Tes  escadres  et  ton  courage. 

Le  sable  s^est  changé  eo  un  marais  sangiant, 

La  plaíne  en  une  montagne  de  morts. 

La  force  et  Taudace  ont  passe  tout  entières  d'aQ  côtó, 

De  Fautre  Ia  faiblesse,  la  peur,  Ia  honte. 

Sont-ce  donc  là  les  fameux, 

Les  forts,  les  intrepides  guerriers. 

Dont  la  colère  a  ema  toute  la  terre? 

Qai  ont  ebranlé  tant  de  pnissants  empires; 

Qui  ont  doropté  tant  de  nations  redoutables; 

Qui  dans  leurs  impitoyables  gnerres,  ont  changé  en  un  désert 

Tous  les  rivages  que  baigne  la  mer  des  Indes; 

Qui  ont  ren verse  tant  des  superbes  cilés? 

Que  sonl  devenus  leur  graíid  coeur;  leur  hardiesse? 

Comment  ont  ils  perda 

Leur  heroique  valeur  en  un  jour? 

Ecrasés,  loin  de  leur  patrie, 

Ils  n'ont  pas  môme  reçu  de  sépulture. 

Tel  le  cedre  magnifique 

Du  haut  Llban,  couvert 

De  rameaux,  de  feuilles,  touchant  les  nues. 

Les  eaux  l'ont  fait  puissant; 

Eleves  au  dessus  des  plus  grands  arbres. 

Ses  bras  ont  vu  chaque  jour  croílre 

Leur  force  et  leur  grace; 

Sous  ses  vastes  abris^  les  oiseaux  que  nourrit  rimmense  ciei. 

OqI  suspendu  leurs  nids. 

Dans  les  cavités  de  son  trone,  11  a  vu  naitre  les  aniinaux  sauvages; 

II  a  oíTarl  sa  lente  et  son  ombre  á  tout  un  peuple  de  créatures; 

En  grandeur,  en  beauté, 

II  etait  sans  rival  sur  la  terre. 

Mais  aussi  haut  que  sa  verte  cime 

S'eleva  son  orgueil; 

Plein  d'une  folie  prósomption, 

II  n'a  fait  estime  que  de  sa  majesté; 

Et  Dieu  Ta  livre 

A  des  mains  impics,  élrangòres, 

Qui  Tont  coupé  par  la  racine. 

Celui  qui  faisait  gémir  sous  son  poids  les  hautes  monlagnes 


Hl  379 

Est  otendu  sans  ramcau,sans  feuilics,dépouilló. 

Les  hommes  qui  vivaient  sous  soo  ombro 

S'cnfuient  pleins  d'eíTroi, 

Et  parmi  ses  ruines  les  oiseaux, 

Los  aniraaux  féroces,  cherchenl  encore  leurs  abris  violes. 

Mais  toi,  Lybie  raaudile,  qui  sur  lon  sec  rivage 

As  vil  la  Lusitanie  expirer, 

Et  son  honucur  tinir  avcc  elle, 

Ne  sois  point  vaine,  et  ne  t'eníle  point  d'an  foi  orguoil. 

Cest  sans  espoir,  qae  ta  maio  dèbiie 

A  remporté  cette  victoire, 

Indigne  de  souvenir; 

Car  si  jamais  une  juste  doleur  excite  á  la  vengeance 

Le  courage  espagnol 

Mise  en  pièces  par  ta  lance  acórée 

Tu  expieras  par  ta  mort  tes  outrages, 

Et  tu  serás  forcée  de  payer  ta  dette  de  sang 

A  la  mer  epouvantée. 

566)  HERVEY  (O.) 

E,^Lettres  from  Portugal,  Spain,  Italy  and  Germany  in  the  years  1759, 
1760, 1761,  1762,  3  vol.  London,  1785. 

567)  HET  NADERSTE  ENDE  SCHERSTE  JOURNAXIER  Wer- 
hael  ofte  Copye  van  sckeren  Bricff,  gheschreven  uyt  Brasil,  aen  de  cen  Hee* 
ren  Dewint  hebberen  der  geociayeerde  West  Indische  Compagnye,  ter  Kamer 
vande  Mase,  nopende  de  Ireffelijcke  ende  laughywenschte  Victorye  die  Gordt  Al* 
machtigh  ons  verleent  lieeft,  ondert  wysselijck  heleyt  Syn:  Exceli:  Graef  Mau- 
rits  van  Nassau  ele.  in  Brasil,  teyen  de  machtiye  Vloot  des  Konings  van  Span- 
gen,  bestaend  in  88.  Zeylen,  voor-ghevallen  in  de  Maendt  van  Januário  etc 
In*s  GravenUaje,  1640,  8  pag.  sem  numeração.  (M.  S.) 

568)  HEZECQUES  (RAYMOND  DE), 

E.— Í$aia5  inter  majores  propheta^  primus  a  R,  P.  Hieronymo  Oleastro 
Lusitano,  quondam  Inquisitore  cotntnentarius  illustratus.  Paris,  1622.  (Com- 
mentario  de  Isaias,  composto  pelo  padre  Jeronymo  da  Azambuja,  e  illustrado 
por—). 

569)  HTLATRE  (QEOFFROY  ETIENNE  ST.)  Celebre  zoologisU 
francez.  Nasceu  em  Etampes,  no  anno  de  1772,  e  falleceu  em  1844.  ^ 

Vejamos  o  que  a  respeito  d*este  homem  tâo  celebre  nos  diz  o  MagasinPit- 
toresque,  ^ 


^  Bouillet.— Dtc<tonnatr0  Universelle  d'Histoire  et  Geographie,  SuppUment,  pag.  SO' 
'  Magasin  Pittoresqw,  yol.  IC**,  pag.  173.  /d.,  anno  de  1815. 


380  Hl 

GEOFFROY  SÂlNT-niLAIIlB  SM  PORTUGAL 

«A  missão  de  GeoíTroy  St.  Hilaire  em  Portugal,  que  alcançou  para  nossas  di- 
versas collecções  riíjuesas  lào  preciosas,  pôde  ser  citada  como  um  dos  mais  bel- 
los  exemplos  das  vantagens  positivas,  que  resultam  da  moderação  e  da  huma- 
nidade no  exercido  do  poder.  É  cheia  de  incidentes  de  toda  a  espécie,  que  fa- 
zem da  sua  narração  um  dos  capítulos  mais  interessantes  da  historia  doeste  il- 
lustre  sábio. 

«Pela  occupação  de  Portugal  em  1807,  o  imperador,  que  jamais  separava 
os  interesses  da  sciencia  dos  da  politica,  quiz  que  um  naturalista  alli  se  diri- 
gisse immediatamente  para  explorar  as  riquesas  scientiQcas  que  a  longa  do- 
minação de  Portugal  na  America  n'aquelle  paiz  accumulava.  O  enviado  do  go- 
verno francez  devia  visitar  as  collecções  d'historia  natural,  e  determinar  quaes 
os  objectos  que  poderiam  ser  transportados  para  Paris.  A  pedido  de  Geoffroy 
St.  Hilaire,  encarregado  da  missão,  juntaram-se  à  historia  natural  não  somente 
todas  as  scicncias  em  geral,  mas  até  as  lettras  e  artes.  Suas  instrucções  confi- 
denciaes  davam-lhe  a  este  respeito  poderes  illimitados.  Por  uma  determinação 
cheia  de  grandeza,  e  cujos  resultados  deviam  amplamente  mostrar  toda  a  pru- 
dência, GeofTroy  St.  Hilaire  quiz  que  sua  missão  fosse  egualmente  útil  a  Por- 
tugal e  á  França.  As  collecções  de  Portugal  eram  ricas  em  objectos  trazidos 
pelos  navegantes  dos  paizes  longiquos,  mas  incompletas  em  outros  objectos 
não  menos  importantes,  desordenadas,  mal  classificadas:  nosso  sábio  tendo  con- 
cebido a  idéa  de  levar  comsigo  varias  caixas  cheias  de  duplicados  do  museu 
que,  inúteis  aqui,  se  tornavam  n*aquello  paiz  do  mais  alto  apreço,  e  por  conse- 
guinte de  servir  aos  interesses  da  sciencia  nos  dois  paizes  ao  mesmo  tempo. 

«Chegado  a  Lisboa,  depois  de  ter  estado  a  ponto  do  ser  assassinado  na 
Hespanha,  que  clle  acabava  de  atravessar  no  primeiro  fogo  da  insurreição  con- 
tra os  francczcs,  foi  recebido  de  braços  abertos  por  Junol,  pois  este  ultimo  fo- 
ra seu  companheiro  no  Kgypto,  e  que  dispondo  de  um  poder  quasi  absoluto, 
lhe  assegurava  antecipadamente  toda  a  prolecçào,  de  que  podesse  carecer  na 
sua  missão.  Derani-se  ordens  aos  conservadores  dos  museus  e  bibliothecas 
do  Estado  e  dos  conventos,  e  ató  dos  particulares,  de  communicarem  ao  com- 
missario  imperial  todas  suas  riquozas,  e  de  annuir  a  todos  seus  pedidos.  Houve 
um  susto  geral :  via-se  ji  Portugal  despojado  de  todas  suas  riquezas  littera- 
rias  e  scionliíicas.  Porém  o  receio  nfio  durou  muilo.  GeoíTroy  St.  Hilaire  come- 
çou por  declarar  que  os  depósitos  públicos  ou  dos  conventos  seriam  todos  vi- 
sitados por  clle,  mas  na  qualidade  de  inspector.  O  rico  convento  de  Nossa  Se- 
nhora de  Jesus  foi  o  primeiro  a  receber  sua  visita.  Deixou  aos  frades  quanto 
tinham,  e  recebeu  dVlles  súinonte  alguns  fosseis,  cuja  importância  estavam 
bem  longe  de  apreciar,  e  algumas  amostras  de  mineralogia,  que  possuíam  em 
duplicado.  Por  isso  beni  longe  d»*  escondiTom,  apressavam -se  a  tudo  lhe  pa- 
tentearem. Imu  S.  Vicente  de.  Fora,  estando  a  admirar  os  manuscriptos  pre- 
ciosos que  vinham  mostrar-lhe,  crendo  quo  esta  admiração  não  era  maii 
que  o  preambulo  adocicado  d'um  pedido  formal,  apressaram-se  de  o  preve- 
nir, pedindo-Iho  unicamente  licença  para  licarem  com  as  copias.  Vim,  respon- 
deu elle,  organisar  os  estudos,  e  nào  roubar  os  elementos.  Gontenlou-se  com 


Hl  38^. 

fazer  n^este  convento  o  qae  fizera  no  outro.  Porém  os  religiosos  em  soa  ale. 
gría  foram  mais  expansivos,  e  lembraram-se  de  lhe  enviar  nm  presente.  <E' 
pena,  disse  GeoíTroy,  ao  retirar-se;  eu  tinha  vontade  de  ir-me  despedir  d^esses 
bons  religiosos.  Os  gabinetes  de  historia  natural  pertencentes  ao  governo  nao 
tiveram  menos  que  lhe  agradecer.  Tralava-se  aqui  dos  bens  do  rei,  e,  apesar 
de  mais  livre,  também  não  abusou.  Estes  gabinetes  na  occasião  de  sua  chega- 
da nada  mais  eram  que  um  montão  do  objectos  não  classificados,  offerecidos 
á  curiosidade  publica  muito  mais  que  aos  estudos  e  investigações  dos  sábios. 
Na  sua  partida  tudo  estava  mudado.  A  ordem  mcthodica  e  os  rótulos  tinham 
sido  introduzidos,  e  a  preciosa  serie  de  mineraes  levada  por  elle  de  Paris,  ti- 
nha sido  trocada. 

Não  se  contentou  em  proteger  as  collecçôes,  protegeu  também  os  sábios.  A 
amisade  do  Junot  lhe  forneceu  os  meios.  Muitos  sábios  aíTeiçoados  á  antiga  or- 
dem de  coisas  eram  victímas  da  nova :  tiveram  desde  então  em  Geoffroy  Ste 
Hilaire  um  confrade  dedicado.  Por  isso  um  dos  professores  mais  distinctos  da 
universidade  de  Coimbra,  o  botânico  Brotero,  suspenso  e  privado  de  seus  or- 
denados, tinha-se  refugiado  n*um  arrebalde,  onde  vivia  obscuramente,  e  em 
miséria  extrema.  GeoíTroy  corre  a  sua  casa,  faz-se  seu  advogado  perante  Ju- 
not, insiste,  e  nada  consegue.  Brolero  recebe  comtudo  no  dia  seguinte  uma 
parte  do  que  reclamava,  com  um  convite  a  que  guardasse  segredo.  «O  gene- 
ral, disse,  nem  mesmo  quer  que  vós  lhe  agradeçais,  pois  o  caso  se  divulgaria, 
e  toda  a  gente  reclamaria  como  vós.»  Apesar  d' este  convite,  o  reconhecimento 
não  o  poude  conter.  Brotero  escreve  ao  duque,  que  fica  como  furioso,  pois  to- 
ma estes  agradecimentos,  não  merecidos,  como  uma  ironia.  Mas  bem  depressa 
a  confissão  do  piedoso  estratagema  de  St.  Hilaire  o  comraovc  e  desarma,  e  con- 
cede o  que  até  então  obstinadamente  tinha  recusado. 

«O  mesmo  caso  se  deu  cora  Verdier,  membro  correspondente  do  Instituto 
de  França.  Gravemente  compromeUido  pelos  acontecimentos  políticos  do  co- 
meço de  1808,  estava  no  exílio,  e  Junot  mostrava-se  excessivamente  irritado 
contra  elle.  Á  força  de  pedidos,  e  de  ter  attrahido  sobro  si  mais  do  que  uma 
vez  a  cólera  do  general,  o  nosso  joven  sábio  obteve  que  finalmente  o  tirassem 
do  exilio:  c  foi  Verdier  quem  no  anuo  de  1814  por  ura  generoso  impulso  es- 
creveu a  relação  dos  serviços  prestados  á  inslrucção  publica  em  Portugal  por 
Gedffroy  St.  Hilaire. 

«Mas  de  todas  as  bellas  acçòes  do  mesmo  género,  que  foi  permittido  a  St. 
Hilaire  fazer  n'esta  época  de  oommoçòes  e  de  reacções,  nenhuma  recebeu  uma 
mais  tocante  recompensa,  que  o  serviço  que  teve  a  ventura  de  prestar  ao  ar- 
cebispo de  Évora,  ameaçado  um  instante  durante  a  occupaçào  doesta  cidade. 
Algumas  semanas  depois  o  arcebispo  por  sua  intervenção  omnipotente,  salva- 
va por  sua  vez  os  homens  dos  nossos  postos  surpreheudidos  pelo  inimigo,  e 
dirigia  a  GeoíTroy  St.  Hilaire  estas  enternecedoras  palavras:  Lembrei-me  de  vós. 
«Em  seguida  aos  dias  de  triumpho,  como  se  vé  em  quasi  todas  as  coisas 
humanas,  vieram  os  dos  revezes.  Junot,  reduzido  a  dez  mil  homens,  contra  o 
exercito  inglez  desembarcado  debaixo  do  commando  de  Wellington,  víu-se 
obrigado  a  deixar  Portugal.  GeoíTroy  St.  Hilaire,  que  íigurava  na  desastrosa 


302  Hl 

batalha  do  Vimeiro  como  cirurgião  militar,  teve  que  seguir  a  fortuna  do  seu 
general,  e  foi  levado  para  França  n'uma  fragata  ingleza.  Não  se  retirava  com 
as  mãos  vazias,  pois  as  tinha  enchido  muito  gloriosamente.  Os  commissaríos 
inglezes,  logo  d<^pois  da  sua  occupação  de  Portugal,  tinham-lhe  dado  ordem 
de  largar  immediatamente  todas  suas  collecções;  mas,  apoiado  pela  Acade- 
mia de  Lisboa,  que  tanto  tinha  que  lhe  agradecer  em  attenção  aos  persegui- 
dos, agora  poderosos,  aos  quaes  tinha  soccorrido,  obteve  que  suas  caixas  lhe 
fossem  deixadas,  mas  como  objectos  d'elle,  ao  passo  que  para  prestar  home- 
nagem ao  principio,  abandonava  quatro.  E'  o  que  praticou;  mas  abandonou 
quatro,  que  lhe  pertenciam.  ^ 

«Não  foi  bastante  ter  levado  as  collecçòes  para  França:  1815  veiu  ainda 
alli  ameaçal-os.  O  duque  de  Hichelieu,  tomando  a  iniciativa,  escreveu  ao  mi- 
nistro de  Portugal  convidandoo  afazer  valer  seus  direitos.  A  resposta  de  Por- 
tugal foi  que  nada  se  reclamava,  porque  nada  havia  a  reclamar.  «Oscommissa- 
rios  da  Acadpmia  e  os  con:^*^rvaiorPs  da  Ajuda  (diz  o  ministro  offlcialmente) 
consideram  que  Mr.  GeolTroy  recusou  usar  da  auctorisação  que  tinha  obtido 
para  escolher  os  objectos  únicos:  somente  pediu  duplicados,  e  o  que  recebeu 
lhe  foi  dado  em  troca  de  objectos  de  mineralogia  raros  e  desconhecidos  em 
Portugal,  que  trouxera  de  Paris,  e  por  causa  do  cuidado  que  teve  com  a  elas- 
siQcação  e  rótulos  das  collecçòes  deixadas  na  Ajuda. 

«Eis  indubitavelmente  um  documento  único  nos  actos  diplomáticos  de  1815, 
e  que  não  dá  menos  honra  a  Portugal,  que  ao  sábio  francez.» 

E. — Note  sur  les  objets  d'histoire  naturelle  recueilUs  en  Portugal.  (No  tomo 
12.»  dos  Annales  du  Museiun  de  Paris). 

570)  HILAIRE   (ROSSEUW  SAINT). 

E.— A  revolução  de  Poríufidl  e/n  16iO,  Memoria  apresentada  á  Academia 
das  sciencias  moraes  e  politicas  (Instituto  do  Fninça). 

Foi  vertida  em  portuguez  esta  Memoria,  e  publicada  no  n."  5727  do  Jonuú 
do  Commercio. 

«A  revolução  de  Portugal  é  uma  grande  pagina  da  historia.  Em  todas  as 
outras  conspirações  se  vè  as  mais  das  vozos  os  interesses  particulares  cobri- 
rom-se  com  a  capa  do  interesso  publico,  e  as  más  paixões  oecultarem-se  por 
detraz  das  boas.  Mas  aqui  os  homens  desappareceni,  porque  os  acontecimen- 
tos lhes  são  superiores,  e  arrastam-os  em  logar  de  lhos  obedecerem.  Não  ha 

*  As  galerias  do  museu  acliavam-?c  enriíiuecidas  com  uma  muilidilo  de  objecto<  de 
3Ialabar,  Cochiiichina  c  sobro  tudo  do  Brasil,  o  mesmo  com  varias  espécies  de^conheridas 
tutalmenle  na  sciencia  até  erilílo,  o  que  GcoíTroy  St.  Hilaire  foi  o  primeiro  a  de-creTel-a<, 
taes  como  os  coriamas,  e  os  cephalopleros.  Porém  não  se  linha  limita'lo  á  historia  na- 
tural, e  a  Bibliolheca  nacional  deve-lhe  um  dos  mais  precio>(»s  accrescimos  de  seus  raa- 
nuscriplos.  E  com  um  verdadeiro  transporte  (diz  Mr.  Pavie  no  seu  relatório  ao  mini-tro 
de  insirucção  publica  acerca  d'estcs  manuscriplo-)  que  vi  oirerecerem-sc-me  a  meus  olhos 
cartas  de  lodos  os  soberanos,  que  í;overniram  PoiIulmI  desde  IÍjíí"  até  1715,  D.  Sebas- 
tião, o  cardeal  rei  I).  Henrique,  Pliilippc  II  i!c  llespanha,  Luiz  XIV,  Delphim,  Carlos  H 
de  Inglaterra,  ctc.  Ao  todo  cinco  uiil  doi.umenloa  originaes.» 


Hl  383 

duvida  qa6  Pinto  é  a  mola  principal  d*aqaella  grande  empresa,  em  que,  à  ex- 
cepção do  duque  de  Bragança,  todos  teem  a  sua  parte  de  acção  e  de  dedica- 
ção; mas  o  verdadeiro  auctor  da  conjuração  ó  o  povo  tomando  a  palavra  na 
sua  accepção  mais  lata;  nobres,  burguezes  e  artifíces,  todos  se  unem  n'um  ac- 
cordo  patriótico.  Todos  os  interesses  particulares  se  calam  ante  aquelle  grande, 
aquelle  immenso  interesse,  a  resurreição  da  pátria  portugueza,  saindo  do  tu- 
mulo para  não  voltar  mais  para  elie.  Raro  o  sublime  momento,  como  se  não 
encontram  dois  na  vida  de  um  povo,  e  que  consola  o  historiador  das  cobar- 
dias  e  dos  crimes,  de  que  se  compõe  ordinariamente  o  sanguíneo  encadeamento 
da  historia.» 

571)  HTTiL  OF  OAMALVA  coniaining  sketches  of  Portugal,  Spain,  and 

part  of  France.  3  vol.  (Monte  de  —  contendo  esboços  de  Portugal,  etc.) 

Não  pude  encontrar  esta  obra. 

* 

572)  HIMMEL  (FREDERIO  HENRY). 
E.—  Vasco  di  Gama,  opera.  Berlln,  1801. 

573)  HINCKLEY  (JOHN-ESQ.) 

Traduziu  do  allemão  para  inglez  as  viagens  de  Link  com  o  titulo  seguinte: 
Traveis  in  Portugal  and  through  France  and  Spain  with  a'  dissertation  an 
the  litterature  of  Portugal  and  tlie  Spanish  and  portuguesa  lamjuages  by  Hen- 
ry Frederick  Link  professor  at  the  University  of  Bostock,  and  member  of  va- 
rious  learned  societies  translaied  from  the  German  by  —  with  notes  by  the 
translator,  London,  1801. 

574)  HINTS  THO  TRAVELLERS  IN  SEARCH  of  the  beautiful 
and  grand  in  Portugal.  London.  (Guia  para  viajantes.) 

575)  HISPANIAE  ILLUSTRATAE  sive  rerum  urbiumque  HispanioB, 
LusitaniíB,  jEthiopicB  et  Indim  scriptores  varii,  Francofurti,  1G03.  4  vol.  foi. 
(Vários  escriptores  da  Hespanha  Illustrada,  ou  dos  feitos  e  das  cidades  de 
Hespanha,  Portugal,  Ethiopia,  etc.) 

576)  HISTOIRE  de  ce  qui  s*est  passe  au  royaume  d*Ethiopie  ês  années 
1624, 1625  et  1626  par  G.  Scion. 

Histoire  de  ce  qui  s*est  passe  au  royaume  de  la  Chine  en  1624,  par  V.  Pan- 

taleon. 

Histoire  de  ce  qui  s'est  passe  ês  royaume  d*Ethiopie,  par  A.  d*Almeyda. 

Histoire  de  ce  qui  s*est  passe  au  royaume  de  Thibet,  par  A.  d' Andrade.  De 
la  Chine,  par  A.  Diaz,  et  du  Tunquira,  par  Baldinotti. 

Ces  quatre  histoires  tirées  des  lettres  adressées  au  general  de  la  Compa- 
gnie  de  Jesus,  et  traduites  de  litalien  en  français,  par  un  pretre.  Paris,  1629. 

577)  HISTOIRE  de  ce  qui  s'est  passe  en  Ethíopie,  Chine,  Brésil,  tirée  des 
lettres  ecrites  à  M.  Vitelleschi.  Paris,  1628-1629.  3  vol.  T.  Gompans,  pag.  156. 


384  Hl 

578)  HISTOIRE  de  la  première  decouverte  et  conqueie  de$  Canaries  en 
1402  par  Jean  de  Bethencourt  escrite  du  temps  même  par  P.  BorUier  et  Jehan 
Leverrier,  et  mise  en  lumiére  par  Galien  de  Bethencourt :  plus  un  traité  de  la 
navigation  et  des  voyages  et  conquetes  moderneSy  et  principcUement  des  Fran? 
çois.  Heuqueville,  1630. 

« 

579)  HISTOIRE  DU  PERE  VIEYRA,  jésuite  portugais,  musionaire 
dans  Vancien  et  le  nouveau  monde.  Lyon,  1873.  8.%  168  pag. 

c Se  a  Egreja  nas  suas  tribulações  poude  salvar  do  Daarragio  a 

milhares  de  seus  filhos;  se  el!a  poude  arrancar  á  heresia  a  Polónia,  a  Hungria, 
a  Áustria  e  as  províncias  Rhenanas  etc. :  se  eUa  obstou  a  que  o  erro  se  intro- 
duzisse na  França;  se  nos  legares  onde  não  lhe  foi  possível  salvar  o  principio 
catholico,  fez  com  que  pelo  menos  boiasse  á  superOcie :  n'uma  palavra,  se  o 
que  ella  não  poude  subtrahir  ao  inimigo  na  Europa,  o  foi  tornar  a  basear  na 
America,  atraz  dos  passos  dos  conquistadores  do  Novo  Mundo,  a  historia  nos 
attesta,  que  n'esta  lucta  encarniçada  os  mais  intrépidos  combatentes,  aquelles 
que  incessantemente  encontramos  na  brecha,  e  no  mais  furioso  da  peleja,  são 
os  filhos  de  Santo  Ignacio.  Sim :  eis  um  facto  histórico  dos  mais  certos;  porém 
que,  entre  esses  valentes  athletas  tenha  existido  um  que,  por  sua  pujante  ori- 
ginalidade, tenha  levado  uma  grande  vantagem  aos  outros,  é  o  que  a  historia 
ainda  não  disse,  pelo  menos  na  França,  eco  que  vamos  tentar  de  lhe  fazer 
confessar. 

<0  facho  da  discórdia,  uma  vez  arrojado  pelos  innovadores,  os  grandes 
christãos  que  reuniram  seus  esforços  contra  o  fatal  incêndio,  são  grandemente 
benemerilos  da  religião  e  da  humanidade.  Abalisaram-se  uns  pela  santidade, 
outros  pela  sciencia,  lodos  por  um  zelo  infatigável :  porém  se,  entre  elles,  qui- 
zessemos  encontrar  um,  que  pela  incommensuravel  fecundidade  de  seus  re- 
cursos, se  houvesse  mostrado  o  digno  antagonista  do  chefe  dos  sectários,  ê 
bem  de  crer  que  nos  víssemos  obrigados  a  fixar  nossas  vistas  no  padre  Viey- 
ra.  E  com  elTeito,  quanto  mais  estudamos  o  caracter,  a  vida,  o  género  de  elo- 
quência, os  serraues  d'este  fervoroso  missionário,  d*este  formidável  combaten- 
te, mais  ficamos  convencidos  que,  homem  contra  homem,  podia  medir-se,  com 
armas  eguaes,  com  Luthero. 

Porém,  tanto  Vieyra  se  parece  com  o  coriphcu  do  protestantismo  pela  na- 
tureza, e  pela  potencia  de  seus  moios  d'acçrio,  quanto  diíTere  d'elle  pelo  uso  que 
d'ella  fez.  Vieyra  via  também  os  abiísos  o  as  desordens  reinando;  para  as  ex- 
tirpar atacava  as  paixões  dos  homens,  o  não  a  obra  de  Deus,  a  Egreja  de  Je- 
sus Christo  :  também  Vieyra  detestava  a  oppressão,  a  tyrannia,  mas  nâo  que- 
ria que  a  liberdade  tivesse  seus  direitos,  senào  para  mais  consolidar  os  direi- 
tos da  auctoridade.  Todo  entregao  aos  interesses  da  verdade  e  da  justiça,  sua 
grande  dòr  era  v(M-os  sacrificados  a  indignas  preoccupaçòes  pessoaes  :  O'  Lu- 
thero, exclamava  Vieyra  n'um  dos  seus  sermões  (o  do  Jubileu),  dize-me,  se  te 
houvessem  nomeado  pregador  das  iadalg^'Dciaí^,  não  lerias  tu  feito  o  maia  pom- 
poso elogio  d'ellas  ?  Nâo  terias  la  empregado  toda  a  tua  eloquência  em  as  re- 
commendar?  Sim,  evidentemente.  Ora  essas  mesmas  indulgências,  que,  se  tu 


Hl  385 

M  houvesses  pregado,  seriam  verdadeiras^  agora  se  ta  nâo  as  pregas,  sao  en- 
âo  falsas  T  Ah  t  desgnçado»  vé  com  que  rídicoios  pretextos  desertas  da  ver- 
dadeira fé  tt  Basta  só  a  força  d'esta  apostrophe  para  conhecermos,  que  eatre 
esses  dois  combatentes,  se  a  Egreja  era  violentamente  atacada,  não  o  era  ella 
menos  ardentemente  defendida.  Comparando  o  ardor  de  am  com  o  impete  áú 
OQtro,  vendo  o  mesmo  fondo  de  intelligencia  e  de  coragem,  qner  se  estribe  na 
humildade  qaer  na  ora^o,  prodatir  tndo  o  qne  as  paixOkss  teem  de  mais  oa 
menos  funesto,  oa  tndo  qaanto  a  virtade  possae  de  mais  heróico,  conhece-se  me- 
lhor de  que  lado  está  a  boa  parte.  Sendo  dados  os  mesmos  taientoSi  o  emprego 
d'elles  mostra  n*am  qaanto  no  oatro  foi  calpado  o  abuso;  em  compensação  a 
profundidade  do  abysmo,  para  onde  o  arrastou  a  infidelidade,  ainda  mais  faz 
brilhar  todo  o  mérito  da  fidelidade;  e,  tanto  d*um  lado,  como  do  outro,  so- 
mente nos  podemos  inclinar  perante  os  adoráveis  decretos  da  divina  providen- 
cia, que  nao  permitte  os  grandes  males,  senão  porque  ella  sabe  oppor-lhe  os 
grandes  remédios. 

«Sendo,  porém,  o  padre  Vieyra  de  nacionalidade  portugueza,  achar-se-hia 
no  estado  de  representar  um  papel  tao  importante?  Sim,  e  por  esta  mesma 
rasao.  Na  época  de  que  se  trata,  Portugal,  havia  um  século,  tinha  voltado  to- 
da sua  actividade  para  o  lado  da  navegação :  tendo  estendido  seu  império  nâo ' 
somente  pelo  littoral  da  Africa  e  da  Ásia,  mas  até  por  uma  grande  parte  da 
America  do  Sul,  tinha-se  elevado  à  altura  das  primeiras  potencias  da  Europa. 
É  certo  que  a  tanto  esplendor  succedeu  repentinamente  o  mais  profundo  ecli- 
pse. Com  effeito,  o  joven  rei  D.  Sebastião,  no  seu  ardor  cavalheiroso,  tendo 
ido  com  a  flor  de  seus  guerreiros  fazer-se  matar  nas  planícies  de  Marrocos, 
tinha  deixado  o  throno  a  um  tio  velho,  o  cardeal  Henrique,  que  nada  mais  foi 
do  que  o  triste  espectador  das  intrigas  que,  depois  de  sua  morte,  tinham  de 
fluer  cahir  o  paiz  no  domínio  do  rei  de  Hespanha,  Philippe  II,  em  i580.  No 
emtanto,  Portugal,  assim  convertido  em  província  hespanhola,  não  se  podia 
resignar  a  uma  tal  degradação.  Esta  nação  pertence  ao  numero  d'aquellas  que 
aio  curáveis,  e  se  mesmo  hoje,  apesar  de  seu  enfraquecimento  material,  acha 
ainda  no  vigor  de  seu  temperamento  e  na  energia  de  sua  fé,  solidas  garantias 
para  o  futuro,  com  mais  forte  rasão  as  achava  no  tempo  em  que,  debaixo  do  do- 
nUnio  estrangeiro,  seu  patriotismo  retemperado  pela  adversidade,  estava  prom- 
pto  para  todos  os  sacrificios,  e  não  esperava  mais  do  que  o  momento  d'uma 
brilhante  restauração.  Todavia,  só  foi  em  i640  que,  com  sua  independência 
Portugal  recuperou  suas  colónias,  suas  jerarchias  e  toda  a  sua  influencia. 

«E'  para  notar  que  Vieyra  estreiava-se  na  vida  publica  pelo  mesmo  tempo, 
em  que  sua  pátria  renascia  de  suas  ruinas,  e  não  era  homem  para  malbara- 
tar cireumstancias  tão  providenciaes.  Ser  então  portuguez,  era  pertencer  ao 
mesmo  tempo  ao  mundo  antigo  e  moderno,  e  poder  tomar  parte  em  tndo  que 
de  grande  se  fazia  n'um  e  n*outro  continente.  Ora,  se  quizermos  penetrar  no 
âmago  dos  grandes  acontecimensos  d*aquelles  tempos,  sigamos  por  um  ins- 
tante a  Vieyra.  Este  homem  de  Deus  e  do  povo,  este  verdadeiro  padre,  só  teve 
sempre  um  pensamento,  um  alvo :  defender,  propagar  a  fé;  porém  a  este  alvo 
dirigiu-se  elle  de  diversos  modos,  segundo  os  diversos  legares  em  que  se  achava. 

TOMO  I  S5 


386  Hl 

Se  missiona  no  Brasil,  onde  o  obstáculo  é  a  escravidão,  applica-se  a  mostrar  qne 
a  liberdade  não  é  oatra  coisa  mais  do  que  o  respeito  aos  direitos  de  todos»  a 
strícta  justiça.  Missiona  na  Europa,  onde  o  embaraço  é  o  descommedimeoto 
da  rasao,  prova  a  esta  qne  nunca  é  mais  forte,  senão  quando  é  mais  crente. 
'D'uma  tal  doutrina,  quando  a  vemos  illumínada  pelas  prégaçõeSi  pelos  exem* 
pios  e  por  toda  a  vida  d'este  humilde  e  grande  religioso,  nenhuma  outra  coisa 
podemos  tirar  como  consequência,  senão  que  a  nossos  irmãos  separados  foi 
necessária  uma  extraordinária  cegueira  para  se  obstinarem  em  nome  da  liber- 
dade e  da  rasão,  em  se  revoltarem  contra  nossa  mãe  commum,  a  santa  Egra- 
Ja,  qne  é  o  único  guarda  da  sã  rasão  e  da  verdadeira  liberdade.» 

580)  mSTOmE  DU  SOHISME  PORTUQAIS  £N  ORIENT.  Pa- 
ris. 8.» 

S8i)  HISTOIHE  DE  JEAN  VI,  depuis  sa  naissance  jusqu^à  sa  mort, 
en  1826;  avec  des  particularités  sur  sa  vie  privèe  et  sur  les  prindpales  drcanS' 
tances  de  son  rêgne.  Paris.  Ponthieu  et  Compagnie,  libraires,  1827. 

Ê  obra  bem  escripta,  e  na  qual  apparecem  poucas  inexactidões.  Foi  tra- 
duzida, e  impressa  em  Lisboa  em  1838.  Fez-se  ha  pouco  tempo  ama  nova  edi- 
ção, apresentando-a  o  editor  como  obra  inédita  e  original! 

582)  HISTOIHE  de  la  reunion  du  royaume  de  Portugal  à  la  cotmmne  ie 
Castille.  Traduite  de  Yllalien  de  Jerosme  Conestage,  gentUhome  genoU.  A  Pa- 
ris, chez  Lovis  Billaine,  1680.  2  vol,  o  1.»  533  pag.,  o  2.»  399. 

O  traductor  diz  na  advertência,  que  fez  algumas  alterações  n*esta  obra 
para  accommodar  o  génio  da  língua  italiana  ao  da  franceza,  que  não  é  sem- 
pre tão  arrojada,  nem  tão  fígurada,  E'  por  isso  que  abreviou  no  2.<»  livro  o  dis- 
curso de  Mulei  Moluco,  e  no  7.°  o  de  D.  Sancho  d'Avila.  V.  Conestagio. 

583)  mSTOIRE  DE  PORTUGAL  depuis  1090  jusqu'en  1610  compme 
en  20  hvres,  panni  lesqtiels  sont  les  douze  d'Osorius,  tradmts  en  français,  et  les 
autres  tires  de  divers  auteurs.  Géneve,  1610,  2  vol. 

584)  mSTOIRE  DE  PORTUGAL  depuis  1496;tt5(jru'w  1578.  Paris,  1581. 

58o)  mSTOIRE  PALLADIENNE.  traitant  des  gesíes  et  généroux  fait- 
d'arines  et  d'amour  de  plusieurs  grands  princes  et  seigneurs,  speciallement  de 
Palladien  fils  du  roy  MUanor  d'Angleterre  et  de  la  belle  Selerine  sceur  du  roy 
de  Portugal,  Paris,  looo.  (É  um  romance.) 

586)  mSTOIRE  des  choses  memorables  advcnues  en  la  teiTe  du  Bresil, 
pnrtic  de  VAmeriqne  Australc,  sons  le  gouveniement  de  Nicolas  de  VUlegais- 
gnan  depuis  Van  1555  a  iojS  impvimée  Van  1561.  ^ 

«  No  tomo  3.«  a  pap.  38  do  Malogue  des  Urres  de  la  hibliotheque  du  feu  mr.  le  duc 
de  la  VallUre,  par  Guillaume  de  Bure  vera  uraa  lisla  de  varias  obras  raras  relativas 
a  Yillcgaignon. 


Hl  387 

587)  HISTOIRE  SEOBÊTE  de  D.  Antoini,  ray  de  Portugal^  tirie  des 
memmre$  de  D.  Gomes  de  Vascancellas  Figueiredo.  Paiis,  i696. 

588)  HISTOIRE  VERITABLE  des  demieres  guerres  advenues  en  Bar- 
berie,  et  du  succès  fntoyable  du  roy  de  Portugal  demier  D.  Sebastien,  gui  num* 
rut  etí  bataUle  le  i^  aout  1573.  Traduite  de  Vespagnol  en  françois,  Paris,  i579. 

589)  HISTORIA  DE  BELLO  AFRIOANO  in  quo  Sebasíiaim  rex 
PorlugalUa  pertít  ad  diem  4  aug.  Ânno  1578.  Noribergae,  1580.  (Historia  da 
goerra  d*Africa,  em  qae  pereceu  el-rei  D.  Sebastião,  etc.) 

590)  HISTOIRE  des  Brigands  célebres  et  des  bandits  fameux  en  France, 
en  Angleten'ej  en  Italie,  en  Espagne,  en  Belgique,  en  Portugal,  en  Suisse  et 
dons  les  autres  pays  du  monde.  Tirée  de  tous  les  documents  auihenliques.  Pa- 
ris, 1837. 16.« 

591)  HISTOIRE  VERITABLE  des  demieres  et  piteuses  adventures  de 
D.  S^HUtian,  roy  de  Portugal  depuis  sa  prison  de  Nápoles  jusqu'  aujourd*hu% 
gii*tl  est  en  Espagne  à  S.  Lacar  de  Barrameda  (30  aut  1602).  Rouen  1602). 
(C  M.  B.  I.  P.) 

592)  HISTORIA  despoTisationis  Frederici  III  cum  Eleonora  Lusitanica 
(Historia  dos  desposorios  de  Frederico  Hl  com  Leonor  de  Portagal). 

Vem  no  tomo  2.s  pag.  He  seguintes  da  obra  intitulada  Rerum  germani* 
carum  scriptores  vartt  de  Struve.  Strasborgo,  1717. 

593)  HISTORIA  de  Gabriel  de  Espinosa,  pastdero  en  Madrigal,  que  fingia 
ser  el  rey  Don  Sebastian  de  Portugal:  y  asinUsmo  la  de  Fr.  Miguel  de  los  San- 
tos,  enelanode  1595.  Con  licencia.  £n  Madrid,  en  la  Oficina  de  Pantáieon 
Amar.  Ano  1785.  8.»  163  pag. 

Em  ama  nota  qoe  se  encontra  na  ultima  pagina  d*esta  obra  diz-se  que  a 
primeira  edição  foi  impressa  em  Xerez  no  anno  de  1595. 

Ha  uma  outra  edição  d'esta  obra  publicada  na  mesma  cidade  de  Xerez, 
DO  anno  de  1683,  na  imprensa  de  J.  A.  de  Tarazona. 

Ê  a  bistoría  interessantíssima  de  um  aventureiro  bespanhol,  que  fazendo* 
le  passar  por  D.  Sebastião,  rei  de  Portugal,  conseguiu  ter  relações  amorosas 
oom  D.  Anna  d'Austria,  sobrinha  de  Philippe  II  rei  de  Hespanha,  e  professa 
n*am  convento  do  Madrigal.  Foi  enforcado  em  1595. 

A  respeito  d'esta  historia  pódese  consultar  o  livro  do  sr.  Miguel  d*Anta8, 
intitulado  Les  faux  D.  Sebastien,  impresso  em  Paris  no  anno  de  186a  Obra 
muito  interessante,  e  que  veiu  esclarecer  muito  a  historia  dos  aventoreúros  que 
86  fizeram  passar  pelo  fallecido  rei. 

594)  HISTORIA  DE  PORTUGAL  composta  em  inglez  por  uma  socie- 
dade de  lUteratos,  trasladada  em  vulgar  com  as  addições  da  versão  franceza, 


\ 


388  Hl 

e  notas  do  traductor  portuguez  António  de  Moraet  Silva,  natural  do 
Janeiro.  Lisboa,  na  offlcina  da  Academia  Real  das  Ciências,  1788. 8.* 

O  quarto  volume  d*esta  edição,  o  qual  abrange  o  reinado  de  D.  Maria  I,  é 
composição  do  padre  José  Agostinho  de  Macedo. 

Esta  obra  é  vulgarissíma,  não  se  podendo  depositar,  comtado,  n'dla  ama 
cega  confiança,  pois  os  erros  (devidos  a  varias  causas)  sao  frequentissimosi  de 
que  temos  uma  prova  no  grande  numero  d'elles,  que  vêem  mencionados  no 
quarto  volume  da  Remta  Litteriaria  Portuense;  e  note-se  que  estes  slo  ape- 
nas os  que  dizem  respeito  à  nossa  expedição  a  Tanger  no  reinado  de  D.  Joio  I. 

Appareceu  por  ultimo  novíssima  edição  no  anno  de  1828,  em  des  vola- 
mes,  sendo  os  últimos  cinco  (impressos  em  1838)  uma  historia  de  Poitogal 
desde  o  reinado  de  D.  Maria  I  até  à  convenção  de  Évora  Monte,  e  devidos  á 
penna  do  sr.  José  Maria  de  Sousa  Monteiro. 

O  original  inglez  ainda  o  não  pude  vér. 

Da  referida  historia  de  Portugal  ha  outra  edição  continuada  por  Hypolito 
José  da  Costa,  e  impressa  em  Londres  no  anno  de  1809. 

595)  HISTORL&.  VON  CALIOUT,  undandem,  ete. (Historiado  Caliotf, 
de  outros  reinos,  províncias  e  ilhas  na  índia  e  do  mar  das  índias).  Vnéí,  1585L 

596)  HISTORIO  sketches  of  Spain  and  Portugal.  London,  1835.  t  voL 
(Esboços  históricos  de  Hespaoha  e  Portugal.) 

597)  HISTORIE  (THE)  of  the  uniting  of  the  Kingdom  ofPortugall  to  tke 
crown  of  Castil,  containing  the  description  of  Portugall,  their  principal  towns^ 
castles,  placas,  rivers,  hridges,  of  the  East  Indies,  the  Mes  of  Terceres^  and 
other  dependences^  the  last  warrs  of  the  Portugals  against  the  Moores  ofAfri- 
che,  the  end  of  the  house  of  Portugall,  etc.  London,  1600.  (Historia  da  onião 
do  reino  de  Portugal  á  coroa  de  Casteila,  etc.) 

598)  mSTORY  (A)  OF  PORTUGAL.  London,  12.<»  (ffistorfa  de  Por- 
tugal.) 

599)  HISTORY  of  the  discovery  and  conquest  of  índia  by  the  Portuguese. 
London,  1695.  (Historia  da  descoberta  e  conquista  da  índia  pelos  portuguexes). 

600)  HISTORY  of  Spain  and  Portugal.  London,  1854.  (Historia  de  Hes- 

panha  e  de  Portugal.) 

601)  HISTORY  (THE)  of  Spain  and  Portugal.  From  B.  C.  1000.  A,  D. 
1814.  LondoD,  1833.  (Historia  de  Hespanha  e  Portugal  desde  o  anno  iOOO  an- 
tes de  Christo  alé  o  de  1814  depois  de  Christo). 

602)  HISTORY  (THE)  of  Azores  or  Western  Islands.  London,  1813. 
(Historia  dos  Açores  ou  Ilhas  Occidciilacs). 


HO  389 

«Qaem  diria  qae  um  subdito  inglez  escolhesse  a  época  não  só  de  uma  pro- 
Ainda  paz»  mas  a  da  mais  stricta  e  intímâ  alliança,  que  Jamais  existia  entre 
Portogal  e  Inglaterra,  para  aconselliar  o  governo  inglez  a  empolgar  as  ilhas 
dos  ÀQores  aos  portagaezes?»  ^ 

603)  HOOHSTTETER  (FERDINAND  DE).  Geólogo  e  viajante  allemao. 
Nasceu  em  Esslingen  em  abril  de  1829.* 

£.— JVàdetro.  Yienna,  i86i. 

604)  HODJES  íGolonil). 

E.-^Narr<Uive  of  the  expeditum  of  Portugal  in  i832  under  the  orders  of 
his  imperial  nu^jesty  Dm  Pedro  duke  of  Bragança.  Liondon,  i833.  (Narração 
da  expedição  de  D.  Pedro,  etc.) 


606) 

£•— Cop  de  Bonne  Esperance,  Congo,  Mozambique,  Ázoi'e$,  Modere,  Cap 
Vert. 

Todas  estas  monographias  apparecem  na  coUecçâo  intitulada  Univers  PU* 
íoreêque. 

606)  HOFFUANNS  (M.  DE). 

E.  L— Cause  célebre  du  droit  des  gens.  Le  marquis  de  Pombal  et  VAngle' 
Urre,  Episode  de  la  guerre  de  sept  ans*  Publiée  par  — .  Paris,  1840. 

n.  Memoire  de  Leibnttz  à  Louis  XIV  sur  la  conquête  de  rEgyptef  publié 
avec  unepréface  et  des  notes.  Paris,  i840. 

tA  opinião,  que  este  iliustre  sábio  fazia  de  el-rei  D.  Manuel,  é  tão  impor- 
tante  para  a  nossa  historia  exterior,  que  me  parece  opportuno  transcrever  aqui 
algumas  passagens  doesta  interessante  Memoria.  A  pag.  18  diz  elle  a  Luis  XIY : 
CasteUa  acabava  de  se  unir  ao  Aragão,  e  os  Sarracenos  erão  por  fim  expul- 
sos de  Hespanha.  O  talento  de  Ximenes  concebeu  o  projecto  de  uma  estreita 
aUianca  entre  os  mais  sábios  reis  do  seu  tempo,  e  conseguiu  executal-o.  Digo 
08  mais  sábios,  porque  se  pôde  com  justiça  segurar,  que  cada  um  d'elles  ti- 
nha lançado  os  fundamentos  d'uma  nação  poderosa;  eram  estes  D. Fernando^ 
rei  de  Castella  e  Aragão,  Manuel,  rei  de  Portugal,  e  Henrique  Yíl  rei  de  In- 
glaterra. A  opinião  de  se  apossar  do  Egypto,  tomando  primeiramente  Alexan- 
dria, celebre  peio  seu  porto,  foi  adoptada  pelo  conselho.  £  esta  opinião  do  car- 
deal foi  adoptada  pelos  reis  aliiados.  Tenho  d'isto  uma  prova  nas  cartas  d*el- 
rei  D.  Manuel  dirigidas  ao  celebre  cardeal,  que  mesurprehenderam  quando  li 
a  vida  do  cardeal.  Citarei  (continua  Leibnitz)  só  duas  passagens.  Quanto  ao 
que  me  dizeis  do  que  se  deve  obrar  n*esta  guerra,  vós  fallaes  de  um  modo  tão 
hábil,  e  arranjaes  as  coisas  com  tanta  força  e  energia,  que  parece  que  vós  nunca 
tratastes  de  outra  matéria. . . . 

1 1nvestigador  Portuguez  em  Inglaterra,  toI   6.'*  pag.  161. 
*  Vapereaa  —  Didianaire  det  Contemporaint,  pag.  SOS. 


390  HO 

tNo  que  diz  respeito  á  expedição  de  Alexandria,  sobre  a  qual  vós  diseor- 
reis  sabiamente,  pareceu-nos  uma  excellente  empresa,  cujo  saceesso  sari  mui 
yantajoso.  Náo  nos  esqueceremos,  que  é  a  vós  que  deveremos  as  vaotafeos  e 
proveitos.  Segundo  a  opinião  dos  homens  instraidos,  coisa  algama  será  tio  te- 
ci], se  todavia  vos  encarregardes  de  a  dirigir.  Parece-me  opportono  dixer-voa 
que  segundo  a  relação  trazida  por  um  navio,  que  tocou  em  Rbodes,  esU  nos  vem 
eonflrmar  na  opinião,  em  que  estamos,  da  facilidade  do  sueeesso,  e  de  tal 
sorte  que  dariamos  desde  já  ordem  de  tental-o,  se  a  expedição  de  que  noi  oe- 
cupamos,  nos  não  tivesse  impedido;  mas  virá  tempo  em  que  nospossamoi  oc- 
cupar  exclusivamente  doeste  assumpto.* 

Leibnitz  accrescenta:  tTaes  são  as  expressões  d'este  illnstre  rei,  o  qjoal  em 
ootra  parte  dizia:  Que  durante  o  ataque  do  Egypto  pelo  Mediterrâneo,  uma 
segunda  esquadra  effectuaria  um  desembarque  no  Mar  Roxo.»  Mas  to^  es- 
tes projectos  se  desvaneceram  pela  morte  d'eirei  Fernando  Catbolieo,  e  a 
Hespanba  convertendo-se  em  uma  província  d*Austría  a  rivalidade  de  doas 
podorosas  casas  produziu  uma  multiplicidade  de  projectos  differentes,  e  Xi- 
menes  deixando-se  influir  pelos  conselhos  de  Vianelli,  atacou  a  Africa,  apos- 
sou-se  de  Oran.» 

Visconde  de  Santarém  —  Quadro  elementar  das  relações  politicai  e  ixgUh 
maticas  de  Portugal  com  diversas  potencias  do  mundo ;  vol.  2.*',  pag.  i04. 

607)  HOFFMANSEGO  (JOlO  OENTURIO,  Condi  db)  Naturalista  al- 
lemlo. 

Nasceu  em  Dresde  a  23  de  maio  de  1766,  e  fallecen  na  mesma  cidade  a 
13  de  dezembro  de  1849.  Estudou  em  Leipzig  e  em  Goettingue,  e  residiu  por 
alguns  annos  em  Portugal.  Aqui  descobriu  algumas  centenas  de  espécies  de 
plantas  até  entáo  desconhecidas,  e  um  grande  numero  de  insectos  raros.  Em 
reconhecimento  dos  serviços  prestados  por  eilc  á  butanica,  Cavanilles  dea  o 
nome  de  Uoffmanseggia  a  um  género  de  plantas  da  America  Austral.  ^ 

Y,,— Flore  Portugaise  ou  Descripíion  de  iouies  les  plantes,  qui  croissent  iw- 
turellem^  en  Portugal  avec  figures  coloriées,  cinq  planches  de  temunaiogie 
et  une  carte  par  J.  C,  comte  de  Ho/fmansegg,  ancien  officier  aux  gardes  du 
corps  de  sa  majesté  le  rol  de  Saxe  et  11  F.  Linky  professeur  de  botanique  et  de 
chimie  à  rUniversité  de  Rostock,  A  Berlin,  de  rimpriraerie  de  Charles  Frede- 
ric.  Amelang,  1809.  2  vol.  de  folio  máximo,  sendo  o  primeiro  de  texto  com 
388  paginas,  e  contendo  o  segundo  60  estampas.  * 

tCharles  rEcluse,^  observador  muito  penetrante,  tinha,  pelo  amor  ás  plan* 
tas,  percorrido  algumas  províncias  d'este  paiz,  notando  suas  notabilidades  com 
toda  a  exactidão  que  n'aquella  época  admitlia  o  estado  da  sciencia.  Grísley, 
que  viveu  em  Portugal  no  meio  do  século  xv»,  apesar  de  infatigável  em  suas 
pesquisas,  apenas  nos  tinha  transmittido  nomes.  As  plantas  alli  conhecidas  por 

1  Firmin  Didol  ■*-  Nouvellc  Blogrnphie  UnitersellCf  vol.  li.",  pag.  902. 

'  Eslíi  obra  i*  dedicada  á  iainb»i  da  Prússia. 

3  A  dcscrip^.âo  d'c<la  vingem  foi  composla  por  Link.  V.  este  nome. 


HO  m 

Tonrnefort  e  Antoine  Jussiea  estavam  escondidas  nos  herbarios;  apenas  um 
peqaeno  nomero  tirado  do  esquecimento  achava-se  descripto  na  Encydopê- 
dica  Methodica.  Vandelli  linha  publicado  bem  poacas  obras,  mas  essas  mes- 
mas não  isentas  de  erros.  Parece,  pois,  valer  a  pena  ir  examinar  um  paiz  en- 
cantador, ao  qual  o  clima  mais  suave  prodlgalísou  tantos  dons,  e  occuparmo- 
nos  finalmente  da  Flora  de  um  tâo  bello  paiz  europeu.  O  conde,  ao  voltar  para 
Allemanha,  soa  pátria,  crendo  que  o  numero  de  objectos  para  serem  exami- 
nados exigia  mais  de  um  observador,  associou- se  com  Frederico  Henrique 
•Link,  professor  de  botânica  e  de  chimica  na  universidade  de  Rostock.  Tam- 
bém não  hesitou  em  encarregar-se  de  todas  as  despesas,  por  mais  considerá- 
veis que  fossem.  Fomeceu-se  para  este  fim  de  livros  escolhidos,  de  um  herba- 
rio  de  plantas  septentrionaes,  de  vários  instrumentos,  n'uma  palavra,  de  quan- 
to parecea  necessário  para  estudar,  mesmo  durante  a  viagem,  o  que  merecesse 
fixar  a  attenção. 

«Bem  preparados  d*esta  sorte  deixámos  a  Allemanha  em  1797,  e  chegá- 
mos a  Portugal  na  primavera  de  1798.  Um  reconhecimento  bem  devido  chama 
á  nossa  lembrança  os  famosos  sábios,  que  n*esta  viagem  tiveram  a  bondade 
de  nos  auxiliarem  em  nossos  estudos  com  uma  benevolência  illimitada,  prin- 
cipalmente Antoine  Laurent  de  Jussieu,  debaixo  de  cujos  auspícios  admira- 
mos as  riquesas  do  Jardim  das  Plantas;  René  Desfontaines,  que  nos  mostrou 
sem  reserva  os  vegetaes  por  elle  recolhidos  na  Berbéria,  região  cujas  produc- 
ções  são  muito  análogas  às  de  Portugal:  finalmente  Joseph  Canavilles,  de  quem 
recebemos  o  generoso  presente  de  um  grande  numero  de  plantas  escolhidas 
da  Hespanha. 

«Os  floridos  arrabaldes  de  Lisboa  foram  os  primeiros  a  fixar  nossas  vistas. 
Alli  com  surpresa  encontrávamos  ora  collinas  atapetadas  de  uma  brilhante  ver- 
dura, abundantes  em  vegetaes  da  maior  bellesa  e  raridade,  ora  planícies  areen* 
tas,  com  brilhante  verdura,  revestidas,  ató  a  vista  se  perder,  de  arbustos  e  plan- 
tas próprias  das  charnecas,  variadas  ao  mesmo  tempo  por  diversas  espécies 
de  cistos.  Mal  podíamos  dar  credito  a  nossos  olhos  quando  descobríamos  tan- 
tas plantas  incógnitas,  e  rodeadas  de  algumas  mouriscas,  a  ponto  de  nos  pa** 
reeer  estarmos  vendo  a  Fiara  de  Berbéria,  emigrada  para  a  Europa.  Ao  nor- 
te erguem-se  em  torno  de  Cintra  elevadas  montanhas  formadas  de  rochas, 
onde  entre  as  plantas  septentrionaes  se  encontram  algumas  das  Canárias.  Para 
o  Sul  a  serra  chamada  da  Arrábida  suspende  sobre  o  Oceano  seus  píncaros 
ornados  de  soberbas  orchideas.  ^  Depois  de  termos  observado  estes  objectos, 
fomos  visitar  as  provindas  boreaes  do  reino.  A  estrada  conduziu-nos  succes- 
flivamente  ás  Caldas  da  Rainha,  Leiria,  Alcobaça  e  Coimbra;- N'esta  ultima  ci- 


^  •(hchidêaê  plantae^  família  de  plantas  qae  tem  grande  analogia  com  o  género  or^ 
éhU;  é  ama  ordem  dos  fragmenlos  do  Methodo  Natural  de  Linneo.  As  raixes  da  maior 
l»arte  das  plantas  d'esta  familia  sSo  compostas  de  uma  ou  mais  producçOes  carnudas, 
guarnecidas  de  radiculas  fibrosas:  algumas  sSo  inteiramente  fibrosas;  a  todas  comtudo  se 
tem  dado  o  nome  de  bolbos,  mas  na  Tordade  bem  Tagamente.»  Brotero.  Compendio  4$ 
Botânica,  toI.  ^•,  pag.  S3I. 


m  HO 

dade  tívemos  &  fortana  de  travar  conhecimento  com  o  cdebre  profasior  de 
botânica  Feliz  de  Avellar  Brotero,  e  bem  depressa  uma  estreita  amlsada  nos 
unia  a  este  amável  sábio.  Ficoa  sendo  o  companheiro  de  nossas  digressOes,  e 
foi  elle  qaem  nos  gaioa  em  nossas  indagações  até  os  recantos  mais  oecoltos 
do  valle  delicioso  qae  rega  o  Mondego,  rreqoentemente  cantado  pek»  poetas» 
e  realmente  merecedor  dos  elogios  qne  lhe  prodígalisaram. 

«Foi  mister,  todavia,  deixar  nosso  amigo  com  o  fim  de  avançarmos  pan 
a  cidade  do  Porto,  onde  as  margens  do  Doaro  nos  forneceram  um  graodte  na- 
moro de  plantas,  cujos  giios  sem  duvida  são  trazidos  da  Hespanha  pelas  innon- 
dações  das  aguas  d*este  rio.  Atravessamos  em  seguida  as  provuicias  deEntro- 
Donro  e  Minho  até  ao  cume  das  montanhas  da  serra  de  Gerez,  qne  tocando 
na  Galliza,  constitue  por  este  lado  a  fronteira  de  Hespanha.  A  Europa  meri- 
dional apenas  possuo  um  sitio,  que  possa  ser  comparado  a  este  encantador  lo- 
cal. Os  campos  recebem  a  sombra  dos  bosques  não  interrompidos  de  casta- 
nheiros e  soutos.  A  vinha  entrelaçada  no  arvoredo  marinha  com  um  vôo  pou- 
co vulgar  até  seu  cume,  e  na  forma  de  grinaldas  toma  a  cair  de  um  modopít- 
toresco.  Meio  escondidas  pela  folhagem  enxergam-se  dispersas  por  aqui  e  por 
acolá  as  casas  campestres  dos  habitantes  d'esta  Arcádia,  onde  vos  acolhem  com 
uma  franca  alegria.  Este  Tempe  Lusitano  é  regado  pelas  murmurantes  ribei- 
ras com  uma  frescura  admirável,  que  caindo  das  escarpadas  montanhas  como 
pequenas  cascatas,  e  correndo  em  leitos  de  um  musgo  sempre  verdejante  re- 
frescam este  solo  aquecido  por  um  sol  bem  activo.  Chegando  ao  come  é'esta8 
alturas  sois  detidos  pelos  rochedos  a  pique :  immensos  precipícios  obstam  a 
que  o  viajante  passe  além,  e  perturbe  o  covil  da  cabra  monteza,  cuja  pista 
está  calcando. 

tDeixando  com  saudades  estes  românticos  sítios,  dirigimo-nos  para  a  cordi- 
lheira de  montanhas  chamada  Serra  de  Marão,  e  descemos  para  o  profundo 
valle  do  Douro,  abrasador  no  verão,  onde  jaz  situada  Peso  da  Régua,  cujos  ar- 
redores produzem  a  primeira  qualidade  d'esse  vinho  espirituoso,  que  toma  seu 
nome  da  cidade  do  Porto,  por  embarcar  n'ella.  Depois  de  termos  subido  ás  pla- 
nicies  oppostas,  tornou-se-nos  indispensável  galgar  as  montanhas  mais  altas  de 
todo  Portugal,  chamadas  pelos  antigos  romanos  Hermimum,eàs  quaes  hoje  se 
dá  o  nome  de  Serra  daEstrella.  O  estio  muito  rispido  d'este  anno  tinha  derretido 
alli  toda  a  neve,  que  n'outra3  occasiões  é  permanente.  Mas  por  fim  o  ardor 
do  sol  tendo  queimado  todos  os  campos,  nada  nos  restava  senão  voltar  para 
Lisboa,  onde  chegámos  em  agosto  de  1798. 

tA  primavera  seguinte  convidou-nos  a  deixar  esta  capital  uma  segunda 
vez,  para  continuarmos  nossas  pesquizas  pelo  Alemtejo.  Depois  de  atraves- 
sarmos tristes  e  melancólicas  campinas,  cujo  solo  areioso  apenas  está  coberto 
por  tojos  e  urzes,  ganhámos  as  montanhas,  que  a  separam  do  Algarve,  cha- 
madas no  paiz  Serra  de  Monchique.  Mas  no  alto  d*ellas,  em  volta  da  villa  do 
mesmo  nome,  mudando  repentinamente  a  scena,  ficámos  surprehendidos  de 
ver  de  repente  brilharem,  como  por  encanto,  os  jardins  odoriferos  das  Hes- 
pérides no  meio  de  soutos  guarnecidos  de  loureiro  rosa. 

•Depois  d'isto,  tendo  empregado  a  primavera  de  1799  em  atravessar  o  Al- 


HO  393 

gurve  em  teda  sua  largura  desde  o  cabo  de  S.  Vicente  até  ao  Goadiana,  se- 
guindo a  costa  ornada  de  lindas  plantas  balbosas,  Toltámos  para  Lisboa  pelos 
caminhos  de  Mertola,  Serp^  e  cidade  de  Évora. 

«O  professor  Link,  chamado  em  virtade  de  seus  deveres  pelo  cargo  qae 
exercia»  nao  ponde  por  mais  tempo  deter-se  em  Portngal.  Volton  para  Rostock 
pela  via  de  Inglaterra,  e  em  Londres  comparon  as  plantas  portngnezas  com  o 
herbario  do  cavalheiro  Joseph  Banks. 

«Gomtndo  o  conde  de  Hoffmansegg,  podendo  dispor  do  sen  tempo»  e  dese- 
joso de  levar  sua  empresa  ao  maior  gran  de  perfeição,  ficoa  em  Portugal,  onde 
se  dispunha  para  outras  novas  digressões.  Dirigin-se  no  verao  de  i799  para  a 
Serra  de  Montejunto,  examinou  as  nascentes  salgadas  perto  de  Rio  Maior,  trans- 
portOQ-se  para  Santarém,  passou  o  Tejo,  e  chegou  a  Portalegre  e  Marvão,  on- 
de vastos  soutos  offereceram  debaixo  de  seu  abrigo  deliciosos  passeios.  Tor- 
nando a  passar  depois  o  mesmo  rio  um  pouco  mais  acima,  achou-se  em  pe- 
rigo nas  áridas  campinas  antes  de  Castello  Branco,  onde  as  matas  de  estevas, 
das  quaes  toda  a  campina  se  acha  coberta  dao  pela  sua  côr  cinzenta  a  todo  o 
honsonte  uma  physionomia  triste  e  melancólica.  Estes  horríveis  desertos  ope- 
raram em  mim  uma  impressão  tao  sinistra,  que  me  apressei  a  voltar  para 
Lisboa. 

«O  conde  de  Hoffmansegg  durante  o  mesmo  verão  reunin-se  a  um  joven 
amador  com  o  fim  de  fazerem  uma  digressão  ao  Algarve,  especialmente  para 
completar  a  coUecção  das  plantas  das  fertilissimas  e  risonhas  vísinhanças  de 
Tavira,  que  offereceram  algumas  lindas  descobertas.  > 

«Tomou  a  sair  de  Lisboa  o  conde  em  dezembro  de  i799  para  as  partes  se- 
ptentríonaes  do  reino.  O  primeiro  objecto,  que  lhe  prendeu  a  attenção,  foi  o 
vasto  pinheiral  perto  da  Marinha  Grande.  Visitou  depois  o  convento  do  Bus- 
saeo  ^  e  muitos  outros  legares,  retirando-se  depois  para  Lisboa,  e  d*aquí  para 
Hamburgo  em  180i.> 

1  «O  eoDTeoto  está  sitaado  ao  lado  septentrional  de  uma  elevada  serra  que  tem  em 
altura  quasi  a  de  Cintra:  o  mar  fica  na  distancia  de  cinco  léguas  qoasi  em  Unha  reeta. 
O  espaço  de  perto  de  ama  legoa  de  circnmferencia  é  rodeado  de  mares,  contendo  orna 
espessa  mata,  horta  e  campos  cuUiTados.  As  arvores  de  sombra  sSo  o  loureiro  silvestre 
[tihwmwn  Itatif],  o  asevinho  {iles  aquifoUium),  o  medronheiro  {arbustui  wnedo]  e  algu« 
mu  outras  espécies.  O  arvoredo  alto  compOe-se  de  carvalhos,  pinheiros  bravos,  e  cedro 
de  Goa.  Esta  belht  arvore  foi  trazida  de  Goa  para  aqui,  ha  mais  de  duseutos  annos. 
Yéem-se  ainda  as  primeiras  arvores  que  se  plantaram,  e  d'esla  mata  sahiram  origiBaría- 
nente  quantos  se  observam  do  reino  e  talvez  na  Europa.  O  píncaro  da  serra  dista  mais 
de  meia  légua  do  convento.  Oisfructa-se  alli  um  dilatado  horísonte  até  ao  mar,  e  uos 
arredores  nada  mais  se  enxerga,  exceptuando  ao  norte  a  Serra  do  Caramulo,  e  ao  nor- 
deste a  da  Estrella.  O  viver  dos  frades  é  muito  rigoroso.  Algumas  horas  do  dia  e  da 
noite  B&o  consagradas  á  oraçSo,  e  a  cantar  no  cAro.  Jamais  comem  carne,  e  nto  lhes  6 
peimittido  fallar  senão  de  quinze  em  quinze  dias  de  tarde  no  passeio.  Só  o  prior  oa  pa- 
dre hospedeiro  (que  é  o  encarregado  de  receber  os  estrangeiros)  está  exceptuado  d*esta 
regra  podendo  conversar  com  elles.  Indemnisoa-se  amplamente  do  silencio,  que  fora 
obrigado  a  guardar,  por  haver  muito  tempo  que  nfto  via  estranhos,  fallou  continuamen- 
te, cousa  bem  desculpável.  Os  terrores  da  relígi&o  desapparecem  bem  depressa  n 'estes  con- 


396 


HO 


do  Mcalo  vrm  pelo  conde  da  Ericeinu  ^  Esta  villa  tem  ama  omnerosa  popu- 
lar apesar  de  nao  sor  nem  tão  bonita,  nem  tão  considerável,  como  era  para 
esperar.  Gomtado  esta  situação  ó  bem  escolhida  para  mannfactoras  de  pannos* 
A  SerraMa  Estrella  serve  em  toda  a  saa  extensão  para  pastagem  de  carneiros» 
e  sustenta  qoasi  todos  os  do  reino.  Estas  montanhas  são  muito  povoadas,  po- 
rém os  meios  de  subsistência  são  quasi  nuUos,  por  causa  da  aridex  do  solo,  e 
do  rigor  do  clima.  A  serra  dá  nascimento  a  muito  menos  ribeiros  que  o  Ge- 
reç  e  se  estes  ribeiros  se  convertem  em  grandes  rios,  ella  com  isso  nada  loera. 

«Um  caminho  pedregoso,  que  atravessa  sities  tristes  e  desertos,  condoa  a 
Haoteigas,  situada  a  três  léguas  da  Covilhã,  na  margem  esquerda  do  Zeiere. 
D'aqai  vimos  os  cumes  da  Serra  da  Estrella  cobertos  de  neve.  A  aldeia  de  Sa- 
bugueiro fica  na  distancia  de  duas  léguas.  Sobe-se  primeiramente  para  oeste, 
depois  atrevessa-se  uma  mata  de  carvalhos,  e  chega-se  a  Sabugueiro  por  ter- 
ras agrestes  e  cobertas  de  rochedos.  Apesar  de  estarmos  na  primavera  ii'es- 
tas  montanhas,  os  arredores  da  aldeia,  nem  por  isso  oram  mais  amenos  que 
em  a  nossa  primeira  viagem  no  mes  de  julho.  Fomos  acolhidos  pelos  habitan- 
tes com  polidez  egual;  mas  a  miséria  reina  na  aldeia.  As  mulheres  e  creanças 
andavam  cobertas  de  farrapos  e  pediam  esmola.  Um  inverno  longo  e  rigoro- 
so era  sem  duvida  a  causa  de  sua  penúria.  Não  teem  algum  outro  meie  de 
•QbsisteDcia  senão  seus  rebanhos,  mas  vôem-se  obrigados  a  mandal-oe  du- 
rame  cinco  mexes  do  anno  para  o  Alemtejo,  e  a  carestia  das  pastagens  bem 
eomo  as  despesas  da  viagem  quasi  que  absorvem  o  valor  da  lã.  Não  lhes  resta 
outro  rendimento  mais  que  o  queijo  e  a  carne,  dois  artigos  bem  módicos  em 
comparação  de  tantos  géneros  que  são  obrigados  a  comprar  com  dinheiro 
à  vista.  Trepam  com  perigo  de  sua  vida  pelos  rochedos  á  procura  da  raiz 
de  genciana  para  ir  vender  á  botica. 

«A  3i  de  maio  ainda  havia  neve  a  alguma  distancia  de  Sabugueiro,  com- 
tudo  não  obstava  a  que  se  chegasse  às  duas  lagoas — Lagoa  Redonda  e  Lon- 
ga. N*alguns  sitios  fomos  obrigados  a  passar  por  cima  da  neve,  que  estava 
coberta  de  uma  camada  de  gelo  espessa  a  ponto  de  nos  sustentar  em  cima.  Ha 
comtudo  perigo,  quando  a  neve  está  amontoada,  e  se  forma  uma  tal  camada. 
As  duas  lagoas,  cujas  aguas  tranquillas  reflectiam  sobre  os  rochedos  cobertos  de 
neve,offereciamum  aspecto  que  deve  espantar  em  Portugal.  A  neve,  que  se  con- 
funde algumas  vezes  coma  verdura  dos  prados,  trouxe-nos  á  lembrança  os  Al- 
pes. A  temperatura,  que  é  quente  no  Sabugueiro,  era  n'este  sitio  de  uma  frescura 
agradável.  Vimos  florescerem  três  sortes  de  narcisos  nos  prados,  os  quaes  muitas 
vezes  abriam  caminho  por  entre  a  neve,  cuja  espessura  nos  impediu  de  irmos  de 
Lagoa  Longa  á  Lagoa  Escura.  Comtudo  a  neve  nunca  permanece  por  tanto 
tempo  n'estas  montanhas :  a  grande  quantidade  cabida  era  um  pbenomeno 
tão  extraordinário,  que  os  mais  velhos  não  se  lembravam  de  terem  visto  tal. 
Doeste  phenomeno  eram  causa  os  invernos  rigorosos  de  1798,  e  de  1779  a 

^  As  fabricas  da  Co? ilha  produzem  anDualmente  mais  de  vinte  mil  pannos ^  o  capital 
fixo  é  superior  a  mil  contos,  e  estão  empregados  n*ellas  seis  a  sete  mil  operários.  Sr. 
Joaquim  Henrique  Fradesso  da  Silveira--Af  fabricas  da  Cofi/M— Lisboa,  1863. 


HO  sw 

1800.  No  inverno  e  na  primavera  a  Lagoa  Escura  descarrega  snas  agoas  na 
Lagoa  Longa,  e  ambas  estas  se  lançam  no  meio  de  varias  correntes  no  rio 
Alva4Estas  três  lagoas  formam-se  de  nascentes  e  do  derretimento  das  neves,  o 
trasbordam  apenas  a  agua  está  ao  nivel  das  margens.  Não  possnem  nenhoma 
das  propriedades  milagrosas  que  lhes  attribnem  vários  viajantes. 

«O  conde,  desejando  passar  algmis  dias  n*estas  montanhas,  tinha  para  essa 
fim  mandado  vir  de  Coimbra  ama  barraca  para  a  Covilhã.  Escolhen  para  a 
assentar  um  prado,  qne  se  encontra  ao  pé  de  grandes  grupos  de  rochedos. 
SSo  dois,  um  chamado  Cimadouro  dos  Cães,  e  o  outro  Cântaro  Delgado,  tfê^ 
parados  por  um  estreito  valle.  O  prado  tem  o  nome  de  Albergaria.  Para  alll 
chegar  vimo-nos  obrigados  a  recuar  para  Manteigas.  Segue-se  o  curso  do  2e« 
zere  n'um  valle  rodeado  de  montanhas  áridas  e  calvas,  em  cujas  faldas  os  ha- 
bitantes recolhem  algum  trigo  à  força  de  trabalho  e  de  cuidados.  A  umalegna 
de  Manteigas  vô-se  precipitar  do  alto  das  rochas  o  rio  da  Candieira,correiile 
impetuosa  que  forma  uma  cascata  de  uma  altura  e  de  um  volume  considera- 
veis.  Depois  de  termos  trepado  por  alguns  rochedos,  chegámos  ao  peqoeno  pra- 
do de  Albergaria,  à  base,  e  a  este  d'essas  massas  de  rochas.  O  Zetere  sae  de- 
baixo da  neve  e  serpenteia  como  um  pequeno  regato  no  prado.  Está  comludo 
separado  doeste  montão  de  rochedos  ^  por  um  outro  prado  chamado  Argenta- 
ria, e  por  precipícios  horrendos.  Um  d'estes  rochedos,  Cimadouro  dos  (Ses,  6 
espesso,  e  forma  varias  agulhas :  o  outro,  Cântaro  Delgado,  parece  um  eone 
agudo,  até  cujo  cume,  conforme  o  testemunho  unanime  dos  habitantes  nin- 
guém trepou :  consideram-no  mesmo  como  inaccessivel.  Atraz  da  primeira 
massa  de  rochas  acha-se  o  valle  Cavar  das  Vaccas,  que  remata  n*unia  monta- 
nha escarpada.  O  rio  de  Unhaes  sae  d*elle,  e  forma  varias  cascatas;  dirige-se 
para  o  sul  com  o  fim  de  se  juntar  á  aldeia  de  Unhaes,  onde  existem  banhos 
quentes.» 

O  conde  de  Hoffmansegg  esteve  a  ponto  de  perder  a  vida  nos  preeipidos. 
e  neves  da  Serra  da  Estrella  a  4  de  junho  de  i800.  Soas  palavras  a  este  res- 
peito são  as  seguintes : 

«Resolvi  visitar  esta  manhã  o  valle  ao  pé  do  Cântaro  Delgado.  Depois  de 
ter  subido  durante  algum  tempo,  seguindo  o  curso  do  Zêzere,  cheguei  a  nm 
lindo  prado  chamado  Covão  de  Metade,  e  que  se  parece  alguma  coisa  com  Al- 
bergaria. D'ahi  a  pouco  tive  o  prazer  de  encontrar  pela  primeira  vez  em  Por* 
tugal  o  narciso  amarello,  mui  pouco  estimado  em  nossos  jardins,  mas  qne  é 
mais  bello  n'aquelle  paiz.  Cresce  na  encosta  de  uma  coUina  coberta  de  rica 
verdura,  e  chamada  pelos  habitantes  Malhada  do  Covio  Cimeiro.  O  Covio  Ci- 
meiro é  um  pequeno  prado  em  uma  situação  mais  elevada,  e  ao  qoal  nio  dis- 
guei  senão  depois  de  ter  subido  com  dificuldade  por  um  rochedo  escarpado. 
Ficava-nos  o  rio  à  esquerda,  e  do  lado  opposto  erguia-se  o  Gimadooro  dos 
Cães,  e  á  direita,  a  pouca  distancia,  o  Cântaro  Delgado.  O  prado  achira-se 
ainda  revestido  de  neve  em  alguns  sitios,  mas  ella  começara  a  derreter-sa,  s 

<  No  Panorama  de  1S41,  a  pag.'  87  o  sagníDtM  encontra-ts  uma  ozeslloatt  §  miath 
ciosa  descri  peio  da  Serra  da  Estrella. 


398  HO 

por  entre  elle  abriam  caminho  doas  espécies  de  narcisos.  O  valie  esUva  ro- 
deado por  todas  as  partes  de  precipicios  e  de  rochedos  a  pico :  á  dureita  e  ao 
norte  os  rochedos  se  elevavam  perpendicalarmente,  e  formavam  diversas  sa- 
bidas até  Cântaro  Gordo,  grupo  de  rochedos,  qae  se  assimilha  ao  Cântaro 
Delgado,  porém  mais  considerável  e  afastado  d*este  em  linha  recta^  am  quarto 
de  legiia.  Os  precipicios  estavam  cheios  de  neve  qae  o  vento  tmha  aglomera- 
do, e  que  derretendo-se  na  súa  base,  formava  diversos  arroios.  Muitas  veiea 
os  precipicios  se  ajuntavam  de  sorte  que  formavam  pequenos  valles  cobotoa 
de  neve;  esta  era  tao  dura,  que  depois  de  ter  hesitado  um  momentOi  resolvi 
atravessal-a.  Minha  tenção  era  dirigir-me  para  a  cumiada  mais  elevada  das 
montanhas,  já  minha  conhecida  pelas  minhas  precedentes  viagens :  estava  cu- 
rioso de  ver  qual  o  eíTeito  produzido  alli  pela  neve,  e  se  sua  quantidade  era 
considerável,  o  que  mal  podia  acreditar,  comparando-o  com  o  estado  em  que 
então  o  vi,  ainda  que  a  borda  superior  estivesse  coberta  de  uma  neve  muito 
espessa.  Depois  de  ter  trepado  com  as  maiores  difflculdades,  e  durante  algu- 
mas horas,  os  rochedos  a  pique,  cheguei  ál)orda  superior;  porém  era  tão  ele- 
vado, e  principalmente  tão  escarpado,  que  foi  com  o  maior  perigo,  que  ea  me 
arrisquei  a  subir  por  elle.  Tornei  a  descer  alguma  coisa,  e  atravessei  um  valie 
de  neve  da  largura  de  cincoenta  passos.  Cheguei  depois  á  extremidade  dos 
rochedos  áridos,  e  finalmente  á  coroa  mais  elevada,  cujas  agulhas  teem 
quasi  a  altura  das  dos  Cântaros.  O  tempo  estava  secco  e  suave;  mas  o  vento 
do  este,  que  traz  sempre  o  bom  tempo  para  estes  sitios,  tinha  virado  para  su- 
doeste, e  o  céo  cobriu-se  de  nuvens  e  de  um  nevoeiro  espesso,  que  se  espa- 
lhava já  sobre  a  Argeateira.  Tinha  ouvido  dizer  que  um  nevoeiro  repentino 
cobre  estas  montanhas,  e  se  tornava  perigoso  para  um  viajante^  comtudo  não 
esperava  achar  confirmada  esta  verdade  tào  promptameote.  Depois  de  ter  trans- 
posto alguns  montões  de  neve,  vi  quo  a  cumiada  superior  eslava  completa- 
mente coberta  por  ella;  e  até  ao  mais  elevado  cume,  chamado  Malhão  da  Ser- 
ra atravessei  uma  extensão  de  mais  de  dois  mil  passos  por  cima  da  neve,  que 
tinha  de  três  a  nove  pés  de  espessura.  O  Malhão  estava  talvez  cercado,  durante 
mais  de  meia  légua,  de  uma  egual  camada,  pois  nada  mais  vi  que  céo  eneve. 
Quando  passei  esta  camada,  na  qual  minha  curiosidade  foi  amplamente  satis- 
feita por  esta  triste  monotonia  de  inverno,  e  que  o  nevoeiro  cobria  Já  uma 
parte  do  horisonte,  julguei  prudente  retirar  me.  Tinha  tido  tenção  de  rodear 
o  Cântaro  Delgado  e  o  Cimadouro  dos  Cães  pelo  sul,  e  de  penetrar  pelo  Co. 
vão  das  Vaeoas  o  pola  \r?onteira  até  Albergaria.  Abandonei  este  projecto,  e 
diligenciei  (o  liii^^  jiiL'u<  j  possível)  ganhar  o  avesso  doestas  massas  de  rochas 
que  me  pareciam  uiarcm-se  áquellas  que  separavam  nosso  campo  da  Argen- 
teira.  Desde  a  borda  da  cumiada  não  vi  com  eíTeito  senão  um  mediocre  va41e 
de  neve  a  atravessar  para  alli  chegar;  por  isso  julguei  devél-o  passar.  Desde 
os  primeiros  instantes  tive  alguns  receios:  desci  menos  mal  a  borda  da  cumia- 
da; depois  fui  detido  por  um  monte  de  neve,  cuja  extremidade,  que  estava 
degelada,  destacava -se  das  rochas,  e  apresentava  pouca  solidez.  Dei  um  passo 
em  falso,  e  escorreguei  durante  alguns  minutos. 

Logo  em  seguida  commetti  a  imprudência  de  saltar,  ainda  quo  sem  peri- 


HO  m 

gOi  sobre  ama  rocha  que  ficava  adiante;  o  que  ponha  um  segando  obstáculo 
ao  mea  camfaiho,  se  não  podesse  ir  mais  longe  pelo  sitio  que  prímeiramenle 
tinha  escolhido;  e  este  obstáculo  se  apresentoa  immediatamente  com  grande 
descontentamento  meu»  porqae  o  locai  em  que  se  achava  nio  offerecia  sa- 
bida alguma.  De  todos  os  lados  não  avistei  senão  precipícios  horrendos,  e  ne* 
nhuma  possibilidade  de  firmar  o  pé  com  segurança.  Apenas  me  restava  uma 
única  sabida :  um  enorme  monte  de  neve  reinava  até  uma  certa  profundidade 
ao  longo  dos  rochedos»  porém  a  extremidade  se  tinha  descoalhado,  e  mostrava 
uma  fenda,  cuja  profundidade  não  me  atrevi  a  medir.  Tentei  pôr  alli  o  pé,  po- 
rém a  neve  soltava-se  por  toda  a  parte,  e  estava  contente  de  me  retirar  sem 
algum  accidente.  Bem  depressa  vi  que  nenhum  outro  meio  me  restava,  se- 
não de  trepar  de  novo  até  ao  plano  superior,  e  d'alli  ou  tomar  a  tomar  meu 
primeiro  caminho,  ou  de  tomar  o  lado  opposto  para  Sabugueiro,  onde  não 
incorria  em  perigo,  por  serem  as  montanhas  accessiveis  n'esta  direcção,  e  ha- 
ver pouca  neve.  Foi  preciso  em  primeiro  logar  trepar  pelo  rochedo  escarpado» 
ao  pé  do  qual  me  achei;  porém  minhas  tentativas  foram  vãs:  era  perpendicu- 
lar, excessivamente  elevado  e  escorregadio,  porque  em  nenhuma  parte  pude 
pousar  o  pé;  diligenciei-o  por  diversas  vezes,  mas  sempre  inutilmente,  e  o 
medo  dentro  em  pouco  se  assenhoreou  de  mim.  Dizia  comigo  mesmo :  Se  eu 
não  puder  conseguir  trepar  pelo  rochedo,  e  a  noite  e  o  nevoeiro,  que  me  po- 
dem ser  funestíssimos,  me  surprehendem  n'estes  sítios?  Qual  de  meus  compa- 
nheiros me  podia  procurar  ou  ouvir  n'esta  solidão?  Á  vista  do  exposto  estava 
eu  resolvido  a  fazer  os  mais  desesperados  ensaios  para  sair  de  minha  cruel 
posição.  Depois  de  alguns  instantes  de  reflexões  e  de  tentativas  reiteradas,  ser- 
vi-me  de  todas  as  forças,  que  me  restavam,  e  com  um  praser  inexprimível  vi 
meus  esforços  coroados  de  um  feiiz  successo,  chegando  ao  cume  d'este  látal 
rochedo.  Gomthdo  ainda  não  estavam  dominados  todos  os  obstáculos;  faltava- 
me  ainda  trepar  pelo  monte  de  neve:  como  se  sabe,  eu  não  tinha  descido  por 
elle,  mas  tinha-me  deixado  escorregar.  Tentei  trepar  pelo  rochedo  que  d'elle 
está  proxíoM),  porém  era  escarpado  de  mais,  e  se  bem  que  o  monte  de  neve  o 
era  egualmente,  podia  n'elie  abrir  buracos,  e  por  elles  subir,  como  por  uma 
escada.  É  o  que  effectivamente  se  praticou :  e  foi  só  com  a  ajuda  de  pés  e  de 
mãos  e  de  minha  bengala,  que  consegui  subir  ao  alto  d'esta  escada  de  ne- 
ve. Eis«me  pois  chegado  â  planície  superior,  e  em  estado  da  continuar  mi- 
nha jornada;  já  não  era  por  prazer  ou  curiosidade,  mas  por  ser  o  meio  mais 
ourlo  e  o  menos  difficii  que  resolvi  pôr  em  execução  meu  primeiro  projecto, 
e  tornear  o  Cântaro.  A  espessura  do  nevoeiro,  que  obstava  a  que  distinguisse 
os  objectos,  me  foi  muito  contraria:  durante  muito  tempo  caminhei  ainda  por  ci- 
ma de  neve  gelada.  Com  receio  de  tomar  a  cair  no  precipício  da  esquerda,  coa- 
servei-me  do  lado  da  altura  meridional,  e  não  era  para  admirar  que  me  tivesse 
achado  muito  longe.  Quando  me  julguei  bastante  afastado  do  rochedo  escar- 
pado do  Covão  das  Yaccas,  pareceu-me  ser  tempo  de  deixar  a  neve.  Desci  da 
serra  ao  acaso,  e,  como  o  vim  a  saber  mais  tarde,  tinha  tomado  uma  boa  di- 
recção: enganava-me  todavia  a  respeito  de  um  único  valle,  porquanto  em  vez 
de  descer  para  aquelle  que  conduz  da  Argenteira  a  Unhaes,  tomei  um  outro 


400  HO 

mais  estreito  e  menos  accessivel  a  oeste  do  primeiro.  Bem '  vi  que  estava  alU 
ao  abrigo  da  neve  e  dos  precipicios ;  porém  rodeiavam-me  altas  sorras  sem 
o  mais  peqaeno  vestigio  de  caminho.  Notei  qae  me  tinha  dirigido  de  mais  pari 
a  direita;  foi  somente  depois  de  ter  trepado  por  ama  montanha  á  direita»  que 
avistei  ao  longe  ama  aldeia  qae  reconheci  ser  Unhaes,  e  conheci  achar-me 
n'am  valle  desconhecido.  Era  tarde  de  mais,  porém  a  necessidade  e  a  eetteia 
de  ter  escapado  de  am  perigo  immínente  reanimaram  minha  coragem:  reaohri 
descer  para  o  valle  até  à  aldeia,  nao  obstante  saa  distancia,  e  andar  até  eu* 
centrar  homens.  A  montanha  era  alta  e  alcantilada;  mato  e  calhaus  enormes 
a  tomavam  maito  difflcil.  Gonsegai  todavia  )descél-a,  e  a  algans  passos  da  al- 
deia encontrei  am  camponez  qae  me  informoa  qae  nao  tinha  mais  qoe  pas- 
sar o  ribeiro  de  Unhaes  sobre  ama  ponte  visinha^  e  sabir  o  valle  i  dirãlta, 
para  ch^ar  á  Argenteira,  cnja  distancia  não  passava  de  ama  legoa.  O  sol  es- 
tava qaasi  a  eaconder-se,  e  apressei -me  a  ganhar  o  valle,  porém  nio  pude  an- 
dar maito  ligeiramente,  porqae  desde  as  7  horas  da  manhi  tinha  andado^ 
oa  para  melhor  dizer,  trepado,  sem  tomar  a  mais  leve  comida.  Tinha  ainda 
qae  trepar  a  am  rochedo  para  chegar  à  Argenteira,  qaando  sabitamente  o  ne- 
voeiro se  condensoa,  me  roaboa  a  claridade  do  dia.  Gontinaei  minha  jornada 
do  melhor  modo  qae  poade;  avistei  am  prado,  e  jalgaei-me  já  restitoide  á 
minha  barraca;  atravessei-o,  porém  parecea-me  moios  considerável,  e  oavi  o 
sossarro  de  ama  cascata,  próxima  de  mais  para  poder  ser  o  Argenteka.  Qaanr 
do  chegaei  ao  cabo  d'este  prado,  conheci  qae  me  tinha  enganado.  Vi  toma- 
rem a  apparecer  elevadas  serras,  e  brilhar  a  neve  ao  crepascalo:  áetílro  em 
poaco  fiqaei  convencido  de  ter  alcançado  a  extremidade  do  Covão  das  Yac- 
cas.  Nenham  outro  remédio  me  ílcou,  senão  o  de  voltar  para  traz,  e  de  pro- 
carar  o  bom  caminho.  No  emtanto  tinha  chagado  a  noite;  e  se  a  laa  nao  es- 
palhasse alguma  luz,  nào  obstante  a  espessura  do  nevoeiro,  qiíe  descarregava 
em  chuva  muito  âna,  ter-mehia  visto  obrigado  a  ficar  no  sitio  onde  me  acha- 
va; porém  esperava  sempre  chegar  ao  nosso  campo^  e  tornei  a  descer  a  serra. 
Dentro  em  pouco  descobri  um  prado,  que  julguei  ser  o  Argenteira;  porém  era 
o  mesmo  que  tinha  visto  no  principio.  Já  não  era  possível  oríentar-me.  Final- 
mente perdi  toda  a  esperança  de  atinar  com  meu  caminho,  e  resolvi  cbegar- 
me  a  um  pastor  que  eu  tinha  visto  guiando  uma  manada  de  bois,  qaando 
snbi  a  serra.  No  mesmo  instante  dissipou-se  o  nevoeiro  alguma  coisa,  e  me 
deixou  observar  uma  montanha  escalvada,  que  eu  tinha  já  visto  depois  da  Ar- 
genteira, e  ao  longe  vi  o  rochedo,  que  separa  do  nosso.  Pude  então  oríentar- 
me,  e  sabi  immediatamente  para  Argenteira,  onde  cheguei  pouco  depois.  Re- 
conheci-o  pelo  silencio  que  alii  reinava,  pelo  seu  grande  comprimento,  pouca 
largura,  e  por  vários  ribeirinhos,  de  que  era  regado.  Faltava-me  ainda  subir 
este  ultimo  rochedo;  fazia  muito  escuro;  e  estava  jà  entre  as  nove  e  dez  ho- 
ras da  noite :  havia  perto  de  quinze  horas  que  eu  andava,  e  estava  de  tal 
forma  fatigado,  que  a  cada  instante  me  via  obrigado  a  descançar,  e  a  fazer 
esforços  para  nào  dormir.  O  desejo  de  abreviar  minha  jornada  pela  linha 
mais  recta  foi  a  causa  de  deixar  de  seguir  o  atalho  mui  pouco  frequentado, 
que  custa  a  reconhecer  mesmo  no  alto  dia.  Tinha-me  aproximado  de  mais 


HO  401 

das  serras  elevadas,  e  chegaei  a  um  grupo  de  rochedos  e  de  mato.  Ouvi  cha- 
mar ao  loBge,  e  respondi  immediatamente  com  toda  a  força  da  minha  voz. 
A  proximidade  de  um  ente  vivo  deu-me  novas  forças,  e  avancei  o  mais  expe- 
ditamente  possivel,  ouvindo  sempre  a  mesma  voz.  Esta  aproximou-se,  e  re* 
conheci  um  velho  pegureiro,  que  me  tinha  servido  de  guia;  bem  de  pressa 
se  achou  perto  de  mim.  Tinha  havido  grande  cuidado  com  minha  ausên- 
cia; e,  quando  ouviu  onde  eu  tinha  ido,  calculou  tao  bem  o  caminho  que  ea 
devia  seguir,  que  sahiu  ao  meu  encontro.  A  certeza  de  chegar  dentro  em  pou- 
co ao  cabo  de  minha  penosa  excursão  reanimou  minha  coragem.  Arrastamo- 
nos  vagarosamente  por  entre  o  mato,  pois  era  impossível  andar.  O  velho  guar- 
dador de  gado  nâo  poude  reconhecer  o  atalho,  e  chegámos  ao  nosso  campo, 
do  qual  avistámos  as  fogueiras,  ao  longe,  por  um  caminho  inteiramente  op- 
posto.  Foi  inexplicável  meu  prazer  ao  achar-me  no  meio  de  meus  companhei- 
ros, e  o  leite  que  bebi  restabeleceu-me  completamente.  Julguei  poder  dormir 
bcin,  mas  os  esforços  tinham  sido  excessivamente  violentos;  tive  um  soomo 
inquieto  e  agitado  por  sonhos  medonhos.  Por  espaço  de  alguns  dias  senti  do- 
res muito  agudas  em  todos  os  membros.» 

Este  artigo  foi  excessivamente  longo,  mas  a  um  estrangeiro  que  dispendeu 
36  contos  de  réis  n'uma  publicação  respectiva  a  Portugal,  e  que  n'este  paiz 
esteve  em  perigo  de  perder  a  vida,  deve-se  um  tributo  de  gratidão.  * 

608)  HOLLANB  (Lord). 

«Dos  cinco  beneméritos  inglezes,  cujos  nomes  temos  de  commemorar,  notá- 
veis alguns  quer  pelas  qualidades  de  sangue,  e  riqueza,  quer  por  elevadas  func- 
çoes  exercidas  na  hierarchia  civil,  dignos  todos  de  respeito  por  dotes  de  en- 
genho e  sciencia,  e  que  em  nossos  dias  demonstraram  mais  apaixonada  pre- 
dilecção pela  litteratura  portugueza,  como  que  sagrando-lhe  uma  espécie  de 
culto,  ou  convertendo-a  em  objecto  de  seus  particulares  estudos,  cabe  o  pri- 
meiro logar,  segundo  a  ordem  chronologica  a  lord  Holland. 

•Herdeiro  e  representante  de  uma  familia  distincta  da  Grã  Bretanha,  ele- 
vada ao  pariato  por  Jorge  III  em  i76â  Henrique  Ricardo  Vassall  Fux,  terceiro 
lord  Holland,  nasceu,  segundo  se  diz,  em  i773.  A  sua  educação  foi  esmerada, 
e  própria  para  desenvolver  seu  talento  e  natural  propensão  para  os  estudos. 
Sobrinho  do  eminente  orador  e  ministro  Carlos  Fox,  e  como  elle,  devotado 
membro  e  servido  do  partido  whig,  cedo  começou  a  occupar-se  das  cousas 
publicas  da  sua  pátria,  tomando  assento  nas  cadeiras  do  parlamento.  Ahi  pro- 
fessou e  defendeu  as  idéas  e  principies  do  tio,  cujo  collega  veiu  a  ser  no  ga- 
binete durante  o  curto  intervallo  em  que  aquelle  celebre  estadista  se  viu  por 
segunda  vez  collocado  á  frente  dos  negócios  como  primeiro  ministro  em  1806. 

«Ao  cabo  de  vinte  e  seis  annos,  no  de  i832,  tocou-lhe  ser  aii^da  chamado 

^  A  Flore  Portugaise  é  muito  rara  em  Portugal,  e  era  todo  e  paiz  talvez  se  não  en- 
contre meia  dúzia  de  exemplares.  A  Bibliotbeca  Nacional  de  Lisboa  comprou  em  1873 
um  exemplar  pela  quantia  de  1i8^300  réis.  Porém  as  viagens  de  Link,  principalmente 
a  versSo  em  inglez,  são  vulgares. 

TOMO  I  26 


X 


Ml  tia 

a»  NTrigo  OB  lopoitKtt  turgo  dB  ehneelkr  do  dHMa  4a  l4BMK%  !«  «>■ 
CMap  jhmMda  M  poder  do  ttíasma^  firg-Mian^w»  garim  atite  po- 
IMiM  •  «  dcMM  datriboM  Jipib  tgpann  «An  •  «M  flfvttts  iiMiaM<t> 
meto  cal  qoB  por  QllH  M  flKpweaiH  do  «aUrc  te  MitEH,  aoln  lote  «&■ 
te  pUlolocleoi,  qoB  aniTa  apaiuuduMBte. 

■Hanodo  passado  em  Hespanba,  e  crútnos  que  em  Portngal,  ama  parte  da 
pa  jõfaunda,  obUvera  dos  idiomas  do  ambos  os  paizos  eoahecimeiíto  baslaats 
IffH  fWMndir  os  seus  escriptores  e  poeus;  e  para  apreciar  aos  orJginaes  da 
ni»  BOb  aa  bailezas  e  dereihjs.  Na  sua  escolbida  e  numerosa  livraria,  avDlla- 
IMk  an  gnode  copia  os  livros  hespanboes  e  porluguezes,  ditos  ctasàcos.  Co- 
fPPiflnvto  te  conhecimeDtos  pbiiologicos  adquiridos  no  estudo  da  litteralan. 
|||Í|iÍM|Í)lár,«iBrevoD  e  publicou  em  Londres  (1805)  umas  Memorias  para  a  vida 
^á.VopoAlVata,  ás  qaaes  addicionou,  râimprimindo-as  em  i&lT.  cm  dois  vo* 
tHMi  «MM  acerca  do  Guílben  de  Castro. 

5N0  período  dú  18S8  3  1833  advogou  calorosameoie  por  mais  du  uma  «^.1 
KftpaflUDeolO  britannico  a  causa  liberal  portagaeza,  e  os  direitos  da  rainba, . 
•  iKKiT&fle  e(Hn  a  costumada  genorosidado  para  muitos  dos  portugueses  alli 
taltagUdos.  Seu  caracter  afT.-ive],  iaslrucção  e  franca  amenidado  do  Iraio  fa- 
riaat  aana  SOCicilaili'  iim:i  <l;ij  auh  agr.id^wcis  e  inelruclivas,  não  só  do  soS 
palt,  mas  da  Eon^  Faileeea  tm  lUa 

«Igiuvamos  o  destino  qne  tivesse,  onde  pira  hc^  a  riea  Uvraria  <to  lort 
Bonand.  Entre  os  seus  clássicos  poitogoeies  de  malar  aatiipatfio  «vtB^»«B 
nm  amnplar  da  primeira  edição  dos  iMiiada*  (IS7S).  !>.  José  lúria  dõ  Sob- 
sa,  morgado  de  Hatbens,  quo  o  leve  presente  para  a  esplendida  edi^,  qns 
do  mesmo  ppema  fez  em  1817,  a  elle  se  refere  em  mais  de  nm  passo  com  e^- 
comsiaacias  que  ihe  realçavam  o  valor  >  ' 

609}  HOLLAJm  (JAUES). 

E.~The  Imrist  in  PorUtgal  illustreUed  from  pailingt.  London,  1839.  (O 
viajante  em  Portugal,  illostrado,  eic.) 


610)  I 
'E.—De  amversione  Indorwti  et  GentUiuta.  Amstcrdam,  1G69,  4.<>  (DanHl- 

versão  dos  índios  e  dos  gentios). 

611)  HOSTEIN  (HYPPOLITE).  Litterato  francez. 
Nasceo  em  Paris  no  anno  de  18!Í.  > 

E.  de  sodedade  com  H.  F.  Taigny  nm  drama  inlitnlado— £'fl(rfe/fffi>  íe 
LUbonne.  Paris,  1836. 

612)  H.  3. 

E.—Aper^  geographiqiic  sur  le  Portugal  pour  faire  suile  an  Bisumê  da 
pr^icipaux  evènemenís  arrifes  dans  ce  royaume  cn  18i7  et  1829,  Paris,  1827. 


HU  403 

613)  H.  S. 

E.—Cave  of  Camoens  in  Macau:  notices  of  his  life  andworks,  especialy  of 
his  Lusiai,  (Grata  de  Camões  em  Macau,  noticias  de  sua  vida,  obras,  e  prin- 
cipalmente dos  Lusíadas),  No  Chinese  Ropository^  vol.  8.»  Março  de  i840. 

6i4)  HUBNER  (EMÍLIO).  Um  dos  mais  notáveis  epigraphistas  da  actaa- 

dade. 

E.— I.  Inscriptiones  Hispanice  Latince  consiliis  et  auctoritate  Academia  ÍÀt* 
terarum  Regice  Berussicce  edidit  Aemilius  Hubner.  Adjectce  sunt  tabula  geogra- 
phicce  duw.Bei-oUni  apud  Georgium  Reimerumy  i869,  foi.  (Inscripções  latinas 
da  Hespanha  publicadas  por  conselho  e  auctorídade  da  Real  Academia  das  Let- 
trás  da  Prússia,  «te.}  Obra  verdadeiramente  monumental. 

n.  Àaszug  aus  dem  Monatsberich  der  Konigl  Akademie  der  Wisseméha' 
ffsn  zu  Berlin.  8.» 

PTesta  segunda  obra.  Actas  da  Academia  de  Berlin,  é  que  vem  o  relatório  da 
viagem  de  Hubner  a  Portugal,  sendo  este  o  trabalho  que  foi  mandado  verter 
em  portuguez  pela  nossa  Academia  das  Sciencias,  e  nao  o  que  vem  no  Corpus 
Inscriptionum,  obra  nao  menos  digna  de  ser  traduzida,  principalmente  no  que 
mais  nos  interessa,  o  que  vem  acerca  de  Portugal. 

Até  pag.  26  das  Inscripções  latinas  trata  o  auctor  n'um  prefacio  dos  es- 
criptores  tanto  hespanhoes  como  portuguezes  consultados  para  este  trabalho. 
Principiam  depois  as  inscripções  da  Lusitânia,  ás  quaes  se  seguem  as  de 
Hespanha,  e  termina  o  livro  com  a  lista  das  inscripções  julgadas  falsas  por 
Hubner. 

Manda  a  justiça  que  se  diga  que  tanto  o  corpo  das  inscripções  romanas 
como  o  relatório  sao  obras  muito  apreciáveis. 

É  porém  licito  fazer  algumas  reflexões  acerca  do  Relatório. 

Foi  Hubner  encarregado  pela  Academia  de  Berlin  de  lhe  apresentar  um 
relatório  completo  de  quanto'  existe  em  Portugal  do  tempo  dos  romanos,  ou 
só  do  que  se  encontra  de  mais  interessante  d'aquella  época?  Na  primeira  hy- 
pothese  manda  também  a  justiça  que  se  diga,  o  relatório  ó  mui  deílciente,  e 
para  prova  eis  as  palavras  do  auctor  viajante  ao  fallar  das  proximidades  de 
Ourique:  «Quem  não  poupar  tempo  e  fadiga  investigando  todos  os  logarejos 
d'esta  região,  que  as  febres  e  o  despovoamento  fazem  muito  pauco  hospitalei- 
ras, ha  de,  com  certeza,  encontrar  ainda  um  numero  importante  de  monumen- 
tos romanos,  e  de  época  anterior  ao  dominio  romano.»  [Noticias  Archeologi- 
cae,  pag.  36.) 

Na  obra  publicada,  ha  poucos  annos^  com  o  titulo  de  Annaes  do  munici' 
pU)  deS.  Thiago  de  Cacem  (pag.  2)  pelo  sr.  padre  António  de  Macedo  e  Silva 
encontramos  a  descripçao  e  copia  de  seis  inscripções  romanas  existentes  n'a- 
qucUa  villa,  começando  cada  uma  d'ellas  pelas  palavras  seguintes :  l.«,  Martii 
Sflcrum.— 2.",/.  Scn&amo.-— 3.",  Cf.  Pagusico.—L*,  Pagmícce.—^*,  Veneri  Vi- 
ctrici,—&,^y  jEsculapb  Dco. 

De  todas  estas  llubuer  apenas  menciona  quatro,  não  dizendo  palavra  tanto 
da  2.*  como  da  6.* 


m  HO         - 

S«  pordm  o  u.  Hutatr  bi  aoniregido  d«  irmnnlw  m  rriíMio  wi  d» 
V»  b&  te  «ais  mmmtm  A'tm  povo,  afaidi  iMta  pwomh  qv  rito.|f»> 
«Mba  o  dm  «M^ido.  hir  Ml  a  pane  M  aBeoDnaraiBM,  awBBiMa^  Ikr. 
pite  e  Tsitigiai  do  poTC  ni  eoi  Poctugal. 

Todo  lito  aonOnu  qoB  o  «orpo  dai  inwripçSea  roDiíias  idb  ilmBfi  tnlD 
tpum  aia»  em  Portogil  a'eMa  gaoero.  Hubner  procurou  apeoaa  as  leirsi 
prbHdpue,  para  as  quM  havia  meioa  de  íraiispono  facillimo.  Esteve  em  lis. 
boa,R>ito,Biiga,Iivoraiflpoacoiiiafa^inainão  dirigia  seus  passojáquellaspo* 
vit^fim,  para  h  qnaa*  a  Jornada  se  tenava  algam  lanio  mais  penosa,  on  a  vida 
iBnoaeoiiimõda.CnÍoiDeiiH09iaHalmeriuofazmeDi;4iod'uinaunicaiiiscríp- 
^qiieBSoftitHi&  eoBbacUa  doa  poctogitczes;  mas  o  que  ã  mais,  menciona 
eouo  exlMatef  dotl  oipoe  rplBUOe  i  eoirada  áa.  etr^ja  Ac.  SanU  Maria  da 
AleaQoraem  Samamn,  dpot que haviaji alguns  aonos  tinham  de^apparecido, 
qnando  o  reCarido  ceeilptoreMefe  em  Portugal.  Parece  que  a  Acadumía  de  Bnr- 
IlH  lha  deferia  agradee»  um  pawefci  aiéTOIa  Vi^oaa,  com  o  llm  de  esiudar  e  de- 
eidir  umaa  daiMaa  aiiateotes  na  intarpretitção  das  lapides  dedicadas  ao  dons 
ftldOT^leo,  e  a  raipeito  das  qoaai  eonbasa  quo  havendo  ires  monographias 
eompoatas  jfOt  portogneni  e  eatrangeiroBt  nada  se  tem  apurado  digno  da 
meo^  ieerea  da  signUeaqXo  do  noma  do  deus. 

B"  tamben  de  adiatrar  que  para  eamposição  da  soa  obra  se  servisse  de 
V  «dl^  do  lino  AMtdafdii,  mtigiúiaáei  e  grandezas  (ta  mui  insigne  €idaâ» 
ia  Ulboa,  por  Imíx  UarMia  de  AMntio,  quando  Ibe  não  era  diãlcil  guiar-sa 
pela  primeira  ediçSo. 

En  creio  qae  em  nenhnm  tempo  saiu  dos  prelos  portngneíes  uma  obra 
nuis  borrívelmente  deturpada  do  que  a  referida  2.*  edição.  É  mesmo  mn  li- 
vro compieiamente  inutilisado.  Soa  opinião  relativa  á  antiga  Rmiiiinm  {opi- 
nião que  ainda  assim  tinha  sido  antecedentemente  manifesiada  por  um  pwtS' 
guez)  não  ponde  ser  acceite  pelos  nossos  litterato^. 

iDretizmente,  nós  os  portugaezes  não  possuímos  ainda  um  trabalho  com- 
pleto a  este  respeito.  Mais  claro— não  temos  um  corpo  completo  das  ios- 
(vipções  romanas  existentes  em  Portugal —  nem  om  guia,  nma  resenha,  om 
livro  qualquer  que  indique  aos  amantes  do  antignalbas  os  locaes  onde  exis- 
tem antiguidades  d'aquellas  épocas,  acompanhadas  dos  eompelentes  esclareci' 
mentos,  e  a  obra  do  sr.  Hubner  apenas  nos  pode  servir  para  elucidar  varias 
duvidas  acerca  da  inlelligencia  d'alguma$  inscrípçSes. 

gensta  que  o  fallccido  commcndador  Bernardino  Josó  de  Senna  Frdtas 
deixara  composto  um  livro,  em  que  censura  moitas  passagens  do  rdatorio. 

eis)  HOGIHXS  (THOMAS). 

E.—Treaties,  agreements  andengagementsbetweentkebímorableEatflndta 
Company,  ele.  also  betureen  ker  Britannic  magesty's  govemement  and  Pérsia, 
Portugal  and  Turkc-y.  Bombay^  I8S1. 

■  Era  Bombaim  publicon-90  no  aiino  de  1373  a  segDiíiie  obra:  Ifaticia  úeerai  it 
Portugal  por  J.  1.  Rodriguct  de  Freitas  Júnior,  traduiida  em  portngUM  por  J.  J.  do 
Goania.  3  *,  113  pag. 


HU  405 

616)  HUGHES  (T.  M.) 

E. — An  overland  joumey  to  Ushon  ai  the  dose  of  i846.  With  a  picture  of 
the  actual  state  ofSpain  and  Portugal,  London,  1847. 2  vol.  (Viagem  por  terra 
a  Lisboa  no  âm  de  1846,  etc.) 

Ignoro  se  este  mesmo  Haghes  é  o  auctor  do  poema  The  Ocean  Flower. 

617)  HUGHES  (T.  M.).  Aalhor  of  Revelations  of  Spaín. 

E.-^The  Ocean  Flower,  a  Põem,  Preceded  by  an  vMstorical  and  descriptive 
account  of  the  Island  of  Madeira;  a  summary  of  the  discoveries  and  chivalrous 
Eistory  of  Portugal  andanEssay  on  PortugueseLitterature.  B^— .London,  1845. 
S.*",  309  pag.  {A  Flor  do  Oceano,  poema,  precedido  de  uma  narração  histórica 
6  descriptiva  da  ilha  da  Madeira,  e  d^um  resumo  da  historia  cavalheiresca  de 
Portugal  e  de  um  Ensaio  da  Litteratura  Portugueza). 

4 Se  o  infante  D.  Henrique  não  tivesse  exjâtido,  é  muito  provável  que  tam- 
bém nunca  tivesse  havido  um  Christovâo  Cmòmbo.»  Pag.  15. 

•O  simples  nome  do  infante  D.  Henrique  é  uma  gloria  sufficiente  para  qual- 
quer paiz.»  Pag.  18. 

tCom  a  descoberta  do  Brasil  se  consumou  a  gloria  das  expedições  portu- 
guezasi  e  agora  se  observou  o  assombroso  espectáculo  de  a  mais  pequena  na- 
ção europea  dominar  quasi  metade  do  globo.»  Pag.  19. 

«E'  uma  nação  que  nunca  teve  mais  de  três  milhões  de  habitantes  e  reinou 
por  algum  tempo  sobre  metade  do  mundo.» 

Festa  obra  apparecem  traducções  inglezas  de  algumas  poesias  de  Filinto 
Elysio,  de  Bocage  «(talvez  o  melhor  improvisador  qao  o  mundo  jamais  pos- 
suiu» (pag.  86).  Nicolau  Tolentino,  «poeta  satyrico  muito  admirável»  (pag.  95) 
Almeida  Garrett  e  A.F.  de  Castilho.  D*este  ultimo  nào  se  mostra  Hughes  muiu> 
admirador. 

618)  HUGHS  (JOHN). 

E.—Translation  of  the  Revolutions  of  Portugal  written  by  F^toí.  London, 
1735.  8.%  139  pag.  com  um  appendice  de  14.  É  já  4.*  edição. 

619)  HUGO  (VICTOR).  Um  dos  mais  celebres  poetas  da  actualidade. 
Nasceu  na  cidade  de  Besançon  em  fevereiro  de  1802.  ^ 

E.,  quando  ainda  contava  poucos  annos,  o  seguinte  melodrama :  ínez  de 
Castro,  mélodrame  en  trois  actes  avec  deux  tntermedes. 

Apparece  esta  composição  theatral  no  !.<"  vol.  da  seguinte  obra:  Victor  Bu- 
go  raconté  par  un  témoin  de  sa  vie  avec  ceuvres  inédites  de  Victor  Hugo,  entre 
autres  un  drame  en  trois  actes,  Inez  de  Castro.  Paris,  1868,  ,do  qual  o  sr.  Brito 
Aranha  fez  uma  dMcripção  muito  por  miúdo  no  Archiw  Pittoresco  de  1864. 

A  obra  franceza  foi  traduzida  em  inglez  com  o  seguinte  titulo :  Vtct(yr  Hu- 
go. A  life  related  by  one  who  has  wUnessed  it,  including  a  drama  in  three  acts 
infitled  Inez  de  Castro  Londoh,  1863. 

*  Sr.  Biito  Aranha  no  estudo  que  fez  s^obre  esle  poeta.  Archivo  Fitioretco,  vol.  9.*' 


406  HU 

630)  HUMBOLDT  (ALEXANDRE — Babão  db).  Um  áos  mais  famosos 
sábios  de  nossos  dias. 

Nasceu  em  Berlio  no  anno  de  1769,  e  falleceu  em  1859.^ 
No  2.°  vol.  do  Cosmos  diz  o  seguinte  acerca  do  nosso  Camões:  «Com  ver- 
dade, eu  nào  posso  dizer  o  que  se  deve  admirar  mais  na  sua  grande  epopea 
nacional,  se  a  riqueza  da  imaginação  do  poeta,  se  a  singular  verdade  das  des- 
cripções.2  ^ào  é  a  mira,  por  certo,  que  compete  confirmar  com  a  minha  opinião 
o  juízo  de  Frederico  Schlegel,  que,  quanto  à  vivacidade  das  cores  e  á  maravi- 
lhosa riqueza  da  phantasia,  poe  os  Lusíadas  muito  acima  do  poema  de  Anos- 
to;  mas  por  certo  me  é  dado  accrescentar,  na  qualidade  de  observador  da  na- 
tureza, que  nunca  houve  poeta  mais  exacto  na  pintura  dos  phenomenos  natu- 
raes;  e  que  em  nenhuma  parte  da  sua  obra,  nem  o  ejithusiasmo  de  cantor 
inspirado,  nem  o  ornato  da  sua  linguagem,  nem  os  seus  melancólicos  pensa- 
mentos^ o  Qzeram  um  só  instante  infiel  a  esta  espécie  de  physica.  A  &^ncia 
pôde  acceitar  as  suas  descripções,  ao  mesmo  tempo  que  a  imaginação  é  arre^ 
batada  pelas  suas  pinturas.  É  realmente  o  céo  da  índia;  são  os  variados  aspec- 
tos do  oceano.  Sente-se  cm  todos  estes  cantos,  ou  já  escriptos  na  gruta  de 
Macau,  ou  já  no  desterro  das  Molucas,  um  cheiro  embriagante  de  flores  dos 
trópicos.  O  auctor  viu,  ou  antes  observou^  e  observou  como  poeta.  Por  isso 
não  é  possível  deixar  de  notar  em  toda  a  parte  a  viva  physíonomia  dos  gran- 
des quadros  da  natureza,  pintados  por  elle.  Mas  onde  Camões  é  inimitável,  é 
nas  pinturas  do  mar :  como  ninguém  soube  melhor  perceber,  nem  pintar  me- 
lhor estas  mysteríosas  harmonias  que  reinam  entre  a  atmosphera  e  o  mar,  en- 
tre as  mil  conformações  variadas  que  tomam  as  nuvens  no  céo,  na  successao 
dos  seus  phenomenos  metereologicos,  e  os  diversos  aspectos,  que,  refleclindo-os, 
apresenta  a  superfície  do  oceano.  Ora  c  uma  doce  brisa,  que  lhe  encrespa 
superfície,  enchendo-a  como  de  carneiros,  e  d' estas  pequenas  vagas  quebradas 
faz  sair  brilhantes  faíscas  de  luz,  que  alli  parecem  mover-se :  ora  é  a  tempes- 
tade, com  todos  os  seus  horrores,  que  se  levanta  em  roda  das  naus  de  Coe- 
lho e  de  Paulo  da  Gama,  e  solta  os  elementos  enfurecidos.  Todos  estes  quadros 
são  de  uma  verdade  palpável.  Camões  tinha  podido  estudar  pausadamente  os 
phenomenos  do  mar :  soldado  tinha  feito  a  guerra  não  só  ao  pé  do  Atlas,  no 
interior  de  Marrocos,  mas  também  nas  margens  do  mar  Vermelho  e  do  gol- 
pho  Pérsico :  duas  vezes  dobrou  o  Cabo  das  Tormentas,  e  com  a  sua  paixão 
tão  viva  pela  natureza  tinha  podido  em  dezeseis  annos  de  solidão  nas  costas 
da  índia  e  da  China,  observar  as  alternativas  do  Oceano.  Nada  lhe  escapa,  e 
em  um  logar  descreve  os  pennachos  eléctricos  do  fogo  de  Santelmo,  que  os 
pilotos  da  Grécia  cuidavam  ser  Castor  e  Pollux,  mas  a  que  elle  chama 

o  lume  vivo 

Que  a  gente  maritiraa  tem  por  santo 
Em  tempo  de  tormenta : 
n'outro  logar  ó  a  tromba  assustadora  com  as  suas  suceessivas  transformações, 
e  se  v(í 

*  hQUiWeí—  Diclionnairc,  Su^jpl.cmint,  pag.  GO. 
2  Panorama  do  18i7,  pu^.  í>(ií). 


HO  407 

* 

levanlar-se 

No  ar  um  vaporzinho»  e  subtil  fumo 

E,  do  vento  trazido,  rodear-se : 

De  aqui  levado  um  cano  ao  polo  summo 

Se  via  tào  delgado,  que  enxergar-so 

Dos  olhos  facilmente  não  podia : 

Da  matéria  das  nuvens  parecia. 

la-se  pouco  e  pouco  accrescentando, 

E  mais  que  um  largo  mastro  se  engrossava ; 

Aqui  se  estreita,  aqui  se  alarga,  quando 

Os  golpes  grandes  de  agua  em  si  chupava 

Estava-9è  co'as  ondas  ondeando, 

Em  cima  d'elle  uma  nuvem  se  espessava, 

Fazendo-se  maior,  mais  carregada 

Co'o  cargo  grande  d'agua  cm  si  tomadn. 

Mas  depois  que  de  todo  se  fartou, 
O  pé  que  tem  no  mar  a  si  recolhe, 
E  pelo  céo  chovendo  emfim  voou. 
Porque  co'a  agua  jacente  agua  molhe  • 
Ás  ondas  torna  as  ondas  que  tomou, 
Mas  o  sabor  do  sal  lhe  tira  e  tolhe. 

Vejam  agora  os  sábios 

aci^escenta  o  poeta 

Que  segredos  são  estes  da  natura. 

palavras  com  que  parece  dirigir-so  ainda  aos  sábios  de  hoje,  que  fundados  na 
sua  intelligencia  e  no  seu  saber,  não  duvidam  tratar  de  visões  as  coisas  que 
ouvem  contar  ao  navegante,  que  só  tem  por  si  a  experiência. 

«Mas  se  Camões  é  superiormente  admirável  nas  pinturas  do  mar,  as  sce- 
nas  terrestres  não  chamaram  tanto  a  sua  attenção.  Já  Sismondi  notou  com  ra- 
zão que  em  todo  o  poema  se  não  acha  nenhuma  verdadeira  pintura  da  vege- 
tarão dos  trópicos,  e  da  physionomia  particular  das  plantas  d'aquelles  novos 
climas.  O  poeta  apenas  mencionou  algumas  plantas  aromáticas,  producçòes 
que  eram  objecto  de  commercio.  O  episodio  da  ilha  encantada  encerra  um  de- 
licioso quadro  de  paizagem,  mas  quadro  commum  e  clássico.  Que  se  acha 
]i'elle  além  das  plantas  banaes  com  que  forçosamente  se  ha  de  ornar  uma  ilha 
de  VenuSy  murtas,  cidreiras,  limoeiros  odoríferos,  romeiras,  e  outras  arvores 
selvagens  na  Europa  meridional,  e  ainda  mais  nas  poesias  pastoris  d'aquella 
época?  O  poeta  n'este  logar  julga-se  infelizmente  obrigado  a  entrar  na  natu- 
reza de  convenção  da  poesia  contemporânea.  Quanto  não  Ba  em  Christovam 
Colombo  com  uma  observação  exacta  das  formas  da  vegetação  estranha,  que 
oíTerecia  aos  seus  olhos,  um  sentimento  muito  mais  verdadeiro,  e  um  enthu- 
diasmo  mais  francamente  poético,  em  vista  de  novas  costas  cobertas  de  bos- 


.  ■■^■^\-'è^ 


«06 


w 


41168.  Mis  o  almiraiite  esorevii  m  iéàno  d$  vkitm^iMB  muáfmn  tMã^ 
mettte  as  sqzs  vins  in^reÀBdes»  ainda  sob  o  iofetí»  teaiuiJoM#Bii^  ite» 
lada,  6  Camões  eomponlia  um  poema  épieo  ma  ImmiirtaBswr  m  iBtoadoa 
poitogoezes,  jantando  aos  Cactos  as  maravittioMift  ^ceeaigSes '  da  ftentasia  poe- 
tfea.  Qoe  pintasse  o  oceano,  ó  nataral.  Os  ttairojwtfeg.  Inelm  «mb  o  onr»  é 
nm  combate  de  todos  os  dias;  e  demais»  em  oMcfiaim  Mopps  ha  íoaq/ú 
para  estodar  os  phenommios  mais  oa  menos  lemffftti  dlhmarc  mas  diepdfla 
,  a  terra,  a  lota  ó  4piasi  só  com  os  bornens:  a  ae^  foe  SB  M3m  nio  dsin 
a  natoresa.  A  pailu^iem  toma-se  nm  ftmdo  deqnadro^  aqne  se  aio  dàlnver* 
tanda,  qoadro  em  qoe  os  gnenrriros  oapa  mercadores  portnpMM  animam  a 
parte  íHrtndpaL  Ainda  maié:  e  nio  liltavam  aepalaf^ 
nova  dk  índia?  onde  basearia  comparagSea  011  epillMtQtf  AA^^ 
nomes  das  plantas  novas,  do  idioma  bsrbaro  dos  nalvaet  do^paist  l]Ém  úth 
acrineio  laboriosa,  formas  simniiarea.  ecrisas  sem  neoie.  nio  nodlam  Aeiíar  da 
repugnar  a  nm  poeta  costomado  i  soncMra  harmonia  dn  sna  Itacnanalonl* 
«Comtado  nio  deixou  Camões  de  ter  algnmaa  veies  singnIareB  oosafias 
nas  grandes  deserip^es  pictorescas,  no  sen  tempo  mnito  otigfnaiw^Bem  dei» 
zon  de  esboçar  em  linhas  ousadas  a  physiononda  gçcal  éiseontiiieiileB.  Éas- 
slm  que  no  3.«  canto  bi  uma  pintura  ri|»idndaloda  aSorapa»  todo  as  mais 
Mas  regiões  do  norte  ató 

Onde  o  sabido  Estreito  se  ennobrece 
Co*o  extremo  trabalho  do  Thebano. 

Mas  é  especialmente  aos  costumes  e  á  policia  dos  povos  do  Udo-dia  que  elle 
dá  m^s  attenção;  em  breve  passa  pela  Prússia  e  pelaMoscovia^nacõessepten- 
trionaes, 

que  o  Rhono  frio 

Lava» 

Para  chegar  ás  deliciosas  regiões  da  Grécia 
Que  creastes  os  peitos  eloquentes 
E  os  julios  de  alta  phantasia. 

No  iO.*"  canto  o  espectáculo  é  ainda  maior.  Thetis  conduz  o  Gama  a  um 
alto  monte  para  lhe  descobrir  os  segredos  da 

grande  machina  do  mundo, 

e  o  curso  dos  planetas  segundo  o  systema  de  Ptolomeu,  que  então  reinava.  E* 
uma  visão  no  estylo  do  |)ante.  Depois  de  ter  descripto  o  todo  do  universo,  o 
poeta  toma  ao  globo  terrestre,  que  lhe  fica  no  centro,  e  expõe  então  tudo  o 
que  se  sabia  dos  paizes  n'aquelle  tempo  já  descobertos,  e  das  suas  producções; 
aqui  já  não  é  somente  um  mappa  pittoresco  da  Europa,  como  no  canto  3.«;  ó 
um  quadro  de  todas  as  partes  do  mundo,  sem  exceptuar  a  terra  de  Santa 
Cruz,  e  a  costa  descoberta  por 

Magalhães,  no  feito  com  verdade 
Portuguez,  mas  não  na  lealdade. 


HY  409 

Gamões,  posto  que  se  encerrasse  em  am  quadro  clássico,  foi  om  dos  pri- 
meiros qae  abria  caminho  a  ama  poesia  nova :  o  sen  génio  percebeu  alguns 
dos  maravilhosos  recm^s  que  nm  novo  mondo  nos  vinha  dar  à  poesia.» 

621)  HUNT.  Antigo  cônsul  de  S.  M.  Brítannica  nos  Açores. 

E.  no  Journal  of  the  royal  geographical  Society  of  Loifidonf  vol.  15.»,  pag. 
258,  1845— dois  artigos  cheios  de  novas  minuciosidades  relativas  á  constitui- 
ção do  solo^  boas  observações  a  respeito  do  clima,  e  algumas  informações  su- 
perficiaes  sobre  a  botânica  e  zoologia  do  Archipelago  Açoriano.»  * 

622)  HYERONIMUS,  Eines  jesmten  at^s  Portugal,  Bericht  von  der  wah- 
re,  etc.  (Uyeronimo,  jesuíta  portuguez.  Verdadeira  descripçâo  do  estado  do 
paiz  dos  mouros).  Numberg,  1670.  T.  Compans,  pag.  225. 


*  Morelet^  Les  Açoret,  pag.  13. 


.  fttS)  IDftE  VÊBIDIQTnG  dw  révannipénMalagrida,iÍMàê  ir^^ai^^^r. 
aUéa  á  LMoime  par  untence  de  rni^mtititm.  Kwtnit  íb  4(we  Mim,  l^fw 
ieriU  de  SMOe  U  U  ocMm  1761;  roKtre  da  UaàriA  b  17  wnmér»  iWL- 

U6ge,  1761  Palheto. 

614)  ILtUSTR^TIOlI  (l^)  Bi*pam-Portiiçii«u^  Hftdrid,  187S. 
En  am  jornal  tiuea-uio  e  illiumdo,  esoiplo  em  bespanbol,  •  qna  ao  pA- 
melro  miinero  pnbliooa  nmk  biogr^hia  do  cr.  Alaundra  HenxiliDO^  e  nrin 
~  artigu  relitíTOs  &  assomptos  porliiputes.Pn>ptiD]a-se  caitíoair  a  tneiv  da 
1IIH8U  coisas,  nus  cr^  que  taioma  á  nascença. 

OaS)  IU.D3TRATED  TRiVELS). 

Na  parte  35.°  d'esle  jornal  littnrario  publicado  em  Londres  vem  ama  série 
de  artigos  relativos  a  coisas  portaguezas  debaixo  do  titulo  de  Excwnona  near 
Ushon.  São  acompaiibadas  das  seguintes  magniUcas  estampas : 

!.'  Capella  imperfeita  da  Uatalha.—  í."  Uma  parte  do  palácio  da  Penka 
Verde  em  Ciníra.—'Ò.^  Casa  do  capitulo. 

<A  entrada  do  Tejo,  as  vistas  nobres  o  magestosas  em  algunâ  respeitos,  e 
sempre  bellas,  que  so  gozam  ao  navegar  pelo  Tejo  até  Lisboa,  e  a  primeira 
TÍsU  da  cone  de  Portogal  são  d'aqnelle6  objectos,  que  por  muilo  (empo  ficam 
impressos  no  espirita  de  viajante.  Lisboa  é,  e  deve  ser  em  todo  o  tempo,  uma 
das  mais  pittorescas  e  interessantes  cidades  europeas.  Todavia  na  cidade  nSo 
ha  mnito  que  vér. . . 

(Parece  que  não  era  da  mesma  opinião  nma  camará  municipal,  pois  po- 
dmdo  ornar  a  cidade  com  uma  maníaca  estatua  de  D.  Haria  I,  se  reeoeoo  t 
nuel-o,  allegando  que  esta  raiuba  não  merecia  um  monumeatol) 

626)  IL  HDNDO  HUOVO,  Itbro  ãe  ta  pnma  navigazione  per  Ocmno  o 
k  ttrre  de  Negri  de  la  Bassa  /Ethiopia  per  commeridamento  dei  ilíutíre  liffmr 
D,  Eenrico  de  PortugíUlo.  Vicencia.  H.  Vicentina.  4.°  1607. 

Vem  esta  obra  mencionada  na  Bibliotheque  ÃsUttiqnejt  Afrícaine  de  Ter* 
Danx  Campaos.  Paris,  1S41. 


IN  4li 

627)  IMHOF  (JAGOBI  GUILIELMI). 

K—Stemnia  Regium  LusUatUcum  sive  Historia  Genealógica  Famlim  Re* 
giae  Portugalltcae»  A  prima  origine  usque  adpraesens  aevum  deductae  et  nar- 
ratione  rerum  a  Portugallia  a  condito  regno  gestarutn,  ac  factorum  memora' 
biliorum  illustratae  imigniumque  iconibtis  ^ororna/a^.  Amstaelodami.ÂpudZa- 
charium  Chatelain.  i708.  foi.,  72  pag.  (Brazões  dos  reis  de  Portugal,  ou  histo- 
ria da  família  real  portugueza,  etc.)  Obra  dedicada  ao  nosso  D.  João  Y. 

628)  IMPRESA  DEL  GRAN  TURCO  per  maré  et  per  terra  contra 
portoghesi,  quali  signoreggiano  gran  parte  de  Vlndia  o  s^atwiciano  ai  sepolcro 
di  Mahometto.  Roma,  1531.  Vem  mencionada  em  Ternaux  Gompans. 

629)  INDISCHE  NEUE  RELATION,  etc.  (Nova  relação  da  índia,  e 
do  que  se  passoa  nas  missões  de  Menomotapa,  Ifogol,  Gochim,  Malabar,  Chi- 
na, PegOt  Molacas  desde  1607.  Aagsburg,  1614).  T.  Gompans. 

630)  INÊS  DE  CASTRO.  An  historical  Ballet.  London,  1833. 

631)  IGNES.  A  tragedy.  London,  1796. 

632)  INEZ  DE  CASTRO.  A  tragedy,  as  contributed  to  Hood's  Magazi- 
ne. London,  1846. 

633)  INEZ  DE  CASTRO,  drama  per  musica.  FivenzQ,  1793. 12.<>  (Drama 
per  musica.  Wienna,  1807.  8.° 

634)  INFLUENCE  du  ministhre  anglais  dans  Vusurpation  de  D.  Miguel 
Rennes,  1830.  Talvez  seja  obra  d'algum  portuguez  emigrado  na  Bélgica. 

635)  INGUDÍBERT  (Fr.  MALACHIA). 

E. — Vita  de  Monsignore  D.  Bartolomeo  dè  Martiri,  escrUta  da  — .  Roma. 

636)  INNOCENTIS  etliberiprincipisvenditioViannaecelebratadielíl^jU' 
niianno  1642.  Venditore  rege  Hungriae,  emptore  rege  Castellae. . .  VenéUtus  est 
infans  Eduardus  frater  regis  Portugalliae  Joannis  IV  pretio  40000  reistalero' 
rum  (sem  legar  de  impressão)  1642.  Folheto.  (Venda  feita  em  Yienna  de  um 
príncipe  innocente  e  livre,  etc.)  Refere-se  à  prisão  do  nosso  infante  D.  Duarte 
preso  iníamemente  no  castello  de  Milão,  por  suggestões  do  governo  hespanhol. 

637)  INSTRUZIONI  date  dalla  corte  de  Roma  a  Mgre.  Girolamo  Capodi' 
ferro  ed  a  Mgre.  Lipomano  {Coadiutore  di  Bergamo)  spedite  nunzU  tn  Porto- 
gallo  il  primo  nel  f557,  il  secundo  nel  1548.  Marsiglia,  1828. 

638)  mSTRUCTION  de  S.  M.  Três  Fidelle  à  son  ministre  en  cour  de  Ro- 
me.DuS  octobre,  1757.  Sem  logar  de  impressão.  C.  M.  B.  L  P. 


§ni  wuaa  usr. 

tr-Jt»^ it  Catm.  A  trafiit.  Wrmmtt*-^ 

MO)  IHL&,  (LABABO  DS  I.;^  GcBOra. 
■  >    Kr-Brmlralaioiamrtt  de  taHOarla  «  fÊoautrit, ê mtlfek  Afift. 
■àgot^mtmmtti  kattmK  pOTartteitt  deloi^Bonem  te1ÍnêMl^-iliH>* 
wUb  Ah  |MiM  to  nua.  UAM^  per  Dominfn  GMMtao,  1676.  &•;  M  pig. 

6U}IX&I.T  «ITH  BKWKSBEBof^ftÉ»mâror1atia.Úmàim,ÍB3Í 


t  Dl  L'XBt'AOIO:  ET  DTJ  PORTUGAL  ou  des^ ' 
trifUm  0tb0nfklfÊ*  tt  ktUCfrtflê  ie  ces  pays,  avec  Imrs  principales  rouUi 
d  Im  dMMOn  df  rtfm  liiB  é  m  auíre;  occomjiíi^é  d'une  carie  ou  jilnn 
radiar  f^MiJl  te  otonottOM  te;r(tu  mod^m»;  par  fautévr  de  ta  Gmjra- 
gkiê  tmt  OMfMM  fW  MOdfnw  «H»^«  par  Vhisloire  de  t<m  let  tempx,  eic. 
Tkrf(,UM.8.*,«0pt(. 

6U)  ipTDBBIDX  (D.  AOUSTIU) 

&— LVtafTf  9orftigwi'M  te  onomC*  omipfratan.  BnmBai^  UM. 


J 


644)  JAGKSON  (Ladt). 

E.-— Foir  Lusitânia  I  A  Portuguese  Sketch  Book,  By—,  With  twenty  very 
beautiftU  full-page  Illustrations.  Londoo,  1874.  (Bella  LosiUnia!  Livro  de  es- 
boços portaguezes,  etc.) 

645)  JACOB  (ANDRÉ).  Inglez  de  nação. 

E.—Grammatica  porttAgueza  e  ingleza  por  um  methodo  novo  e  fácil,  Lis- 
boa, typographiá  Nunesiana,  1793. 8.<»,  379  pag. 

646)  JAFFEUX  (EUGENE). 

E.—Les  deux  Charles  portugaises.  PSns.  1837. 

O  auctor  depois  de  fazer  algumas  reflexões  sobre  o  governo  portaguez,  e 
de  apresentar  a  traducçâo  da  constitaição  politica  da  monarchia  portugaeza, 
e  da  carta  constitucional  dada  no  Rio  de  Janeiro  a  29  de  agosto  de  1826,  diz 
o  seguinte : 

«Os  direitos  civis  e  religiosos,  os  mais  caros  aos  cidadãos,  são  consagrados 
n'nma  e  n'outra  da  maneira  mais  ampla  e  também  a  mais  explicita.  A  liber- 
dade individual,  a  dos  cultos,  a  da  imprensa,  o  direito  de  petição,  e  o  não  me- 
nos importante  de  denunciar  à  justiça,  e  de  exigir  a  reparação  de  abusos  de 
que  se  tivesse  tomado  culpado  um  juiz,  um  qualquer  empregado  publico,  di- 
reito mesmo  concedido  às  pessoas,  que  não  tivessem  padecido  com  taes  abu- 
sos :  ainda  mais,  as  nomeações  de  magistrados  municipaes  pelo  povo  estendi- 
das até  ás  justiças  de  paz:  tudo  isto  forma  uma  agglomeração  de  vantagens, 
das  quaes  estamos  bem  longe  de  gosar  em  França.» 

647)  JANSEN  (J.) 

E.—Histoire  diplomattque  du  chevalier  portugais  Marlim  Behainu  Stras- 
burg  et  Paris.  1802. 

648)  JARRIC  (PIERRE  DU). 

E,—Histoire  des  choses  plus  memorables  advenues  lant  ez  Indes  Orieniales 


414  JO 

qu^mOres  pays  de  la  dieoufmie  des  poríugais  m  raabU^^  eifrotri$iê 
la  faif  chreiUetme  H  catholique.  Bordeaox,  1607.  Ibid.  1008.  lUd.  1610.  Takn* 
eUeimes,  1611. '3  vol.  4.»  Arras,  1628.  Em  poUeo^  Cracóvia,  1618. 

Esta  obra  foi  traduzida  em  latim  por  M .  Hartinei.  Coloniaa  AgriíâUM, 
1615,  debaixo  do*  seguinte  titulo :  Thesaurus  renm  Indicarm^  Lmikmanm 
cperadeUi^us  aGaUkoinLaíhiiiÊmsermímemver^ 

Tal  era  o  interesse  com  qne  mu  toda  a  parte  se  liam  ae  deseabertas  Uím 
por  nossos  maiores  t  E  isto  em  tempo  qoe  eorriam  por  toda  a  Europa  bhHds 
outros  livros  sobre  o  mesmo  assumpto.  Creio  porém  que  aUm  das  oitadiaaiB* 
da  ha  muitas  outras  edicdes  fdtas  em  diversos  pontos  do  g^ibo.  . 

6«9  JANSEN  (HENBI). 

E^^LMres  icrites  á»  Pcrítigal  tur  féM  oncíai  e<  atínd  és  ce  nojai—i, 
traêuites  de  ratiglais  de  niiss  Philaddpkia  Stewem.  LondoDy  1780. 

6B0)  JAinUEN  (JBAM). 

E,^PrmkrwyageauUmriismímdepar  le  dU9aiiêrPigafBÊia.éePetoih 
dre de MaffOkm  en  m9, 1520, 1511,  Un^eíaccompapié  d!m$  motí9$$mr  k 
ckevaUer  Bdiakim,  aiãfre  navigateiir  ptniiiigais:  parU^deMi^ 
de  VaUemami.  Paris.  An.  o. 

661)  JAN8EN  (M.) 

E.—  Swr  tm  vcyaqe  faU  aux  A^es  eí  dams  la  PeumtiÊie  Iferfgm,  esBfrM 
â^une  leitre  à  M.  Elie  de  Beaunumt.  (Yem  na  obra  Conotes  rendas  de  VAeade' 
mie  des  Sciences,  1867.) 

652)  JOHNSON  (D.  1[.  RAKSEY). 

E.—Collecção  de  palacras,  phrases  e  diálogos^  ou  Guia  da  cmoersação  em 
francez,  inglez  e  portuguéz,  por  — .  Porto,  typegraphia  Gommercial,  1861. 

653)  JOHANSON'S.  ÂccousU  of  the  Island  of  Bolama.  (Notieia  da  ilha  de 
Bolama).  London,  1780. 

654)  JOHNSTON  (WILUAM). 

E.^eodydrographie  survey  of  Madeira^  1788.  (Inspecção  geodydrogra» 
pbica  da  Madeira.) 

655)  JONES  (M.  JOHN).  Golonel  des  ingenienrs  royaux,  aido  de  camp 
du  roL 

E.^Mémoire  sur  les  ligues  de  Torres  Vedras,  elevées  pour  couvrir  Usbon" 
ne  en  1810,  faisant  suite  aux  joumaux  des  siéges  entrepris  par  les  alliés  ea 
Espagne.  Par  — .  TraduU  de  Vanglais  par  JW.  Gosselin,  traducteur  des  jour* 
naux  de  Sièges,  etc.  Paris,  1833.  8.»  gr.,  261  pag.  com  3  mappas.  Obra  maílo 
estimada  entre  os  estrangeiros. 

Divide-se  este  livro  em  quatro  partes.  A  primeira,  que  é  a  mais  considera- 


JO  418 

vel,  contém  a  narração  histórica  e  a  descripçao  das  linhas.  Na  segnnda  consi- 
gnou o  auctor  observações  geraes  sobre  suas  vantagens  e  Inconvenientes. 
A  terceira  está  occupada  por  observações  a  respeito  das  linhas  e  das  posições 
entrincheiradas  em  geral.  Na  quarta  se  acham  reunidos  todos  os  pormenores 
relativos  ao  traçado  e  à  constrncçâo  de  diversos  trabalhos  de  camp^mha. 

<  As  posições  entrincheiradas  que  cobriam  Lisboa,  e  que  eram  conhecidas 
debaixo  do  nome  de  linhas  de  Torres  Vedras,  adquiriram  uma  grande  ce- 
lebridade por  terem  sido  a  primeira  barreira  que  conteve  o  curso  das  conquis- 
tas do  exercito  firancez.  Nao  podem  por  conseguinte  deixar  de  interessar  não 
somente  aos  engenheiros,  mas  até  mesmo  a  todos  os  ofiSciaes,  que  procuram 
assumptos  para  estudos  militares. 

<A  resolução  de  as  principiar  remonta  à  batalha  de  Talavera.  Tendo  os 
movimentos  offensivos,  que  occasionaram  esta  acção,  habilitado  o  general  em 
chefe  a  apreciar  no  seu  justo  valor  a  cooperação  dos  hespanhoes,  e  demons- 
trado toda  a  iasufflciencia  de  seus  exércitos  por  causa  de  sua  falta  de  organi- 
sacão,  pouca  disciplina,  e  falta  de  habilidade  de  seus  oíficiaes,  o  duque  de 
Wellington  fícou  convencido  de  que  na  próxima  campanha  não  poderia  con- 
tar senão  com  o  corpo  pouco  considerável  dos  veteranos  inglezes,  e  com  as 
tropas  portuguezas  recentemente  recrutadas,  e  postas  debaixo  do  seu  com- 
mando. 

«Estas  linhas,  depois  de  examinadas  por  Massena,  contiveram-n'o,  e  é  quasi 
escusado  dizer  que  o  exercito  invasor  não  fez  novas  tentativas  para  reconhe- 
cer a  força  das  obras,  de  que  as  linhas  se  compunham.  Depois  de  ter  occupado 
seus  alojamentos  até  ao  começo  de  março,  o  exercito  francez  operou  sua  reti- 
rada, seguido  de  perto  pelos  alliados.  Era  o  primeiro  e  único  exemplo  de  uma 
empresa  militar  projectada  c  amadurecida  por  Napoleão,  em  toda  a  plenitude 
do  seu  poder,  que  não  tivesse  sido  seguida  de  um  bom  êxito,  graças  á  previ- 
dência superior  e  á  firme  persevcranç^a  de  seus  adversários.  Não  é  demais  o 
pretendermos  que  esta  falta  de  bom  resultado  diante  de  Lisboa  deu  um  golpe 
fatal  na  opinião  geralmente  espalhada  que  os  exércitos  francezes  eram  inven- 
civeis,  e  que  ensinou  a  Europa  opprimida  que  podia  ainda  resistir  e  vir  a  ser 
livre.  Pag.  78. 

«Durante  um  anuo  inteiro,  que  duraram  os  trabalhos  obrigatórios  na  cons- 
trucção  doestas  linhas  não  se  viu  um  único  exemplo  de  insubordinação  ou  de 
rixa,  e  deve-se  aos  portuguezes  a  justiça  de  reconhecermos  que  a  seu  habito 
de  regularidade,  e  a  seu  zelo  continuado  se  deve  mais  attribuir  o  immenso 
trabalho  que  foi  executado,  do  que  á  efflcacia  da  vigilância  exercida  sobre  el- 
les.  Pag.  119. 

«Os  oíliciaes  do  corpo  dos  engenheiros  inglezes  espalhados  isoladamente 
por  um  espaço  de  cento  e  cincoenta  milhas  quadradas,  e  alojados  nas  casas 
as  mais  commodas  para  seus  trabalhos,  foram  por  toda  a  parte  traetados  pe- 
los habitantes  com  tanta  polidez  como  benevolência.  As  classes  superiores 
mostraram  uma  egual  solicitude  em  admittil-os  na  intimidade  de  suas  famí- 
lias, o  que  deu  logar  a  ligações  de  amisade  tão  sinceras  como  desinteressadas 
entre  os  individues  das  duas  nações.  Com  eíTeito  ó  um  tributo  de  justiça,  que 


se  d0f»  pifir  «OB  liilriti&tat  poftopMUft  9^^ 

tranatat  ottnr  qoe  taiaie  dgmi»  idbmí  dirthe8et«Mtairtai^>eiioiM^ 

^jwr  pnldieci»  «nr  iviHRid»^  €tieB  qUibqs  m  flMtranoi  aMpgBmyOuMi 

iiid|MtriO(M8,  toceig  6  (Jwdkíit^  qoaospriMiR»  €tttBÍMOtj»- 

godos  palilieoa  mostnMEiía  Bwte  im^iiigBnda»  bom  aenao  opoiiWiiej^i|i»>í 

flenttniihie  e»  sitas  relitSes  domesticas,  iKmi»  fSMn8Q|,iBitfiiM^ao 

Biesmo  tampo  como  seohorei  e  eomo  iHuresles^  f^^ 

pioftmfla  sagrado  ioafca  <ft  axtaarito  6  gfloet^  de  ti^^ 

eieAitaiiâo,  SidmiiâeiíaiiKoaQ  parm  todos  «le  n*eDa  1^^ 

nr  qoe  apenas  moa  pbrase  iraga  ^egoa  a  esarevarse  soa  pipais  f^lBílmi^ 

nao  obstante  a  immsDsidade  das  obras,  os  franoeaaa  igneiifvn  a  aaamappi^ée 

dâqim«iwse;esta?ilef«iitaiido€ootraeUes,at6aafl^  as* 

eontraram  o  «xerdlo  Armado  em  batalha  pari  conter  seos  eslbi^ 

666)  JONXS  (J.  T.) 

1806  lo  l6i4»  (NéKkto  da^ooM  mi  Hespaid^ 

657)  JOBaB(D.)  Gommendador  de  Aliaga  en  dorden  de&Aâi^f 
D.  António  de  Uifea,  ò^ntanes  de  navio,  de  la  real  armada,  de  la  real  aoeia» 

dad  de  Londrec^  y  sodos  eorrespondientes  de  la  real  academia  de  las  acÉmrim 
deParis.  ^ 

K-^Diseriackm  kiHorka  y  gêogru^phka  sobre  d  meriUam  4$  i$mmnth 

cion  entre  tos  dominios  de  Espaiia  y  Portugal,  y  los  parages  por  donãe  passa 
en  la  America  Meridional,  conforme  a  los  tratados  y  derechos  de  ccida  estado, 
y  las  mas  seguras  y  modernas  observaciones  por — .  Madrid,  Í742.  Imprenta 
de  A.  Marin.  i76  pag. 

658)  JORNADA  y  muerte  de  el-rey  D.  Sebastian,  sacada  de  las  obras  de 
Franckis.  YalladoUd,  i603. 

659)  JOUFFROY  (Miss  db). 

E.—Consideration  sur  le  Portugal,  par  le  — .  Paris,  1833, 8.*> 

660)  JOURNAL  (f  un  ofpcier  {rançais  ou  service  de  D.  Miguel  Paris,  1834. 

661)  JOURNAL  of  a  few  month's  residence  in  Portugal  and  ^impses  of 
the  South  of  Spain.  London,  1847,  2  vol.  (Diário  da  residência  de  alguns  me- 
zes  em  Portagal.) 

662)  JOURNAL  of  a  regimental  officier  during  the  campaign  m  Spain 
and  Portugal  under  Lord  Wellington,  (Diário  de  um  ofiQcial  d*am  regimento 
durante  a  campanha  na  Hespanha  e  Portagal,  etc) 

663)  JOURNAL  (LE)  DES  SAVANTS  pour  Vannée  173o.  A  Paris. 
Chez  Haul>ert,  1735. 


JO  417 

E*  umacollecçào  do  noticias  e  juízos  críticos  dos  livros  pablicados  nos  dif- 
ferentes  paizes  do  globo.  Darei  noticia  d'alguns  artigos  escriptos  n*a!gans  vo- 
lumes d'este  jornal  para  se  ver  como  também  se  occapava  das  nossas  obras. 
Maio.  Juízo  critico  da  Historia  de  Portugal  por  mr.  de  la  Clede,  pag.  261. 
Continua  a  pag.  344. 

Agosto,  pag.  437.  Noticia  e  Juizo  critico  datraducção  dos  Lusiadas, ^or  Ur. 
da  Perron  de  Castera. 

«On  volt  assez  par  Textrait  que  nous  venons  de  donner  qu*il  n*y  a  rien  de 
nouveau  ni  de  regulier  dans  Tordenanco  de  ce  poeme;  c'est  en  general  le  ju- 
gement  qu*en  a  porte  Mr.  de  Voltaire,  et  nous  laissons  aux  lecteurs  de  decider 
de  la  justasse  des  recherches  et  de  la  solidíté  des  raisonnemens,  que  le  tradu- 
cteur  employe  por  IB  combattre.  Mais  la  beauté  des  details,  la  force  de  Tex* 
pression,  la  poesie  du  stile,  la  varieté  qu'íl  a  jetté  dans  ses  reeíts,  la  noblesse 
et  rélevation  de  ses  sentiments  feront  toujours  regarder  le  Camoens  comme 
un  grand  poete,  par  coux  môme  qui  sonl  persuades  qu*il  n*y  a  qu*un  interet 
national  qui  ait  pu  persuader  aux  portugais  que  la  Lusiade  est  superieure  aa 
Tasse,  et  a  tout  ce  qui  a  eté  fait  dans  ce  genre  depuis  Homère  et  Yirgile.» 
Pag.  442. 

1736.  Traz  um  juizo  critico  acerca  da  Historia  do  Japão  pelo  padre  Char- 
levoix,  e  aproveita-se  o  censor  d*esta  occasião  para  n*algumas  paginas  fallar 
de  nossos  descobrimentos  n'aquelle  remoto  paiz,  declarando  mui  positiva- 
mente ser  a  descoberta  do  Japão  devida  aos  nossos. 

1741.  Pag.  335.  Na  critica  da  obra  Description  du  Cap  de  Bonne  Esperance 
entram  os  portuguezcs  a  figurar  outra  vez. 

N^este  mesmo  volume  se  mencionam  as  obras  seguintes  que  foram  publi- 
cadas nas  Philosicophal  Transactions  ofLondon.  Observations  de  Veclypse  de  50- 
leil  de  iò  juillet  1730  à  Pékin,  et  des  immersions  et  emersions  des  satellites  de 
Júpiter  depuis  1729  jusqu*a  1730  par  les  pvres  Ignace  Kegler  et  André  Perei* 
ra,  communiqnées  par  Jacques  de  Castro  Sarmento.  Pag.  396.  Lettre  de  Mr. 
Jacob  de  Castro  Sarmento  a  Mr.  Cromwel  Martimer  sur  les  nouveaux  dia- 
mants  du  Brésil.  Pag.  698.  Immersion  et  emersion  des  satellites  de  JupiteTy 
observées  a  Pekin  depuis  le  móis  de  novembre  de  1730  par  les  péres  Ignacio 
Kegler  et  André  Pereira^  et  envoyêes  au  P,  Jean  Baptiste  Carbonne,  qui  les  a 
communiquêes  a  Jacob  de  Castro  Sarmento. 

1743.  Pag.  20.  Analysa  Histoire  du  detronement  d^Alphonse  VI  par  Ròbert 
Southey,  et  traduite  en  franrois  parVabbé  des  Fontaines.  Pag.  126.  Annuncia 
a  appariçào  em  Altorf  da  Maurologia  ou  historia  da  origem  e  guerras  dos  mou» 
ros  na  Hespanha  e  Portugal,  obra  dedicada  aos  manes  de  João  Segismundo 
Holtzschuher  de  Aspaclh  por  Henrique  Tobias  Bittenezo.  Pag.  127.  Analysa 
a  obra  intitulada  De  la  formal ion  du  théatre,  par  Louis  Riccoboni. 

Esto  auctor  pretende  que,  por  ter  sido  cómico  pelo  espaço  de  35  annos,  es- 
tava habilitado  para  poder  asseverar  conscienciosamente  que  o  thoatro  era  no- 
civo aos  bons  costumes.  Deseja  que  nVIle  se  opere  uma  grande  reforma,  até 
nas  peças  que  se  deviam  representar.  No  emlanto  algumas  podiam  apparecer 
em  scena  sem  cortes,  e  n*estas  inclue  a  nossa  tragedia  f  >.  Ignez  de  Castro. 

TOMO  I  27 


l 


418  JO 

171i.  Pag.  150.  Analysa  a  Historia  iloi  índias  Orienlaeg  por  Guyon;  e  por  ' 
esta  occasião  falia  amplamealc  ias  descobertas  parlugueuf.  Pag.  410.  Crílic» 
da  obra  Mêmoires  poUtitpies  cl  tUleraires  eoncemajU  le  Portugal,  ele-  par  U 
cbevalier  d'01iveyra.  Haya,  !748.  Tom.  1." 

1713.  Pag.  SOO.  Dã  nolicia  da  apparíção  da  obra  impressa  em  Roma; 
Jiaiphi  Carpani  e  Sodetaie  Jesu  Tragediae  sex  Luittaniof  el  Álgarbim  um  Re- 
gi Joanni  V  dicatae.  Estas  tragedias  eram  as  segaintes :  Jomitíkat,  Ãdomu, 
KvilmedúTach,  Sennacherib,  Sedecias  e  ilatbatias.  Pag.  S7S.  Analysa  a  obra 
Vila  et  Leltere  di  Américo  Vr^pueà  rocollt  e  illtutrate  da  Abbate  Angeh  Ma- 
ria BandinúFioieiuA,  I7US.  Xe&u  anatyse,  como  é  d»  suppor,  falia,  ae  larga< 
m^te  das  navegações  portuguezas. 

1746.  Pag.  48.  Critica  da  obr^  Relation  abregée  íun  voyage  fail  dant  fúi- 
terienr  de  VÃiaérique  meridionale  dejmis  la  cole  de  la  mer  du  Sud  jitsq'aux 
cotes  du  Brésit  et  de  la  Guiaime.  Par  ta  CundamijK.  Paris.  Pag.  l&t.  ciriLiu 
da  Biítoire  générale  dei  coyages.  Tomo  l.°  Paris.  È  assumpto  para  muilo  se  dia-  _ 
correr  a  respeito  dos  Dossos-  Logo  no  príacipio  ajuíza  de  Fernão  Lopes  diu 
Castanheda,  e  de  Paria  e  Sonsa,  como  historiadores.  "l 

Esta  critica  continua  depois  a  pag.  730:  ^ 

•Aos  ponugnezes  perleace  a  principal  gloria  da  descoberta  do  Novo  Hod- 
do.  Ainda  que  os  liespanhoes  teabam  descoberto  a  America  antes  dos  Portu- 
gueze$  terem  peneirado  até  ás  lodias  OrieDiaes,  é  certo  comlndo  que  foram 
estes  OK  primeiros  que  lentarani  a  navegação  do  oceano,  e  nni>  (riT.ini  n.si-er 
àsoulrasnatíeíd:iEúropa  o  (lesiijo  de  procurar  um  novotnn;.!  ..i"i-  li  i,  n.i  ;.,-:* 
estavam  Ião  longe  de  Tormar  este  projecto,  qae  não  somente  não  começaram  i 
oecnpar-se  d'elle  senão  ons  quarenta  annos  depois  de  seus  visinhos ;  mas  UÓ 
D'este  inlairallo  consideraram  as  emprezas  dos  portogneies  como  aveotons 
românticas  e  effdtos  de  ama  imaginação  exaltada.  Só  a  experiência  foi  capaz 
de  os  convencer  de  qne  os  ponngaezes  tinham  raciocinado  sensatamente  •  de 
qne  as  esperanças  com  qae  Colombo  lisonjeava  o  rtí  de  He^anha  não  eram 
diímericas.) 

1747.  Pag.  67.  Crítica  do  2.'  8  3.°  volomes  ii  Hitíoire  det  Vogages-Ki  qae 
estes  dois  primeiros  volomes  conteem  as  primeiras  viagens  dos  inglous  t  (iai> 
né  o  ás  índias  Orientaes;  mas  que  as  relações  d'ella3  não  são  tão  intereasaa- 
les  como  as  das  expedições  portuguezas  contidas  no  primeiro  ttxno,  etc,  ele. 
EsU  critica  segue  até  pag.  73.  De  pag.  2SB  a  296.  De  pag.  406  a  412.— 534 
a  S4I.  Pag.  745.  Noticia  da  apparigão  em  Lisboa  do  1.°  e  2.*  tomo  do  Corpiu 
niuítrmm  Poetaram  Latinorum  Portucalensiunt,  prometlendo  tUlar  maia  de 
e^>aço  a  respeito  d'este  trabalbo.  E'  a  primeira  vez  que  o  Joamai  de»  Sa- 
vauts  trata  das  obras  impressas  em  Portugal. 

1748.  Pag.  231.  Noticia  ter-se  estabelecido  em  Lisboa,  debaixo  da  protec- 
ção do  rei  de  Portugal,  a  Academia  dos  Occullos-  Pag.  334.  Continua  a  oilica 
da  Ilistoire  des  Yoyages.  Tomos  11.°  e  12.°  qne  tratam  das  viagens  dos  porto- 
guezcs  na  Africa. 

J749.  Pag.  23.  Critica  da  í^^íre  fí«5  Foi/ns».  Trata  das  vii^ens  dos  portn- 
gaezes  Alvarez  Semedo  e  Magalhães.  Pag.  102.  Critica  do  i.*  e  X'  lootot  do 


JU  419 

Corpus  illustríum  poetarum  lusitanorum.—tVor  mais  superficial  que  seja  a  no- 
ticia que  acabamos  de  dar  dos  dois  primeiros  volumes  d'esta  preciosa  col- 
lecçao,  lisonjeamo-nos  comtudo  de  ter  dito  bastante  para  fazer  conhecer  o  va- 
lor» e  para  persuadir  aquelles  que  possuem  alguns  trabalhos  próprios  para 
enriquecel-a,  a  darem  parte  ao  sábio  editor.  Seu  gosto  na  escolha  das  peças, 
e  sua  exactidão  em  nos  fazer  conhecer  seus  auctores^  devem  fazer  desejar  que 
esteja  brevemente  habilitado  para  cumprir  a  promessa  que  nos  faz  de  publi- 
car sem  demora  os  tomos  seguintes.» 

1750.  Pag.  21.  Continuação  da  critica  da  Histoire  des  Voyages.  Trata  da 
Pérsia  e  das  viagens  que  os  portuguezes  fizeram  a  este  paiz. 

1751.  Pag.  356.  Annuncia  que  vão  reimprimir  na  Haia  a  seguinte  obra: 
Joannis  Attamirani  et  Velasquez  Lusitani  Icti  et  in  Salamaticensi  Academia 
Júris  Pontifica  Primarii  antecessoris  in  priores  xui  libros  ex  xx  Quaest,  Q. 
Cervidii  Scaevolae  Commentarius.  Opus  postum,  Cervariae,  1739.  Pag.  563. 
Noticia  de  se  terem  publicado  em  Lisboa  varias  obras»  entre  as  quaes  Collec- 
ção  Jurídica  de  todas  as  allegaçdes,  Conquistas  na  índia  pelas  missões  apos' 
tolicas,  Politica  moral  e  civil,  etc.  Pag.  695.  Outra  lista  de  obras  editadas 
em  Lisboa.  Entre  outras :  A  verdadeira  Fé  triumphante  —  Arte  theoríca  pra- 
tica de  Confessores  —  Recreação  philosophica  —  Distracção  apologeticay  histo- 
ricaf  litúrgica — Chronicados  religiosos  Carmelitas — Diálogos  de  varia  his- 
toria, etc. 

D'aqui  por  diante  dá  este  jornal  regularmente  notícia  das  obras  que  se 
vão  publicando  em  Portugal.  Na  Bibliotheca  Publica  não  existe  uma  coUecção 
completa  d' esta  obra;  este  é  o  motivo  principal  por  que  ponho  ponto  a  este 
artigo,  aliás  daria  noticia  de  tudo  quanto  apparece  n*esta  amplíssima  coUec- 
ção relativo  a  Portugal. 

664)  JOURNAL  van  de  estindische  Reyse.  (Journal  du  voyage  atuc  Indes 
Orientales  par  Isbrandtz  Benteckoe.  Hoom,  1646.  4.°  com  estampas. 

665)  JOVENAZO  (Duqub)  CARAVAL  (Duque)  Marquez  de  Frontera  y 
Fray,  d.  MANUEL  PEREIRA.. 

E.— Autos  de  las  conferencias  de  los  commissarios  de  las  coronas  de  Castilla 
y  Portugal,  Em  italiano  e  hespanhol.  Vem  mencionada  esta  obra  no  catalogo 
manuscripto  da  livraria  do  conde  de  Lavradio. 

666)  JUMA  (D.  L.  O.  DE). 

E.—Tablettes  Chronologiques  et  historiques  des  róis  de  Portugal  jusqu'à 
Vannée  1716.  Haye,  1716.  8.° 

667)  JURE  (DE)  successionis  regias  in  regno  Lusitânia  e  seu  Portugalliae, 
deque  legitima  regis  Antonii  successione  brevis  enarratio,  ex  probatissimis  mo- 
numentis  auctoribusque  collecta,  et  ad  recice  rationis  simplicisque  verítatis  re* 
gulas  accuratissime  exacta.  Middelburgi.  Apud  R.  Schilders,  1591.  (Breve  nar- 
ração a  respeito  do  direito  de  successão  de  D.  António  ao  reino  da  Lusitânia 
ou  Portugal,  collegida  de  documentos  c  auctores  os  mais  acreditados,  etc.) 


•■,.-^> 


410  ro 

668)  JUSSZXSn  (AlITOINB  LA.TJRBNT  DS>«  XJm  d09  mais  «elelra 
botintoos  fraaeoEes. 

Nascea  em  Lyon  no  iimo  de  1748,  é  falleeea  em  i8tL^ 
Foi  ôntro  commentater  á  Flora  Cocft  tnetoitit  de  Joio  de  iMrekOt  piiMI- 
eando-^Note  sor  qadqaes  genres  de  la  Flon  ée  CocàimehiM  de  Lomt^ 
qoi  ODt  de  raffinité  avee  d'aatre8  genres  oonnos^^ExIste  esta  noia  no  jonial 
Amolei  â»  Musêum  ^BMnreNaiuraiê,tamiL%  1806»  pag.  74-76,  pag.  I8D. 
US,  pag.  S3I-236,  pag.  327-328.  Tomo  II*  pag.  ^7^  pag.  337*340. » 

669)  JUSTICE  (LA)  dê9  armes  portM§ai$es*poiÊir  iife^âre  la  Uberíi  éês 
etpoiftiots opprimii  par  ladommaiion  française  «I pour  aemter  la momarMà 
fEtpoffne  au  sérémssime  «I  tree  puiisaiU  prkiee  Outrlee  tU,  roí  cotftoUfiís. 
Haye,  1704.  Folheto. 

•  •  ■  ' 

670)  jnSTIFIOAT;OK  de  D.  Anhine,  rai  ée  Borfiifsl,  kmdumi  la§Êif^ 
re,  fiê*U  faicf  d  FhUàppe^  roi  deCasHUef  se$  siéietís  eí  aikerem  pm/t  min- 
remii  etí  sm  rifyamne.  Avee  tme  hiHoire  iommaire  de  Uml  ee-qÊi  êeít  paM 
d  e^lfo  MANtf  ^»eeastòf»  tuigiiM  «n  raii.1583.  L^de,  i585. 


*  FinniD  Didot.— iVottcc/íe  Bxogtaphie  UniverseUe^  tomo  17.«,  pag.  i7S. 
'  Sr.  BeroardiDO  António  Gomes.  Elogio  histórico  do  padre  João  do  Loureiro.  Nas 
Mem,daAcad.  R.  das  Scienc.  de  Lisboa^  pag.  25. 


K 


671)  KALLEY  (ROBERT.) 

E-^-Excursion  in  Madeira,  New  lork,  i845.  (Passeios  pela  Madeira). 

672)  KAYSERLma  (Dr.) 

E.—Romanische  poesien  du  Juden  in  Spanien:  ein  Beitrag  zur  LUeratur  wnd 
Geschichte  der  spanischen-portugiesischen  Juden.  Leipzig,  i859. 

673)  KEATINGE  (Colonel  MAUKICE). 

E.—Travels  in  Europe  and  Africa  comprising  a  Joumey  íhrough  France, 
Spain  and  Portugal  to  Morocco.  1816.  (Viagem  pela  Earopa  e  Africa,  com- 
prebendendo  Portagal.) 

674)  KERDU  (PIEKEIE  ItfARTE  LOUIS  DE  BOISGELIN  DE) 
E.—Hi8toire  des  revolutions  de  Portugal  par  Vabbé  Vertot,  continuêe  jus» 

qu*au  tempsprésent  enricfUe  de  notes  historiques  et  critiques  d*une  table  Msto* 
rique  et  chronologique  des  róis  de  Portugal,  et  d'une  desciiption  du  Brésil.  Lon- 
doD,  1809. 

675)  KERHALLET  (CHARLES  MARIE  PHTT«TPPE  DE). 
Nascea  na  Bretagne  no  anno  de  1809,  e  falleceu  em  1863.  ^ 
E.~L  Description  de  VArchipel  des  Açores.  Paris,  1851. 

<É  uma  descripção  hydrograpbica,  obra  especial,  preciosa  para  os  mari- 
nbeíros,  a  qual  se  pôde  considerar  como  um  exeellente  commentario  dos  tra- 
balbos  do  capitão  Vidal.»  ^ 

IL  Instructions  pour  entrer  et  naviguer  dans  le  fleuve  de  Cazamance  jus* 
qu'a  Vetablissement  portugais  de  Zinguinchor, 

IIL  Description  nautique  des  iles  de  Cap  Vert,  1858.  2.*  edição. 

^  Vivien  de  Saint  Martin— Ann^e  GeographiquCf  yo\.  2.*,  pag.  435. 
'  Morelet.— Le«  Açores^  pag.  14. 


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422  Kl 

676)  KINGKSTON  (WILLIAM  H.  Q.  ESQ.)  Aothor  of  the  Circasdam 
ckieft  the  Prime  Mitdster,  etc. 

Eí—Lusitanian  sketches  of  the  pen  and  pendi.  London,  1845. 8.«  (Esboços 
de  Portugal  à  penna  e  a  lapí^).  Tem  um  grande  nomero  de  estampas. 

'^:  íj!^  ^77)  KINSEY.  The  Rev.  W.  M.  B.  D.  Fellow  of  Trinity  College,  Oxford, 

'  '^-  'j^:  and  chaplain  to  the  ríght  Hon.  Lord  Aackland. 

E.— Portugal  illustrated  by—.  Second  ediUon.  ^.;  566  pag.  com  grande 
numero  de  estampas.  E'  uma  das  obras  mais  notáveis  eseriptas  por  estrangei- 
ros relativamente  a  Portugal 

«As  alturas  ao  sul  coroadas  com  baterias,  logarejos  e  vinhas»  descendo  por 
^  saas  encostas  ató  o  lume  d*agua;  os  numerosos  barcos  de  pesca  o  de  recrdo 

cortando  o  rio  em  variadas  direcções;  a  fileira  comprida  e  não  interrompida 
de  palácios,  conventos  e  prédios  correndo  ao  longo  da  praia  desde  Belém  ató 
Lisboa,  debaixo  da  elevada  serra,  em  cujo  pincaro  está  erguido  o  palácio  da 
Ajuda,  esplendida  residência  dos  soberanos  pcHtugoezes;  e  flnalmeote  t  mes- 
ma bella  cidade  com  os  seus  zimbórios,  torres  b  magniflcoe  edifioioe  estendi- 
dos sobre  muitos  montes:  e,  mais  do  que  tudo,  por  cima  a  deslumbrante  abo- 
'  bada  celeste  azulada,  formam  uma  combinação  de  objectos,  cajo  commovente 
intWBse  mal  pôde  ser  representado  a  uma  imaginação  do  Norte.»  Pag.  IS, 
«A  nação  piprtugueza  tom  desempenhado  um  papel  proeminente  e  diatindo 
no  gyro  dos  acontecimentos  humanos;  e  não  pode  a  historia  humana  apre- 
sentar em  seus  annaes  uma  potencia  que  mais  dignamente  tenha  sustentado 
seu  posto  entre  as  nações  do  mundo  pelo  desenvolvimento  de  forças  moraes 
e  intellectuaos;  pelo  arrojo  do  suas  empresas,  por  suas  gloriosas  conquistas; 
pela  sabedoria  nos  concelhos,  por  noçues  justas  do  governo  constitucional.« 
Pag.  14. 

Se  o  auctor  nos  tece  grandns  elogios,  nao  são  menores  as  censuras  que 
nos  faz  pelo  estado  do  ímmundície  em  que  a  cidade  se  achava.  Tanto  os  elo- 
gios como  as  censuras  eram  bem  merecidas,  o  ainda  hoje  as  merecemos,  se 
bom  que  Lisboa  tem  melhorado  bastante  desde  o  tempo  em  que  Kinsey  escre* 
via  as  suas  cartas  em  1827. 

«A  orchestra  da  opera  de  Lisboa  c  uma  das  mais  completas  na  Europa,  e 
na  verdade  o  scenario,  decorações  e  vestuários  estão  perreitamente  a  par  d*a- 
quelies  que  so  podem  ver  cm  qualquer  Iheatro  europeu.»  Pag.  66. 

«As  modinhas  portuguczas  sào  peregrinamente  bellas  e  simples,  não  só 
emquanto  ás  palavras,  mas  até  peia  composição  da  musica.  São  geralmente 
expressão  de  algum  sentimento  amoroso,  terno  ou  melancólico,  de  desespero 
ou  esperança,  o  seu  eíTeilo  é  tal  que,  qiiando  bem  acompanhadas  pela  voz  á 
guitarra,  chegam  a  arrancar  lagrimas  dos  ouvintes,  apesar  de  acostumados  á 
sua  frequento  repetição.» 

Termina  esta  obra  com  uma  historia  da  litteratura  portugueza,  composta 
por  James  Warre,  na  qual  se  fazem  principalmímle  os  mais  pomposos  elogios 
ao  nosso  abbade  Corrêa  da  Serra.  EíTectivamcnte  este  nosso  escriptor  tornoo- 
se  bem  conhecido  pelos  seus  cscriptos  cm  todo  o  mundo  illustrado.  Refogian- 


KO  4Í3 

do-se  na  França,  foi  am  dos  collaboradores  da  obra  The  Utterary  Archives 
of  Europe,  e  o  Instituto  de  França  nomeou-o  sócio. 

ESTAMPAS  S  VINBRTAS 

!.■  Vista  da  Universidade  de  Coimbra— 2.*  Sello  do  mosteiro  de  Tibães  — 
3.*  Barcos  que  navegam  no  Douro--4.*  Mappa  de  Portngal,  gravado  por  Âr- 
rowsmith— 5.*  Torre  de  Belém— 6.*  Alturas  do  cabo  da  Rocca— 7.*  Candeeiros 
de  que  se  faz  uso  ao  Norte  de  Portugal— 8.*  Collecçao  de  modinhas  portugue- 
zas  acompanhadas  da  musica  e  da  traducção  ingleza  e  franceza— 9.*  Uma  se- 
ge subindo  uma  ladeira— 10.*  Sitio  em  que  foi  encontrada  N.  S.  da  Conceição 
da  Rocha— il.»  Cintra— 12.*  Palácio  de  D.  Manuel  em  Cintra— 13.*  O  convento 
de  cortiça  em  Cintra— 14.*  Um  burro  e  um  burriqueiro— 15/  Duas  estampas 
representando  as  moedas  portuguezas— 16.*  Um  corcunda  ou  absolutista— 17.* 
Vista  do  Douro,  perto  do  Porto— 18.*  Vários  votos  suspensos  nas  egrejas  de 
Portugal— 19.*  Uma  estalagem  portugueza— 20.*  Vista  do  Porto  e  Villa  Nova 
de  Gaia,  tirada  do  convento  da  Serra— 21.*  Barco  de  vinho  e  de  passagem  no 
Douro— 22.*  Aloés  em  flor  e  a  arvore  de  murta  com  uma  videira  entrelaçada 
— 23.*  Maneiras  de  viajar  em  Portugal— 24.*  Altar  no  caminho  para  receber 
esmolas  para  as  almas  do  Purgatório— Dois  frades  vistos  em  Tuy,  na  Hespa- 
nha— 26.*  Valença  vista  do  Rio  Minho— 27.*  Uma  scena  de  noite  em  Ponte  de 
Lima— 28.*  Passagem  da  serra  da  Bruga  em  liteira-  29.*  Um  camponez  e  sua 
família  nas  províncias  de  Douro  e  Minho— 30*  Aloés  americ^o— 31.*  Vista 
do  Douro,  tirada  do  Peso  da  Regoa— 32.*  Camponez  tocando  guitarra— 33.* 
Vista  do  Douro  por  debaixo  do  convento  da  Serra  do  Pilar— 34.*  Barco  aliado 
por  bois  n*um  ponto— 35.*  Retrato  de  D.  Ignez  de  Castro— 36.*  Chafariz  por- 
tuguez— 37.*  Vista  de  Lima— 38.*  Vista  do  mosteiro  da  Batalha— 39.*  Arco  da 
entrada  occidental  da  capella  velha  em  Leiria— 40.*  Vista  de  Alhandra— 41.* 
Cruz  e  disciplina  dos  Franciscanos— 42.*  Vista  de  Lisboa— 43.*  Cromleh  perto 
de  Arrayolos— 44.*  Torre  de  S.  Julião  da  Barra— 45.*  Retrato  de  Luiz  de  Ca- 
mões—46.*  O  paquete  Sandwich  ancorado  no  porto  de  Falmouth.— Nove  es- 
tampas coloridas  representando  vários  trajos  portuguezes  terminam  este  vol. 

678)  KLOaUEN  (Rkv.  DENIS  L.  OOTTINEAU  DE). 

E.—An  historical  sketch  of  Goa^  the  Metropolis  of  Portuguese  settlemenís 
in  Índia.  Madras,  1831.  (Bosquejo  histórico  etc.) 
Em  Goa  fez-se  uma  versão  portuguesa  d'este  livro. 

679)  KNT  (A.  L.) 

E. — CofUribution  to  an  historical  sketch  of  the  Roman  Caíliolic  Church  at 
Maeao,  and  the  domestic  and  foreign  relations  of  Macao,  hy,  -^Canton  (Chi- 
na), 1834.  (Auxilio  para  um  esboço  histórico  da  egreja  catholica  romana  de 
Macau.) 

680)  KOOK  (PAUL  DE).  Um  dos  mais  celebres  romancistas  francezes 
contemporâneos.  Nasceu  em  Passy,  perto  de  Paris,  em  1794. 

E.— L^  troubadour  portugaiSf  melodrama.  Paris,  1815. 


414  ■  .^I  .  , 

681}  KOBT  SNDX  WAXBA  OBXíaB.  TXRBABL  vemmfen  tu- 
aOie  OMT  vertcheyâen  vondí  GnotiU  «mb  ffeçtulificeerUte  Bèerem  wm  Ptr- 
•  tvgal  gedean,  van  wegen  hare  b^/ane  cerraderú  tegtnt  dm  Gimmg  |mb  Ar- 
tvgal,  wdcke  aíU  siyn  tet  ímM  gebrockt  tom  Litiiim  cf  dm  19  antttuti  1641. 
Jn'j  Gravm  Haye.  By  ÍJidoiph  Breeckevat.  Aniw  1641. 7  pag.  (IL  S.) 

682)  KÓBTE  OBSEBTATISN  op  ha  Vtrtoi^  daor  ou  ONgmuHwlM 
Htlt  gegeven,  aaide  Bo:  Mo:  Hearen  StofM  Çenacatí  der,  Verem^tde  íitiêt- 
tondm.  JVópm^  de  wsor  gaende  eiiSe  iegm««ordif«  Pro6«diirm  vau  SjrtuiL 
/«  geitdt  door  tm  Luf-hd)bêr  det  VaderlaHti  fAmtirdam.  Amu  1647.  , 

683}  ErrriiER  (BOB£BTO}.-'Liyreirá  enUamborgo,  e  edil^  de  ua 
^ttaia  namero  de  obru  porUigiiazas,^qjQ  eamúço  ififitmi  no  flf^Jf|^.pie^ 

(S81)  K03TETI  (HEOTU). 

E.—Voyagi^s  dans  la  paríie  septenlrionale  du  BrésU,  dnpuu  lS09;iuq'n 

1813,  compretiant  les  procinctn  de  Pernumbuco  fFemambovc)  Srara,  Parai- 

ba,  ASaragnati,  ele.  par  —.  Tradaits  de  rnnglais  par  M.  A-  Jay.  OrrU»  dt  hnit 

flanchet  aAorUes  et  de  deux  caries.  ParU.  Ctiez  Dulaunny,  IS18.  2  vol.  8.'  gr.) 

-  D  !.■  de  XLViii— 37G  pag.,  o  3.°  de  Stâ  pag. 

O  auclor  gaba-se  de  que  a  liogua  porluguuit  ainda  lhe  é  mais  faoiil 
que  a  da  sua  pátria. 

eSa)  KUNSTHA,NN  (FEIEDERIOO). 

E.~Bistoria  da  ordem  de  Chrislo,  tirada  de  documentos  da  Torre  do  Toa^ 
Nada  mais  posso  dizer  a  respeito  d'eiita  obra,  que  oão  puda  ver,  e  a  noti- 
cia devo-a  ã  pag.  13  do  1.°  vol.  das  Memorias  da  Academia  Real  das  SeieMiat, 
nova  serie.  (Discurso  lido  em  U  de  Julbo  de  ISoi  pelo  secretario  loaqaím  José 
da  Cosia  de  Macedo.)  Parece  porém  que  a  obra  é  eacripla  em  allemão. 

686)  EUTZE   WAREAFFTIGE   REIATION  wid  BeschreUnatç  der 

wundcrbarlsen  vier  Sckijfahrten  so  jemals  verricli  wonden  oíj  nehmiich,  efe. 
(Breve  e  verdadeira  descripção  das  quatro  viagens  mais  eitraordiaarias  qus 
jamais  se  Qieram,  a  saber :  De  Fernão  de  Magalhães,  portuguei,  com  Sebaa- 
tian  dei  Cano.— De  Francis  Drake,  ingiez.~De  Thomaz  Candísb,  ínglec— De 
Olivier  de  Noorl,  balia ndez.— Todos  os  quaes  andaram  ã  Eoda  do  mundo.  Nuni- 
berg,  1003.  4."— T.  Compaos. 


<Í^^ 


L 


687)  LABAT  (JEAN  BAPTISTE).—Des  Freres-Precheurs. --Missioná- 
rio francez.  Nascea  no  anno  de  1663,  e  falleceu  no  de  i738.  ^ 

E.—Nouvelle  relation  de  V Afrique  Occidentale  corUenant  une  description 
exacte  du  Senegal  et  des  pays  situes  entre  le  Cap  Blanc  et  la  Rivière  de  Ser- 
re lionnejusq'à  plus  de  300  Iteues  en  avant  dans  les  terres,  Lhistoire  naíurelle 
de  ce  pays,  les  differentes  nations  qui  y  sont  repandues,  leurs  religions  et  leurs 
mceurs,  Avec  Vétat  ancien  et  present  des  compagnies  qui  y  font  le  commerce. 
Ouvrage  enrichi  de  cartes,  de  plans  et  des  figures  en  taille  douce.  A  Paris.  Chez 
Guillaume  Cavellier,  1728.  8.%  5  vol. 

O  aactor  diz  que  nunca  foi  á  Africa,  mas  que  fez  o  seu  trabalho  servindo- 
se  de  Memorias  escriptas  por  pessoas  sabias,  esclarecidas,  e  de  uma  probida- 
de reconhecida.  Termina  o  S.*"  volume  com  as  observações  de  mr.  Brue  a  res- 
peito de  Portugal  (de  pag.  259  a  370).  Diz  o  auctor  que  se  encontram  em  Lis- 
boa larangeiras  superiores  a  tudo  quanto  se  pôde  imaginar  de  bello.  Trata  em 
seguida  das  arvores  e  flores  de  Portugal.  «Emquanto  áquellas,  que  nenhum 
arbusto  se  pode  ver  mais  bello  do  que  um  chamado  crista  de  gallo,  proveniente 
da  índia,  e  que  a  flor  mais  rara,  a  qual  alguns  julgam  a  mais  bella  da  Euro- 
pa, é  a  floi*  do  arcebispo,  proveniente  do  Cabo  da  Boa  Esperança.  Encontroa 
também  cebulas  e  alhos  brancos  de  uma  grossura  prodigiosa,  muito  bons  para 
comer  e  deitar  na  salada.» 

II.  Relation  historique  de  VEthiopie  Occidentale ;  contenant  la  description 
des  royaumes  de  Congo,  Angolle,  et  Matamba,  traduite  de  Vitalien  du  P.  Gavaz- 
zi,  et  augmentée  de  plusieurs  Relations  portugaises  des  meilleurs  auteurs  avec 
les  notes{  des  cartes  geographiques  et  un  grand  nombre  de  figures  en  taille-doU' 
ce.  Par  — .  A  Paris.  Chez  Jean  Baptiste  Dele^pine,  1732. 5  vol.  8.*» 

O  referido  padre  Cavazzi  partiu  para  a  sua  missão  em  9  de  fevereiro  de 
1654,  e  chegou  ao  Gongo  no  mesmo  anno.  Gomo  é  de  suppor,  n'esta  obra  qoasi 
que  nào  ha  pagina  que  nào  falle  dos  portuguezes.  Trata  dos  usos  e  costumes 

<  Fírmin  Didot  ^  Nouvellc  Biographic  UniverselU,  vol.  SS.**,  pag.  332. 


I  ' 


416  ,  LA 

d^aqnenes  poYos,  das  missões»  e  da  h&(oria  da  eeMbre  raioliá  Zligha,  a  na- 
pa^  da  qual  apresenta  duas  estampas,  uma  representaBdo  a  andioiítía  qo» 
lhe  deu  o  governador  de  Angola,  e  a  outra  o  sen  baptismo.  Termina  esla  obra 
ôom  a  rela^  de  ama  viagem  nova  e  cm*iosa  dos  padres  Midiel  Ange  o  De- 
ny  de  Garlís,  çapachinhos  missionários  apostoUeos  ao  r^no  do  Ckmgo. 

m.  Voyage  du  chevcUier  De$  Marchais  en  Guméê,  Bes  voismes  et  à  Caifm* 
w,  faU  en  1725, 17S6|  0t  1727.  ConUnaní  tme  deienptUm  írê$  eaoaeUfM  Ère$ 
Umèae  de  cepays  et  du  commeree  91M  8'y  faU.Enròài  d^ungrmdmmknde 
caries  et  figures  en  taiUe»dauce,  Par-^.  A  Paris.  Cbea  Charles  Osmood,  1730. 
&«4voL 

V  O  anctor  diz  qoe  para  descrever  estes  paiies  tinha  ezcelleDtes  obras  eaeri- 
pias  por  portogaezes  efranéeses^mas  qne  preferia  arela^  de Des  Karehais^ 
por  cansa  do  profundo  conhecimento  que  tinha  d'aqaettes  paiies. 

688)  LABORDE  (ALEXANDRE  DE). 
K^-^Vm^dè  h  justice  et  de  fkumaniU  m  pmm^A 
ibVvPor-:.  Paris,  1832.  9.''  *    >^^. 


.o"*  ■ , 


r 


68d)  LAO  (H.  FOtlRMIEiR  DCf). 
,,    E*-^Lettreá  M.  le  Vioomlíe  dêSamtarempmèmireé^ 
ínf  dê  Pinmeesur  le  sceau  de  IHfm$  U  Ub^,  rei  de  Porát(i^.,S£k^  ^  te 

690)  LAGOMBE. 

Pela  leitura  da  Historia  de  Portugal  por  Alphonse  Rabe  vé-se  que  escre- 
veu a  respeito  do  nosso  Affonso  YI. 

69i)  LAGORDAIRE  (JEAN  THEÓDORE). 

E.—Douville  au  Congo.  Na  Revue  des  deuxs  mondes.  Paris,  i832. 

692)  LAET  (JEAN).— Geographo  belga.  Era  director  da  Companhia  das 
índias. 

E.  l.—Portugalli(B  sive  de  regis  PortugallicB  regnis  et  opibus.  Leyde,  i641. 
Ib.  i644. 

II.  Historia  naturalis  Brasilice,  in  qua  G.  Pisonis  de  Mededna  Brasitíend 
et  Oy  Maregravii  Htstorice  Rerum  Naturalium  BrasilicB  cum  annotationibus. 
Leyde,  1648.  Foi. 

693)  LAFITAU  (JOSEPH  FRANÇOIS).  Missionário  francez. 
Nasceu  no  anno  de  1670;  falleceu  na  mesma  cidade  em  1740.  ^ 
E'—Histoire  des  descouvertes  et  conquetes  des  portugais  dans  le  nouveau 

monde,  avec  des  figures  en  íaille  douce  par—,  de  la  compagnie  de  Jesus.  Pa- 

*  F.  Hiáoi.-^Biographie  Univer&eUe,  vol.  28A  pag.  747. 


LA  427 

lis,  i733,  2  vol.,  4.»  Paris,  1734,  4  vol.,  8.<»  Esta  Historia  da  índia  Portugueza 
finda  no  anno  de  1581,  e  é  ornada  com  estampas. 

Tomo  I.— 1.*  Vista  da  cidade  de  Lisboa— 2.*  Mappa  das  descoberta  dos 
portuguezes— 3.*  Retrato  do  infanie  D.  Henrique — 4.*  Recepção  dos  portague- 
zes  na  corte  do  Congo— 5.*  Vista  das  cidades  de  Cochin  e  de  Cananor— -e.»  Vista 
de  Moçambique  o  de  Sofala. 

Tomo  II.— Vista  da  ilha  e  cidade  de  Goa— 2.*  Vistas  de  Adén,  Mambaça, 
Quiloa  e  S.  Jorge  da  Mina— 3.*  Retrato  de  Âffonso  de  Albuquerque  e  vista  da 

cidade  de  Ormuz. 

Tomo  III.— 1.*  Retrato  de  Vasco  da  Gama  e  vista  da  cidade  de  Galecot— 
—2.*  Retrato  de  Nuno  da  Cunha,  fortaleza  de  Diu,  e  morte  do  sultão  Badnr. 

Tomo  IV.— Differentes  espécies  de  embarcações  usadas  nos  mares  das  ín- 
dias—2.*'  Retrato  de  D.  João  de  Castro,  e  vista  da  cidade  de  Malaca— 3.«  Re- 
trato de  D.  Constantino  de  Bragança,  e  vista  da  cidade  de  Damão— 4.<>  Vista 
das  cidades  de  Chaul  e  de  Baçaim— Retrato  de  D.  Luiz  de  Athayde,  e  vista 
das  cidade  de  Mangalor,  Onor  e  Bracalor. 

«Sem  pretendermos  diminuir  em  nada  a  gloria  que  os  hespanhoes  adqui- 
riram, se  suas  conquistas  sobresahem  em  se  fazerem  ler  comprazer  por  causa 
da  unidade  de  acção,  é  mister  também  considerar  que  ficam  muito  inferio- 
res, quando  se  comparam  conquistas  a  conquistas,  reinos  a  reinos,  nações  a 
nações.  Os  mexicanos  e  peruvianos,  apesar  de  formarem  estados  policiados, 
ricos  e  florescentes,  eram  todavia  bárbaros,  que  se  não  sabiam  melhor  defen- 
der, do  que  os  outros  povos  selvagens  da  America,  nem  menos  fáceis  para 
vencer  do  que  os  negros  africanos.  Pelo  contrario  os  povos  das  índias  Orien- 
taes,  apesar  de  muito  maus  soldados  por  si  mesmos,  tinham  comtudo  maiores 
soccorros,  por  isso  que  entre  elles  estavam  em  uso  as  armas  de  fogo,  e  pos- 
suíam um  numero  considerável  de  tropas  auxiliares,  formadas  de  christãos 
renegados|e  musulmanos,  que  tinham  antes  feito  rosto  às  tropas  de  todos  os  po- 
tentados da  Europa,  aos  quaes  fizeram  ficar  mal  varias  vezes  na  Ásia  em  tem- 
po das  cruzadas.  Mas,  se  apesar  d'isto  se  teimar  no  despreso  que  se  concebeu 
contra  os  reis  e  povos  do  Indostão,  não  se  poderá  comtudo  recusar  ás  armas 
portuguezas  o  louvor  que  lhes  é  devido  quando  reflectirmos  que  o  Sophi  Is- 
mael, conquistador  da  Pérsia,  e  os  reis  Mogoes  preferiram  procurar  sua  allian- 
ça,  antes  que  declarar-lhes  guerra,  o  queoscaliphas  doEgypto,  e  dois  sultões 
tão  poderosos  como  eram  Selim  e  Soiimão,  imperadores  dos  turcos,  que  tenta- 
ram empecer-lhes  suas  conquistas,  com  a  vergonha  das  derrotas  c  inutilidade 
dos  esforços,  nada  mais  conseguiram  do  que  realísar  a  gloria  dos  portuguezes.» 

ff 

694)  LAFUENTE  (D.  MODESTO  DE).— Historiador  hespanhol  moder- 
no e  notável. 

Mandou  publicar  no  4.o  vol  ume  da  Revista  Popular  algumas  passagens 
do  4.''  volume  da  sua  Historia  de  Hesp  anha,  n  'aquelle  tempo  ainda  inédito. 

695)  LALLEKAND. 

E.—JUurphy  (/.)  Voyage  en  Port  ugal  à  travers  les  provinces  de  Entre  Dou 


m         '  ^ 

M  M  JBNto,  dê  Beira,  ii  SMnmaáma  H  iAlemteio  ám  1m  amk»  Í78M0- 
ftadHUderanglaUpar—.VKiitim.Fdi. 

696)  LãKAREE  (JEAN  BAFTISTS  BZFPaUT». 
E.— I.  Mnrion  df  Ia  dr/inus  tk  Ia  pía« dí  iBod^^  M  ISiS por  tafrmi- 
jwj  fraa^aiscs  coiitre  l'amie  mtglo-port»gai$e.  Bqraiue,  Ittl. 

U.  Aílaíion  (ím  súípi  tí  i^uet dê Badtvoí,  iaevmetaéeCamfaMaior 
^■m  1811 «/ 1819  par  la  tnt9n  ftançaiiêê  mr  Ut  orént  Ai  êued»  flaiwaiw. 
Paris.  1823. 

«97)  ZiAJCABTIiaB  (AlfHONSX  PB&T  DX).  Dm  dM  poetas  fruee- 
-SCB  iiuds  notaTd»  de  nosaos  teiDpos.  Ifueea  a  SI  de  ootabn  Ã  iTVl  t 
'  "  SBcnrea  esta  odfe  em  lonror  do  nos»  ftincisèa  Kinoel  do  Nudnieoto^ 
Ml  mesfre  de  portngnei :  ■ 

LA  QLOIHB—A  UNPOEIE  EXIL& 
Gte^wx  broris  des  fllles  de  Ménoire. 
Deoz  sentian  difl^renta  demtt  toiu  ront  s'oafrÍr:  - 
L',im  eondolt  aa  bonbenr,  raolre  rnéne  á  la  i^oin;; 

Mortelii  11  txoí,  dKdair. 
Ton  sort,  ó  Uanoell  sniirit  la  k»  oonunimef 
La  Hiua  CeoiTra  de  jvteaeas  laTenn, 
Tea  Jonn  fbrent  tiniis  de  glDlre  et  dIoEDrume, 
El  to  verses  des  plenrs  I 

RoDgIs  plmôl,  roagis  d'eavier  aa  valgaire 
Le  stérile  repôs  doDt  sou  twat  est  jaloux 
Les  dianz  oot  Tail  ponr  lai  tous  los  biens  de  la  terre, 

Hais  Ia  lyre  est  á  nous. 
Les  siãcles  soDt  á  ui,  le  monde  est  ta  palrie. 
Qoand  noas  oe  aommes  plus,  natre  ombre  a  dss  antels 
Oú  le  jaste  aveoir  prepare  à  ton  génie 

Des  honneurs  imnionels. 
Ainsi  Taigle,  superbe  an  séjour  da  toonerre 
S'enlace,  et  souteaant  sod  vol  andacieux, 
Semble  dire  aaz  monels;  Je  sais  né  de  la  terre, 

Uais  je  vis  dana  les  cienx. 
Oai,  la  gloire  fatteod,  mais  arrete,  et  cootemple 
A  quel  prix  on  pénèire  eo  ces  parvis  sacrés, 
Vois :  riarortaae,  assise  à  la  porte  du  temple, 
Eo  garde  les  degrés. 
t  DiiAvmaiTe  At  la  concerraiipn  et  de  la  teciure,  toI.  13.*,  pag.  71. 
'  II  gagnait  pMbletnent  l«  paln  de  ses  víeuv  joart  en  cnseigDSDt  sa  lufuc.  It 
m'eDEeieiiai(  U  poriuguais  et  in'appreiiait  i  adiuirerCamoens.i  L»uiKtiat,PremièrttMi- 
iUaíwns  Pottiqiítt,  vol.  1.',  pag.  l!li. 


LA 

Ici  c'est  an  vieillard  que  Tingrate  lonle 
A  va  de  mers  en  mers  promener  ses  malheurs : 
Aveugle,  il  mendiait  aa  prix  de  son  génie 
Un  pain  mouillé  de  plears. 

Là  le  Taise,  brúlé  d'one  flamme  fatale, 
Expíant  dans  les  fers  sa  gloire  et  son  amoor, 
Quand  il  va  recaeillir  la  palme  triomphale, 
Descend  aa  noir  sèjoar. 

Partont  des  malheareax,  des  proscrits,  des  victimes» 
Luttaot  contre  le  sort  ou  contre  les  boorreaax : 
On  dirait  que  le  ciei  aax  coours  pias  magnânimes 
Mesare  pias  de  maax. 

Impose  doQC  silence  aax  plaintes  de  Ia  lyre : 
Des  coears  nés  sans  verta  Tinfortane  est  Técaeil; 
Mais  toi,  roi  détrôné,  qae  ton  malhear  t'inspire 
Un  généreax  orgaeil ! 

Qae  fimporte,  après  toat,  qae  cet  ordre  barbare 
T'enchaine  loin  des  bords  qai  farent  ton  berceaa? 
Que  fimporte  en  qaeis  lieax  le  destin  te  prepare 
Un  glorieax  tombeaa. 

Ni  Texil,  ni  les  fers  de  ces  tyrans  da  Tage 
N'encbaineront  ta  gloire  aax  bords  oil  ta  moarras : 
Lisbonne  la  reclame,  et  voila  Theritage 
Qae  ta  laisseras. 

Geax  qai  Tont  méconna  pleareront  le  grand  bomme : 
Athène  à  des  proscrits  onvre  son  Panthéon; 
Gorolian  expire»  et  les  enfants  de  Home 
Revendiqaent  son  nom. 

Aax  visages  des  morts  avant  qae  de  descendre, 
Ovide  leve  aa  ciei  ses  sappliantes  mains : 
Aax  Sarmates  grossiers  il  a  legaé  sa  cendre, 
Et  sa  gloire  aax  Romains. 

Esta  ode  foi  tradnzida  do  segainte  modo  pela  nossa  marqaeza  d'Aloma 

Generosos  validos  das  Camenas, 
Dois  caminhos  diversos  se  vos  abrem : 
Um  condaz  à  ventara,  est'oatro  à  gloria; 
Mortaes,  a  escolha  importa, 

Segaia  a  lei  commam  o  tea  destino : 
Com  premataros  dons  fartoa-te  a  If asa; 
D*infortanios  e  gloria  encheste  os  dias; 
£  ta  choras,  Filinto  ( 


429 


LA 

Teme  in\Tjar  ao  valgo  essa  ocío  estéril 
Que  sialio  zela,  nolre,  e  que  idolatrai 
Os  Deosea  dão-lhe  os  bens  lodos  da  (erra. 

Poriam  a  IjTa  ã  nossa. 

Os  séculos  são  teus,  tua  palría  ó  o  mundo: 
Se  acabamos,  tem  nossa  sombra  altares, 
Oade  o  Porvir  prepara  ao  teu  íngenho 

Justas,  iiutnortaes  hom-aa. 

Ao  sitio  dos  trovões  águia  suberba 
Assim  sobe  e  sustenta  o  voo  excelso; 
E  parece  que  diz:  Nasci  na  terra, 
Mas  nos  ceos  é  que  vivo; 

Sim,  a  gloria  fespera:  olba,  e  contempla 
A  que  pre^  taos  lares  se  peneiram: 
Ao  poriico  do  templo  está  sentado 
Vigilante  o  loTortunio. 

D'alli  vi.'3  o  Ancião  que  na  Crucia  ingrata 

Vi  o  Iruisrerír  de  mar  em  mar  ei!.us  males: 
Cego,  mendiga  a  pre^o  do  seu  estro 
Pâo  ensopado  em  prauto. 

Aeolã  Tasso,  ardendo  em  ratai  fogo, 
Em  ferros  espiava  amw  e  gloria: 
E  quando  ia  a  colher  triumphal  palma, 
Deeceo  ao  negro  abysmo. 

Por  toda  a  parte  victímas,  proseriploa, 
Lntando  contra  a  Sorte,  ou  contra  algozes; 
Creio  que  o  Ceo  destina  a  peitos  nobres 
Haior  porção  de  magoas. 

ImpSe  silencio  aos  ais  da  tua  lyra: 
Corações  sem  virtude  é  qoe  esmorecem: 
Rei  destbronado  t  inspire-te  a  desgraça 
Gloriosa  soberba. 

E  que  t'Ímporta,  emflm,  qae  te  agrilhoe 
Longe  das  praias  de  leu  berço,  a  força? 
Em  que  logar  teu  fado  te  prepara 
Tumulo  glorioso? 

Dos  Tágides  cruéis,  exilios,  ferros 
Não  te  encarceram  fama;  onde  morreres 
Lisboa  te  reclama;  essa  é  a  herança 
Que  opoíento  Ibe  deixas. 


LA  431 

Lacto  profundo,  lagrimas  sem  conto 
Ha  de  custar  à  pátria  o  homem  grande, 
O  Luso  Gysne  que  expulsou  raivosa 
Para  distantes  plagas 

Chorará  quem  tua  alma  desconhece: 
A  proscriptos  o  Pantheon  abre  Athenas; 
Expira  Goriolào;  de  Roma  os  Glhos 
Revindicam  seu  nome. 

Sobre  as  margens  da  morte  antes  que  desça, 
Ovidio  aos  Geos  levanta  as  mãos  devoto: 
Aos  Sármatas  grosseiros  lega  a  cinza, 
Sua  gloria  aos  Romanos. 

698)  LAMBERTINI  (JEAN  BAPTISTE).— Viajante  e  historiador  hol- 
landez.  Nasceu  em  Anvers  no  anno  de  1570  e  falleceu  no  de  1650.  ^ 

E,—Theatrwn  Regium  siveRegum  Eispaniae^  Âragoniae,  Navarrae  et  Por- 
tugalliae,  series  et  compendiosa  narratio,  Bruxelles,  1628.  (Theatro  régio  ou 
historia  abbrevhida  dos  reis  de  Hespanha,  Aragão,  Navarra  e  Portugal). 

699)  LA  MORT  GLOHIEUSE  DE  SOIXANTE  ET  UN  CHRÉ- 
TIENS  de  Macao,  decapites  à  Nangasaqui  au  Japon  en  1640.  Rouen,  1643. 
Lille,  mesmo  anno. 

700)  LAMOTHE  (GUERIN  DE). 

E.—Charte  Chorographique  des  envòrans  de  Usbonne  d*aprês  les  opérations 
trigonometriques  de  M.  Ciera,  et  levées  des  ingenieurs  portugais  et  français. 
Paris,  1821. 

701)  LAMOTTE  (ANTOINE  HOUDART  DE).— Poeta  6  critico  francez. 
Nasceu  em  Paris  no  anno  de  1672,  e  falleceu  no  de  1731. 

E.'-'Inez  de  Castro,  tragedie  en  un  acte  et  en  vers.  Paris,  1723. 

Houve  quem  a  traduzisse  para  inglez  com  o  titulo  de  Elvira. 

«A  tragedia  de  Ignez  de  Castro,  de  Lamotte,  representada  em  1723^  teve  um 
acolhimento  tào  prodigioso,  que  fez  época  na  historia  dramática  de  Franç  a 
Geoffroy.»— Cotrn  de  Utterature  Dramatique,  vol.  2.^  pag.  290  . 

A  referida  tragedia  é  minuciosamente  analysada  no  2.*'  vol.  do  Cours  de 
Utterature  de  La  Ilarpe 

702)  LAN  (JULES  — Avocat). 

E. — Paralléle  entre  le  marquis  de  Pombal  et  le  baron  Uaussmann.  Par — . 
Paris,  1869.  4.^',  356  pag.  Com  os  retratos  de  Haussmann  e  do  marquez. 

«  F.  Didot.— iVo9e/i«  Biographic  VnivertcUet  tol.  29.*,  pag.  163. 


43Í  LA 

703)  LAN. 

E.^Crédit  (lé)  foncier  en  Portugal,  son  crigmey  ses  pragrês,  son  avenir» 
Paris,  1865.  Brochara. 

704)  LANDELLE  (LA). 

E.—Le  premer  Tour  du  Monde. — romance,  cujo  protogonísta  é  o  nosso 
Fernão  de  Magalhâed,  publicado  no  jornal  La  Semaine  des  familles.  Paris,  17.* 
TOl  Anno  de  1875. 

705)  LANDI  (G.) 

E.~Ia  descrettione  dei  Isola  de  la  Madera  gia  scritía  nela  lingtui  latina 
de  —  tradotta  da  A.  Tini,  Piacenza,  1574. 

706)  LANDMAN  (GEORGE),— Líeatenant  colonel  ín  the  corps  of  royal 
enginers,  the  same  rank  in  the  Spanish  corps  of  enginers  with  brevet  rank 
of  Colonel. 

E.-^Historical-military  and  pictoresque  observations  en  Portugal,  London, 
Printed  for  T.  Cadeíl  and  W.  Davies.  1818,  foi.  max.  1.*»  vol.607  pag.;  2.»  vol. 
293  pag.;  mais  203  de  documentos  e  132  de  appendice.  (Observações  históri- 
cas, militares  e  pittorescas  sobre  Portugal.) 

Pode-se  dar  a  esta  obra  o  titulo-  de  monumental,  e  é  acompanhada  de 
grande  numero  de  estampas  coloridas,  algumas  das  quaes  indubitavelmente 
não  primam  pela  fídelidade.  Tratam  dos  seguintes  assumptos : 

!.•  Palmella— 2.*  Setúbal— 3.»  Alcácer  do  Sal— 4.*  Alcácer  do  Sal  vista  do 
Oriente— 5.*  Mertola— 6.*  Faro— 7.*  Aljustrel— 8.*  Viaieiro— 9.*  Albufeira  — 
10.*  Albufeira  vista  do  Oriente— li/  Poriimào— 12.*  Porto  de  Portimão— 13.* 
Silves— 14.*  Silves  vista  do  Oriente — lo.*  Banhos  quentes  na  Serra  de  Monchi- 
que de  Abrantes— 16.»  Monchique,  perto  do  Cabo  de  S.  Vicente— 17.*  Pomar 
velho  na  Serra  de  Monchique— IS.»  Costa  de  Lagos— 19.*  Bahia  e  porto  de 
Lagos— 20.*  Ponte  de  Lagos— 21.*  Aljezur— 22.*  Milfontes— 23.*  Arraiolos- 
24.*  Estremoz— 25.*  Cintra— 26.*  Convento  perlo  de  Cintra— 27.*  Convento  na 
rocha  de  Cintra— 28.*  Cintra  vista  da  estrada  de  Mafra— 29.*  Palácio  real  de 
Albufeira— 30.*  Punhete  na  juncQão  do  rio  Zêzere  com  o  Tejo— 31.*  Vista  ti- 
rada do  castello  de  Abrantes— 32.*  Ponte  de  Niza— 33.*  Passagem  em  bar- 
cos no  Tejo  em  Villa  Velha— 34.*  Vau  no  rio  Sever — 3o.*  Passagem  pelas  ser- 
ras perlo  de  Ladeira— 36."'  Foz  do  Tejo— 37.*  Vista  do  Tejo— 38.*  Torres  Ve- 
dras—39.*  Torturas  da  inquisi(;ão— 40.*  Idem— 41.*  Leiria— 42.*  Pombal— 43.* 
Coimbra— 44.*  Idem— 45.*  Ponte  de  barcas  no  Porto— 46.*  Penafiel  de  Sousa 
—47.*  Amarante— 48.*  Idem- 49.*  Ponte  de  Lima— 50.*  Idem— 51.*  Valença 
—52.*  Cidade  de  Tuy— 53.*  Bahia  de  Vigo— 54.*  S.  Paio,  perto  de  Redondella. 

707)  LANGLE  (CoNTOE-AMiRAL  FLEURIOT  DE). 
E.—Voyage  au  Malabar  (em  o  n.*>  185  do  jornal  francez  Tour  du  Monde, 
de  1863).  E  vem  acompanhada  das  seguintes  estampas : 

1.*  Casa  do  governador,  em  Pangín  ou  Nova  Goa,  na  Costa  do  Malabar— 


LA  433 

S.*  Uma  vista  de  Mahé,  possessão  franceza  sobre  a  costa  de  Malabar— 3.*  Uma 
vista  de  Mahé,  sobre  a  costa  de  Malabar — 4.*  Entrada  das  gratas  em  Elephan- 
ta— 5.*  Mulheres  índias  das  castas  baixas  em  Bombaim— 6.*  Casamento  de  Sí« 
va  e  de  Parvati;  baixo  relevo  de  Elephanta— 7.*  A  gruta  dos  leões  em  Elephan- 
ta— 8.*  Grande  gruta  em  Elephanta. 

tOs  chrístãos  são  muito  numerosos  na  possessão  franceza  de  Mahè.  Pro- 
vêem ou  das  antigas  conversões  feitas  pelos  portuguezes,  ou  da  mistura  â*esta 
nação  com  as  mulheres  do  paiz. 

cQuando  do  sul  se  chega  à  barra  de  Goa,  passa-se  primeiro  por  diante  das 
ilhas  de  S.  George. 

tO  braço  do  rio  de  Goa,  que  desemboca  ao  sul  chama-se  Mnrmngão :  abre- 
se  bem  depressa  aos  olhos  dos  viajantes,  mas  as  terras  são  geralmente  eni^e- 
voadas,  e  é  difficil  distinguir  bem  os  accidentes  dos  terrenos.  Grandes  ediâcioa 
coroam  as  alturas,  e  tudo  annuncia  que  uma  nação  poderosa  tinha  feilo  de 
Goa  sua  capital.  O  convento  do  Gabo  é  um  dos  mais  bem  conservados  d*aqnel- 
les  ediflcios;  está  situado  na  extremidade  da  ilha  de  Salsete.  Mais  ao  norte  ma 
pharol  domina  o  ancoradouro  da  Aguada,  e  varias  ermidas  attestam  o  fervor 
dos  primeiros  portuguezes  que  se  estabeleceram  n*estas  costas. 

t Longas  Oleiras  de  fortes  armados  de  peças  enferrujadas  coroam  o  anco* 
radoaro  da  Aguada,  mas  este  apparato  militar  já  não  pôde  resistir  aos  actuaes 
ataques.  Pangin  ou  Nova  Goa  possue  egr  ejas  muito  notáveis  e  quartéis.  O  pa- 
lácio do  governador  é  um  edificio  vasto. 

tÁ  primeira  vista  admiramo^nos  do  grande  numero  de  padres  que  circulam 
nas  ruas  de  Pangim,  mas  a  rasão  é  que  ainda  que  os  inglezes  dominam  politi- 
camente toda  a  costa  de  Malabar,  a  direcção  religiosa  pertence  a  Goa :  esta  ci- 
dade é  o  vasto  seminário  d'onde  sabem  os  padres  que  exercem  o  santo  minis- 
tério na  índia  qnasi  inteira.  A  velha  Goa  fica  a  duas  beras  de  Pangim,  pelo  rio 
acima.  Uma  calçada  reparada  pelo  visconde  de  Torres  Novas  alli  conduz  fa- 
cilmente, e  lambem  se  pode  ir  em  barco.  Seria  necessária  uma  potente  ima- 
ginação e  conhecimentos  archeologicos  bem  rigorosos  para  reconstruir  pela 
lembrança  a  cidade  dos  vice-reis. 

«A  cathedral  é  uma  nobre  basílica,  cuja  frontaria  se  ostenta  n*ttma  pra- 
ça de  vastas  proporções.  Suas  duas  torres  quadradas  são  de  um  bello  ris- 
co. O  comprimento  do  edifício  anda  por  uns  70  metros,  e  a  largura  da  nave 
perto  de  27.  Quando  penetramos  em  a  nave  ficamos  maravilhados  do  gran- 
dioso do  santo  logar.  Cada  lado  tem  7  capellas,  e  o  altar  raór  é  magnifico.  O 
corpo  de  S.  Francisco  Xavier  está  na  egreja  do  Bom  Jesus,  que  pertencia  aos 
jesuítas.  E'  em  forma  de  cruz  esta  egreja,  e  o  altar  mór  é  esplendido.  O  mau- 
soléu do  Santo  é  magnifico.  A  seus  pés  vêem  piedosamente  os  Índios  de  todas 
as  castas  ajoelhar  e  beijar  suas  relíquias.  * 

tO  commercio  de  Goa  é  fraco,  e  esta  antiga  metrópole  das  índias  está  bem 
decahida  do  seu  esplendor  passado. 

«Um  convento,  que  os  portuguezes  tinham  construído  em  Bombaim,  está 
convertido  em  casa  de  recreio,  e  a  casa  do  capitulo  serve  de  casa  do  jantar 
ao  governador  do  Bombaim.» 

TOMO  1  28 


LA 

.1  do  Malabar  Toi  fuílã  em  t 


I 


708)  LANQSDORF  (GEOKGE  HENRI). 

E.—M»iK>ire  sur  le  Bresil  puai-  sereir  de  'jardn  imx  piTSonni-s  i/iti  d^ireití 
xijdablir.  Paris,  1820. 

709)  LARA  pA-VID   BEN  ISAAC  COHEN  DE).  Judeu. 

Nasceu  em  Lisboa,  e  residiu  por  muitos  aiinos  em  Hamburgo  e  Amslerdain. 

B.— I-  KUter  K«huna;  iato  é ;  Corõii  dos  Santos  e  do  Sacerdócio.  Oimpre- 
hende  até  a  tetra  lod.  Hamburgo,  por  Jorge  Kobealino,  1667.  Foi. 

E'  um  copioao  Diccionario  Taimndico  Rabioico,  que  contam  a  exposiçÂo  s 
correspondeacia  das  rozes  talmndicas  e  rabioícas,  cm  quaioiro  liDguu,  * 
saber.  Chaldea,  Syriaca,  Arábica,  Persiana,  Turca,  Grega,  LaIina,l(aliaDa,  Caí- 
lâlhsDa,  Portugueia,  Pranceza,  Allemã,  Saxonia  e  Ingteza. 

U.  Tratado  de  Moralidad  y  rrgimienlo  de  la  nda  de  Rcúibenu  Moí^  de 
Esifpto.  Hamburgo,  {663.  Officlna  de  Jorge  RobellÍDoa. 

III.  Tratado  delTeTnor  Divino.  Amsterdam,  1633. 

A  respeilo  d'eslas  e  d'outras  obras.  V.  António  Ribeiro  dus  Santos  nas  Me^ 
moi-ias  de  Ulleralura  Sagrada  doi  Judeus  Portusuezes. 

710)  LAROUaSE  (PIERRE). 

E.—Biographie  du  Camoens  telle  qii'eUe  fignrfrn  dnra  tes  colmes  du  Gratii 
Dictionaire  pnr  —  Paris.  Librairia  de  V.*  J.  P.  Aillaud,  Guillard  et  C-  18(i7, 
fl.",  i3  pag. 

•Eis  ainda  um  d'esse9  grandes  boment  a  qaem  nm  grande  génio  não  sal* 
Tou  do  infortúnio.  A  quem  imptitaremos  oe  longas  transes  que  o  porsegniram 
até  i  cova?  A  essa  organisação  nervosa,  a  essas  paixões  vtras  e  vdeoles,  in- 
seiutrarels  taivex  do  génio,  on  a  isso  a  que  se  dá  o  nome  de  swte,  a  essa  fala- 
ttdade  invencive),  qoe  parece  inho^nte  a  esses  poetas  ereadoree,  destinados 
a  erigirem  monniDenh»  fmmorredoon»  entre  os  bomens  T 

•Homens  Tasso,  Milton,  CamSes,  Cervantes,  íRoslres  infetine  sobre  quem 
■  pesou  esta  mio  de  Terro:  seres  misteriosos,  nos  qnaes  indo  Ibi  extraordinário, 
qne  soffrieis  e  mendigáveis  ao  cantardes  vossos  versos  divinos,  qne  hão  de  fa- 
aet  a  eterno  reemio  dos  homens,  dizei-nos  o  s^edo  de  vossos  prolongados 
fnlli)r.nnios;  dizeÍ-nos  as  cansas  de  vossos  peregrinos  e  dq)loraveis  destinos, 
Has  qnem  os  sabe,  e  sabei -os-bieis  vós  mesmos  7  Suní  tacrjfma  rmtss.  E  ape- 
nas »e  vêem  seos  efTeitos.  A  gloria  serve  de  galardão  ao  solfrimenio,  o  vosso» 
nomes  immortaes  d'isso  são  a  prova.  Porém  nenham  d'eiia3  Eoi  talvei  mai» 
acabrunhado  de  desditas  de  todos  os  géneros,  do  qne  o  poeu,  ao  qoal  Lisboa 
deve  toda  sua  gloria  litteraria  • 

711)  LASTEYEAC  (JULE3). 

E.— I.  Le  Portugal  depuis  ta  revolulion  de  1810. 

U.  Souvenirs  des  Açores.  (ífa  Recue  des  deux  Mondes,  de  ISU  e  ISiS.) 


LE  435 

7i2)  LATOUOHE  (JOHN). 

E.— Traveis  in  Portíigal  with  illustrations  byRight  Hon.  Sotheron  Estcourt. 
London,  187o.  (Viagens  em  Portugal). 

713)  LAVAL  (FRANÇOIS  PYRARD  DE). 

E. — Voyage  contenant  sa  navigation  aux  Indes  Oríentales,  aux  Moluques  et 
au  BrésiL  Paris,  Í6i6.  Ibid.  i619,  2  vol.  Vide  Pyrard. 

714)  LAVIGNE  (A.  GERMOND  DE).— Escriptor  francez.  Nasceu  em 
1812.  i 

E,—Itineraire  descripUf,  tUstorique  et  artistique  de  VEspagne  et  de  Portu- 
gal. Paris,  1860.  2.-  edição  1861. 

11.  LEspagne  et  le  Portugal.  Paris,  1867. 

715)  LAVRO  (CARLO). 

E,—Adventiire  admirable  par  dessus  toutes  les  autres  des  siècles  passes  et 
préserUs,  par  laquelle  il  appert  évidemment  que  D,  Sehastien  en  vray  est  légU 
time  roy  de  Portugal,  inc4)gnu  depuis  la  bataille  quHl  perdit  contre  les  infíâiles 
en  Afrique,  Van  1578,  est  celuy  tneme  que  les  seigneurs  de  Venise  ont  déténu 
prisionier  deux  ans  et  vingt  deux  jours  finis  au  XV  décemhre  dermer  passe 
au  quel  jour  il  fut  extraordinairement  remis  en  liberte,  et  sortant  de  Venise 
s'en  vint  à  Florence.  Le  tout  traduit  du  castillan  en  français,  par  IHncomffa* 
rabie  astrologue—.  1601,  8.<»  (C.  M.  B.  I.  P.) 

716)  LEAKE  (JOHN). 

E,—Dissertation  on  the  properties  and  efpcacy  of  Lisbon  die  drmk.  Lon- 
don, 1857.  (Dissertação  sobre  as  propriedades  e  efficacía  da  bebida  para  dieta 
em  Lisboa). 

717)  LEBEN  DES  SEBAST.  Joseph  von  Carvalho  und  Mello  Marq. 
von  Pombal.  Leipzig,  1782.  2  vol. 

718)  LE  BON  VOISIN,  c^est  à  dire:  le  Portugais.  Sem  logar  de  impres- 
são. 1646, 4.«  Folheto.  (C.  M.B.I.  P.) 

719)  LEBRUN  (PONOE  DENIS  EOOUOHAD).— Poeta  francez.  Nas- 
ceu em  Paris  no  anno  de  1729,  e  íalleceu  na  mesma  cidade  no  de  1807. 

E.—Ode  sur  la  ruine  de  Lisbone.  Paris,  1755. 

720)  LEESER  (ISAAC).— Hebraista  americano.  Nasceu  no  anno  de  1806 
em  Neukrích  (Westphalía),  e  rabbino  da  synagoga  de  Pbiladelphia. 

E.—Portuguese  form  of  prayers— com  o  hebreu  em  frente.  Pbiladelphia, 
1837.  2  vol  *  (Rito  portuguez  das  orações). 

>  Vaperoau.—Z)id tonnaírc  des  ConicmporainSf  pag.  1091. 
3  Idem,  idem,  pag.  754. 


43C  IjE 

791)  LEFEBVRE  (PHHJPPE).  ^ 

E.— t.  Examen  de  ta  tragedie  dines  de  Castro  par  de  S^nwfté  l 

Paria,  1723. 

II.  Letlres  d'vn  genlUhome  de  Province  au  sujH  de  la  tragedie  d'Inez  de 

Castro.  Paris,  17J3. 

722)  LEFRiNC. 

E. — Bistoire  de  Portugal.  Paris. 

7Í3)  LEQRAND  «i  DOMINIQUE  (M.  M.) 

E.—Ãijnés  de  Chaillol.  Parodie  dines  de  Ctulro.  Dijon,  1777. 

724)  LEGITaUTÉ  (DE  LA)  en  Porlugtii.  Qiicstion  portugaise  swaiise 
aujugement  des  liommes  imparliaux.  PuiSi  1826. 

725)  LEOLAY.  i 
Publicou  nos  seus  Analectes  curiosos  documonlos  relativos  aos  lilfao»  da  1 

D.  ígaez  de  Casiro,  extrabidos  dos  archivos  de  Cambrai. 

Dá-Dos  esU  uoticia  o  sr.  Pcrdioaud  Denis  nas  suas  uolas  á  tradur^ão  tran- 
ceia  dos  Luziadas  por  Foornier  e  Desaules,  pag.  351. 

73(>)  LEMAIRE  (Sikub). 

E. — Voyage  of  lhe— lo  the  Canary  Mands,  Cap  Verl,  Senrijnl  and  Gainby. 
LODdOD,  IC%. 

7S7}  I^UHXBOmBÍLOUIS-^rSAN-lrtlPOKUOEKE).— liUeniOfnn- 
6M.  Nasceu  aa  Paris  bo  anuo  de  1771^  b  talleeea  no  da  18W.  > 

E.— Pinto,  drama.  •OoTrage  aaqitel  ea  n'a  peat  etre  pis  renda  assai  de 
justice,  et  qoi  será  nn  des  pios  beaux  titrea  de  gIoir«  de  soo  aaunu-.i  ■ 

728)  LENOBLE  (FIERSE  KASELEINE). 

E.—Mimoire  sur  let  operations  nàlitairet  des  Rançais  m  Gaike,  m  Por- 
Itigal,  et  dam  la  valiie  du  Tage  en  1809  som  te  commatidement  du  maricM 
&mtt.  Paris,  1821. 

729)  LEON  (D.  LOBENZO  TAKSEB  HAHHEN  J.) 

E.—D.  FOippe  el  prvdeiUe,  segando  deste  nombre,  rey  de  las  Btptíku  y 
RUÍDO  mundo.  Madrid,  1622. 

730)  LEPOWSOKT. 

E—Peter  11.  Koenig  vort  Portugal.  Municb,  1818.  (D.  Pedro  II,  rei  de  Pm- 
tagil). 

■  FirmiD  Didat— fifaue.  Biograpkii  VttittrteUe,  toI.  30-*,  pag.  68S. 
*  Aliili.  Rabbc  —HUIoire  de  Faríugal. 


LE  437 

731)  LSRT  (JEAN  DE).— Viajante  flrances.  Nascea  no  anno  de  1534 
em  Lery,  e  falleceu  era  Berne  .no  de  1611.  Era  pastor  protestante,  e  foi  man- 
dado ao  Brasil  com  o  flm  de  estabelecer  alli  a  egreja  reformada. 

E.—Histoire  d*un  voyage  fait  en  la  terre  du  Brésil,  autremerU  dite  Améri- 
que,  contenant  la  navigation  et  choses  remarquables  vues  sur  mer  par  rauteur^ 
le  comportement  de  Villegaignon  en  ce  pays  lá,  les  mceurs  et  façons  de  vivre 
etranges  des  sauvages  brésiliens,  avec  un  colloque  de  leur  langage;  ensemble  la 
description  de  plusieurs  animaux,  arbres,  herbes,  et  atUres  choses  singuliêreSf 
et  du  tout  inrxmnues  par  deçá,  le  tout  recueilli  sur  les  lieux,  La  Rochelle,  1578, 
S.%  Genève,  1580, 1585, 1593, 1600, 1611.  8.» 

Ha  uma  tradacçâo  latina  d' esta  obra  com  o  seguinte  titulo :  Lorie  Joatme 
Historia  navigationis  in  Brasiliam  quae  et  America  dicitur.  Escudebat  Exista^ 
thius  Vignon,  1586. 

732)  LES  DERNIERES  NOUVELLES  de  Vètat  de  la  Chretienté  en 
Ethiopie,  empire  des  Abyssins  cmnmunément  appellé  du  pi^etre-Jean,  oii  se  voit 
sa  conversion  à  VEglise  Romaine,  escripte  en  Espagnol  par  le  P.  Pierre  Mere* 
jon.  Paris,  1622. 

733)  LES  ROYAUMES  D'ESPAaNE  ET  DE  PORTUGAL  repre- 
sentes en  taille-douce  três  exacteSf  dessinés  sur  les  lieux  mêmes,  qui  compren* 
nent  les  principales  villes,  forier esses,  montagnes. . .  Avec  les  cartes  géogra- 
phiques  tant  génerales  que  particuliêres  de  ces  deux  royaumes.  Leyd.  Sem  data. 

734)  LESSING. 

E.^Description  de  rAmértque  Portugaise,  ecrite  par  Cardena.  Brunswick, 
1780. 

735)  LESUR  (CHARLES  LOUIS). -Lítterato  e  publicista  francez. 
Nasceu  em  Guise,  na  Picardia,  no  anno  de  1770.  Falleceu  em  1849.  ^ 
Sua  publicação  mais  importante  foi  a  do  Annuaire  Historique  et  Politique. 

Desde  1817  publicou  annualmente  um  grosso  volume,  onde  estavam  expostos 
e  resumidos  com  um  espirito  prudentemente  independente  os  factos  políticos, 
litterarios  e  scientíflcos  da  França,  dos  estados  da  Europa,  e  d*outras  partes 
do  mundo.  Esta  coUecçao  tomou-se  uma  fonte  preciosa  para  a  historia  con- 
temporânea, pois  além  dos  principaes  successos,  contém  muitos  documentos 
officiaes,  que  seriam  difflceis  de  encontrar  n'outra  parte.  Em  1830  Lesur  re- 
tirou-se  para  sua  cidade  natal,  e  deixou  a  Ulysses  Tencé  toda  a  direcção  do 
Anntmrio. 

No  que  diz  respeito  a  Portugal  é  também  esta  publicação  muito  impor- 
tante: escripta  com  desenvolvimento  e  com  a  possível  imparcialidade  deve 
ainda  ser  consultada  por  quem  se  propozer  a  estudar  a  nossa  historia  d*aquel- 
les  calamitosos  tempos.  Por  exemplo,  a  historia  de  Portugal  narrada  no  anno 

*  Fírmin  Didot  —  Nouvelle  Biographie  Universelle,  yoI    30.*,  pag.  998. 


L 


438 

do  ISSB  oecnpa  desde  pag-  iílS  &  977.  N'olla  se  ri'fcri!  mínuciosuDunie  a  che- 
gKdi  de  D.  Miguel  de  Vienna  d'Aitâlria;  os  [iieios  da  qua  so  servia  para  sor 
accUniado  rei  aljsolute,  e  lermJDii  pela  recepção  da  rainha  D-  Maria  pelo  rei 
de  Inglaterra.  Eaia  híãloria  cnaliimu  a  paif.  iiio  d»  volume  ae<{uinle. 

7;16)  LETTEE  (A)  lo  lhe  edilors  of  tlie  Portugune  InvftUginlor  in  Eu- 
gland  on  IhcimproprMij  of  nlioluking  lhe  fíoyai  Wing  Compaufi  iif  Portugal. 
{Sobre  a  abolição  da  companhia  dos  vinhos  do  Douro). 

737)  LETTERA  ml  ii»  amico  che  cimlii-ns  come  una  risposta  gêniralf  a 
twtte  te  Bagioni,  cke  in  suífania  fvronú  addote  netla  ttainpa  dvn  certo  libfo 
ctM  la  data  di  Fosiotnbrotte,  che  ha  per  lUolo  Lettere  deli'  Abale  N.  JV.  Mito- 
nise  ad  un  prelato  Bomam,  apologrliche  delia  Compagnia  di  Gestt  conira  áue 
libelli  intitolati :  Rlflessioni  sopra  il  Menuriale  presentato  da  P.  P.  Getuili 
Alia  SatUitá  di  Papa  Clemenli  XIII  felicetnenlí  regnant»,  e  Appendice  alie  fíi- 
fhiiioni.  Lugauo,  1761. 8.%  lltí  pag.  (CoDlra  os  Jesuilas.) 

738)  LETTERE  aume  d'Elliwpia,  Malabar,  Brasil  e  Gm,  deltanni  1620- 
lfiS4.  Boma,  1627. 

739)  LETTKE  ífun  néijocianl  de  Liabonno  a  un  correipfmdant  de  Paris, 
COMenavl  wk  rélatim  fidHit  dii  trembUment  de  terre  anivi  a  Litboiuu  le  1 
WKtmbre  1755.  (Sem  daia  nem  logar  de  impressão). 

740)  LETTERA  di  un  amico  ad  un  suo  concilladino,  m  cui  (t  riftriscO' 
no  t  fatti  cA«  procano,  che  Vautore  deWatlentaío  ccndra  la  vitta  dei  Se  Aa  de 
ampliei,  e  si  ragguaglia  il  medo  con  cui  é  stato  formato  ii  di  lui  processo. 
Avignone,  1759. 

741)  LETTBE  a  Vauleur  des  'Nouvelles  Ecclesiasttquef  dans  laqaelle  om 
Ivi  demande  ti  le  scandale  danni  a  lÃsbonne  par  le  jesuite  Coíiteâi  «it  lêplus  ■ 
gnatd  qui  íoi  dans  VEglise.  Sem  data,  nem  logar  de  Ímpres»ão.  (C.  H.  B.  1.  P.) 

742)  LETTRE  du  Seremssime  Boy  de  Portugal  a  soH  eoUHasadtmr  P. 
de  Soasa  Coutinho.  Imprime  a  la  Haye,  chez  Ulchel  Staal,  demeurant  a  U 
cour,  vis  a  vis  la  prisoo,  16S0;  4  (olhas.  (H.  S.) 

74.1)  LETTRES  ecrites  de  Portugal  sur  Vétat  onciVn  et  actuei  de  ce  royan- 
me.  TradnitfS  de  1'Anglois-  Suivies  du  portrait  hislorique  de  M.  le  marquit  de 
Pombal.  A  Londres,  1780.  8.°,  72  pag. 

Esta  obra,  rormada  de  deieselo  cartas  escriplas  desde  26  de  janeiro  de 
1777  até  3  de  junho  do  mesmo  anno,  é  uma  resenha  dos  beneDcios  que  Por- 
tugal colheu  com  a  adminíslraçuo  do  grande  marquei.  Mestra  o  estado  do  tor- 
por e  do  abatimento  u  i]itc  o  paiz  lioba  descido,  e  o  estado  de  engrandeci- 
mento, a  que  chegou  no  reinado  de  D.  José. 


LE  439 

tA  nação  víu-se  livre  do  poder  da  iaqaisiçâo,  oppressâo  a  mais  horrivel  e 
vergonhosa  qae  povo  algam  jamais  sofTren. 

«Â  expulsão  dos  jesuítas  seguiu-se  pouco  depois.  Se  a  Europa  gosa  das 
vantagens,  que  foram  o  fructo  da  destruição  d*esta  ordem,  deve-o  mais  que  a 
tudo  aos  cuidados  inquebrantáveis  do  marquez  de  Pombal. 

«Fixou  o  numero  das  missas  que  seriam  ditas  por  alma  dos  mortos,  e  mar- 
cou a  esmola  que  se  devia  dar  por  cada  uma. 

«Antes  da  administração  do  marqaez  de  Pombal  a  policia  de  Lisboa  era 
tão  má  que  se  tornava  perigoso  achar-se  na  rua  á  tardinha,  ou  durante  a  noi- 
te, e  os  assassinatos  eram  tão  frequentes,  que  até  mesmo  se  olhavam  como  ac- 
cidentes  triviaes.  Mas  desde  a  ordem,  que  este  ministro  estabeleceu  em  Lis- 
boa,  mudaram  as  coisas  de  tal  sorte,  que  é  para  crer  que  actualmente  ha  mais 
segurança  nas  ruas  de  Lisboa,  do  que  nas  de  qualquer  outra  capital  da 
Europa. 

«Durante  o  tempo  de  seu  ministério  a  nação  illustrou-se  muito,  e  a  agri- 
cultura fez  grandes  progressos,  o  commercio  ampliou-se  em  grande  escala, 
as  artes  e  as  sciencias  foram  cultivadas,  estabeleceram-se  algumas  fabricas, 
as  finanças  chegaram  a  uma  situação  respeitável.  Estes  factos  dão  indubitavel- 
mente honra  ao  ministro,  a  quem  a  posteridade  ha  de  fazer  a  Justiça  que  lhe 
é  devida,  quando  o  tempo  houver  exterminado  os  preconceitos  que  se  levan- 
taram contra  elle. 

«Em  tempo  algum  nem  ministério  foi  mais  tempestuoso,  nem  mais  glorioso 
que  o  seu.  Houve  mister  de  toda  a  sua  coragem  para  vencer  os  perigos  que 
encontrou,  tanto  pela  maldade  de  seus  adversários,  como  pelos  acontecimentos 
mais  extraordinários:  mas  quanto  mais  as  occasiões  eram  terríveis,  tanto  maior 
grandeza  e  serenidade  d'alma  patenteava.  N'uma  palavra,  póde-se  comparar 
este  ministro  com  o  cardeal  Richelieu,  sem  receio  de  ir  de  encontro  á  verda- 
de. Ambos  foram  elevados  ás  maiores  honras :  ambos  governaram  por  meio 
do  terror,  restabeleceram  a  auctorídade  real  humilhando  a  nobreza,  ambos 
tiveram  a  ridícula  pretenção  de  passarem  por  galanteadores  e  de  possuírem 
universidade  de  talentos;  ambos  foram  grandes  políticos,  senhores  imperiosos, 
inimigos  irreconciliáveis,  amáveis  na  sociedade,  aíTaveis  para  com  os  estran- 
geiros :  ambos  se  elevaram  por  meios  honestos,  sem  vergarem  em  tempo  al- 
gum em  frente  da  adversidade;  ambos  amontoaram  grandes  cabedaes;  ambos 
foram  a  honra  e  o  sustentáculo  da  nação,  cuja  leviandade,  ingratidão  e  ódio  sof- 
freram,  o  qual  venceram  por  meio  da  firmeza  e  do  rigor;  ambos  finahnente 
fizeram  tudo  desajudados. 

744)  LETTERS  from  Portugal  oh  the  late  and  present  state  of  thai  king» 
dom.  London,  S.^"  (Cartas  de  Portugal  sobre  o  antigo  e  presente  estado  d*a- 
quelle  reino.) 

745)  LETTERS  from  Portugal  and  Spain  wrilíen  during  the  march  of 
tlie  British  troops  under  sir  John  Moore.  (Cartas  de  Portugal  e  Hespanha  es- 
criptas  durante  a  marcha  das  tropas  inglesas  às  ordens  de  sir  J.  Moore.) 


440  LI 

746)  LETTRE  secande  de  lÃsbonne^  écriie  a  un  embassadeur,  qui  com- 
tient  un  détail  ires  circanstanciè  du  furieux  trembUment  de  terre  qu'U  a  eu 
eeUe  année  dans  le  Portugal;  du  camp  du  rot  prés  de  lÂsboime  le  14  novem' 
brê  i7^.  4.*'  íollieto.  (Sem  data,  nem  logar  de  impressão.) 

747)  LETTRES  et  pièces  concernant  les  changements  actueis  de  Portu- 
gal a  Végard,des  jésuites  envoyés  par  leNonce  resident  a  lÀsbonne^  a  la  u- 
crHerie  de  Vétat  ecclesiastique  et  distrúmées  aux  cardinaux  de  la  anigrega- 
tion  du  St.  Office,  avec  le  memorial  presente  par  le  Pére  General  des  Jésmtes 
le  31  juiUet  1758  aS.  S.le  Pape  Clement  XIU.  (Sem  logar  nem  dau  de  im- 
pressão. 

748)  LEVEQUE. 

E-^-Costume  of  Portugal  illustraíed  by  fifty  coloured  engravings  uith  a 
description  of  the  manners  and  usage  of  the  country,  Loodoo,  1814.  « 

749)  LIANGOURT  (GosrrE  db  GODDE  DE). 

E.— Soctété  de  funion  des  nations  pour  la  Civilisation  Umoerselle,  Eloge 
fúnebre  de  S.  M.  D.  Pedro,  empereur  du  Bresil^  duc  de  Bragance^  regent  dm 
Portugal  et  de  V Algarve  par  le  — .  Suivi  de  stances  par  M.  de  Samt  Anioine, 
Paris,  1835.  4.« 

750)  LIANO  (ÁLVARO  AGUSTIN  DE).— Historiador  hespanhol.  Fai- 
lecea  em  1830 1 

E.—Repertoire  portatif  de  Vhistoire  et  de  la  litter ature  des  nations  espa- 
gnole  et  portugaise.  Berim,  2  voi.  (Sem  data.) 

II.  Observaciones  y  noticias  curiosas  sobre  la  litter  atura  castellana  y  por- 
tuguesa y  sobre  los  escritores  de  estas  dos  naciones.  Aix  la  Chapelie  et  Leipzig 
1829-30.  2  vol. 

III.  Essai  pour  servir  à  Vhistoire  des  nations  espagmle  et  portugaise,  Ber- 
lim, 1820. 

751)  LIBERTINUS  (CAROLUS). 

E,—Divus  Franciscus  Xaverius  Indiarum  apostolus  elogiis  illustratus,  Ve- 
tere  Pragae,  1673.  (S.  Francisco  Xavier,  aposloio  das  índias,  illustrado  com 
elogios.) 

7o2)  LICKNOWSKY  (FÉLIX  DE,  Piuncipe  de).  Seu  pae  foi  Edward 
Maria  do  Licknowskv. 

Nasceu  em  o  de  abril  de  181  i,  sendo  assassinado  em  18  de  setembro  de 
J8Í8.2 

Entrou  Lem  novo  para  o  exercito  prussiauo,  dei.\audo-o  em  1838  para  so- 

1  Firmin  Duloi.  —  youvdlr  Bii^ini^hie  inivcrscUe,  vol.  'òly,  pag.  1U7. 
'  Idem,  idtin,  pa;;.  it.YÔ. 


LI  44i 

goír  as  bandeiras  de  D.  Carlos,  de  qaem  veiu  a  ser  ajudante  de  campo.  Em 
1840  voltoa  para  a  Âllemanha,  e  passados  dois  annos  fez  uma  viagem  a  Por- 
tagal,  indo  residir  mais  tarde  na  Silesia.  Depois  de  ter  tomado  em  1847  parte 
activa  DOS  trabalhos  da  primeira  camará  prussiana,  tomou  assento  em  1848 
no  parlameuto  de  Francfort.  Sendo  membro  da  direita  despertou  muitas  ve- 
zes a  cólera  do  partido  democrático  por  sua  eloquência  virulenta  e  incisiva. 
No  dia  18  de  setembro,  pela  occasiào  do  conflicto  causado  pelo  armistício  con- 
cluído com  a  Dinamarca,  foi  tanto  o  príncipe  de  Licknowsky,  como  o  gene- 
ral Auerswal  assassinados  pelo  vulgacho. 

E,— Portugal  Erinnerungen  aus  dem  Jahre  1842.  Mayence,  1843. 

D'esta  obra  fez-se  uma  traducção  em  portuguez,  a  qual  se  imprimiu  em 
Lisboa  DO  anno  de  1842,  e  d*esta  versão  nos  serviremos  nos  seguintes  extrac- 
tos, pois  do  original  allemao  nem  mesmo  ainda  pudemos  ver  um  só  exemplar. 

O  príncipe,  tendo  embarcado  em  Southampton  no  vapor  inglez  LMe  Id- 
verpaoly  no  mesmo  barco  chegou  a  Portugal. 

«Ao  partir  do  Cabo  da  Rocca  substitue-se  ao  primeiro  quadro  um  outro 
egualmeute  encantador—- pharoes>  castellos,  casas  de  campo  e  aldeias  mos- 
tram-se  na  praia :  vêem  depois  as  duas  torres  de  S.  Julião  e  Bugio,  similhan- 
tes  a  duas  vedetas  avançadas  para  guardar  o  Tejo.  Em  poucos  minutos  entra- 
mos na  corrente  d'esse  grande  rio.  Lisboa  tem  sido  descripta  tantas  vezes  que 
não  intentarei  eu  renovar  débil  e  descoradamente  essas  impressões,  que  tia- 
çaram  tão  brilhante  e  variadamente  uma  talentosa  escriptora  allemã  nos  úl- 
timos tempos,  e  antes  d*ella  dois  poetas  de  fundada  reputação.  A  magestade 
e  a  pompa  do  Tejo  excedem  toda  a  expectação.  Faltam,  porém,  aqui  as  rique- 
zas e  a  vida;  é  entrada  «mais  própria  de  uma  capital  do  mundo,  do  que  da  corte 
de  nm  pequeno  reino.  Vulgarmente  se  tem  comparado  a  vista  gosada  pelo  in- 
gresso no  Tejo  com  a  dos  portos  de  Nápoles  e  Génova :  devo,  porém,  confes- 
sar, que  não  acho  fundamento  algum  para  similhante  paridade.  Génova  e  Ná- 
poles mostram  repentinamente  tudo  quanto  teem  a  offerecer,  como  um  pano- 
rama ou  uma  decoração  de  theatro:  em  Lisboa  trocam-se  os  quadros,  cresce 
o  interesse,  e  hnalmente  no  ultimo  plano  é  coroada  a  expectação.  Logo  ao  en- 
trar, a  mais  larga  torrente  de  aguas  do  antigo  continente:  o  mar  verde,  o  rio 
azul,  torres,  aldeias,  pharoes  e  castellos,  Cascaes  e  Oeiras;  á  esquerda  os  mon- 
tes de  Cintra,  á  direita  a  Serra  da  Arrábida,  que  se  prolonga  pelo  mar  em  re- 
motíssimo horisonte  até  ao  Cabo  do  Espichel :  depois  se|ne-se  fielem  com  a 
sua  alta  torre  mourisca  tenebrosa  prisão  de  estado  do  ultimo  duque  de  Avei- 
ro, e  da  bella  condessa  de  Távora:  em  uma  elevada  coUina  as  dimensões  co- 
lossaes  do  palácio  da|Ajuda,  e  como  pendarU  o  castello  e  o  monte  de  Almada; 
finalmente  por  terceira  apparição  Lisboa,  tão  grande  e  tão  sombria,  tão  nobre 
e  tão  negligente»  — 

iO  Tejo  acha-se  bastantemente  vasio,  como  lhe  succede  quasi  sempre  de- 
pois da  separação  do  Brazil.  Um  navio  de  guerra  inglez  e  outro  francez  exis- 
tiam fundeados,  como  representantes  de  duas  potencias,  que  de  boa  vontade 
dominariam  sobre  aquellas  aguas:  depois  seguia-se  o  navio  portuguez  de  re- 
gistro, a  fragata  Dnqueza  de  Bragança,  finalmente  duas  naus  desapparelha- 


«2  U 

do»,  D.  Joilo  Via  Vasco  da  Ganiu,  alIJmas  relíquias  da  niagi^stade  pussada,  d''.- 
pitis  que  Portugal  perdeu  o  dominio  dos  mares.  Ceclenarea  de  barcos  de  pns- 
oadores,  de  transporte,  alguns  navios  uiercanies,  príncípalmenU!  americanos, 
e  vapores  pet}uenos,  que  nuvegam  deolro  do  Tejo,  eram  unicamenio  os  que 
davam  ainda  alguma  vida  a.  este  rio. 

•Áprimeira  vista  da  Praça  do  Commercio,  praçA  grande  e  regnbr,  das 
mas,  qne  d'e]la  decorrem  parallolamente  eu  ire  si,  e  em  geral  da  moderoa  parte 
da  cidade,  acrediía-se  poder  assegarar  que  6  Lisboa  a  mais  brilhante  das  ca- 
pitães da  Europa,  mesmo  em  relai;ào  ã  elegância.  Imagioem-se  triala  a  qua- 
renta mil  casas  oditic&das  sobre  a  encosta  do  sol  de  sete  risonbas  colIíDas,  e 
qaa  como  uma  orla  bordam  o  Tejo  desde  Belém  aié  Xabregas  em  um  comprí- 
tnenlD  de  seis  milbas  ingíezas:  formosas  praças,  bellos  e  grandes  ediRciospn- 
blicos,  mn  aqueducio  eguat  ás  obras  dos  romanos,  o  branco  zimbório  e  torres 
do  Coraf,âo  de  Jesus,  o  gotbico  moari^o  convento  do  tíeiem,  e  o  agradável 
tcrrasso  do  S.  Pedro  do  Alcântara.  Esta  é  a  vista  que  hoji?  apresecia  Lisboa. 
Da  vellia,  sombria  e  angulosa  cidade,  que  exr?Iia  ames  do  terremoto  do  I/S.1, 
já  muito  pouco  su  \f:  hoje,  principalmente  nos  bairros  baixas. 

<0  thealro  de  S.  Carlos  em  Lisboa  ò  um  dos  mais  bellos  e  mais  curiosos 
ediflcios  d'csta  cidade,  e  sem  cooleslaçÀo  páde  ser  coUocado  a  par  dos  pri- 
meiros da  Europa.  No  dia  da  minha  chegada  a  Lisboa  foi  representada  a  Bit- 
n/ia  de  Golcoiida,  qoo  a|temanda-se  com  as  Priiôes  dt  Edimhtírgo  me  perse- 
guiu durante  dois  mczes  da  minha  residência  n'aquella  cidade.  Porém  a  com- 
panhia italiana  pareceu-mo  admiravelmente  boa:  pódesolTrerparallelo  com  a$ 
de  cidades  italianas  du  segunda  ordem. 

«Ciolra,  gloriou»  Eàen  de  Byron,  Iniitano  paraizo,  quem  deixa  de  sonhar 
comtigo,  ou  de  retraçar  a  si  próprio  essa  logar  encantado,  pjntando-o  eom  bri- 
Ihantissimas  cfires,  como  quadro  radiante  da  phanlasial  É  por  Isso  qae  todo 
o  estrangeiro  se  apressa  o  mais  que  p6de  em  visitar  Cintra.  Qauto  mata  ten- 
po  n'elta  me  demorava,  tanto  mais  aprasivel  me  parecia,  e  mais  rmnantiea,  até 
que,  quando  finalmente  me  foi  forçoso  partir,  rep&ssoa-me  am  tão  hitimo  des- 
gosto, que  de  tudo  se  tornou  manifesto  para  mim  que  alli  havia  muito  mais 
do  que  aquillo,  que  a  principio  tínham  descoberto  meus  olhos  profanos.  Es- 
sas frescas  veredas  cobertas  de  folhagem,  o  crescimento  magestose  s  exube- 
rante da  vegetação:  as  cascatas,  o  frigido  oc«ano,  tudo  isso  uunoa  o  esquece- 
rei, e  com  a  anetorj|Ude  de  Byron  e  de  Camões,  com  a  opinião  dos  poetas  e 
dos  liueratos  de  todos  os  tempos  e  de  todos  os  povos  da  leira,  prodaraarej 
Cinira  o  mais  bello  de  todos  os  sítios  da  terra.  Mas  o  qae  rerdadtinmente 
dá  a  Cintra  encantos,  como  se  não  encontram  em  parte  alguma.do  mondo,  é 
a  frescura  perpetua  de  suas  alamedas  e  bosques.  Quando  sahi  de  Lisboa  o  ca- 
lor tinha  subido  a  30°  de  Heaumur,  porém  ao  aproximar-me  á  mtxitanha,  Ti- 
oha  bafejar-me  uma  aragem  tão  amena  ao  longo  da  estrada,  e  abobadada  por 
nin  tecto  de  folhagem,  que  condoí  do  Ramalhão  até  á  praça  de  Cintra;  e  o  ar 
achava-se  tão  dehciosamenie  tépido,  como  se  fera  n'nm  b^lo  dia  de  reno  do 
Rheno  ou  no  Danúbio.  Isto  não  era  uma  excepção;  porque  ordinariamente  a 
differença  de  temperatura  entre  Lisboa  e  Cintra  sobe  de  8*  até  IO  R. 


LI  443 

«As  povoações  à  roda  de  Lisboa  ^  estão  cheias  de  palácios  e  casas  de  cam- 
po de  fidalgos  portuguezes  e  de  ricos  habitantes  da  capital.  Estes  edifícios  fre* 
qaentcmeDte  constroidos  no  melhor  gosto,  cercados  de  agradáveis  jardins,  for- 
necem aos  arrabaldes  de  Lisboa  um  encanto  especial,  que  entre  todas  as  ca- 
pitães da  Europa,  apenas  pôde  reproduzir  Yienna,  ainda  que  deam  modo  me- 
nos animado;  porque  faltam  ás  margens  do  Danúbio  o  brilho  meridional,  o  azul 
escuro  do  céo  lusitano,  e  aquelle  resplendor  da  natureza,  como  de  um  montão 
de  pedras  preciosas  de  todas  as  cores.  Esse  fulgir  da  vegetação  é  o  que  dá  a 
graça  particular,  que  possuem  os  jardins  á  roda  de  Lisboa.  Para  um  habitante 
dos  paizes  do  norte  particularmente,  é  assumpto  da  maior  surpresa  ver  aqoi 
medrar  livremente,  e  com  robustez  todas  as  plantas,  que  penosamente  e  com 
mil  cuidados  são  cultivadas  em  mesquinhos  vasos  nas  nossas  apertadas  estufas. 

«No  Calvário,  a  pouca  distancia  do  palácio  real  de  Belém,  em  um  ediflcio 
construído  de  propósito  por  D.  João  V,  acha- se  uma  collecção  de  coches,  talvez 
a  mais  admirável  que  existe  no  mundo. 

«Os  terrenos  na  direcção  de  Yalle  de  Zebro  para  o  interior  do  paíz  apresen- 
tam uma  triste  apparencia.  Um  solo  coberto  de  areia  fina,  de  um  amarello  cla- 
ro, prolonga-se  desde  a  praia  até  á  montanha  de  Palmella,  e  á  Serra  da  Arrá- 
bida. O  solo  eleva-se  pouco  a  pouco  na  direcção  da  serra,  a  qual  se  prolonga 
com  variadas  ondulações  até  ao  Cabo  do  Espichel.  No  ponto  mais  elevado,  so- 
bre uma  montanha  cónica,  existe  o  mosteiro  oa  o  castello  de  Paknella,  que  é 
visível  a  remotíssima  distancia.  D'aquella  immensa  altura  dilata-se  a  vista  so- 
bre o  verdejante  e  pomposo  valle  de  Setúbal.  Creio  que  não  ha  porção  alguma 
DO  mundo,  que  encerre  um  maior  numero  de  laranjeiras,  as  quaes  dispostas 
em  apertados  renques,  enchem  o  valle  inteiro,  como  se  fora  um  só  pomar,  for- 
mando um  contraste  pittoresco  com  a  escarpada  montanha,  e  com  as  selvá- 
ticas penedias  da  Ai  rábida.  O  valle  de  Setúbal  fornece  a  maior  quantidade  das 
mais  bellas  laranjas  de  Portugal,  que  são  cultivadas  cuidadosamente  em  gran- 
des quintas.  Os  pomares  são  contíguos  uns  aos  outros,  de  maneira  que  obser- 
vados da  altura  do  castello  de  Palmella  parecem  um  único  laranjal,  onde  se 
voem  apparecer  de  espaço  a  espaço  as  paredes  alvejantes  das  casas  de  campo» 
das  aldeias,  das  egrejas,  formando  grupos  pittorescos  encravados  n*aqueila 
vasta  extensão  de  folhagem  verde  escura.  Comtudo,  afastando  as  vistas  d^alli, 
e  olhando  a  alguma  distancia  n'uma  direcção  opposta,  a  scena  muda  comple- 
tamente: para  um  lado  prolongam-se  como  uma  espécie  de  deserto,  as  áridas 
e  requeimadas  charnecas  do  Aiemtejo,  até  perderem-se  em  remoto  horisonte, 
mais  á  esquerda,  para  além  dos  pinheiraes  e  dos  areiaes,  alongam-se  as  vis- 
tas por  esse  espaço  dilatado,  onde  as  aguas  do  Tejo  se  misturam  com  as  do 
Oceaqp,  divisando-se  ao  longe  o  vulto  de  Lisboa  debilmente  desenhado  e  en- 
volto em  uma  atmosphera  vaporosa.  Uma  poesia  melancólica  derrama-se  por 
todo  este  quadro;  apparece  de  novo  completamente  o  aspecto  bello,  mas  triste 
âo  Portugal  dos  nossos  dias  —  pomposo,  mas  fatigado  de  viver,  tal  como  se 
antolha  do  alto  da  Pena 

*  Cowpare-se  islo  com  o  que  dix  o  sr.  Asceocio  Calfo. 


iu  LI 

'Descobrimos  do  alio  de  uma  colllaa  o  .iperlado  vallo  do  Douro,  e  33  sl> 
nuosidades  d'es3e  verde  rio,  correndo  por  eDtre  as  suas  margens  alpestres.  A 
nossos  pés  via-so  o  Porio  ediAcado  em  semicírculo,  e  como  em  socalcos  sobre 
uma.  montanha.  Vísio  de  longe,  o  Porto  é  lalvez  menos  bello  e  grandioso  do 
que  Lisboa,  comtudo  o  que  lhe  dá  prereroncia  sobre  a  metrópole  c  a  vida  e 
actividade  tanio  sobre  as  aguas,  como  em  terra:  o  grande  numero  de  barcos  e 
navios  t]ne  se  apinham  sobre  as  vagas  do  Douro;  as  laboriosas  massas  de  po- 
vo, que  se  agitam  uas  rua  s  e  nas  praças,  e  que  apresentam  o  quadro  de  uma 
cidade  commcrcial  cheia  de  vida  e  de  energia,  e  fifialnenle  (pareça  embora 
iasigniGcante  o  que  vou  acrescentar)  além  de  Iodas  aquellas  corsas,  a  cidade 
possuo  lambem  uma  torre.  Saudei  pois  com  um  sentimento  de  intima  recor- 
dação pátria  a  torre  dos  Clérigos,  essa  que  no  Porto  se  diz  ser  a  anica  torre 
do  Portugal,  e  quo  elleclivameate,  á  excepção  das  duas  torres  de  Mafra,  é  a 
mais  alta  do  paiz. 

•É  verdadeiramente  encantadora  a  perspectiva  que  se  gosa  cm  muitos 
pontos,  especialmente  no  passeio  chamado  das  Fontainhas,  d'onde  se  descobre 
o  vallo  do  Douro  e  o  convento  da  Serra,  e  que  fai  lembrar  os  bretães  de  Ii«s- 
pantia.  Visitámos  lambem  o  celebrado  Preixo,  que  oferece  uma  vista  mages- 
losa  da  cidade  o  do  rio;  a  montanha  da  Arrábida,  o  Hospital,  de  qoe  só  está 
edillcada  a  quarta  parte,  e  que,  so  so  conclniss^,  seria  um  dos  maiores  do 
mundo,  c  linalmento  o  convento  de  Santo  António. 

•Ê  maravilhoso  o  panorama  que  do  alto  da  torre  dos  Cleri^ros  se  observa. 
Descobre-se  o  curso  do  Douro  ató  ao  mar  além  da  barra,  e  vé-se  o  caslello  e 
pharol  de  S.  João  da  Fux,  O  horisonie  é  limitado  para  o  lado  do  norte  pela 
Serra  de  Vallongo,  e  por  encostas  verdejantes  vé-se  serpear  o  rio  até  perder- 
se  atravez  das  montanhas  vinhateiras.  Descobrimos  umbem  oa  v&slos  arma- 
tusti  da  companhia,  onde  se  deposita  o  vinho,  e  d'oDde  é  exportado  para  to- 
das as  legiões  do  mundo. 

•Foi  somente  ao  luar  que  «s  dunensões  do  Porto  nos  pareoeram  grandw 
e  mageslosas :  a  cidade  alta,  e  a  cidade  baixa  com  as  suas  doas  collinas  da  . 
Sé  e  da  Victoria,  com  os  seus  baiiTOs,  e  na  esquerda  Gaia  e  Cabeçudo  prokHi- 
gam-se  em  amphitheatro,  preeipitam-se  do  mais  alto  cabeço  da  montanha  até 
mo^olhar-se  na  soperacie  das  aguas;  e  ao  passo  que  as  Inies  mais  elevadas 
resplandecem  jonlo  ás  estreitas,  as  pequenas  chammis  qoe  existem  oas  mar- 
gens  parecem  submergir*se  no  teoebiroso  rio-  • 

753)  LIFE  AND  TltAVELS  of  Joseph  Malhiat  mrgeím.  A  natíve  of 
Portugal.  Kilnauork,  1833.  (Vida  e  viagem  do  cirurgião  Joseph  Hathias.) 

Vem  esta  obra  mencionada  no  cataloga  manuscripto  do  conde  de  Lavf^o . 

754)  LIFE,  manners,  costume  and  character  of  Poiivguese.  (Modo  de  «• 
ver,  usos,  cosíamos  e  caracter  dos  portuguezes.) 

755)  LIFE  (THE)  of  St.  Elisabeth  Queen  of  Portugal.' By  a  secular  prial 
London,  18S9.  (Vida  de  Santa  Isabel,  rainha  de  Portugal.) 


jf.  'r.  %i 


LI  4« 

756)  LmBERG  (JEAN). 

E. — Denkwurdige  Reiserberchreiburg  durch  Teutschland,  Italien,  Spamen, 
Portugal^  England,  Frankreich  die  und  Schweitz,  Leipiíg,  1690.  (Víageús  por 
Allemanba,  Hespanha,  Portagal,  etc.)* 

757)  LIMBOROH  (PHTT.TPPE  VAN) 

£. — De  veritate  religionis  ChrisHanae  arnica  ccllatio  cum  audUo  Judaeo : 
subjungitur  huic  libro  tractatus  cui  titulus:  Urielis  a  Costa.  Exemplar  viiae 
humanae.  Goade,  1687.  (Polemica  amigável  acerca  da  verdade  da  religião 
christã  com  um  Jadea :  addíciona-se  a  este  livro  am  tratado,  cujo  titiido  é : 
Exemplar  da  Vida  Humana  por  Uriel  da  Costa. 

758)  LINBOROH  (P.). 

E. —  The  history  of  the  Inquisition  as  it  has  subsisted  tn  Prance,  Italy 
Spaini  Portugal.  London,  1816.  (Historia  da  Inquisição). 

759)  LINDLEY  (T.). 

E.—Narrative  of  a  voyage  to  Brazil,  terminating  in  the  seizure  of  a  Bri* 
tish  vessel,  and  the  imprisonement  of  the  author,  and  the  ship's  crew  hy  the 
Portuguese.  London,  1885.  (Narrativa  d*ama  viagem  ao  Brazil,  terminando 
pela  captora  de  mn  navio  inglez,  e  aprisionamento  do  aactor  e  da  tripulação 
pelos  portnguezes.) 

760)  LINDO  (E.  H.). 

E.—  The  history  of  the  Jews  of  Spam  and  Portugal  from  the  earliest  times 
to  their  final  expulsion  from  these  kingdoms.  London,  1848.  (Historia  dos  ju- 
deus de  Hespanha  e  Portugal  desde  os  mais  remotos  tempos  até  final  expul- 
são d'aqnelle  reino.) 

761)  UNK  (HENRIQUE  FREDERICO).  Celebre  naturalísU  âllemão.^ 
Nasceu  em  Hildesheim  a  2  de  fevereiro  de  1769.  Falleceu  em  Berlim  no 

l.''  de  janeiro  de  1851. 

Depois  de  terminar  seus  estudos  em  Groetingue,  e  de  professar  as  sciendas 
naturaes  nas  universidades  de  Rostock  e  de  Breslau  (1792  a  1815)  foi  chama- 
do para  a  universidade  de  Berlia,  onde  regeu  até  à  sua  morte  a  cadeira  de  bo- 
tânica, e  exerceu  o  logar  de  director  do  Jardim  das  Plantas.  Escreveu  com 
respeito  a  Portugal : 

Bemerkungen  auf  einer  Beise  durch  Frankreich,  Spanien  und  Portugal» 
Keil  und  Helmstaedt  1800-1804, 3  vol.  (Observações  feitas  durante  uma  via- 
gem atravez  da  França^  Hespanha  e  Portugal.) 

Esta  obra  foi  vertida  para  inglez  com  o  seguinte  titulo : 

Traveis  in  Portugal  and  through  France  and  Spain  with  a  dissertaJtUm  on 
the  Utter  ature  of  Portugal  and  the  Spanish  and  Portuguese  languages  by...tranS'' 

<  Firmin  Didot  —  NouveUe  Biographie  Universelle,  yoI.  SS."*,  pag.  28(». 


416  U 

laied  from  the  Germam  hgJákm  BmdOey,  Esq.  «M  Mlev  èf -flMKfVMaitfon 
Irfndon,  1801, 1  "TOL  de  m  fag. 

'Balnui6es6oiÉ<^iQ|iitatft:         ^^ 

Véffag^  ^  Portuffal  íepms  i797  jÉuguTai  tTWpgr/J .  :tÊk4  ilin  Jhjnf  i  nr 
If  eomm^íV  dti  Portugal f  traduit  áe  Vattemoêd.  Puís,  t*  fitone,  aa  xm 
(1803),  43i  pag.  O  !•  volume  ó  éé^wámm^ÊÊàài^MmBi^Wm^tatJÊiaÊ^ 
me  di^êpreMOa  d  iitidoi«giiiiile:  Voffti§ê^  m' foimi^i^  M^  it 

SUIfmamiêgg,  irMãtipariL  làik4ífakÍÊiimilÊ  é'âmmtÊi9 
MPi. iPiíi^  en  xUi  (180Q,  337  pag. 


«f 


'ííT  .  f     .  /..«^-M      s«» 


ll»)rMMtfo  »  eeta  olNpa  eoata-nde  litOc^^ 
«Que  sendo  o  coode  de  HoffioMoepgg  i»É  dèk  m§in  dtrtiiatoiWfliidigii  4»JMk 
toria  natural,  resolva  faier  uma  viagem  aPort^gil  em  1707  e  06^  dee^aade 
Mraeompanbadodeiiai  lUterato  venado  mt  iMtiiâ»  lé^MMÉtolJfaM  Sie  a 
lÉPtâna  ^  Ke  agiMar^iraeete^m,  e  €flitoageáiD»iada  JijÉai^dm^Mto^ 
Bo  ?erik>  de  1707.  Yeitfoe  àmMiffémaiB^tÊátÉÉMê^m^t^^ 
nos  obrigaram  a  ftmdear  em  Romney,  oode  deixámos  nosso mffo  para  eoMtf- 
noarmos  por  terra  a  viagem  até  Doowes.  D-am  partlmiispNtSa^^ 
de  lermos  atravessado  Franga  #  Hespariha,^  clicgiawi  «"PodUiMiiSes^irts 
pèreoÉrar  enm  Inlem  esfe^ftòj  afilfassámcii  m  makr|aMia*4éNd1il»iMMi 
el»%aóis»liá  ttiienf  dade  dsl^^    eMgstad^me^iMMMibaHAwSMll 
eedf  V«$  tttbeioaánt  deixei  BsriQ^ 

Londres,  e  d'aqui  para  Hambnrgo.  O  eonde  de  HofRaaansi^MSftaaBpJii 
fesidencia  no  interessante  Portugal,  d*onde  me  retirei  eom  pesar,  e  elle  ainda 
allí  está  occupado  a  visitar  cuidadosamente  todas  as  curiosidades  para  enri- 
queeer  a  historia  natural  com  as  differentes  descobertas  que  Portugal  pode 
oflèrecer.» 

A  descríp^o  da  viagem  «m  Portugal  começa  na  pagina  165  do  1.*  volu* 
me  da  traducçao  franceza,  e  a  i29  da  ingleza,  sendo  as  laudas  antecedentes 
destinadas  para  a  narração  de  uma  viagem  na  Inglaterra,  França  e  Hes- 
panba. 

O  nosso  viajante  entrou  em  Portugal  tendo  vindo  de  Badajoz.  Aeba  o 
vestuário  dos  portuguezes  das  proximidades  de  Elvas  muito  mais  acdado  que 
o  dos  hespanhoes.  «Que  differença  entre  o  povo  ordinário  de  Badajoz  e  o  de 
Elvas I  Paliarei  ainda  muitas  vezes  do  povo  baixo  de  Portugal.^  Recordo-me 
sempre  com  prazer  das  horas  agradáveis  que  passei  n'aquelle  povo  sensível, 
e  achar-se-ha  minha  opinião  bem  differente  da  de  outros  viajantes  que  nio  vi- 
ram mais  que  Lisboa,  ou  que  não  se  entregaram  ao  trabalho  de  aprende- 
rem  a  lingoa  portugoeza.  < 

«Bem  depressa  perdemos  de  vista  os  bellos  arredores  de  Elvas.  A  maior 


^  Versão  fraDceta,  vol.  I.»,  pag.  169. 

'  Mas  a  verdade  é  que  Link  também  apenas  a  sabia  mui  superficialmente,  e  &  prova 
está  em  mandar  pronunciar  Azeitão  AscitoanouQy  e  em  censurar  a  gramm&tica  porta- 
gueza.de  Meldola,  porque  seu  auctor  emprega  n'ella  infinitos  terminados  em  em.  Link 
certamente  ignorava  a  regalia  que  tem  a  língua  portugaeia  de  ter  infioitos  TariaTeís. 


LI  447 

parte  das  villas  e  aldeias  estão  disseminadas  por  aqui,  e  por  acolá  como  ilhas 
encantadas  n*am  mar  imroenso.» 

Depois  de  passar  por  Estremoz,  Arrayolos,  Monte-mór-o-Novo  e  oatras  po- 
voações, não  se  esquecendo  nunca  de  descrever  os  arbustos  mais  notáveis, 
que  encontrava,  chega  finalmente  á  capital  do  reino. 

«Nada  mais  bello  que  a  vista  de  Lisboa,  quer  a  gente  venha  de  Aldeia  Ga- 
lega, quer  de  Cacilhas :  não  conheço  nenhuma  grande  cidade  de  aspecto  tão 
imponente!  Uma  bacia  d'agua  immensa,  formada  pelo  Tejo,  que  tem  muitas 
vezes  mais  de  duas  milhas  allemãs  de  largura,  e  que  se  acha  todo  cheio  de 
embarcações :  uma  cidade  magestosa,  que  se  estende  em  amphitbeatro  sobre 
coUinas,  as  quaes  bordam  o  rio;  grande  numero  de  zimbórios,  os  arrabalde» 
semeados  de  casas  de  campo,  conventos,  jardins,  olivaes,  tudo  isto  forma  um 
todo  extraordinário  e  um  aspecto  magnifico!  Pode-se  contradizer  aos  porta* 
guezes  quando  em  seus  passeios  pelo  Tejo  consideram  Lisboa  a  maisbellaci* 
dade  do  universo:  Quem  não  tem  visto  Usboa,  não  tem  visto  coisa  boa  f  Real- 
mente, em  nenhuma  parte  existe  uma  vista  egual!  Os  cães  do  Terreiro  do  Pa- 
ço, onde  abordam  as  bateiras  e  barcos  pequenos  são  magniflcos,  e  excedem 
infinitamente  os  de  Londres  o  de  Paris.»  ^ 

Lamenta  depois  a  falta  de  divertimentos  que  havia  em  Lisboa,  diz-nos  po- 
rém, que  a  Opera  italiana  era  um  dos  principaes  divertimentos  das  pessoa» 
distinctas. 

«É  sustentada  não  somente  pela  corte,  mas  até  pelos  particulares.  Na  occa- 
Sião  de  minha  estada  era  excellente  a  todos  os  respeitos.  Os  cantores  doeste 
theatro  flzeram-me  insípida  qualquer  outra  musica.  Tinha  elle  attrahido  os 
melhores  virtuosi  de  Roma,  que  emigraram  na]occasião  da  tomada  d'esta  ci- 
dade pelos  francezes.  Grescentini  eclipsava  a  todos  os  outros.  Basta  nomeal«o 
para  quem  conhecia  a  Itália,  que  antes  de  suas  ultimas  devastações  era  a  pá- 
tria da  musica.  Em  Lisboa  não  é  permittido  ás  mulheres  representarem  em 
scena,  mas  são  substituídas  pelos  castrados,  que  são  excellentes.  Com  isto  per- 
de-se  pouco,  a  não  ser  pelo  lado  da  imaginação.  Confesso  que  a  opera  tem  sido 
noeu  principal  divertimento  em  Lisboa.  A  sala  é  grande  e  beila;  reina  alli  nma 
ordem  admirável :  o  cuidado  dos  directores  em  que  os  espectadores  estejam 
collocados  convenientemente  é  um  exemplo  digno  de  seguir-se.  Muitas  veies 
representam  operetas  portuguezas,  mas  que  não  passam  de  farças.  N'estas  a 
lingua  portugueza  frequentemente  oíTerece  encantos  na  bocca  de  Zamperíol. 
Além  do  theatro  da  opera,  cuja  designação  é  de  S.  Carlos,  ha  também  uma  co- 
media nacional  no  theatro  do  Salitre,  o  qual  fica  n'uma  rua  estreita  por  de- 


1  Apesar  d'es(e  e  de  moitissímos  outros  elogios  que  Línk  fax  a  cada  passo  das  coi- 
sas portuguezas,  o  nosso  medico  Francisco  Ignacio  dos  Santos  Crux  dix  a  pag.  18  do  to- 
mo 1 ."  do  seu  Ensaio  sobre  a  lopographia  medica  da  cidade  de  Lisboa  que  Link  fora  o 
mais  mentiroso  e  embusteiro  de  quantos  viajantes  teem  visitado  o  nosso  paiz.  Talrex  esta 
apreciação  seja  injusta,  roas  a  verdade  ó  que  este  viajante  claudica  por  veies;  pelo  me- 
nos a  respeito  da  nossa  moourneatal  egreja  de  Belém  falia  como  quem  nunca  lá  eolrou, 
e  quer  improvisar. 


iw  LI 

traz  do  Passeio  Poíilico.  E'  pouco  frequentada  da  DObreza.  Pela  sua  apparim 
cia  Ião  mesquinha  ficámos  pouco  dispostos  a  Tavor  do  espectáculo.  Os  papeis 
de  mulber  são  egualmente  desempenhados  por  homens,  aos  quaes  não  costa 
pouco  eae^ndcr  a  barba.  Os  ariures  em  patle  são  artistas.  Vi  unt  sapateiro  que 
depois  de  trabalhar  lodo  o  dia,  Tazia  do  velho,  e  não  era  mau  actor.  A  maíoría 
das  peças  aqui  representadas  são  traduc^Ccs  do  italiano,  poucas  traduzidas  de 
outras  lingoas,  o  ainda  maias  as  originaes.  Nunca  vi,  quer  representado  no 
theatro,  quer  anaunciado  no^  cartazes,  o  papel  de  gracioso,  e  todas  as  peças 
sérias  são  más  ou  mal  desempenhadas.  Nada  mais  detestável  qne  o  galan  n'este 
Qieatro.  As  peças  pequenas  são  ainda  mais  miseráveis  qne  os  saitiflf*  hesps- 
nboes.  Mão  96  conheço  aqui  a  toniidUla.  Porém  entre  as  comedias  de  apparalo 
algnmas  nao  deixam  de  ter  merecimento.  A  nação  era  geral  propende  para  a 
satyra  e  critica,  e  a  lingua  presta  se  facilmente  á  imitação  cómica.  Vi  com 
muito  gosto  a  imitação  do  Brother  of  Jamaica,  qao  lambem  [oi  imitada  do  ^- 
lemão  com  o  litoio  de  O  Primo  de  lúboa.  Alguns  papeis  foram  superionnenle 
representados. 

•  O  Jardim  BoUnico  está  exeellenlemeate  situado.  Goza-se  d'alli  uma  vista 
deliciosa,  ao  mesmo  tempo  do  rio  o  do  mar,  e  donde  sa  descobre,  como  do 
Jardim  das  Plantas  de  Paris,  uma  grande  parte  da  cidade.  >'ão  é  vasto,  as  es. 
tufas  mesmo  são  pouco  espaçosas,  mas  teem  um  excellente  lago  para  as  plan- 
tas aquáticos.  Sua  distribuição  exterior  é  elegaute,  de  maneira  qoe  não  deixa 
de  offerecer  interesse  a  um  botânico.  Plantam-se  «'este  jardim  os  vegetae3,que 
O  acaso  offerece,  mas  deixa-se  o  cuidado  e  a  cultura  ao  clima,  maito  favo- 
rável ás  plantas.  Não  so  deve,  todavia,  e^^perar  fncoisirar  neste  esiabeled- 
menlo  tuna  boa  indicação  dos  ihesouros  que  enceira.  3e  pedis  esolaregimeií- 
Ms,  o  professor  Vandelli  ahre-vos  o  Systema  Vegetabtítum  de  liuneo  <edíçã» 
de  Morray),  a,  ainda  que  a  descrípção  que  se  lhe  apreseDli,  tesbi  poãu 
analogia  com  a  planta  de  que  se  irau,  não  baaita  um  memento  em  lha  ■»- 
siguar  um  nome.  Finalmente-  este  doutor  Vaudéllí,  nascido  lu  Itália,  é  eò- 
nlieeido  doa  naturalistas  por  algumas  obras,  mas  prineipalmeate  por  soas 
rdaçSos  com  Linneo.  Não  se  lhe  pôde  negar  ter  sido  na  sua  mecUjitde  an 
homem  estudioso,  e  ter  emprebeudido  muito  para  ganhar  cddMidade.  Bn- 
tedera  foi  seu  mestre  de  botânica.  Durante  o  governo  do  Pombal  M  cftà- 
mado  de  Pádua  juDlamente  com  o  italiano  Delia  Bella  para  ensinarem  em 
Cofmbn.  D'aqui  vein  para  Lisboa  com  o  titulo  de  primeiro  fai^»elar  do 
mosea  e  do  Jardim  Botânico.  Além  d'isto  foi  aggregado  i  aula  de  eommr- 
do.  Por  differenles  meios  soube  obter  um  rendimento  annnal  da  laaie  da 
otto  mil  enuados.  Porém  acha-se  bem  alraiado  em  confaeelmenu».  Apenas 
conhece  as  plantas,  que  outr'ora  elle  mesmo  descreveu:  é  ^ualmente  mau 
mineralogista,  a  suas  memorias  de  chimiea  insertas  nas  Memoriai  da  Acode- 
nãa  cobriram-no  de  ridículo  aos  olhos  dos  sábios.  Poder-lbe-hía  perdoar  soa 
ignorância,  se  não  se  mostrasse  (segando  se  diz)  invejoso  e  iototeranie  para 
com  os  que  pelo  seu  mérito  estão  acima  d'elle. 

•O  segando  conservador  do  jardim  é  D.  Alexandre  Rodrigues  Perreira, 
do  qual  unicamente  se  poda  dizer  que  esteve  mtuto  tempo  no  BratX  ti  goteik' 


LI  *  449 

Depois  de  ter  visitado  maitas  povoações  n'este  reino,  dirigia-se  Link  para 
Coimbra,  e  entre  tudo  que  via,  falia  com  mais  particularidade  acerca  da  Uni- 
versidade. 

«O  gabinete  de  Historia  Natural  é  pouco  considerável,  c  poucas  coisas 
notáveis  contém.  Está  classificado  por  Vandelli,  segundo  o  systema  de  Linneo. 
Porém  a  coliecçao  de  instrumentos  de  physica  é  preciosa,  e  entre  elles  alguns 
ha  feitos  na  Inglaterra.  Os  construídos  em  Portugal  pela  maior  parte  sâo  fei- 
tos de  pau  santo  e  dourados.  Esta  coliecçao  em  geral  é  uma  das  mais  brilhan- 
tes. Este  gabinete  é  precioso  em  tudo  quanto  diz  respeito  á  mecbanica,  mas 
muito  pobre  em  machínas  eléctricas.  O  laboratório  de  chimica  é  egualmente 
bom,  vasto  e  muito  claro.  Além  de  tudo  que  diz  respeito  a  um  laboratório  tem 
ainda  instrumentos  pneumáticos  e  uma  coUecção  de  apparelhos  chimicos  se- 
gundo a  nova  nomenclatura  antipblogistica.  Encontra-se  alli  também  uma  col- 
iecçao de  instrumentos  de  cirurgia. 

cO  observatório  é  bem  construído,  e  está  situado  na  parte  superior  da  ci- 
dade: é  commodo  e  bem  distribuído,  mas  carece  de  muitos  instrumentos. 

tO  Jardim  Botânico  é  mui  vasto,  e  as  estufas  pequenas;  mas  pelos  cuidados 
de  seu  director  Félix  de  Avaliar  Brotero,  lente  de  botânica,  este  estabeleci- 
mento foi  superiormente  organisado,  e  é  mais  interessante  que  o  Jardim  Botâ- 
nico de  Lisboa.  Acba-se  junto  de  cada  planta  uma  estaca,  na  qual  está  escri- 
pto  seu  nome,  distribuição  similhante  á  do  Jardim  dâs  Plantas  em  Paris,  do 
qual,  á  primeira  vista,  parece  vér-se  uma  parte.  Além  de  varias  plantas  exó- 
ticas encontra-se  alli  uma  còllecção  das  notáveis,  que  o  digno  inspector  obser- 
vou e  descreveu  com  muito  cuidado.  É  certo  que  nenhum  amador  deixará  de 
visitar  este  jardim  sem  fructo  e  prazer. 

«Finalmente  os  estatutos  da  Universidade  de  Coimbra  não  sáo  para  despre- 
zar. No  dizer  de  juizes  competentes  esta  é  preferível  a  todas  as  universidades 
de  llespanha,  sem  exceptuar  a  de  Salamanca.  Ha  na  Allemanha  muitas  uni- 
versidades, que  em  quanto  á  sabedoria  de  seus  estatutos  nào  valem  esta,  que 
em  geral  se  despreza. 

«Travei  conhecimento  com  vários  lentos,  mas  nào  me  cumpre  ajuizar  de 
sciencias  difterentes  d'aquellas  que  professo.  Achei  n' elles  espíritos  previden- 
tes e  sagazes,  a  quem  a  polidez  portugueza  ainda  tornava  mais  amáveis.  Co- 
nhecem a  liueralura  franceza  e  ingleza;  seria  porem  exigir  demais  que  tives- 
sem conhecimento  da  allemã.  Na  livraria  de  fr.  Joaquim  de  Santa  Clara,  be- 
nedictino  e  lente  de  theologia,  homem  discreto  e  erudito,  encontra-se  a  litte-' 
ratura  allemá,  mas  só  até  i730.  ^ 

«Eu  teria  desejado  conhecer  todas  as  sciencias  para  poder  apreciar  bem 
o  mérito  dos  sábios  lentes  da  Universidade  de  Coimbra.  Sou  amigo  do  Félix 
de  Avellar  Brotero,  professor  de  botânica.  Seus  conhecimentos  n'esta  scíencia 
sáo  preciosos.  Nas  suas  viagens  em  Portugal  applicou-se  particularmente  a  es- 
tudar  as  plantas  d'este  reino,  e  augmentou  consideravelmente  o  Jardim  Botâ- 
nico. Respondeu  quasi  sempre  a  minhas  perguntas  de  uma  maneira  satisfac- 
toria.  Posso  com  rasáo  incluil-o  entre  os  melhores  botânicos  de  todos  os  pai- 
zes  que  tenho  percorrido;  o  o  que  mais  ó  para  maravilhar,  tem  mellior  eslu- 

TOMO  I  29 


l^ftdo  búlanicA,  qoa  muitos  ouiros  sabias  mais  conhecidos,  e  qii>!  rec«bem  a^us 

.^nhecimenlos  dns  graodes  í»  folio,  oa  que  nada  mais  conbcceoi  que  o  género 

e  a  espécie  de  que  fazem  menção  etn  soas  obras.  A  introdac^ão  á  Botânica  de 

llBrolero  ■  escrípla  em  portugaex  prova  qae  elle  possue  tanlos  conhecimentos, 

I  I»  mailo  maior  racilidade  em  fazer-se  senbor  da  todas  as  descobertas,  do  que 

I  jQdas  os  sábios  de  Ãllemaoba  que  traUun  do  mesmo  assumpto.  Bralcro  conhece 

1  ^  obras  botânicas  allemãs.  Residiu  oilo  annos  em  Paris  com  o  ILm  de  caliivar 

^sciencia,  motivo  pelo  qual  seus  collogas  llio  dão  mil  desgosioá.  Eslá  minado 

peU  magna  a  (risli^a.  Vaadelli  afaslou-o  de  Lisboa  por  causa  de  seus  gran- 

I  4ss  oonhecimenlos,  e  achou  meios  de  obter  para  D.  Alexandre,  homem  sem 

.  iõelracEão,  um  logar  que  era  devido  ao  mérito  de  Urolero.  Recordo  ma  com 

I  'jgfaier  de  nossos  passeios  botânicos  em  Coimbra.  Apenas  conversou  comuosco 

ffiir  meia  hora,  e  viu  nossa  cuIlect^LO,  que,  cônscio  de  seus  conhecimentos,  pro- 

'  jKH-no8  iinmedialamcoto  um  passeio.  Era  um  esiieclacuio  encantador  ver  6 

I  Bontir  augmentar  diariamente  a  estima,  quo  uos  prendia  mutuamenl^.>  * 

^^     «Acabo  do  saber  que  este  digno  amigo  foi  chamado  para  Lisboa,  e  que  o 

\  fs/nás  de  Caparica  lornou-o  a  pi}r  em  ai^tividade,  e  reanimou  sua  câragem. 

'  ^  ,  iD.  Constanliuo  Botelho  de  Lacerda  Lobo,  professor  de  physica,  não  valo 

I  .^roleco,  Palia  muito,  mas  é  superãcial.  Até  seus  conhecimentos  em  physica 

'  jfia  inuito  medíocres;  porém,  em  couipe^nsa^  é  muito  laborioso,  e  culliva 

'^m  fructo  as  scienciaa  aconomicas.  A  Gcoiuimía  e  outras  sciencias  qua  faiem 

[  «lacrar  Tracto  immoJiato  e  promplo  sào  actualmente  muito  cultivadas  em  Por- 

Llggal.  porém  as  mnsas  repellem  estas  occupações  venaes  e  mercenárias. 

'        «D.  Tboraé  Rodrigues  Sobral,  proftssor  de  chimica,  c  homem  muito  hábil. 

Conhece  os  processos  actuaes  dos  francezes  n'e3ia  sclencia,  a  qual  ensina  a^ 

gundo  os  novos  princípios  anliphlogisticos.  Até  mesmo  traduziu  auaDomaocU- 

turaemportuguez:  occupa-seaclualmeoieempnblioarumlfiuiualiíeCJknuca. 

'  Gelo  Campendio  di  Boíaflica  loi  impreuo  em  Paris  do  »ddo  ds  1788,  canUodo  o 
1."  loluma  ni  paginas,  a  o  i.°  ill  de  8.*  graoda.  A  iDlraducçao,  qaa  cousU  ds  76,  1 
noito  inlere^sanlu  c  inilructiva.  Traia  da  arigem,  prograsso  t  eilado,  i)'aqneUB  laMpo, 
da  botânica. 

No  prulo^o  íai  etogÍDs  a  Domingos  Tandelli  •cujo  morecimwlB  é  bem  oxibecidn 
ou  principaea  academias  da  Europa.  Este  sábio  rettabeleceu  nSo  i6  &  botaaiea  mo  P«r- 
iDgal,  ma.4  aiml.i  a  zoologia,  mioeralagia  «cbimica,  dequatoi  egnalmente BomMit  pr»- 
ftnor  pelo  Senlisi  D.  José  1.  (pa^.  73).  Isto  ao  pasto  que  Liak  DOt  dii  qsa  ai  obrai 
dt  fandelli  o  tinham  coberto  da  ridículo  oa  Europa.  Creio,  porém,  qne  Vandalli  bmi 
•ta  lao  igooranio,  oem  (ao  presumido  coDto  o  viajanle  alleiaio  Dot-o  teproMDla.  Pnibal 
nuDM  cliamou  ignoraalet  para  eela  paii. 

O  S.*  Yotume  termina  com  uma  grande  porç3o  de  estampas  coloridaa  nprcsmlaado 
nuila  variedade  de  plantas. 

'  Brotero,  perseguido  pela  inquíMçSo,  tugiu  em  1778paraoHavre,  lendo  alcaaçado 
'pusa^iini  BiQ  ""i  navio  por  diligantias  de  TbJmotbeo  LecuKan  Ventier.  A  Sociedade 
dfli  CurioMi  da  NalureiB  de  Biinna  conferiu-lbe  em  1818  o  lituln  de  aocio,  a  o  laadoa 
com  o  appellido  de  Clusio  por  allusio  ao  celebre  bolanico  flamengo,  que  foi  dot  príueírM 
que  litilou  como  botânico  a  pen  insula.  Por  espajo  dedoie  annoe  frequentou  as  anlaida 
sciencias  naluiaet  em  Paris,  ganbando  a  affeiçSo  de  Vicq  d'Aifr,  dAnbentoa,  BtilM* 


LI  451 

«N'uroa  palavra,  Portugal  possae  homens  conhecedores  do  estado  actual 
da  litteratura :  ha  excellentes  cabeças,  mas  é  difiQcil  encontrar  n'este  paiz  sá- 
bios profundos  que  cultivem  as  sciencias  unicamente  por  amor  a  elias. 

•      • 

«Os  arredores  de  Coimbra  são  de  uma  bellesa  ex  traordinaria,  e  apezar  de 
montanhosos  nâo  deixam  de  ser  bem  cultivados.  As  montanhas  são  coroadas 
de  pinheiraes  e  até  de  carvalhos  de  Allemanha.  Os  valles  são  cortados  pelos 
ribeiros,  e  cheios  de  jardins,  quintas,  casas  de  recreio  e  conventos.  A  olivei- 
ra, larangeira  e  o  bello  cypreste  de  Portugal  encontram-se  alli  por  toda  a  par- 
te e  em  grande  numero.  O  Mondego,  que  baftha  as  muralhas  da  cidade,  ser-, 
penteia  magestosamente  n*uma  planície  estreita,  mas  fértil,  inundada  no  in- 
verno por  este  rio  impetuoso.  Ao  longe  descobrem  os  olhos  de  um  lado  a  alta 
serra  da  Louzã,  e  do  outro  a  do  Bussaco,  em  cujo  píncaro  existe  o  celebre 
mosteiro  dos  Carmelitas. 

«Defronte  de  Coimbra,  na  ma  rgem  do  rio,  está  uma  quinta,  que  ainda  hoje 
tem  o  nome  de  Quinta  das  Lagrimas.  Aqui,  seg  undo  a  tradição,  foi  assassi- 
nada D.  Ignez  de  Castro.  Ignez  e  D.  Pedro  pareceram  conhecer  bem  as  belle- 
zas  da  natureza,  escolhendo  este  lindo  sitio,  onde  Coimbra  se  apresenta  á  vista 
em  toda  sua  magniOcencia.  A  quinta  das  Lagrim  as  ofterece  no  valle  um  le- 
gar favorável  ao  espirito  romântico,  e  se  em  Portugal  a  poesia  apparece  ainda 
em  todo  seu  fulgor,  deve-o  a  este  lindo  valle. 

«Uma  circumstancia  notável  é  que  o  bello  assumpto  da  morte  de  Ignez  nun- 
ca forneceu  entre  os  portuguezes  matéria  para  uma  excellente  composição  poé- 
tica. Esforçaram-se,  é  verdade,  para  a  porem  notheatro,  mas  o  assumpto  não 
se  presta  a  isso  sem  grandes  alterações.  Ignez,  por  Lamotle,  é  uma  tragedia 
esquecida,  e  digna  de  o  ser.  Creio  que  uma  tragedia  ai  lema,  d*este  nome,  que 

6  Jussiea.  Assistia  ao  curso  de  Historia  Natural  aberto  por  Valmontede  Bemare  em  Pa- 
ris no  anno  de  1781,  e  ás  demonstrações  de  botânica  nocollegio  de  pbarmacia,  o  foi  ad- 
mittido  á  convivência  e  sociedade  de  Buffon,  Gondorcet,  Guvier  e  Lamark.  Depois  dos 
principaes  estudos  de  Historia  Natural  foi  doutorar-se  na  escola  de  medicina  de  Beims. 
Na  primavera  de  1790  voltou  para  Lisboa,  e  em  maio  d'esle  anno  foi  convidado  por  Yao- 
delli  e  pelos  viajantes  russos  Legaway  e  Doubat  Gbewi^koy  para  uma  berborisaçio  nos 
montes  visinhos  de  Lisboa,  convite  que  acceitou.  Foi  sócio  da  sociedade  Pbilomatica  de 
Paris,  das  sociedades  de  Horticultura)  Linneana,  e  Medico-Botanica  de  Londres,  da  Pby- 
fliographica  de  Lunden  na  Suécia,  de  Historia  Natural  de  Bostock,  das  academias  de  Tu- 
rim, e  da  sociedade  das  Sciencias  Naturaes  de  Marburg.  Os  mais  díslínctos  botanieos 
d*aquella  época  consideraram  como  um  dever  tributar-lhe  a  homenagem  mais  lisongei- 
ra,  e  a  roais  duradoura  a  que  a  nobre  ambição  do  seu  espirito  elevado  podia  aspirar, 
designando  varias  plantas  com  o  nome  do  nosso  illustre  compatriota,  taes  sio  a  Broiéra 
wata,  de  Cavanilles,  e  a  Brotera  trinervata,  de  Persoon. 

•  Era  amigo  do  Willdenow,  com  o  qual  manteve  uma  Intima  correspondência  epis- 
tolar por  muitos  annos.» 

Brotero  falleceu  em  18)4,  e  jaz  na  egreja  do  extincto  convento  de-S.  José  de  Riba- 
mar.—iVoticta  Biographica  do  dr.  Félix  de  AteUar  Brotero^  coordenada  por  um  dt«<in- 
€to  litierato.  Lisboa,  1817. 


434  LI 

EsU  ultima  Toi  [radiizída  cm  latim  cnm  o  spgiiinlo  titulo:  PmiagaUiae,  »ivf 
de  Regi$  PortugcUliae  regnis  et  opibus  Comitienlarius,  1641.  Ex  offlcina  Kl- 
zevcriana.  Foi  [anibeiu  esta  obra  viTlMa  para  bollaudez.  Amílerdao,  1638. 
V,  Bry  e  Mertani- 

-Qj  LIPPE  (CONUE  DE), 

Nasceu  C[u  Londres  do  anno  da  I7j4. '  Di3tiDg:uiii-se  em  varias  cainpipj 
ntias  na  Europa,  e  em  17C3,  rompendo  a  guerra  de  He»panha  contra  INrrtik^ 
gai,  encarregou- se,  por  in[erveni;âo  de  Jorge  11,  rei  de  laglalerra,  do  comm 
do  dos  e:iercito3  alliados,  íaglez  p  porlugacz.  RetJrou-se  para  os  «eus  eslalM  | 
em  1766.  Fallccea  um  setembro  de  1777. 

Em  1767  veia  a  Portugal  para  velar  nas  obras  do  Torle  de  Noi'sa  Senhora  d) 
Graça,  por  ello  então  projectado  janto  de  Elvas-  * 

No  3."  vol.  do  Inresligador  apparecem  mencionados  as  soguínleii  obr 
d'este  celebre  gâncral. 

í.  Obttrra^s  e  manfira  Úípór  em  pratica  a  disciplina  militar  j 
moio»'  tfçuratiça  de  Porlugat.  (De  pag.  379  a  397.) 

U.  Extracto  do  nma  carta  do  conde  de  Lippe.  datada  de  Buckd)arg  a  W' 
de  abril  de  1776,  em  resposta  a  uma  do  marqnez  de  Pombal  cm  que  este  mi- 
nistro o  informa  que  Portugal  eslava  ameaçado  por  Uespanha,  e  exprimindo 
seu  receio  pela  situação  da  familia  real  em  Lisboa,  datada  a  12  de  março  da 
1776.  (De  pag.  548  a  551.)  j 

in.  Extracto  2.°  dn  outra  cana  do  mesmo  coiiiIií  dii  Lippe  ao  marquei  da  4 
Pombal,  datada  a  25  de  maio  de  1776,  contendo  algumas  addições  ã  pnco- 
dente  carta  de  20  de  abril  do  mesmo  anno.  (De  pag.  651  a  553.) 

IV.  Extracto  3.°  de  outra  carta  do  mesmo  conde  de  Lippe  ao  marquei  ée 
Pombal,  datada  de  Buckeburg  a  30  de  deiembro  de  1776  (De  pag.  6S} 
ft5ã4.) 

V.  Memoria  inédita  do  conde  de  Lippe  s<Are  a  campimha  de  Portugal  em 
1702.  (No  3.°  vol.  do  Investigador  Português,  de  pag.  67  a  81.  ContinflA  do  pag. 
144 alã  366) 


764)  LISSABON  und  seine  umgebungen,  de.  (!jsboa  e  seus  arrabaldes, 
com  uma  descripç.ío  resumida,  estalistica  e  topographica  de  Portugal,  prece- 
dida de  uma  vista  de  Lisboa,  de  um  plano  d 'esta  cidade,  e  de  um  mappa  de 
PMlugal.)  Leipiig,  1808,  S.° 

76fS)  LIVE  o{  the  most  literary  and  saentific  men  of  Italy,  Spttín  imi 

*  Revisía  Vittvtrsal  Liibovcnse,  vol.  S  °,  pog.  0i9. 

>  O  conito  de  l.i|ipc  linha  na  capital  doa  sous  eslados  um  Uga  cuja  circurofareaeia 
pouco  tilais  ou  mPiios  cru  Jc  uma  Icgua,  e  na  meio  linL.i  unin  pequena  Ilha  em  quu  fn  nn 
pequono  forle,  que  paliou  pnr  modela  de  fartilicacSn.  Gralo  t  munificência  do  Mnbor  ttí 
D.  loBé  I,  no  dia  iiatalicio  d'esle  augúrio  e  esclarecida  monarcba,  o  conde  de  Lippe  daii 
descargas  de  arliiberin  com  as  pcçai  de  oiro  maiiiro  qug  o  grande  ntonarcba  porlugun 
Ibe  tinha  dado,  enlrc  muitos  outros  riquissímoí  presnite»,  na  «ua  despediria  de  Portngal 
para  os  sou;  cílados  de  Allcmanha.  Inruiiijaior  Purlwjmi,  vol.  3.°,  pag.  d18. 


U  455 

P&rtugcd.  London,  1835.  3  vol.  (Vidas  dos  melhores  litteratos  e  homens  do 
sciencia  de  Itatia,  Hespanha  e  Portugal.) 

766)  LTVES  of  the  most  eminent  foreign  stalesmen  (PomòaVs  memoirs, 
duke  of  Lerma,  dtúce  of  Ossuna,  count  Olivares,  ele).  London,  1832, 5  vol.  (Vi- 
das dos  mais  eminentes  estadistas  estrangeiros). 

767)  LJUNGSTEDT  (SIR  ANDREW,  KNIGT  OF  THE  SWE 
DISH  ORDER  WAZAJ. 

E.—-An  historical  Sketch  ofthe  portuguese  seiUements  tn  China;  and  of  the 
Roman  Catholic  Church  and  mission  in  China  by — ,  A  supplementary  chapter, 
description  of  the  cily  of  Canton,  republished  from  the  Chinese  Repository,  with 
the  Editor' s  peimission.  Bostofi  James  Munroe  and  Co,  1836.  8.<>  gr.  3â3  pag. 
e  18  de  índice.  ^ 

O  meu  exemplar  traz  as  seguintes  estampas :  1.*  Mappa  da  cidade  e  porto 
de  Macau.—2.*  Plano  da  cidade  e  porto  de  Macau.— 3.»  Cidade  e  arrabaldes  de 
Cantão.— 4.*  Epitaphio  em  lingua  portugueza  e  chineza,  que  se  poz  em  1639, 
no  sitio  onde  enterraram  S.  Francisco  Xavier. 

Apresenta  o  auctor  uma  lista  das  obras,  de  que  se  aproveitou  para  a  com- 
posição doeste  seu  trabalho,  e  confessa  ter-se  utilisado  também  de  muitos  ma^ 
nuscriptos  salvos  da  perdição  pelo  bispo  de  Pekin,  D.  Joaquim  Saraiva. 

«Tendo  os  portuguezes  sido  os  primeiros  que  (pag.  1),  pelo  fim  do  xv  se- 
colo  dobraram  o  Cabo  da  Boa  Esperança,  as  asserções  dos  annalistas  e  via- 
jantes de  que  durante  o  reinado  de  Hong-che,  imperador  da  China,  que  mor- 
reu em  1504,  os  europeus  commerciavam  em  Ning-po  e  Cantão,  devem  ser 
gratuitas  e  faltas  de  base.  Os  portuguezes,  tendo-se  senhoreado  em  1510  de 
Goa,  na  costa  occidental  da  Ásia,  o  valente,  mas^  intolerante  AfTonso  de  Albu- 
querque, estendeu  em  1511  por  conquista  a  auctoridade  da  coroa  de  Portugal 
sobre  Malaca,  n'aqueile  tempo  um  empório  commcrcial  de  primeira  impor- 
tância na  Ásia.  D'alli  com  licença  de  Georgc  de  Albuquerque,  capitão  do  lo*, 
gar,  Raphael  Perestrello  tomou  em  1516  sua  passagem  a  bordo  do  um  junco 
chinez:  d'aquelle  paiz  trouxe  mui  escassa  informação,  mas  ganhou  grandes  ca- 
bedaes  com  a  sua  aventura.  Seu  bom  resultado  deu  origem  a  uma  empreza  em 
maior  escala.  Quatro  navios  portuguezes,  além  d'um  outro  pertencente  aGeor- 
ge  Mascarenhas,  e  quatro  embarcações  malaias  foram  postas  de  verga  d'alto, 
debaixo  do  commando  de  Fernão  Peres  d'Andrade,  que  em  1517  entrou  no 
golpho  da  China.  A  vista  de  navios  alterosos  e  estrangeiros  e  a  physionomia 
da  tripulação  inspiravam  receio;  seguiu-se  a  confiança  pelo  seu  moderado 
comportamento,  e  principalmente  pelos  generosos  presentes  dados  pelo  com- 
mandante  aos  oíficiaes  dos  cruzeiros  imperíaes. 

^  Gosta  e  Silva  no  seu  poema  O  jiastexo  faz  elogios  a  esta  obra.  Algumas  pafisagens 
porém  8Ío  censuradas  na  Historia  de  Macau  por  José  Mnnuel  de  Carvalho  e  Soma.  Ma* 
cau,  1845. 


4uC  tjJ 

•  Us  mandarins  deram  Tavoravel  íarorinaçÃo  d'elle:  fonsenliram  qnc  seus 
lUTíos  ancorassem  em  Tamao,  o  iinico  porlo  no  qual  se  permiitú  aos  estran- 
geiros comQiciriorem.  Gcorge  MascarenliiLs,  qa^veiu  com  Andrade  no  sea  na- 
vio para  Tamau,  eacaatraado  juncos  de  Low-kew  ancorados,  deleniimou  em- 
barcar-se  c'i'lles  6  vi3ilar  a  costa  urjeoial  da  Ctiitia.  Sem  duvida  tocoa  D'aJgDiis 
portos  Jas  provindas  de  Fuh-keen,  e  abriu  o  caminha  a  seas  eonciâadàos 
para  um  proveitoso  commercio.  Este  comei;úu  mui  provavelmente  poaca  de- 
pois da  expulsão  dos  porluguezes  de  Taman  om  IS21.  Por  alguns  aanos  são 
podiam  09  porlugueies  svenlurar  a  moítrarum-se  sem  grande  periga  no  f^l- 
pho  da  China:  toda  sua  actividade  commorcia]  devia  portanto  ocmpar-ae  nos 
portos  orienlues  du  imporio-  AJli,  como  em  outras  parles,  os  mandarins  eram 
connivculcs  nas  transau^úM  etn  bu»:a  àn  omolmneiilos,  até  onde  podiam.  For- 
mou-se  fmalmcnte  um  ompurio  om  Liampo  oa  Ning-po.  Para  estudo  d'e5U  lo- 
calidade pode  ser  de  alguma  utilidade  as  PncjinnOfõfs  Jf  Fernão  Mendei  Pm- 
iQ,.  as  quaes  foram  traduzidas  um  inslez  e  publicadas  em  IfiSU  por  U.  C.  (ient, 
que  n'ama  deteia  apologética  refutou  a  imputarão  de  ser  Pinio  o  príncipe  do« 
lueiitirosos. 

•  Em  seus  dias  de  esplendor  e  prosperidade  (pag.  3}  Liampo  tomou-sc  nm 
asylo  para  os  povos  da  Cliioa,  Siam,  Bomeo,  Lew-kew  etc.  contra  os  pirata<, 
que  em  grande  numero  percorriam  o  mar.  Aquelle  logar  tinha  estado  llores- 
cento  por  muito  lempo,  mas  lornoa-sc  esoe.^siv amento  rico  desde  ISil,  por 
uausa  do  commercio  com  o  Japão.  Tinha  duas  egrejas,  uma  alfandega,  dol« 
búspitaeK,  B  para  cima  de  mil  edincios  particulares.  Poriím  a  distruiçâo  <l'este 
loitai'  íihi  devida  a  Lançarula  Pereira,  o  ouvidor.  Tíndo  vendido  varia*  raíen- 
das  a  um  cbinez  que  lhe  não  pagou,  cabiu  com  alguns  companheiros  aobn 
uma  povoação  próxima,  onde  roubou  e  matou  i  sna  vonude.  Os  habitanlei 
d'esu  povoação,  tNido-se  queixado  ao  mandarim,  este  mandou  arrasar  Uam- 

'  po,  em  1542. 

•Os  portuguczes  estabelecidos  em  Cbincbew  também  d'aqai  foram  dõita' 
dos  fora  em  la^9  por  causa  de  queixas,  que  d'elles  tinham  sido  feitas  aos 
mandarins 

■Em  1554  fecharam  os  mandarins  o  porto  de  Tamáo,  concentraram  todo  o 
commercio  estrangoiro  cm  Lampacáo,  e  uma  carta  enviada  á  companhí»  de 
Jesus  nos  aswvcra  que  quinhentos  ou  seiscentos  portuguezes  estavam  cons- 
tantemente commerciando  n'estc  logar  (pag.  b). 

•Em  minha  opinião  ó  mais  seguro  attribuir  a  posse  de  Hacaa  (pag.  13)  ã 
bondade  imperial,  antes  que  a  conquista;  porquanto  oa  conquistadores  ver- 
sc-biam  obrigados  a  dci.\arem  o  logar,  bastando  para  isso  somente  que  o  go- 
verno chinez  manda!<se  aos  com  me  rei  antes,  operários  e  serventes  que  deitas- 
sem suas  orcupações,  e  se  retirassem,  não  fornecendo  provisões  aos  habi- 
ta utes. 

Seguem-so  depois  os  seguintes  assumptos:  Cap.  t.  Narrativa  histórica  ie 
Vacaii,  pag.  10  a  14.  Cap.  ii.  Descrípçuo  lopographica,  pag.  lS-16.  Cap.  m. 
Ditisãú  de  Macau,  pag.  17-23.  Cap.  iv.  População,  pag.  36-43. 

lOsrcisdePúriagal  (pag.  148)  pretcudcm,  cm  virtude  de  bailas  â«Gr^(K 


LJ  487 

rio  Xn  e  Clemente  VUI,  qae  nenham  ecclesiastíco  passe  da  Europa  à  Ásia, 
senão  por  via  de  Lisboa.  É  este  o  primeiro  ponto  de  am  privilegio  denomina- 
do Padroado  real.  Além  dMsto,  qae  os  soberanos  de  Portugal  teem  direito  de 
construírem  egrejas  e  governarem  as  existentes  dentro  dos  limites  de  seus  do- 
mínios, nào  somente  por  missionários  e  bispos,  mas  também  o  de  nomearem 
sacerdotes  para  quantas  egrejas  forem  levantadas  no  mundo  pagão  da  Ásia, 
independente  de  Portugal.  Desde  o  tempo  de  Gregório  XIII  até  ao  de  Innocen- 
cio  XII  estas  pretenções não  tinham  sido  examinadas  minuciosamente;  mas 
logo  que  Innocencio  decidiu  enviar  vigários  apostólicos  para  a  Ásia,  Pedro  11, 
rei  de  Portugal,  protestou  contra  sua  missão,  pretendendo  que  elles  não  po* 
diam  sem  sua  licença  exercer  tal  missão  na  Ásia.  Esta  questão  era  de  natu* 
reza  delicada;  sua  resolução  envolveu  restricçôes  acerca  do  patronato  dos  reis 
de  Portugal,  ou  sobre  a  plenitude  das  prerogativas  do  papa  para  enviar  motu 
próprio  apóstolos  do  Evangelho  para  quaesquer  partes  do  mundo.  Para  decidir 
esta  duvida  séria,  Pedro  II  foi  convidado  pelo  papa  a  enviar  um  embaixador 
preparado  para  apresentar  documentos  taes  que  sua  magestade  julgasse  con- 
venientes para  comprovarem  suas  pretenções  ao  patronato.  O  enviado  adduí- 
ziu  cinco  argumentos,  os  quaes  foram  em  i680  examinados  por  Innocencio  XII. 
Os  cardeaes  depois  de  maduro  exame,  entenderam :  i.''  que  as  bulias  pontifl- 
eias  citadas  pelo  embaixador  portuguez  não  apresentavam  nem  vestígios  de 
que  o  governo  espiritual  da  Ásia  fosse  cm  tempo  algum  concedido  a  qualquer 
soberano  de  Portugal :  provavam  simplesmente  que  o  rei  tinha  direito  de  exer- 
cer seu  patronato  em  todas  aquellas  egrejas  que  dotara.  1.'*  Que  para  evitar  que 
os  padres  passassem  pelo  caminho  das  ilhas  Philipinas  para  Asia^  tinham  or- 
denado os  pontifíces  que  ninguém  para  alii  se  dirigisse  sem  prévia  licença  da 
corte  de  Lisboa;  mas  depois  que  os  hespanhoes,  hollandezes,  inglézes,  france- 
zes  e  dinamarquezes  tinham  estabelecimentos  na  índia.  Urbano  YIII  revogou 
como  superíluas  as  bulias  de  Gregório  XIII  e  de.oulros,  concedendo  aos  mis- 
sionários dirigirem-se  para  a  Ásia  por  qualquer  caminho,  que  lhes  fosse  mais 
conveniente.  3.«  Que  era  inadrai.<sivel  que  o  rei  governasse  egrejas  christãs  em 
palzes  pagãos,  onde  não  lhes  podia  dar  protecção.  4.»  Qae  a  jurisdicção  do  pa- 
droado da  índia  portugueza  não  era  infringida  na  menor  coisa  pelo  papa  en- 
viando missionários  para  qualquer  parte  da  Ásia.  ò.**  Que  os  arcebispos  e  bis- 
pos, em  virtude  de  um  decreto  da  congregação  da  propagação  da  fé,  lavrado  a 
7  de  março  de  1633  podem  nomear  bispos  m  partibus  infidelium,  para  serem 
confirmados  por  Sua  Santidade.  Depois  d'este  summario  os  cardeaes  decidi- 
ram a  3  e  22  de  septembro  de  i686:  Que  da  delegação  dos  vigários  apostóli- 
cos não  provinha  algum  prejuiso  contra  os  direitos  de  Portugal. 

cZelosos  da  conservação  da  real  pferogativa  em  1688  publicaram  em  Lis- 
boa uma  ordem  que  os  missionários,  para  obstarem  a  ser  expulsos  da  Ásia, 
deviam  passar  pelo  reino  de  Portugal,  e  prestar  j  uramento  ao  real  padroado: 
decreto  ao  qual  se  oppozeram  os  conselheiros  do  Vaticano,  mandando  no  mes- 
mo aono  que  nenhum  superior  do  clero  regular  consentisse  que  algum  de 
seus  súbditos  prestasse  juramento:  prohibição  renovada  em  janeiro  de  1733. 
Todavia  qualquer  procurador  das  missões,  cuja  residência  em  Macau  tenha 


u 

da tar  alpuna  damora,  dave  por eansa  da-açgtaaiica paaaoal,  ékdbaànarm 
um  BQperíorea,  e  sobmetter-se  ao  decreto  da  LialxML^  -x^  .n   .-sjU 

.  «Vasoo  da  Gama,  tendo  sido  iram  soceediio  (|»f«^^i6S),  naanaientallti^da 
èotoar  o  Cabo  das  Tormentas;  de  estabelecer  rdações  commefcteoa^aoi  @a|i^ 
ent  com  os  mais  poderosos  sobwaaos  dacosta  do  Malabar,  detniiapoitaryanií^ 
láUboa  amostras  dos  rícosprodoetos  das  diffnreiítes  partes  ^^^ 
tiBdo  por  talla  de  17  da  setend^ro  de  I5i0  conârmado  a  oomfaBiyala  Jessii^ 
ppBfia  as  vantagens  qae  a  Santa^  podia  tirar  dos  feitos  doaJasoUaasl^i^pÉii^ 
ha  ifmotpB  paizea.  PortQgal  offereda-Uies  qm  iaeil  ponto  do  reoaBoí  aarite»^ 
a8inm«m  ládH>a  e  desembarcavam  em  Goa.  D'^aiie^llhi?am4a«MÉ  AMéc 
lidada  peias  diffèrentes  regi  to  do  Orienta.  Prancisao  Xavier  ^tagio^aa  paaat^. 
oisnl  da^^<3iinai  desembarcou  am  dan-dian»  onde  moffea  noí  anaa^  IIBi.  Sèêí 
damititoino»  Gaspar  da  Crm,  começon  em  âSS$  a  prígar  saGfalM^naaiBii 
aBCptiso.  Os  Agostinhos  bespanhoes,  dos  qoae^  CaliaGrosier  no^relileio^Aaml 
BiKrípção  dadUao,  deixaram  aailbas  Pbãippinas  na  oòrapalúiia  ieiimâai»! 
nivania  ddnez»  lavando  do  i^vemador  de  Manílba  orna  peti^  para  o^ivl^a^ifc 
da  Fotaken,  e  também  nma  para  o  impwador  oom  o  âm  daoa  daíxairaattiriBDa 
paisT  sendo  islo  negado,  retiraram-se  os  «frades  no  mesma  anuo  de  tK8.QwK| 
iro  jcapndiinboSy  tendo  resolvido  penetrar  na  China,  naufragaram  am  ibaa  dea<o 
amibéeidasi  e  salvando-se  foram  remettidoa  para  Cantão.  OT8nng4ob  aiaii* 
ian^lhes  que  voltassem  paraMaBilha,sia8  0ttes  preferiram  ficar  enrflftM)»^ 
è^aio{aram*fle  no  boqiital  dos  leprosos  (1879)^  Um  «mo  antes,  AlaaiiAria^lil^ 
Ugnâno,  visitador  da  índia  e  Ja^,  Jesaita  italiano^  tocon  na  soa  passagam'! 
para  o  Japão,  em  Macau,  onde  passou  dez  mezes.  D'aqQi  escreveu  a  Vicente 
Rodrigues,  provincial  da  índia,  recommendando-lhe  que  se  dirigisse  para  Ma* 
cati. 

«Os  primeiros  missionários  eram  todos  jesuitas.  Um  italiano  chamado  Ifi- 
guel  Rogiero  veiu  em  1579  da  índia,  e  começou  a  estudar  a  língua  chineza,  e 
em  iS81  dizia  missa  n*uma  pequena  casa  no  Cantão.  Em  i582  foi  encarrega- 
do de  acompanhar  como  interprete  uma  deputação  a  Shau-kíng-foo,  e  por 
sua  urbanidade  obteve  licença  do  vice-rei  para  ir  à  capital.  Os  missionários 
porém  somente  quizeram  ficar  era  Shau-king-foo,  até  que  era  1589  foram 
postos  fora.  Em  1595  o  governo  consentiu  que  Ricci  lançasse  os  alicerces  de 
uma  casa  religiosa  em  Van-chang-foo,  a  qual  ficou  ao  cuidado  do  portuguei 
João  Soeiro.  Foi  a  cbristandade  progredindo,  e  em  1605  compraram  os  jesui- 
tas terrenos  em  Peking  para  uma  grande  egreja  dedicada  a  S.  Josephé  Foram 
porém  perseguidos  mais  tarde,  e  mandados  sair  da  China,  mas  Siu,  conhecido 
entre  os  christãos  pelo  nome  do  Paulo,  foi  elevado  á  dignidade  de  kolas,  ou 
ministro  de  primeira  classe.  Este,  seus  amigos  e  os  protectores  dos  proscrip- 
tos  fizeram  persuadir  que  a  dynastia  poderia  cora  a  poderosa  ajuda  de  Macau 
ser  protegida  contra  os  tártaros,  pois  os  portuguezes  eram  ariiilieiros  experi- 
mentados: seus  padres,  se  fossem  admiUidos^^  serviriam  a  sua  raagestadc  com 
seu  talento,  e  os  soldados  cora  seu  valor;  de  sorte  que  nenhura  iiliraigo  jamais 
seria  bem  succedido  era  fazer  uraa  durável  pressão  sobre  o  império.  O  mo- 
narcha  illudido  aunuiu.  Novas  chusmas  de  jesuitas  se  espalharam  pela  Chi*- 


na,  e  entre  elles  o  mais  notável  pelo  seu  zelo  e  conhecimento  das  mathema* 
ticas,  era  um  allemão  John  Adam  Shal. 

«Foi  a  este  que  o  tártaro  Shun-che  encarregou  de  reformar  o  calendário, 
o  que  o  jesuíta  fez  com  tanta  satisfação  d\aquelle,  que  foi  nomeado  presidente 
do  tribunal  de  astronomia.  E  foi-lhe  concedida  licença  não  só  de  fundar  na  ca« 
pitai  duas  egrejas,  mas  também  de  reparar  algumas  que  na  província  estavam 
raindo.  Novos  missionários  vieram  para  a  China,  e  a  protecção  real  durou  até 
i66i.  Mais  tarde  vieram  frades  d'outras  ordens,  e  estes  entraram  a  questionar 
com  os  jesuítas,  e  pretenderam  destruir  a  ordem  politica  existente.  Houve  quei- 
xas e  foram  examinadas  por  alguns  tribunaes,  e  estes  proferiram  em  1665  que 
Shal  e  seus  associados  mereciam  o  castigo  de  seductores,  por  pregarem  ao 
povo  uma  doutrina  falsa  e  perniciosa.  Shal  morreu  de  pesar.  Y^rbiest  e  ou- 
tros esconderam-se,  e  muitos  foram  expulsos  da  capital  e  províncias  da  China. 

«Kang-he,  tendo  tomado  as  rédeas  do  governo,  empregou  Yerbiest,  e 
fel-o  director  do  tribunal  de  astronomia.  Este  jesuíta  resolveu  dirigir  um  pe- 
dido a  seu  soberano  para  que  os  missionários  banidos  do  Cantão  fossem  au« 
ctorisados  a  entrarem  em  suas  respectivas  egrejas.  Foi  concedido  por  um  es- 
pecial favor  em  167 i,  mas  com  a  condição  de  que  nenhum  chinez  abraçasse 
o  chrístianismo. 

«O  marquez  de  Louveis  enviou  quatro  jesuítas  para  a  China,  dois  d^elles 
Gerbillon  e  Bousset  foram  pela  recommendação  prévia  de  Verbiest  em  1688 
admittidos  na  corte  à  sua  chegada.  No  anno  seguinte  Gerbillon  e  o  portuguez 
Pereira  acompanharam  como  interpretes  o  príncipe  Só-san  para  se  encontra-' 
rem  nas  fronteiras  com  um  plenipotenciário  russo,  o  conde  Theodor  Alexei- 
vich  Golovin,  com  o  fim  de  verem  se  podiam  por  meios  conciliatórios  evitar 
uma  guerra,  seguindo- se  d'aqui  um  tratado  de  paz  e  ámisade  no  anno  de 
1689  em  Nip  Chew. 

tOs  missionários  tinham  já  passado  por  duas  tempestades  denominadas 
perseguições  geraes;  uma  terceira  estava  agora  em  progresso.  Passou-se  uma 
ordem  para  que  nenhuma  religião  estranha  fosse  tolerada  no  império.  Porém 
depois  de  muitas  dííliculdades  foi  ainda  um  decreto  assignado  a  22  de  março 
de  1692  auctorísando  o  exercício  da  religião  cathnlica  romana  na  China. 

tAquelles  frades,  que  tinham  vindo  coisa  de  cincoenta  annos  mais  tarde 
do  que  os  jesuítas  para  a  China,  começaram  a  duvidar  se  a  significação  de 
certas  palavras  e  ceremonias  entre  os  chinezes  podiam  ser  conciliadas  com 
a  pura  orthodoxia.  Se  bem  que  um  papa  tinha  decidido  que  as  ceremonias 
da  China  eram  de  natureza  civil^  o  vigário  de  Fuhkeen,  Carlos  Maigrot, 
leve  o  atrevimento  de  não  fazer  caso  do  decreto  de  Alexandre  VII  (1656) 
e  publicar  em  1693  um  mandato  decidindo  que  Teen  e  Chang  te  nada  mais 
significavam  do  que  céo  material,  e  que  os  costumes  de  venerar  Confúcio,  e 
os  mortos,  são  superstições,  inovação  que  o  Santo  Officio  adoptou,  e  Clemen-. 
te  XI  confirmou  em  1704.  Kang-ho  não  sendo  homem,  que  transferisse  para 
um  papa  e  padres  o  direito  de  legislar,  passou  a  17  de  dezembro  uma  decla- 
ração :  que  quereria  ver  aquelles  missionários  que  pregassem  a  doutrina  de 
Riccí,  mas  perseguiria  aquelles  que  segubsom  a  opinião  de  Maigrot,  e  para  que 


400  LO 

a  paiz   RtiMe  limpo  da  htimKDs  lurbuienios  n  ii)i'pio»,  mamiou  o  fmprrailar  J 
em  1707  que  os  missionários  Tossem  snbmetlidos  a  um  exame.  Pass»va-ií 
depois  uma  lii^ença  a  um  missionário  pura  podiT  viver  ns.  China,  no  casoi^ 
Dão  pregar  nem  approvar  as  doulríoas  úc  Iticrl- SolTrerani  depois  o$  missi 
narlOE  ama  horrível  persegiii(;.ão,  mas  vm  1781  p<?rmítliu-se-llies  Dcarecn  ali 
aaaa  respeclivas  egrejas  era  Pelíine,  ou  dirigirem-se  para  Canlão  para  d'aOM 
voltarem  á  Europa.  'rv 

•Depois  Gregório  XIU  confiou  o  governo  espiritoal  de  ioda  a  Chins  ui 
bispo  de  Ifacau,  e  o  cuidado  das  missões  aos  josuitas  o  portugiezc!.  Mas  co-' 
mo  a  populai^  de  Portugal  era  muito  peiíui^na,  e  nào  podia  fornecer  o$  in- 
dispensáveis obreiros  para  uma  missão  ião  ampla  na  Asra,  os  papas  foram 
perminindo  a  pouco  e  pouco  aos  rfanciscanos.  dominicanos,  agostinhos,  pa- 
dres  seculares  das  missões  estrangeiras  em  Paris,  e  aos  da  propaganda  mos-<  I 
Irarem  seu  devoto  xelo  nas  varias  partes  da  Cliina.  Houvâ  queixas  apresenta-  f 
das  por  Portugal,  e  Alexandre  Vlll  consânliu  que  Pedro  II,  rei  d'esia  pai^  J 
nomeasse  Ires  bispos,  e  Hxasse  os  limites  de  sua  respcuLlva  jarisdic<^.  As  trm-M 
dioceses,  que  Podro  propunha,  compreheadiam  não  somente  a  China,  mSÍ 
também  Tunkin  e  Coc1)inchiaa,  pretensão  tão  extravagante,  qoe  o  Varirai  ' 
recusou  auaoír  a  elja.  Innocenr.io  XII  annoxou  ao  bispado  de  Peking  as  pra-* 
vinciasPeh-chi-]?,  Shantimg  e  a  Tartaria  Orientai :  ao  de  Mac^u  as  pn>vrn- 
cias  de  Kwang-tung,  Kwang-sc,  o  o  ilha  IliLQQan  :  reservou  para  si  me«ma 
governar  o  resto  da  China  por  meio  de  vigários  apostólicos,  nomeados  peli  ■ 
congregação  da  propaganda  e  approvsdos  pelo  papa.  çm 

.Em  1810  os  i-hriilTms  em  Ioda  a  Cliina  and.iv.tm  por  piTlo  de  600:00(t»  " 

768)  LO  (ALEXIS  DE  ST.). 

E.—Relatioti  da  voya^e  du  Cap  Vert.  Paris,  1637. 8."  ' 

769)  LOBKOWITZ  (D.  JOANNE  OÃItAXnEL).  —  Beligutne  Diauam 
Ord.  Cisler.  S.T.  Doctore  Lovaniensi  et  Melrosensi  Ãbbate.  Theologo  nasâdo 
em  Uadrid  em  1606,  e  fallecido  em  1C81I- 

E.— Ptóíjppu*  Pntdens  Caroli  V  Imp.  Filius  LusUaniae  ínãiae,  Bnmluif 
Ugitimus  rex  demofistratus-  Antuerpiae.  £x  Ollicina  Plaoliniana  Ballhasarlt 
Moreti,  1639.  Foi.  430  pag.  com  estampas  represenando  os  retratos  do  rei  de 
Portngal,  incluindo  o  do  príncipe  Pernamlo  de  llespaoha,  dos  três  Phílippts 
e  da  excellente  senhora.  As  estampas  são  a?  mesmas  (tirando  talvez  d 
outra)  que  ornaram  a  Anacephaleosis  do  padre  Anlouio  de  VasconceU<»,.p 
blicadaem  Antuérpia  no  anno  de  1631. 

O  fim  da  obra  de  Caramuel,  [mais  iMnhci^ido  por  este  doiiib).j| 
provar  que  os  poriuguezes  devem  obedii'ii' 
tes  dos  reis  de  Portugal  e  seus  legitími  >  <  si 
^0  emtanto,  quando  o  livro  appareceu  ^i  l 
nba  perdido  o  seu  tempo.  Publicaram -íi' 
bkowilz. 


is  reis  de  Castoll^ 
ssoresnft,»  _" 
conheceu  lo|«"b 


LO  Ml 

770)  LONDONDERET  (Mabquess  op  — .  G.  C.  B.  etc) 

E.— ^  Sleam  toyage  to  Conslanliaopte,  by  llte  Rhine  and  lhe  Damtíte  in 
1840-41,  and  to  Portugal  and  Spain,  etc.  in  1839  bij—.To  wlàch  is  annsxed 
tke  autfiors  Correspondence wiíA prime  Meltemicli,  lords  Ponsonby, Palmers- 
ton,  etc.  In  two  rotumes.  London.  Henry  Colburn,  Publisher.  1842,  8.°  gr.  O 
l.°  volume  com  o  relraio  do  príacipe  Meilernich,  334  pag.  O  2.°  com  o  de  Ab- 
dul  Mehjid,  354  pag.  A  viagem  a  Porlugal  vem  o"este  2.°  volume,  e  occupa 
de  pag.  97  a  144.  Diz  a  auetora  que  o  único  poriuguez  qae  Ibe  mostrou  nm 
poucocbioho  de  civilidade  foi  o  duque  da  Terceira. 

771)  LONDONDERRY  (Harqdis  of  and  O.  R.  OLEIG). 

E.— Siwi/  of  lhe  Peninsular  War.  London,  1858.  8.°  (Narração  da  guem 
peninsular.) 

772)  LONO  (CHARLES  EDWARD— Eso.) 

E. — I.  A  replij  to  the  mísrepresentationt  and  aípersions  tm  the  mititary  re- 
ptttalion  of  lhe  lale  Lieui.~Gen.~R.  B.  Long  amlamed  in  a  work  enliíled 
tFurther  Slrictures  on  those  paris  of  col.  Napier's  líislory  of  Peninsular  War, 
whicli  relate  lo  the  tnUitartj  opínions  and  conduct  of  general  lord  vitconnt  Be- 
resford  G.  C.  B.  etc  accompanied  by  extracts  frota  llie  M.  S.  Jourmú  ond 
private  correspondence  of  Ihal  officer,  and  corroborated  by  tke  furlher  testimo- 
ny  of  living  u:ilnesses  by  —  London.  James  Ridgway,  1832.  B.',  145  pag. 

11.  Letler  lo  general  vtscount  Beresford  G.  C.  B.  in  replg  to  his  Lordtkip'» 
letter  to  tlie  author  relalive  to  the  conduct  of  the  late  lieulgentral  Long  jn  tke 
campaign  of  1811.  B;/—.  Condon.  J.  Ridgway.  1833,  8."  150  pag. 

Eslo.o  dois  opúsculos  versam  sobre  varias  asserções  da  historia  da  guerra 
peninsular  de  NapiíT,  a  respeiío  do  general  Long. 

773)  LONGCHAMS  (PIEEEE  OHAKPENTIER). 
E.—Hatagrida.  Tragedie.  Paris,  1763. 

774)  LOPEZ  D.  mODEL  OORTÉS  T —.).— Académico  de  la  Histo- 
ria, sócio  de  las  Económicas  do  Valência  y  Terael.     ■ 

E.—Diccianario  geografico-historico  de  la  Espaiia  antigua  Tarraconente; 
Bélica  y  Lusitana  con  la  correspondência  de  sus  regiones,  ciudades,  numlei, 
rios,  cawmos,  puertos  y  islãs  á  los  conocidos  en  nueslros  dias  por  —.  3  vol.,  i.* 

775)  LOPEZ  (D.  THOMAS). 

—ISappa  ynerat  ikl  reijiio  itc  Portugal,  1770. 


tre  nma  brilhante  imitação 
a  .^oal  ItagoD  copioa  nas 
'-   187.M1),  e  se  compõe 


w*  LU 

777)  LOWE  (R.  P.) 

E.— I.  A  Munual  Flora  of  Madeira  and  lhe  aãjacenl  Islanits.  LondoD. ' 
1862.  Creio  que  existe  ama  oulr&  edição  de  1S97. 

U.  Sinopswi  of  lhe  fiihei  of  Madeira.  Publicada  do  vqI.  3.',  parte  2.*  da 
obra  Tranjfic/íoní  of  lhe  zoolngicai  xociely.  Loadon,  1837. 

III.  A  Supplement  lo  lhe  Sipwpíis,  vol.  3.°,  parte  1.*,  1S39 

IV.  A  fasàcuius  m  a  n#io  grau»  of  lhe  familg  Lrphides~Let  Peclorala 
ptidiculss,  Cuvicr,  discovered  in  Maikira,  mmmunicaíed  to  Ihf  Societtj  Srpl. 
22,  tS4C. 

V-  Synopsis  diai}nostka,  sive  species  qiiaeãam  iiijcaí  mullasmtlorum  ter- 
reslrium  Insulit  Madeiretisibw  deleclae,  noUê  diaynoitias  íuccinlis  breviltr 
desoriptae.  Londoo,  1032. 

7781  LOY  (AIMÉ  DE). 

Nasceu  era  1798  e  falleceu  em  18-11.  Heaidiu  no  Rio  do  Jant-iro,  a  vollou 
d'alli  para  Porlueal  com  o  Sm  de  defeader  a  causa  de  D.  Maria  11. 

D'cato  poela  fraacez  diz-nos  St.  Qeuve :  *  iPaiiava  e  cairrevla  o  porcugun 
maravilliosamenle :  o  idioma  de  Camões  tioba-se-IIio  toruado  o  idiom.i  lavo- 
rilo,  e  passou-se  depois  muito  tempo  aolea  de  poder  recuperar  a  fluidez  da 
sua  lingua  franceza. 

779)  LUCOOOK  (JOHN). 

E.—Noles  onfíio  de  Janeiro  and  the  Southern  paris  uf  Braxil  m  1808-1818. 
LondOD,  1820. 

780)  LDCDER. 

E.—Ueber  die  induslrie  tmd  Kullur  der  Portugituen.  Berlin,  1808,  8.°  (So- 
bre a  industria  e  civillsação  dos  portuguezes-) 

781)  LUVOLFHI  (J.)— Celebre  orientalista  allemão. 

Hasceu  em  Erfurl  no  anno  de  1624,  e  falleceu  em  Francfort  no  de  1704.* 

E.~Historia  Mthiopiw  sive  regni  Abyssinorvm,  quod  vulgo  presbijterí  Joan- 

nis.  (ilisloria  da  Etbiopia,  ou  do  reino  dos  abyssinios,  a  que  vulgarmente  se 

dá  o  nome  de  Preste  João).  Jenae,  1676,  4.°  Francrorl,  1681.  Traduzido  em  al- 

temão  por  Calebius.  Utrecht,  1687.  Amsterdam,  1688. 

II.  Epistdae  Samarilanae  Sickemitarum  ad  Ludolfum  cum  versione  latina 
et  adtwtationibus.  Zeitz,  1688.  É  a  resposta  dos  samaritanos  de  Sicbem  a  uma 
carta  que  Ludolf  Ibcs  tinha  dii  igido  por  intervenção  de  um  judeu,  porluguei 
de  origem,  mas  que  h,'vbitava  perto  de  Hebron,  e  que  viera  á  Europa  recla- 
mar soccorros  de  seus  correligionários. 

'  Píflrfliíi  ronlfníporrtini,  vol.  2.°  png.  233.  Si.  Beute  eoDhecia  o  noíso  CímSts, 
como  se  vé  a  pag.  530  ii'csie  mcímo  tolume. 

'  F.  Didol.—Biographíe  Unirerstllt,  vol.  3!.'.  fag.  139. 


LU  463 

782)  LUMBERA  (FRUTOS  MARTINEZ  Y). 

E.— Espana  y  Portugal  y  sus  banderas.  Madrid,  1874.  Folheto.  (É  ama 
explicação  das  bandeiras  portuguezas  e  hespanholas).  ^  8.^23  pag.  O  capitulo 
4.^'  d'esto  opúsculo  apresenta  uma  resenha  das  batalhas  em  que  andaram  jun- 
tos  os  estandartes  de  Portugal  e  Hespanha.  É  porém  um  pouco  deOciente,  pois 
fallando  com  algum  desenvolvimento  da  batalha  de  Navas  de  Tolosa»  nem  pa- 
lavra diz  da  do  Salado,  tão  gloriosa  para  as  nossas  armas. 

783)  LUNARDI  (VICENTE). 
Nasceu  cm  Lucca  no  anno  de  1759. 

E.—Viagem  aérea  do  capitão  Vicente  Lunardi,  por  elle  escripta.  Lisboa, 
Oílicina  de  Simào  Thaddeu  Ferreira,  1794.  4.*,  11  pag. 

  referida  viagem  aérea  foi  feita  por  Lunardi  em  Lisboa,  a  24  de  agosto 
de  1794. 

784)  LUSITANIAN  (THE)  sceiies  and  sketclies,  in  Portugal.  Porto,  1844 
(Sccnas  e  bosquejos  lusitanos). 


^  Aproveito  a  occasiâo  para  agradecer  um  exemplar  que  o  auctor  se  digaou  offer* 
tar-me. 


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785)  MABF.T.T.TNI  (aiOVANNI  BATTISTA  MARIA  PACBBaO| 
nttii  coabeeido  for  ¥  A  TRfftTTfy>  .      -  V  "  ''^ 

.  S4»-£0tlre4Í  ril^»ui0mfft  Ao;^  âe$  Scimices  êt  íátètmmigmr  ieêeíBÊÊ  4M^ 
Luiiadês.  Paris,  1826. 8.%  77  pag.  (É  am  estado  s€bteu  úaas  yrijwinfcedl^ 
çSes  4o8;Xj»iaAif .  O  aaetor»  qnaado  escreveii  esta  meBMrla^  e»  eoi  bftlíiK 
HMcari»  da  Bibliollieea  da  Universidade  de  Paris.  .  ^ uo 

.  ■• ..'- '     .  ■        ■  '  .       •      .     .  '■  ■       j  ^-f  --Jí 

1  :  nfi)  JfACEBI  (AliOlálO  BE  €X)][ITIBUS).  *    i  %ti; 

FideUssimi  adstante  sacro  Patrum  Cardimliutn  coUegio  in  sacra  aede  Begtíi 
Sancti  AtUonii-ab-RonuB,  1862.  (Oração  fúnebre  de  D.  Pedro  Y,  recitado 
Roma  na  egreja  de  Santo  António  dos  Portaguezes.) 


787)  MACKINNON  (MAJOR). 

E,— Account  of  the  campaigns  in  Spain  and  Portugal,  from^  1809  to  1811. 
(Narração  das  campanhas  em  Hespanha  e  Portugal). 

788)  MAOQUER  (PHILIPPE). 

E»—Abregé  chronologique  de  Vhistotre  d'Espagne  et  de  Portugal.  Paris, 
1759.  2  Yol.  Parece  que  ha  uma  outra  edição  feita  em  'Paris  no  anno  de  1777, 
attgmentada  por  Lacombe. 

789)  MADDEN  (R.  R.) 

E. — The  shrines  and  sepulchres  of  the  old  and  neto  world  induding  notiees 
jof  the  funeral  customs  of  the  principal  nations  ancient  and  modem  Htduding 
the  Portugal  with  Ulustrations,  London,  1851,  2  vol.  (Mausoléus  e  sepulchros 
do  mundo  antigo  e  moderno,  incluindo  noticias  dos  costumes  fúnebres  nas 
principaes  nações  dos  antigos  e  dos  modernos,  em  que  entra  Portugal.) 

790)  MADDEN  (THOMAS  MORE). 

E.—On  change  of  climate.  A  guidç  for  travellers  in  pursuit  ofhealthin 


MA  465 

Spam  and  Portugal,  London,  1864.  (Gaia  em  Hespanha  e  Portugal  para  o  via- 
jante que  anda  á  procura  de  saúde). 

791)  HADRIGANUS  (AROHANGBLUS)~Prelado  italiano. 
Nasceu  em  Milão,  pelo  meiado  do  século  15.'',  e  falleceu  em  1520. 

E. — Itinerária  portugalèsiu  e  Lusitânia  in  Indiã  et  in  ocddeTUem  et  demum 
ad  aquiUmem. 

No  fim :  Operi  suprema  manus  imposita  est  kalendis  quintUibus.  Ludovico 
gcUliarum  hujus  urbis  tclite  (Mediolani)  sceptra  regête. . . .  anno  nrae  salutis, 
1508.  Foi.  (Itmerario  dos  portugaezes,  de  Portugal  para  a  índia). 

Segundo  diz  Bninet,  esta  obra  é  a  traducção  d*oatra  italiana  composta  por 
Montabbodo  Franseano  em  1507. 

792)  MAFFEJI  BERGOMATIS  (JO  PETRI).— Este  escriptor  jesuíta 
é  notável. 

Nasceu  em  Bergamo  no  anno  de  1536,  e  falleceu  em  Tivoli  no  de  1603. 
Diz-se  que  consumira  doze  annos  na  composição  da  sua  Historia  das  Índias. 

E. — Indiarum  Historias. 

Se  ha  obra  lida  e  relida  na  Europa,  è  esta  uma  d^ellas.  Provirá  porém  o 
extraordinário  numero  de  reimpressões  da  Historia  das  índias  PortaguezaX 
das  bellesa^  de  linguagem,  ou  do  assumpto?  Creio  que  era  esta  a  ultima  causa, 
apesar  das  versões  de  Barros  e  Castanheira  fazerem  ver  aos  que  nao  entendiam 
o  portuguez,  as  proezas  de  nossos  maiores.  Hoje  seria  quasi  impossível  apre- 
sentar uma  resenha  das  edições  feitas  em  diversos  paizes,  por  isso  menciona* 
rei  somente  aquellas  de  que  tenho  conhecimehto:  Roma,  1588— Florença,  1588 
Leio,  1589— Colónia,  1589— Veneza,  1589— Bergamo,  1590— Colónia,  159Í-- 
Colónia,  1593— Antuérpia,  1605— Bergamo,  1747.  Tenho  noticia  de  uma  outra 
edição  feita  em  1688,  mas  não  sei  o  logar  da  impressão. 

Foi  tradnzida  em  italiano  por  Francesco  Serdonati  Fiorentino,  impressa 
em  Fiorenza  por  Filippo  Giunta,  e  em  Veneza  por  Damian  Zenaro,  1589.  Bm 
Milão  1806,  3  vol.      . 

Em  francez  por  Amault  de  la  Boirie,  impressa  em  Lyon  no  anno  de  1604, 
6  por  M.  de  Ia  Puré,  impressa  em  Paris  no  anno  de  1605. 

Eis  o  título  da  obra  no  original  latino,  conforme  a  edição  de  Bergamo,  de 
1747 :  Opera  omnia  latine  scripta  nunc  primum  in  unum  corpus  eoUecta, 
variisque  illustrcUwnibus  exomata.  Accedit  Maffei  vita  Petri  António  Serás- 
sio  auctore.  Apresenta  esta  edição  em  primeiro  logar  a  dedicatória  aordPhi- 
Jippe;  em  segundo,  o  prefacio;  em  terceiro^  a  approvação;  em  quarto  logar  a 
vida  de  Mtiffeo;  imagem  de  Maffei,  varias  edições  e  testemunho  de  escriptores. 

Esta  historia  chega  somente  ao  reinado  de  D.  João  III.  ^ 

^  «A  edição  de  1598  om  folio  é  a  melhor.  Arnaad  de  la  Borie  e  o  abbade  de  Pan 
desOgararam  em  suas  tradocçOes  esta  bella  historia  das  índias,  tão  bem  traduzida  em 
italiano  por  Serdonal.»— F.  Denis^  Chnmiqwt  Chwalêresquet  d' Btpagnê  et  Portugal^  11 

TOMO  I  30 


466  MA. 

Vméoá mais donlièdâos Jornaes íníiiMÊ,tmàBãm^^'Wm:9ttk  Shno fMi 
&*eritafMiiaiiirio  Éè  éiMkw^ 

ptaitora  Mi&àdft  iraria  Bis  eiii'iW7.  Blit  liraân^jiD  daiWt<ynnéMÉilgi^- 
liito-èMAnpK'-   V'  •    •    •'■':-;'•■■■    •  *       -'/v-'-^    ■•--   -'   .  r  ■  •• 

cSihMem  aittdaalgtiiiiàs  testemnsfaâs  do  le^^ 
i^teiniflieiíia  ao  i^rioiellf^do  úomxBíbM  te  17QBi»  rMUs  iMtetlMB  mÊÊÊÊÊÊà^ 
m^fmfloàÊÊMÊãm  das  momlas  espslbriai  pMaterofif  fspils  tf  isju  gitii 
te  desastre.  É  lÉteripatoante  imwí  PJitiPiopifeal  IhtnntciasÉr  yiiMciiis^líiiir' 
iMdres»:^^  s»  iaiieciiitraBite  dseoaMiiM  liuris  clrBuuimsiaddi  «^méi  M- 
matieòs.  Alli  adiamos  entre  ontns  pêçaé  tti^Mâttiii  o  asgotah  sMMMaiM  ^ 
tuna  earta  escripta  te  Lisboa  com  teta  de  18  de  noteníMo  te  i7tt  pífWk 
^tmàh<tmtfÊ^  A  seroridate  e  siftgBéMõ  teèifâHIte 
tetttia maneira estraifta oom  o horrnr  dos súoeeasos 4qs  tetee.     >  r" «^^ « •* 
in<40fetia  MM  mato  ílpeseè^  faa  íln  rfintrímn;  n  Hnntiih  nii  tltlMis  ijnÉfHf  i 
diM^o^Ismpô  Unha  esiate  mirilo  olaro  o  anilo  héútíéWopàuâmVimwÊiii^ 
pilas  9  horas  e  qnarènte  mtontos  da  mmúAt  tm  tiaJUrtilimi  iumiIhíi^  te  iafi " 
ii  •»  òoiir:  ptféoea  divarimi  aedm»teflfeÍDBio^¥ttMi  hftifÉÉÉu  iitei  as 
igM||te6oett««tteite  tftete^^indttlBte  òpai^ 
igiiirtesabsnm»  Nem  am  sò^oiiAte^itturiterÉv^ 
fitiB^dis^aiM  faniiitent  ttvMm^^mesma  imç  é  (Mtevm»  nak  «tnli '' 
moilo  moderate»  morreimn  mais  te  irtata  nál  pessoas.  O  eq^eeiiMli  teíK^ 
pos  mortos,  os  gritos  dos  moribundos  meio  sepnltados  nas  rtifaias  Ao  snperio* 
res  a  toda  a  descrip^ :  o  medo  e  consterna^  eram  tio  grandes  qno  as  pes- 
soas as  mais  animosas  não  ousavam  ficar  um  só  instante  para  arrancar  i 
morte  as  victimas  encerradas  debaixo  das  rainas :   cada  um  em  nate  mais 
pensava  que  em  se  refugiar  nas  praças  descobertas  e  nomeio  datroas.  Os 
que  se  acbavam  nos  andares  superiores  foram  em  geral  mais  féliies  te  que 
aquelles  que  tentaram  fugir  pelas  portas,  pois  estes  ficaram  enterrados  debafam 
das  ruínas  como  a  maior  parte  das  pessoas  que  passavam  a  pó.  Os  trens  tinbam 
mais  probabilidade  de  salva^  ainda  que  os  cocheiros  e  lacaios  estitessem 
muito  mal  tractados.  Porém  o  numero  das  pessoas  esmagadas  nas  casas  e  nas 
ruas  não  foi  comparável  ao  das  pessoas  enterradas  debaixo  das  minas 
das  egrejas,  por  ser  dia  de  grande  festa,  e  na  hora  te  missa  lodos  os  edi- 
ficios  religiosos,  que  ^  muito  consideráveis  em  Lisboa,  estarem  cheios  te 
fieis :  as  torres  cairam  quasi  todas  com  as  abobadas  das  egrejas,  te  ^ofte  que 
pouca  gente  escapou.  Quasi  duas  horas  depois  do  terremoto  o  incêndio  se  decla- 
rou em  três  sitios  da  cidade :  era  occasionado  pelo  fogo  das  cosinhas,  qúe  o 
abalo  aproximara  de  matérias  combustíveis  de  toda  a  espécie.  Por  este  tempo 
lambem  um  vento  muito  forte  suecedeu  á  calmaria,  e  animou  de  la!  sorte  a 
violência  do  fogo,  que  em  três  dias  a  cidade  ficou  reduzkla  a  cinzas.  Tbdos 
os  elementos  pareciam  conjarados  para  nos  destruírem  immediátamente  de- 
pois do  terremoto,  que  aconteceu  quasi  no  momento  da  maior  elevaçio  dis 
aguas,  as  ondas  subiram  de  repente  quarenta  pés  mais  alto  do  que  se  tnrfiA 


MA  467 

observado  em  tempo  algum,  e  retrocederam  também  repentinamente.  Se  não 
tivessem  assim  retrogradado,  a  cidade  inteira  teria  âcado  debaixo  das  aguas. 

t  Apenas  nos  foi  permíttido  reflectir,  só  a  morte  se  apresentou  à  nossa  ima- 
ginação. Em  primeiro  logar  o  receio  que  o  numero  dos  cadáveres,  a  con- 
fusão geral,  a  falta  de  braços  para  os  enterrar,  dessem  origem  a  uma  doença 
contagiosa,  era  bem  para  amedrontar;  mas  o  fogo,  que  parecia  o  nosso  mais 
perigoso  inimigo,  os  consumiu,  e  preveniu  este  resultado. 

cDepois  a  fome  estava  imminente,  porque  Lisboa  é  o  deposito  de  todos  os 
cereaes  produzidos  a  cincoenta  milhas  em  roda.  Comtudo  salvaram-se  feliz- 
mente alguns  dos  armazéns;  e  ainda  que  nos  três  dias  immediatos  ao  terre- 
moto uma  onça  de  pão  valesse  uma  libra  de  oiro,  tornou-se  depois  bem  abun,- 
dante, e  vimonos  livres  da  fome. 

tFinalmente  havia  que  receiar  a  avareza  da  classe  vil  da  população,  que 
queria  aproveitar-se  da  confusão  para  roubar  e  assassinar.  Com  effeito  no  prin- 
cipio um  bem  grande  numero  de  crimes  foram  commettidos;  mas  por  ordem 
do  rei  levantaram-se  patíbulos  em  volta  da  cidade,  e  depois  de  coisa  de  um 
cento  de  execuções,  o  roubo  foi  reprimido. 

«Estamos  ainda  n'um  estado  de  perplexidade  difficil  de  descrever :  temos 
sentido  até  vinte  e  dois  tremores  de  terra  diíTerentes  desde  o  primeiro.  Nin- 
guém se  atreve  a  dormir  nas  casas  que  escaparam.  Dorme-se  ao  ar,  por  falta 
de  materiaes  para  fazer  barracas.  Não  temos  nem  roupas,  nem  moveis,  nem 
dinheiro. 

«Dois  dias  depois  do  primeiro  abalo  Ozeram-se  escavações  para  procurar 
os  corpos,  e  tiraram  d'ellas  um  grande  numero,  que  tomaram  à  vida.  £'  uma 
coisa  para  maravilhar  o  não  termos  morrido  todos.  Ilospedei-me  n*nma  casa, 
na  qual  habitavam  trinta  e  oito  pessoas,  e  d'elias  apenas  escaparam  quatro. 

cO  rei  e  sua  familia  estavam  em  Beiem,  palácio  real  a  uma  legua  de  Lis- 
boa. O  palácio  do  rei  na  cidade  desabou  ao  primeiro  abalo,  mas  os  habitantes 
asseveram  que  o  palácio  da  inquisição  foi  o  primeiro  que  foi  a  terra. 

cO  terremoto  fez-se  sentir  em  toda  a  extensão  do  reino,  porém  mais  par- 
ticularmente ao  longo  da  costa.  Faro,  Setúbal  e  algumas  das  grandes  povoa- 
ções commerciaes  estão  n'uma  situação  ainda  peior  que  Lisboa,  se  é  possiveJ: 
comtudo  a  cidade  do  Porto  ficou  intacta. 

cE*  possível  que  a  causa  de  todos  estes  desastres  tenha  vindo  do  fundo 
do  oceano  occidental,  pois  acabo  de  conversar  com  um  capitão  de  navios,  que 
parece  ser  pessoa  de  muito  tino,  o  qual  me  disse,  que  achando-se  ao  largo 
umas  cincoenta  léguas,  experimentou  uma  sacudidelia  tão  violenta,  que  a  co* 
berta  do  navio  ficou  estragada.  Julgou  ter  batido  n'um  rochedo;  mandou  im- 
mediatamente  arriar  a  lancha  ao  mar  para  salvar  a  tripulação;  porém  conse- 
guiu felizmente  fazer  entrar  seu  navio  no  Tejo,  se  bem  que  em  mau  estado. 

Tomo  III  (1835),  pag.  3.  Dança  do  Tabaco  em  Lisboa,  f  Já  recordámos  em 
1833  todas  as  difficuldades  que  experimentaram  os  amadores  de  tabaco  em 
propagar  o  uso  d*esta  planta.  Os  prós  e  os  contras  tiveram  cada  um  advoga- 
dos obstinados.  Médicos,  reis  e  papas  collígaram-se  contra  elle,  porém  havia 
egualmente  defensores  zelosos,  que  lhe  asseguraram  a  victoria.  Parece  que  pelo 


m  MA  'j 

melado  do  século  xvii  a  opioião  publica  Ibe  era  favorável  em  Lisboa,  porqV 
alli  se  celekruva  eotão  uma  dao^a,  da  qual  se  conservaram  alguns  prome- 
uor^s. 

•  A  bcena  represoulava  a  illia  de  Tabago.  Depois  do  prologo,  do  qual  um 
grupo  de  liabitaotei<  cantavam  a  ri^lieidade  dos  povos,  aos  quao;i  os  deuses  ti- 
ntiaiu  presGuleadú  com  umaplaula  tão  preciosa,  viam-se  entrar  quatro  verilica- 
úores.  que  lomando  tabaco  em  pó  de  caísinlias  de  oiro  pendentes  da  cintara. 
aiiravam-n'o  ao  ar  para  applscsr  os  ventos  e  as  tempestades.  Estes  insalares 
arniai'am-so  depois  de  compridos  cacbimtios,  e  girando  em  volta  de  um  altar, 
com  passos  graves  a  cadenciados,  deitaram  á  cara  dos  deuses  baforadus  de 
l;ibacti  à  maneira  de  ioceuso.  Veiu  então  a  representarão  das  industrias,  qoe 
vivem  do  tabaco:  uns  puoham  na  corda  folhas  da  planta,  outros  a  picavam, 
estes  a  pisavam  em  almofarizes  para  a  reduzirem  a  pó,  aquelles  a  ralavam,  e 
lodos  dançavam. 

•  Estes  industriaes  foram  subslituidos  por  aquelles  que  o  consomem-  Pri- 
meiramento  appareceu  uma  immensidade  dti  conmmidore.i  de  tabaco  em  pó: 
espirravam  á  porDa,  offerecendo  saa  caixa  uns  aos  outros,  e  tirando  pitadas 
com  gestos  e  altitudes  jocosas.  Estes  consumidores  foram  subslituidos  por  um 
esquadrão  de  fumadores  de  todas  as  naçi^ea  reunidos  n'uma  tabacaria :  tur- 
cos, hespanboes,  mouros,  portugueies,  allemães,  francezes,  polacos,  e  outros 
recebiam  o  tabaco  da  mào  dos  Índios;  cada  um  servia-se  á  sua  maneira,  sem- 
pre dançando  e  pulando. 

Idem,  pag.  71.  Sanio  AíHonio,  [;oni?ralisjimo  porluguez. 

•O  rei  de  Portugal  linha-se  luido  aos  inimigos  de  Pbilippa  V,  rei  de  Het- 
panha.  Berwick  foi  encarregado  de  defender  o  reino  contra  este  novo  iggra- 
gor.  Acampou  com  um  corpo  de  tropas  nas  margens  da  ribeira  do  Sabi^al, » 
qual  os  porluguezes,  inglezes  e  bollandezes  quizeram  passar.  Já  Berwick  se 
preparava  para  os  repellir,  quando  observou  uma  extraordinária  confusa  em 
soas  Oleiras:  bem  depressa  um  pavor  geral  se  manifestou  entre  elles,  e  reti- 
raram-socom  muita  precipitação.  Berwick  fez  alguns  prisioneiros  ootre  «fu- 
gitivos, mandouos  ir  á  sua  presença,  e  interrogou-os  sobre  as  eaosas  d'esto 
terror  pânico.  Eis  o  que  responderam  os  portnguezes-: 

•Santo  António  de  Pádua  é  o  protector  do  reino  de  Portugal.  Qiundo  a 
nossa  nação  sacudiu  o  jugo  hespanhol,  protegeu-nos  em  diversas  occaalJJea, « 
a  elle  devemos  o  bom  resultado  de  nossa  restauração.  Em  reconhecimento  h 
porluguezes  pediram  cnLwaosen  novo  rei,  que  Santn  António  dePadiu  toa» 
declarado  para  sempre  generalissimo  de  seus  exércitos.  O  conselho  foi  emiTO' 
cado  para  ser  consultado  a  este  respeito.  Todos  os  grandes  convocados  decla- 
raram que  a  protecção  de  Santo  António  tinha  realmente  salvado  o  paii;  mas 
que  não  tendo  este  santu  servido  no  exercito  durante  sua  vida,  não  se  lhe  podia 
conferir  lai  posto  depois  de  sua  morte.  Então  0  rei,  para  cortar  as  dilQcntda- 
dea,  resolveu  fazer  passar  Santo  António  por  todos  os  postos  militares.  Fk 
para  este  eITeito  uma  promoção,  na  qual  o  santo  foi  nomeado  brigadeiro;  de- 
pois n'uma  segunda  marechal  de  cjmpo;  n'uma  terceira  tenente  general;  d»- 
pois  do  que  fui  declarado  generalissimo  para  sempre.  Sna  imagem  ó  aeapn 


MA  469 

Irazida  na  frente  de  nossas  tropas,  e  prestamsc-lbc  as  honras  devidas  á  digni- 
dade de  que  se  acha  revestido.  N'csta  raanhã,  qaando  estávamos  promptos 
para  pasear  o  rio,  uma  bala  vindo  do  nosso  campo  levou  a  imagem  do  santo. 
Esmorecidos  por  termos  perdido  nosso  general,  recuámos,  e  nossos  alliados 
foram  arrastados  pela  nossa  fuga.  Eis  a  causa  d*essa  retirada  precipitada,  que 
tanto  vos  surprehendeu.» 

Pag.  313.  Templo  de  Diana  em  Évora  (com  estampa).— O  artigo  qae  acom- 
panha esta  estampa  diznos  o  mesmo  que  em  geral  trazem  os  artigos  de  idên- 
tica natureza,  e  termina  por  estas  palavras:  «Actualmente,  quasi  que  senti- 
mos vergonha  dizendo-o,  serve  de  matadouro  para  os  açougues  de  Évora.» 

Pag.  385.  Aqueducto  e  castello  de  Évora  (com  estampa).— No  artigo  que 
acompanha  esta  estampa  dá-se  o  nome  de  castellum  á  torre  que  se  acha  so- 
Jbre  o  aqueducto,  e  a  respeito  da  qual  se  devem  vér  os  artigos  que  se  publi- 
caram  no  Archivo  Pittoresco,  ^ 

Tomo  Y  (1837),  pag.  41.  Templo  de  Santo  António  de  Pádua  (com  estam- 
pa).—Pag.  294.  Biographia  de  Luiz  de  Gamões  (com  estampa  representando  a 
gruta  de  Gamões  em  Macau).— Diz  «que  Luiz  de  Camões,  auctor  da  pri- 
meira epopea  moderna  no  gosto  de  Virgílio,  é  incontestavelmente  o  maior 
poeta  que  Portugal  viu  nascer»,  e  termina  dizendo-nos  «que  em  Lisboa  suas 
desgraças  causaram  uma  impressão  tao  profunda,  que  a  casa  em  que  morava, 
ficara  sem  inquilino,  por  todos  terem  receio  de  residirem  n'ella» .  Esta  biogra- 
phia é  escripta  com  desenvolvimento,  faz  muitos  elogios  ao  poeta,  e  contém 
bastantes  inexactidões,  o  que  não  é  para  admirar,  por  vários  motivos.— Pag. 
394.  Vista  da  praça  do  Gommercio  em  Lisboa.  Diz-nos  o  jornal  «que  a  estam- 
pa representa  a  nossa  praça  do  Gommercio»;  porém  ella  representará  tudo 
quanto  quizerem,  menos  a  referida  praça,  nem  com  ella  se  parece,  nem  dá 
a  mais  leve  idéa.  No  dizer  dos  viajantes,  nenhum  dos  espectáculos  do  mundo 
eivilísado  excede  em  magnificência  exterior. Lisboa,  vista  a  alguma  distancia, 
etc.  «As  cavidades  dos  olhos  da  estatua  equestre  de  D.  José  no  Terreiro  do 
Paço  (praça  que  também  se  intitula  do  cavallo  negro)  eram  cheias  antigamen 
te  com  dois  diamantes  de  alto  valor,  e  a  gente  do  povo  conta  que  o  general 
Junot  na  invasão  franceza,  não  podendo  levar  o  cavallo,  víngou-se  arrancan- 
do-lhe  08  olhos.»  Diz  que  o  convento  de  S.  Vicente  de  Fora  é  fundação  de 
Q.  João  ni.  Gonta-se  que  o  general  Junot  tioha  feito  tirar  os  mosaicos  da  ca- 
pella  de  S.  Roque  para  os  remetter  para  França,  mas  que  tendo  as  ferramen- 
tas dos  operários  estragado  o  vidro,  exclamara :  Parae,  nào  se  diga  que  Jonot 
foi  tão  bárbaro  que  mutilou  uma  obra  tão  preciosa!  Emquanto  ao  convento  da 
Estrella  diz-se  que,  o  architecto  furioso,  como  entre  nós  Soafflot,  por  causa  da 
critica  feita  ás  portas  d*esta  egreja,  se  foi  precipitar  do  aqueducto  das  Aguas  Lí- 
vres.Em  sumroa,  póde-se  dizer  que  todo  este  artigo  não  passa  d'um  amontoado 
de  mentiras  e  inepcias.  Que  egreja  será  a  Rola,  de  que  nos  falia?  Que  padres 
eram  os  que  andavam  vestidos  de  vermelho  pelas  ruas  em  1837  ?  Quando  é 
que  o  convento  da  Graça  poude  aquartelar  cinco  mil  homens?  Artigos  como 


«  Vol.  6.»,  pag.  «8C.  Yol.  7.»,  pag.  7.  Voi  8.»,  pag.  313. 


<4M  diiureditaa  qiMlqBV  »qUím^  IWsoifll.  Rfl)0  ■«■«  «»aM^ 

»  ett&  no  ooetome  deesonvw  d^rt»  ftoOM-^rM^-infá)*  «wlaÍMaiMk 
«m Poangil (á>m mma^^^fíMêtitàs^-ub^mBttmàitttbt nèãyli]  :' 

Tomo  VI  HKiBi.  [i.ig.  2.').  AiiiieJucto  iiioii|-Jsi'a  d(!  Elvas  (cora  esUmp».^^* 
Pa^.  7ã.  Jarúms  ríiiiculos.  <Em  aussos  arlifu»  u  r^apeilo  de  Portugal  aasíg* 
nalámoa  como  prova  Je  raaa  gosto  em  cartas  cidades  d'esle  reino  o  coslama 
Ae  Ulhar  as  arvores,  de  modo  qae  rormavam  Q^tiras  Je  seres  animados.  Bsto 
'  eoslnme  exUtiu  também  ha  um  século  na  Infilatarra,  e  Pope  melteuo  a  ridi- 
i^ulo n'aina n&ria  escrípla  em  17l3.~Pag.  186.  Numarligo  JDlIlalado Hisloire 
du  seiíicmo  siècle,  traia  das  antigas  victorias  e  poder  de  Portugal.— Pag.  228. 
A  Bgrpja  de  Bciom  (com  estampa).  Quadro  de  M-  Daouiz,  de  grande  effeito, 
exposto  no  Lonvre  em  1S38,  e  muito  admirado. 

Tomo  VIII  (1840),  pag.í63.  Vista  da  cidade  do  Macau.— Pag.  397-  Vista 
do  tumulo  de  D.  Ignez  de  Castro  no  mosteiro  d'Alcob3ça.  O  artigo  que  acom- 
panha esU  estampa  é  copia  dasChroDÍc^s  cavalheirescas  deFerdinandOenis, 
e  a  estampa  copiada  das  Viagens  do  barão  Taylor. 

Tomo  XI  (1843),  pag.  3GI  e  seguinle.  Um  longo  artigo  sobre  o  iafanle 
D.  Henrique,  cora  uma  estampa  representando  o  seu  buslo  por  Mr.  Droi,  se- 
gundo uma  antiga  miniatura. 

■tawnte-JfrHwrtlinMiifnii  4»  8ta  )i«riMa  at  IbitfB^Mi' Horagit  ^j v .  e-vM 
TiMMXIV[Ul^piC.178.a«aray'8tHBtÍn  IM  f  niTipl  fT  fíTMf 
Qedfroy  Bteme  fiL)' 

Tomo  XVIII  (1850),  pag.  334.  Um  artigo  acerca  dos  uolejoe  em  Portogri- 

Tomo  XIX  (tSSl),  pag.  94.  Um  artigo  sem  importaotía  «  respeito  do  pin- 
tor Grão  Vasco,  no  qual  dÍE  ser  para  a<fmirar  que  os  por&igneEes  nÍo  tÍTti- 
sem  conhecido  que  os  quadros  attribuidos  a  este  pintor,  por  vários  BiotÍTQt, 
não  podiam  ser  obra  do  mesmo  anctor,  e  que  se  deve  ao  conde  da  Bakiyitslú 
a  descoberta  do  v^dadeiro  Grão  Vasco. 

Tomo  XX,  pag.  121.  Uma  vista  da  ilha  do  Príncipe. 

Tomo  XXI,  pag.  13.  Uma  passagem  da  ilha  de  S.  ThoiȎ.-Pag.  3SS.  Uma 
estampa  representando  a  chuva  de  sangue  em  Lisboa  no  anuo  1551. 

Tomo  XXII,  pag.  2&6.  Os  Castros.  Uooumeotos  célticos  -da  Gallisa  e  de 
Portugal.  (Este  artigo  não  apresenta  novidade).— Pag.  305.  Visude  S.P«tlo 
de  Loauda.  Desenho  de  Kart  Girardet,  conforme  M.  L.  de  Fonlin. — Pag.311.  Al- 
pbabetos  talhados  por  um  cego.  Falia  do  porlugnei  Diogo  Alvares,  qae  apeMr 
de  cego,  talhava  leiras  de  forma  tal,  que  se  guardavam  como  preeiosid«d& 

Tomo  XXUl  (18S5),  pag.  202.  O  rinoceronte  do  rei  D.  Manuel,  seu  IriaiB- 
pbo  e  morte.  Artigo  extrahido  de  Damião  de  Góes.— Pag.  278.  Estatua  eqiM5- 
tro  da  ilha  do  Corvo,  no  grupo  dos  Açores. 

Tomo  XXIV  (185ti),  pag.  148.  Exposição  universal  em  18ÍBÍ.  Portugal  Os 
vendedores  de  fructas  cm  Avíules  e  os  regaiõcs.  Quadro  de  F.  A  S^enck.— 
Pag.  201.  Catadupa  na  ilha  do  Príncipe.  Desenho  de  KarI  GirardeL — Pag.  241 
O  Hnata  Cazembe  (com  duas  estampas  copiadas  da  obra  que  com  este  titulo 
se  publicou  em  Lisboa.) 


MA  47! 

Tomo  XXV  (1857),  pag.  85.  Restos  da  egreja  dos  Jesaitas  em  S.  Paute  de 
Loanda.  Desenho  de  Karl  Girardet. 

Tomo  XXYI  (1858),  pag.  115.  Armas  e  utensílios  da  ilha  de  Timor. 

Tomo  XXVUI  (1860),  pag.  187.  Os  Corte  Reaes  e  o  Labrador. 

Tomo  XXIX  (1861),  pag.  132.  Palácio  de  Mafra.  Desenho  de  Rouargue.— 
Pag.  186.  O  touro  dos  Açores.  Desenho  de  Freeman. 

Tomo  XXXII  (1864),  pag.  7.  Porta  travessa  de  Santa  Maria  de  Belem  (fa- 
chada do  Sul).  Desenho  de  Thérond.— Pag.  167.  As  olas  da  índia.  Modo  de  es- 
crever dos  Índios.— Pag.  177.  Egreja  de  Santo  António  de  Pádua.  Desenho  de 
Tbéron. 

Tomo  XXXIII  (1865),  pag.  Porta  da  sacristia  da  egreja  de  Alcobaça.  Dese- 
nho de  Olivier  Merson.— Pag.  111.  Sellos  de  correio  em  Portugal.— Pag.  249. 
Facl^da  de  Santa  Cruz  de  Coimbra.  Desenho  de  Olivier  Merson. 

Tomo  XXXV  (1867),  pag.  279.  Biographia  e  desenho  de  uma  estatua  de 
Jacob  Rodrigues  Pereira  ensinando  um  surdo-mudo.— Pag.  397.  Santo  Antó- 
nio de  Pádua.  Quadro  de  Murillo. 

Tomo  XXXVI  (1868),  pag.  192.  Custodia  de  Belem.  Desenho  de  Clerget 

Tomo  XXXVn  (1869),  pag.  120.  Passagem  chineza  entre  Macau  e  Cantão. 
—Pag.  336.  Cutello  de  salvação.  Conta  a  historia  do  naufrágio  de  um  navio 
portuguez  na  costa  de  França,  e  como  toda  a  tripulação  se  salvou  levando  na 
bocca  cutellos  quando  se  atirou  ao  mar,  aos  quaes  enterrados  na  areia  se  se- 
gurou até  lhe  prestarem  soccorros. 

Tomo  XXXIX  (1871),  pag.  363.  Como  vinham  as  mercadorias  das  índias  a 
Portugal  no  espaço  de  3  mezes  em  1528. 

Tomo  XL,  pag.  105.  Convento  da  Batalha.  Vista  do  claustro  real.  Desenho 
de  Gilberto— Pag.  170.  Um  bordado  histórico.  André  Furtado  de  Mendonça.  O 
pirata  Cunhale.  Defeza  de  Malaca.  O  que  hoje  é  esta  cidade. 

794)  MAGNIN  (CHARLES).— Membre  de  llnstitut. 

E.-^Biographia  de  Camões^  que  precede  a  traducção  dos  Lusíadas  feita  por 
MiUié. 

cAo  esboçarmos  esta  vida  de  um  poeta  illustre,  duas  coisas  tivemos  em 
mira.  Em  primeiro  logar  esclarecermos  diversos  problemas  biographicos :  em 
segundo  desejámos  mostrar  qual  era  a  vida  de  um  litterato  em  Portugal  du- 
rante o  bello  século  d'este  pequeno  e  prodigioso  reino 

cNada  differe  tanto  d'um  século  a  outro,  e  de  povo  a  povo,  como  o  que  se 
chama  vida  de  homem  de  lettras.  Hoje  na  França  um  homem  de  lettras  é  um 
homem  de  prazeres  e  de  negócios  que,  se  não  tem  muita  ambição,  procura  vir 
a  ser  chefe  de  divisão  n'um  ministério,  ou  director  de  um  estabelecimento. 

«No  século  XVIII  a  vida  dos  litteratos  era  uma  vida  ao  mesmo  tempo  casei- 
ra e  sensual,  passada  entre  a  Academia,  a  Opera,  os  salões  e  o  café  Procopio. 
No  século  de  Luiz  XIV  era  coisa  um  pouco  mais  grave  e  frugal,  e  que  tinha 
herdado  de  Port  Royal  um  tanto  dos  hábitos  claustraes.  O  povo  que  entre  nóe 
allia  tão  frequentemente  a  imagem  grotesca  com  o  pensamento,  traduziu  a  idéa 
de  homem  de  lettras  pela  expressão  pittoresca  e  grosseira  de  pó  de  chumbo. 


èn  mm 

•  Kíla  delluição  popul&r,asMái^  exacia  geraimeule  na  Fr&nça,  seria  uma  es- 
tranba  falsidade  so  a  applicassemos  a  lodos  os  oatro.s  pmies.  Eucontroa-se  lu 
Europa  um  pcqtieDO  pavo,  uo  qual  a  idéa  do  homem  de  leuras  correspondeu 
por  muito  lempo  à  de  viagens,  guerras,  captiveiro  entre  oj  mouruíi,  nautra- 
gios  no  Brasil,  desterros  nas  Uolucas.  Não  se  encontrou  n'elle  durante  o  pe- 
ríodo de  sua  historia  um  só  poeta  qas  não  tivesse  andado  suas  duas  oa  Ires 
mil  Ipguus  por  mar,  combatido  na  Arrica,  na  America  a  na  Índia.  Teve  eSli 
nação  uma  lilltratura,  e  não  iílteralos  d»  profissão;  levo  bellas  obras,  o  não 
bonieus  de  lettras;  e  grandes  posta!:,  o  nada  que  se  assimilliasso  a  uma  classe 
á  parle,  sedentária,  inactiva,  e  pa^a  unicamenle  para  escrever. 

tE  não  corriím  sísUii  as  coisas  nem  por  escolha,  nem  porsysuima;  erapor 
nevessidade.  Ninguém  tinha  então  em  Portuga  I  tempo  para  estar  tranquillo 
n'um  gabinete  de  estudo,  e  para  não  se  applicar  a  mais  do  que  a  um  só  traba- 
ibo-  Por  lào  precipitado  movimento  era  o  Estado  arrastado  para  Tora;  era  en- 
volvido n'uma  corrente  de  conquistas  e  de  grandeza  tão  rápida,  qae,  como  na 
coberta  de  um  navio,  que  quer  forcar  suas  velas,  todos  os  brados  oram  neces- 
sários para  a  manobra- 

•  Para  DÓS,  velba  nação  contíoenlal,  quasi  sem  colónia!,  sem  gosto  ao  mar, 
sem  amor  aos  paizes  longíquos,  povo  ha  muito  tempo  assentado,  poderoso  pelo 
solo,  pela  população,  pela  industria,  que  vivemos  fechados  em  nossa  casa,  oa 
na  do  visioho,  em  frente  dos  Alpes  ou  do  Bheno,  mal  podemos  comprehender 
que  esforços  foram  necessários,  lucla,  actividade,  sucriilcios,  consumo  de  for- 

,  ças  indivtduaes  para  que  D'um  momi^nlo  d;idn  uni  peqiit<no  povo  de  arrojados 
marinheiros,  como  o  de  Portugal,  podesse  fondar  capitães  a  duas  mil  legnat 
do  leos  lares,  e  conservar,  quasi  durante  am  século,  um  império  qne  por  nm. 
nomento  foi  roais  vasto  que  o  império  romano.  A  gloria  d'este  peqtieiio  ponto 
iaterra,  predestinado  por  sua  posiçãogeographica  para  a  descaberta  do  Ocea- 
no e  dos  mares  da  Índia,  é  de  não  ter  deixado  de  cumprir  sua  missSo:  de  ter 

'  «MD  tão  fracos  recursos,  como  eram  os  seus,  mudado  os  caminhos  do  eoin- 
mereio,  dilatado  os  limites  da  civilisaQào  e  do  cbristiaoismo,  transpoitado  a 
Europa  para  a  America  e  índia:  meteoro  inaudito  de  poder  e  de  gloria,  lio 
maravilhoso,  tão  brilhante,  Ião  passageiro,  como  aquelle  que  tanto  iUustrou 
um  outro  pequeno  ponto  do  globo,  chamado  Grécia 
-  <E  demais,  para  qoe  um  reino  taiha  homens  de  louras,  é  mister  dinheiro 
para  os  subsidiar.  Portugal,  que  consumia  soas  economias  em  esquadras,  em 
eiereitos,  em  construcçdes  de  arsenaes,  de  forlaleias,  não  podia  abrir  bo  sen 
orçamento  um  capitulo  de  animação  para  as  lettras  e  artea.  Dentro  em  pooco 
até  o  reino  empobrecido  pelas  conquistas,  empenhado  por  causa  das  victarias, 
não  teve  nada  mais  com  que  pagar  as  despezas  de  seus  exércitos,  e  o  Estado 
veiu  a  não  poder  pagar  áquelles  que  melhor  o  tinham  servido.  Camões  mor- 
rea  no  bo^ital. . .  Morreu  por  causa  dós  revezes  de  sua  pátria,  como  muitos 
de  seus  companheiros  de  armas;  como  morriam  então  os  almirantes  e  os  pró- 
prios vice-reis  sem  terem  sempre  (testemunha  D.  João  de  Castro)  eom  qoe 
eomprar  uma  gallinha  em  sua  ultima  doença. 
.  lOs  luziadat  era  a  primeira  epopea  giie  apparecía  a'iaoà  liogiu  modac* 


MA  473 

na.  Aos  mcantos  de  ama  poesia  deslumbrante  renne  toda  a  seriedade  da  his- 
toria, e  todo  o  interesse  d'ama  viagem  de  descoberta.  Não  tem  por  theatro 
maisque  mn  navio,  por  horisonte  mais  que^o  cée  e  o  mar,  para  pontos  de 
abrigo  só  os  pequenos  portos  de  Moçambique,  de  Melinde  e  de  Calecut,  onde 
a  equipagem  aborda  com  diíBculdade;  e  comtudo  a  arte  do  poeta  ó  tal,  que 
com  tão  insignificante  material  nada  eguala  a  variedade  dos  quadros  que  re- 
presenta a  nossos  olhos.  Tem-se  muitas  vezes  dito  de  Shakespeare  que  elle  é 
o  melhor  historiador  de  seu  paiz :  outro  tanto  se  pôde  direr  de  Camões.  Can- 
ta, como  o  indicam  o  titulo  e  o  exórdio  de  seu  poema,  tudo  quanto  faz  a  glo^ 
ria  de  Portugal:  mas  é  o  historiador,  e  não  o  adulador  da  sua  pátria.  Pintor 
enthusiasta  das  batalhas  de  Ourique  e  de  Aljubarrota,  reprehende  com  aspe- 
reza  seus  companheiros  degenerados.  Duas  passagens  admiráveis,  louvadas 
exclusivamente  de  mais,  o  episodio  de  Ignez,  e  a  ficção  de  Adamastor,  estão 
ao  meu  vér,  longe  de  ecclipsarem  as  outras  partes  do  poema. 

cFicam  ao  leitor  lagrimas  para  outros  infortúnios  não  menos  commovedo- 
res,  e  admiração  para  outras  ficções  não  menos  felizes.  A  apparição  da  índia 
e  do  Ganges,  a  entrevista  do  rei.de  Melinde  e  do  Gama,  que  pela  variedade 
dos  vestuários  e  dos  costumes  produz  uma  illusão  tão  completa;  as  sinistras 
predicções  do  velho  portuguez,  ecco  dos  preconceitos  vulgares,  que  nunca 
deixam  de  protestar  contra  o  heroísmo :  a  aventura  de  Yelloso  com  os  selva- 
gens,'onde  o  gracioso  se  mistura  com  o  interesse:  a  scena  do  mar  tão  k>em 
descripta,  que  precede  a  narração  cavalheiresca  dos  doze  portnguezes,  todas 
estas  bellezas  e  mil  outras,  graciosas  ou  terríveis,  severas  ou  apaixonadas  des- 
pertam entre  ellas  a  admiração.  Como  principalmente  tomamos  parte  nas  ma- 
goas do  Gama,  obrigado  a  enterrar  debaixo  da  areia  estrangeira  a  alguns  de 
aeus  infelizes  companheiros  t  Como  sahe  bem  do  fundo  da  alma  do  poeta  esta 
triste  reflexão:  Ob!  quão  facilmente  o  homem  encontra  no  mundo  sua  ul- 
tima morada!  Foi  extraordinária  a  recepção  dos  Luziadas,  pois,  coisa  quasi 
inaudita  em  Portugal,  n'aquelle  mesmo  anno  o  auctor  publicou  segunda 
edição!» 

795)  MAI  (JOHANN  HEINRIOH). 

E.—Dts8ertatio  histórico  philoiogica  de  origine,  vita  et  sertptts  IsaúciÃbrã' 
banelis.  Altorf,  1808.  (Dissertação  sobre  a  origem,  vida  e  escriptos  de  Abra- 
banel). 

Abrabanel,  como  muita  gente  sabe,  foi  um  judeu  celeberrimo  nascido  em 
Portuga],  e  cuja  vida  apparece  em  todos  os  díccionarios  biographicos. 

7%)  HAIRAN. 

Tanto  este  mathemalico  como  Mr.  Bouguer  foram  encarregados  de  analy- 
sarem  a  Memoria  de  Manuel  Joaquim  Soares  de  Barros  è  Yasconcellos  sobre 
a  passagem  de  Mei  curió  peb  disco  do  Sol  em  6  de  maio  de  1753. 

«Logo  que  José  Joaquim  Soares  de  Barros  chegou  a  Paris,  munido  dòscío- 
nhecimentos  que  em  Inglaterra  havia  adquirido,  6  estudo  da  astronomia  e  da 


471  MA 

geogrspbiâ  foi  o  princípai  objecto  das  íuas  applicaçue5.>AllÍ  contraiu  unisA' 
4e  com  o  celebre  astrnnomo  M.  de  Lísie,  e  adestrado  por  elie  no  obisrvalorío 
de  Clagny,  em  o  manejo  dos  íiutriimeDlos  aslronomicos,  palúnlooti  um  talcnlo 
e  perícia  que  em  breve  enrhea  Ae  admirai;ão  os  astrónomos  mais  dislincios, 
A  passagem  de  Mercúrio  peio  disco  do  Sot,  acootecida  em  6  de  m^o  de  1753, 
Ibe  dea  occasião  de  fazer  taolas  observações  delicadas  e  difDi;eis,  para  as 
qaaes  com  perspicaz  prevenção  se  havia  antecipadamente  disposto  que  MU. 
Boneoer  e  da  Mairan,  commissarios  nomeados  pela  Academia  Real  das  Scien- 
cias  de  Paris,  para  examinarem  a  Memoria  qae  elle  sobre  este  objecto  escre- 
vera, não  duvidaram  dizer  na  sua  conta,  que  a  babilídade  e  deslresa  do  nosso 
aatroDOmo  ia  muito  além  da  verosimilhança. 

A  publicação  d'esia  Memoria,  de  que  o  próprio  M.  de  Lisle  se  eocarregi- 
ra,  deu  occasião  a  qae  a  Academia  das  Scienciaa  e  Bellas-LcUras  de  Berlim  o 
conceituasse  digno  de  entrar  na  sua  associação.  Nào  tardoa  o  nosso  Barros 
em  obter  esta  bonra,  num  em  enriquecer  as  actas  d'aquella  respeitável  so- 
ciedade, com  uma  nova  Memoria  sobre  a  influencia  da  opacidade  da  ai* 
mosphera  terrestre,  nos  instantes  das  immersões  e  emersões  dos  salellil« 
de  Júpiter  na  occasião  de  seu?  eclipses.  Esta  Memoria,  escripla  em  tingiu 
íraoceza,  publicoa-se  no  volume  das  actas  d'nquella  eorpora<^  £cientiãcj^ 
correspondente  ao  anno  de  1759,  com  o  titulo  seguinte :  NtmvelUs  íquation 
pmr  la  perfeclion  àe.  (a  ihéorie  des  íalelliles  de  Júpiter,  rf  pour  la  corrtctim 
dei  longitudes  terrestres,  déterminies  par  les  obsercaíions  des  mémes  míMú^ 
Barros  alli  examina  a  inlluencia  que  deve  ter  a  massa  da  atmosphera  sobre  a 
diminuição  da  luz  dos  salelliles,  nos  diíTorentes  jtraas  da  sua  elevai;ào  sntire  o 
borísonte,  e  por  consequência  sobre  o  momento  da  sua  desapparição  u  es- 
trada úi  sombra  do  planeta  principal,  e  no  da  sua  apparição  á  sabida  d'elta; 
e  combinando  destramente  todas  as  descobertas  de  Galíleo,  Casaini,  oq  de  II. 
deFoncby  aceres  dos  efleitos  qne  a  maior  ou  menor  distancia  do  planeta  ao 
Sol  e  a  Terra,  e  dos  satellites  ao  planeta,  devem  produzir  na  quantidade  da 
Iqz  porelles  reflectida,  não  só  calculou  uma  taboada  das  dimíDuiç&es  qaeso(- 
fre  efreciivamente  na  quantidade  da  sua  luz  o  primeiro  satellite,  em  lodos  os 
graus  de  elevação  do  horisonte,  e  das  correcções,  que  deve  fozer-se  aos  tem- 
pos das  suas  immersões  e  emersões  apparenles;  mas  deu  formulas  genes  para 
se  ealeolarem  similhantes  taboadgs  para  todos  os  outros  satellites :  enainoa 
como  se  deve  medir  a  diminuição  qne  sofTre  a  lux  d'este3  planetas  seaanda- 
rioB,  em  rasão  da  sua  maior  ou  menor  proximidade  apparente  ao  plaoeu  prin- 
cipal; o  qae  nem  Galiteo,  nem  outro  algum  astrónomo  até  então  havia  Ibilo: 
tnoBtfoa  eomo  a  quantidade  dps  satellites  depende,  além  de  todas  as  eansu 
mencionadas,  também  das  suas  distancias  á  luz,  o  que  ninguém  havia  ainda 
advertido,  e  assim  levou  a  theoria  dos  satellites  de  Júpiter  a  nm  grão  de  per- 
feição muito  acima  d'aquelle  em  que  se  acbava. 

■As  outras  partes  ou  ramos  das  sciencias  mathemaiicas  não  foram  exlra- 
nbas  ao  nosso  astrónomo.  A  applicação  do  calculo  das  probabilidades  ás  qae»> 

■  Stockltr.-fliilorid  dm  Matktntnlittt  em  Ptrtftgal.  Pag.  6i. 


I 


MA  475 

toes  económicas  e  politicasi  qae  dependem  da  doração  da  vida  humana»  lhe 
merecem  particular  attençao.  EUe  tiroa  das  Tabòadas  Necrologicas  de  Lon- 
dres, e  de  Breslaw,  moitas  e  mui  curiosas  consequências,  que  publicou,  pri- 
meiro em  um  pequeno  opúsculo,  que  no  anuo  de  i767  imprimiu  em  Paris 
com  o  titulo  de  NouveUes  considérations  sur  les  années  eUmaiériqueSf  etc.;  e 
depois  em  uma  Memoria  que  intitulou  Loxodamia  da  vida  humaimí,  a  quái  a 
Academia  Real  das  Seiencias  imprimiu,  depois  da  sua  morte,  em  o  S.^"  tomo 
das  Memorias  de  MathetnaUca  e  Physica.» 

797)  MAIRE  (ISIDORE  HYAOINTHE). 

E.—Organogénie  Générale.  (Memorias  da  Academia  RetU  das  Seiencias, 
vol.  ils  parte  2.*) 

798)  MAJESTÉ  (D.  FRANOISOO).— Doctor  en  ambos  derechos,  y  fis- 
cal general  ecclesiastico  dei  estado. 

E.—Oracion  fwiebre,  pronunciada  en  la  santa  iglesia  matriz  de  la  capital 
de  la  Republica  Oriental  dei  Uruguay,  en  las  regias  exéquias  que  la  poblacion 
portuguesa  de  esta  capital  consagro  a  la  memoria  de  su  malogrado  rey  D.  Pe- 
dro Vy  de  su  augusto  hermano  el  príncipe  D.  Fernando.  Por  el  presbítero  — -, 
dedicada  a  s.  e.  el  senor  consejero,  encargado  de  negócios  y  cônsul  general  cerca 
de  las  republicas  dei  Plata  y  Paraguay,  D,  Leonardo  de  Sousa  Leite  Acevedo. 
Montevideu.  Imprenta  dei  ProgresOy  8.<>,  36  pag. 

799)  MALAGRIDA  (GABRI£L).--Jesuita  italiano. 

Nasceu  na  villa  de  Menajo,  no  ducado  de  Milão;  foi  estrangulado  e  quei- 
mado no  auto  de  fé  celebrado  em  20  de  setembro  de  i76i,  facto  bem  conheci- 
do, e  nlo  pouco  deshonroso  para  a  memoria  do  marquez  de  Pombal. 

E.—JiiUso  da  verdadeira  causa  do  terremoto  que  padeceu  a  corte  de  Lisboa 
no  i.«  de  novembro  de  i755.  Lisboa,  por  Manuel  Soares,  i756, 4.«,  3i  pag. 

A  respeito  d'este  Malagrida  existem  muitas  obras  escriptas  por  estrangeiros. 

800)  MALDONADO. 

£. — De  Joanne  de  Brito  Lusitano  m  odium  fidei  a  regulo  Marava  trucida- 
to.  Antuerpiae,  1697,  itt-4.*  (fiiographia  de  João  de  Brito,  portuguez  morto  pelo 
regulo  de  Marava  em  ódio  á  fó  de  Ghristo.) 

80i)  MALDONADE  (J.  B.) 

E. — Prodígieux  événements  de  notre  temps  arrívés  à  des  Portugais  dems  um 
voyage  extremement  dangereux  du  cote  de  la  Ckine,  par  — .  Mons,  1693. 

802)  MALINGRE. 

E.— Aòr^^  de  VHistoire  d'Espagne  et  de  Portugal  et  de  Navarre  oonienant 
les  choses  les  plus  mémorables  qui  se  sont  passes  en  ces  trois  royaumeê  dêpms 
leur  origine  jusq'à  nos  jours,  recueillies  de  plusieurs  mémoires  par-^M^M» 
Historiographe  de  France.  Paris,  1652. 


«74  MA  1 

803)  UAIXET.  ^ 
K.— D.  Elvira  fines  de  CoílroJ  a  Tritgedy.  Loodoa,  1778. 

804)  MAMTANI  (LDIZ  VICENCIO).-JesuiU  ilaliano. 

E.~Ãrlc  de  Grammatica  da  lingua  brasílica  da  nação  Kariri.  Lisboa,  por 
Uigael  Doslindes,  1699,  8.°,  134  pag. 

808)  MANCINI  fPOLIZIA.NO). 

E.— II  príncipe  Allomiro  di  Lusitânia.  Padova,  1641. 
Vem  6Bta  obra  mencionada  do  Calalogo  maaoscrlplo  da  livraria  do  condd 
de  Lavradio,  mas  igaoro  se  é  um  romance  ou  Dão. 

806)  MANDBLSLOHE  (J.  A.  VON). 

E.—OoÈt  Indische  Iieyie,eíc-  (Viagem  ás  índias  Orientaes).  Amsterdam,  109S, 

807]  StANGIN. 

E.—Abregè  de  l'Histoire  de  Portugal.  Paris,  1699.  Ibid.  1707. 

808)  MANIFE3T  DOOR  D'INWOONDERS  van  Panumbwv  wgfgt- 
Çtvtn  tot  hun  veraliawrdinge  op't  taenemen  der  wapenen  tgem  de  Wetl-lndu- 
eke  Compagnie;  ghedirigeert  ven  alie  Clirtsletie  Príncen,  enáe  betonderlijck  (M* 
Hoogh-M-  H.  U.  Staten  Generael  vim  de  Vereenighde  Nedeiianden.  Gbtárukt 
mdí  uyt  hei  Portugifg  ovírgtset  in  (mta  Nederduyttehe  TtUí,  Tot  Aiawerpem. 
Anno  1646.  13  pag.  8."  (M.  S.) 

809)  ICANIFEST  mdí  redenen  con  Oorloge,  tot  UAona  Vst-gJughecai, 
ntdê  gepxAUeeer :  Tuttchen  Portugal  endã  de  Seunierde  tfederlantttkt  Provin- 
tim  met  de  aenmarckinge  ntde  den  oortpronek  wier  vpt  dm  ulf  dm  gh^rú- 
eedemi.  U.  Gêíroweelick  vi/t  dt  Portugeiclu  Tale  over  geset:  Secbiickt  mf  Jaer 
tm  Vtemt,  1658;  8  folhas. 

810)  HANIFEBTE  POIIR  DOM  EDCUARD,  infaM  da  Portttgal,  qn 
ttra  ootr  d  tou(  le  monde  une  trahiton  loiu  semblable,  faite  eoníre  la  pertontu 
de  et  prince,  qiU  itant  inwtcent  et  libre  a  été  par  une  lachetí  aulaní  u^ame 
pu  honteuit,  taiserablemetU  vewtu  dam  Vienne  en  Autriche,  U  25  Juin  16ÍS, 
la  wmme  de  40:000  ríxdalet;  h  vendeur  (le  roi  de  Hongrw),  raduteur  (U  ni 
4ê  Caitílle),  lei  stipulans  en  la  convention,  du  coíé  da  roi  de  Cattille,  Dom  For- 
nando  de  Mello. . .  du  cote  da  roi  de  Hongrie,  le  pêre  Didac  de  Qviroga. . .  ex- 
trait  en  eubstance  d'un  imprime  en  laíin  i'an  1642.  Paris,  1643.  (C.  U.  &  I.P.) 

811)  MANLET  (O). 

S.— Account  of  the  Itland  af  Japon  aad  {he  exclu^on  o{  Ou  PwrOàgueie, 
eompoeed  by  F.  Caron  and  trantiaíed  by  — .  London,  1663,  S.  (Nam^  dk 
ilha  do  Ja^  e  da  ezpnltão  dos  portugaeies). 


MA  477 

8i2)  MANRIQUE  (P.  S.) 

E.— Itinerário  de  las  missiones  de  la  índia  Orieníal.  Roma,  i6S3>  foi. 

8i3)  MARACOI  (P.) 

E.—Relation  de  ce  qui  s'est  passe  dans  leslndes  Orientales,  en  ses  trois 
provinces  de  Goa,  du  Malabar,  du  Japon,  de  la  Chine,  etc.  Paris,  i65i. 

8i4)  MARTY  (ANGELO  RÁYHUNDO).— Hespanhol  e  tachygrapho-mór 
das  cortes  constituintes  em  i82i,  e  das  que  se  lhe  seguiram  em  i822  e  i823.  ^ 

E.—Tachygraphia  inventada  por —,  accommodada  à  língua  portuguesa. 
Lisboa,  i822. 8.»  * 

815)  MARAVILHOSO,  insigne  y  costoso  arco  6  puente  que  los  vnglezes 
han  hecho  en  el  Pelourinho  viejo  por  donde  ha  de  entrar  S,  JH.  en  Lisboa.  Be* 
fiei*ese  el  modo,  traça  y  architectura  dei,  quadros  de  pintura,  etc,  Dase  a  si- 
mismo  quenta  dei  gi-andioso  presente  que  á  S.  M.  hizo  el  duque  de  Berganza^ 
y  el  numero  de  criados  que  le  acompanaram  hasta  donde  lo  fué  á  recibir  y  de 
de  las  muchas  protisiones  y  bastimêtos  que  tiene  prevenidos  para  los  grandes 
sénores  y  criados,  etc.  Sevilla,  1619. 

816)  MAROHAND  (JEAN  HENHI). 

E,—Tremblement  de  Terre  de  Usbonne.  Tragedie  par  M.  André.  1756. 

817)  MARCHENA  (JOSEPH). 

E.—Manuel  des  Inquisiteurs  à  Vusage  de  Vlnquisition  d'Espagne  et  de  Por- 
tugal. Montpellier,  1819. 

818)  MARGGRAF  (GEORGE). 

E.—De  Medicina  Brasiliensi,  libri  4.«  Amstaelodam,  1648.  (Quatro  livres  a 
respeito  da  medicina  brasileira). 

819)  MARGUERITTES  (JEAN  ANTOINE  TEISSIER). 
E.—La  revolulion  de  Portugal.  Tragedie,  1775. 

820)  MARIA  (A). 

E.— Gentes  Angolae  fidei  mysteriis  instructae.  Romae,  1661.  (Povos  d'An'* 
gola  instruídos  nos  mysterios  da  Fé. 

821)  MARTA  (D.)  DA  GLORIA,  D.  Miguel  y  la  Espaha,  6  resoluckm 
dê  un  problema  politico  en  1832.  Bordéus,  folheto.  (G.  M.  B.  I.  P.) 

822)  MARIA  (G.  Dl  SANTA).— Delegado  Apostólico  ne*  regni  de  Ma- 
lavarí. 

^  Sr.  Innocencio.— Diccionario  Bibliographico,  tomo  8.%  pag.  65. 


478  MA 

E.—Primn  spediUone  ai  Iwtia  Orimlali.  Roma,  iC68. 

813)  BtABIER  (JAHEB). 

E.— ^  second  Journty  throv^  Perita . .  -  bMwrfn  lhe  yeart  1810  and  IStS^  I 
With  a  Journal  ofthe  voyage  by  the  lirazils  and  Bnmbaij  to  Ihf  persian  guiph.  1 
London,  1816.  (Si^guoda  viagem  pela  Pcrsía,  Brasil,  Bombaim,  ele.} 

8tÍ)  MARINI  (GIOVANNI  PHILIPPO  DE).— Missionário  BenoTffl 
nascido  em  Taggia  do  anuo  de  IGOS,  e  Tallecido  no  Japão  cm  1677.  Protessoa 
nos  Jesuitas,  missionou  por  quatorze  annos  no  Tonkiog,  e  [oi  reitor  do  coUe- 
gio  dos  Jèsuilas  em  Macau.  < 

E.—Deile  missioni  de'  padrt  delia  Compagnia  de  Giesu  nella  provinda  det 
Giapponi  e  parlicularmenie  di  quella  dí  Tunkiw.  Alia  Sanlila  de  JV.  S.  Atte- 
mmdro  PP.  tellimo.  Vcnelia,  I66S.  13.° 

Ê  uma  das  obras  que  traiam  amplamente  das  misaíies  portaguecas  no  Ja- 
pão, e  principalmente  em  Tcnking. 

•A  egreja  e  casa  dos  Jesnítas  n'csta  provinda  foi  erigida  com  as  esmolas 
dos  mercadores  porluguezes  e  do  Papa  Gregório  XIII,  depois  de  o  rei  vi  con- 
cedido licença.  E  a  religião  progrediu  tanto,  que  indo  para  alli  o  padre  Ama- 
ral  com  mais  quatro  padres  porluguezes,  flcoa  admirado  do  progresso  que  a 
religião  cbristà  Tazia  já  alli,  cbegando-se  a  contar  setenta  cathequistas.' 

Conta  esta  relação  os  trabalbos  dos  missionários  porluguezes  Onofrio  Bor- 
ges, Mariim  Coelho,  Aoionio  Barbosa,  Francisco  Figueira,  Ballbasar  Caldeira   ' 
e  vários  oníros. 

Também  por  alli  andavam  missionários  italianos,  mas  parece  que  viviam 
em  harmonia  eom  os  nossos,  pois  o  padre  Harini  não  só  nio  u  qtieixi,  UM 
«té  mesmo  leee  elogios  aos  ponngneiea.  > 

8SS)  JUBinns  ÇKAML  FREDERIOE  PEILIPPE  TEK}- 
E.--Hitíona  Natiiralia  Ptúmarum,  qaai  m  Itinere  jmt  Braiiliam  OWM 

1817-18S0  ecllegit,  dacripát  et  iconthu  iiliutravii.  Mnnichii.  (Historia  naln- 

ral  das  palmeiras  do  Brasil,  etc.) 

A  respeito  d'esia  obra  e  de  varias  onlras  que  escnven  sobre  o  Brasil,  p&- 

de-se  vdr  a  resumida  noticia  publicada  pelo  sr.  António  Bernardino  Gomes  a 

pag.  94  e  seg.  das  Acta»  da  Academia  Beai  das  SeuncUu  âe  Litboa,  18Bt. 

8»)  KARLÉS  (LAOBOIX  DE). 

E.— I.  Beautéi  de  rSutoire  de  la  dominatiim  des  árabes  et  des  maxtres  m 
Espaçue  et  en  Portugal;  ou  abrégé  chronologiqtte  de  íhistoire  de  cet  pti^la 
jusqu'à  leur  exjnásion  de  ta  Penmsule;  amíenant  en  outre  det  noticet  exactt* 
tw  leur»  amqaites,  leur  religion,  montra,  arts,  usages;  des  anecdotes,aHÍe¥- 
tet  H  tntéressanta;  des  (rotíi  divers  íkeroume,  de  anirage,  da  grandasr  iTo- 

1  FirmlD  DidDt.— £io^.  Generalt,  toI.  S3-*,  pag.  784. 
*  DfUt  nUiiw»,  pf.  SM. 


I 


MA  479 

me,  etc.  Par—avecdejolies  gravures.  Paris.  A  la  librairie  d*edacation  d*A. 
Eymery,  1824.  8.»,  532  pag.>-Este  Tolame  é  ornado  de  seis  estampas. 

II.  Histoire  de  la  darrUnation  des  árabes  et  des  maure$.  en  Egpagne  et  en 
Portugal.  TraduU  de  VEspagnol  de  D.  José  de  Conde.  Paris,  1825.  3  vol. 

827)  MARLÉS  (M.  de  — ).— Continuateur  de  UNGUARD. 

E. — Histoire  de  Portugal  d^après  la  grande  Histoire  de  Schaeffer,  et  coníi' 
nuéejusqu'à  nos  jours  par  — .  Paris,  Pareot-Desbarres,  editeor.  1840.  8.»  288 
pag.— Nada  contém  que  mereça  especialisar-se, 

828)  MARSANGY  (BENNEVILLE  DE).— Membro  correspondente  DO 
estrangeiro  da  Academia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa.  Avocat  à  la  coar  im- 
perial de  Paris. 

E. — I.  Moralité  comparée  de  la  femme  et  de  Vhomme  au  double  point  de  tme 
de  Vaméboration  des  lois  pénales  et  des  progrès  de  la  civilisation  par  — . 

Esta  Memoria  foi  publicada  no  tomo  2.%  parte  2.*  das  Memorias  da  Aca^ 
demia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa,  classe  de  sciencias  moraes,  politicas,  e 
bellas  lettras.  (Anno  de  1861). 

11.  Notice  historique  sur  Dom  Pedro  V,  roi  de  Portugal  et  des  Algarves, 
par—.  Paris.  Imprimerie  de  Charles  Jouaost,  1861.  4.^  11  pag. 

É  um  tecido  de  elogios  a  este  rei  e  a  sua  famiiía. 

829)  MARTANGES  (N.  BONNET  DE). 
E.— L<?  Roi  de  Portugal.  Conte.  Neuwied,  1788. 

830)  MARTIN  (D.  JOSÉ  MARUGAN  T). 

E.—Descripcion  geográfica,  fisica,  politica,  estadística,  literária  dei  reino  d$ 
Portugal  y  de  los  Algarbes,  comparado  con  los  principales  de  Europa.  Extra» 
ctada  dei  Ensayo  Estadistico  dei  mismo  reino,  publicado  por  Adriano  Balln  en 
Paris  en  1822  y  de  otras  obras;  y  aumentada  con  noticias  originales  mas  re» 
eientes,  tanto  sobre  este  reino,  como  en  las  comparaciones  que  se  hacen  con  d 
de  Espana.  Com  superior  permiso.  Madrid,  en  la  Imprenta  Real,  1833.  4.«  O 
tomo  1.»  344  pag.  O  2.»  440. 

Ò  auctor  d'este  trabalho,  por  sua  própria  confissão,  servin-se  do  conheci- 
dissimo  trabalho  de  Balbí,  mas  adicionou-lhe  de  lavra  própria  a  relação  som* 
maria  da  conquista  de  Portugal  feita  por  Filippe  II  e  a  continuação  dos  acon- 
tecimentos políticos  do  referido  paiz  desde  1822  até  1828:  o  capitnloque  trata 
da  nobreza  portugueza:  uma  descripção  dos  povos  de  Portuga],  extrahida  da 
obra  inédita  de  D.José  Cornide,  intitulada E^todo  d^Portu^jfo/  en  el  afio  1800: 
um  capitulo  intitulado  Resumo  histórico  do  estado  da  lUteratura,  das  scien- 
cias  e  das  artes;  introduziu-se  um  interessante  opúsculo  redigido  pelo  abbade 
Corrêa  da  Serra,  as  quaes  noticias  foram  tiradas  de  um  periódico  publicado 
em  Paris  em  1804  por  uma  sociedade  de  lítteratos,  de-baixo  do  titulo  de 
Archives  littéraires  de  VEurope  ou  Mélanges  de  littercUure,  d'histoire  et  de 
philosophie;  e  além  d*estes,  vários  outros  acrescentamentos. 


I 


«o  MA 

•A  (Ara  de  Balbi  eiaii.  cheia  de  digresgSes  inotsis  e  de  declamações  pcU 
maior  parte  alheias  de  am  trabalho  onde  Eómente  se  devem  reterir  factos,  com- 
paral-os  e  deduzir  d'ellea  sóraenie  aquellas  consequências  e  resultados  qae  não 
possam  eatar  ao  alcance  de  lodos.  Taml)em  por  se  haverem  recolhido  os  ma> 
teriaes  e  escriplo  o  Ensaio  da  Balbi  nos  aonos  de  1821  e  1833,  dpoca  ata  qae 
Portugal  era  regido  por  insliluiçucs  politicas  dilTâreates  das  actuacs,  ia  a  aa- 
ctor  meo^âo  d'eliaíi,  as  quaes  se  omiitem  ramo  iuuieiíi,  por  já  uão  cxiatirem- 

•  Apreseotar  ameuscompatrioUs  o  quadro  mais  exacto  de  goaoU»  bio 
sabido  ã  luz  até  este  dia  relativos  ao  reino  de  Portugal,  com  o  Qm  de  mostrar 
o  estado  em  que  se  encontram,  em  uma  na^âo  tão  visinha  da  nos&a,  lodos  os 
ramos  de  administração  publica;  proporcionar- lhes  uma  idéa  completa  da  im- 
meusa  gloria  e  prosperidade,  que  chegou  a  adquirir  esta  nação,  durante  o  pe- 
ríodo de  seu  maior  poder  e  esplendor,  por  meio  de  suas  conquistas  mais  bri- 
lhantes, dos  descobrimenlos  mais  assombrosos,  e  de  um  commercio  rico  e  Qo- 
rescenle;  manifestar -lhes  as  causas  que  produziram  a  exirema  decadência  e 
nullidade  política  a  que  hoje  se  acha  reduzido,  desvanecendo  ao  mesmo  tem- 
po muitos  erros  e  preoccopaçSes  em  que  hão  incorrido  os  estrangeiros  mais 
celebres  que  escreveram  acerca  de  Portugal;  e  finalmente  faier-lhes  conhecer 
o  vantajosissimo  partido,  que  ainda  se  pôde  tirar  de  um  paiz,  que,  apesar  de 
sua  curta  extensão,  é  dos  mais  privilegiados  da  natureza  por  stia  situação  gee- 
graphica,  e  porque  gosa,  e  encerra  em  si  mesmo  os  elementos  mais  essenciaes 
para  constituir  um  estado  rico,  poderoso  e  respeitável;^ 
que  mirou  este  meu  trabalho.  > 

831)  HARTISIIZ  (BENIQNO  JOAQUIU). 

E.—Visconde  de  Torres  Novas.  Esta  breve  blographia  pi]blieoa>se  no  1* 
voL  da  Revista  Peninsular. 

Consta  ter  escripto  artigos,  e  talvez  opúsculos  a  respeito  de  assumptos  por- 
(ogaeies,  mas  nada  mais  estou  habilitado  a  dizer.  Porém,  se  obtiver  mais  es- 
clarecimentos, apresenta) -os- hei  no  Supptemmío  com  que  termina  o  segundo 
folume  d'63te  iralaalho. 

833)  HABTINEZ  (O.  BLAS).— Medico  em  Pamplona. 

E.~DissertaciM  de  concurso  ai  problema  teguinJe :  «Qual  es  el  método  de 
curar  radicalmente  las  disenterias  crónicas  de  qoalqnlera  cansa  que  pnee- 
j^nf  >  Fundado  en  principies  y  confirmado  por  observaciones  practícaa. 

Esta  Memoria  obteve  medalha  de  prata  conferida  peta  nossa  Aeadraiia.  flb- 
moriai  da  Academia,  vol.  6.*,  parte  2.*,  de  pag.  2S  a  66). 

833)  UAS  (SINIBALDO  DE). 

E.— 1.  Ibéria.  Memoria  sobre  las  vantajat  de  la  imíoM  de  Portagtd  y  E^a- 
ia.  Madríd,  1S53. 

n.  Um  artigo  no  primeiro  volume  da  Amita  Peninsular  istitalado--Jfw- 
murios.  Tomo  de  poesias  por  D.  Angnsto  Lima.  Impresso  em  Lisboa  «b  ISSI- 
O  Joiso  crítica  é  bvoravel  ao  aactor,  e  termina  por  eetas  palavras :  *Ho  be 


MA  4gi 

escrito  un  articulo  laudatorio  de  las  poesias  dei  senor  Lima.  He  pensado  que 
el  mejor  elogio  que  se  les  podia  hacer  era  dar  uua  no  regateada  muestra  de 
ellas.  Creo  que  bastará  para  que  el  lector  convenga  commigo  en  que  nuestro 
autor  es  poeta,  y  de  los  de  alma  sensible  y  inspiracion  lúcida  y  elevada.  Deje 
ya  de  ser  trovador  de  amores,  dediquese  a  objectos  mas  sérios  y  dignos  de 
memoria,  y  tengo  para  mi  que  adquirirá  alta  prez  y  fam%,  y  que  hará  algun 
dia  grande  honor  á  su  pátria  y  a  la  Peninsula  entera.i 

Algumas  das  referidas  poesias  apparecem  traduzidas  n^este  artigo  pela  poe- 
tisa D.  Gertrudes  Gomez  de  Avellaneda. 

in.  Contienda  historico-politico  religiosa.  Sobre  la  batalha  de  Ourique  y  la 
aparicion  de  Cristo  a  Alfonso  Hennquez,  sosterUda  de  una  parte  por  A.  Her- 
culano, A,  A.  Bebello  da  Silva,  un  paleógrafo,  un  aldeano,  Pascual  de  Gayan- 
gos  y  vários  periódicos  de  Portugal ;  y  de  la  otra  parte  por  Diogo  da  Fonseca 
Pereira,  A,  Lúcio  Maggessi  Tavares,  A.  Gaetano  Pereira,  padre  José  de  Sousa 
Amado,  padre  Gaetano  Francisco  de  Faria  y  vários  anónimos  y  periódicos ; 
siendo  mediador  enlre  los  combatientes  el  padre  Rodrigo  A.  de  Almeida,  (Re- 
vista  Peninsular,  tomo  2."*,  pag.  60  e  seg.) 

É  uma  interessante  historia  da  polemica  a  respeito  da  batalha  de  Ourique. 

834)  MASCARENHAS. 

E.—A  legend  of  the  Portuguese  in  índia  by  the  auíhor  of—,  Predietion.  3 
vol.  (Uma  lenda  dos  portuguezes  na  índia,  etc.)  Talvez  seja  um  romance. 

835)  MASON  (J.  A.)— M.  D.  Inventor  of  Mason's  Hygrometer. 

E.—A  Treatiseon  the  climate  and  meteorology  o(  Madeira;  by—,  Edited 
by  James  Sheridan  Knowles,  To  which  are  attached  a  review  of  the  state  of 
Agriculture  and  of  the  tenure  of  land;  by  George  Peacock,  F,  R.  S.  etc.  etc. 
Dean  of  Ely,  and  Lowndean  Professor  ofAstronomy  in  the  University  of  Cam- 
bridge and  an  historical  and  descriptive  account  of  the  Island,  and  Guide  to 
Visitors;  by  John  Driver,  Cônsul  for  Greece,  Madeira.  London,  1850.  4.»,  386 
pag.  (Tratado  sobre  o  clima  e  meteorologia  da  Madeira.) 

E'  um  dos  escríptos  mais  notáveis  acercada  nossa  celebrada  ilba  da  Afa- 
deira.  Seu  auctor^  Mason,  morreu  prematuramente,  por  causa  do  grande  tra- 
balho, que  teve  na  composição  d*esto  livro. 

836)  MASSEI. 

E.—Vita  di  S.  Francisco  Saverio  deli  comp.  de  Giesu,  apostolo  delV  Indie. 
Roma,  1681.  4.» 

837)  MASSON  (A). 

E.— l/h  mot  aux portugais.  Par--.  Paris,  1834. 

838)  MASSON  (MR.  FRANCIS). 

E."-An  Account  of  the  Island  of  St.  Michel  by--,  na  obra  Philosaphica 

TOMO  I  3i 


«2  M\ 

Traruartions,  tom.  68.^,  parte  í.',  pag.  601,  oic.  I^nJon,  1778.  {Nolicla  da  ilhâ^ 

de  S.  Miguel.) 

O  aQctor  viajava  com  o  fím  de  enriquecer  o  jardim  real  de  Kicw,  passwt 
pelos  Açores  ao  regressar  do  Cabo  pelas  ilhas  daMadeiraeCanarías.  As  plaa* 
tas  novas,  que  recolheu  nos  Ires  arcbípclagos,  foram  descríptas  por  Acbm  no 
RorlHs  SieKensis,  principal  mente  a  myrsina  retura,  a  mijrico  faya,  o  iltse  ph 
rado,  o  /jt/pericuin  ftiUosum,  ele.  Morelet.— Líj  Adores,  pa^.  9, 

839)  MASSDET  (PIERRE)  Annales  d'Espagne  rt  de  PoTtiigal,  f.-oduift 
tU  ColmenoTcs.  Amsterdam,  1743. 

840)  MATAL  (JEAN). 

E.— Epistolas  de  Ilicnmimi  Osorii  Indianim  htttoria.  Coloniae,  I37V  (Carta 
a  respeiío  da  Hisloria  dits  índias  por  Jeronjmo  Osório. 

8Í1)  HATELIEF  (COHNELinS). 

E.~Vogagfí.  Amsterdam,  1703.  Trai  nma  minuciosa  relação  da  armada 
poriugneza,  descripçào  da  cidade  do  Míilaca,  etc.  ele. 

8ií)  MATÉRIATJX  pour  sirtír  á  rhistoirf  de  rgxpeditím  de  D.  Pedro 
en  Portngal,  et  de  la  iffierre  actwlle  en  Espagne.  Paris,  1836. 

843)  MATHEWa  (HENRY  M.  A.)-Fellow  ot  the  King-sCollege.Cim-^ 
bridge. 

E.— I7i«  Diary  of  on  invaUd,  m  purswt  of  heaith  being  the  Joum^  of  a 
tour  in  Portugal,  Itàly,  SaUziand  and  France.  London,  1830.  (Diário  de  um 
eorermo  em  procnra  de  saade,  ou  diário  de  nma  digressão  em  Portugal,  lu- 
'  lia,  Me.) 

8U)  HATTEI3  (UARIS  DE  OOlOTIBUa). 

E-— Oroíto  ín  funere  Mariae  I  Lusitanas  Beginae.  Romae,  1820.  (Oração 
fanebre  de  D.  Maria  1,  recitada  em  Boma). 

845}  HAOam. 

'E.—Abregé  de  VBiiti^re  de  Portugal  deãié  à  Moiaeignew  te  Marq^it  de 
Cateaes,  Comte  de  Monsanto,  ambof  (odeur  extraordinaire  de  Portugal  á  la 
oour  de  France.  A  Paris.  Chez  Michel  David,  1707, 8.*,  4S0  pag. 

«Paz  no  principio  da  obra  orna  dissertação 'sobre  o  estado  antigo  de  Portu- 
gal, e  no  fim  uma  descripção  d'el]e.  Começa  a  sua  bistoria  no  conde  D.  Hen- 
rique, o  acaba  no  anno  do  reinado  do  sr.  D.  Pedro  II,  1693,  em  que  cason 
a  senhora  D.  Lniza,  sna  fliha  bastarda,  com  o  3.°  duque  do  Cadaval  D.  Lnii 
Ambrósio  de  Mello,  qne  morren  de  bexigas  em  1700  sem  deixar  snecessão, 
egnndo  genilo  do  terceiro  matrimonio  do  1.'  dnque  do  Cadaval  D.  Nono  Al' 

■  Bibtiotheca  nuiorica  de  Púrtngat  c  sem  domUíat  ultramarinot,  pêg.  33S. 


MA  483 

vares  Pereira  do  Mello.  O  padre  D.  António  Caetano  de  Sousa,  na  sua  Historia 
Genealógica,  tomo  7.°  cap.  4,°  adverte  alguns  enganos  ou  equívocos  em  que 
cahiu  o  sobredito  auetor.  É  pouco  exacto.»  Parece  que  d'esta  obra  ha  uma  ou- 
tra edição  feita  em  1699  na  mesma  cidade  de  Paris. 

O  auetor,  na  su;i  dedicatória  ao  marquez  de  Cascaos,  diz  que,  escrevendo 
um  resumo  da  Historia  de  Portugal^  escrevo  um  çpitome  dos  mais  beilos  fei- 
tos que  se  praticaram  na  Europa. 

846)  MANOm  (G.) 

E.— La  topographie  et  les  topographes  mililaires  en  Portugal. 
Foi  publicado  este  trabalho  no  Spcctateur  Militaire.  15  aoút  1864. 

847)  MAUPERRIN  (PIERRE  AUGUSTE  ADOLPHE).— Professor 
do  Coilegio  dos  Nobres  em  Lisboa,  e  pela  suppressao  d'este  bello  estabeleci- 
mento, uma  das  glorias  do  marquez  de  Pombal,  passou  para  professor  de  lín- 
gua franceza,  addido  à  secção  oriental  do  Lyceu  Nacional  de  Lisboa. 

Nasceu  em  Yannes  (França)  no  anno  de  1795,  e  morreu  em  Lisboa  a  7  do 
abril  de  1872.  i 

E.—Grammaire  française  approuvée  par  le  conseil  general  d^Instrtictian 
Publique.—i.^  edição.  Paris,  1846.--2.S  Paris,  1852.— 3.*,  Lisboa,  1857.— 4.» 
1862. 

8tô)  MAURIOE. 

E^^—Découverte  de  Madêre.—E'  um  extensíssimo  artigo,  que  publicou  no 
4.0  volume  do  Musée  des  Familles  (anno  de  1836),  e  que  principia  a  pag.  90. 

849)  MAVOR  (WILLIAM).— Viçar  of  Hurley. 

E.—The  history  of  Spain  and  Portugal  frmn  the  earliest  periods  to  thepre- 
sent  time,  By—.  London,  1812.  (Historia  de  Hespanha  e  Portugal  desde  os 
tempos  mais  remotos  até  o  tempo  presente.) 

850)  MAYDIEU  (M.  L'ABBÉ)  Ci-devanl  Chanoine  de  TEglise  de  Troyes. 
E.—Hi$toire  de  la  vertueuse  portugaise,  ou  les  Femmes  Chrétiennes.  De- 

diée  aux  Rosiêres  de  Salency.  Par — .  A  Bensaçon,  1817.  8.*»,  388  pag. 

Apesar  de  se  dizer  no  prologo  que  esta  obra  ó  uma  traducçào  do  portu- 
guez,  na  sua  leitura  nada  encontrei  que  me  podesso  impellir  a  tal  accreditar. 
Creio  ser  originalmente  franceza. 

851)  MAYNE  (GOL—)  Late  commanding  the  íirst  battallion  of  the  Lusi- 
tanian  legion). 

E.— il  narrative  of  the  campaigns  of  the  Lusitanian  Legion,  under  briga- 
dier  general  sir  Robert  Wdson,  wilh  some  accmuU  of  the  military  operalions 
m  Spain  and  Porlugai  during  the  t/ears  1809-18-11.  %— .  London,  1812. 

*  Ensino  Livre  n,°  2^. 


MA 

(Niira^Mo  lias  Mmpiphis  di  lesSo  hnj&iú,  áa  orte»  do  trigãàeUo  fenanl 
sir  Koberio  VUson,  com  «IgamttmoMH  du  (çerfsOeB  ndUtares  «m  Boip»- 
nlu  e  PorliigiL) 

l£iJOBCRICEUBDHÍEKBT).~F.S.A.,P.RiS.I.,  rtcKeiwr 

of  fte  fleptitmem  õf  nmps  itrf  dism  fn  ilw  florsl  6M)çr»pW«tl  Sorfrty. 

E. — [.  Tke  life  o[  Prince  Henri/  of  Portugal,  snrnam^d  íAí  narigotor.  and 
iíi  raulU:  comprUmg  thr  discoverif,  toifh  one  emlury,  of  half  icorld  icilh  aeiO 
facts  M  tht  iiícovtiy  of  íhe  Atlantic  hlaniU;  a  refutatUm  of  French  elaims 
toprímty  in  discovery;  Portuguese  kfiowledge  (suhsequmtiy  lost)  in  the  Nilâ 
laket  and  the  histonj  of  íhe  naming  of  America.  From  auíhentic  ronlemporarg 
liocuments.  LoDdoD,  1868.  %.',  487  pag.  Com  um  niappii  e  o  retraio  colorido 
do  intanlô  D.  Henrique,  conrornia  se  acha  ns  Conquista  de  Guiné,  por  Azura- 
ra. (Vida  do  príncipe  D.  Henrique  de  Pcriugal,  cognomíQaao  o  Navegador,  a 
suas  coQscqneoci.u,  compretieodendo  a  dcí^cob^na  duraole  um  século  de  meio 
munilo  com  factos  novos  no  descobrímenlo  das  libas  Atlânticas:  refotação  du 
preiençOes  ioí  Trancezes  á  prioridade  uos  descobrimento!.  Conhecímeolos  doe  < 
portagneies  (posleriormculG  perdidos)  relativos  aos  lagos  do  Nilo.  Historia  do 
nome  da  Americi.  Tudo  exirahido  de  documentos  antbeulicos  e  contemporâ- 
neos). 

*Den  tuloMBle  ur  hiTido  eomo  Bnu  eoiaa  «nrpwlwpdame  qoe  vuími 
inglês  slé  bofe  ihMse  intenudn  prepanr  nms  DmograpUi  da  ifda  da  Hea- 
riqne,  o  Navegador.  Se  podessemos  julgar  de  tnieresse  raffidente  para  tantar 
a  penna  de  nm  eseriptor  o  pbenomeno  sem  exemplo  na  historia  do  mondo 
resultante  do  pensamenlo.e  perserverança  de  um  bomem,  certamente  que  de 
um  lai  estimulo  não  havia  necessidade.  Quando  vemos  a  pequena  população 
d'uma  estreita  orla  daPeninsnIa  Hispânica  acanhada  tanto  em  meios,  como  em 
gente,  converter  se  n'um  espaço  breve  e  incrível  de  tempo  em  uma  nação 
marítima  e  poderosa,  não  somente  conquistando  as  ilhas  e  coitas  occtdentaei 
da  Africa,  e  dobrando  seu  cabo  do  Sul,  mas  até  mesmo  creando  impérios  e 
fundando  cidades  capitães  n'uma  distancia  de  duas  mil  léguas  distantes  de 
seus  próprios  lares,  ficamos  tentados  a  imaginar  que  resultados  taes  devem 
antes  ler  sido  obtidos  por  algam  aborlo  da  fortuna.  Has  não  foi  assim.  Foram 
os  effeitos  da  paciência,  sabedoria,  trabalho  intellectual,  e  exemplo  de  um  ho* 
mem  coadjuvado  pelo  enlhusiasmo  de  ama  raça  de  navegantes,  que  a  consi- 
derarmos B03  meios  de  que  dispunham,  jamais  em  nenhum  paiz,  em  nenhuD 
século  foram,  como  aventureiros,  excedidos,i 

Esta  obra  é  ofTerecida  ao  nosso  conde  do  Lavradio,  D.  Francisco  de  Al- 
meida. 

II.  The  descovery  of  Austrália  btj  the  portuguese  in  lhe  year.  1601.  Lmi- 
don,  in-4.* 

Este  opúsculo  foi  mandado  verter  em  portugnez  por  ordem  da  nossa  Aca- 
demia Real  das  Sciencias. 

Por  occaaiào  de  um  Ivnch  dado  depois  do  baplisado,  em  Londres,  do  con- 
raçadú  porttiguez  Vasco  da  Gama,  proferiu  Major  um  discurso  notável,  no 


•# 


HENRY  MAJOR 


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ti» 


I  ' 


MA  4ai 

qaal  se  encontravam  os  trechos  sagaíntes :  lAvalío  a  rasão  por  que  o  presi- 
dente mencionou  o  nome  do  illostre  Vasco  da  Gama  juntamente  com  o  do 
príncipe  D.  Henrique,  o  Navegador. 

tAté  ao  tempo  d'aqueHe  príncipe  nada  se  sabia  do  Oriente  senão  por 
tradição,  e  que  a  descoberta  de  um  caminho  por  mar  para  o  Oriente  havia 
sido  o  principal  objecto,  a  que  o  príncipe  consagrava  sua  vida;  e,  embora  não 
o  conseguisse,  setenta  e  cinco  annos  mais  tarde  Vasco  da  Gama  podéra  che- 
gar á  índia,  dobrando  o  Cabo  da  Boa  Esperança. 

•£ra  um  facto  muito  notável,  mas  não  geralmente  conhecido,  que  dentro 
do  mesmo  século  havia  sido  descoberta  mais  de  metade  do  globo  que  habita- 
mos, e  esse  resultado  fora  devido  em  primeiro  logar  ás  descobertas  dos  por- 
tuguezes.  A  Inglaterra  ufanase  de  que  nunca  se  põe  o  sol  nos  seus  domínios, 
mas  isso  era  devido  ás  descobertas  dos  portuguezes. 

«Não  havia  paiz  nenhum  que  podesse  rivalísar  com  Portugal  a  respeito 
d'aquellas  antigas  glorias  e  arriscadas  empresas.  Havia  porém  uma  coisa  de 
*  que  tinha  a  convicção,  e  era  que  se  os  inglezes  não  podiam  competir  com  Por- 
tugal na  antiguidade  das  descobertas,  tratando  se  da  egualdade  dos  esforços, 
caminhavam  a  par  dos  navegadores  portaguezes,  que  atravez  de  tantos  perí- 
gos  desconhecidos  se  haviam  aventurado  a  tão  grandes  empresas.! 

853)  MAWE  (JOHN). 

E,— Traveis  on  the  interior  of  BroÃil,  including  a  voyage  to  the  Rio  de  la 
Plata.  London,  i712.  Ibid.  1821.  Em  francez,  Paris^  1816.  (Viagem  no  inte- 
rior do  Brasil,  incluindo  uma  digressão  ao  Rio  da  Prata.) 

854)  MAZADE  (V.  DE). 

Com  o  titulo  de  Portugal  sous  le  rot  D.  LtUz—Impressions  et  souvenirs, 
publicou  na  Revista  dos  dois  mundos,  de  i  de  julho  de  1864,  um  artigo  nota. 
vel,  apesar  de  muitos  erros  e  de  muitas  apreciações  falsas,  que  lhe  pudemos 
encontrar.  ^  «Mas  estamos  de  tal  forma  habituados  a  ver  os  estrangeiros,  e  prin- 
cipalmente os  francezes,  fallarem  das  nossas  coisas,  sem  terem  d'ellas  o  míni- 
mo conhecimento,  e  sempre  com  prevenções  malévolas,  que  nos  é  agradável 
depararmos  com  trabalho  feito  com  alguma  consciência,  e  em  que  transpa- 
rece principalmente  uma  tão  viva  sympathia  pelas  nossas  coisas.  Diz,  pois, 
Mazade  entre  outras  coisas : 

•No  mez  de  agosto  de  1861  entrava  eu  n'uma  espécie  de  coche,  que  se 
compromettéra  a  pôr-rae  intacto,  ou  quasi  intacto,  em  Badajoz,  levando  cin- 
coenta  horas  a  transportar -me  da  formosa  rua  de  illcalá  em  Madrid  á  cidade 
illustrada  pelos  feitos  d'armas  do  general  Philipon.  Graças  a  um  obsequiador 
companheiro  de  viagem,  que  também  ia  para  Lisboa,  em  breve  se  concluíram 
os  preparativos  de  partida,  e  no  dia  4  d'agosto  atravessámos,  a  galope  das 
nossas  mulas,  as  ruas  de  Badajoz,  tomando  o  caminho  de  Portugal.  Quando, 

^  Sr.  Pinheiro  Chagas.  Panorama  de  1867,  f  ol.  17.*,  pag.  283.  Esta  TÍageai  eslen- 
de-se  po'  alguns  números. 


'm  MA  U 

depois  de  tormos  doixailo  alrai  as  portas  o  as  forliílcaçOea  da  cidadi?,  eatti.' 
mos  na  estrada  real,  nio  flqacl  pouco  sarpr^endiJo  achando-me  n^nm  c(mpê 
muilo  aceiado,  e  niio  sentindo  a  cabeça  resaltar,  com  09  solavancos,  de  en- 
contro ás  paredes  da  minha  prisão:  o  zagal,  silencioso,  parecia  l<?  esquecido 
o  sou  reportório  de  maldições  o  de  pragas  que  em  Hespanha  otTendem  ás  re- 
zes os  ouvidos  menos  snsceptivers.  Já  eu  reparava  na  corlezia  do  fregura  aga- 
loado que  DOS  TÍera  abrir  a  portinhola.  Decidi dameoie  era  boa  esia  primara 
impressão;  o  meu  companheiro,  a  qa^m  commitniquei  as  minhas  retlexitea, 
Jisse-ine  que  não  admirava  ter  eu  sidi  mal  informado  em  Hespanha,  porqae 
o  povo  hespanhol  é  o  que  menos  deseja  conhecer  Portugal,  e  o  qua  realmoala  ' 
menos  o  conhece. 

>Em  geral,  de  qualquer  naiurcza  que  sejam  as  fronleiras  d'am  paiz,  riot 
ou  serras,  existe  uma  certa  zoua,  cm  que  se  confundem  as  llngaas  e  os  ros- 
lumes,  lima  espécie  de  terreno  neutro.  Aqui  (em  Elvas)  a  planície  que  separa 
'  -  estas  doas  cidades  extremas  sú  ofTcrece  esse  caracter  sxé  certo  ponto.  Apeoat 
so  chega  ao  torrilorlo  porlugnei,  logo  o  aspecto  do  terreno  parece  modlRcar- i 
Be;  como  a  altura  do  milho  exige  nma  irrigação  cootÍDua,  contrasta  pela  80*1  - 
rrescura  relativa  com  as  planicies  de  trigo  da  Exlremadura  hespanhola.         4 

•Ao  sair  dTlIvas  aprcsenla-se  Portognl  aem  mUtara.  O  panorama  e  m  coa- 
tumes  hcspanhoijs  desapparccom  muito  realmente.  Qnatro  cavalloa  fogosos 
finbstUairam  as  mulas  ligeiras  nos  tiratite.s  da  niala-posta,  ora  conduzida  fa 
ata  grave  cocheiro,  que  veste  uma  libré  com  as  armas  reaes  poiti 
caminho  que  seguíamos  não  deixava  logar  ao  fastio;  as  mudas  s 
rapidamente;  atravessámos  valles  ferieis  e  risonhos;  subíamos  coníDú  o 
tas  de  verdejantes  carvalhos,  de  oliveiras  e  de  vinhas  carregadas  de  cacboa  de 
uvas,  ora  rejubilados  pelo  panorama  de  uma  vegetação  luxuriante,  ora  impres- 
sionados pelo  aspecto  grandioso  de  rochedos  avermelhados  e  pardacentos.  Á 
beira  do  caminho  agrupavam-se  aldeias  de  casas  brancas  e  achadas,  e«rea- 
das  de  jardins.  Quando  aos  últimos  clarões  do  dia  appareeeram  ao  longe  as 
muralhas  de  Estremoz,  já  eu  achava  pequenos  os  dias  deverão.  Este  passeio, 
que  nada  tivera  de  penoso,  desenvolveu  em  mim  um  ardente  deseja  de  travar 
•  conhecimento  com  a  pousada  portugueza.  Ra  em  Estremoz  uma  estalagem, 
digna  de  ser  recommendada  aos  ímmsles  que  o  acaso  levar  alli-  O  dono  d'ella 
é  barbeiro  e  cutellciro.  A  luz  de  um  candeeiro  de  forma  antiga  servin-nos  o 
honrado  homem  um  excellento  jantar  composto  de  gallinha  com  arroi,  lombo 
de  porco  do  Alemtejo,  fructa  excellenie  c  óptimo  vinho.  Tmha  escapado  ao 
sabor  de  óleo  de  ricino,  que  por  toda  a  parte  se  encontra  na  cosinha  hespa- 
iihola,  c  não  vi  appareccr  nem  sombra  de  um  grabanzo.  Quando  se  tratou  de 
pagar,  por  mais  que  ou  desfigurasse  a  nobre  língua  castelhana,  não  consegui 
Iransformal-a  em  porlugucz.  Omeu  patrão,  empregando  o  mesmo  processo 
com  a  sua  língua  natal,  não  consegifiu  fabricar  he.=panhol.  O  que  havia  Biais 
claro  na  nossa  palestra  ora  que  nin  pediam  480  rcaes  (perlo  de  186  francos) 
[Milo  iijeu  janlar.  c  oii  revoltava -me  contra  isso.  O  meu  companheiro  de  via- 
gem, rn(randon\'sse  iiioini-nlo,  rxiilii-ou-iiie  que  se  tratava  do  480  réis  (S  fran- 
cos r  7;>  riTtiimisl. 


ME 


487 


«Qoando  chegámos  a  Montemór-o-novo  parámos  para  tomar  chá^  esta  be- 
bida asiática  (dizendo  de  passagem)  é  tão  qaerida  dos  portagaezes,  que  no 
mais  pequeno  logarejo  do  reino  se  encontra,  e  se  toma.  Emâm  ás  7  horas  da 
manha  a  carruagem  parava  na  estação  de  Vendas  Novas»  d'onde  o  caminho 
de  ferro  do  Sai  me  devia  conduzir  a  Lisboa. 

tUm  barco  de  vapor  veiu  esperar  os  passageiros  do  comboio  para  lhes  fa- 
zer atravessar  a  enseada;  saltei  para  o  convez  a  âm  de  melhor  disfructar  este 
espectáculo.  Emquanto  o  barco  sulcava  as  aguas  do  rio,  a  custo  o  meu  olhar 
abrangia  essas  immensas  perspectivas  da  cidade  alvejante.  Aqui,  á  esquerda, 
era  o  palácio  de  Belém.  Ahi  não  pude  deixar  de  sentir  uma  viva  commoção  á 
vista  do  panorama  grandioso  que  de  súbito  se  desenrolou  diante  de  mim. 

tNa  margem  direita  do  Tejo,  á  beira  d'uma  enseada  immensa«  esplendia  o 
amphitheatro  de  Lisboa.  As  collinas  pareciam  vestidas  de  palácios,  cujas  co- 
Jumnas  elegantes,  brotando  entre  moitas  de  verdura  e  de  flores  se  reflectiam 
nas  aguas.  Nem  uma  só  nuvem  maculava  o  azul  do  céo.  Aqui,  n'um  relance, 
entre  duas  collinas  mostrava-se  o  aqueducto  das  aguas  livres;  sobre  uma  rocha 
escarpada,  surgia  a  velha  cidade  de  S.  Jorge;  á  medida  que  me  aproxima- 
va, os  contornos  tomavam  relevo,  ou  fugiam,  segundo  os  accidentes  do  ter- 
reno. Logo  appareceram  as  arcadas  graciosas  da  praça  do  Commercio  e  o  seu 
Doagestoso  cães :  vi  D.  José,  que  de  cima  do  seu  cavallo,  encarando  o  rio, 
parece  fazer  ao  estrangeiro  as  honras  da  cidade  moderna,  construída  pelo 
seu  grande  ministro.» 

855)  MAZZIO  ROMANO  (RAPHAELE)— Sanctitatis  Suae  praelato  do- 
mestico atque  ab  epistolis  latinis. 

E.—In  funere  Mariae  LusUaniae  Reginae  Fideltssimae  habita  in  Sacello  Va- 
ticano ad  Sanctissimum  Dominum  Nostnm  Pium  Septinium  Pont,  Max  Ro- 
maey  1818.  Tipis  Pauli  Salviucci  Sup.  Permissu,  foi.  38.  (Oração  ftmebre  de 
D.  Maria  I). 

Segundo  du  o  auctor  doesta  oração,  foi  esta  a  primeira  que  por  uma  rai- 
nha se  recitou  em  presença  |de  um  Summo  Pontiflce,  pois  anteriormente  so- 
mente os  papas  mandavam  celebrar  exéquias  pela  alma  dos  reis.  Foi  esta  ora- 
ção latina  impressa  em  Lisboa  no  anno  de  1824  na  Typographia  Rolandiana» 
por  diligencias  de  Fr.  José  de  N.  S.  do  Carmo  e  Silva,  natural  da  cidade  do 
Porto,  e  carmelita  dos  calçados  do  real  convento  de  Lisboa.  Folheto  de  35 
pag.  in'4.*' 

856)  MEDRANO  (Dr.  JUAN  DE  ESPINOSA).— Catedrático  de  artes  y 
sagrada  teologia  en  el  seminário  de  S.  António  el  Magno  dei  Peru. 

E,— Apologético  en  favor  de  Gongora  y  contra  Manuel  de  Faria  y  Sousa. 
Lima.  Imprenta  de  Juan  de  Quevedo  y  Zarate.  1694.  ^ 

No  tempo  em  que  as  obras  do  celebre  Luiz  de  Gongora  eram  tão  bem  re- 
cebidas pelo  publico  a  ponto  de  o  cognominarem  «Pae  maior  das  musas»;  com- 

^    Amador  de  los  Rios.—Hdoria  Critica  de  la  liieratura  esjyanola,  vol,  1.",  pag.  .3L 


887)  MELDOLA  (ABHAHAM).— Judeu  residente  em  lUmborgo.  « 

E. — Nova  Gra7nmatka  Portagueza,  áiviàidà  em  seia  parles,  a  saber :  l>*^ 
Orthographia;  3-*  Elyraologia;  3.»  Syolaxej  4.*  Prosódia  com  supplemenio;  ííf% 
Lavores  da  linena;  6.*  Miscellacea.  Impresso  oa  olBcíaa  de  M.  C.  ftack,  a  COB-  1 
las  do  auctor,  em  Hamburgo,  1783.  Segue-se  a  traducção  d'esla3  meamaa  pkj 
lavras  em  allemão.  8.°  gr.,  671  pag.  J 

Traoscreverei  o  prefacio  tal  como  se  acha  do  original  para  se  faier  ídák] 
dAliDguagem  doauclon  ^ 

^AéHem»  BttMfli^K  uiam,*»  >  twmiiilM  tmÊlHatittmnit^mlIhr. 

fciçoaneiftsaa. 

4  jrtMteii  mfcMti 


wJiaiBBiniy.— MiWBi— rampii—  pm  um  wiini.iMjiipPf 
da UigiUt  pofit  eom  lanto Bttfair  ftMtKdade  ndadr  annbt  potend»  aaoM., 

•Gom  09  deiejos  pois  de  luer  esU  Hateiia,  que  per  si  6  ínsipida,  mais 
agradarei  e  mais  ntilosa,  qaa  atd  aqui  se  tinha  tratada,  ell^l  o  eslUlo  Dia- 
logieo,  pondo  por  ali  a  qualquer  no  estado  âe  ínatmírsa  mesmo  neste  idioma. 

<Nam  bem  tinha  en  por«n  determinado  nisso,  quando  apparece  do  Prelo 
no  Anuo  1778  hnma  Arte  Porlugneia  de  bum  Author  anónimo. 

«Haa  com  nam  poaca  estranhesa  observey  ao  querer  ensinar  por  elta  esle 
idioma  qne  não  somente  citava  o  auctor  varias  regras  erradas,  pwem  qus 
mesmo  na  Conjogaçam  do  Verbo  Pór  asava  nos  seus  Imperfeitos  as  palavras 
puzeria,  pvzeriíu,  puxeria,  ctc  que  se  nam  achão  em  todo  idioma  PortogiMi, 
eonjngandoae  eaie  tempo  com  as  palavras  poria,  poriai,  poria. 

lEisaqni  pois  os  frnilos  de  hum  trabalho  de  quaii  maia  que  seia  AnnosI 

•No  quanto  merece  esta  Arte  ser  anteposta,  on  posposta  a  ouras  escritas, 
meemo  ao  Mno  de  Portugal,  deixo  a  deeisam  dos  iatelligentea. 

(Sirva  no  em  quanto  porem  de  huma  mais  drcomspeeta  sindicacãn,  ar- 
gnmoite  e  difDnição  da  obra  a  seguinte  oarração- 

•He  a  liDgaa  Porlugneia  filha  da  Latina,  por  cuja  cansa  a  verás  concor- 
dar com  ella  quaii  em  todas  soas  regras.  No  demais  tem  como  todos  os  Idio- 
mas seus  Idiotismos,  ou  espreçoens  próprias  ao  génio  da  liogoa. 

•Tudo  isse  se  achará  aqui  demousvado  com  a  mór  claresa,  pois  qualquer 
das  partes  da  Grammalica  ficam  tratadas  por  si,  e  não  confusamente  hniu 
entre  outra,  como  se  pratica  nas  demais  Artes.) 


ME  489 

«A  Seísta  parte  eomprebende  hama  Afiscellanea  Portagaeza  em  Prosa  e 
Verso,  sacada  dos  mais  selectos  Autores  de  Portugal,  na  qual  nam  cuidei  so- 
mente em  instruir  a  mercancia,  mas  também  pensei  a  divertir  ao  estudioso. 

<0s  princípaes  Ganaes  que  hey  comunicado  forào  Padre  Lami,  Raphael 
Bluteau,  Bento  Porreira,  J.  F.  Baretto,  Duarte  Nunes  de  Leão,  J.  M.  de  Mad. 
Feijó  6  Jerónimo. 

cNo  demais  he  geralmente  tratada  esta  Grammatica  em  todos  os  sentidos 
com  muitíssimo  Artificio  e  colmada  com  tantos  Idiotismos  Portuguezes,  que 
se  pode  por  ella  inteirar-se  nas  ligitimas  expreçoêus  desta  lingoa,  podendo 
com  facilidade  comprender  qualquer  bom  Autor  na  mesma. 

«Breve,  podese  contemplar  esta  Arte,  que  vai  tratada  por  Diálogos  como 
bum  Autbor  fácil  e  instructivo,  etc,  quem  observar  somente  que  o  génio  da 
Lingoa  Portugueza  he  pôr  no  Modo  afirmativo  o  Verbo  logo  depois  do  Nomi< 
nativo,  e  no  idioma  allemâo,  se  põem  o  mesmo  as  mais  vezes  no  fim  de  peno* 
do,  poderá  acharse  no  estado  de  a  verter  verbalmente.  Para  que  a  obra  pois 
se  nao  estendese  demasiado,  julguey  por  acertado  o  fazer  dar  a  o  Discípulo 
bumas  repostas  satisfatórias  sobre  as  ínquiriçoêns  do  Mestre,  introduzindo 
segum  isso  o  Mestre  no  interrogativo.»  ^ 

Esta  grammatica  é  censurada  por  Link  no  fim  do  capitulo  SS.*»  das  suas 
Viagens  em  Portugal.  Sua  composição  (diz  este)  em  perguntas  e  respostas  em 
portuguez  e  allemâo  torna-a  muito  desagradável.  O  que  me  revolta  logo  á 
primeira  vista,  ó  de  o  ver  no  próprio  prefacio  commetter  um  erro  grosseiro 
^porque  oauctor  serve-se  do  infinito  no  plural  sem  Ibe  ajuntar  em.  Isto  prova 
o  pouco  conhecimento  que  o  botânico  allemào  tinha  da  língua  portugueza ; 
graves  defeitos  porém  tem,  mas  o  principal  ó  o  emprego  de  palavras  bar- 
baras, e  não  portuguezas,  como  reprochar,  lojar,  ovos  esfalfados,  balancia^ 
etc.  etc.  Esta  grammatica  é  de  bastante  raridade  em  Portugal. 

858)  MELQAR  (SENOHA  SAEZ  DE  — ). 
E.— La  lira  dei  Tajo,  Madrid. 

859)  MELLIN  (OUSTAVE  HENRI).— Litterato  sueco. 

Nasceu  em  Revalax,  na  Finlândia,  em  abril  do  anno  de  1803.  É  o  Waker 
Scott  do  Norte^  segundo  diz  a  Revista  Universal  Lisbonense, 
E.— La  Princesse  éPAngole,  romance,  1839.  < 

860)  MELLINaEN  (Dr.) 

E-Stories  of  Torres  Vedras,  London,  8.'»  (Contos  de  Torres  Vedras). 

861)  MÉMOIRES  de  Sebastien  Joseph  de  Carvalho  e  Mello,  comte  d^Oey- 

*  I('esta  grammatica  o  capitulo  que  trata  dos  dialectos  é  um  dos  mais  interessantes. 

*  Yapereau. —Didionnaire  det  Contemporains,  pag  1091.  É  bem  de  suppor  que  o 
titulo  da  obra  seja  em  sueco,  e  não  em  francez:  nem  mesmo  este  diccionario  dii  onde  foi 
impressa. 


4!W  Mlí 

ras,  maniuiu  de  l'ombtU,  secrétrun  ríVi/K,  d  premiir  minâlre  du  roi  de  Por- 
tugal Jmi-iiU  /.,  I78i.  Sem  bgar  4a  ímpraasòo.  4  vol.,  8-°— Esta  obra  é  hoelil 

8fi2)  laÊUOIBES  hktúriquet  gtnéaiogiqwi  et  c/ironotojiflu**  amcenuint 
teu  lUCMiilaiicru  ilr.  CoiuHatttin,  Margvcs,  Mmtlinlio,  Borges,  Aratijo,  Coutinho, 
Banha,  Sei/aeira,  Magalhãet,  Teixeira,  Bacellar  H  Lacerda,  Lopes,  Sleiquila, 
Pinto,  Coelho,  Pereira,  Leite  de  Stmpaio  et  Mello.  Paris,  ISSt.  236  pag. 

863)  MÉMOIRES  sur  k  Porlaual.  Paris.  Impriraerie  do  la  Republique. 
FloréaJ,  an  ix,  8." 

864)  HÉMOIRES  siir  les  opératíons  mUlaires  des  franrais  m  Úaíke, 
Portugal,  et  dans  la  valhv  du  Tage  nn  1809,  toun  te  emamandeTHcnt  dti  marr- 
chat  Soull,  duc  de  Dalmolk.  Arec  «n  Altas  militaire.  A  Paris.  Cliei  Bairois  Tai- 
oé,  1831.  8."  gr.  368  pag. 

'Depois  ie  lermos  passado  o  fraco  ribeiro,  (juo  do  lado  de  Chaves  (Órma 
a  separação  dos  dois  reinos,  observámos  urna  diftercnça  seosivel  em  vantagem 
para  Portugal.  Kesia  paiz  vúem  se  casas  de  campo  isoladas:  nas  cabanas  en- 
contra-se  louça  íngleza,  chicaras  de  loui;a  do  Japão,  e  cbá  verde;  nas  easaf 
dos  particulares  abastados  utn  grande  loío  de  louças,  do  moveis  de  acaju, 
pau  saaclo,  o  das  madeiras  mais  preciosas  do  Brasil,  e  priacipalmeote  o  que 
liós  mni  taras  veies  liDhunos  visto  entre  os  bespanhoes,  livrarias  compostas 
das  melhores  obras  franceias.  Nos  combales  notou-sc  nma  coragem  pessoal 
ex[raordiii;iria,  que  nos  Iroiix''  á  Icuibr.in^a  o  faracIíT  allivo  e  valoroso  dos 
poTlugaezes,  que  debaiio  do  commando  dos  Gamas,  Albuqnerques,  Caraseos, 
Attfaydes  e  Sousas  chegaram  a  submeller  as  grandes  lodias  por  meio  de  ae- 
ç<3es  beroicas,  que  rivalisam  com  as  mais  celebres,  que  nos  conaenoa  a  Us- 
toría  aotiga.»  Pag.  1(4. 

•Antes  da  víctoria  do  Lanhoso,  Braga  se  apresentava  á  nossa  imaginaçãn 
fornecida  de  tudo  de  que  o  exercito  tinha  necessidade.  Qual  não  foi  nossa  do* 
lorosa  surpresa  ao  entrarmos  n' esta  cidade,  achando-a  desertai  Vinte  mil  pes- 
soas tinham  abandonado  em  três  dias  ama  cidade  que  parecia  conter  todas 
as  eommodidades  da  vida  t  Que  resolução  I  Que  ódio  contra  o  domínio  estnii' 
geirol  Que  funesto  presagio  para  o  axito  d'esta  expediQSoli 

865)  HÊUOIRS  (AUTHENTIO)  concerning  tke  porUiguese  tnqwtaioM. 
London,  1761.  (Uemorias  authenlicas  a  respeito  da  inquisição  de  Portugal). 

866)  HEUOUÍ  of  lhe  earlti  campaigns  of  lhe  duke  of  Wellington  i%  Portu- 
gal and  Spain  by  an  o/jirer  employed  ín  Ais  armg.  London,  1810.  (Memoria 
sobre  as  primeiras  campanhas  do  duque  de  Wellington  em  Portugal  e  Ues- 

panha). 

867)  MEMORIAS  da  Academit  ias  InscripíÔes  de  Paris. 

So  vol.  :t "  da  mencionada  obra  ha  um  trabalho  acerca  das  ioscripções  n- 


ME  491 

lativas  ao  dens  Endovelico,  qne  n'oatro  tempo  existiram  em  Portuga),  e  a  res- 
peito do  mencionado  dens.  V.  também  Fiorez,— Espana  Sagrada^  rol.  xiv, 
pag.  110  e  seg. 

868)  MEMOIRE  istoriche  dei  Portugália,  Torino,  1682. 1S.<» 

869)  MEMORIALS  of  the  British  Cônsul  and  factory  at  Usbon  to  his 
Majesty  at  that  Court  and  the  secretaries  of  state  of  this  lángdam,  1766. 

«Contem-se  n'esta  brochara  cinco  documentos.  A  saber:  primeiro  um  me- 
morial dirigido  ao  conde  Kínnoul,  embaixador  da  Grâ-Bretanha  n*esta  corte 
a  D.  José  I  relativo  à  conOscaçào  de  um  pouco  de  oiro  apprehendido  n'ella  a 
uminglez.  Segundo:  outro  sobre  a  pretendida  immunidade  das  pessoas  e  das 
propriedades  dos  vassailos  britannicos  em  Portugal.  Terceiro :  uma  exposição 
dos  argumentos  com  que  os  inglezes  pretendiam  justificar  as  suas  protesta- 
ções contra  a  creação  das  companhias  do  Maranhão  e  Pernambuco,  reputan- 
do-ascomo  monopólios  incompatíveis  com  seus  privilégios.  Quarto:  uma  carta 
ao  secretario  doestado  britannico  M.  Pitt,  depois  lord  Chatam,  sobre  outras  ve- 
xações do  seu  commercio,  que  os  inglezes  se  persuadiam  soíTrer  injustamente 
em  Portugal.  Quinto :  outra  sobre  o  mesmo  objecto  a  lord  Halífax.» 

870)  MERKWnz  digkeiten  von  Portugal,  etc.  Francfort,  1777-1789. 4  vol. 
(Particularidades  notáveis  de  Portugal  ou  informações  succintas  acerca  da  na- 
tureza do  paiz,  caracter  dos  habitantes  e  das  diversas  revoluções  d'este  rei- 
no. Com  algumas  anecdotas  de  recente  data). 

87i)  MERLHIAG  (MAHIE  MARTIN  GUILLAUME  BE  GILBERT 
DE—). 

E. — Traduction  de  VAraucane  avec  des  notes,  et  précedée  d^une  dissertaiion 
sur  Camoens,  Tasso,  Arioste,  consideres  comme poetes,VBTis,  1821. 

872)  MERUN  (M.  SUEUR  DE). 

E. — Coup  d'(Bil  sur  Vetai  actuei  de  la  géographie  mathêmatique  de  VEspa- 
gne  et  de  Portugal  par—.  Paris  (sem  data)  8.*»  Folheto. 

873)  MÉRY  (LÉOPOLD). 

Fé,—Emmanu€l  ou  la  damination  portugaise  au  xvi  siécle  par  — .  Tours 
8.°,  236  pag.  com  uma  estampa. 

«Portugal  somente  occupa  um  logar  secundário  entre  as  potencias  euro- 
peas,  mas  houve  tempo  em  que  seu  dominio  em  vez  de  se  achar  apertado  nos 
limites  estreitos  que  hoje  lho  conhecemos,  estendía-se  além  do  Oceano  por 
paizcs  tâo  vastos  como  remotos.» 

874)  MERSON  (OUVIER). 

E.— I.  Uma  collccç^o  de  artigos  acompanhados  de  gravuras  que  vêem  pu- 
blicados no  2.''  volume  do  jornal  francez  Tour  du  Monde  (1861). 


f 


m  ME 

A3  estampas  que  acompanham  os  artigos  representam  os  seguinies  objectos: 
I.*  Egreja  da  Hisoricordia  e  casa  da  camará  de-  Viaona  do  Minho. — 3.*  Vista 
da  ponte  e  ruínas  do  palácio  dos  duques  de  Barcellos-^.*  Romaria  da  Serra 
do  Pilar— 4.'  Visia  do  caslello  de  Guimarães,  observado  da  estrada  de  Braga 
— S'  Casielio  de  Guimarães— 6.»  Mappa  de  Portugal— 7,'  Egreja  de  rilla  do 
Conde— 8.'  Egreja  de  N.  Senhora  da  Oliveira  em  Guimaràes— 9."  Vista  do 
Porto- to,'  Mosteiro  deLeç^  doBalio— II.*  Torre  dos  Clérigos— 12.'  Raa  No- 
va dos  Inglezes,  no  Porto — 13.*  Praça  do  Commcrcío,  no  Porto— !&.■  Costu- 
mes dos  varinos,  no  Porto— IS.*  Universidade  de  Coimbra— 16.'  Um  tumulo 
Bo  interior  da  Batalha— 17.>  Porta  da  capolla  imperfeita  na  Batalha— 18.'  Vista 
da  egroja  e  mosteiro  da  Batalha— 19.'  Casa  do  capitulo  no  convento  de  Tbo- 
Biar— 20.'  Pórtico  da  casa  do  capitula  na  Batalba— 32.*  Toirs  de  Belem~S3.* 
Porta  da  egreja  do  Sama  Maria  de  Delem— 34.*  Porta  do  palácio  da  Pont, 
um  Cintra- 33.*  Palácio  da  Pena,  em  Cintra- 36.'  Basílica  de  Mafra. 

U.  Guide  du  Vonageur  a  hisbotins.  Hisloire  —  nuinumeaíi  — mwurs.  Paris. 
Librairie  de  L.  Hactaelle,  18o7.  ã.°,  Wà  pag. 

O  andor  mostra-se  todo  pretencíoso  e  piegas,  e  seu  Guia  de  pouca  utilida- 
de pôde  já  servir,  apesar  dos  conLinuos  elogios  a  tudo  quanto  é  português. 

•  Portugal  é  pouco  conhecido  na  P'ran;a,  e  6  pena.  Viajamos  muito,  á  imi- 
tação dos  ingloEos,  mas  limitamos  nossas  excursões  ordinárias  á  Suissft,  que 
lemos  debaixo  da  mão,  á  Allemanha  que  teiaos  eomo  qve  na  algibeira. . . 

>0s  gallegos  julgam-!>u  orgulhosamente  ddalgos  desde  O  primeiro  até  ao 
ultimo,  cm  virtude  de  um  decrL'to  rt^al  concedido  não  sei  em  (]ue  circumstan- 
cia.  Hoje  a  tialliu  é  principalmente  adebre  pelas  numerosas  a  mcmotonts  la- 
murias que  cantam  os  peregrinos  na  sua  volta  do  S.  Thiago  de  ComposieUa. 
•As  costas  de  Portugal  são  menos  tristes  e  menos  terríveis  que  as  de  Gal- 
Uza.  Aproximámo-nos  em  vez  de  fugir  delias,  pois  suas  proximidadee  nada 
lêem  de  ameaçador.  O  perisiillo  do  Ibeatro  de  D.  Maria  II  é  abaixo  di  critie». 
<A  direita  do  Passeio  Poblico  aea  o  jardim  de  D.  Pedro.  Um  traneei  Ga- 
mado Haillard  fabrica  boa  cerveja  na  roa  dos  Capellistas.  Quando  Monladií- 
qoe  oa  a  Estrella  não  podem  fornecer  neve,  o  botaquineiro  faz  sem  cerlmaiúa 
atravessar  o  Atlanlico  a  um  navio :  a  America  está  a  dois  passos  do  oatro  lado 
do  Oceano,  e  é  chamado  o  novo  mimdo  a  preencher  a'esta  occuião  o  dejkit 
do  antigo.  As  lojas  dos  cambistas  em  Lisboa  estão  immundaa.  Ha  D'esu  eída- ' 
de  cincoenta  cgrejas  mais  de  duzentas  capellas  e  setenta  e  cinco  eoanoloi. 

•D.Affonso  Henriques  morreu  em  Coimbra  em  IfiSS.  Ê  na  stciistia  da 
Graça  que  se  vé  o  mausoléu  de  Affonso  de  Albuquerque.  Emfim  õ  necessário 
saudar  de  passagem  a  egreja  dos  Hartyres,  Encarnação. . .  Santo  Aniri,  ama 
das  mau  antigas  da  capital,  e  a  de  S.  Bartholomtu,  que  foi  capella  do  rei 
D.  Diniz. 

87S}  HESNARD  (J.  B.) 

E. — Uistoire  du  Portugal  comprenaní  Us  ruition»  giograpbiqttes,  topogra- 
phiques,  sUitísIiques,  adminittraíives,  commerciales  eU.  de  u  royaume.  'Puia, 
1833, 98  pag— Vem  esU  obra  oa  BMiolheque  Pofidaire. 


MI  493 

lA  historia  de  Portugal  é  ama  das  mais  interessantes»  das  mais  maravi- 
lhosas e  das  mais  tristes  dos  povos  modernos.  Napoleão,  que  bem  o  sabia,  ti- 
nha-a  recommendado  em  sens  lyceos;  mas  indubitavelmente  Napoleão  via 
n*ella  menos  uma  fonte  de  instmeção  para  a  independência,  do  que  nm  foco 
de  enthusiasmo  para  o  espirito  de  conquista,  qàe  o  animava  mais  particu- 
larmente. 

tNão  é  todavia  menos  verdade  que  a  nação  portugueza,  a  qual  se  ergnea 
sobre  a  rnina  dos  serracenos,  gosou  durante  alguns  séculos  de  instituições  as 
mais  liberaes,  d'uma  constituição  representativa,  e  que  houve  necessidade  na- 
da menos  que  do  império  dos  jesuítas,  da  inquisição  e  do  fanatismo  para  des- 
tniirem  suas  liberdades,  tomal-a  a  mergulhar  na  ignorância,  e  submettel-a 
aos  déspotas.  É  a  historia  d'am  paiz  tão  grande  por  suas  conquistas,  pelo  ar- 
rojo de  sua  navegação,  e  por  suas  assombrosas  descobertas,  quanto  ó  limitado 
em  superfície,  e  acanhado  em  população.» 

II.  D.  Miguel,  ses  aventures  scandcUeuses,  ses  crimes  et  son  tLsurpation;  par 
un  portugais  de  distinction.  Traduit  par — .  Deuxiéme  edition.  Paris.  1833.  8.* 
gr.  3i2  pag.  Com  o  retrato  de  D.  Miguel.— É  um  acervo  de  insultos  dirigidos 
contra  este  principe. 

876)  MESMON  (GEHMAIN  HYACINTHE  DE  ROMANCE). 
E,—Voyage  en  Espagne  et  enPortugal  dans  Vannée  1774.  Bruxelles,  1783. 

877)  MESTRE  (FR.  MIGUEL). 

E.— Ff(fa  y  mlagros  dei  glorioso  San  António  de  Pádua,  Madrid.— Obra 
moderna. 

878)  MEZA  (ABRAHAM  HATM  lAHACOB  DE  SOLOMOH  DE). 
— Judeu  portQguez  residente  em  Amsterdam. 

E.—Meditaçoens  sacras  ou  sermoens  vários  compostos  e  recitados  n'este  K, 
K.  de  T.  T.  por  o  insigne  H.  H.  R.  Abraham  Uaim  de  Jahacob  de  Selomoh  de 
Meza,  theologo,  celebre  pregador  &  primeira  columna  de  Beth.  Diu  desta  po* 
pulosa  &  illustre  congrega.  Primeira  parte,  contém  doze  sermões,  sacados  à 
luz  da  impressão,  para  utilidade  do  publico  e  beneOcio  universal  pelos  orphãos 
filhos  do  auctor,  e  dos  orthographicos,  por  R.  Ishac  de  Eliam  Acohen  Belin- 
fante.  Em  Amstcrdan.  Anno  5524.  Na  officina  typographica  de  Gchard  Johan 
Jansen.  Anno  1764.  4.<>  gr.  * 

^  879)  MEZA  (Mabstbo  SEBASTIAN  DE). 

E.— Jornada  de  África  por  el  rey  D,  Sebastian  y  union  dei  reyno  de  PoT' 
tugal  á  la  corona  de  CastUla.  Barcelona,  1630. 

880)  MICHEL  (D.)  et  ses  droits.  Paris,  1828.  B.%  folheto.  (G.  M.  B.  L  P.) 


1  Sr.  Innocencio  Francisco  da  Silva.— íHceiofkiHo  BihliograpHfíO^XviM  8'*,  pag.  5. 


m  MI 

88if  lOCHELE  (ANTÓNIO).- i'rofoS3or  de  lingua*.  _ 

EL — Elfmenlos  da  cotivert/ifâo  italiana  e  porlugueza,  lUvirUdos  fm  duas 
partes.— A  primeira  contém  uma  collecção  de  phrases  familiares;  e  a  £egand3 
urna  áe  dialogas  sobre  os  aasutoplos  mais  osuaes.  Obra  niilissima  a  aecessa- 
ria.  Não  30  309  portuguezas  qde  querem  aprender  a  língua  italiana,  mas  tam- 
bém SOS  iulianos  que  querem  iastruir-so  na  portagueia.  Lisboa,  1807.  Nana- 
va officioa  de  João  itodrigues  Nunes.  â.°  140  pag. 

883)  laoHEL  (F.) 

E.~Lettre  rfun  np-niilhow-  porlugai»  á  an  dé  si-í  amis  de  Liabonne  lur 
Vexetuliím.  d'Anne  tíolnjn,  lord  fíwltford,  Breretoii,  Noiris,  Staelon,  et  Wa- 
lo»,  pubití  pour  la  prcnúfre  (m  avcc  um  Iraãitclhn  fraitçaiu,  par—,  orcem- 
paynie  d'une  IraducUon  avglaise  par  le  mcomie  Slramjford.  Pariu,  cliei  Sil- 
vestre, 1832. 

Eis  o  que  o  sr.  Inaoccaclo  dos  dia  a  pag.  181  do  4*  tomo  do  sea  Dw^du- 
nario  Bibliographico:  tEste  curicGo  documenlo  liisloríco-litlerario,  dolado  de 
10  de  junho  de  1530  [oi  impresso  nítidamonlo  no  formato  de  4.°  em  três  co- 
lumaas  de  letra  miúda,  contenda  a  caria  em  poriuguez  e  as  duas  accu^adas 
vcrsíSes  franceza  e  ingleia.  Consta  que  o  texto  original,  ijue  sorvia  para  esta 
publicação,  tdra  mandado  do  Lisboa  a  Paris  pelo  procurador  geral  da  ordem 
de  S-  Bernardo,  Pr.  Joaquim  da  Cru:,  copiado  exaclamoDie  do  ifue  exislia  a 
n.  138  V,  do  códice  manuscrlpto  47G  da  biblioiheca  de  Alcobaça,  que  se  re- 
puta perdido.  Diz-se  que  unicamente  se  tiraram  da  referida  edição  vioto  c  seis 
exemplares.! 

E  a  pag.  463  do  tomo  S.*:  iDoscrevendo  este  curioso  e  raro  i^ascalo,  d» 
que  não  tioba  algum  exemplar,  limitei-me  a  apreseotar  aa  sou'  in^caçÕei, 
Ue>  qtuu  se  «leontnm  lu  CArontca  UtUraria.  Gampre  agwa  nctifical-« 
«n  presença  de  novas  Informações  com  qae  me  faTOreoea  ha  ptweo  o  ar.  Po^ 
reira  Caldas.  Diz  elle  que  possue  na  stia  lirrarla  um  exemplar  em  papd  de 
Hollanda,  bem  como  tivera  outro  em  papel  vellino.  Mais  dii  que  da  prinein 
espécie  se  tiraram  doze  exemplares,  e  da  segunda  oitenta  e  oito,  o  qoe  ^tdu 
ao  todo  cem.  Foi  impresso  na  typographia  de  Pinard,  exprassuneote  eom  » 
fim  de  encademar-se  janto  ái  cartas  de  Henrique  VIU  a  Anua  Boleys,  poUi' 
eadas  com  a  tradHCção  em  1826  por  Crapelet.> 

883)  UOHEL  (GABRIEL). 

^.—Letire  écrtíe  d  monteignear  le  priace  de  Portugal,  D.  Chriíto^ie,  dí> 
mewant  á  Paru,  conlenant  tm  bref  ditamrt  de  ta  vie.  Paris,  16S3, 8;.* 

884)  MICKLE. 

^—Almada  HiU,  an  epistle  from  Lúíi0ii.(Casle]lo  d' Almada  —  epistola  da 
Lisboa).— Parece  que  o  referido  Mickle  é  o  traductor  Ião  contwddo  dos  La- 
siadas. 

885)  WELLE  (JEAN  FRAHÇOIS).  V.  Orí>m  (Fortu). 


MI  495 

886)  MILFORD  (MARY  RUSSEL) 
E.^Inez  de  Castro,  A  drama  in  five  acts, 

887)  MTTiTUS  (PIEHRE  BERNARD). 

E.—Extrait  du  joumcU  d^un  passager  à  bord  d'un  batment  parti  de  Fran- 
ce  au  móis  de  mai  de  1818  pour  se  rendre  à  VHe  de  Bourbofi,  contenant  des 
details  historiques  et  statistiques  sur  les  iles  de  Cap  Vert. 

888)  MILLEVOYB  (CHARLES  HUBERT).- Poeta  francez  celebre, 
anctor  de  La  chfUe  des  ^r5.Nascea  em  Abbeville  no  aDoo  de  1783,  e  falle- 
ceu  em  Paris  no  anno  de  1816.  ^ 

No  sen  poema  Invention  poetique  2  dedica  estes  quatro  versos  a  Gamões : 

Peintre  d'Adamastor,  honneur  sacré  da  Tage, 
Un  riche  palétte  est  ton  brillant  partage, 
La  noble  invention  vient  broyer  tes  coaieurs 
Et  poar  ta  tendre  Ignez  y  mela  quelqaes  pleurs. 

Além  d'isto  Millevoye,  segmido  nos  assevera  Ragon  \  imitou  resomida- 
ihente  o  primeiro  canto  dos  Lasiadas,  e  como  mostra  nos  apresenta  uns  126 
versos. 

889)  HINHANO  (Dr.  D.  SEBASTIAN). 

E.^Dkcionario  geográfico  estadistico  de  Espana  y  Poitugal  dedicado  ai  rey 
nuestro  senor  por — ,  individuo  de  la  Real  Academia  de  la  Historia  y  de  la  So- 
ciedad  de  Geografia  de  Paris.  Madrid,  1826-1829. 11  volumes,  4.° 

O  auctor  diz  ter- se  servido  para  a  composição  dos  artigos  relativos  a  Por- 
tugal do  trabalho  inédito  de  José  Gornide. 

890)  MINS  (OAPTAIN). 

E,—A  narrative  of  the  naval  part  of  the  expedition  to  Portugal  under  the 
efrders  of  H.  M.  D.  Pedro,  duke  of  Braganza.  With  most  andbeautiftU  illustra- 
tions.  London,  1833.  8.<'  (Relação  das  operações  navaes  ás  ordens  do  duque 
de  Bragança.) 

891)  MINUTOLI  (DR.  JULIUS  FREIHERRN  VON).— Kônigl.  Prous- 
síschen  Wirkiichen  Geheimen  Ober-Regierungsratbe,  general-consul  fúr  Por- 
tugal und  Spanien,  der  Konigl.  Akademie  der  Geschichte  in  Madrid,  der  Wis< 
senchaíten  in  Barcelona  und  in  Sevilla,  des  Ackerbaues  auf  der  Insel  Tene- 
rifa,  der  Gcsellschaf  fiir  Erdknde  und  der  Cresellschaft  naturforschender 
Freunde  in  ãerlin,  der  Gesellschaflen  fur  Naturgescbichte  und  fiir  Natur  und 

*  Firmin  DUloi.^Nouvelle  Biographie  IJniversellc. 

>  Visconde  de  Jaromenha.*'06r(i^  de  Camões^  vol.  1.^  pag.  tú\. 

^  Us  Lnsiades  (í.»  ed.),  pag.  iC8. 


Hei  tamto  in  DiM*»mt  mUImiih  IiIUmMiiii  i^  iMiiir  MltrlMliiM  hU- 
denin  nad  TtrailH-iniHtdtt  MrtBnKilMfMa. 

l.*xnMB|iag,ft.*UB;pif 

Éa  ■  ■     -  - 


892)  aORANDA  (ALVITO  BDELA  FEKEIRA.  DE). 

Esle  padre,  scguado  nos  diz  o  st.  laDoceacío  a  pag.  £4  da  8.°  vol.  do  seu 
Diccionario,  nasceu  em  Gallina  pelos  aonos  de  1791. 

E.—De(eza  de  Portugal,  semanário  periódico,  potitiO}  e  moral.  Impressão 
Regia,  1831-1833.  3  túI.  Este  jornal  é  deteosor  do  absolotismo. 

B93)  ICBOIB  (Út)  if  ftt  jwiyArt '  i»  TMfefc^^  íÍCmM*,  tt  éi 
Mte<>/tiaNp)íi.Psirii,l8BB.'. '   ,'  ~  "^  !.;!"', ';. 

BH)  xnounn  (ri  fTM  llfaiar  M  F.  IMbqAo  J«ilà>ft«  Ates  &  *  X 
M  P.  AmM  BoritolL  Bom,  IttS.  , 

B.— FongiM  fMi  m  4fwr*  MMpr  M  JBI|W|iri.  as  fali|ÉI,  mÍ  A/Itmagm, 

en  France  tí  tulleurt,  par—.  Amsterdam,  170Õ. 

896)  M*  «  •  • 

E.—Agnes  de  Castro.  Nouvella  poríagaise.  Amsterdani,  1710. 

897)  M.  M.  {H.'"'). 

E.— £»ai  d'muíatíím  libre  de  l'Bpitode  (CIwz  de  Castro,  dam  te  poemt  det 
Lusiades  de  Camoent,  par  —.  A  la  Haye,  et  se  vend  ft  Bmxelles,  efaec  i.  Vao- 
den  Bergfaen,  imprímear-libntire,  roe  de  la  Magdelaine,  1773,  S.*,  16  ftg. 
Traz  o  oiiginal  portDgaez. ' 

Começa  esta  imitação  da  maneira  segainte : 
O  toii  qni  fais  almer,  toi  qui  regia  la  tarre, 
Dlea  cniel  et  channant,  qni  pias  qne  le  Tonnerre, 
Fais  redonter  les  trails,  dont  ta  perces  les  ccenrs. 
Ta  Sa  couler  d'lDÒ8  et  le  s&ng  et  les  plenrs; 
Sonmise  à  toa  poavoír,  mus  modeste  et  fidelle. 
Too  cnlle  était  l'objet  de  ses  soins  les  pliu  doox. 
Et  ce  fnt  la  plns  tendre,  ainsi  qae  la  pins  bdie,  * 

Snr  qni  s'appasanlit  ton  foneste  coarroox. 

<  O  Er.  liKoRdg  4a  laramciihii  Ullft-nos  d'aini  ediçio  de  17M.  Crato  ««r  em  U 
inpreDM. 


MO  497 

Sor  les  bords  consacrés  a  tes  tendres  amours, 
Ta  cueillais  belle  Inês  les  frnits  de  tes  beaux  joars, 
Ge  prestige  enchanteur,  cette  erreor  sédaisante, 
Qai  regne  avec  Tamoar  dans  une  âme  innocente, 
Et  qui  finit,  hélas!  trop-tôt  pour  le  bonheur 
Gomposait  de  toa  sort  la  trompeose  douceor. 
Les  pleors  qa'à  tes  beaox  yeox  faisait  verser  Tabsence 
Essttiés  par  les  maios  de  la  doace  esperance, 
Sans  de^irer  ton  coenr  exprimaient  tes  regrets, 
Et  dans  tes  champs  fleuris,  dans  tes  sombres  foréts, 
Les  échos  repétaient  d*après  ta  voix  toachante, 
Le  nom,  le  nom  cheri  de  Tobjet  qoi  t*enchante. 

11  est  un  charme  heurenx,  connu  d'une  âme  tendre, 
Qoi  fait  aimer  les  pleors,  que  Tamoar  fait  répandre, 
Ce  charme  triomphant  aa  sein  de  la  doulenr 
Qoand  Tamoor  est  content  fait  trouver  le  bonheilr, 
Éloigné  de  tes  yeox,  mais  t*aimant  sans  partage, 
Ton  amant  adoro  ne  voit  que  ton  image. 
De  sa  iidehtó,  chers  et  sacrés  garants, 
Tes  attraitSy  ton  amour  lui  sont  toujours  présents, 
Des  songes  séducteurs  la  consolante  ivresse, 
Lui  peignent  chaque  nuit,  Tobjet  de  sa  tendresse, 
Des  souvenirs  charmans  l'occupent  tout  le  jour 
Et  tout  offre  à  son  coeur  les  plaisirs  et  Tamour. 

898)  M.  (Mr.)*— Historiographe  de  France. 

E.— Hwíatftf  abregée  de  VEspagne,  de  Portugal  et  de  Navarre.  Paris,  1652. 

899)  MAGQUET  (JEAN). 

E.—Reyes,  etc,  (Viagem  ás  índias  orientaes  e  occidentaes.)  Dertrecht,  1656. 

900)  MONACI  (£.) 

E.—n  Canzaniere  Partughese  delia  Bibliotheca  VaUcana,  messo  a  stampia 
da—.  Halle,  1875;  foi.  xxx,  456  pag.  com  2  fac-similes. 

II.  Canti  antichi  portughesi.  tratti  dal  Códice  Vaticano,  4803,  com  tradu^ 
zione  e  note,  a  cura  di—.  Imola,  typ.  de  Ignacio  Galeati,  1873,  8.*  12. 32 pag. 
V.  Bibliographia  critica  de  Historia  e  Litteratura  (Porto,  1873),  pag.  244  e  31-8. 

901)  ÍIONOONYS. 

E,—Voyage  de  Portugal,  Provence,  Italie,  etc.  Lyon,  1665. 

902)  MONCONNT'S  Reyze  nach  Abyssinien,  Portugal,  Spanien,  etc.  Augs- 
burg,  1697,  4.»  (Viagem  na  Abyssinia,  Portugal  e  Hespanha.) 

TOMO  I  32 


I 


903)  MONTFAUCON. 

K. — Uistoire  des  t  évolulioits  du  IVrlugal,  par  — .  Limoget,  1889. 

9()4)  MONFOET  (DAMOISEAD  DE). 

Publicou  D3  primeira  parto  do  lomo  3.°  das  Memorias  da  Academia  Real 
lias  Scieticias  de  Lisboa  os  seguiDtes  escriptos: 

E.— I.  MémoÍTe  jur  les  variíUions  des  élemens  élliptiquet  de  Patlas  et  Ciret.  > 
II.  Uémoire  sw  la  comete  de  1807. ' 

905)  MONTABOLDO  (FRANCAZANO). 

E.— Sfunífo  novo  e  paezi  novatncnte  rilrovati  da  Américo  Vespu2io  Fluren- 
Uno.  Viceoía,  1507. 

906)  MONTAiaU  (ED.  DE) 

E.—Nova  Gramática  porlugveza-franceza,  ait  Melhoilo  pratico  para  apren- 
der a  iinijiia  franceza,  ícguida  de  «m  tratado  de  verbos  irregulares.  PaTÍ|  J 
1863.  M 

907)  MONTANUS  (ARNOLDUS). 

E.~De  Wendeien  van  Oosten,  ele.  (As  maravilhas  do  Oriente  on  deacríp- 

ção  das  índias  Oriemaes  antigas  o  modeniiis).  Amsterdam,  1652. 

908)  MONTESQUIEU  (OHARL£S  DE  SEOONDAT,  BabXo  dk  la 
Brèce  b  db— ).  Publicista,  philosopho  e  litlentlo  Irancez,  auctor  das  Lettrrs 
Pertanet  e  do  Esprit  des  Lais. 

Nasceu  em  1689,  b  fillecea  em  Pwía  a  10  de  rererriro  de  ITSSj  > 

Este  celebre  escríptor  tlnba  aJguns  conhecimenEos  da  historia  a  li 
portngneza,  o  que  se  comprova  pelas  passagens  seguintes : 

Nas  Lettres  Persanes  (Cana  78).  •Emqtunto  is  barbas,  ellas  sZtf  r 
veis  por  sua  própria  natureza,  se  bem  que  não  se  deiía  de  tirar  proveito  d'el- 
las  para  serviço  do  príncipe  e  benra  da  nafão,  como  o  fei  bem  vfr  vm  IkinoiO 
general  portngaei  nas  índias,  qae  acbando-se  necessitado  de  dlnlielro,  a  ú 
mesmo  cortou  as  barbas,  e  sobre  este  penhor  maadoa  pedir  aos  haUlniM  4e 
Goa  vinte  mil  pistolas  emprestadas,  qae  lhe  foram  promptamente  aaviadai.    ■ 

■Comprehendese  facilmeute  qae  povos  graves  e  flengniaticoí,  eoao  aqael- 
les  possam  ter  vaidade,  e  Ieem-n'a.  Fandjun-ii'a  ordinariamanM  iobn  ia»- 
coisas  bem  consideráveis.  Os  que  vivem  na  Heapanha  e  em  Portagal  iMUa  o 
coração  extremamente  exaltado,  quando  são  aquillo  a  qne  dão  o  nona  da 
ebrístãos  velhos,  isto  é,  não  serem  descendentes  d'aqaelles  aos  qnaes  a  in- 
quisisão  persuadiu  n' estes  últimos  séculos  a  abraçarem  a  religilo  efarlstã.  Ol 
qne  vivem  aas  índias  não  se  gloriam  menos  quando  consideram  terem  o  sa-' 
blime  merilo  de  serem,  como  elles  dizem,  homens  do  carne  branca. 

*  Volume  reterido,  d*  pig.  IS  atí  Gl.  Lisboa,  1819.       a 

*  Idem  de  pag.  198  sU  Í01. 

I  íiTiaia  Diiti.—NouvtUe  Bíognphie  UMtmtU»,  nlíta."     '  '      - 


MO  499 

tNada  deveria  corrigir  os  príncipes  do  faror  de  conquistas  longinqaas  co- 
mo o  exemplo  dos  portaguezes  e  dos  hespanhoes.  (Carta  122.)  Estas  duas 
nações,  tendo  conquistado  com  uma  rapidez  incomprehensivei  reinos  immen- 
sos,  mais  espantados  de  suas  victorias,  do  que  os  povos  vencidos  de  sua  der- 
rota, pensavam  nos  meios  de  os  conservar,  e  tomavam  cada  uma  um  cami- 
nho differente  para  esse  fim.  Os  hespanlioes,  perdendo  as  esperanças  de  rete- 
rem  as  nações  vencidas  na  fidelidade,  tomaram  o  partido  de  as  exterminar,  e 
de  mandar  para  alli  de  Hespanha  povos  fieis :  em  tempo  algum  desígnio  tão 
horrível  foi  mais  pontualmente  executado.  Yiu-se  um  povo  tãojiumQroso 
como  todos  da  Europa  juntos,  desapparecer  da  terra  á  chegada  d'ostes  bárba- 
ros, que  pareceram  ao  descobrirem  as  índias,  terem  querido  ao  mesmo  tempo 
descobrir  aos  homens  qual  era  o  ultimo  período  da  crueldade. 

tPor  esta  barbaridade  conservaram  este  paiz  debaixo  do  seu  domínio.  Jul- 
ga por  isto  quanto  as  conquistas  sâo  funestas,  pois  que  os  effeitos  d'eUas  são 
taes.  Pois  emfim  este  remédio  horrível  era  o  único .  Como  teriam  elles  podido 
conservar  tantos  milhões  de  homens  na  obediência?  Como  de  tão  longe  sus* 
tentar  uma  guerra  civil?  Que  seria  feito  d'elles,  se  tivessem  dado  tempo  a  es- 
tes povos  de  tomarem  a  si  do  assombro  em  que  estavam  á  chegada  d'estes 
novos  deuses,  e  do  receio  de  seus  raios?  Emquanto  aos  portngnezes  tomavam 
estes  um  caminho  diametralmente  opposto:  não  empregaram  as  crueldades; 
por  isso  foram  também  dentro  em  pouco  expulsos  de  todos  os  paizes  que  ti- 
nham descoberto.  Os  hoilandezes  favoreceram  a  rebellião  d*aquelles  povos,  e 
aproveitaram*se  d'ella.  Que  príncipe  invejaria  a  sorte  d'estes  conquistado- 
res? Quem  querería  conquistas  com  taes  condições?  Uns  d*elles  foram  cedo 
deitados  fora;  os  outros  tornaram-n'os* desertos,  e  deserto  tomaram  também 
sen  próprio  paiz.  A  bússola  abriu,  para  assim  dizer,  o  universo.  ^  Achon-se 
a  Ásia  e  a  Africa,  das  qnaes  apenas  se  conheciam  algumas  costas;  e  a  Ame-^ 
ríca,  da  qual  absolutamente  nada  se  conhecia. 

«Os  portuguezes,  navegando  sobre  o  Oceano  Atlântico,  descobriram  a  ponta 
maia  meridional  da  Atríca;  viram  um  vasto  mar  que  os  levou  ás  índias  Orien- 
taes.  Seus  perigos  n*este  mar,  e  a  descoberta  de  Moçambique,  de  Melinde  e  de 
Calecut  foram  cantados  por  Camões,  cujo  poema  faz  sentir  alguma  coisa  dos 
encantos  da  Odyssea  e  da  magnificência  da  Eneida.» 

Capitulo  XIII.--Humilde  censura  aos  inquisidores  de  Hespanha  e  de  Por- , 
tngal  por  causa  de  uma  Judia  de  dezoito  annos  queimada  em  Lisboa. 

«Vós  vos  queixaes,  mquisidores,  de  que  o  imperador  do  Japão  manda 
*  qaeimar  a  fogo  lento  todos  os  chrístãos  que  se  encontram  nos  seus  estados; 
porém  elle  vos  responderá :  Nós  vos  tratamos  a  vós,  que  não  credes,  como  nós, 
como  vós  propríos  trataes  aquelles  que  não  crêem  como  vós :  não  vos  podeis 
queixar  senão  de  vossa  fraqueza,  que  vos  impede  de  nos  exterminar,  e  que 
faz  que  nós  vos  exterminemos » 

Traz  por  fim  um  esboço  de  biographia  do  marechal  de  Benvick,  o  qual  se 
oppoz  em  1704  ao  exercito  portoguez  quando  entrava  em  Bfadríd. 

í  L'Eipril  de*  Unt,  lif.  M.,  pag,  «I. 


m  MO 

OOU)  MONTGONT  (Monsíbub  i.'AbdÉ  i>i).  .  

K.—iVhnoim  de  — .  Publifi  par  lui  même.  Contmant  In  Aíf^intit  nego- 
liatioiu  donl  il  a  eté  ehargé  daiw  le*  atura  de  Franee,  d'E»pagne  et  de  Portu- 
gal; et  divers  ávthimnení,  qui  íoiií  arrivês  ãepuis  famiée  1746.  Xouvelle  édi- 
tion,  cúirigfe  et  auffitirritée.  A  Lausanne,  1723.  8  vol.,  8." 

Esta  olira  foi  bi-m  conhecida  do  visconde  de  Saotarem,  qae  no  tomo  Q.* 
da  suu  Quadro  Elementar  apresenta  algoos  exiracloa  d'ella : 

(Para  darmos  uma  idca  do  qae  tratou  o  abbade  de  MonCgoot,  transcreve- 
romos  aqni  algumas  [tariicularidades  qau  ello  rdeta  nas  suas  Memorias. 

•  Nas  vistas,  quo  n'eslo  dia,  19  do  janeiro  de  1J39,  tiveram  el-rei  de  Ucspa- 
ntia  Q  de  Porlugal  por  occasião  dos  casamentos  que  então  se  celebraram,  o 
abbade  de  Honigonl  Toi  nprosenlado  a  el-rei  D.  João  V  pelo  marquez  d'Abraa- 
[OS.  O  mesmo  abbade  rerere  qne  se  aproximara  então  do  monarcha  e  quUera 
beijar-llie  as  abas  do  vestido,  o  que  el-reí  lho  não  consentira,  a  Ibe  dissera 
com  um  ar  alTavcl  e  cheio  de  bondade,  que  folgava  muito  de  o  conhecer,  e 
qae  devia  estar  certo  do  aprEi;o  que  d'el!e  taiia.  Que  o  infante  1>.  António, 
que  eslava  ao  pé  de  el-rei,  so  servia,  fallando-lhe,  dos  termos  mais  obseqnio- 
so!i,  e  díE  que  sem  exageração  cl-roi  se  mostrara  n'aqaclla  occasião,  e  du- 
rante a  sua  estada  cm  Elvas  com  a  dignidade,  alTabilídade  e  magnificên- 
cia digna  de  tun  rei,  e  que  ninguém  se  aproximara  de  sua  pessoa,  qae  não 
observasse  n'ello  aquellas  grandes  qnalidadcs.  (MeTnoir.,  lonio  7.'',  pag.  119,J 

tRotcre  o  mesmo  abbade  que  o  marqtifs  d?  Abraniw,  depois  que  a  corte 
de  Hespanba  roliára  para  Madrid,  havja  estado  ião  occopado  taat  os  casa- 
mentos e  preparativos  para  soa  entrada,  qoe  elle  Ibe  nlo  pudera  fatiar,  se- 
não superflciaimentfl,  na  commissão  de  que  o  infante  D.  Higael  o  tinlui  eo- 
carregado,  porém  que  estando  tudo  concluído,  ello  abbado  o  fQn  ver,  e  Ibe 
informara  míadamente  da  conversação  qne  tivera  com  o  infanta  em  Sqóvis,  e 
da  resolução  em  qne  aquelle  príncipe  eslava  de  se  desposar  com  madmioiselle 
de  Sans,  Innã  do  duque  de  Bonrbon,  se  isso  fosse  do  agrado  de  el-rei  mq  ir- 
mão; accrosceotaudo  qne  o  infante  linha  manifestado  o  mais  gineero  daaejo  da 
entrar  na  graça  de  el-rei  sen  irmão,  e  de  lazer  qaanto  podease  por  aleançir 
d'elle  a  Uceni^  para  isso  necessária,  e  que  prosegnindo  Ibe  disser»  qne  bem 
entendia  qae  se  não  devia  fazer  abermra  alguma  sobre  aquelle  oasuHOto  ao 
duque  e  daqueza  de  Bourbon,  sem  primeiro  se  haver  o  oHuentiniento  de  S> 
U.  F.  Que  o  marqaez  de  Abrantes  lhe  respondera  qoe  apesar  do  grande  rec- 
peilo  que  tinha  á  pessoa  do  Infante,  e  do  desejo  qne  lhe  assisti*  de  em  todo 
comprazcr-lbe,  não  podia  de  modo  iUgam  encarregar  se  de  transmittir  a  el-rei 
seu  amo  o  assumpto  d'aqaella  conversação,  accrescentado  qjie  ningaem  sa- 
bia melhor  que  o  mesmo  infante  o  que  convinha  fazer  para  entrar  em  graçt 
com  el-rei  seu  irmão. 

•Aoquõelle  abbade  replicara  que  aqullio  já  estava  feito,  porque  o  in- 
fante não  desejava  outra  coisa  senão  saber  qual  era  a  vontade  deel-r^  para 
com  cila  conformar-se,  e  que  sendo  assim,  não  Ibe  parecia  que  se  faltaste 
á  dcicroncia  devida,  supplicando-lbe  do  haver  por  bom  quo  o  infante  se  ca- 


MO  501 

sasse,  o  qae  nâo  podia  deixar  do  renovar  a  antiga  e  constante  amisade 
qae  existia  entre  as  daas  casas  de  Bourbon  c  de  Bragança. 

cTornoQ-lhe  a  repetir,  segando  diz  o  abbade,  o  marqaez:  Que  mo  é  ve- 
dado onvir  proposição  alguma  concernente  a  S.  A.  R.,  do  que  muito  me  pesa, 
mas  S.  A.  bem  deve  saber  que  devo  executar  fielmente  as  ordens  que  me 
hão  dado.  (Memoir.y  tomo  6/,  pag.  69.) 

tSem  embargo  da  resposta  do  marquez  d'AbranteS)  continuou  o  abbade  de 
Montgont  a  proceder  na  negociação  da  projectada  alliança,  c  quando  entendeu 
que  ella  não  seria  mal  olhada  em  Portugal,  assentou  que  era  tempo  de  infor- 
mar o  duque  e  duqucza  de  Bourbon  dos  intentos  do  infante,  mas  para  não 
comprometter  pessoas  de  tão  alta  jerarchia,  limitouse  a  fallar-lhes  n'aquelle 
negocio,  como  se  fora  uma  idéa  que  tinha  occorrido  ao  infante,  e  que  clle  lhe 
communicára,  e  como  criado  affectuoso  do  duque  e  da  duqueza  não  quizcra 
deixar  de  communicar-lhes,  accrescentando  que  sendo  aquelle  projecto  da 
approvação  d*elles  trataria  de  lhes  dar  seguimento.  Folgaram  o  duque  e  a  du- 
queza com  aquella  participação,  agradeceram -lhe  e  deixaram  a  seu  arbítrio 
significar  ao  infante  a  alegria  com  que  responderiam  ás  demonstrações  de  ami- 
sade de  que  eram  o  objecto,  e  lhe  encommendaram  de  os  ter  ao  corrente  do 
progresso  da  negociação  em  que  anteviam  alguma  dií&culdade,  sendo  a  prin- 
cipal o  consentimento  de  D.  João  V. 

•Responde  o  abbade  ao  duque  e  duqueza  que  lhe  parecia  necessário  que 
ambos  lhe  escrevessem  de  modo  a  levar  el-rei  a  entrar  nas  mesmas  vistas,  e 
que  visto  as  relações  que  tinha  com  o  marquez  d'Abrantes,  não  duvidava  con- 
seguir d^elle  que  enviasse  a  Lisboa  as  cartas  originaes  com  que  Suas  Altezas 
o  honrassem,  e  que  por  conseguinte  ellas  podiam  escrever  n'aquella  confor- 
midade a  respeito  do  casamento  do  infante  com  mademoiselle  de  Sans. 

•Seguiram  o  seu  conselho  o  duque  e  a  duqueza,  mandando-lhe  as  sobre- 
ditas cartas,  e  uma  em  que  a  duqueza  lhe  encommendava  que  fizesse  com  el- 
rei  catholico  que  ajudasse  a  conclusão  d'aquelle  negocio,  e  que  sendo  isso  do 
agrado  do  dito  monarcha,  ella  desejava  que  o  abbade  de  Montgont  podesse  ir 
a  Lisboa  para  conciliar  o  infante  com  el-rei  seu  irmão,  mas  adoecendo  el- 
rei  catholico,  ficaram  suspensos  estes  projectos.  (Memoir,,  tomo  6.<>,  pag.  6i.) 

•O  abbade  chegou  a  Lisboa  antes  do  cônsul  encarregado  de  negócios  ter 
recebido  estas  instrucções,  c  foi  alojar-se  em  casa  do  mesmo  encarregado.  A 
nossa  corte  fez-lhe  as  maiores  distincções.  Toda  a  nobreza  o  foi  visitar,  o  se- 
cretario doestado  escreveu-lhe  dizendolhe  que  elrei  o  receberia  em  audiência, 
pois  o  mesmo  soberano  lhe  queria  fallar.  Elle  porém  dcmorou-se  só  vinte  dias 
em  Lisboa,  e  antes  da  sua  partida  para  Madrid  teve  uma  entrevista  com  el-rei, 
que  durou  duas  horas.  O  agente  francez  diz  que  ninguém  tinha  podido  pene- 
trar o  objectoda  sua  negociação,  e  que  o  dito  abbade  era  homem  mui  fino  e  des- 
embaraçado. 

•Entretanto  Coxe,  na  sua  obra  de  LEspagnesmis  les  Bourbons,  diz  o  se- 
guinte: «On  trouve  dans  lat^orrospondanco  des  ministres  anglais  à  Paris  et  à 
Madrid  une  foule  d^anecdotcs,  qui  prouvent  que  Tabbé  de  Montgont  était  la 
riseé  de  toat  le  monde» 


I 


SOI  MO 

•O  mesmo  abbade  refere  oas  suas  Memorias  ([aoio  S.*,  pag.  Slt,  n&  data  de 
15  d'outubro  de  !729,  que  achando-se  em  penúria  fura  ler  com  o  marquei, 
embaixador  de  Porlugal  em  Madrid,  c  quo  elrei  D.  João  V  lhe  mandara  dar 
uma  graliScação  de  dez  mil  libras  loraeias. 

•  Em  22  de  Tevereiro  de  1729  o  ministro  dos  negócios  eslrangeiros  Chauve- 
liD  ordena  ao  cônsul  de  França  em  Lisboa  que  vigie  com  o  maior  cuidado  o 
abbade  de  Monlgonl  duranie  iodo  o  tempo  que  elle  residisse  em  a  nossa  carte, 
mas  que  obrasse  com  tal  prudência  que  nem  elle  nem  pessoa  alguma  suspei- 
tasse que  ell(t  tinha  tal  recouimenda^ão.  • 

910)  MONTJOT  (F.) 

E.—Avnjro  or  lhe  head  ín  a  glass  case.  (Aveiro,  ou  a  cabeça  u'uiiia  caixa 
de  vidro.) 

E'  de  suppor  que  seja  algum  romance,  mas  nada  posso  asseverar. 

911)  MOODIÉ  (LIMUT). 

E.—tíemoirs  o(  the  late  War  comprising  lhe  persoiuU  narralive  o{  lhe  Ca- 
ptaia  Cook,  lhe  Campaígns  of  1809  m  Portugal  by  the  Earl  of  MuMÍrr,  and 
Ike  campaign  of  I81i  in  Holland  ííi/  — .  2  vol.  (Campanhas  de  1809  em  Portu- 
gal pelo  conde  de  Munster  olc.) 

91!)  UOORE  (GEORGE). 

E.~-lives  of  Cardinal  Alberoni,  Iheduke  of  Ripperda,  and  marquis  of  Pom- 
bal. London,  1814.  (Vidas  do  cardeal  Alburoni,  duque  de  Rippenda,  e  do  mar- 
quei de  Pombal.) 

913)  HOBALEB  (JUAlf  BAPTISTA). 
E.--~Jonuida  de  Africa  dei  re  áon  Sebattian.  Sevilba,  162S. 

914)  XOBEAn  (FIERRE). 

E.—mstoire  des  demiêret  trOubtet  du  Britil  entre  leshoUandaàel  le$par- 
tugait.  Paris,  16fil.  Foi  esta  obra  traduzida  em  hoUsndet  por  Glazman,  e  im- 
pressa em  Amsterdam  no  anno  de  1652. 

913)  MORELET  (AKTUUK).— Hembre  de  l'Acad«me  des  Sdenm  da 
Dijon,  correspondaot  de  TAcademie  des  Sciences  de  Li^nue,  de  U  Societé 
dltistoire  natnrelle  de  la  Hoselle). 

E. — I.  Ues  Açores.  Notice  swr  Vhistoire  naíurelU  des  Açores,  wivie  ívm$ 
description  des  mottasques  terrestres  de  cet  arckipel,  avec  cmq  pJoNcftct  gra- 
ves et  colorUes  par—.  Paris,  J.  B.  Baillière  et  Fils-  4,',  214  pag. 

Esta  obra  é  dedicada  a  D.  pedro  V,  rei  de  Portugal. 

■Foram-  as  ítbas  dos  Açores  conhecidas  de  um  pequeno  numero  de  sábios 
antes  da  occupaçào  portugueza.  Figuram  estas  ilbas  já  sobre  as  cartas  náuti- 
cas do  século  XIV,  e  principalmente  sobre  o  famoso  Roteiro  Meéiceo  formado 
em  1331  por  um  navegante  genovez :  alli  estão  ellas  representadas  com  uma 
exactidão  relativa,  que  nào  pôde  deixar  a  mais  pequàna  dntida.  Foi  tnesmii 


I 


MO  503 

om  docamento  d'esta  espécie  que,  trazido  da  Itália  em  1428,  decidiu  um  re- 
conhecimento oficial,  que  se  confunde  geralmente  com  a  primeira  descober- 
ta.  A  exploração  emprebendida  em  i43i  pelas  ordens  e  debaixo  da  direcção 
do  príncipe  Henrique,  estendeu-se  successivamente  durante  um  período  de 
vinte  annas,  desde  os  rochedos  chamados  Formigas  até  ás  ilhas  afastadas  das 
Flores  e  Corvo.  Não  se  pôde  roubar  aos  portuguezes  o  serviço  de  terem  po- 
voado este  archipelago,  e  de  terem  transformado  solidões  incultas,  perdidas 
DOS  nevoeiros  do  Oceano,  em  um  paiz  rico  e  florescente,  que  forma  hoje  uma 
das  melhores  províncias  do  reino.  Demais,  a  pátria  dos  Gamas,  dos  Magalhães 
e  dos  Albuquerques  pôde  dispensar  um  titulo,  que  pouco  accrescentaria  á 
sua  gloria. 

«A  primeira  impressão  que  se  dísfructa  à  vista  dos  Açores  é  uma  impres- 
são de  assombro.  O  lúgubre  aspecto  d'aquellas  terras,  que  apresentaoi  o  sai- 
nete  de  sua  origem  vulcânica,  fere  vivamente  a  imaginação.  Sua  grandesa  so- 
litária, seu  profundo  isolamento,  imprimem  também  na  alma  um  sentimento 
de  melancolia.  Assombramo-nos  de  que  o  homem  tenha  escolhido  para  pátria 
estes  rochedos  açoutados  pelos  ventos  e  vagas,  os  quaes  durante  tantos  sécu- 
los não  tiveram  mais  habitantes  do  que  as  aves  de  rapina,  das  quaes  deríva 
seu  nome.  No  emtanto  idéas  mais  risonhas  não  tardam  depois  de  terem  trans- 
posto a  trincheira  de  trachyto,  que  oppõe  um  dique  ao  Oceano,  descobrem-se 
férteis  campinas,  jardins  odoríferos,  numerosas  aldeias  em  fórtna  de  escada- 
ria pela  encosta.  Reconhece-se  então  que  ao  tomar  posse  d^aquelles  legares,  o 
homem  fez  uma  conquista  verdadeiramente  util  e  proveitosa.  (Pag.  i7.) 

«Ainda  que  o  archipelago  não  prometia  ao  naturalista  uma  colheita  muito 
variada,  merece  apesar  d*isso  ser  visitado,  e  poder-nos-hiamos  admirar  de 
que  não  o  fosse  mais,  se  esta  falta  não  se  explicasse  pela  difflculdade  de  com- 
municações.  Não  se  apresenta  no  seu  todo  um  espectáculo  digno  de  impres- 
sionar vivamente  o  viajante,  mas  cada  ilha  em  particular  contém  bellesas  de 
nm  caracter  selvático  ou  romântico,  e  além  d'isto  algum  objecto  curioso  que 
lhe  ó  especial.  S.  Miguel,  a  principal,  ufana-se  de  suas  magnificas  caldeiras^ 
seus  lagos  azues,  cascatas,  como  o  famoso  Yalle  das  Fumas,  onde  o  trabalho 
dos  fogos  subterrâneos  se  manifesta  por  pheoomeinos  de  uma  assombrosa  acti- 
vidade. Santa  Maria  é  a  única  que  possue  formações  calcareas,  rícas  em  fosseis 
marinhos,  argilas  de  uma  certa  finura,  e  uma  caverna.  Pico  mostca-nos  o  mais 
alto  cume  dos  Açores  terminado  por  um  cone  fumegante.  Fayal  uma  cratera 
magestosa,  na  qual  brotam  aguas  vivas,  e  arrebatadoras  perspectivas.  Gracio: 
sa,  um  lago  subterrâneo.  Flores,  uma  terra  anda  ornada  com  sua  graça  e  fres- 
cura primitivas.  Corvo,  um  logar  [celebre  pelos  vestígios  que  alli  se  teem  en- 
contrado. A  Terceira,  finalmente,  uma  pequena  cidade  accidentada,  a  mais 
bonita  do  archipelago.  (Pag.  8i). 

«Alguns  exemplos  darão  uma  idéa  da  fertilidade  do  paiz  e  da  intelligente 
cultura  praticada  pelos  habitantes : 

« Visitei^no  mez  de  junho  um  campo  cujo  solo  era  pouco  profundo,  no  qua 
a  rocha  apparecia  mesmo  à  flor  da  terra,  promettendo  uma  excellente  colheita 
de  milho,  graças  ás  chuvas  abundantes  da  primeira  estação. 


:m  mo 

•No  mez  do  novombro  do  aono  precedente  linham  n'olle  plantado  convés, 
o  semeado  trcmoços;  as  couves  tinham  sido  apanhadas  cm  fevereiro  c  subsU- 
toldas  peio  inillio.  Em  março  parle  dos  iremoços  fora  arrancada  e  enterrada 
como  estrume,  o  resto  dcisado  para  grão;  depois,  nos  espaços  aovos,  linliam 
plantado  balatas  e  at>obora«  meoiníLS.  Km  julbo  devia  ctiogar  a  colheita  das 
balatas;  em  agosto  a  dos  tretnoços,  (|ue  tinham  ficado  na  terra ;  em  otuubro, 
finalmente,  a  das  abóboras  monínas  t  do  milbo.  É  d'esta  fúrma  qae  um  fò 
campo  de  medíocre  extensão,  por  nm  processo  de  cultura  engenhoso,  sustenti 
uma  família  inteira,  depois  de  ler  pago  sua  renda- 

lEIs  aqui  ura  outro  exemplo  de  cultura  mista,  como  se  pôde  observar  tre- 
qaenlemenlo  nos  A^rcs.  Um  bocado  de  terra  fura  semeada  do  favas  pelo  Xa- 
lai  o  de  iremoço  ao  mesmo  tem[iO,  em  regos  parallelos  na  distancia  de  cinco 
melros.  Em  janeiro  tinham  alli  semeado  cevada,  egualmente  cm  linhas  paral- 
lelas,  mas  perpendiculares  ia  primeiras,  o  apenas  na  distancia  de  dois  metros. 
Em  fevereiro  plantaram  couves  nos  inlervallos,  á  sombra  dos  tremoços.  No 
met  de  maio  foi  cortada  a  cevada  ainda  verde  como  pastagem,  e  no  meíailo 
de  junho  semearam  milbo  oníre  as  favas-  No  flm  do  mesmo  mez  estavam  co- 
ibidos estes  fruclos;  depois,  om  julho  as  couves,  em  agosto  os  tremoços,  e  em 
ultimo  logar  o  milbo.  Tal  é  a  feliz  fecundidade  do  solo:  produz  sempre,  sem 
atolhamenlo,  sem  repouso,  sem  mais  adubo  que  as  hasleas  dos  favaes  ou  dos 
ireraoços  enterrados.»  (Pag.  100.) 

U^Frederie  WolwlscJi  (Dr.)  Vogage  dans  let  im/íiuinei  d'Angola  et  de 
Bençuelta,  Afrique  eqainaxiale.  Mollttsquet  tunrstvcs  et  fluvialct  pnr  A.  Mú- 
lellel.  D\}Qn,  18fi7. 

lll.—Catalogiu  de  la  Flora  dts  iles  Açora,  precede  de  riíâterairt  ifiNt 
vo^age  de  cet  ardupd  1857.  Poblicou-se  na  obra  Ménoiret  de  la  toeieti  aea- 
d^uqtte  da  departemetU  de  CAuie.  3*~*  terie,  tom.  'ò.',  1866. 

IV. — Coqaillet  «ouvelles  reateillie»  par  le  dr.  Welntísch  dou  rAfrupu 
Énuatoriíile  et  de  Benguella.—No  Journal  de  Conchyliotogie,  a.*  11,  pa(.  153» 
aimo  de  1866. 

■Haia  recuitemenle,  em  186S,  o  sr.  Godman,  desejoso  de  verífleir  por  si 
mesmo  os  caraclerea  e  importância  da  omilhologia  doa  Açores,  percorrea  ft 
maior  parte  das  ilhas,  e  poblicoa  n'nm  jornal  exclosivameote  consagrado  á  or- 
nithidogja,  o  írncto  das  soas  investigações.  O  sr.  Horelet  menciona  sómeols 
trínla  avas,  e  d'essas,  doas  voem  apenas  designadas  pelos  nomes  vulgares.  A 
lista  do  sr.  Godman  offerece  cincoeota  e  daas  espécies. 

«Além  d' esta  differença  numérica  encontram-se  nas  dnas  listas  notáveis  dl* 
vergencias  nas  espécies  que  cada  uma  d'ellas  cita,  e  nos  nomes  vulgares  alirí- 
buidos  a  algumas  avos.  Este  facto  deixar- n  os- hi  a  em  grande  perplexidade,  se 
nào  reflectíssemos  que  o  sr.  Morelet,  mui  distincto  conchylogista,  não  estaria 
habilitado  para  determinar  as  espécies  com  o  indispensável  rigor,  a  talvez  mes* 
mo  nào  examinasse  todas  as  que  cita,  e  sa  contentasse  com  informações  ponco 
seguras-  O  sr.  Godman,  pelo  contrario,  é  pessoa  mais  competente  em  omilho- 
logia; e  por  isso  ootendemos  que  se  devem  aceitar  com  conhança  as  soas  io- 


MO  505 

dieaçoes.  (Sr.  J.  V.  Barbosa  da  Bocage,  no  Jornal  de  Sâencias  Mathemati- 
caSy  ?oL  l.^",  pag.  89.) 

9i6)  HORELLET  (A.) 

E.— jL^  Manuel  des  Inqutstíeurs  à  Vusage  des  inquistíUms  d'Espagne  et  de 
Portugal,  Lisbonne,  1762. 

917)  MORELI  (DR.  JUAN   BAPTISTA). 

^.—Bedudon  y  resttíuicion  dei  reyno  de  Portugal  a  la  sereníssima  casa  de 
Bragança  en  la  real  persona  de  D.  Juan  IV,  rey  de  dkho  remo  con  las  razO' 
neSf  y  causa  de  la  confederacion  que  celebro  cxm  el  rey  christianissimo  y  otros 
príncipes.  Discurso  moral  y  politico  por—.  Tarim,  1648. 

918)  HORGANTI  (BENTO).— Natural  de  Roma,  onde  nasceu  a  13  de 
outubro  de  1709.  Fonnou*se  em  Cânones  na  universidade  de  Coimbra,  e  foi 
beneficiado  na  só  de  Lisboa. 

E.— I.  Nummismalogia  ou  breve  recopUação  de  algumas  medalhas  dos  em* 
peradores  rotnanos  de  ouro,  prata  e  cobre,  que  estão  no  museu  de  Lourenço 
Morganti,  bibliothecario  do  illustrissimo  e  reverendíssimo  senhor  D.7Jiomaz,prí' 
meiro  patriarcha  de  Usboa.  A  que  se  ajunta  huma  bíbliotheca  de  todos  os  au' 
thores  que  escreverão  de  medalhas  e  inscripções  antigas.  Parte  primeira  offe- 
recida  á  magestade  de  el-rey  nosso  senhor  D.  João  V.  Lisboa  Occidental.  Na 
offlcina  de  Joseph  António  da  Sylva,  impressor  da  Academia  Real,  1737,  4.% 
176  pag.,  além  de  um  Index  alpbabetico  dos  auctores  que  escreverão  sobre 
medalbas,  que  occupa  lxvi  pag. 

É  obra  estimada  e  enriquecida  com  grande  numero  de  estampas  entreca- 
ladas  no  texto,  e  que  se  pôde  considerar  como  um  resumo  de  numismalogia 
dos  imperadores  romanos,  acompanhado  de  noticias  das  moedas  gregas  e  he- 
breas.  Escreveu  ainda  varias  obras,  cujo  titulo  e  importância  se  podem  ver 
no  primeiro  volume  do  Dicdonario  Bibliographico  do  sr.  Innocencio  Francisco 
da  Silva,  e  das  quaes  a  principal  é 

n.  Dissertação  histórica  e  critica  sobre  a  inscripção  que  existe  no  campo 
de  Santa  Anna  da  cidade  de  Braga,  e  huma  moeda  antiga  do  tempo  de  Júlio 
César,  de  que  faz  menção  o  M>  R»  P.  D,  Jeronymo  Contador  de  Argole  nas  Me* 
morias  que  escreveu  do  mesmo  arcebispado.  Dada  á  luz  pelo  doutor  Mathias 
Pinheiro  de  Azevedo,  e  escripta  pelo  muito  reverendo  doutor  Bento  Morganti, 
protonotario  apostólico  e  ministro  do  tribunal  da  Legacia.  Reg.  offlcina  Syl- 
viana,  1742.  Folheto  de  51  pag. 

919)  HORGhANTI  (LOURENÇO).— Natural  de  Lucca  na  Toscana,  e  bi- 
bliothecario do  primeiro  patriarcha  de  Lisboa  D.  Thomaz  de  Almeida. 

E.—I.  Vida  de  Santa  Zita,  virgem  luqueza,  traduzida  do  idioma  italiano  no 
portuguez,  accrescentada  com  uma  breve  noticia  do  Santo  Christo,  ou  verda- 
deiramente o  Santo  Vulto,  obrado  por  S.  Nicodemus,  que  se  acha  na  cathedral 
da  cidade  e  republica  de  Lucca  em  Toscana.  Offerecida  á  sereníssima  senhora 


Go«  MO 

D,  Marta  Barbara,  princeza  das  Aslurias.  Lisboa  OccideouL  Na  ofUcioa  de 
Ãnlouio  Pedroso  Galram,  173S.  t.°,  139  pag.  com  três  estampas,  a  ultima  das 
qoaes  representa  a  imagem  do  Santo  Cbrísto  coílocada  na  egreja  cathudral  de 
S.  Maninho  da  cidade  de  Lacca. 

U.  Desengano  dos  Peccadores,  necessário  a  todo  o  género  de  pessoas,  uliltit- 
stmo  aos  missionários  e  aos  pregadores,  que  só  desejam  a  saltarão  das  almat. 
Dedicado  ao  serenissimo  senhor  D-  Uanuel,  infante  de  Portugal-  Escriptopelo 
R.  P.  Alexandre  de  Perier,  da  companhia  de  Jesus  e  missionário  da  província 
do  Brasil,  eic.  Lisboa,  173S.  i.",  &60  pag.  com  graode  numero  de  estampas. 

930)  UORISOT  (3.  B.) 

E.—Recueil  de  diverses  retaiions  noavelles  deVite  de  Madagáscar,  da  Brf 
sil,  de  VEgypte,  et  dePerse.  Paris,  1631.  4." 

921)  U.  P.  B.  E. 

E.—Declaraliún  du  droit  de  legitime  succestion,  sur  k  ivjaiime  de  Porlu- 
gol  apartoiont  à  la  reyne  mêre  du  roy  três  ckretien,  par  — .  Anvers,  158Í. 

921)  MOITHEY. 

E.— jíííoj  portalif  de  VEspagne  et  du  Portugal,  composé  de  7  cartes  df-ut* 
tufes  par  ~.  Paris,  1811. 

923)  HOITVI  deWaccidente  di  Portugália.  Opera  dedicata  a  tuUi  Upí- 
tenze  secolari  e  temporaii.  Avignone,  1759. 

914)  UOTZVSH  Die  d'E.  Offidern  der  Militie  ia  cotuideratie  HMen  fftc- 
nomea ommetdm  Vyandt  (namentlijiek de PortugetenJ  m  aceeord te  treieà. 
Adr,  13  jsanary,  anno  16».  &  folhas.  (H.  S.) 

ttSj  UOTTE  (HOUDART  DE  LA.). 

E.— ffi^  (b  Cattro,  tragedií.  Paris,  17S3.  Ibid.  1774.  Bata  tngedit  dea 
ongem  aos  seguintes  opascalos : 

L  Aytet  de  Chaiílot,  eomtdie  par  M.  Dmtínique.  Paris,  1733. 

n.  aeponteàM-"aut¥Jetd'Inésde  Cattro,  de M. de LaMotte,Vviial7ia. 

111.  Beflejôons  faUet  par  Jf*  •  •  tur  ínet  de  Castro.  Paris,  1723. 
'     tV.  Leltre  a*  sujei  de  la  tragedie  d'Init  de  Castro.  Paris,  17S3. 

V.  Paradoxei  IMérairu  w  n^«t  ie  la  Tragedie.  Paris,  1713. 

VI.  Antíparadoxes ou  Beftitation.  Paris,  1713. 

Vn.  Le  Secretaire  du  Fantaste  ou  sujet  de  la  tragedu  fínát  de  CaUn. 
Paris,  1713.  Haye,  1714. 

VIU.  Ultre  à  Mr.de  La  Motte.  Paris^  1723. 

IX.  ConsideratíonsphiiosoiAiipiesturles  $uíxés^ínesdeCattro.Puisnn. 

X.  Examen  de  ia  tragedie  de  —.  Paris,  1724. 

XI.  4iwlcyie  de  mr.  Houdart  de  La  Motte.  Paris,  1714. 

XIL  La  qMrelle  de  Thalie  et  deMelpomene  a»  tvjet  A'ínu  de  Catin.  Pa- 
ris, 1714. 


I 


I 


MU  507 

XIV.  Arvest  bwiesque  en  faúeur  de  la  tragedie  d^Inêê  de  Castro,  Paris, 
1724.  2.«  edição,  París,  1823. 

926)  KUJERES  (LAS)  EspaiiolaSy  Portuguesas  y  Americanas,  tales  co- 
mo sonenel  hogar  domestico,  en  los  campos,  en  las  ciudades,  en  el  templo,  en 
los  espectáculos,  en  el  taller  y  enlos  salõnes.  Description  y  pintura  dei  cara- 
cter,  costumbres,  trajes,  usos,  religiosidad,  bellesa,  defectos,  preocupacUmes  y 
excelências  de  la  mujer  de  cada  una  de  las  provindas  de  Espana,  Portugal  y 
Américas  Espanolas.  Obra  escrita  por  los  primeros  literatos  de  Espana,  Por» 
tugal  y  America,  y  ilustrada  con  una  nwnerosa  coleccion  de  magníficos  cro- 
mos cuyos  croquis  son  detidos  ai  pincel  de  los  mas  notables  artistas  espanoles 
y  portugueses. 

927)  MÍJLLER  (JOIO  GUILHERME  GHRISTIANO)-! 

Nasceu  em  Gottinga  em  maio  de  1752.  Em  1772,  recommendado  pelo  dr. 
MúUer,  reitor  da  universidade  de  Gottinga,  veia  para  Lisboa  na  qualidade  de 
pastor  lutherano  para  a  capella  da  legação  hollandeza.  Tratou,  apenas  chega- 
do a  esta  cidade,  de  se  entregar  ao  estudo  da  lingua  portugueza,  e  resolveu 
tomar  para  domicilio  perpetuo  este  paiz,  continuando  a  servir  de  1781  em 
diante  como  addido  á  enviatura  dinamarquesa.  Pouco  depois  nomearam-n'o  só- 
cio supranumerário  da  nossa  Academia.  Foi  em  1788  encarregado  da  direc- 
ção e  classificado  das  medalhas  que  havia  no  museu  da  mesma  Academia,  es- 
crevendo depois  uma  Memoria  a  respeito  das  medalhas  portuguezas,  lida  á 
Academia  em  12  de  novembro  de  1788.  Sua  terceira  obra  foi  uma  addi- 
ção  ao6  trabalhos  de  António  Ribeiro  dos  Santos  sobre  a  litteratura  sagrada 
dos  judeus  portuguezes.  A  23  de  novembro  de  1791  abjurou  o  lutheranismo 
nas  mãos  do  bispo  inquisidor  geral.  No  anno  seguinte  foi  nomeado  deputado 
da  real  mesa  da  commissao  geral  sobre  o  exame  e  censura  dos  livros,  e  em 
1795  traductor  de  linguas  na  secretaria  do  Almirantado,  e  em  1801  director 
do  estabelecimento  da  Impressão  Regia.  Apresentou  outro  trabalho  á  Acade- 
mia com  o  seguinte  titulo :  Observações  sobre  o  Glossário  das  palavras  ephra- 
ses  da  lingua  franceza,  offerecido  á  Academia  pelo  sócio  Fr.  Francisco  de 
S.  Luiz.  Veiu  a  iállecer  a  15  de  outubro  de  1814,  época  em  que  andava  traba- 
lhando na  biographia  do  celebre  portuguez  o  papa  João  XXI. 

£.— I.  Discurso  histórico  pronunciado  na  sessão  publica  da  Academia  Real 
das  Scienáas  de  Li^toa  em  24  de  julho  de  1810  por  João  Guilherme  Christia- 
no  MiUler,  secretario  da  mesma  Academia  (No  3.<>  vol.  das  Memorias  da  Aca- 
demia^ píJtet.^) 

II.  Discurso  histórico  pronunciado  na  Academia  das  Sdencias  de  Lisboa 
em  24  de  junho  de  1812.  (No  mesmo  volume  e  parte.) 


^  Elogio  Histórico  recitado  por  Francigco  Manoel  Trigoso  de  Aragio  Morato  na  as- 
sembléa  publica  da  Academia  Real  das  Sciencias  a  H  de  junho  de  1815.  -^  Metnoriat  da 
Academia,  toI.  4.* 


508  MU 

Ul.  Memcrria  sobre  a  tilteralura  portugitaza,  trnduzida  do  ingtez  com  no- 
tas iUusIradoras  do  texto,  por  1.  G.  C.  M. 

É  Lraducção  de  um  Ensaio  estcriplo  pelo  historiador  e  poela  inglez  Robert 
Soutbey,  o  publicado  em  Londres  do  Qitai-lerleg  Beview  de  m&ío  de  1809.  ObrA 
de  qoe  parece  haver  ama  edição  impressa  em  (lamburgo  ho  mesmo  anno  de 


938)  UUNOH  (ERNEST  ERHES  JOSEPH  D£}.— Historiador  alle- 
mào-  Nasceu  em  Rheinfeldeu,  em  outubro  do  anno  de  1796.  < 

%.—GTKndzuge  der  GeschklUe  de  Teprar.sentaUjsijstems  ín  Portagai.  Leip- 
sick,  1827.  (Historia  do  govenio  representativo  em  Portugal.) 

oao)  SUINOZ  (FEANCISCO).— Proionotario  apostólico,  examíoador  y 
Iboologo  de  ta  nunciaiura  de  Espana.  Nasceu  em  Granada. 

E.—FuiiictUo  áureo,  tríplice  indissoluble  el  muy  alto  y  poderoso  snor  di- 
çniisimo  rey  de  Portugal,  el  mvictissimo  emperador  siempre  augtulo,  p  ala 
escetea  magestad  calhotica  rey  de  Espana,  y  at  sacro  epithitíamio,  nupeiaUt 
ttas,  real  himeneo  de  la  princesa  de  Espana  tmestra  seUora  la  íerenissitaa  m> 
«ora  D.  Mariana  Victoria  con  el  sei'eiátsÍ7ao  siempre  máximo  seiior  D.  Joseph 
príncipe  dei  Brasil,  y  la  screnissima  seiiora  Dona  Mana  Barbara  Gloria  de 
Portugal,  honor  dei  Áustria,  con  el  sereníssimo  senor  príncipe  de  Astúrias,  Do» 
Fernando.  Cante  Europa,  compitiendole  profusos  ijosos  a  la  reai  casa  de  Cot- 
titia;  sea  indice  de  tanta  universal  alegria  la  i]ae  ai  glorioso  aombre  dei  ser»-  ' 
nissimo  jirincipc  dei  firiuit  consagra  iin  ingtmio  andaluz,  que  prostrado  asut 
reala  plaiUai  le  feUcita  y  adora  El  U.  D.  Lisboa  Occidental,  eu  la  patrfar- 
cftl  impresEion  de  la  Uusica.  Ano  de  17S7.  Esta  obra  em  4.*,  de  267  pagina, 
é  (dlereeída  a  el-rei  D.  João  V. 

930}  NOÍÍOZ  <D.  LDIZ). 

E — Vida  de  fray  BarOtolimeu  dos  MaHyret.  Uadrid^  1645. 

931)  HDBFEY  (JAUEB  OAVAHAH).— Antiqaario  e  archilecto-iagleL 

Nasceo  nii  Irlanda,  e  ralleceu  no  amio  de  1816.  * 

E.— 1.  Traceis  m  Formigai  Ihrough  tke  provincei  of  ErOre-Dowro  e  l^aka, 
Bàra,  Estremadura,  and  Alem-Tejo  ín  the  year*  1789  atui  1790.  Cotui$titiç<^ 
obtenalions  cm  the  manners,  custom»,  trade,  prd>lic  Bwídings,  artt,  tmtíq^d- 
ttesetc.  oftkatKingdom,by-—.  Arc^ect.Illustratedwithplatei.LimàmPrin- 
ted  for  A.  Slr<Aan  and  T.  Cadell  Jun.  and  W.  Davies.  179S.  Foi.  311  pag. 

Ê  uma  das  mais  notáveis  obras  que  -  se  publicaram  no  século  passado  a 
respeito  do  nosso  paiz,  c  por  mais  de  um  motivo  devemos  ser  gratos  á  memo- 
ria do  architecto  Murpby.— Este  livro  é  dedicado  a  D.  João  VI,  eolão  príncipe 
do  Brasil. 

<  Vapereau  —  DUtionnaire  da  Contemp»rains,  pag.  1310. 

*  Fírnín  Didol  —NouveUe  Biographie  VniteneU»,  lol.  86.°,  pag.  lOUL 


MU  809 

cO  motivo  qae  impellía  o  anctor  a  escrever  esta  obra.  foi  o  seguinte :  A 
maior  parte  dos  viajantes,  que  até  aqoi  teem  obsequiado  o  mundo  com  suas 
observações  a  respeito  de  Portugal,  representam-n*o  como  um  campo  estéril 
e  inbospitaleiro  para  informações,  sem  lhe  concederem  o  possuir  apenas  um 
único  objecto  digno  de  fixar  a  attençao  do  pbilosopbo,  do  antiquário  ou  artis- 
ta; e  na  realidade  o  conteúdo  de  suas  paginas  parece  confirmar  a  represen- 
tação. 

«Gomtudo  não  me  consentirá  a  verdade  que  eu  apresente  a  mesma  apolo- 
gia pela  falta  de  assumpto  interessante  n'esta  obra;  se  ella  não  co  rresponder 
ao  fim  proposto,  não  devo  a  falta  ser  attribuida  áquelle  fértil  paiz,  mas  á  ca- 
rência de  talento  ou  industria  da  minha  parte. 

«Uma  nação  outr'ora  celebrada  em  todos  os  ângulos  do  globo  por  suas 
descobertas  e  conquistas,  que  abundam  nas  mais  valiosas  producções  mine- 
raes  e  vegetaes,  que  tem  um  commercio  da  maior  extensão  e  importância,  e 
possue  muitas  das  mais  valiosas  colónias  no  globo,  deve  fornecer  uma  innu- 
meravel  serie  de  objectos  para  a  consideração  do  historiador,  naturalista  e  es- 
tadista.» 

O  escriptor  sahiu  de  Dublin  a  27  de  dezembro  de  1788,  a  bordo  de  um  na- 
vio mercante,  e  dezoito  dias  depois  entrou  a  barra  do  Douro. 

cAs  margens  do  Sul  do  Douro,  tanto  quanto  a  vista  pôde  alcançar,  são 
matisadas  com  conventos  e  casas  de  campo,  retiro  durante  o  verão  dos  habi. 
tantes  ricos.  As  alamedas  e  jardins  que  as  acompanham  produzem  um  effeito 
encantador  nos  olhos  do  visitante  do  Norte,  ^  em  quanto  os  vendavaes  do  in- 
verno não  as  teem  despojado  de  sua  verdejante  folhagem.  A  laranjeira,  que 
pôde  com  justiça  ser  considerada  como  emblema  da  gratidão,  aqui  excede  em 
bellesa  tudo  o  mais.  A  lindeza  da  paizagem  e  a  serenidade  do  ar>  quando 
comparadas  com  as  arvores  nuas  e  agudos  vendavaes  do  paiz,  d'onde  parti- 
mos ultimamente,  tomava  a  transição  encantadora. 

«Fomos  visitados  pela  alfandega,  e  com  justiça  devemos  declarar  que  cum- 
priram seu  dever  com  tanta  polidez,  que  mais  parecia  uma  visita  de  amigos, 
do  que  uma  pesquisa  official.  Aquelles  que  teem  observado  as  visitas  dos  em- 
pregados das  alfandegas  inglezas  em  similhantes  occasiões,  difflcilmente''acre- 
ditarão  que  tão  grande  urbanidade  exista  entre  homens  d'aquella  classe.  O 
ultimo  marquez  de  Pombal,  na  sua  chegada  como  embaixador  á  côrle  britan- 
nica,  foi  tão  grosseiramente  tratado  por  um  grupo  d'aquella  gente,  que  o  im- 
pressionou sempre  depois  com  uma  idéa  desfavorável  da  execução  das  leis 
aduaneiras  n'este  paiz.  E  suppõe-se  geralmente  que  esta  circumstancia  ope- 
rou como  causa  dos  regulamentos  que  elle  depois  estabeleceu  relativos  ao 
commercio  de  vinhos  do  Porto,  regulamentos  não  muito  favoráveis  aos  inte- 
resses da  feitoria  britannica  d*aquella  cidade. 

«Depois  da  visita  da  alfandega,  estivemos  á  espera  da  do  medico»  mas  por 
se  achar  doente,  mandou  um  substituto  para  fazer  suas  vezes.  Este  illegitimo 
filho  de  Esculápio  mandou  que  todas  as  pessoas  a  bordo  apparecessem  no 

1  Murphy*i  Traveis  in  Portugal^  pag*  S. 


lia  teilttki  jnoáMM:  Ai-ttMBfltaMMhi)  tMOM  Imiâ  ifti  mêêêêOjêêêêboêIêêê  WP 

lâiii  lasoiítt 0  fifeiAa  mIm  <€Oitit  ibiiiob  Meu* Hft-  itÊíaMiá  Mii^' 
tiwnnwitaiitx  flwwiiiíihi  ii*nm  tniriiii 

k  jMtjOOlpiiiHflíi^  IIibAmmí  dlnvviift  pi^ 

ItBliihJif  ^  tfiWhfli  é»  i0inln»'iÍt'4iÍBttv»4iu|»iaM^ 

<i^Briooi^  6ie>.ipnitMiiiroÍ!gitiMfcJ».defc^^  Oofcftéatrti— lei 

pjyaggffl^ieeni  altia^jiniirii  ■!•  t§lÊm* 

nÊÊkúú  iiÉimdni  iTMitocii  &'iilft4idiifl  MKaÉMaitiliMuiii  ttMift(«HiuAMa 


tUo  >ÊÊBÊit!SÊtBÊBÊL  é  tHrtiiladt  mt  nwltiii  Wêêêê  imi  ilili,  unilfi  idlwfcfiB  inr 
reeçio  de  desenho  e  poraia  de  colorido,  qoe  indicavam  lalemos  nio  if«l|a» 
ree.  Todavia  asseveroa-me  que  difflcilmente  podia  sair  da  mlaería^  apesar  de 
pintar  quanto  se  lhe  apresentava,  desde  a  taboleta  até  o  apostola 

•Uma  senhora,  que  por  muitos  annos  residia  no  Porto,  rafeire  a  segoinlo 
anecdota  de  um  negociante  d'aqaeUa  cidade  que,  toicionando  fmhsMmar 
seus  aposentos  com  pinturas,  dirígiu-se  para  este  fim  a  Glama,  qae  por  acaso 
tinha  n'aquella  occasião  alguns  quadros  antigos  e  valiosos  para  vender  por 
mn  preço  muito  moderado :  mas  o  negociante,  que  era  melhor  joii  do  somo 
da  uva,  que  do^pincel,  ficou  estupefacto  quando  elle  lhe  pediu  viole  moedas 
por  um  Gorregio,  e  respondeu :  «Que  pouco  antes  linha  comprado  pela  mas* 
ma  quantia  dois  quadros  novos  de  maiores  dimensões.» 

«Glama  foi  um  dos  artistas  «npregados  por  William  fiuslon  (kMiyBgM& 
para  fazer  desenhos  e  esboços  de  antiguidades  durante  sua  viagem  em  For- 
tugal,  os  quaes  podem  ser  vistos  na  valiosa  collecçào  d'este  cavalheiro  eofire 
seus  papeis  relativos  a  Portugal. 

«O  edificio  da  feitoria  ingleza  está  quasi  completo.  O  risco  ó  do  coosiii  in- 
glez  William  Whitehead.  No  alto  deve  ser  coUocada  uma  estatua.  Deveriamos 
suppôr  que  n'um  edificio  conmiercial,  como  este,  tomando  o  paia  em  eooside- 
raf^,  uma  estatua  do  principe  Henrique,  o  pharol  da  navegaçio,  e  a  origen 
do  conunercio,  não  deixaria  de  vir  a  propósito. 

1  liurphy't  TrawUin  Portugal,  pag.  9. 


MU  5„ 

i€begaei  finalmente  á  Batalha  a  29  de  janeiro.  A  vista  do  mosteiro  re- 
compensaria amplamente  uma  viagem  mais  longa,  e  até  menos  agradável,  do 
qoe  acabava  de  fazer,  ^  e  o  qae  realçava  o  prazer  da  vista,  era  a  sna  inespe- 
rada appariçao,  n^oma  hora  em  qne  o  sol  se  punha,  e  cada  torre  estava  doi- 
rada com  o  brilho  de  seos  descendentes  raios.  As  trabalhosas  espiraes,  co- 
rocbens  gigantes,  e  janellas,  soas  profundas  e  projectantes  sombras,  a  solidão 
siberiana  do  logar  e  a  venerável  appariçao  dos  frades  tomavam  esta  uma  das 
mais  maravilhosas  scenas  qne  jamais  observei. 

«A  architectnra  da  Batalha  pôde  ser  justamente  considerada  como  um  dos 
mais  bellos  e  perfeitos  specimens  que  existem  d'aquelle  estylo.  'Nao  observá- 
mos na  construcçao  da  egreja  nenhuma  d'aquellas  insignificantes  e  supérfluas 
esculpturas  que  muitíssimas  vezes  sao  bem  numerosas  em  outros  edíficíos  go- 
thicos.  Todos  quantos  ornatos  ha  empregados  n'elle  estão  escassa,  mas  judicio- 
samente dispostos,  especialmente  no  interior,  que  é  notável  pela  sua  singeleza 
pura  e  nobre;  e  o  efl^eito  geral,  que  é  grandioso  e  sublime^  deriva-se  não  de 
alguns  embellesamentos  meretrícios,  mas  do  mérito  intrínseco  do  desenho. 

<As  formas  de  ornatos  das  cornijas  são  também  dífférentes  das  de  qual- 
quer outro  edifício  gothico  que  eu  em  tempo  algum  tenho  visto.  Teem  uma 
tal  correcção  e  regularidade,  que  são  evidentemente  o  resultado  de  um  dese- 
nho original  bem  concebidO)  e  sendo  também  evidente  que  este  desenho  foi 
immutavelmente  seguido  e  executado  n'uma  progressão  regular,  sem  aquellas 
alterações  e  interrupções  às  quaes  edifícios  tão  amplos  estão  sujeitos. 

■Em  tudo  quanto  diz  respeito  ao  ornato  e  elegância,  a  porta  principal  da 
egreja  não  tem  rival  em  qualquer  outro  edifício  gothico  da  Europa.  Pelo  que 
toca  á.  construcçao,  a  casa  do  capitulo  pôde  ser  considerada  como  uma 
obra  prima  de  architectnra.  Do  mausoléu  de  el-rei  D.  Manuel  nem  a  penna 
nem  o  lápis  são  sufficientes  para  exprimirem  os  reaes  me^imentos  de  seus 
lavores.  Se  este  mausoléu  estivesse  terminado,  o  mundo  moderno  poder-se-hia 
ensoberbecer  de  um  jasigo  etn  grandeza  e  construcçao  não  inferior  ao  famoso 
mausoléu  dos  antigos,  e  a  memoria  da  rainha  D.  Leonor,  a  quem  alguns  at- 
tribuem  a  fundação,  seria  transmittida  à  posteridade  com  tanto  applauso  como 
a  de  Artemísia.  E  mesmo  no  presente  estado  pôde- se  dizer  d*elle  o  que  os  ju- 
deus diziam  do  de  Judas  Bfachabeu,  que  nunca  estava  sem  visitantes  para  o 
admirarem. 

Também  n^esle  mosteiro  está  o  tumulo  do  infante  D.  Henrique.  Este  parece 
ter  nascido  para  felicidade  do  gonero  humano.^  Nascido  para  o  livrar  do  sys- 

^  Murphy'g  TraveU  tn  Portugal^  pag.  9i. 

*  Idem,  idem,  pag.  6t.  Morphy  tece  D*e8la  obra  of  maiores  elogios  ao  procedimento 
enQgelvco  dos  frades  dominicanos  doeste  mosteiro  da  Batalha. 

O  nosso  Fr.  Francisco  de  S.  Luii  (Memoriat  da  Academia  dat  ScieMcias^  tomo  10.* 
pag.  180)  é  bem  rigoroso  para  com  Hurphy  por  algumas  inexactidões,  que  oomaetteuno 
litro  das  Viagens  em  Portugal.  «!.•  Nem  perto  nem  longe  da  entrada  às^  ^reja  se  acha. 
nem  esteve  nunca  sepultura  aliçuma  dos  mestres  das  obras,  com  inscrípçSo  que  assim  o 
indicasse,  senão  somente  a  de  Hatheos  Fernandes.  2.*  Que  mal  se  pôde  contar  Matheus 
Fernandes  entre  os  primeiros  mestres,  quando  o  próprio  Hurphy  escrefe  adiante  do  sea 


«>  MU 

lema  feadal,  e  p:ira  dar  ao  munda  inteiro  Utiaa  as  vml^geDs,  U>úa  &  ha  qaa 
toisa  possível  díffundir  por  meio  de  am  commercio  sem  limiles.  O  espirito  da 
navega;^,  qae  até  enlào  tinha  adormecido  sobra  o  Oc«aiio,  debaixo  de  seus 
auspícios  abria  suas  azas  e  procurou  as  mais  remotas  praias.  Em  Sagres,  co- 
mo o  grande  Newton,  viveu  em  perpetuo  celibato,  cultivando  todas  as  scien- 
cias  nobres.  A  elie,  como  primeiro  auctor,  sào  devidas  Iodas  aa  ínesLimaveis 
vantagens  qne  (eem  dimanado  e  bão  de  dimanar  da  descoberta  da  maior  parte 
da  Africa  e  das  libas  Occideutaes.  Que  comparado  ha  entre  um  Alexandre 
coroado  com  Iropheos  á  Trento  de  seu  exercito  e  Henrique  contemplando  o 
Oceano  do  uma  janella  do  alto  de  um  rocbedo  em  Sagres?  Este  pbarol  da  na- 
vegação tem  sido  celebrado  por  todos  os  poetas  e  bistoriadores  de  todas  u 
nações  europeas.* 

•O  nosso  Thompson  canta  eslc  celebre  príncipe  nos  seguintes  verãos : 

For  theu,  Trom  aacient  gloom  emerg'd 
Tbo  rising  world  o[  trade :  lhe  Genius,  then, 
Of  Navigalion,  that  in  bopeless  slolh 
Uad  Iumber'd  on  the  vasl  Atlantic  deep ' 
The  LcaiTANiA»  PniNCK,  who  Heaven-inspired, 
To  love  of  usefui  glory  rous'd  mankínd, 
And  in  unbounded  commerce  mixt  Ibo  world. 

•Da  fundação  do  convento  de  Alcobaça  data^  a  íntroductão  em  Portugal  ^ 
da  architeclura  chamada  Moderna- normand a -gothrca.  A  egreja  ó  inteira- 
mente constmjda  n'este  estylo,  exceptuando  a  frontaría  qne  ddu  pwa  pcwBle. 
Hni  poucu  possuem  aquetla  grandesa  do  effeitD  peculiar  ao  interior  das  egre- 
Jas  gothícas,  qne  esta  possuo  n'um  alto  grau.  Esta  egreja  â  um  dos  mais  anti- 
gos specimens  do  moderno  nonnando-gothico  na  Enropa,  e  talrac  o  maisna- 
gniOeo  do  antigo  período  em  que  foi  fundada.  A  e^tella  dos  noriçoa  eaolán 
uma  du  mais  bellas  eoUeoçSea  de  qttadroa  qoe  extitem  em  iodo  o  reàiQt*  • 

Bone  a  anu)  de  151B,  em  qne  d&  verdide  bneceu,  e  que  era  o  anno  118  aa  lU  da  fi^ 
da{(a  do  mosteiro.  8.'  Qoe  nSo  ba  fandimeuto  algim  para  le  dim  qt»  BettreCeagtaU 
a  louiie  Conrtdo  fousm  mestres  das  obres,  t.'  Qoe  dSo  ha  em  puta  tlgun  Mlfela  i» 
mestre  Ugstdo,  nem  de  meilre  WJIacker;  e  m  Hnrphj  qoit  dwi^ar  OagiMt  ftt  ttfjU», 
e  Boataca  por  Witaker,  nem  anim  é  verdadeire  a  tna  noUeia;  porque  BMStn  OigMt  Eá 
em  realidade  mesire  du  obras,  e  nlo  da*  vidrajas ;  e  mestre  Bontaca  nan  é  cettt  Isr 
lido  Bilrangeiro,  antes  com  fundamento  o  temos  por  portagaei,  nem  mbsU  qne  Imn 
fflastrs  das  obras  on  das  Tídracai,  ele.  Por  aqui  se  Iara  jniio  do  credíLo  qne  no*  der^ 
mereur  o*  estrangeiras  qnaodo  tratam  de  nossas  coisas,  e  quando  coaflando  (ao  qne  p>- 
rece)  na  nossa  igooraocía  oa  na  nossa  negligencia,  e  qna^i  indiffereoça,  boi  diicm  bisi- 
dades  e  absurdos  sobre  aqniDo  mesmo  qne  lemos  aos  nossos  olhos,  e  qne  facilmeate  po- 
demos eianínar.* 

■  VurpAy'1  Traitlt  ia  Potlvgal_  pag.  69. 

'  Idem,  idem,  pig.  90. 

*  Hurpbj  tnt  ■'esta  logar  una  dascripçu  mui  ninnciosa  do  awilairv. 


MU  513 

Alcobaça  é  uma  das  mais  ricas  e  magnificas  institaiçues  do  seu  geoero  não 
s<')  cm  Portugal,  mas  em  toda  a  Europa.  E  aquelles  que  declamam  contra  sua 
opulência,  fariam  bem  de  se  informarem  se  existe  algum  fidalgo  ou  nobre  na 
Europa  que,  possuidor  de  rendimentos  eguaes  aos  d'este  mosteiro,  espalhe 
tantos  benefícios  por  seu  próximo,  como  os  frades  de  Alcobaça 

«Nossa  attençâo  foi  despertada  pela  apparição  da  cidade  de  Lisboa,  que  gra- 
dualmente vae  subindo  da  margem  do  rio  com  toda  a  magnificência  da  ri- 
queza e  da  grandeza.  ^  Quando  pensamos  sobre  as  vantagens  que  Portugal 
gosa  relativas  ao  commercio,  por  causa  de  um  tão  magnifico  rio  e  commodo 
porto,  tão  felizmente  situado  para  o  commercio  com  o  hemispberio  oriental  e 
Occidental,  nâo  podemos  deixar  de  nos  espantar  como  Lisboa  nào  é  superior 
em  riquezas,  grandeza  e  população  a  todas  as  capitães  europeas. 

«A  estatua  equestre  de  D.  José,  no  Terreiro  do  Paço,  ó  um  trabalho  de  um 
mérito  que  nâo  deve  ser  despresado.  Quando  consideramos  o  misero  estado 
das  artes  em  Portugal  e  a  difficuldade  de  executar  uma  tão  magnifica  estatua, 
devemos  concordar  em  que  grande  louvor  se  deve  aquelles  que  dirigiram  a 
execução  d'ella.  O  grupo  do  Norte  principalmente  possue  grande  gosto,  deli- 
cadeza e  espirito. 

«O  zimbório  da  egreja  da  Estrella  é  magnifico.  No  que  diz  respeito  á  exe- 
cução tem  grande  merecimento,  mas  não  é  para  admirar,  pois  onde  podere- 
mos nós  encontrar  tão  excellentes  canteiros  como  em  Portugal?  Na  Europa 
talvez  não.  A  verdade  porém  não  permitte  que  digamos  outro  tanto  relativa- 
mente aos  architectos.  ^ 

«O  cemitério  dos  Cy prestes  foi  concedido  aos  inglezes  em  i655  em  virtude 
de  um  tratado  de  alliança  entre  Portugal  e  Inglaterra  na  tempo  deCromwell. 
N'este  cemitério  jazem  os  restos  do  famoso  Henrique  Fielding;  mas  sinto  ter 
que  dizer,  sem  um  monumento,  ou  algum  outro  obsequioso  signal  de  distinc« 
ção  digno  de  seus  grandes  talentos  e  virtudes. 

«Em  1786  o  cavalheiro  St.  Mark  de  Meyronet,  cônsul  francez  então  resi- 
dente em  Lisboa,  tinha  um  pequeno  monumento  para  aquelle  fim,  feito  á  sua 
custa,  que  actualmente  se  conserva  no  claustro  do  convento  de  S.  Francisco. 
Porque  não  foi  admittido  no  cemitério  inglez,  não  sei;  mas  aquelles  que  o  ex- 
clmram  certamente  se  justificaram  por  mais  do  que  uma  rasão.  Em  primeiro 
logar  como  monumento  é  de  um  risco  muito  despresivel.  Em  segundo  o  epi- 
taphio  é  desapropriado  e  não  poético.  Em  terceiro  parece  ser  feito  antes  por 
vaidade,  do  que  gratidão;  antes  para  se  honrar  a  si  mesmo  e  a  seu  paiz,  do 
que  para  perpetuar  a  memoria  de  Henrique  Fielding : 

EWGÉ  EN  1786  Á  HENRI  FIELDING,  MOKT  EN  1754 

Sous  ces  cyprès  charniers,  parmi  ces  os  muets, 
Tu  cherches  de  Fielding  les  restes  mémorables; 

*  Murphifs  Traveis  in,  Portugal^  pag.  13i. 
A  arcbileclura  do  tofuplo  éceusurada  por  Murpby,  pag.  109-170. 

TOMO  l  33 


MC 

De  la  mort  et  du  temps  deplore  les  eDet?, 

Ou  deteste  plulõt  l'oubli  de  ses  semblables. 

lis  élèveot  par  toul  des  marbres  fastueux, 

Ua  bloc  reconnoíssant  ict  oiaDque  á  les  vibuXi 

El  ton  pas  incerlain  craÍDl  do  fouler  la  cendre, 

Sur  laquelle  tcs  pleura  chercbent  ã  se  répaodre. 

Vieillard,  qui  'lélruis  loat  dans  an  profoad  silence, 

Ne  dlssDOs  poÍDl  ce  marbre  á  Píelding  consacré! 

Uu'aux  siécles  ã  venir  il  arrive  sacré 

Pour  rboQueur  de  mou  nom  et  celuí  de  la  Fraace! 


•Perto  das  margeos  Jo  Tejo  eslá  situado  o  magnifico  convento  e  egreja  de 
Belém.  O  c-avalbeJro  Frezier  lu  uma  respeitosa  menção  da  abobada  d'e9ta 
egreja,  e  ninguém  conbe<;o  mais  competente  do  que  elle  em  assumptos  d'esta 
qaalldade.  Diz  pois :  lOa  pent  remarquer  dans  les  aDcJeoDes  egiíses  golbiques 
une  varieté  admirable  de  uompartitnensi  ce  que  j'ai  vú  de  plus  beau  et  de  mieax 
eiecuié  dans  re  genre  au  Honasière  de  Beihleem,  est  auprès  de  LísbooBO, 
en  Portugal  tani  ã  l'eglise  qn'au  cluítre,  oú  la  pluparl  des  nervares  sout  de 
marbre.  >  O  claustro  annexo  i  egreja  apresenta  excelleules  specimens  de  or- 
DNtos  arahesra";  são  desenhados  com  bastante  gosto  e  pbantasia,  e  executadoc 
eoin  cuiilado.  O  aqueducto  de  Lisboa  pôde  também  ser  coosiderado  como 
mo  dos  monumentos  mais  magníficos  de  constracçào  moderna  na  Europa :  a 
emqnaato  a  tamanho  não  é  inferior  talvez  a  qualquer  aqueduclo  que  os  anti- 
gos nus  [eriliam  deixado.  Aqn<-lla  parlo  iM)astruida  uo  valie  de  Alcântara  é  de 
Diiia  conslruci;ão  adiiiíraTel.  Uina  prova  de  stna  solidez  é  qne  nenbtuna  injoria 
reci^bí-u  ilo  terremoto.  * 

<Do  cirro  menciono  O  bispo  de  Beja, cuja  piedade  e  instruecSo  fariam  honra 
aos  si-culus  apostólicos  ou  de  Augusto :  o  abbade  Corrda,  capellão  do  duqoe 
de  Latões  e  o  padre  Sousa,  auctor  de  alguns  irabalbot  reltíivoa  á  língua  ará- 
bica. Ha  outros  homens  de  um  talento  eminente  entre  o  cloro,  mas  eseondidoe 
em  soas  cellas. 

DESCKIPÇÃO  DE  CINTRA 

Cintra,  whose  mountains  seek  ttie  skleS) 
Thy  vallies  decl('d  in  liviag  greoo; 
Tby  Sowrets  rob'd  in  varymg  diea, 
Witb  grottos  rorm'd  by  Fanc/s  queen. 
BefreshJng  rílls  tbat  never  Tail, 
Wheu  Phsbus  sboots  bis  biightest  beams; 

»  Jfurjifcv"»  TrtaieUt,  pag.  175. 

I  A  f»f.  181  c  181  «ocootra-ne  uma  dMcrípçlo  doe  baiMfiCL<M  prodiuiilM  palu  na- 
ta» UMí  dit  )li>«r'Cordía,  6  ttimliia  psr  «tM  pal«Tr»:  •DoujtniDe  NDceraoeite  |W 
tllu  M  propaguem  por  leda  a  part«,  «  sejam  «Anente  conlidu  peloí  linilw  d<  globo.- 


MU  515 

Whilot  balmy  odorous  lead  eacb  gale, 
And  noddJDg  fraits  sarvey  the  streams. 
Here  Zepbyr  courts  eacb  opening  flower, 
And  birds  tbat  cbarm,  of  every  soDg; 
Here  echo  dwells  in  mary  bower, 
And  love  tbat  lisls  tbe  wbole  nigbt  long.  ^ 

cEm  Mafra  ba  algumas  estatuas  muito  bem  feitas.» 

Eis  a  traducção  d'algumas  das  passagens  mais  notáveis  de  uma  obra  que 
em  geral  faz  os  maiores  elogios  às  nossas  coisas,  e  que  foi  traduzida  em  fran- 
cez  por  Lallemant  (Paris,  1797),  e  em  allemão  por  Sprengel.^ 

As  interessantes  estampas  que  adornam  o  original  ingjez  são  as  seguintes : 

1.*  Feitoria  inglpza  no  Porto— 2.*  Estalagem  dos  Carvalhos  nas  proximida- 
des do  Porto— 3.*  Vista  da  egrt»ja  da  B.Ualha — 4.*  Plano  geral  de  Lisboa  em 
1783— 5.*  Vista  das  principaes  ruas  modernas  em  Lisboa— 6.*  Vista  da  alfan- 
dega e  praça  do  Commerrio  de  Lisboa— 7.*  Inscripçào  árabe  da  peça  de  Dia 
em  LÍ!tboa— 8*  Inscripçòes  romanas  existentes  em  Lisboa— 9.*  Uma  campo- 
nesa do  Alemtejo,  uma  vendedéira  ambulante  de  fructa  em  Lisboa,  e  uma  mu- 
lher da  Beira— 10*  Um  negociante  portuguez  com  sua  mulher  e  criada— li.* 
A  dança  chamada  fandango— it.^  Vista  de  um  antigo  banho  em  Cintra— 13.* 
Copia  de  uma  inscrípçao  em  língua  sanskrita  existente  em  Cintra— i4.%  15.* 
e  iH.«  Fragmentos  de  antigualhas  romanas  achadas  em  Beja  e  Évora— i7.« 
Aqueducto  de  Sertório  em  Évora— i8.*  Vista  da  mãe  d'agua  de  Sertório  em 
Évora— i9.*  Vista  do  templo  de  Diana  em  Évora— 20.*  e  21.*  Inscripções  do 
tempo  dos  romanos  em  Évora— 22.*  Inscripções  em  latim  existentes  em  Evo- 
rá— 23.«  Copia  de  uma  inscripção  árabe  em  Évora— Vista  interior  da  capellá 
dos  ossos  em  Évora. 

•         • 

Uma  outra  obra  escreveu  Murphy  a  respeito  do  nosso  paiz,  a  qual  tem  o 
seguinte  título : 

11. —A  general  wiew  of  the  State  of  Portugal,  contcUning  a  topographical 
description  thereof.  In  wfUch  are  included,  an  account  of  the  Physical  and  Mo- 
ral State  of  the  kingdom;  together  with  observations  on  the  animal,  vegetnble, 
and  mineral  productions  of  it$  colonies.  The  whole  compiled  from  the  be$t  Por- 
tuguese  Writers,  and  from  nottces  obtained  in  the  Cuuntry  by  — .  Illustrated 
with  plates,  Lundon,  1798.  4.«  gr.,  272  pag. 

Este  livro  é  dedicadp  a  D.  João  d'Almeida  de  Mello  e  Castro,  ministro  ple- 
nipotenciário de  Portugal  em  Inglaterra.  Trata  da  biographia  dos  reis  de  Por- 
tugal, e  dos  portuguezes  mais  notáveis,  do  nosso  commercio,  marinha,  agri- 

<  Murphy't  Travellt,  pair.  257.  Segue  a  biographia  de  D.  Jo2o  de  Castro,  que  occupa 
def>de  pag.  259  ate  273.  Principia  enlAo  a  noticia  do  monumento  sanskrito  existenie  na 
qniota  da  Perha  Verde  em  Cintra,  e  na  tradocçâo  feita  por  Mr.  Wilkins. 

'  Firmin  Didot  —  JVotireW«  Biographie  Univcrsettef  vol.  36.",  pag.  1021. 


SIC  MU 

cultura,  clc-,  mas  dSo  aprosonta  pitíisagcm  nDlavol  quo  mereça  especial  meo 
çâo.Ê  cDriqDccida  com  as  seguintes  estampas: 

1.*  Estatua  equestre  de  D.  José  em  Lisboa— 3.'  Vista  da  bahia  de  Lbboa 
—3.'  Soldados  portugueies— 4,*  Vista  do  inierior  de  uma  casa  poringuegtar— 
S.'  Camponezes  portUBueies— fi,'  Um  fidalgo  em  jornada— 7.'  Um  frade  i!  uma 
freira— 8.'  Carro  puxado  a  Itois— 9.*  Viagem  em  lileira— 10-*  A  filha  d«  um 
lavrador  iudo  para  a  feira  de  Leiria— ii  •  Um  correio  de  Lisbna  para  o  Porto 
— 13.',  n.'  s  li.'  Vistas  de  touradas— IS.'  Vista  da  cidade  o  nnivorsiUade  de 
Coimbra— !6.*  Mappa  de  Portugal. 


A  obra,  poriam,  mais  importante  relativa  a  Portugal  è  a  magniUca  colloe- 
(ão  das  vistas  da  egreja  e  mosteiro  da  Bataliu,  obra  que  importou  om  mala 
de  mil  libras,  o  foi  publicada  á  custa  Ue  William  CouyDgÍjam.  Sou  titalo  é  o 


UI.  Plans,  eletation»,  seclioní  and  vincs  of  tke  Cordt  nf  Batalha,  m  Ihr 
province  of  Estremadura  m  Portugal,  uȒfl  the  Uiitory  anil  ikscriptian  by  Fr. 
Luiz  de  Sousa,  iciíA  retnarki.  To  which  i»  prensa  aft  hilroducloty  discourse 
on  tbê  principies  of  gotliic  archrtceture  by  ~,  illiulrated  icííA  37  plaíes.  Loa- 
doD.  Printed  for  1  aad  J.  Taylor,  Higb  Holbom.  1793.  Foi.  muimo.  e  obraia- 
qnestionavelmeote  monumental,  dedicada  a  Wílliam  Cooyngham. 

<0  real  mosteiro  da  Batalha  é  um  ediScio  muito  pouco  conhecido,  se  bem 
que  a  oxcellencia  de  tua  arehileciura  jiislameule  o  liaijilila  para  ser  cJassíli- 
cado  entre  os  marsccicbrcsedidciosgoiaicos  dal£uropa.Hea  primeiro  conbe- 
eimento  d'esle  venerável  monumento  proveiu  de  ver  alguas  esboços  d'eUe  em 
poder  de  Wílliam  Conyngham,  desenhados  por  elle  mesmo  o  por  mais  dois 
outros  cavalheiros,  ■  que  viajaram  em  Portugal  no  anno  'de  1783.  Esles  esbo- 
ços, que  são  mui  boa  rcpreseniação  do  Origlual,  deram-me  tão  alta  jdáa  d'a- 
qaelle  monumento,  que  despertaram  em  mim  um  ardente  desejo  de  o  visitar, 
e  tendo-me  os  mencionados  cavalheiros  generosamente  offerecido  sua  protec- 
ção e  auxílio,  sai  de  Dublin  n'Qm  navio  mercante,  e  cheguei  ao  Porto  em  ja- 
neiro de  1789.  Depois  de  breve  demora,  puz-me  a  caminho,  e  passados  sete 
dias  cheguei  á  Balalba,  onde  fui  benignamente  recebido  pelo  prior  e  por  toda 
a  communidade. 

•Etas  o  outras  considerações  egualmente  interessantes  induiiram-mea 
medir  é  delinear  o  mosteiro  com  o  possível  cuidado;  o  que  completei  em  treia 
semanas,  dnraolc  o  qual  tempo  me  alojei  e  comi  no  convento.  ConsÍdero-me  fe- 
liz por  esta  occãsião  de  dar  meus  mais  sinceros  agradecimentos  ao  prior,  hos- 
pedeiro-mór  e  aos  demais  frades  da  Batalha,  pela  polidez  e  altenção  com  qne 
sempre  me  trataram.  A  piedade,  hospitalidade  a  simplicidade  d'cjtes  reve- 
rendos padres  diQlcilmenle  pôde  ser  Imaginada  n'úste3  degenerados  tempos: 
trazem  á  lumbrani:a  a  desiTipção  quo  os  historiadores  nos  apresentam  dos 

■  D  loiuuel  T.ií.iht  V  o  caiiiUu  btou^Ltou. 


MU  517 

christaos  dos  séculos  apostólicos :  sua  santidade  do  costumes  realça  a  digni- 
dade da  mansão  venerável  onde  habiíam. 

ASSUMPTO   DAS    ESTAMPAS 

!.•  Arcos  de  varias  espécies  — 2.»  Fragmentos  de  architeclura  golhica — 
3.«  Fragmentos  d'architectura  gothica— 4.*  Costumes  religiosos  do  século  xiii 
—5.*  Corte  transversal  da  egreja  da  Batalha—G.»  Plabo  geral  da  egreja  e  real 
mosteiro  da  Batalha— 7.»  Alçado  do  norte  da  egreja  da  Batalha,  com  o  mau- 
soléu nào  acabado  do  rei  D.  Manuel— Corte  longitudinal  da  egreja  da  Bata- 
lha—9.«  Alçado  do  arco  cruzeiro  da  Batalha— 10.»  Corte  da  casa  do  capitulo 
da  Batalha— 11.»  Alçado  do  norte  do  refeitório  da  Batalha— 12.«  Alçado  Occi- 
dental da  egreja  da  Batalha-  13/  Alçado  da  porta  principal— i4.»  Visita  in- 
terior da  egreja— io.*  Mausoléu  do  rei  D.  João  I— i6.»  Corte  do  mausoléu  do  rei 
D.  Joàol— 17.»  Effigies  do  reiD.Joào  I  e  da  rainha  D.  Philippa— 18.«  Entrada 
do  mausoléu  de  D.  Manuel,  o  Grande,  rei  de  Portugal.  Estampa  dedicada  a 
S.  A.  o  príncipe  do  Brasil— ID.»  Risco  para  completar  o  mausoléu  do  rei  D.  Ma- 
nuel—20.*  Arcos  pertencentes  ao  mausoléu  do  rei  D.  Manuel— 21.*  Ornatos  e 
motes  pertencentes  ao  real  mosteiro  da  Batalha— 22.«  Columnas,  ornatos  e  je- 
roglificos  do  mausoléu  de  el-rei  D.  Manuel— 23.*  Pilares  da  egreja  da  Batalha 
—24.*  Coruchéu  da  extremidade  do  norte— 2o."  Cancellos,  cornijas  e  meda- 
lhões arqueados— 26.«  Portada  do  volume  (no  principio)  — 27.»  Retratos  (no 
principio). 

932)  MURU  (CKRISTOPHE   THEOPHILE). 

E.'-'Geichtche  der  Jesuiten  in  Portugal  under  der  Verwalting  des  marquis 
von  Pombal,  Nuremberg,  1787-1789. 2  vol.  (Historia  dos  Jesuítas  durante  a  ad- 
ministração do  marquez  de  Pombal.) 

933)  MURR  (M.  DE). 

E. — Notice  sur  le  chevalier  Martin  Behaim  avec  la  description  de  son  glO' 
be  teirestre,  tradmte  de  rallemand  par  H.  J,  Jansen. 

934)  MURY  (Padre  PAULO  — ). 

Escreveu  a  vida  de  padre  Gabriel  Malagrida  em  francez,  de  que  nunca  pu- 
de encontrar  o  original,  mas  appareccu  traduzida  pelo  sr.  Camillo  Castello 
Branco  com  o  seguinte  titulo :  Historia  de  Gabriel  Malagrida,  da  Companhia 
de  JesuSy  apostolo  do  Brasil  no  século  xviii,  estrangulado  e  queimado  no  largo 
do  Rocio  de  Lisboa^  aos  21  de  setembro  de  i761.  Auctor  — ,  da  mesma  compa- 
nhia.  Trasladado  a  portuguez  e  prefaciado  par  — .  Lisboa.  i875. 

935):muS0NE.— Maestro  iulíano. 

E,— Camões.  Opera.— Foi  cantada  em  Nápoles  no  anno  de  1873,  e  em  Par- 
ma no  de  1874. 


936)  NACHRICHTEN  (EINIGE)  iwi  der  Portugiesischm  mde  iwn  BiU 
cliern  dií  itber  Portugal  gescríeben  siitd.  Frankrorl  an  der  Oder,  1779.  J 

937)  NAHHKJSTH  VON  PORTUGAL. -Francfort,  177Í,  i  vol.  M 

938}  NAHOUHTEN  von  den  Portugiezircken  Hofe,  ríc.  (Promenores  so- 
bre a  PÒrte  dp  Poriupal  e  adinínbiração  politica  do  conde  de  Oeiras.  Exirahi- 
do3  d'Lima  correspoadencia  original,  e  traduzidos  do  iagiei.  Prancfort,  1768. 8.* 

939)  NAHARRO  (BARTHOLOMEU  DE  TORRES).— Poeta  drami^ 
tico  bespanbol,  qae  vivia  no  século  xvi.  > 

E.—Trophea. 

É  um  drama  composto  em  bonra  das  glorias  poriugneus  no  tempo  d'el- 
rel  D.  Manuel,  representado  em  Roma  na  occasião  em  que  o  menrioDado  rd 
mandou  ao  papa  Leão  X  aquella  celebre  embaixada  tão  coabecida  ni  bisloríi 
d'este  monareba. 

940)  NAISSANOE  (LA)  d'un  monílre  ayaní  la  face  humame,  la  tête  et 
te  reste  du  corps  couvert  d'u7ie  armvre,  façon  dicailles,  né  à  Dsbomie,  vUU 
eapilaie  du  Portugal,  ie  lundi  10  avril  I62tt,«t  morl  le  (4  dumêmemoU,  at>ec 
let  noms  de  pére  et  de  la  nére.  Tradaít  de  Vespagnel  m  françaú-  Paris,  1638l 
16.*,  fuibelo.  (C.  H.  B.  1.  P.) 

941)  NANTES  (FR.  BERNARDO  DE)-— Capucbinbo  trancei,  e  mis- 
sionarío  no  Brasil. 

E.—Katccismo  Indico  da  tingna  knriris,  acrtscenlado  de  varias  praUcas 
doutrinaes  e  moraes  adaptadas  ao  génio  e  capacidade  dos  índios  do  Brasil. 
Lisboa,  por  Valeolim  da  Coíla  Dcslande?,  1709,  363  pag. 

'  Firmin  DJdnl. — JVouBcíIe  Biographie  UnircrstUt,  tomo  37.*,  pag.   130.  Trat  d(u> 

doscripçín  ilfípn  vol  vida  dn  Trophra. 


NA  3i9 

9i9)  NAPIER  (Admiral  CHARLES).— Vice-almirante  inglez. 

Nascea  a  6  de  março  de  1786,  e  fallecea  em  6  de  novembro  de  1860,  em 
Londres.  Como  é  sabido,  estpve  ao  serviço  de  D  Pedro  contra  sea  irmão 
D.  Miguel,  pelo  que  obteve  o  titulo  de  visconde  do  cabo  de  S.  Vicente.  ^ 

E.  —An  account  of  the  War  in  Portugal  between  D.  Pedro  and  D,  Miguel, 
London,  1836.  Foi  esta  obra  traduzida  em  portuguez  por  Manuel  Joaquim  Pe- 
dro Codina,  e  impressa  em  Lisboa  no  anno  de  1841. 

943)  NAPIER  (Str  WHJJAM  FRANCIS  PATRICK).— General  e  his- 
toriador inglez.  Nasceu  em  Castletow  (Irlanda)  no  anno  de  1785,  e  fallecea  em 
Giapham  no  mez  de  ft^vereiro  de  1860.  ^ 

E.  - 1.  Histoire  de  la  guerre  dans  la  PerUnsule  et  le  midi  de  la  France.  6 
vol.  Acabada  de  imprimir  em  1840.  Traduzida  em  francez  peio  general  Ma- 
thíeu  Dumas. 

IL  Les  batailles  et  les  sièges  des  anglais  dans  la  Peninsule. 

III.  A  letter  to  general  lord  Beresford. 

IV.  Reply  to  lord  Straford's  Observations.  On  some  passages  in  coUmel  Na- 
pier's  History  of  the  War  in  the  Península.  London,  1827. 

944)  NARBIN  (THOMAZ).— Negociante  francez.  Nascea  no  anno  de 
1540  em  Besançon,  e  falleceu  em  1610.  ' 

E,— 'Histoire  ghíérale  de  Portugal  et  des  Tndes  Orienfales,  Ensemble  les  der- 
niéres  guerres  des  portugais  contre  lesmaures  d' Afrique ^elVurdon  de  ceroyau- 
me  àla  couronne  de  Castille.  Ou  se  voit  plusieurs  batailles.  Traduite  de  l'tía- 
lien  en  français  par — .  Arras,  1617. 

Vejo  mencionadas  outras  duas  edições,  ama  em  Arras,  1600,  e  a  oatra  em 
Paris,  1680.  V.  Conestagio, 

945)  NARRATTVE  of  the  persecution  and  imprisonement  in  Portugal  of 
William  loung.  London,  1833.  (Noticia  da  perseguição  e  prisão  de—). 

946)  NAXARA  oa  NAJERA  (ANTÓNIO  DE).— Este  escriptor  é  con- 
siderado por  uns  como  hespanhol,  por  outros  como  portnguez.  ^ 

E  — Discursos  astrológicos  sobre  o  cometa  que  appareceu  emíS  de  novem- 
bro de  1618.  Lisboa,  por  Pedro  Craesbeeck,  1619.  8.<>  de  28  pag. 

947)  NAYLIES  (SIL,  DE).— Officier  saperieur  des  gardes-da-corps  de 
Monsiour,chevalier  de  Saínt  Louis  et  de  Ia  Légion  d'Honnear. 

E.—Mémoires  sur  la  guerre  d^Espagne,  pendant  les  années  180&-1809-1810- 
1811.  A  Paris,  18i7,  8.»  gr.,  338  pag. 

^  Fírmin  Didot.  Nouvelle  Biograpkie  Universelle^  vol.  37.*,  pag.  182. 

2  Idem,  idem,  vol.  37.«,  pag   179. 

>  Idem,  idem,  vol.  87.«,  pag.  162. 

^  Sr.  loDOceocio.— Dtcctonarto  BibliographicOy  tomo  L^  pag.  211. 


:m  ■  NA 

iKii  cnlrava  em  llmaii liando  u  meu  ri*Blmenif)  iralli  salii.-i  para  sciliripr 
w)  Minlio;  lomo  pusÍi;ão  i-iii  SuDla  Haiia  de  Coila,  perto  d»  HÍdIio,  rtu  1)00 
n'«3le  logar  separa  a  (ialUía  de  Poriugal- 

•  Ao  boato  do  nossa  aproximai;.^!)  os  sinos  [oearam  a  rubatn  por  toda  a 
parte  sobre  n  marguni  esquerda,  e  a  noite  foi  idaminada  com  uma  qoantidado 
immuDsa  de  fogueiras aL-ce^^as  pelas  bordas  do  Minho.  No  dia  IG,  ao  liospontar 
da  manliã,  avislámos  nmaebuscna  docamponezes  de  Portugal,  iguo  bordavam 
a  margem  oppusla.  Apesar  da  agua  aos  eaoUros,  o  Dumero  crescia  a. cada 
jDstanii?.  Cobertos  do  capotes  de  palha,  cuja  còr  so  courundia  com  as>  das  ro- 
chas, alguns  avançavam  ab^  entrarem  na  agua  o  aliravain  sobre  tudo  que  aa 
aproximava  do  rio.  Defronte  da  aldeia  de  Saiiia  Maria  de  Bidé  a  margem  me- 
nos escarpada  offerecia  um  logar  favorável  para  um  d<!9em!)arqiie.  Como  os 
portugueses  sabiam  que  linbamos  algumas  barcas  c  jangadas,  receíaram  nm 
movimento  sobre  este  ponto,  e  para  alli  se  dirigiram  cm  cbusma.  Lovaotaram 
uma  bateria  em  poucas  horas,  onde  assentaram  duas  peças  de  calibre  mui  pe- 
queno. Mais  de  quatrocentas  mulberes,  entre  as  quaes  se  viam  moitas  freiras, 
traballiavam  n'esla  obra,  umas  com  a  enxada  na  mão  rívalUavam  com  os  ho- 
mens mais  robit.=los;  outras  levavam  terra  em  cestos  oa  sas  saias,  o  a  lançavam 
para  fora  da  irincbeira;  os  meninos,  que  oâu  podiam  trabalhar,  levavam  a 
seus  pães  vínlio  e  alimentos  i  alguns  frades  com  a  cabeça  descoberta  a  a  ta- 
nica  arregai;ada,  dirigiam  tudo;  estavam  em  Ioda  aparte,  e  corriam  para  onde 
o  perr^o  ^ra  maior.  Com  seus  discursos  e  exemplo  electrisavam  esta  mollidão 
que  bastante  nos  odiava  sem  a  ajada  â'e!les.  Pag.  Cã. 

■  (Juando  entrámos  no  Porto,  e  o  povo  fugiu  pela  ponte,  esta  ijuebrou-se  : 
am  numero  inSnito  de  habitantes  morreram  afogados;  a  maior  parte,  porãn> 
agarradas  ao  que  restava  da  ponte,  e  opprimidos  pela  multidão  que  ia  a«n- 
pre  crescendo,  foi  metralhada  pela  artiibeda  poriugueza,  que  da  margem  es- 
querda atirava  contra  a  nossa  columna :  este  espectáculo  era  horroroso.  Vi 
um  outro,  que  prova  quanto  o  fanatismo  da  liberdade  animava  o  povo;  am 
soldado  de  infanteria  ligeira  acabava  de  atirar  para  as  margens  do  Douro, 
avista  uma  mulher  que  luctava  contra  as  ondas;  deita-se  á  agua,  toma-a  pe- 
los cabellos,  e  põe-a  na  praia.  Era  uma  rapariga  de  dezoito  a  vinte  annos: 
seus  vestidos  denotavam  uma  pessoa  da  classo  distincta.  Itecaperou  os  senti- 
dos, lança  em  torno  de  si  um  olhar  desvairado,  reúne  sua^  forças,  e  corre  a 
precipitar-se  no  rio  uma  segunda  vez,  dizendo :  iNão,  não  deverei  a  vida  a 
monstros  que  dilaceram  rainha  pátria l>  Que  heroísmo!  Quanto  não  era  para 
receiar  de  um  povo  que  mostrava  tão  grande  energia!  Pag,  99. 

■Precedidos  pelo  terror  que  inspirava  nosso  nome,  não  achámos  habitan- 
tes em  Penafiel :  um  velho  octogenário,  que  não"  tinha  podido  acompanhar  os 
seus  para  as  serras,  ficou  sOsinho;  estava  assentado  n' ura  marco,  na  praça 
publica,  e  dirigia  supplicas  ao  céo.  O  Cugo  que  brilhava  c-:n  seus  olbos  e  os 
olhares  que  dos  lançava  indicavam  bom  a  (lualídade  das  supplicas  que  faiia 
para  nós.  Um  silencio  medonho  reinava  na  villa,  só  interrompido  pelo  som 
Qniforme  das  horas,  e  pelo  ladrar  de  altiuns  cães  abandonados.  As  armas  da 
casa  de  Bragança  postas  nos  edifícios  públicos  estavam  cobertas  de  crepe,  e 


( 


NA  521 

pareciam  indicar  o  lacto  da  sua  pátria.  Todas  as  casas  estavam  abertas,  só  as 
egrejas  se  achavam  fechadas,  como  se  nossa  presença  devesse  profanar  a  san- 
tidade d'ellas.  Os  comestíveis  e  tudo  quanto  nos  podia  ser  útil,  tinham  sido 
levados  ou  destruídos.  Este  ódio  implacável  de  nossos  inimigos,  este  cuidado 
continuo  de  nos  prejudicarem  e  estes  grandes  exemplos  de  dedicação  fizeram 
desde  então  alguma  impressão  no  espirito  de  nossos  soldados,  acostumados  a 
viverem  em  casa  dos  bons  allemães,  e  tão  tranquilíamente  n'um  dia  de  bata- 
lha, como  em  seus  alojamentos.»  Pag.  103. 

«A  12  de  abril,  pelo  meio  dia,  o  inimigo,  vindo  de  Amarante,  nos  atacou 
em  três  pontos.  Sua  mtenção  era  de  se  apossar  da  ponte  de  Sousa,  e  de  nos 
cortar  a  retirada.  Foi  enganado  no  seu  projecto,  porque  deixámos  Penafiel,  e 
fomos  tomar  posição  na  margem  direita  d'este  rio.  O  general  Silveira  eomman- 
dava  esta  expedição :  tinha  ás  suas  ordens  um  capuchinho  conhecido  no  paiz 
por  sua  audácia  e  força  prodigiosa :  chamavam-lhe  o  capitão  mouro,  vestido 
de  vermelho,  com  um  cinto  preto,  viam-n'o  à  frente  em  todos  ataques,  e  foi 
um  dos  primeiros  a  entrar  em  Penafiel.  Esta  villa,  na  qual  não  tínhamos  visto 
uma  única  pessoa  durante  nossa  residência,  foi  bem  depressa  cheia  de  habi- 
tantes. Appareceram  como  por  encanto  ás  janellas  e  telhados,  atirando  com 
pedras,  mobílias,  e  com  tudo  quanto  se  lhes  apresentava  ás  mãos.  Um  mise- 
rável remendão,  que  tinha  entrado  havia  dois  dias,  e  tinha  ganhado  muito  di- 
nheiro comnosco,  distínguiu-se  pela  sua  faria :  atirava  com  suas  formas  e  fer- 
ramenta á  cabeça  dos  soldados  da  infanteria  da  retaguarda,  e  parecia  fazel-o 
com  tanta  mais  animosidade,  quanto  receiava  que  seus  compatriotas  lhe  impu- 
tassem como  um  crime  o  ter  trabalhado  para  os  francezes.  O  toque  de  re- 
bate fazia-se  ouvir  por  toda  a  parte,  o  som  lúgubre  e  pavoroso  dos  sinos  im- 
primiam uma  espécie  de  espanto,  que  nunca  fora  inspirado  pelo  ribombar  da 
artilhería  e  da  espingardaria.»  Pag.  109. 

«Até  10  de  maio,  que  occupámos  as  mesmas  posições  nas  alturas  de  Ama- 
rante, experimentámos  as  mesmas  difficuldades  para  forragear  e  obter  subsis- 
tências. Os  obstáculos  sempre  crescentes  e  os  movimentos  dos  inglezes  sobre 
Lamego  tornaram  a  nossa  situação  muito  assustadora.  Encontrávamos  ainda 
alguns  recursos  na  margem  esquerda  do  Tâmega,  mas  era  mister  disputal-os 
aos  camponezes  nos  bosques  e  nas  serras.  Gorría-se  atraz  de  um  habitante,  co- 
mo de  uma  fera,  e  os  soldados,  gritavam  pegando  nas  espingardas :  «Acolá 
vae  um  homem,  acolá  vae  um  homem!»  e  corriam  em  sua  perseguição,  até 
que  o  matavam.  Yí  um,  cuja  perna  se  partiu,  e  cahiu  sem  abandonar  sua  ar- 
ma, teve  ainda  a  coragem  de  se  deitar  de  frente  e  de  matar  um  brigadeiro  do 
meu  regimento.  Vi  ainda  n*outra  occasíão  um  velho  de  cabellos  brancos  ani- 
nhado atraz  d'uma  pedra  com  uma  espingarda  de  dois  canos,  e  armado  de 
bayoneta,  ferir  três  homens  e  cinco  cavallos :  não  se  quiz  render,  e  foi  neces- 
sário matal-o  á  pedrada,  defehdendo-se  por  muito  tempo.»  Pag.  118. 


NE 


•Encontrámos  no  caminho,  perto  de  Lixa,  am  dcílacamenlo  d«  S5  homeai 
coinmai]d{.do  por  H.  de  Saini  Gfniès  Es(h  ofSHal  era  portador  de  ordens 
do  marechal.  Com  suas  pequenas  rori;as  tínba  atravciiísadu  muitas  povoaçõe* 
insurrec£ionadas.  Tiaham-n'o  tratado  bem,  tomando-o  por  inglez;  porém  rft^i 
conheiudo  D'uina  aldeia  pela  ímpradenrja  d'um  soldado,  foi  investido  p<-lo  po* 
vo,  que  disparou  contra  eile.  e  lhe  arrojava  pedras.  Carregou  contra  esta  mal*' 
tidan  Turiosa,  e  con.=egaíu  sahir  do  uma  rua  estreita,  onde  deviria  morrer 
com  Ioda  a  sua  gente,  cora  excppção  de  três  homens,  que  foram  apanhados. 
Quando  passámos  por  esta  povoação,  arhamol-os  pregados  de  pia  e  mãos  co o-' 
Ira  uma  parede :  ainda  respiravam.!  Pag.  123. 

Esta  obra  foi  traduzida  em  inglez  com  o  seguinte  titulo :  Traveli  m  Pot' 
lugal  and  Spain  compriiing  an  account  of  lhe  opei-ation»  of  íhe  arms  nndir  lh« 
dakt  of  Wellington  and  sir  John  Uoore.  (Viagens  em  Portugal  e  HespaahaV' 

9i8)  NEOK  (J.  VAN>. 

E.—Sltipvaert  op  Oost  Indie.  Amslerdam,  1648.  i.'  (Viagem  ás  Indiu'' 
Orieataes.) 

949]  NETO  (DATID).— ludea  nascido  em  Veneza,  medico,  e  prégadtf 
na  eynagnga  de  Leorne- 

E.—Notirioi  reconditoí  y  posthumas  dei  procidimiento  de  las  inquisicionei 
de  Espana  y  Pcirlugnl  con  sus  presos.  Divididas  rn  dos  partes:  In  prim/Tit  m 
idioma  português,  la  segunda  en  castellano ;  drdiisidns  de  autores  CaloUrot, 
í^iottolicos  y  romanos,  emauniet  por  dignidades  ó  por  leírai.  Cimpilaâat  jr 
ofuulidtuporunaiumifnío.Villa  Franca,  1722.  A  impressão  foi  feita  em  Londres. 

Foi  vertida  em  latim  com  o  seguintd  titulo :  Notiíias  recônditas  de  proeetm 
inquititionum  in  Hispana  et  Luntonia  advertut  Hiot,  gui  ín  carcer^nu  iUanm 
àêtínentm-.  Londini,  1722. 

fitSO)  NETSOHER. 

E.—Let  hollandais  au  Brisil,  notice  hiítorique  sur  let  Payt  Bai  et  te  Bri: 
■ti  a»  xvu  siécle.  Paris,  1869,  8.'  Ha  outra  edigào  impressa  na  Haya,  1853, 

951)  HEUESTES  QEIIALDE  t»»  lÀStabm.  Leipsig,  1799. 

952)  NEUVILLE  (Un.  JAOQnES  LE  QUIEN).— Historiador  tnaeeL. 
Nasceu  em  Paris  no  anno  de  16^7,  e  Tallereu  em  Li»<boa  a  SO  de  maio  de  173S. 
Diiem  que  a  sua  Historia  de  Portugal  Ibe  custara  mais  de  trinta  anoas  de  in- 
bslbo.i 

£.— Hitloír;  génèriU  de  Portugal  par —.  A  Paris.CheiAnaissoa,  dineteor 

■  Firmio  Didot.— ÍVohmUí  fíograpAit  UMvtTttiU,  vol.  S9.*  pag.  ZVl. 


NE  5» 

de  limprimerie  Royale,  1700.  Tomo  1."»,  4.«  gr.,  626  paginas;  tomo  2.%  606 
paginas.  ^ 

O  tomo  primeiro  tem  em  primeiro  logar  a  dedicatória  ofTt^r^  cida  a  el  rei 
de  Portugal.  Segae-se  uma  advertência,  na  qaal  declara  o  meihodo  que  ten- 
ciona seguir  na  sua  historia,  que  vem  a  ser  ~  informa  r  o  leitor  das  ailianças» 
guerras  e  tratados  de  paz  que  os  portuguezes  Ozeram  com  as  nações  que  des- 
cobriram. « Ver-se-ha  primeiramente  o  nascimento  do  rei,  sua  educação,  casa- 
mento, numero  de  seus  filhos,  suas  ailianças,  seus  empregos,  acções,  descen- 
^cia,  morte,  etc. 

Âpoz  esta  advertência,  que  occupa  seis  paginas,  apparecem  transcriptas 
as  leis  das  cortes  de  Lamego,  seguidas  de  uma  taboa  chronoiogica  dos  reis  de 
Portugal  até  ao  anno  de  1521,  em  que  termina  esta  historia,  não  a  tendo  seu 
auctor  podido  ultimar. 

Como  era  próprio  da  época  do  auctor,  principia  sua  narrativa  faliando-nos 
de  Tubal,  dos  carthaginezes,  romanos  e  outros  povos  antiquíssimos.  Felizmente 
não  nos  falia  nem  na  historia  dos  Geriões,  nem  de  outras  muitas  patranhas, 
com  as  quaes  Fr.  Bernardo  de  Brito  se  entreteve  a  encher  paginas  e  paginas 
da  sua  Monarchia  Lusitana. 

A  pag.  21  começa  a  descrípção  chorographica  de  Portugal,  fixando  sem- 
pre suas  vistas  para  as  fortificações  do  reino,  das  quaes  trata  com  alguma  mi- 
nuciosidade.  Pelo  que  diz  respeito  aos  mausoléus  da  egreja  de  Belém,  diz : 
•En  fait  de  tombeaux,  il  n*y  a  rien  de  pius  beau  en  Europe.»  * 

^  «Le  Quieo,  da  Academia  Franceza,  bavia  começado  a  escrever  uma  Historia  de  PoT' 
tugal  no  tempo  de  eUrei  D.  Ped~o  II,  que  acabou  reinando  D  João  Y,  pelo  modo  que 
elle  refere  em  carta  escripta  a  Mr.  de  Torcy,  de  10  de  abril  de  1715.  na  qual  expunha 
.ao  sobredito  ministro,  que  tendo  o  embaixador  abba  e  de  Uornay  falUdo  por  vezes  ao 
conde  da  Ericeira,  de  que  elle  havia  escriplo  uma  Hiitoria  de  Portugal,  o  conde  lhe  dis- 
sera que  tinha  em  seu  poder  muitas  memorias  e  documentos  sobre  o  mesmo  assumpto : 
qu«  informado  elle  LeQuien  d^aquella  particularidade,  se  determinara  a  ir  visitar  o  conde 
que  achara  ler  muita  m:itrucçao,  e  que  o  conduzira  a  c^sa  do  cardeal  da  Cunha,  a  quem 
o  apre^^nlára;  que  tanlo  o  cardf^al  como  o  conde  haviam  sidu  de  parecer  que  antes  d^elle 
Le  Quien  adiantar  mais  o  seu  trabalho,  deveria  tratar  de  fazer  os  seus  cumprimentos  a 
el  rei :  que  elle  havia  seguido  aquelle  conselho,  e  que  el  rei  lhe  dera  audiência,  e  o  tra- 
t&ra  com  a  maior  benevolência,  e  lhe  dissera  que  trabalhasse  c<im  o  conde  da  Ericeira,  a 
quem  nomeara  por  censtor  e  examinador  do  seu  terceiro  e  ultimo  volume,  e  porque  esta* 
va  informado  que  el-rei  seu  pae  o  não  havia  recompensado,  cumo  devia,  dissera  ao  se- 
cretario doestado  que  o  queria  fazer,  o  que  pozera  em  effeito  dando-lhe  uma  pensão  e  o 
habito  de  Christo:  motivo  por  que  lhe  pedia  houvesse  de  obter  de  el-rei  de  França  sea 
amo  licf^nça  para  aceitar.  Foi-lbe  concedida  a  dita  licença  por  despacho  de  5  de  maio  do 
referido  anno.»  Visfconde  de  Santarém.— Quadro  elementar  das  relações  politicas  e  diplo- 
máticas de  Portugal  com  as  diversas  potencias  do  mundo,  tomo  5.<>,  pag.  211. 

«Mr.  de  Neufville  a  supprimé  um  grand  nombre  de  faits  inleressants,  et  il  a  passe 
lég^rement  »uif  plusieurs  faits  interessants.  La  vue  de  Mr.  de  la  Glede  en  composant  une 
Douvelle  a  étó  de  donner  une  histoire  plus  complete  et  plus  exacte,  que  celle  de  Mr.  de 
Neufville  •  Journal  des  Savants  Maio  de  1735,  pag  S61. 

«  Neufville.— íÍMÍoirc  de  Portugal,  pag.  Í61. 


V 


■«I 


■  IH  NE   . 

*  ^  O  segmido  Toliime,  apesar  4as  snájs  tSOS  paginas,  abrsnge  apenas  ti  nbia* 
do  de  D.  Hanaeli  cega  biograptiia  é  baseada  sobre  os  eser^tos  de  noÊtímUA' 
toriadmres  portògaezes  e  estrangeiro^.  Era  a  ^^oèa  em  qoe  a  nossa  glorfa^  es- 
tima no  apogen^e  por  Isso  tinbaNettlViBeniolivopail^fiten  <iBlii  aelo  âé  lÉa- 
àifesto  da  lyboU^  do  paganismo,  e  da  propaga^  da  fá,  daira  lodoi^oa  ^Bis 
nofo  esptador.  á  tepotaçio  de  Mami^  nas  o0Hes  eSMajieinA.  €0010  8i^ 
jflMmdo  I,  leí  da  PvAonia,  tifesse  as  mesmas  infanoSBá  qo»  éHe,  iluda  «liiáira 
fytwBobiresa  de  sen  roino  no  exereleio  daà  armas  para  a  ftiêr  auurehtt^^m 
dia  a  tão  gloriosas  expediçSes.  Três  d'e8te8  JovaiB  polaeos,  qoê  éen^nMi ' 
eott  pidzio  Ter  o  rei,  e  fàier  para  esse  fim  íunaTiagem  a  BorMiai^  a^õl^iie- 
.ram,  e  eoidieeermn  eem  effsfite  pesBoalmeofie  lofoeUfliiim  omMè  i^fOE 
ptfbMea.  Mannel  henrbn-os  com  a  ordem  de  eavaliaria,  qne  lhes  conferia  por 
soa  iHrq^ria  mio,  e  fea^lhes  donativos  aeeommodados  i  sna  edado.»  ^       * 

B  HYBZ  Pg)>'-^-Bmiia!irior 


llraiieex  om  Usboi^  no  lempo  doD.  João  YI. 
KrrDe  la  quetikm  poirtugais$.  Paris,  1830. 

9M)  NEUKAN. 

E.— IVbtítèitf  i»  aanãâU  risâèUm  SociekUis  Jem  icr^^  malíúgfcU  Ir  B|- 
UioSieea  VeáUcaiwà  eslflmlAt»,  gnoHim  apogra^h»  VÍMímae  assérvaU  dfenii- 
iur.  ^otieia  doã  esefiptos  sinologos  de  Glandio  IHsdelou,  existentes  na  BHiSo* 
tbeea  Yatieana,  e  dos  qaaes  se  dii  existirem  os  apographos  em  Lisboa.) 

955)  NEW  (THE)  QUARTELY  REVIEW. 

Apparece  n*esta  pablicação  uma  viagem  com  o  segaínte  titcúo :  Notes  of 
Travei  in  Portugal, 

O  viajante  entroa  em  Portugal,  vindo  de  Tuy.  Apesar  de  só  um  rio,  e  não 
muito  largo,  separar  os  dois  povos,  acha  o  camponez  de  Portugal  muito  supe- 
rior ao  hespanhol,  e  elogia  muito  a  hospitalidade  do  nosso  paiz,  e  finalmente 
admira  o  grande  numero  de  diamantes  que  os  portuguezes  possuem,  atten- 
dendo  á  pequenez  do  reino. 

«Mal  conheço  algum  outro  serviço  maior  que  se  podesse  prestar  ás  lettras 
do  que  a  traducção  (pag.  36)  para  francez  ou  inglez  dos  três  volumes  da  His- 
toria de  Portugal  por  Alexandre  Herculano,  por  isso  que  é  o  mais  eminente 
dos  escriptores  portuguezes  vivos.  Herculano  é  talvez  o  primeiro  historiador 
do  presente  século.  Seu  estylo  puro,  nào  egualado  em  Portugal  desde  o  tempo 
de  Barros,  cognominado  o  Livio  de  Portugal,  é  um  frisante  contraste  com  os 
escriptos  rhetoricos  de  muitos  de  seus  contemporâneos.  Sua  agudeza  e  sen- 
satez na  appreciação  das  auctoridades,  sua  lucidez,  e  a  arte  com  que  faz  que 
o  leitor  fique  satisfeito  com  a  instrucção  do  auctor,  sem  lançar  na  sua  narra- 
tiva a  aridez  dos  chronístas,  entre  os  quaes  suas  investigações  se  baseiam,  es- 
tas  são  as  qualidades  que  n'um  historiador  o  mundo  não  tomou  a  ver  depois 

í  Neuíville.— f/tííoire  de  Portugal,  pag.  470. 


NI  525 

da  morte  de  Gibbon.  Infelizmente,  a  historia  de  Herculano  apenas  cbega  ao  fim 
do  secalo  xni.» 

956)  NICOLAU  (VITO  PERERA  A  SANTO—).  E  clericís  regularis 
scholaram  piarum. 

E. — Oratio  de  felicitate  Lusitaniae  a  regibus  brigarUinae  familiae  aucta  ol- 
que  amplificata  ad  quosdam  académicos  illustrissimos  ac  doctissimos  viroSy  ha- 
bita die  iSjanuarii  anrd  Domini  1755.  Superiorum  Permissu.  Matriti:  Apud 
Joachim  Ibarra  typographum  Urosarum  via,  4.<*,  30  pag. 

Esta  narração,  na  qual  celebra  os  principaes  feitos  dos  reis  de  Portagal, 
é  dedicada  aos  príncipes  D.  António,  D.  Gaspar  e  D.  Joseph,  de  Bragança. 

957)  NICOLAU  (ANTÓNIO).— Celebre  bibliographo  bespanhol.  Nasceu 
em  Sevilba  no  anno  de  1617,  e  fallecea  em  Madrid  no  de  1684. 

E.—Bibliotheca  Vetus,  Romae,  1696,  2  vol.  foi.  O  auctor  inclue  n'este  seu 
trabalbo  monumental  os  escriptores  portuguezes,  dos  quaes  trata  desenvolvi- 
damente. 

958)  NIEUHOFF  (JE AN).— Viajante  alleraào.  Nascido  em  Usen  (West- 
pbalía)  em  1630,  e  perdido  na  ilha  de  Madagáscar  em  1672.  ^ 

E.— I.  Voyage  curieux  au  Bresil  par  mer  et  par-  ierre.  Araslordam,  1682. 
O  original  é  composto  em  bollandez. 

II.  Voyage  par  mer  et  par  terre  à  differents  lieux  des  Indes  Orientales  avec 
une  description  de  la  ville  de  Batavia.  Amsterdam,  1682-1693.  Foi. 

Ha  varias  traducçues  d'eslas  obras. 

959)  NINO  (FRAY  JUANNETIN)- Confessor  de  su  alteza,  lector  de 
theologia,  y  hijo  dei  real  convento  de  San  Francisco  de  Salamanca,  ministro 
provincial  que  ha  sido  de  la  misma  provincia  de  Santiago,  califícador  dei  Santo 
Òfflcio  en  el  consejo  real  supremo  de  la  santa  y  general  Inquisicion^ 

E. — Chronicas  antiguas  de  la  orden  de  nuestro  Seráfico  Padre  S.  Francis- 
co dei  R,  S.  D.  F,  Marcos,  Obispo  dei  Puerto :  dispuestas  y  ordenadas  en  el 
convento  de  S.  António  de  Salamanca,  de  la  santa  provincia  de  Santiago,  en 
ta  regular  observância.  Dedicadas  a  la  sereníssima  seríora  infanta  sor  Mar- 
garida  de  la  Cruz,  religiosa  de  su  real  convento  de  Descalças  Franciscanas  de 
Madrid.  Con  licencia.  En  Salamanca,  en  la  emprcnta  de  António  Ramirez.  Ano 
1626.  A  costa  de  Nicolas  de  Santa  Ana,  familiar  dei  santo  oficio  de  Madrid.  2 
vol.  fel. 

Nao  é  uma  simples  versão  da  chronica  do  nosso  Fr.  Marcos  de  Lisboa,  pois 
o  traductor  agrupou  as  biographias  por  conventos,  assim  como,  por  exemplo, 
se  encontram  em  Fr.  Luiz  de  Sousa,  ao  passo  que  Fr.  Marcos  segue  a  ordem 
chronologica. 

1  Ffmiin  Didol.— iVourc/ic  tíiographie  UniverseUe,  vel.  Si.*»,  pag.  66. 


m  NO 

9eO)  lOPHO  (D.  FRANdSOO  KABIANNA). 

E.— Díícripctwi  histórica  y  geográfica  dei  reyno  de  Poríugat  t 
y  panegírico  de  lodos  tus  rryet.  La  pobladon  repartida  por  provtnciat,  ca- 
marcas,  conegimenln».  inlmditncia%.  oidiiria».  dando circatuíanciado  el  cíwn- 
iario  y  situacion  de  sus  cidades,  vitlas  ij  lugares,  que  nm  un  indire  gengrafico, 
para  maior  daridad  exiracló  de  vnrios  autores  y  parlicuiarmtHle  dei  P.  LmX 
Catlano  de  Lima,  clérigo  rejular,  etc.  Madrid,  tlt  )Mg. 

961)  NOBLE  (LE). 

E.— iM/wiiirM  swr  Irs  operations  militaires  des  (rançais  en  Galice,  en  Por- 
gal.et  dans  la  vnllèe  du  Tage  en  1809  sous  ie  contmandemeiU  d»  maréckat 
Soult,  dvc  de  Llidmatic. 

862Í  NOSRAG. 

E.— Dcttjict-í  m/meiiU  de  D.  Miguel,  tgran  de  Portugal.  Les  oveux  de  st» 
crimes.  Mort  de  Bourmonl.  Paris. 

II.  Attaque  par  lerre  et  par  mer  de  la  cille  de  Lisbonnr,  par  les  cmurifii* 
bonels  français,  poloitaú,  portugais  et  Anglais.  Proclamation  de  D.  Maria  íl 
de  Portugal.  Paris. 

963)  NOTICE  jur  la  vie  et  Its  truvres  de  Joseph  ilarie  Dantas  Pereira 
de  Andrade.  Vara,  183.1.  4.',  tollii-to. 

964)  NOTIO£  des  titret  et  Iravaitx  scienlifiqyus  de  M.  António  da  Lut  filia 
à  Vappuy  de  tu  candidature  au  titre  de  mentbre  correspottdant  itranger  de 
VÃcaáemie  Impériale  de  Medicine  de  Paris.  Puis,  1S60.  4.°,  folheio. 

96B)  NOnOE  turlatiieet  les  icriles  du  P.  néodore  de  Almeida.  Parti, 
1S5S.  16.*,  folbeio. 

966)  HODQABET  (PIERRE  JEAN  BAPTISTE). 
K.-~Beautés  de  l'histuirt  d'Espagne  et  de  Portugal.  Paris,  1914. 

967)  NOUVELLES  INTERESSANTES  au  sujet  de  rattentaí  eommis 
le  3  letembre  1758  sur  la  persunne  sacrie  de  S.  M.  F.  le  roi  de  Portugal,  1759. 
Svol. 

968)  NOVO  E  FAOILLIHO  HETHODO  de  Grammalica  Franceza  e 
Portugueza,  compilado  dos  melhores  aurlnrrs  que  escreveram  Artes  e  Orlogra- 
pluas,  de  la  Rae,  Itestant  e  Glamace,  la  Touche,  Desmaraa,  e  do  Tratado  da 
Ortltograpfiia  franceza,  feito  por  ordem  do  excellentissimo  cardeal  de  Rokan, 
ordenado  por  um  génio  umanie  dos  progressos  dos  estudiosos  deste  idioma.  Em 
Trevoux.  Na  oRti*ina  d)*  Anlonio  Ginião.  Aaoo  1766.  8,°,  343  pag. 

969)  NDff£3  (HERNAN).— Natural  do  Piacia,  proCessor  ia  rbetoríc»  e 
grego  na  imi?enidade  de  Salainuica,  o  fallecido  cm  18SS. 


NU  M7 

E.—Refranes  y  Provérbios  en  romance  que  coligiõ  y  ^osó  el  commendador 
Heman  Nunes,  professor  de  retórica  y  griego  en  la  universidad  de  Salaman- 
ca, Y  la  Filosofia  vulgar  de  Juan  de  Mal  Lara,  en  mtl  refranes  glossados,  que 
san  todos  los  que  hasta  aora  en  castellano  andam  mpressos,  Van  juntamente 
las  quatro  cartas  de  Blanco  de  Garay,  hechas  en  rafranes  para  ensehar  el 
uso  delias.  Ano  1619.  Madrid,  por  Juan  de  la  Custa.  4.<» 

Se  bem  que  a  obra  é  escripta  em  hespanbol,  traz  grande  numero  de  adá- 
gios portuguezes. 

970)  NUOVA  DELLA  PRESA  delia  gran  cUta  de  Diu  per  lo  invitissi- 
mo  re  éU  Portugallo,  e  de  Vartigleria  e  grandíssimo  tesoro  que  vi  se  trovo,  1[^« 
Temaux  Gompans,  pag.  29. 


971)  GBSERVATLOVScrUiqwtd^imnmtiinsurtnRefltíáons  d'vmfar- 
lvgai3,  ou  Nmivean  Stipplèmenl  atix  dites  reflexums  «ur  It  Memoriai  des  Jí- 
mies,  presente  à  N.  S.  P.  le  Pape  Clément  XllI.  En  Europo,  1700.  iS.- 

97Í)  OBSERVATIONS  intmssantfí  et  relalwes  au  procés  des  JètuUn 
m  Portitgal.  Sem  dala  aem  togar  de  impressão.  (C.  H.  B.  I.  M-) 

973)  OF  THE  NEW  LANDE3  and  the  people  foimd  by  lhe  menêfngcri 
Of  the  kinge  of  Portwjal  nariwd  Emaimel,  o{  ílie  diverti  nntioix  crijatened  of  po- 
pe Johan  and  hU  landa.  Loodon,  1921.  (Das  novas  terras  e  povos  descobertos 
pelos  emissários  do  rei  de  Portugal  chamado  Hannel). 

Veiu  mencionada  esta  obra  na  BMiotheca  de  Tenumx  Compant. 

Aproveito  esta  occasião  para  declarar  que  os  tituloa  dos  livros  inglezes  ap- 
parecem  tão  estropiados  a'esta  obra  que  por  vezes  se  tornam  iniatelligiTeis : 
e  ao  emtanto  a  Bibliotheca  de  Temaux  de  Compans  foi  impressa  cm  Paris. 

974)  OLBENOW  (JOHN). 

E.—A  monthíH  Portuj/tti.  Londou.  (Um  mez  em  Portngal.) 

975)  ÓNEIL  (LT.  COUIÍT  T.) 

E.-^A  concise  artd  accurate  accowit  of  the  preedings  of  tkt  (fnodroN  mr- 
der  the  commartd  of  rear  admira/  íír  W.  Sitbiey  Smilk,  K.  C.  ín  e/fectiag  tke 
eicape,  and  escorting  the  Toyal  family  of  Portugal  to  the  BrazUs  on  the  ÍS  of 
november,  1807,  etc.  London,  1808,  8.°  Com  o  retrato  de  D.  João  VI  qoando 
príncipe-  (Sobre  a  fagida  de  D.  João  VI  para  o  Brasil.) 

976)  ONTDEGEINaHE  van  Rijdc  Miywn  m  BratU.  fAmsterdam,  1639. 
4  foi.  sem  pag. 


977)  OBBAN  (H.  LÉUS  DE  FOBTU.  D'— ).— Uembra  de  plosiean 


OR  529 

academies  de  France,  d'Italíe  et  d^AIlemagne,  et  M.  Nielle,  officier  de  TUaiver- 
site  de  France,  ancien  professeur  à  la  faculte  de  Leyde. 

E. — Histoire  générale  de  Portugal  dejnUs  Vorigine  des  lusUamensjusqu^à  la 
régence  de  Don  Miguel,  Paris.  Chez  Gaalhier  Frères.)  9  vol.  8.*»  gr. 

£'  uma  reimpressão  da  Historia  de  La  Clede  com  acrescentamentos,  map- 
pas  e  estampas,  das  quaes  a  primeira  é  um  retrato  de  Viriato,  seguindo-se  os 
dos  reis  de  Portugal,  e  o  de  D.  António,  prior  do  Grato. 

978)  OREBICH  (GIUSEPPE  RAGUSEO). 

E. — Lettere  cmUenent  il  ragguaglio  dei  trasposto  de  83  padri  gesuiti  de  Us- 
honna  à  Civitta  Vécchia.  Génova,  1750.  (Sobre  o  transporte  de  83  jesuítas  de 
Portugal  para  Civitta- Vecchia). 

979)  ORIGINAL  (THE)  joumals  of  the  campaigns  in  lhe  Península  of 
(íeld-marschal  the  duke  of  Wellington.  To  which  is  added  an  appendix  contai- 
lúng  the  state  papers.  Campaign  in  Pofiugal,  1808.  London,  1815.  8.*  (Diários 
originaes  das  campanhas  do  duque  de  Wellington). 

980)  ORLEANS  (Pere  ob).— De  la  compagnie  de  Jesu. 

E.  —  Vie  de  Marie  de  Savoie,  reine  de  Portugal,  et  de  V infante  sa  filie.  Paris 
1696.  8.«> 

981)  ORLEANS  (P.  JOSEPH).— De  la  compagnie  de  Jesu. 

E,— Histoire  des  revolutions  d'Espagne  depuis  la  destmcíion  de  l^etnpire 
des  GolhSf  jusqu'à  VerUière  et  perfaite  reunion  des  royaumes  de  Castille  et 
d'Arragon  en  une  seule  monarchie,  revue  et  publiée  par  les  P.  P,  Rouúlé  et  Era- 
moy,  de  la  même  compagnie.  A  Paris,  i734,  3  vol.  4.*>  gr. 

tEsta  victoria  do  grande  AÍTonso  (pag.  337,  vol.  1.°)  alcançada  em  1184  foi 
a  ultima  de  suas  acções  militares,  as  quaes  não  particularísarei  por  ser  este 
príncipe  o  Tundador  de  uma  monarchia  separada,  que  não  está  ligada  senão 
por  incidente  com  a  de  Uespanha,  da  qual  escrevo  a  historia,  e  da  qual  não 
faz  parte.  Por  isso  não  devo  contar  os  negócios  de  Portugal  senão  quando  tem 
relações  necessárias  com  os  de  Castella  e  com  os  dos  outros  estados  que  com- 
põem boje  a  monarchia  inteira.  Morreu  este  príncipe  em  Coimbra  aos  noventa 
e  um  annos  d'uma  vida  ainda  menos  cheia  de  dias,  que  de  virtudes  extraor- 
dinárias e  grandes  acções.» 

Apesar  do  que  prometle  o  P.  Orleans  succede  a  cada  pagina  entrar  em  scená 
nosso  paiz,  pelo  motivo  conhecido  por  lodos— não  ser  possível  escrever  a  his- 
toria de  Uespanha,  sem  que  o  nosso  povo  n'ella  ligure  continuamente.  No  em- 
lanto  o  referido  escriptor,  apesar  de  escrever  a  hisloiia  de  ura  povo  sempre 
hostil  aos  portuguezes,  mostra-se  imparcial,  o  tece-uos  os  maiores  elogios. 

Ignoro  se  este  mesmo  padre  é  o  auctor  da  Vida  de  Maria  de  Sabóia. 

982)  ORMSBY  (J.  W.) 

E.—Lettres  from  Spahi  ond  Portugal  duritig  lhe  cawpaiyns  of  i808  to 

TOMO  I  34 


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OR  531 

jubarrota,  a  Ilustracion  Hispano- Portuguesa  trazia  logo  no  seu  primeiro  nu- 
mero o  retrato  do  sr.  Alexandre  Herculano  acompanhado  de  uma  bíographía, 
e  a  seguir  um  paraiielo  entre  Gamões  e  Cervantes :  pubiícavase  exactamente 
por  esse  tempo  um  trabalho  utíl  com  o  titulo  Una  Semana  en  Lisboa.  Também 
precisamente  por  essa  época  dois  hcspanhocs  trabalhavam  na  traducção  dos 
Lusíadas  —  o  conde  de  Cheste  em  Madrid,  e  o  cónego  Sandoval  em  Badajoz. 

«Fenómeno  na  verdade  singular  e  digno  de  estudo!  Os  dois  povos  penin- 
sulares tocam-se.»  É  verdade,  mas  odeiam-se. 

«Não  se  levanta  entre  elles  uma  fronteira  natural  formada  pela  mão  de 
Deus.»  Mas  separam-nos,  o  que  ainda  ó  um  pouco  mais  forte,  a  lembrança  da 
maneira  como  pelos  haspanhoes  fomos  tratados  durante  o  espaço  de  sessenta 
annos.  Mas  nós  somos  suspeitos;  leia  porém  o  sr.  Ortiz  a  Historia  do  desthro- 
namento  de  D,  Affonso  VI  pelo  inglez  Southwell  (vol.  1.*»).  Separanos  a  ídéa 
de  que  se  contarmos  todos  os  annos,  em  que  os  hespanhoes  nos  guerrearam, 
sommam  séculos;  separa-nos  a  indole  d'aquelle  povo ;  quer  ella  seja  melhor, 
quer  seja  peior,  é  em  todo  o  caso  diametralmente  opposta  á  nossa.  Separa-nos 
o  idioma,  pois  para  o  entendermos  é  necessário  diccionario  e  estudo  gramma- 
tical.  N'uma  palavra,  separa-nos  a  liberdade  que  desfructamos.  E  quem  é  li- 
vre, só  perdido  o  siso,  desejará  ser  escravo. 

«Houve  um  tempo  em  que  os  escriptores  lusitanos  cultivavam  cora  prefe- 
rencia o  nosso  idioma. «  Ainda  isto  é  verdade.  Uma  das  causas  era  a  afflnídade 
das  duas  Unguas;  ambas  provinham  da  mesma  origem.  Também  a  língua  por- 
tugueza  já  se  pareceu  muito  mais  com  a  franceza  do  que  actualmente.  Muitos 
vocábulos  hoje  repugnantes  para  aquelles  que  prezam  a  vernaculidade,  já  fo- 
ram portuguezes  de  lei. 

«Muito  antes  da  batalha  de  Alcácer  Quibir^  nenhum  engenho  lusitano  dei- 
xava de  publicar  algum  dos  seus  escriptos  na  lingua  de  Solis  e  Cervantes.» 
Houve  excepções.  Mas  se  ha  portuguezes  que  escreveram  em  hespanhol,  tam- 
bém os  ha,  e  não  foram  poucos,  que  escreveram  em  latim,  grego,  hebraico, 
árabe,  italiano,  francez,  ingle^  e  allemão.  Diz  também  o  sr.  Ortiz  «que  o  seu 
livro  não  tem  aspirações»,  mas  passadas  poucas  linhas,  encontro  a  seguinte 
passagem :  «Portugal,  que  en  um  porvenir  mas  ó  menos  lejano,  lejano  sin  du- 
da,  pêro  seguro,  habra  de  subordinarse  sin  abdicacion  de  su  importância,  sin 
sacrifício  de  sus  intereses  legítimos,  por  su  próprio  y  espontâneo  impulso^  ^  y 
por  médios  que  la  Providencia  reserva,  a  esa  tendência  universal,  poderosa, 
irresistible,  que  conduce  los  pueblos  bacia  la  unidad,  à  semejanza  de  esa  otra 
fuerza  também  poderosa  y  tambien  irresistible,  que  lleva  Ias  aguas  de  los  rios 
a  perderse  y  confundirse  en  la  immensa  unidad  dei  mar. » 

Assim  será.  Mas  n'estes  seis  annos,  que  o  livro  conta  depois  de  impres- 
so, ainda  se  não  observam  nem  vislumbres.  «Um  homem  (dizia  o  marquez  de 
Pombal)  na  sua  casa  é  tão  poderoso  que  mesmo  depois  de  morto  são  necessá- 
rios quatro  para  o  tirarem  d'ella».  Além  de  que  vem  de  Hespanha  um  cheiro 

^  Não  podendo  prever  o  porvir,  creio  comtudo  as  gerações  futuras  incapazes  de  tal 
villeâa. 


àt  ov 

Ião  coDtlDQO  Oú  pólvora  n  Ao  csdavcres,  e  tão  ri>f)ugaanlc  aos  porlngaezes, 
qna  os  afugenta  dalli  para  bem  longe.  Pude  ser qne  os  porlugueE^  não  te- 
nbam  bom  gosto,  mas  o  sr.  Oriiz  bem  s&be  que  os  gostos  não  ss  di^utem.  O  sr. 
Orlit,  qno  diz  ler  lido  indo  quantn  em  portugiieí  se  publicou  no  sertilo  pre- 
sente, deve  ler  lambem  conhecimento  de  quão  rico  6  o  nosso  idioma  de  pro- 
vérbios fl  anexins,  entre  os  quaes  ha  o  segmate,  qne  aada  na  bocca  de  lodo 
o  mundo:  iGalo  escaldado,  de  agua  fria  lem  medo. 

Ê  o  livro  do  sr.  Romero  Orlli  uma  resenha  da  lilleralura  porCuguets  no 
presente  século.  Come(;anda  miauciosamenle  ao  celebre  padre  imò  Agostinho 
de  Macedo,  vae  analysando  quasi  todas  as  obras  de  nossos  principaes  escrip- 
tares,  dos  quaes  transcreve  muitas  passagens,  infelizmente  quasi  sempre  tilo 
estropiadas,  que  se  devem  tornar  inintelligiveis  para  aqoelles  que  não  estive- 
rem bem  certos  de  como  ellas  se  encontram  no  original  portnguez,  o  que  ain- 
da mais  vera  comprovar  a  differenja  das  duas  jinguas.  Se  os  compositores  de 
Madrid  entendessem  ao  menos  sofTrivelmentc  o  purluguer,  cerlamente  quo  não 
o  desflguravam  a  tal  ponto. 

Em  seguida  do  p.idre  Josá  Agostinho  de  Macedo  falia  o  sr.  Ortíz  da  nossa 
marqueza  de  Aloma.GarrelI,  A.  Herculano,  C.Caslello  Branco,  e  deoniros  os- 
criplores  notáveis,  lamcola  o  estado  de  abatimento  em  que  se  acha  o  paii,  e 
pede  por  Hm  ao  sr.  Thomaz  Ribeiro  que  oào  atisse  ódio  o  rivalidades  entre  os 
dois  povos  peninsulares.  Mas  para  ser  justo  deve  também  lazer  n  me^mo  pe- 
dido aos  efcriptores  hespanhoes. 

986)  ORTOLAN  (JOSEPH  LOUIS  ELÉZAR).— lorisconsollo  franPM!.  ^ 
Nasceu  em  Toulon  no  anno  de  1802.  > 

E.— Eludes  sur  les  conititutlUrns  dei  Payt  Bas,  dei  ligues  nsiaíitpies,  d'Ei- 
pagne  et  rfu  Portugal,  ele.  Paris,  1831  a  1837. 

987)  OSBORNE  (JOHN)- 

E.— Guírfe  to  thf  West  Indies,  Madeira,  México,  etc.  With  cartei  and  other 
illttslrations.  London  IBiS.  (Guia  para  as  índias  Occídentaes,  Madeira,  etr.) 

988)  OTHON  (QUUJAUHE  — ,  Cown  de  XamcSMARK}. 
E.—Voyage  de  Madrid  à  Lisbotme.  Paris,  1669. 

989)  OVERBEKE  (AERNOUT). 
E.—Reyibeichryving  mn,  etc.  (Viagem  ás  índias  Orientaes).  1671 . 

990)  OVIEDO  (SEBASTIAN  ANTÓNIO  DE  OADEA  T). 
E.—Triunfales  fiestas.  que  a  la  canonizacion  de  S.  Jitan  de  Dioi,  patriarca 

consagro  la  muy  rtombrada,  leal  y  gran  riadad  de  Granada.  1595. 

991)  OVINOTON  (JOHN). 

E.—Vogage  to  Hurnte  in  lhe  year,  1689-1693  Ktth  a  deí^rriplion  af  the  h- 

'  Vapareai).  — PfrííotinfliVí  iííi  foií/empnrnini,  paft.  IWfl. 


ow 


533 


ands  of  Madera  and  St,  Helena,  the  account  of  Golconda,  etc.  London,  1696- 
1698.  Em  francez.  Paris,  1724.  Ib.  1735.  Ib.  1753.  2  vol.  (Viagem  a  Surrale 
no  anno  — ,  com  descripçào  da  ílba  da  Madeira,  etc.) 

992)  OWEN  (HUQH). 

E,—Here  and  there  in  Portugal.  Notes  of  the  present  and  of  the  past,  By 
—  totth  Ulustrations  after  photographs.  London,  1856.  8.»,  216  pag. 

£sta  obra  é  dedicada  pelo  aactor  a  seu  pae  o  coronel  Hugh  Owen,  caval- 
leiro  da  ordem  da  Torre  e  Espada,  e  de  S.  Bento  de  Aviz. 

£'  muito  interessante  a  leitura  d'este  livro.  O  auctor  gosta  muito  de  Por- 
tugal, flcou  encantado  do  Tejo,  ao  qual  chama  «o  mais  nobre  dos  rios  da  Eu- 
ropa», mas  diz  verdades  amargas,  no  que  quasi  sempre  a  rasào  está  do  sen 
lado.  Tendo  vindo  de  Inglaterra  no  magnifico  paquete  ínglez  Severn  fizeram- 
no  desembarcar  n'um  bote  em  que  iam  vinte  carvoeiros,  um  carneiro  e  pes- 
soas immundamente  vestidas,  para  d'aqui  passar  para  o  Lazareto. 

Lamenta  principalmente  a  carência  quasi  completa  de  estaleiros  e  f^slabe- 
lecimentos,  onde  os  navios  se  possam  reparar  das  avarias.  Tem  rasào ! 


Fílf   DO  TOMO   PRIMEIRO. 


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