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• •
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9
í
PORTUGAL
ESTRANGEIROS
Tl
ESTCSÇeSS
MAGOEI. BKRNAIIIIES BRANCO
Obra MrtunuidM tlp ooic rMrniuK
TOMO L"
LISBOA
LiriMKU UK A. M. reflCIUA— HDnOK
OS— Au li^U — Sá
}
PORTUGUL [ OS [STRÍNGEiS
PORTUGAL
£ OS
ESTRANGEIROS
n
OBRA DIVIDIDA EM QUATRO PARTES
CONTENDO OS SEGUINTES ASSUMPTOS
I — Dicrionario dos escriptorcs estrangeiros,
qae escreveram obras consagradas a Portugal ou a assump'os portu^uczes,
com a tradoc^io dos trechos mais notareis d'essas obras
n — Diccionario das obras portuguezas vertidas em linguas estrangeiras
in — Soticia dos portuguezes que no estrangeiro se distinguiram nas Icttras,
e resenha das obras portujuezas reimpressas nos piizes estrangeiros
IV — Solicia das recordações e monumentos eiistcntes
em di>er$as partes do mundo, construídos por portuguezes, ou eiigidos em honra d*elies.
ADORNADA DE NOVE RETRATOS *
• ■ I
ESTUDOS DE
MANOEL BERNARDES BRANCO
DA ACADEMIA REAL DAS 8CIEHCIAS DB LISBOA
5%
TOMO i
■•I < • • •
LIVRARIA DE A. M. PEREIRA— EDITOR
50 -RUA AUGUSTA — 5i
1879
J.5P.
Â^
A SUA MAGESTADE EL-REI
DOM LUIZ I
o. D. C.
ílcal SenT}or!
'O meu trahall^o — Tortugal e os Estrangeiros — no
qual já consumi uns dez annos, vai provar, até á evi-
dencia, que é glorioso o ser portuguez; julguei por isso
que só ao digno ^l/efe doeste povo, ^b^fe, que também
sahe perfeitamente avaliar a importância doestes traba-
lhos, devia ser dedicada a obra, composta por aquelle
que tem a l^onra de ser de
Vossa Magestade
o MAIOR ADMIRADOR E RESPEITADOR
Q^^anoéi SBtinaiiieò Sõíaneo.
PROLOGO
Rien ne peut arréter dans leuri projeU noureaax
Ces Portagais ardens qai Tolent sar les eaux.
Oh combicD de heros gaidèrent lear audaeei
Qae de faito ímmorteis ont signaló lear trace!
EsMEitABDE. — Ghant. t.
«Ninguém deie negar qae a lingaa portogueza foi
qaasi a lingua aniversal de todos os povos marítimos ;
ningaem deve negar que os maiores potentados da Ásia
disputavam a preferencia de serem nossos vassallos.»
YisGORDK BK Sáktabem. — Quodro DipUmaiico, tom. i.
Portugal; um dos mais pequenos paizeS; e situado na parte
mais meridional da Europa, encravado entre o oceano e um esta-
do potentíssimo, parecia pela sua posiçllo votado ao esquecimento;
não sendo de presumir que houvesse pelos seus feitos de conquis-
tar muitas paginas na historia; por \mi século dar leis a uma por-
ção de território superior áquelle em que os romanos dominaram;
apresentar um grande numero de homens distinctos em todo o
género de conhecimentos^; e dar religião e idioma culto a um
grande numero de povos, de maneira tal que, se em virtude das
vicissitudes humanas um dia Portugal perder sua autonomia, e
escravisado pelo direito do mais forte, for convertido n^uma obscura
1 «Encontram- se nomes portugnezes nas listas das corporações litterarias
de Berlim, Bordeauz, Edimburgo, Philadelphia, Florença, Leão, Liège, Lon-
dres, Madrid, Marselha, Paris, Sazonia, Stockholm, Toscana e Turim.» José
Maria Dantas Pereira, Memorias da Academia Real das Seiendoê de Liêboa^
vol. X.
VIII
província de qualquer outro paiz, ainda assim nem ha de deixar
de cultivar a lingua de seus maiores^ c na qual suas glorias foram
oscriptas, nem os povos civilisados deixarão de estudar o idioma
de Fernão Lopes, João de Barros, Mendes Pinto, Thomó de Je-
sus, Amador Ârraes, Luiz de Sousa, Herculano, Camões, Bocage,
Philinto Elysio, Nicolau Tolentino, João de Lemos, Gonzaga, Gar-
rett, Castilho, Júlio Diniz, Thomás Ribeiro e tantod outros^; nem os
commerciantes hão de despresar o estudo de um idioma, do qual
tantos milhões de individues se servem nas suas transacções commer-
ciaes, pois que a lingua portugueza não é só cultivada em Portugal,
suas numerosas possessões e Brazil. Â nossa lingua, forrando-me ao
1 «Parece que os hespunhoes ecmpre se acharam convencidos que nunca
podiam attín^ir a ternura romântica dos portuguezes. Uma certa simplicida-
de e intensidade na expressão dos sentimentos ternos, aos quaes a lingua de
Portugal é particularmente favorável, tem sido em todos os tempos uma das
feições características da poesia portugueza desde o xv secule até aos pre-
sentes tempos.» Frcderick Boutcrwck, Hisiory of Spanish and Portugutat
Litlerature, vol. ii, pag. 17.
«O numero preponderante dos escriptores poéticos de Portugal, compara-
do com os de Hespanha durante o século xv, é uma òircumstancia merecedora
de especial noticia, por isso que prova que o solo de Portugal era então, bem
como em epochas de maior antiguidade, mais fértil do que a Hespanha em
génio poético.» Frederick Bouterwck, History of Spanish aiid Fortuguese
Litíerature, vol. ii, pag. 19.
«No glorioso reinado de D. Manuel nenhum poeta hespanhol tinha alcan-
çado tanta celebridade, como aquella de que gosaya o portugucz Bernardim
Ribeiro. A litteratura hespanhola n'aqueile tempo n&o podia ter orgulho
d*alguma obra cscripta n*um cstylo tào culto.» Frederick Bouterwek, History
of Spanish and Portugiese Litte.rature, pag. 38.
«Portugal pode ser considerado como a verdadeira pátria da poesia ro-
mântica pastoril, a qual, todavia, pelo mesmo período florescia na Itália, onde
assumiu formas mais cultas, particularmente depois que Sannazaro escreveu;
porém propriamente nacional só o foi em Portugal.» Frederick Bouterwek,
Hiêtory of Spanish and Porlugucse LtUeraturCf pag. 43.
♦ ♦
«Nenhuma nação nos séculos zv e xvi mostrou maior audácia, emprehendeu
ou assombrou mais os homens com proezas maiores do que o fazia um estado tao
pequeno. Descobriram e frequentaram os portuguezes, commerciaimenteou com
guerra cinco mil léguas de costa; conquistaram Goa, Malaca, Ormuz, Ceylao,
fundaram Macau, subjugaram parte da índia, por toda a parte precederam
os inglezes: mas perco-me n^estas conquistas!... £ é depois do desenvolvi-
mento da grandeza portugueza na índia, que o génio da naçào se manifesta:
encontrar-se*hia nas cartas de Albuquerque, como nos versos de Camões;
nas versões de alguns missionários, como nas paginsis eloquentes do historia-
dor Barros. Os homens d'acçao foram n*aquelle tempo homens de lettras, e o
talento de escrever recebeu d*es(a alliança uma valentia particular no xvi
século. Portugal é um paiz encantador ! Em nossos dias, «juando um grande
poeta, fatigado pelos prazeres, tendo o spleen da saciedade e ò do génio, dei-
xou melancolicamente sua nebulosa pátria com o iim de se desenfastiar, ape-
nas tocou Portugal, sentiu «se reuascer á vista doeste bello clima, e d'esta
terra outr*ora gloriosa, e sempre fértil.» Ferdinand Denis, H. de la LiU. Fort.
IX
trabalho de dizer em que si tios da Africa se faz uso d'ella; é fallada por
alguns milhSes de individues tanto noParaguay, como em varias loca-
lidades- da America do sul; é lingua ainda conhecidissima em vários
pontos do globo. A lingua portugueza (segundo nos assevera pes-
soa muito competente, o sr. Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara,
no seu prologo (pag. xxvi) á Grammatica da lingua Concani) —
cFalla-se, e é vulgar desde o Guzarate até o Cabo Comorim. Não
é desconhecida na costa de Coromandel até Bengala. É commum,
com maior ou menor pureza, em Ceylao, no archipelago Malaio e
na China. Entende -se em Sião, e em vários grupos dos archipela-
gos oceânicos, etc. Não duvidamos de que seja o inglez a lingua
em que no dia de hoje um natural bem educadoy chegando da ín-
dia superior, de Bengala ou de Madrasta, se faça entender de ou-
tro natural bem educado em Bombaim; que seja o inglez a única
lingua que o mesmo natural bem educado use para escrever a seus
amigos Bengali de Calcuttá ou Tamil de Madrasta; mas é ao mes-
mo tempo certo, que em todas as classes da população, não só do
continente indiano, mas dos archipelagos e territórios acima men-
cionados, ainda mesmo n'aqueilas classes, que não passam por mais
illustradas, haverá quem saiba comprehender e exprimir o portu-
guez; c sem duvida uma carta escripta em portuguez será enten-
dida no logar do seu destino em todas aquellas vastas regiões.»
Foi talvez pela celebridade que Portugal adquiriu pelos seus
feitos, pelas suas descobertas mormente, pela extensão de seu
eommereío, que ainda no fím do século passado, segundo a expres-
são do um celebre escriptor francez, era prodigioso, e por suas
glorias litterarias em todos os ramos de conhecimentos, e até mesmo
pelo estudo das linguas orientaes, (chegando F. Dinis a dizer que
n'este género não se deve mais aos inglezes do que aos portugue-
zes), que um extraordinário numero de escriptores se occupou de
nossas cousas, já escrevendo um incalculável numero de livros so-
bre assumptos portuguezes, havidos não poucos d'estes como obras
primas na litteratura, já traduzindo os escriptos mais notáveis ou
úteis que pelos nossos foram compostos; já finalmente fazendo edi-
çSes sobre ediç3es em um extraordinário numero de cidades es-
trangeiras dos livros que saiam dos nossos prelos em Portugal'.
A historia dos primeiros tempos da monarchia portugueza pôde
ser estudada, quanto possivel, nas antigas chronicas, compostas
1 «NiiO 88 julgue que a lingua portugueza é unicamente restringida ao
povo, que a falia. Ella é ainda a lingua do commorcio asiático: está derra-
mada desde o cabo Nâo até ás ilhas do Japão, e desde a ilha da Madeira até
o Brazil. Além d*isto esta lingua é bella, sonora, harmoniosa, livre d^essa as-
fiiraçAo gutural, que censuramos á hcspanhola: tem toda a doçura, e flexibí-
idade da italiana, a gravidade e o colorido da latina. Uma outra qualidade
tanto por nacionaes como por hespanhoes. De D. JoSoI por diante
servem também de subsidio os chronistas francezes, o celebre
Froissart consagra mais de mna pagina aos gloriosos feitos dos
heroes de ÁH abarrota e o mesmo pratica Filippe de Commines a
respeito de D. Áffonso V. Tendo, porém, o mestre d'Ayiz por um
â'e8te idioma é, que ainda uSo enyelhecea: é sempre a mesma ha tresentos
amios.» — Sane, Poesie Lfpiq* Pori.
* *
No século passado o celebre viajante inglez Bmce, com o fim de examinar
as nascentes ao Nilo tinha chegado a Jiddah. N*e8te porto tratava de obter
passagem n*um nayio. O capitão inglez Thomill fatiando com Bmce servia^se
da lingna inglesa, e fallando com seu próprio filho usava do português, pen-
sando que Bmce nSo entendia o que elle disia. Bruce porém gaba-se em seus
escriptos de saber perfeitamente o português, mostrando nMsso certo orgulho,
e ria-se interiormente do engano em que Thomill se achava. — James Bruce,
Voyaaeê aux êourees du NU en Nvbit et en Abysnnit en 1768 à 1772, tom. u,
pag. 206.
«Em muitos reinos da Ásia, principalmente nos portos marítimos, se falia
nm dialecto português, como linguagem commum entre aquelles povos, qnasi
da mesma maneira que na Europa nos servimos do francês. O capitSo inglez
King refere que na primeira visita que fes á ilha Melville, na costa do norte
da Austrália, os naturaes que sairam á praia o chamavam disendo: Vem acá,
6 que bem mostra que conheciam os portugueses e d^elles tinham aprendido
estas e por ventura outras palavras.» — Panorama de 1842, pag. 56.
«La lingua portoghese, ai pari deiritaliana, francese e spagnaola, é filia
delia latina, ed é assai ricca, armoniosa, adattata alia poesia, à tntti generí
di letteratura, ed in nulla inferiore alie sue sorclle.»
« Questa bella lingua non é ristretta ai solo regno di Portogallo e alie sue
isole neirEuropa; ma é la lingua di cui si serve il commercio asiático, e corre
per tutta la costa occidentale e meridionale deli* Africa e deli' Ásia: ed é per
consequensa una lingua cbe si parla, o s*intende in tútte le quattro parti dei
mundo.» — D. Vittore Felicíssimo Francesco, ChrammaUca PoHogheãe ad uto
dtgVIteliani^ Parigi, 1869.
«Em Siam ha um grande numero de descendentes portugueses, fallando a
nossa lingua, e tendo nomes portugueses. Entre estes distingue-se Paschoal
Bibeiro de Albergaria, mandarim e general de artilhería de Siam.» — Archivo
PiUoresco de 1863, pag. 344.
4r m
«Em 1833 tendo* se feito um tratado de commercio entre o rei de Siam e
o governo dos Estados-Unidos da America, apesar de ser escripto em inglez
e siamês Juntou-se-lhe uma traducçâo em português para testemunho do seu
contendo.» — Ârchivo PiUoresco de 1863.
E em 1872 mandou o governo doesta mesma republica publicar um Me-
morandum acerca da celebre questão do navio Alabama, pela qual esteve im-
XI
lado conquistado Ceuta, e por outro o infante D. Henrique dado
começo á ntiaravilhosas descobertas, que tomaram immorredouro
o nome lusitano, Portugal, este cantinho da peninsula, saiu da ob-
scuridade, e desde então fez com que todos os povos civilisados ti-
vessem os olhos fitos n*um paiz, que diariamente pelo espaço de
minente uma guerra entre os Estados-Unidos e a Inglaterra, escripto em três
idiomas francez, inglez e portuguez, o que um jornal considera uma grande
honra para o nosso paiz.
Mr. George Harrison, cidadão americano, na Pensilvânia mandou erigir
no sen jardim em honra de Philinto Elysio um monumento, no qual fez gra*
yar alguns versos da sua famosa Odo á Liberdade Americana. — Sr. José Ma-
ria de Sousa Monteiro, Historia de Portugal, vol. ii, pag. 463.
Nos Estados- Unidos a língua portugueza deve ter um grande numero de
cultores, servindo de prova os magníficos jornaes illustrados que n'este idioma
86 publicam n^aquelle paiz.
Ha pouco tempo publicou na Hespanha, para ensino de portuguez aos
hespanhoes, uma grammatica D. Agostinho Blasco, parocho de Criptana,
doutor em direito e philosophia, e membro de varias sociedades scientifícas
e litterarias.
Como se verá n'este trabalho é extenso o numero de grammaticas coor-
denadas para uso dos estrangeiros, que querem aprender a língua portugue-
sa. A de António Vieira contava já em 1869 treze edições, como se vê do seu
titulo: A. Vieira. Â Grammar of the Portugutse language, 13'i^ edition. Care-
follj revised, corrected and improved by M. G. Henriquez, London.
* ♦
«Na edade média esta mesma impressão dos logares, esta natureza suave
e rica, este bello céu sem nuvens dispunham a alma dos portuguezes para
cantares táo maviosos, quanto sua vida era trabalhosa e aguerrida. Sim: alem
dos mares, em Macau, em Goa, em Ceylilo, o portuguez era indomável, duro,
intolerante até á ferocidade: mas o portuguez nas margens do Tejo, quando
nào era inflamado pelo ardor do comoate, e pela rapacidade da conquista, pa-
recia um povo pacifico occupado na lavoura, e gostando de cantar seus doces
folgares. Suas poesias teem alguma coisa de distincto entre os cantos meri-
dionaes. Ignoro a causa que approxímou a lítteratura portugueza d'esse ca-
racter de meditação e de melancolia, que se attribue principalmente aos po-
Tos do norte. Vem -me n'este instante ao pensamento esta expressão de Ca-
mões n'um de seus sonetos, Camões, cuja lyra sonorosa será mais afamada
mie ditosa. Este encanto da tristeza não se pôde definir. £ncontra-se debaixo
de mil formas nos poetas precursores de Camões, e offuscados pela sua glo-
ria. Não é entre os portuguezes esse jubilo susurraute, essa louca alegria dos
provençaes; também não é a g^vidade austera dos hespanhoes, e essa alti-
Tez, que deseja enternecer- se, e essa imaginação pomposa que exagera e ca-
rece de sentimento* Não: é uma emoção ao mesmo tempo viva e reflectida,
que se deleita com as imagens do amor e dos campos. D'ahi nasceu entre os
portuguezes a poesia pastoril . Essas poesias ao mesmo tempo ideaes e natu-
raes, esses versos bucólicos, que foram inspirados aos portuguezes pelo seu
bello clima e génio scismador.»
«Quando no século xv um portuguez, de alma viva e apaixonada, errante
•obre as margens floridas do Tejo, sobre as bordas do Mondego, perto d'esse
rio, onde D. Fedro ia ter com Ignez, quando um portuguez, penetrado d*essas
lembran^, então reeentes, cantava éclogas em sua lingua harmoniosa
que facia contar a seus pastores a vida aprasivel doestes, suas laranjeiras
xn
um século, enriquecia aa sciencias com descobertas novaS; e prin-
cipalmente a geographia, cujos verdadeiros progressos só datam
d'aquella epocha, verdade reconhecida pelos próprios inglezes, que
n?[o duvidam confessar que mesmo todas as descobertas, que
d*aqui por diante se fizerem n'este ramo, sSU) devidas á iniciativa
suas ceifHS quasi sem amanho da terra, diividaes ?Ó8 do encanto d'aquella
poesia? Nilo devia esta ser inais simples ainda que a de Virgílio, cujas éclo-
gas sáo, para melhor dizer, imitações de Theocrito, aue dos campos?
«Os portugnezes deviam possuir em grau extraordinário o talento descri-
ptlvo. O paiz os inspirava, e as emprezas longiquas o desenvolviam também.
Deixavam as margens do Tejo para percorrerem as florestas da ilha de Cej-
lâo, o litoral de Moçambique, a península do Ganges. £m as narrações de
seus historiadores scintillam todos os thesouros, todas as maravilhas d*aquel*
las ricas regiões. Camões com a imaginação dominada pela poesia antiga des-
presou as scenas da natureza oriental patenteadas a seus olhos.» — Villemain,
Coura de LitUr<Uufe^ pag. 695 e seguintes.
♦ ♦
«Náo admira, pois, que o conhecimento da lingua portugueza se propagasse
tanto, lembremo-nos do que disse o famoso Baynal: «Sem a descoberta de
Vasco da Gama a luz da liberdade apagava-se de novo, e talvez para sempre.
«Os turcos iam substituir essas nações ferozes, que das extremidades da
terra vieram substituir os romanos, para se tomarem como estes o flagello
do género humano, e nossas barbaras instituições teriam sido substituídas
por um jugo ainda mais pesado. Este resultado éra inevitável, se os ferozes
vencedores do Egypto não tivessem sido repellidos pelos portugaezcs nas
differentes expedições tentadas por aquelles nas índias.»
«As riquezas da Ásia lhes asseguravam as da Europa.
«Senhores de todo o commerclo do globo, teriam tido necessariamente a
mais formidável marinha, que em tempo algum se viu no mundo. Que obstá-
culos teriam podido conter este povo, que era conquistador pela índole de
sua religião e de sua politica?»
«Se nos devemos assombrar do numero das victorias dos portugueses e da
rapidez de suas conquistas, que direito não teem á nossa admiração seus ho-
mens intrépidos? Tinha-se visto até então um povo com tão pouco poder fazer
tão grandes coisas? Não havia quarenta mil portugueses em armas, e comtudo
faziam tremer o império de Marrocos, todos os bárbaros da Africa, os mame-
lucos, os árabes, o oriente inteiro desde a ilha de Ormuz até á China.
Eram um contra cem; e atacavam tropas, que muitas vezes com armas eguaes
disputavam seus bens e sua vida até ao ultimo arranco. Que homens deviam
então ser os portuguezes, que macbinismo extraordinário tinha formado d*elles
um povo de heroes!... Raynal^ Histoirt Fhiloêophique et Politique des étabUsêe-
mente et du eommerce dea Europienê dons le$ deux Indeã, Geneve, 1781, vol. i,
pag. 170.
«Mesmo em epochas muito roais próximas de nós Portugal pesava alguma
coisa na balança da Europa, «Em 20 de janeiro de 1770 representava-se ao
governo francez n*uma memoria, que no caso de guerra das forças hespa-
nholas e francezas contra Portugal era mister reflectir: Que a conquista de
um reino na Europa era materta que requeria maduras reflexões; e que para
avassalar Portugal seriam necessários exércitos de sessenta mil homens cada
«m.»— Visconde de Santarém, Quadro elementar das rdações politicM e di-
plomáticas de Portugal com as ditiersoM potencias do mvndoyiúm, vn, pag. 894.
«Apenas o gabinete inglês declarou gaerra a Lais AIY, mandou a Lis*
XIU
doe nossos. Os maiores nomes na historia das navegaçSes figura-
vam entilo a bordo das frotas portuguezas, nas quaes Colombo,
Américo Vespucci, Cadamosto e outros muitos se habilitaram para
adquirirem um nome immortal. Um paiz n'estas condições, fossem
quaes fossem os destinos que lhe estivessem reservados, não podia
boa em missão extraordinária o chanceller de Irlanda, o cavalheiro Methwea,
o aual propoz a el-rei D. Pedro em nome do sou governo, bem como do de
Hollanda, que se Portugal se quizesse declarar em favor doestas potencias,
de lhe darem o numero de navios, que o mesmo monarcha pedisse, vinte mil
homens de tropas, e alem d'is80 de garantirem as conquistas, que as armas
portuguezas podessem fazer aos hespanhoes e finalmente de nos auxiliar em
qualquer tempo, e em todas as circumstancias em que fossemos atacados
pela Fnmça oo pela Europa, e de darem por saldadas as reclamações pecu-
niárias, e outras que a Inglaterra e a Hollanda tinham contra Portugal.
«Com effeito D. Pedro veiu a seguir a politica ingleza, e por isso dizia
o embaixador francez que (segundo as noticias de Inglaterra) constava que em
Londres se tinham feito grandes regosijos por se ter concluído o tratado.»
«Em 1733, por occasião da eleição do novo rei da Polónia foi a nossa ai*
liança, ou antes a nossa neutralidade buscada á porfia, como em todos os
tempos aconteceu, pelas grandes potencias belligcrantes. Ao passo que a
França e a Hespanha tratavam de conseguir abraçar-se, o nosso gabinete, o
partíao da neutralidade, as cortes de Vienna e de Londres, e o eleitor de
Saxonia não cessavam de negociar para alcançarem egual resultado, chegan-
do o imperador a offerecer a Portugal a Sicilia e a Córsega para o infante
D. Manuel, caso que com elle fizéssemos causa commum, e acenando-nos a
Inglaterra com o augmento do território, se por ventura nos declarássemos
por ella contra a Hespanha, obrigando-se o monarcha iuglez a assegurar-nos
na paz geral a dita posse e senhorio.
«Em 1753 officiava o conde de Baschi ao ministro de França, que Portu-
gal estava bem longe de se considerar debaixo do jugo dos inglezes, os quaes
esperava pelo contrario que fossem seus tributários.
«N'outro officio: Que o ministro Carvalho lhe havia expedido os passa-
portes, servindo-se dos termos mais lisonjeiros para com a França, mas sem-
pre afectando de pôr o nome de Portugal em primeiro logar, como faziam
as grandes coroas, que queriam hombrear com a de França; que elle embai-
xador se lhe inandara queixar por terceira pessoa, e viera a saber que fora
el-rei seu amo, que assim lh*o ordenara, porém que depois de vários debates
consentira em que se pozesse Âs ducu Coroas, em logar de Portugal e França.
D*Í8to tomava o embaixador pretexto para animar contra nós o seu governo,
disendo que elle nos havia estragado com mimos.
«No anno seguinte officiava o mesmo Bachi: Quefxando-se amargamente
da pouca contemplação que a nossa corte tinha com os representantes das
potencias estrangeiras, dando por prova o modo como fora tratado o duque de
botomajor, que no seu tempo estivera para arrebentar de paixão; que ver-
dade era que n'aquella mesma occasião o embaixador de Hespanha e o mi-
nistro de Hespanha eram tratados com distincção e agrado, mas que a^uillo
era momentâneo e fingido, e que no meio d*aquellas mostras de cordealidade
transpirava a soberba portugueza, e o aborrecimento que aquella nação tinha
aos estrangeiros.
«9 de maio de 1769. Officio do cavalheiro de Clermont para o duque de
Choiseul participando: Que lhe era forçoso dar conta da seusivel diflFereuça,
qne observara entre as tropas hespanholas e portuguezas, sendo estas ultimas
a todos os respeitos superiores ás primeiras, tanto no pessoal das praças, eo-
XIV
d'ahi por diante deixar de interessar aos estrangeiros, e com effeito
muitos, quer arrastados pela sede do oiro, quer aguilhoados pelo
amor da sciencia, de remotas regiSes se encaminhavam a Lisboa
com o fím de observarem as frotas carregadas de riquezas entran-
do a foz do delicioso Tejo, e de estudarem aquellas drogas e espe-
mo no aceio, disciplina e conhecimento das manobras: que a comparaç&o de
Elvas com Badajoz ofiferecia a maior disparidade, não havendo n^esta ultima
praça uma só peça de artilheria com reparo nos baluartes, nem nos arma-
zéns, nem um só jornaleiro no arsenal, assim que o serviço da praça estava
posto de parte, de sorte que era uma dôr de eoraç&o, e o que mais a augmen-
tava era ver a conâança em aue estava a este respeito o ministério nespa-
nhol, e o despreso com que olhava para o seu inimigo natural: que era opi-
niáo sua que a Hespanha só poderia levar a melhor de Portugal abrindo a
campanha com tropas francezas, e com commandantes da mesma naç2o á
frente das suas; mas se o ministro hespanhol persuadido da fraqueza do ini-
migo fosse o primeiro a atacai -o, desfallecido de tudo quanto elle acabava de
mencionar, n*esse caso era para temer que fizessem os portuguezes em Hes-
panha taes progressos, que apenas os poderiam reparar os esforços de mui-
tas campanhas bem succedidas.
«Em 21 de janeiro o embaixador francez avisava sua corte da continua-
ção de nossos armamentos militares, dizendo que a mão que os dirigia, mos-
trava uma habilidade consummada, e que era mister que a Hespanha fosse
mui hábil para poder escapar aos perigos de que a ameaçávamos. Todo o
Rio Grande na America ficará nas mãos dos portuguezes, e ver-se-ha que
este acontecimento tornará immortal o marquez de Pombal.» Visconde de
Santarém, Qwidro Diplomático,
* 4r
«Ainda aue a nação portugueza se sustentou gloriosamente por séculos,
nada bom tudo a faz mais recommendavel que o que obrou n'estes últimos
tempos por suas descobertas e conquistas no mundo novo. Ha nada mais il-
lustre que o ter levado nossa religião até ás extremidades da terra, e o ter
feito com aue uma infinidade de nações mergulhadas nas trevas do mahome-
tismo ou idolatria abrisse os olhos á luz? Ha nada mais famoso que ter leva-
do a todos os povos da Europa a facilidade do commercío de que gosamhoje,
abrindo- lhes um caminho até então desconhecido para reunir no seio d^elles
08 thesouros e riouezas dos paizes mais longiquos?
«Mesmo senão pouco assombrados com estas grandes vantagens deve-
mos sentir que lhe devemos nosso reconhecimento por nol-as terem grangea-
do, especialmente se attendermos a que são o fructo de duzentos annos de
trabalnos e de fadigas immensas.
«Durante este longo periodo de tempo vé-se esta nação no decurso de
uma historia continuada e sempre interessante, vencer os obstáculos mais in-
yenciveis por meio do uma paciência e coragem a toda a prova, apresentar
grandes homens em todos os géneros, terem a superioridade, apesar dp seu
pequeno numero em toda a parte, aue se apresentam; estabelecer sua repu-
tação e seu domínio sobre a mina aos impérios, forçar de alguma sorte a tor-
tuna a auxilial-os sempre por meio de prósperos successos.
«Deve isto ainda parecer mais digno de admiração, quando considerarmos
que Portugal é um remo muito pequeno, e encerrado em limites muito es-
treitos, e que por isso não era natural presumir que podesse encontrar em si
mesmo tantos recursos, formar tão vastas emprezas, abranger uma tão gran-
de extensão de paizes, poder com tão grandes despezas, subjugar tão diversos
ciarias, que pela primeira vez appareciam nos mercados europeus,
e das quaes Amador Ârraes eloquentemente falia em seus diálogos.
Veneza, a orgulhosa Veneza, estava abatida, e a Europa salva da
ferocidade dos turcos! E eram só quarenta mil portuguezes, excla-
ma o abbade Sajnal, cheio de assombro! E os Uvros portuguezes
eram então anciosamente procurados pelos outros povos, lidos com
avidez e immediatamente traduzidos em todas as Unguas euro-
peas!
poros, e pôr em acção um tão glande numero de indivíduos capazes de fazer
com tão grande eloria terem seus projectos tão bom êxito.»
«Não teem faltado á nação portugueza escriptorcs para celebrar a gloria
de suas conquistas em linguas differentes da nossa, e talvez que o mérito
d'e88e8 escriptores tenha desanimado aquelles d'entre nós que tivessem que-
rido emprehendel-a. — Lafítau, Hiatoirt dta découveríe$ et conquêtes des Por-
tugaiê aanê U nouveau monde. Prefacio.
«Não é o próprio Portugal que entregou alternadamente a Península a
Richelien e á Inglaterra, e que mais recentemente na presença da Europa
abatida inaugurou a lamentável decadência da França imperial?
«Por maior tristeza que possa inspirar a situação actual de Portugal, a
historia doeste pequeno reino não fica por isso menos uma das mais dramáti-
cas e maravilhosas. O imperador tinha tido o cuidado de recommendar o es-
tudo d^ella nos Ivceus. Encontrava n'ella com rasão uma excellente escola de
enthusiasmo e ae heroísmo para essas jovens gerações, que elle arrastava
após si para todas as capitães da Europa.
«Qne aoge de gloria e de grandeza!
«Apenas Portugal tocou seus limites naturaes, repelliu os infiéis, con-
fondia o orgulho castelhano, e fundou sua constituição intei^ior, que não quer
contentar-se somente com o ser livre. Falta-lhe immediatamente o ar nós
seus estreitos limites, e impaciente de derramar fora do paiz sua actividade,
soa coragem e seu zelo, eil-o que se apressa em levar á Africa a guerra, que
de lá tinha vindo tantas vezes. D'ahi todos esses prodigiop, que illnstraram
o seeolo seguinte, as fecundas meditações do infante D. Henrique, todas as
costas da Africa reconhecidas, a America descoberta como uma magnifica re-
compensa conferida pelo acaso á audácia portugueza, o grande Oceano impu-
nemente atravessado, as índias descobertas, a Ásia avassalada, todo o com-
mercio do mundo mudado, o homem entrando finalmente na posse de toda a
soa resideocial Que repentina revolução, e que nação poderosa levou jamais
ao cabo empreza mais iinportante?» Auguste Bouchot, HUtoire de Portugal
mm» la direetion de mr. Duruy,
«A nação portugueza em particular, pôde revindicar a gloria da iniciativa
dai viagens longiquas sobre o Atlântico, e das grandes explorações dirigidas
para oeste e sul. 8ua missão foi a de estabelecer as primeiras relações dire-
ctas da Europa com a índia por meio do oceano. Não é isto ainda tudo: a
oolooisação de metade da America do Sul è obra sua.
«Um povo que se apresenta perante a posteridade com egual titulo, está
psgiiro que quaesquer revezes que tenha depois experimentado, de conservar
na historia nm lc«par honroso, que ninguém lhe poderá contestar sem ingrati-
dio.»— Charles Yoge!, Le Portugal et »m eolomet.
Que illusão a de alguns, que julgam terem apenas as poesias
de CamSes sido traduzidas ! As obras do nosso padre Vieira não con-
tam menor numero de versSes do que as do nosso poeta; as Pere-
grinciçZes de Fernão Mendes Pinto, ainda hoje são traduzidas em
vários paizes, o Hissope acaba agora mesmo de encontrar um novo
traductor, e n'uma palavra difficilmente se encontrará um bom livro
composto pelos nossos, aos quaes os estrangeiros não tenham tribu-
tado esta honra, que ainda não ha muitos annos a douta AUemanha
mais uma vez prestou ás Décadas do nosso Barros. Não admira, po-
rém, que os estranhos pagassem um tal tributo de admiração aos
escriptos de nossos maiores, narravam aquelles, feitos nunca prati-
cados, e hoje diJBScilmente cridos, se não foram comprovados por
monumentos de mais de uma espécie. Ao mesmo tempo combatiam
em Marrocos contra os moiros, sustentavam cercos apertadíssimos,
ganhavam batalhas campaes, descobriam paizes nem sequer sonha-
dos pelos antigos, e não só isto, opulentavam as sciencias e aperfei-
çoavam as artes. Apresentavam o primeiro poema épico moderno,
e a segunda tragedia, e na poesia bucólica tomavam o primeiro
logar, davam a conhecer á Europa as plantas asiáticas e america-
nas, enriqueciam as sciencias mathematicas e naturaes, escreviam
um numero extraordinário de obras sobre as linguas da Ásia,
America e Africa, e Deus sabe até onde chegariam, se a inquisição
e os jesuítas não lhes tivessem atalhado voos tão arrojados!...
Desde então as coisas mudaram completamente; em Portugal já
não era possivel escrever senão o que fosse grato, ou a tão detestá-
vel tribunal, ou ao governo sopeado pelos jesuítas e frades, e o jugo
era tal que qualquer escriptor tinha de declarar mui positivamente
que não acreditava nos deuses do paganismo ! Não procureis d^aqui
por diante a historia de Portugal nos escriptores portuguezes, a ver-
dade só a encontrareis nos escriptos estrangeiros. Innumeraveis são
as obras publicadas em todos os paizes a respeito da catastrophe de
Alcácer Quibir, da deposição de D. Affonso VI, da administração
do marquez de Pombal, n*ellas podereis encontrar a narração dos
factos taes quaes se passaram; mas, se os procurásseis conhecer
com toda a exactidão nos escriptos nacionaes, darieis prova de que
éreis pouco sabedores do modo de viver d^aquella epocha.
O conhecimento, pois, das obras publicadas por estrangeiros
em tantos e tão vários paizes tornasse indispensável para aquelle,
que desejar conscienciosamente escrever acerca de nossas coisas.
Não havia, porém, um guia. Que obras ler relativas á acclama-
ção de D. João IV, ou á nossa heróica lucta contra Napoleão I?
Sabia*se apenas que existiam muitas. Havia conhecimento d'uma
ou outra. Mas o presente trabalho vae mostrar que ha dezenas.
Vae declarar o titulo exacto de cada uma, sempre que seja possi-
vel, o nome por extenso do author, e até mesmo fazer extractos
d'aquelles trechos que mais directamente nos interessam^ respei-
tando com tudo os limites próprios d'este trabalho.
O leitor vae ficar talvez um pouco surprehendido ao ver a gran-
de aureola de gloria que cinge o nome Portugal entre os estranhos.
Escríptores de primeira ordem consagram-lhe paginas repassadas da
maior admiração e respeitO; e acerca de nossas coisas escrevem obras
tSo importantes, que não podem deixar de ter um logar distincto nas
primeiras bibliothecas do mundo. O prussiano conde de Hoffinansegg
emprega perto de cincoenta contos de réis na publicação da sua
Flora Portugueza^ e p8e em perigo sua vida nos pincaros da Serra
da Estrella. Seu companheiro de iornada, o celebre botânico
Link, escreve sua viagem a Portugal e n'ella tece òs mais pom-
posos elogios ao nosso paiz. A marqueza de Abrantes fica absorta
ao contemplar as bellezas do TeiO; e não cessa de gabar as mara-
vilhas que encontra em Portugal, maravilhas cantadas por poetas
e poetizas em todas as linguas. Murphy escreve sobre as bellezas
da Batalha uma obra verdadeiramente monumental, o mais bello
trabalho que a respeito d'ella existe. O architecto firancez Taylor
na sua magnifica obra nada encontra comparável ás columnas de
Belém. O prussiano conde de Rackzynski é o primeiro que em dois
volumes dá esclarecimentos relativos ao nosso legendário Orão
Vasco. Poucos annos depois vae da Inglaterra expressamente a
Vizeu o inglez Robertson com o fim de estudar o mesmo assum-
pto. Adamson escreve uma biographia de Camões, verdadeira-
mente digna de «preço, e Henry Major ainda bem não acaba de
dar á luz a Vida do infante D. Henriguej logo pega na penna para
trabalhar n'outra obra relativa ás nossas navegações. Lamartine,
n'uma soberba ode, immortalisa o nosso Philinto Elysio. E o leitor
encontrará elogios de Chateaubriand, Racine, Boileau, Quiaet e
outros aos nossos escríptores. Em remate as melhores historias da
litteratura portugueza são escríptas por estrangeiros, e muitos sa-
bem as obrigaçSes em que estamos para com Ferdinand Diniz,
Stanley, Smith^ Ruscala, Schaeffer, e muitos outros. ^
1 £m 26 de janho de 1876, o rei de Dahomej, em guerra com os ingleses,
ranette ama carta escrípta na língua portugueza^ ao commodoro britannico
Hewett, pedindo qoe este lhe enviasse um parlamentarío para tratar d*nm
aeoordo.
«Amo e venero a ];iobilÍ88Íma nação portugueza (diz o celebre hespanhol
Feijóo no seu Theairo Critico) pelas rasoes que a fazem gloriosa em todo o
orbe. O nascimento me fez seu visinho, e o conhecimento apaixonado. Os que
sabem a primeira coisa estranharão a segunda, porque entre povos limitro-
pbes sujeitos a diversas coroas, costuma reinar certa espécie de emulação
que os toma mal avindos. Porém como o céo me deu um espirito desembara-
çado d'estas preoocopaçÒes vulgares, estimo o mérito om qualquer parte que
o eneontre.
TOMO I. # #
XVIII
Quereis conhecer o importante papel que na política europeia
representou o celebre D. António Prior do Crato? Nâo o procureis
nos livros nacionaes; pois ai d^aquelle que tivesse o arrojo de dizer a
verdade em Portugal n^aquelle tempo, mas procurae-a no grande nu-
mero d^elles; que por então se publicaram em muitos paizes. Quereis
ter informações sobre a maneira como a inquisição tratava seus pre-
sos no reinado de ÁíFonso VI? Só as podereis obter lendo-as na
obra que Dellon escreveu a tal respeito. Quereis ver nossos monu-
mentos? Vel-os-heis também no Portugal Ulustratedy de Kinsey,
e em muitas outras obras especialmente dedicadas a este objecto.
Não trata; porém, o presente trabalho somente dos livros com-
postos por estrangeiros relativos a assumptos portuguezes, e dos
traductores que verteram em linguas estranhas obras compostas
pelos nossos patrícios: darei também noticia resumida de muitas
obras escriptas pelos nossos, quer em portuguez quer n^outros idio-
mas, reimpressas firequentes vezes em paizes estrangeiros; e ter-
minarei dando uma succinta noticia, extrahida em geral de traba-
lhos estrangeiros, de vários monumentos que pelos nossos foram
erigidos em vários paizes.
nNem o paíz onde o sugeito nasce, nem o partido que segne, ajuntam um
8Ó grão de peso na balança em que examino o que vale.
«Torno pois a dizer que venero a nação portugueza por suas muitas qua-
lidades relevantes que conciliam o meu respeito. Brazões são que ornam a
sua gloria militar, continuada até hoje desde os mais remotos séculos; o seu
ardente zelo pela conservação da fé, a sua alteza nas letras, e a sua fecundi-
dade em proauzir excellentes engenhos.»
♦ «
£ tinha rasão Feijóo: não foram só as navegações, guerras e descober-
tas que tomaram Portugal conhecido dos estrangeiros; em todos os ramos de
conhecimentos humanos Portugal contou sempre grandes engenhos: Pereira,
auctor do methodo de ensinar os mudo-surdos, que recebia uma pensão de
Luiz XIV; Constantino, o Aei dos floristas, estabelecido em Paris; Sequeira,
que no Louvre cxpoz o admirável quadro de Camões moribundo. Coelho, cu-
jas telas ornam o Escurial; Moura, tão conhecido em Londres pelas suas pin*
turas; Fr. Francisco de Santo Agostinho, em Roma e Pádua disputando de
omni scibili com os maiores sábios da Europa; Arthur Napoleão, em tenra
edade, despertando a admiração do mundo musical com seus concertos nas
primeiras capitães da Europa; Bomtempo, pianista tão conhecido em Londres
e em toda a Europa; Marcos de Portugal, cujas operas eram cantadas nos thea-
tros de primeira ordem; Todi, recebendo applausos pela maestria do seu canto
em S.Petersbourg e n^outras capitães; António Vieira, pregando em Romana
presença de Christina, rainha da Sueeia, onde então se achavam oradores dos
mais distinctos. Canonistas e theologos da maior reputação, que no concilio
de Trento attrahiam as attençoes d*aaue11e illustrado congresso; o Visconde
de Santarém, cujos trabalhos geographicos hão de ser em todas «s epochas
de primeira ordem; Casado Giraldes que n^esia sciencia egualniente me faz
distincta companhia; António Vieira Transtagano, professor de linguas orien-
taes em Londres; P. Manuel Alvares, por cuja grammatica (segundo declara
a edição impressa em Lucca) se aprendia o latim em quasi toda a Europa.
XIX
Notará o leitor quo alguns artigos sSo longos, ao passo que
outros apparecem muito succintos. Provem a causa ou de o auctor
possuir o livro mencionado, ou do o ter á sua disposição, ou de
apenas poder momentaneamente lançar sobre elle um relance de
olhos, ou vel-o tao somente mencionado n'um catalogo, ou citado
em qualquer livro.
Qualquer leitor conhecerá de quão grande difficuldade é escre-
ver uma obra a respeito de assumpto tao espinhoso. No entanto
trabalhei por alguns annos, e fíz quanto pude, n^ mo poupando ao
trabalho. De muitas obras, apesar das maiores diligencias, nunca
me foi possível obter um exemplar, entre as quaes a de Ebeling.
Como seria possível a qualquer individuo ver tantas obfas com^
postas em tantos idiomas e localidades tSLo differentes, sendo n'ou-
tro tempo a entrada de muitas rigorosamente prohibida em Portu-
gal, escriptas por pessoas que nSo respeitavam a inquisiç^ nem
as ceremonias religiosas dos portuguezes?^ Outro tanto succede na
D. Francisco de Mello, o author da celeberrima Historia dos movimentos de
CaUdunha, uma das mais notáveis obras da litteratura hespanhola. Também
mn portaguez foi medico de Catharina II, imperatriz da Rússia^ e n'esta
sciencia contamos actualmente varões muito abalisados, entre os quaes brilha
o nome do sr. Alvarenga.
£m 1806 a academia de Copenhague offereceu um premio ao melhor li-
▼ro sobre a composição das forças, e o professor de hydraulica na universi-
dade de Coimbra, Manuel Pedro de Mello, foi quem o ganhou.
Ab obras do abbade Correia da Serra acham-se impressas nas PhilosO'
phical Transactions, de Londres, e nos Ânnaes do Miueu de Paris,
Nas actas da academia de Munich estão publicados trabalhos do nosso
José António Monteiro, e o Catalogo dos Manuscriptos da Bibliotheca d'Al-
cobaça, por Fr. Fortunato de S. Boaventura recebeu elogios de Mal e d'ou-
tros sábios. O nosso João Pedro Ribeiro disputava com o celebre auctor da
Eipeâía Sagrada^ o P. Florez, e censurava passagens das suas obras. Brotero
era am botânico distincto, e a Flora da CoMnchina, do nosso padre Loureiro,
era reimpressa e accrescentada na Allemanha, a qual tantas reimpressões e
tniducções está fazendo das obras portuguezas. £ em remate, como o leitor
ba de ver^ os trabalhos dos nossos patrícios sobre os idiomas chinez e japoncz
estam sendo ou reimpressos, ou extractados em Roma, Paris e n*outras partes.
As obras do nosso arabista Fr. João de Sousa são conhecidas em toda a par-
te, e o celebre professor de línguas orientaes em Paris, mr. Dubeux, fez seus
primeiros estnaos em Lisboa. Qual será o sábio estrangeiro que não conheça
as obras do nosso Silvestre ii^inheiro Ferreira, e o diplomata que não aprecie
o merecimento do nosso fallecido Duque de Palmella? Se o nome dç Silvestre
Pinheiro Ferreira é conhecido pelos seus livros phtlosophicos, também os tra-
balhos publicados em diversas epochas pela universidade de Coimbra com-
mentando as obras de Aristóteles são de grande apreço (segundo dizem es-
trangeiros competentes) e a Lógica de Verney não só foi bem acceite na Itá-
lia, mas até mesmo recebeu grandes elogios no Journal des Savanf^.
^ Apenas chegava um navio estrangeiro a qualquer porto portuguez, era
a embarcação visitada pelos padres de S. Domingos, ou indivíduos da Inqui-
sição, que apprehendiam todos os livros que dissessem mal dos costumes re-
ligiosos dos portugueses.
França. N^aquelle paÍ2 sSo rarissimas; segundo diz o sr. F. Diniz,
as primeiras traducçSes que se fizeram das obras portuguezas rela-
tivas ás nossas primeiras viagena e descobertas. £ em Portugal
quantas pessoas se podem gabar de ter visto um Garcia da Horta
em francez; ou um F. Mendes Pinto em hollandez?
Divide-se pois este trabalho em quatro partes, tratando cada
uma d'ellas do seguinte assumpto:
I — Diccionario de todos os escriptores estrangeiros que escre-
veram obras expressamente consagradas a Portugal ou a assum»
ptos portuguezes, acompanhado da traducção dos trechos mais no-
táveis que provam á evidencia o alto apreço que os maiores sábios
estrangiirJfizeram dos portugaezes.
U — Diccionario dos traductores estrangeiros que verteram
para os seus idiomas, obras portuguezas, trabalho digno de ser lido
por aquelles que julgam que os estrangeiros ou nSo conhecem a
nossa litteratura, ou não lhe dão o devido apreço.
III — Resenha das obras compostas por portuguezes, impressas
em Portugal e reimpressas repetidas vezes em paizes estrangeiros
pelo grande credito que n'elles obtiveram.
IV — Noticia dos monumentos existentes em varias cidades do
mundo, construídos por portuguezes ou erigidos em honra dos nos-
sos compatriotas.
Termina o 2.® volume em um indice remissivo, o qual com &
maior facilidade indica as obras que podemos consultar a respeito
de qualquer assumpto.
E tempo de terminar, mas cumpre-me dar agradecimentos
áquellas pessoas que me obsequiaram, já dando-me algumas noti-
cias, já mvorecendo-me com o empréstimo de algumas obras, com
o fim d'ellas eu poder fazer extractos. Serei por conseguinte sem-
pre grato aos obséquios recebidos dos ill."®* e ex.""* srs.
Angelo Carrero
António Henrique Leal
António Maria Pereira Júnior
António Rodrigues
António da Silva Tullio
Cassassa, e vários empregados da Bibliotheca publica de
Lisboa
Conde de Geraz de Lima
Francisco Arthur da Silva
Francisco Marques de Sousa Viterbo
Manuel José Ferreira
Marquez de Sousa Holstein.
XZI
•
Declaro francamente que ao ex.^^ sr. Silva Tullio devo o ter-
mo dado conhecimento de algumas obras existentes naBibliotheca
Publica de Lisboa, sem o qual eu as não mencionaria, pois eram
para mim completamente desconhecidas.
Não sendo mfelizmente versado no conhecimento do idioma alle-
m2o, tive de recorrer aos ex."^*"* srs. Alfredo Keil, e Sophia Boeder
nas traducçSes que indispensavelmente tive de apresentar de vários
trechos de obras escriptas n'esta lingua.
Ainda mais uma vez repito: lutei com muitas difficuldades,
mas subiram ellas de ponto principalmente na 2.^ parte d'este tra-
balho, quando trato das versSes dos escriptos portuguezes para
idiomas estrangeiros.
Se, porém, este meu trabalho for bem recebido pelos meus con-
terrâneos, dar-me.hei por bem pago de todas as minhas fadigas e
vigilias, e com muitos outros, exclamarei:
£a d*e8ta gloria só fico contente
Qae a minha pátria amei e a minha gente !
PARTE I
n
iPÍORES MNGEI
QEE ESCREVERll OBRAS
CONSAGRADAS A PORTUGAL OU A ASSUMPTOS PORTUGUEZES
COM A TRADUCÇÃO
DOS TRECHOS MAIS NOTÁVEIS D'ESSAS OBRAS
«Lusitânia 1
Regnorum Regina potens, quam Solís ab ortu
SolÍ8 ad occasus Orbis utcrqac colit.w
LoBEOf^lTZ*
l
PORTUGAL E OS ESTRANGEIROS
A
I) ABBEVILLE (OLEMENT FOULLON OLAUDE D') — Missioná-
rio 6 escriptor francez da ordem dos Capuchos, nascido em Paris no anno de
1632. 1
E. — Histoire de la míssion des PP, Capucins à Vile de Maragnon et íerres
circonvoisines, oit il est traité des singularités admirables et des tnoeurs mer^
veilleuses des Indiens, Paris, 1614.
(Historia da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão, etc.)
í) ABBTS (THOMAS).
E. — Fragment der Portugiesischen Geschichte. Berlin et Stellin, i78i, 8.»
(Resumo dos feitos dos portuguezes, etc.)
3) ABLANOOURT (Monsieur d').
E. — Memoires de— Envoyé de sa Majesté Trés-Chréi 'mne Louis XIV en
Portugal, contenant VHistoire de Portugal, depuis le TraUé des Pyrenées de
4659 jusqu'à 1668. Avec les Revolutions arrivées pendant ce temps-là à la Cour
de lÂsbonne, et un détail des batailles données et des Sieges formes 50us les or-
ares et le commandement du Duc de Schomberg^ avec le Traité de Paix, fait
entre les Róis d^Espagne et de Portugal, et celui de la Ligue offensive et defen^
sive, conclú entre Sa Majesté Très-Chretienne et cette Couronne, A la Haye,
Chez Abraham de Hondt, Marchand Libraire, prés de la Porte de la Príson.
1701, 8.% 382 pag.
(Memorias de mr. d'AbIancourt desde í6d9 até 1668.)
Esta obra tem sido consultada, e ha de sel-o em todos os tempos por aquel*
les, que quizcrem escrever circumstanciadamente a historia dos reinados de
D. João IV e D. Affonso VI. Fremont d*Ablancourt, segundo nos diz o viscon-
* Firmiu Didot ~ Nouvelle Biographie Générole^ vol. 10.®, pag. 69o.
2 AB
de de Santarém^ ^ era indívídao algum tanto enfatuado, e mal acceito aos por-
tugaezes. O aactor d'estas Memorias faz ama horrível descripçao da índole de
Affonso VI; elogia extraordinariamente os feitos de Schomberg, apesar de ser
quasi sempre contrariado pelos portaguezes, e lamenta o poaco desejo, que os
nossos tinham de augmentar seu território, pois que toda a Galliza até à Co-
runha deveria pertencer a Portugal, no dizer d'este escriptor.
4) ABRANTES (LAUHE PEHMON, Duchessb d') — Mulher do ge-
neral Junot, commandante da primeira invasão franceza em Portugal.
Nasceu em Montpellier a 6 de novembro do anno de 1784, e falleceu em
Paris a 7 de junho de 1834. ^ Viveu sempre com tào excessivo luxo e ostenta-
ção, que se arruinou completamente a ponto de por fim ter de viver com o
producto de seus escriptos. Alem de muitas outras obras, escreveu também :
Souvenirs d*une amhassade et d^un sejour en Espaçne et en Portugal, de
1808 a 1811.Bruxelles, Société Belge de Librairie, de Hauman, Gattoir et Comp.%
1838, 12.» gr., 289, imprimerie de P. Marz.
O tomo 2.'» tem exactamente o titulo do 1.% mas com o accrescentamento
das seguintes palavras: Leipzig. L. Míchelsen. 326 pag.^
A viagem em Portugal começa a pag. 113 d'este 2.» vol.
cQu^m não tem visto ÍÃsboa, não tem visto cousa boat^ Estas palavras ad-
mirativas, que o orgulho nacional inspira sempre a qualquer portuguez habi-
tante de Lisboa, serão reconhecidas como verdadeiras por aqueiles, que tive-
rem tido a ventura de viver sobre as margens encantadas do Tejol... Ck)m ef-
feito, nada mais bello, que a vista de Lisboa, chegando ao rio, ou por Aldeia
Gallega, ou por Cacilhas, ou pela Moita. — Tenho percorrido toda a Europa,
e, exceptuando Nápoles^ nada vi que me tenha penetrado de admiração como
esta cidade, levantando-se em forma de amphitheatro na margem da immensa
planície de agua do Tejo. É especialmente ao vir de Aldeia Gallega que seu
aspecto é o mais magestosamente imponente. No primeiro plano do quadro o
Tejo, cuja largura n'este sitio é de mais de duas léguas francezas, está cober-
to de milhares de embarcações, cujos mastros empavezados annunciam, que
toda a marinha do mundo pôde vir demandar asylo á bahia de Lisboa. É do
seio d'este lago, ou antes d'este mar, que se levantam como amphitheatro as
coliinas, sobre que assenta Lisboa. Á medida que o barco se desvia da mar-
gem do Alemtejo, descobre-se uma nova belleza no quadro, que se tem diante
^ Quadro elemenlar das relações politicas e diplomáticas de Portugal com as diver-
sas potencias do mundo, yo\. 4.«, parte 2.*, pag. 145.
2 Firmin Didol— Nouvelle Biographie Universelle, toI. S7.«, pag. Í5I.
3 Ha outra edição de 1837, feita em Paris, e mencionada na mesma pag. do vol. 27.*
da Biographie Vnicerselle de Firmin Didot.
* «No vayas á creer, leclor amigo, que es dei todo cierto el axioma portugaox de
quo quien non veu Lisboa, non veu cosa boa». G. Calvo Asensio. Lisboa em 1870, pag.
SG R' um dos livros mais recbeiados de falsidades que teom saido dos prelos estran-
gciroí.
UAUHr. rEHíiCh
LAURE PERMON
AB 3
dos olhos. A cidade estende-se sobre as collinas^ qae limitam o rio, e se vos
apresenta com seus zimbórios, seus conventos, palácios, jardins, campos cul-
tivados, que separam um palácio de um mosteiro, uma praça publica de
um cemitério, e lhe dão assim parecença com uma cidade oriental; e de-
pois #esenrolam-se ao longe esses jardins embalsamados^ essas quintas, que
estio em roda de Lisboa, como um rico e suave cinto. Sobre um plano mais
longínquo, as rochas de Cintra formam o fundo d'esse rico quadro, phantastico
de l)elleza... Eis o conjuncto, que se vos offerece, quando, ao sahirdes de Al-
deia Gallega, depois de terdes atravessado a árida e areienta província do
Alemtejo, embarcaes no rio d'este nome n'um escaler dirigido por vinte re-
níadores, e avançaes rapidamente para a cidade maravilhosa, sobre esse rio
coberto de navios de todas as nações... cada impulso do remo descobre uma
parte d'essa rica decoração, que se torna cada vez mais visivel. É principal-
mente pela manhã, ao nascer do sol, que devemos ver dourar com seus raios,
(antes que sejam mais ardentes), suas novas ruas, a bella Praça do Commer-
cio, o Arsenal, o Terreiro de Trigo, e Belém com sua quinta e sua egreja go-
thica,! Ajuda e seus pomares de laranjas e limoeiros... ao passo que o rio mais
rápido e mais profundo e stà apertado entre as serras de Almada, e se preci-
pita para o mar, onde se lança entre coUinas, que limitam o lado do sul. Não
somente o aspecto de Lisbo a offerece uma prespectiva tão rara, como nota-
velmente bella; mas uma vez na cidade, a estranheza da direcção de suas
ruas, de suas praças, a m aneira caprichosa como seus próprios defeitos se
apresentam á curiosidade do estrangeiro, suas bellezas, que não são communs
a nenhuma outra cidade europe a, tudo a toma uma cidade á parte entre as
mais extraordinárias, e dà o desejo de voltar para ella, quando já se habitou
uma vez.
íA pretenção de todas as cidades fundadas sobre montes é de ter sete, á
maneira de Roma. Lisboa faz como as outras, e os portuguezes sustentam que
tem sete montes.
«Porém uma particularidade notável é que em 1806, cincoenta annos de-
pois da catastrophe, viam-se ainda nas ruas de Lisboa não somente signaes
do terremoto de i755, mas até os entulhos, taes como os deixara aquelle anno
maldlcto. Varias ruas de Lisboa, pequenas praças continham ainda esses res-
tos da cólera de céu. Immundicies, esqueletos de cães, cabras, jumentos, até
de machos, jaziam por cima das minas, e a cidade ameaçada de peste pelas
exhalações mephiticas d'esses montões de matérias algumas vezes em putre-
facção, não devia sua salvação mais que ao ar activo e salubre, que purifica
com seu sopro, e dá saúde a uma cidade, que deveria, como se vé, perecer
com a morte commum aos povos do oriente.
«Via frequentemente em Lisboa uma senhora encantadora, para quem
minha amizade se tomou dentro em pouco muito forte, a duqueza de Cada-
val, irmã do duque de Luxemburg. Era mulher, a quem tanto eu, como toda
a gente achávamos bella; mas depois de produzida esta impressão, tinha cau-
^ Aliás de estylo manuelino ou porlaguez.
4 AB
sado uma oatra em mim com soa alma, e todo encanto, de que era dotada;
indulgente para com tudo, que podia tomal-a sev«^ tema, Ona e espirituosa
ao mesmo tempo, joTial com uma agradável facilidade de se divertir, e uma
necessidade de ver os outros alegres, nâo se achava feliz senão com as pes-
soas, a quem elU amava, bem certa de que nenhuma d'ellas tinha pezar no
coração, nem sequer uma contrariedade. ^ Quantas noites passámos juntas a
conversar a respeito d'e5sa França, cujo nome só bastava para a fazer chorar !
Quanto era donairosa, bella até, quando entrava n'um festim com sua rica e
elegante Ogura ornada com a fita azul de Maria Luiza, e de côr de rosa e
branco de Santa Isabel 1 Tinha o porte tão magestoso, como de quem mais o
tivesse no mundo, apezar de o ter algum tanto curvado. Não vi este mesmo
porte gracioso de cabeça, e:»te andar altivo e flexível, com uma gentileza pe-
regrina, senão a uma outra senhora, a duqueza de Montmorency.
«A duqueza de Cadaval era uma senhora, cujo grande encanto principal-
mente consistia em senão modelar por ninguém; seu modelo eraella própria,
6 a naturalidade era encantadora. Pelo que diz respeito a seu marido, era
coisa bem dífferente, e principalmente uma outra natureza. Era bello, pelo
menos assim o pretendiam em Lisboa. Eu, porém, em tempo algum o pude
achar tak Era alto, bem apessoado, semsaborão, no género do Príncipe da Paz,
e além d*isto ignorava as qualidades e os encantos de sua mulher, como se fora
cego, e lhe tivessem explicado tudo em hebreu. Tinha tomado uma regra de
proceder bem singular. Assim, por exemplo, era elle em Portugal, o que o du-
que de Orleans fora na França, o primeiro príncipe de sangue. Então fazia
opposição sem saber o que era. Começava as hostilidades com o príncipe, seu
real primo, o que não era difficil, porque, como todos os estúpidos, arrufava-se
por ninharias, e somente d'isto se occapava, e também de arremedar o re-
gente e o duque de Orleans, morto na revolução. Sobre tudo tinha a mania
de contrahir dividas, e fazer corte ás mulheres, porque o regente tinha ar-
ruinado a França, e fora dissoluto.
«Ora, como tinha a pretenção de parecer-se com o regente, copiava*o cm
todos os seus defeitos, mas a duqueza, que se não modelava por ninguém,
senão por si mesma, que era um anjo de perfeição, disselhe um dia, que
quería saber o estado de sua casa. Pobre senhora! Que conhecimento tão
triste ! N'esse mesmo dia soube que podia ter saudades do exilio, e dos des-
gostos da emigração... Conteve se comtudo, e quiz pôr em ordem sua casa.
«Entre as dividas mysteriosas, que tinha o duque, existia uma principal-
mente, a de seu cosinheiro, a qual era de nove contos de réis. Como tinha o
duque deixado chegar as cousas a tal ponto ? Eis o que a duqueza perguntou
sem obter resposta. Comtudo dispoz as cousas, e pagou por inteiro ao rei da
cassarola. Disse-o ao duque no mesmo dia, recommendando-ihe, que nunca
mais contrahisse dívidas d'oste género.— Mas hei de pôr minha casa em ordem,
disse ella ! Ao saber que os neve contos tinham sido pagos integralmente, o
duque ficou furioso.
1 Souvenirs d*une ambassadij vol. 2 % pag. 1Í5,
AB
cQae é isso? Vai pagar a um homem, qae talvez me roubou cinco contos
D'e9sa quantia de nove t
«É minha opinião, replicou a duqueza, que, visto o criado do du.jue se ter
tomado seu credor, o dnquf está abaixo d'elie, porque lhe deve. Esta posição
falsa não é conveniente I Eu devia fazel-a cessar, fosse qual fosse o sacrifício.
Agora ella é o que deve ser. O duque acha-se livre para o despedir, se quizer:
mas creio que continuará a tel-o em seu serviço I...
«O duque passeiava d'nm lado para outro, sem saber como exprimir seu
descontentamento.
«Pagar àqnelle homem t exclamava elle, pagar àquelle homem!...
«A duqueza não lhe prestou attenção, e poz-se a trabalhar.
«N'essa epocha achava-me eu em Lisboa, e visitava a duqueza muito a
miúdo. Tive noticia d'este caso quasi logo, que se passou: porém o duque re-
senrava-nos um desenlace, que nós estávamos bem longe de esperar.
«Alguns dias depois da explicação, que tivera com a duqueza, entrou em
casa pulando, dansando, cantando, pozse de joelhos diante d'ella, beijando-
lhe as mãos e dizendo-lhe mil sandices. A duqueza fícou assustada, pois tudo
isto era opposto ao seu génio habitualmente macambúzio. Mas seu espanto
depois ainda veiu a ser maior.
«Sabe duqueza a minha felicidade?
«Esta abanou a cabeça.
«Lembra-se dos nove contos de réis, que pagou ao maroto do cosinheiro.
Pois é verdade: eu não dormia nem comia depois de saber que uma tão bella
quantia se achava nas mãos d'elle: era indispensável que ella para cá tornasse!
«Santo Deus, misericórdia, exclamou a duqueza 1 Então foi pedir-lhos em-
prestados? E suas faces ficaram como purpura.
«Não, não; disse o duque ás gargalhadas, a ponto de cair por cima d'um
camapé. Não, por t)eus: não era eu tão estúpido. Elle joga: propuzlhe uma
partida, ganhei, disse elle, erguendo-se, e esfregando as mãos !
«A duqueza fícou como anniquilada; julgou ao principio ser gracejo. Não,
o facto era bem verdadeiro. Com eíTeito o duque tinha apanhado os nove
contos.
«Que acção tão nobre I ^
«Encontrei em Lisboa quem tinha mudado o aspecto d'esta cidade, o conde
de Novion. Antes d'elle as ruas d esta capital apenas eram illuminadas por
pequenas lanternas, suspensas diante das imagens de Nossa Senhora, que es-
tão quasi a cada canto; porém esta luz baça guiava o assassino, mostrando-
Ihe a victima, e não era de nenhum soccorro; por isso é que as ruas de Lisboa
eram mais perigosas para se andar por ellas a pé em 1797 por exemplo, que
por qualquer de nossas estradas. Á meia noite ninguém ousava sair sem ir
armado, e as próprias armas quasi sempre eram inúteis, porque os bandos de
ladrões eram tão numerosos, que mal se lhes podia resistir. Teemse visto
pessoas presas pelos bandidos, serem completamente roubadas, e obterem d'el-
* Súuvenirs d'un€ ambanade en Portugal, vol. i/, pag. 1!K).
6 AB
les am saLvo-condacto para não serem atacadas seganda vez. Pelo que toca
aos assassinatos, era costume ir a certas egrejas, onde se encontravam homens
que faziam justiça prompta e sanguinolenta, conforme a vingança que Ih a
pedia. Aquelies homens viviam aii,n'aquelie logar santo, como n'um logar de
refugio, onde a própria Inquisição não os podia ir arrancar; e além d'isto as
egrejas quasi todas estão contíguas a conventos de homens, ou de mulheres,
e o assassino estava certo da impunidade, se trabalhasse^ como dizia, para o
abbade ou abbadessa do convento. Eis um caso acontecido na própria Lisboa
em i798.
<0 cônsul d'nma nação estrangeira teve uma questão com o parente d'um
outro cônsul. Poderia vingar-se com sua espada, mas preferiu ir procurar
n'uma d'essas egrejas pessoa, que trazia sempre escondido um punhal prestes
a ferir. Encontrou a quem desejava; fez seu ajuste, deu metade da somma
exigida, que foi (creio que attendendo à qualidade da victima) 24^000 réis-
Devia receber a outra metade depois do assassinato.
«O sicário, depois de ter tomado todas as informações possíveis, despe-
diu seu freguez, porque tinha outro negocio entre mãos.
cMas o freguez não era cruel; sentiu depois acalmar essa agitação febril ,
que dá o furor d*uma offensa a uma alma nobremente nascida. Bem depressa
sentiu uma outra tempestade levantar-se em logar d^aquella, que se extinguia,
e esta tornou-se terrível, e bem ameaçadora, porque era contra elle, e elle
tinha andado mal. Finalmente os remorsos tornam se insuportáveis.
«Eram apenas nove horas; a cidade estava ainda animada e susurrante.
«Embrulhou-se em seu capote, poz seu chapéu baixo, e com passos rapí-
dos dirigiu-se para casa do homem, que por um pouco de ouro devia tomar
a desforra. ^ N'este momento a torre de Belem soou as dez horas, o grande
sino vibrava no ar, levando para longe o som argentino, e por isso solemne do
suas badaladas. O individuo estremeceu.
«Ia finalmente descer, quando ouviu barulho no quarto do homem, bara-
lho que se parecia com o ranger d'um leito, quando alguém se vira. O indi-
viduo bateu com força, e d'esta vez uma voz lhe respondeu: era a do scele-
rado. Abriu sua porta ao reconhecer o som da voz de F...
«Oht já vós por aqui, disse elle bocejando, e estendendo os braços. Por
Santa Mana da Gloria, que bem apressado sois. Julgava que só nós, que vive-
mos ao ardor do sol, elevávamos a vingança a tal ponto 1 Mas parece...
«Oht Não, interrompeu o outro, pelo contrario venho dizer-vos que já não
quere a morte d^aquelle, a quem eu tínha condemnado.
«Aht exclamou o assassmo com um espanto de que estava possuído pela
primeira vez, isso é indifferente; porém é tarde de mais.
«Já o mataste, miserável f
«E que outra cousa me tínheis vós dito que fizesse senão que o assassi-
^ Obra ultimamente citada, pag. 139. E' possível ser yerdadei ro este facto: a bas
tantes pessoas ouyi dizer que nas egrejas é que se procuravam os assassinos, os qoaes
n'ellas se fingiam beatos os mais fervorosos.
AB 7
nasse? Quem poderia esperar qae, depois de terdes condemnado vosso inimigo
DO tribanal de vosso ódio, vós o fosseis absolver n'esse mesmo tribunal, uma
hora depois?
cNósnâo procedemos assim em nossa terra. Pelo que me toca, disse elle,
com uma expressão de demónio, a única pena que tenho do meu inimigo, é
nio estar elle ainda em estado de sentir meu punhal.
•F. estava abatido. N'este momento o clarão da lua reflectia perfeitamente
por cima do pequeno terraço, que âcava ao lado da parta do homem. O clarão
caiu direito sobre este, e fez ver uma longa mancha de sangue na manga e na
mão do assassino. F. não poude conter um grito, e deitou a fugir pela escada
abaixo; mas foi agarrado por esta mesma mão ensanguentada.
•Mais um momento^ um momento, senhor I Tenho pena, apezar de tudo,
que e nosso negocio andasse tão depressa; mas julguei que fazia bem, e de-
ve-se-me a minha paga. Dae-ma então, e que não haja mais questão entre nós:
bem vos conheço, e eu sabia bem procurar*vos, se me não quiz&«seis pagar
meu trabalho.
cF. atirou-lhe com a bolsa, sem querer tocar n*aquella mão manchada de
sangue. O malvado apanhou a bolsa, e contou o dinheiro, que continha.
«Está aqui mais do que é preciso, disse elle ao separar sua paga do resto
do dinheiro. Aqui está isto que vos pertence.
«Ficae com tudo, respondeu F.
«Então ficarei com elle, visto estardes penalisado da morte d^aquelle ho«
mem, que todavia era um homem valente, e não vos disse isso por ser inútil
para o nosso fim. Defendeu-se como um diabo, e vi-me obrigado a chamar
em minha ajuda um dos meus homens, um dos meus ajudantes, porque mui-
tas vezes o negocio é custoso, e corre seus riscos. Um de nossos collegas, Se-
bastião, bem novo ainda no offlcio, foi morto por um inglez, a quem não ata-
cava, e do qual somente queria a bolsa. Sua mulher ficou sem nada, e nós
vjmo-nos na necessidade de lhe fornecermos uma pequena mezada, contri-
buindo cada um de nós com sua quota. Se quizerdes, senhor, as três peças,
que sobram, serão para a viuva de Sebastião, e para mandar dizer missas por
ahna do rapaz, por cuja morte estaes mortificado. Ouvi então; a culpa não foi
minha; disseste-me ás onze horas... o rapaz passou porém em occasião favo-
rável para a ponta do meu punhal... ás oito horas e meia... a occasião era
excellente... ahl palavra de honra^ caiu, mas levantou-se ainda...
«Esta historia, que me foi narrada por aquelle mesmo^ que d'ella foi o
heroe, pôde fazer conhecer os costumes de Portugal no fim do ultimo século
somente.
• •
«A festa do Corpo de Deus em Lisboa ó uma solemnidade desconhecida
em qualquer outro paiz. ^ É uma theoria pagã; é uma céremonía fabulosa; é
phantastica de riqueza e de maravilhas.
* Souvenirs d'une ambassadCf tomo â.*, pag. 158.
8 AB
• •
«O monte ao Este de Lisboa é o mais bem situado para morada. Moitas
vezes o subi para contemplar o painel magniOco, que se ostenta como um
panorama phantastico causado pelas impressões d'um sonho, no qual vós ti-
vésseis sonhado um paiz encantado, debaixo d*um ceo puro e azul, onde um
sol de ouro luz sempre sem nuvens. Doesta altura domina-se todo o valle de
S. Bento.
•Á esquerda, conventos, egrejas, jardins, quintas, pomares de larangeiras,
onde os áureos pomos brilham ao lado das flores embalsamadas. Em frente,
a Íngreme altura, sobre que está construído o castello, que defende a cidade.
à direita o Tejo, coberto de navios com pavilhões de mil cores, ao passo que
ao longe, e de todas as partes, se descobrem campos, prados, flores por todos
os lados, e por todos os sitios um ar doce e embalsamado, que vos enfeitiça,
que vos penetra com seu encanto, e por cima de tudo isto dardeja um sol puro 1
Tudo em volta de vós respira uma duplicada alegria; tudo, até os edifícios,
que parecem cobertos d'um veo de varias cores, dando ares d'um docel
lançado por cima de suas grimpas. N'este paiz a natureza está sempre em fes-
tival. Nunca lhe pedi uma distracção, uma consolação, que me nào respon-
desse concedendo -m^as com profusão. Não ha soíTrimento da alma, não ha dôr
de corpo, que me não tenham sido mitigadas com a vista d*este paraizo. Du-
rante minha residência em Portugal, vi chegarem áquelle paiz doentes con-
demnados a morrer, o todavia prendiam se á vida I Muitos desmentiram a
sentença, e aquelles que a padeceram, não sofTriam pelo menos o aguilbão
ardente da morte. Sem duvida, n'este paiz morre-se, chora-se, soffre-se como
em todas as outras partes; a dôr é uma lei de nossa natureza, a que não po-
demos fugir : mas, assim como o ópio adormenta os padecimentos do corpo, a
vista d'este paiz lhe mitiga os soíTrimentos.
«Na margem do Tejo fica a bella Praça do Gommercío. Nada temos em
Paris, mesmo actualmente, tão bello como os cães, que terminam este lado da
praia.
«Muito tenho viajado; ^ percorri o norte e o meio-dia da Europa, e nunca
se patenteou a meus olhos uma cidade tão extraordinária, e ao mesmo tempo
tão notável e tão formosa, como Lisboa. Nunca um céu mais bello espargiu
sua luz sobre uma cidade rodeada d'uma natureza^ que a cinge com suas
maravilhas : mas ao mesmo tempo em logar nenhum eu vi tantos dons de
Deus tão mal conhecidos e inntilisados.
«É nos arrabaldes de Lisboa que se torna necessário aprender a conhecer
este paiz, que se pôde descrever, mas nunca pintar. Estas circumvisinhanças
parecem ser formadas para fazerem uma decoração à maneira de vestíbulo, e
de entrada a este valle de Cintra, cantado pelo amor com sua voz de cisne
em Camões, e celebrado por lord Byron em Child Harold, e admirado por
quantos o percorreram, a ponto de não o quererem deixar.
' SoHvenirs (Vune ambaníade, pag. 165.
AB . 9
«Entre os emigrados fraacezes, residentes em Lisboa, distinguiase tam-
bém o conde de Artaize, da casa de Roqaefeaille. O conde de Artaize estava
na legião estrangeira do marquez d'Alprna, e tinha mesmo um esquadrão co-
mo propriedade n'esta legião. Era amigo e ajudante de campo do referido
marquez. Conheceu, ha algum tempo, que nós não possuíamos traducção de
Gamões, e verteu em verso o beilo episodio de Iguez de Castro. Leu-me a
versão ha poucos dias, e fiquei não somente encantada da Gdelidade bem
guardada das pinturas e das descrípções, cousa tão rara n'uma traducção em
verso d*uma obra também escripta em verso; mas fui agradavelmente surpre-
hendída achando n'élla o sainete primitivo do poeta portuguez, tão insolente-
mente mutilado por La Harpe, que julgou poder-se fazer uma traducção pe-
gando n'uma grammatica e n'um díccionario. Não é d'um homem tal que
Carlos Y disse : Um homem que sabe quatro linguas, vale por quatro ho-
mens.
•Fiquei pois encantada d'esta traducção de Camões; lamento que seja ape-
nas d'um episodio. A fidelidade, com que o conde de Artaize tratou este episo-
dio, serve de fiadora, que empregaria para nos apresentar a passagem do Cabo
da Boa Esperançai O gcnio das tempestades erguendo-se em frente de Vasco
da Gama, e predizendo-lhe o futuro! Todas as vezes que leio em Camões esta
passagem admirável, fico cheia de respeito á vista d'esta elevação do espirito
humano, que approxima da divindade o homem !
«O nome de Ignez de Castro quasi que é magico para evocar tudo quanto
se refere á sua bella pátria, ^ a essas margens encantadoras do Mondego, a
esses maravilhosos arrabaldes de Coimbra, cuja belleza pôde rivalisar com
tudo, quanto a Hespanha podo por sua vez oíTerecer ao estrangeiro, que per-
corre aquelle paiz. Posso mesmo accrescentar que a universidade de Coimbra
levava muita vantagem a todas as outras de Hespanha. Ai ! Que dôr ao ver
aquellas bellas margens do Mondego manchadas pelo sangue, e assoladas pelo
ferro e fogo! Nada pôde dar uma idéa dos arredores de Coimbra! Apesar de
montanhosos são bem cultivados, e todos os montes estão coroados de peque-
nos bosques de bellos pinheiros de topo elegante, e d'esses magníficos carva-
lhos de França, cuja sombra secular redobra do bcUeza, maior em cada anno,
que passa por cima d'elles.
«São os valles cortados pelos ribeiros, que conservam não somente uma
grande frescura, mas até uma fertilidade desconhecida em nossos paizes do
Meio -dia; elegantes casas de campo, quintas, mosteiros, fabricas mesmo, cer-
cadas de pomares de laranjas, de oliveiras, do bello arbusto, cujo porte ele-
gante é realçado ainda por sua bclla verdura, e pelo rubor de seus fructos, o
medronheiro. O bello cypreste de Portugal, todas as arvores da Europa, e até
aquellas, que admiramos nás bellas florestas da Baixa Saxe, formam nas cir-
cumvisinhanças de Coimbra retiros encantados, e bordam o bello rio Monde-
go, que banha as muralhas da cidade, e gyra no estreito, mas fértil valle, on-
de Coimbra está fundada. Ao longe enxerga- se no horisonte a alta serra da
^ Engano da dcqaoza dAbrantes: Ignei de Castro era bespanbola.
10 AB
•
Loazãy e ainda mais longe a do Bussaco, em cajo pincare está constraldo a
famoso mosteiro dos Carmelitas, afamado por suas relíquias. Á fronte asso-
cioa<lhe Massena depois mna oatra celebridade.
«Foi n'esta serra do Bussack) que se feriu aquella cruenta e funesta pe-
leja, em que seis mil francezes foram exterminados pela loucura de um chefe
que fora hábil, mas n*outro tempo. O marechal Ney, o duque de Abrantes,
bem como o general Reynier, todos três primeiros chefes dos três corpos de
exercito, que formavam o de Portugal, foram todos de opinião contraria. O
príncipe de Essling a nada quiz attender; foi atacar esta serra, que era a pico,
e cujo alto estava coroado pelas tropas inglezas e portuguezas, que atira-
vam contra os francezes como sobre caça, que tivessem cercado com o fim de
a levarem para sustento do exercito. Oh que recordação a d'aquelles desgra-
çados, mortos quasi sem defesa, pelo ferro de um inglez, cahindo debaixo da
baila certeira de um portuguez, ao passo que este mesmo exercito anglo-
luso, forte de mais de quarenta mil homens, formava dois annos antes uma
ponte de oiro a quinze mil francezes para os verem afastar-se de Portugal!
«Defronte de Coimbra fica a quinta das Lagrimas. M. de Forbin, encan-
tado da belleza do assumpto, fez um quadro representando a coroação de
Ignez. Este quadro tem merecimento, como todos que elle pintava então. Sa-
be-se que Forbin não é hábil na pintura de^ figuras. Mostrou um outro gé-
nero de habilidade i^o painel de Ignez, cujo belio colorido, transparência e
pureza das aguas, são admiráveis; mas não se encontra n'elle um só rosto.
O de Ignez fica de tal sorte na sombra, que se não vé, e alem d'ísto as fei-
ções estão desbotadas de propósito. D. Pedro tem, segundo creio, a vizeira
baixa; o fidalgo de Portugal, que rende homenagem, está iniclinado, com a
cabeça cabida. O príor do mosteiro tem seu capuz muito puchado para dian-
te. Emquanto aos outros personagens estão na sombra, ou teem seu capuz ou
vizeira cabidos na frente.
«O quadro de Saint-Evre, que o duque de Orleans deu a Victor Hugo, e que
representa o mesmo assumpto, foi pintado talvez d'um modo mais intellígente.
Ignez está assentada no seu throno, debaixo do docel, e seu esqueleto coberto
com um lençol, deixa-se ver atravez das pregas, que deixam contemplar a forma
horrível e óssea do esqueleto. Os braços principalmente pendentes, deslocados
e cobertos de luvas brancas, mettem pavor na verdade. É um bello painel.
«É pois sobre as margens do Mondego que Luiz de Camões imaginou seu
terceiro canto dos Lusíadas, esse terceiro canto, que bastaria só para fazer es-
quecer as imperfeições do grande poeta; esse terceiro canto, no qual a dita
de Ignez é pintada por um modo tão mavioso. [Nossa língua não pôde tra-
duzir aqueUes versos admiráveis. Nada tenho encontrado tão harmoniosamente
poético em Tasso, e em Dante, como estes dois versos :
De noite em doces sonhos, que mentião,
De dia em pensamentos, que voavão. ^
^ Souvenin d'une embas$ade^ tomoS.*, pag. 249.
AB n
«O qae muito contribue para a belleza do paiz n^eata parte de Portugal,
é um ornato da natureza, que ella n'esta terra produz profusamente, e que
lhe dá um caracter particular de belleza — é o cypreste de Portugal {cu-
pressus Lusitanw de Lhéritier). Não é bello senão nas margens do Mondego,
e perto da serra do Bussaco, para onde foi primeiramente levado de Goa por
um frade.
«Alii se acham os bellos loureiros da índia vindos d'esta ultima cidade
aquellas bellas arvores tomadas indigenas, e trazidas da ilha da Madeira,
aquellas larangeiras, aquelles limoeiros. Oh) Em logar nenhum se pôde ver
um paiz mais favorecido do céu) Granada, sem duvida; mas Granada é única
no mundo; é a ramha das cidades; com tudo Coimbra é sua nobre e encan-
tadora irmã!»
Eis algumas das passagens mais notáveis, que dizem respeito a Por-
tugal. O que porém mais se distingue n'este livro, é a descripção da fa-
mília real portugueza, da nossa aristocracia, e do corpo diplomático estran-
geiro, residente em Lisboa, no qual fazia uma figura tão sahente o manhoso
núncio italiano. O que ella também faz com mais desenvolvimento na obra tão
conhecida Memoires, a começar do vol. I."" por diante.
A duqueza de Abrantes tinha emprehendido com Alexandre de Laborde,
Charles Nodier e o marquez de Custine, uma obra intitulada La Péninsuley ta-
bleau pUtoresque de fEspagne et du Portugal, obra de que, segundo diz a
N. B, Universelle, apenas appareceu um fasciculo publicado em Paris no anno
de 1835. y. Laborde.
5) ABREGÉ CHRONOLOGIQUE de Vhistoire d^Espagne et de Por-
tugalf avec des remarques particulieres à la fin de choque periode, Paris^
1765, 2 vol.
(Resumo da Historia de Hespanha e de Portugal.)
«O Novo Dic€ionario Histórico por uma sociedade de gente de letras, em
firancez, hoje 9 vol. em d."», diz que o seu auctor é Filippe Malquer, na-
tural de Paris, advogado do parlamento. Chega até parte do reinado de
D. José L> 1
6) ABREGÉ SUCCINCT d'une infinité de maux lamentables et de dé-
gaU déplorables que la violence et la conjuration des quatre élements ont fait
éprouver à la grande ville et à la cour de Ldsbonne, le i" novembre de cette
année 1755. Traduction litttrale de IHmprimé espagnol, Orleans, 1756, folheto.
(Resumo dos estragos causados pelo terremoto de 1755 à cidade de Lis-
boa.)
Vem mencionada esta obra no catalogo manuscripto dos livros portugue-
zes, e escriptos em varias linguas, mas relativos a Portugal, que existem na
Bibliotheca Imperial de Paris, catalogo de que existe uma copia na Bibliothe-
* Bibliolhtca histórica de Portugal e seus dominios ultramarinos, pag. 389.
12 AD
ca Publica de Lisboa, e do qual tive conhecimento por indicações do ex."*' sr.
Silva Tollio.
7) ACCOUNT (AN) of the Court of Portugal urider the reign of the pre-
sent king D. Peter the second. London, 1700. ^
(Notícias da corte de Portugal no reinado de D. Pedro ÍI.)
8) ACCOUNT of the discovery of the Madeira Island. Letter to a friend
on ditto.
Vi mencionada esta obra n'um catalogo de livros antigos, e não me acho
habilitado para dar mais pormenores a respeito d'ella.
9) ACCOUNT ofthe most remarcable places and curiosUies in Spain
and Portugal. LoAdon, 1749.
(Noticia dos legares e causas mais notáveis de Hespanha e Portugal.)
10) ADAMS.
E. — A Guide to Madeira with an account of the climate, London, 1801.
(Guia da Madeira, etc.)
11) ADAMSON (JOHN).
John Adamson descendia de uma familia respeitável do condado de Dur-
ham. Foi o ultimo filho do tenente da armada real Gutberth Adamson, e nas-
ceu em Gateshead a 13 de setembro de 1787. Sendo muito novo foi mandado
para Lisboa, onde seu irmão mais velho se achava estabelecido, porém viu-
se obrigado a regressar á sua pátria na occasião da invasão dos francezes.
Falleceu a 27 de setembro de 1855. ^
Conservou sempre uma agradável impressão do paiz, em que tinha residi-
do, ao qual tinha particular affeição, bem como á sua litteratura, que cultivou
toda a sua vida. Possuia a mais completa collecção das edições e obras de
Gamões, a qual constava de uns cento e vinte volumes, e uma collecção ico-
nographiea composta de uns tresentos desenhos, gravuras, retratos, meda-
lhas do barão de Dillon, morgado Matheus, correspondências, etc.
E. — Memoii$ of the life and writings of Luis de Camoens, by. — F. S. A.
London, Edinburg^ and New-Gastle upon Tyne. London. Printed for Long-
man, Hurst, Rees, Orme and Brown, 1820. Gom o retrato do poeta.
(Memorias da vida e escriptos de Gamões.)
8.<>, 310 pag. e com uma vinheta representando a gruta de Gamões em
Macau.
0 vol. 2.'', composto de 392 pag. é adornado com um supposto retrato de
D. Ignez de Gastro, com o de Manuel de Faria e Sousa, de Luiz de Gamões,
1 Vem mencionada etlà obra no catalogo manoscripto da livraria do conde de La-
vradiOf catalogo que apenas ligeiraraenle pude consultar.
' í5r. ^Uconde de Juroracnha — Obras de Camões^ vol. 1.*, p;ig 279.
AD a
D. Francisco de Almeida, e de D. G. de Noronha, conforme a edição de Ma*
nuel Correia.
Esta obra é dedicada a Tbomás Davidson, Esqaíre, Glerk of the Peace for
the Goontry of Nortbumberland.
A dedicatória segaese am soneto de J. X. de Mattos em bonra de Gamões,
e traduzida para inglez pelo dr. J. Leyden.
Gomeça o prefacio, no qual nos diz Adamson que o fim do seu traba^bo
é dar aquellas informações a respeito da vida e escriptos de Luiz de Gamões
que possam ser colligidas dos pormenores deixados por seus primeiros bio -
grapbos, ajudados com a leitura das obras do poeta, e com uma diligente in-
vestigação entre os artigos, que apenas se encontram uma ou outra vez. A este
prefacio, no qual agradece a varias pessoas que lhe prestaram serviços na
composição doesta obra, seguem-se immediatamente as memorias da vida de
Camões.
«A apparição dos Luziadas^ ^ o primeiro poema épico moderno, foi saudada
como uma era nova na poesia. O sol da fortuna nunca brilbou sobre este poe-
ta, nem este participou de algum de seus favores. Os séculos, não influidos
pela ingratidão do seu paiz, nem pelo despreso dos pobres, deram a immor-
talidade a seu nome, ao passo que sua lyra, mais perdurável que um monu-
mento de pedra será escutada por todo o mundo babitavel.^
cO dr. Black em uma nota á sua vida de Tasso, depois de comparar a sorte
de Gamões com a do poeta italiano, escreve: Ambos os poetas, todavia, se To-
ram infelizes durante a vida, teem pelo menos alcançado aq uella gloria, pela
qual suspiravam; e é uma reflexão agradável, que, em quanto os grandes, so-
berbos e titulares, que despresavam o bard o lusitano, são despresados, o nome
do poeta é pronunciado com respeito, mesmo no meio dos ultrajes da violên-
cia, e das tempestades da guerra. A instrucção publica (diz Junot na sua pro-
clamação aos babitantes de Portugal no i.*" de fevereiro de 1808) a instrucção
publica, a única fonte da civilisação das nações, será diffundida pelas diffe-
rentes províncias, e o Algarve e Beira- Alta possuirão seu Gamões. A traduc-
ção dos Lusíadas em todas as linguas cultas da Europa dá testemunho da
estima, em que sempre foram tidos, ao passo que numerosos tributos a sen
génio e talento, que poetas e escriptores sem interrupção lhe teem prestado^
attestam sufDcientemente o sentimento de admiração, que despertavam seus
enthusiasmos. Seria impossível referir todas as variadas opiniões formadas a
respeito das composições de poeta, ou noticiar os graus empregados para elo-
giar o auctor.
«Lope de Vega era um ardente admirador das composições de Gamões, e
varias passagens de suas obras testiflcam a estimação, em que elle tinha o
poeta portuguez. Faria e Sousa, que era amigo intimo de Lope^ escreve te-
remlhe dito que este illustre bespanhol appellava usualmente para as obras
de Gamões com o fim de dissiparem a tristeza, com que sua alma estava so-
^ Jobn Adamson — Life and Wrilings of L de Cawceiw, vol. 1.*, pag. 29Í.
l Idem, pag. 213.
14 AD
brecarregada por causa de algom desgosto casual ou infortanio. No seu Lau-
rel d'Appollo encontra-se este elegante tributo a Gamões:
Llegando pues la Fama
A la mayor cindad que Espana aclama
Por justas causas despertar no quiso
(I fue discreto aviso)
Al gran Sá de Miranda,
Qoe le dexe Melpomene le manda:
Y ai divino Gamões
En Indianos aloés
Que riega el Ganges, y produzo Hidaspes,
Durmiendo en bronze, poríidos y jaspes
(Fortuna estrana que ai ingenio aplico
La vida pobre, y el sepulcro rico),
Porque se despertaran,
Y a las Gortes, Pamasides llevaran;
Docto Gorte Real, tu nombre solo,
Aun no que dava con el suyo Apolo.
Gomo lo muestran oy vuestras Lusíadas
Postrando Eneydas, y venciendo Iliadas.
Que triste sucrte, que notables penas.
Acabada la vida bailar Mecenas;
Mas no por esso puede
Dexar de ser gloriosa vuestra fama,
Si bien claro Luis la tuya excede
Por quanta luz derrama
El farol Didimco
Y mas quando te veo
Danar pluma de Fénix tinta de oro,
Dizíendo com decoro
I magestad sonora.
Por la lealdad, que núca el tiempo olvida
Que mais anos servira se non fora
Para tan largo amor tan curta a vida.
(Silva Tercera, pag. 26. Edic. de Madrid de 1630.)
«A Inglaterra também nâo se deixou fícáir atraz em tributos a Camões: Mr.
Hayley no seu Essay on Epic Poetry, assim caracterisa o poeta e suas com*
posições:
Tbo' fiercest tribes her galling fetters drag,
Proud Spain must strike to Lusitania^s ílag,
Wbose ampler folds, in conscious triumpb sprcad,
Wave o'er her Naval Poers laureate head.
Ye Nymphs of Tagus, firom your golden cell,
AD 15
That caoght th6 echo of his tonefal shell.
Bise, and to deck yoar darling's shrine provido
The richest treasures that the deep may hide:
Froin every land let grateful Gommerce shower
Her tribute to the Bard who sung her power;
As those rich gales, from whence his Gama caoght
A pleasing eamest of the príze he soaght,
The balmy Cragrance of the East dispense,
So steals his song on the delighted sense,
Astonishíng with sweets unknown before.
Those who ne'er tasted but of classíc lore.
Immortai Bard I thy name with Gama viés,
Thou, like thy Hero, with propitious skies
The sail of boid adventore hast onforrd,
And ín the Epic Ocean found a world.
Twas thine to blend the Eagle and the Dove,
At once the Bard of Glory and of iove:
Thy thankless coontry heard thy varying lyre
To Petrarch's softness melt, and swell to Homer's íire t
Boast and lamenta ongratful Land, a name
In lífe, in death, thy glory and thy shame.
Terminam estas memorias da vida de Gamões, com uma comparação bio -
graphíca entre o nosso poeta e Gervantes, composição d'um escriptor hespa-
nhol, a qual occupa perto de três laudas.
A pag. 239 começa uma noticia das Rimas de Camões. «Porque a fama de
Camões não provém tão somente do seu poema épico: tal era a versatibilida-
de de seu génio, que compunha em todos os metros usados n'aquella época,
e foi bem succedido na maior parte d'elles.»
O %'' volume principia por uma traducção para inglez da obra do Morgado
Eatheus intitulada Ensaios sobre os Luziadas de Camões j que occupa 58 pag.
A esta traducção segue uma noticia das versões dos Luziadas, com infor-
mações a respeito dos traductores.
Esta noticia é interessante, se bem que a do sr. visconde de Juromenha no
i."" volume das suas obras de Gamões é muito mais ampla, posto que ainda
difiiciente. O nome de Camões tem soado por toda a parte do mundo^ e em
todos os legares da terra tem havido admiradores do nosso poeta, que escre-
veram acerca d'elle. E este numero vae já sendo tão grande, que não admira
que o mais diligente indagador não possa ter conhecimento de quanto se tem
escrípto, e vae escrevendo em pontos tão diíTerentes do globo. Ainda não ha
muito tempo que o sr. Yamhaguen nos dava noticia d'uma traducção dos
Luztadas, em língua húngara, da qual ninguém ainda nos tinha fallado.
As noticias doestas versões em Adamson occupam as pag. 6i até 252, ap-
presentando o episodio da morte de D. Ignez de Castro, em varias linguas,
para conhecimento da habilidade dos traductores.
16 AD
Vem em terceiro logar uma resenha das dififerentes edições das obras do
nosso poeta.
£ termina finalmente este volume com uma lista dos commentadores e
apologistas de Gamões.
O exemplar de que me servi para a composição d'este artigo, foi-me em-
prestado pelo ex."» sr. conde de Geraz de Lima.
Oatra obra notável devida á penna de John Adamson, é Lusitânia illus'
trata: Notices on the History, Antiquities, Utterature, of Portugal. Litterary
Department. Parte 1.* Selection of Sonnets, unth biographical sketches of the
Authors by. Newcastle 1842, 8.» de XII, 100 pag.
Lusitânia tllustrata etc. Parte 2.* Ibi., 1846, 8.» d; XVII, 54 pag.
D'estas obras se dará mais ampla noticia na parte d'este trabalho destina-
da para os traductores de obras portuguezas.
A respeito d'este benemérito escríptor díz-nos o sr. Innocencio a pag. 88
do volume 16.° do Panorama. Da sua particular predilecção pela litterAtnra
clássica portugueza, e das riquezas, que n'este género possuia, é prova sobeja
o volume que imprimiu e distribuiu particularmente aos seus amigos com o
titulo: Bibliotheca Lusitana or Catalogue of Books and Tracts, relaíing to the
History, Litterature and Poetry of Portugal; formitêf part of the Library of
John Adamson, Newcastle on Tyne 1836, 8.° de 115 pag. Ahi se comprehende
a mais aunpla collecção, que até áquelle tempo se havia reunido das obras e
edições de Camões, passante de 120 volumes.
12) ADLERHOLD (GERltANUS).
E. — Die Nacht des Portugiesischen scepters. etc, Frankforl, 1703, 8.»
(Poder do sceptro porluguez, ou descripção circumstanciada do reino de
Portugal, suas riquezas naturaes, seus antigos habitantes, reis, decadência du-
rante o domínio hespanhol, sua restauração o seu governo até o rei actual.)
13) ADmNISTRATION (L') de Sébastien Joseph de Carvalho et Méllo^
vomte de OeyraSy marquis de Pombal, sécretaire d'état, etc, Prémier ministre
du rol de Portugal, Joseph L A Amsterdam, 1786, 4 vol., 4.°
«Quando se reflecte com alienção sobre as revoluções de Portugal, vé-se
que teve um destino único. Desde seu nascimento experimenta vicissitudes,
que não são vulgares. No século xv faz a conquista das índias. A Ásia inteira
passa para debaixo de seu dorainio. Desde então a fortuna de Portugal é pro-
digiosa! Não diz a historia que nenhuma outra nação se tenha elevado com
um vôo mais rápido ao cnme das grandezas. A própria Roma, no auge da sua
gloria cm tempo nenhum conquistou tantos estados, ou dominou sobre tantos
povos, ou se apossou de tantos sceptros, ou lançou ferros a tantos reis. É um
espectáculo o ver o mais p<»quono ostado da Europa tornar-sc a primeira po-
tí^nria do mundo!
AG 17
«A descoberta do cabo da Boa Esperança pelos portuguezes transfigurou a
sorte da republica geral. Vemos grandes impérios converterem-se em peque-
nos estados, e estados medíocres elevarem-se á ordem das grandes potencias.
O commercío é quem produz esta mudança. Então começa esta celebre revo-
lação, coja influencia se estende por todas as partes do globo.
«O mundo antigo e novo não forma senão um theatro de riquezas.
«Até então a Ásia somente constituo um empório de ricas producçues, das
qaaes os portuguezes são os únicos possuidores. Mas dentro em pouco a am-
bição, ou' a avareza das outras nações, procura attrahilas para si. A Ilolian-
da, a Inglaterra, a França, a Suécia, querem ter parte dos thesouros da índia,
procurando eslabelecer-se n'ella.
«Por esta época começaram guerras, das quaes se não acha nenhum exem-
plo Tios antigos annaes militares. Os combates, que se dão n'este novo campo
de batalha, são tanto mais sanguinolentos^ quanto o inimigo vencido não tem
abrigo.
«A descoberta do Brasil dá um novo esplendor a Portugal. Além da gloria
pessoal de accrescentar um novo mundo ao antigo, suas pi;oducções bastam
ellassós para elevar sua potencia acima de todas as potencias».
Esta obra attribuida a um certo Desoteux ó favorável ao nosso marquez,
e censura muitas das passagens, que se encontram nas Memoim da Marquis
de Pombal. *
14) ADVENTURES ÔF A TOUNG RIFLEMAN in the French and
English armies, during the war in Spain and Portugal, from 1806 to 1816.
(Aventuras d'um soldado atirador, nos exércitos francezes e Inglezes, du-
rante a guerra de Hespanha e Portugal.)
15) AQUILERA (D. VENTURA RUIZ).
E. — I. Camino de Portugal, Drama en un acto, original y en verso por
— , representado con gran aplauso en el teatro de la Cruz, el ano de 1849. Ma-
drid, 3.' edicion. 1860.
11. Ecos Nacionales y cantares con traduciones ai Português, Aleman. Ita-
liano, Catalan, Gallego, Polaco y ProvenzaL Madrid, 8.°, 416 pag.
Uma das mais notáveis poesias d'esta collecção é a seguinte
BALADA DE IBÉRIA
Dicen que va con Espaiia
Á casarse Portugal;
Si mucho vale la novia
No vale poço el galan.
* Publicnu-?e uma Iraducfào d'05le livro cm Lisboa no anno rlc 1841.
TOMO I 2
18
AG
•
El mismo sol los alombra,
La mjsma tierra feraz
Hínde á sas pies, generosa,
Ricos tesoros sin par.
£1 mar que sus costas bana,
Tiene en los dos nombre igual;
£n los propios claros rios
Los dos contemplan su faz.
Una es su lingua armoniosa,
Una su historia inmortal:
En los siglos venideros
Uno el destino %tTn
Hello fruto de estas bodas
ibéria ai orbe ha de dar
Envidia por su grandeza,
Y por sus virtudes, más
Guando ese dia
Guando vendrá?
Quien no lo ânsia ?
Quien lo verá "f
Los dos cruzaron valienles
Las soledades de un mar,
Donde sonado no habia
La voz humana jamás.
Oro dicen que trajerou
De su expedicíon audaz;
No cuenta quien los acusa
Lo que dejaron allá
Sangre, industria, cicocia y arte,
Y entrada en la humanidad
Dieron á razas dormidas
En hondo sueno fatal.
Y entonces alli brotaron
(Flores de su inroenso afani
Ciudades, lalleres, tempo,
Maravillas que admirar.
AG
Ojalá unidos por siempn;
Desde entonces, ojalá,
Hubieran los dos estado
Con vinculo fraternal!
Ctiando ese dia, ele.
Todo el mundo conocidu
Resueltos los vió pasar
A vencer los que imposibleb
Juzgaba la antiguedad:
Con el leon de Castilla,
Las quinas de Portugal;
Las barras aragonesas
Con el blason catalan.
Fueries con sus liberlades
Y su poder colosal,
En sus empresas llegaron
Donde nadíe Uegará.
Ellos derrocan impérios,
EUos los saben fundar,
Y uncen monarcas altivos
Á su carroza triunfal.
Hoy con receio se miran,
Yno se conocerán,
Hasta que luzca la aurora
Que tantos esperan ya.
(juando (\se diu, Hr.
El tiempo se acerca; un trono
Ha barrido el huracan,
Sobre el desplomando íien»
Una oleada dei mar.
Dinastias extranjcra>
llollaron su dignidad:
Si Espana ticnc memoria,
Ya nunca lo occuparãn
19
20 A(i
Lázaro ha roto su luinba:
lia tiniebla huyendo va ;
El muerto resuscitado
Saluda á ia Libertad.
En esta sagrada via^
Sin volver an paso atrá.<,
GoQ el Paeblo Lusitano
Espana se encontrará.
Y olvidando sus querelias,
Su allianza sellarán,
Fiel, sincera, indisolublo,
Con un ósculo de paz
Cíumdu r,sr din. rir.
Ibéria ! >o te estoy viendo,
Bella, joven, celestial;
Como en sus ensuenos pudo
El poeta ambicionar.
Ibéria! yo te estoy vicndo
Vestida de majestad,
Presentarte á las nacionci
Con aplauso universal.
Ibéria ! yo te estoy viendo
En el senado brillar
De todos los pueblos libres.
Tan alta como el que más.
Ibéria! yo te estoy viendo
Serenamente marchar
AI porvenir que adivina
La musa de nuestra edad.
Ibéria, yo te estoy viendo ;
Ibéria ! tu nacerás,
Puas han de hacerse ias boda.^
De Espana con Portugal.
Kse grav dia
So faltará:
(Juien no lo amio ?
Quien lo vn'á f
Janeiro, 186í^.
AL „
16) AGUIRRE (MICHAEL AB).
E. — De successione Regni Portugalliae pro Philippo Hispaniae Rege,
(Da SQCcessào do reino de Portugal. Obra em favor de Phílippe rei de Hes-
panha.)
17) A... J...
E. — A Compleat Account ofthe Portugueze Language, Being a copious
Dictionary of English with Portugueze, and Portugueze with Engltsh, Lon-
don. Printed by R. Janeway, 1701, foi., 300 pag.
(Diccionarío inglez-portuguez e portuguez-inglcz.)
18) ATiAUX (G. D').
E. — Portugal (Le) en 1850 et le ConUe de Thomar, 12.°, 46 pag. Paris, im-
prímerie de 6. Stapleaux.
O auctor pretende provar que Portugal encerra muitos elementos de pros-
peridade latentes, mas que o conde de Thomar é o predestinado para se apro-
veitar d'elles, e elevar assim o seu paiz ao maior auge de grandeza, por isso
que a bahia do Tejo ainda não seccou, e os camponezes de Portugal sâo ao
mesmo tempo a raça mais enérgica e mais disciplinavel da peninsula.
19) ALDENBUKGK.
E. — Relação da tomada da Bahia pelos Hollandezes, e sua restauração ,
obra impressa em Coburgo no anno de 1627, e da qual nos falia o sr. Var-
ahagen na sua Historia das lutas com os Hollandezes no Brazil (pag. xxi).
20) ALEMANIO FINI.
E. — Descrittiòne delV Isola delia Madera scritta nella lingua latina dei
Conte Giulio Landi. Piacenza. 1574.
(Descripçâo da ilha da Madeira.)
Vi esta obra mencionada n'um catalogo de livros antigos, e nada mais
posso dizer a respeito d*ella.
21 ) ALEMAN (MATTEO)— Auctor do celebre romance Guzman d' Alfa •
rache,
E. — Panegyrico de Santo António de Padova, Sevilha, 1604.
22) ALEWIN (ABRAHAM) — (Parece ser flamengo).
E. — Vocabulário das duas Línguas Portugueza e Flam^iga, Em que se
explicão Com a possível clareza e brevidade As palavras, termos & phrases
mais necessárias. Para ouso destas Línguas. Amslerdam, 1718. (Tem 933 pag.,
8.* grande).
Além d*esle titulo portugucz tem n'outra folha o seguinte em hollandez :
Woordenschat Der Taalen Portugeesch, en Nederduitsch Waar in de beteeke-
nissen der Portugeesch Woorden, volgens de Rykheid van de Nederduitsche
Taalkunde, omstandig aangeweesen worden; Een werhstuk, dat *t algemeen
Vúor alie Ui*( hehbcrs der hciâe Taalen by^ionderbfjk de leeraars en lenlimjen
22 AM
derzelve ten hoogsten dienstig t.s Door M' Abraham Alewyn en Joatmes Collé
Tot Amsterdam By Pieter vanden Berge^ op de Heylige Weg, in de Groene
Berg 1714. (sic) *
Traz um extenso prefacio em hollandez.
23) ALEXANDER (JAMES EDWARD).
E.—Sketches in Portugal duríng the Civil War of 1834. London, 1835.
(Esboços sobre Portagal âurante a guerra civil de 1834.)
Vem mencionada esta obra no catalogo manuscripto da livraria do conde
de Lavradio.
24) ALLIOT — Professor de nação franceza, que residiu por algum tem-
po na cidade do Porto, ensinando a sua lingua.
E. — Grammaire Française à Vnsage des PortugcUs. Porto, 8.», 1859?
25) AUffiÈS (DR. LUOIEN PAPILLAUD HENRI). '
E. — Dti traitement de la Fiêvre tiphoide par les reconstituaiús,
(Tratamento da febre typhoide.)
Appareceu publicado este trabalho na parte 2.* do tomo 4.<> das Memorias
da Academia Real das Sciencias de Lisboa, classe de sciencias mathematicas
ele. Nova série.
26) ALVIELLA (E. GK)BLET D) — Docteur en sciences politiques et
administratives.
E,—Létablissefnent des Cobourg en Portugal. Étude sur les débuts d*une
monarchie Constitutionelle. Écrit sous les yeux du Lt. General ConUe Goblet
d^Alviella ancien envoyé de Belgique à Lisbonne. Bruxelles, 8.° gr., 399 pag.
Não é para admirar que o sr. Visconde de Sá da Bandeira ^ tivesse que pe-
gar na penna para refutar algumas passagens d'esta obra, quando seu author
logo no principio d*ella diz que a mulher de D. João VI tinha o nome de Ma-
ria! (pag. 22). No emtanto o livro é muito interessante relativamente às luctas
civis, que tanto aííligiram o paiz durante o reinado de D. Maria II, e para vér
como Leopoldo I, rei da Bélgica, se intrometlia nos negócios de Portugal.
27) AMADE (H.) — Ancien commissaire des guerres adjoint.
E. — Voyage en Espagne ou Lettres Philosophiques, contenant Vhistoire gé-
nérale des demieres guerres de la Pémnsule. Paris, 1822.
(Cartas philosophicas sobre a historia das ultimas guerras na Península.)
< O exemplar examinado existe na Bibliotbeca Publica de Lisboa. Para mais amplos
esclarecimentos veja-se o vol. 8.* do Diccionario Bibliographico do sr. Innocencio, a
pag. 4.
2 Lctlrc adrcsséc au Comlc Goblel d'Alviella par le Marquis de Sá da Bandeira sur
'ouvrage L*élablissemenl des Cobourg en Portugal, acompagnee d'une tiotice surtes ète-
irmrníx qui onf ^u lint danx ce jmyfi dcpuis 18íl0jM.<fí/»íVn 1837. Lisbonne^ 1870.
/
nr
AN
Í8) AMBASCIARA (L') Dl DAVID RE DELL' ETIÓPIA ai A. S.
Clemente VII ad Emanuel re de Portugaly et a Gioatíe re de Portugal alcune
cose dei regno de Etiopta e dei populo et de lor costumi. Bdiogna, 1533.
Em latim* Bononiae, 1538.
(Embaixada de David, rei da Ethiopia ao papa Clemente, a D. Manuela a
D. João III reis de Portugal).
Vi esta obra citada ii'um catalogo de livros raros.
29) AMBIVERI (D. ALBERTO MARIA).
Nasceu d^uma familia illustre, em Bergamo, a 16 de julho do anno de
1618. Na mesma cidade vestiu o habito dos clérigos regulares em 1634, sen-
do d'a]li enviado para a casa, que a ordem tinha em Cremona, com o fím de
n'e11a passar o tempo do noviciado. Mais tarde desejando sua ordem enviar
missionários á índia, como tinha por costume, Ambiveri foi um dos que pa-
ra tal mister se offereceram. ^ Foi por isso mandado a Lisboa, para n'esta
cidade embarcar como missionário para o reino de Golconda, misbâo que
não chegou a cumprir, por ter sido detido aqui pela rainha D. Luiza de
Gusmão.
Chegado a Lisboa em 25 de fevereiro de 1650, e não tendo a ordem dos
clérigos regulares a esse tempo casa n'esta capital, a convite dos respectivos
frades foi hospedar-se no convento dos eremitas de Santo Agostinho, á Graça.
Tratou immediatamente de aprender a língua portugucza, e com tanto dísvelo
se applicou a este estudo, que segundo nos diz o historiador, a quem vou
seguindo, passados dois mezes n'ella pregava nas egrejas de Lisboa. Não poude
conseguir retirar-se para a missão de Golconda, enfesta capital veiu a morrer
com fama de santidade em 6 de agosto de 1651.
Seu corpo, por devoção do duque de Aveiro, foi depositado na egreja da
Luz, da ordem de Christo, e em 1653 trasladado para a de Nossa Senhora da
Divina Providencia, em Lisboa. Foi retratado em Bergamo, com a seguinte
ÍDScripção: — V. P. D. Albertus Maria Ambiverus fidemira operans obiit Ulys-
sipone die 6 augusti, anno 1651, cum opinione sanctítatis.
Ambiveri tinha escripto na lingua italiana um Compendio da vida do beato
Caetano, impresso pela primeira vez em Pádua, no anno de 1649, e iraduziu-a
na lingua portugueza cem accrescentamentos, mandando-a imprimir em
Lisboa.
30) ANCHIETA (JOSÉ DE)— Celebre missionário no Brazil.
Nasceu no anno de 1533 na ilha de TeneriCe, ^ e morreu na aldeia de Be-
ritigbá, no Brazil, em 1597.
E. — Arte da grammatica da lingua mais usada na costa do Brazil. Feyta
* D. Thomaz Caetano do Bem — Vida do venerável padre D. Alberto Maria Ambi-
Wfi, cUrigo regular. Lisboa, 1782, vol. 1.", pag. 70.
* Padre Simam de Vasconcelios— Vida do venerarei padre Joseph de Anr.hiela,
pag. 2.
24 AN
pelo padre — da côpanhia de Jem, Coimbra, por António do Mariz, 4595,
8.», 58 pag.
31) ANDERSON (WILLIAM AND JAMES E. TUGMAN).
E. — Mercantile Córrespondence containing a coUection of commerctcU lei»
ters in Portugwse and English with their translation in opposite pages, Lon-
(ion, 1867.
(Correspondência Mercantil.)
O auctor do prefacio d'esU obra diz que o estado da lingua portugaeza
se toma indispensável para os commerciantes, qae teem relações com os por-
tuguezes e brazileiros, sendo mui vastos os territórios em que se falia este
idioma.
32) ANDRÉ (CHARLES).
Nasceu em Langres no anno de 1722, e tinha a profissão de cabelleireiro,
em Paris.
E. — Tremblemeíit de terre de Ldsbonne. Tragedie en cinq actes et en ver$
par — , perruquier privilegie, demeurant à Paris, me de Vannerie, prés la
Greve; imprime à Amsterdam, et se vend chez Fauteur, 1756.
A respeito d'esta obra veja-se Nouvelle Biographie Umverselle.
.33) ANDRY(M.).
Este medico publicou em Paris a seguinte obra do nosso Sanches:
Observathm sur les maladies veneriennes, par feu M. ArUoine Nunes Ri*
heiro Sanchhs. Publiées par—. A Paris, Chez Theophile Barrois le Jeune, 1785.
S." Com o retrato de Sanches.
(Observações sobre as doenças venéreas.)
A respeito do nosso portuguez acham- se as seguintes passagens a pag. 255
do voL 43." da Nouvelle Biographie Générale de Firmin DidoU
«Sua paixão pelo estudo impclliu Sanches a procurar fora da pátria o meio
de lhe satisfazer. Visitou successivamente Génova, Londres, Montpellier, Paris
e Leyde, onde adoptou com uma sorte de enthusiasmo as doutrinas de B«^er»
haave. Tendo*se a imperatriz Anna dirigido a este ultimo com o fim de obter
trrs médicos de sua escola, a quem destinava empregos eminentes na Rússia,
f(»i Sanches indigitado, e veiu a ser successivamente primeiro medico de Mos-
( ou, medico de Petersbourg em 1733, medico dos exércitos em 1735, do cor-
\\o de cadetes, da corte em 1740, e do czar Ivan.
«Durante sua residência na Rússia prestou muitos serviços á scicncia, não
somente com suas observações de todas as sortes, mas por suas remessas de
productos naluraes, e por sua activa correspondência.
«Foi com Euler um dos que contribuíram para a celebridade da acade-
mia de Petersbourg, á qual pertencia. Sua obra Disserlalion sur Vórigine de
la maladie Venerienne, foi impressa em Paris em 1750, e reimpressa em 1753,
l/Go, 1772: «m Leyde no anno 1777: tradarida cm inglez em LSol, e cm ai-
AN ,5
lemào. O seu Exarnen historique sur Vapparition de la modadie Veneiienne,
foi reimpresso em Leyde no anno de 1777, e suas Observations sur les mala-
dies Veneriennes traduzidas em allemão.»
Mas tornaudo á obra publicada por M. Andry Les observations sur les ma-
ladies Veneriennes^ este livro é dedicado ao embaixador porluguez D. Vicente
de Sousa Coutinho, e precedido dos juizos dos sábios a respeito do mereci-
mento d'elle.
O primeiro é do professor Gaubius: «Estou persuadido (diz este) de
que vossas idéas deduzidas de vossas observações sâo justas, interessantissi-
mas para os médicos, e para toda a humanidade, tanto para o século presente,
como para o tempo futuro, e que por isso seria de grande utilidade que fos-
sem publicadas.»
É o segundo juizo critico o dos doctores regentes da faculdade de medi*
cina de Paris, Maigret, Lepreux e Guenet.
€ A obra — dizem estes — honrando a memoria do doutor Sanches, des-
pertara a recordação doestes dois médicos (Andry e Sanches), que, tendo-se
estimado toda a sua vida, encontraram, n'aquelles que os conheciam os mes-
mos sentimentos, que tinham um para com o outro.»
É finalmente o terceiro juizo critico extrahido dos registros da Sociedade
Real de Medicina, apresentado por Poissonnier, Geoffroy, Desperrieres, Yicq-
d'Azyr, Thouret e Defourcroy :
«O doutor Sanches, cujos grandes trabalhos e zelo para com o adianta*
mento da arte de curar são conhecidos de todos os sábios, passou a maior
parte de seu retiro a recolher os materiaes, que uma longa pratica lhe forne-
cera, e a delinear varias obras importantes, das quaes suas observações nume-
rosas faziam o fundo principal. O auctor, tendo observado um grande nume-
ro de afifecções chronicas, cujo caracter era muito dííficil de conhecer, e tendo
visto um grande numero de autopsias e lesões, que não tinham sido descrip-
tas por Bonnet, e outros observadores, suspeitou que tinham uma causa oc-
eulta, e que eram devidas a um virus venéreo degenerado. Questões multi .
plicadas, investigações escrupulosas confirmaram bem depressa esta descon-
fiança. O doutor Sanches entregou-se por isso a seguir a marcha da doença
venérea, a reconhecer seus efíeitos sobre as pessoas, que d'ella estavam infec-
cionadas, havia muito tempo. Notou que deixava vestígios, que ficavam escon-
didos, e como sepultados durante alguns annos, e que os meninos recebiam
também a punição das faltas de seus pães, e que a velhice em seu começo
não era apoquentada por enfermidades mais ou menos graves, senão por cau-
sa das consequências d'este virus contrahido na mocidade. Estas observações
levaram o auctor a adoptar um sentimento muito opposto ao dos médicos,
que pensam que as doenças venéreas perdem sua força diariamente, e que se
aniquilarão pouco a pouco, como a lepra dos antigos. Julga pelo contrario
que são mais perigosas do que nunca, porque atacam o interior das visceras
sem se manifestarem no exterior, e que infiuem sobre todas as gerações, etc.
Reeonhece-se por toda aparte um observador exacto, um pratico esclarecido.
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o que deve fazer com que se deposite maior conflança no auctor são qua-
renta annos de observações.
«Ã vista doeste relatório lido no Louvre a 24 de dezembro de 1784, a So-
ciedade Real de Medicina adoptou as conclusões da obra, e julgou-a digníssi-
ma de sua approvaçâo. Yicq d'Azyr. Secretario perpetuo. Paris, 28 de dezem-
bro de 1784.»
34) ANECDOTES du Ministère de Sebastien Joseph de Carvalho e Mel-
lo, comte de Oeyras» Varsovie 1783.
(Anecdotas do ministério do marquoz de Pomba!.)
Não ponde encontrar um exemplar d'esta obra.
35) ANECDOTES Espagnoles et Portugaises depuis Vorigine de la na'
tionjusqu*a nos jours, A Paris. Chez Vincent. 1773, 2 vol., 8.», 1.*» com 648
pag., 2.'» com 700.
É uma espécie de Selecta, por ordem chronologica, dos factos mais notá-
veis e chistosos da historia de Hespanha e de Portugal.
«Em 1641 começa a guerra entre os portuguezes e hespanhoes. Estes são
os primeiros a entrar em campanha, assolam o paiz, saqueiam egrejas, fazem
prisioneiros, e retiram-se sem ordem, tocando instrumentos. Vós cantaP/S cedo
de mais, dizia-lhes o commandante: nunca ha certeza da victoria, em quanto
se está nas terras dos inimigos. D*ahí apouco, avistando os portuguezes: Lar-
gae vossas guitarras e flautas: não se trata agora de cantar, é necessário com-
bater: mostrae-vos bravos e animosos. Não tarda em serem atacados, derro-
tados e postos em debandada; e para occultarem sua vergonha cortando as
orelhas aos soldados, que tinham perdido, mostram-n'as asseverando serem
as dos portuguezes, aos quaes acabavam de punir. Um cónego de Badajoz diz-
Ibes: Era melhor trazer as armas de vossos inimigos, do que suas orelhas:
pois não é possível diíTerençal-as das dos castelhanos.»
• •
«Immediatamente depois da conclusão da paz com a França, Filippe IV ti-
nha fixado toda a sua attenção sobre Portugal; mas as forças reunidas da Hes-
panha não eram sufflcientes para executar o que se chamava castigo de um
corpo de rebeldes. Uma batalha só parecia dever decidir da sorte dos portu-
guezes: deu-se a 8 de junho. Os castelhanos perderam a victoria, depois de se
terem batido de lado a lado com uma fúria quasi incrível. Doze mil homens
foram mortos ou prisioneiros, e seis grandes de Hespanha levados como tro-
pheus para Lisboa. Este desastre acabou de alterar a saúde do rei de Hespa-
nha, a quem o receio de um triste futuro para seus povos assustava sobre mo-
do. Mas novas derrotas causadas pelos portuguezes, que em vez de se conser-
AN , j7
▼arem aa defensiva, accommettiam á força de armas e de intrigas secretas,
novos sustos e doenças agudas conduziram Filippe lY ao tumulo.»
36) ANEDDOTI dei mirUstero di Sebastiano Giuseppe Carvalho, Conte di
OeyrM, Marchese di Pombal, sotto il regno di Gtuseppo I Re di Portogallo, Per
servir e di suppletnento alia Vita dei Medesimo. 1787, sem logar de impressão»
8.<», tomo i.« 297 pag., 2.» 251 pag.
(Anedoctas do ministério do marquez de Pombal.)
37) ANGLO-LUSITANIAN Discourse conceming the complaints of the
Brttish factors resident in the City of Lisbon, By a senous and impartial well-
wisher to the prosperity ofboth Nations. Lisbon, 1771.
(Discurso a respeito das queixas dos feitores inglezes.)
Esta obra é a refutação de outra intitulada Memoriais of the British Côn-
sul and Factory at Lisbon. É uma analyse das cinco memorias especificadas
n'esta ultima obra, em que se attribue a origem d^ella a machinaçòes dos
jesuítas. (V. Bibliotheca Histórica, Supplemento, pag. 8.)
38) ANNALS OF THE PENINSULAR OAMPAIGNS from 1808 to
1814. Edinburg. 3 vol. 1829.
(Annaes das campanhas peninsulares.)
39) ANNUAIRE DES VOYAGES et de la Geographie pour Vannée
1847 par une réunion de geographes et de voyageurs sous la direction de M,
Fréderic Lacroix,
(Annuario de viagens e de geographia.)
Vem nVste livro um extenso artigo sobre os trabalhos geographicos do
nosso illustre visconde de Santarém, que por tantos annos honrou o nome
português com seus escriptos, indispensáveis para qualquer bibliotheca de
primeira ordem.
40) ANSTETT (PH.) — Parece ser professor de allemão em Lisboa.
E. — Grammatica da língua allemã, approvada pelo Conselho Superior de
Instrucção Publica, offerecida á mocidade estudiosa de Portugal e Brazil. Lis-
boa, typographia da Sociedade Typographica Franco-Portugueza, 1863, 297
pag., 8.»
41) ANTILLON (D. ISIDORO DE) — Professor de astronomia, giío-
graphia e historia, no Seminário Real dos Nobres em Madrid. Nasceu em
Santa Eulália, aldeia de Aragão no anuo de 1760, e morreu em 1820. ^
E. — Elementos de la Geografia Astronómica, natural y politica de Espana
y Portugal. Tercera edicion. Madrid, en la Imprenta de D. Leon Araarila,
1824, 8.«, 440 pag. com alguns mappas.
* Firmin Didot — iVouccWe Biogrijihie UniversellCy vol. S», pag. 783.
28 AP
A primeira edição é de Bíadrid em i8i5. Foi traduzida em francez com o
titalo seguinte : Geographie physique et politique de VE$pagne et iu Portugal.
Paris, 1823. E em inglez por William Smitb.
Esta obra de Antillon é digna de apreço; e seu auctor não só faz elogios
aos portugaezes, mas até pretende refatar algumas accusações, que nos faziam
eseriptores estrangeiros.
42) ANTOINE, ROY DE PORTUGAL, $e$ Psaumes ou le P,echeur con-
fesse ses fautes 4$ implore la grace de Dieu, Suivant Ia copie imprimée à Paris.
(Psalmos de D. António, rei de Portugal.)
A respeito d*esta obra veja-se a parte^, que trata das traducções.
43) APERQU NOUVEAU sur les campagnes des Français en Porhigal,
en 1807, 1808, 1809, 1810 et 1811; contenant des observations sur les écrits de
MM. le baron ThiebatjUy lieutenarUjgénéral; Naylies, ofjkier supérieur des gardes
du corps de Monsieur; Gingret, chef de bataillon en démiactivité, A Paris,
Cbez Delaunay, 1808, 8.», 228 pag.
(Sobre as campanhas dos francezes em Portugal.)
É bostil esta obra à politica de Napoleão invadindo Portugal, e no prefa-
cio, entre outras passagens notáveis, traz a seguinte :
<As tentativas infructuosas dos exércitos francezes para se apoderarem de
Portugal, formam o mais Interessante episodio da guerra peninsular. A pri«
meira, que sem motivo arrogou a si o título de expedição, conduzida e con-
summada pela perfídia^ e não pela força de armas, teve um começo prospero»
que dentro em pouco se desvaneceu. As duas outras, tentadas de mão arma-
da por dois generaes celebres, à frente das mais bellas tropas do exercito
francez, falharam completamente. A falta de bom resultado doestas operações
imprudentes contribuiu poderosamente para o livramento de Hespanha, se é
que não foi ella a única causa efficaz, porém até mesmo attrahiu mais tarde
-o exercito anglo-hispano-portuguez às províncias meridíonaes da França,
precisamente no momento critico da invasão das províncias do este e norte
doeste império pelas potencias allíadas; circumstancia, cujo concurso simultâ-
neo trouxe a queda do terrível colosso do poder imperial, que, alguns mezes
antes dava a lei à maior parte da Europa, e ameaçava a liberdade de todas
as nações.»
Este livro é destinado a refutar os erros, que se encontram nas obras ci-
tadas acima, e por isso pergunta como é que se escreve que Junot se apossou
da Capital, do exercito, e do reino de Portugal, quando não sómeote a cidade
lhe abriu suas portas, mas até o próprio general Junot foi convidado a entrar
n*ella? (Pag. 39.)
44) APOLOGÉTICO contra el tirano y rebelde Verganza y conjurados,
nrzobispo de Lisboa y sus parciales, en respuesta á los doze fundamentou dei
padre }íascarenas. Zaragoza, 10i2, 4.<»
AR 29
Foi seu aactor D. Juan Adam de la Parra, inquisidor ordinário de Madrid,
segando declara uma nota manuscripta.
C. M. B. I. P.
(Contra a conspiração de D. João IV, segundo parece.)
45) APOLOGIE OU DEFFENSE de Monsieur A7ithoyne roy de Por-
tugal contre Philippe roy d^Espagne, usurpateur du dict royaume de Portu-
gal &c. Ensemble les tyrannies et cniautez qu'tl exerce Twuvellement sur sos
propres subjects. Traduit d'Espagnol eu Français. (Sem logar de impressão),
1582, folheto.
46) AHAGO (JACQUES).
E. — Le Duc d' Almeida. Paris, 1855, foi.
É um romance, parte de cuja acção imagina-so representada em Portugal,
no tempo da invasão franceza. Não merece especial menção.
47) ARANA (DIEGO BARROS).
E. — Vida y viajes de Hemando de Magallanes, Santiago de Chile, 1864.
48) AROONVILLE (MARIE GENEVIEVE OHARLOTTE DAR-
LUS THIROUX D') — Lilterata franceza.
Nasceu no anno de 1720, e falleceu em 1805. ^
E. — Dona Gratia d'Ataide, ConUesse de Menezes. Histoire Portugaise, Pa-
ris, 1770. Haye, 1770.
49) ARDIZONE (ANTÓNIO MARTA SPÍNOLA).
Nasceu em Nápoles no anno de 1609. Vestiu a roupeta de S. Caetano na
casa de S. Paulo, d^aquella cidade, ^ e chegou em 1640 a Goa com o Qm de
missionar na índia. Morreu em outubro de 1697 na mesma cidade, em que
naftcera.
E. — Gemidos dos Christãos, Bremanes e Canarins e de outras muilas
Castas, e Nações do Estado da índia, por não commungarem em nenhum tem'
po da vida, nem ainda na Páscoa, e perigo de morte, conforme Deus, e a Santa
Madre Igreja determina.
Além d'este publicou vários outros livros mysticos, cujo titulo se pôde ver
na obra abaixo mencionoda.
50) ARLINGTON (BENNET COMTE D').
Nasceu no anno de 1618 em Arlington^ no condado de Middlesex, e fal-
leceu em julho de 1685. ^
< FirroÍQ Didot — Nouvelle Biographie Universelley vol. 3.<>
^ D. Tboroax Caetano do Bem— Memorias Históricas dos Clérigos Regularei, tomo
l.*,pag. «71.
* Firmin Didot — Nowelle Biographie UniveneUe, vol. 5.*, pag. 367.
30 AS
E. — Lettres aux comtes de Sandwich ei de Sundeiiand et aux chevaliers
Fanshaw, Godolphim, et Southwell deptUs Vannée íGQijusques en Van 1674.
Ulrechl, 1706, 2 vol.
Estas cartas são importantes para a historia do reinado de AfTonso VI.
5i) ARNAULT (LUCIEK EMILE) — Dramaturgo francez.
Nasceu em Yersaílles no anno de 1787. <
E. — Pierre de Portugal. Tragedie,
52 ARS GRAJOiATICiE PRO LINGVA LUSITANA addiscenda La-
tino Idiomate proponitur, in hoc libello, velut in quadam academiola diuisa in
quinque classes, insiructas subselliis, recto ordine dispertilis, vt ab otnnibus
tum domesticis, tum exteris frequentari possint. Ad finem pmiitur Ortogra-
phia, ars rectè scribendi, vt sictU prior docet rectè loqui, ita posterior doceat
rectê scribere linguam Lusitanam. In gratiam Italorum conjugationibus Ltm-
tanis ItalíB corresprndent. Authore P. Doct. Benedicto Pereira, Societ, lesv,
Portugallensi Borbano, In Supremo Lusitanice S, Inquisitionis Tribunali Cen-
sore Qualificatore, & modo Romw pro assistentia Lusitana Revisore. Lvgdvni.
Sumptibus Lavrentii Ânisson, 1672, 8.<>, 323 pag.
Nâo obstante ser esta grammatica composição d'um portnguez, faz-se men-
ção d'ella, não só por ser impressa n'um paiz estrangeiro, e pela sua rarida-
de, mas principalmente para que se saiba qual a arte por onde os italianos e
muitos estrangeiros aprendiam o nosso idioma, fora de Portugal.
Bento Pereira diz no prefacio, que o motivo que o ímpelliu a compor esta
grammatica, foi ver que commerciando os portuguezes com todas as nações
do mundo, não tinham no entanto os estrangeiros um compendio, pelo qual
podessem aprender a nossa lingua.
53) ARTECHE (D. JOSÉ GOMES DE).
E. — Geographia historico-militar de Espana y Portugal. Madrid, 1859.
54) ASOHBACH (DR. JOSEPH) — Historiador allemão.
Nasceu * em Hoechst (ducado de Nassau) no anno de 1801. Teve em Franc-
fort uma cadeira de historia, e foi depois chamado para a universidade de
Bonn.
E. — Geschichte Spaniens und PortugaVs zur Zeit der Herrschaft der Al-
moraviden und Almahaden Francfort. 1833-1837, 2 vol., 8.°
(Historia de Hespanha e de Portugal no tempo dos almoravides e almo-
hades.)
55) ASENSIO (G. CALVO) — Jornalista hespanhol, 3 por algum tem-
* Firmin líláoi — Nouvelle geographie Universelte, vol. 3.", pag. 295.
- Vapereau— Dictionnaire des contemporains, pag. 63, edição de 1870.
3 Modesto Fernandes y Gonsalcz— Retraias y Scmblamas, pag. 181.
AS 31
po secretario da Legação Hespanhola em Portugal, e fundador do diário li-
beral La Ibéria,
E. — Lisboa en 1870. Costumbres, litteratura y artes dei vecino reino,
por — . Madrid, imprenta de los senores Rojas, 1870, 8.°, 147 pag.
Poucas vezes se tem escriplo uma obra tão insullanle e calumniadora dos
portuguezes, como esta, e isto devido a um escriptor que entre nós residiu, e
entre nós viveu.
A traducção dos seguintes trechos farão ver as amabilidades e finezas, que
devemos ao sr. Asensio :
«Lisboa não é uma cidade, qae brilhe pela belleza, correcção de linhas,
pureza de contornos, proporção nas partes, e harmonia em seu conjuncto: não
t^n numerosas ruas tiradas a cordel, planas, bem calçadas, com passeios lim-
pos, e com espaço bastante para conter a par grande numero de carroagens.
Não possuo passeios frondosos e bem symetricamente distribuídos, povoados
de arvores, aformoseado3 com jardins, bem debuxados, com ruas largas, nas
quaes, ao lado da natuzeza, se descubra e surprehenda agradavelmente a arte.
Não conta praças, nem com profusão monumentos notáveis, magníficos, e edi-
ficios públicos, que despertem a admiração geral. Não ha n'ella arredores
pittorescosj ^ onde a mão da cultura apresente obras primorosas e recreati-
?as em extremo, que predisponham em favor da capital o animo do viajante.
Não se levantam dentro da cidade grandes e sumptuosos theatros, verdadeiros
templos da arte, onde se lhe possa render um verdadeiro culto. Nada d'isto :
não vás pois crer, amigo leitor, que é de todo certo o axioma portuguez: Que
quem não viu Lisboa, não viu coisa boa,
«Apenas ha um passeio, que mereça tal nome, e quasi nada d'aquíIlo, a
que temos alludido. Que rio tão formoso, e que porto tão mesquinho t Que
bellissima perspectiva, e que porto tão pouco esmerado ) Que riqueza poética
no conjuncto, e que pobreza nos diversos pormenores t Imagine o leitor um
porto ainda não terminado, sem mais que alguns quarteirões de casas, nem
todas bellas, nem explendidas, com um caminho em meio, e em declive, falto
de embarcações, o que lhe dá uma apparencia de deserto, ^ e ter-se-ha for-
mado uma idéa approximada, do que é o Atterro. Grandes são as reformas,
que a municipalidade deve emprebender se quer que o porto seja inteira-
* A respeito dos arrabaldes de Lisboa, Dao tinha a mesma opinião o bespanhol Ur-
cullu. V. o S.* tomo do Tratado da sua geographia.
^ Sendo infelixmente certo que o porto de Lisboa nSo é frequentado poraquello nume-
ro de embarcações, que empara desejar, em ? ísta da sua excellencia e posição geograpbi-
ca, tem todavia ainda um movimento de perto de 8:000 navios, entre entrados e saldos»
não faltando n'um extraordinário numero de barcos de pesca, e n'uma immensidade d'em-
barcações de navegação fluvial. Que numero de navios seria necessário para que pare.
cesse bem cheio d'enes um rio, que em partes parece um mar? No anno pretérito de 1871
entraram pela foz do Tejo 2:266 navios de vellae 1:286 a yapor, não fallando dos barcos
de pesca. Em 1860 navegavam continuamente entre Lisboa e yarios pontos banhados pelo
Tejo 1:143 barcos de diversos tamanhos e feitios. (V. Archivo Pi(<ore<co,yol. 3.« pag. 381.)
32 AS
mente digno de orna cidade de primeira ordem, como deve ser a hoje desat-
tendida e pobre capital do reino lositano.
«A estataa eqnestre de D. José I é péssima por soas disformes proporções
e por saa nenhnma belleza de formas.
tTodas as roas, a Aorea, da Prata, Aagnsta e da Rainha, não se distinguem
pela limpeza, porqae este ramo de policia é bem descarado.
<0 parseio da Estrella, além de ser irregalar, e não de mai grandes di-
mensões, causa lastima e nojo pela falta de aceio, em que se encontra. ^
«Um tanque com agua corrupta, uma montanha russa cheia de abrolhos,
e de diíOcil accesso, as ruas immundas. E este é o espectáculo que offerece o
passeio da Estrella, tendo condições para ser excellente.
«O theatro de S. Carlos é velho, de mau gosto, e pesado.
«Em quanto a templos nenhum ha, que por sua belleza architectonica me-
reça fixar nossa attenção.
«É lastima que a subida para o real palácio da Ajuda seja asquerosamen-
te immunda.
«A estatua de Luiz de Camões não tem bellas proporções, e com tão má
ventura se ideou a allegoría, que o poeta apparece com a espada na mão, e
com os livros de sua epopeia aos pés, como se o guerreiro poderá eclipsar
nem n'um ponto ao divino filho de Apollo.
«Não ha nenhuma estatua erigida em honra de Viriato, o verdadeiro fun-
dador da nacionalidade.
«Em quanto a edifícios públicos (exceptuando os da Praça do Commercio),
não ha em Lisboa nenhum outro. O Governo Civil é um casebre velho e sujo,
a Imprensa Nacional está albergada n*nm mesquinho convento. Só é heUo e de
gosto severo o destinado para Escola Polytechnica.
«Contraste grande é o que apresentam os dois povos peninsulares em sua
vida e costumes! Qaão diversos e variados matizes accentuam suas dlffèren-
ças, e como nas miudezas se marcam os vestígios de parentesco, que os por-
tuguezes eontrahiram desde o tempo de D. Manuel, e em seguida dos desco-
brimentos de seus grandes navegantes com a molle e apoltronada raça 6ra-
zileira.
«Como o hespanhol o portuguez é imaginativo, poeta, poltrão, muito amigo
de passar tempo, pouco industrial e commerciante, nada emprehendedor,
amantíssimo de insignificâncias, abundantíssimo de palavreado, fanfarrão, e
excessivamente cuidadoso de exagerar as glorias nacionaes; mas, alem de
tudo isto, o sangue romano e árabe, que por suas veias corre, modificado e
misturado com o brazileiro, de tal modo ha debilitado a energia do caracter
meridional, que mais parece pertencer àquella fleugmatica raça de flamen-
gos, que tao admiravelmente retratados estão pelo pincel de Van Dick, em
cujos largos e avolumado? rostos, coloridos por não sei que tinta alcoólica se
reflecte completamente uma mansidão natural.
«Não ha mais que duas coisas, que façam sair de suas casas á um bom
* Poucas falsidades í^e proferiram jamais: d'uin tal calibre.
AS 33
portaguez: sua autonomia e uma andaluza. Apenas se falia de seu Portugal,
levanta a voz, arranca-a do fundo do peito, põe-se nos bicos dos pés, e com
dicção campanuda e estylo grandiloco Montes Claros, Aljubarrota e 1640
saem de seus lábios como bombas, que atroam, derribam, e intontecem. Mas
se por este motivo o socego proverbial do lusitano se altera, é para ver como
brilham seus olhos, sorriem seus lábios, quando com cicio encantador al-
guma andaluza lhe dirige palavras adocicadas. Exceptuando estes casos o
portuguez é impassível, severo, grave até à exaggeração : na sua vida intima,
no pouco amor a passeios e theatros, e a espectáculos que o affastem de sua
casa, na pouca disposição, com que se acha sempre para receber os adventí-
cios, 1 e na hesitação em conceder sua amizade, mais parece um filho da so-
berba Albion, do que um latino; mais um habitante do norte, do que um mo-
rador nas regiões do sul.
tNao quer isto dizer que no povo portuguez se tenham perdido completa-
mente as tradições latinas, tanto mais que todos seus defeitos vieram a ser
augmentados e correctos com os peculiares á samnolenta e ridkula raça
braztieira,
tO Chiado é o centro de murmuração, passatempo dos ociosos, martyrio
cruel de todas as reputações, templo consagrado a desejos levianos, escola de
mentira e de vicio, livro aberto a todos os epigrammas mais repulsivos, e re-
fugio hospitaleiro de intrigantes e caloteiros.^ No Chiado os que geralmente
pullulam, mentem e diíTamam; sao os rapazes mal educados e aristocráticos :
06 velhos lascivos e repugnantes, que apenas se occupam em deshonrar mu-
IhereSy e discutir acaloradamente sobre o jogo e modas. Seus constantes fre-
quoitadores sâo os janotas, enxerto de reptil e de homem, nascidos para o
vicio, e educados na maledicência, para quem a vida é um festim, e cujo úni-
co pensamento é o prazer.
«Yivem formando uma sociedade de seguros sobre a deshonra, não sabem
oecopar-se de outra coisa senão de cavallos, jogo, mulheres ; não sabem ler,
nem escrever, mas em compensação cantam o fado com acompanhamento de
viola. Não possuem outra instrucção mais que a adquirida em alguns lupana-
res iomiundos, onde aprendem mal o hespanhol, mas perfeitamente as torpes
artes da crápula e do cynismo, e, se não respeitam, nem comprehendem nada,
que seja serio, como indemnisação contendem com quantos se applicam ao
estudo, e se esforçam por serem úteis à pátria. Esta é sem exaggeração a raça
empestada, que frequenta o Chiado, sem contar as nullidades invejosas em
poltiica, e ridículas em litteratura, que com ella se agrupam, e com ella for-
mam coro desaccorde, e nada agradável.
tNas reuniões, ou bailes aristocráticos ha uma seriedade, uma compostura
tão epicamente ridículas e incommodas, que para qualquer homem, que o, que
leve sobre os hombros, seja uma cabeça, são horrorosos tormentos, mais tre-
mendos que os imaginados por Dante em seu famoso Infeino.
> Bem faz; para que lhe não aconteça dar en Irada em sua casa a outro Calvo AseD^io
' Ma^ como é rcfugioV Que e^criplOI• tão inlcrcssanle I
TOMO I '^
34 AS
«N'elles a conversação é um continuado chorrilho de tolices, quando nao
sejam injurias: a dama de alto cothurno entretem-se innocentemente em des-
acreditar quantas senhoras e meninas, impellidas pelo redemoinho da walsa
passam arquejantes ao seu lado: o dandy occupa-se por sua vez em murmu-
rar, e dizer sandices ás meninas, por mais que na linguagem official dos sa-
lões recebam o nome de galanterias, os tesos e magestosos diplomáticos, cujas
reuniões se confundem com as de nobreza de sangue, por serem idênticas fal-
iam pouco e dançam menos : por toda a parte ouvem-se agudezas offensivas,
que, se não possuem muito de sensatez, em troca teem bastante de insultante,
sandices offensivas, das quaes só riem os que as dizem; porém nada de finos
epigrammas, ditos engenhosos; tudo isto é moeda falsa, que não tem curso
nos salões aristocráticos, e que está reservado para esses desditosos políticos,
escriptores, jornalistas e homens de sciencia, que os não costumam frequen-
tar, e aos quaes separa do seus olympícos habitadores um cordão sanitário.
«Fora d'isto e da grande profusão de luzes, vestidos de gaze^ gravatas,
luvas brancas, fraques pretos ou azues, gelados, walsas, contradanças e lan-
ceiros, nada existe n'esses tão decantados bailes, que attraia e que fascine.
Não se encontra n'elles essa conversação picante, incisiva, epigrammatica, que
os escriptores francezes em tanta abundância empregam em seus romances,
quando descrevem saraus sumptuosos, não existe desgraçadamente (ainda que
as excepções, que não são poucas, merecem na verdade admirar-se) figuras
elegantes e formosas, nas quaes a par do luxo ^ brilhe a belleza fascinadora;
a raça brazileira tem contaminado com seus perfis as antigas feições escul-
pturaes, as quaes tão celebradas fizeram as damas portuguezas.
«Não ha mais do que essa discorde e desharmonica confusão produzida
pela reunião de muitas pessoas, que correm, bailam, suam, agitam-se, faliam,
riem, fazem cortezias e murmuram, quando se não entreteem docemente com
um gelado, ou temperam a acritude de suas palavras com alguma delicada
golozeima.
«Emquanto á nobreza do oiro, essa que se adquire por outra grande in-
justiça social, similhante á recebida pela herança legendaria, é particularíssi-
ma, e tem um sainete tão especial, que com nenhuma outra se pôde confon*
dir. Não a compõem esses ricos commerciantes, esses riquíssimos proprietá-
rios^ esses celebres banqueiros, que em todas as sociedades deslumbram por
seu fausto, e enchem os salões com seu numero: na sociedade lisbonense não
se podem contar esses Júpiteres olympicos da banca e do credito, esses mo-
dernos Mercurios, porque não ha commercio, não ha fortes casas bancarias, a
raça dos contos e dos patacos pertence de facto e direito aos brazileiros, que
são nossos antigos indianos, cujo typo é salientissímo.
«O brazileiro geralmente adquire suas riquezas por meio do iniquo trafico
da escravatura, e feita uma vez sua fortuna, vem para Lisboa, edifica umpa*
lado, 2 relaciona-se com a nobreza, cuja benevolência, visto despresal-o por
« Pag. 57.
' Quantos palácios ba cm Lisboa mandados levantar por brazileiros? Que escriptor
(âo consciencioso!
AS 35
cansa de saa origem, trata de captar com seu capital, e quando tem adquirido
certa posição, com o fim de alcançar um titulo, dá explendidos bailes, para os
quaes convida todo o munde oíflcial, até lograr seu desejo. N'estes bailes, de
um sainete um tanto grutesco, nos quaes tudo é luxo sem gosto, e abundân-
cia sem arte, confundem-se todas as classes da sociedade, o jornalista com o
ministro, o diplomático com os fidalgos, os indivíduos da classe media com a
alta not)reza, e no meio da confusão de tão diversos typos, ostenta-se accen-
tuada com enérgicos caracteres cómicos a figura do protogonista, que veste o
fraque estudadamente, que falia o francez com a mesma difQeil imperfeição»
que o portuguez, que se empenha em ser delicadamente fino com a affecta-
ção de um Juan Peraizules, que dança como que ostentando as elegantes ma-
neiras de um dandy exaggerado, provocando por esse motivo aqui o riso, alli
o desprezo, e em todas as partes a satyra e o epigramma. ^
•N*estes bailes, para diflferença dos aristocráticos, riem-se com estrondo,
faliam ruidosamente, tragam com anciã os doces, gelados e bebidas em abun-
dância, e, oh segredo poderoso e magico de bom tom I ceiam com um appe-
tite voraz, e que não é permittido ter nos palácios dos descendentes dos se-
nhores de faca e cutello, nos quaes, sem duvida para não causarem indiges-
tões, acautelam-se muito de apresentarem outra coisa mais que chá e bolos, e
quando muito, alguns queijinhos mal feitos, com os quaes despertam a sede
d'aquelles que os comeram, deixando-os retirar para suas casas já de madru-
gada, C4)m bellas recordaçíies da distincção e amabilidade dos novos pares, e,
com uma fome espantosa, e nada edificante. Felizes brazileizos, tomados ricos
á custa da carne dos negros, dos quaes todos mofam, e a cujos saraus todos
acodem promptamente procurando a ceial
«Nao fallarei mais de bailes: os do palácio real são, como todos os da cor-
te, amaneirados pela adulação, e monótonos pela ridícula seriedade mal fingi-
da, e nada apresentam de nacional ou local, que mereça estudar-se.
«As pateadas são sempre certas tratando-se de hespanholas feias: é regra
iofallivel. Não ha em geral grandes bellezas no theatro portuguez: não se ad-
miram rostos deslumbrantes de formosura na scena lisbonense: entre suas ce-
lebridades artísticas não está o publico certamente acostumado a contemplar
continuamente a graça, o encanto, a correcção de linhas e a pureza de con-
tornos, e este é o motivo por que se não com prebendem á primeira vista as
rasões para exigências estheticas de tanto rigor por parte dos portuguezes,
quando se trata de actrizes estrangeiras.
«Aqui não ha progressistas, nem moderados, whigs nem torys, radicaes
nem reaccionários ; aqui não ha partido conservador, nem partido reformista;
aqui as situações politicas, que se seguem umas ás outras, nem apresentam
programma distincto dos que as precederam, nem se formam pela necessida-
de de realisar uma idéa, ou de reformar uma instituição para o que se ache
habilitada uma fracção ou uma eschola; aqui não ha mais que individualida-
des, que aspiram ao poder sem princípios, sem idéas, sem systema definido e
« Pag. :j9.
.•16 AV
accentnado/e que o obteem ou perdem por intrigas pessoaes, ou indífTereB*
ças e animosidades, qne muitas vezes nada teem qne ver com a administração
dos negócios públicos, todas liberaes, segundo dizem de si mesmas, confundi-
das, amalgamadas e separadas ou reunidas, inimigas ou' amigas segundo a
subida e descida das antípathias ou sympathias, antes particulares, que politi-
cas, que decidem n'este paiz da opposiçao ou da conformidade com os actos
de um ministério. Esta ó a triste situação politica de um paiz acostumado ao
regimen representativo, e hoje indifferente aos negócios públicos.»
Muito mais poderíamos traduzir, mas isto basta para conhecer o escriptor.
Pelo dedo se conhece o gigante.
Consta que actualmente o sr. Ascencio está escrevendo uma biographia de
(^amops, mas sejam quaes forem as causas, o auctor não possuc o condão da
neípssaria imparcialidade para tratar de nossas cousas.
56) ASHE.
E. — History of the Azoirs. London, 1813.
(Historia dos Açores.)
Nunca vi esta obra.
57} ASSARINI (LUCAS).
E.— Vita e miracolt di S. António di Padova, Gcnova, 164G.
•
58) ATKINS (JOHN).
E.--A voyage to Guimay Brazil, aud the West Indies, Madeira, Cape de
Verds, etc. London, 1737.
(Viagem a — .)
59) AUGOYAT.
E. — Précis de Vexpcdition de D. Pedro en Portugal, Paris, 1839.
(Resumo da expedição de D. Pedro.)
60) AUS DEM LEBEN Portugiesischen Israeliten Dr. Caprodose. Tra-
duit du Français par G. St. Slrasbourg, 1839, folheto.
(Tratado da vida do doutor Caprodoso (? talvez Cardoso) israelita porlu-
guez.) C. M. B. I. P.
61) AUTHENTIO MEMOmS ofthe Portuguese Inquisition.
(Sobre a inquisição.)
Nada mais posso dizer acerca d*esta obra, que vi citada, mas da qual não
pude encontrar nenhum exemplar.
62) AVANTURES ADMIRABLES ou discours des succès du roi de
Portvgal D. Sebastien deptiis son voyaged^Afriqfw en iiilSjHsquen 1601 avec
la suite. 1603.
íSi)l)ro D. Sebastião.)
AV 37
Vi citado d'6sla maneira o mencionado livro, sem d'elle poder dar mais
esclarecimentos.
63) AVEZAC (M. DE) — Garde des Archives de la Marine et des Golo-
níes, des Societés Geographíqaes de Paris, Londres, Francfort etfiombay; des
Societés Asiatíques, Syro-Egyptíenne et Afrícaíne de Londres; des Societés
Ethnologiques de Paris, et de New York, des Societés Archéologiqnes d'An-
gleterre et d^Espagne, de la Societé Orientale, ctc. etc.
E. — L Notice des découvertes faites au moyen-age dans VOcéan Atlantu
que antérieumient aux grandes explorations Portugaises du quinziéme siêcle,
lue à VAcademie Royale des Inscriptians et Belles Lettres de 1'InstUut dans
ses séances du 14 Novembre et 5 Décembre 1845 et du 6 Mars 1846 par — .
Paris, imprimerie de Faín et Thonot, 1845, S."» gr. X, 86 pag.
(Sobre nossas descobertas.)
n. Note sur la premère expedition de Béthencourt aux Canaries, et sur
le degré d^habilité nautique des Portugais à cette epoque. Paris, 1846> 8."*
(Sobre a expedição de Bethencoort ás Canárias.)
Na primeira d'estas obras, diz o autbor o seguinte :
«Estas paginas não são inspiradas por um espirito de ciúme e de destrui-
ção a respeito d'um povo, do qual temos gosto em proclamar a gloria immor-
redoura, e cujas susceptibilidades nacionaes sabemos r(%peitar presentemente
da mesma maneira, que admiramos suas proesas no passado.
«Declaramol-o em voz alta antecipadamente, não vimos contestar ne-
nhum dos títulos reaes da nação portugueza a uma celebridade justamente
adquirida na carreira das descobertas gcograph^as.
«Ah! Quem quereria pois fechar os olhos ao espectáculo dos maravilhosos
desenvolvimentos doesta potencia nos séculos xv e xvi?
«Quem fechará os ouvidos aos cantos do grande poeta, que d'ella escreveu
a magnifica epopea? Longe de nós o pensamento de attenuar esse património
de gloria, do qual os filhos dos Luziadas teem tão justamente o direito de se-
rem orgulhosos, e que elles conservam com um piedoso fervor, digno de res-
peito em seus principies, de indulgência em seus desvarios, e que nunca dei-
xoa de ter todas as nossas sympathias.
«As grandes explorações portuguezas do século xv, no oceano Atlântico,
tiveram o immenso resultado de abrirem o caminho das índias pelo cabo da
Boa Esperança, de elevarem repentinamente á primeira ordem das potencias
enropeas uma nação até então sem importância, de assegurarem uma immor-
tal celebridade aos príncipes, que tinham sabido conceber e executar qsta no-
bre empreza. Nada pode a este respeito causar detrimento ao seu direito á
admiração da posteridade.
«Mas esta grande obra^ que tiveram a gloria de levarem ao cabo, foram
elles os únicos, foram os primeiros a concebel-a e tental-a? A prevenção na-
cional pôde pretendel-o, e inspirar obras sabias para o sustentar: os testemu-
nhos históricos o desmentem.»
38 AY
Avczac sustenlava polemica principalmente cem o visconde de Santarém,
que pretendia serem os portugaezes os primeiroe povos, que fizeram des-
cobertas na Africa.
Na obra Univers PUtoresque, vol. 4.» de pag. 36 a 82 vem uma disaossào
sobre a descoberta dos Açores pelos portugaezes.
64) AVISI DIVERSI partkulari dairindie di Portugallo ricevuiti dal-
Vanno 1551 fino ai 1558 dalli Rev. P. delia Camp. de Giesu. Vinegia, 15o8.
(Sobre a índia portugueza.)
Na Bibliotheca Africana e Asiática de Temaux Campans, encontram>se
ainda citadas as seguintes obras do mesmo género:
Damiano de Góes. Avisi delle cose fatte da Portuguesi nel índia di ^[ita
dei Gange» Vcnegia, 1539.
Avisi delle cose fatte da Poriuguesi nel índia di qua dei Gange nelTanno
1538 scritti in língua Latina da Damiano de Góes et tradí^ti en Toscano, Ye-
nezia, 1539.
Avisi particolari delle Indie di Portogallo ricevuti in quaestt anni de 1551
et 1552 de li reverendi padri dei Compagnia de Jesu* Roma, 1552.
Ntiovi avisi dei Indie di Portugália tradotti delia lingua Spagnuola neWIta»
liana. 1559.
Diversi avisi particolari ricevuti deWIndie di Portogallo. Venezia, 1562-
1565, 4 vol.
Diversi avisi, etc, Yenezia, 1568, 2 vol.
Nuovi avisi, etc, Roma, 1570.
Nuovi avisi, etc. Brescia, 1571.
65) AYALA (D. JOSÉ DE ALDANA) — Ingeniero gefe de 2.* classe
dei Cuerpo de Minas, etc etc.
E. — I. Noticias Geologico-núneras dei Reyno de Portugal, No 1.° vol. da
Revista Peninsular,
II. Compendio Geografico-estadistico de Portugal y sus posesiones tUtrama*
rinas por —, Madrid, imprenta de la Viuda de D. António Yenes, 1855, 8.<> gr.
639 pag.
O auctor veiu a Portugal formando parte d'uma commissão de engenhei-
ros bespanhoes e portugaezes, nomeada para marcarem na fronteira de ambos
os estados peninsulares o ponto de juncção da via férrea de Lisboa a Madrid.
«Conhecem-se melhor em Hespanha e Portugal os povos, que occapam os
abrazados areaes da Africa e da Arábia, as costas do mar Glacial, as regiões
Asiáticas, e ir.esmo a China, do que os dois povos peninsulares.
«Em Lisboa encontram -se e conhecem se as obras scientiôcas e litterarías
mais importantes, que saem dos prelos da culta Europa, e os portugaezes
acbam-se familiarísados com a litteratura franceza, ingleza e allemã, e até com
a antiga hespanhola, porém ignoram completamente a contemporânea.
«É nossa intenção dar a conhecer o estado presente da monarchia portu-
AZ 39
guesa, os grandes elementos de engrandecimento e de riqneza, qne em si
própria contém, os progressos, que tem feito no caminho da civilisaçào, col-
locando-se, senão ao nivel, ao menos mui próximo d'outras nações, que pas-
sam por mais adiantadas, e desvanecendo por conseguinte os preconceitos, que
a generalidade das pessoas do nosso paiz conservam a respeito d'essa bella
porção do occidente da peninsula.»
66) AYALA (PEDRO LOPES DE) — Ghronista hespanhol.
Nasceu no reino de Murcia, no anno de 1332, e falleceu em Calaborra em
i407. 1
E. — Crónicas de los Reyes de Castilla Don Pedro, Don Enrique 11, Don
Juan I, y I>. Enrique Hl, por —, Chanciller Mayor de Castilla: Con las en-
miendas dei Secretario Geronimo Zurita: Y las correcciones y notas anadidas
por Don Eugénio de Llaguno Amirola, Caballero de la Orden de Santiago, de
la Real Academia de la Historia. Madrid, 1780, 3 voL
Como todos sabem, lia varias edições d'esta celebre Chronica, parecendo
qoe a primeira foi impressa em Sevilha, no anno de 1493. ^
Ayala, um dos mais famosos escriptores europeus, assistiu á celebre bata-
lha de Aljubarrota, na qual tendo sido prisioneiro, ficou depois por muito
tempo preso no castello de Óbidos. Gomo tal foi obrigado a residir por algum
tempo n'este paiz, e o que observou com seus próprios olhos na lucta heróica
travada por causa da independência de Portugal, deixou-o escripto na sua
estimadíssima Chronica, da qual não pôde prescindir o escriptor, que desejar
escrever minuciosamente as occurrencias d^aquelles tempos varonis. N'aquella
época o nosso Fernão Lopes, o castelhano Ayala, e o francez Froissart, eram
talvez os primeiros historiadores, que a Europa com orgulho podia appre-
sentar.
67) AZPILCUETA (MARTIN DE).
Natural de Yarazoin, perto de Pamplona, fallecido em Roma no anno de
1586. Foi lente na Universidade de Coimbra, na época que n'ella ensinavam
litteratos estrangeiros de primeira ordem, entre os quaes se distinguiu o cele-
bre Fabrício. '
E. — Manual de Confessores e penitentes, que clara e breve contem a uni'
versai decisam de quasi todas as duvidas que em as confissões soem occorrer
dos peccados, absolvições, restituyções e irregularidades. Composto pelo ho
nmyto resoluto e celebre Doutor . . . Pela ordem de hum pequeno que fez hum
Padre Portuguez, da Provinda da Piedade, Acrecentado agora por ho mesmo
Doutor . . . Com seu repertório copiosissimo. Coimbra, por João de Barreira
1560.
* Firroin Diáoi — Nouvelle Biographie UniverselU, vol. :).*», pag. 894.
% C. Ximenes do Sandoval — Batalha de Aljubanota, pag. 331.
* Pedro de Mariz — IHahgos de Vana Historia.
B
68) BACCIA (DoTOR LUÍS DE) — Capellan dei rey nuoslro senor on su
real Capilla de Granada.
E. — Historia de la union dei reino de Portugal á la corona de Castilla:
de Jerónimo de Franchi Conestagio, caballero genovez. Traduzida da lingua
italiana en nuestra vulgar, por el — . Barcelona, 1610, 124 pag.
69) BADCOOK (LIENT. COL-LOVELL).
E. — Rough leaves from a Journal kept tn Spain and Portugal during the
years 1832, 1833 e 1834. London, Ricbard Bentley, 1835, 4.» XI, 407 pag.
O auctor fora mandado a Portugal na companhia de lord Willíam Russell
e do coronel Hare para procurar renovar com o governo portuguez aquellas
antigas relações, que tinham sido interrompidas. Conta minuciosamente o cer-
co do Porto, e as luclas d'aquellc tempo.
70) BAHLDUR (ROJAH KALOE-KRIEHNA).
E. — Vidwun-Moda-Taranginee, Or Fountain of pleasare to the leamed.
Translated inglié by — Second edition. The text of the original in Deva-nagara
letters; and the versiou with improvements. Galcutta, printed at the Scohlia-
Bazar Press, 1834, 8.°
Obra sanskrita e ingleza. O original é extrahido d'uma obra composta por
Chirunjecri, pandit de Gwõra.
(Todas estas palavras são copiadas do catalogo manuscripto dos livros
portuguezes e relativos a Portugal, existentes na Biblíotheca Imperial de Pa-
ris, manuscripto que se guarda na Bibliotheca Publica de Lisboa, não poden-
do eu comtudo asseverar que esta obra seja eíTectivamente relativa ao nosso
paiz.)
71) BAILLET (ADRIEN) — Erudito francez.
Nasceu no anno de 1649 na aldeia de Neuville, e falleceu era 1706. ^
í Firmin Didot — NouvclU Biogrnphic Unirenelle, tomo I ^, pag. 183
BA 4i
E. — Jugements des savarUs sur les principaitx ouvrages des auteurs^ 1685
a 1689. 9 vol.
Esta obra foi reimpressa (de cuja edição me sirvo) e accrescentada com o
seguinte titulo:
Jugemens des Savans sur les principaux ouvrages des auteurs par — , r«-
rtis, currigés et augmentés par M, de la Monnoye, de VAcademie Française. Pa-
ris, 1732, ^.^ gr., 7 vol.; aos qaaes se accrescenta mais um com o titulo de
Aníi-Baillet ou Critique du livre de Mr, Baillet,
No tomo 4.'', em a lista dos poetas latinos modernos encontram*se as bío-
graphias de:
Pag. 304, Henrique Caiado. Por esta pequena biographia vé-se que Eras-
mo lhe tecia elogios, o que tinha reputação entre os estrangeiros.
Pag. 331, Árias Barbosa, a quem chama um dos principaes restauradores
das letras na Hespanha, com António de Lebrixa e André de Resende. «André
Schott diz que era feliz na construcção dos versos, e que para isso tinha uma
vantagem particular, o ter nascido musico, pois os portuguezes (assim diz) so*
bresaem em geral n'esta profissão: para a qual parecia ter uma harmonia e
cadencia particular. EfTectivamente D. Nicolau António assevera que era su-
perior a Nebrissa na poesia.»
Pag. 410, Jorge de Montemaior.
Pag. 434, André de Resende. «Glenard achava em seus versos muita ma-
gestade, força e invenção, de maneira que se tivesse querido continuar e aper-
feiçoar-se, teria emparelhado com Lucano.»
Pag. 440, Luiz de Camões. «O Camões passa no mundo, pelo Marcial, pelo
Ovidio, pelo Horácio^ c pelo Virgílio dos portuguezes. Poderiam tel*o tomado
também pelo Planto do paiz, se para isso bastasse apenas ter composto co-
medias.
•Mas não o consideraremos aqui senão como um poeta heróico, e como o
verdadeiro Virgílio, por causa de seu celebre poema Os Luziadas.
•Apesar de me desviar algum tanto do meu desígnio, direi algumas pala-
vras sobre a fortuna do poema, e biographia do poeta, para não ser insensí-
vel ao gosto d'aquelles de meus leitores, que desejariam praticasse eu o mes-
mo a respeito de todos.
«Camões ao sair do collegio foi fazer a guerra na Africa, onde perdeu um
olho luctando contra os moiros, deixou a guarnição de Ceuta, no estreito da
Gibraltar, para ir para a índia. N'aquelles longínquos paizes corapoz a maior
parte de suas poesias, que \\xe valeram a benevolência de seu capitão e de al-
guns portuguezes, que tinham alguma tintura das bellas letras.
«Mas tendo ofTendido com versos satyricos e licenciosos algumas auctorí-
dades, que não reconhecem o privilegio dos poetas, foi obrigado a salvar-se
na China, até seus amigos terem pacificado a desintelligencia. Quando regres-
sava para Goa naufragou snrprehendido por uma tempestade, que lhe fez
perder quanto p^ssuia. Não perdeu com tudo o tino, e teve presença de espi-
rito sufflciente para salvar seu poema Os Luziadas»
«Nosso Camões querendo se aproveitar de sua boa fortuna, obteve licença
42 BA
para voltar a Portagal, com o desigaio de offerecer sen poema ao joven rei
D. Sebastião. Mas o mérito, que tinha adquirido trabalhando assim para a
gloria de seu príncipe e de sua nação, não foi capaz de o pôr ao abrígo dos
insultos e dos maus tratos da madrasta commum dos poetas, quero dizer da
desdita, que sempre o acompanhou até á sepultura, e que não contente com
reduzil-o a pedir esmola, não lhe deixou o goso e a posse pacifica de soa re-
putação, senão depois de sua morte.
«Se esta madrasta não gostava d'elle, não era tanto porque este fosse rai-
vo e zarolho, por ter um nariz comprido, arredondado em forma de globo na
extremidade^ quanto porque ella não pôde tolerar aquelles poetas, que se
querem distinguir, e sair da vulgaridade dos outros.
«Com effeito Gamões tinha um génio bem extraordinário: nascera poeta:
tinha • espirito vivo, sublime, claro, abundante, fácil, e prompto para quanto
queria. D. Nicolau António, que nos informa de todas estas particularídades, diz
que elle saia-se perfeitamente nos assumptos heróicos e galantes, do que não
somente os conhecedores do paiz, mas ainda todas as pessoas de bom gosto
espalhadas pelo mundo lhe prestaram testemunho. Accrescenta que este poeta
tinha um talento particular para fazer descripções de legares e pinturas das
pessoas, e que é tão exacto e tão perfeito, que sua arte quasi que iguala a na-
tureza. Suas comparações são ricas, ^ seus episódios muito agradáveis e varia-
dos, apesar de não desviarem o leitor do assumpto principal de seu poema.
Por toda a parte dá mostras de muita erudição, mas não affectada, e acha-se
que tem o sabor dos antigos, que é todo o fructo que um poeta pôde preten-
der tirar do conhecimento da antiguidade.
•Eis-aqui os defeitos, que e padre Rapin notou nos Lusíadas. Diz na 1.*
parte de suas Reflexões, que por mais divino que o Gamões seja no pensar
dos portuguezes, não deixa de ser censurável por serem seus versos tão obscu-
ros, que poderiam passar por mysterios. E na 2.* parte pretende que o dese-
nho d'este poema é vasto de mais, sem proporção, sem rigor de expressão, e
que é um muito mau modelo para o poema épico. Accrescenta n'outros lega-
res que este poeta é soberbo, fastoso na sua composição, que não tem juizo,
e que falia sem discrição de Yenus, de Baccho, e das outras divindades pro-
fanas n'um poema christão: e que mesmo tem pouco discernimento, e boa di-
recção em tudo mais.
«Apesar d'estes defeitos, é bom que se saiba que o publico se obstinou em
conservar-se na estima e amor, que testemunhou ao poema dos Lusíadas. É
o que o tem feito passar muitas vezes pelo prelo dos impressores. Tradozi-
ram-n'o em francez, ha coisa de cem annos. Appareceram duas versões italia-
nas, a primeira por um anonymo, a segunda por Garlos António Paggi, de Gé-
nova, a qual appareceu em 1659, dedicada ao papa Alexandre VIL Publica-
ram-se quatro traducções bespanholas^ isto é, do portuguez para o castelhano.
A primeira de Benito Galdera; a segunda de Luiz Gomes Tapia, que lhe ajun-
tou notas e observações: a terceira de Henrique Garcez: porém D. Nicolau An-
tónio não nos refere o nome do quarto traductor. Finalmente foi passado para
latim por um carmelita, chamado Thomé de Paria, bispo de Targa, na Africa.
BA 43
«Entre os que fizeram commentarios a este poema, além do tal Gomes de
Tapia, conta-se Manuel Correia, Pedro de Maris, Luiz da Silva Brito. Porém o
mais considerável é incontestaveliyente Manuel de Faria e Sousa.»
Tomo 5.^ pag. 28, Manuel Pimenta.
Idem, pag. 29, Luiz da Cruz. «Além do Psalterio de David, que este padre
poz em verso, e que foi impresso em Ingolstadt, Nápoles, Milão, Leon, e n'ou-
tras partes, ha d'elle ainda diversas comedias e tragedias, que Cardou impri-
miu em Leon no anno de 1605, etc.»
Idem, pag. 74, Pedro Lopez ou Lobo. Este auctor publicou Poesia FhUõ'
saphica á imitação de Lucrécio, cujos versos são muito elegantes no pensar
de D. Nicolau António. Borricbeo diz que seu estylo não é muito culto, mas
que não deixa de ter cadencia e numero, que o sustenta, e lhe dá graça, n'um
assumpto que a não tem por sua natureza.
Idem^ pag. 141, André Bayão.
Idem, pag. S14 Manuel de Faria e Sousa.
Tomo 7.^ pag. 253, Caramuel. «O famoso Caramuel era um dos mais ze-
losos partidários da coroa de Castella; e não causará isto admiração ao con*
siderarmos qual era seu temperamento, quaes os seus compromissos por nas-
cimento e obrigação. Desde o começo dos movimentos, que se Qzeram em
Portugal para sacudir o jugo do dominio hespanhol, pegou na penna para fa-
zer valer os direitos, ou as pretenções do rei Pbilippe II a favor de seu neto*
E mandou imprimir em Anvers um volumoso livro escripto em latim com o
titulo de PhilippíAS Prudens, ^
«Esta obra appareceu em 1638, era no próprio anno da morte de D. Ma-
nuel, que fallecera a 22 de junho.
«Este D. Manuel era filho de D. António de Portugal, que tendo tomado o
titulo de rei em 1580, depois da morte de seu tio o cardeal Henrique, suc-
cessor de D. Sebastião á coroa, fora derrotado na batalha de Alcântara pelo
exercito de Pbilippe II debaixo do commando do duque de Alba, e tinha mor-
rido em Paris no anno 1595.
«D. António era filho legitimo (no que concorda toda a gente) ^ de Luiz, du-
que de Beja, tio de D. Sebastião, e irmão ^o cardeal D. Henrique.
«D. Luiz, duque de Beja, era filho de D. Manuel, rei de Portugal. De ma-
neira que, se D. Manuel de Portugal era filho do rei D. António, refugiado na
França, podia com justiça gritar contra a dominação hespanhola, e protestar
de novo contra a usurpação de Pbilippe U.
«Com tudo é d'este D. Manuel, que Caramuel pretendeu publicaras me-
naorías que escreveu contra a casa de Portugal a favor de Pbilippe II e de
seus successores. Parece até que D. Manuel tomou grande parte na com-
posição do livro Philippus Prudens. Se dermos credito a Caramuel, e a D. Ni-
colau António depois d'elie, D. Manuel recebera de seu pae D. António de
Portugal este grande numero de papeis e de memorias manuscriptas, que ser-
* V. LobkowiU.
* Jia5 nao os historiadores portaguezes, que bem sabem que era illegitimo.
44 BA
viam para destrair saas preteoções, e estabelecer os direitos da casa d*AuS'
tria. Mas, como D. Manuel tinha deixado, quando morreu, todos estes papeis
em legado a Garamuel, como um penhor áfi sua amizade, a auctoridade e
valor de todos elles nâo se poude basear mais, que sobre a boa ou má fé de
Caramuel, isto é, um dos grandes habladores y burladores d'entre os sábios de
seu tempo.
cNao fizeram grande caso de seu livro na França, e foi bem notório que em
Portugal também lhe não prestavam grande attenção, quando se publicou
um manifesto em nome de todo o reino, para fazer valer o direito da casa reah
e restituir a coroa a D. João IV.
«Caramuel não deixou de responder ao manifesto. Mas como esta composi-
ção era em lingua vulgar, não julgou conveniente responder em latim.
•Esta segunda obra foi impressa no anuo de 1642^ em i.*", na mesma cidade
de Anvers, debaixo do titulo de Respuesta ai Manifesto dei Reino de Portugal;
e reimpresso vinte annos depois em Saint- Angelo, onde Caramuel sustentava
uma imprensa à sua custa, qualificada de Imprensa Episcopal, para a impres-
são de suas próprias obras. Mas como o livro não podia servir ao^ que ignora*
vam o hespanhol, um dos discípulos ou amigos de Caramuel, chamado Lean-
dro Bandtius o verteu em latim, e publicou sua traducção em Lovain no anno
de 1643 debaixo do titulo Joannes Brigantinus Lusitanice, AlgarbicB, índice et
BrasilcB illegitimus Rex demonstratus»
•Contra esta resposta appareceu o Anti-Caramuel para defeza do manifesto
do reino de Portugal, o qual teve por auctor um portuguez, por nome Manuel
Fernandes de Villa Real. Este auctor era cônsul da nação portugueza em
Rouen, na Normandia, quando compoz a obra, mas só a publicou em Paris no
anno 1643 com o titulo de Anti Caramuel, ò Defença dei Manifesto de Portu-
gal à la Respuesta que escrive Don Juan Caramuel Lohkowitz, Abbad de Me-
brosa.
«Teve o tino de prever que o titulo de Anti Caramuel poderia surprehen-
der seus leitores, e julgo- o mais desculpável que a maior parte dos outros
auctores de Anti, que nem se dignaram fazer-nos ver que tinham razão para
empregar o titulo.
«Ha também uma outra obra com o titulo de Anti Caramuel, composição
de Humanus Erdemannus, a qual vem analysada no primeiro mez da obra
Nouvelles de la Republique des Lettres,*
72) BAILLIE (MAHIANNE).
E. — lÂsbon in the years 1821, 1822 and 1823. London, 1824, 2 vol., 8.«,
o 1.* de 219 pag. e o 2.<» de 2oO. Offerecida ao conde de Chichoster.
(Lisboa nos annos de... ete.)
A primeira carta é datada d'um hotel em Buenos-Ayres (Lisboa) de 27 de
junho de 1821, e realmente não é muito lisongeira para os portuguezes, pois
n'ella se queixa de pouco aceio, de falta de arvoredo, immensidade de cães.
Gosta da vista do Tejo, mas temos gosado de vistas de estylo similliante muito
superiores em differentes partes do continente. Acha o the^tro de S. Carlos
BA 4»
indigno da attenção dos estrangeiros. A quinta parte dos habitantes de Lisboa
são pretos ou mulatos.
Assevera que não existe uroa nnica boa edição portugueza dos Luziadas.
SufiToca-se a gente n^esta cidade com os maus cheiros e outros horrores.
Os mosquitos são numerosos de modo que por maior numero que se conceba
na idéa, ainda este é limitado. Não poude encontrar boas frutas, pois as ce-
rejas geralmente eram azedas, e os morangos muito raros. A propensão dos
portugaezes é para as construcções marítimas, alguns modelos de naval arcbi-
tectnra estavam então fluctuando no Tejo, mas são tão ignorantes na arte de os
dirigir, que o melhor d'elles seria facilmente posto em silencio por uma fragata
ingleza no espaço de meia hora. Seu fílho mal se podia conhecer por causa das
incessantes ferroadas dos mosquitos. As velhas portuguezas parecem-lhe ser in-
variavelmente horrendas. Não se atreveu a lançar a vista para os costumes de
uma eosinha portugueza, porque as noticias que lhe deram a tal respeito são
aterradoras. A carne vendida em Lisboa é repugnantemente preparada, por*
que os carniceiros portuguezes ignoram o methodo de matar os bois. Um epi-
curista suicidar-se-hia, se fosse obrigado a passar um mez em Lisboa no caso
de não ser amigo de peixe. Os médicos portuguezes parecem ter feilo muito
poucos progressos desde o tempo do dr. Sangrado. Os portuguezes não fazem
a mais leve idéa de uma illuminação, a não ser por meio de lanternas. Sua
lavadeira em Cintra era moira e a primeira vez que fadou a esta tão verda*
deira escriptora, beijou-lhe a mão, e disse-lhe em bom inglez, que tinha muito
prazer em a servir. ^
N'uma palavra a nossa escriptora piegas, tudo, sem excepção, acha detestá-
vel; mas vae para Cintra e tudo sem excepção acha bom, óptimo, e até algu-
mas coisas superiores ás inglezas.
As cartas d*esta delambida são realmente uma obra sem merecimento, na
qual as mentiras formigam a cada passo, como entre outras: Que o aqueducto
das aguas livres foi mandado construir pelo marquez de Pombal: Que os fi-
dalgos comem diariamente uma grande porção de açorda com alhos, e que por
isso o mais ligeiro segredar do mais bem educado fidalgo não differe no chei-
ro, do mais grosseiro camponez: a gente de Lisboa tem falta de forças por
causa do constante e excessivo emprego do azeite, junto aos relaxantes effei-
tos da indolência e do clima: não havia um único cabelleireiro n*esta cidade
que soubesse cortar o cabello convenientemente: o palácio do Ramalbão tinha
exteriormente a apparencia d'uma prisão sórdida, melancólica e arruinada:
as caras das damas de Lisboa eram desengraçadas e grosseiras a ponto de lho
parecer impossível como podiam passar por bonitas: civilidade ou hospitali-
dade para com os estrangeiros pareciam virtudes desconhecidas dos portu-
guezes: que o Campo Grande estava duas léguas distante de Lisboa: os mer-
cadores em Lisboa eram uns grosseirões, pensando que faziam um grande fa*
vor em mostrarem o que tinham para vender, costume que provinha do tem-
po dos Moiros: os padres rapinantes d'este paiz supersticioso nada faziam, sem
» Yol. \.\ pag. 67.
46 BA
que se lhes pagasse: o theatro de S. Carlos achava-se excessivamente imman-
do, e os oavintes completamente não entendedores de musica, pois applaa-
diam exactamente o que nao o devia ser: a immundicie em Lisboa não era uma
porcaria vulgar: a execução do pianista portuguez Bomtempo era milagrosa,
porém não a sensibilisava no mais pequeno grau, pois seus defeitos pareciam
proceder de falta de sensibilidade, e nunca existe um verdadeiro génio sem
ella, motivo porque não podia concordar em considerar Bomtempo como um
verdadeiro mestre na sua arte: se lhe dessem ouvidos a ella escriptora nenhum
doente do peito iria para Lisboa, pela total carência de confortos n'esta cida-
de «As ceremonias da Semana Santa chegaram n*este paiz a um tal extremo
de farça ímpia e absurda, que sem se ver, toma-se impossível de acreditar,
pois até nas ruas enforcavam Judas, e faziam procissões em que um homem
representava de Abraham!»
Jà por isto se faz uma perfeita idéa do resto. O livro do Maríanne ó digno
de estar ao lado do de Ascensio Calvo.
73) BAKER (M. A.)
E. — A complete History of the Inquisition in Portugal, Spam, Italy, the
East and West Indies in ali its branches, from the origin of it in the year
1163 to its present State. Tllmtrated with many Genuine and curious cases of
unhappy Persons imprison*d in that Holy (aliaz diabolical) Office. Particu»
larly of Isaac Martin, an Englishman. Collected from the most authentick and
impartial Writers, Popish, and Protestant and from original papers of Gm-
tlemen that have resided many years in those countries, by the Reverend Mr-
— . The whole imbellished with several plates representing their manner of
punishment, etc. etc- etc. Westminster, 1736, 4.*», VIII, 532 pag.
(Historia completa da inquisição de Portugal ... e da prisão do inglez Isaac
Martin.)
A estampa do rosto representa o tribunal da Inquisição de Granada, e v
auctor trata também da prisão de Dellon, na Inquisição de Goa.
D*esta obra ha um exemplar na Bibliotheca Publica do Lisboa.
74) BALBI (ADRIEN) — Ancien professeur de géographie, de physi-
que et de mathematiques, membro correspondant de TAthénée de Trevíse,
etc. etc. Geographo celebre.
Nasceu em Veneza no anno de 1782, e falleceu em março de 1848.
E. — I. Essai Statistique sur le royaume de Portugal et d' Algarve, compa-
re aux avires États de VEurope, et suivi d*un coup d'(BÍl sur Vétat actuei des
Sciences, des lettres et des beaux arts parmi les Portugais des deux Hémis-
pheres. Dedié a Sa Majesté Trcs-Fidéle par — . Paris, Chez Rey et Gravier,
1822, 2 vol. 8.*» gr., o 1.» de 480 e o 2.» de 272 pag. alem de cccxlviii de in-
troducção.
(Ensaio estatístico sobre o reino de Portugal.)
II. Varietés politíco-statistiques sur la Monarchie Portugaise, didiées a M.
le Bm'fyu Alexandre de Ihmboldt, Associe étranger de rinstihit Rogai de Fran-
BA 47
ce^ Membre de VAcadémie Boyale des Sciences de Berlm, de la Societé Boyale
de Londres, etc. etc. Paris, 1822, Chez Rey et Gravier, 8.<» gr. 232 pag.
(Este Tolame trata do commercio, industria e estatística de Portugal.)
O Ensaio Statistico de Baibi, apezar do decurso de taotos annos, ainda
hoje é o melhor, que n*este género existe a nosso respeito, quer escripto por
estrangeiros, quer por nacionaes. É obra que, apezar de algumas inexactidões
censuradas pelo cónego Yillela, creou fama bem merecida para seu auctor, o
qual teve a fortuna de conseguir do nosso governo, que lhe mandasse paten-
tear os documentos, que estavam guardados em nossos archivos e secretarias.
Balbi mostron-se agradecido, e na sua obra pretendeu mostrar que Portugal
não estava em tão grande atrazo na civilisaçâo, como pretendiam alguns es-
eriptores estrange;jros, pouco amantes das coisas portuguezas, ás quaes o es-
eriptor genovez em muitas partes tece os maiores elogios.
«Os portuguezes distinguem-se entre todos os outros povos por seus dis-
veUos para com os estrangeiros, e fazem reviver aquelia hospitalidade, que os
povos antigos punham em o numero dos deveres e virtudes mais subli-
mes.»
É curioso comparar esta passagem com o que a nosso respeito, pouco
mais ou menos pelo mesmo tempo, dizia a ingleza Marianne Bailiie.
«Póde-se dizer sem sermos accusados de exaggeraçào, que não ha talvez
om só paiz na Europa, que conte mn maior numero de más descripçoes feitas
por estrangeiros, e sobre o qual a ignorância ou a maledicência tenham es-
palhado mais inexactidões e falsidades. Qual nâo foi o nosso espanto ao achar-
mos n'am paiz, que nos tinham pintado como mais atrazado do que a Tur-
quia, nm balanço geral do commercio feito annualmente desde 1755 até á
actualidade por Maurício Teixeira Moraes, por um plano e com uma exactidão
que dlfficilmente se encontra nos paizes mais civilisados da Europa? Quesur-
preza nâo foi a nossa ao acharmos espalhados em differentes secretarias uma
grande parte dos materiaes necessários para a redacção d'uma statistica» e
alguns ensaios muitos felizes feitos já sobre a provinda do Minho, sobre a de
Traz-os-Montes, sobre o Algarve^ e a respeito de algumas comarcas da Extre-
madura e Alemtejo? Não ficámos menos pasmados, quando soubemos que al-
guns portuguezes, dirigidos pelo seu compatriota, o hábil astrónomo Ciera,
tinham desde 1793 até 1802 medido duas grandes bases na Extremadura com
todo o rigor da geodesia moderna, para determinarem com exactidão o com-
primento d*um grau do meridiano, e tinham feito a triangulação da maior
parte de Portugal; que alguns sábios portuguezes tinham viajado por toda a
Europa á custa de seu governo com o fim de examinarem os estabelecimen-
tos litteraríos mais importantes, e de se aperfeiçoarem no estudo das scíencias
natnraes; que alguns tinham percorrido em differentes direcções seus vastos
estabelecimentos na America e na Africa meridionaes, e tinham feito recuar
as balizas da mineralogia, da botânica e da zoologia por causa das novas es-
48 B*"^
pecies que alli tinham descoberto: que algons governadores instruídos haviam
redigido memorias mais ou menos sabias a respeito das capitanias geraes de
Gabo Verde, Angola, Moçambique, e possessões portuguezas na índia, China,
Oceania? Que o valor só dos productos das fabricas e manufacturas portu-
guezas, exportados para além mar, se tinha elevado annualmente de 1795 a
1807 até oito e dez milhões de cruzados? Que esta nação possuía jomaes com
artigos tao interessantes, e escriptos com tanta eloquência^ que daria honra
aos Malte-Brun, Gentz, Etienne, Benjamin Gonstant, e aos mais celebres pu-
blicistas da Europa.
•Todos quantos fallaram relativamente a Portugal até este dia, escreve-
ram muito, e citaram poucos factos. É verdade que escrevendo n*uma época
em que a nação é bem differente do que era outr'ora, por causa das circum-
stancias politicas em que se tem achado, ha annos para cá, o quadro que
apresentamos deve só por este motivo dífferir muito d'aquelles traçados por
Dumouriez, Châtelet, Bourgoing, Garrère, Robert Southey, Murphy, Link,
Gostigan, Ruders e Ebeling. As três invasões dos francezes em Portugal, a
longa residência das tropas inglezas e o grande numero de offlciaes d'esta
nação amalgamados no seu exercito, as ligações intimas e multiplicadas does-
tas duas nações entre si, o grande numero de jomaes políticos e litteraríos,
publicados desde 1807 em Hespanha e Portugal, e principalmente alguns jor-
naes políticos e litterarios, dados á luz em portuguez fora do paiz, bem como
os sábios trabalhos da Academia Real das Sciencias, os dos professores da
Universidade de Coimbra, e de algumas escolas espcciaes, instituídas ultima^
mente em Lisboa e Porto, contribuíram muito para dar aos portuguezes o
desenvolvimento manifestado nos últimos acontecimentos. Qualquer naçãa
pôde ter grandes falladores, porque .basta só a natureza para os formar, mas
é mister uma longa instrucção para ter oradores. Os que brilham actualmente
nas Cortes por sua eloquência e profundo saber nas mais altas theorías da
economia politica, e nos mais complicados ramos da administração, demons-
tram victoriosamente aos detractores da nação portugueza que esta possuía
muitas pessoas, que se preparavam no silencio, e cujo mérito só aguardava
a occasião para se patentear.
«Concedendo aos escriptores que nos precederam que falta ainda muito
aos portuguezes para estarem ao nível dos francezes, inglezes, allemães, dina-
marquezes, italianos ou suecos, em tudo que diz respeito ás fabricas, manu-
facturas, commercio, navegação, agricultura, sciencias, artes, e dififerentes ra.
mos de administração, não hesitamos em dizer que teem sido injustamente
calumniados, e que estão muito mais adiantados n'este ramo, do que o esta-
vam ha 40 annos. Em appoio d*esta asserção bastaria citar os eloquentes dis-
cursos pronunciados no Congresso, todos tendentes a fazerem renascer o cre-
dito publico, introduzindo a mais severa economia, e a maior ordem nas fi-
nanças; a reorganisar a marinha militar, a animar a marinha mercante, a
multiplicar os institutos litterarios e de instrucção publica, a dar melhor me-
thodo ao ensino, e a dirigir a educação moral da mocidade, a animar a agri-
cultura, o commercio, as pescarias, a navegação c a induslria.
BA 49
• •
•Nós não hesitamos em dizer, ^ sem receio âe sermos accusados de par-
cíalidâde, que as sciencias mathematicas, em toda sna extensão, e em todo
sea aperfeiçoamento actuaes são perfeitamente conhecidas dos portngnezes, e
moíto mais do que seriamos inclinados a acreditar á vista do pequeno nu-
mero de obras publicadas sobre este assumpto ha 38 annos.
«Todavia, se alguma coisa mais positiva fosse necessária para convencer
os incrédulos, pedir-lhe-iamos tão somente que quizessem considerar que to-
dos os mathematicos, que fazem o orgulho e a gloria dos portuguezes, se for-
maram no paiz: que os 6 volumes das Memorias de Mathematica e Physica da
Academia Real das Sciencias de Lisboa conteem algumas memorias, que pro-
vam, até á evidencia, os profundos conhecimentos dos mathematicos portu-
gueses; e que as Ephemerides Astronómicas para uso do observatório da Uni-
versidade de Coimbra, e para o da navegação portugueza d*isso dão outra
prova. Estas ephemerides, que se publicam todos os annos desde 1804, bem
longe de serem (como diz certo viajante) uma reducção, ou uma copia do Al-
manack do Observatório de Greenwich, são pelo contrario calculadas imme-
diatamente sobre as taboas astronómicas. A distribuição engenhosa de seus
numerosos artigos, os novos methodos, que apresentam para o calculo das
longitudes sobre o mar, c para o dos eclipses, bem como vários outros me-
fhodos particulares para a formação e verificação de alguns assumptos astro-
nómicos, deram a esta obra uma justa superioridade sobre a maior parte das
do mesmo género, e mereceram para seus sábios auctores a estima dos ma-
thematicos mais distinctos da Europa, que tiveram occasião de a verem e
examinarem.»
«Se bem que os portuguezes foram ^ uma das ultimas nações, que se en*
tregaram ao estudo das sciencias naturaes, não se deve por isso acreditar que
ellas tenham sido, ou sejam ainda inteiramente desprezadas por elles. Ao con-
siderarmos quão pouco o governo as tem animado, e a carência total de mo-
tivos individuaes próprios a attrahir os homens de génio a entregarem-se a
pesquizas longas e penosas, que não deviam conduzil*os quer às honras, quer
aos empregos lucrativos, ha logar para nos admirarmos do numero conside-
rável de portuguezes, que, sem mais estímulo que o amor da sciencía, se ele-
varam a uma classe distincta entre os naturalistas da Europa. É verdade que
à excepção de Manuel Ferreira da Gamara Bettencourt, de João António Mon-
teiro, de José Bonifácio de Andrade, de Félix Avellar Brotero, de José Corrêa
da Serra, póde-se dizer quo Portugal não conta quasi nenhum outro natura-
lista, a quem se possa dar o nome d'um grande pratico, apezar de possuir
' Adripn Balbi — E^sai SlatUtiqur^ vol. 2/, pag. xxxi\.
2 Idem, pag. xLvii.
TOMO 1
so BA
alguns, qao conhecem perfeitamente a parte theorica, na qual podem sustoa-
tar comparação com os grandes homens das outras nações.
«Não fiquei pouco surprehendido ao saber que o sábio Brotero, o illustre
Corrêa da Serra, Magalhães (physico distincto, fallecido em Inglaterra na se-
gunda metade do ultimo século), o celebre medico Sanches, o padre Loureiro
(auctor da Flora Cochinchinensis) só deveram a seus próprios esforços os co-
nhecimentos profundos, que adquiriram ou em sua pátria, ou no estrangeiro.
• •
«Ainda que Portugal ^ produziu alguns médicos, que adquiriram uma
reputação distincta, taes como Amato Lusitano, Zacuto, Rodrigo de Castro,
Ribeiro Sanches, e vários outros, é preciso comtudo confessar que antes dat
grande reforma da Universidade de Coimbra, o plano de estudos em medicina
era muito irregular e defeituoso para formar bons médicos. Desde essa ópoca,
celebre na litteratura d'este paiz, a arte de curar, graças ao plano do curso
de estudo^, que devem seguir todos, que para clles se destinam, tem sido
exercido, e ainda o ó por alguns individues, que podem figurar ao lado dos
maiores médicos da Europa.
• •
«A imparcialidade severa, á qual nos temos restringido, obriga-nos a con-
fessar que os portugueses estão longe de terem feito nas sciencias geogra-
phícas os progressos notáveis, pelos quaes se abalisaram os outros povos civi-
iisados; facto tanto mais assombroso, quanto nos séculos xv e xvi esta nação
possuía um grande numero de navegadores celebres, cujas descobertas im<
portantes lhes mereceram um logar distincto na lista dos grandes navegantes
no Annuaire des Longitudes. Mas, se não so applícaram os conhecimentos
physicos e mathematicos á geographía d'este paiz e de suas vastas colónias na
Chorographia poi tugueza da Europa e na do Brazil, estas duas obras não são
comtudo inferiores em coisa alguma às obras estrangeiras contemporâneas do
mesmo género, principalmente o Roteiro ou arte de navegar, do çosmographo
Pimentel, e outra mais moderna de Melitão, onde os hydrographos inglezes e
francezes beberam tantas noções exactas sobre todos os paizes percorridos e
explorados pelos portuguezes. As geographias de Busching, Pinkerton, Gu-
thrie, e Lacroix não conteriam tantos erros, a respeito de Portugal e suas pos-
sessões, se seus auctores tivessem estudado as obras portuguezas, como o fi-
zeram Ebeiing e Malte-Brun.
«Nunca povo algum, apertado por limites tão estreitos, estendeu n'um mais
curto espaço de tempo seu dominio por paizes tão vastos e tão distantes. Desde
a gloriosa conquista de Ceuta (1415) até á atrevida expedição de Barreto c
* Àdrieii Balhi — Essai Slalhliqvc^ vol. 2.", pa^. lxii.
BA 51
Homem (1573) ás minas de oiro de Manica e de Botaa no Monomotapa, este
povo, animado d'ama actividade sem exemplo, descobre Madeira, Açores, Ca-
nárias, ilhas de Gabo Verde, e as do golfo de Guiné, e n'aquellas paragens se
estabeleceu. Explora e assenta numerosas feitorias ao longo da costa Occiden-
tal d' Africa. Dobra o terr.vel cabo das Tormentas, e submette a seu domínio,
OU faz tributários os príncipes mouros da costa oriental d*Africa. Arranca das
mãos dos árabes a navegação e o commercio da índia e do mar Vermelho,
em poder d'elle3 havia séculos. E assombrando os povos orientaes com pro-
dígios de audácia e de valor, conseguiu estabelecer-se em Ormaz, Die, Damão,
Goa, Bombaim, Gochim, Ceilão^ Meliapor, Malaca; e d'aqui rompe um cami-
nho atravez do vasto archipelago das índias para Java, Borneo, Timor, Molu-
eas, China, Japão, ao passo que outros navegantes tão intrépidos como babeis
descobrem a Nova Hollanda, Nova Guiné, ilha Mindaiiao e outras terras, que
formam o que se chama actualmente Oceania.
75) BANDINI (ANG. M.)
E. — Vespucci, Vita e lettere racolte e illustrate da — . Firenza, 1745.
(Vida de Americco Vespucci.)
76) BANDT (LEANDRO VANDER).
E. — Joannes Bragantinus LusitanUs illegitimus Rex demonstratm a D,
Joanne Caramuel Lobkowitz Dunensi Religioso,, Melrosensi Abbate et Cister-
tientis Ordinis pei* Angliarrij Scotiam, Hiberniamque Progenerali translatus in
idioma LcUinum a D. — . Lovanii, typis Everardi de Wilte, anno de 1642, 4.",
220 pag. além de 16 folhas não numeradas, ás quaes se segue a versão em
latim do manifesto do reino de Portugal.
Este livro é ornado com o retrato de D. Francisco de Mello, marquez de
Tor de Laguna, governador da Bélgica.
Como é fácil de ver, esta obra não só é contraria á independência de Por-
tugal, mas até insultante para os portuguezes.
77) BARCA (PEDRO CALDERON DE LA) — Famoso poeta hes-
panhol.
Nasceu em Madríd no anno do 1601, e falleceu em maio de 1687. i
Na coUecção de suas obras vem uma notável comedia íntitQlada El Prín-
cipe Constante, da qual o nosso infante santo D. Fernando, filho de D. João I
é o protogonista. Entram em scena D. Fernando, D. Henrique, c D. João, além
d^outros personagens.
Eis o que a respeito d*esta notável peça, uma das mais famosas de Calde-
ron, nos diz Bouterweck : 2
«É n*esta comedia de D. Fernando que o auctor ostenta todo o seu génio.
' Firniin Didol — Nouvellc liiographie Généralc, vol. H^, p«ig 170.
2 liistoire de la LiUnalurr Espagnole, vol. 2/', pa?. lUi. (Paris 181^).
32 BA
<Se n'ella a anidade de tompo e de logar é poaco respeitada, esqaecemo*
nos d'isso em favor da anidade de acção, d'uma acção heróica» em qae Cal-
deron soube empregar o pathetico mais verdadeiro, sem todavia se desviar
do estylo da comedia nacional. D. Fernando, príncipe de Portugal é o heroe
d'esta peça, á qual também se poderia dar o título de Regulo Partuçuez. Des*
embarca na costa d'Africa á frente. d'um exercito acompanhado por seu ir-
mão D. Henrique. Ataca os estados do rei de Marrocos, e fica vencedor na pri-
meira batalha, na qual faz prisioneiro um heroe africano, chamada Muley.
tEsto Muley, que está enamorado da filha do rei de Marrocos, conta sua
historia ao príncipe, e este, cuja generosidade se commove por esta narração,
dá liberdade ao seu captivo. Muley mal teve tempo de exprimir sua surpresa
o reconhecimento, quando reforços chegados ao exercito inimigo o põem em
estado de dar nova batalha, na qual D. Fernando é derrotado e levado capti-
vo por sua vez. Começam aqui as scenas trágicas, que são preparadas poir
lances enternecedorea d'uma outra espécie. O rei de Marrocos offerece*se a
dar a liberdade ao seu prisioneiro em troca da fortaleza de Ceuta, que os por-
tuguezes possuem na costa d*aquelle paíz. O príncipe declara que prefere mor-
rer no mais cruel captíveiro ae ver uma cidade christã entregue aos infiéis
por causa d'elle. O rei envia uma embaixada a Portugal para apresentar esta
proposta, e calcula de tal modo que será acceíte, que trata seu captivo com a
maior distincção até ao regresso de seus embaixadores. A resposta dos por-
tuguczes é como elle a deseja, mas D. Fernando recusa ser resgatado por este
preço. Tentam inutilmente vencer sua resistência á força de tormentos. Sup-
porta os sem murmurar e com uma religiosa constância, mas seu corpo sue-
cumbe finalmente, e morre inabalável. Os sofTrimentos e o heroísmo do prínci-
pe, a lucta da religião e do reconhecimento no coração de Muley, que faz inúteis
esforços para libertar seu bemfeitor, o amor doeste mesmo Muley áprínceza
de Marrocos, que está promettida a um príncipe mouro, e o amor mais interes-
sante ua sua exaltação melancólica d'esta princeza a Muley, tudo isto forma
um todo tão commevedor, tão verdadeiramente poético, que os defeitos que se
encontram n'esta peça, e para os quaes não pode haver dissimulação, são mui-
to pouco notáveis para serem mencionados n*uma obra tão resumida como
esta nossa. A acção parece terminada com a morte do príncipe, mas um novo
exercito chega de Portugal, e o espirito de D. Fernando com um archote na
mão, se poe á sua frente, e o conduz á víctoria. A impressão causada por es-
ta apparição leva a seu auge o efTeito pathetico das scenas precedentes.»
78) BARCLAY (WILLIAM).
E. — Ije Portugal piltoresque et architectural dessiné (Taprès naiure. Pa-
ris, 1846.
(Porlupal Piltorrsco, ctc.)
Nunca vi <'sta obra.
7U) BARET (E.) — Ancien élcve de TÉcole Xormalc, professeur agregé
au Lvcôe «io Poitirr?.
BA 33
E. — Éttuies sur la Rédaction Espagnole de UÁmadis de Gaule de Garcia
Ordohez de Montalvo. Paris, Augaste Darand, 1853, 8.» gr., 203 pag.
Obra consagrada à memoria de Mr. Ch. M. de Feletz, de rAcademie
Française.
(Estudos 3obre a redacção hespanhola do Amadis de Gaula.)
Esta obra é destíDada para provar que o celebre romance de cavallaria
Amadis de Gaula é de origem hespanhola, e não portogaeza:
•Tasso não parece suspeitar nem da versão de Lobeira, ^ nem das preten-
< «Foi na iQzida corte do mestre d'Aviz, onde achou a cavallaria de toda a Euro-
pa o seu flomero, em Vasco de Lobeira. Como antes d'aquelle houve poetas, assim an-
tes d'este houve romancistas; como llomcro cclypsou a memoria dos cantos de seus an-
tecessores, assim Lobeira fez esquecer as mal tecidas invenções dos mais antigos novel-
leiros, e o AmadU de Gaula é a primeira e principal novella no extensíssimo catalogo
dos coDtus de cavallaria.
•Poucas memorias nos restam acerca de Vasco de Lobeira. Sabe-se que foi natural
do Porto, e armado cavalleiro por D. João I, antes de começar a batalha de Aljubai-
rota. Viveu a maior parte da sua vida em Elvas, c morreu cm 1403.
• Escrípto muito antes da invençAo da imprensa, o Amadis correu manuscripte até
o tempo de D. João Y, porque os nossos antepassados nunca tiveram a curiosidade de
o imprimir. Foram assim escasseando as copias d'eilc, e nos últimos tempos se havia
tomado tão raro, que apenas se lhes conhecia um ou dois exemplares.
«O conde da Ericeira, testemunha acima de toda a excepção, o viu, e o abbade Bar-
bosa diz que o próprio original estava na livraria dos duques de Aveiro. O fatal terra-
moto de 1755 fez desapparecer este monumento precioso da nossa liltcratura, e tudo
nos incita boje a crer que se perdeu para sempre.
*0 theatro, em que se passam as aventuras de Amadis de Gaula, é um theatro quasi
tamanho como o mundo conhecido no tempo de D. João I. O heroe e os roais cavallei-
ros seus contemporâneos cruzavam mares extensos, peregrinavam centenares de léguas
ecMD a mesma rapidez e facilidade, com que nós fazemos visitas dentro de Lisboa; esta
cemmodidade aproveitaram-na todos os novelieiros, que vieram depois de Lobeira; e
l^ra as distancias, qu^ seria incrível fazer correr em curtíssimo praso a um cavalleiro,
lá estavam as magas ou encantadoras, espécie de espada de Alexandre, que o escriptor
sempre tinha á mão para cortar todos os nós gordios, que embaraçavam as suas narra-
ções.
•A época escolhida pelos romancistas de cavallarias para n*ella collocarem os seus
heroes fabulosos é indeterminada em todas as novellas. A do Amadis, ainda que bastante
ineerta, é menos vaga. O beroe viveu muito antes do celebre Artbur ou Arthus, rei do
Inglaterra; mas já quando este paiz e o de Fiança eram chrisláos. Segundo isto, que se
lé no 1 * capítulo do Amadis, este guerreiro floresceu no vi ou vii século; e, como a
maior parte dos romances de cavallaria, que ainda existem, versam sobre a vida dos
sens imaginários descendentes, podemos também para elles estabelecer, ainda que im-
perfeitamente, nma espécie de chronologia.» (Panorama de 1838, pag. 124. Artigo at-
tribaido ao sr. Alexandre Herculano).
•Todas as três nações portugueza, hespanhola e franceza, pretendem para si esta
novella; e na contenda os portuguezes parecem estar peíor que os seus adversários, visto
54 BA
ções dos portQgaezcs; é à Hcspanha que deve pertencer a honra de ter erea-
do sobre um thema antigo uma composição original.
«É certo ter existido uma versão portngueza do Amadis de Gaula. A pro-
va resulta d'um conjuncto de testemunhos formaes. !.<" Gomes Eannes de
Azurara na Chronka do conde D. Pedro. 2.<> Diogo Barbosa Machado na Bi-
bliotheca Lusitana. 3.° Uma poesia de António Ferreira. 4.° Garcia d<B Resen-
de, no Cancioneiro.
•Eis os únicos testemunhos authcntícos allegados em favor da origem
portngueza do Amadis de Gaula. D'esta fonte dimanam todas as opiniões dos
críticos modernos favoráveis a esta origem.
«Não é sem espanto que se vô em 1550 mesmo a corte de Portugal bem
pouco firme a respeito da origem d'este romance, para attribiiir a composi-
ção d'elle, não já a Lobeira, mas a um príncipe de sangue real.
•Ouçamos a narração de D. Luiz Zapata, embaixador de Hespanha em
já n&o existir o original. Mas ao cabo s2o ellcs que teem razão, segundo nosio entender;
e por isso ndo duvidámos ds aUribuir o Amadh a Vasco de Lobeira.
•O rei Perion reinava na Gaula (França); o rei Garínter na pequena Bretanha, boje
a província de França d*esle nome. Levado pelo desejo de conhecer Garinler intenta Po-
rion uma longa viagem; c com effeito o encontra n'uma caçada; dSo-se a conhecer um ao
outio, e Perion é conduzido á corte do seu novo amigo. Tinha esle uma filha chamada
Elisena, que se namora de Perion, o qual dahi a pouco parto para a Gaula, deixando-a
gravida. EUa para esquivar-se á infâmia entrega o fruclo dos seus amores á mcrcé das
ondas, encerrado em uma caixa. Foi esto Amadii. Encontrado por uma barca, em que ia
Gandales, cavalleiro escocez, este o salva, e cria com seu filho Gandalim, depois escu-
deiro de Amudis. Os dois moços sào levados á côrle de Languines, rei de Escócia. Aqoi
viu a Amadis cl-rei Lisuartc, que de Dinamarca vinha reinar em Inglaterra, o qual dei-
xou na corte de Languines a sua filha Oriana. Foi cnUlo que começaram os amores
d'c8ta princeza com Amadis, que são o principal objecto da novclla. Amadis ó reconbo-
eido por seu pae Perion^ já casado com a filha de Garinter; o cro.^ce em poder o renome.
Mil difficuldades se levantam para ellc chegar a possuir Oriana, as quaes vcnco com re-
petidos actos de generosidade e valentia. Emfim o romance ac«iba de um modo incom-
pleto coro os trabalhos, que nos últimos annos cercaram a cl-rei Lisuaile.
•É esta, em summa, a matéria que enche o volumoso romance de Amadis, novella
cheia de muitas paginas fastidiosas, mas tambcni de muitas, que grandemente excitam
a curiosidade. O cstylo era que está oscripto, é o do uma velha chronica do xv socolo, o
notámos n'elle uma grande similhança cora os escriptos do pae da nossa historia, o síd-
gello chronista de D. João I, Fernáo Lopes, que tantas vozes se mostra mais poeta, que
muitos, que se arrogam esle ti4ulo.
•Traçando um levo esboço da novella de Amadis de Gaula, scguc-se o tratar a ques-
tão de saber se a devemos attribuir a um escriptor portuguez.
«Primeiro que tudo ó de notar que a tradição constante em Portugal foi sempre que
o Amadis fora composto por Lobeira.
«Pretendem os francezes (não todos os que na matéria teem escripto) que esta no-
vella fora traduzida em bespanhol do idioma Picardo, e Herberay diz a vira n^esta lín-
gua; mas isto nada prova. Quem impedia que os francezes traduzissem o original de Lo-
beira? A outra objecção contra nós é ter feito o aurlor os seus heroos francezes e ingie-
BA S5
Lisboa, por aquella época: (Miscellanea onginal, na Bibliotheca Real, códice
citado por D. Juan Pellicier). Entre outros grandes personagens, qae se teem
distingaido como escriptores, mencionarei, diz elle, D. Fernando, segando
dnque de Bragança, auctor do Amadis de Gaula. É a opinião assente na fa-
mília real portugneza, e eu mesmo a ouvi da bocca da sr.* D. Gatharina. E
bem me parecia que uma obra tão alta e tão nobre devia ter saido d'ama
raça illustre, e não podia pertencer a um homem vulgar.
iO licenciado Jorge Cardoso afflrma que Pedro de Lobeira traduziu do
francez a historia de Amadis, por ordem do infante D. Pedro, filho do rei
D. João I.
«É verdade que Barbosa não cita a opinião d'este auctor, senão para a
taxar de errónea. Este facto não testemunha menos a incerteza dos portu-
guezes, e prova que no tempo de Cardoso (i650) existia uma opinião, que at-
tribuía à França a composição do Amadis.
tes: mas isto lambem nada prova; porque prova de mais. Os inglezes teriam aíoda mais
razão para pedirem a gloria d'esta obra, visto que, apesar de ser franceza a persona-
gem principal, a maier parte dos acontecimentos põe-os o auctor na Inglaterra, e quasi
todos os ravalleíros notáveis são d'este paiz, á excepção de Amadis e seu irmão Galaor.
•O certo é que Lobeira tendo vivido no tempo d'el-rei D. Fernando I e de D.João I
tinha visto as proezas, que em Portugal obraram os cavalleiros inglezes. Devia elle fazer
portanto alta idéa da cavallaria d'aquella nação. Nada havia mais natural do que fazer
dâ Inglaterra o theatro das façanhas dos seus imaginários heroes. Como porém o agente
principal de todos os successos devia ser o amor, naturalissimo era que o auctor buscasse
am principe estrangeiro, que viesse tornar brilhante a corte ingleza, com seus amores
pela dama principal, a filha de Lisuarte, que não poderia aliás corresponder á alfeição
d'Qm sobdito de seu pae. Eis a razão obvia, porque Amadis é francez.
•Além d'e8tas observações ha uma principal, o examinar em si a novella para vér
se das soas próprias entranhas se podia arrancar a certeza da sua origem.
• GarcíordoDei diz — emendara os três livros de Amadis^ que andavam mui vicia-
dos, e trasladara o quarto; —aqui o verbo trasladar ^ é claro, que não pôde significar
senão traduzir, o que mostra a olhos desapaixonados que a obra não era originalmente
bespanbola.
«Seria franceza? Dizemos sem duvida alguma que não. Perion encontrando Garínler
diz-lhe que viera de mui remotas terras para o vér. Era possível acaso que um escriptor
francez fizesse o rei da Pequena Bretanha desconhecido do da França, e pozesse na bocca
d'este mn tão descompassado erro geographico? Além d'isto Perion e Lisuarte reúnem
cortes, nos casos difficeis e circumstancias importantes: n'estas cortes apparecem não os
barões das antigas assembléas feudaes da Inglaterra e França, mas os ricos homense ho-
mens bifns nas cortes portuguezas. Emfim o anctor descreve a passagem do canal de In-
glaterra como nma viagem de nove dias com vento favorável. As frequentes relaeOes de
gaerra « de paz entre a Grã Bretanha e a França permittiam por ventura que ignorasse
um escriptor francez a distancia de um a outro paiz?» (PanorarM de 1838, pag. 110.)
A pag. 6 do roe:»mo jornal de 1840, confirma o sr. Alexandre Herculano quanto lia-
via dito acerca do Amadis de Gaula, e accresceota um trecho da Chronica do Conde D. Pe'
dro composta por Gomes Eannes d'Azurara. (Gap. 63 )
«Do todos 03163 factos reanidos qual a conclusão legitima, que se pôde
tirar? A existência pelos fins do século xiv diurna versão portugueza do Ama-
dis de Gaula, acerca de cuja origem e auctor os próprios portugueses não
estão concordes, mas que se pôde todavia altribuir com mais probabilidade a
Tasco de Lobeira. Hoje esta versão, que parece nunca ter sido impressa, des-
appareceu. Resta pois a importante questão de saber até que ponto ella servia
ou não, de modelo á versão de Montalvo, a mais antiga, que subsiste hoje.
Esta questão será implicitamente resolvida, se nós provarmos que anterior-
mente a Vasco de Lobeira circulava já na Uespanha um romance de Âmadis.
«A antiga Litteratura Castilhana contém duas allusões importantes áhis^
toria de Amadis. Acha-so a primeira n'um poema de Pedro Lopez de Ayala,
auctor estimado da Chronica de quatro reiímdos. Feito prisioneiro em 1^7,
na celebre batalha de Najera, na qual empunhava o estandarte da ordem da
Banda, e levado para Inglaterra, Ayala compoz durante seu captiveiro uma
espécie de poema moral intitulado: El rimado palacto, O poeta lamentando
os erros de sua mocidade, exprime-se assim na estancia 162.
Plegomi otrost oir muchas vogadas
Libros de devaneos o mentiras probadas,
Amadis o Lanzarote^ o burlas a sacadas,
En que perdi mi tiempo a mui malas jornadas.
«Depois de se ter involvido muito activamente nos acontecimentos d'este
século tão fcrtil em agitações, o chanceller Ayala morreu em Calahorra em
i407^ na edade de 75 annos, o que faz descer até i342 o anno do seu nas-
cimento. Ayala tinha pois 25 annos na época da batalha de Najera. Tomando
paite no partido de Henrique de Transtamara, o qual desde 1359 estava em
lucta com seu irmão Pedro, o Cruel, quasi que nos não podemos enganar,
suppondo que este chanceller, que escreveu com tão grande exactidão a narra-
tiva d'esta lucta fraticida, esteve bem occupado desde o princípio para não de-
signar o espaço de 1359 a 1367 como um tempo de ociosidade, occupado uni-
camente de leituras frívolas.
«A época em que elle se entretinha a ler Lancelot e Amadis, foi sem du-
vida a da sua adolescência, quando, simples pagem ou escudeiro, bebia n'es-
tes romances, ^ como todos os nobres d'aquelle tempo, as idéas dos deveres
^ Amadis de Gaula, Este romance, cujas quatro primeiras partes principalmeate
teem grande merecimento, tiveram no século xvi uma aceitação prodigiosa, e que não
excede talvez aqnella, que em nossois dias coroou as producções justamente celebres do
fecundo e admirável auctor do Waverley. Publicados primeiramente em Uespanha, e por
diversos escriptores, que se não nomearam, os Amadis não transpozeram facilmente os
limites da península, e foi até necessária a residência, que fez n'este paiz o illustre pri-
sioneiro de Pavia, para nos fazer conhecer este romance, cheio de attractivos. Mas desde
que a pedido do monarcha francez tornado livre, o senhor des Essarts transportou para
a nos^a língua a engenhosa ficção Ibérica, a obra passou bem depressa para ItalUi, Al-
BA ifí
d'iun gentil cavaileiro. É pois permittido concluir que uma versão do Amadis
que desde 1360, pelo menos circulava na Uespanha conjunctamente com o
Lancdot, devia necessariamente ser redigida n'este paiz muito tempo antes,
provavelmente desde o começo do século xiv, talvez mesmo desde o xiii.
«Dar*se-ba o caso, vista a extrema analogia dos idiomas portuguez e hes-
paphol n'aquella época, que Ayala designe, sem a nomear, a versão de Lo-
beira? De nenhum modo: eis aqui as razões.
«Machado, concordando n'isto com as cbronícas portuguezas refere que
Vasco de Lobeira foi armado cavalleiro na occasiào da batalha de Aljubarrota
pela própria mão do rei João I. No tempo, em que as leis da.cavallaria esta-
lemaoba, Inglaterra, e até mesmo para a Hollanda, e apparecea successivamentn no
idioma próprio de cada um doestes paizes, mas com dilTerença^ e continuações.
O primeiro auctor d'este celebre romance, aquelle, a quem somos devedores dos qua-
tro primeiros livros, não é bem conhecido. Segundo António, que adopta a este respeito
as tradicções conservadas em Portugal, seria um portuguez chamado Ya«co de Lobeira.
É esta a opinião seguida mais geralmente, não obstante o testemunho contrario de Ni-
colau de Herberay, senhor des Essarts, que no começo do prologo collocado por elle em
frente da sua traducção do primeiro livro de Amadis^ exprime-se d'esta sorte: «È bem
certo que elle esteve primeiro em nossa lingua franceza, sendo Amadis francez, e não
hespanhol. £ de que assim fora, encontrei ainda alguns restos d'um velho livro escripto
á mão em linguagem Picarda, pelo qual julgo que os hespanhoes fizeram uma traducção.*
Esta asserção do senhor des Essarts pareceu concludente a Mr. de Tressan; mas não é
admittida pelos bons crilicos, que em nenhuma parte encontraram o menor vestígio d'esse
original em lingua Picarda, citado pelo traductor. A opinião favorável a Lobeira foi sus-
tentada acaloradamente no Journal de Paris, no anno de 1779 e no Esprit des Journaux
em setembro de 1779, por Cocbu, litterato fallecido no principio do corrente século.
EDIÇOE» EM HE8PAMHOI«
Salamanca, 1519. Desconfia-se porém haver uma edição anterior, de 1510, impressa
oa mesma cidade.
Saragoça, 1521.
Sevilha, 15i6
Sevilha, 1531.
Veneta, 1533.
Sevilha, 1535.
Sevilha, 1539.
Medina dei Campo, 1515.
Sevilha, 1517.
Lovaín, 1551.
Sevilha, 1552.
Burgos, 1563.
Burgos, 1587.
Salamanca, 1575.
Sevilha, 1575.
Alcala de Benares, 1580.
Sevilha, 1580.
Madrid, 1888.
Barcellona, 1847.
»8 BA
vam cm pleno vigor, ningaem podia ser armado cavalleiro antes da edade de
21 annos completos. Mas na decadência da instituição foi-se pouco severo para
com este principio. Na véspera d'um cerco, d*uma batalha, quer para augmen-
tar o numero dos combatentes, quer para estimular o ardor dos escudeiros,
ou em algumas occasiões solemnes, taes como as de coroações, casamentos,
viu-se conferir o titulo de cavalleiro a mancebos, que não tinham passado por
todas as provas da ordem. Esta circumstancia da occasião mesma da batalha
— ao estar para dar-se batalha faz nascer uma forte presumpção de que em
1385 Vasco de Lobeira, que se distinguiu cedo como cavalleiro, tinha talvez
menos de 20 annos. Gomo admittir então que possa ser o auctor d'um livro,
La Scrgas dei virtuoso cavallero Esplandiano^ hijo d'Amadis de Gaula. Toledo, 1521.
O mesmo liyro. Salamanca, 1525.
O mesmo livro. Burgos, 1526.
O mesmo livro. Sevilha, 1526.
O mesmo livro. Caragoça, 1587.
O mesmo livro. Burgos, 1587-
O mesmo livro. Alcalá, 1588.
Sexto libro de Amadis de Gaula, en que se cuenlan los grandes fechos de Florisando,
Salamanca, 1510.
O mesmo livro. Salamanca, 1526.
El septimo libro de ÂmadiSj en el qual se trata de los grandes fechos cn arma de Li-
suarte de Greda fijo de Esplandian y de ferion de Gaula. Sevilha, 1525.
O mesmo livro. Toledo, 1539.
O mesmo livro. Sevilha, 1548.
O mesmo livro. Lisboa, 1587.
O mesmo livro. Tarragona, 1587.
El oitavo de Amadis^ que trata de las estranas aventuras y grandes proezas de su
nieto Lisuarte, y dela muerte dei Rey Amadis. Sevilha, 1526.
El noveno libro... que es la chronica dei muy valiente y efforçado príncipe y caval-
lero de la Ardiente espada Amadis de Grécia. Burgos, 15o5.
O mesmo livro. Sevilha, 15i2.
O mesmo livro. Medina dei Campo, 1564.
O mesmo livro. Valência, 1582.
O mesmo livro. Lisboa, 1596.
Don Florisel de Niquea. La Crênica de los muy valienles y esforçados y invencibles
cavaUeros dõ Florisel de Niquea y el fuerie Anaxarles: hijos dei muy excelente príncipe
Amadis de Greda. Valladolid, 1532.
O mesmo livro. Sevilha, 1546.
O mesmo livro. Taragona, 1584.
O mesmo livro. Caragoça, 1584.
Parte tercera de la coronica dei muy cxcMenle príncipe don Florisel de Niquea, tlc,
Sevilha, 1546.
O mesmo livro. Évora.
Don Florisel de Niquea, La primera parte de la quarta de la chronica dei cxcelen*
ti ssimo príncipe don Florisel de Niquea. Salamanca. 1551.
O mesmo livro. Çáragoça, 1568
Libro segundo de la quarta parte. Salamanca, 1551.
BA B9
qno Ayala, o qaal também assLstiu a esta batalha do Aljubarrota, e D'ella feito
prisioneiro pela segunda vez^ declara ter lido antes de 1360 ?
«Púde-se chegar á mesma conclusão por uma outra maneira. Tomando
sempre como data certa a existência d'um Amadis no anno de 1360, suppo-
nho qne Vasco de Lobeira fosse auctor d'este romance, o que o tivesse aca-
bado na edade de 25 annos. Tinha então pelo menos âo annos desde 1300,
o que levaria a 1335 a data do seu nascimento, que é desconhecida. Ora, por
conGssão dos portuguezes, só em 1385 é que foi armado cavalleiro. !Nào teria
â vista d'isto recebido este titulo, scnuo em a edade de 50 annos, o que vero-
similmente nao poderíamos admitlir.
<É pois permittido asseverar que existia na Hespanha uma traducçao do
O mesmo livro. Çaragoça, 15G8
Tercera parte de la quarla. Salamanca, 157)1.
Dozena parte dei invincible cavallero Amadis de Gaula, Sevilha, 1516.
O mesmo livro. Sevilha, 1549.
EDIÇÔEH EM FRANCEZ
Us livres I à XII dWmadis de Gaule, Paris, 1510-1556. Reimpressos de l'>i3 .i
t559
Os mesmos livros. Paris, 1518 a 1500.
O XIII livro. Paiis, 1571.
O XIV livro. Paris, 1574.
Livros I a XII. Paris, 1557, 12 vol.
Ltoro XII. Avignon, 1557.
Ltrroí J a XII. Anvers, 1501.
Os mesmos livros. Anvers, 1572.
Litro XIII, Anvers, 1572.
Livro XIV. Anvers, 1574.
Livro XV. Anvers, 1577.
Livros I a XII. Lyon, 1575, 12 vol.
Os mesmos livros. Lyon, 1577.
Livro XV. Lyon, 1577.
Livros XVJ, XVII, XVIII, XIX, XX, XXI. Lyon, 1577-1582 C vol. varias vezes
reimpressos.
Livros XXII, IXIII, XXIV. Paris, 1615, 3 vol.
Tresor de tous les livres d^Amadis. Lyon, 1582, 3 vol., 1605, e 1606. E varias outras
cdicde».
Os mesmos livros. Anvers, 1574.-
EDlÇAo EM IT%UAlliO
Yinelia, 1546 a 1591.
BDIÇAO EM ALLBMÂO
Francfort am May o, 1583.
EDlçAo EM HOLUtliDEZ
Utrecht e Dordrecht, 1619 a 16H, 6 vol.
EDIÇÕES EH I.VttLES
London, 1619.
Traducçao de Robert Southey. London, 1803, iiQl.-- Extradado do Manuel du
Libraire, par Brunet. Edição de 1866.
60 BA
Amadis de Gatda, anterior á versão portagneza. Uma curiosa passagem do
texto hespanbol acabará de dar o caracter da certeza.
«O personagem de Amadis distingue-se entre tantos heroes cavalheirescos
por nma lealdade a toda a prova, e pela mais escrupulosa fidelidade.
«As aventuras de sua vida errante levam-no a restabelecer sobre othrono
de seus pães uma joven princeza por nomeBríolania, a qual muito encantada
da belleza e valentia de Amadis, namora-se do cavalleíro com uma viva pai-
xão, e não aspira a mais do que pol-o de posse de seu reino e de sua pessoa.
Mas todas as coroas do mundo não poderiam distrahir Amadis do pensa-
mento da sua querida Oriana. Os votos de Briolania não Toram escutados.
«Tal era, segundo parece, a respeito d'6ste ponto delicado a lição cons*
tante da velha historia.
«No emtanto o infante D. Affonso de Portugal, filho natural de D. João I,
príncipe instruído, de génio cortez e galanteador, fez-se o campeão da triste
Briolania. Indignado com a insensibilidade de Amadis, exigiu que liobeira,
de quem era protector, modificasse esta passagem do velho romance, e resti-
tuísse a felicidade á bella princeza, á custa da infidelidade de Amadis.
«Esta interpolação da versão portugueza é notada por Montalvo, e censu-
rada com tanta gravidade, como se se tratasse da historia mais importante, e
authentica — Amadis dió enteramente á conocer que las angustias e dolores
eon las muchas lágrimas derramadas por su senora Oriana, no sin gran leal-
tad las passava; aunque el senor infante Alfonso de Portugal, aviendo pietad
d*esta hermosa donzella, de otra guisa lo mandasse poner, en esto hizó lo
que su merced fué, mas no aquello que en efecto de sus amores se escrivia.
De outra guisa se cuentam estes amores, que con razon a ellos dar fé se deve.
«Mais longe o escrupuloso auctor depois de ter acabado a narração d'esta
aventura, cré dever ainda accrescentar: —Todo lo que mas desto en este li-
bro primero se dize de los amores de Amadis e doesta hermosa reyna fué
acrecentado, como ya se os dixo, etc.
«Esta passagem decisiva não carece de commentarios. Attraiu e devia at*
trair a attenção dos melhores críticos. O mais judicioso e authorisado de todos
sir Walter Scott d'ahi concluiu a existência certa d'um oríginal hespanhol,
muito anteríor á versão de Lobeira — Parece nos evidente por esta passagem
notável, que a obra, de que se occupava Lobeira, debaixo dos auspícios do
infante D. AíTonso, seu protector, deveu ser necessariamente uma traducção
mais ou menos livre de alguma obra antiga. Se o Amadis tivesse sido parto
próprio da imaginação de Lobeira, teria este auctor certamente experimentado
repu^ancia em prejudicar a imagem da perfeição ideal, que traçara no seu
horotí, em coRsideração da compaixão exquisila de seu protector para com a
bella Briolania; mas não fazia nenhum sentido dizer que fizera uma interpo-
lação no texto verdadeiro (allusão ao dito Montalvo aqtiello que en efecto se
escrevia) se não houvesse tirado sua historia de algumas narrações indepen-
dentes dos recursos de sua própria imaginação.
«Encontram-se também no Cancionero fie Baena algumas allusões a uma
antiga versão do Amadis. A mais importante é contida n'uma peça de Perro
BA 6i
Fen^z dirigida a Lopes de Âyala exhortando-o a proseguir na gloria das
armas, sem receíar nem fadigas nem perigos.»
Eis o qne diz Baret. Parece porém qne o assnmpto é de origem franceza,
e mnito antigo, mas que o romance formado sobre este assumpto é de origem
portugneza, embora se tivesse perdido o original. Quem ignora que ainda te-
mos hoje em Portugal e nas bibliotheças estrangeiras um grande numero de
manuscriptos ímportantissimos, que nunca foram impressos, e também em ris-
co de se perderem para sempre? Quem não sabe que o Cancioneiro d'el-rei
D. Diniz ainda existe quasi todo inédito na Bibliotheca do Vaticano, e que na
de Évora existe o Esmeraldo de Duarte Pacheco Pereira, para não fallar de
muitos e muitos outros inéditos importantíssimos?
80) BARETTI (JOSEPH) — Secrelary for foreign Correspondence to
the royal Academy of PaintiDg, Sculpture and Architecture.
E. — A Joumey from London to Génova through England; Portugal, Spain
and France, by — . la four volumes. London, 1780, 8.»
(Viagem de Londres a Génova, atravez da Inglaterra, Portugal, etc.)
O auctor esteve em Portugal no anno de i760. Diz que os portuguezes
sâo muito ricos de dinheiro e jóias (L pag. 97): que as manufacturas são in-
signiflcantes, e as únicas coisas, que o paiz produz em abundância, são limões,
laranjas e vinho. Dá noticias muito circumstanciadas das ruinas do terramoto
em Lisboa.
Baretti encontrou uma vez o patriarcha na rua, e eis como elle nos des-
creve o seu séquito:
tAbriam a marcha dois coches cheios de padres; seguiam-se cincoenta
creados de libré, caminhando a dois e dois (pag. i53). Ui& padre a cavallo
levava a cruz. Seguiam-se sete coches. Os dois primeiros conduziam offi-
ciaes ecclesiasticos, e no terceiro ia o patriarcha com seu mestre de cerimo-
nias. De cada lado marchava um padre a pé, levando uma espécie de umbel-
la. Seguia-se o coche doestado vasio, tão rico, que a rainha Semiramis não o
julgaria indigno de ir n'elle. Atraz iam aiuda três coches cheios de oíficiaes.
<E que sentia o patriarcha? Conforme as palavras de Petrarcha — Stavasi
tiUto umile in tanta gloria.*
81) 6AHLAEI (GASPARIS) — Poeta, theologo e medico.
Seu nome sem estar alatiuado é Gaspar vau Baerle.
Nasceu em Anvers no anno de 1584, e falleceu em Amsterdam no mez de
janeiro de 1648. i
E. — Rerum per octennium in Brasilia et alibi nuper gestarum sub Prae-
fectura Ulustrissimi Comitis L. Mauritii, Nassoviae d&c. Comitis, nunc Vesa-
liae Gubematoris et Equitatus Fcsderatorum Belgii Ordd. sub Auriaco Dueto-
ris Historia, Amslaelodami. Ex Typographeio Joannis Blaev. 1647. foi. max.
» Firmin Didol — Nontelle Biograpliie Uniteneilej vol 4.", p'ag. Uíí.
62 BA
340 pag. com grande numero de estampas. 2.* edição, 8.° Clóvis ex Offieina
Tobiae Silberling, 664.
(Historia dos saccessos occorridos pelo espaço de oito annos no Brazil, de-
baixo do governo do conde S. Maurício de Nassau, etc.
De cada uma d'estas edições existe um exemplar na Bibliotheca Publtea de
Lisboa, onde servem de pasto à traça, tão numerosa n*aquelle estabelecimento
que julgo já impossível exterminal-a.
cComo escríptor de mentos superiores se nos apresenta ^ nos dois annos
de 1637 e i638, e nos seis seguintes até 1644 o bollandez Gaspar van Baerle,
mais conbecido com o nome de Barlaeus, na bistoría qne escreveu da admi-
nistração e feitos de Nassau em Pernambuco. Preclaríssimo poeta, assim na
lingua bollandeza como latina, cujos primorosos versos, comparados aos me-
Ibores da antiguidade, lhe grangearam muita nomeada, agudo theologo pro-
testante, penetrante philosopho, e distincto doutor em medicina, consagrou
Barleus os seus últimos annos a essa historia, que publicou em Âmsterdam
em 1647.
«Â Latiníssima Historia dos oito annos do governo de Nassau, por mais que
corram os séculos, será sempre um livro importante e digno de consultar-se.
Só depois que tivemos occasião de folhear detidamente a correspondência of-
ficial do mesmo Nassau^ é que nos convencemos que Barleus a tivera egual*
mente presente, e se aproveitara d*ella com o devido critério; sendo que, co-
mo panegyrista d*esses oito annos pouco se lhe poderá acrescentar. Para ser
porém considerado como historiador imparcial d*esse período, faltou-lhe obe-
decer ao preceito — audietur altera pars.
«E o mais é que o haver o auctor deixado de consultar alguns documentos
ou auctoridades do lado dos nossos foi causa das muitas incorrecnocs, que a
obra contém nos nomes próprios e geographicos portuguezes c do Brazil.»
82) BARNARD (LIEUT).
E. — Three years Cruise in the Mozambiquc Channcl.
(Três annos no cruzeiro do canal de Moçambique.)
Não tive occasião do ver este livro.
83) BARROW (JOHN) — Compilador.
Nasceu cm Inglaterra, e falleceu no fim do xviii século. 2
Escreveu uma obra em inglez, que foi vertida para francez com o titulo
seguinte:
Ahregé Chronologique ou Histoirc des découvertcs faites par les Européem
dans les diferentes parties du Monde, extrait des rélations Ics plus exactes et
des voyageurs les plus veiidiques. Traduit de VAnglais par Targe. Paris, 1766,
12 vol, 8/^
' Sr. Varnbagen — Historia das lulas com oshollandc:es no íirazV, pop xii.
- Firmin Didol — ^ouvdlc fíint/raphif VniterscUc, vnl. I.", pap. :íÍ»í).
BA 63
(Resumo cbronologico das descobertas feitas pelos europeus, nas diversas
partes do mundo.
Se bem que esta obra não trata exclusivamente das viagens feitas pelos por-
tugnezes, todavia merece ser mencionada, pois n'esta collecção apparecem com
minuciosidade as gloriosas descobertas, viagens e peregrinações dos nossos.
O volume i.° começa pela viagem de Colombo, e de suas relações com os
portuguezes, viagem que se estende de pag. i até 242, onde começa a de Vas-
co da Gama, baseada no que escreve Jeronymo Osório, terminando esta a pag.
294, onde principia a de Pedro Alvares Cabral, para findar a pag. 329.
Tomo 3," Viagem de Fernão de Magalhães, de pag. 318 a 373.
O tomo 4.<' não contém nenhuma viagem feita por algum portogucz: traz
as dos estrangeiros Drake, Raleigh, Cavendish^ Van Noort, Spilbergen, Schou-
ten, Lemaire, Rowe, mas em compensação rara é a passagem, em quo se não
faj; menção dos portuguezes. Por toda a parte estes appareciam para porem
estorvos áquelles que nos queriam roubar o sceptro do mar!
No emtanto as forças portuguezas não podiam chegar para tudo, e o odío
que 08 indígenas nos tinham era grande, e a passagem seguinte bem o com-
prova:
< A 24 de novembro os inglezes commandados por Drake chegaram ás
Molucas, com o fim de irem a Tidore: mas foram desviados d'este seu desí-
gnio pelo vice-rei de Temate, que veiu ousadamente a bordo para lhes dizer,
que o rei d*esta ilha queria commerciar livre e cordealmente com elles, e
tornar-se seu amigo, comtanto que não fossem a Tidore, porque residiam alii
os portuguezes: que os odiava de morte, e não se podia resolver a ter com
elles algum commercio, ou com áquelles que se ligassem com elles.» ^
Tomo S."» Historia da descoberta e das guerras do Brazíl por Mr. Jean Ni-
Inhoff, de pag. 222 até 434. É a historia da derrota dos hollandezes n*este
paiz, e de como os portuguezes os expulsaram de vez.
Se no tomo 4."* quasi que se não encontrava uma folha, em que se não tra-
tasse de portuguezes, no G.*" quasi que se não encontra uma linha^ em que os
nossos não entrem em scena. Contém este tomo os segumtes assumptos.
I. Descripção das índias orientaes, por Mr. NienhoíT de pag. i a 210.
II. Viagem do capitão Abel Tasman, em descoberta dos paizes banhados
pelo mar do Sul, de pag. 211 a 238.
III. Descripção das costas de Malabar e de Coromandel por mr. Baldaeus. ^
N'e8ta viagem de, pag. 239 a 333, vem uma descripção da cidade de Goa,
a respeito da qual, entre outras, coisas se diz o seguinte:
«Goa foi conquistada por Afi^onso d' Albuquerque, cujo nome é bem conhe-
< Barrow — Histoire des découvertes, vol. 4.^ pag. 2.
^ Pbilippo Baideud, missionário hoUandez, vivia na segunda rocladc do scculo xvii.
Hrmin Didot— Noucclh Hiographie Universelle^ vol. 4.*, pag 254.
64 BA
eido n'esta parte do mundo. A policia é muito boa e bem desempenhada. Ua
um hospital, que aquelles, que o viram e comparavam, consideram o mais
bello existente no mundo. As egrejas de Goa são soberbamente ornadas : * o
porto é muito bello, e póde-se comparar com Constantinopla e Toulon, julga-
dos os melhores do mundo.
«A vice-realeza de Goa ó uma das mais consideráveis, que existem no
universo. E aquelle, que exerce este cargo, tem à sua disposição os governo;
de Moçambique na Africa, o de Moscate na Arábia, o de Ormuz na Pérsia, o
de Ceilão perto do Cabo de Comorin, o das Molucas á entrada do golpho da
índia, cada um dos quaes é tão lucrativo, como o melhor que houver na Eu-
ropa. É certo apezar de Goa já não render tanto depois que os inglezes ehol-
landezes fundaram estabelecimentos sólidos na índia, produzir comtudo sempre
grandes riquezas para a coroa de Portugal. Os Portuguezes em gerai são in-
dolentes: entregam-se á sensualidade e aos prazeres, e deixam o cuidado de
seus negócios nas mãos de seus escravos. A devassidão é n'esta cidade mais
vulgar, que em nenhum outro paiz do mundo; e os prazeres camaes e o adul-
tério passam por galanterias. Os homens um pouco acima do vulgar, são
precedidos de dois pagens um para lhes levar a espada e o outro o guarda
sol, etc. etc.»
IV. Descripção da ilha de Ceilão, e resumo das disputas que alli se sus-
citaram entre os portuguezes e hoUandezes, por Philippe Baldaeus, de pag .
334 a 427, e vae acabar na pag. 57 do o tomo seguinte.
84) BAUMÈS (J.).
E. — De la limite des Possessions Poríugaises au sud de rEquatew. Ex-
trait de la Revue Coloniale (Mars 185%). Paris, 1858.
(Limites das possessões portuguezas ao sul do Equador, etc.)
85) BAVOUX (EVARISTE).
E. — A, B, da Costa Cabral, Comte de Thomar. Notes historiques sur sa
carrière politique et son ministère, Extrait de Vouvrage publié a Lisbomie sous
te titre — Apontamentos Histoiicos, Paris, Amyot-Libraire, 1846, 8.«, 275 pag.
(Notas históricas sobre a carreira politica e ministério de A. B. da (Mtii
Cabral.)
António Bernardo da Costa Cabral por causa dos feitos notáveis, que se
passaram em Portugal durante o seu ministério, foi um dos ministros portu-
guezes mais fallados n estes últimos tempos. Não c por isso para admirar que
ainda tenha de mencionar vários outros escriptos estrangeiros relativos ao seu
ministério. Evaristo Bavoux mostra-se muito aíTeiçoado à sua administração.
«É um assumpto interessante para a observação a lucta encarniçada e
confusa ainda do principio constitucional ás bulhas com a exaltação meridio-
' Barrow — Hislnirr. ilcs dcrouvcrlcs, vol. 4.", pap. 2tíi
BA 65
nal, e com a infância das paixões politicas. Estas paixões envenenam a dis-
cussão» ccigam o joizo. O exame d'esta situação ganha muito em imparcia-
lidáfTô sendo transportado para um terreno neutro. Tal é a mira d*esta pu-*
blicaçâo.
«Úma coisa nos maravilhou e seduziu, alli, como em qualquer outra parte
qne a encontramos: a elevação d'um homem por meio de suas próprias forças
aes mais altos empregos do Estado. Filho d'um honrado proprietário da Bei-
ra, Costa Cabral elevou-se por seu próprio mérito d'uma posição modesta ao
ministério, e ao senado, esforço do verdadeiro talento, que tem jus a nossas
homenagens. Em certos respeitos, e talvez com mais energia ainda, faz-nos
lembrar Casimir Perier, lactando contra os motins em nome da ordem, pro-
nunciando a dissolução do corpo de artilharia da guarda nacional, a destitui-
ção de seus oíBciaes, o desarmamento das companhias, exposto em sua pró-
pria carroagem ao tumulto das ruas insurgidas, arrostando corajosamente o
perigo, as ameaças, a morte, luctando corpo a corpo, e combatendo essa co-
ragem, que revela uma convicção, e até jusliflea o erro, porque então parece
emanar d*uma alma nobre, d'um principio elevado.
«O homem eminente, de quem esta noticia tem por íim dar a conhecer a
administração, prestou ao seu paiz immensos serviços. A realisação de seus
grandes e honrosos trabalhos, a construcção das estradas, a circulação dos
capitães e das idéas, a reorganisação social, de que é auctor, testemunham
bem altamente a força e grandeza de suas concepções; mas não é menor no
ponto de vista politico um certo aspecto, que me commove, e a respeito do
qual não posso fechar os olhos, rendendo ao mesmo tempo com imparcialida-
de homenagem a seu génio notável, à potente energia do moderno marquez
de Pombal.
«Costa Cabral é um homem d'estado, para quem está reservado um logar
distincto na histeria contemporânea do seu paiz. As raraB qualidades que o
teem mantido no poder ha seis annos, provocaram a admiração de quantos
DÃO são dominados pelas paixões e espirito partidário, e que julgam o minis-
tro conforme os resultados de bua política, conforme a unidade de seu pensa-
mento administrativo, conforme a resolução enérgica, e prudência de seu pro-
cedimento nas mais difficeis circumstancias. Se mais alguma coisa é necessá-
ria para provar isto, bastará lembrar que o ódio implacável de seus inimigos,
incessantemente alimentado pela inveja, e excitado pelo despeito, é um teste-
munho mais que sufficiente de seu mérito e de suas qualidades.
«Assignalados por intrigas e difficuldades sem numero, por insurreições
de mão armada, por combates encarniçados quer nat tribuna, quer nas pra-
ças publicas de Lisboa, os seis annos do ministério de Costa Cabral provaram
toda sua coragem e sua energia. Outro qualquer que não fosse elle, mesmo
dos mais fortes, que fosse, teria já infallivelmente succumbído. Esta situação
não foi obra de Costa Cabral; achou-a toda feita, viu-se obrigado a dommal-a
com vontade de ferro, e de a mudar com sua audácia pouco commum. Quan-
tas vezes achando-se na véspera cheios de esperanças de obterem sobre elle
nmsL victoria completa, náo adormeceram seus inimigos para receberem,
TOMO l O
60 BA
quando acordassem, o golpe decisivo qae os devia humilhar. É assim que
pela rapidez e certeza de seus olhares o ministro snrprehende seus adversá-
rios, e anima seus amigos. N'um instante aprecia, e sabe vencer os perigos
e difiQculdades, e depois por uma resolução, que parece filha do acaso para
aquelles, que o não conhecem, decide em favor de si problemas, cuja solução
parecia impossível. Tudo se pôde esperar dos recursos de seu génio : e nos
momentos arriscados deve-se vér como seus amigos se agrupam em volto
d'elle, rodeiam-no de todas as partes, ao passo que tranqnillo no meio das
tempestades mais terríveis, sustentando o leme com mão firme, dirige a nau
do estado, e a leva a porto de salvação. Entre o resolver e o obrar, entre o
pensamento, que concebe, e a vontade, que executa, não conhece hesitação
alguma: apenas tomou sua resolução, põe-a em obra, sempre com aquella
energia, que lhe é peculiar. Póde-se altamente asseverar que todos os esfor-
ços dos inimigos do ministro, todos os meios extremos, que teem empregado
para o derrubar, não tem produzido outro resultado, senão o de elevar o pe-
destal de seu monumento; pois Gosta Cabral deve quasi outro tanto a este
respeito a seus inimigos, que pôde dever a si mesmo.
«Em sua vida privada, ás virtudes domesticas Gosta Gabral reúne ma-
neiras fáceis e agradáveis, que fazem sobresair a franqueza natural de seu ca-
racter. Pertence ao numero de estadistas do seu paíz, que adoptam as ídéas
sans do século, que comprehendem as necessidades da época, que teem a
firme vontade de satisfazer a ellas, e a capacidade de achar os meios para isso.t
Em poucas palavras: n'cste livro Gosta Cabral é o grande homem, o ho«
niem sem defeitos, um verdadeiro heroe: todos os outros são pigmeus.
Mousinho d'Albuquerque em vinte annos não passaria d*um soffrivel bo^
ticario. Rodrigo da Fonseca Magalliães principalmente é um homem dotado
dos maiores defeitos. Almeida Garrett era poeta na política, e em suas utti*
mas obras mau politico em prosa e verso. O visconde de Sá da Bandeira um
visionário incoherente. Porém José Bernardo da Silva Gabral, irmão do conde
de Thomar, era homem de talento superior, o solido, d' uma grande capaci-
dade na administração, fértil em expedientes e de infatigável auctoridade.
Nós porém, os portuguezes, juizes talvez mais competentes que Evaristo
Bavoux, seremos todos da sua opinião?
86) BAXTER (WILLIAM EDWARD).
E.— The Taçus and the Tiber, or notes of travei in Portugal, SpainoMd
Italy ín 1850-1851, by —.In two volumes. London, Richard Bentley, 1852,
8.°, o 1.» de 302 pag. e o 2.» de 299.
(O Tejo e o Tibre, ou notas de viagem era Portugal, ele.)
A viagem a Portugal vem no 1.*» volume, e termina a pag. 68. Nada apre-
senta digno de especial menção.
87) BAZONCOURT (Uauon de).
E.— Le mariaye ou lUnruir de Portugal. Parií^, Í8tí2.
BE 67
(O casamento ou o futuro de Portugal.)
Não encontrei esta obra; e por isso nada mais posso dizer. Mas é da sup-
por qofi veirse 8obre o casamento do nosso rei D. Luiz,
88) BEARN (Le Gomte Stéphen de).
E. — La Dyíiastii de Bragance et Vavemr du Portugal par — -. Paris, 1865,
4.*9 59 pag.
(A dynastia de Bragança e o futuro de Portugal.)
tFelizes, disse Fenelon, os povos, cuja historia n^o é interessante. Se a
máxima formulada pelo illustre arcebispo de Cambrai fosse uma sentença sem
appeliação, seria mister tirar d'e]la por consequência que a nação portugueza
foi desgraçada entre todas, por apresentarem seus annaes o espectáculo não
interrompido de scenas dramáticas, e de peripécias enternecedoras.
«Lançar um olhar para traz pela historia de Portuga], vér no decurso dos
séculos sair victorioso este estado de todas as luctas, avançar inabalável è
forte pela scena do mundo, e apresentar o especlaculo de varias gerações de
heroes, todos animados por um mesmo ardor para a independência, gloria e
prosperidade de seu paiz, não é isto um exemplo e uma lição digna de fixar
a attenção da historia?»
cE que possante vitalidade! Que exuberante energia em um povo moder-
BO. Para este não basta repellir os mussulmanos, ter abatido a altiva Gastella,
haver conquistado a liberdade; dirige suas vistas ambiciosas além dos limites,
que a natureza lhe traçou; e situado em frente do oceano, pensa já em sub-
mettd-o ao seu dominio. Christão, deita suas vistas rancorosas para Africa, e
suspira por levar às suas praias a invasão, que a si própria por tanto tempo
assolou. Ávida do bem estar e de riquezas, segue com olhos invejosos a rá-
pida fortuna de Veneza, e sonha nos meios de abrir para si um caminho até
ás opulentas regiões da índia.
«Que novos prodígios vão apparecer aos olhos do mundo estupefacto! E
que não devemos nós esperar (1'este valente povo?
«Favorecidos, animados por um príncipe esclarecido, D. Henrique, arro-
jados mareantes se lançam á procura do incógnito; para elles nada de obstá-
culos invenciveis, nada de fadigas, que não sejam supportadas com perseve-
rança, nada de perigos, que não sejam arrostados corajosamente.
«Dentro em pouco as costas africanas são exploradas desde o Gabo Boja-
dor até o Cabo da Boa Esperança, desde o Gabo da Boa Esperança até ao de
Guardafui: a índia é patenteada, a America descoberta, poderosos reinos des-
truídos por um punhado de homens; por mar e por terra um combate contra
cem, e a victoria é sempre fiel aos portuguezes; colónias florescentes se esta-
l)elecem. Lisboa toma se o empório do commercio do mundo.
«Os grandes conquistadores da antiguidade e da edade média apenas dei-
xaram vcstigios infecundos de sua paisagem: seus feitos tornaram-se niais
68 BE
nocivos, qae úteis à bamanidade; porém os immortaes trabalhos de Bartholo-
meu Dias, qae reconheceu o liltoral africano, de Vasco da Gama, que dobrou
o Gabo das Tormentas, e achou o caminho para as índias, por tanto tempo
procurado, de Alvares Gabral, de Almeida, de Albuquerque, que fundaram na
Africa e na Ásia o império portuguez: aqitelles immortaes trabalhos, díga-
mol-o, foram para o mundo inteiro uma fonte inesgotável de prosperidade e
de gloria.
«Ao lado d'esses nomes illustres a posteridade reconhecida eollocon o de
Pêro da Covilhã e de Affonso de Paiva: este ultimo pagou com sua vida seu
amor à sciencia e sua dedicação à pátria. As empresas doestes ousados expio-
radores, fizeram conhecer o mappa das costas africanas, e contribuiram ocmi
as de Bartholomeu Dias para abrirem à Europa um novo caminho, que os
devia conduzir às índias, sonho de todas as ambições.
«O génio de seus filhos, as descobertas marítimas, a immensa extensão do
commercio, que d'ellas foi a consequência, tudo concorreu para dar a Por-
tugal a maior somma de grandeza, à qual um povo pôde aspirar.
«As consequências politicas emanadas das felizes explorações dos porta-
guczes, são de uma ordem de tal sorte elevada, que à primeira vista a intel-
ligencia não conhece, senão mui fracamente todo o alcance; não as podemos
comparar senão à invenção de Guttemberg no xv século, ou á mais recente,
do vapor.
«Não o esqueçamos; é somente a partir doesta época, que se começou a
coroprehender o papel importante da marinha no futuro das nações, e que
fonte de prosperidades o império do mar pôde conceder aos povos.
»Foi Portugal que primeiro teve a gloria de revelar às nações civílisadas,
que não é somente em 3eu território, que devem procurar sua fortuna; mas
que também a podem tirar com seus navios dos pontos mais remotos do globo.
«Porém Portugal não devia gozar por muito tempo de seus triumphos, e
seu explendor devia ser de curta duração. Arrastado por uma corrente irre-
sistível, tinha-se arrojado a uma empreza superior às suas forças: não dando
ouvidos mais que à sua coragem, sonhava ao mesmo tempo no domínio das
Índias, do Brazil, da Africa Occidental, sonho d*um povo de gigantes, ao qual
devia fatalmente succumbir, mas ao qual, façamos-lhe ao menos esta justiça,
succumbiu gloriosamente.
«Faltaram os recursos a Portugal para sustentar seu dominio nas nume-
rosas c longiquas colónias, qae semeara no iittoral da Africa e da Ásia, e
quando a Europa, invejosa de seu poderio, se ligou contra elle, trahido por
suas próprias forças, esgotado em exforços generosos, mas impotentes, ficou
incapaz de resistir, c succumbiu, no apogeu de sua gloria, abandonando aos
outros povos os caminhos do extremo do Occidente, depois de por muito tem-
po ter sido o senhor temido d'elle.
«Tinha morrido Albuquerque ! Heroe illuslre, cuja gloriosa ambição e gé-
nio aventureiro foram uma das glorias do seu paiz, ao mesmo tempo que fo-
ram uma das causas da sua ruina ! Seus successores, incapazes, ávidos ou
i-orruplos, não lizeram senão precipitar esta queda, c a decadência do Portu-
BE ^ 09
pi d*alii por diante tornoa-sc completa. Bem depressa o déspota Phílíppe II,
esse terrível destruidor dos thronos, veia pôr o cumulo aos males da nação
portagueza, e n'um mez lhe arranca com seu rei a independência o liber-
dade.»
O resto d'este livro è uma série nâo interrompida de elogios feitos a Por-
tugal por causa dos seus melhoramentos de todos os géneros, operados n*es-
tes últimos annos.
89) BEAUOHAMP (M. ALFONSE DE) — Lilterato e auctor de L7íi5.
Udre de la guerre de la Vendée, etc.
Nasceu em Mónaco no anno de 1767, o falleceu era 1832. i
E. — I. Vindependence de Vempire du Brésil presentée aux momirches Eu-
ropéetis. Paris, 1824.
(Independência do Brazil.)
n. Estoire du Brésil, depuis sa découverte m 1500 jusqu^en 1810, cante-
nant ^origine de la monarchie portugaise; le tableau du rêgne de ses róis, et
des conquêtes des Portugais dans l* Afrique et dans Vinde; la découverte et
la description du Brésil; le dénombrement, la position et les nueurs des peu"
plades Bresiliennes; Vorigine et les progrès des établissements portugais; le ta-
bleau des guerres successives, soU entre les naturels et les Portugais, soit en»
ire ces demiers, et les di/férentes nations de VEurope qui ont clierché à s^eta-
bltír au Brésil; enfin Vhistoire civile, politique et commerciaie, les révolutions
H Vétat actuei de cette vaste contrée par — . Omé d^une nouvelle Carte de VAmé-
rique Portugaise et de deux belles gravures. Paris, 1815, 8.<*
(Historia do Brazil.)
Gompoe-se esta obra de 3 volumes, dos quaes o l.<> consta de 388 pag., a
%,• de 800> e o S.*" de 516. A estampa do l.** representa a chegada de D. Tho-
mó de Sousa, primeiro governador geral do Brazil; a do 2."* o acto de se ar-
rojar ao mar o almirante hollandez Patry por vér o seu navio perdido; e íl-
naimente a do 3.» é um mappa do Brazil.
HL Histoire de la guerre d^Espa^gne et de Portugal, pmdant les années
1807 à 1813, plus la Campagne de 1814 dans le nUdi de la France, par le co-
limei nr John Jones, avec des notes et des commentaires, par — . Ornée de la
Carte du théaire de la guerre d*Espagne et de Portugal. Paris, 1812, 2 vol., 8.<>
o i.» de 380 pag. e o 2.o de 384.
(Historia da guerra de Hespanha e de Portugal.)
Esta obra é contraria á politica de Napoleão. Beauchamp assevera n'ella
que na guerra da Península morreram um milhão de homens.
•Ezempto de qualquer sentimento de parcialidade o auctor esforçou-se,
secando suas próprias observações ^ e a correspondência de officiaes sensatos.
^ Firmín Didot — iVoutwUe Biographie UniveneUef fol. I.", pag. 90€.
* No prefacio, pag. xiz.
70 BE
o intelUgentes, a traçar uma narração militar, liei e imparcial da ultima guer-
ra, que se travou cm Hespanha, Portugal e meio dia da França.
«O tratado do Fontainebleau apresentava uma tal infracção das leis da
honra e da boa fé, que punha todos os contractantes no mesmo nivel, e ob*
tendo vantagens incalculáveis para aquclle, que o tinha concebido para cum-
primento de seus pérfidos projectos, obstava a qualquer appello à piedade da
Europa em favor do velho monarcha, victima de sua credulidade e fraqueza.
(I pag. 5.)
«Junot, vendo que os portuguczes não podiam ser enganados por mais
tempo com promessas, e que alguns motins parciaes despertavam outros mais
perigosos, decretou que qualquer cidade ou villa, que se oppozesse aos flran-
cezes^ havia de ser entregue ao saque: que os habitantes haviam de ser pas-
sados ao fio da espada, o as casas arrasadas. Além d'isto qualquer individuo
encontrado com armas na mão, fosse debaixo de qualquer pretexto que fosse,
seria fuzilado acto continuo. Adquiriram estas medidas nova força pela seve-
ridade terrível, que empregou em Leiria o general Margaron. Mas o nome
para sempre famoso do agente mais activo d'estas atrocidades é o de Loíson:
os cidadãos de Évora e da Guarda hão de conservar uma eterna lembrança
d'cllas.
cNa primeira d'estas povoações os meios de defeza foram organfsados
pelo general Leite com um corpo de tropas bespanholas, e por conseguinte a
resistência foi antes uma defeza regular, do que um motim popular. Todavia
Loíson na occasião da tomada da cidade, a 29 de julho, a entregou ao saque,
e em vez de reprimir as atrocidades da soldadesca, animou-as. Os que foram
poupados, estremecem ainda com a lembrança dos actos d'uma crueldade re-
flectida e insultante, ás quaes se entregaram durante um dia inteiro. Uma im-
mensidade de mulheres e de creanças, mas principalmente de padres, foram
tirados de seu refugio e maltratados ou mortos. Testemunhas dignas de fé as-
severam que alguns milhares de pessoas foram assassinadas durante o saque
da Guarda: doze mil mortos foram contados no terreno. Ignoram-se as mi-
nuciosidades dos excessos eommettidos por Loison na Atalaia, outra scena di-
gna de suas façanhas. Gomo os habitantes eram cm pequeno numero é bem
de perceber que não perdoou a ninguém, com o fim de melhor causar terror.
Similhantes crueldades foram praticadas n'outros legares. Contribuições ex-
cessivas eram exigidas rigorosamente, e a impossibilidade de as pagar servia
de pretexto para a pilhagem illimitada.
«Estas vexações e horrores deram consistência aos movimentos; e ao passo
que o general Freire se esforçava para organisar a insurreição ao norte, nu-
merosas guerrilhas sem disciplina às ordens do conde Castro Marim se espa-
lhavam no Alemtejo.
«Assim o fogo da revolta envolvia o paiz occupado pelos francezes. Toda-
via eram senhores das fortalezas de Almeida, Elvas, Peniche e diíTerentes ou-
tras posições como Setúbal, Palmella, S. Julião, Bugio, etc. Tal era a situação
de Portugal, quando os inglezes vieram em seu soccorro. (I pag. 36.)
«Os porluguezes são um povo eminentemente apto para os combates: os
BE 71
soldados tirados das classes inferiores, são em geral robustos, pacientes e do-
ceiSy ao passo que os militares, que receberam educação, conservam a lem-
brança das proezas de seus maiores, e amam as emoções violentas, que faz
experimentar o orgulbo das armas. Todavia muito tempo se tinha passado
sem estas qualidades se terem desenvolvido. O governo, cônscio da fraqueza
de seus recursos e contando com a amizade e poder de Inglaterra, tinha sem-
pre recorrido a ella na hora do perigo. N*esta crise, sempre movido pelos
mesmos sentimentos, entregou-lhe com confíança e sem restricçoes o cuidado
de guiar os seus exércitos. O general Beresford, escolhido pelo ministério in-
glez foi, em fevereiro, nomeado marechal e commandante em chefe do exer-
cita portuguez; e ao mesmo tempo oíliciaes inglezes foram nomeados para os
postos superiores de cada batalhão. Estas medidas introduziram prompta-
mente um systema geral de disciplina e de subordinação, mudança tão neces-
sária para tomar o exercito formidável. (I pag. 92.)
«Ás tropas portuguezas, que tomaram parte na batalha do Bussaco, por-
taram-se com valor, e desde então poude-se contar com o appoio de suas
armas, as quaes cada combate havia de tornar mais formidáveis. (I pag.
184.)
«Na guerra Peninsular depois da tomada de Tarragona e Valência a Hes-
panha sem exercito regular foi reduzida por algum tempo a potencia auxiliar,
e o cuidado da guerra foi inteiramente confiado aos portuguezes e inglezes.
(I pag. 313.)
«É com sentimento d'uma grande satisfação que se pôde asseverar que na
época em que Ciudad Rodrigo e Badajoz foram tornadas a tomar, Bonaparte
acbava-se no auge da gloria e do poder. Estendia-se seu império desde o Elba
até aos Pyreneos, e desde as costas do mar do Norte até às aguas do mar
Adriático, ao passo que em toda a Europa continental reconhecia-se e temia-
96 sua superioridade militar. Para prova da ultima asserção não temos outra
necessidade senão de recordar os differentes decretos arbitrários que, na ar-
rogância d'uma auctoridade sem freio, fazia apparecer para estorvar e res-
tringir a industria do mundo. Obedecia-se-lhe sem nenhum movimento hos-
til: o poderoso e o fraco conformavam-se com isso plenamente, ainda que
contra vontade, a Rússia duplamente ao abrigo de sua intervenção por causa
de sua immensa extensão, e por sua posição afastada, julgou prudente sub-
metter-se-lhe, até que finalmente sendo ameaçada a propriedade de seu im-
pério com uma adhesão mais longa, esforçou-se por meio de representaçdf;S
amigáveis a obter uma exempção. Não tendo podido conseguir coisa algupia,
a discussão tomou por este tempo a forma de reprehcnsão áspera, precursora
ordinária da guerra. Mas como uma longa série de acções tyranicas e de re-
plicas insultantes não a tinham feito abraçar uma resistência aberta, não se
podia duvidar que estava nas mãos de Bonaparte conservar seu alliado por
meio de attenções conciliadoras e amigáveis. Nada tinha pois que receiar do
exterior, que pudesse desviar sua attcnção dos negócios de Hespanha, e o his-
toriador imparcial, seja de que paiz fôr. é obrigado a recordar que esses
iriumphos brilhantes, que os portuguezes e inglezes obtiveram sobre os exèr-
72 BE
eitos franceses, foram ganhos no momento, em que Bonaparte estava em ami-
zade com todo o resto do mmido, e que seu império militar estava no zenilh
de sua força e gloria. (II pag. 41.)
«As forças francezas além dos Pyrencos, em maio de 1812, excediam a
cento e setenta mil homens, quasi todos soldados velhos, e commandados por
officiaes distinctos. Soult tinha ás suas ordens cincoenta e oito mil homens na
Andaluzia; Marmont cincoenta e cineo em Leon; Sonham dez mil (o exercito
do Norte) na Gastella Velha; Suchet quarenta mil em Aragão e nas provín-
cias do Este; e Jourdan podia dispor de quinze mil homens, chamados o
exercito do centro para segurança de Joseph e tranquillidade de Madrid. E
a capitulação de Valência tinha privado a Hespanha de quasi todas suas tro-
pas, que tinham adquirido alguma experiência em seus numerosos e desgra-
çados esforços. O governo não tinha dinheiro para apromptar outras forças,
quando mesmo es hespanhoes se resolvessem a secundal-o, os quaes fatiga-
dos d'uma guerra que parecia interminável, abalados pelos revezes continuos,
tinha caido n'um estado de turpor e de desalento. Até o próprio systema de
guerrilhas perdia todos os dias sua influencia geral. (II pag. 43.)
«Os exércitos, porém, inglez e portuguez tinham chegado a uma grande
perfeição, e seu general não querendo permittir que o repouso dos hespanhoes
degenerasse em apathia, decidiu-se a tomar a offensiva, livrando as províncias
do Sul. (II pag. 46.)
«E pouco depois os portuguezes tomaram setecentos prisioneiros perto de
Salamanca, e poucos dias mais tarde Marmont foi completamente derrotado
Jamais arme ne fut en déroute plus complete. (II pag. 65.) •
90) BEAUVAIS (Pere).
E. — Lavie du Vénérable Pere Jean de Britto de la Compagnte de Jesus,
mis à mort aux Indes dans le Madure. Paris, 1746.
(Vida do padre João de Brito.)
Vem annunciada a apparição d'esta obra a pag. 318 do Journal des Sça*
vantSy do referido anno.
91) BEAUVOISIN (Cuevalier OALMET).
E. — Notice sur les nouvelles Cartes d^Espagne et de Portugal. Paris.
92) BEAVER (Capitain PHILIP).
E. — African memoranda relative to an attempt to establish a settlement
on the Island of Bolama, on the Western coast of Afnca in the year i7dt.
London, 1805.
(Sobre a posse da ilha de Bolama, que os inglezes diziam pertencer-lhes.)
93) BEAVES (The late WYNDHAM).
E. — Civil, cmnmercial, politicai and htterary Hisfory of Spain and Por-
tugal. London, 1793, 2 vol.
(Historia de Hespanha .o de Portugal.)
BE 73
Vé-se esta obra citada no catalogo manuscripto da livraria do conde de
Lavradio.
94) BEBRINSAEZ (ANASTASIO FRANCO Y).
(Anagramma de Sebastian Sancbez Sobrino.)
E. — Viage topographica desde Granada até Lisboa. Granada, 1774.
iFoi elle que nos deixou informações acerca da primeira collecçao de ins-
eripções feita em Lisboa por Cenáculo, e que jantamente com Salgado come-
çou o catalogo do monetário então ainda pequeno do dito bispo.» >
95)^ BEGKFORD (WILLIAM).
E. — L Recollections of an excursion to the monasteries of Alcobaça and
Batalha by the author of Vathec. London, Richard Bentley, 1835, S,'' gr. com
o retrato do auctor, 228 pag.
D'esta obra, que pinta admiravelmente os costumes e a phisionomia da
sociedade portuguesa no ultimo quartel do século xvnr, serviu-se Rebello da
Silva para a formação da parte histórica do seu romance Lagrimas e The»
SOUTOS,
II. — Italy with sketches of Spain and Portugal.
Além d'estas duas obras escreveu uma collecçao de cartas relativas a Por-
tugal, das quaes ainda não pude encontrar um único exemplar, mas de que
apparecem extractos na obra abaixo mencionada com o titulo de Memoirs.
De algumas das referidas cartas appareceu uma traducçáo poblicada no vo-
lume xn do Panorama^ e por ella se vé descreverem os costumes e corte de
Portugal interessantissimamente, no reinado de D. Maria I, motivo pelo qual
passo a transcrever algumas passagens.
«Beckford era filho d^aquelle espirituoso William Beckford, que sendo lord
maire em Londres, ^ com resolução rara dirigiu a Jorge III em 1770 as seve-
ras queixas do povo contra o seu governo. Este acto de valor levou os cida-
dãos da capital a perpetuarem a boa memoria do magistrado, erguendo*]he
na casa da camará a audaciosa estatua, que sustenta no braço erguido a fa-
mosa falia, origem da sua popularidade. ^
«Grandes riquezas, e a importância que ellas quasi sempre dão, unidas a
um caracter vigoroso e respeitável, tinham determinado a eleição de William;
e parece que o conceito publico, nunca desmentido, o acompanhou até á se-
pultura, à qual desceu em edade pouco adiantada, deixando por universal
h^deiro de seus immensos bens, reputados em cem mil libras estrelinas de
^ flQbner — Noticias Archeologicas de Portugal, pag. G.
' Loíi Aagusto Rebello da Silva — Panorama, voi. 1S.<>, pag. S66.
^ Â biograpbia c bistoria de suas viagens vem na obra intitulada Memoirs of Wil-
liam Beckford of Fontkilly author of Vatkek. In two volumes, London, Gbarles J. Skeet,
Poblisber 1859, o 1." vol. de 3Sâ pag. e o i.» de 40^ A descripçSo das viagens do Beck-
ford em Portugal, começa a pag. ^11 do 1."* vol.
74 BE
rendimento annoal, a sea filho onico, ainda menor^ qae é o mesmo qne veia
a Portugal em 1787, e veremos estimado dos fidalgos, e bemquisto até dos
plebeus^ graças ao condão, que possuía de saber insinuar-se.
tConcluidos os seus estudos, o mancebo^ notável pela magnificência do
seu trato, e pelos grandes talentos, com que a realçava, foi olhado como um
dos cavalheiros mais distinctos da Grà-Bretanha, e a sua alliança invejada
pelos orgulhosos fidalgos da antiga e poderosa aristocracia.
cA sua escolha não se demorou. Em 5 de maio de i783 Beckford ligava
a sua sorte, e offerecia os seus thesouros á formosa e seductora Margarida
Gordon, filha do conde Aboyne, par de Escócia, e n'este doce enlace abençoa-
do por todas as venturas cifrava o jubilo e a esperança da sua mocidade.
«Bfas os mais felizes e opulentos estão expostos, como os pobres e humil-
des, aos mesmos rigores da fortuna.
cPassados três annos, quando os laços do amor conjugal, se é possível,
estavam mais apertados, a esposa de Beckford foi arrancada de repente aos
extremos de seu marido, e sepultou comsigo no tumulo todas as alegrias, que
o ditoso consorcio havia feito nascer.
«Dando á luz o segundo fructo da sua união, Suzana Eufemia, depois du-
queza de Hamilton na Escócia, de Brandon em Inglaterra, e de Chatellerant
em França, lady Margarida não poude resistir aos effeitos de um parto desas-
troso, e expirou nos braços de seu marido. A magua d*este foi sincera e lon-
ga; e a vista dos legares, que lhe recordavam os serenos dias, tão curtos 1 do
seu amor tranquillo tomou-se-lhe insupportavel. Para não ceder à mtima e
desesperada tristeza, que o consumia, separou-se pois de suas filhas, e deixou
a Inglaterra, procurando o allivio d'ella nas variadas sensações d'uma viagem
extensa. Executou o projecto em i787, e começando pelo reino de Portugal,
aportou a Lisboa, seguindo directamente de Falmouth.
«Apezar do tempo e da inquietação, com que de propósito queria sobre-
saltar-se, a sombra querida da esposa não se lhe apagava da alma, e até no
meio dos prazeres e regozijos o vemos de repente desviar-se para enchugar as
lagrimas, que lhe arranca a suave imagem, sempre viva no fundo do seu peito.
«A carta xxm é uma prova do que dizemos.
« Admittído a beijar a mão da rainha, e a assistir com a corte a um festejo,
o observador interrompe-se de súbito para nos descobrir a nódoa indelével,
que lhe pizava o coração.
«A similhança casual, que se lhe figurou achar entre o rosto da condessa
de Lumiares e o da esposa, que chorava, foi quanto bastou para logo se com-
mover e arrebatar ! Por mais que tente conter-se, foge-lhe dos lábios a ver-
dade; e por fim nem elle mesmo lucta já para a esconder.
«Ouçamol o : O conde de Sampaio, camarista de semana, ajoelhou e oíTe-
receu assim o chá á raiuha. Depois d'esta cerimonia, porque tudo é cerimo-
nioso n'esta corto cheia de ostentação, annunciouse o fogo de artifício, e as
reaes victimas acompanhadas das suas victiraas entraram em outra sala. A
marqueza de Marialva, suas filhas e a condessa moça de Lumiares, vieram
para o aposento, aonde eu me achava, e apossaram-se das janellas. Sete ou
BE 75
oito rodas de fogo, e outros tantos valverdes collossaes começaram a arder,
lançando admiráveis foguetes por todos os lados, com grande alegria da con-
dessa de Lnmiares, que não conta ainda mais que dezeseis annos, e já é ca -
sada ha quatro. A sua jovialidade quasi infantil, e as loiras madeixas que se
atmelavaro, emmoldurando as faces risonhas e vivas de côr, flzeram-me lem-
brar tanto da pobre Margarida, que a sua vista me infundia a mais tema me-
lanc6lia. O estado interessante em que se achava^ ainda augmentou a illusào;
e cmquanto ella sentada, me apparecia por vezes envolta no clarão azulado
dos foguetes, que subiam silvando, e estalavam no ar, eu estremecia como se
um espectro surgisse de repente, e dava por mim com os olhos banhados em
lagrimas.
«Nos fins de 1787 Beckford passou a Hespanha^ e escreveu acerca dVsta
segunda viagem outra collecção de curiosas cartas.
«Depois reeolhcu-se à pátria, e lá residiu, ora em Londres, ora na sump-
tuosa abbadia de Fontill, morada de príncipes, que a sua inclinação ás novi-
dades e ao explendor o decidiram a enriquecer de magnificas obras no es-
tylo gothico da renascença.
«Em 1794 uma accusação grave, que se julga provada, obrigon-o a sair
precipitadamente da Grã-Bretanha, refugiando-se em Portugal, para onde o
attraiam os laços da convivência anterior e as sympathias pessoaes.
«Então é que edificou em Cintra, n'um dos pontos mais pittorescos, a casa
de recreio de Monserrate, sumptuoso capricho d'uroa imaginação, que sabia
crear e desejar.
«O marquez de Marialva estimava o opulento inglez, e em casa d'este fi-
dalgo, tao distincto pelo sangue e pela cortezia, é que elle avaliara o conche-
gé amável e a benevolência intima da hospitalidade portugneza.
«Sabedor da causa que forçara o amigo a expatriar-se, e do processo que
o ameaçava na sua terra, o marquez não poupou diligencias com o príncipe
D. João para o resolver a interpor a sua protecção, recommendando a Jorge III
o negocio de Beckford, e aleançando, como a final obteve do governo britan-
níeo, a promessa do mais completo esquecimento.
«Em testemunho da sua gratidão o estrangeiro pediu licença para oíTerecer
à rainha quatro soberbos lustres de filagranna de oiro destinados a ornarem
a capella real : mas a soberana recusou, entendendo que não ficava airosa a
sua coroa, acceitando de um particular presente de tanta valia. Beckford, ten-
do vivido alguns annos em Portugal, requereu o titulo de visconde^ e pediu
a mão de uma filha natural da casa de Marialva, segundo se cré; porém a sua
qualidade de estrangeiro, e a religião protestante, que professava^ não lhe
permittiam obter nem uma, nem outra coisa.
«O fausto oriental do seu trato pessoal eclipsava jà a grandeza do throno,
e conselheiros menos prudentes insinuaram a necessidade de o constranger
a abreviar a sua residência.
«Seguiuse esta perniciosa opinião, e o opulento proprietário, contra von-
tade, e muito a sen pezar, teve de deixar o paiz, que desejara adoptar para
patría, transportando para elle as suas immensas riquezas.
76 BE
«Voltando para França e Itália, e assignalando por toda a parte a soa pas-
sagem, Beckford recolhea-se a Inglaterra; e em Fontill, onde morava quasi
todo o anno, ostentoa as posses da magniflcencia, e o gosto delicado, com
que sabia utilisar os seus thesouros.
«Bekford, antes de cerrar os olhos, ainda teve a satisfação de receber em
sua casa a neta de D. João YI, a rainha D. Maria II, quando veiu a Londres
aguardar que a espada dos portuguezes fieis à sua causa, lhe restituíssem a
coroa dos seus reinos usurpados
«A abbadia de Fontill, depois da morte do proprietário, veodeu-se em haa*
ta publica; e um capitalista, M. Farquhar, foi quem a arrematou por trezen-
tas e quarenta mil libras esterlinas.
«No meio dos primores d'arte, que ennobreciam o seu palácio, os objectos
que recordavam a sua longa residência em Portugal occupavam o primeiro
logar; e na sua instructiva conversação eram frequentes as saudades, com que
o faustuoso inglez confessava ter sido constrangido a separar-se do nosso
brando cUma, e dos lindos olhos, que o levariam a esquecer a pátria, se mes-
quinhas invejas lhe não cortassem os desejos, e não o afastassem para sem-
pre.» *
GARTA I
PaSSBIO a PAI.BAYA
30 de maio de 1787.
«Home induziu*me, bem contra minha vontade, a acompanhal-o na sui
sege portugueza à residência dos filhos bastardos de D. João V, em Palbavi,
em vez de proseguir as minhas costumadas excurções pela beiramar. É de-
testável a estrada até aquelle magnifico jardim, nem conheço outra mais in-
festada de mendigos, cães, moscas e mosquitos. A quinta pertencente ao mar-
quez de Louriçal fica n*uma cova, e o basto arvoredo, que a cerca nem pas-
sagem deixa á viração do ar; por isso eu abafava á sua sombra.
«Um grande espaço plano da banda da frontaria da casa de campo está
eccupado com tristonhos labyrintos de murta tosquiada; de que surgem altas
pyramides, no desprezível estyio hollandez do, que foi plantado pelo rei Gui-
lherme em Kensington, e arrancado ha annos pelo rei Jorge III. Para lá does-
ta brenha intrincada ha extensos carreiros de perenne verdura sombria, litte-
ralmente, e com grande propriedade denominados ruas, mais apertadas, com
maior formalidade, e não menos pulverulentas do que High-Holbom. Tomei
d'ahi para uns canteiros de hortaliças e plantas aromáticas de regadio, fedia-
das por uns caniçados muito limpos, que engrinaldavam mui perfeitas e vi-
rentes rosas, do todo livres de insectos epolilha, dignas de se espargirem nos
leitos, ou metter no seio de Lais, Aspasia ou lady... Bem sei eu o enthusiasmo»
com que toda a pessoa de bom gosto se deleita n'estas amáveis flores: e qnan-
* VfúWam Beckford foi viajante instroido, observador penetrante, e escriptor nata-
ralissimo edesaifectado. Luii Augasto Rebello da Silva, Lagrimas e Thesouros, p&g. i?.
Nanca pude vér o Vathec, tudo porém, até mesmo algumas palavras de lord Byron m»
inclioam a acreditar ser nm romance.
BE 77
to a miado e em versos harmoniosos foram pelo Ariosto celebradas. E não
tem lady... um camarim pintado todo de rosas? Por ventara não as esfolha
no sen banho, e de nenhuma^ outras flores enfeita os seus ídolos ?
«Quem lhe contestará esse direito?
«Em quanto eu estava poeticamente embevecido nas rosas, Home travou
conversação com um tal mestre de picaria anglo-portuguez, da casa de suas
altecas bastardas, o qual trazia sua cabelleira mui composta e bem polvilhas
da, lustroso espadim de punho de prata, toda a andaina do fato de côr car-
mezim, e era dotado de uma guapa e bojuda pança.
«Com a mão direita na abertura do colete, e a outra em acção de tomar a
pitada, encarecia a piedade, temperança e pureza de vida de seus augustos
amos, que viviam retirados do mundo, em perfeito estado de socego, aborre-
cendo companhias profanas, nem sequer olhando para as mulheres.
«Curioso de vér a vivenda d'estes sisudos régios enxertos, entrei no palá-
cio: nem um insecto se bolia, nem se ouvia o mais leve susurro. Os aposentos
príncipaes consistiam n'uma série de salas de tectos altos, magestosas, e for-
radas uniformemente de damasco carmezim escuro: o topo de cada uma era
coberto por um pezado docel de velado lavrado: da direita e esquerda esta-
vam enfileiradas immensas poltronas dos mesmos materiaes: nada de espe-
lhos, de pintaras, doirados, ou decoração, nada mais do que monótona tape-
çaria: até as mezas tapavam pannos de veludo franjados, no gosto d'aquelles
qoe as nossas viuvas ricas usavam antigamente para arreiarem seu tocador.
Basta a vista das mezas assim tapadas para fazer suar a gente; e não posso
atinar como o diabo tentou os portuguezes a buscar moda tão sediça.
«Este gosto de vestir saias ás commodas e bancas é geralmente havido
aqui por bonito, ao menos nos aposentos reaes. Em Queluz nenhuma mesa
de jogo ou de jantar escapou; e suspeito que não poucos vestidos velhos da
corte foram desmanchados para fornecerem aquelles atavios; ha de todas as
cores, lisos ou floreados, com ramagens campezinas, ou esplendidamente re-
camados. Não assim em Palhavã, onde só predomina o carmezim, tingindo
sem rival todos os objectos com a sua regia côr opaca. Arrumadas à parede
entre duas das sobreditas mezas, estão duas poltronas para suas altezas, e de-
Ihinte uma ordem de cadeiras para os reverendos em Cbristo, que de tempo
a tempo tem a honra da admissão.
«Quanto pôde a força da educação ! Que exforços não demandaria da parte
das aias, escudeiros e camaristas abafar todas as vividas e generosas sensa-
ções no animo dos príncipes, que educavam, violentar a natureza humana,
SQjeitando-a aos hábitos d'uma realeza sem poder! A magestade sem dominio
é de todas a carga mais pezada. Um soberano achará em que se occupe; tem
a escolha do bem ou do mal; porém, priucipes como os Palhavã, sem mando,
nem influencia, que nada mais tem a manter do que uma imaginaria gran-
deza, bocejarão com o espirito hebetado, e no andar do tempo se mostrarão
tio cerimoniosos e inanimados como as pyramides de buxo enfezado em seus
jardins. Quanto mais felizes foram os rapazes, que o rei João entendeu, que
não devia reconhecer, e que não são pouco numerosos, porque o piedoso mo*
78 BE
narcha «largo como os seus domínios, espalhava a imagem e simiihanca do
seu creador peia terra.* Talvez que esses^ emquauto seus irmãos bocejam
inertes debaixo de enferrujados dóceis, passem a vida zangarreando em suas
violas nos ranchos vadios e descuidadosos passeios ao luar, ou saracoleando-
se no alegre fandango, ou gozando do profundo somno, das iguarias cam-
pestres, e das galhofas, revestidos do caracter de curas d'alguma festiva po-
voação rural.
«Folguei de vér-me fora do palácio: o silencio, a luz fraca desalentavam-
me, e n'uma atmosphera restricta, impregnada do cheiro de alfazema quei-
mada, quasi desfallecia. Estou sequioso de ar. Nem é coisa que mova espanto;
pôde uma pessoa achar-se tão bem na cama com um esquentador, como den-
tro d'uma sego portugueza com o corpulento Home, que ostenta a volumosa
barriga, ataviada n'esta estação com um colete de brilhantes lantejoulas. For-
çoso me é partir para Cintra, ou morrer abafado.»
CARTA II
SAmmUÊ. BOTAMICO — AÇArATAS BO PAÇO
31 de maio de 1787.
«Debalde chamo pelas nuvens, que me cubram, e por nevoeiros, que me
envolvam. Não podeis formar adequada idéa do continuo deslumbramento»
que nos offusca a vista, n'este afamado clima. Lisboa é de todo o mundo o
sitio mais apto para- se exclamar: — Abriga-me da pomposa claridade do dial
Mas achar o abrigo não é coisa fácil. Nem aqui ha mattinhas de pinheiros»
como nas clássicas quintas italianas, nem os trémulos choupos efolhudos cas-
tanheiros^ que cobrem as planícies da Lombardia. O arvoredo nos arredores
mais próximos d'esta capital, consta, com bem poucas excepç(5es, de larangeí-
ras :inãs e cinzentas oliveiras.
«Estava eu determinado a não bolir pé fora da sombra do meu toldo; mas
de tarde, tendo afrouxado algum tanto o extremo ardor do sol, o velho Home
(que parece que ainda Jhe não nasceu o dente do siso) conseguiu mover-me
a passeiar no Jardim Botânico, onde não é raro encontrar certos animaes de
pouca edade, e do género feminino, chamados em portuguez açafatas, especM
entre a camareira e a dama de honor. A rainha fizera o favor de levar com-
sigo para as Caldas, as mais feias; e as que ficaram tem rasgados olhos pre-
tos, em que scintíUam amorosas tendências, uma exuberante trança de ca-
bello azevichado, e beicinhos da côr das rosas. Tudo isto não constituo uma
belleza perfeita, nem eu quero dizer isso, só quero que fiqueis sabendo que
as nymphas de que fallo, são as flores do rancho da rainha, e que ella tem na
sua comitiva, pelo menos, quatro ou cinco dúzias mais d'essas damas dota-
das de boccas grandes, olhinhos franzidos e tez morena.
«Não me achando assaz habilitado para florear cumprimentos em língua
portugueza, dirigi principalmente a conversação a uma irlaodcza de olhos
azues, amável rapariga de quinze a dezeseis annos, recem-casada com um of-
fícial das alfandegas de sua magcstade. O marido foi a uma romaria a Nossa
Senhora do Cabo, o a senhorita espaneja-se no Jardim Botânico com as da-
BE 79
•
mas do paço e mn rancho de sopranos, qoe Ibe ensinam a gargantear & a
fallar italiano; bem digna é de se lhe ensinar o que cada mn sabe: o sea ca-
belJo d'ama mimosa côr de castanha e as suas bellas feições e formas gre-
gas, fazem notável contraste com a pelie morena e madeixas pretas das suas
companheiras; parece um ente sobrenatural, que se evade ao longo das ala-
medas, deixando muito atraz os bojudos sopranos, e as mal amanhadas aça-
fatas em pasmaceira á vista da sua agilidade.
«O jardim é bastante agradável, situado n*uma eminência, cheio de arvo-
res frondosas carregadas de flores; acima das suas mais altas copas eleva-se
um soberbo e espaçoso terraço com balaustradas de mármore de lustrosa al-
vora e d'am singular molde oriental.
«N'este paiz desenham sem escolha, mas o lavor da obra é mui puro e per-
feito. Nunca vi balaustres melhor cinzelados do que os da escadaria que con-
duz ao terraço grande.
«Esta ampla superOcie é dividida em repartimentos oblongos de mármore
contendo variedades, em pouca abundância, de heliotropios, aloés, gerânios,
rosas da China, e de plantas mais communs das nossas estufas: tão pezadas
divisões produzem desagradável elTeíto ; fazem lembrar um cemitério, e cau-
saram-me uma impressão como se os habitantes defuntos do palácio adjacente
brotassem do chão na forma de espinheiros, figueiras da índia, iouçâos aze-
vinhos e pimenteiras.
•O terraço terá mil e quinhentos passos de comprido; três copiosas fontes
lhe dão um ar de frescura bastante augmentado pela ondulação de grandes
acácias, expostas em virtude da sua situação elevada a toda a brisa, que so-
(ura da foz do Tejo, cujas bellas aguas azuladas se descobrem com um bom
efièito atravez da movediça ramagem.
«A senhorita ingleza e o vosso íiel correspondente correram como creanças
ao longo do terraço, e, quando fatigados, repousaram á sombra d'um grupo de
gigantes aloés brazilicos, junto d'uma das fontes. A porção fusca da compa-
nhia de passeantes separou-se do seu principal guarda, um guapo clérigo
moço, para observarem todas as excursões e descanços de nós outros gente
branca.
•Era já tarde, e havia alguns minutos que se tinha posto o sol, quando me
despedi. Os olhos pretos e os olhos azues parecem-me horrivelmente ciosos
uns dos outros. Receio que a minha juvenil e espirituosa companheira tenha
sefliido alguma coisa por ter sido mais esperta que as açafatas, e que a belis-
cassem com alguns remoques, quando a companhia se recolhesse pelos escu-
ros e intrincados passadiços, que dão serventia do paço d' Ajuda para os jar-
dins. Ruim lembrança deixar assim uma bella e jovem creatura em mãos de
altivas 6 despóticas mulheres, que tão inferiores lhe são na polidez e em for-
mosura Aposto que teriam o especial cuidado de encher os ouvidos do ma-
rido com suspeitas menos caridosas, do que as inspirações da Senhora do
Gabo.*
80
BE
CARTA IIÍ
Knpo BO JktJíiAm\m — Abcos wilb A«uiks IjIvbiuí — Mabqui<* ■*■£ Mabialva
3 de junfid de 1787.
t Fomos por especial convite ao real convento das Necessidades, perten-
cente aos congregados, vér a cerimonia da sagraçao do bispo do Algarve, pa-
dre d'esta casa; estivemos collocados defronte do altar n'ama tribona ata-
lhada de figaròes de lustrosos trajos, pessoas relacionadas com o novo pre-
lado. O pavimento estava alcatifado com ricos tapetes e cochins de velado,
onde se podia ajoelhar muito bem; mas, nao obstante esta commodidade pen-
sei que a cerimonia nunca acabava. Havia um excessivo explendor de crozes,
thuribulo?, mitras e báculos em continuo movimento, porque vários bispos
assistiam com toda a sua pompa.
«A musica, que era extremamente simples e pathetica, parecia conunover
profundamente os Gdalgos, que ficaram ao pé de mim., pois que mostravam
seoiblantes compungidos e batiam nos peitos, como quem se considerava que
a maior parte d'e]les são miseráveis peccadores. Sentindo-me opprimido pelo
calor e pelo sermão, effectuei a minha retirada da explendida tribuna sorra-
teira e caladamente, e passei para o jardim por alguns corredores estreitos,
tão quentes como tubos de chaminé. Mas isto era somente mudar de uma
scena de formalidades para me encerrar em outra. Eu almejava por ar, e á
fim de gozar d'este benefício evadi*me por uma portinha para o silvestre e
despejado valle de Alcântara. Tudo ahi estava solitário, ouvindo-se o zumbido
das abelhas, e as frescas virações sopravam da entrada do Tejo por cima das
copadas larangeiras dos pomares. O susurro refrigerante da agua nas azenhas
parecia dar^me vida nova.
t Arrostei com o ardor, e encaminhei-me para aquella parte do valle, que
atravessa o enorme aqueducto, qae tantas vezes tendes ouvido mencionar co-
mo o edifício mais colossal do seu género na Europa. Tem uma só ordem de
arcos ponteagudos, e o principal, galgando um rápido ribeiro, mede quasi
250 pés do altura.
tMas n*este aqueducto é a vastidão, e n'uma fieira de arcos, que infdnde
assombro. Sentei-me no fragmento d'um penedo debaixo do arco grande, e
olhei para aquella abobada là tanto acima de mim com certa impressão de
respeito não de todo desacompanhada de temor, como se o edifício, que ea
contemplava fosse obra d*um ente incommensuravel dotado de força gigante,
a quem desse a teneta de andar saracoteando n'essa manhã por cima da sua
construcção, e por capricho bruto me reduzisse a impalpáveis átomos. ^
«Perto do sitio, onde me sentei, havia alguns cerrados cheios de cannas
da altura de onze ou doze pés, cujas folhas viçosas, agitadas pela viração, fa-
ziam perenne susurro; gostei d'este murmúrio, que me acalentava n'um es-
^ Na Historia da Academia das Sciencias de Paris ^ anno de 177â, S.*^ parte, vem o
plaoo do Aqueducto ddS Aguas Livres. Exisle um oulro plano levantado pelo engenheiro
hydraulico Josoph Thcrcse Michelolli.
BE 81
Udo de repouso bem necessário depois das fadigas de trepar por alcantis e
precipicios.
«Logo que recolhi do passeio, Home levon-me a jantar com elle, e depois
ao palácio de Marialva afim de pagar uma visita ao grão-prior. O pateo cheio
de mesquinhas seges, recordou-me a entrada d'uma casa de posta em Fran-
ça; lembrança que não foi desvanecida pelo aspecto de volumosos montes de
estrume, por entre os quaes não andamos pequeno espaço até à escadaria
prmcipal, tendo empeçado n'uma porca que alli retouçava com uma numero-
sa progénie fugindo por entre as nossas pernas, com queixosos grunhidos.
«Esta bulha annunciou a nossa chegada, vindo receber-nos o grao-prior,
e seu sobrinho, o abbade velho, e um tropel de criados; todas as principaes
famílias portuguezas são infestadas de bandos d'estes, em geral, desfavoreci-
dos dependentes, e ninguém mais que os Marialvas, que distribuem diaria-
mente trezentas rações, pelo menos, de arroz e outros comestíveis a tão ávi-
dos devoradores.
«O grão-prior desataviado de seus hábitos prelaticios fez as honras da casa,
e nos conduziu promptamente a todos os aposentos, e ao picadeiro, onde o
marqnez velho, seu irmão, posto que de edade bastante avançada, ostenta os
primores da mais consummada picaria. Parece ter decidido gosto pelos reló-
gios de parede, bússolas e pêndulas; contei nada menos de dez no seu quarto
de cama, quatro ou cinco em plena oscillação dando estrondosos assobios;
tocavam e davam horas, porque eram as seis em ponto, quando eu seguia o
meu conductor subindo e descendo meia dúzia de lanços de escada até uma
sala forrada de damasco desbotado.
«No centro d'este antiquado aposento havia uma mesa atulhada de rari-
dades postas alli por ostentação; curiosas obras de conchas, crucifixos de
marfim, modelos de navios, xairéis bordados de pennas, e Deus sabe quantas
coisas mais, tudo recendendo a camphora d'um modo capaz de tombar um
homem.
«Quando nós olhávamos com grande applicação tapando o nariz com os
lenços, appareceu o conde V... vice-rei do Algarve, de grande uniforme verde
e agaloado, e de pernas largas fazendo tregeítos, como a quem tinha aconte-
cido algum accidente desagradável.
«Comtudo estava na melhor disposição, e era o novo bispo, que com muita
complacência recebeu, assim que se fez conhecer, os nossos cumprimentos.
«A conversação sustentou-se coxeando intercalada de variedade de idio-
mas, hespanhol, italiano, portuguez, francez e ingiez, todos por seu turno em
rápida suecessão. Os assumptos doesta salgaihada polyglota foram as magni-
ficências e piedade do rei D. João V, o pezar peU extincção dos jesuítas, e o
inverso pela morte do marquez de Pombal, á memoria do qual o bispo con-
sagra pouco menos que a execração. Este fluxo de eloquência era acompa<-
nhado pelas mais extravagantes e ridículas visagens, que eu tenho observado,
com uma chuva de perdigotos, porque o vice-rei tendo continua humidade de
bocca baba-se a cada syllaba. Comtudo não se deve decidir de salto pelas ap-
parencias exteriores. Este personagem babão e manhoso é um distincto esta-
TOMO I 6
Si BE
dista e hábil empregado, preeminente entro os poucos, que toem prestado
serviços e dado provas de vigor e capacidade.
«Para evadir-me ás enfadonhas narrações, que me escandeciam os ouvi-
dos, refugiei-mo ao pó â'um cravo, ao qual cantava, fazendo ao mesmo tempo
acompanhamento o Polycarpo, um dos primeiros tenores da real capella. Meio
corridas as cortinas da porta d'um escuro quarto contiguo, deixaram-me en-
trever um transitório vislumbre da pessoa de D. Henriqueta de L..., Irma de
D. Pedro, adiantando*se n'um momento, e retirando-se logo no outro, dese-
josa de approximar-se e examinar as nossas figuras estranhas, porém não se
aventurando a entrar na sala na ausência de sua mãe; pareceu-me uma inte-
ressante menina com olhos d'uma languidez feiticeira; do que oiço dizer a seu
respeito só divisei uma figura pallida, evaporavel como as que a phantasia
nos finge ás vezes em sonhos. Um grupo de amáveis creanças, suas irmãs,
creio eu, sentavam-so no chão a seus pós, similhando génios occultos parcial-
mento nas dobras dos cortinados n^alguns bellos quadros allegoricos de Ru-
bens ou do Paulo Veronense.
«Aproximada a noite brilharam as luzes nas torrinhas, terrados, e por toda
a parto da singular mistura, de que ó composto este palácio com parecenças
de mourisco; metade da familia occnpava-se a rezar a ladainha, outra metade
com venetas e brincos, talvez de natureza pouco edificante; as monótonas vi-
brações da guitarra acompanhadas do ameno e brando susurro das vozes fe-
mininas entoando modinhas, também formavam uma extraordinária, posto
que uão desagradável combinação do sons. Escutava eu com avidez, quando
o darão de archotes o a bulha d'agua batida dos remos nos attrairam ás va*
randas a tempo do prcsencear uma procissão, que de maravilha se terá visto
desde o tempo do Noé; duvido que a sua arca abrangesse uma coUecção de
animacs mais hotcrogenca do quo saiu d'um escaler do cincoenta remos,
d'onde desembarcaram o velho marquez de M... o seu filho D. Josó, acompa-
nhados d'um enxame de músicos, pootas, toireiros, lacaios, frades, anões e ra-
pazes de ambos os sexos, phantasiosamcnte vestidos.
«Parece que todo o rancho voltava d'uma romaria a certo Santo da outra
banda do Tejo.
«Primeiro saltou um anão corcovado, assoprando uma pequena e chíadora
trombeta, logo em seguida um par de capitães de guias apparentemente com-
mandados por um personagem fanfarrão, velho e burlesco, de uniforme ap-
paratoso, e que mo disseram ter representado a parto d*uma espécie de bri-
gadeiro geral n'uDia casta de ilha: se fosse a Barataria, Sancho o teria cedo
despojado de cargo, porque, a acreditar a chronica escandalosa de Lisboa, de
raro apparece um truão mais impudente, parasita e ratoneíro.
«Logo nos calcanhares d'eslcs vinham com aíToclada gravidade um frado
de aspecto selvagem, alto como Sansão, e mais dois capuchinhos pezadamento
carregados, ignoro com quo previsões; apoz dos frades um boticário muito
magro e descorado, lodo vestido de preto, completamento correspondendo em
gestos e trajo á íigura, que cada um imagina do sr. Apunlador no Gil Braz;
seguia-o um oralc improvisador, que nos disparava um esguicho de versos ao
BE 83
passar debaixo das sacadas, a que estávamos encostados. Difflcultosamente
se podia onvir no confoso tumulto de aguadeiros e criados de servir com
gaiolas de pássaros, lanternas, cabazes de flores, caminhando aos saltos, com
grande deleite d'um bando de rapazes, que para melhor arremedarem os ha-
bitantes dos céus traziam azas resplandecentes e ondeantes pegadas aos hom-
bros rozados. Alguns d'estes anginhos de comedia, eram extremamente lindos
e tinham o cabello encaracolado com muita elegância.
«O marquez velho é loucamente amigo d'elles: com elle estão noite e dia,
e assim participa de todas as vantagens, que uma constituição physíca deca-
dente pôde tirar do fôlego juvenil e ínnoxio; o patriarcha dos Marialvas tem
segoido este regimen ha muitos annos, e também alguns outros, que serão
custosos de acreditar. Tendo uma facilidade mais que romana para eugulír
immensa profusão de golodices, e dando sempre campo a novo provimento, é
enorme a comida, que eu vi estendida na mesa para elle. Niuguem me acre-
ditaria em Inglaterra, se pelo miúdo a referisse; dé-se largas á imaginação
sobretudo o que pôde conceber-se em matéria de gula, e nenhuma hypothese
excederá a realidade.
«Logo que todo o conteúdo, quer do reino animal, quer do vegetal, exis-
tente no escaler principal, e em mais três ou quatro lanchas da comitiva, foi
depositado nas respectivas tocas, cantos e poleiros, recebi convite do velho
marqaez para participar d'uma merenda no seu aposento. Estou bem certo
que nada menos de emcoenta criados faziam o serviço da meza; e além de
meia dúzia de tochas, que eram levadas por estado adiante de nós, para mais
de cem vellas de cera estavam accesas ao longo das camarás, de mistura com
perfomadores e caçoilas, que diffundiam mui agradável aroma.
«Achei o dono de toda esta magnificência mui cortez, lhano e affavel. Ha
uma arbanidade e génio alegre expresso no seu olhar^ voz e gestos, que im-
mediatamente predispõe a seu favor, o justifica a geral popularidade de que
goza, e o affectuoso nome de pae, com que a rainha e real família frequente-
mente o tratam. Todas as graças da coroa se tem accumulado na sua pessoa,
tanto pelo actual, como pelos precedentes soberanos, fluxo de prosperidade
nao interrompido nem mesmo durante o grande visiriaio do marquez de Pom-
bal. «Procedei, como julgardes mais acertado com toda a outra nobreza (cos-
«tomava dizer o rei D. José ao seu formidável ministro) mas livrae-vos de in-
«trometter-vos com o marquez de Marialva.»
«Èm consequência doesta decidida predilecção o palácio de Marialva veíu
a ser em muitos casos uma espécie de ponto de reunião, um asylo para os
opprimidos, e seu dono em mais d'uma occasião um escudo contra os raios
de tão poderoso ministro. As recordações doesse tempo parece estarem ainda
vivas, porquanto o cordeal respeito e filial affecto, que eu vi tributar ao velho
marquez, são na verdade notáveis: os seus mais leves movimentos de olhos
eram obedecidos, aquelles, a quem se dirigiam, mostravam* se gratos c anima-
doá; seus filhos, o marquez de Tancos e D. José do Menezes, nunca se chega-
ram a ofTcrecer-lhe alguma coisa sem ajoclliarem; o condo do Vilia Verde,
herdeiro da grande casa de Angeja, c o vice- rei do Algarve, ambos de pé no
84 BE
circujo, qae se formara à roda d'elle, recebiam uma palavra saa benigna oa
afTavel com o mesmo fervoroso agradecimento dos cortezaos, que dependem
dos sorrisos e favor de seas soberanos. Por muito tempo me lembrarão as
gratas sensações, de que me penetrou esta scena de reciproca benevolência;
aOgurouse-me um escambo de amigáveis sentimentos, benevolência dispen-
sada sem artificio nem affectação, e protecção recebida sem maligna ou ab-
jecta vileza.
«Quão preferível é um governo patriarcbal doesta natureza às deslavadas
theorías, que sophistas pedantes desejariam estabelecer, e que, se fossem avan-
te os seus interesseiros e atheistas delírios, solapariam os melhores e mais se-
guros esteios da sociedade ! Quando os pães deaarem de ser venerados por
seus filhos, e se não conhecerem os sentimentos de agradecida subordinação
n'aquelles de edade ou condição, que carecem de amparo e auxilio, em breve
os reis cessarão de reinar, e as republicas de ser governadas pelos conselhos
da experiência; a anarchia, a rapina, a camagem percorrerão a superficie da
terra, e a morada dos demónios será transferida do inferno para o nosso des-
venturado planeta. 1
CARTA IV
PbocissIo bo Corpo db Dbijs ba PAimiABCHAi.
7 de junho de Í7S1.
«Atroadores repiques de sinos, bellicoso arruido de tambores, e agudos
toques de trombeta me puzeram fora da cama ao alvorecer o dia. Segundo o
grau de devoção, que possuis, acho que não ignoreis que é hoje o dia da festa
do Corpo de Deus. Estava meio disposto a ficar em casa folheando uma cu-
riosa collecção de Chromcas Portfiguezas, que o grão-prior d'Aviz me man-
dara; porém tinha ouvido maravilhas taes da esperada procissão, que não
pude resistir a tomar algum incommodo afim de presenceal-a.
«Todos se haviam posto em movimento, antes que eu saisse, e as ruas do
subúrbio, onde habito, bem como as da cidade, que segui encaminhando-me
á Só patriarchal, estão inteiramente desertas; parece que passou um ramo de
peslo pela grande Praça do Commercio e os estabelecimentos mercantis e fis-
cacs da Bolsa e Casa da índia, porque até os vadios, os varredores das ruas,
c mesmo os mendigos na ultima phase da decrepitude abalaram manquejando
para o logar da scena. Só ficaram nas ruas desamparadas uns poucos de mi-
seráveis cães vagabundos e estropiados, e não vi nas janellas individoos hu-
manos, á excepção de meia dúzia de creanças tinhosas choramingando, por-
que as deixaram cm casa.
«O borborinho da multidão apinhoada á roda da patriarchal, ouvia-se
muito antes do lá chegar, avançando difflcultosamente entre as fileiras dos
soldados formados em ordem de batalha. Ao voltar um angulo escurecido pe-
la sombra dos altos edificios do Seminário contíguo á Patriarchal descobrimos
as casas, lojas e palácios, convertido tudo em pavilhões, forrados d'alto abaixo
de damasco encarnado, tapeçarias, cobertores de seda, e colxas de franjas re-
luzindo em oiro. Julguei acliar-me no meio do acampamento do grão-mogol,
tão poin[)osameute dcscripto por Bernier. £m especial a frontaria do templo
BE 8S
psUva armada com toda a sumptuosidade; esta fachada levanta-se d'um es-
paçoso adro de lanços de escadaria, que estava coberta de archeiros da guar-
da real com suas ricas fardas multicôresi e d' uma infinidade de padres tra-
zendo luzidas e diversas bandeiras de seda pintada; rebanhos de frades ma-
cilentos, de hábitos brancos, pardos e pretos, vinham saindo de envolta e sue-
cessivamente, como bandos de penis levados ao mercado.
^ tDemorando-se fastidiosamente esta parte do espectáculo religioso, abor-
reci-me, e deixando o balcão, onde estávamos mais à vontade, entrei na egreja.
Gelebrou-se missa pontifical com pompa magestosa; subiam ao ar nuvens (le
incenso, numerosos cirios faziam rutilar mais os diamantes da custodia ele-
vada pelas tremulas e devotas mãos do patriarcha.
«Antes de acabada a ceremonia ganhei a minha janella para gozar da ple-
na vista da procissão do Sacramento. Tudo era espectação e silencio no povo.
«A guarda real se enfileirou de ambos os lados do adro em frente da poria
da egreja; e por fim um choveiro de ftôres annunciou que se aproximava o
patriarcha trazendo a custodia debaixo d'um rico palio cercado dos grandes
da corte, e precedido por uma longa serie de personagens mitrados, de mãos
postas em acto de adoração, com suas vestes purpúreas roçando pela terra,
trazendo os seus assistentes os báculos, e outras insígnias da dignidade prela-
ticia.
«A procissão desceu vagarosamente os degraus do adro ao som dos cânti-
cos e do rebombo distante das salvas d'artilheria, sumíu-se n'uma larga rua, to-
da decorada de luzidas armações, e deixou-me os sentidos enleíados, e os olhos
offnscados, como se acabasse de despertar de uma visão de esplendor celes-
tial. N'este momento tenho a cabeça azoinada, e os ouvidos a zunir com a bulha
confusa dos sons, sinos, vozes, echos dos tiros de canhão prolongados pelos
montes e diffundidos pela superfície do Tejo.»
CARTA V
•asa »B campo B BAXQCKTK DK affn. S # # # — .% D0XXBL1.A TRACilCA
11 de junho de 1787.
«Hoje fomos convidados a jantar no campo, na quinta d'um cavalheiro, que
tem uma carga de nomes, os quaes pronunciados com o mau accento portu-
guês soam como uma expectoração.
«O nosso agazalhador hospedeiro é irlandez de origem; gaba-se de uma es-
tatura de 72 poUegadas, proporcioaal largura de costado, rosto vermelho, per-
nas hercúleas, e todos os attributes exteriores, pelo menos, d'aquella raça em-
prehendedora, que não poucas vezes alcança a fortuna de cazar com a rique-
za. Haverá um anno ou dois que se arranjou com uma opulenta herdeira bra-
ziliense, e acha-se agora senhor de vastas propriedades, e de uma nedla e aca-
çapada mulher com uma cabeça, que arremeda a de Holophemes das tapeça-
rias antigas, e uns hombros que representam muito bem a figura de grandes
pratos. Pobre creatura! Para maior certeza de que não é nenhuma Yenus nem
Hebe, tem beiços grossos e voz de machacaz, e notei-lhe algumas disposições
para bydropica; com tudo os seus risos são frequentes e esperdiçados; ainda
agrada ao marido com a maior perseverança.
86 BE
<Mr. *«# é um caracter singular, não acceita emprego civil ou militar, c
blazona de certa franqueza mordaz, que segundo eu penso hade desagradar
muito n*este paiz, onde a independência, quer de bens da fortuna, quer de opi-
nião, ó raras vezes ou nunca tolerada. Este cavalheiro gosta de ostenta^ na
mesa; sessenta pratos se me afigurou que seriam pelo menos, oito d'elles de
fumegantes assados, alem de toda a casta de guizados á franceza, á ingleza, e
à portugueza. A sobremeza apresentava-se como um modelo de fortificação; a
principal eropada-torro afoito-me a dizer que tinha três pés d'altura perpendi-
cular. A companhia não correspondia nem no numero, nem na consideração
ao esplendor do banquete. Senão tivesse ficado ao pè de mim, por felicidade,
miss Still e Bezerra, eu teria morrido de enfadamento.
«Uma sisuda donzelia com portentosas sobrancelhas e olhar, que exprobava
à porção masculina da assembléa a sua desattenção, era a única dama do paço,
que Mr. S *## havia convidado.
«Eu esperava achar-me com todo o rancho do meu conhecimento tomado
no Jardim Botânico, e acompanhal-o pelas vinhas e pomares d'esta casa de
campo; mas ai de mim, que não estava fadado para tão recreativa excursão!
A trágica donzelia, que me constou ter sido infeliz nas suas temas inclinações,
aproveitou-so do meu braço, o nunca o desamparou em um longo passeio pe-
las extensas fazendas de Mr. S *## Conversámos em italiano, e dissemos aos
pássaros que cantavam, aos regatos que susurravam, lindíssimas coisas n'uma
prosa estonteada, rapsódia de trechos de operas e cantatas, do AmhUas de
Tasso, e do Adónis de Maríni.
«O sol acabava de dourar com seus últimos raios os distantes rochedos de
Cintra; o ar tomava^se balsâmico; nas veredas por entre as vinhas medrava
a herva viçosa, e miiliares de flores reanimavam-se com o rocio da tarde. Dei-
xando á senhora o trilho estreito, que dá serventia pelo meio d'estes domínios
ruraes, caminhei a seu lado por uma regueira bem guarnecida de ortigas,
acanlhos, e pileíras anãs, arranhando-me o esfolando-me a cada passo. Esta
penitencia, e a lograçào, que eu sentia mais vivamente, tiraram-me um tanto
do meu génio jovial; pezava-me ter passado uma tardo deliciosa em tão mes-
quinha sociedade, o ter lacerado as minhas pernas para tão pouco resultado.
Quanto eu teria gozado passeando com a joven irlandeza por estes odoríferos
atalhos entre festões de folhagem veccjante, e de vides pampinosas, não pre-
zas a ramos esgalhados, ou a tanchões como em França e na Suissa, mas tre-
pando por leves cannas a oito e a dez pés de altura.»
CARTA VI
CO^ÍVKXTO DK BlSl^KII — NOITE DA VBSPBR.% DK lífA^TO AXTO^O
i2 de junho 1787.
«Passámos o dia em Bclem inteiramente como em reunião de família com
toda a legião dos Marialvas. Alguns reverendos padres^ não sei de que com-
munidade, lhes tinham mandado uma immensa quantidade de sopa muito es-
pessa, glutinoza e azeitada, porção da qual, segundo parece, costumam os de-
votos engulir na véspera de Santo António.
BE 87
«Depois do uma refeição, qac foi servida debaixo de am toldo estendido so-
bre nm dos terraços, logo qae o pude fazer airosamente, escapuli -me da roda
dos fidalgos e senhoras, dos anões, frades, bobos, toureiros, o capellàes, para
visitar o próximo mosteiro. Subi os grandes lanços construídos a expensas da
infanta D. Catharína, rainha viuva de Carlos II, e tendo percorrido os claus*
tros de D. Manuel examinei a livraria, que está longe de achar-se na melhor
ordem e aceío. ^
«Os espaçosos e altos claustros apresentam uma notável extensão de arca-
das, que, postq não sejam do mais puro estylo, attrahem a vista pelos seus or-
natos d'arabescos delicadamente lavrados, e pela phantastica côr arruivada da
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pedra. O dormitório, para o qual tem serventia uma linha quasi interminável
de eellas, mede em comprimento 500 pés folgados. Cada janella tem seu com-
modo descanso, onde os monges se encostam á vontade, e desfructam a vista
do rio.
«N'uma piequena e escura casa dethesouro, que por uma escada de caracol
communica com aparte do edifício, que a tradição designa como habitação do
rei D. Manuel, quando em certas épocas religiosas do anno se retirava a es-
te recinto, mostraram-me à luz de velas algumas alfaias extremamente curio^-
sas, e em especial uma custodia feita em 1506 do mais puro ouro de Quiloa;
nio ha coisa mais bella como specimen do bem trabalhado lavor gothíco do
que esta complicada peça esmaltada, e com mui leves esteios e pináculos cin-
zelados, tendo os doze apóstolos em seus nichos debaixo de pavilhões, forma-
dos por milhares de voltas e ramificações.
«Doeste sombrio recanto fui conduzido á egreja, uma das maiores de Por-
tugal, vasta, magestosa e phantastica como o interior do templo de Jerusalém,
segundo o tenho visto representado n'algumas antigas Biblias allemâs. Com-
tudo pouco havia nos altares, ou monumentos digno de minha investigação.
«Já era escuro, quando sai da grande portada, e achei o terreiro em frente
alumiado com a luz coruscante de um renque de fogueiras á beira do Tejo.
A custo alcancei a minha carruagem sem ser chamuscado por buscapés o
bombas, e desejei ver-me fora no momento, em que entrara, por quanto estou-
rou nm foguete mesmo debaixo dos focinhos dos meus machos, que os espan-
tou terrivelmente.
« Se por milagre me não acalentasse Santo António, esperava não pregar olho
em toda a noite, tamanho era o estrondo do fogo artificial, das lavaredas es-
tridentes das fogueiras, das gaitadas das bozinas em louvor da festa d^áma-
nhã, SSS.^" anniversario do memorável dia, em que o santo querido de Lisboa
passou em plácido transito aos gosos do paraizo; vi a sua imagem á porta de
quasi todas as casas, e até das barracas d'csta populosa capital, collocada em
:dtar, 6 adereçada com profusão de velas de cera e de flores.»
* Se os frades no«^ salvaram muitos livras o manuscriplos, lambem nos deram cabo
de mailos. E isto, cjue diz Guiníruenô na sua Historia lia Liltrrntura Ifnliana, 6. a pura
verdade.
86 Blj
CAUTA VII
EfiMRJA »■ 0ANTO Airr«MM — •■»■*• »■ Fm . J«A* jACIlVTtt —
i3 de junho de 1787.
«Dormi melhor do que esperava, o santo foi propicio; alta noite entibíoa o
ardor de sens devotos» e as chammas de suas fogueiras um chuvisco vemal,
que rumorejava agradavelmente esta manhã por entre as parreiras do meu
quintal As nuv^is dispersaram-se pelas oito horas, e ás nove, quando eu sa-
bia as escadas da adro da nova egreja, ediâcada no próprio local da casa, em
que Santo António nascera, resplandecia o sol com todo o seu brilho.
<Naò posso dizer bem se este ediAcio me recordou o magniâeo santuá-
rio de Pádua, que ha cinco asnos n'este mesmo dia fez na minha imagina-
ção uma impressão tão viva.» Aqui não ha constellações de alampadas áureas
suspensas do ferro lavrado da mysieriosa abobada em lustrosas correntes,
nem arcarias de alabastro, nem mármores esculpidos. A egreja estriba-se em
duas fieiras de pilastras, de cantaria^ bem lavrada, mas de mesquinhas propor-
ções. Sobre o altar mór, onde estava a venerada imagem no meio de brilhan-
tes luzes, avultava um docel de veludo bordado. Esta armação com ricas Araa-
jas 6 borlas marca o logar onde foi o quarto do santo; e recebe uma suave
claridade de uma serie de janellas altas com ricas, guarnições de douradura
húmida.
«Muitas caras largas sobresaiam petulantes d'entre a turba do vulgo pro-
fano no portal do templo; e todos dirigiam os olhos para o seu enthusiastieo
patrício; mas não era para ser mirado assim o seu sisudo semblante.
«A ceremonia foi extremamente pomposa. Um prelado da prhneira jerar-
chia oflQciava com um troço considerável de padres da real capella ao som de
buliçosas contradanças e minuetes, mais proprías para excitar uma dança de
patuscos na copa dos banhos thermaes, do que para dirigir os movimentos de
um pontifico e seus assistentes.
«Depois de muita musica medíocre, vocal e instrumental, executada a ga-
lope no mais rápido alegro, subiu ao púlpito Fr. João Jacinto, famoso prega-
dor, elevou as mãos e os olhos, e despediu uma torrente de phrases sonoras
em louvor de Santo António. O que não daria eu por uma tal voz! Alcança-
ria de uns aos outros confins da terra de Israel.
«O padre indubitavelmente era dotado de grande vigor de elocução, anão
tinha aquellc accento nasal, lamentoso e hypocríta, tão commum na recita dos
sermões dos frades. Tratou os reis, tetrarchas e conquistadores com indizível
desprezo, reduziu a pó os seus palácios e fortalezas, os seus exércitos a for-
migas, as suas vestes imperiaes a teias d^aranha, e incutiu em todo o auditó-
rio, excepto os maliciosos herejes da porta, perfeita convicção da superíorída-
do Santo António sobre todos «aquellrs objectos de uma errónea e impia ad-
miração.
•Felizes (exclamou o pregador) eram esses tempos gothicos, falsamente
denominados tompos de barbárie e ignorância, em que os corações dos ho-
mens, não corrompidos pola alluciíiadora bobiila da phiio^opfua; se abriam ás
BE .89
palavras de verdade, qae manavam, como o mel, das bocas dos santos e con-
fessores, taes como as que dístillavam os lábios de António.
«Acabado o sermão, começaram a chiar novamente as rebecas com redobra-
do vigor, e eu aborrecido de tão intempestiva leveza, retirei-me agastado para
casa. Esta ténue nuvem de enfadamento dissipou-se em breve pela amável
presença do bom prior de Aviz, como o qual não existe talvez no mundo um
caracter mais benigno e evangélico, que gloriâque Deus com menos osten-
ta^, e tenha uma benevolência mais sincera para com o próximo. Este ex-
cellente prelado tinha 5?asto a manhã, não em assistir a ceremonias pomposas,
mas em consolar os enfermos, e remediar os indigentes, subindo aos seus mi-
seráveis aposentos a ministrar soccorros em louvor do santo, cuja festa se ce-
lebrava, e cnja reputação da pratica de toda a casta de actos de caridade se
tem transmittido de pães a filhos entre os habitantes da cidade por uma longa
serie de gerações.
«A nossa conversação não foi de natureza tal que me inclinasse a aban-
donar pompas e vaidades. Hesitei se veria a procissão, que se esperava que
passasse pelas prineipaes ruas da cidade, e acompanhado do meu reverendís-
simo amigo fui gosar da serenidade da tarde na praia de Belém. Fiz alto ao
passar pelo palácio de Marialva, e levámos comnosco D. Pedro e seu aio, o
velho abbade, que propoz uma visita ao Convento da Cartuxa de Laveiras.
«Em meia hora quasi estávamos sentados á vista da egreja, que faz fren-
te para os jardins e quinta real de Caxias: fomos introduzidos n'um vasto e
silencioso quadrangulo: alguns espectros d'aquella ordem monacal se escoam
pelos claustros, que se ramificam d'este pateo. No meio ha uma lonte de már-
more, sombreada por pyramides de buxo tosqueado, e em redor sete ou oito
pequenas capellas, uma das quaes contem a imagem incarnada do Salvador
Dl mais tremenda agonia de sua Paixão, a qual se figura coberta de contu-
sões e sangue coalhado.
«Quando nos occnpavamos a examinar esta imagem tão própria, alguns
monges por ordem do seu superior se juntaram ao pé de nós; um d'elles in-
teressante e bem apessoado, altrahiu a minha attenção pela profunda melan-
colia retratada nas suas feições. Tendo-me informado soube que apenas con-
tava vinte e dois annos d'idade, que era de illustre ascendência, e doudo de
viveza e talento; mas a causa immediata de ter procurado esta morada de quie-
tação e de austeridades repugnava ao grão prior o communical-a.
«NIo pude deixar de observar, tendo diante de mim a victima novel, e
contemplando a luz vespertina, que coava pelas arcadas do quadrangulo, quan-
tos oecasos do sol verosimilmente elle teria de ver desperdiçar seus luzeiros
sobre estas paredes, e quão enfadosa serie d*annos essa, a que se sacrificou,
eonfomida com toda a probabilidade dentro d'este recinto. Os olhos do bondoso
prior hamedeoeram-se de lagrimas, Verdeil estremeceu de horror, e o abba-
de, olvidando o supersticioso papel, que geralmente representa nos legares
saatíficados, prorompen em vehementes exclamações contra a tolerância dos
sacrificios humanos, e de permittir que renunciem o mundo mancebos ainda
incapazes de fazerem devida apreciação de suas magoas ou vantagens. Quanto
90 BE
a D. Pedro a sua compleição meiancolica recebeu nm supplemento do triste-
za á vista dos objectos, que o rodeavam. O vento frio, que soprava de nma
casa de abobada, onde os padres os enterram, e cujo pavimento dá um sóm
cavo, quando se anda, lhe incutiu terror. Era a primeira vez que entrava n'nm
convento Cartuxo, e, com admiração minha, mostrava ignorar as austerida-
des da ordem.
«Tinha-se posto o sol antes de voltarmos à nossa carruagem, e na conver-
sação em todo o caminho até casa ressumbravam as impressOes, que nos ins-
pirara a scena, que presenciámos.»
CARTA vm
ClTKMMiAfl TMITAS — PADBB TRIODOBO D'Al.imDA — MBX^AeiCli »■ FBBmAfl
— TBBATA« »A KCA dou OOMBBS — AMCBBI0PO DB THBBSAIiOinCA — ■•»!•
NHAB Bmabilbimab — Phautabiab.
i4 de junho de 1787.
tCoube-me hoje a sorte de receber uma curiosa serie de visitas. O primei-
ro foi Pombal, que parecia gasto por excesso de prazeres e pelas noitadas, mas
que se apresenta com um agrado e modos elegantes, não muito communs n'es-
te paiz. 1 Posto que seja um dos mais ricos proprietários de fazendas no rei-
no, de rendimento de cento e vinte mil cruzados por anno, quiz metter-mo
na cabeça que seu defunto pae, o açoito e terror das casas mais nobres de Por-
tugal, o único administrador do real erário por muitos annos, não obstante
isso fallecera em circumstancias apuradas, carregado de dividas, que contrairá
para manter a dignidade de seu cargo.
«O immediato que, me honrou com a sua visita foi o juiz da conservatória
ingleza, João Telles, ramo, não sei bom se legitimo, se espúrio, da casa dos Pe-
nalvas; este sujeito, que ascendeu a um dos mais eminentes legares da magis-
tratura só pela força de sua capacidade, ó dotado de um estylo de expressão
original e nervoso, que me trouxe à ídéa Lord Tburlow; mas a todo o seu vi-
gor de caracter e de dicção reúne a flexibilidade e ardileza de serpente; e
aquelles, que não pôde levar d'assalto, está certo de vencel-os cora algumas
astuciosas descargas de lisonjas e blandícias.
«Logo que elle se retirou, veiu um par de frades com um cestinho de do-
ces mettidos em papel de lavores, dadiva de uma abbadessa fidalga, snppli-
cando-me o dote para duas lindas donzellas, que iam ser esposas de Christo
n'um convento dos subúrbios.
«Apenas os tinha despedido, entrou o padre Theodoro d'Almeida com ou-
tro de seus confrades: qnasi que só se lhe viam as alvas dos olhos; nem o ori-
ginal doutor vesgo do Foote era capaz de os revirar com maior sciencia.
«Prestei a máxima attenção ao seraphico discurso do padre Theodoro, não
sendo para desprezar tao excellente opportunidade de ouvir um specimen, de
primeiro lote, de geringonça hy^ocríta. Inda bem os frades não tinham sido
conduzidos ao patamar da escada com a devida cerimonia, annuncíou-se a che-
1 Panorama de 1855, pag. 317.
^ BE 9i
gada de monsenhor Aguílar, um dos prelados da Sé Patriarchal; o qual me
GonOrmoQ na opinião, qae eu tinha formado do padre Theodoro. Ninguém po-
derá accusar de hypocrisia o monsenhor Aguilar: ao contrario é de rasgada
franqueza, e trata a egreja, d'onde lho provém pingue mantença, não como pa-
troa^ mas como humilde companheira, assumpto e alvo constante dos seus sar-
casmos. Em Portugal, ainda no corrente anno de i787, tal proceder é doudi-
ce, e receio-lhe qualquer dia severa perseguição.
•Ao tomar pacificamente uma chávena de cháfez-nos erguer uma estron-
dosa bulha na rua, e correndo á sacada achámos apinhada a sórdida relê de
velhas fúrias, rapazes e maltrapilhos, tendo á frente meia dúzia de tambores,
e uns poucos de pretos de vestias escarlates assoprondo trombetas com ex-
traordinária vehemencia, e apontando-as directamente para a casa. Maravi-
Ibou-me este modo de assediar uma porta como as muralhas de Jerichó; e re-
cuando um pouco para não ser chamuscado por um foguete, que zuniu obra
de uma pollegada adiante do meu nariz, vi entrar um criado trazendo em sal-
va de prata um crucifixo, e uma delicadíssima mensagem das freiras do mos-
teiro do Sacramento, que mandavam a sua musica com pandeiros e fogo do
ar convidar-nos para rasgada funcção no seu convento em honra á festividade
do Coração de Jesus. Na verdade que estas funcçòes de egreja começavam a
perder para mim o attractivo, que lhes dera a novidade: estava já um tanto
farto de motetes e de kyrie eleisons, de incenso, bandejas de doces e de ser-
mões.
«Aquelle herético Verdeil, para quem valeria quasi tanto estar no inferno,
como n'este ceu empachado, não descançou, emquanto não deu commigo no
theatro da Rua dos Condes afim de dissipar com um pouco de ar profano os
vapores de tamanha santidade. O drama causou-me mais enfado, que diverti-
mento. O theatro é baixo e acanhado, e os actores, porque não ha actrizes,
sao inferiores a todo o critério.
•Tendo as ordens absolutas da rainha afastado do palco scenico as mu-
lheres, os papeis attinentes a estas são representados por mancebos. Julgae
que agradável eíTeito esta metamorphose produzirá, especialmente nos baila-
rinos. Alli se vé uma robusta pastora trajando as cândidas vestes virginaes,
de macia barba azulada e proeminente clavícula, colher flores com um punho
capaz de derrubar o gigante Goliath, e um rancho de leiteiras, seguindo as
suas enormes pegadas, aos pontapés ás saias a cada passo. Taes meneios e
saltos desconcertados, taes tregeitos de olhos nunca eu tinha visto, nem espe-
ro tomar a vér na minha vida.
«Estávamos cordealmente enfastiados do espectáculo, inda bem não che-
gava ao meio da peça; e como a noite era serena e agradável tentou-nos a
dar um passeio até à grande praça do palácio, que recebia a frouxa claridade
das luzes nos aposentos reaes, abertas todas as janellas para entrar a viração.
O arcebispo confessor de sua magestade ostentava n'uma das sacadas o seu
volumoso vulto: da classe de homens rústicos este personagem, agora muito
importante, veiu a ser soldado raso^ d'ahi passou a cabo d'esquadra, de cabo
d'esquadra a frade, e n*esta ultima profissão deu tantas provas de tolerância
92 BE
e bom génio, qae o marquez do Pombal, topando com elle por ama das ca-
sualidades, que se esquivam a todos os cálculos, julgou-o sufficientemente as-
tuto, jovial, e Ignorante para fazel-o innoxio e acommodado confessor de sua
magestade, então princeza do Brazil : pela accessao d'esta senbora ao throno
foi despachado arcebispo in partibuSy e inquisidor-mór; é a primeira mola do
actual governo portuguez. Nunca vi um sujeito mais obstinado e obtuso: pa-
rece ungir-se com o óleo do contentamento (banbar-se em agua de rosas),
folgar e engordar a despeito da critica situação dos negócios n'este reino.
tlTuma janella, immediatamente por cima da luzida testa de sua revoren-
dissima, divisámos as duas formosas irmãs Lacerdas, damas de honor da rai-
nha, acenando-nos com as mãos a convidar-nos: era incentivo bastante para
galgarmos vastos lanços de escadas até o seu aposento, que se achava atu-
lhado de sobrinhos, sobrinhas, e primos, apinhando-se em tomo de duas jo-
vens mui elegantes, as quaes acompanhadas de seu mestre de canto, um frade
baixo e quadrado e de olhos verdes, garganteavam modinhas brazileiras.
«Quem nunca ouviu este original género de musica, ignorará para sem-
pre as mais feiticeiras melodias, que tem existido desde o tempo dos sybari-
tas. Consistem em languidos e interrompidos compassos, como se faltasse o
fôlego por excesso de enlevo, e a alma anhelasse unir-se a outra alma iden*
tica de algum objecto querido. Com infantil desleixo insinuam-se no coração
antes de haver tempo de o fortificar contra a sua voluptuosa influencia; ima-
ginaes saborear leite, e o veneno da sensualidade vae calando no mais intiuK)
da existência: pelo menos assim succede áquelles, que sentem o poder dos
sons harmoniosos: porém não respondo n*este caso pelos animaes do norte
fleugmaticos e duros de ouvido.
«Uma ou duas horas correram quasi imperceptivelmente no deleitoso de-
lírio, que aquellas notas de sereia inspiravam, e não foi sem magua, que eu
vi a companhia dispersa, e o encanto desfeito. As donas do aposento tendo
recebido aviso para assistirem á ceia de sua magestade, ílzeram-me uma me-
sura com o maior donaire e desappareceram.
«De caminho para nossa casa encontramos o Yiatico, acompanhado de vi-
vidas luzes, levado em procissão a fazer a algum enfermo a visita de despe-
dida; o esperançoso fidalgo, moço conde de Villa Nova (depois marquez de
Abrantes) precedia a umbella, de capa encarnada, e tangendo upaa campai-
nha de prata. Nunca falha a estes acompanhamentos, e passa a flor da moci-
dade n'este singular beaterio; ainda não houve amante mais cioso da sua na»
morada, do que este ingénuo mancebo o é da sua campainha; não lhe sofDre
o animo que as vibrações doesta sejam obra d'outra pessoa; os mezarios paro-
chiaes do extenso e populoso bairro onde está situado o seu palácio, consen-
tem n'este capricho, por attenção ao seu nascimento e opulência; e de certo
não podiam escolher mais assiduo porta-campainha. A toda a hora^ e faça o
tempo, que fizer, está prompto a desempenhar este bento ministério; e nas tre-
vas de alta noite, no mais intenso calor do dia, ou subindo ou descendo, quer
a uma espelunca, quer a um sótão, lá vae onde se requer um auxilio espiri-
tual d'esta natureza.
BE 98
«Por vezes se tem observado que taes coisas não se hip de ievar á conta
de manias; cada pessoa tem a sua tineta, que segue, como pôde, e que prefere
a tudo. As delicias do velho marquez de Marialva consistem em jantar entre
08 seus dois aparadores de prata: as do marquez seu íilho em esperar muito
tempo pela rainha: e as do conde de Villa Nova em annunciar com a sua
campainha a todos os fieis crentes a aproximação da celeste magestade. A
actual tineta do rabiscador doestas extravagâncias são as modinhas brazilei-
ras, e sob a sua influencia acha-se muito tentado a dar á vela para o Brazil,
terra natal d'aquellas feiticeiras composições, a viver em choças, taes como as
descreve Parny.»
CARTA IX
Mmrwmm mu vbaa* — ITbspkma db 0. Pbda* — Palac»* da ca«a »b Aucibja —
COIf VENTO DAS 0ALB«IAS — BlADAinC 0CAMEJàTl
29 de junho de Í7S7.
<0 sol resplandecente, com que os últimos dias nos brindaram, apezar do
seu explendor começa a enfastiar-me. Vinte vezes no dia debalde cubico estl-
rar-me ao comprido na fresca relva de algum frondifero valle inglez, onde as
fadas dançam ás horas do crepúsculo estivo, e segredam a seus somnolentos
amigos as boas ou más sinas, que os aguardam. Em Portugal o calor é de-
masiado para esses vaporosos entes fatídicos; não ha, pois, que esperar as
suas inspirações: prouvera ao ceu que alguma revelação, d'esta ou d'outra
natureza, a tempo me tivesse avisado da poeira de cegar, e da excessiva calma
de Lisboa e seus subúrbios. Que tolice de quem está bem e refrigerado em
casa, vadiar por fora na fútil esperança de melhorar no que já de si é óptimo!
Capacitae-vos do que vos digo, ha mais delicias de primavera, e mais goso
em nossas verdejantes collínas e bosques do que em todos estes enfezados oli-
vedos e crestados promontórios.
«Temos um rifão que diz : — É peçonha para uns, o que para outros é
manjar — não ha coisa mais certa. Estes dias e noites de temperatura arden-
te, que me opprimem sem allivio, são o deleite e ufania dos habitantes d'esta
capital. O calor não somente parece ter avenenado os ferrões das moscas e
mosquitos, mas também arrojou para a rua, por noites inteiras, todos os abe-
Ibões humanos, que pulam e bailam e arranham bandurras desde o sol posto
até à alvorada. Junte-se-lhes os cães em abundância, latindo e uivando sem in-
t^rrnpção; a vozearia das ladainhas, dos terços; os estalidos do fogo de arti-
ficio, que os devotos deitam sem cessar em louvor' de algum membro da ce-
lestial jerarchia; a bulha suja da vadiagem insolente, que percorre as ruas
em busca de aventuras; ver-se-ha que não ha pilhar uma piscadella de somno,
ainda quando o suão o permittisse.
«Quanto ás mansas convivências nocturnas, onde ingénuos mancebos re-
pousam as cabeças, não em o regaço da mãe terra, mas de suas amasias que
pacificamente se empregam em livrar d'uma copiosa população as madeixas
azevichadas de seus affeiçoados, nada tenho a dizer contra ellas; nem me per-
turbam es sons das caldeiradas jorrantes das janeUas; porém os uivos caninos
94 Í^E
de que acin:a fallci^xcedem todo o incommodo, que n'esto género tenho sop-
portado, o fornecem não pequena noção previa das regiões ínfernacs.
«Gomo em a presente estação só se cuida em folias e algazarras, e a cele-
bração da festa do S. Pedro com o maior barulho e dispêndio, que fòr possi-
vel, não é tanto uma inclinação profana, como um pio dever, o tal bolonio
conde de Villa Nova abriu os seus jardins a noite passada a toda a fidalguia
e maltezia de Lisboa; fez uma insipida illuminação de balões 4e papel, e armou
uma casa de pavilhão para dansa, achavascadamente consiruido, sob o qual
as mais elegantes costureiras francezas e inglezas e capellistas da metrópole
figuravam nos cotilhões com o duque de Cadaval e outros moços da principal
nobreza, os quaes, como muitos da nossa capital, e também de boas esperan-
ças, só estão á sua vontade em humilde companhia. Dois ou trcs dos meus
criados acompanharam o meu alfaiate á festa, e vieram extasiados dos modos
jocundos das capellistas estrangeiras e da nobreza nacional.
«Dei-me por satisfeito de íicar em casa a coberto dos meus transparentes
verdes, ouvindo por mera preguiça, qualquer destempero que aprouvesse a
alguém dizer-me. Mas tínhamos ha muito sido convidado a jantar com D. Diogo
de Noronha no palácio de Angeja. Chegando ao nosso destino, achámos o
herdeiro da casa rodeado de padres e pedagogos, doutrinando-se em mirar à
jancUa, precípua occupação da vida d'um fidalgo portuguez. Oh que preciosa
coUecção de contos eu ouvi n^este banquete attico. Aconteceu acbar-se na
companhia um estúpido padre ainda moço, não me lembra de que universi-
dade (espero que não fosse a de Coimbra) que nos regalou durante o jantar
com estupendas narrações, laes como de uma pérola da rainha defunta, e de
inestimável valor, moída para se engulír em beberagcns medícinaes; outra
acerca de umas freiras do convento do Sacramento, que tendo seus namori-
cos com o próprio Belzcbuth cm pessoa, foram mettidas na inquisição, eaja-
uella por onde sua magestade infernal entrara, depois d'esta proeza de galan-
teio, foi entaipada, e toda pintada da cruzes vermelhas; accrescentou que a
mesma decoração preventiva foi distribuída por todas as frestas da frontaria,
para que nenhum demónio, ainda o mais ateado em desejos, podesse repetir
o feito. Também nos quíz embutir que uma mulher mui guapa, engordando
a olhos vistos, com os peitos sempre arrebentando de leite, que tomava crean-
ças de mama, mais barato do que outra qualquer ama, e que de ordinário as
sumia, lá jazia agora nos cárceres do santo officio accusada de ter feito em
picado para cima de vinte innocentes !
«Deus me livre de relatar outras mais particularidades da nossa conver-
sação á meza; se o fizesse, ficaríeis aceiadamente empazínado.
«Depois de jantar a companhia dispersou- se, uns para os seus encostos da
sesta, alguns para ouvirem uma tocata de saltério acompanhada na harpa he-
brea, por um par de anões; o herdeiro presumplivo para a sua querida janella;
e Verdeil e eu tomamos para o convento de freiras saboyanas em Bolem, o
mais fresco e limpo retiro d*estas cercanias, e ainda por cima d'isto abençoa-
do pelo especial patrocínio e direcção do padre Theodoro d'Aimeida. Parece
que sua reverondissima foi o principal instrumento, abaixo da Providencia, da
BE 95
transplantação doestas bemdítas vergonteas de santidade do convento da Visi-
tação em Annecy para o ardente clima de Portugal.
«Como eu tinha acabado de receber uma assucarada epistola d'este exem-
plar de piedade, recommendando o seu prezado estabelecimento n'algumas pa-
ginas de fervoroso panegyrico, elle não poude deixar de sair do interior de
seu ninho; e fez-nos bom gazalhado com um semblante rebuçado de brandos
sorrisos, posto que ouso dizer que, pela nossa invasão, desejaria esfolar-nos.
«Pobres creaturas! (nos disse fallando das educandas d'esta capoeira) fa-
zemos quanto em nós cabe para aperfeiçoar seus tenros entendimentos e suas
castas linguas nos idiomas estrangeiros. Soror Thereza tem singular pericia pa-
ra ensinar arithmetica, a nossa venerável madre é bastante profunda em gram-
matíca, e soror Francisca Salesia, que eu tive a dita de trazer de Lyon, não
só é mui persuasiva moralista, como também geralmente reconhecida por uma
das eminentes mestras de costura em toda a christandade; estamos soffrivel-
mente quanto a bordados. Em musica não ha grandes proficiências; não per-
mittimos modinhas, nem árias de opera; e o que n'este ramo podeis esperar
é apenas o canto singelo; em summa não estamos bem preparados para rece-
ber tão distinctos hospedes, e nada possuímos do que o mundo chama interes-
sante, que nos recommende; mas, em compensação, eu, seu indigno confessor,
devo declarar que tanta docilidade, e tão puras consciências como tenho acha-
do n*este asylo são thesouros muito acima de quantos as índias nos possam
fornecer.
«Yerdeil e eu, cônscios da nossa pequeneza, ficámos de todo o ponto hu-
milhados por esta sublime declamação, despejada de braços cruzados sobre o
peito, e olhos postos no tecto, como algumas Imagens, que tenho visto de S.
Francisco Xavier. Um minuto pelo menos esteve sua reverencia sem mudar
d'esta attltude; d'ahi a pouco correu uma cortina, tendo a condescendência de
admittir-nos n'um espaçoso locutório deliciosamente fresco, perfumado de
jasmins, e povoado de pombinhas brazileiras, papagaios, e canários; arrulhos
e chilros taes nunca se ouviram em maior auge de perfeição, excepto no pa-
raizo de Mafoma; nem faltavam as huris, por quanto n'um esconderijo,, que
se dilatava para dentro da clausura, detraz d'uma rotula soffrívelmente larga
estava sentada uma fileira das mais amáveis donzellas, que eu tenho visto; seus
olhos de feiticeira meiguice parecia adquirirem nova fascinação n*aquella mys-
teriosa espécie de crepúsculo, luzindo atravez do duplicado ralo d'arame.
«De quando em quando os pássaros, de nenhum modo intimidados pelos
predatórios relances d'olhos do padre Theodoro, violavam o santuário, e pou-
savam nos eólios alabastrinos, sendo recebidos com milhares de caricias pelos
anjos doeste pequeno e retirado Éden, que tão refrigerante parecia, e que pelo
sen religioso socego formava notável contraste com o turbulento mundo cá
fora e sua rutilante atmosphera; de maneira que não pude reprimir-me, e ex-
clamei: Oh quem me dera azas como a pomba, que voasse atravez d'essas gra-
des, e lá repousasse para sempre !
•Desnecessário ó referir- vos que passamos meia hora deliciosa fallando de
musica, tlores e devoçlo com as meninas; quasi nos ia esquecendo a premes-
96 BE
sa de ouvir canUtr Scarlati, cajo pae de origem italiana, antigo capitão do ca-
vailaria» reside não muito longe do convento da Visitação; por isso não tive-
mos tempo de experimentar no transito a penosa differença entre o fresco lo-
cutório das freiras e o abafador ar externo.
tNumeroso grupo de parentes das senhoritas achava-se à porta da casa
com a hospitaleira cortezía, que tão notavelmente distingue os portugnezes,
para introduzir-nos no andar superior em uma galeria adereçada de pannos
de raz e de placas, na apparencia mais d'uma ostaria italiana, do que de pa-
lácio de cavalleiro; para nos conflrmar nas idéas das casas de posta, aspira-
mos ao subir, os fortes effluvios da estrebaria, e ouvimos as patadas e rinchos,
como se um bando de monteadores viesse tomar parte no concerto.
tMuitas caras singulares c indígenas de ambos os sexos estavam alli reu-
nidas, collecção disparatada e extraordinária, segundo conjecturo; dispenso-me
de individual -as. A dona da casa, senhora ainda moça, encantou-me à primei-
ra vista pelas suas maneiras engraçadas e modestas; porém, quando cantou
algumas árias da composição do famoso Peres, não só me deleitou, fez-me pas-
mar; a sua voz modula-so em uma negligencia desafectada nos tons mais pa-
theticos. Posto que tenha adoptado o estylo magistral e scientiflco de Ferra-
ruti, um dos primeiros cantores da rainha, dá uma simplicidade de expfeasão
aos trechos mais difflceis, similhando as cfTusões d'alma d'uma heroina de no-
vella trinando solitária no recôndito das florestas.
«Sentei-me n'um canto obscuro, sem dar fé nem do que se passava no apo-
sento, nem das extravagantes physionomias dos que entravam ou saiam; as
vistas attentas, o cochichar, os movimentos e mexericos da assembléa eram pa-
ra mim cousas perdidas; não fui senhor do proferir uma syllaba, e bastante
me ailligiu que uma despótica tia velha insistisse em que não se cantasse mais,
e propozesse uma partida e dança.»
CARTA X
ALTIM K BAIXOM DB I.1SBOA— ^VIIVTA do DU^K DB IíAvSbB — • JBBVITA •tlABTB
B VM MBDIGO BIDICULO — 0« PBNALVAB — COXCBBTB IWPBBTURB
30 de junho de i787.
«Depois de jantar puzemo-nos na rua para pagar visitas. ^ Nunca vi cm
minha vida tão amaldiçoados altos e baixos, tão abruptas ladeiras, tão Íngre-
mes subidas, como se topam a cada passo caminhando por Lisboa; cincoenta
vezes me julguei a ponto de despenhar-me no Tejo, ou de tombar em valias
areientas entre chinellos velhos, gatos mortos, ciganas fuscas; que se acoutam
n'essas espeluncas e esconderijos para ler a buena dicha, ou vender amuletos
contra febres e quebrantos.
•A inquisição muito a miúdo pilha estas miseráveis sibyllas, e as vexa
abominavelmente; ao passar pelas minas d'um palácio, que o ten*amoto de-
molira, vi uma d'essas mulheres, que arrastavam à claridade; se a filava nas
garras algum familiar do santo oílicio, ou se lhe tomava contas algum rufião
> Panorama de 18íiU, vol. xii, pag. :{51.
BE 97
burlado, é o que não pretendo, nem posso afiSrmar. Gomo quer que fosse, tíve
a fortmia de se arredar da vista áqaelle hediondo vulto, cujas contorsões e
uivos eram na verdade horríveis.
«Quanto mais conhecemos Lisboa, menos corresponde à expectativa suscí<^
tada por sua magnifica apparencia do lado do rio. Se um viajante pudesse ser
transportado subitamente, sem prevenção nem apparato a differentes partes,
rasoavelmente podia conjecturar que tinha atravessado uma seríe de povoa-
ções ligadas desconcertadamente, e ficando-lhes sobranceiros massiços con-
ventos. Os templos em geral são d*um pezado gosto de architectura, o es-
tylo de Barromini, com empenas arrugadas, cornijas e torrinhas com folhoSy
algumas à maneira das caixas de relógio da antiga moda franceza, como Bou-
cher as desenha, com muitos arrebiques e floreados, para adornarem as salas
de madame de Pompadour.
«Esta tarde atravessámos a cidade em todo o seu comprímento, dirígindo-
nos ao palácio de campo do duque de Alafões, e fornecemos a um copioso nu-
mero dos mais fieis súbditos da rainha a opportunidade de admirarem na al-
tura da caixa da carruagem o gibão curto do cocheiro, e outros inglezismos
da equipagem. O duque tinha sido chamado a um conselho d'estado; só acha-
mos o marquez de Marialva, que nos andou mostrando todos os aposentos da
casa de campo, que nada tem notável, excepto uma ou duas vastas salas de
bellas e assombrosas proporções.
•Propoz-nos em seguida acompanhar-nos obra de meia milha mais adiante
á quinta de Marvilla, propriedade de seu pae. Esto sitio tem grandes bellezas
pittorescas. As arvores são antigas e de forma caprichosas, curvando* se por ci-
ma de fontes destruídas e estatuas de guerreiros mutiladas, que o lapso dos
annos serapintou de innumeraveis tintas de vermelho, verde e amarello. No
centro de quasi impenetráveis balsas de louro e buxo alteiam-se extravagantes
pyramides de pedra lavrada, que rodeiam leões de mármore, de catadura ma-
gica e symbolica. O marquez tem o sentimento delicado de respeitar estes ru-
des monumentos de uma época, em que seus ascendentes praticaram muitos
feitos heróicos; e francamente me prometten nunca as sacrificar, nem as ve-
nerandas sombras, que abarcam as ruas, ao gosto ligeiro e loução da moder-
na jardinagem portugueza.
•Voltamos de passeio para casa por um luar sereno da lua cheia, que des-
pontava detraz dos montes, na opposta margem do Tejo, o qual n'esta extre-
midade da metrópole tem quasi nove milhas de largo. Lisboa, que poucas ho-
ras havia me parecera tao desinteressante, assumiu mui diverso aspecto sob
aquelle suave clarão. Os átrios, eirados, capellas e portadas de vários conven-
tos e palácios à borda do rio luziam como edificios de^armore branco, ao
passo que as escabrosas ribanceiras e os mesquinhos telhados sobre ellas er-
guidos quasi jaziam submersos em sombras espessas. O terreiro do paço, por
onde seguimos caminho, estava cheio de ociosos de todas as classes e sexos,
pasmados para as vidraças illamínadas do palácio, na esperança de ver n'nm
relance a sombra momentânea de sua magestade, do príncipe, do confessor, ou
das damas, escoando* se d'um para outro aposento, e sendo alvo espaçoso de
TOMO I 7
98 BE
vãs conjecturas. Disseram- me que o confessor, ainda que um tanto adiantado
na carreira dos annos, está longe de ser insensivel aos engodos da beileza, e
segue de janella em janella as nymphas moças do paço com juvenil alacri-
dade.
tDavam as nove, quando entramos em casa, e ainda bem não tinha re{Kia-
sado do passeio, e posto em ordem algumas plantas colhidas nas montas de
Marvilla, três distinctas badaladas da campainha na minha porta annunciaram
a chegada de algum personagem distincto; não me achei burlado, porque era
o velho marqnez de Penalva, e seu filho, que apenas haverá um anuo, antes
de lhe conceder a rainha o mesmo titulo do pae, chamava-se Conde de Tarouca.
cTereis ouvido fallar muito n'aquelle nome, que o avô do marquez velho
assaz illustrou em diversas e bem succedidas embaixadas; as suas brilhantes
conferencias no congresso de Utrecht vem largamente descriptas na obra de
madame de Noyers, e em vários livros de memorias.
cOs Penalvas traziam em sua companhia n'esta tarde um celebre jesuíta,
padre Duarte, que o marquez de Pombal julgou tão importante, que por de-
zoito annos esteve encarcerado; e vinha também um medico alto, de joelhos
desengonçados e faceira rubicunda, vestido de uma andaina magnifica de se-
tim lustroso, um dos mais desastrados e presumidos professores da arte de
matar, que eu tenho topado. Entre o jesuita e o doutor não fiz pequeno esfor-
ço para manter-me commedido e serio; pairaram incessantemente, com preten-
ções de mui implícita admiração por tudo quanto vinha d'Inglaterra» quer em
matéria de moveis, quer de bellas-artes, e confundindo nomes, datas e indiví-
duos n'uma indigesta mixordia, perguntaram se não era sir Peter Lely o actual
presidente da nossa academia real, e espraiaram-se em vivos encómios ao meu
compatrício Hans Hobbeim. Pedi licença para certificar a estes complacentes
sábios, que o ultimo dos mencionados artistas nascera em Basilea; e que sir
Peter Lely tinha morrido ha um século. Assombraram-se algum tanto com
esta informação; apesar d'isso continuaram na cantilena á solta, disparando
uma bateria de cumprimentos empolados acerca do nosso progresso nacional
cm pintura, relojoaria, fabrico de meias etc. a tempo que entrou o general
Forbes, e operou uma diversão a meu favor. Conversámos um pouco sobre o
estado presente de Portugal, e os riscos que corre de ser absorvido pelas ne-
gociações, não pelas armas dUespanha, no lapso de poucos annos.
cO nosso discurso foi interrompido pela vinda de um rabequista, um pa-
dre e um musico italiano, humildes criados e commensaes aduladores de mi-
nhas illustres visitas; deram rijas taponas no meu pobre piano forte, e toca-
ram symphonías quer eu quízesse, quer não. Bem sabeis quão pouco sou apai-
xonado de sonatas, ^ que certos meios tons e guinchos de rebeca, quando o
musico revira as alvas dos olhos, torce o besuntado queixo, e aífecta extasis,
fazem-me embotar os dentes na bocca; a crispatura do doutor já era de so-
bejo para produzir o effeito sem o reforço de seus companheiros parasitas, o
padre e o musico. O jesuita, ao que parecia, via-os com tão bons olhos como
eu; o general Forbes fez uma prudente retirada; e o marquez velho, inspirado
por um palheiico adagio, percorreu do súbito a sala u*um passo, que eu lo-
BE 99
mei peU abertnra de am bailado heróico, e que porém desandou n*Qm mi-
nuete á moda portuguesa com todos os pinotes e requebros, ao qual foi con-
vidada parceira Miss' S. #•• que viera ao cbá, e que accedeu muito contra seu
gosto. Inda bem não tinham concluido, o doutor alardeou a sua lúgubre e es-
guia pessoa n'um arreatado minuete anguloso, que não tenho expressdes para
descrevd-o; de forma que entre as artes irmãs, a musica e a dança fize-
rani-me passar uma deleitavel noite ! >
GARTA XI
0. SrnrnÚ »■ RiBAMAB — HlMPlTAJLIBADB P^ATVOVBSA -» • AlJt^Ç» —
•imiA Vim • BiMPO Ml AMMAmwm
2 de julho de 1787.
«Accordon-me de noite o hórrido alarido dos cães; nem aquella infemisdí
matilha, que Dryden nos descreve em seu divino conto de Theodoro e Hono-
ria acompanhando em todas as sextas feiras um phantasma uivava mais es-
pantosamente; Lisboa é infestada, como nenhuma das capitães, que tenho ha-
bftado, por bandos d'aquelles animaes semí-famelicos, que com tudo são d*al-
gnma Iniportancia e utilidade, limpando as ruas d*alguma parte, ao menos, de
seus fétidos entulhos.
«Yerdeil, que dormiu tanto como eu, por causa d'uma furiosa batalha, lon-
gamente protrahida entre dois troços dos taes cerberos, persuadiu-me a erguer-
me com o sol, e passeiar a cavallo pelas praias de Belém, que appareciam em
todo o seu esplendor matutino; era bello ver a côr variegada do firmamento
coin as nuvens radiantes de purpura orladas d'oiro, e o mar coalhado de in-
numeiaveis embarcações de diíTerentes portes, fazendo espadanar a espuma
emtodas as dhrecções, ao passo que as vagas à foz do porto se agitavam vio-
teolas.
cPara variar um tanto a nossa excursão nos afastámos do transito com-
mum, e visitamos o convento de S. José de Ribamar. O edificio é irregular e
plttoresco, levantado n'uma eminência Íngreme, tendo nas costas a sua ma-
tinha d'olmo8, louros e olaias. Fomos recebidos pelos frades risonhos e sim-
ples, n^mi pequeno pateo dos claustros sustentados em pezadas columnas tos-
eanas. No meio d'um repuxo^ borrifando a profusão das flores, dava um as-
pecto oriental a esta pequena claustra, que excessivamente me agradou; os
frades pareciam cônscios de seu merecimento, porque a conservavam soffri-
vdmente limpa, que é o mais que posso dizer do seu jardim.
«Trepadeiras e aloés anões quasi impediam a passagem para a mata, deli-
cioso retiro, refugio e conforto de metade dos pássaros d*aqnelles contornos
graças â preguiça fradesca, os arbustos estão por tosquiar, e invadem á von-
tade as ruas, que ficam sobranceiras ao mar de um modo assaz romântico.
«Os frades quizeram mostrar-nos o seu jardim, que é um bonito terra-
ço, bem calçado de tijolo, entremeado de lavores n'um estylo, que eu conje-
cturo tão antigo como o domínio dos mouros em Portugal; limoeiros e laran-
geiras em latadas forram os muros, e tcem quasi tomada a melhor parte de
um lustroso embrexado, em que os incrastára um reverendo padre ha dez ou
102 BE
«Achei o jardim em excellente ordem, e florescentes em quantidade as
plantas, vegetando entre os renqaes de larangeiras e limoeiros. Tal ó inflaen-
cia do clima que as gardenias e plantas do Gabo, que eu trouxe de Inglaterra
ainda com troncos despidos, estão cobertos de lindas flores. Os malvaisoos e
algumas variedades de milho, semeiadas pelo meu jardineiro inglez, cresce-
ram a extraordinária altura, e começam já a formar avenidas sombrias e sel-
vas, onde os rapazes podem á sua vontade jogar às escondidas.
«Tendo consumido meia hora na observação doestas coisas, metti*me na
carruagem com o marquez, e partimos para a sua quinta, creação nova, que
lhe tem custado muitas mil libras sterluias: ainda ha cinco annos era um ca-
beço maninho, alastrado de sdbes e fragmentos de penedos. Ao presente
achaes um elegante pavilhão desenhado por Pillement, e adereçado com ele-
gância, um jardim com estatuas e fontes, ruas densamente guarnecidas de
loiro, buxo e cedro, cascatas, arvoredo, o buxo tosqueado de diflerentes feitios,
e todos os ornamentos, que se podem apetecer no gosto da jardinagem portu-
guesa,
«Jantámos n'uma aceiada e commoda hospedaria, situada ao meio da po-
voação de Cintra. A rauiha tinha ultimamente doado ao marquez aqoeUa casa
e a grande porção de terreno adjacente. Das suas janeUas contemplaes {pro-
fundos algares e empinadas encostas de matos e florestas, variegados com
pedras musgosas e caducos castanheiros.
«Assim que o sol declinou, fomos para Gollares, e passeiamos no eirado
pertencente a Mr. la Boche, negociante francez, que mostrou alguns visos de
gosto no arranjo da sua quinta.
«As matas de pinhaes e castanheiros elevando-se das fendas da penedia,
crescendo umas em sucalcos acima das outras até considerável altura, dão a
Gollares o aspecto d'uma aldeia dos Alpes. Innumeraveis arroios, sobre os
quaes se debruçam sobreiros e esgalhados limoeiros, rompem pelos arruina-
dos muros da banda da estrada, e espadanam em tanques de mármore. Um
valido do defunto rei, que tem n'estes subúrbios uma vasta fazenda, nos con-
vidou com muita attenção e urbanidade para o seu jardim; imaginei que en-
trava nos vergéis de Alcinoo; os ramos curvavam-se ao peso dos pomos, o
mais leve aba!o alastrava o chão de ameixas, damascos e laranjas.
«Esta quinta ufana-se d'uma grande cascata artificial com tritões e gol-
phínhos vomitando torrentes d'agua, mas não lhe prestei metade da attenção,
que o proprietário esperava, e acolhendo-me á sombra das arvores fruotiferas
regalei«me de doiradas maçãs e purpúreas ameixas, que em tanta proftisâo
caiam ao redor de mim: o marquez, que participa com a maior parte dos por-
tuguezes da extremada predilecção pelas flores, atulhou de cravos e jasmins
a carruagem. Nunca vi plantas tão assignaladas em crescimento e vigor como
as que tiveram a boa sorte de ser semeadas n'este afortunado torrão, c^ja ex-
posição é notavehnente propicia, abrigada por oiteiros declives, e defendida
com o espaço de algumas milhas de matas e pomares. Não sentia a menor
vontade de largar um sítio tão favorecido da natureza, e M. ### se jacta de
que eu me tentasse a comprar esta fazenda.
BE 103
tO tento tornoQ-se incommodo, qaando sabíamos a eminência coroada
pelaqninta de Marialva; a atmosphera estava crístallina, e o sol declinava ra-
diante. O convento de Mafra ao longe scintilkmdo com vivo fulgor, similbava
o palácio ^cantado d'um gigante, e o terreno circumvisinho desbotado e es-
téril, era como se o monstro o tivesse devastado.
tPara descançarmos um pouco do nosso veloz passeio entrámos no paví-
Ihio, que eu jà disse ter sido delineado por Pillement: representa uma rua de
pliantaslieas arvores Indicas, que entrelaçando os ramos superiores conver-
gentes formam arcos abaulados, descobrindo-se pelas roturas dos intervallos
o eea d'Qm tempo estivo; da bocca d*um dragão volante pende um magnifico
lostre para cincoenta lumes, ornado de festões de cristal, que rutilam como
eoUares de diamantes. Detivemo-nos n'esta sala do mirante até o cair das
sombras.
«Os pagens cavalgavam adiante levando archotes, e o vento nos atirava à
eara com o fumo e fagulhas; de modo que eu vinha atordoado, embruxado,
experimentando taes sensações, como as d'um noviço em feitiçaria montado
p^ primeira vez á garupa d'uma bruxa a correr por matagaes. Em menos
d'ama hora tínhamos galgado ruidosamente doze milhas de áspera e des*
egnal calçada, trepando e descendo Íngremes cabeços n'um galope convulsivo,
ma que eu esperava por momentos estirar-me de nariz no chão: mas feliz-
mente as muares eram escolhidas d'entre um cento, e nunca tropeçaram.
«Nos altos d' Ajuda s^ti o ar muito fino e penetrante.»
OARTAXm
WãMJkom mmêMs •■ CwtrrmAj m gapbixa bbal — • cMUfrai. moããJkmmmm
CSmnLvMnsTsm
24 de julho de 1787.
«Yadllei por alguns momentos se encaminhasse os passos do meu cavallo
para o Penedo dos Ovos, i ou para o outro lado da montanha até á Peninha,
Conventinho dos Jeronymos, e dependência da sua principal acolheita. Penha
Longa; porém Marialva, que encontrei com toda a sua comitiva de cavalhari-
Qoe e picadores saindo da quinta, resolveu-me a deixar caminhos de cabras,
e a acompanhal*o ao paço, que eu ainda não tinha visitado interiormente.
«O próprio Alhambra de raro será mais serraceno em^matería de archl-
leetiira do que esta confusa molle, que parece brotar do cimo da rocha, em
que assenta, desabrochando n'uma variedade de recantos e projecções. De
mfflares de misérias foram testemunhas estas venerandas paredes, fechadas
por «na ordem de seguras arcadas, e que repartem uma extremidade da ca-
ia srande em dois ou três aposentos medianos, como guarda-roupas d'um
Qieatro. As frestas, n'um phantastico estylo oriental, em recortes deseguaes e
laiçirias sustentadas em (pilares espiraes e de mármore liso, sao maravilhosas
• campeiam sobre vistas românticas dos fraguedos e da povoação de Cintra.
Algons pateos irregulares e lojas, formados pelos ângulos quadrados dostor-
* Panorama de 1856 (im), pag. G.
104 BE
reões, aviventam-se com fontes de mármore e de bronze doirado, que despe-
jam de eentiBQo copiosos jorros d'agua mui pura.
«Uma espécie de deposito de comprimento tal, que se pôde qoasi denomi*
nar canal, continuado em toda a extensão da casa grande, é como um paraizo
de cardumes dos maiores e mais brilhantes peixes doirados e prateados, em
que tenho posto a vista. O susurro dos repuxos, que resaltam d'este c%nal, os
borbotões deslisando por degraus, e em bacias de mármore polido, o brilho e
o giro veloz dos peixinhos, o admirável contraste da luz e da sombra proda-
zido pelo intrincado labyrinto de arcarias e columnas combinam-se para for-
mar uma scena magica, como as que ás vezes senos figuram em sonhos, mas
que mal presumimos realisaveis. Reina uma sobriedade de matiz nos manna«
res, um mysterio nos aposentos opacos e recônditos vistos em perspectiva; é
tao solemne a côr das aguas quasi próxima da negrídão na parte, a que fa-
zem sombra os altos do edifício, que eu não posso deixar de achar-lhes supe-
rioridade a todo o esplendor e labyrinto das mais afamadas construcç5es mou-
riscas de Granada e de Sevilha.
«A sumidade rasa d'um dos mais altos eirados, nada menos de cento e
cineoenta pés acima do nivel do chão, está preparada como um elegante jar-
dim, que se estende á similhança d'uma alcatifa bordada diante do portai de
um inmienso torreão quadrado, que é quasi todo occupado por uma sala, cujo
remate é uma cúpula das mais singulares; entre as volutas dos arabescos,
que a enfeitam, apparecem os brazões das principaes casas nobres portugue-
zas: a divisa da desventurada familia Távora foi apagada, e o vão, que occu-
pava, está em branco. Subimos ao terrado e ao torreão por uma d'essas esca-
darias empinadas, e em volta de caracol, que abundam no palácio, e prendem
com passagens de abobada por um modo secreto e suspeitoso.
«O marquez indicou-me o pavimento ladrilhado d'um pequeno quarto,
poido e[gasto pelos passos de D. Affonso VI, que em tão estreito espago esteve
recluso muitos annos.
«Descendo d'alli vimos o interior da capella, não menos singular na forma
c construcção do que o restante do edificio. O tecto baixo e chato, bem como
as intersecções dos arcos, aproximam-se muito do estylo das mesquitas: mas
a barbarica profusão de oiro« e ainda mais barbaras pinturas, de que estão
cheios todos os apainelados, quasi pôde suppôr-se obra de artistas chingalezes
ou indostanicos, e trazem -me á idéa os subterrâneos pagodes, onde sua ma-
gestade diabólica recebe homenagens sob a forma de Shiva ou de Budha.
«O brilho original de toda esta extravagante capella acha* se grandemente
amortecido pelo fumo dos lampadários, que ardem ha séculos em frente do
altar, mysterioso composto de obra de talha e de estatuária em perfeita con-
sonância, no que toca a estylo carregado e inculto, com todos os objectos alli
existentes. Diz- se que estando ajoelhado ante este mesmo altar o joven, impe-
tuoso e cavalleiro D. Sebastião, recebera aviso sobrenatural para desistir da
fatal expedição d'Africa, que lhe custou a coroa c a vida, e que um espirito
heróico tem em mais elevada estimação, do que a fama ip mortal, que segue
as emprezas bem succedídas.
BE m
tUma coisa, qae dífficii me seria descrever, certa melancolia oppressiva
parece impendente sobre esta capella, qne, segando imagino, jaz ainda pelo
mesmo gosto, em que a deixou o malfadado D. Sebastião. A falta da livre cir-
enlaçao do ar, a nuvem pezada de incenso, atacam-me os músculos da cabeça
tio desagradavelmente, que muito me apraz abalar e seguir o marquez aos
quartos preparados para a rainha e infantas. Estes sao agradáveis e bem ven*
tilados; em vez de os guarnecer de ricos pannos de raz^ representando aven-
turas de cavalleiros e heroes, os armadores da casa real andavam azafamados
a forrar as fortes paredes com esplendidas sedas e setins das mais brandas e
mimosas cores. Não vi moveis dignos de menção, nem uma pintura, nem um
traste rico de gabinete; e não havendo que vér, pequena foi a nossa demora.
«Assim que o marquez deu algumas ordens, que lhe encarregara a sua
real ama, voltámos ao Ramalhão, onde nos esperavam Home e o cônsul bol-
landez, altercando acerca de seguros, percentagens, commissões e outras es-
peculações commerciaes. Eu tinha persuadido o marquez a acompanhar-me
amanhã a casa do cônsul, M. Guildemeester; é o dia dos annos d*este velhote,
e elle inaugura a sua casa nova com baile e ceia. Teremos uma bonita amos-
tra de senhoras de negociantes, escreventes e caixeiros, alguns agentes do
corpo diplomático, e sabe Deus quantas mil libras de pezo de gordos merca-
dores hollandezes.»
CARTA XIV
WftA •■ QAMJk. — PlTHCÇÃe DB AlVIvea •• chifrai. CSCILDniBMITBB —
25 de junho de 1787.
«Grande gala, a que o marquez vae assistir; este abençoado dia não só
deu nascimento a Guildemeester, mas também à princeza da Beira. Vamos
jantar com a marqueza. Uma banda de musica regimental de caminho para
casa de Guildemeester, começou a tocar no pateo, e fez sair um d'esses curio-
sos enxames de gente de todos os sexos, edades e cores, que esta bemfazeja
família tai^ gosta de agasalhar. D. Henriqueta está sentada nos degraus, que
sobem para o grande mirante, cochichando com algumas das suas criadas
validas, que à maneira do coro na antiga tragedia grega, de contínuo davam
a ana opinião sobre o que vmha apparecendo.
«No momento, que D. Pedro e eu nos dispúnhamos a partir para o baile
dado pelo velho cônsul, agradavelmente nos tomou de súbito a chegada do
marquez, que se tinha safado do paço muito mais cedo do que esperava. Con*
duzm-o na minha carruagem á residência de Home, onde tomámos chá no
terraço, do qual se descortina a vista mais romântica de Cintra, a vastidão
éascnnas dt arvoredo com variada folhagem, marachões seguros pelas raízes
enleiadas, troncos de enormes castanheiros de mistura com os salgueiros, cho-
rOes da mais viçosa verdura, e limoeiros vergando com o fructo. Muito acima
d'esta scena silvestre alteam-se três fendidos pináculos de rocha, distinguin-
do-ae o do meio pelas torrinhas e recinto de Nossa S^ihora da Penha, con-
vento de Jeronymos^ ííreqoentemente escondido nas nuvens. Encosto-me a um
sobreiro, que dilata os ramos cobrindo quasi toda a varanda, afim .de gozar
106 BE)
d^aqaelli vista, e de observar no mea remanso as exqtiisitas flgnras hoUao-
desas, inf^eKas e portagaezas, que passavam para casa de Goildemeester. Este
carreiro de pessoas era bastante variado para me entreter por algom tempo.
«M. ••• não se impacientava, nem se incommodava por coisa aígmôa.
Tendo dado entrada sen canhado S. •»* Y. •»* a quem elle professa mor-
tal aversio» as forças da loz e da sombra, se fossem personificadas, não eihi-
biriam mais saliente contraste do que estes dois personagens; M. **# todo
elle incolcando benignidade, e S. ••# Y. ••# todo malevolencia. E de cerlo
se metade das atrocidades, que a vo2 publica attríbue a este fidalgo são ver-
dadeiras, não maravilhará o negrume de vingança e tyrannia tão profunda-
mente assignalado em cada linha da sna physionomia.
tAproveitando a primeira opportonidade atravessámos becces eseoros e
medonhos, admiravelmente adequados a proezas como aquellas, a que adma
aUudimos, e corremos o risco de saltar a pés Juntos uma regueira, quando
estávamos quasi batendo á porta do velho cônsul: o terreiro defr(mte d'e6ta
casa nova está na peior desordem, o edificio pouco mais tem do que as pare-
des nuas, e achava-se muito mal alumiado.
tPelo que toca á companhia, achei-a exactamente como a esperava. Mada-
me 6 •• • que é soihora de penetração e discernimento, fez as honras de
casa com desembaraçada affabilídade, e prestou a suas príncipaes visitas as
mais distinctas attenções: ha uma certa agudeza original em todas as suas ob-
servações, que me agradou muito: não pertencendo á laia dos indulgentes,
reforçou Yerdeil em cortar pela pelle da gente mercantil. M • • # deu-lhe o
braço, quando fomos á ceia; e esta parte da funcção foi magnifica; havia uma
brilhsoite illummação, immensa profusão de iguarias n'uma mesa tão vasta,
as mais delicadas, que se podiam obter, e um apparato de dessér de (K) ou tt>
pés de comprimento, todo lustroso de figuras bumidas e vasos argentinos de
flores.»
GARTA XV
A HUnGA WA CAFBIXA WUÊMMs — • AKCBBIWP* MIUMime — PmOPMTA
pm JOBKADA A MArWLA
26 de agaste de 1787.
<A musica de capella da rainha de Portugal é por certo a primeira da
Europa quanto a excellencias vocaes e íostrumentaes: nenhum outro corpo
similhante, nem a capella pontificia, apresenta uma tal reunião de admiráveis
músicos. Para onde quer que sua magestade vae estar, elles acompanham-a,
ou á caça d'altaneria em Salvaterra, ou à busca de saúde nos banhos das Cal-
das; até para o meio d'estas agrestes fragas e montanhas vem cercada d'um
coro de mimosos cantores, que engordam como codomizes, e gorgeiam com
tanta melodia como rouxinoes. Os rebecas o rebecões de sua magestade dei-
xam a perder de vista todos os de primeira ordem, e o seu viveiro de tocado-
res de oboés e flautas não tem rival.
tO marquez de M.*«* na qualidade de primeiro camarista e estribeiro-
mór, e também como primeiro valido entre os nobres, goza decisiva influencia
sobre todo aquelle império de vozes harmoniosas; e teve para comigo tanta
BE 107
iKNidade, qne me faeilitoa participar d'essas bemavebturaDças miísicacs, sondo
permiltído desfiractar, onde me aprouvesse, uma banda escolhida de tão estu-
pendos executantes. Exactamente na manha de hoje, e para minha vergonha
o eaosigno, passei qnasi horas e horas no meu pavilhão de novo composto,
sem ler uma palavra, escrever uma linha, ou entrar em conversação, absor-
vidas todas as minhas potmcias d'alma na harmonia dos instrumentos de
vento, postados os instrumentistas a distancia n'um macisso de larangeiras e
loureiros, não por falta de propósito ás vezes de me esquivar á magia dos tons;
mas tantas vezes voltava, quantas forcejei por evadir-me. Se eu consultasse
sãmente o meu entendimento, despediria os músicos; os seus insinuantes tons
maviosos despertaram-me longa série de melancólicas lembranças, e pela força
das idéas associadas prostraram-me em estado de abatimento e tristeza.
«O meu excellente amigo o prior d'Aviz praticou um verdadeiro acto de
amizade tirando-me quasí á força do meu retiro, e stibtrahindo-me aos meus
devaneios: insiste que o acompanhe a casa do arcebispo, onde vae fazer-se o
ensaio d'um conselho, que devia celebrarse perante a rainha, e para isso es-
tão reunidos os ministros d'estado com os seus sub-secretarios. Taes congre-
gações são novas para o bom do velho confessor, que acaba de ser investido
da suprema direcção do gabinete muito contra sua vontade: bem conhece
quanto valem a commodldade e o socego para deixar de lamentar tão violento
desvio dos seus ordinários hábitos de viver. Achamol-o, por tanto, como era
de e^rar, inquieto e irritado, rubro até á raiz do cabello, côr qne muito e
muito contrastava com seus largos vestidos de flanella branca, que elle a miú-
do sacudia e amarrotava, batendo mais de uma vez com vehemencia na volu-
mosa barriga, que, não obstante declarar elle ter esperado uma hora fora do
costume para sua completa repleção, de nenhum modo soava como tonel va-
zio. Gomtudo t rifão velho — pança gorda, cabeça ouça — não lhe pôde ser
applicavel: foi tão benigno e confidencial, que me expoz ao summario o que
lhe haviam representado as differentes repartições publicas, e fel-o com muita
clareza e tino. Não obstante o interesse, que devia excitar esta singular com-
municação, não lhe prestei metade da attenção que merecia; ainda me domi-
navam as impressões, que de manhã me ficaram da musica de Haydn e Jo-
rneUi. O grao-prior conhecendo que a politica não as dissiparia, foi consultar
o seu sobrinho^ que aconteceu achar-se ratão no aposento da rainha, e vol-
tou com a proposta de que tendo eu ha muito expressado o desejo de vér
Mafra, se pozesse em execução amanhã este intento; assim o ajustámos.»
GARTA XVI
BXCI7R«Âe A MAWWUk
27 de agosto de 1787.
«Mettemo-nos na carruagem ás 9 horas, apezar do vento, que nos açoitava
a cara. ^ A distancia da quinta, onde eu habito, a este convento, é de qnasi
gnatorze milhas inglezas, e a estrada, que por fortuna nossa tinha sido con-
« Panorama de 1856, pag. 286.
m BE
certada, atravessa am território descoberto e tostado, por onde se vdem espa-
lhados escassamente algans moinhos e logarejos. O retrospecto para os silvei-
três declives e ponteagndas rochas de Cintra é bastante agradável; mas, qaan-
do olhávamos para diante nao pôde conceber-se coisa mais árida e descolo-
rida. Graças ás mudas de cavalgaduras progredimos rapidamente, e em me-
nos de cinco quartos de hora nos achámos junto à grossa parede, que abraça
os oiteiros, o fecha a tapada de Mafra.
«Então descobrimos num relance de olhos as torres marmóreas e o zim-
bório do convento, realçado pelo espaço azul celeste do oceano, assoberbando
as sommidades das eminências matagosas, e variando a scena aqoi e acolá as
copas fechadas dos pinheiros, e as verticaes pyramides dos cyprestes. Ainda
se nâo viam os tectos do edifício, e continuámos por algum tempo a costear
as ondulosas ladeiras da tapada primeiro que as descobrissemos. Um piquete
de leigos esperavam para abrir as portas da real cerca, tristemente ennegrecida
pelo fogo, que haverá um mez consumio grande parte da mata e verdura. A
nossa chegada deu terrível rebate aos bandos de corças^ que pacificamente
pasciam' n'uma encosta mais viçosa, que as circumvisinhas: fugiam a toda a
pressa, e refugiaram-se n*uma brenha de pinheiros meio queimados.
«Tendo rodeadç a muralha do jardim grande, torneámos de subílo o an«
guio, e se nos descobriu uma das vastas fachadas do convento, similhando
nma rua de palácios. Nao pretendo que o estylo do edifício seja digno da in-
teira approvaçao do conhecedor da genuína architectura grega: as portas e
janellas são na maior parte do formas caprichosas, mas pelo menos bem pro-
porcionadas. Admirava eu a ampla fíleira d*ellas á proporção que ia passando
rapidamente, quando ao virar do soberbo pavilhão quadrado, que flanqueia o
edifício, a principal frente se patenteou á minha vista na extensão de oitocen-
tos pés. O centro é formado pelos pórticos da egrcja, ricamente adornados de
columnas, nichos e baixos relevos de mármore. De cada lado duas torres, al-
gum tanto similhantcs às de S. Paulo em Londres, elevam-se á altura de quasi
duzentos pés, e juntando-se a este enorme corpo, o terminam á direita e á
esquerda, com seus magestosos pavilhões. As torres são esbeltas, graciosas,
carregadas de pilastras notavelmente bellas; mas a sua fígura em geral atira
muito para o estylo de pagode, carece de solemnídade : contem muitos sinos
das maiores dimensões éo famoso carrilhão, que custou alguns centos de mil
cruzados, e tocava na occasião, em que se participou a nossa chegada.
«O adro e o lanço de escada em frente dos pórticos do templo são admi-
ravelmente espaçosos; e o zimbório, que arrogante campeia acima do remate
do frontispício, merece gabos pelo que tem de ligeiro e elegante.
«Alonguei a vista pela extensão ampla do palácio para ambos os lados
até fatigar-se, folgando depois de retiral-a do esplendor deslumbrante do már-
more e da confusão dos ornatos de esculptura, pondo os olhos na azulada vas-
tidão do oceano distante. Defronte d'esta colossal fabrica estende-se um grau-
de terreiro nivelado, na extrema do qual se v()ein dispersas algumas casas
caiadas. Posto que estas de nenhum modo sejam mesquinhas, parecem, em
contraste com a immensa mole, que lhe fíca próxima, como as barracas das
BE 109
trabalhadores» pelas qnaes as tomei à primeira vista, e nao poueo me admirei
quando ao chegar mais ao perto conheci as soas verdadeiras dimensões.
«Poucos objectos fazem interessante a vista do terreiro de Mafra: vedes os
talhados de uma vilia de pouca monta, e as encostas areientas, além das quaes
se divisa o mar sem limites: á esquerda fecham o horisonte as alcantiladas
serranias de Cintra, e somente á direita um pinhal na dilatada fazenda do vis-
conde de Ponte de Lima, dá algum pequeno refresco aos olhos.
«Para nos abrigarmos do sol, que dardejava com forga sobre nossas cabe-
ças» entramos na egreja, passando por debaixo d'aqaelle sumptuoso pórtico,
o qual nao poucas lembranças me dá da basílica de S. Pedro, sendo povoado
de estatuas de santos, cinzeladas com extremo primor e delicadeza.
^A primeira vista da egreja é magestosa. Dá logo nos olhos o altar-mór
com duas magnificas columnas de mármore vermelho e variegado, ambas in-
teiriças, e de trinta pés d'altura. Trevisani pintou magistralmente o retábulo,
que representa Santo António no extasi de tomar nos braços o Menino Jesus,
baixando á sua eella cercado da refulgencia da gloria.
«Por ser amanha festa de Santo Agostinho, cuja ordem religiosa está
actualmente de posse d*este mosteiro, appareceram todos os candelabros áu-
reos e cirios accesos. Tendo-nos demorado poucos minutos no meio d'esta es-
plendida illaminaçao, visitámos as capellas collateraes, emiquecidas de per-
feitíssimos baixos relevos, e com soberbos arcos de mármore preto e amarello,
de ricos veios, e tao perfeitamente polido, que reflecte os objectos como espe-
lho. Nunca observei um conjuncto de formosos mármores como o que res-
plandecia por cima, abaixo e em redor de nós; o pavimento, a abobada, a cú-
pula e até o lantemim do remate são forrados dos mesmos preciosos e durá-
veis materiaes, rosas e grinaldas de palmas de marmorei mui primorosamente
lavradas enriquecem todas as partes do edifício. Nunca vi capiteis corinthíos
melhor modelados, nem esculpidos com a maior precisão e engenho, do que
os das columnas, que sustentam a nave.
«Satisfeita a nossa curiosidade pelo exame de vários ornamentos dos alta-
res, seguimos o nosso conductor por um extenso corredor coberto á sacristia,
casa magnifica de abobada, apainelada com almofadas de algumas varieda-
des mui bellas de alabastro e porfido, e alcatifada como a capella adjacente
com grande fausto. Passámos por mais alguns repartimentos e capellas, ador-
nado tudo com egual pompa, até que nos achámos cansados e desgarrados co-
mo eavalleiros andantes no labyrintho d'um palácio encantado.
«Começava a persuadir-me que não tinham fim aquellas espaçosas casas.
O frade, que nos precedia, homem de bom génio e velho baboso, tendo para
si que nós não percebíamos palavra da sua língua, tentava expliear-nos os ob-
jectos por signaes, e quasi que nao dava credito aos próprios ouvidos pergun-
tando-lhe eu em bom portuguez, quando acabaríamos de ver capellas e sacris-
tias. O velho parecia muito agradado dos meninos, como elle nos chamava a
mim e a D. Pedro, e para nes dar occasião de estendermos as pernas, cami-
nhava com tal desembaraço, que o marquez e Verdeil lhe desejavam por pre-
mio o purgatório: é cerlo que avançámos em tão veloz escala, que n'um ou
iio BE
dois minatos galgáramos de cabo a cabo am donnitorío de seiscentos pés de
comprímento. Estes vastos corredores e as eellas, que com eUes commimicam
em nimiero de trezentas são todas como arcadas, e de constmc^ samptnosa
e solida; cada cella, ou antes camará, pois que sendo bastante espaçosas, da
bom pé direito e com moita claridade merecem tal denominação, é goameci-
da de mesas e contadores de madeira do Brazíl.
«Exactamente ao entrarmos na livraria, o abbade revestido das vestes de
soa dignidade veia dar-nos as boas vindas, e convidar-nos a jantar com elle
no refeitório amanba, dia de Santo Agostinho, o que parece ser am rasgado
obseqaio. Gomtado julgámos conveniente recusar esta honra, receiosos de qae
para gosal-a perdêssemos pelo menos duas horas, e flcassemos meio cosidos
pelo vapor de enormes vitellas, perus e leitões, de antemão engordados para
esta solemne occasião.
«A livraria é de prodigiosa extensão, nada menos de trez«itos pés, o tecto
de abobada d*nma forma agradável, bellamente estucado, e o pavhnenlo de
mármore branco e vermelho: não pôde dizer-se o mesmo a respeito das es-
tantes dos livros; são d*um desenho vulgar, toscamente executadas, e escure-
cidas por uma galeria, que corre toda a sala d'um modo desengraçado. A eol-
lecção, que consta de perto de sessenta mil volumes, aeha-se ao presente afer-
rolhada n'uma serie de quartos, que tem serventia para a bibliotheca. Alga*
mas das primeiras edições dos clássicos gregos e romanos, muito bem conser-
vadas, e ricamente illuminadas me apresentou o padre bibliotheeario; maso
nosso lesto conductor não me deu tempo d*examínal-as.
«O nosso conductor partiu de carreira, e subindo uma escada de caracol
nos conduziu ao terraço, largo e plano, fechado por uma balaustrada magnifica,
desembaraçado de chaminés, d*onde se vêem d'a]to a baixo os pateos, o jar-
dim, a horta K
«D'osta elevação toda a planta do edifício se comprehende n'um relance de
vista. No centro avulta o zimbório, como um formoso templo d'entre os espa-
çosos muros d'uma quinta real. É infínitamente superior, no que toca ao de-
senho, ao resto do edifício, e pôde de certo ser reputado como o mais esbelto,
mais proporcionado dos que ha na Europa. D. Pedro e mr. Verdeil propoze-
ram subir uma escada, que vae ao lantemim ou clarabóia; mas eu pedi des-
culpa de os não acompanhar, e diverti-me durante a sua ausência andando de
uma banda para a outra, profundando de vez em quando avista nos objectos,
que estavam lá tão em baixo, e frequentemente contemplando as torres, que
resplandeciam com o brilho do sol, e o azul ferrete do mar ao longe. Uma vi-
ração fresca e balsâmica, emanada dos pomares de laranja o limão me re-
creava ao parar nos degraus do zimbório, e modificava o ardor da calma es*
tiva.
«Breve me tirou d'esta pacifica e desassombrada situaçiio a confusa mati-
nada de todos os sinos, seguindo-se-lhe uma complicada sonata, tangida com
grande proficiência. O marquez, que também subira coronosco, do propósito
1 Panorama de 185G, pu^>. 315.
BE iii
para no próprio mananeial gozar d*esta catadupa de sons^ que algomas pes-
soas ehamam melodiosos, quiz que eu me aproximasse para ATAmínar o me-
ebanismo; fiquei meio atordoado: sou na verdade pouco entendedor de car-
rilb9es e sinos, e não tenho pena da perda d'mn divertimento de campanário;
porém o meu amigo, que herdou uma natural inclinação mechanica de seu
pae, fámigo^do patrono dos sinos e relógios, investigou cada roda com muita
atlaiçio. Acabada a sua revista, descemos innumeraveis escadas, e recolhe-
mos a casa do capitão-mór, cuja jnrisdícçao se estende á tapada e ao districto
de Mafra; tmn sete ou oito mil cruzados por anno, e a sua habitação manifesta
todas as apparencias de commodidade e abastança; o soalho é coberto de es-
teiras fluas, e as portas e janellas armadas com cortinas de damasco verme-
lho. As nossas camas, novas à estreia, estavam alastradas de cobertores de seda
com ricas bordaduras e franjas: serviram-nos uma comida opipara, e muito
melhor sobremesa, do que os próprios frades nos poderiam ministrar, toman-
do o capitão-mór os pratos das mãos da longa serie de seus criados, e pon-
do-os eUe diante dos convidados, inteiramente ao modo feudal.
«Tomado o café apressamo-nos a ouvir as vésperas na egreja do convento;
caminhando entre as ordens de capellas illuminadas fomos occupar assentos
na real tríbuoa; e logo entraram os frades processionalmente, precedendo o
abbaâe, que subiu à cadeira prelaticia, com uma fileira de sacristãs a seus pés,
e de cónegos á mão direita; as vestes e paramentos eram de brocado d'oiro.
Ganioa-se o officio com summa solemnidade ao fcurmidavel som dos órgãos,
pois que ha na egreja nada menos de seis, e todos de tamanho desmesurado.
Acabado este, e novamente guiados pelo activo leigo, fomos conduzidos por
uma escadaria magnifica ao palácio. Os aposentos occupam o espaço de sete
centos on oito centos pés; e a quasi interminável successão de portas magestosas>
vista em perspectiva, causa assombro; em pouco tempo cansados de meramen-
te admirar concordámos em que eram as casas mais enfadonhas e menos com-
modas, que temos visto; não ha variedade na forma, e pouca nas dimensões.
Estando agora guardadas em Lisboa todas as colgaduras predominava geral
nudez; nem um nicho, nem uma moldura interrompe a tediosa uniformidade
das despidas paredes brancas.
«Folguei da volta ao convento, e de refrigerar os olhos com a vista das pi-
lastras de mármore, e os pés pisando alcatifas da Pérsia. Por onde quer que
andávamos, em cada cella, passagem, capella, sacristia ou sala, seguia*nos
uma extraordinária mistura de frades curiosos, sacristães, leigos, indivíduos
da justiça e de clerezia, e casquilhos da terra com seus espadins e rabichos.
Se acontecia fazermos alguma pergunta, meia dúzia d'elles todos a um tempo
afinavam o gasnete para dar resposta. O marquez completamente molestado
de andar de batida e com tanto tumulto, tentou por varias vezes esquivar-se
à torba, dando voltas rápidas ora para uma, ora para outra parte: mas elles
atrelados aos nossos calcanhares baldavam-lhe as diligencias, e engrossava o
tropel a tal ponto, que parecia estar varrido de seus moradores todo o con-
vento e a povoação, para andarem atraz de nós por uma das sobrenaturaes
attracçoes, que lemos nos contos e romances.
ii2 ÔE
«Por fim peroebeodo ama larga porta aberta para o jardim, saímos por allí
de sabito; embrenbando-nos em mn labyrintho de mortas e loureiros, assim
nos desembaraçámos dos nossos perseguidores. A cerca, que terá obra de mi-
lha e meia de circumferencía, cgpiprehende além de matas de pinheiro bra*
vo e de loíreiros. alguns pomares de limão e laranja, e dois ou três taboleiros
de jardim mais cheios de hervas, que de flores: muito me desagradou achar
esto formoso recinto despresado tão miseravelmente, e suas viçosas plantas
mirrando-se à falta de serem convenientemente regadas.
«Podereis suppor que ajuntando um passeio nas príncipaes ruas do jardim
ás outras nossas peregrinações começamos a sentir-nos algum tanto fatigados,
e não desgostámos de descançar no aposento do abbade, até que de novo fo-
mos convidados para a tribuna a ouvir cantar matinas. Gerrava-se a noite; e
os innumeraveis brandões accesos nos altares, e por toda a egreja diffundiam
já uma luz mysteriosa. Outra vez os órgãos tocavam em cheio, e as longas fi-
leiras de frades e noviços vinham entrando a passos lentos e graves, o abba-
de reassumiu o seu throno com egual pompa á das vésperas: o marquez res-
montava as suas orações, o grão prior rezava pelo breviário, e eu embebi-me
em vagos pensamentos por tanto tempo, quanto durou o ofQcio, isto é, qoasi
duas horas. Verdeii semi -morto de enfadamento, não poude aturar o calor da
tribuna, nem a nuvem de incenso, que toldava o coro baixo, e foi respirar
ninis livre ar no corpo da egreja e capellas adjacentes.
«Era perto das nove quando os frades, tendo cantado um solemnissimo e
roui sonoro hymno em louvor do seu venerando patriarcha Santo Agostinho,
largaram o curo: acompanhámos a sua procissão pelas altas capellas e area-
das dos claustros, os quaes com luz fraca parecia não terem tecto nem fim, até
entrarmos n'nm octogono de quarenta pés do diâmetro, com fontes nos quatro
principacs ângulos, dispersando -se a lavar as mãos n'estas, os monges orde-
naramse outra vez em préstito, e passaram a dois e dois por um portal do
trinta pés de altura para uma espaçosa casa, que communica com o seu re-
feitório por outra portada das mesmas elevadas diuiensõos; ahi foz uma pausa
a procissão, por ser logar dedicado á recordação dos finados, e por isso se
chama á casa De profundis. Antes de cada comida usam os monges estarem
de pé cm sisudas fileiras em volta do refeitório, silenciosos passando pela idca
quão precária é a nossa frágil existência, e deprecando pela salvação das al-
mas dos seus predecessores.
«Não pude deixar do ponetrar-me do reverencia vendo á lu^ scintillante
dos lampadários tantos vultos veneráveis, com seus hábitos pretos e brancos,
de olhos inclinados para o chão absortos na meditação mais espiritual e me-
lancólica.
«Findo o momento destinado a esta solemne rogativa cada um tomou seu
logar nas compridas mesas do refeitório, feitas de madeira do BrazíL e cober-
tas com alvíssimas toalhas. Cada religioso tinha sua garrafa de agua e vinho,
seu prato de maçãs, e salada postas diante de si; não havia manjar do peixe
ou do carne, porque a vl{;ilia do Santo Agostinho guardava-so com o mais ri-
goroso jojuiii.
BE 413
«Para gosarmos n'um lanço geral d'olhos este singular e magestoso espe-
ctacolo, retirámos para o vestíbulo anterior ao octagono, e alongámos a vista
por todas as portadas e os renques de candelabros até dentro do refeitório,
que em razão de seu grande comprimento, nada menos de duzentos pés, si-
mulava rematar em ponta. Demorando-nos alguns minutos a desfructar esta
perspectiva, vieram depois quatro frades com tochas alumiar-nos até fora do
convento, dando-nos as boas noites com muitas reverencias e genuflexões.
«A nossa ceia em casa do capitão-mór foi assaz divertida, boa parte da
noite, nao obstante o nosso cansaço, estendemos a conversa acerca da varie-
dade de objectos, que nos passaram pelos olhos em tão curto espaço de horas,
o reboliço das brutescas figuras quasi ins^araveis dos nossos calcanhares por
tanto tempo, e tão de perto, e a vivacidade achavascada do frade leigo.»
CARTA xvu
Bbcbbsso a Ci^rriftA — Dhlbitb do dbacanho depoiii da jobkada
28 de agosto de 1787.
«Meio dormente, meio acordado, retiniu-me nos ouvidos o sonoroso carri-
lhão do convento; as vozes do marquez e D. Pedro em porfiosa conversação
com o capitão-mór no quarto contíguo, completamente me despertaram. ^ En-
golimos o café á pressa; o grão-prior largou com reluctancia o travesseiro, e
acompanhou-nos á missa conventual. Os frades redobraram os esforços para
nos reduzirem a jantar com elles; continuámos, porém, inflexíveis, a fim de
evitar novas importunações e partimos açodados, finda a missa, para a quinta
do visconde de Ponte de Lima, onde a fechada sombra dos loireiros e azevi-
nhos nos abrigava do excessivo ardor do sol.
«O marquez, sentando-se a meu lado ao pé d'ama das límpidas e copiosas
fontes, que refrescam e aviventam o magnifico jardim á italiana, encetou um
discurso mui serio e semi-official sobre a minha estada em Portugal, e os meios,
que se projectavam em mui alia região, para que fosse não só agradável para
mim, mas também de alguma valia para outros muitos. Alliviou-me a presen-
ça de D. Pedro e de seu tio, que tendo passeado até o fim d*uma avenida de
pinheiros longamente extensa, vieram mudar a conversação, que já se me tor-
nava pesada; voltámos todos á poisada do capitão-mór, e achámos o jantar
prompto.
«D. Pedro e eu tínhamos pena de deixar Mafra; nem poríamos objecção a
outra corrida pelos claustros e dormitórios com o frade leigo. A tarde estava
brilhante e limpa, e a côr azul do mar distante indísivelmente agradável.
Fomos levados com tumultuaria velocidade pelas escabrosas estradas, de ma-
neira que mal podíamos o marquez e eu dar palavra um ao outro. D. Pedro
ia montado no seu cavallo, e Verdeíl, que nos precedia no carrinho, parecia-
nos ir desafiando o vento: o seu macho, um dos mais arrogantes e corpulen-
tos d'esta casa, incitado pelas chicotadas e exclamações d'um esgalgado pos-
tilhão portuguez empoleirado atraz do vehiculo, galopava desencabrestada-
i
Panorama do 1856, pag- 315.
o
TOMO 1 O
ii4 BE
mente, e a obra d'ama légua das rochas de Cintra, assentou de arrojar seus
conductores para o meio d'umas moitas no fondo d^am fojo qoasi perpendi-
cular, onde ainda esperneava, quando nós passávamos.
«Yerdeil vein para nós manquejando, e apontando para o carrinho caido
no barranco; excepto a leve contusão n'um joelho, nao teve outro detrimento;
exclamou immediatamente que escapara por milagre, e que sem duvida Santo
António tivera mâo n'elle. O meu amigo, que traz sempre os horrores da he-
resia diante dos olhos, cochichou-me ao ouvido que doesta vez o diabo o ti-
nha salvado, mas que talvez d*outra não estivesse tão bem disposto.
cAinda não eram cinco e meia, quando chegámos a Cintra; a marqueza»
o abbade e os meninos nos esperavam. Andando-me a cabeça á roda, e as idéas
tão abaladas e confusas^ como tinha o corpo, recolhi-me a casa logo ao cair
das sombras, a íim de gosar umas poucas de horas de não interrompido des-
canço; o apparalo da minha ampla sala, a sua solidão e silencio infundiam mo-
mentânea tranquilidade no animo agitado. A macia e bem lisa esteira, fabri-
cada do melhor e mais lustroso junco, assumia à luz das bugias uma cor de-
liciosa, suave e acorde; vi- a tão fresca e brilhante, que me estendi n*ella, e
alii me deixei estar de papo para o ar, contemplando o cristalino e sereno céo
de verão, e a lua, que vinha nascendo vagarosa detraz da coroa de um outei-
ro matagoso; uma frouxa viração afastando as cortinas descobria os topes das
arvores silvestres do jardim, e ao longe extenso tracto de paisagem, terminada
pela superGcie do mar, e os ennevoados promontórios.»
CARTA XVIII
iSalÂo oniBi«TAi« — D. João W b Odivillas
— COliVUlSÂO DB UMA MGLBKA ¥BLHA — SbD BIITBIUIO
29 de agosto de 1787.
«Achava-me desmedidamente encalmado; desperdicei toda a manlià no
meu mirante, cercado de fidalgos com seus chambres mui garridos, e de mú-
sicos vestidos de roxo, com largos chapéus de palha á similhança de bonzos,
ou talapões, parecendo tão queimados do sol, ociosos e ne^fligentes, como os
habitantes de Ormuz ou Bengala, de forma que a minha companhia assim co-
mo o aposento oíTeVecia a mais decidida apparencia oriental; por exemplo, o
divan levantando-sc poucas polegadas acima do soalho, as gelozías doiradas
das frestas, as cristalinas regueiras manando d'um tanque logo debaixo dV
quellas, e que constantes supprcm as fontes da rocha nativa.
«Agradável variedade predomina na minha sala asiática; metade das cor-
tinas ostentam as mais ricas dobras; outra metade são transparentes, e der-
ramam jucunda claridade sobre a esteira c sophás; grandes e luzidos espelhos
multiplicam a profusão das armações; alguns dos meus hospedes não se en-
fastiavam de andar de canto para canto observando os diííerentes grupos de
objeclos reflectidos por todos os lados nas direcções menos esperadas, como
se pliantasiassem ser admitlidos por encauto a espreitar por um labyrinlho de
camarins inagioos.
• Um individuo da socicdado, maiioiuso velho, italiano o clérigo, que linha
BE 115
saído da soa terra natal aotes que o celeberrimo terremoto derrubasse pelos
alicerces mais de metade de Lisboa, disse-me qae se recordava d'um aposen-
to, boa amostra n'esle mesmo gosto; isto é, adornado de espelbos e cortinas,
uma espécie de palácio de fadas, que communicava Qom o convento de freiras
de Odivelias, tão famigerado pelo piedoso retiro d'aquelle exemplar de ma-
gnificência e santidade, o rei D. João Y. Deleitosos dias abí passou o monar-
cba, e os favorecidos companheiros das suas devoções.
cDe que serve (accrescentou mui judiciosamente o padre mestre) a gaiola
mais formosa sem pássaros, que a aviventem ? Se tivésseis ouvido a celestial
harmonia das reclusas do rei João Y, nunca vos terieis contentado no vosso
primoroso pavilhão com o esganiçamento dos sopranos e os roncos dos rabe-
cões. A suavidade, refiro* mo áqueilas puras vozes, saindo do sagrado asylo
recôndito, onde não é dado penetrar ente humane masculino, á excepção do
monarcha, produzia um cfTeito, de que ainda me lembro extasiado, posto que
jà lá vão bastantes annos. Quatro dos nossos mais abalisados cantores, dois
de Yeneza e dois de Nápoles, attraidos pela liberalidade verdadeiramente ré-
gia, accrescentaram tudo quanto o gosto consumado e a scíencia podia pres-
tar às mais excellentes vozes de Portugal: o resultado foi a perfeição.
«Exactamente ao levantar-nos de jantar para a mesa do desserj posta no
terraço fronteiro á rua principal do jardim, entrava o abbade Xavier apre-
goando a admirável historia da conversão diurna inj^Ieza phtysica, e nada
creança, que acbando-se em vésperas de despedir-so do mundo, ao que pa-
rece, requereu um padre para confessar-se o abjurar seus erros de toda a
casta.
«Acontecendo alojar-se na hospedaria de Cintra, de que era dono um dos
mais fervorosos catholicos irlandezes, os louváveis desejos da senhora foram
expeditamente satisfeitos, e Mascarenhas e Acciaoli, e mais dois ou três pa-
dres e monsenhores chamados para ajudarem a esta boa obra. ^
«Grande tem sido (exclamou o abbade) o nosso regosijo por este motivo.
N'esta mesma tarde o ditoso anjinho será sepultado em triumpho; Marialva, S.
Lonrenço, Asseca e outros muitos da principal nobreza concorrem para tor-
nar mais apparatoso o acto; creio que víreis comigo, e acompanhareis o prés-
tito?
«Com a melhor vontade (respondi), e ainda que não gosto de funeraes, co-
mo esse de que fallaes, é tão festivo, posso fazer uma excepção.
«Partimos, transportados tão velozmente, quanto o podiam as parelhas de
excellentes machos, para que não chegássemos tarde á função; muita concorrên-
cia de povo havia diante da porta; n*uma das janellas estava o grão-prior re-
zando o breviário, e em ar contemplativo, como quem desejava ver-se d'allí
cem léguas. Subi as escadas, e immediatamente me Ozeram roda o velho con-
de de S. Lourenço e outros devotos, innundando-me de congratulações. Mas-
carenhas, um dos mais conspícuos membros da Sè Patriarchal, chapado hy-
poerita e doutor ascético, foi-me apresentado. Acciaoli, de quem eu era já co-
«1 Panorama úv. 18^iG, pag o.il.
H6 BE
Dhecido, aos palinhos pela casa esfregava de contentamento as mãos, e com
olhar surrateiro e risinho velhaco espraiado no semblante jovial dava trincos
com os dedos para Satanaz, como quem dizia:
«Figas, demónio í Ao menos tiramos-te nma das garras, já está agora li-
vre do ten caldeirão.
«Havia tal azáfama no quarto interior, onde o mirrado cadáver estava de-
positado, tal cantarola e reza, porque nenhuma língua estava ociosa, que a ca-
beça andava-mc á roda, c fui refugiar-me ao pé do grão-prior; bem se via que
nào lhe era agradável a assembléa; mas encolhendo os hombros dizia que ^ a
muito edificante, por certo muito, e que monsenhor Âcciaoli fora em extremo
vigilante, em extremo activo, e merecia subido louvor, salvo o pod^-se ter
poupado simílhante bulhaça.
«Por algumas indicações, que escaparam, não quero dizer a quem, vim a
descobrir que o innocente aujo, agora na estrada real da felicidade eterna, não
quizera passar por este mundo sem provar da taça do prazer, e vivera mui-
tos annos folgadamente^ não só com um galhardo moço solteiro da sua na^o,
mas com outros indivíduos, casados, e não casados, do seu particular conhe-
cimento. Gomtudo ella virou súbito de bordo achando-se levada velozmente
pela maré de uma rápida phtysica, e foi rebocada para o porto pelos coiyun*
tos esforços do estalajadeiro irlandez^ e dos membros acima nomeados.
«Oh! três vezes feliz ingleza (exclamou M—a), que fortuna é a tua! No ou*
tro mundo a immediata admissão ao paraizo, e n'este, teu corpo gozará a in-
signe honra de ser conduzida á sepultura por pessoas da mais alta jerarchíal
Viu se jamais tanta ventura?
«A chegada d'uma multidão de padres e sacristães, de tochas accesas e
cruz alçada nos chamava á scena d' acção. Mettido em ordem o acompanha^
mento foi conduzido o corpo, vestido de branco, n'um caixão forrado de côr
de rosa com seis argolas prateadas, a fim de se levar á mão. M. que detesta a
vista d'um cadáver, fazia-se vermelho até ús orelhas, e daria uma quantia pa-
ra fazer uma retirada honrosa; mas já nenhuma retirada era compatível com
a piedade christã, e viu -se obrigado a vencer a sua repugnância, e pegar a
nma das argolas do caixão, outra foi encaixada na mão do notório S. Vicente,
outra coube ao velho fanhoso conde de S. Lourenço, a quarta ao visconde
dAsseca, exccllente cavalheiro, mancebo d^exterior sincero, e a quinta e a
sexta tocaram ao capitão-mór de Cintra c ao juiz, sujeito de desagradável as-
pecto.
«Assim que o grão-prior pilhou fora da vista o lívido semblante da defunta»
que era levada pela escada abaixo fez uma tentativa para abalar, e preceder
em vez de seguir o acompanhamento; porém AccíaoIi,que fazia de mestre de
cerimonias, não o deixou safar-se tão facilmente, distribuindo-lheologar mais
honroso, logo adiante do caixão, collocando-se-Ihc á esquerda, dando a direi-
ta a Mascarenhas.
«Todos os sinos de Cintra repicavam, e á sua alegre toada íamos nós ca-
minhando á pressa por meio d' uma densa nuvem de pó, com uma canalha de
rapazes a rclouçarem por ambos os lados, e as avós manquejando atraz, re*
BE ,„
zando pelas contas, e de vez cm quando arreganhando o resto da carcomida
dentaça, e a cochicharem ao ouvido umas das outras sobre o seu triumpho
contra o príncipe das trevas.
•Felizmente o caminho para a egreja não era comprido, aliás a poeira nos
sufiòcaria; o grão-prior conservando fechada a bocca, nâo recebia uma partí-
cula d'ella; mas Acciaoli e seu collega estavam de tal modo enfatuados com
a sua afortunada empreza, que nâo cessavam de pahrar.
•O pobre velho S. Lourenço, gordo, acaçapado, e asthmatíco, querendo*
tomar fôlego parava de vez em quando a descançar da jornada. Marialva, a
quem a natural aversão a estes actos ainda mais lhe fazia pesada a carga, tam-
bém não se lhe dava doestas pausas.
«Achámos todos os altares da egreja scintillantes com lumes, aberta a cova
para receber o seu purificado habitante, e uma numerosa cohone de padre-
cas saindo-lhe ao encontro. Á entrada cantaram muitíssimas vozes juvenis de
coristas, o que o ritual prescreve no enterro das creanças de mama, ou de
pouca idade, o incenso elevava-se em rolos ao ar, e brilhava alegria e con-
tentamento em toda a congregação.
«Susurrou outra vez o borborinbo de applausos e congratulações recebi-
dos por aquelles, a quem mais cabiam com toda a affabilídade, e até denguice.
O ancião S. Lourenço atracando o grão-prior, erguerdo-o ao ar nos braços, e
borrifando-o de tabaco, pregou-lhe um forte espirro. O S. Vicente, assim que
desceu á cova a defunta com as suas vestes cândidas da innocencia, retirou se
com malícia, porque nunca estava bem na presença de seu cunhado Marialva.
Quanto ao outro zeloso fidalgo a exaltação e triumpho lhe faziam ultrapassar
os limites do decoro; escarneceu dos hereges com acrimonia, pintou com vi-
vas cores a felicidade da convertida, e quando saiamos da egreja gritou tão
alto, que o podessemos ouvir — Ella agoira está c para nós todos,
•Concluída sua pia tarefa, os dois monsenhores nos acompanharam aos al-
tos de Penha Verde a respirarmos a frescura do ar á sombra dos resinosos e
odoríferos pinheiros; e d'ahi voltando em nossa companhia ao Ramalhão par-
ticiparam da merenda de gelados e doces, e fechou-se a tarde com discursos
jucundos acerca da scena, que tínhamos presenciado.»
CARTA XIX
AVKCMrrjUI M» COlfSB 9B 0. liOITKBlfÇO — • COltSUI. HOI.LA5IDBS — CbIA MJOVBltB
«Os princípaes personagens, que tão piamente se distinguiram hontem, jan-
taram comigo n'esta abençoada tarde. O velho S. Lourenço tem prodigiosa me-
moríá, e a imaginação escandecida, ainda mais exaltada por um leve toque
de loucura. Apresenta-se perfeitamente conhecedor da política geral da Eu-
ropa, e, posto que nunca desse um passo fora de Portugal, narra tão circums-
tanciada e plausivelmeúte os modernos successos, e a parte, que elle próprio
desempenhou no congresso d'Aix-la-Chapelle, que eu cai no logro, e acredi-
tei, ^n quanto não me informaram do segredo, que elle efíectivamente presen-
ceára, o que só tinha sonhado. Não obstante a subida graça, em que estava
para com o infante D. Pedro, o marqnez de Pombal o havia encarcerado com
418 BK
outras viclimas da conspiração do duque d'Avciro, c por dezoito trístissimos
annos achou-se a sua idéa activa reduzida a se alimentar dos seus próprios
recursos.
«Pela exaltação Ma rainha actual saiu solto, e encontrou participante do
throno S. A. R. seu intimo amigo; porém vendo-se recebido friamente, e posto
de banda com vilania, arrojou a chave de camarista, que lhe haviam man«
dado a um logar pouco limpo e decoroso, e recolheu- se k casa religiosa das
Necessidades. Gertifícaram-me que não houve meios que o rei não tentasse pa-
ra o afagar e lisonjear; mas todos foram infructiferos. Desde esse período, pos-t
to que largasse o convento, nunca appareceu na corte, e recusou todo o em-
prego. Agora só a devoção lhe absorve a alma. Excepto quando lhe tocam na
corda da prisão, e do marquez de Pombal, acham-no plácido e rasoavel, como
hoje o achei extremamente, e com carradas de mui instructivas e divertidas
anecdotas.
«Tomado o café, a minha companhia estirou-se toda ao comprido, e do mo-
do mais commodo, uns na esteira, outros nos sophàs, para realentar o espirito,
supponho eu, depois das piedosas lidas e enthusiasmado préstito do dia ante-
cedente, venci do Marialva que me acompanhasse a casa de Guildmeester, com
quem fomos dar n'um vasto, mas desencademado salão. Serviu-nos exeellente
chá, alambazadas fatias de pão de mistura, e manteiga, fresquinha d^aquelle
dia, e manipulada segundo o genuino e invariável modo hollandez.
«D. Genoveva é uma velha do feitio d'um poial, com uma cabeça de pião,
e um par de beiços grossos, plácida, risonha, e benévola: miss Coster havia de
ter sido bonita ha uns poucos d'annos, faz o chá com todo o decoro, fecha as
portas, o abre as janellas com scicncia, c já tem bastante que allegar, quando
pôde repotrear-so na sua cadeira.
«Apenas tinharaos começado a comprimentar a dona da casa acerca do
completo resultado da sua creaçao de vaccas, veiu o cônsul e sua velha mu-
lher com muitas mesuras c saudações trazendo uma gamelia envernisada, onde
brilhava com profusão um copioso thesouro de diamantes, tanto brutos, como
lapidados, fruclo de seu famoso e mui lucrativo contracto no tempo do Pom-
bal; alguns dos maiores fazia elle empenho, em que Marialva os recommen-
dassc á rainha, e disse-me ao ouvido, que lambem csliraaría que eu desse al-
gumas palavras a seu respeito.
«Fiquei estupefacto, o o mnrqucz deslumbrado cora aquelle esplendor e ri-
queza; voltou para o seu gabinete interior sem lhe reviverem as esperanças, e
nós saimos.
«Adiantava-se a tarde, e um nevoeiro com seus borrifos toldava os pínca-
ros penhascosos da serra de Cintra; isto porém não nos impediu de ir a casa
de rar. Horne. Pas?âmos por debaixo de arcadas de ulmos e castanheu*os, cuja
ramagem humedecida exhalava o cheiro refrigerante das matas. Dissipados
os vapores exactamente, quando desembocávamos da sombria avenida, appa-
recia a torrinha do Convento da Pena, debilmente tinta com os últimos raios
do sol, e afigurando-se-nos, como a arca no monte Ararat, n'um mar de nu-
vens ondeantes.
BE 419
«Em casa de Horne, Aguilar, Bezerra e a companhia do costume acha-
vam-se reunidos. O roarquez assim que desempenhou as suas complacentes o
alcatrusadas cortezías para a direita e para a esquerda retirou-se á sua quinta;
eu tomei Horne na minha carruagem até à residência da senhora Staits, pes-
soa baixinha, de cintura delgada e esbelta, de olhar damninho, porém nada
desagradável, nem de coração deshumano; fazia annos n'esse dia, e havia con-
gregado a maior parte dos inglezes, que estavam em Cintra, n'um jardim hú-
mido de setenta pós de comprido por trinta e dois de largo, illuminado com
trinta ou quarenta lampiões. A dama Guildermeester ahi estava coberta do dia-
mantes, reluzente como uma estrella no meio da sua obscura atmospliera. Ti<
vemos uma fúnebre ceia fria debaixo d'uma barraca á imitação de gruta.
•O marido de miss Staits, bem disposto e de boa feição, dcu-me logar junto
de mrs. Guildermeester, que se divertiu sofTrivelmenteá custa do festim. A ap-
parencia subterrânea da barraca, a luz desmaiada dos escassos lampiões, e a
fragrância d'am prato de camarões grandes, e 7nais do que maduros, me sug-
geriram a idéa de estar morto e enterrado. «Ait (disse para a minha amável
visinha) foise tudo para nós! Eis o nosso primeiro banquete nas infernaes re-
giões; todos somos eguaes, e aqui confundidos. Alli está a piedosa presbyte-
ríana miss Tussock com a empertigada rapariga sua irmã, e logo ao pé o ca-
sal de adúlteros pombinhos, mr... e a sua sultana; eu, miserável peccador, íleo
defronte do vosso honesto e pacifico esposo, e pouco mais abaixo o nosso be-
nigno hospedador, modelo de brandura e resignação conjugal. Escutael Não
ouvis a bulha de coisas, que caem, e se amontoam? Estão despejando uma car-
regação de mortos!
«N'este estylo continuámos, até que o assumpto se esgotou, e chegou o tem-
po de cada um retirar-se ás suas poisadas.»
CARTA XX
BlIPBBAWiB A KAI2IIIA BM ClIVTKA — OCQUB BE IíAPSbA — FBIKA BA PbNIIA
I4OKGA — Passeio liocruitito
40 de Setembro de 1787.
«Adeus tranquillidade de Cintra, em breve só haverá confusão e bulha !
Está para chegar a rainha com todas as suas damas de honor, secretários de
estado, anões, negrinhas e cavallos brancos, pretos e malhados. Metade das
qnintas d'estes contornos ficarão seccas, tomando -se posse militarmente dos
aqueductos, e derivando-se as suas aguas por novos canaes para uso do ar-
raial.
«Passeava eu debaixo de longas latadas de limoeiros dispostas em arco,
quando me appareceu ao cabo da avenida M... acompanhado do duque de La«
fões, o mesmíssimo personagem bem conhecido em toda a Europa pela deno-
minação de duque de Bragança, posto que não tenha direito a este illustre ti-
tulo, que anda unido á coroa. Chamasse-se eile duqucza viuva, não seria ou
quem lhe disputasse a propriedade do titulo, conhecendo-o por uma espécie
do camareira velha, com eguaes ninharias e melindres; põe ainda cor e si-
gnaes, e posto que já tenha setenta invernos, ainda procura fazer rodopio so-
120 BE
brc os calcanhares, e mexer-se com javenil agilidade; muito me abysmoa a
facilidade do seos movimentos, por quanto me haviam dito que era martyrde
gota. Depois de cecear em francez com a mais requintada accentuaçao quei-
xas contra o sol, e as estrelas, o o estado de architectura, abalou (graças a
Deus) para ir marcar o sitio do acampamento da cavallaria que hade guardar
a sagrada pessoa da rainha durante a sua residência n'estas montanhas. M^.
tinha obrigação de acompanhal-o; porém deixou seu filho, e seus sobrinhos, os
herdeiros da casa de Tancos para jantarem comigo.
tÁ tarde Yerdeil enfastiado de andar d' uma banda para a outra nas va-
randas, propoz uma cavalgata à próxima povoação, onde havia feira; elle e D.
Pedro montaram nos seus cavallos, precedendo-me e aos mancebos Tancos,
que Íamos em carrinhos puxados por valentes machos. As estradas são abo-
mináveis, e correm ao longo da falda ladeirenta das montanhas de Cintra, que
na primavera são, não ha duvida, soíTrivelmente vestidas de verdura; porém
na estacão actual qualquer fevera de relva está resequida e mirrada. As
rodas da nossa carruagem, resvalando de esguelha por aquelles escorre*
gadios declives, faziam exhalar cheiro muitas hervas aromáticas meio pulve-
risadas.
«Não sabia da cabeça, quando chegámos á feira, que se faz n'um rocio, li-
mitada d'um lado pelos pittorescos ediOcios de um convento de Jeronymos, e
pelo outro por eminências penhascosas, quebradas em grande variedade de
formas extravagantes; um penedo especialmente, que chamam dos Ovos, co-
roado por uma cruz, remata tquella aggregação^ e exhibe exquisita apparen*
cia brutesca. Detraz do convento, densa mala de oliveiras^ e os pomares oc-
cupam um valle curto e refrigerado pelas fontes, cujas límpidas aguas são en-
caminhadas para os diíTerentes claustros e cerca por um aqueducto de már-
more ordinário, que sustentam arcos chanfrados ao gosto mourisco.
«Os camponezes, que concorreram á feira, andavam espalhados pelo ter-
reiro, conversando alguns com os frades, outros meio vínolentos cambaleando,
e estendendo-se no chào^ outros comprando coifas de seda e arrecadas ^'oiro
falso para presentear as namoradas. Os monges, que andavam azafamados em
administrar toda a casta de consolações, tanto espirítuaes, como temporaes,
conforme as suas respectivas idades e vocações, felizmente não deram por nós,
e assim escapámos de sermos empanturrados com doces, e perseguidos de com-
primentos.
«Ao sol posto voltámos ao Ramalhão, e tomámos chá na sala mirante, em
que ha nada menos de onze portas envidraçadas, e janellas de vastas dimen-
sões. O vento estava socegado, o ar balsâmico, e o céo d'um azul tão suave,
que não nos soíTreu o animo ficar engaiolados, e tomámos outra vez os nossos
vehiculos, indo até á nova casa do cônsul hollandez, á luz confusa de innume-
raveis estrellas.
«Passava das dez, (luando recolhemos á quinta do Marialva, e antes de che-
garmos, ouvimos as toadas sentidas de vozes e instrumentos de vento, que saiam
do arvoredo, á borda do tanque principal sentavam -se a marqueza e D. Hen-
riqueta, e um numeroso grupo de criadas, algumas bem engraçadas creatu-
BE I»
ras, escnUndo com todo o erobevecímento d'aliDa o ensaio da musica deliciosa,
que havia de ser executada D*uma serenata a sua magestade d'ahi a dias.
«Era orna das serenas noites encantadoras, em que a musica adquire du-
plicado attractivo, e abre o coração a impressões maviosas, posto que meian-
colicafiT: nem uma foJha susurrava, nem um leve sopro de vento perturbava a
clara chamma das luzes coUocadas junto das fontes, e que exactamente ser-
viam para tomal-as visíveis; as aguas correndo para as caldeiras cavadas em
redor dos pés dos limoeiros formavam um murmúrio brando; e nas pausas
do concerto nenhum som se escutava, excepto o de phrases imperceptíveis di-
tas baixinho ao ouvido; de modo que os encantos do clima, da musica e do
mysterio me enlevaram n'um extasi, de que saí com pena e Aluctancia.*
CARTA XXI
Am BCDOTA0 — JaIVTAH DO ARCEBISPO COMPRSMOK
12 de setembro de 1787.
«Apenas estava levantado vieram annunciar-me o grão-prior e mr. Street;
este vituperando reis, rainhas e príncipes, com toda a sua força, e bramando
por liberdade e independência: o primeiro queixandose dos nevoeiros e hu-
midades.
«Assim que saiu o advogado do republicanismo, fomos, como havíamos
concertado, a casa do arcebispo confessor, e ahi immediatamente nos admltti-
nm ao seu sancta janc^on4m,^agasalhado aposento, communicando por uma
escada de caracol com o da rainha, e adereçado de lustrosa tapeçaria/de vivas
cores. Um frade leigo, rochunchudo e chocarreiro, completamente tosco e vul-
gar como qualquer carreiro, ou almocreve, nos entreteve com divertidasj-posto
que nao mui decentes historias palacianas, até que seu patrão nos appareceu.
«Quem esperar ver no inquisidor-mór de Portugal cara chupada, e tristo-
nha com olhos de impropério e maldição, acha-se enganado; raras vezes temos
o gosto de encontrar uma presença tão jovial e sincera como aquella, de que
o céo o dotou; recebeu-me do modo mais franco e cordeal, e tenho razão de
capaeitar-me que lhe cai muito em graça. ^
«Conversámos sobre serem casados os arcebispos em Inglaterra. «Com ef-
íèito (dizia o prelado) os vossos arcebispos são singulares sujeitos, sagrados
nas vendas de cerveja, e bons consócios de botelha! Contaram-me que aquelle
estouvado Lord Tyrav^ley era arcebispo lá na sua terra.» Imaginae quanto
ea riria d'este incomprehensível despreposito; e ainda que não possa dizer de
80â reverendíssima que as verdades divinas saem melhoradas da sua bocca,
8ija-me licito declarar, que o absurdo se toma mais notavelmente ridículo vin-
do de origem tão auctorisada.
«Quando chegámos ás janellas da sala para ouvir a banda de musica mar-
cial, vimos João António de Castro, hábil engenheiro, que inventou o actual
syttema da illuminação de Lisboa, dois ou três graves dominicanos, e o famoso
tmào D. João da Falperra, mascarado com falsas condecorações das ordens,
< Panorama de 1856, pag. 413.
IÍ2 BE
sabiodo todos elles os degraus, que conduzem á grande sala da audiência.—
«Sim, simi (disse o leigo, que é uma creatura petulante e cómica). Eis ahi o
fiel retrato dos nossos freguezes: três castas de pessoas acham mais fácil en-
trada n'este palácio, homens de superior talento, bobos e santos; os primeiros
cedo se desgostam da habilidade que possuem, os santos vem a ser martyres,
e só bobos prosperam.
«A tudo isto o arcebispo prestou o seu ingénuo assentimento por um si*
gniflcativo meneio de cabeça; e achando-se na mais graciosa e commanica«
tiva disposição não me permittiu que saísse, quando me levantei para despe*
dir-me. «Não, não penseis em deixar-me tão depressa: vamos á sala dos cys*
nes, e peço que*depois me digaes que idéa fazeis dos nossos primeiros fidal-
gos.
«Tomando-me pelas pontas dos dedos conduziu-me por muitos quartos
sombrios e passagens escuras a uma porta secreta, que dá serventia da sala
de visitas da rainha para outra muito espaçosa, atulhada então por metade das
dignidades do reino; alli estavam bispos, prelados das ordens, secretários does-
tado, generaes, camaristas, cortezãos do todas as denominações, bizarros e
ílammantes com suas fardas bordadas, estrellas, veneras de hábitos, e chaves
doiradas.
«Era visivel o assombro d'este grupo à nossa súbita apparição; apresentá-
mo-nos ao começar um minuete: o apessoado arcebispo com seu vestido mo-
nacal como um peru increspado, e eu avançando a passo grave, deslumbrado
da súbita transição das trevas para a luz, como a coruja que o sol apanhou
fora do ninho. Ajoelhavam muitos mettendo á cara memoriaes e petições, re-
querendo a maior parte legares e promoções, c alguns solicitando bênçãos de
que o meu reverendo guia não era avaro. Afigurou-se-me que tratava as pres-
surosas demonstrações de servilismo com um certo modo de pouco caso sem
insulto. A audiência foi interrompida por uma ordem da rainha, que chama-
va immediatamente o arcebispo; porém este, antes de retirar-se, tocou-me no
bombro, e disse -me: apenas me demoro meia hora, e jantareis comigo. — Este
convite excitou nos cortezãos grande inveja. Em mim o effeito era o contra-
rio, porque tinha função ajustada para Penha Verde, o mais fresco e român-
tico sitio d'esia poética comarca, e não me queria encaixar n*um aposento chei-
rando a verniz. Mas, emôm, não tinha remédio, porque todos os figurões da cor-
te, obedecem a sua reverendíssima. A meia hora assignada pelo arcebispo deitou
quasi a uma. O marquez de... foi encarregado de me conduzir àquelle inve-
jado jantar, e dísse-me que era a primeira vez que tinha a honra de assistir à
meza do arcebispo. Batemos á porta reservada, e seguindo pelos quartos já
conhecidos fomos dar a um pequeno aposento, com frente para uma horlasi-
nha, onde o frade leigo com as mangas arregaçadas até aos hombros nos fez
hospitaleira recepção; na casa das tapeçarias estava a mesa com três talheresi
e n*um dos ângulos em cima d'um sophá o omnipotente prelado coberto com
uma capa parda cheia de remendes.
«Vem cá (disse ao leigo batendo as palmas ao modo oriental) serve a me^,
e tpnhamos algum prazer. Que praga é aturar essas mulheres lá de escada
BE 123
aeímal Quem melhor deqaevó?, marquez, conheceis quantos enigmas ha que
desembrulhar? Atrevo me a dizer que os arcebispos inglezes não se voem abar-
bados com metade dos embaraços, em que me vejo enleado. Olá! vamos a sa-
ber o que nos dão para coiner.
«Entrou o leigo com três leitões assados n*uma bandeja enorme de prata,
e com uma torta de correspondentes dimensões; estes pratos nunca variam:
til é sempre o jantar do arcebispo, salvo nos dias de magro. Porém a simpli-
cidade da primeira coberta foi resgatada pela profusão das sobremesas, que
em variedades de frutas e doces nada podia egualar. Em vinhos, não fallemos;
eram delicados e escolhidos, tributo de todos os domínios portuguezes á mesa
de sua reverendíssima: a companhia do Porto, que então solicitava a renova-
ção do seu privilegio, contribuía com a flor das suas colheitas; de tão boa qua-
lidade, que o meu obsequiador hospede prometteu-me, e logo no outro dia
mandou pôr em minha casa alguns barris d'este licor genuino.
«Passou-se alegremente o jantar, e mais duraria a palestra inter -porula
se o marquez aomo estribeiro, e o arcebispo na sua especial missão, não ti-
vessem de ir ao paço. Por outro labyrintho de passagens, mais intrincado do
que aquelle, por onde entrara, me conduziu á rua o leigo faceto e anecdotico.*
CARTA XXII
WmwTA AOM coifVBirroff da Sbrka — Scrmas da costa marítima
19 de setembro de 1787.
«Nunca tive um dia mais formoso, nem vi um céo de azul mais aprazível.
Os marquezes já estavam comigo ás seis horas e meia, e divagámos por ou-
teiros incultos, sobranceiros a uma grande extensão de paiz apparentemente
deserto, porque os logarejos, onde os ha, estão escondidos nas quebradas e
covas da serra.
«Intentando explorar as montanhas de Cintra d'um a outro extremo da
cordilheira, coUocámos mudas em differentes estações. O nosso primeiro ob-
jecto foi o convento de Nossa Senhora da Pena, pequeno e romântico conjun-
eto de edifícios branqueados, que eu tinha visto brilhar de longe a primeira
vez que naveguei pela costa de Lisboa. Doesta pyramidal altura o horisonte é
infinito; vedes, logo immediatamente abaixo immensa expansão de mar, o
vasto, illimitado Atlântico. Uma longa série de nuvens soltas, de alvura des-
lumbrante, também abaixo de nós suspensas sobre as ondas produzem eííeito
magico, e nos tempos do paganismo pareceriam sem esforço algum da phan-
tasia, os carros das deidades marítimas, que viessem surgindo da profundeza
do seu elemento.
«Não havia coisa verdadeiramente interessante nos objectos, que proxi-
mamente nos cercavam. As relíquias mouriscas das circumvisinhanças do
convento apenas merecem menção, e de facto mostram não pertencerem a edi-
flcio algum considerável; foram provavelmente fabricadas com as delapida-
ções feitas a um templo romano, cujos constructores talvez que também se
tivessem aproveitado de algum fanum púnico ou lyrio erecto n'esle sitio ele-
vado, e denegrido pelo fumo de sacrifícios horríveis.
124 BE
tPor entre as rachas dos muros esbroados e particularmente na abobada
d'uma cisterna, que indica ter servido tanto para deposito, como para banho,
descobri algumas plantas capillares e polypodios de estremada delicadeza, e
n'uma pequena châ defronte do convento numerosa tribu de cravos, gencia*
nas e outras plantas alpinas, agitadas e robustecidas pelo ar puro das mon-
tanhas. Estas brisas refrigerantes, impregnadas do perfume de innumeras her-
vas aromáticas e flores, parece que me infundiam nas veias nova vida, mo-
vendo-me por um impulso quasi irresistível a prostrar-me e adorar n'este vasto
templo da natureza a fonte e a causa da existência.
«Como estivemos largo espaço em contemplação, não pude passar metade
do tempo, que eu desejava n'esta aeria e solitária sumidade. Baixando por om
caminho sofTrivelmente commodo, que serpeia entre as rochas em muitas e
irregulares curvas, seguimos por algumas milhas em trilho estreito sobre os
cumes de eminências marinhas e agrestes até ao convento de cortiça, que
corresponde exactamente, no primeiro relance d'olhos, à pintura que se pôde
imaginar da vivenda de Robinson Crusoé. Da banda de fora da entrada, que
formam dois enormes rochedos proeminentes, que se tocam pêlos cimos, es-
tende-se um macio terreirinho de relva tosada pelo gado, cujos tintinnabulos
me recordam antigos dias decorridos em meio da rústica pai7agem dos Alpes.
O eremitério e suas cellas, a capella, o refeitório, tudo é cavado no mármore
nativo, e guarnecido de cortiça de sobreiro; em muitas partes não ó só o forro
do tecto, mas também o soalho recamado do mesmo material, extremamente
macio e agradável ao piso. Os arbustos e as plantas de jardinagem dispersos
entre as rochas musgosas, que jazem na mais silvestre desordem, são coisa
deleitosa, e muito gostei de explorar aquelles recantos e voltas seguindo o
curso d'um regato transparente e rumorejante, que é conduzido por um ca-
nal rústico atravez de moitas de alfazema e alecrim do verde mais mimoso.
«O guardião d'este romântico retiro é apresentado pelos Marialvas, e n'este
dia era a sua posse, de modo que tão instados fomos para o jantar, que não
pudemos desculpar-nos; como era ainda muito cedo, cavalgamos com o intuita
de vér a famosa arriba marítima, chamada Pedra de Alvidrar, que é um dos
objectos mais notáveis d*este famigerado promontório. Levava-nos o nosso ca-
minho pelas beiras dos arvoredos próximos da deleitosa villa de CoUares até
outra ordem de escalvadas eminências, que se dilatam ate á costa brava do
mar. Cheguei mesmo ao pino do rochedo, que é de grandíssima altura, e
quasi perpendicular. Seguia-nos uma tropa de rapazes alcançando os cavai-
los; e cinco dos mais taludos desceram com todo o desembaraço pelo temero-
so precipício; um d'elles^ especialmente, baixava de braços abertos, e como
individuo de ordem superior aos mais e á natureza.
«A costa marítima é o que se pôde chamar pittoresco consistindo de boja-
mentos muito arrojados^ que se entremeiam com penedos pyramidaes uns
apoz outros cm perspectiva theatral, avístando-se os mais remotos coroados
por uma torre muito alta, que serve de pharol.
«Não ha termos que expliquem a suavidade da atmosphera c a luz pra-
teada, que o mar reflecte. Da orla do abysmo, aonde nos demorámos alguns-
BE 425
minatos como por encantamento, descemos uma ladeira tortuosa, obra de
meia milha até á praia. Acbámo-nos fechados por penedias desordenadas e
varias gratas, amphitheatro imaginoso, que não havia nenhum mais próprio
para suppor os brinquedos das nymphas neptuninas. Nunca vi angras como
estas, tão fundes e interceptados esconderijos, um jogo assim da linha geral
de perfil, e também nunca ouvi tão valente mugido das aguas, que investem
com acosta.
•Não admira que a escandecida e susceptivel imaginação da antiguidade
(mthusiasmada pela paizagem da localidade, os persuadisse a que tinham visto
as conchas dos tritões resoando ao entrar nas cavernas marítimas; e por isso
alguns dos mais auctorisados e antigos luzitanos positivo declaram que não
só os tinham ouvido, mas também visto, e despacharam um mensageiro ao
imperador Tibério, annunciando-Ihe osuccesso e congratulando-o por tão evi-
dente e auspiciosa manifestação da divindade.
«A maré começava a vasar, e deu-nos licença para entrar, não sem algum
risco, n'uma caverna de pasmosa altura, cujos lados estavam encrustados de
bellos mariscos e de uma variedade de conchinhas em vários grapos. Contra
algui» ásperos e porosos fragmentos, não distante da bocca, por onde tínha-
mos engatinhado, as ondas empolavam-se violentas, arremettiam para o ar,
formavam instantâneos dóceis de espuma, e depois escorriam em milhares de
regueiros côr de prata. As vacillantes espadanadas da luz pelas irregulares
arcadas batendo nas mais sombrias e recônditas cavernas, o crepúsculo mys-
terioso e húmido, os murmúrios resonantes e quasi todos os tons musicaes,
occasionados pelo embate dos ventos e das aguas, o cheiro activo da atmos-
phera impregnada de partículas salinas produzem tal desvario dos sentidos,
que eu não duvido que um génio poético se inclinasse alli á crença das ap-
paríções sobrenaturaes. Nã^ me espanta, por isso, a credulidade dos antigos,
e só me maravilha que a minha imaginação não me illudisse similhantemente.
Se a solidão excitasse as nereidas a certifícarem-me da sua existência por uma
apparição, não faltaria esta, porque todos os meus companheiros se haviam
trasmalhado, deixando-me inteiramente só; por uma hora estive recluso do
mundo animado; a única creatura viva, que pude depois descortinar foi um
arisco corvo marinho, empoleirado n'uma rocha, insulada a cincoenta passos
da abertura da caverna.
«Os sons complicados e susurros, que me entraram pelos ouvidos, atordoa-
vam-me a ponto, que estive alguns momentos sem poder distinguir as vozes
de Verdeil e D. Pedro, os quaes voltavam d'uma colheita de algas e con-
chas, chamando-me estrondosamente para montar a cavallo e reunir-nos ao
marquez e sua comitiva, que todos tinham ido à missa ao conventlnho da
Serra.
«Felizmente as pequenas nuvens soltas, que tínhamos visto do cume altis*
simo da Pena, em vez de se fundirem no firmamento azul haviam-se conden-
sado, e nos protegiam contra o calor do sol. Foi, portanto, deliciosa a caval-
gata; assim que nos apeámos, appareceu-nos o abbade velho, que chegava na
occasião com Luiz de Miranda, coronel do regimento de Gascaes, cercado de
126 BE
todo o synodo de frades, piUorescos quanto podiam tornal-os as cabeças cal-
vas e as barbas venerandas.
«Logo que o marqnez findou as suas devoções, serviu-se o jantar no gosto
do que se pôde esperar cm Mequinez ou Marrocos; cuscús e similhantes mas-
sas, saborosas codornizes e pyramides, de arroz coradas de açafrão. A nossa
sobremesa, emquanto a fructas e doces, foi mais opípara; nem a própria Po-
niona se envergonharia de trazer no regaço pecegos e abrunhos, como os que
rolavam com profusão por cima da mesa.
«O abbade parecia animado depois do jantar pelo espirito de contradicção,
o não queria conceder que o marquez ou Luiz de Miranda soubessem mais
da corte de D. João V do que da de Pharaó, rei do Egypto. Para não ensur-
decermos aos berros da disputa, em que dois ou três frades com vozes de
stentor começaram a metter-se com vehemencia, galgámos D. Pedro, Verdeii
e eu pelas empinadas moitas de medronheiros e murtas até um terreirinho,
alapctado de mimosa relva, que á mais leve pressão recendia com perfumes
suaves. Alli nos sentámos, acalentados pelo borborinho das ondas distantes,
(fue rebentavam na penedia da praia, que de manhã tinhamos visitado; as nu-
vens passavam vagarosamente por cima dos outeiros. Os meus companheiros
partiam as pinhas e davam-me os pinhões, que teem agradável sabor de
amêndoa.
«A tarde ia muito adiantada, quando deixámos este pacifico retiro, e fo-
mos ter com o marquez, que não fora capaz de accommodar o abbade; o ve-
lho vozeador appcUou tantas vezes para o guardião do convento em defesa
das suas opiniões, que eu pensei que nunca d'alli nos despregaríamos. Afinal
partimos, c divagando entre névoas e trevas espaço de duas horas, chegámos
exactamente ás dez a Cintra.»
CARTA XXllI
PKHHA %'BIIDK — CAnACTEREii DA VA^UTK — FESTAS
22 de seteinbro de 4787.
« Quando me levantei, a névoa encobria os cabeços, e o mar distante apre-
sentava o seu azul esplendido.
«Não obstante esperar algumas visitas de consideraçiío, procedentes de
Lisboa, a manhã convidava tanto que não pude resistir a montar a cavallo,
depois de almoço, correndo o risco de não estar presente á sua chegada.
«Tomei a estrada deCollares. O ar estava deliciosamente sereno e fragran-
te, algum chuvisco, que havia pouco cairá, refrescou toda a superfície do ter-
reno, e coloria os alcantis para Já da Penha Verde de purpura e esmeralda; a
numerosa tribu das urzes começava a florescer; e os pequenos plainos irre-
gulares, sobre os quaes pendem tortuosos sobreiros, o que Ião frequentemente
se encontram por aquelle caminho, viam-se cobertos agora de avantajados ly-
rios brancos raiados de carmezim.
«Penha Verde é de per si um sitio agradável. A casa de campo com seus
lecíos baixos e chatos, e um corpo saliente n'unia extremidade, assimilha-se
exactamente aos edilicios das paizagens de Gaspar Poussin, diante d'uma das
BE 427
fronteiras ha um jardim quadrado com sua fonte no meio, e nas paredes ni-
chos occupados por bustos antigos. Acima d'essas paredes variedade do arvo-
res sobem a grande altura, e compõem uma condensação da mais rica folba-
gem. Os pinheiros, que pelo seu lustroso verde deram o epitheto a este roche-
do ponteagodo sao tão pittorescos, como os que eu costumava admirar tanto
no jardim Negroni em Roma, e de certo tão antigos ou talvez mais: a tradic-
çào refere que foram plantados pelo afamado D. João de Castro, cujo coração
repousa n'uma capella de mármore á sua sombra.
«Quantas vezes aquelle coração heróico, cmquanto bateu dentro do me-
lhor e mais magnânimo seio humano, se ailligiu depois no seu socegado re-
tiro! Aqui pelo menos aguardou aquelle repouso, que tão cruelmente lhe ne-
gava a cega perversidade de seus mgratos concidadãos i
«Estas paisagens, posto que ainda encantadoras, provavelmente soíTreram
grandes mudanças desde o tempo do heroe.
«Temos lido que os fechados bosques desapparcceram, e com elles mui-
tas das nascentes, que alimentavam. Fontes archítectonicas, alinhados terra-
ços, e talhões regulares plantados de larangeiras usurparam o logar d'aquel-
les vergéis silvestres e borbulhantes ribeirinhos, os quaes bem podemos sup-
por que a phantasia lhe representava em sonhos, quando distante milhares de
léguas do seu torrão pátrio. Essas coisas mudaram; mas os homens são os
mesmos, que os do tempo d'elle, egualmente inseasiveís á voz fervorosa do
puro patriotismo, e egualmente dispostos a vergar de rastos sob a vara da cor-
rompida tyrannia.
«Impressionado com todas as recordações, que este ioteressantissimo sitio
não deixa de inspirar, custava-me separar-me d'elle. Uma e outra vez segui os
musgosos trilhos, que vão em voltas por entre sombrios penedos até á peque-
na assentada da capella funerária, acima da qual se agitam com stridor as
copas dos pinheiros.
«Não vos admirará pois que eu viesse preoccupado em todo o camiaho
para casa, d'aquelles mysteriosos susurros, e que em tal disposição não me
agradasse ver uma procissão de seges, e uma caravana de burros encamluban-
do-se para o portão da minha quinta. É certo que eu estava preparado para
esperar considerável alQuencia de visitas; mas aquillo era uma inaundação.
«Não vos envio a lista da companhia, porque vos enfadaria tal individua-
ção, como a mim, uma similhante invasão em massa.
«Basta nomear-vos dois dos principaes caracteres, o piedoso ancião, conde
de S. Lourenço, e o prior de S. Julião, um dos principaes validos do arcebis-
po confessor, e pessoa de muito respeito. Acontecendo estar sobre a mesa a
biblia hoUandeza de Mortier, folhearam-na de um modo muito grosseiro. Eu
que aborreço ver os livros enxovalhados, e as estampas com as nódoas da
pega de um pollegar besuntado, ralhei ao conde velho, e lancei um olhar se-
vero ao prior, que debruçava todo o seu peso clerical sobre o volume, e do-
brava os cantos das paginas.»
128 BE
CARTA XXIV
•Não posso abonar a eradição do prior, mesmo em matérias ecclesiast}*
cas, ^ pois que elle positivamente afiirmava ter sido o próprio Henrique YIII
que flzera saltar os miolos de S. Thomaz Becket (ou de Gantuaria), e que na
besta do Apocalypse era Luthero claramente designado. Aborreço altercações,
e se não tivessem besuntado as minhas estampas, eu nunca contradiria sua
reverencia, mas, como me achava um tanto fora da minha pachorra, rdsaixeio
me um pouco em a opinião do conde acertando a verdadeira data do assassí-
nio de S. Thomaz, e com argumentos soíTrivelmente especiosos arredando de
Luthero os comos da besta, e pespegando-os muito tesos... em quem pensaes
que seria?.. Em Ecolampadio. Um nome tão comprido, e que elles provavel-
mente nunca tinham ouvido pronunciar em sua vida, dando outro exemplo
do triumpho do som sobre a intellígencia, abafou a disputa.
«Éramos ao todo uns trinta ao jantar, e apenas começava a sobremesa ^eiu
Berti dizer-me que a senhora Arriaga e um rancho de doozellas do paço cor-
riam a quinta a cavallo em galizianos burros; apressei-me.a ir encontral-as;
eram D. Maria do Carmo e D. Maria da Penha, com seus cabellos fluctuando
sobre os hombros e os grandes e bellos olhos tão espertos e desmquietos co-
mo os de uma antílope. Mandei apromptar o cavallo, e galopámos pelas lame-
das, roçando por folhas, fructos e flores; cada sopro da viração nos conduzia
os sons dos oboés e trompas da musica da sala. As senhoras mostravam de-
leitar-se infínito com a novidade e isenção d'esta sortida, e pesava-lbes que
tão pouco durasse, porquanto ás sete eram obrigadas a voltar ao imprescrepti-
vel serviço da rainha, e sendo a pena da desobediência algum extravagante
conto de fadas, mctamorphosc em abóbora ou pepino, era forte o seu cuidado
e anciã, quando bateu a fatal hora das sete; felizmente não tinham de ir lon-
ge, porque sua magestadc e a real familia estava tudo reunido na quinta de
Marialva a participarem de uma esplendida merenda, c verem o fogo d'artífl-
cio n'um conchegado camarim, que tem vista para o grande pavilhão, cuja
festiva c phantasiosa scena ganhava realce pelas luzes de innumeraveis velas
de cera, que dos lustres de crystal para todos os lados reflectiam. A peque-
nina infanta D. Carlota estava empoleirada n'um sophá conversando com a
marqueza e D. lienriqucta, que ao modo oriental se haviam sentado no chão
de pernas encruzilhadas; uma ranchada de damas de honor commandada pela
condessa de Lumíarcs íicava a pouca distancia na mesma postura; a negrinha
anã e valida, que chamam D. Rosa, vestida de escarlate mui vivo, não tão fol-
gazã como eu tive o gosto de a ver no seu aposento de fada, estava agora mais
sentimental encostada á porta, fazendo gaifonas a um esbelto moiro da casa do
luarquez.
«Então a rainha, seguida do sua irmã e nora, a princcza do firazil, levan-
tou-se da merenda, c tomou logar em frente da gelozia, por detraz da qual eu
oíilava collocado; as suas manoiras me fizeram impressão por serem caracte-
í PanBrama, vol. xiv, pag. io8.
BE i29
riaUeas de magestade e agrado; parece nascida para mandar, mas, ao mesmo
tempo, para fazer aqaella samma aactoridade mais querida qae temida. A
justiça e clemência, mote ou divisa tào enormemente mal applicada na ban-
deira da detestável inquisição, pode ser ti*ansferida com a mais restricta ver-
dade para esta boa princeza. Durante a fatal contenda entre a Inglaterra eas
colónias, a prudente neutralidade, em que ella perseverou, foi do mais vital
beneficio para os seus dominios, e até agora o commercio nacional portuguez
tem-se elevado sob os benignos auspícios da rainha a um gráo de prospera
4ade, que nao tem precedentes. Nada excede o profundo respeito e corteza-
nia, que a sua presença inspira. O conde de Sampaio e o visconde de Ponte
de Lima ajoelharam perante as augustas personagens com veneração nada in-
ferior, cuido eu, á dos mahometanos ante o tumulo do seu propheta, ou os tar-
faros acatando o DalaíLama; só o Marialva, que tomou o seu logar do lado
opposto a sua magestade, parecia conservar-se no seu usual desembaraço e
modo alegre. O príncipe do Brazil e D. João figuravam estar enfastiados, por-
que estavam encolhidos, com as mãos mettidas nas algibeiras, as boccas em
perpetuo bocejo, e os olhos vagueando de objecto para objecto na pasmaceira
de regia ociosidade.
«A etiqueta mais rigorosa encerra os infantes de Portugal dentro dos seus
palácios, e raro se oncontram, mesmo de incógnito, misturados com a socieda-
de geral; por isso aquelles seus lisongeiros sorrisos ou os coníidenciaes boce-
jos não se desperdiçam em observadores vulgares. Este modo de embalsamar
príncipes na vida não é por iim de tudo má politica; reveste-os d'uma appa-
rencia sagrada; concentra a sua real essência, mui fácil de evaporar-se pela
franca exposição ao ar livre.
«Deitadas as ultimas peças de fogo partiram a rainha e infantes. A mar-
queza e as outras senhoras desceram ao pavilhão, onde tomámos uma refei-
ção magnifica e verdadeiramente real. D. Maria e sua irmã pequena, anima-
das pela illuminação deslumbrante tropeçavam nos leves vertidos de caça com
toda a folgança e brinquedo d'umas fadas, taes como cu as supponho desci-
das das nuvens iluctuantes, que Piiiement representou tão excellentemente
nas suas pinturas a fresco.»
CARTA XXIV
A HÉ — O €0?í«l£JfTO DOM CaETA^OS — O POKTA BOCAQK
8 de novembro de 1787.
«Verdcil e eu ralhávamos das calçada;» desconjuntadas indo esta manhã
no meu coche tosco de viagem com o objecto de fazer exercício; o pretexto
da nossa digressão era vermes uma notável capella embutida de jaspe e lápis
lazuli na egreja de S. Roque; mas, quando chegámos, celebravam-se três ou
quatro missas, e não havia uma creatura assaz desoccupada para correr a cor-
tina, que cobre o altar, de maneira que voltámos com cara de parvos.
«Não tendo ainda visto a Sé nos encaminhámos para aquellebairro. É um
edificio de dimensões nada maravilhosas, estreito e sombrio, sem comtudo ser
respeitável. O terremoto reduziu a pó as suas magoiiiceucias, se é que as teve
Toaio i 9
130 BE
e Ião e^MwiUiifamfme despedaçoQ as capdlas, de que está iacnisUdo, que
mui lenoes Testigíos se podem perceber de terem Idlo parle d'ama mes-
quiU.
«Posto qoe não foase movido de esperança alguma de grandes coisas» ape-
sar das descrípções das Tíafcos e obras topo|;r4ilika6, qoe, cmbo os lí^^
pariatOy e de linhagem, tem affèctoosa índínaçio para figomem ser aigoma
coisa, o que na realidade está próximo do nada, indaguei, segondo fu o via-
jante diligente, pintaras e ornatos de aMares,e os tamaio5,eiiâo posso biaa»-
nar de descoberta aigoma. Certo nâo dispenderiamos moito tempo eom o
que por aUi harâ; mas os padres e sacristães pegaram de nós «^itàMift qas
de noTO examinasseosos o recanto do vão d'ama escada, onde estio para ao
beijarem e yenerarem os signaes dos dedos de Santo Antónia. Parece qae o
santo veodo-se apertado pdo pae da moitira e origem do mal, gravou o aí-
gnal da croz n^oma parede do mais duro mármore, e assim poc pomo ã Uê^
tacão.
«Tkido isto era assombroso; porém nada em comparação com algumas bíi-
lorias relativas a certos corvos sagrados. «Existem os mesmos pasBaros» Abo
om sacristão. «O qoe! (retroqaei-lbe) os próprios, qae acompanharam S. Yí«
cente? «Exactamente não, (foi a resposta segredada ao oavidoX mas os aeos
mimediatos descendentes* «Muito bem (lhe disse), ainda n'esta tarde, quom-
do Deos, virei fazer-Ibe os meus comprimentos, e em boa companhia; por
agora adeos.»
«O ponto, onde em segoida nos dirigimos, foi ao convento dos llieatiaos.
Demos orna vista d*olbos á livraria, qoe ainda jaz na mesou confono, em
qae a deixoa o terreoMto, metade dos livros tonibados aos sobre os ootros
montões pulverulentos. Um frade esperto e activo, qae me disseram ter
pto uma historia da Casa de Bragança, ainda não impressa, goioo os nossos
passos n*estc cabos de liUenUura, c depois de procorar meia hora algmnas
viagens curiosas, que desejava mostrar-nos, levon-nos á soa cella, e chamoo
a nossa attenção para um gabinete de medalhas, que com soa diligfB&da, e
alguma despeza havia coUigido.
«Não sentindo em mim vocação para iovesligaçòes numismáticas, deixei
Vcrdeil com o frade abarbados com algumas legendas duvidosas, e foi reero*
tar de improviso quem me acompanhasse a vér os corvos sagrados. Encon-
trei primeiro o abbade Xavier, depois o Cimoso missionário pregador da Boa
Morte, logo o grâo-prior e por ultimo o marquez de Marialva. D. Pedro pedia
que não o deixassem ficar de fora, de maneira que fomos com o coche todo
cheio, e eu conduzi toda a carrada a jantar em minha casa.
< Vordeil já estava de volta acompanhado do reverendo antiquário das me-
dalhas, e lambem tinha arrebanhado o governador de Goa, D. Frederico ds
Sousa Calbariz, e o seu constante companheiro, um fanfarrão saboyano, oa
piemontez, por nome Lucatelli, o tambom um mancebo pallido, de compké^
fraca, de olhar e modos excontricos, o sr. Manuel Maria, a mais fora dk> com-
mum, mas talvez a mais original da^ creaturas poéticas formadas por Deus.
Succedeu achar-sp n'uma d'aqii»41a5 dis|>osiçõe:' do e>pirilo, de enlhasiasmo e
BE 131
de ^exaltação, que á similhança do sol no pino do inverno, brilham quando
menos se espera; milhares de ditos agados, de expansões de alegria zombe-
teiray de repetes satyricos, disparava-os de chofre, de modo qae todos andá-
vamos a tombos com riso; mas, quando começou a recitar algumas das suas
composições, nas quaes a profundeza de pensamento se mistura com os ras-
gos mais patheticos, senti-me abalado, commovido. Em verdade, pôde dizer-se
que este caracter extravagante e versátil possue a verdadeira varinha de con-
dão, com que, a seu bel prazer, anima ou petrifica.
«Percebendo o quanto me altrahia, disse-me:
«Não esperava que um cavalheiro inglez se dignasse prestar alguma atten-
(^ a um versejador, moço, obscuro e moderno. Vós outros julgaes que nao
temos outro poeta senão o Camões, e que o Camões não escreveu coisa digna
de memoria senão os Lusíadas. E tem um soneto que vale metade dos Lusía-
das. Nenhuma imagem de belleza campestre escapou ao nosso divino poeta;
e qoão sensivehnente se transportam da paizagem para o coração! Que en-
cantadora melancolia, como os derradeiros raios do sol no occaso, se diffun-
de em toda aquella composição! Se eu valho alguma coisa, fez-me este so-
neto o que sou; mas que sou eu comparativamente com Monteiro? Julgae,
continuou elle entregando-me alguns versos manuscriptos d'este auctor, de
que os portuguezes são vehementes partidários; posto que façam impressão
e sejam sonoros, devo confessar que o soneto de Camões, e muitos dos pró-
prios versos do sr. Manuel Maria me agradaram infinitamente mais; todavia
é certo que eu não estou bastante iniciado na força e formas da linguagem
* portngneza para ser juiz competente.
«O nosso jantar foi alegre e do bons convivas; á sobremesa o abbade apre-
sentou uma immensa bandeja de fructas seccas e doces, que um dos seus
esmo e clncoenta protegidos lhe mandou, não me lembra de que exótica re-
filo. Todas estas iguarias elle reservava para nos mandar, querendo quasi
empurral-as por nossa goela abaixo, como se fossemos perus, e elle gallinheiro
eojo modo de vida dependesse de nos cevar bem.— t Já vistes (disse eUe) em
parte alguma tão admiráveis producções? A nossa rainha tem milhares de lé-
guas de pomares, e rochas de oiro e diamantes^ as riquezas o fertilidade de
seus domínios não tem limites, e também o mar, o próprio mar deve perten-
eer-Dos, se vos apraz, pois que temos immensos meios para construcçào naval,
mastros de duzentos pés d'a]tura, madeiras incorruptivcis, corajosos marinhei-
ros. D. Frederico vos pôde contar as proezas d'alguns do nossos hcroes ainda
nio ha muito tempo, contra os gentios em Gou; os vossos John Bulis não são
metiide tão activos, nem metade tão valorosos.
«E assim por diante blazonando e ensurdeccudu-uos. Em patrióticas ja-
ctâncias e gabos nenhuma nação leva a melhor aos portuguezes, e nenhum
portagaez ao abbade.
«Afinal evaporados estes louvores e gozos, partimos equilibrados nas azas
da santidade a satisfazer nossa obrigação para com os corvos bentos. Desde
tempo immemorial está consignada certa quantia para mantença de dois pás-
saros d'aqueila oppccie, c os achámos commodaraontc aquartelados n'um es-
132 BE
conderijo da claostra adjacente á cathedral, bem nutridos, e de certo mui de-
votamente venerados.
t Jà era tarde, quando nós chegámos, e os plumosos santiOcados se tinham
empoleirado tranquíllamente; mas os sacristães à espreita de que chegássemos,
assim que nos viram, offlciosamente os âzeram levantar. Gomo estavam na*
tridos, nédios e lustrosos! A minha admiração por seu tamanho, plumagem e
retumbantes grasnidos receio eu que me fez passar os limites do sagrado de-
coro; quando estendia a mão para afagar-lhes as pennas, o missionário re-
primiu-me com um solemne olhar prohibitivo. Os mais da companhia, sabe-
dores do cerimonial próprio, guardavam respeitosa distancia, em quanto o sa-
cristão e um padre desdentado, curvo pelos annos, enflavam um rosário de
milagrosas anédoctas concernentes aos actuaes corvos bentos, os seus imme-
diatos antecessores, e outros que em tempos remotos os precederam.
CÁ todas estas sobrenaturaes narrações parecia o missionário estar attento
com implicita fé, e nunca abriu os beiços, emquanto nos demorámos na claos-
tra senão para fortalecer a nossa veneração^ e exclamar com pia compostura
—honrado corvo! Creio que estaríamos até á meia noite, se não viesse um pa-
gem de sua magestade chamar o marquez de **# e o seu capellão.
c Satisfeita a minha curiosidade peio que tocava aos corvos bentos, facil-
mente me persuadiu o grãoprior a retirar-me e passear as ruas princípaes
para vôr as luminárias, por festejo do parto da infanta consorte de D. Gabriel
de Hespanha, que deu á luz um príncipe. Era grande a multidão de ociosos,
que vagueavam pelos mesmos sitios, ^ por isso andávamos com difflculdade,
e por pouco esteve que não saltassem fora as rodas da nossa carruagem, quan-
do tentou abrir caminho um anaehronico e arrevezado coche, pertencente a
uma dignidade da sé patriarchai. Nào tenho de que espraiarme em louvores
a respeito das iliuminaçõos, mas alguns foguetes deitados do Terreiro do Paço
causaram-me admirarlio pela altura a que subiram, e o extraordinário numero
de transparentes estreilas azues, que espargiam. Os porluguezes primam nos
fogos de artificio, tendo gasto muito e muito dinheiro em levar à perfeição
esta arte o fallecido, baboso e beato monarcha.
t Do Terreiro do Paço fomos agrando praça, onde está o palácio da inqui-
sição; ahi achámos immensa multidão, á qual três ou quatro pregadores ca-
puchos apregoavam as glorias e illuminaçòes do outro c melhor mundo. Teria
prestado alguma attcnção aos seus discursos, que pelas amostras, que conheço
seriam repassados de fogo e phrcnesi, se o grào-prior com seu perpetuo medo
de rheumatismo se nào queixasse do ar da noite; e por isso recolhemos a ca-
sa. Todos os aposentos estavam mornos com a evaporação das luzes de cera,
que em boa fé se poderiam chamar lavarcdas; enfadado sacudi a fumaça, e
abri as jancllas. Saindo o grào-prior, veiu Polycarpo, o famoso tenor, que no*
entreteve com algumas árias de vigor c pasmosa volubilidade antes da ceia, a
durante cila em estylo egualmenle profcssional com muitas anecdotas particu-
lares da alta nobreza, c dos principacs empregados, que decerto não lhe crao3
avoravcis.»
BE
133
CARTA XXV
DiTAQAÇÃO no YALLB BB COU.ARR0 — CAMINHADA AO ALTO DA SBBKA
19 de novembi'0 de 1787.
<Â minha saade melhora ^ de dia para dia; o tempo sereno e jucando,
qne vamos disfractando esperta a sensação da existência; ando a cavallo, pas-
seio, subo ladeiras, quando e por onde me apraz, sem me fatigar; o valle de
Gollares ministra-me objectos de perenne recreio; tenho descoberto variedade
de trilhos, que por entre castanheiros decotados e pomares conduzem a pe-
quenos rocios de formas irregulares c relvosos, e ahi loireiros nascediços e
balsas de limoeiros bracejam livremente acima da beira pedregosa d'um re-
gato, lai^ando flor e fructo na corrente d'agua. Podeis andar milhas pelas
margens doeste arroio deleitoso, aproveitando intermináveis perspectivas de
moitas floridas nos espaços, que deixam os choupos e castanheiros. A paisa-
gem é de certo a dos Campos Elysios, e tal qual os poetas designam para re-
pouso das almas bemaventuradas.
«Os musgosos fragmentos de penedia, os brutescos toros de arvores e pon-
tes rústicas, que encontraes a cada passo, traçam na imaginação a Saboya e
a Soissa; porém a apparencia exótica da vegetação, o verde lustroso dos li-
moeiros, os doirados pomos da laranjeira, os palmitos da murta, a rica fra-
gaoda dos torrões guarnecidos de cores as mais brilhantes e das mais aromá-
ticas flores, levavam-me a acreditar sem violento esforço da phantasia, que
me achava nos jardins das Hespérides, e esperava ver surdir um dragão de-
baixo de cada arvore. Não me passava pelo pensamento abandonar estes riso-
nhos sitios, e vinte vezes n'este dia estive para revogar as ordens, que dera
para a minha jornada.
«Quaesquer que fossem as objecções, que eu pozesse à demora em Portu-
gal, desvaneciam-se, quando resolvia deixal-o; porque é tal a depravação da
natureza humana, que as coisas nos parecem mais estimáveis precisamente
na oceasião em que vamos perdel-as.
«Havia esta manhã um brando luzeiro dos raios do sol, e uma balsâmica
saudade do ar, que idfundiam o voluptuoso desleixo, o desejo de ficar en-
deusado n*um logar deleitavel, como em as ficções clássicas se presume tor-
narem-se deslembrados da pátria, dos amigos o de todas as obrigações, os
que provaram o lótus. O que eu sentia, não era dissimilhante, repugnava-me
a idéa de retirar-me d'alli.
«Não obstante haver-mc embrenliado n'estes formosos pomares pouco de-
pois de nascer o sol, os campanários de algumas egrejas distantes bateram
horas apoz horas, primeiro que eu me vencesse, e decidisse largar os odori-
ficos 6 ramosos loireiros, debaixo dos quacs me recostava.
«Se as sombras frescas e fragrantes assim convidam a repousar, devo tam-
bém dizer que não ha veredas mais azadas para tentar a passeio os individues
ainda os mais mandriões, do que os caminhos, que d^aqui abrem para todos
> Panorama de 18o7 (xiv), png. 338.
134 BE
os lados, e são compostos (i'ttma areia macia e onxuta, tão ligada e compacta,
que forma ama soperOcíe dura como cascalho.
«Estes trilhos plalnos vão em voltas por entre um labyrintho de^Bsbeltis e
viçosas arvores fructiferas, amcRdoeiras, abrunheiros e gingeiras, lembrando
as lamedas de Tonga-taboo, como as vemos descriptas nas viagens de Gook; e
para angmento de símilhança, tapumes bem compostos de canavial e telheiros
baixos colmados de caniços, que se descortinam por intervallos, quebrando
as linhas horisontaes das perspectivas.
iDilatei-me e vadiei muito a meu sabor quasi toda a manhã; mas, posto
que a minha illusão me afigurasse como um habitante dos Elysios, quanto o
podia auctorisar a paisagem, e o clima inspirar, não podia consíderar-me in-
dividuo tão ethereo, que existisse sem alimento; para fallar claro a^chei-me es-
fomeado; e as peras, marmelos e laranjas baloiçadas sobre a nunha, eabega
não eram tão succosas e gratas ao paladar, como se esperaria da sua promel-
tedora apparencia.
«Estando embrenhado mais d'nma milha na floresta sem guia, nem lem-
brança do caminho, por onde me safasse, demorei-me meia hora pelo menos
a cogitar, por onde voltaria. Os telheiros e cercados, que mencionei, estavam
feitos com diligencia e até primor; porém mostravam não ter outros moradOf
res senão uns bandos de gallinhas de Java, pavoneando-se, e destruindo os
ovos e as esperanças de muitas familias de insectos. Estas aves lustrosas go«
mo as suas eguaes, descriptas nas viagens de Anson, que animam as proAia-
das solidões da ilha de Tinian, parece não terem dono.
«Porfim, quando eu começava a desejar-me com todas as veras n'ama re-
gião menos romântica, ouvi os sons grossos, porém não desentoados d'ama
forte voz feminina, retumbando pelas ruas cobertas de vecejantes arcadas; a
esse tempo vinha saindo um mancebo camponez, robusto e corado, mui pitto-
rescamente vestido de pardo e escarlate, tangendo uma besta muar, carregada
com dois enormes cestos d'uvas. Pedir um quinhão da sua preciosa carga e
cumprimentar o garrido conductor, foi acto instantâneo da minha parte, mas
baldado. Respondeu-me piscando os olhos de matreiro :— Pertencemos ao sr.
José Dias, que tem a quinta d'aqui meia legua; se o senhor quizer vir por este
caminho, indo sempre seguido sem desgarrar-se, nem para a direita nem para
a esquerda, lá chegará breve; e afoito-me a dizer-lhe que o feitor terá gosto
em lhe dar quantos cachos appeteça, Deus lhe dé bons dias; que vou tratar
da minha vida.
«E assentando-se entre os cubiçosos cestos partiu n'um instante. Eu tíve
a boa fortuna de ir parar direito ao portal d'um muro de pedra secca, que
torneava de alto a baixo irregular e rusticamente alguns oiteiros matagosos;
porém, se o exterior do cercado era desabrido, e não promettia coisa boa; da
banda de dentro apresentava-se o mais aprazivel painel de opulência rural,
vendo-se ordenhar as vaccas e as cabras em quantidade, os fomos d*onde s6
estavam tirando grandes e gostosos pães e bolos, fileiras de colmeias e uns
como alpendres sobre pilares, todos forrados de cachos purpurinos e do loiro
moscatel, meio passados, dispostos em pendura para seccar.
BE 135
<Um jovial 6 clássico magistei- pecm^um, maioral, seguido por tluis càes
bem eosinados, inda que de olhar bravio, e que um teve aceno de seu dooo
nao deixava ladrar, saudou-me cordealmente, e com sincera hospitalidade nâo
só me franqueou a sua fazenda, mas até aodou mostrando o melhor d'ella. Á
porfia dois ou três rapazes bochechudos, de cabelloemmaranhado, contendiam
a qual primeiro havia de trazer-me nozes recem-descascadas, taças de leite, e
queijos frescos, fabricados pelo melhor modo, isto é, ao uso do Alemtejo.
tSenti-me tão abstracto do mundo, n'este retiro, tão perfeitamente trans-
portado aos primitivos tempos patriarchaes, que não me recordo de ter jamais
gosado umas poucas de horas de placidez mais deleitosa.-— Aqui (disse para
edmmigo) estou livre do reboliço das cortes, dos cerimoniaes, dos ciunpri-
meotos e visitas da tabeliã, e das palraçòes de golhilheiros. Mas ah t quanto o
qoe pensamos e dizemos para comnosco, falha noventa e nove vezes em cada
eentot
Qaando bemdizia a minha estrella por esta trégua no molesto tumulto da
vida, qne tenho levado, desde que sua magestade chegou a Cintra, súbito me
sâtteoa do socegado recanto, em que entrara, e dissipou todas as mmhas iiln-
sões ama estrondosa vozeria acompanhada de esteiros dos látegos e do estre*
pito dos cavallos. Luiz de Miranda, coronel do regimento de Gascaes, confi-
dente e mui valido do príncipe do Brazil, investiu-me com um sem numero
da corteses queixas por eu ter desamparado o Ramalhão na própria manbã
era que elle vinha com tenção de jantar commigo, e propor para depois da
comida um passeio a cavallo até um especial ponto da serra, sobranceiro, pelo
qoe me assegurou, a uma vista como eu ainda não tivera a fortuna de desco-
brir em Portugal.
•Ainda não é muito tarde; (disse), trouxe os nossos cavallos, que achei im-
padentes e pateando debaixo da sombra d'uma grande arvore, á entrada
doestas mesquinhas azinhagas. Venha: e por Deus faça-me favor de pôr pé no
estribe, que eu fico que se dará por bem compensado com a paizagem, que
voa patentear-lhe.
«Como era destino meu ser perturbado e empurrado para fora do elysio,
em qae me embrenhara nas ultimas sete ou oito horas^ não importava, em
qae postara, se a pé, se a cavallo, annui por isso, e logo mettemos a trote. Os
cavallos eram seguros e firmes de cascos, senão, bem creio que rolaríamos
pelos precipícios abaixo; o nosso caminho, se pôde dar-se o nome de cami-
nho, onde nenhum ha, levou-nos por zigs-zags e atalhos em subidas Íngremes
cosia acima por espaço de três ou quatro léguas, até chegarmos a um ermo,
em qae só crescem orzes, onde ama cruz solitária, sobresaindo d'entre os
matos açoitados pelos temporaes marca o mais elevado ponto d'ésta agreste
emineiicia; am dos mais dilatados conspectos de mar, campos e montanhas
distantes desenrolou-se repentinamente aos nossos olhos admirados, toman-
do-se ainda mais vasto, aéreo, incommensuravel em razão do illusivo e ma-
gico vapor, qae cercava o sol no occaso.
«Tendo gosado por alguns momentos o effeito geral, comecei a distinguir
08 principaes objectos, quanto podiam desenhar-se atravez da névoa deslum-
136 BE
brante, encadeada com os raios derradeiros do asiro laminoso. Segui o curso
do Tejo desde a sua foz até ondo se derrama em esteiros apaulados para além
de Lisboa; por outro lado avistei Cascaes com os seus lanços de muralha e
quartéis á prova de bomba, similhando uma cidade mourisca, e com auxilio
d'um bom óculo divisei uma crescida palmeira campeando sobre uma pi-
nhota de casas caiadas.
cMuito bem (disse ao meu guia) este painel tem de certo bellezas dignas
de serem contempladas; porém não tanto que me faça esquecer de que é
roais que tempo de voltar a casa e refrescarmos.
«Nem tanta pressa (foi a resposta); ainda temos muito para vér.
«Tendo adquirido, nem posso dizer porque, nem como, um habito á moda
dos carneiros de ir por onde vào os outros, dei de esporas atraz d'elle por
uma áspera ladeira abaixo, juncada de bastos seixos e calhaus soltos: ao cabo
d'esta descida se estende para todas as bandas um chão raso, medonho, quei-
mado do sol. Desmontando o fazendo alto por alguns minutos para dar respiro
aos cavallos, não pude eximir-me de observar que tudo, que estávamos ven-
do, muito mal pagava o risco de partirmos a cabeça, baixando a cavallo por
tão rápidos declives. Elle sorriu-se, e perguntou-mc se não divisava coisa In*
teressante.
«Agora sim (lhe tomei) percebo a distancia quasi d'um quarto de milha
uma espécie de caravana, objecto que não deixa de ser curioso; aquelles ran-
chos de gente vestida de côr encarnada, com suas armas lustrosas, e azemolas
carregadas, e aquelles toldos listrados, esticados e seguros nos muros velhos,
oíTerecem exactamente uma pintura do que se poderia vér nos arredores do
Cairo.
«Venha cá (me disse) é tempo de lhe aclarar o mysterio, e explicar-lho
porque nos demos ao trabalho de tão longa e fadigosa cavalgada. A carava-
na, que se lhe afigura tão pittoresca, compõe* se dos creados da comitiva do
príncipe do Brazil, que foi passar todo o dia n*uma caçada, e é agora o mo-
mento de descançar alguma coisa à sombra dos toldos, que acolá estão. Foi
por desejo do príncipe, que vos conduzi aqui, tendo-me incumbido de vos ma-
nifestar o gosto que teria de meia hora de conversação vossa, sem ser obser-
vado, inantendo-se rigorosamente incógnito. Paòseae, como se andásseis co-
lhendo plantas, ou tirando esboços do paisagem; assim se fará saber a sua
alteza real, c encontral-o-heis como por acaso e sem formalidade alguma;
ninguém se chegará tão perto, que oiça uma só palavra do que ambos disser-
des, porque eu me postarei a distancia pelo menos do cem passos, c afastarei
todos os espreitadores o intromeitidos.»
Terminam aqui as viagens do Bcckford traduzidas no Panorama^ nem
posso dar ulterior informarão a rospoito do rosto, pelo motivo, que disse no
principio dVslc artigo— o nunca ter deparado com um exemplar inglez.
Emquaulo poróni â outra obra do mesmo auctor Jornadas a Alcobaça e
Batalha, d'ella existe um o.xemplar na Bibliothoca Publica de Lisboa. É livro
muito inleressanto,ed'ello (como lambem disso) se serviu o nosso romancis-
BE 137
U Rebello da Silva para composição do seu lindo romance Lagrimas e The-
90uro$, cnjo taeroe é Beckford.
Bedíford, depois de vér todas as preciosidades guardadas em Alcobaça,
desejava dar nm passeio para ver os campos próximos, embora o calor esti-
vesse na saa maior força. «Quereis vós então vér nossas colheitas, lhe per-
gunta o frade, que lhe servia de guia, enfadado: olhae porém que os coelhos
agora estão todos a dormir, e que é crueldade ir acordal-os. (Pag. 5i). Beck-
ford insistiu, e depois de o frade o ter acompanhado por algum tempo, dei-
xou-o sosinho, e foi-se deitar debaixo d'uma arvore.
O viajante inglez diz que um dos portaes da Batalha lhe trouxe á memoria
WíUiam of Wydeham, e a nave lhe fez recordar Winchester e Amiens.
Como já se disse, esta viagem é muito mteressante, e bem digna de ser tra-
dozida em portuguez.
Rebello da Silva serviu-se também d'esta ultima obra para a composição
do seu já mencionado romance. '
96) BEGIN (EMILE).
E. — Voyage Pittoresque en Espagne et en Portugal par — . Auteur du
Voyage Pittoresque en Suisse, Illustrations de Mrs, Rouargue Frères. Paris,
Belin-Leprieur et Morizot, editours, 4.<', 556 pag. com um grande numero de
estampas sobre assumptos hespanhoes.
(Viagem pittoresca em Hespanha e Portugal.)
A viagem a Portugal é descripta desde pag. 537 d'este volume até 549,
acompanhada d'uma estampa, que diz representar Lisboa. Nada porém nos
apresenta este livro, que seja digno de especial menção.
Paliando de Lisboa diz-nos: «Que nenhum local podia ser melhor es-
colhido, que o d*esta cidade para o desenvolvimento magestoso d'uma capi-
tal: abraça sete coliinas, tendo cada uma seu valle intermediário. O Tejo oíTe-
reee alli duas milhas inglezas de largura na sua parte mais estreita, e até nove
na mais espraiada. Uma bahia tão bem situada poderia tomar Lisboa a metró-
pole commercial de meio dia da Europa, se alli se encontrasse um milhão de
liabitantes em logar de tresentos mil.»
«Que homem de génio n'este paiz se resolverá a entrar n'uma carreira de
abnegação, para ser calumníado, perseguido, como o infante D. Henrique pa-
ra acabar miserável como o almirante Pacheco, como Gamões: ou para vege-
tar esquecido como o pintor Glama, reduzido a fazer taboletas de tavernas;
como o esculptor Machado de Castro, e como o fundidor Costa, auctores d'uma
estatua equestre de Joseph I, digna de rivalisar com as mais bellas obras do
ultimo século?* (Pag. 539.)
97) BEKE (CHARLES TILSTONE) - Viajante inglez.
Nasceu no anuo de 1810. ^
E. -- Mémoire justificaiif eii faveur des pères Paéz e Lobo. Paris, 1848.
^ Vapereatt — Dietionnaire des contemporainSf paf^. ISO-
138 BE
(£ uma (lefeza da opinião (l'estes padres a respeito das nascentes do Nilo.)
«Em tempo de Felippe 11 de Portugal ^ se descoMa o occollo e nota?^
nascimeoto do rio Nilo em 12 gráos da linha Equinocial, da parte do norte na
AlMtssia por diligencia e observação dos padres da Companhia de Jíesos,
coisa de qoe não havia até os nossos tempos noticia certa, e qae orrava toda
a oosmographia, que tratava do nascimento d*este grande rio; porém depois
que o patriarcha de Ethiopa, D. Âflònso Mendes, e outros padres doutos^ que
n'aquellas partes assistiram, fizeram observação, se soube a certexa, de que fi-
zeram a este reino relações fidedignas, dando noticias do nascimento do rio
Nilo, de suas catadupas, e da grande lagoa Dambea, e de outras coisas notá-
veis, do que já tem saido livros em mais dilatado estylo.»
98)
E.— Viriath nnd die iMitanier. Âitona, 1826.
(Viriato e os Luzitanos.)
99) BELCHER (SIR EDWARD).
E. ^ Directian for the river Douro, London, 1835.
(Direcção para o rio Douro.)
100) BELL (JOÃO) — Negociante inglez, residente em Lisboa.
£. — Taboa mostrando o vcUor da moeda de oiro e prata do remo de
Portugal^ desde o remado do Senhor Rei D. Dnarie até o anno de 1806.
São uns cinco mappas, que vêem na 2.* parte do vol. 3.» das Memorias da
Academia Real das Sctendas de lishoa. (Âono de 1812.)
A respeito doeste trabalho diz Manuel Bernardo Lopes Fernandes: «O nego-
ciante inglez João Bell publicou umas taboas com os nomes, pezos, e valorei
exactos das moedas portuguezas, somente do reino, desde tempo do senhor
D. Duarte até o anno de 1806, e parece que o não fez dos reinados anteriorea
talvez faltando-lhe os necessários esclarecimentos; mas apczar d^algumas opi-
niões pouco exaclas dos auctores, que elle seguiu, e a falta de conheeúnento
de bastantes leis, que deveria notar, é sem duvida a obra mais regular, que
n'este género possuímos. ^
101) BELLERMAN (CHRÊTIEN FRÈDERIC) - LiUerato allemão.
Nasceu em Erfurth em julho do anno de 1793.
De 1818 a 1825 foi pastor da egreja evangélica allemã, em Lisboa. 3 -
E. — L Die alten Liederbucher der Portngiesen, Berlín, 1840.
(Velhas canções portuguezas.) ^
1 P. de Mariz — Diálogos^ pag. 1.32. (Supplemenlo) .
' Memoria das moedas correntes cm Portugal desde o tempo dos umanos até o anno
de 1856, pag. 22
* Yapereau — Dictionaire des Contemporains^ pag. 155.
* «Interesiianle e conscienciosa memoria.» GarreU ^Romanceiro, vol. 1.*, pag. xxi-
BE ^^^
II. Erinnerungen aus Súdeuropa. Berlin, 185i.
(Recordações do sul da Earopa.)
IH. Die Rómische allerthumei' in Portugal, Beriín, 1851.
. (Aotiguidades romanas em Portugal.)
102) BELLEBAT (DE).
E. — Relation du voyage de Monseigneur André de Mello de Castra à la
Caur de Rome en qualité d'envoyé extraordinaire du Roy de Portug, i>. /.
V. auprés de Sa S, Clément XL Paris, 1709, foi.
(Viagem de André de Mello c Castro à corte de Roma.)
103) BELLOY PIERRE.
E. — Declaratíon des droits de succession legitime sur le royaume de
Portugal, appartenant à la reine mére du roi três chretien Catherine de
Médids. Montanban, 1581. Anvers, 1582.
(Declaração do direito de Gatharina de Medicis á coroa de Portugal.)
104) BELHAS (J.) — Chef de Bataillon du Génie.
E. — Joumaux des siéges faits ou soulenw par les Français dam la Pe-
nmsule de 1807 à 1814, rediges d'apres les ordres du Gouvemement sur les
documents existant aux archives de la guerre et au depot des forti/ications.
Paris, Chez F. Didot, 4 vol., 8.*» gr., 1836.
(Cercos postos ou sustentados na Peninsula pelos francezes.)
105) BEMBO (PIERRE DE).
E. — Uhistoire du nouveau monde découvert par les Portugallois, Paris,
1556.
(Historia do Novo Mundo descoberto pelos portugnezes.)
106) BENDOCCI, ou BINDOCCI (ANTÓNIO) - Advogado e poeta,
natural de Síena, na Toscana, i
E. — Carolo Alberto in Oporto. Poema.
((Carlos Alberto no Porto.)
107) BENEDICT (JULES).
E. — / Portoghese a Goa.
(Os portaguezes em Goa.) — É uma composição tbeatral.
108) BENTHAM (JEREMIE) — Moralista e legislador.
Nasceu em Londres no anno de 1747, e falleceu na mesma cidade em
1832.2
E. — Essai sur la situation politiqfie de VRspagne, sur la constitution et
1 Revista Populary vol 5.**, pag. S95.
' Firmin Didol — Nouvelle Bioçraphie (Inivenelley vol 5.", pag. 40H.
140 BE
sur le nouveau Code Espaçnol, sur la ConstittUion de Portugal Sc. Sc. TrO'
duU de l'Anglais, precedes d'observations sur la rétxduHon de la PeninsiUe
et sur Vhistoire du gouvemement représeníatif en Europe, et suivis d'ume
traductum nouvelle de la cansttíutwn des Cartes. Paris, 1823, 8.» XXXI^ S63
pag. 6 mais um Supplemento com 100 pag.
(Sobre a sitoação politica do Hespanha e constituição de Portugal.) .
É uma serie de cartas dirigidas ao conde de Tereno a respeito do Código
Hespanhol e da política de Hespanha. Bentham censura o rigor das leis.
«Lançae os olhos para Portugal. Esta nação magnânima, regenerada hoje
acaba de atirar para longe de si o duplicado jugo d'um despotismo domestico,
6 d'um despotismo estrangeiro. Fazendo-se independente, fez-se livre. P^sse-se
na extrema apathia, no extremo aviltamento dos opprimidos, no seu silencio,
na sua paciência, na sua miséria; pergunte-se-lhe se tanta vergonha e lagrimas
foram pagas com uma só vingança. EUa responderá: Não.»
A pag. 241 começa a carta á nação portugueza. Sou fim é aconselhar os
portuguezes, a que adoptem para seu governo a constituição baseada na repre-
sentação nacional.
109) BERESFORD (Lord Viscouirr G. C. B.) —Genial inglez.
Nasceu no anno de 1770.
E. — I. Strictures on c^ertain passages of L. Col. Napier*s Histary of Pe-
ninsular War,
(Reparos sobre certas passagens da historia da guerra peninsular de Na-
pier.)
II. Further structures.
(Novos reparos.)
in. Refutation of Col. Napier's Jusíi/icaiion. London, 1831-1834, 3 voL,
8.» gr.
(Refutação da justificação de Napier.)
IV. JMler to Charles Edward Long, Esq. on the extracts recenlby jm-
blished from the manuscript Journal and private correspondence of the late
lieut. Gen. R. B. Long. London, John Murray, 1833, 8.", 61 pag.
(Carta sobre o diário e correspondência de Long.)
Y. A second letter to Charles Edward Long Esq. on the Ms. Journal
and private correspondente ofthe late Lieut. Gen. R. B. Long. London, John
Murray, 1834, 113 pag.
(Segunda caria, etc.)
110) BERQERON (LOUIS) — Jornalista francez.
Nasceu em Cliauny, no anno de 1811. ^
E. na fíibliotheque Poimlaire, impressa era Paris, a obra seguinte:
' Firmin Diílol — Nouvelle fíiographie Universellej vol. li.", pag. Íi08.
BE 141
tampa^nes d*Espaçne et de Portugal sons VEtnpire. Paris, 1833.
(Ê nm interessante resomo de nossas lactas na guerra peninsolar.)
«IVes tentativas desgraçadas (diz Bergeron) bastaram a Napoleão : parou
na presença d'uma fortuna invencivel, e não expõe mais suas águias ás aíliron-
las no território portuguez.« ^
•
ili BERJUMERA. (D. NICOLAU DIAZ DE) — Litterato hespanhoh
Escreveu um extenso e assaz desenvolvido trabalho offerecido á Acadenna
Real das Sciencias de Lisboa^ no qual examina, e discute contra D. Paschoal
de Gayangos (que pretende ser o celebre romance Palmeirim de Inglaterra^
de origem hespanhola), a questão sob todos os aspectos, procurando não dei-
xar de pé alguma das objecções propostas pelo seu iilustre patrício. Entre as
provas que apresenta, não é talvez a de menor peso a que resulta da confron-
ta^ minuciosa, que fez das edições portugueza e castelhana, mostrando com
repetidos exemplos de legares parallelos, que a segunda não passa de traduc-
ção pouco esmerada, e por vezes menos fiel da primeira. 2
Em 1826 no catalogo dos livros hespanhoes e portuguezes impresso em
Londres por D. Vicente Salva, attríbue-se a paternidade do referido romance
ora a Miguel Ferrer, ora a Luiz Hurtado: o que se lé na pag. 163 da 1.' parte
e nas 156 e 157 da 2.* Funda se para arrancar aos portuguezes a palma de
Inglaterra, conforme a expressão do immprtal Cervantes, em sair á luz o livro
hespanhol em 1547, e o portuguez só em 1567, edição de Évora por André de
Burgos. 3
A edição hespanhola é precedida d'um acróstico, que significa — Luiz Hur-
tado autor ai lector dá sadud. E d'aqui tirou por consequência também Salva
que Luiz Hurtado era o auctor do romance, sendo elle tão somente auctor do
acróstico, no qual não ha belleza de estylo, nem coisa que cheire a poesia, na
qiiníão de Odorico Mendes.
Para refutar Salva tomou a penna o escriptor brazileiro, e, n'um bem ela-
borado opúsculo de 79 pag. provou, quanto era possível, que o Palmeirim^ um
dos romances mais notáveis devidos á penna dos portuguezes fora composição
de Francisco de Moraes, e que Luiz Hurtado havia sido traductor do romance
e auctor do acróstico.
D. Paschoal Gayangos pesaroso de ver a litteratura do seu paiz privada
< «Napoleão qaix fazer um terceiro e ultimo esforço para se apoderar de Portugal,
e expulsar d'elle a Wellington. Mas que chefe assaz invencível se poderia dar a esta no-
▼a eipediçio? Em que giande general repousavam bastantes esperanças para que se lhes
podesse pedir uma victoria n'aquclle paiz, onde Soult e Junot tinham Ceado mal. Este
grande general, este chefe invencível foi Masscni, a primeira gloria do exercito francez
abaixo do Napoleão, o filho querido da victoria, c que por garantia do futuro levava com-
sigo suas campanhas da Itália, o uma reputação militar e sem mancha.» (Pag. 95.)
« Sr. Innocencio Francisco da Silva— Dicctonario BibliographicOy vol. 9.% pag. 360.
s Manuel Odorico í&euáQá — Opúsculo acerca do Palmeirim de Inglaterra e de seu
auctor, pag. 1.
i42 BE
d'ama tão befla joía, pobiicoa em 1862 alguns artigos em os nomeros 2 e 3
da Revista Espcnuda âe Madrid, pretendeado demonstrar: i.<> Que vinte an-
no6 antes que em Portugal fosse conhecido o Palmeirim, saíra este á luz «m
Toledo, e era pouco depois traduzido em Trancez e italiano, com a particula-
ridade de se dizerem ambas as versões feitas sobre o original castelhano. %.**
Que da dita obra se declarou anctòr, sem que ninguém se lhe oppozesse, um
escriptor toledano (Luiz Hurtado). 3." Que antes de 1567 não se imprimiu
aqueilaobra em Portugal, e na primeira edição de Évora nem sequer se lhe
nomea o auctor. 4.* Que só passados vinte annos, e quando Moraes já era fal-
iecido, foi que nm livreiro de Lisboa se lembrou de reimprimir o Palmeirim
fazendo-o preceder de uma dedicatória de Moraes à infanta D. Maria, na qual
se diz por modo terminante e decisivo, que elle e não outro fora o auctor do
livro em questão.
Todos estes argumentos foram pulverisados pelo sr. D. Nicolau Diaz de
Beijumera, e parabéns lhe devem os amantes da litteratura portngueza. De mo*
do que Amadis, uma das nossas maiores glorias, é attribuido aos hespanhoes,
com o Palmeirim succede o mesmo, e Dianna deMontemayor n'aquelle idio-
ma é escripto. E não será lícito dizer que nossos antepassados eram desleixa-
dos, e negligentíssimos em legarem a seus Olhos aquellas glorias, que de di-
reito lhes pertenciam?
E de nós que direi? Tão importantes polemicas litterarias travadas só por
estrangeiros, e em que os portuguezes, a quem cumpria mais do que a nin-
guém tomar parte n*e]las, não comparecem, faliam cloquentíssimamente a
nosso respeito.
112 BERMUDES (FR. JERONTMO) — Natural de Galliza o profes-
sor eni Salamanca.
E. — I. Nise lacrimosa.
(Tragedia, cujo ^umpto é a morte de D. Ignez de Castro.)
n. Nise laureata,
(Coroação de D. Ignez de Castro.)
Suscitou-se uma questão Htteraria muito importante: Se a tragedia Iffnez
de Castro, do nosso António Ferreira era uma traducção ou imitação da de
Bermudes, ou se a d'este era copiada ou imitada da do nosso poeta.
Martínez da La Rosa, porém, sentenciou o pleito a favor do nosso compa-
triota, no que não devia ter escrúpulos, pois António Ferreira em vida dava
como sua a Castro, que por isso lhe valou os louvores de Diogo Bernardes.
Quem desejar tomar conhecimento d'esta grave questão mais a fundo, veja
Diccionarto Bibliographico, vol. l.M)ap. HO c iil, o vol. 2.«, pag. 143 a 146.
113) BERTELLETI (DAVIDE).
E. — Ignez de Castro. Tragedia. Milano, 1826.
114) BERTHOUD (S. HENRI).
E. — Camoens moarant. ((iamòcs moribundo )
BI 143
Pequeno romance acompanhado d'ama estampa, qae se poblícoa no i.<*
vol. do jornal francez Musée des Famiíles, anno de 1833.
115) BERTOLOTTI (DAVIDE).
E. •— Storia di Portogallo tratía dal La Clede, dal Vertot, dal DurdetU,
dal Batíri e da altri autori per —cura di — . In continuazione delia Storia Uni-
neriale scriUa dagli Autori ipiu distinti conramie carte geografiche, Nella
sUmperia di Pio Cipicchia, 3 vol., 12, Roma, 1833.
(Historia de Portagal.)
Existe um exemplar d'esta obra na Bibliotheca Publica de Lisboa.
ii6) BERTOLOTTI.
E. — Descrizione delV ornato di piítura che se ammira nella capella di
S. António di Padova, nella chieza di 5. Perónio, Bolognia, 1662.
(Descripção dos ornatos das pinturas, que se admiram na capella de Santo
António de Pádua, na egreja de S. Petronio.)
117) BERTUCH (FREDERIG JUSTIN).
E.--Magasin der Spanischen wnd Portugiestschen litteratur, herausge^
geben. Weimar, 1780-1782, 3 vol.
(Deposito de litteratura hespanhola e portugueza.)
118) BES-CHRYVIN van Spanien en Portngat, etc, (Em boUandez.)
(Descripção de Hespanba e Portugal contendo os pormenores de tudo
quanto seu estado passado e presente oflereco de mais interessante. Leyde,
1707, foi.
119) BETENDORF (P. JOÃO FILIPPE) — Antigo missionário do
Brazil.
E. — Compendio da Doutrina Christã na lingua Portugueza e Brasilica.
Composto pelo P, — e reimpresso de ordem de Sím Alteza Reat o Príncipe
Regente N, S., por Fr. José Marianno da Conceição Vellozo. Lisboa, 1800.
Offlcina de Simão Thaddes Ferreira, 131 pag., 12.«
120) BIANCARDI (MIGUEL ANDRÉ) — Padre da congregação dà
Missão em Portugal.
Nasceu em S. Martinho de Noagli, no arcebispado de Génova, no anno de
1772, e falleceu cm Lisboa, cm 1842.
Na vida d'este missionário, cscripta pelo padre Jo:^ Cuelbo da Silva, e im-
pressa em 1848 n'esta cidade de Lisboa, encontraram -se algumas poesias mys-
tycas, compostas na lingua portugueza, pelo padre Biancardi.
121) BLA.NOHI (FRANCISCO).
E. — D. Ignez de Castro, Opera, Londrcá, 1797.
i44 BI
i22) BIELFELD (DE).
E. — Instiluciones poíUicas, obra en que se trata de los reynos de PoT'
tugal y Espana, de su situación local, de sus posesiones, de sus vecinos y
limites, de su clima... de la nobleza, de la forma, de su gobiemo, de sus de-
partamentos, dei Soberano y de sus titulos, de la sucesion ai trono, de sus
exércitos &c. Aumentada de muchas notas por D. VcUentin de Forenda.
Bordéus, 1781, 4.«
(Descripção de Portugal e Hespanha.)
i23) BIERING (CHRISTIAN HENRI).
E. — Poetiske Tauher over Ldssabons Undergang. Copenhague, 1756.
(Pensamentos poéticos sobre a destruição de Lisboa.)
124) BIGOT (STANISLAS) — Ingénieur eiva. '^
£. — Pont suspendu de Porto. Détails des travaux, smvi de trais pian-
ches explicatives. Lisboa, na typographia de Morando, 1843, 4.^ 23 pag.
(Ponte pênsil do Douro.)
Por este relatório se vé que a solemnidade para o começo dos traballuM
foi celebcada a 2 de maio de 1841, com assistência das auctoridades do Porto
e que a ponte (cujo comprimento é de ITO^jU) assenta sobre quatro obeliscos
de 18" de altura, ligados dois a dois na sua parte mais alta por tlranles de
ferro. O rio Douro por debaixo d'eila tem a largura de 155*°. Abriu-se á cir-
culação publica em fevereiro de 1843, e foi concessionário doesta empresa o
conde de Giaranges Lucotte, e engenheiros Staniislas Bigot o Amódée Car-
ruelte.
125) BIOTA (D. ANTÓNIO DE FUERTES Y).
E. — Anti-nmnifestio 6 verdadera declaracion dei derecho de los Senores
reyes de Castilla a Portugal. A la Sacra y Real Magestad dei rey D. Phi»
lippe IV. Escrivelo —.Bvuyàs de Flandres, lGi3,4."
(Direito dos reis de Castclia á coroa de Portugal.)
126) BIRAGO (GIO: BAT) - Jurisconsulto italiano, que vivia na pri-
meira metade do século xvi. *
E. — Historia delle revolutione di Porfogallo per la quali la corona é trans-
ferita dei re di Castiylia ai dura di Uraganza Giovanni IV. Génova 1646>
Leone 1646.
(Historia das revoluções de Portugal.)
Ha uma edição que apparece mencionada com o seguinte titulo: Historia
delia desunione dei regno di Portwjallo dalla corona di Castiglia. Amster-
dam, 1646.
No catalogo manuscriplo da livraria do condo de Lavradio apparece men-
' Firmin l)i«lol — j>out;W/f liioijraphir rníiYn.7'V, \ol. í.". piic. 115.
cionada oatra edição d'esta ultima obra, impressa em Âmsterdam no anno
de I6i6.
Encontrei ainda uma outra dada por impressa em Lugduni, 1644.
117) BIBAOV&&.
E. — Responsio Juridicopolitica ad librum inscriptum Jura Joannis IV,
PofiugaUiae Regis á a livio Giotta á in qua jfrimo rejiciuntur praeten-
ikmes inhantium corona Portugalliae, Âugustae Vindelicomm, 1644, 4.*. Em
latmi e italiano.
(Resposta juridicopolitica contra o livro intitulado Jura Joannis IV Por-
tugaUiae Regis.)
128) BLAIRIE (OLLIVIER DE LA).
E. — Usbonne et les Portugais, par — . Paris, 1820.
(Lisboa e os portuguezes.)
129) BLANOHINO VERONENSI (JOSEPHO) — Presbytero Con-
gregationis Oratoríi Sancti Philippi Nerii de Urbe.)
E. — Evangeliarium quadruplex Latinae Versionis antiquae seu Veteris
Italicae nwnc primum in lucem editum ex Codicibus manuscriptis oureis,
argenteis, purpureis aliisque plus quam millenariae antiquUaíis sub aus-
picOs Joannis V Regis Fidelisstmi Lusitaniae, Algarbiarum &c, a — . Rom»,
1748, 4 Yol. foi.
Dá noticia doesta obra o Journal des Sçavants de 1750 a pag. 308. É uma
impressão dos Evangelhos feita sobre manuscriptos antiquíssimos, debaixo
dos auspícios do nosso D. João V.
130) BLANO (SIEUR VINCENT LE — ).
E. — L^ voyages du — dans la plupart des pays de fAsie et dans des
Indes Orientales.
(Viagem na maior parte dos paizes da Ásia, e das ^ndias orientaes.)
Esta obra apparece citada na Vida de Camões, quS precede a traducçào
dos Luziadas por Ortaire Foumier et Desaules (pag xxxvi).
Trata da índia portugueza.
131) BLANEY (Lobd).
E. — Narrative of a forced Joumey through Spain and Portugal, 3 vol.
(Descripção de marcbas forçadas atravez de Hespanha e Portugal.)
132) BLAZE (HENHI).
E. — Don Sebastian,
Romance publicado no Muséc des Familles (anno de 184i, vol. li.») acom-
panhado de duas estampas.
133) BLONDXN (J. N.) — Sccrétaire- interprete á Ia Bíbliotheque du
TOMO 1 10
146 BL
Roi, aiUeur de dl verses grammaires dediées á S. M. Louis XYlll; d'uu Ma-
noel de Ia pureté da langage, adopte comme classique dans le CoUégo Royai
de la MariDc, etc.
E. — Grammaire Polyglotte, Franraise, Latine, Italiennc, Espaçnole, Por-
higaise et Anglaise; Dam laquelle ces diverses langues sont consíderées tous
le rapport du mécanisme et de Vanalogie propões à chacune d*elles. De-
diée au BoL Seconde edition. Paris, Gbez Brianchoo, líbrairo, i826, 4.%
ill pag.
(GraiDinatica Polyglotta-latinaportugueza.)
134) BLOUNT (EDWARD).
E. — The historie of thc uniting of the kingdom of Portugal to lhe crown
of Castile. LondoD, 1610.
(Historia da união do reino do Portugal á coroa de Castella.)
135) BLUTEAU (D. RAPHAEL).
Nascea em Londres a 4 de dezembro de 1640, ^ e faiieccu em Lisboa a
13 de fevereiro de 1734, sendo então Propósito dos regulares de S. Caetano,
n'esta cidade.
Apezar de estrangeiro foi elle quem compoz o primeiro diccionario com-
pleto do nosso idioma com o seguinte titulo:
L Vocabulário Portuguez e Latino, AulicOj Anatómico, Architeciamco,
Bellico, Botânico, BrazUico, Cómico, Critico, Chimco, Dogmático, Dialéctico,
Dendrplogico, Ecclesiastico, Etymologico, Económico, Florifero, Forense, Fru-
ctifero, Geographico, Geometnco, Gnomonico, Uydrographico, Homonymio, Hie-
rologico, Ichtyologico, Indico, Isagogico, Laco7tíco, Ltturgico, Uthologico, Me-
dico, Musico, Meteorológico, Náutico, Numérico, Neoteiico, Ortliographico,
Óptico, Ornithologico, Poético, Philologico, Phamiaceutico, Quiddidativo, Qua-
litativo, Quantitativo, Bhetorico, Rústico, Romano, Synibolico, Synonimico,
Syllabico, Theologico, Terapêutico, Technologico, UramlogicOy Xenophonico,
Zoológico, auctorisado com exemplos dos melhores eseriptoí'es portuguezes e
latinos, e offerecido ael-rei de Portugal D.João F. Tomo 1.*», Coimbra 1712,
8 vol. O ultimo tomo fpi impresso em 1721, foi.
II. Supplemento ao Vocabulário Poitugucz e LiUino, que acabou de sair
á luz. Amw de 1721. Lisboa, 1727, 2 tomos.
Todos estes dez volumes custaram dez annos de trabalho ao seu auctor.
III. Primiàas Evangélicas ou sennões e panegyiicos do P. D, Raphael
Bluteau. Offeiecido á seienissima alteza de Cosmo Terceiro duque de Tos-
cana, Lisboa, 1676, parte 2.» 1085, parle 3.% Paris 1698, 4."
IV. Sci-mõcs panegyricoíí c dontrinacs, Tomo 1.°, Lisboa 1732, louio 2.*
1733. foi.
• Xrchuo PillorcòrOf vol. '^:\ pag. 201. Porem o bi. lnii(»(;niuio diz que nascera cm
1638. V. Diccionario Bihliograplnm, >nl. 7.", pa^;. 41 bfm (omo lambem discrepH em
quanto ao dia do faliorinionlo
BO 147
V. Prosíis portuguezas, recitadas em differentcs canffi'essos academcoi.
Parle !.•, Lisboa 1718, parle 2." 17Í8, foi.
VI. Institicrão sobre a cultura da atnoreira. Coimbra, 1769.
136) BOA (DARTIN DE).
E. — Fios sanctorum: fiestas y santos de Andalucta, Castilla y Portu-
çal^ Sevilha, 1615. (Feslas dos sanlos de — .)
137) BOCAGE (BARBIÉ DU).
Publicou em o n."" 195 do Moniteur de 1807 uma memoria, lida em 3 de
junho do mesmo anuo em sessão publica do Inslíluio, na qual pretende pro-
var que a costa orieolal da Nova Hollanda foi visitada pelos portuguezes em
1525, muitos annos antes que o capilào C9ok allí abordasse em 1770. *
138) BOCANDÊ (BERTRAND) — Naluralisla e viajante francez.
Nasceu em Nantes, no anno de 1800. Estabeleceu-se em Guiné, e escreveu. ^
Noies sur la Guinée ou Sénégambie meridionale: E diversas memorias jm-
blicadas no — BuUetin de la Societé Geographique, en 1849.
(Notas sobre a Guiné portugueza.)
139) BOCANEGRA — (111.»» Scnr. D. Francisco, entonces arcediano de
aquella iglesia, y hoy obispo de Guadix y Baza).
E. — Oracion fúnebre que en las suntuosas lumras que á la perpetua,
digna, bien merecida memoria de la Senora Dona Maria Anna de Áustria,
rema viuda de Portugal, consagro la M. N. M. L. ciudad de Almeria, con
asistencia dei III/^ Cabildo eclesiástico de ella, en los dias 4 2^ 5 noviembre
dd a«k> 1754, dijo et — . Con licencia, Madrid, 1770, imprenta de F. X. Garcia.
(Oração fúnebre de D. Maria Anna de Áustria.)
140) BODIN (HENRI SOULANGE).
E. — Histoire de Portugal depuis sa separation de la Castille jusqu*à
nos jours, par Henri Schaeffer Professeur d' Histoire à rUnivei'sité de Gie-
zen. Traduit,par — . Avec une note sur la Chronique inedUe de la Conquêíe*
de Guinée donnée par le Vicomte de Santarém de VAcademie Royale des
Sciences de Usbonne, et Membre Coirespondant de l' Instituí de France, Pa-
Ti8, Adolphe Delabays, libraire-editeur, 1858, 4.% 662 pag.
A traducçao franceza do original allemão não ficou terminada.
r
«A pesar nosso o dever e a justiça requerem acres e merecidas censuras
ao traductor francez. Com eíTeito, se pelo dedo se conhece o gigante, avaliare-
mos logo a consciência com que tal versão (antes inversão) se perpetrou, lendo
na capa em letras, que arremetlem com os olhos a clausula de ser feita a tra-
I BáWíí — Essai Statislique, vol. 1.*, pag. 19.
' Vapcrcaii — Dirfionaire des ConUmporainSy pa;;. 217.
148 BO
docção— avec des notes de M. le vicomte de Santarém, e logo no rosto a se-
guinte limitação contradictoria : avec une note sur la chronique de Ia conquôte
de Gninée, donnée par M. le vicomte de Santarém— avultando este ultimo
nome em letra maiúscula. E realmente só uma nota, ou antes espécie de an-
nuncio, ou prospecto da nova publicação de Azurara, é que ahi apparece da
penna do sr. Santarém.
«Vistes nunca mais dourada taboleta de vendedor de cominhos? Factos
d*estes, que parecem de importância nuUa, são graves injurias contra todo o
género humano, que sabe ler; são crimes litterarios, que a todos os que pe-
gam na penna cumpre punir. Servir-se de um nome accreditado na critica dá
historia portugucza como de isca para pescar assignantes e compradores á
obra, é próprio de traficantes de letras, > e não de litteratos.
«A traducçâo nada contém de mais, e tem muito de menos do que o ori-
ginal, e pouco satisfeito ficaria o sr. ScbaeíTer, quando viu o seu filho querido
e legitimo proclamado bastardo em nação estranha, e por juizes sem provas.
«O sentido do author, quando não adulterado, é saltado aos pés juntos pelo
empenho de poupar escripta. A doutrina é apresentada, quando o é, com di-
visões de outra forma. As notas, em que o sr. Schaeffer poz tanto esmero, prin-
cipalmente as que são escriptas em portuguez, vem ás vezes tão desfiguradas
que se não podem ler. Em citações não fallemos, que nem julgamos valer a
pena de nos darmos a esses escrúpulos de algarismos, quando temos tio no-
táveis pontos de censura. Por derradeiro nem vem o reinado do sr. D. João 11,
que já no allemão se publicou.
«No demais c um livro excellente — isto é no papel e uo typo.» ^
141) BOILEAU — Um dos mais celebres poetas fraucezes do tempo de
Luiz XIV.
E. — Resposta d Carta, que S. E. o Conde da Ericeira me escreveu de
Lisboaj remettcndo-me a traducrão da minha — Arte Poética — feita por
elle em verso portuguez, 1697.
«Apesar de minhas obras terem dado que fallar pelo mundo, não concebi
todavia de mim uma opinião excessivamente alta; e, se os louvores, que me
deram, me iisoujearam bem agradavelmeuto, uão me cegaram com tudo. Mas
confesso que a iraducçào, que v. ex.» se dignou fazer da minha Arte Poética,
e os elogios, com que a accompanhou ao remettcr-m'a, produziram em mim
um verdadeiro orgulho. Desde então não me foi possível julgar-me um homem
vulgar, vendo-me tão extraordinariamente honrado; e pareceu-me que o ter
um traductor com a vossa intciligencia e jerarchia era para mim um titulo de
mérito, que me distinguia de todos os escriptores do nosso século. Apenas
* Este facto traz ã memoria a reimpressão da Grammalica Ingleza^ de UrcuUo, era
Paris, como sendo composição do dr. Constâncio.
5 Sr. Francisco Adoipho Vainbagen na Revida Universal Lisbonense j vol. !.•, pag.
U, anno do 1824.
BO ,49
possuo um imperfeitíssimo conbecimeDto de vosso idioma, e nenhum estudo
particular flz d'elle. Com tudo comprehendi muito bem a vossa traducçlo, a
ponto de n'ella me admirar a mim mesmo, e de me julgar um escriptor muito
maia hábil em portuguez, do que em francez. Realmente enriqueceis todos
meus pensamentos, quando os exprimis. Tudo quanto manejaes, converte-se em
coro, e os próprios seixos, se a expressão é permittida, nas vossas mãos trans-
formam-se em pedras preciosas. Ã vista do exposto juigae, se deveis exigir de
mim, que vos note as passagens, onde podereis ter-vos um pouco desviado do
meu sentido.
«Quando, em logar dos meus pensamentos, me tivésseis, sem n'isso reflec-
tir, emprestado alguns dos vossos, bem longe de os fazer desapparecer, pen-
saria em me approveitar do vosso descuido, e adoptal-os-hia para com elles
me honrar : porém vós em nenhuma parte me fazeis passar por uma tal prova.
Tudo é egualmente justo, exacto, fiel em vossa traducção : e, se bem que me
tendes muito embellezado, não deixo eu de me reconhecer em toda a parte
d'ella.
«Não torneis, pois, a dizer, senhor, que receiaes não me terdes entendido
bem. Dizei-me antes o que fizestes para me entenderdes tão bem, e para per-
ceberdes na minha obra até mesmo subtilezas, que eu julgava não podeí^m
ser sentidas senão por pessoas nascidas na França, e educadas na corte db
Luiz, o Grande. Vejo claramente que não sois estrangeiro em nenhum paiz, e
que, pela extenção de vossos conhecimentos, sois de todas as cortes, e de to-
das as nações. Disto dão testemunho a carta e os versos francezes, que me fi-
zestes a honra de escrever. N*elles apenas se encontra de estrangeiro o vosso
nome, e não existe na França um homem de bom gosto, que não desejasse
tel-os feito. Mostrei-os a alguns de nossos melhores escriptores. Nenhum hou-
ve, que d^elles nao ficasse extremamente encantado, e que não me desse a en-
tender que, se de vós tivesse recebido eguaes louvores, ter-vos-hia já tornado
a eserever volumes de prosa e verso. Que pensareis vós então de mim, tendo-
me eu contentado com o vos responder por meio d*uma carta de cumprimen-
tos? Não me accusareis então de ser ou incivil, ou grosseiro? Não, meu se-
nhor: nem uma, nem outra cousa eu sou: mas, com franqueza, eu não faço
versos, nem mesmo prosa» quando quero. ApoIIo é para mim um deus caprl-
cho80> que não me dá a mim, como dá a vós, audiência a todas as horas. É mis-
ter que eu aguarde os momentos próprios. £ d'elles terei cuidado de lançar
não, quando os encontrar: e serei bem infeliz, se morrer ficando-vos em di-
vida d'nma parte de vossos encómios. O que desde já vos posso dizer, é que
na primeira edição de minhas obras, não deixarei d'introduzir n*ella vossa
venão, e que não perderei nenhuma occasião de fazer saber a todo o mundo,
que das extremidades de vosso continente, e de tão longe, como as colnmnas
de Hercules, me vieram os louvores, df» qne eu me pago mais, e a obra com
a qual me sinto mais honrado t. <
* Oeuvres de Boilenu Paris, 1864, toI 2 ", pag. 406.
i50
BO
i4S) BOIS (DU).
E. _ Vayages faits par le sieur D. B. aux !les Dauphines m Madagás-
car et Bourbon ou Mascarenne, és années 1669-70-71-72 dans lesqueh il
est curieusement traité du Cap Vert &c, &c. Paris, 1674.
(Viagens feitas a — nas quaes se traia curiosamente de Cabo Verde.)
14^ BOLAFFIO (JOSÉ VITA) — Mestre de Arithmetica em Trieste.
£. — Números certos para formar as combinações de cambio entre a pra-
ça de Lisboa, e diversas outras praças da Europa, que tem cambio estabe-
tecido com a mesma. Compostos por — . Vienna, na oíllcina de Mathias André
Scbmidt, 1803, 4.^ com nm mappa.
(Esta obra é dedicada a António Maria Galvet, cônsul geral* de Portugal
em Trieste.
144) BONDE (GUILLELHUS).
E. — Ad Serenissimum Dominum Joannem V PortugcUliae regem de JuUi
CtovU clari admodum pictoris operibus, sive sermones três, Londioi» 1733.
Esta obra, que vi citada pelas palavras referidas, parece ser um discurso
offerecido ao nosso rei D. João V, a respeito das obras do celeberrimo pintor
em miniatura D. Giulio Clovio.
145) BON (LE) ADVIS MESPRISÉ, ou la lettre de Monsr. Trista»
de Mendosse^ Jadis Ambassadeur pour lenouveau Eletto DonJoanel Quarto:
par grace de trahison Roy de Portugal, escrite à sou successeur V Ambassa-
deur de Portugal. Francisco de Sousa Cotinlio: presente a la Haye. 161k9, 4
folha<a, 4,o
Este folheto é relativo á restauração de Portugal, a qual vitupera; e faz
parte d'uma bella collecção de opúsculos, concernentes ao mesmo assumpto,
e á lucta contra os hollandezes no Brazil, a qual pertence ao ex."*» sr. mar-
quez de Sousa, e que este senbor teve a bondade de pôr â disposição do
auetor d'este trabalho, para d'ella tirar os apontamentos que fossem conve-
nientes. ^
146) BONNET (CHARLES) — Engenheiro.
Escreveu a Memoria sobre o Algarve, abaixo citada, que é o fructo das
suas viagens feitas nesta provincia nos annos de 1846-47.
Mémoire sur le royaume de V Algarve contenant la description des moi^
tagnes, des sources, des cours d^eau, des villes etc, du climat, de la vége-
tation, des animaux, de Vinduslrie, du commei ce, etc, ainsi qu'une esquisse
historique de cette contrée, (Nas Memorias da Academia Real das Sciencias
de Lisboa, 2.* série, tomo 2.^ parte 2.*, de pag. 1 até 176.)
No vol. 9.<> (pag. 230 e seguintes) da Revista Universal Lisbonense vem
< Sempre que daqui por diante apparecerem estas lellras M. S. é porque a obra re-
ferida Tem na collecção do ex."^" sr. marquez de Sousa.
uma noticia de M. M. Franzlni acerca dos trabalhos da commissão geológica
dirigida por mr. Charles Bonnet nas suas explorações á província do Alem-
tejo, em 1849.
i47) BONNEVAL (RENÉ D£).
E. — Repouses ati.r paradoxes de VAbbé Desfontaines contre ígnez de
Castro. I7Í3.
(Resposta aos paradoxos do abbade Desfontaines contra Ignez de Castro.)
148) BONUCOI (ANTÓNIO MARIA, Della Compagnu di Gibsu)*
E. — I. Orazione nelle solenni esequie Della Maestá dei Ré de Portogallo
scritta in italiano e in portoghese da — E detta nel primo linguaggio dal
medesimo nella Chieza Nazionale di S. AntorUo in Roma. In Roma» nella
stampería di António di Rossi, alia Piazza di Ceri, 1707. Con lícenza dé Sa-
periori, S.**, 61 pag.
(Esta oração fúnebre de D. Pedro II é offerecida ao rei de Portugal D. João V.)
II. Isíoria della vita ed eroiche azioni de D. Affonso HenriqueSy primo
te de Portogallo. Veneza 1719.
(Historia da vida e acções heróicas de D. AfTonso Henriques.)
Creio que este livro foi composto por occasião de se tratar da canonisaçao
do nosso primeiro rei, ardentemente desejada por D. João V.
i49) BORDIGNÊ (Conte DE).
E. — Legitimité Portugaise. Paris.
Nada mais posso dizer a respeito d'esta obra^ que vi citada.
itSO) BORELLO (CAMILLO).
E.— Theatrum Regiam sive Regam Portugalliae a --. Bruxellas, 1628.
(Ttieatro régio, ou dos reis de Portugal.)
Parece ser uma biographia dos nossos reis.
151) BÕSCHE (EDUARDO THEODORO).
E. — l. Novo IHcdonario geral das lingttas Portugueza e Allemã, com
particular menção dos termos das sciencias, artes, industria, commercio, e
navegação. Hamburgo, em casa do edítorproprietario Roberto Kíttler, o tomo
l.*de847pag.eo2.<> de 808.
Vi também n*um catalogo de livros esta obra como impressa em Leipsig.
II. Diálogos Poi^tuguezes e Allemães. Hamburgo, 1836.
itSíi) BOS8IO (MATTHEUS).
Diz o sr. Innoeencio a pag. 164 do 4.*' tomo do Diccionario BibliograpMco,
qa» este eserlptor lhe parecia ser de nação italiano, que fora secretario da
embaixada de Sabóia, n^e^ta corte, e que traduziu do italiano para portnguez
o seguinte livro:
Compendio genealógico da real casa de Sabmfa, cam um appendice em
m BO
que se dá mcnnia noticia dos estados, rendas^ forças e títulos que tem esta
augustiseima casa» 0/ferecida á Sereníssima Infanta de Portugal pelo conde
D. Jeronymo Marcello de Gubematis, presidente no Supremo Senado de Nixa^^
enviado extraordinário de S. A. R. de Saboya, n'esta corte, etc, Lisboa» por
Miguel Deslandes, 1682, 4.% 38 pag.
153) BOTERO (GIOVANNI— BENESE)>-Escriptor italiano celebra.
E.—Delle Relatione Universali di — . Parte prima, Nella quale si da ra-
guaglío de Continenti, e deW Isole sino ai presente scoverte. Revista daWAu-
tore, e di nuovo arrichita in infiniti luogki di cose memorabíli e curiose. In
Roma, 1595, foi. 1.' parte 403 pag. 2.* 289.
Trata esta obra amplamente das descobertas e conquistas dos portugaetei,
de cujos feitos era grande admirador, e aos quaes considera como om dM
primeiros povos do universo.
«Má nissuna natione si mostro mai piu vehemente, e che partecipassa pia
delia terríbilitá dei furore, che i Portoghesí: le cui navigationi oitre ai. capo di
Bonasperanza, e oltre alio streto di Sincapura, e gli acquisti di Ormuz, di Goa
e di Malacca, e le difese di Gocin e di Diu, e di Gau C^ic) e di Goa, hannopia
dei vero, ebe dei verisimile.
«Lisbonna á giuditio universale, la piu popolosa Citta delle Cbristíanitá^se
tu ne eccetui Parigi. Questa Gittá vai quasi tutto il resto dei regno; perebe fk
popolo grandíssimo, e vi capita tutta la mercantia, e tutto il trafica dell'Etbio-
pia, dei Prasil, delia Madera, e deiraltre Isole, e di tutto Settentríooe.*
154) BOUOHOT (AUGUSTE) — Professeur dHisloire au Lycée Napo-
leon.
E. — Histoire de Portugal et de ses colonies par — . Paris, libraíre de L.
Hachelte, 1854, 8.°, 470.
Esta historia de Portugal faz parte da coilecçâo de compêndios de bistoria,
compostos por uma sociedade de professores e de litteratos, debaixo da direc-
ção de M. Duruy. Seu auctor mostra-se um enthusiasmado admirador dos feitos
dos portuguezes, e diz que Napoleão I tinha tido muita razão em mandar es-
tudar a historia de Portugal nos lyceus de França.
155) BOULLIAU (ISMAEL).
E. — Pro ecclesiis Luzitanicis ad clenim Gallícanum libri duo. Stras-
bourg, 1656. Paris, 1657, Argentinae, 1670
(Dois livros dirigidos ao clero francez em prol das egrejas lusitanas.)
Todos sabem que depois da restauração de Portugal, o papa, acérrimo par-
tidário de Gastella, tinha-se obstinadamente recusado a confirmar bispos pan
o nosso paiz, d'onde resultou virem as dioceses portugupzas a ficar sem pas-
toras e o escreverem -se alguns livros a este respeito,
BO 153
im BOURCHIER (JOHAN).
£. — The Cronicleit of Englandey Fraunce, Spayne, PortyngcUe, ác. Traiu-
iaíeâ omi of Frenche Mo our mateniall englmhe tangue, London, 1523-25,
4 vol (Chronicas de Inglaterra, França, liespanha, Portugal, etc.
É a traducçâo das celebres Chronicas de Froissart, em que este famoso
eaeriptor falia circurnstanciadamente da nossa batalha de Aljubarrota, e dos
f^tos dos portugueses por aquelles tempos.
157) BOURDIEO (MIGUEL IiE).—Francez.
EL — I. Nova grammatica da língua franceza, por Lhomond, traduzida e
accrescentada da conjugação por extenso dos verbos irregulares e defeituo-
MS. Lisboa, 1823.
n. Grammatica ingleza de Siret, traduzida e posta em nova ordem, por
um methodo mais claro e fácil dos que tem havido até ao presente. Lisboa,
1813.
IIL Elementos da grammatica latina, exposta em nova ordem. Lisboa,
1816.
rV. Historia da conjurasão de Catilina e da guerra de Jugurtha, por
Saihutio, traduzida em vulgar com o texto latino em frente, e notas criti-
cas e históricas para a intelligeíicia do auctor. Lisboa, 1820.
V. Jesu Christo por ma tolerância modelo dos legisladores, traduzido do
francez. Lisboa, 1821.
158) BOURGOING (JEAN FRANQOIS, Baron de) — Escriptor e ce-
lebre diplomata.
JKascen em Nevers no anno de 1748, e falleceu em julho de 1811. ^
Residiu pelo espaço de sete annos em Hespanha, como secretario d'embai-
xada, e durante este tempo recolheu os apontamentos necessários para a sua
obra Quadro da Hespanha moderna, obra estimada, da qual existem quatro
edições, e que foi traduzida em dinamarquez, inglez e allemão.
Porém d'este auctor o que mais nos interessa é a Voyage do Duc deCha-
teltt É» Portugal.
Eis o que Bonrgoing ncs diz a respeito da referida obra :
«Portugal, um dos paízes, com os quaes temos, ou pelo menos podíamos
ter mais relações commerciaes, uma das potencias de segunda ordem, que mais
nos interessam relativamente á politica, Portugal é muito pouco conhecido, es-
pecialmente pelos francezes. Até agora somente appareceram descripções
ou falsas, ou incompletas d'esta porção da Europa, outrora tão fl(»resc«ite, na
aeUiâiidade tâo degenerada. Algumas obras foram consagradas a appresentar
cerUs epochas de sua historia; outras a narrar as conquistas e a gloria dos
antigos portuguezes,- e a pel-os em parallelo com a escravidão e nullidade dos
nossos dias. Um inglez James Murphy publicou recentemente uni volume
1 Firmio Didot — NouwUe Biographie Universelle, vol. 7.', pag. 90.
«4 BO
sobre o estado de Portugal, mas qaasi que n'eUe se limitou a observações re-
lativas à sua profissão de architecto... O anctor do Tableau de Lisbonneestre'
veQ particularidades curiosas ; porém limitou- se quasi unicamente â descalpçio
doesta capital. Faltava, pois, mostrac ainda P ortugal debaixo de diversas fiíees,
descrever suas províncias da Europa, e suas colónias, costumes, habitantes,
população, progressos nas scieneias e artes, sua politica etc. e o duque deGia-
telet, cuja obra publicamos, achou-se no caso de poder desempenhar esta ta-
refa. Consultou as pessoas mais instruídas do paiz percorrido por elle com
maior cuidado, que pelo trivial dos viajantes. Vio de perto o marques de Pom-
bal em seu retiro; d'elle recebeu diversas informações tão curiosas, cemo aa-
thentieas, cuja exactidão verifícon nos mesmos legares.
«Seu manuscripto, que nos foi confiado, continha algumas imperfeições. Di-
ligenciamos rectifical-as, e substituir algumas lacunas. O auetor não tivera va-
gar para limar seu trabalho. O estylo achava-se por vezes mcorreeto. Tomá-
mos^ pois, a liberdade de fazer desapparecer estas ligeiras manchas, sem alte-
rar nem seu plano, nem suas idéas. Póde-se, por tanto, considerar o texto eomo
pertencendo-lhe exclusivamente.
«Porém, como ha alguns annos que Chatelet viajou em Portuga], muito hn-
perfeitamente ofTereceria sua obra a descripção doeste reino, se lhe nao tivés-
semos ajuntado algumas notas, e até alguns supplementos, que farão comple-
tamente conhecer os portuguezes dos tempos actuaes. Para esse fim procurámos
o auxilio dos escriptos mais recentes, e esclarecimentos fornecidos por pessoas
que residiram n aquelle paiz...
«Algumas attenções politicas tinham impedido no tempo de nosso antigo
regimen a impressão d*este manuscripto. O auctor e editor procuraram egoal-
mente evitar quanto podosse ofTender os portuguezes. Fazem-lhes por vezes
algumas censuras assas graves, dão-lhes lições algum tanto ásperas; porém
abstíveram-se tanto um como outro d'aquelle azedume, que ofTende, e não
corrige. Ha, todavia, portuguezes illustrados, que gemem sobre a situação de
seu paiz tanto, quanto o podem fazer os mais severos estrangeiros.
«Conhecem as causas de sua degeneração, e os remédios, que curavam os
males, que estão padecendo. Se o duplo terror, religioso e politico, que os con-
tem, obsta a que se expliquem com franqueza, hão de perdoar, e agradecer
talvez a estrangeiros mais independentes o pintarem as desordens, de que seu
paiz é presa, o despertar em seus compatriotas a lembrança de sua antiga
grandeza, o chamar para o meio d'elles a sabedoria, e a energia em appoio
das antecipações da natureza. E que paiz na Europa foi roais bem tratado por
ella, que Portugal? Rivaliza com todos pelo que diz respeito á bondade do
clima, e à variedade das producções, que podem prosperar sobre seu terreno.
Possue tantas costas, quantas comporta a extensão de seu solo. Tem valles
férteis e risonhos, montanhas repartidas de maneira a fazerem manar em to-
das as direcções de seu centro e alturas as aguas vivificantes, que tomam as
irrigações fáceis, e suavisam os inconvenientes das séccas debaixo d'um céo
ardente; algumas, que para clle são uma trincheira quasi inexpugnável con-
tra o imico inimigo, que lêem a temor por terra : vários rins, qne podem ser
BO 155
navegáveis; um, especialmente, cQja embocadura lhes dá um dos bellos portos
da Europa : habitantes natoralmeute espirituosos, e nos quaes o valor esci^u
ao torpor quasi universal» que se apoderou de todas suas outras faculdades :
habitantes, que teem provado poderem ter a coragem e actividade necessárias
para as grandes empresas, e manejar com prospero resultado todos os instm-
mentos da prosperidade.
«Porém ha mais d'um século que má administração, falsos cálculos, instí-
tuições viciosas, o dominio dos frades e dos inglezes reduziram a quasi nada
todias estas brilhantes vantagens. A philosophia allumia a maior parte da Ea-
Topa, 6 Portugal ainda jaz nas trevas. Tem nas suas producç5es, e nas de suas
vastas colónias os elementos do mais variado commercío, e desamparado em
mãos perfidamente obsequiadoras, que o condemnam á ociosidade e á misé-
ria. Reina em Moçambique e Macao, e obedece servilmente em Lisboa e Porto.»
V. Chatelet (duc de).
159) BOURNISIEU (BERTHE DE).
E. — D. Pedro à D, Ignez de Castro, Heroide. Paris, 1788.
160) BOUTERWEK (FREDERICK) — Celebre philosopho, poeta e
crítico allemão.
liaseen em Okar no anno de 1766, e faileceu em G(»ltingue em setembro
de 1828. 1
«A obra capital que assegura ao nome de Bouterwek uma longa duração
é a sua íUstoria da poesia e da eloquência dos povos modernos. *
E. — History of Spanish and Portugueze lÀterature by—, Tramslated
from ike original German by Thomasina Ross, London, 18^.
V. Aoss (Thomasina).
161) BOWDIOH (THOHAS EDWARD). — Viajante inglez.
Nasceu em Bristol no anno de 1790, e faileceu em 1824. ^
£. — I. An Account oflhe discoveries of the Portuguese tn th€ interior of
Angola and Mozambique, London, 1824.
(Narração das descobertas dos portuguezes no interior de Angola e Mo-
çambique.)
Vem mencionada esta obra no catalogo manuscrípto da livraría do conde
d» Lavradio.
fi. — Exonrsions in Madeira and Porto Santo, during the autumn cf 18S3.
London, 1824.
(Digressões pela Madeira e Porto Santo.)
N*esta obra vem Observações sobre Cabo Verde,
162) BOWLES (W. L.) — Poeta inglez.
< Finnin Didot — iVouvelie Biographie Générale, vol. 7 ^, pag. 127.
» FirmiB Didol— Nouvelle Biogi-aphie Vniversêlle, Tdl. 7.*, pa^. 151.
106 BR
Nasceu em KiDgis HittoD no anno de 1762, e falleceu em 1800. <
E. — ÍÃUt S(mg of Camoéns. LoDdon, 1809. (Ultimo canto de Gamdea.)
163) BOYD (Captain).
E. — A description of the Azares or Western Mands. London, 1836.
(Descripção dos Açores on ilhas occidentaes.)
«Esta relação rescende ao caracter britânico, que raras vezes pecca pela
indulgência para com as outras nações: acham-se n^ella comtudo moitas no-
ticias importantes para o conhecimento physico do archipelago.* ^
Vem uma pequena analyse d'esta obra em o n.« 1 do Diário do Governo^
de 1835.
164) BRADFORD (WILUAM).
E,^Sketches in the country, character and costume in Portugal and
Spain. London.
(Esboços do paiz, caracter e costumes de Portugal e Hespanha.)
Traz ao lado uma traducçao franceza.
165) BRADSHAWS.
E. — lUustrated Hand-Book to Spain and Portugal: a complêt gmàe for
travéllers in the Península, WUh nuips, town plans, and steel illustraikms.
Londres, 12.« largo.
(Guia illnstrada de Hespanha e Portugal.)
166) BRANDANO (ALESSANDRO). — Natural de Roma.
E. — Historia delia guerre de Portugallo stuxedute per roccasione delia
seperazione di quel regno delia Corona Cattolica. Yenezia, 1689, 2 tomos,
4.*, o 1.» de 5i5 pag. e o 2.*» de 432.
Chega até o reinado de D. João IV.— V. Brandano (Francisco).
(Historia das guerras de Portugal succedidas por causa da separação
d'aquelle reino da coroa de Gastella).
167) BRANDANO (FRANCESCO) — Sobrinho de Alexandre Bran-
dano.
Continuou a historia começada por seu tio.
Dell' Istoria deite guerre di Portogallo che continua quella di Alessan-
dro Brandano. Parte seconda, nella quaJe si contengono gli Avvenimenti ac-
caduti nel tempo delia Regina Ludovica. Roma, 1716, 4.^', 451 pag.
(Historia das guerras de Portugal continuada — .)
168) BRANDT IN BRAZILIEN Gedruct in't Jaer om Heeren. 1648,
9 pag., 8.»
» Firrain Didot — JVouríí/c Biographif rnivnseUe, vo! 7.», pag. 157
* Morelét — Us Açores, pag 15.
BR m
Diz respeito ás lucus entre os portugaezes e hollaodezes por caosa do
BrtziL-M. S.
169) BRASILSGHE OORLOGHS OVERWEGING Gedruckt m7
JoiT, I648y 4 folhas sem numeração.
Diz também respeito à lacta dos nossos com os hollandezes.— M. S.
■
170) BRASILSGHE GELT-SACK WAEK m dat claerlijik vertootU
wordí waer dat de Participanten van de West Indtsche Comp. haet Celt
f^Meven is Gedruct in Brasilien op't Reciff, Anno de i647, 15 folhas sem
numeração.— M. S.
171) BRASYLS SCHUYT Praeiien ghehouden tusschen enn Offker
een Domine, en een Coopman, noopend den Staet van Brasyl: Mede hoe de
Offideren en Soldaten tegenwoordich aldaer ghetracteer t werden, en hoe men
placht te leven ten tyde doen de Portogysen noch onder het onverdraeglUijck
lock der HoUanderen saten Ghedruckt inde West Indische Kamer by Maa*-
ter, Doer het gelt soolustich klinckt alsser zijn Aes-stae^ten, li folhas.
Trata dos negócios do Brazil no tempo em que os boliandezes se queriam
apossar d'aquelle paiz. < — M. S.
172) BRAT (Mb.)
E. — Talha or the Moor of Portugal, A romance. iVew York, 1831.
(Talha, ou o Mouro de Portugal. Romance.
173) BRAT (Mrs. ANNA ELIZA).
E. — Von Dr. E, N. Barmann Der Talba vvn Portugal; oder schidfale
der Ignez de Castro, Kiel, 1835, 3 vol.
Parece-me ser um romance haseado na historia de D. Ignez de Castro.
174) BRESIL et Portugal, Paris, íBVk, Imprensa de Plassan, 8,*», folheto.
175 BRETON.
E. — LEspagne et le Portugal ou tneurs, usages et costumes des habitam
de ces royaumes. Precede d*un préds histwique par — . Ouwage omé de dn-
guante quatre planches repi'ésentant douze vues et plus de soixatUe costu-
mes différents la plupart d^après des dessins executes en 1809 et 1810. Pa-
ris, 6 tomos, 1815, l^.*"
(A Hespanha e Portugal, ou costumes, usos, trajos d'este paiz etc.)
I O auclor deate trabalho nfto p05)»ue conhecimeotos ãufficieotei da lingua hollan-
deia para poder fazer a traducção do8 titulob das obras cst-riplas neste idioma, nen
conhece pessoa a quem possa consultar.
158 BR
Aló agora ainda não encontrei exemplar algum com as referidas estampas'
apesar de não ser esta obra das raras, e qae qâo passa d' ama compilação.
O volame sexto é o destinado para tractar de Portagal.
O compilador servíu-se para este trabalho das obras de Twiss, Raynal»
Morphy, e de duas ou três outras.
«Para formar uma idéa do aspecto encantador, que olTerece a cidade de
Lisboa, é necessário imaginar um rio magnifico, com mais de três lagoas de
largura» e cujo vasto porto está continuamente coberto d'uma multidão de
navios.
«Ao longe ergue-se em amphitheatro a cidade sobre soberbas collinas.
«Os próprios arrabaldes estão de tal maneira semeados de casas de recreia
e de conventos, que toda a extensão das margens do Tejo, até se perder de
vista, parece não formar mais que uma só cidade, e custa a diíTerençar o que
pertence exclusivamente a esta bella povoação. Com eíTeito, ainda que a propríi
cidade occupe sobre a margem do rio^ um espaço de duas léguas, as povoa* '
ções de Pedrouços, Belém e algumas outras são o prolongamento, como Ghail-
lot, Passy e Auteuil o são da parte occidental de Paris na margem direita do
Sena.
«Não se poderia imaginar na Europa cidade marítima mais favoravelmente
situada para o commercio de todas as partes do mundo, principalmente da
Ameríca. Lisboa é o principal mercado de todo o commercio do reino com
suas colónias, e com os paizes mais ricos do universo. Sua riqueza e a de todo
o Portugal seriam immensas, se os habitantes fossem mais industriosos, senão
importassem da Inglaterra a maior parte dos objectos de consumo.
«Os negociantes portuguezes são fallados por sua probidade severa, e pelo
seu zelo escrupuloso no cumprimento do seus deveres.
«A ignorância, e a superstição em geral são os maiores defeitos, de que os
habitantes de Portugal podem ser acrusados, mas estes defeitos não os arras*
tani a excessos criminosos.*
i76) BREVIS ASSERTIO eí apologia avclamationis et juslUia:^ Sere-
nissinU et Potentissimi Portugalliae Regis Joajinis inter veros et legitmos
ÍAisUaniae Reges nmnine (hiarti^ opposita altqtUhm tmúrariis. impudenti-
bus et temcrariis scripíaribíis, 9 folhas sem data nem iogar de impressão.
(Breve vindicaç^o e apologia da acclamação e justiça do sereníssimo e po-
tentíssimo rei de Portuga! João, o quarto em quanto ao nome entro os reis
verdadeiros e legítimos de Portugal, contra alguns escriptores contrários, des-
carados e temerários).
Faz parte da collecção de opúsculos formando um volume, e relativos àac-
clamação de D. Joilo IV, pertencente ao ex."*' sr. marquez de Sousa.
177) BREVIS ET FIDA nar ratio et roníinuatio rerum onííiium a
Drako et Norreijsio (post felirem ex occidetUalihns insalis rcditum) im sua
ea;peditione Poríngaltcn^i singnlis diebus gestnrum. iTancofurli, 1590, *.", fo-
lheto.
BR i59
(Narração breve, e fiel continuação de todos os suecessos de Drake e Nor-
rys (depois do sen feliz regresso dos Açores) acontecidos diariamente na sna
expedição a Portugal.
178) BREVIS REPETITIO omnium que, Excellentissimus D. Legaim
ParÈugaUiae ad componendas res BrasUicanas proposuit vel egii a die t3^
MaU usque ad 1 Novembris hujus anni 1647. ExhibUa Celsis PrepotmUibus
D. D. Ordinibus GenercUibus harum Confcederatarum Provinciarum ad. 28.
diem ejusdem mensis. Hagae-Comitís. Kxcudebat Ludolpbus Breeckeveit Ty-
pographas. Anno 1647. 8 Tolhas.— M. S.
(Breve recapitolação de tudo, quanto o ex."<* sr. Legado de Portugal pro-
poaoa praticou com o fim de pacificar os negócios do Brazil desde o dia 23
de maio até 1 de novembro doeste anno de 1647. Apresentada aos potentíssi-
mos Senhores Estados Geraes d'estas províncias confederadas até o dia 28 do
mesmo raez.)
i79) BRIAND (P. CÉSAR).
£. — Les petits voyageurs en Espagne et en Portugal, Paris, 1835.
(Os pequenos viajantes em Hespanha e Portugal.)
180 BRIEFVE ET SOWÍLÂIRE description de la vie et,mort de Dam
Antome premier du nom, et dix-huictiesme Roi de Portugal, Avec plusieurs
LfUirei servantes à VHistoire du Temps. A Paris. Chcz Gervais Ãlliot, au
Palais prés la Chapelle sainct Michel. iii>cxxix. Avcc Privilege du Roy.
Traz um magnifico retrato de D. Christovào, filho de D. António, em volta
do qual estão os seguintes dizeres :
No alto — Ckristophorus + Dei-\- Gralia + Pnnceps + Portugalliae +
Por baixo — Fí/fíM Z>. Antonii XVllL Pmtugalliae Regis,
Á esquerda d'estas ultimaâ palavras .
D.
Dumonstier
Pinxit. 9.* Septemlnc
1632.
Do lado oppusto:
laspar
ísac Fecit » »
E no baixo da folha:
Hic wultu. et. íneritis Priticeps de Sanguine Hegnum
Quo nuigis atteiitur, tatUo virtute rcsurgit
Renaíus de la Rachemaillet.
Começa esta obra por uma dedicatória ao rei, feita por D. Christovão, fi-
lho de D. António, e auctor d'este livro.
Segue uma advertência ao leitor, e copia da apptovaçào de dois doutorea
em theologia. datada esta ultima de 26 de janeiro de 1629.
i«o BR
«D. ÂntoDio, primeiro do nome, e decimo oitavo rei de Portugal, desces-'
dente em linha varonil dos reis de França, Hagoes Gapet, e Roberto sen âlbo
pelo ramo dos primeiros daques de Borgonha era ilibo legitimo de D. Laitr
segundo filho do rei D. Manuel de boa memoria; o que se viu clarameole
tanto pelo testamento do referido infante seu pae, como pelo tratamento e re-
cepção que lhe fez o rei D. João III, seu tio, depois da morte de seu pae, dei«
xando-lhe usar do timbre de suas armas, sem n'ellas haver signal de bastar-
dia, e também pela estima, que d'elle fez o rei D. Sebastião, quando pela piv
meira vez foi á Africa, em Tanger, dando-lhe o cargo de condestavel na pre-
sença de D. Duarte, seu primo, que n'elle estava provido.
«Foi proclamado e reconhecido como verdadeiro rei, primeiramente em
Santarém, e depois em Lisboa, dia de S. João, 24 de junho de 1580, e irnme-
diatamente depois em Setúbal pelo corpo dos três estados do reino, que allt
estavam congregados, tendo fugido os cinco governadores, dos quaes três para
Hespanha, e tendo ficado dois em Portugal; e em seguida, depois de reooohe-
eido pela Universidade de Coimbra, e por todas as outras cidades de Portu-
gal, e possessões da coroa fora do dito reino.
«D'alli voltou a Lisboa para se preparar contra as forças do rei de Hespa-
nha Philippe II, commandadas pelo duque d' Alba, que começavam a entrar»
dizendo pertencer-lhe o dito reino por ser alho da infanta D. Izabel sua miot
ftandando-se antes em 3uas forças, que no direito por oUe pretendido, sabendo
as leis do reino, que d'elle excluem as filhas, como a lei Salica na França; re«
conhecendo também a fraqueza do reino por causa da perda do rei D. Selias*
tião na Africa; e fiando-se em um grande numero d^aquelies, que tinham sido
subornados com grandes promessas pelo duque de Ossuoa e D. Christovào
de Moura, seus embaixadores.
«Isto foi o que o resolveu a esta conquista, a qual se fez, como se segue:
«A saber:— Ao duque de Medina foram recommendadas as terras situadas
ao longo do rio Guadiana até Moura e o reino do Algarve: ao marquez de
Saraval a fronteira de Castellobranco até Pinhel e extremo da Beira: ao conde
d'Alba e de Lista, senhor de Samora foi designada a cidade de Miranda até
Torre de Moncorvo e Freixo d'£spada á Cinta: ao conde de Benavente foi
recommendada a conquista de Bragança: ao conde do Monterei a da terra de
Chaves, Vinhaes, e Mirandelia; e ao conde de Lemos a província d'£ntre Douro
e Minho. A cada um dos quaes foram assignado% dois mil homens de pé, e du-
zentos de cavallo, nào fallando no exercito do duque de Alba.
«O rei D. António, ainda que carecendo de forças, o esperava com grande
coragem, e o referido duque de Alba tendo desembarcado na entrada do rio
Tejo, tomou Cascaes, e o castello de S. Julião, por causa da traição do go-
vernador, que estava dentro, chamado Tristão Vaz da Veiga, e approximon-se
de Lisboa. O dito rei com as poucas tropas, que tinha, o aguardou na ponte de
Alcântara, e tendo allí combatido por alguns dias, vendo-sc abandonado dos
soldados, foi constrangido a deixar a ponte, e retirando -se para a cidade, achou
que um dos seus servidores familiares eslava cercado pelos inimigos, e querea-
doo livrar, como o foz valorosamente foi l<íridn na cabeça, c assim passou atra-
BR i61
Vtt de Lisboa mandando abrir as prisões da cidade, e foi fazer-se traclar a três
léguas da referida povoação, perlo de Santo António do Tojal, e depois em
Santarém, <Hide começou a reunir algum resto da nobreza e dos fidalgos que
o seguiam.
«D*abi foi a Aveiro, e vendo que Ibe não queriam abrir a porta, fez tomar
áe assalto a cidade em pleno dia, e entregou-a aos soldados para a saquea-
rem. Em seguida marcbou para o Porto, onde os da cidade receiosos de se-
riai também saqueados e maltratados lhe mandaram por dois religiosos pe-
dir misericórdia, a qual sendo lhes concedida, o rei entrou na cidade, e d*ella
mandou ao rei de França Henrique III, e á rainha sua mãe; um embaixador
eiiamado António de Brito Pimentel pedindo lhes soccorro, e fazendo-lhes sa-
ber o estado, em que se achava, dos quaes foi bem recebido e honrado.
cF(Nrtíficando-se o rei, e congregando suas forças na mencionada cidade
approximaram-se os hespanhoes, e quizeram passar o rio Douro para o apa-
nliarem, emquanto elle lhes resistia por um lado; os habitantes da cidade lhes
deram entrada por um outro, de modo que foi obrigado a retirar-se para um
porto de mar chamado Vianna, para d'alii se embarcar, e ir á França, mas não
Oi podado fazer, retirou-se para os montes, donde deu aviso para França, por
meio d'nm portuguez chamado Jeronymo da Silva, de quanto lhe acontecera;
60 rei Ghristianissimo e a rainha sua mãe enviaram um navio, no qual estava
om chamado Pierre d'Or para procurar salval-o, o que não podendo por então
láier, mandou embora o navio, e o rei D. António se conservou escondido em
Portugal todo o resto do anuo de i580 até 6 de janeiro de 1581, em que se
embarcou em um navio de Enebuse, cujo capitão se chamava Cornelius
d'Egmond.
«Deve-se aqui notar que se embarcou à tardinha do dia de Reis, e come-
çando a viajar, viram-se três bellas estrellas no Céo, o que admirou a todos
for lâo estarem no costume de serem vistas: o navio, no qual estava, chama-
va-se três Reis: um gsjieão de guerra, que fazia guarda para reconhecer os
BiTios, que passavam, e observar se elle estava dentro d'elle, perto do qual
piss&Ta, tinham também o nome de Três Reis, e chegando a Calais na França,
a primeira hospedaria, em que entrou tinha por insígnia Três Reis.
iDe Calais passou á Inglaterra, para dispor a rainha Izabel a juntar suas
forças com as de França, das quaes estava seguro; e voltou promptamente a
Dicq[)pe, onde o esperavam o senhor de Atrozze com vários senhores france-
zes; o condestavei de Portugal, e o embaixador António de Brito; e d'alli foi
eondmido a Paris, onde foi bem recebido tanto do rei, como da rainha sua
mie, pela qual foi também muito visitado, e pela rainha então reinante, e pela
rainha de Navarra, e por todos os senhores, que então estavam na corte, e hos-
pedoa-se no palácio da rainha mãe, onde se conservou alguns dias: depois
passou para o castello de Plessis Picquet, perto de Paris, e d'ahi para Tours,
onde 86 descobriu um portuguez, que tinha sido mandado para o matar, e d*allí
fot para Nantes para se embarcar na armada do senhor de Slrozze, a qual se
lhe {«reparava, e estando em Belle Islo á espera de tempo, o senhor de Saincte
Sdeine foi comprado por um hespanhol chamado o capitão António por ses-
TOMO 1 11
162 BR
scota mil escudus pagáveis cm Génova, o <iue foi a causa principal da perda
d'aquclla armada; e embaraço á restauração de Portugal.
«O lei retiron-se para a liba Terceira, onde mandou cortar a cabeça a am,
que viera para o matar, e d'alli voltou à França, donde se mandou o commen*
dador de Cbastes com alguma tropas para o guardarem, e defenderem a dita
ilha, a qual sendo assaltada pelo marquez do Santa Cruz, foi tomada peia com*
binação, que este marquez âzera com um sargento mestre chamado João Ba-
ptista Samiche, o que foi a causa, porque o dito commendador voltou para
França.
«O rei de Portugal estava então em Rueil, perto de Paris, onde vieram qua-
tro para e assassinarem, e d'allí se retirou para Bretagne para um castello,
que a dita rainha mãe lhe dera para seu retiro, chamado Sussignon, e depois
de n'elle residir alguns mczes começou a liga na França, e sabendo queMon-
tigny, capitão do dito castello, o queria entregar ao duque do Mercuenr,d'eUe
saiu, e se retirou para perto d'Auray para casa d*um nobre e generoso gea-
tilhomem chamado Le Plessis Duquer; e alguns niezes depois veiu a Poicloo
para o castello de Beauvoir sobre mar, onde a dama de la Ganache, dnqoeza
de Ludunois lhe pedira que Ocasse; e algum tempo depois o duque de Mer*
eneur tendo suas tropas reunidas, e a dita dama sendo avisada de que eUe
queria mandar prender o referido rei, e pol-o nas mãos d'um pagador geral
por nome D. João de Heredia, por outro nome Moreau, para o levar á Eespà"
nha, lhe enviou seu mordomo com outras pessoas, cavallos o dinheiro (saben?
do que o dito rei estava muito falto d'elle) e lhe pediu se deixasse acompaohar
por cUes para um logar seguro; o que o rei fez, levando unicamente o prin*
cipe D. Manuel seu filho, um Gdalgo, seu primeiro camarista, deixando aili o
príncipe D. Christovão, seu outro Glho, com todos os outros seus gentishomens,
o qual disfarçado no trajo de lacaio veiu ter com o rei seu pae á Rochella.
«D'alli o dito rei passou á Inglaterra, tendo sido para alli chamado, e con-
vidado pela rainha l7abel, a Om de o fazer escapar do perigo, em que podia
incorrer por causa da liga; o indo de Plymouth a Londres, a rainha lhe man-
dou fazer uma magnifica recepção por alguns gentis-homens disfarçados em
pastores sobre a montanha de Salisbery, dizendo-ihc que elle era o bem vin-
do, e assegurando o da parte do grande pastor do paiz de sua benevolência,
com promessas de lhe dar todo o soccorro. E por todas as povoações, pelas
quaes passava, os governadores d'ellas, o vinham receber ás portas, apresen-
tando-lhe as chaves, o mandando tocar os sinos, como o faziam a seus reis:
•O rei estando em Londres enviou desde 25 de outubro de 1588 o prindpe
D. Christovão, seu filho ao imperador de Marrocos i)ara servir de reféns de
cem mil miticacs, equivalentes a quatro centos mil francos, que o dito impe-
rador lhe promettera, e tendo alli estado mais de três annos bem tratado, e
honrosamente servido, enviou-o ao rei seu pae, som nada ter cumprido de soa
promessa, tendo ouvido que eslava no caminho um dos quatro principaes
chaoux do grão senhor para o sollicitar a cumprir a palavra, ou a remetter o
dito priucipe para Conslaulinopla, e este chaoux tinha ordeiii de tomar todas
as galc-i c gcnlos do guerra ucco^sarias para accomi»:inharem o dito príncipe.
BR 163
iNo principio do anno de 1583 a rainha dlnglatcrra deu um soccorro ao
dito rei de doze mil homens para saltarem em terra, commandados por sir
FyaLQcis Drak no mar, e pelo general Norris em terra, e estando prestes a fa-
zerem-se de vela, o thesoureiro d'Inglaterra, milord Borlé propoz ao conselho,
qae seria bom, achando-se a armada tão forte, que procurassem na passagem
tomar Coronha na Galliza; e effectivamente se mandou um postilhão para dar
ordem aos generaes de effectuarem isto; o que foi causa de não terem liber-
tado Portugal, e de tal sorte que sem tomarem a cidade de Corunha, se reti-
raram com perda de muita gente, e separação de navios. O que vendo o rei
protestou contra os generaes não querendo passar adiante : mas dizendo estes
que tinbam ainda bastante gente continuaram sua viagem, e chegando a Peniche,
o capitão, que estava dentro, entregou o castello, e ali se aprisionou o resto
dos soldados, que tinham ficado, em numero próximo a cinco mil homens,
com os quaes o rei marchou para Lisboa, distante quatro léguas, e pelo cami-
nho não se encontravam mais que festejos dos portuguezes aos inglezes com
abraços, bom agasalho e tratamento, dizendo-lhes que eram bem vindos, pois
qae lhes traziam seu rei; e assim chegaram aos arrabaldes de Santa Catharina
de Lisboa sem nenhum obstáculo : estando alojado n'aquelle sitio, o rei era a
toda a hora avisado da boa vontade dos coronéis e principaes commandantes
das tropas da cidade, e que appresentando-se, se lhe abririam as portas.
«EUe eommunicou isto ao general Norris a íim de o persuadir a accompa-
nhal-o, 6 entrar com suas tropas; ao que Norris respondeu, que não tinha pól-
vora, nem balas, e que era mister ila buscar a Cascaes, aonde Drak tinha
clief^o. O rei replicou-lhe dizendo: Que depois de o ter levado até à porta
de soa casa, não o fizesse apartar d'ella; e lhe disse, que para o confirmar a
respeito dos offerecimentos, que, lhe faziam de o receberem, elle iria a trezen*
tos passos na frente com seus portuguezes, e no caso que lhe faltassem, e que
dle fosse trahido, poder-se-hía facilmente retirar com todas suas tropas para
Gaseaes. Ao que o general Norris não querendo annuir, o rei viu se na neces-
sidade de voltar a Cascaes, e ali foi constrangido a embarcar-se na esquadra,
a qual aehando-se desprovida de viveres, e infectada da peste, em que se tinha
contaminado na Corunha, voltou em desordem para Inglaterra, aonde, logo
qod o rd chegou, não perdeu tempo em participar á rainha, e descobrir- lhe a
UMã, pela qual nada se tinha feito em Portugal, soilicitando-a de novo a que
o soccorresse, e lhe desse novas forças para lá tomar.
* «A isto a rainha respondeu: Que em quanto ás despezas com os navios
e munições de bocca e de guerra, ella as faria; mas que procurasse n'outra
parte o dinheiro, que era necessário para pagar aos soldados. O que vendo o
rei, e sabendo que o rei Henrique o Grande estava em Díeppe no anno 1590,
foi ler com elle, e lhe pediu auxilio e soccorro. A isto lhe deu o rei em res-
posta: Que com grande sentimento seu n'aquclla occasião não o podia pres-
tar, mas que, quando se visse mais firmo em seu estado, o faria com todo o
prazer.
<D'aii voltou o rei D. António para Londres^ onde estava então o embaixa-
dor de Franca, o senhor de Beauvoií< la Nucle, a (|uom deu relação do olTure-
164 BR
cimento generoso, que o rei lhe Qzera, pedindo-lbe que o avisasse das noticias
de prosperidade de sua magestade; e d'ali por diante se communicavam e fre-
quentavam até ao anno de 1594, em que o dito sr. embaixador o avisou de
que podia então vir à França; o que fez: e por este tempo foi descoberta a
traição de três, que conspiravam contra sua vida, e contra a da rainha de In-
glaterra; os quaes foram executados em Londres. E veiu ter com o rei em
Chartres, onde foi bem recebido, e assegurado pelo sr. marechal do Matignoa
de parte de sua magestade, que teria toda a satisfação; o qual sr. marechal
lhe disse que, se elle quizesse assistir á sagração do rei, fosse adiante, que te-
ria cuidado de lhe ministrar o que lhe fosse necessário. O que o rei de Portu-
gal não poude effectuar por causa de sufficação, que não o deixava descançar
uma hora: e d*allí veiu a Paris, onde estando e rei, começou a sollicítal-o
para que lhe desse soccorro, e para este effeito que lhe emprestasse cento o
vinte mil escudos: o que o rei lhe concedeu, e não lhes podendo fomec(^ em
metal sonante, deu-lhe uma carta patente assignada por sua mão, e referen-
dada por Neufville, e sellada com o grande sello na data de 22 de abril de
i595, com o Om de embolsar no anno seguinte a dita somma âquelles, que
lh'a adiantavam; e lhe concedeu entre vários outros senhores o senhor de
Clermont d'Amboise para ser general dos francczes, que deviam ir a Portu-
gal; e o rei D. António procurando quem lhe adiantasse esta somma, foi ac-
commettido d'uma doença, de modo que a 26 do agosto no dito anno falleeea
na edade de 64 annos, tendo alguns dias antes feito seu testamento, e díspoeí-
sição de sua ultima vontade, o deixando três cartas, uma para o rei Christíanis-
mo, outra para a rainha dlnglaterra, e a terceira para os senhores estados de
Hollabda, pcdindo-Ihes que tivessem a bondado de proteger seus fllhos e fâ-
mulos. E o príncipe D. Ghristovão, seu filho, participou por um gentil homem
mandado expressamente a sua magestade, (que estava n'aquelle tempo em
Leão,) a morte do rei, seu pae, e lhe remetteu a mencionada carta, ao qual, e
aos executores testamentários d'aquelle rei, sua magestade referida respondeu
e participou ao senhor príncipe de Conty, c ao cardeal de Gonday a ordem,
que deviam observar a respeito do corpo do defuncto, os quaes o mandaram,
embalsamar, e estando n'um caixão de chumbo, queriam-n'o depositar na ca-
pella da defuncta rainha mãe com uma capclla ardente, o que os referidos
executores não quizeram permittir, dizendo que isso fazia uma dcspeza exces*
siva, e enviarauí seu coração para a ogreja da Ave Maria, o seu corpo para o
convento dos Franciscanos de Paris por um dos mestres de ccremonias, o ^l
fez armar de preto com as armas de Portugal a capella, que fica por traz do
altar mór da egreja, onde foi depositado, o ainda agora repousa na dita cgreja,
n2 primeira capella da nave.
•O rei D. António era dotado de todas as perfeições reacs, e dignas d'um
grande principe, sendo misericordioso e compassivo, inimigo dos mentirosos»
dos calumniadorcs, dos delractares, dos juradores, dos blasphcmos, repel-
lindo pessoas lacs do sua presença, e dizendo que uns c outros eram iudigno^^
de estarem enlre as pessoas de bem, visto (|ue aíiueilc, ([uc se fiasse n'elles 9
por lim seria trahido, sendo lacs que nâo pensavam senào no seu próprio iia-
BU 163
leresse. Sua piedade e virtude se patenleia claramente nos psalmos peniten-
ciaes, que deixou por sua morte. Era muito liberal, de maneira tal que não havia
ninguém, quer fosse nacional, quer estrangeiro, de qualquer qualidade, que
tendo recorrido a elle, nâo fosse ajudado liberalmente. E com efTeito ninguém
saía de soa presença que não tivesse bom resultado em seus pedidos, até
seus inimigos, herdatido isto do infante D. Luiz seu pae, que no seu tempo era
cognominado pae dos estrangeiros, e da nobreza por aconselhar à obediência,
fidelidade, e amor, que devia ter ao rei D. João III, sendo inimigo de todos
aquelles, que se esqueciam de tal dever, dizendo que não eram dignos do ti-
tulo de nobreza.
«O dito rei foi tão zeloso da liberdade de seu reino, que nada omittiu, nem
deixou pedra, em que não bulisse, para o fim do livramento e restauração de
Portugal, como se verá nas cartas seguintes, que d'isto fazem prova, e que
tcstímunham a verdadeira justiça de sua causa. Deixou dois filhos, o príncipe
D. Manuel (que na HoUanda se casou com a irmã do fallecido príncipe de
Orange Maurício de Nassau, da qual teve dois filhos, e seis filhas, e no fim de
dois annos, que alli residiu, quer fosse pela viagem, que se fez ao Brazil sem
lh*o participarem, ou por qualquer outra causa, elle se passou para o partido
de Hespanha, com seus dois filhos no anno de 1626 (em abril), e indo-o visitar
o príncipe D. Christovão, a quem o rei seu pae apresentou ao rei Henrique, o
Grandey no dia seguinte áquelle, em que voltou a Paris, depois da tomada de
Laon na Picardia, no fim de dezembro de 1594.
«O referido príncipe assistiu á morte do rei, seu pae, que lhe deu sua ben-
ção, de quem é actualmente verdadeiro e único herdeiro e successor de todos
08 direitos, que lhe pertenciam; e tendo ficado debaixo da protecção do falle-
cido rei Henrique o Grande^ e actualmente debaixo da do grande tríumphador
Luiz XIH, o JustOf acha-se sempre desejoso, como o dever o obriga, de achar,
se íôr iK)ssivel, o meio de restituir Portugal á sua liberdade, tanto para alli
mandar enterrar o corpo do fallecido rei, seu pae, como ordena em seu testa-
mento, ao que é obrigado como seu filho, como para com Deus com todas as
.sortes de serviços e submissões, como deseja generosamente ser reconhecido
á magestade do rei Christianismo, que o protege : e segundo a grandeza de
seu valor, nada lhe será mais custoso que o morrer sem effectuar o que seu
régio coração pretende, apesar de se achar sobrecarregado de maguas e de
angustias.»
'Depois d'esta biographia seguem-se as cartas:
I Cartas patentes do rei Henrique III, a respeito da tomada dos navios
portuQuezes emprestados ao rei D. António. Em francez, pag. 29.
n Cartas patentes de commissão para informar e proceder contra
aquelles, que se tinliam esforçado para tomar o dito rei de Portu-
gal. Em francoz, pag. 39-44.
ni Carta do rei ao duque Merctieur relativa ao mesmo assumpto. Em
francez, pag. 45-48.
IV Cartas patentes de salva guarda passadas pelo rei Henrique III ao
rei de Portugal. Em francez, 48-53.
ICC BR
V Carla do rei a respeito das .<iol)redita$ cartas patentes de commssõo
e salva guarda am maioros e almotaceis da cidade de Nantes. Em
francez, pag. 5.')-r)G.
VI Carta em hespanhol do conde de Leycester ao rei de Pwtugal D. An-
tónio, Pag. 57-58.
Tradocção da mesma carta em francez, pag. 59-60*.
Vil Carta da rainha mãe do rei Henrique III, escripla ao rei de Par*
tugaly quando estava na Inglaterra, Em francez, pag 61-64.
VIII Carta do imperador de Marrocm ao rei de Portugal, traduzida do
árabe em latim pelo senhor Gabriel Sionita, professor régio da lín-
gua arábica em Paris. Em latim, pag. 6i-69.
IX Carta da rainlia de Inglaterra Isabel, escripta ao imperador de
Marrocos, na occasião em que o rei de Portugal lhe enviou o prhi'
cipe D. Christovão, seu filho. Em hespanhol, pag. 69-74.
Tradacção da mesma carta de hespanhol cm francez, pag. 74-77.
X Carta de Sir Francis Drak ao rei D. António, Em francez, pag.
78-82.
XI Carta da referida rainlia, escripta em latim ao grande senkor sul-
tão Murad Cham a respeito do referido rei de PortugtU. Em latim,
pag. 82-86.
Traducçào da referida carta cm francez, pag* 86-91.
XII Carta em hespanhol da referida rainha escripta ao imperador de
Marrocos, a respeito do dito rei, Pag. 91-96.
Tradiicção da mesma carta em francez, pag. 98-102.
XIII Carta em italiano da dieta rainha escripta ao rei de Portugal Pâg.
102-107.
Traducçrio da mesma caria de italiano em francez, pag. 107-112.
XIV Cartas patentes do rei Henrique o Grande, em favor do dito rei de
Portugal, Em francez, pag. 112-116.
XV Caria do rei de Portugal, escripta em portuguez, pouco antet de
sua morlc ao rei Henrique o Grande. Pag. 116-120. ,
Traducção da mesma carta em francez, pag. 121-125.
XVI Extracto d*um artigo do testamento do rei de Portugal, feito em Pa-
ria a \?t de juUio de irífío. Traduzido do portuguez em francez, pag.
125-128.
Vem em seguida esta advertência:
«O rei Henrique o Grande, escreveu de Lyon ao príncipe de Por-
tugal D. (Christovão uma carta, depois da morte do dito rei de Porta-
gai, a qual tendo-sí» perdido durante as guorras, nào ponde ser in-
cluida aqui, mas apresentam-sc as duíis seguintes, que o rei escre-
veu a Diogo Botelho, « Scipião de Figueiredo.»
XVII Caria escripta ao smbor Diogo Botelho. Em francez, pag. 128-130.
XVUI Caria esrripia ao sifvhor Scipião Figueiredo. Em francez, pag. 130-
132.
XIX Caria (pie D. António 1 deste nome, e decimo oitavo rei de Portu»
BK 161
gal escrevija nu siuUUsivw padre u papa Gregório A7//, nn Rueil
no anm de 4o83. Em francoz, pag. 133-261.
XX Segunda carta escripta da Roch^lla pelo rei D, António ao nosso santo
padre o papa Sixto V. Em francez, pag. 261-275.
XXI Terceira carta escripta de Inglaterra pelo mesmo rei ao papa Sixto V.
Em francez, pag. 276-282.
XXII Qfiarta carta do dito rei ao papa Sixto F, escripta de Inglaterra.
Ep francez, pag. 282-287.
XXIII Quinta carta do dito rei ao papa Clemente VIII. Pag. 287-291.
XXIV Sexta carta do lUto rei ao papa Clemente VIIL Em francez, pag.
292-300.
O referido livro da vida de D. António é d'ama raridade extraordinária.
O único exemplar, que lenho visto, ó o que obsequiosamente me emprestou o
ex"* sr. conde de (ieraz do Lima pjira d*elle me servir nVste irabaliio.
i8i) BRIGNOLI (Da.)
E. — In morte di Sua Alteza hnperiale La Principessa Amélia. Ode.
Foi publicada e^la sentida poesin no vol. 12." da Revista Universal Lis-
bonense. (1853).
182) BRTTiTiAC (Maoemoiselle S. B. D£)
E. — Agnes de Castro. Nouvelle Portugavte. Amsterdam, 1710.
(Ignez de Castro, novelia.)
183) BROOKWELL (C.)
E. — Naiural and politicai hhtary of Portugal during the rngn of John
V. LondoD, 1726, 8."
, (Historia natural e politica de Portugal durante o reinado de D. João V.)
É livro raríssimo, diz o visconde de Santarém a pag. cccxxxii do tomo
6.® do Quadro elementar das relações politicas de Portugal com as diversas
potencias do mundo.
A um escriptor do mesmo nome vejo attribuida na Historia de Portugal
do sr. João Félix (Lisboa, 1848, vol. 1." pag. 60) uma obra com o seguinte ti-
tulo: Tke natural and politicai history o f Portugal to which is added the history
of Brasil, and o ther dominions subjert to the crown of Portugal in Asia^
Africa and America. 182o.
Nio vi nem uma nem outra, o por isso não posso dizer se ambas são uma
e a mesma obra, ou se efíectivamente são duas differentes.
184) BKOME (JAOQUES).
E.— Traveis through Portugal^ Spain and Ualy, London, 1712.
(Viagens em Portugal, etc.)
185) BROOK (T. H.)
K. — i4 history of the Island of St, Helena, from its disco^)erg by the
Bí^
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BR 169
189) BRUGE (JAMES). — Celebre viajanle íoglez.
Nascea em Kíanaírd no anno de 1730 e fallecea em 1794. >
E. " Voyage aux sources du NU en Nubie et en Abyssinie pendant les
annés 1768, 69, 70, 71, et 72. Traduit deVAnglm par /. H, .Castera. Londres,
4701, 13 vol.
Ha varias ontras tradacções d*esta obra em diflferentes idiomas.
Se bem que este trabalho não foi escripto para tratar exclusivamente de
assamptos portuguezes, é todavia um d^aquelles, em que a cada passo se está
fatiando das acções de nossos antepassados.
Y^amos algumas das passagens mais notáveis d*esta obra.
Tomo 4." pag. 142 e seguintes: «Joào I rei de Portugal, depois de ter ven-
cido os mouros em varias batalhas, constrange-os a tornarem a passar o mar^
e a regressarem à sua pátria. ^ Suas victorias apagaram a vergonha da alcu-
nha, que lhe tinham posto; e João o Bastardo não foi depois designado s^não
pelo nome glorioso de João o Vingador, Não era porém isto ainda bastante
para sua grande alma. Ajudado por alguns marinheiros inglezes, fez uma des-
cida ás costas da Barbaria, poz cerco a Ceuta, e tornou-se promptamente se-
ahor d'esta grande cidade. As ligações doeste príncipe com os inglezes eram
uma consequência de seu casamento com Filippa de Lancastcr, irmã d'Henri-
que IV, rei dlnglaterra. João, o Vingador teve d*este consorcio cinco filhos,
todos bravos, todos guerreiros na tomada de Ceuta, e em estado de comman-
darem exércitos. Henrique, o mais novo d'estes príncipes, tinha então apenas
vinte annos, mas foi o prímeiro a subir à brecha debaixo das vistas de seu
•pae, que o nomeou immediatamente mestre da ordem de Christo.
«Apesar de todas as felicidades, que teve o rei João I na guerra d*Afríca,
o príncipe Henrique conheceu bem depressa que Portugal era excessivamente
limitado para luctar sosinho contra o enorme poder dos mahometanos, cujo
dominio se estendia sobre as roais ricas partes do mundo conhecido. O en-
grandecimento repentino de Veneza feriu ao mesmo tempo os olhos d'este prín-
cipe. Veneza devia só ao seu commercio a vantagem de poder resistir a seus
formidáveis inimigos. Portugal de per si era mais importante que Veneza; mas
reinavam em seu seio a pobreza, a ignorância, o orgulho, e a preguiça: desde
a expulsão dos mouros ate a agricultura n'este paiz estava em despreso.
. «Desde sua mais tenra juventude o príncipe Henríque ' amara apaixona-
damente as mathematicas, e cultivara cuidadosamente a astronomia. Generoso
e valente era inimigo da superstição, da vaidade e da ira. Tratava com a maior
bondade os judeus e os árabes, únicos, que podiam secundar o. ardor, que ti-
nha de se instruir. Em .vão, indubitavelmente, teria elle tentado tomar Portu-
gal ríval do commercio do Mediterrâneo, do qual Veneza estava de posse. Po-
rém restava-lhe um outro meio d'ir procurar as mercadorias á índia: era mis-
1 Firroin Viioi — NouveUe Biogriaphie UniverseUct tomo 7.<>, pag. 562.
' Bruce dSo eslava, como se yé, perfeitamente conhecedor da historia de Portugal.
> James Bruce— Voyagff aux sources du iVti, Tol. é.^, pag. 143.
170 BK
ter atravessar o Oceano Atlântico, dobrar o famoso Cabo, ao qaal cntào sp
dava o nome de Promontório das tormentas, e penetrar no mar da Asia. Esti-
mulado por esta idéa o príncipe Henrique rctirouse para ama casa de campo
solitária, aflm de poder consagrar todo seu tempo ao estado e á meditação da*
seos grandes projectos. A ignorância o os preconceitos de seu secaio enm
contra elle. Nào se conhecia então oatra goographia mais qao a dos poetas.
Os portagaezes imaginavam que todas as terras semeadas entre os trópi-
cos nâo podiam ter habitantes, sendo abrazadas por am sol, ci^o ardor nada
havia qoe refrigerasbO, e banhadas por um mar ardente. Por isso acredita-
vam que qualquer empreza para descobrir aqucllas regiões era nâo somente
ama loucura, mas até am excesso d'audacia, um attentado contra a Provi-
dencia.
«Com tudo se o príncipe Henrique teve que combater os preconceitos de
sua nação, achou por outro lado poderosos motivos d'animação. A historia
grc^a, que elle estudava cuidadosamente, lhe provoa que a viagem, na qual
pensava, tinha sido já executada duas vezes: primeiramente pelos Phenieíos,
darante o reinado de Necho no Egypto, e depois por Eudoxo, no reinado d'am
oatro rei do Egypto muito menos antigo, em tempo de Ptolomeu Lathyni&
Endoxo dobrou a ponta mais meridional d'Africa, e chegou a Cadix. Uannoa
tinha ainda feito mais: partira de Carthago, e depois de ter passado o estreí*
to, tinha avançado para o Oceano Atlântico, até 25° de latitude Norte.
«Mas am exemplo mais recente é o de Macham, navegador mglez, o qoal
no século xiv, voltando da costa occidental d^Africa, naufragou, e se salvot
na ilha da Madeira, então deshabitada, com uma mulher, a quem elle amava
ternamente Pouco depois Macham teve a desgraça de perder soa companheira,
e não podendo supportar por mais tempo a solidão completa, em que se acha-
va, 1 construía uma canoa, com a qual ganhou o continente, onde os habitan-
tes se apoderaram de sua pessoa, e o apresentaram ao califa como um obje-
cto de curiosidade. Finalmente em 136^ os Normandos de Dieppe tiveram uma
companhia, que ia commorcíar até Serra Leoa, que não está mais que a 7<^ da
linha.
t A doçura, com que o príncipe de Portugal, tratava os prisioneiros mouros,
foi recompensada peias instrucções, que recebeu d^elles. Participaram-lhe que
alguns de seus compatriotas do reino de Suz tinliam penetrado muito pelo
deserto dentro, montados em camellos, levando comsigo agua e provisões; qae
depois de alguns dias de marcha tinham encontrado minas de sal; que tinham
tomado um carregamento extrahido d'ellas, e depois tinham ido alem dos li-
mites das chQvas do trópico, onde acharam grandes cidades habitadas por ho-
mens negros e de cabello revolto. Estes homens haviam recebido muito bem
os viajantes mercadores, e lhes tinham ensinado que havia ainda alem de sen
paiz um grande numero de tribus bem povoadas e guerreiras. Por fim D. Pe-
dro, irmão do príncipe Henrique, trouxe na sua vinda de Veneza um mappa-
mundi, no qual toda a costa do Oceano Atlântico estava distínctamente tra-
* James Br\\c€í -Voyaqr. nur xourcpi; du Ml. vol. í.». pag 146.
BR 171
cada, e estava figarado na extremidade meridional d' Africa um cabo rodeiado
d'am mar, qae conimunicava com o Oceano Indico.
«Apenas o príncipe se jnlgou segnro de haver ama passagem para as In-
'dias, dando a volta d*Afríca, que se occapou em mandar constmir quanto era
necessário para esta navegação. Corrigiu as tábuas solaras dos árabes, fez ai-
gumas aheraçoes no astrolábio, porque o quarto do circulo ainda não era co-
nhecido em Portugal.
tllenrique pela sua beneficência e liberalidade tinha attrahido para seu lado
03 mais babeis pilotos de seu tempo, e os mais sábios mathematicos, e lhes
propoz de pôr sua theoria em pratica. Havia já dez annos que fazia partir na-
vios para tentarem executar seus projectos sem ter ainda podido determinar
os marinheiros, que os tripulavam^ a passarem o Cabo Nan, isto é, avança-
rem trinta léguas mais até ao Cabo Bojador. Sua coragem só se limitava a isto,
e a idóa d'um Oceano tempestuoso lhes fazia uma tal impressão, que voltavam
successivamente satisfeitos de sua audácia e de sua sciencia. Mas o princípe
pensava muito differentemente. Dissimulando comtndo a opinião desvantajosa,
que elles lhe davam de seu talento, continuou a demonstrar-lhes a possibili-
dade, que havia, d'executar seu projecto, e a premetter-lhes recompensas. En-
6o emprehenderam novas viagens, e bem depressa voltaram tendo adiantado
tão pouco como da primeira vez. Ha até probabilidades de que estes ensaios
inúteis teriam durado ainda muito tempo, se um acaso, ou antes a providen-
jeia, não tivesse vindo em sua ajuda.
« Juão Gonçalves e Tristam Vaz, ambos da casa do infante D. Henrique na
qualidade de gentishomens de sua camará, vendo a impressão, que a incapa-
cidade de seus pilotos fazia n'elle, obtiveram d'eàte príncipe o commando d'uma
pequena embarcação, e resolveram dobrar o Cabo Bojador, e descobrir a costa,
que se prolonga alem. Foram surprehendidos por uma tempestade violenta, e
depois de terem estado por alguns dias em perigo de morte, abordaram a uma
pequena ilha, a que deram o nome de Porto Santo. João Gonçalves e Tristam
Vaz estavam animados d'um verdadeiro espiríto de descobertas. Longe de se
julgarem perdidos em um novo mundo, e de se contentarem com o que ti-
nham feito, occuparamse em examinar bem o local, aonde o acaso os tinha
arrojado. Emquanto os dois viajantes percorriam esta ilha, que era estéril» e
pouco valia, observaram no horísonte um ponto negro, que nem mudava de
sitio, nem de figura, e convencidos de que era uma terra, voltaram a Lisboa
•para darem parte ao infante D. Henrique de sua duplicada descoberta.
«Immediatamente este fez preparar três navios, dos quaes dois foram ecm-
fiados a Vaz e a Zarco, e o terceiro a Bartholomeu Perestrello, goitilhomeai
da camará do príncipe D. João, irmão de Henrique. Estes navegantes não eu-
ganaram as esperanças de quem os enviara. Ganharam primeiro Porto Santo,
e depois avançaram até o ponto negro, visto por seus predecessores, que iiã9
era outra coisa senão a ilha da Madeira, então completamente coberta de ar-
voredo. No tempo doesta descoberta tinha cessado de viver João I, e D. Duarte
subira ao throno. Porém não impediu isto a Henrique de continuar o curso
de seus projectos.
172 BR
tGil Eannes estimulado pela ventura dos últimos viajantes partiu com a
intenção de dobrar o cabo Bojador, sem se desviar da costa, de maneira a po'
der encontrar terras desconhecidas. Os ventos e o mar favoreceram n^ò. Do-
brou facilmente o cabo, e depois de se ter adiantado algumas léguas para a
bahia, que fica ao sul, veiu felizmente contar para Portugal que tinha achado
um mar não menos navegável além, que àquem do cabo Bojador, e que as
diíficuldades, os perigos d*cste oceano, que tinham até então espantado os ma-'
rinheiros, eram sem nenhum fundamento.
«A passagem do cabo Bojador foi dentro cm pouco conhecida na Europa, e
despertou no espirito de todos os navegantes o desejo de tentarem aventaras.
Os mais ousados vieram depressa ter com o infante D. Henrique; e esta emu-
lação augmentou ainda a coragem dos portuguezes, já orgulhosos com suas
prosperidades. Mas ha sempre homens, que incapazes de produzirem alguma
cousa grandiosa, passam seu tempo a criticar as emprezas dos outros. Estes
homens censuravam o infante de ter escolhido o momento, em que a guerra
dos Mouros acabava de custar muita gente e dinheiro a Portugal, para fazei;
novas despêzas procurando descobrir paizes, que elles consideravam como inú-
teis e perdidos no oceano. Apesar de se não atreverem a avançar como ou-
tr'ora que este oceano fervia continuamente à roda doestas terras ardentesi,
sustentavam ainda que estas terras estavam de tal sorte abrazadas pelo soj^
que todos os homens, que as habitavam, deviam tomar-se pretos, e que n'el-
las não podia haver alguma vegetação ^ Raciocínios taes teriam com tudo
sido sufficíentes para transtornar todos os desígnios do infante Henrique, se o
rei de Portugal tivesse pensado, como a maior parte de seus vassallos. Porém
Portugal estava destinado a chegar dentro em pouco ao mais alto ponto de
heroísmo e de gloria, graças á longa serie de príncipes sábios e valentes, que
o governaram.
•O rei Duarte em logar de responder aos detractores das novas emprezas,
testemunhou mais respeito e confiança a seu irmão 2. Querendo mesmo exeí-
tal-o a levar ainda mais longe seus projectos deu-lhe por toda sua vida a so-
berania da Madeira e Porto Santo, e de quantos paizes podesse mandar desco-
brir sobre a costa d'Africa, e submetteu para sempre a jurisdicção espiritual
da Madeira á ordem de Clirísto, do qual o infante era grão-mestre.
■As viagens continuaram então debaixo dos auspícios de Henrique. Nano
Tristão dobrou o cabo Branco, e chegou até um pequeno rio, em cujas mar-
gens encontrou habitantes, que possuíam ouro, pelo que este rio se ficou cha-
mando rio do Ouro, o construíram alli um forte, a que pozeram o nome de
Arguim. No anno 1445 Diniz Fernandes foi o primeiro, que descobriu o rio
Senegal, cuja margem sepientrional é habitada por mouros asenagi, de côr
baça, e a margem meridional pelos Jalofs, negros que recolhem, e vendem a
gomma arábica.
' James Bruce— Fof/aj/c aux sources du NU, vol. 4.*, pag. 152.
5 Bruce chamalhe tio (pag. 152). Como já disse esto auctor commelle muitas ine-
xactidões na historia de Portugal.
BR i73
«Depois o navegador portaguez avançando além do rio avistou Gabo Ver-
de, 6 foi não menos encantado, que sorprehendído do espectáculo, que se lhe
offèrecia no meio da zona tórrida, quando achou uma região regada por gran*
des rios, e ornada da mais brilhante verdura. A guerra civil assolava o povo
dos JaloGs. Bemoi, um de seus príncipes reinava pela astúcia de sua mãe, que
linha conseguido collocal-o sobre o tbrono n'um tempo de menoridade com
prejuízo de seus três outros irmãos^ que eram os herdeiros legítimos. O mais
velho doestes príncipes conservava uma sombra de poder, e parecia favorecer
o usurpador. Durante aquelle tempo Bemoi se ligou estreitamente com os por-
tugnezes. Prometteulhes tudo quanto elles quizeram, e principalmente de lhes
conceder um terreno para construírem um forte sobre o continente, e até d*elle
mesmo se converter ao christianismo, o que parecia mesmo desejar arden-
temente. O irmão roais velho de Bemoi não tardou que morresse, e os outros
dois irmãos attacaram Bemoi; porém foi defendido pelos portuguezes, de quem
elle tinha recebido por empréstimo grossas sommas de dinheiro. Depois hesi-
tou em se converter, e deu ordem aos portuguezes de sairem d'aqueile paiz, e
de o deixarem sosinho sustentar sua fortuna. Com tudo tendo perdido uma
batalha contra seus irmãos, foi bem depressa reduzido á necessidade de fugir
atravez do deserto até Arguim, e d'alii embarcou para Lisboa com um grande
numero d'aquelles, que lhe eram aíTeiçoados. Foi acolhido pelo rei de Porlu-
gial com todas as honras devidas a um soberano, e recebeu o baptismo sendo
j^resentado na egreja pelo rei e rainha. Fizeram-se muitas festas na occasião
d*esta conversão.
«O rei de Portugal appressou os preparativos, que deviam servir a tornar
a pôr seu alliado no throno : e logo que os festejos acabaram, estava prompta
para partir uma frota e um exercito considerável. Porém infelizmente para
Bemoi o commando d'esta expedição foi dado a Tristão da Cunha, guerreiro
bravo e experimentado, mas d'um caracter tão orgulhoso e cruel, que seus
compatriotas lhe tinham posto a alcunha de Biragudo.
«A frota não tardou em chegar á Africa. Desembarcaram as tropas, e seu
numero e valor não lhes deixando receiar alguma opposição, o general portu-
goez começou a construir um forte, sem se importar se o logar, em que lan-
çava os alicerces, era doentio. Era um logar baixo e pantanoso, e por isso as
febres começaram immediatamente a causar estragos entre os portuguezes, e
a fazer perder de vista o fim da expedição.
«Ck)m tudo os murmúrios do exercito e o receio de íicar sosinho para com-
mandar seu forte desesperavam Cunha. Um dia, que elle estava a divertir-se a
bordo de seu navio, tendo tido alguma altercação com Bemoi, trespassou-ihe
o coração com uma punhalada, e o estendeu morto a seus pés, sem que o
desgraçado rei tivesse tempo de dizer uma só palavra. Immediatamente o forte
foi abandonado, e o exercito voltou para Portugal, depois de ter feito maiores
despezas, que todas as descobertas do principe Henrique.
«Porém o ccu recompensou a sabedoria do rei de Portugal com uma des-
coberta, que o indcmnisou amplamente. O principal Qm das expedições do
principe Henrique era achar uma passagem para as índias oricntaes, dobrando
174 BR
a ponta meridional d' Africa, coisa qae se julgava então impossível. > Para ob-
viar aos inconvenientes, qae podessem sobrevir nas viagens por mar, empre-
hendea-se uma outra por terra. No commercio da índia atravessava-se a
AfHca em toda sua largura, d'oriente para occidente. O príncipe Henríque ti-
nha tido desígnio de fazer seguir um caminho parallelo para ir ao meio dia,
passando por paizes, onde dominava o chrístianismo; por quanto alguns cbrís-
taos vindo da Palestina tinham referido, havia muito tempo, que existia em '
Jerusalém um convento de monjes, súbditos d'um príncipe chrístão, que ha-
bitava no coração d'Afirica, e cujo imperío se estendia das costas do mar Ver-
melho até à do Atlântico. Accresceniavam ainda, que alguns d'aquclles mon-
jes vinham frequentemente a Alexandria, cujo patriarcha era o único, que ti-
nha o privilegio de enviar um bispo ao paiz d'elles. Marco Paolo, viajante Ve-
neziano, tinha derramado muita confusão sobre toda esta historia, dizendo quo
encontrara nas suas viagens na Tartaria este príncipe christao, que se chama-
va o Prestes João.
«Com tudo o rei de Portugal escolheu para seus embaixadores junto doeste
príncipe a Pedro da Covilhã o AfTonso de Paiva. Covilhã era um homem muito
capaz de desempenhar uma tal missão. Empregado algumas vezes pelo ultimo
rei em negócios mui delicados, tinha mostrado muita sagacidade e prudência.
Além d'isso estava ainda em todo o vigor da edade, corajoso, activo, dextro
para manejar toda a qualidade d'armas, modesto e jovial na conversação; e o
que coroava tantas qualidades brilhantes, era quo tinha a feliz vantagem de ad-
quirir promptamcnto o conhecimento das línguas, e de poder bem depressa
explicar-se por toda a parte sem interprete.
•Foi na corte de Bcmoi quo se teve a primeira cortesã, que existia um
príncipe christao no interior d' Africa. Os habitantes das costas do mar Atlân-
tico contavam, quo penetrando no paiz para este, cncoutravam*sc algumas na-
ções poderosas, habitando em cidades e governadas por príncipes independen-
tes uns dos outros; o que mais longe, ao oriente d'es3as naçòes, estava um
soberano, cujos vassalos nem eram pagãos, nem idolatras; mas meio judeus e
meio christãos.
•Parece que estes pormenores deveram ser levados ao Senegal pelas cara-
vanas. Certamente a linguagem dos negros não foi na origem mais que um
dialecto do abyssinio.
•No Benim, outro paiz da Negricía, tiveram os portuguezes uma nova prova
* Nilo admira que Bruce usasse de expressões lào ciilbusíasticus: a Historia l/nè-
iTi'5a/ composta por uma sociedade litteraría, c traduzida cm francez diz a pag. 433 do
tomo 23.**— Les portugais furcnt los Tuiidatcurs <iu commcrce. cl de la marine des curo-
péens.
•O primeiro unicórnio, ou rhinoceronle da Ásia, du q uai se publicou a gravura, foi
pintado por Alberl Durer no principiu do século wi, cunformc um animal vivo, que os
portuguezes trouxeram da índia. Durer piutou-o .superiormente: c todavia õ coriforroc
este quadro que se tccm empalhado por todas a.» partes do niuntlb lautas copias informes
e monstruosas.» (Brucf) Voifnqr mu ^ourra dv ^i' \*<\. l.T", pa;;- 110.
BR i75
de qae existia am príncipe christào do centro d' Africa, e ao sudoeste d'este
paiz.
«Os habitantes referiam, que era um principe muito poderoso, o qual sa
chamava Ogané, e que seu reino ficava a perto de duzentas e dncoenta lé-
guas de distancia de Bením. Accrescentavam que na sua eleva^ ao throno
08 reis de Benim recebiam d'este principe uma cruz de cobre, e um bastão
ewo.
•Parece que esta palavra Ogané é uma corrupção de João ou de Jeanoy
tituk), que os christaos orientaes deram aos reis d'Abysslnia. Mas é bem diffl-
cil de se acreditar que houvesse relações entro o império de Abyssinia e o Be-
nim, não somente por causa da distancia, mas porque o intervallo, que os se-
para, é habitado pelos povos os mais selvagens do mundo, os gallas e os shan-
gailas.
«Com effeito a corte da Abyssinia residia n'aquelle tempo em Shoa, pro-
vinda (tonteira do sudoeste, e seria possivei que tivesse estendido sua poten-*
cia peio paiz de seus bárbaros visinbos até perto de Benim, que está nas mar-
gens do mar Atlântico.
«O rei de Portugal estava resolvido a não demorar por mais tempo a des-
cdberta dos legares, que produziam especiarias na índia, e d'uma passagem
para se dirigirem por terra para a costa oriental d' Africa. Covilhã e Paiva fo-
ram pois encarregados d*esta missão, e munidos de credenciaes se dirigiram
a Alexandria. ^ Deu se-lhes ao mesaio tempo uma carta redigida debaixo da
4ireeção do príncipe Henrique, e se lhos recommendou que a verificassem, e a
corrigissem conforme o que vissem. Deviam informar-se onde se faziam os
principaes mercados de especiarias, principalmente de pimenta; quaes os ca-
minhos por onde se enviavam estas mercadorias á Europa, d'onde vinham o
ouro e prata: e finalmente o rei lhes tinha recommendado que se informas-
sem, se era possivei dirigirem-se á índia dobrando o promontório meridional
da costa d'Aflrica.
«De Alexandria os viajantes portuguezes se encaminharam para o Cairo, e
depois para Suez, na extremidade do mar Vermelho; e tendo-se aggregado a
uma caravana de mouros, caminharam por Aden, cidade rica e commercial
áqnem do estreito de Babelmandeb. Alii separaram-se. Covilhã singrou para a
índia, e Paiva se fez de vela para Suakem, ilha pequena, e de pouco commer-
cio, situada sobre a costa de Berbéria. De Paiva apenas sabemos, que queren-
do ir mais longe, perdeu a vida, e nunca mais se ouviu fallar n'elle. '
«Covilhã mais feliz chegou a Calicut e a Goa. D^alli atravessando o oceano
indico, foi ver as minas de Sofala. ' Depois tomou para Aden e Cairo, onde, em
< A esta missão se referiu, ba pottco« dias, Lesscps n*uiii discurso na Sociedade Geo-
giaphica de Paris, a respeilo da descoberta da Austrália, pelo português Heredia.
' Bruce~-Foy<i(/(u aux sourccs du NU. vol. 4.*, pag. 168.
* «Um dia fallei ao principe de Shoa a respeilo da historia, que se contou aos por-
tuguezes na occasi(iC da dcscoherta de Benin. Perguotei-lhe se era verdade, como a tal
historia o referia, que os negros de Benin tivessem relaroes com um estado cbristio,
176 Bí^.
vez de encontrar, como esperava, seu companheiro Paiva, recebeu a noticia de
sua morte. Foi encontrado no Cairo por dois judeus, chamados Abraham e Jo-
aepb, que lhe traziam cartas do rei d'Abyssinia. Então entregando a Âbrahani
suas respostas, conservou Joseph comsigo, e tomando a tomar o caminho de
Aden, dirigiu- se a Ormuz no golpho Pérsico. Alli Covilhã separou-se do judeu
Josepb^que se aproveitou d' uma caravana, que atravessava o deserto para ir a
Alepo. Covilhã não tendo outro projecto mais que visitar a Abyssinia» volloa
ainda a Aden, e passando o estreito de Babelmandeb, desembarcou finalmente
nos estados do rei d^Abyssmia.
situado DO interior d'Afrlca, que elles reconheciam como soberano, e de quem recebianl
a iofestidura de suas províncias? Se existiam taes relações com o Shoa, ou alguos vestí-
gios de que tivessem existido outr*ora? E se havia finalmente algum outro estado christao
ou judeu na vísinhança do logar, ao qual o que se diz dos negros de Benin, podesse ap-
plícar-se? Amba lassus me respondeu: Que em Sboa nSo se conhecia Bem*D; que até nlisea
ouvira pronunciar este nome, nem citar algum costume similhante áquelle, de que Calla;
quenão conhecia nenhum outro estado christão mais para o interior ao sul seofto o reino
de Narea, do qual uma grande parte estava conquistado pelos Gallas, nacSo pagã. Ac-
crescenlou que os negros visinhos de Shoa eram excessivamente ferozes, cruéis, mais
perigosos que os Gallas, e eguaes aos Shangallas d'Âbyssinia. Os outroé povos, toraoa
elle, eram em parte Mahometanos, e quasi todos da naçSo dos Gallas, poique alguas
doestes abraçam a religião de Mobomet. Porém não fazem trafico algum com o Oceano
apezar de conhecerem o commercío do Oceano lúdico, por ficar mais perto d*elles, e pnr
lhes levarem os negociantes mouros mercadorias da índia. Porém os Gallas iuTadiímni
quasi todos os paizes, que separam estas nações da costa do mar, e fazem com que o
caminho das caravanas seja muito perigoso.» (Bruce — Voyages aux sourcet du NU, vol.
10.S pag. 161.
«Foi em Gondar que os jesuitas portuguozes coostruiram sua primeira e mais ma-
gnifica casa, quando emprebenderam a conversão do rei daÂbyssínia. Socinios, que rei-
nava então deu-lheso terreno, e forncceu-lhes o dinheiro. Fizeram o convento e a egreja
com suas próprias mãos, c a obra de talha em cedro muito bem feita. O monarcha zeloso
da egreja catbolica, quiz depois ter uma casa de prazer no mesmo sitio. Fizcram-lha os
jesuitas e elle recompensou-os magnificamente. É um dos mais bcllos sitios do mando. Na
frente prolonga-se o vasto lago Trana. As planicies ricas e ferieis do Dembea, do Gojam,
do Maits>ba o rod(iam, e as vistas não são alli embaraçadas senão pelas altas montanhas
de Begander s de Woggira.» (Idem, idem, vol. 9.o pag. 17.)
«Nenhum dos primeiros portuguezos (vol. 9.o pag. 201) quo chegaram á Abys8inia,
nem Covilhã, nem Rodrigues de Lima, nem Ghrislovam da Gama, nem mesmo o pa-
triarcha Afl^onso Mendes viram as nascentes do Nilo, nem disseram lel-as visto. Pedro
Paes veio depois, no reinado de Denghel, e a elle é quo se attribuc Cí^ta honra. You
considerar por um momento »e eslas pertensões iião bem fundadas.
«Paes deixou uma historia manu^criplii da missão dos jesuilai-, c das coisas mai;»
notáveis, que no seu tempo se passaram na Abyssinia.»
•Esta historia está escripta em dois grossos volumes em oitavo n'um eslylo simples e
natural. Espalharam-se copias por todos os coUegios e seminários dos jesuítas; e na oc^
casião da suppressão de sua ordem cncontraram-i^e copias cm todas as suas bibliolbecas.
•Atbanasio Kírcher, jesuíta, que se tornou celebcrrimo pela variedade de seus co-
nhocimcolos, pelo numero de ^eus escriplo.v c muilo mai^* pelo arrojo <.'om que assevera
BR 177
«>0 príncipe chamado Alexandre estava então á frente de suas tropas para
obrigar vassallos rebeldes a pagarem Ibe o tributo, que lhes tinha imposto.
«Recebeu Covilhã com bondade: porém a curiosidade, mais que o proveito
que podia tirar d'uma tal embaixada o interessou em favor dos portuguezes,
e levou-o comsigo para Shoa, onde a corte então residia.
iGomtudo Covilhã não tornou mais á Europa. Uma politica cruel não per<
mitte que os estrangeiros, que poseram o pó na Abyssinia, possam d'alli sair
Covilhã alli casou; e conservando seu favor no reinado de difíferentes principesi
chegou aos primeiros empregos, que desempenhou sem duvida com a su-
factos infcrosimeis, e contrários a todas as noções, que temos em bisloria natural; Atha-
nasio Kircher é o primeiro, que publicou uma dcsciipc^odas nascentes do Nilo, que diz
ter tirado do Diário ou Historia do Paes.
•Com tudo devo observar que lai não acbet nas Ires copias da Uisloríade Paes, que
Tl na Itália, no roeu regresso da Abyssinia- A primeira, que vi estava em Milão, onde
por intervenção d^alguns amidos obtive a facilidade de a examinar com todo o descanço.
Yi uma outra em Bolonha; e a terceira vetu-mo ás mãos em Roma. Percorri-as rapida-
mente, e depressa me dirigi ao sitio, em que julgava dever estar a descripção, que pro*
cnrava, porém não a encontrei. Todavia não me arriscarei a dizer minha opinião por
este anico exame Appresentarei outras provas em confirmação de meu parecer, e demons-
trarei que o missionário Paes não falia da descoberta, da qual lhe querem dar a honra,
em nenhuma de suas obras, excepto n'aquella, que passou pelas mãos de Kircber. Af-
foBso Mendes chegou á Abyssinia cousa d'um anno depois da morte de Paes. Masapezar
de^que a descoberta das nascentes do Nilo seria muito lisongetra para elie, para o Papa
e para o rei de Hespanba, e para todos seus grandes patronos d 'Itália e de Portugal;
ainda que escreveu a historia de seu paiz, e de quanto dizia respeito á sua missão, d'uma
maneira muito circumstanciada, e com muita sensatez, nunca disse coisa alguma da pre-
«endlda viajem de Paes às nascentes do Nilo: e todavia serviram-se da aoctorídade mesmo
d*Aironso Mendes para espalhar esta historia em Roma, e em Portugal. Balthazar Telles,
Jesnita muito sábio* escreveu a respeito da Abyssinia dois volumes em folio, nos qoaes
te encontra muita ingenuidade e imparcialidade, attendendo ao espirito d*aquelle tempo.
Bedara que soa obra é feita conforme as memorias do patríarcha AflTonáo Mendes, e os
dois volumes de Paes, assim como conforme as relações e as carias d 'alguns outros jesui-
tas, que lodos tinham estado em differenles sítios. Telles tinha tido uma plena communíca-
çâo de todos estes oscriptos. Principalmente não despreza as relações annuads de Paes
desde 1598 até 1622. £ com tudo não fez nenhuma menção das nascentes do Nilo, apezar
de não deixar de se espraiar com complacência sobre o mérito e os trabalhos de alguns
missionários, durante o longo reinado do sultão Segued, que occupava metade da sua obra.
«Km seguida ao que acabo de observar para provar que Paes nunca foi ás nascentes
do Nilo, nem pretendeu ler la ido, quero transcrever a relação, que Paes faz d'esta via-
gem imaginaria, ou antes a relação que o padre Kircher lhe empresta. Se houver um
anico de meus leitores, que possa accreditar que um homem de (^enio, tal como Paes, trans-
portado por acaso junto d'essas nascentes, pulando de prazer, e sentindo luda a impor-
tância de sua descoberta, como elle parece seotil-a, possa ter feito a descripção, que se
lhe atlribue, consinto em ser considerado sómeute como o segundo depois d 'este missio-
nário.
• Porem, antes de copiar esta descri|>ção, resta-me fazei uma obicrvaçao a respeito d as
datas da viagem. O dia memorável, que a€ marcou para o da descoberta, e Sldabnl de
TOMO I i2
178 BR
perioridade, qoe um homem, coja edusaçào tinha sido esmerada» devia ler
sobre om povo ignorante e bárbaro. Escreveu amiudadas vezes ao rei de Por-
tugal, que por sua parte nada poupou para continuar uma correspondência
sem interrupção. No diário, que Covilhã enviou ao monarcha, descreveu cuida*
dosamente os difTerentes portos da índia, que tinha visto, a situação e a rique-
za das minas de Sofala. Disse que este paiz era mui povoado, e cheio de cida-
des opulentas. Exhortou o rei a proseguir a descoberta d'uma passagem pelo
sul d'Africa, passagem, que elle sustentou ser sem perigo. Asseverou, ser o ca-
bo conhecido na índia, e finalmente remetteu um mappa, de que um moiro
1SI8. N'ei(ta época as chuvas começaram já a cahir; e a estação sendo doentia, não se
põem exércitos em campanha sem uma extrema urgência. E* só depois do mex de Sep.
lembro até fevereiro que os abyssinios se afastam de seus lares, e vão para a guerra.
«Ha na Abyssinia duas nações d*Agows; uma éados Agows de Damot. que habitan
09 arredores das nascentes do Nilo; a segunda é a dos Agows, conhecidos debaixo do
Tcheratz-Agows, que vivem perto das nascentes do Tacaizé. Vemos na historia do
nado de Socinios, qne elle marchou dilTerentes vezes contra os Agows. A primeira vez foi
em 1608, no primeiro anuo de seu reinado; eos ann^s Ethiopios dizem que fora coalra
Tcberatz -Agows. Em 1611 Sosinío» foi combater ainda os mesmos Agows de Lasta; de
sorte que, se Paes tivesse sido morto com este principe, não teria podido ver outras
nascentes, senão a do Tacazzé. A terceira expediçile do rei foi em 1625, dirigida coatra
Sacala, Geesb e Ashoa. Os Gallas fizeram uma invasão no Gojam; mas retiraram-se,
porque o exercito real marchou contra elles, e tornaram a passar o Nilo, defronte do paia
d'ellet. Socinios avançou então contra os Agows de Damot, e deu batalha aos habitaates
de Sacala, d'Asboa, e de Geesh, que viviam cm volta das nascentes do Nilo. Foi então
i|ue Paes, ou outro qualquer, que estivesse na comitiva do imperador, teria podido ver
n»tas nascentes com segurança, pois que o exercito real estava acampado não longo
d'aquelle sitio, talvez mesmo ao lado das na:^centes, pois o logar seria perfeitamente ooa-
veniente para um acampamento. Porem Socinios achava-se alli em 1625, e Paes tinha
morrido em 1622.
«Agora vou copiar a descripção que Kircher fez das nascentes do Nilo, diseodo qne a
tinha tomado de Paes, e submetto-a a todas as pessoas sensatas para julgarem se ella
parece ter sido traçada por uma testemunha ocular; se ella não pode applicar-se á nas-
cente de qualquer rio, ou de qualquer ribeiro, como o Nilo se finalmente não é eice»»
sivamente vaga para dar uma idca clara do que se quiz fazer conhecer.
«Os Ethiopios dão hoje ao Nilo o nomo de Abaoy. Tem nascimento no reino de Gojanz
e no districto de Sabala, cujos habitantes se chamam Agows. O nascimento do Nilo ficji
na parte Occidental do Gojam, e no sitio o mais elevado d'um valle, que se parece com
uma grande campina cercada do altas montanhas. Achando-me n^esta terra a 21 d'Abril
de 1618 com o rei, e exercito, subi até o sitio, onde está a nascente, e observei tudo coa
muita altenç^o. Descobri primeiramente duas fontes redondas, tendo cada uma um diâ-
metro de coisa de quatro vezes a largura de minha mão; e contemplei com um prazer
extremo o que nem Cyro, rei dos Persas, nem Cambyses, nem Alexandre o grande, nom
o famoso Júlio César poderam descobrir. Estas fontes não correm na esplanada, que está
no cume da montanha; mas a agua nasce no pcdes^ta montanha. Estam a coisa d'umtiro
(ie pedia de di^lincia uma da outra. Discm oa habitantes estar toda a montanha cbeia
dagua, u accrc^ccntam que toda a planicio dos arrabaldes fluctua continuamente, prova
•jcrlaquc tia muita a?uu por debaixo. EVíla a razão, pela ({iiul em vez de transbordar
BR 179
lhe tinha feito presente nó qual o promontório estava bera marcado, assim como
todas as cidades, que bordavam a costa visinha.
iCom estas iustrucções o rei de Portugal mandou armar três navios, cujo
commando deu a Bartholameu Dias, recomendando-lhe que se informasse bem
do rei da Abyssinia, quando se achasse nas costas ocidentaes d'Africa. Dias
foi até ãl"» e meio de latitude sul, e depois de alh' ter posto um padrão, tomou
posse d'aque]le paiz em nome d'este príncipe. Fez-se de vela, e entrou na Bahia
dos Pastores, nome que deu a este logar por causa da multidão de bois, que
vio em terra. Não sabendo muito bem para onde dirigia sua navegação^ Dias
pelo alto da montanha, a agua abre com Tíolencia uma passagem por baixo. O povo do
paii, bem como o imperador, que estava alli á frente do seu exercito, disseram que n'esle
aoDO a terra tremia menos em volta d'estas fontes, por causa da secca, mas que nos annos
antecedentes tremia a ponto que era muito perigoso approximar-se d'ella. A esplanada,
qoe fica DO alto da montanha, tem coisa d'nm tiro de funda de largura. Os naturaes ha-
bitam DO pé da montanha, do lado do occidente, a uma Icgua da fonto.
«Este sitio cbama-se Geesb; e a fonte parece estar distante de tieesh um tiro de peça
d^artilheria. Finalmente a planície, onde a fonte está situada, é d'um accesso difficiliimo
de todos 08 lados, menos do norte por onde se pode la subir facilmente.
•Tomarei a liberdade de fazer algumas reflexões, mas que bastarão para provar que
esta descrípção nfto pode ser de Paes, nem de nenhuma outra pessoa, que tenha viajado
pela AbyseiDÍa. Em primeiro logar não ha por estes sítios logar algum conhecido peio
nome de Sabala, mas sim um que tem o nome de Sacaia. Sacala em Imgua Ethiopica
significa terra muito alta, d'onde a agua corre de todos os lados, tanto a este, como a
oeste, a norte e a »al. Assim os telhados das casas em forma de cone são chamados 8a-
Gtlftj por^oe na occasião de chover, corre a agua egualroente de ambos os lados. Assim
eorre doe piocaros das montanhas. Assim se vé em Sacala o Nilo correndo para o norte
ao ^tseo qoe varias outras nascentes formam o lago e ribeira de Temsi, e precipt-
tam-ee para o sal na planície de Ashoa, trezentos pés acima do nível da montanha de
Geesb.
•Nem Sacala nem Geesh estão a oeste do Gojam, nem se approxímam d*e3ta direc-
ção. Para ir de Sacala ao Gojam é necessário primeiramente atravessar as altas monta-
nhas de Litcbambara, depois as de Amid-Amíd; descendo-se de Amid-Aroid entra-se na
província de Damot, e depois de se ter atravessado era toda sua largura, cbega-se ás
IroBteiras occfdentaes do Gojam. Os erros, que se encontram na descrfpção attribuida
a Paes, s&o de tal forma, qae é impossível terem escapado a am homem, que tivesse es-
tado n'aqaelles togares, e fazendo parle d'om exercito, no qual cada officíal, cada sol-
dado o eonheciam cdmo o favorito do monarcha, e se teriam apressado a ministrar lhe
informações seguras. Não havia até ninguém n'aquello exercito, que não tivef>se oonsi-
derado como nma bonra tel^ Paes somente empregado a ir-lho buscar ama palba no
mais elevado píncaro das montanhas d'Amid'-Amid.
«Todo é inteiramente falso na descrípção de que acabo de fallar, tanto em relação
ao aomero e á posição das nascentes, como á sitoação da montanha, e da aldeia de Geesb.
Tialia nas mãos a pretendida descrípção dê Paes, quando fiz o exame das nascentes do
Nilo, • dos togares adjacentes. Medi todas as distancias, e achei-as todas imaginarias.
•Não é faeil conceber porque Paes observa: «Que a agua, que acha ama saída no
pé da ioiontanba, não corre do alto.» Seria bem pura extranhar quo fos50 d'oatra sorte;
e não duvido que uma montanha fazendo c^gui('>bur a a^^ua prlo «cu cume; quando nAn
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chegou ao rio do Infante, depois de ter alcançado aqacUe formidável cabo, ter*
ino dos desejos de todos os portugnezes. AUi querendo approximar-se da terra,
foi por um mar tempestaoso, e contrariado pelos ventos; porém obstinoa-se
em descobrir a costa, e cbegon Onalmente á vista do cabo, a que dea o nome
de Promontório das Tempestades, por cansa de tudo quanto seu navio tinba ti-
do que soíTrer para alli chegar.
«O grande Gm d'esta viagem estava em summa realisado. IMas c seus com-
panheiros tinham passado por muitos perigos; c por isso na sua volta não se
deixou de fazer jastiça «â sua intrepidez, e constância. Estes navegantes tínbam
agua tinha uma saida lirre pelo pé da montanha, fosse a coisa mais curiosa, que os doi»
jesuítas tivessem podido vér em sua viagem.
«Hlas de qual montanha falia o missionário? NSo a nomeou: disse pelo contrarfo,
que as nascentes do Nilo estavam situadas na parte mais alta d*uma planície. Se issin
era, esta maneira de descrever as coisas dSo poderia ser entendida sem um ioterprete.
Paes diz depois que a montanha está cheia d'agua, e estremece; e que ha uma aldeia al-
guma coisa abaíio do cume. Emquanto a mim nada vi de tudo isso. Qualquer que seja
a montanha, da qual Paes quer fallar, pôde realmente haver alli terrenos frios e homi-
dos: mas se é a respeito da montanha de Geesh, posso assegurar que não exista aldeia
a mais d'um quarto do légua de seu âmbito. A aldeia de.Gee»h está a meia subida d'am
rochedo, d'onde se desce para a planície d'Asha. O pé d'este rochedo, isto é, a ptauicie
está a trezentos pés abaixo da base da montanha de Geesh, e do sitio d*onde brõuni as
nascentes do Nilo.
•Paes diz em seguida que ha Ires milhas da aldeia de Geesh ás nascentes. Meu quarto
de circulo estava cm minha tenda, posto perto da aldeia: por isso era-me nccessarío me-
dir a distancia afim de poder fazer a compensação, c calcular minhas observaçi^es, como
se tivc>sem sido feitas nas próprias nascentes. Eu caminhei desde a margem do cume do
rochedo ale ao centro da esplanada verdejante, d*ondc brota a principal nascente, e achei
1760; e é a isso que Paes chama uma légua, ou o maior alcance d 'uma bomba. Pelo que
me toca, creio que é impossível que alguém tendo estado nos legares, commettesse taes
erros, ou então a narração devia ser considerada como não tendo exactidão.
•Terminarei por uma obi^ervação, que prova, creio o invencivclmente, que Paes neo-
ca viu as nascentes do Nilo. Elle diz que u campo, no qual estão situadas estas naccee-
los, é d*um accesso diflScil, c que a subida c muito íngreme, excepto do lado do norte.
•Mas se se reflecte nas primeiras palavras d>sla descripção, achar-ee-ba que é a
descida e não a subida, que deve ser custosa; pois as nascentes do Nilo flcam n*um Talle,
e desce-se antes para um valle, do que se sobe para elle.
«Todavia, suppondo que seja um valle, e que n'este valle haja um campo, e que
no meio do campo se erga uma montanha, equo sobre a montanha brotam as nascentes,
direi ainda, que, se estes togares são inaccessíveis, é principalmente do lado do norte,
por onde se sobe para alli pelas planícies de Gontto. Quando vimos do este, sobe-seper
Sacala, e pelo valle de Litcbambara; e quando se sae da planície d'Ashoa para o meio
dia, tem-sc o rochedo perpendicular c escarpado de Geesh, coberto de arbustos esptnbe-
sos, de arvores, e de bambus, que occultam a entrada de cavernas medonhas. Ao norte
temos as 'montanhas do Aforroasha, cobertas egualmente de todas as espécies de arvores,
de plantas armadas de espinhos, o principalmcnic de kantulTaíi. Estes logares estão além
d'i><o cheios de feras, c de grande numero de enormes macacos de cabcllo comprido, que
muitas vc/e> andam em pé como homens. N'estas montanha*^ cscarpadat) nlo se enron-
experimentado lanlas icmposiados; earro.^lado com tantos perigos, que duran-
te o resto da vida do rd Joào, nào so cossou de failar d*este terrivel cabo. Com
tado b rei trocou o nome do Promontório daâ- Tormentas, que Bartbolomeu
Ibe tinha posto, e quiz que se chamasse Gabo de Boa Esperança.
•Todavia apezar de se achar descoberta a passagem do cabo, não faltaram
poderosos na corte, que queriam que se renunciasse à empreza.
«Uma das razoes, de que se serviam em appoio de sua opinião é verda-
deiramente curiosa; e, se os portuguezes não tivessem depois mostrado o
maior heroísmo, teriamos direito a crer que não existindo o príncipe Henrique,
ftram mais que sendas muito estreitas, que parecem ler sido feitas para cabras, e outros
anímaes selvagens; quando se caminha por estas sendas ellas conduzem muitas vezos á
borda de precipícios, e somos obrigados a retrogradar para achar um melhor caminho.
Emfim Tíndo de este, dos arredores de Zeegam, e da planície, onde o rio faz tantas vol-
tas e zig-zags, acha-se o caminho menos custoso, e comtudo os que sobem ás nascentes
do Nilo por aquelle lado, não acham ainda que seja muito fácil.
«Nfto me resta mais que uma coisa a notar; é que nenhum dos jesuítas, quer seja
Paes, quer seja algum outro missionário, faz uso d'esta descoberta na geographia, nem
• applicou a fixar a latitude, nem a longitude de nenhum logar.
•Os historiadores doesta sociedade litlerata não julgaram mesmo a propósito appro-
veilarem-se dos documentos, que lhe tinham apresentado para fazerem menção da via-
gem de Paes; porque não teria sido fácil sem duvida sustentar só com a auctoridade de
Kircber, que escrevia em Roma, a realidade d'uma descoberta, que elle attribue a Paes,
e qve não se acha nos escriptos do próprio Paes. Se esta viagem fosse verdadeira, ter-
8»-hia pelo menos publicado o itinerário; e a maior parte dos iesuítas eram assaz ins-
troidos para determinarem, ou bem ou mal, a latitude e a longitude de alguns legares
«toados n*e6tes paizes, onde elles residiram perto de cem annos Accrescentemos que ne-
nhum membro d'esta sociedade disse em tempo algum palavra a respeito da idolatria,
que reina nas cercanias das nascentes do Nilo; e no emtanto parece que quanto diz res-
peito á religião, não lhes poderia ter escapado.
•Se os jesuítas tivessem querido ir ás nascentes do Nilo, teriam podido partir de
DaDCOKj-epor meio d'uma bússola, cujo uso era onlão bem conhecido dos portuguezes,
ter-lbos-hia sido fácil encaminbarem-se para alli, e traçarem exactamente sua marcha.
Qoaodo habitaram seu convento de Gorgora, não estavam a cmcoenta milhas de Geesh.
Eogaoaram-se comtudo dez milhas, dizendo que havia mais de sessenta milhas de dis-
tapeia entre estes dois legares; porém este erro provém de accreditarem que as nascen-
tes do Nilo estavam na província doGojam, e que do Gojam « Gorgora ha effectívamenle
sessenta milhas.
«Quando, depois de ter bem determinado a latitude e a longitude de Gondar, eu
parti para me encaminhar ás nascentes do Nilo, pensei que o conhecimento geographico
dos togares era o ucico fructo, que a posteridade poderia tirar de minha viagem, e que
valia mais traçar um simples itinerário, que descripções mais agradáveis, mas menos
oteis. Em conformidade com isto marquei diariamente a duração da minha marcha com
o relógio na mão, e regulei a direcção d*elles com uma bússola. Tomei a altura do sol e
dasostrellas em Dmgleber, nas margens do Belti, e cm Goutt; e finalmente determinei
a latitude das nascentes do Nilo por meio de vai ias pbservaçOes, e sua longitude por
uma observação única, e mui favorável. Retirei-me das nascentes do Nilo por um cami-
nbo dífferenfe d'uquelle, que tinha tomado, quando para lá me dirigi. Segui a margem
^«2 BR
o zdo peU religião e o espirito de conquista úalkx cfnaliwíme affroQxado
n'esfa naçio.
cOs detractores das descobertas diziam pois, qoe a passagem a ladia peto
Cabo de Boa Esperança privando os estados Maorilanos do commertio das as-
pectarias induziria estes povos a rennirem-se para exterminar os portngnens.
Porém o tirar-lhes este coramerciofdra com efleito a ambição do piincipeHeB-
riqae. Qoería a mina dos moiros, como chefe da ordem de Chrislo, ordem
estabelecida contra os infiéis, e mais particnlarmente contra os sectários de
Mabomet
•pposta do no e obserrei a altura do mI lio loo^e do coiTcoto de Welled-AMo, ia
própria casa do Sbalaba Welled Amlac. Xanfoei taakea na aiaba caria todas as aldeias,
^oe e« tioba atraTCásado, ob Yisto a poaca dbtaocia do camiako, beai coso o gtaade
■aoiero do rios, qie me foi nocossarío paisar. Qfttm laB(ar os olbos para a MÍaba pe-
qQcna carta, aio podorá fomar mais qoe asa idéa imperfeita dos iaconmodos «|»ooBi
me CQStOQ. Todavia jolgoei-me amplameote recompensado de meãs tnbattnwr, ^«aado
comparei cm Goiídar o calculo da minha jornada, conforme a bnssola, com aqatllo qae
me de? ia dar segundo minhas ebserraçSes astronómicas. Achei que nio me tiaba eaga-
nado $eo2o em coisa de noTe milhas sobre a lalitnde, e sete milhas sabre a loagítida,
erro de mui pouca monta n*uma grande carta, e quasi imperceptÍYcl o^oma eirta rada*
lida. Certamente nem Pedro Paes, nem algum outro homem, que oase aspirar a ama des-
coberta por tanto tempo, e tio ardentemente desejada, teria podido tuer o qae m ia;
de sorte, qoe partindo de Goni^ora ha metade menos de caminho, do que partíado de
Gondar. Mas quando fosse verdade qoe Paes emprebeodeu a descoberta, da qual Kirther
lhe dá a honra, não era menos verdade, qoe linha deixado o mondo na mesma ignora»-
cia, em que o tinha achado, pois teria viajado como um ladrão, que uescobriado as nas-
centes occultas do Nilo, para eilas teria olhado, e de repente teria deixado cair • vea so-
bre ellas, como se tivesse receio de as vér.
«LodoUe Yossio divertiram-se muito coma historia d*esta descoberta; acreditam q«e
Kircber a fez paia Paes, do qual não citam o nome, mas a quem chamam o descobndor
dos rios.
«Dizem ser muito ridículo ima.;:inar que o imperador dWbyssinia fiiesse vir um jo-
suita da Europa, para ser o antiquário do seu paiz, para lhe ensinar que as nascestes
do Nilo estavam nos seus estados, e moslrar-lhe o Ingar d'onde ellas brotam. Ma^ a cri-
tica (Je Vos>io é despropositada. Nem Paes nem Kircher, nem quem quer que foi o aac-
tor d 'este livro, onde se falia d e<ta descoberta, nunca pretendeu que tivesse havido no-
cessidadc de ensinar ao imperador d^Âbjssioia o logar, em que estavam as nascentes.
Conta somente que os Agows de Geesh lhe disseram que a montanha tremia no tempo
da secca, e que mesmo tinha tremido naquelle anno, e que o imperador, que estava pre-
sente ao dito dos Agows. o tinha conGrmadu cora seu próprio testimunho. Não é iste di-
zer que Paes ensinou o imperador, cujo exercito e>tava acampado perto de Geesb, qae
as nascentes do Nilo estavam em seus estados, o que eram aquellas mesmas, que elle
estavá vendo. í James hrwce —Voijage anx sourcfi du .Yi7, vol. 9.», pag. 201 a StiO.)
• <>»nla-se que o celebre Affonso dAIbuquerque, vicc-rei das índias, escreveu muitas
vezes ao rei de Porlu^'al, I) Manuel, para lhe mandar alguns habitantes da Madeira,
homens co>tumados a nivelar aterra, para prepararem plantaçOes de canna de assucar.
Albuquerque queria servír-se dellcs para executar a empreza que formara de lançar o
Nilo pura o mar Vermelho, cuni o Gm de esfomear o Eíiypto. O filho de ^Albuquerque
BR 183
<D. Manoel, que occupava entào o reino de Portugal desviando-sc de erros
vãos, resolveu seguir o projecto, o mais nobre e o mais arrojado, que uma na-
ção poude jamais emprebender, e que, apezar de ter custado já muito tempo e
dinheiro, tinha também já começado a apresentar bellos resultados, superiores
a qnanto se esperava. Não teve necessidade de andar a procurar muito tempo
jjMura iançar as vistas sobre Vasco da Gama, homem distincto pela sua coragem
e por uma grande presença d'espirito. Escolheu-o para commandar esta fro-
ta, e entregou-lhe na sua partida o diário, e o mappa da índia por Pedro da
refere este caso inverosimil, e accrescenta que nio duvida que seu pae se tivesse saldo
)»ein, porque elle sabia d'ummodoÍDCODtestavel, que, quando os árabes do alto Egypto es-
taTam em guerra com o sultão, ioterrompiam o curso do caqal, que está entre Bonna,
no Egypto, e Cosseir sobre o mar Vermelho.
«Telles e Le Graud ao referirem as opiniões de Albuquerque e de seu filho, fazem
«laitos elogios ao filho á custa do pae, mas sem duvida nao teem razão.
•Em primeiro logar vimos na historia d'Abyssinia, que tudo quanto D. Manuel
ponde fazer, foi enviar quatrocentos homens em soccorro do rei d'Abyssinia, cijos esta-
úoè estavam eotSo quan totalmente invadidos pelos turcos e pelos moiros. Não é pois
da lodia que se podia esperar a execução d'oma empreza tão grandiosa e tão difficil,
como a de desviar o curso do Nilo. Depois o joven Albuquerque eogana-se evidentemente
BO facto que assevera.
«Nunca houve canal entre Cosseir e Cana. As mercadorias que vêem pelo mar Ver-
nelho foram sempre transportadas por caravanas. (Idem, idem, vol. 9.®, pag. 355.
•Diz-se nos escriptos dos jesuitas que os Agows adoram as caonas* Yeja-se a nota-
rei carta que o ras Sela Cbristos dirigiu ao imperador Socinios, e que está inseria em
Baltbazar Telles; tomo %.<>, pag. I9G. Porem eu nunca observei n'este povo algum vestí-
gio de tal culto. (Pag. 100.)
«A infanteria abyssinia tem estandartes pintados de duas cores differentes, e com ti-
ras, qae se cruzam em amarelio e branco, ou em vermelho e verde; porém os estandar-
tes 4a cavallaria teem um leão vermelho, verde ou branco. A primeira invenção dMslo c
attribuida aos portuguezes. (Idem, idem, vol. 8.% pag. 104.)
«Vou agora contar a relação que faz do baptismo annual dos abyssioios Alvarez,
capellão do embaixador portuguez D. Rodrigo de Lima.
«O rei d'Abyssinía linha convidado D. Rodrigo de Lima a assistir á celebração da
Epiphania. Os portuguezes encaminharam-se a milha e meia do acampamento, para a
borda d'um lago desiinado para a cerimonia. Alvarez diz que todos aquelles, que encon-
.travam do caminho, lhes perguntavam se se iam baptisar, ao que este capellão respon-
liia que oão, porque tinham sido baplisados á nascença.
«De noite, diz elle, reuni u-se um grande 'numero de padres, que se pozeram a can-
lar, ou para melhor dizer a mugir com a intenção de abençoarem a agua. Depois da meia
noite começou o baptismo. O abuna Marcos, o rei e a rainha foram os primeiros a en-
.trarem no lago. Tinham cada um d'elles uma porção de panno de algodão em volta da
ciaUira; porém o povo não eslava tão coberto. Ao romper do sol a cerimonia estava quasi
«ícabada, e quando Alvarez chegou ao lago, viu que estava cheio d*agua benta, e que se
tiaba deitado D'elle muito azeite.
«Parece, segundo esta passagem, que o capellão portuguez não estava ainda no la-
, go, quando a cerimonia estava mais de metade feita, e que elle não foi testemunha nem
. da Jbeoção da agua, nem da ímmersão do rei, da rainha c do abuna. Emquanto ao azeite
m BR
Oivilliã, com cartas para todos príncipes indíaoos, úm qna<^ tinha oaviílo
fallar.
«Porém, o que Vasco da Gama fez na soa partida, nào annonciava nem om
guerreiro, nem um grande homem; suas procissões, seos votos, soas momiee»,
soa devoção apparatosa e digna d*iim verdadeiro supersticioso, todo sea pro-
cedimento finalmente parecia mais dirigido a desanimar seus soldados, do que
a os animar a servir valentemente soa pátria.
«Lembrou-lhes muito inconvenientemente as tempestades, que Dias tínha
sofl^do perto d'aqaeUe terrível cabo que iam dobrar, e não fez mais que per-
deitado na agoa, não qoero contradiíer pofitÍTamente Àharef, porqoe, ainda qae eu li-
Tesse chegado cedo, qaando fui ? ér o baptismo d'Adowa e o de Habha, seria posrifel
que se tívesie praticado a mesma coisa, e que a obscuridade me tÍTesse impedido de vér.
Comtudo, nunca ou? í díier na Abyssinia que se empregasse o azeite para esta cerimo-
nia. Continuemos a narracAo da Alfares:
«Tinha-se erguido um ampbitbeatro, onde o rei estafa assentado, de maneira qee
linha a face voltada para o lago. O rosto do monarcba estava coberto com om ?e« 4e
tafetá atui; e um velbo, que era o aio doeste príncipe, tinha-se metlido na agoa até aos
bombros, nú como a mão, e meio morto de frio, pois tinha caído muito gelo doraaie a
noite.
«Este felbo pegava na cabeça de todos aquelles, que se aproximavam d'eBe, e os
mergulhava na agua, dizendo-lbesem língua abyssinia: Eu te baptiso em nome do Padre,
do Filho e do Espirito Santo.
• 4 província de Shoa, onde o rei d'Aby89Ínia estava então, achando-se aos 8* de la-
titude norte, e o sol if sul de soa decli nação meridional, avançando para o norte, este
astro de¥Ía estar no dia da Epiphanía a menos de ÍU)'' do zenilh do lago, onde se fazia o
baptismo. N*e?ta estação o tbermometro de Farenheít sobe em Goadar a 68*, e em Sboa
não pódc plevar-se a menos de 70*; porque Gondar fica pelos \^ de latitude norte, isto
é, a 4° mais ao norte. Ora é iroposisivel que a agua gele em Shoa, e posso asseverar q«e
nunca vi gelo em algum sitio da Abyssinia, mesmo nas mais frias montanhas. E além
d'Í8S0 n este paiz o roez de janeiro é um dos mais quentes do anno.
«O baptismo, diz Alvarez, começou á meia noite, e o velbo que presidiai corímo-
nia, mergulhava na agua a cabeça dos neophitos, dizendo-ihes: Eu te baptiso em uome
do Padre, do Filho e do Espirito Santo.
«Ao romper do sol a multidão augmentou, e só ás nove horas é que tudo foi acabado.
É mister convir que o tempo deveu parecer bem longo a um velbo, que estava mettido
atéaoB hombros na agua gelada.
Mas o numero dos baptisados não foi menos de quarenta mil, porque as mulheres
estavam misturadas confusamente com os homens; e póde-se julgar que o baptisador ge-
ral teve bastante occupação para não ter frio, se é verdade que passaram pelas suas
mãos no espaço de nove horas, quarenta mil pessoas.
•As mulher*^, conforme o capellão portuguez, estavam na presença dos homens sem
terem nada no corpo, que as pudesse cobrir. O abuna. o rei e a rainha foram os primei-
ros baptisados, e não tinham outro vestuário senão um panno de algodão em volta dos
rins^ mas eu atrevo ne a afiírmar que nunca se contou coisa alguma mais opposta aos
costumes d'um paiz. O rei d* Abyssinia anda todo coberto, e a única parte do corpo, que
se lhe pôde vér são o< olhos.
»A rainha e todas as outras mulheres, quer em publico, quer em particular, estio
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ím.idirlhps por ostíi manoira. quonsla vingam lhes oITt^rPcia maiores perigos,
qac gloria.
«Com tudo a 44 de julho do 1497 (}ama partia de Lisboa com sua pequena
frota; e como a arte da navegação tinha já feito grandes progressos, singrou no
alto mar em direitura ás Ilhas Canárias, e depois ás de Cabo Verde, onde lan-
çou ferro, e onde tomou agua e mantimentos. Tendo-se feito de vella, foi contra-
riado quatro vezes pelos ventos e mau tempo, e opprimido de fadiga viu-se obri-
gado a entrar na grande bahia de Santa Helena. Vasco viu que os habitantes
d*esta bahia eram baixos, negros, e fallavam uma linguagem desconhecida, lin-
guagem que se vio depois ser a mesma, que a do Cabo de Boa Esperança.
«Os portuguezes não tinham ainda conhecimento dos ventos geraes o das
egaalmente cobertas até á barba. Teem por vergonha deixar um estranho v£r-lbes a ponta
do pé, e teem grande cuidado cm terem asmUos cobertas até á extremidade das unhas.
«O velho aio, que estava no lago, pronunciava cm abyssinio a formula: Eu te bap-
tiso em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo. É certo que Alvares nSo percebia
am4 nnica palavra d'c.sla língua, mas o que é mais para admirar é que o capellão por-
tiiguex fallou em latim ao rei, que o entendeu muito bem, e que lhe perguntou se se tinha
doatorado em Sarbonne. Qui crediderit, et baptisatus fuerit, salvws erit, disse ainda Al-
Tare«.
•Tendes razfto emquanto ao baptismo, responde o rei; cstds palavras 82o do nosso
Sêlvad«r; porém a cerimonia, que acabamos de praticar, foi inventada por um de meus
avós, em favor dos abyssinios, que se tinham feito mahometanos, e que desejavam regres-
sar ao chrístianismo.
•Alvares, querendo persuadir-nos que esta cerimonia era realmente um baptismo,
diz que antes da sua chegada ao lago, tinha-se deitado azeite na agua. Não se atreve
poii a afBrmar que o vio fazer, porque é uma falsidade; mas sabe que era um dos ritos
das egrejas do Oriente, é por isso que falia d'elle.
•O capeUâo de D. Rodrigo de Lima teria devido ver, que não somente os homens
e as mulheres se lavavam no lago, mas que faziam banhar alli os cavallos, vacaS) mulas,
e ama quantidade immensa de burros.
•Não terei por conseguinte escrúpulos em dizer, que tudo quanto Alvares diz n'esta
relaçãO) não passa d'uma mentira grosseira, porque os abyssinios nunca olharam como
nm baptismo a cerimonia, que praticam no dia da Epiphania. (Voyages aux sources du
NU, vol. 8. ', pag. 138 ]
•A calaracta d'Atala, no rio Nilo offereceu á minha vista um dos mais bellos espec-
táculos, que tenho visto. O jesuíta Jeronymo Lobo pretende que se poz debaixo do arco
que forma o Nilo, precipitando-se. Conta que não somente allí se assentou com traaquil-
lifkule, mas que, olhando atravez da massa d'agua que cala, viu a luz dividida como por
vm prisma, n*uma iafinidade de circnlos malisados como o do arco íris. Porém eu ouso
sem hesitar dizer que é uma mentira. A bacia que recebe a cascata é muito profunda, e
a agua está alli extremamente agitada. Mas suppondo mesmo que houvesse do meto does-
ta bacia uma elevação, onde se podcsse sentar, seria impossível a um homem chegar
âlfi. (Idem, idem, pag. 28i.»
Bruce a todos os escriptores porluguezes tinha, como se tem visto, na conta de
falsarios e mentirosos. De egual modo procederam para com elle os escriptores euro-
peus, que chegaram a duvidar que Bruce tivesse estado na Aby ssinia.
186 BR
moQçoes, qoe reinam n'estes mares; e Gama tinha partido para a índia na es-
taçao mais desfavorável. A 16 de novembro fez-se de vela para o Cabo com
vento de sudoeste: porém no mesmo dia o maa tempo se declarou, e os por-
tugueses foram de tal maneira acossados pelo temporal, que a i8, tendo final-
mente descoberto o Cabo, nào se atreveram a dobral-o.. Viu-se então quanto
as impressões, que lhes tinha deixado a viagem de Dias, eram mais fortes, que
os deveres, obediência e resignação, que tinham tão solemnemente jurado na
capella da ermida, aonde Vasco os tinha levado em procissão. Toda a equipa-
gem se revoltou, e se recuzou a ir mais longe, estando os pilotos, e contrames-
tres mesmo á frente dos amotinados. Porém Vasco, bem convencido que ne*
nhum perigo extraordinário os esperava alem do Cabo, persistiu em querel-o
dobrar, e os offlciaes animados do mesmo ardor, que seu commandante apo-
deraram-se dos chefes amotinados^ e pozeram-nos a ferros no porão.
<0 próprio Vasco tomou na mão o leme de seu navio, e se desviou da torra,
com grande espanto de seus mais bravos companheiros. O temporal durou
ainda dois dias, mas elle não poude abalar a constância do almirante, que a
20 teve finalmente a honra de dobrar o cabo. N'este momento de triumpbo as
trombetas e tambores fizeram-se ouvir, e Vasco permittiu a seus companheiros
toda a sorte de regosijos, a fim de banir a lembrança de seus receios, fazel-os
concordar com elle em que este cabo tinha sido mui justamente chamado o Cabo
de Boa Esperança.
«A 25 os portuguezes ancoraram n'um pequeno porto, a que deram o no-
me de S. Braz. Pouco depois viram um grande numere de habitantes, corre-
rem à praia, e aos montes próximos. O almirante temendo alguma surpreza,
fez desembarcar gente armada. Porém antes d'isso mandou que atirassem para
a praia guisos de metal, e outras bagatelias. Os indígenas apoderaram-se d'ellas
precipitadamente, e avcnluraram-se mesmo a chegar tão perto, que um d*eiles
tomou alguma coisa mesmo da mão do almirante. Logo que Vasco desceu á
terra, os selvagens acolheram-no cantando e tocando flauta; e elle mandou aos
portuguezes, que tocassem trombeta, e dançassem á roda dos selvagens.
«De S. Braz até sessenta léguas mais longe, a costa pareceu aos portugue-
zes coberta de arvoredo, e d'uma verdura extremamente agradável. Em dia
de Natal approximaram-se da terra, e entraram n'um rio, ao qual deram o
nome de rio dos Reis. Chamaram também toda a que se extende de S. Braz a
este rio— Terra do Natal. O tempo tinha-se tornado muito bello; os portugue-
ses deitaram todas suas lanchas no mar para descerem a terra, e viram a praia
juncada de homens e de mulheres de grande estatura, mas que não tinham naa-
neiras affaveis e agradáveis. O almirante mandou desembarcar Martim Affonso,
que fallava varias linguas dos negros. Este fez-se muito bem entender, e foi
agradavelmente acolhido pelo chefe, ou rei, a quem o almirante mandou de
presente algumas bagatelias, e que em compensação ofifereceu quanto produ-
zia seu paiz. Tanto estava encantado dos portuguezes!
«A io de janeiro de 1498, tendo renovado sua provisão d'agua, que os pró-
prios negros ajudaram os marinheiros a metterem a bordo, Gama deixou este
povo aíTavel c generoso, e adianlou-se alé ao Cabo, a que deu o nome de Gabo
BR 187
tias Correntes. Alli termina a Costa do Natal, e começa a de Sofala ao norte
do Gabo. Gama, vindo do meio dia ao Cabo das Correntes, chegou exacta-
mente ao mesmo sitio, aonde Covilhã tinha ido ao vir do Norte, de maneira
qae estes dois portaguezes tinham feito elles sós a volta inteira d' Africa.
«Subiu ao throno d'Abyssinia Iscander, e os portugnezes derramaram uma
grande confusão sobre uma parte da historia d'este paiz, Iscander subiu ao
throno em 1475. Morreu, diz-se, em 1490, o que é confirmado por Ludolf; e
todavia todo o mundo sabe, que não devia ter morrido, senão em 1492. A maio-
ria dos portuguezes confessa além d'isso que Covilhã viu Iscander, e convw-
8on com eUe algum tempo antes da sua morte: o que deve efíectivamente ser
verdade, se este príncipe viveu até 1492; porque Pedro da Covilhã entrou ef-
íectivamente na Abyssinia em 1490, assim como nol-o conta Galvão nas me-
morias de seu pae. Mas por outra parte Telles diz-nos que Iscander tinha mor-
rido seis mezes antes da chegada de Covilhã. Que acreditar? Se Covilhã não
chegou effectivamente á Abyssinia senão seis mezes depois do assassinato d'l6-
cander^ foi então no fim do reinado de Amdo-Sion, menino, que não occupou
o throno mais qae sete mezes. Nem Alvarez, nem Telles fazem menção d'estc
joven rei, e ambos commetteram uma serie d'erros, o que prova que os his-
toriadores portuguezes prestam pouca attenção á Ghronología Abyssinia. Di-
zem que Iscander era pae de Naod, quando era seu irmão. Paliando depois a
respeito de Helena apresentam-na como mãe de David; e todavia Helena, de-
clarada Iteghé, durante a menoridade de David III, não era senão avó, ou para
melhor dizer esposa do avô d'este príncipe, e ella nunca teve filho.
«Achei perto de quatro annos de differença entre meu calculo, e o dos au-
ctores, que acabo de citar. Mas julguei não dever servilmente renunciar á mi-
nba-opinião, para seguir a de estrangeiros, que entendiam muito mal a lingua,
e quasi que não conheciam a maneira de contar do paiz, do qual escreviam a
historia. Meu calculo aliás é apoiado por um eclipse de sol succedido em 1553,
no decimo terceiro anno do reinado de Cláudio. Partindo d'esta epocha até o
instante, em que puz os pés nas terras d'Abyssinia; e remontando depois ao
tempo dlscander, parece que este príncipe subiu ao throno em 1478, e que
reinando 17 annos, deveu viver até o anno de 1495. D'esta sorte poude ver Pe-
dro do Covilhã, e conversar com elle, se Covilhã effectivamente foi á Abyssi-
nia em 1490.
«Depois do assassinato dlscander os abyssinios offereceram a coroa a Naod,
irmão dlscander, e morrendo depois d'um reinado de treze annos, succedeu-
Ihe David. ^
«Por este tempo os turcos, que até então tinham sido julgados como nada
valendo no meio dia da Africa e da Ásia se mostraram de repente debaixo
d'um aspecto, que fez tremer todos estes estados.
«Selim, imperador de Constantinopla, venceu Canso El Guari, Sultão do
^líyp^o, que morreu no combate. Algum tempo depois tendo dado uma se-
gunda batalha, Selim ainda vencedor se apossou do Cairo, e debaixo do espe-
* James Bruce— Km/ojyg aug: sources du NU, vol 4.", p«g. 18f.
188 BR
cioso pretexto que Tomam-Bcy, successor de Canso, tinha mandado matar c^
embaixadores turcos, mandou enforcar o desgraçado Sultão na porta principal
de sua capital, e com esta execução sanguinolenta destruiu a raç^i dos Mame*
lukos. Sinan-Becha, primeiro ministro e general de Selim; conquistou bem de
pressa toda a península da Arábia até ás margens do Oceano Indico.
«O povo por multo tempo acostumado a combater, e a quem Mahomet ti-
nha inspirado seu enthusiasmo, conquistou o Oriente. Mas o luxo o desarmou
bem de pressa, e o reduziu á mesma situação, em que elle estava, logo que
Augusto quiz submettel-o. Sínan-Pacba não teve, pois, necessidade mais que
d'um punhado de guerreiros para exterminar os soberanos legítimos d*estas
regiões. Uns foram vencidos pela força, outros pela perfídia, e Sínan os subs-
tituiu em cada cidade principal por officiaes de confiança, com guarnições de
janisaros, que não conheciam outras leis mais que as militares.
«A guerra comtudo tinha mudado de forma debaixo d'estes novos con-
quistadores. As espingardas, a artilheria estavam empregadas contra os dar-
dos, lanças, frechas, únicas armas usadas na Arábia e na Abyssínia. Uma frota
carregada de soldados, e de instrumentos de guerra, cujos nomes eram tão des-
conhecidos aos povos doestas regiões, como seus effeitos destruidores, foi des-
tinada pelos turcos a conquistar a índia; e ainda que o valor português veia
em ajuda dos índios, e repellisse gloriosamente os othomanos, estes fortifica-
ram sem cessar os diversos postos, que tinham na Arábia, e com os soceorros
dos quaes contavam, se um inimigo quizesso detel-os, se a tempestade, on
qualquer outro obstáculo tivesse podido oppôr-se ao regresso d'elles.
«Pôde se dizer que estas guarnições de janisaros devoravam as entranhas
do commercio debaixo do pretexto de o proteger. Seu commandante tinha pois
estabelecido alfandegas em alguns portos. Mas viu se bem depressa quo o ver-
dadeiro motivo era o de conhecer melhor as pessoas, ás quaes podiam extor-
quir mais dinheiro. Jidda,. Zibid, Moka, cidades commerciantes c visinhas de
Abyssínia, ainda que situadas sobre a costa di*Arabia; Suakem, ilha na costa
d'Africa, ás portas dos abyssinios, e no caminho das caravanas, que vão da
Abyssínia ao Cairo, estavam todas debaixo do commando d*um bachá turco,
e tinham guarnições turcas enviadas pelo imperador Selim, e por Solimão, seu
successor.
«Os mercadores árabes não gostando senão da paz, e tendo aquella boa fé,
que um commercio prospero inspira, fugiram sem demora para longe da vio-
lência, e da injustiça dos turcos, e levaram suas riquezas para as costas do
reino d'Adel. O commercio da índia, querendo escapar aos mesmos tyrannos,
foi também para Adel refugiar-se entre seus amigos, e alli foi que os mouros
o cultivaram durante todo o tempo, que durou a impolitica e barbara oppres-
são dos turcos.
«Zeyla é uma ilhota, situada na costa d^Adel, opposta à Arábia Feliz, na
entrada do Oceano Indico. Os turcos estabelecidos na Arábia, apesar de não
advinharem a verdadeira causa da fugida do commercio, ficaram muito qui-
zilados de o verem refluir para o reino d'Adel. Apoderaram-se de Zeyla, e es-
tabeleceram alii uma alfandega, e por meio d'estc posto, enlas galeras, que en-
BR i89
viavam em cruzeiro para os estreitos, submetteram o commercio, que o reino
d*Adel fazia com a índia, ás contribuições, que podiam d'alguma sorte in-
demnísal-os da deserção, que suas injustiças e violências tinham occasionado
na Arábia.
«Este novo estabelecimento dos turcos ameaçou destruir ao mesmo tempo
o reino d*Adel, e o império d'Abyssinía. Considerando a disciplina firme e se-
vera do governo dos turcos, e a politica fraca, os prejuisos dos adelios e dos
abyssinios, parece mais que provável, que estes* dois últimos povos teriam
sido submettidos, se a índia nao tivesse sido o principal alvo da ambição dos
turcos» e se não tivessem allí encontrado os portuguezes solidamente estabeleci-
dos. Os portuguezes foram governados por uma successão de reis, que não ti-
veram talvez outros, que os egualassem; e seus offlciaes o soldados eram su-
periores emquanto á disciplina, à coragem, ao amor da pátria, a todos os exér-
citos, dos quaes a historia nos offerece o exemplo.
«A imperatriz Helena informada então dos progressos do poder portuguez
na índia conheceu que o soccorro desta nação era o único, que podia salvar
Adel e a Abyssinia.
«O portuguez Pedro da Covilhã vindo como embaixador á corte d'Abys-
sinia, alii tinha residido durante dois reinados, sem que quizessem de modo
algum deixal-o ir embora. Tínha-se d'alguma sorte tornado antes um objecto
de curiosidade, que de utilidade. Além da liberdade nada Ibe faltava. A im-
peratriz tinha-o casado com uma mulher de alta jerarcbia, e accumnlado de
riquezas e de honras. Comtudo, na época em que havia a recciar as conquis-
tas dos turcos, esta prínceza começou a perceber de que importância podia
ser para ella um homem, que lhe fornecesse meios seguros de correspondên-
cia com a índia e Portugal; pois as pessoas, a quem ella tinha resolvido diri-
gir-se, não lhe eram menos desconhecidas, que as linguas d'ellas.
«Ilavia então na corte d'Abyssinia um mercador chamado Matheus, ^ ho-
mem intelligente, honrado, e havia muito tempo acostumado a percorrer os
estados do Oriente para as necessidades mercantis do rei e dos grandes da
Aby59inia. Estivera no Cairo, Jerusalém, Ormuz, Ispaham, nas índias Orientacs,
e na costa de Malabar, tanto nos logares conquistados pelos portuguezes, como
nos que tinham ficado debaixo do dominio de seus príncipes legitimos. Era
floalmcnte um d'esses agentes que eram empregados pelos monarchas e abyssi-
nios ricos a irem vender ou trocar as mercadorias, que lhes são pagas em gé-
neros. Em summa Matheus foi escolhido pela imperatriz Helena para ser seu
embaixador juuto do rei de Portugal: ella o mandou acompanhar por um jo-
ven abyssioio, que morreu na viajem. As cartas, que Helena dirigiu n'esta
occasião ao monarcha europeu, são muito extensas, e conteem mais ficções e
vaidade, que coisas verdadeiras.
«Na primeira metade da carta, metade que se suppòe dictada por Covi-
lhã, a iniporatriz diz que o que ella pede ao rei, lho será explicado por Ma-
theus, seu embaixador, a quem cila qualifica com o titulo de confidente, e
* JaDie^ Brucc— Voiiflfjifs aux sources du NU, vol. i ", i)*6- ^^^-
190 BR
de homem informado de seas roais secretos desígnios. Pede ao raonareha, qae
dé credito a quanto este embaixador lhe disser em particular» ^ como se ella
mesma lhe fallasse. Tanta prudência annuncia sem duvida tudo que se devia
esperar d*um homem por muito tempo acostumado a negociações secretas.
tMas o fmal d'estes mesmos despachos divulga todo o segredo da embaixa-
da, e este flnal é dictado, segundo se pôde crer, pelos ministros da Abyssinia.
cPede-se ao rei de Portugal que envie forças suficientes para libertar
Meca e Medina; que arme uma esquadra para defender as costas d^Abyssinia,
c atacar o poder dos turcos por mar, ao passo que os abyssinios extermina-
riam por terra todos os mahometanos. Finalmente prodigalisam-se aos maho-
metanos turcos e moiros os epithetos mais injuriosos.
«Â primeira parte d'esta missiva não podia impedir Matheus de passar,
nem causarlhe algum desgosto, mas comtudo se Matheus tivesse sido preso,
o seus despachos interceptados, sua embaixada teria sido recompensada com
a perda da vida.
«Quando o jovcn monarcha d' Abyssinia esteve em edade de reinar, longe
de approvar a missão de Matheus, obstinou-se em ser contra ella.
«Matheus chegou felizmente até Dabul, mas o governador tomando-o por
um espião mandou prendei- o. Foi salvo das mãos doeste governador por AÍToq-
so d'Albuquerque, que tinha já suas vistas sobre a Abyssinia.
«Albuquerque, antes que Matheus desembarcasse, quíz tractar partícolar-
mente com elle, aflm de o persuadir a que lhe mostrasse seus despachos. Mas
Matheus recusou-se absolutamente a isso. Este procedimento foi prejudicial ao
embaixador, pois Albuquerque desde este momento pareceu disposto, bem
como todos seus oíliciaes, a fazerem pouco caso d'elle, quando desembarcasse.
Porém Matheus sabendo bem que o caracter, do que estava revestido, tomava
sagrada sua pessoa, não quiz ser tractado como um simples particular. Mandou
advertir o vice-rei, o bispo, c todo o clero que independentemente de seu titu-
lo de embaixador, que exigia o respeitassem, clle era portador d'um pedaço
da verdadeira cruz, que a imperatriz enviava ao rei de Portugal; e lhes man-
dou dizer que a não ser que quizessem ser arguidos de sacrílegos, deviam tes-
temunhar a maior veneração a esta relíquia preciosa, e celebrar sua chegada
com uma festa solemnc. Não foi preciso mais. Todas as ruas de Gôa foram cheias
de procissões. - O vice-rei e os primeiros oíliciaes foram receber Matheus, quan-
do descia da chalupa, e o acompanharam ao palácio, onde foi alojado e tra-
tado com magnificência. Mas, apesar d' isto, só passados três annos de residên-
cia na índia é que teve licença, em 1513, de continuar sua viagem para Por-
tugal.
«O historiador Damião de Góes, homem cheio de bom sonso e de candura
não pode comprehender, porque se enviava como embaixador um arménio, e
não um dos primeiros nobres da Abyssinia. Mas é provável que ninguém fosse
mais capaz que clle, para desempenhar as inteuçues da imperatriz.
' James Brucc— Ií'»/'*'/'' mu soimcs dv Ai/, vol. 5.". pnp. 200.
BR i9i
«A desgraça, que tinha acompanhado Mathens á índia, o acompanhou até
Portogai. Os capitães dos navios pareciam disputar entre elies sobre qaem o
trataria peor. Mas finalmente chegou a Lisboa. O rei, apenas foi informado da
maneira indigna como seus offlciaes tinham procedido com Mathens, man-
dou*os carregar de ferros, e provavelmente teriam ficado presos o resto da
vida, se o próprio arménio não tivesse tido a generosidade de pedir o perdão
d'elles.
«David não tinha mais que doze annos, quando subio ao throno, e durante
sua menoridade Helena concluirá um tratado de paz com o rei de Adel. Mas
os turcos continuavam suas hostilidades, e David não tendo ainda 16 annos
tomou repentinamente o partido de reunir um exercito, e de o commaudar em
pessoa. Deu*se a batalha n'um valle entre a província montanhosa de Fatigar
e as planícies de Adel.Diz-se que ficaram no campo de batalha doze mil mussul-
manos, e que os abyssinios pouca gente perderam. O estandarte verde de Ma-
bomet foi tomado, bem como a tenda de veludo preto bordada a ouro, que
o rei deu depois ao embaixador de Portugal, para servir para a celebração da
missa. Esta victoria foi alcançada no mez de julho de 1516, e no mesmo dia
uma esquadra portugueza, debaixo do commando de Lopo Soares de Alber-
garia se apoderou da ilha de Zeyla na entrada do mar Roxo, e queimou os
estabelecimentos d'ella. ^
«Ê certo que nem as suspeitas que tinha havido na índia a respeito do ar-
ménio Matheus, nem o nascimento obscuro doeste embaixador fizeram impres«
são no rei de Portugal. Este príncipe prestou-lhe as maiores honras á sua che-
gada, e não lhe testemunhou menos apreço para com os objectos de sua missão,
que consideração para seu amo. Emquanto Matheus esteve em Lisboa foi alo-
jado e tratado magnificamente.
«O rei D. Manoel considerando de quanta utilidade podia ser para os por-
tugueses um amigo tão poderoso nas costas do mar Vermelho, onde suas es-
quadras achavam toda a sorte de provisões e de soccorros, quando perseguis-
sem as esquadras turcas, mandou preparar uma embaixada, e ao mesmo tem-
po enviou Matheus na frota de Albergaria. E Duarte Galvão homem de gran-
de capacidade, foi nomeado para ir como embaixador á Abyssinia.
«Com tudo a esquadra de Soares entrou no mar Vermelho, e parou na ilha
baixa de Gamarão, sobre a.costa d^Arabia Feliz. ^ Era o logar mais doentio, que
o almirante podia escolher. Por isso Duarte Galvão alli morreu. Com tudo Soa-
res resolveu passar o inverno n'aquelle sitio, e levou ao cabo sua resolução.
«Quando o ignorante Soares voltou à índia, foi substituído por Lopes Se-
queira. Saiu de Goa com uma frota considerável, entrou no mar Vermelho,
fez-se de vela para a ilha de Masuah, aonde chegou a 16 d'abril de 1520, le-
vando comsigo o embaixador Matheus. Á primeira vista da esquadra todos os
habitantes de Massuah abandonaram a ilha, fugiram para o continente, para
Arkééko. Sequeira tendo-se conservado alguns dias em frente de Bfassuah, sem
* James Brucc— Vo»/«7c.s aux sources du Nilf vol. 4.', pag. Í15.
2 Idem, idem, pag. %!G.
192 BR
deixar praticar o menor acto de hostilidade, am christào e am moaro vieram
ter com elle, e lhe participaram que a costa fronteira fazia parte de império
da Abyssinia, e era governada por um oíficial abyssínio, revestido com o car-
go de Baharnagash. Disseram-lhe que os habitantes de Massuah haviam fugido,
porque os turcos tinham pur costume desembarcar na ilha, e saqueal-a, mas
que todos os habitantes eram christâos. O commandante portuguez ficou encan-
tado com taes novas, e vendo que Matheus só tinha dito a verdade, entrou a
tratal-o com muito maiores attenções. Louvou os habitantes por terem fugido
para Arkééko> antes do que exporemse aos insultos dos turcos, e disso-lhes
que eram christâos os portuguezes, e que tinham vindo para aqueUas paragens
em seviço ao rei da Abyssinia.
«No dia seguinte o governador d'Ârkééko veiu á praia, acompanhado de
trinta homens a cavallo, e de duzentos a pé. A conversação entre esto gover-
nador e Sequeira foi franca e amigável. O abyssinio convidou o portuguez a
vir a terra, affirmando lhe que o Baharnagash estava já informado da chega-
da da esquadra.
«Sequeira fcz-lhe varias perguntas relativas á religiilo do paiz; o gover-
nador indicando -lhe com o dedo uma montanha, que estava a cousa de vinte
milhas de distancia, lho disse haver allí um convento, que se chamava o mos-
teiro de Dissan, cujos monges informados de sua chegada tinham mandado
sete d*entre elles para irem ao seu encontro. Com eíTeito os sete monges nao tar-
daram em appresentar-se e o general portuguez recebeu os mui aíTectuosamcn-
to. Matheus tinha muitas vezes fallado a Sequeira a respeito do mosteiro de
Bissau.
«Os monges, apenas viram Malheus, derramando lagrimas d'alegria felici-
taram-no pela sua vinda, depois d'uma tão longa ausência. O general portu-
guez convidou csies monges para virem abordo, dcu-llies um ban(iucte,c pre-
sentes convenientes. Depois escolheu sete portuguezes, á frente dos quaes es-
tava Pedro Gomes Teixeira, auditor das índias Onentaes, a quem a língua
árabe era muito familiar, para irem pagar a visita ao mosteiro do Bassan. Tei-
xeira trouxe do mosteiro um manuscripto om pergaminho, de que os monges
lhe fizeram presente para o rei de Portugal.
«A 24 d'abril o Baharnagash veiu a Arkécko. Este começou dizendo ao
portuguez que, por certas prophecias, havia muito tempo, que eram esperados
no paiz; e que clle c os outros empregados abyssinios estavam promptos a
prestrar-lhes todos os serviços, que estivessem nas suas mãos. Depois que o
general portuguez lhes agradeceu, os padres e monges terminaram sua con-
versação por alguns actos religiosos, e deram i)rescntcs uns aos outros.
«N'esta entrevista todas as suspeitas, que tinha havido a respeito de Ma-
theus, cessaram, e foi reconhecido como um verdadeiro embaixador. Todos os
portuguezes se agruparam entào cm volta de Sequeira desejando cada um ser
escolhido para acompanhar o Arménio á curte. Nomeou então para embaixa-
dor a D. Rodrigo de Lima, cm logar do fallecido Cialvào, c escolheu para o
acompanharem a Jorire d'Abreu, L(»ih'z da (íama. Joàu Scol.ire era o secre-
tario; João Gunealvez sru IVilor c inler|iiele: Manuel de Mara. seu url;ani^ta,e
BR i93
mestre João, seu medico. Havia aioda na sua comitiva mais três portuguezes.
Os capellies eram João Fernandes, Pedro AfTonso Mendes, e Francisco Alva-
res. ÍSL também Matbeus, e levava comsígo Ires portuguezes, Magalhães, Alva-
renga e Diogo Fernandes. O rei, que andava em guerra com os turcos, tinha
marchado para o oriente, até ás fronteiras de Fatogar, e alli se tinha deixado
íkar, achando-se exactamente ao meio dia de seus estados. O embaixador por-
tagaez tinha desembarcado ao Norte da Abyssinia, de maneira que para ir ter
eom o monarcba foi preciso atravessar quasi todo o império, caminhando por
florestas, sobre serras inteiramente difTerentes das da Europa, cheias de feras,
e de homens ainda mais selvagens, que as próprias feras, e separadas por gran-
des rios, que as chuvas do trópico fazem muitas vezes transbordar. Além d'isto
eneontram-se muitas vezes por este caminho desertos, que realmente não são
muito extensos, mas onde nem homens, nem animaes podem encontrar ali-
mento, ou soccorro algum. Comtudo este pequeno bando de portugueses, foi
tão bravo que não hesitou um só momento. Nada do que podia contribuir pa-
ra a gloria de seu príncipe, honra de seu paiz lhes pareceu difflcil. ^
•Depois de muitos trabalhos encontraram os portuguezes uns monges do
convento de S. Miguel, que lhes deram uma vacca. Aqui Matbeus separou sua
bagagem da dos outros viajantes, e a pôz debaixo da guarda dos monges.
Trazia sem duvida dinheiro de Portugal; e desconfiando da recepção do rei,
teve a prudência de pôr o, que lhe pertencia, ao abrigo do perigo: mas foi-lhe
inútil esta precaução, porque oito dias depois uma febre fez morrer este armé-
nio. Pouco depois o criado de D. Rodrigo foi victima da mesma doença.
•Comtudo a morte de Matheus não deixava meios aos portuguezes de se
explicarem com o rei a respeito d'uma promessa^ que elle, ou a imperatriz mãe
tinham feito de lhes ceder um terço do reino como paga dos soccorroa, que
dessem aos abyssinios. Temiam além d'isso a epidemia, à qual Matbeus aca-
bava de succumbir.
«Vou deixar agora D. Rodrígo continuar sua viagem, cuja relação escri-
pt» por seu capellão Alvares não achou grande credito nos historiadores do
seu paiz. É verdade que ha, principalmente no tocante á religião, um grande
numero de coisas mui dííliceis de se acreditarem, e que, segundo creio, são
obra dos jesuítas: Alguns annos depois de Alvares deixar a Abyssinia, Telles,
contemporâneo de Alvares, o accusou de falsidades, e Damião de Góes, um dos
primeiros historiadores portuguezes diz que viu debaixo do nome de Alvares
um diário muito diíTerente d'aquelle, que se publicou. Emquanto a mim con-
fesso que o, q e se contou da primeira audiência concedida pelo rei, me pa-
rece ser, bem como outras muitas coisas mencionadas depois, obra de pessoas,
qae nunca estiveram na Abyssinia. Se minha opinião é justa, Francisco Alva-
res não deve ser accusado das interpolações mentirosas, das quaes não foi
anctor. Não posso conceber como os catholicos poderam ser tão bem e tão ge-
* James Bruce — Voyage aux sourees du NU, vol. 4.** pa^?. 22i. £ muito curiosa a
def^ripção da viagem, e gloriosa para os portuguezes, mas nâo se traduz, as.^im como se
teoi jà feito a outras pad^agens iuleressanlcs por e:»lc artigo ir já excessivamente lon;o.
TOMO 1 1-1
!94 BR
ncrosamcnte recebidos, como nos diz Alvares. O sangae, que se derramoa
pouco depois, nos prova que, se os abyssíDios sentiram com effeito alguma
inclinação em si para a egreja Romana, esta inclinação foi passageira. Em-
quanto ao resto da relação entrego-a ao juiso do publico, como uma obra bem
pouco digna de fé.
«lia na relação de Alvares duas coisas, que me surprebenderam muito. A
primeira é o perigo contínuo, que correram os viajantes de serem devorados
pelos tigres, que se approxiroavam até ao alcance d'uma lança; ^ e a segonda
é o campo de favas, por meio do qual passaram. Confesso que nunca vi fa-
vas na Abyssinia.
«D. Rodrigo de Lima tinha desembarcado na Abyssinia a 16 d'abril de
1520, e nâo chegou à vista do acampamento do rei, senão a 16 d*outubro do
mesmo anno. E depois d'uma viagem tão penosa, que acabava de fazer, esperava
ter sem dií&culdade uma audiência d'este príncipe, mas enganava-se. Em vet
de o mandar vir á sua presença, o rei mandou-lhe ordem pelo commandan-
te dos burros para assentar sua tenda a três milhas mais longe do acampa-
mento.
«O embaixador portuguez nem por isso foi muito bem acolhido por David,
o parece mesmo que as intenções d'este príncipe eram não o deixar regressar
ao reino, o que era costume na Abyssinia, mas, depois de o ter demorado cnico
annos, como resolveu enviar uma embaixada a Portugal, era necessário dei-
xar partir D. Rodrigo, todavia reteve á força o secretario da embaixada, o mes-
tre João, e o pintor Lazaro d*Andreas, e D. Rodrigo foi obrigado a retirar-se
sem elles.
«Zaga-Zaab, monge abyssinio, que tinha aprendido a língua portugueza
durante a residência de D. Rodrigo na corte d' Abyssinia, foi escolhido para
embaixador. Os portuguezes, e clle partiram bem Tornecidos de tudo, que lhes
era necessário para a viagem, e chegaram felizmente a Massuah, onde eocoii-
traram uma esquadra commandada pelo governador do índia Heitor da Sil-
veira, que estava esperando D. Rodrigo. Mas ou o imperador d'Abyssinia ti-
vesse mudado de parecer, ou não, a 27 d'abril de 1526 quatro mensageiros
chrgaram da corte, trazendo ordem para D. Rodrigo voltar para traz, e levar
Heitor comsigo. Os portuguezes recusaram obedecer, e contentaram-se com
que Zaga-Zaab fizesse o que quízesse. O abyssinio declarou que se fosse apa-
nhado, talvez fosse lançado n'uraa cova de leões, e por isso apressou-se a em-
barcar na esquadra, que saiu de Massuah no dia seguinte.
«As viagens frequentes dos portuguezes causaram sérios sustos aos turcos;
mas nem o rei d' Abyssinia, nem os portuguezes tinham tirado alguma vanta-
gem doestas viagens. E ha muitas apparencias de que as diversas esquadras,
í]ue se diri^^íam a Massuah, não tinham outro fim senão procurar o embaixa-
dor D. Rodrigo. Os seis annos perdidos em questões e em puerilidades entro
o rei d* Abyssinia e o embaixador de Portugal tinham tido ar do formar liga-
ções serias entre as duas nações; c o que inquietava ainda mais os mouros,
* Jiiiiie.» Brucc— roi/ar/r auj snnrrca ihi Ml, vol. í.". pap. 2IJI.
KR 193
era qae oaida transpirava. > Mas, porque nào titiha nada transpirado? Porque
não 86 tínbam fixado em nenhum piano determinado, porque uào se tinham
feito mais que propostas vãs e ociosas, que não havia nem poder, nem von-
tade d*execatar. Tal era por exemplo o projecto de reunir dois exércitos para
conquistar a Arábia até Jerusalém.
•Dq[)Ois da chegada de Covilhã á Abyssinia as coisas estavam bem mu-
dadas. Os portuguezes tinham primeiramente desejado a amisade dos abyssi-
nios para poderem por meio d'e5tes communicar com a índia. Porém depois
podiam prescindir d'am tal soccorro, pois que tinham achado á útil passagem
do Cabo da Boa Esperança. Por outro lado David, livre de receio dos mouros
d*Adel,a quem elle vencera, vendo que o poder formidável dos turcos, depois
de terem conquistado o Egypto, era constantemente repellido na índia pelos
portQgoezes, e descontente finalmente do procedimento pouco aíTavel do em-
baixador D. Rodrigo, e das promessas exorbitantes, que a imperatriz Helena
tinha feito, sem elle saber, por meio do arménio Matbcus, não desejou aper-
tar mais com os portuguezes laços, dos quaes não previa a utilidade.
«A c<mquista da índia era o principal objecto da ambição de Selim; mas
eneontroQ tantos obstáculos, que renunciou a isso, e tendo já submettido a
Arábia, que se estende sobre um lado do mar Vermelho, resolveu levar seu
domínio para a margem opposta. Três rasões o determinavam a este projecto:
a primeira, que a cidade sancta de Meca estaria então em muito maior segu-
rança, caso que uma esquadra portugueza viesse unir suas forças a um exer-
cito abyssinio; segunda que as galeras turcas não haviam de navegar tran-
quilamente na extremidade do golpho arábico, emquanto os abyssinios fos-
sem senhores de conceder aos portuguezes uma ilha, ou um porto de mar,
para alli se estabelecerem e fortifical-o. A terceira, finalmente, porque sendo
o imperador da Abyssinia, segundo se dizia, um príncipe, do qual o propheta
tinha honrado um predecessor com uma correspondência, julgava Selim de
seo dever convertel-o e a seu reino ao islamismo por meio da espada.
•Os turcos eram babeis no manejo da espingarda, e munidos d' uma pode-
rosa artilheria, e ajudados por numerosas esquadras, que apesar de continua-
mente vencidas na índia pelos portuguezes, contra os quaes eram destinadas,
nao tínbam comtudo cessado jamais de cruzarem no mar Vermelho, e de re-
forçarem os portos turcos com guarnições novas.
cA imperatriz Helena morreu em 1525, um anno antes que D. Rodrigo dei-
xasse a Abyssinia. Pouco depois da morte d'esta rainha David se preparou a
começar de novo a guerra contra os mouros. ^ Depois do rei da Abyssinia ter
ganho uma batalha, avançeu para perseguir os mouros, e deu um combate
em Sbimbra-Coré, em que os abyssinios ficaram completamente derrotados, e
.os mouros continuando a guerra iam assolando quanto encontravam, e redu-
alam ao captiveiro os habitantes poupados pela espada. No primeiro de maio
de i528 deuse ainda outra batalha, e o monarcha abyssinio foi outra vez
' James Bruce— Voi/agc aux sources du A'i7, vol. 4 *> pag. i40.
s Idem, idem, pag. ?i5.
i% BR
vencido, e nos aonos seguintes os mouros iam sempre invadindo os territorioSp
assolando tudo, o queimando as egrejas. A 6 de fevereiro de I53i foi onín vei
David derrotado em Dalukus, nas margens do Nilo, e os mooros, julgando ea-
tào não sor necessário estarem unidos, se dividiram em dois corpos; um m»
parando-se para ir queimar Axum, e o outro flcando em Amhara, e continiiaii-
do de victoria em victoria obrigaram o reii para salvar a vida, a refogiar-se
nas montanhas.
«Havia doze annos que D. Rodrigo de Lima tinha partido de Massoah para
regressar a Portugal, levando comsigo a Zaga-Zaab, embaixador do rei da
Abyssinia. Este embaixador chegou felizmente a Lisboa, e foi recebido com
muita magniGcencia pelo rei João. Mas, como na sua saida Zaga, tinha dttxado
a Abyssinia prospera, e como provavelmente a vida, que passava em Porta-
gai, era mais agradável para elle, que a de seu paiz, não se appn^soa a pôr
(Im á sua embaixada. Além d'ísso os estabelecimentos portugueses na índia
tinham chegado a tal ponto de grandesa, e de prosperidade, que não lhes dd*
xavam tempo para cuidar d'um alliado tal como o rei da Abyssinia. E no de*
curso de doze annos as cousas estavam tão mudadas, que não tinha ficado ao
rol da Abyssinia mais que o titulo de rei, e uma vida tão aventurosa, e âo
perigosa, que um só dia não podia contar com o dia seguinte.
«David tinha retido na Abyssinia dois portuguezes, que D. Rodrigo troa*
xera das índias, um chamado mestre João, e o outro Lazaro d'Andrade. O
abuna Marcos^ velho, e enfermo, já não tendo relações com o Cairo desde a
conquista dos turcos, tinha-se tornado muito indifTerente para com a egr^t
grega. Algum tempo antes de sua morte designou a pedido do rei para sen
successor ao portuguez João; e por conseguinte sagrou*o abuna, depois de
lhe ter dado as ordens inferiores todas d'uma vez; porque João não era mais
que um secular estudante de medicina, muito simples e muito snpersticiosOb
Chamar- Ihe-hemos d'aqui por diante Joào Berumdes. i
«Este João consentiu promplainente em acceitar a prelatura, ^ com a con*
dição todavia que o papa a approvaria; e partiu para Roma, não pelo caminho
ordinário da índia, mas atravessando a Arábia e o Egypto. O novo bispo che-
gou sem accidente à Itália; e Paulo 111, então, papa lhe confirmou não somente
o patriarchado d' Abyssinia, mas deu-Ihe tambcm o de Alexandria. A estes
empregos Bermudes ajuntou ainda um outro. Foi nomeado embaixador de
David na corte de Portugal; e certamente era digno de desempenhar este car-
go, quaesquer que fossem seus talentos militares. Tinha residido doze annos
na Abyssinia, conhecia perfeitamente o paiz, e fora testemunha d^umaalluvião
de desastres, que pozeram esto império na ruina. As desgraças de David esta-
vam então no seu cumulo, e este priíicipe morreu cm 1540.
«Pela morte de David subiu Cláudio ao throno. Todos os chefes mabome-.
tanos se apressaram a formar uma liga contra clle, mas Cláudio caia sobra
aquelles de siibito, o compl»^tampnlo ns ílorroton. Depois seguindo de victoria
> Este famoo Juilo Bfrmiide» jaz na e^ioja ()t< S. Sebastião da Pedreira, em Li»l>oa.
^ James Bni< e — Vmfn'ie 'lux sonnes hi \H. pa;;. Íj8.
BR 197
em victoria poz seu estado em posiçíio bem difTorentc d'aqaella, em que o ti-
nha deixado seu pae.
«Em quanto as cousas se mudavam tão favoravelmente na Abyssinía, o
embaixador João Bermudes dirigiu -se de Roma a Lisboa, onde o rei de Por-
tuga] o reconheceu por patriarcha d'AIexandria e d'Abyssinia. A primeira
consây que fez, foi dar um exemplo de disciplina abyssinia pondo em ferros
Zaga Zaab por ter perdido tanto tempo em cumprir o objecto de sua missão.
Mas o rei de Portugal obteve poucos dias depois que Zaga Zaab fosse solto.
Bermudes occupou-se então com zelo do motivo de sua viagem. Fez um qua-
dro tão sombrio dos desastres da Abyssinia, tanto intrigou junto do rei e doa
grandes, que obteve uma ordem do monarcba para que D. Garcia de Noronha»
que ia exercer o cargo de vice rei das índias, enviasse quatro centos soldados
portnguezes a Massuah para soccorrerem a Abyssinia.
«João Bermudes querendo ainda melhor certifícar-se doeste soccorro, re-
solveu embarcar na frota, que levava D. Garcia de Noronha; mas foi repenti-
namente accommettido d'uma doença, a qual elle attribuiu a veneno, que lhe
dera Zaga Zaab, e adiou sua partida. Achando-se restabelecido no fim d*um
anno chegou felizmente á índia. Mas D. Garcia de Noronha tinha jà morrido,
e sea successor D. Estevão da Gama não seguiu o projecto de soccorrer a
Abyssinia com tanto ardor, como Bermudes o teria desejado.
«Com tudo, depois d'algumas delongas, D. Estevão da Gama emprehendeu
passar o estreito de Babelmandeb, e ir queimar as galés turcas, que estavam
em Soez. Mas o general portuguez não conseguiu seu (im, pois tendo sido des-
coberto seu projecto, as galés estavam todas varadas em terra. De Suez diri-
gía-se para Massuah, onde a esquadra tinha necessidade de fazer aguada. Por
coDsegainte mandou suas barcaças a Arkééko, onde a agua é muito boa. Mas
08 turcos e os moiros de Zeyla e d'Adel, então senhores de Arkééko se apo-
deraram d'uns mil fardos d'algodão, que tinham sido mandados em troca da
agua e mantimentos, e mandaram dizer ao general portuguez : Que o rei de
Adel, seu senhor, era d*aqui por diante senhor de toda a Ethiopia, e não que-
ria que se continuasse a regosijar com seus vassallos; com tudo, se o com-
maadante da esquadra quízesse fazer paz com elle, restituir-lhe-ia seus mil
fiurdos d'algodão, fomecer-lhe-ia mantimentos com abundância, e lhe daria as
satisfações necessárias por causa d'uns sessenta portnguezes, que tinham sido
mortos junto de Zeyla.
•D. Estevão viu facilmente o laço, que lhe armavam os mouros, e queren-
do pagar lhes na mesma moeda, lhes mandou dizer: Que estava disposto a
tratar com o offlcial mouro, que não pedia a restituição dos mil fardos d'algo-
daoy em quanto aos portuguezes mortos, que mereciam a morte como traido-
res a desertores; que remettia ainda mil fardos d'algodão para que lhe désso
agua e mantimentos, principalmente gado vivo; que finalmente, como era tem-
po de festa, queria celebrar paz com os habitantes, e que elle mesmo traria
soas mercadorias a terra, apenas o dia de paschoa tivesse passado.
«Tendo sido acceites estas convenções com má fé reciproca, D. Estevão
tendo obtido os fornecimentos, do que tinha precisão, prohibíu expressamente
198 BR
aos portuguezcs irem a terra. Depois escolheu seiscentos homens, dos qaacs
dea o commando a Martim Corrêa, que ejnbarcou em barcos ligeiros, desem-
barcou às escondidas junto de Arkééko, apoderouse da povoação, e passou
todos os habitantes ao íio de espada. Nur, que commandava na provinda pelo
rei d'Adel fugiu, mas foi morto com um tiro de espingarda por Martim Cinírea,
que lhe cortou a cabeça, e a mandou de presente á rainha Sabei Wengel, que
a recebeu com grandes signaes de alegria.
•Com tudo D. Estevão da Gama escolheu os pertuguezes, que destinava
para ajudar Cláudio. O desgraçado resultado d*esta campanha, em que os por-
tuguezcs ficaram completamente derrotados, e seu general D. Chrístovão da
Gama morto, pode ver-se em Diogo de Couto.
«Cláudio mostrou o maior pesar pela morte de D. Christovão; ^ prantean-
doo por três dias; depois mandou três mil onças para serem repartidas pelos
pertuguezes, que para o logar de D. Christovão tinham nomeado por general
AÍTonso Caldeira. Estes bravos soldados appressaram-se então em ir ter com
(Cláudio, e lhe pediram fervorosamente que os levasse ao combate, a fim de
poderem vingar a morte de D. Christovão. Pouco depois morreu Affonso Cal-
deira, e foi para seu logar Árias Dias, que veiu a ser um dos favoritos do
rei. Os portuguczes eíTectívamente foram levados ao combate, os inimigos fo-
ram derrotados, e seu general morto pelo portuguez Pedro Leão.
«Cláudio, depois de ter destruído completamente os inimigos do sea paiz,
applicou-se aos negócios da religião. Tinha mandado pedir ao Cairo um aba-
na para succcssor do abuna Marcos, e já este successor vinha no caminlio,
quando Bermudas, não podendo supportnr esto golpe, declarou publicamente
ao rei, que tendo sido embaixador do David em lioma, o tendo feito homena-
gem do reino o do rei ao soberano poniilicc, esperava que Cláudio cumpriria
.as obrigações de seu pae abraçando a religião romana. Poróm o rei recusou.
Até cntào os abyssiaios tiuham assistido com respeito á missa dos portugue-
zcs, e estos iam ás egrejas dos abyssinios, e casavam com mulheres abyssinias,
o parece que as crcanças eram baptisadas indifTerentemente nas egrejas dos
dois povos. Cláudio dizia que não tinha feito promessa alguma, e que Berma-
des não era verdadeiro abuna, e que não o considerava senão como abuna
dos Francos, Bermudes porém declarou- lho que eslava maldito e excommun-
gado, e que ia reunir todos os pertuguezes, e rctirar-se para a índia. Ao que
o rei deu em resposta que desejava até que Bermudes se retirasse; mas que
em quanto aos poituguezes não podiam sair do reino sem licença sua. As dis-
putas theologicas, o por llm as injurias c desordens continuavam sempre, e
ciiegaram as cousas a ponto, que n'uma noite os portuguczes assaltaram a ten-
da do rei, c mataram alguns de seus creados. Bermudes foi mandado então
para o paiz dos gafats, onde residiu sete mezes, c, quando voltou á corte, achou
já Árias Dias morto, c os pertuguezes muito aíTeiçoados ao monarcha. Bermu-
des quiz então intrigar, mas Cláudio desterrou-o para as montanhas pelo resto
(lo sua vida.
í James B ruce— Tí/j/í/ f/c aux scurccs dv Ml, vol. 4 ", pag. 288.
BR 199
«o' novo general doa porluguczos era Gaspar de Sousa, * homem egiial-
mente amado do sua nação c do rei da Abyssinia. Suas sollícítaçòes c as de
Kasmatí Robel foram a causa de se efTectuar o desterro de Bermudes, mas ac-
eonselbaram-Ihe secretamente que embarcasse para a índia, em quanto ainda
era tempo. Por conseguinte dírigiu-se a Dobarwa, onde parece que se dcmo-
roa dois annos tranquillo e esquecido da corte, dizendo todos os dias missa a
dez portuguezes, ^ que se tinham estabelecido n'esta cidade, depois da derrota
de D. Christovào. Depois foi a Massuáh, e approveitando se d'uma monção fa-
vorável embarcou n'um navio portuguez, levando comsigo seus dez compa-
triotas, que persuadira a deixarem Dobarwa, e que chegaram felizmente a
Goa. Ignacio, fundador da ordem dos Jesuítas, estava então em Roma, e aca-
bava de lançar os alicerces do poder, a que se elevaram seus discípulos. A
conversão da Abyssinia pareceu importante ao Santo, e nomeou um jesuíta pa-
triarcha da Abyssinia sem se importar de Bermudes. O novo patriarcba cha-
mava-se Nunes Barreto. Ignacio entregou-lbe para Cláudio uma carta, e com
ella, e accompanhado de grande numero de padres, Barreto se dirigiu para
Goa. Porém, sendo informado ao alli chegar da aversão de Cláudio á egreja
catholíca, julgou que, em logar de comprometter a dignidade d*um patriarcha,
valia mais enviar André Oviedo, bispo d'Ueliopolis, Melchior Caneyro, bispo
de Nicea, e alguns outros padres como embaixadores do vice rei das índias
junto de Cláudio, e fomecel-os das necessárias cartas de crença. Estes envia-
dos chegaram a Massuah em i^8. Quando Cláudio foi informado da sua che-
gada, ficou contente por julgar ser um reforço, mas vendo que eram padres
mudou de sentimento e disse : Que muito se admirava de que o rei de Portu-
gal se envolvesse em seus negócios; que elle e seus predecessores não tinham
prestado homenagem senão á cadeira de S. Marcos, e reconhecido outro patriar-
cba senão o de Alexandria. Todavia mandou-os admittir á sua presença.
«Nunes Barreto morreu na índia, e Oviedo herdou o titulo de patriarcba
d'Alexandria, como o papa tinha ordenado.
«Pela morte de Cláudio, n'uma batalha contra os mouros em Í5d9, subiu
ao throno seu irmão Menas.
«D. Sebastião, rei de Portugal, informado do mau estado da religião na
Abyssinia, pediu ao papa que encarregasse todos os missionários, que alli es-
tavam já, que fossem pregar o Evangelho ao Japão. Mas Oviedo deu ao papa
uma resposta, em que appresentou tao boas rasoes, que sua missão na Ethio-
pia foi confirmada.
«Na sua elevação ao throno Menas tinha recebido com complacência as fc-
líeitações do patriarcba portuguez Oviedo. Mas, sabendo depois que elle pre-
gava, e que suas pregações semeavam a discórdia e a animosidade entre seus
vassallos, mandon-o vir à sua presença, e lhe impoz um silencio absoluto. ^
Oviedo recusou obedecer; e então o rei perdendo a paciência, deitou-se a elle^
< James Bruce— Fayage aux sources du NU, vol. i <>. pag. 301.
3 Idem, idem, pag. 302.
* Idem, idem, pag. 3iS0.
íoo BR
bntca-lhc indignamente, arrancou-lbc a barba, rasgoa-lhe o fato, tiroa-lhe o
cálix a flm de o impedir de dizer missa. Depois desterroao, bem como a Praa-
cisco Lopes para uma montanha deserta, onde estes dois padres passaram por
toda a sorte de sofTrimentos durante os sete mezes, que alli estiveram.
iMenas fez ainda publicar varias ordens rigorosas contra os portogoezes*
Não qaiz consentir que elles casassem com mulheres abyssinias,e mandou ás
abyssinias, que estavam casadas com elles, que fossem para as egrejas catbo-
licas. Depois d'ísto, tendo mandado chamar o patriarcha do logar do desterro,
prohibíu o de ficar no reino debaixo de pena de morte. Mas Oviedo recnson
obedecer, o o rei pucbando pela espada o mataria, se não fosse contido pelas
supplicas da rainha, e das pessoas, que o cercavam.
«Depois de terem batido muito em Oviedo foi outra vez mandado para a
montanha; e d'esta vez a ordem de seu banimento comprehendia o de todos
õs portuguezes, que se achassem na Âbyssinía, mas o patriarcha em logar de
cumprir esta ordem, juntou-se a seus compatriotas, e todos se passaram para
o Baharnagash, que era inimigo do rei; e acabava de concluir um traetado
com Selim. Os portuguezes, como este mostrava desejos de abraçar a religião
chrístà, lhe asseguravam que receberia promptamente da índia todos os soe-
corros, de que tivesse necessidade.
«N'esta esperança pastou-se o mais vantajosamente, que lhe foi possível,
evitando a batalha, e poz sua esperança nos auxilies portuguezes, cuja chegada
o rei muito receiava, mas tendose passado a estação da chegada de navios da
índia sem que nenhum apparecesse, resolveu dar combate ao rei, mas foi der-
rotado por Mcnas a 20 d'abril de lo62.
«O comportaponto dos catholicos no reinado antecedente tinha-lhe causado
horror. Que se imagine um rei tal como Cláudio sentado no seu throno, no
meio de seus cortezàos, maldito, anathcmatísado e chamado na sua face hereje
c mentiroso por um padre ignorante e grosseiro como Jeão Bermudes, atacado
de noite, e obrigado a fugir para salvar a vida do furor d*um bando de estran-
geiros, aos qua<'s sustentava com seu pâo. Depois considere a Menas pedindo
a Oviedo que não pregasse uma religião nociva â tranquillidade de seu paiz,
e o fanático Oviedo declarando, não querer obedecer ás ordens do rei? Que
teria acontecido na França, na Hcspanha, em Portugal a estrangeiros, que ti-
vessem procedido de forma egual?
• Accrescenlomos ainda que desde o primeiro portuguez até o ultimo todos
combateram no exercito de Baharnagash, que lho queria tirar a coroa.
•Pela morte d(í Menas snccodou no throno Serlza-Denghel, que tomou o
noun*- dl» M«'li'c Srguoii. ^
OvitMio e os outros porlii^Miozos nào lhe appnroctTani na corte. O rei não
impedia conítiulo i\w os padres catholiros l)aplisa^s^MI), pregassem, e desem-
penhassem outras fuiirnus do s(mi minislorio. Faltava íiuiitas vezes com elogio
de sua moral, d«» sua parioiícia e da pureza de seus costuinos; mas condem-
nava altamente seu? priuri()ii)s relij^Mu^rOS.
* James UiUi'*i—Vo\jn(je aux sourccs du Ml, |»;ig. 328.
BR aoi
tO reinado d*este príncipe foi passado quasi todo em guerras, e sempre
muito affeiçoado á cgreja de Alexandria. Morreu em Í5d5.
«Succedeulhe Z^ Denghel.
«A religião romana achava-se sem appoio.^ Todos os padres d*esSa reli-
gião, que tinham ficado na Abyssinia, alli tinham morrido, e a entrada no reino
ficara fechada aos outros por causa da violenta animosidade dos turcos^edas
eroeldades, que exerciam sobre os missionários, que caiam nas soas mãos
Comtudo Melchior Silvano, indio, vigário da egreja de Santa Anna em Goafoi
julgado próprio para ir levar alguns soccorros ao pequeno numero de catho-
licos, que a Abyssinia contava ainda. Dirigiu se a Massuah em i597, e penetrou
na Abyssinia, sem que se suspeitasse quem elle era.
«Em 1600 Pedro Paes, o mais estimável de quantos missionários apparece-
ram na Abyssinia, e aquelle, que melhores resultados colheu, chegou a Mas-
suah. Tinha estado preso por muito tempo, e soíTrido muito, antes de poder
chegar a esta ilha, mas finalmente poude conseguir tomar a direcção d'um
pequeno rebanho catholico.
«Paes nào se appressou a appresentar-se na corte, como tinham feito seus
antecessores, mas conservando*se fechado no convento de Tremona, na pro-
víncia de Tigre, começou a aprender sem descanço a língua geez, e adquiria
um conhecimento d'ella tal, que a sabia muito melhor, que os naturaes do paiz.
Applicou-se á instrucçâo da mocidade, e recebia na sua escola tanto os rapa-
zes abyssinios, como portuguezes. Os grandes progressos dos discípulos leva-
ram bem depressa longe a reputação do mestre. João Gabriel, um dos offlciaes
portuguezes mais dístinctos foi o primeiro, que fallou d'elle ao rei, o qual dea
ordem para que Paes fosse à sua presença.
«Em abril de 1601 Paes accompanhado de dois de seus jovens discípulos
80 apresentou ao monarcha, que tinha entào sua corte em Dancan, ^ e que o
recebeu com as mesmas honras, que se concedem às pessoas de primeira ca-
Ihegoría. Uma tal distincçâo nào deixou de desagradar aos monges abyssinios,
que previram brevemente que o abatimento d'elle8 se seguiria à elevação de
Paes no que se não enganaram. N'uma disputa, a que se procedeu na pre-
sença do rei no dia seguinte ao da chegada de Paes, este portuguez quiz que
seus dois jovens discípulos sustentassem sua causa contra todos os theologos
abyssinios. Uma victoria a mais fácil e a mais completa ficou do lado dos es-
tudantes.
«Então disse-se a missa conforme o rito da egreja romana, e Paes recitou
em seguida um sermão, que apesar de ser o primeiro pregado na Abyssinia,
excedeu tanto em elegância e pureza do dicção tudo, quanto se conhecia na
lingua sábia, no Geez, que os ouvintes o consideraram como um primeiro mi-
lagre do pregador.
«O rei ficou tão encantado da belleza d'este sermão, que desde este ins-
tante não somente tomou a resolução de abraçar a religião catholíca; mas até
* James Bruce— Koyaj/e aux sources du NU, vol. 5.', pag. 12.
' Idem, idem, pag. II.
SOS BR
deu parte d'i8So a Paes, obrígando-o todavia a jurar que havia de guardar se-
gredo por um certo tempo.
•Todavia este juramento exigido foi imprudentemente violado pelo próprio
rei, que prohibiu d'ahi por diante festejar o sabbado dos judeus. Escreveu ao
mesmo tempo a Phllippe III rei de Hespanha e de Portugal pedindo-lhe jesuí-
tas para a pregação da fé.
«Estas medidas promptas de mais foram bem depressa divulgadas, e cada
descontente, que trazia em seu coração os principies de revolta, não deixou de
asseverar que seu descontentamento provinha de seu zelo em prol da verda*
deira religião.
«A maior parte dos cortezãos seguiram o exemplo do rei. Alguns trabalha-
vam como cortezãos para merecerem o favor do príncipe^ e propunham-se a
seguir a religião catholíca, só em quanto fosse moda, e em quanto os não ex-
pozesse a perigo. Outros conformavam-se com o sentimento do rei peia verda-
deira affeição, que a este tinham.
«Entre as pessoas da corte mais aíTectas ao rei distinguiu-se Laeca liariam,
o companheiro inseparável de sua boa e má fortuna. Foi este homem um dos
que abraçaram a religião catholica no mesmo dia, que o príncipe. Mas esta
conversão tomou-se bem depressa o pretexto, de que se serviram seus inimi-
gos para assassinarem a ambos.
«Za-Selassé irritado começou a formar conventiculos com os monges, aos
quaes fez crer que o procedimento do rei annunciava diariamente, que a egreja
de Alexandria ia ser totalmente reprovada, e que nenhuma outra religião se-
ria tolerada na Abyssinia, senão o romana.
«A província de Gojam sempre opposta ao, que apresentava a menor ap-
parencia d'inclinaçâo para a egreja Romana, declarou-se contra o rei. ^ Za Se-
lasse teve uma conferencia com o abuna Petros, e lhe propoz de absolver os
soldados, e todos os vassallos do rei de seu juramento de fidelidade. E o abuna
depois d'alguma hesitação desligou todos os abyssinios da fldelidade, que ti-
nham jurado a Za Denghel, declarando o rei maldíeto e excommungado, bem
como todos aquelles, que defendessem e favorecessem sua causa. Za Selasse
poz-se á frente do exercito dos rebeldes reunidos cm Gojam, e o rei estava
prompto a partir de Dancaz para marchar ao encontro do traidor.
«Za Denghel avançou repentinamente para a planície de Bartcho. Emquanto
ia no caminho foi desamparado pelo ras Athanasius, e depois por uma grande
parte de suas tropas. Esta deserção mostrou-lhe os primeiros eíTeitos da ex-
conmiunhão lançada pelo abuna; e as coisas chegaram a ponto que João Ga*
briel, official portuguez de primeira distincção, aconselhou ao rei o evitar uma
batalha, e retirar-se, em quanto ainda era tempo, para algum logar fortiOcado,
com o âm de passar alli o resto do anno, e esperar que o erro de seus vassallos
se dissipasse. Mas este príncipe julgando-se deshonrado se desse ares de fugir
na frente d'um rebelde, resolveu combater Za Selasse.
<A 13 d'outubro de 1604, tendo o rei formado seu exercito para a batalha,
* James B ruce— Koyayíf aux sourccs du A't7, ¥ol. (í.**, pag. Í0.
BR Í03
estando á direita o próprio rei com 200 portaguezes, e um grande numero de
abyssinios, mandou chamar Paes para lhe deitar a absolvição» mas este jesuíta
estava então muito longe, na provincia de Tigre.
«Deu-se a batalha, e depois d'uma lucta porfiada as forças do rei achan-
do-se envolvidas pelo exercito inteiro de Za Selasse, e seu numero dimmuindo
a cada instante não poderam resistir por muito tempo. O próprio rei foi morto,
e com elle acabou a batalha.
«O resto d*este anno e o seguinte foram passados em terríveis lactas entre
Jacob o Socinios, aspirando ambos a subirem ao throno. Feriu-se finalmente
uma grande batalha entre os dois, na qual Jacob foi derrotado, e perdeu a vida.
Os jesuítas dizem que a perseguição dos vencidos entrou pela noite dentro,
que um corpo de cavallaria, no qual havia muitos portuguezes^ e que fugia
diante dos vencedores, caiu n'um precipício muito profundo, que a obscuri-
dade não deixava ver. Que o portuguez Manuel Gonçalves sentindo que o seu
cavallo faltava debaixo de si, se agarrou a uma arvore, onde passou a noite
com grande medo, e sem saber onde se achava; mas que o dia lhe augmen-
tou o susto, descobrindo-lhe seus companheiros esmagados, bem como os ca-
vallos, no valle profundo, que estava por baixe d^elle. ^
«Socinios achando-se sem competidor começou a reinar em i605.
«Os portuguezes, que restavam do exercito vindo á Abyssinía debaixo do
commando de Christovão da Gama, tinham-se excessivamente multiplicado, e
haviam sempre acostumado seus filhos ao uso das armas de fogo. Formavam
então um corpo particular commandado por João Gabriel, antigo offlcial, que
se conservou sempre junto do rei, se bem que depois do reinado de Cláudio
a maior parte dos soldados seguia a fortuna, qae mais lhes convinha.
«Menas não estimava muito os portuguezes, para os conservar no seu exer-
cito, com receio das falias sediciosas de seus padres, sempre promptos a dize-
rem mal da religião e do governo do rei. Expulsou-os pois a todos de seu remo;
porém em vez d'obedecerem, reuniram*se ao Baharnagash Isaac, então ligado
com os turcos, e revoltados contra seu amo. Não parece que Sertza Denghel
fizesse mais caso dos portuguezes, que Menas, nem que os empregasse muito
durante seu reinado. Mas, quando o rei menino Jacob subiu ao throno aggre-
garam-se-lhe todos; e, depois do desterro de Jacob, alguns d*elles se^iram o
partido de Za Denghel, e combateram com a maior coragem na batalha do
Bartcho.
«Quando Jacob tomou a tomar posse da coroa, os portuguezes voltaram
para elle, e foram vencidos com este príncipe no combate de Lebart, onde se
tinham reunido todos contra Socinios. Ve-se pois que para qualquer parte, que
se declaravam, eram batidos por causa da cobardia dos abyssinios, com os
quaes se achavam ligados. Comtudo, apesar dos multiplicados revezes dos par-
tidos, que abraçavam, perdendo sempre pouca gente, fosse qual fosse a sorte
do resto do exercito, as tropas do paiz nunca ousavam fazer-lhe frente, e se
retiravam com a mesma segurança, que se tivessem alcançado victoria, pois
* James Brucc— Voyaye aux sources du Nil^ toI. 5.'', pag. 39.
SM BR
08 vencedores tinham interesse em não os atacarem, estando qoasi sempre cer*
tos de que não podiam resistir a soas armas.
«Socinios procedia d'am modo inteiramente contrario ao de Menas. Resol-
veu attrair a si os portagaezes, e pol-os era estado tal qne podesse perfeita*
mente contar com elles. Por isso começou a fazer grandes favores a seus pa*
dres. €bamon o jesuita Paes para a corte, onde, depois das costumadas dispu-
ta sobre a supremacia do papa, e as duas naturezas de Gbrísto, foi celebra-
da uma missa, e pregado um sermão com o mesmo resultado, que no tempo
de Za Dengbei, e com não menor descontentamento do clero. ^
«A província de Dembea estendendo-se em roda do lago Trana, é a mais
fértil, ea melbor cultivada de todafAbyssinia. Sobre a borda meridional d'e8te
lago ergue-se, mas não a grande altura, um rochedo, formando uma espécie
de promontório, e avançando muito para o lago. Não ha talvez no mundo si-
tio mais bello,e pittoresco do que este, regado d'aguas por todos os lados, me-
nos pelo sul. O clima é alli delicioso, e a febre não faz estragos. Paes pediu
este promontório, e o rei lhe concedeu a posse para sempre» Depois ficaram
os abyssinios cheios de pasmo ao contemplarem um convento construído de
pedra e cal, coisa, de que até então não tinham a menor idéa. Mas ficaram ain-
da muito mais maravilhados, quando Paes emprehendeu construir da mesma
um palácio, que o rei lhe tinha pedido. Este palácio está na extremidade mais
meridional da península, n'um sitio chamado Gorgora. Os abyssinios experi-
mentavam uma admiração misturada com terror ao verem uma casa erguer-se
sobre outra casa, pois assim é que chamam a uma casa, que tem mais d'um
andar. Paes desenvolveu n'esta occasião toda sua industria, e a extensão de
seus talentos. Foi ao mesmo tempo architecto, pedreiro, carpinteiro, ferreiro,
e se serviu com muita destreza das variadas ferramentas, das quaes se faz uso
n*estes oífícios.
«Como Socinios se proponha então a atacar os Agows de Damot, que se
tinham revoltado, e reprimir as incursões, que faziam os Gallas na província
de Gojam, viu com a maior satisfação um ediQcio commodo, collocado na parte
de seus estados, em que contava fazer sua principal residência. Seus desejos
mais ardentes eram mandar vir para seu reino um certo numero de portu-
guezes, que juntos aos, que lá estavam já, e aos neophitos, que elle se lison-
jeava de ter, quando abraçasse a religião Catholica, podessem ajudal-o a ex-
tirpar esse espirito de rebellião, que parecia ter-se apoderado geralmente do
coração de seus vassallos, e principalmente do clero, ensinado havia pouco a
servir-se do perigoso privilegio de amaldiçoar e excommungar os reis. Este
príncipe não tinha visto em Paes e seus companheiros, nada senão a submis-
são e um grande amor á monarchia. Seu procedimento e costumes eram ver-
dadeiramente apostólicos.
«Quando Paos construiu o palácio de Gorgora, desenvolveu génio e talento
universaes, que lhe mereceram a admiração de todo o império d'Abyssinia.
* James hruce—Voyage aux sources du NU^ vol 6.', pag. 45.
BR X»
Mas se empregou zelo e actividade n*esta obra» não foi remisso n'iim outra
mais importante a seus olhos, o da conversão d'aquelle paiz. i
«O próprio ras Sela Christos tinhase convertido estando próximo a ir a Go.
jam para ir combater os Gallas, e desejou muito fazer uma abjuração authen-
tica na presença de Paes; mas como este trabalhava então no palácio e mos-
teiro de Gorgora, Sela Christos foi obrigado a contentar*se com um outro Je-
suíta chamado Francisco António de Angelis. Depois, tendo regressado vence-
dor dos Gallas, deu á companhia um terreno e dinheiro para fondar em Gol-
lela um convento, que foi o terceiro, que os jesuítas tiveram na Abyssinia.
«Comtudo, apesar de convertido no fondo do coração, não tinha ainda So-
cinios dado um passo, que podesse chamar a conversão dos outros. Assistia
frequentemente ás disputas theologicas entre os missionários e os monges abys-
sinios, disputas, que versavam quasi todas sobre a questão muito tempo agi-
tada das duas naturezas de Ghristo; mas ainda que a victoria ficasse do lado
dos jesuítas, não conseguiram comtudo convencer seus adversários. O abona
Simão acabou por se queixar mesmo ao rei de que se tivesse disputado sobre
artigos de fé sem o convidarem a ajudar o clero nas suas controvérsias.
«O rei, que não pensava que o saber e eloquência do abona podessem ser
d*am grande peso n'estas disputas, mandou que fossem renovadas na presença
do pontífice. Porém a ignorância do abuna ainda foi mais nociva á sua egreja;
e o rei olhando desde este momento a questão como decidida, declarou publi-
camente pela primeira vez, que havia duas naturezas, uma divina, outra hu-
mana, absolutamente distinctas entre si, mas reunidas n'uma só pessoa, que é
Ghristo.
«N'aquelle tempo o rei recebeu por via das índias cartas de Philippe n, de
Madrid em 1609, e do Papa Paulo V com data de 1611. Mas estas cartas nada
continham senão exhortações empoladas para induzir a Socinios, que perse-
verasse na religião Gatholica, e para o assegurar do soqporro do Espirito Santo,
em vez do soccorro dos portaguezes, que elle pedira. Todavia a conversão de
Socinios estava combinada entre o rei e Paes, e foi decidido que faria primei-
ramente uma abjuração publica, e depois se contaria com o rei e com o papa
para lhe enviarem soldados.
«Era necessário que o monarcha abyssinio escrevesse ao papa para lhe dar
parte de sua submissão á Sé de Roma. Mas pensou-se que cartas sobre um tal
assumpto eram importantes de mais para se enviarem como seus primeiros
despachos para a Europa, sem as mandar acompanhar por pessoas, que po-
dessem em occasião conveniente tomar o caracter d'embaixadory e dar as ex-
plicações e seguranças necessárias. ^
«Gonsiderou-se primeiramete que o caminho de Massuah estava sugeito a
muitos perigos, e que talvez as cartas não chegassem à Europa, por causa do
estado de rebellíão, em que aquella provinda se achava, e então escolheu-
se o mais longo por ser o mais seguro. Havia de se passar por Narea, e pelas
^ James Bruce^Voyages aux sources du NU, vol. S.<>, pag. 110.
' Idéffl, idem, pa^. 113.
206 BR
provinciaB meridionaes para irem a Meliade, nas costas do Oceano ladico, onde
ellas por mar poderiam 8er enviadas para Goa.
•Os missionários tiraram á sorte qoal d'eHes emprehendería esta longa e
perigosa viagem; e a sorte cahio em António Fernandes, homem moito praden-
te, e estimado do rei, e por confls^ão geral o mais próprio para levar ao cabo
uma tal empresa. Depois Fernandes escolheu para seu companheiro, e embai-
xador janto ao papa, e ao rei de Hespanha a Fecur Egrié, um dos primeiros
Abyssinios convertidos á religião Catholica, na qual persistio até á morte.
«No principio de março de 1613 António Fernandes partiu para a provin-
da de Gojam, onde encontrou o ras Sela Christos. Fecur Egrió tinha partido
adiante para poder dispor seus negócios domésticos, levando comsigo dez por-
tuguezes, dos quaes seis só o deviam accompanhar até Narea, e os quatro de-
viam embarcar com elle para a índia. Sela Christos procurou guias entre os
Shats e os Gallas, povos bárbaros, fazendo-os dar reféns, e pagando-lhes muito
bem para ensinarem o caminho aos portuguezes.
«A i6 de abril os viajantes deixarem Umbarma, onde estava acampado
Sela Christos, que também os tinha feito accompanhar do quarenta homens,
armados de escudos e dardos. Dirigiram se para o occidente, e no fim de dois
dias chegaram a Senassé, villa principal dos Gongas. Fernandes vendo que estes
povos estavam dispostes a tratarem mal os portuguezes, foi com um doestes a
Sela Christos, que immediatamente mandou partir três officiaes e um corpo de
tropas para castigar os Gongas, e accompanharam a caravana até fora do seu
território e alcance. Mas os Gongas sabendo o que se passava appressaram-se
em dar ao embaixador uma guarda, que o accompanhou ate Mine junto d'um
vau do Nilo. Um dia depois de atravessarem o Nilo, entraram no reino de Bi-
zamo, habitado pelos Gallas. No dia seguinte entraram num bosque, do qual
tiveram muito trabalho para sair, e era quasi meia noite, quando chegaram à
margem do rio Meleg. Ao outro dia acharam o vau, e passaram-no sem dif-
ficuldade. Atravessaram depois uma serra, o chegaram a Gonea, onde encontra-
ram tropas commandadas pelos principaes officiaes d'este reino, que os rece-
beram com muita hoora.
«Seis dias depois de terem deixado Ganea os Socinios chegaram á corte
de Bonero. Este rei recebeu os com civilidade, mas com um ar de constran-
gimento e de friesa; eos viajantes souberam que provinha isto de ter um monje
persuadido ao rei que o fim d'aquella viajem era conduzirem para Abyssinia
tropas portuguezas por aquelie caminho, as quaes mais cedo ou mais tardo
haviam de destruir Narea. Por tanto os conselheiros de Bonero fizeram com
que elles fossem desviados do caminho direito, e tivessem que passar no reino
de Bali por um caminho mais comprido e mais perigoso, dando-lhes com tudo
cincoenta cruzado em ouro como indemnisaçào, e recommendando-os a um
embaixador do rei de Gingiro, por onde os portuguezes tinham que passar.
«Fecur Egrié e sua comitiva partiram da corte de Narea com este embaixa-
dor, e caminharam directamente para Oriente. Ao quinto dia chegaram a um
posto dos narccnses, no qual o olíicial eslava encarreirado de lhes dar uma guar-
da até ás fronteiras.
BR S07
tTendo marchado quatro dias seguidos nnm paíz inteiramente devastado
pelos Gallas, sempre com receio de serem encontrados por estes povos, tiveram
de se esconder até ár noite nnm i)osqae, para não serem vistos pelo Galas, que
andavam guardando seus rebanhos na planície; e só de noite poderam conti-
noar sen caminho. Chegaram depois à margem d'um rio que os portognezes
chamavam Zebée. A passagem d*este rio, foi medonha para os viajantes. Ti-
nham*se amarrado arvores da praia ao primeiro rochedo; depois d'este roche*
do, a um outro, e assim sem interrupção até á margem.
cEram tâo elásticas estas arvores, que o peso d'uma só pessoa as fazia vergar.
A corrente rápida e escumante do rio formava um abysmo táo profundo, que
perturbava a cabeça d'aquelles, que passavam por cima d'esta ponte oscilante,
presa á ponta das rochas. Com grande susto passaram poisa ponte, e foi então
necessário informar o rei de Gingiro da chegada d'esta caravana, e pedir-lhe
a honra d'uma audiência. Mas só passados oito dias é que foram admittidos á
sua presença. Levavam uma carta do imperador d'Abyssinia para este rei, o
qual depois de a ter lido disse que a única coisa que Socinios n'el]a pedia era
de os proteger, e de lhes dar uma boa guarda, em quanto estivessem em seus
estados, e de os mandar acompanhar mais longe: o que faria com o maior pra-
zer. ♦
cO embaixador e o jesuita deixando o reino de Gingiro, marcharam direc-
tamente para Oriente, e entraram no reino de Cambat, independente do im-
pério d'Abyssinia. Pararam em Sangara, capital do paiz, onde residia um mou-
ro, que era o governador. Passados dois dias tiveram querepellir umaaggres-
sao dos povos Guragués, tribu visinho, os quaes ficaram derrotados.
«Ao sairein do reino de Cambat ^ os viajantes entraram no pequeno terri-
tório d'Alaba, independente do rei d'Abyssinia, cujo governador era mouro,
e se chamava Aliko.
«Este crendo que o fim da viagem do jesuita era fazer vir por este ca-
minho os portuguezes da índia, para trabalharem na destruição da reUgião
mahometana, como o tinham feito outr*ora, entrou n uma tal cólera, que che-
gou a ameaçar o jesuita de o mandar matar, bem como a quantos o accompa-
nhavam; e teria immediatamente posto em execução sua ameaça, a não ser a
segurança, que Baharo lhe deu da autenticidade das cartas do rei, e a não ser
o respeito para com o direito das gentes, que lhe inspirava o titulo de embai-
xador, de que Fecur Egrié estava revestido. Com tudo mandou fechar toda a
caravana n'uma estreita prisão, onde alguns portuguezes morreram. Depois
reuniu um conselho, no qual houve quem desse o voto de se matarem todos;
mas um homem d*um caracter distincto disse que bastava contentarem«se com
o mandarem os estrangeiros para Ameknal, de cuja casa vinham, e esta opi-
nião prevaleceu.
•Recuaram pois para o reino de Cambat, e d'allí para a corte de Socinios,
sem nenhuma vantagem para elles.
•Ainda que Socinios não tinha declarado abertamente a resolução, que hou-
«
* James» Bruce— Vot/ai/es aux sources du NUy vol. 5.*, pag. 141.
908 BR
•
vem formado, de abraçar a religião catholica, com tudo significoa que sua von-
tade era qae d*aqai por diante ninguém negasse que havia duas naturezas em
Christo, e quem se atrevesse a negal-o, ou pol-o em duvida, seria desterrado
por sete annos.
cilas o abuna, orgultioso com a protecção d'Bmana Ghristos, um dos ir-
mãos uterinos do rei, pronunciou uma sentença de excommunhão, que man-
dou affixar n'uma das portas da egreja do palácio, declarando amaldiçoados
quantos sustentassem que havia duas naturezas em Christo.
•O rei tinha marchado contra os agows, mas ao saber a audácia do abona,
marchou promptamente para Gorgora, e mandou-lhe dizer que, se immedia*
tamente não levantava a excommunhào, lhe mandava cortar a cabeça. O abana
receioso obedeceu. Com tudo formaram-se depois varias conjurações umas,
atraz das outras contra o rei, mas foram debejladas, n'uma das quaes os por*
tuguezes prestaram grande auxilio ao rei.
•Foi em 1620, anno, em que Socinios marchou contra um revoltoso cha-
mado Janael, que Paes empregara na construcção da egreja de Gorgora.
Ao voltar para Dancaz o imperador encontrou Paes em Gorgora pela primeira
vez, e alli esteve até 3 d*outubro, em que lhe trouxeram na presença de Paes
a noticia da^victoría de Sela Ghristos sobre os rebeldes de Damot. ^
•Depois da derrota de Jonael o rei tinha resolvido deitar fora a mascarada
professar abertamente a religião catholica, e as prosperidades do Sela Ghris-
tos o confirmaram n'esta opinião. Bfandou ir á sua presença Paes com o fim
de fazer uma profissão publica do cathoiicismo. e depois de lhe ter declarado
suas idéas, disse-lhe que para prova da sinceridade de sua conversão, não fi-
cava senão com sua primeira mulher, e que tinha mandado embora todas as
outras.
Paes, depois de ter recebido a conGssão do imperador, e a abjuração pu*
blica da religião grega, voltou para Gorgora, cantando o cântico de Simeão
Nunc dimittis, como se sua missão estivera acabada. Não se enganou, pois
sendo atacado d'uma febre violenta, morreu em maio de i623, com grandes
signaes de piedade e resignação, e uma firme convicção de ter cumprido seus
deveres durante o curso d*uma vida pura, activa e bem empregada. Tinha es-
tado sete annos captivo entre os mouros d'Arabia, e dezenove annos missioná-
rio na Abyssinia, durante os mais difficeis tempos, e sempre saíra das situações
perigosas com honra sua, e vantagem para a religião. Era extremamente ma-
gro por causa de sua abstinência e trabalhos continues. Gonhecia perfeita-
mente a theologia escbolastica, e todos os livros, que diziam respeito á sua pro-
fissão. Intendia muito bem o latim, o grego e o árabe, e trabalhava continua-
mente com suas mãos, mostrando-se tão bom obreiro como architecto. Ti-
nha-se feito pintor, esculplor, pedreiro, carpinteiro, ferreiro, ferrador e carrei-
ro: estava em estado de erigir conventos, palácios, omal-os, mobilal-os, sem
ter necessidade da ajuda d'uma só pessoa. Assim é quo fez o mosteiro de Gol-
leia, e o ronvenlo o palácio de Gorgora. Porém o seu dole mais distincto ersL
' Jame> Drucc— rov(/'/('ò aux umrres du Mil, vol. ii.", píig. I6G.
BR m
a paciência e o ze!o, que tinha na instruccào da mocidade. N*ama palavra era
elie na Abyssinia o sustentáculo da religião. Na sua chegada havia cem an-
noSy que as sementes do catholícismo tinham sido lançadas no paiz, mas só
mui pouco fructo tinham produzido. Dezenove annos de trabalho d'este mis-
sionário mudaram de tal sorte as cousas, que a religião romana foi abraçada
publicamente pelo monarcha, e seis annos depois da morte de Paes caiu n'este
paiz a religião, apesar de defendida vigorosamente por um príncipe, por um
palríarcha enviado de Roma, e por mais de vinte missionários muito zelosos.
«A abjuração que fez Socinios da religião grega, foi seguida por um vio-
lento manifesto, em que começa por estabelecer a supremacia da egreja de
Roma e da cadeira de S. Pedro. Insiste muito sobre as duas naturezas de
Ghristo, e accusava em geral o clero abyssinio de mau procedimento.
•Mas nem o exemplo do rei, nem seu manifesto, tiveram o effeito que se
desejava. ^ Um rebelde se declarou contra o rei na província de Ambara, e foi
necessário o emprego d'armas paia o anniquilar.
•A alegria da victoria foi augmentada com a da chegada d'um patriarcha.
Era este o jesuita portuguez AfTonso Mendes, sagrado em Lisboa a 25 de maio
de 1624, e homem de muito saber, o qual depois de muitos trabalhos na via-
gem chegou à Abyssinia, e teve a primeira audiência do imperador a ii de fe-
vereiro de 1626, e foi decidido que Socinios prestaria juramento de obediência
á cadeira de Roma.
«Celebrou-se esta ceremonia com toda a pompa. O patriarcha para mos-
trar sua superioridade sobre os abunas, pregou um sermão em hngua portu-
guês, no qual provava a supremacia da cadeira de S. Pedro. O imperador, o
príncipe real Facilidas prestaram o juramento, mas a corte estava cheia de
descontentes. Pronunciou-se uma excommunhão solemne contra as pessoafi,
que traissem seu juramento, e que todos aquelles, que estavam a ponto de re-
ceber ordens sacras, deviam primeiramente abraçar a religião cathollca, de-
baixo de pena de morte no caso de desobediência, que todos os abyssinios em
geral deviam celebrar a paschoa, e guardar a quaresma conforme os ritos da
egreja de Roma, com risco de serem egualmente mortos, se a isso faltassem.
«Ainda que o patriarcha tinha chegado á Abyssinia, não succedia o mesmo
aquelles, que deviam ajudar a missão. O rei deu ordem para se mandarem
cartas de protecção a Francisco Machado e a Bernôrdo Pereira, dois jesuítas,
que estavam na índia, para chegarem com segurança a Bilur, no reino de
Dancali; mas o secretario do monarcha poz por malícia, ou descuido Zeyla, em
vez de Bilur, e n*aquella ilha pertencente ao rei de Adel havia o maior ódio á
religião catholica, e o sheík de Zeyla mandou-os matar. Além d'isto escreven-
se uma carta a Socinios, na qual o tratavam de apóstata e d'outros nomes
odiosos por ter desamparado a religião de seus pães.
«Tecla Georgis, genro de Socinios, governador então na província de Tígré
resolvido a revoltar-se, associou-se aos homens mais distinctos e mais pode-
rosos da província, e particularmente a Guebra Maríam e a João Akayo, a quem
' James HTikCQ—Voyaijex aux soutces du A'i7, vol. 5.*>, p^g. 171.
TOMO I
/
ÍIO BR
declarou nào poder supportar por mais tempo a religião romana, e querer de-
fender a antiga egreja de Alexandria. £ para melhor convencer osabyBsiniot
de sna sinceridade, qaeimon todos os crucifixos, todas as imagens de santos
e todos os paramentos das egrejasi e mandando vir o abbade Jacob» seu capei-
Ião catholico, o matou por sna própria mão.
•Á primeira noticia da traição de seu genro Socinios deu ordem a Keba
Ghristos de marchar contra os rebeldes com as tropas, que tinha comsigo. <
Este cumpriu as ordens, e derrotou completamente as forças de Tecla Geórgia,
e foi apanhado e enforcado. Revoltaram-se depois es agows de Lasta, e der-
rotaram as tropas do imperador, o qual no princípio de fevereiro de i6S9
marchou contra elles, mas íicou mal, e os adversários creando brios marcha-
ram para a capital: foram todavia derrotados pelas forças do rei.
•N'aquelle tempo o príncipe Facilidas começou a attrair as attenções de
todos os abyssinios. Tinha mostrado grande valor na guerra, e julgavam-n'o
inimigo da religião catholica. Comtudo vivia com os jesuítas de maneira, qno
não sabiam se era amigo, ou inimigo d^elles.
•Este príncipe recebeu do papa Urbano VIII uma mensagem muito llson-
geira, á qual não respondeu.
•Outra grande perda para os catholícos foi a morte de Fecur Egrié, um
dos primeiros sustentáculos da religião catholica. Tinha a mesmo abraçado
antes do rei, e de Sela Ghristos, e foi o principal author da versão dos Hvroe
portuguezes em lingua ethiopica, versão em que foi muito ajudado pelo jeeuita
António do Angelis. Entraram logo os catholicos a serem perseguidos pelos
revoltosos, c o rei vendo o descontentamento geral, que havia no seu reíno^
foi permittindo a pouco e pouco algumas das ceremonías da egreja grega. O
imperador partiu então para a guerra de Sasta á frente d'um grande exerdto,
do qual um dos principaes corpos era formado por filhos de portugueses. De-
pois de se ter assenhoreado de duas montanhas, chegou a uma terceira tio
excessivamente alta e d'um accesso tão díílieil, que os assaltantes cheios de
terror perderam logo as esperanças de se fazerem senhores d'ella. Todavia o
príncipe perdeu alli muito menos gente, porque foi ajudado pelos portugue-
zes, que interceptando por baixo toda a commuDicaçao, ílzeram com que a
guarnição d'uma montanha não podessc soccorrer a da outra; fizeram-se se-
nhores d'eila, e um capiláo porluguez tomou a cadeira, que servia de throno
ao rebelde Melcha Chrístos, que teve de fugir s<» com dez cavalleiros.
«Quiz depois o imperador entrar em segunda companha contra os habitan
tes de Lasta, mas então as tropas recusaram obedecer, mandando- lhe dizer
Que ellas não podiam dizer se a religião romana era má, porque a não conb
ciam, nem a desejavam conhecer : que ninguém podia pretender professam?
religião, que se nào podia comprehender, nem acreditar: quefmalmenteef
vam prompias a combater, e a perder a vida pelo imperador, mas comac
dição, que lhes restituiria a sua antiga religião; sem o que não podiam to
parte nas suas guerras, nem deiíí-jareiíi sor victoriosas.
* JaniCí Bruí.c— Voí/«(/cs aux yources du :Vi7, vol. .'».'. piij;. 200
BK m
tO rei mandou então responder qae restabeleceria a religião, se voltasse
▼ietoríoso de Lasta. ^
tTendo com effeito regressado vencedor teve uma conferencia com o pa-
triareha Affonso Mendes, que lhe censurou muito ter abandonado a fé catho-
Kca no mesmo tempo, em que a victoria obtida pelas orações dos padres doesta
religião lhe forneciam uma occasião de melhor a consolidar. O rei respondeu
tom am modo de grande indiíTerença : Que tinha feito todos os esforços pos-
síveis para a defender : Que se tinham já derramado torrentes de sangue, sendo
ainda necessário vir a derramar outro tanto, e que com tudo era incerto se
iiso viria a produzir algum effeito : mas que pensaria^ e no dia seguinte daria
resposta.
cCom eíTeito no dia seguinte Socinios remetteu uma declaração ao patriar-
eha por meio de Za-Mariam: Quando abraçamos a religião romana, sustenta-
mol-a com zelo; mas o povo não lhe mostrou nenhuma aíTeição. Júlio revol-
tou-ae por causa do odiO; que tinha a Selas Ghristos, mas servindo-se do pre-
texto de defender a fé de seus pães, e morreu com um grande numero de seus
partidários. Gabriel imitou-o depois, e teve a mesma sorte. Tecla Gorgoris for-
mou também uma liga a favor da egreja de Alexandria, e arrastou á ruina uma
immensa multidão de bravos guerreiros. Tal foi, não ha mais que um anno> o
motivo da rebellião de Serca Christos; e agora mesmo ò isto o que põe as armas
na mão aos montanhezes de Lasta. A religião romana não tem nada de mau; mas
06 habitantes d*este paiz não a comprehendem. Que aquelles, que são affeiçoa-
dos a esta religião, continuem a seguíl-a, como fizeram os portuguezes em
tempo de Azenaf Segued; porém que comam e bebam com os abyssinios, e ca-
sem com suas filhas. Mas também que aquelles, que não gostam da religião de
Roma, sigam aqnella, que antigamente receberam da egreja da Alexandria.
cO patriarcha perguntou a Za Mariam se esta declaração vinha do mesmo
rei, ao que respondeu que sim. E o patriarcha tendo reflectido por um mo-
mento, encarregou Manuel de Almeida de levar ao rei esta resposta : Que o
patriarcha acabava de ser informado que o exercício das duas religiões seria
tivre no reino, e que os sectários da egreja da Alexandria obteriam quanto se
lhes podesse conceder, sem violar a pureza da fé catholica, que effectivamente
nio havia difficuldade em conceder aos habitantes de Lasta a religião de seus
antepassados, tal como era, pois não tinham abraçado outra. Mas que em
quanto aquelles, que tinham promettido ser fieis á egreja catholica, e que ti-
nham commungado n'esta egreja, não se podia, sem commetter um grande
peecado, permittir-lhes renunciar uma religião, na qual tinham entrado com
o juramento de viver e crer n'ella. ^
•O rei ouviu com attenção esta resposta, a qual bem esperava, e replicou
somente: Que posso eu fazer? Não me é possível governar por mais tempo
meu reino t E immediatamente deu ordem. para se fazer a seguinte proclama-
ção feita a 14 de junho de 1632 : Ouvi ! Ouvi ! Ouvi I Nós o primeiro vos demos
* James Bruce— Voyaflfcs auj- soutres du .Yi7, vol. 'i.", p.ig. 2ii>.
S Idem, idem, pag. Í50.
112 BR
a religião romana, julgando -a boa: mas varias pessoas morreram combatendo
contra esta religião, entre oatras Júlio, Gabriel, Tecla Gorgoris, Serca Cbris--
tos, e ultimamente ainda os selvagens camponezes de Lasta. Nós vos restítai-
mos pois a fé de vossos pães.
«Que os padres digam suas missas em suas próprias egrejas. Que o povo
volte a seus primeiros altares, à sua primeira liturgia, e que seja feliz. Em
quanto a mim, já velho pela edade, e pela guerra, e opprimido de enfermida-
des, já me não sinto com forças para governar; e nomeio meu filho Facilídas
para reinar em meu logar.
•Assim foi destruída n'um só dia a egreja catholica, e a jerarchia de Roma
na Abyssinia. Foi destruída pelos esforços, que o governo civil fez para se de-
fender das usurpações dos padres, e da tyrannia ecclesiastica, que sem duvida
não tinham outro alvo mais que anniquilar a constituição da Abyssinia, e de
submetter este império ao governo portuguoz, como já o tinham experimen-
tado vários reinos da índia.
«O rei morreu a 7 de setembro de 1632, tendo professado a religião ro-
mana até o ultimo momento de sua vida.
«Facilidas escreveu ao patriarcha: Que a religião grega achando-se resta-
belecida, tomava-so indispensável que todos os padres catholícos deixassem a
Abyssinia : que acabava de saber que um abuna pedido do Cairo pelo impe-
rador seu pae, e por elle mesmo, estava a caminho, e só esperava para entrar
no império o ver sair todos os missionários romanos : que lhes ordenava que
deixassem seus conventos, e se reunissem em Frcmona, e esperassem alli suas
ordens.
• Chegaram pois o patriarcha e seus companheiros a Fremona no fim de
abril de 1633, tendo sido maltratados no caminho, e resolveram fazer partir
para a índia e para Hespanha Jeronymo Lobo, o mais fanático d'aquelle gru-
po, com o fim de fazer vir um exercito, que podesse assolar, e submetter a
Abyssinia.
«Mas Facilidas estava informado de tudo. Vendo que o patriarcha só pro-
curava ganhar tempo, e sabendo que elle e seus missionários tinham um gran-
de montão de armas de fogo, deu ordem a um de seus ofiiciaes para ir a Fre-
mona pedir aquelias armas, e todas as munições de guerra, que tinham; < e
os mandou prevenir ao mesmo tempo que estivessem promptos para partir
para Massuah. O patriarcha recusou primeiramente obedecer, e Facilidas, em
logar de o punir se contentou do lhe mandar representar com doçura, a im-
prudência e inutilidade de sua recusa, e as más consequências, que podia ter
para ello. Então o patriarcha entregou as armas. Mas era logar de conduzir
seus missionários para Massuah, tinha intenções bem diíTerenles das do rei da
Abyssinia. Concebeu o projecto de deixar seus padres, e de os fazer dispersar
por todas as províncias do império, se fosí^e obrigado a embarcar para Mas-
suah, bem resolvido a nào o fazer senão em ultima extremidade.
• Com este desiguio Iraclou de se pòr d( l)aixo da protecção do Baharna-
1 Jamc^ Bru(e- Voynqe^ aux ^ovrcrb •'" !\i!. vn| j;.", \>^-' •^«3.
BR 2!3
gash João Akay, qae estava então revoltado contra seu soberano; e elle reu-
niu um grupo de homens armados para irem buscar os missionários perto de
Fremona, e pol-os fora do alcance do governador de Tigre. Este projecto au-
daz teve o melhor resultado. Akay prometteu sua protecção; e o patriarcha e
seus companheiros tendo fugido de noite á vigilância dos guardas, a quem o
rei os tinha confiado, encontraram-se com os soldados do Baharnagash, com-
maodados por Tecla Emanuel, e se refugiaram em Adicota. O Baharnagash
recebeu muito affectuosamente o patriarcha e os missionários.
cPorém algum tempo depois receberam os padres ordem de sair de Adi-
cota, e o Akay continuou a transferil-os d'um logar doentio para outro, até que
lhes estragou a saúde.
«Com tudo Facilidas mandou dizer ao Baharnagash, que lhe perdoaria
tudo quanto se tinha passado, com a condição de lhe entregar o patriarcha e
seus companheiros : mas João Akay recusou. Para não faltar à sua palavra não
qniz entregar os jesuítas ao rei, mas consentiu em os vender aos turcos. Por
isso estes padres foram entregues por uma somma de dinheiro ao bacha de
Massuah, que os acolheu muito bem.
«Dois jesuítas ficaram em Adicota de combinação com Akay, sem que Fa-
cilidas o soubesse. Esperavam occasião de soíTrerem o martyrio, e ella chegou.
Todos qu6^ ficaram na Abyssinia morreram de morte violenta, por ordem do
monarcha, e a maior parte foram enforcados, sendo o ultimo Bernardo No-
gueira.
«Facilidas irritado com a obstinação dos missionários, e principalmente
com o boato, que espalharam, que o vice rei das índias não tardaria em en-
viar um exercito á Abyssinia, concluiu um tratado com os bachas de Massuah
e de Suakem para fecharem seus portos aos portuguezes, não deixando nenhum
d*elles penetrar na Abyssinia.
«Com eíTeito, quantos padres europeus poder am conseguir entrar na Abys-
sinia durante este reinado e o seguinte foram todos mortos.
«Depois da morte do ultimo missionário Bernardo Nogueira nada mais
se soube do que se passava na Abyssinia, senão por meio d*alguns mercado-
res ethiopes, que iam commerciar com os hollandezes da Batavia. Foi alli que
o engenhoso Ludolf, muito occupado com a historia Abyssinia, e não se pou-
pando a algum trabalho para conservar correspondência com aquelle paiz,
soube que Facilidas depois d*um longo e prospero reinado tmha morrido e
deixado a coroa a seu filho Hannés, primeiro.
«Este mandou ajuntar todos os livros, que os jesuítas tinham traduzido em
lingna ethiopica, e fel os queimar. Morreu em 1680, e succedeu-lhe seu filho
Jasous I.»
Realmente este artigo tem sido excessivamente longo, mas a penna recusa-
se a parar, quando vé a cada passo nomes e recordações portuguezas n'aquelle
celebre paiz, conhecido antigamente pelo nome de império do Preste João das
índias. Sendo a obra de Bruce composta de treze volumes, se d'e]Ia extrabisse
só o que no^ diz respoilo, teria traduzido um terço de toda ella.
214 BR
•DuraDte o aDDo de 1835 e 1836 Maurício Tarnísier e Edmando Gombes
viajaram na Abyssinia, e imprimiram a relação no Boletim da Sociedade 6eo*
graphica de Paris nos mezes de jmíbo e julho de 1837. Esta viajem ânrao
quinze mezes, e tiveram a felicidade de percorrer e estadar paizes ainda poueo
conhecidos, e encontrar os vestigios deixados pelos portogaezes» ^
«Ás dez horas atravessei o Tadda, ^ uma das aldeias mais risonhas e pitto-
reseas da província: passo o Moghetch por mna ponte levantada pelos porta-
gaezes, bellissima constmcçào, sem a qual as commonicações estariam inter-
rompidas darante cinco mezes do anno entre Gondar e as províncias do sol.»
190) BRUCKER (MIGUEL RATMOND).
E. — La chapelle des crânes dans Víle de Jfa<ierf .— (Capella dos craiieus
na ilha da Madeira.)
E' uma extensa descripçâo acompanhada d'uma estampa, que pnblieoa a
pag. 19 e seguintes do Musée des Famlles^ do anno de 1834.
191) BRT E MERIANI (De Fbanckfort).
E. — Colleciiones Peregriíiationum in Indiatn Orientalem et tn InOam
Occidentalem.
•De vinte e cinco partes, ' memorias de differentes escriptos en diversas
épocas, e originalmente em idiomas vários, se compõe a Colleccão, que é entre
os amadores conhecida pelo titulo convencional de grandes e pequenas viagens»
deinominação, que lhe nasce de formato menor e maior das duas séries, em
que parece estar dividida.
«A primeira série, em folio ordinário^ comprehende doze partes, em cinco
volumes, e consta toda de escriptos relativos ás índias Oríentaes. A segunda
série (Grandes viagens) em folio maior, abrange treze partes, em três volumes,
respeitantes às Índias Occidentaes, sob o titulo de Historia da America ou do
novo mundo,
«Paciência e trabalho aturado tirariam d'esta grande collecção de viagens
muitas noções da nossa historia; algumas importantes, outras de pequena trans-
cendência, inda que assim mesmo úteis talvez um dia á controvérsia; e todas
perdidas em velhos livros, por cujos titules se não denunciam.
«Oitava entre as partes, que compõem a primeira série da Collecção é o
itinerário do hollandez João Hugo Linlschoten às Índias portuguezas, ou Oríen-
taes: volume único, impresso a duas columnas. que abre com a viagem de
Lisboa para a Índia começada em 8 d'abril 1583.
•Muitas são as edições e traducções, que este livro tem tido. Escripto ori-
ginalmente em hollandez, saio em 1596; depois em latim em 1599; em franeez
em 1610; em allemão em 1614 etc.»
* Urcullu— ^fí)(/rflp/ita, vol. 3.*, pag. 160.
' Guillaume Le']eàn—Voya(je en Abyssinie en 186í a 18G3. No Tour lin Monde át
186ÍJ, pa^. ii6.
^ }ú->t' áv Toneá — Pauuratna, vol. 13.", pag. 39í.
BU m
Pane doesta viagem foi traduzida sobre o latim pelo sr. José de Torres, e
publicada no vel. i3.° e i4.<* do jornal lltterario O Panorama^ iippresso em
Lisboa. Vide Lintschoten.
192) BUCHANAN (CLÁUDIO).
No 4.«» volume do Investigador Portuçuez em Inglaterra encontra-se a Ira-
dacção d'uma curiosa viagem feita por este escriptor inglez a Goa com muitas
notícias da nossa inquisição n^esta cidade.
•A magnífícencía das egrejas de Gôa excedeu toda a idéa, que formava de
prévias descripções. Gôa be propriamente a cidade das egrejas, e parece que
a riqueza das províncias se tem gasto na sua erecção. As amostras de arcbi-
tectura antiga n'este logar excedem tudo o que se tem feito de semilhante na
eutras partes do Oriente, em tempos modernos, tanto em grandeza, como em
gosto. A capella do Palácio é edificada segundo o plano de S..Pedro em Roma,
e diz-se ser um exacto modello d'aquella incomparável architectura. A egreja
de S. Domingos, fundador da inquisição é decorada com pinturas dos mestres
da Itália. S. Francisco Xavier jàz encerrado em um bello monumento de arte,
6 o seu caixão é marchetado de prata e pedras preciosas. A Cathedral de Gôa
é digna de uma das principaes cidades da Europa ! e a egreja e Convento dos
•Agostinbos be um nobre edifício situado sobre uma eminência» e faz de longe
uma vista magnifica. (Pag. 27.)— Sobre Goa Velha. Vide Pyrard.
i93) BULLAR (JOSEPH).
E. — A vDhUer in the Azores^ and a summer at baths of the Fumas,
Londres, 184i, 2 vol. com estampas. — (Um inverno nos Açores, e um verão
nos banhos da Fumas.)
•Obra consagrada principalmente á descrípção pittoresca do paiz^ e dos
usos, contém informações úteis acerca do clima, aguas e doenças do archipe-
lago.» 1
194) BULUALDI (ISM.)
E. — Pro Ecclesiis LuziíarUcis libelli dw) fmense decembri 1649, mense
martio 1651J Parissiis. £x officina Gramosiana, 1653. — (Dois opúsculos a fa-
vor das egrejas de Portugal.)
M^cionado no catalogo manuscripto dos livros portaguezes e relativos a
Portogal existentes na Bibliotheca Imperial de Paris.
195) BURGE (QUTTiT.AUME VANDEN).
E. — Niewe Uistorische en geographische Reisbeschryvinge,
(Novo Itinerário histórico e geograpbico de Hespanha e de Portugal. Con-
tendo uma descrípção exacta doestes reinos e dos paizes e cidades submettidas
a seu dominio tanto na Europa^ como nos outros continentes. Com uma expo-
* Morelet — Us Açortíy pag. i5.
216 RU
siçào clara de suas divisões antigas e modernas, de sua situação. Tudo em f(Nr-
roa de cartas por — . Haia, 1705, 4.»)
196) BURGO (THOMAS DE).
E. — il Cathechism moral and contraversial proper for such as are ai-
ready advanced to some knowledge of the Christian Doctrme to whieh is
annexed by loay of an appendix a practical method of preparing for Sã'
cramental Confession, dedicated to kis Eminence Cardinal Manad, Li^n,
1752, 8.«, 446 pag.
Este catbecismo é destinado para as educandas e freiras irlandeias do oon-
vento dominicano do Bom Snccesso (próximo de Lisboa) fundado em 1639 por
D. Ir^a de Brito, condessa da Atalaia. ^
É de suppôr que Thomaz de Burgo fosse algum padre irlandez, capdlão
doeste convento.
197) BURY (DE).
E. — Lettre au sujet de la découverte de la Conjuration formée amíre
le roy de Portugal, — (Carta a respeito da descoberta da conjuração formada
contra o rei de Portugal.)
«
198) BURKBARDT.
E. — Methodo de Ahn em Portuguez, Leipsig, 1868, 1 vol. 8.<*
Yi esta obra citada em catálogos, e d'ella nada mais posso dizer. •
199) BURNETT.
E. — Views of Cintra. London. — (Vistas de Cintra.)
É apenas uma coUecçâo de estampas, da qual só tenho visto um exem-
plar.
200) BURTON (RIOHARD FRANCIS) — Viajante o orientalisU ce-
lebre.
Nasceu no condado de Norfolk, em 1820. ^
E. — Goa and the blue Mountains, S."* — (Goa e as montanhas azues.)
201) BUSSIÈRE (VICENTE TH. DE).
E. — Histoire du Schisme Portugais dam le$ Indes, par—. Paris, 1854.
— (Historia do scísma portuguez na índia.)
202) BUSCA (GABRIELLO).
E. — Delia espugnaiione et difesa delle Portuguezze. Turino, 1598. — At-
taque e defeza dos portuguezes.)
* Fr. Lucas de Santa Catbarina — Qnarta parle da Historia de S. IhniingoSf eap.
IS." e seguintes.
* Vapêreaa — Didionairt des Contempurains, pag. .108.
BY «7
203) BTRON (Lobd)« ~ Um dos imais famosos poetas inglezes dos tem-
pos modernos.
Nasceu em Londres no anno de i788, e falleceu em Missolonghi (na Gré-
cia) a 19 de abril do anno de 1824. ^
Por algum tempo a leitura favorita do grande poeta britânico foi a tra-
dueção das poesias do nosso Camões, vertidas em inglez por lord Strangford.
Lord Byron escreveu a seguinte poesia, na qual lamenta as amarguras do
poeta, recommenda a uma dama a leitura de suas obras, e deseja a esta que
não passe pelas mesmas desventuras, que tornaram a vida de Camões tio
amargurada
STANZAQ TO A L.ADY
WITH THE POEMS OF CAUOENS
Tbis votíve pledge of fond esteem,
Perhaps, dear giri! for me tbou' It prize;
It sings of Love's enchanting dream,
A theme we never can despise.
Who blamcs it but thu envious foul,
The old and disappointed maid,
Or pupil of the prudish school,
In sitigle sorrow doom'd to fade?
Then read, dear gírl, with feeling read,
For thou will ne'er be one of those;
To tbee in vain I shall not plead.
In pity for the poefs woes.
He was in sooth a genuíno bard;
His was no faint, fictitious flame:
Like his, may love be thy reward,
But not thy hapless fate the samo.
CINTRA
XVIH
Lo f Cintra^s glorious Éden intervenes ^
In variagated maze of mount and glen.
Ah, mo ! what hand can pencil guide, or pen.
^ John Galt — Lord Byrony complete Works and Life. Paris, 18S7.
' Para fugir da immuodicie de Lisboa, e de seas ainda mais immundos habitantes,
a villa de Cintra^ a amas quinze milhas da capital, é tahex a todos os respeitos a mais
deliciosa da Europa. Contém bellezas de todo o género, nalnraes e artificiass, palácios e
jardins «aindo do meio das rochas, catarartas, despenhadeiros conventos sobre alturas es-
218 BY
To foUow hair in which the eye dilates,
Tbrough vicws more dazzling unto mortal ken
Tban those whereef sach things the bard relates,
Who to the awe strak world unlock^d Elysium^s gates?
XIX
The borrid crags, by toppling convent crown'd,
The cork-trees boar tbat clothe the shaggy steep,
The moQDtain-moss by schorging skies imbrowD'd,
The suoken glen, whose simless shrabs must weep,
The tender aznre of the unruffled deep,
The orange tints tbat gild tbe greenest bough,
The torrents tbat from clifT to valley leap,
The vine on bigh, the wjllow branch below,
Mix'd in one mighty scene, wíth varied beauty glow.
XX
Then sjowly climb the many-winding way,
And frequent torn to linger as yoa go,
From loftier rocks new loveliness survey,
And rest ye at «Our Lady*s boose of woe;»
Wbere frugal monks their little relics show,
And sundry legends to the stranger teli :
Here impious men bave punlsh'd been, and lo !
Deep in yon cave Honorius long did dwell,
In hope lo merit Heavon by making earlh a Hell.
XXI
And here and there, as up the crags you spring,
Mark many rude-carved crosses near the palh :
Yet dêem not these devotion's offering
These are memoriais frail of murderous wralh :
For wheresoe*er the sbrieking victim hath
Pour'd forth bis blood beneath the assassinas knife,
Some hand erects a cross of mouldering lath;
And grove and glen wíth thousand such are rife
Throughout ihis purple land, wbere law secures not life.
pantosas, uma distanle vista do mar c do Tejo o alem d'isto c noiavel (se bera quede
consideração secundaria) como scena da convençilo de 8ir liew Dalrymple. Une em fli
mesmo toda a rusticidade das serranias com a verdura do sul da França — Byrons cuni'
pleie Works pag. 86
No 3.^ vol. do Investigador Portuijuez (pag. 449 e seg.) vem -uma IraducçSo em prosa
destes versos do Childe Baroid e uma censura a Lord Byron.
BY
XXII
On sloping mounds, or íd the vale beneath,
Are domes where wbilome kings did make repair;
Bat now the wild flowers roand tbem ooly breathe;
let raiQ'd splendour stili is liogering there
And yonder towers the Prince's palace faír :
There thou too, Vathek ! England's wealthiest son,
Once rorni'd thy Paradise, as not aware,
When wanton Wealth her migbtiest deeds hath done,
Meek Peace volnpluous lures was ever wont lo shun.
XXIII
Here didst thou dweil, here schemes of pleasare plan,
Beneath yon mountaJn's ever beauteous brow :
But now, as if a tbing unblest by Man,
Thy fairy dweiling is as lone as thou !
Here giant weeds a passage scarce allow
To halls deserted, portais gaping wide;
Fresh lessons to the thinking bosom, how
Vain are the pleasaunces on eartb supplied ;
Swepl into wreks anon by Times's ungentle tíde !
XXIV
Behold the hall where chieis were late convened !
Oh I dome díspleasing unto British eye !
With díadem hight foolscap, lo ! a flend,
A little fíend that scofTs incessantly,
There sits in parchment robe array'd, and by
His side is hung a seal and sable scroll,
>\l)cre blazon'd glare names known to chivalry,
And sundry signatures adom the roll,
Whereat the Urchin points and laughs with ali his soul.
XXIX
Yet Mafra shali one moment claim delay,
Where dwelt of yore the Lusian's luckless queen ;
And church and court did mingle their array,
And mass and revel were alternate seen;
Lordlings and freres-ill-sorted fry 1 ween !
But here the Babylonian whore hath bailt
A dome where flaunts she in such glorioas sheen,
That men forget the blood which she hath spilt»
And how the knee to Pomp that leves to vamish gait.
Si9
220 BY
XXX
0'er vales that teem wítb fraits, romantíc bílis,
(Oh, that sacb hills upheld a freeborn race I)
Whereon to gaze the eye wilh joyaunce fills,
Ghilde Harold wends through maoy a pleasant place.
Though slnggards dêem it but a foolish cbase,
And marvel men sboold qait theír easy chair,
The toilsome way, and long leagne to trace.
Oh t there is sweetness ín the monntain air,
And Hfe, that bloated Ease can never hope to share.
XXXI
More bleak to view the hills at length recede,
And, less luxaríant smoother vales extend ;
Immense borizon-boonded plains succeed t
Far as the eye discerns, withoaten end,
Spaín's realms appear, whereon ber sbepberds tend
Flocks, whose rích íleeee right well the trader knows
Now mast the pastor's arm bis lambs defend :
For Spain is compass'd by unyíelding foes.
And ali most sbield tbeir ali, or share Subjection's woes.
xxxn
Where Lusitânia and ber Sister meet,
Dêem ye what bounds the rival realms divide ?
Or ere the jealous queens of nations greet,
Dotb Tayo interpose bis migbty tide?
Or dark sierras rise ín craggy pride?
Or fence of art, like China's vasty wall?
Ne barrier wall, ne river deep and ride,
Ne borrid crags, nor mountaíns dark and tall,
Rise like the rocks that part Hispania's land from Gaul
XXXIII
Bnt these between a silver streamlet glides,
And scarce a name distinguisbeth the brook,
Though rival kíngdoms press its verdant sides.
Here leans the idie shepherd on bis crook,
And vacant on the rippling waves dotb look,
That peaceful still 'twixt bitterest foemen flow;
For proud each peasant as the noblest duke .
Well dotb the Spanish hind the difference know
Twixt bim and Lusian slave, lhe lowest of the low.
c
204) CABANES (D. FHANCISCO XAVIER DE) - Brigadero de in-
raateria de los reales ejercitos.)
E.— Memoria que tiene por objeto manifestar la posibUidad y facUidad
de hacer navegable el no Tajo desde Aranjuez hasta el Atlântico, las van*
tajaSf de esta Empresa, y las concesiones hechas à la misma para realizar
la navegaáon, Por^. Piiblicase de real Orden. Madrid Imprenta de D. Miguel
de Burgos. Ano de 1829. foi. 210 pag.
«Durante a guerra de Hespanha contra as tropas de Napoleão meus diver-
sos empregos nos exércitos me subministraram meios de observar em diffe-
reotes occasiões o curso e propriedades do rio Tejo desde Aranjuez e Toledo
até Lisboa. Surprebendia-me que um rio tão caudaloso/ que atravessa de le-
vante a poente duas terças partes da Península, e que em seus extremos tem
dois mercados tão concorridos, como Madrid e Lisboa, não tivesse fixado a at-
tenção das gerações passadas, nem merecido ao menos um ensaio pratico, se
podia, ou não ser navegável; mas o que mais contribuiu para excitar mínba
sarpreza foi a navegação pelo mesmo rio desde Abrantes até Yilla Velha, pro-
movida e executada pelo engenheiro portuguez Anastácio, e que tão útil foi ao
governo portuguez n^aquella época. Dizia então commigo: Porque motivo não
se ha pensado em prolongar esta obra do Tejo até Alcântara, Talavera, Toledo
o Aranjuez? Quando via em algumas antigas relações, que n'outro tempo se
transportavam cereacs, e outras mercadorias desde Córdova a Sevilha, não po-
dia deixar d'exclamar:porque nào imitamos este exemplo? Não cessei de pensar
nos meios de formar uma planta da navegação do Tejo, que na minha opinião
é a obra mais fácil de executar de todas d'esta classe, e a mais própria para
dar áquelles, que a tentarem, uma lucrativa e proporcionada recompensa de
sua decisão, trabalhos e riscos.
«Convencido da exactidão e verdade, com que está escripto o projecto de
navegação geral da Península, formado pelos fins do século xvi por João Bau-
ns í^A
tisUAiitoiieUi,e inserto n'iundos tomos dos Elementos de Mathematicsi (tom. a)
por D. Benito Bails, dei come^ á tarefo de colligir apontamentos, e de em-
prehender diligentes investigações, qne me podessem elocidar acerca de quanto
diz respeito ao rio Tejo, do qoal somente se tinham idéas mui confusas. Na
continua^ do Almocem de frutas Itierarios, publicada no anno de 1818, oi-
contrei aJgnmas noticias relativas ao mea projecto, mas poaco claras, e ainda
menos segaras para pod^ formar joizo acerca do conjancto e dos p^Hmeno-
res da operação. Por ultimo as relações, que tive com algumas pessoas curio-
sas e instmidãs, me proporcionaram Tariosconhecímentos applicaTeis ao mesmo
desígnio, de sorte qne chegaei a saber qoe o rio Tejo bavia sido objecto de
grandes considerações em tempo de Filippe II, e qne soa nav^açào havia sido
intentada com tal actividade, e praticada com tão bom êxito, que o engenheiro
AntoneUi, chegou n'am barco desde o Oceano até Aranjoez, e logo por Jarama
e Manzanares até mais alem da ponte de Segóvia, e sitio, que chamavam «í
moUno quemado, coisa que pareceria incrível, se não convencessem de sna ver-
dade os documentos authasticos, em que o facto está consignado, e que ainda
se conservam. Abandonou-se depois por varias causas, sendo uma d'ellis a
separa^ de Portugal, um plano, que havia já fdto tantos progressos; mas
sempre ficou assegurada a idéa de sua possibilidade.
cEm 1887 tive occasião de observar tanto na França, como na Ingialerra
e Paizes Baixos a applicação do vapor por meios mais adequados ao meu pro-
jecto do Tejo, do que os, que me haviam suggerído os trabalhos feitos pda
companhia do Guadalqnibir para as obras d'aquelle río. Também rectifiquei
então minhas idéas em geral; porém coDtirmaQdo-me cada vez mais de qne era
possível a navegação do Tejo, mediante o conveaienUí indireitamento de suas
margens, pois d'este modo tomava-se mui fácil praticar-se n'ella uma via cons-
tante de aguas de três pés e meio a quatro de 4)rofiindidade, e de vinte e cin-
co de largura, que é de quanto se necessita para a navegação a vapor.
«Antes das investigações ultimamente feitas somente se conheciam alguns
pormenores acerca da navegação do Tejo. contidos nas Memorías de Garíbay,
bem como n'uma relação do passeio, que pelas aguas dos rios Jarama e Tejo
deu embarcado o rei D. Filippe 11, e aquelles de que se faz menção n'uma carta
do padre Burriel, e no informe de Savedra sobre vários pontos de navegação
interior. Parte doestas noticias estavam inéditas. Por noticias de tal qualidade,
tão minuciosas e authenticas fica provado até á evidencia ser mui possivol na-
vegar pelo Tejo.
«João Bautista Antonellí era um engenheiro distincto,e mui acreditado, que
havia servido com applauso e bom êxito em muitas commissões importantes,
auxiliando D. Filippe II e o duque d'Alba na expedição de Portugal no anno
1580. O plano geral de navegação interíor, que propoz da Península Hespa-
nica podia reputar- se para aquelles tempos como grandioso, extraordinário,
de muita novidade e mento, superior ás producções contemporâneas. Filippe II,
que adoptou a proposta de Antonellí, tríbutou-lbe uma solemne homenagem
navegando pessoalmente acompanhado de sua família pelos rios Jarama e Tejo
desde Vaciamadrid até mais abaixo de Accca.
GA m
«Os procuradores do reino reunidos em Madrid em 1583 approvaram o pro-
jecto de navegação interior apresentado por Antoneili^ e votaram para sua exe-
cução cem mil ducados, que se não deviam appiicar para outro fim; e o fa-
moso architecto do Escurial, Uerrera, era o conselheiro de Filippe II n'esta
empreza.
«No tempo de Filippe lY os engenheiros Carduchi e Martelli procederam
a um novo reconhecimento no rio.
«Também se pôde contar em o numero dos monarchas hespanhoes, que
hão favorecido esta idéa, D. Fernando YI, que a poz debaixo de sua protecção
para que se realisasset Por isso seu ministro D. Ricardo Wall ouviu os infor-
mes, e examinou os planos e propostas, que lhe appresentou o alcaide D. Car-
los de Simon Pontero, que abundava nas mesmas idéas de Antonelli e Cardu-
chi, e a cujo dictame se aggregaram varias pessoas iilustradas, e com especia-
lidade os engenheiros Briz e Simó Gil.»
Os documentos relativos a esta importante empreza estavam guardados nos
archivos de Simancas e de Toledo, e bom serviço prestou o hespanhol Cabanos
pnblícando-os por meio da imprensa, pois doesta forma podemos conhecer com
a maior minuciosídade quanto se passou relativamente a este assumpto.
Dá-nos, pois, o auctor ^ todas as noticias seguintes :
«Desde Aranjuez até Toledo (dez léguas) ú mui regular o curso do Tejo, e
em geral tem todas as apparencias d'um canal sem corrente excessiva.
«Nas immediações de Toledo ha muitos obstáculos, mas evitar-se-hiam na
maior parte «om o canal, que estava projectado.
«Desde Toledo até Puente dei Arzobispo (vinte e seis léguas) offerece o Tejo
as mais formosas e fáceis ribeiras para a navegação, como o declara o enge-
nheiro Antonelli, a ponto de as comparar com as do Pó, e outras da Lom-
bardia.
«Desde Puente dei Arzobispo até Herrera (quarenta léguas) ha lanços de
mais difficuldade, que os já citados: porém também é maior o numero das
obras a que se deve proceder, com que ficariam notavelmente acommodados
6 dispostos para a navegação.
«De Herrera até Abrantes (dezesete léguas) torna o Tejo a ser mais fá-
cil para se navegar por elle, de maneira que a maior parte doeste districto, ou
pelo menos desde Yílla Yelba até Abrantes se navegou sem interrupção em
1812 e 1813, e actualmente por elle se navega também.
«Desde Abrantes até Santarém (onze léguas) está sempre aberta a navega-
ção, a qual é muito fácil de Santarém até Lisboa, por espaço de quatorze lé-
guas.
«Tanto as obras necessárias para passagem das represas e pontes, como as,
que exigem as limpezas e encanamentos, longo do serem d'um custo muito
grande, podem rcalisar-sc por uma quantia bastantemente módica em compa-
i Pag. \li.
124 CA
raçao das vantagens, que devem proporcionar. ^ Galcalaram-se as despesas
soperíormente ao que hão de ser effectivamente, e vé-se qae a somma total
d'elias não excede a somma de 11.600:000 reales de velon.
cHa mui exactos dados, qae asseguram nao estarem errados estes calca-
los. Em primeiro logar as vinte e quatro léguas, que ha de rio desde Abran-
tes a Alcântara, custaram, incluindo o caminho de sirga 418:000 reales velon.
Ha noticia do importe do encanamento da navegação desde Taiavera la Yieja a
Toledo, vinte e cinco léguas, que importou em 14.742:995 maravedis, que são
433:617 reales de velon. Comparando o valor do dinheiro da Península do sé-
culo XVI com o que tem actualmente equivaleria ao seguinte calculo:
Obras Imporlaram Corresponde
ao dinheiro actaal
De Abrantes a Alcântara 418:000 r. v. 1.672:000
De Alcanura a Taiavera la Yieja. . . 343:095 1.372:38!
De Taiavera la Vieja a Toledo 433:617 1734:470
Somma 1.194:712 4.778:85!
«£ como nenhuma d*estas obras exige muitos mezes para sua conclnsio,
bastará um só verão para tornar navegável o Tejo.
«É preciso confessar em boa fé, que a respeito d'esta empreza se tem pro-
cedido em todos os tempos com bastante injustiça, e mesquinhez ImplacaveL
Em primeiro logar, porque desde o reinado de Filippe II em nenhum tempo
quizeram examinar lealmente, nem mesmo ouvir as razões, que a favor d'ella
apresentavam pessoas de merecimento, que d'ella trataram; e em segundo, por-
que sempre foram mesquinhos com fundos para um objecto tão grandioso, e
de tão incalculáveis vantagens, quando pelo contrario se teem applicado im-
mensas quantias para obras inteiramente improductivas, e de cuja utilidade,
mesmo considerada debaixo do aspecto de ornato, se duvida não poucas vezes.
«Como se responderá á accusação, que a respeito de nossa incúria nos poda
fazer a posteridade, sabendo que até ao anno de 1829 nada de positivo se sa-
bia emquanto á navegação do rio Tejo, ao passo que em Simancas, e u'outrus
archivos existiam os documentos preciosos, que agora pela primeira vez saem
á luz? Como se responderá á accusação, que a mesma posteridade nos poderá
fazer de não havermos tirado partido do rio Tejo para exportar nossas amon-
toadas colheitas, em tempo, que nos sobrava o oiro e a prata, que empregáva-
mos inconvenientemente em objectos contrários a nossos interesses?
•As causas priucipaes, porém, que teem obstado á canaiisação do rio são
as seguintes: !.■ O serem despovoadas as margens do Tejo, e os terrenos adja-
centes a ellas. 2.* A escacez de conhecimentos relativos ao curso d*este rio, e
aos terrenos visinhos. 3.* A desconfiança dos proprietários das obras construí-
das no Tejo, c a falta de direitos para a existência de algumas d'ella8. 4.* A
upce^sidad»^ de caminhos de sirga. 5.» A constante escassez da falta de nume-
' FílLV li
CA 22S
rario. 6.* A separação de Portugal. 7.* A preferencia, que se dá aos canaes de
derivação, por causa da dupla utilidade de navegação e rega, que propor-
eionam.
É incrível a falta de povoação^ que se nota nas margens d'este rio, pelo
menos desde Talavera até Abrantes.
O Tejo partindo de Aranjuez corre na Hespanha as provindas de Toledo e
Extremadnra, e em Portugal as do Alemtejo e Extremadura portugucza. Na
provincia de Toledo está deserto o dístricto de Aranjuez a Toledo, e regular-
mente povoado o que corre desde este ponto, até Talavera. Continua logo o
Tejo atravessando o districto mais deserto da Extremadura hespanhola, a qual
provincia é a mais despovoada de Hespanha. Entra em seguida na do Alemtejo,
que das de Portugal é a menos povoada, e só desde Abrantes, onde começa a
Extremadura portugueza, entram a encontrar-se povoações importantes, como
% mesma villa de Abrantes, Constância, Tancos, Santarém, Yiila Franca e ou*
Iras. Por isso o viajante, que sem grandes conhecimentos da Península, per-
corre pela primeira vez as margens do Tejo, não pode deixar de admirarse
como margens de tanta celebridade se encontram em tão incrível desamparo*
«Garibay nas suas memorias manifesta claramente a opposição dos tolede-
tanos à navegação, e além d'isso sabe-se que os procuradores do reino, reuni-
dos em Madrid no anno de 1583 adoptaram com gosto a proposta d'esta em-
preza, não estando situadas nas margens do Tejo as cidades ou villas, que re-
presentavam : e somente se oppozeram, mas mui fortemente, os procuradores
de Toledo, que representavam e pertenciam a uma cidade situada na margem
d'aquelle rio. E não é possível explicar o fundamento doesta opposição, senão
attribaindo-o ao errado conceito, que d*ella formaram, com respeito a seus in-
teresses^ os proprietários das obras praticadas no rio.
«Outra difíiculdade eram os caminhos de sirga, pois se tratava nada menos
que de praticar uma linha de communicação pelo espaço de cento e vinte seis
^goas, com seis palmos de largo, conforme exigia Antonellí,.o que não podia
deixar de custar sommas immensas.
< AntonelU, o dr. Guillen, e varias outras pessoas ^ empregadas nas obras do
Tejo durante o reinado de Filippe II se queixaram constantemente da escassez
de numerário para as mesmas. Yô-se pelos documentos, que o dinheiro se des-
viava d'estes trabalhos para outras obras.
«Nos dois reinados, que se seguiram, a falta de numerário foi cada vez
maior, a ponto de acconselhar ao rei o conselho doestado a que mandasse pa-
rar as obras por causa da falta de meios. Na ultima metade do século xvu era
quasi impossível pensar em similhante negocio, pois as hostilidades dos dois
povos duraram pelo espaço de vinte e oito annos desde i640. Depois de reco-
nhecida a independência de Portugal pelo governo hespanhol, D. Pedro, que
governava então Portugal, achou- se em circumstancias tão dífficeis, que estas
o obrigaram a pensar em assumptos bem diíTerentes, ao passo quo na Hespanha
a complicação dos negócios não era menos lastimosa. '
* Pag. 20,
TOMO I i5
226 GA
•
«Um canal de derivação, qae se praticasse desde Aranjaez até ao Atlântico
ii'Qm calcnlo moderado importaria em quinhentos milhões de reales: masnio
daria resultados, que compensassem tão enorme despeza. Porém a navegado
do Tejo é de tal importância, que não é possível prescindir de indicar suas van-
tagens, e para isso se partirá sempre da hypothese, que veriGcando-se a passa-
gem de barcos de Lisboa até Toledo e Aranjuez, se continuem os trabalhos em
termos, que depois não haja dífficuldades, em que prosigam até Madrid.
«Pelo espaço d'umas quarenta léguas desde a fronteira de Portugal ^ até ao
Atlântico appresenta o curso e estado do rio diferenças notáveis, que dão mar-
gem a varias reflexões não faltas de importância. Para examinar este distríeto
convenientemente considerar-se-ha dividido em três partes, a saber : desde YiUa
Velha, ou portas de Rodas até Abrantes : desde Abrantes até Santarém, e desde
Santarém até Lisboa.
«Pelo primeiro lanço, perto de quinze léguas de comprimento, se navegoa
pelos annos de 18ii, Í8i2 e 1813 pelo systema do engenheiro portuguez Anas-
tácio, em barcos chatos de capacidade de cento até centoe cincoentaquíntaes
os quaes barcos tripulados por três ou quatro homens faziam sua viajem de su-
bida por meio de remos e sirga, e raras vezes à vela, n'uns oito dias só. Com
estes barcos se levavam a Yilla Velha os viveres, de que necessitava o exereito
anglo-luso.
«Pelo segundo lanço, desde Abrantes até Santarém, doze léguas, navega-se
actualmente sem interrupção em barcos chatos da capacidade de duzentos
quintaes.
«Pelo terceiro lanço até Villa Franca navegam barcos de seiscentos até sete
■centos quintaes.
«Por agora só diremos que o rio Jarama oíTerece meios segares de estabe-
lecer uma navegação activa entre Aranjuez e Vaciamadrid durante oito mezes do
anno, e que as combinações, de que é susccplivel o real encanamento de Ja-
rama com os recursos, que hão-de augmentar as aguas de Madrid e do Manza-
nares, estabelecerão uma commoda e rápida coramunicação por agua entre as
respectivas capitães dos dois reinos, que formam a Península Ibérica.
«Em nosso modo de intender a navegação do Tejo deve assegurar aos qu«
a verificarem meios de transportar annualmente acima de dois milhões e seis
centos mil quintaes, a saber: milhão e meio em direcção desde o Atlântico até
Aranjuez, e acima de milhão e cem mil quintaes em direcção desde Aranjuez
até ao Atlântico. Para chegar a este fim parece-nos que serão suíficientes qua-
renta barcos a vapor, e outros quarenta de transporte sem machina, trinta e
seis dos quaes estarão em continuo serviço, e os quatro restantes em reserva,
tendo cada um setenta pés de largo, e dezeseis de comprimento, de quinze to-
neladas, e da força de vinte cavalios, e calculando-se cada viagem entre ida e
volta desde Aranjuez até Lisboa em doze dias.
€ Depois de concedido pelo governo hespanhol o privilegio da navegação no
Tejo ao auclor d'cstas memorias, era necessário, além do privilegio, que o go-
1 Pag. à9.
GA 227
verno de Portagal permittissc a passagem dos barcos até ao Atlanlico; diri-
l^u-se por isso ao governo porluguez, que despachou, depois d'um detido
exame, d'um modo favorável ao interesse dos dois paizes. ^ As pessoas, que mais
coDtribuiram para esta concessão, além dos ministros, foram o duque de Ca-
diYal, visconde de Santarém, o conde da Figueira, Joaquim Severino Gomes e
D. Joaquim Acosta y Montealegre, ministro plenipotenciário de Hespanha.
« O calculo dos gastos do estabelecimento da empreza chegará tao somente à
importância de vinte milhões do reales. Constam estes gastos de três partes:
1/ Obras avaliadas em 11:600:000 reales: 2.« barcos 8:000:000 reales: 3.« gas-
tos imprevistos 400:000 reales.
Os rendimentos annuaes devem orçar por 17:620:000 reales
Despezas annuaes 10:500:000
Differença a favor da empreza 7:120:000
•Regosijemo-nos, pois, hespanhoes e portuguezes, com a celebração d'este
trs^do, e consideremol-o, como o pacto de família peninsular, que unirá as
duas nações com um vinculo tão intimo, como é evidente signal da concórdia
e harmonia, que reina entre as esclarecidas e augustas dynastias de Borbon
de Hespanha e de Bragança de Portugal. ^
•Sendo necessário examinar a fundo a corrente do rio, a 8 de abril de 1829
embarcou em Aranjuez n'um barco, a que se poz o nome do Antonellí, o ín-
genheiro Marco Artu, e com uma viagem de quarenta dias chegou a Lisboa,
durante os quaes só navegou vinte e seis, sendo os outros destinados para ob-
servar todos os pormenores e incidentes dignos de se notarem. A admiração,
que isto causou aos habitantes das margens do Tejo, foi extraordinária, e inex-
primivel, pois por nenhum modo julgavam que um barco procedente de Aran-
juez podesse descer pelo rio, sem ser arrebatado pelas correntes, ou sem se des-
pedaçar contra os penedos. Porém, onde a admiração chegou ao cumulo, foi em
Lisboa, em cujas aguas, ainda que frequentadas por navios de todo o universo.
não se tinha visto nenhum, que procedesse do centro da Peninsul^i desde o sé-
culo XVI, em que o immortal Antonelli levou ao cabo egual operação debaixo
dos auspicies de Filippe II. A viagem de regresso durou 138 dias, dos qu<ies
somente se navegou por 112, sendo os restantes empregados em estudos e re-
conhecimentos.»
. 205) CABINET (THE) Cyclopedia. London, 1832.
Apparece n'esta collecção uma Historia de Portugal e de Hespanha era 1
vol« obra de que vi um exemplar em poder do sr. Francisco Arthur da Silva.
« Pag. 43.
' Pag. 51. Se bem que toda esta Memoria é mui interessante não se fazem roais ex-
tractos, porque a via férrea fez dispensável a navegação pelo Tejo, como a propunha
Cabanos. Diz o sr. Ribeiro de Saraiva em o n.<* 4:749 do Jomaí do Commcrcio de Lisboa
que as diligencias para a oavegaçâo do Tejo foram suspendidas e frustradas pela revoliu
çao fraoceza de 1830, e pela invasão de Ucspanba por Mina, sob auspicies francezes.
228 CA
206) CABRERA (LUÍS DE CÓRDOBA) — Cbronista hespanhol.
Fallecea em 1655. *
E*. — Crónica de Fdippe II re d^ Espana. Madrid, i619.
A historia de Hespanha está tao intimamente entrelaçada com a de Porta-
gal, que difflciimente se encontrará livro histórico hespanhol, no qoal se não
tope com passagens, qae nos digam respeito. No entanto (por causa da brevi-
dade) só mencionarei nm on oolro.
207) GAGELADA (JUAN LOPES).
E. — Profecia politica verificada en lo que está succidiendo a los portu»
gueses por su ciega afidon a los inglezes^ hecha luego despues dei terremoto
de 1755. México, 1806.— (Y. Profecia poUtíca.)
208) GAILLEIÍER (E.)
E. — I. Ant. Goveani ad DD. titfdum ad senatusconsullum Trebellianum
commentariolum quae supersunt juxta fidem GratianopoUtani Codicis edidit.
— Paris, 1865, 8.»
É ama nova edição da obra aqui citada do nosso tão famigerado joriscon-
sQlto António de Goavea, que, apesar de ser om dos maiores vultos litteranos,
que mais honra dão ao nosso paiz, ainda não teve um portuguez que condi-
gnamente lhe escrevesse a biographia.
II. Ântoine de Govea fut il conseUler au parlement de Grenoblef Paris,
1865.
III. Etude sur Anioine de Govea (1505-1366), Paris, 1864, 8.» 46 pag.
209) CALANDRELLI (JOSEPH) — Sócio correspondente da Acade-
mia Real das Sciencias de Lisboa, a qual lhe publicou no 2.° volume das Me-
morias 2 o seguinte artigo:
Observatio Eclipsis Lunaris habita die 3 januarii anno 1787, m Colle*
gU) Bomano.— (Observação do eclypse lunar no Collegio Romano).
210) CALDERON.
E. — Memoria sobre el estado de la industria minera de Partugal.
Vem no Bulletin de la societé geologique de France, 2.* serie, tom. 7.»
211) CAMMARANO.
E. — Ines de Castro. A Lyric Tragedg, in three acts» Poetry by Signor
Salvador Cammarano, The Music by Signor Perstani, As rcpresented at her
Majesty's theatre. Haymarket, 1840. London, 1840, 8.» 81 pag. Em inglez e
italiano.
Os cantores, que desempenharam esta opera, foram os seguintes:
* Firinin Didot — Nouvtlle Biographie Universelle, voi. 8,*>, pag. 43.
' Pag. 39 do mencionado volume.
CA 229
nOMEKS
D. AfToDso, rei de Portugal, Lablache,— !). Pedro, /íuòtnt.— Gonçalves, fi-
dalgo hespanhol, Morelli.— Rodrigo, capitão de archeiros, GtUli.
DAMAS
D. Branca, Mademoiselle E. Gfmi.— Ignez de Castro, Madame Persiani. —
Elvira, Madame BellinL
Ha mais daas edições d*esta opera publicadas ambas no anno de 1839, uma
em Londres, e outra em Firenze.
212) GAMPADELLI (F.)
Publicou no tomo 13 do Panorama uma ode em louvor do grande florista
portuguez Constantino, então residente em Paris.
ODE A MONSIEUB CONSTANTIN
L'art sous ses mille aspects est d'essence divine;
Son horizon sans borne est Tespace vermeil;
En tous lieux il rayonne, il brille, 11 illumine :
Cest le disque d'or du soleil.
II revét à Tenvi cent formes saisissantes.
lei, sous les couleurs qu'animent les pinceaux,
II étale à nos yeux des toiles ravissantes
Et de magnifiques tableaux.
Lá, d'instruments sans nombre aux gammes infinies.
Et de la voix humaine aux magiques ressorts,
L*art créateur enfante un monde d'harmonies
Dans les plus merveillenx accords.
En mille objets divers il s'étale et s'exprime
A Touie, à la vue, à tous les sens humains;
Sous sa main qui le guide et Tesprit qui Tanime.
II a des charmes sonverains.
Constantin, vous, artiste, aux rives embaumées,
An ciei des doux parfums, aux régions des fleurs,
Vous avez apporté d'autres fleurs animées,
D*autres parfums, d*autres senteurs.
Dans ce mond attrayant de graces merveilleuses.
De múltiplos couleurs, de beautés, de rayons,
Vous semez à Tenvi sous nos mains curieuses
Vos charmantes créations.
Sur vos habiles doigts^ dans vos ardentes veilles,
La nature à vous seul explique ses secrets;
Eile ouvre à votre esprit ses plus riches merveilles^
Qu^elle cache aux yeux indiscrets.
230 CA
Votre arl, c'est ia natarc, et les ílears sont vos oeuvres;
Fleurs des champs ou des monts, des jardins ou des bois,
Qa*on le doive au soleil comme aux soins des manoeuvres,
Se multiplient sous vos doigts.
A ces créations, frnils de votre génie,
Ríen ne manque, i'óclat, la fraicbeur, la bontc ;
ToQi fait bríllant cortège à la grace iníinie.
Cest Ia nature eo vérité t
Oní, vous étes artiste, et le premier sans doute
Quí jamais ait traduít, à notre étonnement,
Les ouvrages de Dieu semés sur votre route
Avec autant de sentiment.
Car vous trompez nos sens, Táme, rintelligence,
Hesitent á marquer, dans mille fleurs au choix,
Celles que nous devons á la Toute-Puíssance
Ou qui sont Tceuvre de vos doigts.
213) CAMPAGNE DE SIX MÓIS dans le Royaume des Algarves en
Portugal. Bruxelles, J. de Mat, imprimeur llbraire, i834, 4.<' 54 pag. com um
mappa do Algarve.
Esta obra é o diário do corpo de atiradores belgas commandado pelo te-
nente coronel Lecharlier no serviço de Portugal.
Em 23 de janeiro de 1834 o corpo belga^ contractado por Mendizabal, acba-
va-se reunido em Falmouth, donde saiu com destino a Portugal em dois va-
pores Royal Wílliam e City of Edimburg. Foi este corpo enviado para o Al-
garve com o Dm de combater as guerrilhas, prmcipalmentc a de Remechido,
tanto n'esta província, como na do Alemtejo. Celebrada a convenção de Évora
Monte regressaram os belgas immedíatamente ao seu paíz.
214) CAMPAGNE (LA) DE PORTUGAL, en 1810 et 1811. Ouvra-
ge imprime á Londres, qu'il était defenda de laisser penetrer en France sous
peine de mort; dans leguei les jactances de Buonaparte sont aprédées, ses
mensonges dévoilés, son caractere peint au naturel, et sa chute prophetisée,
Seconde édition. Paris, 1814, 8.°, 67 pag.— (Campanha de Portugal. — Obra
impressa em Londres, c prohibida de entrar na França debaixo de penna de
morte, etc ele)
2 lo) CAMÇAIGNS OF THE BRITISH ARMY IN PORTUGAL,
under the cammand of gf urrai tJic cari of WeVlnijtmi li. B. commandei' in
chicf, etr. etc. Dcdiratrd hij prriui.^sion lo ///.< Lurd^ínp. London, Prinled by
W. Dulm>T and Co. 1811 — («'ainpanhas do cxiToito ingl<;z em Portugal etr.)
Folio máximo («; a poiíío do stir iurommodu,) com inv.e magnlGcas estam-
pas, e (iiialoize paginas de Icxlo.
As ('^lampas Iraelam dos seguinlcs assumptos :
J.* Desembarque do exercito iiiglez na Bahia do Mondego.— 2.* Ataque
CA 231
dos corpos francczes commãndados pelo general Laborde, a i7 de agosto de
1808. — 3.» Batalha do Vimeiro.— 4.« Embarque do general Jonot no cães de
Sodré, depois da convenção de Cintra.— 5.* Ataque da forte posição de Grijó,
a il de maio de 1809.— 6.* Passagem do Douro pela divisão do commando
do tenente general Edward Paget.— 7.* Passagem do Douro pela divisão do
tenente general Sir John Murray.— 8.<> Ponte de Nodin, em que se representa
os francezes a deitarem ao rio Ave a ultima de suas peças de artilheria. — 9.*
Ataque de retaguarda dos francezes em Salamonde.— 10.* Ponte de Saltador,
onde terminou a perseguição depois do successo de Salamonde.— 11.* Vista da
Ponte de Miserere, a umas três léguas de Salamonde, onde os francezes fati-
gados estão em preparativos de se retirarem para a fronteira de Hespanha.—
12.* Batalha de Talavera.— 13.* Batalha do Bussaco.
216) OAMPOMANES (D. PEDRO RODRIGUES).
E. — Noticia geográfica dei reyno y caminos de Portugal, Madrid, 1762.
•
217) OANDAU (M. L.) - Ancien chef d'institution.
E. — I. Expéditions portugaises aux Indes Orientales par— .Tours, 1857,
8."^, 140 pag. com uma estampa, que diz representar Mendes Pinto visitando
o rei d*UDQi paiz da índia. Esta obra faz parte da Bibliotheqne des Ecoles Chre-
tiennes approuveé par VEvêque de Nevers. Ha outra edição de 1858, e ainda
outra de 1860.
Este pequeno trabalho não é mais do que um resumo das viagens de
Fernão Mendes Pinto.
II. Mendes Pinto par — . Tours, 1847, Idem, 1851.
218) CANETE (D. MANUEL).
Escreveu um artigo em o numero 15 da Revista Litteraria Hespanhola,
em elogio da Harpa do Crente do sr. Alexandre Herculano. <
219) CANNECATIM (FR. BERNARDO MARTA DE) — Capuchinho
italiano da província de Palermo, missionário apostólico, ex-prefeito das mis-
sões de Angola e Congo, e superior actual do hospício dos missionários capu-
chinhos italianos de Lisboa.
E. Collecção de observações grammaticaes sobre a língua bunda ou an^
goknse, compostas por — . Lisboa, na impressão régia. Anno mdcccv, por or-
dem superior, 4.<>, 218 pag. É dedicada a João VI.
Esta obra é precedida d'um interessante prefacio, no qual apresenta a
historia da lingua bunda, e a utilidade do conhecimento d'este idioma.
Diccionario da lingua bunda ou angolense, explicada na portugueza e la*
tina. Lisboa, impressão régia^ 1804, 4.°, 720 pag.
220) OARAYON (PÈRE AUGUSTE) — Jesuita c historiador francez.
^ Revista Universal Lisbonense^ vol. 5.", pag. lIíG-
232 GA
Nasceu no anno de 1813.
E. — I. Prisons du marquis de Pombal, mnislre du Portugal ^-^ Journal
de 1759 à 1777. Paris, 1865, 8.» — (Prisões do marquez de Pombal.)
II. Lettres inédites sur le réIablissemeiU des jéswies en Portugal, du pe-
re Joseph Delvaux» Paris, 1866, 8.° — (Cartas inéditas acerca do restabeleci-
mento dos jesuitas em Portugal.)
221) GABDON (EMILE).
E. — Études sur VEspagne, le Portugal, et leurs colonies, Lettres sur l\Ex'
posUion Universelle de 1862 par—. Paris. Revue du Monde Colonial, 1865, 8.»,
75 pag. — (Estudos sobre a — e suas colónias.)
Faz uma pequena descripção de Portugal e suas colónias, apresenta um
pequeno catalogo dos productos portaguezes, e prova que o paiz havia pros-
perado ultimamente, apezar das calamidades, que o teem ferido.
222) OARBL (AUGUSTE).
E. — Preás historique de la guerre d'Espagne et de PoiHugal depuis 1808
jusqu*à 1814. Paris, 1815. — (Resumo histórico da guerra—.)
223) OARLISLE (Sm ANTHONYJ— Presidente do Collegio dos Cirur-
giões da Cidade de Londres.
Em 1835 presenteou a Escola Medico-Cirurgica de Lisboa com uma bella
collecção de livros escolhidos.
Vide Diário do Governo de 1835, n.« 297 .
224) CARLOS (D.) E D. MIGUEL, Oui et non, est-il de Vintérêt des
puissances legitimes et monarchiques de laisser périr dam la Péninsule lama-
narchie et la légitimité ? Paris, 1823, 4.°, Idem 1838. — (Sobre a guerra civil
entre D. Pedro e D. Miguel.
225} CARNARVON (Conde de).
V. Portugal and Gallicia.
226) CARNE.
E. — Le Portugal au XLY*"* siêcle. (Na Revue des deux Mondes,)
227) OARNOTA (Conde de).
V. Smith (John).
228) CARRERE (PEDRO).
V. Voyagc en Portugal, particuliérement à Lisbonne.
229) CARRILLO (Fr. JUAN).
E. — Historia de Santa Isabely infanta de Aragon y reina de Portugal. Za-
ragoça, i615.
CA Í33
230) CARRILHO (Fr.JUAN).
E. — Relacion histórica de la real fundacion dei Monasterio de las Des»
calzas de S. Clara de la villa de Madrid. En las vidas de la princeza de
Portugal D. Juana y de la Emperat. Maria su hermana, Madrid, i616, 4.*'
O único exemplar, que teabo visto d'esta obra, foi em outubro de i873 em
um leilão de livros.
231) CARTA DUM INGLEZ a respeito do mathematico José Anas-
tácio.
Appareceu a traducçâo no 4.*' vol. do Investigador Porluguez^ pag. 3i.
232) CASAUS (D. PEDRO FERRER Y).
E. — Descripcion estadística y geográfica de Espana y Portugal, Escrita
en ingleZy tradudda y aumentada com notas por ~. Madrid, Í8i7.
233) CASIOVAI (STANISLAS).
E. L — Monumenti relativi ai giodizio pronunciato delV Academia Etrusca
di Cortona di un elogio éPAmerigo Vespucci. Florença, i780.
II. Elogio dAmerigo Vespucci, che ha riportato il premio daUa nobUe Aca^
denda Etrusca di Cortona. Florença, i788.
III. Dissertazione sopra il primo viaggio d^Amerigo Vespucci alie Indie Oc-
ddentali, Florença, i809.
lY. Exame critico dei primo viaggio d^Amerigo Vespucci. Florença, i8ii.
Américo Vespucci, como todos sabem^ andou servindo na marinha portu-
gueza, e tudo, quanto se escrever acerca d'este celebre navegador, interessa
âquelle, que estudar nossas antigas descobertas.
234) CASTRO (FRANCISCO DE).
E. — Miraculosa vida y santas obras dei beato Juan de Dios. Granada, 1588.
tt). Í6i3, Burgos, 1621.
Gomo todos sabem este sancto é portuguez, natural de Extremoz.
235) CASTRO G^COLAU FERNANDES).
E. — Portugal convencido con la razon para ser vencido con las Católicas
potentíssimas armas de D. Philippe IV. Milan, 1648.
236) CATALANO (JOSEPHO).
E.^De vita venerabUis servi Dei Bartholomcei de Quental. Romae, 1734.
237) CATALDO (AQUILA SICULO). — Natural da Sicilia, estudou
em Bolonha.
Desejando el-rei D. Joáo II, escolher um mestre hábil para seu fllho natu-
ral D. George, havido de D. Anna de Mendonça, escreveu a João de Azevedo,
então residente n'aquella cidade pedindo- lhe inculcasse pessoa idónea para
o fim desejado.
234 CA
Foi Cataldo o indigitado, veia para Portugal. > Dirigiu-se para Aveiro, on*
de então se achava o discípulo entregue aos cuidados da princeza Santa
Joanna. ^
D'ahi a dez annos passou este príncipe para casa do Conde de Abrantes,
para onde também Cataldo foi viver. Pela morte de D. Joào II, ficou o nosso
escriptor ao serviço d'elrei D. Manuel, com o fím de lhe escrever cartas em
latim, e ao mesmo tempo occupava*se na educação litteraria dos filhos das
pessoas mais distinctas da corte. Morreu em Lisboa com 52 annos de
edade.
Em relação á sua época possuía Cataldo bastante instrucção, e vé-se pelas
suas obras ter sido eminente no conhecimento da língua latina, na qual todas
são escriptas. O único exemplar doestas, que actualmente me consta existir
em Portugal, acha-se na Bibliotbeca Publica do Porto, havendo também na
da Academia Real das Sciencías algumas folhas d'um outro exemplar. Um ou-
tro ainda se sabe existir em Paris em poder do sr. Ferdinand Denis. O exem-
plar da Biblíotheca do Porto está falto de rosto, e de algumas folhas no
fim.
Na primeira folha lô -se o seguinte titulo: Cataldi aqiuleprimus ad Ema'
nuelem phUosophantissimum portugaliae regem ethiopie maritime et indie.
Esta obra (da qual já o sr. Alexandre Herculano fez menção no primeiro
volume do Panorama) é em folio: os caracteres são gothicos, os próprios da
época.
Diz-se na primeira folha, em letra de mão, que este livro pertencera á li-
vraria do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, e no Om da obra tão bem se
acha escrípto na mesma forma de letra— Impressum Uliissipone anno a parta
Virginis MD mcnsis Februarií die xxi.
Além de se tornar este livro muito apreciável pela sua extrema raridade, '
faz-se também muito digno de estimação como documento do progresso da
arte typographíca em Portugal. Segundo nos diz o Panorama^ foi seu impres-
sor Valentim de Moravia.
E' muito interessante uma carta de Cataldo ao rabi de Nápoles procurando
tanto a conversão d' este como de seus correligionários. Porém para melhor
intelligencía d'ella é mister saber que tendo os reis catholicos expulsado de
seus estados os judeus n'elles residentes, e querendo D. Manuel rei de Portu-
gal casar com D. Isabel, filha dos referidos reis, viu-se por isso obrigado a an-
nuir ás exigências fanáticas d'aquelles de expulsar também doeste reino os ju«
* N*e8te resumo biograpbico, exirahido do que precede a coUecçao das obras de Ca-
taldo publicadas no vol. 6.° das Provas da Historia Genealógica^ composto em latim por
Antooio de Castro, nada se vô que nos possa, levar a crer que Calaido, por so ver des-
presado na sua pátria, viesse cstabelecer-se em Portugal, como se diz no !.• vol. do Pa-
norama^ a pag. 165.
2 Devia ser nnles de maio de 1490, epocha da morto da Princeza Santa Joanna. —
V. Fr. Luiz de Sousa, Historia de S. Domingos^ liv. 3.% cap. 10.
' António Ribeiro dos Santos teve conhecimento de ires exemplares, ainda existentes
em ícu tempo. Memorias de Litlcratura da Academia^ vol. 8.", pag. 97.
CA 235
deas aqai residentes. Foi um passo bem impoiitico o fmiestissimo para este
paiz, mas o caso é que de poucas perseguições tào cruéis nos faz menção a
bistoria, como da, que se fez aos judeus d*este paiz em i496. Entre outras
cruezas praticadas contra este infeliz povo mandou D. Manoel tirar-lbes todos
os filbos e filhas de quatorze annos para baixo, e distribuil-os pelas villas e
logares do reino, onde á sua própria custa mandava que os creassem e dou •
trinassem na Fó de Cbristo. £sta crueldade encheu os judeus d'um tal furor
que muitos d'elles mataram os filhos, afogando -os e lançando-os em poços
ô rios, atirando até mesmo com elles á parede, e querendo antes vel-os acabar
d'esta maneira, que apartal-os de si, sem esperança de os tornarem a ver'
chegando muitos no auge de seu furor até a matarem-se a si mesmos. ^
Nao só em Portugal e Castella eram os judeus opprimidos e detestados,
6ram'no egualmente em outros paizes, e daqui infere Cataldo que deveriam
deixar sua religião, e seguir a de Christo, sendo também argumentos condes-
centes para o mesmo fim o cheirarem mal, e alguns outros de egual valor.
Eis a traducção da carta curiosa, como lhe chama o sr. A. Herculano. ^
CARTA DE CATALDO
Cataldo ao venturoso rabi de Nápoles, afim de o converter á verdade.
• Accorda, accorda depressa: ergue finalmente a cabeça: até agora bastan-
te, e de mais tens dormido.
«£* chegado o tempo de despertares. Porque hesitas ainda, e nâo vais lavar
todo esse corpo com agua sacratíssima, verdadeiramente salutifera?
«Obriga-me a escrever-te o amor da pátria. E' mais perdoável. o crime
saindo-se cedo do erro, que permanecendo n'elle. Se me fora possível da me-
lhor vontade fallaria pessoalmente comtigo.
«Nao vês claramente todo o mundo n'uma inundação contra os judeus?
Arder em fogo todo o mundo contra elles ? Vós estaes já reduzidos a nada;
* Damião de Góes — Chronica d^el-rei D. Manuel^ parle 1.', cap. 20.
' Quando António de Castro publicou as obras de Cataldo eslava persuadido de qua
úoda se achavam inéditas. «Yenerant forle ic manus nostras, Sereníssima Princeps,
Cataldí quscumque cxlabant opera, qu», cum studio quam maiimo potuimds, illuslrata,
a tenebris in lucem edere, victus amicorum precibus statuissem : le polissimum elígi, cui
Sículum ipsom una cum lucubratiunculís nostris, lícet non fallaci ingeoio, nostra tamen
mediocritate appositís : nunc primum edilum consecrarem.
N'outra parle. «Seio ego, fore quamplures, bumanissime Lector, qui cum primum b»c.
Cataldi opera in lucem veoerínl (ut sunt hominum ingenia) nostiam quantumlacumque
in bis fuit, operam si non palam, saltem clanculum rcmordeant; et génio indulgentes li-
bere insectentur. . . . Forte in bíbliotheca quadam inter qusdam nondum eicussa cum
piara evolvo volumioa, librum capite censum lacerum seroissum conspicio: et qui (ut
ita dicam) jam pene cum blattis, et tincis rixabat, quem cum lego, coepi continuo heroici
carmÍDÍs majestale moverí.» Provas da Historia Genealógica da Real Casa Portvgueza^
Tol. 6.«, pag 391 e 393.
É porém esta edição muito menos digua de apreço que a de 1500, até mesmo po''
Dão trazer os escriptos em prosa.
«6 CA
tendes sido expulsos da Allemaohaf Inglaterra, Hespanha, França e Sidlia:
n*ania palavra de toda a Eoropa para a casa da perdição. Não tendes onde
reclinar a cabeça, ou para failar com mais precisão, onde ponhais nm onieo
pé!
«Como é grande vossa cegueira I Não reconheeeis vir todo isto de Deosf
Não qneiras pois ser, rogo-te^ tão intrépido soldado para perdi^ de tea corpo
e de toa alma. Deos clementíssimo pelo espaço de mil e quinhentos annos soa-
vissimamente vos chamou, e vos nntrio: e agora mesmo, apezar de toda vossa
dureza, não cessa de vos chamar: actuahnente porem insta muito mais, e esta
será a ultima admoestação.
«Com effeito, Hanoel ministro de Deus Santíssimo, vos acconselha, como
a filhos caríssimos, e dirige para o caminho da verdade. Não me admira qoe
jovens e ignorantes se conservem pertinazes; porém admiro-me que velhos e
peritos versados em tantos e tão excellentes livros permaneçam emperrados.
«Se recusas crer em tantos milagres não so manifestados, mas até evidea-
tissimos depois do nascimento de nosso Redemptor dá credito a teus numero-
sos e grandes prophetas cantando por diversas maneiras^ como músicos em
coro, a concepção de nosso Salvador, seu nascimento, humanidade immaca-
latíssima, vida, paixão e resurreição.
«Todas essas bellas prophecias, todas tendentes ao mesmo fim, foram já
plenamente cumpridas. E senão foras instruído n*eUas, de bom grado t^as re-
petiria uma por uma; N'essas prophecias muitas vezes os prophetas fállando
dos tempos passados referiamse comtudo ao futuro. — Como filhos os creei e
excUteiy porém elles me despresaram. — Conheceu o boi seu dono, e o jumento a
estrebaria, que lhe dava seu dono; porém Israel me não conheceu, — E elle foi
levado corno um cordeiro á morte. — Sublevaram-se os reis da terra, e os prín-
cipes se congregaram contra o Senhor e r/mlra seu Christo: e outras muitas,
que tu bem sabes, e cujo sentido tu embaraçado invertes e depravas com ro-
deios e subterfúgios.
«Mas dizes, (como também os outros teem por costume), se Deus estava pos-
suído de tão ardente desejo de reparar o género humano, não o poderia fazer
com o mínimo aceno, conforme aquellas palavras— O mesmo foliou, e tudo se
fez; o mesmo mandou, e tudo foi creado ?
«Ó miscrrimo entre os miseráveis! Sequioso no meio de crystallinas e abun-
dantes fontes, não vés a agua, e esfomeado no meio das mais delicadas igua-
rias recusas a comida ? Visto estares a ponto de perecer uma só te ofTerecerei,
mas delicadíssima, a qual se bem comeres e digerires, nunca morrerás: Deus
é a summa bondade, e pertence á summa bondade o repartir de si alguma coisa
com todos. Para nos fazer participantes de seus dons foi mister encarnar o Ver-
bo de Deusy e viver entre nós para nos ensinar. Finalmente para exemplo da
humanidade não recusou padecer uma morte, pela qual se havia de viver éter-
namente.* Ora pois, amigo, dissipa de tua alma as trevas; arreda a escuridão
dos olhos da inteliígencia, e dirige sem constraugimento teus passos para a
direita, que c estrada real, pois o caminho da esquerda nunca é bom.
«Chamei*te amigo na qualidade de homem; mas na de judeu tenho-te por
CA 537
inimicissifflo. PermitUsse Deus, que como tal nem te conhecesse, nem te expe-
rimentasse. Muito melhor é começar mal, e acabar bem, que fazer o contra-
rio.
«PSe diante dos teus olhos a Paulo e a Judas: Judas começando bem, aca-
bou mal: com Paulo deu-se o contrario. Faze por ser antes Paulo, que Judas.
Este, desesperando, inforcou-se, e matando-se deu cabo d'um homem scele-
rado. Aquelle, emendando seu erro, veiu a ser o mestre das nações. O pri-
meiro está vivendo com o Diabo, o segundo com Deus. Está na tua mão se-
guires a um, ou a outro.
«Se por acaso cem famosos médicos, entre os quaes Hippocrates, Chiron
e Esculápio, ou Apollo em pessoa, viessem Juntos para curar um doente, se o
doente não quizesse tratar-se, debalde empregariam seus artiflciosos poderes
contra vontade do enfermo.
tDeixa, deixa por algum tempo examinar tuas feridas: não vae nisso nem
perigo de vida, nem terás alguma dôr ou incommodo. Responde-me: d*onde
procede que nem um só judeu, posto que perfumado com bons aromas, e ves-
tido com preciosas roupas, deixa de cheirar mal; fede, e causa náusea aos cir-
curastantes: e apenas recebe o sagrado e santo baptismo, já não exhala, como
anteriormente, fetido, parecendo ter vindo das immundicies; mas pelo contra-
rio, como se tivesse saido d'um rosal, ou d'um logar cheio de deliciosos aro-
mas, não sei a que suave e odorífero cheiro rescende, por um repentino mila-
gre de Deus.
^Mas asseveras que n*esta tão grande assolação, destruição e carnificina os
judeus são martyres á maneira dos discípulos de Jesus Chrísto, que com grande
promptidão sofifreram variadíssimos tormentos em diversos legares pelo seu
prediiectissimo mestre !
«Em tudo devemos oppôr exemplo a exemplo. Teriam esses ladrões sofiGri-
do tantos trabalhos e afflicções, tão crudelissimas mortes corpóreas com o mes-
mo espirito com que aquelles ditosíssimos varões as padeceram ? O martyrio
€onvertia-se para os christãos, quando estavam no meio das torturas, em de-
licias, alegria e admirável jubilo: as brazas convertiam-se em rosas, que fa-
cihnente os reanimavam quasí moribundos. Quem os invocava, e cria n'elles
promptamente, era livre de doenças e padecimentos. Peço-te ainda que me
digas: qual é a lei, que ordena que aquelle que se infor6a, se apunhala, ou se
deita ao mar, seja havido por martyr? Será martyr, mas de Satanaz.
tOht Quantos vimos nós n'este mesmo anno coroados com um tal marty-
rio? Muitos valentes e magnânimos cireumcidados com o fim de não possuí-
rem a gloria eterna, para cuja posse deveriam praticar isso mesmo, primeira-
mente degollavam sua mulher e filhos, e em seguida á degollação, para que
elles não fossem sem companhia, apertado o pescoço com uma corda, ficavam
dq)endurados como lindíssimo espectáculo ! Ó cavalleiros dignos de eterna me^
moriat
tTu, porém, manhoso, no meio de misérias taes, como da seita de Platão,
e também para pareceres outro Platão, ris, e finges-te contente, emquanto os
outros pelos seus merecimentos vão caminhando para o inferno.
23» CA
t Andas bem: exhorta-os nas synagogas com taas arengas a que se mos-
trem fortes alliados de Satanaz.
•Dizei-me,ó filhos e perfeitíssimos imitadores de Jadas: porqae jalgaes vó»
qne o ser christãos é ser uma coisa vil, abominável e horrenda: vós que, ape-
sar de não serdes christãos, ousaes commetter acções tão infames? Quando o
piedosíssimo Manuel, depois de muitas supplicas, exhortações e carinhos, à ma-
neira d'um óptimo pac, vos chamava (não se passou ainda muito tempo) para^
a fé catholica, fé própria de homens de intelligencia, obriga-vos por acaso a
vos transformardes em serpentes, sapos, morcegos, e percevejos? *
tÓ geração não de homens, mas de malvados brutos ! O benigníssimo rei
acolheu-vos, e não se despresou de tomar-se vosso pae junto da fonte sagrada,
6 também de dar seu nome áquelles, que não o mereciam.
•Vós, os mais perdidos de todos os anímaes, obraes como mulas. Tratadas
bem por seus donos, que em signal de amisade e carinho as aíTagavam, pas-
sando-lhes levemente a mão por cima do espinhaço, recalcitram, e ou lhes fer-
ram os dentes, ou lhes atiram um couce ao peito, ou ao estômago, d^onde lhes
provém muitas vezes uma horribilissima morte.
•Ó víboras, ó basiliscos mais perniciosos, que as próprias víboras, e os pró-
prios basiliscos ! O justíssimo rei não poderia, em minha opinião, ofTerecer um
mais agradável presente ao rei celeste, que esfollar a todos os príncipes da sy-
nagoga, e, depois de esfollados, arrojal-os a um rio, onde houvesse bastantes
penedos: rio, que, ha tanto tempo, desejam ir vér, e onde, (conforme elles pró-
prios dizem) ha abundância de judeus reinando e triumphando; e as pelles
d*elles cheias de palha, collocal-as nas summidades das torres. Ignoras porven-
tura, que n'este mesmo anno, em que nos achamos, os Davids, teus parentes
(cujo numero era infinito) foram todos mortos na Panooia, e piissiinamente es-
trangulados pelo povo ? Ó habitantes da Panonia, vossos excellentes manjares
constam de óptimas carnes 1 Julgando ter um lirio, senti um espinho,
«Mas voltemos ao motivo, pelo qual se escreveu esta carta.
«Se eu visse, que tão excellentes pessoas (toma bem sentido no, que vou
dizer-te), quaes sào os ponliflces, imperadores, reis, duques e condes eram ju-
deus, e não christãos: ou que os vilissimos judeus faziam ao menos um pe-
quenino milagre d'aquellcs prodigalisados pelos apóstolos, tão pobres, eu re-
negaria a crença, qu^ hoje tenho por inabalável, e me faria um immundo cir-
cumcidado. Mas como observo perfeitamente o contrario, sou mais duro, que
diamante, e até mesmo nem o sangue de bode me amoileceria. - Fazc-me a
mercê de me provares que na lei de Christo existe alguma coisa, de que se
deva fugir.
^ Estes e ainda maiores impropérios eram usados trivialmente nas arjíumenlações
d'aquella epora- Para prova Iciam-^e os escriplos do nosso thcologo Diogo Paiva de An-
drade conlra o luthcrano lúímnilz, c \ice versa.
* Era opinião de nossos antepassados (|uc os diamantes amolleciam facilmenie coro
o sangue de bode. V. Vr. Amador Arraes — Dial. iv da (iloria c Iriumpho dos ludlanos^
cap. 23 foi. 130. (Ed. de iGOí;.
CA 239
«Ora, pois, o premio do paraizo, apesar de haver de ser muito grande, não
o teriam as boas acções; e as más não teriam o do inferno, sendo digníssimas
d'elle? Na necessária lei de viver, que melhor coisa e mais conveniente se pode
descobrir para a conservação do corpo e da honestidade da vida? Converte-te
depressa ao caminho da verdade, e não qaeiras esperar os males. Deos, de to-
dos os bens é o bem mais perfeito, e tem os braços e o peito muito abertos
para os peccadores, e não para os justos. O Espirito Santo te illumine.»
• •
Na referida collecção das obras de Cataldo, impressas em 1500 apparece
em primeiro logar um poema em quatro cantos sobre o fallecimento do prín-
cipe D. Affonso, dedicado a el-rei D. Manuel, e o qual começa do seguinte
modo:
1 Mesta ^ viris: jocõda deo: superaque catervis
2 Cu gemitu: íletuque cano: reditúque per auras
3 Alphonsi in patriam: falsoque cetera lugent
4 Extinctum: eterno cum multis vere fruentem
5 Cam patris matrisque graves in gaudia luctas
6 Tum varii populi: pro re pro tempore versos
7 Sacrosque cum ludis ebure festosque hymeneos:
8 Jura diem diem fancti successít avunculus heres
9 Emmanuel: summo regnis electus olympo:
10 Pace pins: belloque ferox: mirandas utroque
11 Mox letus dominum (trinum veneratus) et unum
12 Omnia victuro cantabo secula plecto.
13 Tu mibi meccenas: tu sis octavius: et tu
14 Rex divine (precor) faveas quodcunque canenti:
15 In mea tu spira foturum viscera numen
16 Ipse licet nostri pars sis non parva laboris. Etc.
Este mesmo poema (mas com bastantes variantes) apparece reimpresso no
jà referido volume das Provas da Historia Genealógica. ^ Segne-se outro poema,
a que seu auctor deu o nome de Arzitinge, ofTerecido a 0. João II, rei de Por-
tugal, e nó qual canta a conquista de Arzilla e Tangere occupadas por D. Af-
fonso V.
Vem depois o Líber de perfecto homine, obra composta por ordem do rei
D. João. Na dedicatória queixa-se o auctor das difficuldades, que teve para
escrevel-a, pois necessitando consultar para a composição d'ella varías obras,
o não poude fazer por serem então em Portugal os livros muitos raros, e es-
1 Como sabem os versados nos livros antigos esta é a orthographia do século xti.
' Omnia Cataldi Âquíl» Sicnli, quas eitant, opera per Ântonium de Castro, deouo
correcta, ac nunc primum in lucem edita, quorum Catalogom sequens pagella indicabit.
Appositis in margine adnotaliunculís, qose brevis commenlarii vice esse possnnt.
J40 CA
ses poacosy que possuía, tínha-os trazido de Itália, sendo em geral obras de
jorispradeacia.
Segaem-se varias outras composições, até que se encontra a ora^ reci-
tada por Cataldo em Évora na occasiao de chegar alli a princeza D. IzabeL
N'esta composição engrandece os portugaezes o mais possivel, fazendo-nos os
mais pomposos elogios.
Segue-se soa correspondência com pessoas das mais distinctas, tanto na-
cionaes, como estrangeiras.
Creio ser este o livro mais antigo impresso em Portugal, no qoal se en-
contram caracteres gregos.
António Ribeiro dos Santos diz que em 1509 se fizera oma segonda edi-
ção das obras de Cataldo: isto parece*me engano: nao conheço [outra edição
senão a de Affonso de Castro, (e esta só das obras poéticas) e impressa no vi voL
das Provas da Historia Genealoçica da Real Casa Portugueza, a começar n^
pag. 389 doeste vol, até 571
Era Cataldo respeitado pelos sábios estrangeiros, e muitas vezes consul-
tado em vários assumptos, principalmente no, que dizia respeito à pureza das
palavras latinas, de que temos um exemplo na carta, que lhe escreveu o Sici-
lianno Marco Ennensi.
Também Cataldo (como jà notou o sr. Alexandre Herculano) ^ sempre
que designa em latim as palavras portuguez e Portugal emprega os termos
LusUani e Lusitânia, contra o que estava em uso pouco antes, que era dizer-se
n'aquella lingua Portucalenses e Portucale.
Para se ver como os estrangeiros muitas vezes andam levianamente na
composição de suas obras basta dizer que consultando eu vários livros para
me informar do que dizem acerca de Aquila (este escriptor é assim conhecido
entre os estrangeiros) copiando -se todos uns aos outros; apenas dizem ser na-
tural da Sicilia, e ter-se vindo estabelecer em Portugal em 1509, onde compo-
zera varias obras! ! Já vimos, que se devia achar entre nós antes de 1490.
238) CAUSES DE L^ÉVÉNEMENT DE PORTUGAL. Ouvrage de-
dié à totite puissance seculiêre et temporelle. 1759. Sem logar de impressão.
239) OAVAZZI (P. GIO : ANTÓNIO — DA MONTECUCOOLO).
Falleceu em Génova, no anno de 1692. ^
E. — Istorica Descrizione de* tre regni Congo, Modamba, et Angola situati
nelV Etiópia inferiore Ocàdentale e delle Missioni Apostoliche esercitatem da
Religiosi Cappucini, accuratamente compilata dal — Sacerdote Cappucino U
quale vi fu' Prefeito e nel presente slile ridotta dal P, Fortunato Almandinida
Bologna Predicatore d^irislcsso Ordine alV illmlrissimo Signor Conte Giacomo
Isolani. In Bologna 1687, per Giacomo Monti, foi. 933 pag. Com esUimpas no
texto representando feras, aves, e usos dos povos mencionados.
* Historia de Portufinl. Inirodncrâo pag. 9.
- Firmin Didol — Munvrltc Bvxjraphie rnivcrseUe^ vol. 9.*, pag. iS7.
CE 241
P. Didot falIa-DOs d*uma outra edição feita cm Milão, do anno de i690.
240) OENNI STORICI E CANONICI dei patronato portughese nelle
Indie (hientali. Parigi, 1834, folheto. — (Sobre o padroado portugaez no
oriente.)
241) OENSORINO (VICTORIANO).
E. — Furfur Logicae Vemeyanae. Pampelunae, 1752, 4.*»
Este opúsculo foi escrípto impugnando o Novo Methodo de estudar do nos-
so celebre Luiz António Verney. *
^ «Luiz ÂDtonio Yeniey, auctor do verdadeiro metbodo de estudar. A acceitaçSo,
que esta obra grangeou, e com justa rasao na republica litloraria, deu o ultimo teste-
munho ao merecimento do seu auctor, sendo logo traduzida por vai ias nações estrangei-
ras, e adoptada nas escolas da mesma Itália. É digno de ler-se o elogio, que moderna-
rocDte Ibe consagrou Degerando, correspondente do Instituto Nacional de França e das
academias de Turim, Leão e da sociedade das artes de Génova, oa sua historia compa-
rativa dos systemas de phílosophia relativos aos principies dos conhecimentos humanos,
tomo 1.", png. 102, onde diz: Que Luiz António Yeruey, escriplor tão animoso em suas
tentativas, como sábio cm suas máximas Gzera, apesar de tudo, no século passado admi.
raveis esforços para que brilhasse na Hespanba c em Portugal a luz que íllustrava o
rosto da Europa.»
Para completar este trabalho e pôr em pratica as regras, que prescrevia em seu
methodo compoz uma grammalica philosophíca da língua latina, que será sempre louva-
da o estimada entre os litleratos; obra de apurado gosto e do tanta utilidade para todas
AS nações, que mereceu logo ser adoptada nas escolas lie Itália, no coUegio real de Ná-
poles» no ephebeo régio, e em outros diversos seminários na Apúlia, e em muitos mais
fora do Itália. Compoz também a sua Lógica em G livro:<, que imprimiu em Roma, e de-
dicou ao rei D. José I, o qual convencido do seu merecimento, creando então as escolas
menores d'esle reino, a mandou lo^o adoptar para uso d*ellas. Não foi só aquelle grande
rei, também as nações estrangeiras a adoptaram, convencidas de sua utilidade, e de
quanto eram bem merecidos os elogios que lhe faziam, no Journal des Scavants^ os quaes
analysando-a com toda a imparcialidade, lhe deram a preferencia a todas, quantas até
eotfio tinham apparecido dizendo que Verney peia firmeza de seu caracter e espírito, pela
attençâo com que evitava os enganos dos sentidos, e pela louvável perseverança com
que regeitava todas as preoccupaçOes que o habito, e costumo e as diversas paiiOes tem
introduzido no mundo, era o único bomem'que julgavam mais próprio para tratar di-
gnamente a Lógica. Asiim, e pelo mesmo systema, publicou em 1753 quatro livros de
metaphysica, que lambem imprimiu em Roma, e tiveram egual estima em toda a Itália,
que então era o berço das sciencias. No Jornal dos Litleratos de Roma para os annos de
175% e 1753 se dão a esta obra os títulos de bellissima e eruditíssima por illustrar mara-
TÍlhosamenle aquelia matéria. Escreveu outra obra intitulada Apparatus ad Philosophia
et Theelogiam^ que lhe grangeou muito credito, e os elogios dos sábios auctores do reTo-
rido jornal, os quaes disseram que a historia d'estas sciencias escrípta com gosto e intel-
ligencia fdra bebida pelo seu aactor nas mais puras fontes, o que eile mostrava uma
equidade o moderação tal, que era pouco commum, e que fazia tanta honra aos verda-
deiros sábios.
Retratos e elogios dos varOes e donas^ por Pedro Joscde Figueiredo.
TOMO I 16
242 CE
S42) GENTELLAS (JOACmM DE).
E. — Voyages et conquestes des roys de Portugal ès Indes de Orient, Ethw-
pie, Mauritanie d' Afrique et Europe. Le tout recuelly de fideles tesnunngs et
mémoires du Sieur. Paris, 1578, 8.*»
243) OERUTI (D. JAOIMTO).
Parece ter sido sócio correspondente da Academia Real das Sciencias de
Lisbba, por isso qae no l.*" vol. das Memorias d'esta illostre corporação qi-
parece um pequeno artigo com o seguinte titulo: ^
Observadon de la total Emersion ò fin dei eclipse de sol dei dia i7 de oe»
tóbre de 1781, ai Observatório de la Academia Real de los Cavalleros Guar*
dias Marmas de Cartagena por—, Primer Professor de Mathematieas y direcUfr
de los Estúdios, y D. Joseph Gonzales alferes de navio y segundo professor d$
mathematieas de la referida Academia.
244) CERVANTES.
O celebre auctor do D, Quixote, uma das maiores glorias de Hespanlu,
mostrava-se muito affeiçoado às coisas portuguezas. O sr. Carlos Barroso es-
creveu e publicou em Lisboa no anno de 1872 um opúsculo no qual mencio-
na os diiTerentes legares, em que Cervantes se occupa de Portugal.
•Cervantes veio a Lisboa com Phelippe II em 1581, onde se namorou se-
cretamente de certa dama incógnita, e de quem teve uma âlha, cujo nome
foi Isabel de Saavedra. Suppôe-se que seus amores na corte Lusitana lhe ins-
piraram a linda novelia pastoril da Galatea, onde o auctor figura disfarçado
no pegureiro Lauso, que suspira pela formosa pastora Silena. O escriptor de
tâo bello idyllio assistiu à tomada da Ilha Terceira pelo Marquez de Santa
Cruz.
«No D. Qaijote dedica Cervantes um merecido elogio ao famoso rio Tejo,
que beija as praias da inclyta cidade de Ulysses, e cujas areias consta da tra-
dição serem de ouro.
«Entre os livros, que adornavam a bíbliotheca do engenhoso Gdalgo, encon-
traram alem de outros de auctores portuguezes, o Palmeirim de Inglaterra, e
a Dianna de Jorge de Montemayor.
Qaando exalta a imaginaria jerarchia de D. Dalcinea dei Toboso, afflrma
que não ó oriunda de outras famílias celeberrimas de Hespanba, que menciona,
nem mesmo dos Alemcastros, Palias e Menezes de Portugal.
Era do exccllentissimo Camões uma das éclogas, que haviam de representar
as pastoras, em cujas rede^ se embaraçou o pensativo escravo de Dulcinea.
No Licenciado Vidraça observa- se a anecdota do porluguez, que pintava
as barbas de negro, o qual altercando com um castelhano disse-lhe por estas
barbas, que tenho no rosto, a quem redarguio o licenciado: Nào digaes tenho,
dizei Tino (palavra hespanhola, que em porluguez equivale a Tinjo.)
Em língua portugueza canta o namorado Manuel de Sousa Coutinho seus
' E>la Observação occupa «is pag. I>26 e 527 do referido volume.
CE t43
amores, cuja Darraçao occupa todo o cap. x do liv. I do3 Trabalhos de Persiles
e Segismonda.
Na interessantíssima parte terceira dos mesmos presenceamos a chegada
a Portugal, e desembarque dos viajantes na praia de Belém, donde se dirigem
á famosa Lisboa, cujos ricos templos e hospitaes sào celebrados.— Aqui ei amor
y la honestidad se dan las manos, y se pasean junto: la cortesia no deja que
se llegue la arrogância, y la braveza no consiente que se le acerque la cobardia:
todos seus moradores son agradables^ son cortezes, son liberales, y enamora-
dos, porque son discretos: la ciudad es la mayor de Europa, y la de mayores
tratos: em ella se descargan las riquezas dei Oriente y desde ella se reparten
por el universo; su puerto es capaz no solo de naves, que se poedan reducir á
numero, sino de selvas movibles de árboles que los de las naves forman: la
hermosura de las mujeres admira y enamora, la bisarreria de los hombres pas-
ma» como ellos dicen; finalmente esta es la tierra que da ai cielo santo y co-
píosismo tributo.»
Ao (aliar Cervantes de Valência e de suas lindas mulheres, diz que é gra-
cioso o dialecto valenciano, e que só com o idioma portuguez— puede competir
eu ser dulce y agradable.
Na Viagem do Parnaso, canto iv encontram-se os hcguintes versos:
Asi como las naves que cargadas.
Llegan de ia oriental índia à Lisboa,
Que son por las mayores estimadas;
Esta llegó desde la popa à proa
Cubierta de poetas, mercancia
De quien hay saca en Calicut y en Goa.
De la alta cumbre dei famoso Findo
Bajaron três bizarros lusitanos,
A quien mis alabanzas todas rindo
Con prestos pies y con valientes manos
Con Fernando Corrêa de la Cerda
Piso Radrigues Lobo monte yllanos.
Y porque Febo su razon no pierda,
£1 grande Don António de Ataíde
Llegó con fúria alborotada y cuerda.
Paliando de Bento Caldcra traductor dos Luziadas diz o seguinte:
Tu que de luso el singular tesoro
Irigiste en nueva forma à la ribera
Dei fértil rio, a quien el lecho de oro
Tan famoso le hace adonde qulera;
Con el devido aplauso, y el decoro
Devido á ti, Benito de Galdera,
Y á tu ingenio sin par prometo honrarle
Y de lauro, y de hicdra coronarte.
244 CH
245) OHAPELLE (J. DE LA).
E. — Vingtroisiêènie lettre du Suisse contenant un examen du Manifeste
Latin de Portugal Basle. 1704, 4.*» — (Vigessima terceira carta do Suisso, con-
tendo um exame do manifesto latino do Portugal.)
246) OHARTE DU PORTUGAL comparée à la Charle Francatse et à
la ConstitiUion du BrésiL 1826.
247) CHASTE.
E. — Voyage à Vlle Terceira des Azores. Paris, 1706.
248) CHASTE (Comuendàdor de)
«A esquadra de D. António ^ que em julho de 1582 chegou à ilha de S.
Miguel, c n'ella entrou, mal poude gozar da rapidez do triumpho, que egaal, oa
maior poder do marquez de Santa Cruz corria sobre ella. Doze dias depois, nas
aguas de Villa Franca do Campo, oppunham armada a armada, e, em ordem
de batalha, terrível era o aspecto de ambas as forças. Combatiam, d'uma parte
o desespero d'uma causa quasi perdida; da outra, o receio de um rovez, qae
podia díílícultar, comprometter mesmo a posição, e o poder do soberano do
Castella. Eram dois tremendos competidores rivaes empenhados em lucta de
morte! Ao mais infeliz, que succumbisse, ignóbil sepultura; ao vencedor, a posse
da belleza, que na lucta ambos iam jogar uma coroa, objectos entào de tantas
ambições e complacência; hoje, ornarto espinhoso, talisman impotente, coja
fronte miraculosa estancou para sempre!
«Depois de tão amarga provação só as ilhas Terceira e Fayal continuaram
a resistência ao vencedor até o anno seguinte (1583), em que novo e maior
poder de nova armada, comraandada pelo mesmo marquez chegou a vencel-asa
despeito mesmo do recente soccorro, que tinham recebido de França na expe-
di(;ão commandada por mr. de Ghaste.
•E' d'esta ultima expedição Franceza e dos maus successos, com que o
partido de D. António desfaileceu de todo ante o iriumplio, que rematou a
conquista dos Açores pelos hespanhoes, que trata a relação que agora, e em
continuação damos pela primeira vez em lingua vulgar, como valioso subsidio
para a nossu historia.
« A viagem foita á ilha Terceira dos Açores pelo commendador de Cbaste
foi original e contemporaneamente cscripta em francez. Que o auctor foi teste-
munha ocular dos successos, que narra, parece proval-o o que elle próprio diz
quando no fim da viagem falia da barbaridade dos biscainhos, cujos navios
faziam também parte da armada lie^panhola. Seria auctor da viajem o próprio
commendador de Chaste ?
«No fim d'ella se diz que clle entregara nas mãos da rainha de França —
un ahregé de ce discotirs—a mais abai.xo na allocução, que por essa occasiâo
lhe dirige, confessa que o discurso summario fora csciipto por elle «vous ver-
* Panorama de ISJiC, vnl. 13. ', pn;?. 37.
CH 245
rez s*il vous plalsl, ce que la veriló m' a/W// ecrire cn ce papier.f ?íao nos pa-
rece pois mní arriscado a erro suppor que a viagem seja escripta pelo próprio
commendador.
«Melchisedec Thevenot foi, que nós saibamos, o primeiro, que d*ella fallou,
e que a promettcu dar nas suas Relations de divers voyages curieu^c; masnâo
appareceu na primeira edição, que fez, e só depois da sua morte vem na 4."
parte do tomo â.^" da nova edição; Paris 1696, comprehendendo 18 pag. em
folio.
•O titulo da obra é o seguinte:
•Viagem feita á ilha Terceira pelo sr. Commendador de Chaste, gentil ho-
mem ordinário da camará d'el-rei (de França) e governador por sua magostade
da cidade e castelio de Dieppe e Arques.» ^
E' narração mui interessante e digna de ser lida.
2W) OHATEAUBRIAND (FRANÇOIS RENÉ).
Nasceu em Saint Maló em setembro do anno de 1768, ^ e falleceu a 4 de
jalho de 1848.
Fugindo em 1791 aos furores da revolução franceza com destino á Ameri-
ca, passou o immortal auctor do Génio do Christianismo pelas nossas ilhas dos
Açores, e desembarcou na Graciosa, onde foi muito bem acolhido pelos frades
d'am convento, que ali havia. N'esta mesma ilha esteve em perigo de vida por
se virar a lancha, quando ia a desembarcar. Admirou então Chateaubriand,
segundo nos diz o escriptor de sua vida, as riaas collinas cobertas de cepas, o
aeeio das casas, a apparencia vigorosa dos camponezes queimados pelo sol, c
quasí nus, a vivacidade das mulheres baixas e morenas, mas bem apessoadas
e vivas.
Ao chegar à Graciosa o navio, em que Chateaubriand ia encharcado, os ha-
1 A rainha mãe do rei, resolve oppor-se aos esforços qae o rei de Hespanha teotara
para redazii á sua auctorídade as ilbiis Terceira e Fayal, resto do roioo de Portugal, que
j4 possuia, havia cinco ou seis annos, sob titulo de vizinho forte e esperto, segundo creio»
para cujo Gm desde muito preparava, tanto em Lisboa coroo nos demais portos do seu
domioio, uma grande armada. O senhor D. António, acciamado rei do dito reino depois
da morte de seu predecessor el-rei D. Sebastião, tendo por muito tempo implorado auxi-
lio da dita rainha na extremidade de seus negócios, e para isso seguido e andado larga-
mente na corte do rei de França por boas considerações, prometteu Sua Magestade assis-
tir-lbe, dando ao sr. commendador de Chaste o commando de nove companhias de pé.»
Pag. 38.
• Depois do dito commendador agradecer a Sua Magestade lhe supplicou mui bumil-
démenle considerasse a importância d'este plano e d'este embarque, a que iião dava con-
sideração pela perda da sua vida, com tanto que podesse dar alguma satisfaçilo a Sua
Magestade o que julgava mui diilicil precipitando a viagem por causa das proposições de
um pobre rei apaixonado e desesperado de poder sor jamais restabelecido no seu reino
de Portugal, de qae lhe n<lo restavam senito as ditas ilhas, que se propunha conservar
a expensas da honra e da vida de outrem, sem ter mesmo a menor experiência em cou-
sas de armas.» Idem.
* Ancelot, il»^ rA''a!jL*mie F!an';;aiic — Vie de Chateaubriand^ pag'. 4.
246 CH
bitantes d*aqaella ilha, desconfíando de que fosse algam navio argelino, por
nào conhecerem a bandeira tricolor, que ainda não tinham visto, correram to-
dos à praia e perguntavam em portuguez e em varias outras lingoas, quem
eram, e qne queriam, e os do navio também lhes respondiam em portuguez^
e em outras linguas.
O illustre auctor dos Martyres e do Itinerário de Paris a Jertisalem, obras
em que por vezes também apparece o nome de Portugal, conhecia bem quanto
valia o nosso primeiro épico, pois fallando d'elle, diz :
•Finalmente os portuguezcs perseguiam na Africa os mouros já expulsos
das margens do Tejo : eram necessários navios para sustentarem e accompa-
nharem os combatentes ao longo das costas. O cabo Nunes deteve por muito
tempo os pilotos; Gil Eannes o dobrou em 1433; a Madeira foi descoberta, oa
para melhor dizer tornada a descobrir : os Açores sairam do seio das ondas; ^
e como se estava sempre persuadido, segundo Ptolomeu, que a Ásia se appro-
ximava da Africa, tomaram os Açores pelas ilhas, que, na opinião de Marco
Paolo limitavam a Ásia no mar das índias. Pretendeu-se, que uma estatua
equestre, mostrando o occidente com o dedo se erguia na praia da ilha do
Corvo : algumas medalhas phenícias foram também trazidas d*esta ilha.
De Gabo Nunes os portuguezes surgiram no Senegal : costearam saceesst-
vãmente as ilhas de Gabo Verde, Gosta de Guiné, o Gabo Mesurado ao meio
dia da Serra Leoa, o Benin e o Gongo. Bartholomeu Dias tocou em 1486 o fa-
moso Gabo das Tormentas, ao qual deram dentro em pouco um nome mab
auspicioso.
Assim foi reconhecida esla extremidade meridional da Africa, que, no sen-
tir dos geographos gregos e romanos, devia ligar-sc â Ásia. Alli se abriam as
regiões mysleriosas, onde não se tinha entrado alô eniào senão por este mar
de prodígios, que viu Deus e desappareceu — 3/flrí' vidit et fugit.
Um espectro immenso, medonho ergue-sc em fronte de nós : sua attitade
é ameaçadora: seu aspecto feroz; sua tez pallida; sua barba espessa e esquá-
lida : seu cabello carregado de terra e lodo; seus lábios são negros; seus den-
tes amarellos : seus olhos scintiilam chamejantes
Elle falia : sua voz formidável parece sair dos abysmos de Neptuno.
Eu sou o génio das tempestades, diz elle, domino este vasto promontório
que nem Ptolomeu, nem Slrabo, nem Plinio, nem Pomponio, nem nenhum de
vós conheceu. Eu ponho aqui balizas á terra africana, a este píncaro, que olha
para o polo antárctico, e que até hoje, escondido aos olhos dos mortaes» se in-
digna u'esle momento com a vossa audácia.
De minha carne secea, de meus ossos convertidos sem rochedos, os deu-
ses, os inflexíveis deuses, formaram o vasto promontório, que domina estas
vastas ondas.
A estas palavras deixou cair un)a correnl(í do lagrimas, c desappareceu.
Com ollo extinguiu- se a nuvem tenebrosa, e o mar pareceu lançar um longo
gemido.
1 Voijmjc cn Améritiuc, pag. 28.
CH Í47
Vasco da Gama termioando uma navegação de memoria eterna, chegou em
1478 a Calicat, na costa do Malabar.
Tudo muda então no globo ; o mundo dos antigos está destruído. O mar
das índias já não é um mar interior, um lago rodeado pelas costas da Ásia e
da Africa : é um oceano, que d'um lado se junta ao Atlântico, do outro aos
mares da China, e a um mar do Este, mais vasto ainda. Cem reinos civilisa-
dos, árabes ou indíos, mahometanos ou idolatras, ilhas embalsamadas por aro-
mas preciosos, são patenteadas aos povos do occidente. Apparece uma natu-
reza completamento nova; o véo, que desde milhares de séculos occultava
uma parte do mundo, levanta-se : descobre-se a pátria do sol, o logar d'onde
elle sabe todas as manhãs para distribuir sua luz : vé-se a descoberto esse sá-
bio e brilhante Oriente, cuja historia se misturava para nós ás viagens de Py-
tbagoras, ás conquistas de Alexandre, ás lembranças das crusadas, e cujos
perfumes nos chegavam atravez dos campos da Arábia e dos mares da Gré-
cia. A Europa lhe enviou um poeta para o saudar, cantar e descrever : nobre
embaixador, cujo génio e fortuna pareciam ter uma sympathia secreta com as
regiões e destinos dos povos da índia ! O poeta do Tejo fez ouvir sua triste e
bella voz nas margens do Ganges : pediu-lhes por empréstimo seu brilho, sua
(juna e suas desgraças, não lhes deixou mais que suas riquezas.
E é um pequeno povo encerrado n*um circulo de montanhas na extremi-
dade oriental da Europa que abriu caminho para a parte mais pomposa da
residência do homem 1
Em quanto os portuguezes costeam os reinos de Quiteve, de Sedanda, de
Moçambique, de Melinde; que elles iiâpõem tributos aos reis mouros ; que pe-
neiram no mar Vermelho; que terminam a volta da Africa; que visitam o
golfo Pérsico, e as duas penínsulas das índias; que sulcam os mares da Chi-
na; que tocam no Cantão, reconhecem o Japão, as ilhas das Esp^iarias, e até
as costas da Nova HoUanda, multidão de navegadores seguem o caminho tra-
çado pelas velas de Colombo.
Os portuguezes exploravam então as costas da índia e da China; os com-
panheiros de Vasco da Gama e de Christovão Colombo saudavam-se das duas
costas do mar desconhecido, que as separava : uns tinham encontrado um
mondo antigo, os outros descoberto um mundo novo; das praias da America
ás praias da Ásia os cantos de Camões respondiam aos cantos de Ercilla atra-
vez das solidões do Oceano Pacífico.»
tEra ahida um rico assumpto o dos Lusíadas K Custa a conceber como um
bomem do génio de Camões não soube tirar d'elle maior proveito. Mas convém
notar que esse poeta foi o primeiro poeta épico moderno, que vivia n*um se-
eala bárbaro; que ha passagens patheticas e algumas vezes sublimes nos seus
versos, e muito para notar-se é que foi o mais desgraçado dos homens. É so-
* Génio do ChrisHanismOj lomo l."*, pag. 21S.
248 CH
phisma digno da crneldade do nosso socalo aíiirmar qac os bons escríptos 9ia
inspirados na dosgraça. É falso qnc se possa escrever quando se soífre. Os ho-
mens coasagrados ao cnito das mnsas saccnmbem mais depressa à dôr que os
espíritos vulgares. Um genío forte depressa quebranta o corpo que o encerra :
as grandes almas, como os grandes rios, assolam as suas margens.»
•
Carta de mr. de Chatcaubriand, aurtor dos Martyres ao sr. Francisco Ma-
nuel do Nascimento, tradnctor da mesma obra.
5 de setembro de 1812. Senhor:
Se tivesse recebido as cartas, que teve a bondade de enviar-me, terme-bia
apressado a responder-Ihes. Ignorava totalmente a honra, que me fez, tradu-
zindo os, Martyres na lingua de Camões. Acceite, por tanto. Senhor, todos os
agradecimentos, que lhe devo. Tenho um ardentíssimo desejo de ver minha
fraca obra ataviada com todas as graças, que o Senhor lhe soube dar. Estou
desde já convencido que Eudoro e Cymodocea hào de parecer bem mais no-
bres e bém mais enternccedores trajando os vestuários de Gama e de Ignet.
Tenho a honra de sor com uma alta consideração,
Senhor,
Sen mui humilde e mui obediente servo.
Cliateaubriand.
250) CHATELET (DUKE DE).
E.— Traveis m Portugal. London, 1809, 2 vol.
(Viagens cm—).
251) CHATELET (Duc. du).
E. —Voyage en Portugal, ou se tronvent.des details iníéressants sur ceRo-
yaumc, ses habitants, ses colonies ; sur la Cour et M. de Pombal, sur te treni-
blement de terre de Lisbonne, ctc. Revu, corrige sur le Manuscrit, et augmé^nté
de notes sur la situotion actuelle de re royaume et de ses colonies, par J. Fr
Bourgoing, ci-devant Ministre plcnipotentiaire de la Republique franraise eti
Espagne, Membre associe de rinslitut National, etc.Avec la Carte du Portugal,
et la Vue de la Baie de Lisbonne, Seconde edition. Tome 1. A Paris Cliez F,
Buissim. Imp. Lib. rue Ilaule Fcuillo, n." 20.
An 9." (1801) 208 pag. 8.° gr. ^ Com uma estampa representando a torre
de Bf lera e bahia de Lisboa : o com uma carta geographica de Portugal : am-
bas as cousas gravadas por Tardiou, Tainé.
O duque de Chalelot achava-so cm Londres, quando concobou o desejo de
visitar Portugal. Embarrou em Falmouth, a 8 de uiaio de 1777. a bordo do
Embden. Dt^pois d'uuia viagem de seis dias chegou a Lisboa.
«Na i^poca de minha cli»'gada arhava-so Lisboa era agitarão impossível de
* A yourclle fíiogrnphic rnivcrscllr de Firmin Diiiol; loino '.", paj,'. 90, menciona
outra eá\-òo de 1808. — V. Bnurgolng.
CH ^%g
descrever. Era véspera da celebração da coroação da rainha. O povo corria
por aqai e por acolá cantando e dançando a foffa, espécie de dança nacional
qae se executa aos pares com accompanhamento d^uma guitarra e d'outro
qnalquer instrumento : dança lasciva a tal ponto, que o pudor cora ao ser tes-
temunha d'ella, e não ousaria cu emprehender descrevel-a. Atravessei pela mul-
tidão, e fui alojar-me n'uma hospedaria ingleza, situada |em Buenos Ayres :
sítio agradável, e ao abrigo de cheiros fétidos, com os quaes a cidade está infe-
ctada durante o estio, e das chuvas, de que está innundada durante o inverno.
tTinham escolhido a praça do Commercio, como o logar mais appropriado
à ceremonia da coroação. Fez se esta com grande magnificência, ao som da
artilheria, e das acclamações d'um povo immenso, que concorrera de todas as
partes para assistir a ella. Só a rainha pareceu não participar do jubilo geral.
Aehava-se dolorosamente affectada. Os principaes senhores da corte tinham re-
solvido mandar- lhe pedir pelo povo a cabeça de Pombal: a rainha achava-se
informada do desígnio d^aqueUe, e receiava o pjsrigo d'uma recusa; porém,
apesar de não gostar do marquez, respeitava-o como amigo de seu pai.
tEu estava egualmente informado de quanto se tramava : quíz ser de perto
testemunha da agitação, que d'isto havia de resultar. Percorri as ruas com um
ílrancez versado na língua portugueza, e introduzi-me na multidão. Por toda
a parte nada mais se ouvia, que o nome de Pombal: os espíritos azedavam -
se: o motim estava prestes a romper, quando de repente sobreveiu uma pa-
trulha de cavallaria, com um officíal á frente, o qual dirigindo -se ás pessoas,
que formavam este grupo, prohibiu-lhes debaixo das mais rigorosas penas de
fallarem no marquez de Pombal. ^ Dentro em pouco dispersou a multidão; as
roas acharam-se n'um instante cheias de soldados a pé e a cavallo; e com
tanta constância se entretiveram na dispersão dos grupos na occasião em que
parecia forroarem-sc, que o povo se dirigiu para a praça antes de ter podido
decidir alguma cousa.
•Todos os fidalgos pareciam muito espantados, e no extremo da agitação.
Vlamol-os ir, vir, mandar emissários do alto da galeria, onde se achavam, lan-
çar para o povo olhares, nos quaes se pintavam a cólera e a impaciência. Ti-
nha havido a prudente cautella de dividir este povo, mandando constrair na
praça uma estacada de distancia a distancia, de fórma que se achou separado»
e por assim dizer preso sem ter dado pór isso. Percebeu-se todavia uma espé-
cie de rumor, e sete ou oito vozes gritaram : Pombal. Pombal, porém foram no
mesmo instante abafadas pelos gritos de Viva a rainha, que os partidários do
marquez levantaram. Uma grande quantidade de espectadores se tinha intro-
duzido no interior da galeria depois de ter derribado os guardas, a rainha man-
dou que os deixassem alli estar. Não se podendo as carruagens approximar,
ella mesma se viu obrigada a passar por entre a multidão com o fim de se di-
rigir para seu coche : foi este para ella o mais doce momento de sua vida :
nns deitavam-se a seus pés, outros beijavam-Ihe a ponta do vestido, e com isto
se enterneceu a ponto de lhe marejarem os olhos.
' Duc de Chalelet — Yoyage en Portugal, lomo 1 .% pag. 6.
S50 CH
«Foram brilhantes as illominaçoes : a ceremonía celebroa-se com tanto de
pompa, qaanto de tranquillidade : a colónia ingleza dea á noite um samptuoso
baile aos principaes habitantes da cidade, sem duvida em testemunho de sen
reconhecimento, porque era ella naçào ingleza a verdadeira soberana de Portu-
gal que tinha sido coroada na pessoa da rainha. No dia seguinte tomaram ou-
tra vez o lucto, que na véspera se tinha largado. No meio da alegria geral
produzido pela queda de Pombal, tudo tornou a tomar um aspecto lúgubre, e
saíram do baile para correrem para as egrejas.
«^ rainha assignalou sua elevação ao throno por actos de bondade e de-
mência. Mandou abrir as prisões, e soltar todos os desgraçados, que alli esta-
vam detidos, alguns havia mais de vinte annos. Yi duas raparigas, que para
alli tinham entrado ainda de mama na companhia de seus pães e mães : teem
uma dezenove annos, e a outra vinte, e parecem ter quarenta. São as fi-
lhas do desditoso conde de Alemã, compromettido na conspiração. Seu onioo
crime era o ter emprestado, pela manhã do dia do assassinato^ uma espingar-
da ao joven Aveiro, um dos conjurados, que lh'a pediu para ir á caça : pagou
este favor, bem como sua mulher e alhos com vinte e um annos de prisão. É
verdade que o marquez de Pombal tinha lançado mão da conjuração pari
abater a arrogância dos fidalgos portuguezes, e reprimu* as atrocidades até
então impunes, das quaes se tornavam culpados frequentemente. Tinha-se visto
alguns d*elles matar um seu criado, ou um particular d*uma classe inferior,
quando tinha a desgraça de lhes cair em desagrado, ou praticar alguma falta.
A severidade de Pombal tinha posto freio a excessos tão terríveis. ^
tN*uma das digressões, que fiz em Portugal com o fim de visitar o interior
d'este reino, fui ver o marquez de Pombal. Eu lhe era recommendado d*um
modo particular, motivo pelo qual me recebeu com todas as at^enções possí-
veis. Conhecia este ministro de fama, e não se podia exprimir o desejo, que eu
tinha de conhecel-o pessoalmente. Cheguei pois á vílla de seu nome, e, da mi-
nha hospedaria lhe escrevi com o fim de saber a hora, em que lhe poderia
entregar as cartas, que tinha para elle. Alli me dirigi pelas dez horas da ma-
* A nobreza era tão insolente, tão desenfreada, que era para temer nio somente de
noite, mas até mesmo de dia. Eis o que se passou em Lisboa ba algum tempo. Dois fidal-
gos Vflo em sua carruagem, e encontram um corregedor, que ia também na d'el!e: erm
um vellio de vista muito curta, que não conheceu os Gdalgos, e passou sem os cumpri-
mtntar. Estes offonderaro se d'isso, desceram da carruagem - para maltratar o velho, e
depois de algumas representações, que este julgou poder-lhes fazer, um d'enes o atra? es-
sou com sua espada. Fugiram para casa do embaixador de França, que os fez embarcar,
mas passado pouco tempo tornaram aapparecer, tendo facilmente obtido seu perdão. Du-
rante o ministério do marquez de Pombal teriam sido punidos severamente, fla seis an-
nos um senbor matou om de seus criados n'um accesso de cólera : conseguiu escapar-se,
porém voltou para Portugal logo depois do exílio d'e8te ministro.»
•N'aquella epocba o gosto da maior parte dos nobres era ir de noite atacar as pa-
trulhas, que percorriam a cidade. Tinham á sua frente o irmão do rei, homem feros e
cruel. Todas as noites eram assignaiadas por encontros sanguinolentos entre estes es.
treinas e as patrulhas, e quasi sempre d'eilc8 resultavam assassinios.» Tomo 1.% pag. 129-
CH m
nhã, e fui introdozido na babitaçaS d'este grande homem. Actualmente está
algom tanto melhor alojado, mas na época, em qae o vi, estava n'ama pobrís-
sima casa, e dormia n'um quarto, cujas paredes tinham sido estucadas de
novo.
•As maneiras do marquez de Pombal são agradáveis e attenciosas em ex-
tremo. Fez-me mil perguntas; affectou ignorar completamente o que se pas-
sava pela Europa. Pediu-me que o informasse dos acontecimentos. Até me fez
perguntas relativas a Portugal, e sobre o estado em que se achava Lisboa.
Quiz saber que motivo, ou acaso me conduzia áquelle logar táo affastado. —
Costumado, lhe disse eu, a viajar desde minha mocidade, visito sempre o in-
t^or dos paizes, que percorro, nao me limitando ás cidades principaes, e por-
tos de mar, nos quaes nada ha de novo a estudar. Mas além d^isto desejava
conhecer quem tanto tinha beneficiado seu paiz. Entramos pouco a pouco em
conversa : convidou -me a passar com elle oito dias, e fez-me ficar para jantar
e ceiar n'aqaelle dia. Exprimilhe meu espanto sobre o astado, em que tinha
achado Lisboa, attendendo ao pouco tempo decorrido depois de sua catastro*
phe. Respondeu-me que presentemente não cuidava em nada d*isso; achava-se
velho, e pensava em descansar; porém qae, se a providencia lhe tivesse con-
servado seu amo por mais tempo, ter-se-hia esforçado em continuar com o
mesmo zelo a empreza, cuja execução apenas pudera esboçar; e que, sem du-
vida, teria lançado os alicerces d'um palácio para o rei. Patenteou-me o ma-
gnifico plano, que tinha adoptado para este edifício. Situado n'uma pequena
eminência, perto de Belém, teria dominado o mar e a cidade, seria construído
no centro d'um grande jardim, cercado de altos muros, aos quaes estariam de
distancia em distancia contíguos os palácios dos principaes senhores da corte,
e aposentadas as pessoas, qae n'elles fossem obrigadas a residir por causa de
seus cargos.
tO marquez de Pombal trouxe comsigo muitos livros : ou lé, ou manda ler
continuamente : os livros são todos francezes. Falia nossa língua tão facilmen-
te, como nós mesmos : sabe egualmente bem o allemão, inglez, e italiano. Não
pronunciava sem grande ternura o nome de seu respeitável amo. tHonrava-
mct dizia elle, com sua confiança. Perder seu rei e seu amigo I É uma prova
forte de mais para eu poder resistir a ella ! Por isso o sol para mim perdeu o
brilho de seus raios ! Nada, nada me pôde indemnisar da perda, que padeci l>
A isto algumas lagrimas cabiam de seus olhos. Em vão procurava eu desviar
a conversa para um outro assumpto, para este me levava sempre.— «Ao me-
nos, continuava elle, aqui serei feliz. Vedes esta choupana? Não é minha : to«
mo-a de aluguer. Aquelle homem accusado de não ter pensado mais que em
si, nem mesmo na sua terra mandou construir um aposento»— ^ Depois mos-
trando-me um grande edificio novo. «É um armazém pertencente ávilla. Man-
,deí-o construir para n^elie se guardarem os cereaes, dos quaes está cheio. Em
* Gré-se geralmente ler sido Lisboa sua pátria. «Sebastião José de Carfalbo e Mello
nasceu em Lisboa, na bella casa da rua Formosa. Francisco Luiz Gomes, Le Marquis
de Pombal, pag.i9.— Panorama, 1839, pag. 138.
252 CH
fim, à maneira de Sally, viverei mais aforíanado em meu retiro, que no meio
dos grandes e da corte. Dt^ixaram-me trazer meus livros, e por isso pouco me
resta a desejar.
«Acabava, quando a marqueza de Pombal, sua mulher, cbegou : teve a
bondade de me appresentar a ella. Conserva ainda uma parte de seus dotes
pessoaes; e veste-se com muita arte e gosto. É discreta, sem duvida; porém
não possue a força, nem o valor de seu marido para tolerar sua situação. N»
tempo da prosperidade do marquez de Pombal tinha a seus pés os grandes e
o povo : sua casa era uma espécie de corte. Quando os homens a iam visitar,
punham-se de joelhos para lhe beijarem a mão, segundo o costume do paiz.
tSua vaidade lisonjeada por tantas adulações não se pôde acostumar ao
isolamento, a que foi condemnada pela desgraça de seu marido. -
•Desamparada de toda a gente, solitária, n'uma villa desviada de povoa*
çôes, a única satisfação que tem, é de ver seus filhos, que algumas vezes vão
passar com ella quinze dias. Nascida allemã tem o orgulho das grandes fámi-
lias de sua nação, e, depois de ter tido tanto de que lisonjear-se, geme em se-
gredo sua expiação.
tTentou disfarçar suas magnas, mas não o poude conseguir por muito
tempo. Passados dez minutos de conversação, achavam-se seus olhos arraza-
dos de lagrimas. «Aquillo é próprio de seu sexo, me dizia o marquez; conso-
lal-a é para mim uma outra occupação, mas seguindo meu exemplo, bem de-
pressa apprenderá a supportar nosso infortúnio.» Um instante depois vieram
participar, que o jantar estava na mesa. «Vinde disse-me elle, tomar parte na
comida frugal d'um eremita.» Em vez de comida frugal, que me annunciava,
encontrei uma mesa bem servida, e na qual nada se resentia de sua desven-
tura, nem mostrava o salneto da desgraça. Ao todo não passávamos de três. A
conversa foi muito longa. Entrei a fallar com a marqueza a respeito de AUe-
manha, e por algum tempo falíamos na sua lingua.Foi breve o jantar, ou pelo
menos assim me pareceu : o calor era excessivo.»
«Depois de nos levantarmos da mesa, cada um foi descançar por alguns
momentos. Approveilci mo d'esle tempo para ir percorrer o logar habitado
pelo iilustre par. Não é tão desagradável, como cm Lisboa m'o tinham pinta-
do. N*uma altura estão as ruínas d'um velho caslello, oíferecendo uma vista
bastante pittoresca; as aguas são excellentes.
«Ao sair de casa do marquez encontrei à sua porta mais de duzentas
pessoas, a quem se distribuía pão e caldo. D'esle modo é que elle tem adqui-
rido um grande numero do partidários, que o exaltam mesmo com sua des-
graça: pareceu-me ser bem quisto de todos habitantes do logar. Finalmente
depois d'um pa?s(MO de cerca de duas horas, voltei para casa do marquez, a
quem encontrei no meio de seus livros. Continuámos a conversa. Perguntou-
me se tinha vislo a (vremouia da coroai^ào da rainha. Advinhel onde queria
chegar, re.pomlillie que sim, e (\\h* me paneia ler-se celebrado com muita
pompa e uiagestade.
tQiiiz saber Si^ eu tinha reparado em todos os iucommodos, a que seus ini-
migos se tinham entregado para o perderem: e até me pediu alguns pormeno-
CH 253
Qaiz saber a maneira como o povo tinha procedido. Disse-lhe qoanto sa-
bia, e accrescentei que esta circamstancia era mais um triumpho para elle,
porque demonstrava não só a impotência de seus adversários, mas até sua ani-
mosidade. A estas palavras disse-me com a maior vivacidade, a qual lhe fica
muito bem. t Avançam um paradoxo, fazendo-se interpretes do povo : mandam-
ibe dizer que me deteste! Mas isso é impossível : minhas acções, meu proce-
dimento, tudo me assegura do contrario. O povo portuguez não me pôde odiar,
6 vós ides ouvir a rasão. Que é o portuguez hoje ? Que era elle ha quarenta an-
nos? Não o puz eu em estado de já não ter necessidade de seus visinhos? Não
estabeleci eu por toda a parte as artes, as officinas, o ensino? Não fiz além
d'isso reedificar um terço da cidade de Lisboa? Não propaguei a actividade,
e não derramei o bem estar por entre os operários? Por todos os direitos,
que eu creio ter ao reconhecimento d'esse povo, tenho-o por assaz justo, para
me querer devorar : e até não o fez.You dizer- vos quaes os auctores de quanto
podereis ter ouvido e percebido no tempo da coroaçlo. Os fidalgos, que se obs-
tinavam em suas insolentes pretensões, as quaes eu quiz anniquilar, emprega-
ram todos os meios possíveis para me perderem. Elles não podiam decente-
mente mostrar-se à frente do partido perseguidor. Que fizeram? Escolheram
algumas de suas creaturas^ que disfarçadas em barbeiros, cosinheiros, mari-
nheiros, ete. divagavam pelos logares públicos, desacreditando-me e pintando-
me com as mais horríveis cores. O povo, que facilmente é seduzido, secundou
um resentí mento, ao qual lhe faziam crer ser um dever associar-se. Aborre -
cia-mc, porque lhe diziam q le assim era mister. Varias pessoas, que vós co-
nheceis, accrescentou elle, com o fim de malquistar-me, andaram por alguns
dias debaixo d' um tal disfarce, confundiram-se com a ralé, e inventaram ca-
lumnias, que lhe appresentaram como verdades incontestáveis. Finalmente
quanto obrei, foi por ordem de meu amo, e nada tenho de que arrepender-me.
Accusam-me principalmente de ter sido cruel; mas obrigaram-me a ser rigo-
roso. Quando eu annunciava as ordens do rei, e não faziam caso d'ellas, era
indispensável recorrer á força : as prisões e os cárceres foram os únicos meios,
que encontrei para domar esse povo cego e ignorante.
c Doesta forma passei em casa d'este ministro cinco dias nas conversas as
mais interessantes. Teve a bondade de communicar-me a respeito de Portugal
varias noçêes e reflexões, de que fiz uso no decurso de minha obra.
iO ±° volume das Viagens de Chatelet (que nada appresenta digno de es-
pecial menção) termina com um Supplemento composto por Bourgoing, no qual
se corrigem algumas inexactidões inseridas n'esta obra.
«O duque de Chatelet, de quem nos temos occupado n*este artigo, parece
ter sido filho da celebre marqueza de Chatelet, amante de Voltaire, e o qual
morreu no cadafalso revolucionário, em 1794 depois de ter sido embaixador
na Áustria e em Portugal, e coronel do regimento das guardas francezas em
i722 e 1729. *
«Veja-se Bourgoing.
< FirmÍD Didot — NouvelU Biographie UnieerselUj tomo 14.*
264 CH
tPorém o que no daqae de Ghatelet nada tem de ^adavel é a pintara^
que nos faz do caracter dos portuguezes no tempo do marquez de Pombal.
•O povo portuguez é naturalmente orgulhoso, soberbo e animoso, e detesta
em geral qualquer outro povo : cré sinceramente que não existe no universo
nação mais esclarecida e perfeita, que a sua. Seu ódio contra os hespanhoes é
inexprimível : até mesmo tem aversão aos inglezes, aos quaes olham como seus
mais temiv^ inimigos. Não sei se é prevenção nacional, mas julguei desco-
brir em Lisboa que ali não se viam os francezes com maus olhos.
•Seus habitantes nos consideram como intrépidos : estimam nossos milita-
res, dos quaes concebem a mais elevada idéa : além d*isto, nossa vivacidade
sympathisa com a d'elles. São (o que todavia custa a accreditar) propensos aM
prazeres, e entregam-se a eiles, quando o podem fazer commodamente. Ha,
segundo julgo, poucos povos mais feios, que os portuguezes. São baixos, mo-
renos, mad conformados : o interior corresponde bastante, em geral, a este re-
pugnante invólucro, principalmente em Lisboa, onde os homens parecem ag-
glomerar todos os vicies da alma e do corpo K Ha, todavia, entre a capitai e o
norte d'este reino uma differença notável. Nas províncias septentriooaes os ho-
mens não são tão trigueiros^ nem tão feios; são mais francos, mais tratáveis na
sociedade, muito mais valfntes, e mais laboriosos; porém, se é possível ainda
mais escravisados pelos preconceitos. Esta differença dáse egualmente nas
mulheres : são muito mais brancas, que as do sul.
tOs portuguezes considerados no geral são vingativos, vis, soberbos, escar-
necedores, presumpçosos excessivamente, ciosos e ignorantes. Depois de ter
descripto os vícios, que julgo descobrir n'elies, seria injusto calando suas boas
qualidades. São affeiçoados a sua pátria, amigos generosos, Icaes, sóbrios e ca-
ritativos. Seriam bons christãos, se não estivessem cegos pelo fanatismo. Acham-
se tão acostumados ás praticas religiosas, que são mais supersticiosos, que de-
votos. Os fidalgos ou grandes de Portugal teem uma educação muito escassa;
orgulhosos e insolentes, vivendo na mais crassa ignorância, quasi nunca saem
de sen paiz para verem outros povos. A família do marquez de Pombal, a qaal
frequentei muito, é quasi a única onde encontrei instrucção, e um conheci
mento não superficial dos outros povos : fala nossa liogua, o inglez o o italía
no com facilidade; e o que n'6lla me agradou infinitamente, foi o ver que peo
sava a respeito de seu próprio paiz mui sensatamente, e sem nenhuma preoc
cupação : cousa rara, mesmo nos povos os mais instruídos e cívilísados. Se ai
gum fidalgo portuguez vir o que escrevo, ganharei títulos a seu rancor, por
que votou ódio a quanto diz respeito ao nome de Pombal. Algumas outras
casas se acham, mas em bem pequeno numero, nas quaes existem livrarias
porém mesmo essas casas e livrarias estão fechadas para os estranhos.
•Podemos, sem exaggeração, gabar os encantos das porlaguezas. Não ha
europeas, que tenham melhor carnação. Teem muito espirito, e talvez ainda
mais vivacidade qut; as francezas. Em quanto ao galanteio excedera todas as
mulheres da Europa : toem na expressão essa ternura seduclora, que desperta
' Chalelel — Voijages, loino l.«, pag. 70.
CH
« promette prazer : mas se este é facíl, é miúto perigoso obtel-o, porque os ma-
ridos e parentes conhecendo a extrema fraqueza de suas mulheres, nunca as
desamparam» espionando quantos rodeiam a casa, e se por acaso sae ou entra
alguém, que desperta suas suspeitas, cravam-lhe no coração um punhal, de
que andam sempre munidos. As damas de classe superior vestem-se á france-
sa, exceptuando a cabeça, que enfeitam à moda do paiz com flores e diaman-
tes coUoeados com muita garridice e arte. Todas ellas teem lindos olhos pretos
multo expressivos.»
252) OHAUVAIN (LÉONOE — DE OETTE).
E. — Histoire de Portugal et de la Maison de Bragance par — Chez TAu-
teur, a Gette. 1871, 8.°, 232. (Historia de Portugal e da casa de Bragança).
É dedicada a D. Luiz, rei de Portugal.
Esta obra não passa d'um não interrompido panegyrieo dos portuguezes.
•É no livro d'um dos maiores poetas do mundo, do maior poeta portuguez,
é nos Laziadas de Camões, que se encontra a primeira historia de Portugal.
Camões foi o historiador épico de seu paiz à maneira do immortal Yirgilio, e
€6 lÂLsiadas é um poema nacional como a Eneida.
■O que os outros historiadores portuguezes, João de Barros, Diogo do Cou-
to, Lopes de Castanheda contaram eloquentemente em prosa, Camões o con-
sagrou melodiosamente em verso. Na poesia épica moderna Camões é em Por-
tugal o que Tasso é na Itália, e Milton na Inglaterra. Não lhes procuremos
equivalentes na França : o próprio Voltaire, sem embargo da sua Henríada
asseverou que os francezes não tinham cabeça épica : outro tanto é mister di-
zer da Allemanha. A França tem grandes poetas, taes como ComeiUe e Raci-
ne; a Allemanha tem Goethe e Schiller; mas nenhuma das duas possue um
Camões, um Yirgilio, e um Homero.
«O assumpto dos Lusíadas não é nem uma guerra fabulosa, nem uma al-
tercação de heities, nem o mundo em guerra por causa de uma Helena, como
na Ilíada; não são as aventuras d'um Ulysses, como na Odyssea. E no em-
tanto é um poema inteiramente homérico. A base dos Lusíadas é uma nova
espécie de epopea, que celebra a descoberta heróica e maravilhosa d'um paiz
por meio da navegação portugueza. O poeta dirige a frota para a embocadura
do Ganges^ descreve-o ao passar as costas occidentaes do meio dia e do oriente
da Africa, e os dífferentes povos, que vivem n'essas regiões até então desco-
nhecidas.
«As descobertas, expedições e conquisV» dos portuguezes enchem bellas
paginas na historia. Esta nação pouco ampla na geographia da Europa, é to-
davia muito vasta em todas as partes do mundo.
«São os portuguezes soldados honestos e excellentes. Quando se levantaram
em massa para a defeza de seu paiz, mostraram-se certamente superiores aos
bespanboes, pois não deshourarara seu patriotismo com horríveis guerrilhas :
e os francezes, ao combaterem contra Portugal, acharam n'elle inimigos, mas
não aventureiros. Todas as tropas portuguezas foram encontradas com honra
no campo de batalha, entre os soldados francezes e inglezes.
256 CH
•£m seguida á França de 1789 foram os portagaezes os primeiros» qii9
adoptaram uma constituição, quo mais se approxima da franceza^eque já ser-
viu, ou ha de servir um dia de modelo a muitos governos europeus. Por este
meio o reino de Portugal alcançou, ha muito tempo, maiores proveitos para a
humanidade, do que tantos outros colossos ou impérios.
253) OHEMNITinS (M.)
De Lusitanorum in Indiam Orietitalem navigatione Cármen, Lipsiae, 4.%
1580. (Poesia à navegação dos portuguezes às índias Orientaes).
Ternaux Compans., pag. 63.
254) GHERINGTON.
E. — Memoirs of the right honorable Lord Viscount Cherington comaining
a gentUne description of the govermncnt, and mannet^s of lhe preserU PortU'
guese. London, 1782, 2 vol. 8.<*— (Memorias de — contendo uma verdadeira
descripção do governo e costumes actuaes dos portuguezes).
255) OHERUBINI (LUIGI OARLO ZANOBI SALVATORE KA
RIA).
E. — Lhotellerie Portugaise, Opera, 1798.
256) OHEVALIER (MIOHEL).— Economista francez notável, que tem
escripto muitos artigos em diversos jornaes a respeito de nossas cousas, mas
principalmente na Revue des deux mondeSj e que sempre se tem mostrado muito
afíeiçoado aos portuguezes.
Tendo recebido o diploma de sócio estrangeiro enviado pela nossa Acade-
mia das Sciencias, na caria do agradecimento, que remetteu, entre outras coi-
sas, diz as seguintes :
«Quando a navegação aperfeiçoada e auxiliada pela sciencía abria um ca-
minho inesperado á actividade commercial, industrial e scientiOca da Europa
nos íins do século xv, e principies do xvi, Portugal compartiu com a Hespa-
nha a gloria das descobertas admiráveis, que caracterisaram e immortalisaram
essa época.
«Se depois a fortuna de Portugal se eclipsou, hoje póde-se aíTirmar sem li-
sonja, que esse accidente, que aliás experimentaram todas as naçues da terra
em diíTerentes épocas, cada uma por seu turno, está passado.
«O espirito novo reanima os portuguezes, e represenla-os principalmente
um soberano, a cujo respeito em toda a Europa só ha um parcícer : represen
ta-o uma plêiade de estadistas afamades, de sábios escriptores, cujo sabe
eguala o patriotismo, muitos dos quaes me felicito de haver encontrado i
theatro das exposições univtTsacs de Londres e de Paris, e de cuja amisa
me lisonjeio. *
«Portugal é o paiz fadado, mais que quahiuer outro, para auferir as m
» Ánnmirio do Árchico Pitlorcsco, (IStílij, pag. loG.
('I 257
rea vantagens doí* invoíilos, qup distinguem a nossa época, o particularmente
das camintios de ferro e da navegação a vapor.
«A liberdade do conimercio, esta forma aspecial do principio da liberdade
geral, e de que a civilisaç^o moderna tao namorada é, e com rasâo, promette
a este paiz uma inexhaurivel fonte de prosperidade.
«Pela sua peculiar situarão topographica, Portugal está fadado para ser um
dos agentes mais úteis da grandeza, e da riqueza .collectiva de toda a Europa.»
Um dos trabalhos de Míchel Clievalier é o seu estudo sobre o marquez de
Pombal, publicado no jornal acima mencionado, em setembro de 4870.
257) OHIUMAZERO E CARRILLO (GIOANNI).
E. — A sa Saltita, Per — omhnscintorp di S. M. C, contra ht 'pretpmh-
ne. dei Vescovo di Lameqo.
C. M. B. LP.
258) OHONSKI (DE).
E. — Etablissemetit Portugais de Marão, par — Paris, 185(), 8."
259) OHRETIEN (NICOLAS).
E. — Les Portugais infortunes. Tragedie, 4608.
260) OIBRARIO (LUIGI) — Senatore dei regno, ministro da fazenda
da Sardenha e successor de Cavour.
E. — Ricordi d'una missione in Portogallo ai re Cario Alberto per — . Awo-
va edizUme accresciuta, Torino, Dalla Stamperia Reate, 4850, 8.°, 378 pag.
Carlos Alberto, rei da Sardenha, havendo sido derrotado pelos austnacos na
batalha de Novara e tendo em seguida abdicado, demandara um asylo na
cidade do Porto. Aqui o foi procurar uma deputação composta do três mem-
bros Gesare Alfíeri, Gíacinto di Callegno e Luigi Cíbrario. Os dois primeiros
regressaram para o seu paiz, e o ultimo accompanhou o monarcha até â sua
morte, acontecida em 28 de julho de 48i9. Publicou depois em Turim o livro
mencionado, no qual dá uma descripção de Portugal, e trácia extensamente
da doença, morte, e enterro do rei Carlos Alberto.
«Não tem Portugal algum lago digno de ser mencionado, e só o Tejo for-
ma um, o mais incantavel, e o mais bello porto do mundo.*
•Em quanto a livros de miniaturas Portugal possue um thesouro, com o
qual nenhum outro pode ser comparado. Yi a preciosa collecção do rei de
Wurlemberg, vi os livros com miniaturas de Vienna, Paris, Turim, Milão, Siene
Roma, Nápoles, Monte Cassino, o La Cava, mas não encontrei cousa, que se
podesse comparar com a Bíblia em 7 volumes dada de presente a el-rei D.
Manoel pelo papa Júlio III.»
tQuer pela via terrestre cheguemos * da deliciosa província da Beira ás mar-
^ A traducção dVsla pn!;<apem foi publirada no Panorama de 18n2.
TOMO I 47
1S8 Cl
geDs, do Doaro, quer, dôixando o Oceana, vencidos os bancos de areia, que
obstruem a foz, remontemos breve espaço do curso do rio, summamente mages-
tosa e pitoresca ó a vista da cidade do Porto, a qual campeia sobre duas altas
collinas, cobre com seus variados edifícios todo o declive até vir banhar quasi
n'agua a extrema casaria.
•Por isso, coQtemplando-se do meio do Douro i veemse umas casas surgin-
do de traz d'outras até mais a cima dos dois montes coroados pela Sé, o pa-
lácio do bispo, a porta do Sol e a Torre dos Clérigos, que serve de balisa aos
navegantes.
«Em certos logares, onde mais Íngreme é o declive, os edifícios, que se le-
vantam a varias alturas, uns acima dos outros, parece formarem um corpo só,
de proporções desmesuradas, de altura gigante. Junte-se alisto um rio caudal,
entalado nas margens, e fundo, sulcado de navios e barcos de todas as nações,
atravessado pela ponte pênsil, que liga a cidade á povoação de Yilia Nova de
Gaya, aggreguem-se-lhe as quintas espalhadas pelas encostas de ambas as
margens em meio das mais excellentes e robustas arvores, que bano mundo;
o convento da Serra, que se eleva solitário à esquerda do Douro; o ceo, ora
avivado pelos esplendores do sol meridional, ora offuscado pelos nevoeiros do
oceano, os quaes, quando não se condensam muito, não tolhem a formosura
das scenas da natureza, revestindo-as de tintas melancólicas, ora esfumando
lentamente as ladeiras dos montes, ora afogando os pinheiraes solitários, em
parte occultando, em parte escurecendo apenas os objectos, multiplicam os
painéis, que a vista procura, e em que se compraz a imaginação, principai-
mente quando pensamentos tristes e íntimos, fructos de amargos desenganos
6 previsões sinistras agitam a mente, e, parece que a magoa se mitiga, se acha
correspondência no melancólico aspecto da natureza. •
O auctor descreve era seguida os principaes estabelecimentos, mas isto
pouco interesse oíTerece para um portuguez, dando-se a circumstancia de ha-
ver hoje outros muito mais modernos, e também muito notáveis. O Porto é
uma das povoações do nosso paiz, que mais tem progredido. É realmente
uma grande e sumptuosa cidade, cheia de vida e de animação.
Desde pag. 184 até ao fim traia o livro da biographia, residência no Porto
e morte de Carlos Alberto, a quem a nossa cidade prestou as maiores home-
nagens. D'aqui proveiu serem os habitantes do Porto considerados como ci-
dadãos da cidade de Turim.
• A cidade do Porto, que foi a primeira que em Portugal levantou o es-
tandarte da liberdade, não teve nem terá outro hospede egual. Povo piedoso
' Cibrario c um do? mais «Jislinclos csrriplores (Ja Sardenha, e é geralmente consi-
derado como um dos primeiros escriplores d.i litlcralura contemporânea em Ilalia. É au-
rlc de uma Historia da ram (Ip Sahoya, bem conhecida e bem apreciada pelos sábios da
Europa. Foi outrora ronsclbeiro do tribunal de contas, e por algum tempo chefe d'uma
repartição no ministério dn fa/enda.— RerUta f^nirenal Ushonensc, vol. 10. •, pag. 546.
CL 359
e cortez, que comprehendes os grandes pensamentos, e te compadeceste dos
infortúnios dos italianos, Deas te dé os agradecimentos das homenagens que
prestaste ás virtudes de Carlos Alberto, Deus te conceda gozares por muito
tempo d'uma verdadeira liberdade c d'uma verdadeira paz!*
261) OIERA (MIGUEL ANTÓNIO). Natural do Piemonte, e profes-
sor de mathematica no collegio dos nobres, e depois na universidade de Coim-
bra.
E. — Os ires livros de Cicero sobre as obrigações civis, traduzidos em lín-
gua Portugueza, para uso do Real CoUegio dos Nobres. Lisboa, offícina de Mi-
guel Manescal da Costa, 4766, 46."
Ha outras duas edíçuos mais modernas.
262) CINCO UBROS DE LA HISTORIA DE PORTUGAL, y
conquista de las Islãs de los Açores en los afias de i582 y 4583. Madrid, 4594
263) CIRCOURT (Mr. ADOLF).
E. — Catherine d'Atayde. Tire de la Bibliotheque Universelle de Genève.
Juillet, 4853. Geneve Imprimerie Ferd. Hamboz, 4853.
264) . CIVIL (THE) WAR IN PORTUGAL, and the siege of Opor-
to. By a British Officer of Hussars, who served in the Portuguese army during
ihê Peninsular War. London, Edward Moxon, 4836, S.'», 286 pag. (Guerra ci-
vil em Portugal.)
Esta obra começa na conspiração de (jomcs Freire, e termina na morte de
D. Pedro. Seu author, que dizem ser o coronel inglez Owen, mostra-se muito
sentido pelo fallecimento doeste soberano, e acérrimo partidário de sua po-
litica.
Parece-me ser esta já uma segunda edição : da primeira nunca pude en-
contrar o original inglez, mas ha uma traducção em mào portuguez com o se-
guinte titulo : A guerra civil em Portugal, o sitio do Porto e a morte de D. Pe-
dro, Por um estrangeiro. Impresso em Londres em 4836.
265) OLAIRE (SAINTE-DEVILLE), geólogo francez, socío do Insti-
tuto;
Nasceu nas Antilhas no anuo de 1844. ^
E. —Voyage géologique aux Antilles et aux iles Ténériffe et de Fogo. Paris,
1856-4864.
266) CLARAHOND (PRIVAT JOSEPH), Comte de la Pelet de la
Lozere.
E. I — Coup dceil militaire sur le Portugal.
II Relations de la Campagne de Portugal en 4840-4841.
* Vapereau- Dirtinnnire des Contfmporainx, pag. 1611
2(50 CL
Conservam -se estes trabalhos inéditos, segundo diz a Nmvelle Biographie
Vniverselle de F. Didot.
267) OLARETA (6AR0NE GAUDENZIO).
E. — Notizie storiche intomo delia vita ed ai tempi di Beatrice dt Porto-
gallo duchessa di Savoia. Torioo, 1863. (Noticias históricas acerca da vida e
tempos de Beatriz de Portugal, duqueza de Sabóia).
268) OLEDE (N. DE LA), historiador francez.
Nasceu no anno de 4736.
E. — Bistoire générale de Portugal,
Tome première contenant Vorigine, les rrumrs, et les guerres des andens Lu-
sitaniens, leur etat sotis la Domination des Romains, Vinvaston des Gots et celle
des Maures, Vérection du Portugal en Royaume et les fiegnès de Henry et d'Ah
fonse jusqu'à celui de Dom Jean Illinclusivement. Paris, Chez CoUin, Fils. 1735»
4.» gr. 783 pag.
Tome secundième contenant les regnês de Sebastien,de Philippe II etcjus-
qu*à celui du rol Jean á present regnant. Paris, Chez Collini, Fils. 844 pag.
Ha outra edição do mesmo anno em 8 vol. in~8.°, em Paris em casa de
Theodore le Gras.
A respeito doeste trabalho litterario diz o sr. Fcrdinand Diniz. ^ «As fontes
consultadas foram Marianna, Faria, Brandão, Bírago, Barros, Ericeira, e o con-
de de Alegrete. Os chronistas do xv e do xm séculos lhe são desconhecidos
completamente : Fernão Lopes, Ruy de Pina, Azurara, Rezende nunca por elle
foram citados, e até mesmo não conhece a compilação de Duarte Nunes de
Leão.»
A traducção de algumas passagens dó prologo d'esla obra fará conhecer o
mtuito d'ella :
«Como possuímos em nossa lingua a historia geral da maior parte das mo-
narchias da Europa, julguei ser conveniente termos a historia completa d' um
reino, que, apezar de pouco considerável em extensão, o é todavia muito por
sua vantajosa posição, fertilidade, industria e riqueza de seus habitantes, pelas
gloriosas victorias, que os portuguezes obtiveram sobre seus inimigos na Eu-
ropa, e pelas úteis conquistas, que fizeram em o novo mundo.»
A Historia de Portugal por La Clede era out*rora muito apreciada; hoje
as tendências históricas são mui diversas e pódese asseverar que os leitores
d'esla obra são actualmente bem pouco numerosos. Quem terá hoje paciência
para ler um escriplor, que narre a historia dos antigos lusitanos, seguindo as
pisadas de Frei Bernardo de Brito?
D'esla obra se publicou em 178i uma traducção portugueza em 16 volumes,
illustrada com muilas notas históricas, geográficas e criticas; e com algumas
dissertações singulares.
» Firinin Didol — Snuvcílr r/iof/rtipUir r,h\à'nle, voi. '^^^, paj; .">35.
CL 261
269) CLENARTZ, KLEINARTZ, ou á latina OLENARDUS (NIOO-
LAUS) — Philologo celebre, natural de Diest, no Brabante.
Nasceu no anno de 1495.
Depois de ensinar por alguns annos as línguas grega e hebraica em Lou-
vain, veiu para Portugal^ convidado por el-rei D. João III com o fim de ser
mestre de D. Henrique, depois cardeal e rei. Mais tarde estabeleceu aula de la-
tim em Braga. •
E. — I Institutiones Grammaticae Latinae,
II Comiti^ Palatiniy Ducis Bavariae, S. R. Imperii Electoris etc, ubi de di'
versoriis Hispanicis. Hanoviae, Typis Wecheliants apud Claud Mammm et hc'
redes Joan. Aubrii, 1606, 8.», 340 pag.
III Institutiones Grammaticae Graecae, Bracharae, etc. Doestes dois com-
pêndios ha um numero extraordinário de edições.
rV Nicolai Clenardi Epistolaram libii duo, His accedunt excerpta Huberti
Thomae Leodii Annalibus de vita Friderici.
Na Bibliotheca Publica de Lisboa existe um exemplar d'esta obra, que é
rara, e que mereceria ser traduzida em vernáculo, se na época actual houvesse
entre nós leitores para tal género de livros.
São estas cartas escriptas em estylo faceto, e d'ellas parte foram dirigidas
a Jacob Latòmo, mestre de Clenartz, e parte a vários outros litteratos.
Logo na primeira dirigida a seu mestre narra como a convite do rei
de Portugal se dirigira de Salamanca para Coimbra, e dá conta da sua via-
gem.
Diz que são tantos oâ mouros e etbiopes empregados na qualidade de cria-
dos de servir em Portugal, que lhe parece maior o numero de escravos, que
o de pessoas livres n'este paiz.
Vamos agora ver como Clenartz aprecia alguns dos litteratos portuguezcs
d'aquel]e tempo, e o estado dos estudos n'este paiz.
«Est Conimbricae apud Lusitanos jam praelum ^ non solum Latinarum, sed
otiam Graecarum literarum, vide num consiiium aliqnod reperire possis, ut
ÍDde semper Graecorum librorum numcrum justum consequaris : id quod fa-
cile liat, si cum Vincentio Fabrício per epistolas aliquando confabulerís, qui
iilic Graece docet.
«Resendius prjmas partes obtinet, poeta cum veterlbus comparandus, cuí
si juge studium staret poeticum, non minus nobilitarei suam Eboram, quam
Lucanus Cordobam. ,
«Georgii Coelii viri praeter Graecarum literarum peritíam, sic et prosa et
carmine celebris, ut dubites utrb magis polleat. Míhi semper ob id probata est
oratio ejus soluta, quod nescíam an hodic sint qui tam prope accedant ad il-
lam Komanam eloquentiam. Scrmo est purus, concinnus, cl eleganti munditíe,
nec quicquam tamen prao se fert afTectatum. Vidcorquc inihi non immeritu
Resondium inter poetas, Coelium inter oralores coiiocasse, ut in bcllo, quod
* Carla a João Vasco j paj;. 177.
26i CO
spíro contra Machometum, Ccelius orare meiius, Resendius canerc possít sodo«
rius. Toter Theologos aatem quem, quaeso, praeferam Joanni Parvo?...
«Ceteras dotes et viri probitatem hinc collígiie, qnod cum multís egregie
doctis spectataeque vitae non careat Lusitânia, Pariam tamen nuper Rex in-
ciytQS, caeteris postbabitis, sua sponte designavit Episcopum.
«Erat etiam non postremae notae D. Franciscus Melionius, genere ac lite-
ris adeo praeditus, ut et inter aulicos próceres dignitaftem, et inter eruditos cia-
ram famam teneret.
«Nec silentio praetereundus est Franciscus Geraites egregius medicus, atra-
que língua bene percultus, et vir acerrimi judicií, qui tametsi inter amicos non
infimum locum occupavít, partim eruditione commendatus, partim in me col-
lato beneficio.
«Missos faciam reliquos, ut properem ad Antonium Pbílippum, tam dedi-
tum Medico Arábico, quam devotus esset Geraites Graeco. Est hic, Antoníus
inter Eborenses summi nomlnis, et quod me titillabat libris Arabicis instruc-
tus quamplurimis.
• •
cQmitto reliqua quo properemus Conimbrícam, ubi rex novam tum molíe-
batur Academiam. Hic qnid opus est multis laudibus, quando se ipsa in dies
magis ac magis commendat? Erant vacationes, et in ceteris professioníbus i fe*
riae. Nec judicium ferre possum nisi de auditório Graeco, quod novo miraculo
reddit attonitura. Vincentius Fabricius enarrabat Homerum, non ul Graeca ver-
terei latine, sed quasi agerel in ipsis Athenis; et nihilo segnius discipuii prae-
ceplorem iinitabantur, ferme in totum usi et ipsi sermone Graecanico. E qui-
bus auspiciis si fas est divinare, florentissima eril Gonimbrica linguarum stndiis*
•De Theoiogia speciorn praebuerunt três monachi, qui cum paucis mensi-
bus in ea palaestra fuissenl versati, de themate propósito disputaverunl argu-
tíssimo, et reipsa testaii sunt quam eruditis viris iilic darent operam. Quod si
honos olit artcsj quid manet Conimbricam, nisi ut ipsam aliquand^ vincat Sal-
manticam? Neque enim Rex parcit uliis sumplibus,ut tam opimis proventibus do-
nat Cathedras, ut in universa Hispânia non sit Professoribus fruclus uberior.»
270) CLUSn (CAROLI).
E. — Aliqiwl notae in Garria aromatnm historiam ejusque descriptiones
nonnullarum stirpinm et aliarum exoticarum rerum quae a generoso tiro F.
Drake ohservatae in lanya nuvigationc. Plantio, 1582. T. Compans, pag. 62.
(Algumas annotaçòes ao livro do Garcia da Horta sobre as drogas do oriente.)
271) COCIO (D. MARGARIDA IRIARTE E SOMALLO AYME-
RIK BIOSLADA DE).
Nasceu em Buenos Ayres (Ani(.Tica) no auao de 1801, c depois condessa do
' Epislola ad ('hristianos de profcsaionc .\)«6í>a, militiaiiuc innalitucnda adrcnui
Machomefum.
GO 263
Casal, por ter casado com José de Barros e Abreu Sousa e Alvim, conde do
mesmo titulo).
£. — I Poema épico, dedicado á nação porlugueza. Porto, Typographia de
Sebastião José Pereira, 1849.
II Branca, Drama em quatro actos e oito quadros. Producção e engenho da
condessa do Casal. Porto, Typographia de Sebastião José Pereira, 1847.
272) OOOKBURNE (Miss. OATHERINE).
E. — Agnes de Castro. A. Tragedy. London, 1697.
273) COISSARD (MIOHEL).
E. — La vie du bienheureux Franrois Xavier^ mise en (rançais sur le la-
tiu d'Uorace Tursellini. Lyon, 1612, 8.» (Vida de S. Francisco Xavier.)
274) OOLBATCH (Dr.)
E. — An examination of the late Archdeacon Echard's account of mariage'
treaty between King Charles the second and queen Catherine infama of Portu»
gal. Cambridge, 1733: (Exame do tratado de casamento do rei Carlos, com a
infante D. Catbarina.)
Apparece esta obra mencionada no catalogo manuscripto da livraria do
conde de Lavradio.
27o) COLLECTION of general voyages, from the commencement of the
Partuguese discoveries to the present time. London. — (Coilecção de, viagens.)
276) COLLOQUIA et Dictionariolum octo linguarum : Latinae, Gallicae
Belgicae, Teutonicae, Hispanicae, Italicae, Anglicae et Portugallicae. Uber om»
nibus Linguarum studiosis domi ac foris apprime necessarius.— Colloques ou
Dialogues avec un Dictianaire en huict languages Latin, Flamen, François,
Allemany Espagnol, Italien, Anglois et Portuguez : Nouvellement revues, corri-
géz et augmentéz de quatre dialogues, três pro/itables et utiles, tant au faict
de marchandise, qu'aux voyages et autres trafiques. Londiní. Excusa typis E.
G. impensis Michaelis Spark Junioris, 1639, 362 pag.
277) OOLMENAR (DON JUAN ALVAREZ DE)-Escriptor hespa-
nhol, que vivia na primeira metade do século xviii i.
E. — I. Les Delices de VEspagne et du Portugal^ oía Von voit une descrip-
tion exacte des Antiquitez, et des Provinces, des montagnes, des villes, des Ri-
vieres, des Ports de mer, des Fortei^esses^ Eglises, Academies, Pulais, BcUns etc.
De la Réligioti, des mceurs des habitants, de leurs fites, et généralement de tout
cr qu'il y a deplus considerable à remarquer, Le tout enrichi de figures en taiUe
douce, dessinées sur les lieux mêmes, par — A. Leide. Chez Pierre Vander,
Firolin Didot — Aoutc//c Bioyraphic Univcrsdlc, voi II.", pag. 356.
264 GO
1707» 5 vol. 8.** CoD) grande namero de estampas. Leyde, 1715 em 6 vol. Esta
obra foi traduzida em Flamengo.
O vol. 4.* é o que trata especialmente do Portugal, se bem que nos outros
também se enconira alguma coisa a este respeito. Diz que Portugal é um paiz
muito bom, rico, fértil, e abundante de tudo, quanto se pôde desejar para as
necessidades e delicias da vida.
E8T.V1IPA8
!.■ Vista de Villa Nova e forte da Conceição (da Cerveira?) — 2.» Vista de
Braga.— -3.» Vista do Coimbra.— - 4.* Vista de Lisboa — 5.* Vista do Terreiro
do Paço.— 6.* Palácio do rei em Lisboa.— 7." Vista d'um palácio, que o rei de
Portugal comprou.— 8.* Vista de Cascaes e Belém.—- 9.* Vista da barra de Lis-
boa e egreja do Belera.— IO.* Vista da Egreja de Belém.— H.* Vista de Setú-
bal.— 12.* VisUa de Évora.— 13.* Vista de Estremoz.— 14.* Vista de Eivai».—
lo.* Vista do Arronches.— 16.* Vista de Olivença.— 17.* Vista de Villa Viçosa*
— 18.* Vista de Ferreira.
No 2.° vol.— Vista d'uma corrida de touros em Lisboa.
No 6.** vol.— 1.* Embarque da princesa de Portugal, Catharina, esposa de
(Carlos II, rei dlnglatorra.— 2.* Vestuário dos cavalleiros de Portugal.
n. Ânnales d'Espagne et de Portugal, contenant tout ce qui s^est passe de
plíis important dans ces deux royaumes et dam les autres parties de VEurope^
de inème que dans les Indes Onentales et Occidentales^ depuis Vetablissement de
ces deux monarchies jtisquW present. Avec la description de tout ce qu^U y
a de pltís remarquahle en Espagne et en Portugal. Leur etat presente leurs
inlerets, la forine du Gonveniement^ Vetendue de leur commerce etc, par —
L(í loiíl cnrichi do Caries Geographiques et de tròs belles figures en taille doa-
(•(\ A Amstenlam. Chez François Lllonoré et Fils, 1741, 4 vol. 4.*» gr.
Alj^^nmas das estampas relativas a Portugal, que enriquecem esta obra, fa-
zem dilTeronra, da^í que apparccoram na outra já mencionada — L<?5 Delices,
HIH) COLMEIRO(D. MIGUEL).
K. — La Botânica // los Botânicos de la Penituiula Hispano- Lm^itana, Es*
índios bibliographicos y biograpJncos. Madrid, 18.')8.
279) COLOMEZ (JUAN).
E. — Jgnez de Cí7.ç/ro. Tragedia. Livoriiu, 1781.
280) COLVOCORESSES (LIEUT. GEO. M. — U. S.)— Navy and uf-
ficicr of lho oxpodilion.
K. — Fíif(r years in thc govcrnvicnt (wploving c.rpcdilion coinmanded by
(fíplain Charles Willces to Uw ísfand of Madeira^ Cope Verd IslandSy Brazii,
C.oasl nf VdlammiUy Chiliy Peru, Pnnmnto (Ivonpy Solclg IslandSy Navigatmr
gronp. Anslralia, Anfarlich Continente Me/r Zraland, Frirndly Islands, Fejre
(iroup, Sandwich Islands. iXorlhwest Coasi of Amcricaj Oregon, Califórnia,
Kasl Indcs, St. Uclena, ctr. etc. Scrond edilion. Now-York, It. T. loung Publis-
lior, 18'j8, 8.", :]71 [)ag. Com aljíuinai? oilanipa^.
CO 265
^81) COMEDIA FAMOSA: El falso núncio de Portugal, Barcelona,
1769.
282) COMEDIA FAMOSA dos successos de Jahacob e EssaVy composta
por um auctor celebrq, estampada á custa de Abraham Ramires e Ishac Cas-
tellOy em cujo poder se acham a vender, Delft. Anno 5459. (Corresponde a 1699.)
Falia d'esta obra o sr. Innocencio Francisco da Silva a pag. 92 do S.^" vol.
do seu Diccionario,
283) COMELLA (D. LUCIANO FRANCISCO).
E. — I. Dona Inês de Castro. Escena tragico-lirica por — . Valência, 1815.
II. El mayor rival de Roma^ Viriato. Drama trágico. Gadix.
284) COMPARETTI (ANDREA) — Medico iUliano.
Nasceu em Fríoiil no anno de 1746 e falleceu em Pádua no de 1801. i
E. — Osservazioni sulla proprieta delia China dei Brasile, Pádua, 1794,
8.» — (Observações sobre a quina do Brazil.)
285) COMPENDIO DE LA HISTORIA DE PORTUGAL desde el
principio de su monarquia hasta el ano de 1823 por Alfonso Rabhe... traduci*
do ai Castellano. Paris, 1827, 2 vol. 12.<»
286) CONCERT VAN REGLEMENT op Brasil Ghenoment by haere
Ho. Do. de Heeren Staeten General der Hereenighde Nederdanden ende de Te-
mindl-Hesboren der Teoctroveerde West^Iudische Compagnie, 1648, 8.*, foi.
sem pag. — M. S.
287) CONDER (JOSIAH).
E. — Spain and Portugal. London, 1831, 2 vol.
288) CONESTAGIO (JERÓNIMO DE FRANCHI-GENTILHUO-
MO GENOVESE).
Nasceu em Toledo no anno de 1528, e ahi morreu em 1601.
E. — Del unione dei regno di Portugallo alio Corona di CastigUa. Istaria
dei Sig.— In Génova. Appresso Girolamo Bartoli, 1589, 4.° peq., 412 pag.
•Tenciono escrever as coisas do reino de Portugal, desde o tempo que el-
rei D. Sebastião I com uma numerosa armada passou á Africa para fazer guer-
ra aos mouros da Mauritânia Tingitana, até que (depois de vários trabalhos)
o referido reino em tempo de Philippe II rei de Castella se uniu aos outros de
Hespanha.»
Eis o começo d'uma obra bem conhecida em toda a Europa, e da qual
existem varias traducçues o edições, mas que em Portugal fez levantar altos
1 Firrnin Didol — ^'ouvelU Biographie Univcrsellc, vol. II.*, pag. 36S.
Í66 CO
brados de indíguaçào contra seu auctor, ^ por se julgarem os portuguezes n'ella
calumniados por um portuguez, 2 por isso que se accredilou que o tal Fran-
chi Gonestagíonada mais era de que um pseudonymo, sendo o verdadeiro nome
do auctor D. Joào da Silva, conde de Portalegre. Realmente passagens como
estas, e outras muitas do mesmo calibre não eram muito 4)ara lisonjear nossos
antepassados :
•As delicias da índia, e a abundância do commercio tendo os corrompido,
não pensaram mais que em gosar do que ganharam, sem pensarem em Deas.
Caíram n'uma ociosidade cheia de orgulho e de presumpção. Era impossive)
retirar um povo tão corrupto do desregramento em que estava. É a nação a
mais orgulhosa do mundo. D. Sebastião educado no meio de mulheres e de
frades, sustentado nos prazer&s e nas delicias, tinha tão grande paixão peia
guerra, comu se tivesse nascido e sido educado no meio do exercito.
«Entre todos aquelles preparativos não se via aquella ordem, e aquellaín-
telligencia tão necessária a todas as coisas da guerra : tudo era embaraça e
confusão; nenhuma exactidão nas revistas, nenhuma fídelidade no pagamen-
to, uma extrema abundância de coisas inúteis, e uma grande carência do que
era mais necessário. Toda a nobresa por um requinte extraordinário vestía-se
á hespanhola, não se lhe viam nem armas, nem couraças, nem as provisões
necessárias de agua e biscouto para embarcarem. Tudo eram bordados, eas-
quilbismo de estofos magniGcos, doces e licores. Somente se via baixella de
prata, tendas forradas com fazendas de seda, e por toda a parte equipagens
de príncipes, ao passo que os soldados morriam á fome.»
Realmente estas expressões parecem d' uma audácia inaudita attendendo
aos tempos, em que se escreviam; mas os seguintes trechos deviam encher
os portuguezes d*uma cólera inexprimivel.
Trata-sc da batalha de Alcácer Quibir — «Os portuguezes dispararam sua
artilharia com tão pouca ordem e intelligencia, que se tornou quasi inútil; mas
á segunda carga dos mouros, mal viam o fogo, deitavam-se immediatamente
no chão. Na terceira linha os portuguezes, deitando fora, as armas punham-se
de joelhos diante dos mouros, o lhes pediam a vida. Os mouros preferem os
prisioneiros portuguezes aos de todas as outras nações, pois sendo excessiva-
1 £ fama publica que o verdadeiro auctor da referida obra é D. Joito da Silva, hes-
panhol, conde de Portalegre, bem acceito ao sobredito Pbilippe II. O erudito e judicioso
D. Francisco Manuel de Mello na sua Epanaphora 2 * faz da sobredita Historia o do S6U
auctor em summa o seguinte juízo: Que elle se roubou a si mesmo, mais que a dós. Pois
apesar das imposturas com que quíz esenrecer a nossa fama, os portuguezes ficaram re-
putados por gente valerosa no mundo, e clle por auctor fabuloso do tempo.» Bibliolheca
Histórica de Portugal, pag. 337. »> Jeronymo de Mendonça diz porém mui positivamente
que o auctor era genovez, c occupado na feitoria da alfandega de Lisboa.
' Escreveu obras mencionadas por Barbosa, que allribuindo-lhc a qualidade de por-
tuguez por sua mae, lhe deu por ií?o logar nu Bibliothcra Lusitana.» Sr. Innocencio.
Picc lorao i.", pag. 3u.
CO íí 67
ineote eíTeminados para soíTrerem os iDcommodos do captiveiro, sacríOcam fa-
cilmente grandes sommas para se resgatarem.
«Meara, foi quem n'esta conjunctara fez progredir mais os interesses de
sen ame, mas de todos os meios, que empregou, o dinheiro e as promessas fo-
ram os mais eíTicazes para associar os nobres ao partido de Philíppe II.
«O calor do clima, a immundicie da cidade de Lisboa, o mau sustento do
povo^ que em geral só vive de peixe, o pouco cuidado dos magistrados em
separar os empestados dos que não o estavam, seu desleixo em tudo mais con-
tribuiu muito para augmentar a epidemia de 1580.
«A confusão, em que se achava o reino, lançou os frades n uma extraordi-
nária relaxação. Nada mais se via que devassidão e escândalo derramado por
toda a ordem ecclesiastíca.
«A desordem não Qra menor no governo ecclesiastico, do que no temporal.
Todos os religiosos, á excepção dos jesuitas, renunciando à sua profissão, e a
seu caracter, do qual nada mais guardavam senão o habito e o nome, passa-
vam uma vida de soldados, todas suas funcções eram uma continua profana-
ção de seu ministério. Parecia que para elles não havia Deus, e D. António, o
prior do Crato, no meio de suas desgraças, continuava sempre ama vida de
devassidão. As mulheres mais honestas mal se podiam livrar de suas violên-
cias. Violou até religiosas, entre as quaes a luxuria c o escândalo se tinham
introduzido como entre os homens.
• •
Yé-se pois que inevitavelmente os portuguezes se deviam julgar escanda-
lísados com estes e vários outros trechos, e por isso Jeronymo de Mendonça
poblicou em 1607 a sua jornada de Africa, em a qual responde a Jeronymo
Franqni : «Veado o modo com que alguns estrangeiros como Jeronymo Fran-
cbi, e frei António de S. Romão, tratam d'eila, accrescentando ás faltas e mi-
sérias outras muito maiores, como senão bastaram as que na verdade aconte-
ceram, e que nosso descuido podia acreditar seus erros, vendo os que depois
vieram, que ninguém os contradisse, sendo tão manifestos; me pareceu rasao
não passar em silencio cousa alguma, porque se saiba em todo o tempo o que
aconteceu na verdade, apontando alguns lugares nos quaes se verá claramente
aquillo de que estes auctores deviam ter errada informação.
«Assi que está manifesto não poder Jeronymo Franqui escrever dos portu-
guezes, nem é rasão se lhe dé algum credito, pois não se achou presente em
qoanto diz : errando o nome aos homens, e muitas vezes e offlcio, e quasi sem.
pre os successos, além de ser suspeito claramente, tanto que frei António de
S. Romão diz que a nação portugueza se pôde chamar offendida, e que as
obras de Franqui arguem vingança contra os portuguezes, o que devia nas-
cer de algumas paixões particulares.»
Seja como for, o que é certo é que das obras relativas a assumptos por-
tuguezes, a mencionada de Franqui é uma das mais conhecidas na Europa,
sendo uma leitura muito amena.
268 CO
1.* edição do original italiano. Génova, 1585.
2.* edição Génova. Âppresso Girolamo Bartolí, 1589. Traz uma dedicatória
ao governador da republica de Génova, onde o anctor se defende de varias
accusaçoes, que flzeram à sua obra.
3." edição, Venetia, 1692. Outra em 1642. Firenza, 1642.
O sr. Innocencio menciona edições de Milão, 1616, e Verona, 1642. Foi tra-
duzido em hespanhol, por Luiz Bavia, Barcelona, 1610, 4.<' Em francez, por
Th. Nardin, Besançon, 1596, 2.« edição, 1600, 3.» 1601, 1613. Nova tradacçáo
em 2 vol. Paris, 1680^ c reimpresso em 1695. E em latim com o seguinte ti-
tulo : De Portugalliae conjunctione cum regno Castellae historia^ ex itaiico
semume tn Latinum conversa. Francofurti, 1602.
289) OONFUTATIO NUGARUM NONH LEONIS, Júris Consulti
LusUani, nonnullorumqite ejusce farinae interpolatorum, qui linguOy calanuh
que vencUes, ex vafris mendaciis, atqm scurrilitate quaestum sibi paraiU^
molierUeSt Portugalliae regnum Philippo Austríaco, Castellae Regi, jure kae-
reditario óbvenisse, ignaris priscorutn Portugallensium mqrum m suis Regi*
bus eligendiSy inaugurandisque falso persuadere^ et Serenissimi Principis DO'
mini Antonii, veri legtíimiq; Portugalliae etc, Algarbiorum Regis jus veh
licare :
Excerpta ex incorruptis rerum Portugallensium monimenis, sed ex erudi-
tissimi R' P. F. Joseph Texerae, Ord, Praed. Sacr, Theol. Magistri ad Inqui-
sitores Portugalliae Anticrisi, cujus pars magna Lugduni Galliae anno 1589
typis mandata fuit. Ticini, Ad insigne perscquentis iníquos et mendaces, an-
no 1594, 8.", 123 pag. além d'um longo prefacio não paginado.
Dois fins tom este livro : 1." Refutar a gí^nealogia dos reis de Portugal, com-
posta por Duarte Nunes de Leão, não deixando passar occasião favorável para
dirigir insultos a este auctor. 2.° Provar que D. António, prior do Crato, é o
legitimo rei de Portugal. Que pena, o não possuirmos um trabalho perfeito
acerca da biographía d'este varão, um dos vultos europeus mais notáveis do
seu tempo !
290) CONQUISTA DE LA ISLÃ DE LA TERCERA y de las de-
mas islãs de los Açores que hizo D. Álvaro Bazan, marques de Santa Cruz,
1583.
«Le-se no fim d'este opúsculo: Fecha cn la Ciudad de Angra a onze de
agosto de mil y quinientos ochenta y três. M. Cotton no seu Typographical ga-
zetteer infere que este volume foi impresso em Angra. Porém eu creio que é
erro, e que esta data se refere ao logar em que a carta foi escripta, c não ao
logar da impressão.» F. Compans, pag. 65.
291) CONSTANTINI (EMAN).
E. — Historia de orígine aíque vita rcguin Limtaniac. Homae, 1601. (Ori-
gem c vida dos reis de Portugal).
CO J69
292) CONTRERAS (FRANCISCO).
E. — Nave trágica de la índia de Portugal, Madrid, 1624. T. Compans,
pag. i48.
293) OOOLEY AND QUEEN.
E. — Africa, A memoir of the civilization of tlie tribes inhabiting the high-
lands near Delagoa Bay, LoDdon, 1833.
294) COPIA DETiTiA REPLICA fatta di ordine de S,S, dal nuntio di
Spagna ai Ré Catholico interno la lega diffensiva e pace con Portogallo,
Sem áaXSL, nem logar de impressão.— C. M. B. I. P.
295) COPIA DI SCRITTURA informativa concernente le presente ver-
tenze di Portogallo con li P.P, Gesuitiy secondo le notizie trasmesse in Roma di
monsignor nunzio alia Segretaria di StatOy o distribuite alie signori Cardinali
dei SanfOffizio, unitamente col memoriale presentato da Padre Genercde di
JestUtiil die 31 Luglio 1758 alia Sanlita di Clemente viii.
Sem data, nem logar de impressão.— C. M. B. I. P.
296) COPPOLIiA.— Maestro italiano.
Compoz uma opera, intitulada — Ignez de Castro, a qual foi representada
no anno de 1841, no theatro de S. Carlos em Lisboa; mas o êxito não foi pros-
pero, segundo diz a Revista Universal Lisbonense a pag. 169 do 1.» vo-
lume.
297) COPYE VAN DE RESOLUTIE van de Heeren Burgemeesteis
ende Raden tot Amsterdam. OpH stuck vande West-Indische compagnie, Geno-
men in August 1649, 8 pag. sem numeração.
298) CORDUSA (P. JULES CÉSAR).
E. — // buon Raciocinio dimostrato in dm scrittt, ossia saggi apologetici
sul famoso processo e trágico fine dd fu P, Gabr. Malagrida, Venezia, 1782.
Ibid. 1784.
299) CORNER (Miss.)
E. — The histories of Spain and Portugal from the earliest period to the
present time, adapted for yotUh, schools and families by,^ London, S.*", 176
pag. Com uma estampa na frente representando D. Ignez pedindo a vida ao
rei de Portugal.
300) CORNIDE (D. JOSÉ).
E. — I Estado de Portugal em 1800. Obra manuscripta, que se conserva na
Real Academia de Historia, em Madrid.
II Descripcíon geographira e histórica de los pueblos mais notahles dei reino
de Portugal, «
570 GO
<D. José Gornide demoroa-se em Portagal durante os annos de i794 e 9&
encarregado pela Academia Hespanhola, de estudar as antiguidades de Por-
tugal. A maior parte dos seus papeis encontram -se em Madrid; de alguns po-
rém existem copias na Bibliotheca Nacional de Lisboa.» ^
301) OORONAOION DE LA MAGESTAD DEL HEY DON F£-
LIPPE m nuestro senor. Juramento dei serenisimo príncipe de Espana, tu
hijo. Celebrado todo en el salon de palácio de la ciudad de Lisboa, Dose qaenta
de la forma y ceremonia con que se celebran estes solemnes actos, assistindo
su magestad y alteza, companados de los grandes, títulos, senores, prelados y
procuradores de las ciudades de aquel reino. Quien tomo el juramento à S. M.
y la forma y palabras dei etc. Sasímismo se díce que dia començaron las Cor-
tes, quien hizo por S. M. la proposicíon delias, donde se hacen ai presente, y
quantos dias han de durar. Yla grandeza que su magestad kizo con la fu-
queza de Acero etc. Sevilla, Í6i9.
302) CORPORAL KNIGHT.
E. — - Battalion at Oporto wíth adventures, anecdotes and exploits in Hol-
land at Waterloo, and ín the expedítion to Portugal.
303) OORREA (NIGOLAS CASTOR DE CAUNEDO SUAREZ Y).
E. — Arvore genealógica dos Reis de Portugal.
Pnblicou-se este trabalho no iv vol. da Revista Popular.
304) CORRESPONDENCE relating to the affairs ef Porttigal. LoD-
don, 1847.
305) CORTADA (JUAN).
E. — Historia de Portugal desde los tiempos mas remotos hasta 1839
escrita por.— Barcelona, 1844, 8.»
306) OOSTANZO (SALVADOR).
E. — Juicio critico sobre la obra dei sr. Alejandro Herculano, titulada
•Da origem e estabelecimento da inquisição em Portugal.* Tentativa historira.
Lisboa, 1854 e 1855.
307) GOSTE (OLIVIER DE).
E.—Vita Sanctae Elizabethae Lusitaniae Reginae. Parisiis, 1625. Aix
1639.
308) COTARELO (JUAN).
E. — Guia dei militar en mai cha, ò itinerário geiíeral de Espafia y Por-
tugnly dividido en distritos militares por el Capitan. Madrid, 1843.
' Hubner. ^ntirias Arrhçohgicas, pag. 7. •
CO ,71
309) COSTIGAN (ARTHÚR WILLIAM — ) Esq. late a captain of the
Irísh brígade íd the servíce of Spain.
E. — Sketches of Society and manners in Portíigal in a series of letters
from — to his brother in Landon. In two volumes. London, Prínted for F.
Vernor, Birchi-laDe Cornhiil. (Esboço da sociedade e costumes de Portugal).
i.«» vol. 8.« gr., 424 pag.
%'* vol. 8.» gr., 424 pag.
A primeira carta de Arthur WíUiam Costigan a seu irmão Charles Arthur
Costigan é datada de Cadiz do anno de 1778, e n'ella faz scíente a Charles de
que deixara o serviço no exercito hespaahol, e que achando-se resolvido a re-
tirar-se da vida publica para a particular na companhia doeste seu irmão n?
Irlanda, approveita a occasiào da sabida d'um barco de pesca de Cadiz para
Faro, embarcando n'elle para fugir das horríveis pousadas hespanhelas.
•A segunda é datada já de Faro. Aqui o auctor resolveu-se a visitar minu-
ciosamente o paiz, para se achar habilitado a asseverar com conhecimento
próprio se os portuguezes eram ou não um povo tão despresivel como os hes-
panhoes lh'o representavam, ^ e para melhor se entender com o povo toma
para sua companhia um joven padre, que era um perfeito mestre, tanto de
portuguez como de inglez. Acha esta cidade agradavelmente situada com lin-
dos campos em volta, empinando se graduaitnente até formar uma alta cordi-
lheira de montanhas. O principal commercio consistia em figos, e outros ob-
jectos monopoiisados por três ou quatro casas inglezas alli estabelecidas, as
quaes auferiam lucros exorbitantes, comprando aquelles artigos por quantias
insignificantes.
«Foi escripta a terceira carta em Mertola. D'esta povoação dirigiu-se para
Tavira, onde encontrou ao entrar o povo na rua cantando o Terço, do qual
faz a descripção. ^
N'esta povoação foi que o auctor nos refere ter observado o seguinte caso.
Achava-se na companhia de mr. Bagot, e este fallava acerca da livraria d'um
fidalgo de Tavira, o qual passava por ser muito instruído, e por ter uma ex-
cellente bibliotbeca. Mas examinae sua livraria, dizia mr. Bagot, e se vós en-
contraós n'ella mais de três mil volumes, não encontraes todavia três livros mi-
litares, ou algum outro digno de se abrir, á excepção d'uma Bibiia em inglez,
língua da qual nada entende.
«Quando mr. Bagot fallou da Biblía, um joven padre que alli se achava,
mostrou um grande desejo de a ler, pois, dizia elle, era livro que nunca tinha
visto!
«A pag. 73 e seguintes d'este volume ^ também se encontra a seguinte ane-
dota, que pinta bem o estado de superstição, em que então nos achávamos :
< Vol. !.•, pag. 13.
2 Acba-se na I.' carta, datada de Beja, pag. 43.
' «CoDsta-nos lambem que o marquei de Pombal fizera encarcerar o joii por lhe ter
mostrado os incon?en lentes da fundaçilo de Villa Real de Santo António, no local em que
o marquez a fundou.» Pag. 57.
«72 CO
«VÓS Sabeis maíto bem qae Dão se encontra nos paizes catholicos, especial-
mente na Hespanba, e em Portugal, uma provinda, cidade» freguezia, ou mes-
mo individuo que não tenha como tutelar seu Santo, ou Anjo, a quem se re-
commenda a si e a seus negócios. Por conseguinte nâo ha um regimento n'este
paus, que se nâo tenha posto ha muito tempo debaixo da protecção d'algum
Santo particular» segundo lhe dieta sua devoção, ou aíTeição; e um d*elles
tomou Santo António de Lisboa por seu patrono, ou protector, o qual cedo de-
pois recebeu o posto de capitão do mesmo regimento, e soldo regular d'ahi por
diante, o qual, bem como dois vinténs pagos regularmente por cada pessoa do
mesmo corpo se empregam n'um determinado numero de missas pelas almas
d'aquelles, que morrem, em fazer a festa ao Santo, em sustentar os capellães,
em enfeitar a capella, e em pagar vários encargos eventuaes debaixo da ins-
pecção d'um official do regimento nomeado para esse fim. Este encargo de su-
perintendente de Santo António foi desempenhado por um major do dito regi-
mento, fidalgo e estúpido, por muitos annos com grande zelo e devoção, e
nunca depois cessou de importunar a corte com memoriaes e certificados de
serviços em favor de Santo António, com o fim de ser promovido ao posto d<;
major adjunto ao regimento. O ultimo ministro riase grandemente de taes
memoriaes, lançava-os para os papeis velhos declarando que era apenas um
outro meio de roubar o rei n'aquelle dinheiro empregado mensalmente em
sustentar padres ociosos, procissões e superstições. Porém a rainha D. Maria I
6 seus ministros tomaram o caso a serio, e promoveram Santo António para
animar a superstição.
«Entre os milagres mencionados nos referidos certificados havia os seguin-
tes : Ter restituido á mulher do major um cão de regaço muito estimado, que
lhe tinham furtado, e ao qual linha perdido as esperanças de tornar a ver ou-
tra vez, até que seu padre director a acconselhou a importunar Santo Antó-
nio, o que ella apenas fizera por dois dias lhe levaram o cãosinho. Ter
salvado também um pobre soldado, ^ que o invocou estando a ponto de afo*
gar-se ao passar um profundo rio, atirando-lhe milagrosamente com uma cor-
da. Ter um outro escapado das bexigas agradecendo a Santo António, e isto
depois de ter o estertor na garganta, e de ter sido abandonado pelo cirurgião
do regimento. Finalmente uma outra certidão assevera que estando um tam-
bor do regimento chamado João Ivo Alegre, na cama com sua mulher, e um
filhinho dormindo no meio d'elles, quando se levantou de manhã, encontrou
uma grande cobra (a qual se introduzira por debaixo da porta de sua barra-
ca) na cama com estes, mamando no peito de sua mulher, em quanto ella es-
tava profundamente adormecida, com a cauda na bocca do menino, que a es-
tava chupando com muito contentamento. A vista de tão extraordinária appa-
rencia o tambor immedialamente invocou Santo António, que lhe inspirou
presença de espirito e valor suíDcientes para agarrar ao mesmo tempo pela ca-
beça e rabo da serpente, agora empanturrada com a grande quantidade de
leite, que linha mamado, <* pondo cada um do seus pós por cima d' estas par-
1 Vol 1.% pag. 76
GO Í73
teSy segnrou-a para não lhes fazer algum mal, em quanto com sua faca de
matto, que estava à cabeceira da cama, cortou a cabeça do animal, e fel-a em
bocados, como se para prevenir que Ibe causasse mal.
cD'esta forma o homem, mulher e menino tiveram uma salvação míra-
eulosali
O attestado para provar que o caracter de Santo António era o de um
homem honrado, e d'um bom soldado era na forma seguinte :
cD. Hercules António Carlos Luiz Joseph Maria de Albuquerque e Araújo
de Magalhães Homem, moço fldalgo de Saa Magestade, cavalleiro da sagrada
ordem de S. João de Jerusalém, e da illustrissima ordem militar de Cbristo,
senhor do distrícto e villas de Moncarapacho e Farragudo, alcaide mór here.
ditario da cidade de Faro, e major do regimento de infanteria da cidade de
Lagos n'este reino do Algarve por S. M. F. a quem Deus guarde por longos
annos.
cAttesto e certifico a quantos virem estas presentes, escriptas por minha
tndem, e assignadas no fim com meu sello manual, com o grande sello de mi-
nhas armas, fechado pela minha dita assignatura, e um pouco á esquerda d*el-
la, que o Senhor Santo António, por outro nome o grande Santo António de
Lisboa (commum e falsamente chamado de Pádua) foi alistado, e teve praça
n'este regimento sempre desde 2i de janeiro do anno de Nosso Senhor Jesus
Christo i668, como se evidenciará mais particularmente abaixo : attesto mais
que os cincoenta e nove inclusos certificados, contando desde o numero i até
89, e com a firma de meu nome posta junto de cada nome, conteem e compre-
hendem uma verdadeira e fiel relação dos milagres e outros serviços eminen-
tes que o referido Santo António tem em épocas differentes feito e praticado
n'este regimento pelo motivo de ter praça n*elle, dos quaes, além d'outras mui-
tas incontestáveis evidencias, eu sou confirmado por ter conversado com mui-
tas das pessoas agora vivas, que receberam estes serviços do dito Santo : Pelo
que duvidar da veracidade doestes milagres é um atroz crime contra o Espi-
rito Santo, bem como o duvidar de qualquer dos dogmas de nossa Santa Fé,
ou dos milagres do próprio Cbristo, cujas evidencias não são tão fortes e con-
vjocentesy como estas no presente caso diante de nós, e pelas quaes as pro-
IMrias palavras de nosso bemdito Salvador são cumpridas; quando disse a seus
discípulos, que— Depois de mim virá quem bade fazer obras maiores, que
aqnellas, que eu tenho feito— a qual prophecia claramentõ diz respeito ao
nosso grande Santo António.
c Certifico outro sim por minha palavra de honra, como nobre, como ca-
valleiro, e christão catholico (como sou pela graça de Deus) o que abaixo se
segue: ^
cQue tendo lido e observado attentamente todos os papeis de notas, livros
e registros de nosso regimento, desde o principio de sua instituição, e tendo
cuidadosamente copiado dos referidos papeis todas as cousas relativas ao aci-
ma mencionado Santo António, ê de verbo ad verbum como so segue aqui : por
• Vol. I.», pag-81
TOMO I * 18
Í74 CO
cuja veracidade me reporto aoã ditos livros e papeis, guardados nos arcliivos
de nosso regimento.
•Que a 24 de janeiro de 1688, por ordem de S. M. D. Pedro II (que Deas
tem na gloria) então principe regente do reino de Portugal, dirigida ao viça-
rei doeste reino do Algarve, foi Santo António alistado como soldado raso n*est6
regimento de infanteria de Lagos» logo no principio que se formou por ordem
do mesmo principe; e de tal entrada no serviço militar se formou um registro»
que agora existe no primeiro volume do livro de registros do regimento, foi.
i43 vers. e onde deu por seu fiador a Rainha dos Anjos ^ que se tomou res-
ponsável em como nào havia de desertar do seu regimento, mas pelo contra^
rio se conservaria sempre como um bom soldado nas suas bandeiras; e assim
o santo continuou a servir e a fazer serviço na qualidade de soldado raso no
regimento até 12 de setembro de 1683, no qual dia o mesmo principe regente
foi elevado a rei do Portugal, pelo fallecimento de seu irmão D. Afronsoyi;e
n'esse mesmo dia S. M. promoveu Santo António ao posto de capitão no regi-
mento, por se ter pouco tempo antes posto corajosamente á frente d'um des-
tacamento do regimento, que estava marchando de Jorumenha para a guarni-
ção de Olivença, ambas na província do Alemtejo, e poz em fuga um forte
corpo de castelhanos, em numero quatro vezes maior que a gente do referido
destacamento, o qual corpo tinha sido posto em emboscada contra o destaca-
mento^ com a intenção de o levar todo prisioneiro para Badajoz, tendo o ini-
migo por meio de espiões obtido esclarecimentos a respeito de sua marcha.
•Outro sim certifico que em todos os papeis e registros acima mencionados
não existe alguma nota de Santo Antooio, de mau comportamento ou irrega-
larídade praticada por elle; nem de ter sido em tempo algum açoutado, pre-
so, ou de qualquer modo punido durante o tempo, que serviu como soldado
raso no regimento : Que durante lodo o tempo, era que tem sido capitão, vae
quasi para cem aunos, constantemente cumprio seu dever com o maior prazer
á frente de sua companhia, em todas as occasiões, em paz e em guerra, e tal
que tem sido visto por seus soldados vezes sem numero, como elles todos es-
tão promptos para testemunhar : e em tudo o mais tem-se comportado sempre
como fidalgo e official : e por todos estes motivos acima referidos considero-o
muito digno e merecedor do posto de major aggregado ao nosso regimento, e
de quaesquer outras honras, graças ou favores que approuver a S. M. conferir-
Ihe. Em testemunho do que assignei meu nome, hoje 23 de março do anno de
N. S. J. C. 1777.
Maoalhabns Hombm.
o livro das viagens de Coslingan è sempre interessante, e ignoro o motivo
poríjue, o não vi^jo ciíado pelos escriptores, que narram os feitos do reinado
•
' Cada dislricto é obrigado a fornecer um certo numero de reciutas, os qoaes de-
vem >er filhos de mercadores, negociante^, campooezes, lavradores, ele, habitantes do
districlo; e o pae, irm.lo. aljrum parente, ou outra pessoa idónea fica responsável pelo
Imm romporUmeiílo de rnda recruta, e í-c o recruta desertar, é obrigado a apresentar
nutra, pela qual lainl»em (ira responsável. Ê o motivo porque Santo António dá aqui por
-cu tiador a Virgrm Maiia.» Vo! 1.". po;: Sfl
CO 275
de D. Joseph e D. Maria I. Os livros de viagens escriptos por estrangeiros teem
moita cousa approveitavel para a historia.
A 5.* carta é ainda escripta em Beja, a 6.* em Évora, a 7.* em Villa Viço-
sa, e a 8.* em Jorumenha, e n'esta ultima^ conta como encontroa em Évora um
padre irlandez, que lhe deu minuciosas informações acerca do estado do paiz,
e do reinado de D. João V. A respeito d'este rei disse o irlandez (que era ho-
mem ÍDStruido) o seguinte :
«D. João V 1 gastou seu tempo na companhia ou de padres ou de mulhe-
res, elevou a egreja de Lisboa a patriarchal, deixou reduzir seu exercito ana-
da» animou a superstição, a inquisição, e a nobreza. Na velhice para se tornar
mais próprio paia a companhia de mulheres, fazia uso de cantharídas, cujos
eflfeitos o debilitaram a ponto que o puzeram n*uma continua desordem; e, de-
pois de ter vivido como um sultão no goso de seu favorito prazer, teve não só
tempo, mas também todos os meios de conversão, e de reconciliação com o
céo, o qual padres velhacos e lisongeiros lhe podiam conceder para morrer
como santo : de sorte que seus vassallos diziam d'elle —Viveu, como quiz, e
morreu, como quiz.
•A administração d'este paiz durante o ultimo reinado foi marcada por fei-
ções muito differentes : um ministro resoluto e atropellador do direito, centra-
lisou em si todos os canaes de poder e auctoridadc : um rei fraco e pusillani-
me, tendo-se tornado desconQado por causa da deslealdade de sua própria no-
breza, !ançou-se inteiramente nos braços de seu ministro, como sendo a única
pessoa, àa qual podia confiar, e o ministro cônscio de que era odiado ou des-
picado pela nobreza, não perdeu nenhuma opportunidade, que a loucura ou
imprudência d'ella lhe conferia para curvar sua insolência, e abater seu pode-
rio. Uma questão pessoal, que o ministro tivera com um jesuita, o confessor
do rei, no principio de sua administração, addicionada a outras causas pre-
existentes, tomaram n'o séria e cordealmente resolvido a dispor de todo o ma-
quinismo para trabalhar para destruição dos jesuítas, o que finalmente conse-
guiu. O terremoto de 1755 serviu apenas para confirmar sua auctoridade, e
tomal-a mais absoluta, e foi então que se tornou dictador perpetuo. A guerra
CMitra Hespanha, que se seguiu alguns annos depois, com a introducção de
trôpas estrangeiras no reino, e d'um numero de oõiciaes estrangeiros nos re-
gimentos nacionaes, habilitouo a pôr seu pó eíTectivamente em cima do pes-
coço do clero, de sorte que desde aquelle tempo até ao fim de sua administra-
ção, nunca o clero ousou levantar a cabeça. Fez muito bem, e egualmente
muito mal, derivando se tudo antes de motivos pessoaes, e de interesse pró-
prio, do que de alguma consideração pelo bem de seu paiz. Diminuiu o nu-
mero das casas religiosas, e desanimou ou supprimiu o furor de se enterrarem
na vida monástica. Arruinou ou empobreceu a parte mercantil de seus súbdi-
tos, lançando o commercio (ao qual aíTectou animar muito) nas mãos de com-
panhias exclusivas, compostas de alguns indivíduos favoritos, que foram os
» Yol. I.^ pap. 137.
276 GO
uDícos a lacrar, em quanto o grande corpo d*aqaelles> cuja subdisteacia de-
pendia do commercio, ficaram pobres.
«Depois da guerra, poderia ter formado um exercito completo, e menos mal
armado, que efTectivamente incutiria desconflança, em todas as forças de temi
que a Hespanha podesso trazer contra elle, e para fazer isto tinha a coopera-
ção d'um general muito hábil, bem conhecido na Europa pela soa capacidade»
e pela de alguns generaes experimentados: mas em vez de assim praticar, des-
presou o exercito, e jnlgouo excessivamente dispendioso. Comportou se para
com o conde de Lippe da maneira mais velhaca e desagradável, e tratoa a
maior parte dos oíQciaes estrangeiros com insolência ou despreso, de sorte qoe
seus melhores amigos cotísideravam seu procedimento a este respeito como
um paradoxo; e ficavam perplexos, quando se tratava de o desculparem do
seu desprezo para com o exercito, que fora o melhor dos meios para conso-
lidar sua auctoridade, e seria seu único recurso, se aquella auctoridade n'al-
gum tempo houvesse mister de defesa.
«O ultimo acto de seu governo, e quando o rei seu amo estava já no leito
da morte, foi casar o herdeiro presumptivo da coroa, rapaz de dezeseis annos
de edade com sua própria tia, mulher de trinta e um annos feitos, e foi este
acto uma digna conclusão de sua tempestuosa administração.
c A morte de D. José I foi o signal da desgraça de seu ministro, e verdades e
mentiras industriosamente se espalharam contra elLe por um numero sa-
perior a oito ccntas pessoaes de todas as jerarchias, as quaes elle tínha eoi^
sorvado nas prisões, e que agora soltas augmentavam e inflammavam o popu-
lar rugido de clamor e insultos, que o accompanharam ao seu degredo, para
o qual se retirou com toda a magnanimidade d'um antigo atheniense, exi-
lado pelo ostracismo.
«Foi substituido, como é usual em casos taes, por um de seus maiores an-
tagonistas, que durante a precedente administração fora obrigado a conser-
var-se muito quieto, e a pôr em acção toda a vil astúcia, de que era dotado
para o deixarem viver em paz : pois é geralmente reconhecido que possue to-
das as más qualidades do antecessor no governo, e isto talvez em mais emi*
nente grau, ao passo que juizes imparciaes, e os menos affeiçoados ao scepti-
cisroo duvidam que seja herdeiro d'alguma das virtudes de seu predecessor.
«Segundo uma observação commum o tempo e governo presentes são sa-
grados, e ninguém por isso se deve involver com elles. O confessor da rainha
intromette-se excessivamente nos negócios temporaes : o confessor do rei es-
creve ensaios, que o expõem ao ridiculo publico: a rainha permittiu que a in-
quisição rcasumisse sua auctoridade abdicada por muito tempo; e esta cir-
cumstancia fará com que a Europa em peso exclame —Vergonha sobre uma
tal rainha e um lai governo. '
•Chagámos a Elva<: 2 ao approximar-nos da porta uma sentinclla pergun-
1 Vol. !••, pag ni.
- r.arla IX dalada de Ca^tííllo Bíant:». pag. \'oi. Lord licemaii andava «ctualfflenU
viajando na companhia de Coflm^an.
CO 277
tuo em alta voz quem éramos, e que queríamos? Respondemos qoe vínhamos
de Estremoz, e trazíamos cartas para s.ex* o governador. A sentinelia então
appresentoa-nos ao officíal commandante da guarda, e este nos mandou com
um soldado, armado segurando no freio dos dois cavallos, á presença do go-
vernador: n'esta situação nos conservámos á sua porta na rua. Depois de s.ex.*
acabar de ouvir missa, niandou-nos admittir á sua presença, e lord Freeman
appresentou-Ibe uma carta que para elie trazia. Depois de ler, disse nos o gover-
nador que elle era muito feliz por ter a honra de nos conhecer, que sua casa,
o regimento de seu commando, os fortes adjacentes de Santa Luiza e de
Lippe, até mesmo toda a província do Alerotejo estavam às nossas ordens para
dispormos d*elles como julgássemos conveniente: que nos pedia o obsequio da
nossa companhia ao jantar, que era á uma hora em ponto.
Chegames a tempo, e servio-se o jantar. A esposa do governador era a
única senhora que estava à mesa. O governador tomou seu logar à direita da
mulher, pedindo a Mr. de Valeré que se sentasse á esquerda. Lord Freeman sen-
ton-se em seguida a Yalere^ e um homem prodigiosamente gordo, com o far-
damento de ofiQcial, e a cruz de Malta ao peito, sentou-se em seguida ao gover-
nador. Seu nome era D. João, e a companhia dava- lhe o tratamento de ex-
cellencia. Não disse uma palavra durante todo o tempo do jantar, mas comia
e bebia mui regaladamente, e apparentemente com grande prazer, e ria com
descomedimento, quando o governador e sua mulher diziam por acaso alguma
coisa que estes desejavam que fosse tomada por engraçada. Em occasiões
(aes seus olhos desappareciam completamente, e sua proeminente barriga au-
gmentava de volume, e era affectada de movimentes fortes e convulsivos. O
resto da companhia, que era numerosa, occupava seus logares segundo suas
Jerarchias: o cavalleiro trinchante na extremidade da mesa servia os con-
vidados em roda, os quaes estavam quietos e cerimoniosos: recorria se à aju-
da do copo animador para alegrar os hospedes, mas parecia que a agua, da
qual tomavam grandes golos, produzia o mesmo effeito: s. ex.* D. João em
particular despejou três copos de quartilho, cheios do chrystalino licor, cada
nm n*um trago, o que fazia arripiar lord Freeman. Por flm o governador man-
dou vir nm copo de vinho, no qual deitou coisa d*um dedal doeste liquido, e
bebeu à nossa saúde. Nós approveitámo<nos do ensejo, bem como mr. de Va-
leré, para correspondermos ao cumprimento, mas tínhamos nossos copos mais
bem cheios, e repetimos isto duas vezes ainda à saúde da senhora e de D. João.
Um dos padres, que parecia ser divertido, pedia vinho repetidas vezes, pelo que
a senhora entrou a motejalo dizendo lhe que parecia beber como um almo-
creve ou um inglez. Então o governador pedindo uma outra gota de vinho,
bebeu á saúde do rei de Inglaterra, chegando o copo aos beiços, mas de ne-
nhuma vez bebeu o vinho. O padre bebeu de novo, conversava, e dentro em
pouco se tornou o mais folgasão da companhia; a senhora sorria-se, e D. João
continuava a dar gargalhadas com todas as suas forças. Apenas acabou o jantar
abriu-se uma porta, que estava fechada por detraz da senhora, e a companhia
passou para a sala contigua, onde a sobremesa, consistindo de doces e fruc-
tas, estava posta n'uma mesa mais pequena; os convidados tomaram scas as-
i-H CO
sentos, e nào estavam apertados, pois mais do metade d elles se tinham re-
tirado. 1
«O luxo principal dos jantares portuguezes consiste na sobremesa. Cada um
dos convidados toma uma, ou mais colheres de sopa cheias de doce liquido, e
quanto mais está carregado de assucar, tanto roais é reputado por saboroso.
Um criado está em pé atraz de cada cadeira com um largo copo de quartilho,
cheio de agua muito fria, a qual bebem logo em seguida aos doces. Seus epi-
curístas, ou requintados no prazer da comida (taes como D. João) bebiam a
agua muito vagarosamente, com o fim de prolongarem a deliciosa seosa^,
que a agua fria causa no paladar, quando misturada com a doçura, da qual
n'esse me^mo instante acaba de ser tão fortemente impressionado, e asseve-
ram que a agua n*essa occasião excede muito o sabor do mais delicioso vinho,
que se possa beber. É verdade que os bebedores de agua na Hespanha e em
Portugal, principalmente entre as classes mais elevadas, distinguem com ma-
ravilhosa exacção todas as graduações de diíTerença entre as respectivas aguas,
das quaes provam, o que seria totalmente imperceptível para nós por termos
o nosso sentido do gosto comparativamente grosseiro e embotado pelo fre-
quente uso de vinho e d'oulros licores embriagantes.
«Os convidados, depois de terem comido de diíTerentes fructas, beberam om
cálix de vinho da Madeira, o qual eslava em cima da mesa em garrafiohasde
meio quartilho, com copinhos dourados nas cercaduras. Nós porém não bebe-
mos d'este vinho. por ser excessivamente adocicado a ponto de enfastiar. De-
pois de muita conversa sobre ninharias, appareceu o café, e lord Freeman ap-
proveilouse da occasião para pedir ao governador licença para visitar o forte
de Lippe. Valero - puchou-lhe pela manga (mas já muito tarde) para evitar
ouvir uma recusa. O governador immedialamenle reportou-se ao próprio Va-
leré para servir de lesieiniinha das ordens positivas, que elles tinham da corte,
de se nào deixar ver a pessoa nenhuma, fosse quem fosse, á excepção dos of-
ficiaes, que estavam em serviro. O governador exprimiu seu muito pezar por
lhe não ser possivel condescender com os nossos desejos; porém que podía-
mos visitar toda a guarniíjão e forte de Santa Luzia na companhia de Valeré.
•Mr. de Valeré oíTereceu se para nos appresenlar ás freiras de Santa Clara,
o que aqui se considera como uir. cumprimento ; mas lord Freeman não ac-
ceitou, annuindo todavia a accompanhal-o á noite ao palácio do bispo, onde
ha uma sorle de, asseinbléa, c onde podiamos jogar uma partida de whist Mas
dizei -me, perguntou lorJ Freeman a Valeré,. (luem era aquelle oílicial mons-
truosamente gordo, (lue estava sentado ao jantar junto do governador? Uma
besta, respondeu este, um animal, um verdadeiro emblema e epitome da fidal-
guia portugueza. Mas não penseis que é a matéria (pie pense, ou, se aquelle
possue o dom de pensar, não o emprega mais que no comer, no beber, e em
procurar rapazes K um de quatro irmãos d'uma antiga familia. Éo
mais velho d'rlles, n casou com uma íillia do uiiimo ministro, ao qual odiava
' Voi. 1 •'. pu i:;').
t]0 279
e ddspresava; mas deram-se occarrencias taes, que fazendo aso de sua rasào
pela oníca vez na sua vida, descubríu que era melhor estar preso pelo casa-
mento, que por quatro fortes muros de pedra. Estes irmãos, cujo nome de fa-
mília, é Vilhena, hão de vos beber qualquer porção de víftho com os inglezes,
on de agua com seus compatriotas sem sentirem o mais leve incommodo com
qualquer doestas bebidas. Durante a campanha de 1762, e mesmo por alguns
annos depois, quando ainda havia muitos officiaes inglezes n'este serviço,
faziam repetidos ataques sobre estes irmãos, com o íim de beberem vinho»
poncb, ou qualquer outra bebida forte, mas eram constantemente derrotados,
postos fora de campo, ao passo que os irmãos ilcavám triumphantes. N^elles ha
reahnente verdadeira vida animal, sem percepção, ou instrucção de qualquer
espécie, corpos sem almas; comer, beber e dormir é a priocipal occupação da
íámilia dos Vilhenas. Todavia seria bem para desejar que todos os irmãos no-
bres fossem tão innocentes e inoffensivos como estes. O fidalgo, que vos vis-
tes, é o irmão mais novo, é coronel do regimento de cavallaria d'esta guar-
ní^; mas ha cinco ou seis annos, que não monta a cavallo, por não ter sido
possível encontrar um capaz de resistir ao seu peso : de forma que suppo-
nho que depois de engordar um pouco mais^ ha de ser nomeado, como seus
irmãos o foram successivamente, quando inhabílitados para qualquer outra oc-
cupação, governadores nominaes de algum velho castello ou forte, para lhes
darem o privilegio de usarem d'um colete encarnado com um grande laçarote
por cima d'eile, e de se menearem até á corte aos dias santos para beijarem a
mão de sua magestade.
•Lord Freeman perguntou então porque um tão grande numero dos con-
vidados se tinham retirado depois do jantar sem terem participado da sobre
mesa. A isto respondeu mr. de Valeré que havia um livro intitulado o Per-
feito capitão portuguez, approvado peio santo oíQcio, e por muitos frades de
differentes ordens, o qual nada continha relativamente aos deveres militares
dos officiaes, mas que era o espelho da polidez e decoro, o qual ensinava o
numero de pregas, que devia haver na camisa, como se havia de encrespar o
rabicho, a largura do laço sobre o colete, como se devia curvar e ajoelhar ao
entrar n*ama sala, a natureza dos sacramentos, e como se deviam receber, e
entre outras muitas coisas, que todos os officiaes se deviam retirar, acabado o
jantar, e quando o general ia comer a sobremesa. ^
•Lord Freeman perguntou ainda qual a causa d'uma tão humilhante dis-
tíncçao para com os subalternos do exercito? A isto respondeu Valeré que a
oansa provmha de serem em geral os criados dos fidalgos, os que eram nomea-
dos para officiaes dos regimentos.»
Acaba n'este logar a carta 9.*, e a 10.* datada também de Castello Bran-
co começa por estas palavras: «Que delicioso paiz se poderia fazer d'aqui den-
tro em pouco, se estivesse nas mãos dos inglezes, francezes ou irlandezes, em
vez de estar nas d' uns taes porcalhòes ! e logo continua a narração da for-
ma seguinte :
« Vol. 1.% pag. 1C7.
280 CO
•Em nossos passeios matutinos por aqui aconteceu-nos passar pelo eonvenU
dos frades capuchos : com efíeito nossa attenção foi para alli chamada pelos
guinchos de mulheres, os quaes puviamos ao passar junto da porta da egreja.
Ao entrar vimos doís^os frades revestidos de sobrepelizes e estolas em pé diante
do altar mór lendo os exorcismos contra os endemoninhados. Diante d'elles ja-
ziam sobre o chão três mulheres. Duas d*estas uivavam piedosamente, e a en-
tra estava guinchando e puchando pelo cabello, fazendo as mais estranhas con*
torsões com suas feições. Pela minha parte tenho visto e ouvido tantas cousas
a respeito d'aquellas miseráveis velhacadas, que me retirei, e lord Freenun
observou que na sua opinião aquelles frades eram bem próprios para exorcis-
mar as mulheres. Depois disseram-me que aquelles dois eram no convento os
únicos peritos nos exorcismos.
«Á noite fomos para casa do bispo. Pelo caminho nos foi dizendo Itr. de Ya.
leré que este bispo certamente nos obsequiaria muito, mas emquanto ao cara-
cter era o padre mais intrigante e malvado, que tinha conhecido. Sua oecopa-
çao era propagar accusações e informações falsas pela guarnição contra o go-
vernador que se nomeasse; que se indispozera com um governador inglez para
alli nomeado durante a guerra, debaixo do piedoso pretexto que uma pessoa
do bello sexo viera de Lisboa para o visitar, o que escandalizou a pretendida
severidade do bispo, ao passo que elle mesmo bispo mantinha em casa um par
de amantes debaixo da denominação de sobrinhas, com as quaes nós prova-
velmente íamos jogar as cartas n'aquella noite.
«Dirígimo-nos pois para o palácio. Algum tempo depois apparecen o bispo
precedido par três jovens ecclesíasticos, e acompanhado das duas sobrinhas.
Fomos apresentados e recebidos com grande cordialidade. Depois de muito
ceremoníal e tempo, salvas de bolos e copos d'agua foram offerecidos à socie-
dade, e em seguida veio chà e café. Pozeram-se depois as banquinhas para o
jogo de cartas. O bispo pediu a lord Freeman que jogasse uma partida com-
posta do governador c de sua sobrinha mais nova. Ao tirar parceiros, a
sobrinha coube a lord Freeman, com o que a menina pareceu muito satis-
feita. Lord Freeman julgou ser tempo de corresponder a alguns delicados to-
ques, que tinha sentido repetidamente nos dedos dos pés, durante o jogo :
porém não se aventurou a fazer o mais leve movimento até se certificar de
que as pisadellas provinham da menina, e não casualmente de algum dos
parceiros da direita ou esquerda. Porém, quando começou a segunda par-
tida, viu os pés da menina muito bem estendidos para o seu, e não lhe restou
a este respeito a mais pequena duvida, e então começou o jogo tanto em cima
como debaixo da mesa. O mesmo me succedeu na mesa, em que eu jogava.
«Era tempo de nos retirarmos. O bispo parecia muito satisfeito, eas meni-
nas mostravam-se muito felizes.»
As três cartas seguintes, escriplas todas em Castcllo Branco, conteem a
biographia de Mr. Valeré, biographia que realmente mais parece um romance,
ou conto da carochinha, que vida de um militar *. Porém a carta 14.« é já data-
f Isto é confirmado pela obra FJogio de Mr. de Vnleré, publicada em Paris por sua filha.
CO
281
da do Porto. Esta-oeeupa-se da biographia de alguns officiaes ioglezes Q'a-
qaelle tempo ao serviço de Portugal, e de pouco mais. Nas cartas seguintes
narram-se factos tão aviltantes praticados por portuguezes, que realmente» se
nossos avós no flm do século passado eram taes como noi-os descreve Gostin-
gan, tinha Byron rasão quando disse :
Poor, pallry slavesl yet bom! midst noblest scene
Wby, Nature, waste tby wonders on such meo! ^
No emtanlo as viagens de Costingan fazem-nos lembrar as Chronicas mo-
násticas : n'estas todos os frades eram santos, apesar de serem de carne e osso
como quaesquer outros peccadores; n'aqucllas todos os ofilciaes ingiezes são
excellentes, e todos os portuguezes vis e miseráveis í
•Os frades em vez de reprimirem o progresso do vicio nas familias ^ nas quaes
eram recebidos, ou com as quaes estavam relacionados, servem de príneípaes
alcoviteiros do grande vicio da nação : de sorte que por meio d'elles o incesto
e o adultério eram quasi universaes, e toda a sua habilidade consistia em con-
servar as mais rígidas apparencias exteriores de decoro; de forma que debaixo
d'este elles revelavam cada espécie de desordem, a que aquella paixão li-
vre de qualquer constrangimento pôde levar; e de todas as enormidades, de
que os penitentes se accusavam, o peccado da carne era aquelle que encon-
trava mais prompta e mais ampla indulgência, da cadeira da penitencia; e
por isso mui provavelmente se originou d'aqui um provérbio que diz: tSe
Deus castigar a luxuria, pode ticar só no céo.t
Poremos ponto aos extractos das viagens de Costingan com o seguinte caso,
o qual mostra como a inquisição ainda era formidável no tempo de D. Ma-
ria L*
•Sou natural da província de Entre-Douro e Minho. Meu pae possuia belias
fazendas na margem do Lima, a duas léguas de distancia de Yianna, que é
perto do mar. Por ser herdeiro de seus bens, tive uma educação acommodada
á vida de fidalgo de província; ia frequentemente á cidade do Porto, onde ti-
nha algumas relações, e conhecia muitos dos feitores e negociantes ingiezes
d'aili, a um dos quaes meu pae vendia annualmente de cem a cento e cincoenta
pipas de vinho. Meu pae também semeava uma considerável porção de trigo
6 de milho, a qual vendia vantajosamente em Lisboa; de sorte que nós tí-
nhamos uma boa carroagem, onde a minha familia costumava ir a Yianna as-
sistir ás funcções. Ha n'aquella cidade um convento de frades capuchos, do
qoal minha familia é padroeira. Meu pae tinha sido sempre muito liberal para
com estes frades, e um d'elles geralmente dizia missa em minha casa aos do-
mingos e dias santos.
•Eu vivia muito satisfeito, mas aconteceu que n'uma manhã muito cedo
navegando nós pelo rio abaixo, dentro do nosso pequeno barco, para irmos a
< Cbilde Hareids Pilgrímage. Canl. 1—^.
'Vol.íA pag. W
» Yol. !•, pag. 178.
382 GO
uns navios que estávamos carregando de cereaes para Lisboa, ao passarmos
pelo castello, qae está na barra deVianna, vimos aporta, que deita para o mar,
aberta, e alguns homens tirando fazendas de dentro de um barco, e levando-as
para dentro do castello : esta circumstancia maravilhou-nos por sabermos que
aquella porta estivera tapada com pedra e cal por muitos annos, e que ainda
assim estava, havia poucos dias; todavia, como isso nos não importava, conti-
nuámos o nosso caminho.
«Algum tempo depois o intendente geral das alfandegas veiu á nossa pro-
víncia para devassar se alguém tinha transgredido as leis e ordenações, pas-
sando fazendas por contrabando; meu pae foi citado para comparecer em Yian-
na perante elle, e alli, depois de ter jurado aos santos evangelhos de respon-
der com verdade ás perguntas que lhe fossem feitas, foi interrogado se em tal
manhã tinha visto aberta a porta do castello, que deita para o mar, e um barco
diante d'eile descarregando fazendas? Ao que obrigado em consciência res-
pondeu affirmativamente; porém como não estava obrigado ao segredo, foi
immediatamente procurar o commandante do castello, fldalgo, e seu amigo
intimo, para o informar do que se passava. Este abraçou-o cordialmente, co-
mo de costume, agradeceu-lhe sua participação, e disse que este caso de mbr
nhum modo tinha relação com elle, e que meu pae obrara como devia, depon-
do a real verdade do que tinha observado.
•Coisa de dois mezes depois mandaram- nos dizer deVianna que o ditu com-
mandante do castello tinha sido expulso do exercito pelo crime de contraban-
do; e também nos iijformaram de que isto proviera principalmente do depoi-
mento de meu pae contra elle.
«A esta noticia, meu pae, que estava então em casa doente da garganta,
mandou-me a Viaana para lhe dar os sentimentospela sua infelicidade, e asse-
gurar-lhe quanto estava mortificado por essa causa. O major respondeu: Que
nenhuma censura fazia a meu pae, que era um juizo de Deus contra elle mes-
mo, por seus peccados, do qual faria o conveniente uso, segundo esperava co-
mo bom catholico.
«Era o dia 12 de dezembro seguinte (dia que nunca me ha de esquecer)
um pouco antes da meia noite, quando toda a nossa familía estava deitada, e
a maior parte acordada, pensei ouvir um forte e desusado sussurro e barulho
da parte de fora. Corri á janelia, e vi que a nossa casa estava cercada por
uma companhia de soldados armados. Estava para perguntar que queriam alli,
quando fui prevenido por uma bulha como de trovão á porta principal. Man-
dei fora saber o que queriam? Em resposta mandaram me immediatamente
abrir a porta da parte d^el-rei, e do santo ofíicio. Obedeci sem demora,
sabendo perfeitamente que não havia outro remédio, e alli passeiava na pri-
meira fileira dos mosqueteiros seguidos por Constantino Rodrigues Calvo Men-
dragão, um velho commissario da inquisição, a quem cu tinha conhecido em
Braga, cora seu notário e alcaides ecclesiasiicos. Disse ter vindo por ordem do
santo ofncio de Coimbra para levarem preso meu pae para alli> para respon-
der aos artigos de accusação que tinham recebido contra elle, e que se aprom-
ptasse para ir n'uma liteira, que estava prompta á porta para o transportar.
^.'0 283
Nào podia haver resistência. Toda a familía rompeu em clioros e prantos; os
próprios soldados estavam compadecidos, todos, á excepção do endurecido ve-
iho padre, bem costumado a taes scenas.
•Por fim meu pae foi mettído na liteira, e eu pedi para a acompanhar, mas
foi grosseiramente repellido. Muitos dos soldados o seguiram, e somente um
goarda foi posto em nossa casa, a respeito da qual o notário, que também fi-
C0D9 me notificou que estava confiscada para o santo officio, com todas as
terras, moveis e immoveis : e que tinha ordem de fazer um exacto inventaria
de todas as coisas, e intimou nossa familia para se retirar no dia seguinte.
«Era por este mesmo tempo que um fidalgo de Barcellos estava para ca.
sar com minha irmã. Escrevi-lhe participando-Ihe o que se passava, e elle
poz-se a caminho apenas recebeu o recado. Chegou, mas minha irmã impres-
sionada com a prisão do pae, tinha adoecido, e morreu no mesmo dia em que
estava para casar.
«Não tendo onde residir, fomos para Vianna com o fim de alugarmos uma
casa, mas nem uma pessoa n'aquella terra nol-a quíz ceder, sendo unanimes
em nos terem por abomináveis, visto ter sido indispensável o santo officio apo-
dêrar-se da pessoa de meu pae. Foi então um inglez meu amigo o único que
nos soccorreu, levando híos para o Porto.
«Com dinheiro emprestado pelo inglez dirigi-me a Lisboa ver se podia fa-
zer soltar meu pae : mas dinheiro, um anno inteiro e todas as minhas diligen-
cias foram baldadas, até que passados oito annos, recebi uma carta do filho
do referido major de Vianna informando-me que seu pae, em perigo de vida,
muito anciosamente pedia para me vér antes da morte. Para aili me dirigi,
onde o encontrei tendo já recebido todos os Sacramentos, e indo-se começar
missas por sua alma, e estando os frades de S. Domingos a ajudal-o a mor-
rer. Á minha vista declarou que tinha subornado falsas testemunhas para irem
denunciar à inquisição meu pae de ter batido e cuspido n'uma cruz, que es-
tava n'um caminho, com o fim de se vingar de ter perdido seu emprego por
causa de seu depoimento, de ter elle major passado contrabando; masque
agora declarava publicamente que elle estava innocente, e pedia perdão a
Deus e a todos bons catholicos, que alli se achavam presentes. Ditas estas pa-
lavras, expirou. Eu tive cuidado de mandar lavrar uma certidão de quanto se
passou alli, e de a fazer assignar por quantos se achavam presentes, para com
ella requerer a soltura de meu pae. No emtanto era isto exactamente na occa-
sião da morte do rei D. José, e nos principies do reinado seguinte nada mais
havia que desordem e confusão. Promettia-se-me todavia depois de muitas ins-
tancias que meu pae seria solto pela occasião do primeiro auto de fé.
«Passado coisa de anno e meio celebrou*se o auto de fé. Fui dos primeiros
a dirigir-me para a grande sala da inquisição. Appareceram muitas pessoas
de differentes trajos : alguns até eram militares, e seus differentes crimes e
sentenças foram lidas pelo secretario do tribunal. A sala estava prodigiosa-
mente cheia, ^ e nào era possível mecher-me no meu logar; porém alongava
* Coítingan. Sketchfx of Socieiy and Manners, vol. 2. pag. 203.
284 GO
meus olhos para descobrir, se fosse possível, a face de mea pae eotre os oa-
tros presos, o qae era realmente muito difficil por causa dos horríveis vestuá-
rios que elles traziam, com as cabeças rapadas, ou com o cabelio cortado à
escovinha, e as horrendas carapuças nas cabeças. Todos os presos foram por
suas sentenças condemnados a soffrerem uma ou outra sorte de castigo, exce-
ptuando unicamente meu pae, cujo nomo o secretario pronunciou por fim, e
mencionou os motivos pelos quaes fora preso, por denuncias falsas, mas or-
denava-se que sua honra fosse reintegrada e restaurada, e posto outra vez em
posse de seus bens, dos quaes o santo officio tomara apenas administraçio.
•Apenas os presos foram removidos, eu dirigi-me ao secretario dizendo-lhe
ser o único Olho da pessoa ultimamente mencionada na lista do auto de fé, e
pedia-lhe que dissesse se estava já fora da prisão, e onde o poderia encontrarf
O secretario entregou-me então com a maior indifferença um papel dizendo-me
que o levasse. Santo Deus 1 Porque [sobrevivi eu um instante depois d'aquella
terrível leitura t Este papel era uma certidão assignada pelo próprio inquisi-
dor geral certificando que meu pobre e innocente pae tinha morrido de rheo-
matico, havia três annos, nos cárceres da inquisição, pedindo ardentemente a
Deus que perdoasse a seus inimigos. Passados alguns dias depois d'esta noti-
cia, logo que meu estado de saúde o permittin, transmitti a nova do falieeí-
mento de meu pae a minha mãe^ a qual depois de a ouvir deu um alto grito
e morreu.
«Tratou depois o Olho de haver a restituição de seus bens em virtude da
sentença dada pela inquisição; mas os memoriaes apresentados ao inquisidor
geral eram por elle enviados ao secretario doestado, e este mandava-os outra
vez para o inquisidor, e n*estas voltas se passaram annos.»
Eis por extracto a traducção d*algumas das passagens mais notáveis da
obra attribuida a Costingan. Mas será verdade quanto nos refere? Para apurar-
mos alguma coisa a este respeito temos um auxiliar. Costingan no primeiro vo-
lume traz uma biographia (não muito crível) de Valeré : ora a filha d'este ge-
neral francez mandou publicar também o elogio-bistorico do seu pae; vejamos
pois'se estão de accordo.
Mas eis o que nos diz a biographia de Vallerè : «Na Bibliotheca Britan-
nica, tomo ô.'' pag. 213 e 327, vem insertos os extractos de algumas das car-
tas sobre a sociedade e os costumes em Portugal por Arthur Willíam Costingan,
e impressas em Londres depois de passados dez annos. Os francezes, que teem
feito da litteratnra um ramo de commercio, e que por isso se não teem des*
cuidado de traduzir tudo quanto tem apparecido mau e bom sobre Portugal
e Hespanha, não as traduziram até agora, < o que prova a pouca estimação que
ellas merecem. Ninguém hoje ignora que o brigadeiro F. é o verdadeiro au-
ctor das sobreditas cartas, o qual pelo seu mau caracter moral, e opiniões re-
ligiosas foi constrangido a largar o commaudo do regimento de artilharia do
Minho, e a sahir de Portugal no primeiro anno do reinado de S. M. que D. G*
* O elogio de Valeré, í* edição, foi impresso em Paris em 1808.
CR 285
•Este homem, para exhalar o veneno, que lhe roía o coração contra o go-
verno e a nação portugaeza, dos quaes se considerava offendido, servia-se de
um nome sopposto para merecer mais crença, e soltar livremente as rédeas à
sua maledicência, escrevendo am amontoado de calumnias e vitaperios contra
a nação em geral, e em particular contra aqaeiles, qae tiveram a desgraça de
serem d'elle conhecidos.
«Finge pois dois inglezes de distincçao viajando em Portugal, e nas con-
versações, que os faz ter com diversas pessoas, nâo hesita um só momento em
eomprometter nomes respeitáveis, com tanto que satisfaça a sua raiva e o de-
sejo insaciável que tem de dizer mal, tendo a baixesa e infâmia de attribuir
ás pessoas, com quem suppõe fallar, o que somente escreveu a sua penna,
saggerido pela sua imaginação. Uma d*estas foi meu pae, e por esta rasâo mo
propuz mostrar a falsidade de tudo o que elle disser.
«Lembro-me muito bem do brigadeiro F... ter estado em Elvas, e ser ahi
hospedado por meu pae, que o recebeu com aquella afTabilidade e franquesa,
qne lhes eram naturaes, e com que recebia todas as pessoas; duvido porém
muito que elle lhe contasse alguns dos successos da sua vida, e se o fez, o bri-
gadeiro os alterou de maneira que posso afHrmar não haver uma só verda-
de em toda a sua narração ! !«
Yé se, pois, que o livro publicado debaixo do pseudonymo de Costingan não
merece grande confiança : os insultos dirigidos aosportuguezes não podem ser -
maiores... no emtanto creio que alli ha também muitas verdades; os viajantes
contemporâneos, e os factos históricos são concordes com muitas das asser-
ções do Esboço da sociedade e costumes de Portugal.
Marianne de Bailiie diz nos na sua descripção de Lisboa (tomo S.^" pag. 2)
qne a obra attribuida a Costingan fora tão mal recebida em Poiítugal, que se
arriscava a ser punido pela inquisição quem a tivesse em sua casa.
É porém engano dizer que esta obra não foi vertida em francez : pelo me-
nos o primeiro volume foi traduzido n'este idioma com o seguinte titnlo: — Ar-
thur William Costigan — L^íírw sur le gouvemement, les mceurs et les usages
en Portugal, Paris, 1810.
310) GOUCHE (FRANÇOIS.)
E. — Relations veritabiles et curieuses de VHe de Madagáscar et du Era-
êU, etc. Paris, 16SI.
311) OOUSTOS.
E. — Sufferings for Freemasonry etc, in the InqtUsition at Usbon* London,
1746.— (SofTrimentos de um pedreiro livre).
312) CHOKER (R.)
E.— Traveis trmigh Spain ad Poitugal, 1799.
286 CU
2i3) OROSSE (H.)
E. — Faunula malacoloqique terrestre de Vile SairU-Thotnepar — . (No /otir-
nal de Conchyliologie, vol. 8.<>, 4868, pag. 125).
É uma lista de 9 espécies determinadas por este hábil coocbviíologista á vista
de exemplares authenticos, parte dos quaes havíamos sabmettido ao sea exa-
me, por occasiao da nossa ultima viagem a Paris. >
214) CRUZ (O. DE LA — ) — Professeur de trançais, mathématiques,
dessin d*architecture, auteur de la Metbode unique de prooonciation françai-
se, approuvée par le conseil general dMnstruction publique. Natural de Mála-
ga. Ensinou francez por algum tempo em Lisboa, e d'aqui passou para Me-
sao Frio, e actualmente é professor no Porto.
E. — I. Grammaire Française á Vusage des Porttígais, approuvée par le co»-
le conseil de Yinstruction publique, par — . Lísbonne. 8.*, 298 pag.
II. Diccionaire des Verbes irreguUers défectifs et impersoneles de la Lan*
gue Française, intièremenfconjuguées dans leurs temps simples, contenant leur
pronondatian figurée, leur signification en portugais d^après les meilleurs di"
ctionnaires, et la solution analytique des difficultés auxquelles ils peuvent dcm"
ner lieu,par^, Lisboa, 1866. 8.", 143 pag.
215) OUDENA (PEDRO).
Escreveu uma descripçào do Brasil, do qual se fez uma traducçãa em ai-
lemão, que foi impressa em Brunswich no anoo de 1780.
216) CUSANI (Marquez FRANCESCO).
E. — Don Duarte de Braganza, pngionero nel rastello di Milano, episoáv)
storico dei século xvn. (D. Duarte de Portupal preso no casteilo de Milão).
Traz o fac-simile do prmcipo e a gravura da chave do caixão em que fo-
ram encerrados os resios morlaos de D. I)uarlt\
Ksta obra apparocou niencionada no Jornal da Noite: mas d'ella ainda não
pude ver nenhum exemplar.
' Jornal -i': Sdrunn )ínih<*mnlvn:s rir., \n\. '}.' |»an. IÍ»S.
D
217) DAL (NICOLAU).— Parece ser dinamíirquez. Era missionário pro-
testante, e morrea em 1747 em Trangambar, na índia Oriental.
E.— I. Piimeira parte da Grammatica Portugueza para uso da escola por-
tugueza de Trangambar. Trangambar, na officina da Real Missão da Dinamar-
ca. 1725, 8.»
II. Segunda parte da &vammatica Portugueza para vão da mesma escola
Ibíd. 1726.
2i8) DALHUNTY (MARCUS).
Nasceu em Belfast no aono de 1816, e actualmente residente em Lisboa.
£.— I. Grammatica Ingleza. Lisboa. Imprensa Nacional, 1855, 8.<', 275 pag.
II. Explicações de mathematica theoiica e pratica para ensino poptUar.
Lisboa. Imprensa Nacional, 1859. 193 pag.
III. Explicações de Arithmetica superior, em seguimento ás da elementar.
Lisboa. Imprensa Nacional, 1862.
Escreveu no Panorama alguns artigos sobre coincidências notáveis de al-
garismos com factos da historia de Portugal. £ na Revista Popular (2.<' anno,
1849) alguns artigos sobre o ensino das linguas.
219) DALLA BELLA (JOÃO ANTÓNIO).
Nasceu em Pádua, e para aquella cidade se retirou pelos annos de 1818 a
1820. Foi lente da Universidade de Coimbra, para a qual veio reger uma ca-
deira de phiiosophia, convidado pelo marquez de Pombal.
E.— Memoria 1.* sobre a força magnética (Memorias da Academia das
Sciencias de Lisboa, tomo 1.°, de pag. 85 a 116.
Memoria 2.* sobre a força magnética (Id. id., de pag. 116 a 199).
II. Noticias históricas e praticas acerca do modo de defender dos raios, Lis-
boa, 1783. f
ÍII. Memorias softre o modo de aperfeiçoar a manufactura do azeite em
Portugaly remetlidas á Academia Real das Sciencias. Coimbra, 1784.
288 DA
IV. Memoria sobre a ctdtura das oliveiras em Portugal. Coimbra, 1786.
2.* edição accrescentada com um appendice, por Sebastião Francisco Mendo
Trigoso. Ibid. 1818.
320) DALLAS (ALEXANDER R. G. — Esq).
E. — Félix Alvares or manners in Spain: corUaining descriptiv accountsof
some of ihe prominerU events of tfie late Peninsular War; and autkentic anec-
dotes illustratives of the Spanish characer; interspersed with poetryy original,
and from the Spanish — hy — Three volumes in íwo. New York. Published hy
J. Eastbum and Co. 1818. (Costumes dcHespanha, contendo alguns snccessos
da guerra peninsular, etc.)
O segundo volume é o que mais interessa aos portuguezes.
321) DALRYMPLE (Gbneral Sm HEW — Bart.)
E. — Memovr written by of his proceeding a^ connected with the affairs of
Spain and the commencemenf of the Peninsular War. London— Thomíis and
Willian Boone. 1830, 8.» longo, 317 pag.
Esta obra trata miudamente dos feitos dos portuguezes durante a guerra
peninsular.
322) DARD (JEAN).
E. — Uistoire de ce qui s'est passe en Ethiopie, Malabar, Bresil et ces Indes
OrientaleSy traduit de VItálien. Paris, 1628.
323) DARWIN.
E. — Journal of researches into the various couniries visited by Beagle,
Londoo, ISiO. (Diário das investigações geológicas de vários paizes.
* M. Darwin contava com infinita graça suas excursões geológicas na ilha
Terceira, onde as aves e os insectos, que observou, lhe trouxeram á idéa as
de Inglaterra. Infelizmente o navio em que os trazia, o Beagle, perdeuse.
324) DAUNCEY (JOHN).
E.— A compendious Chroniclc of the kingdom of Portugal from Alphonso
the 1.' to AlpJionso the sixth. London, 1661. (Chronica resumida dos reis de
Portugal).
325) DAUX (A. A.) — Francez residente em Paris.
Trata actualmente (1875) de imprimir na referida cidade uma Historia de
Portugal, escripta por elle em linguagem portugueza.
O auctor esteve por algum tempo em Lisboa, onde ensinava seu idioma.
326) DAVILLE (FRANÇOIS).
K,—Déclaratíon sammairc des ilrgi^mcs itsurpalions des roiaumes dePartu-
DE M9
galy Navarre et autres pays, tendes et seigneuries faictes par le roy de Castille
et ^es prédecesseurs sur les roys et princes de la Chretienté. Extretrait d'un
escript de^estant à Seville adressé à frêre Luys de Grenada^ estant lor$ en
Portugal. (C. M. B. I. P.)
327) DAWS LETTERS ON LITTERATURE.
Foi n'esta obra que pela primeira vez apparocea estampada aquella cele-
bre descripçào do terremoto de Lisboa em 1755, a qaal o Penny Magazine (de
Londres) pablicoa acompanhada de estampas no seu i.^" voiame (anno de
1832;, e foi reproduzida tanto em inglez, como em traducções n'uma infinida-
de selectas e jomaes litterarios.
328) DAZA (FR. ANTÓNIO).
E. — Quarta parte de las Ckromcas de la Qrden de S. Francisco, sive con-
tinuatio Historia Minorum a Marco Ulyssiponensi. 1559. Yalladolid, 161 i. foi.
329) DE BRASILSCHE BREED. E-bilofte TSanaen Spraek, Tusschen
hees Jansz. Schott, zomende uyt Brasil^ en Jan Maet, Koopmans — knecht,
hebbende voor desen oek in Brasil geweest Over den verlop in Brasil, In*t Jaer
onses Heeren, 1647. 8.«, 36 pag. (M. S.)
330) DECANDOLE.
Na theoria Elementar de Botânica de Decandole, que foi o maior botânico
da Europa, vem o seguinte elogio ao nosso sábio abbade José Corrêa da
Serra:
•O termo Symitria, foi empregado pela primeira vez por Linneo, e o seu
emprego indica que elle tinha ídéas muito justas sobre o methedo natural.
Porém Corrêa da Serra foi o primeiro que nas Memorias da Sociedade Un-
neana desinvolveu realmente sobre esta matéria considerações novas e fecun-
das, e de que eu tenho feito muitas vezes uso n'esta discussão.» ^(Bemta
Universal lisbonense, vol. S.'', pag. 565).
331) DECISIONES ANONIMI JURISGONSULTI. Augusta Taurino^
rum. 1646, foi. (Tracta da prisão de D. Duarte, infante de Portugal).
332) DÉCLARATION DES EMBASSADEURS D'ESPAIGNE,
touchant une treve pour Portugal.
No fim — Fatct á Munster ce 14 Aoust, 1647, 7 pag. (M. S.)
333) DEOLARATIONUM (NOVARUM) ET VARIARUM LEOTIO-
NUM, resolutionumque Júris libri XXII diversorum Jurisconsultorum^ scili-
cet: Vaconii à Vacuna, Ant. Goveani, Ant. Contii, Jac. Raevardi, Rain, Corsit
Nic. Belloni. Coloniae Agrippae, 1575, foi.
334) DEFENSE (THE) against the petitions of some English Factores at
TOMO I i9
290
DE
Oporto^ by tke carrespondents of the Royal Wine Campany for the AgricuUwre
of the Wines do Alto Douro, LondoQ, 1813. (Defesa contra os i>edidos de algons
feitores ínglezes no Porto.)
335) DE JURE SUCCESSIONIS REGLS LUSITÂNIA, deque
legitima regis Antonii successione, Middelbergi, 4596, (Do direito da regia sac-
% cessão de PortugaL e da legitima successão do rei D. António).
336) DELLE COSE DEL PORTOGALLO, rapporte à p. p. Gesmtu
Lagano, 1760-62.
337) DELLON. í
E. — I. Voyage avec sa relation de Vinquisition de Goa. Cologne. 1711.
II. Relation de l^inqusition de Goa, revue, conigée et augmentée. A Cologne
chez les heretiers de Pierre Marteau, 17U. Segue se o 3.« vol. : HUtoire áet
Dieux, qu^adorent les gentils des índes, avec une addition de IHnqtúsition de
Goa, etc, — ^Todos em 8.** Kste volume è obra d'am Mi^isiona^io Portaguez.
Esta obra é rara, princípaimeute em Portugal, onde até hoje apenas tenho
visto três exemplares.
Creio haver uma edição anterior, feita em 1709, mas a qual ainda não tL
Foram estas viagens vertidas em portugaez por Miguel Vicente d^Abreo, e
impressas em Nova Goa no anno de 1866.
Dellon, impellido peio ardente desejo de vér o mundo, embarcoa em
PortLouis, na Bretanha a 20 de março de 1668, na qualidade de cirurgião de
um navio pertencente á Compagnie Royai des lades. A 30 de abril achava-se
em Cabo Verde. A 3 de setembro ancorou seu navio na ilha de Bourbon (cha-
mada anteriormente de Mascarenhas). A 30 doeste mez entrou em Madagáscar
(por outro nome S. Lourenço). D'esta ilha foi mandado em um navio a serviço
da Companhia das índias Francezas a varias povoações com o fim de receber
o pessoal das feitorias, que a Companhia abandonava, por lhe darem prejnlso;
e a 12 de agosto do seguinte anno (1669) de Madagáscar navegou para a ín-
dia. A 21 de setembro achava-se em Surrate, onde permaneceu até o princi-
pjo do anno seguinte. Saiu d'esta povoação a 6 d'este ultimo mez em direcção
a Mirzeou, no reino de Visapur, d'onde saiu a 19. Foi depois para Tissery tra-
tar de negócios da referida companhia, em cujo serviço percorreu muitas ter-
ras. A 31 de janeiro de 1673 ancorou dentro da barra de Goa.
«Haverá difliculdade em acreditar que uma cidade (Goa), cujos arrabaldes
sào tào soberbos, contCDha em seu âmbito com que causar admiração aos que
a vêem. Com eíTeito, apesar de seus dominadores se acharem em decadência
pelos prejiiisos solTridos, superiores á comprehensào, e do negocio já não ser
nem a sombra do que foi n outro tempo, Goa ainda é uma das mais bellas, e
mais sumptuosas cidades do Oriente.» V. Pyrard.
«A 6 de fevereiro saliiu Dellon de Goa com destino a Rajapour. Em outu-
hro aoh:iva-se já em viaííein para a Pérsia, com desliuo aBandar Abassi para
com seu navio comboiar um outro, que se dirigia a Surrale. A 6 de janeiro
DE 291
de 1673 pairava em frente de Dia, e a 12 entrava em Bombaim. Resolvea de-
pois fazer uma digressão ás possessões portoguezas na costa de Coromandei.
Passou a Damão, a que chama ama das praças mais fortes de todo o Oriente.
Aceitando as vantajosas propostas qae lhe fez o governador d'esta cidade, dei-
xoa-se ficar n*ella, na qualidade de cirurgião. Durante sua residência em Da-
mão, fez uma digressão a Tarapour, villa pertencente aos portuguezes.
«Havia n'esta povoação uma egreja parochial, uma da Misericórdia, e um
convento de Dominicos, a cuja egreja foi Dellon ouvir o sermão de sexta
feira santa.
•Quando atravessava o claustro com destino a uma tribuna, em que lhe
tinham reservado um 'logar, viu alguns penitentes com a cara tapada, e
hombros mis, ferindo-se tão cruelmente com disciplinas guarnecidas de aço,
qae o sangue esguichava com bocados de carne. Pelo receio de que com o san-
gue lhe sujassem o fato, pediulhes que se afastassem alguma coisa para o
deixarem passar; íÍ7eram-n'o, e depois continuaram a disciplinar-se.
•Um momento depois de ter entrado na tribuna, appareceu o pregador. ^
Notei, que durante seu sermão fez muitas pausas para dar tempo a que seus
ouvintes observassem os diíTerentes mysterios da Paixão, que estavam sendo
representados n'um theatro, como uma tragedia dividida em vários actos. O
tal theatro estava tapado com um panno, que se levantava a cada pausa^ que o
pregador fazia. Da minha tribuna via quanto se passava no corpo da egreja,
na qual os homens estão separados das mulheres por uma teia, onde ellas so
acham : corre ao longo d'esta uma cortina, para não poderem ser vistas pe-
los homens.
•Mas, não obstante não se verem, teem grandes desejos de se fazerem ou-
vir, soltando gritos agudos, dão tão grandes pancadas no peito e na cara, e
até arrancam os cabellos todas as vezes que o pregador diz alguma coisa,
qae desperta a compaixão dos ouvintes. O pranto das mulheres portuguezas,
suas exclamações, a dôr de que parecem estar penetradas, não obsta a que
muitas abusem da liberdade, que teem, de sair n*estes santos dias. £speram-
n'os algumas vezes com a maior impaciência durante todo o anno, para os
empregarem em usos bem differentes d'aquelles para que taes dias foram
instituídos, e este tempo sagrado serve frequentemente para ultimar aventu-
ras, nas quaes a prudência não toma parte.
•Acabado o sermão, representou-se a descida da Cruz, e pozeram n'um es-
quife a imagem de nosso Senhor, que n^aquella occasião desprenderam. Á
vista d'este novo espectáculo redobraram os gritos e alaridos. Começou no en-
tretanto, a procissão a satr; os penitentes, em mui grande numero, marcha-
vam na frente com o rosto coberto, e batiam nos hombros com tal violência,
que arrancavam ao mesmo tempo horror e piedade. Eram seguidos pelos ha-
bitantes mais distinctos da terra, caminhando dois a dois, levando na mão uma
vella accesa. Vinham em seguida os frades, e depois d'elles trazia-se a ima-
gem do Senhor deitada n'um esquife armado de preto, e descoberto. Rodea-
í Yol. í.o, pag. 4S5.
295 DE
vam-n'o uns víate pretos mascarados, e armados de lanças, espadas e dardos.
Tinham à sua frente um officíal, que de vez em quando voltava atraz para
ver o esquife, como receioso que lhe tivessem roubado o corpo. Toda esta co-
mitiva era precedida de tambores e clarins, que produziam um som perfeita-
mente lúgubre e fúnebre. A procissão d'esta forma disposta deu volta pela po-
voação. Depois de entrar na egreja pozeram o esquife com a imagem, que es-
tava dentro, n'um sepulchro muito decentemente preparado. Acompanhei esta
procissão até parte da volta que deu. As ceremonias, ou antes as caretas, que
faziam os guardas pretos à roda do esquife, e seu oflicial inspiravam devoro
e arrancavam lagrimas a todos os portuguezes. Mas confesso que isto produ-
ziu em mim um effeito differente, porque fui obrigado a parar, quando pas-
sava por diante da casa de D. Petronilla, e de ficar allí, não podendo por mais
tempo reprimir a vontade que tinha de rir, o que para mim seria bem peri-
goso, se se viesse a conhecer.
«No dia seguinte, sabbado santo, assisti ainda ao oíBcio, onde nada obser-
vei de notável; porém no domingo de paschoa, tendo-me dirigido, com os
mais, muito cedo para a egreja dos Dominicos, acompanhei o Santíssimo, que
levavam em procissão com muita pompa e respeito d'alli para a parochia.
«Esta procissão começa ao despontar do dia, e acaba ao pôr do sol.É ins-
tituída para honrar e recordar a resurreiçào de nosso Senhor Jesus Ghristo,
que, na opinião de muitos, saiu vivo e glorioso do seu tumulo ao nascer do
sol. Pareceume muito edificante, muito convenientemente disposta, e a mais
bella das ceremonias peculiares das egrejas de Portugal. Tendo o Santíssi-
mo entrado na egreja, deu-se benção ao povo, e fechou-se depois no taberná-
culo. Immediatamente o mesmo, que pregara na quaresma, e na sexta feira,
subiu ao púlpito, e recitou não um sermão, mas sim um discurso jovial. A
insliluição d'esle ridículo discurso foi, segundo se diz, para recrear os ouvin-
tes e fazei -os rir, e para mitigar algum tanto a tristeza de que podessem ter
sido aíTectados durante a quaresma.
«Confesso que esta oração me pareceu tão extravagante, e tão pouco em
harmonia com a solemnidade da paschoa, que julguei a propósito referil-a
succintamente.
•Tendo o pregador feito o signal da cruz, disse: Sabeis, senhores, que este
sermão foi instituído por três rasòes. A primeira para dar as boas festas aos
ouvintes. Para satisfazer, senhores, a esta obrigai;ào, desejo vos a todos n*es-
tes santos dias todas as sortes de bens e de prosperidades. O segundo motivo
d'esta pregação é para pedir os ovos da paschoa, ou, por outras palavras, os
presentes, que é costume mandar ao pregador no íim da quaresma. Em quanto
a este artigo, exhorto-vos a cumprir, o melhor, o mais depressa, e o mais ge-
nerosamente possível ; e declaro-vos que receberei tanto mais gostosamente
vossos presentes quanto mais valiosos forem. Finalmente, meus senhores, a
terceira rasão para se pregar n'este dia, é, como sabeis, a de fazer rir algu-
ma coisa os ouvintes, que talvez estejam abatidos e aíTliclos do mais com as
austeridad»^s o niortilicaçoes praticadas durante a quaresma. Com o fim de
tentar coiiscguil-o, dir-vus-hoi, que hontein pela nianlifi, ao sair do meu cou-
DE S93
vento, encontrei o [tansudo do Gregório, que julguei já nâo estar em jejum, e
dísse-Ihe: Falia, ladrão, has de tu fazer sempre de Pilatos na paixão? Estas
poacas palavras foram proferidas em um tom gracioso e chocarreiro de modo
tal, que toda a assembiéa rompeu em gargalhadas. Depois o orador, que tam-
bém se estava rindo, desceu vagarosamente do púlpito, sem dizer mais pala-
vra, e sem ter deitado a benção, deixando cada um na liberdade de rir quanto
qnizesse, e de se retirar depois do rir á vontade.
Tendo Dellon fixado a sua residência em Damão, e vivendo com a maior
satisfação n esta cidade, foi denunciado à inquisição por um vísiuho, e preso
a 24 de agosto de 4673, época em que contava 24 annos de edade. As causas
apparentes da prisão parece terem sido o dar a perceber em algumas conver-
sas, que duvidava da validade do baptismo do fogo: o não beijar as imagens
das santos, que alguns pedintes traziam ao pescoço em oratoriosinhos, ^ obsti-
nar-se em não querer trazer o rosário ao pescoço, e não acreditar que o Es-
pirito Santo assistisse ás sentenças dos inquisidores, etc, mas a verdadeira
diz o auctor ter sido o desejo que o governador da cidade tinha de o ver re-
movido para longe, cheio de ciúmes com a affeição que nosso viajante mos-
trava a uma joven dama, á qual o governador fazia corte.
«O denunciante fora um dia a casa de Dellon, e vendo um crucifixo á ca-
beceira do leito, disse- lhe : Não se esqueça, senhor, de tapar aquella imagem
se por àcaso vier a sua casa alguma mulher, quando com ella estiver entre-
tido. Pois que, disse-lhe eu, acredita que nos possamos assim esconder aos
olhos de Deus? Cré, como as mulheres devassas, que depois de tapar a cabe-
ceíra do leito, as relíquias e rosários, que geralmente trazem comsigo, possam
então entregar-se a toda a sorto de excessos? Vá-se embora, tenha sentimen-
tos mais nobres a respeito da Divindade, e não creia que um bocado de trapo
possa occuUar nossos peccados aos olhos de Deus, que vé o que existe no fun-
do dos corações: e demais aquelle crucifixo é apenas um pedaço de marfim.
«Meu vísinho foi-se embora, e tratou de cumprir seu dever denunciando-
me á inquisição, pois é bom saber que todas as pessoas vivendo em paizes su-
jeitos á jurisdicçáo do santo officio, são obrigadas, debaixo de excommunhão
maior reservada ao inquisido-mór, a declararem no espaço de 30 dias tudo
quanto virem ou ouvirem dizer relativo aos assumptos de que este tribunal
toma conhecimento. E aquelles que faltarem a esta declaração dentro do re-
ferido praso, são reputados criminosos, e depois castigados como se tivessem
eommettido aquelles delictos, que não forem delatar. É este o motivo por que
os amigos atraiçoam os amigos, os país seus filhos, os filhos por um zelo in-
discreto esquecem -se do respeito a que os obrigam Deus e a natureza.
«Dellon teve desconfianças de que seu visioho o fora denunciar, e para vér
se desviava a tempestade, que se estava armando por cima da sua cabeça»
resolveu-se ir ter com o commissario do santo officio, conlar-lhe como as coi-
sas realmente se tinham passado, e pedir lhe a sua protecção, ^ e que lhe in-
* Tomo 2.% pag 10.
* Idem, pag. 18.
m DE
sJDiusse di; qae maonira se devia portar para o rutaro, declarando-lhe esur
prompto a rctrã«;tar-se do que tinha dito, se o julgasse conveaientc
'Reapoadea o padre que meu proceder tinha escandalisado a bastantes
pessoas, que oitava persuadido não terem sido mjis as minhas iateações, a
quo cm tudo quanto cu tinha dilo nada havia, que em rigor Tosse crimíaoso;
mas que me dava o conselho de me accommodaralgam tanto aos aso9 do poTO,
e de nào faltar tão livremente n'aqaelles assumptos.- Que mui e!^>ecialiDeote
devia ser mab reservado, quando [aliasse das imagens, não diiendo qae não
devem ser adoradas, e procuraudo proval-o com citações da EscripUra- Qae
o povo realmente vivia em certos erros passageiros, que se tinham como ver-
dadeira devoção, porém que ninguém me tinha encarregado de o corrigir e
reformar.
•Agradeci ao commissarío os bons conselhos, que me tinha dado, e retirei-
me da presença dclle muito alliviado por saber que tendo-me coafessado es-
pontaneamente antes da prisão, já me não podiam prender, segando os esta-
tutos da inquisição.
• Has apesar disto o governador, sempre Terido de cíamea, e sempre mos-
trando-se meu amigo, recebendo-me obsequiosamente em soa casa, soUtcitava
vivamente o commissario a que escrevesse para Goa íDrormando os inquiudo-
res a respeito das otpressijes proferidas. Este, apertado pelo governador, e por
um padre secretario do santo ofHcio, lambem inimigo de Dellon, e que tam-
bém estava apaixonado pela mesma dama, escreveu para Goa, e d'alli raee-
bea ordem para mandar prender o francez.
,>A prisão de D.imào liça mais baixa que o rÍo,que d'elU fica perto, e o qoal a
tornahumida, cos muros são muito cspesí^os. Consiste esta triste habitação em
duas grandi.<s salas baixas, c uma superior próximo da qual 6ca o aposento do
governador. O' homens (icaiu por baixo, e as jnulheres no andar superior. A
maior parte das duas salas baixas te>^m uns quarenta pés de comprimento so-
bre quinze de larjiura, a outra põJc ter dois teri,-os desta extensão. Vieste es-
paço estávamos umas quarentas pe.^soas, e nào havia logar para satisfazer as
nossas necessidades senão aquelle. Os presos urinavam no meio d'esia sala,
e o ajuntamento d'eslas urinas estagnadas formava uma espécie de pântano.
Também as mulheres nào tinham outra qualidade de latrina, e havia somente
entre ellas e mis esta difforença : suas urinas corriam de sua sala alta, e caiam
por entre o sobrado cm a nossa, na quai lodos estes líquidos se agglomera-
vam. Para os outros excreiuvntos somente havia uma grande celha, que ape-
nas se despejava uma vez na semana, de maneira que dalli se gerava ama
multidão innumeravel de bicho», que cobriam o sobrado, e vinham até nossas
camas. O fedor, apesar do cuidado qU'; tinha de lavar o sobrado, era insap-
poruvel
•Hão bavia comida determinada para os pre-^os : os magistrados descança-
vain na caridade das pessoas, qu<- a* queriam soccerrer, e como apenas havia
duas pessoas na cidade, que lhes rcmvtiiam comida regularmente duas veies
nào recebiam na maior parte dos dias nenhuma coisa, viam-se
luiidús a ama miséria digna de piedade. Alguns dos que viviam na sala pe-
DE 295
qaeDa, chegayam*a ponto de procdrar subsistência em seus próprios excremen-
tos. Gontaram-me que alguns annos antes, tendo sido aprisionados 50 corsá-
rios malabares e encerrados n'esta mesma prisão, passaram tào grande fome,
qae uns quarenta cheios de furor se estrangularam com os seus próprios tur-
bantes.
cTinba-me accusado o padre commíssario de herege dogmatísantc. Ter-me-
hia podido remelter para a inquisição de Goa logo immediatamente depois de
minha prisão; e se assim tivesse praticado, poderia ter saido da prisão três
mezes depois, no auto de fé celebrado em dezembro, mas não era o desejo de^
meus rivaes que eu fosse posto em liberdade. Por isso o commissario em vez
de fazer que eu saisse de Damão, elle mesmo é que tinha saido d'esta cidade
para não ouvir minhas supplicas; e, apenas deu ordem para me prenderem, re-
tirou-se para Goa, d'onde não voltou senão acabado o auto de fé, isto é, no 6m
de dezembro; e creio até que empregou os quatro mezes, que me fez jazer nas
prisões de Damão, em me recommendar ao inquisidor como homem muito cri-
minoso e perigoso^ a quem era indispensável afastar da índia, no caso de não
julgar conveniente mandar-me matar n'ella.
«Voltou o commissario para Damão em 20 de dezembro, e mandou-me
preparar para partir para Cambaia. No dia ultimo de dezembro mandou o
commissario ferros e grilhões para pôr nos pés de quantos deviam ser condu-
zidos para Goa. Prendiam-se os pretos a dois e dois, á excepção de alguns que
se achavam tão extenuados pela fome, que houve necessidade de lhes deixar
a liberdade dos pés, da qual já não podiam fazer uso. Em quanto aos portu-
gaezes e a mim Gzeram-nos a honra de nos pôr ferros a cada um em s^a-
rado.
«Salmos, pois, do rio, no dia 1 de janeiro de 1674 com o fim de esperar o
resto da frota em Baçaim, ^ onde chegámos no dia seguinte. Levaram-nos lo-
go para a cadeia, onde nos conservaram até 7 de mesmo mez, em que nos
embarcámos, e a 14 chegámos á barra de Goa, e no dia seguinte fui remet-
tido para o Aljube. Esta prisão é a mais immunda, mais escura e horrível de
quantas tenho visto, e duvido até que se possa imaginar coisa alguma mais
aseorosa e horrenda. É uma espécie de cova, onde se não vé a claridade se-
não atravez d'uma pequena abertura, em que os raios do sol, mesmo os mais
subtis, não penetram : o fedor é extremo; não ha outro logar para as immun-
dicies senão uma espécie de cisterna, aonde nem mesmo ea ousaria approxi-
mar-me.
«Tendo chegado a noite não me pude resolver a deitar-me, tanto por causa
dos bichos, de que a prisão estava cheia, como das immundicies espalhadas
por toda a parte. Vi me pois obrigado a passal a assentado e encostado ao
muro. Comtudo apesar de ser horrível esta prisão, tel-a-hia preferido ás cellas
aceiadas e claras da inquisição, porque no Aljube havia companhia e conver-
sa, e nas prisões do santo ofíicio não.
^ «N^esla cidade existe o mais samptuoso c magnidco templo de quantos os poria-
gaexM erigiram ao verdadeiro Deus no Oriente.» Tomo ^ .^ pag. 38.
296 DE
•A 16 da janeiro, pelas 8 horas da manhã, yeiu am official da inquisição
com ordem de nos acompanhar a todos para o santo officio.»
N'e8ta prisão foi retido Deilon até janeiro de 1676. Chegou a tal aage sea-
desespero qae por vezes tentoa saicidar-se, o qae não ponde realisar por cansa
da incessante vigilância qne havia sobre os presos. Saia por fim, depois de
horríveis soffrimentos, no auto de fé celebrado em Goa em 12 de janeiro de
1676, tendo sido condemnado na confiscação de todos os bens, a ser expolso
da índia, e a servir nas galés de Portugal por espaço de cinco annos.
Embarcaramn'o portanto com ferros aos pés, a 27 de janeiro em mn na-
vio com destino a Portugal. A 20 de março viu-seo navio obrigado a arríbar á
Bahia, da qual saiu a 3 de setembro n*uma embarcação, que fazia parte de uma
(irotade30 navios, que se destinava a Lisboa, aonde chegou a;i5 de dezembro.
Do navio foi remettido para a prisão das galés. N'esta cidade esteve por
algum tempo obrigado a trabalhar na Ribeira das Naus, até que por influencia
de Mr. Fabre, francez e medico da rainha, a inquisição perdoou o resto dos
cinco annos de trabalhos públicos, com a condição de se retirar para França,
para onde embarcou, tendo perdido toda sua fortuna, confiscada pelo infame
tríbunal, que tão horrenda nódoa lança nas bellas paginas da historia de Por-
tugal. A Nouvelle Biographie Universelle de Firmin Didot t diz-nos que Deilon
na sua volta para a França exercera a medicina com muita distincção, e que
desde 1685 nada mais se sabe a respeito d'elle.
A leitura das viagens de Deilon deve ser recommendada áquelles que teem
a mania de só elogiarem os tempos passados, e de nada acharem bom na ac-
tua4[dade. Taes pessoas só podem revelar muita ignorância ou muito má fé.
Ao mesmo tempo dà-nos noticias muito aproveitáveis para quem escrever so-
bre os usos e costumes d'aquella época.
tNas festas mais solemnes, depois de acabar o serviço divino, fazem vir
para dentro da egreja as mulheres ricamente enfeitadas, as quaes, na presen-
ça do Santíssimo Sacramento, que íica exposto, dançam ao som de guitarras
e de castanholas, cantam modinhas profanas, tomam mil posturas indecen-
tes e impudicas, que mais conviriam para logares públicos, que para egrejas
que são casa de oração.»
Não se passaram ainda muitos annos que taes danças impudicas e lasci-
vas foram prohibidas dentro da sé do Porto, por occasiào da festa de S. Gon-
çalo, chamada a festa das regateiras. E quem ignora o que ainda se pratica
nos cirios e romarias?
O terceiro volume das obras de Deilon comprehende a historia dos deu-
ses adorados pelos gentios. Não foi composta por Deilon, mas sim traduzida
por elle de mn manascriplo portuguoz, composto por um frade nosso, que o
deixou por sua morte ao escriptor francez. Contém 19 capitules, e de pag.
103 até 276 traz um curiosíssimo supplemenlo á historia da Inquisição.
A leitura d'esla obra foi prohibida pelo edital da mesa censória de 12 de
dezembro de 1769. Foi traduzida rom o titulo: Deilon s acconnt of the m-
Tomo \?r. jnp i8'i
DE »7
«
quisitioH of Goa. Translated from the French, With an appendix containmg an
accourU ofthe escape of Archibald Bover (one ofthe inqitísUors) from the m-
quisitian at Macerata in Italy. London, Í8i2.
338) DEMERSAT (ALFRED — ) De la commission centrale de cette
Societé, de rinstitat Historique et Géograpbíqae da Brésil, de la Societé Ar-
cbéologique de L^Orléannais, Doctear en Medecine, etc. etc.
E. — Une tnissíon Géographique dam les Archives d'Espagne et de Portu-
gal. iS&t' iS&3, Fragments lus à la Societé de Géographie dans la séance gé*
nérale du 15 avril i86i par — Paris. Librairie de L. Hacbette et compagnie
4.», 45 pag.
«As doas nações peninsulares maito mal conhecidas, frequentemente mal
appreciadas, merecem as mais vivas sympatbias da França. Gonteem elemen-
tos de prosperidade moral e material ainda cobertos do pó dos tempos passa-
dos, mas fecundados pouco a pouco pelo sopro vivificante d'uma sábia li-
berdade.
«É principalmente quando se trata da geographía e da historia do Novo
Mundo que os documentos affluem na península, e que experimentamos mui
seriamente o embaraço das riquezas. Se a Hespanha descobriu a America, al-
gum tanto contra vontade d'aquella, é mister que se diga que a arrojada na-
ção portugueza a tinha precedido na carreira das descobertas, a qual coroa tão
gloriosamente o fim do século xv : ella não tardou em achar-se de costas a cos-
tas com sua rival; e em o novo bem como em o antigo continente uma anti-
pathia desrasoavel continuou a dividir dois povos para os quaes, segundo a
bella expressão de Montesquieu, parecia que o mundo se alargava.
«Foi na America do sul, entre as províncias do Rio da Prata e o vasto im-
pério do Brazil, cuja extensão excede doze vezes a da França, que a lucta se
empenhou viva e encarniçada, ao mesmo tempo que no arcbipelago das Mo-
Incas, nos antípodas da velha Europa. Será necessário recordar aqui esses tra-
tados numerosos, sellados com promessas solemnes, muitas vezes sancciona-
das pelo poder então incontestado do chefe da egreja, mas ainda mais frequen*
temente ficando no estado de lettra morta? Que pareciam não ter por alvo mais
que conseguir tréguas, durante as quaes cada potencia procurava engrande-
cer-se, adjudicar a si mesma províncias grandes como reinos, e arruinar com
nm contrabando desenfreado o commercio de sua rival?
«Ha muito tempo, que o homem de estado, que nos preside, se tinha con-
vencido do interesse que havia em propor uma exploração nos archivos penin-
sulares; e chegando a ministro me confiou o cuidado de procurar na Hespanha
e Portugal documentos relativos á historia da geographia Sul -Americana, e á
da dominação dos dois povos além do oceano. No mez de novembro de 1862,
dirigi-me a Toulon, d'aqui a Marseille, donde parti para Barcelona, de Barce-
lona a Madrid, a d'esta capital para Lisboa.
«Atravessemos pois o nobre Tejo, tantas vezes celebrado pelos poetas, e en-
tremos em Lisboa, n'esta bella cidade, cujo solo appresenta ainda vestígios da
eatastrophe que em 1755 enguliu quarenta mil de seus habitantes.
298 DE
«Portagal conta entre seus Glhos algons homons applíeados ao estado das
sciencias geographieas e das associações sabias, com as qnaes nossa sociedade
está em relações incessantes e regalares. Recebi â'elles o acolbimento mais
favoratel, e posso dizer qne desde o homilde empregado das bibliotheeas até
o joven soberano, qne preside aos destinos d'este bello paiz, todos procararam
coadjavar-me no camprímento da tarefa, qne me fora confiada.
<0s estabelecimentos scientifícos, qae me promettiam mais ampla colheita,
eram:
«Archivos do reino. (Torre do Tombo.)
«Bibliotheca pablíca.
«Bibliotbeca da Academia das Sciencias.
«Arcbivo do Ultramar.
«Seriam necessários maitos velames para faz^ ama enam^raçao, mesmo
sammana, das riquezas, qae conteem os archivos celebres da Torre do Tombo.
«A este immenso deposito de papeis do estado relativos a todos os ramos
de administração se vieram ajuntar em 1835 os archivos dos conventos snpprí-
midos, os das corporações religiosas e de certos tribonaes excepcionaes aboli-
dos, entre os qaaes citarei a Mesa de Consciência e Ordens.
«Esta collecção, qae aagmenta continuamente, abrange hoje mais de vinte
mil maços, compondo-se cada maço d*algamas centenas de documentos.
«Só a inquisição fomecea quarenta mil processos.
«Algumas obras manuscríptas teem um grande valor biblíographico ou
histórico: tal é o Atlas de Fernão Vaz Dourado; tal é a Bíblia celebre do con-
vento de Balem, que Junot levara para França, e que foi restituida a Portugal
na época de nossos desastres.
«Quando o marquez de Pombal decidiu a suppressão da ordem dos Jesuí-
tas, mandou reunir n'estes archivos os documentos pertencentes á Companhia,
porém mais tarde desappareceram alguns, que mais a compromettiam. Inves-
tiguei comtudo 03 que ainda restam, e este trabalho não foi infructuoso.
«A Bibliotheca Publica continha em outubro de 1853, 13^:000 volumes, sem
contar as obras dos conventos supprimidos. E entre os seus dez mil volumes
escolhi dois para d'elles fazer analyse. Papeis relativos à entrega da colónia do
SS. Sacramento, onde encontrei documentos do mais alto interesse para a his-
toria da guerra hispano-portugueza causada pela fundação da colónia em fren-
te da cidade de Buenos Ayres.
«Outro volume contem o diário da segunda marcha, que fizemos com o
nosso exercito poríuguez auxiliando o de sua magestade cathoUca para a eva^
cuação das sete missões N'cste acha se uma narração muito circumstanciada
da campanha de 175o a 1756. Esclarece com uma luz muito viva uma multi-
dão de pontos, que tinham ficado obscuros na historia d' esta longa expedição.
Mandei copiar as passagens mais notáveis d'este manuscripto para as offere-
cer á Bibliotheca Imperial.
«A Bibliotheca da Academia das Sciencias possue cerca d'uns 50:000 vo-
lumes e 833 manuscriplos.
O Archivo do Ultramar contém papeis relativos ás colónias. Encontram-se
DE 299
alli reunidos com ordem os officios dos vice-reis, relatórios dos governadores
das províncias dirigidos ao sen chefe immediato, on ao primeiro ministro, as
propostas relativas ás operações militares, aos reconhecimentos dos rios, ás
obras publicas, etc.
•A parte politica doestes relatoríos(só fallo dos concernentes á America) mos-
tra a cada instante usurpações de territórios commettidas pelos bespanhoes.
Mostra, por assim dizer, dia por dia, a historia das relações do Brasil com seus
visinhos. Consultei com fructo a correspondência dos governadores da pro-
víncia de S. Paulo, cujas dependências se estendem até aos confins do Para-
guay. Sabe-se a guerra encarniçada que durante mais de um século os pau-
listas, debaixo do nome de mamelukos, fizeram aos estabelecimentos dos je-
suítas, cujos habitantes estes vinham roubar para os fazer trabalhar nas mi-
nas, ou vender como escravos nos mercados do Rio e da Bahia.
«Nem todos os documentos relativos á historia das possessões transoceâni-
cas de Portugal estào encerrados nas ricas collecções da capital, bom numero
dos mais interessantes fazem parte da Bíblíotheca de Évora. É n'esta biblio-
theca que se euarda o celebre esmalte de Limoges, o qual pertenceu a Fran-
cisco I, e lhe foi tomado na batalha de Pavia. ^
339) DE PORTOGYSEN GOEDEN BVYRMAN QHETROOHEN
uzt de Registers van syu goet Gebuers van syn goet Gebuerschap gehouden m
Ussabona, Manngan Coep Sint AugusHn, Sint Paulo de Loando, en Sant Thomé.
Gheduckt tot Lisbon, inde groote Druck sael Doer uzt hangh her Verra-
âich Portegael. Ânno i649, den 24 Decembei\ 8 folhas sem paginação. (M. S.)
340) DEPPING.
E. — Vocubulaire geographique de VEspagne et du Portugal, smvt d'un iti-
néraire de ces deux royaumes, traduit de Vespagnol; revu et augmenté d'un
Aperçu historique et geographique de VEspagne et du Portugal, par — . Paris,
i823, 8.* longo, iii pag.
É um resumido Diccíonario geographíco de Hespanha e Portugal.
34i) DER NEUSTE STAAT DES KONIGREICKS PORTAGAL.
(Situação actual do reino de Portugal, e de suas possessões na Europa, e em
todas as outras partes do mundo, descripta conforme os escriptores antigos e
modernos mais dignos de credito.) Halle, 1714, 2 vol. S.**
342) DESORIPTIO URBIUM TOTIUS ORBIS. Foi.
«N'esta obra 2 impressa no-meiado do século xvi vem não só a vista de
Lisboa em referencia ao anno 1500, mas também a de Gascaes, e outras, Goa,
Diu, Damão, Gochim etc. com a descripção de cada uma d'ellas.
^ Sobre as bibltothecas de He^panba pôde Ter-se um artigo mui curioso, que vom do
n.* 100 do Diário do Governo de 1835.
s Reviila Universal Lisbonense, toI. 5.*, pag. 64.
300 DE
343) DESORIPnON DE LA VILLE DE LISBONNE oò PontraUe
de la cour de Portugaly de la langtte portugaise, et des mcBurs des habitanit;
du gouvemement, des revenus du roi, et de ses forces par mer et par terre,
des coUmes portugaises et du commerce de cette capitale. A Paris, chez Pierre
Praolt, 1738. 8 % 268 pag.
«Sendo Lisboa uma das mais celebres cidades da Europa, tanto por saa
grandesa, como pela vantagem que tem de ser a residência dos reis de Porta-
gal, e até pela extensão de seu commercio, julgoa-se qae o poblico receberia
com algum prazer a descripção d'esta capital
«Esta grande cidade está situada sobre sete montes, na margem do Tejo,
a três léguas do Oceano.
«Avançando coisa de duas léguas, encontramse*algumas povoações; a ul-
tima, que tem o nome de Balem, dá á margem um ar muito risonho, por ha-
ver alli bellas quintas e magníficos conventos, entre os quaes um é da ordem
de S. Jeronymo, de grandesa prodigiosa, e magnificamente construído, onde
se vêem os túmulos de alguns reis de Portugal. Ha n'esta povoação uma torre
grande e forte, edificada sobre uma lingua de terra que entra pelo mar dentro.
«Ao passo que se continua a subir pelo rio, este alarga-se, e acba-se defen-
dido por diversos fortes de distancia a distancia ató ás approximações da ci-
dade, e do primeiro logar destinado para ancoradouro dos navios. D'alli des-
cobre-se Lisboa, que ostentando-se como um soberbo amphitheatro, offerece á
vista, por sua elevação, por sua extensão, e por uma espécie de symetría na-
tural um dos mais bellos aspectos do mundo. O Tejo forma também em frente
d'esta capital um porto muito considerável, quo tem três léguas de largura, e
está sempre cheio de grande numero de navios.
«As ruas próximas do rio sào Íngremes, estão bem calçadas, e são de lar-
gura variável, mas muito immundas, não as varrendo senão de três em três,
ou de quatro em quatro dias. Enconlram-se alguns bellos palácios, e em ge-
ral as casas são bem bonitas. A pedra é muito vulgar, mas não produzindo o
paiz quasi nenhuma madeira, véem-se obrigados a servirem-se de pinho, que
se manda vir do norte.
«O palácio do rei fica no meio da cidade, na margem esquerda do Tejo, so-
bre uma praça chamada Terreiro do Paço. Sua fâce principal reina sobre to-
da a largura doesta praça, e termina n'um magnifico pavilhão, em cuja frente
ancoram os navios, d'onde o rei tem o praser de vêr quantos entram ou saem
do porto, e mesmo de olhar para o mar até ao mais longe que a vista pôde
alcançar. A área d'este palácio é considerável, as salas muito grandes e mui
ricamente mobiladas. Prolonga-se de um lado ao comprimento do rio, e do
outro para as ruas visinhas. Contém ura pateo cercado por um edifício qua-
drado, sustentado por arcadas, debaixo das quaes numerosos mercadores apre-
sentam á venda tudo o que o coramercio pôde fornecer de mais raro em mer-
cadorias.
«Entre outras praças as mais consideráveis são aquelias onde está situado
o palácio real, e a que se chama o Rocio. A primeira tem uns quatrocentos
passos de comprido sobre duzentos de largo. Além do palácio real, ella é ter-
DE 301
minada pela alfandega, qae é maito vasta, pelo tribanal de contas, e oatros
tribanaes, e por varias casas pertencentes a particulares, porém estes differen-
tes edifícios não teem nenhuma conformidade uns com os outros, e a vista
d'esta praça é além d'isto am pouco repugnante por algumas barracas, que
servem de açougues. A praça do Rocio também não é mais regular, nem tão
grande como a primeira. Tem d'um lado arcadas, onde quantidade de peque-
nos vendilhões armam suas barracas, no meio um chafariz sem agua quasí
sempre. N'esta praça estão o palácio da Inquisição, o grande convento dos Do-
minicanos e o hospital de todos os Santos.
«A Sé patriarchal está estabelecida na capella do palácio do rei. Sua archi-
tectura e pintura nada tem senão de muito vulgar, mas é muito vasta. Conta
além do altar do coro, doze capellas especiaes, que estão soberbamente orna-
das. Vé-se alli uma grande tribuna, d'onde o rei e a rainha ouvem ordinaria-
mente missa. Officia n'ella o patriarcha regularmente todos os domingos e
dias de festa : dezoito cónegos o acompanham no altar, e ojajudam todos com
mitra. O coro composto de perto de trinta ou quarenta beneficiados é acom-
panhado de musica á romana, isto é, sem orchestra, mas entre o grande nu-
mero de vozes que alli ha, são excellentes algumas.
«Quando o patriarcha sae á rua, caminha na forma seguinte : Vé-se pri-
meiramente a cruz patriarchal levada por um homem a cavallo; logo em se-
guida vae o patriarcha levado n'um rico coche ladeado de vinte lacaios a pé;
a isto seguem-se quatro coches de um gosto e uma grandesa extraordinária,
cada um puxado por seis mulas. O primeiro coche, que é o de honra vae va-
sio, e os outros três contéem os officiaes de seu séquito. Os cónegos andam
quasi sempre de trem, seguidos de seis criados a pé.
«A casa da camará é contigua á egreja de Santo António. Nenhuma bellesa
ou particularidade encerra.
«Expõem algumas egrejas, particularmente em quinta feira d'Ascenção
canários em gaiolas muito aceiadamente enfeitadas com flores e fitas, de sorte
que estes passarinhos animados pelo cantar dos padres, não interrompem seu
canto, e formam um concerto e um espectáculo assaz novo para os estran-
geiros.
«Além do convento dos Capuchinhos italianos existe à porta de Santa Ca-
tharina uma egreja d*esta nação muito grande e muito rica, e que tem um ór-
gão o mais bello de Lisboa. Tem capellãomór, vinte capellães, oito clérigos,
dois sacristãei>, e outros empregados que recitam diariamente o officio di-
vino.
«Encontra-se na parte occidental, á borda do Tejo, uma casa da moeda,
onde se fabrica dinheiro, tão bem, pelo menos, como em França. Perto vé-se
o Arsenal, que é muito bello.
«O estaleiro para os navios de guerra quasi que toca no palácio.
«Vé-se na extremidade da cidade occidental uma casa chamada das ga-
lés. Tomou este nome do uso, em que se está de prender n'ella os condemna-
dos ás galés, que pela maior parte procedem das assaltadas que osportugue-
zes fazem de vez em quando sobre os mouros, com os quaes estão continua-
30Í DE
mente em gaerra. Esta sorte de escravos está empregada durante o dia nos
navios de gaerra, oa a acarretar lenba e agaa para uso dos principaes oífi-
ciaes de marinha, e de noite levam-nos para a prisão.
«A cidade tem algmis hospitaes perfeitamente administrados.
«Lisboa nao tem nenham passeio publico, nem outro divertimento roais que
um mau tbeatro bespanhol. Os grandes e fidalgos frequentam muito, comta-
do, este espectáculo; e quando saem d*elle vão passar o resto do dia a passeia-
rem dentro de seus trens na praça do Rocio, onde conversam uns com os ou-
tros até à noite, sem sairem de suas carruagens. Vôem-se muito poucas car-
ruagens, por serem as ruas muito más. /
«Ha muita caça, presuntos de Lamego, que são melhores que os deBayona
e de Magence. Os alugueis das casas são muito elevados.
«O açougue principal, que fica na praça do palácio, é notável tanto por
sua extensão e aceio, como pela boa policia, que alli se observa. Todas as pa-
redes pela parte interior estão revestidas de quadradinhos de azulejo e cober-
tas de uma quantidade prodigiosa de carnes, expostas na altura de seis pés e
mais: os compradores indicam as peças de carne que desejam, e immediata-
mente os cortadores, que estão em cima de estrados muito aceiados, á manei-
ra de theatro, lh'as entregam ao longo d'uma taboa posta muito conveniente-
mente para esse fim. No meio doeste recinto está um assento para um empre-
gado, com balanças; e este empregado está sempre presente, a fim de se op-
pôr á desordem, e de administrar justiça promptamente áquelles que forem le-
zados.
«Pouco adiante fica uma praça para a veada de peixe, que ó das mais bem
fornecidas, que existem em todo o mundo. O peixe é em quantidade prodigio-
sa, e muitíssimo barato. É trazido em duzentas ou trezentas caravellas e mu.
letas que diariamente o transportam. As peixeiras distinguem-se pelo seu aceio
e ricos ornatos, consistindo era braceletes de oiro, que trazem nos braços
cordões, anéis, cruzes, brincos, de sorte que se vêem algumas trazendo em
cima de si até um marco d'e$te metal.
»N'esta cidade não ha mais que três chafarizes com agua de beber; trazem-
na em cima de burros, e vendera-na a quatro soldos a carga. Ha o inconve-
niente de ficarem todos no mesmo bairro, e de se estar exposto a ser engana-
do pelos vendedores, que para pouparem a caminhada, vendem algumas vezes
agua d'uma quarta fonte muito perto das outras, que não é boa senão para
cavalgaduras, o que faz cora que as pessoas ricas a mandem buscar por seus
próprios criados.
«Acha-se ao lado da praça do palácio ^ uma rua onde estão os confeitei-
ros, rua que tem a particularidade de, apesar de ficar sua área no mesmo
nivel que o rio, o qual esUi sempre salgado, c do nào estar distante mais de
trezentos passos, terem as casas poços de agua doce excellente. As pessoas que
vão àquclla rua regalar-se com doces, segundo o costume do paiz, não põem
duvida em bobel-a, e os quo alli moram não bobem d'oulra.»
a
* Dcscriplion de Lisbonno, pag. 4í.
DE ao3
«Apesar de serem os viveres maito baratos, as boas hospedarias qaasi to-
das francezas, inglezas e bollandezas são muito caras. Na melhor, que é fran-
ceza, situada na margem do Tejo, n'uma pequena praça chamada Romuiares,
o preço é seis francos por dia, e as inferiores, onde pessoas decentes se pos-
sam accomodar, varia o preço de 48 soldos a 3 libras. Tanto n'uma como n*ou-
tra, fica a gente mal hospedada, mas come soffrivelmente. A causa doesta ca-
restia procede do pequeno numero de pessoas que vão hospedar-se n'ellas, e
faz com que a maior parte dos viajantas, que teem de se demorar na capitai,
vão hospedar-se em casa de amigos, eu aluguem quartos.
«As pessoas que tomam este ultimo partido, contentam-se ordinariamente
com muito pouca mobília e da mais medíocre; apenas uma mesa com seis ca-
deiras de palha^ alguma loiça de barro e camas, muito em voga no paiz, isto
é^ sem leito nem cortinas, consistindo apenas n*uma enxerga e dois colchões,
que se estendem de noite por cima de esteiras, ou tecidos de junco muito
aceiados. Gomtudo, como as casas estão sempre muito caiadas, e teem por
toda a parte até certa altura um revestimento de azulejo e são muito risonhas,
prescindimos facilmente de cortinados. Por esta forma poupa-se consideravel-
mente, e achâmo-nos alojados muito commodamente em comparação d*aquel-
les, que estão em casas térreas, e pela maior parte nos sitios mais ordinários K
«Aífirmam que o rei tenciona augmentar a cidade, construindo em linha
recta de uma extremidade à outra um cães, que deve entrar pelo Tejo dentro
nmas cincoenta toezas, o que se pôde fazer facilmente, porque o rio quasi que
não tem profundidade até ao sitio, a que as obras devem chegar. E no local
chamado a Boa Vista deve o rei mandar abrir uma doka para n*ella se aco-
lherem os navios de guerra em occasiões de mau tempo.
«Em 1724 appareceu em Lisboa o cavalheiro Porta, gentilhomem de Lau-
sanna na Suissa, para um negocio particular, que era reclamar os bens de
D. António, que foi antigamente proclamado rei de Portugal, de quem a es-
posa d'este gentilhomem descende em linha recta. Houve por esta causa diversas
audiências do rei, que o recebeu honrosamente, e que nomeou duas juntas ou
conselhos para a decisão de seu negocio. Porém os letrados opinaram que
este gentilhomem não tinha nenhum direito legitimo, pois D. António fora
proscripto por Filippe II como traidor à pátria, e seus bens justamente confis-
cados em proveito da coroa. Depois doesta decisão o gentil homem despediu-se
do rei, e este lhe mandou dar um presente.
«A corte de Lisboa é muito triste. Ordinariamente não se encontra muita
nobreza junta. O rei come sosinho, raras vezes com a rainha, e nunca em pu-
blico: sáe muito pouco, e apezar de ter uma casa de recreio em Salvaterra, a
dez léguas de Lisboa, rodeada de vastos terrenos para caça, passa annos in-
teiros sem ir lá. Nada é mais simples do que sua saída ordinária; véem-no
n'uma carruagem puchada por seis cavallos, na companhia do infante D. An-
tónio seu irmão, o duque D. Jaime, seu escudeiro mór, e gentil homem de se-
mana. Sua comitiva não passa de cinco ou seis pessoas a cavallo.
* Description de la tiiUe de LisbonnCj pag. 48.
m DE
«A rainha sae também muito poucas vozes. Vae todos os sabbados, depois
do jantar, por devoção a imi convento que flca no fim da cidade de Lis-
boa, acompanhada do príncipe do Brazíl, das príncezas sua filha e canhada,
da condessa de Unhão sua primeira camarista. Sua saída é sempre annoncia-
da de manha por um tambor e um pífaro, que andam a tocar pela cidade com
o fim de que a este signal todos os archeiros, que não estão de guarda se di-
rijam para o palácio. A carruagem da rainha vae rodeada de alguns pagens
a pé, e precedida por todos estes archeiros sem chapeo, commandados por
nm capitão e por um tenente a cavallo. O resto da sua comitiva consiste em
quatro carruagens, em três das qnaes vão doze damas de honra.
•Antigamente os dias de grande gala eram festejados com corridas de toi-
ros, que duravam alguns dias; foram porém supprimidas no fim do ultimo
reinado pela influencia da rainha. Como o rei D. Pedro, seu marido, que ti-
nha uma força extraordmaria, gostava immenso de ir n'estas occasiões agar-
rar um toiro à unha, a rainha receíando com razão que lhe acontecesse algu-
ma desgraça^ tanto trabalhou que obteve d'elle a suppressão doestas corridas,
e contentaram-se depois com o dal as por occasião do nascimento de prínci-
pes e princezas.
«Os portuguezes são ciumentos no ultimo grau, dissimulados, vingativos,
escarnecedores, vãos e presumpçosos sem motivo, não tendo, com excepção da
nobreza, senão uma educação muito medíocre, não estando acostumados á
leitura, e quasi que não viajando para outra parte mais que para o Brasil,
Africa e índias Orientaes. São porém estes defeitos contrabalançados por ou-
tras qualidades estimáveis. Teem muita vivacidade e penetração, uma affeição
extraordinária a seu príncipe, são muito guardadores de segredos, amigos
fieis, generosos, caritativos para com seus parentes, sóbrios na comida: quasi
que só comem peixe^ arroz, aletria, legumes, bolos, e não bebem ordinaria-
mente senão agua.
« Yé-se andarem os homens pela rua trazendo uma espada comprida, a maior
parte do tempo debaixo do braço, e um rosário na mão, fallando acerca de
negócios e de seus divertimentos, mas não deixando de resar, ou pelo monos
de o fmgir, particularmente quando estão uns com os outros. Sua maior pai-
xão no exterior consiste n'uma devoção apparente, capaz de enganar aqueUes
que não tiverem alguma pratica d'este paiz.
< A gente ordinária ajunta-se em ranchos nas ruas em frente de nichos, onde
rezam e dão bofetadas em si mesmos. Nas procissões de Quaresma azorragam-
se a si próprios horrivelmente, ou arrastam ao andarem cadeias presas às per-
nas, trazem barras de ferro com os braços em cruz e outras penitencias simi-
Ihantes. Com tudo n'estas mesmas occasiões alguns trazem uma fita no hom-
bro para serem reconhecidos de suas namoradas. Outros namoram por signaes
na egreja, e isto diariamente, entregam cartinhas de namoro com multa dex-
treza. Estão mesmo tão acostumados a verem todas estas coisas, que as pes-
soas do paiz as mais morigeradas não se escandalisam por observarem isto.
A bondade do clima e a doçura da vida tornam-os preguiçosos, fazem com
que trabalhem pouco, e se contentem cora uma fortuna medíocre.
DE 305
«Os jadens são maito mais laboriosos, o qae provém de sua paixão ordiná-
ria para ajuntar riquezas, e do desejo de se verem em estado de deixar um
paiz, onde a Inquisição lhes faz uma guerra cruel. De vez em quando alguns,
depois de terem adquirido fortuna, embarcam secretamente e passam para In-
glaterra, Hollanda e outros paizes, em que podem exercer livremente sua re-
ligião. Sua vida em Portugal está cbeia de contrariedades e inquietações. Fa-
zem exteriormente todos os exercícios da nossa religião com a maior pontua-
lidade para que não desconfiem que são judeus.
«Os que se convertem egualmente passam por muitos desgostos. São des-
prezados e marcados para sempre com o epítheto infamante de Christão novo,
que 08 exclue a elles e a seus descendentes, a não ser por um extremo favor,
da maior parte dos cargos seculares, e Ibes tira para sempre a esperança de
se poderem alliar com os christãQS velboa. Fazem-se estas allianças algumas
vezes, mas só por occasião de alguma aventura amorosa, ou quando christãos
novos, sendo ricos, fazem a fortuna de raparigas pobres. Mas os filhos prove-
nientes doestes casamentos são chamados meio christãos novos^ e successiva.
mente à proporção. Finalmente quando se perdeu a memoria do grau de soa
origem judaica, chamam- lhes parte de christão novo^ de sorte que esta espécie
de infâmia não se extingue quasi nunca. ^
«Dizem que as mulheres por Índole são muito aífeiçoadas a seus maridos *
e que é raro encontrar alguma que lhes seja infiel. É comtudo necessário con-
fessar que o excessivo ciúme dos maridos, e as precauções extraordinárias que
tomam, poderiam fazer julgar que ellas são de uma compleição bem diffe-
rente. Seja como fôr, o que é certo é que sua sorte ó bem triste. Teem^nas
quasi sempre fechadas, e véem-se até mesmo simples commerciantes terem em
soa casa capellas, em que mandam dizer missa para tirarem a suas mulheres
e filhas qualquer pretexto para saída.
Não podem ellas fallar senão aos padres e aos frades: estão privadas abso-
lutaúiente de todo o commercio com oi outros homens, e não teem mais re-
creação que de dentro das gelosias olharem para quem passa.
Apenas se podem ver na egreja quando lá vão: collocam-se na téa separa-
das dos homens, mas isto não obsta a que por signaes e linguagem de dedos
substituam a palavra. Accrescentarei ainda que estes signaes se fazem de
uma e outra parte d'uma maneira tão subtil e tão prudentemente dirigida que
nm estrangeiro, que não estivesse prevenido d'este uso, juraria que elles não
disseram uma unlca palavra.
Esperam com grande impaciência as procissões de Quaresma, porque se
lhes permitte então saírem para irem ver as ceremonias, e porque aquellas que
teem desejo de fazer outro uso da liberdade d'aquelle tempo, o podem fazer
sem perigo, não sendo quasi possível expial-as por causa da quantidade de
mulheres, que se vêem n'estas occasiões, e da conformidade de seus vestuá-
rios. Vão também na noite de Quinta-feira Santa visitar as egrejas, e em quanto
* Description d$ la vUle de LUbonn$i paç. 99.
' Idem^ pag. 110.
TOMO I 20
306 DE
os maridos dormem tranquillamente por causa do preconceito gorai que não Ibes
pérmitte resistirem à devoção verdadeira ou fingida de ^uas mulheres, diz-se
que ha então muitas, que se indemnisam do tempo que passaram no constran-
gimento.
«Os médicos portnguezes passam no espirito da nação por muito hábeis:
odaviasão extremamente pródigos de sangue, e quasi que não conhecem ou-
tro remédio senão a sangria. Nas doenças ordinárias começam por applicar
meia dúzia de sangrias; e, quando o mal é teimoso, elevam a receita até quinze
ou vinte, de forma que o que de melhor pôde acontecer ao doente é ficar li-
vre da moléstia por meio de uma debilidade de que com muita difflculdade se
restabelecerá. Finalmente se seus remédios não aproveitam, e o doente cae
n'um estado desesperado, receitam-lhe Agua do FranceZy e experimenta-se que
muitas vezes os doentes recuperam súa saúde com o uso d'esta agua. O firan-
cez, que a vende, é um provençal por nome Estíenne, estabelecido em Lisboa,
ha muitos annos^ o qual sem ser medico ou cirurgião applica a toda a qualidade
de doenças esta tisana, cajá composição diz ter aprendido de um turco. Apre-
senta certidões de uma infinidade de pessoas, a quem curou perfeitamente; e
bem que mostrando o credito de sua tisana ou suas curas maravilhosas, tenha
grande cuidado de guardar silencio a respeito das occasiões em que ella pro-
duziu effeito contrario; é todavia certo que tem ajuntado grossos cabedaes, e
conservado sempre sua reputação com o mesmo vigor.
cObserva-se que a maior parte dos médicos e dos advogados são de raça
judia: os cirurgiões, apezar de serem ignorantes, acham o sangrar muito
abaixo de sua dignidade: são os barbeiros os que se prestam a este mister.
«Os homens e mulheres tecm grande devoção a S. Bento, cujas relíquias
repousam n'uma grande egreja de seu nome. Vé-se a 21 de março, dia da
festa doeste santo, um concurso extraordinário de povo, que batendo á porta
d'esta egreja pede ao Santo que não lhe deixe faltar o pão: e pelo anno adiante
as raparigas mandam ali dizer missas para encontrarem bons maridos.
«Os velhos e pessoas achacadas teem egualmenle uma singular devoção a
S. Gonçalo, porlugucz de nação, que está no convento dos dominicanos, na
praça do Rocio. No dia de sua festa fazem ali suas danças bailando e cantando:
Quem com o santo quizer sarar.
Ao santo ha de bailar.
«Comtudo as ceremonías mais respeitáveis de nossa religião fazem -se n'este
paiz de uma maneira pomposa. Leva*se o corpo de Nosso Senhor aos doentes
com muita magestade. O padre vae debaixo de um pailio sustentado por seis
pessoas, caminha vagarosatnente, precedido por varias espécies de trombetas,
e seguido de uns vinte irmãos de capas encarnadas, uniformes, levando cada
um uma vela na mão e as coisas necessárias para administração do Sacra*
mento.
«A procissão do Corpo de Deus faz -se desde alguns annos com uma pompa
c solemnidade, que excede tudo o que se pratica nos outros paizes da chris-
DE 307
Undade. As roas por onde passa a procissão, estão juncadas de verdora e de
flores, e gaamecídas de tropas: estão tapadas pelo telhado das casas de um
lado a outro com um toldo de damasco carmesim: véem-se alli grandes lus-
tres de distancia a distancia e magnificos altares. Ha n'aqueile dia, na praça
do palácio e na do Rocio, uma fileira de columnatas de madeira em arcadas
muito largas e altas, em forma de arcos de triumpho envernizados e enriqueci-
dos de bellas pinturas, debaixo dos qnaes passa a procissão, como em todo o
resto do caminho a coberto das injurias do tempo.
«As casas estão armadas com sedas; vôem-se ás janellas as mulheres mui
ricamente ornadas^ e é prohibido aos homens apparecerem n*ellas.
«O rei assiste á ceremonia acompanhado de todos os grandes de sua corte,
e precedido de todas as irmandades, cavalleiros de Christo, de Aviz, de
S. Tfaiago, de todas as ordens ecclesiasticas, do patriarcha com seu cortejo,
ao qual os cónegos mitrados dão grande esplendor K
«A rainha dirige-se n'esta occasião para a residência do ministro, cuja casa
está situada de modo que S. M. tem o prazer de se ver alli no meio da Pro-
cissão; porque ella descobre-a ao longe vindo da sua esquerda, d'onde se es-
tende depois para a grande rua dos ourives de oiro, que fica na frente das
janellas que ella occupa, vé-a ainda voltar pela rua dos mercadores, que fica
á sua direita.
«Esta procissão contém tanta gente, que grande parte está já de volta antes
que a outra tenha acabado de passar por este sitio: de maneira que a rainha
avistando a procissão de princípio a fim a egual distancia da janella de saca-
da que occupa, a vé então em forma de cruz, e a vista é soberba.
. Tanto os portuguezes são económicos em suas casas, tanto são gastadores
na celebração de seus casamentos, e nas ceremonias publicas. Para sustenta-
rem o explendor e despeza pedem emprestado sobre penhor, e alienam seus
rendimentos; de maneira que ha poucas casas, que não estejam muito indivi-
dadas. Algumas d'ellas qualificam-se de puritanas, o que quer dizer, que não
houve em suas famílias alguma mistura com o sangue dos moiros ou dos
christãos novos, e d'isto se ufanam a ponto de não quererem alliar-se com as
que não o são, e por esta razão é que se vé mui commummente os portuguezes
casarem-se com suas parentas, apesar de lhe custarem muito dinheiro as dis-
pensas em Roma. Véem-se ainda casas de tal forma enfatuadas de sua nobre-
sa, que ellas preferem anniquilar-se a alliarem-se com outras menos illus-
ires do que as suas.
jA lei permitte todavia ás filhas casarem-se conforme a sua inclinação, de
maneira mesmo que um homem do commercio, a quem uma menina de pri-
meira nobresa tivesse promettido casamento, poderia desposal-o apesar da re-
sistência dos pães, com tanto que a menina não se retractasse : comtudo isto
qnasi nunca acontece, porque o pretendente seria infallivelmente assassinado,
porém estes exemplos são vulgares na nobresa ordinária, e entre os mecâni-
cos. Eis a maneira como os pretendentes se comportam n^estas occasiões: ex-
^ Deter ijUion de la villc de Lisbonnef pag. Hli.
308 DE
paem seos direitos ao vigário geral, qae ordena ímmediatameDte qae a me*
iiiaa compareça na soa presença. Feito isto, este ministro a interroga, e se as
respostas se acham conformes á exposição do cavalheiro, dà-lhes immediata-
mente licença para irem casar-se.
«Esta lei dá occasião a aventuras maito divertidas, das qoaes referirei ama
(|ue aconteceu à filha de um bom commerciante. Tendo-se esta pessoa enamo-
rado de um particular, apesar de sua figura muito medíocre, o qual morava
defronte d*ella^ o amante não perdeu tempo em ir ter com o vigário geral;
não procedeu todavia com tanto segredo, que o pae da noiva não fosse pouco
tempo depois informado de suas pretenções e diligencias; mas como quasi que
não ha remédio para contrariar taes golpes, este pobre homem contentava-se
com deplorar sua sorte, não podendo principalmente consolar-se por ser seu
{)retendido genro, qae apenas tinha uma fortuna muito medíocre, de raça ju-
dia, raça detestada por aquelles que não pertencem a ella. Em quanto derra-
mava lagrimas na sua loja, passou um de seus amigos, que vendo-o n'aqaelle
(*stado, lhe perguntou a causa, ao que tendo-o o pae satisfeito, o amigo o con-
solou dizendo-Ihe que elle se gabava de o tirar da difflcu Idade n*aquelle mes-
mo dia. Acrescentou que, como o ponto principal consistia em fazer desdizer
sua filha, era necessário para o conseguir prometter-lhe satisfazel-a immedia-
tamente no desejo que mostrava em casar-se. Que lhe aflãrmasse que conhe-
cia intimamente um mancebo, bello, bem apessoado, muito próprio a fazel-a
feliz : que este mancebo tinha na verdade pequena fortuna, mas que não lhe
faltava talento, sendo principalmente chrístão de raça. O pae encantado do
expediente, concordou em que, era quanto seu amigo ia trabalhar para lhe
íílcançar um novo genro, elle previniria sua lilha, e nada esqueceria para
lhe fazer um retrato do cavalheiro capaz de a lisonjear. A esta nova achon-se
a menina muito embaraçada; comtudo sua inquietação não durou, pois o ca-
valheiro sensivel às vantagens, que se lho oíTereciam, tendo-se dirigido com o
amigo a casa da menina, esta o achou de tal forma á sua vontade, que n'um
instante se lhe agarrou ao pescoço, dizendo : Este é meu marido ; não quero
uutro.
«Tendo as coisas chegado a este estado, e depois d'ama aíTeição tão rápi-
da, da qual a família tinha interesse em obstar ao esfriamento, em nada mais
so pensou do que em tomar todas as medidas necessárias para consummar o
casamento antes do dia seguinte, o que foi executado com tanta diligencia e
felicidade, que a bella foi dormir n'aquella mesma noite com seu marido. O
antigo pretendente nào doixou dt3 se apresentar pela manhã muito cedo de
si»ge, acompanhado por doze de seus amigos, e munido com a ordem do
vigário geral; mas íicoii bem depressa espantado, quando lhe disseram que
a pessoa que elle pedia em casamento, se linha recebido com fulano, morador
•MU tal rua. Alli voou immeJiatamenle com o seu cortejo, e o marido in-
ijrmado do motivo que alli o levava, c bem seguro de que a scena finda-
;ia pela confusão do outro, tomou o prazer de reunir promplamenle um
numero de amigos seus egual ao que tinha este rival, para acompanhar sua
i.uilhcr com mais luzluieuio a oa^a do vigário. Tendo a coisa sido assim exe-
DE :!0,>
catada, ella declarou a este juiz, na presença de todo este numeroso cortej«».
por seu marido aquelle que a tinha acompanhado. D'está sorte terminou esi<'
processo com grande regosijo do pae e do esposo, ç o í Iludido pretendem '
voltou para sua casa, passando por milhares de apupos, e acabrunhado de dôr
e de confusão.
«Quando um fidalgo tem seu casamento justo com al(7uma das damas
do paço, deve trazer na abetoadura uma fita, que ó um dos signaes de sua
promessa; além d'isto é obrigado pelo espaço de sois mezes a apresentar-si*.
DO palácio todas as vezes quc as damas saem ou entram com a rainha, e a so
guil as de longe sem que lhe seja permiltido faliar á sua namorada senão por
meio de signaes até ao dia da consummaçao do casamento.
«A mulher ennobrece o marido : os engeitados sào nobres pela supposi •
çao de que podem ter fidalgos por seus pães.
«Os portuguezes ordinariamente fazem frades a seus filhos segundos, ao
que estes raramente resistem, pois este estado é muito asado para a devas-
sidão. A vista dos pães com isto é de tornar ricos os primogénitos, e procede
também da impossibilidade em que se acham de dar aos primeiros um em-
prego honesto, não havendo alli nenhuma arte liberal, e o commercío sendo
muito limitado. Além dMsto, quando teem um filho padre ou frade, conside-
ram-no como uma grande honra, e ninguém pode ignorar que ficam isentos
de judaísmo, pois aquelles, que teem uma tal mancha, por muito leve que se-
ja, estão excluídos do sacerdócio para sempre.
«Os pães empregam o mesmo constrangimento para com as filhas, met-
tem-nas a quasi todas freiras, quer seja por falta de meios de lhes dar um
dote para terem um mando, seja pelo perigo em que incorrem por causa da
liberdade que a lei concede ás raparigas de se casarem á sua vontade. Os pães
de condição mediocre obrigam-nas a tomar este partido ainda por outro mo-
tivo, que é a honra de terem uma filha freira. Estas victimas da vaidade renun-
ciavam além d^isto ao mundo tanto mais voluntariamente, quanto lhes parecia
que deixando-o ellas entravam n*elle em vez de sair, pois sendo em casa d'el-
las extrema a prisão, e achando nos conventos a liberdade de verem homens
e de poderem conversar com elles quasi todo o dia, sua sorte parece-lhes mais
agradável.
34i) DESORDPTION du três humain, vertueux et invectissime roy de
Portugal. Envoyé à nostre sainct pere le pape, des gestes faictz en la mer rou-
ge. Et de la paix, paction, convenance commençée par lui avec prebistre Je-
han roy de Ethiopie. Lisbonne, 1521.
Apparece citada esta obra n'um catalogo de livros raros.
345) DESORIPTION geográfica, histórica de el reyno de Portugal. Ma-
drid (sem data), folheto.
346) DESE MAOHTEGUE EN GROT STATE ÂDE GENOEMT
diegelege es int comncrye va persê indem wech va mecha was bestomU en
310 Dl
heuochtê va Alfonso d'AUmkerque capUein generael vandê bogê en machtege
edele ame va portegael heer Emanuel mr. drieduist vyfhodert volchx voch te
drie urê lac tregê die ide stat warê dese bataelge gesciede up dê beiigêy ete.
Anvers, Í5i3.
Trata esta obra da tomada de Adem porAUonsod^Albaqaerqae, no reina-
do de el-rei D. Manael, e vi-a citada n'am catalogo de livros raros para
venda.
347) DESFONTANES (ABBÉ QUYOT).
E.— I. Histoire de D. Juan, fUs de D. Pedro et de D. Igms de Castro. Pa-
ris, i724.
U.—Inez de Castro ou histoire de Pierre de Portugal. Paris, i72í.
348) DE ZEEUSOHE VERHE-KYKER.
Ghedrucht tot Ulissingen in 7 Groene Wout. i649. 8 folhas sem numera-
ção. (M. S.)
349) DIAS (PEDRO).
E.SpistolcB de 52 Jesuitis iiúerfectis in Brasilia, Antaerpiae, i605.
350) DIOTIONAKIUM MALAICO LATINUM et Latino Malaicum
cum aliis quamplurimis quae quarta pagina edocebit. Opera et studio David
Haex. Romae. Typis et impensis Soe. Cong. de Propag. Fide. i63!. Superiorum
pemUssu.
No fim doeste Diccionario Malaico Latino ajuntaram-se alguns termos por-
tugaezes, que são muito communs entre os vocábulos roalaicos, e usados nas
ilhas de Amboyno, Banda, Java e Molucas. A lista das palavras portaguezas
usadas por estes povos contéem 143 vocábulos.
O exemplar por mim consultado em 1861 existia na Bibliotheca do Porto.
351) DIDOT (M. FIRMIN).
Nasceu em Paris no anno de 1764, e falleceu no de 1836. ^
E. — La reine de Portugal. ^ Tragedie en cinq actespar — . Representée pour
la première fois, sur le second theatre FrançaiSj le 20 octobre 1823. Paris. De
la Typographie de Tauteur, 1824, 4.°, 88 pag.
Pessoas, que entraram em scena : AÍTonso de Portugal, Mr. Lafangue. —
Branca, esposa d'Aíronso, M.*'»'*' Gros.— D. Pedro, Mr. David.— Constança, filha
de Branca, M*"' Falcoz.— Ignez, dama de Constança, M*^"* Dupont.— Castro, con-
destavel, irmão de Ignez, Mr. Delaunay.— Alvares, juiz, Mr. Auguste.— Maria,
dama de Ignez, M""' Alcx. Perroud.
' Firmin Didot — Nouvelk Biographie Vniverselley vol. H.", pag. 115.
* Perçonno n'a pu s'interesser aux amours dEdouard et d'Eugénie, composilion de
(iresscl, an licu quon ^'interesse bcaucoup a ceux d'ínés et D. Pierre. — La Harpe —
Cour^ de Lill^rnfurc /, pap. 841.
FERDINAND DINIZ
Dl 311
3^2) DIEZE (JEAN ANDRÉ).
E.— flts/oirf d^Espagne et de Pcyrtugal. Leipzig. 1774.
353) DINIS (FERDINAND).
Nascea em Paris bo dia 13 de agosto de 1798, onde recebeu saa edacaçào.
Sendo mui moço residia por espaço de três aonos e meio no Brazil. Foi pri-
meiro nomeado bibliothecarío do ministério de instrucção publica, e passou
depois na qualidade de conservador para a Bibliotheca de Santa Genoveva. <
E. — I Htstoire Géographique du Brésil. Paris, 1833, 107 pag. Faz parle da
Bibliotheqiie Populaire. Traz uma larga introducção, na qual faz uma resenha
dos escriptores que escreveram sobre o Brazil.
Estes escriptores são: Jean de Lery, francez. 1578— André Thevet, franccz,
1558— Hans Staden, 1556 — Claude d*Abbeville, francez, 1614— Pisou et Mar-
graff, 1648 — Barioeus, 1647 — Roulox Baro, 1651— Staunton, 1797 ^ Barrow,
1807— Lindley, 1804 —Mawe, 1812 — Langsdorff— Koster, 1816 — Neu-
wied, 1819 — Spix— Martins.
II. Le Bresil. Na conhecida collecçâo do Univers Pittoresque editado em
Paris por Firmin Didot. E* o primeiro volume da collecçâo relativa à Ameri-
ca. Esta obra foi traduzida em portuguez, e impressa em Lisboa no anuo d^
1844, formando dois volumes.
III. Resume de VBistoire littieraire du Portugal suivi du resume de VHis-
toire Utteraire du Brésil. Paris, Lecointe et Durey^ libraires, in-8.*, 625 pag.
cPara bem analysar os Lusíadas, (pag. 76), para fazer conceber suas belle-
zas, seria mister ser transportado por um momento ao cume d*essa coUina á
qual o Gama é conduzido por uma divindade, que lhe faz contemplar os glo-
riosos destinos de Portugal.
cExaminando esta vasta concepção, veem-se desenrolar todos os aconteci-
mentos, que tomaram tâo poderosa uma nação fraca ao principio, e dentro em
pouco superior a todas as outras, porque reuniu a constância ao valor. O que
ha de mais admirável, é que as bellezas doesta epopea brilhante appresentam-
se sem mostrar os esforços da arte; é o poeta viajante, o soldado, que canta
navegantes e guerreiros.
cDeu-lhe a natureza um profundo sentimento da harmonia; pertence ao
numero d'aquelles, que fixam uma lingua pelo encanto de seu estylo, perten-
ce também ao numero d^aquelles, que animam um povo inteiro com um gran-
de pensamento.
cO mais bello privilegio d*um poema épico é enobrecer uma nação a seus
próprios olhos, é fixar nos corações as lições dadas pela coragem e pela hon-
ra; enternecer sobre os erros, inspirar horror aos crimes. Camões não mere-
ceu grandes censuras no decurso de sua composição, mas desempenhou o ver-
dadeiro fim a que se deve propor um poeta nacional.
cO acontecimento, que acabava de elevar sua nação acima dos outros po-
vos, era o que naturalmente elle devia escolher: Gama foi seu heroe.
^ Visconde de Joramenba.— Oòro; de Luiz de Camões^ to). 1.*, pag. 2li.
m Dl
cUm de nossos poetas modernos, capaz de bem comprehender o auctor dos
Lusíadas, e de o fazer sentir, mostrou- nos a forma adoptada por elle desde o
principio— «O começo dos Lusíadas, diz Raynouard, é origina], nobre, poéti-
co, tem uma forma magestosa, porque indica, agrupa e accumula os factos,
que devem ser reproduzidos no poema; e somente quando este quadro feria a»
imaginação do leitor, é que annuncia, que cantando-o ha de espalhar a fama
pelo universo K
cJá que vemos apparecerem aqui os deuses do Paganismo n'um assumpto
no qual em nossos dias só os poderes da religião cbrista se fariam intervir,
lembremos que é necessário julgar os homens segundo os tempos, e não nos
mostremos severos de mais, quando se nos offerecem grandes bellezas. Talvez
não seja fora de propósito recordar aqui a maneira como madame de Stael
explica o emprego do maravilhoso mythologico, associado ao que era indica-
do pela religião christã; provavelmente que o pensamento do poeta está todo
inteiro n'esta phrase, principalmente applícando-a á época, em que morreu
Camões. cGensuram-n'o por esta alliança, mas não nos parece quenosLtcsta-
das produza uma impressão discordante. Sente-se alli muito bem que o chris-
tíanismo é a realidade da vida, e o paganismo o adorno dos festins.»
cNa primeira descrípção (pag. 81) da attitude e dos costumes d'um povo
estrangeiro Camões mostra-nos qual a exactidão, qual a tinta local que deve
conservar nas numerosas pinturas dos paizes longínquos.
cNinguem melhor, que Camões (pag. 87) sabe variar todos os movimentos
d*uma poesia brilhante; se no principio nos revelou as pompas do Olympo,
agora ostenta a nossos olhos todo o luxo da Europa e dos paizes visinhos da
Ásia: suas pinturas são preciosas para o nosso século, e variou-as sem cessar.
«Ao ler o entemecedor episodio de Ignez de Castro, onde vemos agglome-
rados todos os géneros de merecimento, quem se não sentirá commovido? (pag.
91.) O próprio Voltaire proclamou-o uma obra primorosa, apesar de muitas ve-
zes não fazer justiça ás outras bellezas do poema. Parece, e tanta melancolia
existe n'este canto lastimoso, que é um ultimo grito de dor escapado ao infe-
liz D. Pedro, que sua constância fez sobreviver ao desespero. Camões recolhe
tudo quanto pôde despertar uma nobre tristeza; não se esforça em augmentar
a dor, recorda o que fez já tantas vezes custar lagrimas.
«Os navios de Gama estão promptos para irem á descoberta. Comprehen-
de-se que o poeta deixou sua pátria, e que também elle viu mães abraçarem
seus filhos, mulheres soluçarem nos braços de seus maridos. Camões, dotado da
mais bella alma, representando sempre o que sentiu, Camões n'isso ainda é
admirável. Se pinta o poder dos laços da natureza, pinta também a ambição»
o as desgraças que ella pôde causar: fal-as annuncíar por um velho, qae se
dirige aos navegantes; e este velho, a quem o prestígio das conquistas não
pôde seduzir, é sublime em suas expressões, como em seus pensamentos.
«Os viajantes costeam a Africa, e dentro em pouco vão passar a linha. As
pinturas do poeta vão ser novas. Para descrever uma tromba maritima, não
1 Journal det Sarants^ julho de 18^.
Dl m
podia achar cores nos antigos. Saa profunda observação Ih^as forneceu. Ea
mesmo fui testemunha» ha alguns annos, d'este espectáculo, que causa aos via-
jantes tanta admiração e susto. Tomei a ler Gamões, e conheci que elle era um
dos maiores pintores dos phenomenos da natureza.
tMontesqnieu disse, que este poema continha bellezas dignas da Eneida e
da Odyssea. Mas é na apparíçao do gigante Adamastor, que se sente a ver-
dade d'esta reflexão (pag. 103.) E como o estylo se modiQcal Como este gigante
vae fazer sentir todo o amor em quç se inflammou para com a esposa de Pe-
leo! Como elle faz compréhender todo seu furor, pintando a maneira como
foi enganado! Não ajuntarei nenhuma reflexão a esta mais bella passagem dos
Lusíadas, e contentar-me-hei em dizer com Parseval de Grandmaison na sua
obra— 2^5 amours epiques — que é talvez a mais primorosa da epopea.
«Nada ha mais animado que o episodio dos doze de Inglaterra, nada mais
cavalheiresco do que a pintura dos torneios, e das festas.»
• •
«No começo do século xvn bastantes épicos se appresentam a nossos olhos,
todos dotados d*um. verdadeiro talento. Possuiam-nos os portuguezes n'uma
época, em que nós os francezes apenas tinhamos informes ensaios. Corte Real,
Quevedo, Pereira de Castro e Menezes escreviam n'uma lingua já elevada ao
sea mais alto grau de perfeição.
«Em quanto Camões se entregava á solidão, depois de ter percorrido os to-
gares, que cantava em seu poema, um homem celebre ia procurar em paizes
estrangeiros estas cores brilhantes, com as quaes queria ornar sua poesia. Corte-
Real percorreu a índia e Africa, assistiu mesmo á celebre batalha de Alcacer-
Quibir. Na volta para sua infeliz pátria entregou-se á solidão, e resolveu con-
sagrar seus últimos descanços a celebrar a gloria de Portugal. Em seu poema
o Naufrágio de Sepúlveda, as maiores bellezas brilham ao lado dos defeitos.
Poema, do qual a maior parte nos deve commover profundamente, pois ofTe-
rece sentimentos os mais temos, e acontecimentos os mais pungentes. Este
poema não podia ser concebido senão por uma alma ardente e sensível. De»
sembaraçado das ficções mythologicas, Corte Real seria o primeiro depois de
Camões K*
lY. Um grande numero de artigos relativos aos grandes homens, que Por-
tugal tem produzido, publicados na Biographie Universelle de Firmin Didot,
em 46 volumes. Estes artigos distinguem-se em geral pelo seu desenvolvimento
e exactidão. Tanto n'estes artigos, como em todas suas obras, Ferdinand De-
nis mostra-se muito affeiçoado aos portuguezes.
Y. Uue Fête BrésUienne celebrée a Rauen en 1550 suivie d^un fraçment du
* F. Denis analysa também vários outros poemas, como Affonso Africano, a Ulyssea,
Malaca CoDqQistada.Viríato trágico, o Hyssope, o que uâo 6zeram nem Boulerweck, nem
Sismoodi, DOS qaaes, bem como no escriptor francês citado, se encontram muitas paginas
de nossos escriptores trad oxidas.
314 Dl
VXI* Sitde fmUant $ur la Théogonie des anciens peuples du BrézU et des pqe-
8ies en langue Tupique de Christovam Valente. Paris, J. Techeoer, i85i, in-4.*
104 pag. Com uma estampa representando a lacta simolada dos brasileiros.
É a reimpressão d*ama obra publicada em Roaen no anno de 1551, e qae
se tinba tomado da maior raridade. O titalo da edição antiga era o seguinte:
Cest la dedu-
ction du sumptueux ordre plaisantz spe-
ctacles et magnifiques theatres
dresses et exhibes par les cUoi-
ens de Rouen ville Metropolitaine du pays de Normandie, A la
sacre Maiesté du Treschristian Boy de France, Henry secõd
leur souverain Seigneur, Et à Tresillustre dame, ma Dome
Katharme de Medids, La Royne son espouze, lors de
leur triumphant ioyeux et nouvel advenement en
icelle ville, Qui fut es iours de Mercredy et ieu-
dy premier et secõd iours d^octóbre^ MU
cinq cens cinquante, Et pour plus ex-
presse intelligence de ce tant ex- •
cellent triumphe, les figu-
res et pourtraicts des
principaulx aome-
mentz d^iceluy
y sont apposez chastun en son lieu comme l'on pourra veoir
par le discours de Vliistoire.
Avec privilege du Roy,
On les vend à rouen chez Robert le Hay Robert et Jean dictiz-
du Gord tenantz leur boutique, Au portail des libraires,
1551
«Meio século se tinha apenas passado desde a descoberta do Brazil, e coisa
de cincoenta indios completamente nus, pertencentes à raça dos tupinambas
reunidos a 250 marinheiros normandos, vinham simular seus combates nas
margens do Sena, na presença de Catharina de Medicis. Facto que não deve
admirar, se considerarmos por um momento quanto eram activas as relações
de Rouen, Dieppe Honfleur com a America meridional. A este espectáculo as-
sistiram o núncio do papa, os embaixadores de Hespanha, Allemanha, Vene-
za, Inglaterra, Portugal, e d'outras nações estrangeiras.»
A edição moderna é acompanhada de grande numero de notas interes-
santíssimas.
VI. Ckroniques Chevalercsques (le VEspagnc et du Portugal smvies du
Tisserand de Segovic, dratnc du AT//' Siècley pubUées—Pàris, Ledoyen, Li-
braire editeur, 8.» gr. 1839, 1." IV, 382 pag. 2.« 492 pag.
Traz as seguintes lendas e episódios portuguezes: I Tomada de Évora, por
Giraldo Sem -Pavor, conforme Fr. Bernardo de Briito. Tomo 1.*» pag. 45.—
Dl 315
O mau rei e o bom vassallo. Historia de Martim de Freitas, conforme Duar-
te Nunes de Leão. Pag. ò^íi,^ Historia de D. Constança Manuel, conforme Buy
de Pina. Pag. 83. — Chronka de Ignez de Castro. Pag. 105.
«Seria obra para um laborioso bibliographo o recordar mesmo sammaria-
mente tudo quanto tem sido escripto a respeito de Ignez de Castro. Poemas,
romances, novellas, dramas, tragedias, e ató coplas de romance popular, todas
as formas litterarias e poéticas teem sido esgotadas a respeito d'esta grande
eatastrophe, que completa actualmente em todas as nações a historia cavalhei-
resca da edade média.»
A Garça de Portugal. Narração verdadeira, onde se refere a historia la-
mentável de D. Ignez de Castro. Romance hespanhol. Pag. i^.— Poesias do
Rei D. Pedro a uma dama.— Os amores d'um filho de D, Ignez de Castro.
Pag. 167. — O primeiro dia do trafico da escravatura em Lagos. Tomo 2.*
pag. 41. — O naufrágio de Sepúlveda. Pag. 78.
NU. Luiz de Sousa, par— Paris, Librairie de Charles Josselin, 1835, 8.*
gr., 1.° vol. 351 pag., 2.» 336 pag.
E' um romance baseado na vida do nosso grande escriptor. O rei D. Se-
bastião dirige-se ao mosteiro da Batalha com o Om de ver os corpos dos reis
e príncipes alli sepultados, e de pedir orações a favor de sua próxima expe-
dição a Africa. Luiz de Sousa, D. Magdalena e o marquez de Kleist, parente do
imperador de Ailemanha n'aquella occasíão achavam-se na egreja. Luiz de
Sousa é chamado para fazer ao rei um breve elogio das pessoas, cujos corpos
D. Sebastião ia visitando. £m quanto falia, D. Magdalena de Vilhena, mulher
de D. João de Portugal conserva-se extasiada para o orador, a ponto de se tor-
nar reparada. D. Magdalena casara violentada, e nutrira sempre uma grande
paixão por Luiz de Sousa, e este é o motivo porque n'uma entrevista nocturna
com este, insta e alcança a promessa de não ir para Africa, pois lhe tinha ob-
tido do rei o emprego de governador do castello de Belém. Tendo encontrado,
porém, na retirada o marquez de Kleist, que também estava apaixonado de
Magdalena, e que cheio de ciúmes andava espreitando Luiz de Sousa, chega
à falia com este, provoca-o, e ha um desaOo entre ambos -flcando o marquez
gravemente ferido. Achando-se Luiz de Sousa comprommettido acompanha o
rei para Africa, fica captivo, e consegue d'alli fugir por intervenção d' uma es-
crava moura, que D. Magdalena alli mandara expressamente. Casam, e passa-
dos poucos dias encontram na egreja de Belém um peregrino, que lhes dá no-
ticia de que D. João de Portugal ainda é vivo. Cheios de escrúpulos separam-
86, e cada um vae professar em conventos da ordem de S. Domingos.
«Quem não viu a embocadura do Tejo com suas bellas collinas cobertas de
palácios e de mosteiros, suas larangeiras cobertas de flor, seus limoeiros, que
se miram no Tejo, nada tem visto. Os portuguezes possuem um velho provér-
bio, que o diz, e repetem com mais justa rasão talvez de que os enfatuados
habitantes de Sevilha. No século xvi Lisboa era a maravilha do universo; era
a maior cidade da christandade. No tempo de D. João III era já como Roma a
cidade dos sete montes, a cidade guerreira, e de immensos conventos. De Be-
lém ate S. Bento de Enxobregas tinha perto de seis milhas: Paris não cpntava
316 Dl
então outras tantas. Era maravilhoso o contemplar esta cidade de soldados e
de padres, formando om semicircolo de palácios.»
YUI. Scènes de la Naiure sous les Tropiques et de leur influence sur lapoe-
sie; núvies de Camoens et José índio; par — A. Paris, Ghez Louis Janet, 8.* lY.
514 pag. 6 uma estampa representando os últimos momentos de Camões no
liospital. O José índio ó um romance, no qaal Ferdinand Dinis conta a vida de
Gamões. Termina este livro com a belia ode de Raynouard em honra do nosso
poeta.
IX. Hippolite Taunay et Ferdinand Dinis. — Le Brésil ou mceurs et couiu-
mes des habiiants de ce royaume. Paris, 1822, 6 vol. iQ-12.<»
X. Analyse das viagens de A. Sainte Hilaire ao Brasil, Na Revue des deux
Mondes, vol. l.<*, pag. 405 e seg. (Ânno 1831).
XI. Atlas de la Utlerature Portugaise. Paris^ 1831.
Xn. Voyage dons le Nofd du Brésil fait durant les années 1613 f^ 1614
par le P. Ives d'Evreux, Publié d*api'és VexemplcUre unique conserve à la Bi'
blUaheque imperiale de Paris avec une introduction et des notes. Paris, 1864,
456 pag.
XII. Tableaux Chronologiques de Utterature Portugaise dans les Atlas des
lUteratures de mr. Janny de Moncey,
«Consta-nos que ha dias mr F. Denís enviara a S. M. F. um exemplar da
sua obra — Chroniques Chevaleresques.
cE' este livro, como quasi todos os que saem da inexgotavei e deliciosa
penna de seu auctor, uma brilhante manifestação de quanto elle conhece, e de
quanto por isso mesmo, ama o nosso Portugal. Quem não leu uma e muitas
vezes a sua Novella histórica de Camões, e José índio, o seu Resumo da HistO'
ria Litteraria de Portugal, a sua iraducção da Flor do Theatro Porluguez e
o seu Prefacio a uma nova traducção dos Lusíadas? Quem ao reler todos os
seus outros escríptos, mormente as Scenas da Natureza sob os Trópicos, não
julgou estar ouvindo o mais zeloso, o mais ardente portuguez? E que se em
linguagem franceza se exprimia, era só pela anciã de tomar mais geralmente
eomprehendidos por esse mundo os nossos louvores E qual será o portuguez
deveras, a quem, n'esta época de nosso quasi universal desamparo não faça
muita força este amor d'um estrangeiro illustre, que nada nos deve, e só nos
conhece pelos retratos, que de nós lhe hão dado os livros? Por nós confessamos
que ao pronunciarmos ou ouvirmos pronunciar seu nomo, dois aíTectos se nos
levantam sempre na alma, ambos justos, ambos nobres, ambos vehementes, o
primeiro a altíveza de havermos nascido na riquíssima pobreza d'este ninho: o
segundo respeito e gratidão para com o talento peregrino, que tão gratuita e
generosamente dispende o seu cabedal poético em coroas e incensos, com que
atavie o nosso tumulo, com que divinise as nossas até já quasi por nós mes-
mos, tão apesinhadissimas relíquias.» Á. F. de Castilho, Revista Universal Us-
honense, vol. 1.% pag. 544. *
* Veja-se o mesmo cscriptor no 2.» ?ol.
DR 317
354) DISCOURS DE LA PAIX OONTRE (iic) PORTUQÂIS.-
i5pag.
355) DISCX>UHS£ OF THAT WHIOH HAPPENED IN BATTLE
fougtU between the two navies of Spaine and Portugal cUthe Islands ofAzores,
anno 1582 by D. Álvaro Bazan, of Santa Cruz. Loadon, iS.« 1582. (Discurso
do que aconteceu na batalha pelejada entre as doas frotas de Hespanha e Por-
tugal nas ilhas dos Açores, etc.)
356) DISSERTATIO DE TRIBUS IN LUSITANOS JESUS Sócios
publicis juditiis. Norimbergae, 1792.
357) DIX (JOHN A)
E. — A Winter in Madeira and a Summer in Spam and Florence. (Um in-
verno na Madeira e um verão em etc.)
358) DOMINIQUE (PIEKRE FRANÇOIS BIANCOLLEU).
E.—VAgnes de Chaillot, parodie de Vlnes de Castro de Lamoí^f, Paris, 1723.
359) DONIZETTI (GAETAN) — Celebre compositor italiano.
Nasceu em Bergamo no anno de 1798, e ahi fallecen em 1840. ^
E. — D. SebastianOf re di Portugallo. Opera. Paris, 1843.
Diz-se que o trabalho assidno a que se entregou pelo espaço de dois me-
xes na composição d*esta opera fora uma das causas da sua morte.
360) DOUVILLE (JEAN BAPTISTE).
E. — Voyage au Congo et dans V Afrique Equinoxiale. Paris, 1832. 4 vol.
Esta obra foi considerada como um acervo de falsidades, e o auctor vlu-se
obrigado a escrever um livro em sua justificação.
361) DRIVER (JOHN).
Letters from Madeira in 1834, with en appendix illustrative of the history
of the Islandy climate, wines, and other informatum up to the yar 1838. By.
London, 1838.
362) DROUET (HENRI).— Naturalista francez.
Nasceu em Troyes, em novembro do anno de 1829. Em 1857 eíTeituou na
companhia de Ârthur Morelet, de Dijon, uma viagem scieotifica em Portugal
6 nos Açores. *
E.— I. Rapport à S. If. le roi de Portugal sur un voyage d^exptoraUon
scientifique aux Açores. Paris, 1858, 4.^', 2.* edição.
11.— Mollusques marins des lies Açores, 1859, 4.*
1 homWei.—Diclionnaire Unitersel d'histoire et ytfograpAíe.^Supplemento, ptg. 40.
2 Yapereau — Dictionnaire des Contemporains, pag. 592.
318 DU
III.— Cleopteres Açoreens, 1859, 4.*
IV.—Elérnents de la Faune Açoreense, 1860, 4.«
V. ■— Lettres Açoreenes. Poitiers, 1862.
VI. — CatcUoçue de la Flore des iles Açores, procede de VUmeraire d^tme
voyage dans cet archipel. Paris, 1866.
Foi este trabalho publicado primeiramente nas Memorias de la Sodeté Aca*
demique de VAube.
363) DUBEUX (LOUIS).
Nascea em Lisboa, de pães francezes, em 2 de setembro de 1778, e falle-
cea em Paris a 4 de outubro de 1863. Seu pae era armador de navios. A sua
primeira educação foi inteiramente portugueza, e então é que elie se inidoa
no estudo da lingua hebraica.
Tendo 20 annos, a familía passou a residir em Paris. Continuou alli os es-
tudos orientaes, que, no tempo de Luiz Philippe, lhe deram posse da cadeira
de turco na escola de linguas vivas, e em 1858 asuccessão provisória de Qua-
tremère na cadeira da mesma lingua no CoUegio de França. Seus trabalhos,
dos quaes grande parte foi publicada no Nouvean Journal Asialique perten-
cem á litteratura da Ásia; ligam-se à historia e á geographia pela traduc^
da Chronica de Tabari, emprehendída por conta da sociedade das traducções
de Londres, cuja 1.* parte apenas saiu a lume (Londres, 1836, em 4.'') e por
2 volumes escriptos para o UrUvers Pittoresque da livraria Didot, a Pérsia
1840; e o Afghanistan (em collaboração com Valmont), 1848. ^
Annotou a traducção que dos Lusíadas fez J. B. J. Millié, e estampou em Pa-
ris no anno de 1862, de que foi editor Charpentier.
364) DUBLIN (THE) Univei^sity Magasine.
Em o n.*» 156 (vol. 26.°), 1845, traz uma curiosa viagem feita em Portugal.
tTanto se tem dito a respeito de viajar no interior de Portugal e Hespanhá,
que poucas pessoas teem desejos de emprehenderem tão aventurosas jornada s
porém um conhecimento mais bem fundado da condição social da Peninsula
prhicipalmente de Portugal, dentro em pouco dissipará taes receios, ou pelo
menos mostrará que são excessivamente exagerados.
tQuaesquer que tenham sido os perigos de viajar em Portugal outr^ora,
elles actualmente não são para temer, e não devem assustar o mais timido.»
Noa Carvalhos teve o viajante occasiào para notar o conforto dos portugue-
zes comparado com a miséria dos homens do campo irlandezes.
Passou por Alcobaça e viu que a descripção Ja cosinha do mosteiro, feita
por Beckford, não ó exagerada.
Nada mais podia fazer que admirar o bello mosteiro da Batalha, cujas bel-
lesas archítectonicas eram o seu menor encanto, pois considerava aquelle mo-
numento como pertencente a um periodo dos mais gloriosos da historia por-
tugueza. Lastima os estragos feitos pelos francezes, e diz que as atrocidades
' Yivicn (ic Sainl Marlin.— Anncc íiCovra/^/iJí/ue, 2 aiméc, pag. i;]l.
DU 319
de Massena, Loison e Kellennaon estavam poaco em harmonia com o proce-
dimento dos oflSciaes francezes, pois mna tal maneira de guerrear só era pró-
pria de turcos e selvagens. ^^
«Na universidade de Coimbra, quando um estrangeiro entra na casa da au-
la, é recebido com a usual polidez portugueza; o professor pára, comprimen-
ta, e os estudantes levantam-se. Ha também nos portuguezes um outro carac-
terístico não menos amável. Estão alli muitos mancebos de Goa, Brasil e co-
lónias portuguezas, cuja côr os excluiria das aulas, entre os democratas dos
Estados-Unidos, amantes da egualdade, mas em Coimbra prevalece o senti-
mento mais christão; nenhuma pessoa é despresada por causa da côr da pelle,
ou pelo crespo do cabello. É agradável fallar da boa ordem e respeito que
reina durante a lição.
«A faculdade de direito é considerada como a mais importante por causa
de seu grande numero de estudantes. Nas disciplinas ensinadas inclue*se câ-
nones, direito romano, legislação portugueza, economia politica, medicina le-
gal etc, de maneira que, se os diversos ramos da jurisprudência fossem bem
ensinados, os lettrados portuguezes deveriam ser os mais instruídos dos juris-
consultos europeus.
«Esta universidade está muito superior a qualquer universidade hespa-
nhola. Mr. Kinsey, que visitou em 1826 o museu de Coimbra, queixa-se da im-
perfeição da collecção geológica, especialmente dos ossos fosseis. Porém n*a-
quelle mesmo período é que o estudo estava principiando atomar-se popular,
e talvez, exceptuando Londres e Paris, em nenhuma outra parte se poderiam
encontrar collecções geológicas importantes.»
365) DUBLIN (THE) UniversUy Magazine, n.» 160— February, 1847.—
Historia de Portugal do sr. A. Herculano.^
«A historia de Portugal, se inferior em lustre à de Hespanha, é comtudo
somente a segunda no que toca á importância; e com quanto menos poética,
offerece maior matéria de interesse ao philosopho que pensar n*ella. Portugal,
mais que nenhuma outra nação da Europa, nos espanta pela energia do seu
povo, e pelo contraste entre a pequenez e fraquesa de seus meios, e a grande»
sa dos resultados e feitos que obrou. Os descobrimentos marítimos do illustre
infante D. Henríque formaram a escola que impelliu Colombo e Magalhães ás
empresas atrevidas, que executaram em serviço de Hespanha: sendo que Por-
tugal, por consequência, tem parte indirectamente na gloría do descobrimento
do novo mundo, bem como lhe compete a honra indisputável de haver desco-
berto o caminho da índia, abrindo assim á navegação e commercio da Europa
as mais ricas regiões do Oriente. Por virtude d'aquella sua maravilhosa ener-
gia achamos que em pouco menos de um século os portuguezes estabelece-
ram o seu dominioiio longo das costas de Africa, desde Ceuta até ás costas
do mar Vermelho. Na Ásia estenderam suas conquistas desde o Golfo Pérsico-
até aos varíos empórios da índia e Ceilão, e d'ahi até Malaca e Cantão e ilhas-
< Revista Universal Lúòonenfe, ?ol. 7.*, pag. 173.
3» DU
de Ifalaco no mais remoto Oriente. Dorante este glorioso periodo, seas nave-
gantes visitaram o Japão, descobriram as ilhas de Loo-Choo, eJiJoriram o ca-
minho para Austrália e archipelago de Tal)|ti. N^aqaella época de energia e
frenesi de empresas e navegações não se deram comtudo por satisfeitos os
portaguezes com o senhorio do Oriente, e preciosidades da Ásia. Fundaram o
império do Brasil, e sem embargo da opposição de França e obstinados esfor-
ços em contrario dos hoUandezes, conseguiram dominar nas mais extensas e
férteis regiões da America do Sul. O portuguez patriota, que lamenta a deca-
dência da sua pátria, pôde ainda ao menos consolar-se com a idéa de que a
lingua de Camões, logo depois da de Milton, haja de ser a mais extensamente
fallada no continente americano. Era pois com vangloria desculpável que os
antigos historiadores portugueses costumavam dividir as suas obras pelas qua-
tro partes do mundo.
«Além da grande energia que os portuguezes desenvolveram no secolo XVI
cujas vastas consequências deram em resultado tomarem-seos annaesâènm pe-
quenino reino um importante capitulo da historia do mundos progresso da ci vi-
lisação, ha também n'isto uma!especie de interesâe domestico para os inglezes.
«E com efTeito, não só é Portugal o nosso mais antigo e mais seguro al-
liado, mas desde a fundação da sua monarchía, amigáveis relações teem sub-
sistido entre os dois reinos. Na edade media os cruzados dos Paízes Baixos e
da Inglaterra ajudaram, mais de uma vez, os portuguezes nas suas guerras
com os mouros, tendo sido com similhante auxilio conquistada Lisboa aos
serracenos. O primeiro bispo de Lisboa era inglez, e alguns séculos mais tar-
de a batalha de Aljubarrota, que estabeleceu a independência do reino, (oi
ganha aos hespanhoes e francezes pelas forças alliadas de Inglaterra e Portu-
gal. O casamento de D.João I de Portugal com D. Filippa, Olha do nosso João
de Gaunt, cimentou a amisado dos dois paizes. Quando depois de sessenta an-
nos de oppressão hespanhola, Portugal em 1640 recobrou a sua independência,
os inglezes, seus alliados, segunda vez o ajudaram n'aquelle empenho, e fize-
ram bom serviço nas batalhas do Ameixial e Montes Claros. Foi desde aquella
época que se estabeleceu intima alliança entre Portugal e Inglaterra. Carlos II
casou com uma princesa de Portugal, e o celebre duque de Schomberg com-
mandou os inglezes auxiliares, a cujos esforços se attribue principalmente a
derrota dos hespanhoes.
«Não obstante o interesse da historia de Portugal, suas antigas relações
com a Inglaterra, o facto de sermos nós seus successores no império do Oriente,
e mais que tudo o ser eila um campo novo e inexhausto, ó notável que tenha
sido Ião completamente despresada pelos escriplores inglezes. A excepção de
Soulhey * ninguém mais ousou entrar no campo da historia de Portugal, e
Mickle e Adamson são os únicos escriplores do algum tomo na quasi ainda
não explorada mina da litteratura portugueza. A despeito d*e$ta incúria ha
bellissimos themas de reserva para os estudiosos que se derem a historiar as
coisas de Portugal. A historia do engrandecimento e decadência do império
* Este nosso trabalho prova exactamente o contrario.
DU 321
portnguez no Oriente não pôde deixar de interessar o leitor inglez, e a vida
do infante D/Henriqae, o pae da navegação moderna, é apenas a segunda em
pontos de interesse depois da de Colombo, cujo foi precursor. N'estes interes-
santes tópicos e matérias, a litteratura do continente é menos estéril do que a
nossa, e difTerentes locubrações teem apparecido com o flm de dar uma histo-
ria a Portugal, ou de illustrar o seu estado presente. A historia de Portugal
em allemào, por Schaefifer, nào a vimos; mas emquanto às obras francezas
de Balbi e Ferdinand Denis, merecem que d*ellas demos uma breve noticia.
À obra de Balbi é dedicada quasi exclusivamente á estatística de Portugal, e
pôde dizer-se que é uma obra indispensável a quem desejar ter conhecimento
do estado d*este reino, anterior a 1834.
«A historia de Portugal por Mr. Denis é uma das da serie de obras histo-
cas, que vem na coUecçao chamada O Universo. O anctor mostra conhecer
muito a fundo a linguagem e litteratura d*este paiz, easua situação comobi-
bliothecario tem-lhe dado a vantagem de consultar muitas obras novas e até
inanuscríptos. A Mr. Denis falta-lhe todavia inteiramente o talento da historia,
é o melhor, que podemos dizer da sua obra, é que ella é uma espécie de sele-
cta de escolar, ou livro de legares communs, contendo mui raras e curiosas
informações. Mas, completamente ignorante dos mais simples elementos de eco-
nomia politica ou philosophia da historia, não achamos n'elle nenhumas d'a-
quellas discussões philqsophicas, a que o commercio portuguez da Ásia ou a
colonisaçao do Brasil em tanta copia dão margem a quem tiver a mínima apti-
dão para estudos especulativos. Se a nossa censura podesse parar aqui, dese=
járamos nSo ter dado noticia da obra; porém F. Denis é cúmplice em com-
mum com muitos de seus compatriotas de faltas mais graves— e não sô de
defeitos intellectuaes, senão ^também de culpas de vontade. A anti-anglo^marda
de que tanto são iscados os francezes pôde ordinariamente ser objecto de
compaixão ou despreso; mas quando levada até para o campo da historia da
Europa na edade media, ou adulterando os factos, ou sem ter conta com el-
les, e isto por parte de um escriptor, que aliás conhece a fundo a verda-
de, rasão é para que o publico se acautele de dar o mais pequeno credito á
sua obra. Antes porém de apresentar prova alguma de exacção das nossas ob-
servações, não deixaremos passar por alto outra falta, que é commum a am-
bos, Mr. Denis e Mr. Balbi, a que immediatamente alludiremos.— Falíamos do
espirito com que ambas as obras são escriptas: cada uma ó ahí pintada e co-
lorida, como se existisse em Portugal o systema do optimismo, e como se não
houvesse um meio termo entre um louvar exagerado e um censurar desme-
dido. Se este modo de escrever procede de brandura e timidez de caracter,
pôde-se porventura admittir desculpa da nossa parte, mas combinado com ob-
servações malignas e narrativas falsas a respeito da legislação^ não faz senão
redobrar o nosso desgosto.
«Apontaremos agora alguns exemplos do modo como escreve a historia.
Em 1147 Lisboa foi reconquistada com a ajuda de um corpo de cruzados, que
visitaram os portos de Portugal na sua jornada para a Palestina. Mr. Denis
cunta-nos como ainda subsistem algups costumes origínadoíi d'aquella época,
TOMO 1 21
322 DU
que atlestam a influencia franceza n'aquelle remoto período. Ora tal coisa não
attcstam, nem podem attestar, porque o exercito dos cruzados vinha do norte
da Allemauba, Flandres e Inglaterra. Diz que recordará o nome dos porta-
guczes que se distinguiram no cerco, e omitte os homens que estabeleceram a
influencia franceza : mas ellcs ainda se conservam nos antigos archivos, e tem
um sabor maravilhoso ao hollandez e ao inglez. No fim do século xiv a famí-
lia real portugueza se extinguiu, seguindo-se um longo período de discórdia
similhante ao que houve enire a Inglaterra e a Escócia durante o reinado de
Duarte I. A desavença portugueza, bem como a escoceza, findou por uma vi-
ctoria decisiva. Durante a contenda os portuguezes foram ajudados por expe-
dições de Inglaterra : uma d'estas é descripta o mais miúda e prolixamente
possível, 6 as crueldades do exercito capitaneado pelo duque de Cambridge,
pintadas com cores bastante negras. Poucos annos depois deu-se a celebre ba-
talha de Aljubarrota. Os invasores hcspanhoes foram ajudados por um pode-
roso corpo de auxiliares do França, e do oulro lado um pequeno exercito in-
glez dava soccorro aos portuguezes. Durante este combate os inglezes derro-
taram os francezes^ e depois juntando-se aos portuguezes, os ajudaram a ven-
cer os hespanhoes. Tudo isto, com quanto se ache na obra de Froissart, é omi-
tido pelo nosso historiador, cujos leitores ficarão ignorando inteiramente esta
clrcumstancia essencial do combate. Federamos, se preciso fosse, alargar-nos
sobre este objecto, a que meramente alludimos como prova de quo pontos e
questões, que todos os homens de tino reputam meras curiosidades históri-
cas, podem ser torcidas por aquelles cujos fervidos sentimentos levam o fana-
tismo áiijQvcn França ale ás rccordaçòes dos tempos feadaes.»
«Passando agoni a considerar a valiosa obra do sr. Herculano, achamos nas
suas pagi:ias proíando saber unido á maior candura, uma liberdade de lin-
guagiMii, e não sujeição a preeoneoilos nacionaes, que o elevam á categoria
dos mais eminentes historiadores modernos. Quando reílectimos que é somente
ha poucos aimos que existo em Portugal alguma coisa que se assimilhe á li-
berdade do faliar, ou do escrever, o apparecimento de uma obra tal como a
do sr. Herculano, é uma prova da aptidão dos seus compatriotas para tomar
parle uo ijrogresso litlerario c scientiíico da moderna Europa, e que, não obs-
tante a tarefa e êxito até hoje infeliz das suas instituições liberaes, o são juiso
e as opiriiues illustradas vão fazendo progressos. Nas honestas paginas do sr.
Herculano não ha ver adulação servil ás preoccupações nacionaes; as fabulas
(honradas pelo tempo) dos annacs portuguezes, acham-se expostas com seve-
ríssima critica, o removidas da historia auihentica para a epopea de Camões,
onde tem graça e logar próprio. Os que sabem quanto é intensa a nacionali-
dade dos portuguezes, e com que tenacidade adhcrem a lendas tão absurdas
como as Cx Heitor Boecio, ou GeoíTrey de Monmouth, melhor poderão apreciar
a coragem com que o historiador dissipa ou faz esvaecer a illusão dos contos
de fadas da antiga Lusitânia. Ha outra, e não menos importante espécie de
mérito, que pertence ao sr. Herculano, é o haver elle estudado a fundo o seu
assumpto, o ter intimo, e podemos até dizer familiar conhecimento com a histo-
ria portugueza, durante o periodo feudal no meio de um vasto cahos de sue-
DU 383
cessos, composto de dissensões intestinas e conspirações, desavenças com Cas-
tella por via de independência nacional, e incessantes guerras de aj?gres$ào
contra vários régulos e dynaslias mouriscas. A narrativa é ciara, límpida e
corrente, e nós vemol os e sentimol-os, como se o auctor fosse contemporâ-
neo, os acontecimentos que relata. Mas nào pára aqui o elogio devido ao his-
toriador, elle aponta a um alvo de maior utilidade, e o systema social do sca
paiz, no decurso da edade media occupa sua altenção principalmente, mostra
bem que conhece a natureza da instituição municipal, a influencia do clero e
as relações em que a aristocracia se achava com a realeza e com o povo; n'u-
ma palavra, não é a historia dos reis de Portugal, que elie descreve, mas sim
a dos progressos da naçào portugueza. Talvez seja a historia de Escócia, de
Tytler, aquella com que a obra do sr. Herculano tenha mais pontos de simi-
Ihança, tanto pelo que respeita ao plano e extensa escala em que sào conce-
bidos, como pelo que pertence ao numero de investigações oríginaes a que em
ambas se procede. Ha todavia uma diíTerença e individualidade de caraeteres
e gostos que distingue os dois historiadores. Herculano é inferior a Tytier nas
descripções, e mostra gostar bem pouco do estylo de Froissart no tocante a
historiar por miúdo os brilhantes feitos d'armas; mas por outro lado é mais
profundo antiquário, e tem mais philosophia politica, a structura da sociedade
e as renootas causas dos eventos e successos sào para elle assumptos caseiros,
com que, por assim dizer, está em tracto familiar. Criticar o estylo d'um es-
criptor portuguez será porventura em nós presumpçào arriscada ; todavia en-
tendemos que, com quanto simples e claro, parece ás vezes falto de animação,
o que certamente ó devido a entrar em mais miudesas do que parece fora mis-
ter : ou por outra, a que parte da matéria introduzida no texto poderia talvez
com vantagem da narrativa ser transferida para as notas.
«Como nós reputamos o sr. Herculano inquestionavelmente o primeiro dos
historiadores portuguezes, não esquecendo nunca do que é inferior a Barros
em energia e eloquência, e até talvez lhe não seja superior em profundidade
de saber, seremos brevíssimos nas nossas observações a respeito dos escrip-
tores antecedentes. Durante o período que abrangtf a edade media em Portu-
gal abundou em monges, hagiologos e chrouistas que recordavam muitos ex-
cessos contemporâneos, e por vezes deixaram brilhantes pinturas do caracter
dos personagens, ou do estado social da época. No curto período em que as
lettras floresceram em Portugal, mais extensas historias se escreveram, que
podem dividír-se em duas classes, umas compostas segundo o ipodelo dos
clássicos, e outras que bem podem chamar-se uma ramihcaç^o, e as mais das
vezes corrupção das cbromcas antigas.
«Ora na ultima sorte de compiladores, a maior parte ecciesiasticos, po-
demos mencionar Brito, com quanto não seja o mais respeitável, pois que apre-
senta da maneira mais frisanle os defeitos e absurdos dos da sua classe. Á si-
milhança de Heitor Boecio e do nosso GeoíTrey Keating, principia pela crea-
ção do mundo. Entretanto os annaes do reino acham-se escriptos por Fa-
ria,.Sousa e Brandão, homens que, supposto bastante crédulos, eram com tudo
mui superiores a fr. Bernardo de Brito.
314 DU
c Ao tempo em que eetei escreverami ÈWt^n ahi oatra dasse de histtNrií-
dores» homem» de eiuraeter enérgico, qoe batendo recebido em Coimlffi edoe»-
çio ciassiea, entnram pan a vida publica» Já no mister da milida, Já no
da magislratora. Estes eseriptores» homens experimentados, e de Joiso solido,
por terem servido nas armadas e estabelecimentos portogaezes da Africa a
dá índia, tinham, alóm do qoe i4)renderam e estudaram, qnanto á theoria,
um conhecimento intimo das coisas e dos logares. No nmnero d'e8tes aneto-
res podemos nós incloir JoSo de Barros, o mais eloquente dos historiadores
portngnezesy e qne servia em Africa; Castanheda, que visitou a índia com o
fim de habilitar-se para o miatw de historiador, etc etc
•A decadência de Portugal foi mais rápida que a de Hespanha. No anno
de 1588 a sua dynastia real extinguiu-se, e dle definhou por sessenta annos
debaixo do mau governo hespanhoL A litteratura também Jaxeu em abati*
mento, e todos os estabelecimentos de educação no reino ficaram prostrados
debaixo do govâmo e influencia dos Jesuítas. A universidade de Coimbra vio»
se redmida a um estado de degradação que mal pôde imaginar*se; e uma
das acQ9es melhores e mais louváveis do marquez de Pombal foi a reforaUt
que lhe fet, e o transferir para mãos mais dignas o cuidado da educaçiOi
Quanto, porém, de independência intellectnal poude escapar aos Jesuítas de
Coimbra, foi effectivamente encadeado e reduzido ao silencio pela tnqulst^:
de modo que de então até aos nossos dias difflcultosamente houve homem de
lettras, que mais ou menos não sofljresse por via de tão detestável instituto.
Em taes circumstanclas mal poderia florecer o estudo da historia; e afaida
que Portugal reconquistou a independência politica sob a dynastia deBragan-
ça, não aconteceu o mesmo com a inteliectual, que continuou a jazer em le-
thargo.
«Durante os últimos doze annos e que alguma coisa parecida com o livre
exercido do entendimento ha revivido em Portugal. Apraz-nos reconhecer que
desde o indicado periodo as lucubraçõe^ históricas tem excitado progressiva*
mente a attenção, contribuindo muito para isso, e do modo mais efflcaz, tanto
os esforços particulares, como o patriotismo do governo. O visconde de San-
tarém com auxilio do governo tem feito publicações de grande monta. Publi-
cou a Chronica de Azurara, a mais antiga e mais authentica relação das ex-
pedições marítimas, que o infante D. Henrique despachou, enviando-as a ex-
plorar a costa d'Arrica. O visconde publicou também uma explendida e inapre-
ciável obra original sobre os descobrimentos portuguezes na Africa, em que
se vindicam as antigas glorias do paiz, e se prova que ainda ha n'elie talentos
actualmente capazes de o defender. Este infatigável fidalgo emprehendeu ul-
timamente, também sob os auspícios do governo, publicar uma volumosa e
inapreciável compilação com o titulo de Quadro elementar, etc, collecção de
vários tratados entre Portugal e as outras nações. A valia de uma tal collec-
ção ó evidente, e a forma, porque ó publicada, merece também grande louvor.
O governo inglez publicaria uma obra d*esta natureza no formato de explen-
dido o custoso in-folio só próprio de livrarias publicas c collccções particula-
res dos que raramente as consultam. As coUecçòos porluguczas porem são fei-
DU 325
tas no modesto formato de oitavo, c por consequência ao alcance, em rasúo
do módico preço, dos estudiosos mais pobres. Com o mesmo espirito liberal e
judicioso o governo portugucz tem auxiliado a publicação de uma serie de
opúsculos intitulados Ensaios sobre a Estatística das possessões porttiguezas
no Ultramar. É na verdade lisonjeiro e agradável mencionar empresas taes
como estas.»
366) DUBOIS (ABBÊ) Emigrado francez, empregado no ministério
da guerra.
E.—Grammaire Portuguaise, Paris.— A primeira edição foi impressa em
Âgen, mas d'ella ainda não encontrei nenhum exemplar.
367) DUBOIS (PIERRE).
Escreveu no jornal francez— La Pa/n>— n.» 25, de abril de l852 um ex-
tenso artigo acerca áo— Ensaio sobre a Historia da Cosmographia e da Car-
tograpkia durante a edade media— -pelo nosso visconde de Santarém.
«O sabío auctor do Ensaio sobre a Cosmographia e Cartographia tomou
sobre si uma tarefa das mais árduas; porém superou mui felizmente todas as
dífQculdades, e nisso deu prova nâo somente da sua erudição, mas também da
sua profunda sollicitude por uma sciencia, que no dizer de Strabão é das mais
dignas das meditações do philosopbo.
« Julgar-se-ha da vastidão dos trabalhos do visconde de Santarém, sabendo-so
que este sábio membro do Instituto, antes de poder traçar o plano da sua obra,
devia ter conhecimento dos livros d*uma multidão de auctores, verdadeira-
mente prodigiosa, que desde Moysés até à nossa época escreveram sobre a geo-
graphia, a cosmographia, e cartographia. CoUigiu todas as cartas que reputou
necessárias para a sua historia; fel-as gravar e cobrir com extremo cuidado,
e formou d'ellas um atlas de inapreciável importância. N^esse atlas, o auxilia-
do pelo texto que o acompanha, poderá o leitor perceber todas as transforma-
ções geológicas, que successivamente soiTreram as differentes regiões do glo-
bo desde os tempos mais remotos até nossos dias. Yer-se-ha até que época as
cidades e localidades se conservaram nas cartas em logares que lhes não per-
tenciam; e também a época posterior em que essas cidade^ e localidades, em
virtude de viagens, de observações astronómicas etc. foram coUocadas exacta-
mente nos mappas modernos.
«Finalmente, c é este um ponto bem importante para a historia o geogra-
phia, consultando o livro e o atlas do visconde de Santarém, poderá marcar-se
com certeza as cidades, que desappareceram da superGcie do globo, cedendo
o campo a cidades novas, conhecer- so-hão as vicissitudes, que padeceram no
correr dos séculos outras cidades grandes e florescentes n*outras eras, e que
não se encontram já nos mappas modernos, ou estão convertidas em aldeias
sem consideração; também as causas humanas ou physicas, que anniquilaram
certas povoações marítimas out'rora commerciantes e ricas; e a rasão, porque
outras sendo na edade media portos de mar insignificantes, progressivamente
se engrandeceram, e se fizeram cidades marítimas de primeira ordem.
m . ^ DU
. «PorUBto\>vi8coiiâedeSaiitarempi^Umiun8erf^«toii^^
pbli; e o sen ensaio histórico durará eonlo uma da$ naia «Boottealea
/Bciaiitificas da época. Nlo se rcprodozirio aa cartas do sg» a^il» ii>iit wfi
airiudo o preço da gravara; mas de certo as pnmorosa8*paj^8ai;iVMt«iar0iOK
aerSo reproduzidas frequentem^te. Os fataros geograpiíos tomáiio dMo !(•
tro mai interessantes docamentos. Os commentadores proconnrao lalrci ima-
lidar algomas asserções do auctor; seiio porem baldados os estereia semeabr-
,'90É.& visconde com a sua elevada e severa imp»tialidade,«daraadeo.cabQa
qae reinava na cartographia da edade media, só boscoa a verdado^dim i
noom independência. Além d'isto pelas citações dos geograpbos, 4oa iUtoo-
phos» dos historiadores» dos poetas que escreveram sobre geograpiíia» f«pii|ir
sindo o texto é qae demonstrou os erros d'elles e provou sua iguorancbu
•O visconde ainda nao publicou senão os dois primetas votumea
obra» que deve constar de quatro. Aeildiremos adiur conta doa doia fOilSd-
iam» logo que estejam publicados, porquo desde Já estamoe certos dn ante
n'elles íáctos interessantíssimos relativos á historia e 4 edencin geogralMca»»
368} DUOKETT (Da. RicBARn.)— Missionário irlandos^ realdanin no aa-
sninario inglês de S. Pedro e S. Paulo em Lisboa.
Prega frequentemente na capital em nossa lingoa» e com fidKdade^ e|i'ail5
mesmo idioma compôs e mandou imprimir um SermSo itíbtn o MyilMio da
iGcooeiçlo.
369) DUFOND (JOÃO ROBERTO).— Italiano.
E. — I il Maquina Aerostattca: Poema épico dedicado a si mesmo. Lisboa.
Officina de Lino da Silva Godinho, 1787, S/* 52 pag.
II O Novo Phebo em Lysta. Lisboa. Na Offlcina de António Rodrigues Ga-
lhardo, 1788, 4.0 13 pag.
III D. Elvira ou a noiva de st mesma. Comedia extrahida das historias de
Aragão, e adaptada ao theatro nacionai. Lisboa, 1800.
IV Os voluntários do Tejo: composição dramática composta em as duas
línguas, portugueza e italiana. Lisboa. Offlcina de Simão Tbadeu Ferreira» 1783
8.* 71 pag.
370) DUJARDAY (M."« H.)
E. — Resume des voyages, découvertes et conquétes des Portugais en Âfri-
quêf et en Asie aux XF"* et XF/"« siecles, par — Paris. H. Foumier Jeune,
1839, tom. 1.» 400 pag. 2.° 321, 8.»
37 i) DULAO (ANTÓNIO MAXIMIANO).— Era francci, e naturalisoo-
se portuguez em Í79J K
Falleceu em Lisboa a 5 de janeiro de 1819^.
* Diccionario Bibliographico, ibmo. l.«, pag. 20S.
2 Retista Universal Lisbonense^ vol . 9.», pag. 1S5.
e
DU 3Í7
£screvea varias obras em líogua portugueza, mas a segaínte é a mais no-
tável, e ao mesmo tempo muito vulgar.
Vozes dos le<ies Portuguezes, ou fiel ecco de suas acclamações á Religião,
a El-Rei e ás Cortes doestes reinos, Lisboa, 1820, 2 tomos.
372) DUMAND (JOSEPH.)
E. — Lettre historique et critique dam laquelle on prouve que Henri de
Portugal rCest pas de la maison de Bourgogne duche, mais de celle des con-
tes de Bourgogne, 1758.
373) DUMAS (ALEXANDRE).— Um dos mais celebres romancistas
francezes contemporâneos, e ha poucos annos fallecido.
E. — Martim de Freitas, romance.
Alexandre Dumas era também um grande admirador de Luiz de Gamões.
374) DUMAS (LOUIS CÉSAR).— Professeur de Langue Française à
Lisbonne.
E.— Vasco da Gama, Lisbonne. Imprim. Nationale, 1871, 8.*' 35 pag.
E' um poemeto em louvor do nosso famoso navegador.
375) DUMESNIL (M. M. VICTOR PIERROT ET ARMAND).
E. — Camoens. Drame en cinq actes et en prose par — represente pour
la premiére fois à Paris sur le théatre royal de rOdeon (Second theatre Fran*
cais) le 29 AvrU 18i5. Paris, Beek edileur, 1845.
376) DUMOURIEZ (CHARLES FRANÇOIS).— General Francez.
Nasceu em Gambrai no anno de 1739, e falleceu em Turville Pare no anno
de 18231.
E. — I État present du royaume de Portugal en Vannée 1766 A, Lausanne
Chez François Grasset, 1775, 2.* edição correcta e augmentada, Hamburgo,
1796, 4.'»
II Campagnes du marechal Schomberçf en Portugal, de 1662 á 1668, tra-
duites de rAllemand de /. F. Aug. Hagner, avec des notes importantes. Lon-
dres, 1807, 12.°
Este escríptor não se mostra nada aíTeiçoado aos portuguezes; mas uma das
passagens, que mais desafia a gargalhada, é a seguinte: Os portuguezes em to-
dos os tempos foram péssimos navegadores! ^
377) DUNBAR(Lady — OF NORTHEIELD.)
E. — A family tour round the coasts of Spain and Portugal during the
winter of 1860-1861. Edinburgh and London, William Blackwood, 1862, 8.«
E' obra insignificante; chama ao nosso Vasco da Gama— Fo^ca de Gamos.
* Firmin Didol — Nouvelle Biographie Universelle, vol. 15.», pag. 223.
' Elat présenl de Portugal^ pag. 60.
3J8 DU. ,
378} DUiraAM.
E.^The Histary of Spain and PortugaL Londoo.
379) DUNKSB (0.)
E. — Jfiiea? moUusconim 9111M m Umere ad Guineam mferiorem coUegii Q.
Tams, auctore. Cassei, 1883.
' «Em quanto á zooio£[ía dos Açores, niugoeiti ainda se o6capoad'eiIa aaio
81^ o dr. Tams, qoe toeoa aeeidentalmenie no Fayai em |8U, e o dr« AIbm#
(joe ao voltar da Madeira, dez annos mais tarde fez uma re^denela de três di^
em S. Migaell Estes dois naturalistas trooxeram de soa viagem nm peqoeoo
nnmero de moUoscos terrestres e marítimos, oe primeiros qoe lònpi reeolhi-
dos d*aqtieUas paragens 1. »
m) DUAB7X0NT. ',
Ú.^Fw3ifa vUlaco. Cetí à dire la Uberti áU Portugk. Auquel êemtmkt
kdroU ehen^ et prai$ moffeng de riiitíer à Velfart lin CàstíUoii, tno^fftlft
tfme de ses desseins, abaisser san orgueU et rvmer lapuissmuse.^ Tfoétíi^
lanffiie (kift^aiiiteen langue Françme par ^. iUi. 1
C* M* B* L P. , *
a
* %
* Mordei— Lcs Açores^ pag. 14.
E
38i) EBELING.
£' indubitável qne am escriptor d*e8te nome compoz ama obra a respeito
de Portugal, qae julgo ser uma cborographia do nosso paiz, mas como nunca
pude ver um exemplar d'ella, é o motivo, porque nâo me acho habilitado para
dizer mais alguma coisa a este respeito.
382) EEN SOHOON HARANGUE AEN DE KONINOKLIOHE
MAJESTEYT PORTUGAEL DOM ALPHONSO DEN VI. Op Dagh
van Krooninge geprononchieert, door den Peer António de Sousa Macedo, haet
in't Parlement van Lisbona, in den naem vande drie Slaten des Portugael,
Schen Rijchx. UlyVt Porrugees vertaelL In s'Graven, Hage. 1657, 4 foi. M. S.
383) ELIOT (WILUAM GRANVILLE). - Gaptain ín the royal regi-
ment of artillery.
E.— i4 ireatue on the defense of Portugal with a milUary map ofthe coun-
try; totchich is added a sketch of the manners and customs of the inhabitants,
and principal events of the campaigns under lord Wellington, By—, The second
edition^ with considerable additions, London. Prínted for T. Egerton, military li'
òrary. Whitheall, i8ii. 4.<*, 304 pag. Com alguns mappas, representando:
i.<* Novo mappa militar do reino de Portugal.— 2.<> Esboço do ataque con-
tra as posições francezas em Zambueira, nas alturas da Roliça.— 3.'* Esboço
da acção entre as forças britânicas e francezas no Vimeiro.— 4.<* Plano gerai
das marchas dos exércitos, antes e depois^ da batalha de Talavera, 1809.—
S.^" Plano da batalha do Bussaco a 27 de setembro de 1810.— 6.<* Vista dos ar-
rabaldes de Lisboa, com as Unhas de lord Wellington.
Esta obra trata principalmente dos obstáculos e defesa que Portugal podia
n'aquelle tempo apresentar contra uma invasão estrangeira : nota alguns er-
ros ao general Dumouriez no seu livro sobre o nosso paíz, e faz egualmente
os maiores elogios às tropas portuguezas :
«O exercito português, depois da chegada do marechal Beresford, avan-
330 BIM
çou rapidamente ^ a om estado de disciplina moitê além do que se poderia
esperar. Bem armado, pago e alimentado (o qae não acontecia anteriormen-
te) agora rivalisa na apparencia com as melhores tropas do continente; e se
en posso julgar por uma brigada que vi marchar para om campo de batalha
em setembro de 1809, não tardará qae em pontos de disciplina se coUoqao
em egnaldade com a maior parte d'ellas. £ estas mesmas tropas se mostra-
ram dignas de combater nas fileiras Juntamente com os soldados inglezes.
•Os camponeses de Portugal possuem doas das mais estimáveis qualida-
de exigidas para formarem nm bom soldado, sobriedade e obediência passiva
ás ordens de seus superiores ; e as oeoorrencias posteriores são saí&cieDies
para removerem todas as duvidas nos espirites dos mais incrédulos com res-
peito á bravura do soldado portuguez, quando convenientemente disciplinado.
Em prova disto basta* nos apenas referir a valente defesa da ponte de Alcân-
tara pelo primeiro batalhão da Leal Lusitana Legião, as proezas do segando
batalhão d'aquelle corpo em Carvalho d'Este, e a magnifica maneira como
lord Wellington em seus despachos menciona um regimento portugoei na to-
mada do Porto. Se precisássemos de mais alguma prova daenei^a do soldado
portuguez, quando disciplinado convenientemente, bastava-nos olhar para o
mappa da Península, > e ficaríamos absortos como um povo tão pequeno teve a
possibilidade de manter sua independência, estando completamente fechado
pela Hespanha ao norte e ao nascente.
•A que se deve então attríboir senão ao valor próprio do pais e ao pa-
triótico ardor de seus habitantes? Sem este ultimo nenhum paiz é forte, por
mais bem disciplinado que seja seu exercito. Rios, desfiladeiros, serras, ba*
luartes, todo isto para nada serve : defendidos porém por verdadeiros patrio-
tas tomam-se completamente inexpugnáveis.»
384) ELOI (JOSEPH).— Barão de Munch Bellingausen.
E. — Camões, tragedia. 1837.
385) ELWES (ALFRED).
E.— i4. Portugtiese Grammar in a simple andpracticcU form, wUh a Ccur-
se of Exercises. By •—. Louáoiiy 1874.
386) EMPOLI (GIOVANNI).
E.— Navigazione degli Indie sotto la autorita dei signori Affonso di ÂlbU'
qtierque. Vem na coliecção de Ramusío.
387) EMPRUNT ROYAL PE PORTUGAL. Réclamation des porteurs
« Pag. 110.
* fd. id. pag. 113. Paliando o nosso escriptor do Iheitro de S. Carlos, diz que é dirí-
gido por Marcos de Portugal, compositor da bella opera SemyramiSf bem conhecido na
Inglaterra, e cajos tolenlos sOo bem notórios e altamente apreoiados. Pag. 185.
ER 331
(rançais de cet emprunt. Mémorandum (iOjuillet i852). Pârís 1852. (Emprés-
timo real de Portugal, etc.)
388) ENQELMAN (W. H.).
E.— Glossário das palavras hespanfiolas e portuguezas derivadas do ara-
be. Leyde, i86i.
Não me foi possível encontrar esta obra, mas creio qae foi escripta em al-
lemão.
389) EPISODE DE LA. GUERRE D'AFFRA.NGHISSEMENT DE
PORTUGAL. 1830-1836. Paris, 1873, 4.° gr., 47 pag.
Achando-se na Bélgica, e em o Norte de França, am grande numero de
emigrados portuguezes fugidos à perseguição, que Ibes fazia* D. Miguel, M. 6.
Halo, habitante de Dunkerque oíTereceu-se em 1831 a transportar n*um na-
vio de 200 toneladas os emigrados portuguezes para o seu paiz, com o fim de
tratarem de desthronar D. Miguel. Porém D. Pedro preparando então sua ex-
pedição para Portugal, Maio forneceu mais outro navio; com outro seu irmão
tomou parte na expedição, poz-se ao serviço do governo portuguez, e foi de
grande proveito á causa liberal, prestando os maiores serviços durante o cerco
do Porto.
Em 16 de maio de 1834, pedindo uma indemnisação, lembrava o seguinte:
«Não se deve esquecer que tomámos parte nos perigos durante o espaço de
um annO) que dois dos nossos navios foram empregados no Porto activamente
pelo espaço de 9 mezes, tendo então duas tripulações inteiramente ao nosso
soldo, e que todas as despesas sem excepção foram pagas por nós : além de
que os navios foram retidos em Dunkerque por mais de seis mezes, esperan-
do todos os dias que nos dessem ordem de partida, o que o imperador bem
sabia, e até nos disse que estava informado de que havia dezoito mezes está-
vamos a seu serviço. . . »
Os dois irmãos estiveram igualmente servindo durante o tempo do cerco,
6 um d'elles até recebeu uma bala na garganta, da qual esteve à morte.
A recompensa porém que lhes deram faz lembrar a que teve o conde de
Farrobo : depois de os entreterem por muito tempo, nenhuma indemnisação
pagamento ou agradecimento tiveram do governo portuguez.
390) EROILLA (ALONZO DE).— Poeta hespanhol celebre.
Nasceu em Bermeu na Biscaia, e falleceu no anno de 1600. ^
E. — Primera, segunda y tercera partes de la Araucana^ Cadiz, 1626.
Ha varias outras edições.
N^este poema canta também seu auctor as glorias de Philippe II na con-
quista de Portugal. ^
*■ Booillet. —Dtchonnaire d'HistQire et de Geo^aphie,
* É verdade qae, se Alonio n*am só legar é inferior a Homero, em todo o resto Ica
abaixo do menor dos poetas. Ficámos.assombrados de o vercabirtão baixo depois de ter
■ife -•
>3» M
. 4M) SBNAiniT.-- Este frftiicez iM^tendâa ser o ati^ meâioddiè
eBBiiiar a foliar aos modos e surdos. Vejamos porém mi interessante artig»,
que a este respeito ^^^[Mtreee a pag. i05 do L* yoI. da BmMa Vmoenai U§*
kmense:
• ; «Os llraiieezes con^deram come inTeator do methodo de «shar « fidlar
os snrdos-mados o abiiade L'Epée. Não ó para admirar que a Portui^ Êèftn-*
loBàa roubar a gloria de um tal infento/ quando isso Mie tem aeonfiMMo já
por mais de uma tos; e sirva de exemplo o nónio, o sinomergolhadory-oslin-
lSes aerostaticos, etc., o qae ó para estranhar 6 qne os próprios portngoeiss
lliidem a rimilhante roobo, p(4s em ves de revindlearem a gloria naflienl
por etíà forma oltrajadayixmtentam-se emrepefr «om osflraneeies qoe oai^
kide L^E^ f<^ o invmitor, qoando realmente o veréaéMro anctor élaeifclli*
dWgoes Pereira, natoral de Penielie, qoe liatendo posto por obra o seaMdÉiM
do eín Cadix, Rochelle e Paris, foi premiado e elogiado pela AeideoUa Ml
das Seloieias doesta ddadé, e reeeben de hnk XV em i7líi orna pênsil att^
naal de ÍVWOO réis, além de outras honras, eom qoe depois M ágíMMi^
O sen a^^idwto manoal, a qoe diamoa dac^óia(^, qoe oooqKii para se M*
lar aos sordos-modos, qoe ainda nao intendiam o qoe se lhes dfidá, peia rift"-
1^ movimento dos lábios, e a moi engenhosa nutchioa qòè iaventàft pMiiÉ^
iítaiar arithmetiea a seos discípulos, eram matéria bastante para lhe grángiar
oreeoDhedmento de todos os homens philaiítropos; porém 8iiceedeíai4hé o
mesmo que aeoBleee à mâkNr parte des homens de mérito e inireMrei. IH*
qoanto animado pelos desejos éò apwfeiçoar soa obra, e a qoe havfo «ifriMa
estimulado pela mencionada academia (que tinha reconhecido jâ a bondade do
seu metbodo pelas provas publicas quo em algumas das suas sessões haviam
dado vários discipalos do nosso Pereira) trabalhava no melhoramento doeste
tão engenhoso methodo, um talErnault quíz arrogar a si a honra de auctor de
uma Cão preciosa descoberta, apresentando á mesma Academia um opúsculo
sobre este assumpto, do que se seguiu grande emulação entre os dois rivaes;
mas este não poude gosar as honras de inventor^ porque documentos irrelira-
gaveis comprovam a prioridade da descoberta do nosso português, como se
pôde ver na historia da Academia Real das Sciencías de Paris, annos de i740
e 1750, 00 Journal des Savants, dezembro de 1777, Biagraphie Univer-
selle ancienne et modeme. Paris, 1823; BufTon na parte das suas obras
que trata da historia natural do homem, etc. Foi d'ísto que o abbade de L*E-
pée imaginou os signaes methodicos para ensinar os surdos-mudos, contra
cujos princípios o nosso patrício escreveu uma carta, que se imprimiu em Pa-
ris em 1777 na folha intitulada Avis divers de fl e 26 de julho.
«A pag. 32 do tomo 20 da Bistoire Naturelle genercUe et particuUère^ por
Buffon, (edição de Sonniní) quando aquelie eximio pintor da naturesa, que
tomado um tôo Uo alto. Ha sem duvida muito fogo em suas batalhas, porém nenhuma
m? ençSo, nenhum plano, nada de farledade nas descripções, nada de unidade em a nar-
ração. Este poema é mais seWagem do que as nações qtted'ello fazem o assumpto.— Vol-
taire. Eisai tur la poesie epique.
ES 333
tantos encantos sonbe espalhar no estado da historia natural, falia do sentido
do ouvido, por occasiào de contar a historia de um surdo-mudo de nascença,
por nome Azy d'Etavignyi a quem o nosso Pereira havia ensinado a fallar,
)er, escrever etc. exprimese assim a respeito do nosso portuguez : Rodrigues
Pereira, portuguez, havendo diligenciado achar meios fáceis de fazer fallar
os surdos mudos de nascença, tem-se dado de ha muito ao exercício d'esta
arte singular, a ílm de a levar ao máximo grau de perfeição.
tNa historia da Academia Real das Sciencias de Paris, do anno de 1740, a
pag. 184, tratando-se das machinas e invenções approvadas pela Academia
n'esse anno, depois de se mencionarem os resultados espantosos, que pelo seu
methodo havia Pereira conseguido em dois surdos-mudos de nascença, que
foram apresentados áquella respeitável corporação, e que muitos gabos lhe
mereceram, remata-se o curto artigo, que a este respeito alli vem, com o se-
gumte trecho : «Gomo os progressos dos discípulos de Pereira demonstram a
bondade do seu methodo (cujo segredo elle tem reservado para si), a Acade-
mia julgou do seu dever animalo com todas as suas forças a cultivar uma
arte, que pôde restituir á sociedade considerável numero de individues, que
sem o seu soccorro lhe serião inúteis; pois d'algum modo os tira, por uma fe-
liz metamorphose, do estado de simples animaes para os fazer homens.»
«Na mesma obra do anno de 1750, a pag. 160, se encontra uma pequena
noticia sobre a machina que o nosso Pereira inventou para ensinar arithme-
tica aos surdos-mudos, e que ó do theor seguinte : Uma machina arithmetica
de Pereira, já conhecido pelo seu methodo de ensinar a fallar surdos-mudos
de nascença, que não faliam por não ouvirem. Esta machina pareceu reunir
á simplicidade do Abacorabdolegico de Perrault a facilidade de operar das de
L'Epine e Boistissandeau, e ter demais sobre uma e outra a vantagem de ser
mui pouco volumosa. Sobretudo a maneira de fazer com que cada roda diu-
rna divisão se adiante, quando a precedente tem corrido dez das suas, pare-
ceu simples e engenhosa, e julgou-se que esta machina poderia ser de uso fá-
cil 6 commodo.
392) ESGALANTE (Licenciado BERNARDINO DE).
E.— Discurso de la navegacion que los portugueses hazen a los reynos y
provindas dei Oriente, y delas grandesas dei reyno de la China (ó sea au^
ter Frey Gaspar de la Cruz, religioso português de la orden de St.*" Domn»
gò.) Sevilha, 1577.
393) ESGHWEGE (GUILHERME, Babío de) - Allemão.
Falleceu em o l."* do mez de fevereiro de 1855, em Welsfsanger, no elei-
torado de Esse. ^ Estudou mineralogia na Allemanha, e applicou-se aos tra-
balhos doeste género nas explorações do Hartz no Hanover. Veiu para Portu-
gal em 1805, sendo a sua primeira praça no exercito em 24 de junho de 1807,
1 Revista Militar, lomo S.% abril de 1853, pag. 187. O barão de Eschwege loí um
dos fundadores d'este jornal. Tíoha nascido no anno de 1788.
3M ES
togo en eá|iMto» e afgr^gate âtíoo^iMUiliiâ deuil&A» 4oiirlilMtfoi«gkiÉiíi»**
d» artlllittriâ. Dursnte a iovam írmcmã, áasBiai^htía mtiutomaMSm^
qse fdra encarregado pelo goiranio portngiun. Foi iuenniliido darito i8M ia
diree^ das obras do palácio da Pena em Gtmra. Era sooio da Aeadettia do
& Pacer^org e de irarias sociedades mineralógicas de Fratiça e doAHeaMiMu
E.--4. ifeiNona so6fv a dèoaiencia dai mktíu de oiro da^pUmia êg Jftiii
Oeroêãf e solMre varíoi miros o{|;>i;tos montontito» (vol. 4.* das Jlsi^
ikodMè. Parte S.% úe pag. 65 a 76). V
JkNéUmi e r^ftesBèa eikdisHotts aresp^dapronineimdêMimÊBfkrQm
(Memorias da Aeademia,Y<À. 9.S parte i.% de pag. i a ST).
IIL Memoria GeognoeUcot om fcUpede vista do perfií dasesiral^kaçSeeâuÊ
difjiereniee rochas de que é compoiío ojíerreao drn^ aSerra dgCmêm^saM^
wka de Noroetíe a Sudoesíe até iÀsboa^aíravessaado0T$íoaU á Serra da áíft^
fohida^ e sobre a soa edade rekdiva. (Id. voL il»*, parte i.% de pãgé S^ gir
t80, com am additam^ito por Alexandre YaadellL)
. IV. XaMoría sobre o mMoramento das prooideadas para ofaíkatos j»>
eeadioSt e para o augmento d^affoa em Usboa. (Id. toL HI.% paiie iJ}^Q Hê^
coada de YHIarinho de S. Romão eserevea mnas RâBesÕes a esta Hemoiiayis
qoaes no referido volame yeem como Appendice.
V* Jfemarta Qeopiosíica. Frosp&sto geognostíco dos arredores de SeêabaL
(Hssmo volame).
VL ãíemoria sobre as difpeuídades das fundiçôa e r^ínaçSes aos feMem
de ferro. {Memorias Económicas da A, R. das Sdendas de IMoa^ tomo 4.*)
VIL Relatório abreviado sobre o estado actual da administração das minas
em Portugal. Lisboa, 1826.
YUI. Memoria sobre a Historia Moderna da administração das minas em
Portugal.
IX. AsphaltOj particularmente o asphalto artificial portuguez : reflexões
dirigidas aos engenheiros e architectos,
X. Odologia dos engenheiros constructores, ou guia para a construcção e
conservação das estradas em Portugal e Brasil. 2.' edição com additamen*
tos. Lisboa, i843. 4.», 53 pag.
XI. Portugal— EinStaats^und—Sittengemaelde in Skivren und Bildem
nach dreissyaehrígen, Beobachtungen und Erfahrungen, Hamburg, 1837. Bei
Heffman und Campe 3i2 pag, 8.<* Erster Theil (Qaadros estatistieo-moraes.
Scenas.— Bosquejos extrahidos das observações e tracto de 30 aonos. Tomo i."*)
Esta obra nunca se completou.
Trata este volume dos seguintes assumptos : Situação moral o politica de-
pois da queda de D. Miguel.— Modo de alcançar os cargos públicos. — Ratonei-
ros, salteadores, barbaridades^ prisões. — Estabelecimentos para a civilisaçao
do povo e educação da mocidade. — Administração policial. — Guerra civil—
Vida do príncipe de Leuchtenberg em Portugal e sua morte.
XII. Sobre os poços artezianos (Panorama de 4838, de pag. 393 a 396).
XIIL Caminhos de ferro. Artigo inserto a pag. 367 ádí Revista Universal
UsboTiense do anno de 1842.
EX 335
XIV. Sitios em que se encontra azouque em Pmiugal. Remta Universal
lÀsbonense. Anno de 1843, pag. 166.
XV. Sobre estradas. Id. id. pag. 358.
XVI. Sobre estradas e carros em Portugal. Id. vol. 3.«», pag. 199.
XVII. Maneira de abastecer de agua a cidade de Lisboa. Id. vol. 4.* pag. 49.
N'est6 mesmo volume principia a publicação de alguns artigos sobre as
minas em Portugal.
XVIII. Sobre o systema métrico na Allemanha. Id. vol. 9.° pag. 265.
XIX. Abreviada exposição do estado da fabrica de ferro da Foz d^Algez.
{Diário do Governo de 1837, n.*» 86.)
394) ESSAI mSTORlQUE SUR LA OOLONIE DE SURINAN,
sa fondation, ses revolutions, ses progrès depuis son origine jusqu*à nos jours.
Avec Vhistoire de la nation jmve portugaise et allemande y etablie etc. Le tout
redige sur des piéces autheiítiques y jointes, et mis en ordre par les régens et
representants de la dite nation juive portugaise. A Paramaribo, 1788. 8 *»
Creio ser uma das obras mais raras entre aquellas que nos dizem respei-
to^ pois d'ella um só exemplar tenho visto, o qual appareceu á venda no lei-
lão de livros do sr. Arlhur da Silva, om outubro de 1873.
395) ESSAI SUR LES ÊVÉNEMENTS DE PORTUGAL. Paris,
1833; folheto. (C M. B. I. P.)
396) ÉTAT ACTUEL DE LA MONARCHIE PORTUGAISE. Paris,
1829.
397) ETIENNE (CHARLES GUILLAUME).
E.— Isabelle de Portugal ou riieritage.ComeáiQ historique. Paris, 1804.
398) EXAMEN DE LA BROCHURE intitiúé ^ Vn mot sur la crise
de Portugal. Paris, 1827, folheto. (C. M. B. I. P.)
399) EXAMEN vande valscke resolutie vande Heren Burgemeesters ende
Raden tot Amsterdam op*t stuck vande West Indirch Compagnie. Amsterdam.
1649. 8.«, 36 pag. (M. S.)
400) EXCELLENT ET UBRE DISCOURS (iu droit de la succes-
sion royale au royaume de Portugal et la legitime succession du roy Dom An-
thoine. Avec plusieurs lettres curieuses de papes, róis, princes et monarques
de la Chrestienté sur la recognoissance du dit Dom Antlioyne roy de Portugal,
Utile et necessaire aux amateurs de justice et equité. A Paris. Cher Jean Mi-
card tenant sa boutique au Palais, en ia galerie allant à la Chancêllerie. 1607.
12.», 395 pag. numeradas, acabado de imprimir em 4 de janeiro de 1607.
O sr. José de Torres publicou no volume 9* do Archivo Pittoresco * ama
* A pag. 378 c seg.
Olnamitanciada snaiyse d'este livro, paio qn&l se prova a cxiateacia de aJ-
gomu úrUs eacriptas por D. Anionio em língua portu^eza.
401) EXFLANATIO ven ac legitmi jiiris quo serenissimuê Lvsitani<F rex
<<ltfffifyt ejus nominig pritnui niíiíur ad bellutn Philtppt) regi Castalli^ pro rr->
md neuperatione inferendum. Lugdani Batavorum, 1585. Colónia; Aggrippi-
DB, 16iã.
pectaração do direito que assisto a D. António etc. para Tazer guerra a
D. Fhflippe com o flm de recopcrar Portugal etc.)-
40S) EXPLANATION (THE) of lhe frwe lawful right and tytU of tkt
moãt KKelíent Prince Aitthmie, the first of IhiU name auaittst the king of Cai-
tis and against his íubjecls and adherents for the recoveries ofhis Kingdmo.
Bk Ok commanãment and ordir of the superiors. Leyden, 1SS5.
È 1 traducfão para inglez da obra mencionada em o q.° U)l
403) EXPLIGATION DE L'ESTA]ffPE DE Li VILLE DE UB- .
BONHll avec une descriplion snccitUe des curiositéi et écinement memoraJita
dt eettí ville.
. Nio tem declaração do logar, nem do anuo da impressão. Julga-se que lul
eoaqwita peios fins do anno de 175i, ou nos princípios do aono de 175S.
t om caderno de 20 folhas.
404) ^eXTRàXJT mde Copye vau vers-eheyde Brieven m schriflen, Belox-
gende de Rebellie der Paepsch Porlwgeíen van desen Staet m Brasilieri. Tot
bewijs Dat de Koon can Portugael icInUdich is aen de telve.
Ghedraclct in't laer oqs Heeren, 1646. 8.°, 31 pag.
405) EXTRAOT ttyt den Brief mnd PolUicque Kaedm ín BrasU, aende
ete. In 's Graven-Haghe. Anno 1639. 2 foi. sempag. Sobre o Brasil. (H. Sonsa).
406) EXTRACT uyt seecker Mittione gheschzeven #A getendm aen Siim
Exceli: âen Hetr Ambauadeur van Portvgael, etc. In 's Gravea-Hage. Anno
1642. 4 folhas. (H. &.)
407) EXTBAOT ttyt de MiísUme vanden Preeident aende H. Mo. Beeren
Staten Generaet op't Recif den 22, Ãpiil 1648. In 's Graven-Uage. By Ludolph
BreeckevelL Anno 1648. 4 Tolhas.
408) E^TRACrr van leeckeren brief gheichreven uyt Loando, St.-Paulo
m Angola, van wegen de groote victorie die de onse verkregen h^ibentegen de
Portugesen. S'graveohag6. 1648, 4.°
(Extracto de algumas cartas escriptas de Loanda e de S. Paulo de Angola
relativas á grande vicloria, <iue os nossoa alcançaram dos portuguozes). T.
Compans, pag. 308.
EY 337
409) 2YE-WrrN£SS (AN).
E.—Historical vietv of the revolutums of Portugal since the dose of the Pe»
ninsular War exhibiting a ftUl accaunt ofthe events which have led to the pre*
sent State of tat Country, London, 1827. (Historia das guerras qae em Porta-
gal se seguiram á campanha da Península, etc, por uma testemunha de vista.)
4i0) EYKIÊS (JEAN BAPTISTE BENOIT).
E.— I. Voyage datis Vinterieur du Bresil en 1809 et 1810, traduit de VAn»
glais. Paris, 1816.
II. Tradtiction du voyage au Bresil par Maximilien, prince de Wied. Nea-
wied, 1821-1823. 3 vol.
TOMO I ^^
F
411) FABER (JEAN ERNEST).
E.— Nachreehten von dem Porlugiesischen Ilofe und dei' Staatsverwaliung
des Grafm von Geyras. Francfort. 1768.
412) FAMIN (PIERRE NOEL).
E. — I. Histoire monetaire du PortugaL—ll. Expeditions maritimes des PoT'
tugais, — III. Essai sur Vindustrie agricole au Portugal,
Todas estas obras se conservam inéditas, e d*ellas nos dá noticia osr. Fer-
dinand Denis no vol. 17.'» da Nouvelle Biographie Universelle de Firmin Dídot.
Parece que este mesmo escriplor residiu em Lisboa, onde se tornou fallado
p )r causa da grande collecçào de medalhas e moedas portuguezas, que che-
gou a juntar, e das quaes vem noticia a pag. 273 do vol. 7.° da Revista Uni-
versal Lisbonense.
41;;) FANSHAW (SiR RICHARD).
?\Iorreu em Madrid a 16 de junho de 1666. i
E.— Original Letters during his atnbassies in Spain and Portugal. Lon-
don, 1702, in-8.»2
41 'í) FAU (PEDRO DU). Francez.— Cirurgião chamado para regera
cadeira de anat)mia do hospital real de Todos os Santos.
V..— Exposição de Aiiatotuia, pelo (^uj respeita aos ossos c músculos. Lis-
boa, 1764.
4 Io) FAUCHER (PAUL).
1']. — D. Sébastien de Portugal.
Villemain dá-nos noticia d'este drama 2 apresentado á Academia de Paris
' Rebello (la Silva. — Quadro Elementar dasrelarões de Portugal com diversas po-
tencias, \ol. 18.0, pn;:. ií.
- nUcoius ri M.Uuujci liUcraircs. Taiis, 1835, pag. 393.
FE 3:59
em 184o, e faz acerca d*elle o seguinte jaiso critico : «Pareceu este drama pe-
dir menção publica, e como um penhor do interesse que se ligava a fragmen-
tos da epopea christã, apresentado no theatro por uma imaginação estudiosa
e viva. Offerecendo grandes desegualdades, mas sustentado por fortes inten-
ções, e algumas scenas felizes, este drama é menos uma obra completa, do
qu6 uma esperança. Mostra um novo caminho, o da exaltação poética unindo-
do-se ao drama familiar n'um assumpto moderno.»
416) FAURE (H.)
E. — De maritima navigcUione veterum Hispânia a Sacro Promontório ad
Pyrifupos usque montes, Molinis, 1870, 8.» (Da navegação dos antigos desde o
cabo de S. Vicente até os montes Pírynéos).
417) F. O.
E.— AnonimoiLS poems. Imitations front Camoens. London, 18í>0.
418) FEITH (RHYNVIS). Poeta hoUandez.
E.—Inez de Castro^ tragedia. Amsterdam, 1793.
419) FENGER (J. FERD).
E.—History of the Tranquebar Mission. Tranquebar, 1863. (Historia da
Missão de Tranquebar).
420) FENZL (Db. ED.)
E.—Bericht uber cinige der wichtigsten Ergebnisse der Bercisung der Por-
tugiesischen Colonie von Angola in West Africa in den Jahren 1833-60 durch
Hen^n Dr, Fried Wolwistch. (No Sitzungsberichte der Kaiserl AcadenUe der
Wissensthaft. 48. Band. pag. 104).
421) FERAUD.
E. — Vocabular y and Dialogues in the three languages English Spaniss and
Portuguese, on subjects adapted to general use, as well as to militarij and
naval affairs. Lonáoíiy 1812.
422) FEURSTEN (ALBERT).
Eis a versão liiteral do titulo de uma obra allemã. ^
Historia dos reinos hespanliol, portuguez e africano : a saber — em qual
época particularmente Portugal love começo, c por quem foi elevado a reino,
quaes guerras, qual coramercio por mar ou por terra, tambora osla má guerra
ordenada peio rei Sebastião o:n Africa, e na qual guerra foi tão infeliz, tam-
bém dois reis mouros e dozoito mil homens foram mortos, e por ella privou
seu reino de herança, forian;i e iiKílhor nobrosa, e cntào vários reinos foram
tirados a Portugal. Como D. Autonio, que esperava ser rei de Portugal, saindo
* Nio se transcreve o liluio tm aileiíílo por ^cr e\('^í5^Iv;lP.l(•^lu (.'\tun>"0.
340 ' FI
da prisão em Africa, esperava ser eleito rei de Portagal, 6 do perigo em qoe
incorreu, e por qae meio escapou das mãos dos hespanhoes, e como o reino
de Portugal voltou para a coroa de Hespanha, etc Traduzido do italiano por — ,
E no fim do livro : Impresso na capital deManich, em casa de Adam Berg.
em dia de Santa Anna, no mesmo dia em que no anno 82 os hespanhoes, D.
António e os francezes Inctaram, e este livro foi acabado em aliemao a 26 de
julho de 1589.»
Esta obra in-foiio compòe-se de i82 folhas, e é ornada de duas bellas es*
tampas representando a primeira a batalha de Alcacerquibir, e a segunda ama
batalha naval nas proximidades da ilha de S. Miguel.
423) FEVAL (PAUL HENRI OORENTIN).— Romancisto francez.
Nasceu em Renncs no anno de 1817. *
E.—Les fanfarrons dti Roy par — . Nouvelle édition. Paris. Michei Levy,
1869, 8.% 286 pag.
O auetor pretende descrever n'este íomance a corte de AíTonso VI, a lou-
cura c extravagâncias do rei, e muitas outras coisas da invenção do roman-
cista.
Será um oxccllente romance para os estrangeiros, mas paranmportngaez»
que saiba a biographia do desditoso monarcha, deve ser bem insnpportavel a
leitura de lantos descoachavos. Entre outras coisas diz-nos que D. Pedro e
sua mulher a rainha estiveram presos no Limoeiro.
424) FIELDING (HENRY) Celebre romancista eauctor dramático inglez.
Nasceu em Sliarpham-Park em abril do anno de 1707, e falleceu em Lis-
boa efn outubro de 1754. Jaz no cemitério inglez dos Cyprestes em Lisboa. >
Alétn do Joseph Andrews e Tom JoneSy romances que immortalisaram sen
nome, escreveu a segumte obra :
Journal of a voyage to Usbon by the late Henry Fielding. London, 1755.
Foi passada para francez com o seguinte titulo :
Jonrnal d'un voyage de Londres à Lisbonne par Henri Fielding Écuyer, ou-
teur de Vhistoire de Joseph Andrews, de Jonathan Wtld, de Tom Jones^ des
Aventures de Huderic Randon, d^Amèlie^et debeaucoup d'autres livres, Ony a
joint un abregé de la vie de Cauteur et le catalogue raisonné de tons ses ovra-
ges, A Lausannc, 1883, 8.°, 72, 225.
Ninguém espere encontrar n'este livro a descripçào de Lisboa; não trata
ollo mais do quo dos incommodos que o auetor padeceu na sua viagem para
Portugal em procura de allivios para seus horríveis padecimentos
O tumulo do Fielding no cemitério inglez em Lisboa tem o seguinte epi-
taphio, de cuja copia sou devedor ao sr. Angelo Carrero :
Ucnrici Fialdínj a Snmeríienfcmihus apud Glastonem oriundi viri snmmo m-
fjnúOj eu (jiiac restant stt/lo qno mn alias unqnam qni potuit cordis reserrarc
' Vaiicreaii. hiríiiinuirr ilr^ (jnitcmpomins.
'^ l'iiini!i hidol — .Xovnil!'' liio.irnpliir l'nh'cr'cllCj vol 17.", pag. 647.
FL m
mores hominum excolendo suscepil virtuti dec&rem vitio fwditatem suwn cui-
que tribuens non quin ipse subinde irretiretur evitandiSj ardem in hniciiia, in
miséria sublevanda effasusy kilaris^ urbanus et conjtix et frater adamatus
aliis non sibi vixit : sed mortem victricem vincit dum natura durai <
dum saecula currunt, natura prolem scriptis pnc se ferens suam et suce gen-
tis extenderet famam.
Perto <l'este tumulo fica o de Phílipp Duddrídgo, fallecido em 25 de ouCa-
bro de 1751, que se diz ter sido muito sábio, e amigo de Fieldíng.
425) FIGUEROA (C. MOSQUERA).
E. — Cammentario de disciplina militar, en que se escrtve la jornada de
las Islãs de los Açores por — . Madrid, 1596.
426) FLAUGERGUES (M«"« PAULINE DE)
E.—Au bord du Tage. Gollecçâo de poesias. PariS; 184 L
N'esta collecção de poesias appareeem algumas cujos assumptos são por-
taguezes.
«Mademoiselle Flaugergues é enérgica, e muitas vezes sublime como mada-
me Emilie Girardin, graciosa e ao mesmo tempo sabia como madame Amable
Tastu; lyrica e florida como madame Desbordes Valmore; melancólica e apai-
xonada como madame Dufresnay, Mademoiselle FJaugergues, pelo rumo que
sua própria índole, suas reflexões ou suas penas tem dado ao seu poetar, en*
tre eiias apparece como o auctor das Meditações entre os extraordinários poe*
tas seus contemporâneos : é ella o Lamartine do seu século.» ^
427) FLEURIAU (BERTRAND GABRIEL). '
E. — Relation des conquêtes faites dans les Indes par D. P. M. d^ Almeida
marquis de Castel Nuevo, conte d*Assumar. Paris, 1749.
428) FLOREZ (EL P. M. FR. HENRIQUE -) dei orden de San
Angustin, rector que ha sido una y outra vez dei Heal Colégio de Alcalá, do-
etor theologo de dicha universidad, y consultado à sus cathedras de theología
por el supremo consejo de Castilla, etc.
E. — Espana Sagrada, Theatro geographico histórico de la Eglesia de Espa-
na. Origen, divisiones y términos de todas sus provindas. Antiguedad, trasla-
eUmêS y estado antiguo y presente de sus villa^y en todos los dotninios de lUs-
pana y Portugal. Con varias dissertaciones criticas para ilustrar la histoi'ia
eclesiástica de Espana. Madrid. Por Don Miguel Francisco Rodrigues, 1747.
Obra verdadeiramente monumental, na qual o padre Florez com uma crí-
tica quasi sempre judiciosa, e baseada em documentos autbenticos trata das
antiguidades sagradas o profanas da Peninsula Ibérica. Sào numerosíssimas
as estampas disseminadas por lodos os volumes, n^prcsentando já folhas de
' Não te percebe aqui uma palavra.
* A. F. de Castillio.— /{«rtWa Universal Lishonenae.
a42 FO
códices antiquíssimos, já medalhas e moedas, já inscripções e monumentos
romanos, godos, mozarabes.
Esta obra tem sido e ha de ser em todos os tempos consultada pelos nos-
sos escriptores, que minuciosa e seguramente quizerem fallar de nossos feitos
em épocas tão remotas. É porém do tomo 13.° por diante que este trabalho inte-
ressa mais aos porluguezes. E bem se vò que dVile se aproveitaram António
Pereira de Figueiredo, A. Herculano e muitos outros, o que não podiam dei-
xar de fazer, pois n'esta obra é que pela primeira vez se imprimiu a Historia
CoTíiposiellana (no tomo 20.*^), onde se referem os factos mais notáveis aconte-
cidos em Galliza e Portugal durante o governo de D. Theresa.
É pois a Espagna Sagrada livTO de primeira necessidade para quera tratar
de escrever a respeito de nossas antigas coisas.
429) FOLQMAN (CARLOS).— Clérigo presbytero do habito de S. Pe-
dro, e Capellão mor de S. Bartholomeu dos allemães.
E.— Grammatica Hollandeza ou Arte Compendiosa para um portUQuez
aprender a língua Hollandeza. Com uma Nomenclatura copiosa, vários dialO'
goSy e uma Collecrão dos mais selectos Provérbios de ambas as lingtmSf pelo—
Lisboa. Impressão regia, 1804, 8.«, 118 pag. Ha outra edição.
430) FONDEYRE (POUROET DE).
E. — Lisbonne et le Portugal. Paris, 1846, 8.°
Segundo diz o Atheneu (vol. 1.°, pag. 228) este escriplor publicou ura
trabalho a respeito de Portugal, onde, cnlre outras coisas : Que viu barcos
navegando em Cintra, um tal rei Joào mostrando uma perna de fura do tumu-
lo aos viandantes em S. Vicente de Fora, c outras gentilezas peores ainda.
431) FONSECA (ANT. EDM. WOLLHEIM DA).
E. — Dicrionavio portátil das li aguas portugucza c allemã. Leipzig.
432) FOR FORTUGUESE SAILORS, London, 1874.
Dizem ser uma collecção de contos moraes em portuguez e apropriados
para a leitura dos marinheiros portuguezes.
433) FORRESTER (JOSÉ JAJVIES).— Barão de Forrester, membro
correspondente da Academia Real das Sciencias de Turim, das reaes socieda-
des antiquaria, geológica, geograpliica e zoológica da Gran Bretanha; das so-
ciedades geographicas de Paris e Berlin, etc. etc, e um dos estrangeiros que
mais siTviro^ prestaram a Portugal, e que em todo o tempo se mostrou aíTei-
çoado aos porluguezes.
Nasceu na Kscocia em maio do anno de 1809 *, e falleceu afogado no rio
Douro, no ponto do Cachão, em 12 de maio de 1801, não tendo sido possível
encontrar seu cadáver.
* .\rrii!n, V.ii ,ie ro, vol. iv. ].•.•-. IiHí».
FO 343
Escreveu muito este homem, darei porém noticia do que julgar mais im-
portante.
I. Vindicarão de— contra as imputações a elle feitas no parecer da direcção
da Associação Çommercml do Porto de i^ de maio de 1845, e observações sobre
o que no dito parecer se assevera a respeito ao vinho do Porto. Com um Post-
Scriptum sobre o folheto intitulado *A questão dos Vinhos do Douro, conside-
rada politicamente. Porto. Typographía Coramercial, 1845, folheto de 16 pag.
Forrester sustentava que o vinho do Porto devia ser puro e bem fermen-
tado, e sem mistura de qualidade alguma. (Folheto citado, pag. 6.)
II. Paiz vinhateiro do Alto Douro. < É um precioso mappa do paiz vinico-
la, dedicado á rainha D. Maria II, publicado em portuguezeinglez, tendo uma
nova edição em I/mdres, por ordem, e á custa da Camará dos Communs,
tO Douro Portuguez e o paiz adjacente, grande mappa, que pela portaria
de 1 de abril de 1848 foi adoptado como nacional, e premiado depois pelos
monarchas de Hespanha, Sardenha', França, Prússia, Áustria, Rússia, Pio IX,
e incorporado no Blue Book da Gamara dos Communs em Inglaterra, sendo
sem contestação o seu mais completo e valioso trabalho, em cuja composição
e aperfeiçoamento gastou mais de doze annos, e valiosas quantias. N este bello
e interessante mappa não ha um claro por encher, nem o mais pequeno espaço
que não fosse aproveitado com critério. O Porto, e a ponte pênsil, a Regoa,
um barco do Alto Douro, um escaler do Porto, as pednas das Âncoras, os pon-
tos do Cachão, salto da Sardinha e outros, são delicadas e lindíssimas illustra-
ções, que embellezam t^ste minucioso, apreciável e instructivo trabalho ^»
III. Prize Essai on Portugal, or Portugal and its capabilittes.
Esta obra foi premiada com uma especial e honrosa medalha de oiro.
Além d'estas escreveu varias outras obras, todas úteis e interessantes, que
se podem ver mencionadas a pag. 331 do 4.'* vol. do Archivo Pittoresco.
434) FORTUNATUS.
E. — Historia de missionibus Angolae, Congi et aliorum regnorum Africae
et Indiarum cum mmihus illarum r^gionum. Bononiae, 1687, foi.
435) FORTIS (LEONE).
O sr. José da Silva Mendes Leal traduziu em verso um poema dramático,
composto em italiano pelo referido escriptor, 'natural de Veneza, e poema que
a celebre trágica Rístori representou em Lisboa.
«O auctor do poema inculca imaginação fogosa frequentemente desregrada.
A verdadeira sensibilidade não abunda. A imitação de affectos convencionaes
predomina. É antes um reflexo brilhante do que uma concepção feliz. O que
^ O dito mappa é exactíssimo pelo que respeita ás viilas e freguezias, ás quintas e
principaes fazendas viobateiras. aos rios e regatos, estradas, pontes e até caminhos^ tra-
vessos, e creio que também o será, quanto é possível, acerca da posição geographica das
IMYoaçOes e montanhas.» Visconde de Villarínbo de S. Romão. Revista Univeúal LisbO'
nense, toI. iir, pag. 1i5.
344 FO
mais nataralmente respira é a impaciência e o ódio á dominação estran-
geira.
Quanto pôde a fraternidade intellectual! Qaem diria, ha três secnlos, qae
a orgulhosa Veneza, desapossada pelo Gama do império do Oriente, cantaria
hoje o cantor do grande almirante.»
436) FOUOHER (PAUL HENRI).
Nasceu em Paris no mez de abril de 1810 K
E. — D. Sebastien de Portugal^ tragedie en 5 actes. Paris, 1839.
437) FOURNIER (EDOUARD).— Anctor dramático e romancista
francez. Nasceu em 1809.
E.— Un prétendant Portugais au xvi siêcle. Lettre adressêe aM.iL Dan*
tas, sécretaire de la legation de S. M. TF. à Paris, sur D. António, prieur de
Crato, suivie d'études sur un predicateur portugais à Paris en 1610; la Rasa-
linda et l'origine portugaise de la fiancée du roi de Garbe. Paris. Imprimerie de
Mouide et Renou, 1851, 141 pag. ^.
438) FOURRIER (ORTAIRE — ) Gbanceller da legação firanceza em
List>oa.
£.— Reme Lusitanienne. 1 tomos, Lisbonne, 1852.
É um }omal lilterario, onde se encontram alguns artigos importantes.
N'elle reproduziu Fourrier a sua traducção do Naufrágio de Sepúlveda,
(mas com alterações), a qual já tinha sido publicada em Paris no anno de 1844.
E também uma versão também na linguagem franceza da Sobrinha do Mar-
quez, do nosso Garrett. E além d'estas traducções um romance intitulado La
Reine de Mohaxoks, ele. ele.
«Do iodas as liltcraluras modernas a menos conhecida talvez é a lilteratura
porlugueza, e sem os^sabios trabalhos do visconde de Santarém, Ch. Magnin,
Dubeux, Ferdiuand Dcnis, Prineepo Liknowski, poetas e escriptoresd'esta na-
ção, com algumas gloriosas excepções, seriam para o mundo lilterario, como
se nunca tivessem existido. Ha principalmente um contemporâneo do immor-
tal auclor dos Lusíadas, o que talvez occupa immediatamenle logar depois
d'ello no antigo Parnaso, Jeronymo Corte Real, que mais que nenhum, padeceu
este infeliz destino. E todavia Corte Real é uma d'essas inlelligencias extraor-
dinárias, das quaes o céo é avaro, um d'esses sublimes encantadores, cuja voz
harmoniosa evoca todos os poderes creadores do pensamento, cuja imaginação
rica e fecunda abro um largo rego no magnifico campo da poesia, e faz pro-
duzir magnificas searas.
«Sim, a obra de Corto Roal ó uma obra de génio, e pouco falta para que
^ Vaporeau — Dictionairc dcs ContcmporainSj pag. 694.
2 Founiier é um dos esrriplorrs írancezes mais antigos c entendidos da nossa his-
toria e litteralura. Traduziu em fruncez a bailada lioaalinda» . (\ Semana^ vol. ii,
pag. i33./
FO 345
elle ihe tenha merecido uma d'essas coroas, que consagraram para sempre o
nome de Camões e o de Tasso.»
439) FOWLER (REGINALD — ) Esq. Barrister-at-law.
E.— Hither and thither, or, sketches of travei on both sides of the ÂtlaniiCt
contaiiimg notes of a visite to Madeira, Lisbon, GibraUar^ Cadiz, Malta, Bo-
nu^ Neto York, Canadá, Ktngston, the falis ofNiagara, Bay of QtAiníé and
Montreal. By.— London. (Áqai e acolá, esboços de viagens em Portugal, etc)
440) FOY (GáN^RAL).
E. — Bistory of the war in the Península under Napoleon, transUUed from
the french, LondoUi 1827, 3 vol. (Historia da guerra na Península etc)
441) FOY (Lb G^NáRAL. MAXIMILIEN.SEBASTIEN).
Nasceu em Ham no anno de 1775, e falleceu a 28 de novembro de I8i5.
Passou de Constantinopla para Portugal, distinguíu-se na batalha de Vi-
meiro, esteve a ponto de ser assassinado no Porto» recebeu uma ferida no Bus-
8aco,e foi escolhido por Massena para ir á França avisar Napoleão do estado
em que se achava o exercito francez em Portugal. Chegou á França quasi nu»
tendo escapado como por milagre, das guerrilhas K
E. — Ifístoire de la guerre d*Espagne et du Portugal sous Napolion, prece-
dée d^un tableau politique et nulitaire des puissances belligér antes, par — jpu-
bliés par M.* La Comtesse Foy. Paris Baudoin Frères, 1829, 4 vol. in-12.<'Esta
edição, creio ser a 2.*, pois tenho visto exemplares d'outra m-8.<' impressa em
Paris no anno de 1827, com Atlas á parte. Ha outra edição. Paris, 1834, %.• gr.
O general Foy nem teve tempo de concluir nem de limar esta historia, a
qual apenas chega á retirada dos francezes de Portugal, depois da convenção
de Cintra.
«Não conhecemos na Península monumento algum notável da industria de
nossos mimigos inglezv^^s, mais do que as linhas construídas em 1810 para de-
fesa de Lisboa, mas d'ellas deve-se conceder a hbnVa em grande parte aos en-
genheiros de Portugal, que communicaram aos ingleses, quer emquanto á con-
cepção do projecto, quer emquanto á execução dos trabalhos, idéas luminosas
e dados exactos recolhidos havia muito tempo.» 1, pag. 197.
«Portugal cobriu o Oceano com suas esquadras, submetteu a suas leis o li-
toral da índia e as mais bellas porções da America meridional. Lisboa tomou
no meio do mundo engrandecido por Colombo e por Vasco da Gama o logar
que Constantinopla occupára no antigo continente. E como todas as faculda-
des do espirito humano caminham a par, pouco tempo depois que um peque-
no povo europeu fez adoptar sua lingua aos habitantes dos paizes onde para-
ram as conquistas de Alexandre, esta lingua ennobrecida pela victoria produ-
ziu um poema épico antigo na sua forma, e nacional em seu assumpto. Ca-
mões é o poeta da pátria e da gloria. Seus Lusiadas fazem sentir á alma com
^ F. Didot. Biographie Universellej (om. xviii, pag, 414.
346 FO
a magnifícencia da Illiada alguma coisa dos encantos da Odyssea.» i."", pag.
267.
€Âs tropas portuguezas partiram em namero de 8 a 9 mil homens. Mais
de 4 mil, e entre estes algans officiaes, fugiram ao atravessarem a Hespanha,
e tornaram para o seu paiz. Quinhentos on seiscentos ficaram nos hospitaes.
Alguns foram mortos no primeiro cerco de Saragoça. Só 3240 soldados che-
garam a Bayonna. Napoleão passou-lhes revista, e disse ao príncipe Wolkooski^
ajudante de campo do imperador ú^ Rússia, que então se achava ao seu lado:
iSão homens do meio dia: teem paixão, hei de fazer d'elles umaexcellentein-
fanteria.» Com as tropas portuguezas formou-se uma legião. O general Jonot
receheu ordem de apanhar os desertores, e-de enviar soldados do paiz para
completal-a. Esta ordem não poude ser pofta em execução. Na falta de nacio-
naes completou-se a legião nos deposito de prisioneiros hespanhoes. Passoa
por diversas organisações até ao mez de novembro de Í8i3, em que um de-
creto imperial ordenou o desarmamento de todas as tropas estrangeiras, qae
se achassem no grande exercito, com excepção dos polacos.
•A legião portugueza nunca foi empregada na sua totalidade d*uma só vez;
mas serviu por destacamentos. Dois batalhões cobriram-se de gloría na bata-
lha de Wagram, no corpo de exercito commandado por Oudinot. Um regimento
distinguiuse na batalha de Smolensko. Os habitantes das serras ardentes do
Alemtejo e da Estremadura estavam em bom numero entre os desgraçados qae
morreram gelados nos gelos dé Moscou. Estes estrangeiros conduzidos pelo
acaso debaixo dús bandeiras de Napoleão, tinham tomado por divisa:
Vadimus immixti Danais, haud numine nostro.
Mereceram com tudo em todos os logares a estima de seus companheiros de
armas. O imperador teve bera cuidado era não os tornar a mandar para a
Peninsula. 2.°, pag. 27.
«M. de Pradt, que era 1808 era bispo de Poiliers e esraoler do imperador
Napoleão, assistiu á audiência dada por este príncipe á deputação portugueza.
Elle faz conhecer nas suas Mémoircs historiques sur la revolution d*Espagne
algumas particularidades, que devem ler aqui seu logar :
•A deputação portugueza esperava o imperador em Bayona, e lhe foi apre-
sentada algumas horas depois da sua chegada. Achava-se á sua frente o conde
de Lima, a quem tinham visto como embaixador de Portugal em Paris, o qual
©slava muito relacionado na sociedade. Napoleão não esperou que este presi-
dente pronunciasse seu discurso, como era de estilo em eguaes circumstan-
cias : mas quer fosse demora do conde de Lima em dizer o que tinha prepa-
rado, quer impaciência natural da parte de Napoleão, abriu a conferencia de
uma maneira muito singular. Depois de algumas formulas de polidez, disse
dirigindo-se aos deputados : «Não sei o que hei de fazer de vós, pois isso de-
penderá do que se passar no Meio-dia. Eslaes vós comtudo no caso de formar
um povo? Tendes o volume necessário para isto? Vós estaes desamparados
de vosso príncipe : deixou-se encaminhar pelos inglezes para o Brasil. Fez
n'isso uma grande tolice; ha de arrepender-se d'ella.» Depois voltando -se para
mim accrescentou com um ar muito satisfeito : «Os príncipes teem a mesma
FR 347
obrigação que os bispos; é necessário que residam.» Dirigindo-se em seguida
ao conde de Lima, perguntou-lhe por quantos homens era Portugal povoado;
8 juntando immedíatamente resposta á pergunta, coisa que Ibe acontecia mui-
tas vezes fazer, e que succede ás pessoas que respondem ás suas idéas : «Dois
milhões?— Mais de três, respondeu o conde.— Ah! Náo sabia, replicou Napo-
leão. £ Lisboa, cento e cincoenta mil almas?— Mais do dobro, respondeu o
conde de Lima.— Ah I não o sabia, respondeu de novo Napoleão.» Outras per-
guntas e respostas foram trocadas com esta mesma differença de opiniões e
de avaliações, e de >não sabia, e não sabia, succedeu perguntar ao conde de
Lima: «Que quereis vós outros, portuguezes? Quereis serhespanhoes?» A es-
tas palavras vi o conde de Lima, crescendo dez pós, empertigando-se na sua
posição, levando a mão aos copos da espada, e com uma voz que retumbou
pelas abobadas da sala, responde : «Não !> Os antigos heroes portuguezes não
teriam dito melhor.» — â.*", pag. 33.
442) FOZIO (JOSEPH).
E. — Informatio pro venerabili servo Dei Ignaíio Azebedo et socús in odium
fidei interfectis ab haereticis. Romae, 1662. (Informação a favor do venerável
Ignacio de Azevedo, e de seus companheiros mortos em ódio á fé.)
443) FRAMPTON(J.)
E. — Discourse of the navigation tohich the Portuguese doe tnake to the^
recãms and provinces ofthe east parties of the world, and ofthe knowledge that
growes by them of the greal things which are in the dominkms of China, Writ-
ten by Bemardine of Escalanta, of the realme of Galisia, Priest* Translated
mU of spanish into english by — London, F. Dawson, 1579. (Discurso sobre a
navegação, que os portuguezes fazem nos reinos e províncias orientaes, etc.)
444) FRANCAN.
E. — Itinerarium Portugallensium e Lusitânia in Indiam. 1508. (Itinerário
dos portuguezes de Portugal para a índia)
445) FRANCESCO (P.)— Carmelitano.
E. -'Viaggi alV Indie Oriéntali. Roma, 1672, foi.
446) FRANCISCI XAVIERI (SANCTI).
E. — Epistolarum libin V. Pragae, 1667, 8.*» (Estas cartas relatam por
miado os feitos dos portuguezes na índia.)
447) FRANCIS MARIA.— Episcopus Portuensis.
E. — De vita, sanctitate, canonisatione et miraculis Sancti Frandsci Xa*
viéri. Dillingae, 1622.
448) FRANOKENSTEIN (JACQUES AUGUSTE).
E.— Das historische Theatrum von PortugcUl, Engelland und der Seyweitz,
Halberstadt, 1823. (Theatro histórico de Portugal, Inglaterra c Suissa.)
348 FR
449) FRANÇOIS OOUGHE ET ROULOX BARRO.
£. —Voyage du Madagáscar et du Bresil. Paris, 1658.
450) FRASGARELLio (A Prbsbttero caietanO).- Era empre*
gado na Nunciatura em Lisboa, e capelião do duque de Saldanha.)
Natione ítalo, Domo Asculo, Picentiam a Secretis Legationis Apostolícae.
E. I. — Inscriptiones Regum Lusitanorutn — Apud Reginam FideUsumam
exaratae. Ulyssipone. Ex OfiBcina Typograpbica Natíonali, 1850.
II. Inscrizumi Portoghesi che existono tn diversi luoghi di Roma per — Ro*
ma, 1862.
451) FRASSO.
E.—De régio patronatu ItuUarum, Madrid, 1677, 2 vol. foi.
452) FRAZER (Sm A. S.)
E.— Letters of Colonel, commandmg the rogai horse artíUery in the army
under the Peninsular War, and Waterloo campaigns» LoudoD, 1859, m-8.<»
453) FRIRION (FRANÇOIS NICOLAS, Barok db)
E.— Journal historique de la campagne de Portugal entrepriu par le$ fVoíi*
cais sous les ordres du marechal Massena, prince dEsling^ áiu 15 sepUmkre
1817 au 2 mai 1811. Paris, 1841.
434) FRISON.
E. —Xaverius Thaumaturgus. Burdigalae, 1684.
455) FRITZ (SAMUEL).
E. — El gran rio Maranon ó Amazonas con la mission de la CompafUa de
Jesus geographi carne íite dcleneado. Quilo, 1707. (Os Jesuilas eram os soberanos
verdadeiros do Paraguay. Voltaire, vol. ix, pag. 489.)
456) FROGER (FRANÇOIS).
E.— Relation d'un voyage fait en 1695-1697 aux cotes d^Afrique^ déíroit de
Magellan * Brésil, Cayenne, etc. Paris, 1698, ib. 1700. Amsterdam, 1699, ib.
1702, ib. 1715.
* Tu Magaglíanes, ti rendili ai Mondo
iicl tuo Nome immortal con chíaro v^nto;
dcl Sol mentre immitasti 11 corso londo
degno distoria, e dalto Aonio canto:
d'un generoso ardír nel cor secondo
tu si carpisti il tuo camin; ma quanto
o himc! soíTristí dallaversa sorte
cbe s'uppoo qual Ncmica ali Iluo cbe forte
Girolamo Barlolomci Gia Smcducci — LWmcricaj c. xxvi est. 8.*
FU 349
457) FROISSART (MESSIRE JEHAN).— Chronista celeberrimo.
Nasceu em Yalencíeimes no anno de 1337, e faUecea, segando parece, no
principio do século seguinte. Viajou muito pela França, Itália, Inglaterra e
Escócia.
E,— Histoire et Chronique mémoràble de^Revue et corrigée $ur divers
exemjplaires et suivant les bons auteurs, par Denis Sauvage de Fantenailles-ens
Brie, historiographe du três chrestien roy Henri deuxiesnie de ce nom, A Paris,
chez Jeban Rueile, 1574, foi. A primeira edição foi impressa também em Pa-
ris no anno de 1498.
Froissart na sua Chronica conta muitos dos successos de Portugal occorrí-
dos por aqueile tempo. Mas mereceu-lbe especial attençào a nossa batalha de
Aljubarrota, á qual não assistiu como Ayala, mas teve particular cuidado de
pedir esclarecimentos minuciosos a cavalleiros, que n'ella se tinham achado. É
pois a sua famosa Chronica um como subsidio para a historia da nossa he-
róica lucta.
458) FULIGATI (JACQUES).
E. — Vita di Santa Elisabetha^ régina di Portogallo, Roma, 1625.
459) FURIEUSE ET SANGLANTE BATAILLE, dmnée entre les
Portugais et les Hollandois aupres de Malacca en la quelle a paru la valeur
de quatre seigneurs Prançois descripte par le Capitaine Marque d^Or, Proven-
çal present en icelle. Paris, 1621| in-d.*"
G
460) GALARDI (Mr. de)
E.—Raisons d^Estat et reflexions politiques sur Vhistaire et vie$ des ray$
de Portugal A Liege. Chez Pierre da Cbamps, i670. i2.«. 370 pag. Offeredda
à rainha da Grã-Bretanha.
E' uma Historia de Portugal, que chega até ao reinado do cardeal-rei ]>.
Henrique. O auctor promette um segando volume; ignoro se cumpriu soa pro-
messa.
461 GALERIE (LA) AGRÉABLE DU MONDE,
O primeiro tomo d'eslaobra * dedicado ael-rei de Portugal D. JoàoV,com-
prehende Portugal e Hespanha etraz os mappas de Lisboa, Gascaes, Évora, Be-
lém, Estremoz, Elvas com a planta da fortincaçào, e assim Olivença, Villa No-
va, Arronches, Villa Viçosa, Ferreira, Setúbal, Braga, Coimbra, além de mui-
tas gravuras e vistas.
462) GALIANO (D. ANTÓNIO ALCALA, mjo.)
E. — Portiujaly su passado ij su preseiite. Lecciones pronunciadas en el Ate-
neo cientifico y literário de Madrid. Por—. Madrid, 1873. 8.°, 24 pag.
Só vi o 1." folheio, e ignoro se o auctor publicou os restantes que pro-
metteu.
463) GAMOND (M. A. THOMÉ DE). Engenheiro Civil.
E. — Méinoire siir le projet dagrandissement de la ville de Lisbonne com-
preuant rétdl^Iissnnriit duu grand port maritime : la création de quartiers
nouveauXy et Ir chemiu de fer de Colhires. Ouvrtige pnblié dans les trois lan^
guês frannuse, port(ftinaise et anglaise avec le plan general et particulier des
travaux prujetés par—. Paris. Dunond, editeur. 1870, foi.
Esta obra ó dedicada ao duque de Saldanha.
* Recicla r/íírrrva/ Lid>oncn^L\ \ol. li.^. |i:iç*. 5i.
GE 351
464) GARCIA (F.)
E.— Vida de S. Francisco Xavier, apostolo de las índias. Toledo, 1673. Ma-
drid, 1676.
465) GAUTHIER (MADAME).
E.— Les amours de Camoens et de Catherine d'Mhaide, Paris, 1827. 2 vol. 8.°
<Náo foram só os Lusiadas qae etemisaram o nome de Camões, a collec*
ção de soas poesias o piizeram a par dos maiores lyricos : tanto se podia mo*
díOcar aqaelle génio! Bastantes vezes tenho tido pena, ao desenhar o quadro
de seos amores e de suas desgraças, de não saber bem a fundo a iingaa por-
tagueza, para me arriscar a dar a meus leitores algumas imitações de seus
cânticos. Esta impossibilidade me reduziu a pôr na bocca do meu heroe ver-
sos da minha composição, que se não podem de maneira alguma comparar
com os que legou á posteridade, e que devem ser considerados, conforme a
sua situação, como um impulso d^uma alma victima de seus pesares, que es-
quece um instante depois as queixas escapadas à sua dôr, e que não lhe dà
importância alguma poética.
Os infortúnios de Gamões e seu amor por Gatharina d'Atbaide não a base
sobre que fundei a obra que offereço agora ao publico.»
466) GAZZERA (CONSTÂNCIO).— Secretario da Academia de Turim.
Publicou um manuscrípto antiquíssimo e muito importante para a historia
de Portugal, com o seguinte título :
De itinere navali, de eventibus de que rebus a peregrinis Hierosolymam pe»
tentibus 1189 fortiter gestis narratio, Turim, 1840.
E' a historia da derrota e aventuras de uma armada de cruzados, que des-
aferrou do Escalda em o anno de 1189 com destino de arrancar a Terra San-
ta do poder dos infiéis. Encerra a mencionada relação uma parte mui interes-
sante da nossa historia nos tempos primitivos da monarchia portugueza, tal
como o cerco e tomada de Silves por el-rei D. Sancho I. ^
467) GABAEURS (GEORGE CHRISTIAN).
E. — Portugisiche Geschichte, etc,
Traducção do titulo da obra :
Historia Portugueza desde os tempos mais remotos, em que se acham ves-
tígios doeste povo até ao presente, acompanhada de tabeliãs genealógicas e
muitas annotações. Para conhecimento e comprovação dos verdadeiros factos
históricos. Leipzig, 1759.-4.% 2 tomos n'um vol. O l.** 238 pag., o 2.<> 222. pag.
468) GEDDES (MICHEL).
E. — I. The history ofthe Church of Malabar, by — . London, 1694. 8.*
U. Church History of JSthiopia. London, 1696. 8.»
1 Jo2o Baptista da Silva Lopes — Relação da derrota naval^ façanhas^ succeaos dos
cruzados, que pari iram do Escalda para a Terra Santa no anno de 1189.
352 GE
469) GEDINKS ERIFTEN VAN DEN MARQUIS DE POMBAL.
Te Amsterdân, 1784.
470) GEIBEL (EMMANUEL) —Poeta lyrieo allemâo celebre.
Nasceu em oatabro de 1815 em Lobech. ^
E.'~Spanish Volk$Uedec.
Um Yolame de cantos populares e romances de Hespanha, seguido de dois
outros volumes de poesias hespanholas e portuguezas. Stuttgard, 1862.
471) GENITZ (H. B.).
E,—Ânalyse da obra de B. A. Gomes — Flora fossU do terreno carbonífero
dai visinhanças do Porto, Serra do Bussaco e Moinho d* Ordem, próximo a Al'
eacer do Sal.
(No Neues Jahrbuch fur Mineralogie, Geologie and Palueontologie^ 1867
n.* 3).»
472) GÊNEHAL (A) collections of voyages and discoveries made by tke
Portuguese tn the fifteenth and sixteenth century. London, 1789.
473) GENERAL ORDERS OF THE DUKE OF WELLINGTON
IN PORTUGAL, SPAIN AND FRANGE. London. 1832. '
^ Yapereaa — Didionnaire det Contemporaint, pag. 745.
' Jornal de Sciencias Mathematicat, da Academia Real das Sciencias de Lisboa, toI.
«.•, pag. 7.
> S. ei.* o sr. marechal comraandante em chefe do exercito portagnex tem qoe cum-
prir o agradável dever para com as tropas de S. A. R. que estiveram na batalha do Bof-
saco, de lhes assegurar a soa plena satisfaçfto pela brilhante maneira com que se hoa-
veram, a qual adquiriu a estima, admiração e confiança de seos companheiros de armas
do exercito inglez. S. ex.* viu factos no combate, e uma conducta nas tropas portugue-
zas, de fazer honra ás tropas mais aguerridas, e não faltará a dar a saber a S. A. R. o
roereoimento distiocto das suas tropas, e em particular dos corpos e indivíduos que mais
se assignalaram, e não tem que limilar-M senão a respeito d*aquelles quejtiveram a for-
tuna de combater com o inimigo, todos estes cumpriram como deviam, e o inimigo o pôde
melhor dizer pelo que experimentou.»
•A conducta do regimento n.* 8 foi extremamente brilhante pelo ataque de bayoneta
que fez ao inimigo com os regimentos inglezes. A conducta da brigada que commanda o
sr. brigadeiro Pack, foi excellente. O batalhão de caçadores n.» I, pela dístincta coragem
e constância com que atacou o inimigo e soíTreu o seu fogo durante todo o dia, merece
também os maiores elogios, e o tenente coronel Luiz do Rego Rarreto e seus bravos offi-
ciaes e soldados receberam approvação de s. ex.* O sr. brigadeiro CoUeman e os srs. co-
ronéis Luiz Ignacio Xavier Palmeirim e José Cardoso de Menezes Souto Maior receberam
a segurança da satisfação Je s. ex.* pela sua conducta. A boa carga que deram cinco
companhias do regimento n.* 19, debaixo das ordens immediatas do tenente coronel M.
Bean mereceu ser particularizada, e foi admirada de todo o exercito. O batalhão de ca-
çadores n.* ?, commandado pelo tenente coronel Nixon, mereceu approvação de s. ex.* O
batalhão de caçadores n.° 1, commandado peio tenente coronel Jorge d'Avílez compor-
GE 35;{
474) GENERAL VIEW OF THE STATE OF PORTUGAL con-
taining a topographical description thei^eof, (Descripção topographica de, etc.)
LondoD^ 1799.
475) GENIGE ADVYSEN ende verklaringhen uzt BrasUien. In dato
den 19 Mez Í648. Van 7 gepasseerde. Tot Amslcrdam. By Philips van Macedo-
nien. Anno 1648, 4 foi. sem numeração. (M. S.)
476) GENLIS (Comtesse de).
E. — I. Les tableaux de M. le Comte de Forbin, oíl la mort de Pline Vancien
et dines de Castro. Nonvellífs historiques Paris, 1817.
11. Inês de Castro, suivie de la mort de Pline Vancien. Paris, 1826.^
477) GENLIS (M.»* dk).
E. — Tlie companion for conversai ion as occur most frequently in travei-
ling in English, Frendi, liaiian, Spanish, Portuguese. Bremen, 1818. (É uma
collecçào de diálogos em, etc.)
iou-se eitromamente bem, e contentou perfeltamcote a s. cx.«, o o tenente coronel accei-
tará seus agradecimentos. O batalhão de caçadoro.^ n.** 3, e o tenente coronel Elder tem
qae accreáceutar a brilhante conducta n'csse dia á sua reputação já tAo justamente ad-
quirida: este batalhão tem sempre sido, c contínua a ser admirado polo exercito e por
8. ex.' O brigadeiro Campbell deu a nclhor informaçào do modo com que so hou?e o
batalbSo de caçadores n.** C, commandado pelo tenente coronel Sebastino Pinto d'Araujo
Corrêa. A conducta das brigadu^ de artilbcrid de 9 e G, commandadas pelo major Arens-
tcbild, as quaes soffreram todo o dia o fogo de quatorze peças do inimigo, é digna de
grandes elogios. O sr. general Picton informou a respeito d'ellas o melhor pussivcl. As
brigadas de artilbciia 3 c de montanha conduziram-se muito bem, c s. ex.*^ dá os seus
agradecimentos a todas estas brigadas e aos respectivos commandantes.
«S. ex.* deseja que todos os srs. brigadeiros o commandantes dos sobreditos corpos
deero aos oíGciaes e soldados a sua plena approvaçào o agradecimento pela sua conducta
da qual ello mesmo foi testemunha; e os srs. commandantes eoTÍarào ao ajudante gene-
ral os nomes d*aquelles ofriciacs, oflTiciaes inferiores e soldados que se distinguiram, a Gm
de que S. A. R. os recompense como elles merecem. S. ex.* viu era todas as mais tropas
o desejo e boa disposição com que se achavam para atacar o inimigo, c desejou que este
lhes desse occasião de egualarem os seus companheiros, c de vingarem as ofTensas que
sua pátria tom recebido; mas esta occasiSo não está distante, e chegará quando o inimi-
go quUer, e será outro dia de gloria para o exercito portugucz, pois que o exercito deve
estar seguro, que ainda que o inimigo nfio se atrevendo a tornar a atacar a frente por
oovas tentativas, tem influido em s. cx.' o sr. marechal general lord Wellington para
deixar uma posição, da qual todas as forras e esforços do inimigo não podiam dcsalojal-o,
jamais com um exercito do soldados taes como os iníçlezcs e porluguezes, elle poderá
preencher as suas vistas contra a liberdade e felicidade do paiz; c quanto mais avançar, tanto
mais caro pagará a sua temeridade, a sua cubica, e sua injusta ambição. Vós sois por-
luguezes, e está aqui o exercito inglez. e ambos os exércitos conduzidos e dirigidos por
aquclle que tem vencido tantas vezes o inimigo na causa de Portugal; o com taes exerci-
dos, e debaixo das ordens de s. ex.* o sr nvircchul general lord Wellington, c>tá segura
a victoria.— Ajudante general, Mousinho.— Ordem do dia.— Quartel general do Bussaco,
S8 de setembro de IStO.»
TOMO I i3
178) GEJXTLESULS,
E.—A picinre of Lisbon. Londoo, 1809. (Pintura de Lisboa).
479) GEORGS ANDBIBSR.
EL— Reyzen doar Oort. Shuiy etc. (Viagem às índias Orientaes, China, Tar-
taria. Pérsia, Tarqnia, etc.) Amsterdam, 1670. 8.*
480) GEORGE (MR. DE SAINT).
E. — Vesdave de Camoens, opera comiqae en on acta, par—, musique de
Fletaw. Paris, 1843.
481) GESTA PROXIME PER PORTUGALENSES m Indm, Ae-
thiopta, et aliis orienialibus terris, Petri Âlfonsi Malhereo iiídustria et corre'
ctione impressa. (Feitos obrados recentemente pelos portagnezes na índia, ete.)
RomíP, 1506. J. Besicmeok, 4.*' Coloniae Agripinae, 1507.
482) GHILLANT (FRÊDERIG GUILLAUME).— Escriptor allemio.
Nascea em Erlangen, no anno de 1807. i
E.— Geichickte des Seefahrers Mart. Bahein. Leipsick, 1853. Nnrb^g. I8S3.
ííiistoria do navegador Martin Bebaim).
483) GIL (ANTÓNIO).
E. — Don Pedro de Portugal, tragedia en 5 actoSf escrita en francês por
Mr. Lnrien Arnanlt y traducida libremente ai castellano por — . Madrid, 1829.
^^^} GIO: GIOSEPPE Dl S. TERESA (Carmelitano scALZo).
Nasroii em Lisboa, Marianno, chamado no século João de Noronha Freire. ^
E. — Istoria delle guerre dei reyno dei Br asile accadute tra la corona de
Portugalo, e la republica di Olanda, composta ed offerta alia sagra reale
Maexía di Piefro secando re di Portogallo, etc. Roma, 1698; foi. com grande
numero de mappas de cidades do Brasil; e com os retratos deD. PedcoUe de
1>. Joào IV. 1.» parte 232 pag.; 2.» 211 pag.
Como única excepçiio á regra por mim estabelecida de não tratar senão
de obras compostas por estrangeiros, menciono esta : 1.» por ser escripta em
língua estranha; 2." por ser impressa em paiz estrangeiro; e 3.» por ser obra
muilo conhecida e cilada pelos escriptores estranhos, e na actaaUdade não
fácil de ser encontrada.
'iH:í) GIOIA.
K.~Vit(i dei P. Carafja da Gaela, rapmino e in Affrica missionário após-
fdhrif, il qnnlp movi in Loanda di Angola, Vanno d£ 1662. Napoli, 1669. 4.»
• VaiM-riMii. lUrlionairc des Contem j/orains, pag. 7JÍ8.
" Hihliolhrrn Hislorica de forlníjal , pag. ISf».
GO 355
486) GLAZEMAKER.
E.—Sheepvaart der Frantschen naar Oost-Indien^ etc. (Viagem dos fran-
cezes ás índias Orientaes com tres navios da Normandia por Beaulieaa, e tra-
duzido por—). Amsterdam, 1669, 4°
487) GLEIG (Q. R.)
E.— I. The litissar. Scenes in Spain and Portugal. Lonáon, (Scenas em Hes-
panha e Portugal.)
n. The light dragoon. Peninsular War. London, 1850. (Sobre a guerra pe-
ninsular.)
488) GLUOK.
E,—Parid ed Elena, Dramma per musica dedicato a sua alteza el signor
duca^Don Giovanni de Braganza. Yienna. Nella estamparia de Giovanni To-
maso, 1770. V. Dibliographia Critica de Historia e Litteratura, pag. 110.
489) QODEFROY (DENIS THEODORE).
E. — De r origine des roys de Portugal^ issus in ligne directe masculine de
la maison de France, Paris, 1610. Ibid. 16t2. Ibid. 1614. Ibíd. 1616. Ibid. 1624.
490) GODIGNI (N.)
E. — Vita patris Gonzali SUverim in urbe Monotapa martyrium passL Lug-
âani, 1612. 8.o
(Vida do P. G, da Silveira, que padeceu o martyrio em, etc.)
491) QODMAN (F. DU GANE).
, E. — Notes on the birds of the Azores, (Notas a respeito dos pássaros dos
Açores). No jornal /6Í5, janeiro de 1868, pag. 88. V. Morelet,
492) GÓES (FERNANDO DE).
E. — Breve summa y relacion de las vidas y hechos de los reys de Portugal
y cosas succedidas en aquel reyno desde su principio hasta el anno de 1595.
MaBtua, 1596.
493) GK)EZ£ (EDMOND).—- Jardineiro allcmào, chamado a Portugal com
o fim de dirigir os melhoramentos do jardim botânico de Coimbra, o actual-
mente encarregado de formar o jardim botânico da escola poiytechnica de
Lisboa.
£.— I. Sur la variabilité des espêces, Examen de la doctrine de la varia-
tion des espêces dans le règne vegetal de M, Herdei, (No Jornal de Scieticias
Mathematicas etc. da Academia Real das Sciencias de Lisboa, vol. l."*, pag.
209 e seg.)
11. Bibliographie Botanique. Idem, vol. 2.«, pag. 70.
E vários artigos sobre ass umptos bolan icos Jornal do Porto.
356 GO
494) GODfPY (Coute FRANQOIS LOUIS EDHONDE GA6RI£I«
DE MAITZ DE—)
E. — I. Compte rendu au roi de Portugal des operatians ashvnomiques et
geographiques faites sur le$ cotes de ce pays.
lí. Observatiojis faites à Aveiro et à Funchal. (Manuscriplos inéditos guar-
dados na Academia da Marinha cm Paris).
495) GOLDSOHMIDT (BERTOLD).
S. — Noções praticas da litujiM allemã, Leii)zig, 18o9.
496) QOLLUT (LOUIS).
E. — Mémoires historiques dela republique Sequanoise et des pr inces des
catholiques róis de Castille et de Portugal, et de la maison desdicts princes de
Bourgogne. Dole, 1592, foi.
497) GONDAR (ANGE).
K. — Discaurs politique sur le comrnerce des anglais en Portugal, Paris,
1756.
498) GONZALEZ (D. JUAN).
E.—Nueva corografia. Descricion de todas las provindas, viilas e bispa-
dos, arzobispados, pnentes, fortalezas y constderables lugares dei reino de Por»
tugaly en que se imiestra cl modo de hallar estes lugares en sus respectivas príh
vindas j con los principal es rios^ bahias, mares, montanas, llanuras, sierras y
collados, sobre que estan sif nadas, ctc. Su aiiior— . Sevilia, iraprenta de J. Pa-
dal. 100 pag. Sem data. ^
499) GONZALES (MODESTO FERNANDEZ) De ia Sociedad do 65-
íTítores V arlistas, auxiliar dei ministério de hacienda.
K.— I. Pastellero de Madrigal. Homance.
II.— Retratos y Semblanzas por — . Madrid. Imprcnta doía Biblioteca de
instruccion y recreo. 8.°, 238 pag.
IV uma collecçào de pequenas biographias de escriptores portugaezes ohes-
panhoe?. Os porluguozcs biographados sào : Theophilo Braga — Eduardo Coe-
lho —Luiz de Campos — Miguel Lobo de Bulhões— A. A. Teixeira de Vascon-
cellos — J. Cosia Goodolphim — A. Pereira Marecos — António Rodrigues Sam-
paio —José Maria Latiuo Coelho.
IIL— Portugal Contemporâneo. De Madrid d Oporto posando por Lisboa,
(Diário de nu camiwmte). Madrid. Irnprerila de Manuel Tcllo, 1874. 8.° 256 pag.
«Portugal tem historia própria, ostenta galharda litteratura, o oíTercce
a naeionaes e estrangeiros os ])roduclos do trabalho, do saber c do génio hu-
mano.
«Xao póilií renegar d(» sua origem neinlradi(jues. Irmãos temos sido c con-
' ílrvr -rr d'» .ume <li; I7í:2. Ili(|.»lg'j. — A^/c/tm I!il>'i()iira;"i'-> /isy"n"/t>/, lonio o.*
GO 357
tianaremos a ser, sem cada paíz pendor sua necessária ínJopendcacia. Não'
obsta porém isto a que Portugal reúna condições próprias para viver sem au-
xilio estranho, já pelos esforços dos naluracs, já pelas riquesas de sou solo.
•A natureza o tem favorecido com rios navegáveis, altas serras» valles fér-
teis 6 pittorescos, campinas deliciosas, lindas collinas, costas dilatadas com
babias abrigadas dos ventos, mineraes abundantes, e com as margens do Dou-
rO| Minho, Mondego e Tejo, base da agricultura nacional.
«O trabalho, o desinteresse e a piedade dos homens lhe deram templos
sumptuosos, hospitaes magniílcos, monumentos desejados, cidades bellissimas,
caminhos de ferro e estradas com abundância, formosas estatuas, castcllos o
muralhas sem conto, productos do solo cxcelientes, praças de guerra em esta-
do de defesa, bíbliothecas escolhidas, innumeraveis asylos de ensino, manu-
seriptos valiosos^ palácios, amphitcairos, museus, quartéis, portos, diques,
aqueductos : em summa, tudo de quanto ha mister uma nação na sua vida
interna e manifestações exteriores.» Pag. 84.
«Poucas povoações europeas ostentam arrabaldes tão pittorescos e uma ve-
getação tão exuberante como a cidade de .Lisboa. Belém, Bemílca, Queluz,
Campo Grande, Paço d*Arcos, Oeiras, Nova Cintra, Cacilhas, CoUares e Mafra
comprovam que a capital do reino lusitano não tem que invejar ás mais afa-
madas do mundo civilisado. A profusão de casas de campo, a abundância de
arvoredo, o esmero nos jardins e a mimosa côr das flores predispõem o via-
jante para novas visitas e prolongadas demoras. Começa, pois, nossa peregri-
nação pelas profundas e risonhas quintas de Lisboa, o cm primeiro logar por
aqueilã de que disso o poeta Campoamor :
Lo tengo bicn presente;
La quinta de Pombal, honra dei Tajo,
Se encuentra rio abajo, rio abajo, v
Saliendo do Lisboa hácia el Poniente.
En Portugal los suenos son pasione<;
Y en el bello jardin que os ha nombrado,
Hecho por algun sábio enamorado •
Del arte de avivar las tcnlacionos,
Um dia, el más hermoso de mi vida,
Ninas bellas y jóvenes rendidos,
Jogamos a escondemos y en seguida *
A volvemos á hallar bien escondidos. Pag. :]97.
IV. Los Companeros de Vasco da Gama. Madrid, 1S75. Foi esto romance
vertido em vernáculo pelo sr. Cândido de Figueiredo.
500) QOTOQRIDI.
E.— Índio? OrierUalis Historia. Francofurti, 1C28, foi.
501) GOULAHD (SIMON).
E.-^IUstoire de Portugal depuis Van 141)íj jusqu\m 1578 sous Emanuel íí
Jean IH et Scbastien I en vingt livres, áml les })reniiers sont traduits du Latin
358 GR
de Jerome Osoiíías, et les hmt suivants pris de Lopez de Castagnede et (Toií-
tres historiens. Saínt Cervais, 1588.
502) QOURLAY (Dr. WILLIAM). •
£.— Observatians on the natural History, climate and deseases of Madeira
during aperiode of eighteen years. London, i8ii. (Observações sobre a historia
natural, clima e eDÍermidades da Madeira, darante um período de dezoito
ânuos).
503) GOURNÉ (PIERRE MATHIAS).
E.-^Description géographique de$ royaumes WEspagne et de PortugaL--
i743.
504) GRAHAM (MARIA).
E.-'Journal of a voyage to Brasil, and residence there during part of the
yars, Í8Í1-22-23. Londou, 1824.
505) GRAMTVTATICA (NOVO E FACILIMMO METHODO DE) Fran-
ceza e Portugtieza, recopilada dos melhores auctores que escreveram Arfes e
Orthographia, de la Rue, Restaut^ e Gelmace, de la Touche, DesmaraiSt ete.
Feito por ordem do ex."^ cardeal de Rohan, ordenado por um génio amante
dos progressos dos estudiosos doeste idioma. Treveux. Na officina de António
Ginião, 1776. 8.°, 342 pag.
506) GRAMMATICA PORTUGUEZA. Vocabulário emportuguez e ma-
labar. Tranquebar, 1733.
507) GRAMMATIK PORTUGUESISCHE.' Franr/brí, by Cari GO'
ttlieb. Elrauss, 1778.
• 508) GRANADA (Fr. LUIZ DE).— Celebre escriplor ascético, frade da
ordem do S. Domingos.
Nasceu em Granada * no anno de 1504, e falleccu em Lisboa no de 1587.
Jaz ao entrar a porta travessa em S. Domingos de Lisboa.
E.— L Compendio da doutrina christã, recopilado de diversos auctores, que
d'es(a matéria escreveram, pelo R. P. F. Luiz de — , provincial da ordem de S.
Do^w? /í í/as'.— Accrescon taram -se ao cabo treze sermões das principaes festas do
anno polo mesmo aiictor. Foi impresso em Lisboa, em casa de Joannes Biavio
de Agripina í^ulonia. Anno íooí). i.", 174 foi.
oOtíj GRANDPERE (LOUIS M.VRIE JOSEPH OLIVIER).
E,— V^O!j(ige à la cute OcciíliibUc dAfriqu", rontenant la description des
nueurSy usagc^, luis, ijonccrnaneiU, cl commerce des états du Congo, etc, et une
í Fr. L".i/. 'lo Sou-! íh-h-., [n. ./.• > Do-mnífo-., Iiv. .'J «, «-ap. 12."
6R 359
áiscussion ou Von examine si ies anciens avaient doublé lepromontoire dn Cap '
de Banne Esperance avant Ies Portugais. Paris, Í80i. 2 vol.
5iO) GRANT.
E,'~Histary of Brasil, comprising a geograpkical Account of the Country
a narrative of remarkable events. (Historia do Brasil). ,
5(1) QRAVIO (GADABALE).
E.—De Ichthyotyrannide. JJb. in lusitanorum regum gratiam et commen'
datíonem. Coioniae Agripinae. 1563. (Da tyranaia dos peixes. Livro em obse-
quio e loavor dos reis de Portugal).
Nâo pade encontrar este livro, por isso nada poáso mais dizer. Talvez seja
alguma obra graciosa.
5i2) GRENAILLE (O^STONNIERES DE)
E,—Mercure Portugais, ou relations politiques de la fameuse révoluticn
d^Etat arrivée en Portugal depuis la mort de D, Sebastienjusqu*au couronne-
meni de D. Jean IV à présent régnant. Paris, 1643. 8.»
513) QREVILLE (Lord GEORGE).
E. — Portugal, A põem, in two cantos. London, i812.
514) GRYSLEY )GABRIEL).~Allemào qae veiu estabclecer-se em Lis-
boa no reinado de D. João IV.
E.— Desengano para a Medicina, ou botica para todo o pae de familias.
Consiste na declaração das qualidades e virtudes de 260 hervas, com o uso
deltas: também de 60 aguas estiladas, com as regras da arte da estilaçõo. Di-
rigido ao illm,"* senado da camará de Lisboa, por Henrique Valente de Olivei-
ra, 1656. 8.% 182 folhas.
U. Viridarium Lusitanicum Ulysipone. 1661.
Id. nomimlms Linneants illustratum a Dondnico Vandelli. Olyssipooe^ 1789.
515) GROGNARD (Sisua P. GHAPELAIN DE M. R.)
E. — La couronne du Portugal ou la perfaite connoissance de ses royanmes,
conquêteSy loix, míájeimes, vnterets, etat presant etc. Avec un abregé de san hiS' ^
UÂre, et un traUé curieux de la marine: du change de Portugal et du mariage
de S, A. R. Le tout recueilli en abregé pour servir d'instiiiction à ceux qui
auront Vhonneur d^être à son servtce. Par le — . A Turin, 1682. Chez Barthe-
lemy Zappate. Avec permission. 12.<»| 254 pag.
Ê dedicada esta obra a D. Diogo de Carvalho Cerqueira, enviado extraor-
dinário de Portugal a sua alteza real.
Faz o auctor os maiores elogios a Portugal chamando-lhe um dos]mais bel-
los paizes do Universo, e á cidade de Lisboa um dos mais bellos theatros d»
mundo. A fertilidade das margens do Tejo parece incrível. Palmella é um le-
gar de delicias e pode-se dizer que é um logar encantado (pag. 56.) A provi»-
360 GR
cia d'Entre Douro c Minho é um pequeno paraíso terreal. Sao n'ella os ali-
mentos tão bons, (|ue ali se vive muito tempo. N'uma palavra a Portugal nada
falta, seja o que for.
«Não custa a conhecer a nação portugueza, se se reparar na historia de soas
emprezas, nas suas victorias, gloria e conquistas.
«Sào os portuguezes ordinariamente roais propensos á naveg[açao, ao com-
mercio, à guerra, do que às heilas lettras^ apesar de serem elles dotados d'um
espirito subtil. O que para isso mais contribue, é o exemplo de seus avós, que
por aquelles meios estabeleceram suas casas e serviram ao rei para augmen-
tar a gloria e forças do estado. Tem-se visto que souberam fazer para as con-
solidar e conservar tào bellas conquistas nas costas d'Africa, Asía e em o Novo
mundo. Commerceiam com todos os povos do septentrião e enriquecem-se em
pouco tempo.» (Pag. 63.)
•Sào mais cortezes que os castelhanos, cujo orgulho lhes pareceu sempre
intolerável. Sào também homens muito expertos, civis e próprios para tudo.
«As conquistas d'este reino estendemse a mais de cinco mil léguas de cos-
ta, e como os portuguezes teem querido tornar-se por toda a parte senhores
do commercio, todas suas praças estào à borda do mar, onde seu principe, qne
ó conhecido em todas as quatro partes do mundo, tem vários reis por vassa-
los o tributários com a commodidade de fazer vir para a Europa as mais ra-
ras c preciosas mercadorias do Oriente»
Desde pag. 66 até 88 é a lista das possessões porluguczas nas differentes
partes do mundo. «Póde-se dizer, exclama o auctor, que nào ha nação na Eu-
ropa que 5 'ja tào poderosa, tào rica c tào estimada como o é a portugueza nas
índias orientaes, quer isto proveuha da pesca das pérolas, e das conquistas que
soube ganhar c conservar tão gloriosamente, quer de sua maneira de proce-
der, mais alTâv(^i que a dcs hespanhoes, c do sua habilidade admirável em to-
das as coisas.
«Caslclla deve sua liberdade aos reis do Portugal (pag. 181), cujas armas
maio conliilmirain do que as d'ella a expulsar os mouros dos reinos de Gra-
nada e dl.' Andaluzia, e a desviar as conquistas que seus miramolins poderiam
ernprclhudiT, se os portuguezes iiào se tivessem opi)OSto a seu furor, etc.
«O reino c muito povoado, e lodos os porta.u^uezes aij^uerridos. D'aqui saí-
ram grandes exércitos, e a naçào povoou colónias nuiiio notáveis, mesmo an-
tes da conquista da índia, e apezar de ter sido Portugal em lodos os séculos
um campo de hatallKis ou do revoluções. Seus rei^ sustentaram só com as for-
ças do paiz guerras contra os mouros e castelhanos, e outros visinhos que ti-
nham um numero quasi infinito de soldados. Ampliaram os limites do paiz, e
levaram au caJto i-mprezas, (|ue uma parte da KuropaníMU mesmo teria ousado
enjpreÍH nder. Vt>v!;aram as cosias d 'Africa, as índias Orientacs, o Hrazil, e
para alli eonliniLim a mandar annualuieute mais de seis mil homens »
Em (luanio a marinha Portugal é a primeira naçào do Univt;rso (pag. 198). Os
navios sà(» lào \m\\ construídos, e a habilidade dos marinhtííros ajuda tào bem
a «'vjragem im»? íioMados e os projectos dos generaí's, que com justa rasào a es-
quadra Je Portugal é o terror das índias, o por isso alli conserva praças afãs-
GU 361
tadas amas das outras, e do meio de tantos reis inimigos. A cansa d*isto é qne
o numero dos navios em serviço da coroa é extraordinário; e se todas estas en-
quadras se unissem á frota que anda a crusar por aqueiles mares ás ordens
de S. M. Portuguesa seria uma frota capaz de fazer tremer uma infinidade de
povos. •
516) aUAliTIEIil (G.)
£. — Relazione delia ventUa de gli ambasciatori Giaponesi à Eoma, fino alia
partUa de Idsbona, Con una descrizione dei loro paesi e costum e conle aceíh
glienze falte loro da tutti i principi Christiani per dove sono passati. Yene-
zia, 1586.
617) GUATTANI (G. A.)
E. — Pompa fúnebre par le solemni exequie di Maria Isabella di Braganza^
regina delle Spagne et delle Indie, fatie celebrare in Roma da S. M. C. Vau»
gusta consorte Fei-dinando VIL Roma, 1820, foi. max. Com magi\|fícas es-
tampas. Existe um exemplar na fiibliottieca Publica de Lisboa.
518) GUATTINI E OARLO.
E.-^Viaggio nel regno dei Congo, Venezia, 1679, Reggio, 1672* Bologna,
1678. Em francez. Lyon, i680.
519) GUÉNÊE (ABBÉE).
E.—Lettres de quelques juifs portugais, allemands et polonais aM.de Vol-
taire, avec un petit Commentaire, extrait d'%i,n plus grand, à Vusage de ceux
qm liseni ses ceuvres: suivies des Memoires sur la fertilité de la Judée par —.
Dixihne édxtion revue^ corrigée d'aprés les mantAScrits de Vautèur, et augnien-
tée d^une table alphabétique et raisonnée des matiêres et des notes qui mettent
cet ouvrage en rapport avéc les (euvres de M. de Voltairey imprimées à Kiel,
ou leurs réimpressions, Lyon, 1819. 3 vol. 8.»
As cartas de alguns judeus portuguezes são obra do Isaac Pinto, judeu
portuguez. Estas cartas foram muito apreciadas, e teem por fim corrigir os
erros que formigam nas obras de Voltaire, sempre que falia da religião ju-
daica. Seguem-se depois as cartas dos judeus allemãôs e polacos, dirigidas
ao mesmo fim. Veja-se a Biograpbia de Guenné, que precede esta edição.
520) GUERRA (LA) DELLA PENISOLA solto il suo vero punto di
vista ossia lettera ai Sig. Abbate F.... riguardo alia storia deWultima guerra
pubUcata recentemente in Firenze, Con un Appendice, ed una Tavola Crono*
lógica degli Avenimenti piu memorabili dalVanno 1803 ai 1814. 4.'», 253 pag.
Itália, 1816.
O auctor pretende mostrar por occasião de censurar alguns erros que se
encontram na historia da referida campanha escripta por Du Pradt, que os
serviços prestados pelos portuguezes foram muito mais importantes, e coatri-
buiram muito mais não só para a independência da Península, mas até para a
queda de Napoleão, do que os dos hespanhoes. Todo o continente Europeu
chêfffm a estar debaixo do domínio do imperador dos frasicexes á excepção de
Portugal.
«As tropas portagoexas foram am modelo 4e firmeza» regularidade e rapi-
dez de movimentos, todas as vezes que se viram em frente das tropas frince-
zas.i Pag. 9.
«Napoleão resolvea mandar em iSiOpara Portugal om exerdto de 115.000
homens sob o commando de Massena. E se elle poude destacar áqndle Dnmero
de soldados para fazer a conqoista de Portugal, se durante os dez meses d'a-
quella invasão não houve algum outro acontecimento notável na Península,
nem os hespanhoes fizeram algum movimento para se approveitarem da di-
versão do marechal Massena e da de Soult, que tinha recebido ordem de se
apossar de Badajoz e occupar a parte meridional do Tejo em Portugal, era evi-
dente ser Napoleão senhor da Hespanha nos annos de Í809-Í8i0-Í8íl, como
o era do resto do continente. Por isso em vez de considerar debaixo d'um
ponto de vista secundário os acontecimentos de Portugal, e dar toda Importân-
cia aos movimentos da Allemanha, devia o auctor considerar n'aqndla época
a causa de Portugal, como a causa do continente inteiro.
«Por occasião da batalha de Barrosa, dada perto de Cadix a 5 de março de
1811 desenganaram-se os inglezesda possibilidade de formar um exercito hís-
pano-inglez. D^aquelia época por diante não pensaram mais os inglezes em en-
trarem sosinhos na Hespanha, e depois da retirada de Massena em maio de
1811 só houve o exercito Anglo Luso, que figurasse no referido paíz. A este
de longe a longe se uniu algum pequeno e insignificante corpo hespanhol, mas
em geral os hespanhoes operavam somente como guerrilhas; e depois de 1809
pode-se dizer que mui pequena parte tiveram nos brilhantes successos da guer-
ra. Nenhuma, por exemplo^ na batalha do Bussaco a 27 de setembro de 1810,
e em todo o tempo da invasão de Massena.
«Nenhuma nos assaltos de Ciudad-Rodrigo, e de Badajoz no anno de 1811.
«Muito pouca o debíl na batalha de Albuera a 16 de maio de 1811.
«Quasi que nenhuma na de Salamanca a 21 de julho de 1812.
«Muito pouca na de Víctoria a 21 de julho de 1813.
«Nenhuma no assalto de S. Sebastião.
«Pouquíssima cm diversas batalhas de Pamplona e dos Pyrineos.
«Muito pouca em difTer entes refregas em torno de Bayona.
«Muito pouco na batalha de Orthez a 13 de fevereiro de 1814.
'Pouca na de Tolosa a 10 de abril de 1814.
«Por conseguinte o auctor da Historia reprosenta-a debaixo de falsas cores
quaudo omilte faliar dos triumphos de lord Wellington em Portugal, e dos es-
forços dos portuguezes, que foram o primeiro passo decisivo para o livramento
do continente. Quando faz figurar uni exercito anglo-hispano, que nunca exis-
tiu, e passa em claro o exercito anglo -luso.
«Lord Wellington, quando chegou a Portugal, escreveu aos ministros in-
glezes, dizendolhcs que lhe parecia surprehendente a insurreição de Portugal,
pois aos hespanhoes ainda restavam algumas tropas e todos seus arsenaes^ ao
passo que aos portuguezes nada que tal nome merecesse.
GD 363
«A Historia de Portugal em qaanto a este ponto desafla o calculo e a saga-
cidade dos mais hábeis políticos. Esta nação em todos os tempos se moetroa
bellicosa e propensa a defender sua pátria, e todas as vezes qae tem sido bem
dirigida, tem obrado prodígios na gaerra; daas vezes esteve sem offerecer re-
sistencia em 1580 e 1807, e daas vezes se insurgia contra o inimigo que a mo-
lestava, e em ambas foi bem succedida.i (Pag. 65.)
Depois de impresso o presente artigo vim no conhecimento de qae este li-
vro é trabalho de um general portuguez.
521) GUERRA (Padre JOSEPH).
E. — Padre Retter. Vida y virtudes de la Senora D. Maria Anna^ reyna
de PortugcU, traduzida por — . Madrid, 1757.
522) QUEVARA (LUIZ VELEZ).
E. — Comedia Famosa,— Reyna depues de morir. Inez de Castro. Bareelo-
looa, 1768,
523) GUIA DE GARRERAS DE CABALLOS en AndeUucia y Por-
tugal, 1874. Málaga, imprenta de Ramon Párraga, 8.»
524) GUINGRET (M.— ) Chef de bataiilon en demi-activité, et officier
de Tordre royal de la Legion d'Honneur.
E. — Relation historique et militaire de la compagne de Portugal sous le
ikaréchal Massena, prince d*Essling, ContenatU les opérations militaires qui se
raipportent à Vexpedition de Massena^ et les divers faUs de Varmée de Portu-
g(U,jusqu'à la fin de la guerre d'Espagne, Par—, Limoges. Mai, 1817, 8.<> gr.
27ipag.
<É Portugal um dos paizes mais montanhosos e mais pittorescos; regado
e fecundado por algans rios magestosos, ornado de bosques e florestas, sendo
também cortado por pequenos ribeiros e Torrentes, que engrossam prodigiosa-
mente com as menores chuvas. N'elle se vêem legares os mais pittorescos e ri-
sonhos junto de vistas da maior aridez.!
•Apesar da antiga reputação de bravura dos hespanhoes, e de nos terem
por bastante tempo causado muito mal, todavia não mostraram contra nós uma
coragem tão activa, como a dos portagaezcs. Nos últimos tempos as tropas
d'estes rivalisavaro em valor com a melhor infanteria ingleza.i
«Citarei o sangue frio de alguns artilheiros portuguezes no cerco de Al-
meida, que tendo tido a felicidade milagrosa de sobreviverem à explosão, con-
tinuaram a disparar suas peças, em quanto os destroços da praça ainda voa-
vam, e ameaçavam esmigalhai- os. Gostamos de admirar a coragem, mesmo em
nossos inimigos.»
«Em geral todos os chefes inimigos qae commandaram praças na Hespa-
nha, oa em Portugal, adquiriram muita gloria. Quasi todos desenvolveram
grande coragem, mostraram uma dedicação rara, e deram provas do mais no-
bre desinteresse durante suas defezas. Parecia que quanto menos esperavam
364 GU
soccorro, Unto maior pertinácia mostravam. Um comportamento militar tio
bello em nossos inimigos, realça a gloria dos chefes franceses qoe foram en-
carregados de lhes tomar as praças.!
«Passámos por Mangualde, peqaena, mas bonita povoação. As plantas e ar-
vores índigenas, qae embellezam este logar, concorrem a tonial*o maia deli-
cioso aos olhos do estrangeiro. Começamos aqui a encontrar monomeotos de
utilidade publica, monumentos muito raros na Hespanba, onde ainda menos
existiam antes do reinado de Carlos III.
«Além dos monumentos de utilidade publica, as diversas fabricas, e as boas
livrarias que se acham tão frequentemente nas cidades, e até nas villas, onde
06 principaes habitantes teem sempre porção de excellentes obras em varias
linguas; os instrumentos de mathematica, physica, astronomia, marinha, qoe
vemos frequentemente em Portugal, e cuja forma se ignora mesmo na Hespa-
nba, tudo isto parece attestar que a nação portugueza está muito mais adku-
tada que a hespanhola. Pode provir esta differença em parte por exercer a in-
quisição um despotismo menos fanático em Lisboa, do que em Madrid, fim
toda a parte onde os padres reinam exclusivamente, o erro tem seus altares, e
a verdade encontra barreiras inexpugnáveis.! Pag. 44.
«Massena e Wellington attrahíram as attençoes da Europa inteira: um veia
macular em Portugal uma reputação brilhante adquirida por vúite annos de
victorias; o outro na mesma campanha começou a aureola d'um nome tomado
depois illustre na guerra, mas ao qual a lisonja, espírito de partido e viUea
de alguns escriptores assalariados quizeram coUocar n*uma altura excessiva-
mente elevada pondo-o a par com os maiores capitães. O vulgo enthusiasta #
ignorante exagerou egualmentc as qualidades e defeitos doestes dois homens
celebres.» Pag. 68.
«Durante o inverno tinha cu supportado noites bem terríveis na Allemanha
e na Polónia, roas aquclla, em que deixámos a posição do Bussaco é uma das
épocas de minha vida, em que fui mais penosamente affectado. A marcha lenta
e grave de nosso exercito occupada em transportar seus numerosos feridos em
macas, offerecía o aspecto d'uma longa fileira de accompanhamentos fúnebres.
O silencio melancólico da obscuridade era perturbado pelo ranger surdo e lú-
gubre das carretas de artilheria. Alguns infelizes soldados esforçavam-se em
vão para reprimir a expressão de seus soíTriraentos: os grilos entemecedores,
meio comprimidos pelos esforços da coragem, fugiam de vez em quando, do
íundo de suas entranhas, e faziam estremecer compassivamente o coração me-
nos sensível. Os cadáveres d'aquclles, cuja morte terminava os males no meio
d*esta marcha lúgubre, lançados para a borda das covas, serviam para fazer
reconhecer o caminho alravez da obscuridade ás tropas, que nos seguiam. Os
gritos agudos das aves de rapina, que fugiam de seus esconderijos, e abando-
navam seus ninhos á medida que avançávamos, e das quaes algumas acompa-
nhavam atrevidamente o exercito por appelecerem sua presa, accrescentavam
alguma coisa de sinistro a esta scena.» Pag. 79.
«Avistámos então o convento do Bussaco, do qual tínhamos distinguido uma
parte da torre no dia da acção. Os religiosos d'este mosteiro tinham recolhido
GU 365
e tratado eom a maior hamanidade os feridos do nosso exercito qae tinham fi-
cado no campo de batalha, a distancia fora do alcance do soccorro, que nós
lhes tivéssemos desejado dar. Em muitos legares de Hespanha os frades tel-os-
hiam matado em vez de diligenciarem sua conservação.! Pag. 70.
«Uma circumstancia bem particular d'esta guerra, e da qual nunca se fal-
lon, é que chegou a relaxação até ao ponto de vender mulheres! Trocavam-se
até por viveres e por cavallos: jogou-se ás cartas uma rapariga contra um ob-
jecto de luxo. Até um empregado do commissariado me sollicitou mui seria-
mente de lhe ceder por duas onças de ouro a propriedade de uma mulher, que
se tinha refugiado na villa do meu commando.» Pag. 127.
«Tinham-se descoberto tantos esconderijos, que se não encontravam mais
nenhuns; ou pelo menos os que ainda existiam tinham sido feitos com um cui-
dado tal, que era quasi impossível dar com ellcs. O tacto, que nossos soldados
tinham adquirido pelo habito, falhava cada vez mais: e as necessidades aug-
mentavam gradualmente de maneira horrível. A penúria era tão grande que.
tornava nossos soldados insensíveis o cruéis, tentaram torturar os habitantes
obstinados, que podiam apanhar com o flm de lhes fazer declarar os esconde-
rijos de que tinham conhecimento. Este meio, d'uma barbaridade inaudita,
aproveítou-lhes, e o exercito inteiro viveu algum tempo das confissões arran-
cadas por meio da tortura! Soldados, que nas circumstancias anteriores tinham
mostrado sentimentos generosos, contavam então a sangue frio estas abomi-
nações.»
«Se a historia fallar um dia a respeito doestas atrocidades, lembre-se que
só restava ao exercito de Portugal commandado pelo príncipe de Esseling
(Massena) este único e ultimo meio para não succumbir às agonias da fome,
e isto ao passo que o exercito anglo-luso vivia na abundância.»
«É com injustiça que se attribue a expulsão dos francezes da Hespanha aos
hespanhoes: devem principalmente o livramento de sua pátria ás forças de In-
glaterra, e ás de Portugal.
«Estavam os hespanhoes mergulhados n'um somno apathico, quando uma
perfídia inaudita lhes roubou Fernando VIL O despertamento foi terrível. A
indignação traásformou de repente na península o espirito de fanatismo em
furor guerreiro. Numerosos exércitos se formaram; fortlQcaram-se á pressa
muitas cidades e conventos, por toda a parte ouviram-se cânticos patrióticos,
roisturavam-se com os hymnos consagrados á Divindade. Com o sentimento
profundo da justiça de sua causa todos os hespanhoes levavam no coração a
confiança da victoria. Ne emtanto não poderam resistir à superioridade, que
o habito de vencer tinha dado a nossos soldados. Os exércitos hespanhoes ven-
cidos logo que eram atacados; desapparecíam diante de nós como areias asso-
pradas pelo vento. Sanguinolentas derrotas, a queda de Saragoça affrouxaram
os enérgicos esforços dos povos de Hespanha. Esta nação vilipendiada renun-
ciou então era parto ao plano do defeza activa que tinha abraçado ao princi-
pio, e oppoz sua inércia natural á invencibilidade dos francezes.» ^
«No emtanto os destroços dos exércitos hespanhoes, numerosos corpos mi-
licianos cominandados por gpneraes patriotas; bandos do í^uerrilhas, á frente
366 GU
das quaes se achavam contrabandistas, aventureiros e mesmo antigos cliefes
de salteadores conseguiram manter continuamente a maior parte das provín-
cias n*um estado de guerra vantajoso à causa da nação. Os hespanhoesteem
coragem, porém exagerou-se muito o valor que mostraram na ultima guerra.
Os elogios excessivos que lhes prodigalisaram não são devidos mais que à sua
perseverança, virtude inherente à sua vaidade.»
525) GUIZOT (Mb.). Escriptor francez contemporâneo muito conhecido.
E. — Du gouvemement de la France depuis la restauration et du tmnistère
actuei par — . Quatrième editwriyrevuey corrigée etaugmentée d'un avatU propôs
et d'une note sur les revolutions d'Espagne, de Nápoles et de Portugal. Paris-
526) GUHIEL (PABLO — .) Natural do Guenca.
E.— La mctoria que tuvo Don Mvaro Baçan, marques de Santa Cruz com-
tre Felipe Stvoço-en la islã de San Miguel a 26 d^ julio de 1582.
É obra muito rara.
527) QUTHNIOK, HOOHSTER E GIQAX.
E. — Uebersicht der Flora dei^ Azcrischen insel — no Wiegmanns Ârchiv.
fur. naturg. 1843 K
Vid. Seubert (Mauritius),
528) aUTHRIE (G. J.)
. E,—Commentaries on the surgcnj of lhe war in Portugal, Spain, etc, Lon-
don, 1853. (Commentarios a respeito da cirurgia militar, etc.)
529) QUTIERREZ (aAROIA).— Dramaturgo hespanhol.
E. — Afectos de ódio y amoi\
D'esla obra dà-nos noticia o sr. Pinheiro Chagas a pag. 79 do seu livro in-
titulado Madrid,
t A scena passa-se em Portugal em 1580. D. Diogo de Távora é um porlu-
guez, que vive em Évora com uma filha o uma pupilla, ígncz e Theodora.
Cada uma d'ella8 está occuItaracDle apaixonada por um capitão hespanhol dos
terços do duque d' Alba. Entra o seu terço em Évora, e ambas reconhecem
que o seu namorado é o mesmo. D'aqui resultam ciúmes entre as duas, e na
pátria nenhuma d'ellas pensa, nem sequer ao menos para sentir no fundo do
coração um ligeiríssimo remorso. Pelo contrario Theodora chama insolente ao
povo portuguez, que accusa de atrocidades os castelhanos, e araba? desejam
que o prior de Crato se aíTunde por uma voz no Douro, e que essa guerra
acabe com a vicloria de Philippc II. Accompanlia-as n'osse desejo a suacrca-
da Beatriz, que também traz amores com o camarada do capitão cm confor-
midade com os velhos imbróglios, a que o thcatro hespanhol é mais fiel do que
seria para desejar
' Morelet. — Lca Açores y pag. 11.
GO 367
«Não censuramos o sr. Garcia Gntíerrez pelo altivo escameo, com que trata
a froaxa resistência do povo portaguez a Philippe II: o nosso orgalho não sa
revolta, oa pelo menos não se qaeixa. Em questões de arte não fazemos inter-
vir um patriotismo deslocado; mas o que nos impressiona, revelando-nos mais
uma vez o defeito característico do theatro hespanhoi, é a negligencia no es-
tudo das paixões, na investigação psychologica; é esse castelhanismo declama-
tório, que substitue a linguagem da verdade e do sentimento, pelo pomposo e
muitas vezes admirável lyrísmo das apotheoses da honra hespanhola, e da
grandeza de Castella. Amor^ honor y poder é o titulo de uma peça de Calde-
ron, e pode também ser o eterno moto glosado pelo theatro hespanhol.»
530) GUYON (JEAN LOUIS QENEVIÉRE). Cirurgião francef
Nasceu em abril do anno de 1794, em Albert (Somme).
E.— l/n mot sur la fievre jaum de Lisbonne en 1857. *
* Vapnrcau— DiiUunúire des Coniempúraimy pag. 840.
H
531) HADFIELD (WILLIAM).
£.— BraziY, the River Plate and the Falkland Irland etc.^ including noti-
^$ of LisboUy Madeira etc, London, 1854, S.'*
532) HADET (MARIE ADELAIDE RICHAKD).
E.—La vierge de 1'Indoustan ou le partugais au Malabar. Paris, 1816-
1821. 4 Yol.
II. Les porluguais proscrits ou le dominican ambUieux. Paris, 1821-1823.
Não vi as mencionadas obras, mas creio serem romances.
533) HAEBERLIN (CHARLES LOUIS).
E. — Romantische Erzachlungen aus Portugal Geschicht, Franchforl^ 1834.
(Contos românticos cxtrahidos da Historia de Portugal).
534) HAERLEMS SCHUYT PRAETIEN op't Reders vande West-
Indische Compagnie. Gedruet op't Jan\ 1649. 12 folhas.
535) HAQEMEIER (JOACHIM).
E. — Epistolae IX de. stalu Uhpaniac d Portiujalliae. (Novo cartas a res-
peito de Ilespanha c de Portugal).
Nào vi esta obra, c nada mais posso dizer a respeito d'ella.
536) HALLER (CHARLES LOUIS).
E. — Eludes kístoriqucs sur Ics rcvolaíions d'Esp(Ujnc cl de Portugal, Varis,
1840. 2 vol.
O proceder de D. Mijíuel e d«; sua mfie encontra um egrégio apologista em
Carlos Haller.
537) IIALLIDAY (ANDIIEW, l)i;. M).
K — J. (Ht.^crvaliuns ou lhe presnit .s/í/f*' o/ Ihr l\ntufinc>^-' Armn n:; urgn-
HA 369
nised by lieutenant general in W, Carr Beresford H. fí.London, 1811. (Obser-
vações a respeito do estado actual do exercito portuguez.)
Eis o conceito que a respeito d'esta obra, tão failada entre nós do princi-
pio do corrente século, forma o Joj^nal de Coimbra (tomo 1.**, pag. 33).
«Temos á vista esta obra, c também a sua analyse escripta em reino estra-
nho em dois jomaes diíTerentes. Um, pertencente ao mez d'outubro, compre-
hende-a em ^ paginas; não duvida da exactidão das observações e factos, que
Halliday refere sobre o commissariado e a repartição dos bospitaes do exer-
cito portuguez; deixa aos médicos porluguezes o defender-se da proposição
de Halliday — Em Portugal os médicos parecem em pratica de sua profissão
estar um século atrasados do resto da Europa. — O oulro jornal, Investigador
portuguez em Inglaterra^ pertencente ao mez de dezembro, comprehendea em
50 paginas, das quaes só ao departamento medico-mililar pertencem 42 e as
8 restantes abrangem tudo o mais.
«A obra, que temos á vista, foi escripta nos poucos momentos que os doen-
tes e feridos deixavam a seu auctor; foi escripta no campo da batalha; foi im-
pressa era uma mui curta licença, que elle obteve; e com tanta precipitação,
que muitas folhas elle as reviu já para Portugal. Similbantes circumstancias
não podiam deixar de dar de si muita imperfeição á presente obra; e seria
talvez por isso, que Halliday acha necessário publical-a segunda vez.
tO nome de Halliday nunca se ouviu entre oslitteratos. Médicos portugue-
zes, só os da Figueira e Abrantes (não sei se algum mais) tiveram com Halli-
day relações, que por caridade, que elle todavia não merece, devem occullar-
se. A obra de Halliday não seria conhecida em Portugal senão na capa, c só
das pessoas que por civilidade lha aeceitassem, se o Investigador Portuguez
lhe não desse um vulto tão grande; se não repetisse suas opiniões; se se não
encarregasse de as refutar tão fundamental e extensamente, etc. Se na obra
de Halliday ha verdadeiros insultos a Portuguezes, o Investigador é o culpado
na sua leitura, na sua publicação em Portugal, e talvez na Inglaterra.
«Faltou a Halliday o tempo, cromos nós, para se informar das coisas por-
tuguczas mais triviaes, de factos que ninguém ignora. Diz Halliday que foi em
.1802 a nossa ultima campanha cora a Hespanha; e ella foi em 1801 : a paz do
Badajoz assignou-se, acho, que cm 6 de julho d'aquelle anno. Chama D. Af-
fonso ao duque marechal general n'aquella campanha : era o sr. D.João Car-
los de Bragança, duque de Lafões, e não ha almanach que o não diga; não
ha soldado, não ha portuguezes que o não saibam.— Julga o conselho de guer-
ra composto de ofllciaes generaes com um ou dois desembargadores : talvez
que Halliday quizesse dizer conselho de justiça; e então só havia a emendar
que os desembargadores são agora quatro, algumas vezes tem sido cinco; me-
nos que nós saibamos, nunca o mesmo almanach o mostra. Persuade-se que
o conde Lippe foi desterrado de Portugal, entretanto que S. A. sahia d'este
reino em tão boa amisade que em suas retiradas ia de caminho visitando re-
gimentos e praças, voltou de seus estados aqui, foz o campo de Instrucção nos
Olhos d'Agua, e voltara mais vezes, se tão cedo não morresse; sendo tão cons-
tante a boa amisade, que aquelle homem grande nos conservou sempre, que em
TOMO I Tk
370 HA
seas estados, díz-se, até celebrava o anoiversario natalício do senhor rei D. Jo-
sé, mesmo de uniforme portuguez, e salvando das janellas de seu palácio eom
peças de artilheria e construcção e mimos portuguezes, etc.
Este mesmo vol. do Jornal de Coimbra, a pag. 402, nos dá a noticia de
que Halliday fizera uma declaração no Times de 25 de abril de 1812 confes-
sando: Que ha muitos erros na sua obra, os quaes elle se propõe corrigir na
2.* edição, que vae dar da mesma obra : que sente muito ter, por falta de
advertência, publicado opiniões não só injustas e mal fundadas, mas oíTensi-
vas á religião estabelecida e ao governo de S. A. R. o príncipe regente, ele.
Fez-se a promettida segunda edição da obra de Halliday, e ainda nos diz
o Jmmal de Coimbra ^ : «Interpretámos pela sua obra o espirito e o caracter
do Halliday, e os factos nos tem mostrado que não foi mau o retrato que de
Halliday fizemos,» Foi esta obra egualmente censurada no 5/* vol. áo Investi-
gador Portuguez^ 2 e parece que por algum tempo o nome de Halliday se con-
siderou entre nós como synonymo de charlatão e de mentiroso.
A nova edição tem o titulo seguinte :
The present state of Portugal, and of the Portuguese Army, With an epito-
me of the ancient historg of that Kingâom, a sketch of the campaigns ofthe
marqnis of Wellington for the last four years; and observations on the man-
ners and custoíns ef the People, agriculture, commerce, aí ts, Science^ and lite-
ral are. By—. M. D. late assLstant inspector of hospitais with the portuguese
forces, Edimburf?, 1812. 4.'*
As inexactidões d'esta nova edição também vêem censuradas n*ura opús-
culo (> P. J. A. de Macedo, intitulado--//a///V/í///.
O Miesnio aactor escreveu ainda o seguinte livro :
An historiral view ofthe revolufions of Portugal since the dose of the pe-
ninsular War, hg an et/c tvitness. 1827.
:>38) HALLIWELL (JAMES ORCHARD). Liltcrato inglez.
Nasceu em junho de 1820 3.
E. — Torrent de Portugal. London, 1812.
IgHoro sobre que assumpto verse.
ryM)} HALM'S (FRIEDERICH)
E. — Cainvcns, Dramaticlies Godicht, Wieu, 1838.*
540) HAMONIERE (G).
E. — I. Hecucil de 7norccaux de prose en portugais et en fruneais. Pari^
1818.
* Tomo I].* paj:. 107 c scguinles.
2 De pag. 190 a iU.
^ Vap(""eau — Dirtinnnaire des Conlrmporains, \}ã^. S*)l.
* An cxtcnsive anil nnújnv rnllcclinn rf variou^ ciliíions of Uie liinias, Obras and
iusiadas in thr nrifjinal pnr(>iiiu.c5C avd ofhcr lai^rjuarjcs; biograyhics of lhe Voei uni criii'
cisme, Loiuloii, 1875, pag. 12.
HA 371
II. Grammaire Portugaise divisée en quatre parties, doni lapremière traite
de la pronunciation, la seconde des dlfférentes especes de mots; la troisieme de
la syntaxe, et la quatrirme de forthographie, et de la poncluation, et de la
prosodie. Avec un appendice coníenant des remarques diverses ; suivie d'un
cours de themes, et dun traité de versification. Par — . Seconde édition, corri-
gée et augmentée. Paris. Bebée el Hingray, 1829. 8.°, 397 pag.
tO estudo (la lingua de Camões, d'os38 cantor immorlal das proezas de
seus compatriotas, não pôde deixar de ter encantos p ara um litterato. Possua
ainda esta lingua poetas e prosadores de um talento notável, cujos nomes
quasi ignorados na França, mereciam ser mais conhecidos. Em quanto a rela-
ções coramerciaes ó incontestável a utilidade da lingua portugueza. Este idio-
ma dos primeiros conquistadores da índia é senhor de um vasto domínio nos
dois hemispherios. Falla-se em Portugal, nas costas orientaes da Africa, n*al-
gumas partes do continente da índia, na maior parte das ilhas do Oceano In-
dico, e do mar da Africa, na Madeira, Açores e Brasil. O estabelecimento de
uma monarchia independente n^este beilo paiz, que por sua amplitude, posi-
ção, salubridade de sou clima e riquesas variadas de seu solo, deve aspirar a
um crescimento rápido de população, e a brilhantes destinos, não pôde deixar
de dar ainda á lingua portugueza nova importância.
«Tendo o estudo da lingua portugueza sido até ao presente pouco propa-
gado na França, sô duas grammaticas d'csta lingua foram publicadas; uma
pelo abbade Dubois, e a outra por Sano. A primeira contém noções exactas
sobre algumas partes da gramraatica, porém o auctor despresou outras. A se-
gunda não passa de uma traducção da grammatica portugueza escripta em
ínglez por Vieyra ; contém princípios muitas vezes inexactos, expostos sem
ordem nem claresa, e é extremamente incompleta.»
^41) HANS STADEN DE HOMBERG, EN HESSE.
E. — Veritable Histoire et description d'nn pays habite par deshommes sau»
vages nuSy fcroces et anthropophages, situes dans le nouveaux monde nommé
Amériquey inconnu dans le pags de Hcsse, avaut et depuis la imssance de Jé"
s\iS-ChrUt,jasqàVannée dernière. llans Sianden de Ilomberg, en Hesse, Ta
connu par sa propre expérience et le faií connailre actuelment par le moyen
de Vimpressxon. Marbourg, chez André Ilolben. 15o7.
Vem reproduzida esta curiosa viagem no 2." vol. da coUecção de Henri
Ternaux. Sogundo diz esle compilador appareceu ella pela primeira vez escri-
pta em allemão, em Marbourg, no anno de loo7. Foi traduzida em latim por
De Bry, e inserta na terceira parte da CoUecção das grandes viagens.
A passagem seguinte que se encontra a pag. 29 da traducção franceza
mostra quão grande era n'aquelle tempo a navegação portugueza :
t Encontrámos depois cinco navios que pertenciam ao rei de Portugal: ti-
nham ordem de esperarem junto das ilhas os navios que voltavam daslndiasj
para os comboiarem para Portugal. Ficámos com elles, e os ajudámos a com-
boiar um navio que chegava da Índia, até uma ilha chamada Terceira. Ura
grande numero do navios, procedemos todoi do novo mundo, se tinham re-
372 HA
unido n^esta ilha. Uns dirigiram-sc para Hespanha, oatros para Portugal. Dei-
xamos poi9 a Terceira em companhia de perto de cem navios, e cheguei a
Lisboa a 8 de outubro de 1548, depois d'uma ausência de dezeseis mezes.
542) HAROOURT (EDWARD VERNON).
E»— Madeira, A Sketch of — contairúng information for the travellers or in-
valid Visitor, London, i85i.
543) HARDUNG (VICTOR EUGENE).
E. ^Cancioneiro d^ Évora publié d'aprés le manuscrit original et accompa'
gné d*une notice litteraire-historiqtie par — . Lisboa. Imprensa Nacional, 1875.
8.» gr. 77 pag.
tA memoria, ou folhas volantes foram ao principio os únicos ar chivos nos
quaes os trovadores, os menestréis e os minnesingers allemâes conservavam
suas poesias e melodias. Quando o numero sempre crescente jà não permittia
reter a memoria d^elJas d'esta sorte, e que alguns espirites esclarecidos en-
contravam bastante interesse em ler e estudar as producções doestes cantores
populares, começaram a recolher os textos dispersos, e organisatam collecções
mais ou menos vastas.
«Assim se formaram, em quanto á poesia provençal, as celebres collecções
do Vaticano, cod. 3206 e 6232, os manuscriptos 7226, 7614, 7693, 7698 da Bi-
bliotheca Nacional de Paris, e o cod. 42 da Bibliotheca Laurenziana em Flo-
rença. Os cancioneiros de Ileidelberg, de Benedictbeuren, de Wemgarten e
do cavalleiro Manessi, que transmittiram á posteridade grande numero de
canròes dos minnesingers, deveram sua origem á mesma necessidade.
• Em Portugal, estas collocí^òes de poesias, a que dào o nome de cancio-
neiros sào mais numerosas do que em nenhuma outra naçào, e possuem uma
importância fundamental para a historia litteraria d'este paiz.
«A poesia lyrica começou em Portugal, por onde ella terminou nos outros
paizes, por uma poesia auiica, vinda do estrangeiro. E no reinado de D. Diniz
chegou a formar uma escola independente.
«O Cancioneiro d' Évora pertence ao fim do século xvi, e foi provavelmente
composto entre 1590 e 1600.»
tiU) HARLEY (Captain).
E.— Veteran or forty ycars in the Brifish service in Egtjpf, Spain, Portu-
gal. 2 vol. (Quarenta annos de serviço em Portugal, Hespanha, etc.)
ri't:i) HARTNACK (DANIEL).
K,— Sanches aliquid sciens. Stettin, 16G5. (Sanches sabendo alguma coisa.)
«Francisco Sanches, medico portuguez, failecido em Toulouse no anno de
1632, era lilho de um medico, judeu de religião, que o levou para Bordeaux
ainda de pouca edade.^ Destinando-se para a mesma profissrio, visitou parte
í V. Diilot. Hioiíraphic CnivcrscUc, M)I. ilJ, pag. 'loL
HA 373
da Itália, e tomou seus graus cm Montpollior. A fim de viver separado das
questões religiosas, que agitavam esta cidade, estabeleceu se em Toulouse,
onde professou a philosophia, e em seguida a medicina, e dirigiu por espaço
de trinta annos n'aquella cidade o Hotel de Dieu. Bayle disse d*elle : É um
grande pyrrhonico, o qual o avaliou ligeiramente, e só pelo titulo do seu pri-
meiro traclado de phiiosophia — D^ multum nobili et prima universali scientia
quod rúhil scitur. Leão, 1581. Francfurl, 1621. (Da muito nobre e primeira
sciencia — que nada se sabe).
«Em vez de coilocar Sanches ao lado de Montaigne e de Charron, convém
mais fazer d'elle um precursor de Descartes. tMeu projecto, disse elle, é o fun-
dar uma sciencia solida o fácil, purificada d*essas chimeras sem base, que se
reúnem com o fim nào de nos instruírem, mas de nos mostrarem o espirito do
auctor.» Porém coptentou-se com lavrar contra a philosophia e methodo de
argumentação umlíbellodeaccusação em regra, e as objecções, que apresenta
antecipadamente, encontram-se mais tarde, e com mais força em Bacon. De-
finiu a sciencia retperfecta cognitio. Seu livro é de uma leitura agradável, es-
cripto n'um estylo variado e animado; lamcnta-se que não tivesse acabado sua
tarefa fazendo conhecer as verdadeiras bases da sciencia e do methodo, e que
os relâmpagos do seu espirito, conforme a expressão de Tenneman, em vez de
dissiparem as trevas, nào tivessem servido mais do que a tornal-as visíveis. Ul-
ric Wild tentou refutar o pretendido scepticlsmo de Sanches na these intitu-
lada Quod aliquid scitur (Que também se sabe alguma coisa). Leípsick 1664,
6 foi por sua vez refutado por Daniel Hartnack na obra acima referida.»
546) HARTUNG (QEORGE).
E. — Die Azoren in ihrer atissem Erscheinung nnd nach ihrer geognostis-
chen. Natur geschildert. Nebst einen Atlas. Leipzik, 1860. 8."
547) HASSENSTEIN UND AUGUSTUS PETERMAN.
E.^Geographische Keunstniss vou Kongo und Angola in JaUre, 1862. (No-
Ções geographicas sobre o Congo e Angola no anno de 1862).
Appareceu esta publicação no Mitthcilungen de Peterman n.* 12 com um
mappa do Congo.
548) HAUTFORD (OH. V. D*).
E. — Coup d*ceil sur Lisbonne et Madrid en 1814, suivi d'un Memoire poli-
tique concernant la Constitulion promulgure par les cortes d Cadix, et d'une
notice sur Ictat moderne des sciences matliéinatiques et physiques en Espagne.
Ouvrage dedié ao roi. Paris, 1820. 8.°, 439 pag.
«O espectáculo de Lisboa, elevando -se em fúrma de amphitheatro na di-
reita do Tejo, oíTerece os mais bellos lypos ao pincel dos Vernet, e ao buril
dos Woolett. A bahia, que se abre abaixo de Lisboa, ancoradouro excellente
para todas as sortes de embarcações, é formada pelas aguas do Tejo, que n*es-
te sitio conta três léguas de largura. A multidão de navios alh ancorados, o
aspecto variado dos edifícios, que se desenhavam a meus olhos, os diversos ac«
374 HA.
cidentos d'este quadro, produzidos pela natureza e pelas artes, cobertos por
uma incommeusuravel cortina do mais bello azul, mergulharam minha alma
n*um d'esses exlasis, cuja força creadora tem produzido as primorosas lélas
dos Vandeo-Velde, Vroora, Borzoni e Salvalor-Rosa admirados pela Europa
em suas galerias. • Pag. 6.
«Merece especial menção a maneira como em Portugal trabalham na pe-
dra produzida n'este paiz. Nenhum outro possue melhores materiaes para as
construcçòes. Esta pedra é calcarea, e o mármore nobile de Linneo. A perí-
cia dos habitantes para a lavrarem é pouco vulgar, e as obras que sahem de
suas mãos, são de uma perfeição admirável. • Pag. i3.
«No centro da praça do Commercio admira-se a estatua equestre em bron-
ze, de Joseph I, obra de Joaquim Machado de Castro, e que assegura a este
esculptor uma reputação iaimortal. Trophous e grupos emblemáticos, colloca-
dos aos lados do pedestal, executados pelo mesmo artista dão a este monumento
um ar de grandeza que eu não observei nas estatuas equestres dos grandes du-
ques Cosme e Fernando, que vemos em Florença nas praças do Palácio velho,
e da cgreja da Annunciada, pertencentes ambas ao cinzel de João Bologna.»
«Barthplomeu da Costa é o nome d'aquelle que fundiu a estatua de um só
jacto, operação que merece elogios, atlendendo á dimensão da Ggura do rei e
do cavallo. As proporções d'esta estatua equestre são as mesmas que as da
estatua de Luiz XIV na praç^a Vendome; mas a fígura do rei Joseph é de onze
poUegadas mais, o que provém do capacete.
Não tendo podido ver o mosteiro de Bolem, nada posso fazer para satisfa-
ção de meus leitores senão reportar- me ao elogio, que d*elle fazem Fregier e
Aviler: o primeiro na sua obra de Stereotoinia (tomo 3.°, livro 4.'^, parle
2.", pag. 28); c o segundo no seu Diccionario de Architectura, na palavra
Ilaedi. »
«Hauleforl teve o talento raro de descrever melhor Lisboa depois de uma
rcsidoncia somente de duas semanas, do que o hzeram outros viajantes de-
pois de a terem habitado por muito tempo.».— Balbi. Essai Síatistique, vol. i.*,
pag. 32.
:Vi9) HAY (SiR ANDRÉ W LEITH).
K.—A Harrativí' of the l\ml)isiflar War, % — . Edimburg, 1831. London,
1831). 8.", ihirJ oJiliuii. (Xiirrarào da guerra peninsular.)
íkíO) H. (COMES DE SOLMS-LAFBACH). Philos. doctor. socio ad
0. íioíiiienilum a^isuniplo, Kniplin{j^, stud., etc.
]'].- 'Ti'ttlfuii<'ii liVijo-ifroífvaphinc AJ{inyv'nv' rcrju) í.n^itani provincinc. Com-
mt')í/(iti >, qiiniih con^ruí^H et (lurtoritate ninnli^simi philu.^ophonun ordinis in
Arddcmift Fri(lri'''rian(i llibii^^i nun VUrbenjcn runsoriata pro Vtnia legendi
rife i)nprli(nidfi dii' 10 mnii I8GS, hora 1:2. in auditório máximo una cnm the-
sibus puljlicc d>'fcndit. llaUs. Tyi)is Orplrmoíroplioi.
Trata esta obra das plantas do Alg.irve. e principalmente das cryptoga-
meas.
HE 375
S51) HEATHER (W.)
E.— A nieto and complete pilot containing sailing directions for the Bay of
Biscayy coast of France, Spain and Portugal, London, 180i.
5o2) HEBBE.
E,—Relaíion sur Vile du Faijal Stockolrti, 1804.
«O auctor, oílicial da marinha sueca, c o mais aniig^o viajante, que forne-
ceu informações circumstanciadas e dignas de interesse acerca de paragens
tão pouco frequentadas na época em que as visitou.^
553) HEERINGEN GUSTAVE DE).
^.—Meine Reise nach Portugal, etc. (Viagem em Portugal no principio de
1836 por — .) Leipzig, 1838. .2 voi. 8.*'
554) HEMAN (Mistress).
Escreveu uma linda poesia intitulada The Caronation of Inez de Castro, a
qual anda na coliecçào de suas obras poéticas.
Dá-nos esta noticia M."* U. Dujarday na sua obrdL—Résumé des voyages
des Portugais, Tomo !.• pag. 365.
555) HEMSO (JACOB G-ROBERQ DE). Cônsul da Suécia em Tan-
ger e correspondente da Academia Real das Sciencias de Lisboa.^Em maio do
1838 achava- se em Florença, segundo se vé do estado do pessoal da Acade-
mia n'este anno.
E.— Indagações sobre a língua dos Bárbaros, (Memorias da Academia das
Sciencias, Tomo 5.<», parte 2.», pag. 49 a 56.)
556) HÉNAULT (CHARLES JEAN FRANÇOIS).
E,—Abregé Chronologique de VHistoire d'E$pagne et de Portugal. PariSi
1759. 1765. 2 vol.
557) HENDERSON (J.)
E. — A history of the Brasil, comprising its geography, commerce, coUmi*
sation, ttborigenal inhabitants. London, 1821.
558) HENNEQUIN (PIERRE).
E. — Cours de Litter ature ancienne et modeme, contenant un traité com-
plet de poetique extrait des meilleurs critiques et commentateurs: enrichi de
sept cents notices sur les poetes les plus celebres de tous les temps et de
1 Morelet.— Lei Açores, pag. 15.
« Memorias da Academia^ tomo 5.», parle í.', pag. i%.— -Memoria interessante sobre
a língua dos Bárbaros^ vulgarmente chamados Berberes e ChiUoheSf que habitam as serra*
nias do Atlas, e faliam dialectos di/ferentes da mesma língua, M. A. Tomo 4.^ parle 1.*,
pag. IG.
:{76 HE
toiUes les nations : ouvrage orne de citations et de traductions de differents
poetes en français, en Min, en grec^ en nisse, en anglais, en allemand, en
italieuy en espagnol et en portugais. Moscoa, 1821. 4 vol.
559) HENRY (WILLIAM JOHN CHARLES). Commendador da or-
dem de Christo.
Nasceu em Londres a 27 de março do anno 1846. Veiu para Portugal como
secretario do sr. conde da Carnota. Reside em Alemquer.
E. — Alemquer e seu concelho. Lisboa.
Traduziu para inglez um folheto composto pelo duque de Saldanha com o
titulo de Verdade. Londres, 1872.
Acha-se actualmente compondo em portuguez um Guia do Viajante na
Europa.
56^3) HERNOUX (Gontre-amiral).
E.—Notice historíque sur le Portugal. Paris, 1851, 8.**
561) HEROS (D. MARTIN DE LOS).
Leu á Academia do Historia de liespanha uma dissertação intitulada : —
Examen histórico critico d€ la supuesta aclamacion dei primer rey de Portu-
gal en el campo de Orique, y falsedad de las cortes de Lamego.
Dá-nos esta noticia G. Ximenes deSandoval na sua obra intitulada : Bata-
lha de Aljuharruta, pag. 7.
:m\í) herport (albercht).
E. — ()<(/' ndiainsche R('iscbcsrhri'ihuíifj,{\"['Ag^im ás índias Orientaes.) Schles-
wig, iOGO, foi. Anistcrdam, 1070, 4.'^
503} HERHERA (ANTÓNIO).
E.— Cinco hhnm de la Ilislorid ih' Portufjaf y conquistas de las islãs de
los Arorcs en los ai(os dr i*)8í // Í5S3. Madrid, loDl.
:;(iV) hí:kre:ía (d. bernardino).
E. — M('/iiirifi< /'/,^7()^/V7/^ d>- !().< drspitsnrios, vifijcSf cntreqas y respectivas
funcrod-y, d'' Ins rrafr.t i),)d<!:< d- ',''s .sí /••'W',s*.s/.'/"rs srihiras infantas de Espana
y d'- l'i>r!ii{i-ii, !a srn-oa I). (^ ninfa Jnaqiiina Mariana Victoria en el ano dt'
178o, esrriías /•/> f^,ufuintr dr 17<>r> //->/• — . MaJriíl, 1787. Imprensa de Sanch»»<!
2oO, pag. S/
.■ji').)) HERRERA (I ERDINAND). lin dos mais notáveis poetas hespa-
nhoȒs, cngnomiiiiaio [uir soas ('oiUem|)orancos o Divino.
Nasceu cm S.-vilha no anno d(! i:j;{t, o fallecoii oin lo97.
Suay duas mais nolavcis oilrs Icom í»or assumpto a batalha do Lopanlo e
a morto do ici 1). Scijasliào na desasírosa batalha de Alcac«T-iOuibir. A tra-
i
HE 377
ducçào franceza d'esta ullima, que appareceu no Magasin Pittoresque, é da
maneira seguinte ^.
Donnez-moi une voix de douleur, un chant de plalnte,
Un esprit de terreur et de colère,
Pour eterniser le cruel souvenir
De ce jour faial, abhorré,
Oii la malheureuse Lusilanie pleure
Sa valeur trompéc el sa gloire eclipíêe
Que les larmes de Tliistoire
Couvrenl à jamais de irislesse et dliorrcur
Les terres funestes qui 8'ctendent depuis le pied brulant de TAtlas
Jusqu'aux lieux ou la mer a elé rougie par le sang,
Et oú les ardentes barrières de TOrient
Et ses nations féroces onl vu reeuler les ctandards du Christí
Qui sonl ils devenus ceux qui, confiauts en Icur chevaux
Et en la mullilude de leurs chars
Pénétrérent dans tes deseris, ó Lybie?
Comptant sur leurs forces et sur icur conrage,
lis n'ont pas mis leur espoir dans relerní^lle justice;
Leur orgueil assuré
N'a attendu que de soi une victoire incorlaine;
Et sans élever les yeux vers le ciei,
La tête haute, le cceur enflé,
Ils n'ont considere que les depouilles;
Et le Dieu dTsrael a ouvert sa main
Et les a laissés allcr, et tout est tonibé dans TabimC;
Le char, le cheval et le cavalier.
II est venu le jour aíTreux, le jour plein
DMndignation, de colère et de rage, qui a precipite
Dans la solitude et dans les gómissements
Tout un royaume desherité désormais de ses enfants et de sa joie.
Le ciei est demeuré obscur; le soleil
A voilé sa face pour présager un si grand malheur.
Entouré de ses épouvantes,
Le Seigneur a visite les orgueilleux
Pour les frapper et pour les humiliey;
Et il a preté main forte aux Barbares,
Qui, etonnés de voir la pariie egale,
Du moins n'ont pas mis leur courage
A conquerir de Tor, mais avec le fer rápido
Ont tire la vengeance du ciei et onl puni ses fils ingrats.
Les infidí'los, pleins d*uno aveugle rage,
Ont liré leurs opérs inflammées
i Magoiin Pitloresque de 18i3, pag. 274.
378 HE
Pour obscurcir Téclat sans tache
De ta gloire et de ta valeur; et non contents
De favoir donné Ia mort, ils ont voula ôter ta gloire,
O Lusitanie, désormais condamnée aa malheur !
D'im front assuré,
Ils ont brisé sans craiote, avec un affreux carnage,
Tes escadres et ton courage.
Le sable s^est changé eo un marais sangiant,
La plaíne en une montagne de morts.
La force et Taudace ont passe tout entières d'aQ côtó,
De Fautre Ia faiblesse, la peur, Ia honte.
Sont-ce donc là les fameux,
Les forts, les intrepides guerriers.
Dont la colère a ema toute la terre?
Qai ont ebranlé tant de pnissants empires;
Qui ont doropté tant de nations redoutables;
Qui dans leurs impitoyables gnerres, ont changé en un désert
Tous les rivages que baigne la mer des Indes;
Qui ont ren verse tant des superbes cilés?
Que sonl devenus leur graíid coeur; leur hardiesse?
Comment ont ils perda
Leur heroique valeur en un jour?
Ecrasés, loin de leur patrie,
Ils n'ont pas môme reçu de sépulture.
Tel le cedre magnifique
Du haut Llban, couvert
De rameaux, de feuilles, touchant les nues.
Les eaux l'ont fait puissant;
Eleves au dessus des plus grands arbres.
Ses bras ont vu chaque jour croílre
Leur force et leur grace;
Sous ses vastes abris^ les oiseaux que nourrit rimmense ciei.
OqI suspendu leurs nids.
Dans les cavités de son trone, 11 a vu naitre les aniinaux sauvages;
II a oíTarl sa lente et son ombre á tout un peuple de créatures;
En grandeur, en beauté,
II etait sans rival sur la terre.
Mais aussi haut que sa verte cime
S'eleva son orgueil;
Plein d'une folie prósomption,
II n'a fait estime que de sa majesté;
Et Dieu Ta livre
A des mains impics, élrangòres,
Qui Tont coupé par la racine.
Celui qui faisait gémir sous son poids les hautes monlagnes
Hl 379
Est otendu sans ramcau,sans feuilics,dépouilló.
Les hommes qui vivaient sous soo ombro
S'cnfuient pleins d'eíTroi,
Et parmi ses ruines les oiseaux,
Los aniraaux féroces, cherchenl encore leurs abris violes.
Mais toi, Lybie raaudile, qui sur lon sec rivage
As vil la Lusitanie expirer,
Et son honucur tinir avcc elle,
Ne sois point vaine, et ne t'eníle point d'an foi orguoil.
Cest sans espoir, qae ta maio dèbiie
A remporté cette victoire,
Indigne de souvenir;
Car si jamais une juste doleur excite á la vengeance
Le courage espagnol
Mise en pièces par ta lance acórée
Tu expieras par ta mort tes outrages,
Et tu serás forcée de payer ta dette de sang
A la mer epouvantée.
566) HERVEY (O.)
E,^Lettres from Portugal, Spain, Italy and Germany in the years 1759,
1760, 1761, 1762, 3 vol. London, 1785.
567) HET NADERSTE ENDE SCHERSTE JOURNAXIER Wer-
hael ofte Copye van sckeren Bricff, gheschreven uyt Brasil, aen de cen Hee*
ren Dewint hebberen der geociayeerde West Indische Compagnye, ter Kamer
vande Mase, nopende de Ireffelijcke ende laughywenschte Victorye die Gordt Al*
machtigh ons verleent lieeft, ondert wysselijck heleyt Syn: Exceli: Graef Mau-
rits van Nassau ele. in Brasil, teyen de machtiye Vloot des Konings van Span-
gen, bestaend in 88. Zeylen, voor-ghevallen in de Maendt van Januário etc
In*s GravenUaje, 1640, 8 pag. sem numeração. (M. S.)
568) HEZECQUES (RAYMOND DE),
E.— Í$aia5 inter majores propheta^ primus a R, P. Hieronymo Oleastro
Lusitano, quondam Inquisitore cotntnentarius illustratus. Paris, 1622. (Com-
mentario de Isaias, composto pelo padre Jeronymo da Azambuja, e illustrado
por—).
569) HTLATRE (QEOFFROY ETIENNE ST.) Celebre zoologisU
francez. Nasceu em Etampes, no anno de 1772, e falleceu em 1844. ^
Vejamos o que a respeito d*este homem tâo celebre nos diz o MagasinPit-
toresque, ^
^ Bouillet.— Dtc<tonnatr0 Universelle d'Histoire et Geographie, SuppUment, pag. SO'
' Magasin Pittoresqw, yol. IC**, pag. 173. /d., anno de 1815.
380 Hl
GEOFFROY SÂlNT-niLAIIlB SM PORTUGAL
«A missão de GeoíTroy St. Hilaire em Portugal, que alcançou para nossas di-
versas collecções riíjuesas lào preciosas, pôde ser citada como um dos mais bel-
los exemplos das vantagens positivas, que resultam da moderação e da huma-
nidade no exercido do poder. É cheia de incidentes de toda a espécie, que fa-
zem da sua narração um dos capítulos mais interessantes da historia doeste il-
lustre sábio.
«Pela occupação de Portugal em 1807, o imperador, que jamais separava
os interesses da sciencia dos da politica, quiz que um naturalista alli se diri-
gisse immediatamente para explorar as riquesas scientiQcas que a longa do-
minação de Portugal na America n'aquelle paiz accumulava. O enviado do go-
verno francez devia visitar as collecções d'historia natural, e determinar quaes
os objectos que poderiam ser transportados para Paris. A pedido de Geoffroy
St. Hilaire, encarregado da missão, juntaram-se à historia natural não somente
todas as scicncias em geral, mas até as lettras e artes. Suas instrucções confi-
denciaes davam-lhe a este respeito poderes illimitados. Por uma determinação
cheia de grandeza, e cujos resultados deviam amplamente mostrar toda a pru-
dência, GeofTroy St. Hilaire quiz que sua missão fosse egualmente útil a Por-
tugal e á França. As collecções de Portugal eram ricas em objectos trazidos
pelos navegantes dos paizes longiquos, mas incompletas em outros objectos
não menos importantes, desordenadas, mal classificadas: nosso sábio tendo con-
cebido a idéa de levar comsigo varias caixas cheias de duplicados do museu
que, inúteis aqui, se tornavam n*aquello paiz do mais alto apreço, e por conse-
guinte de servir aos interesses da sciencia nos dois paizes ao mesmo tempo.
«Chegado a Lisboa, depois de ter estado a ponto do ser assassinado na
Hespanha, que clle acabava de atravessar no primeiro fogo da insurreição con-
tra os francczcs, foi recebido de braços abertos por Junol, pois este ultimo fo-
ra seu companheiro no Kgypto, e que dispondo de um poder quasi absoluto,
lhe assegurava antecipadamente toda a prolecçào, de que podesse carecer na
sua missão. Derani-se ordens aos conservadores dos museus e bibliothecas
do Estado e dos conventos, e ató dos particulares, de communicarem ao com-
missario imperial todas suas riquozas, e de annuir a todos seus pedidos. Houve
um susto geral : via-se ji Portugal despojado de todas suas riquezas littera-
rias e scionliíicas. Porém o receio nfio durou muilo. GeoíTroy St. Hilaire come-
çou por declarar que os depósitos públicos ou dos conventos seriam todos vi-
sitados por clle, mas na qualidade de inspector. O rico convento de Nossa Se-
nhora de Jesus foi o primeiro a receber sua visita. Deixou aos frades quanto
tinham, e recebeu dVlles súinonte alguns fosseis, cuja importância estavam
bem longe de apreciar, e algumas amostras de mineralogia, que possuíam em
duplicado. Por isso beni longe d»* escondiTom, apressavam -se a tudo lhe pa-
tentearem. Imu S. Vicente de. Fora, estando a admirar os manuscriptos pre-
ciosos que vinham mostrar-lhe, crendo quo esta admiração não era maii
que o preambulo adocicado d'um pedido formal, apressaram-se de o preve-
nir, pedindo-Iho unicamente licença para licarem com as copias. Vim, respon-
deu elle, organisar os estudos, e nào roubar os elementos. Gontenlou-se com
Hl 38^.
fazer n^este convento o qae fizera no outro. Porém os religiosos em soa ale.
gría foram mais expansivos, e lembraram-se de lhe enviar nm presente. <E'
pena, disse GeoíTroy, ao retirar-se; eu tinha vontade de ir-me despedir d^esses
bons religiosos. Os gabinetes de historia natural pertencentes ao governo nao
tiveram menos que lhe agradecer. Tralava-se aqui dos bens do rei, e, apesar
de mais livre, também não abusou. Estes gabinetes na occasião de sua chega-
da nada mais eram que um montão do objectos não classificados, offerecidos
á curiosidade publica muito mais que aos estudos e investigações dos sábios.
Na sua partida tudo estava mudado. A ordem mcthodica e os rótulos tinham
sido introduzidos, e a preciosa serie de mineraes levada por elle de Paris, ti-
nha sido trocada.
Não se contentou em proteger as collecçôes, protegeu também os sábios. A
amisade do Junot lhe forneceu os meios. Muitos sábios aíTeiçoados á antiga or-
dem de coisas eram victímas da nova : tiveram desde então em Geoffroy Ste
Hilaire um confrade dedicado. Por isso um dos professores mais distinctos da
universidade de Coimbra, o botânico Brotero, suspenso e privado de seus or-
denados, tinha-se refugiado n*um arrebalde, onde vivia obscuramente, e em
miséria extrema. GeoíTroy corre a sua casa, faz-se seu advogado perante Ju-
not, insiste, e nada consegue. Brolero recebe comtudo no dia seguinte uma
parte do que reclamava, com um convite a que guardasse segredo. «O gene-
ral, disse, nem mesmo quer que vós lhe agradeçais, pois o caso se divulgaria,
e toda a gente reclamaria como vós.» Apesar d' este convite, o reconhecimento
não o poude conter. Brotero escreve ao duque, que fica como furioso, pois to-
ma estes agradecimentos, não merecidos, como uma ironia. Mas bem depressa
a confissão do piedoso estratagema de St. Hilaire o comraovc e desarma, e con-
cede o que até então obstinadamente tinha recusado.
«O mesmo caso se deu cora Verdier, membro correspondente do Instituto
de França. Gravemente compromeUido pelos acontecimentos políticos do co-
meço de 1808, estava no exílio, e Junot mostrava-se excessivamente irritado
contra elle. Á força de pedidos, e de ter attrahido sobro si mais do que uma
vez a cólera do general, o nosso joven sábio obteve que finalmente o tirassem
do exilio: c foi Verdier quem no anuo de 1814 por ura generoso impulso es-
creveu a relação dos serviços prestados á inslrucção publica em Portugal por
Gedffroy St. Hilaire.
«Mas de todas as bellas acçòes do mesmo género, que foi permittido a St.
Hilaire fazer n'esta época de oommoçòes e de reacções, nenhuma recebeu uma
mais tocante recompensa, que o serviço que teve a ventura de prestar ao ar-
cebispo de Évora, ameaçado um instante durante a occupaçào doesta cidade.
Algumas semanas depois o arcebispo por sua intervenção omnipotente, salva-
va por sua vez os homens dos nossos postos surpreheudidos pelo inimigo, e
dirigia a GeoíTroy St. Hilaire estas enternecedoras palavras: Lembrei-me de vós.
«Em seguida aos dias de triumpho, como se vé em quasi todas as coisas
humanas, vieram os dos revezes. Junot, reduzido a dez mil homens, contra o
exercito inglez desembarcado debaixo do commando de Wellington, víu-se
obrigado a deixar Portugal. GeoíTroy St. Hilaire, que íigurava na desastrosa
302 Hl
batalha do Vimeiro como cirurgião militar, teve que seguir a fortuna do seu
general, e foi levado para França n'uma fragata ingleza. Não se retirava com
as mãos vazias, pois as tinha enchido muito gloriosamente. Os commissaríos
inglezes, logo d<^pois da sua occupação de Portugal, tinham-lhe dado ordem
de largar immediatamente todas suas collecções; mas, apoiado pela Acade-
mia de Lisboa, que tanto tinha que lhe agradecer em attenção aos persegui-
dos, agora poderosos, aos quaes tinha soccorrido, obteve que suas caixas lhe
fossem deixadas, mas como objectos d'elle, ao passo que para prestar home-
nagem ao principio, abandonava quatro. E' o que praticou; mas abandonou
quatro, que lhe pertenciam. ^
«Não foi bastante ter levado as collecçòes para França: 1815 veiu ainda
alli ameaçal-os. O duque de Hichelieu, tomando a iniciativa, escreveu ao mi-
nistro de Portugal convidandoo afazer valer seus direitos. A resposta de Por-
tugal foi que nada se reclamava, porque nada havia a reclamar. «Oscommissa-
rios da Acadpmia e os con:^*^rvaiorPs da Ajuda (diz o ministro offlcialmente)
consideram que Mr. GeolTroy recusou usar da auctorisação que tinha obtido
para escolher os objectos únicos: somente pediu duplicados, e o que recebeu
lhe foi dado em troca de objectos de mineralogia raros e desconhecidos em
Portugal, que trouxera de Paris, e por causa do cuidado que teve com a elas-
siQcação e rótulos das collecçòes deixadas na Ajuda.
«Eis indubitavelmente um documento único nos actos diplomáticos de 1815,
e que não dá menos honra a Portugal, que ao sábio francez.»
E. — Note sur les objets d'histoire naturelle recueilUs en Portugal. (No tomo
12.» dos Annales du Museiun de Paris).
570) HILAIRE (ROSSEUW SAINT).
E.— A revolução de Poríufidl e/n 16iO, Memoria apresentada á Academia
das sciencias moraes e politicas (Instituto do Fninça).
Foi vertida em portuguez esta Memoria, e publicada no n." 5727 do Jonuú
do Commercio.
«A revolução de Portugal é uma grande pagina da historia. Em todas as
outras conspirações se vè as mais das vozos os interesses particulares cobri-
rom-se com a capa do interesso publico, e as más paixões oecultarem-se por
detraz das boas. Mas aqui os homens desappareceni, porque os acontecimen-
tos lhes são superiores, e arrastam-os em logar de lhos obedecerem. Não ha
* As galerias do museu acliavam-?c enriíiuecidas com uma muilidilo de objecto< de
3Ialabar, Cochiiichina c sobro tudo do Brasil, o mesmo com varias espécies de^conheridas
tutalmenle na sciencia até erilílo, o que GcoíTroy St. Hilaire foi o primeiro a de-creTel-a<,
taes como os coriamas, e os cephalopleros. Porém não se linha limita'lo á historia na-
tural, e a Bibliolheca nacional deve-lhe um dos mais precio>(»s accrescimos de seus raa-
nuscriplos. E com um verdadeiro transporte (diz Mr. Pavie no seu relatório ao mini-tro
de insirucção publica acerca d'estcs manuscriplo-) que vi oirerecerem-sc-me a meus olhos
cartas de lodos os soberanos, que í;overniram PoiIulmI desde IÍjíí" até 1715, D. Sebas-
tião, o cardeal rei I). Henrique, Pliilippc II i!c llespanha, Luiz XIV, Delphim, Carlos H
de Inglaterra, ctc. Ao todo cinco uiil doi.umenloa originaes.»
Hl 383
duvida qa6 Pinto é a mola principal d*aqaella grande empresa, em que, à ex-
cepção do duque de Bragança, todos teem a sua parte de acção e de dedica-
ção; mas o verdadeiro auctor da conjuração ó o povo tomando a palavra na
sua accepção mais lata; nobres, burguezes e artifíces, todos se unem n'um ac-
cordo patriótico. Todos os interesses particulares se calam ante aquelle grande,
aquelle immenso interesse, a resurreição da pátria portugueza, saindo do tu-
mulo para não voltar mais para elie. Raro o sublime momento, como se não
encontram dois na vida de um povo, e que consola o historiador das cobar-
dias e dos crimes, de que se compõe ordinariamente o sanguíneo encadeamento
da historia.»
571) HTTiL OF OAMALVA coniaining sketches of Portugal, Spain, and
part of France. 3 vol. (Monte de — contendo esboços de Portugal, etc.)
Não pude encontrar esta obra.
*
572) HIMMEL (FREDERIO HENRY).
E.— Vasco di Gama, opera. Berlln, 1801.
573) HINCKLEY (JOHN-ESQ.)
Traduziu do allemão para inglez as viagens de Link com o titulo seguinte:
Traveis in Portugal and through France and Spain with a' dissertation an
the litterature of Portugal and tlie Spanish and portuguesa lamjuages by Hen-
ry Frederick Link professor at the University of Bostock, and member of va-
rious learned societies translaied from the German by — with notes by the
translator, London, 1801.
574) HINTS THO TRAVELLERS IN SEARCH of the beautiful
and grand in Portugal. London. (Guia para viajantes.)
575) HISPANIAE ILLUSTRATAE sive rerum urbiumque HispanioB,
LusitaniíB, jEthiopicB et Indim scriptores varii, Francofurti, 1G03. 4 vol. foi.
(Vários escriptores da Hespanha Illustrada, ou dos feitos e das cidades de
Hespanha, Portugal, Ethiopia, etc.)
576) HISTOIRE de ce qui s*est passe au royaume d*Ethiopie ês années
1624, 1625 et 1626 par G. Scion.
Histoire de ce qui s*est passe au royaume de la Chine en 1624, par V. Pan-
taleon.
Histoire de ce qui s'est passe ês royaume d*Ethiopie, par A. d*Almeyda.
Histoire de ce qui s*est passe au royaume de Thibet, par A. d' Andrade. De
la Chine, par A. Diaz, et du Tunquira, par Baldinotti.
Ces quatre histoires tirées des lettres adressées au general de la Compa-
gnie de Jesus, et traduites de litalien en français, par un pretre. Paris, 1629.
577) HISTOIRE de ce qui s'est passe en Ethíopie, Chine, Brésil, tirée des
lettres ecrites à M. Vitelleschi. Paris, 1628-1629. 3 vol. T. Gompans, pag. 156.
384 Hl
578) HISTOIRE de la première decouverte et conqueie de$ Canaries en
1402 par Jean de Bethencourt escrite du temps même par P. BorUier et Jehan
Leverrier, et mise en lumiére par Galien de Bethencourt : plus un traité de la
navigation et des voyages et conquetes moderneSy et principcUement des Fran?
çois. Heuqueville, 1630.
«
579) HISTOIRE DU PERE VIEYRA, jésuite portugais, musionaire
dans Vancien et le nouveau monde. Lyon, 1873. 8.% 168 pag.
c Se a Egreja nas suas tribulações poude salvar do Daarragio a
milhares de seus filhos; se el!a poude arrancar á heresia a Polónia, a Hungria,
a Áustria e as províncias Rhenanas etc. : se eUa obstou a que o erro se intro-
duzisse na França; se nos legares onde não lhe foi possível salvar o principio
catholico, fez com que pelo menos boiasse á superOcie : n'uma palavra, se o
que ella não poude subtrahir ao inimigo na Europa, o foi tornar a basear na
America, atraz dos passos dos conquistadores do Novo Mundo, a historia nos
attesta, que n'esta lucta encarniçada os mais intrépidos combatentes, aquelles
que incessantemente encontramos na brecha, e no mais furioso da peleja, são
os filhos de Santo Ignacio. Sim : eis um facto histórico dos mais certos; porém
que, entre esses valentes athletas tenha existido um que, por sua pujante ori-
ginalidade, tenha levado uma grande vantagem aos outros, é o que a historia
ainda não disse, pelo menos na França, eco que vamos tentar de lhe fazer
confessar.
<0 facho da discórdia, uma vez arrojado pelos innovadores, os grandes
christãos que reuniram seus esforços contra o fatal incêndio, são grandemente
benemerilos da religião e da humanidade. Abalisaram-se uns pela santidade,
outros pela sciencia, lodos por um zelo infatigável : porém se, entre elles, qui-
zessemos encontrar um, que pela incommensuravel fecundidade de seus re-
cursos, se houvesse mostrado o digno antagonista do chefe dos sectários, ê
bem de crer que nos víssemos obrigados a fixar nossas vistas no padre Viey-
ra. E com elTeito, quanto mais estudamos o caracter, a vida, o género de elo-
quência, os serraues d'este fervoroso missionário, d*este formidável combaten-
te, mais ficamos convencidos que, homem contra homem, podia medir-se, com
armas eguaes, com Luthero.
Porém, tanto Vieyra se parece com o coriphcu do protestantismo pela na-
tureza, e pela potencia de seus moios d'acçrio, quanto diíTere d'elle pelo uso que
d'ella fez. Vieyra via também os abiísos o as desordens reinando; para as ex-
tirpar atacava as paixões dos homens, o não a obra de Deus, a Egreja de Je-
sus Christo : também Vieyra detestava a oppressão, a tyrannia, mas nâo que-
ria que a liberdade tivesse seus direitos, senào para mais consolidar os direi-
tos da auctoridade. Todo entregao aos interesses da verdade e da justiça, sua
grande dòr era v(M-os sacrificados a indignas preoccupaçòes pessoaes : O' Lu-
thero, exclamava Vieyra n'um dos seus sermões (o do Jubileu), dize-me, se te
houvessem nomeado pregador das iadalg^'Dciaí^, não lerias tu feito o maia pom-
poso elogio d'ellas ? Nâo terias la empregado toda a tua eloquência em as re-
commendar? Sim, evidentemente. Ora essas mesmas indulgências, que, se tu
Hl 385
M houvesses pregado, seriam verdadeiras^ agora se ta nâo as pregas, sao en-
âo falsas T Ah t desgnçado» vé com que rídicoios pretextos desertas da ver-
dadeira fé tt Basta só a força d'esta apostrophe para conhecermos, que eatre
esses dois combatentes, se a Egreja era violentamente atacada, não o era ella
menos ardentemente defendida. Comparando o ardor de am com o impete áú
OQtro, vendo o mesmo fondo de intelligencia e de coragem, qner se estribe na
humildade qaer na ora^o, prodatir tndo o qne as paixOkss teem de mais oa
menos funesto, oa tndo qaanto a virtade possae de mais heróico, conhece-se me-
lhor de que lado está a boa parte. Sendo dados os mesmos taientoSi o emprego
d'elles mostra n*am qaanto no oatro foi calpado o abuso; em compensação a
profundidade do abysmo, para onde o arrastou a infidelidade, ainda mais faz
brilhar todo o mérito da fidelidade; e, tanto d*um lado, como do outro, so-
mente nos podemos inclinar perante os adoráveis decretos da divina providen-
cia, que nao permitte os grandes males, senão porque ella sabe oppor-lhe os
grandes remédios.
«Sendo, porém, o padre Vieyra de nacionalidade portugueza, achar-se-hia
no estado de representar um papel tao importante? Sim, e por esta mesma
rasao. Na época de que se trata, Portugal, havia um século, tinha voltado to-
da sua actividade para o lado da navegação : tendo estendido seu império nâo '
somente pelo littoral da Africa e da Ásia, mas até por uma grande parte da
America do Sul, tinha-se elevado à altura das primeiras potencias da Europa.
É certo que a tanto esplendor succedeu repentinamente o mais profundo ecli-
pse. Com effeito, o joven rei D. Sebastião, no seu ardor cavalheiroso, tendo
ido com a flor de seus guerreiros fazer-se matar nas planícies de Marrocos,
tinha deixado o throno a um tio velho, o cardeal Henrique, que nada mais foi
do que o triste espectador das intrigas que, depois de sua morte, tinham de
fluer cahir o paiz no domínio do rei de Hespanha, Philippe II, em i580. No
emtanto, Portugal, assim convertido em província hespanhola, não se podia
resignar a uma tal degradação. Esta nação pertence ao numero d'aquellas que
aio curáveis, e se mesmo hoje, apesar de seu enfraquecimento material, acha
ainda no vigor de seu temperamento e na energia de sua fé, solidas garantias
para o futuro, com mais forte rasão as achava no tempo em que, debaixo do do-
nUnio estrangeiro, seu patriotismo retemperado pela adversidade, estava prom-
pto para todos os sacrificios, e não esperava mais do que o momento d'uma
brilhante restauração. Todavia, só foi em i640 que, com sua independência
Portugal recuperou suas colónias, suas jerarchias e toda a sua influencia.
«E' para notar que Vieyra estreiava-se na vida publica pelo mesmo tempo,
em que sua pátria renascia de suas ruinas, e não era homem para malbara-
tar cireumstancias tão providenciaes. Ser então portuguez, era pertencer ao
mesmo tempo ao mundo antigo e moderno, e poder tomar parte em tndo que
de grande se fazia n'um e n*outro continente. Ora, se quizermos penetrar no
âmago dos grandes acontecimensos d*aquelles tempos, sigamos por um ins-
tante a Vieyra. Este homem de Deus e do povo, este verdadeiro padre, só teve
sempre um pensamento, um alvo : defender, propagar a fé; porém a este alvo
dirigiu-se elle de diversos modos, segundo os diversos legares em que se achava.
TOMO I S5
386 Hl
Se missiona no Brasil, onde o obstáculo é a escravidão, applica-se a mostrar qne
a liberdade não é oatra coisa mais do que o respeito aos direitos de todos» a
strícta justiça. Missiona na Europa, onde o embaraço é o descommedimeoto
da rasao, prova a esta qne nunca é mais forte, senão quando é mais crente.
'D'uma tal doutrina, quando a vemos illumínada pelas prégaçõeSi pelos exem*
pios e por toda a vida d'este humilde e grande religioso, nenhuma outra coisa
podemos tirar como consequência, senão que a nossos irmãos separados foi
necessária uma extraordinária cegueira para se obstinarem em nome da liber-
dade e da rasão, em se revoltarem contra nossa mãe commum, a santa Egra-
Ja, qne é o único guarda da sã rasão e da verdadeira liberdade.»
580) mSTOmE DU SOHISME PORTUQAIS £N ORIENT. Pa-
ris. 8.»
S8i) HISTOIHE DE JEAN VI, depuis sa naissance jusqu^à sa mort,
en 1826; avec des particularités sur sa vie privèe et sur les prindpales drcanS'
tances de son rêgne. Paris. Ponthieu et Compagnie, libraires, 1827.
Ê obra bem escripta, e na qual apparecem poucas inexactidões. Foi tra-
duzida, e impressa em Lisboa em 1838. Fez-se ha pouco tempo ama nova edi-
ção, apresentando-a o editor como obra inédita e original!
582) HISTOIHE de la reunion du royaume de Portugal à la cotmmne ie
Castille. Traduite de Yllalien de Jerosme Conestage, gentUhome genoU. A Pa-
ris, chez Lovis Billaine, 1680. 2 vol, o 1.» 533 pag., o 2.» 399.
O traductor diz na advertência, que fez algumas alterações n*esta obra
para accommodar o génio da língua italiana ao da franceza, que não é sem-
pre tão arrojada, nem tão fígurada, E' por isso que abreviou no 2.<» livro o dis-
curso de Mulei Moluco, e no 7.° o de D. Sancho d'Avila. V. Conestagio.
583) mSTOIRE DE PORTUGAL depuis 1090 jusqu'en 1610 compme
en 20 hvres, panni lesqtiels sont les douze d'Osorius, tradmts en français, et les
autres tires de divers auteurs. Géneve, 1610, 2 vol.
584) mSTOIRE DE PORTUGAL depuis 1496;tt5(jru'w 1578. Paris, 1581.
58o) mSTOIRE PALLADIENNE. traitant des gesíes et généroux fait-
d'arines et d'amour de plusieurs grands princes et seigneurs, speciallement de
Palladien fils du roy MUanor d'Angleterre et de la belle Selerine sceur du roy
de Portugal, Paris, looo. (É um romance.)
586) mSTOIRE des choses memorables advcnues en la teiTe du Bresil,
pnrtic de VAmeriqne Australc, sons le gouveniement de Nicolas de VUlegais-
gnan depuis Van 1555 a iojS impvimée Van 1561. ^
« No tomo 3.« a pap. 38 do Malogue des Urres de la hibliotheque du feu mr. le duc
de la VallUre, par Guillaume de Bure vera uraa lisla de varias obras raras relativas
a Yillcgaignon.
Hl 387
587) HISTOIRE SEOBÊTE de D. Antoini, ray de Portugal^ tirie des
memmre$ de D. Gomes de Vascancellas Figueiredo. Paiis, i696.
588) HISTOIRE VERITABLE des demieres guerres advenues en Bar-
berie, et du succès fntoyable du roy de Portugal demier D. Sebastien, gui num*
rut etí bataUle le i^ aout 1573. Traduite de Vespagnol en françois, Paris, i579.
589) HISTORIA DE BELLO AFRIOANO in quo Sebasíiaim rex
PorlugalUa pertít ad diem 4 aug. Ânno 1578. Noribergae, 1580. (Historia da
goerra d*Africa, em qae pereceu el-rei D. Sebastião, etc.)
590) HISTOIRE des Brigands célebres et des bandits fameux en France,
en Angleten'ej en Italie, en Espagne, en Belgique, en Portugal, en Suisse et
dons les autres pays du monde. Tirée de tous les documents auihenliques. Pa-
ris, 1837. 16.«
591) HISTOIRE VERITABLE des demieres et piteuses adventures de
D. S^HUtian, roy de Portugal depuis sa prison de Nápoles jusqu' aujourd*hu%
gii*tl est en Espagne à S. Lacar de Barrameda (30 aut 1602). Rouen 1602).
(C M. B. I. P.)
592) HISTORIA despoTisationis Frederici III cum Eleonora Lusitanica
(Historia dos desposorios de Frederico Hl com Leonor de Portagal).
Vem no tomo 2.s pag. He seguintes da obra intitulada Rerum germani*
carum scriptores vartt de Struve. Strasborgo, 1717.
593) HISTORIA de Gabriel de Espinosa, pastdero en Madrigal, que fingia
ser el rey Don Sebastian de Portugal: y asinUsmo la de Fr. Miguel de los San-
tos, enelanode 1595. Con licencia. £n Madrid, en la Oficina de Pantáieon
Amar. Ano 1785. 8.» 163 pag.
Em ama nota qoe se encontra na ultima pagina d*esta obra diz-se que a
primeira edição foi impressa em Xerez no anno de 1595.
Ha uma outra edição d'esta obra publicada na mesma cidade de Xerez,
DO anno de 1683, na imprensa de J. A. de Tarazona.
Ê a bistoría interessantíssima de um aventureiro bespanhol, que fazendo*
le passar por D. Sebastião, rei de Portugal, conseguiu ter relações amorosas
oom D. Anna d'Austria, sobrinha de Philippe II rei de Hespanha, e professa
n*am convento do Madrigal. Foi enforcado em 1595.
A respeito d'esta historia pódese consultar o livro do sr. Miguel d*Anta8,
intitulado Les faux D. Sebastien, impresso em Paris no anno de 186a Obra
muito interessante, e que veiu esclarecer muito a historia dos aventoreúros que
86 fizeram passar pelo fallecido rei.
594) HISTORIA DE PORTUGAL composta em inglez por uma socie-
dade de lUteratos, trasladada em vulgar com as addições da versão franceza,
\
388 Hl
e notas do traductor portuguez António de Moraet Silva, natural do
Janeiro. Lisboa, na offlcina da Academia Real das Ciências, 1788. 8.*
O quarto volume d*esta edição, o qual abrange o reinado de D. Maria I, é
composição do padre José Agostinho de Macedo.
Esta obra é vulgarissíma, não se podendo depositar, comtado, n'dla ama
cega confiança, pois os erros (devidos a varias causas) sao frequentissimosi de
que temos uma prova no grande numero d'elles, que vêem mencionados no
quarto volume da Remta Litteriaria Portuense; e note-se que estes slo ape-
nas os que dizem respeito à nossa expedição a Tanger no reinado de D. Joio I.
Appareceu por ultimo novíssima edição no anno de 1828, em des vola-
mes, sendo os últimos cinco (impressos em 1838) uma historia de Poitogal
desde o reinado de D. Maria I até à convenção de Évora Monte, e devidos á
penna do sr. José Maria de Sousa Monteiro.
O original inglez ainda o não pude vér.
Da referida historia de Portugal ha outra edição continuada por Hypolito
José da Costa, e impressa em Londres no anno de 1809.
595) HISTORL&. VON CALIOUT, undandem, ete. (Historiado Caliotf,
de outros reinos, províncias e ilhas na índia e do mar das índias). Vnéí, 1585L
596) HISTORIO sketches of Spain and Portugal. London, 1835. t voL
(Esboços históricos de Hespaoha e Portugal.)
597) HISTORIE (THE) of the uniting of the Kingdom ofPortugall to tke
crown of Castil, containing the description of Portugall, their principal towns^
castles, placas, rivers, hridges, of the East Indies, the Mes of Terceres^ and
other dependences^ the last warrs of the Portugals against the Moores ofAfri-
che, the end of the house of Portugall, etc. London, 1600. (Historia da onião
do reino de Portugal á coroa de Casteila, etc.)
598) mSTORY (A) OF PORTUGAL. London, 12.<» (ffistorfa de Por-
tugal.)
599) HISTORY of the discovery and conquest of índia by the Portuguese.
London, 1695. (Historia da descoberta e conquista da índia pelos portuguexes).
600) HISTORY of Spain and Portugal. London, 1854. (Historia de Hes-
panha e de Portugal.)
601) HISTORY (THE) of Spain and Portugal. From B. C. 1000. A, D.
1814. LondoD, 1833. (Historia de Hespanha e Portugal desde o anno iOOO an-
tes de Christo alé o de 1814 depois de Christo).
602) HISTORY (THE) of Azores or Western Islands. London, 1813.
(Historia dos Açores ou Ilhas Occidciilacs).
HO 389
«Qaem diria qae um subdito inglez escolhesse a época não só de uma pro-
Ainda paz» mas a da mais stricta e intímâ alliança, que Jamais existia entre
Portogal e Inglaterra, para aconselliar o governo inglez a empolgar as ilhas
dos ÀQores aos portagaezes?» ^
603) HOOHSTTETER (FERDINAND DE). Geólogo e viajante allemao.
Nasceu em Esslingen em abril de 1829.*
£.— JVàdetro. Yienna, i86i.
604) HODJES íGolonil).
E.-^Narr<Uive of the expeditum of Portugal in i832 under the orders of
his imperial nu^jesty Dm Pedro duke of Bragança. Liondon, i833. (Narração
da expedição de D. Pedro, etc.)
606)
£•— Cop de Bonne Esperance, Congo, Mozambique, Ázoi'e$, Modere, Cap
Vert.
Todas estas monographias apparecem na coUecçâo intitulada Univers PU*
íoreêque.
606) HOFFUANNS (M. DE).
E. L— Cause célebre du droit des gens. Le marquis de Pombal et VAngle'
Urre, Episode de la guerre de sept ans* Publiée par — . Paris, 1840.
n. Memoire de Leibnttz à Louis XIV sur la conquête de rEgyptef publié
avec unepréface et des notes. Paris, i840.
tA opinião, que este iliustre sábio fazia de el-rei D. Manuel, é tão impor-
tante para a nossa historia exterior, que me parece opportuno transcrever aqui
algumas passagens doesta interessante Memoria. A pag. 18 diz elle a Luis XIY :
CasteUa acabava de se unir ao Aragão, e os Sarracenos erão por fim expul-
sos de Hespanha. O talento de Ximenes concebeu o projecto de uma estreita
aUianca entre os mais sábios reis do seu tempo, e conseguiu executal-o. Digo
08 mais sábios, porque se pôde com justiça segurar, que cada um d'elles ti-
nha lançado os fundamentos d'uma nação poderosa; eram estes D. Fernando^
rei de Castella e Aragão, Manuel, rei de Portugal, e Henrique Yíl rei de In-
glaterra. A opinião de se apossar do Egypto, tomando primeiramente Alexan-
dria, celebre peio seu porto, foi adoptada pelo conselho. £ esta opinião do car-
deal foi adoptada pelos reis aliiados. Tenho d'isto uma prova nas cartas d*el-
rei D. Manuel dirigidas ao celebre cardeal, que mesurprehenderam quando li
a vida do cardeal. Citarei (continua Leibnitz) só duas passagens. Quanto ao
que me dizeis do que se deve obrar n*esta guerra, vós fallaes de um modo tão
hábil, e arranjaes as coisas com tanta força e energia, que parece que vós nunca
tratastes de outra matéria. . . .
1 1nvestigador Portuguez em Inglaterra, toI 6.'* pag. 161.
* Vapereaa — Didianaire det Contemporaint, pag. SOS.
390 HO
tNo que diz respeito á expedição de Alexandria, sobre a qual vós diseor-
reis sabiamente, pareceu-nos uma excellente empresa, cujo saceesso sari mui
yantajoso. Náo nos esqueceremos, que é a vós que deveremos as vaotafeos e
proveitos. Segundo a opinião dos homens instraidos, coisa algama será tio te-
ci], se todavia vos encarregardes de a dirigir. Parece-me opportono dixer-voa
que segundo a relação trazida por um navio, que tocou em Rbodes, esU nos vem
eonflrmar na opinião, em que estamos, da facilidade do sueeesso, e de tal
sorte que dariamos desde já ordem de tental-o, se a expedição de que noi oe-
cupamos, nos não tivesse impedido; mas virá tempo em que nospossamoi oc-
cupar exclusivamente doeste assumpto.*
Leibnitz accrescenta: tTaes são as expressões d'este illnstre rei, o qjoal em
ootra parte dizia: Que durante o ataque do Egypto pelo Mediterrâneo, uma
segunda esquadra effectuaria um desembarque no Mar Roxo.» Mas to^ es-
tes projectos se desvaneceram pela morte d'eirei Fernando Catbolieo, e a
Hespanba convertendo-se em uma província d*Austría a rivalidade de doas
podorosas casas produziu uma multiplicidade de projectos differentes, e Xi-
menes deixando-se influir pelos conselhos de Vianelli, atacou a Africa, apos-
sou-se de Oran.»
Visconde de Santarém — Quadro elementar das relações politicai e ixgUh
maticas de Portugal com diversas potencias do mundo ; vol. 2.*', pag. i04.
607) HOFFMANSEGO (JOlO OENTURIO, Condi db) Naturalista al-
lemlo.
Nasceu em Dresde a 23 de maio de 1766, e fallecen na mesma cidade a
13 de dezembro de 1849. Estudou em Leipzig e em Goettingue, e residiu por
alguns annos em Portugal. Aqui descobriu algumas centenas de espécies de
plantas até entáo desconhecidas, e um grande numero de insectos raros. Em
reconhecimento dos serviços prestados por eilc á butanica, Cavanilles dea o
nome de Uoffmanseggia a um género de plantas da America Austral. ^
Y,,— Flore Portugaise ou Descripíion de iouies les plantes, qui croissent iw-
turellem^ en Portugal avec figures coloriées, cinq planches de temunaiogie
et une carte par J. C, comte de Ho/fmansegg, ancien officier aux gardes du
corps de sa majesté le rol de Saxe et 11 F. Linky professeur de botanique et de
chimie à rUniversité de Rostock, A Berlin, de rimpriraerie de Charles Frede-
ric. Amelang, 1809. 2 vol. de folio máximo, sendo o primeiro de texto com
388 paginas, e contendo o segundo 60 estampas. *
tCharles rEcluse,^ observador muito penetrante, tinha, pelo amor ás plan*
tas, percorrido algumas províncias d'este paiz, notando suas notabilidades com
toda a exactidão que n'aquella época admitlia o estado da sciencia. Grísley,
que viveu em Portugal no meio do século xv», apesar de infatigável em suas
pesquisas, apenas nos tinha transmittido nomes. As plantas alli conhecidas por
1 Firmin Didol ■*- Nouvellc Blogrnphie UnitersellCf vol. li.", pag. 902.
' Eslíi obra i* dedicada á iainb»i da Prússia.
3 A dcscrip^.âo d'c<la vingem foi composla por Link. V. este nome.
HO m
Tonrnefort e Antoine Jussiea estavam escondidas nos herbarios; apenas um
peqaeno nomero tirado do esquecimento achava-se descripto na Encydopê-
dica Methodica. Vandelli linha publicado bem poacas obras, mas essas mes-
mas não isentas de erros. Parece, pois, valer a pena ir examinar um paiz en-
cantador, ao qual o clima mais suave prodlgalísou tantos dons, e occuparmo-
nos finalmente da Flora de um tâo bello paiz europeu. O conde, ao voltar para
Allemanha, soa pátria, crendo que o numero de objectos para serem exami-
nados exigia mais de um observador, associou- se com Frederico Henrique
•Link, professor de botânica e de chimica na universidade de Rostock. Tam-
bém não hesitou em encarregar-se de todas as despesas, por mais considerá-
veis que fossem. Fomeceu-se para este fim de livros escolhidos, de um herba-
rio de plantas septentrionaes, de vários instrumentos, n'uma palavra, de quan-
to parecea necessário para estudar, mesmo durante a viagem, o que merecesse
fixar a attenção.
«Bem preparados d*esta sorte deixámos a Allemanha em 1797, e chegá-
mos a Portugal na primavera de 1798. Um reconhecimento bem devido chama
á nossa lembrança os famosos sábios, que n*esta viagem tiveram a bondade
de nos auxiliarem em nossos estudos com uma benevolência illimitada, prin-
cipalmente Antoine Laurent de Jussieu, debaixo de cujos auspícios admira-
mos as riquesas do Jardim das Plantas; René Desfontaines, que nos mostrou
sem reserva os vegetaes por elle recolhidos na Berbéria, região cujas produc-
ções são muito análogas às de Portugal: finalmente Joseph Canavilles, de quem
recebemos o generoso presente de um grande numero de plantas escolhidas
da Hespanha.
«Os floridos arrabaldes de Lisboa foram os primeiros a fixar nossas vistas.
Alli com surpresa encontrávamos ora collinas atapetadas de uma brilhante ver-
dura, abundantes em vegetaes da maior bellesa e raridade, ora planícies areen*
tas, com brilhante verdura, revestidas, ató a vista se perder, de arbustos e plan-
tas próprias das charnecas, variadas ao mesmo tempo por diversas espécies
de cistos. Mal podíamos dar credito a nossos olhos quando descobríamos tan-
tas plantas incógnitas, e rodeadas de algumas mouriscas, a ponto de nos pa**
reeer estarmos vendo a Fiara de Berbéria, emigrada para a Europa. Ao nor-
te erguem-se em torno de Cintra elevadas montanhas formadas de rochas,
onde entre as plantas septentrionaes se encontram algumas das Canárias. Para
o Sul a serra chamada da Arrábida suspende sobre o Oceano seus píncaros
ornados de soberbas orchideas. ^ Depois de termos observado estes objectos,
fomos visitar as provindas boreaes do reino. A estrada conduziu-nos succes-
flivamente ás Caldas da Rainha, Leiria, Alcobaça e Coimbra;- N'esta ultima ci-
^ •(hchidêaê plantae^ família de plantas qae tem grande analogia com o género or^
éhU; é ama ordem dos fragmenlos do Methodo Natural de Linneo. As raixes da maior
l»arte das plantas d'esta familia sSo compostas de uma ou mais producçOes carnudas,
guarnecidas de radiculas fibrosas: algumas sSo inteiramente fibrosas; a todas comtudo se
tem dado o nome de bolbos, mas na Tordade bem Tagamente.» Brotero. Compendio 4$
Botânica, toI. ^•, pag. S3I.
m HO
dade tívemos & fortana de travar conhecimento com o cdebre profasior de
botânica Feliz de Avellar Brotero, e bem depressa uma estreita amlsada nos
unia a este amável sábio. Ficoa sendo o companheiro de nossas digressOes, e
foi elle qaem nos gaioa em nossas indagações até os recantos mais oecoltos
do valle delicioso qae rega o Mondego, rreqoentemente cantado pek» poetas»
e realmente merecedor dos elogios qne lhe prodígalisaram.
«Foi mister, todavia, deixar nosso amigo com o fim de avançarmos pan
a cidade do Porto, onde as margens do Doaro nos forneceram um graodte na-
moro de plantas, cujos giios sem duvida são trazidos da Hespanha pelas innon-
dações das aguas d*este rio. Atravessamos em seguida as provuicias deEntro-
Donro e Minho até ao cume das montanhas da serra de Gerez, qne tocando
na Galliza, constitue por este lado a fronteira de Hespanha. A Europa meri-
dional apenas possuo um sitio, que possa ser comparado a este encantador lo-
cal. Os campos recebem a sombra dos bosques não interrompidos de casta-
nheiros e soutos. A vinha entrelaçada no arvoredo marinha com um vôo pou-
co vulgar até seu cume, e na forma de grinaldas toma a cair de um modopít-
toresco. Meio escondidas pela folhagem enxergam-se dispersas por aqui e por
acolá as casas campestres dos habitantes d'esta Arcádia, onde vos acolhem com
uma franca alegria. Este Tempe Lusitano é regado pelas murmurantes ribei-
ras com uma frescura admirável, que caindo das escarpadas montanhas como
pequenas cascatas, e correndo em leitos de um musgo sempre verdejante re-
frescam este solo aquecido por um sol bem activo. Chegando ao come é'esta8
alturas sois detidos pelos rochedos a pique : immensos precipícios obstam a
que o viajante passe além, e perturbe o covil da cabra monteza, cuja pista
está calcando.
tDeixando com saudades estes românticos sítios, dirigimo-nos para a cordi-
lheira de montanhas chamada Serra de Marão, e descemos para o profundo
valle do Douro, abrasador no verão, onde jaz situada Peso da Régua, cujos ar-
redores produzem a primeira qualidade d'esse vinho espirituoso, que toma seu
nome da cidade do Porto, por embarcar n'ella. Depois de termos subido ás pla-
nicies oppostas, tornou-se-nos indispensável galgar as montanhas mais altas de
todo Portugal, chamadas pelos antigos romanos Hermimum,eàs quaes hoje se
dá o nome de Serra daEstrella. O estio muito rispido d'este anno tinha derretido
alli toda a neve, que n'outra3 occasiões é permanente. Mas por fim o ardor
do sol tendo queimado todos os campos, nada nos restava senão voltar para
Lisboa, onde chegámos em agosto de 1798.
tA primavera seguinte convidou-nos a deixar esta capital uma segunda
vez, para continuarmos nossas pesquizas pelo Alemtejo. Depois de atraves-
sarmos tristes e melancólicas campinas, cujo solo areioso apenas está coberto
por tojos e urzes, ganhámos as montanhas, que a separam do Algarve, cha-
madas no paiz Serra de Monchique. Mas no alto d*ellas, em volta da villa do
mesmo nome, mudando repentinamente a scena, ficámos surprehendidos de
ver de repente brilharem, como por encanto, os jardins odoriferos das Hes-
pérides no meio de soutos guarnecidos de loureiro rosa.
•Depois d'isto, tendo empregado a primavera de 1799 em atravessar o Al-
HO 393
gurve em teda sua largura desde o cabo de S. Vicente até ao Goadiana, se-
guindo a costa ornada de lindas plantas balbosas, Toltámos para Lisboa pelos
caminhos de Mertola, Serp^ e cidade de Évora.
«O professor Link, chamado em virtade de seus deveres pelo cargo qae
exercia» nao ponde por mais tempo deter-se em Portngal. Volton para Rostock
pela via de Inglaterra, e em Londres comparon as plantas portngnezas com o
herbario do cavalheiro Joseph Banks.
«Gomtndo o conde de Hoffmansegg, podendo dispor do sen tempo» e dese-
joso de levar sua empresa ao maior gran de perfeição, ficoa em Portugal, onde
se dispunha para outras novas digressões. Dirigin-se no verao de i799 para a
Serra de Montejunto, examinou as nascentes salgadas perto de Rio Maior, trans-
portOQ-se para Santarém, passou o Tejo, e chegou a Portalegre e Marvão, on-
de vastos soutos offereceram debaixo de seu abrigo deliciosos passeios. Tor-
nando a passar depois o mesmo rio um pouco mais acima, achou-se em pe-
rigo nas áridas campinas antes de Castello Branco, onde as matas de estevas,
das quaes toda a campina se acha coberta dao pela sua côr cinzenta a todo o
honsonte uma physionomia triste e melancólica. Estes horríveis desertos ope-
raram em mim uma impressão tao sinistra, que me apressei a voltar para
Lisboa.
«O conde de Hoffmansegg durante o mesmo verão reunin-se a um joven
amador com o fim de fazerem uma digressão ao Algarve, especialmente para
completar a coUecção das plantas das fertilissimas e risonhas vísinhanças de
Tavira, que offereceram algumas lindas descobertas. >
«Tomou a sair de Lisboa o conde em dezembro de i799 para as partes se-
ptentríonaes do reino. O primeiro objecto, que lhe prendeu a attenção, foi o
vasto pinheiral perto da Marinha Grande. Visitou depois o convento do Bus-
saeo ^ e muitos outros legares, retirando-se depois para Lisboa, e d*aquí para
Hamburgo em 180i.>
1 «O eoDTeoto está sitaado ao lado septentrional de uma elevada serra que tem em
altura quasi a de Cintra: o mar fica na distancia de cinco léguas qoasi em Unha reeta.
O espaço de perto de ama legoa de circnmferencia é rodeado de mares, contendo orna
espessa mata, horta e campos cuUiTados. As arvores de sombra sSo o loureiro silvestre
[tihwmwn Itatif], o asevinho {iles aquifoUium), o medronheiro {arbustui wnedo] e algu«
mu outras espécies. O arvoredo alto compOe-se de carvalhos, pinheiros bravos, e cedro
de Goa. Esta belht arvore foi trazida de Goa para aqui, ha mais de duseutos annos.
Yéem-se ainda as primeiras arvores que se plantaram, e d'esla mata sahiram origiBaría-
nente quantos se observam do reino e talvez na Europa. O píncaro da serra dista mais
de meia légua do convento. Oisfructa-se alli um dilatado horísonte até ao mar, e uos
arredores nada mais se enxerga, exceptuando ao norte a Serra do Caramulo, e ao nor-
deste a da Estrella. O viver dos frades é muito rigoroso. Algumas horas do dia e da
noite B&o consagradas á oraçSo, e a cantar no cAro. Jamais comem carne, e nto lhes 6
peimittido fallar senão de quinze em quinze dias de tarde no passeio. Só o prior oa pa-
dre hospedeiro (que é o encarregado de receber os estrangeiros) está exceptuado d*esta
regra podendo conversar com elles. Indemnisoa-se amplamente do silencio, que fora
obrigado a guardar, por haver muito tempo que nfto via estranhos, fallou continuamen-
te, cousa bem desculpável. Os terrores da relígi&o desapparecem bem depressa n 'estes con-
396
HO
do Mcalo vrm pelo conde da Ericeinu ^ Esta villa tem ama omnerosa popu-
lar apesar de nao sor nem tão bonita, nem tão considerável, como era para
esperar. Gomtado esta situação ó bem escolhida para mannfactoras de pannos*
A SerraMa Estrella serve em toda a saa extensão para pastagem de carneiros»
e sustenta qoasi todos os do reino. Estas montanhas são muito povoadas, po-
rém os meios de subsistência são quasi nuUos, por causa da aridex do solo, e
do rigor do clima. A serra dá nascimento a muito menos ribeiros que o Ge-
reç e se estes ribeiros se convertem em grandes rios, ella com isso nada loera.
«Um caminho pedregoso, que atravessa sities tristes e desertos, condoa a
Haoteigas, situada a três léguas da Covilhã, na margem esquerda do Zeiere.
D'aqai vimos os cumes da Serra da Estrella cobertos de neve. A aldeia de Sa-
bugueiro fica na distancia de duas léguas. Sobe-se primeiramente para oeste,
depois atrevessa-se uma mata de carvalhos, e chega-se a Sabugueiro por ter-
ras agrestes e cobertas de rochedos. Apesar de estarmos na primavera ii'es-
tas montanhas, os arredores da aldeia, nem por isso oram mais amenos que
em a nossa primeira viagem no mes de julho. Fomos acolhidos pelos habitan-
tes com polidez egual; mas a miséria reina na aldeia. As mulheres e creanças
andavam cobertas de farrapos e pediam esmola. Um inverno longo e rigoro-
so era sem duvida a causa de sua penúria. Não teem algum outro meie de
•QbsisteDcia senão seus rebanhos, mas vôem-se obrigados a mandal-oe du-
rame cinco mexes do anno para o Alemtejo, e a carestia das pastagens bem
eomo as despesas da viagem quasi que absorvem o valor da lã. Não lhes resta
outro rendimento mais que o queijo e a carne, dois artigos bem módicos em
comparação de tantos géneros que são obrigados a comprar com dinheiro
à vista. Trepam com perigo de sua vida pelos rochedos á procura da raiz
de genciana para ir vender á botica.
«A 3i de maio ainda havia neve a alguma distancia de Sabugueiro, com-
tudo não obstava a que se chegasse às duas lagoas — Lagoa Redonda e Lon-
ga. N*alguns sitios fomos obrigados a passar por cima da neve, que estava
coberta de uma camada de gelo espessa a ponto de nos sustentar em cima. Ha
comtudo perigo, quando a neve está amontoada, e se forma uma tal camada.
As duas lagoas, cujas aguas tranquillas reflectiam sobre os rochedos cobertos de
neve,offereciamum aspecto que deve espantar em Portugal. A neve, que se con-
funde algumas vezes coma verdura dos prados, trouxe-nos á lembrança os Al-
pes. A temperatura, que é quente no Sabugueiro, era n'este sitio de uma frescura
agradável. Vimos florescerem três sortes de narcisos nos prados, os quaes muitas
vezes abriam caminho por entre a neve, cuja espessura nos impediu de irmos de
Lagoa Longa á Lagoa Escura. Comtudo a neve nunca permanece por tanto
tempo n'estas montanhas : a grande quantidade cabida era um pbenomeno
tão extraordinário, que os mais velhos não se lembravam de terem visto tal.
Doeste phenomeno eram causa os invernos rigorosos de 1798, e de 1779 a
^ As fabricas da Co? ilha produzem anDualmente mais de vinte mil pannos ^ o capital
fixo é superior a mil contos, e estão empregados n*ellas seis a sete mil operários. Sr.
Joaquim Henrique Fradesso da Silveira--Af fabricas da Cofi/M— Lisboa, 1863.
HO sw
1800. No inverno e na primavera a Lagoa Escura descarrega snas agoas na
Lagoa Longa, e ambas estas se lançam no meio de varias correntes no rio
Alva4Estas três lagoas formam-se de nascentes e do derretimento das neves, o
trasbordam apenas a agua está ao nivel das margens. Não possnem nenhoma
das propriedades milagrosas que lhes attribnem vários viajantes.
«O conde, desejando passar algmis dias n*estas montanhas, tinha para essa
fim mandado vir de Coimbra ama barraca para a Covilhã. Escolhen para a
assentar um prado, qne se encontra ao pé de grandes grupos de rochedos.
SSo dois, um chamado Cimadouro dos Cães, e o outro Cântaro Delgado, tfê^
parados por um estreito valle. O prado tem o nome de Albergaria. Para alll
chegar vimo-nos obrigados a recuar para Manteigas. Segue-se o curso do 2e«
zere n'um valle rodeado de montanhas áridas e calvas, em cujas faldas os ha-
bitantes recolhem algum trigo à força de trabalho e de cuidados. A umalegna
de Manteigas vô-se precipitar do alto das rochas o rio da Candieira,correiile
impetuosa que forma uma cascata de uma altura e de um volume considera-
veis. Depois de termos trepado por alguns rochedos, chegámos ao peqoeno pra-
do de Albergaria, à base, e a este d'essas massas de rochas. O Zetere sae de-
baixo da neve e serpenteia como um pequeno regato no prado. Está comludo
separado doeste montão de rochedos ^ por um outro prado chamado Argenta-
ria, e por precipícios horrendos. Um d'estes rochedos, Cimadouro dos (Ses, 6
espesso, e forma varias agulhas : o outro, Cântaro Delgado, parece um eone
agudo, até cujo cume, conforme o testemunho unanime dos habitantes nin-
guém trepou : consideram-no mesmo como inaccessivel. Atraz da primeira
massa de rochas acha-se o valle Cavar das Vaccas, que remata n*unia monta-
nha escarpada. O rio de Unhaes sae d*elle, e forma varias cascatas; dirige-se
para o sul com o fim de se juntar á aldeia de Unhaes, onde existem banhos
quentes.»
O conde de Hoffmansegg esteve a ponto de perder a vida nos preeipidos.
e neves da Serra da Estrella a 4 de junho de i800. Soas palavras a este res-
peito são as seguintes :
«Resolvi visitar esta manhã o valle ao pé do Cântaro Delgado. Depois de
ter subido durante algum tempo, seguindo o curso do Zêzere, cheguei a nm
lindo prado chamado Covão de Metade, e que se parece alguma coisa com Al-
bergaria. D'ahi a pouco tive o prazer de encontrar pela primeira vez em Por*
tugal o narciso amarello, mui pouco estimado em nossos jardins, mas qne é
mais bello n'aquelle paiz. Cresce na encosta de uma coUina coberta de rica
verdura, e chamada pelos habitantes Malhada do Covio Cimeiro. O Covio Ci-
meiro é um pequeno prado em uma situação mais elevada, e ao qoal nio dis-
guei senão depois de ter subido com dificuldade por um rochedo escarpado.
Ficava-nos o rio à esquerda, e do lado opposto erguia-se o Gimadooro dos
Cães, e á direita, a pouca distancia, o Cântaro Delgado. O prado achira-se
ainda revestido de neve em alguns sitios, mas ella começara a derreter-sa, s
< No Panorama de 1S41, a pag.' 87 o sagníDtM encontra-ts uma ozeslloatt § miath
ciosa descri peio da Serra da Estrella.
398 HO
por entre elle abriam caminho doas espécies de narcisos. O valie esUva ro-
deado por todas as partes de precipicios e de rochedos a pico : á dureita e ao
norte os rochedos se elevavam perpendicalarmente, e formavam diversas sa-
bidas até Cântaro Gordo, grupo de rochedos, qae se assimilha ao Cântaro
Delgado, porém mais considerável e afastado d*este em linha recta^ am quarto
de legiia. Os precipicios estavam cheios de neve qae o vento tmha aglomera-
do, e que derretendo-se na súa base, formava diversos arroios. Muitas veiea
os precipicios se ajuntavam de sorte que formavam pequenos valles cobotoa
de neve; esta era tao dura, que depois de ter hesitado um momentOi resolvi
atravessal-a. Minha tenção era dirigir-me para a cumiada mais elevada das
montanhas, já minha conhecida pelas minhas precedentes viagens : estava cu-
rioso de ver qual o eíTeito produzido alli pela neve, e se sua quantidade era
considerável, o que mal podia acreditar, comparando-o com o estado em que
então o vi, ainda que a borda superior estivesse coberta de uma neve muito
espessa. Depois de ter trepado com as maiores difflculdades, e durante algu-
mas horas, os rochedos a pique, cheguei ál)orda superior; porém era tão ele-
vado, e principalmente tão escarpado, que foi com o maior perigo, que ea me
arrisquei a subir por elle. Tornei a descer alguma coisa, e atravessei um valie
de neve da largura de cincoenta passos. Cheguei depois á extremidade dos
rochedos áridos, e finalmente á coroa mais elevada, cujas agulhas teem
quasi a altura das dos Cântaros. O tempo estava secco e suave; mas o vento
do este, que traz sempre o bom tempo para estes sitios, tinha virado para su-
doeste, e o céo cobriu-se de nuvens e de um nevoeiro espesso, que se espa-
lhava já sobre a Argeateira. Tinha ouvido dizer que um nevoeiro repentino
cobre estas montanhas, e se tornava perigoso para um viajante^ comtudo não
esperava achar confirmada esta verdade tào promptameote. Depois de ter trans-
posto alguns montões de neve, vi quo a cumiada superior eslava completa-
mente coberta por ella; e até ao mais elevado cume, chamado Malhão da Ser-
ra atravessei uma extensão de mais de dois mil passos por cima da neve, que
tinha de três a nove pés de espessura. O Malhão estava talvez cercado, durante
mais de meia légua, de uma egual camada, pois nada mais vi que céo eneve.
Quando passei esta camada, na qual minha curiosidade foi amplamente satis-
feita por esta triste monotonia de inverno, e que o nevoeiro cobria Já uma
parte do horisonte, julguei prudente retirar me. Tinha tido tenção de rodear
o Cântaro Delgado e o Cimadouro dos Cães pelo sul, e de penetrar pelo Co.
vão das Vaeoas o pola \r?onteira até Albergaria. Abandonei este projecto, e
diligenciei (o liii^^ jiiL'u< j possível) ganhar o avesso doestas massas de rochas
que me pareciam uiarcm-se áquellas que separavam nosso campo da Argen-
teira. Desde a borda da cumiada não vi com eíTeito senão um mediocre va41e
de neve a atravessar para alli chegar; por isso julguei devél-o passar. Desde
os primeiros instantes tive alguns receios: desci menos mal a borda da cumia-
da; depois fui detido por um monte de neve, cuja extremidade, que estava
degelada, destacava -se das rochas, e apresentava pouca solidez. Dei um passo
em falso, e escorreguei durante alguns minutos.
Logo em seguida commetti a imprudência de saltar, ainda quo sem peri-
HO m
gOi sobre ama rocha que ficava adiante; o que ponha um segando obstáculo
ao mea camfaiho, se não podesse ir mais longe pelo sitio que prímeiramenle
tinha escolhido; e este obstáculo se apresentoa immediatamente com grande
descontentamento meu» porqae o locai em que se achava nio offerecia sa-
bida alguma. De todos os lados não avistei senão precipícios horrendos, e ne*
nhuma possibilidade de firmar o pé com segurança. Apenas me restava uma
única sabida : um enorme monte de neve reinava até uma certa profundidade
ao longo dos rochedos» porém a extremidade se tinha descoalhado, e mostrava
uma fenda, cuja profundidade não me atrevi a medir. Tentei pôr alli o pé, po-
rém a neve soltava-se por toda a parte, e estava contente de me retirar sem
algum accidente. Bem depressa vi que nenhum outro meio me restava, se-
não de trepar de novo até ao plano superior, e d'alli ou tomar a tomar meu
primeiro caminho, ou de tomar o lado opposto para Sabugueiro, onde não
incorria em perigo, por serem as montanhas accessiveis n'esta direcção, e ha-
ver pouca neve. Foi preciso em primeiro logar trepar pelo rochedo escarpado»
ao pé do qual me achei; porém minhas tentativas foram vãs: era perpendicu-
lar, excessivamente elevado e escorregadio, porque em nenhuma parte pude
pousar o pé; diligenciei-o por diversas vezes, mas sempre inutilmente, e o
medo dentro em pouco se assenhoreou de mim. Dizia comigo mesmo : Se eu
não puder conseguir trepar pelo rochedo, e a noite e o nevoeiro, que me po-
dem ser funestíssimos, me surprehendem n'estes sítios? Qual de meus compa-
nheiros me podia procurar ou ouvir n'esta solidão? Á vista do exposto estava
eu resolvido a fazer os mais desesperados ensaios para sair de minha cruel
posição. Depois de alguns instantes de reflexões e de tentativas reiteradas, ser-
vi-me de todas as forças, que me restavam, e com um praser inexprimível vi
meus esforços coroados de um feiiz successo, chegando ao cume d'este látal
rochedo. Gomthdo ainda não estavam dominados todos os obstáculos; faltava-
me ainda trepar pelo monte de neve: como se sabe, eu não tinha descido por
elle, mas tinha-me deixado escorregar. Tentei trepar pelo rochedo que d'elle
está proxíoM), porém era escarpado de mais, e se bem que o monte de neve o
era egualmente, podia n'elie abrir buracos, e por elles subir, como por uma
escada. É o que effectivamente se praticou : e foi só com a ajuda de pés e de
mãos e de minha bengala, que consegui subir ao alto d'esta escada de ne-
ve. Eis«me pois chegado â planície superior, e em estado da continuar mi-
nha jornada; já não era por prazer ou curiosidade, mas por ser o meio mais
ourlo e o menos difficii que resolvi pôr em execução meu primeiro projecto,
e tornear o Cântaro. A espessura do nevoeiro, que obstava a que distinguisse
os objectos, me foi muito contraria: durante muito tempo caminhei ainda por ci-
ma de neve gelada. Com receio de tomar a cair no precipício da esquerda, coa-
servei-me do lado da altura meridional, e não era para admirar que me tivesse
achado muito longe. Quando me julguei bastante afastado do rochedo escar-
pado do Covão das Yaccas, pareceu-me ser tempo de deixar a neve. Desci da
serra ao acaso, e, como o vim a saber mais tarde, tinha tomado uma boa di-
recção: enganava-me todavia a respeito de um único valle, porquanto em vez
de descer para aquelle que conduz da Argenteira a Unhaes, tomei um outro
400 HO
mais estreito e menos accessivel a oeste do primeiro. Bem ' vi que estava alU
ao abrigo da neve e dos precipicios ; porém rodeiavam-me altas sorras sem
o mais peqaeno vestigio de caminho. Notei qae me tinha dirigido de mais pari
a direita; foi somente depois de ter trepado por ama montanha á direita» que
avistei ao longe ama aldeia qae reconheci ser Unhaes, e conheci achar-me
n'am valle desconhecido. Era tarde de mais, porém a necessidade e a eetteia
de ter escapado de am perigo immínente reanimaram minha coragem: reaohri
descer para o valle até à aldeia, nao obstante saa distancia, e andar até eu*
centrar homens. A montanha era alta e alcantilada; mato e calhaus enormes
a tomavam maito difflcil. Gonsegai todavia )descél-a, e a algans passos da al-
deia encontrei am camponez qae me informoa qae nao tinha mais qoe pas-
sar o ribeiro de Unhaes sobre ama ponte visinha^ e sabir o valle i dirãlta,
para ch^ar á Argenteira, cnja distancia não passava de ama legoa. O sol es-
tava qaasi a eaconder-se, e apressei -me a ganhar o valle, porém nio pude an-
dar maito ligeiramente, porqae desde as 7 horas da manhi tinha andado^
oa para melhor dizer, trepado, sem tomar a mais leve comida. Tinha ainda
qae trepar a am rochedo para chegar à Argenteira, qaando sabitamente o ne-
voeiro se condensoa, me roaboa a claridade do dia. Gontinaei minha jornada
do melhor modo qae poade; avistei am prado, e jalgaei-me já restitoide á
minha barraca; atravessei-o, porém parecea-me moios considerável, e oavi o
sossarro de ama cascata, próxima de mais para poder ser o Argenteka. Qaanr
do chegaei ao cabo d'este prado, conheci qae me tinha enganado. Vi toma-
rem a apparecer elevadas serras, e brilhar a neve ao crepascalo: áetílro em
poaco fiqaei convencido de ter alcançado a extremidade do Covão das Yac-
cas. Nenham outro remédio me ílcou, senão o de voltar para traz, e de pro-
carar o bom caminho. No emtanto tinha chagado a noite; e se a laa nao es-
palhasse alguma luz, nào obstante a espessura do nevoeiro, qiíe descarregava
em chuva muito âna, ter-mehia visto obrigado a ficar no sitio onde me acha-
va; porém esperava sempre chegar ao nosso campo^ e tornei a descer a serra.
Dentro em pouco descobri um prado, que julguei ser o Argenteira; porém era
o mesmo que tinha visto no principio. Já não era possível oríentar-me. Final-
mente perdi toda a esperança de atinar com meu caminho, e resolvi cbegar-
me a um pastor que eu tinha visto guiando uma manada de bois, qaando
snbi a serra. No mesmo instante dissipou-se o nevoeiro alguma coisa, e me
deixou observar uma montanha escalvada, que eu tinha já visto depois da Ar-
genteira, e ao longe vi o rochedo, que separa do nosso. Pude então oríentar-
me, e sabi immediatamente para Argenteira, onde cheguei pouco depois. Re-
conheci-o pelo silencio que alii reinava, pelo seu grande comprimento, pouca
largura, e por vários ribeirinhos, de que era regado. Faltava-me ainda subir
este ultimo rochedo; fazia muito escuro; e estava jà entre as nove e dez ho-
ras da noite : havia perto de quinze horas que eu andava, e estava de tal
forma fatigado, que a cada instante me via obrigado a descançar, e a fazer
esforços para nào dormir. O desejo de abreviar minha jornada pela linha
mais recta foi a causa de deixar de seguir o atalho mui pouco frequentado,
que custa a reconhecer mesmo no alto dia. Tinha-me aproximado de mais
HO 401
das serras elevadas, e chegaei a um grupo de rochedos e de mato. Ouvi cha-
mar ao loBge, e respondi immediatamente com toda a força da minha voz.
A proximidade de um ente vivo deu-me novas forças, e avancei o mais expe-
ditamente possivel, ouvindo sempre a mesma voz. Esta aproximou-se, e re*
conheci um velho pegureiro, que me tinha servido de guia; bem de pressa
se achou perto de mim. Tinha havido grande cuidado com minha ausên-
cia; e, quando ouviu onde eu tinha ido, calculou tao bem o caminho que ea
devia seguir, que sahiu ao meu encontro. A certeza de chegar dentro em pou-
co ao cabo de minha penosa excursão reanimou minha coragem. Arrastamo-
nos vagarosamente por entre o mato, pois era impossível andar. O velho guar-
dador de gado nâo poude reconhecer o atalho, e chegámos ao nosso campo,
do qual avistámos as fogueiras, ao longe, por um caminho inteiramente op-
posto. Foi inexplicável meu prazer ao achar-me no meio de meus companhei-
ros, e o leite que bebi restabeleceu-me completamente. Julguei poder dormir
bcin, mas os esforços tinham sido excessivamente violentos; tive um soomo
inquieto e agitado por sonhos medonhos. Por espaço de alguns dias senti do-
res muito agudas em todos os membros.»
Este artigo foi excessivamente longo, mas a um estrangeiro que dispendeu
36 contos de réis n'uma publicação respectiva a Portugal, e que n'este paiz
esteve em perigo de perder a vida, deve-se um tributo de gratidão. *
608) HOLLANB (Lord).
«Dos cinco beneméritos inglezes, cujos nomes temos de commemorar, notá-
veis alguns quer pelas qualidades de sangue, e riqueza, quer por elevadas func-
çoes exercidas na hierarchia civil, dignos todos de respeito por dotes de en-
genho e sciencia, e que em nossos dias demonstraram mais apaixonada pre-
dilecção pela litteratura portugueza, como que sagrando-lhe uma espécie de
culto, ou convertendo-a em objecto de seus particulares estudos, cabe o pri-
meiro logar, segundo a ordem chronologica a lord Holland.
•Herdeiro e representante de uma familia distincta da Grã Bretanha, ele-
vada ao pariato por Jorge III em i76â Henrique Ricardo Vassall Fux, terceiro
lord Holland, nasceu, segundo se diz, em i773. A sua educação foi esmerada,
e própria para desenvolver seu talento e natural propensão para os estudos.
Sobrinho do eminente orador e ministro Carlos Fox, e como elle, devotado
membro e servido do partido whig, cedo começou a occupar-se das cousas
publicas da sua pátria, tomando assento nas cadeiras do parlamento. Ahi pro-
fessou e defendeu as idéas e principies do tio, cujo collega veiu a ser no ga-
binete durante o curto intervallo em que aquelle celebre estadista se viu por
segunda vez collocado á frente dos negócios como primeiro ministro em 1806.
«Ao cabo de vinte e seis annos, no de i832, tocou-lhe ser aii^da chamado
^ A Flore Portugaise é muito rara em Portugal, e era todo e paiz talvez se não en-
contre meia dúzia de exemplares. A Bibliotbeca Nacional de Lisboa comprou em 1873
um exemplar pela quantia de 1i8^300 réis. Porém as viagens de Link, principalmente
a versSo em inglez, são vulgares.
TOMO I 26
X
Ml tia
a» NTrigo OB lopoitKtt turgo dB ehneelkr do dHMa 4a l4BMK% !« «>■
CMap jhmMda M poder do ttíasma^ firg-Mian^w» garim atite po-
IMiM • « dcMM datriboM Jipib tgpann «An • «M flfvttts iiMiaM<t>
meto cal qoB por QllH M flKpweaiH do «aUrc te MitEH, aoln lote «&■
te pUlolocleoi, qoB aniTa apaiuuduMBte.
■Hanodo passado em Hespanba, e crútnos que em Portngal, ama parte da
pa jõfaunda, obUvera dos idiomas do ambos os paizos eoahecimeiíto baslaats
IffH fWMndir os seus escriptores e poeus; e para apreciar aos orJginaes da
ni» BOb aa bailezas e dereihjs. Na sua escolbida e numerosa livraria, avDlla-
IMk an gnode copia os livros hespanboes e porluguezes, ditos ctasàcos. Co-
fPPiflnvto te conhecimeDtos pbiiologicos adquiridos no estudo da litteralan.
|||Í|iÍM|Í)lár,«iBrevoD e publicou em Londres (1805) umas Memorias para a vida
^á.VopoAlVata, ás qaaes addicionou, râimprimindo-as em i&lT. cm dois vo*
tHMi «MM acerca do Guílben de Castro.
5N0 período dú 18S8 3 1833 advogou calorosameoie por mais du uma «^.1
KftpaflUDeolO britannico a causa liberal portagaeza, e os direitos da rainba, .
• iKKiT&fle e(Hn a costumada genorosidado para muitos dos portugueses alli
taltagUdos. Seu caracter afT.-ive], iaslrucção e franca amenidado do Iraio fa-
riaat aana SOCicilaili' iim:i <l;ij auh agr.id^wcis e inelruclivas, não só do soS
palt, mas da Eon^ Faileeea tm lUa
«Igiuvamos o destino qne tivesse, onde pira hc^ a riea Uvraria <to lort
Bonand. Entre os seus clássicos poitogoeies de malar aatiipatfio «vtB^»«B
nm amnplar da primeira edição dos iMiiada* (IS7S). !>. José lúria dõ Sob-
sa, morgado de Hatbens, quo o leve presente para a esplendida edi^, qns
do mesmo ppema fez em 1817, a elle se refere em mais de nm passo com e^-
comsiaacias que ihe realçavam o valor > '
609} HOLLAJm (JAUES).
E.~The Imrist in PorUtgal illustreUed from pailingt. London, 1839. (O
viajante em Portugal, illostrado, eic.)
610) I
'E.—De amversione Indorwti et GentUiuta. Amstcrdam, 1G69, 4.<> (DanHl-
versão dos índios e dos gentios).
611) HOSTEIN (HYPPOLITE). Litterato francez.
Nasceo em Paris no anno de 18!Í. >
E. de sodedade com H. F. Taigny nm drama inlitnlado— £'fl(rfe/fffi> íe
LUbonne. Paris, 1836.
612) H. 3.
E.—Aper^ geographiqiic sur le Portugal pour faire suile an Bisumê da
pr^icipaux evènemenís arrifes dans ce royaume cn 18i7 et 1829, Paris, 1827.
HU 403
613) H. S.
E.—Cave of Camoens in Macau: notices of his life andworks, especialy of
his Lusiai, (Grata de Camões em Macau, noticias de sua vida, obras, e prin-
cipalmente dos Lusíadas), No Chinese Ropository^ vol. 8.» Março de i840.
6i4) HUBNER (EMÍLIO). Um dos mais notáveis epigraphistas da actaa-
dade.
E.— I. Inscriptiones Hispanice Latince consiliis et auctoritate Academia ÍÀt*
terarum Regice Berussicce edidit Aemilius Hubner. Adjectce sunt tabula geogra-
phicce duw.Bei-oUni apud Georgium Reimerumy i869, foi. (Inscripções latinas
da Hespanha publicadas por conselho e auctorídade da Real Academia das Let-
trás da Prússia, «te.} Obra verdadeiramente monumental.
n. Àaszug aus dem Monatsberich der Konigl Akademie der Wisseméha'
ffsn zu Berlin. 8.»
PTesta segunda obra. Actas da Academia de Berlin, é que vem o relatório da
viagem de Hubner a Portugal, sendo este o trabalho que foi mandado verter
em portuguez pela nossa Academia das Sciencias, e nao o que vem no Corpus
Inscriptionum, obra nao menos digna de ser traduzida, principalmente no que
mais nos interessa, o que vem acerca de Portugal.
Até pag. 26 das Inscripções latinas trata o auctor n'um prefacio dos es-
criptores tanto hespanhoes como portuguezes consultados para este trabalho.
Principiam depois as inscripções da Lusitânia, ás quaes se seguem as de
Hespanha, e termina o livro com a lista das inscripções julgadas falsas por
Hubner.
Manda a justiça que se diga que tanto o corpo das inscripções romanas
como o relatório sao obras muito apreciáveis.
É porém licito fazer algumas reflexões acerca do Relatório.
Foi Hubner encarregado pela Academia de Berlin de lhe apresentar um
relatório completo de quanto' existe em Portugal do tempo dos romanos, ou
só do que se encontra de mais interessante d'aquella época? Na primeira hy-
pothese manda também a justiça que se diga, o relatório ó mui deílciente, e
para prova eis as palavras do auctor viajante ao fallar das proximidades de
Ourique: «Quem não poupar tempo e fadiga investigando todos os logarejos
d'esta região, que as febres e o despovoamento fazem muito pauco hospitalei-
ras, ha de, com certeza, encontrar ainda um numero importante de monumen-
tos romanos, e de época anterior ao dominio romano.» [Noticias Archeologi-
cae, pag. 36.)
Na obra publicada, ha poucos annos^ com o titulo de Annaes do munici'
pU) deS. Thiago de Cacem (pag. 2) pelo sr. padre António de Macedo e Silva
encontramos a descripçao e copia de seis inscripções romanas existentes n'a-
qucUa villa, começando cada uma d'ellas pelas palavras seguintes : l.«, Martii
Sflcrum.— 2.",/. Scn&amo.-— 3.", Cf. Pagusico.—L*, Pagmícce.—^*, Veneri Vi-
ctrici,—&,^y jEsculapb Dco.
De todas estas llubuer apenas menciona quatro, não dizendo palavra tanto
da 2.* como da 6.*
m HO -
S« pordm o u. Hutatr bi aoniregido d« irmnnlw m rriíMio wi d»
V» b& te «ais mmmtm A'tm povo, afaidi iMta pwomh qv rito.|f»>
«Mba o dm «M^ido. hir Ml a pane M aBeoDnaraiBM, awBBiMa^ Ikr.
pite e Tsitigiai do poTC ni eoi Poctugal.
Todo lito aonOnu qoB o «orpo dai inwripçSea roDiíias idb ilmBfi tnlD
tpum aia» em Portogil a'eMa gaoero. Hubner procurou apeoaa as leirsi
prbHdpue, para as quM havia meioa de íraiispono facillimo. Esteve em lis.
boa,R>ito,Biiga,Iivoraiflpoacoiiiafa^inainão dirigia seus passojáquellaspo*
vit^fim, para h qnaa* a Jornada se tenava algam lanio mais penosa, on a vida
iBnoaeoiiimõda.CnÍoiDeiiH09iaHalmeriuofazmeDi;4iod'uinaunicaiiiscríp-
^qiieBSoftitHi& eoBbacUa doa poctogitczes; mas o que ã mais, menciona
eouo exlMatef dotl oipoe rplBUOe i eoirada áa. etr^ja Ac. SanU Maria da
AleaQoraem Samamn, dpot que haviaji alguns aonos tinham de^apparecido,
qnando o reCarido ceeilptoreMefe em Portugal. Parece que a Acadumía de Bnr-
IlH lha deferia agradee» um pawefci aiéTOIa Vi^oaa, com o llm de esiudar e de-
eidir umaa daiMaa aiiateotes na intarpretitção das lapides dedicadas ao dons
ftldOT^leo, e a raipeito das qoaai eonbasa quo havendo ires monographias
eompoatas jfOt portogneni e eatrangeiroBt nada se tem apurado digno da
meo^ ieerea da signUeaqXo do noma do deus.
B" tamben de adiatrar que para eamposição da soa obra se servisse de
V «dl^ do lino AMtdafdii, mtigiúiaáei e grandezas (ta mui insigne €idaâ»
ia Ulboa, por Imíx UarMia de AMntio, quando Ibe não era diãlcil guiar-sa
pela primeira ediçSo.
En creio qae em nenhnm tempo saiu dos prelos portngneíes uma obra
nuis borrívelmente deturpada do que a referida 2.* edição. É mesmo mn li-
vro compieiamente inutilisado. Soa opinião relativa á antiga Rmiiiinm {opi-
nião que ainda assim tinha sido antecedentemente manifesiada por um pwtS'
guez) não ponde ser acceite pelos nossos litterato^.
iDretizmente, nós os portugaezes não possuímos ainda um trabalho com-
pleto a este respeito. Mais claro— não temos um corpo completo das ios-
(vipções romanas existentes em Portugal — nem om guia, nma resenha, om
livro qualquer que indique aos amantes do antignalbas os locaes onde exis-
tem antiguidades d'aquellas épocas, acompanhadas dos eompelentes esclareci'
mentos, e a obra do sr. Hubner apenas nos pode servir para elucidar varias
duvidas acerca da inlelligencia d'alguma$ inscrípçSes.
gensta que o fallccido commcndador Bernardino Josó de Senna Frdtas
deixara composto um livro, em que censura moitas passagens do rdatorio.
eis) HOGIHXS (THOMAS).
E.—Treaties, agreements andengagementsbetweentkebímorableEatflndta
Company, ele. also betureen ker Britannic magesty's govemement and Pérsia,
Portugal and Turkc-y. Bombay^ I8S1.
■ Era Bombaim publicon-90 no aiino de 1373 a segDiíiie obra: Ifaticia úeerai it
Portugal por J. 1. Rodriguct de Freitas Júnior, traduiida em portngUM por J. J. do
Goania. 3 *, 113 pag.
HU 405
616) HUGHES (T. M.)
E. — An overland joumey to Ushon ai the dose of i846. With a picture of
the actual state ofSpain and Portugal, London, 1847. 2 vol. (Viagem por terra
a Lisboa no âm de 1846, etc.)
Ignoro se este mesmo Haghes é o auctor do poema The Ocean Flower.
617) HUGHES (T. M.). Aalhor of Revelations of Spaín.
E.-^The Ocean Flower, a Põem, Preceded by an vMstorical and descriptive
account of the Island of Madeira; a summary of the discoveries and chivalrous
Eistory of Portugal andanEssay on PortugueseLitterature. B^— .London, 1845.
S.*", 309 pag. {A Flor do Oceano, poema, precedido de uma narração histórica
6 descriptiva da ilha da Madeira, e d^um resumo da historia cavalheiresca de
Portugal e de um Ensaio da Litteratura Portugueza).
4 Se o infante D. Henrique não tivesse exjâtido, é muito provável que tam-
bém nunca tivesse havido um Christovâo Cmòmbo.» Pag. 15.
•O simples nome do infante D. Henrique é uma gloria sufficiente para qual-
quer paiz.» Pag. 18.
tCom a descoberta do Brasil se consumou a gloria das expedições portu-
guezasi e agora se observou o assombroso espectáculo de a mais pequena na-
ção europea dominar quasi metade do globo.» Pag. 19.
«E' uma nação que nunca teve mais de três milhões de habitantes e reinou
por algum tempo sobre metade do mundo.»
Festa obra apparecem traducções inglezas de algumas poesias de Filinto
Elysio, de Bocage «(talvez o melhor improvisador qao o mundo jamais pos-
suiu» (pag. 86). Nicolau Tolentino, «poeta satyrico muito admirável» (pag. 95)
Almeida Garrett e A.F. de Castilho. D*este ultimo nào se mostra Hughes muiu>
admirador.
618) HUGHS (JOHN).
E.—Translation of the Revolutions of Portugal written by F^toí. London,
1735. 8.% 139 pag. com um appendice de 14. É já 4.* edição.
619) HUGO (VICTOR). Um dos mais celebres poetas da actualidade.
Nasceu na cidade de Besançon em fevereiro de 1802. ^
E., quando ainda contava poucos annos, o seguinte melodrama : ínez de
Castro, mélodrame en trois actes avec deux tntermedes.
Apparece esta composição theatral no !.<" vol. da seguinte obra: Victor Bu-
go raconté par un témoin de sa vie avec ceuvres inédites de Victor Hugo, entre
autres un drame en trois actes, Inez de Castro. Paris, 1868, ,do qual o sr. Brito
Aranha fez uma dMcripção muito por miúdo no Archiw Pittoresco de 1864.
A obra franceza foi traduzida em inglez com o seguinte titulo : Vtct(yr Hu-
go. A life related by one who has wUnessed it, including a drama in three acts
infitled Inez de Castro Londoh, 1863.
* Sr. Biito Aranha no estudo que fez s^obre esle poeta. Archivo Fitioretco, vol. 9.*'
406 HU
630) HUMBOLDT (ALEXANDRE — Babão db). Um áos mais famosos
sábios de nossos dias.
Nasceu em Berlio no anno de 1769, e falleceu em 1859.^
No 2.° vol. do Cosmos diz o seguinte acerca do nosso Camões: «Com ver-
dade, eu nào posso dizer o que se deve admirar mais na sua grande epopea
nacional, se a riqueza da imaginação do poeta, se a singular verdade das des-
cripções.2 ^ào é a mira, por certo, que compete confirmar com a minha opinião
o juízo de Frederico Schlegel, que, quanto à vivacidade das cores e á maravi-
lhosa riqueza da phantasia, poe os Lusíadas muito acima do poema de Anos-
to; mas por certo me é dado accrescentar, na qualidade de observador da na-
tureza, que nunca houve poeta mais exacto na pintura dos phenomenos natu-
raes; e que em nenhuma parte da sua obra, nem o ejithusiasmo de cantor
inspirado, nem o ornato da sua linguagem, nem os seus melancólicos pensa-
mentos^ o Qzeram um só instante infiel a esta espécie de physica. A &^ncia
pôde acceitar as suas descripções, ao mesmo tempo que a imaginação é arre^
batada pelas suas pinturas. É realmente o céo da índia; são os variados aspec-
tos do oceano. Sente-se cm todos estes cantos, ou já escriptos na gruta de
Macau, ou já no desterro das Molucas, um cheiro embriagante de flores dos
trópicos. O auctor viu, ou antes observou^ e observou como poeta. Por isso
não é possível deixar de notar em toda a parte a viva physíonomia dos gran-
des quadros da natureza, pintados por elle. Mas onde Camões é inimitável, é
nas pinturas do mar : como ninguém soube melhor perceber, nem pintar me-
lhor estas mysteríosas harmonias que reinam entre a atmosphera e o mar, en-
tre as mil conformações variadas que tomam as nuvens no céo, na successao
dos seus phenomenos metereologicos, e os diversos aspectos, que, refleclindo-os,
apresenta a superfície do oceano. Ora c uma doce brisa, que lhe encrespa
superfície, enchendo-a como de carneiros, e d' estas pequenas vagas quebradas
faz sair brilhantes faíscas de luz, que alli parecem mover-se : ora é a tempes-
tade, com todos os seus horrores, que se levanta em roda das naus de Coe-
lho e de Paulo da Gama, e solta os elementos enfurecidos. Todos estes quadros
são de uma verdade palpável. Camões tinha podido estudar pausadamente os
phenomenos do mar : soldado tinha feito a guerra não só ao pé do Atlas, no
interior de Marrocos, mas também nas margens do mar Vermelho e do gol-
pho Pérsico : duas vezes dobrou o Cabo das Tormentas, e com a sua paixão
tão viva pela natureza tinha podido em dezeseis annos de solidão nas costas
da índia e da China, observar as alternativas do Oceano. Nada lhe escapa, e
em um logar descreve os pennachos eléctricos do fogo de Santelmo, que os
pilotos da Grécia cuidavam ser Castor e Pollux, mas a que elle chama
o lume vivo
Que a gente maritiraa tem por santo
Em tempo de tormenta :
n'outro logar ó a tromba assustadora com as suas suceessivas transformações,
e se v(í
* hQUiWeí— Diclionnairc, Su^jpl.cmint, pag. GO.
2 Panorama do 18i7, pu^. í>(ií).
HO 407
*
levanlar-se
No ar um vaporzinho» e subtil fumo
E, do vento trazido, rodear-se :
De aqui levado um cano ao polo summo
Se via tào delgado, que enxergar-so
Dos olhos facilmente não podia :
Da matéria das nuvens parecia.
la-se pouco e pouco accrescentando,
E mais que um largo mastro se engrossava ;
Aqui se estreita, aqui se alarga, quando
Os golpes grandes de agua em si chupava
Estava-9è co'as ondas ondeando,
Em cima d'elle uma nuvem se espessava,
Fazendo-se maior, mais carregada
Co'o cargo grande d'agua cm si tomadn.
Mas depois que de todo se fartou,
O pé que tem no mar a si recolhe,
E pelo céo chovendo emfim voou.
Porque co'a agua jacente agua molhe •
Ás ondas torna as ondas que tomou,
Mas o sabor do sal lhe tira e tolhe.
Vejam agora os sábios
aci^escenta o poeta
Que segredos são estes da natura.
palavras com que parece dirigir-so ainda aos sábios de hoje, que fundados na
sua intelligencia e no seu saber, não duvidam tratar de visões as coisas que
ouvem contar ao navegante, que só tem por si a experiência.
«Mas se Camões é superiormente admirável nas pinturas do mar, as sce-
nas terrestres não chamaram tanto a sua attenção. Já Sismondi notou com ra-
zão que em todo o poema se não acha nenhuma verdadeira pintura da vege-
tarão dos trópicos, e da physionomia particular das plantas d'aquelles novos
climas. O poeta apenas mencionou algumas plantas aromáticas, producçòes
que eram objecto de commercio. O episodio da ilha encantada encerra um de-
licioso quadro de paizagem, mas quadro commum e clássico. Que se acha
]i'elle além das plantas banaes com que forçosamente se ha de ornar uma ilha
de VenuSy murtas, cidreiras, limoeiros odoríferos, romeiras, e outras arvores
selvagens na Europa meridional, e ainda mais nas poesias pastoris d'aquella
época? O poeta n'este logar julga-se infelizmente obrigado a entrar na natu-
reza de convenção da poesia contemporânea. Quanto não Ba em Christovam
Colombo com uma observação exacta das formas da vegetação estranha, que
oíTerecia aos seus olhos, um sentimento muito mais verdadeiro, e um enthu-
diasmo mais francamente poético, em vista de novas costas cobertas de bos-
. ■■^■^\-'è^
«06
w
41168. Mis o almiraiite esorevii m iéàno d$ vkitm^iMB muáfmn tMã^
mettte as sqzs vins in^reÀBdes» ainda sob o iofetí» teaiuiJoM#Bii^ ite»
lada, 6 Camões eomponlia um poema épieo ma ImmiirtaBswr m iBtoadoa
poitogoezes, jantando aos Cactos as maravittioMift ^ceeaigSes ' da ftentasia poe-
tfea. Qoe pintasse o oceano, ó nataral. Os ttairojwtfeg. Inelm «mb o onr» é
nm combate de todos os dias; e demais» em oMcfiaim Mopps ha íoaq/ú
para estodar os phenommios mais oa menos lemffftti dlhmarc mas diepdfla
, a terra, a lota ó 4piasi só com os bornens: a ae^ foe SB M3m nio dsin
a natoresa. A pailu^iem toma-se nm ftmdo deqnadro^ aqne se aio dàlnver*
tanda, qoadro em qoe os gnenrriros oapa mercadores portnpMM animam a
parte íHrtndpaL Ainda maié: e nio liltavam aepalaf^
nova dk índia? onde basearia comparagSea 011 epillMtQtf AA^^
nomes das plantas novas, do idioma bsrbaro dos nalvaet do^paist l]Ém úth
acrineio laboriosa, formas simniiarea. ecrisas sem neoie. nio nodlam Aeiíar da
repugnar a nm poeta costomado i soncMra harmonia dn sna Itacnanalonl*
«Comtado nio deixou Camões de ter algnmaa veies singnIareB oosafias
nas grandes deserip^es pictorescas, no sen tempo mnito otigfnaiw^Bem dei»
zon de esboçar em linhas ousadas a physiononda gçcal éiseontiiieiileB. Éas-
slm que no 3.« canto bi uma pintura ri|»idndaloda aSorapa» todo as mais
Mas regiões do norte ató
Onde o sabido Estreito se ennobrece
Co*o extremo trabalho do Thebano.
Mas é especialmente aos costumes e á policia dos povos do Udo-dia que elle
dá m^s attenção; em breve passa pela Prússia e pelaMoscovia^nacõessepten-
trionaes,
que o Rhono frio
Lava»
Para chegar ás deliciosas regiões da Grécia
Que creastes os peitos eloquentes
E os julios de alta phantasia.
No iO.*" canto o espectáculo é ainda maior. Thetis conduz o Gama a um
alto monte para lhe descobrir os segredos da
grande machina do mundo,
e o curso dos planetas segundo o systema de Ptolomeu, que então reinava. E*
uma visão no estylo do |)ante. Depois de ter descripto o todo do universo, o
poeta toma ao globo terrestre, que lhe fica no centro, e expõe então tudo o
que se sabia dos paizes n'aquelle tempo já descobertos, e das suas producções;
aqui já não é somente um mappa pittoresco da Europa, como no canto 3.«; ó
um quadro de todas as partes do mundo, sem exceptuar a terra de Santa
Cruz, e a costa descoberta por
Magalhães, no feito com verdade
Portuguez, mas não na lealdade.
HY 409
Gamões, posto que se encerrasse em am quadro clássico, foi om dos pri-
meiros qae abria caminho a ama poesia nova : o sen génio percebeu alguns
dos maravilhosos recm^s que nm novo mondo nos vinha dar à poesia.»
621) HUNT. Antigo cônsul de S. M. Brítannica nos Açores.
E. no Journal of the royal geographical Society of Loifidonf vol. 15.», pag.
258, 1845— dois artigos cheios de novas minuciosidades relativas á constitui-
ção do solo^ boas observações a respeito do clima, e algumas informações su-
perficiaes sobre a botânica e zoologia do Archipelago Açoriano.» *
622) HYERONIMUS, Eines jesmten at^s Portugal, Bericht von der wah-
re, etc. (Uyeronimo, jesuíta portuguez. Verdadeira descripçâo do estado do
paiz dos mouros). Numberg, 1670. T. Compans, pag. 225.
* Morelet^ Les Açoret, pag. 13.
. fttS) IDftE VÊBIDIQTnG dw révannipénMalagrida,iÍMàê ir^^ai^^^r.
aUéa á LMoime par untence de rni^mtititm. Kwtnit íb 4(we Mim, l^fw
ieriU de SMOe U U ocMm 1761; roKtre da UaàriA b 17 wnmér» iWL-
U6ge, 1761 Palheto.
614) ILtUSTR^TIOlI (l^) Bi*pam-Portiiçii«u^ Hftdrid, 187S.
En am jornal tiuea-uio e illiumdo, esoiplo em bespanbol, • qna ao pA-
melro miinero pnbliooa nmk biogr^hia do cr. Alaundra HenxiliDO^ e nrin
~ artigu relitíTOs & assomptos porliiputes.Pn>ptiD]a-se caitíoair a tneiv da
1IIH8U coisas, nus cr^ que taioma á nascença.
OaS) IU.D3TRATED TRiVELS).
Na parte 35.° d'esle jornal littnrario publicado em Londres vem ama série
de artigos relativos a coisas portaguezas debaixo do titulo de Excwnona near
Ushon. São acompaiibadas das seguintes magniUcas estampas :
!.' Capella imperfeita da Uatalha.— í." Uma parte do palácio da Penka
Verde em Ciníra.—'Ò.^ Casa do capitulo.
<A entrada do Tejo, as vistas nobres o magestosas em algunâ respeitos, e
sempre bellas, que so gozam ao navegar pelo Tejo até Lisboa, e a primeira
TÍsU da cone de Portogal são d'aqnelle6 objectos, que por muilo (empo ficam
impressos no espirita de viajante. Lisboa é, e deve ser em todo o tempo, uma
das mais pittorescas e interessantes cidades europeas. Todavia na cidade nSo
ha mnito que vér. . .
(Parece que não era da mesma opinião nma camará municipal, pois po-
dmdo ornar a cidade com uma maníaca estatua de D. Haria I, se reeoeoo t
nuel-o, allegando que esta raiuba não merecia um monumeatol)
626) IL HDNDO HUOVO, Itbro ãe ta pnma navigazione per Ocmno o
k ttrre de Negri de la Bassa /Ethiopia per commeridamento dei ilíutíre liffmr
D, Eenrico de PortugíUlo. Vicencia. H. Vicentina. 4.° 1607.
Vem esta obra mencionada na Bibliotheque ÃsUttiqnejt Afrícaine de Ter*
Danx Campaos. Paris, 1S41.
IN 4li
627) IMHOF (JAGOBI GUILIELMI).
K—Stemnia Regium LusUatUcum sive Historia Genealógica Famlim Re*
giae Portugalltcae» A prima origine usque adpraesens aevum deductae et nar-
ratione rerum a Portugallia a condito regno gestarutn, ac factorum memora'
biliorum illustratae imigniumque iconibtis ^ororna/a^. Amstaelodami.ÂpudZa-
charium Chatelain. i708. foi., 72 pag. (Brazões dos reis de Portugal, ou histo-
ria da família real portugueza, etc.) Obra dedicada ao nosso D. João Y.
628) IMPRESA DEL GRAN TURCO per maré et per terra contra
portoghesi, quali signoreggiano gran parte de Vlndia o s^atwiciano ai sepolcro
di Mahometto. Roma, 1531. Vem mencionada em Ternaux Gompans.
629) INDISCHE NEUE RELATION, etc. (Nova relação da índia, e
do que se passoa nas missões de Menomotapa, Ifogol, Gochim, Malabar, Chi-
na, PegOt Molacas desde 1607. Aagsburg, 1614). T. Gompans.
630) INÊS DE CASTRO. An historical Ballet. London, 1833.
631) IGNES. A tragedy. London, 1796.
632) INEZ DE CASTRO. A tragedy, as contributed to Hood's Magazi-
ne. London, 1846.
633) INEZ DE CASTRO, drama per musica. FivenzQ, 1793. 12.<> (Drama
per musica. Wienna, 1807. 8.°
634) INFLUENCE du ministhre anglais dans Vusurpation de D. Miguel
Rennes, 1830. Talvez seja obra d'algum portuguez emigrado na Bélgica.
635) INGUDÍBERT (Fr. MALACHIA).
E. — Vita de Monsignore D. Bartolomeo dè Martiri, escrUta da — . Roma.
636) INNOCENTIS etliberiprincipisvenditioViannaecelebratadielíl^jU'
niianno 1642. Venditore rege Hungriae, emptore rege Castellae. . . VenéUtus est
infans Eduardus frater regis Portugalliae Joannis IV pretio 40000 reistalero'
rum (sem legar de impressão) 1642. Folheto. (Venda feita em Yienna de um
príncipe innocente e livre, etc.) Refere-se à prisão do nosso infante D. Duarte
preso iníamemente no castello de Milão, por suggestões do governo hespanhol.
637) INSTRUZIONI date dalla corte de Roma a Mgre. Girolamo Capodi'
ferro ed a Mgre. Lipomano {Coadiutore di Bergamo) spedite nunzU tn Porto-
gallo il primo nel f557, il secundo nel 1548. Marsiglia, 1828.
638) mSTRUCTION de S. M. Três Fidelle à son ministre en cour de Ro-
me.DuS octobre, 1757. Sem logar de impressão. C. M. B. L P.
§ni wuaa usr.
tr-Jt»^ it Catm. A trafiit. Wrmmtt*-^
MO) IHL&, (LABABO DS I.;^ GcBOra.
■ > Kr-Brmlralaioiamrtt de taHOarla « fÊoautrit, ê mtlfek Afift.
■àgot^mtmmtti kattmK pOTartteitt deloi^Bonem te1ÍnêMl^-iliH>*
wUb Ah |MiM to nua. UAM^ per Dominfn GMMtao, 1676. &•; M pig.
6U}IX&I.T «ITH BKWKSBEBof^ftÉ»mâror1atia.Úmàim,ÍB3Í
t Dl L'XBt'AOIO: ET DTJ PORTUGAL ou des^ '
trifUm 0tb0nfklfÊ* tt ktUCfrtflê ie ces pays, avec Imrs principales rouUi
d Im dMMOn df rtfm liiB é m auíre; occomjiíi^é d'une carie ou jilnn
radiar f^MiJl te otonottOM te;r(tu mod^m»; par fautévr de ta Gmjra-
gkiê tmt OMfMM fW MOdfnw «H»^« par Vhisloire de t<m let tempx, eic.
Tkrf(,UM.8.*,«0pt(.
6U) ipTDBBIDX (D. AOUSTIU)
&— LVtafTf 9orftigwi'M te onomC* omipfratan. BnmBai^ UM.
J
644) JAGKSON (Ladt).
E.-— Foir Lusitânia I A Portuguese Sketch Book, By—, With twenty very
beautiftU full-page Illustrations. Londoo, 1874. (Bella LosiUnia! Livro de es-
boços portaguezes, etc.)
645) JACOB (ANDRÉ). Inglez de nação.
E.—Grammatica porttAgueza e ingleza por um methodo novo e fácil, Lis-
boa, typographiá Nunesiana, 1793. 8.<», 379 pag.
646) JAFFEUX (EUGENE).
E.—Les deux Charles portugaises. PSns. 1837.
O auctor depois de fazer algumas reflexões sobre o governo portaguez, e
de apresentar a traducçâo da constitaição politica da monarchia portugaeza,
e da carta constitucional dada no Rio de Janeiro a 29 de agosto de 1826, diz
o seguinte :
«Os direitos civis e religiosos, os mais caros aos cidadãos, são consagrados
n'nma e n'outra da maneira mais ampla e também a mais explicita. A liber-
dade individual, a dos cultos, a da imprensa, o direito de petição, e o não me-
nos importante de denunciar à justiça, e de exigir a reparação de abusos de
que se tivesse tomado culpado um juiz, um qualquer empregado publico, di-
reito mesmo concedido às pessoas, que não tivessem padecido com taes abu-
sos : ainda mais, as nomeações de magistrados municipaes pelo povo estendi-
das até ás justiças de paz: tudo isto forma uma agglomeração de vantagens,
das quaes estamos bem longe de gosar em França.»
647) JANSEN (J.)
E.—Histoire diplomattque du chevalier portugais Marlim Behainu Stras-
burg et Paris. 1802.
648) JARRIC (PIERRE DU).
E,—Histoire des choses plus memorables advenues lant ez Indes Orieniales
414 JO
qu^mOres pays de la dieoufmie des poríugais m raabU^^ eifrotri$iê
la faif chreiUetme H catholique. Bordeaox, 1607. Ibid. 1008. lUd. 1610. Takn*
eUeimes, 1611. '3 vol. 4.» Arras, 1628. Em poUeo^ Cracóvia, 1618.
Esta obra foi traduzida em latim por M . Hartinei. Coloniaa AgriíâUM,
1615, debaixo do* seguinte titulo : Thesaurus renm Indicarm^ Lmikmanm
cperadeUi^us aGaUkoinLaíhiiiÊmsermímemver^
Tal era o interesse com qne mu toda a parte se liam ae deseabertas Uím
por nossos maiores t E isto em tempo qoe eorriam por toda a Europa bhHds
outros livros sobre o mesmo assumpto. Creio porém que aUm das oitadiaaiB*
da ha muitas outras edicdes fdtas em diversos pontos do g^ibo. .
6«9 JANSEN (HENBI).
E^^LMres icrites á» Pcrítigal tur féM oncíai e< atínd és ce nojai—i,
traêuites de ratiglais de niiss Philaddpkia Stewem. LondoDy 1780.
6B0) JAinUEN (JBAM).
E,^PrmkrwyageauUmriismímdepar le dU9aiiêrPigafBÊia.éePetoih
dre de MaffOkm en m9, 1520, 1511, Un^eíaccompapié d!m$ motí9$$mr k
ckevaUer Bdiakim, aiãfre navigateiir ptniiiigais: parU^deMi^
de VaUemami. Paris. An. o.
661) JAN8EN (M.)
E.— Swr tm vcyaqe faU aux A^es eí dams la PeumtiÊie Iferfgm, esBfrM
â^une leitre à M. Elie de Beaunumt. (Yem na obra Conotes rendas de VAeade'
mie des Sciences, 1867.)
652) JOHNSON (D. 1[. RAKSEY).
E.—Collecção de palacras, phrases e diálogos^ ou Guia da cmoersação em
francez, inglez e portuguéz, por — . Porto, typegraphia Gommercial, 1861.
653) JOHANSON'S. ÂccousU of the Island of Bolama. (Notieia da ilha de
Bolama). London, 1780.
654) JOHNSTON (WILUAM).
E.^eodydrographie survey of Madeira^ 1788. (Inspecção geodydrogra»
pbica da Madeira.)
655) JONES (M. JOHN). Golonel des ingenienrs royaux, aido de camp
du roL
E.^Mémoire sur les ligues de Torres Vedras, elevées pour couvrir Usbon"
ne en 1810, faisant suite aux joumaux des siéges entrepris par les alliés ea
Espagne. Par — . TraduU de Vanglais par JW. Gosselin, traducteur des jour*
naux de Sièges, etc. Paris, 1833. 8.» gr., 261 pag. com 3 mappas. Obra maílo
estimada entre os estrangeiros.
Divide-se este livro em quatro partes. A primeira, que é a mais considera-
JO 418
vel, contém a narração histórica e a descripçao das linhas. Na segnnda consi-
gnou o auctor observações geraes sobre suas vantagens e Inconvenientes.
A terceira está occupada por observações a respeito das linhas e das posições
entrincheiradas em geral. Na quarta se acham reunidos todos os pormenores
relativos ao traçado e à constrncçâo de diversos trabalhos de camp^mha.
< As posições entrincheiradas que cobriam Lisboa, e que eram conhecidas
debaixo do nome de linhas de Torres Vedras, adquiriram uma grande ce-
lebridade por terem sido a primeira barreira que conteve o curso das conquis-
tas do exercito firancez. Nao podem por conseguinte deixar de interessar não
somente aos engenheiros, mas até mesmo a todos os ofiSciaes, que procuram
assumptos para estudos militares.
<A resolução de as principiar remonta à batalha de Talavera. Tendo os
movimentos offensivos, que occasionaram esta acção, habilitado o general em
chefe a apreciar no seu justo valor a cooperação dos hespanhoes, e demons-
trado toda a iasufflciencia de seus exércitos por causa de sua falta de organi-
sacão, pouca disciplina, e falta de habilidade de seus oíficiaes, o duque de
Wellington fícou convencido de que na próxima campanha não poderia con-
tar senão com o corpo pouco considerável dos veteranos inglezes, e com as
tropas portuguezas recentemente recrutadas, e postas debaixo do seu com-
mando.
«Estas linhas, depois de examinadas por Massena, contiveram-n'o, e é quasi
escusado dizer que o exercito invasor não fez novas tentativas para reconhe-
cer a força das obras, de que as linhas se compunham. Depois de ter occupado
seus alojamentos até ao começo de março, o exercito francez operou sua reti-
rada, seguido de perto pelos alliados. Era o primeiro e único exemplo de uma
empresa militar projectada c amadurecida por Napoleão, em toda a plenitude
do seu poder, que não tivesse sido seguida de um bom êxito, graças á previ-
dência superior e á firme persevcranç^a de seus adversários. Não é demais o
pretendermos que esta falta de bom resultado diante de Lisboa deu um golpe
fatal na opinião geralmente espalhada que os exércitos francezes eram inven-
civeis, e que ensinou a Europa opprimida que podia ainda resistir e vir a ser
livre. Pag. 78.
«Durante um anuo inteiro, que duraram os trabalhos obrigatórios na cons-
trucção doestas linhas não se viu um único exemplo de insubordinação ou de
rixa, e deve-se aos portuguezes a justiça de reconhecermos que a seu habito
de regularidade, e a seu zelo continuado se deve mais attribuir o immenso
trabalho que foi executado, do que á efflcacia da vigilância exercida sobre el-
les. Pag. 119.
«Os oíliciaes do corpo dos engenheiros inglezes espalhados isoladamente
por um espaço de cento e cincoenta milhas quadradas, e alojados nas casas
as mais commodas para seus trabalhos, foram por toda a parte traetados pe-
los habitantes com tanta polidez como benevolência. As classes superiores
mostraram uma egual solicitude em admittil-os na intimidade de suas famí-
lias, o que deu logar a ligações de amisade tão sinceras como desinteressadas
entre os individues das duas nações. Com eíTeito ó um tributo de justiça, que
se d0f» pifir «OB liilriti&tat poftopMUft 9^^
tranatat ottnr qoe taiaie dgmi» idbmí dirthe8et«Mtairtai^>eiioiM^
^jwr pnldieci» «nr iviHRid»^ €tieB qUibqs m flMtranoi aMpgBmyOuMi
iiid|MtriO(M8, toceig 6 (Jwdkíit^ qoaospriMiR» €tttBÍMOtj»-
godos palilieoa mostnMEiía Bwte im^iiigBnda» bom aenao opoiiWiiej^i|i»>í
flenttniihie e» sitas relitSes domesticas, iKmi» fSMn8Q|,iBitfiiM^ao
Biesmo tampo como seohorei e eomo iHuresles^ f^^
pioftmfla sagrado ioafca <ft axtaarito 6 gfloet^ de ti^^
eieAitaiiâo, SidmiiâeiíaiiKoaQ parm todos «le n*eDa 1^^
nr qoe apenas moa pbrase iraga ^egoa a esarevarse soa pipais f^lBílmi^
nao obstante a immsDsidade das obras, os franoeaaa igneiifvn a aaamappi^ée
dâqim«iwse;esta?ilef«iitaiido€ootraeUes,at6aafl^ as*
eontraram o «xerdlo Armado em batalha pari conter seos eslbi^
666) JONXS (J. T.)
1806 lo l6i4» (NéKkto da^ooM mi Hespaid^
657) JOBaB(D.) Gommendador de Aliaga en dorden de&Aâi^f
D. António de Uifea, ò^ntanes de navio, de la real armada, de la real aoeia»
dad de Londrec^ y sodos eorrespondientes de la real academia de las acÉmrim
deParis. ^
K-^Diseriackm kiHorka y gêogru^phka sobre d meriUam 4$ i$mmnth
cion entre tos dominios de Espaiia y Portugal, y los parages por donãe passa
en la America Meridional, conforme a los tratados y derechos de ccida estado,
y las mas seguras y modernas observaciones por — . Madrid, Í742. Imprenta
de A. Marin. i76 pag.
658) JORNADA y muerte de el-rey D. Sebastian, sacada de las obras de
Franckis. YalladoUd, i603.
659) JOUFFROY (Miss db).
E.—Consideration sur le Portugal, par le — . Paris, 1833, 8.*>
660) JOURNAL (f un ofpcier {rançais ou service de D. Miguel Paris, 1834.
661) JOURNAL of a few month's residence in Portugal and ^impses of
the South of Spain. London, 1847, 2 vol. (Diário da residência de alguns me-
zes em Portagal.)
662) JOURNAL of a regimental officier during the campaign m Spain
and Portugal under Lord Wellington, (Diário de um ofiQcial d*am regimento
durante a campanha na Hespanha e Portagal, etc)
663) JOURNAL (LE) DES SAVANTS pour Vannée 173o. A Paris.
Chez Haul>ert, 1735.
JO 417
E* umacollecçào do noticias e juízos críticos dos livros pablicados nos dif-
ferentes paizes do globo. Darei noticia d'alguns artigos escriptos n*a!gans vo-
lumes d'este jornal para se ver como também se occapava das nossas obras.
Maio. Juízo critico da Historia de Portugal por mr. de la Clede, pag. 261.
Continua a pag. 344.
Agosto, pag. 437. Noticia e Juizo critico datraducção dos Lusiadas, ^or Ur.
da Perron de Castera.
«On volt assez par Textrait que nous venons de donner qu*il n*y a rien de
nouveau ni de regulier dans Tordenanco de ce poeme; c'est en general le ju-
gement qu*en a porte Mr. de Voltaire, et nous laissons aux lecteurs de decider
de la justasse des recherches et de la solidíté des raisonnemens, que le tradu-
cteur employe por IB combattre. Mais la beauté des details, la force de Tex*
pression, la poesie du stile, la varieté qu'íl a jetté dans ses reeíts, la noblesse
et rélevation de ses sentiments feront toujours regarder le Camoens comme
un grand poete, par coux môme qui sonl persuades qu*il n*y a qu*un interet
national qui ait pu persuader aux portugais que la Lusiade est superieure aa
Tasse, et a tout ce qui a eté fait dans ce genre depuis Homère et Yirgile.»
Pag. 442.
1736. Traz um juizo critico acerca da Historia do Japão pelo padre Char-
levoix, e aproveita-se o censor d*esta occasião para n*algumas paginas fallar
de nossos descobrimentos n'aquelle remoto paiz, declarando mui positiva-
mente ser a descoberta do Japão devida aos nossos.
1741. Pag. 335. Na critica da obra Description du Cap de Bonne Esperance
entram os portuguezcs a figurar outra vez.
N^este mesmo volume se mencionam as obras seguintes que foram publi-
cadas nas Philosicophal Transactions ofLondon. Observations de Veclypse de 50-
leil de iò juillet 1730 à Pékin, et des immersions et emersions des satellites de
Júpiter depuis 1729 jusqu*a 1730 par les pvres Ignace Kegler et André Perei*
ra, communiqnées par Jacques de Castro Sarmento. Pag. 396. Lettre de Mr.
Jacob de Castro Sarmento a Mr. Cromwel Martimer sur les nouveaux dia-
mants du Brésil. Pag. 698. Immersion et emersion des satellites de JupiteTy
observées a Pekin depuis le móis de novembre de 1730 par les péres Ignacio
Kegler et André Pereira^ et envoyêes au P, Jean Baptiste Carbonne, qui les a
communiquêes a Jacob de Castro Sarmento.
1743. Pag. 20. Analysa Histoire du detronement d^Alphonse VI par Ròbert
Southey, et traduite en franrois parVabbé des Fontaines. Pag. 126. Annuncia
a appariçào em Altorf da Maurologia ou historia da origem e guerras dos mou»
ros na Hespanha e Portugal, obra dedicada aos manes de João Segismundo
Holtzschuher de Aspaclh por Henrique Tobias Bittenezo. Pag. 127. Analysa
a obra intitulada De la formal ion du théatre, par Louis Riccoboni.
Esto auctor pretende que, por ter sido cómico pelo espaço de 35 annos, es-
tava habilitado para poder asseverar conscienciosamente que o thoatro era no-
civo aos bons costumes. Deseja que nVIle se opere uma grande reforma, até
nas peças que se deviam representar. No emlanto algumas podiam apparecer
em scena sem cortes, e n*estas inclue a nossa tragedia f >. Ignez de Castro.
TOMO I 27
l
418 JO
171i. Pag. 150. Analysa a Historia iloi índias Orienlaeg por Guyon; e por '
esta occasião falia amplamealc ias descobertas parlugueuf. Pag. 410. Crílic»
da obra Mêmoires poUtitpies cl tUleraires eoncemajU le Portugal, ele- par U
cbevalier d'01iveyra. Haya, !748. Tom. 1."
1713. Pag. SOO. Dã nolicia da apparíção da obra impressa em Roma;
Jiaiphi Carpani e Sodetaie Jesu Tragediae sex Luittaniof el Álgarbim um Re-
gi Joanni V dicatae. Estas tragedias eram as segaintes : Jomitíkat, Ãdomu,
KvilmedúTach, Sennacherib, Sedecias e ilatbatias. Pag. S7S. Analysa a obra
Vila et Leltere di Américo Vr^pueà rocollt e illtutrate da Abbate Angeh Ma-
ria BandinúFioieiuA, I7US. Xe&u anatyse, como é d» suppor, falia, ae larga<
m^te das navegações portuguezas.
1746. Pag. 48. Critica da obr^ Relation abregée íun voyage fail dant fúi-
terienr de VÃiaérique meridionale dejmis la cole de la mer du Sud jitsq'aux
cotes du Brésit et de la Guiaime. Par ta CundamijK. Paris. Pag. l&t. ciriLiu
da Biítoire générale dei coyages. Tomo l.° Paris. È assumpto para muilo se dia- _
correr a respeito dos Dossos- Logo no príacipio ajuíza de Fernão Lopes diu
Castanheda, e de Paria e Sonsa, como historiadores. "l
Esta critica continua depois a pag. 730: ^
•Aos ponugnezes perleace a principal gloria da descoberta do Novo Hod-
do. Ainda que os liespanhoes teabam descoberto a America antes dos Portu-
gueze$ terem peneirado até ás lodias OrieDiaes, é certo comlndo que foram
estes OK primeiros que lentarani a navegação do oceano, e nni> (riT.ini n.si-er
àsoulrasnatíeíd:iEúropa o (lesiijo de procurar um novotnn;.! ..i"i- li i, n.i ;.,-:*
estavam Ião longe de Tormar este projecto, qae não somente não começaram i
oecnpar-se d'elle senão ons quarenta annos depois de seus visinhos ; mas UÓ
D'este inlairallo consideraram as emprezas dos portogneies como aveotons
românticas e effdtos de ama imaginação exaltada. Só a experiência foi capaz
de os convencer de qne os ponngaezes tinham raciocinado sensatamente • de
qne as esperanças com qae Colombo lisonjeava o rtí de He^anha não eram
diímericas.)
1747. Pag. 67. Crítica do 2.' 8 3.° volomes ii Hitíoire det Vogages-Ki qae
estes dois primeiros volomes conteem as primeiras viagens dos inglous t (iai>
né o ás índias Orientaes; mas que as relações d'ella3 não são tão intereasaa-
les como as das expedições portuguezas contidas no primeiro ttxno, etc, ele.
EsU critica segue até pag. 73. De pag. 2SB a 296. De pag. 406 a 412.— 534
a S4I. Pag. 745. Noticia da apparigão em Lisboa do 1.° e 2.* tomo do Corpiu
niuítrmm Poetaram Latinorum Portucalensiunt, prometlendo tUlar maia de
e^>aço a respeito d'este trabalbo. E' a primeira vez que o Joamai de» Sa-
vauts trata das obras impressas em Portugal.
1748. Pag. 231. Noticia ter-se estabelecido em Lisboa, debaixo da protec-
ção do rei de Portugal, a Academia dos Occullos- Pag. 334. Continua a oilica
da Ilistoire des Yoyages. Tomos 11.° e 12.° qne tratam das viagens dos porto-
guezcs na Africa.
J749. Pag. 23. Critica da í^^íre fí«5 Foi/ns». Trata das vii^ens dos portn-
gaezes Alvarez Semedo e Magalhães. Pag. 102. Critica do i.* e X' lootot do
JU 419
Corpus illustríum poetarum lusitanorum.—tVor mais superficial que seja a no-
ticia que acabamos de dar dos dois primeiros volumes d'esta preciosa col-
lecçao, lisonjeamo-nos comtudo de ter dito bastante para fazer conhecer o va-
lor» e para persuadir aquelles que possuem alguns trabalhos próprios para
enriquecel-a, a darem parte ao sábio editor. Seu gosto na escolha das peças,
e sua exactidão em nos fazer conhecer seus auctores^ devem fazer desejar que
esteja brevemente habilitado para cumprir a promessa que nos faz de publi-
car sem demora os tomos seguintes.»
1750. Pag. 21. Continuação da critica da Histoire des Voyages. Trata da
Pérsia e das viagens que os portuguezes fizeram a este paiz.
1751. Pag. 356. Annuncia que vão reimprimir na Haia a seguinte obra:
Joannis Attamirani et Velasquez Lusitani Icti et in Salamaticensi Academia
Júris Pontifica Primarii antecessoris in priores xui libros ex xx Quaest, Q.
Cervidii Scaevolae Commentarius. Opus postum, Cervariae, 1739. Pag. 563.
Noticia de se terem publicado em Lisboa varias obras» entre as quaes Collec-
ção Jurídica de todas as allegaçdes, Conquistas na índia pelas missões apos'
tolicas, Politica moral e civil, etc. Pag. 695. Outra lista de obras editadas
em Lisboa. Entre outras : A verdadeira Fé triumphante — Arte theoríca pra-
tica de Confessores — Recreação philosophica — Distracção apologeticay histo-
ricaf litúrgica — Chronicados religiosos Carmelitas — Diálogos de varia his-
toria, etc.
D'aqui por diante dá este jornal regularmente notícia das obras que se
vão publicando em Portugal. Na Bibliotheca Publica não existe uma coUecção
completa d' esta obra; este é o motivo principal por que ponho ponto a este
artigo, aliás daria noticia de tudo quanto apparece n*esta amplíssima coUec-
ção relativo a Portugal.
664) JOURNAL van de estindische Reyse. (Journal du voyage atuc Indes
Orientales par Isbrandtz Benteckoe. Hoom, 1646. 4.° com estampas.
665) JOVENAZO (Duqub) CARAVAL (Duque) Marquez de Frontera y
Fray, d. MANUEL PEREIRA..
E.— Autos de las conferencias de los commissarios de las coronas de Castilla
y Portugal, Em italiano e hespanhol. Vem mencionada esta obra no catalogo
manuscripto da livraria do conde de Lavradio.
666) JUMA (D. L. O. DE).
E.—Tablettes Chronologiques et historiques des róis de Portugal jusqu'à
Vannée 1716. Haye, 1716. 8.°
667) JURE (DE) successionis regias in regno Lusitânia e seu Portugalliae,
deque legitima regis Antonii successione brevis enarratio, ex probatissimis mo-
numentis auctoribusque collecta, et ad recice rationis simplicisque verítatis re*
gulas accuratissime exacta. Middelburgi. Apud R. Schilders, 1591. (Breve nar-
ração a respeito do direito de successão de D. António ao reino da Lusitânia
ou Portugal, collegida de documentos c auctores os mais acreditados, etc.)
•■,.-^>
410 ro
668) JUSSZXSn (AlITOINB LA.TJRBNT DS>« XJm d09 mais «elelra
botintoos fraaeoEes.
Nascea em Lyon no iimo de 1748, é falleeea em i8tL^
Foi ôntro commentater á Flora Cocft tnetoitit de Joio de iMrekOt piiMI-
eando-^Note sor qadqaes genres de la Flon ée CocàimehiM de Lomt^
qoi ODt de raffinité avee d'aatre8 genres oonnos^^ExIste esta noia no jonial
Amolei â» Musêum ^BMnreNaiuraiê,tamiL% 1806» pag. 74-76, pag. I8D.
US, pag. S3I-236, pag. 327-328. Tomo II* pag. ^7^ pag. 337*340. »
669) JUSTICE (LA) dê9 armes portM§ai$es*poiÊir iife^âre la Uberíi éês
etpoiftiots opprimii par ladommaiion française «I pour aemter la momarMà
fEtpoffne au sérémssime «I tree puiisaiU prkiee Outrlee tU, roí cotftoUfiís.
Haye, 1704. Folheto.
• • ■ '
670) jnSTIFIOAT;OK de D. Anhine, rai ée Borfiifsl, kmdumi la§Êif^
re, fiê*U faicf d FhUàppe^ roi deCasHUef se$ siéietís eí aikerem pm/t min-
remii etí sm rifyamne. Avee tme hiHoire iommaire de Uml ee-qÊi êeít paM
d e^lfo MANtf ^»eeastòf» tuigiiM «n raii.1583. L^de, i585.
* FinniD Didot.— iVottcc/íe Bxogtaphie UniverseUe^ tomo 17.«, pag. i7S.
' Sr. BeroardiDO António Gomes. Elogio histórico do padre João do Loureiro. Nas
Mem,daAcad. R. das Scienc. de Lisboa^ pag. 25.
K
671) KALLEY (ROBERT.)
E-^-Excursion in Madeira, New lork, i845. (Passeios pela Madeira).
672) KAYSERLma (Dr.)
E.—Romanische poesien du Juden in Spanien: ein Beitrag zur LUeratur wnd
Geschichte der spanischen-portugiesischen Juden. Leipzig, i859.
673) KEATINGE (Colonel MAUKICE).
E.—Travels in Europe and Africa comprising a Joumey íhrough France,
Spain and Portugal to Morocco. 1816. (Viagem pela Earopa e Africa, com-
prebendendo Portagal.)
674) KERDU (PIEKEIE ItfARTE LOUIS DE BOISGELIN DE)
E.—Hi8toire des revolutions de Portugal par Vabbé Vertot, continuêe jus»
qu*au tempsprésent enricfUe de notes historiques et critiques d*une table Msto*
rique et chronologique des róis de Portugal, et d'une desciiption du Brésil. Lon-
doD, 1809.
675) KERHALLET (CHARLES MARIE PHTT«TPPE DE).
Nascea na Bretagne no anno de 1809, e falleceu em 1863. ^
E.~L Description de VArchipel des Açores. Paris, 1851.
<É uma descripção hydrograpbica, obra especial, preciosa para os mari-
nbeíros, a qual se pôde considerar como um exeellente commentario dos tra-
balbos do capitão Vidal.» ^
IL Instructions pour entrer et naviguer dans le fleuve de Cazamance jus*
qu'a Vetablissement portugais de Zinguinchor,
IIL Description nautique des iles de Cap Vert, 1858. 2.* edição.
^ Vivien de Saint Martin— Ann^e GeographiquCf yo\. 2.*, pag. 435.
' Morelet.— Le« Açores^ pag. 14.
r
«?
?
422 Kl
676) KINGKSTON (WILLIAM H. Q. ESQ.) Aothor of the Circasdam
ckieft the Prime Mitdster, etc.
Eí—Lusitanian sketches of the pen and pendi. London, 1845. 8.« (Esboços
de Portugal à penna e a lapí^). Tem um grande nomero de estampas.
'^: íj!^ ^77) KINSEY. The Rev. W. M. B. D. Fellow of Trinity College, Oxford,
' '^- 'j^: and chaplain to the ríght Hon. Lord Aackland.
E.— Portugal illustrated by—. Second ediUon. ^.; 566 pag. com grande
numero de estampas. E' uma das obras mais notáveis eseriptas por estrangei-
ros relativamente a Portugal
«As alturas ao sul coroadas com baterias, logarejos e vinhas» descendo por
^ saas encostas ató o lume d*agua; os numerosos barcos de pesca o de recrdo
cortando o rio em variadas direcções; a fileira comprida e não interrompida
de palácios, conventos e prédios correndo ao longo da praia desde Belém ató
Lisboa, debaixo da elevada serra, em cujo pincaro está erguido o palácio da
Ajuda, esplendida residência dos soberanos pcHtugoezes; e flnalmeote t mes-
ma bella cidade com os seus zimbórios, torres b magniflcoe edifioioe estendi-
dos sobre muitos montes: e, mais do que tudo, por cima a deslumbrante abo-
' bada celeste azulada, formam uma combinação de objectos, cajo commovente
intWBse mal pôde ser representado a uma imaginação do Norte.» Pag. IS,
«A nação piprtugueza tom desempenhado um papel proeminente e diatindo
no gyro dos acontecimentos humanos; e não pode a historia humana apre-
sentar em seus annaes uma potencia que mais dignamente tenha sustentado
seu posto entre as nações do mundo pelo desenvolvimento de forças moraes
e intellectuaos; pelo arrojo do suas empresas, por suas gloriosas conquistas;
pela sabedoria nos concelhos, por noçues justas do governo constitucional.«
Pag. 14.
Se o auctor nos tece grandns elogios, nao são menores as censuras que
nos faz pelo estado do ímmundície em que a cidade se achava. Tanto os elo-
gios como as censuras eram bem merecidas, o ainda hoje as merecemos, se
bom que Lisboa tem melhorado bastante desde o tempo em que Kinsey escre*
via as suas cartas em 1827.
«A orchestra da opera de Lisboa c uma das mais completas na Europa, e
na verdade o scenario, decorações e vestuários estão perreitamente a par d*a-
quelies que so podem ver cm qualquer Iheatro europeu.» Pag. 66.
«As modinhas portuguczas sào peregrinamente bellas e simples, não só
emquanto ás palavras, mas até peia composição da musica. São geralmente
expressão de algum sentimento amoroso, terno ou melancólico, de desespero
ou esperança, o seu eíTeilo é tal que, qiiando bem acompanhadas pela voz á
guitarra, chegam a arrancar lagrimas dos ouvintes, apesar de acostumados á
sua frequento repetição.»
Termina esta obra com uma historia da litteratura portugueza, composta
por James Warre, na qual se fazem principalmímle os mais pomposos elogios
ao nosso abbade Corrêa da Serra. EíTectivamcnte este nosso escriptor tornoo-
se bem conhecido pelos seus cscriptos cm todo o mundo illustrado. Refogian-
KO 4Í3
do-se na França, foi am dos collaboradores da obra The Utterary Archives
of Europe, e o Instituto de França nomeou-o sócio.
ESTAMPAS S VINBRTAS
!.■ Vista da Universidade de Coimbra— 2.* Sello do mosteiro de Tibães —
3.* Barcos que navegam no Douro--4.* Mappa de Portngal, gravado por Âr-
rowsmith— 5.* Torre de Belém— 6.* Alturas do cabo da Rocca— 7.* Candeeiros
de que se faz uso ao Norte de Portugal— 8.* Collecçao de modinhas portugue-
zas acompanhadas da musica e da traducção ingleza e franceza— 9.* Uma se-
ge subindo uma ladeira— 10.* Sitio em que foi encontrada N. S. da Conceição
da Rocha— il.» Cintra— 12.* Palácio de D. Manuel em Cintra— 13.* O convento
de cortiça em Cintra— 14.* Um burro e um burriqueiro— 15/ Duas estampas
representando as moedas portuguezas— 16.* Um corcunda ou absolutista— 17.*
Vista do Douro, perto do Porto— 18.* Vários votos suspensos nas egrejas de
Portugal— 19.* Uma estalagem portugueza— 20.* Vista do Porto e Villa Nova
de Gaia, tirada do convento da Serra— 21.* Barco de vinho e de passagem no
Douro— 22.* Aloés em flor e a arvore de murta com uma videira entrelaçada
— 23.* Maneiras de viajar em Portugal— 24.* Altar no caminho para receber
esmolas para as almas do Purgatório— Dois frades vistos em Tuy, na Hespa-
nha— 26.* Valença vista do Rio Minho— 27.* Uma scena de noite em Ponte de
Lima— 28.* Passagem da serra da Bruga em liteira- 29.* Um camponez e sua
família nas províncias de Douro e Minho— 30* Aloés americ^o— 31.* Vista
do Douro, tirada do Peso da Regoa— 32.* Camponez tocando guitarra— 33.*
Vista do Douro por debaixo do convento da Serra do Pilar— 34.* Barco aliado
por bois n*um ponto— 35.* Retrato de D. Ignez de Castro— 36.* Chafariz por-
tuguez— 37.* Vista de Lima— 38.* Vista do mosteiro da Batalha— 39.* Arco da
entrada occidental da capella velha em Leiria— 40.* Vista de Alhandra— 41.*
Cruz e disciplina dos Franciscanos— 42.* Vista de Lisboa— 43.* Cromleh perto
de Arrayolos— 44.* Torre de S. Julião da Barra— 45.* Retrato de Luiz de Ca-
mões—46.* O paquete Sandwich ancorado no porto de Falmouth.— Nove es-
tampas coloridas representando vários trajos portuguezes terminam este vol.
678) KLOaUEN (Rkv. DENIS L. OOTTINEAU DE).
E.—An historical sketch of Goa^ the Metropolis of Portuguese settlemenís
in Índia. Madras, 1831. (Bosquejo histórico etc.)
Em Goa fez-se uma versão portuguesa d'este livro.
679) KNT (A. L.)
E. — CofUribution to an historical sketch of the Roman Caíliolic Church at
Maeao, and the domestic and foreign relations of Macao, hy, -^Canton (Chi-
na), 1834. (Auxilio para um esboço histórico da egreja catholica romana de
Macau.)
680) KOOK (PAUL DE). Um dos mais celebres romancistas francezes
contemporâneos. Nasceu em Passy, perto de Paris, em 1794.
E.— L^ troubadour portugaiSf melodrama. Paris, 1815.
414 ■ .^I . ,
681} KOBT SNDX WAXBA OBXíaB. TXRBABL vemmfen tu-
aOie OMT vertcheyâen vondí GnotiU «mb ffeçtulificeerUte Bèerem wm Ptr-
• tvgal gedean, van wegen hare b^/ane cerraderú tegtnt dm Gimmg |mb Ar-
tvgal, wdcke aíU siyn tet ímM gebrockt tom Litiiim cf dm 19 antttuti 1641.
Jn'j Gravm Haye. By ÍJidoiph Breeckevat. Aniw 1641. 7 pag. (IL S.)
682) KÓBTE OBSEBTATISN op ha Vtrtoi^ daor ou ONgmuHwlM
Htlt gegeven, aaide Bo: Mo: Hearen StofM Çenacatí der, Verem^tde íitiêt-
tondm. JVópm^ de wsor gaende eiiSe iegm««ordif« Pro6«diirm vau SjrtuiL
/« geitdt door tm Luf-hd)bêr det VaderlaHti fAmtirdam. Amu 1647. ,
683} ErrriiER (BOB£BTO}.-'Liyreirá enUamborgo, e edil^ de ua
^ttaia namero de obru porUigiiazas,^qjQ eamúço ififitmi no flf^Jf|^.pie^
(S81) K03TETI (HEOTU).
E.—Voyagi^s dans la paríie septenlrionale du BrésU, dnpuu lS09;iuq'n
1813, compretiant les procinctn de Pernumbuco fFemambovc) Srara, Parai-
ba, ASaragnati, ele. par —. Tradaits de rnnglais par M. A- Jay. OrrU» dt hnit
flanchet aAorUes et de deux caries. ParU. Ctiez Dulaunny, IS18. 2 vol. 8.' gr.)
- D !.■ de XLViii— 37G pag., o 3.° de Stâ pag.
O auclor gaba-se de que a liogua porluguuit ainda lhe é mais faoiil
que a da sua pátria.
eSa) KUNSTHA,NN (FEIEDERIOO).
E.~Bistoria da ordem de Chrislo, tirada de documentos da Torre do Toa^
Nada mais posso dizer a respeito d'eiita obra, que oão puda ver, e a noti-
cia devo-a ã pag. 13 do 1.° vol. das Memorias da Academia Real das SeieMiat,
nova serie. (Discurso lido em U de Julbo de ISoi pelo secretario loaqaím José
da Cosia de Macedo.) Parece porém que a obra é eacripla em allemão.
686) EUTZE WAREAFFTIGE REIATION wid BeschreUnatç der
wundcrbarlsen vier Sckijfahrten so jemals verricli wonden oíj nehmiich, efe.
(Breve e verdadeira descripção das quatro viagens mais eitraordiaarias qus
jamais se Qieram, a saber : De Fernão de Magalhães, portuguei, com Sebaa-
tian dei Cano.— De Francis Drake, ingiez.~De Thomaz Candísb, ínglec— De
Olivier de Noorl, balia ndez.— Todos os quaes andaram ã Eoda do mundo. Nuni-
berg, 1003. 4."— T. Compaos.
<Í^^
L
687) LABAT (JEAN BAPTISTE).—Des Freres-Precheurs. --Missioná-
rio francez. Nascea no anno de 1663, e falleceu no de i738. ^
E.—Nouvelle relation de V Afrique Occidentale corUenant une description
exacte du Senegal et des pays situes entre le Cap Blanc et la Rivière de Ser-
re lionnejusq'à plus de 300 Iteues en avant dans les terres, Lhistoire naíurelle
de ce pays, les differentes nations qui y sont repandues, leurs religions et leurs
mceurs, Avec Vétat ancien et present des compagnies qui y font le commerce.
Ouvrage enrichi de cartes, de plans et des figures en taille douce. A Paris. Chez
Guillaume Cavellier, 1728. 8.% 5 vol.
O aactor diz que nunca foi á Africa, mas que fez o seu trabalho servindo-
se de Memorias escriptas por pessoas sabias, esclarecidas, e de uma probida-
de reconhecida. Termina o S.*" volume com as observações de mr. Brue a res-
peito de Portugal (de pag. 259 a 370). Diz o auctor que se encontram em Lis-
boa larangeiras superiores a tudo quanto se pôde imaginar de bello. Trata em
seguida das arvores e flores de Portugal. «Emquanto áquellas, que nenhum
arbusto se pode ver mais bello do que um chamado crista de gallo, proveniente
da índia, e que a flor mais rara, a qual alguns julgam a mais bella da Euro-
pa, é a floi* do arcebispo, proveniente do Cabo da Boa Esperança. Encontroa
também cebulas e alhos brancos de uma grossura prodigiosa, muito bons para
comer e deitar na salada.»
II. Relation historique de VEthiopie Occidentale ; contenant la description
des royaumes de Congo, Angolle, et Matamba, traduite de Vitalien du P. Gavaz-
zi, et augmentée de plusieurs Relations portugaises des meilleurs auteurs avec
les notes{ des cartes geographiques et un grand nombre de figures en taille-doU'
ce. Par — . A Paris. Chez Jean Baptiste Dele^pine, 1732. 5 vol. 8.*»
O referido padre Cavazzi partiu para a sua missão em 9 de fevereiro de
1654, e chegou ao Gongo no mesmo anno. Gomo é de suppor, n'esta obra qoasi
que nào ha pagina que nào falle dos portuguezes. Trata dos usos e costumes
< Fírmin Didot ^ Nouvellc Biographic UniverselU, vol. SS.**, pag. 332.
I '
416 , LA
d^aqnenes poYos, das missões» e da h&(oria da eeMbre raioliá Zligha, a na-
pa^ da qual apresenta duas estampas, uma representaBdo a andioiítía qo»
lhe deu o governador de Angola, e a outra o sen baptismo. Termina esla obra
ôom a rela^ de ama viagem nova e cm*iosa dos padres Midiel Ange o De-
ny de Garlís, çapachinhos missionários apostoUeos ao r^no do Ckmgo.
m. Voyage du chevcUier De$ Marchais en Guméê, Bes voismes et à Caifm*
w, faU en 1725, 17S6| 0t 1727. ConUnaní tme deienptUm írê$ eaoaeUfM Ère$
Umèae de cepays et du commeree 91M 8'y faU.Enròài d^ungrmdmmknde
caries et figures en taiUe»dauce, Par-^. A Paris. Cbea Charles Osmood, 1730.
&«4voL
V O anctor diz qoe para descrever estes paiies tinha ezcelleDtes obras eaeri-
pias por portogaezes efranéeses^mas qne preferia arela^ de Des Karehais^
por cansa do profundo conhecimento que tinha d'aqaettes paiies.
688) LABORDE (ALEXANDRE DE).
K^-^Vm^dè h justice et de fkumaniU m pmm^A
ibVvPor-:. Paris, 1832. 9.'' * >^^.
.o"* ■ ,
r
68d) LAO (H. FOtlRMIEiR DCf).
,, E*-^Lettreá M. le Vioomlíe dêSamtarempmèmireé^
ínf dê Pinmeesur le sceau de IHfm$ U Ub^, rei de Porát(i^.,S£k^ ^ te
690) LAGOMBE.
Pela leitura da Historia de Portugal por Alphonse Rabe vé-se que escre-
veu a respeito do nosso Affonso YI.
69i) LAGORDAIRE (JEAN THEÓDORE).
E.—Douville au Congo. Na Revue des deuxs mondes. Paris, i832.
692) LAET (JEAN).— Geographo belga. Era director da Companhia das
índias.
E. l.—Portugalli(B sive de regis PortugallicB regnis et opibus. Leyde, i641.
Ib. i644.
II. Historia naturalis Brasilice, in qua G. Pisonis de Mededna Brasitíend
et Oy Maregravii Htstorice Rerum Naturalium BrasilicB cum annotationibus.
Leyde, 1648. Foi.
693) LAFITAU (JOSEPH FRANÇOIS). Missionário francez.
Nasceu no anno de 1670; falleceu na mesma cidade em 1740. ^
E'—Histoire des descouvertes et conquetes des portugais dans le nouveau
monde, avec des figures en íaille douce par—, de la compagnie de Jesus. Pa-
* F. Hiáoi.-^Biographie Univer&eUe, vol. 28A pag. 747.
LA 427
lis, i733, 2 vol., 4.» Paris, 1734, 4 vol., 8.<» Esta Historia da índia Portugueza
finda no anno de 1581, e é ornada com estampas.
Tomo I.— 1.* Vista da cidade de Lisboa— 2.* Mappa das descoberta dos
portuguezes— 3.* Retrato do infanie D. Henrique — 4.* Recepção dos portague-
zes na corte do Congo— 5.* Vista das cidades de Cochin e de Cananor— -e.» Vista
de Moçambique o de Sofala.
Tomo II.— Vista da ilha e cidade de Goa— 2.* Vistas de Adén, Mambaça,
Quiloa e S. Jorge da Mina— 3.* Retrato de Âffonso de Albuquerque e vista da
cidade de Ormuz.
Tomo III.— 1.* Retrato de Vasco da Gama e vista da cidade de Galecot—
—2.* Retrato de Nuno da Cunha, fortaleza de Diu, e morte do sultão Badnr.
Tomo IV.— Differentes espécies de embarcações usadas nos mares das ín-
dias—2.*' Retrato de D. João de Castro, e vista da cidade de Malaca— 3.« Re-
trato de D. Constantino de Bragança, e vista da cidade de Damão— 4.<> Vista
das cidades de Chaul e de Baçaim— Retrato de D. Luiz de Athayde, e vista
das cidade de Mangalor, Onor e Bracalor.
«Sem pretendermos diminuir em nada a gloria que os hespanhoes adqui-
riram, se suas conquistas sobresahem em se fazerem ler comprazer por causa
da unidade de acção, é mister também considerar que ficam muito inferio-
res, quando se comparam conquistas a conquistas, reinos a reinos, nações a
nações. Os mexicanos e peruvianos, apesar de formarem estados policiados,
ricos e florescentes, eram todavia bárbaros, que se não sabiam melhor defen-
der, do que os outros povos selvagens da America, nem menos fáceis para
vencer do que os negros africanos. Pelo contrario os povos das índias Orien-
taes, apesar de muito maus soldados por si mesmos, tinham comtudo maiores
soccorros, por isso que entre elles estavam em uso as armas de fogo, e pos-
suíam um numero considerável de tropas auxiliares, formadas de christãos
renegados|e musulmanos, que tinham antes feito rosto às tropas de todos os po-
tentados da Europa, aos quaes fizeram ficar mal varias vezes na Ásia em tem-
po das cruzadas. Mas, se apesar d'isto se teimar no despreso que se concebeu
contra os reis e povos do Indostão, não se poderá comtudo recusar ás armas
portuguezas o louvor que lhes é devido quando reflectirmos que o Sophi Is-
mael, conquistador da Pérsia, e os reis Mogoes preferiram procurar sua allian-
ça, antes que declarar-lhes guerra, o queoscaliphas doEgypto, e dois sultões
tão poderosos como eram Selim e Soiimão, imperadores dos turcos, que tenta-
ram empecer-lhes suas conquistas, com a vergonha das derrotas c inutilidade
dos esforços, nada mais conseguiram do que realísar a gloria dos portuguezes.»
ff
694) LAFUENTE (D. MODESTO DE).— Historiador hespanhol moder-
no e notável.
Mandou publicar no 4.o vol ume da Revista Popular algumas passagens
do 4.'' volume da sua Historia de Hesp anha, n 'aquelle tempo ainda inédito.
695) LALLEKAND.
E.—JUurphy (/.) Voyage en Port ugal à travers les provinces de Entre Dou
m ' ^
M M JBNto, dê Beira, ii SMnmaáma H iAlemteio ám 1m amk» Í78M0-
ftadHUderanglaUpar—.VKiitim.Fdi.
696) LãKAREE (JEAN BAFTISTS BZFPaUT».
E.— I. Mnrion df Ia dr/inus tk Ia pía« dí iBod^^ M ISiS por tafrmi-
jwj fraa^aiscs coiitre l'amie mtglo-port»gai$e. Bqraiue, Ittl.
U. Aílaíion (ím súípi tí i^uet dê Badtvoí, iaevmetaéeCamfaMaior
^■m 1811 «/ 1819 par la tnt9n ftançaiiêê mr Ut orént Ai êued» flaiwaiw.
Paris. 1823.
«97) ZiAJCABTIiaB (AlfHONSX PB&T DX). Dm dM poetas fruee-
-SCB iiuds notaTd» de nosaos teiDpos. Ifueea a SI de ootabn à iTVl t
' " SBcnrea esta odfe em lonror do nos» ftincisèa Kinoel do Nudnieoto^
Ml mesfre de portngnei : ■
LA QLOIHB—A UNPOEIE EXIL&
Gte^wx broris des fllles de Ménoire.
Deoz sentian difl^renta demtt toiu ront s'oafrÍr: -
L',im eondolt aa bonbenr, raolre rnéne á la i^oin;;
Mortelii 11 txoí, dKdair.
Ton sort, ó Uanoell sniirit la k» oonunimef
La Hiua CeoiTra de jvteaeas laTenn,
Tea Jonn fbrent tiniis de glDlre et dIoEDrume,
El to verses des plenrs I
RoDgIs plmôl, roagis d'eavier aa valgaire
Le stérile repôs doDt sou twat est jaloux
Les dianz oot Tail ponr lai tous los biens de la terre,
Hais Ia lyre est á nous.
Les siãcles soDt á ui, le monde est ta palrie.
Qoand noas oe aommes plus, natre ombre a dss antels
Oú le jaste aveoir prepare à ton génie
Des honneurs imnionels.
Ainsi Taigle, superbe an séjour da toonerre
S'enlace, et souteaant sod vol andacieux,
Semble dire aaz monels; Je sais né de la terre,
Uais je vis dana les cienx.
Oai, la gloire fatteod, mais arrete, et cootemple
A quel prix on pénèire eo ces parvis sacrés,
Vois : riarortaae, assise à la porte du temple,
Eo garde les degrés.
t DiiAvmaiTe At la concerraiipn et de la teciure, toI. 13.*, pag. 71.
' II gagnait pMbletnent l« paln de ses víeuv joart en cnseigDSDt sa lufuc. It
m'eDEeieiiai( U poriuguais et in'appreiiait i adiuirerCamoens.i L»uiKtiat,PremièrttMi-
iUaíwns Pottiqiítt, vol. 1.', pag. l!li.
LA
Ici c'est an vieillard que Tingrate lonle
A va de mers en mers promener ses malheurs :
Aveugle, il mendiait aa prix de son génie
Un pain mouillé de plears.
Là le Taise, brúlé d'one flamme fatale,
Expíant dans les fers sa gloire et son amoor,
Quand il va recaeillir la palme triomphale,
Descend aa noir sèjoar.
Partont des malheareax, des proscrits, des victimes»
Luttaot contre le sort ou contre les boorreaax :
On dirait que le ciei aax coours pias magnânimes
Mesare pias de maax.
Impose doQC silence aax plaintes de Ia lyre :
Des coears nés sans verta Tinfortane est Técaeil;
Mais toi, roi détrôné, qae ton malhear t'inspire
Un généreax orgaeil !
Qae fimporte, après toat, qae cet ordre barbare
T'enchaine loin des bords qai farent ton berceaa?
Que fimporte en qaeis lieax le destin te prepare
Un glorieax tombeaa.
Ni Texil, ni les fers de ces tyrans da Tage
N'encbaineront ta gloire aax bords oil ta moarras :
Lisbonne la reclame, et voila Theritage
Qae ta laisseras.
Geax qai Tont méconna pleareront le grand bomme :
Athène à des proscrits onvre son Panthéon;
Gorolian expire» et les enfants de Home
Revendiqaent son nom.
Aax visages des morts avant qae de descendre,
Ovide leve aa ciei ses sappliantes mains :
Aax Sarmates grossiers il a legaé sa cendre,
Et sa gloire aax Romains.
Esta ode foi tradnzida do segainte modo pela nossa marqaeza d'Aloma
Generosos validos das Camenas,
Dois caminhos diversos se vos abrem :
Um condaz à ventara, est'oatro à gloria;
Mortaes, a escolha importa,
Segaia a lei commam o tea destino :
Com premataros dons fartoa-te a If asa;
D*infortanios e gloria encheste os dias;
£ ta choras, Filinto (
429
LA
Teme in\Tjar ao valgo essa ocío estéril
Que sialio zela, nolre, e que idolatrai
Os Deosea dão-lhe os bens lodos da (erra.
Poriam a IjTa ã nossa.
Os séculos são teus, tua palría ó o mundo:
Se acabamos, tem nossa sombra altares,
Oade o Porvir prepara ao teu íngenho
Justas, iiutnortaes hom-aa.
Ao sitio dos trovões águia suberba
Assim sobe e sustenta o voo excelso;
E parece que diz: Nasci na terra,
Mas nos ceos é que vivo;
Sim, a gloria fespera: olba, e contempla
A que pre^ taos lares se peneiram:
Ao poriico do templo está sentado
Vigilante o loTortunio.
D'alli vi.'3 o Ancião que na Crucia ingrata
Vi o Iruisrerír de mar em mar ei!.us males:
Cego, mendiga a pre^o do seu estro
Pâo ensopado em prauto.
Aeolã Tasso, ardendo em ratai fogo,
Em ferros espiava amw e gloria:
E quando ia a colher triumphal palma,
Deeceo ao negro abysmo.
Por toda a parte victímas, proseriploa,
Lntando contra a Sorte, ou contra algozes;
Creio que o Ceo destina a peitos nobres
Haior porção de magoas.
ImpSe silencio aos ais da tua lyra:
Corações sem virtude é qoe esmorecem:
Rei destbronado t inspire-te a desgraça
Gloriosa soberba.
E que t'Ímporta, emflm, qae te agrilhoe
Longe das praias de leu berço, a força?
Em que logar teu fado te prepara
Tumulo glorioso?
Dos Tágides cruéis, exilios, ferros
Não te encarceram fama; onde morreres
Lisboa te reclama; essa é a herança
Que opoíento Ibe deixas.
LA 431
Lacto profundo, lagrimas sem conto
Ha de custar à pátria o homem grande,
O Luso Gysne que expulsou raivosa
Para distantes plagas
Chorará quem tua alma desconhece:
A proscriptos o Pantheon abre Athenas;
Expira Goriolào; de Roma os Glhos
Revindicam seu nome.
Sobre as margens da morte antes que desça,
Ovidio aos Geos levanta as mãos devoto:
Aos Sármatas grosseiros lega a cinza,
Sua gloria aos Romanos.
698) LAMBERTINI (JEAN BAPTISTE).— Viajante e historiador hol-
landez. Nasceu em Anvers no anno de 1570 e falleceu no de 1650. ^
E,—Theatrwn Regium siveRegum Eispaniae^ Âragoniae, Navarrae et Por-
tugalliae, series et compendiosa narratio, Bruxelles, 1628. (Theatro régio ou
historia abbrevhida dos reis de Hespanha, Aragão, Navarra e Portugal).
699) LA MORT GLOHIEUSE DE SOIXANTE ET UN CHRÉ-
TIENS de Macao, decapites à Nangasaqui au Japon en 1640. Rouen, 1643.
Lille, mesmo anno.
700) LAMOTHE (GUERIN DE).
E.—Charte Chorographique des envòrans de Usbonne d*aprês les opérations
trigonometriques de M. Ciera, et levées des ingenieurs portugais et français.
Paris, 1821.
701) LAMOTTE (ANTOINE HOUDART DE).— Poeta 6 critico francez.
Nasceu em Paris no anno de 1672, e falleceu no de 1731.
E.'-'Inez de Castro, tragedie en un acte et en vers. Paris, 1723.
Houve quem a traduzisse para inglez com o titulo de Elvira.
«A tragedia de Ignez de Castro, de Lamotte, representada em 1723^ teve um
acolhimento tào prodigioso, que fez época na historia dramática de Franç a
Geoffroy.»— Cotrn de Utterature Dramatique, vol. 2.^ pag. 290 .
A referida tragedia é minuciosamente analysada no 2.*' vol. do Cours de
Utterature de La Ilarpe
702) LAN (JULES — Avocat).
E. — Paralléle entre le marquis de Pombal et le baron Uaussmann. Par — .
Paris, 1869. 4.^', 356 pag. Com os retratos de Haussmann e do marquez.
« F. Didot.— iVo9e/i« Biographic VnivertcUet tol. 29.*, pag. 163.
43Í LA
703) LAN.
E.^Crédit (lé) foncier en Portugal, son crigmey ses pragrês, son avenir»
Paris, 1865. Brochara.
704) LANDELLE (LA).
E.—Le premer Tour du Monde. — romance, cujo protogonísta é o nosso
Fernão de Magalhâed, publicado no jornal La Semaine des familles. Paris, 17.*
TOl Anno de 1875.
705) LANDI (G.)
E.~Ia descrettione dei Isola de la Madera gia scritía nela lingtui latina
de — tradotta da A. Tini, Piacenza, 1574.
706) LANDMAN (GEORGE),— Líeatenant colonel ín the corps of royal
enginers, the same rank in the Spanish corps of enginers with brevet rank
of Colonel.
E.-^Historical-military and pictoresque observations en Portugal, London,
Printed for T. Cadeíl and W. Davies. 1818, foi. max. 1.*» vol.607 pag.; 2.» vol.
293 pag.; mais 203 de documentos e 132 de appendice. (Observações históri-
cas, militares e pittorescas sobre Portugal.)
Pode-se dar a esta obra o titulo- de monumental, e é acompanhada de
grande numero de estampas coloridas, algumas das quaes indubitavelmente
não primam pela fídelidade. Tratam dos seguintes assumptos :
!.• Palmella— 2.* Setúbal— 3.» Alcácer do Sal— 4.* Alcácer do Sal vista do
Oriente— 5.* Mertola— 6.* Faro— 7.* Aljustrel— 8.* Viaieiro— 9.* Albufeira —
10.* Albufeira vista do Oriente— li/ Poriimào— 12.* Porto de Portimão— 13.*
Silves— 14.* Silves vista do Oriente — lo.* Banhos quentes na Serra de Monchi-
que de Abrantes— 16.» Monchique, perto do Cabo de S. Vicente— 17.* Pomar
velho na Serra de Monchique— IS.» Costa de Lagos— 19.* Bahia e porto de
Lagos— 20.* Ponte de Lagos— 21.* Aljezur— 22.* Milfontes— 23.* Arraiolos-
24.* Estremoz— 25.* Cintra— 26.* Convento perlo de Cintra— 27.* Convento na
rocha de Cintra— 28.* Cintra vista da estrada de Mafra— 29.* Palácio real de
Albufeira— 30.* Punhete na juncQão do rio Zêzere com o Tejo— 31.* Vista ti-
rada do castello de Abrantes— 32.* Ponte de Niza— 33.* Passagem em bar-
cos no Tejo em Villa Velha— 34.* Vau no rio Sever — 3o.* Passagem pelas ser-
ras perlo de Ladeira— 36."' Foz do Tejo— 37.* Vista do Tejo— 38.* Torres Ve-
dras—39.* Torturas da inquisi(;ão— 40.* Idem— 41.* Leiria— 42.* Pombal— 43.*
Coimbra— 44.* Idem— 45.* Ponte de barcas no Porto— 46.* Penafiel de Sousa
—47.* Amarante— 48.* Idem- 49.* Ponte de Lima— 50.* Idem— 51.* Valença
—52.* Cidade de Tuy— 53.* Bahia de Vigo— 54.* S. Paio, perto de Redondella.
707) LANGLE (CoNTOE-AMiRAL FLEURIOT DE).
E.—Voyage au Malabar (em o n.*> 185 do jornal francez Tour du Monde,
de 1863). E vem acompanhada das seguintes estampas :
1.* Casa do governador, em Pangín ou Nova Goa, na Costa do Malabar—
LA 433
S.* Uma vista de Mahé, possessão franceza sobre a costa de Malabar— 3.* Uma
vista de Mahé, sobre a costa de Malabar — 4.* Entrada das gratas em Elephan-
ta— 5.* Mulheres índias das castas baixas em Bombaim— 6.* Casamento de Sí«
va e de Parvati; baixo relevo de Elephanta— 7.* A gruta dos leões em Elephan-
ta— 8.* Grande gruta em Elephanta.
tOs chrístãos são muito numerosos na possessão franceza de Mahè. Pro-
vêem ou das antigas conversões feitas pelos portuguezes, ou da mistura â*esta
nação com as mulheres do paiz.
cQuando do sul se chega à barra de Goa, passa-se primeiro por diante das
ilhas de S. George.
tO braço do rio de Goa, que desemboca ao sul chama-se Mnrmngão : abre-
se bem depressa aos olhos dos viajantes, mas as terras são geralmente eni^e-
voadas, e é difficil distinguir bem os accidentes dos terrenos. Grandes ediâcioa
coroam as alturas, e tudo annuncia que uma nação poderosa tinha feilo de
Goa sua capital. O convento do Gabo é um dos mais bem conservados d*aqnel-
les ediflcios; está situado na extremidade da ilha de Salsete. Mais ao norte ma
pharol domina o ancoradouro da Aguada, e varias ermidas attestam o fervor
dos primeiros portuguezes que se estabeleceram n*estas costas.
t Longas Oleiras de fortes armados de peças enferrujadas coroam o anco*
radoaro da Aguada, mas este apparato militar já não pôde resistir aos actuaes
ataques. Pangin ou Nova Goa possue egr ejas muito notáveis e quartéis. O pa-
lácio do governador é um edificio vasto.
tÁ primeira vista admiramo^nos do grande numero de padres que circulam
nas ruas de Pangim, mas a rasão é que ainda que os inglezes dominam politi-
camente toda a costa de Malabar, a direcção religiosa pertence a Goa : esta ci-
dade é o vasto seminário d'onde sabem os padres que exercem o santo minis-
tério na índia qnasi inteira. A velha Goa fica a duas beras de Pangim, pelo rio
acima. Uma calçada reparada pelo visconde de Torres Novas alli conduz fa-
cilmente, e lambem se pode ir em barco. Seria necessária uma potente ima-
ginação e conhecimentos archeologicos bem rigorosos para reconstruir pela
lembrança a cidade dos vice-reis.
«A cathedral é uma nobre basílica, cuja frontaria se ostenta n*ttma pra-
ça de vastas proporções. Suas duas torres quadradas são de um bello ris-
co. O comprimento do edifício anda por uns 70 metros, e a largura da nave
perto de 27. Quando penetramos em a nave ficamos maravilhados do gran-
dioso do santo logar. Cada lado tem 7 capellas, e o altar raór é magnifico. O
corpo de S. Francisco Xavier está na egreja do Bom Jesus, que pertencia aos
jesuítas. E' em forma de cruz esta egreja, e o altar mór é esplendido. O mau-
soléu do Santo é magnifico. A seus pés vêem piedosamente os Índios de todas
as castas ajoelhar e beijar suas relíquias. *
tO commercio de Goa é fraco, e esta antiga metrópole das índias está bem
decahida do seu esplendor passado.
«Um convento, que os portuguezes tinham construído em Bombaim, está
convertido em casa de recreio, e a casa do capitulo serve de casa do jantar
ao governador do Bombaim.»
TOMO 1 28
LA
.1 do Malabar Toi fuílã em t
I
708) LANQSDORF (GEOKGE HENRI).
E.—M»iK>ire sur le Bresil puai- sereir de 'jardn imx piTSonni-s i/iti d^ireití
xijdablir. Paris, 1820.
709) LARA pA-VID BEN ISAAC COHEN DE). Judeu.
Nasceu em Lisboa, e residiu por muitos aiinos em Hamburgo e Amslerdain.
B.— I- KUter K«huna; iato é ; Corõii dos Santos e do Sacerdócio. Oimpre-
hende até a tetra lod. Hamburgo, por Jorge Kobealino, 1667. Foi.
E' um copioao Diccionario Taimndico Rabioico, que contam a exposiçÂo s
correspondeacia das rozes talmndicas e rabioícas, cm quaioiro liDguu, *
saber. Chaldea, Syriaca, Arábica, Persiana, Turca, Grega, LaIina,l(aliaDa, Caí-
lâlhsDa, Portugueia, Pranceza, Allemã, Saxonia e Ingteza.
U. Tratado de Moralidad y rrgimienlo de la nda de Rcúibenu Moí^ de
Esifpto. Hamburgo, {663. Officlna de Jorge RobellÍDoa.
III. Tratado delTeTnor Divino. Amsterdam, 1633.
A respeilo d'eslas e d'outras obras. V. António Ribeiro dus Santos nas Me^
moi-ias de Ulleralura Sagrada doi Judeus Portusuezes.
710) LAROUaSE (PIERRE).
E.—Biographie du Camoens telle qii'eUe fignrfrn dnra tes colmes du Gratii
Dictionaire pnr — Paris. Librairia de V.* J. P. Aillaud, Guillard et C- 18(i7,
fl.", i3 pag.
•Eis ainda um d'esse9 grandes boment a qaem nm grande génio não sal*
Tou do infortúnio. A quem imptitaremos oe longas transes que o porsegniram
até i cova? A essa organisação nervosa, a essas paixões vtras e vdeoles, in-
seiutrarels taivex do génio, on a isso a que se dá o nome de swte, a essa fala-
ttdade invencive), qoe parece inho^nte a esses poetas ereadoree, destinados
a erigirem monniDenh» fmmorredoon» entre os bomens T
•Homens Tasso, Milton, CamSes, Cervantes, íRoslres infetine sobre quem
■ pesou esta mio de Terro: seres misteriosos, nos qnaes indo Ibi extraordinário,
qne soffrieis e mendigáveis ao cantardes vossos versos divinos, qne hão de fa-
aet a eterno reemio dos homens, dizei-nos o s^edo de vossos prolongados
fnlli)r.nnios; dizeÍ-nos as cansas de vossos peregrinos e dq)loraveis destinos,
Has qnem os sabe, e sabei -os-bieis vós mesmos 7 Suní tacrjfma rmtss. E ape-
nas »e vêem seos efTeitos. A gloria serve de galardão ao solfrimenio, o vosso»
nomes immortaes d'isso são a prova. Porém nenham d'eiia3 Eoi talvei mai»
acabrunhado de desditas de todos os géneros, do qne o poeu, ao qoal Lisboa
deve toda sua gloria litteraria •
711) LASTEYEAC (JULE3).
E.— I. Le Portugal depuis ta revolulion de 1810.
U. Souvenirs des Açores. (ífa Recue des deux Mondes, de ISU e ISiS.)
LE 435
7i2) LATOUOHE (JOHN).
E.— Traveis in Portíigal with illustrations byRight Hon. Sotheron Estcourt.
London, 187o. (Viagens em Portugal).
713) LAVAL (FRANÇOIS PYRARD DE).
E. — Voyage contenant sa navigation aux Indes Oríentales, aux Moluques et
au BrésiL Paris, Í6i6. Ibid. i619, 2 vol. Vide Pyrard.
714) LAVIGNE (A. GERMOND DE).— Escriptor francez. Nasceu em
1812. i
E,—Itineraire descripUf, tUstorique et artistique de VEspagne et de Portu-
gal. Paris, 1860. 2.- edição 1861.
11. LEspagne et le Portugal. Paris, 1867.
715) LAVRO (CARLO).
E,—Adventiire admirable par dessus toutes les autres des siècles passes et
préserUs, par laquelle il appert évidemment que D, Sehastien en vray est légU
time roy de Portugal, inc4)gnu depuis la bataille quHl perdit contre les infíâiles
en Afrique, Van 1578, est celuy tneme que les seigneurs de Venise ont déténu
prisionier deux ans et vingt deux jours finis au XV décemhre dermer passe
au quel jour il fut extraordinairement remis en liberte, et sortant de Venise
s'en vint à Florence. Le tout traduit du castillan en français, par IHncomffa*
rabie astrologue—. 1601, 8.<» (C. M. B. I. P.)
716) LEAKE (JOHN).
E,—Dissertation on the properties and efpcacy of Lisbon die drmk. Lon-
don, 1857. (Dissertação sobre as propriedades e efficacía da bebida para dieta
em Lisboa).
717) LEBEN DES SEBAST. Joseph von Carvalho und Mello Marq.
von Pombal. Leipzig, 1782. 2 vol.
718) LE BON VOISIN, c^est à dire: le Portugais. Sem logar de impres-
são. 1646, 4.« Folheto. (C. M.B.I. P.)
719) LEBRUN (PONOE DENIS EOOUOHAD).— Poeta francez. Nas-
ceu em Paris no anno de 1729, e íalleceu na mesma cidade no de 1807.
E.—Ode sur la ruine de Lisbone. Paris, 1755.
720) LEESER (ISAAC).— Hebraista americano. Nasceu no anno de 1806
em Neukrích (Westphalía), e rabbino da synagoga de Pbiladelphia.
E.—Portuguese form of prayers— com o hebreu em frente. Pbiladelphia,
1837. 2 vol * (Rito portuguez das orações).
> Vaperoau.—Z)id tonnaírc des ConicmporainSf pag. 1091.
3 Idem, idem, pag. 754.
43C IjE
791) LEFEBVRE (PHHJPPE). ^
E.— t. Examen de ta tragedie dines de Castro par de S^nwfté l
Paria, 1723.
II. Letlres d'vn genlUhome de Province au sujH de la tragedie d'Inez de
Castro. Paris, 17J3.
722) LEFRiNC.
E. — Bistoire de Portugal. Paris.
7Í3) LEQRAND «i DOMINIQUE (M. M.)
E.—Ãijnés de Chaillol. Parodie dines de Ctulro. Dijon, 1777.
724) LEGITaUTÉ (DE LA) en Porlugtii. Qiicstion portugaise swaiise
aujugement des liommes imparliaux. PuiSi 1826.
725) LEOLAY. i
Publicou nos seus Analectes curiosos documonlos relativos aos lilfao» da 1
D. ígaez de Casiro, extrabidos dos archivos de Cambrai.
Dá-Dos esU uoticia o sr. Pcrdioaud Denis nas suas uolas á tradur^ão tran-
ceia dos Luziadas por Foornier e Desaules, pag. 351.
73(>) LEMAIRE (Sikub).
E. — Voyage of lhe— lo the Canary Mands, Cap Verl, Senrijnl and Gainby.
LODdOD, IC%.
7S7} I^UHXBOmBÍLOUIS-^rSAN-lrtlPOKUOEKE).— liUeniOfnn-
6M. Nasceu aa Paris bo anuo de 1771^ b talleeea no da 18W. >
E.— Pinto, drama. •OoTrage aaqitel ea n'a peat etre pis renda assai de
justice, et qoi será nn des pios beaux titrea de gIoir« de soo aaunu-.i ■
728) LENOBLE (FIERSE KASELEINE).
E.—Mimoire sur let operations nàlitairet des Rançais m Gaike, m Por-
Itigal, et dam la valiie du Tage en 1809 som te commatidement du maricM
&mtt. Paris, 1821.
729) LEON (D. LOBENZO TAKSEB HAHHEN J.)
E.—D. FOippe el prvdeiUe, segando deste nombre, rey de las Btptíku y
RUÍDO mundo. Madrid, 1622.
730) LEPOWSOKT.
E—Peter 11. Koenig vort Portugal. Municb, 1818. (D. Pedro II, rei de Pm-
tagil).
■ FirmiD Didat— fifaue. Biograpkii VttittrteUe, toI. 30-*, pag. 68S.
* Aliili. Rabbc —HUIoire de Faríugal.
LE 437
731) LSRT (JEAN DE).— Viajante flrances. Nascea no anno de 1534
em Lery, e falleceu era Berne .no de 1611. Era pastor protestante, e foi man-
dado ao Brasil com o flm de estabelecer alli a egreja reformada.
E.—Histoire d*un voyage fait en la terre du Brésil, autremerU dite Améri-
que, contenant la navigation et choses remarquables vues sur mer par rauteur^
le comportement de Villegaignon en ce pays lá, les mceurs et façons de vivre
etranges des sauvages brésiliens, avec un colloque de leur langage; ensemble la
description de plusieurs animaux, arbres, herbes, et atUres choses singuliêreSf
et du tout inrxmnues par deçá, le tout recueilli sur les lieux, La Rochelle, 1578,
S.% Genève, 1580, 1585, 1593, 1600, 1611. 8.»
Ha uma tradacçâo latina d' esta obra com o seguinte titulo : Lorie Joatme
Historia navigationis in Brasiliam quae et America dicitur. Escudebat Exista^
thius Vignon, 1586.
732) LES DERNIERES NOUVELLES de Vètat de la Chretienté en
Ethiopie, empire des Abyssins cmnmunément appellé du pi^etre-Jean, oii se voit
sa conversion à VEglise Romaine, escripte en Espagnol par le P. Pierre Mere*
jon. Paris, 1622.
733) LES ROYAUMES D'ESPAaNE ET DE PORTUGAL repre-
sentes en taille-douce três exacteSf dessinés sur les lieux mêmes, qui compren*
nent les principales villes, forier esses, montagnes. . . Avec les cartes géogra-
phiques tant génerales que particuliêres de ces deux royaumes. Leyd. Sem data.
734) LESSING.
E.^Description de rAmértque Portugaise, ecrite par Cardena. Brunswick,
1780.
735) LESUR (CHARLES LOUIS). -Lítterato e publicista francez.
Nasceu em Guise, na Picardia, no anno de 1770. Falleceu em 1849. ^
Sua publicação mais importante foi a do Annuaire Historique et Politique.
Desde 1817 publicou annualmente um grosso volume, onde estavam expostos
e resumidos com um espirito prudentemente independente os factos políticos,
litterarios e scientíflcos da França, dos estados da Europa, e d*outras partes
do mundo. Esta coUecçao tomou-se uma fonte preciosa para a historia con-
temporânea, pois além dos principaes successos, contém muitos documentos
officiaes, que seriam difflceis de encontrar n'outra parte. Em 1830 Lesur re-
tirou-se para sua cidade natal, e deixou a Ulysses Tencé toda a direcção do
Anntmrio.
No que diz respeito a Portugal é também esta publicação muito impor-
tante: escripta com desenvolvimento e com a possível imparcialidade deve
ainda ser consultada por quem se propozer a estudar a nossa historia d*aquel-
les calamitosos tempos. Por exemplo, a historia de Portugal narrada no anno
* Fírmin Didot — Nouvelle Biographie Universelle, yoI 30.*, pag. 998.
L
438
do ISSB oecnpa desde pag- iílS & 977. N'olla se ri'fcri! mínuciosuDunie a che-
gKdi de D. Miguel de Vienna d'Aitâlria; os [iieios da qua so servia para sor
accUniado rei aljsolute, e lermJDii pela recepção da rainha D- Maria pelo rei
de Inglaterra. Eaia híãloria cnaliimu a paif. iiio d» volume ae<{uinle.
7;16) LETTEE (A) lo lhe edilors of tlie Portugune InvftUginlor in Eu-
gland on IhcimproprMij of nlioluking lhe fíoyai Wing Compaufi iif Portugal.
{Sobre a abolição da companhia dos vinhos do Douro).
737) LETTERA ml ii» amico che cimlii-ns come una risposta gêniralf a
twtte te Bagioni, cke in suífania fvronú addote netla ttainpa dvn certo libfo
ctM la data di Fosiotnbrotte, che ha per lUolo Lettere deli' Abale N. JV. Mito-
nise ad un prelato Bomam, apologrliche delia Compagnia di Gestt conira áue
libelli intitolati : Rlflessioni sopra il Menuriale presentato da P. P. Getuili
Alia SatUitá di Papa Clemenli XIII felicetnenlí regnant», e Appendice alie fíi-
fhiiioni. Lugauo, 1761. 8.% lltí pag. (CoDlra os Jesuilas.)
738) LETTERE aume d'Elliwpia, Malabar, Brasil e Gm, deltanni 1620-
lfiS4. Boma, 1627.
739) LETTKE ífun néijocianl de Liabonno a un correipfmdant de Paris,
COMenavl wk rélatim fidHit dii trembUment de terre anivi a Litboiuu le 1
WKtmbre 1755. (Sem daia nem logar de impressão).
740) LETTERA di un amico ad un suo concilladino, m cui (t riftriscO'
no t fatti cA« procano, che Vautore deWatlentaío ccndra la vitta dei Se Aa de
ampliei, e si ragguaglia il medo con cui é stato formato ii di lui processo.
Avignone, 1759.
741) LETTBE a Vauleur des 'Nouvelles Ecclesiasttquef dans laqaelle om
Ivi demande ti le scandale danni a lÃsbonne par le jesuite Coíiteâi «it lêplus ■
gnatd qui íoi dans VEglise. Sem data, nem logar de Ímpres»ão. (C. H. B. 1. P.)
742) LETTRE du Seremssime Boy de Portugal a soH eoUHasadtmr P.
de Soasa Coutinho. Imprime a la Haye, chez Ulchel Staal, demeurant a U
cour, vis a vis la prisoo, 16S0; 4 (olhas. (H. S.)
74.1) LETTRES ecrites de Portugal sur Vétat onciVn et actuei de ce royan-
me. TradnitfS de 1'Anglois- Suivies du portrait hislorique de M. le marquit de
Pombal. A Londres, 1780. 8.°, 72 pag.
Esta obra, rormada de deieselo cartas escriplas desde 26 de janeiro de
1777 até 3 de junho do mesmo anno, é uma resenha dos beneDcios que Por-
tugal colheu com a adminíslraçuo do grande marquei. Mestra o estado do tor-
por e do abatimento u i]itc o paiz lioba descido, e o estado de engrandeci-
mento, a que chegou no reinado de D. José.
LE 439
tA nação víu-se livre do poder da iaqaisiçâo, oppressâo a mais horrivel e
vergonhosa qae povo algam jamais sofTren.
«Â expulsão dos jesuítas seguiu-se pouco depois. Se a Europa gosa das
vantagens, que foram o fructo da destruição d*esta ordem, deve-o mais que a
tudo aos cuidados inquebrantáveis do marquez de Pombal.
«Fixou o numero das missas que seriam ditas por alma dos mortos, e mar-
cou a esmola que se devia dar por cada uma.
«Antes da administração do marqaez de Pombal a policia de Lisboa era
tão má que se tornava perigoso achar-se na rua á tardinha, ou durante a noi-
te, e os assassinatos eram tão frequentes, que até mesmo se olhavam como ac-
cidentes triviaes. Mas desde a ordem, que este ministro estabeleceu em Lis-
boa, mudaram as coisas de tal sorte, que é para crer que actualmente ha mais
segurança nas ruas de Lisboa, do que nas de qualquer outra capital da
Europa.
«Durante o tempo de seu ministério a nação illustrou-se muito, e a agri-
cultura fez grandes progressos, o commercio ampliou-se em grande escala,
as artes e as sciencias foram cultivadas, estabeleceram-se algumas fabricas,
as finanças chegaram a uma situação respeitável. Estes factos dão indubitavel-
mente honra ao ministro, a quem a posteridade ha de fazer a Justiça que lhe
é devida, quando o tempo houver exterminado os preconceitos que se levan-
taram contra elle.
«Em tempo algum nem ministério foi mais tempestuoso, nem mais glorioso
que o seu. Houve mister de toda a sua coragem para vencer os perigos que
encontrou, tanto pela maldade de seus adversários, como pelos acontecimentos
mais extraordinários: mas quanto mais as occasiões eram terríveis, tanto maior
grandeza e serenidade d'alma patenteava. N'uma palavra, póde-se comparar
este ministro com o cardeal Richelieu, sem receio de ir de encontro á verda-
de. Ambos foram elevados ás maiores honras : ambos governaram por meio
do terror, restabeleceram a auctorídade real humilhando a nobreza, ambos
tiveram a ridícula pretenção de passarem por galanteadores e de possuírem
universidade de talentos; ambos foram grandes políticos, senhores imperiosos,
inimigos irreconciliáveis, amáveis na sociedade, aíTaveis para com os estran-
geiros : ambos se elevaram por meios honestos, sem vergarem em tempo al-
gum em frente da adversidade; ambos amontoaram grandes cabedaes; ambos
foram a honra e o sustentáculo da nação, cuja leviandade, ingratidão e ódio sof-
freram, o qual venceram por meio da firmeza e do rigor; ambos finahnente
fizeram tudo desajudados.
744) LETTERS from Portugal oh the late and present state of thai king»
dom. London, S.^" (Cartas de Portugal sobre o antigo e presente estado d*a-
quelle reino.)
745) LETTERS from Portugal and Spain wrilíen during the march of
tlie British troops under sir John Moore. (Cartas de Portugal e Hespanha es-
criptas durante a marcha das tropas inglesas às ordens de sir J. Moore.)
440 LI
746) LETTRE secande de lÃsbonne^ écriie a un embassadeur, qui com-
tient un détail ires circanstanciè du furieux trembUment de terre qu'U a eu
eeUe année dans le Portugal; du camp du rot prés de lÂsboime le 14 novem'
brê i7^. 4.*' íollieto. (Sem data, nem logar de impressão.)
747) LETTRES et pièces concernant les changements actueis de Portu-
gal a Végard,des jésuites envoyés par leNonce resident a lÀsbonne^ a la u-
crHerie de Vétat ecclesiastique et distrúmées aux cardinaux de la anigrega-
tion du St. Office, avec le memorial presente par le Pére General des Jésmtes
le 31 juiUet 1758 aS. S.le Pape Clement XIU. (Sem logar nem dau de im-
pressão.
748) LEVEQUE.
E-^-Costume of Portugal illustraíed by fifty coloured engravings uith a
description of the manners and usage of the country, Loodoo, 1814. «
749) LIANGOURT (GosrrE db GODDE DE).
E.— Soctété de funion des nations pour la Civilisation Umoerselle, Eloge
fúnebre de S. M. D. Pedro, empereur du Bresil^ duc de Bragance^ regent dm
Portugal et de V Algarve par le — . Suivi de stances par M. de Samt Anioine,
Paris, 1835. 4.«
750) LIANO (ÁLVARO AGUSTIN DE).— Historiador hespanhol. Fai-
lecea em 1830 1
E.—Repertoire portatif de Vhistoire et de la litter ature des nations espa-
gnole et portugaise. Berim, 2 voi. (Sem data.)
II. Observaciones y noticias curiosas sobre la litter atura castellana y por-
tuguesa y sobre los escritores de estas dos naciones. Aix la Chapelie et Leipzig
1829-30. 2 vol.
III. Essai pour servir à Vhistoire des nations espagmle et portugaise, Ber-
lim, 1820.
751) LIBERTINUS (CAROLUS).
E,—Divus Franciscus Xaverius Indiarum apostolus elogiis illustratus, Ve-
tere Pragae, 1673. (S. Francisco Xavier, aposloio das índias, illustrado com
elogios.)
7o2) LICKNOWSKY (FÉLIX DE, Piuncipe de). Seu pae foi Edward
Maria do Licknowskv.
Nasceu em o de abril de 181 i, sendo assassinado em 18 de setembro de
J8Í8.2
Entrou Lem novo para o exercito prussiauo, dei.\audo-o em 1838 para so-
1 Firmin Duloi. — youvdlr Bii^ini^hie inivcrscUe, vol. 'òly, pag. 1U7.
' Idem, idtin, pa;;. it.YÔ.
LI 44i
goír as bandeiras de D. Carlos, de qaem veiu a ser ajudante de campo. Em
1840 voltoa para a Âllemanha, e passados dois annos fez uma viagem a Por-
tagal, indo residir mais tarde na Silesia. Depois de ter tomado em 1847 parte
activa DOS trabalhos da primeira camará prussiana, tomou assento em 1848
no parlameuto de Francfort. Sendo membro da direita despertou muitas ve-
zes a cólera do partido democrático por sua eloquência virulenta e incisiva.
No dia 18 de setembro, pela occasiào do conflicto causado pelo armistício con-
cluído com a Dinamarca, foi tanto o príncipe de Licknowsky, como o gene-
ral Auerswal assassinados pelo vulgacho.
E,— Portugal Erinnerungen aus dem Jahre 1842. Mayence, 1843.
D'esta obra fez-se uma traducção em portuguez, a qual se imprimiu em
Lisboa DO anno de 1842, e d*esta versão nos serviremos nos seguintes extrac-
tos, pois do original allemao nem mesmo ainda pudemos ver um só exemplar.
O príncipe, tendo embarcado em Southampton no vapor inglez LMe Id-
verpaoly no mesmo barco chegou a Portugal.
«Ao partir do Cabo da Rocca substitue-se ao primeiro quadro um outro
egualmeute encantador—- pharoes> castellos, casas de campo e aldeias mos-
tram-se na praia : vêem depois as duas torres de S. Julião e Bugio, similhan-
tes a duas vedetas avançadas para guardar o Tejo. Em poucos minutos entra-
mos na corrente d'esse grande rio. Lisboa tem sido descripta tantas vezes que
não intentarei eu renovar débil e descoradamente essas impressões, que tia-
çaram tão brilhante e variadamente uma talentosa escriptora allemã nos úl-
timos tempos, e antes d*ella dois poetas de fundada reputação. A magestade
e a pompa do Tejo excedem toda a expectação. Faltam, porém, aqui as rique-
zas e a vida; é entrada «mais própria de uma capital do mundo, do que da corte
de nm pequeno reino. Vulgarmente se tem comparado a vista gosada pelo in-
gresso no Tejo com a dos portos de Nápoles e Génova : devo, porém, confes-
sar, que não acho fundamento algum para similhante paridade. Génova e Ná-
poles mostram repentinamente tudo quanto teem a offerecer, como um pano-
rama ou uma decoração de theatro: em Lisboa trocam-se os quadros, cresce
o interesse, e hnalmente no ultimo plano é coroada a expectação. Logo ao en-
trar, a mais larga torrente de aguas do antigo continente: o mar verde, o rio
azul, torres, aldeias, pharoes e castellos, Cascaes e Oeiras; á esquerda os mon-
tes de Cintra, á direita a Serra da Arrábida, que se prolonga pelo mar em re-
motíssimo horisonte até ao Cabo do Espichel : depois se|ne-se fielem com a
sua alta torre mourisca tenebrosa prisão de estado do ultimo duque de Avei-
ro, e da bella condessa de Távora: em uma elevada coUina as dimensões co-
lossaes do palácio da|Ajuda, e como pendarU o castello e o monte de Almada;
finalmente por terceira apparição Lisboa, tão grande e tão sombria, tão nobre
e tão negligente» —
iO Tejo acha-se bastantemente vasio, como lhe succede quasi sempre de-
pois da separação do Brazil. Um navio de guerra inglez e outro francez exis-
tiam fundeados, como representantes de duas potencias, que de boa vontade
dominariam sobre aquellas aguas: depois seguia-se o navio portuguez de re-
gistro, a fragata Dnqueza de Bragança, finalmente duas naus desapparelha-
«2 U
do», D. Joilo Via Vasco da Ganiu, alIJmas relíquias da niagi^stade pussada, d''.-
pitis que Portugal perdeu o dominio dos mares. Ceclenarea de barcos de pns-
oadores, de transporte, alguns navios uiercanies, príncípalmenU! americanos,
e vapores pet}uenos, que nuvegam deolro do Tejo, eram unicamenio os que
davam ainda alguma vida a. este rio.
•Áprimeira vista da Praça do Commercio, praçA grande e regnbr, das
mas, qne d'e]la decorrem parallolamente eu ire si, e em geral da moderoa parte
da cidade, acrediía-se poder assegarar que 6 Lisboa a mais brilhante das ca-
pitães da Europa, mesmo em relai;ào ã elegância. Imagioem-se triala a qua-
renta mil casas oditic&das sobre a encosta do sol de sete risonbas colIíDas, e
qaa como uma orla bordam o Tejo desde Belém aié Xabregas em um comprí-
tnenlD de seis milbas ingíezas: formosas praças, bellos e grandes ediRciospn-
blicos, mn aqueducio eguat ás obras dos romanos, o branco zimbório e torres
do Coraf,âo de Jesus, o gotbico moari^o convento do tíeiem, e o agradável
tcrrasso do S. Pedro do Alcântara. Esta é a vista que hoji? apresecia Lisboa.
Da vellia, sombria e angulosa cidade, que exr?Iia ames do terremoto do I/S.1,
já muito pouco su \f: hoje, principalmente nos bairros baixas.
<0 thealro de S. Carlos em Lisboa ò um dos mais bellos e mais curiosos
ediflcios d'csta cidade, e sem cooleslaçÀo páde ser coUocado a par dos pri-
meiros da Europa. No dia da minha chegada a Lisboa foi representada a Bit-
n/ia de Golcoiida, qoo a|temanda-se com as Priiôes dt Edimhtírgo me perse-
guiu durante dois mczes da minha residência n'aquella cidade. Porém a com-
panhia italiana pareceu-mo admiravelmente boa: pódesolTrerparallelo com a$
de cidades italianas du segunda ordem.
«Ciolra, gloriou» Eàen de Byron, Iniitano paraizo, quem deixa de sonhar
comtigo, ou de retraçar a si próprio essa logar encantado, pjntando-o eom bri-
Ihantissimas cfires, como quadro radiante da phanlasial É por Isso qae todo
o estrangeiro se apressa o mais que p6de em visitar Cintra. Qauto mata ten-
po n'elta me demorava, tanto mais aprasivel me parecia, e mais rmnantiea, até
que, quando finalmente me foi forçoso partir, rep&ssoa-me am tão hitimo des-
gosto, que de tudo se tornou manifesto para mim que alli havia muito mais
do que aquillo, que a principio tínham descoberto meus olhos profanos. Es-
sas frescas veredas cobertas de folhagem, o crescimento magestose s exube-
rante da vegetação: as cascatas, o frigido oc«ano, tudo isso uunoa o esquece-
rei, e com a anetorj|Ude de Byron e de Camões, com a opinião dos poetas e
dos liueratos de todos os tempos e de todos os povos da leira, prodaraarej
Cinira o mais bello de todos os sítios da terra. Mas o qae rerdadtinmente
dá a Cintra encantos, como se não encontram em parte alguma.do mondo, é
a frescura perpetua de suas alamedas e bosques. Quando sahi de Lisboa o ca-
lor tinha subido a 30° de Heaumur, porém ao aproximar-me á mtxitanha, Ti-
oha bafejar-me uma aragem tão amena ao longo da estrada, e abobadada por
nin tecto de folhagem, que condoí do Ramalhão até á praça de Cintra; e o ar
achava-se tão dehciosamenie tépido, como se fera n'nm b^lo dia de reno do
Rheno ou no Danúbio. Isto não era uma excepção; porque ordinariamente a
differença de temperatura entre Lisboa e Cintra sobe de 8* até IO R.
LI 443
«As povoações à roda de Lisboa ^ estão cheias de palácios e casas de cam-
po de fidalgos portuguezes e de ricos habitantes da capital. Estes edifícios fre*
qaentcmeDte constroidos no melhor gosto, cercados de agradáveis jardins, for-
necem aos arrabaldes de Lisboa um encanto especial, que entre todas as ca-
pitães da Europa, apenas pôde reproduzir Yienna, ainda que deam modo me-
nos animado; porque faltam ás margens do Danúbio o brilho meridional, o azul
escuro do céo lusitano, e aquelle resplendor da natureza, como de um montão
de pedras preciosas de todas as cores. Esse fulgir da vegetação é o que dá a
graça particular, que possuem os jardins á roda de Lisboa. Para um habitante
dos paizes do norte particularmente, é assumpto da maior surpresa ver aqoi
medrar livremente, e com robustez todas as plantas, que penosamente e com
mil cuidados são cultivadas em mesquinhos vasos nas nossas apertadas estufas.
«No Calvário, a pouca distancia do palácio real de Belém, em um ediflcio
construído de propósito por D. João V, acha- se uma collecção de coches, talvez
a mais admirável que existe no mundo.
«Os terrenos na direcção de Yalle de Zebro para o interior do paíz apresen-
tam uma triste apparencia. Um solo coberto de areia fina, de um amarello cla-
ro, prolonga-se desde a praia até á montanha de Palmella, e á Serra da Arrá-
bida. O solo eleva-se pouco a pouco na direcção da serra, a qual se prolonga
com variadas ondulações até ao Cabo do Espichel. No ponto mais elevado, so-
bre uma montanha cónica, existe o mosteiro oa o castello de Paknella, que é
visível a remotíssima distancia. D'aquella immensa altura dilata-se a vista so-
bre o verdejante e pomposo valle de Setúbal. Creio que não ha porção alguma
DO mundo, que encerre um maior numero de laranjeiras, as quaes dispostas
em apertados renques, enchem o valle inteiro, como se fora um só pomar, for-
mando um contraste pittoresco com a escarpada montanha, e com as selvá-
ticas penedias da Ai rábida. O valle de Setúbal fornece a maior quantidade das
mais bellas laranjas de Portugal, que são cultivadas cuidadosamente em gran-
des quintas. Os pomares são contíguos uns aos outros, de maneira que obser-
vados da altura do castello de Palmella parecem um único laranjal, onde se
voem apparecer de espaço a espaço as paredes alvejantes das casas de campo»
das aldeias, das egrejas, formando grupos pittorescos encravados n*aqueila
vasta extensão de folhagem verde escura. Comtudo, afastando as vistas d^alli,
e olhando a alguma distancia n'uma direcção opposta, a scena muda comple-
tamente: para um lado prolongam-se como uma espécie de deserto, as áridas
e requeimadas charnecas do Aiemtejo, até perderem-se em remoto horisonte,
mais á esquerda, para além dos pinheiraes e dos areiaes, alongam-se as vis-
tas por esse espaço dilatado, onde as aguas do Tejo se misturam com as do
Oceaqp, divisando-se ao longe o vulto de Lisboa debilmente desenhado e en-
volto em uma atmosphera vaporosa. Uma poesia melancólica derrama-se por
todo este quadro; apparece de novo completamente o aspecto bello, mas triste
âo Portugal dos nossos dias — pomposo, mas fatigado de viver, tal como se
antolha do alto da Pena
* Cowpare-se islo com o que dix o sr. Asceocio Calfo.
iu LI
'Descobrimos do alio de uma colllaa o .iperlado vallo do Douro, e 33 sl>
nuosidades d'es3e verde rio, correndo por eDtre as suas margens alpestres. A
nossos pés via-so o Porio ediAcado em semicírculo, e como em socalcos sobre
uma. montanha. Vísio de longe, o Porto é lalvez menos bello e grandioso do
que Lisboa, comtudo o que lhe dá prereroncia sobre a metrópole c a vida e
actividade tanio sobre as aguas, como em terra: o grande numero de barcos e
navios t]ne se apinham sobre as vagas do Douro; as laboriosas massas de po-
vo, que se agitam uas rua s e nas praças, e que apresentam o quadro de uma
cidade commcrcial cheia de vida e de energia, e fifialnenle (pareça embora
iasigniGcante o que vou acrescentar) além de Iodas aquellas corsas, a cidade
possuo lambem uma torre. Saudei pois com um sentimento de intima recor-
dação pátria a torre dos Clérigos, essa que no Porto se diz ser a anica torre
do Portugal, e quo elleclivameate, á excepção das duas torres de Mafra, é a
mais alta do paiz.
•É verdadeiramente encantadora a perspectiva que se gosa cm muitos
pontos, especialmente no passeio chamado das Fontainhas, d'onde se descobre
o vallo do Douro e o convento da Serra, e que fai lembrar os bretães de Ii«s-
pantia. Visitámos lambem o celebrado Preixo, que oferece uma vista mages-
losa da cidade o do rio; a montanha da Arrábida, o Hospital, de qoe só está
edillcada a quarta parte, e que, so so conclniss^, seria um dos maiores do
mundo, c linalmento o convento de Santo António.
•Ê maravilhoso o panorama que do alto da torre dos Cleri^ros se observa.
Descobre-se o curso do Douro ató ao mar além da barra, e vé-se o caslello e
pharol de S. João da Fux, O horisonie é limitado para o lado do norte pela
Serra de Vallongo, e por encostas verdejantes vé-se serpear o rio até perder-
se atravez das montanhas vinhateiras. Descobrimos umbem oa v&slos arma-
tusti da companhia, onde se deposita o vinho, e d'oDde é exportado para to-
das as legiões do mundo.
•Foi somente ao luar que «s dunensões do Porto nos pareoeram grandw
e mageslosas : a cidade alta, e a cidade baixa com as suas doas collinas da .
Sé e da Victoria, com os seus baiiTOs, e na esquerda Gaia e Cabeçudo prokHi-
gam-se em amphitheatro, preeipitam-se do mais alto cabeço da montanha até
mo^olhar-se na soperacie das aguas; e ao passo que as Inies mais elevadas
resplandecem jonlo ás estreitas, as pequenas chammis qoe existem oas mar-
gens parecem submergir*se no teoebiroso rio- •
753) LIFE AND TltAVELS of Joseph Malhiat mrgeím. A natíve of
Portugal. Kilnauork, 1833. (Vida e viagem do cirurgião Joseph Hathias.)
Vem esta obra mencionada no cataloga manuscripto do conde de Lavf^o .
754) LIFE, manners, costume and character of Poiivguese. (Modo de «•
ver, usos, cosíamos e caracter dos portuguezes.)
755) LIFE (THE) of St. Elisabeth Queen of Portugal.' By a secular prial
London, 18S9. (Vida de Santa Isabel, rainha de Portugal.)
jf. 'r. %i
LI 4«
756) LmBERG (JEAN).
E. — Denkwurdige Reiserberchreiburg durch Teutschland, Italien, Spamen,
Portugal^ England, Frankreich die und Schweitz, Leipiíg, 1690. (Víageús por
Allemanba, Hespanha, Portagal, etc.)*
757) LIMBOROH (PHTT.TPPE VAN)
£. — De veritate religionis ChrisHanae arnica ccllatio cum audUo Judaeo :
subjungitur huic libro tractatus cui titulus: Urielis a Costa. Exemplar viiae
humanae. Goade, 1687. (Polemica amigável acerca da verdade da religião
christã com um Jadea : addíciona-se a este livro am tratado, cujo titiido é :
Exemplar da Vida Humana por Uriel da Costa.
758) LINBOROH (P.).
E. — The history of the Inquisition as it has subsisted tn Prance, Italy
Spaini Portugal. London, 1816. (Historia da Inquisição).
759) LINDLEY (T.).
E.—Narrative of a voyage to Brazil, terminating in the seizure of a Bri*
tish vessel, and the imprisonement of the author, and the ship's crew hy the
Portuguese. London, 1885. (Narrativa d*ama viagem ao Brazil, terminando
pela captora de mn navio inglez, e aprisionamento do aactor e da tripulação
pelos portnguezes.)
760) LINDO (E. H.).
E.— The history of the Jews of Spam and Portugal from the earliest times
to their final expulsion from these kingdoms. London, 1848. (Historia dos ju-
deus de Hespanha e Portugal desde os mais remotos tempos até final expul-
são d'aqnelle reino.)
761) UNK (HENRIQUE FREDERICO). Celebre naturalísU âllemão.^
Nasceu em Hildesheim a 2 de fevereiro de 1769. Falleceu em Berlim no
l.'' de janeiro de 1851.
Depois de terminar seus estudos em Groetingue, e de professar as sciendas
naturaes nas universidades de Rostock e de Breslau (1792 a 1815) foi chama-
do para a universidade de Berlia, onde regeu até à sua morte a cadeira de bo-
tânica, e exerceu o logar de director do Jardim das Plantas. Escreveu com
respeito a Portugal :
Bemerkungen auf einer Beise durch Frankreich, Spanien und Portugal»
Keil und Helmstaedt 1800-1804, 3 vol. (Observações feitas durante uma via-
gem atravez da França^ Hespanha e Portugal.)
Esta obra foi vertida para inglez com o seguinte titulo :
Traveis in Portugal and through France and Spain with a dissertaJtUm on
the Utter ature of Portugal and the Spanish and Portuguese languages by...tranS''
< Firmin Didot — NouveUe Biographie Universelle, yoI. SS."*, pag. 28(».
416 U
laied from the Germam hgJákm BmdOey, Esq. «M Mlev èf -flMKfVMaitfon
Irfndon, 1801, 1 "TOL de m fag.
'Balnui6es6oiÉ<^iQ|iitatft: ^^
Véffag^ ^ Portuffal íepms i797 jÉuguTai tTWpgr/J . :tÊk4 ilin Jhjnf i nr
If eomm^íV dti Portugal f traduit áe Vattemoêd. Puís, t* fitone, aa xm
(1803), 43i pag. O !• volume ó éé^wámm^ÊÊàài^MmBi^Wm^tatJÊiaÊ^
me di^êpreMOa d iitidoi«giiiiile: Voffti§ê^ m' foimi^i^ M^ it
SUIfmamiêgg, irMãtipariL làik4ífakÍÊiimilÊ é'âmmtÊi9
MPi. iPiíi^ en xUi (180Q, 337 pag.
«f
'ííT . f . /..«^-M s«»
ll»)rMMtfo » eeta olNpa eoata-nde litOc^^
«Que sendo o coode de HoffioMoepgg i»É dèk m§in dtrtiiatoiWfliidigii 4»JMk
toria natural, resolva faier uma viagem aPort^gil em 1707 e 06^ dee^aade
Mraeompanbadodeiiai lUterato venado mt iMtiiâ» lé^MMÉtolJfaM Sie a
lÉPtâna ^ Ke agiMar^iraeete^m, e €flitoageáiD»iada JijÉai^dm^Mto^
Bo ?erik> de 1707. Yeitfoe àmMiffémaiB^tÊátÉÉMê^m^t^^
nos obrigaram a ftmdear em Romney, oode deixámos nosso mffo para eoMtf-
noarmos por terra a viagem até Doowes. D-am partlmiispNtSa^^
de lermos atravessado Franga # Hespariha,^ clicgiawi «"PodUiMiiSes^irts
pèreoÉrar enm Inlem esfe^ftòj afilfassámcii m makr|aMia*4éNd1il»iMMi
el»%aóis»liá ttiienf dade dsl^^ eMgstad^me^iMMMibaHAwSMll
eedf V«$ tttbeioaánt deixei BsriQ^
Londres, e d'aqui para Hambnrgo. O eonde de HofRaaansi^MSftaaBpJii
fesidencia no interessante Portugal, d*onde me retirei eom pesar, e elle ainda
allí está occupado a visitar cuidadosamente todas as curiosidades para enri-
queeer a historia natural com as differentes descobertas que Portugal pode
oflèrecer.»
A descríp^o da viagem «m Portugal começa na pagina 165 do 1.* volu*
me da traducçao franceza, e a i29 da ingleza, sendo as laudas antecedentes
destinadas para a narração de uma viagem na Inglaterra, França e Hes-
panba.
O nosso viajante entrou em Portugal tendo vindo de Badajoz. Aeba o
vestuário dos portuguezes das proximidades de Elvas muito mais acdado que
o dos hespanhoes. «Que differença entre o povo ordinário de Badajoz e o de
Elvas I Paliarei ainda muitas vezes do povo baixo de Portugal.^ Recordo-me
sempre com prazer das horas agradáveis que passei n'aquelle povo sensível,
e achar-se-ha minha opinião bem differente da de outros viajantes que nio vi-
ram mais que Lisboa, ou que não se entregaram ao trabalho de aprende-
rem a lingoa portugoeza. <
«Bem depressa perdemos de vista os bellos arredores de Elvas. A maior
^ Versão fraDceta, vol. I.», pag. 169.
' Mas a verdade é que Link também apenas a sabia mui superficialmente, e & prova
está em mandar pronunciar Azeitão AscitoanouQy e em censurar a gramm&tica porta-
gueza.de Meldola, porque seu auctor emprega n'ella infinitos terminados em em. Link
certamente ignorava a regalia que tem a língua portugaeia de ter infioitos TariaTeís.
LI 447
parte das villas e aldeias estão disseminadas por aqui, e por acolá como ilhas
encantadas n*am mar imroenso.»
Depois de passar por Estremoz, Arrayolos, Monte-mór-o-Novo e oatras po-
voações, não se esquecendo nunca de descrever os arbustos mais notáveis,
que encontrava, chega finalmente á capital do reino.
«Nada mais bello que a vista de Lisboa, quer a gente venha de Aldeia Ga-
lega, quer de Cacilhas : não conheço nenhuma grande cidade de aspecto tão
imponente! Uma bacia d'agua immensa, formada pelo Tejo, que tem muitas
vezes mais de duas milhas allemãs de largura, e que se acha todo cheio de
embarcações : uma cidade magestosa, que se estende em amphitbeatro sobre
coUinas, as quaes bordam o rio; grande numero de zimbórios, os arrabalde»
semeados de casas de campo, conventos, jardins, olivaes, tudo isto forma um
todo extraordinário e um aspecto magnifico! Pode-se contradizer aos porta*
guezes quando em seus passeios pelo Tejo consideram Lisboa a maisbellaci*
dade do universo: Quem não tem visto Usboa, não tem visto coisa boa f Real-
mente, em nenhuma parte existe uma vista egual! Os cães do Terreiro do Pa-
ço, onde abordam as bateiras e barcos pequenos são magniflcos, e excedem
infinitamente os de Londres o de Paris.» ^
Lamenta depois a falta de divertimentos que havia em Lisboa, diz-nos po-
rém, que a Opera italiana era um dos principaes divertimentos das pessoa»
distinctas.
«É sustentada não somente pela corte, mas até pelos particulares. Na occa-
Sião de minha estada era excellente a todos os respeitos. Os cantores doeste
theatro flzeram-me insípida qualquer outra musica. Tinha elle attrahido os
melhores virtuosi de Roma, que emigraram na]occasião da tomada d'esta ci-
dade pelos francezes. Grescentini eclipsava a todos os outros. Basta nomeal«o
para quem conhecia a Itália, que antes de suas ultimas devastações era a pá-
tria da musica. Em Lisboa não é permittido ás mulheres representarem em
scena, mas são substituídas pelos castrados, que são excellentes. Com isto per-
de-se pouco, a não ser pelo lado da imaginação. Confesso que a opera tem sido
noeu principal divertimento em Lisboa. A sala é grande e beila; reina alli nma
ordem admirável : o cuidado dos directores em que os espectadores estejam
collocados convenientemente é um exemplo digno de seguir-se. Muitas veies
representam operetas portuguezas, mas que não passam de farças. N'estas a
lingua portugueza frequentemente oíTerece encantos na bocca de Zamperíol.
Além do theatro da opera, cuja designação é de S. Carlos, ha também uma co-
media nacional no theatro do Salitre, o qual fica n'uma rua estreita por de-
1 Apesar d'es(e e de moitissímos outros elogios que Línk fax a cada passo das coi-
sas portuguezas, o nosso medico Francisco Ignacio dos Santos Crux dix a pag. 18 do to-
mo 1 ." do seu Ensaio sobre a lopographia medica da cidade de Lisboa que Link fora o
mais mentiroso e embusteiro de quantos viajantes teem visitado o nosso paiz. Talrex esta
apreciação seja injusta, roas a verdade ó que este viajante claudica por veies; pelo me-
nos a respeito da nossa moourneatal egreja de Belém falia como quem nunca lá eolrou,
e quer improvisar.
iw LI
traz do Passeio Poíilico. E' pouco frequentada da DObreza. Pela sua apparim
cia Ião mesquinha ficámos pouco dispostos a Tavor do espectáculo. Os papeis
de mulber são egualmente desempenhados por homens, aos quaes não costa
pouco eae^ndcr a barba. Os ariures em patle são artistas. Vi unt sapateiro que
depois de trabalhar lodo o dia, Tazia do velho, e não era mau actor. A maíoría
das peças aqui representadas são traduc^Ccs do italiano, poucas traduzidas de
outras lingoas, o ainda maias as originaes. Nunca vi, quer representado no
theatro, quer anaunciado no^ cartazes, o papel de gracioso, e todas as peças
sérias são más ou mal desempenhadas. Nada mais detestável qne o galan n'este
Qieatro. As peças pequenas são ainda mais miseráveis qne os saitiflf* hesps-
nboes. Mão 96 conheço aqui a toniidUla. Porém entre as comedias de apparalo
algnmas nao deixam de ter merecimento. A nação era geral propende para a
satyra e critica, e a lingua presta se facilmente á imitação cómica. Vi com
muito gosto a imitação do Brother of Jamaica, qao lambem [oi imitada do ^-
lemão com o litoio de O Primo de lúboa. Alguns papeis foram superionnenle
representados.
• O Jardim BoUnico está exeellenlemeate situado. Goza-se d'alli uma vista
deliciosa, ao mesmo tempo do rio o do mar, e donde sa descobre, como do
Jardim das Plantas de Paris, uma grande parte da cidade. >'ão é vasto, as es.
tufas mesmo são pouco espaçosas, mas teem um excellente lago para as plan-
tas aquáticos. Sua distribuição exterior é elegaute, de maneira qoe não deixa
de offerecer interesse a um botânico. Plantam-se «'este jardim os vegetae3,que
O acaso offerece, mas deixa-se o cuidado e a cultura ao clima, maito favo-
rável ás plantas. Não so deve, todavia, e^^perar fncoisirar neste esiabeled-
menlo tuna boa indicação dos ihesouros que enceira. 3e pedis esolaregimeií-
Ms, o professor Vandelli ahre-vos o Systema Vegetabtítum de liuneo <edíçã»
de Morray), a, ainda que a descrípção que se lhe apreseDli, tesbi poãu
analogia com a planta de que se irau, não baaita um memento em lha ■»-
siguar um nome. Finalmente- este doutor Vaudéllí, nascido lu Itália, é eò-
nlieeido doa naturalistas por algumas obras, mas prineipalmeate por soas
rdaçSos com Linneo. Não se lhe pôde negar ter sido na sua mecUjitde an
homem estudioso, e ter emprebeudido muito para ganhar cddMidade. Bn-
tedera foi seu mestre de botânica. Durante o governo do Pombal M cftà-
mado de Pádua juDlamente com o italiano Delia Bella para ensinarem em
Cofmbn. D'aqui vein para Lisboa com o titulo de primeiro fai^»elar do
mosea e do Jardim Botânico. Além d'isto foi aggregado i aula de eommr-
do. Por differenles meios soube obter um rendimento annnal da laaie da
otto mil enuados. Porém acha-se bem alraiado em confaeelmenu». Apenas
conhece as plantas, que outr'ora elle mesmo descreveu: é ^ualmente mau
mineralogista, a suas memorias de chimiea insertas nas Memoriai da Acode-
nãa cobriram-no de ridículo aos olhos dos sábios. Poder-lbe-hía perdoar soa
ignorância, se não se mostrasse (segando se diz) invejoso e iototeranie para
com os que pelo seu mérito estão acima d'elle.
•O segando conservador do jardim é D. Alexandre Rodrigues Perreira,
do qual unicamente se poda dizer que esteve mtuto tempo no BratX ti goteik'
LI * 449
Depois de ter visitado maitas povoações n'este reino, dirigia-se Link para
Coimbra, e entre tudo que via, falia com mais particularidade acerca da Uni-
versidade.
«O gabinete de Historia Natural é pouco considerável, c poucas coisas
notáveis contém. Está classificado por Vandelli, segundo o systema de Linneo.
Porém a coliecçao de instrumentos de physica é preciosa, e entre elles alguns
ha feitos na Inglaterra. Os construídos em Portugal pela maior parte sâo fei-
tos de pau santo e dourados. Esta coliecçao em geral é uma das mais brilhan-
tes. Este gabinete é precioso em tudo quanto diz respeito á mecbanica, mas
muito pobre em machínas eléctricas. O laboratório de chimica é egualmente
bom, vasto e muito claro. Além de tudo que diz respeito a um laboratório tem
ainda instrumentos pneumáticos e uma coUecção de apparelhos chimicos se-
gundo a nova nomenclatura antipblogistica. Encontra-se alli também uma col-
iecçao de instrumentos de cirurgia.
cO observatório é bem construído, e está situado na parte superior da ci-
dade: é commodo e bem distribuído, mas carece de muitos instrumentos.
tO Jardim Botânico é mui vasto, e as estufas pequenas; mas pelos cuidados
de seu director Félix de Avaliar Brotero, lente de botânica, este estabeleci-
mento foi superiormente organisado, e é mais interessante que o Jardim Botâ-
nico de Lisboa. Acba-se junto de cada planta uma estaca, na qual está escri-
pto seu nome, distribuição similhante á do Jardim dâs Plantas em Paris, do
qual, á primeira vista, parece vér-se uma parte. Além de varias plantas exó-
ticas encontra-se alli uma còllecção das notáveis, que o digno inspector obser-
vou e descreveu com muito cuidado. É certo que nenhum amador deixará de
visitar este jardim sem fructo e prazer.
«Finalmente os estatutos da Universidade de Coimbra não sáo para despre-
zar. No dizer de juizes competentes esta é preferível a todas as universidades
de llespanha, sem exceptuar a de Salamanca. Ha na Allemanha muitas uni-
versidades, que em quanto á sabedoria de seus estatutos nào valem esta, que
em geral se despreza.
«Travei conhecimento com vários lentos, mas nào me cumpre ajuizar de
sciencias difterentes d'aquellas que professo. Achei n' elles espíritos previden-
tes e sagazes, a quem a polidez portugueza ainda tornava mais amáveis. Co-
nhecem a liueralura franceza e ingleza; seria porem exigir demais que tives-
sem conhecimento da allemã. Na livraria de fr. Joaquim de Santa Clara, be-
nedictino e lente de theologia, homem discreto e erudito, encontra-se a litte-'
ratura allemá, mas só até i730. ^
«Eu teria desejado conhecer todas as sciencias para poder apreciar bem
o mérito dos sábios lentes da Universidade de Coimbra. Sou amigo do Félix
de Avellar Brotero, professor de botânica. Seus conhecimentos n'esta scíencia
sáo preciosos. Nas suas viagens em Portugal applicou-se particularmente a es-
tudar as plantas d'este reino, e augmentou consideravelmente o Jardim Botâ-
nico. Respondeu quasi sempre a minhas perguntas de uma maneira satisfac-
toria. Posso com rasáo incluil-o entre os melhores botânicos de todos os pai-
zes que tenho percorrido; o o que mais ó para maravilhar, tem mellior eslu-
TOMO I 29
l^ftdo búlanicA, qoa muitos ouiros sabias mais conhecidos, e qii>! rec«bem a^us
.^nhecimenlos dns graodes í» folio, oa que nada mais conbcceoi que o género
e a espécie de que fazem menção etn soas obras. A introdac^ão á Botânica de
llBrolero ■ escrípla em portugaex prova qae elle possue tanlos conhecimentos,
I I» mailo maior racilidade em fazer-se senbor da todas as descobertas, do que
I jQdas os sábios de Ãllemaoba que traUun do mesmo assumpto. Bralcro conhece
1 ^ obras botânicas allemãs. Residiu oilo annos em Paris com o ILm de caliivar
^sciencia, motivo pelo qual seus collogas llio dão mil desgosioá. Eslá minado
peU magna a (risli^a. Vaadelli afaslou-o de Lisboa por causa de seus gran-
I 4ss oonhecimenlos, e achou meios de obter para D. Alexandre, homem sem
. iõelracEão, um logar que era devido ao mérito de Urolero. Recordo ma com
I 'jgfaier de nossos passeios botânicos em Coimbra. Apenas conversou comuosco
ffiir meia hora, e viu nossa cuIlect^LO, que, cônscio de seus conhecimentos, pro-
' jKH-no8 iinmedialamcoto um passeio. Era um esiieclacuio encantador ver 6
I Bontir augmentar diariamente a estima, quo uos prendia mutuamenl^.> *
^^ «Acabo do saber que este digno amigo foi chamado para Lisboa, e que o
\ fs/nás de Caparica lornou-o a pi}r em ai^tividade, e reanimou sua câragem.
' ^ , iD. Constanliuo Botelho de Lacerda Lobo, professor de physica, não valo
I .^roleco, Palia muito, mas é superãcial. Até seus conhecimentos em physica
' jfia inuito medíocres; porém, em couipe^nsa^ é muito laborioso, e culliva
'^m fructo as scienciaa aconomicas. A Gcoiuimía e outras sciencias qua faiem
[ «lacrar Tracto immoJiato e promplo sào actualmente muito cultivadas em Por-
Llggal. porém as mnsas repellem estas occupações venaes e mercenárias.
' «D. Tboraé Rodrigues Sobral, proftssor de chimica, c homem muito hábil.
Conhece os processos actuaes dos francezes n'e3ia sclencia, a qual ensina a^
gundo os novos princípios anliphlogisticos. Até mesmo traduziu auaDomaocU-
turaemportuguez: occupa-seaclualmeoieempnblioarumlfiuiualiíeCJknuca.
' Gelo Campendio di Boíaflica loi impreuo em Paris do »ddo ds 1788, canUodo o
1." loluma ni paginas, a o i.° ill de 8.* graoda. A iDlraducçao, qaa cousU ds 76, 1
noito inlere^sanlu c inilructiva. Traia da arigem, prograsso t eilado, i)'aqneUB laMpo,
da botânica.
No prulo^o íai etogÍDs a Domingos Tandelli •cujo morecimwlB é bem oxibecidn
ou principaea academias da Europa. Este sábio rettabeleceu nSo i6 & botaaiea mo P«r-
iDgal, ma.4 aiml.i a zoologia, mioeralagia «cbimica, dequatoi egnalmente BomMit pr»-
ftnor pelo Senlisi D. José 1. (pa^. 73). Isto ao pasto que Liak DOt dii qsa ai obrai
dt fandelli o tinham coberto da ridículo oa Europa. Creio, porém, qne Vandalli bmi
•ta lao igooranio, oem (ao presumido coDto o viajanle alleiaio Dot-o teproMDla. Pnibal
nuDM cliamou ignoraalet para eela paii.
O S.* Yotume termina com uma grande porç3o de estampas coloridaa nprcsmlaado
nuila variedade de plantas.
' Brotero, perseguido pela inquíMçSo, tugiu em 1778paraoHavre, lendo alcaaçado
'pusa^iini BiQ ""i navio por diligantias de TbJmotbeo LecuKan Ventier. A Sociedade
dfli CurioMi da NalureiB de Biinna conferiu-lbe em 1818 o lituln de aocio, a o laadoa
com o appellido de Clusio por allusio ao celebre bolanico flamengo, que foi dot príueírM
que litilou como botânico a pen insula. Por espajo dedoie annoe frequentou as anlaida
sciencias naluiaet em Paris, ganbando a affeiçSo de Vicq d'Aifr, dAnbentoa, BtilM*
LI 451
«N'uroa palavra, Portugal possae homens conhecedores do estado actual
da litteratura : ha excellentes cabeças, mas é difiQcil encontrar n'este paiz sá-
bios profundos que cultivem as sciencias unicamente por amor a elias.
• •
«Os arredores de Coimbra são de uma bellesa ex traordinaria, e apezar de
montanhosos nâo deixam de ser bem cultivados. As montanhas são coroadas
de pinheiraes e até de carvalhos de Allemanha. Os valles são cortados pelos
ribeiros, e cheios de jardins, quintas, casas de recreio e conventos. A olivei-
ra, larangeira e o bello cypreste de Portugal encontram-se alli por toda a par-
te e em grande numero. O Mondego, que baftha as muralhas da cidade, ser-,
penteia magestosamente n*uma planície estreita, mas fértil, inundada no in-
verno por este rio impetuoso. Ao longe descobrem os olhos de um lado a alta
serra da Louzã, e do outro a do Bussaco, em cujo píncaro existe o celebre
mosteiro dos Carmelitas.
«Defronte de Coimbra, na ma rgem do rio, está uma quinta, que ainda hoje
tem o nome de Quinta das Lagrimas. Aqui, seg undo a tradição, foi assassi-
nada D. Ignez de Castro. Ignez e D. Pedro pareceram conhecer bem as belle-
zas da natureza, escolhendo este lindo sitio, onde Coimbra se apresenta á vista
em toda sua magniOcencia. A quinta das Lagrim as ofterece no valle um le-
gar favorável ao espirito romântico, e se em Portugal a poesia apparece ainda
em todo seu fulgor, deve-o a este lindo valle.
«Uma circumstancia notável é que o bello assumpto da morte de Ignez nun-
ca forneceu entre os portuguezes matéria para uma excellente composição poé-
tica. Esforçaram-se, é verdade, para a porem notheatro, mas o assumpto não
se presta a isso sem grandes alterações. Ignez, por Lamotle, é uma tragedia
esquecida, e digna de o ser. Creio que uma tragedia ai lema, d*este nome, que
6 Jussiea. Assistia ao curso de Historia Natural aberto por Valmontede Bemare em Pa-
ris no anno de 1781, e ás demonstrações de botânica nocollegio de pbarmacia, o foi ad-
mittido á convivência e sociedade de Buffon, Gondorcet, Guvier e Lamark. Depois dos
principaes estudos de Historia Natural foi doutorar-se na escola de medicina de Beims.
Na primavera de 1790 voltou para Lisboa, e em maio d'esle anno foi convidado por Yao-
delli e pelos viajantes russos Legaway e Doubat Gbewi^koy para uma berborisaçio nos
montes visinhos de Lisboa, convite que acceitou. Foi sócio da sociedade Pbilomatica de
Paris, das sociedades de Horticultura) Linneana, e Medico-Botanica de Londres, da Pby-
fliographica de Lunden na Suécia, de Historia Natural de Bostock, das academias de Tu-
rim, e da sociedade das Sciencias Naturaes de Marburg. Os mais díslínctos botanieos
d*aquella época consideraram como um dever tributar-lhe a homenagem mais lisongei-
ra, e a roais duradoura a que a nobre ambição do seu espirito elevado podia aspirar,
designando varias plantas com o nome do nosso illustre compatriota, taes sio a Broiéra
wata, de Cavanilles, e a Brotera trinervata, de Persoon.
• Era amigo do Willdenow, com o qual manteve uma Intima correspondência epis-
tolar por muitos annos.»
Brotero falleceu em 18)4, e jaz na egreja do extincto convento de-S. José de Riba-
mar.—iVoticta Biographica do dr. Félix de AteUar Brotero^ coordenada por um dt«<in-
€to litierato. Lisboa, 1817.
434 LI
EsU ultima Toi [radiizída cm latim cnm o spgiiinlo titulo: PmiagaUiae, »ivf
de Regi$ PortugcUliae regnis et opibus Comitienlarius, 1641. Ex offlcina Kl-
zevcriana. Foi [anibeiu esta obra viTlMa para bollaudez. Amílerdao, 1638.
V, Bry e Mertani-
-Qj LIPPE (CONUE DE),
Nasceu C[u Londres do anno da I7j4. ' Di3tiDg:uiii-se em varias cainpipj
ntias na Europa, e em 17C3, rompendo a guerra de He»panha contra INrrtik^
gai, encarregou- se, por in[erveni;âo de Jorge 11, rei de laglalerra, do comm
do dos e:iercito3 alliados, íaglez p porlugacz. RetJrou-se para os «eus eslalM |
em 1766. Fallccea um setembro de 1777.
Em 1767 veia a Portugal para velar nas obras do Torle de Noi'sa Senhora d)
Graça, por ello então projectado janto de Elvas- *
No 3." vol. do Inresligador apparecem mencionados as soguínleii obr
d'este celebre gâncral.
í. Obttrra^s e manfira Úípór em pratica a disciplina militar j
moio»' tfçuratiça de Porlugat. (De pag. 379 a 397.)
U. Extracto do nma carta do conde de Lippe. datada de Buckd)arg a W'
de abril de 1776, em resposta a uma do marqnez de Pombal cm que este mi-
nistro o informa que Portugal eslava ameaçado por Uespanha, e exprimindo
seu receio pela situação da familia real em Lisboa, datada a 12 de março da
1776. (De pag. 548 a 551.) j
in. Extracto 2.° dn outra cana do mesmo coiiiIií dii Lippe ao marquei da 4
Pombal, datada a 25 de maio de 1776, contendo algumas addições ã pnco-
dente carta de 20 de abril do mesmo anno. (De pag. 651 a 553.)
IV. Extracto 3.° de outra carta do mesmo conde de Lippe ao marquei ée
Pombal, datada de Buckeburg a 30 de deiembro de 1776 (De pag. 6S}
ft5ã4.)
V. Memoria inédita do conde de Lippe s<Are a campimha de Portugal em
1702. (No 3.° vol. do Investigador Português, de pag. 67 a 81. ContinflA do pag.
144 alã 366)
764) LISSABON und seine umgebungen, de. (!jsboa e seus arrabaldes,
com uma descripç.ío resumida, estalistica e topographica de Portugal, prece-
dida de uma vista de Lisboa, de um plano d 'esta cidade, e de um mappa de
PMlugal.) Leipiig, 1808, S.°
76fS) LIVE o{ the most literary and saentific men of Italy, Spttín imi
* Revisía Vittvtrsal Liibovcnse, vol. S °, pog. 0i9.
> O conito de l.i|ipc linha na capital doa sous eslados um Uga cuja circurofareaeia
pouco tilais ou mPiios cru Jc uma Icgua, e na meio linL.i unin pequena Ilha em quu fn nn
pequono forle, que paliou pnr modela de fartilicacSn. Gralo t munificência do Mnbor ttí
D. loBé I, no dia iiatalicio d'esle augúrio e esclarecida monarcba, o conde de Lippe daii
descargas de arliiberin com as pcçai de oiro maiiiro qug o grande ntonarcba porlugun
Ibe tinha dado, enlrc muitos outros riquissímoí presnite», na «ua despediria de Portngal
para os sou; cílados de Allcmanha. Inruiiijaior Purlwjmi, vol. 3.°, pag. d18.
U 455
P&rtugcd. London, 1835. 3 vol. (Vidas dos melhores litteratos e homens do
sciencia de Itatia, Hespanha e Portugal.)
766) LTVES of the most eminent foreign stalesmen (PomòaVs memoirs,
duke of Lerma, dtúce of Ossuna, count Olivares, ele). London, 1832, 5 vol. (Vi-
das dos mais eminentes estadistas estrangeiros).
767) LJUNGSTEDT (SIR ANDREW, KNIGT OF THE SWE
DISH ORDER WAZAJ.
E.—-An historical Sketch ofthe portuguese seiUements tn China; and of the
Roman Catholic Church and mission in China by — , A supplementary chapter,
description of the cily of Canton, republished from the Chinese Repository, with
the Editor' s peimission. Bostofi James Munroe and Co, 1836. 8.<> gr. 3â3 pag.
e 18 de índice. ^
O meu exemplar traz as seguintes estampas : 1.* Mappa da cidade e porto
de Macau.—2.* Plano da cidade e porto de Macau.— 3.» Cidade e arrabaldes de
Cantão.— 4.* Epitaphio em lingua portugueza e chineza, que se poz em 1639,
no sitio onde enterraram S. Francisco Xavier.
Apresenta o auctor uma lista das obras, de que se aproveitou para a com-
posição doeste seu trabalho, e confessa ter-se utilisado também de muitos ma^
nuscriptos salvos da perdição pelo bispo de Pekin, D. Joaquim Saraiva.
«Tendo os portuguezes sido os primeiros que (pag. 1), pelo fim do xv se-
colo dobraram o Cabo da Boa Esperança, as asserções dos annalistas e via-
jantes de que durante o reinado de Hong-che, imperador da China, que mor-
reu em 1504, os europeus commerciavam em Ning-po e Cantão, devem ser
gratuitas e faltas de base. Os portuguezes, tendo-se senhoreado em 1510 de
Goa, na costa occidental da Ásia, o valente, mas^ intolerante AfTonso de Albu-
querque, estendeu em 1511 por conquista a auctoridade da coroa de Portugal
sobre Malaca, n'aqueile tempo um empório commcrcial de primeira impor-
tância na Ásia. D'alli com licença de Georgc de Albuquerque, capitão do lo*,
gar, Raphael Perestrello tomou em 1516 sua passagem a bordo do um junco
chinez: d'aquelle paiz trouxe mui escassa informação, mas ganhou grandes ca-
bedaes com a sua aventura. Seu bom resultado deu origem a uma empreza em
maior escala. Quatro navios portuguezes, além d'um outro pertencente aGeor-
ge Mascarenhas, e quatro embarcações malaias foram postas de verga d'alto,
debaixo do commando de Fernão Peres d'Andrade, que em 1517 entrou no
golpho da China. A vista de navios alterosos e estrangeiros e a physionomia
da tripulação inspiravam receio; seguiu-se a confiança pelo seu moderado
comportamento, e principalmente pelos generosos presentes dados pelo com-
mandante aos oíficiaes dos cruzeiros imperíaes.
^ Gosta e Silva no seu poema O jiastexo faz elogios a esta obra. Algumas pafisagens
porém 8Ío censuradas na Historia de Macau por José Mnnuel de Carvalho e Soma. Ma*
cau, 1845.
4uC tjJ
• Us mandarins deram Tavoravel íarorinaçÃo d'elle: fonsenliram qnc seus
lUTíos ancorassem em Tamao, o iinico porlo no qual se permiitú aos estran-
geiros comQiciriorem. Gcorge MascarenliiLs, qa^veiu com Andrade no sea na-
vio para Tamau, eacaatraado juncos de Low-kew ancorados, deleniimou em-
barcar-se c'i'lles 6 vi3ilar a costa urjeoial da Ctiitia. Sem duvida tocoa D'aJgDiis
portos Jas provindas de Fuh-keen, e abriu o caminha a seas eonciâadàos
para um proveitoso commercio. Este comei;úu mui provavelmente poaca de-
pois da expulsão dos porluguezes de Taman om IS21. Por alguns aanos são
podiam 09 porlugueies svenlurar a moítrarum-se sem grande periga no f^l-
pho da China: toda sua actividade commorcia] devia portanto ocmpar-ae nos
portos orienlues du imporio- AJli, como em outras parles, os mandarins eram
connivculcs nas transau^úM etn bu»:a àn omolmneiilos, até onde podiam. For-
mou-se fmalmcnte um ompurio om Liampo oa Ning-po. Para estudo d'e5U lo-
calidade pode ser de alguma utilidade as PncjinnOfõfs Jf Fernão Mendei Pm-
iQ,. as quaes foram traduzidas um inslez e publicadas em IfiSU por U. C. (ient,
que n'ama deteia apologética refutou a imputarão de ser Pinio o príncipe do«
lueiitirosos.
• Em seus dias de esplendor e prosperidade (pag. 3} Liampo tomou-sc nm
asylo para os povos da Cliioa, Siam, Bomeo, Lew-kew etc. contra os pirata<,
que em grande numero percorriam o mar. Aquelle logar tinha estado llores-
cento por muito lempo, mas lornoa-sc esoe.^siv amento rico desde ISil, por
uausa do commercio com o Japão. Tinha duas egrejas, uma alfandega, dol«
búspitaeK, B para cima de mil edincios particulares. Poriím a distruiçâo <l'este
loitai' íihi devida a Lançarula Pereira, o ouvidor. Tíndo vendido varia* raíen-
das a um cbinez que lhe não pagou, cabiu com alguns companheiros aobn
uma povoação próxima, onde roubou e matou i sna vonude. Os habitanlei
d'esu povoação, tNido-se queixado ao mandarim, este mandou arrasar Uam-
' po, em 1542.
•Os portuguczes estabelecidos em Cbincbew também d'aqai foram dõita'
dos fora em la^9 por causa de queixas, que d'elles tinham sido feitas aos
mandarins
■Em 1554 fecharam os mandarins o porto de Tamáo, concentraram todo o
commercio estrangoiro cm Lampacáo, e uma carta enviada á companhí» de
Jesus nos aswvcra que quinhentos ou seiscentos portuguezes estavam cons-
tantemente commerciando n'estc logar (pag. b).
•Em minha opinião ó mais seguro attribuir a posse de Hacaa (pag. 13) ã
bondade imperial, antes que a conquista; porquanto oa conquistadores ver-
sc-biam obrigados a dci.\arem o logar, bastando para isso somente que o go-
verno chinez manda!<se aos com me rei antes, operários e serventes que deitas-
sem suas orcupações, e se retirassem, não fornecendo provisões aos habi-
ta utes.
Seguem-so depois os seguintes assumptos: Cap. t. Narrativa histórica ie
Vacaii, pag. 10 a 14. Cap. ii. Descrípçuo lopographica, pag. lS-16. Cap. m.
Ditisãú de Macau, pag. 17-23. Cap. iv. População, pag. 36-43.
lOsrcisdePúriagal (pag. 148) pretcudcm, cm virtude de bailas â«Gr^(K
LJ 487
rio Xn e Clemente VUI, qae nenham ecclesiastíco passe da Europa à Ásia,
senão por via de Lisboa. É este o primeiro ponto de am privilegio denomina-
do Padroado real. Além dMsto, qae os soberanos de Portugal teem direito de
construírem egrejas e governarem as existentes dentro dos limites de seus do-
mínios, nào somente por missionários e bispos, mas também o de nomearem
sacerdotes para quantas egrejas forem levantadas no mundo pagão da Ásia,
independente de Portugal. Desde o tempo de Gregório XIII até ao de Innocen-
cio XII estas pretenções não tinham sido examinadas minuciosamente; mas
logo que Innocencio decidiu enviar vigários apostólicos para a Ásia, Pedro 11,
rei de Portugal, protestou contra sua missão, pretendendo que elles não po*
diam sem sua licença exercer tal missão na Ásia. Esta questão era de natu*
reza delicada; sua resolução envolveu restricçôes acerca do patronato dos reis
de Portugal, ou sobre a plenitude das prerogativas do papa para enviar motu
próprio apóstolos do Evangelho para quaesquer partes do mundo. Para decidir
esta duvida séria, Pedro II foi convidado pelo papa a enviar um embaixador
preparado para apresentar documentos taes que sua magestade julgasse con-
venientes para comprovarem suas pretenções ao patronato. O enviado adduí-
ziu cinco argumentos, os quaes foram em i680 examinados por Innocencio XII.
Os cardeaes depois de maduro exame, entenderam : i.'' que as bulias pontifl-
eias citadas pelo embaixador portuguez não apresentavam nem vestígios de
que o governo espiritual da Ásia fosse cm tempo algum concedido a qualquer
soberano de Portugal : provavam simplesmente que o rei tinha direito de exer-
cer seu patronato em todas aquellas egrejas que dotara. 1.'* Que para evitar que
os padres passassem pelo caminho das ilhas Philipinas para Asia^ tinham or-
denado os pontifíces que ninguém para alii se dirigisse sem prévia licença da
corte de Lisboa; mas depois que os hespanhoes, hollandezes, inglézes, france-
zes e dinamarquezes tinham estabelecimentos na índia. Urbano YIII revogou
como superíluas as bulias de Gregório XIII e de.oulros, concedendo aos mis-
sionários dirigirem-se para a Ásia por qualquer caminho, que lhes fosse mais
conveniente. 3.« Que era inadrai.<sivel que o rei governasse egrejas christãs em
palzes pagãos, onde não lhes podia dar protecção. 4.» Qae a jurisdicção do pa-
droado da índia portugueza não era infringida na menor coisa pelo papa en-
viando missionários para qualquer parte da Ásia. ò.** Que os arcebispos e bis-
pos, em virtude de um decreto da congregação da propagação da fé, lavrado a
7 de março de 1633 podem nomear bispos m partibus infidelium, para serem
confirmados por Sua Santidade. Depois d'este summario os cardeaes decidi-
ram a 3 e 22 de septembro de i686: Que da delegação dos vigários apostóli-
cos não provinha algum prejuiso contra os direitos de Portugal.
cZelosos da conservação da real pferogativa em 1688 publicaram em Lis-
boa uma ordem que os missionários, para obstarem a ser expulsos da Ásia,
deviam passar pelo reino de Portugal, e prestar j uramento ao real padroado:
decreto ao qual se oppozeram os conselheiros do Vaticano, mandando no mes-
mo aono que nenhum superior do clero regular consentisse que algum de
seus súbditos prestasse juramento: prohibição renovada em janeiro de 1733.
Todavia qualquer procurador das missões, cuja residência em Macau tenha
u
da tar alpuna damora, dave por eansa da-açgtaaiica paaaoal, ékdbaànarm
um BQperíorea, e sobmetter-se ao decreto da LialxML^ -x^ .n .-sjU
. «Vasoo da Gama, tendo sido iram soceediio (|»f«^^i6S), naanaientallti^da
èotoar o Cabo das Tormentas; de estabelecer rdações commefcteoa^aoi @a|i^
ent com os mais poderosos sobwaaos dacosta do Malabar, detniiapoitaryanií^
láUboa amostras dos rícosprodoetos das diffnreiítes partes ^^^
tiBdo por talla de 17 da setend^ro de I5i0 conârmado a oomfaBiyala Jessii^
ppBfia as vantagens qae a Santa^ podia tirar dos feitos doaJasoUaasl^i^pÉii^
ha ifmotpB paizea. PortQgal offereda-Uies qm iaeil ponto do reoaBoí aarite»^
a8inm«m ládH>a e desembarcavam em Goa. D'^aiie^llhi?am4a«MÉ AMéc
lidada peias diffèrentes regi to do Orienta. Prancisao Xavier ^tagio^aa paaat^.
oisnl da^^<3iinai desembarcou am dan-dian» onde moffea noí anaa^ IIBi. Sèêí
damititoino» Gaspar da Crm, começon em âSS$ a prígar saGfalM^naaiBii
aBCptiso. Os Agostinhos bespanhoes, dos qoae^ CaliaGrosier no^relileio^Aaml
BiKrípção dadUao, deixaram aailbas Pbãippinas na oòrapalúiia ieiimâai»!
nivania ddnez» lavando do i^vemador de Manílba orna peti^ para o^ivl^a^ifc
da Fotaken, e também nma para o impwador oom o âm daoa daíxairaattiriBDa
paisT sendo islo negado, retiraram-se os «frades no mesma anuo de tK8.QwK|
iro jcapndiinboSy tendo resolvido penetrar na China, naufragaram am ibaa dea<o
amibéeidasi e salvando-se foram remettidoa para Cantão. OT8nng4ob aiaii*
ian^lhes que voltassem paraMaBilha,sia8 0ttes preferiram ficar enrflftM)»^
è^aio{aram*fle no boqiital dos leprosos (1879)^ Um «mo antes, AlaaiiAria^lil^
Ugnâno, visitador da índia e Ja^, Jesaita italiano^ tocon na soa passagam'!
para o Japão, em Macau, onde passou dez mezes. D'aqQi escreveu a Vicente
Rodrigues, provincial da índia, recommendando-lhe que se dirigisse para Ma*
cati.
«Os primeiros missionários eram todos jesuitas. Um italiano chamado Ifi-
guel Rogiero veiu em 1579 da índia, e começou a estudar a língua chineza, e
em iS81 dizia missa n*uma pequena casa no Cantão. Em i582 foi encarrega-
do de acompanhar como interprete uma deputação a Shau-kíng-foo, e por
sua urbanidade obteve licença do vice-rei para ir à capital. Os missionários
porém somente quizeram ficar era Shau-king-foo, até que era 1589 foram
postos fora. Em 1595 o governo consentiu que Ricci lançasse os alicerces de
uma casa religiosa em Van-chang-foo, a qual ficou ao cuidado do portuguei
João Soeiro. Foi a cbristandade progredindo, e em 1605 compraram os jesui-
tas terrenos em Peking para uma grande egreja dedicada a S. Josephé Foram
porém perseguidos mais tarde, e mandados sair da China, mas Siu, conhecido
entre os christãos pelo nome do Paulo, foi elevado á dignidade de kolas, ou
ministro de primeira classe. Este, seus amigos e os protectores dos proscrip-
tos fizeram persuadir que a dynastia poderia cora a poderosa ajuda de Macau
ser protegida contra os tártaros, pois os portuguezes eram ariiilieiros experi-
mentados: seus padres, se fossem admiUidos^^ serviriam a sua raagestadc com
seu talento, e os soldados cora seu valor; de sorte que nenhura iiliraigo jamais
seria bem succedido era fazer uraa durável pressão sobre o império. O mo-
narcha illudido aunuiu. Novas chusmas de jesuitas se espalharam pela Chi*-
na, e entre elles o mais notável pelo seu zelo e conhecimento das mathema*
ticas, era um allemão John Adam Shal.
«Foi a este que o tártaro Shun-che encarregou de reformar o calendário,
o que o jesuíta fez com tanta satisfação d\aquelle, que foi nomeado presidente
do tribunal de astronomia. E foi-lhe concedida licença não só de fundar na ca«
pitai duas egrejas, mas também de reparar algumas que na província estavam
raindo. Novos missionários vieram para a China, e a protecção real durou até
i66i. Mais tarde vieram frades d'outras ordens, e estes entraram a questionar
com os jesuítas, e pretenderam destruir a ordem politica existente. Houve quei-
xas e foram examinadas por alguns tribunaes, e estes proferiram em 1665 que
Shal e seus associados mereciam o castigo de seductores, por pregarem ao
povo uma doutrina falsa e perniciosa. Shal morreu de pesar. Y^rbiest e ou-
tros esconderam-se, e muitos foram expulsos da capital e províncias da China.
«Kang-he, tendo tomado as rédeas do governo, empregou Yerbiest, e
fel-o director do tribunal de astronomia. Este jesuíta resolveu dirigir um pe-
dido a seu soberano para que os missionários banidos do Cantão fossem au«
ctorisados a entrarem em suas respectivas egrejas. Foi concedido por um es-
pecial favor em 167 i, mas com a condição de que nenhum chinez abraçasse
o chrístianismo.
«O marquez de Louveis enviou quatro jesuítas para a China, dois d^elles
Gerbillon e Bousset foram pela recommendação prévia de Verbiest em 1688
admittidos na corte à sua chegada. No anno seguinte Gerbillon e o portuguez
Pereira acompanharam como interpretes o príncipe Só-san para se encontra-'
rem nas fronteiras com um plenipotenciário russo, o conde Theodor Alexei-
vich Golovin, com o fim de verem se podiam por meios conciliatórios evitar
uma guerra, seguindo- se d'aqui um tratado de paz e ámisade no anno de
1689 em Nip Chew.
tOs missionários tinham já passado por duas tempestades denominadas
perseguições geraes; uma terceira estava agora em progresso. Passou-se uma
ordem para que nenhuma religião estranha fosse tolerada no império. Porém
depois de muitas dííliculdades foi ainda um decreto assignado a 22 de março
de 1692 auctorísando o exercício da religião cathnlica romana na China.
tAquelles frades, que tinham vindo coisa de cincoenta annos mais tarde
do que os jesuítas para a China, começaram a duvidar se a significação de
certas palavras e ceremonias entre os chinezes podiam ser conciliadas com
a pura orthodoxia. Se bem que um papa tinha decidido que as ceremonias
da China eram de natureza civil^ o vigário de Fuhkeen, Carlos Maigrot,
leve o atrevimento de não fazer caso do decreto de Alexandre VII (1656)
e publicar em 1693 um mandato decidindo que Teen e Chang te nada mais
significavam do que céo material, e que os costumes de venerar Confúcio, e
os mortos, são superstições, inovação que o Santo Officio adoptou, e Clemen-.
te XI confirmou em 1704. Kang-ho não sendo homem, que transferisse para
um papa e padres o direito de legislar, passou a 17 de dezembro uma decla-
ração : que quereria ver aquelles missionários que pregassem a doutrina de
Riccí, mas perseguiria aquelles que segubsom a opinião de Maigrot, e para que
400 LO
a paiz RtiMe limpo da htimKDs lurbuienios n ii)i'pio», mamiou o fmprrailar J
em 1707 que os missionários Tossem snbmetlidos a um exame. Pass»va-ií
depois uma lii^ença a um missionário pura podiT viver ns. China, no casoi^
Dão pregar nem approvar as doulríoas úc Iticrl- SolTrerani depois o$ missi
narlOE ama horrível persegiii(;.ão, mas vm 1781 p<?rmítliu-se-llies Dcarecn ali
aaaa respeclivas egrejas era Pelíine, ou dirigirem-se para Canlão para d'aOM
voltarem á Europa. 'rv
•Depois Gregório XIU confiou o governo espiritoal de ioda a Chins ui
bispo de Ifacau, e o cuidado das missões aos josuitas o portugiezc!. Mas co-'
mo a populai^ de Portugal era muito peiíui^na, e nào podia fornecer o$ in-
dispensáveis obreiros para uma missão ião ampla na Asra, os papas foram
perminindo a pouco e pouco aos rfanciscanos. dominicanos, agostinhos, pa-
dres seculares das missões estrangeiras em Paris, e aos da propaganda mos-< I
Irarem seu devoto xelo nas varias partes da Cliina. Houvâ queixas apresenta- f
das por Portugal, e Alexandre Vlll consânliu que Pedro II, rei d'esia pai^ J
nomeasse Ires bispos, e Hxasse os limites de sua respcuLlva jarisdic<^. As trm-M
dioceses, que Podro propunha, compreheadiam não somente a China, mSÍ
também Tunkin e Coc1)inchiaa, pretensão tão extravagante, qoe o Varirai '
recusou auaoír a elja. Innocenr.io XII annoxou ao bispado de Peking as pra-*
vinciasPeh-chi-]?, Shantimg e a Tartaria Orientai : ao de Mac^u as pn>vrn-
cias de Kwang-tung, Kwang-sc, o o ilha IliLQQan : reservou para si me«ma
governar o resto da China por meio de vigários apostólicos, nomeados peli ■
congregação da propaganda e approvsdos pelo papa. çm
.Em 1810 os i-hriilTms em Ioda a Cliina and.iv.tm por piTlo de 600:00(t» "
768) LO (ALEXIS DE ST.).
E.—Relatioti da voya^e du Cap Vert. Paris, 1637. 8." '
769) LOBKOWITZ (D. JOANNE OÃItAXnEL). — Beligutne Diauam
Ord. Cisler. S.T. Doctore Lovaniensi et Melrosensi Ãbbate. Theologo nasâdo
em Uadrid em 1606, e fallecido em 1C81I-
E.— Ptóíjppu* Pntdens Caroli V Imp. Filius LusUaniae ínãiae, Bnmluif
Ugitimus rex demofistratus- Antuerpiae. £x Ollicina Plaoliniana Ballhasarlt
Moreti, 1639. Foi. 430 pag. com estampas represenando os retratos do rei de
Portngal, incluindo o do príncipe Pernamlo de llespaoha, dos três Phílippts
e da excellente senhora. As estampas são a? mesmas (tirando talvez d
outra) que ornaram a Anacephaleosis do padre Anlouio de VasconceU<»,.p
blicadaem Antuérpia no anno de 1631.
O fim da obra de Caramuel, [mais iMnhci^ido por este doiiib).j|
provar que os poriuguezes devem obedii'ii'
tes dos reis de Portugal e seus legitími > < si
^0 emtanto, quando o livro appareceu ^i l
nba perdido o seu tempo. Publicaram -íi'
bkowilz.
is reis de Castoll^
ssoresnft,» _"
conheceu lo|«"b
LO Ml
770) LONDONDERET (Mabquess op — . G. C. B. etc)
E.— ^ Sleam toyage to Conslanliaopte, by llte Rhine and lhe Damtíte in
1840-41, and to Portugal and Spain, etc. in 1839 bij—.To wlàch is annsxed
tke autfiors Correspondence wiíA prime Meltemicli, lords Ponsonby, Palmers-
ton, etc. In two rotumes. London. Henry Colburn, Publisher. 1842, 8.° gr. O
l.° volume com o relraio do príacipe Meilernich, 334 pag. O 2.° com o de Ab-
dul Mehjid, 354 pag. A viagem a Porlugal vem o"este 2.° volume, e occupa
de pag. 97 a 144. Diz a auetora que o único poriuguez qae Ibe mostrou nm
poucocbioho de civilidade foi o duque da Terceira.
771) LONDONDERRY (Harqdis of and O. R. OLEIG).
E.— Siwi/ of lhe Peninsular War. London, 1858. 8.° (Narração da guem
peninsular.)
772) LONO (CHARLES EDWARD— Eso.)
E. — I. A replij to the mísrepresentationt and aípersions tm the mititary re-
ptttalion of lhe lale Lieui.~Gen.~R. B. Long amlamed in a work enliíled
tFurther Slrictures on those paris of col. Napier's líislory of Peninsular War,
whicli relate lo the tnUitartj opínions and conduct of general lord vitconnt Be-
resford G. C. B. etc accompanied by extracts frota llie M. S. Jourmú ond
private correspondence of Ihal officer, and corroborated by tke furlher testimo-
ny of living u:ilnesses by — London. James Ridgway, 1832. B.', 145 pag.
11. Letler lo general vtscount Beresford G. C. B. in replg to his Lordtkip'»
letter to tlie author relalive to the conduct of the late lieulgentral Long jn tke
campaign of 1811. B;/—. Condon. J. Ridgway. 1833, 8." 150 pag.
Eslo.o dois opúsculos versam sobre varias asserções da historia da guerra
peninsular de NapiíT, a respeiío do general Long.
773) LONGCHAMS (PIEEEE OHAKPENTIER).
E.—Hatagrida. Tragedie. Paris, 1763.
774) LOPEZ D. mODEL OORTÉS T —.).— Académico de la Histo-
ria, sócio de las Económicas do Valência y Terael. ■
E.—Diccianario geografico-historico de la Espaiia antigua Tarraconente;
Bélica y Lusitana con la correspondência de sus regiones, ciudades, numlei,
rios, cawmos, puertos y islãs á los conocidos en nueslros dias por —. 3 vol., i.*
775) LOPEZ (D. THOMAS).
—ISappa ynerat ikl reijiio itc Portugal, 1770.
tre nma brilhante imitação
a .^oal ItagoD copioa nas
'- 187.M1), e se compõe
w* LU
777) LOWE (R. P.)
E.— I. A Munual Flora of Madeira and lhe aãjacenl Islanits. LondoD. '
1862. Creio que existe ama oulr& edição de 1S97.
U. Sinopswi of lhe fiihei of Madeira. Publicada do vqI. 3.', parte 2.* da
obra Tranjfic/íoní of lhe zoolngicai xociely. Loadon, 1837.
III. A Supplement lo lhe Sipwpíis, vol. 3.°, parte 1.*, 1S39
IV. A fasàcuius m a n#io grau» of lhe familg Lrphides~Let Peclorala
ptidiculss, Cuvicr, discovered in Maikira, mmmunicaíed to Ihf Societtj Srpl.
22, tS4C.
V- Synopsis diai}nostka, sive species qiiaeãam iiijcaí mullasmtlorum ter-
reslrium Insulit Madeiretisibw deleclae, noUê diaynoitias íuccinlis breviltr
desoriptae. Londoo, 1032.
7781 LOY (AIMÉ DE).
Nasceu era 1798 e falleceu em 18-11. Heaidiu no Rio do Jant-iro, a vollou
d'alli para Porlueal com o Sm de defeader a causa de D. Maria 11.
D'cato poela fraacez diz-nos St. Qeuve : * iPaiiava e cairrevla o porcugun
maravilliosamenle : o idioma de Camões tioba-se-IIio toruado o idiom.i lavo-
rilo, e passou-se depois muito tempo aolea de poder recuperar a fluidez da
sua lingua franceza.
779) LUCOOOK (JOHN).
E.—Noles onfíio de Janeiro and the Southern paris uf Braxil m 1808-1818.
LondOD, 1820.
780) LDCDER.
E.—Ueber die induslrie tmd Kullur der Portugituen. Berlin, 1808, 8.° (So-
bre a industria e civillsação dos portuguezes-)
781) LUVOLFHI (J.)— Celebre orientalista allemão.
Hasceu em Erfurl no anno de 1624, e falleceu em Francfort no de 1704.*
E.~Historia Mthiopiw sive regni Abyssinorvm, quod vulgo presbijterí Joan-
nis. (ilisloria da Etbiopia, ou do reino dos abyssinios, a que vulgarmente se
dá o nome de Preste João). Jenae, 1676, 4.° Francrorl, 1681. Traduzido em al-
temão por Calebius. Utrecht, 1687. Amsterdam, 1688.
II. Epistdae Samarilanae Sickemitarum ad Ludolfum cum versione latina
et adtwtationibus. Zeitz, 1688. É a resposta dos samaritanos de Sicbem a uma
carta que Ludolf Ibcs tinha dii igido por intervenção de um judeu, porluguei
de origem, mas que h,'vbitava perto de Hebron, e que viera á Europa recla-
mar soccorros de seus correligionários.
' Píflrfliíi ronlfníporrtini, vol. 2.° png. 233. Si. Beute eoDhecia o noíso CímSts,
como se vé a pag. 530 ii'csie mcímo tolume.
' F. Didol.—Biographíe Unirerstllt, vol. 3!.'. fag. 139.
LU 463
782) LUMBERA (FRUTOS MARTINEZ Y).
E.— Espana y Portugal y sus banderas. Madrid, 1874. Folheto. (É ama
explicação das bandeiras portuguezas e hespanholas). ^ 8.^23 pag. O capitulo
4.^' d'esto opúsculo apresenta uma resenha das batalhas em que andaram jun-
tos os estandartes de Portugal e Hespanha. É porém um pouco deOciente, pois
fallando com algum desenvolvimento da batalha de Navas de Tolosa» nem pa-
lavra diz da do Salado, tão gloriosa para as nossas armas.
783) LUNARDI (VICENTE).
Nasceu cm Lucca no anno de 1759.
E.—Viagem aérea do capitão Vicente Lunardi, por elle escripta. Lisboa,
Oílicina de Simào Thaddeu Ferreira, 1794. 4.*, 11 pag.
 referida viagem aérea foi feita por Lunardi em Lisboa, a 24 de agosto
de 1794.
784) LUSITANIAN (THE) sceiies and sketclies, in Portugal. Porto, 1844
(Sccnas e bosquejos lusitanos).
^ Aproveito a occasiâo para agradecer um exemplar que o auctor se digaou offer*
tar-me.
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785) MABF.T.T.TNI (aiOVANNI BATTISTA MARIA PACBBaO|
nttii coabeeido for ¥ A TRfftTTfy> . - V " ''^
. S4»-£0tlre4Í ril^»ui0mfft Ao;^ âe$ Scimices êt íátètmmigmr ieêeíBÊÊ 4M^
Luiiadês. Paris, 1826. 8.% 77 pag. (É am estado s€bteu úaas yrijwinfcedl^
çSes 4o8;Xj»iaAif . O aaetor» qnaado escreveii esta meBMrla^ e» eoi bftlíiK
HMcari» da Bibliollieea da Universidade de Paris. . ^ uo
. ■• ..'- ' . ■ ■ ' . • . . '■ ■ j ^-f --Jí
1 : nfi) JfACEBI (AliOlálO BE €X)][ITIBUS). * i %ti;
FideUssimi adstante sacro Patrum Cardimliutn coUegio in sacra aede Begtíi
Sancti AtUonii-ab-RonuB, 1862. (Oração fúnebre de D. Pedro Y, recitado
Roma na egreja de Santo António dos Portaguezes.)
787) MACKINNON (MAJOR).
E,— Account of the campaigns in Spain and Portugal, from^ 1809 to 1811.
(Narração das campanhas em Hespanha e Portugal).
788) MAOQUER (PHILIPPE).
E»—Abregé chronologique de Vhistotre d'Espagne et de Portugal. Paris,
1759. 2 Yol. Parece que ha uma outra edição feita em 'Paris no anno de 1777,
attgmentada por Lacombe.
789) MADDEN (R. R.)
E. — The shrines and sepulchres of the old and neto world induding notiees
jof the funeral customs of the principal nations ancient and modem Htduding
the Portugal with Ulustrations, London, 1851, 2 vol. (Mausoléus e sepulchros
do mundo antigo e moderno, incluindo noticias dos costumes fúnebres nas
principaes nações dos antigos e dos modernos, em que entra Portugal.)
790) MADDEN (THOMAS MORE).
E.—On change of climate. A guidç for travellers in pursuit ofhealthin
MA 465
Spam and Portugal, London, 1864. (Gaia em Hespanha e Portugal para o via-
jante que anda á procura de saúde).
791) HADRIGANUS (AROHANGBLUS)~Prelado italiano.
Nasceu em Milão, pelo meiado do século 15.'', e falleceu em 1520.
E. — Itinerária portugalèsiu e Lusitânia in Indiã et in ocddeTUem et demum
ad aquiUmem.
No fim : Operi suprema manus imposita est kalendis quintUibus. Ludovico
gcUliarum hujus urbis tclite (Mediolani) sceptra regête. . . . anno nrae salutis,
1508. Foi. (Itmerario dos portugaezes, de Portugal para a índia).
Segundo diz Bninet, esta obra é a traducção d*oatra italiana composta por
Montabbodo Franseano em 1507.
792) MAFFEJI BERGOMATIS (JO PETRI).— Este escriptor jesuíta
é notável.
Nasceu em Bergamo no anno de 1536, e falleceu em Tivoli no de 1603.
Diz-se que consumira doze annos na composição da sua Historia das Índias.
E. — Indiarum Historias.
Se ha obra lida e relida na Europa, è esta uma d^ellas. Provirá porém o
extraordinário numero de reimpressões da Historia das índias PortaguezaX
das bellesa^ de linguagem, ou do assumpto? Creio que era esta a ultima causa,
apesar das versões de Barros e Castanheira fazerem ver aos que nao entendiam
o portuguez, as proezas de nossos maiores. Hoje seria quasi impossível apre-
sentar uma resenha das edições feitas em diversos paizes, por isso menciona*
rei somente aquellas de que tenho conhecimehto: Roma, 1588— Florença, 1588
Leio, 1589— Colónia, 1589— Veneza, 1589— Bergamo, 1590— Colónia, 159Í--
Colónia, 1593— Antuérpia, 1605— Bergamo, 1747. Tenho noticia de uma outra
edição feita em 1688, mas não sei o logar da impressão.
Foi tradnzida em italiano por Francesco Serdonati Fiorentino, impressa
em Fiorenza por Filippo Giunta, e em Veneza por Damian Zenaro, 1589. Bm
Milão 1806, 3 vol. .
Em francez por Amault de la Boirie, impressa em Lyon no anno de 1604,
6 por M. de Ia Puré, impressa em Paris no anno de 1605.
Eis o título da obra no original latino, conforme a edição de Bergamo, de
1747 : Opera omnia latine scripta nunc primum in unum corpus eoUecta,
variisque illustrcUwnibus exomata. Accedit Maffei vita Petri António Serás-
sio auctore. Apresenta esta edição em primeiro logar a dedicatória aordPhi-
Jippe; em segundo, o prefacio; em terceiro^ a approvação; em quarto logar a
vida de Mtiffeo; imagem de Maffei, varias edições e testemunho de escriptores.
Esta historia chega somente ao reinado de D. João III. ^
^ «A edição de 1598 om folio é a melhor. Arnaad de la Borie e o abbade de Pan
desOgararam em suas tradocçOes esta bella historia das índias, tão bem traduzida em
italiano por Serdonal.»— F. Denis^ Chnmiqwt Chwalêresquet d' Btpagnê et Portugal^ 11
TOMO I 30
466 MA.
Vméoá mais donlièdâos Jornaes íníiiMÊ,tmàBãm^^'Wm:9ttk Shno fMi
&*eritafMiiaiiirio Éè éiMkw^
ptaitora Mi&àdft iraria Bis eiii'iW7. Blit liraân^jiD daiWt<ynnéMÉilgi^-
liito-èMAnpK'- V' • • •'■':-;'•■■■ • * -'/v-'-^ ■•-- -' . r ■ ••
cSihMem aittdaalgtiiiiàs testemnsfaâs do le^^
i^teiniflieiíia ao i^rioiellf^do úomxBíbM te 17QBi» rMUs iMtetlMB mÊÊÊÊÊÊà^
m^fmfloàÊÊMÊãm das momlas espslbriai pMaterofif fspils tf isju gitii
te desastre. É lÉteripatoante imwí PJitiPiopifeal IhtnntciasÉr yiiMciiis^líiiir'
iMdres»:^^ s» iaiieciiitraBite dseoaMiiM liuris clrBuuimsiaddi «^méi M-
matieòs. Alli adiamos entre ontns pêçaé tti^Mâttiii o asgotah sMMMaiM ^
tuna earta escripta te Lisboa com teta de 18 de noteníMo te i7tt pífWk
^tmàh<tmtfÊ^ A seroridate e siftgBéMõ teèifâHIte
tetttia maneira estraifta oom o horrnr dos súoeeasos 4qs tetee. > r" «^^ « •*
in<40fetia MM mato ílpeseè^ faa íln rfintrímn; n Hnntiih nii tltlMis ijnÉfHf i
diM^o^Ismpô Unha esiate mirilo olaro o anilo héútíéWopàuâmVimwÊiii^
pilas 9 horas e qnarènte mtontos da mmúAt tm tiaJUrtilimi iumiIhíi^ te iafi "
ii •» òoiir: ptféoea divarimi aedm»teflfeÍDBio^¥ttMi hftifÉÉÉu iitei as
igM||te6oett««tteite tftete^^indttlBte òpai^
igiiirtesabsnm» Nem am sò^oiiAte^itturiterÉv^
fitiB^dis^aiM faniiitent ttvMm^^mesma imç é (Mtevm» nak «tnli ''
moilo moderate» morreimn mais te irtata nál pessoas. O eq^eeiiMli teíK^
pos mortos, os gritos dos moribundos meio sepnltados nas rtifaias Ao snperio*
res a toda a descrip^ : o medo e consterna^ eram tio grandes qno as pes-
soas as mais animosas não ousavam ficar um só instante para arrancar i
morte as victimas encerradas debaixo das rainas : cada um em nate mais
pensava que em se refugiar nas praças descobertas e nomeio datroas. Os
que se acbavam nos andares superiores foram em geral mais féliies te que
aquelles que tentaram fugir pelas portas, pois estes ficaram enterrados debafam
das ruínas como a maior parte das pessoas que passavam a pó. Os trens tinbam
mais probabilidade de salva^ ainda que os cocheiros e lacaios estitessem
muito mal tractados. Porém o numero das pessoas esmagadas nas casas e nas
ruas não foi comparável ao das pessoas enterradas debaixo das minas
das egrejas, por ser dia de grande festa, e na hora te missa lodos os edi-
ficios religiosos, que ^ muito consideráveis em Lisboa, estarem cheios te
fieis : as torres cairam quasi todas com as abobadas das egrejas, te ^ofte que
pouca gente escapou. Quasi duas horas depois do terremoto o incêndio se decla-
rou em três sitios da cidade : era occasionado pelo fogo das cosinhas, qúe o
abalo aproximara de matérias combustíveis de toda a espécie. Por este tempo
lambem um vento muito forte suecedeu á calmaria, e animou de la! sorte a
violência do fogo, que em três dias a cidade ficou reduzkla a cinzas. Tbdos
os elementos pareciam conjarados para nos destruírem immediátamente de-
pois do terremoto, que aconteceu quasi no momento da maior elevaçio dis
aguas, as ondas subiram de repente quarenta pés mais alto do que se tnrfiA
MA 467
observado em tempo algum, e retrocederam também repentinamente. Se não
tivessem assim retrogradado, a cidade inteira teria âcado debaixo das aguas.
t Apenas nos foi permíttido reflectir, só a morte se apresentou à nossa ima-
ginação. Em primeiro logar o receio que o numero dos cadáveres, a con-
fusão geral, a falta de braços para os enterrar, dessem origem a uma doença
contagiosa, era bem para amedrontar; mas o fogo, que parecia o nosso mais
perigoso inimigo, os consumiu, e preveniu este resultado.
cDepois a fome estava imminente, porque Lisboa é o deposito de todos os
cereaes produzidos a cincoenta milhas em roda. Comtudo salvaram-se feliz-
mente alguns dos armazéns; e ainda que nos três dias immediatos ao terre-
moto uma onça de pão valesse uma libra de oiro, tornou-se depois bem abun,-
dante, e vimonos livres da fome.
tFinalmente havia que receiar a avareza da classe vil da população, que
queria aproveitar-se da confusão para roubar e assassinar. Com effeito no prin-
cipio um bem grande numero de crimes foram commettidos; mas por ordem
do rei levantaram-se patíbulos em volta da cidade, e depois de coisa de um
cento de execuções, o roubo foi reprimido.
«Estamos ainda n'um estado de perplexidade difficil de descrever : temos
sentido até vinte e dois tremores de terra diíTerentes desde o primeiro. Nin-
guém se atreve a dormir nas casas que escaparam. Dorme-se ao ar, por falta
de materiaes para fazer barracas. Não temos nem roupas, nem moveis, nem
dinheiro.
«Dois dias depois do primeiro abalo Ozeram-se escavações para procurar
os corpos, e tiraram d'ellas um grande numero, que tomaram à vida. £' uma
coisa para maravilhar o não termos morrido todos. Ilospedei-me n*nma casa,
na qual habitavam trinta e oito pessoas, e d'elias apenas escaparam quatro.
cO rei e sua familia estavam em Beiem, palácio real a uma legua de Lis-
boa. O palácio do rei na cidade desabou ao primeiro abalo, mas os habitantes
asseveram que o palácio da inquisição foi o primeiro que foi a terra.
cO terremoto fez-se sentir em toda a extensão do reino, porém mais par-
ticularmente ao longo da costa. Faro, Setúbal e algumas das grandes povoa-
ções commerciaes estão n'uma situação ainda peior que Lisboa, se é possiveJ:
comtudo a cidade do Porto ficou intacta.
cE* possível que a causa de todos estes desastres tenha vindo do fundo
do oceano occidental, pois acabo de conversar com um capitão de navios, que
parece ser pessoa de muito tino, o qual me disse, que achando-se ao largo
umas cincoenta léguas, experimentou uma sacudidelia tão violenta, que a co*
berta do navio ficou estragada. Julgou ter batido n'um rochedo; mandou im-
mediatamente arriar a lancha ao mar para salvar a tripulação; porém conse-
guiu felizmente fazer entrar seu navio no Tejo, se bem que em mau estado.
Tomo III (1835), pag. 3. Dança do Tabaco em Lisboa, f Já recordámos em
1833 todas as difficuldades que experimentaram os amadores de tabaco em
propagar o uso d*esta planta. Os prós e os contras tiveram cada um advoga-
dos obstinados. Médicos, reis e papas collígaram-se contra elle, porém havia
egualmente defensores zelosos, que lhe asseguraram a victoria. Parece que pelo
m MA 'j
melado do século xvii a opioião publica Ibe era favorável em Lisboa, porqV
alli se celekruva eotão uma dao^a, da qual se conservaram alguns prome-
uor^s.
• A bcena represoulava a illia de Tabago. Depois do prologo, do qual um
grupo de liabitaotei< cantavam a ri^lieidade dos povos, aos quao;i os deuses ti-
ntiaiu presGuleadú com umaplaula tão preciosa, viam-se entrar quatro verilica-
úores. que lomando tabaco em pó de caísinlias de oiro pendentes da cintara.
aiiravam-n'o ao ar para applscsr os ventos e as tempestades. Estes insalares
arniai'am-so depois de compridos cacbimtios, e girando em volta de um altar,
com passos graves a cadenciados, deitaram á cara dos deuses baforadus de
l;ibacti à maneira de ioceuso. Veiu então a representarão das industrias, qoe
vivem do tabaco: uns puoham na corda folhas da planta, outros a picavam,
estes a pisavam em almofarizes para a reduzirem a pó, aquelles a ralavam, e
lodos dançavam.
• Estes industriaes foram subslituidos por aquelles que o consomem- Pri-
meiramento appareceu uma immensidade dti conmmidore.i de tabaco em pó:
espirravam á porDa, offerecendo saa caixa uns aos outros, e tirando pitadas
com gestos e altitudes jocosas. Estes consumidores foram subslituidos por um
esquadrão de fumadores de todas as naçi^ea reunidos n'uma tabacaria : tur-
cos, hespanboes, mouros, portugueies, allemães, francezes, polacos, e outros
recebiam o tabaco da mào dos Índios; cada um servia-se á sua maneira, sem-
pre dançando e pulando.
Idem, pag. 71. Sanio AíHonio, [;oni?ralisjimo porluguez.
•O rei de Portugal linha-se luido aos inimigos de Pbilippa V, rei de Het-
panha. Berwick foi encarregado de defender o reino contra este novo iggra-
gor. Acampou com um corpo de tropas nas margens da ribeira do Sabi^al, »
qual os porluguezes, inglezes e bollandezes quizeram passar. Já Berwick se
preparava para os repellir, quando observou uma extraordinária confusa em
soas Oleiras: bem depressa um pavor geral se manifestou entre elles, e reti-
raram-socom muita precipitação. Berwick fez alguns prisioneiros ootre «fu-
gitivos, mandouos ir á sua presença, e interrogou-os sobre as eaosas d'esto
terror pânico. Eis o que responderam os portnguezes-:
•Santo António de Pádua é o protector do reino de Portugal. Qiundo a
nossa nação sacudiu o jugo hespanhol, protegeu-nos em diversas occaalJJea, «
a elle devemos o bom resultado de nossa restauração. Em reconhecimento h
porluguezes pediram cnLwaosen novo rei, que Santn António dePadiu toa»
declarado para sempre generalissimo de seus exércitos. O conselho foi emiTO'
cado para ser consultado a este respeito. Todos os grandes convocados decla-
raram que a protecção de Santo António tinha realmente salvado o paii; mas
que não tendo este santu servido no exercito durante sua vida, não se lhe podia
conferir lai posto depois de sua morte. Então 0 rei, para cortar as dilQcntda-
dea, resolveu fazer passar Santo António por todos os postos militares. Fk
para este eITeito uma promoção, na qual o santo foi nomeado brigadeiro; de-
pois n'uma segunda marechal de cjmpo; n'uma terceira tenente general; d»-
pois do que fui declarado generalissimo para sempre. Sna imagem ó aeapn
MA 469
Irazida na frente de nossas tropas, e prestamsc-lbc as honras devidas á digni-
dade de que se acha revestido. N'csta raanhã, qaando estávamos promptos
para pasear o rio, uma bala vindo do nosso campo levou a imagem do santo.
Esmorecidos por termos perdido nosso general, recuámos, e nossos alliados
foram arrastados pela nossa fuga. Eis a causa d*essa retirada precipitada, que
tanto vos surprehendeu.»
Pag. 313. Templo de Diana em Évora (com estampa).— O artigo qae acom-
panha esta estampa diznos o mesmo que em geral trazem os artigos de idên-
tica natureza, e termina por estas palavras: «Actualmente, quasi que senti-
mos vergonha dizendo-o, serve de matadouro para os açougues de Évora.»
Pag. 385. Aqueducto e castello de Évora (com estampa).— No artigo que
acompanha esta estampa dá-se o nome de castellum á torre que se acha so-
Jbre o aqueducto, e a respeito da qual se devem vér os artigos que se publi-
caram no Archivo Pittoresco, ^
Tomo Y (1837), pag. 41. Templo de Santo António de Pádua (com estam-
pa).—Pag. 294. Biographia de Luiz de Gamões (com estampa representando a
gruta de Gamões em Macau).— Diz «que Luiz de Camões, auctor da pri-
meira epopea moderna no gosto de Virgílio, é incontestavelmente o maior
poeta que Portugal viu nascer», e termina dizendo-nos «que em Lisboa suas
desgraças causaram uma impressão tao profunda, que a casa em que morava,
ficara sem inquilino, por todos terem receio de residirem n'ella» . Esta biogra-
phia é escripta com desenvolvimento, faz muitos elogios ao poeta, e contém
bastantes inexactidões, o que não é para admirar, por vários motivos.— Pag.
394. Vista da praça do Gommercio em Lisboa. Diz-nos o jornal «que a estam-
pa representa a nossa praça do Gommercio»; porém ella representará tudo
quanto quizerem, menos a referida praça, nem com ella se parece, nem dá
a mais leve idéa. No dizer dos viajantes, nenhum dos espectáculos do mundo
eivilísado excede em magnificência exterior. Lisboa, vista a alguma distancia,
etc. «As cavidades dos olhos da estatua equestre de D. José no Terreiro do
Paço (praça que também se intitula do cavallo negro) eram cheias antigamen
te com dois diamantes de alto valor, e a gente do povo conta que o general
Junot na invasão franceza, não podendo levar o cavallo, víngou-se arrancan-
do-lhe 08 olhos.» Diz que o convento de S. Vicente de Fora é fundação de
Q. João ni. Gonta-se que o general Junot tioha feito tirar os mosaicos da ca-
pella de S. Roque para os remetter para França, mas que tendo as ferramen-
tas dos operários estragado o vidro, exclamara : Parae, nào se diga que Jonot
foi tão bárbaro que mutilou uma obra tão preciosa! Emquanto ao convento da
Estrella diz-se que, o architecto furioso, como entre nós Soafflot, por causa da
critica feita ás portas d*esta egreja, se foi precipitar do aqueducto das Aguas Lí-
vres.Em sumroa, póde-se dizer que todo este artigo não passa d'um amontoado
de mentiras e inepcias. Que egreja será a Rola, de que nos falia? Que padres
eram os que andavam vestidos de vermelho pelas ruas em 1837 ? Quando é
que o convento da Graça poude aquartelar cinco mil homens? Artigos como
« Vol. 6.», pag. «8C. Yol. 7.», pag. 7. Voi 8.», pag. 313.
<4M diiureditaa qiMlqBV »qUím^ IWsoifll. Rfl)0 ■«■« «»aM^
» ett& no ooetome deesonvw d^rt» ftoOM-^rM^-infá)* «wlaÍMaiMk
«m Poangil (á>m mma^^^fíMêtitàs^-ub^mBttmàitttbt nèãyli] :'
Tomo VI HKiBi. [i.ig. 2.'). AiiiieJucto iiioii|-Jsi'a d(! Elvas (cora esUmp».^^*
Pa^. 7ã. Jarúms ríiiiculos. <Em aussos arlifu» u r^apeilo de Portugal aasíg*
nalámoa como prova Je raaa gosto em cartas cidades d'esle reino o coslama
Ae Ulhar as arvores, de modo qae rormavam Q^tiras Je seres animados. Bsto
' eoslnme exUtiu também ha um século na Infilatarra, e Pope melteuo a ridi-
i^ulo n'aina n&ria escrípla em 17l3.~Pag. 186. Numarligo JDlIlalado Hisloire
du seiíicmo siècle, traia das antigas victorias e poder de Portugal.— Pag. 228.
A Bgrpja de Bciom (com estampa). Quadro de M- Daouiz, de grande effeito,
exposto no Lonvre em 1S38, e muito admirado.
Tomo VIII (1840), pag.í63. Vista da cidade do Macau.— Pag. 397- Vista
do tumulo de D. Ignez de Castro no mosteiro d'Alcob3ça. O artigo que acom-
panha esU estampa é copia dasChroDÍc^s cavalheirescas deFerdinandOenis,
e a estampa copiada das Viagens do barão Taylor.
Tomo XI (1843), pag. 3GI e seguinle. Um longo artigo sobre o iafanle
D. Henrique, cora uma estampa representando o seu buslo por Mr. Droi, se-
gundo uma antiga miniatura.
■tawnte-JfrHwrtlinMiifnii 4» 8ta )i«riMa at IbitfB^Mi' Horagit ^j v . e-vM
TiMMXIV[Ul^piC.178.a«aray'8tHBtÍn IM f niTipl fT fíTMf
Qedfroy Bteme fiL)'
Tomo XVIII (1850), pag. 334. Um artigo acerca dos uolejoe em Portogri-
Tomo XIX (tSSl), pag. 94. Um artigo sem importaotía « respeito do pin-
tor Grão Vasco, no qual dÍE ser para a<fmirar que os por&igneEes nÍo tÍTti-
sem conhecido que os quadros attribuidos a este pintor, por vários BiotÍTQt,
não podiam ser obra do mesmo anctor, e que se deve ao conde da Bakiyitslú
a descoberta do v^dadeiro Grão Vasco.
Tomo XX, pag. 121. Uma vista da ilha do Príncipe.
Tomo XXI, pag. 13. Uma passagem da ilha de S. ThoiȎ.-Pag. 3SS. Uma
estampa representando a chuva de sangue em Lisboa no anuo 1551.
Tomo XXII, pag. 2&6. Os Castros. Uooumeotos célticos -da Gallisa e de
Portugal. (Este artigo não apresenta novidade).— Pag. 305. Visude S.P«tlo
de Loauda. Desenho de Kart Girardet, conforme M. L. de Fonlin. — Pag.311. Al-
pbabetos talhados por um cego. Falia do porlugnei Diogo Alvares, qae apeMr
de cego, talhava leiras de forma tal, que se guardavam como preeiosid«d&
Tomo XXUl (18S5), pag. 202. O rinoceronte do rei D. Manuel, seu IriaiB-
pbo e morte. Artigo extrahido de Damião de Góes.— Pag. 278. Estatua eqiM5-
tro da ilha do Corvo, no grupo dos Açores.
Tomo XXIV (185ti), pag. 148. Exposição universal em 18ÍBÍ. Portugal Os
vendedores de fructas cm Avíules e os regaiõcs. Quadro de F. A S^enck.—
Pag. 201. Catadupa na ilha do Príncipe. Desenho de KarI GirardeL — Pag. 241
O Hnata Cazembe (com duas estampas copiadas da obra que com este titulo
se publicou em Lisboa.)
MA 47!
Tomo XXV (1857), pag. 85. Restos da egreja dos Jesaitas em S. Paute de
Loanda. Desenho de Karl Girardet.
Tomo XXYI (1858), pag. 115. Armas e utensílios da ilha de Timor.
Tomo XXVUI (1860), pag. 187. Os Corte Reaes e o Labrador.
Tomo XXIX (1861), pag. 132. Palácio de Mafra. Desenho de Rouargue.—
Pag. 186. O touro dos Açores. Desenho de Freeman.
Tomo XXXII (1864), pag. 7. Porta travessa de Santa Maria de Belem (fa-
chada do Sul). Desenho de Thérond.— Pag. 167. As olas da índia. Modo de es-
crever dos Índios.— Pag. 177. Egreja de Santo António de Pádua. Desenho de
Tbéron.
Tomo XXXIII (1865), pag. Porta da sacristia da egreja de Alcobaça. Dese-
nho de Olivier Merson.— Pag. 111. Sellos de correio em Portugal.— Pag. 249.
Facl^da de Santa Cruz de Coimbra. Desenho de Olivier Merson.
Tomo XXXV (1867), pag. 279. Biographia e desenho de uma estatua de
Jacob Rodrigues Pereira ensinando um surdo-mudo.— Pag. 397. Santo Antó-
nio de Pádua. Quadro de Murillo.
Tomo XXXVI (1868), pag. 192. Custodia de Belem. Desenho de Clerget
Tomo XXXVn (1869), pag. 120. Passagem chineza entre Macau e Cantão.
—Pag. 336. Cutello de salvação. Conta a historia do naufrágio de um navio
portuguez na costa de França, e como toda a tripulação se salvou levando na
bocca cutellos quando se atirou ao mar, aos quaes enterrados na areia se se-
gurou até lhe prestarem soccorros.
Tomo XXXIX (1871), pag. 363. Como vinham as mercadorias das índias a
Portugal no espaço de 3 mezes em 1528.
Tomo XL, pag. 105. Convento da Batalha. Vista do claustro real. Desenho
de Gilberto— Pag. 170. Um bordado histórico. André Furtado de Mendonça. O
pirata Cunhale. Defeza de Malaca. O que hoje é esta cidade.
794) MAGNIN (CHARLES).— Membre de llnstitut.
E.-^Biographia de Camões^ que precede a traducção dos Lusíadas feita por
MiUié.
cAo esboçarmos esta vida de um poeta illustre, duas coisas tivemos em
mira. Em primeiro logar esclarecermos diversos problemas biographicos : em
segundo desejámos mostrar qual era a vida de um litterato em Portugal du-
rante o bello século d'este pequeno e prodigioso reino
cNada differe tanto d'um século a outro, e de povo a povo, como o que se
chama vida de homem de lettras. Hoje na França um homem de lettras é um
homem de prazeres e de negócios que, se não tem muita ambição, procura vir
a ser chefe de divisão n'um ministério, ou director de um estabelecimento.
«No século XVIII a vida dos litteratos era uma vida ao mesmo tempo casei-
ra e sensual, passada entre a Academia, a Opera, os salões e o café Procopio.
No século de Luiz XIV era coisa um pouco mais grave e frugal, e que tinha
herdado de Port Royal um tanto dos hábitos claustraes. O povo que entre nóe
allia tão frequentemente a imagem grotesca com o pensamento, traduziu a idéa
de homem de lettras pela expressão pittoresca e grosseira de pó de chumbo.
èn mm
• Kíla delluição popul&r,asMái^ exacia geraimeule na Fr&nça, seria uma es-
tranba falsidade so a applicassemos a lodos os oatro.s pmies. Eucontroa-se lu
Europa um pcqtieDO pavo, uo qual a idéa do homem de leuras correspondeu
por muito lempo à de viagens, guerras, captiveiro entre oj mouruíi, nautra-
gios no Brasil, desterros nas Uolucas. Não se encontrou n'elle durante o pe-
ríodo de sua historia um só poeta qas não tivesse andado suas duas oa Ires
mil Ipguus por mar, combatido na Arrica, na America a na Índia. Teve eSli
nação uma lilltratura, e não iílteralos d» profissão; levo bellas obras, o não
bonieus de lettras; e grandes posta!:, o nada que se assimilliasso a uma classe
á parle, sedentária, inactiva, e pa^a unicamenle para escrever.
tE não corriím sísUii as coisas nem por escolha, nem porsysuima; erapor
nevessidade. Ninguém tinha então em Portuga I tempo para estar tranquillo
n'um gabinete de estudo, e para não se applicar a mais do que a um só traba-
ibo- Por lào precipitado movimento era o Estado arrastado para Tora; era en-
volvido n'uma corrente de conquistas e de grandeza tão rápida, qae, como na
coberta de um navio, que quer forcar suas velas, todos os brados oram neces-
sários para a manobra-
• Para DÓS, velba nação contíoenlal, quasi sem colónia!, sem gosto ao mar,
sem amor aos paizes longíquos, povo ha muito tempo assentado, poderoso pelo
solo, pela população, pela industria, que vivemos fechados em nossa casa, oa
na do visioho, em frente dos Alpes ou do Bheno, mal podemos comprehender
que esforços foram necessários, lucla, actividade, sucriilcios, consumo de for-
, ças indivtduaes para que D'um momi^nlo d;idn uni peqiit<no povo de arrojados
marinheiros, como o de Portugal, podesse fondar capitães a duas mil legnat
do leos lares, e conservar, quasi durante am século, um império qne por nm.
nomento foi roais vasto que o império romano. A gloria d'este peqtieiio ponto
iaterra, predestinado por sua posiçãogeographica para a descaberta do Ocea-
no e dos mares da Índia, é de não ter deixado de cumprir sua missSo: de ter
' «MD tão fracos recursos, como eram os seus, mudado os caminhos do eoin-
mereio, dilatado os limites da civilisaQào e do cbristiaoismo, transpoitado a
Europa para a America e índia: meteoro inaudito de poder e de gloria, lio
maravilhoso, tão brilhante, Ião passageiro, como aquelle que tanto iUustrou
um outro pequeno ponto do globo, chamado Grécia
- <E demais, para qoe um reino taiha homens de louras, é mister dinheiro
para os subsidiar. Portugal, que consumia soas economias em esquadras, em
eiereitos, em construcçdes de arsenaes, de forlaleias, não podia abrir bo sen
orçamento um capitulo de animação para as lettras e artea. Dentro em pooco
até o reino empobrecido pelas conquistas, empenhado por causa das victarias,
não teve nada mais com que pagar as despezas de seus exércitos, e o Estado
veiu a não poder pagar áquelles que melhor o tinham servido. Camões mor-
rea no bo^ital. . . Morreu por causa dós revezes de sua pátria, como muitos
de seus companheiros de armas; como morriam então os almirantes e os pró-
prios vice-reis sem terem sempre (testemunha D. João de Castro) eom qoe
eomprar uma gallinha em sua ultima doença.
. lOs luziadat era a primeira epopea giie apparecía a'iaoà liogiu modac*
MA 473
na. Aos mcantos de ama poesia deslumbrante renne toda a seriedade da his-
toria, e todo o interesse d'ama viagem de descoberta. Não tem por theatro
maisque mn navio, por horisonte mais que^o cée e o mar, para pontos de
abrigo só os pequenos portos de Moçambique, de Melinde e de Calecut, onde
a equipagem aborda com diíBculdade; e comtudo a arte do poeta ó tal, que
com tão insignificante material nada eguala a variedade dos quadros que re-
presenta a nossos olhos. Tem-se muitas vezes dito de Shakespeare que elle é
o melhor historiador de seu paiz : outro tanto se pôde direr de Camões. Can-
ta, como o indicam o titulo e o exórdio de seu poema, tudo quanto faz a glo^
ria de Portugal: mas é o historiador, e não o adulador da sua pátria. Pintor
enthusiasta das batalhas de Ourique e de Aljubarrota, reprehende com aspe-
reza seus companheiros degenerados. Duas passagens admiráveis, louvadas
exclusivamente de mais, o episodio de Ignez, e a ficção de Adamastor, estão
ao meu vér, longe de ecclipsarem as outras partes do poema.
cFicam ao leitor lagrimas para outros infortúnios não menos commovedo-
res, e admiração para outras ficções não menos felizes. A apparição da índia
e do Ganges, a entrevista do rei.de Melinde e do Gama, que pela variedade
dos vestuários e dos costumes produz uma illusão tão completa; as sinistras
predicções do velho portuguez, ecco dos preconceitos vulgares, que nunca
deixam de protestar contra o heroísmo : a aventura de Yelloso com os selva-
gens,'onde o gracioso se mistura com o interesse: a scena do mar tão k>em
descripta, que precede a narração cavalheiresca dos doze portnguezes, todas
estas bellezas e mil outras, graciosas ou terríveis, severas ou apaixonadas des-
pertam entre ellas a admiração. Como principalmente tomamos parte nas ma-
goas do Gama, obrigado a enterrar debaixo da areia estrangeira a alguns de
aeus infelizes companheiros t Como sahe bem do fundo da alma do poeta esta
triste reflexão: Ob! quão facilmente o homem encontra no mundo sua ul-
tima morada! Foi extraordinária a recepção dos Luziadas, pois, coisa quasi
inaudita em Portugal, n'aquelle mesmo anno o auctor publicou segunda
edição!»
795) MAI (JOHANN HEINRIOH).
E.—Dts8ertatio histórico philoiogica de origine, vita et sertptts IsaúciÃbrã'
banelis. Altorf, 1808. (Dissertação sobre a origem, vida e escriptos de Abra-
banel).
Abrabanel, como muita gente sabe, foi um judeu celeberrimo nascido em
Portuga], e cuja vida apparece em todos os díccionarios biographicos.
7%) HAIRAN.
Tanto este mathemalico como Mr. Bouguer foram encarregados de analy-
sarem a Memoria de Manuel Joaquim Soares de Barros è Yasconcellos sobre
a passagem de Mei curió peb disco do Sol em 6 de maio de 1753.
«Logo que José Joaquim Soares de Barros chegou a Paris, munido dòscío-
nhecimentos que em Inglaterra havia adquirido, 6 estudo da astronomia e da
471 MA
geogrspbiâ foi o princípai objecto das íuas applicaçue5.>AllÍ contraiu unisA'
4e com o celebre astrnnomo M. de Lísie, e adestrado por elie no obisrvalorío
de Clagny, em o manejo dos íiutriimeDlos aslronomicos, palúnlooti um talcnlo
e perícia que em breve enrhea Ae admirai;ão os astrónomos mais dislincios,
A passagem de Mercúrio peio disco do Sot, acootecida em 6 de m^o de 1753,
Ibe dea occasião de fazer taolas observações delicadas e difDi;eis, para as
qaaes com perspicaz prevenção se havia antecipadamente disposto que MU.
Boneoer e da Mairan, commissarios nomeados pela Academia Real das Scien-
cias de Paris, para examinarem a Memoria qae elle sobre este objecto escre-
vera, não duvidaram dizer na sua conta, que a babilídade e deslresa do nosso
aatroDOmo ia muito além da verosimilhança.
A publicação d'esia Memoria, de que o próprio M. de Lisle se eocarregi-
ra, deu occasião a qae a Academia das Scienciaa e Bellas-LcUras de Berlim o
conceituasse digno de entrar na sua associação. Nào tardoa o nosso Barros
em obter esta bonra, num em enriquecer as actas d'aquella respeitável so-
ciedade, com uma nova Memoria sobre a influencia da opacidade da ai*
mosphera terrestre, nos instantes das immersões e emersões dos salellil«
de Júpiter na occasião de seu? eclipses. Esta Memoria, escripla em tingiu
íraoceza, publicoa-se no volume das actas d'nquella eorpora<^ £cientiãcj^
correspondente ao anno de 1759, com o titulo seguinte : NtmvelUs íquation
pmr la perfeclion àe. (a ihéorie des íalelliles de Júpiter, rf pour la corrtctim
dei longitudes terrestres, déterminies par les obsercaíions des mémes míMú^
Barros alli examina a inlluencia que deve ter a massa da atmosphera sobre a
diminuição da luz dos salelliles, nos diíTorentes jtraas da sua elevai;ào sntire o
borísonte, e por consequência sobre o momento da sua desapparição u es-
trada úi sombra do planeta principal, e no da sua apparição á sabida d'elta;
e combinando destramente todas as descobertas de Galíleo, Casaini, oq de II.
deFoncby aceres dos efleitos qne a maior ou menor distancia do planeta ao
Sol e a Terra, e dos satellites ao planeta, devem produzir na quantidade da
Iqz porelles reflectida, não só calculou uma taboada das dimíDuiç&es qaeso(-
fre efreciivamente na quantidade da sua luz o primeiro satellite, em lodos os
graus de elevação do horisonte, e das correcções, que deve fozer-se aos tem-
pos das suas immersões e emersões apparenles; mas deu formulas genes para
se ealeolarem similhantes taboadgs para todos os outros satellites : enainoa
como se deve medir a diminuição qne sofTre a lux d'este3 planetas seaanda-
rioB, em rasão da sua maior ou menor proximidade apparente ao plaoeu prin-
cipal; o qae nem Galiteo, nem outro algum astrónomo até então havia Ibilo:
tnoBtfoa eomo a quantidade dps satellites depende, além de todas as eansu
mencionadas, também das suas distancias á luz, o que ninguém havia ainda
advertido, e assim levou a theoria dos satellites de Júpiter a nm grão de per-
feição muito acima d'aquelle em que se acbava.
■As outras partes ou ramos das sciencias mathemaiicas não foram exlra-
nbas ao nosso astrónomo. A applicação do calculo das probabilidades ás qae»>
■ Stockltr.-fliilorid dm Matktntnlittt em Ptrtftgal. Pag. 6i.
I
MA 475
toes económicas e politicasi qae dependem da doração da vida humana» lhe
merecem particular attençao. EUe tiroa das Tabòadas Necrologicas de Lon-
dres, e de Breslaw, moitas e mui curiosas consequências, que publicou, pri-
meiro em um pequeno opúsculo, que no anuo de i767 imprimiu em Paris
com o titulo de NouveUes considérations sur les années eUmaiériqueSf etc.; e
depois em uma Memoria que intitulou Loxodamia da vida humaimí, a quái a
Academia Real das Seiencias imprimiu, depois da sua morte, em o S.^" tomo
das Memorias de MathetnaUca e Physica.»
797) MAIRE (ISIDORE HYAOINTHE).
E.—Organogénie Générale. (Memorias da Academia RetU das Seiencias,
vol. ils parte 2.*)
798) MAJESTÉ (D. FRANOISOO).— Doctor en ambos derechos, y fis-
cal general ecclesiastico dei estado.
E.—Oracion fwiebre, pronunciada en la santa iglesia matriz de la capital
de la Republica Oriental dei Uruguay, en las regias exéquias que la poblacion
portuguesa de esta capital consagro a la memoria de su malogrado rey D. Pe-
dro Vy de su augusto hermano el príncipe D. Fernando. Por el presbítero — -,
dedicada a s. e. el senor consejero, encargado de negócios y cônsul general cerca
de las republicas dei Plata y Paraguay, D, Leonardo de Sousa Leite Acevedo.
Montevideu. Imprenta dei ProgresOy 8.<>, 36 pag.
799) MALAGRIDA (GABRI£L).--Jesuita italiano.
Nasceu na villa de Menajo, no ducado de Milão; foi estrangulado e quei-
mado no auto de fé celebrado em 20 de setembro de i76i, facto bem conheci-
do, e nlo pouco deshonroso para a memoria do marquez de Pombal.
E.—JiiUso da verdadeira causa do terremoto que padeceu a corte de Lisboa
no i.« de novembro de i755. Lisboa, por Manuel Soares, i756, 4.«, 3i pag.
A respeito d'este Malagrida existem muitas obras escriptas por estrangeiros.
800) MALDONADO.
£. — De Joanne de Brito Lusitano m odium fidei a regulo Marava trucida-
to. Antuerpiae, 1697, itt-4.* (fiiographia de João de Brito, portuguez morto pelo
regulo de Marava em ódio á fó de Ghristo.)
80i) MALDONADE (J. B.)
E. — Prodígieux événements de notre temps arrívés à des Portugais dems um
voyage extremement dangereux du cote de la Ckine, par — . Mons, 1693.
802) MALINGRE.
E.— Aòr^^ de VHistoire d'Espagne et de Portugal et de Navarre oonienant
les choses les plus mémorables qui se sont passes en ces trois royaumeê dêpms
leur origine jusq'à nos jours, recueillies de plusieurs mémoires par-^M^M»
Historiographe de France. Paris, 1652.
«74 MA 1
803) UAIXET. ^
K.— D. Elvira fines de CoílroJ a Tritgedy. Loodoa, 1778.
804) MAMTANI (LDIZ VICENCIO).-JesuiU ilaliano.
E.~Ãrlc de Grammatica da lingua brasílica da nação Kariri. Lisboa, por
Uigael Doslindes, 1699, 8.°, 134 pag.
808) MANCINI fPOLIZIA.NO).
E.— II príncipe Allomiro di Lusitânia. Padova, 1641.
Vem 6Bta obra mencionada do Calalogo maaoscrlplo da livraria do condd
de Lavradio, mas igaoro se é um romance ou Dão.
806) MANDBLSLOHE (J. A. VON).
E.—OoÈt Indische Iieyie,eíc- (Viagem ás índias Orientaes). Amsterdam, 109S,
807] StANGIN.
E.—Abregè de l'Histoire de Portugal. Paris, 1699. Ibid. 1707.
808) MANIFE3T DOOR D'INWOONDERS van Panumbwv wgfgt-
Çtvtn tot hun veraliawrdinge op't taenemen der wapenen tgem de Wetl-lndu-
eke Compagnie; ghedirigeert ven alie Clirtsletie Príncen, enáe betonderlijck (M*
Hoogh-M- H. U. Staten Generael vim de Vereenighde Nedeiianden. Gbtárukt
mdí uyt hei Portugifg ovírgtset in (mta Nederduyttehe TtUí, Tot Aiawerpem.
Anno 1646. 13 pag. 8." (M. S.)
809) ICANIFEST mdí redenen con Oorloge, tot UAona Vst-gJughecai,
ntdê gepxAUeeer : Tuttchen Portugal endã de Seunierde tfederlantttkt Provin-
tim met de aenmarckinge ntde den oortpronek wier vpt dm ulf dm gh^rú-
eedemi. U. Gêíroweelick vi/t dt Portugeiclu Tale over geset: Secbiickt mf Jaer
tm Vtemt, 1658; 8 folhas.
810) HANIFEBTE POIIR DOM EDCUARD, infaM da Portttgal, qn
ttra ootr d tou( le monde une trahiton loiu semblable, faite eoníre la pertontu
de et prince, qiU itant inwtcent et libre a été par une lachetí aulaní u^ame
pu honteuit, taiserablemetU vewtu dam Vienne en Autriche, U 25 Juin 16ÍS,
la wmme de 40:000 ríxdalet; h vendeur (le roi de Hongrw), raduteur (U ni
4ê Caitílle), lei stipulans en la convention, du coíé da roi de Cattille, Dom For-
nando de Mello. . . du cote da roi de Hongrie, le pêre Didac de Qviroga. . . ex-
trait en eubstance d'un imprime en laíin i'an 1642. Paris, 1643. (C. U. & I.P.)
811) MANLET (O).
S.— Account of the Itland af Japon aad {he exclu^on o{ Ou PwrOàgueie,
eompoeed by F. Caron and trantiaíed by — . London, 1663, S. (Nam^ dk
ilha do Ja^ e da ezpnltão dos portugaeies).
MA 477
8i2) MANRIQUE (P. S.)
E.— Itinerário de las missiones de la índia Orieníal. Roma, i6S3> foi.
8i3) MARACOI (P.)
E.—Relation de ce qui s'est passe dans leslndes Orientales, en ses trois
provinces de Goa, du Malabar, du Japon, de la Chine, etc. Paris, i65i.
8i4) MARTY (ANGELO RÁYHUNDO).— Hespanhol e tachygrapho-mór
das cortes constituintes em i82i, e das que se lhe seguiram em i822 e i823. ^
E.—Tachygraphia inventada por —, accommodada à língua portuguesa.
Lisboa, i822. 8.» *
815) MARAVILHOSO, insigne y costoso arco 6 puente que los vnglezes
han hecho en el Pelourinho viejo por donde ha de entrar S, JH. en Lisboa. Be*
fiei*ese el modo, traça y architectura dei, quadros de pintura, etc, Dase a si-
mismo quenta dei gi-andioso presente que á S. M. hizo el duque de Berganza^
y el numero de criados que le acompanaram hasta donde lo fué á recibir y de
de las muchas protisiones y bastimêtos que tiene prevenidos para los grandes
sénores y criados, etc. Sevilla, 1619.
816) MAROHAND (JEAN HENHI).
E,—Tremblement de Terre de Usbonne. Tragedie par M. André. 1756.
817) MARCHENA (JOSEPH).
E.—Manuel des Inquisiteurs à Vusage de Vlnquisition d'Espagne et de Por-
tugal. Montpellier, 1819.
818) MARGGRAF (GEORGE).
E.—De Medicina Brasiliensi, libri 4.« Amstaelodam, 1648. (Quatro livres a
respeito da medicina brasileira).
819) MARGUERITTES (JEAN ANTOINE TEISSIER).
E.—La revolulion de Portugal. Tragedie, 1775.
820) MARIA (A).
E.— Gentes Angolae fidei mysteriis instructae. Romae, 1661. (Povos d'An'*
gola instruídos nos mysterios da Fé.
821) MARTA (D.) DA GLORIA, D. Miguel y la Espaha, 6 resoluckm
dê un problema politico en 1832. Bordéus, folheto. (G. M. B. I. P.)
822) MARIA (G. Dl SANTA).— Delegado Apostólico ne* regni de Ma-
lavarí.
^ Sr. Innocencio.— Diccionario Bibliographico, tomo 8.% pag. 65.
478 MA
E.—Primn spediUone ai Iwtia Orimlali. Roma, iC68.
813) BtABIER (JAHEB).
E.— ^ second Journty throv^ Perita . . - bMwrfn lhe yeart 1810 and IStS^ I
With a Journal ofthe voyage by the lirazils and Bnmbaij to Ihf persian guiph. 1
London, 1816. (Si^guoda viagem pela Pcrsía, Brasil, Bombaim, ele.}
8tÍ) MARINI (GIOVANNI PHILIPPO DE).— Missionário BenoTffl
nascido em Taggia do anuo de IGOS, e Tallecido no Japão cm 1677. Protessoa
nos Jesuitas, missionou por quatorze annos no Tonkiog, e [oi reitor do coUe-
gio dos Jèsuilas em Macau. <
E.—Deile missioni de' padrt delia Compagnia de Giesu nella provinda det
Giapponi e parlicularmenie di quella dí Tunkiw. Alia Sanlila de JV. S. Atte-
mmdro PP. tellimo. Vcnelia, I66S. 13.°
Ê uma das obras que traiam amplamente das misaíies portaguecas no Ja-
pão, e principalmente em Tcnking.
•A egreja e casa dos Jesnítas n'csta provinda foi erigida com as esmolas
dos mercadores porluguezes e do Papa Gregório XIII, depois de o rei vi con-
cedido licença. E a religião progrediu tanto, que indo para alli o padre Ama-
ral com mais quatro padres porluguezes, flcoa admirado do progresso que a
religião cbristà Tazia já alli, cbegando-se a contar setenta cathequistas.'
Conta esta relação os trabalbos dos missionários porluguezes Onofrio Bor-
ges, Mariim Coelho, Aoionio Barbosa, Francisco Figueira, Ballbasar Caldeira '
e vários oníros.
Também por alli andavam missionários italianos, mas parece que viviam
em harmonia eom os nossos, pois o padre Harini não só nio u qtieixi, UM
«té mesmo leee elogios aos ponngneiea. >
8SS) JUBinns ÇKAML FREDERIOE PEILIPPE TEK}-
E.--Hitíona Natiiralia Ptúmarum, qaai m Itinere jmt Braiiliam OWM
1817-18S0 ecllegit, dacripát et iconthu iiliutravii. Mnnichii. (Historia naln-
ral das palmeiras do Brasil, etc.)
A respeito d'esia obra e de varias onlras que escnven sobre o Brasil, p&-
de-se vdr a resumida noticia publicada pelo sr. António Bernardino Gomes a
pag. 94 e seg. das Acta» da Academia Beai das SeuncUu âe Litboa, 18Bt.
8») KARLÉS (LAOBOIX DE).
E.— I. Beautéi de rSutoire de la dominatiim des árabes et des maxtres m
Espaçue et en Portugal; ou abrégé chronologiqtte de íhistoire de cet pti^la
jusqu'à leur exjnásion de ta Penmsule; amíenant en outre det noticet exactt*
tw leur» amqaites, leur religion, montra, arts, usages; des anecdotes,aHÍe¥-
tet H tntéressanta; des (rotíi divers íkeroume, de anirage, da grandasr iTo-
1 FirmlD DidDt.— £io^. Generalt, toI. S3-*, pag. 784.
* DfUt nUiiw», pf. SM.
I
MA 479
me, etc. Par—avecdejolies gravures. Paris. A la librairie d*edacation d*A.
Eymery, 1824. 8.», 532 pag.>-Este Tolame é ornado de seis estampas.
II. Histoire de la darrUnation des árabes et des maure$. en Egpagne et en
Portugal. TraduU de VEspagnol de D. José de Conde. Paris, 1825. 3 vol.
827) MARLÉS (M. de — ).— Continuateur de UNGUARD.
E. — Histoire de Portugal d^après la grande Histoire de Schaeffer, et coníi'
nuéejusqu'à nos jours par — . Paris, Pareot-Desbarres, editeor. 1840. 8.» 288
pag.— Nada contém que mereça especialisar-se,
828) MARSANGY (BENNEVILLE DE).— Membro correspondente DO
estrangeiro da Academia Real das Sciencias de Lisboa. Avocat à la coar im-
perial de Paris.
E. — I. Moralité comparée de la femme et de Vhomme au double point de tme
de Vaméboration des lois pénales et des progrès de la civilisation par — .
Esta Memoria foi publicada no tomo 2.% parte 2.* das Memorias da Aca^
demia Real das Sciencias de Lisboa, classe de sciencias moraes, politicas, e
bellas lettras. (Anno de 1861).
11. Notice historique sur Dom Pedro V, roi de Portugal et des Algarves,
par—. Paris. Imprimerie de Charles Jouaost, 1861. 4.^ 11 pag.
É um tecido de elogios a este rei e a sua famiiía.
829) MARTANGES (N. BONNET DE).
E.— L<? Roi de Portugal. Conte. Neuwied, 1788.
830) MARTIN (D. JOSÉ MARUGAN T).
E.—Descripcion geográfica, fisica, politica, estadística, literária dei reino d$
Portugal y de los Algarbes, comparado con los principales de Europa. Extra»
ctada dei Ensayo Estadistico dei mismo reino, publicado por Adriano Balln en
Paris en 1822 y de otras obras; y aumentada con noticias originales mas re»
eientes, tanto sobre este reino, como en las comparaciones que se hacen con d
de Espana. Com superior permiso. Madrid, en la Imprenta Real, 1833. 4.« O
tomo 1.» 344 pag. O 2.» 440.
Ò auctor d'este trabalho, por sua própria confissão, servin-se do conheci-
dissimo trabalho de Balbí, mas adicionou-lhe de lavra própria a relação som*
maria da conquista de Portugal feita por Filippe II e a continuação dos acon-
tecimentos políticos do referido paiz desde 1822 até 1828: o capitnloque trata
da nobreza portugueza: uma descripção dos povos de Portuga], extrahida da
obra inédita de D.José Cornide, intitulada E^todo d^Portu^jfo/ en el afio 1800:
um capitulo intitulado Resumo histórico do estado da lUteratura, das scien-
cias e das artes; introduziu-se um interessante opúsculo redigido pelo abbade
Corrêa da Serra, as quaes noticias foram tiradas de um periódico publicado
em Paris em 1804 por uma sociedade de lítteratos, de-baixo do titulo de
Archives littéraires de VEurope ou Mélanges de littercUure, d'histoire et de
philosophie; e além d*estes, vários outros acrescentamentos.
I
«o MA
•A (Ara de Balbi eiaii. cheia de digresgSes inotsis e de declamações pcU
maior parte alheias de am trabalho onde Eómente se devem reterir factos, com-
paral-os e deduzir d'ellea sóraenie aquellas consequências e resultados qae não
possam eatar ao alcance de lodos. Taml)em por se haverem recolhido os ma>
teriaes e escriplo o Ensaio da Balbi nos aonos de 1821 e 1833, dpoca ata qae
Portugal era regido por insliluiçucs politicas dilTâreates das actuacs, ia a aa-
ctor meo^âo d'eliaíi, as quaes se omiitem ramo iuuieiíi, por já uão cxiatirem-
• Apreseotar ameuscompatrioUs o quadro mais exacto de goaoU» bio
sabido ã luz até este dia relativos ao reino de Portugal, com o Qm de mostrar
o estado em que se encontram, em uma na^âo tão visinha da nos&a, lodos os
ramos de administração publica; proporcionar- lhes uma idéa completa da im-
meusa gloria e prosperidade, que chegou a adquirir esta nação, durante o pe-
ríodo de seu maior poder e esplendor, por meio de suas conquistas mais bri-
lhantes, dos descobrimenlos mais assombrosos, e de um commercio rico e Qo-
rescenle; manifestar -lhes as causas que produziram a exirema decadência e
nullidade política a que hoje se acha reduzido, desvanecendo ao mesmo tem-
po muitos erros e preoccopaçSes em que hão incorrido os estrangeiros mais
celebres que escreveram acerca de Portugal; e finalmente faier-lhes conhecer
o vantajosissimo partido, que ainda se pôde tirar de um paiz, que, apesar de
sua curta extensão, é dos mais privilegiados da natureza por stia situação gee-
graphica, e porque gosa, e encerra em si mesmo os elementos mais essenciaes
para constituir um estado rico, poderoso e respeitável;^
que mirou este meu trabalho. >
831) HARTISIIZ (BENIQNO JOAQUIU).
E.—Visconde de Torres Novas. Esta breve blographia pi]blieoa>se no 1*
voL da Revista Peninsular.
Consta ter escripto artigos, e talvez opúsculos a respeito de assumptos por-
(ogaeies, mas nada mais estou habilitado a dizer. Porém, se obtiver mais es-
clarecimentos, apresenta) -os- hei no Supptemmío com que termina o segundo
folume d'63te iralaalho.
833) HABTINEZ (O. BLAS).— Medico em Pamplona.
E.~DissertaciM de concurso ai problema teguinJe : «Qual es el método de
curar radicalmente las disenterias crónicas de qoalqnlera cansa que pnee-
j^nf > Fundado en principies y confirmado por observaciones practícaa.
Esta Memoria obteve medalha de prata conferida peta nossa Aeadraiia. flb-
moriai da Academia, vol. 6.*, parte 2.*, de pag. 2S a 66).
833) UAS (SINIBALDO DE).
E.— 1. Ibéria. Memoria sobre las vantajat de la imíoM de Portagtd y E^a-
ia. Madríd, 1S53.
n. Um artigo no primeiro volume da Amita Peninsular istitalado--Jfw-
murios. Tomo de poesias por D. Angnsto Lima. Impresso em Lisboa «b ISSI-
O Joiso crítica é bvoravel ao aactor, e termina por eetas palavras : *Ho be
MA 4gi
escrito un articulo laudatorio de las poesias dei senor Lima. He pensado que
el mejor elogio que se les podia hacer era dar uua no regateada muestra de
ellas. Creo que bastará para que el lector convenga commigo en que nuestro
autor es poeta, y de los de alma sensible y inspiracion lúcida y elevada. Deje
ya de ser trovador de amores, dediquese a objectos mas sérios y dignos de
memoria, y tengo para mi que adquirirá alta prez y fam%, y que hará algun
dia grande honor á su pátria y a la Peninsula entera.i
Algumas das referidas poesias apparecem traduzidas n^este artigo pela poe-
tisa D. Gertrudes Gomez de Avellaneda.
in. Contienda historico-politico religiosa. Sobre la batalha de Ourique y la
aparicion de Cristo a Alfonso Hennquez, sosterUda de una parte por A. Her-
culano, A, A. Bebello da Silva, un paleógrafo, un aldeano, Pascual de Gayan-
gos y vários periódicos de Portugal ; y de la otra parte por Diogo da Fonseca
Pereira, A, Lúcio Maggessi Tavares, A. Gaetano Pereira, padre José de Sousa
Amado, padre Gaetano Francisco de Faria y vários anónimos y periódicos ;
siendo mediador enlre los combatientes el padre Rodrigo A. de Almeida, (Re-
vista Peninsular, tomo 2."*, pag. 60 e seg.)
É uma interessante historia da polemica a respeito da batalha de Ourique.
834) MASCARENHAS.
E.—A legend of the Portuguese in índia by the auíhor of—, Predietion. 3
vol. (Uma lenda dos portuguezes na índia, etc.) Talvez seja um romance.
835) MASON (J. A.)— M. D. Inventor of Mason's Hygrometer.
E.—A Treatiseon the climate and meteorology o( Madeira; by—, Edited
by James Sheridan Knowles, To which are attached a review of the state of
Agriculture and of the tenure of land; by George Peacock, F, R. S. etc. etc.
Dean of Ely, and Lowndean Professor ofAstronomy in the University of Cam-
bridge and an historical and descriptive account of the Island, and Guide to
Visitors; by John Driver, Cônsul for Greece, Madeira. London, 1850. 4.», 386
pag. (Tratado sobre o clima e meteorologia da Madeira.)
E' um dos escríptos mais notáveis acercada nossa celebrada ilba da Afa-
deira. Seu auctor^ Mason, morreu prematuramente, por causa do grande tra-
balho, que teve na composição d*esto livro.
836) MASSEI.
E.—Vita di S. Francisco Saverio deli comp. de Giesu, apostolo delV Indie.
Roma, 1681. 4.»
837) MASSON (A).
E.— l/h mot aux portugais. Par--. Paris, 1834.
838) MASSON (MR. FRANCIS).
E."-An Account of the Island of St. Michel by--, na obra Philosaphica
TOMO I 3i
«2 M\
Traruartions, tom. 68.^, parte í.', pag. 601, oic. I^nJon, 1778. {Nolicla da ilhâ^
de S. Miguel.)
O aQctor viajava com o fím de enriquecer o jardim real de Kicw, passwt
pelos Açores ao regressar do Cabo pelas ilhas daMadeiraeCanarías. As plaa*
tas novas, que recolheu nos Ires arcbípclagos, foram descríptas por Acbm no
RorlHs SieKensis, principal mente a myrsina retura, a mijrico faya, o iltse ph
rado, o /jt/pericuin ftiUosum, ele. Morelet.— Líj Adores, pa^. 9,
839) MASSDET (PIERRE) Annales d'Espagne rt de PoTtiigal, f.-oduift
tU ColmenoTcs. Amsterdam, 1743.
840) MATAL (JEAN).
E.— Epistolas de Ilicnmimi Osorii Indianim htttoria. Coloniae, I37V (Carta
a respeiío da Hisloria dits índias por Jeronjmo Osório.
8Í1) HATELIEF (COHNELinS).
E.~Vogagfí. Amsterdam, 1703. Trai nma minuciosa relação da armada
poriugneza, descripçào da cidade do Míilaca, etc. ele.
8ií) MATÉRIATJX pour sirtír á rhistoirf de rgxpeditím de D. Pedro
en Portngal, et de la iffierre actwlle en Espagne. Paris, 1836.
843) MATHEWa (HENRY M. A.)-Fellow ot the King-sCollege.Cim-^
bridge.
E.— I7i« Diary of on invaUd, m purswt of heaith being the Joum^ of a
tour in Portugal, Itàly, SaUziand and France. London, 1830. (Diário de um
eorermo em procnra de saade, ou diário de nma digressão em Portugal, lu-
' lia, Me.)
8U) HATTEI3 (UARIS DE OOlOTIBUa).
E-— Oroíto ín funere Mariae I Lusitanas Beginae. Romae, 1820. (Oração
fanebre de D. Maria 1, recitada em Boma).
845} HAOam.
'E.—Abregé de VBiiti^re de Portugal deãié à Moiaeignew te Marq^it de
Cateaes, Comte de Monsanto, ambof (odeur extraordinaire de Portugal á la
oour de France. A Paris. Chez Michel David, 1707, 8.*, 4S0 pag.
«Paz no principio da obra orna dissertação 'sobre o estado antigo de Portu-
gal, e no fim uma descripção d'el]e. Começa a sua bistoria no conde D. Hen-
rique, o acaba no anno do reinado do sr. D. Pedro II, 1693, em que cason
a senhora D. Lniza, sna fliha bastarda, com o 3.° duque do Cadaval D. Lnii
Ambrósio de Mello, qne morren de bexigas em 1700 sem deixar snecessão,
egnndo genilo do terceiro matrimonio do 1.' dnque do Cadaval D. Nono Al'
■ Bibtiotheca nuiorica de Púrtngat c sem domUíat ultramarinot, pêg. 33S.
MA 483
vares Pereira do Mello. O padre D. António Caetano de Sousa, na sua Historia
Genealógica, tomo 7.° cap. 4,° adverte alguns enganos ou equívocos em que
cahiu o sobredito auetor. É pouco exacto.» Parece que d'esta obra ha uma ou-
tra edição feita em 1699 na mesma cidade de Paris.
O auetor, na su;i dedicatória ao marquez de Cascaos, diz que, escrevendo
um resumo da Historia de Portugal^ escrevo um çpitome dos mais beilos fei-
tos que se praticaram na Europa.
846) MANOm (G.)
E.— La topographie et les topographes mililaires en Portugal.
Foi publicado este trabalho no Spcctateur Militaire. 15 aoút 1864.
847) MAUPERRIN (PIERRE AUGUSTE ADOLPHE).— Professor
do Coilegio dos Nobres em Lisboa, e pela suppressao d'este bello estabeleci-
mento, uma das glorias do marquez de Pombal, passou para professor de lín-
gua franceza, addido à secção oriental do Lyceu Nacional de Lisboa.
Nasceu em Yannes (França) no anno de 1795, e morreu em Lisboa a 7 do
abril de 1872. i
E.—Grammaire française approuvée par le conseil general d^Instrtictian
Publique.—i.^ edição. Paris, 1846.--2.S Paris, 1852.— 3.*, Lisboa, 1857.— 4.»
1862.
8tô) MAURIOE.
E^^—Découverte de Madêre.—E' um extensíssimo artigo, que publicou no
4.0 volume do Musée des Familles (anno de 1836), e que principia a pag. 90.
849) MAVOR (WILLIAM).— Viçar of Hurley.
E.—The history of Spain and Portugal frmn the earliest periods to thepre-
sent time, By—. London, 1812. (Historia de Hespanha e Portugal desde os
tempos mais remotos até o tempo presente.)
850) MAYDIEU (M. L'ABBÉ) Ci-devanl Chanoine de TEglise de Troyes.
E.—Hi$toire de la vertueuse portugaise, ou les Femmes Chrétiennes. De-
diée aux Rosiêres de Salency. Par — . A Bensaçon, 1817. 8.*», 388 pag.
Apesar de se dizer no prologo que esta obra ó uma traducçào do portu-
guez, na sua leitura nada encontrei que me podesso impellir a tal accreditar.
Creio ser originalmente franceza.
851) MAYNE (GOL—) Late commanding the íirst battallion of the Lusi-
tanian legion).
E.— il narrative of the campaigns of the Lusitanian Legion, under briga-
dier general sir Robert Wdson, wilh some accmuU of the military operalions
m Spain and Porlugai during the t/ears 1809-18-11. %— . London, 1812.
* Ensino Livre n,° 2^.
MA
(Niira^Mo lias Mmpiphis di lesSo hnj&iú, áa orte» do trigãàeUo fenanl
sir Koberio VUson, com «IgamttmoMH du (çerfsOeB ndUtares «m Boip»-
nlu e PorliigiL)
l£iJOBCRICEUBDHÍEKBT).~F.S.A.,P.RiS.I., rtcKeiwr
of fte fleptitmem õf nmps itrf dism fn ilw florsl 6M)çr»pW«tl Sorfrty.
E. — [. Tke life o[ Prince Henri/ of Portugal, snrnam^d íAí narigotor. and
iíi raulU: comprUmg thr discoverif, toifh one emlury, of half icorld icilh aeiO
facts M tht iiícovtiy of íhe Atlantic hlaniU; a refutatUm of French elaims
toprímty in discovery; Portuguese kfiowledge (suhsequmtiy lost) in the Nilâ
laket and the histonj of íhe naming of America. From auíhentic ronlemporarg
liocuments. LoDdoD, 1868. %.', 487 pag. Com um niappii e o retraio colorido
do intanlô D. Henrique, conrornia se acha ns Conquista de Guiné, por Azura-
ra. (Vida do príncipe D. Henrique de Pcriugal, cognomíQaao o Navegador, a
suas coQscqneoci.u, compretieodendo a dcí^cob^na duraole um século de meio
munilo com factos novos no descobrímenlo das libas Atlânticas: refotação du
preiençOes ioí Trancezes á prioridade uos descobrimento!. Conhecímeolos doe <
portagneies (posleriormculG perdidos) relativos aos lagos do Nilo. Historia do
nome da Americi. Tudo exirahido de documentos antbeulicos e contemporâ-
neos).
*Den tuloMBle ur hiTido eomo Bnu eoiaa «nrpwlwpdame qoe vuími
inglês slé bofe ihMse intenudn prepanr nms DmograpUi da ifda da Hea-
riqne, o Navegador. Se podessemos julgar de tnieresse raffidente para tantar
a penna de nm eseriptor o pbenomeno sem exemplo na historia do mondo
resultante do pensamenlo.e perserverança de um bomem, certamente que de
um lai estimulo não havia necessidade. Quando vemos a pequena população
d'uma estreita orla daPeninsnIa Hispânica acanhada tanto em meios, como em
gente, converter se n'um espaço breve e incrível de tempo em uma nação
marítima e poderosa, não somente conquistando as ilhas e coitas occtdentaei
da Africa, e dobrando seu cabo do Sul, mas até mesmo creando impérios e
fundando cidades capitães n'uma distancia de duas mil léguas distantes de
seus próprios lares, ficamos tentados a imaginar que resultados taes devem
antes ler sido obtidos por algam aborlo da fortuna. Has não foi assim. Foram
os effeitos da paciência, sabedoria, trabalho intellectual, e exemplo de um ho*
mem coadjuvado pelo enlhusiasmo de ama raça de navegantes, que a consi-
derarmos B03 meios de que dispunham, jamais em nenhum paiz, em nenhuD
século foram, como aventureiros, excedidos,i
Esta obra é ofTerecida ao nosso conde do Lavradio, D. Francisco de Al-
meida.
II. The descovery of Austrália btj the portuguese in lhe year. 1601. Lmi-
don, in-4.*
Este opúsculo foi mandado verter em portugnez por ordem da nossa Aca-
demia Real das Sciencias.
Por occaaiào de um Ivnch dado depois do baplisado, em Londres, do con-
raçadú porttiguez Vasco da Gama, proferiu Major um discurso notável, no
•#
HENRY MAJOR
!
i!
ti»
I '
MA 4ai
qaal se encontravam os trechos sagaíntes : lAvalío a rasão por que o presi-
dente mencionou o nome do illostre Vasco da Gama juntamente com o do
príncipe D. Henrique, o Navegador.
tAté ao tempo d'aqueHe príncipe nada se sabia do Oriente senão por
tradição, e que a descoberta de um caminho por mar para o Oriente havia
sido o principal objecto, a que o príncipe consagrava sua vida; e, embora não
o conseguisse, setenta e cinco annos mais tarde Vasco da Gama podéra che-
gar á índia, dobrando o Cabo da Boa Esperança.
•£ra um facto muito notável, mas não geralmente conhecido, que dentro
do mesmo século havia sido descoberta mais de metade do globo que habita-
mos, e esse resultado fora devido em primeiro logar ás descobertas dos por-
tuguezes. A Inglaterra ufanase de que nunca se põe o sol nos seus domínios,
mas isso era devido ás descobertas dos portuguezes.
«Não havia paiz nenhum que podesse rivalísar com Portugal a respeito
d'aquellas antigas glorias e arriscadas empresas. Havia porém uma coisa de
* que tinha a convicção, e era que se os inglezes não podiam competir com Por-
tugal na antiguidade das descobertas, tratando se da egualdade dos esforços,
caminhavam a par dos navegadores portaguezes, que atravez de tantos perí-
gos desconhecidos se haviam aventurado a tão grandes empresas.!
853) MAWE (JOHN).
E,— Traveis on the interior of BroÃil, including a voyage to the Rio de la
Plata. London, i712. Ibid. 1821. Em francez, Paris^ 1816. (Viagem no inte-
rior do Brasil, incluindo uma digressão ao Rio da Prata.)
854) MAZADE (V. DE).
Com o titulo de Portugal sous le rot D. LtUz—Impressions et souvenirs,
publicou na Revista dos dois mundos, de i de julho de 1864, um artigo nota.
vel, apesar de muitos erros e de muitas apreciações falsas, que lhe pudemos
encontrar. ^ «Mas estamos de tal forma habituados a ver os estrangeiros, e prin-
cipalmente os francezes, fallarem das nossas coisas, sem terem d'ellas o míni-
mo conhecimento, e sempre com prevenções malévolas, que nos é agradável
depararmos com trabalho feito com alguma consciência, e em que transpa-
rece principalmente uma tão viva sympathia pelas nossas coisas. Diz, pois,
Mazade entre outras coisas :
•No mez de agosto de 1861 entrava eu n'uma espécie de coche, que se
compromettéra a pôr-rae intacto, ou quasi intacto, em Badajoz, levando cin-
coenta horas a transportar -me da formosa rua de illcalá em Madrid á cidade
illustrada pelos feitos d'armas do general Philipon. Graças a um obsequiador
companheiro de viagem, que também ia para Lisboa, em breve se concluíram
os preparativos de partida, e no dia 4 d'agosto atravessámos, a galope das
nossas mulas, as ruas de Badajoz, tomando o caminho de Portugal. Quando,
^ Sr. Pinheiro Chagas. Panorama de 1867, f ol. 17.*, pag. 283. Esta TÍageai eslen-
de-se po' alguns números.
'm MA U
depois de tormos doixailo alrai as portas o as forliílcaçOea da cidadi?, eatti.'
mos na estrada real, nio flqacl pouco sarpr^endiJo achando-me n^nm c(mpê
muilo aceiado, e niio sentindo a cabeça resaltar, com 09 solavancos, de en-
contro ás paredes da minha prisão: o zagal, silencioso, parecia l<? esquecido
o sou reportório de maldições o de pragas que em Hespanha otTendem ás re-
zes os ouvidos menos snsceptivers. Já eu reparava na corlezia do fregura aga-
loado que DOS TÍera abrir a portinhola. Decidi dameoie era boa esia primara
impressão; o meu companheiro, a qa^m commitniquei as minhas retlexitea,
Jisse-ine que não admirava ter eu sidi mal informado em Hespanha, porqae
o povo hespanhol é o que menos deseja conhecer Portugal, e o qua realmoala '
menos o conhece.
>Em geral, de qualquer naiurcza que sejam as fronleiras d'am paiz, riot
ou serras, existe uma certa zoua, cm que se confundem as llngaas e os ros-
lumes, lima espécie de terreno neutro. Aqui (em Elvas) a planície que separa
' - estas doas cidades extremas sú ofTcrece esse caracter sxé certo ponto. Apeoat
so chega ao torrilorlo porlugnei, logo o aspecto do terreno parece modlRcar- i
Be; como a altura do milho exige nma irrigação cootÍDua, contrasta pela 80*1 -
rrescura relativa com as planicies de trigo da Exlremadura hespanhola. 4
•Ao sair dTlIvas aprcsenla-se Portognl aem mUtara. O panorama e m coa-
tumes hcspanhoijs desapparccom muito realmente. Qnatro cavalloa fogosos
finbstUairam as mulas ligeiras nos tiratite.s da niala-posta, ora conduzida fa
ata grave cocheiro, que veste uma libré com as armas reaes poiti
caminho que seguíamos não deixava logar ao fastio; as mudas s
rapidamente; atravessámos valles ferieis e risonhos; subíamos coníDú o
tas de verdejantes carvalhos, de oliveiras e de vinhas carregadas de cacboa de
uvas, ora rejubilados pelo panorama de uma vegetação luxuriante, ora impres-
sionados pelo aspecto grandioso de rochedos avermelhados e pardacentos. Á
beira do caminho agrupavam-se aldeias de casas brancas e achadas, e«rea-
das de jardins. Quando aos últimos clarões do dia appareeeram ao longe as
muralhas de Estremoz, já eu achava pequenos os dias deverão. Este passeio,
que nada tivera de penoso, desenvolveu em mim um ardente deseja de travar
• conhecimento com a pousada portugueza. Ra em Estremoz uma estalagem,
digna de ser recommendada aos ímmsles que o acaso levar alli- O dono d'ella
é barbeiro e cutellciro. A luz de um candeeiro de forma antiga servin-nos o
honrado homem um excellento jantar composto de gallinha com arroi, lombo
de porco do Alemtejo, fructa excellenie c óptimo vinho. Tmha escapado ao
sabor de óleo de ricino, que por toda a parte se encontra na cosinha hespa-
iihola, c não vi appareccr nem sombra de um grabanzo. Quando se tratou de
pagar, por mais que ou desfigurasse a nobre língua castelhana, não consegui
Iransformal-a em porlugucz. Omeu patrão, empregando o mesmo processo
com a sua língua natal, não consegifiu fabricar he.=panhol. O que havia Biais
claro na nossa palestra ora que nin pediam 480 rcaes (perlo de 186 francos)
[Milo iijeu janlar. c oii revoltava -me contra isso. O meu companheiro de via-
gem, rn(randon\'sse iiioini-nlo, rxiilii-ou-iiie que se tratava do 480 réis (S fran-
cos r 7;> riTtiimisl.
ME
487
«Qoando chegámos a Montemór-o-novo parámos para tomar chá^ esta be-
bida asiática (dizendo de passagem) é tão qaerida dos portagaezes, que no
mais pequeno logarejo do reino se encontra, e se toma. Emâm ás 7 horas da
manha a carruagem parava na estação de Vendas Novas» d'onde o caminho
de ferro do Sai me devia conduzir a Lisboa.
tUm barco de vapor veiu esperar os passageiros do comboio para lhes fa-
zer atravessar a enseada; saltei para o convez a âm de melhor disfructar este
espectáculo. Emquanto o barco sulcava as aguas do rio, a custo o meu olhar
abrangia essas immensas perspectivas da cidade alvejante. Aqui, á esquerda,
era o palácio de Belém. Ahi não pude deixar de sentir uma viva commoção á
vista do panorama grandioso que de súbito se desenrolou diante de mim.
tNa margem direita do Tejo, á beira d'uma enseada immensa« esplendia o
amphitheatro de Lisboa. As collinas pareciam vestidas de palácios, cujas co-
Jumnas elegantes, brotando entre moitas de verdura e de flores se reflectiam
nas aguas. Nem uma só nuvem maculava o azul do céo. Aqui, n'um relance,
entre duas collinas mostrava-se o aqueducto das aguas livres; sobre uma rocha
escarpada, surgia a velha cidade de S. Jorge; á medida que me aproxima-
va, os contornos tomavam relevo, ou fugiam, segundo os accidentes do ter-
reno. Logo appareceram as arcadas graciosas da praça do Commercio e o seu
Doagestoso cães : vi D. José, que de cima do seu cavallo, encarando o rio,
parece fazer ao estrangeiro as honras da cidade moderna, construída pelo
seu grande ministro.»
855) MAZZIO ROMANO (RAPHAELE)— Sanctitatis Suae praelato do-
mestico atque ab epistolis latinis.
E.—In funere Mariae LusUaniae Reginae Fideltssimae habita in Sacello Va-
ticano ad Sanctissimum Dominum Nostnm Pium Septinium Pont, Max Ro-
maey 1818. Tipis Pauli Salviucci Sup. Permissu, foi. 38. (Oração ftmebre de
D. Maria I).
Segundo du o auctor doesta oração, foi esta a primeira que por uma rai-
nha se recitou em presença |de um Summo Pontiflce, pois anteriormente so-
mente os papas mandavam celebrar exéquias pela alma dos reis. Foi esta ora-
ção latina impressa em Lisboa no anno de 1824 na Typographia Rolandiana»
por diligencias de Fr. José de N. S. do Carmo e Silva, natural da cidade do
Porto, e carmelita dos calçados do real convento de Lisboa. Folheto de 35
pag. in'4.*'
856) MEDRANO (Dr. JUAN DE ESPINOSA).— Catedrático de artes y
sagrada teologia en el seminário de S. António el Magno dei Peru.
E,— Apologético en favor de Gongora y contra Manuel de Faria y Sousa.
Lima. Imprenta de Juan de Quevedo y Zarate. 1694. ^
No tempo em que as obras do celebre Luiz de Gongora eram tão bem re-
cebidas pelo publico a ponto de o cognominarem «Pae maior das musas»; com-
^ Amador de los Rios.—Hdoria Critica de la liieratura esjyanola, vol, 1.", pag. .3L
887) MELDOLA (ABHAHAM).— Judeu residente em lUmborgo. «
E. — Nova Gra7nmatka Portagueza, áiviàidà em seia parles, a saber : l>*^
Orthographia; 3-* Elyraologia; 3.» Syolaxej 4.* Prosódia com supplemenio; ííf%
Lavores da linena; 6.* Miscellacea. Impresso oa olBcíaa de M. C. ftack, a COB- 1
las do auctor, em Hamburgo, 1783. Segue-se a traducção d'esla3 meamaa pkj
lavras em allemão. 8.° gr., 671 pag. J
Traoscreverei o prefacio tal como se acha do original para se faier ídák]
dAliDguagem doauclon ^
^AéHem» BttMfli^K uiam,*» > twmiiilM tmÊlHatittmnit^mlIhr.
fciçoaneiftsaa.
4 jrtMteii mfcMti
wJiaiBBiniy.— MiWBi— rampii— pm um wiini.iMjiipPf
da UigiUt pofit eom lanto Bttfair ftMtKdade ndadr annbt potend» aaoM.,
•Gom 09 deiejos pois de luer esU Hateiia, que per si 6 ínsipida, mais
agradarei e mais ntilosa, qaa atd aqui se tinha tratada, ell^l o eslUlo Dia-
logieo, pondo por ali a qualquer no estado âe ínatmírsa mesmo neste idioma.
<Nam bem tinha en por«n determinado nisso, quando apparece do Prelo
no Anuo 1778 hnma Arte Porlugneia de bum Author anónimo.
«Haa com nam poaca estranhesa observey ao querer ensinar por elta esle
idioma qne não somente citava o auctor varias regras erradas, pwem qus
mesmo na Conjogaçam do Verbo Pór asava nos seus Imperfeitos as palavras
puzeria, pvzeriíu, puxeria, ctc que se nam achão em todo idioma PortogiMi,
eonjngandoae eaie tempo com as palavras poria, poriai, poria.
lEisaqni pois os frnilos de hum trabalho de quaii maia que seia AnnosI
•No quanto merece esta Arte ser anteposta, on posposta a ouras escritas,
meemo ao Mno de Portugal, deixo a deeisam dos iatelligentea.
(Sirva no em quanto porem de huma mais drcomspeeta sindicacãn, ar-
gnmoite e difDnição da obra a seguinte oarração-
•He a liDgaa Porlugneia filha da Latina, por cuja cansa a verás concor-
dar com ella quaii em todas soas regras. No demais tem como todos os Idio-
mas seus Idiotismos, ou espreçoens próprias ao génio da liogoa.
•Tudo isse se achará aqui demousvado com a mór claresa, pois qualquer
das partes da Grammalica ficam tratadas por si, e não confusamente hniu
entre outra, como se pratica nas demais Artes.)
ME 489
«A Seísta parte eomprebende hama Afiscellanea Portagaeza em Prosa e
Verso, sacada dos mais selectos Autores de Portugal, na qual nam cuidei so-
mente em instruir a mercancia, mas também pensei a divertir ao estudioso.
<0s princípaes Ganaes que hey comunicado forào Padre Lami, Raphael
Bluteau, Bento Porreira, J. F. Baretto, Duarte Nunes de Leão, J. M. de Mad.
Feijó 6 Jerónimo.
cNo demais he geralmente tratada esta Grammatica em todos os sentidos
com muitíssimo Artificio e colmada com tantos Idiotismos Portuguezes, que
se pode por ella inteirar-se nas ligitimas expreçoêus desta lingoa, podendo
com facilidade comprender qualquer bom Autor na mesma.
«Breve, podese contemplar esta Arte, que vai tratada por Diálogos como
bum Autbor fácil e instructivo, etc, quem observar somente que o génio da
Lingoa Portugueza he pôr no Modo afirmativo o Verbo logo depois do Nomi<
nativo, e no idioma allemâo, se põem o mesmo as mais vezes no fim de peno*
do, poderá acharse no estado de a verter verbalmente. Para que a obra pois
se nao estendese demasiado, julguey por acertado o fazer dar a o Discípulo
bumas repostas satisfatórias sobre as ínquiriçoêns do Mestre, introduzindo
segum isso o Mestre no interrogativo.» ^
Esta grammatica é censurada por Link no fim do capitulo SS.*» das suas
Viagens em Portugal. Sua composição (diz este) em perguntas e respostas em
portuguez e allemâo torna-a muito desagradável. O que me revolta logo á
primeira vista, ó de o ver no próprio prefacio commetter um erro grosseiro
^porque oauctor serve-se do infinito no plural sem Ibe ajuntar em. Isto prova
o pouco conhecimento que o botânico allemào tinha da língua portugueza ;
graves defeitos porém tem, mas o principal ó o emprego de palavras bar-
baras, e não portuguezas, como reprochar, lojar, ovos esfalfados, balancia^
etc. etc. Esta grammatica é de bastante raridade em Portugal.
858) MELQAR (SENOHA SAEZ DE — ).
E.— La lira dei Tajo, Madrid.
859) MELLIN (OUSTAVE HENRI).— Litterato sueco.
Nasceu em Revalax, na Finlândia, em abril do anno de 1803. É o Waker
Scott do Norte^ segundo diz a Revista Universal Lisbonense,
E.— La Princesse éPAngole, romance, 1839. <
860) MELLINaEN (Dr.)
E-Stories of Torres Vedras, London, 8.'» (Contos de Torres Vedras).
861) MÉMOIRES de Sebastien Joseph de Carvalho e Mello, comte d^Oey-
* I('esta grammatica o capitulo que trata dos dialectos é um dos mais interessantes.
* Yapereau. —Didionnaire det Contemporains, pag 1091. É bem de suppor que o
titulo da obra seja em sueco, e não em francez: nem mesmo este diccionario dii onde foi
impressa.
4!W Mlí
ras, maniuiu de l'ombtU, secrétrun ríVi/K, d premiir minâlre du roi de Por-
tugal Jmi-iiU /., I78i. Sem bgar 4a ímpraasòo. 4 vol., 8-°— Esta obra é hoelil
8fi2) laÊUOIBES hktúriquet gtnéaiogiqwi et c/ironotojiflu** amcenuint
teu lUCMiilaiicru ilr. CoiuHatttin, Margvcs, Mmtlinlio, Borges, Aratijo, Coutinho,
Banha, Sei/aeira, Magalhãet, Teixeira, Bacellar H Lacerda, Lopes, Sleiquila,
Pinto, Coelho, Pereira, Leite de Stmpaio et Mello. Paris, ISSt. 236 pag.
863) MÉMOIRES sur k Porlaual. Paris. Impriraerie do la Republique.
FloréaJ, an ix, 8."
864) HÉMOIRES siir les opératíons mUlaires des franrais m Úaíke,
Portugal, et dans la valhv du Tage nn 1809, toun te emamandeTHcnt dti marr-
chat Soull, duc de Dalmolk. Arec «n Altas militaire. A Paris. Cliei Bairois Tai-
oé, 1831. 8." gr. 368 pag.
'Depois ie lermos passado o fraco ribeiro, (juo do lado de Chaves (Órma
a separação dos dois reinos, observámos urna diftercnça seosivel em vantagem
para Portugal. Kesia paiz vúem se casas de campo isoladas: nas cabanas en-
contra-se louça íngleza, chicaras de loui;a do Japão, e cbá verde; nas easaf
dos particulares abastados utn grande loío de louças, do moveis de acaju,
pau saaclo, o das madeiras mais preciosas do Brasil, e priacipalmeote o que
liós mni taras veies liDhunos visto entre os bespanhoes, livrarias compostas
das melhores obras franceias. Nos combales notou-sc nma coragem pessoal
ex[raordiii;iria, que nos Iroiix'' á Icuibr.in^a o faracIíT allivo e valoroso dos
poTlugaezes, que debaiio do commando dos Gamas, Albuqnerques, Caraseos,
Attfaydes e Sousas chegaram a submeller as grandes lodias por meio de ae-
ç<3es beroicas, que rivalisam com as mais celebres, que nos conaenoa a Us-
toría aotiga.» Pag. 1(4.
•Antes da víctoria do Lanhoso, Braga se apresentava á nossa imaginaçãn
fornecida de tudo de que o exercito tinha necessidade. Qual não foi nossa do*
lorosa surpresa ao entrarmos n' esta cidade, achando-a desertai Vinte mil pes-
soas tinham abandonado em três dias ama cidade que parecia conter todas
as eommodidades da vida t Que resolução I Que ódio contra o domínio estnii'
geirol Que funesto presagio para o axito d'esta expediQSoli
865) HÊUOIRS (AUTHENTIO) concerning tke porUiguese tnqwtaioM.
London, 1761. (Uemorias authenlicas a respeito da inquisição de Portugal).
866) HEUOUÍ of lhe earlti campaigns of lhe duke of Wellington i% Portu-
gal and Spain by an o/jirer employed ín Ais armg. London, 1810. (Memoria
sobre as primeiras campanhas do duque de Wellington em Portugal e Ues-
panha).
867) MEMORIAS da Academit ias InscripíÔes de Paris.
So vol. :t " da mencionada obra ha um trabalho acerca das ioscripções n-
ME 491
lativas ao dens Endovelico, qne n'oatro tempo existiram em Portuga), e a res-
peito do mencionado dens. V. também Fiorez,— Espana Sagrada^ rol. xiv,
pag. 110 e seg.
868) MEMOIRE istoriche dei Portugália, Torino, 1682. 1S.<»
869) MEMORIALS of the British Cônsul and factory at Usbon to his
Majesty at that Court and the secretaries of state of this lángdam, 1766.
«Contem-se n'esta brochara cinco documentos. A saber: primeiro um me-
morial dirigido ao conde Kínnoul, embaixador da Grâ-Bretanha n*esta corte
a D. José I relativo à conOscaçào de um pouco de oiro apprehendido n'ella a
uminglez. Segundo: outro sobre a pretendida immunidade das pessoas e das
propriedades dos vassailos britannicos em Portugal. Terceiro : uma exposição
dos argumentos com que os inglezes pretendiam justificar as suas protesta-
ções contra a creação das companhias do Maranhão e Pernambuco, reputan-
do-ascomo monopólios incompatíveis com seus privilégios. Quarto: uma carta
ao secretario doestado britannico M. Pitt, depois lord Chatam, sobre outras ve-
xações do seu commercio, que os inglezes se persuadiam soíTrer injustamente
em Portugal. Quinto : outra sobre o mesmo objecto a lord Halífax.»
870) MERKWnz digkeiten von Portugal, etc. Francfort, 1777-1789. 4 vol.
(Particularidades notáveis de Portugal ou informações succintas acerca da na-
tureza do paiz, caracter dos habitantes e das diversas revoluções d'este rei-
no. Com algumas anecdotas de recente data).
87i) MERLHIAG (MAHIE MARTIN GUILLAUME BE GILBERT
DE—).
E. — Traduction de VAraucane avec des notes, et précedée d^une dissertaiion
sur Camoens, Tasso, Arioste, consideres comme poetes,VBTis, 1821.
872) MERUN (M. SUEUR DE).
E. — Coup d'(Bil sur Vetai actuei de la géographie mathêmatique de VEspa-
gne et de Portugal par—. Paris (sem data) 8.*» Folheto.
873) MÉRY (LÉOPOLD).
Fé,—Emmanu€l ou la damination portugaise au xvi siécle par — . Tours
8.°, 236 pag. com uma estampa.
«Portugal somente occupa um logar secundário entre as potencias euro-
peas, mas houve tempo em que seu dominio em vez de se achar apertado nos
limites estreitos que hoje lho conhecemos, estendía-se além do Oceano por
paizcs tâo vastos como remotos.»
874) MERSON (OUVIER).
E.— I. Uma collccç^o de artigos acompanhados de gravuras que vêem pu-
blicados no 2.'' volume do jornal francez Tour du Monde (1861).
f
m ME
A3 estampas que acompanham os artigos representam os seguinies objectos:
I.* Egreja da Hisoricordia e casa da camará de- Viaona do Minho. — 3.* Vista
da ponte e ruínas do palácio dos duques de Barcellos-^.* Romaria da Serra
do Pilar— 4.' Visia do caslello de Guimarães, observado da estrada de Braga
— S' Casielio de Guimarães— 6.» Mappa de Portugal— 7,' Egreja de rilla do
Conde— 8.' Egreja de N. Senhora da Oliveira em Guimaràes— 9." Vista do
Porto- to,' Mosteiro deLeç^ doBalio— II.* Torre dos Clérigos— 12.' Raa No-
va dos Inglezes, no Porto — 13.* Praça do Commcrcío, no Porto— !&.■ Costu-
mes dos varinos, no Porto— IS.* Universidade de Coimbra— 16.' Um tumulo
Bo interior da Batalha— 17.> Porta da capolla imperfeita na Batalha— 18.' Vista
da egroja e mosteiro da Batalha— 19.' Casa do capitulo no convento de Tbo-
Biar— 20.' Pórtico da casa do capitula na Batalba— 32.* Toirs de Belem~S3.*
Porta da egreja do Sama Maria de Delem— 34.* Porta do palácio da Pont,
um Cintra- 33.* Palácio da Pena, em Cintra- 36.' Basílica de Mafra.
U. Guide du Vonageur a hisbotins. Hisloire — nuinumeaíi — mwurs. Paris.
Librairie de L. Hactaelle, 18o7. ã.°, Wà pag.
O andor mostra-se todo pretencíoso e piegas, e seu Guia de pouca utilida-
de pôde já servir, apesar dos conLinuos elogios a tudo quanto é português.
• Portugal é pouco conhecido na P'ran;a, e 6 pena. Viajamos muito, á imi-
tação dos ingloEos, mas limitamos nossas excursões ordinárias á Suissft, que
lemos debaixo da mão, á Allemanha que teiaos eomo qve na algibeira. . .
>0s gallegos julgam-!>u orgulhosamente ddalgos desde O primeiro até ao
ultimo, cm virtude de um decrL'to rt^al concedido não sei em (]ue circumstan-
cia. Hoje a tialliu é principalmente adebre pelas numerosas a mcmotonts la-
murias que cantam os peregrinos na sua volta do S. Thiago de ComposieUa.
•As costas de Portugal são menos tristes e menos terríveis que as de Gal-
Uza. Aproximámo-nos em vez de fugir delias, pois suas proximidadee nada
lêem de ameaçador. O perisiillo do Ibeatro de D. Maria II é abaixo di critie».
<A direita do Passeio Poblico aea o jardim de D. Pedro. Um traneei Ga-
mado Haillard fabrica boa cerveja na roa dos Capellistas. Quando Monladií-
qoe oa a Estrella não podem fornecer neve, o botaquineiro faz sem cerlmaiúa
atravessar o Atlanlico a um navio : a America está a dois passos do oatro lado
do Oceano, e é chamado o novo mimdo a preencher a'esta occuião o dejkit
do antigo. As lojas dos cambistas em Lisboa estão immundaa. Ha D'esu eída- '
de cincoenta cgrejas mais de duzentas capellas e setenta e cinco eoanoloi.
•D.Affonso Henriques morreu em Coimbra em IfiSS. Ê na stciistia da
Graça que se vé o mausoléu de Affonso de Albuquerque. Emfim õ necessário
saudar de passagem a egreja dos Hartyres, Encarnação. . . Santo Aniri, ama
das mau antigas da capital, e a de S. Bartholomtu, que foi capella do rei
D. Diniz.
87S} HESNARD (J. B.)
E. — Uistoire du Portugal comprenaní Us ruition» giograpbiqttes, topogra-
phiques, sUitísIiques, adminittraíives, commerciales eU. de u royaume. 'Puia,
1833, 98 pag— Vem esU obra oa BMiolheque Pofidaire.
MI 493
lA historia de Portugal é ama das mais interessantes» das mais maravi-
lhosas e das mais tristes dos povos modernos. Napoleão, que bem o sabia, ti-
nha-a recommendado em sens lyceos; mas indubitavelmente Napoleão via
n*ella menos uma fonte de instmeção para a independência, do que nm foco
de enthusiasmo para o espirito de conquista, qàe o animava mais particu-
larmente.
tNão é todavia menos verdade que a nação portugueza, a qual se ergnea
sobre a rnina dos serracenos, gosou durante alguns séculos de instituições as
mais liberaes, d'uma constituição representativa, e que houve necessidade na-
da menos que do império dos jesuítas, da inquisição e do fanatismo para des-
tniirem suas liberdades, tomal-a a mergulhar na ignorância, e submettel-a
aos déspotas. É a historia d'am paiz tão grande por suas conquistas, pelo ar-
rojo de sua navegação, e por suas assombrosas descobertas, quanto ó limitado
em superfície, e acanhado em população.»
II. D. Miguel, ses aventures scandcUeuses, ses crimes et son tLsurpation; par
un portugais de distinction. Traduit par — . Deuxiéme edition. Paris. 1833. 8.*
gr. 3i2 pag. Com o retrato de D. Miguel.— É um acervo de insultos dirigidos
contra este principe.
876) MESMON (GEHMAIN HYACINTHE DE ROMANCE).
E,—Voyage en Espagne et enPortugal dans Vannée 1774. Bruxelles, 1783.
877) MESTRE (FR. MIGUEL).
E.— Ff(fa y mlagros dei glorioso San António de Pádua, Madrid.— Obra
moderna.
878) MEZA (ABRAHAM HATM lAHACOB DE SOLOMOH DE).
— Judeu portQguez residente em Amsterdam.
E.—Meditaçoens sacras ou sermoens vários compostos e recitados n'este K,
K. de T. T. por o insigne H. H. R. Abraham Uaim de Jahacob de Selomoh de
Meza, theologo, celebre pregador & primeira columna de Beth. Diu desta po*
pulosa & illustre congrega. Primeira parte, contém doze sermões, sacados à
luz da impressão, para utilidade do publico e beneOcio universal pelos orphãos
filhos do auctor, e dos orthographicos, por R. Ishac de Eliam Acohen Belin-
fante. Em Amstcrdan. Anno 5524. Na officina typographica de Gchard Johan
Jansen. Anno 1764. 4.<> gr. *
^ 879) MEZA (Mabstbo SEBASTIAN DE).
E.— Jornada de África por el rey D, Sebastian y union dei reyno de PoT'
tugal á la corona de CastUla. Barcelona, 1630.
880) MICHEL (D.) et ses droits. Paris, 1828. B.% folheto. (G. M. B. L P.)
1 Sr. Innocencio Francisco da Silva.— íHceiofkiHo BihliograpHfíO^XviM 8'*, pag. 5.
m MI
88if lOCHELE (ANTÓNIO).- i'rofoS3or de lingua*. _
EL — Elfmenlos da cotivert/ifâo italiana e porlugueza, lUvirUdos fm duas
partes.— A primeira contém uma collecção de phrases familiares; e a £egand3
urna áe dialogas sobre os aasutoplos mais osuaes. Obra niilissima a aecessa-
ria. Não 30 309 portuguezas qde querem aprender a língua italiana, mas tam-
bém SOS iulianos que querem iastruir-so na portagueia. Lisboa, 1807. Nana-
va officioa de João itodrigues Nunes. â.° 140 pag.
883) laoHEL (F.)
E.~Lettre rfun np-niilhow- porlugai» á an dé si-í amis de Liabonne lur
Vexetuliím. d'Anne tíolnjn, lord fíwltford, Breretoii, Noiris, Staelon, et Wa-
lo», pubití pour la prcnúfre (m avcc um Iraãitclhn fraitçaiu, par—, orcem-
paynie d'une IraducUon avglaise par le mcomie Slramjford. Pariu, cliei Sil-
vestre, 1832.
Eis o que o sr. Inaoccaclo dos dia a pag. 181 do 4* tomo do sea Dw^du-
nario Bibliographico: tEste curicGo documenlo liisloríco-litlerario, dolado de
10 de junho de 1530 [oi impresso nítidamonlo no formato de 4.° em três co-
lumaas de letra miúda, contenda a caria em poriuguez e as duas accu^adas
vcrsíSes franceza e ingleia. Consta que o texto original, ijue sorvia para esta
publicação, tdra mandado do Lisboa a Paris pelo procurador geral da ordem
de S- Bernardo, Pr. Joaquim da Cru:, copiado exaclamoDie do ifue exislia a
n. 138 V, do códice manuscrlpto 47G da biblioiheca de Alcobaça, que se re-
puta perdido. Diz-se que unicamente se tiraram da referida edição vioto c seis
exemplares.!
E a pag. 463 do tomo S.*: iDoscrevendo este curioso e raro i^ascalo, d»
que não tioba algum exemplar, limitei-me a apreseotar aa sou' in^caçÕei,
Ue> qtuu se «leontnm lu CArontca UtUraria. Gampre agwa nctifical-«
«n presença de novas Informações com qae me faTOreoea ha ptweo o ar. Po^
reira Caldas. Diz elle que possue na stia lirrarla um exemplar em papd de
Hollanda, bem como tivera outro em papel vellino. Mais dii que da prinein
espécie se tiraram doze exemplares, e da segunda oitenta e oito, o qoe ^tdu
ao todo cem. Foi impresso na typographia de Pinard, exprassuneote eom »
fim de encademar-se janto ái cartas de Henrique VIU a Anua Boleys, poUi'
eadas com a tradHCção em 1826 por Crapelet.>
883) UOHEL (GABRIEL).
^.—Letire écrtíe d monteignear le priace de Portugal, D. Chriíto^ie, dí>
mewant á Paru, conlenant tm bref ditamrt de ta vie. Paris, 16S3, 8;.*
884) MICKLE.
^—Almada HiU, an epistle from Lúíi0ii.(Casle]lo d' Almada — epistola da
Lisboa).— Parece que o referido Mickle é o traductor Ião contwddo dos La-
siadas.
885) WELLE (JEAN FRAHÇOIS). V. Orí>m (Fortu).
MI 495
886) MILFORD (MARY RUSSEL)
E.^Inez de Castro, A drama in five acts,
887) MTTiTUS (PIEHRE BERNARD).
E.—Extrait du joumcU d^un passager à bord d'un batment parti de Fran-
ce au móis de mai de 1818 pour se rendre à VHe de Bourbofi, contenant des
details historiques et statistiques sur les iles de Cap Vert.
888) MILLEVOYB (CHARLES HUBERT).- Poeta francez celebre,
anctor de La chfUe des ^r5.Nascea em Abbeville no aDoo de 1783, e falle-
ceu em Paris no anno de 1816. ^
No sen poema Invention poetique 2 dedica estes quatro versos a Gamões :
Peintre d'Adamastor, honneur sacré da Tage,
Un riche palétte est ton brillant partage,
La noble invention vient broyer tes coaieurs
Et poar ta tendre Ignez y mela quelqaes pleurs.
Além d'isto Millevoye, segmido nos assevera Ragon \ imitou resomida-
ihente o primeiro canto dos Lasiadas, e como mostra nos apresenta uns 126
versos.
889) HINHANO (Dr. D. SEBASTIAN).
E.^Dkcionario geográfico estadistico de Espana y Poitugal dedicado ai rey
nuestro senor por — , individuo de la Real Academia de la Historia y de la So-
ciedad de Geografia de Paris. Madrid, 1826-1829. 11 volumes, 4.°
O auctor diz ter- se servido para a composição dos artigos relativos a Por-
tugal do trabalho inédito de José Gornide.
890) MINS (OAPTAIN).
E,—A narrative of the naval part of the expedition to Portugal under the
efrders of H. M. D. Pedro, duke of Braganza. With most andbeautiftU illustra-
tions. London, 1833. 8.<' (Relação das operações navaes ás ordens do duque
de Bragança.)
891) MINUTOLI (DR. JULIUS FREIHERRN VON).— Kônigl. Prous-
síschen Wirkiichen Geheimen Ober-Regierungsratbe, general-consul fúr Por-
tugal und Spanien, der Konigl. Akademie der Geschichte in Madrid, der Wis<
senchaíten in Barcelona und in Sevilla, des Ackerbaues auf der Insel Tene-
rifa, der Gcsellschaf fiir Erdknde und der Cresellschaft naturforschender
Freunde in ãerlin, der Gesellschaflen fur Naturgescbichte und fiir Natur und
* Firmin DUloi.^Nouvelle Biographie IJniversellc.
> Visconde de Jaromenha.*'06r(i^ de Camões^ vol. 1.^ pag. tú\.
^ Us Lnsiades (í.» ed.), pag. iC8.
Hei tamto in DiM*»mt mUImiih IiIUmMiiii i^ iMiiir MltrlMliiM hU-
denin nad TtrailH-iniHtdtt MrtBnKilMfMa.
l.*xnMB|iag,ft.*UB;pif
Éa ■ ■ - -
892) aORANDA (ALVITO BDELA FEKEIRA. DE).
Esle padre, scguado nos diz o st. laDoceacío a pag. £4 da 8.° vol. do seu
Diccionario, nasceu em Gallina pelos aonos de 1791.
E.—De(eza de Portugal, semanário periódico, potitiO} e moral. Impressão
Regia, 1831-1833. 3 túI. Este jornal é deteosor do absolotismo.
B93) ICBOIB (Út) if ftt jwiyArt ' i» TMfefc^^ íÍCmM*, tt éi
Mte<>/tiaNp)íi.Psirii,l8BB.'. ' ,' ~ "^ !.;!"', ';.
BH) xnounn (ri fTM llfaiar M F. IMbqAo J«ilà>ft« Ates & * X
M P. AmM BoritolL Bom, IttS. ,
B.— FongiM fMi m 4fwr* MMpr M JBI|W|iri. as fali|ÉI, mÍ A/Itmagm,
en France tí tulleurt, par—. Amsterdam, 170Õ.
896) M* « • •
E.—Agnes de Castro. Nouvella poríagaise. Amsterdani, 1710.
897) M. M. {H.'"').
E.— £»ai d'muíatíím libre de l'Bpitode (CIwz de Castro, dam te poemt det
Lusiades de Camoent, par —. A la Haye, et se vend ft Bmxelles, efaec i. Vao-
den Bergfaen, imprímear-libntire, roe de la Magdelaine, 1773, S.*, 16 ftg.
Traz o oiiginal portDgaez. '
Começa esta imitação da maneira segainte :
O toii qni fais almer, toi qui regia la tarre,
Dlea cniel et channant, qni pias qne le Tonnerre,
Fais redonter les trails, dont ta perces les ccenrs.
Ta Sa couler d'lDÒ8 et le s&ng et les plenrs;
Sonmise à toa poavoír, mus modeste et fidelle.
Too cnlle était l'objet de ses soins les pliu doox.
Et ce fnt la plns tendre, ainsi qae la pins bdie, *
Snr qni s'appasanlit ton foneste coarroox.
< O Er. liKoRdg 4a laramciihii Ullft-nos d'aini ediçio de 17M. Crato ««r em U
inpreDM.
MO 497
Sor les bords consacrés a tes tendres amours,
Ta cueillais belle Inês les frnits de tes beaux joars,
Ge prestige enchanteur, cette erreor sédaisante,
Qai regne avec Tamoar dans une âme innocente,
Et qui finit, hélas! trop-tôt pour le bonheur
Gomposait de toa sort la trompeose douceor.
Les pleors qa'à tes beaox yeox faisait verser Tabsence
Essttiés par les maios de la doace esperance,
Sans de^irer ton coenr exprimaient tes regrets,
Et dans tes champs fleuris, dans tes sombres foréts,
Les échos repétaient d*après ta voix toachante,
Le nom, le nom cheri de Tobjet qoi t*enchante.
11 est un charme heurenx, connu d'une âme tendre,
Qoi fait aimer les pleors, que Tamoar fait répandre,
Ce charme triomphant aa sein de la doulenr
Qoand Tamoor est content fait trouver le bonheilr,
Éloigné de tes yeox, mais t*aimant sans partage,
Ton amant adoro ne voit que ton image.
De sa iidehtó, chers et sacrés garants,
Tes attraitSy ton amour lui sont toujours présents,
Des songes séducteurs la consolante ivresse,
Lui peignent chaque nuit, Tobjet de sa tendresse,
Des souvenirs charmans l'occupent tout le jour
Et tout offre à son coeur les plaisirs et Tamour.
898) M. (Mr.)*— Historiographe de France.
E.— Hwíatftf abregée de VEspagne, de Portugal et de Navarre. Paris, 1652.
899) MAGQUET (JEAN).
E.—Reyes, etc, (Viagem ás índias orientaes e occidentaes.) Dertrecht, 1656.
900) MONACI (£.)
E.—n Canzaniere Partughese delia Bibliotheca VaUcana, messo a stampia
da—. Halle, 1875; foi. xxx, 456 pag. com 2 fac-similes.
II. Canti antichi portughesi. tratti dal Códice Vaticano, 4803, com tradu^
zione e note, a cura di—. Imola, typ. de Ignacio Galeati, 1873, 8.* 12. 32 pag.
V. Bibliographia critica de Historia e Litteratura (Porto, 1873), pag. 244 e 31-8.
901) ÍIONOONYS.
E,—Voyage de Portugal, Provence, Italie, etc. Lyon, 1665.
902) MONCONNT'S Reyze nach Abyssinien, Portugal, Spanien, etc. Augs-
burg, 1697, 4.» (Viagem na Abyssinia, Portugal e Hespanha.)
TOMO I 32
I
903) MONTFAUCON.
K. — Uistoire des t évolulioits du IVrlugal, par — . Limoget, 1889.
9()4) MONFOET (DAMOISEAD DE).
Publicou D3 primeira parto do lomo 3.° das Memorias da Academia Real
lias Scieticias de Lisboa os seguiDtes escriptos:
E.— I. MémoÍTe jur les variíUions des élemens élliptiquet de Patlas et Ciret. >
II. Uémoire sw la comete de 1807. '
905) MONTABOLDO (FRANCAZANO).
E.— Sfunífo novo e paezi novatncnte rilrovati da Américo Vespu2io Fluren-
Uno. Viceoía, 1507.
906) MONTAiaU (ED. DE)
E.—Nova Gramática porlugveza-franceza, ait Melhoilo pratico para apren-
der a iinijiia franceza, ícguida de «m tratado de verbos irregulares. PaTÍ| J
1863. M
907) MONTANUS (ARNOLDUS).
E.~De Wendeien van Oosten, ele. (As maravilhas do Oriente on deacríp-
ção das índias Oriemaes antigas o modeniiis). Amsterdam, 1652.
908) MONTESQUIEU (OHARL£S DE SEOONDAT, BabXo dk la
Brèce b db— ). Publicista, philosopho e litlentlo Irancez, auctor das Lettrrs
Pertanet e do Esprit des Lais.
Nasceu em 1689, b fillecea em Pwía a 10 de rererriro de ITSSj >
Este celebre escríptor tlnba aJguns conhecimenEos da historia a li
portngneza, o que se comprova pelas passagens seguintes :
Nas Lettres Persanes (Cana 78). •Emqtunto is barbas, ellas sZtf r
veis por sua própria natureza, se bem que não se deiía de tirar proveito d'el-
las para serviço do príncipe e benra da nafão, como o fei bem vfr vm IkinoiO
general portngaei nas índias, qae acbando-se necessitado de dlnlielro, a ú
mesmo cortou as barbas, e sobre este penhor maadoa pedir aos haUlniM 4e
Goa vinte mil pistolas emprestadas, qae lhe foram promptamente aaviadai. ■
■Comprehendese facilmeute qae povos graves e flengniaticoí, eoao aqael-
les possam ter vaidade, e Ieem-n'a. Fandjun-ii'a ordinariamanM iobn ia»-
coisas bem consideráveis. Os que vivem na Heapanha e em Portagal iMUa o
coração extremamente exaltado, quando são aquillo a qne dão o nona da
ebrístãos velhos, isto é, não serem descendentes d'aqaelles aos qnaes a in-
quisisão persuadiu n' estes últimos séculos a abraçarem a religilo efarlstã. Ol
qne vivem aas índias não se gloriam menos quando consideram terem o sa-'
blime merilo de serem, como elles dizem, homens do carne branca.
* Volume reterido, d* pig. IS atí Gl. Lisboa, 1819. a
* Idem de pag. 198 sU Í01.
I íiTiaia Diiti.—NouvtUe Bíognphie UMtmtU», nlíta." ' ' -
MO 499
tNada deveria corrigir os príncipes do faror de conquistas longinqaas co-
mo o exemplo dos portaguezes e dos hespanhoes. (Carta 122.) Estas duas
nações, tendo conquistado com uma rapidez incomprehensivei reinos immen-
sos, mais espantados de suas victorias, do que os povos vencidos de sua der-
rota, pensavam nos meios de os conservar, e tomavam cada uma um cami-
nho differente para esse fim. Os hespanlioes, perdendo as esperanças de rete-
rem as nações vencidas na fidelidade, tomaram o partido de as exterminar, e
de mandar para alli de Hespanha povos fieis : em tempo algum desígnio tão
horrível foi mais pontualmente executado. Yiu-se um povo tãojiumQroso
como todos da Europa juntos, desapparecer da terra á chegada d'ostes bárba-
ros, que pareceram ao descobrirem as índias, terem querido ao mesmo tempo
descobrir aos homens qual era o ultimo período da crueldade.
tPor esta barbaridade conservaram este paiz debaixo do seu domínio. Jul-
ga por isto quanto as conquistas sâo funestas, pois que os effeitos d'eUas são
taes. Pois emfim este remédio horrível era o único . Como teriam elles podido
conservar tantos milhões de homens na obediência? Como de tão longe sus*
tentar uma guerra civil? Que seria feito d'elles, se tivessem dado tempo a es-
tes povos de tomarem a si do assombro em que estavam á chegada d'estes
novos deuses, e do receio de seus raios? Emquanto aos portngnezes tomavam
estes um caminho diametralmente opposto: não empregaram as crueldades;
por isso foram também dentro em pouco expulsos de todos os paizes que ti-
nham descoberto. Os hoilandezes favoreceram a rebellião d*aquelles povos, e
aproveitaram*se d'ella. Que príncipe invejaria a sorte d'estes conquistado-
res? Quem querería conquistas com taes condições? Uns d*elles foram cedo
deitados fora; os outros tornaram-n'os* desertos, e deserto tomaram também
sen próprio paiz. A bússola abriu, para assim dizer, o universo. ^ Achon-se
a Ásia e a Africa, das qnaes apenas se conheciam algumas costas; e a Ame-^
ríca, da qual absolutamente nada se conhecia.
«Os portuguezes, navegando sobre o Oceano Atlântico, descobriram a ponta
maia meridional da Atríca; viram um vasto mar que os levou ás índias Orien-
taes. Seus perigos n*este mar, e a descoberta de Moçambique, de Melinde e de
Calecut foram cantados por Camões, cujo poema faz sentir alguma coisa dos
encantos da Odyssea e da magnificência da Eneida.»
Capitulo XIII.--Humilde censura aos inquisidores de Hespanha e de Por- ,
tngal por causa de uma Judia de dezoito annos queimada em Lisboa.
«Vós vos queixaes, mquisidores, de que o imperador do Japão manda
* qaeimar a fogo lento todos os chrístãos que se encontram nos seus estados;
porém elle vos responderá : Nós vos tratamos a vós, que não credes, como nós,
como vós propríos trataes aquelles que não crêem como vós : não vos podeis
queixar senão de vossa fraqueza, que vos impede de nos exterminar, e que
faz que nós vos exterminemos »
Traz por fim um esboço de biographia do marechal de Benvick, o qual se
oppoz em 1704 ao exercito portoguez quando entrava em Bfadríd.
í L'Eipril de* Unt, lif. M., pag, «I.
m MO
OOU) MONTGONT (Monsíbub i.'AbdÉ i>i). .
K.—iVhnoim de — . Publifi par lui même. Contmant In Aíf^intit nego-
liatioiu donl il a eté ehargé daiw le* atura de Franee, d'E»pagne et de Portu-
gal; et divers ávthimnení, qui íoiií arrivês ãepuis famiée 1746. Xouvelle édi-
tion, cúirigfe et auffitirritée. A Lausanne, 1723. 8 vol., 8."
Esta olira foi bi-m conhecida do visconde de Saotarem, qae no tomo Q.*
da suu Quadro Elementar apresenta algoos exiracloa d'ella :
(Para darmos uma idca do qae tratou o abbade de MonCgoot, transcreve-
romos aqni algumas [tariicularidades qau ello rdeta nas suas Memorias.
• Nas vistas, quo n'eslo dia, 19 do janeiro de 1J39, tiveram el-rei de Ucspa-
ntia Q de Porlugal por occasião dos casamentos que então se celebraram, o
abbade de Honigonl Toi nprosenlado a el-rei D. João V pelo marquez d'Abraa-
[OS. O mesmo abbade rerere qne se aproximara então do monarcha e quUera
beijar-llie as abas do vestido, o que el-reí lho não consentira, a Ibe dissera
com um ar alTavcl e cheio de bondade, que folgava muito de o conhecer, e
qae devia estar certo do aprEi;o que d'el!e taiia. Que o infante 1>. António,
que eslava ao pé de el-rei, so servia, fallando-lhe, dos termos mais obseqnio-
so!i, e díE que sem exageração cl-roi se mostrara n'aqaclla occasião, e du-
rante a sua estada cm Elvas com a dignidade, alTabilídade e magnificên-
cia digna de tun rei, e que ninguém se aproximara de sua pessoa, qae não
observasse n'ello aquellas grandes qnalidadcs. (MeTnoir., lonio 7.'', pag. 119,J
tRotcre o mesmo abbade que o marqtifs d? Abraniw, depois que a corte
de Hespanba roliára para Madrid, havja estado ião occopado taat os casa-
mentos e preparativos para soa entrada, qoe elle Ibe nlo pudera fatiar, se-
não superflciaimentfl, na commissão de que o infante D. Higael o tinlui eo-
carregado, porém que estando tudo concluído, ello abbado o fQn ver, e Ibe
informara míadamente da conversação qne tivera com o infanta em Sqóvis, e
da resolução em qne aquelle príncipe eslava de se desposar com madmioiselle
de Sans, Innã do duque de Bonrbon, se isso fosse do agrado de el-rei mq ir-
mão; accrosceotaudo qne o infante linha manifestado o mais gineero daaejo da
entrar na graça de el-rei sen irmão, e de lazer qaanto podease por aleançir
d'elle a Uceni^ para isso necessária, e que prosegnindo Ibe disser» qne bem
entendia qae se não devia fazer abermra alguma sobre aquelle oasuHOto ao
duque e daqueza de Bourbon, sem primeiro se haver o oHuentiniento de S>
U. F. Que o marqaez de Abrantes lhe respondera qoe apesar do grande rec-
peilo que tinha á pessoa do Infante, e do desejo qne lhe assisti* de em todo
comprazcr-lbe, não podia de modo iUgam encarregar se de transmittir a el-rei
seu amo o assumpto d'aqaella conversação, accrescentado qjie ningaem sa-
bia melhor que o mesmo infante o que convinha fazer para entrar em graçt
com el-rei seu irmão.
•Aoquõelle abbade replicara que aqullio já estava feito, porque o in-
fante não desejava outra coisa senão saber qual era a vontade deel-r^ para
com cila conformar-se, e que sendo assim, não Ibe parecia que se faltaste
á dcicroncia devida, supplicando-lbe do haver por bom quo o infante se ca-
MO 501
sasse, o qae nâo podia deixar do renovar a antiga e constante amisade
qae existia entre as daas casas de Bourbon c de Bragança.
cTornoQ-lhe a repetir, segando diz o abbade, o marqaez: Que mo é ve-
dado onvir proposição alguma concernente a S. A. R., do que muito me pesa,
mas S. A. bem deve saber que devo executar fielmente as ordens que me
hão dado. (Memoir.y tomo 6/, pag. 69.)
tSem embargo da resposta do marquez d'AbranteS) continuou o abbade de
Montgont a proceder na negociação da projectada alliança, c quando entendeu
que ella não seria mal olhada em Portugal, assentou que era tempo de infor-
mar o duque e duqucza de Bourbon dos intentos do infante, mas para não
comprometter pessoas de tão alta jerarchia, limitouse a fallar-lhes n'aquelle
negocio, como se fora uma idéa que tinha occorrido ao infante, e que clle lhe
communicára, e como criado affectuoso do duque e da duqueza não quizcra
deixar de communicar-lhes, accrescentando que sendo aquelle projecto da
approvação d*elles trataria de lhes dar seguimento. Folgaram o duque e a du-
queza com aquella participação, agradeceram -lhe e deixaram a seu arbítrio
significar ao infante a alegria com que responderiam ás demonstrações de ami-
sade de que eram o objecto, e lhe encommendaram de os ter ao corrente do
progresso da negociação em que anteviam alguma dií&culdade, sendo a prin-
cipal o consentimento de D. João V.
•Responde o abbade ao duque e duqueza que lhe parecia necessário que
ambos lhe escrevessem de modo a levar el-rei a entrar nas mesmas vistas, e
que visto as relações que tinha com o marquez d'Abrantes, não duvidava con-
seguir d^elle que enviasse a Lisboa as cartas originaes com que Suas Altezas
o honrassem, e que por conseguinte ellas podiam escrever n'aquella confor-
midade a respeito do casamento do infante com mademoiselle de Sans.
•Seguiram o seu conselho o duque e a duqueza, mandando-lhe as sobre-
ditas cartas, e uma em que a duqueza lhe encommendava que fizesse com el-
rei catholico que ajudasse a conclusão d'aquelle negocio, e que sendo isso do
agrado do dito monarcha, ella desejava que o abbade de Montgont podesse ir
a Lisboa para conciliar o infante com el-rei seu irmão, mas adoecendo el-
rei catholico, ficaram suspensos estes projectos. (Memoir,, tomo 6.<>, pag. 6i.)
•O abbade chegou a Lisboa antes do cônsul encarregado de negócios ter
recebido estas instrucções, c foi alojar-se em casa do mesmo encarregado. A
nossa corte fez-lhe as maiores distincções. Toda a nobreza o foi visitar, o se-
cretario doestado escreveu-lhe dizendolhe que elrei o receberia em audiência,
pois o mesmo soberano lhe queria fallar. Elle porém dcmorou-se só vinte dias
em Lisboa, e antes da sua partida para Madrid teve uma entrevista com el-rei,
que durou duas horas. O agente francez diz que ninguém tinha podido pene-
trar o objectoda sua negociação, e que o dito abbade era homem mui fino e des-
embaraçado.
•Entretanto Coxe, na sua obra de LEspagnesmis les Bourbons, diz o se-
guinte: «On trouve dans lat^orrospondanco des ministres anglais à Paris et à
Madrid une foule d^anecdotcs, qui prouvent que Tabbé de Montgont était la
riseé de toat le monde»
I
SOI MO
•O mesmo abbade refere oas suas Memorias ([aoio S.*, pag. Slt, n& data de
15 d'outubro de !729, que achando-se em penúria fura ler com o marquei,
embaixador de Porlugal em Madrid, c quo elrei D. João V lhe mandara dar
uma graliScação de dez mil libras loraeias.
• Em 22 de Tevereiro de 1729 o ministro dos negócios eslrangeiros Chauve-
liD ordena ao cônsul de França em Lisboa que vigie com o maior cuidado o
abbade de Monlgonl duranie iodo o tempo que elle residisse em a nossa carte,
mas que obrasse com tal prudência que nem elle nem pessoa alguma suspei-
tasse que ell(t tinha tal recouimenda^ão. •
910) MONTJOT (F.)
E.—Avnjro or lhe head ín a glass case. (Aveiro, ou a cabeça u'uiiia caixa
de vidro.)
E' de suppor que seja algum romance, mas nada posso asseverar.
911) MOODIÉ (LIMUT).
E.—tíemoirs o( the late War comprising lhe persoiuU narralive o{ lhe Ca-
ptaia Cook, lhe Campaígns of 1809 m Portugal by the Earl of MuMÍrr, and
Ike campaign of I81i in Holland ííi/ — . 2 vol. (Campanhas de 1809 em Portu-
gal pelo conde de Munster olc.)
91!) UOORE (GEORGE).
E.~-lives of Cardinal Alberoni, Iheduke of Ripperda, and marquis of Pom-
bal. London, 1814. (Vidas do cardeal Alburoni, duque de Rippenda, e do mar-
quei de Pombal.)
913) HOBALEB (JUAlf BAPTISTA).
E.--~Jonuida de Africa dei re áon Sebattian. Sevilba, 162S.
914) XOBEAn (FIERRE).
E.—mstoire des demiêret trOubtet du Britil entre leshoUandaàel le$par-
tugait. Paris, 16fil. Foi esta obra traduzida em hoUsndet por Glazman, e im-
pressa em Amsterdam no anno de 1652.
913) MORELET (AKTUUK).— Hembre de l'Acad«me des Sdenm da
Dijon, correspondaot de TAcademie des Sciences de Li^nue, de U Societé
dltistoire natnrelle de la Hoselle).
E. — I. Ues Açores. Notice swr Vhistoire naíurelU des Açores, wivie ívm$
description des mottasques terrestres de cet arckipel, avec cmq pJoNcftct gra-
ves et colorUes par—. Paris, J. B. Baillière et Fils- 4,', 214 pag.
Esta obra é dedicada a D. pedro V, rei de Portugal.
■Foram- as ítbas dos Açores conhecidas de um pequeno numero de sábios
antes da occupaçào portugueza. Figuram estas ilbas já sobre as cartas náuti-
cas do século XIV, e principalmente sobre o famoso Roteiro Meéiceo formado
em 1331 por um navegante genovez : alli estão ellas representadas com uma
exactidão relativa, que nào pôde deixar a mais pequàna dntida. Foi tnesmii
I
MO 503
om docamento d'esta espécie que, trazido da Itália em 1428, decidiu um re-
conhecimento oficial, que se confunde geralmente com a primeira descober-
ta. A exploração emprebendida em i43i pelas ordens e debaixo da direcção
do príncipe Henrique, estendeu-se successivamente durante um período de
vinte annas, desde os rochedos chamados Formigas até ás ilhas afastadas das
Flores e Corvo. Não se pôde roubar aos portuguezes o serviço de terem po-
voado este archipelago, e de terem transformado solidões incultas, perdidas
DOS nevoeiros do Oceano, em um paiz rico e florescente, que forma hoje uma
das melhores províncias do reino. Demais, a pátria dos Gamas, dos Magalhães
e dos Albuquerques pôde dispensar um titulo, que pouco accrescentaria á
sua gloria.
«A primeira impressão que se dísfructa à vista dos Açores é uma impres-
são de assombro. O lúgubre aspecto d'aquellas terras, que apresentaoi o sai-
nete de sua origem vulcânica, fere vivamente a imaginação. Sua grandesa so-
litária, seu profundo isolamento, imprimem também na alma um sentimento
de melancolia. Assombramo-nos de que o homem tenha escolhido para pátria
estes rochedos açoutados pelos ventos e vagas, os quaes durante tantos sécu-
los não tiveram mais habitantes do que as aves de rapina, das quaes deríva
seu nome. No emtanto idéas mais risonhas não tardam depois de terem trans-
posto a trincheira de trachyto, que oppõe um dique ao Oceano, descobrem-se
férteis campinas, jardins odoríferos, numerosas aldeias em fórtna de escada-
ria pela encosta. Reconhece-se então que ao tomar posse d^aquelles legares, o
homem fez uma conquista verdadeiramente util e proveitosa. (Pag. i7.)
«Ainda que o archipelago não prometia ao naturalista uma colheita muito
variada, merece apesar d*isso ser visitado, e poder-nos-hiamos admirar de
que não o fosse mais, se esta falta não se explicasse pela difflculdade de com-
municações. Não se apresenta no seu todo um espectáculo digno de impres-
sionar vivamente o viajante, mas cada ilha em particular contém bellesas de
nm caracter selvático ou romântico, e além d'isto algum objecto curioso que
lhe ó especial. S. Miguel, a principal, ufana-se de suas magnificas caldeiras^
seus lagos azues, cascatas, como o famoso Yalle das Fumas, onde o trabalho
dos fogos subterrâneos se manifesta por pheoomeinos de uma assombrosa acti-
vidade. Santa Maria é a única que possue formações calcareas, rícas em fosseis
marinhos, argilas de uma certa finura, e uma caverna. Pico mostca-nos o mais
alto cume dos Açores terminado por um cone fumegante. Fayal uma cratera
magestosa, na qual brotam aguas vivas, e arrebatadoras perspectivas. Gracio:
sa, um lago subterrâneo. Flores, uma terra anda ornada com sua graça e fres-
cura primitivas. Corvo, um logar [celebre pelos vestígios que alli se teem en-
contrado. A Terceira, finalmente, uma pequena cidade accidentada, a mais
bonita do archipelago. (Pag. 8i).
«Alguns exemplos darão uma idéa da fertilidade do paiz e da intelligente
cultura praticada pelos habitantes :
« Visitei^no mez de junho um campo cujo solo era pouco profundo, no qua
a rocha apparecia mesmo à flor da terra, promettendo uma excellente colheita
de milho, graças ás chuvas abundantes da primeira estação.
:m mo
•No mez do novombro do aono precedente linham n'olle plantado convés,
o semeado trcmoços; as couves tinham sido apanhadas cm fevereiro c subsU-
toldas peio inillio. Em março parle dos iremoços fora arrancada e enterrada
como estrume, o resto dcisado para grão; depois, nos espaços aovos, linliam
plantado balatas e at>obora« meoiníLS. Km julbo devia ctiogar a colheita das
balatas; em agosto a dos tretnoços, (|ue tinham ficado na terra ; em otuubro,
finalmente, a das abóboras monínas t do milbo. É d'esta fúrma qae um fò
campo de medíocre extensão, por nm processo de cultura engenhoso, sustenti
uma família inteira, depois de ler pago sua renda-
lEIs aqui ura outro exemplo de cultura mista, como se pôde observar tre-
qaenlemenlo nos A^rcs. Um bocado de terra fura semeada do favas pelo Xa-
lai o de iremoço ao mesmo tem[iO, em regos parallelos na distancia de cinco
melros. Em janeiro tinham alli semeado cevada, egualmente cm linhas paral-
lelas, mas perpendiculares ia primeiras, o apenas na distancia de dois metros.
Em fevereiro plantaram couves nos inlervallos, á sombra dos tremoços. No
met de maio foi cortada a cevada ainda verde como pastagem, e no meíailo
de junho semearam milbo oníre as favas- No flm do mesmo mez estavam co-
ibidos estes fruclos; depois, om julho as couves, em agosto os tremoços, e em
ultimo logar o milbo. Tal é a feliz fecundidade do solo: produz sempre, sem
atolhamenlo, sem repouso, sem mais adubo que as hasleas dos favaes ou dos
ireraoços enterrados.» (Pag. 100.)
U^Frederie WolwlscJi (Dr.) Vogage dans let im/íiuinei d'Angola et de
Bençuelta, Afrique eqainaxiale. Mollttsquet tunrstvcs et fluvialct pnr A. Mú-
lellel. D\}Qn, 18fi7.
lll.—Catalogiu de la Flora dts iles Açora, precede de riíâterairt ifiNt
vo^age de cet ardupd 1857. Poblicou-se na obra Ménoiret de la toeieti aea-
d^uqtte da departemetU de CAuie. 3*~* terie, tom. 'ò.', 1866.
IV. — Coqaillet «ouvelles reateillie» par le dr. Welntísch dou rAfrupu
Énuatoriíile et de Benguella.—No Journal de Conchyliotogie, a.* 11, pa(. 153»
aimo de 1866.
■Haia recuitemenle, em 186S, o sr. Godman, desejoso de verífleir por si
mesmo os caraclerea e importância da omilhologia doa Açores, percorrea ft
maior parte das ilhas, e poblicoa n'nm jornal exclosivameote consagrado á or-
nithidogja, o írncto das soas investigações. O sr. Horelet menciona sómeols
trínla avas, e d'essas, doas voem apenas designadas pelos nomes vulgares. A
lista do sr. Godman offerece cincoeota e daas espécies.
«Além d' esta differença numérica encontram-se nas dnas listas notáveis dl*
vergencias nas espécies que cada uma d'ellas cita, e nos nomes vulgares alirí-
buidos a algumas avos. Este facto deixar- n os- hi a em grande perplexidade, se
nào reflectíssemos que o sr. Morelet, mui distincto conchylogista, não estaria
habilitado para determinar as espécies com o indispensável rigor, a talvez mes*
mo nào examinasse todas as que cita, e sa contentasse com informações ponco
seguras- O sr. Godman, pelo contrario, é pessoa mais competente em omilho-
logia; e por isso ootendemos que se devem aceitar com conhança as soas io-
MO 505
dieaçoes. (Sr. J. V. Barbosa da Bocage, no Jornal de Sâencias Mathemati-
caSy ?oL l.^", pag. 89.)
9i6) HORELLET (A.)
E.— jL^ Manuel des Inqutstíeurs à Vusage des inquistíUms d'Espagne et de
Portugal, Lisbonne, 1762.
917) MORELI (DR. JUAN BAPTISTA).
^.—Bedudon y resttíuicion dei reyno de Portugal a la sereníssima casa de
Bragança en la real persona de D. Juan IV, rey de dkho remo con las razO'
neSf y causa de la confederacion que celebro cxm el rey christianissimo y otros
príncipes. Discurso moral y politico por—. Tarim, 1648.
918) HORGANTI (BENTO).— Natural de Roma, onde nasceu a 13 de
outubro de 1709. Fonnou*se em Cânones na universidade de Coimbra, e foi
beneficiado na só de Lisboa.
E.— I. Nummismalogia ou breve recopUação de algumas medalhas dos em*
peradores rotnanos de ouro, prata e cobre, que estão no museu de Lourenço
Morganti, bibliothecario do illustrissimo e reverendíssimo senhor D.7Jiomaz,prí'
meiro patriarcha de Usboa. A que se ajunta huma bíbliotheca de todos os au'
thores que escreverão de medalhas e inscripções antigas. Parte primeira offe-
recida á magestade de el-rey nosso senhor D. João V. Lisboa Occidental. Na
offlcina de Joseph António da Sylva, impressor da Academia Real, 1737, 4.%
176 pag., além de um Index alpbabetico dos auctores que escreverão sobre
medalbas, que occupa lxvi pag.
É obra estimada e enriquecida com grande numero de estampas entreca-
ladas no texto, e que se pôde considerar como um resumo de numismalogia
dos imperadores romanos, acompanhado de noticias das moedas gregas e he-
breas. Escreveu ainda varias obras, cujo titulo e importância se podem ver
no primeiro volume do Dicdonario Bibliographico do sr. Innocencio Francisco
da Silva, e das quaes a principal é
n. Dissertação histórica e critica sobre a inscripção que existe no campo
de Santa Anna da cidade de Braga, e huma moeda antiga do tempo de Júlio
César, de que faz menção o M> R» P. D, Jeronymo Contador de Argole nas Me*
morias que escreveu do mesmo arcebispado. Dada á luz pelo doutor Mathias
Pinheiro de Azevedo, e escripta pelo muito reverendo doutor Bento Morganti,
protonotario apostólico e ministro do tribunal da Legacia. Reg. offlcina Syl-
viana, 1742. Folheto de 51 pag.
919) HORGhANTI (LOURENÇO).— Natural de Lucca na Toscana, e bi-
bliothecario do primeiro patriarcha de Lisboa D. Thomaz de Almeida.
E.—I. Vida de Santa Zita, virgem luqueza, traduzida do idioma italiano no
portuguez, accrescentada com uma breve noticia do Santo Christo, ou verda-
deiramente o Santo Vulto, obrado por S. Nicodemus, que se acha na cathedral
da cidade e republica de Lucca em Toscana. Offerecida á sereníssima senhora
Go« MO
D, Marta Barbara, princeza das Aslurias. Lisboa OccideouL Na ofUcioa de
Ãnlouio Pedroso Galram, 173S. t.°, 139 pag. com três estampas, a ultima das
qoaes representa a imagem do Santo Cbrísto coílocada na egreja cathudral de
S. Maninho da cidade de Lacca.
U. Desengano dos Peccadores, necessário a todo o género de pessoas, uliltit-
stmo aos missionários e aos pregadores, que só desejam a saltarão das almat.
Dedicado ao serenissimo senhor D- Uanuel, infante de Portugal- Escriptopelo
R. P. Alexandre de Perier, da companhia de Jesus e missionário da província
do Brasil, eic. Lisboa, 173S. i.", &60 pag. com graode numero de estampas.
930) UORISOT (3. B.)
E.—Recueil de diverses retaiions noavelles deVite de Madagáscar, da Brf
sil, de VEgypte, et dePerse. Paris, 1631. 4."
921) U. P. B. E.
E.—Declaraliún du droit de legitime succestion, sur k ivjaiime de Porlu-
gol apartoiont à la reyne mêre du roy três ckretien, par — . Anvers, 158Í.
921) MOITHEY.
E.— jíííoj portalif de VEspagne et du Portugal, composé de 7 cartes df-ut*
tufes par ~. Paris, 1811.
923) HOITVI deWaccidente di Portugália. Opera dedicata a tuUi Upí-
tenze secolari e temporaii. Avignone, 1759.
914) UOTZVSH Die d'E. Offidern der Militie ia cotuideratie HMen fftc-
nomea ommetdm Vyandt (namentlijiek de PortugetenJ m aceeord te treieà.
Adr, 13 jsanary, anno 16». & folhas. (H. S.)
ttSj UOTTE (HOUDART DE LA.).
E.— ffi^ (b Cattro, tragedií. Paris, 17S3. Ibid. 1774. Bata tngedit dea
ongem aos seguintes opascalos :
L Aytet de Chaiílot, eomtdie par M. Dmtínique. Paris, 1733.
n. aeponteàM-"aut¥Jetd'Inésde Cattro, de M. de LaMotte,Vviial7ia.
111. Beflejôons faUet par Jf* • • tur ínet de Castro. Paris, 1723.
' tV. Leltre a* sujei de la tragedie d'Init de Castro. Paris, 17S3.
V. Paradoxei IMérairu w n^«t ie la Tragedie. Paris, 1713.
VI. Antíparadoxes ou Beftitation. Paris, 1713.
Vn. Le Secretaire du Fantaste ou sujet de la tragedu fínát de CaUn.
Paris, 1713. Haye, 1714.
VIU. Ultre à Mr.de La Motte. Paris^ 1723.
IX. ConsideratíonsphiiosoiAiipiesturles $uíxés^ínesdeCattro.Puisnn.
X. Examen de ia tragedie de —. Paris, 1724.
XI. 4iwlcyie de mr. Houdart de La Motte. Paris, 1714.
XIL La qMrelle de Thalie et deMelpomene a» tvjet A'ínu de Catin. Pa-
ris, 1714.
I
I
MU 507
XIV. Arvest bwiesque en faúeur de la tragedie d^Inêê de Castro, Paris,
1724. 2.« edição, París, 1823.
926) KUJERES (LAS) EspaiiolaSy Portuguesas y Americanas, tales co-
mo sonenel hogar domestico, en los campos, en las ciudades, en el templo, en
los espectáculos, en el taller y enlos salõnes. Description y pintura dei cara-
cter, costumbres, trajes, usos, religiosidad, bellesa, defectos, preocupacUmes y
excelências de la mujer de cada una de las provindas de Espana, Portugal y
Américas Espanolas. Obra escrita por los primeros literatos de Espana, Por»
tugal y America, y ilustrada con una nwnerosa coleccion de magníficos cro-
mos cuyos croquis son detidos ai pincel de los mas notables artistas espanoles
y portugueses.
927) MÍJLLER (JOIO GUILHERME GHRISTIANO)-!
Nasceu em Gottinga em maio de 1752. Em 1772, recommendado pelo dr.
MúUer, reitor da universidade de Gottinga, veia para Lisboa na qualidade de
pastor lutherano para a capella da legação hollandeza. Tratou, apenas chega-
do a esta cidade, de se entregar ao estudo da lingua portugueza, e resolveu
tomar para domicilio perpetuo este paiz, continuando a servir de 1781 em
diante como addido á enviatura dinamarquesa. Pouco depois nomearam-n'o só-
cio supranumerário da nossa Academia. Foi em 1788 encarregado da direc-
ção e classificado das medalhas que havia no museu da mesma Academia, es-
crevendo depois uma Memoria a respeito das medalhas portuguezas, lida á
Academia em 12 de novembro de 1788. Sua terceira obra foi uma addi-
ção ao6 trabalhos de António Ribeiro dos Santos sobre a litteratura sagrada
dos judeus portuguezes. A 23 de novembro de 1791 abjurou o lutheranismo
nas mãos do bispo inquisidor geral. No anno seguinte foi nomeado deputado
da real mesa da commissao geral sobre o exame e censura dos livros, e em
1795 traductor de linguas na secretaria do Almirantado, e em 1801 director
do estabelecimento da Impressão Regia. Apresentou outro trabalho á Acade-
mia com o seguinte titulo : Observações sobre o Glossário das palavras ephra-
ses da lingua franceza, offerecido á Academia pelo sócio Fr. Francisco de
S. Luiz. Veiu a iállecer a 15 de outubro de 1814, época em que andava traba-
lhando na biographia do celebre portuguez o papa João XXI.
£.— I. Discurso histórico pronunciado na sessão publica da Academia Real
das Scienáas de Li^toa em 24 de julho de 1810 por João Guilherme Christia-
no MiUler, secretario da mesma Academia (No 3.<> vol. das Memorias da Aca-
demia^ píJtet.^)
II. Discurso histórico pronunciado na Academia das Sdencias de Lisboa
em 24 de junho de 1812. (No mesmo volume e parte.)
^ Elogio Histórico recitado por Francigco Manoel Trigoso de Aragio Morato na as-
sembléa publica da Academia Real das Sciencias a H de junho de 1815. -^ Metnoriat da
Academia, toI. 4.*
508 MU
Ul. Memcrria sobre a tilteralura portugitaza, trnduzida do ingtez com no-
tas iUusIradoras do texto, por 1. G. C. M.
É Lraducção de um Ensaio estcriplo pelo historiador e poela inglez Robert
Soutbey, o publicado em Londres do Qitai-lerleg Beview de m&ío de 1809. ObrA
de qoe parece haver ama edição impressa em (lamburgo ho mesmo anno de
938) UUNOH (ERNEST ERHES JOSEPH D£}.— Historiador alle-
mào- Nasceu em Rheinfeldeu, em outubro do anno de 1796. <
%.—GTKndzuge der GeschklUe de Teprar.sentaUjsijstems ín Portagai. Leip-
sick, 1827. (Historia do govenio representativo em Portugal.)
oao) SUINOZ (FEANCISCO).— Proionotario apostólico, examíoador y
Iboologo de ta nunciaiura de Espana. Nasceu em Granada.
E.—FuiiictUo áureo, tríplice indissoluble el muy alto y poderoso snor di-
çniisimo rey de Portugal, el mvictissimo emperador siempre augtulo, p ala
escetea magestad calhotica rey de Espana, y at sacro epithitíamio, nupeiaUt
ttas, real himeneo de la princesa de Espana tmestra seUora la íerenissitaa m>
«ora D. Mariana Victoria con el sei'eiátsÍ7ao siempre máximo seiior D. Joseph
príncipe dei Brasil, y la screnissima seiiora Dona Mana Barbara Gloria de
Portugal, honor dei Áustria, con el sereníssimo senor príncipe de Astúrias, Do»
Fernando. Cante Europa, compitiendole profusos ijosos a la reai casa de Cot-
titia; sea indice de tanta universal alegria la i]ae ai glorioso aombre dei ser»- '
nissimo jirincipc dei firiuit consagra iin ingtmio andaluz, que prostrado asut
reala plaiUai le feUcita y adora El U. D. Lisboa Occidental, eu la patrfar-
cftl impresEion de la Uusica. Ano de 17S7. Esta obra em 4.*, de 267 pagina,
é (dlereeída a el-rei D. João V.
930} NOÍÍOZ <D. LDIZ).
E — Vida de fray BarOtolimeu dos MaHyret. Uadrid^ 1645.
931) HDBFEY (JAUEB OAVAHAH).— Antiqaario e archilecto-iagleL
Nasceo nii Irlanda, e ralleceu no amio de 1816. *
E.— 1. Traceis m Formigai Ihrough tke provincei of ErOre-Dowro e l^aka,
Bàra, Estremadura, and Alem-Tejo ín the year* 1789 atui 1790. Cotui$titiç<^
obtenalions cm the manners, custom», trade, prd>lic Bwídings, artt, tmtíq^d-
ttesetc. oftkatKingdom,by-—. Arc^ect.Illustratedwithplatei.LimàmPrin-
ted for A. Slr<Aan and T. Cadell Jun. and W. Davies. 179S. Foi. 311 pag.
Ê uma das mais notáveis obras que - se publicaram no século passado a
respeito do nosso paiz, c por mais de um motivo devemos ser gratos á memo-
ria do architecto Murpby.— Este livro é dedicado a D. João VI, eolão príncipe
do Brasil.
< Vapereau — DUtionnaire da Contemp»rains, pag. 1310.
* Fírnín Didol —NouveUe Biographie VniteneU», lol. 86.°, pag. lOUL
MU 809
cO motivo qae impellía o anctor a escrever esta obra. foi o seguinte : A
maior parte dos viajantes, que até aqoi teem obsequiado o mundo com suas
observações a respeito de Portugal, representam-n*o como um campo estéril
e inbospitaleiro para informações, sem lhe concederem o possuir apenas um
único objecto digno de fixar a attençao do pbilosopbo, do antiquário ou artis-
ta; e na realidade o conteúdo de suas paginas parece confirmar a represen-
tação.
«Gomtudo não me consentirá a verdade que eu apresente a mesma apolo-
gia pela falta de assumpto interessante n'esta obra; se ella não co rresponder
ao fim proposto, não devo a falta ser attribuida áquelle fértil paiz, mas á ca-
rência de talento ou industria da minha parte.
«Uma nação outr'ora celebrada em todos os ângulos do globo por suas
descobertas e conquistas, que abundam nas mais valiosas producções mine-
raes e vegetaes, que tem um commercio da maior extensão e importância, e
possue muitas das mais valiosas colónias no globo, deve fornecer uma innu-
meravel serie de objectos para a consideração do historiador, naturalista e es-
tadista.»
O escriptor sahiu de Dublin a 27 de dezembro de 1788, a bordo de um na-
vio mercante, e dezoito dias depois entrou a barra do Douro.
cAs margens do Sul do Douro, tanto quanto a vista pôde alcançar, são
matisadas com conventos e casas de campo, retiro durante o verão dos habi.
tantes ricos. As alamedas e jardins que as acompanham produzem um effeito
encantador nos olhos do visitante do Norte, ^ em quanto os vendavaes do in-
verno não as teem despojado de sua verdejante folhagem. A laranjeira, que
pôde com justiça ser considerada como emblema da gratidão, aqui excede em
bellesa tudo o mais. A lindeza da paizagem e a serenidade do ar> quando
comparadas com as arvores nuas e agudos vendavaes do paiz, d'onde parti-
mos ultimamente, tomava a transição encantadora.
«Fomos visitados pela alfandega, e com justiça devemos declarar que cum-
priram seu dever com tanta polidez, que mais parecia uma visita de amigos,
do que uma pesquisa official. Aquelles que teem observado as visitas dos em-
pregados das alfandegas inglezas em similhantes occasiões, difflcilmente''acre-
ditarão que tão grande urbanidade exista entre homens d'aquella classe. O
ultimo marquez de Pombal, na sua chegada como embaixador á côrle britan-
nica, foi tão grosseiramente tratado por um grupo d'aquella gente, que o im-
pressionou sempre depois com uma idéa desfavorável da execução das leis
aduaneiras n'este paiz. E suppõe-se geralmente que esta circumstancia ope-
rou como causa dos regulamentos que elle depois estabeleceu relativos ao
commercio de vinhos do Porto, regulamentos não muito favoráveis aos inte-
resses da feitoria britannica d*aquella cidade.
«Depois da visita da alfandega, estivemos á espera da do medico» mas por
se achar doente, mandou um substituto para fazer suas vezes. Este illegitimo
filho de Esculápio mandou que todas as pessoas a bordo apparecessem no
1 Murphy*i Traveis in Portugal^ pag* S.
lia teilttki jnoáMM: Ai-ttMBfltaMMhi) tMOM Imiâ ifti mêêêêOjêêêêboêIêêê WP
lâiii lasoiítt 0 fifeiAa mIm <€Oitit ibiiiob Meu* Hft- itÊíaMiá Mii^'
tiwnnwitaiitx flwwiiiíihi ii*nm tniriiii
k jMtjOOlpiiiHflíi^ IIibAmmí dlnvviift pi^
ItBliihJif ^ tfiWhfli é» i0inln»'iÍt'4iÍBttv»4iu|»iaM^
<i^Briooi^ 6ie>.ipnitMiiiroÍ!gitiMfcJ».defc^^ Oofcftéatrti— lei
pjyaggffl^ieeni altia^jiniirii ■!• t§lÊm*
nÊÊkúú iiÉimdni iTMitocii &'iilft4idiifl MKaÉMaitiliMuiii ttMift(«HiuAMa
tUo >ÊÊBÊit!SÊtBÊBÊL é tHrtiiladt mt nwltiii Wêêêê imi ilili, unilfi idlwfcfiB inr
reeçio de desenho e poraia de colorido, qoe indicavam lalemos nio if«l|a»
ree. Todavia asseveroa-me que difflcilmente podia sair da mlaería^ apesar de
pintar quanto se lhe apresentava, desde a taboleta até o apostola
•Uma senhora, que por muitos annos residia no Porto, rafeire a segoinlo
anecdota de um negociante d'aqaeUa cidade que, toicionando fmhsMmar
seus aposentos com pinturas, dirígiu-se para este fim a Glama, qae por acaso
tinha n'aquella occasião alguns quadros antigos e valiosos para vender por
mn preço muito moderado : mas o negociante, que era melhor joii do somo
da uva, que do^pincel, ficou estupefacto quando elle lhe pediu viole moedas
por um Gorregio, e respondeu : «Que pouco antes linha comprado pela mas*
ma quantia dois quadros novos de maiores dimensões.»
«Glama foi um dos artistas «npregados por William fiuslon (kMiyBgM&
para fazer desenhos e esboços de antiguidades durante sua viagem em For-
tugal, os quaes podem ser vistos na valiosa collecçào d'este cavalheiro eofire
seus papeis relativos a Portugal.
«O edificio da feitoria ingleza está quasi completo. O risco ó do coosiii in-
glez William Whitehead. No alto deve ser coUocada uma estatua. Deveriamos
suppôr que n'um edificio conmiercial, como este, tomando o paia em eooside-
raf^, uma estatua do principe Henrique, o pharol da navegaçio, e a origen
do conunercio, não deixaria de vir a propósito.
1 liurphy't TrawUin Portugal, pag. 9.
MU 5„
i€begaei finalmente á Batalha a 29 de janeiro. A vista do mosteiro re-
compensaria amplamente uma viagem mais longa, e até menos agradável, do
qoe acabava de fazer, ^ e o qae realçava o prazer da vista, era a sna inespe-
rada appariçao, n^oma hora em qne o sol se punha, e cada torre estava doi-
rada com o brilho de seos descendentes raios. As trabalhosas espiraes, co-
rocbens gigantes, e janellas, soas profundas e projectantes sombras, a solidão
siberiana do logar e a venerável appariçao dos frades tomavam esta uma das
mais maravilhosas scenas qne jamais observei.
«A architectnra da Batalha pôde ser justamente considerada como um dos
mais bellos e perfeitos specimens que existem d'aquelle estylo. 'Nao observá-
mos na construcçao da egreja nenhuma d'aquellas insignificantes e supérfluas
esculpturas que muitíssimas vezes sao bem numerosas em outros edíficíos go-
thicos. Todos quantos ornatos ha empregados n'elle estão escassa, mas judicio-
samente dispostos, especialmente no interior, que é notável pela sua singeleza
pura e nobre; e o efl^eito geral, que é grandioso e sublime^ deriva-se não de
alguns embellesamentos meretrícios, mas do mérito intrínseco do desenho.
<As formas de ornatos das cornijas são também dífférentes das de qual-
quer outro edifício gothico que eu em tempo algum tenho visto. Teem uma
tal correcção e regularidade, que são evidentemente o resultado de um dese-
nho original bem concebidO) e sendo também evidente que este desenho foi
immutavelmente seguido e executado n'uma progressão regular, sem aquellas
alterações e interrupções às quaes edifícios tão amplos estão sujeitos.
■Em tudo quanto diz respeito ao ornato e elegância, a porta principal da
egreja não tem rival em qualquer outro edifício gothico da Europa. Pelo que
toca á. construcçao, a casa do capitulo pôde ser considerada como uma
obra prima de architectnra. Do mausoléu de el-rei D. Manuel nem a penna
nem o lápis são sufficientes para exprimirem os reaes me^imentos de seus
lavores. Se este mausoléu estivesse terminado, o mundo moderno poder-se-hia
ensoberbecer de um jasigo etn grandeza e construcçao não inferior ao famoso
mausoléu dos antigos, e a memoria da rainha D. Leonor, a quem alguns at-
tribuem a fundação, seria transmittida à posteridade com tanto applauso como
a de Artemísia. E mesmo no presente estado pôde- se dizer d*elle o que os ju-
deus diziam do de Judas Bfachabeu, que nunca estava sem visitantes para o
admirarem.
Também n^esle mosteiro está o tumulo do infante D. Henrique. Este parece
ter nascido para felicidade do gonero humano.^ Nascido para o livrar do sys-
^ Murphy'g TraveU tn Portugal^ pag. 9i.
* Idem, idem, pag. 6t. Morphy tece D*e8la obra of maiores elogios ao procedimento
enQgelvco dos frades dominicanos doeste mosteiro da Batalha.
O nosso Fr. Francisco de S. Luii (Memoriat da Academia dat ScieMcias^ tomo 10.*
pag. 180) é bem rigoroso para com Hurphy por algumas inexactidões, que oomaetteuno
litro das Viagens em Portugal. «!.• Nem perto nem longe da entrada às^ ^reja se acha.
nem esteve nunca sepultura aliçuma dos mestres das obras, com inscrípçSo que assim o
indicasse, senão somente a de Hatheos Fernandes. 2.* Que mal se pôde contar Matheus
Fernandes entre os primeiros mestres, quando o próprio Hurphy escrefe adiante do sea
«> MU
lema feadal, e p:ira dar ao munda inteiro Utiaa as vml^geDs, U>úa & ha qaa
toisa possível díffundir por meio de am commercio sem limiles. O espirito da
navega;^, qae até enlào tinha adormecido sobra o Oc«aiio, debaixo de seus
auspícios abria suas azas e procurou as mais remotas praias. Em Sagres, co-
mo o grande Newton, viveu em perpetuo celibato, cultivando todas as scien-
cias nobres. A elie, como primeiro auctor, sào devidas Iodas aa ínesLimaveis
vantagens qne (eem dimanado e bão de dimanar da descoberta da maior parte
da Africa e das libas Occideutaes. Que comparado ha entre um Alexandre
coroado com Iropheos á Trento de seu exercito e Henrique contemplando o
Oceano do uma janella do alto de um rocbedo em Sagres? Este pbarol da na-
vegação tem sido celebrado por todos os poetas e bistoriadores de todas u
nações europeas.*
•O nosso Thompson canta eslc celebre príncipe nos seguintes verãos :
For theu, Trom aacient gloom emerg'd
Tbo rising world o[ trade : lhe Genius, then,
Of Navigalion, that in bopeless slolh
Uad Iumber'd on the vasl Atlantic deep '
The LcaiTANiA» PniNCK, who Heaven-inspired,
To love of usefui glory rous'd mankínd,
And in unbounded commerce mixt Ibo world.
•Da fundação do convento de Alcobaça data^ a íntroductão em Portugal ^
da architeclura chamada Moderna- normand a -gothrca. A egreja ó inteira-
mente constmjda n'este estylo, exceptuando a frontaría qne ddu pwa pcwBle.
Hni poucu possuem aquetla grandesa do effeitD peculiar ao interior das egre-
Jas gothícas, qne esta possuo n'um alto grau. Esta egreja â um dos mais anti-
gos specimens do moderno nonnando-gothico na Enropa, e talrac o maisna-
gniOeo do antigo período em que foi fundada. A e^tella dos noriçoa eaolán
uma du mais bellas eoUeoçSea de qttadroa qoe extitem em iodo o reàiQt* •
Bone a anu) de 151B, em qne d& verdide bneceu, e que era o anno 118 aa lU da fi^
da{(a do mosteiro. 8.' Qoe nSo ba fandimeuto algim para le dim qt» BettreCeagtaU
a louiie Conrtdo fousm mestres das obres, t.' Qoe dSo ha em puta tlgun Mlfela i»
mestre Ugstdo, nem de meilre WJIacker; e m Hnrphj qoit dwi^ar OagiMt ftt ttfjU»,
e Boataca por Witaker, nem anim é verdadeire a tna noUeia; porque BMStn OigMt Eá
em realidade mesire du obras, e nlo da* vidrajas ; e mestre Bontaca nan é cettt Isr
lido Bilrangeiro, antes com fundamento o temos por portagaei, nem mbsU qne Imn
fflastrs das obras on das Tídracai, ele. Por aqui se Iara jniio do credíLo qne no* der^
mereur o* estrangeiras qnaodo tratam de nossas coisas, e quando coaflando (ao qne p>-
rece) na nossa igooraocía oa na nossa negligencia, e qna^i indiffereoça, boi diicm bisi-
dades e absurdos sobre aqniDo mesmo qne lemos aos nossos olhos, e qne facilmeate po-
demos eianínar.*
■ VurpAy'1 Traitlt ia Potlvgal_ pag. 69.
' Idem, idem, pig. 90.
* Hurpbj tnt ■'esta logar una dascripçu mui ninnciosa do awilairv.
MU 513
Alcobaça é uma das mais ricas e magnificas institaiçues do seu geoero não
s<') cm Portugal, mas em toda a Europa. E aquelles que declamam contra sua
opulência, fariam bem de se informarem se existe algum fidalgo ou nobre na
Europa que, possuidor de rendimentos eguaes aos d'este mosteiro, espalhe
tantos benefícios por seu próximo, como os frades de Alcobaça
«Nossa attençâo foi despertada pela apparição da cidade de Lisboa, que gra-
dualmente vae subindo da margem do rio com toda a magnificência da ri-
queza e da grandeza. ^ Quando pensamos sobre as vantagens que Portugal
gosa relativas ao commercio, por causa de um tão magnifico rio e commodo
porto, tão felizmente situado para o commercio com o hemispberio oriental e
Occidental, nâo podemos deixar de nos espantar como Lisboa nào é superior
em riquezas, grandeza e população a todas as capitães europeas.
«A estatua equestre de D. José, no Terreiro do Paço, ó um trabalho de um
mérito que nâo deve ser despresado. Quando consideramos o misero estado
das artes em Portugal e a difficuldade de executar uma tão magnifica estatua,
devemos concordar em que grande louvor se deve aquelles que dirigiram a
execução d'ella. O grupo do Norte principalmente possue grande gosto, deli-
cadeza e espirito.
«O zimbório da egreja da Estrella é magnifico. No que diz respeito á exe-
cução tem grande merecimento, mas não é para admirar, pois onde podere-
mos nós encontrar tão excellentes canteiros como em Portugal? Na Europa
talvez não. A verdade porém não permitte que digamos outro tanto relativa-
mente aos architectos. ^
«O cemitério dos Cy prestes foi concedido aos inglezes em i655 em virtude
de um tratado de alliança entre Portugal e Inglaterra na tempo deCromwell.
N'este cemitério jazem os restos do famoso Henrique Fielding; mas sinto ter
que dizer, sem um monumento, ou algum outro obsequioso signal de distinc«
ção digno de seus grandes talentos e virtudes.
«Em 1786 o cavalheiro St. Mark de Meyronet, cônsul francez então resi-
dente em Lisboa, tinha um pequeno monumento para aquelle fim, feito á sua
custa, que actualmente se conserva no claustro do convento de S. Francisco.
Porque não foi admittido no cemitério inglez, não sei; mas aquelles que o ex-
clmram certamente se justificaram por mais do que uma rasão. Em primeiro
logar como monumento é de um risco muito despresivel. Em segundo o epi-
taphio é desapropriado e não poético. Em terceiro parece ser feito antes por
vaidade, do que gratidão; antes para se honrar a si mesmo e a seu paiz, do
que para perpetuar a memoria de Henrique Fielding :
EWGÉ EN 1786 Á HENRI FIELDING, MOKT EN 1754
Sous ces cyprès charniers, parmi ces os muets,
Tu cherches de Fielding les restes mémorables;
* Murphifs Traveis in, Portugal^ pag. 13i.
A arcbileclura do tofuplo éceusurada por Murpby, pag. 109-170.
TOMO l 33
MC
De la mort et du temps deplore les eDet?,
Ou deteste plulõt l'oubli de ses semblables.
lis élèveot par toul des marbres fastueux,
Ua bloc reconnoíssant ict oiaDque á les vibuXi
El ton pas incerlain craÍDl do fouler la cendre,
Sur laquelle tcs pleura chercbent ã se répaodre.
Vieillard, qui 'lélruis loat dans an profoad silence,
Ne dlssDOs poÍDl ce marbre á Píelding consacré!
Uu'aux siécles ã venir il arrive sacré
Pour rboQueur de mou nom et celuí de la Fraace!
•Perto das margeos Jo Tejo eslá situado o magnifico convento e egreja de
Belém. O c-avalbeJro Frezier lu uma respeitosa menção da abobada d'e9ta
egreja, e ninguém conbe<;o mais competente do que elle em assumptos d'esta
qaalldade. Diz pois : lOa pent remarquer dans les aDcJeoDes egiíses golbiques
une varieté admirable de uompartitnensi ce que j'ai vú de plus beau et de mieax
eiecuié dans re genre au Honasière de Beihleem, est auprès de LísbooBO,
en Portugal tani ã l'eglise qn'au cluítre, oú la pluparl des nervares sout de
marbre. > O claustro annexo i egreja apresenta excelleules specimens de or-
DNtos arahesra"; são desenhados com bastante gosto e pbantasia, e executadoc
eoin cuiilado. O aqueducto de Lisboa pôde também ser coosiderado como
mo dos monumentos mais magníficos de constracçào moderna na Europa : a
emqnaato a tamanho não é inferior talvez a qualquer aqueduclo que os anti-
gos nus [eriliam deixado. Aqn<-lla parlo iM)astruida uo valie de Alcântara é de
Diiia conslruci;ão adiiiíraTel. Uina prova de stna solidez é qne nenbtuna injoria
reci^bí-u ilo terremoto. *
<Do cirro menciono O bispo de Beja, cuja piedade e instruecSo fariam honra
aos si-culus apostólicos ou de Augusto : o abbade Corrda, capellão do duqoe
de Latões e o padre Sousa, auctor de alguns irabalbot reltíivoa á língua ará-
bica. Ha outros homens de um talento eminente entre o cloro, mas eseondidoe
em soas cellas.
DESCKIPÇÃO DE CINTRA
Cintra, whose mountains seek ttie skleS)
Thy vallies decl('d in liviag greoo;
Tby Sowrets rob'd in varymg diea,
Witb grottos rorm'd by Fanc/s queen.
BefreshJng rílls tbat never Tail,
Wheu Phsbus sboots bis biightest beams;
» Jfurjifcv"» TrtaieUt, pag. 175.
I A f»f. 181 c 181 «ocootra-ne uma dMcrípçlo doe baiMfiCL<M prodiuiilM palu na-
ta» UMí dit )li>«r'Cordía, 6 ttimliia psr «tM pal«Tr»: •DoujtniDe NDceraoeite |W
tllu M propaguem por leda a part«, « sejam «Anente conlidu peloí linilw d< globo.-
MU 515
Whilot balmy odorous lead eacb gale,
And noddJDg fraits sarvey the streams.
Here Zepbyr courts eacb opening flower,
And birds tbat cbarm, of every soDg;
Here echo dwells in mary bower,
And love tbat lisls tbe wbole nigbt long. ^
cEm Mafra ba algumas estatuas muito bem feitas.»
Eis a traducção d'algumas das passagens mais notáveis de uma obra que
em geral faz os maiores elogios às nossas coisas, e que foi traduzida em fran-
cez por Lallemant (Paris, 1797), e em allemão por Sprengel.^
As interessantes estampas que adornam o original ingjez são as seguintes :
1.* Feitoria inglpza no Porto— 2.* Estalagem dos Carvalhos nas proximida-
des do Porto— 3.* Vista da egrt»ja da B.Ualha — 4.* Plano geral de Lisboa em
1783— 5.* Vista das principaes ruas modernas em Lisboa— 6.* Vista da alfan-
dega e praça do Commerrio de Lisboa— 7.* Inscripçào árabe da peça de Dia
em LÍ!tboa— 8* Inscripçòes romanas existentes em Lisboa— 9.* Uma campo-
nesa do Alemtejo, uma vendedéira ambulante de fructa em Lisboa, e uma mu-
lher da Beira— 10* Um negociante portuguez com sua mulher e criada— li.*
A dança chamada fandango— it.^ Vista de um antigo banho em Cintra— 13.*
Copia de uma inscrípçao em língua sanskrita existente em Cintra— i4.% 15.*
e iH.« Fragmentos de antigualhas romanas achadas em Beja e Évora— i7.«
Aqueducto de Sertório em Évora— i8.* Vista da mãe d'agua de Sertório em
Évora— i9.* Vista do templo de Diana em Évora— 20.* e 21.* Inscripções do
tempo dos romanos em Évora— 22.* Inscripções em latim existentes em Evo-
rá— 23.« Copia de uma inscripção árabe em Évora— Vista interior da capellá
dos ossos em Évora.
• •
Uma outra obra escreveu Murphy a respeito do nosso paiz, a qual tem o
seguinte título :
11. —A general wiew of the State of Portugal, contcUning a topographical
description thereof. In wfUch are included, an account of the Physical and Mo-
ral State of the kingdom; together with observations on the animal, vegetnble,
and mineral productions of it$ colonies. The whole compiled from the be$t Por-
tuguese Writers, and from nottces obtained in the Cuuntry by — . Illustrated
with plates, Lundon, 1798. 4.« gr., 272 pag.
Este livro é dedicadp a D. João d'Almeida de Mello e Castro, ministro ple-
nipotenciário de Portugal em Inglaterra. Trata da biographia dos reis de Por-
tugal, e dos portuguezes mais notáveis, do nosso commercio, marinha, agri-
< Murphy't Travellt, pair. 257. Segue a biographia de D. Jo2o de Castro, que occupa
def>de pag. 259 ate 273. Principia enlAo a noticia do monumento sanskrito existenie na
qniota da Perha Verde em Cintra, e na tradocçâo feita por Mr. Wilkins.
' Firmin Didot — JVotireW« Biographie Univcrsettef vol. 36.", pag. 1021.
SIC MU
cultura, clc-, mas dSo aprosonta pitíisagcm nDlavol quo mereça especial meo
çâo.Ê cDriqDccida com as seguintes estampas:
1.* Estatua equestre de D. José em Lisboa— 3.' Vista da bahia de Lbboa
—3.' Soldados portugueies— 4,* Vista do inierior de uma casa poringuegtar—
S.' Camponezes portUBueies— fi,' Um fidalgo em jornada— 7.' Um frade i! uma
freira— 8.' Carro puxado a Itois— 9.* Viagem em lileira— 10-* A filha d« um
lavrador iudo para a feira de Leiria— ii • Um correio de Lisbna para o Porto
— 13.', n.' s li.' Vistas de touradas— IS.' Vista da cidade o nnivorsiUade de
Coimbra— !6.* Mappa de Portugal.
A obra, poriam, mais importante relativa a Portugal è a magniUca colloe-
(ão das vistas da egreja e mosteiro da Bataliu, obra que importou om mala
de mil libras, o foi publicada á custa Ue William CouyDgÍjam. Sou titalo é o
UI. Plans, eletation», seclioní and vincs of tke Cordt nf Batalha, m Ihr
province of Estremadura m Portugal, uȒfl the Uiitory anil ikscriptian by Fr.
Luiz de Sousa, iciíA retnarki. To which i» prensa aft hilroducloty discourse
on tbê principies of gotliic archrtceture by ~, illiulrated icííA 37 plaíes. Loa-
doD. Printed for 1 aad J. Taylor, Higb Holbom. 1793. Foi. muimo. e obraia-
qnestionavelmeote monumental, dedicada a Wílliam Cooyngham.
<0 real mosteiro da Batalha é um ediScio muito pouco conhecido, se bem
que a oxcellencia de tua arehileciura jiislameule o liaijilila para ser cJassíli-
cado entre os marsccicbrcsedidciosgoiaicos dal£uropa.Hea primeiro conbe-
eimento d'esle venerável monumento proveiu de ver alguas esboços d'eUe em
poder de Wílliam Conyngham, desenhados por elle mesmo o por mais dois
outros cavalheiros, ■ que viajaram em Portugal no anno 'de 1783. Esles esbo-
ços, que são mui boa rcpreseniação do Origlual, deram-me tão alta jdáa d'a-
qaelle monumento, que despertaram em mim um ardente desejo de o visitar,
e tendo-me os mencionados cavalheiros generosamente offerecido sua protec-
ção e auxílio, sai de Dublin n'Qm navio mercante, e cheguei ao Porto em ja-
neiro de 1789. Depois de breve demora, puz-me a caminho, e passados sete
dias cheguei á Balalba, onde fui benignamente recebido pelo prior e por toda
a communidade.
•Etas o outras considerações egualmente interessantes induiiram-mea
medir é delinear o mosteiro com o possível cuidado; o que completei em treia
semanas, dnraolc o qual tempo me alojei e comi no convento. ConsÍdero-me fe-
liz por esta occãsião de dar meus mais sinceros agradecimentos ao prior, hos-
pedeiro-mór e aos demais frades da Batalha, pela polidez e altenção com qne
sempre me trataram. A piedade, hospitalidade a simplicidade d'cjtes reve-
rendos padres diQlcilmenle pôde ser Imaginada n'úste3 degenerados tempos:
trazem á lumbrani:a a desiTipção quo os historiadores nos apresentam dos
■ D loiuuel T.ií.iht V o caiiiUu btou^Ltou.
MU 517
christaos dos séculos apostólicos : sua santidade do costumes realça a digni-
dade da mansão venerável onde habiíam.
ASSUMPTO DAS ESTAMPAS
!.• Arcos de varias espécies — 2.» Fragmentos de architeclura golhica —
3.« Fragmentos d'architectura gothica— 4.* Costumes religiosos do século xiii
—5.* Corte transversal da egreja da Batalha—G.» Plabo geral da egreja e real
mosteiro da Batalha— 7.» Alçado do norte da egreja da Batalha, com o mau-
soléu nào acabado do rei D. Manuel— Corte longitudinal da egreja da Bata-
lha—9.« Alçado do arco cruzeiro da Batalha— 10.» Corte da casa do capitulo
da Batalha— 11.» Alçado do norte do refeitório da Batalha— 12.« Alçado Occi-
dental da egreja da Batalha- 13/ Alçado da porta principal— i4.» Visita in-
terior da egreja— io.* Mausoléu do rei D. João I— i6.» Corte do mausoléu do rei
D. Joàol— 17.» Effigies do reiD.Joào I e da rainha D. Philippa— 18.« Entrada
do mausoléu de D. Manuel, o Grande, rei de Portugal. Estampa dedicada a
S. A. o príncipe do Brasil— ID.» Risco para completar o mausoléu do rei D. Ma-
nuel—20.* Arcos pertencentes ao mausoléu do rei D. Manuel— 21.* Ornatos e
motes pertencentes ao real mosteiro da Batalha— 22.« Columnas, ornatos e je-
roglificos do mausoléu de el-rei D. Manuel— 23.* Pilares da egreja da Batalha
—24.* Coruchéu da extremidade do norte— 2o." Cancellos, cornijas e meda-
lhões arqueados— 26.« Portada do volume (no principio) — 27.» Retratos (no
principio).
932) MURU (CKRISTOPHE THEOPHILE).
E.'-'Geichtche der Jesuiten in Portugal under der Verwalting des marquis
von Pombal, Nuremberg, 1787-1789. 2 vol. (Historia dos Jesuítas durante a ad-
ministração do marquez de Pombal.)
933) MURR (M. DE).
E. — Notice sur le chevalier Martin Behaim avec la description de son glO'
be teirestre, tradmte de rallemand par H. J, Jansen.
934) MURY (Padre PAULO — ).
Escreveu a vida de padre Gabriel Malagrida em francez, de que nunca pu-
de encontrar o original, mas appareccu traduzida pelo sr. Camillo Castello
Branco com o seguinte titulo : Historia de Gabriel Malagrida, da Companhia
de JesuSy apostolo do Brasil no século xviii, estrangulado e queimado no largo
do Rocio de Lisboa^ aos 21 de setembro de i761. Auctor — , da mesma compa-
nhia. Trasladado a portuguez e prefaciado par — . Lisboa. i875.
935):muS0NE.— Maestro iulíano.
E,— Camões. Opera.— Foi cantada em Nápoles no anno de 1873, e em Par-
ma no de 1874.
936) NACHRICHTEN (EINIGE) iwi der Portugiesischm mde iwn BiU
cliern dií itber Portugal gescríeben siitd. Frankrorl an der Oder, 1779. J
937) NAHHKJSTH VON PORTUGAL. -Francfort, 177Í, i vol. M
938} NAHOUHTEN von den Portugiezircken Hofe, ríc. (Promenores so-
bre a PÒrte dp Poriupal e adinínbiração politica do conde de Oeiras. Exirahi-
do3 d'Lima correspoadencia original, e traduzidos do iagiei. Prancfort, 1768. 8.*
939) NAHARRO (BARTHOLOMEU DE TORRES).— Poeta drami^
tico bespanbol, qae vivia no século xvi. >
E.—Trophea.
É um drama composto em bonra das glorias poriugneus no tempo d'el-
rel D. Manuel, representado em Roma na occasião em que o menrioDado rd
mandou ao papa Leão X aquella celebre embaixada tão coabecida ni bisloríi
d'este monareba.
940) NAISSANOE (LA) d'un monílre ayaní la face humame, la tête et
te reste du corps couvert d'u7ie armvre, façon dicailles, né à Dsbomie, vUU
eapilaie du Portugal, ie lundi 10 avril I62tt,«t morl le (4 dumêmemoU, at>ec
let noms de pére et de la nére. Tradaít de Vespagnel m françaú- Paris, 1638l
16.*, fuibelo. (C. H. B. 1. P.)
941) NANTES (FR. BERNARDO DE)-— Capucbinbo trancei, e mis-
sionarío no Brasil.
E.—Katccismo Indico da tingna knriris, acrtscenlado de varias praUcas
doutrinaes e moraes adaptadas ao génio e capacidade dos índios do Brasil.
Lisboa, por Valeolim da Coíla Dcslande?, 1709, 363 pag.
' Firmin DJdnl. — JVouBcíIe Biographie UnircrstUt, tomo 37.*, pag. 130. Trat d(u>
doscripçín ilfípn vol vida dn Trophra.
NA 3i9
9i9) NAPIER (Admiral CHARLES).— Vice-almirante inglez.
Nascea a 6 de março de 1786, e fallecea em 6 de novembro de 1860, em
Londres. Como é sabido, estpve ao serviço de D Pedro contra sea irmão
D. Miguel, pelo que obteve o titulo de visconde do cabo de S. Vicente. ^
E. —An account of the War in Portugal between D. Pedro and D, Miguel,
London, 1836. Foi esta obra traduzida em portuguez por Manuel Joaquim Pe-
dro Codina, e impressa em Lisboa no anno de 1841.
943) NAPIER (Str WHJJAM FRANCIS PATRICK).— General e his-
toriador inglez. Nasceu em Castletow (Irlanda) no anno de 1785, e fallecea em
Giapham no mez de ft^vereiro de 1860. ^
E. - 1. Histoire de la guerre dans la PerUnsule et le midi de la France. 6
vol. Acabada de imprimir em 1840. Traduzida em francez peio general Ma-
thíeu Dumas.
IL Les batailles et les sièges des anglais dans la Peninsule.
III. A letter to general lord Beresford.
IV. Reply to lord Straford's Observations. On some passages in coUmel Na-
pier's History of the War in the Península. London, 1827.
944) NARBIN (THOMAZ).— Negociante francez. Nascea no anno de
1540 em Besançon, e falleceu em 1610. '
E,— 'Histoire ghíérale de Portugal et des Tndes Orienfales, Ensemble les der-
niéres guerres des portugais contre lesmaures d' Afrique ^elVurdon de ceroyau-
me àla couronne de Castille. Ou se voit plusieurs batailles. Traduite de l'tía-
lien en français par — . Arras, 1617.
Vejo mencionadas outras duas edições, ama em Arras, 1600, e a oatra em
Paris, 1680. V. Conestagio,
945) NARRATTVE of the persecution and imprisonement in Portugal of
William loung. London, 1833. (Noticia da perseguição e prisão de—).
946) NAXARA oa NAJERA (ANTÓNIO DE).— Este escriptor é con-
siderado por uns como hespanhol, por outros como portnguez. ^
E — Discursos astrológicos sobre o cometa que appareceu emíS de novem-
bro de 1618. Lisboa, por Pedro Craesbeeck, 1619. 8.<> de 28 pag.
947) NAYLIES (SIL, DE).— Officier saperieur des gardes-da-corps de
Monsiour,chevalier de Saínt Louis et de Ia Légion d'Honnear.
E.—Mémoires sur la guerre d^Espagne, pendant les années 180&-1809-1810-
1811. A Paris, 18i7, 8.» gr., 338 pag.
^ Fírmin Didot. Nouvelle Biograpkie Universelle^ vol. 37.*, pag. 182.
2 Idem, idem, vol. 37.«, pag 179.
> Idem, idem, vol. 87.«, pag. 162.
^ Sr. loDOceocio.— Dtcctonarto BibliographicOy tomo L^ pag. 211.
:m ■ NA
iKii cnlrava em llmaii liando u meu ri*Blmenif) iralli salii.-i para sciliripr
w) Minlio; lomo pusÍi;ão i-iii SuDla Haiia de Coila, perto d» HÍdIio, rtu 1)00
n'«3le logar separa a (ialUía de Poriugal-
• Ao boato do nossa aproximai;.^!) os sinos [oearam a rubatn por toda a
parte sobre n marguni esquerda, e a noite foi idaminada com uma qoantidado
immuDsa de fogueiras aL-ce^^as pelas bordas do Minho. No dia IG, ao liospontar
da manliã, avislámos nmaebuscna docamponezes de Portugal, iguo bordavam
a margem oppusla. Apesar da agua aos eaoUros, o Dumero crescia a. cada
jDstanii?. Cobertos do capotes de palha, cuja còr so courundia com as> das ro-
chas, alguns avançavam ab^ entrarem na agua o aliravain sobre tudo que aa
aproximava do rio. Defronte da aldeia de Saiiia Maria de Bidé a margem me-
nos escarpada offerecia um logar favorável para um d<!9em!)arqiie. Como os
portugueses sabiam que linbamos algumas barcas c jangadas, receíaram nm
movimento sobre este ponto, e para alli se dirigiram cm cbusma. Lovaotaram
uma bateria em poucas horas, onde assentaram duas peças de calibre mui pe-
queno. Mais de quatrocentas mulberes, entre as quaes se viam moitas freiras,
traballiavam n'esla obra, umas com a enxada na mão rívalUavam com os ho-
mens mais robit.=los; outras levavam terra em cestos oa sas saias, o a lançavam
para fora da irincbeira; os meninos, que oâu podiam trabalhar, levavam a
seus pães vínlio e alimentos i alguns frades com a cabeça descoberta a a ta-
nica arregai;ada, dirigiam tudo; estavam em Ioda aparte, e corriam para onde
o perr^o ^ra maior. Com seus discursos e exemplo electrisavam esta mollidão
que bastante nos odiava sem a ajada â'e!les. Pag. Cã.
■ (Juando entrámos no Porto, e o povo fugiu pela ponte, esta ijuebrou-se :
am numero inSnito de habitantes morreram afogados; a maior parte, porãn>
agarradas ao que restava da ponte, e opprimidos pela multidão que ia a«n-
pre crescendo, foi metralhada pela artiibeda poriugueza, que da margem es-
querda atirava contra a nossa columna : este espectáculo era horroroso. Vi
um outro, que prova quanto o fanatismo da liberdade animava o povo; am
soldado de infanteria ligeira acabava de atirar para as margens do Douro,
avista uma mulher que luctava contra as ondas; deita-se á agua, toma-a pe-
los cabellos, e põe-a na praia. Era uma rapariga de dezoito a vinte annos:
seus vestidos denotavam uma pessoa da classo distincta. Itecaperou os senti-
dos, lança em torno de si um olhar desvairado, reúne sua^ forças, e corre a
precipitar-se no rio uma segunda vez, dizendo : iNão, não deverei a vida a
monstros que dilaceram rainha pátria l> Que heroísmo! Quanto não era para
receiar de um povo que mostrava tão grande energia! Pag, 99.
■Precedidos pelo terror que inspirava nosso nome, não achámos habitan-
tes em Penafiel : um velho octogenário, que não" tinha podido acompanhar os
seus para as serras, ficou sOsinho; estava assentado n' ura marco, na praça
publica, e dirigia supplicas ao céo. O Cugo que brilhava c-:n seus olbos e os
olhares que dos lançava indicavam bom a (lualídade das supplicas que faiia
para nós. Um silencio medonho reinava na villa, só interrompido pelo som
Qniforme das horas, e pelo ladrar de altiuns cães abandonados. As armas da
casa de Bragança postas nos edifícios públicos estavam cobertas de crepe, e
(
NA 521
pareciam indicar o lacto da sua pátria. Todas as casas estavam abertas, só as
egrejas se achavam fechadas, como se nossa presença devesse profanar a san-
tidade d'ellas. Os comestíveis e tudo quanto nos podia ser útil, tinham sido
levados ou destruídos. Este ódio implacável de nossos inimigos, este cuidado
continuo de nos prejudicarem e estes grandes exemplos de dedicação fizeram
desde então alguma impressão no espirito de nossos soldados, acostumados a
viverem em casa dos bons allemães, e tão tranquilíamente n'um dia de bata-
lha, como em seus alojamentos.» Pag. 103.
«A 12 de abril, pelo meio dia, o inimigo, vindo de Amarante, nos atacou
em três pontos. Sua mtenção era de se apossar da ponte de Sousa, e de nos
cortar a retirada. Foi enganado no seu projecto, porque deixámos Penafiel, e
fomos tomar posição na margem direita d'este rio. O general Silveira eomman-
dava esta expedição : tinha ás suas ordens um capuchinho conhecido no paiz
por sua audácia e força prodigiosa : chamavam-lhe o capitão mouro, vestido
de vermelho, com um cinto preto, viam-n'o à frente em todos ataques, e foi
um dos primeiros a entrar em Penafiel. Esta villa, na qual não tínhamos visto
uma única pessoa durante nossa residência, foi bem depressa cheia de habi-
tantes. Appareceram como por encanto ás janellas e telhados, atirando com
pedras, mobílias, e com tudo quanto se lhes apresentava ás mãos. Um mise-
rável remendão, que tinha entrado havia dois dias, e tinha ganhado muito di-
nheiro comnosco, distínguiu-se pela sua faria : atirava com suas formas e fer-
ramenta á cabeça dos soldados da infanteria da retaguarda, e parecia fazel-o
com tanta mais animosidade, quanto receiava que seus compatriotas lhe impu-
tassem como um crime o ter trabalhado para os francezes. O toque de re-
bate fazia-se ouvir por toda a parte, o som lúgubre e pavoroso dos sinos im-
primiam uma espécie de espanto, que nunca fora inspirado pelo ribombar da
artilhería e da espingardaria.» Pag. 109.
«Até 10 de maio, que occupámos as mesmas posições nas alturas de Ama-
rante, experimentámos as mesmas difficuldades para forragear e obter subsis-
tências. Os obstáculos sempre crescentes e os movimentos dos inglezes sobre
Lamego tornaram a nossa situação muito assustadora. Encontrávamos ainda
alguns recursos na margem esquerda do Tâmega, mas era mister disputal-os
aos camponezes nos bosques e nas serras. Gorría-se atraz de um habitante, co-
mo de uma fera, e os soldados, gritavam pegando nas espingardas : «Acolá
vae um homem, acolá vae um homem!» e corriam em sua perseguição, até
que o matavam. Yí um, cuja perna se partiu, e cahiu sem abandonar sua ar-
ma, teve ainda a coragem de se deitar de frente e de matar um brigadeiro do
meu regimento. Vi ainda n*outra occasíão um velho de cabellos brancos ani-
nhado atraz d'uma pedra com uma espingarda de dois canos, e armado de
bayoneta, ferir três homens e cinco cavallos : não se quiz render, e foi neces-
sário matal-o á pedrada, defehdendo-se por muito tempo.» Pag. 118.
NE
•Encontrámos no caminho, perto de Lixa, am dcílacamenlo d« S5 homeai
coinmai]d{.do por H. de Saini Gfniès Es(h ofSHal era portador de ordens
do marechal. Com suas pequenas rori;as tínba atravciiísadu muitas povoaçõe*
insurrec£ionadas. Tiaham-n'o tratado bem, tomando-o por inglez; porém rft^i
conheiudo D'uina aldeia pela ímpradenrja d'um soldado, foi investido p<-lo po*
vo, que disparou contra eile. e lhe arrojava pedras. Carregou contra esta mal*'
tidan Turiosa, e con.=egaíu sahir do uma rua estreita, onde deviria morrer
com Ioda a sua gente, cora excppção de três homens, que foram apanhados.
Quando passámos por esta povoação, arhamol-os pregados de pia e mãos co o-'
Ira uma parede : ainda respiravam.! Pag. 123.
Esta obra foi traduzida em inglez com o seguinte titulo : Traveli m Pot'
lugal and Spain compriiing an account of lhe opei-ation» of íhe arms nndir lh«
dakt of Wellington and sir John Uoore. (Viagens em Portugal e HespaahaV'
9i8) NEOK (J. VAN>.
E.—Sltipvaert op Oost Indie. Amslerdam, 1648. i.' (Viagem ás Indiu''
Orieataes.)
949] NETO (DATID).— ludea nascido em Veneza, medico, e prégadtf
na eynagnga de Leorne-
E.—Notirioi reconditoí y posthumas dei procidimiento de las inquisicionei
de Espana y Pcirlugnl con sus presos. Divididas rn dos partes: In prim/Tit m
idioma português, la segunda en castellano ; drdiisidns de autores CaloUrot,
í^iottolicos y romanos, emauniet por dignidades ó por leírai. Cimpilaâat jr
ofuulidtuporunaiumifnío.Villa Franca, 1722. A impressão foi feita em Londres.
Foi vertida em latim com o seguintd titulo : Notiíias recônditas de proeetm
inquititionum in Hispana et Luntonia advertut Hiot, gui ín carcer^nu iUanm
àêtínentm-. Londini, 1722.
fitSO) NETSOHER.
E.—Let hollandais au Brisil, notice hiítorique sur let Payt Bai et te Bri:
■ti a» xvu siécle. Paris, 1869, 8.' Ha outra edigào impressa na Haya, 1853,
951) HEUESTES QEIIALDE t»» lÀStabm. Leipsig, 1799.
952) NEUVILLE (Un. JAOQnES LE QUIEN).— Historiador tnaeeL.
Nasceu em Paris no anno de 16^7, e Tallereu em Li»<boa a SO de maio de 173S.
Diiem que a sua Historia de Portugal Ibe custara mais de trinta anoas de in-
bslbo.i
£.— Hitloír; génèriU de Portugal par —. A Paris.CheiAnaissoa, dineteor
■ Firmio Didot.— ÍVohmUí fíograpAit UMvtTttiU, vol. S9.* pag. ZVl.
NE 5»
de limprimerie Royale, 1700. Tomo 1."», 4.« gr., 626 paginas; tomo 2.% 606
paginas. ^
O tomo primeiro tem em primeiro logar a dedicatória ofTt^r^ cida a el rei
de Portugal. Segae-se uma advertência, na qaal declara o meihodo que ten-
ciona seguir na sua historia, que vem a ser ~ informa r o leitor das ailianças»
guerras e tratados de paz que os portuguezes Ozeram com as nações que des-
cobriram. « Ver-se-ha primeiramente o nascimento do rei, sua educação, casa-
mento, numero de seus filhos, suas ailianças, seus empregos, acções, descen-
^cia, morte, etc.
Âpoz esta advertência, que occupa seis paginas, apparecem transcriptas
as leis das cortes de Lamego, seguidas de uma taboa chronoiogica dos reis de
Portugal até ao anno de 1521, em que termina esta historia, não a tendo seu
auctor podido ultimar.
Como era próprio da época do auctor, principia sua narrativa faliando-nos
de Tubal, dos carthaginezes, romanos e outros povos antiquíssimos. Felizmente
não nos falia nem na historia dos Geriões, nem de outras muitas patranhas,
com as quaes Fr. Bernardo de Brito se entreteve a encher paginas e paginas
da sua Monarchia Lusitana.
A pag. 21 começa a descrípção chorographica de Portugal, fixando sem-
pre suas vistas para as fortificações do reino, das quaes trata com alguma mi-
nuciosidade. Pelo que diz respeito aos mausoléus da egreja de Belém, diz :
•En fait de tombeaux, il n*y a rien de pius beau en Europe.» *
^ «Le Quieo, da Academia Franceza, bavia começado a escrever uma Historia de PoT'
tugal no tempo de eUrei D. Ped~o II, que acabou reinando D João Y, pelo modo que
elle refere em carta escripta a Mr. de Torcy, de 10 de abril de 1715. na qual expunha
.ao sobredito ministro, que tendo o embaixador abba e de Uornay falUdo por vezes ao
conde da Ericeira, de que elle havia escriplo uma Hiitoria de Portugal, o conde lhe dis-
sera que tinha em seu poder muitas memorias e documentos sobre o mesmo assumpto :
qu« informado elle LeQuien d^aquella particularidade, se determinara a ir visitar o conde
que achara ler muita m:itrucçao, e que o conduzira a c^sa do cardeal da Cunha, a quem
o apre^^nlára; que tanlo o cardf^al como o conde haviam sidu de parecer que antes d^elle
Le Quien adiantar mais o seu trabalho, deveria tratar de fazer os seus cumprimentos a
el rei : que elle havia seguido aquelle conselho, e que el rei lhe dera audiência, e o tra-
t&ra com a maior benevolência, e lhe dissera que trabalhasse c<im o conde da Ericeira, a
quem nomeara por censtor e examinador do seu terceiro e ultimo volume, e porque esta*
va informado que el-rei seu pae o não havia recompensado, cumo devia, dissera ao se-
cretario doestado que o queria fazer, o que pozera em effeito dando-lhe uma pensão e o
habito de Christo: motivo por que lhe pedia houvesse de obter de el-rei de França sea
amo licf^nça para aceitar. Foi-lbe concedida a dita licença por despacho de 5 de maio do
referido anno.» Visfconde de Santarém.— Quadro elementar das relações politicas e diplo-
máticas de Portugal com as diversas potencias do mundo, tomo 5.<>, pag. 211.
«Mr. de Neufville a supprimé um grand nombre de faits inleressants, et il a passe
lég^rement »uif plusieurs faits interessants. La vue de Mr. de la Glede en composant une
Douvelle a étó de donner une histoire plus complete et plus exacte, que celle de Mr. de
Neufville • Journal des Savants Maio de 1735, pag S61.
« Neufville.— íÍMÍoirc de Portugal, pag. Í61.
V
■«I
■ IH NE .
* ^ O segmido Toliime, apesar 4as snájs tSOS paginas, abrsnge apenas ti nbia*
do de D. Hanaeli cega biograptiia é baseada sobre os eser^tos de noÊtímUA'
toriadmres portògaezes e estrangeiro^. Era a ^^oèa em qoe a nossa glorfa^ es-
tima no apogen^e por Isso tinbaNettlViBeniolivopail^fiten <iBlii aelo âé lÉa-
àifesto da lyboU^ do paganismo, e da propaga^ da fá, daira lodoi^oa ^Bis
nofo esptador. á tepotaçio de Mami^ nas o0Hes eSMajieinA. €0010 8i^
jflMmdo I, leí da PvAonia, tifesse as mesmas infanoSBá qo» éHe, iluda «liiáira
fytwBobiresa de sen roino no exereleio daà armas para a ftiêr auurehtt^^m
dia a tão gloriosas expediçSes. Três d'e8te8 JovaiB polaeos, qoê éen^nMi '
eott pidzio Ter o rei, e fàier para esse fim íunaTiagem a BorMiai^ a^õl^iie-
.ram, e eoidieeermn eem effsfite pesBoalmeofie lofoeUfliiim omMè i^fOE
ptfbMea. Mannel henrbn-os com a ordem de eavaliaria, qne lhes conferia por
soa iHrq^ria mio, e fea^lhes donativos aeeommodados i sna edado.» ^ *
B HYBZ Pg)>'-^-Bmiia!irior
llraiieex om Usboi^ no lempo doD. João YI.
KrrDe la quetikm poirtugais$. Paris, 1830.
9M) NEUKAN.
E.— IVbtítèitf i» aanãâU risâèUm SociekUis Jem icr^^ malíúgfcU Ir B|-
UioSieea VeáUcaiwà eslflmlAt», gnoHim apogra^h» VÍMímae assérvaU dfenii-
iur. ^otieia doã esefiptos sinologos de Glandio IHsdelou, existentes na BHiSo*
tbeea Yatieana, e dos qaaes se dii existirem os apographos em Lisboa.)
955) NEW (THE) QUARTELY REVIEW.
Apparece n*esta pablicação uma viagem com o segaínte titcúo : Notes of
Travei in Portugal,
O viajante entroa em Portugal, vindo de Tuy. Apesar de só um rio, e não
muito largo, separar os dois povos, acha o camponez de Portugal muito supe-
rior ao hespanhol, e elogia muito a hospitalidade do nosso paiz, e finalmente
admira o grande numero de diamantes que os portuguezes possuem, atten-
dendo á pequenez do reino.
«Mal conheço algum outro serviço maior que se podesse prestar ás lettras
do que a traducção (pag. 36) para francez ou inglez dos três volumes da His-
toria de Portugal por Alexandre Herculano, por isso que é o mais eminente
dos escriptores portuguezes vivos. Herculano é talvez o primeiro historiador
do presente século. Seu estylo puro, nào egualado em Portugal desde o tempo
de Barros, cognominado o Livio de Portugal, é um frisante contraste com os
escriptos rhetoricos de muitos de seus contemporâneos. Sua agudeza e sen-
satez na appreciação das auctoridades, sua lucidez, e a arte com que faz que
o leitor fique satisfeito com a instrucção do auctor, sem lançar na sua narra-
tiva a aridez dos chronístas, entre os quaes suas investigações se baseiam, es-
tas são as qualidades que n'um historiador o mundo não tomou a ver depois
í Neuíville.— f/tííoire de Portugal, pag. 470.
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da morte de Gibbon. Infelizmente, a historia de Herculano apenas cbega ao fim
do secalo xni.»
956) NICOLAU (VITO PERERA A SANTO—). E clericís regularis
scholaram piarum.
E. — Oratio de felicitate Lusitaniae a regibus brigarUinae familiae aucta ol-
que amplificata ad quosdam académicos illustrissimos ac doctissimos viroSy ha-
bita die iSjanuarii anrd Domini 1755. Superiorum Permissu. Matriti: Apud
Joachim Ibarra typographum Urosarum via, 4.<*, 30 pag.
Esta narração, na qual celebra os principaes feitos dos reis de Portagal,
é dedicada aos príncipes D. António, D. Gaspar e D. Joseph, de Bragança.
957) NICOLAU (ANTÓNIO).— Celebre bibliographo bespanhol. Nasceu
em Sevilba no anno de 1617, e fallecea em Madrid no de 1684.
E.—Bibliotheca Vetus, Romae, 1696, 2 vol. foi. O auctor inclue n'este seu
trabalbo monumental os escriptores portuguezes, dos quaes trata desenvolvi-
damente.
958) NIEUHOFF (JE AN).— Viajante alleraào. Nascido em Usen (West-
pbalía) em 1630, e perdido na ilha de Madagáscar em 1672. ^
E.— I. Voyage curieux au Bresil par mer et par- ierre. Araslordam, 1682.
O original é composto em bollandez.
II. Voyage par mer et par terre à differents lieux des Indes Orientales avec
une description de la ville de Batavia. Amsterdam, 1682-1693. Foi.
Ha varias traducçues d'eslas obras.
959) NINO (FRAY JUANNETIN)- Confessor de su alteza, lector de
theologia, y hijo dei real convento de San Francisco de Salamanca, ministro
provincial que ha sido de la misma provincia de Santiago, califícador dei Santo
Òfflcio en el consejo real supremo de la santa y general Inquisicion^
E. — Chronicas antiguas de la orden de nuestro Seráfico Padre S. Francis-
co dei R, S. D. F, Marcos, Obispo dei Puerto : dispuestas y ordenadas en el
convento de S. António de Salamanca, de la santa provincia de Santiago, en
ta regular observância. Dedicadas a la sereníssima seríora infanta sor Mar-
garida de la Cruz, religiosa de su real convento de Descalças Franciscanas de
Madrid. Con licencia. En Salamanca, en la emprcnta de António Ramirez. Ano
1626. A costa de Nicolas de Santa Ana, familiar dei santo oficio de Madrid. 2
vol. fel.
Nao é uma simples versão da chronica do nosso Fr. Marcos de Lisboa, pois
o traductor agrupou as biographias por conventos, assim como, por exemplo,
se encontram em Fr. Luiz de Sousa, ao passo que Fr. Marcos segue a ordem
chronologica.
1 Ffmiin Didol.— iVourc/ic tíiographie UniverseUe, vel. Si.*», pag. 66.
m NO
9eO) lOPHO (D. FRANdSOO KABIANNA).
E.— Díícripctwi histórica y geográfica dei reyno de Poríugat t
y panegírico de lodos tus rryet. La pobladon repartida por provtnciat, ca-
marcas, conegimenln». inlmditncia%. oidiiria». dando circatuíanciado el cíwn-
iario y situacion de sus cidades, vitlas ij lugares, que nm un indire gengrafico,
para maior daridad exiracló de vnrios autores y parlicuiarmtHle dei P. LmX
Catlano de Lima, clérigo rejular, etc. Madrid, tlt )Mg.
961) NOBLE (LE).
E.— iM/wiiirM swr Irs operations militaires des (rançais en Galice, en Por-
gal.et dans la vnllèe du Tage en 1809 sous ie contmandemeiU d» maréckat
Soult, dvc de Llidmatic.
862Í NOSRAG.
E.— Dcttjict-í m/meiiU de D. Miguel, tgran de Portugal. Les oveux de st»
crimes. Mort de Bourmonl. Paris.
II. Attaque par lerre et par mer de la cille de Lisbonnr, par les cmurifii*
bonels français, poloitaú, portugais et Anglais. Proclamation de D. Maria íl
de Portugal. Paris.
963) NOTICE jur la vie et Its truvres de Joseph ilarie Dantas Pereira
de Andrade. Vara, 183.1. 4.', tollii-to.
964) NOTIO£ des titret et Iravaitx scienlifiqyus de M. António da Lut filia
à Vappuy de tu candidature au titre de mentbre correspottdant itranger de
VÃcaáemie Impériale de Medicine de Paris. Puis, 1S60. 4.°, folheio.
96B) NOnOE turlatiieet les icriles du P. néodore de Almeida. Parti,
1S5S. 16.*, folbeio.
966) HODQABET (PIERRE JEAN BAPTISTE).
K.-~Beautés de l'histuirt d'Espagne et de Portugal. Paris, 1914.
967) NOUVELLES INTERESSANTES au sujet de rattentaí eommis
le 3 letembre 1758 sur la persunne sacrie de S. M. F. le roi de Portugal, 1759.
Svol.
968) NOVO E FAOILLIHO HETHODO de Grammalica Franceza e
Portugueza, compilado dos melhores aurlnrrs que escreveram Artes e Orlogra-
pluas, de la Rae, Itestant e Glamace, la Touche, Desmaraa, e do Tratado da
Ortltograpfiia franceza, feito por ordem do excellentissimo cardeal de Rokan,
ordenado por um génio umanie dos progressos dos estudiosos deste idioma. Em
Trevoux. Na oRti*ina d)* Anlonio Ginião. Aaoo 1766. 8,°, 343 pag.
969) NDff£3 (HERNAN).— Natural do Piacia, proCessor ia rbetoríc» e
grego na imi?enidade de Salainuica, o fallecido cm 18SS.
NU M7
E.—Refranes y Provérbios en romance que coligiõ y ^osó el commendador
Heman Nunes, professor de retórica y griego en la universidad de Salaman-
ca, Y la Filosofia vulgar de Juan de Mal Lara, en mtl refranes glossados, que
san todos los que hasta aora en castellano andam mpressos, Van juntamente
las quatro cartas de Blanco de Garay, hechas en rafranes para ensehar el
uso delias. Ano 1619. Madrid, por Juan de la Custa. 4.<»
Se bem que a obra é escripta em hespanbol, traz grande numero de adá-
gios portuguezes.
970) NUOVA DELLA PRESA delia gran cUta de Diu per lo invitissi-
mo re éU Portugallo, e de Vartigleria e grandíssimo tesoro que vi se trovo, 1[^«
Temaux Gompans, pag. 29.
971) GBSERVATLOVScrUiqwtd^imnmtiinsurtnRefltíáons d'vmfar-
lvgai3, ou Nmivean Stipplèmenl atix dites reflexums «ur It Memoriai des Jí-
mies, presente à N. S. P. le Pape Clément XllI. En Europo, 1700. iS.-
97Í) OBSERVATIONS intmssantfí et relalwes au procés des JètuUn
m Portitgal. Sem dala aem togar de impressão. (C. H. B. I. M-)
973) OF THE NEW LANDE3 and the people foimd by lhe menêfngcri
Of the kinge of Portwjal nariwd Emaimel, o{ ílie diverti nntioix crijatened of po-
pe Johan and hU landa. Loodon, 1921. (Das novas terras e povos descobertos
pelos emissários do rei de Portugal chamado Hannel).
Veiu mencionada esta obra na BMiotheca de Tenumx Compant.
Aproveito esta occasião para declarar que os tituloa dos livros inglezes ap-
parecem tão estropiados a'esta obra que por vezes se tornam iniatelligiTeis :
e ao emtanto a Bibliotheca de Temaux de Compans foi impressa cm Paris.
974) OLBENOW (JOHN).
E.—A monthíH Portuj/tti. Londou. (Um mez em Portngal.)
975) ÓNEIL (LT. COUIÍT T.)
E.-^A concise artd accurate accowit of the preedings of tkt (fnodroN mr-
der the commartd of rear admira/ íír W. Sitbiey Smilk, K. C. ín e/fectiag tke
eicape, and escorting the Toyal family of Portugal to the BrazUs on the ÍS of
november, 1807, etc. London, 1808, 8.° Com o retrato de D. João VI qoando
príncipe- (Sobre a fagida de D. João VI para o Brasil.)
976) ONTDEGEINaHE van Rijdc Miywn m BratU. fAmsterdam, 1639.
4 foi. sem pag.
977) OBBAN (H. LÉUS DE FOBTU. D'— ).— Uembra de plosiean
OR 529
academies de France, d'Italíe et d^AIlemagne, et M. Nielle, officier de TUaiver-
site de France, ancien professeur à la faculte de Leyde.
E. — Histoire générale de Portugal dejnUs Vorigine des lusUamensjusqu^à la
régence de Don Miguel, Paris. Chez Gaalhier Frères.) 9 vol. 8.*» gr.
£' uma reimpressão da Historia de La Clede com acrescentamentos, map-
pas e estampas, das quaes a primeira é um retrato de Viriato, seguindo-se os
dos reis de Portugal, e o de D. António, prior do Grato.
978) OREBICH (GIUSEPPE RAGUSEO).
E. — Lettere cmUenent il ragguaglio dei trasposto de 83 padri gesuiti de Us-
honna à Civitta Vécchia. Génova, 1750. (Sobre o transporte de 83 jesuítas de
Portugal para Civitta- Vecchia).
979) ORIGINAL (THE) joumals of the campaigns in lhe Península of
(íeld-marschal the duke of Wellington. To which is added an appendix contai-
lúng the state papers. Campaign in Pofiugal, 1808. London, 1815. 8.* (Diários
originaes das campanhas do duque de Wellington).
980) ORLEANS (Pere ob).— De la compagnie de Jesu.
E. — Vie de Marie de Savoie, reine de Portugal, et de V infante sa filie. Paris
1696. 8.«>
981) ORLEANS (P. JOSEPH).— De la compagnie de Jesu.
E,— Histoire des revolutions d'Espagne depuis la destmcíion de l^etnpire
des GolhSf jusqu'à VerUière et perfaite reunion des royaumes de Castille et
d'Arragon en une seule monarchie, revue et publiée par les P. P, Rouúlé et Era-
moy, de la même compagnie. A Paris, i734, 3 vol. 4.*> gr.
tEsta victoria do grande AÍTonso (pag. 337, vol. 1.°) alcançada em 1184 foi
a ultima de suas acções militares, as quaes não particularísarei por ser este
príncipe o Tundador de uma monarchia separada, que não está ligada senão
por incidente com a de Uespanha, da qual escrevo a historia, e da qual não
faz parte. Por isso não devo contar os negócios de Portugal senão quando tem
relações necessárias com os de Castella e com os dos outros estados que com-
põem boje a monarchia inteira. Morreu este príncipe em Coimbra aos noventa
e um annos d'uma vida ainda menos cheia de dias, que de virtudes extraor-
dinárias e grandes acções.»
Apesar do que prometle o P. Orleans succede a cada pagina entrar em scená
nosso paiz, pelo motivo conhecido por lodos— não ser possível escrever a his-
toria de Uespanha, sem que o nosso povo n'ella ligure continuamente. No em-
lanto o referido escriptor, apesar de escrever a hisloiia de ura povo sempre
hostil aos portuguezes, mostra-se imparcial, o tece-uos os maiores elogios.
Ignoro se este mesmo padre é o auctor da Vida de Maria de Sabóia.
982) ORMSBY (J. W.)
E.—Lettres from Spahi ond Portugal duritig lhe cawpaiyns of i808 to
TOMO I 34
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OR 531
jubarrota, a Ilustracion Hispano- Portuguesa trazia logo no seu primeiro nu-
mero o retrato do sr. Alexandre Herculano acompanhado de uma bíographía,
e a seguir um paraiielo entre Gamões e Cervantes : pubiícavase exactamente
por esse tempo um trabalho utíl com o titulo Una Semana en Lisboa. Também
precisamente por essa época dois hcspanhocs trabalhavam na traducção dos
Lusíadas — o conde de Cheste em Madrid, e o cónego Sandoval em Badajoz.
«Fenómeno na verdade singular e digno de estudo! Os dois povos penin-
sulares tocam-se.» É verdade, mas odeiam-se.
«Não se levanta entre elles uma fronteira natural formada pela mão de
Deus.» Mas separam-nos, o que ainda ó um pouco mais forte, a lembrança da
maneira como pelos haspanhoes fomos tratados durante o espaço de sessenta
annos. Mas nós somos suspeitos; leia porém o sr. Ortiz a Historia do desthro-
namento de D, Affonso VI pelo inglez Southwell (vol. 1.*»). Separanos a ídéa
de que se contarmos todos os annos, em que os hespanhoes nos guerrearam,
sommam séculos; separa-nos a indole d'aquelle povo ; quer ella seja melhor,
quer seja peior, é em todo o caso diametralmente opposta á nossa. Separa-nos
o idioma, pois para o entendermos é necessário diccionario e estudo gramma-
tical. N'uma palavra, separa-nos a liberdade que desfructamos. E quem é li-
vre, só perdido o siso, desejará ser escravo.
«Houve um tempo em que os escriptores lusitanos cultivavam cora prefe-
rencia o nosso idioma. « Ainda isto é verdade. Uma das causas era a afflnídade
das duas Unguas; ambas provinham da mesma origem. Também a língua por-
tugueza já se pareceu muito mais com a franceza do que actualmente. Muitos
vocábulos hoje repugnantes para aquelles que prezam a vernaculidade, já fo-
ram portuguezes de lei.
«Muito antes da batalha de Alcácer Quibir^ nenhum engenho lusitano dei-
xava de publicar algum dos seus escriptos na lingua de Solis e Cervantes.»
Houve excepções. Mas se ha portuguezes que escreveram em hespanhol, tam-
bém os ha, e não foram poucos, que escreveram em latim, grego, hebraico,
árabe, italiano, francez, ingle^ e allemão. Diz também o sr. Ortiz «que o seu
livro não tem aspirações», mas passadas poucas linhas, encontro a seguinte
passagem : «Portugal, que en um porvenir mas ó menos lejano, lejano sin du-
da, pêro seguro, habra de subordinarse sin abdicacion de su importância, sin
sacrifício de sus intereses legítimos, por su próprio y espontâneo impulso^ ^ y
por médios que la Providencia reserva, a esa tendência universal, poderosa,
irresistible, que conduce los pueblos bacia la unidad, à semejanza de esa otra
fuerza também poderosa y tambien irresistible, que lleva Ias aguas de los rios
a perderse y confundirse en la immensa unidad dei mar. »
Assim será. Mas n'estes seis annos, que o livro conta depois de impres-
so, ainda se não observam nem vislumbres. «Um homem (dizia o marquez de
Pombal) na sua casa é tão poderoso que mesmo depois de morto são necessá-
rios quatro para o tirarem d'ella». Além de que vem de Hespanha um cheiro
^ Não podendo prever o porvir, creio comtudo as gerações futuras incapazes de tal
villeâa.
àt ov
Ião coDtlDQO Oú pólvora n Ao csdavcres, e tão ri>f)ugaanlc aos porlngaezes,
qna os afugenta dalli para bem longe. Pude ser qne os porlugueE^ não te-
nbam bom gosto, mas o sr. Oriiz bem s&be que os gostos não ss di^utem. O sr.
Orlit, qno diz ler lido indo quantn em portugiieí se publicou no sertilo pre-
sente, deve ler lambem conhecimento de quão rico 6 o nosso idioma de pro-
vérbios fl anexins, entre os quaes ha o segmate, qne aada na bocca de lodo
o mundo: iGalo escaldado, de agua fria lem medo.
Ê o livro do sr. Romero Orlli uma resenha da lilleralura porCuguets no
presente século. Come(;anda miauciosamenle ao celebre padre imò Agostinho
de Macedo, vae analysando quasi todas as obras de nossos principaes escrip-
tares, dos quaes transcreve muitas passagens, infelizmente quasi sempre tilo
estropiadas, que se devem tornar inintelligiveis para aqoelles que não estive-
rem bem certos de como ellas se encontram no original portnguez, o que ain-
da mais vera comprovar a differenja das duas jinguas. Se os compositores de
Madrid entendessem ao menos sofTrivelmentc o purluguer, cerlamente quo não
o desflguravam a tal ponto.
Em seguida do p.idre Josá Agostinho de Macedo falia o sr. Ortíz da nossa
marqueza de Aloma.GarrelI, A. Herculano, C.Caslello Branco, e deoniros os-
criplores notáveis, lamcola o estado de abatimento em que se acha o paii, e
pede por Hm ao sr. Thomaz Ribeiro que oào atisse ódio o rivalidades entre os
dois povos peninsulares. Mas para ser justo deve também lazer n me^mo pe-
dido aos efcriptores hespanhoes.
986) ORTOLAN (JOSEPH LOUIS ELÉZAR).— lorisconsollo franPM!. ^
Nasceu em Toulon no anno de 1802. >
E.— Eludes sur les conititutlUrns dei Payt Bas, dei ligues nsiaíitpies, d'Ei-
pagne et rfu Portugal, ele. Paris, 1831 a 1837.
987) OSBORNE (JOHN)-
E.— Guírfe to thf West Indies, Madeira, México, etc. With cartei and other
illttslrations. London IBiS. (Guia para as índias Occídentaes, Madeira, etr.)
988) OTHON (QUUJAUHE — , Cown de XamcSMARK}.
E.—Voyage de Madrid à Lisbotme. Paris, 1669.
989) OVERBEKE (AERNOUT).
E.—Reyibeichryving mn, etc. (Viagem ás índias Orientaes). 1671 .
990) OVIEDO (SEBASTIAN ANTÓNIO DE OADEA T).
E.—Triunfales fiestas. que a la canonizacion de S. Jitan de Dioi, patriarca
consagro la muy rtombrada, leal y gran riadad de Granada. 1595.
991) OVINOTON (JOHN).
E.—Vogage to Hurnte in lhe year, 1689-1693 Ktth a deí^rriplion af the h-
' Vapareai). — PfrííotinfliVí iííi foií/empnrnini, paft. IWfl.
ow
533
ands of Madera and St, Helena, the account of Golconda, etc. London, 1696-
1698. Em francez. Paris, 1724. Ib. 1735. Ib. 1753. 2 vol. (Viagem a Surrale
no anno — , com descripçào da ílba da Madeira, etc.)
992) OWEN (HUQH).
E,—Here and there in Portugal. Notes of the present and of the past, By
— totth Ulustrations after photographs. London, 1856. 8.», 216 pag.
£sta obra é dedicada pelo aactor a seu pae o coronel Hugh Owen, caval-
leiro da ordem da Torre e Espada, e de S. Bento de Aviz.
£' muito interessante a leitura d'este livro. O auctor gosta muito de Por-
tugal, flcou encantado do Tejo, ao qual chama «o mais nobre dos rios da Eu-
ropa», mas diz verdades amargas, no que quasi sempre a rasào está do sen
lado. Tendo vindo de Inglaterra no magnifico paquete ínglez Severn fizeram-
no desembarcar n'um bote em que iam vinte carvoeiros, um carneiro e pes-
soas immundamente vestidas, para d'aqui passar para o Lazareto.
Lamenta principalmente a carência quasi completa de estaleiros e f^slabe-
lecimentos, onde os navios se possam reparar das avarias. Tem rasào !
Fílf DO TOMO PRIMEIRO.
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